Escrita Lição 3, Central Gospel, Lucas. O Médico Amado E Cronista Da Universalidade Do Evangelho, 2Tr25, Com. Extra Pr Henrique, EBD NA TV
Para nos ajudar PIX 33195781620 (CPF) Luiz Henrique de Almeida
Silva
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ESBOÇO DA LIÇÃO
1. UM GENTIO A SERVIÇO DE CRISTO
1.1. De Antioquia para o mundo: as raízes de Lucas
1.2. Um chamado transformador: a conversão de Lucas
1.3. Do ofício de médico ao compromisso com a
missão
1.3.1. O médico amado que cuidou de Paulo
1.3.2. O escritor do evangelho e historiador de Atos
dos Apóstolos
2. A JORNADA MISSIONÁRIA AO LADO DE PAULO
2.1. O encontro inicial: Lucas
marca sua entrada na história apostólica
2.2. Desafios e provações: a resiliência na missão
2.3. Retorno e dedicação: Lucas se junta a Paulo novamente
3. O EVANGELISTA E CRONISTA DO CRISTIANISMO
3.1. O evangelho segundo Lucas: o retrato
completo de CRISTO
3.2. Atos dos Apóstolos: a propagação do evangelho
4. LIÇÕES DA VIDA DE LUCAS PARA A JORNADA DE FÉ
4.1. O cuidado com o próximo como essência da fé cristã
4.2. Humildade e entrega no caminho
da salvação
4.3. Altruísmo e lealdade: a dedicação de Lucas
a Paulo
TEXTO BIBLICO BÁSICO - 2
Timóteo 4.5-11a
5- Mas tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um
evangelista, cumpre o teu ministério.
6- Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e
o tempo da minha partida está próximo.
7- Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
8- Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o
Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a
todos os que amarem a sua vinda.
9- Procura vir ter comigo depressa.
10- Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi
para Tessalônica; Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalmácia.
11a- Só Lucas está comigo.
TEXTO ÁUREO
Saúda-vos Lucas, o médico amado, e Demas. Colossenses
4.14
))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
SUBSÍDIOS EXTRAS PARA A LIÇÃO
REVISTAS ANTIGAS E LIVROS
Fiz algumas correções aos escritos dos livros usados nesses
comentários.
)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
LUCAS (Dicionário Bíblico Wycliffe - CPAD)
Autor do terceiro
evangelho e de Atos dos Apóstolos. É mencionado pelo nome em três passagens do
NT (Cl 4.14; Fm 24; 2 Tm 4.11). Pode ser inferido desses versículos que Lucas (Fm 24, do gr. Loukas) eia médico e colaborador de Paulo.
Ele acompanhou o apóstolo em sua primeira prisão em Roma, e foi o único
companheiro de Paulo durante a segunda e última prisão do apóstolo. Em Colossenses 4.11,14, Lucas é distinguido dos homens da circuncisão.
Entretanto, W. F. Albright argumentou - a partir da forma aramaica de seu nome
nos idiomas grego e hebraico nos três poemas de Lucas 1-2 - que Lucas era um
judeu convertido (New Horizons in Biblical Research, Londres. Oxford Univ.
Press, 1966, pp. 49ss,). A partir das seções “nós” de Atos, pode ser
deduzido que o escritor viajou com Paulo de Trôade a Filipos (Atos 16.10-12), de Filipos a Jerusalém (Atos 20.5-21.17), e também a Roma (Atos 27.1-28.16).
O Prólogo
Anti-Marcionita (do século II) do evangelho de Lucas afirma que ele era um
gentio de Antioquia da Síria, que viveu uma vida simples e morreu em Bitínia
(alguns manuscritos trazem o nome “Boeotia”, na Grécia) com a idade de 74 anos.
Uma seção “nós” no Codex Bezae em Atos 11.28, mais a grande quantidade de material em Atos
tratando da Igreja em Antioquia, também têm sido consideradas como apontando
para uma residência em Antioquia. Alguns, porém, têm entendido que uma
tendência a confundir Lucas com o Lúcio de Atos 13.1 fez surgir a tradição. Sir William Ramsay argumentou
que as seções “nós” começam exatamente antes de Paulo ir para Filipos; que
Lucas permaneceu em Filipos; que ele mostra orgulho pelo lugar em sua frase
‘‘primeira cidade” (Atos 16.12); e que assim Lucas era um nativo de Filipos. Não se
pode ter certeza sobre estas questões.
A partir do século II,
a igreja primitiva atribuiu a Lucas tanto o terceiro evangelho como o livro de
Atos dos Apóstolos. Ele é provavelmente o único grego a quem é atribuída a
autoria de um livro ao NT. Lucas
1.2 torna improvável que ele tenha sido testemunha ocular dos eventos
relatados do evangelho. Alguns estudiosos acreditam que ele tenha coletado as
informações para o seu evangelho, e talvez o tenha escrito enquanto Paulo
esteve na prisão em Cesaréia durante dois anos. J. P. L.
Evangelho
de Lucas
Esboço
I. Prefácio, 1.1-4.
II. Narrativas de Nascimentos, 1.5-2.52
III. Missão de João Batista, 3.1-20
IV. Ministério de JESUS na Galiléia, 3.21-
9.50
V. Narrativa de Viagem, 9.51-19.44
VI. Ministério em Jerusalém, 19.45-21,38
VII. Experiências da Paixão, 22.1-24.53
Introdução
As evidências do
século II para o reconhecimento de Lucas como um dos quatro evangelhos podem
ser encontradas no Cânon Muratório, na obra Diatessaron, e nas obras de Irineu
e Tertuliano. Uma forma mutilada dele foi usada por Márcion (os textos são
coletados na obra de D. Theron, The Evidence of Tradition). Os manuscritos mais
antigos de Lucas que se conhece são os papiros Bodmer (P ,5) e Chester Beatty
(P te) do século III.
A tradição unânime da
igreja primitiva é que tanto o terceiro evangelho como Atos foram escritos por
Lucas, o médico, que foi o companheiro de Paulo. Veja Lucas. O propósito de
Atos era ser uma parte de uma obra maior (Atos 1.1). Ambos os livros são endereçados a Teófilo, e o
vocabulário e o estilo mostram semelhanças. Esses dois livros juntos formam um
grande bloco de material, maior do que a obra de qualquer outro escritor do NT.
Discussões sobre a data do livro levantam um problema complicado envolvendo a
suposição de datas previamente atribuídas a Marcos e Atos, e a questão se as
afirmações em Lucas 19.43ss, e 21,20-24 refletem um conhecimento da queda de
Jerusalém em 70 d.C. O prólogo sugere que algum tempo havia se passado durante
o qual outros relatos haviam sido escritos. Consequentemente, o livro foi
provavelmente escrito em algum momento na segunda metade do século I.
O escritor não foi uma
testemunha ocular dos acontecimentos que narra (Lc 1.1,2). Nada claro é conhecido sobre Teófilo, a quem o
livro é endereçado, exceto o título, o que sugere que ele seria um oficial de
alta patente (er. Atos 23,26),
Lucas provavelmente escreveu para leitores gentios, uma vez que seu Livro é comparativamente
livre de citações do AT.
A afirmação do Prólogo
Anti-Marcionita de que o evangelho foi escrito na Acaia, não pode ser nem
substanciado nem negado. Alguns têm entendido que o interesse do escritor pelo movimento
do evangelho em direção a Roma, faz desta cidade o local mais provável da
redação. Na falta de informações, não se pode ter certeza quanto a essas
questões.
