Lição 3 - Não Terás Outros deuses 1 Parte


Lição 3 - Não Terás Outros deuses 1 Parte
Lições Bíblicas - 1º Trimestre de 2015 - CPAD - Para adultos
Tema: OS DEZ MANDAMENTOS - Valores Imutáveis Para Uma Sociedade Em Constante Mudança
Comentários: Pr. Esequias Soares
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva
Questionário
NÃO DEIXE DE ASSISTIR AOS VÍDEOS DA LIÇÃO ONDE TEMOS MAPAS, FIGURAS, IMAGENS E EXPLICAÇÕES DETALHADAS DA LIÇÃO
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebdnatv.htm
NÃO DEIXE DE LER O ESTUDO SOBRE ALIANÇA - http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/alianca.htm

 
TEXTO ÁUREO
"Ouve, Israel, o SENHOR, nosso DEUS, é o único SENHOR." (Dt 6.4) 
VERDADE PRÁTICA
O primeiro mandamento do Decálogo é muito mais que uma apologia ao monoteísmo; trata-se da soberania de um DEUS que libertou?Israel da escravidão do Egito.  
LEITURA DIÁRIA
Segunda - 2 Rs 19.15 O rei Ezequias introduz a sua oração com uma expressão monoteísta
Terça - Ne 9.6 Neemias ressalta o monoteísmo na sua oração retrospectiva
Quarta - Mc 12.28-30 O Senhor JESUS ensina que DEUS é único, o Criador dos céus e da terra
Quinta - Jo 17.3 A unidade de DEUS não contradiz a divindade de JESUS
Sexta - Ef 4.4-6 O monoteísmo judaico-cristão não contradiz a doutrina da Trindade
Sábado - 1 Co 8.6 O cristianismo é uma religião monoteísta
 
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Deuteronômio 5.6,7; 6.1-6
Deuteronômio 5.6,7
6 Eu sou o SENHOR, teu DEUS, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. 7 Não terás outros deuses diante de mim.
Deuteronômio 6.1-6
1 Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR, vosso DEUS, para se vos ensinar, para que os fizésseis na terra a que passais a possuir; 2 para que temas ao SENHOR, teu DEUS, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados. 3 Ouve, pois, ó Israel, e atenta que os guardes, para que bem te suceda, e muito te multipliques, como te disse o SENHOR, DEUS de teus pais, na terra que mana leite e mel. 4 Ouve, Israel, o SENHOR, nosso DEUS, é o único SENHOR. 5 Amarás, pois, o SENHOR, teu DEUS, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. 6 E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração;
 
OBJETIVO GERAL
Amar a DEUS, temê-lo e adorá-lo de todo o coração e sinceridade.
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se aos que o professor deve atingir em cada tópico.
Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
Explicar a autoridade da Lei.
Informar que o primeiro mandamento explicitava o anúncio de que havia um único DEUS.
Mostrar a exegese do primeiro mandamento.
Apresentar a relação entre monoteísmo e os mandamentos.
 
Resumo da Lição 3 - Não Terás Outros deuses
I. A AUTORIDADE DA LEI
1. A fórmula introdutória do Decálogo.
2. As partes do concerto.
3. O Senhor do universo.
4. A libertação do Egito.
II. O PRIMEIRO MANDAMENTO
1. Um código monoteísta.
2. Idolatria do Egito.
3. Como Israel preservou o monoteísmo de Abraão?
III. EXEGESE DO PRIMEIRO MANDAMENTO
1. Outros deuses.
2. O ponto de discussão.
3. O politeísmo.
IV. O MONOTEÍSMO
1. Os mandamentos, os estatutos e os juízos.
2. O maior de todos os mandamentos.
3. A Trindade na unidade.
 
Comentários de vários autores com algumas modificações do Ev. Luiz Henrique
¶ Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações.
Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro;
Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;
Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.
Perfeito serás, como o Senhor teu Deus.
Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa.

Deuteronômio 18:9-14
Quando entrares na terra que o Senhor teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.Perfeito serás, como o Senhor teu Deus. Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa. Deuteronômio 18:9-14
 
Revista ensinador. Editora CPAD. pag. 37 
Quando lemos o primeiro e grande mandamento do Decálogo, qual sentido ele nos traz?
Será que se refere à questão meramente racional e religiosa, como a quantidade exata das divindades no céu? Ou apenas se refere a se podemos ou não ter estátuas em casa, fotografias, artes plásticas de alguma pessoa? Ou se trata apenas de um texto apologético contra as imagens de esculturas refletidas hoje nos "santos da igreja romana"?
O primeiro mandamento está interligado ao segundo, e pode-se dizer que ambos estão divididos em três partes:
(1) "Não terás outros deuses diante de mim."
(2) "Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra."
(3) "Não te encurvarás a elas nem as servirás." Essa é uma informação importante para nos esclarecer a respeito do porquê desse mandamento ser tão especial ao povo judeu.
Não por acaso, DEUS constituiu o Shemá Israel, isto é, o "Ouve ó Israel, o SENHOR, nosso DEUS, é o único SENHOR"; a profissão de fé do monoteísmo judeu. O medo de cair na idolatria faz com que as pessoas preocupem-se em jogar fora as esculturas de artes de casa, fotografias de familiares ou simplesmente passar longe de alguém que professa outra tradição religiosa. Mas não é bem isso que o primeiro mandamento nos ensina. DEUS abomina que as pessoas atribuam a uma imagem, que tenta ser uma representação dEle, a adoração que é devida só a Ele; e também que usem a sua imagem para fins equivocados, como ganhar dinheiro ou fazer, em nome dEle, o mal, a perversidade. A nação de Israel não poderia também reproduzir outras divindades, como a de Faraó, seus pressupostos religiosos e culturais, pois a nação havia sido libertada para sempre. Por isso JESUS repete o mesmo mandamento: "Nenhum servo pode servir a dois senhores" e "Não podeis servir a DEUS e a Mamom (Lc 16.13).
O dinheiro e o poder estão entre os "deuses" deste século. Mamom foi o único "deus" que o nosso Senhor chamou pelo nome. Muitos são os elementos produzidos por Mamom: o "deus" dinheiro, a competição, o "deus" televisão, o "deus" internet, o consumismo etc. O problema hoje quanto à idolatria não se dá no campo do politeísmo, pois a maioria da população, ao menos no Brasil, não acredita nos deuses antigos. Mas se a questão for analisada do ponto de vista dos "deuses" que disputam a atenção da nossa mente e coração, então a coisa muda de figura. Portanto, o convite de DEUS para o seu povo é o de amá-IO de todo coração, com toda a força do pensamento e de toda a alma. Ele é o único e eterno DEUS das nossas vidas!
Revista ensinador. Editora CPAD. pag. 37 
 
O DECÁLOGO (Revista CPAD - Lição 6 - 06 de Agosto de 1944 - 3º Trimestre - A História de Israel - Moisés - A Divisão do Reino - COMENTADAS POR ADALBERTO ARRAES E GUSTAVO KESSLER.
Êx. 20:1-26
20:1 — ENTÃO falou DEUS todas estas palavras, dizendo: 2 — Eu sou o Senhor teu DEUS, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. 3 —- Não terás outros deuses diante de mim (1). 4 — Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra (2). 6 — Não te encurvarás a elas nem as ser virás: porque eu, o Senhor teu DEUS, sou DEUS zeloso, que visito a maldade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem. 6 — E faço misericórdia em milhares aos que me amam e guardam os meus mandamentos. 7 — Não tomarás o nome do Senhor teu DEUS em vão (3): porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão. 8 — Lembra-te do dia do sábado, para o santificar (4). 9 — Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, 10 — Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor teu DEUS: não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o teu estrangeiro, que está dentro das tuas portas. 11 — Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou: portanto abençoou o Senhor o dia do sábado, e o santificou. 12 — Honra a teu pai e a tua mãe (5), para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu DEUS te dá. 13 — Não matarás (6). 14 — Não adulterarás (7). 15 — Não furtarás (8). 16 — Não dirás falso testemunhos contra o teu próximo (9). 17 — Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo (10).
Identificação nossa dos de mandamentos ( )
 
Observareis todos os meus estatutos, e todos os meus juízos, e os cumprireis" — Lev. 19:37.
 
