COMPLETO VÍDEO Lição 6, A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS

ESCRITA Lição 6, A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS

Lição 6,  A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS
3º Trimestre de 2017 - Título: A Razão da Nossa Fé: Assim Cremos, assim Vivemos
Comentarista: Pr. Pres. Esequias Soares, Assembleia de DEUS, Jundiaí, SP
Complementos, ilustrações e vídeos: Pr. Luiz Henrique de Almeida Silva - 99-99152-0454
FIGURAS ILUSTRATIVAS USADAS NOS VÍDEOS - https://ebdnatv.blogspot.com.br/2017/07/figuras-da-licao-6-licao-6.html
 
 
TEXTO ÁUREO
"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS." (Rm 3.23)
 
 
VERDADE PRÁTICA
Reconhecemos a pecaminosidade de todos os seres humanos, que os destituiu da glória de DEUS, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de JESUS CRISTO podem restaurá-los a DEUS.
 
 
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Sl 51.5 Todos os humanos são pecadores
EIS QUE EM INIQÜIDADE FUI FORMADO. Davi reconhece que desde a sua infância possui uma propensão natural para o pecado. Noutras palavras, ele reconhece que sua própria natureza é pecaminosa. Toda pessoa, desde o nascimento, tem uma propensão egoísta para satisfazer seus próprios desejos, fazendo o que lhe apraz, mesmo que isso prejudique e cause sofrimento ao próximo (ver Rm 5.12). Tal inclinação só pode ser expurgada da nossa vida através da redenção em CRISTO e habitação do ESPÍRITO SANTO em nós.
Terça - Ec 7.20 O pecado está presente em todos.
NÃO HÁ HOMEM JUSTO SOBRE A TERRA, QUE FAÇA BEM E NUNCA PEQUE. Este versículo não contradiz a declaração de DEUS sobre a retidão de Jó (ver Jó 1.8; 2.3); pelo contrário, exprime a verdade de que "todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS" (Rm 3.23; cf. 3.10-18).
Quarta - Is 59.2 O pecado nos separa de DEUS.
59.2 INIQÜIDADES FAZEM DIVISÃO ENTRE VÓS E O VOSSO DEUS. O pecado e a iniqüidade na vida do crente levantam um muro entre ele e DEUS. Por causa dessa barreira, tal crente já não desfruta do favor de DEUS, nem de proteção, socorro ou livramento. Também, as orações desse crente não serão atendidas (Sl 66.18).
Quinta - Rm 3.10-12 Não há na terra um justo sequer.
NÃO HÁ UM JUSTO. Estes versículos expressam o exato conceito da natureza humana. Todas as pessoas, no seu estado natural, são pecadoras. A totalidade do seu ser é afetada negativamente pelo pecado, sendo também propensas a conformar-se com o mundo, quanto ao diabo (ver Mt 4.10), e quanto à natureza pecaminosa. Todos são culpados de desviar-se do caminho da piedade para o caminho do egoísmo.
Sexta - At 3.19 Somente a fé em JESUS e o arrependimento restaura o pecador
TEMPOS DO REFRIGÉRIO. No decurso de toda a presente era, e até à volta de CRISTO, DEUS enviará tempos do refrigério (i.e., o derramamento do ESPÍRITO SANTO) a todos aqueles que se arrependerem e se converterem. Embora tempos perigosos venham perto do fim desta era, acompanhada da apostasia da fé (2 Tm 3.1; 2 Ts 2.3), DEUS ainda promete enviar reavivamento e tempos de refrigério aos fiéis. A presença de CRISTO, a bênção espiritual, milagres e derramamento do ESPÍRITO SANTO virão sobre os remanescentes que fielmente o buscarem e vencerem o mundo, a carne e o domínio de Satanás (cf. At 26.18).
Sábado - Rm 6.23 A salvação é um dom de DEUS
No reinado da graça, os homens recebem não o que merecem, a morte, mas o favor imerecido de DEUS, a vida eterna. A palavra grega charisma é usada para definir uma dádiva da graça de DEUS. A vida eterna não é um prêmio que conquistamos; mas uma dádiva divina inteiramente gratuita e absolutamente imerecida. A vida eterna é gratuita; a morte é merecida.
 
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Romanos 5.12-21
12 - Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram.13 - Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. 14 - No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. 15 - Mas não é assim o dom gratuito como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais a graça de DEUS e o dom pela graça, que é de um só homem, JESUS CRISTO, abundou sobre muitos. 16 - E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou; porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito veio de muitas ofensas para justificação. 17 - Porque, se, pela ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, JESUS CRISTO. 18 - Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida. 19 - Porque, como, pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão feitos justos. 20 - Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça; 21 - para que, assim como o pecado reinou na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por JESUS CRISTO, nosso Senhor.
 
OBJETIVO GERAL - Compreender a pecaminosidade de todos os seres humanos, que os destitui da glória de DEUS.
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Definir o termo pecado;
Mostrar a origem do pecado;
Compreender a solução para o pecado.
 
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
No livro de Gênesis encontramos um dos relatos mais tristes da história da humanidade, a Queda. Mas, DEUS não foi pego de surpresa com o pecado de Adão e Eva, pois as Escrituras Sagradas afirmam que desde a fundação do mundo a morte redentora de JESUS, pela salvação da humanidade, já havia sido determinada (Ap 13.8). O homem pecou de modo deliberado contra DEUS, mas o Criador não o deixou entregue a sua própria sorte. O Senhor providenciou a sua redenção. 
Vivemos em uma sociedade relativista, onde muitos não acreditam mais que haja certo e errado. O erro, o pecado, segundo os relativistas, vai depender do ponto de vista de cada um. Mas, cremos na Verdade absoluta e que a única solução para o pecado está na fé no sacrifício de JESUS CRISTO.
 
PONTO CENTRAL - Reconhecemos a pecaminosidade de todos os seres humanos.
 
Resumo da Lição 6,  A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS
I - DEFININDO OS TERMOS
1. Pecado.
2. Os termos hebraicos awon e peshá.
3. O que é pecado?
II - ORIGEM DO PECADO
1. O pecado no céu.
2. O pecado no Éden.
3. A universalidade do pecado.
III - A SOLUÇÃO PARA O PECADO
1. Nem tudo está perdido.
2. A provisão de DEUS.
 
SÍNTESE DO TÓPICO I - Na Bíblia encontramos vários termos para definir pecado.
SÍNTESE DO TÓPICO II - O pecado teve sua origem no céu, porém na terra ele teve início com a desobediência de Adão e Eva.
SÍNTESE DO TÓPICO III - A morte expiatória de JESUS CRISTO foi e é a solução para o pecado.
 
PARA REFLETIR - A respeito da pecaminosidade humana e a sua restauração a DEUS, responda: 
Qual o termo genérico para designar o pecado e qual o seu significado? O termo genérico para designar o pecado com todos os seus detalhes, chattath, e seu equivalente verbal chattá (pronuncia-se hatá, com "h" aspirado), que literalmente significa "errar o alvo" (Jz 20.16). 
O que é pecado nas palavras de 1 João 3.4? É a transgressão da lei (1 Jo 3.4; ARA).
Onde se originou o pecado e por quem tudo começou? O pecado se originou no céu e tudo começou pelo mau uso do livre-arbítrio.
Qual a prova incontestável da universalidade do pecado? A prova incontestável da universalidade do pecado é a morte (Rm 5.12).
Quem é a provisão de DEUS para o pecador? JESUS CRISTO, "Cordeiro de DEUS, que tira o pecado do mundo".
CONSULTE - Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 71, p39.
 
Comentário Rápido do Pr. Henrique da Lição 6,  A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS
 
INTRODUÇÃO
Veremos nesta lição a parte da teologia que estuda o pecado - a Hamartiologia. Destacaremos aqui a entrada do pecado no céu e na Terra. Definiremos o que o pecado. Apresentaremos as causas da entrada desse pecado no mundo. Analisaremos o resultado da entrada do pecado no mundo. Focaremos na universalidade do pecado. Apresentaremos a solução dada por DEUS para o perdão do pecado e a restauração do ser humano.
Nesta lição não estudaremos o pecado após a conversão, pecados dos que continuam vivendo em pecado e dos que se acham no direito de pecarem obtendo perdão. Nem abordaremos detalhadamente o pecdo imperdoável. A lição não se atém a esses assuntos mas ao pecado de Satanás e à pecaminosidade do ser humano antes de sua conversão e à soluç~çao apresentada por DEUS. JESUS.
 
I - DEFININDO OS TERMOS
1. Pecado.
O termo “hamartiologia” deriva de dois vocábulos da língua grega, a língua do Novo Testamento: hamartia e logos, os quais significam “estudo acerca do pecado”. O termo é aplicável ao pecado, seja este considerado um ato, seja considerado um estado ou uma condição. O sentido do termo é que o pecado é um desvio do fim (ou propósito) estabelecido por DEUS para determinado fato ou conduta humana.
A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as quais indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. No Antigo Testamento encontramos pelo menos NOVE palavras básicas que conceituam o pecado; no Novo Testamento, temos, pelo menos, ONZE outras que descrevem as várias formas de manifestações negativas relacionadas com o termo “pecado”.
As Escrituras ensinam que o pecado é real e pessoal; que se originou na queda de Satanás, um ser pessoal, maligno e ativo; e que, através da queda de Adão, propagou-se entre a humanidade, que fora criada boa por um DEUS totalmente bom.
Há um termo genérico para designar o pecado com todos os seus detalhes, chattath, e seu equivalente verbal chattá (pronuncia-se hatá, com "h" aspirado), que literalmente significa "errar o alvo" (Jz 20.16).
 
PECAR -  dicionário Strong Português -  חטא chata’1) pecar, falhar, perder o rumo, errar, incorrer em culpa, perder o direito, purificar da impureza 
1a) (Qal) 
1a1) errar 
1a2) pecar, errar o alvo ou o caminho do correto e do dever 
1a3) incorrer em culpa, sofrer penalidade pelo pecado, perder o direito 
1b) (Piel) 
1b1) sofrer a perda 
1b2) fazer uma oferta pelo pecado 
1b3) purificar do pecado 
1b4) purificar da impureza 
1c) (Hifil) 
1c1) errar a marca 
1c2) induzir ao pecado, fazer pecar 
1c3) trazer à culpa ou condenação ou punição 
1d) (Hitpael) 
1d1) errar, perder-se, afastar do caminho
 
2. Os termos hebraicos awon e peshá. (e outros)
 
Temos no AT pelo menos 9 nomes dados aos pecados.
1- Hamartia - Hattat *(chattath - Lê-se hatá). Este vocábulo, que aparece 522 vezes nas páginas veterotestamentárias, e seu termo correlato no Novo Testamento — sugerem a idéia de “errar o alvo” ou “desviar-se do rumo”, como o arqueiro antigo que atirava as suas flechas e errava o alvo. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente.
Não se trata de uma idéia passiva de erro, mas implica uma ação proposital. Significa que cada ser humano tem da parte de DEUS um alvo definido diante de si para alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de pecar como o ato resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou, foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21Sm 1.151.4103.10Is 1. 18Dn 9.16Os 12.8).
2- Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”, “rebelar”, "revoltar-se”. Porém, uma variante forte para defini-la implica o ato de invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi além dos limites estabelecidos (Gn 31. 36I Rs 12.192 Rs 3.5; 1 Sm 5.1-12; Is 1.2Am 4.4).
 
TRANSGRESSÃO - Strong Português -  פשע pesha Ì -  Pesha.
1) transgressão, rebelião 
1a1) transgressão (contra indivíduos) 
1a2) transgressão (nação contra nação) 
1a3) transgressão (contra DEUS) 
1a3a) em geral 
1a3b) reconhecida pelo pecador 
1a3c) como DEUS lida com ela 
1a3d) como DEUS perdoa 
1a4) culpa de transgressão 
1a5) castigo por transgressão 
1a6) oferta por transgressão
 
3- Raa. רע ra Ì - 1) ruim, mau 2) mal, aflição, miséria, ferida, calamidade 3) mal, miséria, aflição, ferida  - Outra palavra hebraica que tem seu equivalente no grego — como kakos ou poneros — e traz a idéia básica de romper, quebrar; “aquilo que causa dano, dor ou tristeza”. E um tipo de pecado deliberado, malicioso, planejado, que provoca e enfurece. Dá a idéia de “ser mau” (Gn 8.21Ex 33.4Jr 11.11Mq 2.1-3). Indica também algo injurioso e moralmente errado. São os pecados expressos por violência (Gn 3.538.7Jz 11.27).
O profeta Isaías profetizou que DEUS criou a luz e as trevas, a paz e o raa Is 4.57. E o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição, infortúnio. DEUS não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a responsabilidade pelos pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a criatura rebelde, transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.
4- Rama quer dizer “enganar”; dá a idéia de prender numa armadilha, num laço. Implica, portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem cair. E uma forma de enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13; 55.11; Jó 13.7Is 53.9).
5- Pata. E um termo que dá a idéia de seduzir. O sentido literal da palavra é “ser aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter livre curso. No Èden, Adão e Eva se deixaram seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado (Satanás), personificado numa serpente (Gn 3.4-7).
6- Shagag. O sentido aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha ou um bêbado (Is 28.7). E um tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável, ante a lei divina que condena o seu erro — pecado (Lv 4.2Nm 15.22).
7- Rasha. Esta palavra aparece especialmente nos Salmos, com a idéia de impiedade ou perversidade. O sentido metafórico é o pecado em oposição à justiça (Êx 2.13; SI 9; SI 16; Pv 15.9Ez 18.23).
8- Ta a. Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não se trata de algo acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto negativo gerado pelos seus atos pecaminosos (Nm 15.22Sl 58.3119.21Is 53.6Ez 44.10,15).
9- Awon ("iniquidade"), proveniente da ideia de ser “torto” ou "pervertido", refere-se a pecados graves e muitas veres forma um paralelo com chatta'th (Is 43.24). O verbo 'avar fala em ir além de uma fronteira e, portanto (metaforicamente), da transgressão (Nm 14.41Dt 17.2). Resha' pode referir-se a coisa errada (Pv 11.10) ou à injustiça (Pv 28.3,4).
 
INIQUIDADE - Strong Português -  עון Ìavon ou עוון Ìavown (2Rs 7.9; Sl 51.5)1) perversidade, depravação, iniqüidade, culpa ou punição por iniqüidade 
1a) iniqüidade 
1b) culpa de iniqüidade, culpa (como grande), culpa (referindo-se a condição) 
1c) conseqüência ou punição por iniqüidade
 
No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado” também tem vários sentidos, e alguns são correlatos com os termos hebraicos
1- Hamartia. Já citada em correlação com kattaa (hb.), seu sentido é “errar o alvo”, “perder o rumo”, “fracassar”. Indica que o primeiro homem, no princípio, perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não atingir o padrão divino estabelecido para a sua vida. No Novo Testamento, os escritores usaram o termo hamartia para designar o pecado. Ainda que o sentido equivalente no Antigo Testamento seja o de “errar o alvo”, nas páginas neotestamentárias a palavra em apreço tem uma abrangência bem maior — possui um sentido mais forte que a idéia de fracasso ou transgressão. Ela tem o sentido de “poder de engano do pecado” (Rm 5.12Hb 3.13); é mais que um fracasso. Trata-se de uma condição responsável ou uma característica que implica culpabilidade.
2- Kakia. No grego, relaciona-se com perversidade ou depravação, como algo oposto à virtude. E um termo que descreve o caráter e a disposição interiores, e não apenas os atos exteriores. Dele deriva-se outra palavra, kakos, cujo sentido transcende a mal-estar físico ou doenças (Mc 1.32; Mt 21.4124.48; At 9.13; Rm 12.17;13,3,4,1016.19I Tm 6.10).
3- Adíkía. Denota injustiça, falta de integridade; como alguém que abandona o caminho original. Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer conduta errada e significa, ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co 12.13Hb 8.12Rm 1.189.14). O texto de Romanos 1.18 descreve a injustiça como inimizade para com a verdade. Em I João 5.17, o apóstolo João afirma que toda iniqüidade (gr. adikia) é pecado (gr. hamartia).
4- Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais palavras são traduzidas freqüentemente como “iniqüidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido literal de anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de DEUS pratica a iniqüidade (Mt 13.4124.12I Tm 1.9). O Anticristo é anomos— “o míquo” (2Ts 2.8).
5- Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e significa “infidelidade”, “falta de fé” ou algum tipo de resistência ou vergonha (Hb 3.12; I Tm I.13). Em I Timóteo 1.13 está escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade [gr. apistia]”.
6- Asebeia. Usado por Paulo nas epístolas com o sentido de impiedade (Rm 1.1811.262Tm 2.16;Tt 2.12; Jd vv.I5,I8). Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base da asebeia.
7- Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade ou mesmo sensualidade. Em Judas v.4 encontramos dois termos que explicam essas palavras: “... homens ímpios [asebeis] que convertem em dissolução [aselgeian, ‘libertinagem’] a graça de DEUS”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem restrições à prática do pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito que domina uma pessoa e a torna impudica de tal modo que perde totalmente o senso de vergonha e, por isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu pecado.
O termo em análise significa, por conseguinte, “a pura e auto-satisfação sem o menor pudor”, haja vista o desejo pelos prazeres tornar a sua vítima despudorada, sem restrições. As chamadas taras sexuais, a embriaguez e outras manifestações são típicas de aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma das palavras mais repulsivas do Novo Testamento (Mt 7.222 Co 12.21; G1 5.19; Ef 4.19I Pe 4.3; Jd v.4; Rm 13.132 Pe 2.2,7,18). A versão ARC traduz o termo por “libertinagem”, enquanto a ARA prefere “dissolução”.
8- Epitkymía. Significa “desejo”. Porém, é o contexto da palavra encontrada no Novo Testamento que pode indicar o caráter moral do desejo, se é bom ou mau. Coisas, como: motivo, intenção, direção e relação, revelarão o caráter moral de epithymia (Mc 4.19; Lc 22.15Fp 1.23I Ts 2.17). De modo geral, o vocábulo quase sempre se identifica com algo negativo e pecaminoso. Daí o significado poderá indicar “desejo incontinente”, normalmente traduzido como “concupiscência”, “paixão impura” (G1 5.24; Cl 3.5I Ts 4.5;Tg I.I4; 2 Pe 2.10).
9- Parabasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O significado primário do termo é “transgressão”, que dá a idéia de alguém que não respeita as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se esse vocábulo com o sentido de “desvio”, “violação” e “transgressão”. No texto de Romanos 5.14, Paulo faz uma relação entre hamartia e parabasis, ao afirmar: “No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão”.
O apóstolo Paulo não está dizendo que os que pecaram desde Adão até Moisés estão livres de culpa, e sim que aquelas gerações, não tendo a lei de Moisés, seu pecado era tão real quanto ao dos que tinham a lei. Em I Timóteo 2.14 está escrito que Eva caiu em transgressão (parabasis), ao ser enganada, porque ela foi rebelde contra a ordem divina. Não se tratava de reduzir a culpa de Eva, e sim reconhecer que ela podia ter evitado o pecado de desobediência.
10- Paraptoma. Deriva de parapipto e significa “decair ao lado de”, “perder o caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma ofensa pela qual a pessoa é responsável”. Vários textos exemplificam o termo paraptoma (Mt 6.14Rm 5.15-202 Co 5.19; G1 6.19; Ef 2.I;Tg 5.16).
11- Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado porque se refere àquele que se desgarra culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a ovelha que foge do aprisco (I Pe 2.25); também significa levar, por meio do engano, outras pessoas ao mau caminho (Mt 24.5,6I Jo 1.8).
 
3. O que é pecado?
John Wesley, pai do metodismo, definiu o pecado como uma transgressão voluntária de uma lei conhecida. Um outro famoso teólogo da época ressaltou a natureza dupla do pecado ao declarar que “a idéia primária designada pelo termo pecado nas Escrituras é a falta de conformidade com a lei, uma transgressão da lei; o fazer algo proibido, o deixar de fazer aquilo que é requerido”.
Augustus Hopkins Strong, eminente professor de teologia nos Estados Unidos, escreveu sobre a doutrina do Pecado em sua Teologia Sistemática de 1886, que “pecado é a falta de conformidade com a lei moral de DEUS quer em ato, disposição ou estado”.
W.T. Conner, em Doctrína Cristiana, ao falar da natureza do pecado escreveu: “... definimos o pecado como a rebelião contra a vontade de DEUS”; “o pecado, como algo voluntário, implica conhecimento. Se o homem peca voluntariamente, então seu pecado é contra a luz”. Paulo esclareceu que todo ser humano tem um certo grau de conhecimento da lei moral de DEUS e, por isso, “não há um justo, nenhum sequer” (Rm 3.10).
Charles Hodge escreveu que “o pecado é falta de conformidade com a lei de DEUS” e “inclui culpa e contaminação; a primeira expressa sua relação com a justiça; a segunda, sua relação com a santidade de DEUS”.
Outras definições de pecado. E um ato livre e voluntário do ser humano, tendo em vista que ele é um ser moral e, por isso, capaz de perceber o certo e o errado. O homem é um agente moral livre para decidir o que fazer da sua vida, o qual deve seriamente considerar Eclesiastes 11.9.
O pecado é um tipo de mal. Nem todo mal é pecado. Existem males físicos resultantes da entrada do pecado no mundo. Na esfera física temos um tipo de mal manifesto nas doenças e enfermidades. Entretanto, na esfera ética, o mal tem sentido moral. Nesta esfera moral atua o pecado. Os vários termos hebraicos e gregos das línguas originais da Bíblia, quando falam do pecado apontam para o sentido ético, porque falam da prática do pecado, ou seja, dos atos pecaminosos.
O pecado é, de fato, uma ativa oposição a DEUS, uma transgressão das suas leis, que o homem, por escolha própria (livre), resolveu cometer conforme relata a Bíblia (Gn 3.1-6Is 48.8Rm 1.18-32I Jo 3.4).
Louis Berkhof ensina que o pecado tem caráter absoluto. Sem dúvida, seu conceito está correto e é bíblico. Não se faz distinção ou graduação entre o bem e o mal, porque o caráter é qualitativo. Uma pessoa boa não se torna má por uma diminuição de sua bondade, mas quando se deixa envolver com o pecado. È uma questão de qualidade, e não de quantidade.
O pecado não implica um grau menor de bondade, mas algo negativo e absoluto. Biblicamente, não há neutralidade nem meio termo quanto ao bem ou ao mal. O que é mal não é mais ou menos mal. Ou se está do lado justo e certo ou se está do lado injusto e errado (Mt 10.32,3312.30; Lc II.23;Tg 2.10).
Não se trata de pecado apenas porque se praticou algum ato pecaminoso. “O pecado não consiste apenas em atos manifestos”. O pecado não é somente aquilo que se pratica erradamente, mas é algo entranhado na natureza pecaminosa adquirida da raça humana. E um estado pecaminoso que origina hábitos pecaminosos os quais se manifestam na vida cotidiana.
Todas as tendências e propensões pecaminosas típicas da natureza corrompida de cada um de nós demonstram o estado pecaminoso do ser humano. A esse estado decaído, a Bíblia denomina “carne”, o qual precisa ser superado pela nova vida em CRISTO, a vida regenerada pelo ESPÍRITO (2 Co 5.17Jo 3.5).
 
O Novo Testamento descreve o pecado como:
(a) Errar o alvo, que expressa a mesma idéia que a conhecida palavra do Antigo Testamento.
(b) Dívida. (Mat. 6:12.) O homem deve (a palavra "deve" vem de dívida) a DEUS a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é contração de uma dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser perdoado, ou obter remissão da dívida.
(c) Desordem. "O pecado é iniqüidade" (literalmente "desordem", 1 João 3:4). O pecador é um rebelde e um idólatra porque deliberadamente quebra um mandamento, ao escolher sua própria vontade em vez de escolher a vontade de DEUS; pior ainda, está se convertendo em lei para si mesmo e, dessa maneira, fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no coração daquele exaltado anjo que disse: "Eu farei", em oposição à vontade de DEUS. (Isa. 14:1314). O anticristo é proeminentemente "o sem-lei" (tradução literal de "iníquo"), porque se exalta a si mesmo sobre tudo que é adorado ou que é chamado DEUS. (2 Tess. 2:4-9.) O pecado é essencialmente obstinação e obstinação é essencialmente pecado. O pecado destronaria a DEUS; o pecado assassinaria DEUS. Na Cruz do Filho de DEUS, poderiam ter sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"
(d) Desobediência, literalmente, "ouvir mal"; ouvir com falta de atenção. (Heb. 2:2.) "Vede pois como ouvis" (Luc. 8:18.)
(e) Transgressão, literalmente, "ir além do limite" (Rom. 4:15). Os mandamentos de DEUS são cercas, por assim dizer, que impedem ao homem entrar em território perigoso e dessa maneira sofrer prejuízo para sua alma.
(f) Queda, ou falta, ou cair para um lado (Efés. 1:7) no grego, donde a conhecida expressão, cair no pecado. Pecar é cair de um padrão de conduta.
(g) Derrota é o significado literal da palavra "queda" em Rom. 11:12. Ao rejeitar a CRISTO, a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o propósito de DEUS.
(h) Impiedade, de uma palavra que significa "sem adoração, ou reverência". (Rom. 1:182 Tim. 2:16.) O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a DEUS e às coisas sagradas. Estas não produzem nele nenhum sentimento de temor e reverência. Ele está sem DEUS porque não quer saber de DEUS.
(i) O erro (Heb. 9:7) Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da ignorância, e dessa maneira se diferenciam daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar da luz esclarecedora. O homem que desafiadoramente decide fazer o mal, incorre em maior grau de culpa do que aquele que é apanhado em falta, a que foi levado por sua debilidade.
 
II - ORIGEM DO PECADO
1. O pecado no céu.
A ORIGEM DO PECADO NO UNIVERSO
A primeira manifestação foi na esfera angelical. Os teólogos divergem quanto ao fato de que a primeira manifestação de pecado tenha começado no céu. Sendo DEUS o Criador de todas as coisas, não podemos atribuir a Ele a autoria do pecado. Toda a Bíblia rejeita essa idéia quando diz: “Longe de DEUS a impiedade, e do Todo-poderoso, a perversidade” (Jó 34.10).
Em outra passagem está escrito que não há injustiça nEle (Dt 32.4; SI 92.15). Tiago, no Novo Testamento, disse que o Senhor não pode ser tentado pelo mal (Tg I.13). Por isso, é blasfêmia considerar DEUS como autor do pecado. Ora, duas passagens bíblicas que melhor ilustram a origem do pecado no Céu são metafóricas (Is 14.12-20Ez 28.12-19); daí a dificuldade na compreensão desses textos pelos intérpretes. Do ponto de vista pentecostal esses textos falam do pecado iniciado entre os anjos e pelo principal deles, Lúcifer.
 
Leituras que nos dão a ideia de que Lúcifer se revoltou contra DEUS e se tornou Satanás, o Diabo.
Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de DEUS exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte.Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. E contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos? Que punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos? Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada. Porém tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada, como os que descem ao covil de pedras, como um cadáver pisado. Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais nomeada. Isaías 14:12-20.
 
Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estiveste no Éden, jardim de DEUS; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de DEUS estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de DEUS, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá. Ezequiel 28:12-19
 
Observação do Pr.Henrique:
Satanás também é identificado por JESUS como aquele que entrou na terra por outra porta que não foi o nascimento físico, através de uma mulher.
1 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. 10 O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância. João 10:1,10.
JESUS fala acerca do Diabo dizendo ser ele homicida desde o princípio (Jo 8.44).
O apóstolo João diz que o Diabo peca desde o princípio (1 Jo 3.8). 
 
Anjos que se tornaram demônios
As Escrituras parecem indicar que, em algum momento entre Gênesis 1.31 e Gênesis 3.1, houve uma rebelião no mundo angélico, no qual muitos anjos bons se voltaram contra DEUS e se tornaram maus. O teólogo italiano Tomás de Aquino (1225-1274) ensinou que uma vez que os anjos não têm natureza carnal pecaminosa o pecado deles foi espiritual. Eles foram seduzidos pelo diabo, que os envolveu com o orgulho e a inveja contra DEUS. Os anjos pecaram voluntariamente (Tomás de Aquino, “Suma Contra os Gentios”, 63:1-9). Alguns fazem alusão ao texto de Judas 6 para apoiar esse ponto de vista quanto à queda dos anjos. As táticas de Satanás e dos demônios são a mentira, o engano, o homicídio e toda sorte de malignidade. Fazem isso para afastar as pessoas de DEUS e levá-las à destruição (Jo 8.44; Ap 12.9; Sl 106.37). Mas, assim como Satanás e suas hostes foram expulsos do céu, também seu domínio e ação serão extirpados totalmente da face da terra (1 Jo 3.8; Lc 9.1, 10.19; At 16.18; Rm 16.20; Ap 20.10). (http://www.cacp.org.br/o-que-levou-a-terca-parte-dos-anjos-seguir-a-lucifer).
E houve batalha no Céu; Miguel e seus anjos batalhavam contra o dragão, e batalhava o dragão e seus anjos; mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos Céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana a todo o mundo; ele foi precipitado na Terra, e seus anjos foram lançados com ele”. (Apocalipse 12:7 - 9).
E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia; (Judas 1.6).
Porque, se DEUS não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo; (2 Pedro 2:4).
 
Os textos acima mencionados são tidos como relacionados à queda de Lúcifer e o começo do pecado no Universo. O primeiro (Isaías) refere-se ao rei caído da Babilônia, cujo orgulho tornou-o soberbo; por isso, ele não pôde subsistir, com tirania e orgulho, ante o DEUS Vivo. Diz o texto que esse rei era elevado e importante, mas por seu orgulho foi cortado como uma árvore.
Segundo, a linguagem metafórica, o texto sugere o relato a história da queda de Lúcifer, denominado “estrela da manhã”, o qual, por sua rebelião foi expulso da presença de DEUS. O segundo texto (Ezequiel) apresenta um lamento sobre o rei de Tiro, mas a linguagem figurada ilustra a queda de Satanás.
O registro bíblico da origem do pecado prossegue noutras referências que tratam do assunto. O que fica claro é que o pecado foi originado por Satanás. Ele pecou antes de Adão e Eva quando se apresentou na forma de uma serpente para tentar Eva (Gn 3.1-62 Co 11.3). JESUS declarou que Satanás é homicida “desde o princípio” (Jo 8.44I Jo 3.8). A expressão “desde o princípio” não quer dizer que este ser angélico foi sempre mau. Seu primeiro estado era de santidade. A expressão “desde o princípio” indica no contexto da história da criação que Ele se fez opositor do DEUS trino desde o início da criação do mundo.
Entretanto, antes da criação do Universo material, os anjos já haviam sido criados. Mesmo considerando as nossas dificuldades para entendermos plenamente a origem do pecado no céu, sabemos que DEUS conhece todas as coisas e “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1. 11).
O pecado entrou na vida da humanidade através de Adão e Eva (Gn 3.1-19). Como isso aconteceu? A história bíblica descreve como o pecado tomou-se uma realidade na vida da humanidade quando uma criatura extraordinária e espiritual se materializou numa “serpente” (Gn 3.1-7) para enganar as mais belas criaturas da terra, o homem e a mulher. Essa criatura é denominada em outras passagens como “a antiga serpente”, o “Diabo” e “Satanás” (Ap 12.920.2). Foi essa criatura que pecou desde o princípio e se tomou inimiga da criação de DEUS e originou a catástrofe cósmica.
Pela soberana e sábia vontade de DEUS permitiu-se que no Eden, o jardim idílico criado por DEUS para que Adão e Eva vivessem felizes, Satanás penetrasse para tentá-los com astúcia e engano. A história da criação da criatura humana relata que Adão e Eva foram criados “bons” e colocados no Eden para desfrutarem de todas as benesses daquele jardim e manter comunhão com seu Criador (Gn 1.26—2.25). Por serem criaturas, humanas e finitas, estavam sujeitas a pecar.
DEUS, então, estabeleceu para eles uma regra para não comerem de uma árvore denominada “árvore do conhecimento do bem e do mal”, mas Eva se deixou enganar pela insinuação diabólica da serpente e tomou do fruto, comeu e o deu ao seu marido (Gn 3.6). Duvidaram da veracidade da palavra de DEUS e acataram as insinuações do Inimigo. Daí desobediência, egotismo, rebeldia, pecado, queda e suas conseqüências, que se transmitiram à toda posteridade de Adão.
O pecado de Adão foi um ato pessoal. Já consideramos o fato de que o pecado é um estado da vontade e que esse estado egoísta da vontade é universal. Uma vez que o homem preferiu obedecer ao seu “eu”, pervertendo sua própria vontade, também, tornou-se responsável pelas conseqüências de sua transgressão.
Ele adquiriu uma natureza corrompida e afetou universalmente toda criatura na terra. Seus atos pecaminosos e suas disposições são frutos de seu estado corrupto inato. JESUS explicou muito bem esse ponto quando disse: “... não há árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal” (Lc 6.43-45Mt 12.34).
Tentação e Queda não são coisas míticas ou alegóricas. Tem havido a tentativa de pseudo-teólogos tornarem o relato escriturístico da tentação e a Queda como algo alegórico. Não há qualquer linguagem figurada em Gênesis 3 que negue o fato histórico relatado naquela passagem. No desenrolar da tentação Satanás apelou aos apetites que poderiam dar a Eva o prazer de fazer sua própria vontade em desobediência do Criador. Satanás apelou aos sentidos egoísticos de Eva e ela deu ouvidos ao tentador em vez de rejeitar e expulsar o tentador que visava levá-la a desobedecer a DEUS (Gn 3.1-3).
Satanás levou o casal a duvidar da veracidade de DEUS insinuando que o Criador estaria tirando deles o direito de conhecer coisas mais sublimes. Adão e Eva, então, pecaram e deixaram que seus corações fossem corrompidos e afetasse seus apetites naturais. Diz o relato bíblico que sua disposição interior manifestou-se em atos. O texto diz, literalmente: “... ela tomou do seu fruto, e comeu, e deu também ao seu marido, e ele comeu com ela” (Gn 3.6).
O homem seguiu a indução do seu coração e fez a escolha do seu “eu” em desacordo com DEUS. Portanto, o pecado surgiu de dentro do homem, do seu interior, e ele transgrediu a lei do Senhor (Tg I.I5).
 
2. O pecado no Éden.
O PECADO ORIGINAL E SUA AFETAÇÃO
Distinção entre pecado original e culpa original. Na língua latina usa-se a expressão peccatum originale, que se traduz literalmente por “pecado original”. Para entendermos o assunto precisamos fazer distinção entre pecado original e culpa original.
a- Por pecado original entendemos que se trata do pecado herdado de nossos primeiros pais, Adão e Eva, o qual passou a toda criatura humana.
b- A culpa não é herdada, e sim imputada a cada criatura. A expressão “pecado original” não se encontra na Bíblia de forma literal, mas a sua manifestação está implícita na história da Queda; por isso, o pecado original está na vida de todo ser humano desde o seu nascimento. Outrossim, precisamos esclarecer que a expressão “pecado original” nada tem que ver com a constituição original do homem, haja vista DEUS não o ter criado pecador.
Toda criatura humana é culpada em Adão e conseqüentemente tem sua natureza corrompida desde o nascimento (SI 51.5; 58.3).
Pecados veniais e pecados mortais. A igreja romana ensina e faz distinção entre pecados veniais e mortais. Ao mesmo tempo, ela tem dificuldades em distinguir esses pecados. Tal distinção não é bíblica, visto que todo pecado é anomia diante de DEUS — termo grego que significa “falta de retidão”, “falta de obediência à lei”.
O Antigo Testamento faz distinção entre os pecados cometidos intencionalmente e os praticados por ignorância. Se cometido intencionalmente ou por ignorância, o pecado não deixará de ser pecado, porque é um fato e torna a pessoa culpada diante de DEUS (Gl 6.1Ef 4.18; I Tm I.I3; 5.24). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo deixou clara a idéia de que o grau do pecado é determinado pelo grau de conhecimento (luz) que o pecador possua (Rm LI8-32).
 
3. A universalidade do pecado.
Pelágio, teólogo inglês, renegava a idéia do pecado original porque entendia que os homens que nascem no mundo, desde a Queda, vivem no mesmo estado em que Adão foi criado e que o pecado deste prejudicou apenas a ele próprio. Por isso, essa teoria rejeita a ideia da hereditariedade do pecado sobre toda a raça humana.
Pelágio ensinava que Adão morreu pela constituição de sua natureza, tivesse ele pecado ou não. Entretanto, o ensino claro da Bíblia a esse respeito não deixa dúvida de que a culpa original refere-se àquela recebida por Adão e Eva após terem pecado contra a lei de DEUS.
o viver em pecado consiste então, em viver uma vida centralizada no “eu” e significa o fazer a própria vontade como a da vida. Neste sentido o homem merece receber a punição do seu pecado ( Rm 5.12).
A culpa legal O aspecto legal da culpa perante DEUS diz respeito ao fato de que quando Adão e Eva cometeram o pecado contra a ordem divina, tornaram-se legalmente culpados e dignos da pena estabelecida por DEUS. O Criador havia lhes dito que um só ato de desobediência à sua palavra implicaria na pena de morte (Gn 2.17). O apóstolo Paulo entendeu essa questão doutrinária e declarou que “o juízo veio de uma só ofensa, para condenação” (Rm 5.16).
Portanto, por um só ato pecaminoso contra DEUS, Adão tomou-se incapaz de permanecer na presença santa de DEUS. Essa ofensa de Adão tornou-se a culpa de toda sua descendência, de toda a raça humana. Perante DEUS, legalmente, todos são culpados, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS” (Rm 3.23).
Isso significa que em Adão todos participaram da sua transgressão. A expressão “estão destituídos da glória de DEUS” indica a necessidade de recuperação do primeiro estado de glória de Adão antes da Queda. Significa a recuperação daquela realeza moral e espiritual que o homem tinha, isto é, a imagem e semelhança de DEUS, deformada pelo pecado. Foi o segundo Adão, JESUS CRISTO, quem veio a este mundo para recuperar a glória perdida do homem (Rm 3.24-26).
A culpa não significa mera propensão ao castigo. Isso significa que a culpa incorre mediante a transgressão do pecador. Não há na justiça de DEUS o conceito de culpa construtiva, porque o pecador é culpado por aquilo que tem praticado. Somos culpados do pecado, tanto em relação a culpa original de nossos primeiros
pais quanto pelos pecados que cometemos hoje. Devemos entender que somos culpados pela natureza pecaminosa herdada de Adão e Eva. Esse é o aspecto coletivo que abrange todos os homens. Porém, cada um de nós é individualmente responsável pelos seus próprios pecados.
A HEREDITARIEDADE DO PECADO
Como um ato de pecado individual afetou a todos? A Bíblia tem a resposta cabal desta questão. Paulo, em Romanos disse “que todos pecaram” (Rm 3.23) e dá a idéia de que todos os seres humanos participaram da transgressão de Adão; e, como indivíduos, tornaram-se pecadores. Ele explica os efeitos do pecado de Adão: “Portanto, por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens” (Rm 5.12).
Paulo não estava falando de pecados factuais, do dia-a-dia, mas da herança do pecado. A morte, como punição do pecado, tem um caráter universal, porque “a morte passou a todos os homens”. Por causa do pecado de Adão, todos os seus descendentes tomaram-se pecadores e culpados. Porém, DEUS providenciou a nossa expiação — nas palavras de Paulo — outra vez: “Mas CRISTO morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
Portanto, o pecado é hereditário. A sua universalidade deve-se à corrupção da natureza humana. E a Palavra de DEUS afirma que o primeiro homem violou a vontade expressa de DEUS, e, por conseqüência, toda a vida humana se corrompeu. Inevitavelmente, quando o homem se depara com a idade da consciência moral, está tão identificado com os maus impulsos existentes dentro de si que precisará esforçar-se para manter o equilíbrio moral e espiritual de sua vida.
Não se trata meramente de um impulso momentâneo da sua vontade, mas é algo implícito na sua natureza pecaminosa, que é sinistro e obscuro. A tendência má que se revela numa criança se percebe na semente dessa tendência má. Nesse sentido, toda criança é pecadora, conquanto não tenha culpa pessoal. Não podemos cobrar responsabilidade pessoal de uma criança recém-nascida.
A Bíblia e a consciência moral dão testemunho da responsabilidade que temos de nossa vida, apesar da natureza que temos herdado. Na verdade, a herança do pecado se constituí numa condição de vida, para a qual precisamos da graça salvadora de CRISTO para dominá-la. Por isso, mesmo como pecadores regenerados pelo ESPÍRITO SANTO precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar a nossa cruz e sermos crucificados com CRISTO (G1 2.20).
Todo ser humano nasce com uma natureza corrompida. Todos os atos pecaminosos das pessoas são frutos de sua natureza pecaminosa. Ora, o que se entende por natureza
no contexto desse estudo? Ê aquilo que é inato em cada pessoa, isto é, nasce com ela. JESUS, disse, certa feita aos seus discípulos que “não há árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal” (Lc 6.43-45).
Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido com uma “natureza corrompida”. E algo que faz parte do seu ser e é subjacente à sua própria consciência. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante de DEUS, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a terra.
O salmista Davi declarou que fora formado em iniqüidade e concebido em pecado (Sm 51.5). Na verdade, com isso, confessou não o pecado de sua mãe, e sim o seu próprio pecado, e que esse estado — entendeu ele — vinha desde o momento de sua concepção.
A natureza corrompida e congênita de toda criatura humana. O apóstolo Paulo usou uma expressão forte em Efésios, a qual merece a nossa apreciação: “éramos por natureza filhos da ira” (2.3). A expressão “filhos da ira” denota o estado de condenação por causa da herança do pecado que todos recebemos de nossos pais (Adão e Eva). Entende-se por “natureza” algo inato e original distinto daquilo que se adquire posteriormente.15
Sem dúvida, o apóstolo coloca o texto no passado com o verbo “éramos”, para indicar que, ao sermos regenerados pelo ESPÍRITO SANTO, fomos agraciados pela graça de DEUS. A criança é despida de consciência moral, mas congenitamente possui a natureza pecaminosa herdada. Por isso, a morte é a penalidade global que afeta todas as pessoas e, inevitavelmente, afeta as crianças, haja vista elas morrerem como todos os demais seres.
As crianças estão colocadas num estado de pecado e, por isso, necessitam de regeneração e salvação através de JESUS CRISTO. Naturalmente, elas são objeto de salvação pela graça de CRISTO, que as salva, independentemente da consciência moral. Contudo, a condição dos adultos é diferente da das crianças. O adulto precisa de fé pessoal para ser salvo, e a Bíblia declara que CRISTO morreu por todos (2 Co 5.15).
No Juízo Final, as pessoas serão julgadas mediante o teste da conduta pessoal, enquanto as crianças, mesmo tendo uma tendência para mal, são incapazes de transgressão pessoal; por isso, cremos que elas estarão entre os salvos (Mt 25.45,46).
Adão depois da Queda. Já dissemos anteriormente que Adão e Eva, quando pecaram, perderam o direito do primeiro estado de santidade em que foram criados e vieram a ser objeto de várias mudanças negativas transcendentais.
Paulo declarou que por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5.12).
 