Lucas escreveu um
relato ordenado de acontecimentos para confirmar os pensamentos daqueles que já
haviam crido na verdade que lhes fora ensinada. Alguns têm pensado que o
propósito secundário de Lucas era demonstrar que o cristianismo não era
politicamente perigoso. Esses propósitos são revelados quando o escritor traça
paralelos entre os eventos do evangelho e a história contemporânea (1.5; 2,1,2;
3.1,2) e, quando, repetidamente, deixa claro que os apóstolos, embora acusados
pela multidão, foram inocentados pelas autoridades.
Tem sido observado que
Lucas enfatiza os privilégios dos pobres. Ele está preocupado com os excluídos
da sociedade: a mulher pecadora, o publicano, o filho pródigo, o samaritano,
Ele tenta demonstrar que a vida, morte e ensino do Senhor JESUS formam uma
mensagem de salvação dirigida a todos os homens: a revelação é dada aos gentios
(2.32); os convidados das estradas e das sebes são forçados a entrar (14.23); a
pregação deve ser dirigida a todas as nações (24.47). Um considerável interesse
é demonstrado pelo papel que as mulheres desempenharam na vida do Salvador.
Lucas também está interessado no papel que a oração ocupava nas práticas
devocionais do Senhor JESUS. Nos evangelhos Sinóticos JESUS ora 15 vezes, das
quais 11 são narradas em Lucas. O terceiro evangelho dá uma grande ênfase ao ESPÍRITO
SANTO, uma característica semelhante ao livro de Atos.
O escritor do terceiro
evangelho iniciou seu livro com um prólogo clássico, Ele era habilidoso em
grego e possuía um vocabulário versátil. Ele usou em seu livro 312 palavras
únicas no NT. Embora tenha usado frases gregas ao invés de frases hebraicas e
aramaicas encontradas em Marcos, e embora a expressão “na verdade” seja
preferível a “amém”, os hebraísmos são freqüentes: “E aconteceu que”; “E eis”.
Estas expressões são especialmente freqüentes nas seções de nascimento e
infância como se o escritor conscientemente imitasse o estilo semita da
Septuaginta (LXX), Paul Winter procurou demonstrar em vários artigos que Lucas
usou uma fonte de origem palestina judaica escrita em hebraico para os caps.
1-2, mostrando, nesta seção, o caráter judaico de várias expressões (por
exemplo. “On the Margin of Luke I, II”, Studia Theologica, XII [1958], 103-107.
Lucas é caracterizado
pelas longas narrativas do nascimento de João e do Senhor JESUS (1.5-2.52) e
pela longa narrativa de viagem (9.51-19.44), que não são encontradas nos outros
evangelhos. Diversas parábolas e milagres significativos são incluídos na seção
final. Dezoito das parábolas de JESUS são peculiares a Lucas. O Sermão na
Planície (6.20-
49) é muito mais breve do que o Sermão do Monte
em Mateus, mas outras palavras de JESUS que fazem um paralelo com o Sermão do
Monte estão espalhadas por todo o livro de Lucas. Somente Lucas conta que CRISTO
comeu ao aparecer aos dez apóstolos (24.36-43). Só ele registra o aparecimento
do Senhor aos discípulos de Emaús (24.1331־). J. P. L.
)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Lição 1- O Evangelho Segundo Lucas
2º trimestre de 2015 - JESUS, o Homem Perfeito:
O Evangelho de Lucas, o Médico Amado.
Comentário das lições será feito pelo Pastor: José Gonçalves
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Pr. Luiz
Henrique de Almeida Silva
TEXTO ÁUREO
"Para que conheças a certeza das coisas de que já estás
informado." (Lc 1.4)
VERDADE PRÁTICA
O cristão possui uma fé divinamente revelada e historicamente bem
fundamentada.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Lc 3.1,2O cristianismo no seu cenário histórico
Terça - Lc 1.1-4O cristianismo se fundamenta em fatos
Quarta - Lc 16.16O cristianismo no contexto bíblico
Quinta - Lc 2.23-28O cristianismo em seu aspecto universal
Sexta - Lc 1.35; 5.24O cristianismo e a deidade de JESUS
Sábado - Lc 4.18O cristianismo e o Ministério do ESPÍRITO
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Lucas 1.1-4
1 Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que
entre nós se cumpriram, 2 segundo nos transmitiram os mesmos que os
presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, 3 pareceu-me
também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua
ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, 4 para
que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.
OBJETIVO GERAL
Apresentar um panorama do Evangelho de Lucas.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Apresentar o terceiro Evangelho.
Conhecer os fundamentos e historicidade da fé cristã.
Afirmar a universalidade da fé cristã.
Expor a identidade de JESUS, o Messias esperado.
PONTO CENTRAL - O plano da salvação do cristianismo
pode ser localizado com precisão dentro da história.
Resumo da Lição 1- O Evangelho Segundo Lucas
I - O TERCEIRO EVANGELHO
1. Autoria e data.
2. A obra.
3. Os destinatários originais.
II - OS FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE DA FÉ CRISTÃ
1. O cristianismo no seu contexto histórico.
2. Discipulado através dos fatos.
III - A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO
1. A história da salvação.
2. A salvação em seu aspecto universal.
IV - A IDENTIDADE DE JESUS, O MESSIAS ESPERADO
1. JESUS, o homem perfeito.
2. O Messias e o ESPÍRITO SANTO.
SÍNTESE DO TÓPICO I - Lucas, o médico amado, é o autor do terceiro
Evangelho, que foi endereçado a Teófilo, um gentio
SÍNTESE DO TÓPICO II - A veracidade dos fatos narrados por Lucas
pode ser comprovada pela história.
SÍNTESE DO TÓPICO III - Todos estão incluídos no plano salvífico de
DEUS: gentios e judeus
SÍNTESE DO TÓPICO IV - Lucas apresenta JESUS como o Filho de DEUS e
o Filho do Homem, ressaltando tanto a sua humanidade quanto a sua divindade.
PARA REFLETIR - Sobre os
ensinos do Evangelho de Lucas, responda:
A quem é atribuída a autoria do terceiro Evangelho?
A autoria é atribuída a Lucas, o médico amado.
Como devemos entender o termo "informado" usado por Lucas no capítulo
1 do seu Evangelho?
O vocábulo significa também "doutrinar", "ensinar" e
"convencer".
Como JESUS é revelado no Evangelho de Lucas?
Ele é revelado como "Filho de DEUS" e "Filho do Homem".
As expressões "Filho do Homem" devem ser entendidas em que sentindo
no terceiro Evangelho?
Devem ser entendidas como expressões que mostram o relacionamento de JESUS com
a humanidade.
De acordo com a lição, como é considerado o terceiro Evangelho?
Ele é considerado a coroa dos Evangelhos Sinóticos.
CONSULTE
Revista Ensinador Cristão -
CPAD, nº 62, p. 37.
SUGESTÃO DE LEITURA
Comentário de Lucas: À Luz do NT Grego
Introdução ao Novo Testamento
Lucas: O Evangelho do Homem Perfeito
Comentários de Vários autores com alguns acréscimos do Pr. Luiz Henrique:
Comentários do livro -
LUCAS O TEÓLOGO - O EVANGELHO DE LUCAS - INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO - Leon
L. Morris, M.Sc., M.Th., Ph.D. - Diretor, Ridley College, Melbourne - Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova.