Como introdução a presente lição, façamos algumas considerações sobre a lei no Novo Testamento:
Para os judeus resumia-se em amar a DEUS de todo o coração, de toda a alma, de todas as forças e de todo o entendimento, e ao próximo como a si mesmo. (Luc. 10:27; Mat. 22:36-40), coisa que ninguém podia, nem pode cumprir, tornando-se assim todos malditos. (Tia. 2:10; Deut. 27:26), da qual maldição CRISTO nos remiu. (Gal. 3:13). Para nós, crentes na dispensação da graça, a lei resume-se em AMOR. (Rorn. 13:10; Gal. 5:14; Tia. 2:8; Gal. 6:2; Roma. 13:8b.)
Só os observadores da lei serão salvos, (Roma. 2:3), os quais entretanto nunca existiram; o que a lei diz, o diz aos que estão debaixo dela: Rom. 3:9, não o diz a nós, pois não estamos debaixo da lei: Rom: 6:14 antes estamos mortos à ela: Rom. 7:4; Gal. 2:19 e desligados dela. Rom. 7:6. Para nós, CRISTO é o fim da lei. (Rom. 10:4). As obras da lei não justificam, mas quem justifica é a fé em JESUS: Rom. 3:20,27,28,; Gal. 2:16; 3:11. Não temos recebido o ESPÍRITO SANTO pelas obras da lei e sim pela fé; Gal. 3:2. Os que se querem justificar pela lei, estão separados de CRISTO; caíram da graça. (Gal. 5:4). A lei é simples SOMBRA. (Heb. 10:1). Não estamos sem lei. Temos lei da fé (Rom. 3:27); do ESPÍRITO da vida. (Rom. 8:2); da justiça (9:31); da liberdade (Tia. 2:12).
Finalmente, se formos buscar a justiça da lei, então estaremos admitindo que CRISTO morreu era vão. (Gal. 2:21).
 
I- DEUS apresentou-Se como o DEUS do povo de Israel em particular, visto considerá-lo seu povo peculiar. Abraão havia sido chamado pelo Senhor para constituir esse povo. Com grande interesse DEUS acompanhou a sua formação desde os patriarcas. Israel foi chamado dentre um povo idolatra; nada tendo assim a gloriar-se na sua origem (Eze. 16:3-8), tudo o que agora era devia-o a Jeová. Acabavam de experimentar uma série de milagres que culminaram com a passagem, a seco, do mar vermelho. A história de então não registrava fato idêntico. Jeová não era como os deuses dos povos e isto que Ele quer gravar na mente do Seu povo, ao apresentar-se no monte fumegante:
— Eu Sou o Senhor  teu DEUS que te amei a ponto de tirar-te da terra da escravidão, apesar de saber que és povo rebelde; compreende a minha graça para contigo e Me teme.
Nós também não éramos povo, e agora o somos (I. Pedro 2:10). DEUS nos amou quando éramos ainda pecadores. (Rom. 5:8).
 
II- Se Jeová era o Todo Poderoso, não podia admitir diante dEle outros deuses. É provável que alguns povos de então cressem em Jeová, por tradições recebidas de Abraão; mesmo povos mais antigos creram no DEUS verdadeiro, por tradições recebidas de Sem. Disto vemos exemplos em Melquisedeque que era sacerdote do DEUS Altíssimo (Gen. 14:18), e em Balaão, que conhecia a DEUS (Num. 22:12). Mas esses povos conheciam a Jeová como um DEUS e não como o ÚNICO DEUS, pois admitiam a existência de outros deuses e lhes rendiam culto. Isto era o que Israel não poderia fazer como povo peculiar de Jeová.
Uma melhor tradução de verso 3 diz: "Não terás outros deuses acrescentados a mim". Isto é o que DEUS não quer que nós, o seu povo peculiar, façamos.
Quantos há em nossos dias que se ofenderiam se fossem chamados politeístas, e no entanto, o são, pois acrescentam ao DEUS verdadeiro uma multidão de deuses. Em milhares de Igrejas que se dizem cristãs afileram-se centenas de falsos deuses, como grave ofensa ao Todo Poderoso!
 
III- Em franca oposição ao que preceitua Apo.  22:19, a Igreja Romana omite no seu catecismo o segundo mandamento e divide o décimo em dois para completar o decálogo. Foi imperativa e solene a ordem de Jeová a Israel: "Não farás para ti imagem" "Não te curvarás a elas" DEUS é DEUS zeloso e visita a maldade. Uma das maiores maldades do homem é a idolatria: adoram deuses feitos por suas próprias mãos. (Vede Isa. 44:9-17).  Lembremo-nos de que devemos nos guardar, afim de não construirmos ídolos e nos curvarmos a eles. Muitos são os ídolos que os crentes podem fazer e adorar sem o perceberem: esposa, filhos, fortunas, empregos, amigos, atores, cantores, TV, Internet, Celular, etc......., podem tornar-se para nós em ídolos perigosos!
 
Êxodo 20 (BEP - CPAD)
20.1,2 OS DEZ MANDAMENTOS. Os Dez Mandamentos, aqui registrados (cf. Dt 5.6-21), foram escritos pelo próprio DEUS em duas tábuas de pedra e entregues a Moisés e ao povo de Israel (31.18; 32.16; Dt 4.13; 10.4).
A guarda dos mandamentos proveu um meio de Israel procurar viver em retidão diante de DEUS, agradecido pelo seu livramento do Egito; ao mesmo tempo, tal obediência era um requisito para os israelitas habitarem sempre na terra prometida (Dt 41.14). (1) Os dez mandamentos são o resumo da lei moral de DEUS para Israel, e descrevem as obrigações para com DEUS e o próximo.
CRISTO e os apóstolos afirmam que, como expressões autênticas da santa vontade de DEUS, eles permanecem obrigatórios para o crente do NT (Mt 22.37-39; Mc 12.28-34; Lc 10.27; Rm 13.9; Gl 5.14; Lv 19.18; Dt 6.5; 10.12;30.6). Conforme esses trechos do NT, os dez mandamentos resumem-se no amor a DEUS e ao próximo; guardá-los não é apenas uma questão de práticas externas, mas também requer uma atitude do coração (ver
Dt 6.5). Logo, a lei demanda uma justiça espiritual interior que se expressa em retidão exterior e em santidade. (2) Os preceitos civis e cerimoniais do AT, que regiam o culto e a vida social de Israel já não são obrigatórios para o crente do NT. Eram tipos e sombras de coisas melhores vindouras, e cumpriram-se em JESUS CRISTO (Hb 10.1; Mt 7.12; 22.37-40; Rm 13.8; Gl 5.14; 6.2).
Mesmo assim, contêm sabedoria e princípios espirituais aplicáveis a todas as gerações (ver Mt 5.17)
20.3 NÃO TERÁS OUTROS DEUSES DIANTE DE MIM. Este mandamento proíbe o politeísmo que caracterizava todas as religiões do antigo Oriente Próximo. Israel não devia adorar, nem invocar nenhum dos deuses doutras nações. DEUS lhe ordenou a temer e a servir somente a Ele (Dt 32.29; Js 24.14,15). Esse mandamento aplicado aos crentes do NT, importa pelo menos três coisas. (1) A adoração do crente deve ser dirigida exclusivamente a DEUS. Não deve haver jamais adoração ou oração a quaisquer outros deuses , espíritos ou pessoas falecidas, nem se permite buscar orientação e ajuda da parte deles (Lv 17.7; Dt 6.4; 34.17; Sl 106.37; 1 Co 10.19,20). O primeiro mandamento trata, principalmente, da proibição da adoração aos espíritos (i.e., demônios) através do espiritismo, adivinhação, ocultismo e outras formas de idolatria (Dt 18.9-22). (2) O crente deve totalmente consagrar-se a DEUS. Somente DEUS, mediante sua vontade revelada e sua Palavra inspirada, pode guiar a vida do crente (Mt 4.4). (3) O crente deve ter como seu propósito na vida, buscar e amar a DEUS de todo o coração, de toda a alma e de todas as suas forças, confiando nEle para conceder-lhe aquilo que é bom para a sua vida (Dt 6.5; Sl 119.2; Mt 6.33; Fp 3.8; ver Mt 22.37; Cl 3.5).
 