A pecaminosidade do homem está registrada em toda a extensão das Escrituras (Gn 6.51 Rs 8.46Sl 53.3143.2Pv 20.9Ec 7.20Is 53.664.6Rm 3.1-12,19,20,23;Gl 3.22Tg 31 Jo 1.8,10). De fato, a Bíblia mostra o pecado como uma herança inevitável que o homem tem de administrar desde o seu nascimento, e que está presente na natureza do homem e com ele continuará até a morte (Sl 5.5Jó 14.4Jo 3.6Ef 2.3). Escrevendo aos Efésios, diz o apóstolo Paulo que nós, os crentes, “éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). o pecado, pois, é algo original, do qual todos participam, e que os fazem culpados diante de DEUS. O pecado e a morte nivelam os homens. A maior prova em favor da universalidade do pecado é que a própria obra realizada por CRISTO na cruz, que no seu escopo apresenta-se como uma obra de caráter universal, e como remédio único para a doença espiritual de toda a humanidade.
 
III - A SOLUÇÃO PARA O PECADO
1. Nem tudo está perdido.
Veio JESUS CRISTO, da parte de DEUS; se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14), assumindo a penalidade da lei, causada pela nossa culpa, tomando-se o nosso substituto vicário, justificando o homem dos seus pecados (Rm 4.24,255.1,8). Adão cometeu o pecado e na qualidade de chefe federal da raça humana; por ele foi imputada a todos os seus descendentes a culpa do pecado. A Bíblia enfatiza este ensino quando declara que a morte é o castigo do pecado, para todos os seus
descendentes (Rm 5.12-19Ef 2.3I Co 15.22).
A obra de CRISTO
CRISTO realizou muitas obras, porém a obra suprema que ele consumou foi a de morrer pelos pecados do mundo. (Mat. 1:21João 1:29.) Incluídas nessa obra expiatória figuram a sua morte, ressurreição, e ascensão. Não somente devia ele morrer por nós, mas também viver por nós. Não somente devia ressuscitar por nós, mas também ascender para interceder por nós diante de DEUS. (Rom. 8:344:255:10.)
Sua morte.
(a) Sua importância. O evento mais importante e a doutrina central do Novo Testamento resumem-se nas seguintes palavras: "CRISTO morreu (o evento) por nossos pecados (a doutrina)" (1 Cor. 15:3). A morte expiatória de CRISTO é o fato que caracteriza a religião cristã. Martinho Lutero declarou que a doutrina cristã distingue-se de qualquer outra, e mui especialmente daquela que apenas parece ser cristã, pelo fato de ser ela a doutrina da Cruz. Todas as batalhas da Reforma travaram-se em torno da correta interpretação da Cruz. O ensino dos reformadores era este: quem compreende perfeitamente a Cruz, compreende a CRISTO e a Bíblia! É essa característica singular dos Evangelhos que faz do Cristianismo a única religião; pois o grande problema da humanidade é o problema do pecado, e a religião que apresenta uma perfeita provisão para o resgate do poder e da culpa do pecado tem um propósito divino. JESUS é o autor da "salvação eterna" (Heb. 5:9), isto é, da salvação final. Tudo quanto a salvação possa significar é assegurado por ele.
(b) Seu significado. Havia certa relação verdadeira entre o homem e seu Criador. Algo sucedeu que interrompeu essa relação. Não somente está o homem distanciado de DEUS, tendo seu caráter manchado, mas existe um obstáculo tão grande no caminho que o homem não pode removê-lo pelos seus próprios esforços. Esse obstáculo é o pecado, ou melhor, a culpa. O homem não pode remover esse obstáculo; a libertação terá que vir da parte de DEUS. Para isso DEUS teria que tomar a iniciativa de salvar o homem. O testemunho das Escrituras é este: que DEUS assim fez. Ele enviou seu Filho do céu à terra para remover esse obstáculo e dessa maneira reconciliou os homens com DEUS. Ao morrer por nossos pecados, JESUS removeu a barreira; levou o que devíamos ter levado; realizou por nós o que estávamos impossibilitados de fazer por nós mesmos; isso ele fez porque era a vontade do Pai. Essa é a essência da expiação de CRISTO. 
 
 Condições da salvação.
Que significa a expressão condições da salvação? Significa o que DEUS exige do homem a quem ele aceita por causa de CRISTO e a quem dispensa as bênçãos do Evangelho da graça.
As Escrituras apresentam o arrependimento e a fé como condições da salvação; o batismo nas águas é mencionado como símbolo exterior da fé interior do convertido. (Mar. 16:16Atos 22: 1616:312:383:19.)
Abandonar o pecado e buscar a DEUS são as condições e os preparativos para a salvação. Estritamente falando, não há mérito nem no arrependimento nem na fé; pois tudo quanto é necessário para a salvação já foi providenciado a favor do penitente. Pelo arrependimento o penitente remove os obstáculos à recepção do dom; pela fé ele aceita o dom. Mas, embora sejam obrigatórios o arrependimento e a fé, sendo mandamentos, é implícita a influência ajudadora do ESPÍRITO SANTO. (Notem a expressão: "Deu DEUS o arrependimento" Atos 11:18.) 
 
A fonte da justificação: a graça.
Graça significa, primeiramente, favor, ou a disposição bondosa da parte de DEUS. Alguém a definiu como a "bondade genuína e favor não recompensados", ou "favor não merecido". Dessa forma a graça nunca incorre em dívida. O que DEUS concede, concede-o como favor; nunca podemos recompensá-lo ou pagar-lhe. A salvação é sempre apresentada como dom, um favor não merecido, impossível de ser recompensado; é um benefício legítimo de DEUS. (Rom. 6:23) O serviço cristão portanto, não é pagamento pela graça de DEUS; serviço cristão é um meio que o crente aproveita para expressar sua devoção e amor a DEUS. "Nós o amamos porque ele primeiramente nos amou."
A graça é transação de DEUS com o homem, absolutamente independente da questão de merecer ou não merecer. "Graça não é tratar a pessoa como merece, nem tratá-la melhor do que merece", escreveu L. S. Chafer. "E tratá-la graciosamente sem a mínima referência aos seus méritos. Graça é amor infinito expressando-se em bondade infinita."
 
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de DEUS. Efésios 2:8
 
2. A provisão de DEUS.
Mas, vindo a plenitude dos tempos, DEUS enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, DEUS enviou aos vossos corações o ESPÍRITO de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Gálatas 4:4-6
Porque DEUS amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16
A questão do pecado encontra resposta e solução quando encontramos na Bíblia a declaração de Paulo de que DEUS propôs JESUS CRISTO como propiciação pelo seu sangue, para receber toda a carga da ira de DEUS contra o pecado (Rm 3.252 Co 5.21Gl 3.13). Significa que a cruz foi o meio pelo qual DEUS castiga o pecado. O próprio DEUS, perfeito em justiça, tornou possível a expiação dos pecados por aquele que se fez nosso justificador perfeito (Rm 3.26).
A redenção.
Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três revelações de DEUS, que por toda a Bíblia figuram em todas as relações de DEUS com o homem. O Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o DEUS do Pacto que entra em relações pessoais com o homem (cap. 2); o Redentor, que faz provisão para a restauração do homem (cap. 3).
(a) Prometida. (Vide Gên. 3:15.) (1) A serpente procurou fazer aliança com Eva contra DEUS, mas DEUS por fim a essa aliança. "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente (descendentes) e a sua semente." Em outras palavras, haverá uma luta constante entre o homem e o poder maligno que causou a sua queda. (2) Qual será o resultado desse conflito? Primeiro, vitória para a humanidade, por meio do Representante do homem, a Semente da mulher. "Ela (a semente da mulher) te ferirá a cabeça." CRISTO, a Semente da mulher, veio ao mundo para esmagar o poder do diabo. (Mat. 1:23, 25; Luc. 1:31-35,76; Isa. 7:14; Gál. 4:4; Rom. 16:20; Col. 2:15; Heb. 2:14,15; 1 João 3:8; 5:5; Apoc. 12:7, 8, 17; 20:1-3, 10.) (3) Porém a vitória não será sem sofrimento. "E tu (a serpente) lhe ferirás o calcanhar." No Calvário a Serpente feriu o calcanhar da Semente da mulher; mas este ferimento trouxe a cura para a humanidade. (Vide Isa. 53:3,4,12; Dan. 9:26; Mat. 4:1-10; Luc. 22:39-14,53; João 12:31-33; 14:30,31; Heb. 2:18; 5:7; Apoc. 2:10.)
(b) Prefigurada. (Verso 21.) DEUS matou um animal, uma criatura inocente, para poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista por causa do pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à morte, a fim de prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
 
 Três aspectos da salvação.
Há três aspectos da salvação, e cada qual se caracteriza por uma palavra que define ou ilustra cada aspecto:
(a) Justificação é um termo forense que nos faz lembrar um tribunal. O homem, culpado e condenado, perante DEUS, é absolvido e declarado justo — isto é, justificado.
(b) Regeneração (a experiência subjetiva) e Adoção (o privilégio objetivo) sugerem uma cena familiar. A alma, morta em transgressões e ofensas, precisa duma nova vida, sendo esta concedida por um ato divino de regeneração. A pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de DEUS e membro de sua família.
(c) A palavra santificação sugere uma cena do templo, pois essa palavra relaciona-se com o culto a DEUS. Harmonizadas suas relações com a lei de DEUS e tendo recebido uma nova vida, a pessoa, dessa hora em diante, dedica-se ao serviço de DEUS. Comprado por elevado preço, já não é dono de si; não mais se afasta do templo (figurativamente falando), mas serve a DEUS de dia e de noite. (Luc. 2:37.) Tal pessoa é santificada e por sua própria vontade entrega-se a DEUS.
O homem salvo, portanto, é aquele cuja vida foi harmonizada com DEUS, foi adotado na família divina, e agora dedica-se a servi-lo. Em outras palavras, sua experiência da salvação, ou seu estado de graça, consiste em justificação, regeneração (e adoção), e santificação. Sendo justificado, ele pertence aos justos; sendo regenerado, ele é filho de DEUS; sendo santificado, ele é "santo" (literalmente uma pessoa santa)
São essas bênçãos simultâneas ou consecutivas? Existe, de fato, uma ordem lógica: o pecador harmoniza-se, primeiramente, perante a lei de DEUS; sua vida é desordenada; precisa ser transformada. Ele vivia para o pecado e para o mundo e, portanto, precisa separar-se para uma nova vida, para servir a DEUS. Ao mesmo tempo as três experiências são simultâneas no sentido de que, na prática, não se separam. Nós as separamos para poder estudá-las. As três constituem a plena salvação. À mudança exterior, ou legal, chamada justificação, segue-se a mudança subjetiva chamada regeneração, e esta , por sua vez, é seguida por dedicação ao serviço de DEUS. Não concordamos em que a pessoa verdadeiramente justificada não seja regenerada; nem admitimos que a pessoa verdadeiramente regenerada não seja santificada (embora seja possível, na prática, uma pessoa salva, às vezes, violar a sua consagração). Não pode haver plena salvação \ sem essas três experiências, como não pode haver um triângulo sem três lados. Representam elas o tríplice fundamento sobre o qual se baseia subseqüente vida cristã. Começando com esses três princípios, progride a vida cristã em direção à perfeição.
 
Essa tríplice distinção regula a linguagem do Novo Testamento em seus mínimos detalhes. Ilustremos assim:
(a) Em relação à justificação: DEUS é o Juiz, e CRISTO é o Advogado; o pecado é a transgressão da lei; a expiação é a satisfação dessa lei; o arrependimento é convicção; aceitação traz perdão ou remissão dos pecados; o ESPÍRITO testifica do perdão; a vida cristã é obediência e sua perfeição é o cumprimento da lei da justiça.
 
(b) A salvação é também uma nova vida em CRISTO. Em relação a essa nova vida, DEUS é o Pai (Aquele que gera), CRISTO é o Irmão mais velho e a vida; o pecado é obstinação, é a escolha da nossa própria vontade em lugar da vontade do Chefe da família; expiação é reconciliação; aceitação é adoção; renovação de vida é regeneração, é ser nascido de novo; a vida cristã significa a crucificação e mortificação da velha natureza, a qual se opõe ao aparecimento da nova natureza, e a perfeição dessa nova vida é o reflexo perfeito da imagem de CRISTO, o unigênito Filho de DEUS.
 
(c) A vida cristã é a vida dedicada ao culto e ao serviço de DEUS, isto é, a vida santificada. Em relação a essa Vida santificada, DEUS é o SANTO; CRISTO é o sumo sacerdote; o pecado é a impureza; o arrependimento é a consciência dessa impureza; a expiação é o sacrifício expiatório ou substitutivo; a vida cristã é a dedicação sobre o altar (Rom. 12:1); e a perfeição desse aspecto é a inteira separação do pecado; separação para DEUS.
E essas três bênçãos da graça foram providas pela morte expiatória de CRISTO, e as virtudes dessa morte são concedidas ao homem pelo ESPÍRITO SANTO. Quanto à satisfação das reivindicações da lei, a expiação proveu o perdão e a justiça para o homem. Abolindo a barreira existente entre DEUS e o homem, ela possibilitou a nossa vida regenerada. Como sacrifício pela purificação do pecado, seus benefícios são santificação e pureza.
Notemos que essas três bênçãos fluem da nossa união com CRISTO. O crente é um com CRISTO, em virtude de sua morte expiatória e em virtude do seu ESPÍRITO vivificante. Tornamo-nos justiça de DEUS nele, (2 Cor. 5:21); por ele temos perdão dos pecados (Efés. 1:7); nele somos novas criaturas, nascidos de novo, com nova vida (2 Cor. 5:17); nele somos santificados (1Cor. 1:2), e ele é feito para nós santificação (1Cor. 1:30). Ele é "autor da salvação eterna"
 
A ressurreição de CRISTO é o grande milagre do Cristianismo. Uma vez que é estabelecida a realidade desse evento, torna-se desnecessário procurar provar os demais milagres dos Evangelhos. Ademais, é o milagre com o qual a fé cristã está em pé ou cai, isso em razão de ser o Cristianismo uma religião histórica que baseia seus ensinos em eventos definidos que ocorreram na Palestina há mais de mil e novecentos anos. Esses eventos, são: o nascimento e o ministério de JESUS CRISTO, culminando na sua morte, sepultamento e ressurreição. Desses, a ressurreição é a pedra angular, pois se CRISTO não tivesse ressuscitado, então não seria o que ele próprio afirmou ser; e sua morte não seria expiatória. Se CRISTO não houvesse ressuscitado, então os cristãos estariam sendo enganados durante séculos; os pregadores estariam proclamando um erro; e os fiéis estariam sendo enganados por uma falsa esperança de salvação. Mas, graças a DEUS, que, em vez de ponto de interrogação, podemos colocar o ponto de exclamação após ter sido exposta essa doutrina: "Mas agora CRISTO ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem!"
 
A ressurreição. Ela significa que JESUS é tudo quanto ele afirmou ser: Filho de DEUS, Salvador, e Senhor (Rom. 1:4). A resposta do mundo às reivindicações de JESUS foi a cruz; a resposta de DEUS, entretanto, foi a ressurreição. A ressurreição significa que a morte expiatória de CRISTO foi uma divina realidade, e que o homem pode encontrar o perdão dos seus pecados, e assim ter paz com DEUS (Rom. 4:25). A ressurreição é realmente a consumação da morte expiatória de CRISTO. Como sabemos pois que não foi uma morte comum — e que realmente ela tira o pecado? Porque ele ressuscitou! A ressurreição significa que temos um Sumo Sacerdote no céu, que se compadece de nós, que viveu a nossa vida e conhece as nossas tristezas e fraquezas; que é poderoso para dar-nos poder para diariamente vivermos a vida de CRISTO. JESUS que morreu por nós, agora vive por nós. (Rom. 8:34Heb. 7:25.) Significa que podemos saber que há uma vida vindoura. Uma objeção comum a essa verdade é: "Mas ninguém jamais voltou para falar-nos do outro mundo." Mas alguém voltou — esse alguém é JESUS CRISTO! "Se um homem morrer, tornará a viver?" A essa pergunta antiga a ciência somente pode dizer: "não sei." A filosofia apenas diz: "Deve haver uma vida futura." Porém, o Cristianismo afirma: "Porque ele vive, nós também viveremos; porque ele ressuscitou dos mortos, também todos ressuscitaremos"! A ressurreição de CRISTO não somente constitui a prova da imortalidade, mas também a certeza da imortalidade pessoal, (1 Tes. 4:142 Cor. 4:14João 14:19.) Isto significa que há certeza de juízo futuro. Como disse o inspirado apóstolo, DEUS "tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos" (Atos 17:31). Tão certo como JESUS ressuscitou dos mortos para ser o Juiz dos homens, assim ressuscitarão também da morte os homens para serem julgados por ele.
 
CONCLUSÃO
Dentre as muitas definições do termo pecado encontramos dois principais termos hebraicos awon e peshá. O que é pecado? "o pecado é a transgressão da lei" (1 Jo 3.4; ARA) e "toda iniquidade é pecado" (1 Jo 5.17). A origem do pecado é vista na Bíblia, primeiro, na esfera celeste, através de Lúcifer, que se torna Satanás;  depois na esfera terrestre, com Eva sendo enganada e Adão sendo responsabilizado pela entrada do pecado no mundo e gerando assim, a morte a todos os seres humanos (Rm 5.12), o que é chamado de universalidade do pecado. Isso se deu no Éden.
DEUS em seu infinito amor e misericórdia traçou um plano de redenção antes mesmo da fundação do mundo, já que para DEUS não existe passado, presente e futuro; ELE viu o nascimento do primeiro homem e sua queda e o resultado de seu pecado na raça humana inteira, assim já criou meio pelo qual a raça humana pudesse ser salva, perdoada de seus pecados. Enviou ao mundo a solução para o pecado. Nem tudo estava perdido. DEUS trouxe sua provisão – JESUS CRISTO. Glória a DEUS. Fomos restaurados a DEUS pelo arrependimento (At 3.19; 2 Co 7.10) e pela fé em JESUS (Rm 5.1). Confessamos a JESUS e cremos em sua morte e ressurreição e somos salvos. (Rm 10.9). Sem merecimento algum, somente pelka graça de DEUS (Ef 2.8, 9).
 
 
Comentários de algumas Bíblias, Dicionários e Livros
 
Teologia Sistemática Pentecostal - CPAD - Capítulo 6 - Hamartiologia - A Doutrina do Pecado - Pr. Elienai Cabral
Um dos mais profundos problemas da teologia e da filosofia é a existência e a ação do mal. Ao longo da História, o mal tem sido motivo de estudo, pesquisa e discussão, de modo especulativo, mas também de maneira séria. Haja vista o poder do mal impor-se de modo natural na experiência humana, a preocupação com a sua origem desafia a inteligência e aguça o interesse em descobri-lo na sua essência.
Neste campo da realidade universal do mal entra a História da raça humana através da primeira criatura: o homem. Este, por seu livre-arbítrio, cai na rede de engano do agente do mal, o Diabo, e pratica o pecado de rebelião contra o Criador.
O que é pecado? Como se manifesta? Como entrou no mundo? Essas perguntas têm deixado muitos pensadores perplexos. Neste capítulo, trataremos da abordagem teológica e também filosófica acerca do pecado e o que corretamente ensina a Bíblia sobre o assunto.
Introdução à Hamartiologia
A questão do mal é tratada na Bíblia a partir do relato do livro de Gênesis sobre a Queda do homem. O relato histórico descreve o princípio da tentação ao homem e seu pecado, trazendo maldição para a sua vida pessoal e a toda a humanidade. As questões levantadas ao longo da História sobre a Queda serão aclaradas neste capítulo.
Na teologia cristã, a doutrina do pecado ocupa grande espaço porque o cristianismo é a religião da redenção da raça humana. De todas as doutrinas bíblicas, três delas são de vasta amplitude porque tratam de DEUS, do pecado e da redenção. Existe uma inter-relação entre essas três doutrinas. É impossível tratar do pecado sem mencionar a redenção do pecador e, naturalmente, a sua relação com a sua fonte: DEUS.
O termo “hamartiologia” deriva de dois vocábulos da língua grega, a língua do Novo Testamento: hamartia e logos, os quais significam “estudo acerca do pecado”. O termo é aplicável ao pecado, seja este considerado um ato, seja considerado um estado ou uma condição. O sentido do termo é que o pecado é um desvio do fim (ou propósito) estabelecido por DEUS para determinado fato ou conduta humana.
 
O QUE É PECADO
A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as quais indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. São vários os termos que amplificam o conceito de pecado nas suas várias manifestações.
No Antigo Testamento. Encontramos no Antigo Testamento pelo menos oito palavras básicas que conceituam o pecado; no Novo Testamento, temos, pelo menos, doze outras que descrevem as várias formas de manifestações negativas relacionadas com o termo “pecado”. No étimo das palavras mencionadas no Antigo Testamento descobrimos a abrangência do pecado em suas manifestações.
  1. Hattat. Este vocábulo, que aparece 522 vezes nas páginas veterotestamentárias, e seu termo correlato no Novo Testamento — hamartia — sugerem a idéia de “errar o alvo” ou “desviar-se do rumo”, como o arqueiro antigo que atirava as suas flechas e errava o alvo. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente.
    Não se trata de uma idéia passiva de erro, mas implica uma ação proposital. Significa que cada ser humano tem da parte de DEUS um alvo definido diante de si para alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de pecar como o ato resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou, foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21; Sm 1.1; 51.4; 103.10; Is 1. 18; Dn 9.16; Os 12.8).
  2. Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”, “rebelar”, "revoltar-se”. Porém, uma variante forte para defini-la implica o ato de invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi além dos limites estabelecidos (Gn 31. 36; I Rs 12.19; 2 Rs 3.5; Sm 51.13; 89.32; Is 1.2; Am 4.4).
  3. Raa. Outra palavra hebraica que tem seu equivalente no grego — como kakos ou poneros — e traz a idéia básica de romper, quebrar; “aquilo que causa dano, dor ou tristeza”. E um tipo de pecado deliberado, malicioso, planejado, que provoca e enfurece. Dá a idéia de “ser mau” (Gn 8.21; Ex 33.4; Jr 11.11; Mq 2.1-3). Indica também algo injurioso e moralmente errado. São os pecados expressos por violência (Gn 3.5; 38.7; Jz 11.27).
    O profeta Isaías profetizou que DEUS criou a luz e as trevas, a paz e o raa Is 4.57. E o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição, infortúnio. DEUS não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a responsabilidade pelos pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a criatura rebelde, transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.
  4. Rama quer dizer “enganar”; dá a idéia de prender numa armadilha, num laço. Implica, portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem cair. E uma forma de enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13; 55.11; Jó 13.7; Is 53.9).
  5. Pata. E um termo que dá a idéia de seduzir. O sentido literal da palavra é “ser aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter livre curso. No Èden, Adão e Eva se deixaram seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado (Satanás), personificado numa serpente (Gn 3.4-7).
  6. Shagag. O sentido aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha ou um bêbado (Is 28.7). E um tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável, ante a lei divina que condena o seu erro — pecado (Lv 4.2; Nm 15.22).
  7. Rasha. Esta palavra aparece especialmente nos Salmos, com a idéia de impiedade ou perversidade. O sentido metafórico é o pecado em oposição à justiça (Êx 2.13; SI 9; SI 16; Pv 15.9; Ez 18.23).
  8. Ta a. Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não se trata de algo acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto negativo gerado pelos seus atos pecaminosos (Nm 15.22; Sl 58.3; 119.21; Is 53.6; Ez 44.10,15).
Existem outras variantes do termo que ensinam sobre o pecado no Antigo Testamento, mas nos detivemos apenas em oito deles que ilustram a diversidade e a perversidade do pecado em suas várias manifestações.
No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado” também tem vários sentidos, e alguns são correlatos com os termos hebraicos. Todos esses vocábulos do grego bíblico descrevem o pecado em seus vários aspectos. Apresentaremos uma lista menos extensa, mas igualmente proveitosa para definir o incisivas das palavras mais incisivas e usadas com mais freqüência no Novo Testamento acerca do pecado.
  1. Hamartia. Já citada em correlação com kattaa (hb.), seu sentido é “errar o alvo”, “perder o rumo”, “fracassar”. Indica que o primeiro homem, no princípio, perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não atingir o padrão divino estabelecido para a sua vida. No Novo Testamento, os escritores usaram o termo bamartia para designar o pecado.
    Ainda que o sentido equivalente no Antigo Testamento seja o de “errar o alvo”, nas páginas neotestamentárias a palavra em apreço tem uma abrangência bem maior — possui um sentido mais forte que a idéia de fracasso ou transgressão. Ela tem o sentido de “poder de engano do pecado” (Rm 5.12; Hb 3.13); é mais que um fracasso. Trata-se de uma condição responsável ou uma característica que implica culpabilidade.
  2. Kakia. No grego, relaciona-se com perversidade ou depravação, como algo oposto à virtude. E um termo que descreve o caráter e a disposição interiores, e não apenas os atos exteriores. Dele deriva-se outra palavra, kakos, cujo sentido transcende a mal-estar físico ou doenças (Mc 1.32; Mt 21.41; 24.48; At 9.13; Rm 12.17; 13,3,4,10; 16.19; I Tm 6.10).
  3. Adíkía. Denota injustiça, falta de integridade; como alguém que abandona o caminho original. Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer conduta errada e significa, ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co 12.13; Hb 8.12; Rm 1.18; 9.14). O texto de Romanos 1.18 descreve a injustiça como inimizade para com a verdade. Em I João 5.17, o apóstolo João afirma que toda iniqüidade (gr. adikia) é pecado (gr. hamartia).
  4. Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais palavras são traduzidas freqüentemente como “iniqüidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido literal de literal de anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de DEUS pratica a iniqüidade (Mt 13.41; 24.12; I Tm 1.9). O Anticristo é anomos— “o míquo” (2Ts 2.8).
  5. Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e significa “infidelidade”, “falta de fé” ou algum tipo de resistência ou vergonha (Hb 3.12; I Tm I.13). Em I Timóteo 1.13 está escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade [gr. apistia]”.
  6. Asebeia. Usado por Paulo nas epístolas com o sentido de impiedade (Rm 1.18; 11.26; 2Tm 2.16;Tt 2.12; Jd vv.I5,I8). Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base da asebeia.
  7. Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade ou mesmo sensualidade. Em Judas v.4 encontramos dois termos que explicam essas palavras: “... homens ímpios [asebeis] que convertem em dissolução [aselgeian, ‘libertinagem’] a graça de DEUS”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem restrições à prática do pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito que domina uma pessoa e a torna impudica de tal modo que perde totalmente o senso de vergonha e, por isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu pecado.
    O termo em análise significa, por conseguinte, “a pura e auto-satisfação sem o menor pudor”, haja vista o desejo pelos prazeres tornar a sua vítima despudorada, sem restrições. As chamadas taras sexuais, a embriaguez e outras manifestações são típicas de aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma das palavras mais repulsivas do Novo Testamento (Mt 7.22; 2 Co 12.21; G1 5.19; Ef 4.19; I Pe 4.3; Jd v.4; Rm 13.13;2 Pe 2.2,7,18). A versão ARC traduz o termo por “libertinagem”, enquanto a ARA prefere “dissolução”.
  8. Epitkymía. Significa “desejo”. Porém, é o contexto da palavra encontrada no Novo Testamento que pode indicar o caráter moral do desejo, se é bom ou mau. Coisas, como: motivo, intenção, direção e relação, revelarão o caráter moral de epithymia (Mc 4.19; Lc 22.15; Fp 1.23; I Ts 2.17). De modo geral, o vocábulo quase sempre se identifica com algo negativo e pecaminoso. Daí o significado poderá indicar “desejo incontinente”, normalmente traduzido como “concupiscência”,
    “paixão impura” (G1 5.24; Cl 3.5; I Ts 4.5;Tg I.I4; 2 Pe 2.10).
  9. Parabasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O significado primário do termo é “transgressão”, que dá a idéia de alguém que não respeita as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se esse vocábulo com o sentido de “desvio”, “violação” e “transgressão”. No texto de Romanos 5.14, Paulo faz uma relação entre hamartia e parabasis, ao afirmar: “No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão” (grifos do autor).
    O apóstolo Paulo não está dizendo que os que pecaram desde Adão até Moisés estão livres de culpa, e sim que aquelas gerações, não tendo a lei de Moisés, seu pecado era tão real quanto ao dos que tinham a lei. Em I Timóteo 2.14 está escrito que Eva caiu em transgressão (parabasis), ao ser enganada, porque ela foi rebelde contra a ordem divina. Não se tratava de reduzir a culpa de Eva, e sim reconhecer que ela podia ter evitado o pecado de desobediência.
  10. Paraptoma. Deriva de parapipto e significa “decair ao lado de”, “perder o caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma ofensa pela qual a pessoa é responsável”.1 Vários textos exemplificam o termo paraptoma (Mt 6.14; Rm 5.15-20; 2 Co 5.19; G1 6.19; Ef 2.I;Tg 5.16).
  11. Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado porque se refere àquele que se desgarra culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a ovelha que foge do aprisco (I Pe 2.25); também significa levar, por meio do engano, outras pessoas ao mau caminho (Mt 24.5,6; I Jo 1.8).
Todas essas palavras, segundo o seu étimo, descrevem o caráter geral do pecado. Porém, definiremos o pecado, também, em outras perspectivas, para que entendamos toda a sua abrangência na vida humana.
 
O HOMEM ANTES DA QUEDA
 
A Bíblia é a única fonte segura concernente a criação do homem e seu estado original. De forma simples e objetiva o Gênesis declara que, depois de tudo feito — especialmente, o homem —, “viu DEUS que era muito bom” (Gn 1.31). Contudo, a Bíblia não só revela o primeiro estado do homem, como relata a história da perda do seu primeiro estado de santidade, pela Queda, e também a possibilidade de sua restauração (Cl 3.10; Ef 4.24).
Criado à imagem e semelhança de DEUS (Gn 1.26,27). Em que consiste esta imagem de DEUS? Ao longo da História, os teólogos vêm discutindo sobre as diferenças entre “imagem e semelhança”. Porém, a distinção entre as duas características quase se confunde com a diferença entre personalidade (ou pessoalidade) e espiritualidade. No hebraico, as palavras “imagem” fselem) e “semelhança” (demutj exprimem a idéia de algo similar, mas não idêntico à coisa que representa ou de que é uma “imagem”.
Há uma distância infinita entre DEUS e a sua criatura-prima — o homem. Só CRISTO é a imagem expressa da Pessoa de DEUS, como o Filho do Pai, que possui a mesma natureza daquEle. Na verdade, a imagem divina no homem é como a sombra no espelho.
 
Mathew Henry, em seu Comentário Bíblico, escreveu:
 
... a imagem de DEUS no homem consiste em três coisas. (Vj Em sua natureza e constituição, não do corpo, pois DEUS não tem corpo, e sim de características da alma e espírito. (2) Em seu lugar e autoridade, pois quando disse: “façamos o homem à nossa imagem... e domineo homem recebeu autoridade sobre as criaturas inferiores (os animais). (3) Em sua pureza e retidão. A imagem de DEUS no homem é revestida de retidão e santidade (Ef 4.24; Cl 3.10).
O homem, como imagem de DEUS, foi dotado de atributo moral, isto é, de justiça original. Porém, essa justiça não era imutável; havia a possibilidade de pecado. Ele foi dotado de livre-arbítrio. O homem foi criado com uma natureza santa, voltada naturalmente para DEUS e sua vontade. Essa imagem divina no homem revela a natureza religiosa dele, haja vista ter sido dotado de “espírito”, para manter comunhão com o seu Criador.
A Queda distorceu e avariou a imagem divina no homem. O destaque maior no relato da criação está na palavra “imagem”: “E criou DEUS o homem à sua imagem, à imagem de DEUS o criou” (Gn 1.27). Existem alguns ensinamentos de que o ser humano na Queda perdeu a imagem de DEUS em si. Essa teoria é incoerente, pois a imagem e a semelhança, de fato, se referem aos aspectos moral e espiritual, os quais ainda persistem no ser humano, apesar de desfigurados e transtornados pela Queda e o pecado subseqüente.
Quanto à imagem moral, o homem é constituído de intelecto, vontade e sentimento; isto é, as faculdades da alma. Quanto à imagem espiritual, ele possui espírito e alma. Essas imagens não integram a criação animal.
O homem perdeu a santidade original, a pureza de atitudes. Seu caráter foi afetado; tornou-se o ser humano pecaminoso. Seu intelecto foi corrompido pela mentira, pela falsidade e pelo engano. Disse o sábio, em Eclesiastes que DEUS fez o homem reto, mas ele se envolveu em muitas astúcias (7.29).
A imagem de DEUS no homem está, pois, deturpada. Só é possível a sua restauração pela obra expiatória de CRISTO. O corpo não é a imagem de DEUS, porque é formado do pó. Porém, o Senhor soprou nele a nephesh — a vida física da alma que possui a imagem e semelhança de DEUS (Gn 2.7). Os impulsos físicos, pois, encontram-se sob o controle do espírito humano, a sua parte superior.
O primeiro homem possuía um corpo e um espírito (e alma) perfeitamente adequados um ao outro. Não havia conflito entre os impulsos pessoais e os espirituais. Era um tipo de perfeição física e espiritual, mas não era uma perfeição absoluta, e sim relativa e provisória (Gn 3.22).
Teorias filosóficas
Ao longo da História, a preocupação com a existência do mal tem provocado muitas perguntas e respostas. O problema da presença do pecado no Universo é discutido por filósofos, sociólogos, psicólogos e teólogos. Especialmente, no campo da filosofia, há muitas teorias que tentam em vão analisar e definir o que é pecado.
Conceitos antíteístas e antícristãos. Há opiniões extremamente especulativas e arbitrárias sobre esse assunto. Por isso, ao trazê-las à tona neste estudo, queremos destacar dois elementos auxiliares para o estudo do pecado. O primeiro trata da natureza metafísica do pecado, e o segundo, de sua natureza moral. Surgem, então, as questões: O que é aquilo que denominamos pecado? Seria uma substância, um princípio ou um ato? Significaria privação, negação ou defeito? Seria alguma coisa relacionada com sentimento?
Essas perguntas se relacionam com a natureza metafísica do pecado. Mas, e as questões sobre a natureza moral do pecado? Como o pecado se relaciona com a lei de DEUS? Que relação tem o pecado com a santidade e com a justiça? Algumas teorias sobre a natureza do pecado são apresentadas ao longo da História, no estudo progressivo das doutrinas cristãs. Algumas dessas teorias são incoerentes com a realidade bíblica do pecado e, por isso, heréticas; mas outras merecem a nossa apreciação.
  1. A primeira teoria filosófica e antibíblica que mencionaremos é a que ensina a existência de um eterno princípio do mal. Ela se difundiu e foi introduzida na igreja nos primeiros séculos da Era Cristã. Para alguns, esse princípio original do mal se identificava como um ser pessoal. Trata-se do gnosticismo. Para outros, seguidores do gnosticismo, dos marcionistas e dos maniqueus, tal princípio era uma substância, uma matéria eterna.
    Esses dois princípios não encontram respaldo na Palavra de DEUS e, por essa razão, são nulos. Tal teoria vê o pecado como um mal físico que contamina o espírito humano. Por isso, esse mal deve ser vencido por meios físicos. Trata-se de uma teoria que insinua que o pecado é eterno e independente do DEUS Eterno. Sugere que DEUS é limitado por um poder co-eterno, que Ele não pode controlar. Ou seja, o mal tem o seu próprio poder, assim como DEUS possui o seu.
    A idéia sugerida por essa teoria, de que o mal é um poder independente e sem controle, destrói, por assim dizer, a natureza do pecado como um mal moral, haja vista fazer dele uma substância inseparável da natureza humana. Dessa forma, não admite que o homem possa se livrar do pecado.
    Essa teoria compromete, ainda, a responsabilidade humana, uma vez que atribui a sua origem a um mal eterno. Claramente, a Bíblia refuta terminantemente essa teoria, pois o pecado não é eterno; e, quando o homem pecou, fez isso por escolha intencional e voluntária.
  2. Outra teoria filosófico-antibíblica é a que apresenta o pecado como um mal necessário. Ela se baseia na lei de que toda a vida implica ação e reação. Argumenta-se que, no Universo material, prevalece a mesma lei pela qual os corpos celestes são conservados em suas órbitas pelo equilíbrio de forças centrífugas e centrípetas. Ensina, ainda, que todas as mudanças químicas são produzidas por atração e repulsão, e que a mesma lei deve prevalecer no mundo moral; e que não pode haver bem sem mal.
    Essa teoria ensina, portanto, que, em relação ao homem, a sua vida é equilibrada por forças contrárias e se desenvolve através do antagonismo; ou seja, por princípios opostos, de modo que um mundo moral sem pecado é impossível. A essência dessa teoria é a de que o pecado é a condição necessária para a existência do bem. Defende-se por esse conceito a idéia de que “o pecado é um resultado necessário, e decorrente, da limitação do ser finito do homem”2, “um incidente do desenvolvimento imperfeito, fruto da ignorância e falta de poder; portanto, o pecado não é um mal absoluto, mas relativo”.3
    Não obstante, a Palavra de DEUS ensina, refutando essa teoria, que se o bem não pode existir sem o mal, o mal deixa de ser algo condenável e repulsivo diante de DEUS, e a criatura humana deixa de ser responsável pelo pecado entranhado em sua natureza. Entende-se, então, por essa teoria, que a natureza humana seria um engano, e tudo quanto a Bíblia ensina contra o pecado, uma utopia.
  3. A terceira teoria falsa ensina que a fonte e a sede do pecado estão na natureza sensorial do homem. Essa teoria separa e distingue o corpo do espírito humano. Por ela entende-se que essa distinção especifica o pecado como algo sensorial. Ensina que, mediante o corpo, o homem está ligado ao mundo físico ou à natureza externa; e, por meio da alma, ao mundo espiritual e a DEUS.
    Essa teoria declara que o homem é governado universalmente, sempre em grau pecaminoso, por sua natureza sensorial. Em síntese, o negativo prevalece sobre o positivo, por isso, o homem é vencido pelo pecado. Biblicamente, essa teoria é falsa e equivocada, porque o pecado não é um ato ou estado sensorial no homem. Essa teoria neutraliza a consciência de pecado e de culpa, porque faz do pecado um mera debilidade.
    A doutrina bíblica ensina que a pecaminosidade do homem se identifica, metaforicamente, como “carne”, que refere-se à sua natureza corrompida e pecaminosa, adquirida na Queda. A Bíblia desmente a teoria que faz do corpo ou da natureza sensorial do homem a fonte do pecado. Rejeita a idéia de que os pecados mais degradantes cometidos pelo homem nada tenham a ver com o corpo. Pelo contrário, a Bíblia diz que seremos julgados por aquilo que tivermos feito por meio do corpo, bem ou mal (2 Co 5.10).
  4. Outra teoria filosófica ao tratar do caráter do pecado declara que a essência do pecado é o egoísmo. A Bíblia declara que o homem foi criado com perfeição e, portanto, seu ego correspondia ao ideal divino do “livre-arbítrio”. Ora, pertencente a natureza original do homem, o egoísmo não pode ser confundido com seu instinto de auto-preservação e de buscar as coisas que lhe dão prazer e satisfação.
Naturalmente, isto não se constitui um estado pecaminoso. Buscar com retidão a felicidade e o prazer na vida não significa, essencialmente, angariá-los em detrimento dos demais seres. O que torna essa busca um modo egoístico negativo de se obter felicidade é a força do pecado entranhada na natureza pecaminosa embutida no homem (Rm 5.12).
O egoísmo integra o estado decaído do homem. Alguns teólogos declaram que “o pecado de Adão teve origem no egoísmo, porque ele quis ser igual a DEUS”.4 Langston entende que o egoísmo é o coração do pecado e é a origem do pecado. O pecado veio de fora e a Bíblia o declara como transgressão da lei de DEUS (I Jo 3.4). Antes da manifestação do pecado na vida do homem havia uma “lei escrita no seu coração” (Rm 2.15).
Definições conceituais do pecado
Abordamos definições de termos bíblicos relacionados com o pecado e, também, definições filosóficas. Os estudiosos cristãos do assunto em apreço tentam definir de várias maneiras, partindo do conceito mais expressivo e bíblico de que o pecado existe como um ato, bem como um estado ou condição. Alguns nomes respeitados da história do cristianismo, “Idade Média” em diante, conceituam teologicamente o pecado de forma bem clara.
John Wesley, pai do metodismo, definiu o pecado como uma transgressão voluntária de uma lei conhecida. Um outro famoso teólogo da época ressaltou a natureza dupla do pecado ao declarar que “a idéia primária designada pelo termo pecado nas Escrituras é a falta de conformidade com a lei, uma transgressão da lei; o fazer algo proibido, o deixar de fazer aquilo que é requerido”.
Augustus Hopkins Strong, eminente professor de teologia nos Estados Unidos, escreveu sobre a doutrina do Pecado em sua Teologia Sistemática de 1886, que “pecado é a falta de conformidade com a lei moral de DEUS quer em ato, disposição ou estado”.3
W.T. Conner, em Doctrína Cristiana, ao falar da natureza do pecado escreveu: “... definimos o pecado como a rebelião contra a vontade de DEUS”; “o pecado, como algo voluntário, implica conhecimento. Se o homem peca voluntariamente, então seu pecado é contra a luz”.6 Paulo esclareceu que todo ser humano tem um certo grau de conhecimento da lei moral de DEUS e, por isso, “não há um justo, nenhum sequer” (Rm 3.10).
Charles Hodge escreveu que “o pecado é falta de conformidade coma lei de DEUS” e “inclui culpa e contaminação; a primeira expressa sua relação com a justiça; a segunda, sua relação com a santidade de DEUS”.7
Outras definições de pecado. E um ato livre e voluntário do ser humano, tendo em vista que ele é um ser moral e, por isso, capaz de perceber o certo e o errado. O homem é um agente moral livre para decidir o que fazer da sua vida, o qual deve seriamente considerar Eclesiastes 11.9.
O pecado é um tipo de mal. Nem todo mal é pecado. Existem males físicos resultantes da entrada do pecado no mundo. Na esfera física temos um tipo de mal manifesto nas doenças e enfermidades. Entretanto, na esfera ética, o mal tem sentido moral. Nesta esfera moral atua o pecado. Os vários termos hebraicos e gregos das línguas originais da Bíblia, quando falam do pecado apontam para o sentido ético, porque falam da prática do pecado, ou seja, dos atos pecaminosos.
O pecado é, de fato, uma ativa oposição a DEUS, uma transgressão das suas leis, que o homem, por escolha própria (livre), resolveu cometer conforme relata
a Bíblia (Gn 3.1-6; Is 48.8; Rm 1.18-32; I Jo 3.4).
Louis Berkhof ensina que o pecado tem caráter absoluto.8 Sem dúvida, seu conceito está correto e é bíblico. Não se faz distinção ou graduação entre o bem e o mal, porque o caráter é qualitativo. Uma pessoa boa não se torna má por uma diminuição de sua bondade, mas quando se deixa envolver com o pecado. È uma questão de qualidade, e não de quantidade.
O pecado não implica um grau menor de bondade, mas algo negativo e absoluto. Bibhcamente, não há neutralidade nem meio termo quanto ao bem ou ao mal. O que é mal não é mais ou menos mal. Ou se está do lado justo e certo ou se está do lado injusto e errado (Mt 10.32,33; 12.30; Lc II.23;Tg 2.10).
Não se trata de pecado apenas porque se praticou algum ato pecaminoso. “O pecado não consiste apenas em atos manifestos”.9 O pecado não é somente aquilo que se pratica erradamente, mas é algo entranhado na natureza pecaminosa adquirida da raça humana. E um estado pecaminoso que origina hábitos pecaminosos os quais se manifestam na vida cotidiana.
Todas as tendências e propensões pecaminosas típicas da natureza corrompida de cada um de nós demonstram o estado pecaminoso do ser humano. A esse estado decaído, a Bíblia denomina “carne”, o qual precisa ser superado pela nova vida em CRISTO, a vida regenerada pelo ESPÍRITO (2 Co 5.17; Jo 3.5).
A ORIGEM DO PECADO NO UNIVERSO
 
