William
Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001,
p. 191-6 (Comentário do Novo Testamento)
11-14 – A graça
de DEUS considerada como a razão pela qual todo membro da família cristã pode e
deve viver uma vida cristã - eis o tema de uma das passagens mais ricas da
Santa Escritura. Note os quatro pensamentos principais:
1. versículo 11
A graça de DEUS em CRISTO é a grande ação penetrante, que dissipa as trevas
trazendo a todos a salvação.
Diz Paulo:
Porque a graça de DEUS se manifestou, trazendo salvação a todos os homens.
A graça de DEUS
é seu favor ativo em outorgar o maior dom aos que merecem o maior castigo.
(Para o conceito graça, ver um estudo de vocabulário em C.N.T. sobre ITs 1.1.)
Essa graça penetrou em nossas trevas morais e espirituais. Ela “apareceu”. O
verbo usado no original se relaciona ao substantivo epifania, ou seja,
aparecimento ou manifestação (por exemplo, do sol ao amanhecer). A graça de
DEUS surgiu repentinamente sobre os que estavam nas trevas e na sombra da morte
(ver também Ml 4.2; Lc 1.79; At 27.20; e Tt 3.4). Ela despontou quando JESUS
nasceu, quando de seus lábios emanaram palavras de vida e beleza, quando curava
os enfermos, limpava os leprosos, expulsava os demônios, ressuscitava os
mortos, sofreu pelos pecados dos homens e quando deu sua vida pelas ovelhas
para a reassumir na manhã da ressurreição. Assim a graça derramou sobre o mundo
a santa luz de CRISTO e “afugentou a escura noite do pecado”. Então nasceu o
sol da justiça ‘trazendo cura em suas asas”. A graça de DEUS apareceu
“salvadora a todos os homens”. Em todas as demais partes do Novo Testamento, a
palavra salvadora, quando precedida pelo artigo e usada como um substantivo,
significa salvação (Lc 2.30; 3.6; At 28.28; E f (>. 17), no sentido
espiritual do termo. Daí, também aqui em Tito 2.11, o significado é: a graça de
DEUS fez sua aparição “trazendo salvação”. A graça veio resgatar o homem do
maior mal possível, a saber: a maldição de DEUS sobre o pecado; e conceder-lhe
o maior benefício possível, a saber: a bênção de DEUS para a alma e para o
corpo por toda a eternidade. (Para um estudo terminológico do conceito salvação,
ver sobre ITm 1.15.)
Ela trouxe esta
salvação a “todos os homens”. Para uma explanação detalhada sobre esta
expressão, ver sobre 1 Timóteo 2.1. Aqui em Tito 2.11, o contexto faz o
significado bem claro. Masculino ou feminino, idoso ou jovem, rico ou pobre:
todos são culpados diante de DEUS, e dentre todos eles DEUS congregou seu povo.
Anciãos, anciãs, homens r mulheres mais jovens, e até mesmo escravos (ver vv.
1-10) devem viver vidas consagradas, porque a graça de DEUS manifestou salvação
a todos esses vários grupos ou classes. “Todos os homens” aqui no versículo 11
= “nós” do versículo 12. A graça não passou por alto os de idade avançada só
porque são idosos, nem mulheres só porque são mulheres, nem escravos só porque
são meramente escravos, etc. Manifestou-se a todos, sem consideração de idade,
sexo ou posição social. Por isso ninguém pode derivar, desde seu grupo ou casta
particular a que pertence, razão plausível para não viver a vida cristã.
2. versículo 12
A graça de DEUS em CRISTO é o sábio pedagogo.
As palavras que
comunicam este pensamento são: educando-nos a fim de que, tendo renunciado à
impiedade e àquelas paixões mundanas, aqui e agora vivamos vidas de
autodomínio, de justiça e devoção.
A graça educa.
