Escrita Lição 9, Central Gospel, João, A Epístola Do Amor,
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ESBOÇO DA LIÇÃO
1. A TESTEMUNHA DA LUZ E DA VIDA
1.1. A heresia gnóstica
1.2. O combate direto às falsas doutrinas
2. A REDENÇÃO EM CRISTO E A PURIFICAÇÃO DO PECADO
2.1. A intercessão de CRISTO diante da universalidade do
pecado
2.2. A expiação de CRISTO e a amplitude de Sua obra
3. OS REFLEXOS DO AMOR, O MAIOR DENTRE TODOS OS
MANDAMENTOS
3.1. Quem permanece na luz manifesta amor
3.2. Quem permanece na luz rejeita o mundo
4. A ATUAÇÃO DO ANTICRISTO E SEUS EFEITOS NA IGREJA
4.1. Os falsos mestres e a distorção da verdade
4.2. Os que se afastam da fé e suas implicações
4.3. O engano dos falsos ensinadores e
suas consequências
4.4. A unção divina como proteção contra o erro
TEXTO BIBLICO BASICO - 1 João 1.1,7,8; 1 João
2.9-11,14,18-20
1 João 1.1,7,8
1 - O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o
que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida.
7- Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão
uns com os
outros, e o sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo
pecado. 8- Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e
não há verdade em nós.
1 João 2.9-11,14,18-20
9- Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora
está em trevas. 10- Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele
não há escândalo. 11- Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e
anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os
olhos.
14- Eu vos escrevi, pais, porque já conhecestes aquele que é desde
o princípio. Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de DEUS
está em vós, e já vencestes o maligno.
18- Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o
anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos; por onde conhecemos
que é já a última hora. 19- Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se
fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que
não são todos de nós. 20- E vós tendes a unção do SANTO e sabeis tudo.
TEXTO ÁUREO
Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão
uns com os outros, e o sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo
pecado. 1 João 1.7
SUBSIDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2a feira - 1 João 2.1; 1 Coríntios 10.13 CRISTO intercede por nós; DEUS
nos socorre na tentação 3a feira - Hebreus 2.9; 2 Coríntios 5.14,15 JESUS
entregou-se por todos para conceder salvação
4a feira - 1 João 2.8; Gálatas 5.14 O amor reflete o
resplendor da verdadeira luz
5a feira - Romanos 8.16; 1 João 3.14 O ESPÍRITO testifica nossa
filiação e amor pelos irmãos
6a feira - Daniel 7.25; 2 Tessalonicenses 5.2.3 Tempos difíceis
virão antes do Dia do Senhor Sábado - Hebreus 3.12-14 Exortai-vos cada
dia, para permanecer firmes
OBJETIVOS - Ao término do estudo bíblico, o aluno
deverá:
-compreender que a vida do salvo deve refletir a luz de CRISTO,
afastando-se do pecado;
-reconhecer a necessidade de manter-se separado dos valores
corrompidos do mundo;
-evidenciar, por meio do amor, que é nascido de DEUS; discernir e
vigiar contra os falsos profetas dos últimos tempos.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor, esta lição enfatiza a distinção entre a vida na
luz e a contaminação pelo pecado, além da necessidade de vigilância
permanente. Para envolver os alunos, inicie a aula com uma reflexão: Quais
características diferenciam a conduta de um verdadeiro discípulo de CRISTO? Ao
fim do estudo, ressalte que a obediência à Palavra e o crescimento espiritual
são essenciais para resistir ao engano e perseverar na fé. Boa aula!
SUBSÍDIOS
EXTRAS PARA A LIÇÃO – REVISTAS ANTIGAS E LIVROS.
1JOÃO – COMENTÁRIOS BEP - CPAD
Considerações
Preliminares
Cinco livros do NT
levam o nome de João: um Evangelho, três epístolas e o Apocalipse. Embora João
não se identifique pelo nome nesta epístola, testemunhas do século II (e.g.,
Papias, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria) afirmam que ela foi escrita
pelo apóstolo João, um dos doze primeiros discípulos de JESUS. Fortes
semelhanças no estilo, no vocabulário e nos temas, entre 1 João e o Evangelho
segundo João, sancionam o testemunho fidedigno dos cristãos primitivos,
afirmando que os dois livros foram escritos pelo apóstolo João (ver introdução
ao Evangelho segundo João).
Não há indicação dos
destinatários desta carta, como também não há saudações, nem menção de pessoas,
lugares ou eventos. A explicação mais provável dessa forma rara epistolar é que
João escreveu de onde residia, em Éfeso, a certo número de igrejas da província
da Ásia, que estavam sob sua responsabilidade apostólica (cf. Ap 1.11).
Visto que as
congregações tinham um problema comum e necessidades semelhantes, João escreveu
esta epístola como carta circular, enviando-a por um emissário pessoal,
juntamente com suas saudações pessoais.
O assunto principal
desta epístola é o problema dos falsos ensinos a respeito da salvação em CRISTO
e seu processo no crente. Certas pessoas, que anteriormente conviveram com os
leitores da epístola, deixaram as congregações (1Jo 2.19), mas os resultados dos seus falsos ensinos
continuavam a distorcer o evangelho, quanto a “saber” que tinham a vida eterna.
Doutrinariamente, a sua heresia negava que JESUS é o CRISTO (1Jo 2.22; cf. 1Jo 5.1) ou que JESUS veio em carne (1Jo 4.2,3). Na área moral, ensinavam que não era necessário à
fé salvífica (cf. 1Jo 1.6; 5.4,5), a
obediência aos mandamentos de JESUS (2.3-4; 5.3) e uma vida santa, separada do
pecado (1Jo 3.7-12) e do mundo (1Jo 2.15-17).
Propósito
O propósito de João ao
escrever esta epístola foi duplo: (1) expor e rebater os erros doutrinários e
éticos dos falsos mestres e (2) exortar seus filhos na fé a manter uma vida de
santa comunhão com DEUS, na verdade e na justiça, cheios de alegria (1.4) e de
certeza da vida eterna (5.13), mediante a fé obediente em JESUS, o Filho de DEUS
(1Jo 4.15; 5.3-5,12), e pela habitação interior do ESPÍRITO SANTO (2.20;
4.4,13). Alguns crêem que a epístola também foi escrita como uma sequência do Evangelho segundo João.
Visão Panorâmica
A fé e a conduta estão
fortemente entrelaçados nesta carta. Os falsos mestres, aos quais João chama
aqui de “anticristos” (1Jo 2.18-22), apartaram-se do ensino apostólico sobre CRISTO e a
vida de retidão. De modo semelhante a 2 Pe e Jd 1, 1 Jo refuta e condena com veemência os falsos mestres (e.g., 1Jo 2.18,19,22,23,26; 4.1,3,5) com suas
crenças e conduta destruidoras.
Do ponto de vista
positivo, 1 Jo expõe as características da verdadeira comunhão com DEUS (e.g., 1Jo 1.3—2.2) e revela cinco evidências específicas pelas quais o
crente poderá “saber”, com confiança e certeza, que tem a vida eterna: (1) a
evidência da verdade apostólica a respeito de CRISTO (1Jo 1.1-3; 2.21-23; 4.2,3,15; 5.1,5,10,20); (2) a evidência de uma fé obediente que guarda os
mandamentos de CRISTO (1Jo 2.3-11; 5.3,4); (3) a
evidência de um viver santo, i.e., afastar-se do pecado, para comunhão com DEUS
(1Jo 1.6-9; 2.3-6,15-17,29; 3.1-10; 5.2,3); (4) a
evidência do amor a DEUS e aos irmãos na fé (1Jo 2.9-11; 3.10,11,14,16-18; 4.7-12,18-21); e (5) a evidência do testemunho do ESPÍRITO SANTO
no crente (1Jo 2.20,27; 4.13). João afirma, por fim, que a pessoa pode saber com
certeza que tem a vida eterna (5.13) quando estas cinco evidências são
manifestas na sua vida.
Características
Especiais
Cinco características
principais há nesta epístola. (1) Ela define a vida cristã empregando termos
contrastantes e evitando todo e qualquer meio-termo entre luz e trevas, entre
verdade e mentira, entre justiça e pecado, entre amor e ódio, entre amar a DEUS
e amar ao mundo, entre filhos de DEUS e filhos do diabo, etc. (2) É importante
ressaltar que este é o único escrito do NT que fala de JESUS como nosso
“Advogado (gr. parakletos) para com o Pai”, quando o crente fiel peca (2.1,2;
cf. Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7,8). (3) A mensagem de 1 Jo
fundamenta-se quase que inteiramente no ensino apostólico, e não na revelação
anterior do AT; não há claramente na carta referências às Escrituras do AT. (4)
Visto tratar da cristologia, e ao mesmo tempo refutar determinada heresia, a
carta focaliza a encarnação e o sangue (i.e., a cruz) de JESUS, sem mencionar
especificamente a sua ressurreição. (5) Seu estilo é simples e reiterativo, à
medida que João apresenta certos termos principais, como “luz”, “verdade”,
“crer”, “permanecer”, “conhecer”, “amor”, “justiça”, “testemunho”, “nascido de DEUS”
e “vida eterna”.
1.2 VIDA ETERNA. João
define a vida eterna, em função de CRISTO. Ela só pode ser obtida mediante a fé
em JESUS CRISTO e a comunhão com Ele (vv. 2,6,7; 1Jo 2.22-25; 5.20).
1.3 COMUNHÃO CONOSCO.
"Comunhão" (gr. koinonia) literalmente significa "ter em
comum", e envolve compartilhar e participar. Os cristãos têm tal comunhão
porque têm a fé cristã em comum (Tt 1.3; Jd 3), a graça
de DEUS em CRISTO em comum (Fp 1.7; 1 Co 1.9), a presença neles do ESPÍRITO em comum (Jo 20.22; Rm 8.9,11), os dons do ESPÍRITO em comum (Rm 15.27) e um inimigo em comum (1Jo 2.15-18; 1 Pe 5.8). Não pode haver nenhuma comunhão verdadeira com aqueles que rejeitam
os ensinos da fé do NT (2 Jo 7-11; ver Gl 1.9).
1.6 COMUNHÃO COM ELE.
Andar nas trevas significa viver no pecado e nos prazeres mundanos. Tais
pessoas não têm "comunhão com ele", i.e., não nasceram de DEUS (cf.
3.7-9; Jo 3.19; 2 Co 6.14). Aqueles que têm comunhão com DEUS experimentam a
sua graça e vivem em santidade na sua presença (v. 7; 1Jo 2.4; 3.10).
1.7 ANDARMOS NA LUZ.
Isso significa crer na verdade de DEUS, conforme revelada na sua Palavra e
esforçar-se sincera e continuamente por sua graça, para cumpri-la por palavras
e obras. "O sangue de JESUS CRISTO, seu filho, nos purifica de todo
pecado", refere-se à obra contínua da santificação dentro do crente, e à
purificação contínua, pelo sangue de CRISTO, dos nossos pecados involuntários.
É provável que aqui João não esteja pensando nos pecados deliberados contra DEUS,
já que está falando em andar na luz. Essa purificação contínua propicia a nossa
íntima comunhão com DEUS.
1.8 SE DISSERMOS QUE
NÃO TEMOS PECADO. João emprega o substantivo "pecado" em vez da forma
verbal "pecamos", para enfatizar o pecado como um princípio imanente
na natureza humana. (1) João está provavelmente argumentando contra os que
afirmam que o pecado não existe como um princípio ou poder na natureza humana,
ou contra os que afirmam que as más ações que eles cometem não são realmente
pecado. Essa heresia continua ainda hoje entre os que negam a realidade do
pecado e que interpretam a iniquidade em termos de causas deterministas, psicológicas ou
sociais (ver Rm 6.1; 7.9-11). (2) Os crentes devem conscientizar-se de
que a carne, ou a natureza humana pecaminosa, é uma ameaça constante na sua
vida, e que devem sempre estar mortificando as suas más obras por meio do ESPÍRITO
SANTO que neles habita (Rm 8.13; Gl 5.16-25).
1.9 CONFISSÃO DE
PECADO. Devemos reconhecer os nossos pecados e buscar em DEUS o perdão e a
purificação deles. Os dois resultados disso são (1) o perdão divino e a
reconciliação com DEUS, e (2) a purificação (i.e., remoção) da culpa e a
destruição do poder do pecado, a fim de vivermos uma vida de santidade (Sl 32.1-5; Pv 28.13; Jr 31.34; Lc 15.18; Rm 6.2-14).
1.10 NÃO PECAMOS. Quem
afirma que não peca, também não precisa da eficácia salvífica da morte vicária
de CRISTO, e está fazendo DEUS de mentiroso (cf. Rm 3.23).
2.1 PARA QUE NÃO
PEQUEIS. Vemos aqui que o cristão nascido de novo ainda pode pecar. Vemos
também que o cristão não tem de pecar, pelo contrário, ele não deve viver
pecando (cf. Rm 6.15; 1 Ts 2.10). Para aqueles que caem no mesmo pecado, o remédio é
confessar e abandonar esse pecado (ver 1.9). A garantia do perdão está no
sangue de JESUS CRISTO (1Jo 1.7; 2.2) e no seu
ministério celestial como nosso "advogado". Advogado (gr. parakletos)
significa, nesse contexto, que JESUS intercede diante de DEUS em nosso favor, à
base da sua morte expiatória, do nosso arrependimento do pecado e da nossa fé
nEle (cf. Rm 8.34; Hb 7.25; ver também 1 João 3.15)
2.2 PROPICIAÇÃO. JESUS
como nossa "propiciação" significa que Ele tomou sobre si o castigo
dos nossos pecados e satisfez o justo juízo de DEUS contra o pecado. O perdão
agora é oferecido a todos, no mundo inteiro, e é recebido pelos que vêm a CRISTO,
com arrependimento e fé (1Jo 4.9,14; Jo 1.29; 3.16; 5.24).
2.4 NÃO GUARDA OS SEUS
MANDAMENTOS. João estava argumentando contra o modo errôneo de entender a
doutrina da graça e da salvação. Ele opunha-se aos mestres antinomianos os
quais ensinavam que para o crente abandonar uma vida de pecado era uma questão
de opção: (1) Esses falsos mestres declaravam que a pessoa pode normalmente
afirmar que "conhece" a DEUS em termos de salvação, e, ao mesmo
tempo, ser indiferente à sua vontade e aos seus mandamentos, e os desobedecer
(ver Jo 17.3). (2) Aqueles que assim procedem, João declara que
são mentirosos e não têm em si a verdade de DEUS. Querer ser justificado
mediante a fé em CRISTO, sem o compromisso de segui-lo, significa fracasso.
2.10 AMA A SEU IRMÃO.
Ver Jo 13.34,35.
João 13.34 AMEIS
UNS AOS OUTROS. O cristão é exortado a amar de um modo especial a todos os
outros cristãos verdadeiros, quer sejam membros da sua igreja e da sua
persuasão teológica, quer não. (1) Isso significa que o crente deve saber
distinguir os cristãos verdadeiros daqueles cuja confissão de fé é falsa,
observando a sua obediência a JESUS CRISTO e sua lealdade às Sagradas
Escrituras (5.24; 8.31; 10.27; Mt 7.21; Gl 1.9). (2) Isso
significa que quem possui uma fé viva em JESUS CRISTO e é leal à Palavra
inspirada e inerrante de DEUS, conforme tal pessoa a compreende, e que resiste
ao espírito modernista e mundano predominante em nossos tempos, é meu irmão em CRISTO
e merece meu amor, consideração e apoio especiais. (3) Amar a todos os cristãos
verdadeiros, inclusive os que não pertencem à minha igreja, não significa
transigir ou acomodar minhas crenças bíblicas específicas nos casos de
diferenças doutrinárias. Também não significa querer promover união
denominacional. (4) O cristão nunca deverá transigir quanto à santidade de DEUS.
É essencial que o amor a DEUS e à sua vontade, conforme revelados na sua
Palavra, controlem e orientem nosso amor ao próximo. O amor a DEUS deve sempre
ocupar o primeiro lugar em nossa vida (ver a próxima; Mt 22.37,39). João 13.35 CONHECERÃO QUE SOIS MEUS DISCÍPULOS. O amor
(gr. agape) deve ser a marca distintiva dos seguidores de CRISTO (1 Jo 3.23; 4.7-21). Este amor é, em suma, um amor abnegado e
sacrificial, que visa ao bem do próximo (1 Jo 4.9,10). Por isso, o relacionamento entre os crentes deve
ser caracterizado por uma solicitude dedicada e firme, que vise
altruisticamente a promover o sumo bem uns dos outros. Os cristãos devem ajudar
uns aos outros nas provações, evitar ferir os sentimentos e a reputação uns dos
outros e negar-se a si mesmos para promover o mútuo bem-estar (cf 1 Jo 3.23; 1 Co 13; 1 Ts 4.9; 1 Pe 1.22; 2 Ts 1.3; Gl 6.2; 2 Pe 1.7).
2.15,16 O MUNDO.
O RELACIONAMENTO ENTRE O CRENTE E O MUNDO
1Jo 2.15,16 “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém
ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é
do Pai, mas do mundo.”
A palavra “mundo” (gr.
kosmos) frequentemente se refere ao vasto sistema de vida desta era, fomentado
por Satanás e existente à parte de DEUS. Consiste não somente nos prazeres
obviamente malignos, imorais e pecaminosos do mundo, mas também se refere ao
espírito de rebelião que nele age contra DEUS, e de resistência ou indiferença
a Ele e à sua revelação. Isso ocorre em todos os empreendimentos humanos que
não estão sob o senhorio de CRISTO. Na presente era, Satanás emprega as idéias
mundanas de moralidade, das filosofias, psicologia, desejos, governos, cultura,
educação, ciência, arte, medicina, música, sistemas econômicos, diversões,
comunicação de massa, esporte, agricultura, etc, para opor-se a DEUS, ao seu
povo, à sua Palavra e aos seus padrões de retidão (Mt 16.26; 1Co 2.12; 3.19; Tt 2.12; 1Jo 2.15,16; Tg 4.4; Jo 7.7; 15.18,19; 17.14 ). Por exemplo, Satanás usa a profissão médica, para
defender e promover a matança de seres humanos nascituros; a agricultura para
produzir drogas destruidoras da vida, tais como o álcool e os narcóticos; a
educação, para promover a filosofia ímpia humanista; e os meios de comunicação
em massa, para destruir os padrões divinos de conduta. Os crentes devem estar
conscientes de que, por trás de todos os empreendimentos meramente humanos, há
um espírito, força ou poder maligno que atua contra DEUS e a sua Palavra.
Nalguns casos, essa ação maligna é menos intensa; noutros casos, é mais.
Finalmente, o “mundo” também inclui todos os sistemas religiosos originados
pelo homem, bem como todas as organizações e igrejas mundanas, ou mornas.
Satanás (ver Mt 4.10) é o deus do presente sistema mundano (ver Jo 12.31; 14.30; 16.11; 2Co 4.4; 5.19). Ele o controla juntamente com uma hoste de
espíritos malignos, seus subordinados (Dn 10.13; Lc 4.5-7; Ef 6.12,13). Satanás tem o mundo organizado em sistemas políticos,
culturais, econômicos e religiosos que são inatamente hostis a DEUS e ao seu
povo (Jo 7.7; 15.18,19; 17.14; Tg 4.4; 2.16) e que se recusam a submeter-se à sua verdade, a
qual revela a iniquidade do mundo (Jo 7.7). O mundo
e a igreja verdadeira são dois grupos distintos de povo. O mundo está sob o
domínio de Satanás (ver Jo 12.31); a igreja pertence exclusivamente a DEUS (Ef 5.23,24; Ap 21.2). Por isso, o crente deve separar-se do mundo. No mundo, os crentes são forasteiros e peregrinos (Hb 11.13; 1Pe 2.11). (a) Não devem pertencer ao mundo (Jo 15.19), não se conformar com o mundo (ver Rm 12.2), não amar o mundo (2.15), vencer o mundo (54), odiar
a iniquidade do mundo
(ver Hb 1.9), morrer para o mundo (Gl 6.14) e ser libertos do mundo (Cl 1.13; Gl 1.4). (b) Amar
o mundo (cf. 2.15) corrompe nossa comunhão com DEUS e leva à destruição
espiritual. É impossível amar o mundo e ao Pai ao mesmo tempo (Mt 6.24; Lc 16.13; ver Tg 4.4). Amar o
mundo significa estar em estreita comunhão com ele e dedicar-se aos seus
valores, interesses, caminhos e prazeres. Significa ter prazer e satisfação
naquilo que ofende a DEUS e que se opõe a Ele (ver Lc 23.35). Note, é claro, que os termos “mundo” e “terra” não
são sinônimos; DEUS não proíbe o amor à terra criada, i.e., à natureza, às
montanhas, às florestas, etc. De acordo com 2.16, três aspectos do mundo pecaminoso são abertamente
hostis a DEUS: (a) “A concupiscência da carne”, que inclui os desejos impuros e
a busca de prazeres pecaminosos e a gratificação sensual (1Co 6.18; Fp 3.19; Tg 1.14). (b) “A concupiscência dos olhos”, que se refere à
cobiça ou desejo descontrolado por coisas atraentes aos olhos, mas proibidas
por DEUS, inclusive o desejo de olhar para o que dá prazer pecaminoso (Êx 20.17; Rm 7.7). Nesta
era moderna, isso inclui o desejo de divertir-se contemplando pornografia,
violência, impiedade e imoralidade no teatro, na televisão, no cinema, ou em
periódicos (Gn 3.6; Js 7.21; 2 Sm 11.2; Mt 5.28). (c) “A soberba da vida”, que significa o espírito
de arrogância, orgulho e independência autossuficiente, que não reconhece DEUS como Senhor, nem a sua
Palavra como autoridade suprema. Tal pessoa procura exaltar, glorificar e
promover a si mesma, julgando não depender de ninguém (Tg 4.16). O crente não deve ter comunhão espiritual com
aqueles que vivem o sistema iníquo do mundo (ver Mt 9.11; 2Co 6.14) deve reprovar abertamente o pecado deles (Jo 7.7; Ef 5.11), deve ser sal e luz do mundo para eles (Mt 5.13,14), deve amá-los (Jo 3.16), e deve procurar ganhá-los para CRISTO (Mc 16.15; Jd 22,23). Da parte do mundo, o verdadeiro cristão terá
tribulação (Jo 16.33), ódio (Jo 15.19), perseguição (Mt 5.10-12) e sofrimento em geral (Rm 8.22,23; 1Pe 2.19-21). Satanás, usando as atrações do mundo, faz um
esforço incessante para destruir a vida de DEUS dentro do cristão (2Co 11.3; 1Pe 5.8). O sistema deste mundo é temporário e será destruído por DEUS (Dn 2.34,35, 44; 2Ts 1.7-10; 1Co 7.31; 2Pe 3.10; Ap 18.2).
2.18 MUITOS...
ANTICRISTOS. Um anticristo ou falso CRISTO virá, perto do fim dos tempos, para
governar o mundo e liderar uma grande rebelião contra CRISTO e a fé cristã (ver
Ap 13.1,8,18; 19.20; 20.10). Mas João também diz que "muitos
anticristos" já penetraram na igreja. São crentes professos que amam o
mundo e seus prazeres pecaminosos e distorcem o evangelho e sua mensagem da
cruz, opondo-se assim a CRISTO e sua justiça2.19 SAÍRAM DE NÓS. Quando os
anticristos (v. 18) deixaram a comunhão dos crentes fiéis, não eram crentes
salvos por CRISTO. Cabem, aí, duas possibilidades: (1) Nunca foram verdadeiros
crentes desde o início, ou (2) antes, experimentaram a salvação em CRISTO, mas
depois abandonaram a sua fé nEle.
O PERÍODO
DO ANTICRISTO
2Ts 2.3,4 “Ninguém,
de maneira alguma, vos engane, porque não será assim sem que antes venha a
apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe
e se levanta contra tudo o que se chama DEUS ou se adora; de sorte que se
assentará, como DEUS, no templo de DEUS, querendo parecer DEUS.”
Segundo a Bíblia, está
para vir o Anticristo (cf. 1Jo 2.18); aquele que trama o derradeiro ataque furioso de
Satanás contra CRISTO e os santos, pouco antes do tempo em que nosso Senhor JESUS
CRISTO estabelecerá o seu reino na terra. As expressões que a Bíblia usa para o
Anticristo são “o homem de pecado” e “o filho da perdição” (2.3). Outras
expressões usadas na Bíblia são “a besta que sobe do mar” (Ap 13.1-10), a “besta de cor escarlate” (Ap 17.3) e “a besta” (Ap 17.8, 16; 19.19,20; 20.10).
O
ARREBATAMENTO DA IGREJA
1Ts 4.16,17 “Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e
com voz de arcanjo, e com a trombeta de DEUS; e os que morreram em CRISTO
ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados
juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim
estaremos sempre com o Senhor. ” O termo “arrebatamento” deriva da palavra
raptus em latim, que significa “arrebatado rapidamente e com força”. O termo
latino raptus equivale a harpazo em grego, traduzido por “arrebatado” em 4.17.
Esse evento, descrito aqui e em 1Co 15, refere-se à ocasião em que a igreja do Senhor será
arrebatada da terra para encontrar-se com Ele nos ares. O arrebatamento abrange
apenas os salvos em CRISTO. Instantes antes do arrebatamento, ao descer CRISTO
do céu para buscar a sua igreja, ocorrerá a ressurreição dos “que morreram em CRISTO”
(4.16). Não se trata da mesma ressurreição referida em Ap 20.4, a qual somente ocorrerá depois de CRISTO voltar à
terra, julgar os ímpios e prender Satanás (Ap 19.11—20.3). A ressurreição de Ap 20.4 tem a ver com os mártires da tribulação e
possivelmente com os santos do AT (ver Ap 20.6). Ao mesmo tempo que ocorre a ressurreição dos
mortos em CRISTO, os crentes vivos serão transformados; seus corpos se
revestirão de imortalidade (1Co 15.51,53). Isso acontecerá num instante, “num abrir e fechar
de olhos” (1Co 15.52). Tanto os crentes ressurretos como os que acabaram
de ser transformados serão “arrebatados juntamente” (4.17) para encontrar-se
com CRISTO nos ares, ou seja: na atmosfera entre a terra e o céu. Estarão
literalmente unidos com CRISTO (4.16,17), levados à casa do Pai, no céu (ver Jo 14.2,3), e reunidos aos queridos que tinham morrido
(4.13-18). Estarão livres de todas as aflições (2Co 5.2,4; Fp 3.21), de toda perseguição e opressão (ver Ap 3.10), de todo domínio do pecado e da morte (1Co 15.51-56); o arrebatamento os livra da “ira futura” (ver
1.10; 5.9), ou seja: da grande tribulação. A esperança de que nosso Salvador
logo voltará para nos tirar do mundo, a fim de estarmos “sempre com o Senhor”
(4.17), é a bem-aventurada esperança de todos os redimidos (Tt 2.13). É fonte principal de consolo para os crentes que
sofrem (4.17,18; 5.10). Paulo emprega o pronome “nós” em 4.17 por saber que a
volta do Senhor poderia acontecer naquele período, e comunica aos
tessalonicenses essa mesma esperança. A Bíblia insiste que anelemos e esperemos
contínua e confiadamente a volta do nosso Senhor (cf. Rm 13.11; 1Co 15.51,52; Ap 22.12,20). Quem está na igreja mas não abandona o pecado e o
mal, sendo assim infiel a CRISTO, será deixado aqui, no arrebatamento (ver Mt 25.1; Lc 12.45). Os tais ficarão neste mundo e farão parte da
igreja apóstata (ver Ap 17.1), sujeitos à ira de DEUS. Depois do arrebatamento,
virá o Dia do Senhor, um tempo de sofrimento e ira sobre os ímpios (5.2-10; ver
5.2). Seguir-se-á a segunda fase da vinda de CRISTO, quando, então, Ele virá
para julgar os ímpios e reinar sobre a terra (ver Mt 24.42,44).
SINAIS DA
VINDA DO ANTICRISTO.
Diferente do
arrebatamento da igreja, a vinda do Anticristo não ocorrerá sem sinais
precursores. Pelo menos três eventos deverão ocorrer antes dele surgir na
terra: (1) o “mistério da injustiça” que já opera no mundo, deverá
intensificar-se (2.7); (2) virá a “apostasia” (2.3); (3) “um que, agora,
resiste”, deve ser afastado (2.7). O “mistério da injustiça”, i.e., a atividade
secreta dos poderes do mal, ora evidente no mundo inteiro (ver 27), aumentará
até alcançar seu ponto máximo na total zombaria e desprezo a qualquer padrão ou
preceito bíblicos. Por causa do predomínio da iniquidade, o amor de muitos esfriará (Mt 24.10-12; Lc 18.8). Mesmo assim, um remanescente fiel permanecerá leal
à fé apostólica conforme revelada no NT (Mt 24.13; 25.10; Lc 18.7; ver Ap 2.7). Por meio desses fiéis, a igreja permanecerá
batalhando e manejando a espada do ESPÍRITO até ser arrebatada (ver Ef 6.11). Ocorrerá a “apostasia” (gr. apostasia), que
literalmente significa “desvio’’, “afastamento’’, “abandono’’ (2.3). Nos
últimos dias, um grande número de pessoas da igreja apartar-se-á da verdade
bíblica. Tanto o apóstolo Paulo quanto CRISTO revelam um quadro difícil da
condição de grande parte da igreja — moral, espiritual e doutrinariamente — à
medida que a era presente chega ao seu fim (cf. Mt 24.5, 10-13, 24; 1Tm 4.1; 2Tm 4.3,4). Paulo,
principalmente, ressalta que nos últimos dias elementos ímpios ingressarão nas
igrejas em geral. Essa “apostasia” dentro da igreja terá duas dimensões. (i) A
apostasia teológica, que é o desvio de parte ou totalidade dos ensinos de CRISTO
e dos apóstolos, ou a rejeição deles (1Tm 4.1; 2 Tm 4.3). Os falsos dirigentes apresentarão uma salvação
fácil e uma graça divina sem valor, desprezando as exigências de CRISTO quanto
ao arrependimento, à separação da imoralidade, e à lealdade a DEUS e seus
padrões (2Pe 2.1-3,12-19). Os falsos evangelhos, voltados a interesses
humanos, necessidades e alvos egoístas, gozarão de popularidade). (ii) A
apostasia moral, que é o abandono da comunhão salvífica com CRISTO e o
envolvimento com o pecado e a imoralidade. Esses apóstatas poderão até anunciar
a sã doutrina bíblica, e mesmo assim nada terem com os padrões morais de DEUS (Is 29.13; Mt 23.25-28). Muitas igrejas permitirão quase tudo para terem
muitos membros, dinheiro, sucesso e prestígio (ver 1Tm 4.1). O evangelho da cruz, com o desafio de sofrer por CRISTO (Fp 1.29), de renunciar todo pecado (Rm
3.1), de sacrificar-se pelo reino de DEUS e de
renunciar a si mesmo será algo raro (Mt 24.12; 2Tm 3.1-5; 43). Tanto a história da igreja, como a
apostasia predita para os últimos dias, advertem a todo crente a não pressupor
que o progresso do reino de DEUS é infalível na sua continuidade, no decurso de
todas as épocas e até o fim. Em determinado momento da história da igreja, a
rebelião contra DEUS e sua Palavra assumirá proporções espantosas. No dia do
Senhor, cairá a ira de DEUS contra os que rejeitarem a sua verdade (1Ts 5.2-9). O triunfo final do reino de DEUS e sua justiça no
mundo, portanto, depende não do aumento gradual da igreja professa, mas da
intervenção final de DEUS, quando Ele se manifestará ao mundo com justo juízo
(Ap 19—22; ver 2Ts 2.7,8; 1Tm 4.1; 2Pe 3.10-13; Jd). Um evento determinante deverá ocorrer antes do
aparecimento do “homem do pecado” e do Dia do Senhor começar (2.2,3), que é a
saída de alguém (2.7) ou de algo, que “detém”, resiste, ou refreia o “mistério
da injustiça” e o “homem do pecado” (2.3-7). Quando o restringidor do “homem do
pecado’’ for retirado, então poderá começar o Dia do Senhor (2.6,7). O que
agora o detém é, sem dúvida, uma referência ao ESPÍRITO SANTO, pois somente Ele
tem poder de deter a iniquidade, o homem do pecado e Satanás (2.6). Esse que agora o
detém ou resiste (2.7), leva no grego o artigo definido masculino e ao mesmo
tempo o artigo definido neutro, em 2.6 (“o que o detém”). De modo semelhante, a
palavra “ESPÍRITO” na língua grega pode levar pronome masculino ou neutro (ver Gn 6.3; Jo 16.8; Rm 8.13; ver Gl 5.17, sobre a obra do ESPÍRITO SANTO a restringir o
pecado). No começo dos sete anos de tribulação, o ESPÍRITO SANTO será
“afastado” (v. 7). Isso não significa ser Ele tirado do mundo, mas que cessará
sua influência restritiva à iniquidade e ao surgimento do Anticristo. Todas as restrições
contra o pecado serão removidas, e começará a rebelião inspirada por Satanás. O
ESPÍRITO SANTO, todavia, agirá na terra durante a tribulação, convencendo
pessoas dos seus pecados, convertendo-as a CRISTO e dando-lhes poder (Ap 7.9, 14; 11.1-11; 14.6,7). Retirando-se o ESPÍRITO SANTO, cessará a inibição
à aparição do “homem do pecado”, no cenário terreno (2.3,4). DEUS então
liberará uma influência poderosa enganadora sobre todos os que se recusam a
amar a verdade de DEUS (ver 2.11); os tais aceitarão as imposturas do homem do
pecado, e a sociedade humana descerá a uma depravação jamais vista. A ação do ESPÍRITO
SANTO restringindo o pecado é levada a efeito em grande parte através da
igreja, que é o templo do ESPÍRITO SANTO (1Co 3.16; 6.19). Por isso, muitos expositores da Bíblia acreditam
que a saída do ESPÍRITO SANTO é uma clara indicação de que o arrebatamento dos
santos ocorrerá nessa ocasião (1Ts 4.17). Noutras palavras, a volta de CRISTO, para levar a
igreja e livrá-la da ira vindoura (1Ts 1.10), ocorrerá antes do início do Dia do Senhor e da
manifestação do “homem do pecado”. Entende-se, nos meios eruditos da Bíblia, que o
restringente em 2.6 (no gênero neutro) refere-se ao ESPÍRITO SANTO e seu
ministério de conter a iniquidade, ao passo que em 2.7, “um que, agora” (no gênero
masculino) refere-se aos crentes reunidos a CRISTO e tirados daqui, i.e.,
arrebatados ao encontro do Senhor nos ares, a fim de estarem sempre com Ele (1Ts 4.17).
AS
ATIVIDADES DO ANTICRISTO.
Ao começar o Dia do
Senhor, “o iníquo” aparecerá neste mundo. Trata-se, no meios eruditos da
Bíblia, de um governante mundial que fará aliança com Israel por sete anos,
antes do fim da presente era (ver Dn 9.27). A verdadeira identificação do Anticristo será
conhecida três anos e meio mais tarde, quando ele romper sua aliança com
Israel, tornar-se governante mundial, declarar ser DEUS, profanar o templo de
Jerusalém, proibir a adoração a DEUS (ver 2.4, 8,9) e assolar a terra de Israel
(ver Dn 9.27; 11.36-45). O Anticristo declarará ser DEUS, e
perseguirá severamente quem permanecer leal a CRISTO (Ap 6,7; 13.7, 15-18; ver Dn 7.8, 24,25). Exigirá adoração, certamente sediada num grande
templo que será usado como centro de seus pronunciamentos (cf. Dn 7.8, 25; 8.4; 11.31, 36). O homem aspira tornar-se divino desde a criação
(ver 2.8; Ap 13.8,12) O “homem do pecado’’ fará mediante poder satânico,
grandes sinais, maravilhas e milagres a fim de propagar o engano (2.9).
“Prodígios de mentira” significa que seus milagres são sobrenaturais, parecendo
autênticos, para enganar as pessoas e levá-los a crer na mentira. (a) Tais demonstrações
possivelmente serão vistas no mundo inteiro, pela televisão. Milhões de pessoas
ficarão impressionadas, enganadas por esse líder altamente convincente, por não
darem a devida importância à Palavra de DEUS nem ter amor às suas verdades
(2.9-12). (b) Tanto as palavras de Paulo (2.9), quanto as de JESUS (Mt 24.24) devem despertar os crentes para o fato de que nem
todo milagre provém de DEUS. Aparentes “manifestações do ESPÍRITO” (1Co 12.7-10) ou fenômenos supostamente vindos da parte de DEUS
devem ser provados à base da obediência a CRISTO e às Escrituras, por parte da
pessoa atuante.
A DERROTA
DO ANTICRISTO.
No fim da tribulação,
Satanás congregará muitas nações no Armagedom, sob o comando do Anticristo, e
guerrearão contra DEUS e o seu povo numa batalha que envolverá o mundo inteiro
(ver Dn 11.45; Ap 16.16). Quando isso ocorrer, CRISTO voltará e intervirá de
modo sobrenatural, destruindo o Anticristo, seus exércitos e todos os que não
obedecem ao evangelho (ver Ap 19.15-21). A seguir, CRISTO prenderá Satanás e estabelecerá
seu reino na terra (20.1-6).