Observação do Pr. Luiz Henrique - muitas vezes você encontrará esta
expressão nos estudos teológicos. "e.g." significa - Exempli gratia
... abreviatura da expressão "por exemplo".
Fiz algumas correções aos escritos dos livros usados nesses
comentários.
As pessoas escreviam, antigamente, livros e artigos com títulos
tais como “Lucas o Historiador.” A discussão centralizava-se em derredor da
questão de se Lucas era um bom ou um mau historiador, mas normalmente
aceitava-se que ele realmente pretendia escrever história. Nos tempos recentes,
no entanto, muitos estudiosos estão prestando atenção ao profundo propósito
teológico que claramente subjaz Lucas-Atos. Lucas agora é geralmente
considerado um dos teólogos do Novo Testamento e é visto como sendo mais interessado
em transmitir verdades religiosas e teológicas do que em escrever uma história.
De fato, o pêndulo avançou tanto nesta direção que muitos sugerem que o
interesse de Lucas na teologia era tão grande que permitiu que afetasse seu
juízo histórico. Noutras palavras, dizem que Lucas estava disposto a alterar um
pouco a sua história se isto ressaltasse suas lições teológicas.
No que diz respeito a Lucas, o grande nome e o de Hans Conzelmann.
Argumenta que Lucas se empenha para escrever acerca da história da salvação, e
esta história é vista em três etapas:
1. O período de Israel (16:16).
2. O período do ministério de JESUS (4:16ss: At 10*38).
3. O período desde a ascensão, i.é, o período da igreja.
É possível ver os Evangelistas como teólogos e ainda como homens
com profundo respeito para com a história. Especificamente, é este o caso de
Lucas. Seus escritos, e mais especialmente Atos, foram sujeitados a um
escrutínio muito apurado. Foram comparados com os doutros escritores
primitivos, e os resultados das pesquisas arqueológicas foram levados em conta.
Embora não seja verdade dizer que todos os problemas foram resolvidos, há um
reconhecimento generalizado de que Lucas é um historiador fidedigno. Seu propósito
teológico é real. Não devemos passar desapercebidos por ele.
Não é um ponto de vista permissível dizer que um escritor é exato
ocasionalmente, é inexato noutras partes do seu livro. Cada um tem seu próprio
padrão e medida de trabalho, que é produzido por seu caráter moral e
intelectual. Visto que Lucas pode frequentemente ser demonstrado como sendo
exato (como na complicada nomenclatura dos oficiais em Atos), devemos vê-lo
como um dos escritores exatos.
Os seus critérios incluam a verdade e a imparcialidade. Thompson
resume as conclusões: “Julgado pelos critérios para a literatura histórica que
Luciano preconizou, Lucas seria considerado como quem atingiu um alto padrão
como historiador, e seria comparado favoravelmente com outros homens de letras
do seu tempo.” Lucas, portanto, era um bom historiador, embora seja útil ter em
mente que não estava procurando em escrever o tipo de história que nossos
historiadores científicos modernos procurariam escrever.
Conforme Barrett diz, era “um dos escritores bíblicos que nos
confrontam com um testemunho mais que humano a JESUS CRISTO.” Isto não
significa descuido com os fatos, mas, sim, que os fatos são registrados, não
por amor a eles mesmos mas sim, no cumprimento de um propósito religioso e
teológico. Podemos ver algo desse propósito nos tópicos que se seguem.
1. A história da salvação. É
usual ver Lucas como sendo o teólogo daquilo que os alemães chamam de
Heilsgeschichte. Coloca sua narrativa no contexto da história secular mais
firmemente do que qualquer dos demais Evangelistas (2:1-2; 3:1), e vê a ação de
DEUS em CRISTO como sendo a grande intervenção central de DEUS nos assuntos dos
homens, mediante a qual a salvação do homem é operada (Atos 2:36; 4:10-12;
17:30-31). JESUS CRISTO é o enfoque de toda a história. Lucas enfatiza que a
salvação se tornou presente em CRISTO, com o uso frequente dos advérbios
“agora” e “hoje”. Emprega “agora” 14 vezes (Mateus 4 vezes, Marcos 3 vezes) e
“hoje” 11 vezes (Mateus 8 vezes, Marcos uma vez). Em JESUS, o tempo da salvação
chegou. O conceito que Lucas tem da história da salvação não pára na ascensão.
Vê o ato de DEUS continuado na proclamação do evangelho e na vida da igreja. Os
judeus tem um lugar especial na dispensação divina, e até ao fim é “a esperança
de Israel” que os pregadores do evangelho proclamam (Atos 28:20). Os judeus,
porém, rejeitaram seu Messias. Isto não queria dizer que DEUS foi derrotado. Na
realidade, foi a oportunidade para uma expansão do Seu triunfo na proclamação
do evangelho aos gentios. Mas o evangelho tinha de ser oferecido aos judeus
primeiramente. Foi a recusa, da parte deles, da boa dádiva de DEUS que importou
em a igreja ficar predominantemente gentia (Atos 13:46ss.). Tiago
especificamente inclui os gentios em “um povo para o seu nome” (Atos 15:14).
Tudo isto advém do amor e da graça de DEUS. Lucas se deleita em ressaltar a
maneira em que o amor de DEUS é demonstrado a uma variedade de pessoas.
Conforme foi notado na seção inicial, e possivelmente isto que faz com que o
Terceiro Evangelho seja uma obra tão atraente. A salvação divina não está sem
raízes. Brota do grande amor que DEUS tem para os homens.
2. A universalidade da salvação.
Vemos a largura desse grande amor de DEUS na universalidade da salvação acerca
da qual Lucas escreve. A própria palavra “salvação” está ausente de Mateus e
Marcos e ocorre uma só vez em João. Lucas, no entanto, empregou soteria quatro
vezes e soterion duas vezes (outros sete exemplos das duas palavras ocorrem em
Atos≫ num total de
treze). Além
disto, emprega o termo “Salvador” duas vezes (e
duas vezes mais em Atos), e empregou o verbo “salvar”
mais frequentemente do que qualquer outro Evangelista. I. Howard Marshall vê
este interesse como sendo criticamente importante: “É nossa tese que a idéia da
salvação fornece a chave da teologia de Lucas.” Nem se trata apenas da
estatística. Lucas nos conta que a mensagem do anjo dizia respeito aos homens
em geral, e não a Israel especialmente (2:14). Faz a genealogia de JESUS
remontar até Adão (3:38), o progenitor da raça humana, não parando em Abraão, o
pai da nação judaica (conforme faz Mateus). Conta-nos acerca dos samaritanos, como,
por exemplo, quando os discípulos queriam invocar fogo contra eles (9:51-54),
ou na bem conhecida parábola do Bom Samaritano (10:30-37), ou na informação de
que o leproso agradecido era desta raça (17:16). Refere-se aos gentios no
cântico de Simeão (2:32) e nos conta que JESUS falou com aprovação acerca de
não israelitas tais como a viúva de Sarepta e Naamã, o sírio (4:25-27).