Ver sobre 1 Timóteo 1.20. O verbo usado no original é do mesmo teor que o
substantivo pedagogo. Um pedagogo é alguém que conduz as crianças passo a
passo. Assim também a graça amoravelmente conduz e guia. Não precipita as
coisas em confusão. Não subverte súbita e forçosamente a ordem social. Por
exemplo, não ordena abruptamente aos senhores que deem alforria aos seus
escravos; tampouco ordena insensatamente aos escravos que se rebelem contra
seus senhores. Ao contrário disso, gradualmente leva os senhores a perceberem
que o abuso da liberdade de seus semelhantes é um grande mal, e convence os
escravos que apelar para a força e para a vingança não é solução para nenhum
problema. A graça educa ensinando (At 7.22; 22.3), disciplinando (ITm 1.20; 2Tm
2.25; então Lc 23.16, 22; ICo 11.32; 2Co 6.9; Hb 12.6-11; Ap 3.19),
aconselhando,
confortando,
incentivando, admoestando, guiando, convencendo, retribuindo, restringindo,
etc.
O propósito de
tudo isto é expresso primeiro negativamente, então positivamente (que é um
estilo caracteristicamente paulino). Negativamente, nos induz a renunciar à
impiedade, à profanidade, à perversidade (ver sobre 2Tm 2.16), ou a rejeitar
tudo isso (o verbo tem aqui o mesmo significado que em At 3.13; 7.35). Observe
a prática vivida de “impiedade” em Romanos 1.18-32 (note a mesma palavra em Rm
1.18; cf. 11.26). Tal impiedade é idolatria mais imoralidade, ambos os ter mos
tomados em seu significado mais abrangente. Quando a graça toma posse do
pecador, ele repudia a impiedade. Tal repúdio é um ato defini do, uma decisão
de renunciar àquilo que causa desprazer a DEUS. Ninguém consegue ir para o céu
sendo negligente. Rejeitar a impiedade implica igualmente a renúncia “às
paixões mundanas” - desejos fortes e pecaminosos. (Ver estudo terminológico do
termo paixão ou desejo em conexão com a exegese de 2Tm 2.22.) Segundo o uso
bíblico do termo, os desejos mundanos ou pecaminosos incluem o seguinte: o
desejo sexual desordenado, o alcoolismo, o desejo excessivo de possessões
materiais, a agressividade (daí, caráter belicoso, vaidade, ânsia de exercer
domínio), etc. Em suma, ele aponta para os anseios desordenados por prazeres,
poder e possessões. Ver também 1 João 2.16 e sobre Tito 3.3.
Positivamente, a
graça nos educa a fim de que, “aqui e agora” (nesta presente era\ ver ITm 6.17;
2Tm 4.10; então Rm 12.2; ICo 1.20; 2Co 4.4; contrastados com a era por vir em E
f 1.21; cf. Mc 10.30), vivamos vidas que mostrem uma relação transformada:
para consigo mesmo: “domínio próprio”, fazer uso
adequado dos desejos e impulsos que em si mesmos não são pecaminosos, e vencer
os que são pecaminosos; para com o próximo: “justiça”,
honradez, integridade no relacionamento com os demais; para
com DEUS: “devoção”, piedade, verdadeiro fervor e reverência para com
o único que é objeto de adoração.
3. versículo 13
A graça de DEUS em CRISTO é o preparador eficaz.
Nós - anciãos,
anciãs, homens e mulheres mais jovens, escravos, etc. - devemos viver uma vida
cristã real porque, pelo poder da graça de DEUS, aguardamos a bendita
esperança, a aparição em glória de nosso grande DEUS e Salvador CRISTO JESUS.
A graça de DEUS
nos educa a fim de vivermos vidas consagradas, enquanto aguardamos201 a bendita
esperança. A expressão aguardar ou olhar para frente com paciência modifica o
viver, atitude esta que é uma circunstância presente ou explicação adicional. E
“a bendita esperança” que os crentes estão aguardando. Esta é uma metonímia
para expressar a realização daquela esperança (isto é, a realização de nosso
anelo mais ardente, expectação confiante e espera paciente). Encontramos uma
metonímia semelhante em Gálatas 5.5; Colossenses 1.5 (aos quais alguns
intérpretes adicionariam Hb 6.18).