A primeira manifestação foi na esfera angelical. Os teólogos divergem quanto ao fato de que a primeira manifestação de pecado tenha começado no céu. Sendo DEUS o Criador de todas as coisas, não podemos atribuir a Ele a autoria do pecado. Toda a Bíblia rejeita essa idéia quando diz: “Longe de DEUS a impiedade, e do Todo-poderoso, a perversidade” (Jó 34.10).
Em outra passagem está escrito que não há injustiça nEle (Dt 32.4; SI 92.15). Tiago, no Novo Testamento, disse que o Senhor não pode ser tentado pelo mal (Tg I.13). Por isso, é blasfêmia considerar DEUS como autor do pecado. Ora, duas passagens bíblicas que melhor ilustram a origem do pecado no Céu são metafóricas (Is 14.12-14; Ez 28.12-17); daí a dificuldade na compreensão desses textos pelos intérpretes. Do ponto de vista pentecostal esses textos falam do pecado miciado entre os anjos e pelo principal deles, Lúcifer.
Os dois textos acima mencionados são tidos como relacionados à queda de Lúcifer e o começo do pecado no Universo. O primeiro (Isaías) refere-se ao rei caído da Babilônia, cujo orgulho tornou-o soberbo; por isso, ele não pôde subsistir, com tirania e orgulho, ante o DEUS Vivo. Diz o texto que esse rei era elevado e importante, mas por seu orgulho foi cortado como uma árvore.
Segundo, a linguagem metafórica, o texto sugere o relato a história da queda de Lúcifer, denominado “estrela da manhã”, o qual, por sua rebelião foi expulso da presença de DEUS. O segundo texto (Ezequiel) apresenta um lamento sobre o rei de Tiro, mas a linguagem figurada ilustra a queda de Satanás.
O registro bíblico da origem do pecado prossegue noutras referências que tratam do assunto. O que fica claro é que o pecado foi originado por Satanás. Ele pecou antes de Adão e Eva quando se apresentou na forma de uma serpente para tentar Eva (Gn 3.1-6; 2 Co 11.3). JESUS declarou que Satanás é homicida “desde o princípio” (Jo 8.44; I Jo 3.8). A expressão “desde o princípio” não quer dizer que este ser angélico foi sempre mau. Seu primeiro estado era de santidade. A expressão “desde o princípio” indica no contexto da história da criação que Ele se fez opositor do DEUS trino desde o início da criação do mundo.
Entretanto, antes da criação do Universo material, os anjos já haviam sido criados. Mesmo considerando as nossas dificuldades para entendermos plenamente a origem do pecado no céu, sabemos que DEUS conhece todas as coisas e “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1. 11).
O pecado entrou na vida da humanidade através de Adão e Eva (Gn 3.1-19). Como isso aconteceu? A história bíblica descreve como o pecado tomou-se uma realidade na vida da humanidade quando uma criatura extraordinária e espiritual se materializou numa “serpente” (Gn 3.1-7) para enganar as mais belas criaturas da terra, o homem e a mulher. Essa criatura é denominada em outras passagens como “a antiga serpente”, o “Diabo” e “Satanás” (Ap 12.9; 20.2). Foi essa criatura que pecou desde o princípio e se tomou inimiga da criação de DEUS e originou a catástrofe cósmica.
Pela soberana e sábia vontade de DEUS permitiu-se que no Eden, o jardim idílico criado por DEUS para que Adão e Eva vivessem felizes, Satanás penetrasse para tentá-los com astúcia e engano. A história da criação da criatura humana relata que Adão e Eva foram criados “bons” e colocados no Eden para desfrutarem de todas as benesses daquele jardim e manter comunhão com seu Criador (Gn 1.26—2.25). Por serem criaturas, humanas e finitas, estavam sujeitas a pecar.
DEUS, então, estabeleceu para eles uma regra para não comerem de uma árvore denominada “árvore do conhecimento do bem e do mal”, mas Eva se deixou enganar pela insinuação diabólica da serpente e tomou do fruto, comeu e o deu ao seu marido (Gn 3.6). Duvidaram da veracidade da palavra de DEUS e acataram as insinuações do Inimigo. Daí desobediência, egotismo, rebeldia, pecado, queda e suas conseqüências, que se transmitiram à toda posteridade de Adão.
O pecado de Adão foi um ato pessoal. Já consideramos o fato de que o pecado é um estado da vontade e que esse estado egoísta da vontade é universal. Uma vez que o homem preferiu obedecer ao seu “eu”, pervertendo sua própria vontade, também, tornou-se responsável pelas conseqüências de sua transgressão.
Ele adquiriu uma natureza corrompida e afetou universalmente toda criatura na terra. Seus atos pecaminosos e suas disposições são frutos de seu estado corrupto inato. JESUS explicou muito bem esse ponto quando disse: “... não há árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal” (Lc 6.43-45; Mt 12.34).
Tentação e Queda não são coisas míticas ou alegóricas. Tem havido a tentativa de pseudo-teólogos tornarem o relato escriturístico da tentação e a Queda como algo alegórico. Não há qualquer linguagem figurada em Gênesis 3 que negue o fato histórico relatado naquela passagem. No desenrolar da tentação Satanás apelou aos apetites que poderiam dar a Eva o prazer de fazer sua própria vontade em desobediência do Criador. Satanás apelou aos sentidos egoísticos de Eva e ela deu ouvidos ao tentador em vez de rejeitar e expulsar o tentador que visava levá-la a desobedecer a DEUS (Gn 3.1-3).
Satanás levou o casal a duvidar da veracidade de DEUS insinuando que o Criador estaria tirando deles o direito de conhecer coisas mais sublimes. Adão e Eva, então, pecaram e deixaram que seus corações fossem corrompidos e afetasse seus apetites naturais. Diz o relato bíblico que sua disposição interior manifestou-se em atos. O texto diz, literalmente: “... ela tomou do seu fruto, e comeu, e deu também ao seu marido, e ele comeu com ela” (Gn 3.6).
O homem seguiu a indução do seu coração e fez a escolha do seu “eu” em desacordo com DEUS. Portanto, o pecado surgiu de dentro do homem, do seu interior, e ele transgrediu a lei do Senhor (Tg I.I5).
 
O PECADO ORIGINAL E SUA AFETAÇÃO
 
Distinção entre pecado original e culpa original. Na língua latina usa-se a expressão peccatum originale, que se traduz literalmente por “pecado original”. Para entendermos o assunto precisamos fazer distinção entre pecado original e culpa original.
  1. Por pecado original entendemos que se trata do pecado herdado de nossos primeiros pais, Adão e Eva, o qual passou a toda criatura humana.
  2. A culpa não é herdada, e sim imputada a cada criatura. A expressão “pecado original” não se encontra na Bíblia de forma literal, mas a sua manifestação está implícita na história da Queda; por isso, o pecado original está na vida de todo ser humano desde o seu nascimento. Outrossim, precisamos esclarecer que a expressão “pecado original” nada tem que ver com a constituição original do homem, haja vista DEUS não o ter criado pecador.
Toda criatura humana é culpada em Adão e conseqüentemente tem sua natureza corrompida desde o nascimento (SI 51.5; 58.3).
 
Pecados veniais e pecados mortais. A igreja romana ensina e faz distinção entre pecados veniais e mortais. Ao mesmo tempo, ela tem dificuldades em distinguir esses pecados. Tal distinção não é bíblica, visto que todo pecado é anomia diante de DEUS — termo grego que significa “falta de retidão”, “falta de obediência à lei”.
O Antigo Testamento faz distinção entre os pecados cometidos intencionalmente e os praticados por ignorância. Se cometido intencionalmente ou por ignorância, o pecado não deixará de ser pecado, porque é um fato e torna a pessoa culpada diante de DEUS (Gl 6.1; Ef 4.18; I Tm I.I3; 5.24). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo deixou clara a idéia de que o grau do pecado é determinado pelo grau de conhecimento (luz) que o pecador possua (Rm LI8-32).
A CULPA DO PECADO
O que e qual é a culpa do pecado? Ora, a culpa é o sentimento pessoal na consciência, de transgressão de uma lei mediante o ato do pecado. Inclui a idéia dupla de responsabilidade pelo ato praticado do pecado, assim como a punição (castigo) pelo pecado. A punição, ou seja, a pena, segue automaticamente ao pecado.
A culpa é o estado ou a condição delituosa de quem transgrediu a lei. A culpa toma forma de condenação pela desaprovação de DEUS. Logo após Adão e Eva terem pecado, seus olhos foram abertos, ou seja, tiveram consciência de suas culpas: “então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus” (Gn 3.7). A culpa é a convicção na consciência, pela violação voluntária da lei de DEUS. O transgressor é conscientizado pela consciência ou pela lei, que o seu ato exige expiação para que seja perdoado.
Já dissemos anteriormente acerca da distinção entre pecado original e culpa original. Pelágio, teólogo inglês, renegava a idéia do pecado original porque entendia que os homens que nascem no mundo, desde a Queda, vivem no mesmo estado em que Adão foi criado e que o pecado deste prejudicou apenas a ele próprio. Por isso, essa teoria rejeita a ideia da hereditariedade do pecado sobre toda a raça humana.
Pelágio ensinava que Adão morreu pela constituição de sua natureza, tivesse ele pecado ou não. Entretanto, o ensino claro da Bíblia a esse respeito não deixa dúvida de que a culpa original refere-se àquela recebida por Adão e Eva após terem pecado contra a lei de DEUS.
o viver em pecado consiste então, em viver uma vida centralizada no “eu” e significa o fazer a própria vontade como a da vida. Neste sentido o homem merece receber a punição do seu pecado ( Rm 5.12).
A natureza da culpa. Ainda que haja uma interligação entre os pontos destacados neste capítulo, ao tratar da natureza da culpa, entendemos que o mérito da culpa é a punição. Culpa, portanto, significa o merecimento da punição, por ter o culpado de satisfazer a justiça divina pelo seu pecado praticado.
O apóstolo Paulo escreveu aos romanos que “do céu se manifesta a ira de DEUS sobre toda a impiedade e injustiça dos homens” (Rm 1.18). Ora, a ira de DEUS no contexto dessa passagem significa a reação da santidade de DEUS contra o pecado; não importando se tenha ocorrido por ato ou estado, o pecado acarreta a manifestação da justiça de DEUS.
A culpa legal O aspecto legal da culpa perante DEUS diz respeito ao fato de que quando Adão e Eva cometeram o pecado contra a ordem divina, tornaram-se legalmente culpados e dignos da pena estabelecida por DEUS. O Criador havia lhes dito que um só ato de desobediência à sua palavra implicaria na pena de morte (Gn 2.17). O apóstolo Paulo entendeu essa questão doutrinária e declarou que “o juízo veio de uma só ofensa, para condenação” (Rm 5.16).
Portanto, por um só ato pecaminoso contra DEUS, Adão tomou-se incapaz de permanecer na presença santa de DEUS. Essa ofensa de Adão tornou-se a culpa de toda sua descendência, de toda a raça humana. Perante DEUS, legalmente, todos são culpados, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS” (Rm 3.23).
Isso significa que em Adão todos participaram da sua transgressão. A expressão “estão destituídos da glória de DEUS” indica a necessidade de recuperação do primeiro estado de glória de Adão antes da Queda. Significa a recuperação daquela realeza moral e espiritual que o homem tinha, isto é, a imagem e semelhança de DEUS, deformada pelo pecado. Foi o segundo Adão, JESUS CRISTO, quem veio a este mundo para recuperar a glória perdida do homem (Rm 3.24-26).
A culpa não significa mera propensão ao castigo. Isso significa que a culpa incorre mediante a transgressão do pecador. Não há na justiça de DEUS o conceito de culpa construtiva, porque o pecador é culpado por aquilo que tem praticado. Somos culpados do pecado, tanto em relação a culpa original de nossos primeiros
pais quanto pelos pecados que cometemos hoje. Devemos entender que somos culpados pela natureza pecaminosa herdada de Adão e Eva. Esse é o aspecto coletivo que abrange todos os homens. Porém, cada um de nós é individualmente responsável pelos seus próprios pecados.
A manifestação da culpa na consciência humana. A culpa do pecado se manifesta na consciência, que é o componente racional e moral do espírito humano, para sinalizar o certo e o errado nas decisões do ser humano (Rm 2.15,16). Pela corrupção moral e espiritual do homem por causa da Queda, há em todo homem uma disposição geral para o pecado e para esconder ou negar a responsabilidade pelo pecado cometido, como fizeram Adão e Eva (Gn 3.8-14).
Entende-se, portanto, que a acusação de sua consciência contribuiu para assinalar a culpa do pecado. Visto que o pecado é transgressão diante de um DEUS SANTO, o pecado é merecedor de punição e reprovação divina. A culpa se manifesta como um resultado objetivo, isto é, ela é produzida mediante o fato da prática do pecado e não deve ser confundida com o papel da consciência que expõe a culpa subjetivamente.
Ora, o que é consciência subjetiva da culpa? O que está revelado em Levítico 5.17 esclarece bem este ponto, quando diz: “e, se alguma pessoa pecar e fizer contra algum de todos os mandamentos do Senhor o que não se deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo, será ela culpada e levará a sua iniqüidade”.
A expressão “ainda que o não soubesse” indica que a culpa implica inicialmente uma relação com DEUS e, depois, uma relação com a consciência. O texto trata da prática do pecado por ignorância, por não se saber que determinada ação seja pecaminosa. Então a consciência age subjetivamente.
Um determinado teólogo declarou que “o maior dos pecados é não estar consciente de nada”, isso porque a consciência pode tornar-se cauterizada, pela multiplicação do pecado, extinguindo no pecador a sensibilidade moral acerca do que é errado ou certo. Por isso, quando andamos com DEUS segundo a sua justiça a partir da conversão, somos por Ele santificados quanto ao pecado, e a nossa santificação subjetiva pelo ESPÍRITO SANTO desenvolve em nós mais e mais a consciência da realidade do pecado.
A culpa tem relação com a lei moral de DEUS. “A culpa não faz parte da essência do pecado, mas é, antes, uma relação com a sanção penal da lei”.10 Por isso, a culpa só pode ser removida mediante a satisfação da lei. Visto que a justiça original no homem tornou-se em “trapos de imundícia” (Is 64.6), a justiça requerida tem de ser vicária e pessoal. Ela pode ser transferida de uma pessoa para outra, mas, nenhuma criatura humana teria condições para assumir os pecados das demais, por sermos todos uma raça de pecadores (Sm 14.1-3; Rm 3.9-12).
Veio JESUS CRISTO, da parte de DEUS; se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14), assumindo a penalidade da lei, causada pela nossa culpa, tomando-se o nosso substituto vicário, justificando o homem dos seus pecados (Rm 4.24,25; 5.1,8). Adão cometeu o pecado e na qualidade de chefe federal da raça humana; por ele foi imputada a todos os seus descendentes a culpa do pecado. A Bíblia enfatiza este ensino quando declara que a morte é o castigo do pecado, para todos os seus descendentes (Rm 5.12-19; Ef 2.3; I Co 15.22).
Graus de culpa. Tem havido interpretações equivocadas sobre esse ponto. Não obstante, é fato bíblico que existem diferentes graus de culpa atribuídos a certos tipos de pecados. Não encontra aqui respaldo a doutrina católica romana que distingue pecados veniais e pecados mortais. Com esse conceito a Igreja Romana entende que pode determinar o grau do pecado de uma pessoa e aplicar à mesma a penitencia equivalente.
Ora, entendemos que todo pecado é venial, isto é, pode ser perdoado. A exceção está no “pecado contra o ESPÍRITO SANTO” (Mt I2.3I).Que tipos de pecados são esses para os quais são atribuídos graus de culpa? Na realidade, existem pecados perdoáveis e os pecados não perdoáveis, ou seja, pecados que são para a morte e pecados que não são para a morte.
Em I João 5.16,17 está escrito: Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para a morte; orará, e DEUS dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda iniqüidade é pecado,e há pecado que não é para morte.
 
Percebe-se que há um contraste entre o pecado para a morte e o que não é para a morte. Há quem diga que o pecado para morte é aquele que, sendo extremamente grave, conduz inevitavelmente à morte eterna; e que o pecado que não é para a morte seria o pecado venial; ou seja, o menos grave. São idéias sem suporte bíblico.
Outros afirmam que esse texto refere-se a “pecados intencionais ou não”, sendo o último o pecado perdoável, e o primeiro, não (Nm 15.22-30). Naturalmente, o sentido da palavra “morte” no contexto dessa passagem refere-se à morte física, e isso se toma claro quando o autor aconselha a orar para que tenha vida, e diz, literalmente: “orará, e DEUS dará a vida àqueles que não pecarem para morte”.
Ora, a Bíblia afirma que toda iniqüidade é pecado (I Jo 5-17). Portanto, distinguir e graduar os tipos de pecados é impraticável. E bem verdade que, em I Coríntios 11.30, Paulo fala de um tipo de juízo que afeta o crente que peca até ao ponto de DEUS aplicar-lhe disciplina. Mas a morte física, aqui, não significa morte eterna ou punição final, e sim morte que não é final.
Nessa esfera, poderíamos apontar os pecados de ignorância e pecados de conhecimento, como cita Strong:11 pecados da carne (Gl 5.19-21); o pecado de blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO (Mt 12.31,32).
 
Strong escreveu:
... o pecado contra o ESPÍRITO SANTO não deve ser considerado como um simples ato isolado, mas também como o sintoma exterior de um coração tão radical e irreversível contra DEUS que nenhuma força que DEUS possa consistentemente usar o poupará.
Tal pecado, portanto, só pode ser o clímax de um longo curso de endurecimento de si mesmo e depravação de si mesmo.
Em relação ao episódio da blasfêmia dos fariseus contra JESUS entendemos que o pecado de blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO refere-se, no ensino do Mestre, à atribuição voluntária e consciente de seus adversários de que a obra que Ele fazia era demoníaca. Tratava-se de uma rejeição presunçosa daquela casta religiosa à pessoa de JESUS e a atribuição de ação demoníaca à obra do ESPÍRITO SANTO.
Realidade da ação do pecado
Conseqüências do pecado no mundo. Indiscutivelmente, o pecado trouxe graves conseqüências ao Universo, especialmente à vida na Terra. A Bíblia faz várias declarações a respeito da universalidade do pecado. Por exemplo, temos no Antigo Testamento alguns exemplos, tais como: “não há homem que não peque” (I Rs 8.46); “porque à tua vista não há justo nenhum vivente” (Sm 143.2).
Paulo, em Romanos, disse: “Não há um justo, nenhum sequer; não há quem faça o bem, nenhum sequer” (Rm 3.10-12); “pois todos pecaram e carecem da gloria de DEUS” (Rm 3.23). O apóstolo João também disse: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (I Jo 1.8).
A escolha preferencial do “eu” em detrimento de DEUS. O pecado de Adão e Eva foi uma escolha feita por ambos, uma escolha preferencial do “eu”, em detrimento de DEUS como objeto do sentimento e fim principal de suas vidas. Preferiram atender aos ímpetos do seu ego a fazer de DEUS o centro de suas vidas. Renderam-se incondicionalmente ao seu ego em prejuízo do projeto do Criador para suas vidas.
O Dr. E.G. Robinson, citado por Berkhof, escreveu que “enquanto o pecado como estado é dessemelhança em relação a DEUS, como princípio é oposição a DEUS, e como ato é transgressão à lei de DEUS”. Portanto, entendemos que o pecado não é, meramente, algo de fora (ou externo), tampouco é o fruto de coação vinda de fora, mas “é uma depravação dos sentimentos e uma perversão da vontade, que constitui caráter íntimo do homem”. A realidade do pecado traz as conseqüências inevitáveis que são a culpa e o castigo.
 
A HEREDITARIEDADE DO PECADO
 
Como um ato de pecado individual afetou a todos? A Bíblia tem a resposta cabal desta questão. Paulo, em Romanos disse “que todos pecaram” (Rm 3.23) e dá a idéia de que todos os seres humanos participaram da transgressão de Adão; e, como indivíduos, tornaram-se pecadores. Ele explica os efeitos do pecado de Adão: “Portanto, por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens” (Rm 5.12).
Paulo não estava falando de pecados factuais, do dia-a-dia, mas da herança do pecado. A morte, como punição do pecado, tem um caráter universal, porque “a morte passou a todos os homens”. Por causa do pecado de Adão, todos os seus descendentes tomaram-se pecadores e culpados. Porém, DEUS providenciou a nossa expiação — nas palavras de Paulo — outra vez: “Mas CRISTO morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8).
Portanto, o pecado é hereditário. A sua universalidade deve-se à corrupção da natureza humana. E a Palavra de DEUS afirma que o primeiro homem violou a vontade expressa de DEUS, e, por conseqüência, toda a vida humana se corrompeu. Inevitavelmente, quando o homem se depara com a idade da consciência moral, está tão identificado com os maus impulsos existentes dentro de si que precisará esforçar-se para manter o equilíbrio moral e espiritual de sua vida.
Não se trata meramente de um impulso momentâneo da sua vontade, mas é algo implícito na sua natureza pecaminosa, que é sinistro e obscuro. A tendência má que se revela numa criança se percebe na semente dessa tendência má. Nesse sentido, toda criança é pecadora, conquanto não tenha culpa pessoal. Não podemos cobrar responsabilidade pessoal de uma criança recém-nascida.
A Bíblia e a consciência moral dão testemunho da responsabilidade que temos de nossa vida, apesar da natureza que temos herdado. Na verdade, a herança do pecado se constituí numa condição de vida, para a qual precisamos da graça salvadora de CRISTO para dominá-la. Por isso, mesmo como pecadores regenerados pelo ESPÍRITO SANTO precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar a nossa cruz e sermos crucificados com CRISTO (G1 2.20).
Todo ser humano nasce com uma natureza corrompida. Todos os atos pecaminosos das pessoas são frutos de sua natureza pecaminosa. Ora, o que se entende por natureza
no contexto desse estudo? Ê aquilo que é inato em cada pessoa, isto é, nasce com ela. JESUS, disse, certa feita aos seus discípulos que “não há árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal” (Lc 6.43-45).
Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido com uma “natureza corrompida”. E algo que faz parte do seu ser e é subjacente à sua própria consciência. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante de DEUS, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a terra.
O salmista Davi declarou que fora formado em iniqüidade e concebido em pecado (Sm 51.5). Na verdade, com isso, confessou não o pecado de sua mãe, e sim o seu próprio pecado, e que esse estado — entendeu ele — vinha desde o momento de sua concepção.
A natureza corrompida e congênita de toda criatura humana. O apóstolo Paulo usou uma expressão forte em Efésios, a qual merece a nossa apreciação: “éramos por natureza filhos da ira” (2.3). A expressão “filhos da ira” denota o estado de condenação por causa da herança do pecado que todos recebemos de nossos pais (Adão e Eva). Entende-se por “natureza” algo inato e original distinto daquilo que se adquire posteriormente.
Sem dúvida, o apóstolo coloca o texto no passado com o verbo “éramos”, para indicar que, ao sermos regenerados pelo ESPÍRITO SANTO, fomos agraciados pela graça de DEUS. A criança é despida de consciência moral, mas congenitamente possui a natureza pecaminosa herdada. Por isso, a morte é a penalidade global que afeta todas as pessoas e, inevitavelmente, afeta as crianças, haja vista elas morrerem como todos os demais seres.
As crianças estão colocadas num estado de pecado e, por isso, necessitam de regeneração e salvação através de JESUS CRISTO. Naturalmente, elas são objeto de salvação pela graça de CRISTO, que as salva, independentemente da consciência moral. Contudo, a condição dos adultos é diferente da das crianças. O adulto precisa de fé pessoal para ser salvo, e a Bíblia declara que CRISTO morreu por todos (2 Co 5.15).
No Juízo Final, as pessoas serão julgadas mediante o teste da conduta pessoal, enquanto as crianças, mesmo tendo uma tendência para mal, são incapazes de transgressão pessoal; por isso, cremos que elas estarão entre os salvos (Mt 25.45,46).
Adão depois da Queda. Já dissemos anteriormente que Adão e Eva, quando pecaram, perderam o direito do primeiro estado de santidade em que foram criados e vieram a ser objeto de várias mudanças negativas transcendentais.
  1. O casal submeteu-se ao domínio da morte espiritual. A penalidade declarada por DEUS antes da Queda foi: “porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17). Imediatamente ao ato pessoal do pecado, Adão e Eva tiveram a sentença cumprida. Não só se tornaram culpados e submissos à
pena do pecado com a limitação da vida física e a morte física posteriormente, mas imediatamente ficaram sob a égide da morte espiritual, perdendo a comunhão livre que tinham com DEUS, separando-se da relação com Ele.
  1. O juízo de DEUS veio também sobre Satanás e a serpente usada por ele (Gn 3.14). O Criador predisse, então, o futuro conflito entre CRISTO e o Diabo, conforme Gênesis 3.15: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente, esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
    A semente da mulher foi JESUS CRISTO, que, sendo o Filho de DEUS, fez-se homem, para identificar-se com os homens, e foi ferido no Calvário. JESUS morreu na cruz, mas não foi retido na sepultura e na morte. Pelo contrário, pelo ESPÍRITO SANTO foi ressuscitado e venceu a morte e o próprio Diabo. Ele morreu por toda a humanidade; além disso, anulou a sentença da morte eterna aos que o aceitarem como Salvador e Senhor.
  2. DEUS proferiu um juízo específico sobre a mulher, Eva, a qual experimentaria a dor ao dar a luz seus filhos e seria submissa ao seu marido (Gn
    1. . Quarto, uma maldição especial caiu sobre o homem, Adão, o qual teria que lavrar a terra, agora maldita com espinhos e cardos, para obter sua subsistência (v. 17).
A terra foi amaldiçoada (Gn 3.17.18) e o efeito do pecado atingiria a vida dos descendentes de Adão. Foi expulso do Jardim de DEUS e começou a experimentar a dor e a luta para sobreviver. O pior em toda esta maldição foi Adão experimentar a morte espiritual e, por isso, perder sua comunhão com o Criador e sofrer a pena da morte física.
Três imputações. Como resultado imediato da Queda, todo o gênero humano foi atingido. A Bíblia menciona, pelo menos, três imputações decorrentes do pecado de Adão:
  1. Seu pecado foi imputado à sua posteridade (Rm 5.12-14).
  2. Seu pecado foi imputado a CRISTO (2 Co 5.21).
  3. DEUS imputou sua justiça sobre os que crêem em CRISTO (Gn 3.15; 15.6; Sl 32.2; Rm 3.22; 4.3,8,21-25; 2 Co 5.21). Nesse sentido, a Bíblia revela que se efetuou uma transferência de caráter judicial do pecado do homem para JESUS CRISTO, que levou sobre a cruz o pecado da humanidade (Is 53.5; Jo 1.29; I Pe 2.24; 3.18).
Outra verdade, nesse contexto, é o fato de que, de igual modo, DEUS efetuou a transferência, de caráter judicial, da justiça de DEUS para o crente em CRISTO (2 Co 5.21), visto que o único modo de justificação ou aceitação diante de DEUS era este. Por este ato justificador de CRISTO, o crente passa a fazer parte da vida organística de CRISTO, isto é, do seu corpo e, por conseguinte, participa de tudo o que CRISTO é.
Torna-se claro, portanto, que a participação dos homens na Queda resultante do pecado não se efetua quando cometem seus primeiros pecados, porque eles nascem sob a égide do pecado, como criaturas caídas, procedentes de Adão. Os pecadores não se convertem em pecadores por meio da prática de qualquer pecado individual, mas eles pecam imbuídos pela sua própria natureza pecaminosa adquirida; por isso, são pecadores.
O significado de estar debaixo do pecado. O texto de Romanos 3.9 diz, literalmente: “Pois quê? Somos melhores do que eles? De maneira nenhuma, pois já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado”. Quando Paulo escreveu sobre esse assunto, estava enfrentando discussões e polêmicas entre os cristãos convertidos em Roma, cidade que reunia judeus e gentios.
Cada qual tentava justificar sua posição diante de DEUS. Paulo, então, colocou ambos na mesma condição e posição, quando disse: “Todos estão debaixo do pecado”. Uma vez que pecado é transgressão da lei de DEUS, o próprio judeu que possuía a lei de DEUS foi o primeiro a pecar contra ela.
O gentio, por outro lado, não tinha a lei de Moisés, mas tinha a lei da consciência escrita no coração e não podia justificar-se diante de DEUS, tanto quanto o judeu. Paulo mostrou aos Romanos, em 3.10-12, a universalidade do pecado; e terminou enunciando o veredicto final de DEUS contra o pecado em 3.19,20. O judeu tendo a lei de Moisés não conseguiu justificar-se do pecado mediante as obras da lei, e está incluído na universalidade da frase: todos estão debaixo do pecado”. O remédio para o pecado está, não em algum mérito pessoal do pecador, mas no mérito da obra expiatória de CRISTO que tira o pecador do estado de pecado e o coloca “debaixo da graça salvadora de DEUS através de CRISTO JESUS (Rm 5.1). Vemos, então, que “o pecador é salvo com base meritória, mas o mérito é daquEle que foi feito justiça de DEUS para ele”.
 