Conta-nos acerca da cura do escravo de um centurião (7:2-10). Registra palavras
acerca de pessoas que vem de todas as direções da bússola para assentarem-se no
reino de DEUS (13:39) e da grande comissão para pregar o evangelho em todas as
nações (24:47). Sustenta-se geralmente que sua história da missão dos setenta
(10:1-20) tem relevância para os gentios. Fica claro que Lucas tinha profundo
interesse pela solicitude de DEUS para com todas as pessoas. Não devemos, no
entanto, entender tudo isto como se ele quisesse dizer que todos seriam salvos.
Vê a igreja existente num mundo hostil. Distingue entre “os filhos do mundo” e
“os filhos da luz” (16:8; cf. 12:29-30, 51 ss.). O evangelho é oferecido
gratuitamente a todos os homens, mas eles têm uma responsabilidade no sentido
de se arrependerem, e serão julgados no devido tempo (Atos 17:30-31). O
julgamento não é um tema infrequente neste Evangelho (cf. 12:13ss.; 17:26ss.).
Nem devemos entender isto no sentido de depreciar a importância de Israel no
propósito de DEUS. Uma das coisas fascinantes no escrito de Lucas é a maneira
em que este gentio ressalta a importância do Templo e de Jerusalém. Começa e
termina seu Evangelho com pessoas no templo em Jerusalém, em contraste com o
Evangelho “judaico” de Mateus, cuja cena de abertura ressalta o lugar dos magos
gentios e que termina com uma comissão na Galileia no sentido de os seguidores
de JESUS irem para todo o mundo. Lucas menciona que JESUS foi apresentado no
Templo como nenê, e que o visitou como menino. Ocorre de novo como o clímax da
narrativa da tentação de JESUS, e como o lugar para o clímax da obra de JESUS
em prol dos homens. Entre estas referências, uma seção considerável do
Evangelho é ocupada com uma viagem para Jerusalém (9:51-19:45; note a ênfase em
Jerusalém como o destino, 9:51, 53; 13:22; 17:11; 18:31; 19:28; cf.
13:33-34). Ao todo, refere-se a Jerusalém 31 vezes em contraste com 13 vezes em
Mateus, 10 vezes em Marcos e 12 vezes em João. O universalismo de Lucas é real,
mas não devemos deixar que ocultasse de nós uma “qualidade judaica” muito real.
3. A escatologia. Lucas escreve acerca de uma grande
salvação, de uma salvação que é válida por toda a eternidade e não somente para
o tempo. Lucas escreve quando a expectativa vivida tinha desvanecido. Embora a
demora da parousia fosse um problema, parece ter sido menos problema para os
membros da igreja primitiva do que para alguns expositores modernos. Lucas
tinha interesse escatologia veja Lc 12:35ss.; 17:22ss.; 21:25ss., etc. Ele
registra o pensamento do julgamento iminente (3:9, 17; 18:7-8) e o da
proximidade do reino (10:9, 11; neste último versículo, Lucas inclui as
palavras “está próximo o reino de DEUS” que não estão no paralelo em Mt
10. Lucas ressalta a ideia da alegria diante da proximidade da salvação,
e acha nisto uma escatologia genuína. Existem “duas ênfases escatológicas dominantes
em Lucas-Atos. Uma é a proclamação de que o Fim está próximo . . . a outra . .
. é a tentativa de evitar uma deturpação da tradição de JESUS. . . no sentido
de que o eschaton tinha sido plenamente experimentado no presente, e que podia
sê-lo. Lucas aguarda a vinda do Fim quando a salvação da qual escreve chegará à
sua consumação.
4. O catolicismo primitivo.
Alguns deixam de entender o impacto daquilo que Lucas está dizendo quando
sustentam que ele institucionalizou o cristianismo, ou, pelo menos, que escreve
como representante da religião institucional. No decurso do tempo,
naturalmente, a igreja acabou se estabelecendo como uma instituição. Perdeu a
primeira a expectativa ansiosa da volta do Senhor. Passou a interessar-se por
questões da ordem e da prática sacramental, e geralmente por tudo quanto
contribui para o lado institucional do cristianismo. O resultado é chamado
“catolicismo primitivo” por muitos estudiosos. Lucas é muito fiel as suas
fontes, de modo que retrata cuidadosamente aquilo que estas dizem ao invés
daquilo que acontecia nos seus próprios dias. Lucas estava escrevendo para
suprir as necessidades dos seus próprios dias sem tirar a conclusão de que
reflete apenas sua própria situação. Não devemos estar tão ocupados em
perguntar por que Lucas acrescentou Atos ao seu Evangelho ou perguntar por
que prefixou seu Evangelho a Atos. É dai que saiu a base histórica do
cristianismo. Não é viável simplesmente ver Lucas expondo um tratamento
convencional da religião institucional dos seus próprios dias. Via o plano de
DEUS na igreja ao seu redor, mas também o via no Antigo Testamento e na vinda
de JESUS. Não era tanto um homem da instituição quanto um homem que incluía a
instituição no propósito de DEUS, que a tudo abrangia.
5. O plano de DEUS. Lucas viu que DEUS estava
desenvolvendo um grande plano nos negócios dos homens. O propósito foi visto
supremamente na cruz (Atos 2:23; 3:13; 5:30-31, etc.). Lucas também o ressalta
com suas muitas referências ao cumprimento da profecia (Lc 4:21; 24:44, etc.).
Deixou claro que os homens não derrotam a DEUS. Deixou claro, também, que DEUS
não é algum Olímpio remoto, afastado dos homens e sem se importar com o destino
destes. O DEUS a quem Lucas conhece está interessado na salvação dos homens, e
está constantemente operativo nos negócios dos homens a fim de levar a efeito
Seu propósito redentor.
6. Os indivíduos. Ao operar aquele grande propósito
da redenção, DEUS, segundo o conceito de Lucas, preocupava-Se com os homens.
Não pensava que o propósito divino aparecia somente nos grandes movimentos das
nações e dos povos: operava nas vidas de homens e mulheres humildes, pois DEUS
Se importa também com as pessoas de menos influência. Destarte, tem muita coisa
a dizer acerca dos indivíduos, frequentemente no caso de pessoas que não são
mencionadas noutros lugares. Conta-nos de Zacarias e Isabel, de Maria e Marta,
de Zaqueu, de Cleopas e seu companheiro. Conta-nos da mulher que ungiu os pés
de JESUS no lar de Simão, o fariseu, e doutras. Um fato interessante emerge do
estudo das parábolas que registra. Ao passo que em Mateus as parábolas estão
centralizadas no reino, em Lucas tendem a ressaltar pessoas. Lucas se interessa
por pessoas.
7. A importância das mulheres. Uma
parte importante da solicitude que DEUS tem para com as pessoas e que é
manifestada para com grupos que não eram altamente estimados na sociedade do
século I: as mulheres, as crianças, os pobres, os de má fama. Por exemplo, dá
um lugar de relevância às mulheres. No século I, as mulheres eram mantidas bem
no seu lugar, Lucas, porém, as vê como objetos do amor de DEUS, e escreve
acerca de muitas delas. Nas histórias da Infância, conta de Maria, mãe de
JESUS, e de Isabel e Ana. Mais tarde, escreve também de Marta e da sua Irma
Maria (10:38-42), de Maria Madalena e Joana e Susana (8:2-3). Refere- se à
mulheres que não menciona pelo nome, tais como a viúva de Naim (7:11-12), a
pecadora que ungiu os pés de JESUS (7:37ss.), a pequena velha encurvada
(13:11), a viúva que deu a DEUS tudo quanto tinha (21:14) e as “Filhas de
Jerusalém” que lamentavam por JESUS enquanto Ele subia à cruz (23:27ss.). Às
vezes, as mulheres aparecem também nas parábolas, como naquela da moeda perdida
(15:8ss.) ou do juiz injusto (18:1 ss.).