Essa esperança é
chamada bendita. Ela comunica bênção, felicidade, deleite e glória. O adjetivo
bendita é usado em conexão com DEUS em 1 Timóteo 1.11; 6.15; ver sobre estas
passagens. Ora, ainda a possessão de um espírito esperançoso e o exercício da
esperança são benditos, por causa de:
1) o
fundamento imutável da esperança (ITm 1.1,
2; então Rm 5.5; 15.4; Fp 1.20; Hb 6.19; I
Pe 1.3, 21); o glorioso autor da esperança (Rm 15.13;
cf. 2Ts 2.16); o maravilhoso objetivo da esperança (vida eterna,
salvação, glória: Tt 1.2; 3.7; então ITs
5.8; então Rm 5.2; Cl 1.27); os preciosos efeitos
da esperança (paciência, ITs 1.3; “franqueza no
falar”, 2Co 3.12; e purificação da vida, 1Jo 3.3);
e o
caráter eterno da esperança (ICo 13.13).
Então,
seguramente a realização desta esperança será deveras ben dita! Leia Daniel
12.3; Mateus 25.34-40; Romanos 8.20b; 1 Coríntios 15.51,52; I Tessalonicenses
4.13-18; 2 Tessalonicenses 1.10; Apocalipse 14.14-16; 19.6-9. De fato, a
certeza da realização comunica vigor à esperança, e resulta nas graças
mencionadas sob o item (4) supra.
Ora, a
realização da bendita esperança é “a aparição em glória”.202 Note as duas
aparições. Já houve uma (ver sobre v. 11; cf. 2Tm 1.10). Está para haver outra
(ver C.N.T. sobre 2Ts 2.8; cf. ITm 6.14; 2Tm 4.1, 8). Será a boa aparição... de
quem? Ao longo da história da interpretação, essa pergunta tem dividido
gramáticos e comentaristas. Esperamos a aparição em glória de uma pessoa ou de
duas pessoas.
Os que endossam
o ponto de vista de uma pessoa favorecem a tradução: " de nosso grande
DEUS e salvador CRISTO JESUS (outra redação
traz “JESUS CRISTO”,
mas isso não faz diferença quanto ao ponto de vista em questão.) Ora, se esse
ponto de vista é o correto, quem aceita a infalibilidade das Escrituras tem
nessa passagem um texto de prova adicional para a deidade de CRISTO; e mesmo os
que não aceitam a infalibilidade da Escritura, porém aceitam a tradução que
resulta numa só pessoa, deve admitir pelo menos que o autor das Pastorais
(talvez erroneamente, segundo eles) sustenta que JESUS era um em essência com
DEUS o Pai. A tradução como sendo uma pessoa é favorecida por A.R.Y.
{margem),
Weymouth, Goodspeed, Berkeley Version, R.S.V. e muitos comentaristas: Van
Oosterzee, Bouma, Lenski, Gealy, Simpson e outros. O grande gramático
neotestamentário, A. T. Robertson, fez uma poderosa defesa deste ponto de vista
pelo prisma gramatical, baseando seus argumentos na regra de Granville Sharp.
Entre outros,
João Calvino se mostrava relutante em escolher entre a tradução que se refere a
uma pessoa e a que se refere a duas pessoas. Não obstante, ele enfatiza que em
qualquer dos dois casos o propósito da passagem é afirmar que, quando CRISTO se
manifestar, a grandeza da glória divina se revelará nele (cf. Lc 9.26); e que,
em conseqüência, a passagem de forma alguma endossa os arianos em sua intenção
de demonstrar que o Filho é menos divino que o Pai.
A teoria que
defende o ponto de vista de duas pessoas é apresentada com pequenas variantes
por diversas versões inglesas: Wyclif, Tyn- dale, Crammer, A.V., A.R.V.
(texto), Moffatt e R.S.V. (margem). Tem sido apoiada por uma longa lista de
comentaristas (entre os quais se encontram De Wette, Huther, White [em The
Expositor’s Bible], E. F. Scott e outros) e especialmente pelo gramático G. B.
Winer.
A tradução,
pois, vem a ser: “do grande DEUS e o [ou “e do”] Salvador JESUS CRISTO.”