O CASTIGO do pecado
Já dissemos que o pecado é tanto um ato como um estado. E um ato porque o homem mesmo preferiu, de seu livre-arbítrio, desobedecer à lei de DEUS, rebelando-se contra Ele. Porém, o pecado implica um estado pecaminoso porque o homem quebrou a comunhão e a relação com o seu Criador, separando-se dEle. Inevitavelmente, segue-se à prática do pecado o juízo, ou seja, o castigo positivo (Gn 2.17; Rm 6.23).
O castigo imediato do pecado. Em pontos anteriores já abordamos sobre o castigo sem aprofundar a sua importância no contexto da doutrina do pecado. A partir do capítulo
  1. de Gênesis, a Bíblia trata da Queda e dos efeitos imediatos do pecado na vida do homem. Adão experimentou, de modo imediato, as conseqüências do seu pecado após ter desobedecido a DEUS. Fugiu da presença de DEUS no jardim do Éden (Gn 3.8) levando consigo o estigma do pecado e tomando-se culpado aos olhos de DEUS.
  1. O pecado desfigurou a imagem divina do homem. Adão não perdeu completamente a imagem divina porque em parte permaneceram nele os elementos de pessoalidade dessa imagem, na sua alma e no seu espírito. Porém, esses elementos da imagem foram desfigurados pelo pecado. Em que consistia a imagem original de DEUS no homem? O texto de Gn 1.26,27 diz que o homem foi criado à imagem de DEUS. “Strong define a pessoalidade, como imagem natural de DEUS e a santidade como imagem moral de DEUS. Em relação à pessoalidade, o homem foi criado como ser pessoal e isto o distingue dos seres irracionais”.
    Trata-se da capacidade do homem para pensar, conhecer a si mesmo e relacionar-se com o mundo ao seu redor e determinar o seu “eu” quanto ao certo e o errado, ao que é justo e o que é injusto (Gn 9.6; I Co 11.7; Tg 3.9). Em relação à imagem moral, o homem foi dotado de sentimento, inteligência e vontade que o capacita a ter escrúpulos e autodeterminação quanto à justiça e santidade. Esse sentido moral da imagem divina no homem revela-se na finalidade da sua criação que é a retidão. Diz a Bíblia que “DEUS fez o homem reto” (Ec 7.29) e a justiça é essencial à sua imagem (Ef 4.24; Cl 3.10). Mas ele a distorceu por seu pecado afetando toda a criação e sua descendência (Rm 5.12).
  2. O pecado deu origem a um estado pecaminoso que afetou toda a raça humana. Myer Pearlman afirmou: “O efeito da Queda arraigou-se tão profundamente na natureza humana, que Adão, como pai da raça humana, transmitiu a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar”. Neste aspecto toda criatura humana é pecadora porque adquiriu a imagem degenerada e decaída de seu pai.
    Ernesto Naville escreveu: “Não digo que todos sejamos malfeitores manifestos, mas, sim, afirmo que em cada um dos homens existe o princípio do egoísmo que é a natureza do pecado”. Fiá uma disposição entranhada no interior de cada criatura humana para praticar o pecado (Ef 2.2,3), e Paulo ensina e atribui a universalidade do pecado ao cabeça da raça humana (Rm 5.12).
    O apóstolo Paulo tratou profundamente da doutrina do pecado e ensina que os cristãos autênticos, antes de serem alcançados pela graça de DEUS, mediante a obra expiatória de CRISTO, viviam em ofensas e pecados, fazendo a vontade do
    Diabo, da carne e dos pensamentos, e por isso eram considerados “filhos da ira divina” (Ef 2.3).
    Mais uma vez Myer Pearlman esclarece esse assunto:
    Esta condição moral da alma é descrita de muitas maneiras: todos pecaram (Rm 3.9); todos estão debaixo da maldição ÍCl 3.1 0); o homem natural é estranho às coisas de DEUS (l Co 2.14); o coração natural é enganoso e perverso (Jr 1 7.9); a natureza mental e moral é corrupta (Gn 6.5,12; 8.21; Rm 1,19-21); a mente carnal é inimizade contra DEUS (Rm S. 1,8); o pecador é escravo do pecado (Rm 6.11; 1.15); é controlado pelo príncipe das potestades do ar (Ef 2.2); está morto em ofensas e pecados (Ef 2.1); é filho da ira (Ef 2.3).
  3. O pecado acarretou punições naturais e físicas na vida do homem. Louis Berkhof diz que são “punições naturais e positivas” em que as leis naturais da vida são violadas. São punições de ordem física que resultam em doenças, dores e sofrimentos ao homem. Não se trata de punições imediatas à qualquer prática de pecado, mas se trata daquelas doenças impregnadas na terra, no ar e nas águas. Essas punições naturais resultam da “maldição do pecado” no nosso planeta.
    A promessa de cura e redenção da Terra e do homem provém da pessoa de JESUS, o Filho de DEUS, que se fez carne, habitou entre nós, para expiar a culpa do pecado dos homens (Gn 3.15; Is 53.4,5; Rm 5.21). Os sofrimentos da vida tomaram-se realidade na vida cotidiana do homem, como resultado da penalidade do pecado.
    Seu corpo físico tomou-se presa de doenças e fraquezas provocando mal-estar e desconforto. Sua vida mental e emocional ficou sujeita a angustias, tristezas, paixões sem domínio e desejos conflitantes.Sua vontade perdeu a capacidade de escolha, e conforme disse Paulo, toda a criação ficou sujeita à vaidade e escravidão (Rm 8.20). De certo modo, nosso sofrimento físico nos dá, pela morte física, a esperança de obtermos, um dia, corpos transformados e espirituais.
  4. O pecado gerou um contínuo conflito moral e espiritual entre corpo e alma de cada criatura humana. Tão logo o homem pecou, entranhou-se em seu ser um conflito entre sua natureza superior, expressa por alma e espírito, e sua natureza inferior, manifesta através do corpo. O homem se encontrou dividido em si mesmo, e sua natureza física e inferior, tornou-se frágil e subjugada aos poderes do pecado (Rm 7.24).
    O grande pregador Charles H. Spurgeon falou em uma de suas pregações que “o mar todo fora do navio não causa dano enquanto a água não penetra nele e enche- lhe o porão”. Aprendemos com esse ensino de Spurgeon que o perigo está dentro de nós mesmos. E interno e na linguagem metafórica da Bíblia esse perigo chama-se coração, que é, de fato, o nosso maior inimigo, porque nos engana. A síntese dessa idéia é que devemos ter o coração sob controle para que ele não nos engane.
    Nesse fato está a questão da tentação. Ela em si mesma não se constitui pecado, mas ela pode se tornar em ocasião para o pecado. O Novo Testamento, especialmente, fala constantemente sobre “carne e espírito” como opostos um ao outro (Gl 5.13,24; Mt 26-41). Esse conflito envolve a totalidade da pessoa, porque a “carne” induz a volta ao domínio do pecado,no caso do cristão. Porém, o cristão fortalece o seu espírito para vencer a carne e estar submisso ao senhorio de CRISTO JESUS e do ESPÍRITO SANTO (Gl 5.16; Rm 8.4-14).
  5. O pecado despertou a consciência do homem. Diz o texto literalmente: “Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus, e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn 3.7). Na verdade, quando os seus olhos foram abertos, os olhos de suas almas, olhos do interior, uma forte convicção de que haviam desobedecido a DEUS lhes sobreveio. Quando já era demasiado tarde, compreenderam a loucura de haver comido do fruto proibido por DEUS.
    A lei moral de suas consciências deu o sinal quando descobriram que estavam nus. Esta consciência de nudez os fez perceber que haviam perdido todas as honras e encantos da vida no paraíso que DEUS havia feito para eles. Outrossim, ficaram envergonhados, porque se viram frente ao desprezo e à perda da comunhão com o Criador. Ficaram totalmente indefesos, porque, a partir da Queda, estavam sós, sem a presença do Criador.
  6. O pecado trouxe ao homem a punição da morte física. Paulo declarou que por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5.12). A palavra “morte”, thanatos (gr.), significa separação das partes física e espiritual do ser humano. Indiscutivelmente, a separação de corpo e alma faz parte da penalidade imediata do pecado. A Bíblia diz que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).
Pelágio e seus discípulos ensinaram que a morte física fazia parte do primeiro estado do homem antes do pecado e que ele fora criado como um ser mortal. Naturalmente, esse conceito errôneo foi rejeitado através da história. A igreja adotou uma posição definida quanto a questão da morte, a saber, que a morte sempre se constituiu uma penalidade do pecado.
O castigo disciplinador Os teólogos procuram fazer distinção entre castigo, punição e pena e, sem dúvida, há certa distinção que deve merecer a nossa apreciação. Entretanto, preferi usar o termo castigo com abrangência ao modo de tratamento de DEUS quanto aos pecados cotidianos dos cristãos e quanto aos pecados que implicam o tratamento final de DEUS.
Nesse ponto, especialmente, o castigo disciplinador relaciona-se com o comportamento do cristão, e objetiva corrigido e repreendê-lo, a fim de que não se perca. A doutrina no que tange a esse tipo de castigo revela que é possível até
mesmo morte prematura do cristão como modo de disciplina divina e a salvação da alma (I Co 11.30-32). O autor da Carta aos Hebreus faz uma distinção entre filhos e bastardos (Hb 12.6-8). Neste texto DEUS se mostra como “Pai amoroso que corrige os filhos”; por isso, a correção tem sentido disciplmador.
Quando o escritor emprega o termo “bastardo”, faz isso para distingui-lo do filho verdadeiro de DEUS, aquele que aceita a correção do Pai (v.8). Chafer escreveu, em sua Teologia Sistemática, que “a disciplina, numa forma ou outra, é a experiência universal de todos os que são salvos; o ramo que produz fruto é podado, para que produza mais fruto ainda (Jo 15.12)”.
O castigo (a pena) final do pecado. Se morte física significa separação de corpo e alma e é parte da pena do pecado, entendemos que, de modo nenhum, a morte física venha significar a penalidade final. Nas Escrituras a palavra morte é freqüentemente usada com sentido moral e espiritual. Isto significa que a verdadeira vida da alma e do espírito, é a relação com a presença de DEUS. Portanto, a pena divina contra o pecado do homem no Èden foi a separação da comunhão com o Criador.
A morte espiritual tem dois sentidos especiais: um sentido é negativo e o outro é positivo. Em relação à vida cristã, todo verdadeiro crente está morto para
o pecado, porque a pena do pecado foi cancelada e ele está livre do domínio do pecado (Rm 6.14).Trata-se da separação da vida de pecado depois que se aceita a CRISTO e é expiado por Ele. Porém, em relação ao futuro, o crente terá a vida eterna, isto é, terá a redenção plena do corpo do pecado (Ap 21.27; 22.15).
Porém, o sentido negativo de morte espiritual refere-se à morte no pecado. O crente está morto para o pecado, mas o ímpio está morto espiritualmente no pecado. Significa que o pecador vive um estado de vida separado de DEUS e de sua comunhão. Significa estar “debaixo do pecado” e estar sob o seu domínio (Ef 2.1,5). O efeito desses dois sentidos é presente e temporal. O pecador sem DEUS, no presente, está numa condição temporal de excomunhão com DEUS, mas pela graça de DEUS poderá sair desse estado e morrer para o pecado (Ef 4.18; Gn 2.17).
A punição final do pecado é a morte eterna, ou seja, o juízo final contra o pecado (Hb 9.27). A morte eterna é a culminância e complementação da morte espiritual. Diz respeito à repugnância da santidade divina que requer justiça contra o pecado e contra o pecador impenitente. Significa a retribuição positiva de um DEUS pessoal, tanto sobre o corpo como sobre a sua alma e espírito (Mt 10.28; 2Ts 1.9; Hb 10.31; Ap 14.11).
Existem algumas teorias que tentam anular a doutrina bíblica da morte eterna, como castigo final do pecado. O universalismo ensina que DEUS é bom demais para excluir alguém da sua presença no Céu, pois JESUS morreu por todos; por isso, ao final, todos serão salvos. O restauracionismo é outra idéia equivocada e antibíblica, porque ensina que DEUS vai restaurar todas as coisas ao final da história da humanidade, quando então todos serão salvos.
A idéia do purgatório, ensinada pela igreja romana, de que o purgatório é um período probatório pelo qual, entre a morte e a ressurreição, os pecadores que morreram serão provados e poderão se recuperar e se livrar da pena final de seus pecados. Por último, a teoria da aniquilação ensina que, ao final de tudo, no juízo, todos os ímpios serão aniquilados; isto é, extinguidos, como quem extingue uma folha de papel no fogo que vira cinza. Interpretam erradamente 2 Tessalonicenses 1.9; substituem a palavra “aniquilar” por “extinguir”. O sentido bíblico de “aniquilar” é “banir” da presença de DEUS.
Portanto, morte eterna é a eterna separação (banimento) da presença de DEUS e a impossibilidade de arrependimento e salvação. Os ímpios são constituídos por aquelas pessoas que rejeitaram conscientemente a graça de DEUS e, por isso, depois da morte física, serão ressuscitados e comparecerão diante do Grande Trono Branco do Juízo de DEUS e receberão a justa retribuição dos seus pecados com a morte eterna, sendo lançados no Geena, isto é, o “lago de fogo eterno (Ap 20.14,15; Mt 5.22,29,30; 10.26; 23.14,15,33).
Existe uma distinção entre a primeira e a segunda morte. A primeira é física; morre-se uma só vez (Hb 9.27); é temporal e para todas as pessoas no mundo: justos e injustos. A “segunda” morte é espiritual e eterna; a “segunda” tem um sentido moral, porque todos quantos irão passar por ela saberão e terão “consciência” depois da primeira morte (At 24.15).
Uma das grandes verdades acerca do castigo do pecado é que a justiça de DEUS o exige afim que ninguém o acuse de injustiça. Pelo contrário, Ele é o Senhor que pratica a misericórdia, juízo e justiça na terra (Jr 9.24).
A questão do pecado encontra resposta e solução quando encontramos na Bíblia a declaração de Paulo de que DEUS propôs JESUS CRISTO como propiciação pelo seu sangue, para receber toda a carga da ira de DEUS contra o pecado (Rm 3.25; 2 Co 5.21; Gl 3.13). Significa que a cruz foi o meio pelo qual DEUS castiga o pecado. O próprio DEUS, perfeito em justiça, tornou possível a expiação dos pecados por aquele que se fez nosso justificador perfeito (Rm 3.26).
Notas bibliográficas

  1. Dicionário Introdutório de Teologia, II Vol. do Novo Testamento, pp. 1598,1599.
  2. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p. 159
  3. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p. 159
  4. LANGSTON, A.B., Tsboço de Teologia Sistemática, Juerp, p. 152
  5. STRONG, A.H., Teologia Sistemática II Vol, Hagnos, p. 139
  6. CONNER, W.T., Doctrina Cristiana, CBP, p. 157
  7. HODGE, Charles, Teologia Sistemática, Hagnos, pp.623,624
  8. BERKHOF, L., Teologia Sistemática, Luz para o Caminho, p.233
  9. BERKHOF, L., Teologia Sistemática, Luz para o Caminho, p.235
  10. BERKHOF, L., Teologia Sistemática, Luz para o Caminho, p.248
  11. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p. 282
  12. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p.284
  13. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p. 173
  14. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p.I73 13
  15. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p. 182
  16. SHAFER, L.S., Teologia Sistemática, Hagnos, p.718, Vols.1,2
  17. STRONG, A.H., Teologia Sistemática, Hagnos, p.88
  18. PEARLMAN, Myer, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, Vida, p. 135
  19. PEARLMAN, Myer, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, Vida, p. 135
  20. CHAFER, L.S., Teologia Sistemática, Hagnos, p.755Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - Teologia Sistemática - Myer Pearman
    PECADO
    I. O fato do pecado
    Não há necessidade de discutir a questão da realidade do pecado; a história e o próprio conhecimento intimo do homem oferecem abundante testemunho do fato. Muitas teorias, porém, apareceram para negar, desculpar, ou diminuir a natureza do pecado.
    1. O ateísmo, ao negar a DEUS, nega também o pecado, porque, estritamente falando, todo pecado é contra DEUS; e se não há DEUS, não há pecado. O homem pode ser culpado de pecar em relação a outros; pode pecar contra si mesmo, porém estas coisas constituem pecado unicamente em relação a DEUS. Enfim, todo mal praticado é dirigido contra DEUS, porque o mal é uma violação do direito, e o direito é a lei de DEUS. "Pequei contra o céu e perante ti", exclamou o pródigo. Portanto, o homem necessita do perdão baseado em uma provisão divina de expiação.
    2. O determinismo é a teoria que afirma ser o livre arbítrio uma ilusão e não uma realidade. Nós imaginamos que somos livres para fazer nossa escolha, porém realmente nossas opções são ditadas por impulsos internos e circunstâncias que escaparam ao nosso domínio. A fumaça que sai pela chaminé parece estar livre, porém se esvai por leis inexoráveis. Sendo assim — continua essa teoria, — uma pessoa não pode deixar de atuar da maneira como o faz, e estritamente falando, não deve ser louvada por ser boa nem culpada por ser má. O homem é simplesmente um escravo das circunstâncias. Mas as Escrituras afirmam terminantemente que o homem é livre para escolher entre o bem e o mal — uma liberdade implícita em todos os mandamentos e exortações. Longe de ser vítima da fatalidade e casualidade, declara-se que o homem é o árbitro do seu próprio destino. Durante uma discussão sobre a questão do livre arbítrio, o Dr. Johnson, notável autor e erudito inglês, declarou: "Cavalheiro, sabemos que nossa vontade é livre, e isto é tudo que há no assunto!" Cada grama de bom senso excede em peso a uma tonelada de filosofia! Uma conseqüência prática do determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade por cuja causa o pecador merece dó ao invés de ser castigado. Porém, a voz da consciência que diz "eu devo" refuta essa teoria. Recentemente, um homicida de dezessete anos recusou-se a alegar loucura. Seu crime era indesculpável, ele declarou, porque sabia que o havia cometido conscientemente, apesar dos ensinos que recebera dos pais e na Escola Dominical. Desse modo, insistiu que fosse cumprida a pena capital. Jovem como era, e diante da morte, recusou enganar-se a si mesmo.
    3. O hedonismo (da palavra grega que significa "prazer") é a teoria que sustenta que o melhor ou o mais proveitoso que existe na vida é a conquista do prazer e a fuga à dor; de modo que a primeira pergunta que se faz não é: "Isto e correto?", mas: "Traz prazer?" Nem todos os hedonistas têm uma vida de vícios, mas a tendência geral do hedonista é desculpar o pecado e disfarçá-lo, qual pílula açucarada, com designações tais como estas: "é uma fraqueza inofensiva"; "é pequeno desvio"; "é mania do prazer"; "é fogo da juventude". Eles desculpam o pecado com expressões como estas: "Errar é humano"; "o que é natural é belo e o que é belo é direito." é sobre essa teoria que se baseia o ensino moderno de "auto-expressão". Em linguagem técnica, o homem deve "libertar suas inibições"; em linguagem simples, "ceder à tentação porque reprimi-la é prejudicial à saúde". Naturalmente, isso muitas vezes representa um intento para justificar a imoralidade. Mas esses mesmos teóricos não concordariam em que a pessoa desse liberdade às suas inibições de ira, ódio criminoso, inveja, embriaguez ou alguma outra tendência similar. No fundo dessa teoria está o desejo de diminuir a gravidade do pecado, e ofuscar a linha divisória entre o bem e o mal, o certo e o errado. Representa uma variação moderna da mentira antiga: "Certamente não morrerás." E muitos descendentes de Adão têm engolido a amarga pílula do pecado, adoçada com a suposta suavizante segurança: "Isto não te fará dano algum." O bem é simbolizado pela alvura, e o pecado pela negrura, porém alguns querem misturá-los, dando-lhes uma cor cinzenta neutra. A admoestação divina àqueles que procuram confundir as distinções morais, é: "Ai daqueles que chamam o mal bem, e o bem mal"
    4. Ciência Cristã. Esta seita nega a realidade do pecado. Declara que o pecado não é algo positivo, mas simplesmente a ausência do bem. Nega que o pecado tenha existência real e afirmam que é apenas um "erro da mente moral". O homem pensa que o pecado é real, por conseguinte, seu pensamento necessita de correção. Mas, depois de examinar o pecado e a ruína que são mais do que reais no mundo, parece que esse tal "erro da mente mortal" é tão terrível como aquilo que toda gente conhece por "pecado"! As Escrituras denunciam o pecado como uma violação positiva da lei de DEUS, como uma verdadeira ofensa que merece castigo real num inferno real.
    5. A evolução considera o pecado como herança do animalismo primitivo do homem. Desse modo em lugar de exortar a gente a deixar o "homem velho", ou o "antigo Adão", os proponentes dessa teoria deviam admoestá-los a que deixassem o "velho macaco" ou o "velho tigre"! Como já vimos, a teoria da evolução é antibíblica. Alem disso, os animais não pecam; eles vivem segundo sua natureza, e não experimentam nenhum sentido de culpa por seu comportamento. O Dr. Leander Keyser comenta: "Se a luta egoísta e sangrenta pela existência no reino animal for o método de progresso que trouxe o homem à existência, por que deverá ser um mal que o homem continue nessa rota sangrenta?" É certo que o homem tem uma natureza física, porém essa parte inferior de seu ser foi criação de DEUS, e é plano de DEUS que esteja sujeita a uma inteligência divinamente iluminada.
     
    II. A origem do pecado
    O terceiro capítulo de Gênesis oferece os pontos chaves que caracterizam a história espiritual do homem, as quais são: A tentação, a culpa, o juízo e a redenção.
     
    1. A tentação: sua possibilidade, origem e sutileza.
    (a) A possibilidade da tentação. O segundo capítulo de Gênesis relata o fato da queda do homem, informando acerca do primeiro lar do homem, sua inteligência, seu serviço no Jardim no Éden, as duas árvores, e o primeiro matrimônio. Menciona especialmente as duas árvores do destino — a árvore da ciência do bem e do mal e a árvore da vida. Essas duas árvores constituem um sermão em forma de quadro dizendo constantemente a nossos primeiros pais: "Se seguirdes o bem e rejeitardes o mal, tereis a vida." E não é esta realmente a essência do Caminho da Vida encontrada através das Escrituras? (Vide Deut. 30:15.) Notemos a árvore proibida. Por que foi colocada ali? Para prover um teste pelo qual o homem pudesse, amorosa e livremente, escolher servir a DEUS e dessa maneira desenvolver seu caráter. Sem vontade livre o homem teria sido meramente uma máquina.
    (b) A origem da tentação. "Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo que o Senhor DEUS tinha feito." É razoável deduzir que a serpente, que naquele tempo deveria ter sido uma criatura formosa, foi o agente empregado por Satanás, o qual já tinha sido lançado fora do céu antes da criação do homem. (Ezeq. 23:13-17Isa. 14:12-15.) Por essa razão, Satanás é descrito como "essa antiga serpente, chamada o diabo" (Apoc. 12:9). Geralmente Satanás trabalha por meio de agentes. Quando Pedro (embora sem má intenção) procurou dissuadir seu Mestre da senda do dever, JESUS olhou além de Pedro, e disse, "Para trás de mim, Satanás" (Mat. 16:22,23). Neste caso Satanás trabalhou por meio de um dos amigos de JESUS; no Éden empregou a serpente, uma criatura da qual Eva não desconfiava.
    (c) A sutileza da tentação. A sutileza é mencionada como característica distintiva da serpente. (Vide Mat. 10:16.) Com grande astúcia ela oferece sugestões, as quais, ao serem abraçadas, abrem caminho a desejos e atos pecaminosos. Ela começa falando com a mulher, o vaso mais frágil, que, além dessa circunstância, não tinha ouvido diretamente a proibição divina. (Gên. 2:1617.) E ela espera até que Eva esteja só. Note-se a astúcia na aproximação. Ela torce as palavras de DEUS (Vide Gén. 3:1 e 2:16, 17) e então finge surpresa por estarem assim torcidas; dessa maneira ela, astutamente, semeia dúvida e suspeitas no coração da ingênua mulher, e ao mesmo tempo insinua que está bem qualificada para ser juiz quanto à justiça de tal proibição. Por meio da pergunta no versículo 1, lança a tríplice dúvida acerca de DEUS.
    1) Dúvida sobre a bondade de DEUS. Ela diz, com efeito: "DEUS está retendo alguma bênção de ti."
    2) Dúvida sobre a retidão de DEUS. "Certamente não morrereis." Isto é, "DEUS não pretendia dizer o que disse".
    3) Dúvida sobre a santidade de DEUS. No versículo 5 a serpente diz, com efeito: "DEUS vos proibiu comer da árvore porque tem inveja de vos. Não quer que chegueis a ser sábios tanto quanto ele, de modo que vos mantém em ignorância. Não é porque ele se interesse por vós, para salvar-vos da morte, e sim por interesse dele, para impedir que chegueis a ser semelhantes a ele."
     
    2. A Culpa.
    Notemos as evidências de uma consciência culpada:
    1) "Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus." Expressão usada para indicar esclarecimento milagroso ou repentino. (Gên. 21:192 Reis. 6:17.) As palavras da serpente (versículo 5) cumpriram-se; porém, o conhecimento adquirido foi diferente do que eles esperavam. Em vez de fazê-los semelhantes a DEUS, experimentaram um miserável sentimento de culpa que os fez ter medo de DEUS. Notemos que a nudez física é um quadro de uma consciência nua ou culpada. Os distúrbios emocionais refletem-se muitas vezes em nossas feições. Alguns comentadores sustentam que antes da queda, Adão e Eva estavam vestidos com uma auréola ou traje de luz, que era um sinal da comunhão com DEUS e do domínio do espírito sobre o corpo. Quando pecaram, essa comunhão foi interrompida; o corpo venceu o espírito, e ali começou esse conflito entre a carne e o espírito (Rom. 7:14-24), que tem sido a causa de tanta miséria.
    2) "E coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais." Assim como a nudez física é sinal de uma consciência culpada, da mesma maneira, o procurar cobrir a nudez é um quadro que representa o homem a procurar cobrir sua culpa com a indumentária do esquecimento ou o traje das desculpas. Mas, somente uma veste feita por DEUS pode cobrir o pecado (Verso 21).
    3) "E ouviram a voz do Senhor DEUS, que passeava no jardim pela viração do dia: e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor DEUS entre as árvores do jardim." O instinto do homem culpado é fugir de DEUS. E assim como Adão e Eva procuraram esconder-se entre as árvores, da mesma forma as pessoas hoje em dia procuram esconder-se nos prazeres e em outras atividades.
     
    3. O juízo.
    (a) Sobre a serpente. "Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a besta, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e o pó comerás todos os dias da tua vida." Essas palavras implicam que a serpente outrora foi uma criatura formosa e honrada. Depois, porque veio a ser o instrumento para a queda do homem, tomou-se maldita e degradada na escala da criação animal. Uma vez que a serpente foi simplesmente o instrumento de Satanás, por que deve ser punida? Porque é a vontade de DEUS fazer da maldição da serpente um tipo e profecia da maldição sobre o diabo e sobre todos os poderes do mal. O homem deve reconhecer, pelo castigo da serpente, como a maldição de DEUS ferirá todo pecado e maldade; arrastando-se no pó recordaria ao homem o dia em que DEUS derribará até ao pó, o poder do diabo. Isso é um estimulo para o homem: ele, o tentado, está em pé, erguido, enquanto a serpente está sob a maldição. Pela graça de DEUS o homem pode ferir-lhe a cabeça — pode vencer o mal. (Vide Luc. 10:18;Rom. 16:20Apoc. 12:920:1-310.)
    (b) Sobre a mulher. "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua concepção; com dor terás filhos; e o teu desejo será para teu marido, e ele te dominará" (Gên. 3:16). Assim disse certo escritor: A presença do pecado tem sido a causa de muito sofrimento, precisamente do modo indicado acima. Não há dúvida que dar à luz filhos constitui um momento critico e penoso na vida da mulher. O sentimento de faltas passadas pesa de uma maneira particular sobre ela, e também a crueldade e loucura do homem contribuíram para fazer o processo mais doloroso e perigoso para a mulher do que para os animais. O pecado tem corrompido todas as relações da vida, e mui particularmente a relação matrimonial. Em muitos países a mulher é praticamente escrava do homem; a posição e a condição triste de meninas viúvas e meninas mães na Índia têm sido um fato horrível em cumprimento dessa maldição.
    (c) Sobre o homem. (Versos 17-19.) O trabalho para o homem já tinha sido designado (2:15). O castigo consiste no afã, nas decepções e aflições que muitas vezes acompanham o trabalho. A agricultura é especificada em particular, porque sempre tem sido um dos empregos humanos mais necessários. De alguma maneira misteriosa, a terra e a criação em geral têm participado da maldição e da queda do seu senhor (o homem) porém estão destinadas a participar da sua redenção. Este é o pensamento de Rom. 8:19-23. Em Isaias 11:1-9 e 65:17-25, temos exemplos de versículos que predizem a remoção da maldição da terra durante o Milênio. Além da maldição física que se apossou da terra, também é certo que o capricho e o pecado humanos têm dificultado de muitas maneiras o labor e provocado as condições de trabalho mais difíceis e mais duras para o homem. Notemos a pena de morte. "Porquanto és pó, e em pó te tornarás." O homem foi criado capaz de não morrer fisicamente; teria existência física indefinidamente se tivesse preservado sua inocência e continuasse a comer da árvore da vida. Ainda que volte à comunhão com DEUS (e dessa maneira vença a morte espiritual) por meio do arrependimento e da oração, não obstante, deve voltar ao seu Criador através da morte. Visto que a morte faz parte da pena do pecado, a salvação completa deve incluir a ressurreição do corpo, (1 Cor. 15:54-57.) não obstante, certas pessoas, como Enoque, terão o privilégio de escapar da morte física. (Gên. 5:241 Cor. 15:51.)
     
    4. A redenção.
    Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três revelações de DEUS, que por toda a Bíblia figuram em todas as relações de DEUS com o homem. O Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o DEUS do Pacto que entra em relações pessoais com o homem (cap. 2); o Redentor, que faz provisão para a restauração do homem (cap. 3).
    (a) Prometida. (Vide Gên. 3:15.) (1) A serpente procurou fazer aliança com Eva contra DEUS, mas DEUS por fim a essa aliança. "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente (descendentes) e a sua semente." Em outras palavras, haverá uma luta constante entre o homem e o poder maligno que causou a sua queda. (2) Qual será o resultado desse conflito? Primeiro, vitória para a humanidade, por meio do Representante do homem, a Semente da mulher. "Ela (a semente da mulher) te ferirá a cabeça." CRISTO, a Semente da mulher, veio ao mundo para esmagar o poder do diabo. (Mat. 1:2325Luc. 1:31-35,76Isa. 7:14Gál. 4:4Rom. 16:20Col. 2:15Heb. 2:14,151 João 3:85:5Apoc. 12:781720:1-310.) (3) Porém a vitória não será sem sofrimento. "E tu (a serpente) lhe ferirás o calcanhar." No Calvário a Serpente feriu o calcanhar da Semente da mulher; mas este ferimento trouxe a cura para a humanidade. (Vide Isa. 53:3,4,12Dan. 9:26Mat. 4:1-10Luc. 22:39-14,53João 12:31-3314:30,31Heb. 2:185:7Apoc. 2:10.)
    (b) Prefigurada. (Verso 21.) DEUS matou um animal, uma criatura inocente, para poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista por causa do pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à morte, a fim de prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
     
    III. A natureza do pecado
    Que é pecado? A Bíblia usa uma variedade de termos para expressar o mal de ordem moral, os quais nos explicam algo de sua natureza.
    Um estudo desses termos, nos originais hebraico e grego, proporcionará a definição bíblica do pecado.
     
    1. O ensino do Antigo Testamento.
    O pecado considerado — As diferentes palavras hebraicas descrevem o pecado operando nas seguintes esferas: (*)
    (a) Na esfera moral. As palavras usadas para expressar o pecado nesta esfera são as seguintes:
    1) A palavra mais comumente usada para o pecado significa "errar o alvo". Reúne as seguintes idéias: (1) Errar o alvo, como um arqueiro que atira mas erra, do mesmo modo, o pecador erra o alvo final da vida. (2) Errar o caminho, como um viajante que sai do caminho certo. (3) Ser achado em falta ao ser pesado na balança de DEUS. Em Gên. 4:7, onde a palavra é mencionada pela primeira vez, o pecado é personificado como uma besta feroz pronta para lançar-se sobre quem lhe der ocasião.
    2) Outra palavra significa literalmente "tortuosidade", e é muitas vezes traduzida por "perversidade". É, pois, o contrário de retidão, que significa literalmente, o que é reto ou conforme um ideal reto.
    3) Outra expressão comum que se traduz por "mal", exprime o pensamento de violência ou infração, e descreve o homem que infringe ou viola a lei de DEUS.
    (b) Na esfera da conduta fraternal. A palavra usada para determinar o pecado nesta esfera, significa violência ou conduta injuriosa. (Gên. 6:11Ezeq. 7:23Prov. 16:29.) Ao excluir a restrição da lei, o homem maltrata e oprime seus semelhantes.
    (c) Na esfera da santidade. As palavras usadas para descrever o pecado nesta esfera implicam que o ofensor usufruiu da relação com DEUS. Toda a nação israelita foi constituída em "um reino de sacerdotes", cada membro considerado como estando em contato com DEUS e seu santo tabernáculo. Portanto, cada israelita era santo, isto é, separado para DEUS, e toda a atividade e esfera de sua vida estavam reguladas pela Lei da Santidade. As coisas fora dessa lei eram "profanas" (o contrário de santas), e o que participava delas se tornava "imundo" ou contaminado. (Lev. 11:2427313339.) Se persistisse na profanação, era considerada uma pessoa irreligiosa ou profana. (Lev. 21:14Heb. 12:16.) Se acaso se rebelasse e deliberadamente repudiasse a jurisdição da lei da santidade, era considerado "transgressor". (Sal. 37:3851:13Isa. 53:12.) Se prosseguia neste último caminho, era julgado como criminoso, e tais eram os publicanos, na opinião dos contemporâneos do nosso Senhor JESUS.
    (d) Na esfera da verdade. As palavras que descrevem o pecado nesta esfera dão ênfase ao inútil e fraudulento elemento do pecado. Os pecadores falam e tratam falsamente (Sal. 58:3Isa. 28:15), representam falsamente e dão falso testemunho (Êxo. 20:16Sal. 119:128Prov. 19:59). Tal atividade é "vaidade" (Sal. 12:224:441:6), isto é, vazia e sem valor. O primeiro pecador foi um mentiroso (João 8:44); o primeiro pecado começou com uma mentira (Gên. 3:4); e todo pecado contém o elemento do engano (Heb. 3:13).
    (e) Na esfera da sabedoria. Os homens se portam impiamente porque não pensam ou não querem pensar corretamente; não dirigem suas vidas de acordo com a vontade de DEUS, seja por descuido ou por deliberada ignorância.
    1) Muitas exortações são dirigidas aos "simples" (Prov. 1:4228:5). Essa palavra descreve o homem natural, que não se desenvolveu, quer na direção do bem, quer do mal; sem princípios fixos, mas com uma inclinação natural para o mal, a qual pode ser usada a fim de seduzi-lo. Falta-lhe firmeza e fundamento moral; ele ouve mas esquece; portanto, é facilmente conduzido ao pecado. (Vide Mat. 7:26.)
    2) Muitas vezes lemos acerca desses "faltos de entendimento" (Prov. 7:79:4), isto é, aqueles que por falta de entendimento, mais do que por propensão pecaminosa, são vitimas do pecado. Faltos de sabedoria, são conduzidos a expressar precipitados juízos acerca da providência divina e das coisas além da sua compreensão. Desse modo precipitam-se na impiedade. Tanto essa classe, como os "simples", são indesculpáveis porque as Escrituras apresentam o Senhor oferecendo gratuitamente — sim, rogando-lhes que aceitem (Prov. 8:1-10) — aquilo que os fará sábios para a salvação.
    3) A palavra freqüentemente traduzida "insensato" (Prov. 15:20), descreve uma pessoa capaz de fazer o bem, contudo está presa às coisas da carne e facilmente é conduzida ao pecado pelas suas inclinações carnais. Não se disciplina a si mesma nem guia as suas tendências de acordo com as leis divinas.
    4) O "escarnecedor" (Sal. 1:1Prov. 14:6) é o homem ímpio que justifica sua impiedade com argumentos racionais contra a existência ou realidade de DEUS, e contra as coisas espirituais em geral. Assim, "escarnecedor" é a palavra do Antigo Testamento equivalente à nossa moderna palavra "infiel", e a expressão "roda dos escarnecedores" provavelmente se refere à sociedade local dos infiéis.
     
    2. O ensino do Novo Testamento.
    O Novo Testamento descreve o pecado como:
    (a) Errar o alvo, que expressa a mesma idéia que a conhecida palavra do Antigo Testamento.
    (b) Dívida. (Mat. 6:12.) O homem deve (a palavra "deve" vem de dívida) a DEUS a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é contração de uma dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser perdoado, ou obter remissão da dívida.
    (c) Desordem. "O pecado é iniqüidade" (literalmente "desordem", 1 João 3:4). O pecador é um rebelde e um idólatra porque deliberadamente quebra um mandamento, ao escolher sua própria vontade em vez de escolher a vontade de DEUS; pior ainda, está se convertendo em lei para si mesmo e, dessa maneira, fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no coração daquele exaltado anjo que disse: "Eu farei", em oposição à vontade de DEUS. (Isa. 14:1314). O anticristo é proeminentemente "o sem-lei" (tradução literal de "iníquo"), porque se exalta a si mesmo sobre tudo que é adorado ou que é chamado DEUS. (2 Tess. 2:4-9.) O pecado é essencialmente obstinação e obstinação é essencialmente pecado. O pecado destronaria a DEUS; o pecado assassinaria DEUS. Na Cruz do Filho de DEUS, poderiam ter sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"
    (d) Desobediência, literalmente, "ouvir mal"; ouvir com falta de atenção. (Heb. 2:2.) "Vede pois como ouvis" (Luc. 8:18.)
    (e) Transgressão, literalmente, "ir além do limite" (Rom. 4:15). Os mandamentos de DEUS são cercas, por assim dizer, que impedem ao homem entrar em território perigoso e dessa maneira sofrer prejuízo para sua alma.
    (f) Queda, ou falta, ou cair para um lado (Efés. 1:7) no grego, donde a conhecida expressão, cair no pecado. Pecar é cair de um padrão de conduta.
    (g) Derrota é o significado literal da palavra "queda" em Rom. 11:12. Ao rejeitar a CRISTO, a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o propósito de DEUS.
    (h) Impiedade, de uma palavra que significa "sem adoração, ou reverência". (Rom. 1:182 Tim. 2:16.) O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a DEUS e às coisas sagradas. Estas não produzem nele nenhum sentimento de temor e reverência. Ele está sem DEUS porque não quer saber de DEUS.
    (i) O erro (Heb. 9:7) Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da ignorância, e dessa maneira se diferenciam daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar da luz esclarecedora. O homem que desafiadoramente decide fazer o mal, incorre em maior grau de culpa do que aquele que é apanhado em falta, a que foi levado por sua debilidade.
    IV. Conseqüências do pecado
    O pecado é tanto um ato como um estado. Como rebelião contra a lei de DEUS, é um ato da vontade do homem; como separação de DEUS, vem a ser um estado pecaminoso. Segue-se uma dupla conseqüência: o pecador traz o mal sobre si mesmo por suas más ações, e incorre em culpa aos olhos de DEUS. Duas coisas, portanto, devem distinguir-se; as más conseqüências que seguem os atos do pecado, e o castigo que virá no juízo. Isto pode ser ilustrado da seguinte maneira: Um pai proíbe ao filho pequeno o fumar cigarros, e fá-lo ver uma dupla conseqüência: primeira, o fumar fá-lo-á sentir-se doente; segunda, ser castigado pela sua desobediência. O menino desobedece e fuma pela primeira vez. As náuseas que lhe sobrevêm representam as más conseqüências do seu pecado, e o castigo corporal subseqüente representa o castigo positivo pela culpa. Da mesma maneira as Escrituras descrevem dois efeitos do pecado sobre o culpado: primeiro, é seguido por conseqüências desastrosas para sua alma; segundo, trará da parte de DEUS o positivo decreto de condenação.
     
    1. Fraqueza espiritual.
    (a) Desfiguração da imagem divina. O homem não perdeu completamente a imagem divina, porque ainda em sua posição decaída é considerado uma criatura à imagem de DEUS (Gên. 9:6Tia. 3:9) — uma verdade expressa no provérbio popular: "Há algo de bom no pior dos homens." Maudesley, o grande psiquiatra inglês, sustenta que a majestade inerente da mente humana evidencia-se até mesmo na ruína causada pela loucura. Apesar de não estar inteiramente perdida, a imagem divina no homem encontra-se muito desfigurada. JESUS CRISTO veio ao mundo tornar possível ao homem a recuperação completa da semelhança divina por ser recriado à imagem de DEUS. (Gál. 3:10.)
    (b) Pecado inerente, ou "pecado original". O efeito da queda arraigou-se tão profundamente na natureza humana que Adão, como pai da raça, transmitiu a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar. (Sal. 51:5.) Esse impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens nascem, é conhecido como pecado original. Os atos pecaminosos que se seguem durante a idade de plena responsabilidade do homem são conhecidos como "pecado atual". CRISTO, o segundo Adão, veio ao mundo resgatar-nos de todos os efeitos da queda. (Rom. 5:12-21.) Esta condição moral da alma é descrita de muitas maneiras: todos pecaram (Rom. 3:9); todos estão debaixo da maldição (Gál. 3:10); o homem natural é estranho às coisas de DEUS (1 Cor. 2:14); o coração natural é enganoso e perverso (Jer. 17:9); a natureza mental e moral é corrupta (Gên. 6:5128:21Rom. 1:19-31); a mente carnal é inimizade contra DEUS (Rom. 8:78); o pecador é escravo do pecado (Rom. 6:177:5); é controlado pelo príncipe das potestades do ar (Efés. 2:2); está morto em ofensas e pecados (Efés. 2:1); e é filho da ira (Efés. 2:3).
    (c) Discórdia interna. No princípio DEUS fez o corpo do homem do pó, dotando-o, desse modo, de uma natureza física ou inferior; depois soprou em seu nariz o fôlego da vida, comunicando-lhe assim uma natureza mais elevada, unindo-o a DEUS. Era o propósito de DEUS a harmonia do ser humano, ter o corpo subordinado à alma. Mas o pecado interrompeu a relação de tal maneira que o homem se encontrou dividido em si mesmo; o "eu" oposto ao "eu" em uma guerra entre a natureza superior e a inferior. Sua natureza inferior, frágil em si mesma, rebelou-se contra a superior e abriu as portas de seu ser ao inimigo. Na intensidade do conflito, o homem exclama: "Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (Rom. 7:24.) O "DEUS de paz" (1 Tess. 5:23) subjuga os elementos beligerantes da natureza do homem e santifica-o no espírito, alma e corpo. O resultado é a bem-aventurança interna — "justiça, e paz, e alegria no ESPÍRITO SANTO" (Rom. 14:17).
     
    2. Castigo positivo.
    "No dia em que dela comeres certamente morrerás" (Gên. 2:17) "O salário do pecado é a morte" (Rom. 6:23). O homem foi criado capaz de viver eternamente; isto é, não morreria se obedecesse à lei de DEUS. Para que pudesse "lançar mão" da imortalidade e da vida eterna, foi colocado sob um pacto de obras, figurado pelas duas árvores — a árvore da ciência do bem e do mal e a árvore da vida. Desse modo, a vida estava condicionada à obediência; enquanto Adão observasse a lei da vida teria direito à árvore da vida. Mas desobedeceu; quebrou o pacto de vida, e ficou separado de DEUS, a Fonte da vida. Desde esse momento, teve a morte o seu inicio e foi consumada na morte física com a separação da alma e do corpo. Mas notamos que o castigo incluía mais do que uma morte física; a dissolução física era uma indicação do desagrado de DEUS, do fato que o homem estava sem contato com a Fonte da vida. Ainda que Adão se tivesse reconciliado mais tarde com o seu Criador, a morte física continuaria de acordo com o decreto divino: "No dia em que dela comeres certamente morrerás." Somente por um ato de redenção e de recriação o homem teria outra vez direito à árvore da vida que está no meio do paraíso de DEUS. Por meio de CRISTO a justiça é restaurada à alma, a qual, na ressurreição, é reunida a um corpo glorificado.
    Vemos, então, que a morte física veio ao mundo como castigo, e, nas Escrituras, sempre que o homem é ameaçado com a morte como castigo pelo pecado, significa primeiramente a perda do favor de DEUS. Assim, o pecador já está "morto em ofensas e pecados" e no momento da morte física ele entra no mundo invisível na mesma condição. Então no grande Julgamento o Juiz pronunciará a sentença da segunda morte, que envolve "indignação e ira, tribulação e angústia" (Rom. 2:7-12). De maneira que "a morte", como castigo, não é a extinção da personalidade, e, sim, o meio de separação de DEUS. Há três fases desta morte: morte espiritual, enquanto o homem vive (Efés. 2:1; l Tim. 5:6); morte física (Heb. 9:27); e a segunda ou morte eterna (Apoc. 21:8João 5:28292 Tess. 1:9Mat. 25:41).
    Por outro lado, quando as Escrituras falam da vida como recompensa pela justiça, isso significa mais do que existência, pois os ímpios existem no inferno. Vida significa viver em comunhão com DEUS e no seu favor — comunhão que a morte não pode interromper ou destruir. (João 11:2526.) é uma vida que proporciona união consciente com DEUS, a Fonte da vida. "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti só (em experiência e comunhão) por único DEUS verdadeiro, e a JESUS CRISTO, a quem enviaste" (João 17:3). A vida eterna é uma existência perfeita; a morte eterna é uma existência má, miserável e degradada.
    Notemos que a palavra "destruição", usada quanto à sorte dos ímpios (Mat. 7:13João 17:122 Tess. 2:3), não significa extinção. De acordo com o grego, perecer ou ser destruído, não significa extinção e sim ruína. Por exemplo: que os odres "estragam-se" (Mat. 9:17) significa que já não servem como odres, e não que tenham deixado de existir. Da mesma maneira, o pecador que perece, ou que é destruído, não é reduzido ao nada, mas experimenta a ruína no que concerne a desfrutar comunhão com DEUS e a vida eterna. O mesmo uso ainda existe hoje; quando dizemos: "sua vida está arrumada", não queremos dizer que o homem está morto, e, sim, que perdeu o verdadeiro alvo ou objetivo da vida.
     
