Lição 8, Israel no Plano da Redenção, Ev Henrique, EBD NA TV

Lição 8, Israel no Plano da Redenção
2º trimestre de 2016 - Maravilhosa Graça - O Evangelho de JESUS CRISTO Revelado Na Carta Aos Romanos
Comentarista da CPAD: Pr. José Gonçalves
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva
NÃO DEIXE DE ASSISTIR AOS VÍDEOS DA LIÇÃO ONDE TEMOS MAPAS, FIGURAS, IMAGENS E EXPLICAÇÕES DETALHADAS DA LIÇÃO
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebdnatv.htm
AQUI VOCÊ VÊ PONTOS DIFÍCEIS DA LIÇÃO - POLÊMICOS
 
 
TEXTO ÁUREO"Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!"(Rm 11.36)
 

VERDADE PRÁTICAA eleição da graça é formada no presente por gentios e judeus nascidos de novo, bem como, no futuro, pela conversão da nação de Israel.
 
 
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Rm 9.1-3 Paulo estava disposto a se sacrificar em favor da conversão dos judeus.
Terça - Rm 9.4 Os israelitas não mereciam a salvação, mas Deus os adotou como filhos.
Quarta - Rm 9.6,7 Todos os que confiam no sacrifício de Cristo são descendentes de Abraão.
Quinta - Rm 2.29 A verdadeira circuncisão ocorre no interior, isto é, no coração e espírito.
Sexta - Gl 3.7 Todos os que creem em Jesus Cristo são filhos de Abraão.
Sábado - Gl 3.8 Todas as nações da Terra seriam abençoadas por intermédio de Abraão.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Romanos 9.1-5; 10.1-8; 11.1-5 Rm 9.1 - Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo): 2 - tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. 3 - Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; 4 - que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; 5 - dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém!
Rm 10.1 - Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. 2 - Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. 3 - Porquanto,não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. 4 - Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. 5 - Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas. 6 - Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu (isto é, a trazer do alto a Cristo)? 7 - Ou: Quem descerá ao abismo (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)? 8 - Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos,
Rm 11.1 - Digo, pois: porventura, rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum! Porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim. 2 - Deus não rejeitou o seu povo, que antes conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura diz de Elias, como fala a Deus contra Israel, dizendo: 3 - Senhor, mataram os teus profetas e derribaram os teus altares; e só eu fiquei, e buscam a minha alma? 4 - Mas que lhe diz a resposta divina? Reservei para mim sete mil varões, que não dobraram os joelhos diante de Baal. 5 - Assim, pois, também agora neste tempo ficou um resto, segundo a eleição da graça.
 
OBJETIVO GERAL
Mostrar a eleição de Israel dentro do plano da redenção;
Analisar o tropeço de Israel dentro do plano da redenção;
Explicar a restauração de Israel dentro do plano da redenção
 
PONTO CENTRAL - Deus tem um plano especial para com Israel.
 
Resumo da Lição 8, Israel no Plano da Redenção
I - A ELEIÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 9.1-29)
1. O anseio de Paulo e a incredulidade de Israel.
2. Os eleitos e as promessas de Deus.
3. Eleição, justiça e soberania de Deus.
II - O TROPEÇO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 9.30 - 10.21)
1. Tropeçaram em Cristo.
2. Tropeçaram na lei.
3. Tropeçaram na Palavra.
III - A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL DENTRO DO PLANO DA REDENÇÃO (Rm 11.1-32)
1. Israel e o remanescente.
2. Israel e o enxerto gentílico.
3. Israel e a restauração futura (11.25-32).
 
SÍNTESE DO TÓPICO I - Deus em sua justiça e soberania escolheu a Israel para fazer parte do seu plano redentivo.
SÍNTESE DO TÓPICO II - O tropeço de Israel não invalidou o plano de redenção de Deus para com o seu povo.
SÍNTESE DO TÓPICO III - Deus não rejeitou Israel, e todos que creem na graça de Jesus Cristo serão restaurados.
 
PARA REFLETIR - A respeito da Carta aos Romanos, responda: Os patriarcas e o Cristo descendiam de que povo?
Os patriarcas e o próprio Cristo descendiam dos judeus.
As promessas de Deus em relação a Israel falharam com a rejeição deles?
As promessas de Deus relativas à nação de Israel não falharam, mesmo que a maioria deles as tenha rejeitado.
Segundo a lição, por que Israel foi endurecido?
Israel foi endurecido porque não aceitou a justificação que lhe foi dada através de Jesus Cristo.
Paulo se considerava um dos remanescentes?
Sim, ele se considerava um dos remanescentes.
Como os gentios passaram a fazer parte do plano da salvação?
Como os judeus tropeçaram ao não aceitarem a justiça de Deus manifestada em Jesus Cristo, os gentios entraram como um "enxerto" no plano da salvação.
 
CONSULTE - Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 66, p40.
SUGESTÃO DE LEITURA
Manual Bíblico do Estudante, Vicent - Estudos no Vocabulário Grego do Novo Testamento, Comentário Bíblico Beacon
 
 
Comentários de vários autores com alguma modificações do Ev. Luiz Henrique
Pontos difíceis e polêmicos discutidos durante a semana em nossos grupos de discussão no WhatsApp (minhas conclusões)
 
Povos da Bíblia - JUDEUS (não salvos), GENTIOS (não salvos) e IGREJA (Todos os Salvos - tanto judeus como gentios).
Israel de DEUS é o povo de israel convertido a JESUS CRISTO.
Na verdade, para os Judeus JESUS ainda não veio. Eles, nem em sonho acreditariam que alguém já fosse salvo e muito menos que algum gentio sequer chegasse perto de ser um desses.
 
O FIM DA LEI É CRISTO - FIM SIGNIFICA O OBJETIVO. A FINALIDADE - COMPLETAR O QUE LHE FALTAVA PARA TRAZER A SALVAÇÃO.
 
Eleição da Graça quer dizer - entrar para a salvação em JESUS que morreu por nós na Cruz. Quem já foi eleito então? Os judeus que foram os primeiros a serem crentes (os apóstolos e os primeiros cristãos, incluindo Paulo e os primeiros cristãos), depois os gentios que se converteram naquele tempo e de lá para cá todos os os que se converteram, tanto judeus como gentios. Todos esses salvos entraram ou foram eleitos para a graça.
Ef 1.13 Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa;
 
Predestinados - povos e não pessoas - Remanescentes - Exemplo - Últimos judeus vivos no final da Grande Tribulação. Não são as pessoas escolhidas previamente, mas o povo, como neste caso do remanescente judeu. Do fim da Grande Tribulação. São os que vão clamar pela vinda do Messias. estes são os que verão JESUS descer sobre o Monte das Oliveiras para salvá-los da destruição total.
Quais pessoas vão estar lá neste dia não são escolhidas antes. Vai haver um arrebatamento de crentes vivos, mas não sabemos quando será e nem quem estará neste dia vivo para ser arrebatado.DEUS não separou alguém para ser arrebatado neste dia, mas prometeu que quem estiver crente salvo neste dia será arrebatado.
 
Os Remanescentes para Paulo - Na época eram esses os remanescentes, os judeus que estavam vivos e crentes. Se DEUS terminasse naquele momento com a raça humana, esses seriam os remanescentes de Israel - os fiéis.
É exatamente isso que Paulo está ensinando na comparação onde usa Elias e os 7 mil que não dobraram seus joelhos a Baal.
Ele, Paulo como se fosse Elias e os judeus restantes que estivessem sendo fiéis seriam os remanescentes com ele.
 
 
DINÂMICA PARA A LIÇÃO - APRENDA A FAZER ENXERTO EM UMA PLANTA E FAÇA ISSO NA SALA DE AULA. GENTIOS SENDO ENXERTADOS NA OLIVEIRA VERDADEIRA QUE É CRISTO (NÃO É ISRAEL - SÓ OS JUDEUS SALVOS É QUE ESTÃO NESSA OLIVEIRA VERDADEIRA)
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador. João 15:1 Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. João 15:5
 
 
 
