Lição 12 - A Consagração dos Sacerdotes 2Parte

Lição 12 - A Consagração dos Sacerdotes 2Parte
II - O SACRIFÍCIO DA POSSE
1. O segundo carneiro da consagração (Êx 29.19-35).
Êx 29.19 Tomarás o outro carneiro. O terceiro animal. O primeiro animal sacrificado, nos ritos de consagração de sacerdotes, era o novilho, uma oferta pelo pecado (ver os vss. 10 ss.). O segundo animal sacrificado era o primeiro carneiro, oferecido como oferta de louvor e consagração (vs. 15). O terceiro animal sacrificado era o segundo carneiro. Esse carneiro era oferecido como sacrifício de consagração do sacerdote. Ver o vs. 22. O trecho de Levítico 8.22 chama esse animal de “o carneiro da consagração”. Era consagrado a DEUS; e o homem que o tinha oferecido era assim também cerimonialmente consagrado a DEUS. Seu sangue era usado, juntamente com o azeite, tendo em vista a consagração dos sacerdotes (vss. 20,21). Suas porções mais sagradas foram postas por Moisés nas mãos dos sacerdotes, de tal modo que eles ofereciam com elas a sua primeira oferenda a DEUS. Ver os vs. 22-24. Era uma espécie de ato coroado da cerimônia. Tudo isso fazia parte da consagração de sacerdotes.
O segundo carneiro chegou a ser chamado de “carneiro do enchimento”, porque estava associado ao último estágio do rito, “o enchimento das mãos” do sacerdote com as oferendas de cereais (vss. 23-25). Tudo isso simbolizava a autoridade, a graça, os dons e os poderes próprios do oficio sacerdotal.
Êx 29.20 Os intérpretes veem vários sentidos na aplicação do sangue, bem como nos lugares onde o sangue era posto:
1. O sangue era posto em lugares estratégicos, dando a entender, metaforicamente, uma aplicação completa, ou seja, uma completa consagração.
2. Especificamente: A ponta da orelha direita. Um sacerdote era alguém que devia estar preparado para ouvir tudo quanto Yahweh ordenasse, a fim de cumprir Suas ordens. O polegar das suas mãos direitas. Um sacerdote devia estar preparado para fazer tudo quanto Yahweh ordenasse, visto que as mãos são o instrumento de ação. O polegar dos seus pés direitos. Um sacerdote devia andar pelos caminhos de Yahweh, pois caminhar é aquilo que fazemos com os nossos pés.
3. É possível que, originalmente, tais ritos tivessem por intuito prover completa proteção contra os ataques de poderes demoníacos sinistros, falando assim sobre uma plena proteção divina, diante de qualquer mal. Sem dúvida estava em foco a intenção que eles deveriam dedicar todas as suas capacidades a DEUS” (Adam Clarke, in Ioc.).
O sangue era então aspergido sobre o altar, como no caso do primeiro carneiro (ver 0 vs. 16). Ficava assim simbolizada a total aplicação do sangue, exibindo a total eficácia do sacrifício.
Êx 29.21 A unção das vestes de Arão e de seus filhos sacerdotes foi feita com azeite (ver a esse respeito no Dicionário) e com sangue. Não se sabe se o sangue foi misturado ou não com o azeite. O fato é que assim elas foram consagradas. O vs. 7 já havia falado sobre a unção com azeite, mas temos aqui um outro tipo, em adição àquele. Portanto, o culto de consagração incluía dois tipos. Os estudiosos cristãos veem nisso a unção dos crentes em CRISTO, a outorga de autoridade e de graças para cumprirem sua missão. Como é claro, dispomos do poder e dos dons do ESPÍRITO, representados no azeite, bem como dos poderes justificadores e santificadores de CRISTO, representados no sangue. Ver Sal. 45.8 e Apo. 7.14. Nessa dupla unção, alguns eruditos veem a justificação e a santificação simbolizadas. O trecho de Lev. 8.30 parece indicar apenas uma unção.
Êx 29.22 A gordura. As porções mencionadas neste versículo eram as mesmas comumente usadas nas ofertas pacíficas (Lev. 3.9-11). O termo cauda gorda indica a cauda larga e pesada que caracteriza as ovelhas orientais.
Redenho do fígado. A membrana que encobre a porção superior do fígado, que alguns chamam de “apêndice”. Ver Lev. 4.8-10.
A coxa direita. Usualmente era a porção que ficava com o sacerdote, para comê-la (vs. 27; Lev. 7.31,32). Somente o holocausto ou oferta queimada era totalmente consumido no fogo. Em todas as outras modalidades de sacrifício uma parte era deixada inteira para consumo dos sacerdotes, e por aqueles que tivessem trazido esses sacrifícios.
O carneiro da consagração. Ou seja, o terceiro animal a ser sacrificado. Esses animais eram: o novilho, o primeiro carneiro e o segundo carneiro. Cada qual tinha sua própria finalidade, conforme é explicado no vs. 19. O animal era dedicado a DEUS; e o sacerdote, ao oferecer o animal, consagrava-se em sentido simbólico por meio do animal sacrificado. Um sacerdote precisava mostrar-se entusiasta e dedicado a seus labores; e o terceiro animal sacrificado simbolizava exatamente isso. Um sacerdote era alguém que pertencia de corpo e alma a Yahweh. Essa era a razão mesma de sua vida. Conforme disse Paulo,“.. .para mim o viver é CRISTO...” (RI. 1.21), exprimindo o espírito dessa consagração.
O termo hebraico aqui traduzido por consagração significa, literalmente, “da consagração”, resultando nas últimas palavras deste versículo, “o carneiro da consagração”, que tem ligações com o que se lê no vs. 24 deste capítulo. As mãos dos sacerdotes eram cheias com as ofertas de cereais, representando a sua inauguração nas lides sacerdotais. Essas ofertas de cereais, além de certas porções do carneiro da consagração, eram oferecidas sobre o altar; e o resto era comido pelos sacerdotes. Portanto, esse carneiro estava vinculado à ideia do “encher as mãos”, conforme foi explicado nos vss. 24 e 25.
Êx 29.23 Um pão, um bolo de pão azeitado e uma obréia. Temos aqui as ofertas movidas. Esses itens confeccionados de cereais (descritos no vs. 2) faziam parte das ofertas movidas. “Algo dos órgãos do segundo carneiro, um pão, um bolo e uma obréia (bolos asmos bem finos) foram entregues a Arão e seus filhos como uma oferta movida diante do Senhor. O movimento servia para atrair, por assim dizer, a atenção de DEUS, como se se pedisse que Ele aceitasse a oferenda. A oferenda era feita daquelas coisas que são necessárias para o homem, pelo que esse sacrifício também era uma ação de graças pelo suprimento recebido, em reconhecimento diante Daquele que nos supre de tudo quanto é bom (Tia. 1.17).
A adoração, em certo sentido, consiste em reconhecer a DEUS, como Aquele que é o Provedor, o Juiz e o Salvador. Todos os sacrifícios e todas as oferendas enfatizavam uma ou outra dessas qualidades.
Êx 29.24 O enchimento das mãos era parte importante de qualquer final de culto de ordenação sacerdotal. As porções a serem queimadas eram primeiramente postas nas mãos dos sacerdotes.
Simbolismos:
1. DEUS nos deu tudo, e devemos usar bem aquilo que recebemos da parte Dele. Temos os Seus dons (Tia. 1.17), e uma vida a ser-Lhe consagrada.
2. O sacerdote era assim autorizado a realizar seu serviço espiritual, utilizando aquilo que lhe fora dado. Assim sendo, devolvia o que lhe fora dado sob a forma de dedicação a Yahweh.
3. Além disso, era prerrogativa dos sacerdotes viverem do altar, ou seja, comer certa porção das ofertas para seu sustento físico, excetuando-se somente o caso das ofertas pelo pecado, que eram totalmente queimadas, porquanto essas ofertas eram tidas como contaminadas pelo pecado, que tinha que ser destruído. A porção que cabia ao sacerdote era movida diante do Senhor, conforme já foi destacado no vs. 23. Essa lei foi o começo do conceito que um ministro do evangelho deve viver do evangelho, para que possa ser um obreiro de tempo integral. Ver I Cor. 9.13,14 no Novo Testamento interpretado quanto a plenas explicações sobre essa questão. Cf. I Sam. 2.12-17.
Êx 29.25 Os itens que os sacerdotes receberam (no momento de suas mãos serem cheias), foram então devolvidos a Moisés, e, então, foram postos sobre o altar, a fim de serem consumidos pelo fogo. Mas a coxa direita (vs. 22) sempre ficava com os sacerdotes, para dela se alimentarem, e outro tanto se dava com o peito (vs. 26). Dessa maneira, os sacerdotes sobreviviam, vivendo do altar. A gordura (ver o vs. 13) era a porção principal das ofertas queimadas.
De agradável aroma. Yahweh, ao sentir o aroma do sacrifício, aceitava tanto a oferenda quanto o sacerdote que a tinha oferecido.
Naquela primeira ocasião, Moisés, como sacerdote oficiante, por ocasião da cerimônia de consagração, recebeu uma porção. Posteriormente, os sacerdotes é que recebiam essa porção.
Êx 29.27 Verdadeiramente, é dando que recebemos. Esse é um fato bem conhecido, assim como uma lei espiritual bem comprovada.
Êx 29.28 Yahweh impôs aqui uma obrigação perpétua. Os sacerdotes deveriam viver do altar. O povo de Israel estava na obrigação de desincumbir-se desse dever. Disso dependia a continuação do sacerdócio levítico. Nenhum homem poderia cuidar de ovelhas, no campo, e também trabalhar no tabernáculo. Yahweh queria obreiros de tempo integral nas atividades espirituais. Oh, DEUS, concede-nos tal graça! O trecho de Êxo. 28.29,30 mostra que o trabalho dos sacerdotes devia prosseguir continuamente. Os sacerdotes deviam estar sempre ocupados com seus deveres sagrados, e outros deviam sustentá-los materialmente.
Êx 29.29 As vestes santas deviam passar de pai para filho, até o tempo em que, de velhas, chegasse o tempo de serem substituídas. Os filhos, ao receberem as vestes santas, dariam continuação à obra do sacerdócio. Assim sendo, o oficio tomou-se hereditário, até que CRISTO viesse substituir o sistema inteiro com Ele mesmo e Seus discípulos, os reis-sacerdotes (Apo. 1.6). Cf. Núm. 2.26,28. Santidade e dedicação simbólicas estavam vinculadas a essas vestes sacerdotais, pelo que essas vestes permitiam a continuação da linhagem sacerdotal.