Resumo do capítulo. A lista crítica dos mandamentos básicos morais e espirituais é introduzida: “Falou DEUS todas estas palavras”. Esses princípios para viver um focalizado, harmonioso relacionamento com DEUS e com o seu próximo não são meras invenções humanas. Embora eles estabeleçam um padrão moral para todos, são especialmente dirigidos para a comunidade em aliança: para homens e mulheres que partilham um relacionamento com DEUS (20.1-17). O impressionante tremor do fumegante monte Sinai sublinha o fato de que é o próprio DEUS que fala do céu a Israel (v. 18-22) e que a nenhum deus fictício de invenção humana terá lugar ao lado do Senhor (v. 23). O Todo-Poderoso também diz a Israel que use somente altares simples para sacrifício, para posteriormente separar a sua adoração da adoração pagã (w. 24-26).
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 63.
 
A ordem dos Dez Mandamentos é relevante do ponto de vista teológico. Dos dez, os dois primeiros, os que têm que ver com a singularidade e incomparabilidade de DEUS, são os mais importantes, pois a menos que eles sejam observados e até que o sejam, todos os outros não têm verdadeira relevância.
O fundamento da obra redentora de DEUS no êxodo era sua graça e poder soberanos; e, de forma recíproca, o êxodo e os sinais e maravilhas que o precederam apresentaram testemunho eloqüente do fato de que ele é DEUS e, mais especificamente, o Senhor de Israel. Ele já demonstrara que sua vitória no Egito não fora apenas sobre o faraó e seus exércitos, mas, na verdade, fora sobre os deuses deles (Êx 12.12). Até mesmo os conselheiros do faraó foram obrigados a admitir que não podiam duplicar nem desviar os terríveis sinais e maravilhas que caíram sobre o Egito, nos quais se percebia a ação do “dedo de DEUS” (Êx 8.19). O Senhor, por meio de seus atos poderosos, deixou claro que ele é o único DEUS sem igual.
Eugene H. Merrill. Teologia do Antigo Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 324.
 
I. A AUTORIDADE DA LEI
1. A fórmula introdutória do Decálogo.
A fórmula introdutória "Então, falou DEUS todas estas palavras, dizendo..." (êx 20.1) é característica única do Decálogo, como explicou o rabino e erudito bíblico Benno Jacob: "Nós não temos um segundo exemplo de tal sentença introdutória" (JACOB, 1992, p. 543). Nem mesmo na passagem paralela, a fórmula é repetida, mas aparece de maneira reduzida ao "mínimo absoluto" (CHILDS, 1976, p. 593) para se ajustar à estrutura da narrativa (Dt 5.5). No entanto, os outros códigos do sistema mosaico são introduzidos com um discurso de DEUS a Moisés como no Código da Aliança: "Então, disse o SENHOR a Moisés"(Êx 20.22; 34.32; Levítico 17.1; Deuteronômio 6.1). Fraseologia similar é usada para designar os Dez Mandamentos: "Estas palavras falou o SENHOR a toda a vossa congregação no monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridade, com grande voz, e nada acrescentou; e as escreveu em duas tábuas de pedra e a mim mas deu"(Dt 5.22), mas ela não introduz o Decálogo. Tudo isso revela a origem e a autoridade divina da lei.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 31-32.
 
Êxo 20.1 Então falou DEUS. Ele foi o poder revelador. A legislação mosaica é oriunda da inspiração divina. DEUS é um DEUS teísta, ou seja, Ele não abandonou a Sua criação. Antes, faz-se presente na mesma, recompensando ou castigando e fazendo conhecida a Sua vontade.
Uma outra versão dos Dez Mandamentos aparece em Deu. 5.6-21, com diferenças mínimas. Ver outra versão em Êxo. 34.10-29. A ordem dos mandamentos difere em diferentes textos e versões. Os Dez Mandamentos não eram novos, e, sim, uma seleção inspirada e apta, dentre uma grande massa de ensinos morais e espirituais, compartilhados por muitos povos. Essa seleção foi divinamente inspirada e guiada. Essa seleção é uma breve síntese de ensinos espirituais e morais essenciais, em relação a DEUS e em relação aos homens.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.
 
DEUS falou com o povo do monte em chamas. O texto em Deuteronômio declara nitidamente que DEUS “no monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridade, com grande voz” (Dt 5.22) deu estes mandamentos para a assembleia. Não sabemos como DEUS falou em voz audível, mas Israel entendia que a voz que ouviam era de DEUS. Esta era “uma voz audível e terrível, a voz de Jeová, soando como trombeta pela multidão (19.16: 20.18)”. Este modo de descrever o evento não indica que DEUS tenha cordas vocais como o homem, mas assevera que DEUS criou um som audível que, de forma inteligível, enunciava suas palavras para o homem. Depois que ouviram aquela voz, preferiram que Moisés (19) lhes falasse.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Êxodo. Editora CPAD. pag. 187
 
2. As partes do concerto. (DEUS e povo de Israel - cabeças de aliança - Israel representado por Moisés, como mediador)
Após a fórmula introdutória, vem o que é considerado o prefácio de toda a lei: "Eu sou o SENHOR, teu DEUS, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êx 20.2). O relato da criação em Gênesis e o relato do dilúvio, por exemplo, falam por si sós sobre a soberania de Javé em todo o universo como Senhor do céu e da terra.
Desde os tempos antigos, discute-se se esta declaração faz parte do primeiro mandamento. A autorrevelação de DEUS aqui é significativa. Javé já se havia revelado a Moisés antes (Êx 3.14,15; 6.2, 3), mas aqui se trata de um relacionamento entre o humano e o divino, DEUS e Israel. Na declaração "Eu sou o SENHOR, teu DEUS", apesar do uso na segunda pessoa, ele se dirige à nação inteira de Israel. O nome divino está vinculado ao resgate dos israelitas da terra do Egito, a grande libertação das garras de Faraó. Esta redenção é o tema do livro de Êxodo. A "casa da servidão" é o símbolo da opressão social. O Egito era uma terra boa e abençoada, como o jardim do Éden (Gn 13.10; Dt 10.11); no entanto, passou para a história como uma caserna ou quartel de escravos. Por isso, é lembrado nas páginas da Bíblia como a "casa da servidão" (Dt 5.6; 6.12; 7.8; 8.14; 13.5, 10; Js 24.17; Jz 6.8; Mq 6.4). Os judeus consideram Êxodo 20.2 ou Deuteronômio 5.6 como parte do primeiro mandamento.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 32-33.
 
Êxo 20.2 teu DEUS. A reivindicação de DEUS vem em primeiro lugar. Israel era dele por direito de criação e de redenção. Os mandamentos pactuais do Senhor foram dados àqueles a quem ele já atraíra a si mesmo, tirando-os da escravidão no Egito (19.4). embora não da escravidão do pecado (caps. 32-34).
Bíblia de Estudo de Genebra. Editoras Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil. pag. 102.
 
O texto do tratado apresentava os detalhes da nova relação entre o suserano (o rei poderoso) e seu vassalo (a nação mais fraca). O suserano impunha deveres e tributos, além de exigir obediência e lealdade incondicionais. Por vezes, esses acordos incluíam regras específicas para garantir a proteção do suserano de futuros ataques. No entanto, embora a forma e a estrutura da aliança estabelecida por DEUS com Israel fosse semelhante à de tratados políticos humanos, seu conteúdo é bem diferente de qualquer acordo desse tipo.
Como nos demais tratados, este começa com uma explanação dos vínculos históricos entre as duas partes: Eu sou o Senhor teu DEUS, que te tirei da terra do Egito, da casa de servidão (20:1-2). No entanto, continua com declarações sucintas que revelam a natureza de DEUS e expressam sua vontade para seu povo. DEUS assumiu um compromisso com eles e agiu de modo a cumprir as promessas que fez aos patriarcas, esperando do povo uma contrapartida. Deseja que seu povo sirva de modelo, transmitindo as verdades divinas às nações. A fim de cumprir essa responsabilidade e viver como um exemplo daquilo que o reino de DEUS pode ser na terra, os israelitas deveriam aprender a obedecer exclusivamente ao Senhor, seu libertador, adorá-lo corretamente e distingui-lo dos ídolos. Também deveriam aprender a amar os outros membros da comunidade liberta e resgatada. Os Dez Mandamentos são uma declaração daquilo que seria necessário para tal.
Tokunboh Adeyemo. COMENTÁRIO BÍBLICO AFRICANO. Editora Mundo Cristão. pag. 111-112.
 