Romanos - Serie Cultura Biblica - ROMANOS - INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO - F. F. Bruce. M.A., D.D. - SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, Caixa Postal 21486, São Paulo-SP 04602-970
A Incredulidade Humana e a Graça Divina (9:1-11:36).
a. O problema da incredulidade de Israel (9:1-5).
Para o leitor moderno, os capítulos 9-11 formam um parêntese no curso da argumentação de Paulo. Se ele tivesse passado diretamente de 8:39 a 12:1, não perceberíamos nenhum hiato no seu processo de raciocínio. Ele acabou de encaminhar os seus leitores para diante, apon-tando-lhes a culrninação do propósito de Deus em Sua graça, a glória que há de ser revelada nos filhos de Deus. Que mais pode dizer, senão levar seus leitores de volta à sua responsabilidade de viverem neste mundo como competentes herdeiros da glória por vir? Se "Rogo-vos, pois, irmãos" (12:1) entrasse nesse ponto, estaríamos muito bem preparados para isto.
Com Paulo não era assim. O problema do qual se dispõe a tratar era de intenso interesse pessoal para ele. Gloriava-se em seu ministério como apóstolo dos gentios e se regozijava com a salvação deles. Mas sua própria família e nação, o povo judeu, tinha em sua maioria deixado de aceitar a salvação proclamada no Evangelho, apesar de que este foi apresentado primeiro a eles. O que fazer então? Deveriam ser simplesmente proscritos como "indignos da vida eterna"? Decerto que não. Eram o seu povo, e ele não queria nem podia dissociar-se deles. Ele também, como tantos deles, outrora se opusera ao Evangelho, mas tinha sido capturado por Jesus ressurreto, e por Ele tinha sido introduzido na carreira cristã. Como ansiava por que eles também tivessem as escamas dos seus olhos removidas! Na verdade, se a salvação deles pudesse ser negociada ao preço da condenação de Paulo, consentiria prontamente, se tal coisa fosse possível, em "ser anátema, separado de Cristo" por amor deles. O fato de congregar os gentios, não importa em quão extensa escala fosse, jamais compensaria a apostasia de sua nação, que lhe causava incessante angústia mental.
Podemos inferir que ele também trata do assunto, porque a situação da igreja romana o exigia. Parece que os cristãos que formaram originalmente a igreja de Roma eram judeus, mas por esse tempo haviam sido superados numericamente pelos gentios. Talvez houvesse a tendência, da parte de alguns dos cristãos gentílicos, de pensar em seus irmãos judeus como parentes pobres, misericordiosamente resgatados de uma nação apóstata. Pelo menos alguns dos cristãos judeus poderiam tender a ressentir-se com qualquer difamação do seu povo e a acentuar sua solidariedade com ele, a ponto de correrem o risco de subestimar aqueles traços distintivos da fé e vida cristã que forjavam um elo de união entre eles e os gentios, seus irmãos no Senhor, elo mais forte do que aquele que os ligava aos judeus, seus irmãos de sangue. (Pode bem ser que encontremos um estágio posterior dessa tendência na Epístola aos Hebreus.) Paulo achava sábio mostrar a ambas as partes algo do papel desempenhado tanto pelos judeus como pelos gentios no propósito salvador de Deus.
Mas, acima de tudo mais, estava envolvido um verdadeiro problema da teodicéia.' A situação que se lhe apresentava punha em questão toda a exposição do Evangelho de que tratam os capítulos anteriores. Era da essência do argumento de Paulo que o Evangelho pregado por ele (e por seus colegas de apostolado) não constituía nenhuma inovação. Era credenciado pelas, Escrituras hebraicas; era o cumprimento da promessa de Deus aos pais; proclamava que o caminho de Deus para a justiça mediante a fé, pelo qual Abraão fora abençoado, estava ainda aberto para todos os que cressem em Deus como Abraão. Como foi então que os descendentes de Abraão por excelência, foram justamente os que se negaram a crer no Evangelho? Se as alegações de Paulo fossem válidas, o povo judeu não teria sido certamente o primeiro a reconhecê-las? Sem dúvida, essas objeções foram verbalizadas, e Paulo pôde avaliar a força delas, embora ciente da falácia que as envolvia. Contudo, foi um paradoxo, para não dizer escândalo, que a própria nação que fora especialmente preparada para esse tempo de cumprimento, a nação que podia gloriar-se de tantos e tão singulares privilégios da graça divina (incluindo-se acima de todos a esperança messiânica), a nação na qual, na ocasião devida, o Messias viera a nascer, não O tenha reconhecido quando veio, enquanto que homens e mulheres doutras nações que nunca tinham desfrutado aqueles privilégios, abraçaram avidamente o Evangelho na primeira vez que o ouviram. Como poderia isto harmonizar-se com o fato de Deus ter escolhido a Israel, e com o Seu expresso propósito de abençoar o mundo por meio de Israel?
Portanto, nestes três capítulos Paulo contende com este problema. Não era a primeira vez. que o fazia; o conteúdo destes capítulos são o fruto de muitos anos de meditação e oração de sua parte, sem dúvida. De fato se tem sugerido que estes capítulos já existiam como um tratado à parte, mas isso é duvidoso. Parece claro que, quando Paulo dita a Tércio, luta novamente com o problema, buscando solução ora por este, ora por aquele caminho, até que afinal ela emerge à plena luz, da sabedoria da graça soberana de Deus. Começa com uma afirmação a respeito dos procedimentos de Deus na eleição, e termina com outra, mas no fim vê com maior profundidade e amplitude do que no começo a natureza e o objetivo da eleição divina. Começa com o problema particular da resistência judaica ao Evangelho, e termina com um desvendamento do "propósito divino na história"2 que em alguns aspectos vai além de qualquer passagem semelhante na Bíblia inteira.
As duas primeiras respostas que dá ao problema são:
Ia. — Foi assim que se deu a incontestável ordem do propósito eletivo de Deus (9:6-29).
2a. — Ao resistir ao Evangelho, Israel segue o precedente repetidamente firmado no transcurso de toda a sua história: tinha sido sempre "um povo rebelde e contraditório" face às aberturas de Deus em seu favor (9:30-10:21).
Estas respostas vêm seguidas de outras duas, enriquecidas por maior promessa:
3a. — O fato de que o "remanescente" de Israel já creu no Evangelho é sinal de que Israel como um todo ainda o fará (11:1-16).
4a. — Se o fato de Israel rejeitar agora o Evangelho deu ocasião a muitas bênçãos para os gentios, o fato de Israel vir a aceitar o Evangelho no futuro anunciará o dia da regeneração universal (11:17-32).
1. Testemunhando, comigo, no Espirito Santo, a minha própria consciência.
Vernota sobre 2;15(p. 75).
3. Eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo.
A oração de Moisés depois do incidente do bezerro de ouro vem à mente como paralelo: "Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste" (Êx 32:32). Mas ao passo que Moisés se recusa a sobreviver se seu povo perece, Paulo quase chega a acolher bem a sua perdição, se isto significasse a salvação de Israel.
4 Pertence-lhes a adoção ("filiação").
Isto é, o povo de Israel é chamado coletivamente "filho" de Deus (Éx 4:22s.; Os 11:1) ou individualmente seus "filhos" (Os 1:10).
E também a glória. A shekhinah de Deus, a prova de Sua habitação entre eles, e. g. no tabernáculo mosaico (Êx 40:34) e no templo de Salomão (1 Rs 8:10s.).
As alianças. Há evidência de muito peso (P46, B, D, etc.) em favor do singular — "a aliança" — caso em que a referência é à aliança do Sinai (Êx 24:8). Mas talvez se deva preferir o plural (Ef 2:12). Neste caso, "as alianças" incluem as que foram feitas por Deus com Abraão (Gn15:18, 17:4ss.), com Israel nos dias de Moisés (Êx 24:8, 34:10; Dt 29:lss.) e de Josué (Dt 27:2ss.; Js 8:30ss., 24:25), e com Davi (2 Sm 23:5; Sl 89:28); para não mencionar a nova aliança, em primeira instância "com a casa de Israel e com a casa de Judá" (Jr 31:31).
A legislação. AV: "E a dádiva da lei." A legislação mosaica (Êx 20:lss.).
O culto. AV: "E o serviço de Deus." As prescrições para o culto divino {latreia), principalmente as registradas no livro de Levítico, nas quais o cerimonial do templo de Jerusalém ainda se baseava quando Paulo estava ditando estas palavras.
E as promessas. Incluindo-se as promessas messiânicas, as "fiéis misericórdias prometidas a Davi" (Is 55:3; At 13:23, 32-34); mas um lugar especial deve ser dado à promessa a Abraão e à sua semente, fundamental para o recebimento da justiça de Deus mediante a fé (4:13-21).
5. Deles são os patriarcas.
AV: "... os pais". Isto é, os patriarcas — Abraão, Isaque, Jacó e seus doze filhos — os primeiros a receberem as promessas recém-mencionadas.
Deles descende o Cristo, segundo a carne. Veja-se a afirmação da descendência davídica de Cristo em 1:3, e a posterior declaração de que Cristo veio como "ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar as promessas feitas aos nossos pais" (15:8). Nele todas as promessas de Deus a Israel atingem a sua consumação.
O qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. A relação destas palavras com as que as precedem são objeto de discussão. Tanto se pode entender a frase (ho õn3 epipantõn theos eulogêtos eis tous aiõnas) como estando em aposição a "Cristo" (assim AV, RV, RSVmg., NEBmg.), como tomá-la como independente atribuição de louvor a Deus, incentivada pela menção do Messias como Aquele em quem muitas bênçãos dadas por Deus a Israel chegaram ao clímax — "Bendito para sempre seja Deus sobre todos!" (ver RVmg., RSV, NEB).
A primeira interpretação está mais de acordo com a estrutura geral da sentença (ver 1:25, onde as palavras "o qual é bendito eternamente. Amém" não são uma independente atribuição de louvor, mas fazem parte da peroração integral da sentença); isso tem apoio adicional na consideração de que é preciso algo para contrabalançar a frase "segundo a carne". O Messias, "segundo a carne" — isto é, quanto à Sua ascendência humana — descendeu de uma longa linhagem de antepassados israelitas; mas quanto a Seu Ser eterno, Ele é "sobre todos, Deus bendito para todo o sempre". Um paralelo formal desta antítese aparece em l:3s., onde se diz que Cristo nasceu como descendente de Davi "segundo a carne", mas "foi designado Filho de Deus com poder", pela dispen-sação do Espírito (ver p. 60s.).
Ê certo que Paulo não tem o hábito de chamar Cristo de "Deus" assim diretamente; reserva para Ele o título de "Senhor". Deste modo, "para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as cousas e para quem existimos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual são todas as cousas, e nós também por ele" (1 Co 8:6, RV, AA; ver 1 Co 12:3-6; Ef 4:4-6). Todavia, para o apóstolo Paulo, Cristo é Aquele "em" quem, "por meio de" quem, e "para" quem foram criadas todas as cousas (Cl 1:16), em quem "habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Cl 2:9). "O tribunal de Deus" (14:10, RV, AA, etc.4) é chamado "tribunal de Cristo" em 2 Coríntios 5:10. Além disso, quando Paulo dá a Cristo o título de "Senhor", ele o faz porque o próprio Deus Pai lhe deu esse título como "o nome que está acima de todo nome" (Fp 2:9). O título "Senhor" é dado por Paulo a Jesus como equivalente ao hebraico Yahweh (Jeová). O modo como aplica Isaías 45:23 (ver 14:11) a Jesus em Filipen-ses 2:10s. indica que, para ele, a confissão "Jesus Cristo é Senhor" significa "Jesus Cristo é Jeová". Ademais, com isso Paulo foi tão hábil como o autor de Hebreus quanto à significação do Salmo 45, onde o rei a quem se diz no versículo 2: "Deus te abençoou para sempre", é mencionado como Deus, no versículo 6: "O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre" (ver Hb l:8s.). A passagem de Paulo que estamos comentando bem pode ecoar a terminologia do salmo.
Por outro lado, a legitimidade doutra alternativa na pontuação deve ser concedida. Será ultrajante pôr em dúvida a ortodoxia dos tradutores e comentadores que a preferem aqui, como se estivessem determinados (nas severas palavras do Deão Burgon sobre os revisores de 1881) a conseguir "uma glosa introduzida gratuitamente na margem do Novo Testamento de cada inglês"5 — ou mesmo no próprio texto.
b. A escolha soberana de Deus (9:6-29).
Ter-se-á desviado o plano de Deus? Decerto que não, diz Paulo. A presente situação reproduz um esquema da ação divina revelado com bastante freqüência no passado. Sempre houve os que abriram o coração para a revelação de Deus, enquanto outros endureciam o seu. E pela maneira como responderam, mostraram se estavam ou não entre aqueles sobre os quais Deus fez recair a Sua escolha.
Paulo já expôs (2:28s.) que o verdadeiro judeu é o homem cuja vida exalta a Deus; que a linhagem natural e a circuncisão física não são as coisas de maior importância. Agora, com igual gênio demonstra que nem todos os descendentes de Israel são israelitas quanto ao ser interior, que nem todos os descendentes de Abraão são "filhos de Abraão" no sentido espiritual por ele explicado no capítulo 4. No transcorrer de toda a história do Velho Testamento, o propósito de Deus foi conduzido por meio de um grupo íntimo, uma minoria eleita, um remanescente reservado. Abraão foi pai de um bom número de filhos, mas somente por meio de um deles, Isaque, o filho da promessa, é que a linha da promessa de Deus devia ser traçada. Isaque, por sua vez, teve dois filhos, mas somente por um deles, Jacó, é que a semente santa foi transmitida. E a escolha que Deus fez de Jacó e a omissão do seu irmão Esaú não dependeram nem um pouco da conduta ou do caráter dos irmãos gêmeos: Deus o declarara previamente — antes do nascimento deles.
Assim hoje, deduz Paulo, quando uns recebem luz e outros não, pode-se discernir a eleição divina como operando antecedentemente à vontade ou à atividade dos que são seus objetos. Se Deus não revela os princípios segundo os quais Ele faz Sua escolha, isto não é razão para pôr em dúvida a Sua justiça. Ele ê misericordioso e compassivo porque Sua vontade o é. "A qualidade da misericórdia não é imposta à força", muito menos quando é Deus que mostra misericórdia. Pois se fosse compelido por alguma cousa alheia a Ele, a ser misericordioso, não somente a Sua misericórdia deixaria de ser misericórdia, mas também Ele mesmo deixaria de ser Deus.
Nem é somente em Seus procedimentos para com "a semente escolhida da raça de Israel" que este princípio funciona. Pode-se ver isto em Êxodo, no relato dos procedimentos de Deus para com o rei do Egito, que repetida e teimosamente negou-se a deixar Israel partir. Por que Deus suportou por tanto tempo a obstinação de Faraó? Deus mesmo dá a resposta: "Para este propósito te deixei viver, para mostrar-te meu poder, de modo que o meu nome seja anunciado em toda a terra" (Êx 9:16, RS-V). Mesmo toda a resistência e rebelião de alguém como Faraó jamais poderá impedir o propósito de Deus; a glória de Deus triunfará, quer o homem Lhe obedeça, quer não.
Bem, replicam, se Deus preordena os caminhos do homem por Sua própria vontade, por que deveria culpá-lo por andar por onde anda? Não se opõem à Sua vontade; agem de acordo com ela.
"Meu bom amigo", responde Paulo, "Quem é você para contestar a Deus?" E emprega a analogia do oleiro e seus vasos, analogia que vinha tão prontamente aos profetas hebreu como veio a Ornar Khayyám. Je-remias aprendeu uma lição sobre os procedimentos de Deus para com o Seu povo no dia em que desceu à casa do oleiro e viu como o oleiro modelou o barro como bem lhe pareceu, ajeitando um vaso que se quebrara e se tornara um caco informe, fazendo dele um vaso outra vez (Jr 18:1-10).
"Ai daquele que contende com o seu Criador,
um vaso de barro com o oleiro!
Acaso dirá o barro ao que lhe dá forma:
'Que fazes?' ou:
'A tua obra não tem alça'?"
(Is45:9, RSV.)
Admita-se que a analogia do oleiro e seus vasos cobre apenas um aspecto da relação do Criador com aqueles que criou, principalmente com os homens, que Ele criou à Sua imagem. Os vasos não são feitos à imagem do oleiro e em caso algum podem contestar-lhe ou apontar defeitos no seu trabalho. Os homens, precisamente porque feitos à imagem de Deus, insistem em responder-lhe. Mas há diferentes modos de responder-lhe. Há a resposta da fé, como quando um Jo ou um Jeremias pede que Deus explique Seus misteriosos modos de tratá-lo. Mesmo Cristo na cruz pôde clamar: "Por que me desamparaste?" Mas quando o homem de fé clama desse modo, é precisamente porque a justiça de Deus, bem como o Seu poder, é a principal premissa de todo o seu pensamento. Há, por outro lado, a resposta da incredulidade e desobediência, quando o homem tenta colocar Deus no banco dos réus e julgá-lo. É a esse tipo de gente que Paulo censura tão asperamente e recorda sua condição de criatura. Paulo tem sido mal compreendido e criticado injustamente por não entenderem que é ao rebelde que desafia a Deus — e não ao desnorteado que procura a Deus — que ele faz calar peremptoriamen-te. Deus, por Sua graça, tolera as questões levantadas por Seu povo; mas Ele não se submete ao interrogatório judicial feito por um coração empedernido e impenitente.
Suponhamos que Deus queira pôr de manifesto o Seu reto juízo e o Seu poder, diz o apóstolo. Por que não haveria de tolerar pacientemente gente como Faraó — vasos (para continuar a metáfora) feitos para ser-virem de lições objetivas de Sua ira, modelados para serem destruídos? E por que não haveria de demonstrar a grandeza da Sua glória por intermédio de outros "vasos" que servem de lições objetivas de Sua misericórdia, de antemão preparados para este glorioso propósito? Paulo, mais cauteloso do que alguns dos sistematizadores dos seus ensinos, não diz com todas as letras que Deus faz isso, mas diz: "E se o fizesse? Quem O traria a contas?"
Embora Paulo não admita que se questione o direito que Deus tem de fazer o que quiser com o que Lhe pertence, faz recair sua ênfase, não na ira de Deus para com os reprovados, mas, antes, na prorrogação da Sua ira contra homens que de há muito estão prontos para a destruição. Como já foi exposto (2:4), a misericórdia e a paciência de Deus visam a dar tempo aos homens para o arrependimento. Se, em vez disso, endurecem ainda mais o coração, como Faraó fez depois de repetidas protelações, estão simplesmente acumulando uma crescente carga de retribuição a si mesmos para o dia da recompensa.
É pena que em algumas escolas de pensamento teológico a doutrina da eleição foi formulada em grau excessivamente alto com base neste estágio preliminar da presente argumentação de Paulo, sem se levar adequadamente em conta a sua posterior exposição do propósito de Deus na eleição, na parte final do seu argumento (11:25-32). Todavia, este estágio do seu argumento inegavelmente se harmoniza com bem conhecidos fatos da vida que apresentam um problema para qualquer teodicéia. Algumas pessoas têm melhores oportunidades espirituais do que outras. E das que têm oportunidades iguais, algumas as aproveitam, outras não. Algumas nações receberam muito mais luz do Evangelho do que outras — e têm correspondente responsabilidade diante de Deus. O homem que experimentou a graça perdoadora de Deus estará sempre a indagar por que os seus olhos foram abertos enquanto que os olhos de outros continuam fechados.
O ponto em que Paulo insiste aqui é que a humanidade inteira é culpada aos olhos de Deus; ninguém tem direito à Sua graça. Se decide estender Sua graça a uns, os outros não têm base para alegar que Ele é injusto porque não a estende a eles. Se é justiça que pedem, podem tê-la, mas:
"Conquanto ajustiça seja o que pleiteias,
pondera isto,
que, a seguir o curso da justiça,
nenhum de nós veria a salvação."
É fato liqüido e certo, como transparece com bendita clareza mais adiante no presente argumento, que a graça de Deus é muito mais ampla do que qualquer pessoa teria ousado esperar. Mas, justamente porque é graça, ninguém tem direito a ela, e ninguém pode exigir que Deus dê explicação dos princípios pelos quais dá Sua graça, ou exigir que Ele a dê de modo diverso daquele pelo qual o faz. Em sua soberania, a graça pode impor condições, mas não pode ser submetida a condições.
Entretanto, Deus se deleita em mostrar misericórdia, e a tem prodigalizado a homens e mulheres sem conta — a gentios e a judeus igualmente. O fato de que gentios bem como judeus estão entre aqueles que Deus chamou e assinalou para a glória é ilustrado por duas citações de Oséias (verp. 159).
Durante séculos os gentioS têm sido vistos pelo povo escolhido, com raras exceções, como "vasos de ira, preparados para a perdição". E certamente Deus os "suportou coni muita longanimidade". Mas agora ficou claro o propósito da Sua paciência: o que Ele queria não era a condenação deles, mas a sua salvação. E se no presente Israel tinha em tão grande medida abandonado a Peus, o mesmo esquema de ação divina se reproduziria entre eles também- Aqui Paulo chama Isaías como testemunha de sua esperança.