A consagração do sumo sacerdote fazia-se por meio de uma espécie de investidura que incluía o ato de vestir as vestes sacerdotais de seu pai. Mas não somos informados sobre o que sucedia no caso dos sacerdotes simples. Cf. II Reis 2.13,14. Entendemos que os sumos sacerdotes subsequentes não passavam por elaborados ritos sacrificiais para serem ordenados, conforme sucedeu no caso de Arão. Os elementos da consagração eram: O ato de vestir as vestes; a unção; um período de espera de sete dias (vs. 30). Eleazar recebeu as vestes de seu pai (Núm. 20.28), e assim, a regra baixada aqui foi aplicada segundo foi requerido. As tradições judaicas afirmam que essa lei foi sempre aplicada. Havia um rito de unção, conforme o versículo presente deixa claro; mas parece que não havia ritos sacrificiais.
Êx 29.30 Outra parte do rito de transferência da autoridade sacerdotal consistia no período de sete dias, durante os quais o filho vestia as vestes sacerdotais de seu pai. Esse período era um período de consagração (vs. 35), e como parte integrante da instalação de um novo sumo sacerdote. Somente depois desse período é que ele assumia os seus deveres.
“O sacerdote, em sua consagração, durante sete dias e sete noites ficava à entrada do tabernáculo, mantendo a vigília do Senhor. Ver Lev. 8.33. O número sete era considerado o número da perfeição, pelos hebreus; esse número é, com frequência, usado para denotar o término, o cumprimento, a plenitude ou a perfeição de alguma coisa” (Adam Clarke, in loc.).
Êx 29.31 “Na oferta pacífica, depois que as porções do altar e do sacerdote tinham sido dadas (vs. 27), os adoradores que tinham trazido o sacrifício, deviam consumir o resto no recinto sagrado, enquanto estavam em estado de pureza ritual (Lev. 7.15-21). O sacerdote cozia a carne para eles (I Sam. 2.13). Neste caso, Moisés atuou como sacerdote, e o sacrifício foi trazido a Arão e seus filhos (cf. Lev. 8.31). O ato de cozer é geralmente considerado método mais antigo que o ato de assar (cf. 12.18; Deu. 16.7” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Cf. Lev. 8.31 e Eze. 46.19-34. O cozimento era efetuado à entrada do tabernáculo, onde também era comida a carne. Além disso, o que restasse dos cereais (ver os vss. 2 e 3), era comido juntamente com a carne, conforme somos informados em Lev. 8.31. Qualquer coisa que não fosse então comida tinha que ser queimada (vs. 34).
Êx 29.32 O banquete combinava a carne do carneiro com o conteúdo da cesta com seus produtos de cereais (ver o vs. 2). Desse modo, os sacerdotes comiam do altar, ou seja, eram sustentados materialmente pelos subprodutos de seu labor.
Os intérpretes cristãos veem neste versículo o sustento espiritual que CRISTO oferece aos Seus discípulos, sendo Ele o Pão da Vida. Sua carne foi oferecida por nós em Seu ato expiatório.
À porta da tenda da congregação. Talvez esteja em foco simplesmente o átrio onde o povo comum podia entrar e circular. Mas no caso da ordenação de sacerdotes, nenhum leigo podia entrar no átrio e nem participar do cerimonial (vs. 33).
Êx 29.33 A expiação. Os eruditos têm feito uma clara distinção entre os tipos de sacrifício feitos: o novilho (pelo pecado); o primeiro carneiro (para a consagração); e o segundo carneiro (para a ordenação e a dedicação). Ver os vss. 11,15 e 19, respectivamente, no que tange a esses três sacrifícios. Seguiam-se sete dias mais de ofertas sacrificiais como expiação, em que um novilho era oferecido a cada dia (vss. 36,37). A preocupação com a expiação pelo pecado era realmente grande na mente dos hebreus! Adam Clarke suspirou de alívio ao observar que todas aquelas mortes de animais foram substituídas por CRISTO, em Sua morte única, pondo fim aos sacrifícios sangrentos do Antigo Testamento.
O estranho não comerá. O rito limitava-se à família de Arão.
Êx 29.34 Se sobrar alguma cousa. Fragmentos santos do banquete, sem importar se animais ou vegetais (cereais), não podiam ser deixados abandonados, para serem profanados. Logo, o que quer que sobrasse, precisava ser queimado. Isso pode ser comparado com as instruções acerca da páscoa, que requeriam a mesma coisa. Ver Êxo. 12.10.
Êx 29.35,36 Por sete dias os consagrarás. Esse era o período necessário para a instalação dos sacerdotes. A lavagem cerimonial, a investidura e a unção (vss. 29,30) tinham lugar no primeiro dia. Seguiam-se então sacrifícios repetidos a cada dia. Enquanto isso estivesse em processo, os sacerdotes tinham que permanecer no átrio (Lev. 8.33). Uma vez terminado esse prazo, então os sacerdotes estavam autorizados a iniciar seu serviço sagrado.
E o ungirás para consagrá-lo. Está em pauta o altar. O altar era ungido mediante a aspersão do azeite santo por sete vezes sobre o mesmo.  O altar era um lugar do tabernáculo onde Yahweh se manifestava mais claramente.
A Eficácia do Sangue. O sangue, a sede do mistério da vida (Êxo. 17.11; Deu. 12.23; Gên. 9.4) era considerado como particularmente sagrado diante de DEUS. Portanto, com base no princípio do sacrifício de vida por vida, o derramamento de sangue era eficaz para perdão de pecados e para a reconciliação do homem com DEUS. O ato de derramar o sangue ao pé do altar simbolizava a participação de DEUS na cerimônia de expiação (Exo. 24.6-8)" (Oxford Annotated Bible, sobre Lev. 1.5).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 438-453.
Heb 9.22 A palavra que fundamenta todos os atos sacrificiais no AT, Lv 17.11, alcança, neste versículo, sua confirmação expressa no solo do NT: “Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiação pela vossa alma”. O apóstolo declara: sem derramamento de sangue, não há remissão. Com esta frase ele fundamenta os fatos da salvação que ele formulara nos v. 12-14. O sangue do CRISTO realiza a remissão eterna, que reside no perdão de nossos pecados (cf. Ef 1.7). Deste modo, todos os sacrifícios sangrentos da antiga aliança chegam ao encerramento no sacrifício sangrento da nova aliança. Constitui uma ordem de salvação inquebrantável da vontade de DEUS que, para reconciliar os pecados perante DEUS, no AT e no NT, era preciso ser derramado sangue. Com nossa capacidade natural de raciocínio não conseguimos apreender a justificação dessa ordem, porque na terra nos são vedados entendimentos últimos (cf. 1Co 13.9). Temos de submeter-nos reverentes a isto pela fé.
Comentário Esperança Carta Hebreus. Editora Evangélica Esperança.
O coração da verdadeira religião (9.22). A necessidade de derramamento de sangue, tipificando a doação de vida, é resumida no versículo 22. No que tange à purificação cerimonial, as coisas, i.e., o Tabernáculo e seus acessórios de adoração, lemos o seguinte: E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue. Mas ainda mais indispensável é o sangue remidor oferecido em favor dos pecadores. Coisas requerem o aspergir de sangue quando são consagradas. Mas pessoas requerem perdão; e embora possa haver exceções em relação às coisas, não há exceção no perdão; porque sem derramamento de sangue não há remissão de forma alguma.21 Esta é a grande diferença entre o caminho de DEUS e o caminho do homem, entre a verdadeira religião e a falsa. O homem tem uma visão inadequada do pecado e despreza o sangue como inerentemente necessário para o perdão. Mas ao exigir sangue, DEUS ressalta a excessiva pecaminosidade do pecado; e ao prover o Sangue, Ele revela o seu infinito amor. O sangue do pecador pode ser poupado — mesmo o de animais — porque DEUS sacrificou seu próprio “Cordeiro [...] que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).
Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 83.
Os sacerdotes levíticos, quando das abluções batismais, tinham de ser totalmente imersos e purificados, a fim de poderem servir em seu ofício (Ex 29.21; Lv 8.30). Arão e seus filhos passaram rigorosamente por esta espécie de purificação. “Moisés fez chegar a Arão e a seus filhos, e os lavou com água” (Lv 8.6). Isso era símbolo da purificação moral, da purificação da alma e de todos os seus vícios, excessos e pecados. Os cristãos também reconhecem que além do batismo cristão, eles têm sido “... santificados pela oblação do corpo de JESUS CRISTO, feita uma vez” (Hb 10.10). Em suma, cada crente então procura andar em santidade de vida, “... renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas” (Tt 2.12) e dedicando-se inteiramente ao serviço do Mestre. Cada cristão deve ser um vaso santificado para uso santo do Senhor, para que por meio da santificação possa ouvir de seus lábios as solenes palavras: “... este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel” (At 9.15).
Severino Pedro Da Silva. Epístola aos Hebreus. Editora CPAD. pag. 195.
Hb 9. 22. A conclusão geral sobre este tema é que, de acordo com a lei, quase todas as coisas... se purificam com sangue. A palavra quase (schedon) qualifica a declaração inteira e tem o significado de “quase se pode dizer,” como se fosse uma declaração geral que se aplicava na maioria dos casos. Alguns ritos judaicos de purificação eram feitos através da água ou através do fogo, mas os mais significantes eram através de sacrifícios que envolviam o derramamento do sangue de uma vítima. Vale notar que as palavras com sangue (en haimati) podem ser traduzidas “em sangue”, como a esfera em que a purificação é feita. Todas as coisas (panta), embora traduza uma palavra neutra, visa incluir as pessoas bem como os objetos, os sacerdotes e a congregação igualmente.
A declaração final aqui — sem derramamento de sangue não há remissão - é baseada na declaração de Levítico 17.11. Resume o propósito dos sacrifícios com sangue de acordo com a lei. O derramamento de sangue indica a morte do animal e o derramamento cerimonial do seu sangue. Subentende mais do que a doação da vida. Sua eficácia reside na aplicação do sangue. Desta maneira, o escritor está edificando uma explicação da necessidade da morte de CRISTO. Deve ser notado que Levítico 5.1, faz uma exceção no caso de extrema pobreza, quando, então, uma décima parte de uma efa de farinha fina é aceita como oferta pelo pecado. Mas esta é uma concessão e não anula o princípio que ainda está ali na intenção.