3. O Senhor do universo.
SOBERANIA DE DEUS
O termo soberania, denota uma situação em que uma pessoa, com base em sua dignidade e autoridade, exerce o poder supremo, sobre qualquer área, em sua província, que esteja sob a sua jurisdição. Um "soberano" pois, exerce plena autonomia e desconhece imunidades rivais.
Quando é aplicado a DEUS, o termo indica o total domínio do Senhor sobre toda a sua vasta criação. Como Soberano que é, DEUS exerce de modo absoluto a sua vontade, sem ter de prestar contas a qualquer vontade finita. Conforme se dá com outras idéias teológicas, o termo não figura nas páginas da Bíblia, embora o conceito seja reiterado por inúmeras vezes. Para tanto, as Escrituras apelam para a metáfora de "governante e súditos". Embora expresse essa idéia de outras maneiras, é principalmente nas doxologias ou atribuições de louvor que aparece o conceito. Poderíamos citar aqui uma passagem do Antigo e uma do Novo Testamentos, como prova disso. " ... até que conheças que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens, e o dá a quem quer" (Dan. 4:25). "Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, DEUS único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém" (I Tim. 1:25).
A soberania de DEUS consiste em sua onipotência, expressa em relação ao mundo criado, mormente no tocante à responsabilidade moral das criaturas diante dele. Visando a um fim benfazejo, e executando o seu plano eterno para a criação inteira e para os homens DEUS exerce autoridade absoluta, amoldando todas as coisas e todos os acontecimentos à semelhança do que o oleiro faz com o mesmo monte de barro amassado. Ver Rom. 9: 19 ss. Embora, erroneamente, quanto aos seus motivos, o suposto objetar, postulado por Paulo, expressou uma verdade inconteste: Pois quem jamais resistiu à sua (de DEUS) vontade?" (vs. 19). Além de mandar na sua criação sem que alguém possa intervir nas decisões divinas, a Bíblia nos ensina que essa soberania é exercida tendo em vista galardoar a piedade e castigar a rebeldia. E o que se vê em trechos como o de Romanos 2 :22, que diz: "Considerai, pois, a bondade e a severidade de DEUS; para com os que caíram, severidade; mas para contigo, a bondade de DEUS, se nela permaneceres; doutra sorte também tu serás cortado". Isso nos permite chegar à conclusão de que DEUS não age arbitrariamente, movido pelo capricho, quando determina todas as coisas segundo os ditames de sua soberana vontade.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 242.
 
O teísmo reivindica possuir conhecimento; em outras palavras, declara que há evidencias conclusivas em favor da existência de DEUS, suficientemente positivas para permitir-nos uma declaração em prol de sua existência. Essas evidências nos chegam através da observação meramente empírica da grandiosidade e do desígnio aparentes neste mundo, através da intuição, através da razão e, sobretudo, através das experiências místicas, Outrossim, nossa experiência, física e espiritual, confirma para nós que DEUS jamais abandonou ao seu universo, mas antes, continua bem próximo de nós, mantendo assim constante contato com os homens, no que visa o beneficio e o proveito eternos deles.
O trecho de Atos 17:24-31 apresenta elevadas expressões teistas. DEUS, pois, é a fonte originária de toda a vida física e espiritual, e é o poder sustentador de ambos esses tipos de vida. DEUS é a fonte de toda a forma de consciência. Ele é a origem de todas as idéias morais, como também de todos os valores humanos. DEUS é imanente em sua natureza, e não absolutamente transcendental. Ele é quem preserva todo o valor e a dignidade humanos. Finalmente, DEUS é o Salvador e o Redentor do homem, aquele que se oferece para elevar o homem à vida divina, por intermédio de CRISTO. Além disso, DEUS é o Juiz de todas as suas criaturas inteligentes, morais, que as recompensa ou pune, de conformidade com a retidão ou a maldade de suas ações. DEUS é o alvo de toda a existência. :E: a própria razão para continuarmos vivendo.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 100.
 
4. A libertação do Egito.
Êxo 20.2 Yahweh foi o autor do livramento de Israel da servidão ao Egito. O autor sacro alude à informação dada antes, nos capítulos primeiro a décimo sétimo, ou seja, os destrutivos prodígios das dez pragas, além do livramento no mar de Juncos (Êxo. 13.22). O DEUS libertador também era o legislador. O povo de Israel, agora livre, entrava em um novo pacto, o pacto mosaico. O pacto mosaico foi o quinto dos pactos. Esse pacto deu início à quinta dispensação, a era durante a qual Israel tornou-se uma nação distintiva por causa de seu código legal superior e divinamente inspirado. Quanto à idéia que a lei mosaica exprime o caráter moral de DEUS, cf. Lev. 11.44,45; 19.2.
Israel era o filho primogênito de DEUS (Êxo. 4.22), e um filho precisa ter a mesma natureza moral de seu pai. Cf. a declaração de JESUS em Mateus 5.48: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste”. A Gratidão Requer Obediência. O povo libertado de Israel deveria reconhecer o ato libertador de Yahweh, correspondendo a isso mediante a obediência à lei mosaica. Vemos o mesmo conceito em Romanos 2.4, onde lemos que a bondade de DEUS leva os homens ao arrependimento. Alguns intérpretes judeus faziam deste segundo versículo o primeiro mandamento.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.
Que te tirei da terra do Egito. Nos tratados de suserania do Oriente Próximo antigo, grande atenção era dada aos atos beneficentes do rei para com o vassalo. Desta forma, não é de se admirar que o pacto do Sinai fosse proclamado tendo este prólogo histórico que proclama a atividade redentora de DEUS. Esta declaração é fundamental para numerosos aspectos do pensamento e da adoração israelita.
O êxodo foi a chave para a autocompreensão de Israel como povo, o seu conceito do DEUS redentor, a concepção teocêntrica da História, bem como a sua vida contínua de adoração.
Comentário Bíblico Broadman. Editora JUERP. Vol i. pag. 486.
 
Te tirei da terra do Egito, e por isto mesmo provaram-me a ser superior a todos os deuses, ilimitado em poder, e mais gracioso, bem como temível em operação. Este é o prefácio ou introdução, mas não devem ser separados da ordem.
ADAM CLARKE. Comentário Bíblico de Adam Clarke.
 
II. O PRIMEIRO MANDAMENTO
1. Um código monoteísta.
O Decálogo é monoteísta e introduz essa doutrina no sistema mosaico que influenciou o pensamento teológico dos antigos hebreus, vindo a se culminar com a manifestação do Filho de DEUS. O monoteísmo aqui era uma inovação, visto que as nações da época eram politeístas. A Mesopotâmia é o berço da civilização humana e o centro irradiador da idolatria. A terra do Nilo foi grandemente afetada por essa idolatria. E Israel e seus ancestrais tiveram vínculos com as culturas mesopotâmica e egípcia.
Abraão veio da Mesopotâmia e a nação de Israel se formou no Egito. Como nação, Israel seguia em direção à Terra Prometida, onde estavam os cananeus, idólatras como todos os seus vizinhos. A idolatria era a cultura predominante na época. Esse era o mundo religioso do Oriente Médio de então, com cultos envolvendo sacrifício de crianças e prostituição.
Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 27-28.
 