Num dia de total apostasia da nação, Isaías viu que o julgamento cairia sobre Israel e Judá em tal escala, que só um punhado — o mais reduzido "remanescente" — sobreviveria. Contudo, neste remanescente ele via encarnada a esperança do futuro. Os propósitos e as promessas de Deus a Israel, Seu povo, e por este a outras nações, não seriam frustrados, posto que um remanescente emergiria do crisol da invasão, da derrota e do exílio, para formai' o núcleo de um novo e purificado Israel. Assim, o remanescente "salvo1' viria a ser também um remanescente "salvífico".6
Paulo vê este remanescente encarnado de novo naquela minoria de judeus que, como ele próprio, reconheceram Jesus como Senhor. Minoria podiam ser, mas a existência deles era garantia de uma virada em massa para o Senhor, da parte de Israel, num dia vindouro. Esta esperança é desenvolvida mais completamente adiante (no capítulol 1); por enquanto, ele volta a atenção para outro nativo pelo qual as bênçãos do Evangelho se derramavam então sobre gentíos antes que sobre judeus.
7. Em Isaque será chamada a tua descendência.
Citação de Gênesis 21:13. onde Deus diz a Abraão que não se oponha à exigência de Sara para a expulsão de Hagar e Ismael, porque os seus descendentes hão de ser considerados como tais através de Isaque, e não através de Ismael (embora Ismael também venha a ser ancestral de uma nação, "porque ele é tua s«niente", AV).
8. Estes filhos de Deus não sãoPropriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa.
"Os filhos da.promessa", na exegese de Paulo, são aqueles que, como Abraão, crêem na promessa de Deus e, portanto, são descendentes espirituais de Abraão. Vejam-se para comparação 4:llss. e a "alegoria" que Paulo traça do incidente de Isaque e Ismael em Gálatas 4:22-31.
9. Por esse tempo virei, e Sara ierá um filho.
Citação de Gênesis 18:10: "Certamente voltarei a ti na primavera, e Sara, tua mulher, terá um filho" (RSV). Esta foi a "promessa" de acordo com a qual Isaque nasceu — a promessa que fez Sara rir (Gn 18:12; ver 21:6).
11. Não por obras, mas por aquele que chama. Quanto à "vocação" ou "chamamento", ver 8:28.
12. O mais velho será servo do mais moço.
Expressão oriunda da profecia feita a Rebeca sobre os filhos que ia ter (Gn 25:23). EsJ:a profecia relaciona-se, não com as pessoas de Esaú e "Jacó (pois Esaú não prestou serviço a Jacó), mas com os seus descendentes. Relaciona-se com os longos períodos durante os quais os edomitas foram escravos de Israel ou de Judá (ver 2 Sm 8:14; 1 Rs 22:47; 2 Rs 14:7, etc).
13. Amei a Jacó, porém me aborreci de Esaú.
AV: "... odiei Esaú." Extraído de Ml l:2s., onde outra vez o contexto indica que o que se tem em vista são as nações de Israel e Edom, e não seus antepassados Jacó e Esaú. A maneira como as comunidades podem ser tão livremente mencionadas em termos dos seus antepassados é um exemplo da oscilação que é comum no pensamento e no linguajar bíblicos (principalmente no Velho Testamento) entre a personalidade individual e a corporalizada (ver 5:12ss.). Israel era a nação eleita, e Edom tinha incorrido na ira de Deus por sua conduta antifraternal para com Israel no dia da calamidade deste (ver Sl 137:7; Is 34:5ss.; Jr 49:7ss.; Ez 25:12ss., 35:lss.;Obl0ss.).
15. Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e com- padecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.
Citação de Êxodo 33:19, onde Deus responde ao pedido de Moisés de que lhe fosse permitido ver Sua glória, depois da intercessão de Moisés pelos israelitas por causa do culto que haviam prestado ao bezerro de ouro.7 O significado dominante daquelas palavras é que a misericórdia e a compaixão de Deus não se sujeitam a nenhuma causa estranha à Sua livre graça.
16.Não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórida.
De novo se salienta que a misericórdia de Deus tem sua causa nele mesmo, e não na vontade ou na atividade dos homens. "Correr" representa vigorosa atividade humana aqui, como em Gálatas 2:2; Filipen-ses 2:16.
17.A Escritura diz a Faraó.
"A Escritura" (referindo-se a Êx 9:16) é personificada aqui como substituta do nome de Deus, que é de fato quem fala. O Faraó é o do Êxodo (sucessor do "Faraó da opressão" cuja morte está registrada em Êx2:23).
Para isto mesmo te levantei, ou "fiz que te levantasses". O hebraico emprega aí a conjugação causativa do verbo 'amad, "estar de pé", que Paulo traduz pelo verbo grego exegeirã (levantar). (Aqui ele faz tradução direta do hebraico; a LXX diz: "foste preservado".) Talvez a referência não seja meramente ao fato de Deus levantar a Faraó para fazê-lo rei, mas à Sua paciência em mantê-lo vivo, a despeito da sua desobediência.
Para mostrar em ti o meu poder, e paru que o meu nome seja anunciado por toda a terra. Ver Êxodo 15:14s.; Josué 2:10s.; 9:9; 1 Samuel 4:8, quanto ao efeito produzido noutras nações pelas notícias do Êxodo e 
acontecimentos relacionados.
18. Logo, tem ele misericórdia de quem quer, e também endurece a quem lhe apraz.
A primeira parte deste versículo é um eco adicional de Êxodo 33:19 (ver v. 15). A segunda parte se refere às ocasiões em que se diz que Deus "endurecu" os corações de Faraó e dos egípcios (Êx 7:3, 9:12, 14:4, 17).
20. Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim ?
Veja-se, além de Isaías 45:9, citado acima (p. 154), Isaías 29:16:
"Deverá o oleiro ser considerado como o barro; para que a coisa feita diga de quem a fez: 'Ele não me fez';
ou a coisa formada diga de quem a formou: 'Ele não tem entendimento'?" (RSV).
Deus não tem por que responder ao homem pelo que faz. Todavia, pode-se confiar em que Ele age de modo coerente com o Seu caráter, revelado supremamente em Cristo. Com um Deus como este em quem confiar, por que alguém do Seu povo há de questionar os Seus caminhos?
21. Um vaso para honra e outro para desonra.
Ver 2 Timóteo 2:20 onde, contudo, os vasos (ou "utensílios") são feitos de vários materiais, e aqueles que são "para desonra" são simplesmente destinados a propósitos menos nobres ou ornamentais (mas não necessariamente menos úteis) do que aqueles que são "para honra".
22. Os vasos de ira, preparados para a perdição.
AV: "para a destruição". Não os instrumentos da Sua ira pelos quais Ele opera a destruição (ver Is 13:5, 54:16; Jr 50:25), mas objetos de Sua ira, destinados a serem destruídos.
25. Oséias.
(AV: "Osee".) Forma grega de Oséias.
Chamarei povo meu ao que não era meu povo; e, amada à que não era amada. É paráfrase paulina de Oséias 2:23: "Compadecer-me-ei da Desfavorecida; e a Nào-meu-povo direi: Tu és o meu povo". A profecia de Oséias provavelmente estava em uso geral na igreja primitiva como um testimonium neste sentido; sua exegese em 9:25 não é peculiarmente paulina. Compare-se com esta a aplicação parecida de Oséias 2:23 a cristãos gentios em 1 Pedro 2:10.
Oséias foi ensinado a ver em sua trágica vida doméstica uma parábola da relação entre Deus e Israel. Quando tomou Gômer, a filha de Diblaim, como sua esposa e no devido tempo ela deu à luz um filho, Oséias reconheceu a criança como sua e lhe deu o nome de Jezreel. Mas convenceu-se de que o segundo e o terceiro filhos dela não eram dele, e os nomes que lhes deu expressavam a sua desilusão — Lo-ruhamah ("alguém por quem não se tem nenhuma afeição natural"), e Lo-ammi ("não parente meu"). Estes nomes simbolizavam a atitude de Deus para com o Seu povo Israel, que tinha quebrado a sua lealdade pactuai com Ele — Lo-ruhamah ("não objeto de minha afeição, ou misericórdia", ou "Desfavorecida") e Lo-ammi ("Nào-meu-povo"). Mas, por amor dos velhos tempos, Deus não permitirá que estas relações rotas permaneçam assim para sempre. Ele anela pelo dia em que aqueles que no presente são o Seu povo, e em que aqueles que no presente não têm direito aos Seus sentimentos bondosos, voltarão a ser objetos da Sua misericórdia.
O que Paulo fa?. aqui é tomar esta promessa, que se referia a uma situação delimitada pelas fronteiras do povo escolhido, e extrair dela um princípio da ação divina que, nos seus dias, estava a reproduzir-se em escala mundial. Em grande extensão mediante o ministério apostólico de Paulo, grande número de gentios que nunca tinham sido "o povo de Deus" e nunca tinham recebido a misericórdia da Sua aliança, vinham sendo arrolados como membros do povo de Deus, tornando-se beneficiários da Sua misericórdia. A escala da ação divina era muito mais ampla do que nos dias de Oséias, mas se podiam reconhecer o mesmo esquema c o mesmo princípio. Por intermédio da missão gentílica, naquelas terras onde o povo de Deus não tinha representantes outrora, havia agora muitos crentes reconhecidos como "filhos do Deus vivo".
26. E no lugar em que se lhes disse: Vós não sois meu povo; ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo.
("Filhos", RV, RSV, NEB, AA; "os filhos", AV.) Citação de Oséias 1:10.
27. Isaías (AV: Esaias, forma grega de Isaías).
Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Citado de Isaías 10:22. O sentido óbvio destas palavras é que, por numeroso que Israel seja, somente um remanescente, uma pequena minoria, sobreviverá ao juízo iminente (em que Deus usará os assírios como Seus instrumentos) e voltará do exílio. Mas, se somente sobreviverá um remanescente, ao menos um remanescente sobreviverá, constituindo a esperança de restauração. Não somente retornará o remanescente do exílio, mas "os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó" (Is 10:21). Este tema, retomado da profecia de Isaías, foi dado como nome a seu filho mais velho, Shear-yashub ("Um-resto-volverá"), que serviu, assim, de "sinal" vivo da mensagem de Deus, mediante o pai dele, ao povo (Is 7:3, 8:18). Paulo aplica a "doutrina do remanescente", de Isaías, à situação religiosa dos seus dias, nesta passagem e, de novo, em 11:5.
28. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente e em breve.
AV: "Pois ele terminará a obra, e em breve, com justiça: porque uma breve obra o Senhor fará na terra." Em AV (que segue o "Texto Recebido"), esta citação vem expandida, em conformidade com Isaías 10:23 (LXX), pelo acréscimo de "com justiça: porque uma breve obra". Leia-se com RV, semelhante a AA: "O Senhor executará sua palavra na terra, terminando-a e em breve" (ver RSV: "O Senhor executará a sua sentença na terra com rigor e com prontidão").
29. Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, ternos-iumos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra.
(AV: "Se o Senhor de Sabaoth...".) Numa época de grave perigo para Judá e Jerusalém sob os assírios invasores, Isaías usa esta linguagem (Is 1:9), dizendo de fato: "Se Deus não tivesse poupado um remanescente entre nós ("o simples germe de uma nação", NEB), teríamos sido eliminados tão completamente como Sodoma e Gomorra" (ver Gn 19:24). "Sabaoth" é uma transliteração do hebraico seba'oth, "hostes", "exércitos"; "o Senhor de Sabaoth" ê simplesmente "o Senhor dos exércitos" (como em AA); ver Tiago 5:4. A citação é da LXX.
c. Responsabilidade do homem (9:30-10:21).
(1) A pedra de tropeço (9:30-33).
Tendo considerado o problema do ponto de vista da eleição divina, Paulo agora o considera do ponto de vista da responsabilidade humana.
Que aconteceu de fato? O Evangelho, com sua proclamação da "justiça" outorgada por Deus aos crentes, veio ao judeu primeiro, e também ao gentio. Mas foi aceito primeiro pelo gentio. Os gentios responderam agradecidamente à mensagem que lhes assegurava que seriam aceitos por Deus com base em sua fé, e isto lhes "foi imputado para justiça". Os judeus, como um todo, continuavam a seguir o caminho da justiça da lei, procurando ser aceitos por Deus com base em sua guarda da lei, e contudo jamais atingiram a meta. A razão era simples: estavam seguindo um caminho errado. A aceitação da parte de Deus era assegurada à fé, e não às obras impostas pela lei. Era uma lição deveras difícil para eles aprenderem que, apesar de todos os privilégios que tinham como israelitas, a justiça divina só poderia ser alcançada por eles do mesmo modo pelo qual foi aberta para aqueles forasteiros completos que eram os gentios, os quais tinham sido, durante séculos, mantidos isolados do conhecimento de Deus e Seus caminhos. Não admira que o Evangelho fosse uma pedra de tropeço para eles.
Mas o próprio fato de ser pedra de tropeço fora previsto. E aqui Paulo torna a citar Isaías, e dá uma versão conjunta de dois pronunciamentos proféticos — Isaías 8:14s. e 28:16s. — cujo denominador comum é uma' 'pedra1' assentada numa época de calamidade e juízo.
31. Buscava lei de justiça.
Isto é, uma lei pela conformidade com a qual os israelitas esperavam ser justificados perante Deus.
Não chegou a atingir essa lei (AV: "... de justiça"). O texto mais bem documentado omite "de justiça". O sentido é que as exigências da lei não eram satisfeitas por aqueles que seguiam o caminho da justiça da lei da mesma forma que o eram por aqueles que não andam "segundo a carne, mas segundo o Espírito" (8:4).
32. Como que das obras (AV: "pelas obras da lei"). Leia-se simplesmente "pelas obras" (RV).
Tropeçaram na pedra de tropeço. Em Isaías 8:7s. o profeta prediz como a invasão assíria devastará as terras de Israel como as águas de uma grande inundação. Mas haverá um lugar de refúgio das águas avassa-ladoras: Deus mesmo será um "santuário" para todos quantos ponham sua confiança nele, a Rocha sobre a qual estarão firmes. Mas os que não se confiam a Ele, mas põem sua confiança em outros poderes ou recursos, serão arrastados pela enchente contra esta Rocha e ficarão em ruínas. Para eles, muito longe de ser ela um lugar de refúgio, será um perigoso obstáculo, uma "pedra de tropeço" e uma "rocha de escândalo" ou"de ofensa". A passagem é citada com o mesmo fim em 1 Pedro 2:8, onde Cristo ê descrito como "pedra de tropeço 96
e rocha de ofensa" para aqueles "que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos" (isto é, postos ou destinados pela palavra de Deus dita por intermédio de Isaías).
33. Como está escrito: Eis que ponho em Sião uma pedra de tropeço e rocha de escândalo (AV: "... e rocha de ofensa").
Em Isaías 28:16, em meio à advertência sobre o iminente dilúvio oriundo da Assíria que varrerá de vez o "refúgio da mentira" no qual orei e o povo estão pondo a sua confiança, a palavra de Deus vem ao profeta: . "Eis que eu assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular,8 solidamente assentada; aquele que crer não foge" (ou melhor, "não ficará em pânico"). Esta pedra fundamental parece que é o remanescente justo,9 a esperança do futuro, encarnado pessoalmente no Príncipe da casa de Davi. Esta profecia é aqui apresentada conjuntamente com Isaías 8:14 (mencionada acima, na nota sobre o v. 32). A combinação das duas passagens como uma profecia de Cristo e Sua salvação é lugar comum na apologética cristã primitiva, e é de fato pré-paulina. Vemo-las combinadas de modo semelhante em 1 Pedro 2:6-8, onde são vinculadas a uma terceira "pedra" testimonium — a pedra rejeitada do Salmo 118:22. (Em Lc 20:17s., a pedra rejeitada do salmo e a pedra de tropeço de Is 8:14 são associadas a outra "pedra" testimonium ainda — a pedra "cortada sem auxílio de mãos" que feriu a imagem do sonho de Nabucodonosor em Dn 2:34s.)
Aquele que nela crê não será confundido. Ver 10:11. Isaías 28:16 é citado aqui de acordo com a LXX. O sentido é que aqueles que confiam em Deus jamais precisarão temer que sua confiança nele venha a mostrar-se infundada. Deus defende a fé que Seu povo deposita nele, de modo que não precisam ficar embaraçados por causa dele, nem mesmo quando os homens dizem: "Confiou sua causa ao Senhor; que ele o livre, que o salve, pois nele tem prazer!" (Sl 22:8, RSV). O texto hebraico todavia diz: "Aquele que crê não ficará aflito" (RSV); isto é, o homem que se firma no alicerce de Deus "mantém a cabeça fria quando todos à sua volta estão perdendo a cabeça e estão pondo a culpa nele"; não fica girando e rondando para cá e para lá, mas confia em Deus, certo de que o Seu propósito se cumprirá no tempo de Deus. Ê possível que os tradutores da LXX tenham lido no texto hebraico que tinham diante de si Io'yebosh ("não será confundido", ou "não ficará envergonhado") em vez de Io'yahish ("não se afligirá"), mas esta suposição não é indispensável.
(2) Os dois meios para a justiça (10:1-13).
Por tudo isso Paulo não deixará de orar pela salvação de Israel. Ele entende o estado mental dos israelitas muitíssimo bem: "Têm zelo por Deus, porém não com entendimento". Isso descreve com exatidão a sua própria atitude antes do encontro que teve com o Cristo ressurreto. Desse seu zelo ele fala noutro lugar: seu zelo pelas antigas tradições herdadas do seu povo o tinha impelido a tomar a dianteira dos seus contemporâneos em sua dedicação ao estudo e à prática da religião judaica, e lhe forneceu a força motivadora para os seus enérgicos ataques à nascente igreja de Jerusalém (ver Gl l:13s.; Fp 3:6). Ele também tinha dado com os pés contra a pedra de tropeço, até que caíram as escamas dos seus olhos e sua vida recebeu nova orientação. Agora, sua ambição consumidora era que Cristo fosse engrandecido em toda a sua vida e obra (ver Fpl:20).
E se isso aconteceu com ele, por que não podia acontecer com o seu povo? Certo, no presente não conheciam o meio divino de justificação, mas se empenhavam em estabelecer o deles. Contudo, como o próprio Paulo tinha visto que Cristo liqüidou com a lei, concebida como meio de aquisição de favor diante de Deus, assim poderia suceder com os seus patrícios, quando encontrassem também o caminho da fé.
Os dois caminhos — o da lei e o da fé — são ilustrados com citações do Pentateuco. A primeira é de Levítico 18:5: "Portanto os meus estatutos e os meus juízos guardareis; cumprindo os quais, o homem viverá por eles." Aí, diz Paulo, o princípio da justiça mediante alei está expresso com clareza: o homem que faz estas coisas, obterá vida por fazê-las. "Que é que há de errado nisso?", poder-se-ia perguntar. Justamente isto, seria a resposta de Paulo, que ninguém conseguiu fazê-las perfeitamente e, portanto, ninguém conseguiu obter vida deste modo. Mesmo podendo descrever sua carreira anterior como, "quanto à justiça que há na lei, irrepreensível" (Fp 3:6), bem sabia que era irrepreensível somente aos olhos dos homens, mas não diante de Deus.
Para ilustrar a justiça que vem pela fé, Paulo vai a outro lugar do Pentateuco — à exortação de despedida de Moisés a Israel em Deute-ronômio 30 — e cita os versículos 11-14: "Porque este mandamento, que hoje te ordeno, não é demasiado difícil, nem está longe de ti. Não está nos céus, para dizeres: Quem subirá por nós aos céus, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir para que o cumpramos? Nem está além do mar, para dizeres: Quem passará por nós além do mar, que no-lo traga, e no-lo faça ouvir, para que o cumpramos? Pois esta palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração, para a cumprires." Estas palavras Paulo as acha admiravelmente aplicáveis à linguagem da "justiça decorrente da fé", e faz ligeiro comentário delas neste sentido.
Esta é a substância do seu comentário: Deus trouxe até nós a Sua salvação, em Cristo. Não temos que "escalar os degraus dos céus" para procurá-la, pois Cristo desceu à terra com ela. Não precisamos "descer às profundezas" por ela, pois Cristo ressuscitou dos mortos para no-la assegurar. Ela está aqui, presente e ao nosso alcance. O que somos chamados a fazer é aceitá-la pela/é que venha do coração — crer em nossos corações que Deus O ressuscitou dos mortos — e proclamá-lo como Senhor. A fé salvadora é fé na ressurreição: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé" (1 Co 15:17). E a confissão de Cristo é profissão pública: "Jesus é Senhor", sendo este o mais antigo — e suficiente — credo cristão.
Os que põem sua fé em Cristo para salvação, recebem como incentivo as palavras de segurança de Isaías 28:16 (já citadas em 9:33): os que se confiam a Cristo jamais ficarão "desapontados".
Esta justiça que Deus anuncia é aberta a todos os homens e mulheres de fé, sem distinção, sejam judeus ou gentios. Sua misericórdia salvadora é prodigalizada sem discriminação nem restrição: todos os que O in-vocam a recebem. Num estágio anterior da argumentação de Paulo, as palavras "não há diferença" (ou "distinção") soaram com um timbre de crueldade, porque tornavam o judeu e o gentio igualmente réus convictos de pecado contra Deus, e incapazes de ganharem a aceitação divina por seus esforços ou méritos pessoais. Agora as mesmas palavras ressoam com tons alegres porque proclamam tanto ao judeu como ao gentio que os portais da misericórdia de Deus estão abertos de par em par, podendo eles entrar, e que o Seu perdão gratuito está assegurado em Cristo a todos os que o buscam pela fé.
1. A favor deles.
Assim AA, RV, RSV. AV: "Por Israel."
2. Lhes dou testemunho.
Melhor do que "Faço-os lembrar" (AV).
3. Procurando estabelecer a sua própria justiça.
Ou "esforçando-se por estabelecer a sua própria justiça". 
 