O texto original, seguido por ARA, somente tem a palavra remissão (aphesis) sem qualificação, o que é digno de nota, porque é o único caso deste tipo no Novo Testamento (a não ser na citação da LXX em Lc 4.18). O uso absoluto da palavra toma sua aplicação mais geral. Fica sendo uma referência ao livramento bem como ao perdão dos pecados específicos.
O alvo dos sacrifícios era trazer algum tipo de remissão do pecado, mas a palavra aphesis nunca recebeu a importância que lhe toca até a era do Novo Testamento, quando, então, imediatamente tomou-se uma característica da proclamação cristã primitiva (cf. At 2.38). Compare, também, o relato de Mateus das palavras da instituição da ceia do Senhor (Mt 26.28).
Donald Guthrie. Hebreus. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag.183-184.
2. Sacrifícios diários.
As ofertas diárias se seguiam durante sete dias, que era o tempo que durava a cerimônia de posse do novo sacerdote. Arão e seus filhos cozinhavam e comiam juntamente com o que sobrava do cesto do pão e as porções de carne não queimadas do altar ou que haviam sido dadas a Moisés. O mesmo também ocorria no caso da oferta pacífica. Esse pão e essa carne dos quais os sacerdotes participavam, e que os santificavam, representavam o corpo de CRISTO cuja carne era simbolizada no Novo Testamento pelo pão da Santa Ceia (Mt 26.26; 1 Co 11.24) Um detalhe interessante é que as vestes do sumo sacerdote eram passadas para o seu filho por ocasião da consagração deste como novo sumo sacerdote (Ex 29.29,30). O novo sumo sacerdote deveria passar pelo mesmo cerimonial de consagração de seu pai, com o azeite sendo derramado sobre aquelas vestes mais uma vez — e sobre ele, pela primeira vez. A indumentária não seria nova — seria a mesma usada por seu pai —, mas a experiência seria nova para o novo sumo sacerdote. Isso fala que as responsabilidades, representadas aqui pela indumentária, se transferem, mas a consagração e a unção, não. O novo ministro tem que ter a sua própria experiência de confirmação e capacitação para o ofício dadas por DEUS.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 144-145.
Lv 6.12,13 O fogo... sempre arderá sobre o altar. As chamas sobre o altar eram perenes. Esses dois versículos dão-nos duas afirmações garantindo-nos que não podiam apagar-se as chamas sobre o altar de bronze. Os sacerdotes estavam encarregados de garantir que essas chamas nunca se apagassem. O vs. 9 deste capítulo já deixara isso entendido, onde comentei sobre a questão e seus possíveis simbolismos. O sacerdote tinha de usar de cuidado ao remover as cinzas, a fim de não perturbar os pedaços de gordura que continuassem queimando. Pela manhã, o fogo era avivado com lenha, para que as chamas não se apagassem Uma madeira santa era escolhida para esse mister, pelo que sempre havia em depósito bastante lenha com esse propósito. Ver Lev. 1.7.
O vs. 13 repete a questão do fogo santo. Foi o Senhor quem enviara o fogo do céu (Lev. 9.24), e o homem era agora responsável por sua continuidade. Durante os dias do segundo templo, o fogo perpétuo consistia em três partes ou pilhas separadas de lenha sobre o altar, mas isso representava uma complicação da ordenança original. As maiores fogueiras eram usadas nos holocaustos diários; a segunda fogueira supria os incensários e a queima do incenso; e a terceira era o fogo perpétuo, que alimentava continuamente as outras duas fogueiras. Esse fogo nunca se apagava, até que Nabucodonosor forçou o fim desse fogo continuo, devido ao cativeiro babilônico. A mitologia diz que os sacerdotes judeus foram capazes de manter as chamas vivas em algum lugar oculto, e que, nos dias de Neemias, elas foram renovadas publicamente.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 496.
A Lei do Holocausto (6.8-13)
A seção introdutória de Levítico (1.1—6.7) é endereçada aos israelitas (1.2) e é a palavra de DEUS para eles sobre os sacrifícios que o Senhor exigia. Agora, DEUS se dirige aos sacerdotes, Arão e seus filhos (9), que têm de executar estes rituais. Estas instruções são prestimosas para entendermos mais acerca do sistema sacrificatório levítico e sua significação.
Primeiramente, ficamos sabendo que o fogo tinha de ser mantido aceso continuamente no altar (9-13). O texto de Êxodo 29.38,39 nos informa que um holocausto era oferecido pela manhã e outro à tardinha. Era a gordura do sacrifício da tarde que mantinha o fogo do altar queimando a noite toda. Uma chama permanente queimando diante da deidade não é exclusividade da religião bíblica. E expressão da intuição humana que louvor e adoração contínuos devam subir do homem para DEUS. Se esta realidade é sentida por quem conhece pouco da graça divina, quanto mais relevante que o coração do crente seja cheio de oração incessante e louvor permanente! Acerca do fogo, Micklem comenta:
[O fogo] chama a atenção dos cristãos para o sacerdócio eterno do Senhor JESUS CRISTO, o grande Sumo Sacerdote, que vive “sempre para interceder por” nós (Hb 7.25) e é “sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque” (Hb 5.6).
Em Levítico 6.9-23 O sacerdote recebe instruções relativas à roupa que usaria para, todas as manhãs, retirar as cinzas do altar (11). Os trajes sacerdotais regulares não deviam ser usados para esta tarefa. Muitos ficam surpresos ao constatarem quanto espaço é dedicado na Bíblia à roupa. Ainda mais quando diz respeito às vestes dos sacerdotes.
A idéia transmitida é que nossa aparência perante DEUS é importante. Esta verdade é mais desenvolvida no Novo Testamento e na hinologia cristã. JESUS falou sobre a necessidade de “veste nupcial” (Mt 22.11-14). Em Apocalipse, somos aconselhados a comprar “vestes brancas” (Ap 3.18) e a guardar as “vestes” (Ap 16.15). O registro bíblico também afirma que a noiva do Cordeiro se veste “de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19.8). O assunto tratado em Levítico diz respeito à roupa do mediador que fica entre DEUS em sua santidade e o adorador.
Dennis F. Kinlaw. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 269-270.
O sacerdote deveria tomar conta do fogo sobre o altar, para que fosse mantido sempre aceso. Isto é insistido aqui (w. 9,12), e esta lei expressa é dada: o fogo arderá continuamente sobre o altar. Não se apagará, v. 13. Podemos supor que nenhum dia passava sem sacrifícios extraordinários, os quais eram sempre oferecidos de um cordeiro de manhã e pela noite. De forma que desde a manhã até a noite o fogo do altar era mantido aceso. Mas para mantê-lo a noite toda até de manhã (v. 9) eram necessários alguns cuidados. O primeiro fogo sobre o altar veio do céu (cap. 9.24), para que, mantendo-o aceso continuamente com uma provisão constante de combustível, todos os seus sacrifícios por todas as suas gerações pudessem ser considerados como sendo consumidos pelo fogo do céu, que era o sinal da aceitação de DEUS. Se, por descuido, eles deixassem o fogo se apagar, não poderiam esperar tê-lo aceso da mesma forma novamente. Assim os judeus nos contam que o fogo nunca se apagou no altar. Nossa obrigação não se limita a não extinguir o ESPÍRITO, mas devemos despertar o dom que há em nós. Embora não estejamos, continuamente, oferecendo sacrifícios ao Senhor, devemos manter o fogo do amor santo sempre ardendo. E assim, devemos orar sem cessar.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 371.
I Cor 4.16 Paulo olha para sua vida e atuação, que trazem consigo de forma totalmente real “a imolação de JESUS”. Ele sabe que não se trata de períodos isolados de aflição que são superados, dando lugar a períodos tranquilos e felizes. Não, a corrente de tribulações e perseguições não se rompe. Será que isso finalmente não o deixará “desanimado” e cansado? Justamente agora, porém, depois de olhar para o necessário sofrimento de sua vida, Paulo repete o que havia assegurado aos coríntios em 2Co 4.1: “Por isso, não desanimamos (ou: cansamos).”
Paulo chama de “homem exterior”. Mas dentro disso tudo Paulo experimenta que seu “homem interior se renova de dia em dia”. Esse “homem interior” não é simplesmente o aspecto interior intelectual do ser humano. Quem esteve pessoalmente em um sofrimento constante sabe que justamente também sua “vida interior” inata é corroída e ameaça afundar em desânimo, cansaço e amargura. Não, Paulo refere-se à pessoa que tem o “mesmo espírito da fé”, o ser humano que “com o rosto descoberto reflete a glória do Senhor e é transformado na mesma imagem” (2Co 3.18; 4.13). Esse “homem interior” “se renova” dia após dia, pela maneira e razão pela qual ele é “transformado” dia após dia. A fé está presente de forma renovada e cada vez mais profunda e aprovada. Experimenta-se o “consolo” de DEUS em encorajamentos e libertações de formas sempre novas. Esse ser humano de fé não se esgota, mas é incansável e constantemente livre e disposto a servir, a sofrer, a morrer, para que por intermédio dele a vida de JESUS se torne eficaz em outros.
Werner de Boor. Comentário Esperança I Coríntios. Editora Evangélica Esperança.
2 Cor 4.16-17. Estava certo de que suas tribulações cooperariam para seu bem (vv. 16, 17). "Não desanimamos", era o testemunho confiante de Paulo (ver 2 Co 4:1). Que importa se o "ser exterior" se deteriora quando o "ser interior" experimenta renovação espiritual diária? Paulo não sugere, aqui, que o corpo não é importante nem que devemos ignorar seus sinais de aviso e necessidades. Uma vez que nosso corpo é o templo de DEUS, devemos cuidar dele. No entanto, não podemos controlar a deterioração natural do corpo humano. Quando pensamos em todas as provações físicas que Paulo suportou, não nos admiramos de ele ter escrito essas palavras.
Como cristãos, devemos viver um dia de cada vez. Nenhuma pessoa, por mais rica ou competente que seja, pode viver dois dias de cada vez. DEUS provê "de dia em dia", à medida que oramos a ele (Lc 11 :3). Ele nos dá as forças de que precisamos de acordo com o que cada dia exige de nós (Dt 33:25). Não se pode cometer o erro de tentar "armazenar bênçãos" para emergências futuras, pois DEUS dá a graça de que precisamos, quando precisamos (Hb 4:16). Quando aprendemos a viver um dia de cada vez, certos do cuidado de DEUS, sentimos alívio de boa parte das pressões da vida.