MONOTEÍSMO. O judaísmo, o islamismo e o cristianismo são os três grandes expoentes dessa idéia da divindade. Segundo essa posição, existe apenas um único DEUS, em sentido absoluto, não querendo isso dizer que ele é o nosso deus e que existem outros deuses de outros povos. Antes, somente um ser é o possuidor da divindade autêntica. É interessante observarmos que esse ensino foi antecipado ou mesmo parcialmente duplicado dentro da filosofia platônica, em seu conceito de bondade universal, como também no conceito do «intelecto puro», de Aristóteles. Essa doutrina é ensinada francamente na idéia de «Yahweh», segundo o judaísmo posterior, segundo a qual DEUS é o DEUS de todos, e não meramente da nação israelita. Na realidade, ele é o DEUS de todos os universos, de tudo quanto existe, sem importar se pertence à categoria terrena ou celestial, humana ou angelical, material ou espiritual.
Ordinariamente as seguintes idéias são vinculadas ao monoteísmo:
a. DEUS é um ser infinito ou absoluto. Daí a origem da introdução do vocábulo «omnis», em «onipotente», «onipresente» e «onisciente». Isso nos leva à suposição de que DEUS é, em grau infinito, aquilo que experimentamos apenas em pequena medida.
Naturalmente os conceitos sobre a infinitude na realidade são negativos, porquanto não possuímos qualquer experiência sobre qualquer coisa infinita. Assim que alguém começa a tentar descrever o «infinito», por motivo de suas próprias descrições já começou a reduzir o infinito à mera finitude. Não obstante, temos fé suficiente para crer que apesar de nada realmente sabermos sobre a infinitude, e apesar de não possuirmos linguagem capaz de descrevê-la, podemos atribuir a qualidade da infinitude a DEUS, supondo que aquilo que possuímos, de forma finita, ele possui em grau infinito.
b. Além disso declaramos que esse DEUS possui tanto a vida necessária como a vida independente. Em outras palavras, DEUS possui aquela forma de imortalidade verdadeira, que não pode deixar de existir. Esse é um dos pontos doutrinários mais exaltados do evangelho de João, onde há comentários nos trechos de João 5:26 e 6:57 no NTI. Todos os demais seres possuem uma vida que não é necessária, isto é, aquela variedade de vida que pode deixar de existir. No entanto, o ensino do evangelho de João é que DEUS outorgou essa vida necessária a JESUS CRISTO, como homem — e através dele, a todos os seres humanos que nele vierem a crer; e assim o homem pode tornar-se possuidor da imortalidade verdadeira, o mesmo tipo de vida que DEUS tem e que caracteriza agora a vida do Senhor JESUS. Mas a vida de DEUS é igualmente «independente», isto é, uma vida que existe por si mesma, sem depender de outra qualquer, para sua origem e continuação. Ora, os remidos, por intermédio de CRISTO, por semelhante modo tornar-se-ão possuidores dessa «vida independente», que também caracteriza a verdadeira imortalidade.
c. Ordinariamente, o conceito do monoteísmo inclui a idéia de que DEUS é o criador de todas as coisas, que somente ele existiu desde a eternidade, e que todo o resto da existência, sem importar se pertence à natureza física ou à natureza espiritual, se deriva dele. O conceito da criação, conforme aparece como idéia filosófica, não requer a introdução de um início absoluto; ou, em outras palavras, pode ser encarado no mesmo sentido em que dizemos que um objeto físico «cria» uma sombra quando exposto à luz. Nesse caso, a sombra realmente co-existe com o objeto, mas este último é a «causas» da sombra, ou seja, o «criador» da sombra. Por semelhante modo, no conceito da emanação (conforme ensinado pelo panteísmo estóico), embora a criação seja vista como parte integrante do criador, e, por isso mesmo, co-eterna com ele, contudo, ainda assim poderíamos falar em criação, pois DEUS teria criado tudo emanando a si mesmo.
Não obstante, tanto o judaísmo como o cristianismo ensinam que os mundos físicos, juntamente com tudo quanto existe, tiveram início em um ponto do tempo, deixando somente DEUS como eterno. Isso tem criado, para alguns, o pseudoproblema que indaga: «E o que DEUS estava fazendo quando somente ele existia?» Orígenes, para resolver esse problema, supôs que a criação seria um ato eterno de DEUS, de tal forma que nunca teria havido um tempo em que DEUS esteve inativo. Mas outros estudiosos da Bíblia ensinam que o tempo pertence somente à criação, e que, por isso mesmo, antes da criação, não havia tempo. Ainda outros intérpretes, em busca da solução para esse problema, têm sugerido que a criação é eterna apenas como um conceito de DEUS, isto é, existente na mente de DEUS desde a eternidade. Todavia, a idéia ordinária, aceita pela maioria dos teólogos cristãos, é que DEUS criou todas as coisas em um ponto inicial do tempo, mediante a sua própria energia, como que «do nada»; embora a criação, através da própria energia divina, com a qual DEUS teria formado a matéria, baseado em princípios espirituais, não é realmente uma criação do nada. ver Heb. 11:3 e João 1:1-3 no NTI.
d. Como parte usual da teologia monoteísta avulta o conceito de que DEUS é um ser pessoal, e não alguma força cósmica impessoal. DEUS é um ser inteligente; e podemos saber algo a seu respeito mediante o exame do ser humano, — que foi criado à sua imagem. Mais perfeitamente ainda, podemos saber sobre DEUS através do Senhor JESUS CRISTO, que refletiu a sua glória, DEUS é ESPÍRITO, no que faz contraste com a matéria, ainda que não saibamos no que consiste um «ESPÍRITO», exceto que não pode ser compreendido em termos das coisas materiais. Além disso, DEUS possui natureza emocional. DEUS tem vontade e razão, de uma maneira infinita, ainda que, até certo ponto, o homem seja um reflexo dessas verdades, possuindo tais propriedades mais ou menos da mesma maneira que DEUS as possui, posto que em grau muito menor. Por conseguinte, somos levados à conclusão de que DEUS não é alguma força cósmica, remota, impessoal, sem qualquer consciência da existência do homem. Pelo contrário, é um ser vivo que tem todo o conhecimento dos homens, que os guia, que os castiga ou galardoa, segundo as suas ações, e que determina os eventos e o destino de cada ser humano. Ora, essa é a posição do «teísmo».
e. Ao DEUS único, o DEUS apresentado pelo monoteísmo, também atribuímos a qualidade da moralidade. DEUS é bom, amoroso e santo, sendo o grande despenseiro da justiça. O seu amor, entretanto, não é da qualidade do «eros» ou amor erótico, sensual, e, sim. é «agape». um amor sem causa, sem começo e puro em seu princípio, consistindo em um interesse genuíno e eterno pelo bem-estar de todas as suas criaturas. Esse amor, outrossim, é independente, ou seja, não é criado ou mantido por qualquer coisa existente no objeto amado; pelo contrário, devido à sua suprema natureza amorosa, DEUS é quem dá corpo ao princípio da bondade e da justiça, não precisando indagar, de quem quer que seja, o que seria bom e o que não o seria. Assim, pois, DEUS é o padrão final de todos os valores morais.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4122-4123.
 
Êxo 3.3 Não terás outros deuses. Temos aqui a regra do monoteismo Neste ponto, o monoteismo substitui todas as outras possíveis noções de DEUS. Todavia, não basta acreditar na existência de um DEUS. Esse DEUS único precisa ser reconhecido e obedecido como a autoridade moral de todos os atos humanos. Também só há um DEUS no atinente à questão da adoração e do serviço espirituais. O DEUS único merece toda honra. Isso labora contra o panteísmo e todo o seu caos. Ver Êxo. 23.13.
A nação de Israel estava cercada por povos que eram leais a um número impressionante de divindades. As pragas do Egito tinham mostrado que só Yahweh é DEUS (ver Êxo. 5.2 e 6.7). Há uma profunda verdade na idéia que um homem só pode adorar a um DEUS. JESUS abordou essa questão em Mateus 6.24. Os homens adoram aquelas coisas que lhes parecem importantes, incluindo o dinheiro. Há deuses externos e internos. Mas todos eles são deuses falsos.
Yahweh é um DEUS zeloso que não tolera rivais (vs. 5; 34.14). Naturalmente, temos nisso uma linguagem antropomórfica. Divindades rivais seriam algo contrário ao caráter único de DEUS. E um deus que não é único não é o verdadeiro DEUS. Ver os vss. 22,23. A desobediência ao primeiro mandamento foi a principal razão dos cativeiros que, finalmente, Israel sofreu.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 388.
 