8. As Crianças. O exemplo mais obvio da solicitude
de Lucas para com as crianças é o das narrativas da infância. Naturalmente, o
interesse pelas crianças não é a única razão destas histórias. Lucas está
preocupado em enfatizar que o plano de DEUS estava sendo cumprido no nascimento
e na juventude de João e de JESUS. Lembra-nos acerca do cumprimento da profecia
em conexão com estes eventos. Mas é interessante que descobre o plano de DEUS
em eventos que dizem respeito às crianças. Mateus nos diz alguma coisa acerca
do nascimento de JESUS e somente ele relata a visita dos magos, mas é Lucas
quem nos dá a maior parte das nossas informações acerca daqueles dias iniciais.
Conta-nos, também, alguma coisa acerca das circunstâncias que acompanhavam o
nascimento de João Batista. Dá-nos a única história que temos acerca de JESUS
como menino, e nos conta, de vez em quando, acerca do “filho único” ou da
“filha única” das pessoas sobre as quais escreve (7:12; 8:42; 9:38).
9. Os pobres. JESUS veio pregar o evangelho aos
pobres (4:18), e é digno de nota que Lucas relata uma bem-aventurança para os
pobres (6:20; há, por contraste, um ai para os ricos, 6:24), ao passo que
Mateus fala dos “pobres de espírito” (Mt 5:3). Pregar as boas-novas aos pobres
é característica do ministério de JESUS (7:22). Os pastores, aos quais vieram
os anjos (2:7ss.) pertenciam a uma classe pobre. Na realidade, parece que a
família do próprio JESUS era pobre, pois a oferta feita na ocasião do
nascimento da Criança era a dos pobres (2:24; cf. Lv 12:8). De modo geral,
Lucas preocupa-se com os interesses dos pobres (1:53; 6:30; 14:11- 13, 21;
16:19ss.). O outro lado desta moeda e uma ênfase dada ao perigo das riquezas.
Lucas tem um “Ai” para os ricos (6:24), e conta-nos que DEUS manda os ricos
embora, vazios (1:53). Há parábolas que advertem os ricos, tais como a do tolo
rico (12:16ss.), do administrador infiel (16:1 ss.), do Rico e Lázaro
(16:19-31). Há advertências para os ricos nas histórias do jovem rico (18:18-27),
de Zaqueu (19:1-10) e da oferta da viúva pobre (21:1-4).
10. Os de má fama. Lucas nos conta que em certa ocasião
“Aproximavam-se de JESUS todos os publicanos e pecadores para O ouvirem”
(15:1). Este não é um incidente, isolado no Terceiro Evangelho, pois Lucas tem
a oportunidade de mencionar muitas pessoas que não eram muito respeitáveis.
Destarte, conta-nos acerca de Zaqueu (desconsiderado pelos circunstantes como
“um pecador,” 19:7), e acerca da festa que Levi fez para uma multidão descrita
pelos fariseus como “publicanos e pecadores” (5 30). No mesmo estilo, narra a
história da pecadora que chorou sobre os pés de JESUS e os ungiu, e de quem
JESUS disse que seus muitos pecados foram perdoados e que “ela muito amou”
(7:37-50). O filho pródigo não era exatamente um modelo da retidão, e os
injustos têm um jeito de aparecerem nas parábolas neste Evangelho (7:41-42;
12:13-21; 16:1-12, 19-31; 18:1-8, 9-14).
11. A Paixão de CRISTO. O propósito de
DEUS é supremamente realizado na paixão de nosso Senhor. Lucas escreve com a
convicção de que DEUS agiu em CRISTO para trazer a salvação aos homens. A cruz
domina a totalidade da obra. Não longe do começo, Lucas se refere aos
"dias em que devia ele ser assunto ao céu” (9:51), e acrescenta que JESUS
“manifestou no semblante a intrépida resolução de ir para Jerusalém.” JESUS Se
refere à Sua morte como sendo um batismo, e acrescenta, “quanto me angustio até
que o mesmo se realize!” (12:50). Manda um recado a Herodes: “Hoje e amanhã
expulso demônios e curo enfermos, e no terceiro dia sou consumado” (13:32;
passa a falar em morrer em Jerusalém). Lucas tem uma predição da paixão
que está ausente de Mateus (17:25). De modo semelhante, conta-nos na sua
narrativa da Transfiguração, que Moisés e Elias falavam da morte de JESUS
(9:31), fato este que não foi mencionado nos demais Evangelistas. E, é claro, a
narrativa da Paixão ocupa um espaço grande no fim do Evangelho. Lucas tem certo
número de referências ao cumprimento da Escritura em conexão com a Paixão que
dá ao seu relato um toque especial (ver 18:31; 20:17; 22:37; 24:26-27, 44, 46;
provavelmente também 9:22; 13:33; 17:25; 24:7). Na Paixão, a vontade de DEUS é
realizada. Lucas via a cruz como “o caminho divinamente ordenado para JESUS
chegar à ressurreição e a exaltação como Príncipe e Salvador.” (cf. “ao
terceiro dia ressuscitara,” 18:33). Lucas vê JESUS como Salvador dos homens, e
isto pelo caminho da cruz. Se a relevância expiadora do sofrimento de CRISTO
não é ressaltada, pelo menos está presente. No seu segundo volume, Lucas
continua a enfatizar a importância da cruz. Ressalta o fato de que a igreja
primitiva se concentrava naquilo que JESUS fizera em prol da salvação do homem
e especificamente na cruz e na ressurreição. Aqui, descobrimos que a morte de
JESUS ocorreu “pelo determinado desígnio e presciência de DEUS” (Atos 2:23). Há
muito mais. A morte de JESUS era central.
12. O ESPÍRITO SANTO. O propósito de
DEUS não cessa na cruz. Continua na obra do ESPÍRITO SANTO, que significava
tanta coisa na igreja dos dias de Lucas e em nossos dias. O interesse deste
Evangelista pelo ESPÍRITO, no entanto, remonta aos dias iniciais. O ESPÍRITO é
destacado neste Evangelho desde o início. Há uma profecia no sentido de que
João seria cheio do ESPÍRITO SANTO, já do ventre materno (1:15), ao passo que
se diz de Isabel bem como de Zacarias que ficaram cheios do ESPÍRITO (1:41,
67). O mesmo ESPÍRITO estava “sobre” Simeão, revelou-lhe que haveria de ver o
CRISTO, e o guiou para o Templo no momento apropriado (2:25-27). O ESPÍRITO
SANTO estava ativo em conexão com o ministério de JESUS. Este fato remonta até
a concepção original, pois o anjo Gabriel informou Maria que “Descerá sobre ti
o ESPÍRITO SANTO e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra” (1:35).