Deve-se relacionar 2 Coríntios 4:16 com 3:18, pois os dois versículos referem-se à renovação espiritual do filho de DEUS. Em si mesmo, o sofrimento não tem poder para nos tornar homens e mulheres mais santos. A menos que nos entreguemos ao Senhor, busquemos sua Palavra e confiemos que ele irá operar, o sofrimento só servirá para prejudicar nossa vida cristã. "de glória em glória". Precisamos desse "espírito da fé" que Paulo menciona em 2 Coríntios 4:13.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora Central Gospel. pag. 842.
 
III - CRISTO, PERPÉTUO SUMO SACERDOTE
1. Sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque.
A Preeminência de CRISTO
Porém, aprendemos alguma coisa mais com a ordem da unção neste capítulo, além da do Filho é-nos também apresentada. "Amaste a justiça e aborreceste a iniquidade; por isso DEUS, o teu DEUS, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros" (SI 45:7; Hb 1:9). É preciso que o povo de DEUS mantenha sempre esta verdade nas suas convicções e experiências. Por certo, a graça infinita de DEUS é manifestada no fato maravilhoso que pecadores culpados e dignos do inferno sejam chamados companheiros do Filho de DEUS; mas nunca devemos esquecer, nem por um momento, o vocábulo "mais". Por mais íntima que seja a união—e é tão íntima quanto os desígnios eternos do amor divino a podiam fazer—, é, contudo, necessário que CRISTO tenha em tudo a preeminência" (Cl 1:18). Não podia ser de outra maneira. Ele é Cabeça sobre todas as coisas — Cabeça da Igreja, Cabeça sobre a criação, Cabeça sobre os anjos, o Senhor do universo. Não existe um só astro de todos os que se movem no espaço que não Lhe pertença e não se mova sob a Sua orientação. Não existe um verme sequer que se arrasta sobre a terra, que não esteja sob os Seus olhos incansáveis. Ele está acima de todas as coisas; de toda a criatura "o primogênito de entre os mortos" "o princípio da criação de DEUS" (Cl l:15-18;Ap 1:5). "Toda a família nos céus e na terra" (Ef 3:15) deve alinhar, na classe divina, sob CRISTO. Tudo isto será reconhecido com gratidão por todo o crente espiritual; sim, a sua própria articulação produz um estremecimento no coração do crente. Todos os que são guiados pelo ESPÍRITO regozijar-se-ão com cada nova manifestação das glórias pessoais do Filho; da mesma maneira que não poderão tolerar qualquer coisa que se levante contra elas. Que a Igreja se eleve às mais altas regiões e glória, será seu gozo ajoelhar aos pés d'Aquele que se baixou para a elevar, em virtude do Seu sacrifício, à união Consigo; o qual havendo plenamente correspondido a todas as exigências da justiça divina, pode satisfazer todos os afetos divinos, unindo-a em um Consigo Mesmo, em toda a aceitação infinita com o Pai, na Sua glória eterna: "Não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Hb 2:11).
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa Imprensa da Fé.
Gn 14.18 Melquisedeque. Achamos aqui um homem misterioso que tem arrebatado à imaginação dos intérpretes. Dai haver tantas e tão variegadas tentativas de identificação. As referências veterotestamentárias a ele aparecem em Gên. 14.18 e Sal. 110.4. No Novo Testamento, todas as referências acham-se na epístola aos Hebreus (5.6,10; 6.20; 7.1,10,11,15,17,21). O autor do tratado aos Hebreus faz dele um tipo de CRISTO, o originador do tipo de sacerdócio que CRISTO tinha, que já existia antes do sacerdócio aarônico e até lhe era superior.
Salém. No hebraico, completa. Esse nome é uma forma abreviada de Jerusalém (ver no Dicionário a esse respeito). Embora ocorra apenas por quatro vezes nas Escrituras, o nome Salém é a primeira designação dessa cidade (Gên. 14.18), identificando o lugar da cobertura, tenda ou habitação de DEUS (Sal. 76.2). O titulo dado a Melquisedeque, ou seja, rei de Salém (Heb. 7.1), significa “rei de paz”, no versículo seguinte, destacando-se o seu sentido de segurança, prosperidade e bem-estar.
 
Pão e vinho.
Observação minha (Ev'Henrique) - Aqui foi realizada uma refeição de aliança entre Abraão e JESUS (antítipo de Melquisedeque).
 
DEUS Altíssimo. Melquisedeque era o sacerdote de El Elyon. O nome era comumente aplicado a DEUS entre os povos de origem semita, e tornou-se na Bíblia um dos nomes principais de DEUS, em sua forma singular ou plural, respectivamente, El e Elohim. El significa “poder”, “força”. É nome usado de forma composta com outros títulos. Assim, temos DEUS Todo-poderoso, em Gên. 17.1; DEUS, o DEUS de Israel, em Gên. 33.20; e El-Betel (DEUS de Betel), em Gên. 31.13. Por sua vez, Elyon é apelativo usado com frequência no Antigo Testamento para indicar o Senhor (Sal. 78.35).
Em Salmos 7.17, Elyon é aplicado a Yahweh. No vs. 22 deste capítulo, Abraão jurou por Yahweh, El Elyon.
Sacerdote. Temos aqui a primeira menção ao termo “sacerdote” na Bíblia. Embora talvez Melquisedeque fosse cananeu, seu sacerdócio e adoração foram reconhecidos por Abraão como ligados ao mesmo DEUS que o seu.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 114.
Melquisedeque (18), o honorável sacerdote-rei de Salém (Jerusalém), deu comida e bebida aos vencedores e pronunciou uma bênção a Abrão (19). Em atenção aos atos do sacerdote-rei, Abrão deu o dízimo de tudo (20) a Melquisedeque.
O caráter robusto de Melquisedeque e seu status como respeitado sacerdote-rei tornaram-se significativos em posteriores pronunciamentos sobre o muito esperado Messias.
O Salmo 110.4 relaciona o Messias na “ordem de Melquisedeque” e o escritor da Epístola aos Hebreus cita esta porção dos Salmos para mostrar que CRISTO é este tipo de ordem sacerdotal no lugar da ordem arônica (Hb 5.6,10; 6.20; 7.1-21).
O escritor de Hebreus enfatiza o significado do nome e status de Melquisedeque para assinalar que ele e CRISTO eram homens de justiça e paz (Hb 7.1,2). A próxima correlação é um destaque na força e valor pessoal e não na linhagem. Seu ofício não passou automaticamente a outro. CRISTO é Sumo Sacerdote e não somente sacerdote, e em vez de dar somente uma bênção, CRISTO salva “perfeitamente” (Hb 7.25,26).
George Herbert Livingston, B.D., Ph.D. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 61.
Melquisedeque, rei e sacerdote, nome e título expressando a esfera do direito e do bem (ver Hb 7:2), oferece-lhe, para celebração, algo singelo da parte de DEUS para satisfazê-lo, pronuncia uma bênção em termos gerais (frisando o Doador, não a dádiva), e aceita custoso tributo. Isso tudo só tem sentido para a fé.
18,19. Salém é Jerusalém; sobre esse nome, “paz”, e o de Melquisedeque, rei de justiça, ver Hb 7:2. A união do rei e o sacerdote em Jerusalém haveria de levar Davi (o primeiro israelita a sentar-se no trono de Melquisedeque) a entoar cânticos sobre um Melquisedeque mais grandioso que havia de vir (SI 110:4).
DEUS Altíssimo (èl ‘elyôn). O que quer que esse título significasse para os predecessores e sucessores de Melquisedeque, para ele significava o verdadeiro DEUS, em certa medida auto revelado, como suas palavras subsequentes mostram. Em todo caso, o dizimo de Abrão (c/. Hb 7:4-10) e a junção que fez o nome Yahweh (Senhor, 22) com a expressão usada por Melquisedeque, DEUS Altíssimo, decidem a questão. Este título é empregado frequentemente nos Salmos.
Derek Kidner. Gênesis. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 112-113.
Hb 14.18 Este versículo tem provocado toda a forma de dificuldade para aqueles que pensam ser necessário interpretar essas coisas literalmente, no tocante à personagem retratada no A.T., Melquisedeque. Se realmente ele não tinha nem pai e nem mãe, se ele não nasceu e nem morreu, então é impossível que tenha sido um homem. Portanto, só nos restaria pensar que ele foi alguma figura angelical, ou o próprio CRISTO, em uma encarnação no A.T., preliminar à sua missão messiânica, sobre a qual fala ο N.T. Mas essa forma de interpretação ignora a própria natureza da interpretação «alegórica». O autor sagrado não quis dizer mais do que o fato que Melquisedeque não tinha «genealogia», isto é, que não foram registrados seus laços de família, nem o seu nascimento e nem a sua morte. Até onde diz respeito ao «registro sagrado», ele não começou e nem terminou, mas é eterno, para o passado e para o futuro. Tais declarações e usos (que não devem ser compreendidos literalmente), dentro da interpretação alegórica, no primeiro século de nossa era não seriam reputados incomuns. Naturalmente, o autor sagrado vai muito além do que se poderia deduzir do A.T., acerca da natureza de Melquisedeque, e se utiliza aqui do «silêncio» (o que simplesmente indica que foram omitidas tais descrições humanas sobre ele) como seu instrumento principal. O que fica «subentendido» acerca de Melquisedeque, pelo «silêncio» (não houve «registro» que marcasse seu começo e seu fim) é literalmente verdadeiro no caso do Filho de DEUS, a quem simbolizava. Ver mais do que isso nessas declarações bíblicas é ignorar a própria natureza da interpretação alegórica, que não se atém rigidamente à história e de acordo com a qual a história é apenas «incidental». Os problemas de interpretação se originam quando ignoramos isso e procuramos fazer a história tornar-se «vital e central» na alegoria. Mas, a verdade é bem outra. O argumento se baseia no silêncio, do que Filo muito se aproveitava, mas que não deve ser pressionado exageradamente. O registro do livro de Gênesis não nos dá qualquer genealogia (sobre Melquisedeque).
Melquisedeque aparece sozinho. Mas nem por isso devemos compreender que se tratasse de um ser miraculoso, sem nascimento ou sem morte física. Melquisedeque tem sido feito uma personagem mais misteriosa do que realmente é quando se coloca, na interpretação, o que não se acha no registro bíblico». (Robertson, in loc.).
Melquisedeque «representa» as qualidades «possuídas» pelo Filho de DEUS, pois ele é seu «tipo simbólico». Não possuía em si mesmo tais qualidades. No dizer de Newell (in loc.): «Aquilo que CRISTO é ‘realmente’, Melquisedeque é apenas na ‘aparência’; e isso é tudo quanto fica exigido».