O primeiro mandamento: “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3), tem força especial contra esse pano de fundo e tudo que Moisés recontou dos tempos primevos e dos patriarcas. Esse mandamento não é tanto (nem mesmo principalmente) um argumento pelo monoteísmo, mas uma reivindicação do Senhor de exclusividade sobre Israel como o único DEUS de Israel.” Sem dúvida, mesmo nessa época, a fé monoteísta fazia parte do dogma normativo hebraico (cf. Êx 9.14; Dt 4.35,39; 32.12,39), mas a intenção da proibição aqui era garantir que Israel dedicasse submissão integral ao Senhor em contraposição a todos as outras deidades reais ou imaginárias. O sentido literal do texto é: “Que não haja para você outros deuses em meu lugar”. Se as nações do mundo queriam crer em outras deidades e adorá-las, que fosse assim, mas Israel devia reconhecer só o Senhor como seu DEUS.
Pode-se achar que fosse desnecessário dar essa ordem a Israel naquele momento decisivo de redenção e de concessão da aliança, mas isso seria interpretar erroneamente a predileção congênita da nação (e nossa) de procurar e adorar deuses inventados pelo homem. Os ancestrais patriarcais tinham lutado com essa questão (Gn 31.34; 35.2-5), e Israel não se comprometeria tão rápido com a aliança em vista aqui quanto se comprometeu com a construção de um bezerro de ouro, atribuindo a este a maravilhosa libertação do êxodo (Êx 32.4). Dessa época em diante — pelo menos até o retorno do exílio babilônio — Israel e Judá sucumbiram quase continuamente às lisonjas da idolatria pagã, assunto que documentaremos com detalhes.
Sem apresentar desculpas para Israel, é importante entender alguma coisa do ambiente cultural e religioso em que a nação veio à existência. As grandes civilizações do mundo do Oriente Próximo da Antiguidade, sem exceção, estavam mergulhadas em uma visão de mundo que explicava todos os fenômenos, naturais e sobrenaturais, como manifestações aleatórias de incontáveis deuses e deusas, os quais tinham de ser apaziguados a fim de que não descarregassem sua vingança sobre a humanidade ou deviam ser induzidos por vários meios a trazer fortuna e bem-estar para o homem.
Abundância ou necessidade, saúde ou doença, paz ou guerra, vida ou morte — todos dependiam do capricho de seres poderosos que, de alguma maneira, deviam ser invocados ou apaziguados a fim de que a vida trouxesse alguma satisfação. Israel vivia nesse mundo, tendo chegado a algum sentido de um DEUS verdadeiro e vivo só por meio da graça deste em afastar Abraão do paganismo sumério e em pôr a ele e seus descendentes para amadurecer em uma relativa incubação em uma Canaã muitíssimo desabitada e em uma parte isolada do Egito. Mas a remoção total daquele mundo era impossível, e Israel viu-se presa nas contra-correntes da vida cultural e religiosa da época e, mais uma vez, levada ao limiar do desastre espiritual até que, por fim, foi para o exílio assírio exatamente por causa de sua infidelidade à aliança em seguir outros deuses (2Rs 17.7-22).
Não obstante, Israel ter experimentado a provisão de DEUS de proteção e do êxodo redentor, seria imensa a tentação da nação em um mundo largamente governado pela ligação de causa e efeito na atribuição de bênção por parte dos deuses da natureza. Portanto, o mandamento para não ter outros deuses não é um princípio teológico enunciado nos seguros limites da abstração acadêmica, mas afeta a vida e o pensamento diários. Ater-se a esse mandamento exigiria recursos que estavam além da capacidade de meros seres humanos; desobedecer- lhe, por sua vez, provocaria a mais severa punição; pois ter outro deus que não o Senhor seria um ato, da mais alta magnitude, de infração e de deslealdade com a aliança.
Eugene H. Merrill. Teologia do Antigo Testamento. Editora Shedd Publicações. pag. 324-326.
 