Winer reconhece
que seu respaldo a este ponto de vista não está baseado tanto na gramática - a
qual, como chegou a admitir, permite a tradução como sendo uma pessoa - quanto
sobre “a convicção dogmática derivada dos escritos do apóstolo Paulo, no sentido
que esse após tolo não pode ter chamado CRISTO o grande DEUS”. (Essa
argumentação se vê em dificuldades para interpretar Rm 9.5; Fp 2.6; Cl 1.15-20;
Cl 2.9, etc.) Mas ele deveria ter notado que mesmo o contexto atribui a JESUS
(v. 14) funções que no Antigo Testamento são atribuídas a Jeová, tais como atos
de redimir e purificar (2Sm 7.23; Sl 130.8; Os 13.14; então Ez 37.23); e que a
palavra Salvador, em cada um dos três capítulos de Tito, primeiro se aplica a
DEUS e em seguida a JESUS (Tt 1.3, 4; 2.10, 13; 3.4, 6). Portanto, é evidente
que o propósito do autor desta epístola (isto é, Paulo) é demonstrar que JESUS
é plenamente divino, tão plenamente como Jeová ou como o Pai.
Devemos
considerar correta a tradução como uma pessoa. Ela recebe o endosso das
seguintes considerações:
(1) A menos que
haja alguma razão específica em sentido contrário, a regra sustenta que, quando
o primeiro de dois substantivos do mesmo caso e unidos pela conjunção e vem
precedido do artigo, o qual não se repete antes do segundo substantivo, ambos
se referem à mesma pessoa. Quando o artigo se repete antes do segundo
substantivo, então está falando de duas pessoas. Exemplos:
O artigo
precede o primeiro de dois substantivos e não se repete antes do
segundo: “o irmão seu e coparticipante.” Os dois
substantivos se referem à mesma pessoa,
João, e a expressão é corretamente
traduzida: “seu irmão e coparticipante” (Ap 1.9).
Dois artigos, um
precedendo a cada substantivo: “Que o mesmo seja para você como o gentio e o
publicano” (Mt 18.17). Os dois substantivos apontam para duas pessoas (neste
caso, cada uma representando uma classe).
Ora, segundo
esta regra, as palavras discutidas em Tito 2.13 indicam claramente uma só
pessoa, a saber: CRISTO JESUS, porque, traduzi* da palavra por palavra, a frase
diz: “do grande DEUS e Salvador nosso CRISTO JESUS.” O artigo que está antes do
primeiro substantivo não se repete antes do segundo, e por isso a expressão
deve ser traduzida:
“de nosso grande
DEUS e Salvador CRISTO JESUS.”
Jamais se
descobriu alguma razão válida que demonstre que a regra (de Granville Sharp)
não se aplica no presente caso.
De fato
reconhece-se geralmente que as palavras aparecem no final de 2 Pedro 1.11, no
original, se referem a uma pessoa e devem ser traduzidas: “nosso Senhor e
Salvador JESUS CRISTO.” Mas, se isto é assim, por que não pode ser também assim
na expressão essencialmente idêntica em 2 Pedro 1.1 e aqui em Tito 2.13, e
então traduzir: “nosso DEUS e Salva dor JESUS CRISTO” (ou “CRISTO JESUS”)?
(2) Em nenhuma
parte do Novo Testamento se usa a palavra epifania (aparição ou manifestação)
com respeito a mais de uma pessoa. Além do mais, a pessoa a quem se refere é
sempre CRISTO (ver 2Ts 2.8; ITm 6.14; 2Tm 4.1; 2Tm 4.8 e 2Tm 1.10, onde a
referência é à primeira vinda).
A fraseologia
aqui em Tito 2.13 bem que poderia ter sido traça da como reação ao tipo de
linguagem que amiúde os pagãos usavam com respeito aos seus próprios ídolos, os
quais consideravam como “salvadores”, e particularmente à fraseologia usada em
relação ao cul to aos reis terrenos. Ptolomeu I não foi chamado “ salvador e
deus”? Não se referiam a Antíoco e a Júlio César como “deus manifestado”?
Paulo indica que
os crentes esperam a aparição de Alguém que realmente é DEUS e Salvador, sim,
“nosso grande [exaltado, glorioso] DEUS e Salvador, a saber, CRISTO JESUS”.
O “ponto” real
da passagem, em conexão com tudo o que a prece deu, é que nossa jubilosa
expectação do aparecimento em glória de nosso grande DEUS e Salvador CRISTO
JESUS nos prepara efetivamente para a vida com ele. Como ele faz isso?