Quando JESUS estava para começar Seu ministério, há várias referências ao
ESPÍRITO SANTO. João Batista profetizou que JESUS batizaria com o ESPÍRITO
SANTO e com fogo (3:16). Quando nosso Senhor foi batizado, o ESPÍRITO SANTO
veio sobre Ele “em forma corpórea como pomba” (3:22), e o mesmo ESPÍRITO O
encheu e O guiou para o deserto na ocasião da tentação (4:1). Depois de
terminada a tentação, e Ele estava para entrar no Seu ministério, “JESUS, no
poder do ESPÍRITO, regressou para a Galileia” (4:14). Depois, quando pregou na
sinagoga de Nazaré, JESUS aplicou a Si mesmo as palavras: “O ESPÍRITO do Senhor
está sobre mim” (4:18), Não há muitas referências ao ESPÍRITO durante o
ministério, mas em certa ocasião JESUS “exultou no ESPÍRITO SANTO” (10:21) e
provavelmente devamos entender que isto indica que o ESPÍRITO estava
continuamente com Ele. Além disto, disse aos Seus seguidores que, nas emergências,
o ESPÍRITO SANTO lhes ensinaria as coisas que deveriam dizer (12:12), e não é
fácil pensar que eles teriam o ESPÍRITO SANTO e JESUS, não. A blasfêmia contra
o ESPÍRITO é o mais grave dos pecados (12:10). JESUS disse a Seus discípulos
que o Pai daria o ESPÍRITO SANTO àqueles que lho pedirem (11:13). Depois da
ressurreição, disse: “Eis que envio sobre vós a promessa de meu Pai” e passou a
assegurar os discípulos que seriam “revestidos de poder do alto” (24:49). Esta
e uma clara referência à vinda do ESPÍRITO SANTO, profecia esta que foi
cumprida no Pentecoste. Mas, por mais importante que seja o ensino deste
Evangelho acerca do ESPÍRITO SANTO, é em Atos que recebemos o impacto total da
ênfase de Lucas. Aquele livro está cheio do ESPÍRITO, e tem sido chamado, com
razão, “Os Atos do ESPÍRITO SANTO.” O ESPÍRITO está constantemente operante
desde o Dia do Pentecoste. Está abundantemente claro, pois, que uma das grandes
ênfases de Lucas é o ESPÍRITO SANTO. Não pensa que DEUS deixa os homens
servi-Lo sem abastecê-los com Seus próprios recursos. O amor de DEUS é visto no
ESPÍRITO que entra nos seguidores de JESUS e lhes dá poder e os guia. Alguns
tem visto a ênfase dada por Lucas ao ESPÍRITO SANTO como substituto da
escatologia que significa tanta coisa para os demais Evangelistas. Quando
falamos do ESPÍRITO como sendo escatológico, queremos dizer que é escatologia
tornada presente.” O que garante o senso genuíno da iminência, da expectativa
continua, é que o dom do ESPÍRITO não é alguma coisa institucional, como se a
igreja tivesse o ESPÍRITO sob seu controle e pudesse produzir os dons do
ESPÍRITO em qualquer momento que escolhesse. O ESPÍRITO SANTO foi dado no
Pentecoste, decerto, mas Ele podia encher as mesmas pessoas outra vez, um pouco
mais tarde, como resposta a oração (Atos 4:31). A presença do ESPÍRITO “ainda é
um dom sobrenatural, pelo qual os fiéis devem esperar, e que devem ser prontos
para receber a qualquer momento.” Não se pode tratar o ESPÍRITO com presunção.
A igreja não pode dizer: “Temos o ESPÍRITO em nossa salvaguarda. Não precisamos
esperar a vinda de nosso Senhor.” O Senhorio do ESPÍRITO sobre o processo
histórico é amplamente ressaltado em Atos. E, conforme notamos numa seção
anterior, Lucas tem mais para dizer acerca do ESPÍRITO no seu Evangelho do que
qualquer um dos demais Evangelistas. Isto forma um vínculo de continuidade.
Tanto no ministério de JESUS quanto na vida da igreja primitiva, o ESPÍRITO de
DEUS está operante.
13. A oração. No seu ensino acerca do ESPÍRITO,
portanto, Lucas nos mostra que DEUS leva a efeito o Seu propósito. Esta
operação exige uma atitude certa da parte do povo de DEUS, e é de acordo com
isto que Lucas ressalta a importância da oração. Há duas maneiras principais de
ressaltar este interesse. A primeira é ao registrar as orações de JESUS (3:21;
5:16; 6:12; 9:18, 28-29; 10:21-22; 11:1; 22:41ss.; 23:46; sete destas constam
somente em Lucas, e mostram JESUS orando antes de cada grande crise da Sua vida).
Somente este Evangelho registra que JESUS orou por Pedro (22:31 -32). Lucas nos
diz que JESUS orou pelos Seus inimigos (23 34) e por Si mesmo (22:41-42). A
segunda maneira acha-se nas parábolas que ensinam tanta coisa acerca da oração:
o amigo à meia-noite (11:5ss.), o juiz injusto (18:10ss.). Além disto,
Lucas registra algumas exortações aos discípulos no sentido de orarem (6:68;
11:2; 22:40,46), e tem uma advertência contra o tipo errôneo de oração (20:47).
14. O louvor. O Evangelho segundo Lucas é um
Evangelho cantante. Registra alguns dos grandes hinos da fé Cristã: o cântico
de glória dos anjos (2:14), o Magnificat, o Benedktus e o Nunc Dimittis
(1:46ss., 68ss.; 2:29ss.) Bem frequentemente, as pessoas que recebem benefícios
louvam a DEUS, ou glorificam a DEUS, ou fazem algo semelhante (2:20; 5:25-26;
7:16; 18:43). O verbo “regozijar-se” e o substantivo “alegria” acham-se
frequentemente (e.g. 1:14, 44, 47; 10:21). Há risos neste Evangelho (6:21) e
festejos (15:23, 32). Há alegria na recepção que Zaqueu fêz para JESUS (19:6).
Há alegria na terra quando a ovelha perdida e a moeda perdida são achadas, e há
jubilo no céu por causa da recuperação de pecadores perdidos (15:6-7, 9-10). E
este Evangelho termina, assim como começou, com regozijo (24:52; cf. 1:14).
Fica claro, com tudo isto, que Lucas escreveu com um propósito profundamente
teológico. Vê DEUS operando para trazer a salvação e tem prazer em ressaltar
uma variedade dos aspectos desta grande obra salvífica.
Lucas
Autor: Lucas, o “médico amado” (v. Cl 4:14). Também é o autor de Atos. Ambos os
livros são dirigidos à mesma pessoa.
Lucas foi amigo íntimo e companheiro de viagem de Paulo, como se percebe nas
alusões pessoais encontradas no registro das viagens do apóstolo. No livro de
Atos, o autor às vezes muda o pronome para a primeira pessoa do plural,
indicando que estava presente aos eventos, At 16:10; 20:6; 27:1; 28:16.
Muitos estudiosos enxergam parte da doutrina de Paulo no evangelho de Lucas. A
data é desconhecida. Porém, caso tenha sido escrito depois de Lucas estar sob a
influência de Paulo, seria natural que este contribuísse com algum colorido à
narração.
Destinatário: Teófilo, cuja identidade é desconhecida. A evidência interna
indica que o livro foi escrito especialmente para os gentios. Isso se deduz
pelo fato de o escritor esforçar-se para explicar os costumes judaicos e
algumas vezes substituir nomes hebraicos por gregos.
Propósito: Oferecer uma narração coordenada e ordenada da vida de CRISTO com
base em testemunhas oculares, 1:1-4.