    IV. A obra de CRISTO
    CRISTO realizou muitas obras, porém a obra suprema que ele consumou foi a de morrer pelos pecados do mundo. (Mat. 1:21João 1:29.) Incluídas nessa obra expiatória figuram a sua morte, ressurreição, e ascensão. Não somente devia ele morrer por nós, mas também viver por nós. Não somente devia ressuscitar por nós, mas também ascender para interceder por nós diante de DEUS. (Rom. 8:344:255:10.)
     
    1. Sua morte.
    (a) Sua importância. O evento mais importante e a doutrina central do Novo Testamento resumem-se nas seguintes palavras: "CRISTO morreu (o evento) por nossos pecados (a doutrina)" (1 Cor. 15:3). A morte expiatória de CRISTO é o fato que caracteriza a religião cristã. Martinho Lutero declarou que a doutrina cristã distingue-se de qualquer outra, e mui especialmente daquela que apenas parece ser cristã, pelo fato de ser ela a doutrina da Cruz. Todas as batalhas da Reforma travaram-se em torno da correta interpretação da Cruz. O ensino dos reformadores era este: quem compreende perfeitamente a Cruz, compreende a CRISTO e a Bíblia! É essa característica singular dos Evangelhos que faz do Cristianismo a única religião; pois o grande problema da humanidade é o problema do pecado, e a religião que apresenta uma perfeita provisão para o resgate do poder e da culpa do pecado tem um propósito divino. JESUS é o autor da "salvação eterna" (Heb. 5:9), isto é, da salvação final. Tudo quanto a salvação possa significar é assegurado por ele.
    (b) Seu significado. Havia certa relação verdadeira entre o homem e seu Criador. Algo sucedeu que interrompeu essa relação. Não somente está o homem distanciado de DEUS, tendo seu caráter manchado, mas existe um obstáculo tão grande no caminho que o homem não pode removê-lo pelos seus próprios esforços. Esse obstáculo é o pecado, ou melhor, a culpa. O homem não pode remover esse obstáculo; a libertação terá que vir da parte de DEUS. Para isso DEUS teria que tomar a iniciativa de salvar o homem. O testemunho das Escrituras é este: que DEUS assim fez. Ele enviou seu Filho do céu à terra para remover esse obstáculo e dessa maneira reconciliou os homens com DEUS. Ao morrer por nossos pecados, JESUS removeu a barreira; levou o que devíamos ter levado; realizou por nós o que estávamos impossibilitados de fazer por nós mesmos; isso ele fez porque era a vontade do Pai. Essa é a essência da expiação de CRISTO. Considerando a suprema importância deste assunto será ele abordado mais pormenorizadamente em um capítulo à parte.
     
    2. Sua ressurreição.
    (a) O fato. A ressurreição de CRISTO é o grande milagre do Cristianismo. Uma vez que é estabelecida a realidade desse evento, torna-se desnecessário procurar provar os demais milagres dos Evangelhos. Ademais, é o milagre com o qual a fé cristã está em pé ou cai, isso em razão de ser o Cristianismo uma religião histórica que baseia seus ensinos em eventos definidos que ocorreram na Palestina há mais de mil e novecentos anos. Esses eventos, são: o nascimento e o ministério de JESUS CRISTO, culminando na sua morte, sepultamento e ressurreição. Desses, a ressurreição é a pedra angular, pois se CRISTO não tivesse ressuscitado, então não seria o que ele próprio afirmou ser; e sua morte não seria expiatória. Se CRISTO não houvesse ressuscitado, então os cristãos estariam sendo enganados durante séculos; os pregadores estariam proclamando um erro; e os fiéis estariam sendo enganados por uma falsa esperança de salvação. Mas, graças a DEUS, que, em vez de ponto de interrogação, podemos colocar o ponto de exclamação após ter sido exposta essa doutrina: "Mas agora CRISTO ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem!"
    (b) A evidência. "Vocês cristãos vivem na fragrância de um túmulo vazio", disse um cético francês. É um fato que aqueles que foram a embalsamar o corpo de JESUS, na memorável manhã da ressurreição, encontraram seu túmulo vazio. Esse fato nunca foi nem pode ser explicado a não ser pela ressurreição de JESUS! Quão facilmente os judeus poderiam ter refutado o testemunho dos primeiros pregadores se tivessem exibido o corpo do nosso Senhor! Mas não o fizeram — porque não o puderam fazer! Como vamos explicar a própria existência e origem da igreja cristã, que certamente teria permanecido sepultada juntamente com seu Senhor — se ele não tivesse ressuscitado? A igreja viva e radiante do dia de Pentecoste não nasceu de um Dirigente morto! Que faremos com o testemunho daqueles que viram a JESUS depois de sua ressurreição, muitos dos quais o apalparam, falaram e comeram com ele, centenas dos quais, Paulo disse, estavam vivos naqueles dias, muitos dos quais cujo testemunho inspirado se encontra no Novo Testamento? Como receberemos o testemunho de homens demasiado honestos e sinceros para pregarem uma mensagem propositadamente falsa, homens que tudo sacrificaram por essa mensagem? Como explicaremos a conversão de Saulo de Tarso, o perseguidor do Cristianismo, em um de seus maiores apóstolos e missionários, a não ser pelo fato de ele realmente ter visto a JESUS no caminho de Damasco? Há somente uma resposta satisfatória a essas perguntas: CRISTO ressuscitou! Muitas tentativas já foram feitas para superar esse fato. Os chefes dos judeus asseveraram que os discípulos de JESUS haviam roubado o seu corpo. Mas isso não explica como um pequeno grupo de tímidos e desanimados discípulos pôde reunir suficiente coragem para arrebatar dos endurecidos soldados romanos o corpo de seu Mestre, cuja morte lhes significava o fracasso completo das suas esperanças! Os eruditos modernos também apresentam estas explicações:]
    1) "Os discípulos simplesmente experimentaram uma visão." Então perguntamos: como podiam centenas de pessoas ter a mesma visão e imaginar, a um só tempo, que realmente viam a CRISTO?
    2) "JESUS realmente não morreu; ele simplesmente desmaiou e ainda estava vivo quando o tiraram da cruz." A isso respondemos: então um JESUS pálido e exausto, decaído e abatido, podia persuadir os discípulos cheios de dúvidas, e sobretudo a um Tomé, de que ele era o ressuscitado Senhor da vida? não é possível! Essas explicações são tão inconsistentes que por si mesmas se refutam. Novamente afirmamos, CRISTO ressuscitou! DeWette, teólogo modernista, afirmou que "a ressurreição de JESUS CRISTO é um fato tão bem comprovado quanto o fato histórico do assassinato de Júlio César".
    (c) O significado. A ressurreição. Ela significa que JESUS é tudo quanto ele afirmou ser: Filho de DEUS, Salvador, e Senhor (Rom. 1:4). A resposta do mundo às reivindicações de JESUS foi a cruz; a resposta de DEUS, entretanto, foi a ressurreição. A ressurreição significa que a morte expiatória de CRISTO foi uma divina realidade, e que o homem pode encontrar o perdão dos seus pecados, e assim ter paz com DEUS (Rom. 4:25). A ressurreição é realmente a consumação da morte expiatória de CRISTO. Como sabemos pois que não foi uma morte comum — e que realmente ela tira o pecado? Porque ele ressuscitou! A ressurreição significa que temos um Sumo Sacerdote no céu, que se compadece de nós, que viveu a nossa vida e conhece as nossas tristezas e fraquezas; que é poderoso para dar-nos poder para diariamente vivermos a vida de CRISTO. JESUS que morreu por nós, agora vive por nós. (Rom. 8:34Heb. 7:25.) Significa que podemos saber que há uma vida vindoura. Uma objeção comum a essa verdade é: "Mas ninguém jamais voltou para falar-nos do outro mundo." Mas alguém voltou — esse alguém é JESUS CRISTO! "Se um homem morrer, tornará a viver?" A essa pergunta antiga a ciência somente pode dizer: "não sei." A filosofia apenas diz: "Deve haver uma vida futura." Porém, o Cristianismo afirma: "Porque ele vive, nós também viveremos; porque ele ressuscitou dos mortos, também todos ressuscitaremos"! A ressurreição de CRISTO não somente constitui a prova da imortalidade, mas também a certeza da imortalidade pessoal, (1 Tes. 4:142 Cor. 4:14João 14:19.) Isto significa que há certeza de juízo futuro. Como disse o inspirado apóstolo, DEUS "tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos" (Atos 17:31). Tão certo como JESUS ressuscitou dos mortos para ser o Juiz dos homens, assim ressuscitarão também da morte os homens para serem julgados por ele.
     
    3. Sua ascensão.
    Os evangelhos, o livro dos Atos e as Epístolas dão testemunho da ascensão. Qual o significado desse fato histórico? Quais as doutrinas que nele se baseiam? Quais seus valores práticos? A ascensão ensina que nosso Mestre é:
    (a) O CRISTO celestial. JESUS deixou o mundo porque havia chegado o tempo de regressar ao Pai. Sua partida foi uma "subida", assim como sua entrada ao mundo havia sido uma "descida". Ele que desceu agora subiu para onde estava antes. E assim como sua entrada no mundo foi sobrenatural, assim o foi sua partida. Consideremos a maneira de sua partida. Suas aparições e desaparições depois da ressurreição foram instantâneas; a ascensão foi, no entanto, gradual — "vendo-o eles" (Atos 1:9). Não foi seguida por novas aparições, nas quais o Senhor surgiu entre eles em pessoa para comer e beber com eles; as aparições dessa classe terminaram com a sua ascensão. Sua retirada da vida terrena que vivem os homens aquém da sepultura foi de uma vez por todas.
    Dessa hora em diante os discípulos não deveriam pensar nele como o "CRISTO segundo a carne", isto é, como vivendo uma vida terrena, e sim, como o CRISTO glorificado, vivendo uma vida celestial na presença de DEUS e tendo contato com eles por meio do ESPÍRITO SANTO. Antes da ascensão, o Mestre aparecia, desaparecia e reaparecia de tempos em tempos para fazer com que paulatinamente os discípulos perdessem a necessidade de um contato visual e terreno com ele, e acostumá-los a uma comunhão espiritual e invisível com ele. Desse modo, a ascensão vem a ser a linha divisória entre dois períodos da vida de CRISTO: Do nascimento até à ressurreição, ele é o CRISTO da história humana, aquele que viveu uma vida humana perfeita sob condições terrenas. Desde a ascensão, ele é o CRISTO da experiência espiritual, que vive no céu e tem contato com os homens por meio do ESPÍRITO SANTO.
    (b) O CRISTO exaltado. Afirma certa passagem que CRISTO "subiu", e outra diz que foi "levado acima". A primeira representa a CRISTO como entrando na presença do Pai por sua própria vontade e direito; a segunda acentua a ação do Pai pela qual ele foi exaltado em recompensa por sua obediência até a morte. Sua lenta ascensão ante os olhares dos discípulos trouxe-lhes a compreensão de que JESUS estava deixando sua vida terrena, e os fez testemunhas oculares de sua partida. Mas uma vez fora do alcance de sua vista, a jornada foi consumada por um ato de vontade. O Dr. Swete assim comenta o fato: Nesse momento toda a glória de DEUS brilhou em seu derredor, e ele estava no céu. Não lhe era a cena inteiramente nova; na profundidade do seu conhecimento divino, o Filho do homem guardava lembranças das glórias que, em sua vida anterior à encarnação, gozava com o Pai "antes que o mundo existisse" (João 17:5). Porém, a alma humana de CRISTO até o momento da ascensão, não experimentara a plena visão de DEUS que transbordou sobre ele ao ser levado acima. Esse foi o alvo de sua vida humana, o gozo que lhe estava proposto (Heb. 12:2), que foi alcançado no momento da ascensão. Foi em vista de sua ascensão e exaltação que CRISTO declarou: é-me dado todo o poder (autoridade) no céu e na terra" (Mat. 28:18; vide Efés. 1:20-231 Ped. 3:22Fil. 2:9-11Apoc. 5:12). Citemos outra vez o Dr. Swete: Nada se faz nesse grandioso mundo desconhecido, que chamamos o céu, sem sua iniciativa, direção e autoridade determinativa. Processos incompreensíveis à nossa mente realizam-se no outro lado do véu por meios divinos igualmente incompreensíveis. Basta que a igreja compreenda que tudo que se opera ali é feito pela autoridade de seu Senhor.
    (c) O CRISTO soberano. CRISTO ascendeu a um lugar de autoridade sobre todas as criaturas. Ele é a "cabeça de todo o varão" (1Cor. 11:3), a "cabeça de todo o principado e potestade" (Col. 2:10); todas as autoridades do mundo invisível, tanto como as do mundo dos homens, estão sob seu domínio, (1 Ped. 3:22Rom. 14:9Fil. 2:10, 11.) Ele possui essa soberania universal para ser exercida para o bem da igreja, a qual é seu corpo; DEUS "sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da Igreja." Em um sentido muito especial, portanto, CRISTO é a Cabeça da igreja. Essa autoridade se manifesta de duas maneiras:
    1) Pela autoridade exercida por ele sobre os membros da igreja. Paulo usou a relação matrimonial como ilustração da relação entre CRISTO e a igreja (Efés. 5:22-23). Como a igreja vive em sujeição a CRISTO, assim as mulheres devem estar sujeitas a seus maridos; como CRISTO amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, assim os maridos devem exercer sua autoridade no espírito de amor e auto-sacrifício. A obediência da igreja a CRISTO é uma submissão voluntária; da mesma maneira a esposa deve ser obediente, não só por questão de consciência mas por amor e reverência. Para os cristãos, o estado de matrimonio se tomou um '"mistério" (isto é, uma verdade com significado espiritual), porque revela a união espiritual entre CRISTO e sua igreja; "autoridade da parte de CRISTO, subordinação da parte da igreja, amor de ambos os lados — o amor retribuindo amor, para ser coroado pela plenitude do gozo, quando essa união for consumada na vinda do Senhor" (Swete). Uma característica proeminente da igreja primitiva era a atitude de amorosa submissão a CRISTO. "JESUS é Senhor" não era somente a declaração do credo mas também a regra de vida.
    2) O CRISTO glorificado não é somente o Poder que dirige e governa a igreja, mas também a fonte de sua vida e poder. O que a videira é para a vara, o que a cabeça é para o corpo, assim é o CRISTO vivo para a sua igreja. Apesar de estar no céu, a Cabeça da igreja, CRISTO está na mais íntima união com seu corpo na terra, sendo o ESPÍRITO SANTO o vínculo. (Efés. 4:1516Col. 2:19.)
    (d) O CRISTO que prepara o caminho. A separação entre CRISTO e sua igreja na terra, separação ocasionada pela ascensão, não é permanente. Ele subiu como um precursor a preparar o caminho para aqueles que o seguem. Sua promessa foi: "Onde eu estiver, ali estará também o meu servo" (João 12:26). O termo "precursor" é primeiramente aplicado a João Batista como aquele que prepararia o caminho de CRISTO (Luc. 1:76). Como João preparou o caminho para CRISTO, assim também o CRISTO glorificado prepara o caminho para a igreja. Esta esperança é comparada a uma "âncora da alma segura e firme, e que penetra até ao interior do véu; onde JESUS, nosso precursor, entrou por nós" (Heb. 6:19,20). Ainda que agitada pelas ondas das provações e das adversidades, a alma do crente fiel não pode naufragar enquanto sua esperança estiver firmemente segura nas realidades celestiais. Em sentido espiritual, a igreja já está seguindo o CRISTO glorificado; e tem-se "assentado nos lugares celestiais, em CRISTO JESUS" (Efés. 2:6). Por meio do ESPÍRITO SANTO, os crentes, espiritualmente, no coração, já seguem a seu Senhor ressuscitado. Entretanto, haverá uma ascensão literal correspondente à ascensão de CRISTO, (1 Tess. 4:17; l Cor. 15:52.) Essa esperança dos crentes não é uma ilusão, porque eles já sentem o poder de atração do CRISTO glorificado (1Ped. 1:8). Com essa esperança, JESUS confortou os seus discípulos antes de sua partida (João 14:1-3). "Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1 Tess. 4:18).
    (e) O CRISTO intercessor. Em virtude de ter assumido a nossa natureza e ter morrido por nossos pecados, JESUS é o Mediador entre DEUS e os homens (1 Tim. 2:5). Mas o Mediador é também um Intercessor, e a intercessão é mais do que mediação. Um mediador pode ajuntar as duas partes e depois deixá-las a si mesmas para que resolvam suas dificuldades; porém, um intercessor diz alguma coisa a favor da pessoa pela qual se interessa. A intercessão é um ministério importante do CRISTO glorificado (Rom. 8:34). A intercessão forma o apogeu das suas atividades salvadoras. Ele morreu por nós; ressuscitou por nós; ascendeu por nós; e intercede por nós (Rom. 8:34). Nossa esperança não está em um CRISTO morto, mas em um CRISTO que vive; e não somente em Um que vive, mas em um CRISTO que vive e reina com DEUS. O sacerdócio de CRISTO é eterno; portanto, sua intercessão é permanente. "Portanto, ele pode levar a um desfecho feliz ("perfeitamente", Hebreus 7:25) toda a causa cuja defesa ele pleiteia assegurando assim àqueles que se chegam a DEUS, por sua mediação, a completa restauração ao favor e à bênção divinos. Realmente, o propósito de sua vida no céu é precisamente esse; ele vive sempre com esse intento de interceder diante de DEUS a favor dos seus.
    Enquanto DEUS existir, não pode haver interrupção de sua obra intercessora... porque a intercessão do CRISTO glorificado não é uma oração apenas, mas uma vida. O Novo Testamento não o apresenta como um suplicante constantemente presente perante o Pai, de braços estendidos e em forte pranto e lágrimas, rogando por nossa causa diante de DEUS como se fora um DEUS relutante, mas o apresenta como um Sacerdote-Rei entronizado, pedindo o que deseja de um Pai que sempre o ouve e concede Sua petição" (Swete). Quais as principais petições de CRISTO em seu ministério intercessor? A oração do capítulo 17 de João sugere a resposta. Semelhante ao oficio de mediador é o de advogado (no grego, "parácleto"). (1João 2:1.) Advogado ou parácleto é aquele que é chamado a ajudar uma pessoa angustiada ou necessitada, para confortá-la ou dar-lhe conselho e proteção. Essa foi a relação do Senhor para com seus discípulos durante os dias de sua carne. Mas o CRISTO glorificado também está interessado no problema do pecado. Como Mediador, ele obtém acesso para nós na presença de DEUS; como Intercessor, ele leva nossas petições perante DEUS; como Advogado, ele enfrenta as acusações feitas contra nós pelo "acusador dos irmãos", na questão do pecado. Para os verdadeiros cristãos uma vida habitual de pecado não é admissível (1 João 3:6); porém, isolados atos de pecado podem acontecer aos melhores cristãos, e tais ocasiões requerem a advocacia de CRISTO. Em l João 2:12 estão expostas três considerações que dão força a sua advocacia: primeira, ele está "com o Pai", na presença de DEUS; segunda, ele é "o Justo", e como tal, pode ser uma expiação por outrem; terceira, ele é "a propiciação pelos nossos pecados", isto é, um sacrifício que assegura o favor de DEUS por efetuar expiação pelo pecado.
    (f) O CRISTO onipresente. (João 14:12.) Enquanto estava na terra, CRISTO necessariamente limitava-se a estar em um lugar de cada vez, e não podia estar em contato com todos os seus discípulos ao mesmo tempo. Mas ao ascender ao lugar de onde procedera a força motriz do universo, foi-lhe possível enviar seu poder e sua personalidade divina em todo tempo, a todo lugar e a todos os seus discípulos. A ascensão ao trono de DEUS deu-lhe não somente onipotência (Mat. 28:18) mas também onipresença, cumprindo-se assim a promessa: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles" (Mat. 18:20).
    (g) Conclusão: Valores da ascensão. Quais os valores práticos da doutrina da ascensão?
    1) O conhecimento interno do CRISTO glorificado, a quem brevemente esperamos ver, é um incentivo à santidade. (Col. 3:1-4.) O olhar para cima vencerá a atração das coisas do mundo.
    2) O conhecimento da ascensão proporciona um conceito correto da igreja. A crença em um CRISTO meramente humano levaria o povo a considerar a igreja como uma sociedade meramente humana, útil, sim, para propósitos filantrópicos e morais, porém destituída de poder e autoridade sobrenaturais. Por outro lado, um conhecimento do CRISTO glorificado resultará no reconhecimento da igreja como um organismo, um organismo sobrenatural, cuja vida divina emana da Cabeça — CRISTO ressuscitado.
    3) O conhecimento interno do CRISTO glorificado produzir uma atitude correta para com o mundo e as coisas do mundo. "Mas a nossa cidade (literalmente, "cidadania") está nos céus donde também esperamos o Salvador, o Senhor JESUS CRISTO" (Fil. 3:20).
    4) A fé no CRISTO glorificado inspirará um profundo sentimento de responsabilidade pessoal. A crença no CRISTO glorificado leva consigo o conhecimento de que naquele dia teremos que prestar contas a ele mesmo. (Rom. 14:7-92 Cor. 5:9,10.) O sentido de responsabilidade a um Mestre no céu atua como um freio contra o pecado e serve de incentivo para a retidão. (Efés. 6:9.)
    5) Junto à fé no CRISTO glorificado temos a bendita e alegre esperança de seu regresso. "E se eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez" (João 14:3).
     
    V. A Expiação no Novo Testamento
    1. O fato da expiação.
    A expiação que fora preordenada desde a eternidade e prefigurada tipicamente no ritual do Antigo Testamento cumpriu-se historicamente, na crucificação de JESUS, quando se consumou o divino propósito redentivo. "Está consumado!" Os escritores dos Evangelhos descreveram os sofrimentos e a morte de CRISTO com profusão de pormenores que não se vêm nas narrativas de outros eventos das profecias do Antigo Testamento, os quais indicam a grande importância do evento. Alguns escritores da escola "liberal" defendem a teoria de que a morte de CRISTO fora acidente e tragédia.! Ele teria iniciado seu ministério com grande esperança de sucesso, segundo eles, mas depois viu-se envolvido em certas circunstâncias que ocasionaram a sua destruição imprevista, à qual não pôde escapar. Mas, que dizem os Evangelhos a respeito? Segundo o seu testemunho, JESUS sabia desde o princípio que o sofrimento e a morte faziam parte do seu destino divinamente ordenado. Em sua declaração, que o Filho do homem devia sofrer, a palavra "devia" indica a vocação divina e não a fatalidade imprevista e inevitável. No ato do seu batismo ele ouviu as palavras: "Este é o meu filho amado, em quem me comprazo" (Mat. 3:17). Essas palavras são extraídas de duas profecias, a primeira declarando a filiação do Messias e sua Divindade (Sal. 2:7), e a segunda descrevendo o ministério do Messias como o Servo do Senhor (Isa. 42:1). O servo mencionado em Isa. 42:1 é o Servo sofredor de Isa. 53. A conclusão à qual chegamos é que mesmo na hora do seu batismo, JESUS estava ciente do fato de que sofrimento e morte faziam parte de sua vocação. A rejeição das ofertas de Satanás no deserto implicava desfecho trágico de sua obra, pois ele escolheu o caminho duro da rejeição em vez do fácil e popular. O próprio fato de o SANTO estar no meio do povo (Luc. 3:21) que se batizava, e o submeter-se ao mesmo batismo foi um ato de identificação com a humanidade pecaminosa, a fim de levar os pecados desse mesmo povo. O Servo do Senhor, segundo Isaias 53, seria "contado com os transgressores" (ver. 12). O batismo de JESUS pode ser considerado como "o grande ato de amorosa comunhão com a nossa miséria", pois nessa hora ele identifica-se com os pecadores e, por conseguinte, em certo sentido sua obra de expiação jà começou. Muitas vezes durante o curso do seu ministério o Senhor, em linguagem oculta e figurada, referiu-se à sua morte (Mat.5:10-1223:37Mar. 9:12,133:6,20-302:19), mas em Cesaréia de Filipo ele claramente disse aos discípulos que devia sofrer e morrer. Daquele tempo em diante ele procurou esclarecer-lhes as mentes sobre este fato, que teria que sofrer, para que, sendo avisados, não naufragassem em sua fé ante o choque da crucificação. (Mar. 8:319:3110:32.) Ele também lhes explicou o significado de sua morte. não a deveriam considerar como tragédia imprevista e infeliz à qual teria que se resignar, e, sim, como sendo morte cujo propósito era fazer expiação. "O Filho do homem veio a dar a sua vida em resgate de muitos." Na última ceia JESUS deu instruções acerca da futura comemoração de sua morte, como sendo o supremo ato de seu ministério. Ele ordenou um rito que comemoraria sua redenção da humanidade, assim como a Páscoa comemorava a redenção de Israel do Egito. Seus discípulos, que ainda estavam sob a influência de idéias judaicas acerca do Messias e do reino, não podiam compreender a necessidade de sua morte e só com dificuldade podiam aceitar o fato. Mas após a ressurreição e a ascensão eles o entenderam e sempre depois disso afirmaram que a morte de CRISTO fora divinamente ordenada como o meio da expiação. "CRISTO morreu pelos nossos pecados", é seu testemunho de sempre.
     
    2. A necessidade da expiação.
    A necessidade da expiação é conseqüência de dois fatos: a santidade de DEUS e a pecabilidade do homem. A reação da santidade de DEUS contra a pecabilidade do homem é conhecida como sua ira, a qual pode ser evitada mediante a expiação. Portanto, os pontos-chave do nosso estudo serão os seguintes: Santidade, pecabilidade, ira e expiação.
    (a) A santidade de DEUS. DEUS é santo por natureza, o que significa que ele é justo em caráter e conduta. Esses atributos do seu caráter manifestam-se em seus tratos com a sua criação. "Ele ama a justiça e o juízo" (Sal. 33:5). "Justiça e juízo são a base do teu trono" (Salm 89:14). DEUS constituiu o homem e o mundo segundo leis especificas, leis que formam o próprio fundamento da personalidade humana, escritos no coração e na natureza do homem. (Rom. 2:1415.) Essas leis unem o homem ao seu Criador pelos laços de relação pessoal e constituem a base da responsabilidade humana. "Porque nele vivemos, e nos movemos e existimos" (Atos17:28), assim foi dito da humanidade em geral. O pecado perturba a relação expressa nesse verso, e ao fim o pecador impenitente será lançado eternamente da presença de DEUS. Esta é "a segunda morte". Em muitas ocasiões essa relação foi reafirmada, ampliada e interpretada sob outro sistema chamado aliança. Por exemplo, no Sinai DEUS reafirmou as condições sob as quais ele podia ter comunhão com o homem (a lei moral) e, então estabeleceu uma série de regulamentos pelos quais Israel poderia observar essas condições na esfera da vida nacional e religiosa. Guardar a aliança significa estar em relação com DEUS, ou estar na graça; pois aquele que é justo pode ter comunhão somente com aqueles que andam na justiça. "Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3:3). E estar em comunhão com DEUS significa vida. Do princípio ao fim, as Escrituras declaram esta verdade, que a obediência e a vida andam juntas. (Gên. 2:17Apoc. 22:14.)
    (b) A pecabilidade do homem. Essa relação foi perturbada pelo pecado que é um distúrbio da relação pessoal entre DEUS e o homem. E desrespeitar a constituição, por assim dizer, ação que afeta a DEUS e aos homens, tal qual a infidelidade que viola o pacto matrimonial sob o qual vivem o homem e sua mulher. (Jer. 3:20.) "Vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso DEUS" (Isa. 59:2). A função da expiação é fazer reparação pela lei violada e reatar a comunhão interrompida entre DEUS e o homem.
    (c) Ira. O pecado é essencialmente um ataque contra a honra e a santidade de DEUS. É rebelião contra DEUS, pois pelo pecado deliberado, o homem prefere a sua própria vontade em lugar da vontade de DEUS, e por algum tempo torna-se "autônomo". Mas se DEUS permitisse que sua honra fosse atacada então ele deixaria de ser DEUS. Sua honra pede a destruição daquele que lhe resiste; sua justiça exige a satisfação da lei violada; e sua santidade reage contra o pecado sendo essa reação reconhecida como manifestação da ira. Mas essa reação divina não é automática; nem sempre ela entra em ação instantaneamente, como acontece com a mão em contato com o fogo. A ira de DEUS é governada por considerações pessoais; DEUS é tardio em destruir a obra de suas mãos. Ele insta com o homem; ele espera ser gracioso. Ele adia o juízo na esperança de que sua bondade conduza o homem ao arrependimento. (Rom. 2:42 Ped. 3:9.) Mas os homens interpretam mal as demoras divinas e zombam do dia de juízo. "Visto como se não executa imediatamente o juízo sobre a má obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal" (Ecl. 8:11). Mas, embora demore, a retribuição final virá, pois num mundo governado por leis ter de haver um ajuste de contas. "não erreis: DEUS não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gál. 6:7). Essa verdade foi demonstrada no Calvário, onde DEUS declarou "sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de DEUS" (Rom. 3:25). Assim alguém traduz essa passagem: "Isto foi para demonstrar a justiça de DEUS em vista do fato de que os pecados previamente cometidos durante o tempo da tolerância de DEUS foram ignorados". Outro assim parafraseia a passagem: "Ele suspendeu o juízo sobre os pecados daquele período anterior, o período de sua paciência, tendo em vista a revelação de sua justiça sob esta dispensação, quando ele, justo Juiz, absolverá o pecador que afirma sua fé em JESUS." Em séculos passados parece que DEUS não levou em conta os pecados das nações; os homens continuaram no pecado, aparentemente sem ceifar as suas conseqüências. Dai a pergunta: "Então DEUS não toma conhecimento do pecado?" Mas a crucificação revelou o caráter horrendo do pecado, e demonstra vivamente o terrível castigo sobre ele. A cruz de CRISTO declara que DEUS nunca foi, não é, e nunca poderia ser indiferente ao pecado dos homens. Assim comenta o assunto um erudito: DEUS deu provas de sua ira contra o pecado quando ocasionalmente castigou Israel e as nações gentílicas. Mas ele não infligiu a plena penalidade, caso contrário a raça humana teria perecido. Em grande parte ele "passou por alto" os pecados dos homens. Seria injusto o rei que deixasse de punir um crime ou mesmo que adiasse a punição. E na opinião de alguns. DEUS perdeu prestigio por causa de sua tolerância, a qual interpretam como um meio de escapar à punição divina. DEUS destinou CRISTO para morrer a fim de demonstrar a sua justiça em vista da tolerância dos pecados passados, tolerância que parecia ofuscar a justiça.
    (d) Expiação. O homem tem quebrado as leis de DEUS e violado os princípios da justiça. O conhecimento desses atos está registrado em sua memória e a sua consciência o acusa. Que se pode fazer para remediar o passado e ter segurança no futuro? Existe alguma expiação pela lei violada? Para essa pergunta existem três respostas:
    1) Alguns afirmam que a expiação não é possível e que a vida é governada por uma lei inexorável, a qual punirá com precisão matemática todas as violações. O que o homem semear, fatalmente, isso mesmo ele ceifará. O pecado permanece. Assim o pecador nunca escapará às culpas do passado. Seu futuro está hipotecado e não existe redenção para ele. Essa teoria faz do homem um escravo de suas circunstâncias; nada pode fazer quanto ao seu destino. Se os proponentes dessa teoria reconhecem a DEUS, para eles DEUS é escravizado às suas próprias leis, incapaz de prover um meio de escape para os pecadores.
    2) No outro extremo há aqueles que ensinam que a expiação é desnecessária. DEUS é tão bom que não punirá o pecador, e tão gracioso que não exigirá a satisfação da lei violada. Por conseguinte, a expiação toma-se desnecessária e é de supor que DEUS perdoará a todos. Certa vez um médico disse a uma cliente que lhe havia falado do Evangelho: Eu não preciso de expiação. Quando erro, peço simplesmente a DEUS que me desculpe, e é quanto basta." Depois de certo tempo a cliente voltou ao médico e lhe disse: "Doutor, agora estou bem. Sinto muito haver ficado doente, e prometo-lhe que me esforçarei para nunca mais adoecer." Ao mesmo tempo ela insinuou que nenhuma necessidade havia de considerar ou pagar a conta! Cremos que o médico compreendeu a lição, isto é, que mero arrependimento não salda conta, nem repara os estragos causados pelo pecado.
    3) O Novo Testamento ensina que a expiação é tanto necessária como também possível; possível porque DEUS é benévolo, bem como justo; necessária porque DEUS é justo, bem como benévolo. Os dois erros acima tratados são exageros de duas verdades sobre o caráter de DEUS. O primeiro exagera a sua justiça, excluindo a sua graça. O segundo exagera sua graça, excluindo a sua justiça. A expiação faz justiça a ambos os aspectos de seu caráter, pois na morte de CRISTO, DEUS está agindo de modo justo como também benévolo. Ao tratar do pecado, ele precisa mostrar sua graça, pois ele não deseja o morte do pecador; mas, ao perdoar o pecado, ele precisa revelar a sua justiça, pois a própria estabilidade do universo depende da soberania de DEUS. Na expiação DEUS faz justiça a seu caráter como um DEUS benévolo. Sua justiça clamou pelo castigo do pecador, mas sua graça proveu um plano para o perdão. Ao mesmo tempo ele faz justiça a seu caráter como um DEUS justo e reto. DEUS não faria justiça a si mesmo se manifestasse compaixão para com os pecadores de maneira que fizesse do pecado uma coisa leve e que ignorasse sua trágica realidade. Poderíamos pensar que DEUS seria então indiferente ou indulgente quanto ao pecado. O castigo do pecado foi pago no Calvário, e a lei divina foi honrada; dessa maneira DEUS pôde ser benévolo sem ser injusto, e justo sem ser inclemente.
     