Primeiro, porque a Segunda Vinda será tão completamente gloriosa que os crentes
não desejarão “perdê-la”, mas desejarão “manifestar-se com ele em glória” (Cl
3.4). Segundo, porque a bendita expectação enche os crentes de gratidão, e a
gratidão produz estado de alerta pela graça de DEUS.
4. versículo 14
A graça de DEUS em CRISTO é o purificador pleno.
Nosso grande
DEUS e Salvador CRISTO JESUS, cuja aparição em glória os crentes esperam com
tanta esperança e alegria é aquele que se deu a si mesmo por nós a fim de
redimir-nos de toda iniquidade e purificar para si um povo, propriamente seu,
que se deleita em feitos nobres.
Para o
significado de “que deu-se a si mesmo por nós a fim de redimir-nos”, ver sobre
1 Timóteo 2.6: “que deu-se em resgate por todos.” Quem quer que porventura
nutra dúvidas sobre o caráter necessário, objetivo, voluntário, propiciatório,
substitutivo e eficaz do ato de CRISTO pelo qual ele se deu por nós, deve fazer
um estudo dili gente e contextual das seguintes passagens:
Antigo Testamento
- Genesis 2.16, 17; Exodo
12.13; Levitico 1.4; Levitico 16.20-22; Levitico 17.11; 2 Samuel 7.23; Salmo
40.6, 7; Salmo 130.8; Isaias 53; Zacarias 13.1
Novo Testamento
- Mateus 20.28; Mateus 26.27,
28; Marcos 10.45; Lucas 22.14-23; Joao 1.29; Joao 6.55; Atos 20.28; Romanos
3.25; Romanos 5; 1
Coríntios 6,20
1 Corintios 7.23;
; 2 Corintios 5.18-21; Galatas 1.4; Galatas 2.20; Galatas 3.13; Efesios
1.7; Efesios 2.16; Efesios 5.6; Colossenses 1.19-23; Hebreus 9.22
Hebreus
9.28; 1 Pedro 1.18, 19; 1 Pedro 2.24; 1 Pedro 3.18; 1 Joao 2.2; 1 Joao
4.10; Apocalipse 5.12; Apocalipse 7.14
Ele deu nada
menos que a si próprio, e isto por nós, ou seja, em nosso interesse e em nosso
lugar. A contemplação deste sublime pensamento deve resultar em uma vida que
seja para sua honra. Além do mais, por sua morte expiatória ele teve os méritos
para que o ESPÍRITO SANTO pudesse operar em nosso coração. Sem este ESPÍRITO,
nos seria impossível viver uma vida santificada.
CRISTO
entregou-se por nós com um duplo propósito: o primeiro é negativo (ver Sl
130.8); e o segundo, positivo (ver 2Sm 7.23). Negativamente, ele deu-se por nós
“para redimir-nos”, ou seja, para resgatar-nos de um poder maligno. O preço do
resgate foi seu precioso sangue (I Pe 1.18, 19). E o poder do qual ele nos
livra é o do “pecado” (ver C.N.T. sobre 2Ts 2.3), ou seja, a desobediência à
santa lei de DEUS, qualquer que seja a forma na qual a desobediência se
manifesta (“toda iniquidade”).
Positivamente,
ele deu-se por nós “a fim de purificar para si mesmo um povo”, ou seja, para
purificar-nos por meio de seu sangue e seu ESPÍRITO (Ef 5.26; Hb 9.14; l Jo
1.7, 9), para que, assim purificados, estejamos em condições de ser um povo,
propriamente seu (ver Ez 37.23). Outrora, Israel era o povo peculiar de Jeová;
agora é a igreja. E como Israel se caracterizava por ser zeloso no tocante à
lei (At 21.20; cf. Gl 1.14), assim agora CRISTO purifica seu povo com este
mesmo propósito em mente, a saber, para que ele seja um povo de sua própria
possessão “zeloso pelos feitos nobres”, feitos esses que, procedentes da fé,
sejam feitos em consonância com a lei de DEUS e para sua glória (cf. I Pe
3.13).