Texto-chave: 1:4.
Particularidades
É o evangelho da graça universal de DEUS, 2:32; 3:6; 24:47
É o evangelho do “Filho do Homem”
Ressalta a amável atitude de CRISTO para com os pobres, os humildes e os
marginalizados: os discípulos pobres, 6:20; a mulher pecadora, 7:37; Maria
Madalena, 8:2; os samaritanos, 10:33; os publicanos e pecadores, 15:1; os
mendigos abandonados, 16:20,21; os leprosos, 17:12; o ladrão na cruz, 23:43
etc.
É o evangelho devocional, que ressalta especialmente a oração
Contém três parábolas sobre a oração que não se encontram nos outros
evangelhos: o amigo à meia-noite, 11:5-8; o juiz injusto, 18:1-8; o fariseu e o
publicano, 18:9-14.
Contém as orações de CRISTO: em seu batismo, 3:21; no deserto, 5:16; antes de
escolher os discípulos, 6:12; na transfiguração, 9:29; antes de dizer a oração
do pai-nosso, 11:1; por Pedro, 22:32; no jardim do Getsêmani, 22:44; na cruz,
23:46 etc.
Os primeiros capítulos expressam alegria e louvor.
Alguns dos grandes hinos cristãos foram baseados nesse evangelho: Ave Maria
(palavras do anjo a Maria, 1:28-33); Magnificat (o cântico de Maria, 1:46-55);
Benedictus (de Zacarias, 1:68-79); Gloria in excelsis (dos anjos, 2:13,14);
Nunc dimitis (o regozijo de Simeão, 2:29-32).
Honra à mulher
A mulher tem lugar preeminente na narrativa de Lucas. No capítulo 1, Maria e
Isabel; no capítulo 10, Maria e sua irmã Marta; as “filhas de Jerusalém”,
23:27. Também menciona muitas viúvas, 2:37; 4:26; 7:12; 18:3; 21:2.
A biografia mais completa de CRISTO
Cerca de metade do material do livro é inédito. Muitos dos mais importantes
discursos de nosso Senhor e dos impressionantes incidentes de sua vida estão
registrados nesse evangelho.
Exemplos: a pesca milagrosa, 5:6; a ressurreição do filho da viúva, 7:11-15; os
dez leprosos, 17:12; a cura de Malco, 22:51. (Quanto às parábolas narradas
somente em Lucas, v. 2996.)
Outros incidentes e relatos que somente Lucas registra. CRISTO chora sobre
Jerusalém, 19:41; referência a Moisés e Elias falando com CRISTO no monte da
Transfiguração, 9:30,31; o suor como gotas
de sangue, 22:44; CRISTO perante Herodes, 23:8; palavras de CRISTO às mulheres
de Jerusalém, 23:28; o ladrão arrependido, 23:40; o caminho para Emaús,
24:13-31.
SINOPSE
I. Introdução, 1:1-4; nascimento de JESUS e os incidentes relacionados com seus
primeiros anos de vida até seu batismo e a tentação, 1:5, 2, 3, 4:13
II. Início de seu ministério público, principalmente na Galileia, 4:14, 5, 6,
7, 8, 9:50
III. Viagem a Jerusalém, através de Samaria e da Peréia; ministério na Peréia,
9:51, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19:28
IV. Seus últimos dias, incluindo os eventos da Semana da Paixão e a
crucificação, 19:29, 20, 21, 22, 23:55
V. Eventos relacionados com sua ressurreição
Bíblia Thompson - CD - 4269
Parábolas de CRISTO que se encontram somente em Lucas
A figueira estéril – 13
O amigo importuno – 11
O bom samaritano – 10
A grande ceia – 14
A ovelha perdida - 18
A moeda perdida - 15
As dez minas - 19
O filho perdido - 15
O rico insensato - 12
O rico e Lázaro – 16
Os dois devedores – 7
O juiz iníquo - 18
O administrador astuto – 16
Os servos indignos - 17
Os servos vigilantes - 12
O mordomo fiel e prudente - 12
Bíblia Thompson - CD - 2996
O RELACIONAMENTO ENTRE LUCAS E OS DEMAIS EVANGELHOS
a. O Problema Sinótico
Um problema é levantado pelas semelhanças entre certas passagens
dos três primeiros Evangelhos que temos. Às vezes, estão em todos os três
Evangelhos, às vezes em dois deles. As semelhanças frequentemente são muito
estreitas, e as passagens podem ser quase iguais, palavra por palavra. Até
mesmo partículas minuciosas e sem importância podem ser idênticas em todos os
três relatos. Se isto ocorresse somente nas palavras de JESUS, talvez
pudéssemos pensar que a fidelidade na reportagem fosse a explicação. Acha-se,
no entanto, também nas narrativas dos eventos. O problema é como explicar
estes fatos e esclarecer o relacionamento entre os três Evangelhos.
Podemos expor os fatos principais do modo seguinte:
1. O esquema geral destes três Evangelhos é semelhante. Há um
ministério de JESUS na Galileia, seguido por uma viagem para Jerusalém, onde
está localizada a Paixão. Há uma abordagem bem diferente em João, onde vemos
JESUS fazendo certo número de visitas a Jerusalém.
2. Há passagens em todos estes três Evangelhos que se assemelham
estreitamente umas às outras, e.g. Mateus 9:6 = Marcos 2:10 = Lucas 5:24.
3. Mateus e Marcos frequentemente concordam na sua redação, onde
Lucas é diferente, e Marcos e Lucas concordam de modo semelhante contra Mateus.
Mateus e Lucas concordam mais raramente contra Marcos.
4. Há passagens em Mateus e Lucas que estão ausentes das seções
correspondentes de Marcos, e.g. Mateus 3:7-10 = Lucas 3:7-9; cf. Mc 1:2-8.
5. Alguma matéria acha-se em Mateus e Lucas que é semelhante, mas
não idêntica, e.g. Mateus 5:3 e Lucas 6:20.
6. A matéria em comum pode ser colocada em contextos
diferentes, e.g. a cura do servo do centurião (Mt 8:5ss.; Lc 7:1
ss.).
7. Cada Evangelho tem matéria que nenhum dos outros dois
compartilha com ele. Não se pode dizer que já foi oferecida uma explicação que
dê conta de todos os fatos. Mesmo assim, muita coisa pode ser aprendida ao
examinar as soluções que têm sido propostas. Em dias anteriores, a explicação
usual era a tradição oral: “um Evangelho oral original, bem específico no seu
esboço geral e até mesmo na linguagem, que foi registrado por escrito no
decurso do tempo em vários formatos especiais, segundo as formas típicas que
assumiu na pregação de Apóstolos diferentes.” Hoje em dia, acha-se que esta
explicação é inadequada. A tradição deve ter começado em aramaico e é difícil
ver porque o grego viria a ser tão semelhante. A dependência se estende até
mesmo as partículas gregas. Além disto, é difícil entender por que uma
tradição oral teria produzido tanta coisa no sentido de uma ordem comum. Mateus
e Lucas podem desviar-se da ordem de Marcos, mas sempre voltam a ela.