 
2. Idolatria do Egito.
As Religiões do Egito
1. História envolvida e caracterização geral. A história da religião, no antigo Egito, começa paralelamente à sua história secular, ou seja, em 3000 A.C., e, então, continua até o advento do islamismo (após 642 D.C.). Somente então podemos falar em termos do Egito medieval e do Egito moderno. Talvez somente na época do monoteísmo de Aquenaton (1372-1354) tenha havido qualquer coisa parecida com um movimento unificador na religião; mas, mesmo assim, foi um esforço de pouca duração, imposto de cima para baixo. Em tudo o mais, a religião egípcia era pluralista, estando envolvida em desenvolvimentos e práticas de cunho local, pois cada localidade tinha seu próprio deus, seu sacerdócio e seu culto religioso.
2. Características mais antigas. Muitas culturas seguem as mesmas diretrizes gerais. As primeiras divindades são sempre personificações das forças da natureza, como o sol, as estrelas, certos animais como o touro, o falcão, o crocodilo, ou então o trovão, o relâmpago, os poderes infernais (estes últimos sugeridos pelas atividades vulcânicas), a força das tempestades, dos ventos, da chuva, etc. Depois disso aparecem os espíritos dos mortos ou outros espíritos, que inspiram o terror nos homens, e os levam a adorá-los. A necessidade das colheitas, para a continuação da vida, fornecem aos homens seus deuses e deusas da fertilidade, e o desejo pelos prazeres é a inspiração dos deuses e deusas da alegria e da fertilidade. Acrescente-se a isso a inevitável atividade antropomórfica, que faz deuses e deusas serem concebidos em termos de seres humanos, embora ampliados, mas que têm virtudes e vícios melhores e piores do que as virtudes e vícios dos homens.
3. Divindades protetoras. Antes que Menes unificasse o Egito sob o seu governo, o país estava dividido em dois reinos (o Alto e o Baixo Egitos). Subsequentemente, foi dividido em distritos, bem como em um certo tipo de cidades-estados. Cada cidade ou distrito contava com seu deus protetor ou patrono. Alguns dos deuses mais importantes eram os seguintes:
Anúbis, de Cinópolis, um deus com cabeça de chacal, que era o deus dos mortos. Atom, de Heliópolis, mais tarde identificado com o deus-sol Rá. Bastete, a deusa-gata de Bubástis. Hator, a deusa- vaca de Denderá e de Afroditópolis. Horus, o deus-sol, em forma de falcão, de Bedete. Edfu, o deus real do Egito. Khnum, o deus com cabeça de carneiro de Elefantina, que também era adorado sob a forma da catarata existente na região. Khonsu, o deus-lua de Tebas. Min, o deus-peixe fálico de Cóptos. Akhmim, um deus agrícola. Montu, o deus da guerra de Hermontis e que tinha cabeça de milhafre. Amom, o deus do carneiro sagrado, que substituiu a Montu, em Tebas. Neite, a deusa de Sais e de Esna. Necbete, a deusa corvo de El-Kab. Ptá, o deus-boi de Mênfis, que era considerado o patrono especial dos artistas. Sebeque, o deus-crocodilo de Fayum e de Kom Ombo. Tote, o deus com cabeça de íbis de Mermúpolis, que, supostamente, teria inventado a arte da escrita e que era o santo patrono da erudição e que era também representado pelo babuíno!
Os deuses animais patronos, no Egito. Além de adorarem deuses que eram representados por seres animalescos, os egípcios também adoravam diretamente a certos animais. Assim, havia ápis, um touro negro com manchas brancas, adorado em Mênfis Mnevis, um boi de cor clara, que era o deus de Heliópolis. Havia ainda outros deuses-boi, relacionados a outras localidades egípcias. Outros animais sagrados, formando uma lista difícil de nela acreditarmos, incluíam o babuíno, o musaranho, o cão, o lobo, o chacal, o gato, o leão, o hipopótamo, o carneiro, a vaca e vários pássaros, como o abutre, o gavião e o ganso. Também não nos devemos esquecer da serpente, considerada uma divindade em muitos lugares do Egito. Até mesmo insetos, como o escaravelho, vieram a fazer parte do panteão egípcio. É curioso, todavia, que a adoração direta a certos animais não garantia aos mesmos uma longa vida, conforme se dá na índia, no caso da vaca sagrada, que ninguém toca. Muito pelo contrário, os egípcios comiam o boi sagrado.
Apesar desse costume, os túmulos dos bois sagrados, em Sacara, encontram-se entre os mais impressionantes túmulos do Egito. O gato, por sua vez, era um animal considerado sagrado e muitos gatos mumificados têm sido encontrados naquele país.
O deus-chacal, Anúbis, tinha a tarefa especial de proteger os espíritos dos mortos que vagueavam, no após-vida. Também havia cães de guarda para os vivos e o grande Cão de Guarda para os mortos! A imaginação dos homens mostra-se ridícula, para dizermos o mínimo.
Deuses que eram forças da natureza. Entre esses havia Rá, o sol; Hapi, o rio Nilo; Num, o oceano; Sou, o ar; Tefnute, o orvalho; e Gebe, a terra.
4. Movimento de unificação da V Dinastia e outras unificações. Os teólogos de Heliópolis, nesse tempo (2560-2420 A.C.), identificaram sua divindade local, Atom, com o deus-sol, Rá. Isso deu origem a uma espécie de religião nacional, embora não tivessem sido eliminados os muitos deuses locais, o que se evidencia pelas muitas divindades descritas antes. Antes mesmo desse tempo, porém, tinha havido outras unificações, como quando Sete e Ombos tornaram-se divindades especiais no Alto Egito, e Horus tornou-se outro tanto, no Baixo Egito. Em uma outra ocasião, a deusa corvo, Necbete, do Alto Egito, obteve proeminência maior que a de outros deuses, e o deus-serpente, Buto, tornou-se muito importante no Baixo Egito. Posteriormente, Horus foi identificado com Atom-Rá-Haracte, de Heliópolis. E foi então que se tornou a divindade real dos Faraós, conferindo-lhe grande proeminência no panteão egípcio.
5. Amenopofis IV (Icnaton, 1375-1358 A.C.), da XVIII Dinastia, promoveu a causa do monoteísmo, tendo negado o poder de deuses solares, como Amon, que haviam recebido a lealdade de cidades como Tebas. Esse Faraó opôs-se abertamente à casta sacerdotal de Amom, fazendo com que Atom-Rá-Haracte se tornasse o único deus-sol do Egito. Os estudiosos referem-se a Aten como o nome do deus que resultou dessa consolidação. Outros deuses foram proscritos no Egito, embora, aparentemente, continuassem sendo reconhecidos como entidades. Portanto, temos então muito mais o fenômeno do henoteísmo do que o fenômeno do monoteísmo dos hebreus, e também diferente do fenômeno do politeísmo pagão, embora, na prática, tivesse sido estabelecido no Egito, um monoteísmo de breve duração. Todavia, essa adoração unificada não contava com qualidades morais especiais, conforme se verificou no monoteísmo hebreu. Aten era retratado como um criador benévolo, como sustentador da vida. É curioso que Aquenaton tenha se casado com a sua própria filha, embora isso não tivesse resultado de qualquer convicção religiosa, pois outros Faraós haviam feito a mesma coisa. Esse Faraó é que tem sido visto, nas visões de místicos modernos, como o progenitor do anticristo (biológico ou espiritualmente, ou ambas as coisas?)
6. Osiris.
a. Pano de fundo. Os primórdios desse culto podem ser encontrados no Antigo Reino Egípcio, bastante anterior à época de Abraão e dos patriarcas de Israel. Toda uma família de deuses desenvolveu-se em torno de Osiris, o que incluía um culto muito elaborado. No entanto, nos primeiros dias do Reino Antigo, essa família divina ainda não havia sido imaginada. Ao que parece, o próprio Osiris a princípio fora o deus Nilo de Busiris, no Delta. Em tempos remotos, Osiris, ísis, Horus e Sete tinham sido divindades tribais independentes. Horus acabou sendo adorado em companhia dela, considerado seu filho. Sete era adorado como uma espécie de figura divina igual a Horus. Osiris, quando unido a essa família, tornou-se o esposo de ísis. Com a passagem do tempo, — Sete deixou de ser igual a Horus, e acabou sendo o irmão mau de Osiris. Então Osiris tornou-se o pai bom, Horus tornou-se o filho bom, e ambos faziam oposição a Sete. É deveras curioso que alguns teólogos mórmons supõem que Satanás é um irmão desviado do Filho e que tanto o Filho quanto o Pai agora se opõem a Satanás. Assim, apesar das relações serem diferentes, a idéia é idêntica: uma família de deuses na qual um dos membros erra e sofre oposição. Além disso, Osiris veio a ser imaginado como irmão de ísis, que se casou com ela, de acordo com um antigo costume entre os egípcios. Sete também tinha uma irmã, chamada Nebate, que se casou com ele. Mas, em algumas representações, Osiris teria uma segunda esposa, essa mesma Nebate, que tinha um filho divino, Anpu, ou Anúbis.
b. Osiris era o deus dos mortos, o que explica a grande proeminência dessa divindade na teologia egípcia. Para uma egípcia, a felicidade eterna dependia de ser ela favorecida e transformada por Osiris. Seu nome veio a tornar-se um sinônimo virtual de bem-aventurado. O reino de Osiris era descrito em termos vagos e indistintos; mas, antropomorficamente, de tal modo que o após-vida era visto essencialmente como uma existência análoga à do mundo presente. O famoso Livro dos Mortos, até hoje existente em várias traduções, era o roteiro para alguém chegar ao reino de Osiris. Uma cópia desse livro com freqüência era deixada nos túmulos, a fim de guiar os mortos e servir-lhes como uma espécie de amuleto. Osiris atuava como um juiz. Cada alma era pesada em comparação com a verdade e era submetida a um longo questionário referente, principalmente, àquilo que alguns chamariam de pecados mortais. Se uma alma fosse aprovada entrava na felicidade eterna. Se fosse rejeitada, ela seria expulsa sob a forma de um porco, para alguma sorte desconhecida.
c. Osiris e a ressurreição. Os mitos que circundavam essa família de deuses inclui a idéia de que Osiris foi assassinado por Sete. Horus, porém, conseguiu reunir os pedaços de seu corpo desmembrado, para restaurar o seu corpo à vida. Portanto, temos aí a curiosa doutrina do filho que ressuscitou ao pai, o contrário da ressurreição de JESUS CRISTO, no Novo Testamento. Naturalmente, outras religiões antigas também contavam com histórias de ressurreições, pelo que não há nenhuma conexão direta entre Osíris e o Novo Testamento, excetuando aquela esperança que os homens sempre tiveram de que a morte, de alguma maneira, pode ser derrotada mediante algum ato divino. No relato da ressurreição de Osíris, também há o paralelo com o cristianismo de que essa mesma vida pode ser dada aos homens, sob a condição deles seguirem pela vereda espiritual. Em algumas versões, quem ressuscita a Osíris, após seu assassinato, não é o filho dele, Horus, e, sim, a sua esposa, ísis.