Em suma, os
versículos 11-14 nos ensinam que a razão pela qual todo membro da família
deveria viver uma vida de autodomínio, justiça e piedade é para que a graça de
DEUS em CRISTO penetre nossas trevas morais e espirituais e traga salvação
a todos os homens; para que essa graça seja também nosso grande pedagogo que
nos afasta da impiedade e das paixões mundanas e nos guie pela vereda da
santificação; que é o preparador eficaz que nos faz olhar com anseio para a
manifestação em glória do nosso grande DEUS e Salvador CRISTO JESUS; e,
finalmente, que é o purificador total, de modo que, redimidos de toda
desobediência à lei de DEUS, sejamos transformados no tesouro exclusivo de
CRISTO cheios de zelo pelos feitos que são excelentes.
Tt 3.4-5
E ajamos assim
movidos pela gratidão pelo que temos recebido. Portanto, Paulo prossegue:
Quando, porém, apareceu a benignidade de DEUS nosso Salvador e seu amor para
com o homem, ele nos salvou. Que surpreendente contraste! Aliás, um duplo
contraste.
(1) Em contraste
com “a desumanidade do homem para com o homem” descrita no' versículo 3,
retrata-se a benignidade (palavra usada unicamente por Paulo: Rm 2.4; 3.12;
11.22, etc.) de DEUS e seu amor para com o homem (cf. At 28.2). E (2) sobre as
trevas infernais de nosso passado (v. 3) nasce dramaticamente a luz do Pai
misericordioso e piedoso que nos conduz ao presente estado de graça. (Aqui uma
vez mais está aquela maravilhosa epifania supra mencionada; ver sobre Tt 2.11.)
Isto, por amor à
ênfase, é mais que um mero argumento. É um argumento, por certo, como já se
realçou. Porém é mais que isto. É o derramamento (em linguagem proverbial; ver
sobre v. 8) de um coração que extravasa de amor que corresponde ao amor de
DEUS. É preciso ter em mente que Paulo escreve como alguém que já experimentou
em sua própria vida tudo isso. Ele não se põe ao lado de sua história, mas ele
mesmo é parte dela. Daí, estas palavras sobre a benignidade de DEUS nosso
Salvador e seu amor para com o homem são tão ardentes e ternas como era o
coração desse mesmo apóstolo, homem que amiúde era visto chorando, e que uma
vez escreveu de forma comovente: “O filho de DEUS me amou, e deu-se a si
mesmo... por mim” (Gl 2.20).
A expressão “a
benignidade e o amor para com o homem” é um só conceito; por isso o verbo no
original está no singular. A expressão como tal se encontra também nas obras
dos moralistas pagãos, porém o conteúdo na forma usada aqui em Tito 3.4 é
único. Aqui a “benignidade e amor” não são atribuídos a algum governante
terreno sobre quem os louvores dos homens estão sendo derramados, louvores que
dificilmente ele merece; aqui, porém, é a benignidade e amor reais. A expressão
amor para com o homem é uma só palavra, exatamente como nossa palavra
“filantropia”. Não obstante, posto que no uso atual a palavra “filantropia” é
entendida apenas em referência a “obras de beneficência prática”, uma obra da
qual os homens são os autores e os receptores, provavelmente seja melhor
conservar a bela tradução que se encontra em nossas versões; porque certamente,
na forma que Paulo usa a palavra, esta combina o amor em si e seu generoso
derramamento sobre a humanidade. Ao reter a tradução “amor para com o homem”
alguém se lembra imediatamente de João 3.16, que expressa de forma bela a
verdade que o apóstolo tinha em mente.
Foi a
benignidade e o amor de DEUS nosso Salvador (ver sobre ITm 1.1; Tt 1.3; 2.10)
que vieram para o resgate do homem. Foi ele, a saber, DEUS o Pai, quem nos salvou,
resgatando-nos do maior dos males e outorgando-nos a maior das bênçãos (ver
sobre ITm 1.15). Ele nos salvou: Paulo, Tito, na verdade todos quantos, no
curso do tempo, vieram a ser os recipientes desta grande bênção.