    3. A natureza da expiação.
    A morte de CRISTO é: "CRISTO morreu", expressa o fato histórico da crucificação; "por nossos pecados", interpreta o fato. Em que sentido morreu JESUS por nossos pecados? Como é explicado o fato no Novo Testamento? A resposta encontra-se nas seguintes palavras-chave aplicadas à morte de CRISTO: Expiação, Propiciação, Substituição, Redenção e Reconciliação.
    (a) Expiação. A palavra expiação no hebraico significa literalmente 'cobrir', e é traduzida pelas seguintes palavras: fazer expiação, purificar, quitar, reconciliar, fazer reconciliação, pacificar, ser misericordioso. A expiação, no original, inclui a idéia de cobrir, tanto os pecados (Sal. 78:38;79:9Lev. 5:18) como também o pecador. (Lev. 4:20.) Expiar o pecado é ocultar o pecado da vista de DEUS de modo que o pecador perca seu poder de provocar a ira divina. Citamos aqui o Pr. Alfred Cave: A idéia expressa pelo original hebraico da palavra traduzida "expiar", era "cobrir" e "cobertura", não no sentido de torná-lo invisível a Jeová , mas no sentido de ocupar sua vista com outra coisa, de neutralizar o pecado, por assim dizer, de desarmá-lo, de torná-lo inerte para provocar a justa ira de DEUS. Expiar o pecado... era arrojar, por assim dizer, um véu sobre o pecado tão provocante, de modo que o véu., e não o pecado, fosse visível; era colocar lado a lado com o pecado algo tão atraente que cativasse completamente a atenção. A figura que o Novo Testamento usa ao falar das vestes novas (de justiça), usa-a o Antigo Testamento ao falar da "expiação". Quando se fazia expiação sob a lei, era como se o olho divino, que se havia acendido pela presença do pecado e a impureza, fosse aquietado pela vestidura posta ao seu derredor; ou, usando uma figura muito mais moderna, porém igualmente apropriada, era como se o pecador, exposto a uma descarga elétrica da ira divina, houvesse sido repentinamente envolto e isolado. A exposição significa cobrir de tal maneira o pecador, que seu pecado era invisível ou inexistente no sentido de que já não podia estar entre ele e seu Criador. Quando o sangue era aplicado ao altar pelo sacerdote, o israelita sentia a segurança de que a promessa feita a seus antecessores se faria real para ele. "Vendo eu sangue, passarei por cima de vós" (Êxo. 12:13). Quais eram o efeitos da expiação ou da cobertura? O pecado era apagado (Jer. 18:23Isa. 43:2544:22); removido (Isa.6:7); coberto (Sal. 32:1); lançado nas profundidades do mar (Miq. 7:19); perdoado (Sal. 78:38). Todos esses termos ensinam que o pecado é coberto de modo que seus efeitos sejam removidos, afastados da vista, invalidados, desfeitos. Jeová já não vê nem sofre influência alguma dele. A morte de CRISTO foi uma morte expiatória, porque seu propósito era apagar o pecado. (Heb. 9:26282:1710:12-149:14.) Foi uma morte sacrificial ou uma morte que tinha relação com o pecado. Qual era essa relação? "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Ped. 2:24). "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de DEUS" (2 Cor. 5:21) Expiar o pecado significa levá-lo embora, de modo que ele é afastado do transgressor, o qual é considerado, então, como justificado de toda a injustiça, purificado de contaminação e santificado para pertencer ao povo de DEUS. Uma palavra hebraica usada para descrever a purificação significa, literalmente, "quitar o pecado". Pela morte expiatória de CRISTO os pecadores são purificados do pecado e logo feitos participantes da natureza de CRISTO. Eles morrem para o pecado a fim de viverem para CRISTO.
    (b) Propiciação. Crê-se que a palavra propiciação tem sua origem em uma palavra latina "propõe", que significa "perto de". Assim se nota que a palavra significa juntar, tornar favorável. O sacrifício de propiciação traz o homem para perto de DEUS, reconcilia-o com DEUS fazendo expiação por suas transgressões, ganhando a graça e favor. (Em sua misericórdia, DEUS aceita o dom propiciatório e restaura o pecador a seu amor. Esse também é o sentido da palavra grega como é usada no Novo Testamento. Propiciar é aplacar a ira de um DEUS santo pela oferenda dum sacrifício expiatório. CRISTO é descrito como sendo essa propiciação (Rom. 3:251 João 2:44). O pecado mantém o homem distanciado de DEUS; mas CRISTO tratou de tal maneira o assunto do pecado, a favor do homem, que o seu poder separador foi anulado. Portanto, agora o homem pode "chegar-se" a DEUS "em seu nome". O acesso a DEUS, o mais sublime dos privilégios, foi comprado por grande preço: o sangue de CRISTO. Assim escreve o Dr. James Denney: E assim como no Antigo Testamento todo objeto usado na adoração tinha que ser aspergido com sangue expiatório, assim também todas as partes da adoração cristã; todas as nossas aproximações a DEUS devem descansar conscientemente sobre a expiação. Deve-se sentir que é um privilégio de inestimável valor; deve ser permeado com o sentimento da paixão de CRISTO e com o amor com que ele nos amou quando sofreu por nossos pecados de uma vez para sempre, o justo pelos injustos para chegar-nos a DEUS. A palavra "propiciação" em Romanos 3:25 é tradução da palavra grega "hilasterion", que se encontra também em Heb. 9:5onde é traduzida como "propiciatório". No hebraico, "propiciatório" significa literalmente "coberta", e, tanto no hebraico como no grego, a palavra expressa o pensamento de um sacrifício (*). Refere-se à arca da aliança (Êxo. 25:10-22) que estava composta de duas partes: primeira, a arca, representando o trono do justo governante de Israel, contendo as tábuas da lei como a expressão de sua justa vontade; segunda, a coberta, ou tampa, conhecida como "propiciatório", coroada com figuras angélicas chamadas querubins. Duas lições salientes eram comunicadas por essa mobília: primeira, as tábuas da lei ensinavam que DEUS era um DEUS justo que não passaria por alto o pecado e que devia executar seus decretos e castigar os ímpios. Como podia uma nação pecaminosa viver ante sua face? O propiciatório, que cobria a lei, era o lugar onde se aspergia o sangue uma vez por ano para fazer expiação pelos pecados do povo. Era o lugar onde o pecado era coberto, e ensinava a lição de que DEUS, que é justo, pode perfeitamente perdoar o pecado por causa dum sacrifício expiatório. Por meio do sangue expiatório, aquilo que é um trono de juízo se converte em trono de graça. A arca e o propiciatório ilustram o problema resolvido pela expia ao. O problema e sua solução são declarados em Rom. 3: 24-26, onde lemos: "sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em CRISTO JESUS, ao qual DEUS propôs para propiciação (um sacrifício expiatório) pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos (demonstrar que a aparente demora em executar o juízo não significa que DEUS passou por alto o pecado) sob a paciência de DEUS; para demonstração da sua justiça, neste tempo presente (sua maneira de fazer justos os pecadores), para que ele seja justo (infligir o devido castigo pelo pecado), e justificador (remover o castigo pelo pecado) daquele que tem fé em JESUS". Como pode DEUS realmente infligir o castigo do pecado e ao mesmo tempo cancelar esse castigo? DEUS mesmo tomou o castigo na pessoa de seu Filho, e desta maneira abriu o caminho para o perdão do culpado. Sua lei foi honrada e o pecador foi salvo. O pecado foi expiado e DEUS foi propiciado. Os homens podem entender como DEUS pode ser justo e castigar, ser misericordioso e perdoar; mas a maneira como pode DEUS ser justo no ato de justificar ao culpado, é para eles um enigma. O Calvário resolve o problema. É preciso esclarecer o fato de que a propiciação foi uma verdadeira transação, porque alguns ensinam que a expiação foi simplesmente uma demonstração do amor de DEUS e de CRISTO, com a intenção de comover o pecador ao arrependimento. Esse certamente é um dos efeitos da expiação (1 João 3:16), mas não representa o todo da expiação. Por exemplo, poderíamos pular para dentro dum rio e afogarmo-nos à vista de uma pessoa muito pobre a fim de convencê-la do nosso amor por ela; mas esse ato não pagaria o aluguel da casa nem a conta do fornecedor que ele devesse! A obra expiatória de CRISTO foi uma verdadeira transação que removeu um verdadeiro obstáculo entre nós e DEUS, e pagou a dívida que não podíamos pagar.
    (c) Substituição. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram substitutos por natureza; eram considerados como algo a que se procedia, no altar, para o israelita, que não podia fazê-lo por si mesmo. O altar representava o pecador; a vitima era o substituto do israelita para ser aceita em seu favor. Da mesma forma CRISTO, na cruz, fez por nós o que não podíamos fazer por nos mesmos, e qualquer que seja a nossa necessidade, somos aceitos "por sua causa". Se oferecemos a DEUS nosso arrependimento, gratidão ou consagração, fazemo-lo "em seu nome", pois ele é o Sacrifício por meio do qual chegamos a DEUS o Pai. O pensamento de substituição é saliente nos sacrifícios do Antigo Testamento, onde o sangue da vitima é considerado como uma coberta ou como fazendo expiação pela alma do ofertante. No capítulo em que os sacrifícios do Antigo Testamento alcançam seu maior significado (Isa. 53) lemos: "Verdadeiramente" ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si... mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados, (vers. 4, 5). Todas essas expressões apresentam o Servo de Jeová como levando o castigo que devia cair sobre outros, a fim de "justificar a muitos"; e "levar as iniqüidades deles". CRISTO, sendo o Filho de DEUS, pôde oferecer um sacrifício de valor eterno e infinito. Havendo assumido a natureza humana, Pôde identificar-se com o gênero humano e assim sofrer o castigo que era nosso, a fim de que pudéssemos escapar. Isso explica a exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?" Ele que era sem pecado por natureza, que nunca havia cometido um pecado sequer em sua vida, se fez pecador (ou tomou o lugar do pecador). Nas palavras de Paulo: "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós" (2 Cor. 5:21). Nas palavras de Pedro: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Ped. 2:24).
    (d) Redenção. A palavra redimir, tanto no Antigo como no Novo Testamento, significa tornar a comprar por um preço; livrar da servidão por preço, comprar no mercado e retirar do mercado. O senhor JESUS é um Redentor e sua obra expiatória é descrita como uma redenção. (Mat. 20:28Apoc. 5:914:34Gál. 3:134:5Tito 2:141 Ped. 1:18.) A mais interessante ilustração de redenção se encontra no Antigo Testamento, na lei sobre a redenção dum parente. (Lev. 25:47-49.) Segundo essa lei, um homem que houvesse vendido sua propriedade e se houvesse vendido a si mesmo como escravo, por causa de alguma dívida, podia recuperar, tanto sua terra como sua liberdade, em qualquer tempo, sob a condição de que fosse redimido por um homem que possuísse as seguintes qualidades: Primeira, deveria ser parente do homem; segunda deveria estar disposto a redimi-lo ou comprá-lo novamente; terceira, deveria ter com que pagar o preço. O Senhor JESUS CRISTO reuniu em si essas três qualidades: Fez-se nosso parente, assumindo nossa natureza; estava disposto a dar tudo para redimir-nos (2 Cor. 8:9); e, sendo divino, pôde pagar o preço... seu próprio sangue precioso. O fato da redenção destaca o alto preço da salvação e, por conseguinte, deve ser levado em grande consideração. Quando certos crentes em Corinto se descuidaram de sua maneira de viver, Paulo assim os admoestou: "não sabeis... que não sois de vós mesmos? porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a DEUS no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a DEUS" (1 Cor. 6:1920). Certa vez JESUS disse: "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" (Mar. 8:3637). Com essa expressão ele quis dizer que a alma, a verdadeira vida do homem, podia perder-se ou arruinar-se; e perdendo-se não podia haver compensação por ela, porque não havia meios de tornar a comprá-la. Os homens ricos poderão jactar-se de suas riquezas e nelas confiar, porém o poder delas é limitado. O Salmista disse: "Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a DEUS o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes) por isso tão pouco viver para sempre ou deixar de ver a corrupção" (Sal 49: 7-9). Mas uma vez que as almas de multidões já foram "confiscadas", por assim dizer, por viverem no pecado, e não podem ser redimidas por meios humanos, que se pode fazer em favor delas? O Filho do homem veio ao mundo "para dar a sua vida em resgate (ou para redenção) de muitos (Mat. 20:28). O supremo objetivo de sua vinda ao mundo foi dar sua vida como preço de resgate para que aqueles, cujas almas foram "confiscadas", pudessem recuperá-las. As vidas (espirituais) de muitos, "confiscadas", são libertadas pela rendição da vida por parte de CRISTO. Pedro disse a seus leitores que eles foram resgatados de sua vã maneira de viver, que por tradição (pela rotina ou costumes), receberam dos seus pais (1 Pedro 1:18). A palavra "vã" significa "vazia", ou aquilo que não satisfaz. A vida, antes de entrar em contato com a morte de CRISTO, é inútil e vã é andar às apalpadelas, procurando uma coisa que nunca poderá ser encontrada. Com todos os esforços não logra descobrir a realidade; não tem fruto permanente. "Que adianta tudo isso?" exclamam muitas pessoas. CRISTO nos redimiu dessa servidão. Quando o poder da morte expiatória de CRISTO tem contato com a vida de alguém, essa vida desfruta de grande satisfação. não está mais escravizada às tradições de ancestrais ou limitada à rotina ou aos costumes estabelecidos. Antes, as ações do cristão surgem duma nova vida que veio a existir pelo poder da morte de CRISTO. A morte de CRISTO, sendo uma morte pelo pecado, liberta e "toma a criar" a alma.
    (e) Reconciliação. "Tudo isto provém de DEUS, que nos reconciliou consigo mesmo por JESUS CRISTO, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, DEUS estava em CRISTO reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nos a palavra da reconciliação" (2 Cor. 5: 1819.) Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com DEUS pela morte do seu Filho (Rom. 5:10). Homens que em outro tempo eram estranhos entre si e inimigos no entendimento pelas suas obras más, agora no corpo da sua carne, pela morte, foram reconciliados (Col. 1:21). Muitas vezes a expiação é mal entendida e, por conseguinte, mal interpretada. Alguns imaginam que a expiação significa que DEUS estava irado com o pecador, e que se afastou, mal-humorado, até que se aplacasse a ira, quando seu Filho se ofereceu a pagar a pena. Em outras palavras, pensam eles, DEUS teve que ser reconciliado com o pecador. Essa idéia, entretanto é uma caricatura da verdadeira doutrina. Através das Escrituras vemos que é DEUS, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em prover expiação pelo homem. Foi DEUS quem vestiu nossos primeiros pais; é o Senhor quem ordena os sacrifícios expiatórios; foi DEUS quem enviou e deu seu Filho em sacrifício pela humanidade. O próprio DEUS é o Autor da redenção do homem. Ainda que sua majestade tenha sido ofendida pelo pecado do homem, sua santidade, naturalmente, deve reagir contra o pecado, contudo, ele não deseja que o pecador pereça (Ezeq. 33:11), e, sim, que se arrependa e seja salvo. Paulo não disse que DEUS foi reconciliado com o homem, mas sim que DEUS fez algo a fim de reconciliar consigo o homem. Esse ato de reconciliação é uma obra consumada; é uma obra realizada em beneficio dos homens, de maneira que, à vista de DEUS, o mundo inteiro está reconciliado. Resta somente que o evangelista a proclame e que o indivíduo a receba. A morte de CRISTO tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com DEUS; cada indivíduo deve torná-la real. Essa, em essência, é a mensagem do evangelho; a morte de CRISTO foi uma obra consumada de reconciliação, efetuada independente de nós, a um custo inestimável, para a qual são chamados os homens mediante um ministério de reconciliação.
     
    4. A eficácia da expiação.
    Que efeito tem para o homem a obra expiatória de CRISTO? Que produz ela em sua experiência?
    (a) Perdão da transgressão. Por meio de sua obra expiatória, JESUS CRISTO pagou a dívida que nos não podíamos saldar e assegurou a remissão dos pecados passados. Assim, o passado pecaminoso para o cristão não é mais aquele peso horrendo que conduzia, pois seus pecados foram apagados, carregados e cancelados. (João 1:29Efés. 1:7Heb. 9:22-28Apo. 1:5.) Começou a vida de novo, confiando em que os pecados do passado nunca o encontrarão no juízo. (João 1^:24.)
    (b) Livramento do pecado. Por meio da expiação o crente é liberto, não somente da culpa dos pecados, mas também pode ser liberto do poder do pecado. O assunto é tratado em Romanos, caps. 6 a 8. Paulo antecipa uma objeção que alguns dos seus oponentes judeus devem ter suscitado muitas vezes a saber, que se a pessoa fosse salva meramente por crer em JESUS, essa pessoa teria opinião leviana sobre o pecado, dizendo: "Se permanecermos no pecado, sua graça abundará" (Rom. 6:1). Paulo repudia tal pensamento e assinala que aquele que verdadeiramente crê em CRISTO, rompeu com o pecado. O rompimento tão decisivo que é descrito como "morte". A viva fé no Salvador crucificado resulta na crucificação da velha natureza pecaminosa. O homem que crê com todos os poderes de sua alma (é essa a verdadeira crença) que CRISTO morreu por seus pecados, terá uma tal convicção sobre a condição terrível do pecado, e o repudiará com todo o seu ser. A cruz significa a sentença de morte sobre o pecado. Mas o tentador está ativo e a natureza humana é fraca; por isso é necessária uma vigilância constante e uma crucificação diária dos impulsos pecaminosos. (Rom. 6:11.) E a vitória é assegurada "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rom. 6:14.) Isto é, a lei significa que algo deve ser feito pelo pecador; não podendo pagar a dívida ou cumprir a exigência da lei, ele permanece cativo pelo pecado. Por outro lado, graça significa que algo foi feito a favor do pecador... a obra consumada do Calvário. Conforme o pecador crê no que foi feito a seu favor, assim ele recebe o que foi feito. Sua fé tem um poderoso aliado na Pessoa do ESPÍRITO SANTO, que habita nele. O ESPÍRITO SANTO ajuda-o a repudiar as tendências pecaminosas; ajuda-o na oração e dá-lhe a certeza de sua liberdade e vitória como um filho de DEUS. (Rom. 8). Na verdade, CRISTO morreu para remover o obstáculo do pecado, para que o ESPÍRITO de DEUS possa entrar na vida humana (Gál. 3:1314). Sendo salvo pela graça de DEUS, revelada na cruz, o crente recebe uma experiência de purificação e vivificação espiritual (Tito 3: 5-7). Havendo morrido para a antiga vida de pecado, a pessoa nasce de novo, para uma nova vida... nasce da água (experimentando a purificação) e nasce do ESPÍRITO (recebendo a vida divina). (João 3:5.)
    (c) Libertação da morte. A morte tem um significado tanto físico como espiritual. No sentido físico denota a cessação da vida física, conseqüente de enfermidade, decadência natural ou de causa violenta. é porém, mais usada no sentido espiritual, isto é, como o castigo imposto por DEUS sobre o pecado humano. A palavra expressa a condição espiritual de separação de DEUS e do desagrado divino por causa do pecado. O impenitente que morrer fora do favor de DEUS permanecerá eternamente separado dele no outro mundo, sendo conhecida essa separação como a "segunda morte". Este aviso: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás", não se teria cumprido se a morte fosse apenas o ato físico de morrer, pois Adão e Eva continuaram a viver depois daquele dia. Mas o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra "morte" implicava todas as conseqüências penais do pecado — separação de DEUS, iniqüidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas conseqüências. Quando as Escrituras dizem que CRISTO morreu por nossos pecados, querem dizer que CRISTO se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para que, pela graça de DEUS, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento.
    Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expiação à simplicidade de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e CRISTO deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer. Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento interno da presença de DEUS; são palavras de Um que efetuou um ato que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.) Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte física (Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e esta se toma uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido JESUS afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).
    (d) O dom da vida eterna. CRISTO morreu para que nos não perecêssemos (a palavra é usada no sentido bíblico de ruína espiritual), mas "tenhamos a vida eterna" (João 3:14-16. Vide Rom. 6;23.) A vida eterna significa mais do que mera existência; significa vida no favor de DEUS e comunhão com ele. Morto em transgressões e pecados, o homem está fora do favor de DEUS; pelo sacrifício de CRISTO, o pecado é expiado e ele restaurado à plena comunhão com DEUS. Estar no favor de DEUS e em comunhão com ele é ter vida eterna, pois é a vida com ele que é o Eterno. Essa vida é possuída agora porque os crentes estão em comunhão com DEUS; a vida eterna é descrita como futura (Tito 1:2Rom. 6:22), porque a vida futura trará perfeita comunhão com DEUS. "E verão o seu rosto" (Apo. 22:4).
    (e) A vida vitoriosa. A cruz é o dínamo que produz no coração humano essa resposta que constitui a vida cristã. A expressão "eu viverei para ele que morreu por mim", diz bem o dinamismo da cruz. A vida cristã é a reação da alma ante o amor de CRISTO. A cruz de CRISTO inspira o verdadeiro arrependimento, o qual é arrependimento para com DEUS. O pecado muitas vezes é seguido de remorso, vergonha e ira; mas somente quando houver tristeza por ter ofendido a DEUS, há verdadeiro arrependimento. Esse conhecimento interno não se produz por vontade própria, pois a própria natureza do pecado tende a obscurecer a mente e a endurecer o coração. O pecador precisa de um motivo poderoso para arrepender-se — algo que o faça ver e sentir que seu pecado ofendeu e injuriou profundamente a DEUS. Mas o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra "morte" implicava todas as conseqüências penais do pecado — separação de DEUS, iniqüidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas conseqüências. Quando as Escrituras dizem que CRISTO morreu por nossos pecados, querem dizer que CRISTO se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para que, pela graça de DEUS, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento.
    Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expia ao à simplicidade de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e CRISTO deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer. Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento interno da presença de DEUS; são palavras de Um que efetuou um ato que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.)
    Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte física (Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e esta se torna uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido JESUS afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).A cruz de CRISTO fornece esse motivo, pois ela demonstra a natureza horrenda do pecado, pelo fato de ter causado a morte do Filho de DEUS. Ela declara o terrível castigo sobre o pecado; mas revela também o amor e a graça de DEUS. Está muito certo o que alguém disse: "Todos os verdadeiros penitentes são filhos da cruz. Seu arrependimento não é deles mesmos; é a reação para com DEUS produzida em suas almas pela demonstração do que o pecado é para ele, e o que faz o seu amor para alcançar e ganhar os pecadores."
    Está escrito acerca de certos santos que vieram da grande tribulação, que "Lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro" (Apoc. 7:14). A referência é ao poder santificador da morte de CRISTO. Eles haviam resistido ao pecado, e agora eram puros. De onde receberam a força para vencer o pecado? O poder do amor de CRISTO revelado no Calvário os constrangeu. O poder da cruz, descendo em seus corações, os capacitou para vencerem o pecado. (Vide Gál. 2:20.) "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte" (Apoc. 12:11). O amor de DEUS os constrangeu e ajudou-os a vencer. A pressão sobre eles foi grande, mas, com o sangue do Cordeiro como o motivo que os impulsionava, eram invencíveis. "Tendo em vista a cruz sobre a qual JESUS morreu, não puderam "trair sua causa pela covardia, e não amaram mais as suas vidas do que ele amou a sua. Eles pertenciam a CRISTO, como ele pertencia a eles".
    A vida vitoriosa inclui a vitória sobre Satanás. O Novo Testamento declara que CRISTO venceu os demônios. (Luc. 10:17-20João 12:313214:30Col. 2:15Heb. 2:1415Apoc. 12: 11.) Os crentes têm a vitória sobre o diabo enquanto tiverem o Vencedor sobre o diabo!
     
    VI.  A natureza da salvação
    O assunto desta secção será: Que é que constitui a salvação, ou "estado de graça"?
     
    1. Três aspectos da salvação.
    Há três aspectos da salvação, e cada qual se caracteriza por uma palavra que define ou ilustra cada aspecto:
    (a) Justificação é um termo forense que nos faz lembrar um tribunal. O homem, culpado e condenado, perante DEUS, é absolvido e declarado justo — isto é, justificado.
    (b) Regeneração (a experiência subjetiva) e Adoção (o privilégio objetivo) sugerem uma cena familiar. A alma, morta em transgressões e ofensas, precisa duma nova vida, sendo esta concedida por um ato divino de regeneração. A pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de DEUS e membro de sua família.
    (c) A palavra santificação sugere uma cena do templo, pois essa palavra relaciona-se com o culto a DEUS. Harmonizadas suas relações com a lei de DEUS e tendo recebido uma nova vida, a pessoa, dessa hora em diante, dedica-se ao serviço de DEUS. Comprado por elevado preço, já não é dono de si; não mais se afasta do templo (figurativamente falando), mas serve a DEUS de dia e de noite. (Luc. 2:37.) Tal pessoa é santificada e por sua própria vontade entrega-se a DEUS.
    O homem salvo, portanto, é aquele cuja vida foi harmonizada com DEUS, foi adotado na família divina, e agora dedica-se a servi-lo. Em outras palavras, sua experiência da salvação, ou seu estado de graça, consiste em justificação, regeneração (e adoção), e santificação. Sendo justificado, ele pertence aos justos; sendo regenerado, ele é filho de DEUS; sendo santificado, ele é "santo" (literalmente uma pessoa santa).
    São essas bênçãos simultâneas ou consecutivas? Existe, de fato, uma ordem lógica: o pecador harmoniza-se, primeiramente, perante a lei de DEUS; sua vida é desordenada; precisa ser transformada. Ele vivia para o pecado e para o mundo e, portanto, precisa separar-se para uma nova vida, para servir a DEUS. Ao mesmo tempo as três experiências são simultâneas no sentido de que, na prática, não se separam. Nós as separamos para poder estudá-las. As três constituem a plena salvação. À mudança exterior, ou legal, chamada justificação, segue-se a mudança subjetiva chamada regeneração, e esta , por sua vez, é seguida por dedicação ao serviço de DEUS. Não concordamos em que a pessoa verdadeiramente justificada não seja regenerada; nem admitimos que a pessoa verdadeiramente regenerada não seja santificada (embora seja possível, na prática, uma pessoa salva, às vezes, violar a sua consagração). Não pode haver plena salvação \ sem essas três experiências, como não pode haver um triângulo sem três lados. Representam elas o tríplice fundamento sobre o qual se baseia subseqüente vida cristã. Começando com esses três princípios, progride a vida cristã em direção à perfeição.
    Essa tríplice distinção regula a linguagem do Novo Testamento em seus mínimos detalhes. Ilustremos assim:
    (a) Em relação à justificação: DEUS é o Juiz, e CRISTO é o Advogado; o pecado é a transgressão da lei; a expiação é a satisfação dessa lei; o arrependimento é convicção; aceitação traz perdão ou remissão dos pecados; o ESPÍRITO testifica do perdão; a vida cristã é obediência e sua perfeição é o cumprimento da lei da justiça.
    (b) A salvação é também uma nova vida em CRISTO. Em relação a essa nova vida, DEUS é o Pai (Aquele que gera), CRISTO é o Irmão mais velho e a vida; o pecado é obstinação, é a escolha da nossa própria vontade em lugar da vontade do Chefe da família; expiação é reconciliação; aceitação é adoção; renovação de vida é regeneração, é ser nascido de novo; a vida cristã significa a crucificação e mortificação da velha natureza, a qual se opõe ao aparecimento da nova natureza, e a perfeição dessa nova vida é o reflexo perfeito da imagem de CRISTO, o unigênito Filho de DEUS.
    (c) A vida cristã é a vida dedicada ao culto e ao serviço de DEUS, isto é, a vida santificada. Em relação a essa Vida santificada, DEUS é o SANTO; CRISTO é o sumo sacerdote; o pecado é a impureza; o arrependimento é a consciência dessa impureza; a expiação é o sacrifício expiatório ou substitutivo; a vida cristã é a dedicação sobre o altar (Rom. 12:1); e a perfeição desse aspecto é a inteira separação do pecado; separação para DEUS.
    E essas três bênçãos da graça foram providas pela morte expiatória de CRISTO, e as virtudes dessa morte são concedidas ao homem pelo ESPÍRITO SANTO. Quanto à satisfação das reivindicações da lei, a expiação proveu o perdão e a justiça para o homem. Abolindo a barreira existente entre DEUS e o homem, ela possibilitou a nossa vida regenerada. Como sacrifício pela purificação do pecado, seus benefícios são santificação e pureza.
    Notemos que essas três bênçãos fluem da nossa união com CRISTO. O crente é um com CRISTO, em virtude de sua morte expiatória e em virtude do seu ESPÍRITO vivificante. Tornamo-nos justiça de DEUS nele, (2 Cor. 5:21); por ele temos perdão dos pecados (Efés. 1:7); nele somos novas criaturas, nascidos de novo, com nova vida (2 Cor. 5:17); nele somos santificados (1Cor. 1:2), e ele é feito para nós santificação (1Cor. 1:30). Ele é "autor da salvação eterna".
     
    2. Salvação - externa e interna.
    A Salvação é tanto objetiva (externa) como subjetiva (interna).
    (a) A justiça, em primeiro lugar, é mudança de posição, mas é acompanhada por mudança de condições. A justiça tanto é imputada com também conferida.
    (b) A adoção refere-se a conferir o privilégio da divina filiação; a regeneração trata da vida interna que corresponde à nossa chamada e que nos faz "participantes da natureza divina".
    (c) A santificação é tanto externa como interna. De modo externo é separação do pecado e dedicação a DEUS; de modo interno é purificação do pecado.
    O aspecto externo da graça é provido pela obra expiatória de CRISTO; o aspecto interno é a operação do ESPÍRITO SANTO.
     
    3. Condições da salvação.
    Que significa a expressão condições da salvação? Significa o que DEUS exige do homem a quem ele aceita por causa de CRISTO e a quem dispensa as bênçãos do Evangelho da graça.
    As Escrituras apresentam o arrependimento e a fé como condições da salvação; o batismo nas águas é mencionado como símbolo exterior da fé interior do convertido. (Mar. 16:16Atos 22: 1616:312:383:19.)
    Abandonar o pecado e buscar a DEUS são as condições e os preparativos para a salvação. Estritamente falando, não há mérito nem no arrependimento nem na fé; pois tudo quanto é necessário para a salvação já foi providenciado a favor do penitente. Pelo arrependimento o penitente remove os obstáculos à recepção do dom; pela fé ele aceita o dom. Mas, embora sejam obrigatórios o arrependimento e a fé, sendo mandamentos, é implícita a influência ajudadora do ESPÍRITO SANTO. (Notem a expressão: "Deu DEUS o arrependimento" Atos 11:18.) A blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO afasta o único que pode comover o coração e levá-lo à contrição. Por conseguinte, para tal pecado não há perdão.
    Qual é a diferença entre o arrependimento e a fé? A fé é o instrumento pelo qual recebemos a salvação, fato que não se dá com o arrependimento. O arrependimento ocupa-se com o pecado e o remorso, enquanto a fé ocupa-se com a misericórdia de DEUS.
    Pode haver fé sem arrependimento? Não. Só o penitente sente a necessidade do Salvador e deseja a salvação de sua alma.
    Pode haver arrependimento verdadeiro sem fé? Ninguém poderá arrepender-se no sentido bíblico sem fé na Palavra de DEUS, sem acreditar em suas ameaças do juízo e em suas promessas de salvação.
    São a fé e o arrependimento apenas medidas preparatórias à salvação? Ambos acompanham o crente durante sua vida cristã; o arrependimento torna-se em zelo pela purificação da alma; e a fé opera pelo amor e continua a receber as coisas de DEUS.
    (a) Arrependimento. Alguém definiu o arrependimento das seguintes maneiras: "A verdadeira tristeza sobre o pecado, incluindo um esforço sincero para abandoná-lo"; "tristeza piedosa pelo pecado"; "convicção da culpa produzida pelo ESPÍRITO SANTO ao aplicar a lei divina ao coração"; ou, nas palavras de menino: "Sentir tristeza a ponto de deixar o pecado."
    Ha três elementos que constituem o arrependimento segundo as Escrituras: intelectual, emocional e prático. Podemos ilustrá-los da seguinte maneira: (1) O viajante que descobre estar viajando em trem errado. Esse conhecimento corresponde ao elemento intelectual pelo qual a pessoa compreende, mediante a pregação da Palavra, que não está em harmonia com DEUS. (2) O viajante fica perturbado com a descoberta. Talvez alimente certos receios. Isso ilustra o lado emocional do arrependimento, que é uma auto-acusação e tristeza sincera por ter ofendido a DEUS. (2 Cor. 7:10) (3) Na primeira oportunidade o viajante deixa esse trem e embarca no trem certo. Isso ilustra o lado prático do arrependimento, que significa em "meia-volta.. . volver!" e marchar em direção a DEUS. Há uma palavra grega traduzida "arrependimento", que significa literalmente "mudar de idéia ou de propósito". O pecador arrependido se propõe mudar de vida e voltar-se para DEUS; o resultado prático é que ele produz frutos dignos do arrependimento. (Mat. 3:8.)
    O arrependimento honra a lei como a fé honra o evangelho. Como, pois, o arrependimento honra a lei? Contristado, o homem lamenta ter-se afastado do santo mandamento, como também lamenta sua impureza pessoal que, à luz dessa lei, ele compreende. Confessando — ele admite a justiça da sentença divina. Na correção de sua vida ele abandona o pecado e faz a reparação possível e necessária, de acordo com as circunstâncias.
    De que maneira o ESPÍRITO SANTO ajuda a pessoa a arrepender-se? Ele a ajuda aplicando a Palavra de DEUS à consciência, comovendo o coração e fortalecendo o desejo de abandonar o pecado.
    (b) Fé. Fé, no sentido bíblico, significa crer e confiar. É o assentimento do intelecto com o consentimento da vontade. Quanto ao intelecto, consiste na crença de certas verdades reveladas concernentes a DEUS e a CRISTO; quanto à vontade, consiste na aceitação dessas verdades como princípios diretrizes da vida. A fé intelectual não é o suficiente (Tia. 2:19Atos 8:1321) para adquirir a salvação. É possível dar seu assentimento intelectual ao Evangelho sem, contudo, entregar-se a CRISTO. A fé oriunda do coração é o essencial (Rom. 10:9). Fé intelectual significa reconhecer como verídicos os fatos do evangelho; fé provinda do coração significa a pronta dedicação da própria vida as obrigações implícitas nesses fatos. Fé, no sentido de confiança, implica também o elemento emocional. Por conseguinte, a fé que salva representa um ato da inteira personalidade, que envolve o intelecto, as emoções e a vontade.
    O significado da fé determina-se pela maneira como se emprega a palavra no original grego. Fé, às vezes, significa não somente crer em um corpo de doutrinas, mas, sim, crer em tudo quanto é verdade, como, por exemplo nas seguintes expressões: "Anuncia agora a fé que antes destruía
    (Gál. 1:23); apostatarão alguns da fé" (1 Tim. 4:1); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jud. 3). Essa fé é denominada, às vezes, "fé objetiva" ou externa. O ato de crer nessas verdades é conhecido como fé subjetiva.
    Seguida por certas preposições gregas a palavra "crer" exprime a idéia de repousar ou apoiar-se sobre um firme fundamento; é o sentido da palavra crer que se lê no Evangelho de João 3:16. Seguida por outra preposição, a palavra significa a confiança que faz unir a pessoa ao objeto de sua fé. Portanto, te e o elo de conexão entre a alma e CRISTO.
    A fé é atividade humana ou divina? O fato de que ao homem e ordenado crer implica capacidade e obrigação de crer. Todos os homens tem a capacidade de depositar sua confiança em alguém e em alguma coisa. Por exemplo: um deposita sua fé em riquezas, outro no homem, outro em amigos, etc. Quando a crença e depositada na palavra de DEUS, e a confiança está em DEUS e em CRISTO, isso constitui fé que salva. Contudo, reconhecemos a graça do ESPÍRITO SANTO, que ajuda, em cooperação com a Palavra, na produção dessa fé (Vide João 6:44Rom. 10:17Gál. 5:22Heb. 12:2.)
    Que é então, a fé que salva? Eis algumas definições: "Fé em CRISTO e graça salvadora pela qual o recebemos e nele confiamos inteiramente para receber a salvação conforme nos é oferecida no evangelho." E o "ato exclusivamente do penitente, ajudado, de modo especial, pelo ESPÍRITO, e como descansando em CRISTO." "É ato ou hábito mental da parte do penitente, pelo qual, sob a influencia da graça divina, a pessoa põe sua confiança em CRISTO como seu único e todo suficiente Salvador." "É uma firme confiança em que CRISTO morreu pelos meus pecados, que ele me amou e deu-se a si mesmo por mim." "E crer e confiar nos méritos de CRISTO, e por cuja cousa DEUS está disposto a mostrar-nos misericórdia." "É a fuga do pecador penitente para a misericórdia de DEUS em cristo.
     
    4. Conversão.
    Conversão, segundo a definição mais simples, é abandonar o pecado e aproximar-se de DEUS. (Atos 3:19.) O termo é usado para exprimir tanto o período crítico em que o pecador volta aos caminhos da justiça como também para expressar o arrependimento de alguma transgressão por parte de quem já se encontra nos caminhos da justiça. (Mat. 18:3Luc. 22:32Tia. 5:20.)
    A conversão está muito relacionada com o arrependimento e a te, e, ocasionalmente, representa tanto um como outro ou ambos, no sentido de englobar todas as atividades pelas quais o homem abandona o pecado e se aproxima de DEUS. (Atos 3:1911:211 Ped. 2:25.) O Catecismo de Westminster, em resposta à sua própria pergunta, oferece a seguinte e adequada definição de conversão:
     
    Que é arrependimento para a vida?
    Arrependimento para a vida é graça salvadora, pela qual o pecador, sentindo verdadeiramente o seu pecado , e lançando mão da misericórdia de DEUS em CRISTO, e sentindo tristeza por causa do seu pecado e ódio contra ele, abandona-o e aproxima-se de DEUS, fazendo o firme propósito de, daí em diante, ser obediente a DEUS.
    Note-se que, segundo essa definição, a conversão envolve a personalidade toda — intelecto, emoções e vontade.
    Como se distingue conversão de salvação? A conversão descreve o lado humano da salvação. Por exemplo: observa-se que um pecador, bêbado notório, não bebe mais, nem joga, nem freqüenta lugares suspeitos; ele odeia as coisas que antes amava e ama as coisas que outrora odiava. Seus amigos dizem: "Ele está convertido; mudou de vida." Essas pessoas estão descrevendo o que aparece, isto é, o lado humano do fato. Mas, do lado divino, diríamos que DEUS perdoou o pecado do pecador e lhe deu um novo coração.
    Mas isso significa que a conversão seja inteiramente uma questão de esforço humano? Como a fé e o arrependimento estão inclusos na conversão, a conversão é uma atividade humana; mas ao mesmo tempo é um efeito sobrenatural sendo ela a reação por parte do homem ante o poder atrativo da graça de DEUS e da sua Palavra. Portanto, a conversão é o resultado da cooperação das atividades divinas e humanas. "Assim também operai a vossa salvação com temor e tremor; porque DEUS é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar segundo a sua boa vontade" (Fp 2:12,13). As seguintes passagens referem-se ao lado divino da conversão: Jer. 31:18Atos 3:26. E estas outras referem-se ao lado humano: Atos 3:1911:18Ezeq. 33:11.
    Qual se opera primeiro, a regeneração ou a conversão? As operações que envolvem a conversão são profundas e de caráter misterioso; por conseguinte, não as analisaremos com precisão matemática. O teólogo Dr. Strong conta o caso de um candidato à ordenação a quem fizeram a pergunta acima. Ele respondeu: "Regeneração e conversão são como a bala do canhão e o furo do cano do canhão — ambos atravessam o cano juntos."
     
    VII. A Justificação
     
    1. Natureza da justificação: absolvição divina.
    A palavra "justificar" é termo judicial que significa absolver, declarar justo, ou pronunciar sentença de aceitação. A ilustração procede das relações legais. O réu está perante DEUS, o justo Juiz; mas, ao invés de receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição.
    O substantivo "justificação" ou "justiça", significa o estado de aceitação para o qual se entra pela fé. Essa aceitação é dom gratuito da parte de DEUS, posto à nossa disposição pela fé em CRISTO. (Rom. 1:173:21,22.) É o estado de aceitação no qual o crente permanece (Rom. 5:2). Apesar de seu passado pecaminoso e de imperfeições no presente, o crente goza de completa e segura posição para com DEUS. "Justificado" é o veredito divino e ninguém o poderá contradizer. (Rom. 8:34.) Essa doutrina assim se define: "Justificação é um ato da livre graça de DEUS pelo qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos aos seus olhos somente por nos ser imputada a justiça de CRISTO, que se recebe pela fé."
    Justificação é primeiramente uma mudança de posição da parte do pecador, o qual antes era um condenado; agora, porém, goza de absolvição. Antes estava sob a condenação, mas agora participa da divina aprovação.
    Justificação inclui mais do que perdão dos pecados e remoção da condenação, pois no ato da justificação DEUS coloca o ofensor na posição de justo. O presidente da República pode perdoar o criminoso, mas não pode reintegrá-lo na posição daquele que nunca desrespeitou as leis. Mas a DEUS é possível efetuar ambas as coisas! Ele apaga o passado, os pecados e ofensas, e, em seguida, trata o ofensor como se nunca tivesse cometido um pecado sequer! O criminoso perdoado não é considerado ou descrito como bom ou justo; mas DEUS, ao perdoar o pecador, o declara justificado, isto é, justo aos olhos divinos. Juiz algum poderia justificar o criminoso, isto é, declará-lo homem justo e bom. Se DEUS estivesse sujeito às mesmas limitações e justificasse somente gente boa, então não haveria evangelho nenhum a ser anunciado aos pecadores. Paulo nos assegura que DEUS justifica o ímpio. "O milagre do Evangelho é que DEUS se aproxima dos ímpios, com uma misericórdia absolutamente justa e os capacita pela fé, a despeito do que são, a entrarem em nova relação com ele, relação pela qual é possível que se tomem bons. O segredo do Cristianismo do Novo Testamento, e de todos os avivamentos e reformas da igreja, é justamente este maravilhoso paradoxo: "DEUS justifica o ímpio!"
    Assim vemos que justificação é primeiramente subtração — o cancelamento dos pecados; segundo, adição — imputação de justiça.
     
    2. Necessidade da Justificação: a condenação do homem.
    "Como se justificará o homem para com DEUS?" perguntou Jó 9:2. "Que é necessário que eu faça para me salvar?" interrogou o carcereiro de Filipos. Ambos expressaram a maior de todas as perguntas: Como pode o homem acertar sua vida perante DEUS e ter certeza da aprovação divina?
    A resposta a essa interrogação encontra-se no Novo Testamento, especialmente na epístola aos Romanos, na qual se apresenta, em forma sistemática e detalhada, o plano da salvação. O tema do livro encontra-se no capítulo 1:16,17, o qual se pode parafrasear da seguinte maneira: O evangelho é o poder de DEUS para a salvação dos homens, pois o evangelho revela aos homens como se pode mudar de posição e de condição, de maneira que eles sejam justos perante DEUS.
    Uma das frases proeminentes da mesma epístola é: "A justiça de DEUS." O inspirado apóstolo descreve a qualidade de justiça que DEUS aceita, de forma que o homem que a possui tenha aceitação como justo perante ele. Essa justiça resulta da fé em CRISTO. Paulo demonstra que todos os homens necessitam dessa justiça de DEUS, porque toda a raça pecou. Os gentios estão sob condenação. Os passos de sua degradação foram claros: outrora conheceram a DEUS (1:19,20); falhando em o servirem e adorarem, seu coração insensato se obscureceu Rm 1:21,22; a cegueira espiritual os conduziu à idolatria (Rm 1: 23) e a idolatria os conduziu à corrupção moral (vers. 24-31). São indesculpáveis porque tinham a revelação de DEUS na natureza, e a consciência que aprova ou desaprova seus atos. (Rom. 1:19,202:14,15.) O judeu também está sob condenação. É verdade que ele pertence à nação escolhida, e conhece a lei de Moisés de há muitos séculos, mas transgrediu essa lei em pensamentos, atos e palavras (cap. 2). Paulo, assim, estrondosamente, encerra toda a raça humana sob a condenação: "Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de DEUS. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rom. 3:19,20).
    Qual será essa "justiça" de que tanto necessita o homem? A própria palavra significa "retidão", ou estado de reto, ou justo. A palavra às vezes descreve o caráter de DEUS, como sendo isento de toda imperfeição ou injustiça. Quando aplicada ao homem, significa o estado de retidão diante de DEUS. Retidão significa "reto", aquilo que se conforma a um padrão ou norma. Por conseguinte, é o homem que se conforma à lei divina. Mas que acontecerá se esse homem descobrir que, em vez de ser "reto", ele é perverso (literalmente "torto") sem poder se endireitar? É então que ele precisa da justificação — que é obra exclusiva de DEUS.
    Paulo declarou que pelas obras da lei ninguém será justificado. Essa declaração não é uma crítica contra a lei, a qual é santa e perfeita. Significa simplesmente que a lei não foi dada com esse propósito de fazer justo o povo, e, sim, de suprir a necessidade duma norma de justiça. A lei pode ser comparada a uma fita métrica que pode medir o comprimento do pano, sem, contudo, aumentar o comprimento. Podemos compará-la à balança que determina o nosso peso, sem, contudo, aumentar esse peso. "Pela lei vem o conhecimento do pecado."
    "Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de DEUS" (Rom. 3:21). Notem a palavra "agora". Alguém disse que Paulo dividiu todo o tempo em "agora" e "depois". Em outras palavras, a vinda de CRISTO operou uma grande mudança nas transações de DEUS com os homens. Introduziu uma nova dispensação. Durante séculos os homens pecavam e aprendiam a impossibilidade de aniquilarem ou vencerem seus pecados. Mas agora DEUS, clara e abertamente, revelou-lhes um novo caminho.
    Muitos israelitas julgavam que devia haver um meio de serem justificados sem ser pela guarda da lei; por duas razões: 1) perceberam um grande abismo entre as exigências de DEUS para com Israel e seu verdadeiro estado espiritual. Israel era injusto, e a salvação não podia proceder dos próprios méritos ou esforços. A salvação teria que proceder de DEUS, por sua intervenção. 2) Muitos israelitas reconheceram por experiência própria sua incapacidade para guardar perfeitamente a lei. Chegaram à conclusão de que devia haver uma justiça alcançável independentemente de suas próprias obras e esforços. Em outras palavras,-anelavam por redenção e graça. E DEUS lhes assegurou que tal justiça lhes seria revelada. Paulo (Rom. 3:21) fala da justiça de DEUS sem a lei, "tendo o testemunho da lei (Gên. 3:1512:3Gál. 3:6-8) e dos profetas (Jer. 23:631:31-34)". Essa justiça incluía tanto o perdão dos pecados como a justiça íntima do coração.
    Na verdade, Paulo afirma que a justificação pela fé foi o plano original de DEUS para a salvação dos homens; a lei foi acrescentada para disciplinar os israelitas e fazê-los sentir a necessidade de redenção. (Gál. 3:19-26.) Mas a lei em si não possuía poder para salvar, como o termômetro não tem poder para baixar a febre que ele registra. Seria o próprio Senhor, o Salvador do seu povo; e sua graça seria a sua única esperança.
    Infelizmente, os judeus exaltaram a lei, imaginando que ela fosse um agente justificador, e elaboraram um plano de salvação baseado no mérito pela guarda dos seus preceitos e das tradições que lhes foram acrescentadas. "Porquanto, não conhecendo a justiça de DEUS, e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de DEUS" (Rom. 10:3). Não conheceram o propósito da lei. Confiaram nela como meio de salvação espiritual, ignorando a pecabilidade dos seus próprios corações, e imaginavam que seriam salvos pela guarda da letra da lei. Por essa razão, quando CRISTO veio, oferecendo-lhes a salvação dos seus pecados, pensavam que não precisavam dum Messias como ele. (vide João 8:32-34.) O pensamento dos judeus era o de estabelecer rígidos requisitos pelos quais conseguiriam a vida eterna. "Que faremos para executarmos as obras de DEUS?" perguntaram. E não se prontificaram a obedecer à indicação de JESUS: "A obra de DEUS é esta: Que creiais naquele que ele enviou" (João 6:28,29). Tão ocupados estavam em estabelecer seu próprio sistema de justiça, que perderam, por completo, a oportunidade de serem participantes da justificação divinamente provida para os homens pecadores. Na viagem, um trem representa o meio de conseguir um determinado alvo. Ninguém pensa em fazer do trem sua morada; antes, preocupa-se tão somente em chegar ao destino. Ao chegar a esse destino, deixa-se o trem. A lei foi dada a Israel com o propósito de conduzi-lo a um destino, e esse destino é a fé na graça salvadora de DEUS. Mas, ao aparecer o Redentor, os judeus satisfeitos consigo mesmos, fizeram o papel do viajante que, chegando ao destino, se recusa a deixar o trem, embora o condutor lhe diga: "Estamos no fim da viagem"! Os judeus se recusaram a deixar as poltronas do "trem do Antigo Pacto", muito embora o Novo Testamento lhes assegurasse: "O fim da lei é CRISTO", e que se cumpriu o Antigo Testamento. (Rom. 10:4.)
     