A GRANDE
TRIBULAÇÃO
Mt 24.21. “Porque haverá, então, grande aflição, como nunca
houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco haverá jamais.”
Começando com 24.15, JESUS
trata de sinais especiais que ocorrerão durante a grande tribulação (as
expressões “grande aflição”, de 24.21, e “grande tribulação”, de Ap 7.14, são idênticas no grego). Tais sinais indicam que o
fim dos tempos está muito próximo (24.15-29). São sinais conducentes à, e
indicadores da volta de CRISTO à terra, depois da tribulação (24.30,31; cf. Ap 19.11-20.4). O maior desses sinais é “a abominação da
desolação” (24.15), um fato específico e visível, que adverte os fiéis vivos
durante a grande tribulação de que a vinda de CRISTO à terra está prestes a
ocorrer. Esse sinal-evento, visível, relaciona-se primeiramente com a
profanação do templo judaico daqueles dias em Jerusalém, pelo Anticristo (ver Dn 9.27; 1Jo 2.18). O Anticristo, também chamado o homem do pecado,
colocará uma imagem dele mesmo no templo de DEUS, declarando ser ele mesmo DEUS
(2Ts 2.3,4; Ap 13.14,15). Seguem-se fatos salientes a respeito desse evento
crítico. A “abominação da desolação” marcará o início da etapa final da
tribulação, que culmina com a volta de CRISTO à terra e o julgamento dos ímpios
em Armagedom (24.21,29,30; ver Dn 9.27; Ap 19.11-21). Se os santos da tribulação atentarem para o fator
tempo desse evento (“Quando, pois, virdes”, , poderão saber com bastante
aproximação quando terminará a tribulação, época em que CRISTO voltará à terra
(ver 24.33). O decurso de tempo entre esse evento e o fim dos tempos é
mencionado quatro vezes nas Escrituras como sendo três anos e meio ou 1260 dias
(ver Dn 9.25-27; Ap 11.1,2; 12.6; 13.5-7).
Por causa da grande
expectativa da volta de CRISTO (24.33), os santos daqueles dias devem
acautelar-se quanto a informes afirmando que CRISTO já voltou. Tais informes
serão falsos (24.23-26). A “vinda do Filho do homem” depois da tribulação será
visível e conhecida de todos os que viverem no mundo (24.27-30; Ap 1.7). Outro
sinal que ocorrerá, então, será o dos falsos profetas que, a serviço de
Satanás, farão “grandes sinais e prodígios” (24.24). JESUS admoesta a todos os
crentes a estarem especialmente alerta para discernir esses profetas, mestres e
pregadores, que se declaram cristãos sendo falsos, porém apesar disso, operam
milagres, curas, sinais e maravilhas e que demonstram ter grande sucesso nos
seus ministérios. Ao mesmo tempo, torcerão e rejeitarão a verdade da Palavra de
DEUS (ver 7.22; Gl 1.9).
Noutra parte, as
Escrituras admoestam os crentes a sempre testarem o espírito que atua nos mestres,
líderes e pregadores (ver 1Jo 4.1). DEUS permite o engano acompanhado de milagres, a fim de testar os
crentes no tocante ao seu amor por Ele e sua lealdade às Sagradas Escrituras
(Dt 13.3. Serão
dias difíceis, pois JESUS declara em 24.24, que naqueles últimos tempos o
engano religioso será tão generalizado que será difícil até mesmo para “os
escolhidos” (i.e., os crentes dedicados) discernirem entre a verdade e o erro
(ver 1Tm 4.16; Tg 1.21).
Quem entre o povo de DEUS
não amar a verdade será enganado. Não terá mais oportunidade de crer na verdade
do evangelho, depois do surgimento do Anticristo (ver 2Ts 2.11). Finalmente, a “grande tribulação” será um período
específico de terrível sofrimento e tribulação para todos que viverem na terra.
Observe: 19.7,8,14). Será de
âmbito mundial (ver Ap 3.10). (2) Será o pior tempo de aflição e angústia que já
ocorreu na história da humanidade (Dn 12.1; Mt 24.21). (3) Será um tempo terrível de sofrimento para os
judeus (Jr 30.5-7). (4) O período será controlado pelo “homem do
pecado” (i.e., o Anticristo; cf. Dn 9.27; Ap 13.12). (5) Os fiéis da igreja de CRISTO recebem a
promessa de livramento e “escape” dos tempos da tribulação (ver Lc 21.36; 1Ts 5.8-10; Ap 3.10). (6) Durante o período da tribulação, muitos entre
os judeus e gentios crerão em JESUS CRISTO e serão salvos (Dt 4.30,31; Os 5.15; Ap 7.9-17; 14.6,7). (7) Será um tempo de grande sofrimento e de
perseguição pavorosa para todos quantos permanecerem fiéis a DEUS (Ap 12.17; 13.15). (8) Será um tempo de ira de DEUS e de juízo seu
contra os ímpios (1Ts 4.11; Ap 6.16,17). (9) A declaração de JESUS de que aqueles dias
serão abreviados (24.22) não pressupõe a redução dos três anos e meio, ou 1260
dias preditos. Pelo contrário, parece indicar que o período é tão terrível que
se não fosse de curta duração a totalidade da raça humana seria destruída. (10)
A grande tribulação terminará quando vier JESUS CRISTO em glória, com sua noiva
(Ap 19.7, 8, 14), para efetuar o livramento dos fiéis remanescentes e o juízo e
destruição dos ímpios (Ez 20.34-38; Mt 24.29-31; Lc 19.11-27; Ap 19.11-21). (11) Não devemos confundir essa fase da vinda de JESUS,
no fim da grande tribulação, com a sua descida imprevista do céu, em 24.42-44,
a qual ocorrerá num momento diferente do da sua volta final, no fim da
tribulação. (12) O trecho principal das Escrituras que descreve a totalidade da
tribulação de sete anos de duração é encontrado em Ap 6-18.
2.20 A UNÇÃO. O crente
recebeu uma unção da parte de CRISTO, a saber: o ESPÍRITO SANTO (cf. 2 Co 1.21,22). Através do ESPÍRITO SANTO conhecemos a verdade
(ver v. 27).
2.24 DESDE O PRINCÍPIO
OUVISTES. O crente permanecerá em CRISTO como salvo, somente à medida em que
permanecer no ensino bíblico original de CRISTO e dos apóstolos (ver Ef 2.20). Isso sugere duas coisas: (1) abandonar o evangelho
original conforme o NT é espiritualmente fatal, e nos separa de JESUS CRISTO
(cf. Gl 1.6-8; 5.1-4). Os crentes devem permanecer biblicamente
conservadores quanto à teologia, i.e., sempre seguirem os ensinos do NT. (2) É
perigoso correr atrás de novos ensinos ou mestres, que pregam coisas novas,
alheias à fé cristã (cf. Jd 3). Por essa
razão, é importante estudar a Palavra de DEUS e ser-lhe fiel; nossa própria
alma e nosso destino eterno dependem disso.
2.27 A SUA UNÇÃO VOS
ENSINA. Todo filho de DEUS recebe a "unção" (i.e., o ESPÍRITO SANTO)
para guiá-lo na verdade (Jo 14.26; 16.13). À medida que os crentes permanecem em CRISTO e
lêem a Palavra de DEUS, o ESPÍRITO SANTO os ajuda a compreender suas verdades
redentoras. (1) Todos os crentes podem estudar e conhecer a verdade de DEUS e
aprender uns dos outros, mediante o mútuo ensino, exortação e instrução (Mt 28.20; Cl 3.16; Ef 3.18). (2) Dessa forma, os crentes têm duas salvaguardas
contra o erro doutrinário: a revelação bíblica (cf. v. 24) e o ESPÍRITO SANTO.
(3) O crente não precisa dos que ensinam doutrinas extrabíblicas. Esse é o
significado das palavras de João: "não tendes necessidade de que alguém
vos ensine".
3.1 FILHOS DE DEUS. A
verdade que DEUS é nosso Pai celestial e que nós somos seus filhos é uma das
maiores revelações do NT. (1) Ser filho de DEUS é o privilégio mais sublime da
nossa salvação (Jo 1.12; Gl 4.7). (2) Ser
filho de DEUS é a base da nossa fé e confiança em DEUS (Mt 6.25-34) e da nossa esperança da glória futura. Como filhos
de DEUS, somos herdeiros de DEUS e co-herdeiros com CRISTO (Rm 8.16,17; Gl 4.7). (3) DEUS
quer que nos tornemos cada vez mais conscientes, mediante o ESPÍRITO SANTO, o
"ESPÍRITO de adoção" (Rm 8.15), de que somos seus filhos. O ESPÍRITO suscita a
exclamação "Aba" (Pai) em nosso coração (ver Gl 4.6) e produz
o desejo de sermos "guiados pelo ESPÍRITO" (Rm 8.14). (4) Sermos filhos de DEUS é a base da nossa
disciplina pelo Pai (Hb 12.6,7,11) e a razão de vivermos para agradar a DEUS (v. 9; 1Jo 4.17-19). O alvo final de DEUS ao nos tornar seus filhos é
salvar-nos para sempre (Jo 3.16) e nos conformar à imagem do seu Filho (Rm 8.29).
3.6 PERMANECE NELE. As
expressões "permanece nele" e "nascido de DEUS" (v. 9) são
equivalentes. Somente aqueles que permanecem em DEUS, continuam nascidos de DEUS
(ver Jo 15.4)
3.6 NÃO O VIU NEM O
CONHECEU. Os verbos "viu" e "conheceu" estão no tempo
pretérito perfeito. Em grego, esse tempo se refere a ações ocorridas no
passado, cujos resultados continuam até o presente momento. Por isso, João diz
que ninguém que peca (i.e., que está vivendo em pecado) tem visto a DEUS, nem
continua a vê-lo, nem tem conhecido, nem continua a conhecê-lo. Essas palavras,
portanto, podem ser aplicadas, ou àqueles que nunca tiveram fé verdadeira em CRISTO,
ou aos apóstatas que conheceram a DEUS no passado, mas que não o conhecem no
presente.
3.9 NÃO COMETE PECADO.
"Comete pecado", (gr. hamartano) é um infinitivo presente ativo, que
subentende ação contínua. João enfatiza que quem realmente nasceu de DEUS, não
pode continuar a viver pecando conscientemente, porque a vida de DEUS não pode
permanecer em quem vive na prática do pecado (cf. 1Jo 1.5-7; 2.3-11,15-17,24-29; 3.6-24; 4.7,8,20). (1) O novo nascimento resulta em vida espiritual,
a qual leva a um relacionamento sempre presente com DEUS. Nesta epístola, cada
vez que João fala do novo nascimento, emprega o tempo pretérito perfeito em
grego, para enfatizar o relacionamento contínuo e ininterrupto iniciado pelo
novo nascimento (1Jo 2.29; 3.9; 4.7; 5.1,4,18). (2) É impossível, espiritualmente, alguém ter em
si a vida divina (i.e., ser nascido de DEUS), e viver de modo pecaminoso. Às
vezes o crente afasta-se do alto padrão divino para a nova vida espiritual, mas
ele não continuará em pecado conhecido (vv. 6,10). (3) O que faz o crente
evitar o pecado é a "semente" de DEUS permanecente nele. A
"semente" é a própria vida, natureza e ESPÍRITO de DEUS habitando no
crente (1Jo 5.11,12; Jo 1.1; 15.4; 2 Pe 1.4). (4) Pela fé (1Jo 5.4), pela presença de CRISTO em nós, pelo poder das
Santas Escrituras (ver 1 Ts 2.10), todo crente pode viver a cada momento livre de
delitos e pecados contra DEUS
3.10 FILHOS DE DEUS...
FILHOS DO DIABO. Este é o âmago e a conclusão dos ensinos de João em 1Jo 2.28-3.10. Ele acabou de advertir o crente no sentido de não
se enganar quanto à natureza da salvação (v. 7). Consequentemente, o crente
deve rejeitar qualquer teologia ou doutrina afirmando que a pessoa pode estar
fora da comunhão com DEUS (1.3), continuar a pecar, fazer as obras do diabo (v.
8), amar o mundo (2.15), lesar o próximo (vv. 14-18), e ainda ser filho de DEUS,
salvo, a caminho do céu. Contrariamente a esse falso ensino, João cria
claramente que quem continua na prática de pecado conhecido (ver v. 9) "é do
diabo" (v. 8), e "não é de DEUS" (v. 10). Quem habitualmente
pratica o pecado, e afirma que tem a vida eterna e que é filho de DEUS, está
enganado e "é mentiroso" (2.4). Além disso, o que caracteriza um
verdadeiro filho de DEUS é o amor a DEUS, manifesto na guarda dos seus
mandamentos (5.2) e na solicitude sincera pelas necessidades espirituais e
físicas doutros crentes (vv. 16,17).
3.15 NENHUM HOMICIDA
TEM... A VIDA ETERNA. A Bíblia geralmente faz uma distinção entre tipos
diferentes de pecados: pecados involuntários (Lv 4.2,13,22; 5.4-6; ver 4.2; Nm 15.31), pecados menos sérios (Mt 5.19), pecados voluntários (5.16,17) e os pecados que
levam à morte espiritual (5.16). João enfatiza que há certos pecados que o
crente nascido de novo não cometerá, porque nele permanece a vida eterna de CRISTO
(cf. 1Jo 2.11,15,16; 3.6-8,10,14,15; 4.20; 5.2; 2 Jo 9). Esses
pecados, por causa da sua gravidade e da sua origem no próprio espírito da
pessoa, evidenciam uma rebelião resoluta da pessoa contra DEUS, um afastamento
de CRISTO, um decair da graça e uma cessação da vida vital da salvação (Gl 5.4). (1)
Exemplos de pecados nos quais há evidência clara de que a pessoa continua nos
laços da iniquidade ou que
caiu da graça e da vida eterna são: a apostasia (2.19; 4.6; Hb 10.26-31), o assassinato (v. 15; 2.11), a impureza ou
imoralidade sexual (Rm 1.21-27; 1 Co 5; Ef 5.5; Ap 21.8), abandonar a própria família (1 Tm 5.8), fazer o próximo pecar (Mt 18.6-10) e a crueldade (Mt 24.48-51). Esses pecados abomináveis evidenciam uma total
rejeição da honra devida a DEUS, e da solicitude amorosa para com o próximo
(cf. 1Jo 2.9,10; 3.6-10; 1 Co 6.9-11; Gl 5.19-21; 1 Ts 4.5; 2 Tm 3.1-5; Hb 3.7-19). Por isso, quem disser: "O ESPÍRITO SANTO
habita em mim, tenho comunhão com JESUS CRISTO e estou salvo por Ele", mas
pratica tais pecados, engana a si mesmo e "é mentiroso, e nele não está a
verdade" (1Jo 2.4; cf. 1Jo 1.6; 3.7,8). (2) O
crente deve ter em mente que todos os pecados, até mesmo os menos graves, podem
levar ao enfraquecimento da vida espiritual, à rejeição da direção do ESPÍRITO SANTO
e, daí, à morte espiritual (Rm 6.15-23; 8.5-13).
3.17 VENDO O SEU IRMÃO
NECESSITADO. O amor se expressa pela ajuda sincera aos necessitados,
compartilhando com eles nossos bens terrestres (cf. Tg 2.14-17). Recusar a doar parte do nosso alimento, das nossas
roupas, ou do nosso dinheiro para ajudar os necessitados, é fechar-lhes o nosso
coração (cf. Dt 15.7-11). Por amor devemos também contribuir com o nosso
dinheiro para ajudar a propagar o evangelho aos que ainda não o ouviram
(4.9,10).
3.22 PORQUE GUARDAMOS
OS SEUS MANDAMENTOS. Por que algumas orações são respondidas, e outras, não
João declara que uma vida de oração está vinculada à nossa dedicação a DEUS.
Obedecer aos mandamentos de DEUS, amá-lo e agradar-lhe (Jo 8.29; 2 Co 5.9; Ef 5.10; Hb 13.21) são condições indispensáveis para recebermos aquilo
que pedimos em oração (ver Sl 50.14,15; Pv 15.29; Is 59.1,2; Mt 6.15; Mc 11.25; Tg 5.16).
4.1 PROVAI... OS
ESPÍRITOS. O motivo para provar todo espírito (i.e., pessoa impelida ou
inspirada por algum espírito), é que "muitos falsos profetas" se
abrigarão na igreja. Isso acontecerá, principalmente, pelo aumento da
tolerância da igreja quanto a doutrinas antibíblicas, perto do fim dos tempos
(ver Mt 24.11; 1 Tm 4.1; 2 Tm 4.3,4; 2 Pe 2.1,2). O cristão deve testar todos que, sendo cristãos
professos, são mestres, escritores, pregadores e profetas, e mesmo todo
indivíduo que afirma que sua obra ou mensagem provém do ESPÍRITO SANTO. O
crente nunca deve crer que certo ministério ou experiência espiritual é de DEUS,
somente porque alguém afirma isto. Além disso, nenhum ensinamento, nem
doutrina, devem ser aceitos como verdadeiros somente por causa de sucesso,
milagres, ou unção aparente da pessoa (Mt 7.22; 1 Co 14.29; 2 Ts 2.8-10; 2 Jo 7; Ap 13.4; 16.14; 19.20). (1) Qualquer ensino deve ser testado, comparando-o
com a revelação da verdade de DEUS, nas Escrituras (ver Gl 1.9). (2) É o
conteúdo do ensino que precisa ser testado. O ensino tem o mesmo tipo de
conteúdo e sentido do ensino apostólico segundo o NT? Deve ser recusado
qualquer ensino que alguém afirma ter recebido do ESPÍRITO SANTO ou de anjo,
mas que não pode ser confirmado pela sã exegese bíblica. (3) A vida do mestre
deve ser averiguada quanto ao seu relacionamento com o mundo ímpio, e quanto ao
senhorio de CRISTO na vida da pessoa (vv. 2,6; Rm 10.9)
4.2 JESUS CRISTO VEIO
EM CARNE. O liberalismo teológico e as seitas religiosas revelam sua identidade
com a "Anticristo" (v. 3) ao negarem a total deidade de JESUS CRISTO
(ver Jo 1.1), seu nascimento virginal (ver Mt 1.23), ou sua morte redentora e sua ressurreição em prol
da nossa salvação (2.2; 4.9,10). Todo desvio da revelação bíblica a respeito de
CRISTO abre a porta para os espíritos demoníacos do engano (v. 1), pois repudia
a autoridade e a total fidedignidade da Palavra de DEUS (ver 2 Pe 1.3)
4.4 MAIOR É O QUE ESTÁ
EM VÓS. As Escrituras destacam o fato de o ESPÍRITO SANTO habitar no crente (1 Co 6.19). É por meio do ESPÍRITO SANTO que podemos vencer o
mal que há no mundo, inclusive o pecado, Satanás, provações, tentações,
tristezas, perseguições e falsos ensinos, e podemos então vitoriosamente
cumprir a vontade de DEUS para a nossa vida.
4.7 AMEMO-NOS UNS AOS
OUTROS. Embora o amor seja um aspecto do fruto do ESPÍRITO (Gl 5.22,23) e uma evidência do novo nascimento (1Jo 2.29; 3.9,10; 5.1), é também
algo que temos a responsabilidade de desenvolver. Por essa razão, João nos
exorta a amar uns aos outros, a termos solicitude por eles e procurar o
bem-estar deles. João não está falando apenas em sentimento de boa-vontade, mas
em disposição decisiva e prática, de ajudar as pessoas nas suas necessidades
(3.16-18; cf. Lc 6.31). João nos admoesta a demonstrar amor, por três
razões: (1) O amor é a própria natureza de DEUS (vv. 7-9), e Ele o demonstrou
ao dar seu próprio Filho por nós (vv. 9,10). Compartilhamos da sua natureza
porque nascemos dEle (v. 7). (2) Porque DEUS nos amou, nós, que temos
experimentado o seu amor, perdão e ajuda, temos a obrigação de ajudar o
próximo, mesmo com grande custo pessoal. (3) Se amamos uns aos outros, DEUS
continua a habitar em nós, e o seu amor é em nós aperfeiçoado (v. 12).
4.17 NO DIA DO JUÍZO
TENHAMOS CONFIANÇA. O crente que permanece em CRISTO, que tem comunhão com o
Pai (1.3), que se esforça para guardar os seus mandamentos (2.3), que se separa
do mundo (1Jo 2.15-17), que permanece na verdade (1Jo 2.24) e que ama o próximo (vv. 7,12), pode então ter
confiança de que não será condenado no dia do juízo (v. 18). Certamente
trata-se aqui do juízo da igreja, no tribunal de CRISTO.
5.1 CRÊ... AMA. A fé
genuína manifesta-se através da gratidão e amor ao Pai e a JESUS CRISTO o seu
Filho. Fé e amor são inseparáveis, porque quando nascemos de DEUS, o ESPÍRITO SANTO
derrama o amor de DEUS em nosso coração (Rm 5.5).
5.2 NISTO CONHECEMOS.
O amor ao próximo será amor cristão verdadeiro, somente se for acompanhado do
amor a DEUS e obediência aos seus mandamentos (cf. 1Jo 2.3; 3.23; Jo 15.10; ver Mt 22.37; Jo 14.21).
5.4 VENCE O MUNDO... A
NOSSA FÉ. A fé que vence o mundo é uma fé que vê as realidades eternas, que
experimenta o poder de DEUS e que ama a CRISTO de tal maneira que os prazeres
pecaminosos, os valores seculares, o proceder ímpio e o materialismo egoísta,
não somente perdem sua atração para nós, como também temos por eles
repugnância, aversão e antipatia (ver Ap 2.7).
5.6 POR ÁGUA E SANGUE.
Esta expressão deve aludir ao batismo de JESUS, no início do seu ministério e à
sua morte na cruz. Talvez João escreveu assim porque alguns estavam ensinando
que o CRISTO divino não experimentou a morte; ele então afirma que JESUS CRISTO
morreu como o DEUS-Homem e, portanto, está plenamente capacitado para fazer
expiação pelos nossos pecados. O ESPÍRITO também testifica dessa verdade (vv.
7,8).
5.12 QUEM TEM O FILHO
TEM A VIDA. Todos os povos devem ouvir o evangelho, porque a vida eterna está
no Filho de DEUS e não se pode recebê-la, nem tê-la de nenhuma outra forma. Ele
é o único "caminho... e a vida" (Jo 14.6). A vida eterna é a vida de CRISTO em nós. Nós a
possuímos quando mantemos vital comunhão com Ele pela fé (Jo 15.4; ver 17.3; Cl 3.4).
5.13 PARA QUE SAIBAIS
QUE TENDES A VIDA ETERNA. João declara que seu propósito ao escrever esta
epístola é prover ao povo de DEUS o ensino bíblico sobre a certeza da salvação.
5.14 PEDIRMOS...
SEGUNDO A SUA VONTADE. Nas nossas orações, devemos submeter-nos a DEUS e orar
para que sua vontade seja feita em nossa vida (Jo 14.13). Em muitos casos, conhecemos a vontade de DEUS pelo
que está revelado nas Escrituras. Noutras ocasiões, ela fica clara somente à
medida que a buscamos sinceramente. Uma vez conhecida a vontade de DEUS a
respeito de um determinado assunto, podemos orar com confiança e fé. Quando
fazemos assim, sabemos que Ele nos ouve e que seus propósitos para nós serão
cumpridos (ver 3.22).
5.16 ORARÁ, E DEUS
DARÁ A VIDA. João refere-se a um tipo de oração dentro da vontade de DEUS, em
que temos certeza de que Ele a atenderá (cf. vv. 14,15), e.g., a oração pelos
crentes espiritualmente fracos, que necessitam das orações do povo de DEUS para
ministrar-lhes a vida e a graça. As instruções sobre esse tipo de oração são as
seguintes: (1) Essa pessoa carente de oração precisa ser um "irmão",
ou seja, um crente que não quis pecar deliberadamente, e cujo pecado não foi
rebelião deliberada contra a vontade de DEUS. Assim sendo, ele não cometeu
pecado para morte espiritual (cf. Rm 8.13). Ainda tem vida espiritual, mas está
espiritualmente fraco; está arrependido e deseja libertar-se de tudo quanto
desagrada a DEUS, mas precisa de ajuda, para vencer o poder de Satanás e do
pecado. (2) Para pessoas assim, a igreja precisa orar, para que DEUS lhes dê
"vida". Aqui, "vida" significa uma restauração do vigor
espiritual e renovação da graça de DEUS, as quais estão sendo prejudicadas pelo pecado (cf. Rm 8.6; 2 Co 3.6; 1 Pe 3.7). DEUS promete que atenderá essa oração. (3) Para
quem antes foi crente e agora cometeu pecado "para a morte", a igreja
não pode orar com a certeza de que DEUS dará mais graça e vida a essa pessoa.
Esse tipo de pecado envolve a transgressão deliberada, proveniente da
desobediência contínua à vontade de DEUS. Tais pessoas estão mortas
espiritualmente, e somente poderão receber vida, caso se arrependam do pecado e
se voltem para DEUS (ver Rm 8.13). Devemos orar para que DEUS dirija as
circunstâncias da sua vida, de modo que tenham uma oportunidade propícia de
aceitar de novo a salvação de DEUS em CRISTO
5.17 HÁ PECADO QUE NÃO
É PARA MORTE. João aqui faz distinção entre dois tipos de pecado: (1) Pecados
menos graves, que ocorrem inconscientemente, ou sem a pessoa querer, e que não
levam imediatamente à morte espiritual; e (2) pecados terríveis, evidenciando
rebelião deliberada contra DEUS e sua Palavra, resultante da morte espiritual,
ou conducente a ela, e à separação da vida de DEUS (ver 3.15; Nm 15.31; Rm 8.13; Gl 5.4).
5.19 TODO O MUNDO ESTÁ
NO MALIGNO. Nunca compreenderemos adequadamente o NT a não ser que reconheçamos
o fato subjacente nele de que Satanás é o deus deste mundo. Ele é o maligno, e
o seu poder controla o presente século mau (cf. Lc 13.16; 2 Co 4.4; Gl 1.4; Ef 6.12; Hb 2.14; ver Mt 4.10). (1) As Escrituras não ensinam que DEUS hoje
controla diretamente este mundo ímpio, cheio de gente pecaminosa, de maldade,
de crueldade, de injustiça, de impiedade, etc. DEUS não deseja, nem causa, de
nenhuma maneira, todo o sofrimento que há no mundo; nem tudo quanto aqui ocorre
procede da sua perfeita vontade (ver Mt 23.37; Lc 13.34; 19.41-44). A Bíblia indica que atualmente o mundo não está
sob o domínio de DEUS, mas em rebelião contra seu governo e sob o domínio de
Satanás. Por causa dessa condição, CRISTO veio a morrer (Jo 3.16) e reconciliar o mundo com DEUS (2 Co 5.18,19). Nunca devemos afirmar que "DEUS está no
controle de tudo", a fim de nos esquivar-nos da responsabilidade de lutar
seriamente contra o pecado, a iniquidade ou a mornidão espiritual. (2) Há, no entanto, um
sentido em que DEUS está no controle do mundo ímpio. DEUS é soberano e,
portanto, todas as coisas acontecem de acordo com sua vontade permissiva e
controle ou, às vezes, através da sua ação direta, de conformidade com o seu
propósito e sabedoria. Mesmo assim, na presente era da história, DEUS tem
limitado seu supremo poder e domínio sobre o mundo. Esta autolimitação é apenas
temporária, porque no tempo determinado pela sua sabedoria, Ele destruirá toda
a iniquidade e o
próprio Satanás (Ap 19,20). Somente então é que "Os reinos do mundo
vieram a ser de nosso Senhor e do seu CRISTO, e ele reinará para todo o
sempre" (Ap 11.15)
UMA EXPOSIÇÃO COM OBSERVAÇÕES PRÁTICAS
Embora longa tradição da igreja atribua esta epístola
ao apóstolo João, ainda assim podemos observar algumas outras evidências que
irão confirmar (ou, em alguns casos, até mesmo exceder) a exatidão dessa
tradição. Parece que o autor fazia parte do colégio apostólico pela confiança
sensível e palpável que tinha acerca da verdade da pessoa do Mediador em sua
natureza humana: “...o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado,
e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (v. 1). Ele cita a evidência que o
Senhor deu a Tomé de sua ressurreição, ao convidá-lo para tocar as marcas dos
pregos e da lança, que foi registrada por João. E ele deve ter sido um dos
discípulos presentes quando o Senhor veio no mesmo dia em que ressuscitou dos
mortos e mostrou a eles suas mãos e seu lado (Jo 20.20). Mas, para que
estejamos seguros em relação à identidade desse apóstolo, raramente existe uma
crítica ou um especialista competente de estilo de argumento e espírito, que
não vá concordar que esta epístola foi escrita pelo mesmo apóstolo que escreveu
o Evangelho de João. Os dois livros harmonizam maravilhosamente em relação aos
títulos e características do Redentor: a Palavra, a Vida, a Luz; o nome pelo
qual se chama é a Palavra de DEUS. Compare 1Jo 1.1 ; 5.7 com João 1.1 e Apocalipse 12.13. Eles
harmonizam na aprovação do amor de DEUS a nós (1Jo 3.1 ; 4.9; Jo 3.16) e quanto à nossa
regeneração ou ser nascido de DEUS (1Jo 3.9; 4.7; e v. 1; Jo 3.5,6). Por último (para não
acrescentar mais exemplos, que podem ser facilmente percebidos ao comparar esta
epístola com aquele evangelho), eles harmonizam na alusão ou uso da passagem no
evangelho que relata (de maneira única) a saída de água e sangue do lado do
Redentor: “Este é aquele que veio por água e sangue” (1Jo 5.6). Dessa forma, a
epístola parece brotar claramente da mesma pena do autor do quarto evangelho.
Não conheço nenhum texto ou história intrínseca de qualquer um dos Evangelhos
que ofereça tanta segurança em relação ao seu autor do que o que é atribuído a
João. Ali (a saber, 1Jo 21.24) o historiador sacro identifica-se da seguinte
maneira: “Este é o discípulo que testifica dessas coisas e as escreveu; e
sabemos que o seu testemunho é verdadeiro”. Então, quem é esse discípulo, senão
aquele acerca de quem Pedro perguntou: “Senhor, e deste que será?” E a respeito
de quem o Senhor respondeu: “Se eu quero que ele fique até que eu venha, que te
importa a ti?” (v. 22). E quem (v. 20) é descrito por essas três
características: 1. Que ele é o “...discípulo a quem JESUS amava”, o amigo
especial de JESUS. 2. Que ele “...se recostara também sobre o seu peito”. 3.
Quem ele disse: “Senhor, quem é que te há de trair?”. Tão certo, então, de que
esse discípulo de fato era João, a igreja também pode estar certa de que aquele
evangelho e esta epístola vieram do amado apóstolo João.
Essa epístola é classificada como geral, na condição
de não estar endereçada a qualquer igreja em particular. Ela é, como uma
carta-circular (ou ofício de visitação), enviada às diversas igrejas (segundo
alguns, da Pártia), a fim de fortalecê-las em sua lealdade ao Senhor JESUS CRISTO
e às doutrinas sagradas relativas à sua pessoa e ofício, contra sedutores e
enganadores; e fomentá-las a conservar essa doutrina por amor a DEUS e aos
homens e, especialmente, por amor uns aos outros, que vem de DEUS, unidos pela
mesma cabeça e caminhando em direção à mesma vida eterna.
Evidência em relação à pessoa e excelência de CRISTO
(vv. 1,2). O conhecimento disso nos permite a comunhão com DEUS e com CRISTO
(v. 3), e nos dá alegria (v. 4). Uma descrição de DEUS (v. 5). Como devemos
andar (v. 6). O benefício desse andar (v. 7). O caminho do perdão (v. 9). O mal
em negar o nosso pecado (vv. 8-10).
O Testemunho Apostólico
O autor da epístola omite seu nome e título (como
também ocorre com o autor de Hebreus), ou por humildade ou desejando que o
leitor fosse influenciado antes pela luz e peso das coisas escritas do que pelo
autor que as recomendou. Assim ele começa:
I
Com um relato
ou natureza da pessoa do Mediador. Ele é o grande tema do evangelho, o
fundamento e objeto de nossa fé e esperança, o elo e argamassa que nos une a DEUS.
Ele deveria ser bem conhecido. Ele é representado aqui: 1. Como a Palavra da
vida (v. 1). No Evangelho esses dois elementos estão separados, e Ele é chamado
primeiro de o Verbo (a Palavra, versão inglesa KJV; Jo 1.1) e, posteriormente, de Vida,
anunciando, além de tudo, que ele é vida intelectual. “Nele, estava a vida e a
vida era (eficiente e objetivamente) a luz dos homens” (Jo 1.4). Aqui os dois aspectos
estão associados: A Palavra da vida, a palavra vital. Quando é chamado de a
Palavra, entende-se que Ele é a Palavra de uma pessoa ou outra; e Ele é DEUS,
mesmo o Pai. Ele é a Palavra de DEUS e, assim, fica claro que Ele provém do
Pai, tão verdadeiramente (embora não da mesma maneira) como uma palavra (ou
discurso, que é um conjunto de palavras) de um locutor. Mas Ele não é meramente
uma palavra vocal, um simples logos prophorikos, mas uma palavra vital: a Palavra
da vida, a palavra vivente; e, assim: 2. Como vida eterna. Sua duração mostra
sua excelência. Ele era desde a eternidade; e assim é, de acordo com o relato
das Escrituras, a vida não-criada, necessária e essencial. Parece evidente que
o apóstolo fala da eternidade dele, como desde o princípio, pelo fato de ele
falar do CRISTO como era no princípio e desde o princípio; quando estava com o
Pai, antes da sua manifestação a nós, antes da criação de todas as coisas (como
em Jo 1.2,3). Assim, Ele é a Palavra
eterna, vital e intelectual do Pai vivo e eterno. 3. Como vida... manifestada
(v. 2), manifestada na carne, manifestada a nós. A vida eterna assumiria a
mortalidade, assumiria carne e sangue (em toda a natureza humana) e assim
habitou entre nós e conviveu conosco (Jo 1.4). Reconhecemos
condescendência e bondade, quando a vida eterna (uma pessoa de vida essencial e
eterna) veio visitar os mortais e alcançar vida eterna para eles e, então,
conferi-la a eles!
II
Com as
evidências e certezas convincentes que os apóstolos e seus irmãos tinham da
presença e da convivência do Mediador neste mundo. Havia demonstrações
suficientes da realidade de sua permanência aqui e da excelência e dignidade de
sua pessoa por meio de sua manifestação. A vida, a Palavra da vida, a vida
eterna, como tal, não podiam ser vistas e sentidas; mas a vida manifestada
poderia sim, e assim foi. A vida foi revestida de carne, colocada no estado e
forma da natureza humana degradante e, como tal, forneceu prova sensível de sua
existência e operações aqui. A vida divina, ou Palavra encarnada, se apresentou
e se evidenciou aos sentidos dos apóstolos: 1. Aos seus ouvidos: “O que temos
ouvido” (vv. 1,3, versão RA). A vida assumiu uma boca e uma língua, para que
pudesse proferir palavras de vida. Os apóstolos não apenas ouviram a respeito
dele, mas o ouviram pessoalmente. Por mais de três anos eles puderam presenciar
seu ministério, ser ouvintes de seus sermões públicos e exposições privadas
(pois Ele as expunha em casa) e ficar encantados com as palavras daquele que
falou como nenhum outro homem falou antes ou desde então. A palavra divina
empregaria o ouvido, e o ouvido deveria ser devotado à palavra da vida. E era
sabido que aqueles que seriam ser seus representantes e imitadores no mundo
deveriam ser pessoalmente familiarizados com suas ministrações. 2. Aos seus
olhos: “...o que vimos com os nossos olhos” (vv. 1-3). A Palavra se tornaria
visível, não seria apenas ouvida, mas vista, vista publicamente,
privativamente, à distância e na proximidade, o que pode ser sugerido pela
expressão: com os nossos olhos – com todo o uso e exercício que pudéssemos
fazer dos nossos olhos. Nós o vimos em sua vida e ministério, o vimos na sua
transfiguração no monte, pendurado, sangrando, morrendo e morto, na cruz, e o
vimos depois de seu retorno da sepultura, na sua ressurreição dentre os mortos.
Seus apóstolos precisavam ser tanto testemunhas visuais quanto testemunhas
auriculares. “É necessário, pois, que, dos varões que conviveram conosco todo o
tempo em que o Senhor JESUS entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo
de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça
conosco testemunha da sua ressurreição” (At 1.21,22). “...nós mesmos vimos a
sua majestade” (2 Pe 1.16).
3. Aos seus sentidos internos, aos olhos de sua mente; pois é assim que a frase
seguinte (possivelmente) pode ser interpretada: “...o que temos contemplado”.