4. O fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê.
"Cristo conclui a lei e traz justiça para todo aquele que tem fé" (NEB). A palavra "fim" (telos) tem duplo sentido; pode significar "alvo" ou "término". Por um lado, Cristo é a meta visada pela lei, no sentido de que Ele é a encarnaçâo da perfeita justiça, sendo que veio a "engrandecer a lei e fazê-la gloriosa" (ver Is 42:21); em Mateus 5:17 vemos estas palavras do próprio Senhor Jesus: "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir". E a lei é cumprida na vida daqueles que estão "em Cristo Jesus" (ver 8:3s.). Por outro lado (e esta é a ênfase primordial das palavras de Paulo), Cristo é a terminação da lei no sentido de que, com Ele, a velha ordem, da qual a lei fazia parte, foi eliminada, para ser substituída pela nova ordem do Espírito. Nesta nova ordem, a vida e a justiça são acessíveis mediante a fé em Cristo; portanto, ninguém precisa tentar obter essas bênçãos por meio da lei. (Ver P-49.)
5. O homem que praticar a justiça decorrente da lei, viverá por ela.
Paulo já tinha citado Levítico 18:5 com finalidade semelhante em Gálatas 3:12, mostrando que "a lei não procede de fé"; ali o contraste bíblico é Habacuque 2:4: "o justo viverá pela fé".
6-8. Mas a justiça decorren te da fé assim diz....
Aqui o contraste bíblico de Levítico 18:5 é Deuteronômio 30:11-14. Mas em sua colocação primária, o significado da última é quase precisamente o da primeira citação de Levítico 18:5. Ali os estatutos e juízos de Deus foram impostos aos hebreus para que os cumprissem e vivessem. Aqui, de modo semelhante, é a palavra do mandamento de Deus que é apresentada a cada um deles, "para a cumprires" (significativamente, Paulo omite esta última frase). E que praticar o mandamento era o ca- minho da vida é evidenciado pelas palavras de Moisés que se seguem imediatamente às recém-citadas: "Vê que proponho hoje avidaeobem, a morte e o mal; se guardares o mandamento, que hoje te ordeno, que ames ao Senhor teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então viverás e te multi-plicarás" (Dt 30:15s.). Dando por concedido que Deuteronômio está coberto por um fervor profético e, às vezes, quase evangélico, fervor não proeminente em Levítico — concedido também que no linguajar de Deuteronômio 30:11-14 ("na tua boca e no teu coração") há uma inte-rioridade que antecipa o pronunciamento profético de Jeremias sobre a "nova aliança" (Jr 31:33) — ainda assim para nós não é tão fácil, comoo foi para o apóstolo, traçar uma distinção entre o sentido de Levítico 18:5 e o de Deuteronômio 30:llss. Pode ser que Paulo já estivesse familiarizado com uma interpretação da passagem que lhe facilitou a aplicação dela ao Evangelho. Caso estivesse acostumado a ver nesta passagem uma referên-cia à sabedoria (é relacionada com a sabedoria em Baruque 3:29s.), então Paulo, para quem Cristo era a sabedoria de Deus (ver 1 Co 1:24, 30), poderia prontamente ter-lhe dado uma interpretação cristã.
Aqui está, pois, sua exposição da linguagem apropriada à justiça que é recebida pela fé (particularmente no esXWopesher'a que agora nos é familiar graças aos textos de Qumran: Não diga a si próprio: "Quem subirá ao céu?" — isto é, para trazer Cristo para baixo (como se Ele nunca se tivesse encarnado e nunca tivesse vivido na terra).
Não diga: "Quem descerá às maiores profundezas?" — Isto é, para trazê-lo de volta da morada dos mortos (como se Ele já não tivesse ressuscitado para uma vida nova).
Que se diz então? Isto!
A mensagem está bem perto de você, em sua língua, no seu coração — isto é, a mensagem da fé que proclamamos, que se você confessar com a sua língua que Jesus é Senhor, e crer no seu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, você terá a salvação. É com o coração que os homens exercem a fé pela qual Deus os aceita como justos; é com a língua que fazem confissão e, assim, recebem a salvação.
9. Se com a tua boca confessares a Jesus como Senhor.
AV: "... o Senhor Jesus". As últimas três palavras deviam ser colocadas entre aspas. Ver NEB: "Se nos teus lábios estiver a confissão: 'Jesus é Senhor' ". Esta é a confissão (Kurios ISsous) que, como Paulo diz em 1 Coríntios 12:3, ninguém pode fazer senão "no Espírito Santo" (RV). Ver Filipenses 2:11, onde a confissão "Jesus Cristo é Senhor" eqüivale a reconhecer a suprema honra à qual Deus exaltou a Cristo (ver p. 152). Alguns comentadores entendem que se trata particularmente da confissão do nome de Jesus Cristo diante dos magistrados (ver Lc 21:12-15; 1 Pe 3:13-16); mas se devemos pensar numa ocasião de destacada importância para se fazer essa confissão, talvez devamos achar mais provável aquela primeira confissão — "a resposta de uma boa consciência" (1 Pe 3:21)" — feita no batismo cristão.
13. Todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo.
Citação de Joel 2:32, onde a passagem se relaciona com o período das vésperas do "grande e terrível dia do Senhor" em que o Espírito de Deus há de se derramar sobre toda a carne. Compare-se isto com o uso que Pedro faz da mesma passagem bíblica para explicar os acontecimentos do dia de Pentecoste:' 'O que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel" (At 2:16).
(3) Proclamarão universal (10:14-21).
Daí surge a necessidade de proclamar o Evangelho no mundo inteiro. Os homens são exortados a invocar o nome do Senhor e serem salvos. Mas não invocarão o Seu nome a menos que sejam movidos a crer nele, não crerão nele a menos que ouçam falar dele, não podem ouvir dele a menos que alguém lhes leve as novas, e ninguém pode levar as novas a menos que seja enviado para isso. O pregador é um "apóstolo" no sentido primário da palavra; é um arauto ou embaixador que transmite a mensagem de alguém que o autorizou a entregá-la. Aqui Paulo engrandece o ofício do apóstolo ou evangelista. Por sua proclamação da anistia divina, Deus tem prazer em dar a compreender a Sua misericórdia aos que crêem na mensagem. Dos que levam estas alegres novas, o profeta falou séculos antes: "Que formosos são sobre os montes os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, que anuncia cousas boas, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!" (Is 52:7; ver nota sobre 1:1, pp.59s.).
Como, porém, isso tudo se aplica ao problema da incredulidade judaica? A mensagem veio tanto a judeus como a gentios; de fato veio primeiro aos judeus. Mas os judeus (na maior parte) não lhe deram ouvidos. Bem, nem isso foi imprevisto, como se pode colher da interrogação de Isaías 53:1: "Quem creu em nossa pregação?" A significação destas palavras com relação ao Evangelho surge não só do contexto geral de Isaías 40-66, mas ainda mais do contexto particular do quarto Cântico do Servo (Is 52:13-53:12), que tanto contribuiu para a interpretação neotestamentária da paixão e da vitória de Jesus. Contudo, este versículo é citado noutra parte do Novo Testamento como uma das várias citações de Isaías empregadas para explicar a descrença de Israel.
Mas se o desapontado mensageiro pergunta: "Quem creu em nossa mensagem?", é evidente que a mensagem tinha por fim produzir fé. E é evidente que a própria mensagem, para ter autoridade, repousa na or-dem e comissão dada diretamente por Cristo.
Entretanto, não pode ser que (sugere um pesquisador interessado) nem todos do povo de Israel tenham ouvido a mensagem? A verdade é que ouviram, Paulo replica. O Evangelho foi levado a todos os lugares onde há uma comunidade judaica. Fala isto citando, com relação ao Evangelho, as palavras do Salmo 19 acerca da mensagem dos corpos celestes. Parece exagero usar dessa forma a linguagem da citação. Depois de tudo, o Evangelho não fora levado a todas as partes da terra, e nem sequer a todas as terras então conhecidas pelos habitantes do mundo greco-romano. Paulo estava ciente disso. Nessa mesma ocasião, ele estava planejando evangelizar a Espanha, província na qual ainda não era conhecido o nome de Cristo. Tudo que Paulo queria dizer era que, onde quer que houvesse judeus, o Evangelho fora pregado.
Bem, volta o inquiridor, segundo parece eles ouviram o Evangelho, mas talvez não o tenham compreendido. Não foi isso não, diz Paulo. Eles o compreenderam bem, mas recusaram obedecer. Mostraram inveja e indignação quando os gentios aceitaram a mensagem, mas eles mesmos não quiseram crer nela. Mas também isto cumpriu a palavra da profecia. No Cântico de Moisés (Dt 32), descrevem-se a desobediência e a in-gratidão de Israel. Deus acusa de idolatria os filhos de Israel (versículo 21):
"A zelos me provocaram com aquilo que não é Deus; com seus ídolos me provocaram à ira."
Então Deus pronuncia a sentença:
"Portanto eu os provocarei a zelos com aquele
que não é povo;
com louca nação os despertarei à ira."
Por Paulo — e com toda a probabilidade não só por ele — a linguagem desta sentença: "Eu os provocarei a zelos com aquele que não é povo", é interpretada como fazendo alusão ao mundo gentílico. Como Deus há de provocar Israel a zelos por meio de uma gente gentia que não é povo? Mostrando a Israel as bênçãos derramadas sobre os gentios quando estes abraçam Cristo pela fé. Deus não fala mais deles como não sendo "meu povo", mas lhes chama Seu povo. Provocado a zelos ao ver isso, Israel pergunta por que estas bênçãos não hão de pertencer-lhe, e com maior razão; e recebe a segurança de que lhe pertencerão, sobre a mesma base — fé em Cristo. Paulo desenvolve esta esperança no capítulo 11, mas resume esta fase da sua argumentação com o contraste entre duas passagens que aparecem justapostas em Isaías 65. O primeiro versículo daquele capítulo é aplicado aos gentios, que depois de viverem séculos sem o conhecimento do verdadeiro Deus, voltaram-se para buscá-lo. Isaías, diz o apóstolo, vai ao cúmulo da ousadia quanto à linguagem que emprega com relação a eles, atribuindo a Deus estas palavras:
"Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim."
Mas o versículo seguinte aplica-se a Israel:
"Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente."
14. Como, porém, invocarão ...?
Mas o sujeito é indefinido (como em RSV, que diz: "Mas como os homens haverão de invocar...?").
15. Quão formosos são os pés dos que pregam o evangelho de paz e trazem alegres novas de cousas boas!
A frase "que pregam o evangelho de paz" foi acrescentada ao texto de Paulo em MSS mais tardios (a começar de algumas testemunhas ocidentais) para dar conformidade com a citação de Isaías 52:7 (ver RV, RSV, NEB). Aqui Paulo dá sua própria versão grega do conteúdo substancial do hebraico em vez de reproduzir a LXX, que obscurece o sentido deste versículo.
Em primeira instância, estas palavras se referem aos que levaram da Babilônia a Jerusalém as boas novas de que se haviam passado os dias do cativeiro e a restauração estava próxima. Mas no Novo Testamento, toda esta seção do livro de Isaías, do capítulo 40 em diante, é interpretada como falando da era do Evangelho. A libertação de Israel da Babilônia sob Ciro, como a libertação do Egito nos dias de Moisés, é tratada como a prefiguração da maior e perfeita libertação realizada por Cristo. A voz em Isaías 40:3 que clama pela preparação de uma vereda no deserto pela qual Deus leve Seu povo libertado de volta a Sião, vem a ser a voz de João Batista, convocando no deserto da Judéia um povo preparado para o Senhor; o "ano aceitável do Senhor" (Is 61:2) é proclamado por Jesus no princípio do Seu ministério na Galiléia; e outros exemplos mais do cum-primento desses capítulos aparecem nos versículos que se seguem.
16. Senhor, quem acreditou na nossa informação?
O vocativo "Senhor" é um acréscimo feito pela LXX. Em Isaías53:l a pergunta é feita por aqueles que ouvem o anúncio da exaltação do Servo Sofredor (ver o versículo imediatamente anterior, Is 52:15, citado abaixo, em 15:21). "Quem acreditaria no anúncio que ouvimos?", perguntam cheios de surpresa, quando rememoram a humilhação do Servo. O anúncio, incorporado na mensagem do Evangelho, ainda é recebido com incredulidade, Paulo diz — desta vez, não pelos reis e nações de que fala Isaías 52:15, mas pelo povo judeu em massa. Isaías 53:1 é citado em João 12:38 para explicar a razão por que o povo falhou, não crendo em Jesus como o Messias durante o Seu ministério em Jerusalém; forma par ali com a citação de Isaías 6:9, também amplamente divulgada nos primitivos tempos cristãos como um testimonium predizendo a incredulidade judaica (ver 11:8).
17. A fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo.
AV: "A fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus." "Ouvir" é a mesma palavra "informação" (AV) que ocorre na citação de Isaías 53:1 no versículo anterior (grego: akoe); aqui ela indica a mensagem que é ouvida. Quanto à frase "palavra de Deus", a redação mais bem documentada é "palavra de Cristo" (RV, NEB, AA), i. e., "a pregação de Cristo" (RSV), a mensagem do Evangelho, a qual leva os seus ouvintes a crerem.
18.Por toda a terra se fez ouvir a sua voz, e as suas palavras até aos con fins do mundo.
É desnecessário supor que Paulo considerava o Salmo 19:4 como predição da disseminação mundial do Evangelho. Ele quer dizer que a disseminação do Evangelho está-se tornando tão universal como a luz irradiada pelos corpos celestes. "A sua voz" (AV: "o seu som") segue a LXX contrariamente a "sua linha". Possivelmente os tradutores da LXX leram qolam ("sua voz") na cópia de que dispunham, em vez de qawwam ("sua linha"). Quanto ao "universalismo representativo"12 envolvido na citação, ver Colossenses l:5s. ("do evangelho, que chegou até vós; como também em todo o mundo"), 23 ("do evangelho (...) foi pregado a toda criatura debaixo do céu").
19. Já Moisés dissera.
A citação é tomada do Cântico de Moisés (Dt 32:21). Mas aqui Moisés representa Deus falando. O Cântico de Moisés deu aos cristãos primitivos um notável número de testimonia — geralmente, mas não exclusivamente, sobre o tema da incredulidade judaica (ver 1 Co 10:20, 22, eco de Dt 32:16s.; Fp 2:15, eco de Dt 32:5; Hb 1:6, citação de Dt 32:43, LXX).13 Os escritores posteriores das apologias anti-judaicas consideravam como ponto forte em sua argumentação o fato de que neste Cântico o próprio Moisés testifica contra os judeus (ver Justino, Diálogo com Trifo 20, 119, 130). Parece também que o Cântico desempenhou papel importante no pensamento teológico da comunidade de Qumran.14