«A inferência é que o silêncio (nas páginas do A.T.) é intencional e significativo» (A.C. Kendrick, Hebrews, pág. 86). Por igual modo, Westcott (in loc.), supõe que o autor sagrado dá grande importância ao «silêncio» que há nas páginas do A.T. a cerca dos primórdios e do destino de Melquisedeque. Entretanto, ele vê essa importância no «uso profético» que o autor sagrado faz sobre essa passagem, e não que o escritor original do livro de Gênesis tivesse visto qualquer importância na omissão desse material, tendo querido subentender elementos sutis da verdade, através de tal silêncio. E não duvidemos que isso expressa a verdade do caso.
A aplicação do que é dito aqui, como é óbvio, não visa o homem JESUS de Nazaré. Antes, visa o «logos», o CRISTO eterno. (Marc. 1:1).
O Sumo Sacerdote da nossa confissão, que é CRISTO, não precisava ser de descendência aarônica. O versículo é polêmico, antecipando o problema levantado no décimo quarto versículo, e, uma vez mais, em Heb. 8:4. Se o seu sacerdócio fosse meramente «terreno», ele não poderia qualificar-se como sacerdote, porquanto veio da tribo de Judá, que não era a tribo sacerdotal. Antes, o sacerdócio de CRISTO é celestial, pelo que também não precisa seguir o padrão do sacerdócio aarônico, que foi uma instituição terrena. O autor sagrado, na realidade, faz com que o fato de CRISTO não ser descendente de Aarão, ser um ponto definitivo a seu favor. O verdadeiro sumo sacerdote deveria pertencer à ordem de Melquisedeque, que não teve genealogia terrena, e que não teve começo e nem fim. Isso significa que o Sumo Sacerdote da nossa confissão precisava ser um ser eterno e celestial. Se pudéssemos atribuir-lhe qualquer «árvore genealógica», ficaria desqualificado para o seu ofício sumo sacerdotal.
Portanto, podemos observar os pontos seguintes, no argumento do autor sagrado. 1. A descendência terrena não tem qualquer aplicação ao sacerdócio eterno de CRISTO. 2. De fato, tal descendência o desqualificaria para esse sacerdócio, já que só pode ser conservada pelo Logos divino, que transcende a quaisquer instituições terrenas. 3. A autoridade desse sumo sacerdócio repousa sobre a «nomeação divina» (ver Heb. 5:5 e ss.). 4. A autoridade desse sacerdócio repousa sobre a «dignidade» da pessoa de CRISTO, bem como de seu caráter majestático e sacerdotal, tudo o que transcende a quaisquer instituições terrenas de natureza sacerdotal.
«...sem pai, sem mãe...» Melquisedeque simplesmente não tem «genealogia registrada» nas Escrituras, e o autor sagrado aproveita-se desse fato a fim de ensinar certa verdade espiritual a respeito de CRISTO, que é o «antítipo» de Melquisedeque.
«...sem genealogia...» Algumas traduções preferem dizer aqui «...sem descendência ...» Em toda a literatura grega, o vocábulo grego figura exclusivamente aqui. Literalmente interpretada, essa palavra pode significar somente «sem genealogia», - A genealogia não foi registrada porque o autor do livro de Gênesis não se interessava em fazer tal registro; e foi dessa circunstância que tirou proveito o autor da epístola aos Hebreus para destacar uma verdade espiritual.
«.. .não teve princípio de dias, nem fim de existência... » No que diz respeito a Melquisedeque, isso indica somente que não houve «registro» desses pormenores. No que diz respeito a CRISTO, deve ser entendido literalmente, por ser ele o Verbo eterno. Todavia, não podem essas palavras ser aplicadas ao homem JESUS de Nazaré, cujas genealogias são registradas nos evangelhos.
«.. .semelhante ao Filho de DEUS. ..» Novamente, não literalmente, em sua própria natureza, mas apenas «aparentemente», por ser ele «tipo» de CRISTO. «...permanece sacerdote perpetuamente...» No que concerne a Melquisedeque, isso significa somente que não houve «fim registrado» de seu sacerdócio. Os sacerdotes aarônicos tinham de provar sua legítima reivindicação ao ofício, mediante registros genealógicos. Viviam certo período de anos, exercendo o ofício sacerdotal. Mas a morte física interrompia isso, e eles tinham de ser «substituídos». Nada disso se deu no caso de Melquisedeque, pelo menos «até onde vão os registros bíblicos». E o que é verdade sobre Melquisedeque, dentro do registro bíblico, na realidade é verdade no caso de CRISTO. O fato que seu sacerdócio não tem fim mostra-nos que até mesmo na eternidade o Filho é o mediador entre DEUS Pai e os homens; ele é a fonte da qual nos abeberamos de «toda a plenitude de DEUS» (ver Efé. 3:19). Segundo a sua imagem é que seremos transformados continuamente, para graus cada vez maiores de glória; o alvo consiste em compartilharmos de sua natureza essencial; e, através disso, compartilharem os de seus atributos e perfeições, tal como ele compartilha desses atributos com DEUS Pai. (Ver Efé. 3:19).
«De acordo com seu propósito, ele (o autor sagrado) apresenta as seguintes características do sacerdócio ideal: real, justo, pacificador—e tudo pessoal, eterno, e não como qualidades herdadas. (Comparar com Isa. 9:6,7; 11:4,10; 32:17 e52:7)».
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 551-552.
Hb 7.3 O apóstolo, porém, não pára na explicação dos nomes. Ele ultrapassa em muito aquilo que o relato de Melquisedeque no AT expressa. De certo modo ele confere à imagem do rei e sacerdote do AT traços fáceis de gravar. Sobre isto escreve O. Michel: “Nosso autor não tem a percepção de que ressaltando Melquisedeque estaria prejudicando a figura de JESUS. Pelo contrário: quanto mais se puder afirmar sobre Melquisedeque, tanto mais fortemente brilha a glória do Filho de DEUS”. Gn 14.17-20 informa tão somente o transcurso histórico do episódio. O apóstolo, porém, caracteriza a pessoa de Melquisedeque com mais detalhes: ([…] sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de DEUS), permanece sacerdote perpetuamente. O AT e o NT formam uma unidade, que JESUS CRISTO somente pode ser compreendido a partir do AT, mas que também inversamente o AT adquire sentido através de JESUS CRISTO.
O apóstolo alinha afirmações sobre a pessoa de Melquisedeque. “Sem pai”, “sem mãe”, “sem genealogia”, da tribo de Judá, não teve princípio de dias, nem fim de existência. “Também nesse aspecto revela-se um mistério. Na Escritura não são mencionados nem o seu nascimento nem a sua morte. Contudo, o que não é contado na Escritura não pode ser comprovado historicamente ou não aconteceu. O sacerdote sem origem sacerdotal tampouco possui delimitação de vida e atuação definidas pela Escritura. Esta constatação extrapola os limites da existência humana”. O apóstolo não somente diz que o AT silencia acerca do nascimento e da morte de Melquisedeque. De suas palavras fica evidente o seguinte: falta, nesse personagem, a correlação terrena, Melquisedeque está fora da ordem normal da vida. Ele não recebeu o seu sacerdócio, nem o transmitiu adiante. Sua origem é de natureza celestial, inexplicável, e aponta para a existência perpétua de Melquisedeque. É o que nos confirmam as palavras: “Dele se testifica que vive” (v. 8), “Ele é sacerdote segundo o poder de vida indissolúvel” (v. 16) e “Ele tem, porque permanece perpetuamente, um sacerdócio imutável” (v. 24).
Ao se aproximar do fim de seu raciocínio o apóstolo levanta um pouco o véu do mistério: feito semelhante ao Filho de DEUS, permanece sacerdote perpetuamente. Pelo que se evidencia, foi a esta frase que o apóstolo deu o peso maior. É por isto que ele volta a recorrer à palavra do salmo. Contudo, pela autoridade do ESPÍRITO SANTO ele altera, na sua interpretação, o seu sentido. No Sl 110.4 consta: “Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. O Messias é que está sendo interpelado. A ele é que se promete o sacerdócio eterno. Melquisedeque é colocado como figura inicial, o Messias é sua réplica, não inversamente. A ordem de Melquisedeque é um exemplo para o sacerdócio messiânico. Este sentido original é que o apóstolo está invertendo. Ele afirma: Melquisedeque foi feito idêntico ao Filho de DEUS. CRISTO é a imagem original, nele persiste desde a eternidade a verdadeira ordem sacerdotal, Melquisedeque é a réplica, que por sua vez aponta para o cumprimento pleno de todo sacerdócio em CRISTO. Melquisedeque é o personagem terreno precoce desse sacerdócio eterno, a réplica, no qual porém não se perdeu nada do conteúdo da imagem original. É por isto que este sacerdócio de Melquisedeque continua eternamente.
Em poucas frases marcantes, o apóstolo elaborou para a comunidade o entendimento da pessoa excelsa de Melquisedeque. Concedeu-lhe a chave para o mistério espiritual das declarações do AT em Gn 14.17-20 e no Sl 110.4. Melquisedeque é semelhante ao Filho de DEUS, é imagem do Filho. A figura de Melquisedeque torna-se transparente para JESUS CRISTO. Em Melquisedeque o Senhor vem ao nosso encontro (cf. Jo 8.56).
Fritz Laubach. Comentário Esperança Hebreus. Editora Evangélica Esperança.
As descrições sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida (3), devem ser entendidas em referência à ordem do sacerdócio de Melquisedeque, não à sua pessoa física. Na mente de um judeu, letrado nas ideias levíticas rígidas, era inconcebível que alguém servisse como sacerdote sem ser descendente de pais sacerdotes, sem genealogia. Mas, foi o próprio Moisés que chamou Melquisedeque de “sacerdote do DEUS Altíssimo” (Gn 14.18); e ele foi reconhecido como tal mesmo sem credenciais formais. Ele não tinha uma linhagem oficial. Não havia o Sacerdócio de CRISTO - Neste sentido, ele foi feito semelhante ao Filho de DEUS, que também não tinha uma linhagem sacerdotal normal.
O aspecto importante a ser ressaltado é que este Melquisedeque permanece sacerdote para sempre. Aqui está a proposta-chave. Tudo o mais é subordinado e descritivo. Primeiro, os fatos da história são reafirmados. Então, o padrão tipológico é desenhado, basicamente como um argumento do silêncio. E as ideias essenciais que o autor vai ressaltar são: 1) esta certamente não é uma ordem de sacerdócio levítica; 2) ela é uma ordem superior e 3) um sacerdócio que é caracterizado pela perpetuidade.
Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 62-63.
2. O sacrifício perfeito de CRISTO.
CRISTO, nosso Sumo Sacerdote Perfeito e Eterno.
A ordem sacerdotal de CRISTO não era a de Levi, mas a de Melquisedeque (Hb 5.6,10; 7.1-28), e a Bíblia nos apresenta JESUS como aquEle que tem um “sacerdócio perpétuo” (Hb 7.24), isto é, imutável.
A perpetuidade do sacerdócio levítico era garantida por meio da continuação da linhagem levítica, pelo “grande número” de seus sacerdotes que se sucediam com o passa dos séculos (Hb 7. 23). Só que o “sacerdócio perpétuo” de JESUS é muito mais poderoso, pois se assenta na sua eternidade, além da perfeição e do caráter definitivo de seu sacrifício (Hb 7.24-27). Ele era perfeito, por isso seu sacrifício e serviço foram perfeitos (Hb 7.26-28).
Louvemos a CRISTO, que nos deu livre acesso à presença de DEUS por meio do seu ministério perfeito e definitivo, um ministério perpétuo em nosso favor, no qual Ele está “sempre vivendo para interceder por todos” nós (Hb 7.25b).
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 145.
Hb 7.25 Todas as declarações que o apóstolo fez na comparação entre o sacerdócio de Arão e o sumo sacerdócio de JESUS, o sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque, culminam nessa única frase: Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a DEUS, vivendo sempre para interceder por eles. O que a lei e o sacerdócio do AT não puderam realizar, isto JESUS realiza com base em sua vida divina eterna: pode salvar integralmente! Ele “pode socorrer!” (Hb 2.18 [RC]). Foi isto o que o apóstolo havia ressaltado primeiramente como efeito do serviço de sumo sacerdócio de JESUS. Agora ele avança mais um passo em sua declaração. JESUS nos trouxe a redenção total.
Conquistou uma salvação perfeita, eternamente válida. Esta redenção eterna, de validade plena, vigora para todas as pessoas, é oferecida a cada ser humano, sendo porém eficaz somente para aquele que volta para DEUS. De modo semelhante como em Hb 2.16, o apóstolo também delimita aqui o círculo de pessoas em quem a salvação se realiza. Lá ele havia afirmado: Ele “socorre a descendência de Abraão”. Aqui ele assevera: “JESUS pode salvar aqueles que por meio dele chegam a DEUS!” A salvação dos pecados somente é concretizada naqueles que se convertem ao Senhor com arrependimento e fé (cf. At 3.19). Quem acolheu a JESUS CRISTO como seu Salvador e Senhor por decisão pessoal e voluntária de fé (Jo 1.12), quem veio a DEUS, o Pai, por intermédio de JESUS CRISTO (Jo 14.6), este obtém perdão e experimenta a proteção na tribulação, na aflição e na necessidade. O eterno Sumo Sacerdote (Ap 1.18) não somente é o Redentor de seu povo, mas ao mesmo tempo também o Advogado, o Intercessor eterno dos fiéis (Rm 8.34; 1Jo 2.1).
26-28 O apóstolo expõe esta realidade de salvação abrangente perante uma comunidade que ele visa preparar para sofrimentos futuros: salvação, preservação e aperfeiçoamento nos são doados por meio de nosso eterno Sumo Sacerdote. O autor dirige nosso olhar para a obra de libertação consumada por JESUS, que se ofereceu a si mesmo a DEUS como sacrifício plenamente válido e impossível de ser repetido, e que pagou a culpa do pecado da humanidade. Com a mesma clareza ele nos exibe a magnitude e santidade do Sumo Sacerdote do NT. Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus. Nossa salvação está alicerçada não somente na ação redentora de JESUS, porém da mesma maneira na natureza de sua pessoa divina. O que se exigia em termos de pureza cultual dos sacerdotes do AT foi ultrapassado infinitamente por meio de CRISTO. JESUS é santo – totalmente sem natureza pecaminosa, santo, como DEUS o Pai é santo, perfeitamente santo segundo a lei. Contudo, a sua santidade não assusta a nós, pecadores, pois é precisamente por meio dela que ele pode nos representar perante DEUS. Ele é inculpável – “sem traição e ardil”, sem mácula – tinha condições de perguntar verdadeiramente: “Quem dentre vós pode me argüir de um pecado?” (Jo 8.46), separado dos pecadores – ser humano como nós (Hb 2.14), tentado como nós (Hb 4.15), e não obstante o único que permaneceu sem pecado, sendo por isto feito mais alto do que os céus. Por meio da ressurreição e ascensão, JESUS conquistou o acesso direto à glória de DEUS. Esta riqueza imensurável da essência divina na pessoa de JESUS já tem efeitos para a sua vida na terra, para o seu serviço terreno de Sumo Sacerdote. De modo consciente o apóstolo contrapõe o sacrifício diário do sumo sacerdote do AT e o sacrifício único de JESUS. O sumo sacerdote tinha de oferecer sacrifício primeiro por si mesmo, a fim de realizar expiação por sua própria culpa. JESUS não teve necessidade disso. O sumo sacerdote do AT ofertava sacrifícios de dádivas, JESUS sacrificou-se pessoalmente! Qual é o fundamento deste contraste? Com esta pergunta, o apóstolo retorna ao ponto inicial de suas reflexões no presente bloco. A lei sacerdotal do Sinai escolhia para sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraqueza. Somente muito mais tarde, no tempo do rei Davi, DEUS revelou a palavra do juramento, do Sl 110, pela qual ele convocou o Filho, que é perfeito eternamente. Lei e juramento divino estão na mesma relação entre si como os sacerdotes humanos, marcados pela fraqueza, i. é, sujeitos à tentação, e o Filho eterno e perfeito.
Síntese
Em Hb 1–6 diversas menções, sobretudo também as advertências e exortações, repetidamente intercaladas, permitiram delinear os contornos de uma conjuntura comunitária, à qual o apóstolo dirige sua pregação. Em contrapartida, Hb 7, o capítulo com o qual começa a seção principal da carta, não contém nenhuma referência à situação concreta da comunidade. A maneira como são contrapostas a antiga e a nova alianças não possui o caráter de uma controvérsia de um fiel do NT contra a devoção legalista do AT, assim como é feito pelo apóstolo Paulo, p. ex., na carta aos Gálatas. Tampouco podemos afirmar que as elaborações do apóstolo se voltam contra um reavivamento das ordens de culto do AT na comunidade. Parece que o autor, ao anotar os pensamentos de Hb 7, está retirado dos problemas de seu presente imediato. Assim como na carta aos Efésios Paulo medita, inicialmente sem relação direta com os problemas atuais da comunidade, acerca da deliberação salutar de DEUS de eternidade a eternidade, assim o nosso autor reflete em Hb 7 sobre as palavras de Gn 14.17-20 e Sl 110.4. Estas palavras tornam-se para ele uma indicação viva da magnitude, superior a tudo, de JESUS CRISTO. Unicamente JESUS – maior que tudo que DEUS havia concedido como revelação a seu povo Israel e ao mundo. É o que se descortina diante de seu olhar espiritual. A elaboração da natureza e da autoridade de JESUS, nos v. 25,26, constitui o cerne da declaração, em torno da qual ele agrupa seus pensamentos: o que distingue JESUS dos sacerdotes do AT e o eleva extremamente acima deles são sua condição sem pecado, o sacrifício único de sua vida divina, a exaltação ao céu, sua imortalidade e seu serviço perpétuo de intercessão. Como o autor já vislumbra atrás da pessoa de Melquisedeque o fulgor da glória da pessoa de JESUS CRISTO, sendo que o rei sacerdote da antiga aliança se torna uma indicação direta para o Sumo Sacerdote real eterno da nova aliança, por isto o serviço sumo sacerdotal de JESUS é infinitamente superior ao sumo sacerdócio de Arão.
O apóstolo fundamenta suas afirmações em três argumentações, que ele executa de forma rigorosamente estruturada.
1. Como fundamental ele destaca que Melquisedeque é superior ao patriarca Abraão, a seu descendente Levi e aos sacerdotes de Arão.
a. Os levitas descendem de Abraão; Melquisedeque não tem antepassados, é de origem celestial. A este fato corresponde que os levitas são pessoas mortais, mas que Melquisedeque tem vida infindável.
b. Os levitas recebem o dízimo de seus irmãos; Melquisedeque recebeu o dízimo do ancestral.
c. Também os levitas estão obrigados a pagar o dízimo a Melquisedeque, pois seu ancestral Levi estava nos “quadris” do patriarca quando Abraão se encontrou com Melquisedeque.
d. No final Melquisedeque abençoou Abraão, e esta relação de bênção não pode ser invertida.
2. O apóstolo igualmente desenvolve a contraposição de sacerdócio e lei em quatro etapas:
a. Lei e sacerdócio estão indissoluvelmente ligados entre si. A constituição de um novo sacerdócio traz necessariamente consigo que também se institua uma nova ordem.
b. O sacerdócio antigo era baseado na “ordem de Arão”, enquanto o novo sacerdócio se baseia na “ordem de Melquisedeque”.
c. A antiga ordem foi outorgada a Israel no Sinai. A nova ordem vem a ser a mais antiga, a original. Possui seu fundamento na eternidade de DEUS.
d. A introdução da nova ordem sacerdotal tornou-se necessária porque através do sacerdócio de Arão não foi possível chegar a um encerramento da história da salvação. Os sacrifícios no AT são apenas prefigurações, o verdadeiro sacrifício foi ofertado somente pelo Sumo Sacerdote do povo de DEUS do NT.
3. A certeza última de que a nova ordem sacerdotal alcançou vigência em CRISTO é constatada pelo apóstolo no seguinte fato: o santo DEUS fez de sua divindade a garantia, e comprometeu-se por juramento a cumprir as suas promessas. O autor destaca quatro correlações entre o juramento de DEUS e sacerdócio:
a. A lei e a ordem sacerdotal levítica estão ultrapassadas através do juramento, por meio do qual JESUS foi constituído Sumo Sacerdote. Arão tornou-se sacerdote através da palavra da lei, que não trouxe consigo um encerramento da ordem de salvação. JESUS foi convocado para ser Sacerdote por meio da palavra do juramento divino, que aponta para a consumação definitiva de uma ordem original de DEUS.
b. A lei trouxe “a introdução da esperança pelo melhor”, o juramento de DEUS trouxe sua realização.
c. A pluralidade dos sacerdotes foi instituída sem juramento. Eles eram pessoas mortais, marcadas pela fraqueza. O Sacerdote único foi instituído com um juramento, ele é imortal e perfeito de acordo com a lei. Por isto também pode ser fiador do melhor testamento.
d. De maneira idêntica como o juramento divino é superior à lei, também o serviço sacerdotal de JESUS é melhor que o de Arão, e a nova aliança é melhor que a antiga.