Isso pode ser distinguido da percepção anterior: vendo com os nossos olhos; e
pode ser o mesmo com o que o apóstolo diz no seu Evangelho (1Jo 1.14): “E vimos
– etheasametha, a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai”. A palavra não
é aplicada ao objeto imediato do olho, mas àquilo que foi racionalmente
concluído do que viram. “O que discernimos, contemplamos e vimos bem, o que
conhecemos bem dessa Palavra da vida, isso relatamos a vocês”. Os sentidos
devem ser os informantes da mente. 4. Às mãos ou tato: “...e as nossas mãos
tocaram da Palavra da vida”. Isso certamente se refere à plena convicção que o
Senhor propiciou aos seus apóstolos acerca da verdade, realidade, solidez e
organização de seu corpo, depois de sua ressurreição dentre os mortos. Quando
Ele mostrou as mãos e seu lado, é provável que tenha dado a eles a permissão
para tocá-lo; pelo menos, Ele sabia da incredulidade de Tomé e sua firmeza
declarada em não acreditar até que tivesse visto e sentido as marcas dos
ferimentos que causaram a sua morte. Portanto, na reunião seguinte, Ele chamou
Tomé, na presença de todos, para satisfazer a sua curiosidade e descrença. E
provavelmente outros apóstolos também fizeram o mesmo. As “...nossas mãos
tocaram da Palavra da vida”. A Palavra e a vida invisível não desprezavam o
testemunho dos sentidos. Os sentidos, em seu lugar e esfera, são um meio que DEUS
designou, e o Senhor JESUS CRISTO empregou, para nossa informação. Nosso Senhor
procurou satisfazer (tanto quanto possível) todos os sentidos dos apóstolos,
para que pudessem ser as mais autênticas testemunhas dele no mundo. Esses que
aplicam tudo isso apenas ao ouvir do evangelho perdem a variedade dos sentidos
aqui mencionada e o caráter das expressões, bem como a razão de inculcá-los e
repeti-los aqui: “...o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos” (v. 3). Os
apóstolos não podiam ser iludidos por um exercício tão longo e variado de seus
sentidos. Os sentidos devem ajudar a razão e o julgamento; e o julgamento e a
razão devem servir para a recepção do Senhor JESUS CRISTO e seu evangelho. E a
rejeição da revelação cristã é finalmente reduzida à própria rejeição dos
sentidos. “Finalmente apareceu aos onze, estando eles assentados juntamente, e
lançou-lhes em rosto a sua incredulidade e dureza de coração, por não haverem
crido nos que o tinham visto já ressuscitado” (Mc 16.14).
III
Com uma
declaração e testemunho solenes dessas bases e evidências da verdade e doutrina
cristã. Os apóstolos publicam essas garantias para nossa satisfação: “...e
testificamos dela, e vos anunciamos” (v. 2). “...o que vimos e ouvimos, isso
vos anunciamos” (v. 3). Cabia aos apóstolos expor aos discípulos as evidências
pelas quais eram guiados, as razões pelas quais eram constrangidos a propagar a
doutrina cristã no mundo. A sabedoria e integridade os obrigaram a demonstrar
que não era uma fantasia particular ou uma fábula astuciosamente inventada que
eles apresentavam ao mundo. A verdade evidente abriria suas bocas e forçaria
uma confissão pública. “...não podemos deixar de falar o que temos visto e
ouvido” (At 4.20). Era do
interesse dos discípulos estarem bem informados a respeito da verdade da
instituição que eles haviam adotado. Eles deveriam ver as evidências de sua
sagrada fé. Ela não teme nem a luz nem o exame mais criterioso. Ela é capaz de
propiciar convicção racional e persuasão sólida na mente e na consciência. “Porque
quero que saibais quão grande combate (ou preocupação mental) tenho por vós, e
pelos que estão em Laodicéia, e por quantos não viram o meu rosto em carne;
para que os seus corações sejam consolados, e estejam unidos em caridade e
enriquecidos da plenitude da inteligência, para conhecimento do mistério de DEUS
– CRISTO” (Cl 2.1,2).
IV
Com a razão de
o apóstolo expor e declarar esse resumo da fé sagrada e essa sinopse de
evidência. A razão é dupla:
1. Que os crentes possam alcançar a mesma felicidade
deles (junto com os próprios apóstolos): “...o que vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco” (v. 3). O apóstolo não
quer dizer comunhão pessoal nem associação nas mesmas administrações
eclesiásticas, mas de tal forma que seja coerente com a distância pessoal um do
outro. É comunhão com o céu e bênçãos que vêm de lá e vão para lá. “Essas
coisas declaramos e afirmamos, para que vocês possam compartilhar conosco em
nossos privilégios e alegria”. Espíritos transformados pelo evangelho (ou
aqueles que são alegrados pela graça do evangelho) se contentariam em ver
outros alegres também. Também vemos que existe uma comunhão que perpassa toda a
igreja de DEUS. Podem existir algumas distinções e particularidades pessoais,
mas existe uma comunhão (ou participação comum de privilégios e dignidade)
pertencente a todos os santos, do apóstolo mais importante ao crente mais
humilde. Assim como existe uma mesma fé preciosa, existem as mesmas promessas
preciosas enriquecendo e coroando essa fé e as mesmas bênçãos e glórias
preciosas enriquecendo e preenchendo essas bênçãos. Então, para que os crentes
estejam desejosos dessa comunhão, para que possam ser instigados a reter e
segurar firmemente a fé, que é o meio desse tipo de comunhão, a fim de que os
apóstolos também possam manifestar seu amor aos discípulos ao auxiliá-los para
que cheguem à mesma comunhão com eles, eles indicam o que ela é e onde está: “...e
a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho JESUS CRISTO”. Temos comunhão com
o Pai e com o Filho do Pai (com em 2 Jo 3, em que Ele é
intitulado de forma mais enfática), em nosso relacionamento alegre com eles, no
nosso recebimento de bênçãos celestiais da parte deles e em nosso
relacionamento espiritual com eles. Temos agora um relacionamento tão
sobrenatural com DEUS e com o Senhor JESUS CRISTO, que serve como um penhor e
antegozo de nossa permanência eterna com Eles e do nosso prazer neles, na
glória celestial. Veja a tendência da revelação do evangelho: para nos levar
muito acima do pecado e da terra e nos conduzir à abençoada comunhão com o Pai
e o Filho. Veja para que fim a vida eterna se tornou carne: para que Ele
pudesse nos levar à vida eterna em comunhão com o Pai e com Ele mesmo. Veja
quão abaixo da dignidade, finalidade e resultado da fé e da instituição cristã
estão aqueles que não têm uma comunhão abençoada com o Pai e seu Filho JESUS CRISTO.
2. Esses crentes podem progredir no gozo santo: “Estas
coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (v. 4). A dispensação
do evangelho não é propriamente uma dispensação de medo, tristeza e pavor, mas
de paz e gozo. Terror e assombro podem muito bem fazer parte do monte Sinai,
mas exultação e alegria pertencem ao monte Sião, onde aparece a Palavra eterna,
a vida eterna, manifestada em carne. O mistério da fé cristã foi planejado
diretamente para a alegria dos mortais. Deveria produzir alegria em nós o fato
de o Filho eterno ter vindo para nos buscar e salvar, ter realizado uma
expiação completa pelos nossos pecados, vencido o pecado, a morte e o inferno,
e estar vivo como nosso Intercessor e Advogado diante do Pai e que virá
novamente para aperfeiçoar e glorificar seus servos perseverantes. E, portanto,
esses que não estão cheios de alegria espiritual vivem abaixo do uso e da
finalidade da revelação cristã. Crentes deveriam se regozijar em seu alegre
relacionamento com DEUS, como seus filhos e herdeiros, seus amados e adotados;
em seu alegre relacionamento com o Filho do Pai, sendo membros de seu amado
corpo e co-herdeiros com Ele; no perdão dos seus pecados, na santificação de
suas naturezas, na adoção de suas pessoas e na expectativa da graça e glória
que serão reveladas no retorno do céu do seu Senhor e cabeça. Se estivessem
aprovados na fé, certamente se alegrariam muito! “E os discípulos estavam
cheios de alegria e do ESPÍRITO SANTO” (At 13.52).
O Testemunho Apostólico
O apóstolo João, depois de anunciar a verdade e a
dignidade do autor do evangelho, traz uma mensagem ou descrição dele, da qual
se pode tirar uma conclusão justa para a consideração e convicção dos adeptos
da fé cristã ou destinatários professos desse evangelho glorioso.
I
A mensagem ou
descrição que o apóstolo afirma vir do Senhor JESUS: “E esta é a mensagem que
dele ouvimos...” (v. 5), de seu Filho JESUS CRISTO. Como Ele era o emissor
imediato dos apóstolos, da mesma forma Ele é a pessoa principal da qual se fala
no contexto precedente, e também o antecedente a quem o pronome dele pode estar
se referindo. Os apóstolos e ministros apostólicos são os mensageiros do Senhor
JESUS. A sua honra e aspiração principal é levar seu propósito e mensagem ao
mundo e às igrejas. A sabedoria e a presente dispensação do Senhor JESUS são
enviar-nos suas mensagens através de pessoas como nós. Ele que assumiu a
natureza humana honrará seus vasos feitos de barro. A aspiração de cada
apóstolo era ser encontrado fiel e cumprir fielmente sua missão, e entregar as
mensagens que haviam recebido. Eles tinham um imenso desejo de transmitir o que
tinha sido transmitido a eles: “...esta é a mensagem que dele ouvimos e vos
anunciamos”. Deveríamos receber com alegria uma mensagem da Palavra da vida, da
Palavra eterna: e a mensagem atual é essa (relativa à natureza de DEUS, a quem
devemos servir e com quem deveríamos ansiar toda comunhão concedida) – “...que DEUS
é luz, e não há nele treva nenhuma” (v. 5). Esta descrição declara a excelência
da natureza divina. Ele é toda a beleza e perfeição que podem ser representadas
a nós pela luz. Ele é a espiritualidade, pureza, sabedoria, santidade e glória auto
ativas e não compostas. E, por conseguinte, a inteireza e plenitude dessa
excelência e perfeição. Não há defeito ou imperfeição, nenhuma mistura de nada
oposto ou contrário à absoluta excelência, nenhuma mutabilidade nem capacidade
de qualquer deterioração nele: “...e não há nele treva nenhuma” (v. 5). Ou,
então, essa descrição pode estar relacionada mais imediatamente ao que é
comumente chamado de a perfeição moral da natureza divina, que devemos imitar
ou que deve nos influenciar mais diretamente no nosso trabalho no evangelho. E,
assim, ela irá compreender a santidade de DEUS, a absoluta pureza de sua
natureza e vontade, seu conhecimento penetrante (particularmente dos corações),
seu zelo e justiça, que queimam como uma chama extremamente brilhante e
impetuosa. É apropriado que o grande DEUS seja representado por uma luz pura e
perfeita neste mundo em trevas. É o Senhor JESUS que melhor abre as nossas
mentes para o nome e natureza do DEUS insondável. “O Filho unigênito, que está
no seio do Pai, este o fez conhecer” (veja Jo 1.18). É a prerrogativa da
revelação cristã trazer-nos o mais nobre, o mais respeitável e apropriado
relato do DEUS santo, da forma mais adequada à luz da razão e o que é
demonstrável por meio disso, mais adequada à grandeza das suas obras em nós e à
natureza e missão daquele que é o administrador, governador e juiz supremo do
mundo. O que mais (relativo a toda essa perfeição) poderia ser incluído em uma
breve frase como essa: “...DEUS é luz, e não há nele treva nenhuma”?
II
Há uma
conclusão correta que deve ser deduzida dessa mensagem e descrição, para a
consideração e convicção dos adeptos da fé cristã ou destinatários professos
desse evangelho. Essa conclusão vem em duas partes: 1. Para a condenação dos
adeptos que não têm uma comunhão verdadeira com DEUS: “Se dissermos que temos
comunhão com ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade” (v.
6). Sabe-se que andar de acordo com o relato das Escrituras significa ordenar e
modelar o rumo e ações da vida moral, isto é, da vida até o ponto em que ela
possa ser submetida à lei divina. Andar nas trevas é viver e agir na
ignorância, no erro e na prática errônea, contrários aos preceitos de nossa
sagrada fé. Existem pessoas que aspiram a grandes realizações e alegrias na
religião; elas podem professar ter comunhão com DEUS, e ainda assim apresentar
uma vida irreligiosa, imoral e impura. A esses o apóstolo não recearia em
mostrar a mentira: Eles mentem e não praticam a verdade. Eles desvirtuam DEUS,
porque Ele não mantém comunhão celestial com almas profanas. Que comunhão tem a
luz com as trevas? Eles desvirtuam a si mesmos, ou mentem a respeito de si
mesmos; pois não têm comunhão nem acesso a Ele. Não há verdade em sua profissão
nem em sua prática, ou sua prática mostra que a sua profissão e aspirações são
mentira, demonstrando a falsidade delas. 2. Para a convicção e conseqüente
satisfação daqueles que estão perto de DEUS: “Mas, se andarmos na luz, como ele
na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de JESUS CRISTO, seu
Filho, nos purifica de todo pecado” (v. 7). Assim como o santo DEUS é a luz
eterna e ilimitada, e o Mediador é, a partir dele, a luz do mundo, assim a
instituição cristã é o grande luminar que aparece em nosso planeta e brilha
aqui na terra. A conformidade a isso em espírito e prática demonstra comunhão
com DEUS. Aqueles que andam assim mostram que conhecem a DEUS, que receberam o ESPÍRITO
de DEUS e que a marca ou a imagem divina está selada em sua alma. Então temos
comunhão uns com os outros, eles conosco e nós com eles e ambos com DEUS, em
suas relações santas e bem-aventuradas para conosco. Uma de suas relações
bem-aventuradas para conosco é a seguinte: que o sangue e a morte de seu Filho
é aplicado ou imputado a nós: “...o sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos
purifica de todo pecado”. A vida eterna, o Filho eterno, revestiu-se de carne e
sangue e, assim, se tornou JESUS CRISTO. Ele derramou o seu sangue por nós ou
morreu para nos lavar dos nossos pecados em seu próprio sangue. Seu sangue
atribuído a nós nos liberta da culpa de todo nosso pecado, tanto original como
presente, inerente e cometido: e até esse ponto somos justos na visão de DEUS;
e não somente isso, mas o seu sangue produz influências santificadoras pelas
quais o pecado deve ser subjugado cada vez mais em nós, até que seja
completamente abolido (Gl 3.13,14).
Confissão e Perdão
Aqui:
I
O apóstolo,
após considerar que mesmo aqueles que desfrutam dessa comunhão celestial ainda
têm o seu pecado, busca então justificar essa hipótese, mostrando as consequências
temíveis ao negar isso por meio de dois aspectos específicos: 1. “Se dissermos
que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós” (v.
8). Precisamos tomar cuidado para não nos iludir ao negar ou desculpar nossos
pecados. Quanto mais os vemos, mais devemos estimar e valorizar o corretivo. Se
nós os negarmos, não há verdade em nós; ou a verdade que é contrária a uma
negação como essa (mentimos ao negar nosso pecado), ou a verdade da fé cristã
não está em nós. A religião cristã é a religião dos pecadores, daqueles que
pecaram e em quem o pecado ainda habita, em certa medida. A vida cristã é uma
vida de arrependimento constante, de humilhação e mortificação do pecado, de
uma fé contínua no Redentor, e uma gratidão e amor a Ele e uma expectativa
esperançosa e alegre em relação ao dia da gloriosa redenção, quando os crentes
serão plena e finalmente absolvidos, e o pecado, abolido para sempre. 2. “Se
dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós”
(v. 10). A negação de nosso pecado não apenas ilude a nós mesmos, mas desonra a
DEUS. Isto se opõe à sua veracidade. Ele testificou claramente a respeito do
pecado do mundo, e o condenou. “...e disse o Senhor em seu coração (resolveu
consigo mesmo): Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem,
porque (ou, de acordo com o instruído bispo Patrick, embora) a imaginação do
coração do homem é má desde a sua meninice” (Gn 8.21). Mas DEUS deu seu
testemunho em relação ao pecado e pecaminosidade contínuos do mundo ao prover
um sacrifício efetivo suficiente para o pecado, que será necessário em todas as
eras, e em relação ao contínuo pecar dos próprios crentes ao se exigir
continuamente que confessem seus pecados e recorram pela fé ao sangue daquele
sacrifício. E, portanto, se dissermos que não pecamos ou que ainda não pecamos,
a palavra de DEUS não está em nós, nem em nossa mente, em relação ao
conhecimento que deveríamos ter dela, nem em nosso coração, em relação à
influência prática que deveria exercer sobre nós.
II
O apóstolo
então instrui o crente no caminho do perdão contínuo do seu pecado: 1. Sua
obrigação: “Se confessarmos os nossos pecados...” (v. 9). Confissão penitente e
reconhecimento do pecado constituem tarefa do cristão e o meio de libertação da
culpa. 2. Seu encorajamento nesse sentido e sua garantia de um resultado feliz.
A veracidade, justiça e clemência de DEUS, a quem Ele faz esse tipo de
confissão: “...ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar
de toda injustiça” (v. 9). DEUS é fiel à sua aliança e palavra, em que prometeu
perdão a confessores crentes e penitentes. Ele é justo consigo mesmo e à sua
glória ao prover esse tipo de sacrifício, por meio do qual a sua justiça é
declarada na justificação dos pecadores. Ele é justo com seu Filho, pois não
apenas o enviou para essa obra, mas lhe prometeu que aqueles que viessem por
meio dele seriam perdoados por causa dele. “...com o seu conhecimento (pela
compreensão dele) o meu servo, o justo, justificará a muitos” (Is 53.11). Ele também é
clemente e gracioso e, assim, perdoará todos os pecados do confessor contrito,
purificará da culpa de toda sua injustiça e, no tempo devido, irá libertá-lo do
poder e da prática dele.
Aqui o apóstolo adverte contra os pecados da
instabilidade (vv. 1,2), mostra o verdadeiro conhecimento e amor a DEUS (vv.
3-6), renova o preceito do amor fraternal (vv. 7-11), trata das diferentes
faixas etárias dos cristãos (vv. 12-14), adverte contra o amor mundano (vv.
15-17), contra os sedutores (vv. 18,19), mostra a segurança dos verdadeiros
cristãos (vv. 20-27) e aconselha permanecer em CRISTO (vv. 28,29).
CRISTO, a Propiciação
Esses versículos estão relacionados ao assunto que
concluiu o capítulo anterior, em que o apóstolo continua a analisar a hipótese
dos pecados reais dos cristãos. E aqui ele lhes oferece tanto um argumento
dissuasivo quanto amparo.
I
Dissuasão. Ele
não permitia espaço para o pecado: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo,
para que não pequeis (v. 1). O motivo ou propósito dessa carta, o motivo que
acabei de comentar em relação à comunhão com DEUS e a ruína dela por causa de
um rumo impiedoso, é dissuadir-vos e afastar-vos do pecado”. Observe a
interpelação familiar e carinhosa com que introduz a admoestação: Meus
filhinhos, filhinhos pelo fato de talvez terem sido gerados pelo seu evangelho,
filhinhos pelo fato de terem menor idade e experiência do que ele, meus
filhinhos como sendo preciosos para ele nos laços do evangelho. Certamente o
evangelho prevaleceu mais quando esse amor ministerial esteve presente. Ou
talvez o leitor criterioso encontrará razão para pensar que o significado do
apóstolo nessa dissuasão ou advertência redunda na seguinte interpretação: “...estas
coisas vos escrevo para que não pequeis”. E assim as palavras lembrarão aquilo
que foi dito anteriormente em relação ao perdão garantido do pecado: “DEUS é
fiel e justo para nos perdoar os pecados...” (1Jo 1.9). E, assim, as
palavras são uma prevenção contra todo abuso desse tipo de favor e indulgência.
“Embora os pecados sejam perdoados aos confessores penitentes, isso, no
entanto, escrevo, não para encorajá-los no pecado, mas por outra razão”. É
possível que essa frase tenha em mente o que o apóstolo dirá a respeito do
Advogado dos pecadores. E, dessa forma, isso é uma antecipação, uma prevenção
de erro ou abuso semelhante: “...estas coisas vos escrevo para que não pequeis,
para que possais ver o corretivo para o pecado”. Assim a próxima partícula
(como os estudiosos entendem) pode ser traduzida de maneira adversativa: mas,
se alguém pecar, ele poderá conhecer sua ajuda e cura. Assim vemos:
II
O amparo e
alívio do crente em caso de pecado: “...e (ou mas), se alguém pecar (qualquer
um de nós ou da nossa comunhão supramencionada), temos um Advogado para com o
Pai” (v. 1). Os crentes, ainda os que estão adiantados nas práticas do
evangelho, têm seus pecados. Existe uma grande distinção, portanto, entre os
pecadores que estão no mundo. Existem os cristãos (os que fazem parte dos
privilégios salvíficos do corpo místico ou espiritual de CRISTO) e os
não-cristãos, pecadores convertidos e não convertidos. Existem alguns que,
embora cheguem a pecar, ainda assim, em comparação com outros, são considerados
como aqueles que não cometem pecados (como 1Jo 3.9). Como os cristãos têm
uma expiação aplicada a eles ao entrarem no estado de perdão e justificação,
assim eles também têm um Advogado no céu para sustentar esse estado e obter seu
perdão contínuo. E esse deve ser o sustento, a satisfação e o refúgio dos
crentes (os verdadeiros cristãos) em relação aos seus pecados: “...temos um
Advogado...”. O nome original é, às vezes, dado ao ESPÍRITO SANTO, e traduzido
por Consolador. Ele age dentro de nós. Ele põe argumentos e súplicas em nosso
coração e boca; e assim é nosso advogado, nos ensinando a interceder por nós
mesmos. Mas aqui está um advogado fora de nós, no céu e com o Pai. O trabalho
característico de um advogado é junto ao juiz; diante do juiz ele defende a
causa do cliente. O Juiz diante de quem nosso advogado pleiteia é o Pai, o Pai
dele e nosso. Ele que foi nosso Juiz no tribunal legal (o tribunal da lei
violada) é nosso Pai no tribunal do evangelho, o tribunal do céu e da graça.
Seu trono ou tribunal é seu propiciatório (assento de misericórdia). E aquele
que é o nosso Pai é também o nosso Juiz, o árbitro supremo de nosso estado e
circunstâncias, ou para a vida ou para morte, para o tempo ou a eternidade. “Mas
chegastes... a DEUS, o Juiz de todos” (Hb 12.22,23). Para que os crentes
sejam encorajados a acreditar que sua causa será bem-sucedida, da mesma forma
como seu Juiz lhes é representado no relacionamento de um Pai, assim seu
advogado é recomendado de acordo com essas considerações: 1. Pela sua pessoa e
nomes pessoais. Ele é o Senhor JESUS CRISTO, o Filho do Pai, alguém ungido pelo
Pai para todo o trabalho de mediação, todo o serviço de salvação e, consequentemente,
para ser o intercessor ou advogado. 2. Pela sua qualificação para o cargo. Ele
é “...JESUS CRISTO, o Justo”, o Justo no tribunal e diante do Juiz. Isso não é
tão necessário em outro advogado. Um outro advogado (ou um advogado em outro
tribunal) pode ser ele mesmo uma pessoa injusta e mesmo assim ter uma causa
justa (e a causa de uma pessoa justa nesse caso) para defender e conduzir sua
causa de maneira apropriada. Mas aqui os clientes são culpados; sua inocência e
justiça legal não podem ser defendidas; o pecado deles precisa ser confessado
ou admitido. O advogado precisa defender os criminosos tendo como base sua
própria justiça. Ele foi justo até a morte, justo para eles. Ele obteve justiça
perpétua. O Juiz não negará isso. Com base nisso, Ele roga que os pecados dos
clientes não sejam imputados a
eles. 3. Pela defesa que tem de fazer, o fundamento e base para sua
advocacia: “E ele é a propiciação pelos nossos pecados...” (v. 2). Ele é a
vítima expiatória, o sacrifício propiciatório que foi oferecido ao Juiz por
todas as nossas ofensas contra sua majestade, lei e governo. Os adeptos do
romanismo distinguem em vão entre um advogado de redenção e um advogado de
intercessão ou um mediador de serviços tão diferentes. O Mediador da
intercessão, o Advogado por nós, é o Mediador da Redenção, a propiciação pelos
nossos pecados. É a sua propiciação que Ele defende. E podemos presumir que o
seu sangue teria perdido seu valor e eficiência se nenhuma menção tivesse sido
feita dele no céu desde o tempo em que foi derramado. Mas agora vemos que é
estimado ali, já que é continuamente representado na intercessão do grande
advogado (o procurador-geral) pela igreja de DEUS. Ele “...vive sempre para
interceder por aqueles que por ele se chegam a DEUS” (veja Hb 7.25). 4. Pelo alcance de
sua defesa, o escopo da sua propiciação. Ela não está confinada a uma nação; e
não particularmente ao antigo Israel de DEUS: “E ele é a propiciação pelos
nossos pecados e não somente pelos nossos (não somente pelos pecados dos
judeus, que são a semente de Abraão de acordo com a carne), mas também pelos de
todo o mundo” (v. 2); não somente pelos crentes do passado ou do presente, mas
pelos pecados de todos que futuramente irão crer nele ou chegar a DEUS por meio
dele. O alcance e propósito da morte do Mediador atingem todas as tribos,
nações e países. Assim como é o único, Ele é a expiação e propiciação universal
para todos aqueles que são salvos e levados para casa e para DEUS, para seu
favor e perdão.
O Dever do Crente
Esses versículos parecem ter relação com o versículo
7 do capítulo anterior; entre aquele e estes versículos ocorreu um discurso
suplementar a respeito da obrigação e amparo no caso de pecado, ocasionado pela
menção de um dos privilégios do crente – ser purificado do pecado pelo sangue
do Mediador. Naquele versículo o apóstolo declara a consequência benéfica de andar
na luz: “Temos comunhão uns com os outros, comunhão tal que é prerrogativa da
igreja de CRISTO”. Aqui sucede a prova ou teste da nossa luz e nosso amor.
I
A prova da
nossa luz: “E nisto sabemos que o conhecemos: se guardarmos os seus mandamentos”
(v. 3). Luz e conhecimento divinos são a beleza e o progresso da mente; os
discípulos do Mediador se tornam pessoas de sabedoria e entendimento. Cristãos
jovens tendem a exaltar sua nova luz e aclamar seu próprio conhecimento,
especialmente se o conhecimento foi transmitido a eles subitamente ou em um
breve tempo; os mais velhos estão inclinados a suspeitar da suficiência e
plenitude de seu conhecimento; eles já não lamentam mais o fato de conhecerem a
DEUS, e a CRISTO, e os ricos conteúdos de seu evangelho. Mas a evidência da
integridade e solidez do nosso conhecimento depende de guardarmos os
mandamentos de DEUS. Cada perfeição de sua natureza reforça sua autoridade; a
sabedoria de seus conselhos, as riquezas de sua graça, a grandeza de suas obras
recomendam sua lei e governo. Uma obediência cuidadosa e consciente de suas
ordens mostra que a apreensão e o conhecimento dessas coisas são gravados
graciosamente na alma; e, portanto (de modo contrário): “Aquele que diz: Eu
conheço-o e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a
verdade” (v. 4). Confessores da verdade ficam frequentemente envergonhados com
a sua ignorância; eles, com frequência, aspiram grandes realizações no
conhecimento dos mistérios divinos: “Eis que tu, que tens por sobrenome judeu,
e repousas na lei, e te glorias em DEUS; e sabes a sua vontade, e aprovas (no
seu julgamento racional) as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e
confias que és (ou és apto a ser) guia dos cegos” (Rm 2.17-19). Mas que
tipo de conhecimento de DEUS é esse que não vê que Ele é o mais digno da mais
completa e intensa obediência? E, se isso é reconhecido, quão vão e superficial
é esse conhecimento quando ele não move o coração à obediência! Uma vida
desobediente é a refutação e vergonha do conhecimento religioso alegado; ela
evidencia a mentira do orgulho e fingimento e mostra que não há nem religião
nem honestidade nela.
II
O teste do
nosso amor: “Mas qualquer que guarda a sua palavra, o amor de DEUS está nele
verdadeiramente aperfeiçoado; nisto conhecemos que estamos nele” (v. 5).
Guardar a Palavra de DEUS ou de CRISTO é dedicar-se religiosamente a ela em
toda conduta da vida. O amor de DEUS está aperfeiçoado naquele que age dessa
forma. Possivelmente, alguns podem entender tratar-se aqui do amor de DEUS por
nós; e, indubitavelmente, o amor de DEUS por nós não pode ser aperfeiçoado (ou
obter seu intento ou fruto perfeito) sem a nossa observância prática da sua
palavra. Somos escolhidos para ser santos e irrepreensíveis perante Ele em
amor; somos redimidos, para ser um povo seu especial, zeloso de boas obras;
somos perdoados e justificados, para que possamos ser participantes de medidas
maiores do ESPÍRITO divino para a santificação; somos santificados, para que
possamos andar em caminhos de santidade e obediência: nenhum ato de amor divino
que desemboca em nós obtém sua tendência, resultado e efeito adequados sem
nossa atenção sagrada à Palavra de DEUS. Mas a frase denota aqui nosso amor a DEUS.
Lemos no versículo 15: “...o amor do (ao) Pai não está nele”. Lemos também no
capítulo 3.17: “...como estará nele a caridade de (a) DEUS?” A luz agora deve
acender o amor; e o amor precisa guardar e guardará a Palavra de DEUS; o amor
indaga onde o amado pode ser agradado e servido e, descobrindo o que fazer,
assim será pela observância de sua vontade declarada; ali também ele se
manifesta a si mesmo; ali o amor é demonstrado; ali tem seu exercício, operação
e deleite perfeitos (ou completos); e dessa forma (por essa atenção obediente à
vontade de DEUS ou de CRISTO) “...conhecemos que estamos nele” (v. 5),
conhecemos que pertencemos a Ele, que estamos unidos com Ele por aquele ESPÍRITO
que nos eleva e auxilia nessa obediência; e se reconhecemos nossa ligação com
Ele e nossa união com Ele, precisa haver esse reforço contínuo em nós: “Aquele
que diz que está nele também deve andar como ele andou” (v. 6). O Senhor JESUS CRISTO
era um habitante deste mundo e andou aqui na terra. Ele deu um exemplo
brilhante de obediência absoluta a DEUS. Aqueles que professam estar do seu
lado e permanecer nele precisam andar como Ele, andar segundo o seu modelo e
exemplo. Os partidários das várias facções de filósofos antigos tinham grande
respeito pelos preceitos e práticas de seus respectivos professores e mestres;
quanto mais deveria o cristão, esse que professa permanecer em CRISTO e com
Ele, almejar assemelhar-se ao seu infalível Mestre e cabeça e agir de acordo
com sua conduta e prescrições: “...vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu
vos mando” (Jo 15.14).
A Lei do Amor
O versículo 7 pode se referir ao versículo precedente
(e, então, andar como CRISTO andou é representado aqui como não um novo, mas um
mandamento antigo; é isso que os apóstolos certamente procurariam inculcar
aonde quer que levassem o evangelho) ou se refere àquilo que o apóstolo irá
agora recomendar, ou seja, a lei do amor fraternal; essa é a mensagem “...que
ouvistes desde o princípio” (1Jo
3.11) e “...o mandamento antigo” (2 Jo 5). Enquanto o apóstolo
se refere à recomendação desse tipo de prática, ele está pronto para dar um
exemplo disso em sua petição afetuosa: “Irmãos, vocês que são preciosos para
mim no laço desse amor ao qual eu quero motivá-los”. Assim o preceito do amor
fraternal é recomendado como:
I
Como um
mandamento antigo: “...não vos escrevo mandamento novo, mas o mandamento antigo,
que desde o princípio tivestes” (v. 7). O preceito do amor precisa ser tão
antigo quanto a natureza humana; mas ele pode admitir diversas representações,
reforços e motivos. Se a natureza humana tivesse sido propagada no estado da
inocência, os homens deveriam ter amado uns ao outros como sendo de um só
sangue, feitos para habitar a terra, como sendo descendência de DEUS e portando
sua imagem. No estado do pecado e da regeneração prometida, eles precisam amar
uns aos outros, tendo DEUS como seu Criador, relacionados uns aos outros por
sangue e participantes da mesma esperança. Quando os hebreus foram unidos de
forma peculiar, precisaram amar uns aos outros da maneira devida, como o povo
privilegiado, a quem pertenciam as alianças e a adoção e de cuja raça o
Messias, a cabeça da igreja, deve descender; e a lei do amor deve ser
comunicada com novas obrigações ao novo Israel de DEUS, à igreja do evangelho;
assim é o mandamento antigo ou a palavra que os filhos do Israel de DEUS
ouviram desde o início (v. 7).
II
Como um
mandamento novo: “Outra vez, para compelir-vos ainda mais a essa obrigação, vos
escrevo um mandamento novo, a lei da nova sociedade, a comunidade cristã, que é
verdadeiro nele, cujo conteúdo foi verdadeiro primeiro no cabeça e em relação a
Ele; essa verdade estava primeiro nele e isso de maneira abundante. Ele amou a
igreja e a si mesmo se entregou por ela: e isso é verdadeiro em vós. Essa lei
está, em certa medida, escrita nos vossos corações; vós sois ensinados por DEUS
a amar uns aos outros e isso porque” (ou desde que ou visto que) “ vão passando
as trevas, as trevas da mente não convertida (quer seja uma mente judia ou
gentia), vossa ignorância deplorável em relação a DEUS e a CRISTO agora é
passada, e já a verdadeira luz alumia (v. 8); a luz da revelação evangélica
brilhou com vida e eficácia em vossos corações, consequentemente vós vistes a
excelência do amor cristão e a obrigação fundamental para isso”. Assim, vemos
que os fundamentos (e especialmente os preceitos fundamentais) da religião
cristã podem ser representados tanto como novos quanto antigos; a doutrina
reformada, ou a doutrina cristã nas igrejas reformadas, é nova e antiga – nova,
como ensinada depois de um longo período de trevas, pelas luzes da reforma,
nova como purificada das adulterações de Roma; mas antiga como tendo sido
ensinada e ouvida desde o princípio. Nós deveríamos ver que essa graça ou
virtude que era verdade em CRISTO é também verdade em nós; devemos agir em
conformidade com a nossa Cabeça. Quanto mais nossa escuridão é passada e a luz
do evangelho brilha em nós, tanto mais profunda deve ser nossa sujeição aos
mandamentos de nosso Senhor, quer sejam considerados novos ou antigos. A luz
deve produzir um calor adequado. Portanto, encontramos mais uma prova de nossa
luz cristã; antes, ela deveria ser aprovada pela nossa obediência a DEUS; aqui,
pelo amor cristão. 1. Aquele que deseja esse tipo de amor simula sua luz em
vão. “Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora está em
trevas” (v. 9). É apropriado para os cristãos sinceros reconhecerem o que DEUS
fez pela sua alma; mas na igreja visível frequentemente existem aqueles que
pretendem ser mais do que na realidade são; existem aqueles que dizem que estão
na luz e que a revelação divina deixou sua impressão sobre sua mente e espírito
e mesmo assim andam em ódio e inimizade em relação aos seus irmãos cristãos.
Esses não podem ser movidos pelo senso do amor de CRISTO a seus irmãos e,
portanto, permanecem no seu estado de trevas, apesar de sua alegada conversão à
fé cristã. 2. Aquele que é governado por um amor desses aprova sua luz como boa
e genuína: “Aquele que ama a seu irmão (como seu irmão em CRISTO) está na luz”
(v. 10). Ele vê o fundamento e a razão do amor cristão; discerne o peso e o
valor da redenção cristã; percebe quão adequado é amar aqueles que CRISTO amou.
Então, como consequência, vê que “...nele não há escândalo” (v. 10); ele não
será nenhum escândalo, nenhum tropeço, ao irmão; ele se guardará
conscientemente para não induzir seu irmão a pecar nem desviá-lo do caminho da
retidão. O amor cristão nos ensina a importância de valorizar a alma de nosso
irmão e temer tudo que poderá ser prejudicial à sua inocência e paz. 3. O ódio
é um sinal de trevas espirituais: “...mas aquele que aborrece a seu irmão está
em trevas” (v. 11). A luz espiritual é instilada pelo ESPÍRITO da graça e um
dos frutos do ESPÍRITO é a caridade; aquele então que tem maldade em relação a
um irmão cristão está destituído de luz espiritual; consequentemente, ele “...anda
em trevas” (v.11); sua vida apresenta mente e consciência escuras “...e não
sabe para onde deva ir”; ele não enxerga para onde esse espírito sombrio o
conduz e, especialmente, que o conduzirá ao mundo de escuridão absoluta, “...porque
as trevas lhe cegaram os olhos” (v.11). As trevas da não-regeneração,
evidenciadas por um espírito pernicioso, são contrárias à luz da vida; onde
essa escuridão habita, a mente, o raciocínio e a consciência serão obscurecidos
e, assim, não alcançarão o caminho para a vida celestial sem fim. Podemos
observar aqui o quão eficazmente o nosso apóstolo está liberto do seu antigo
espírito furioso e ardente. Passou o tempo quando pedia para descer fogo do céu
sobre os pobres samaritanos que não os receberam (Lc 9.54). Mas o seu Senhor
mostrou-lhe que ele não conhecia seu próprio espírito nem para onde o conduzia.