d. O submundo e o céu . Osíris, antes de tudo, era o deus do submundo, das regiões infernais. Em tempos posteriores, entretanto, ele passou a ser imaginado como um habitante dos lugares celestiais, onde se encontraria sentado em um trono, para julgar todas as coisas.
e. Faraó e Osíris. Isso envolve uma doutrina de filiação, visto que o Faraó era tido como filho de Osiris, ou seja, divino por seu próprio direito. O conceito do rei divino exercia grande poder sobre a política e a religião do Egito.
f. A imortalidade obtida por Osíris. Um aspecto da teologia egípcia que circunda a figura de Osíris diz que ele mesmo obteve a imortalidade mediante obras piedosas, e através de ritos religiosos apropriados. Quão parecido com a doutrina católica romana! O sacerdócio que servia a Osíris é retratado como os preservadores da fórmula para a obtenção da imortalidade. Eles exortavam os homens a seguirem o exemplo deixado pelo próprio Osiris, para poderem obter o mesmo tipo de vida que ele teria obtido. Há nisso, igualmente, um curioso paralelo com a doutrina mórmon, que diz que o próprio DEUS, no passado distante, foi um homem como qualquer outro, mas obteve a sua augusta posição e natureza através da obediência perfeita às leis divinas superiores.
g. Adaptações romanas. Nos tempos dos romanos, Osíris e ísis foram unidos como as divindades protetoras de certa religião misteriosa que falava sobre um deus que morrera, mas foi trazido de volta à vida.
h. Proeminência de Osiris e Isis. A adoração que circundava Osiris e a sua família tornou-se tão dominante nos tempos helênicos que os visitantes gregos do Egito, como Heródoto (ver II.42), tinham a impressão de que Osíris e Isis eram as únicas divindades nacionais do Egito. Os estudiosos das religiões do mundo supõem que essa popularidade devia-se à ênfase sobre a imortalidade alcançável que esse culto prometia aos homens. De fato, a maioria das pessoas tem a esperança de sobreviver à morte, encontrando uma vida imortal melhor do que a vida atual.
i. Unificações. Quando Osíris se tornou o fator principal da fé egípcia, esse deus começou a incorporar em si mesmo as funções e poderes de outras divindades locais. Ele absorveu deuses anteriores do submundo, como Khentamentiu, o deus com cabeça de cão de Abidos, Ptá-Socar, de Mênfis, e Gebe. Visto que os mitos afirmavam que seu corpo fora desmembrado, vários santuários afirmavam possuir algum pedaço de seu corpo. Entretanto, sua cabeça estaria guardada em um certo túmulo, em Abidos. Ali, esse alegado túmulo era exibido aos visitantes, pelo que o local tornou-se um dos principais centros desse culto. O paralelo católico romano, que envolve relíquias e ossos de santos, nem precisa ser comentado. O deus Anúbis, com cabeça de chacal (um dos filhos de Osíris), era quem teria a tarefa de dar as boas vindas às almas, levando-as ao trono de julgamento.
7. Algumas Formas religiosas. — Essas formas variavam de uma região para outra. A descrição sob o terceiro ponto, Deuses Protetores, sugere a grande variedade de formas de adoração do Egito. Antes de tudo, temos uma fantástica idolatria, que representava as divindades sob uma variedade quase interminável de figuras.
Em segundo lugar, havia castas religiosas que cuidavam dos templos, com ritos os mais elaborados. Os deuses eram servidos com libações (líquidos) e com alimentos sólidos. A vida após-túmulo era retratada como um estado onde as pessoas trabalhavam, pelo que pessoas proeminentes teriam escravos, os quais eram mortos e sepultados juntamente com eles, para garantir que continuariam sendo servidos do outro lado da existência. Alguns eruditos pensam que sacrifícios humanos eram comuns no Egito, embora as evidências quanto a isso não sejam conclusivas. Em tempos posteriores, em vez de serem sepultados pessoas reais, bastavam estátuas representando as mesmas, pelo que a morte só envolvia os mortos.
Amuletos e encantamentos. Não havia fim desses objetos entre os egípcios, que chegaram até nós desde os tempos mais remotos. Os amuletos incluíam objetos como olhos sagrados de cavalos, imagens de deuses, cabeças de chacal, vespas e outros insetos, todos os quais teriam propriedades mágicas e divinas.
O culto a Osíris oferecia alguns fatores interessantes. A adoração efetuada nos grandes templos incluía a veneração pessoal dos deuses. Uma parte dessa veneração incluía o ato de alimentá-los (simbolicamente, através de sacrifícios). Além disso, os ídolos que os representavam eram grandemente ornamentados. Esses serviços pessoais usualmente cabiam aos sacerdotes de cada culto. Em dias de festa religiosa ou de observância cúltica, a imagem do deus (escondida por algum véu ou cortina, para dar uma aura de mistério à coisa) era transportada em uma procissão. Quando surgiu o cristianismo, o paganismo, com suas antigas formas religiosas, sofreu um retrocesso; mas, com o tempo, o paganismo ressurgiu, sob a forma de doutrinas e cerimônias, primeiramente fora da cristandade, até 390 d. C., mas, pouco a pouco, como parte do culto cristão. Nos dias de Teodósio I, foram fechados os grandes e antigos templos pagãos. A religião pagã havia percorrido um longo caminho no Egito, e agora uma nova fase da história da religião haveria de começar.
8. A natureza e o destino da alma. A grande pluralidade envolvida na religião, no Egito, naturalmente produziu muitos conceitos sobre a alma. Alguns aspectos são dignos de menção, embora tudo quanto se diga não represente uma doutrina unificada. Um corpo embalsamado presumivelmente poderia ressuscitar, tornando-se, novamente, um veiculo da alma. O ká, ou seja, o congênere do corpo físico, ou o seu fantasma, teria início quando do nascimento do corpo, era imortal e ficava a vaguear após a morte do corpo físico. Não se pode duvidar que essa doutrina foi inspirada por experiências com fantasmas e formas espirituais, que, algumas vezes, podem ser vistas, até com certa freqüência, por algumas pessoas. O ká era associado a um outro elemento formativo do complexo humano, chamado de khaib ou «sombra», simbolizado pela sombra da pessoa à luz do sol. Esses dois elementos, segundo se concebia, estariam vinculados ao corpo material e mesmo em algum sentido também material. Todavia, também haveria elementos imateriais no complexo humano, que incluíam o bá, a verdadeira alma, simbolizada por uma ave com cabeça humana e que voaria para dentro e para fora do túmulo da pessoa morta. Naturalmente, a ave é um símbolo universal da imortalidade, um dos arquétipos do ESPÍRITO, dentro da psique humana. O bá dos monarcas era simbolizado pelo falcão. Também haveria o khu, ou glória, que seria o ESPÍRITO, representado pelo pássaro de crista. E também haveria o ab, simbolizado por um coração. Igualmente havia o sekhem, ou força; e, finalmente, o ran, ou nome. Porém, exatamente como esses diversos elementos se combinavam ao bá, de acordo com o pensamento egípcio, e até que ponto seriam meros sinônimos de uma mesma coisa, não é muito claro.
Relação entre e Ká e o Bá. Esse é um ponto interessante, porquanto os estudos mais recentes demonstram a existência de um fantasma aparentemente semimaterial, ou vitalidade, em contraste com o corpo físico, que é verdadeiramente material. Isso posto, o homem seria composto, pelo menos, de três níveis de energia: o corpo físico (material); a vitalidade (semimaterial); e o ESPÍRITO, ou alma (imaterial). Também há provas incipientes de que o homem real é o superego, um ser semelhante ao anjo guardião do pensamento cristão. Nesse caso, o verdadeiro ser humano seria um poder elevadíssimo (semelhante aos anjos, abaixo dos quais os espíritos humanos foram postos, temporariamente, conforme se vê em Salmos 8:5 e Hebreus 2:7), capaz de manipular tanto a alma quanto o corpo, quando se trata de aprender alguma coisa. Seja como for, o contraste entre o ká e o bá também pode ser observado em alguns escritores gregos, embora não com esses nomes e nem de forma sistemática e coerente. Mas, pelo menos, fica esclarecido que o ká é o responsável por algumas formas de aparições fantasmagóricas e, talvez, das manifestações de poitergeist. Também pode estar por detrás de certos fenômenos associados às sessões espíritas ou de mediunidade. Já o bá, ou alma verdadeira, é uma outra questão; e, algumas vezes, tem contacto com os homens mortais.
Idéias Simples. De acordo com os egípcios, após a morte física, a alma ficaria pairando por sobre o túmulo da pessoa sepultada, exigindo alimentos e bebidas, uma idéia compartilhada por muitos outros povos antigos. Isso deu origem a vários ritos religiosos, mediante os quais homens mortais cuidariam de almas imortais. Em tempos posteriores, oferendas reais foram substituídas por ofertas simbólicas, sob a forma de desenhos ou pinturas, nos túmulos. Se esses sacrifícios não fossem realizados, a alma tinha de depender da deusa árvore, a fim de receber nutrição. Essa deusa viveria nas árvores existentes nos cemitérios e nas áreas onde havia túmulos, pelo que sempre havia tal deusa, com esse propósito. Por qual motivo os homens gostam de sepultar seus mortos em áreas arborizadas, até em nossos próprios dias? Porventura alguma memória antiga da raça chegou até nós? Ou simplesmente associamos a árvore à vida física, pelo que sentimos um certo consolo, ao depositarmos os corpos de nossos mortos sob a sombra das árvores? O bá, segundo os egípcios, podia entrar ou sair de um túmulo, à sua vontade.
Em tempos posteriores e mais sofisticados, os egípcios supunham que a alma iria a juízo, na presença de Osíris, podendo participar de sua bem-aventurança, se fosse aprovada por ele. Da mesma maneira que Osíris conseguira atingir uma feliz imortalidade, outro tanto poderia ser feito pela alma. E, visto que um rei podia tornar-se divino, é seguro supormos que o ensino egípcio posterior dizia que as almas humanas que são aprovadas em juízo, passam a participar da natureza divina, embora eu esteja especulando quanto a isso. O que é inegável é que a imortalidade era um aspecto importante da adoração a Osíris, tendo sido o elemento responsável, pelo menos parcialmente, pela popularidade que o culto a Osíris contava entre as massas populares do Egito.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 4196-4199.