O cumprimento da esperança do AT por uma nova ordem sacerdotal inclui que alguém que pela lei de Moisés não tem nenhuma promessa para isto pode tornar-se sacerdote. Não mais Levi – mas Judá é, na nova aliança, a casa matriz do sacerdócio. As conseqüências desta nova ordem de DEUS refletem-se sobre a igreja do NT. Agora pessoas são chamadas para serem sacerdotes de DEUS, para as quais, pela base do AT, faltavam todas as premissas para isto. Os membros da igreja de JESUS são a geração de sacerdotes do NT (1Pe 2.9; Ap 1.6; 5.9,10). O sumo sacerdócio de JESUS, bem como o sacerdócio de sua igreja, não se alicerçam sobre a lei do AT, mas, como no caso de Melquisedeque, sobre a riqueza interior da pessoa do Senhor, sobre sua glória divina: “… não com base numa lei de determinações humanas, porém com base e no poder de uma vida indissolúvel”. No sumo sacerdócio de JESUS “segundo a ordem de Melquisedeque” manifesta-se com perfeição a ordem sacerdotal original intencionada por DEUS.
Poderíamos concluir que os pensamentos teológicos do autor transbordam de uma copiosidade esbanjadora. Será que diante deles o apóstolo se esqueceu da realidade? Acaso não se lembra da aflição e dos problemas da comunidade à qual dirige seu escrito? Isto ele faz – contudo ensina a seus leitores, e por isto também a nós hoje – uma descoberta espiritual necessária. Sempre quando a aflição e tribulações ou problemas práticos da vida nos assediam, corremos o perigo de nos deixarmos prender pelas dificuldades. Certamente confessamos a CRISTO como nosso Senhor, certamente ainda permitimos que fale a nós por sua palavra e falamos com ele na oração. Mas apesar disso nossos pensamentos giram incessantemente em torno da dificuldade iminente, procurando por uma saída. Isto traz consequências funestas: não sabemos mais avaliar corretamente nossa situação. Subitamente nossas necessidades parecem ser esmagadoras. Começamos a ter pena de nós mesmos ou a nos resignar. Muito pior: privamo-nos assim da força espiritual para superar a crise. No presente capítulo o apóstolo mostra o caminho acertado: ter tempo para JESUS! Não rememorar sempre as dificuldades, mas aprofundar-se em oração na palavra de DEUS, a fim de contemplar a magnitude de JESUS. Nele residem as fontes ocultas de nossa vida espiritual e de nossa força. Permitamos que o apóstolo nos abra o entendimento para as correlações da história da salvação. Então desenvolveremos uma percepção para a revelação de DEUS na história, precisamente também no seu desdobramento por longos períodos. Igualmente aprendemos a ver nossa vida pessoal nessas grandes correlações, que se ordenam todas sob a mão de DEUS num plano perfeito, bem como a louvar e adorar a DEUS por tudo isto.
Fritz Laubach. Comentário Esperança Hebreus. Editora Evangélica Esperança.
Hb 7.25. Aqui, o resultado do sumo-sacerdócio inviolável é especificamente declarado como sendo Sua capacidade contínua de salvar. Teria sido totalmente diferente se Seu cargo sumo-sacerdotal tivesse sido apenas temporário. Realmente, a força inteira do argumento nesta Epístola depende da continuidade do cargo de JESUS. A capacidade de JESUS CRISTO já fora focalizada antes nesta Epístola, mas em nenhum lugar tão compreensivamente quanto aqui. Em 2.18, tratava-se da Sua capacidade de ajudar, em 4.15 da Sua capacidade de simpatizar, mas aqui, da Sua capacidade de salvar. A salvação já foi mencionada, mas somente aqui é que o verbo usado é aplicado a JESUS. Assim fica mais pessoal. Mas fica sendo ainda mais compreensivo pelo fato de que Sua capacidade de salvar é, segundo é declarado aqui “para todo o tempo” (eis to panteles). O grego geralmente significa totalmente (ARA), mas um significado temporal é justificado pelos paralelos nos papiros (MM). O significado parece ser que, enquanto o Sumo Sacerdote funcionar, é poderoso para salvar, pensamento este que é reforçado pelas palavras vivendo sempre (pantotezòn).
Os que por ele se chegam a DEUS já foram referidos no v. 19, embora um verbo diferente seja usado aqui. Há uma conexão recíproca entre a capacidade de JESUS se salvar e a disposição do homem de vir. Nenhuma provisão é feita para aqueles que vêm por qualquer outra maneira senão através de JESUS CRISTO. Este escritor compartilha com os demais escritores do Novo Testamento a convicção de que a salvação é inseparável da obra de CRISTO.
Nesta carta, a obra intercessória de CRISTO já foi aludida de modo indireto. Sua simpatia e Sua ajuda estão em harmonia com esta obra, mas é nesta passagem que é ressaltada mais claramente. A palavra para interceder (entynchanein) não ocorre em qualquer outro lugar nesta Epístola, mas é usada por Paulo para a intercessão do ESPÍRITO (Rm 8.27) e para a intercessão de CRISTO (Rm 8.34). A função do nosso Sumo Sacerdote é pleitear a nossa causa. Isto, também, Ele pode fazer de modo mais eficaz do que Arão ou qualquer dos descendentes deste poderia fazer. Este ministério intercessório de CRISTO demonstra Sua atividade atual em prol do Seu povo e é uma continuação direta do Seu ministério terrestre. 26. Aqui o escritor passa a resumir algumas daquelas qualidades que são características específicas de um sumo sacerdote ideal e que são vistas perfeitamente em JESUS CRISTO.
Anteriormente nesta Epístola o escritor usou a mesma fórmula convinha (eprepen) que é usada aqui, i.é, em 2.10. Nos dois casos refere-se à perfeição das atividades de JESUS CRISTO. Aqui, subentende que nenhum outro tipo de sumo sacerdote cumpriria as exigências. Este fato não somente se aplica às qualidades que serão mencionadas, como também àquelas já mencionadas no v. 25, porque a palavra de ligação (grego gar) com efeito olha para trás e para a frente. É tomado por certo que a declaração acerca do sumo sacerdote é relevante somente para os cristãos, conforme subentende o nos (hèminj. Não parece ser apropriado para todos, mas somente àqueles que se chegam a DEUS mediante JESUS CRISTO (como no v. 25).
Em primeiro lugar, são mencionadas três características pessoais do sumo sacerdote ideal, sendo que todas elas estão estreitamente ligadas entre si — santo, inculpável, sem mácula. A primeira refere-se à santidade pessoal.
Tem um aspecto positivo, um cumprimento perfeito de tudo quanto DEUS é e tudo quanto Ele requer, um caráter que nunca poderá ser acusado de erro ou de impunidade. As outras qualidades dizem respeito ao impacto do seu caráter sobre outras pessoas. Ninguém pode acusá-lo de apostasia moral ou de corrupção. A palavra inculpável (akakos) significa “inocente” no sentido de não ter dolo, ao passo que a palavra sem mácula (amiantos) significa “incontaminado.” As três palavras se combinam entre si para oferecer um quadro completo da pureza de nosso Sumo Sacerdote.
Ele não somente é inerentemente puro, como também permanece puro em todos os Seus contatos com os homens pecaminosos. Ao passo que anteriormente na Epístola o escritor deu-se ao trabalho de ressaltar a identificação de JESUS CRISTO com Seus “irmãos,” aqui enfatiza que estava separado dos pecadores. Isto é verdadeiro em dois sentidos.
Seu caráter isento de pecado imediatamente O coloca à parte doutros homens, sendo que todos eles são pecadores. Além disto, Seu cargo também o coloca à parte, porque somente o sumo sacerdote, até mesmo na ordem levítica, tinha licença de entrar no Santo dos Santos, e isto somente depois de purificar seu próprio pecado. É um aspecto principal do Novo Testamento que JESUS CRISTO, a despeito da Sua semelhança aos homens, não deixa de ficar acima deles, de ser sem igual. É somente quando esta singularidade é reconhecida que a plena glória do ministério de JESUS em prol dos homens pode ser apreciada.
A expressão feito mais alto do que os céus descreve a posição presente de nosso Sumo Sacerdote e relembra a declaração em 1.3 acerca dEle assentado à destra da Majestade nas alturas. Há muitas passagens no Novo Testamento que são paralelos deste pensamento (cf. Ef 4.10; At 1.10-11; 1 Pe 3.22). A exaltação de JESUS é vividamente ressaltada por Paulo em Filipenses 2.9. Em contraste com a glória limitada do sacerdócio levítico, a glória de CRISTO acha-se na Sua exaltação etema. Não há ninguém comparável a Ele.
27. Sua superioridade aos sacerdotes arônicos é vista, ainda mais, no fato de que nenhum sacrifício diário (todos os dias) é necessário nem para Ele nem para Seu povo. Suige um problema a respeito da aplicação da expressão todos os dias (kath hémeran) aos sacerdotes arônicos, porque se o escritor tem em mente o ritual do Dia da Expiação, este era realizado somente uma vez ao ano, e não diariamente. Bruce66 pensa que a oferta ocasional pelo pecado talvez estivesse na mente do nosso autor quando usou a expressão “todos os dias.” Do outro lado, Davidson67 considera que o Dia da Expiação resume todas as ofertas ocasionais no decurso do ano. Mas o problema pode ser resolvido ao restringir as palavras ao ministério de JESUS, e neste caso as palavras acompanhantes com os sumos sacerdotes se refeririam somente à necessidade de os sacerdotes oferecerem sacrifícios.
A frase inteira pode, então, ser traduzida: “Ele não tem necessidade, no Seu ministério diário, de oferecer sacrifícios por Si mesmo como faziam aqueles sacerdotes...” Este modo de entender a expressão todos os dias estaria de acordo com as declarações anteriores já feitas no v. 25 acerca do caráter contínuo da intercessão de CRISTO. O fato de que o sumo sacerdote arônico precisava de um sacrifício tanto para ele quanto para seu povo demonstra uma nítida distinção da ação de CRISTO, que a si mesmo se ofereceu uma vez por todas. O sacrifício no caso dEle não era para Si mesmo, porque não tinha pecado algum. Além disto, o sacrifício era uma vez por todas, e não precisava de repetição. É importante notar que a razão da diferença é achada exclusivamente no caráter do Sumo Sacerdote e não no Seu cargo.