Tendo agora absorvido mais do ESPÍRITO de CRISTO, exala boa vontade aos homens
e amor a todos os irmãos. É o Senhor JESUS que é o grande Mestre do amor: é a
sua escola (sua própria igreja) que é a escola do amor. Seus discípulos são os
discípulos do amor e sua família precisa ser a família do amor.
Contra o Amor pelo Mundo
Esse novo mandamento do amor santo, com os devidos
incentivos, pode ser possivelmente direcionado aos várias tipos de cristãos a
quem ele se dirige. Os diversos formandos na universidade cristã, a igreja
universal, precisam cuidar para preservar o vínculo do amor sagrado. Ou,
havendo uma importante dissuasão a ser feita, sem a observância da qual a fé
vital no amor de DEUS e no amor dos irmãos não pode subsistir, o apóstolo pode
parecer estar legitimamente prefaciando-a com um discurso solene às várias
formas ou ordens na escola de CRISTO: deixando as crianças ou menores de idade,
os adultos, os mais velhos (ou os adepti, os teleioi, os mais perfeitos) na
instituição cristã saberem que não devem amar este mundo; sendo assim:
I
O discurso é
transmitido às várias faixas de maturidade na igreja de CRISTO. Nem todos os
cristãos são da mesma posição e estatura; existem os bebês em CRISTO, os
adultos e os discípulos idosos. Assim como eles têm suas posições peculiares,
eles também têm suas obrigações específicas; mas existem preceitos e uma
obediência correspondente comum a todos eles, assim como o amor mútuo e o
desprezo do mundo. Vemos também que pastores sábios devem distribuir a palavra
da vida de maneira criteriosa e dar aos vários membros da família cristã suas
diversas porções apropriadas: Escrevo-vos... filhinhos... pais... e jovens.
1. Os mais simples na escola cristã: “Filhinhos,
escrevo-vos...” (v. 12). Existem os novatos no evangelho, os bebês em CRISTO,
aqueles que estão aprendendo os rudimentos da religião cristã. O apóstolo
parece encorajá-los ao se dirigir a eles primeiro; pode ser útil aos versados
ouvir o que é dito aos mais moços; fundamentos devem ser repetidos; os
primeiros princípios são o fundamento de tudo. Ele se dirige aos filhos do
cristianismo por dois motivos: (1) “...porque, pelo seu nome, vos são perdoados
os pecados” (v. 12). O discípulo sincero mais novo é perdoado; a comunhão dos
santos está ligada ao perdão dos pecados. Os pecados são perdoados por causa do
nome de DEUS, para o louvor da sua glória (sua gloriosa perfeição mostrada no
perdão) ou pelo nome de CRISTO, por causa dele ou por causa da redenção que
existe nele; e aqueles que são perdoados por DEUS são fortemente compelidos a
renunciar a este mundo, o que assim interfere no amor de DEUS. (2) Por causa do
seu conhecimento de DEUS: “Eu vos escrevi, filhos, porque conhecestes o Pai”
(v. 13). Os filhos costumam conhecer primeiro o seu pai. Os filhos no
cristianismo devem conhecer e, de fato, conhecem a DEUS. “...todos me
conhecerão, desde o menor deles até ao maior” (Hb 8.11). Filhos em CRISTO
deveriam saber que DEUS é o seu Pai; essa é a sabedoria deles. Nós dizemos: Um
filho sábio conhece a seu pai. Esses filhos precisam conhecer seu pai; eles
podem estar seguros acerca do poder que os regenerou e da graça por meio da
qual foram adotados. Aqueles que conhecem o Pai devem ser afastados do amor
deste mundo. Então o apóstolo prossegue:
2. Àqueles de maior posição e estatura, aos mais
velhos no cristianismo, a quem ele chama de maneira honorável: “Pais,
escrevo-vos...” (vv. 13,14), a vocês, Mnasoms, discípulos antigos (At 21.16). O apóstolo passa
imediatamente do ponto mais baixo ao ponto mais elevado, da escala mais baixa
para a mais alta, para que os que estão no meio possam ouvir as duas lições,
possam lembrar o que aprenderam e perceber onde precisam chegar: Pais,
escrevo-vos. Aqueles que já passaram mais tempo na escola de CRISTO têm
necessidade de recomendações e instruções adicionais; o discípulo mais antigo
deve ir ao céu (a universidade acima) com seu livro, sua Bíblia, em suas mãos;
aos pais deve ser escrito e pregado; ninguém é maduro demais para aprender. Ele
lhes escreve de acordo com o seu conhecimento: “Pais, escrevo-vos, porque
conhecestes aquele que é desde o princípio” (vv. 13,14). Homens maduros têm
conhecimento e experiência e esperam respeito. O apóstolo está pronto para
reconhecer o conhecimento dos cristãos maduros e congratulá-los por causa
disso. Eles conhecem ao Senhor JESUS CRISTO e, especialmente, o que era desde o
princípio (como 1Jo 1.1).
Assim como CRISTO é o Alfa e o Ômega, assim Ele precisa ser o começo e o fim do
nosso conhecimento cristão. “...tenho também por perda todas as coisas, pela
excelência do conhecimento de CRISTO JESUS, meu Senhor” (Fp 3.8). Aqueles que conhecem
o que era desde o princípio, antes de este mundo ser criado, podem
perfeitamente ser persuadidos a abandonar este mundo. Então:
3. Para os cristãos jovens na fé, para aqueles que
estão na flor da maturidade: “Jovens, escrevo-vos...” (vv. 13,14). Existem os
jovens em CRISTO JESUS, aqueles que alcançaram a força de espírito e um
bom-senso sadio e que podem discernir entre o bem e o mal. O apóstolo se dirige
a eles segundo estas razões: (1) Segundo a razão de sua proeza guerreira. Eles
são soldados hábeis no acampamento militar de CRISTO: “...porque vencestes o
maligno” (v. 13). Existe um maligno que está continuamente batalhando contra as
almas e, especialmente, contra os discípulos. Mas aqueles que são bem ensinados
na escola de CRISTO podem manusear suas armas e derrotar o perverso; e aqueles
que podem derrotá-lo podem ser chamados para derrotar o mundo também, que é um
instrumento tão grande para o diabo. (2) De acordo com a força deles, percebida
nesta realização: “...porque sois fortes... e já vencestes o maligno” (v. 14).
Os jovens costumam se gloriar em sua força; a glória de jovens em CRISTO é
serem fortes no Senhor e em sua graça; superar o diabo será a sua glória e
provará a sua força; se não forem muito duros com o diabo, ele será muito duro
com eles. Os cristãos vigorosos devem mostrar sua força em conquistar o mundo;
e a mesma força que é exercida em derrotar o diabo deve ser usada para vencer o
mundo. (3) Por causa do seu conhecimento da palavra de DEUS: “...e a palavra de
DEUS está em vós” (v. 14). A palavra de DEUS precisa habitar nos discípulos
jovens; é o suprimento para suas forças; é a arma pela qual eles superam o
maligno; a palavra do ESPÍRITO, por meio da qual eles apagam suas flechas
ardentes; e aqueles em quem a palavra de DEUS habita estão bem providos para a
vitória sobre o mundo.
II
Nós temos a
dissuasão assim prefaciada e introduzida, uma precaução fundamental para a
religião vital e prática: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há (v. 15).
Sede crucificados para o mundo, sede mortificados para as coisas, negócios e
tentações do mesmo”. As diversas categorias de cristãos deveriam se unir nisso,
em estar mortas para o mundo. Se estivessem unidos dessa forma, logo se uniriam
por outras razões: seu amor deve ser reservado para DEUS; não o desperdicem com
o mundo. Vemos aqui as razões dessa dissuasão e precaução. Elas são diversas e
precisava ser assim; é difícil contestar ou dissuadir os próprios discípulos do
amor ao mundo. Essas razões são tiradas:
1. Da inconsistência desse amor com o amor de DEUS: “Se
alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” (v. 15). O coração do homem é
estreito e não pode conter os dois tipos de amor. O mundo afasta o coração de DEUS;
e, assim, quanto mais o amor do mundo prevalecer, mais o amor de DEUS diminuirá
e se deteriorará.
2. Da proibição do amor mundano ou da concupiscência;
ela não é determinada por DEUS: Ela “...não é do Pai, mas do mundo” (v. 16).
Esse amor (ou concupiscência) não é ordenado por DEUS (Ele nos chama para nos
afastarmos dela), mas se intromete a partir do mundo; o mundo é um usurpador de
nossa paixão. Temos aqui uma consideração e noção apropriadas do mundo, de
acordo com as quais ele deve ser crucificado e renunciado. O mundo, fisicamente
considerado, é bom e deve ser admirado como obra de DEUS e um espelho na qual a
sua perfeição brilha; mas deve ser considerado no seu relacionamento conosco
agora em nosso estado corrompido e como trabalha em nossa fraqueza e instiga e
inflama nossas paixões perversas. Existe uma grande afinidade e aliança entre
este mundo e a carne, e este mundo penetra e invade a carne e assim se volta
contra DEUS. As coisas do mundo, portanto, são distinguidas em três classes, de
acordo com as três inclinações predominantes da natureza depravada: (1) A
concupiscência da carne. A carne aqui, sendo distinguida dos olhos e da vida,
refere-se ao corpo. A concupiscência da carne é, subjetivamente, o capricho e
apetite dos prazeres carnais; e, objetivamente, todas as coisas que excitam e
inflamam os prazeres da carne. Essa concupiscência é comumente chamada de luxúria.
(2) A concupiscência dos olhos. Os olhos se deleitam com tesouros; riquezas e
posses valiosas são almejadas por um olhar esbanjador; essa é a concupiscência
da cobiça. (3) Existe a soberba da vida. Uma mente vaidosa almeja toda grandeza
e pompa de uma vida vangloriosa; é uma ambição desenfreada e uma avidez por
honra e aplauso. A soberba da vida é, em parte, a doença do ouvido; ele precisa
ser lisonjeado com admiração e aplausos. Os objetos desses apetites precisam
ser abandonados e renunciados; como eles atraem e dominam a afeição e desejo,
eles não são do Pai, mas do mundo (v. 16). O Pai os desaprova e o mundo deveria
permanecer com eles. A concupiscência ou apetite para essas coisas deve ser
mortificado ou subjugado; e assim a tolerância a isso não é estabelecida por DEUS,
mas é insinuada pelo mundo sedutor.
3. Do estado das coisas terrenas vãs e passageiras e
o deleite delas. “E o mundo passa, e a sua concupiscência” (v. 17). As coisas
do mundo estão desfalecendo e morrendo rapidamente. A própria concupiscência e
o prazer dela definham e decaem; o próprio desejo em breve perecerá e cessará (Ec 12.5). E o que aconteceu
com toda a pompa e prazer de todos os que agora jazem na cova decompondo-se?
4. Da imortalidade de quem ama a DEUS: “...mas aquele
que faz a vontade de DEUS, que precisa ser a característica de quem ama a DEUS,
em oposição ao amante do mundo, permanece para sempre” (v. 17). O objeto do seu
amor, em oposição ao mundo que passa, permanece para sempre; seu amor ou paixão
sagrada, em oposição à concupiscência que passa, permanece para sempre; o amor
não irá extinguir-se nunca; e ele próprio é um herdeiro da imortalidade e da
vida eterna e, no tempo oportuno, será deslocado para lá.
Do conjunto desses versículos deveríamos observar a
pureza e a espiritualidade da doutrina apostólica. A vida animal deve ser
submetida à divina; o corpo, com suas paixões, deveria ser subjugado à alma; a
alma deveria ser governada pelos princípios cristãos e pelo amor vitorioso de DEUS.
Acerca do Anticristo
Aqui está:
I
Um presságio
moral do tempo: o fim está chegando: “Filhinhos, é já a última hora” (v. 18).
Alguns podem supor que aqui o apóstolo se dirige ao primeiro grupo dos cristãos
novamente; os mais novos são mais aptos a serem seduzidos e, portanto: “Filhinhos,
vocês que são novos na religião, tomem cuidado de si mesmos para que não sejam
corrompidos”. Mas aqui pode ser, como em outra passagem, uma designação
universal, servindo como um alerta a todos os cristãos: “Filhinhos, é já a
última hora; o sistema judaico está chegando ao fim; a instituição e disciplina
mosaicas estão prestes a desaparecer; as semanas de Daniel estão terminando; a
destruição do santuário e da cidade hebraica está se aproximando; seu fim será
com uma inundação; e até ao fim haverá guerra; estão determinadas assolações” (Dn 9.26). É oportuno que os
discípulos sejam alertados a respeito do final dos tempos e informados o máximo
possível a respeito dos períodos proféticos do tempo.
II
O sinal dessa
última hora: “...também agora muitos se têm feito anticristos” (v. 18), muitos
que se opõem à pessoa, doutrina e reino de CRISTO. A permissão de anticristos é
uma parte misteriosa da providência: mas quando eles viessem, seria bom e
seguro que os discípulos fossem informados a respeito deles; os ministros
deveriam ser vigias para a casa de Israel. A existência desses anticristos não
deveria ser repulsiva ou discriminatória aos discípulos: 1. Um grande
anticristo havia sido profetizado: “...como ouvistes que vem o anticristo” (v.
18). A maior parte da igreja foi informada por revelação divina que haveria um
adversário por um tempo longo para CRISTO e sua igreja (2 Ts 2.8-10). Não era
de admirar que existissem muitos precursores e anunciadores do grande
anticristo: “...também agora muitos se têm feito anticristos”, o mistério da iniquidade
já operava. 2. Eles também foram profetizados como sinal dessa última hora: “...porque
surgirão falsos cristos e falsos profetas e farão tão grandes sinais e
prodígios, que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mt 24.24). E esses eram os
precursores da dissolução do estado, da nação e religião judaicas: “...por onde
conhecemos que é já a última hora” (v. 18). Que a predição de sedutores que
surgem no mundo cristão nos fortifique contra a sedução deles.
III
Alguns relatos
a respeito desses sedutores ou anticristos. 1. De forma mais positiva. Eles um
dia foram adeptos da doutrina apostólica: “Saíram de nós (v. 19), de nossa
companhia e comunhão”; possivelmente da igreja de Jerusalém ou alguma das
igrejas da Judéia, como em Atos
15.1: “Então, alguns que tinham descido da Judéia ensinavam assim os irmãos”.
As igrejas mais puras podem conter apóstatas e rebeldes; a doutrina apostólica
não converteu a todos a quem convenceu acerca da sua verdade. 2. De forma mais
específica: “No íntimo, eles não eram como nós: ...mas não eram de nós, eles
não ...obedeceram de coração à forma de doutrina a que foram entregues; eles
não participavam da nossa união com CRISTO, a cabeça”. Então aqui consta: (1) A
razão segundo a qual se conclui que eles não eram de nós, não eram o que
fingiam ser, ou o que nós somos, e essa era sua verdadeira apostasia: ...porque,
se fossem de nós, sem dúvida ficariam conosco (v. 19); se a verdade sagrada
tivesse se enraizado em seus corações, eles teriam ficado conosco; se tivessem
a unção de cima, que os teria tornado cristãos reais e verdadeiros, não teriam
se tornado anticristos”. Aqueles que apostatam da fé indicam claramente que,
antes, eram hipócritas religiosos: aqueles que absorvem o espírito da verdade
do evangelho têm uma boa salvaguarda contra erros destrutivos. (2) A razão pela
qual se lhes permitem afastar-se da doutrina e comunhão apostólicas – para que
a insinceridade deles possa ser detectada: “mas isto foi feito (ou saíram de
nós) para que se manifestasse que não são todos de nós” (v. 19). A igreja não
sabe ao certo quem são seus membros vitais e quem não são; e, portanto, a
igreja, considerada internamente santificada, pode muito bem ser chamada de invisível.
Alguns dos hipócritas devem ser manifestados aqui, para a sua própria vergonha
e benefício, na sua volta à verdade, caso não tenham pecado para a morte, ou
para o terror e precaução de outros. “Vós, portanto, amados, sabendo isto de
antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais
juntamente arrebatados e descaiais da vossa firmeza; antes, crescei na graça” (2 Pe 3.17,18).
Acerca do Anticristo
Aqui:
I
O apóstolo
encoraja os discípulos (aos quais escreve) nesses tempos perigosos, nessa hora
de sedutores; ele os encoraja na garantia de sua estabilidade nessa época de
apostasia: “E vós tendes a unção do SANTO e sabeis tudo”. Vemos: 1. A bênção
com que foram enriquecidos – uma unção do céu: “...vós tendes a unção”.
Verdadeiros cristãos são pessoas ungidas, pois é o que o seu nome sugere. Eles
são ungidos com o óleo da graça, com dons e dotações espirituais, pelo ESPÍRITO
da graça. Eles são ungidos na semelhança dos ofícios do seu Senhor, como
profetas, sacerdotes e reis subordinados a DEUS. O ESPÍRITO SANTO é comparado
com óleo, bem como com fogo e com água; e a comunicação de sua graça salvífica
é nossa unção. 2. A origem dessa unção – do SANTO, ou do ESPÍRITO SANTO ou do
Senhor JESUS CRISTO, de acordo com Apocalipse 3.7: “Isto diz o
que é santo – o SANTO”. O Senhor JESUS CRISTO é glorioso em sua santidade. O
Senhor JESUS CRISTO coloca à disposição as graças do ESPÍRITO divino e unge os
discípulos para torná-los semelhantes a Ele e firmá-los no seu interesse. 3. O
efeito dessa unção – é um remédio para os olhos; ele ilumina e fortifica os
olhos do entendimento: “...e sabeis tudo (v. 20), todas essas coisas relativas
a CRISTO e sua doutrina; ela foi prometida e dada a vós para esse fim” (Jo 14.26). O Senhor JESUS CRISTO
não reparte de igual modo entre seus discípulos professos, alguns são mais
ungidos do que outros. Existe o grande perigo de que aqueles que não são
ungidos dessa forma estejam tão longes de serem genuínos em relação a CRISTO
que poderiam, pelo contrário, tornar-se anticristos e evidenciar-se como
adversários à pessoa, ao reino e à glória de CRISTO.
II
O apóstolo
indica o propósito e a intenção da sua carta. 1. Por meio da negação, não que
com isso estivesse suspeitando do seu conhecimento ou admitindo a ignorância
deles nas principais verdades do evangelho: “Não vos escrevi porque não soubésseis
a verdade, mas porque a sabeis (v. 21). Eu não poderia então estar tão convicto
da vossa estabilidade nisso, nem congratular-vos por vossa unção de cima”. É
bom conjecturar favoravelmente acerca de nossos irmãos em CRISTO; devemos agir
dessa forma até que alguma evidência derrube nossa conjectura: uma confiança
justa em pessoas religiosas pode encorajar e contribuir para a fidelidade
delas. 2. Por intermédio da afirmação e reconhecimento, confiando no julgamento
deles nessas coisas: “...mas porque a sabeis (sabeis a verdade em JESUS), e
porque nenhuma mentira vem da verdade”. Aqueles que conhecem a verdade sob
qualquer aspecto estão assim preparados para discernir o que é contrário e
inconsistente com ela. Rectum est index sui et obliqui – A linha que se mostra
reta também mostra qual linha está torta. A verdade e a falsidade não se
misturam. Aqueles que estão bem familiarizados com a verdade cristã estão,
assim, bem fortificados contra erros e desilusões anticristãs. Nenhuma mentira
pertence à religião, tanto natural quanto revelada. Os apóstolos, acima de
tudo, condenavam a mentira e mostravam a incoerência da mentira com a sua
doutrina: eles teriam sido as pessoas mais autocondenáveis caso tivessem
propagado a verdade por meio de mentiras. A incumbência da fé cristã é estar
plenamente de acordo com a religião natural, que serve de base para ela, que
está plenamente de acordo com a religião judaica, que continha os elementos e
os rudimentos dela. Nenhuma mentira vem da verdade; fraudes e imposturas são
então meios bem inadequados de fortalecer e propagar a verdade. Acredito que
teria sido melhor para o estado da religião se elas nunca tivessem sido usadas.
O resultado delas aparece na infidelidade de nossa época; a descoberta de
fraudes piedosas antigas quase conduziu nossa era ao ateísmo e irreligiosidade;
mas os maiores agentes e sofredores da revelação cristã nos asseguraram que nenhuma
mentira vem da verdade.
III
O apóstolo
então denuncia e acusa esses sedutores que chegaram recentemente. 1. Eles são
mentirosos, opositores clamorosos da verdade sagrada: “Quem é o mentiroso,
mentiroso notório do tempo e da época em que vivemos, senão aquele que nega que
JESUS é o CRISTO?” As grandes e perniciosas mentiras que o pai da mentira, ou
dos mentirosos, espalha pelo mundo eram antigas e geralmente são falsidades e
erros relativos à pessoa de CRISTO. Não existe verdade tão sagrada e plenamente
testificada, mas um ou outro irá contradizê-la ou negá-la. Que JESUS de Nazaré
foi o Filho e o CRISTO de DEUS foi testificado pelo céu, terra e inferno.
Parece que alguns, no espantoso julgamento de DEUS, se dedicam a fortes
desilusões. 2. Eles são inimigos diretos de DEUS bem como de JESUS CRISTO: “É o
anticristo esse mesmo que nega o Pai e o Filho” (v. 22). Aquele que se opõe a CRISTO
nega o testemunho e evidência do Pai e o selo que Ele deu ao seu Filho: “...porque
a este o Pai, DEUS, o selou” (Jo
6.27). E a pessoa que nega o testemunho e a evidência de DEUS com relação a
JESUS CRISTO nega que DEUS é o Pai de nosso Senhor JESUS CRISTO e, consequentemente,
abandona o conhecimento de DEUS em CRISTO e, consequentemente, toda a revelação
de DEUS em CRISTO e, particularmente, de DEUS em CRISTO reconciliando consigo o
mundo. Portanto, o apóstolo pode bem inferir: “Qualquer que nega o Filho também
não tem o Pai” (v. 23); ele não tem o verdadeiro conhecimento do Pai, pois foi
o Filho que melhor o revelou. Ele não tem interesse no Pai, em seu favor, sua
graça e salvação, pois ninguém vem ao Pai senão pelo Filho. “E (como alguns
manuscritos acrescentam) aquele que confessa o Filho tem também o Pai” (v. 23).
Como existe um relacionamento íntimo entre o Pai e o Filho, também existe uma
união inviolável na doutrina, conhecimento e interesses de ambos: assim, aquele
que tem o conhecimento e o direito ao Filho, também tem o conhecimento e o
direito ao Pai. Aqueles que seguem a revelação cristã também detêm a luz e o
benefício da religião natural.
IV
O apóstolo
então adverte e persuade os discípulos a continuarem na antiga doutrina
inicialmente comunicada a eles: “Portanto, o que desde o princípio ouvistes
permaneça em vós” (v. 24). A verdade é mais antiga do que o erro. A verdade
relativa a CRISTO, que foi primeiramente transmitida aos santos, não deve ser
trocada por novidades. Os apóstolos estavam tão certos da veracidade das coisas
que transmitiram acerca de CRISTO, e que procediam do próprio CRISTO, que, após
toda sua labuta e sofrimento, não estavam dispostos a renunciá-la. A verdade
cristã pode advogar ser antiga e deve ser recomendada por causa disso. Essa
exortação é reforçada pelas seguintes considerações:
1. Da vantagem sagrada que eles obterão ao aderir à
verdade e fé primitivas. (1) Eles continuarão assim em união santa com DEUS e CRISTO:
“Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no
Filho e no Pai” (v. 24). A verdade de CRISTO habitando em nós é o meio de nos
separar do pecado e nos unir ao Filho de DEUS (Jo 15.3,4). O Filho é o agente ou
Mediador pelo qual somos unidos ao Pai. Que valor então deveríamos atribuir à
verdade do evangelho! (2) Consequentemente, eles irão receber a promessa da
vida eterna: “E esta é a promessa que ele (que é DEUS, o Pai, 1J 5.11) nos fez: a vida
eterna” (v. 25). A promessa que DEUS faz aos seus adeptos fiéis é grande. Ela
está de acordo com a grandeza, poder e divindade dele. É a vida eterna, que
ninguém senão DEUS pode dar. DEUS Pai coloca grande valor no seu Filho e na
verdade em relação a Ele, quando fica satisfeito em prometer àqueles que
continuarem nessa verdade (sob a luz, poder e influência dela) a vida eterna.
Então a exortação supracitada é reforçada:
2. Da finalidade de o apóstolo ter escrito a eles.
Essa carta visava fortificá-los contra os enganadores da época: “Estas coisas
vos escrevi acerca dos que vos enganam (v. 26) e, portanto, se vós não
continuardes naquilo que desde o princípio ouvistes, meu escrito e serviço será
em vão”. Deveríamos cuidar para que as cartas apostólicas, sim, para que todas
as Escrituras de DEUS não se tornassem insignificantes e infrutíferas. “Escrevi
para eles as grandezas da minha lei (e do meu evangelho também); mas isso é
para eles como coisa estranha” (Os
8.12).
3. Das bênçãos instrutivas que haviam recebido do
céu: “E a unção que vós recebestes dele fica em vós” (v. 27). Verdadeiros
cristãos têm uma confirmação interior da verdade divina que absorveram: o ESPÍRITO
SANTO a gravou em suas mentes e corações. É apropriado que o Senhor JESUS tenha
um testemunho constante no coração dos discípulos. A unção, o derramar dos dons
da graça sobre os discípulos sinceros, é um selo da verdade e da doutrina de CRISTO,
já que ninguém senão DEUS concede esse selo. “Mas o que nos confirma convosco
(e a vós conosco) em CRISTO e o que nos ungiu é DEUS” (2 Co 1.21). Essa confirmação
sagrada, ou unção divina, é elogiada segundo as razões seguintes: (1) Ela é
duradoura e permanente; o óleo ou unguento não seca tão rapidamente quanto a
água: ela fica em vós (v. 27). A iluminação divina, para receber a confirmação,
precisa ser algo contínuo e constante. Surgem tentações, ciladas e seduções. A
unção precisa permanecer. (2) Ela é melhor que o ensino humano: “...e não
tendes necessidade de que alguém vos ensine (v. 27). Não que essa unção irá
ensinar-vos sem o ministério designado. Isso poderia acontecer, se DEUS assim o
quisesse; mas não irá, embora possa ensinar-vos melhor do que nós podemos: e
não tendes necessidade de que alguém vos ensine (v. 27). “Vós fostes instruídos
por nós antes de serdes ungidos, mas agora nosso ensino não é nada em
comparação a essa unção. Quem ensina como ele?” (Jó 36.22). A unção divina
não substitui o ensino ministerial, mas o transpõe. (3) É uma evidência
indubitável da verdade, e tudo o que ela ensina é verdade infalível: “...mas,
como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira”
(v. 27). O ESPÍRITO SANTO precisa ser o ESPÍRITO da Verdade, como é chamado (Jo 14.17). O ensino e
iluminação que Ele proporciona precisa estar de acordo com a verdade. O ESPÍRITO
da verdade não mentirá; Ele ensina todas as coisas, isto é, todas as coisas na
presente dispensação, todas as coisas necessárias ao nosso conhecimento de DEUS
em CRISTO e sua glória no evangelho. (4) Ela é uma influência conservadora; ela
preservará aqueles em quem habita contra os sedutores e suas seduções: “...como
ela vos ensinou, assim nele permanecereis (v. 27). Ela vos ensina a permanecer
em CRISTO; e, como vos ensina, também vos guardará; ela coloca um obstáculo em
vossos corações e mentes, para que não vos revolteis contra Ele. E o que nos
ungiu é DEUS, o qual também nos selou para si mesmo e deu o penhor do ESPÍRITO
em nossos corações” (2 Co 1.21,22).
O Segundo Aparecimento de CRISTO
Da bênção da unção sagrada o apóstolo prossegue em
sua recomendação e exortação à constância com CRISTO: “E agora, filhinhos,
permanecei nele” (v. 28). O apóstolo repete sua designação carinhosa, filhinhos,
que acredito não indicar tanto a pequenez deles quanto a afeição dele. Assim,
entendo que deveria ser traduzida por queridos filhos. Ele buscava persuadir
pelo amor e convencer pelo carinho, bem como pela razão. “Não apenas o amor de CRISTO,
mas o amor de vocês nos constrange a inculcar sua perseverança e que vocês permaneçam
nele, na verdade da sua pessoa e em sua união e aliança com Ele”. Os
privilégios evangélicos são obrigatórios aos deveres evangélicos, e aqueles que
são ungidos pelo Senhor JESUS são altamente obrigados a permanecer com Ele em
oposição a todos os adversários de qualquer tipo. Esse dever de perseverança e
constância em tempos de provação é fortemente estimulado pelas considerações
seguintes: 1. Da consideração do seu retorno no grande dia da prestação de
contas: “...para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e não
sejamos confundidos por ele na sua vinda” (v. 28). É pressuposto aqui que o
Senhor JESUS virá novamente. Isso fazia parte da verdade que eles ouviram desde
o princípio. E, quando Ele vier novamente, irá aparecer publicamente e será
manifestado a todos. Quando esteve aqui anteriormente, veio privativamente. Ele
originou-se de um ventre e nasceu em um estábulo: mas, quando vier novamente,
virá dos céus abertos e todo olho o verá; e aqueles que continuaram com Ele em
todas as suas tentações terão a confiança, segurança e alegria em vê-lo. Eles
erguerão a cabeça em um triunfo indescritível, sabendo que a sua redenção
completa vem com Ele. Por outro lado, aqueles que o abandonaram serão confundidos
por ele na sua vinda; eles ficarão envergonhados de si mesmos, envergonhados de
sua descrença, sua covardia, ingratidão e tolice em abandonar um Redentor tão
glorioso. Ficarão envergonhados de suas esperanças, expectativas e pretensões e
de todos os salários da injustiça, pelos quais foram induzidos a abandoná-lo: “...para
que... tenhamos confiança e não sejamos confundidos...”. O apóstolo inclui a si
mesmo nesse grupo: “Não nos deixem ficar envergonhados de vocês”, bem como:
“vocês não ficarão envergonhados de si mesmos”. Ou: me aischynthomen ap autou –
para que não sejamos confundidos (ou envergonhados, ou colocados para a
vergonha) por ele na sua vinda. Na sua aparição pública Ele envergonhará todos
aqueles que o abandonaram, negará toda familiaridade com eles, irá cobri-los
com vergonha e confusão, irá deixá-los à mercê da escuridão, demônios e
desespero sem fim, ao professar perante homens e anjos que está envergonhado
deles (Mc 8.38). 2. Ele
prossegue na mesma recomendação e exortação pela consideração da dignidade
daqueles que ainda seguem a CRISTO e sua doutrina: “Se sabeis que ele é justo,
sabeis que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele” (v. 29). A
partícula aqui traduzida por se não parece ser vox dubitantis, mas concedentis;
não tanto uma partícula condicional como uma hipotética, se assim posso
chamá-la, uma nota de permissão ou concessão e assim parece ter o mesmo
significado do nosso português ou já que ou visto que. Assim a compreensão flui
mais claramente: Visto que sabeis que ele é justo, sabeis que todo aquele que
pratica a justiça é nascido dele. Aquele que pratica a justiça pode ser
entendido aqui como mais um nome para aquele que permanece em CRISTO. Pois
aquele que permanece em CRISTO permanece na lei e no amor de CRISTO e, consequentemente,
em fidelidade e obediência a Ele; e assim deve fazer, ou produzir ou praticar a
justiça ou os deveres da santidade do evangelho. Uma pessoa assim precisa ser nascida
dele. Ela é renovada pelo ESPÍRITO de CRISTO, segundo a imagem de CRISTO, “...criado
em CRISTO JESUS para as boas obras, as quais DEUS preparou para que andássemos
nelas” (Ef 2.10). “Visto
que sabeis então que o Senhor JESUS CRISTO é justo (justo na sua qualidade e
capacidade, o Senhor, nossa justiça, e o Senhor, nosso santificador ou nossa
santificação, como em 1 Co
1.30), não podeis saber senão” (ou vós sabeis, é para vosso exame e
consideração) “que, aquele que pela contínua prática da justiça, permanece nele
é nascido dele”. A nova criatura espiritual é derivada de JESUS CRISTO. A
pessoa que é constante na prática da fé cristã em tempos de provação apresenta
boa evidência de que é nascida de cima, de DEUS. Ele é o Pai eterno. É um
grande privilégio e dignidade ser nascido dele. Esses são os filhos de DEUS. “Mas
a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de DEUS” (Jo 1.12). Isso introduz o
contexto do capítulo seguinte.
O apóstolo exalta o amor de DEUS em nossa adoção (vv.
1,2). Ele então argumenta a favor da santidade (v. 3) e contra o pecado (vv.
4-19). Ele ressalta a importância do amor fraternal (vv. 11-18). Como assegurar
nossos corações diante de DEUS (vv. 19-22). O preceito da fé (v. 23) e o
benefício da obediência (v. 24).
A Adoção
O autor, tendo mostrado a dignidade dos seguidores de
CRISTO, que são nascidos dele e, por isso, intimamente ligados com DEUS, agora
faz o seguinte:
I
Ele mostra sua
admiração pela graça que é a origem de uma concessão tão maravilhosa: “Vede
(observai) quão grande caridade (ou quão grande amor) nos tem concedido o Pai:
que fôssemos chamados, efetivamente chamados (Ele que chama coisas que não são,
e as faz ser o que elas não foram) filhos de DEUS”. O Pai adota todos os filhos
do seu Filho. O Filho na verdade os chama e os torna seus irmãos; e por meio
disso confere a eles o poder e dignidade de filhos de DEUS. O Pai eterno mostra
um amor transigente e maravilhoso ao fazer de pessoas como nós seus filhos –
nós que, por natureza, somos herdeiros do pecado, da culpa e do juízo de DEUS;
nós que pela prática somos filhos da corrupção, da desobediência e da
ingratidão! É estranho que o DEUS santo não se envergonha de ser chamado de
nosso Pai e de nos chamar seus filhos! Por essa razão:
II
O apóstolo
infere a honra dos crentes acima do reconhecimento do mundo. Os incrédulos
pouco conhecem a respeito deles. “Por isso (ou pelo que, por esse motivo) o
mundo não nos conhece” (v. 1). O mundo quase não conhece a verdadeira alegria
que os seguidores genuínos de CRISTO sentem. Eles são expostos às calamidades
comuns da terra e do tempo; todas as coisas acontecem a eles como a outros, ou
melhor, eles estão sujeitos a uma aflição maior, pois com frequência têm
motivos para dizer: “Se esperamos em CRISTO só nesta vida, somos os mais
miseráveis de todos os homens” (1 Co 15.19). O mundo
não-cristão, portanto, que anda de acordo com o que vê, não conhece sua
dignidade, seus privilégios, os prazeres que eles possuem, nem para o que estão
designados. O mundo pouco sabe que essas pessoas pobres, modestas e
menosprezadas são os protegidos do céu e serão os habitantes de lá em breve. O
mesmo havia acontecido com o seu Senhor, que também era desconhecido aqui: “...porque
não conhece a ele” (v. 1). O mundo não lembra que uma grande pessoa residiu
nesta terra; sim, o Criador habitou nela. Os judeus não perceberam que o DEUS
de Abraão, Isaque e Jacó era um dos seus e habitou em seu próprio país. Ele
veio aos seus e os seus não o receberam. Ele veio aos seus e os seus o
crucificaram; mas, certamente, “...se o conhecessem, nunca crucificariam ao
Senhor da glória” (1 Co 2.18). Que os seguidores de CRISTO se contentem com uma
passagem difícil aqui, já que estão em uma terra de estrangeiros, entre pessoas
que pouco os conhecem, sendo que seu Senhor foi assim tratado antes deles.
Então o apóstolo:
III
Exalta esses
discípulos perseverantes na antecipação da revelação certa de seu estado e
dignidade. Aqui: 1. Sua relação honrosa presente é declarada: “Amados (vocês
muito bem podem ser nossos amados, pois são amados de DEUS), agora somos filhos
de DEUS” (v. 2). Temos a natureza de filhos pela regeneração: temos o título, o
espírito e o direito à herança dos filhos pela adoção. “...esta honra, tê-la-ão
todos os santos” (veja Sl
149.9). 2. A descoberta da felicidade pertencente e adequada a essa relação
é negada: “...e ainda não é manifesto o que havemos de ser” (v. 2). A glória
pertencente à filiação e adoção é adiada e reservada para outro mundo. Essa
descoberta interromperia o curso de afazeres que agora precisam continuar. Os
filhos de DEUS precisam andar pela fé e viver pela esperança. 3. O tempo da
revelação dos filhos de DEUS em seu estado e glória próprios é determinado; e
isso ocorrerá quando seu irmão mais velho vier para chamar e reunir a todos: “Mas
sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele”. A partícula ean,
geralmente traduzida por se, é aqui traduzida por quando; pois se observa que a
partícula hebraica ´am (à qual se pensa que ela corresponde) significa isso,
como o Dr. Whitby notou aqui; e não somente ean é às vezes usada para otan, mas
alguns manuscritos até mesmo trazem aqui otan, quando. E, dessa forma parece
apropriado traduzi-la dessa forma em João 14.3, em que lemos: “...se
eu for e vos preparar lugar...”; porém mais natural e propriamente: “...quando eu
for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, ou paralepsomai
– eu vos levarei comigo, para que, onde eu estiver, estejais vós também”.