Ora, com o fim
de predispor-nos plenamente a ajudar outros que ainda não se acham salvos, e evitar que digamos: “Mas eles nao merecem nossa ajuda”,
Paulo realça o fato de que nós, de nossa parte, também não merecíamos nossa salvação. Ele faz
isto realçando que, negativamente, o Pai nos salvou não por virtude das obras que nós mesmos houvéssemos realizado em [um estado de] justiça; e, positivamente, mas segundo suamisericórdia. Tão forte é a ênfase de Paulo sobre este caráter completamente soberano (ou seja, completamente imerecido de nossa parte) de nossa salvação, que (como se faz evidente no original; e vertambém as traduções da A.V. e A.R.V.) ele faz com que essa extensa oração composta preceda o verbo salvar. Assim, a A.V. tem:
“4
Mas quando se manifestou a benignidade de DEUS nosso Salvador, e seu amor para
com o homem, 5 não por obras de justiça que tivéssemos feito, mas segundo sua
misericórdia ele nos salvou...”
Quanto
à ordem das palavras, esta tradução é correta. A única objeção que alguns lhe
fazem é que, a menos que alguém preste muita atenção à pontuação, ele corre o
risco de construir mentalmente a frase composta como se fosse um modificador do
verbo manifestou, e não do verbo salvou.
“Não
em virtude de (ou seja, em conseqüência de, com base em; cf. Gl 2.16) obras que
nós mesmos tivéssemos realizado num estado de justiça.” A implicação é: tais
obras não existiram. Nem Paulo, nem nenhum outro jamais realizou tal obra,
porque diante de DEUS e sua santa lei, todos - tanto judeus quanto pagãos -
estão por natureza “debaixo do pecado” (Rm 3.9). Daí, se os homens têm de ser
salvos de alguma forma, só é possível “segundo sua [de DEUS] própria
misericórdia”. Note que os homens não só são salvos por ou em virtude de ou com
base em sua misericórdia (tudo isto, por certo, está implícito), mas segundo
sua misericórdia, sendo a “amplitude da misericórdia de DEUS” a medida que
determina a amplitude da salvação deles (cf. Ef 1.7). Outras passagens da
Escritura que igualmente enfatizam o caráter completamente soberano da graça de
DEUS ao salvar o homem são citadas em C.N.T. sobre João 15.16.207 A
misericórdia de DEUS (acerca da qual ver 1 Tm 1.2) é sua benignidade e
compaixão para com os que se acham premidos pela necessidade ou pela angústia.
O
meio empregado para salvar-nos é indicado por um modificador adicional do verbo
ele salvou, a saber: pela lavagem da regeneração e renovação proveniente do
ESPÍRITO SANTO. Note “pela lavagem” (loutpóv-oü), não “por meio de lavatório ou
fonte para lavagem”. A lavagem a que se refere é completamente espiritual. E a
[lavagem] da regeneração e renovação, consideradas como um só conceito.
A
expressão regeneração aplicada a indivíduos aparece somente nesta passagem do
Novo Testamento (Mt 19.28 tem referência à regeneração cósmica). Literalmente
significa novo nascimento, ser nascido outra vez (palin = novamente, mais
genesia = nascimento; daí, palin-genesia). Ainda que, porém, a palavra ocorra
somente esta única vez, a idéia se encontra em muitas outras passagens (Jo
1.13; 3.3, 5-8; I Pe 1.23; 1Jo 2.29; 3.9; 4.7; 5.1,4, 18; cf. também 2Co5.17;
Gl 6.15; Ef 2.5; 4.24; e Cl 2.13). Não conheço definição melhor que aquela dada
por L. Berkhof, a saber: “Regeneração é o ato de DEUS por meio do qual o
princípio da nova vida é implantado no homem, a disposição governante da alma
se faz santa e assegura-se o primeiro exercício santo desta nova disposição.”
Esta passagem, com relação ao seu contexto, põe a ênfase nos seguintes detalhes
em conexão com esta maravilhosa obra de DEUS:
Ela
é obra do ESPÍRITO SANTO. Isto é lógico, porque na Escritura é especialmente a
terceira pessoa da Trindade a que é representada como quem outorga a vida; daí,
ela também outorga a vida espiritual. Além do mais, é ele, o ESPÍRITO SANTO,
quem toma a iniciativa na obra de fazer o homem santo.
Ela
precede e origina o processo da renovação. Enquanto esta é uma
atividade que dura toda
a vida, a regeneração é um só ato, uma
mudança instantânea.
Ela
afeta o homem por inteiro. Note: “ele nos salvou.”
É
uma mudança radical, de tal modo que quem anteriormente se achava dominado
pelos sete vícios mencionados no versículo 3, agora é adornado em
princípio com as sete virtudes mencionadas
nos versículos 1 e 2.