Eu vos porei em ciúmes com um povo que não é nação. AV: "com aqueles que não são povo". Porque tinham provocado ciúmes em Deus cultuando um "não-deus" (hebraico Io '-'et), Deus os poria em ciúmes por meio de um "não-povo" (heb. lo'-'am). Significa que no transcurso da história Ele usou esta ou aquela nação gentílica como instrumento do Seu juízo sobre Israel — gente que os israelitas consideravam como "não-povo" no sentido de que não entrara no propósito da eleição divina para ser um povo nos termos em que Israel o era. Mas, à luz das passagens já citadas de Oséias (ver 9:25s.), Paulo reinterpreta essas palavras com referência à nova situação do Evangelho. Para alguém acostumado com a Bíblia dos hebreus, como Paulo estava, a comparação do lo'-'am de Moisés com o lo'-'ammi de Oséias (ver p. 159) vinha à lembrança prontamente (mais do que a alguém que dependesse exclusivamente da LXX).
Em que termos Paulo entendeu a provocação feita pelos gentios a Israel, levando-o a ter ciúme, vê-se abaixo em 11:11.
Com gente insensata eu vos provocarei à ira. Os gentios eram insensatos (AV: "loucos") do ponto de vista judaico; no sentido de que estavam alienados do conhecimento de Deus.
20. E Isaías a mais se atreve.
Quer dizer, vai a extremos de ousadia, ainda além do ponto alcançado por Moisés, em sua afirmação do paradoxo de dar Deus Suas misericórdias pactuais aos que não eram Seu povo e não tinham direito àquelas misericórdias.
Fui achado pelos que não me procuravam. ... Em seu contexto original, estas palavras de Isaías 65:1 talvez se refiram a Israel em sua rebelião (ver RSV: "Eu estava pronto para ser procurado por aqueles que não perguntavam por mim. ..."); mas, da mesma forma como em sua aplicação da profecia de Oséias, Paulo reconhece aqui um princípio que, na situação dos seus dias, era aplicável aos gentios.
21. Quanto a Israel, porém, diz.
Se Paulo acha Isaías 65:1 aplicável ao fato de os gentios aceitarem avidamente o Evangelho, acha igualmente Isaías 65:2 aplicável ao fato de os judeus em geral o rejeitarem.
d. O propósito de Deus para Israel (11:1-29). (1) A alienação de Israel não é final (11:1-16).
Israel podia ser "um povo rebelde e contradizente", mas Deus nâo os proscrevera agora mais fortemente do que o fizera em dias anteriores, quando rejeitava a palavra divina mediante Moisés e os profetas. "Aos que de antemão conheceu, também os predestinou" é um princípio não omitido no caso de Israel. Como nos tempos do Velho Testamento, assim também nos tempos apostólicos, o propósito de Deus na escolha do Seu povo era salvaguardado por Sua preservação de um remanescente fiel. Na época de Elias, num período em que a apostasia nacional assumira as dimensões de um desmoronamento, havia uma pequena minoria fiel de sete mil que negou culto a Baal; e assim havia nos dias de Paulo uma pequena minoria fiel que não rejeitara o Evangelho. Paulo devia saber, pois era um deles. Sua descendência de Abraão por meio de um dos filhos de Israel estava bem estabelecida, e contudo era crente em Jesus, como o eram muitos outros dos seus compatriotas "segundo a carne". Constituíam um remanescente fiel, escolhido pela graça de Deus, e sua existência era, em si mesma, uma prova de que Deus não abandonara a Israel, nem renunciara ao Seu propósito para ele. Mesmo que Israel em massa tivesse falhado em alcançar Seu propósito, o remanescente eleito o cumpriria. A cegueira que afetava a maioria fora prevista por Deus (aqui se aduzem mais três testimonia, em acréscimo ao testimonium da "pedra" composta de 9:33 — um de Isaías, um de Deuteronômio e um do Sal-tério). Mas esta condição não deveria ser permanente.
Israel tinha tropeçado, mas não caíra a ponto de não poder levantar-se mais. Por seu tropeção, as bênçãos do Evangelho foram estendidas mais imediatamente aos gentios. Em Atos dos Apóstolos, a recusa re-petida da comunidade judaica, de um lugar ou de outro, em aceitar a salvação oferecida é que dá ocasião aos apóstolos para a apresentarem diretamente aos gentios. "Cumpria que a vós outros em primeiro lugar fosse pregada a palavra de Deus", disseram Paulo e Barnabé aos judeus de Antioquia da Pisídia; "mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios" (At 13:46; ver 28:28). Se os judeus tivessem aceitadoo Evangelho, teriam o privilégio de torná-lo conhecido aos gentios; como aconteceu porém, os gentios o ouviram sem a instrumentalidade deles. Mas se o tropeção de Israel dera ocasião a muitas bênçãos para os gentios, que haveria de significar o despertamento e restauração de Israel senão uma verdadeira ressurreição!
Paulo se dirige então mais pessoalmente aos gentios, dentre os seus leitores, que talvez se inclinassem a ter em pouca conta os seus irmãos judeus, e a não ter a mínima consideração por aqueles judeus que não aceitaram o Evangelho. "Sou judeu de nascimento", diz ele, "sou o apóstolo dos gentios, e tenho em mui alta conta a honra da minha missão. Faço isso não somente por amor dos gentios a quem levo o Evangelho, mas também por amor dos meus irmãos judeus. Quero incitá-los ao ciúme, quando virem os gentios entrando no pleno gozo das bênçãos do Evangelho. Quero fazer com que digam: 'Por que os gentios deveriam ter todas estas bênçãos? Por que nós não deveríamos partilhar delas?' Bem pode ser que falem assim, pois estas bênçãos são o cumprimento da esperança dos seus antepassados; eles estão ligados pela fé ao seu próprio Messias. E quando por fim Israel como um todo for estimulado a reivindicar o Messias com todas as bênçãos que Ele traz, as palavras não podem descrever a bênção que a sua conversão representará para o mundo."
Esta consumação não é um sonho ocioso, sustenta Paulo; tem a garantia do indefectível propósito de Deus. O primeiro pão da fornada já foi apresentado a Deus, e sua consagração significa que toda a fornada é santa para Ele. "A raiz da árvore é santa, e os ramos participam inevitavelmente da sua santidade."
1. Terá Deus, porventura, rejeitado o seu povo?
Esta interrogação (estruturada em grego de molde a requerer a resposta "Não"), e a afirmação do versículo 2: "Deus não rejeitou o seu povo...", são um eco da terminologia empregada na LXX para o Salmo 94:14: "O Senhor não rejeitarão seu povo" (ver 1 Sm 12:22).
Da descendência de Abraão. AV: "Da semente de Abraão." Aqui a frase é usada tanto no sentido natural como no sentido espiritual (ver 2 Co 11:22).
Da tribo de Benjamim. (Ver Fp 3:5.) É uma "coincidência não proposital" entre as epístolas paulinas e Atos que, enquanto somente pelas primeiras ficamos sabendo que Paulo era da tribo de Benjamim, somente este nos informa que o nome judaico dele era Saulo (AV: "Saul"). Não é surpreendente que pais que eram descendentes da tribo de Benjamim e acariciavam altas ambições para seu filho recém-nascido lhe dessem o nome do mais ilustre membro daquela tribo, na história de Israel — "Saul, filho de Quis, da tribo de Benjamim" (para citar a referência feita pelo próprio Paulo ao primeiro rei de Israel, em At 13:21, RV).
2, 3. Ou não sabeis o que a Escritura refere.
A referência aqui é a 1 Reis 19:10, 14, onde quem fala é de fato Elias.
A respeito de Elias. Leia-se "em Elias", pois parece que "Elias" ali é o título daquela seção dos livros de Reis (talvez 1 Rs 17:1—2 Rs 2:18) de onde foi tirada a citação (ver Mc 12:26, onde "no trecho referente à sar-ça", AV: "em a sarça", significa: "na seção do livro de Êxodo intitulada 'A Sarça' ").
4. A resposta divina.
AV: "A resposta de Deus." Grego: chrêmatismos, empregado para significar uma resposta divina, como o verbo transitivo chrêmatizõ (ver Mt 2:12, 22; Lc 2:26; Hb 8:5, 11:7, 12:25).
Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram joelhos. ... Citação de 1 Rs 19:18, mais próxima do texto hebraico do que da LXX (que diz: "Tu reservarás ...") — embora não haja nada no texto hebraico (nem na LXX) correspondente a "para mim". A melhor tradução do texto hebraico é com o verbo no futuro: "Contudo, deixarei. ..." (RV; ver RSV) — sendo a referência ao remanescente de apenas sete mil que sobreviveriam à matança que seria feita pelas espadas de Hazael, Jeú e Eliseud Rs 19:17).
Diante de Baal. AV: "À imagem de Baal." Como AV o demonstra por meio de itálicos, não há nenhuma palavra no texto grego (nem no texto hebraico subjacente) correspondente a "imagem". Os tradutores a introduziram numa tentativa de fazer justiça ao estranho fenômeno de o substantivo masculino Baal vir precedido da forma feminina do artigo definido (te). Esta redação de 1 Rs 19:18 não se acha nos MSS da LXX existentes, mas evidentemente reflete um texto hebraico em que o nome idolátrico de Baal era marcado para ser substituído (pelo menos nas leituras em público) pelo substantivo feminino bosheth, "vergonha".
6. E se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça.
AV acrescenta: "Mas se é pelas obras, então não é mais graça; do contrário, as obras já não são obras." Esta intrusão no argumento de Paulo não faz parte do texto original (ver RV, RSV, NEB). Provavelmente foi escrita como nota marginal por algum escriba ou leitor que achava que podia estabelecer o inverso do princípio firmado na primeira metade do versículo, e depois foi incluída no texto por engano.
7. E os mais foram endurecidos (assim em RV e RSV; AV: "foram cegados").
O verbo gregopõroõ significa "endurecer" ou "tornar insensível", e não "cegar" (ver o substantivo põrõsis no versículo 25, traduzido por "cegueira" em AV, NEB, e por endurecimento" em RV, RSV, AA). No idioma inglês moderno (como em português) o termo "cegueira" é livremente empregado para indicar insensibilidade moral. Daí NEB: "Os mais foram tornados cegos para a verdade." Se se perguntar quem os tornou cegos, o versículo 8 dá clara resposta. Não é a primeira vez nesta epístola (ver 1:21, 9:17s.)15 que Paulo diz que tal insensibilidade moral é infligida por Deus como penalidade judicial pela recusa em dar ouvidos à palavra divina.
8. Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver e ouvidos para não ouvir, até ao dia de hoje.
Citação de Isaías 29:10 ("O Senhor derramou sobre vós o espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos") e Deuteronômio 29:4 ("O Senhor não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje"). A referência a olhos que não vêem e a ouvidos que não ouvem é reminiscência também de Isaías 6:9s. ("Ouvi, ouvi, e não entendais; vede, vede, mas não percebais"), usado pelos quatro evangelistas como um testimonium do fracasso dos judeus não reconhecendo Jesus como o Messias (Mt 13:14s.; Mc 4:12; Lc 8:10; Jo 12:40; ver também At 28:26s.). (Ver nota sobre 10:16, p. 169.)
A palavra traduzida por "entorpecimento" em AA, "sonolência" em AV e "torpor" em RV e RSV, ékatanuxis (assim em Is 29:10, LXX), que significa literalmente "picada" ou "ferroada", e daí vem a ser usada também com referência ao entorpecimento resultante de certas espécies de picada (NEB acordemente traduz: "entorpecimento de espírito").
Não há boa razão para o fato de AV colocar todo este versículo, menos as três últimas palavras, entre parênteses. "Até ao dia de hoje" é parte da citação de Deuteronômio 29:4.
9. Ediz Davi: Torne-se-lhes a mesa em laço e armadilha...
Os versículos 9 e 10 foram tomados do Salmo 69:22s. (LXX). Este salmo era de uso generalizado na igreja, desde os seus primeiros dias, como um testimonium do ministério, e principalmente da paixão de Cristo (ver a alusão ao versículo 4 em Jo 15:25; ao v. 9 em Jo 2:17 e 15:3; ao v. 21 em Mt 27:48). Se quem fala no salmo é Cristo, aqueles contra os quais são apresentadas queixas, são interpretados como Seus inimigos (ver a aplicação do versículo 25 a Judas Iscariotes em Atos 1:20). Observemos a repetição do tema dos olhos que não vêem (v. 10, citando o Sl 69:23); aqui jãz a principal relevância da citação para o presente argumento de Paulo — a "cegueira" temporária que dominou Israel, com a exceção do remanescente crente.
11. Pela sua transgressão veio a salvação aos gentios, para pô-los em ciúmes.
Esta é a interpretação que Paulo dá das palavras do Cântico de Moisés (Dt 32:21) já citadas em 10:19. É pela bênção que dá àqueles que antes eram "não-povo" com relação a Ele, pela salvação que "uma nação insensata" recebeu por sua pronta aceitação do Evangelho, que Deus provocará ciúmes em Israel.
12. Quanto mais a sua plenitude?
A "plenitude" (plêrõma) dos judeus deve ser entendida no mesmo sentido da "plenitude" dos gentios (v. 25). A conversão do mundo gen-tílico em larga escala deve seguir-se da conversão em larga escala de Israel (ver v. 26).
15. Vida dentre os mortos.
O sentido talvez seja que a conversão de Israel será precursora imediata da ressurreição, para coincidir com a parousia de Cristo (ver a nota sobre 11:26,pp. 179s.).
16. Se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade.
A alusão é provavelmente a Números 15:17-21, onde os israelitas recebem ordem para oferecer a Deus um bolo feito com massa de farinha da primeira colheita, de trigo recém-trilhado na eira. A apresentação desse bolo a Deus santifica a fornada toda. Em 1 Coríntios 15:23, onde se fala de "Cristo, as primícias", embora a palavra (grego: aparche) seja a mesma, a alusão é mais ao feixe dos primeiros produtos da colheita de cevada que devia ser "movido" diante do Senhor no domingo seguinte à Páscoa, consagrando assim toda a colheita (Lv 23:10s.)- Aqui as "pri-mícias" abrangem, com toda a probabilidade, aqueles judeus de nascimento que, como Paulo, aceitaram a Jesus como Messias e Senhor.
Se for santa a raiz, também os ramos o serão. Mudando a metáfora, Paulo diz agora que, como uma árvore é, toda ela, de um só caráter, a santidade da raiz santifica os ramos. É natural dar à "raiz" o mesmo sen-tido de "primícias", mas se a figura da raiz e dos ramos for independente, devemos pensar nos patriarcas como constituindo a raiz da árvore cujos ramos são os israelitas da era cristã. Isso estaria de acordo com a descrição posterior que Paulo faz de Israel como "amados por causa dos patriarcas" (versículo 28). Ê possível que haja uma transição de pensamento aqui, quando Paulo passa de uma figura a outra.10