Quando a Cabeça da igreja, o Filho unigênito do Pai, aparecer, os seus membros,
os adotados de DEUS, aparecerão e serão manifestados juntamente com Ele. Eles
podem então esperar na fé, esperança e desejo intenso, pela revelação do Senhor
JESUS; assim como também a criação aguarda pela sua perfeição e “...a
manifestação dos filhos de DEUS” (Rm 7.19). Os filhos de DEUS
serão conhecidos e manifestos pela semelhança com a Cabeça da igreja: “...seremos
semelhantes a ele” – semelhantes a Ele em honra, poder, e glória. Seus corpos
desprezíveis serão feitos como o corpo glorioso de JESUS CRISTO; serão
preenchidos com vida, luz e bem-aventurança a partir dele. “Quando CRISTO, que
é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em
glória” (Cl 3.4). Então: 4.
A semelhança deles com JESUS é sustentada pela visão que terão dele: “...seremos
semelhantes a ele; porque assim como é o veremos”. A semelhança com Ele será a
causa daquela visão que terão dele. Na verdade, todos o verão, mas não como
aqueles, não como Ele é, ou seja, para aqueles no céu. Os perversos o verão em
seu olhar de censura, no terror de sua majestade e no esplendor de suas
perfeições vingativas; mas os da fé o verão no sorriso e beleza de sua face, na
correspondência e bondade de sua glória, na harmonia e amabilidade de suas
perfeições santas. A semelhança com Ele lhes permitirá vê-lo como os
bem-aventurados do céu o vêem. Ou a visão dele será a causa da semelhança
deles, será uma visão transformadora: eles serão transformados na mesma imagem
pela visão bem-aventurada que terão dele.
IV
O apóstolo
então ressalta o compromisso dos filhos de DEUS na continuidade da santificação:
“E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele
é puro” (v. 3). Os filhos de DEUS sabem que seu Senhor é santo e puro; Ele tem
o coração e os olhos puros demais para admitir que qualquer contaminação ou
impureza habitem nele. Aqueles, então, que esperam viver com Ele precisam
buscar a maior pureza possível, afastando-se do mundo, da carne e do pecado;
eles precisam crescer na graça e na santidade. Não apenas o Senhor ordena que
façam isso, mas a sua nova natureza os inclina a fazer o mesmo; sim, a
esperança em alcançar o céu os forçará a fazê-lo. Eles sabem que seu sumo
sacerdote é santo, inocente e imaculado. Eles sabem que seu DEUS e Pai é
supremo e santo, que toda a sociedade é pura e santa, que sua herança é uma
herança de santos na luz. É uma contradição que esse tipo de esperança tolere o
pecado e a impureza. E, portanto, assim como somos santificados pela fé,
devemos ser santificados pela esperança. Para sermos salvos pela esperança
precisamos ser purificados pela esperança. É a esperança dos hipócritas, e não
de DEUS, que concede uma permissão para a satisfação de desejos e
concupiscências impuras.
A Marca dos Filhos de DEUS
O apóstolo, depois de citar a obrigação do crente
para com a pureza da sua esperança em relação ao céu e a comunhão com CRISTO em
glória no dia de sua aparição, agora prossegue no sentido de encher a mente dos
crentes com múltiplos argumentos contra o pecado e toda participação nos
trabalhos infrutíferos e impuros das trevas. Ele raciocina e argumenta:
I
Com base na
natureza do pecado e seu mal intrínseco. Ela está em oposição à lei divina: “Qualquer
que comete o pecado também comete iniquidade (ou transgride a lei, versão RA)
(ou, qualquer que comete pecado comete perversidade, ou aberração da lei); porque
o pecado é iniquidade (ou transgressão da lei, versão RA) ou é ilegal” (v. 4).
O pecado é a destituição ou a privação da harmonia e conformidade com a lei
divina, essa lei que é a transcrição da natureza e da pureza divinas, que
contém sua vontade para o governo do mundo, que é adequada à natureza racional
e é permitida para o bem do mundo, que mostra ao homem o caminho da felicidade
e da paz e o conduz ao autor da sua natureza e da lei. A concretização do
pecado agora é a rejeição da lei divina, que é a rejeição da autoridade divina
e, consequentemente, do próprio DEUS.
II
Com base no
plano e missão do Senhor JESUS CRISTO no mundo e para o mundo, que era remover
pecados: “E bem sabeis que ele se manifestou para tirar os nossos pecados; e
nele não há pecado” (v. 5). O Filho de DEUS tornou-se visível e foi conhecido
em nossa natureza. Ele veio para exaltar e defender a lei divina, pela
obediência ao preceito e pela sujeição e sofrimento debaixo da sanção penal,
sob a maldição dela. Ele veio, portanto, para tirar os nossos pecados, tirar a
culpa deles através de seu próprio sacrifício, tirar a realização deles ao
implantar uma nova natureza em nós (pois somos santificados graças à sua morte)
e nos dissuadir e salvar por meio do seu próprio exemplo, e (ou pois) nele não
havia pecado; ou Ele tira o pecado, para que possamos nos amoldar a Ele, “...e
nele não há pecado”. Aqueles que esperam ter comunhão com CRISTO no futuro
devem buscar a comunhão com Ele no presente, na maior pureza possível. E o povo
cristão deveria conhecer e considerar o grande motivo da vinda do Filho de DEUS:
foi para tirar o nosso pecado: “E bem sabeis (e esse conhecimento deve ser
profundo e eficaz) que ele se manifestou para tirar os nossos pecados”.
III
Com base na
oposição ao pecado e numa união ou adesão real com o Senhor JESUS CRISTO: “Qualquer
que permanece nele não peca” (v. 6). Pecar aqui é o mesmo que cometer pecados
(vv. 8,9) e cometer pecados é viver na prática do pecado. Assim como uma união
vital com o Senhor JESUS quebrou o poder do pecado no coração e na natureza, da
mesma forma a continuidade nela impede a regência e o predomínio do pecado na
vida e na conduta do cristão. Ou a expressão negativa é colocada aqui no lugar
da positiva: não peca, isto é, ele é obediente, ele guarda os mandamentos (em
sinceridade e no curso ordinário da vida) e faz o que é agradável à sua vista
(como está no v. 22). Esses que permanecem em CRISTO permanecem em sua aliança
com Ele e, consequentemente, estão atentos contra o pecado que é contrário a
isso. Eles permanecem na poderosa luz e no conhecimento dele; e, portanto, pode
ser concluído que aquele “...que peca (permanece na prática constante do
pecado) não o viu (sua mente não foi afetada por um discernimento espiritual
sadio dele), nem o conheceu (não teve um conhecimento experimental dele)”. A
renúncia à prática do pecado é a grande evidência da união espiritual com o
Senhor JESUS CRISTO, da continuidade nessa união e do conhecimento salvífico
dele.
IV
Com base na
conexão entre a prática da justiça e um estado de justiça, sugerindo que a
prática do pecado e um estado justificado são inconsistentes; e isso é
introduzido com uma hipótese de que a conjectura contrária é um grave engano: “Filhinhos,
queridos filhos, nisso ninguém vos engane. Existirão aqueles que exaltarão sua
nova luz e o acolhimento do cristianismo, que farão com que acrediteis que seu
conhecimento, fé e batismo vos desculparão do cuidado e retidão da vida cristã.
Mas tomai cuidado com esse autoengano. Quem pratica justiça é justo”. Pode
parecer que o termo justiça possa ser traduzido, em muitas passagens das
Escrituras, simplesmente por fé, como em Mateus 5.10: “Bem-aventurados
os que sofrem perseguição por causa da justiça”, isto é, por causa da fé cristã
(veja 1 Pe 3.14): “Mas
também, se padecerdes por amor da justiça (por amor da fé cristã), sois
bem-aventurados” (veja também 2
Tm 3.13): “...toda Escritura, ou a Escritura inteira, divinamente inspirada
é proveitosa para ensinar – e para instruir em justiça, isto é, na natureza e
especificidades da doutrina cristã”. Praticar a justiça, especialmente quando
colocada em oposição à realização, a perpetração e prática do pecado, é
praticar as verdades da fé cristã. Aquele que pratica as verdades da fé é
justo; é justo em todas as considerações; ele é sincero e reto perante DEUS. A
prática da doutrina cristã não pode subsistir sem um princípio de integridade e
consciência. Ele tem a justiça que consiste em perdão dos pecados e no direito
à vida, fundados sobre a imputação da justiça do Mediador. Ele tem direito à “...coroa
da justiça, a qual o justo juiz, de acordo com a sua aliança e promessa, dará a
todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.18). Ele tem comunhão
com CRISTO, em conformidade com a lei divina, sendo em certa medida justo de
maneira prática como Ele é. Ele tem comunhão com JESUS CRISTO no estado
justificado, sendo agora relativamente justo perante Ele.
V
Com base na
relação entre o pecado e o diabo e, nisso, no plano e ofício de JESUS CRISTO
contra o ofício do diabo. 1. Da relação entre o pecador e o diabo. Assim como
em outro lugar pecadores e santos são distinguidos (embora santos, em grande
medida, sejam chamados de pecadores), cometer pecado aqui é praticá-lo assim
como os pecadores o praticam, que são distintos dos santos, para viver sob o
seu poder e domínio; e aquele que pratica o pecado é do diabo; sua natureza
pecaminosa é inspirada pelo diabo, está de acordo com ele e é agradável a ele;
e ele pertence ao grupo, interesse e reino do diabo. Este é o autor e
patrocinador do pecado, e tem sido um praticante dele, um tentador e instigador
dele, desde o início do mundo. E, por isso, precisamos ver como ele se
manifesta. 2. Do plano e ofício de JESUS CRISTO contra o diabo: “Para isto o
Filho de DEUS se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (v. 8). O diabo
planejou e se esforçou para destruir a obra de DEUS neste mundo. O Filho de DEUS
empenhou-se na batalha santa contra ele. Ele veio ao nosso mundo e foi
manifestado em carne, para que pudesse derrotá-lo e dissolver suas obras. Ele
desatará e dissolverá o pecado cada vez mais, até que o tenha destruído por
completo. Não sirvamos ou toleremos o que Filho de DEUS veio destruir!
VI
Com base na
conexão entre a regeneração e o abandono do pecado: “Qualquer que é nascido de DEUS
não comete pecado”. Ser nascido de DEUS é ser renovado interiormente e
restaurado a uma integridade ou retidão santa de natureza pelo poder do ESPÍRITO
de DEUS. Alguém assim não comete pecado, não põe em prática a iniquidade nem
pratica a desobediência, que é contrária à sua nova natureza e ao caráter
regenerado de seu espírito; pois, como o apóstolo acrescenta: “...a sua semente
permanece nele”, ou a palavra de DEUS em sua luz e poder permanece nele (com em 1 Pe 1.23: sendo de novo
gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de DEUS,
viva e que permanece para sempre), ou o que é nascido do ESPÍRITO é espírito, o
princípio original da santidade permanece nele. A graça renovadora é um
princípio permanente. O cristianismo, na sua origem, não é uma habilidade, uma
destreza e prática adquirida, mas uma nova natureza. E, assim, consequentemente,
a pessoa regenerada não pode pecar. Eu suponho que nenhum intérprete criterioso
entenderia que ele não possa cometer um ato pecaminoso. Isso seria contrário ao
capítulo 1.9, em que confessar os pecados é nosso dever e está implícito que o
nosso privilégio é ter nossos pecados perdoados. Ele, portanto, não pode pecar,
no sentido em que o apóstolo escreve: ele não pode cometer pecado. Ele não pode
continuar na conduta e prática do pecado. Ele não pode pecar de modo a ser
denominado um pecador em oposição a um santo ou servo de DEUS. Repito, ele não
pode pecar comparativamente, como pecava antes de ser nascido de DEUS, e como
outros que não nasceram de DEUS o fazem. A razão é “...porque é nascido de DEUS”,
o que corresponde a toda essa inibição e impedimento. 1. Existe uma luz em sua
mente que irá mostrar-lhe o mal e a perversidade do pecado. 2. Existe uma
inclinação em seu coração no sentido de repugnar e odiar o pecado. 3. Existe o
princípio ou disposição espiritual seminal, que quebra a força e plenitude dos
atos pecaminosos. Eles não procedem de tal poder pleno ou corrupção como ocorre
em outros, nem obtêm a plenitude de coração, espírito e consentimento que obtêm
em outros. “O ESPÍRITO cobiça contra a carne. E, portanto, a respeito de tal
pecado pode ser dito: já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim”. O
pecado da pessoa não é computado na conta do evangelho, onde a propensão e
estrutura da mente e do espírito estão contra ele. 4. Existe uma disposição
para a humilhação e arrependimento do pecado, quando cometido. Aquele que é
nascido de DEUS não pode pecar. Aqui podemos trazer à lembrança a distinção da
impotência moral e natural. A pessoa não-regenerada é moralmente incapaz para o
que é religiosamente bom. A pessoa regenerada, para sua felicidade, é incapaz
de servir ao pecado. Existe um impedimento, um embargo (como podemos dizer),
colocado sobre seus poderes pecaminosos. Vai contra sua natureza pecar tranquila
e deliberadamente. Frequentemente falamos a respeito de uma pessoa de conhecida
integridade: “Ele não pode mentir, enganar e cometer outras perversidades”. “Como,
pois, faria eu este tamanho mal e pecaria contra DEUS?” (Gn 29.9). E assim aqueles que
permanecem na vida pecaminosa demonstram claramente que não são nascidos de DEUS.
VII
Com base na
distinção entre os filhos de DEUS e os filhos do diabo. Eles têm naturezas
diferentes. “Nisto são manifestos os filhos de DEUS e os filhos do diabo” (v.
10). No mundo (de acordo com a antiga distinção) existe a semente de DEUS e a
semente da serpente. A semente da serpente é identificada por essas duas
marcas: 1. Pela negligência da fé em DEUS: “...qualquer que não pratica a
justiça (omite e despreza os direitos e deveres de DEUS, pois a fé cristã é
nossa justiça em relação a DEUS, ou é o dar a Ele o que lhe é devido, e quem
não fizer isso conscientemente) não é de DEUS”, mas, pelo contrário, é do
diabo. O diabo é o pai das almas injustas e ímpias. 2. Pelo ódio aos colegas
cristãos: “...e não ama a seu irmão” (v.10). Verdadeiros cristãos devem ser
amados por causa de DEUS e CRISTO. Aqueles que não amam dessa forma, mas os
menosprezam, odeiam e perseguem, ainda têm a natureza serpentina habitando
neles.
O Amor Fraternal
O apóstolo, depois de anunciar que uma das marcas dos
filhos do diabo é o ódio pelos irmãos, aproveita a ocasião:
I
Para
recomendar o amor fraternal cristão, e isso a partir da excelência ou da antiguidade
ou da primazia da prescrição relacionada a isso: “Porque esta é a mensagem (a
missão e incumbência) que ouvistes desde o princípio (isso estava entre as
principais partes do cristianismo prático): que nos amemos uns aos outros”
(v.11). Devemos amar o Senhor JESUS e valorizar seu amor e, consequentemente,
amar todos os nossos irmãos em CRISTO.
II
Para dissuadir
o que é contrário a isso, ou seja, toda má vontade para com os irmãos, de
acordo com o exemplo de Caim. Sua inveja e perversidade deveriam nos deter de
fomentar um sentimento semelhante, e isso pelos seguintes motivos: 1. Ele
mostrou que era semelhante ao primogênito da semente da serpente; mesmo ele, o
mais velho do primeiro homem, era do maligno. Ele imitou e se tornou semelhante
ao primeiro maligno, o diabo. 2. Sua maldade não tinha restrições; ela chegou a
ponto de planejar e executar o homicídio, e isso de alguém próximo, no
princípio do mundo, quando havia poucos para povoá-lo. Ele “...matou a seu
irmão” (v. 12). O pecado, tolerado, não conhece limites. 3. Ele tinha tanto do
diabo em si que chegou a assassinar seu próprio irmão por inveja. Ele estava
aborrecido com a superioridade da adoração de Abel e o invejou por causa do
benefício e a aceitação que tinha com DEUS. E por causa disso ele martirizou
seu irmão. “E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu
irmão, justas” (v. 12). A perversidade nos ensina a odiar e retaliar o que
deveríamos admirar e imitar. E, então:
III
Para concluir
que não é de admirar que homens bons sejam tratados da mesma forma hoje: “Meus
irmãos, não vos maravilheis, se o mundo vos aborrece” (v. 13). A natureza
serpentina ainda continua no mundo. A grande serpente reina no mundo como o
deus deste mundo. Não se admire, então, se o mundo serpentino odeia e sibila
para você que pertence à semente da mulher que irá esmagar a cabeça da serpente.
O Amor Fraternal
O apóstolo amado fala pouco a respeito do amor
sagrado, mas ele precisa se estender no reforço dele, como o faz aqui por
intermédio de vários argumentos e estímulos.
I
Que esse amor
é uma marca de nossa justificação cristã, de nossa transição a um estado de
vida: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos”
(v. 14). Por natureza, somos os filhos da ira e herdeiros da morte. Pelo
evangelho (a aliança ou promessa do evangelho) nosso estado concernente a outro
mundo é alterado e mudado. Passamos da morte para a vida, da culpa da morte ao
direito à vida, e essa transição efetua-se pela fé no Senhor JESUS: “Aquele que
crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a
vida, mas a ira de DEUS sobre ele permanece” (Jo 3.36). Agora podemos estar
seguros dessa mudança feliz: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida”;
podemos sabê-lo pelas evidências de nossa fé em CRISTO, da qual o amor a nossos
irmãos é uma delas, o que nos leva a caracterizar esse amor como uma marca tão
clara de nosso estado justificado. Não é zelo por um grupo específico na fé
comum, ou uma afeição por aqueles que são da mesma denominação e possuem
sentimentos semelhantes aos nossos. Mas esse amor:
1. Pressupõe um amor geral pela humanidade: a lei do
amor cristão, na sociedade cristã, é fundada na lei universal, na sociedade
humana em geral: “Amarás a teu próximo como a ti mesmo”. As pessoas devem ser
amadas principalmente conforme essas duas razões: (1) Por serem a obra-prima de
DEUS, feito por Ele e em incrível semelhança com Ele. A razão pela qual DEUS
ordena certa punição a um assassino é uma razão contra nosso ódio por qualquer
irmão da humanidade e, consequentemente, uma razão para nosso amor por eles: “...porque
DEUS fez o homem conforme a sua imagem” (Gn 9.6). (2) Como sendo, em
certa medida, amados em CRISTO. Toda a raça humana – o gens humana – deveria
ser considerada, em distinção dos anjos caídos, uma nação redimida; como tendo
um Redentor divino designado, preparado e oferecido a eles. “Porque DEUS amou o
mundo, até mesmo este mundo, de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16). Um mundo tão amado
por DEUS deveria ser, do mesmo modo, também amado por nós. E esse amor irá se
expressar em desejo sincero e orações e tentativas para a conversão e salvação
do mundo ainda cego. “Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a DEUS por
Israel é para sua salvação”. E, então, esse amor irá incluir todo o amor devido
aos próprios inimigos.
2. Inclui um amor singular à sociedade cristã, à
igreja universal, por causa da sua cabeça, sendo seu corpo, redimida,
justificada e santificada nele e por Ele. E esse amor age e opera de uma
maneira singular para com aqueles da igreja universal com os quais temos a
oportunidade de estar pessoalmente familiarizados ou de quem estamos informados
de modo seguro. Eles não são amados em primeiro lugar por causa deles próprios,
mas por causa de DEUS e CRISTO, que os amou. E é DEUS e CRISTO, ou, se você
desejar, o amor de DEUS e a graça de CRISTO, que são valorizados neles e por
eles. E, assim, essa é uma questão de fé em CRISTO, e é, por isso, um símbolo
da nossa passagem da morte para a vida.
II
O ódio por
nossos irmãos é, ao contrário, um sinal de nosso estado mortal, de nossa
permanência debaixo da sentença legal da morte: “...quem não ama a seu irmão
(seu irmão em CRISTO) permanece na morte” (v. 14). Ele ainda permanece debaixo
da maldição e condenação da lei. O apóstolo argumenta sobre isso por meio de um
silogismo claro: “Vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna
permanecendo em sua vida de pecado; mas aquele que odeia a seu irmão é um
assassino, e, portanto, vocês precisam saber que aquele que odeia a seu irmão
não tem a vida eterna permanecendo nele” (v. 15). Ou: ele permanece na morte,
de acordo com o versículo 14. “Qualquer que aborrece a seu irmão é homicida”;
pois o ódio por uma pessoa é, enquanto prevalecer, um ódio da vida e
felicidade, e naturalmente tende a desejar a extinção dela. Caim odiou e,
então, matou a seu irmão. O ódio fechará as entranhas da compaixão para com os
pobres irmãos e irá, por meio disso, expô-los às angústias da morte. O ódio, em
todas as épocas, tem atingido os irmãos com nomes de má fama, características
odiosas e calúnias e os têm exposto à perseguição e à espada. Não é de admirar,
então, que aquele que tem um conhecimento razoável do coração humano ou é
ensinado por aquele que o conhece plenamente, que conhece a tendência e
resultado natural das paixões vis e violentas e, que, conhece, sobretudo, a
plenitude da lei divina, declare aquele que odeia a seu irmão um homicida.
Aquele que, pela estrutura e inclinação de seu coração, é um assassino não tem
permanente nele a vida eterna; pois aquele que age assim apresenta a inclinação
da carne, “...e a inclinação da carne é morte” (Rm 8.6). O apóstolo, pela
expressão tem permanente nele a vida eterna, pode querer dizer a possessão de
um princípio interno de vida eterna, semelhante à do Salvador: “...mas aquele
que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, nunca será totalmente
destituído dela; porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a
jorrar para a vida eterna” (Jo
4.14). E, por causa disso, alguns podem estar inclinados a pensar que a
passagem da morte para a vida (v. 14) não significa a mudança relativa em nossa
justificação de vida, mas a mudança real feita na regeneração para a vida; e,
assim, a permanência na morte mencionada no versículo 14 é uma continuação na
morte espiritual, como geralmente é chamada, ou a permanência no estado
corrupto mortal da natureza. Mas como essas passagens mais naturalmente denotam
o estado da pessoa, seja ela julgada para a vida ou para a morte, assim a
transição relativa da morte para a vida pode muito bem ser provada ou refutada
pela possessão ou não possessão do princípio interior da vida eterna, já que o
lavar da culpa do pecado está inseparavelmente unido ao lavar da imundície e do
poder do pecado. “Mas haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas
haveis sido justificados em nome do Senhor JESUS e pelo ESPÍRITO do nosso DEUS”
(1 Co 6.11).
III
O exemplo de DEUS
em CRISTO deveria inflamar nossos corações com esse amor santo: “Conhecemos a
caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos
irmãos” (v. 16). O grande DEUS deu o seu Filho para morrer por nós. Mas já que
o apóstolo João declarou que o Verbo era DEUS e que Ele se fez carne por nós,
eu não vejo por que não podemos interpretar isso em relação a DEUS, a Palavra.
Aqui está o amor do próprio DEUS, daquele que em sua própria pessoa é DEUS,
embora não seja o Pai, que assumiu uma vida, para que pudesse dar sua vida por
nós! Aqui está a magnanimidade, o milagre, o mistério do amor divino, que DEUS
redimiu sua igreja com o seu próprio sangue! Certamente devemos amar aqueles
que DEUS amou da maneira que Ele amou; certamente devemos fazer isso se
tivermos algum amor por DEUS.
IV
O apóstolo,
após apresentar esse exemplo de amor ardente e comovente, e seu motivo, procura
então mostrar-nos qual deveria ser a disposição e efeito do nosso amor cristão.
1. Ele deve ser, no mais alto grau, tão fervoroso que nos torne propensos a
sofrer e, mesmo, morrer para o bem da igreja, para a segurança e salvação dos
queridos irmãos: “...e nós devemos dar a vida pelos irmãos” (v. 16), em nossas
ministrações e serviços a eles (e, ainda que seja oferecido por libação sobre o
sacrifício e serviço da vossa fé, folgo e me regozijo com todos vós, Fp 2.17) ou em nos expor a
perigos, quando assim chamados, para a segurança e preservação daqueles que são
mais úteis para a glória de DEUS e a edificação da igreja do que nós. “Os quais
pela minha vida expuseram a sua cabeça; o que não só eu lhes agradeço, mas
também todas as igrejas dos gentios” (Rm 16.4). Quão mortificados
os cristãos deveriam estar para esta vida! Quão preparados para se desfazer
dela! E quão assegurados de uma vida melhor! 2. Ele deve ser, no próximo
estágio, compassivo, liberal e comunicativo para as necessidades dos irmãos: “Quem,
pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu
coração, como estará nele a caridade de DEUS?” (v. 17). É da vontade de DEUS
que alguns irmãos em CRISTO sejam pobres, para o exercício da caridade e amor
daqueles que são ricos. E DEUS se agrada em dar a alguns irmãos em CRISTO os
bens deste mundo, para que possam exercer sua graça na comunicação aos santos
pobres. E esses que possuem os bens deste mundo precisam amar a DEUS e os seus
irmãos mais ainda e estar dispostos a distribuí-los por sua causa. Fica claro
aqui que esse amor aos irmãos está fundado no amor a DEUS, de acordo com o
apóstolo: “...como estará nele a caridade de DEUS?” Esse amor aos irmãos é amor
a DEUS neles; e onde não existe esse amor neles não existe, de forma alguma,
esse verdadeiro amor a DEUS. 3. Eu queria sugerir o terceiro e mais baixo
estágio no versículo seguinte; mas o apóstolo me impediu de fazê-lo, ao mostrar
que esse último amor caridoso e comunicativo, em pessoas capacitadas, é o mais
baixo compatível com o amor de DEUS. Mas pode haver outros frutos desse amor;
e, assim, o apóstolo deseja que em tudo esse amor seja não fingido e operante,
de acordo com as circunstâncias: “Meus filhinhos (meus queridos filhos em CRISTO),
não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade” (v. 18).
Elogios e adulações não convêm aos cristãos, mas expressões sinceras de afeição
santa e serviços ou labores de amor, sim. Então:
V
Esse amor
evidenciará nossa sinceridade na religião cristã e nos dará esperança com
respeito a DEUS: “E nisto conhecemos que somos da verdade e diante dele
asseguraremos nosso coração” (v. 19). É uma grande felicidade sermos
assegurados de nossa integridade em relação à fé cristã. Aqueles que são
assegurados dessa forma terão uma santa coragem e confiança para com DEUS; eles
podem apelar a Ele quando estiverem sob censuras e condenações do mundo. O modo
de chegar ao conhecimento de nossa própria verdade e retidão no cristianismo e
garantir nossa paz interior é fluir no amor e nas obras de amor para com nossos
irmãos em CRISTO.
O Testemunho da Consciência
O apóstolo, depois de anunciar que é possível haver,
mesmo entre nós, um privilégio como o de uma segurança ou persuasão sadia de
coração em relação a DEUS, procura então:
I
Estabelecer o
tribunal da consciência e asseverar a autoridade dele: “...sabendo que, se o
nosso coração nos condena, maior é DEUS do que o nosso coração e conhece todas
as coisas” (v. 20). Nosso coração aqui é nosso poder judicial interior, essa
habilidade nobre e excelente que nos permite ter uma noção clara de nós mesmos,
de nosso espírito, nossas inclinações e ações e, de acordo com isso, fazer um
julgamento do nosso estado perante DEUS; o mesmo ocorre com a consciência ou o
poder da autoconsciência moral. Esse poder pode agir como testemunha, juiz e
executor da sentença, acusando ou escusando, condenando ou justificando; ele é
colocado nessa posição pelo próprio DEUS: a alma do homem, assim capacitada e
habilitada, é a lâmpada do Senhor, uma luminária acesa e estabelecida por DEUS,
a qual esquadrinha todo o mais íntimo do ventre, levando a um escrutínio e
vendo o esconderijo privado e as transações secretas do homem interior (Pv 20.27). A consciência é o
representante de DEUS, conclama a corte em seu nome e age por Ele. “A indagação
de uma boa consciência para com DEUS” (1 Pe 3.21). DEUS é o supremo
juiz da corte: “...se o nosso coração nos condena, maior é DEUS do que o nosso
coração...”, superior ao nosso coração e consciência em poder e julgamento; consequentemente,
a ação e o julgamento da corte são a ação e o julgamento de DEUS; portanto: 1.
Se a nossa consciência nos condena, DEUS também o faz: “...sabendo que, se o
nosso coração nos condena, maior é DEUS do que o nosso coração e conhece todas
as coisas” (v. 20). DEUS é uma testemunha maior que nossa consciência e sabe
mais a respeito de nós do que ela: Ele conhece todas as coisas; Ele é um Juiz
maior do que a nossa consciência; pois, pelo fato de ser supremo, sua sentença
valerá e será plena e completamente executada. Esse parece ser o desígnio de
outro apóstolo, quando diz: “...porque em nada me sinto culpado, isto é,
naquilo que sou desaprovado por alguns. Não estou consciente de qualquer culpa
ou infidelidade tolerada em minha mordomia e ministério. Mas nem por isso me
considero justificado; não é pela minha própria consciência que eu preciso, no
fim das contas, permanecer em pé ou cair; a justificação ou sentença
justificadora de minha consciência ou da minha autoconsciência não determinará
a controvérsia entre tu e mim; assim como tu não apelas à sua sentença, assim
também não será determinado pela sua decisão; pois quem me julga (de forma
suprema e decisiva), e por cujo julgamento tu e eu precisamos ser determinados,
é o Senhor” (1 Co 4.4). Ou:
2. Se a consciência nos absolve, DEUS também o faz: “Amados, se o nosso coração
nos não condena, temos confiança para com DEUS” (v. 21). Então temos certeza de
que Ele nos aceita agora e nos absolverá no grande dia da prestação de contas.
Mas, possivelmente, alguma alma arrogante pode dizer aqui: “Estou contente com
isso; meu coração não me condena e, portanto, posso concluir que DEUS também
não o fará”. Mas, de acordo com o versículo anterior, alguma alma piedosa
trêmula estará pronta a clamar: “DEUS, me perdoe! Meu coração ou consciência me
condena; preciso então esperar infalivelmente a condenação de DEUS?”. Mas que
essas pessoas saibam que os erros da testemunha não são considerados aqui nas
ações do tribunal; ignorância, erro, predisposição, parcialidade e presunção
podem ser considerados erros dos oficiais do tribunal ou dos ajudantes do juiz
(como a mente, vontade, apetite, paixão, disposição sensual ou mente
perturbada), ou do júri, que deu um veredicto falso, não do próprio juiz; consciência
– syneidesis – é corretamente autoconsciência. Atos de ignorância e erro não
são atos da autoconsciência, mas de algum poder equivocado; e o tribunal da
consciência é aqui descrito no seu processo, de acordo com a constituição
original dele pelo próprio DEUS, de acordo com esse processo, o que está
firmado na consciência está firmado no céu; portanto, ouçamos a consciência,
permitamos que seja bem informada e estejamos dispostos a diligentemente
prestar atenção a ela.
II
Indicar o
privilégio daqueles que têm uma boa consciência em relação a DEUS. Eles têm um
interesse no céu e no tribunal acima; suas solicitações são ouvidas ali: “...e
qualquer coisa que lhe pedirmos, dele a receberemos” (v. 22). Admite-se que os
peticionários não desejam ou não tencionam desejar qualquer coisa que seja
contrária à honra e glória do tribunal ou ao seu próprio bem espiritual e então
eles podem esperar receber as boas coisas que estão pedindo; e essa suposição
pode muito bem ser feita com respeito aos peticionários, ou muito bem se pode
pressupor que eles recebam as boas coisas que pedem, considerando sua
qualificação e prática: “...porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o
que é agradável à sua vista” (v. 22). Almas obedientes estão preparadas para
bênçãos e elas têm a promessa de serem ouvidas: aqueles que cometem coisas que
não agradam a DEUS não podem esperar que Ele ouça e atenda às suas orações (Sl 66.18; Pv 28.9).
Os Mandamentos de DEUS
Após mencionar que a qualificação dos verdadeiros
peticionários em relação ao céu é guardar os mandamentos e agradar a DEUS, o
autor prossegue da seguinte maneira:
I
Ele nos revela
o que esses mandamentos primária e sumariamente são; eles são compreendidos
nesse mandamento duplo: “E o seu mandamento é este: que creiamos no nome de seu
Filho JESUS CRISTO e nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (v.
23). Crer no nome de seu Filho JESUS CRISTO é: 1. Discernir o que Ele é, de
acordo com o seu nome, ter uma visão intelectual de sua pessoa e função, como o
Filho de DEUS e o Salvador ungido do mundo. “Que todo aquele que vê o Filho e
crê nele tenha a vida eterna” (Jo
6.40). 2. Aprová-lo em julgamento e consciência, em convicção e percepção
do nosso caso, como alguém sábia e maravilhosamente preparado e adaptado para
todo o trabalho da salvação eterna. 3. Concordar e nos sujeitar a Ele como
nosso Redentor e restaurador do nosso relacionamento com DEUS. 4. Acreditar e
confiar nele com respeito à execução plena e final de seu ofício salvador. “E
em ti confiarão os que conhecem o teu nome” (Sl 9.10). “Porque sei em quem
tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até
àquele Dia” (2 Tm 1.12).
Essa fé é um requisito necessário para aqueles que são os peticionários
prevalecentes diante de DEUS, porque é pelo Filho que precisamos ir ao Pai;
nossa pessoa precisa ser aceita ou deve agradar ao Pai pela sua graça e justiça
(Ef 1.6); pela sua compra,
todos os nossos desejos abençoados precisam chegar e nossas orações precisam
ser ouvidas e respondidas por meio de sua intercessão. Essa é a primeira parte
do mandamento que precisa ser observado por adoradores aceitos; o segundo mandamento
é que “...nos amemos uns aos outros, segundo o seu mandamento” (v. 23). O
mandamento de CRISTO deve estar perante nossos olhos continuamente. O amor de CRISTO
deve possuir nossa alma quando vamos a DEUS em oração. Para esse fim precisamos
lembrar que nosso Senhor nos constrange a: (1) Perdoar aqueles que nos ofendem
(Mt 4.14). (2) Nos
reconciliar com aqueles que ofendemos (Mt 5.23,24). Assim como a boa vontade
aos homens foi proclamada do céu, assim a boa vontade aos homens, e
especialmente aos irmãos, precisa ser levada nos corações daqueles que vão a DEUS
e ao céu.
II
Ele nos expõe
a bem-aventurança da obediência a esses mandamentos. As pessoas obedientes
desfrutam da comunhão com DEUS: “E aquele que guarda os seus mandamentos, e
especialmente aqueles da fé e amor, nele está, e ele nele” (v. 24). Nós
habitamos em DEUS por meio de um relacionamento alegre com Ele e união
espiritual com Ele, por meio de seu Filho e por meio de uma convivência santa
com Ele; e DEUS habita em nós por sua palavra e nossa fé fixada nele e pela
ação de seu ESPÍRITO. Então ocorre a prova da sua habitação divina: “E nisto
conhecemos que ele está em nós: pelo ESPÍRITO que nos tem dado” (v. 24), pela
disposição e composição sagrada de alma que Ele conferiu a nós, que, sendo um
espírito de fé em DEUS e CRISTO, e de amor a DEUS e aos homens, mostra-se como
sendo de DEUS.
Nesse capítulo, o apóstolo João exorta os leitores a
provarem os espíritos (v. 1), apresenta um sinal sobre isso (vv. 2,3), deixa
claro quem é do mundo e quem é de DEUS (vv. 4-6), impele ao amor cristão por
meio de diversas considerações (vv. 7-16), descreve nosso amor a DEUS e seu
efeito (vv. 17-21).
Acerca do Anticristo
O apóstolo, após dizer que a habitação de DEUS em nós
e conosco pode ser reconhecida pelo ESPÍRITO que nos tem dado, anuncia que esse
ESPÍRITO pode ser diferenciado e distinguido de outros espíritos que aparecem
no mundo; e, aqui:
I
Ele pede aos
discípulos, a quem escreve, que tenham cautela e examinem cuidadosamente os
espíritos e adeptos espirituais que agora tinham surgido. 1. Pede que se
acautelem: “Amados, não creiais em todo espírito; não respeiteis, não
acrediteis, nem sigais todo aquele que simula ter o ESPÍRITO de DEUS ou todo o
que professa ter visão ou inspiração ou revelação de DEUS”. A verdade é a base
usada na simulação e na falsificação; houve transmissões reais do ESPÍRITO
divino e, portanto, outros fingiam ter recebido algum tipo de revelação dele. DEUS
escolherá seu caminho a partir de sua própria sabedoria e bondade, embora isso
possa ser suscetível a abuso; Ele enviou mestres inspirados ao mundo e nos deu
uma revelação sobrenatural, embora outros possam ser tão maus e descarados a
ponto de fingir terem recebido o mesmo; não devemos acreditar em todo aquele
que simula ter o ESPÍRITO, ou diz ser inspirado e iluminado de maneira
extraordinária por Ele. Houve um tempo em que o homem espiritual (o homem do ESPÍRITO,
que fez um grande barulho acerca do ESPÍRITO e se vangloriava disso) era louco
(Os 9.7). 2. Pede que
escrutinem, que examinem as pretensões que são atribuídas ao ESPÍRITO: “...mas
provai se os espíritos são de DEUS” (v. 1). DEUS tem dado do seu ESPÍRITO
nesses últimos tempos, mas não a todos os que professam estar equipados com
Ele; é permitido aos discípulos um julgamento avaliador, em relação aos
espíritos que deveriam ser cridos e acreditados nas questões da fé. O autor
apresenta uma razão para essa prova: “...porque já muitos falsos profetas se
têm levantado no mundo” (v. 1). Como existia uma grande expectativa entre os
judeus em relação à aparição do Salvador, de um Redentor de Israel, a
humilhação, a reforma espiritual e os sofrimentos do Salvador eram vistos de
forma preconceituosa. Por isso, alguns foram levados a levantar-se como
profetas e messias de Israel, de acordo com a predição do Salvador (Mt 24.23,24). Não deveria parecer
estranho a nós que falsos mestres surgissem na igreja: foi assim nos tempos dos
apóstolos; o espírito da desilusão é fatal; é triste saber que homens se
vangloriavam como profetas e pregadores inspirados quando, de forma alguma, condiziam
com esse ofício!