A
palavra renovação se encontra também em Romanos 12.2. Esta passagem indica que,
embora esta obra, assim como a regeneração, seja atribuída ao ESPÍRITO SANTO,
existe esta diferença: a regeneração é uma obra inteiramente de DEUS, porém na
renovação ou santificação quem toma parte é DEUS e o homem. Enquanto a
regeneração não é percebida diretamente pelo homem, que só conhece por seus
efeitos, a renovação requer a rendição consciente e contínua do homem e de toda
sua personalidade à vontade de DEUS.
“Santificação
é aquela operação graciosa e contínua do ESPÍRITO SANTO, pela qual isenta o
pecador justificado da contaminação do pecado, renova toda sua natureza à
imagem de DEUS e o capacita a realizar boas obras.” E claro, à luz de passagens
tais como João 3.3, 5 e especialmente Efésios 5.26 (cf. Hb 10.22), que esta
“lavagem da regeneração e a renovação” tem certa relação com o rito do batismo.
Sem lugar a dúvidas, também aqui em Tito 3.5 há uma referência implícita a esse
sacramento. Não obstante, discutir aqui este problema, enquanto comentamos uma
passagem na qual nem sequer se menciona a água, nos afastaria muito de nosso
tema. Não obstante, ver C.N.T. sobre João 3.3, 5.
Ora,
com o fim de colocar ainda mais ênfase no fato de que os crentes não têm razão
válida para deixar de cumprir seu dever de conquistar outros para CRISTO por
meio de uma conduta piedosa, Paulo acrescenta as seguintes palavras, com
referência à benignidade de DEUS em salvar-nos e comunicar-nos seu ESPÍRITO
capacitador: que [ou a quem, ou seja, o ESPÍRITO] ele [ou seja, DEUS o Pai]
derramou ricamente sobre nós por meio de JESUS CRISTO nosso Salvador.
Note
que nesta passagem DEUS o Pai, DEUS o ESPÍRITO e DEUS o Filho são combinados de
forma muito bela.
DEUS
o Pai não só dá seu Filho, mas também derrama seu ESPÍRITO. A referência é ao
Pentecostes (At 2.17, 18, 33). Organicamente falando, o ESPÍRITO foi derramado
sobre a igreja do presente e do futuro; porque o ESPÍRITO, havendo estabelecido
sua morada na igreja, nunca mais volta a deixá-la. Por isso Paulo pôde dizer:
“a quem derramou ricamente sobre nós.”
William
Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001,
p. 191-6 (Comentário do Novo Testamento)
Referências
Bibliográficas (outras estão acima)
Bíblia
de estudo - Aplicação Pessoal.
Bíblia
de Estudo Almeida. Revista e Atualizada. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do
Brasil, 2006.
Bíblia
de Estudo Palavras-Chave Hebraico e Grego. Texto bíblico Almeida Revista e
Corrigida.
Bíblia
de Estudo Pentecostal. Traduzida em português por João Ferreira de Almeida, com
referências e algumas variantes. Revista e Corrigida, Edição de 1995, Flórida-
EUA: CPAD, 1999.
BÍBLIA
ILUMINA EM CD - BÍBLIA de Estudo NVI EM CD - BÍBLIA Thompson EM CD.
CPAD
- http://www.cpad.com.br/ - Bíblias,
CD'S, DVD'S, Livros e Revistas. BEP - Bíblia de Estudos Pentecostal.
VÍDEOS
da EBD na TV, Desta LIÇÃO INCLUSIVE - http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebdnatv.htm
1
Timóteo, 2 Timóteo e Tito - J. N. D. Kelly - Novo Testamento - Vida Nova -
Série Cultura Cristã.
William
Hendriksen, 1 Timóteo, 2 Timóteo e Tito, São Paulo: Cultura Cristã, 2001,
p. 191-6 (Comentário do Novo Testamento)
A
EPÍSTOLA A TITO - O testamento de Paulo à igreja - Hernandes Dias Lopes -
Comentários Expositivos Hagnos
Tito
- John Macarthur - Novo Testamento Comentário Expositivo de Titus - MOODY
PRESS/CHICAGO - 1996 - by THE MOODY BIBLE INSTITUTE