    3. A fonte da justificação: a graça.
    Graça significa, primeiramente, favor, ou a disposição bondosa da parte de DEUS. Alguém a definiu como a "bondade genuína e favor não recompensados", ou "favor não merecido". Dessa forma a graça nunca incorre em dívida. O que DEUS concede, concede-o como favor; nunca podemos recompensá-lo ou pagar-lhe. A salvação é sempre apresentada como dom, um favor não merecido, impossível de ser recompensado; é um benefício legítimo de DEUS. (Rom. 6:23) O serviço cristão portanto, não é pagamento pela graça de DEUS; serviço cristão é um meio que o crente aproveita para expressar sua devoção e amor a DEUS. "Nós o amamos porque ele primeiramente nos amou."
    A graça é transação de DEUS com o homem, absolutamente independente da questão de merecer ou não merecer. "Graça não é tratar a pessoa como merece, nem tratá-la melhor do que merece", escreveu L. S. Chafer. "E tratá-la graciosamente sem a mínima referência aos seus méritos. Graça é amor infinito expressando-se em bondade infinita."
    Devemos evitar certo mal-entendido. Graça não significa que DEUS é de coração tão magnânimo que abranda a penalidade ou desiste dum justo juízo.
    Sendo DEUS o Soberano perfeito do universo, ele não pode tratar indulgentemente o assunto do pecado pois isso depreciaria sua perfeita santidade e justiça. A graça de DEUS aos pecadores revela-se no fato de que ele mesmo pela expiação de CRISTO, pagou toda a pena do pecado. Por conseguinte, ele pode justamente perdoar o pecado sem levar em conta os merecimentos ou não merecimentos. Os pecadores são perdoados, não porque DEUS seja benigno para desculpar os pecados deles, mas porque existe redenção mediante o sangue de CRISTO. (Rom. 3:24Efés. 1:6.) Os pregadores modernistas erram nesse ponto; pensam que DEUS por sua benignidade perdoa os pecados; entretanto, seu perdão baseia-se na mais rigorosa justiça. Ao perdoar o pecado, "Ele é fiel e justo" (1 João 1:9). A graça de DEUS revela-se no fato de haver ele provido uma expiação pela qual pode ser justo e justificador e, ao mesmo tempo, manter sua santa e imutável lei. A graça manifesta-se independente das obras ou atividades dos homens. Quando a pessoa está sob a lei, não pode estar sob a graça; e quando está sob a graça, não pode estar sob a lei. Está "sob a lei" quando tenta assegurar a sua salvação ou santificação como recompensa, por fazer boas obras ou observar certas cerimônias. Essa pessoa está "sob a graça" quando assegura para si a salvação por confiar na obra que DEUS fez por ela, e não na obra que ela faz para DEUS. As duas esferas são mutuamente exclusivas. (Gál. 5:4.) A lei diz: "paga tudo"; mas a graça diz: "Tudo está pago." A lei representa uma obra a fazer; a graça é uma obra consumada. A lei restringe as ações; a graça transforma a natureza. A lei condena; a graça justifica. Sob a lei a pessoa é servo assalariado; sob a graça é filho em gozo de herança ilimitada.
    Enraizada no coração humano está a idéia de que o homem deve algo para tornar-se merecedor da salvação. Na igreja primitiva certos instrutores judaico-cristãos insistiam em que os convertidos fossem salvos pela fé e a observância da Lei de Moisés. Entre os pagãos, e em alguns setores da igreja cristã, esse erro tem tomado a forma de auto-castigo, observância de ritos, peregrinações, e esmolas. A idéia substancial de todos esses esforços é a seguinte: DEUS não é bondoso; o homem não é justo; por conseguinte, o homem precisa fazer-se justo a fim de tornar DEUS benigno. Esse foi o erro de Lutero, quando, mediante automortificações, envidava esforços para efetuar a sua própria salvação. "Oh quando será que você se tornará piedoso a ponto de ter um DEUS benigno?" exclamou certa vez, referindo-se a si próprio. Finalmente Lutero descobriu a grande verdade básica do evangelho: DEUS é bondoso; portanto deseja fazer justo o homem. A graça do amoroso Pai, revelada na morte expiatória de CRISTO é um dos elementos que distinguem o Cristianismo das demais religiões.
    Salvação é a justiça de DEUS imputada ao pecador; não é a justiça imperfeita do homem. Salvação é divina reconciliação; não é regulamento humano. Salvação é o cancelamento de todos os pecados; não é eliminar alguns pecados. Salvação é ser libertado da lei e estar morto para a lei; não é ter prazer na lei ou obedecer á lei. Salvação é regeneração divina; não é reforma humana. Salvação é ser aceitável a DEUS; não é tornar-se excepcionalmente bom. Salvação é perfeição em CRISTO; não é competência de caráter. A salvação, sempre e somente, procede de DEUS; nunca procede do homem. — Lewis Sperry Chofer. Usa-se, às vezes, a palavra "graça", no sentido íntimo, para indicar a operação da influência divina (Efés. 4:7) e seus efeitos (Atos 4:3311:23Tia. 4:62 Cor. 12:9). As operações desse aspecto da graça têm sido classificadas da seguinte maneira: Graça proveniente (literalmente, "que vem antes") é a influência divina que precede a conversão da pessoa, influências que produzem o desejo de voltar para DEUS. É o efeito do favor divino em atrair os homens (João 6:44) e convencer os desobedientes. (Atos 7:51.) Essa graça, às vezes, é denominada eficiente, tornando-se eficaz em produzir a conversão, quando não encontra resistência. (João 5:40Atos 7:5113:46.) A graça efetiva capacita os homens a viverem justamente, a resistirem à tentação, e a cumprirem o seu dever. Por isso pedimos graça ao Senhor para cumprir uma determinada tarefa. A graça habitual é o efeito da morada do ESPÍRITO SANTO que resulta em uma vida plena do fruto do ESPÍRITO (Gál. 5:22,23).
     
    4. Fundamento da justificação: a justiça de CRISTO.
    Como pode DEUS tratar o pecador como pessoa justa? Resposta: DEUS lhe provê a justiça. Mas será que isso é apenas conceder o título de "bom" e "justo" a quem não o merece? Resposta: O Senhor JESUS CRISTO ganhou o título a favor do pecador, o qual é declarado justo "mediante a redenção que há em CRISTO JESUS". Redenção significa completa libertação por preço pago.
    CRISTO ganhou essa justiça por nós, por sua morte expiatória, como está escrito: "Ao qual DEUS propôs para propiciação pela fé no seu sangue." Propiciação é aquilo que assegura o favor de DEUS para com os que não o merecem. CRISTO morreu por nós para nos salvar da justa ira de DEUS e nos assegurar o seu favor. A morte e a ressurreição de CRISTO representam a provisão externa para a salvação do homem, referindo-se o termo justificação à maneira pela qual os benefícios salvadores da morte de CRISTO são postos à disposição do pecador. Fé é o meio pelo qual o pecador lança mão desses benefícios.
    Consideremos a necessidade de justiça. Como o corpo necessita de roupa, assim a alma necessita de caráter. Assim como é necessário apresentar-se em público decentemente vestido, assim é necessário que o homem se vista da roupa dum caráter perfeitamente justo para apresentar-se diante de DEUS. (Vide Apo. 19:83:47:13,14.) As vestes do pecado estão sujas e rasgadas (Zac. 3:1-4); se o pecador se vestisse de sua própria bondade e seus próprios méritos, alegando serem boas as suas obras, elas seriam consideradas como "trapos de imundícia". (Isa. 64:6.) A única esperança do homem é adquirir a justiça que DEUS aceita — a "justiça de DEUS". Visto que o homem por natureza está destituído dessa justiça, terá que ser provida para ele essa justiça; terá que ser uma justiça que lhe seja imputada, não merecida.
    Essa justiça foi comprada pela morte expiatória de CRISTO. (Isa. 53:5,112 Cor. 5:21Rom. 4:65:18,19.) Sua morte foi um ato perfeito de justiça, porque satisfez a lei de DEUS. Foi também um ato perfeito de obediência. Tudo isso foi feito por nós e posto a nosso crédito. "DEUS nos aceita como justos aos seus olhos somente por nos ter sido imputada a justiça de CRISTO", afirma determinada declaração doutrinária.
    O ato pelo qual DEUS credita essa justiça à nossa conta chama-se imputação. Imputação é levar à conta de alguém as conseqüências do ato de outrem. As conseqüências do pecado do homem foram levadas à conta de CRISTO, e as conseqüências da obediência de CRISTO foram levadas à conta do crente. Ele vestiu-se das vestes do pecado para que nós pudéssemos nos vestir do seu "manto de justiça". "CRISTO... para nós foi feito por DEUS... justiça" (1Cor. 1:30). Ele torna-se "O Senhor Justiça Nossa" (Jer. 23:6).
    CRISTO expiou nossa culpa, satisfez a lei, tanto por obediência como por sofrimento, e tornou-se nosso substituto, de maneira que, estando unidos com ele pela fé, sua morte toma-se nossa morte, e sua obediência toma-se nossa obediência. DEUS então nos aceita, não por qualquer bondade própria que nós tenhamos, nem pelas coisas imperfeitas que são as nossas "obras" (Rom. 3:28Gál. 2:16), nem por nossos méritos, mas porque nos foi creditada a perfeita e toda-suficiente justiça de CRISTO. Por causa de CRISTO, DEUS trata o homem culpado, quando este se arrepende e crê, como se fosse justo. Os méritos de CRISTO são creditados a ele.
    Também surgem as seguintes perguntas na mente da pessoa que investiga: sim, a justificação que salva é algo externo e concernente à posição legal do pecador; mas não haverá mudança alguma na condição moral? Afeta a sua situação, mas não afetará sua conduta? A justiça é imputada somente e não concedida de modo prático? Na justificação CRISTO somente será por nós, ou agirá também em nós? Em outras palavras, parece que a imputação da justiça desonraria a lei se não incluísse a certeza de justiça futura.
    A resposta é que a fé que justifica é o ato inicial da vida cristã e esse ato inicial, quando a fé for viva, é seguido por uma transformação interna conhecida como regeneração. A fé une o crente com o CRISTO vivo; essa união com o Autor da vida resulta em transformação do coração. "Se alguém está em CRISTO, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Cor. 5:17). A justiça é imputada no ato da justificação e é comunicada na regeneração. O CRISTO que é por nós torna-se o CRISTO em nós.
    A fé pela qual a pessoa é realmente justificada, necessariamente tem que ser uma fé viva. Uma fé viva produzirá uma vida reta; será uma fé que "opera pelo amor" (Gál. 5:6). Outrossim, vestindo a justiça de CRISTO, o crente é exortado a viver uma vida em conformidade com o caráter de CRISTO. "Porque o linho fino são as justiças dos santos" (literalmente os atos de justiça) (Apoc. 19:8). A verdadeira salvação requer uma vida de santidade prática. Que julgamento faríamos da pessoa que sempre se vestisse de roupa imaculada mas nunca lavasse o corpo? Incoerente, diríamos! Mas não menos incoerente é a pessoa que alega estar vestida da justiça de CRISTO, e, ao mesmo tempo, vive de modo indigno do evangelho. Aqueles que se vestem da justiça de CRISTO terão cuidado de purificar-se do mesmo modo como ele é puro. (1 João 3:3.)
     
    5. Os meios da justificação: a fé.
    Visto que a lei não pode justificá-lo, a única esperança do homem é receber "justiça sem lei" (isto, entretanto, não significa injustiça ilegal, nem tampouco religião que permita o pecado; significa sim, uma mudança de posição e condição). Essa é a "justiça de DEUS", isto é, a justiça que DEUS concede, sendo também um dom, pois o homem é incapaz de operar a justiça. (Efés. 2:8-10.)
    Mas um dom tem que ser aceito. Como, então, será aceito o dom da justiça? Ou, usando a linguagem teológica: qual é o instrumento que se apropria da justiça de CRISTO? A resposta é: "pela fé em JESUS CRISTO." A fé é a mão, por assim dizer, que recebe o que DEUS oferece. Que essa fé é a causa instrumental da justificação prova-se pelas seguintes referências: Rom. 3:224: 119:30Heb. 11:7Fil. 3:9.
    Os méritos de CRISTO são comunicados e seu interesse salvador é assegurado por certos meios. Esses meios necessariamente são estabelecidos por DEUS e somente ele os distribui. Esses meios são a fé — o princípio único que a graça de DEUS usa para restaurar-nos à sua imagem e ao seu favor. Nascida, como é, no pecado, herdeira da miséria, a alma carece duma transformação radical, tanto por dentro como por fora; tanto diante de DEUS como diante de si própria. A transformação diante de DEUS denomina-se justificação; a transformação interna espiritual que se segue, chama-se regeneração pelo ESPÍRITO SANTO. Esta fé é despertada no homem pela influência do ESPÍRITO SANTO, geralmente em
    conexão com a Palavra. A fé lança mão da promessa divina e apropria-se da salvação. Ela conduz a alma ao descanso em CRISTO como Salvador e Sacrifício pelos pecados; concede paz à consciência e dá esperança consoladora do céu. Sendo essa fé viva e de natureza espiritual, e cheia de gratidão para com CRISTO, ela é rica em boas obras de toda espécie.
    "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de DEUS. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efés. 2:8,9). O homem nenhuma coisa possuía com que comprar sua justificação. DEUS não podia condescender em aceitar o que o homem oferecia; o homem também não tinha capacidade para cumprir a exigência divina. Então DEUS graciosamente salvou o homem, sem pagar este coisa alguma —"gratuitamente pela sua graça" (Rom. 3:24). Essa graça gratuita é recebida pela fé. Não existe mérito nessa fé, como não cabem elogios ao mendigo que estende a mão para receber uma esmola. Esse método fere a dignidade do homem, mas perante DEUS, o homem decaído não tem mais dignidade; o homem não tem possibilidades de acumular bondade suficiente para adquirir a sua salvação. "Nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei" (Rom. 3:20).
    A doutrina da justificação pela graça de DEUS, mediante a fé do homem, remove dois perigos: primeiro, o orgulho de autojustiça e de auto-esforço; segundo, o medo de que a pessoa seja fraca demais para conseguir a salvação.
    Se a fé em si não é meritória, representando apenas a mão que se estende para receber a livre graça de DEUS, que é então que lhe dá poder, e que garantia oferece ela à pessoa que recebeu esse dom gratuito, de que viverá uma vida de justiça? Importante e poderosa é a fé porque ela une a alma a CRISTO, e é justamente nessa união que se descobre o motivo e o poder para a vida de justiça. "Porque todos quantos fostes batizados em CRISTO já vos revestistes de CRISTO"(Gál. 3:27). "E os que são de CRISTO crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências" (Gál. 5:24).
    A fé não só recebe passivamente mas também usa de modo ativo aquilo que DEUS concede. É assunto próprio do coração (Rom. 10:9,10; vide Mat. 15:19Prov. 4:23), e quem crê com o coração, crê também com suas emoções, afeições e seus desejos, ao aceitar a oferta divina da salvação. Pela fé, CRISTO mora no coração (Efés. 3:17). A fé opera pelo amor (a "obra da fé"... 1Tess. 1:3), isto é, representa um princípio enérgico, bem como uma atitude receptiva. A fé, por conseguinte, é poderoso motivo para a obediência e para todas as boas obras. A fé envolve a vontade e está ligada a todas as boas escolhas e ações, pois "tudo que não é de fé é pecado" (Rom. 14:23).Ela inclui a escolha e a busca da verdade (2 Tess. 2:12) e implica sujeição à justiça de DEUS (Rom. 10:3).
    O que se segue representa o ensino bíblico concernente à relação entre fé e obras. A fé se opõe às obras quando por obras entendemos boas obras que a pessoa faz com o intuito de merecer a salvação. (Gál. 3:11.) Entretanto, uma fé viva produzirá obras (Tia. 2:26), tal qual uma árvore viva produzirá frutos. A fé é justificada e aprovada pelas obras (Tia. 2:18), assim como o estado de saúde das raízes duma boa árvore é indicado pelos frutos. A fé se aperfeiçoa pelas obras (Tia. 2:22), assim como a flor se completa ao desabrochar. Em breves palavras, as obras são o resultado da fé, a prova da fé, e a consumação da fé.
    Imagina-se que haja contradição entre os ensinos de Paulo e de Tiago. O primeiro, aparentemente, teria ensinado que a pessoa é justificada pela fé, o último que ela é justificada pelas obras. (Vide Rom. 3:20 e Tia. 2:14-16.) Contudo, uma compreensão do sentido em que eles empregaram os termos, rapidamente fará desvanecer a suposta dificuldade. Paulo está recomendando uma fé viva que confia somente no Senhor; Tiago está denunciado uma fé morta e formal que representa, apenas, um consentimento mental. Paulo está rejeitando as obras mortas da lei, ou obras sem fé; Tiago está louvando as obras vivas que demonstram a vitalidade da fé. A justificação mencionada por Paulo refere-se ao início da vida cristã; Tiago usa a palavra com o significado de vida de obediência e santidade como evidência exterior da salvação. Paulo está combatendo o legalismo, ou a confiança nas obras como meio de salvação; Tiago está combatendo antinomianismo, ou seja, o ensino de que não importa qual seja a conduta da pessoa, uma vez que creia. Paulo e Tiago não são soldados lutando entre si; são soldados da mesma linha de combate, cada qual enfrentando inimigos que os atacam de direções opostas.
     
    VIII. A Regeneração
     
    1. Natureza da regeneração.
    A regeneração é o ato divino que concede ao penitente que crê uma vida nova e mais elevada mediante união pessoal com CRISTO. O Novo Testamento assim descreve a regeneração:
    (a) Nascimento. DEUS o pai é quem "gerou", e o crente é "nascido" de DEUS (1 João 5:1), "nascido do ESPÍRITO" (João 3:8), "nascido do alto" (tradução literal de João 3:3,7). Esses termos referem-se ao ato da graça criadora que faz do crente um filho de DEUS.
    (b) Purificação. DEUS nos salvou pela "lavagem" (literalmente, lavatório ou banho) da regeneração". (Tito 3:5.) A alma foi lavada completamente das imundícias da vida de outrora, recebendo novidade de vida, experiência simbolicamente expressa no ato de batismo. (Atos
    (c) Vivificação. Somos salvos não somente pela "lavagem da regeneração", nas também pela "renovação do ESPÍRITO SANTO" (Tito 3:5. Vide também Col. 3:10Rom. 12:2Efés. 4:23Sal. 51:10). A essência da regeneração é uma nova vida concedida por DEUS Pai, mediante JESUS CRISTO e pela operação do ESPÍRITO SANTO.
    (d) Criação. Aquele que criou o homem no princípio e soprou em suas narinas o fôlego de vida, o recria pela operação do seu ESPÍRITO SANTO. (2 Cor. 5:17;Efés. 2:10Gál. 6:15Efés. 4:24; vide Gên. 2:7.) O resultado prático é uma transformação radical da pessoa em sua natureza, seu caráter, desejos e propósitos.
    (e) Ressurreição. (Rom. 6:4,5Col. 2:133:1Efés. 2:56.) Como DEUS vivificou o barro inanimado e o fez vivo para com o mundo físico, assim ele vivifica a alma em seus pecados e a faz viva para as realidades do mundo espiritual. Esse ato de ressurreição espiritual é simbolizado pelo batismo nas águas. A regeneração é "a grande mudança que DEUS opera na alma quando a vivifica; quando ele a levanta da morte do pecado para a vida de justiça" (João Wesley).
    Notar-se-á que os termos acima citados são apenas variantes de um grande pensamento básico da regeneração, isto é, uma divina comunicação duma nova vida à alma do homem. Três fatos científicos relativos à vida natural também se aplicam à vida espiritual; isto é, ela surge repentinamente; aparece misteriosamente, e desenvolve-se gradativamente.
    Regeneração é o aspecto singular da religião do Novo Testamento. Nas religiões pagãs, reconhece-se universalmente a permanência do caráter. Embora essas religiões recomendem penitências e ritos, pelos quais a pessoa espera expiar os seus pecados, não há promessa de vida e de graça para transformar a sua natureza. A religião de JESUS CRISTO é "a única religião no mundo que declara tomar a natureza decaída do homem e regenerá-la, colocando-a em contacto com a vida de DEUS". Assim declara fazer, porque o Fundador do Cristianismo é Pessoa Viva e Divina, que vive para salvar perfeitamente os que por ele se chegam a DEUS. (Heb. 7:25.) Não existe nenhuma analogia entre a religião cristã, e, digamos, o Budismo ou a religião maometana. De maneira nenhuma se pode dizer: "quem tem Buda tem a vida". (Vide 1João 5:12.) Buda pode ter algo em relação à moralidade. Pode estimular, causar impressão, ensinar, e guiar, mas nenhum elemento novo foi acrescido às almas que professam o Budismo. Tais religiões podem ser produtos do homem natural e moral. Mas o Cristianismo declara-se ser muito mais. Além das coisas de ordem natural e moral, o homem desfruta algo mais na Pessoa de Alguém mais, JESUS CRISTO.
     
    2. Necessidade da regeneração.
    A entrevista de nosso Senhor com Nicodemos (João 3) proporciona um excelente fundo histórico para o estudo deste tópico. As primeiras palavras de Nicodemos revelam uma série de emoções provenientes do seu coração. A declaração abrupta de JESUS no verso 3, que parece ser uma repentina mudança do assunto, explica-se pelo fato de JESUS estar respondendo ao coração de Nicodemos e não às palavras de sua interrogação. As primeiras palavras de Nicodemos revelam. 1) Fome espiritual. Se esse chefe judaico tivesse expressado o desejo de sua alma, talvez teria dito: "Estou cansado do ritualismo morto da sinagoga vou lá mas volto para casa com a mesma fome com que saí. Infelizmente, a glória divina afastou-se de Israel; não há visão e o povo perece. Mestre, a minh'alma suspira pela realidade! Pouco conheço de tua pessoa, mas tuas palavras tocaram-me o coração. Teus milagres convenceram-me de que és Mestre vindo de DEUS. Gostaria de te acompanhar. 2) Faltou a Nicodemos profunda convicção. Sentiu a sua necessidade, mas necessidade dum instrutor e não dum Salvador. Tal qual a mulher samaritana, ele queria a água da vida (João 4:15), mas, como aquela, Nicodemos teve de compreender que era pecador, que precisava de purificação e transformação. (João 4:16-18.) 3) Nota-se nas suas palavras um rasto de autocomplacência, coisa muito natural num homem de sua idade e posição. Ele diria a JESUS: "Creio que foste enviado a restaurar o reino de Israel, e vim dar-te alguns conselhos quanto aos planos para conseguir esse objetivo." Provavelmente ele supôs que sendo israelita e filho de Abraão, essas qualificações seriam suficientes para o tornarem membro do reino de DEUS.
    "JESUS respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de DEUS." Parafraseando essa passagem, JESUS diria: "Nicodemos, tu não podes unir-te à minha companhia como se te unisses a uma organização. O pertencer à minha companhia não depende da qualidade de tua vida; minha causa não é outra senão aquela do reino de DEUS, e tu não podes entrar nesse reino sem experimentar uma transformação espiritual. O reino de DEUS é muito diferente do que estás pensando, e o modo de estabelecê-lo e de juntar seus súditos é muito diferente do meio de que estás cogitando."
    JESUS apontou a necessidade mais profunda e universal de todos os homens — uma mudança radical e completa da natureza e caráter do homem em sua totalidade. Toda a natureza do homem ficou deformada pelo pecado, a herança da queda; essa deformação moral reflete-se em sua conduta e em todas as suas relações. Antes que o homem possa ter uma vida que agrade a DEUS, seja no presente ou na eternidade, sua natureza precisa passar por uma transformação tão radical, que seja realmente um segundo nascimento. O homem não pode transformar-se a si mesmo; essa transformação terá que vir de cima.
    JESUS não tentou explicar o como do novo nascimento, mas explicou opor quê do assunto. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido de ESPÍRITO é espírito." Carne e espírito pertencem a reinos diferentes, e um não pode produzir o outro. A natureza humana pode gerar a natureza humana, mas somente o ESPÍRITO SANTO pode gerar a natureza espiritual. A natureza humana somente pode produzir a natureza humana; e nenhuma criatura poderá elevar-se acima de sua própria natureza. A vida espiritual não passa do pai ao filho pela geração natural; ela procede de DEUS para o homem por meio da geração espiritual.
    A natureza humana não pode elevar-se acima de si própria. Escreveu Marcus Dods:
     
    Todas as criaturas possuem certa natureza segundo a sua espécie, determinada pela sua ascendência. Essa natureza que o animal recebe dos seus pais determina, desde o princípio, a sua capacidade e a esfera desse animal. A toupeira não pode subir aos ares como o faz a águia; nem tampouco pode o filhote da águia cavar um buraco como afaz toupeira. Nenhum treino jamais fará a tartaruga correr como o antílope, nem fará o antílope tão forte como o leão... Além de sua natureza, nenhum animal poderá agir.
    O mesmo princípio podemos aplicar ao homem. O destino mais elevado do homem é viver com DEUS para sempre; mas a natureza humana, em seu estado presente, não possui a capacidade para viver no reino celestial. Portanto, será necessário que a vida celestial desça de cima para transformar a natureza humana, preparando-a para ser membro desse reino.
     
    3. Os meios de regeneração.
    (a) Agência divina. O ESPÍRITO SANTO é o agente especial na obra de regeneração. Ele opera a transformação na pessoa. (João 3:6Tito 3:5.) Contudo, todas as Pessoas da Trindade operam nessa obra. Realmente as três Pessoas operam em todas as divinas operações, embora cada Pessoa exerça certos ofícios que lhe são peculiares. Dessa forma o Pai é preeminentemente o Criador; contudo, tanto o Filho como o ESPÍRITO SANTO são mencionados como agentes na criação. O Pai gera (Tia. 1:18) e no Evangelho de João, o Filho é apresentado como o Doador da vida. (Vide caps. 5 e 6.)
    Notem especialmente a relação de CRISTO com a regeneração do homem. É ele o Doador da vida. De que maneira ele vivifica os homens? Vivifica-os por morrer por eles, de forma que, ao comerem sua carne e beberem seu sangue (que significa crer em sua morte expiatória), eles recebem a vida eterna. Qual é o processo de conceder a vida aos homens? Uma parte da recompensa de CRISTO era a prerrogativa de conceder o ESPÍRITO SANTO (Vide João 3:3,13Gál.3:13,14), e ele ascendeu para que pudesse tomar-se a Fonte da vida e energia espiritual (João 6:62Atos 2:33). O Pai tem vida em si (João 5:26); portanto, ele concede ao Filho ter vida em si; o Pai é a Fonte do ESPÍRITO SANTO, mas ele concede ao Filho o poder de conceder o ESPÍRITO; desta forma o Filho é um "ESPÍRITO vivificante" (1 Cor. 15:45), tendo poder, não somente para ressuscitar os mortos, fisicamente, (João 5:25,26) mas também vivificar as almas mortas dos homens. (Vide Gên 2:7João 20:221 Cor. 15:45.)
    (b) A preparação humana. Estritamente falando, o homem não pode cooperar no ato de regeneração, que é um ato soberano de DEUS; mas o homem pode tomar parte na preparação para o novo nascimento. Qual é essa preparação? Resposta: Arrependimento e fé.
     
    4. Efeitos da regeneração.
    Podemos agrupá-los sob três tópicos: posicionais (adoção); espirituais (união com DEUS); práticos (a vida de justiça).
    (a) Posicionais. Quando a pessoa passa pela transformação espiritual conhecida como regeneração, torna-se filho de DEUS e beneficiário de todos os privilégios dessa filiação. Assim escreve o Dr. William Evans: "Pela adoção, o crente, que já é filho de DEUS, recebe o lugar de filho adulto; dessa forma o menino torna-se filho, o filho menor torna-se adulto." (Gál. 4:1-7.) A palavra "adoção" significa literalmente: "dar a posição de filhos" e refere-se, no uso comum, ao homem que toma para seu lar crianças que não são as suas pelo nascimento.
    Quanto à doutrina, devemos distinguir entre adoção e regeneração: o primeiro é um termo legal que indica conceder o privilégio de filiação a um que não é membro da família; o segundo significa a transformação espiritual que toma a pessoa filho de DEUS e participante da natureza divina. Contudo, na própria experiência, é difícil separar os dois, visto que a regeneração e a adoção representam a dupla experiência da filiação.
    No Novo Testamento a filiação comum é, às vezes, definida pelo termo "filhos" ("uioi"— no grego), termo que originou a palavra "adoção"; outras vezes é definida pela palavra "tekna", no grego, também traduzida por "filhos", que significa literalmente "os gerados", significando a regeneração. As duas idéias são distintas e ao mesmo tempo combinadas nas seguintes passagens: "Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (implicando adoção) de serem feitos filhos de DEUS... os quais... nasceram... de DEUS" (João 1:12,13). "Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados (implicando adoção) filhos de DEUS (a palavra que significa "gerados" de DEUS)" (1 João 3:1). Em Rom. 8: 15,16 as duas idéias se entrelaçam: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos Abba, Pai. O mesmo ESPÍRITO testifica com o nosso espírito que somos filhos de DEUS."
    (b) Espirituais. Devido à sua natureza, a regeneração envolve união espiritual com DEUS e com CRISTO mediante o ESPÍRITO SANTO; e essa união espiritual envolve habitação divina (2 Cor. 6:16-18Gál. 2:20;4:5,61 João 3:244:13.) Essa união resulta em um novo tipo de vida e de caráter, descrito de várias maneiras; novidade de vida (Rom. 6:4); um novo coração (Ezeq. 36:26); um novo espírito (Ezeq. 11:19); um novo homem (Efés. 4:24); participantes da natureza divina (2 Ped. 1:4). O dever do crente é manter seu contacto com DEUS mediante os vários meios de graça e dessa forma preservar e nutrir a sua vida espiritual.
    (c) Práticos. A pessoa nascida de DEUS demonstrará esse fato pelo ódio que tem ao pecado (1 João 3:95:18), por obras de justiça (1 João 2:29), pelo amor fraternal (1 João 4:7) e pela vitória que alcança sobre o mundo (1 João 5:4).
    Devemos evitar estes dois extremos: primeiro, estabelecer um padrão tão baixo que a regeneração se torne questão de reforma natural; segundo, estabelecer um padrão elevado demais que não leve em conta as fraquezas dos crentes. Crentes novos que estão aprendendo a andar com JESUS estão sujeitos a tropeçar, como o bebê que aprende a andar. Mesmo os crentes mais velhos podem ser surpreendidos em alguma falta. João declara que é absolutamente inconsistente que a pessoa nascida de DEUS, portadora da natureza divina, continue a viver habitualmente no pecado (1 João 3.9), mas ao mesmo tempo ele tem cuidado em escrever: "Se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, JESUS CRISTO, o justo" (1 João 2:1).
     
    IX. A Santificação
    1. Natureza da santificação
    Em estudo anterior afirmamos que a chave do significado da doutrina da expiação, encontrada no Novo Testamento, acha-se no rito sacrificial do Antigo Testamento. Da mesma forma chegaremos ao sentido da doutrina do Novo Testamento sobre a santificação, pelo estudo do uso no Antigo Testamento da palavra "santo".
    Primeiramente, observa-se que "santificação", "santidade", e "consagração" são sinônimos, como o são: "santificados" e "santos". Santificar é a mesma coisa que fazer santo ou consagrar. A palavra "santo" tem os seguintes sentidos:
    (a) Separação. "SANTO" é uma palavra descritiva da natureza divina. Seu significado primordial é "separação "; portanto, a santidade representa aquilo que está em DEUS que o toma separado de tudo quanto seja terreno e humano — isto é, sua perfeição moral absoluta e sua divina majestade.
    Quando o SANTO deseja usar uma pessoa ou um objeto para seu serviço, ele separa essa pessoa ou aquele objeto do seu uso comum, e, em virtude dessa separação, a pessoa ou o objeto toma-se "santo".
    (b) Dedicação. Santificação inclui tanto a separação de, como dedicação a alguma coisa; essa é "a condição dos crentes ao serem separados do pecado e do mundo e feitos participantes da natureza divina, e consagrados à comunhão e ao serviço de DEUS por meio do Mediador".
    A palavra "santo" é mais usada em conexão com o culto. Quando referente aos homens ou objetos, ela expressa o pensamento de que esses são usados no serviço divino e dedicados a DEUS, no sentido especial de serem sua propriedade. Israel é uma nação santa, por ser dedicada ao serviço de Jeová; os levitas são santos por serem especialmente dedicados aos serviços do tabernáculo; o sábado e os dias de festa são santos porque representam a dedicação ou consagração do tempo a DEUS.
    (c) Purificação. Embora o sentimento primordial de "santo" seja separação para serviço, inclui também a idéia de purificação. O caráter de Jeová age sobre tudo que lhe é consagrado. Portanto, os homens consagrados a ele participam de sua natureza. As coisas que lhe são dedicadas devem ser limpas. Limpeza é uma condição de santidade, mas não a própria santidade, que é, primeiramente, separação e dedicação.
    Quando Jeová escolhe e separa uma pessoa ou um objeto para o seu serviço, ele opera ou faz com que aquele objeto ou essa pessoa se torne santo. Objetos inanimados foram consagrados pela unção do azeite (Êxo. 40:9-11). A nação israelita foi santificada pelo sangue do sacrifício da aliança. (Êxo. 24:8. Vide Heb. 10:29). Os sacerdotes foram consagrados pelo representante de Jeová, Moisés, que os lavou com água, ungiu-os com azeite e aspergiu-os com o sangue de consagração. (Vide Lev., cap. 8.)
    Como os sacrifícios do Velho Testamento eram tipos do sacrifício único de CRISTO, assim as várias abluções e unções do sistema mosaico são tipos da verdadeira santificação que alcançamos pela obra de CRISTO. Assim como Israel foi santificado pelo sangue da aliança, assim "também JESUS, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta" (Heb. 13:12).
    Jeová santificou os filhos de Arão para o sacerdócio pela mediação de Moisés e o emprego de água, azeite e sangue. DEUS o Pai (1 Tess. 5:23) santifica os crentes para um sacerdócio espiritual (1 Ped. 2:5) pela mediação do Filho (I Cor. 1:2,30Efés 5:26Heb 2:11), por meio da Palavra (João 17:1715:3), do sangue (Heb. 10:2913:12) e do ESPÍRITO (Rom. 15:161 Cor. 6:111 Ped. 1:2).
    (d) Consagração, no sentido de viver uma vida santa e justa. Qual a diferença entre justiça e santidade? A justiça representa a vida regenerada em conformidade com a lei divina; os filhos de DEUS andam retamente ( 1 João 3:6-10). Santidade é a vida regenerada em conformidade com a natureza divina e dedicada ao serviço divino; isto pede a remoção de qualquer impureza que estorve esse serviço. "Mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver" (1 Ped. 1:15). Assim a santificação inclui a remoção de qualquer mancha ou sujeira que seja contrária à santidade da natureza divina.
    Em seguida à consagração de Israel surge, naturalmente, a pergunta: "Como deve viver um povo santo?" A fim de responder a essa pergunta, DEUS deu-lhes o código de leis de santidade que se acham no livro de Levítico. Portanto, em conseqüência da sua consagração, seguiu-se a obrigação de viver uma vida santa. O mesmo se dá com o cristão. Aqueles que são declarados santos (Heb. 10:10) são exortados a seguir a santidade (Heb. 12:14); aqueles que foram purificados (1 Cor. 6:11) são exortados a purificar-se a si mesmos (2 Cor. 7:1).
    (e) Serviço. A aliança é um estado de relação entre DEUS e os homens no qual ele é o DEUS deles e eles o seu povo, o que significa um povo adorador. A palavra "santo" expressa essa relação contratual. Servir a DEUS, nessa relação, significa ser sacerdote; por conseguinte, Israel é descrito como nação santa e reino de sacerdotes (Êxo. 19:6). Qualquer impureza que venha a desfigurar essa relação precisa ser lavada com água ou com o sangue da purificação.
    Da mesma maneira os crentes do Novo Testamento são "santos", isto é, um povo santo consagrado. Pelo sangue da aliança tornaram-se "sacerdócio real, a nação santa... sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a DEUS por JESUS CRISTO" (1 Ped. 2:9,5); oferecem o sacrifício de louvor (Heb. 13:15) e dedicam-se como sacrifícios vivos sobre o altar de DEUS (Rom. 12:1).
    Assim vemos que o serviço é elemento essencial da santificação ou santidade, pois é esse o único sentido em que os homens podem pertencer a DEUS, isto é, como seus adoradores que lhe prestam serviço. Paulo expressou perfeitamente esse aspecto da santidade quando disse acerca de DEUS: "De quem eu sou, e a quem sirvo" (Atos 27:23). Santificação envolve ser possuído por DEUS e servir a ele.
     
    2. O tempo da santificação.
    A santificação reúne: 1) idéia de posição perante DEUS e instantaneidade; 2) prática e progressiva.
    (a) Posicional e instantânea. A seguinte declaração representa o ensino dos que aderem à teoria de santificação da "segunda obra definida", feita por alguém que ensinou essa doutrina durante muitos anos:
    Supõe-se que a justificação é obra da graça pela qual os pecadores, ao se entregarem a CRISTO, são feitos justos e libertados dos hábitos pecaminosos. Mas no homem meramente justificado permanece um princípio de corrupção, uma árvore má, "uma raiz de amargura", que continuamente o provoca a pecar. Se o crente obedece a esse impulso e deliberadamente peca, ele perde sua justificação; segue-se portanto, a vantagem de ser removido esse impulso mau, para que diminua a possibilidade de se desviar. A extirpação dessa raiz pecaminosa é santificação. Portanto, é a purificação da natureza de todo pecado congênito pelo sangue de CRISTO (aplicado pela fé ao realizar-se a plena consagração), e o fogo purificador do ESPÍRITO SANTO, o qual queima toda a escória, quando tudo é depositado sobre o altar do sacrifício. Isso, e somente isso, é verdadeira santificação — a segunda obra definida da graça, subseqüente à justificação, e sem a qual essa justificação provavelmente se perderá.
     
    A definição supra citada ensina que a pessoa pode ser salva ou justificada sem ser santificada. Essa teoria, porém, é contrária ao ensino do Novo Testamento.
    O apóstolo Paulo escreve a todos os crentes como a "santos" (literalmente, "os santificados") e como já santificados (1 Cor. 1:26:11). Mas essa carta foi escrita para corrigir esses cristãos por causa de sua carnalidade e pecados grosseiros. (1 Cor. 3:15:1,2,7,8.) Eram "santos" e "santificados em CRISTO", mas alguns desses estavam muito longe de ser exemplos de cristãos na conduta. Foram chamados a ser santos, mas não se portavam dignos dessa vocação santa.
     
    Segundo o Novo Testamento existe, pois, um sentido em que a santificação é simultânea com a justificação.
    (b) Prática e progressiva. Mas será que essa santificação consiste somente em ser conferida a posição de santos? Não, essa separação inicial é apenas o começo duma vida progressiva de santificação. Todos os cristãos são separados para DEUS em JESUS CRISTO; e dessa separação surge a nossa responsabilidade de viver para ele. Essa separação deve continuar diariamente: o crente deve esforçar-se sempre para estar conforme à imagem de CRISTO. "A santificação é a obra da livre graça de DEUS, pela qual o homem todo é renovado segundo a imagem de DEUS, capacitando-nos a morrer para o pecado e viver para a justiça." Isso não quer dizer que vamos progredir até alcançar a santificação e, sim, que progredimos na santificação da qual já participamos.
     