II
Ele apresenta
um teste para os discípulos poderem provar esses espíritos fingidos. Esses
espíritos levantaram-se como profetas, doutores ou doutrinadores na religião
cristã e, assim, eles precisavam ser provados pela sua doutrina; e a prova
naquele tempo ou naquela parte do mundo em que o apóstolo residia (pois em
várias épocas e em várias igrejas as provas seriam diferentes) precisava ser
esta: “Nisto conhecereis o ESPÍRITO de DEUS: todo espírito que confessa que JESUS
CRISTO veio em carne (ou confessa a JESUS CRISTO que veio em carne) é de DEUS”
(v. 2). JESUS CRISTO deve ser confessado como o Filho de DEUS, a Vida e Palavra
eternas, que estava com DEUS desde o início; como o Filho de DEUS que veio ao
mundo e veio em nossa natureza humana mortal e nela sofreu e morreu em
Jerusalém. Aquele que confessa e prega isso, por meio de uma mente
sobrenaturalmente bem informada e iluminada dessa maneira, faz isso pelo ESPÍRITO
de DEUS ou DEUS é o autor dessa iluminação. Do contrário: “...todo espírito que
não confessa que JESUS CRISTO veio em carne (ou a JESUS CRISTO que veio em
carne) não é de DEUS (v. 3). DEUS concedeu tanto testemunho de JESUS CRISTO,
que esteve nos últimos tempos aqui no mundo e na carne (ou em um corpo físico
como o nosso), embora agora no céu, que vós podeis estar assegurados de que
qualquer impulso ou inspiração simulada que contradiga isso está longe de ser
do céu e de DEUS”. O resumo da revelação é compreendido na doutrina acerca de CRISTO,
sua pessoa e sua função. Por isso, vemos o incremento de uma oposição
sistemática a Ele e a isso. “...mas este é o espírito do anticristo, do qual já
ouvistes que há de vir, e eis que está já no mundo” (v. 3). Foi previsto por DEUS
que anticristos surgiriam e espíritos anticristãos se oporiam ao seu ESPÍRITO e
à sua verdade; também foi previsto que um anticristo eminente surgiria e
travaria uma batalha longa e fatal contra o CRISTO de DEUS e sua instituição e
honra e reino no mundo. Esse grande anticristo teria seu caminho preparado e
sua origem facilitada por outros anticristos menores, e o espírito do erro
trabalharia e inclinaria a mente dos homens para si: o espírito do anticristo
começou cedo, mesmo que esse começo ocorresse no tempo dos apóstolos. Terrível
e insondável é o julgamento de DEUS, pois pessoas cederam a um espírito
anticristão e a esse tipo de escuridão e desilusão a ponto de colocar-se contra
o Filho de DEUS e todo testemunho que o Pai tinha apresentado do Filho! Mas nós
fomos avisados antecipadamente de que esse tipo de oposição ocorreria;
deveríamos, portanto, cessar de ficar escandalizados e quanto mais vermos a
palavra de CRISTO cumprida, tanto mais devemos ser confirmados pela sua
verdade.
O Perigo do ESPÍRITO Anticristão
Nesses versículos, o apóstolo encoraja os discípulos
contra o medo e o perigo causado por esse espírito anticristão sedutor,
utilizando esse tipo de métodos: 1. Ele os assegura acerca de um princípio mais
divino neles: “Filhinhos, sois de DEUS... (v. 4). Vós sois os filhinhos de DEUS.
Nós somos de DEUS (v. 6). Nós somos nascidos de DEUS, ensinados por DEUS,
ungidos por DEUS e, assim, protegidos contra desilusões infecciosas e fatais. DEUS
tem seus escolhidos, que não serão mortalmente seduzidos”. 2. Ele lhes oferece
a esperança da vitória: “...e já os tendes vencido (v. 4). Vós até agora tendes
vencido esses enganadores e suas tentações, e existe uma boa base de esperança
de que continuareis a fazê-lo e, isso, segundo estas duas razões”: (1) “Existe
um forte preservador dentro de vós: ‘...porque maior é o que está em vós do que
o que está no mundo’ (v. 4). O ESPÍRITO de DEUS habita em vós e aquele ESPÍRITO
é mais poderoso do que homens e demônios”. É uma grande alegria estar sob a
influência do ESPÍRITO SANTO. (2) “Vós não tendes a mesma índole desses
enganadores. O ESPÍRITO de DEUS moldou sua mente para DEUS e o céu; mas eles ‘do
mundo são’. O espírito que vigora neles os conduz a este mundo; o seu coração é
dedicado a ele; eles almejam a pompa, o prazer e as vantagens do mundo: ‘...por
isso, falam do mundo’; eles professam um messias e salvador mundano; projetam
um reino e domínio mundanos; eles se apoderam das posses e riquezas do mundo,
esquecendo que o verdadeiro reino do Redentor não é deste mundo. Esse plano
mundano consegue prosélitos: ‘...o mundo os ouve’ (v. 5). Seus seguidores são
semelhantes a eles mesmos: o mundo irá amar os seus, e os seus irão amar o
mundo. Mas aqueles que conquistaram o amor do mundo sedutor estão no caminho
apropriado para envolver-se com seduções perniciosas”. Então: 3. Ele lhes
mostra que, embora façam parte da minoria, estão do lado melhor; eles têm mais
conhecimento divino e santo: “...aquele que conhece a DEUS ouve-nos. Aquele que
conhece a pureza e a santidade de DEUS, o amor e a graça de DEUS, a verdade e
fidelidade de DEUS, as palavras e profecias antigas de DEUS, os sinais e os
testemunhos de DEUS, precisa saber que Ele está conosco; e aquele que conhece
isso estará presente conosco e permanecerá conosco”. Aquele que está bem
suprido com uma boa consciência das coisas divinas se apegará ainda mais ao
cristianismo. “...aquele que conhece a DEUS (em suas excelências, revelações e
trabalhos naturais e morais) ouve-nos (v. 6). Aquele que não conhece a DEUS não
dá atenção a nós”. Como, ao contrário: “Aquele que não é nascido de DEUS
(andando de acordo com a sua inclinação natural) não anda conosco. Quanto mais
longe alguém está de DEUS (como ocorre em todas as épocas), mais longe está de CRISTO
e seus servos fiéis; e quanto mais presas a este mundo as pessoas são, mais
afastadas estão do espírito do cristianismo. Portanto, vocês têm uma distinção
entre nós e outros: Nisto conhecemos nós o espírito da verdade e o espírito do
erro (v. 6). Essa doutrina da pessoa do Salvador que os conduz do mundo para DEUS
é uma marca do espírito da verdade, em oposição ao espírito do erro. Quanto
mais pura e santa for uma doutrina, mais certamente ela será de DEUS”.
O Amor Fraternal
Assim como o espírito da verdade é reconhecido pela
doutrina (assim os espíritos são provados), aqueles que se dizem de DEUS também
são reconhecidos pelo amor. Aqui, portanto, segue uma forte exortação em
relação ao santo amor cristão: “Amados, amemo-nos uns aos outros” (v. 7). O
apóstolo desejava uni-los em seu amor, para que pudesse uni-los no amor mútuo:
“Amados, eu suplico a vocês, pelo amor que nutro por vocês, que se vistam do
amor mútuo não fingido”. Essa exortação é instigada com uma variedade de
argumentos:
I
Da elevada e
celestial descida do amor: “...porque a caridade é de DEUS”. Ele é a fonte,
autor, pai e aquele que ordena o amor; o amor é o resumo da sua lei e do
evangelho: “...e qualquer que ama (cujo espírito é moldado pelo amor santo e
sensato) é nascido de DEUS” (v. 7). O ESPÍRITO de DEUS é o ESPÍRITO do amor. A
nova natureza dos filhos de DEUS é o fruto do seu amor e o estado e a natureza
disso é o amor. “Mas o fruto do ESPÍRITO é: caridade...” (Gl 5.22). O amor desce do
céu.
II
O amor revela
uma apreensão verdadeira e justa da natureza divina: “...qualquer que ama é
nascido de DEUS e conhece a DEUS” (v. 7). “Aquele que não ama não conhece a DEUS”
(v. 8). Que atributo da Majestade divina tão claramente brilha em todo o mundo
se não sua bondade comunicativa, que é o amor. A sabedoria, a grandeza, a
harmonia e utilidade da vasta criação, que tão plenamente demonstram sua
existência, ao mesmo tempo mostram e provam o seu amor; e a razão natural,
inferindo e concluindo a natureza e excelência da mais absoluta perfeição,
precisa inferir e descobrir que Ele é o ser mais bondoso: e “aquele que não ama
(não é estimulado pelo conhecimento que tem de DEUS na prática do amor) não
conhece a DEUS”; esta é uma evidência convincente de que o conhecimento devido
e correto de DEUS não habita em uma alma dessas; o amor divino precisa brilhar
entre suas ações principais: “...porque DEUS é caridade” (v. 8), sua natureza e
essência são amor, sua vontade e obras são primariamente amor. Não que essa
seja a única concepção que devemos ter dele. Descobrimos que Ele é tanto luz
como amor (1Jo 1.5), e DEUS
é principalmente amor em si mesmo e tem perfeições tais que surgem do amor
necessário que precisa nutrir para sua existência, excelência e glória
necessária; mas o amor é natural e necessário para a Majestade divina: DEUS é
caridade. Isso é deduzido a partir da exibição e demonstração que deu dela: 1.
Que Ele nos amou da forma como somos: “Nisto se manifestou a caridade de DEUS
para conosco (v. 9), para nós mortais, nós rebeldes e ingratos”. “Mas DEUS
prova o seu amor para conosco em que CRISTO morreu por nós, sendo nós ainda
pecadores” (Rm 5.8). É algo
maravilhoso DEUS se dispor a amar pessoas impuras, presunçosas, perversas, que
se tornam pó e cinza! 2. Que Ele nos amou e valorizou tanto, que deu seu
próprio unigênito e abençoado Filho a nós: “Nisto se manifestou a caridade de DEUS
para conosco: que DEUS enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele
vivamos” (v. 9). Essa pessoa é de algum modo peculiar e distinto o Filho de DEUS;
Ele é o unigênito. Se acharmos que Ele foi concebido como uma criatura ou um
ser criado, Ele não poderia ser o unigênito. Mas se concordamos que Ele é a
gloriosa essência e substância do Pai, Ele precisa ser o unigênito: esse,
então, é um mistério e milagre do amor divino, que um Filho como esse fosse
enviado ao mundo por nós! Pode muito bem ser dito: “DEUS amou o mundo de tal
maneira (tão maravilhosamente, tão surpreendentemente, tão incrivelmente)”. 3.
Que DEUS nos amou primeiro e nas circunstâncias em que nos encontrávamos: “Nisto
está a caridade: não em que nós tenhamos amado a DEUS, mas em que ele nos
amou...” (v. 10). Ele nos amou, quando não tínhamos nenhum amor por Ele, quando
nos encontrávamos em culpa, miséria e sangue, quando éramos indignos,
contaminados e impuros e queríamos que nossos pecados fossem lavados no sangue
sagrado. 4. Que Ele deu seu Filho para tal serviço e para um fim dos que crêem.
(1) Para tal serviço: “...para propiciação pelos nossos pecados”; consequentemente,
para morrer por nós, para morrer sob a lei e maldição de DEUS, para levar ele
mesmo em seu corpo os nossos pecados, para ser crucificado, para ser ferido em
sua alma e perfurado no seu lado, para ser morto e enterrado por nós (v. 10);
e, então: (2) Para um fim dos que crêem: para um fim tão bom e benéfico para
nós – “...para que por ele vivamos” (v.9), vivamos para sempre por meio dele,
vivamos no céu, vivamos com DEUS e vivamos em glória e bem-aventurança eterna
com Ele e por meio dele: Que amor incomparável! Então:
III
O amor divino
aos irmãos deve constranger o nosso: “Amados (eu os imploro à luz do seu
interesse pelo meu amor, a lembrar), se DEUS assim nos amou, também nós devemos
amar uns aos outros” (v. 11). Esse deveria ser um argumento invencível. O
exemplo de DEUS deveria nos estimular. Nós devemos ser imitadores (ou
seguidores) dele, como seus filhos amados. Os objetos do amor divino deveriam
ser os objetos do nosso amor. Será que nos recusaremos amar aqueles que o DEUS
eterno amou? Deveríamos ser admiradores do seu amor (da benevolência e
complacência que estão nele) e, consequentemente, amantes daqueles a quem Ele
ama. O amor geral de DEUS pela humanidade deveria provocar um amor universal na
humanidade. “Para que sejais filhos do Pai que está nos céus; porque faz que o
seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45). O amor peculiar de DEUS
à igreja e aos santos deveria produzir um amor especial nos cristãos: “...se DEUS
assim nos amou, também nós devemos, certamente (de maneira adequada), amar uns
aos outros”.
IV
O amor cristão
é uma garantia da habitação divina: “...se nós amamos uns aos outros, DEUS está
em nós” (v. 12). Então DEUS habita em nós, não por uma presença visível (“Ninguém
jamais viu a DEUS”, v. 12), mas pelo seu ESPÍRITO; ou: “Ninguém jamais viu a DEUS.
Ele não se apresenta aqui aos nossos olhos ou à nossa intuição imediata, e
assim Ele não exige e obriga o nosso amor desse modo; mas o exige e espera do
modo que achou ser apropriado merecê-lo e reivindicá-lo e isso ocorre pela
ilustração que deu de si e de seu amor (e, consequentemente, da sua amabilidade
também) na igreja universal e, especificamente, aos irmãos, os membros dessa
igreja. Neles e na sua aparição para eles e com eles, DEUS deve ser amado; e,
assim, se nós amamos uns aos outros, DEUS está em nós. Os que amam de modo
santo os irmãos são o templo de DEUS; a Majestade divina tem uma residência
peculiar ali”.
V
Dessa forma, o
amor divino alcança um fim notável e um cumprimento em nós: “E em nós é
perfeita a sua caridade (v. 12). Esse amor obteve sua perfeição em nós. O amor
de DEUS não é perfeito nele, mas em nós e conosco. Seu amor não poderia ser
projetado para ser ineficaz e infrutífero em nós; quando seu fim e resultado
genuínos e apropriados são assim atingidos e produzidos, pode-se dizer que ele
é perfeito; assim, a fé é aperfeiçoada pelas suas obras e o amor aperfeiçoado
pelas suas ações. Quando o amor divino nos fez à mesma imagem, conforme o amor
de DEUS e, consequentemente, ao amor dos irmãos, os filhos de DEUS, por sua
causa, ele é aperfeiçoado e completado nesse sentido, embora o nosso amor ainda
não esteja perfeito, nem o resultado final do amor divino em nós”. Deveríamos
ter um imenso desejo em aperfeiçoar esse amor cristão fraternal, pelo fato de DEUS
considerar seu próprio amor por nós perfeito nisso. A isso, o apóstolo, tendo
mencionado o elevado favor da habitação de DEUS em nós, acrescenta a marca e o
sinal apropriados: “Nisto conhecemos que estamos nele, e ele em nós, pois que
nos deu do seu ESPÍRITO” (v. 13). Certamente essa habitação mútua é algo mais
nobre e grandioso do que com aquilo que estamos familiarizados ou podemos
declarar. Alguns poderiam pensar que falar de DEUS habitando em nós e nós nele
seria usar palavras elevadas demais para nós mortais, se DEUS não tivesse
tomado a dianteira nisso. O significado dessa moradia foi brevemente explicado
sob o capítulo 3.24. O significado pleno disso precisa ser deixado para a
revelação do mundo abençoado. Mas nós conhecemos essa mútua habitação, diz o
apóstolo, “...pois que nos deu do seu ESPÍRITO”. Ele implantou a imagem e fruto
do seu ESPÍRITO em nosso coração (v. 13), e o ESPÍRITO que ele nos deu
mostra-se como o espírito dele, já que é o ESPÍRITO de fortaleza, de zelo e
magnanimidade por DEUS, de amor por DEUS e pelos homens e de moderação, de um
entendimento bem informado nas questões de DEUS e da religião e do seu Reino
entre os homens (2 Tm 1.7).
O Amor Divino
Visto que a fé em CRISTO produz amor a DEUS, e amor a
DEUS precisa incitar amor aos irmãos, o apóstolo confirma aqui o artigo
primordial da fé cristã como o fundamento desse tipo de amor. Aqui:
I
Ele proclama o
artigo fundamental da fé cristã, que é tão representativo do amor de DEUS: “...e
vimos, e testificamos que o Pai enviou seu Filho para Salvador do mundo” (v.
14). Vemos aqui: 1. A relação do Senhor JESUS com DEUS; Ele é Filho para o Pai,
um Filho como nenhum outro filho é e, assim, é DEUS com o Pai. 2. Sua relação e
missão com respeito a nós – Salvador do mundo; Ele nos salva pela sua morte,
exemplo, intercessão, ESPÍRITO e poder contra os inimigos da nossa salvação. 3.
A base que o fez se tornar assim – pela missão dele: “...o Pai enviou seu
Filho...”, Ele decretou e determinou sua vinda para cá, com o consentimento do
Filho. 4. A certeza do apóstolo acerca disso – ele e seus irmãos haviam visto
isso; viram o Filho de DEUS em sua natureza humana, em sua convivência e obras
divinas, em sua transfiguração no monte e em sua morte, ressurreição dos mortos
e ascensão magnífica ao céu; eles o viram de tal forma que estavam
absolutamente seguros de que Ele era o “...Unigênito do Pai, cheio de graça e
de verdade”. 5. O testemunho do apóstolo sobre isso: “...e vimos, e
testificamos. O peso dessa verdade nos obriga a testificar dela; a salvação do
mundo depende dela. A evidência dessa verdade nos autoriza a testificar acerca
dela; nossos olhos e ouvidos e mãos foram testemunhas dela”. Em razão disso:
II
O apóstolo
menciona a excelência, ou o privilégio excelente que acompanhava o devido
reconhecimento dessa verdade: “Qualquer que confessar que JESUS é o Filho de DEUS,
DEUS está nele e ele em DEUS” (v. 15). Essa confissão parece incluir fé no
coração como fundamento dela, reconhecimento com a boca, da glória de DEUS e de
CRISTO, e a profissão na vida e conduta, em oposição às bajulações ou
reprovações do mundo. Assim, “...ninguém pode dizer que JESUS é o Senhor, senão
pelo ESPÍRITO SANTO”, pelo testemunho exterior e a operação interior do ESPÍRITO
SANTO (1 Co 12.3). E,
assim, aquele que confessa a CRISTO, a presença de DEUS nele é enriquecida com
o ESPÍRITO de DEUS e ele tem um conhecimento prazeroso de DEUS e muito gozo
santo nele. Então:
III
O apóstolo
aplica isso para o estímulo ao amor santo. O amor de DEUS é visto e exercido
dessa forma em CRISTO JESUS; e, portanto, “...nós conhecemos e cremos no amor
que DEUS nos tem” (v. 16). A revelação cristã é, o que deveria torná-la
preciosa para nós, a revelação do amor divino; os artigos de nossa fé revelada
são da mesma forma artigos relativos ao amor divino. A história do Senhor JESUS
CRISTO é a história do amor de DEUS para conosco; todos os seus procedimentos
por seu Filho e com Ele eram provas de seu amor para conosco e modos de nos
levar adiante até o amor de DEUS: “DEUS estava em CRISTO reconciliando consigo
o mundo”. A partir disso podemos aprender:
1. Que “...DEUS é caridade” (v. 16). Ele é amor
essencial e ilimitado. Ele tem um amor incomparável e incompreensível por nós
neste mundo, o que Ele demonstrou pela missão e mediação de seu amado Filho. É
a grande objeção e dano contra a revelação cristã que o amor de DEUS seja tão
estranho e inexplicável a ponto de dar seu próprio Filho eterno por nós; é a
opinião preconceituosa de muitos contra a eternidade e a divindade do Filho de
que uma pessoa tão grandiosa pudesse ser dada por nós. Isso é, confesso,
misterioso e insondável; mas existem riquezas incompreensíveis de CRISTO. É uma
pena que a imensidão do amor divino deva se tornar uma idéia preconceituosa
contra a revelação e fé nele. Mas o que DEUS não se dispõe a fazer para
demonstrar a excelência de alguma perfeição sua? Para demonstrar um pouco do
seu poder e sabedoria, Ele fez um mundo como o nosso; quando queria mostrar
mais de sua grandeza e glória, fez o céu para os espíritos ministradores que
estão diante do trono. O que Ele não fará então quando se propõe a demonstrar
seu amor e demonstrar o seu amor mais elevado, ou que Ele próprio é amor, ou
que o amor é uma das qualidades mais brilhantes, preciosas e transcendentes de
sua natureza ilimitada; e demonstrar isso não somente a nós, mas ao mundo
angelical e aos principados e potestades acima, e isso não para a nossa
surpresa por um tempo, mas para a admiração e louvor e adoração e felicidade
dos nossos poderes mais exaltados por toda a eternidade? O que DEUS não fará
então? Certamente então será mais adequado ao desígnio e grandeza e gravidez do
seu amor (se puder chamá-lo dessa forma) em dar um Filho eterno por nós, em vez
de criar um Filho intencionalmente para nosso socorro. Em uma dispensação como
essa em dar um Filho natural, essencial e eterno por nós e a nós, Ele
certamente confiará seu amor a nós; e o que o DEUS de amor não fará quando se
propõe a aprovar seu amor e aprová-lo perante o céu e a terra e inferno, e
quando aprovará a si mesmo e se recomendará a si mesmo a nós e a nossa
convicção mais elevada, e também a nossa afeição, como é o próprio amor? E o
que dizer se aparecer por fim (o que oferecerei apenas para a consideração dos
sensatos) que o amor divino e, particularmente, o amor de DEUS em CRISTO fosse
o fundamento das glórias do céu, no gozo presente dos espíritos ministradores
que forem compatíveis com isso, e da salvação deste mundo e dos tormentos do
inferno? Esse último aspecto parece o mais estranho. Mas e se com isso
aparecesse não somente que DEUS é amor para si mesmo, ao vindicar sua própria
lei e governo e amor e glória, mas que os condenados ao inferno são julgados
assim ou são punidos dessa forma: (1) Pelo fato de desprezarem o amor de DEUS
já manifestado e exposto. (2) Pelo fato de se recusarem a serem amados naquilo
que tinha sido proposto e prometido. (3) Pelo fato de se tornarem impróprios
para ser os objetos do deleite e complacência divina? Se a consciência dos
condenados ao inferno os acusasse dessas coisas e, especialmente, de rejeitar a
instância mais elevada do amor divino e se a maior parte da criação inteligente
fosse abençoada incessantemente por meio da maior instância do amor divino,
então pode muito bem ser inscrito sobre toda a criação de DEUS: DEUS é caridade.
2. Que todo aquele que “...está em caridade está em DEUS,
e DEUS, nele” (v. 16). Existe grande comunhão entre o DEUS de amor e a alma que
ama; isto é, aquele que ama a criação de DEUS, de acordo com suas diferentes
relações com DEUS e recepção dele e interesse nele. Aquele que habita no amor
sagrado tem o amor de DEUS derramado em seu coração, tem a marca de DEUS em seu
espírito, o ESPÍRITO de DEUS santificando e selando-o, vive na meditação,
percepções e discernimentos do amor divino e em breve habitará com DEUS para
sempre.
O Amor Divino
O autor, após ter despertado, estimulado e inculcado
o amor sagrado a partir do grande padrão e motivo dele, o amor que é e habita
no próprio DEUS, continua a recomendá-lo de acordo com outras considerações; e
ele o recomenda em ambas as ramificações dele, tanto o amor a DEUS quanto o
amor ao nosso irmão ou ao nosso próximo.
I
Como amor a DEUS,
ao primum amabile – o primeiro e principal de todos os seres e objetos amáveis,
que tem a confluência de toda a beleza, excelência e amabilidade em si mesmo e
concede a todos os outros seres aquilo que os torna bons e amáveis. O amor a DEUS
parece aqui ser recomendado de acordo com as seguintes razões: 1. Ele nos trará
paz e satisfação de espírito no dia em que será mais necessário ou quando será
o maior prazer e bênção imaginável: “Nisto é perfeita a caridade para conosco,
para que no Dia do Juízo tenhamos confiança” (v. 17). Haverá um dia de
julgamento universal. Bem-aventurados os que tiverem ousadia santa e firme
perante o Juiz naquele dia, que serão capazes de levantar a cabeça e olhá-lo
face a face, sabendo que Ele é seu amigo e advogado! Bem-aventurados os que têm
ousadia e confiança santa na antecipação daquele dia, que olham e esperam por
ele e pelo aparecimento do Juiz! Assim fazem e assim farão aqueles que amam a DEUS.
Seu amor a DEUS assegura o amor de DEUS a eles e, consequentemente, a amizade
do Filho de DEUS; quanto mais amamos nosso amigo, especialmente quando sabemos
que Ele sabe disso, mais podemos confiar no seu amor. Como DEUS é bom e amoroso
e fiel à sua promessa, assim podemos ser facilmente persuadidos do seu amor e
dos frutos alegres do seu amor, ao dizer: Tu que sabes tudo sabes que te
amamos. A esperança não traz confusão; nossa esperança, concebida pela
consideração do amor de DEUS, não irá nos desapontar, “...porquanto o amor de DEUS
está derramado em nosso coração pelo ESPÍRITO SANTO que nos foi dado” (Rm 5.5). Possivelmente, onde
lemos o amor de DEUS, podemos entender nosso amor a DEUS, que está derramado em
nosso coração pelo ESPÍRITO SANTO; esse é o fundamento de nossa esperança, da
nossa certeza de que nossa esperança se confirmará no fim. Ou, se o amor a DEUS
significa o senso e apreensão de seu amor para conosco, ainda assim isso deve
pressupor ou nos incluir como amantes dele nesse caso; e, na verdade, o senso e
a evidência do seu amor para conosco derrama em nosso coração um amor por Ele;
e, assim, temos confiança para com Ele e paz e alegria nele. Ele irá dar a
coroa da justiça a todos que amam a sua vinda. E nós temos essa ousadia com
respeito a CRISTO por causa da nossa conformidade com Ele: “...porque, qual ele
é, somos nós também neste mundo” (v. 17). O amor nos conformou com Ele; assim
como Ele foi o grande amante de DEUS e dos homens, Ele nos ensinou a ser assim
também de acordo com a nossa capacidade e não negará sua própria imagem. O amor
nos ensina a também nos conformar nos sofrimentos; nós sofremos por Ele e com
Ele e, portanto, apenas podemos esperar e confiar que também seremos
glorificados juntamente com Ele (2 Tm 2.12). 2. Ele impede ou
remove o resultado e fruto do temor servil: “...na caridade, não há temor” (v.
18); na medida em que prevalece o amor, cessa o medo. Acredito que precisamos
distinguir aqui entre temor e estar com medo; ou, nesse caso, entre o temor a DEUS
e estar com medo dele. O temor a DEUS é frequentemente mencionado como a
essência da religião (1 Pe
2.17; Ap 14.7); e,
assim, envolve o elevado respeito e veneração que temos por DEUS e sua
autoridade e governo. Esse temor é concordante com o amor, sim, com o amor
perfeito, como o que está, por exemplo, nos próprios anjos. Mas também existe o
medo de DEUS, que surge de um sentimento de culpa e uma percepção de suas
perfeições vingativas. Na percepção deles, DEUS é visto como um fogo
consumidor; e assim o medo aqui pode ser entendido como pavor: não existe pavor
no amor. O amor considera seu objeto bom e excelente e, portanto, amável e
valioso a ponto de ser amado. O amor considera DEUS como o mais notavelmente
bom e como alguém que nos ama muitíssimo em CRISTO e, assim, tira o pavor e nos
veste com alegria. E, assim como o amor cresce, a alegria também cresce; de
modo que “...a perfeita caridade lança fora o temor” e o pavor (v. 18). Aqueles
que amam a DEUS perfeitamente são, a partir de sua natureza e plano e aliança,
perfeitamente assegurados de seu amor e, consequentemente, estão perfeitamente
livres de qualquer suspeita apavorante e sombria em relação ao seu poder e
justiça punitivos; eles bem sabem que DEUS os ama e, por isso, triunfam no seu
amor. O apóstolo argumenta de uma maneira sensata que a perfeita caridade lança
fora o temor (v. 18) – o medo é conhecido como uma paixão torturadora e
inquietadora, especialmente o tipo de medo como o pavor de um DEUS onipotente e
vingativo; mas o amor perfeito lança fora o medo, pois ensina à mente a
aquiescência e complacência perfeitas no amado e, portanto, a perfeita caridade
lança fora o temor. Ou, o que é equivalente aqui: “...o que teme não é perfeito
em caridade” (v. 18); esse é um sinal de que o nosso amor está longe de ser
perfeito, já que nossas dúvidas e medos e nossas apreensões em relação a DEUS
são tantas. Vamos almejar e nos apressar para alcançar o mundo do amor
perfeito, onde nossa serenidade e alegria em DEUS serão tão perfeitas quanto o
nosso amor! 3. Da fonte e origem desse amor, que é o amor antecedente de DEUS:
“Nós o amamos porque ele nos amou primeiro” (v. 19). O seu amor é o incentivo,
o motivo e a causa moral do nosso amor. É impossível deixar de amar um DEUS tão
bom que iniciou o ato e a obra do amor, que nos amou quando éramos indignos
desse amor e pouco atraentes. Ele nos amou mesmo que isso envolvesse um preço
tão grande. Ele nos amou, buscando e requerendo o nosso amor mesmo que isso
custasse o sangue do seu Filho e dignou-se em suplicar que fôssemos
reconciliados com Ele. Que o céu e o inferno fiquem maravilhados diante de um
amor tão singular! O seu amor é a causa geradora do nosso: A partir de sua
própria vontade ele nos chamou (sua própria vontade livre e amorosa). E sabemos
que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a ele,
daqueles que são chamados por seu decreto. Aqueles que amam a DEUS são chamados
por seu decreto (Rm 8.28);
o propósito do seu chamado está suficientemente claro nas cláusulas seguintes: e
aos que predestinou (ou antecipadamente resolveu), a esses também chamou,
efetivamente restabelecendo isso. O amor divino gravou amor em nossa alma. Que
o Senhor possa continuar encaminhando o nosso coração no amor de DEUS (2 Ts 3.5).
II
Como amar a
nosso irmão e próximo em CRISTO; esse amor é sustentado e impelido de acordo
com as seguintes razões: 1. Como sendo adequado e concordante com a nossa
confissão cristã: na confissão do cristianismo professamos amar a DEUS como a
raiz da religião: “Se alguém diz, ou professa: eu amo a DEUS, eu amo o seu
nome, a sua casa e adoração, e aborrece a seu irmão, a quem ele deveria amar
por amor a DEUS, é mentiroso – a sua profissão não passa de uma mentira”. O
apóstolo prova que alguém assim não ama a DEUS pela habilidade comum de amar o
que é visto em vez daquilo que não poder ser visto: “Pois quem não ama seu irmão,
ao qual viu, como pode amar a DEUS, a quem não viu?” (v. 20). O olho está
habituado a afetar o coração; coisas não vistas cativam menos a mente e, consequentemente,
o coração. A incompreensibilidade de DEUS é decorrente em grande parte de sua
invisibilidade; o membro de CRISTO tem muito do DEUS visível nele. Como, então,
aquele que odeia a imagem visível de DEUS pode ter a pretensão de amar o
original não visto, o próprio DEUS invisível? 2. Como sendo adequado à lei
expressa de DEUS e a razão justa dela: “E dele temos este mandamento: que quem
ama a DEUS, ame também seu irmão” (v. 21). Assim como DEUS transmitiu sua
imagem na natureza e na graça, assim Ele gostaria que o nosso amor fosse
devidamente difundido. Precisamos amar a DEUS de maneira original e suprema e
os outros nele, de acordo com a sua derivação e recepção dele e do seu
interesse neles. Nossos irmãos cristãos, tendo uma nova natureza e privilégios
excelentes derivados de DEUS e DEUS tendo seu interesse neles bem como em nós,
torna-se uma obrigação naturalmente adequada “...que quem ama a DEUS, ame
também seu irmão”.
Nesse capítulo, o apóstolo mostra: I. A dignidade dos
crentes (v. 1). II. Sua obrigação de amar e o teste disso (vv. 1-3). III. Sua
vitória (vv. 4,5). IV. A credibilidade e confirmação de sua fé (vv. 6-10). V. A
vantagem de sua fé na vida eterna (vv. 11-13). A resposta das orações, menos
daqueles que pecaram para a morte (vv. 14-17). VII. A sua preservação do pecado
e de Satanás (v. 18). VIII. Sua distinção bem-aventurada do mundo (v. 19). IX.
O seu verdadeiro conhecimento de DEUS (v. 20), que os obriga a se afastar dos
ídolos.
Amor e Fé
I
O apóstolo,
tendo, na conclusão do último capítulo, como foi observado ali, compelido ao
amor cristão segundo aquelas duas razões, adequado à profissão cristã e à ordem
divina, acrescenta aqui uma terceira: esse tipo de amor é adequado e de fato
exigido pelo seu relacionamento elevado; nossos irmãos cristãos ou irmãos
semelhantes estão intimamente ligados a DEUS; eles são seus filhos: “Todo
aquele que crê que JESUS é o CRISTO é nascido de DEUS” (v. 1). Aqui o irmão
cristão é: 1. Descrito pela sua fé; aquele que crê que JESUS é o CRISTO é
nascido de DEUS – que Ele é o Messias, o príncipe, que é o Filho de DEUS por
natureza e ofício, que é o chefe de todo mundo ungido, chefe de todos os
sacerdotes, profetas ou reis que já foram ungidos por DEUS ou para Ele, que
está perfeitamente preparado e suprido para todo o trabalho da salvação eterna
– se rende ao seu cuidado e direção. 2. Ele é dignificado pela sua linhagem: “...é
nascido de DEUS” (v. 1). Esse princípio de fé e a sua nova natureza que o
acompanha e da qual emerge são gerados pelo ESPÍRITO de DEUS; e assim filiação
e adoção não são agora de acordo com a descendência de Abraão segundo a carne,
nem com o antigo Israel de DEUS; todos os crentes, embora por natureza
pecadores dentre os gentios, provêm espiritualmente de DEUS e devem ser amados
de acordo com isso; como é acrescentado: “...todo aquele que ama ao que o gerou
também ama ao que dele é nascido”. Parece natural que o que ama o Pai também
deva amar os filhos e isso, de certo modo, devido à sua semelhança com o Pai e
do amor do Pai por eles; e assim devemos primeiramente amar o Filho do Pai,
como Ele é enfaticamente chamado (2 Jo 3), o Filho unigênito e o
Filho do seu amor e, então, aqueles que são voluntariamente gerados e renovados
pelo ESPÍRITO da graça.