28. Aqui temos um resumo dos dois versículos anteriores. O contraste entre as duas ordens é resumido como sendo um contraste entre a lei e o juramento. Trata-se de tirar uma conclusão do argumento a partir de 6.13ss. Diz-se que os dois constituem, embora fique claro que esta nomeação vem da parte dAquele que constituiu tanto a lei quanto o juramento. A diferença aqui é explicada pela diferença do caráter daqueles que foram nomeados. Homens sujeitos à fraqueza contrasta-se fortemente com o Filho, perfeito para sempre, especialmente porque a natureza humana do Filho já foi ressaltada mais de uma vez nesta Epístola. A lei somente podia usar o tipo de pessoa disponível para o cargo de sumo sacerdote, e quem era escolhido sofria das fraquezas que todos os homens têm em comum.
Isto inevitavelmente fazia o sistema legal de sumos sacerdotes igualmente fraco. O propósito do escritor, no entanto, não é censurar a ineficácia da linhagem de Arão, mas, sim, glorificar a superioridade da de CRISTO.
A ordem de Melquisedeque, estando livre dos embaraços de sucessão humana, estava isenta da fraqueza inerente no sistema de Arão, e podia ser concentrada numa única pessoa sem igual.
A declaração acerca da palavra do juramento, que foi posterior à lei parece surpreendente à primeira vista, tendo em mira 6.13ss. que demonstra que o juramento foi feito a Abraão. Este juramento, portanto, antecede a lei em vários séculos. Mas aquilo que o escritor evidentemente tinha em mente aqui é a nomeação de CRISTO para o cargo de Sumo Sacerdote, que historicamente coloca-o séculos depois da lei. o escritor pode ter sido influenciado pela referência ao juramento no Salmo 110, já citado nos w. 20-21. O pensamento principal, no entanto, diz respeito à perfeição, introduzida na Epístola pela primeira vez em 2.10. Com o Sumo Sacerdote perfeito, o cargo fica sendo permanente, porque nada há para tomá-lo inválido. O cristão pode aproximar-se com confiança, visto que tem tal Sumo Sacerdote.
Donald Guthrie. Hebreus. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag.  156-160.
3. O sacrifício eterno de CRISTO.
A imortalidade garante a continuidade ininterrupta; e ambas essas coisas garantem a qualidade suprema da obra de CRISTO, no que tange aos homens. O sacerdócio agora não se encontra mais nas mãos de homens que erram, que são fracos e que são perecíveis.
«...imutável...» No grego é «aparabatos», que pode significar «inviolável», isto é, que não pode ser corrompido ou prejudicado; ou «imutável», que não pode ser modificado; ou «intransmissível». A última dessas possibilidades, apesar de não ser de uso comum, está mais de acordo com o texto sagrado. Seja como for, a idéia é que o sacerdócio de CRISTO é «imutável», não mais se caracterizando pela «sucessão» de seus titulares (homens mortais que morriam e precisavam ser substituídos, como se dava no sacerdócio aarônico). O tipo de «imutabilidade» representado pelo sacerdócio de CRISTO, segundo as exigências do contexto, deve incluir o conceito de intransmissibilidade. Desde os tempos mais antigos tem sido contestada o sentido exato desse vocábulo; mas tal debate é fútil e desnecessário, posto que o contexto xleixa evidente que o sacerdócio de CRISTO tanto é imutável como é do tipo que não pode ser transmitido a outrem. Pois quem poderia ocupar, juntamente com CRISTO, o mesmo sacerdócio que ele ocupa? CRISTO não tem associados em seu sumo sacerdócio, pois essa posição equivale à sua posição como Salvador. Portanto, pensar que o sacerdócio de CRISTO pode ser compartilhado, é afirmar que ele precisa de ajuda como Salvador.
Ora, isso dentro do terreno neotestamentário, é impossível. O ensinamento bíblico é que CRISTO permanece «continuamente» como Sumo Sacerdote, como o propósito específico de mostrar que não há «sucessão» no seu sacerdócio, conforme havia no sacerdócio aarônico. (Ver os versículos terceiro, oitavo, décimo sexto e vigésimo primeiro deste capítulo, quanto a essa continuidade). A primeira porção do presente versículo é outra afirmação da mesma coisa.
A antiga polêmica·. O sacerdócio ideal, agora estabelecido em CRISTO, ultrapassou e assim eliminou o sacerdócio aarônico, um sacerdócio caracterizado por mudança e sucessão.
A moderna polêmica·. O sacerdócio ideal de CRISTO torna fútil qualquer sacerdócio moderno que tenha o princípio de «sucessão», segundo se vê em certos segmentos da cristandade. Isso como que dá a entender que o sacerdócio de CRISTO tem algum defeito, e precisa de ajuda.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 5. pag. 561.
Hb 7.23,24 O apóstolo considera a glória do sumo sacerdócio do NT que reluz sobre todas as coisas não apenas fundamentada no fato de que a convocação e instalação neste ministério aconteceu através do juramento de DEUS. Ele também considera que a palavra do salmo se dirige somente a uma pessoa: “Tu és sacerdote para sempre!” Quando Arão e seus filhos foram convocados no Sinai para serem sacerdotes, DEUS falou: “isto será estatuto perpétuo para ele e para sua posteridade depois dele” (Êx 28.43). Desde o começo tinha-se em mente uma pluralidade de sacerdotes. O sacerdócio do AT tinha uma delimitação no tempo, o ministério tinha de ser passado adiante de geração em geração. Aquele, porém, a quem DEUS falou no juramento: “Tu és sacerdote para sempre” não passa seu ministério de sumo sacerdote a nenhum sucessor. Como a morte não possui mais poder sobre ele, ele detém um sacerdócio imutável. O sumo sacerdócio de JESUS vai de eternidade a eternidade, ele é “ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre” (Hb 13.8).
Fritz Laubach. Comentário Esperança Hebreus. Editora Evangélica Esperança.
O sacerdócio de CRISTO é eterno, porque é exercido por alguém cuja natureza divina tem como um de seus atributos a imortalidade. Assim, o tipo de imutabilidade representado pelo sacerdócio de CRISTO, segundo o pensamento que é depreendido do contexto, deve incluir o conceito de intransmissibilidade. Nenhuma mudança será encontrada em CRISTO e nem em seu sacerdócio. Durante a era milenial, “... os sacerdotes levitas, que são da semente de Zadoque” voltarão a oferecer alguns sacrifícios e exercerão algumas funções como anteriormente, na antiga aliança. Estas ofertas terão um caráter retrospectivo, olhando para trás, para a cruz, pois as ofertas antigas eram prospectivas, olhando para adiante, para a cruz. As primeiras apontavam para sua morte — as do Milênio também apontarão para lá, mas apenas para rememorar a morte de CRISTO, e não para tirar o pecado de alguém (Ez 43.19-27).
Severino Pedro Da Silva. Epístola aos Hebreus. Editora CPAD. pag. 134-135.
Porque, sendo homens, os sacerdotes morriam (vv. 23-25). O sacerdócio não apenas era imperfeito como também era interrompido pela morte. Houve muitos sumos sacerdotes, pois nenhum sacerdote viveria para sempre. A Igreja, pelo contrário, tem um Sumo Sacerdote, JESUS, o Filho de DEUS, que vive para sempre! Um Sacerdote imutável significa um sacerdócio imutável, o que, por sua vez, significa segurança e confiança para o povo de DEUS. "JESUS CRISTO, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre" (Hb 13:8). "Tu és sacerdote para sempre" (Sl 110:4).
De vez em quando, encontramos no jornal alguma notícia sobre fraudes de testamentos.
Um parente ou sócio inescrupuloso apropria-se do testamento e o emprega para propósitos egoístas. Mas isso jamais aconteceria com a aliança que CRISTO firmou com seu sangue. Ele firmou essa aliança e morreu para que ela pudesse entrar em vigor.
Mas, então, ressuscitou dentre os mortos e subiu ao céu, de onde está "administrando" sua aliança.
O fato de o CRISTO imutável continuar sendo Sumo Sacerdote significa, logicamente, que existe um "sacerdócio imutável" (Hb 7:24). O termo grego traduzido por "imutável" dá a idéia de "válido e inalterável".
Em função disso, podemos ter segurança em meio a este mundo de tantas transformações e agitação.
Qual é a conclusão dessa questão? Hebreus 7:25 declara: "Por isso [porque ele é o Sumo Sacerdote eternamente vivo e imutável], também pode salvar totalmente [completamente, para sempre] os que por ele se chegam a DEUS, vivendo sempre para interceder por eles". Por certo, CRISTO pode salvar qualquer pecador que se encontra em qualquer situação, mas não é a isso que o versículo se refere. A ênfase é sobre o fato de que ele salva completamente e para sempre todos os que crêem nele. Uma vez que é nosso Sumo Sacerdote para sempre, pode salvar para sempre.
A base para essa salvação completa é a intercessão celestial do Salvador. O termo traduzido por "interceder" significa "ir ao encontro, abordar, apelar para, fazer uma petição". Não se deve imaginar que DEUS Pai esteja irado conosco de tal modo que DEUS Filho deve sempre apelar a ele e suplicar que não julgue seu povo! O Pai e o Filho estão de pleno acordo quanto ao plano da salvação (Hb 13:20, 21). Também não devemos imaginar JESUS proferindo orações em nosso favor no céu ou "oferecendo seu sangue" repetidamente como sacrifício. Essa obra foi consumada na cruz de uma vez por todas.
A intercessão diz respeito à forma de CRISTO representar seu povo diante do trono de DEUS. Por meio de CRISTO, os cristãos podem achegar-se a DEUS em oração e também oferecer sacrifícios espirituais para DEUS (Hb 4:14-16; 1 Pe 2:5). Alguém disse bem que a vida de CRISTO no céu é sua oração por nós. É sua identidade que determina suas ações.
Ao recapitular o raciocínio desta seção extensa (Hb 7:11-25), ficamos impressionados com a lógica do autor. O sacerdócio de JESUS CRISTO segundo a ordem de Melquisedeque é superior ao sacerdócio de Arão e tomou seu lugar. Tanto o argumento histórico quanto o doutrinário são perfeitos. Mas o autor acrescenta um terceiro argumento.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. II. Editora Central Gospel. pag. 390-391.
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