(2) A parábola da oliveira (11:17-24).
A referência à raiz e aos ramos leva Paulo a desenvolver sua parábola da oliveira — parábola freqüentemente citada contra ele para mostrar que era um típico habitante de cidade, não afeito aos mais elementares fenômenos do campo. Pois um jardineiro não faz enxerto de uma fruteira silvestre numa fruteira cultivada; é um renovo ou broto tirado de uma árvore cultivada que deve ser enxertado no tronco de uma planta da mesma espécie. Sir William Ramsay, com efeito, citaTeobaldo Fischer, que teria dito que era costume na Palestina, há 60 anos, "revigorar uma oliveira que já está cessando de frutificar, enxertando nela um broto de oliveira silvestre, e assim a seiva da árvore enobrece este broto selvagem, e a árvore recomeça a dar fruto".17 Um processo parecido era comum nos tempos romanos. Columella, contemporâneo de Paulo, evidencia isso pois, segundo ele, quando uma oliveira está produzindo mal, faz-se nela o enxerto de uma oliveira silvestre, o que dá novo vigor à árvore.18
De qualquer forma, a parábola de Paulo é clara. Eis duas oliveiras — uma cultivada e a outra silvestre. Esta produzia frutas pobres, com pouco óleo; a primeira normalmente produzia bons frutos. A oliveira é Israel, o povo de Deus; a oliveira silvestre é o mundo gentílico. Mas a oliveira foi-se enfraquecendo e ficando improdutiva. Portanto, os ramos velhos foram cortados e foi feito um enxerto da oliveira silvestre. "A poda dos ramos velhos era necessária para permitir que o ar e a luz atingissem o enxerto, e também para impedir que a vitalidade da árvore se difundis-se demais por um grande número de galhos" (W. M. Ramsay, op. cit., p. 224). O enxerto tirado da oliveira silvestre é a soma total dos crentes gentios, agora incorporados no povo de Deus; os galhos velhos cortados são os judeus que rejeitaram o Evangelho.
É-nos dito que esse enxerto incomum afeta o renovo enxertado e o tronco que o recebeu. O tronco velho é revigorado pelo enxerto novo e, por seu turno, o enxerto novo, alimentado pela seiva do tronco da oliveira, pode produzir frutos que a oliveira silvestre jamais poderia produzir.
Os cristãos gentios não se devem render à tentação de mostrar desdém aos judeus. Não fora a graça de Deus que os enxertou no Seu povo e fez deles "concidadãos dos santos" (Ef 2:19), teriam permanecido para sempre sem vida e sem frutos. A nova vida que os capacita a produzir frutos para Deus é a vida do velho tronco de Israel, no qual foram enxertados. Israel não lhes deve nada; eles são devedores a Israel. E se replicam que ao menos são melhores do que os judeus descrentes, ramos cortados, são exortados a aprender a salutar lição dada pela remoção daqueles ramos velhos. Por que foram cortados? Por causa da incredulidade. E se um espírito de orgulho levar o renovo enxertado — a igreja gentílica — a esquecer que a sua segurança está na graça divina e a per-mutar a sua fé em Deus pela confiança em si mesmo, sofrerá o mesmo destino dos ramos velhos: será cortado também. Pela fé se adquire e se mantém a relação de membro do verdadeiro povo de Deus; pela incre-dulidade esse bem é confiscado. Este princípio, afirma Paulo, é aplicado sem parcialidade, tanto a gentios como a judeus. Por outro lado — e aqui os processos práticos de enxertar certamente são deixados para trás, por amor dos fatos espirituais que a parábola visa a ilustrar — se os judeus que pela descrença perderam sua posição de membros do verdadeiro Israel vierem afinal a crer em Cristo, serão incorporados de novo no povo de Deus. Se os ramos velhos que tinham sido cortados fossem uma vez mais enxertados na árvore de origem e tornassem a produzir fruto, seria um milagre sem precedentes na esfera natural. Igualmente, a reincor-poração da nação judaica no povo de Deus quando a incredulidade é substituída pela fé, seria um milagre na esfera espiritual. Mas, diz o apóstolo, é um milagre que Deus vai realizar.
20. Mediante a fé estás firme.
AV: "Pela fé". "Pela fé" é enfático: "pela fé você mantém o seu lugar"(NEB). Ver5:2(p. 100).
22. Mas para contigo, a bondade de Deus.
A expressão "de Deus", que consta do texto grego, falta em AV. (RSV: "bondade de Deus"; NEB: "bondade divina".) Ver 2:4.
Se nela permaneceres; doutra sorte também tu serás cortado. Em AV aparece aqui o qualificativo divino da referida bondade: "Se permaneceres em sua bondade." Em todo o Novo Testamento a continuidade é o teste da realidade. A perseverança dos santos é doutrina firmemente alicerçada no ensino do Novo Testamento (e não menos no ensino paulino). Mas o seu corolário é que são os santos que perseveram. Desde que "mediante a fé estás firme" (v. 20), é salutar exercício atender à injunção de Paulo aos cristãos de Corinto: "Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé" (2 Co 13:5).
24. Contra a natureza.
É possível que Paulo tenha pensado em desarmar por antecipação a crítica mostrando que está ciente do caráter antinatural da espécie particular de enxerto aqui descrita. Mas ele não tem necessidade de ir além de dizer que o próprio processo de enxerto é que é "contra a natureza" — idéia comum aos antigos.
(3) A restauração de Israel (11:25-29).
Aqui está o mistério do propósito de Deus para Israel — propósito anteriormente oculto mas agora tornado conhecido. A cegueira de Israel é apenas parcial (pois alguns israelitas já foram iluminados), e apenas temporária, com um exame da bênção dos gentios. No que concerne à proclamação do Evangelho, a ordem é: "Ao judeu primeiro." No que concerne à recepção do Evangelho, a ordem é: "Pelo gentio primeiro, e depois pelo judeu." Quando se completasse o número total dos gentios cristãos — consumação que o próprio apostolado de Paulo estava tornando mais próxima — então, todo o Israel, não um remanescente fiel mas a nação como um todo, veria a salvação de Deus. Se o tropeção temporário de Israel foi predito profeticamente, também o foi a sua restauração última e permanente (Is 59:20s. e Jr 31:33 são citados com este fim). A nova aliança não se completará enquanto não abranger o povo da velha aliança. Temporariamente alienado, para vantagem dos gentios, Israel é eternamente objeto do amor eletivo de Deus porque as Suas promessas uma vez feitas aos patriarcas, não podem ser revogadas.
Já se levantou a objeção de que Paulo aqui deixa o seu patriotismo anular a sua lógica.'9 Ele acentuou mais de uma vez na epístola que a descendência natural dos patriarcas não é o que importa, aos olhos de Deus, e agora diz que, por causa das promessas feitas por Deus aos patriarcas, os seus descendentes naturais têm de ser restaurados à relação pactuai com Ele. Talvez bastasse dizer: "O coração tem suas razões ..."; mas aqui há mais que isso para se dizer. Paulo tinha compreensão da graça de Deus mais profunda e mais clara do que os seus críticos. Se a graça de Deus operasse de acordo com a lógica estrita, a perspectiva seria medonha tanto para os judeus como para os gentios.
Um ponto mais: em tudo que Paulo diz sobre a restauração de Israel a Deus, não diz nada sobre a restauração de um reino davídico terreno, nada diz sobre algum restabelecimento nacional na terra de Israel. O que divisou para o seu povo foi algo infinitamente melhor.
25. Não quero (...) que ignoreis este mistério.
Pela palavra "mistério" provavelmente Paulo quer dizer que aquilo que se segue é uma nova revelação recebida por ele (ver 1 Co 15:51; Cl l:26s.). O princípio do remanescente referido nos versículos 1-7 era assunto de antiga revelação profética. Que "todo o Israel" ainda seria salvo era uma nova revelação, transmitida por intermédio de Paulo. Ele tem sido acusado de querer comer o seu pedaço de bolo e ao mesmo tempo conservá-lo, ou seja, de consolar-se com a idéia de "um remanescente segundo a eleição da graça" e ao mesmo tempo insistir na total restauração de Israel. Mas se a sua pretensão de ter recebido uma nova revelação for encarada com seriedade, não será razoável censurá-lo. Além disso, mesmo na profecia do Velho Testamento, o remanescente do antigo Israel era, ao mesmo tempo, o núcleo do novo Israel. E assim aqui também: a existência do remanescente que crê é a garantia da salvação final de "todo o Israel".
Até que haja entrado a plenitude dos gentios. Ver 15:16 ("oferta dos gentios", AV) e 15:18 ("obediência dos gentios", RV) — expressões praticamente sinônimas da presente. A introdução da "plenitude" ou da plena completação (plêrõma) dos gentios deve seguir-se da "plenitude" dos judeus (v. 12).
26. E assim todo o Israel será salvo.
É impossível sustentar uma exegese que tome "Israel" aqui em sentido diferente de "Israel" no versículo 25: "Veio endurecimento (ou "cegueira") em parte a Israel". Quanto ao argumento de que Paulo não diz: "e então todo o Israel será salvo", mas, "e assim todo o Israel será salvo" (como se a colheita do número completo dos gentios fosse só por si a salvação de todo o Israel), basta apontar para o bem fundamentado emprego do grego houtõs ("assim", "desta forma") em sentido temporal. "Todo o Israel" é expressão que aparece repetidamente na literatura judaica, onde não significa necessariamente "todo judeu sem uma única exceção", mas, "Israel como um todo". Assim, "todo o Israel tem um quinhão na era por vir", diz o tratado do Mishnah sobre o Sinedrim (X. 1), e passa imediatamente a mencionar os israelitas que não têm quinhão nela.
Virá de Sião o Libertador; ele apartará de Jacó as iniqüidades. Citação de Isaías 59:20: "E ele virá a Sião como Redentor, para aqueles de Jacó que se voltarem da transgressão" (RSV). O texto de Paulo se har-moniza com a LXX, exceto em que a LXX diz: "por amor de Sião", e não: "de Sião". Seja qual for a forma do texto adotada, a referência é à manifestação a Israel do seu divino Redentor — manifestação que em sua mente Paulo bem pode ter identificado com a parousia de Cristo. Ver nota sobre o versículo 15 (p. 175). Ãs vezes se dá uma interpretação parecida a Atos 3:19-21 e 2 Coríntios 3:16.
27. Esta é a minha aliança com eles, quando eu tirar os seus pecados. Em suas poucas palavras iniciais, Paulo continua a citação de Isaías
59 (o versículo 21 diz: "Quanto a mim, esta é a minha aliança com eles, diz o Senhor"), mas então passa para a promessa da nova aliança registrada em Jeremias 31:33: "Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel (...) perdoarei as suas iniqüidades, e dos seus pecados jamais me lembrarei" (ver notas sobre 7:6, p. 119e8:4, p. 131).
28. Quanto ao evangelho, são eles inimigos por vossa causa.
A presente alienação de Deus, da parte dos israelitas, deu ocasião para vocês, gentios, abraçarem as bênçãos do Evangelho e se reconciliarem com Deus.
Quanto, porém, à eleição, amados por causa dos patriarcas. Estas palavras têm sido interpretadas em termos dos "méritos dos pais" (hebraico zekhuth ha'aboth) — doutrina judaica de que a justiça dos patriarcas constitui um depósito de méritos creditados na conta dos seus descendentes. Mas não é isto que Paulo quer dizer aqui. Toda a argumentação desta epístola é contrária a essa concepção de mérito (ver 4:2). O que quer dizer é que as promessas feitas por Deus aos patriarcas quando os chamou, são asseguradas aos seus descendentes, não com base nos méritos, mas com base na fidelidade de Deus para com a Sua palavra.
e. O propósito de Deus para a humanidade (11:30-36).
O propósito último de Deus para o mundo é revelado agora. É misericórdia tanto para judeus como para gentios. O remanescente fiel não foi escolhido pela graça de modo que o restante fosse destinado à perdição. Sua eleição é um sinal de que a misericórdia divina há de estender-se a todos, sem distinção (ver 8:19-21). Há um inconfundível universalismo na linguagem de Paulo aqui, conquanto seja um universalismo escatológico, e não atual, ou representativo, e não individual.20
"Todos pecaram e carecem da glória de Deus", Paulo já anunciara (3:23). Todos foram feitos réus convictos perante o tribunal de Deus. Ninguém, quer judeu, quer gentio, pode reclamar qualquer direito à Sua misericórdia. Se deve haver esperança para alguém, esta tem de depender explusivamente da graça de Deus. Mas a esperança é oferecida em medida ilimitada. O propósito de Deus ao encerrar judeus e gentios juntos num lugar onde a desobediência deles à Sua lei precisa ser reconhecida e trazida à luz, era dar Sua imerecida misericórdia igualmente a judeus e a gentios.
Aqui, pois, está a elevação do grandioso argumento de Paulo; eis aqui motivo para incessante louvor a Deus. A doxologia dos versículos 33-36 não arremata apenas os capítulos 9-11; ela conclui toda a argumentação dos capítulos 1-11: "Õ impenetrável riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os Seus decretos! Quão inescrutáveis os seus caminhos! Bem falou o profeta:
'Quem captou o desígnio do Senhor?
Quem do Seu conselho partilhou?
Quem algo Lhe deu primeiro a Ele,
que devesse ser-lhe devolvido?'
Dele todas as coisas procedem; por meio dele todas as coisas existem; a Ele todas as coisas retornam: a Ele seja a glória por todos os séculos. Amém."
32. A fim de usar de misericórdia para com todos.
Isto é, a todos sem distinção, e não a todos sem exceção. Paulo não está pensando aqui naqueles que, como Faraó em 9:17, persistentemente recusam a misericórdia divina. "Não é sua intenção fazer um pronun-ciamento terminante acerca do destino final de cada ser humano individualmente considerado. Mas a esperança da humanidade é mais, e não menos, segura, porque tem suas raízes na verdade concernente a Deus, e não numa verdade concernente ao homem." (C. L.Barrett, adloc.) 
34. Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? ou quem foi o seu conselheiro?
Eco de Isaías 40:13: "Quem guiou o Espírito do Senhor? ou, como seu conselheiro, o ensinou?"
35. Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha a ser restituído?
Eco de Jo 41:11: "Quem primeiro me deu a mim, para que eu haja de retribuir-lhe?"
Romanos - Serie Cultura Biblica - ROMANOS - INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO - F. F. Bruce. M.A., D.D. - SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, Caixa Postal 21486, São Paulo-SP 04602-970
 