II
O apóstolo
mostra: 1. Como podemos discernir a verdade ou a verdadeira natureza cristã de
nosso amor pelos regenerados. O fundamento disso precisa ser nosso o amor a DEUS,
a quem eles pertencem: “Nisto conhecemos que amamos os filhos de DEUS: quando
amamos a DEUS e guardamos os seus mandamentos” (v. 2). Nosso amor a eles
mostra-se bom e genuíno quando os amamos não meramente por algum motivo
secular, pelo fato de serem ricos ou bem informados ou amáveis conosco ou
porque pertencem à nossa denominação religiosa; mas porque são filhos de DEUS,
porque a sua graça regenerativa aparece neles, sua imagem e inscrição estão
neles e, assim, o próprio DEUS é amado neles. Assim, vemos porque o amor aos
irmãos é tão ressaltado nesta epístola: é amor a eles como filhos de DEUS e
como irmãos adotivos do Senhor JESUS. 2. De que maneira podemos descobrir a
veracidade do nosso amor a DEUS – isso aparece em nossa obediência santa: “...quando
amamos a DEUS e guardamos os seus mandamentos” (v. 2). Amamos a DEUS
verdadeiramente e de acordo com o evangelho quando guardamos os seus
mandamentos: “Porque esta é a caridade de DEUS: que guardemos os seus
mandamentos”; e guardar os seus mandamentos requer um espírito disposto e que
se alegre nisso; e assim “...os seus mandamentos não são pesados” (v. 3). Ou: esta
é a caridade de DEUS: que, assim como, por meio dele, somos determinados a
obedecer e guardar os mandamentos de DEUS, dessa forma, seus mandamentos se
tornam fáceis e prazerosos para nós. Oh! Quanto amo a tua lei! “Correrei pelo
caminho dos teus mandamentos, quando dilatares o meu coração” (Sl 119.32), quando o
dilatares com o amor ou com o seu ESPÍRITO, a fonte do amor. 3. O que é e o que
deve ser o resultado e efeito da regeneração – uma vitória espiritual e
intelectual deste mundo: Porque qualquer que é nascido de DEUS, ou, de acordo
com alguns manuscritos, quem quer que seja “...nascido de DEUS vence o mundo”
(v. 4). Aquele que é nascido de DEUS é nascido para DEUS e, consequentemente,
para outro mundo. Ele tem uma disposição e inclinação que busca um mundo melhor
e superior; e está equipado com armas ou uma arma, que lhe permitem repelir e
conquistá-lo. Então é acrescentado: “...e esta é a vitória que vence o mundo: a
nossa fé” (v. 4). A fé é a causa da vitória, o meio, o instrumento, a armadura
e artilharia espiritual pela qual nós vencemos; pois: (1) Na fé e pela fé nos
agarramos a CRISTO, apesar da oposição e desprezo do mundo. (2) A fé opera em e
pelo amor a DEUS e CRISTO, afasta-nos do amor ao mundo. (3) A fé santifica e
purifica o coração daquelas concupiscências carnais por meio das quais o mundo
obtém tamanho controle e domínio sobre as almas. (4) Ela recebe e deriva força
do objeto dela, o Filho de DEUS, pelo fato de vencer o olhar de censura e
adulações do mundo. (5) Ela obtém, pela promessa do evangelho, o direito ao ESPÍRITO
da graça que vive em nós, que é maior do que aquele que habita no mundo. (6)
Ela enxerga um mundo invisível próximo, com o qual este mundo não é digno de
ser comparado e dentro do qual ela diz à alma em que reside que precisa estar
continuamente preparada para entrar. Então:
III
O apóstolo
conclui que o verdadeiro cristão é, de fato, o verdadeiro vencedor do mundo: “Quem
é que vence o mundo, senão então aquele que crê que JESUS é o Filho de DEUS?”
(v. 5). É o mundo que fica no nosso caminho para o céu e é o grande impedimento
para nossa entrada lá. Mas aquele que acredita que JESUS é o Filho de DEUS
acredita, dessa maneira, que JESUS veio de DEUS para ser o Salvador do mundo e
nos conduzir poderosamente do mundo para o céu e para DEUS, que deve ser
plenamente desfrutado lá. E aquele que acredita dessa forma deve superar o
mundo por meio dessa fé. Pois: 1. Ele precisa estar bem convencido de que este
mundo é um inimigo impetuoso da sua alma, da sua santidade e salvação e
bem-aventurança: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo” (1Jo 2.16). 2. Ele vê que
precisa fazer parte substancial da obra do Salvador e de sua própria salvação e
ser redimido e resgatado deste mundo maligno. “O qual se deu a si mesmo por
nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de DEUS,
nosso Pai” (Gl 1.4). 3. Ele
vê pela vida e conduta do Senhor JESUS na terra que este mundo deve ser
renunciado e vencido. 4. Ele percebe que o Senhor JESUS venceu o mundo, não
apenas para si mesmo, mas para seus seguidores; eles precisam buscar ser
participantes de sua vitória. “Tende bom ânimo, eu venci o mundo”. 5. Ele é
ensinado e influenciado pela morte do Senhor JESUS a ser mortificado e
crucificado para o mundo. “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na
cruz de nosso Senhor JESUS CRISTO, pela qual o mundo está crucificado para mim
e eu, para o mundo” (Gl 4.14).
6. Ele foi gerado, pela ressurreição de JESUS CRISTO dos mortos, para uma viva
esperança de um mundo abençoado no céu (1 Pe 1.3). 7. Ele sabe que o
Salvador foi para o céu e está preparando um lugar para os que crêem nele
seriamente (Jo 14.2). 8.
Ele sabe que o seu Salvador virá novamente e colocará um fim a este mundo e
julgará os habitantes dele e receberá os crentes na sua presença e glória (Jo 14.3). 9. Ele é dotado de
um espírito e disposição que não podem ser satisfeitos neste mundo, que olham
além dele e continuam zelando, se esforçando e lutando para alcançar o céu. “E,
por isso, também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do
céu” (2 Co 5.2). De forma
que é a fé cristã que propicia aos seus seguidores um império universal. A
revelação cristã é o grande método de conquistar este mundo e ganhar a outrem
que é totalmente puro, pacífico, abençoado e eterno. É lá, naquela revelação,
que vemos qual é o motivo e o fundamento da disputa e debate entre o santo DEUS
e este mundo rebelde. É lá onde deparamos com a doutrina sagrada (tanto
especulativa quanto prática), completamente contrária ao curso, estado e
tendência deste mundo. É por meio dessa doutrina que é comunicado e difundido
um espírito que é superior e adverso ao espírito do mundo. É lá que percebemos
que o próprio Salvador não era deste mundo, que seu reino não era e não é deste
mundo, que esse reino precisa ser desassociado deste mundo e separado para o
céu e para DEUS. Ali vemos que o Salvador não destina este mundo para a herança
e porção da sua multidão de salvos. Assim como Ele próprio foi ao céu, assim
Ele lhes assegura que preparará lugar para eles ali, deixando claro que
deveriam sempre viver com Ele e mostrando que se tivessem esperança nele apenas
para esta vida e este mundo, seriam, no fim, os mais miseráveis. É ali que o
mundo sagrado e eterno é mais claramente revelado e exposto ao nosso amor e
busca. É ali que somos equipados com as melhores armas e a melhor artilharia
contra os ataques e assaltos do mundo. É ali que somos ensinados como o mundo
será superado pelo seu próprio arco, ou sua artilharia voltada contra si
própria; e suas oposições, batalhas e perseguições tornadas úteis para nossa
vitória sobre o mundo e para nossa ascensão ao mundo celestial acima: e ali
somos encorajados por todo um exército e multidão de soldados santos, que, em
suas diferentes épocas, guarnições e postos superaram o mundo e conquistaram a
coroa. O verdadeiro cristão é o herói respeitável, que derrota o mundo e se
regozija em uma vitória universal. Ele não lamenta (pois é bem superior ao
monarca grego) que não exista mais um mundo a ser conquistado, mas se agarra ao
mundo eterno da vida e, em um sentido sagrado, conquista o Reino dos céus por
violência também. Quem em todo o mundo senão o que crê em JESUS CRISTO pode
vencer o mundo dessa forma?
O Testemunho no Céu e na Terra
A fé do crente em CRISTO, sendo poderosa e vitoriosa
dessa forma, tem a necessidade de ser bem fundamentada, para ser suprida com
evidência celestial inquestionável quanto à missão, autoridade e ofício divinos
do Senhor JESUS. Ele leva suas credenciais consigo e as leva na maneira pela
qual veio e através da testemunha que o acompanha.
I
Na forma como
veio; não apenas como veio ao mundo, mas com o que veio, apareceu e atuou como
um Salvador no mundo: “Este é aquele que veio por água e sangue”. Ele veio para
nos salvar de nossos pecados, para nos dar vida eterna e nos levar até DEUS; e,
para que pudesse fazer isso com maior garantia, ele veio por, ou com, água e
sangue (v. 6), isto é, JESUS CRISTO. Foi JESUS CRISTO que veio dessa forma; e
ninguém senão Ele. Repito: “...não só por ou com água, mas por água e por
sangue” (v. 6). JESUS CRISTO veio com água e sangue, como os sinais e marcas do
verdadeiro Salvador efetivo no mundo; e Ele veio por água e sangue como o meio
para nos curar e salvar. O fato de que Ele precisava vir e, de fato, veio dessa
forma em seu ofício salvífico pode mostrar-se pela lembrança das seguintes
coisas:
1. Estamos maculados tanto interiormente quanto
exteriormente. (1) Interiormente, pelo poder e contaminação do pecado em nossa
natureza. Para a purificação disso precisamos de água espiritual; água tal que
pode alcançar a alma e os poderes dela. Também existe em e por meio de CRISTO JESUS
a “...lavagem da regeneração e da renovação do ESPÍRITO SANTO”. E isso foi
sugerido aos apóstolos pelo nosso Senhor, quando lavou os seus pés e disse a
Pedro, que se recusou a ser lavado: “...se eu te não lavar, não tens parte
comigo”. (2) Estamos maculados exteriormente, pela culpa e poder condenatório
do pecado sobre nossa pessoa. Por causa disso, estamos separados de DEUS e
banidos de sua presença favorável, graciosa e bem-aventurada para sempre. Por
causa disso, precisamos ser purificados pelo sangue expiatório. É a lei ou a
resolução do tribunal divino que “...sem derramamento de sangue não há remissão”
(Hb 9.22). O Salvador do
pecado precisa, portanto, vir com sangue.
2. Os dois modos de purificação foram representados
nas antigas instituições cerimoniais de DEUS. Pessoas e coisas precisam ser
purificadas por água e sangue. Existiam “...abluções e justificações da carne,
impostas até ao tempo da correção” (Hb 9.10). “...a cinza de uma
novilha, misturada com água, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto
à purificação da carne” (Hb
9.13; Nm 19.9). “E
quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue” (Hb 9.22). Assim como esses
textos mostram nossa contaminação dupla, da mesma forma eles indicam a
purificação dupla operada pelo Salvador.
3. Na morte de JESUS CRISTO, seu lado sendo perfurado
pela lança de um soldado, imediatamente saíram sangue e água do ferimento. O
apóstolo amado observou essa singularidade em JESUS e parece ter sido afetado
por isso; ele é o único a registrar esse aspecto e parece sentir-se obrigado a
registrá-lo, como se contivesse algo misterioso: “...aquele que o viu
testificou, e o seu testemunho é verdadeiro, e sabe, sendo testemunha ocular, que
é verdade o que diz, para que também vós o creiais e para que creiais nessa
particularidade, que de seu lado perfurado logo saiu sangue e água” (Jo 19.34,35). Essa água e esse sangue
incluem tudo que é necessário e efetivo para a nossa salvação. Pela água nossas
almas são lavadas e purificadas para o céu e para a região dos santos na luz.
Pelo sangue, DEUS é glorificado, sua lei é honrada e suas superiores
justificativas são esclarecidas e reveladas. “...ao qual DEUS propôs, ou
designou, ou ofereceu, para propiciação pela fé no seu sangue, ou uma
propiciação em ou pelo seu sangue por meio da fé, para demonstrar a sua justiça
pelo remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de DEUS; [...] para
que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em JESUS” (Rm 3.25,26). Pelo sangue somos
justificados, reconciliados e apresentados justos a DEUS. Pelo sangue, a
maldição da lei sendo paga, o ESPÍRITO purificador é obtido para a ablução
interna de nossa natureza. “CRISTO nos resgatou da maldição da lei, [...] para
que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por JESUS CRISTO e para que, pela
fé, nós recebamos a promessa do ESPÍRITO, o ESPÍRITO prometido” (Gl 3.13ss.). A água, assim
como o sangue, saiu do lado do Redentor sacrificado. A água e o sangue, então,
incluem todas as coisas que podem ser requisitos para nossa salvação. Eles
consagrarão e santificarão, para esse propósito, tudo o que DEUS estabelecer ou
que fizer uso para esse grande fim. “CRISTO amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela
palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa” (Ef 5.25-27). Aquele
que vem por água e sangue é um Salvador perfeito ou sem defeitos. Esse é aquele
que vem por água e sangue, a saber, JESUS CRISTO! Dessa maneira vemos de que
modo ou, se quiser, com que agentes, Ele vem. Mas também vemos suas
credenciais:
II
Pela
testemunha que o acompanha, ou seja, o ESPÍRITO divino, esse ESPÍRITO a quem o
aperfeiçoamento das obras de DEUS é geralmente atribuído: “E o ESPÍRITO é o que
testifica...” (v. 6). Era apropriado que o Salvador autorizado do mundo tivesse
um agente constante para apoiar seu trabalho e testificar a respeito dele no
mundo. Era apropriado que um poder divino o auxiliasse, ao seu evangelho e seus
servos; e notificasse ao mundo a respeito da incumbência e missão deles: isso
foi feito no ESPÍRITO de DEUS e por Ele, de acordo com a própria predição do
Salvador: “...ele me glorificará, mesmo quando Eu for rejeitado e crucificado
pelos homens, porque há de receber ou apropriar-se do que é meu. Ele não
receberá o meu ofício imediato; não morrerá e ressuscitará novamente por vós; mas
há de receber do que é meu, agirá sobre o fundamento que Eu coloquei, assumirá
a minha instituição e verdade e causa e vo-lo há de anunciar e, por meio de
vós, ao mundo” (Jo 16.14).
Então o apóstolo acrescenta a recomendação ou aceitação dessa testemunha: “...porque
o ESPÍRITO é a verdade” (v. 6). Ele é o ESPÍRITO de DEUS e não pode mentir. Há
um manuscrito que nos proporcionaria uma leitura muito apropriada: Porque CRISTO
é a verdade. Assim, indica o assunto do testemunho do ESPÍRITO, aquilo que Ele
atesta, ou seja, a verdade de CRISTO: E o ESPÍRITO é o que testifica que CRISTO
é a verdade; e, consequentemente, que o cristianismo ou a fé cristã é a
verdade, a verdade de DEUS. Mas não é correto que um ou dois manuscritos
alterassem o texto; e nossa presente leitura é muito propícia e por isso vamos
mantê-la. “...o ESPÍRITO é a verdade”. Ele, entretanto, é o ESPÍRITO da verdade
(Jo 14.17). Que o ESPÍRITO
é a verdade e uma testemunha digna de toda aceitação mostra-se pelo fato de Ele
ser uma testemunha celestial ou uma das testemunhas que no e do céu dão
testemunho da verdade e autoridade de CRISTO. “Porque três são os que
testificam no céu: o Pai, a Palavra e o ESPÍRITO SANTO; e estes três são um”. E
assim o versículo 7 é uma prova da autenticidade do testemunho do ESPÍRITO. Ele
precisa ser verdadeiro ou até mesmo ser a verdade, não apenas uma testemunha no
céu, mas mesmo um (não somente no testemunho, pois isso um anjo também poderia
ser, mas no ser e na essência) com o Pai e a Palavra. Mas aqui:
1. Somos interrompidos em nosso curso pela
controvérsia que existe a respeito da autenticidade do versículo 7. Alega-se
que muitos manuscritos gregos antigos não o contêm. Não entraremos nessa
controvérsia. Parece que os críticos não estão de acordo em relação aos
manuscritos que o contêm ou não. Eles também não nos informam suficientemente
acerca da integridade e valor dos manuscritos que examinam. Alguns podem conter
tantos erros, como, por exemplo, um dos meus Antigos Testamentos gregos, que
está repleto de erratas, que poderíamos imaginar que nenhum crítico poderia
fundamentar sua variante textual utilizando esse manuscrito. Mas vamos deixar
que os cotejadores sensatos e criteriosos resolvam essa situação. Existem
algumas suposições racionais que sustentam o texto e a versão atual:
(1) Se admitirmos o versículo 8 no lugar do versículo
7, parece demais como uma tautologia e repetição daquilo que foi incluído no
versículo 6: “Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, JESUS CRISTO;
não só por água, mas por água e por sangue. E o ESPÍRITO é o que testifica. E
três são os que testificam: o ESPÍRITO, e a água, e o sangue. Isso nem de perto
especifica uma introdução tão nobre dessas três testemunhas do que a nossa
presente versão.
(2) Observa-se que muitos manuscritos trazem essa
cláusula distinta: na terra: “E três são os que testificam na terra”. Essa
interpretação apresenta uma oposição visível em relação a alguns testemunhos
alhures, e, portanto, nos é relatado, pelas adversidades do texto, que essa
cláusula deveria ser omitida na maioria dos livros que desejam manter o
versículo 7. Mas, deveria pela mesma razão, ser sempre assim. Suponhamos que o
versículo 6 seja lido da seguinte forma: Este é aquele que veio por água e
sangue. E o ESPÍRITO é o que testifica, porque o ESPÍRITO é a verdade. Não
parece natural e apropriado acrescentar: E três são os que testificam na terra,
a não ser que suponhamos que o apóstolo quisesse nos relatar que todos os
testemunhos são como tais que estão na terra, quando, entretanto, ele nos
assegura que são infalivelmente verdadeiros ou a própria verdade.
(3) Observamos uma variante de leitura, mesmo no
texto grego, como ocorre no versículo 7. Alguns manuscritos trazem: hen eisi –
são um; outros (pelo menos, o Complutensiano): eis to hen eisin – estão em um
ou concordam num; e no versículo 8 (na parte que se conjectura que deveria ser
aceito), em vez da leitura habitual: en te ge – na terra, uma versão traz: epi
tes ges – sobre a terra, que parece demonstrar que essa edição dependia de
alguma autoridade grega, e não meramente, como alguns gostariam que acreditássemos,
da autoridade do latim vulgar ou de Tomás de Aquino, embora seu testemunho
pudesse ser acrescentado também.
(4) O versículo 7 concorda com o estilo e a teologia
do nosso apóstolo; como: [1] Ele se deleita no título o Pai, quer indique com
isso somente DEUS ou uma pessoa divina distinta do Filho. Eu e o Pai somos um. Mas
não estou só, porque o Pai está comigo. E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará
outro Consolador. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. A graça,
a misericórdia, a paz, da parte de DEUS o Pai e da do Senhor JESUS CRISTO, o
Filho do Pai, sejam convosco (2
Jo 3). Então: [2] O título a Palavra é conhecido por ser quase (se não
completamente) peculiar a esse apóstolo. Tivesse o texto sido transmitido por
outro, seria mais fácil e óbvio, com base na forma do batismo e da linguagem
comum da igreja, ter usado o título Filho ao invés de a Palavra. Tertuliano e
Cipriano usaram esse título, mesmo quando se referem a esse versículo; ou isso
se torna uma objeção contra a referência deles desse versículo, porque eles
falam do Filho, não da Palavra; e mesmo assim a expressão de Cipriano parece
muito clara pela citação do próprio Facundus. Quod Johannis apostoli
testimonium beatus Cyprianus, Carthaginensis antistes et martyr, in epistolá
sive libro, quem de Trinitate scripsit, de Patre, Filio, et Spiritu sancto
dictum intelligit; ait enim, Dicit Dominus, Ego et Pater unum sumus; et iterum de
Patre, Filio, et Spiritu sancto scriptum est, Et hi tres unum sunt – O bendito
Cipriano, bispo e mártir cartaginês, na epístola ou livro que escreveu
referente à Trindade, considerou que o testemunho do apóstolo João se referia
ao Pai, ao Filho e ao ESPÍRITO SANTO; porque ele diz: o Senhor diz: Eu e o Pai
somos um; e novamente, do Pai, do Filho, e do ESPÍRITO SANTO é escrito: e estes
três são um. Não encontramos em nenhum lugar que esses três são um, senão no
versículo 7. É provável, então, que Cipriano, ou citando de memória ou
intentando as coisas acima das palavras, as pessoas acima de nomes ou chamar as
pessoas pelos seus nomes mais comuns na igreja (tanto em discursos populares
quanto polêmicos), chamou o segundo pelo nome Filho em vez de a Palavra. Se
alguém pode consentir com a fantasia de Facundus, de que Cipriano queria dizer
que o ESPÍRITO, a água e o sangue eram, de fato, o Pai, a Palavra e o ESPÍRITO,
que João disse que eram um, ele pode desfrutar dessa opinião para si mesmo.
Porque, em primeiro lugar, ele deve supor que Cipriano não somente mudou todos
os nomes, mas também a ordem do apóstolo. Porque, o sangue (o Filho), que
Cipriano coloca em segundo lugar, o apóstolo tinha colocado por último. E, em
segundo lugar, ele precisa supor que Cipriano achava que pelo sangue que saiu
do lado do Filho, o apóstolo imaginava ser o próprio Filho, quem também podia
ter sido denotado pela água, – que pela água, que também saiu do lado do Filho,
o apóstolo tinha em mente a pessoa do ESPÍRITO SANTO; que pelo ESPÍRITO, que no
versículo 6 é dito ser a verdade, e no evangelho é chamado de ESPÍRITO da
verdade, o apóstolo tinha em mente a pessoa do Pai, embora não seja chamado
assim em nenhum outro texto quando mencionado junto com o Filho e o ESPÍRITO SANTO.
Requeremos provas claras dessa interpretação do apóstolo feita pelo pai cartaginês.
Aquele que interpreta esse texto dessa forma também precisa crer que o Pai,
Filho, e ESPÍRITO SANTO são considerados três testemunhas na terra. Em
terceiro, lugar Facundus reconhece que Cipriano diz que dos seus três está
escrito: Et hi tres unum sunt – e esses três são um. Ora, essas são as
palavras, não do versículo 8, mas do versículo 7. Elas não são usadas em
relação aos três na terra, o ESPÍRITO, a água e o sangue; mas aos três no céu:
o Pai, a Palavra, e o ESPÍRITO SANTO. Assim, lemos que o autor do livro De
baptismo haereticorum, que possivelmente foi contemporâneo de Cipriano, cita as
palavras de João, favoravelmente aos manuscritos gregos e às versões antigas,
da seguinte forma: Ait enim Johannes de Domino nostro in epistolâ nos docens,
Hic es qui venit per aquam et sanguinem, JESUS Christus, non in aquâ tantùm,
sed in aquâ et sanguine; et Spiritus est qui testimonium perhibet, quia
Spiritus est veritas; quia tres testimonium perhibent, Spiritus Et aqua et
sanguis, et isti tres in unum sunt – Porque João, em sua epístola, diz o seguinte
referente ao nosso Senhor: Este é aquele, JESUS CRISTO, que veio pela água e
sangue, não somente em água, mas em água e sangue; e é o ESPÍRITO que
testifica, porque o ESPÍRITO é verdade; porque existem três que testificam: o ESPÍRITO,
a água e o sangue, e esses três concordam num. Se todos os manuscritos gregos e
versões antigas dizem a respeito do ESPÍRITO, a água e o sangue, que in unum
sunt – eles concordam num, então não foi acerca deles que Cipriano falou,
quaisquer que sejam as variações nos manuscritos da sua época, quando disse que
está escrito: unum sunt – eles são um. Portanto, as palavras de Cipriano
continuam sendo um firme testemunho acerca do versículo 7, e também uma
sugestão de que um falsário do texto dificilmente teria acertado exatamente o
nome apostólico para a segunda testemunha no céu: a Palavra. Então: [3] Assim
como somente este apóstolo registra a história da água e do sangue saindo do
lado do Salvador, assim também somente ele, ou ele principalmente, registra as
promessas e predições do Salvador a respeito do ESPÍRITO SANTO vindo para
glorificá-lo, e para testificar dele, e para convencer o mundo da sua própria
incredulidade e da justiça dele, de acordo com o seu evangelho (Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7-15). É mais
apropriado então ao estilo do evangelho desse apóstolo referir-se ao ESPÍRITO SANTO
como uma testemunha de JESUS CRISTO.
(5) Era muito mais fácil que um copista, ao desviar
seu olho ou por causa da obscuridade da cópia, estando ela apagada ou
desfigurada na parte de cima ou na de baixo da página ou por causa dos
materiais desgastados pelo tempo em que os anciãos tinham de escrever, perdesse
ou omitisse a passagem do que um interpolador imaginar e inseri-la. Alguém
assim precisava ser muito ousado e imprudente para esperar que poderia escapar
da descoberta e da vergonha. Também seria uma atitude profana, ousar
arriscar-se a colocar um acréscimo em um livro admitidamente sagrado.
(6) Dificilmente pode ser conjecturado que, quando o
apóstolo está descrevendo a fé cristã em vencer o mundo, e o fundamento do qual
depende na aceitação de JESUS CRISTO, e os vários testemunhos que foram dados
de JESUS CRISTO no mundo, ele omitisse a testemunha suprema que o acompanhava,
especialmente quando consideramos o que ele quis dizer ao concluir, como o faz
(v. 9): “Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de DEUS é maior;
porque o testemunho de DEUS é este (que ele tinha relatado em detalhes
anteriormente), que de seu Filho testificou”. Nas testemunhas da terra não
temos todo o testemunho de DEUS, nem, na verdade, qualquer testemunha de quem é
verdadeira e imediatamente DEUS. Os opositores antitrinitários do texto negarão
que tanto o ESPÍRITO quanto a água ou o sangue são DEUS; mas em nossa versão
corrente existe uma nobre enumeração das diversas testemunhas e testificadores
sustentando a verdade do Senhor JESUS e a divindade de sua instituição. Temos
aqui o mais excelente resumo dos motivos da fé em CRISTO, das credenciais que o
Salvador traz consigo e das evidências de nosso cristianismo que pode ser
achado, acredito, no livro de DEUS, em cujo relato singular, mesmo deixando de
lado a doutrina da Trindade divina, o texto é digno de toda aceitação.
2. Tendo interiorizado esses fundamentos racionais,
podemos prosseguir. Após dizer que o ESPÍRITO que testemunha de CRISTO é
verdadeiro, o apóstolo nos mostra que Ele é de fato assim, ao afirmar que Ele
está no céu e que também existem outros que são verdadeiros ou verdade em si
mesmos, concordando em testemunho com Ele: “Porque três são os que testificam
no céu: o Pai, a Palavra e o ESPÍRITO SANTO; e estes três são um” (v. 7).
(1) Vemos uma trindade de testemunhas celestiais, que
testificaram e comprovaram ao mundo a veracidade e autoridade do Senhor JESUS
em sua missão e reivindicações: [1] A primeira que ocorre na ordem é o Pai. Ele
fixou seu selo na comissão de JESUS CRISTO durante todo o tempo em que esteve
aqui; mais especificamente, em primeiro lugar, ao proclamá-lo em seu batismo (Mt 3.17).Em segundo lugar, ao
confirmar sua natureza na transfiguração (Mt 17.5). Em terceiro lugar,
ao acompanhá-lo com poder e obras milagrosas: “Se não faço as obras de meu Pai,
não me acrediteis. Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras, para
que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim, e eu, nele” (Jo 10.37,38). Em quarto lugar, ao
sustentá-lo na sua morte (Mt
27.54). Em quinto lugar, ao ressuscitá-lo dentre os mortos e recebê-lo na
sua glória. Ele “...convencerá o mundo... da justiça, porque vou para meu Pai,
e não me vereis mais” (Jo
16.10; Rm 1.4). [2] A
segunda testemunha é a Palavra, um nome misterioso, envolvendo a natureza mais
elevada que pertence ao Salvador JESUS CRISTO, em que Ele existia antes de o
mundo existir, por meio da qual fez o mundo e era verdadeiramente DEUS com o
Pai. Ele deve testificar da natureza humana, ou do homem JESUS, em quem e por
meio de quem nos redimiu e salvou; e Ele testificou, em primeiro lugar, pelas
obras poderosas que realizou (Jo
5.17): “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. Em segundo
lugar, ao conferir uma glória a Ele na sua transfiguração. “E vimos a sua
glória, como a glória do Unigênito do Pai” (Jo 1.14). Em terceiro lugar,
Ao ressuscitá-lo dentre os mortos (Jo 2.19): “Derribai este
templo, e em três dias o levantarei”. [3] A terceira testemunha é o ESPÍRITO SANTO,
um nome augusto e venerável, o possuidor, proprietário e autor da santidade.
Aquele em quem o ESPÍRITO coloca seu selo e testemunho solene precisa ser
verdadeiro e fiel. Foi o que Ele fez ao Senhor JESUS, a cabeça da igreja
cristã; e isso em circunstâncias como essas: em primeiro lugar, na milagrosa
criação de sua natureza humana imaculada no ventre da virgem. “Descerá sobre ti
o ESPÍRITO SANTO” (Lc 1.35ss.).
Em segundo lugar, na descida visível sobre Ele no seu batismo. “O ESPÍRITO SANTO
desceu sobre ele em forma corpórea” (Lc 3.22ss.). Em terceiro
lugar, em um triunfo efetivo sobre os espíritos do inferno e da escuridão. “Mas,
se eu expulso os demônios pelo ESPÍRITO de DEUS, é conseguintemente chegado a
vós o Reino de DEUS” (Mt
12.28). Em Quarto lugar, na descida poderosa e visível sobre os apóstolos,
para equipá-los com dons e poderes para pregar a respeito dele e do seu
evangelho ao mundo depois que Ele havia voltado para o céu (At 1.4,5; 2.2-4 etc.). Em quinto
lugar, em apoiar o nome, evangelho e interesse de CRISTO, por meio de dons e
operações milagrosas pelos seus discípulos e neles, e nas igrejas, durante
duzentos anos (1 Co 12.7),
a respeito do que veja a excelente dissertação do Dr. Whitby, no prefácio ao
segundo volume de seu Comentário sobre o Novo Testamento. Essas são testemunhas
no céu e elas dão testemunho do céu; e elas são um, pelo que parece, não apenas
em testemunho (pois isso está inferido no fato de elas serem três testemunhas
do mesmo fato), mas de acordo com uma razão mais elevada, como são no céu; elas
são um em seu ser e essência celestiais; e, se são um com o Pai, precisam ser
um DEUS.
(2) A essas é justaposta, embora unida com elas, uma
trindade de testemunhas na terra, que continuam aqui embaixo: “E três são os
que testificam na terra: o ESPÍRITO, e a água, e o sangue; e estes três
concordam num” (v. 8). [1] O ESPÍRITO é a primeira dessas testemunhas. Ele
precisa ser distinguido da pessoa do ESPÍRITO SANTO, que está no céu.
Precisamos dizer então, com o Salvador (de acordo com o que foi comunicado por
esse apóstolo): “...o que é nascido do ESPÍRITO é espírito” (Jo 3.6). Os discípulos do
Salvador são, como os outros, nascidos segundo a carne. Eles vieram ao mundo
dotados de uma tendência carnal corrupta, que é inimiga de DEUS. Essa
inclinação precisa ser mortificada e abolida. Uma nova natureza precisa ser
transmitida. Antigas concupiscências e corrupções precisam ser erradicadas, e o
verdadeiro discípulo deve se tornar uma nova criatura. A regeneração ou
renovação das almas é um testemunho do Salvador. É sua salvação vigente embora
inicial. É um testemunho na terra, porque permanece com a igreja aqui e não é
realizado de maneira visível e extraordinária, quando sinais do céu são
realizados. A esse ESPÍRITO não pertencem somente a regeneração e a conversão
da igreja, mas sua progressiva santificação, vitória sobre o mundo, sua paz, e
amor, e alegria, e toda essa graça pela qual se torna adequada para a herança
dos santos na luz. [2] A segunda é a água. Antes ela foi considerada como um
meio de salvação, agora como um testemunho do próprio Salvador e sugere sua
pureza e poder purificador. E assim, ela parece compreender, em primeiro lugar,
a pureza de sua própria natureza e conduta no mundo. Ele era santo, inocente e
imaculado. Em segundo lugar, o testemunho do batismo de João, que deu
testemunho de JESUS CRISTO e preparou um povo para Ele e os encaminhou a Ele (Mc 1.4,7,8). Em terceiro lugar, a
pureza de sua própria doutrina, por meio da qual almas são purificadas e
lavadas. “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3). Em quanto lugar, a
pureza e santidade atuais e efetivas dos seus discípulos. Seu corpo é a santa
igreja universal. “Purificando a vossa alma na obediência à verdade” (1Jo 1 Pe 1.22). Em quinto
lugar, Isso foi marcado e selado pelo batismo que Ele designou para a iniciação
ou introdução dos seus discípulos, em que Ele evidentemente (ou por esse sinal)
diz: “Se eu te não lavar, não tens parte comigo” (veja Jo 13.8). “Não do
despojamento da imundícia da carne, mas da indagação de uma boa consciência
para com DEUS” (1 Pe 3.21).
[3] A terceira testemunha é o sangue. Ele o derramou para a nossa redenção.
Isso testifica a favor de JESUS CRISTO, em primeiro lugar, no sentido de que
selou e acabou com os sacrifícios do Antigo Testamento: “CRISTO, nossa páscoa,
foi sacrificado por nós” (veja 1
Co 5.7). Em segundo lugar, no sentido de que confirmou suas próprias
predições, e a verdade de todo o seu ministério e doutrina (Jo 18.37). Em terceiro
lugar, no sentido de ter mostrado o amor sem precedentes de DEUS, morrendo como
sacrifício para sua honra e glória, reconciliando os pecados do mundo (Jo 14.30,31). Em quarto lugar, no
sentido de ter mostrado um amor indescritível por nós; e ninguém enganará
aqueles que amam plenamente (Jo 14.13-15). Em quinto
lugar, no sentido de ter demonstrado o desinteresse do Senhor JESUS por
qualquer vantagem ou benefício secular. Nenhum impostor e enganador vai se
submeter ao desprezo e a uma morte violenta e cruel (Jo 18.36). Em sexto lugar,
no sentido de colocar obrigações nos seus discípulos para sofrer e morrer por
Ele. Nenhum enganador convidaria prosélitos com o preço proposto pelo Senhor JESUS.
“Vós sereis odiados por amor de mim. Expulsar-vos-ão das sinagogas; vem mesmo a
hora em que qualquer que vos matar cuidará fazer um serviço a DEUS” (Jo 16.2). Com frequência, Ele
chama seus servos para conformar-se com Ele em seus sofrimentos: “Saiamos,
pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério” (Hb 13.13). Isso mostra que
nem Ele nem seu Reino são deste mundo. Em sétimo lugar, os benefícios
resultantes do seu sangue (entendidos da forma correta) devem demonstrar
imediatamente que Ele, de fato, é o Salvador do mundo. Então, em oitavo lugar,
esses são demonstrados e selados na instituição da sua própria ceia: “Porque
isto é o meu sangue, o sangue do Novo Testamento (que ratifica o Novo
Testamento), que é derramado por muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26.28). Esses são os que
testificam na terra. Esse é o multiforme testemunho dado ao autor da nossa fé.
Não é de admirar que o desprezador de todas essas evidências seja julgado como
blasfemador do ESPÍRITO de DEUS e acabará perecendo sem recurso em seus
pecados. Esses três testemunhos (sendo mais distintos do que os três
anteriores) não são apropriadamente considerados um, mas como existindo por um,
para terem o mesmo propósito ou causa, ou de concordarem num (ou serem unânimes
num só propósito), na mesma coisa entre si e o mesmo testemunho com aqueles que
testificam do céu.
III
O apóstolo
conclui de maneira adequada: “Se recebemos o testemunho dos homens, o
testemunho de DEUS é maior; porque o testemunho de DEUS é este, que de seu
Filho testificou” (v. 9). Temos aqui: 1. Uma suposição bem fundamentada nas
premissas. “...o testemunho de DEUS é este”, o testemunho por meio do qual DEUS
testificou do seu Filho, que certamente deve anunciar um testemunho imediato e
incontestável, e este é o do Pai em relação ao seu Filho. Ele o proclamou e
sancionou perante o mundo. 2. A autoridade e aceitação do seu testemunho,
argumentados do menor para o maior: “Se recebemos o testemunho dos homens (e
esse testemunho é e deve ser aceito em instituições judiciais e em todas as
nações), o testemunho de DEUS é maior”. É a própria verdade, da mais alta
autoridade e a mais inquestionável infalibilidade. 3. A aplicação da regra ao
caso presente: “...porque o testemunho, e aqui está o testemunho de DEUS, o
Pai, bem como da Palavra e do ESPÍRITO, que de seu Filho testificou e no qual
Ele atestou”. DEUS, que não pode mentir, tem dado segurança suficiente para o
mundo de que JESUS CRISTO é o seu Filho, o Filho do seu amor, e Filho por
ofício, para reconciliar e retomar o mundo para si. Ele testificou, portanto,
da verdade e origem divina da fé cristã, e que ela é o caminho seguro designado
e o meio para nos levar a DEUS.
O Privilégio do Crente
Nesse texto, podemos observar:
I
O privilégio e
estabilidade do verdadeiro cristão: “Quem crê no Filho de DEUS, prevaleceu com
sinceridade para apegar-se a Ele para a salvação, em si mesmo tem o testemunho”
(v. 10). Ele não tem somente a evidência exterior que os outros têm, mas em seu
próprio coração tem um testemunho a favor de JESUS CRISTO. Ele pode alegar o
que CRISTO e a verdade de CRISTO fizeram pela sua alma e o que viu e achou
nele. 1. Ele viu vivamente o seu pecado, culpa, miséria e sua necessidade clara
desse tipo de Salvador. 2. Ele viu a excelência, a beleza e a posição do Filho
de DEUS e a adequação de um Salvador como esse em todos os seus desejos
espirituais e circunstâncias infelizes. 3. Ele viu e admirou a sabedoria e amor
de DEUS em preparar e enviar esse Salvador para libertá-lo do pecado e inferno
e para ressuscitá-lo para o perdão, a paz e a comunhão com DEUS. 4. Ele achou e
sentiu o poder da palavra e doutrina de CRISTO, ferindo, humilhando, curando,
vivificando e confortando sua alma. 5. Ele descobriu que a revelação de CRISTO
é a maior descoberta e demonstração de amor de DEUS, e o meio mais apropriado e
poderoso de acender, fomentar e estimular o amor ao santo e abençoado DEUS. 6.