    A santificação é posicionai e prática — posicional em que é primeiramente uma mudança de posição pela qual o imundo pecador se transforma em santo adorador; prática porque exige uma maneira santa de viver. A santificação adquirida em virtude de nova posição, indica-se pelo fato de que todos os coríntios foram chamados "santificados em CRISTO JESUS, chamados santos" (1 Cor. 1:2). A santificação progressiva está implícita no fato de alguns serem descritos como "carnais" (1 Cor. 3:3), o que significa que sua presente condição não estava à altura de sua posição concedida por DEUS. Em razão disso, foram exortados a purificar-se e assim melhorar sua consagração até alcançarem a perfeição. Esses dois aspectos da santificação estão implícitos no fato de que aqueles que foram tratados como santificados e santos (1 Ped. 1:22:5), são exortados a serem santos (1 Ped. 1:15). Aqueles que estavam mortos para o pecado (Col 3:3) são exortados a mortificar (fazer morto) seus membros pecaminosos (Col 3:5). Aqueles que se despiram do homem velho (Col. 3:9) são exortados a vestirem-se ou revestirem-se do homem novo. (Efés 4:22Col. 3:8.)
     
    3. Meios divinos de santificação.
    São meios divinamente estabelecidos de santificação: o sangue de CRISTO, o ESPÍRITO SANTO e a Palavra de DEUS. O primeiro proporciona, primeiramente', a santificação absoluta, quanto à posição perante DEUS. É uma obra consumada que concede ao pecador penitente uma posição perfeita em relação a DEUS. O segundo meio é interno, efetuando a transformação da natureza do crente. O terceiro meio é externo e prático, e diz respeito ao comportamento do crente. Dessa forma, DEUS fez provisão tanto para a santificação interna como externa.
    (a) O sangue de CRISTO, (Eterno, absoluto e posicionai.) (Heb. 13:1210:10,141João 1:7.) Em que sentido seria a pessoa santificada pelo sangue de CRISTO? Em resultado da obra consumada de CRISTO, o pecador penitente é transformado de pecador impuro em adorador santo. A santificação é o resultado dessa "maravilhosa obra redentora do Filho de DEUS, ao oferecer-se no Calvário para aniquilar o pecado pelo seu sacrifício. Em virtude desse sacrifício, o crente é eternamente separado para DEUS; sua consciência é purificada, e ele próprio é transformado de pecador impuro, em santo adorador, unido em comunhão com o Senhor JESUS CRISTO; pois, "assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Heb. 2:11).
    Que haja um aspecto contínuo na santificação pelo sangue, infere-se de 1 João 1:7: "O sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo pecado." Se houver comunhão entre o santo DEUS e o homem, necessariamente terá que haver uma provisão para remover a barreira de pecado, que impede essa comunhão, uma vez que os melhores homens ainda assim são imperfeitos. Ao receber Isaías a visão da santidade de DEUS, ele ficou abatido ao perceber a sua falta de santidade; e não estava em condições de ouvir a mensagem divina enquanto a brasa do altar não purificasse seus lábios. A consciência do pecado ofusca a comunhão com DEUS; confissão e fé no eterno sacrifício de CRISTO removem essa barreira. (1 João 1:9.)
    (b) O ESPÍRITO SANTO. (Santificação Interna.) (1 Cor. 6:112 Tess. 2:121 Ped. 1:1,2Rom. 15:16.) Nessas passagens a santificação pelo ESPÍRITO SANTO é apresentada como o início da obra de DEUS nos corações dos homens, conduzindo-os ao inteiro conhecimento da justificação pela fé no sangue aspergido de CRISTO. Tal qual o ESPÍRITO pairava por cima do caos original (Gên. 1:2), seguindo-se o estabelecimento da ordem pelo Verbo de DEUS, assim o ESPÍRITO paira sobre a alma humana, fazendo-a abrir-se para receber a luz e a vida de DEUS. (2 Cor. 4:6.)
    O capítulo 10 de Atos proporciona uma ilustração concreta da santificação pelo ESPÍRITO SANTO. Durante os primeiros anos da igreja, a evangelização dos gentios retardou-se visto que muitos cristãos-judeus consideravam os gentios como "imundos", e não-santificados por causa de sua não conformidade com as leis alimentares e outros regulamentos mosaicos. Exigia-se uma visão para convencer a Pedro que aquilo que o Senhor purificara ele não devia tratar de comum ou impuro. Isso importava em dizer que DEUS fizera provisão para a santificação dos gentios para serem o seu povo. E quando o ESPÍRITO de DEUS desceu sobre os gentios, reunidos na casa de Cornélio, já não havia mais dúvida a respeito. Eram santificados pelo ESPÍRITO SANTO, não importando se obedeciam ou não às ordenanças mosaicas (Rom. 15:16), e Pedro reptou os judeus que estavam com ele a negarem o símbolo exterior (batismo nas águas) de sua purificação espiritual. (Atos 10:4715:8.)
    (c) A Palavra de DEUS. (Santificação externa e prática.) (João 17:17Efés 5:26João 15:3Sal. 119:9Tia. 1:23-25.) Os cristãos são descritos como sendo "gerados pela Palavra de DEUS"(l Ped. 1:23). A Palavra de DEUS desperta os homens a compreenderem a insensatez e impiedade de suas vidas. Quando dão importância à Palavra arrependendo-se e crendo em CRISTO, são purificados pela Palavra que lhes fora falada. Esse é o início da purificação que deve continuar através da vida do crente. No ato de sua consagração ao ministério, o sacerdote israelita recebia um banho sacerdotal completo, banho que nunca se repetia; era uma obra feita uma vez para sempre. Todos os dias porém, era obrigado a lavar as mãos e os pés. Da mesma maneira, o regenerado foi lavado (Tito 3:5); mas precisa uma separação diária das impurezas e imperfeições conforme lhe forem reveladas pela Palavra de DEUS, que serve como espelho para a alma. (Tia. 1:22-25.) Deve lavar as mãos, isto é, seus atos devem ser retos; deve lavar os pés, isto é, "guardar-se da imundície que tão facilmente se apega aos pés do peregrino, que anda pelas estradas deste mundo".
     
    4. Idéias errôneas sobre a santificação.
    Muitos cristãos descobrem o fato de que seu maior impedimento em chegar à santidade é a "carne", a qual frustra sua marcha para a perfeição. Como se conseguirá libertação da carne? Três opiniões erradas têm sido expostas:
    (a) "Erradicação" do pecado inato é uma dessas idéias. Assim escreve Lewis Sperry Chafer: "se a erradicação da natureza pecaminosa se consumasse, não haveria a morte física, pois esta é o resultado dessa natureza. (Rom. 5:12-21.) Pais que houvessem experimentado essa "extirpação", necessariamente gerariam filhos sem a natureza pecaminosa. Mas, mesmo que fosse realidade essa "extirpação", ainda haveria o conflito com o mundo, a carne (à parte da natureza pecaminosa) e o diabo; pois a "extirpação" desses males é obviamente antibíblica e não está incluída na própria teoria.
    A erradicação é também contrária à experiência.
    (b) Legalismo, ou a observância de regras e regulamentos. Paulo ensina que a lei não pode santificar (Rom. cap. 6), assim como também não pode justificar (Rom. 3). Essa verdade é exposta e desenvolvida na carta aos Gálatas. Paulo não está de nenhuma maneira depreciando a lei. Ele a está defendendo contra conceitos errôneos quanto a seu propósito. Se um homem for salvo do pecado, terá que ser por um poder à parte de si mesmo. Vamos empregar a ilustração dum termômetro. O tubo e o mercúrio representam o indivíduo. O registro dos graus representará a lei. Imaginem o termômetro dizendo: "Hoje não estou funcionando exatamente; devo chegar no máximo a 30 graus." Será que o termômetro poderia elevar-se à temperatura exigida? Não, deveria depender duma condição/ora dele mesmo. Da mesma maneira o homem que percebe não estar à altura do ideal divino não pode elevar-se em um esforço por alcançá-lo. Sobre ele deve operar uma força à parte dele mesmo; essa força é o poder do ESPÍRITO SANTO.
    (c) Ascetismo. É a tentativa de subjugar a carne e alcançar a santidade por meio de privações e sofrimentos — o método que seguem os católicos romanos e os hindus ascéticos.
    Esse método parece estar baseado na antiga crença pagã de que toda matéria, incluindo o corpo, é má. O corpo, por conseguinte, é uma trava ao espírito, e quanto mais for castigado e subjugado, mais depressa se libertará o espírito. Isso é contrário às Escrituras, que ensinam que DEUS criou tudo muito bom. É a alma e não o corpo que peca; portanto, são os impulsos pecaminosos que devem ser subjugados, e não a carne material. Ascetismo é uma tentativa de matar o "eu", mas o "eu" não pode vencer o "eu". Essa é a obra do ESPÍRITO.
     
    5. O verdadeiro método da santificação.
    O método bíblico de tratar com a carne, deve basear-se obviamente, na provisão objetiva para a salvação, o sangue de CRISTO; e na provisão subjetiva, o ESPÍRITO SANTO. A libertação do poder da carne, portanto, deve vir por meio da fé na expiação e por entregar-se à ação do ESPÍRITO. O primeiro é tratado no sexto capítulo de Romanos, e o segundo na primeira parte do capítulo oitavo.
    (a) Fé na expiação. Imaginemos que houvesse judeus presentes (o que sucedia com freqüência) enquanto Paulo expunha a doutrina da purificação pela fé. Nós os imaginamos dizendo em protesto: "Isso é uma heresia do tipo mais perigoso!" Dizer ao povo que precisam crer unicamente em JESUS, e que nada podem fazer quanto à sua salvação porque ela é pela graça de DEUS, tudo isso resultará em que descuidarão de sua maneira de viver. Eles julgarão que pouco importa o que façam, uma vez que creiam. Sua doutrina de fé fomenta o pecado. Se a justificação é pela graça e nada mais, sem obras, por que então romper com o pecado? Por que não continuar no pecado para que abunde ainda mais a graça? Os inimigos de Paulo efetivamente o acusaram de pregar tal doutrina. (Rom. 3:86:1.) Com indignação Paulo repudiou tal perversão. "De modo nenhum . Nós, que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rom. 6:2). A continuação no pecado é impossível a um homem verdadeiramente justificado, em razão de sua união com CRISTO na morte e na vida. (Vide Mat. 6:24.) Em virtude de sua fé em CRISTO, o homem salvo passou por uma experiência que inclui um rompimento tão completo com o pecado, que se descreve como morte para o pecado, e uma transformação tão radical que se descreve como ressurreição. Essa experiência é figurada no batismo nas águas. A imersão do convertido testifica do fato que em razão de sua união com o CRISTO crucificado ele morreu para o pecado; ser levantado da água testifica que seu contacto com o CRISTO ressuscitado significa que "como CRISTO ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida" (Rom. 6:4). CRISTO morreu pelo pecado a fim de que nós morrêssemos para o pecado.
    "Aquele que está morto está justificado do pecado" (Rom. 6:7). A morte cancela todas as obrigações e rompe todos os laços. Por meio da união com CRISTO, o cristão morreu para a vida antiga, e os grilhões do pecado foram quebrados. Como a morte dava fim à servidão do escravo, assim a morte do crente, que morreu para o mundo, o libertou da servidão ao pecado. Continuando a ilustração: A lei nenhuma jurisdição tem sobre um homem morto. Não importa qual seja o crime que haja cometido, uma vez morto, já está fora do poder da justiça humana. Da mesma maneira, a lei de Moisés, muitas vezes violada pelo convertido, não o pode "prender", pois, em virtude de sua experiência com CRISTO, ele está "morto". (Rom. 7:1-42 Cor. 5:14.)
    "Sabendo que, havendo CRISTO ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado, mas, quanto a viver, vive para DEUS. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para DEUS em CRISTO JESUS nosso Senhor" (Rom. 6:9-11). A morte de CRISTO pôs fim a esse estado terrenal no qual ele teve contacto como o pecado; sua vida agora é uma constante comunhão com DEUS. Os cristãos, ainda que estejam no mundo, podem participar de sua experiência, porque estão unidos a ele. Como podem participar? "Considerai-vos como mortos para o pecado, nas vivos para DEUS em CRISTO JESUS nosso Senhor." Que significa isso? DEUS já disse que por meio da nossa fé em CRISTO, estamos mortos para o pecado e vivos para a justiça. Resta uma coisa a fazer; crer em DEUS e considerar ou concluir que estamos mortos para o pecado. DEUS declarou que quando CRISTO morreu, nós morremos para o pecado; quando ele ressuscitou, nós ressuscitamos para viver uma nova vida. Devemos continuar considerando esses fatos como absolutamente certos; e, ao considerá-los assim, tornar-se-ão poderosos em nossa vida, pois, seremos o que reconhecemos que somos. Uma distinção importante tem sido assinalada, a saber, a distinção entre as promessas e os fatos da Bíblia. JESUS disse: "Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito" (João 15:7). Essa é uma promessa, porque está no futuro; é algo para ser feito. Mas quando Paulo disse que "CRISTO morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras", ele está declarando um fato, algo que foi feito. Vide a expressão de Pedro: "Pelas suas feridas fostes sarados" (1 Ped. 2:24). E quando Paulo declara "que o nosso homem velho foi com ele crucificado", ele está declarando um fato, algo que aconteceu. A questão agora é: estamos dispostos ou não a crer
    no que DEUS declara que são fatos acerca de nós? Porque a fé é a mão que aceita o que DEUS gratuitamente oferece.
    Será que o ato de descobrir a relação com CRISTO não constitui a experiência que alguns têm descrito como "a segunda obra da graça"?
     
    (b) Cooperação com o ESPÍRITO. Os capítulos 7 e 8 de Romanos continuam o assunto da santificação; tratam da libertação do crente do poder do pecado, e do crescimento em santidade. No cap. 6 vimos que a vitória sobre o poder do pecado foi obtida pela/é. O capítulo 8 apresenta outro aliado na batalha contra o pecado — o ESPÍRITO SANTO.
    Como fundo para o capítulo 8 estuda-se a linha de pensamento no cap. 7, o qual descreve um homem voltando-se para a lei a fim de alcançar santificação. Paulo demonstra aqui a impotência da lei para salvar e santificar, não porque a lei não seja boa, mas por causa da inclinação pecaminosa da natureza humana, conhecida como a "carne". Ele indica que a lei revela o fato (v. 7), a ocasião (v.8), o poder (v.9), a falsidade (v. 11), o efeito (vs. 10,11), e a vileza do pecado (vs. 12,13).
    Paulo, que parece estar descrevendo sua própria experiência passada, diz-nos que a própria lei, que ele tão ardentemente desejava observar, suscitava impulsos pecaminosos dentro dele. O resultado foi "guerra civil" na sua alma. Ele é impedido de fazer o bem que deseja fazer, e impelido a fazer o que odeia. "Acho então esta lei em mim; que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de DEUS; mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros" (vs. 21-23).
    A última parte do capítulo 7, evidentemente, apresenta o quadro do homem debaixo da lei, que descobriu a perscrutadora espiritualidade da lei, mas em cada intento de observá-la se vê impedido pelo pecado que habita nele. Por que descreve Paulo esse conflito? Para demonstrar que a lei é tão impotente para santificar como o é para justificar.
    "Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?" (v. 24 Vide 6:6). E Paulo, que descrevia a experiência debaixo da lei, assim testifica alegremente de sua experiência debaixo da graça: "Dou graças a DEUS (que a vitória vem) por JESUS CRISTO nosso Senhor" (v. 25). Com essa exclamação de triunfo entramos no maravilhoso capítulo oitavo, que tem por tema dominante a libertação da natureza pecaminosa pelo poder do ESPÍRITO SANTO.
    Há três mortes das quais o crente deve participar: 1) A morte no pecado, isto é, nossa condenação. (Efés. 2:1Col. 2:13.) O pecado havia conduzido a alma a essa condição, cujo castigo é a morte espiritual ou separação de DEUS. 2) A morte pelo pecado, isto é, nossa justificação. CRISTO sofreu sobre a cruz a sentença duma lei infligida, e nós, por conseguinte, somos considerados como a havendo sofrido nele. O que ele fez por nós é considerado como se fosse feito por nós mesmos. (2 Cor. 5:14Gál. 2:20.) Somos considerados legal ou judicialmente livres da pena duma lei violada, uma vez que pela fé pessoal consentimos na transação. 3) A morte para o pecado, isto é, nossa santificação. (Rom. 6:11.) O que é certo para nós deve ser feito real em nós; o que é judicial deve se tornar prático; a morte para a pena do pecado deve ser seguida pela morte para o poder do pecado. E essa é a obra do ESPÍRITO SANTO. (Rom. 8:13.) Assim como a seiva que ascende na árvore elimina as folhas mortas que ficaram presas aos ramos, apesar da neve e das tempestades, assim o ESPÍRITO SANTO, que habita em nós, elimina as imperfeições e os hábitos da vida antiga.
     
    6. Santificação completa.
    Muitas vezes esta verdade é discutida sob o tema: "Perfeição cristã."
    (a) Significado de perfeição. Há dois tipos de perfeição: absoluta e relativa. É absolutamente perfeito aquilo que não pode ser melhorado; isso pertence unicamente a DEUS. E relativamente perfeito aquilo que cumpre o fim para o qual foi designado; essa perfeição é possível ao homem.
    A palavra "perfeição", no Antigo Testamento, significa ser "sincero e reto" (Gên 6:9Jó 1:1). Ao evitar os pecados das nações circunvizinhas, Israel podia ser uma nação "perfeita" (Deut. 18:13). No Antigo Testamento a essência da perfeição é o desejo e a determinação de fazer a vontade de DEUS. Apesar dos pecados que mancharam sua carreira, Davi pode ser chamado um homem perfeito e "um homem segundo o coração de DEUS", porque o motivo supremo de sua vida era fazer a vontade de DEUS.
    No Novo Testamento a palavra "perfeito" e seus derivados têm uma variedade de aplicações, e, portanto, deve ser interpretada segundo o sentido em que os termos são usados. Várias palavras gregas são usadas para expressar a idéia de perfeição: 1) Uma dessas palavras significa ser completo no sentido de ser apto ou capaz para certa tarefa ou fim. (2 Tim. 3:17.) 2) Outra denota certo fim alcançado por meio do crescimento mental e moral. (Mat. 5:4819:21Col. 1:284:12 ; Heb. 11:40.) 3) A palavra usada em 2 Cor. 13:9Efés 4:12; e Heb. 13:21 significa um equipamento cabal. 4) A palavra usada em 2 Cor. 7:1 significa terminar, ou trazer a uma terminação. A palavra usada em Apoc. 3:2 significa fazer repleto, cumprir, encher (como uma rede), nivelar (um buraco).
    A palavra "perfeito" descreve os seguintes aspectos da vida cristã: 1) Perfeição de posição em CRISTO (Heb. 10:14) — o resultado da obra de CRISTO por nós. 2) Madureza e entendimento espiritual, em contraste com a infância espiritual. (1 Cor. 2:614:20;2Cor. 13:11Fil. 3:15;2Tim. 3:17) 3) Perfeição progressiva. (Gál. 3:3.) 4) Perfeição em certos particulares: a vontade de DEUS, o amor ao homem, e serviço. (Col. 4:12Mat. 5:48Heb. 13:21.) 5) A perfeição final do indivíduo no céu. (Col. 1:28,22Fil. 3:12; 1Ped. 5:10.) 6) A perfeição final da igreja, ou o corpo de CRISTO, isto é, o conjunto de crentes. (Efés. 4:13João 17:23.)
    (b) Possibilidades de perfeição. O Novo Testamento apresenta dois aspectos gerais da perfeição: 1) A perfeição como um dom da graça, o qual é a perfeita posição ou estado concedido ao arrependido em resposta à sua fé em CRISTO. Ele é considerado perfeito porque tem um Salvador perfeito e uma justiça perfeita. 2) A perfeição como realmente efetuada no caráter do crente. É possível acentuar em demasia o primeiro aspecto e descuidar do Cristianismo prático. Tal aconteceu a certo indivíduo que, depois de ouvir uma palestra sobre a Vida Vitoriosa, disse ao pregador: "Tudo isso tenho em CRISTO." "Mas o senhor tem isso consigo, agora, aqui em Glasgow?" foi a serena interrogação. Por outra parte, acentuando demais o segundo aspecto, alguns praticamente têm negado qualquer perfeição à parte do que eles encontram em sua própria experiência.
    João Wesley (o fundador do Metodismo) parece haver tomado uma posição intermediária entre os dois extremos. Ele reconhecia que a pessoa era santificada na conversão, mas afirmava a necessidade da inteira santificação como outra obra da graça. O que fazia essa experiência parecer necessária era o poder do pecado, que era a causa de o cristão ser derrotado. Essa bênção vem a quem buscar com fidelidade; o amor puro enche o coração e governa toda a obra e ação, resultando na destruição do poder do pecado.
    Essa perfeição no amor não é considerada como perfeição absoluta, nem tampouco isenta o crente de vigilância e cuidados constantes. Wesley escreveu: "Creio que a pessoa cheia do amor de DEUS ainda está propensa a transgressões involuntárias. Tais transgressões vocês poderão chamá-las de pecados, se quiserem; mais eu não." Quanto ao tempo da inteira santificação, Wesley escreveu:
     
    "É esta morte para o pecado e renovação no amor, gradual ou instantânea? Um homem poderá estar à morte por algum tempo; no entanto, propriamente falando, não morre enquanto não chegar o instante em que a alma se separa do corpo; e nesse momento ele vive a vida da eternidade. Da mesma maneira a pessoa poderá estar morrendo para o pecado por algum tempo; entretanto, não está morto para o pecado enquanto o pecado não for separado de sua alma; é nesse momento que vive a plena vida de amor. E da mesma maneira que a mudança sofrida quando o corpo morre é duma qualidade diferente e infinitamente maior que qualquer outra que tenhamos conhecido antes, tão diferente que até então era impossível conceber, assim a mudança efetuada quando a alma morre para o pecado é duma classe diferente e infinitamente maior que qualquer outra experimentada antes, e que ninguém pode conceber até que a experimente. No entanto, essa pessoa continuará a crescer na graça, no conhecimento de CRISTO, no amor e na imagem de DEUS; e assim continuará, não somente até a morte, mas por toda a eternidade. Como esperaremos essa mudança? Não em um descuidado indiferentismo, ou indolente inatividade; mas em obediência vigorosa e universal, no cumprimento fiel dos mandamentos, em vigilância e trabalho, em negarmo-nos a nós mesmos, tomando diariamente a nossa cruz; como também em oração fervorosa e jejum, e atendendo bem às ordenanças de DEUS. E se alguém pensa em obtê-la de alguma outra maneira (e conservá-la quando a haja obtido, mesmo quando a haja recebido na maior medida) esse alguém engana sua própria alma."
    João Calvino, que acentuara a perfeição do crente pela consumada obra de CRISTO, e que não era menos zeloso da santidade de que Wesley, dá o seguinte relato da perfeição cristã:
     
    "Quando DEUS nos reconcilia consigo mesmo, por meio da justiça de CRISTO, e nos considera como justos por meio da livre remissão de nossos pecados, ele também habita em nós, pelo seu ESPÍRITO, e santifica-nos pelo seu poder, mortificando as concupiscências da nossa carne e formando o nosso coração em obediência à sua Palavra. Desse modo, nosso desejo principal vem a ser obedecer à sua vontade e promover a sua glória. Porém, ainda depois disso, permanece em nós bastante imperfeição para repelir o orgulho e constranger-nos à humildade." ( Ecl. 7:201Reis 8:46.)
    Ambas as opiniões, a perfeição como dom em CRISTO e a perfeição como obra real efetuada em nós, são ensinadas nas Escrituras; o que CRISTO fez por nós deve ser efetuado em nós. O Novo Testamento sustenta um ideal elevado de santidade e afirma a possibilidade de libertação do poder do pecado. Portanto, é dever do cristão esforçar-se para conseguir essa perfeição. (Fil. 3:12; Heb.6:l.)
    Em relação a isto devemos reconhecer que o progresso na santificação muitas vezes implica uma crise na experiência, quase tão definida como a da conversão. Por um meio ou outro, o crente recebe uma revelação da santidade de DEUS e da possibilidade de andar mais perto dele, e essa experiência é seguida por um conhecimento interior de ter ainda alguma contaminação. (Vide Isa. 6.) Ele chegou a uma encruzilhada na sua experiência cristã, na qual deverá decidir se há de retroceder ou seguir avante, com DEUS. Confessando seus fracassos passados, ele faz uma reconsagração, e, como resultado, recebe um novo aumento de paz, gozo e vitória, e também o testemunho de que DEUS aceitou sua consagração. Alguns têm chamado a essa experiência uma segunda obra da graça.
    Ainda haverá tentação de fora e de dentro, e daí a necessidade de vigilância (Gál. 6:1I Cor. 10:12); a carne é fraca e o cristão está livre para ceder, pois está em estado de prova (Gál. 5:17Rom. 7:18Fil. 3:8); seu conhecimento é parcial e falho; portanto, pode estar sujeito a pecados de ignorância. Porém ele pode seguir avante, certo de que pode resistir e vencer toda a tentação que reconheça (Tia. 4:71 Cor. 10:13Rom. 6:14Efés. 6:13,14); pode estar sempre glorificando a DEUS cheio dos frutos de justiça (1 Cor. 10:31Col. 1:10); pode possuir a graça e o poder do ESPÍRITO e andar em plena comunhão com DEUS (Gál. 5:2223;Efés. 5:18Col. 1:10,111 João 1:7); pode ter a purificação constante do sangue de CRISTO e assim estar sem culpa perante DEUS. (1 João 1:7Fil. 2:15; 1Tess. 5:23).
     
     
    X. A Segurança da Salvação
    Temos estudado as preparações para a salvação e considerado a natureza desta. Nesta seção consideramos: É a Salvação final dos cristãos incondicional, ou poderá perder-se por causa do pecado?
    A experiência prova a possibilidade duma queda temporária da graça, conhecida por "desviar-se". O termo não se encontra no Novo Testamento, senão no Antigo Testamento. Uma palavra hebraica significa "voltar atrás" ou "virar-se"; outra palavra significa "volver-se" ou ser "rebelde". Israel é comparado a um bezerro teimoso que volta para trás e se recusa a ser conduzido, e torna-se insubmisso ao jugo. Israel afastou-se de Jeová e obstinadamente se recusou a tomar sobre si o jugo de seus mandamentos.
    O Novo Testamento nos admoesta contra tal atitude, porém usa outros termos. O desviado é a pessoa que outrora tinha o zelo de DEUS, mas agora se tomou fria (Mat. 24:12); outrora obedecia à Palavra, mas o mundanismo e o pecado impediram seu crescimento e frutificação (Mat. 13:22); outrora pôs a mão ao arado, mas olhou para trás (Luc. 9:62); como a esposa de Ló, que havia sido resgatada da cidade da destruição, mas seu coração voltou para ali (Luc. 17:32); outrora estava em contacto vital com CRISTO, mas agora está fora de contacto, e está seco, estéril e inútil espiritualmente (João 15:6); outrora obedecia à voz da consciência, mas agora jogou para longe de si essa bússola que o guiava, e, como resultado, sua embarcação de fé destroçou-se nas rochas do pecado e do mundanismo (1 Tim. 1:19); outrora alegrava-se em chamar-se cristão, mas agora se envergonha de confessar a seu Senhor (2 Tim. 1:8 ;2:12); outrora estava liberto da contaminação do mundo, mas agora voltou como a "porca lavada ao espoja-douro de lama" (2 Ped. 2:22; vide Luc. 11:21-26).
    É possível decair da graça; mas a questão é saber se a pessoa que era salva e teve esse lapso, pode finalmente perder-se. Aqueles que seguem o sistema de doutrina calvinista respondem negativamente; aqueles que seguem o sistema arminiano (chamado assim em razão de Armínio, teólogo holandês, que trouxe a questão a debate) respondem afirmativamente.
     
    1. Calvinismo.
    A doutrina de João Calvino não foi criada por ele; foi ensinada por santo Agostinho, o grande teólogo do quarto século. Nem tampouco foi criada por Agostinho, que afirmava estar interpretando a doutrina de Paulo sobre a livre graça.
    A doutrina de Calvino é como segue: A salvação é inteiramente de DEUS; o homem absolutamente nada tem a ver com sua salvação. Se ele, o homem, se arrepender, crer e for a CRISTO, é inteiramente por causa do poder atrativo do ESPÍRITO de DEUS. Isso se deve ao fato de que a vontade do homem se corrompeu tanto desde a queda, que, sem a ajuda de DEUS, não pode nem se arrepender, nem crer, nem escolher corretamente. Esse foi o ponto de partida de Calvino — a completa servidão da vontade do homem ao mal. A salvação, por conseguinte, não pode ser outra coisa senão a execução dum decreto divino que fixa sua extensão e suas condições.
    Naturalmente surge esta pergunta: Se a salvação é inteiramente obra de DEUS, e o homem não tem nada a ver com ela, e está desamparado, amenos que o ESPÍRITO de DEUS opere nele, então, por que DEUS não salva a todos os homens, posto que todos estão perdidos e desamparados? A resposta de Calvino era: DEUS predestinou alguns para serem salvos e outros para serem perdidos. "A predestinação é o eterno decreto de DEUS, pelo qual ele decidiu o que será de cada um e de todos os indivíduos. Pois nem todos são criados na mesma condição; mas a vida eterna está preordenada para alguns, e a condenação eterna para outros." Ao agir dessa maneira DEUS não é injusto, pois ele não é obrigado a salvar a ninguém; a responsabilidade do homem permanece, pois a queda de Adão foi sua própria falta, e o homem sempre é responsável por seus pecados.
    Posto que DEUS predestinou certos indivíduos para a salvação, CRISTO morreu unicamente pelos "eleitos"; a expiação fracassaria se alguns pelos quais CRISTO morreu se perdessem.
    Dessa doutrina da predestinação segue-se o ensino de "uma vez salvo sempre salvo"; porque se DEUS predestinou um homem para a salvação, e unicamente pode ser salvo e guardado pela graça de DEUS, que é irresistível, então, nunca pode perder-se.
    Os defensores da doutrina da "segurança eterna" apresentam as seguintes referências para sustentar sua posição: João 10:28,29Rom. 11:29Fil. 1:61 Ped. 1:5Rom. 8:35João 17:6.
     2. Arminianismo.
    O ensino arminiano é como segue: A vontade de DEUS é que todos os homens sejam salvos, porque CRISTO morreu por todos. (1 Tim. 2:4-6Heb. 2:92 Cor. 5:14Tito 2:11,12.) Com essa finalidade ele oferece sua graça a todos. Embora a salvação seja obra de DEUS, absolutamente livre e independente de nossas boas obras ou méritos, o homem tem certas condições a cumprir. Ele pode escolher aceitar a graça de DEUS, ou pode resistir-lhe e rejeitá-la. Seu direito de livre arbítrio sempre permanece.
    As Escrituras certamente ensinam uma predestinação, mas não que DEUS predestina alguns para a vida eterna e outros para o sofrimento eterno. Ele predestina " a todos os que querem" a serem salvos — e esse plano é bastante amplo para incluir a todos que realmente desejam ser salvos. Essa verdade tem sido explicada da seguinte maneira: na parte de fora da porta da salvação lemos as palavras: "quem quiser pode vir"; quando entramos por essa porta e somos salvos, lemos as palavras no outro lado da porta: "eleitos segundo a presciência de DEUS". DEUS, em razão de seu conhecimento, previu que essas pessoas aceitariam o evangelho e permaneceriam salvos, e predestinou para essas pessoas uma herança celestial. Ele previu o destino delas, mas não o fixou.
    A doutrina da predestinação é mencionada, não com propósito especulativo, e, sim, com propósito prático. Quando DEUS chamou Jeremias ao ministério, ele sabia que o profeta teria uma tarefa muito difícil e poderia ser tentado a deixá-la. Para encorajá-lo, o Senhor assegurou ao profeta que o havia conhecido e o havia chamado antes de nascer (Jer. 1:5). Com efeito, o Senhor disse: "Já sei o que está adiante de ti, mas também sei que posso te dar graça suficiente para enfrentares todas as provas futuras e conduzir-te à vitória." Quando o Novo Testamento descreve os cristãos como objetos da presciência de DEUS, seu propósito é dar-nos certeza do fato de que DEUS previu todas as dificuldades que surgirão à nossa frente, e que ele pode nos guardar e nos guardará de cair.
     
    3. Uma comparação.
    A salvação é condicional ou incondicional? Uma vez salva, a pessoa é salva eternamente? A resposta dependerá da maneira em que podemos responder às seguintes perguntas-chave: De quem depende a salvação? É irresistível a graça?
    1) De quem depende, em última análise, a salvação: de DEUS ou do homem? Certamente deve depender de DEUS, porque, quem poderia ser salvo se a salvação dependesse da força da própria pessoa? Podemos estar seguros disto: DEUS nos conduzirá à vitória, não importa quão débeis ou desatinados sejamos, uma vez que sinceramente desejamos fazer a sua vontade. Sua graça está sempre presente para nos admoestar, reprimir, animar e sustentar.
    Contudo, não haverá um sentido em que a salvação dependa do homem? As Escrituras ensinam constantemente que o homem tem o poder de escolher livremente entre a vida e a morte, e DEUS nunca violará esse poder.
    2) Pode-se resistir à graça de DEUS? Um dos princípios fundamentais do Calvinismo é que a graça de DEUS e irresistível. Quando DEUS decreta a salvação de uma pessoa, seu ESPÍRITO atrai, e essa atração não pode ser resistida. Portanto, um verdadeiro filho de DEUS certamente perseverará até ao fim e será salvo; ainda que caia em pecado, DEUS o castigará e pelejará com ele. Ilustrando a teoria calvinista diríamos: é como se alguém estivesse a bordo dum navio, e levasse um tombo; contudo está a bordo ainda; não caiu ao mar.
    Mas o Novo Testamento ensina, sim, que é possível resistir à graça divina e resistir para a perdição eterna (João 6:40; Heb. 6:46; 10:26-302 Ped. 2:21Heb. 2:32 Ped. 1:10), e que a perseverança é condicional dependendo de manter-se em contacto com DEUS.
    Note-se especialmente Heb. 6:4-6 e 10:26-29. Essas palavras foram dirigidas a cristãos; as epístolas de Paulo não foram dirigidas aos não-regenerados. Aqueles aos quais foram dirigidas são descritos como havendo sido uma vez iluminados, havendo provado o dom celestial, participantes do ESPÍRITO SANTO, havendo provado a boa Palavra de DEUS e as virtudes do século futuro. Essas palavras certamente descrevem pessoas regeneradas.
    Aqueles aos quais foram dirigidas essas palavras eram critãos hebreus, que, desanimados e perseguidos (10:32-39), estavam tentados a voltar ao Judaísmo. Antes de serem novamente recebidos na sinagoga, requeria-se deles que, publicamente, fizessem as seguintes declarações (10:29): que JESUS não era o Filho de DEUS; que seu sangue havia sido derramado justamente como o dum malfeitor comum; e que seus milagres foram operados pelo poder do maligno. Tudo isso está implícito em Heb. 10:29. (Que tal repúdio da fé podia haver sido exigido, é ilustrado pelo caso dum cristão hebreu na Alemanha, que desejava voltar à sinagoga, mas foi recusado porque desejava conservar algumas verdades do Novo Testamento.) Antes de sua conversão havia pertencido à nação que crucificou a CRISTO; voltar à sinagoga seria de novo crucificar o Filho de DEUS e expô-lo ao vitupério; seria o terrível pecado da apostasia (Heb. 6:6); seria como o pecado imperdoável para o qual não há remissão, porque a pessoa que está endurecida a ponto de cometê-lo não pode ser "renovada para arrependimento"; seria digna dum castigo mais terrível do que a morte (10:28); e significaria incorrer na vingança do DEUS vivo (10:30, 31).
    Não se declara que alguém houvesse ido até esse ponto; de fato , o autor está persuadido de "coisas melhores" (6:9). Contudo, se o terrível pecado da apostasia da parte de pessoas salvas não fosse ao menos remotamente possível, todas essas admoestações careceriam de qualquer fundamento.
    Leia-se 1 Cor. 10:1-12. Os coríntios se haviam jactado de sua liberdade cristã e da possessão dos dons espirituais. Entretanto, muitos estavam vivendo num nível muito pobre de espiritualidade. Evidentemente eles estavam confiando em sua "posição" e privilégios no Evangelho. Mas Paulo os adverte de que os privilégios podem perder-se pelo pecado, e cita os exemplos dos israelitas. Estes foram libertados duma maneira sobrenatural da terra do Egito, por intermédio de Moisés, e, como resultado, o aceitaram como seu chefe durante a jornada para a Terra da Promissão. A passagem pelo Mar Vermelho foi um sinal de sua dedicação à direção de Moisés. Cobrindo-os estava a nuvem, o símbolo sobrenatural da presença de DEUS que os guiava. Depois de salvá-los do Egito, DEUS os sustentou, dando-lhes, de maneira sobrenatural, o que comer e beber. Tudo isso significava que os israelitas estavam em graça, isto é: no favor e na comunhão com DEUS.
    Mas "uma vez em graça sempre em graça" não foi verdade no caso dos israelitas, pois a rota de sua jornada ficou assinalada com as sepulturas dos que foram destruídos em conseqüência de suas murmurações, rebelião e idolatria. O pecado interrompeu sua comunhão com DEUS, e, como resultado, caíram da graça. Paulo declara que esses eventos foram registrados na Bíblia para advertir os cristãos quanto à possibilidade de perder os mais sublimes privilégios por meio do pecado deliberado.
     
    4. Equilíbrio escriturístico.
    As respectivas posições fundamentais, tanto do Calvinismo como do Arminianismo, são ensinadas nas Escrituras. O Calvinismo exalta a graça de DEUS como a única fonte de salvação — e assim o faz a Bíblia; o Arminianismo acentua a livre vontade e responsabilidade do homem — e assim o faz a Bíblia. A solução prática consiste em evitar os extremos antibíblicos de um e de outro ponto de vista, e em evitar colocar uma idéia em aberto antagonismo com a outra. Quando duas doutrinas bíblicas são colocadas em posição antagônica, uma contra a outra, o resultado é uma reação que conduz ao erro. Por exemplo: a ênfase demasiada à soberania e à graça de DEUS na salvação pode conduzir a uma vida descuidada, porque se a pessoa é ensinada a crer que conduta e atitude nada têm a ver com sua salvação, pode tornar-se negligente. Por outro lado, ênfase demasiada sobre a livre vontade e responsabilidade do homem, como reação contra o Calvinismo, pode trazer as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de toda a confiança de sua salvação. Os dois extremos que devem ser evitados são: a ilegalidade e o legalismo.
    Quando Carlos Finney ministrava em uma comunidade onde a graça de DEUS havia recebido excessiva ênfase, ele acentuava muito a responsabilidade do homem. Quando dirigia trabalhos em localidades onde a responsabilidade humana e as obras haviam sido fortemente defendidas, ele acentuava a graça de DEUS. Quando deixamos os mistérios da predestinação e nos damos à obra prática de salvar as almas, não temos dificuldades com o assunto. João Wesley era arminiano e George Whitefield calvinista. Entretanto, ambos conduziram milhares de almas a CRISTO.
    Pregadores piedosos calvinistas, do tipo de Carlos Spurgeon e Carlos Finney, têm pregado a perseverança dos santos de tal modo a evitar a negligência. Eles tiveram muito cuidado de ensinar que o verdadeiro filho de DEUS certamente perseveraria até ao fim, mas acentuaram que se não perseverassem, poriam em dúvida o fato do seu novo nascimento. Se a pessoa não procurasse andar na santidade, dizia Calvino, bem faria em duvidar de sua eleição.
    É inevitável defrontarmo-nos com mistérios quando nos propomos tratar as poderosas verdades da presciência de DEUS e a livre vontade do homem; mas se guardamos as exortações práticas das Escrituras, e nos dedicamos a cumprir os deveres específicos que se nos ordenam, não erraremos. "As coisas encobertas são para o Senhor DEUS, porém as reveladas são para nós" (Deut. 29:29).
    Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir falando indevidamente dos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios de segurança — o poder de CRISTO como Salvador; a fidelidade do ESPÍRITO SANTO que habita em nós, a certeza das divinas promessas, e a eficácia infalível da oração. O Novo Testamento ensina uma verdadeira "segurança eterna", assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das imperfeições, obstáculos ou dificuldades exteriores, o cristão pode estar seguro e ser vencedor em CRISTO. Ele pode dizer com o apóstolo Paulo: "Quem nos separará do amor de CRISTO? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de DEUS, que está em CRISTO JESUS nosso Senhor" (Rom. 8:35-39).