Lição 9: Problema da rejeição de Israel - Data: 31 de Maio de 1998 -
Comentarista: Esequias Soares da Silva - CPAD
 
TEXTO ÁUREO 
“E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição, a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!” (Rm 11.12).
 
VERDADE PRÁTICA 
Embora a Igreja se encontre numa posição espiritual superior a Israel, nem por isso os judeus deixam de ser povo de Deus.
 
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Romanos 9.4,5; 11.1,25-32. 
Romanos 9
4 — ...são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas;
5 — dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém!
 
Romanos 11
1 — Digo, pois: Porventura, rejeitou Deus o seu povo? De modo nenhum! Porque também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.
25 — Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos): que o endurecimento veio em parte sobre Israel, até que a plenitude dos gentios haja entrado.
26 — E, assim, todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades.
27 — E este será o meu concerto com eles, quando eu tirar os seus pecados.
28 — Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais.
29 — Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.
30 — Porque assim como vós também, antigamente, fostes desobedientes a Deus, mas, agora, alcançastes misericórdia pela desobediência deles,
31 — assim também estes, agora, foram desobedientes, para também alcançarem misericórdia pela misericórdia a vós demonstrada.
32 — Porque Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todos usar de misericórdia.
 
PONTO DE CONTATO 
Nesta lição vamos estudar sobre a eleição do povo de Israel. Um tema fundamental para entendermos o propósito de Deus para Israel e sua situação espiritual na atualidade. Trabalhe com sua classe de tal forma que possa se situar nesse contexto histórico-teológico e alegrar-se com a misericórdia divina para com os não-judeus, concedendo-lhes a salvação.
 
OBJETIVOS 
Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
·   Enumerar os três propósitos de Deus para a humanidade através do povo israelita.
·   Identificar quem são os verdadeiros israelitas diante de Deus.
·   Construir para sua vida expectativas constantes da volta de Jesus com base no sinal que Israel representa.
·   Aplicar em sua vida a bênção de sermos “participantes da raiz e seiva da oliveira”, porque a rejeição de Israel é a reconciliação do mundo.
 
SÍNTESE TEXTUAL 
Contrariando a opinião dos judeus, que, como “povo escolhido” de Deus não se consideravam necessitados da salvação, o apóstolo Paulo explica no capítulo 9 a verdadeira situação espiritual do povo de Israel diante de Deus.
Eles criam que, sendo filhos de Abraão, automaticamente tinham direito a todas as bênçãos da aliança de Deus com Abraão e, por conseguinte, a justificação e a glorificação eram direitos exclusivos dos judeus mediante o seu nascimento natural.
Mas, foi Israel quem rejeitou o Salvador, pelo seu endurecimento espiritual. Assim como os gentios. Deus colocou os judeus em situação de desobediência para usar de misericórdia com todos.
Haverá um dia, então, que Israel embora povo eleito, se voltará para Deus e todos os seus pecados serão tirados.
 
ORIENTAÇÃO DIDÁTICA 
Podemos introduzir esta aula com uma interessante ilustração.
Na Epístola aos Romanos, o apóstolo Paulo compara Deus a um agricultor que cuida de árvores frutíferas.
A oliveira era uma árvore muito importante para os romanos. Seu fruto tinha várias utilidades. Era usado na salada e, depois de esmagada, a azeitona dava o azeite usado na comida.
Esta imagem é aplicada em Romanos para falar dos judeus, povo especial de Deus, que era a oliveira. Porém, não estavam dando bons frutos. Como num enxerto em árvores frutíferas, o agricultor podou muitos dos ramos e indo ao bosque cortou galhos da oliveira brava, e colocou no lugar dos ramos que havia cortado. Colocou uma casca e amarrou com um barbante. Logo, os novos galhos brotaram e deram bons frutos.
Você poderá tornar a sua aula mais educativa se de alguma maneira, conseguir que seus alunos conheçam a técnica do enxerto.
 