Ele é nascido de DEUS pela verdade de CRISTO, conforme o versículo 1. Ele tem
um coração novo e uma natureza nova. Seu amor, sua disposição e seu deleite
também são novos, e ele já não é mais o mesmo homem de outrora. 7. No entanto,
ele continua percebendo um conflito consigo mesmo, com o pecado, o mundo e os
poderes invisíveis e maus, como está descrito da doutrina de CRISTO. 8. Ele
encontra perspectiva e força tão grandes proporcionadas a ele pela fé em CRISTO,
que consegue desprezar e vencer o mundo e ir ao encontro de um mundo melhor. 9.
Ele percebe o interesse que o Mediador no céu tem, pela recepção e prevalência
das orações que são enviadas para lá em seu nome, de acordo com a sua vontade e
por meio da sua intercessão. 10. Ele é gerado de novo para uma esperança viva,
para uma confiança em DEUS, na sua benevolência e amor, para uma vitória
agradável sobre os terrores da consciência, medo da morte e inferno, para uma
perspectiva confortável de vida e imortalidade, sendo enriquecido com a
determinação do ESPÍRITO e selado para o dia da redenção. Essa é a segurança do
que crê no evangelho. Ele tem um testemunho em si mesmo. CRISTO é formado nele
e ele está crescendo para a plenitude e perfeição, ou para a imagem perfeita de
CRISTO, no céu.
II
O agravamento
do pecado do descrente, o pecado da incredulidade: “...quem em DEUS não crê
mentiroso o fez”. Ele, na verdade, acusa DEUS de mentir, “...porquanto não creu
no testemunho que DEUS de seu Filho deu” (v. 10). Ele é obrigado a acreditar
que DEUS não enviou seu Filho ao mundo, quando Ele nos deu uma evidência tão
multiforme do mesmo, ou que JESUS CRISTO não era o Filho de DEUS, quando toda
essa evidência culmina nele, ou que Ele enviou seu Filho para enganar o mundo e
para levá-lo ao erro e miséria, ou que Ele permite aos homens inventar uma
religião que, em todas as suas partes, é uma instituição pura, santa, celestial
e imaculada, e tão digna de ser adotada pela razão da humanidade, mas não
passa, na realidade, de uma decepção e mentira, e então concede o seu ESPÍRITO
e poder para encomendá-lo e impô-lo ao mundo. Isso torna DEUS, o Pai, o autor e
instigador da mentira.
III
O assunto,
substância ou conteúdo do testemunho divino em relação a JESUS CRISTO: “E o
testemunho é este: que DEUS nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu
Filho” (v. 11). Este é o resumo do evangelho. Este é o resumo e a epítome de
todo o registro dos supracitados seis testemunhos. 1. DEUS nos deu a vida
eterna. Ele a designou para nós em seu propósito eterno. Ele preparou todos os
meios necessários para que a obtenhamos. Ele a concedeu para nós por meio do
seu concerto e promessa. E Ele concede um direito e título a todos que crêem e
verdadeiramente aceitam o Filho de DEUS. 2. Esta vida está em seu Filho. O
Filho é vida; vida eterna em sua própria essência e pessoa (Jo 1.4; 1Jo 1.2). Ele é vida eterna
para nós, a origem da nossa vida espiritual e gloriosa (Cl 3.4). Dele a vida é
transmitida a nós, aqui e no céu. Assim, segue-se: (1) “Quem tem o Filho tem a
vida” (v. 12). Aquele que está ligado ao Filho está ligado à vida. Quem tem o
título ou direito de posse em relação ao Filho tem o direito à vida, à vida
eterna. Tal honra o Pai colocou sobre o Filho: nós também devemos colocar essa
honra sobre Ele. Devemos vir e beijar o Filho, e teremos vida. (2) “...quem não
tem o Filho de DEUS não tem a vida” (v. 12). Ele continua debaixo da condenação
da lei (Jo 3.36). Ele
rejeita o Filho, que é a própria vida, que é o provedor da vida. Ele força DEUS
a abandoná-lo à morte eterna por fazê-lo mentiroso, uma vez que não crê nesse
testemunho que DEUS deu a respeito do seu Filho.
IV
O fim e o
motivo de o apóstolo pregar essas coisas aos crentes. 1. Para a satisfação e
conforto deles: “Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida
eterna e para que creiais no nome do Filho de DEUS” (v. 13). Diante de toda
essa evidência, e esses testemunhos, é justo e razoável que haja aqueles que
crêem no nome do Filho de DEUS. Que DEUS aumente o número dos que crêem no nome
do Filho de DEUS! Quanto testemunho do céu o mundo precisa prestar contas! O
mundo precisa prestar contas em relação a três testemunhos no céu. Esses
crentes têm a vida eterna. Eles a encontram no concerto do evangelho, no início
e primeiros frutos dele em suas vidas e no seu Senhor e cabeça no céu. Esses
crentes precisam saber que possuem a vida eterna e deveriam sentir-se
estimulados, encorajados e confortados diante dessa perspectiva: e deveriam
valorizar as Escrituras, que foram escritas para a consolação e salvação deles.
2. Para a confirmação e progresso na vida santa deles: “...para que creiais no
nome do Filho de DEUS” (v. 13), e continuem a crer. Os crentes precisam
perseverar ou não obterão coisa alguma. Deixar de crer no nome do Filho de DEUS
significa renunciar à vida eterna e encaminhar-se para a perdição. Portanto, as
evidências da fé cristã e sua vantagem devem ser apresentadas aos crentes, para
animá-los e encorajá-los a perseverar até o fim.
O Pecado para a Morte
Aqui temos:
I
Um privilégio
que pertence à fé em CRISTO, a saber, sua recepção: “E esta é a confiança que
temos nele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve”
(v. 14). O Senhor JESUS CRISTO nos anima a vir a DEUS em qualquer
circunstância, com todas as nossas súplicas e pedidos. Por meio dele nossas
petições são aceitas por DEUS. O tópico da nossa oração deve estar em
concordância com a vontade declarada de DEUS. Não é certo pedir algo que é
contrário à sua majestade e glória ou para o nosso próprio bem, pois somos dele
e dependemos dele. Então podemos estar certos de que a oração de fé será ouvida
no céu.
II
Nossa vantagem
em relação a esse privilégio: “E, se sabemos que nos ouve em tudo o que
pedimos, sabemos que alcançamos as petições que lhe fizemos” (v. 15). Grandes
são os livramentos, as misericórdias e as bênçãos que o cristão peticionário
necessita. Saber que suas petições são ouvidas ou aceitas é tão bom quanto
saber que são respondidas; e, portanto, que é tão perdoado, aconselhado,
santificado, auxiliado e liberto (ou será assim) quanto é permitido pedir a DEUS.
III
Orientação no
pedir em relação aos pecados de outros: “Se alguém vir seu irmão cometer pecado
que não é para morte, orará, e DEUS dará a vida àqueles que não pecarem para
morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore” (v. 16). Podemos
observar o seguinte: 1. Devemos orar pelos outros e por nós mesmos; pelos
nossos semelhantes, para que sejam iluminados, convertidos e salvos; pelos
nossos irmãos na fé cristã, para que possam ser sinceros, para que seus pecados
sejam perdoados e que sejam libertos do mal e do castigo de DEUS e preservados
em CRISTO JESUS. 2. Há uma grande distinção na crueldade e culpa do pecado: “Há
pecado para morte” (v. 16), “...e há pecado que não é para morte” (v. 17). (1) Há
pecado para morte. Todo pecado, em relação ao mérito e sentença legal dele, é
para morte. “O salário do pecado é a morte” (veja Rm 6.23); e: “Maldito todo
aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da
lei, para fazê-las” (Gl 3.10).
Mas há um pecado para morte em oposição ao tipo de pecado que ele chama de não
para morte. (2) Há, portanto, pecado que não é para morte. Isto certamente deve
incluir todos os pecados que pela constituição divina ou humana consistem em
vida; na constituição humana com vida temporal e física, na constituição divina
com vida física ou vida espiritual. [1] Há pecados que, pela constituição humana
justa, não são para morte – como diversos aspectos de injustiça, que podem ser
pagos sem a morte do delinquente. Em oposição a isso, há pecados que pela
constituição justa, são para morte, ou para a perda legal da vida. Esses são
chamados de crimes capitais. [2] Há pecados que, pela constituição divina, são
para morte; e isso tanto morte corporal quando espiritual. Em primeiro lugar,,
aqueles que são, ou podem ser, para a morte física. Esses podem incluir os
pecados de hipócritas vulgares ou grosseiros, tais como de Ananias e Safira,
ou, pelo que sabemos, de irmãos cristãos sinceros, como na ocasião em que o
apóstolo se refere aos membros da igreja de Corinto: “Por causa disso, há entre
vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem” (1 Co 11.30). Pode haver
pecado para morte do corpo entre esses que podem não ser condenados com o
mundo. Esse pecado, repito, é, ou pode ser, para a morte física. A constituição
penal divina no evangelho não ameaça certa ou peremptoriamente com morte quanto
aos pecados visíveis dos membros de CRISTO, mas somente uma correção de acordo
com o evangelho: “...porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que
recebe por filho” (Hb 12.6).
Há lugar para a sabedoria ou bondade divina, ou mesmo para a severidade do
evangelho, para determinar até onde a correção ou o açoitamento deve ir. Mas
precisamos reconhecer que, às vezes, a correção pode (in terrorem – para aviso
de outros) prosseguir até a morte. Então, em segundo lugar, existem pecados
que, pela constituição divina, são para a morte espiritual, isto é, são
inconsistentes com a vida espiritual e cristã, com a vida espiritual na alma e
com um direito evangélico em relação à vida acima. Esses apresentam uma
completa impenitência e incredulidade no presente. A impenitência e
incredulidade final são inevitavelmente para a morte eterna, como também uma
blasfêmia ao ESPÍRITO de DEUS no testemunho que deu de CRISTO e do seu
evangelho e uma apostasia total da luz e da evidência condenatória da verdade
da fé cristã. Esses são pecados que envolvem a culpa da morte eterna. Então
vem:
IV
A aplicação
das diretrizes relacionadas à oração de acordo com os diferentes tipos de
pecado. A oração deve ser por vida: Ele orará, e DEUS dará a vida. A vida deve
ser pedida a DEUS. Ele é o DEUS da vida. Ele a dá quando e a quem desejar, e a
tira pela sua constituição ou providência, ou por ambas, como melhor lhe
convier. No caso do pecado de um irmão, que não é (da maneira já mencionada)
para a morte, podemos em fé e esperança orar por ele; especialmente pela vida
da alma e do corpo. Mas, no caso de o pecado ser para morte da forma mencionada
acima, não temos permissão para orar. Talvez a expressão do apóstolo: “...por
esse não digo que ore”, possa significar: “Não tenho promessa para vocês nesse
caso; nenhuma base para a oração de fé”. 1. As leis da justiça punitiva devem
ser cumpridas, para a segurança comum e benefício da humanidade: e mesmo um
irmão escandalizado em um caso como esse deve ser submetido à justiça pública
(que na sua base é divina), e ao mesmo tempo também à misericórdia de DEUS. 2.
A oração pela remoção dos castigos evangélicos (como podem ser chamados), ou da
prevenção da morte (que pode parecer uma consequência de um pecado em
particular), pode ser apenas de maneira condicional ou provisória, isto é, com
a ressalva de que condiga com a sabedoria, vontade e glória de DEUS, para que
sejam removidos e, de uma maneira particular, para que essa morte seja evitada.
3. Não podemos orar para que os pecados dos impenitentes e descrentes (enquanto
permanecerem assim) sejam perdoados, ou que qualquer misericórdia da vida ou
alma, que considere a possibilidade do perdão de pecados, seja concedida a
eles, enquanto continuarem no pecado. Mas podemos orar pelo arrependimento
deles (considerando que estejam no mesmo caso do mundo impenitente), para serem
enriquecidos com fé em CRISTO e, portanto, por todas as outras misericórdias
salvadoras. 4. No caso em que parece que alguém cometeu a imperdoável blasfêmia
contra o ESPÍRITO SANTO, e a total apostasia dos poderes esclarecedores e
persuasivos da fé cristã, tudo indica que não se deveria orar por essa pessoa
de forma alguma. “Resta uma certa expectação horrível de juízo e ardor de fogo,
que há de devorar os adversários” (Hb 10.27). E esses últimos
pecados parecem ser aqueles que o apóstolo chama de pecados para morte. 5. O
apóstolo parece argumentar que há pecado que não é para morte; portanto: “Toda iniquidade
é pecado” (v. 17); mas, se toda impiedade fosse para morte (visto que todos nós
somos ímpios em relação a DEUS ou aos homens, ou a ambos, em omitir e
negligenciar algo que era nossa obrigação), então estaríamos todos
peremptoriamente condenados à morte e, uma vez que não é assim (os cristãos,
falando de modo geral, tendo direito à vida), deve haver pecado que não é para
morte. Embora não haja pecado venial (na aceitação comum), há pecado perdoado,
pecado que não envolve uma obrigação plena para a morte eterna. Se não fosse
assim, não poderia haver justificação nem continuidade do estado justificado. A
constituição ou concerto do evangelho abrevia, reduz ou anula a culpa do
pecado.
Os Privilégios dos Crentes
Aqui temos:
I
Uma
recapitulação dos privilégios e vantagens de cristãos saudáveis. 1. Eles estão
assegurados contra o pecado, contra a plenitude do seu domínio ou a plenitude
da sua culpa: “Sabemos que todo aquele que é nascido de DEUS (e o crente em CRISTO
é nascido de DEUS, v. 1) não peca” (v. 18), não peca com essa plenitude de
coração e espírito com que os não regenerados o fazem (como foi dito, 1Jo 3.6,9) e, consequentemente, não
com a plenitude de culpa que toma conta dos pecados dos outros. Ele é guardado
contra esse pecado que inevitavelmente acaba em morte ou que infalivelmente
obriga o pecador ao salário da morte eterna. A nova natureza e a habitação do ESPÍRITO
divino impedem o acesso desse pecado imperdoável. 2. Eles são fortificados
contra as tentativas destrutivas do diabo: “...o que de DEUS é gerado
conserva-se a si mesmo, isto é, ele é capacitado para guardar-se a si mesmo, e
o maligno não lhe toca” (v. 18), a saber, para morte. Não parece somente ser
uma narração do dever ou prática do regenerado, mas uma indicação do seu poder
pela virtude da sua regeneração. Eles são, assim, preparados e imbuídos de
princípios contra os toques fatais, o aguilhão do maligno. Ele não toca a alma
deles, para introduzir seu veneno como faz com os outros, ou para expulsar o
princípio regenerativo que é um antídoto para esse veneno, ou para induzi-los a
esse pecado que pela constituição do evangelho transmite uma obrigação
indissolúvel com a morte eterna. O maligno pode prevalecer sobre eles com
demasiada intensidade e atraí-los a alguns atos de pecado; mas, parece que o
intento do apóstolo é mostrar que a regeneração deles os guarda desses ataques
do diabo que os levaria à mesma situação e à condenação efetiva com o diabo. 3.
Eles estão do lado e interesse de DEUS, em oposição ao estado do mundo: “Sabemos
que somos de DEUS e que todo o mundo está no maligno” (v. 19). A humanidade
está dividida em dois grandes partidos ou domínios, um que pertence a DEUS e um
que pertence à maldade ou ao maligno. Os crentes em CRISTO pertencem a DEUS.
Eles são de DEUS, e são dele, e para Ele, e por Ele. Eles têm direito e acesso
ao antigo Israel de DEUS, de quem é dito: “...a porção do Senhor é o seu povo,
seu estado neste mundo; Jacó é a parte da sua herança, a parte que recaiu para
Ele pela sorte da sua própria determinação” (Dt 32.9); enquanto, do outro
lado, todo o mundo, o restante, a maior parte, está no maligno, nas mandíbulas,
nas entranhas, do maligno. Há, na verdade, se formos considerar os indivíduos,
muitos malignos, muitos espíritos malignos, nos lugares celestes e etéreos; mas
eles estão unidos pela natureza, diretriz e princípio maligno e também estão unidos
em uma cabeça. Há o príncipe dos demônios e do reino diabólico. Há uma cabeça
da malignidade e do mundo maligno; e ele tem um controle tão grande aqui que é
chamado de “...o deus deste século” (veja 2 Co 4.4). Estranho que um
espírito tão instruído e consciente esteja tão implacavelmente inflamado contra
o Todo-poderoso e contra tudo que lhe interessa, quando ele sabe claramente que
a condenação eterna já está reservada para ele! Quão tremendo é o julgamento de
DEUS sobre esse maligno! Que o DEUS do mundo cristão continue demolindo o
domínio do maligno neste mundo e transferindo almas para o Reino do Filho do
seu amor! 4. Eles são iluminados no conhecimento do DEUS verdadeiro e eterno: “E
sabemos que já o Filho de DEUS é vindo e nos deu entendimento para conhecermos
o que é verdadeiro (v. 20). O Filho de DEUS veio ao nosso mundo, e nós o vimos
e o conhecemos por todas as evidências que já foram asseveradas. Ele nos
revelou o DEUS verdadeiro (com em Jo 1.18), e também abriu as
nossas mentes para entender essa revelação, nos dando uma luz interior em nossa
compreensão, para entendermos as glórias do verdadeiro DEUS; e somos
assegurados que Ele revelou o verdadeiro DEUS. Ele é infinitamente superior em
pureza, poder e perfeição, em relação a todos os deuses dos gentios. Ele tem
todas as excelências, belezas e riquezas do vivo e verdadeiro DEUS. Esse é o
mesmo DEUS que, de acordo com o relato de Moisés, fez os céus e a terra, o
mesmo que fez uma aliança peculiar com nossos pais, os patriarcas, o mesmo que
libertou os nossos ancestrais do Egito, que nos deu a ardente lei no monte
Sinai, que nos deu seus oráculos santos e prometeu o chamado e a conversão dos
gentios. Pelos seus conselhos e obras, pelo seu amor e graça, pelos seus
terrores e julgamentos, sabemos que Ele, e somente Ele, na plenitude do seu
ser, é o DEUS vivo e verdadeiro”. É uma grande felicidade conhecer o verdadeiro
DEUS, conhecê-lo em CRISTO; é a vida eterna (Jo 17.3). É a glória da
revelação cristã que ela apresente o melhor relato do verdadeiro DEUS, e
administre a melhor pomada para os olhos, para nosso discernimento do DEUS vivo
e verdadeiro. 5. Eles têm uma união feliz com DEUS e seu Filho: “E no que é
verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho JESUS CRISTO (v. 20). O Filho nos leva
ao Pai, e nós estamos nos dois, no amor e favor dos dois, no concerto e aliança
federativa com ambos, na conjunção espiritual com os dois pela habitação e
operação do seu ESPÍRITO: e, para que vocês tenham idéia do tamanho da
dignidade e felicidade disso, vocês devem lembrar que este é o verdadeiro DEUS
e a vida eterna”, ou melhor (como parece ser uma construção mais natural):
“Este mesmo Filho de DEUS é também o verdadeiro DEUS e a vida eterna” (Jo 1.1, e aqui, 1Jo 1.2), “para que na união
com cada um deles, mais ainda na união com os dois, estejamos unidos com o
verdadeiro DEUS e a vida eterna”.
II
A admoestação
final do apóstolo: “Filhinhos” (filhos queridos, como tem sido interpretado), “guardai-vos
dos ídolos (v. 21). Uma vez que vós conheceis o verdadeiro DEUS, e estais nele,
deixai que sua luz e seu amor vos guardem contra tudo aquilo que é colocado
contra Ele, ou que procura competir com Ele. Fugi dos falsos deuses do mundo
pagão. Eles não são comparáveis com o DEUS a quem vós pertenceis e a quem
servis. Não adoreis a DEUS por meio de estátuas ou imagens. O DEUS dos cristãos
é um ESPÍRITO incompreensível e é desonrado por representações tão sórdidas.
Não tenhais comunhão com vossos vizinhos pagãos em sua adoração idólatra. DEUS
é zeloso e quer que vós saiais e vos separeis deles. Mortificai a carne e sede
crucificados para o mundo, para que não usurpem o trono do vosso coração, que
pertence somente a DEUS. O DEUS que vós conhecestes é aquele que vos criou, que
vos redimiu pelo seu Filho, que vos enviou seu evangelho, que perdoou vossos
pecados, que vos gerou pelo seu ESPÍRITO e vos deu a vida eterna. Apegai-vos a
Ele pela fé, amor e obediência constantes, em oposição a todas as coisas que
alienam vossa mente e vosso coração de DEUS. A esse DEUS vivo e verdadeiro
sejam glória e domínio para todo o sempre. Amém.”
Comentário Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo) AT e
NT
LIÇÃO 9, CENTRAL GOSPEL, JOÃO, A EPÍSTOLA DO AMOR, 3Tr25 NA
ÍNTEGRA
Escrita Lição 9, Central Gospel, João, A Epístola Do Amor,
3Tr25, Com. Extras Pr. Henrique, EBD NA TV
Para nos ajudar PIX 33195781620 (CPF) Luiz Henrique de Almeida
Silva
ESBOÇO DA LIÇÃO
1. A TESTEMUNHA DA LUZ E DA VIDA
1.1. A heresia gnóstica
1.2. O combate direto às falsas doutrinas
2. A REDENÇÃO EM CRISTO E A PURIFICAÇÃO DO PECADO
2.1. A intercessão de CRISTO diante da universalidade do
pecado
2.2. A expiação de CRISTO e a amplitude de Sua obra
3. OS REFLEXOS DO AMOR, O MAIOR DENTRE TODOS OS
MANDAMENTOS
3.1. Quem permanece na luz manifesta amor
3.2. Quem permanece na luz rejeita o mundo
4. A ATUAÇÃO DO ANTICRISTO E SEUS EFEITOS NA IGREJA
4.1. Os falsos mestres e a distorção da verdade
4.2. Os que se afastam da fé e suas implicações
4.3. O engano dos falsos ensinadores e
suas consequências
4.4. A unção divina como proteção contra o erro
TEXTO BIBLICO BASICO - 1 João 1.1,7,8; 1 João
2.9-11,14,18-20
1 João 1.1,7,8
1 - O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o
que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida.
7- Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão
uns com os
outros, e o sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo
pecado. 8- Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e
não há verdade em nós.
1 João 2.9-11,14,18-20
9- Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão até agora
está em trevas. 10- Aquele que ama a seu irmão está na luz, e nele
não há escândalo. 11- Mas aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e
anda em trevas, e não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os
olhos.
14- Eu vos escrevi, pais, porque já conhecestes aquele que é desde
o princípio. Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a palavra de DEUS
está em vós, e já vencestes o maligno.
18- Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o
anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos; por onde conhecemos
que é já a última hora. 19- Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se
fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que
não são todos de nós. 20- E vós tendes a unção do SANTO e sabeis tudo.
TEXTO ÁUREO
Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão
uns com os outros, e o sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo
pecado. 1 João 1.7
SUBSIDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2a feira - 1 João 2.1; 1 Coríntios 10.13 CRISTO intercede por nós; DEUS
nos socorre na tentação 3a feira - Hebreus 2.9; 2 Coríntios 5.14,15 JESUS
entregou-se por todos para conceder salvação
4a feira - 1 João 2.8; Gálatas 5.14 O amor reflete o
resplendor da verdadeira luz
5a feira - Romanos 8.16; 1 João 3.14 O ESPÍRITO testifica nossa
filiação e amor pelos irmãos
6a feira - Daniel 7.25; 2 Tessalonicenses 5.2.3 Tempos difíceis
virão antes do Dia do Senhor Sábado - Hebreus 3.12-14 Exortai-vos cada
dia, para permanecer firmes
OBJETIVOS - Ao término do estudo bíblico, o aluno
deverá:
-compreender que a vida do salvo deve refletir a luz de CRISTO,
afastando-se do pecado;
-reconhecer a necessidade de manter-se separado dos valores
corrompidos do mundo;
-evidenciar, por meio do amor, que é nascido de DEUS; discernir e
vigiar contra os falsos profetas dos últimos tempos.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor, esta lição enfatiza a distinção entre a vida na
luz e a contaminação pelo pecado, além da necessidade de vigilância
permanente. Para envolver os alunos, inicie a aula com uma reflexão: Quais
características diferenciam a conduta de um verdadeiro discípulo de CRISTO? Ao
fim do estudo, ressalte que a obediência à Palavra e o crescimento espiritual
são essenciais para resistir ao engano e perseverar na fé.
Boa aula!
COMENTÁRIO -
Palavra introdutória
O apóstolo João
escreveu sua primeira epístola para refutar os falsos mestres que se
infiltraram na Igreja, propagando dou- trinas distorcidas sobre CRISTO. Esses
indivíduos eram conheci- dos como gnósticos, grupo filosófico que emergiu no
primeiro século, fundamentado no conceito de gnósis (conhecimento esotérico).
Sua influência se estendia às igrejas de Éfeso, Colossos e outras comunidades
cristãs na Ásia Menor. Assim como João, Paulo também combateu
veementemente tais heresias em suas cartas (1 Tm 6.20,21; Cl 2.8-10,18-23; Tt
1.10-16). Irmão de Tiago e filho de Zebedeu, João foi um dos discípulos
mais próximos de JESUS e o autor das epístolas joaninas. Em seus escritos, ele
se dirige aos leitores como "filhinhos" (1 Jo 2.1,12,18,28; 3.7,18;
5.21), demonstrando sua preocupação pastoral.
SUBSÍDIO1
De acordo com a
Tradição, João passou seus últimos anos em Éfeso, onde teria escrito suas três
cartas. Pais da Igreja, como Irineu, Dionísio de Alexandria, Papias e
Policarpo, corroboram essa informação. Estima-se que sua primeira epístola
tenha sido concluída antes do ano 70 d.C.
1. A TESTEMUNHA
DA LUZ E DA VIDA
João inicia sua
epístola reafirmando a realidade corpórea de CRISTO, refutando de forma
incisiva as doutrinas gnósticas que negavam a Encarnação (1 Jo 1.1,2; cf. 2 Jo
7) - assim como em seu Evangelho, o apóstolo enfatiza que Ele é o Verbo eterno
de DEUS, revelado em natureza humana (Jo 1.1,14; cf. 1 Jo 4.2,3).
1.1. A heresia
gnóstica
O gnosticismo,
em ascensão na Igreja primitiva, distorcia a fé cristã ao negar aspectos
fundamentais da identidade de CRISTO. Dentre outras práticas, seus
adeptos:
- negavam Sua
humanidade, alegando que Ele apenas aparentava possuir um corpo físico, sem ter
uma natureza humana real;
- rejeitavam
Sua divindade, argumentando que o Divino não poderia assumir uma natureza
humana;
- promoviam a
crença em seres mediadores, sustentando que entre DEUS e os homens existia uma
hierarquia de entidades espirituais, como os aeons ou demiurgos, que deveriam
ser reverenciados (cf. Cl 2.18).
1.2. O combate
direto às falsas doutrinas
Ao iniciar sua
epístola, João confronta diretamente aqueles que negavam a humanidade de CRISTO,
afirmando categoricamente a realidade da Encarnação, testemunhada por ele e
pelos demais apóstolos (1 Jo 1.1). Desde o princípio, distingue claramente o
Pai e o Filho, reforçando que são pessoas distintas na unidade divina (1 Jo
1.3). Além disso, João refuta a negação de Sua divindade, declarando que
Ele é o verdadeiro DEUS e a vida eterna (1 Jo 5.20). O apóstolo já havia
tratado dessa questão em seu Evangelho ao registrar as palavras de JESUS: Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim (Jo
14.6), rejeitando qualquer ideia de mediadores espirituais. Diante da
desorientação gerada por esses falsos ensinos, o apóstolo reforça a alegria que
advém da verdade, encerrando essa introdução com uma declaração encorajadora:
Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo seja completo (1 Jo
1.4).
2. A REDENÇÃO
EM CRISTO E A PURIFICAÇÃO DO PECADO
Em seguida, o
escritor sagrado estabelece uma nítida distinção entre aqueles que andam na luz
e os que permanecem no pecado (1 Jo 1.7). O ser humano, por natureza, tende à
autojustificação, relutando em admitir sua condição pecaminosa. João, porém,
adverte: Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há
verdade em nós (1 Jo 1.8). Para muitos gnósticos, a verdadeira existência
residia no espírito, considerado eterno, enquanto o corpo, por ser transitório,
não possuía relevância moral. Dessa forma, dissociavam a espiritualidade da
conduta física, alegando que o culto a DEUS ocorria no espírito, enquanto o
corpo poderia entregar-se ao pecado sem consequências. Essa perspectiva,
identificada como antinomismo (gr. anti = "contrário" + nomos =
"lei"), promovia uma vida sem regras, desconsiderando qual- quer
responsabilidade ética pelos atos cometidos no corpo.
2.1. A
intercessão de CRISTO diante da universalidade do pecado
Negar a
realidade do pecado não exime ninguém de sua condição diante de DEUS. João
alerta que tal postura constitui um autoengano que contradiz a verdade divina
(1 Jo 1.9,10).
No contexto
gnóstico, duas visões extremas se manifestavam. Alguns ascetas rejeitavam os
prazeres materiais para evitar a suposta corrupção do espírito. Outros,
adotando um viés antinomiano, desconsideravam a moralidade das ações físicas,
pois viam o corpo como irrelevante para a salvação. Essa separação entre
espiritualidade e comportamento levava à indulgência com o pecado. Diante
disso, o apóstolo reafirma: o ideal é evitar o pecado, mas, caso ocorra, há um
recurso providenciado por DEUS: (...) Se alguém pecar, temos um Advogado para
com o Pai, JESUS CRISTO, o Justo (1 Jo 2.1b).
2.2. A expiação
de CRISTO e a amplitude de Sua obra
A intercessão
de CRISTO junto ao Pai fundamenta-se em Sua obra expiatória, que proporciona
reconciliação aos pecadores (1 Jo 2.2). Seu sacrifício é suficiente para toda a
humanidade, evidenciando tanto a justiça quanto o amor de DEUS, ainda que nem
todos se apropriem desse benefício.
3. OS REFLEXOS
DO AMOR, O MAIOR DENTRE TODOS OS MANDAMENTOS
João é
amplamente reconhecido como o apóstolo do amor, pois enfatiza essa virtude como
a essência do cristianismo e o fundamento que coroa a fé (cf. 1 Co
13.13). No Antigo Testamento, o povo de DEUS vivia sob os mandamentos
da Lei. Contudo, na nova aliança, os crentes não estão mais sujeitos ao antigo
sistema legalista, o que não significa ausência de preceitos divinos. João
ressalta essa realidade ao afirmar: (...) Este mandamento antigo é a palavra
que desde o princípio ouvistes (1 Jo 2.7). Embora o chame de antigo, também o
designa como novo: Outra vez vos escrevo um mandamento novo (...) (1 Jo 2.8),
pois, em CRISTO, o amor atinge sua plenitude. Para João, o verdadeiro
mandamento consiste em viver em amor, rejeitar o pecado e manter-se separado
dos valores corrompidos do mundo.
SUBSÍDIO 2
No contexto da
teologia reformada, João Calvino formulou a doutrina da expiação limitada,
segundo a qual CRISTO morreu exclusivamente pelos eleitos, restringindo a
eficácia de Seu sacrifício. Essa visão, contudo, contrasta com o ensino bíblico
de que a obra redentora do Messias tem alcance universal, conforme atestam
passagens como João 3.16, 1 Timóteo 2.5,6, Hebreus 2.9 e 2 Coríntios
5.14,15.
3.1. Quem
permanece na luz manifesta amor
João apresenta
três evidências de um novo nascimento. A primeira é o testemunho interno do ESPÍRITO
(1 Jo 3.24; 4.13; cf. Rm 8.16); a segunda, o amor fraternal (1 Jo 3.14); e a
ter- ceira, a prática da justiça (1 Jo 2.29). Para o escritor sagrado, não
há meio-termo: ou se está na luz, evidenciando essas marcas espirituais, ou se
permanece em trevas (1 Jo 2.9). Os falsos crentes, influenciados pelo
gnosticismo, promoviam debates filosóficos vazios e, em sua postura
antinomiana, viviam no pecado, gerando escândalo na Igreja. A rejeição à
verdade os tornava espiritualmente cegos (1 Jo 2.11). Em contraste, os
verdadeiros discípulos
perseveravam na
simplicidade do evangelho. João também encoraja os jovens, mais
suscetíveis a influências externas e ideologias sedutoras. Ele os lembra de que
já venceram o maligno (1 Jo 2.13,14) e, ao usar o verbo conhecestes (gr.
egnōkate), destaca que, ao contrário dos gnósticos, os crentes detêm a
verdadeira compreensão da realidade: têm comunhão com o Pai celestial.
3.2. Quem
permanece na luz rejeita o mundo
As Escrituras
revelam que o mundo opera sob um sistema corrompido, regido por Satanás, cuja
influência alcança todos os aspectos da sociedade (Ef 2.2). O domínio que antes
pertencia ao homem foi entregue ao diabo (Lc 4.6), identificado como o príncipe
deste mundo (Jo 16.11), sob cujo poder a humanidade caída permanece (1 Jo
5.19). Nesse contexto, a postura do verdadeiro crente é de resistência. JESUS
alertou que os que pertencem a DEUS enfrentariam rejeição (Jo 15.18,19), mas
garantiu que essa oposição pode ser superada, pois Ele venceu o mundo (Jo
16.33). No entanto, essa vitória não decorre do esforço humano, mas da fé (1 Jo
5.4). Embora estejam inseridos na sociedade, os salvos não se moldam a
seus padrões. CRISTO não pediu ao Pai que os retirasse do mundo, mas que os
guardasse do mal (Jo 17.9,15). Dessa forma, mesmo presentes nele (no mundo),
vivem de acordo com princípios celestiais, refletindo a luz que dissipa as
trevas.
4. A ATUAÇÃO DO
ANTICRISTO E SEUS EFEITOS NA IGREJA
Desde os
primórdios da era cristã, a Igreja vive sob a expectativa do retorno de CRISTO,
um princípio que mantém os crentes em constante vigilância para o
arrebatamento. João advertiu seus leitores sobre a iminência dos eventos
escatológicos ao afirmar: Filhinhos, é já a última hora (...) (1 Jo
2.18a).
4.1. Os falsos
mestres e a distorção da verdade
O apóstolo João
adverte que muitos se têm feito anticristos (1 Jo 2.18c), referindo-se àqueles
que se afastaram da verdade do evangelho e passaram a difundir especulações
filosóficas contrárias à sã doutrina. Esses falsos mestres distorcem as
Escrituras, introduzindo novas interpretações que se afastam dos fundamentos da
fé cristã.
4.2. Os que se
afastam da fé e suas implicações
Desde os
primórdios da Igreja, houve aqueles que se afastaram da Promessa por diversos
motivos. João, ao tratar desse tema, refere-se não apenas a indivíduos que
deixaram a comunidade cristã, mas àqueles que, contaminados por um espírito
contrário ao de CRISTO, disseminavam heresias (1 Jo 2.19; cf. Rm 8.9). No
contexto da epístola, a menção aos que saíram de nós, mas não eram de nós se
aplica aos gnósticos que, embora tenham convivido entre os crentes, jamais
abraçaram integralmente a fé autêntica.
4.3. O engano
dos falsos ensinadores e suas consequências
João alerta
sobre os falsos mestres que deturpam o ensino genuíno e ameaçam a segurança do
salvo (1 Jo 2.21-26). Influenciados pelo gnosticismo, eles negavam a identidade
messiânica de JESUS, comprometendo a doutrina apostólica. Embora Ele fosse o
Ungido esperado por Israel, tais mestres rejeitavam Sua missão redentora,
desviando muitos do caminho da verdade.
4.4. A unção
divina como proteção contra o erro
Os gnósticos
alegavam que apenas uma elite intelectual poderia alcançar o verdadeiro
conhecimento de DEUS, restringindo a compreensão espiritual àqueles instruídos
por eles. No entanto, João refuta essa pretensão ao assegurar que todos os
crentes possuem a unção do SANTO, que lhes concede discernimento espiritual (1
Jo 2.20). Esse dom, recebido diretamente de DEUS, dispensa a necessidade de
mestres autoproclamados, pois conduz à verdade e preserva os fiéis no
conhecimento pleno de Seu Filho (1 Jo 2.27).
CONCLUSÃO
Nesta epístola,
João exorta os crentes a permanecerem firmes em CRISTO, a verdadeira luz,
manifestando amor e justiça como evidência da salvação. Além disso, alerta
contra os falsos ensinos gnósticos, que corrompiam a sã doutrina e desviavam
muitos do evangelho.
Diante desse
perigo, era - e continua sendo - essencial perseverar na verdade, rejeitar todo
engano e trilhar o caminho da justiça e do amor, refletindo a luz do
Salvador.
ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1. O que significa ser antinomista?
R.: Significa rejeitar leis ou normas morais, vivendo sem
submissão a princípios estabelecidos.