COMENTÁRIO-INTRODUÇÃO 
Os três capítulos de Romanos que tratam da situação de Israel podem ser divididos em três partes: análise da eleição de Israel no passado (9.6-29); a rejeição do Messias por Israel (9.30-10.21); e Israel ocupa o segundo plano até que a plenitude dos gentios se complete (11.1-36). 
I. PROPÓSITOS DE DEUS COM ISRAEL 
1. O tríplice propósito. Israel, em relação a Deus, enquadra-se biblicamente no contexto histórico, teológico e escatológico das Sagradas Escrituras. Deus escolheu o povo israelita com um tríplice propósito para a humanidade: revelar Seu poder, dar a Bíblia e enviar o Salvador ao mundo. Sem os três capítulos já mencionados, ficaríamos impossibilitados de entender os discursos dos profetas sobre o futuro de Israel, e o Cristianismo poderia correr o risco de ser interpretado como religião antissemita.
2. Revelar o poder de Deus. Deus mostrou ao mundo a sua grandeza, poder e glória através de Israel (Rm 9.17). Haja vista que Ele suscitou a Faraó para, através da intolerância deste com os israelitas, abater o monarca e dar liberdade ao povo da promessa, e assim mostrar ao mundo o seu grande e eterno poder.
3. Dar a Bíblia ao mundo. O segundo propósito de Deus para com o povo judeu foi trazer ao mundo os seus oráculos. Israel foi receptáculo dos arcanos divinos; a Bíblia foi dada às nações através de Israel.
O apóstolo Paulo pergunta aos irmãos de Roma: “Qual é logo a vantagem do judeu? Ou qual a utilidade da circuncisão? Muita, em toda a maneira, porque, primeiramente, as palavras de Deus lhes foram confiadas” (Rm 3.1,2). Então, através de Israel, Deus entregou a Bíblia ao mundo.
4. Dar ao mundo o Salvador. A terceira razão da eleição de Israel por Deus foi para dar o Salvador ao mundo. Deus prometeu a Abraão: “... em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12.3). Jesus disse para a mulher samaritana: “... porque a salvação vem dos judeus” (Jo 4.22). 
II. ANÁLISE HISTÓRICA DE ISRAEL 
1. A ameaça da dispersão. A segurança do povo de Israel residia na sua obediência a Deus; uma vez rompida esta aliança, o povo estaria vulnerável diante das nações. A diáspora (ou dispersão) ser-lhe-ia uma ameaça constante (Lv 26.36-37; Dt 28.25,36,37).
A primeira diáspora ocorreu nos dias de Nabucodonosor, rei de Babilônia (2Rs 24.10-16). A segunda diáspora dos judeus, veio com a destruição de Jerusalém, em 70 d.C, e deu-se por causa de sua incredulidade — rejeitaram o seu Messias (Lc 21.24; 23.28-31).
2. A incredulidade de Israel. O apóstolo começa o capítulo 9 lamentando a incredulidade de seus compatriotas, e reconhece os privilégios que Deus conferira a Israel no passado (vv.1-5). Em seguida, mostra que o verdadeiro israelita é o que vive pela fé (9.6-8).
3. A soberania de Deus. A seguir, o apóstolo cita exemplos do Antigo Testamento para mostrar a soberania de Deus sobre suas criaturas, e o direito dEle escolher quem Ele quiser para ser o seu povo. Deste modo, Ele escolheu a Jacó e rejeitou a Esaú, antes mesmo do nascimento destes (9.10-16). A partir do v.23, Paulo mostra, citando os profetas Oséias e Isaías, que o plano de Deus, desde o princípio, era salvar os gentios.
4. Israel tropeçou. O apóstolo Paulo conclui dizendo que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram-na. Porém, a justiça “que é pela fé” (v.30). Israel, entretanto, que buscava a lei da justiça, não a conseguiu (v.31). Por quê? Porque Israel não seguiu o caminho da fé, mas o das obras, e por isso tropeçou (v.32). Israel tropeçou por haver rejeitado o seu Messias (v.33). 
III. O VERDADEIRO ISRAEL 
1. Deus não rejeitou o seu povo (11.1). Paulo argumenta que Deus não rejeitou o seu povo, cita como prova disso, os judeus cristãos. O exemplo de Elias, que ele apresenta, mostra que os sete mil que não dobraram os joelhos diante de Baal, eram os verdadeiros israelitas (11.2-4). Da mesma forma, a minoria de judeus, que creu em Jesus, são os israelitas de fato (11.5).
2. Os incrédulos. Como fica a situação dos rebeldes? Pode perguntar alguém. Em Roma, nos dias de Paulo, essa questão obrigou o apóstolo a deter-se um bom tempo sobre o assunto. O fato de Israel ter rejeitado o seu Messias não significa ser ele um povo proscrito por Deus. Isto faz parte do gigantesco plano que Deus traçou antes da fundação do mundo (11.7-12).
3. Devemos considerar a bondade de Deus. A triste experiência de Israel deve servir de exemplo para a Igreja. Os israelitas eram os filhos naturais de Deus e, não obstante, foram cortados da verdadeira oliveira por causa da incredulidade (11.17-20). Cada cristão, portanto, deve valorizar a sua posição diante de Deus. O que Deus fez conosco é de uma grandeza infinita. Quem vacilar pode ser cortado por Deus assim como aconteceu com Israel (11.21-24).
4. Israelita espiritual. É o verdadeiro israelita (Rm 4.11-16). O cristão é reconhecido, no Novo Testamento, como judeu, no sentido espiritual. Isto é: pela fé em Jesus, tornou-se ele filho de Abraão (Gl 3.7). “Nem todos que são de Israel são israelitas” (Rm 9.6).
5. O enxerto. É verdade que hoje a “menina dos olhos” de Deus é a Igreja. A nossa posição espiritual está acima da dos judeus. Os ramos foram quebrados, por culpa dos próprios judeus: “Não que a palavra de Deus haja faltado” (9.6).
A promessa de Deus não foi quebrada, mas os judeus é que recusaram a promessa. Somos como zambujeiros enxertados no lugar deles, e, assim, participamos da raiz e da seiva da oliveira (11.15-19). 
IV. A SALVAÇÃO DE ISRAEL 
1. Restauração nacional. A restauração nacional será seguida da restauração espiritual (Ez 36.24; 37.21). Ou seja: quando todos os ossos se juntarem e formarem os nervos, e as carnes recobrirem os ossos, estará pois o corpo pronto (Ez 36.24; 37,21).
2. Restauração espiritual. Depois, em 36.25 e 37.22 de Ezequiel, vemos a restauração espiritual dos judeus. Diz ainda o profeta depois de haver profetizado acerca da formação do corpo: “Mas não havia neles espírito” (Ez 37.8).
Quando o espírito de graça e de súplica vier sobre os judeus, aí ocorrerá a restauração espiritual (Zc 12.10; Ez 37.23-28). A partir de então os judeus não mais rejeitarão o seu Messias.
3. A salvação de todos os judeus (11.26,27). Quando a plenitude dos gentios se cumprir. Deus voltará a tratar com Israel. A rejeição de Israel é parcial e temporária. Por isso que afirmamos que Israel continua sendo povo de Deus. O apóstolo prevê a salvação em massa dos judeus (11.26,27), quando o Messias voltar (Ap 1.7), algo também previsto pelos profetas do Antigo Testamento (Is 59.20; Zc 12.10). 
V. A ELEIÇÃO DE ISRAEL 
1. Decreto divino. Os decretos, ou conselhos divinos, são imutáveis, irrevogáveis e incondicionais. São coisas que não dependem da vontade, ou da conduta, do homem, pois nasceram no coração e no propósito de Deus.
2. A promessa do Salvador. Deus prometeu dar à humanidade um Redentor, mas não estabeleceu condições (Gn 3.15). Qualquer que fosse a conduta do homem: crendo nesta promessa ou não; obedecendo a Deus ou não. Ou seja: independentemente de tudo isto, o Salvador viria da mesma forma. E foi o que realmente aconteceu! Este é o conselho divino.
3. A eleição de Israel é irrevogável (11.28-29). Paulo diz que a eleição de Israel é irrevogável porque é decreto divino. Mesmo sendo os judeus indiferentes ao evangelho, não importa, pois os conselhos divinos são incondicionais: “Assim que, quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós; mas, quanto à eleição, amados por causa dos pais. Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento” (11.28,29).
Então, por causa da promessa que Deus fez aos pais Abraão, Isaque e Jacó, Israel continuará sendo o povo escolhido (Hb 6.13-18). 
CONCLUSÃO 
Israel é o relógio de Deus na terra. Jesus disse: “Olhai para a figueira (Israel), e para todas as árvores; quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão” (Lc 21.29-30).
A figueira é Israel. Pelas palavras de Jesus, conscientizamo-nos de quão próximo está “o verão”, pois a figueira está brotando. A restauração nacional já ocorreu, falta apenas chegar o verão para a restauração espiritual.
 
VOCABULÁRIO 
Iminente: Que ameaça acontecer breve; que está em via de efetivação imediata.
Diáspora: A dispersão dos judeus, no decorrer dos séculos.
Oráculo: Palavra, sentença ou decisão inspirada, infalível, ou que tem grande autoridade.
Arcanos: Segredos, mistérios.
Proscrito: Aquele que foi desterrado; emigrado.
 
QUESTIONÁRIO 
1. Quais são os três propósitos divinos com Israel?
R. Revelar o poder de Deus; dar a Bíblia ao mundo; e dar ao mundo o Salvador. 
2. Por que Israel tropeçou?
R. Porque Israel não seguiu o caminho da fé, mas o das obras. 
3. Quem é o verdadeiro israelita?
R. É o israelita espiritual. Isto é: tanto judeu quanto gentio tornam-se filho de Abraão pela fé em Jesus. 
4. Quando se dará a salvação de todo o Israel?
R. Quando a plenitude dos gentios se cumprir, Deus voltará a tratar com Israel. 
5. Por que a eleição de Israel é irrevogável?
R. Paulo diz que a eleição de Israel é irrevogável porque é decreto divino.
 
AUXÍLIOS SUPLEMENTARES 
Subsídio Teológico 
A respeito dos três elementos distintos no exame que Paulo fez de Israel no plano divino da salvação, a Bíblia de Estudo Pentecostal traz comentário tratando-os na seguinte perspectiva:
“(1) Esse exame de condição de Israel não se refere à vida ou morte eterna de indivíduos após a morte”. Pelo contrário, Paulo está tratando do modo como Deus lida com nações e povos do ponto de vista histórico, i.é., do seu direito de usar povos e nações conforme Ele quer. Por exemplo, sua escolha de Jacó em lugar de seu irmão Esaú (9.11) teve como propósito fundar e usar as nações de Israel e de Edom, oriundas dos dois. Nada tinha que ver com seu destino eterno, i.é., quanto à sua salvação ou condenação como indivíduos. Uma coisa é certa: Deus tem o direito de chamar as pessoas e nações que Ele quiser, e determinar-lhes responsabilidades a cumprir.
(2) Paulo expressa sua constante solicitude e intensa tristeza pela nação judaica (9.1-3). O próprio fato que Paulo ora para que seus compatriotas sejam salvos, revela que ele não admitia o ensino teológico da predestinação, afirmando que todas as pessoas já nascem predestinadas, ou para o céu, ou para o inferno. Pelo contrário, o sincero desejo e oração de Paulo reflete a vontade de Deus para o povo judaico (cf. 10.21). No NT não se encontra o ensino de que determinadas pessoas foram predestinadas ao inferno antes de nascer.
(3) O mais relevante neste assunto é o tema da fé. O estado espiritual de perdido, da maioria dos israelitas, não fora determinado por um decreto arbitrário de Deus, mas, resultado da sua própria recusa de se submeterem ao plano divino da salvação mediante a fé em Cristo (9.33; 10.3; 11.20). Inúmeros gentios, porém, aceitaram o caminho de Deus, que é o da fé, e alcançaram a justiça mediante a fé. Obedeceram a Deus pela fé e se tornaram ‘filhos do Deus vivo’ (9.25,26). Esse fato ressalta a importância da obediência mediante a fé (1.5; 16.26) no tocante à chamada e eleição da parte de Deus.
(4) A oportunidade de salvação está perante a nação de Israel, se ela largar sua incredulidade (11.23). Semelhantemente, os crentes gentios que agora são parte da Igreja de Deus são advertidos de que também correm o mesmo risco de serem cortados da salvação (11.13-22). Eles devem sempre perseverar na fé com temor. A advertência aos crentes gentios em 11.20-23, pelo fato da falha de Israel, é tão válida hoje quando o foi no dia em que Paulo a escreveu.
(5) As Escrituras estão repletas de promessas de uma futura restauração de Israel ao aceitarem o Messias. Tal restauração terá lugar ao findar-se a Grande Tribulação, na iminência da volta pessoal de Cristo” (Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD).
Lição 9: Problema da rejeição de Israel - Data: 31 de Maio de 1998 -
Comentarista: Esequias Soares da Silva - CPAD
 
Referências Bibliográficas (outras estão acima)
Dicionário Bíblico Wycliffe. 4.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
Bíblia de estudo - Aplicação Pessoal.
Bíblia de Estudo Almeida. Revista e Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2006.
Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Texto bíblico Almeida Revista e Corrigida.
Bíblia de Estudo Pentecostal. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com referências e algumas variantes. Revista e Corrigida, Edição de 1995, Flórida- EUA: CPAD, 1999.
BÍBLIA ILUMINA EM CD - BÍBLIA de Estudo NVI EM CD - BÍBLIA Thompson EM CD.
CPAD - http://www.cpad.com.br/ - Bíblias, CD'S, DVD'S, Livros e Revistas. BEP - Bíblia de Estudos Pentecostal.
VÍDEOS da EBD na TV, DE LIÇÃO INCLUSIVE - http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebdnatv.htm
www.ebdweb.com.br - www.escoladominical.net - www.gospelbook.net - www.portalebd.org.br/
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/alianca.htm
Dicionário Vine antigo e novo testamentos - CPAD
Manual Bíblico Entendendo a Bíblia, CPAD
Dicionário de Referências Bíblicas, CPAD
As Disciplinas da Vida Cristã; CPAD
Hermenêutica Fácil e descomplicada, CPAD
Revistas antigas - CPAD
Romanos - Serie Cultura Biblica - ROMANOS - INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO - F. F. Bruce. M.A., D.D. - SOCIEDADE RELIGIOSA EDIÇÕES VIDA NOVA, Caixa Postal 21486, São Paulo-SP 04602-970