Podemos concordar que a tradição oral não explicará todos os fatos, mas deve
ser lembrado que, em qualquer hipótese, a matéria do Evangelho foi
transmitida oralmente por certo número de anos. Não é improvável que uma
insuficiência de atenção tenha sido prestada à tradição oral. Parece não haver
razão porque os Evangelistas não tivessem prestado atenção a tradição oral que
indubitavelmente existia quando escreveram. A Crítica da Forma enfatizou para
nós a importância do período pré-literário. A mesma coisa foi feita,
proveniente de outra direção, pela obra de estudiosos escandinavos tais
como H. Riesenfeld od e B. Gerhardsson. Nestes dias, porém, a maioria dos
críticos concorda que devamos pensar em fontes escritas. A teoria dos dois
documentos sustenta que Marcos foi o primeiro dos Evangelhos a ser escrito, é
que Mateus e Lucas empregaram Marcos bem como outra fonte usualmente designada
por Q (Original de Marcos).
As razões dadas pela prioridade de Marcos são as seguintes:
1. Quase a totalidade de Marcos está contida nos outros dois.
Mateus tem a substância de mais de 600 dos 661 versículos de
Marcos, e retém cerca de 51% das próprias palavras de Marcos, embora seu estilo
seja mais condensado. É difícil tirar uma conclusão exata no caso de Lucas, mas
parece ter cerca de 350 versículos em comum com Marcos, e nestes, cerca de 53%
das palavras são as de Marcos. Cerca de 90% de Marcos está em Mateus, e cerca
de metade em Lucas. Somente quatro parágrafos de Marcos não aparecem em um ou
outro destes dois.
2. A maneira de ser usada esta matéria parece demonstrar que Marcos
dificilmente poderia ter empregado os outros dois como suas fontes. F. B. Clogg
comenta a cura do paralitico (Mt 9:1-8; Mc 2:1-12; Lc 5:17-26): “depois da
introdução, que é peculiar a cada Evangelista, nada há em Mateus e Lucas que
não é achado em Marcos, mas Marcos tem muitos pormenores picturais que faltam
nos outros dois. É pouco possível que Marcos tenha compilado sua narrativa a
partir dos dois outros, e que ainda seja o mais viçoso e natural dos três.” Um
comentário semelhante poderia ser feito repetidas vezes.
3. Tanto Mateus como Lucas às vezes omitem aquilo que Marcos
contém, mas não concordam frequentemente nas suas omissões.
4. Mateus e Lucas geralmente seguem a ordem de Marcos. Quando um
deles deixa a ordem de Marcos, o outro normalmente o apoia. Raras vezes
concordam entre si contra Marcos, quanto a detalhes.
5. Marcos revela mais franqueza do que os outros em retratar a
humanidade de JESUS. Por exemplo, informa-nos que na sinagoga, depois de ter
perguntado se é lícito nos sábados fazer o bem ou fazer o mal, antes de curar o
homem que tinha ressequida uma das mãos, JESUS “olhou ao redor, indignado e
condoído com a dureza dos seus corações” (Mc 3:5). Mateus e Lucas, porém,
omitem as referências a indignação e ao pesar.
6. Marcos está mais disposto a relatar as falhas dos Doze.
Destarte, conta-nos que, na ocasião da discussão sobre o “fermento de Herodes,”
JESUS perguntou-lhes: “Tendes o coração endurecido? tendo olhos, não
vedes? e, tendo ouvidos, não ouvis?” (Mc 8:17-18). Mateus, porém, ao relatar o
incidente, omite esta parte (Mt 16.-9).
7. Em Marcos há toques vividos (que decididamente dão a impressão
de ser as lembranças de uma testemunha ocular), que Mateus e Lucas omitem nos
seus relatos paralelos. Incluem detalhes como quando JESUS sentou-Se e chamou
os Doze (Mc 935), quando olhou para Seus discípulos em derredor (Mc 10:23), e a
palavra para os “grupos” das pessoas que se sentavam na ocasião em que os
cinco mil foram alimentados (Mc 6:40; a palavra é empregada para canteiros do
jardim).
8. Embora Mateus e Lucas sejam independentes entre si quanto as
suas histórias da Infância, começam a concordar entre si (e com Marcos) na
altura em que Marcos começa seu Evangelho.
9. Parece haver uma tendência para Mateus e Lucas refinar o relato
de Marcos. Parece que adotam um tom mais reverente (ver considerações 5 e 6),
emendara construções desajeitadas e com gramática inferior, e omitem as
expressões aramaicas. Em comparação com eles, o relato de Marcos parece mais
primitivo.
10. Algumas pessoas detectam em Mateus e Lucas tentativas para
esclarecer as ambiguidades de Marcos. Destarte, onde Marcos diz: “pois para
isso é que eu vim” (Mc 1:38), que pode significar ‘Vim da parte de DEUS,”
ou “vim de Cafemaum,” Lucas diz: “pois para isso é que fui enviado” (Lc 4:43).
De modo semelhante, Marcos 11:3 pode significar que o dono mandaria o jumento
de volta para JESUS, ou que JESUS, depois de acabar de fazer uso do jumento, o
devolveria ao dono (comparar ARC com ARA). Mateus 21:3, no entanto, deixa claro
o sentido. Nem todas estas considerações são igualmente convincentes. O
argumento baseado na ordem não é adequado para comprovar a hipótese dos dois
documentos com o grau de certeza que seria necessário a fim de justificar o
procedimento seguido por Bultmann e Taylor.” Algumas das outras considerações,
no entanto, formam um argumento convincente. Contra ele pleiteiam-se
principalmente as duas considerações seguintes.
1. Há algumas concordâncias entre Mateus e Lucas contra Marcos.
Por exemplo, no dito acerca de colocar vinho novo em odres velhos,
Mateus e Lucas dizem que o vinho se derrama, ao passo que Marcos diz que o
vinho e os odres se perdem (Mt 9:17 = Mc 2:22 = Lc 537)." De modo
semelhante, na história da Paixão, Mateus e Lucas igualmente tem “dizendo” e
“quem é que te bateu?”, que faltam em Marcos (Mt 26:67, 68 = Mc 14:65 = Lc
22:63-64). Este tipo de coisa é estranho se Mateus e Lucas dependem de Marcos.
Para explicá-lo, alguns têm pensado que Marcos foi revisado: houve um Marcos
original (um Ur-Marcus) é uma versão revisada. Se for assim, o Marcos que agora
temos deve ser o original, ao passo que Mateus e Lucas usaram a revisão. A
maioria dos estudiosos, no entanto, concorda que a evidência em prol de um
Ur-Marcus é insuficiente.
Muitos dos argumentos deixam de convencer. Destarte, tanto Mateus
quanto Lucas frequentemente omitem, de modo independente, palavras
insignificantes que caracterizam o estilo mais verboso de Marcos. Não é
surpreendente que às vezes coincidem. A mesma coisa acontece com as mudanças
gramaticais, tal como a alteração do presente histórico (em Marcos 151 vezes,
mas em Mateus 78 vezes e em Lucas 4-6 vezes)100 para o imperfeito ou o aoristo.
Mas depois de levar isto plenamente em conta, muitos estudiosos acham que um
problema ainda permanece.
2. Se Mateus e Lucas dependem de Marcos, pergunta-se por que omitem
seções inteiras da sua fonte. Mas a resposta razoável é que os
dois tinham o direito de fazer uma seleção. Não eram obrigados a reproduzir a
totalidade de quaisquer documentos que tinham em mãos. De qualquer maneira, uma
quantidade surpreendentemente pequena de Marcos é omitida na realidade. É,
porém, enigmático que Lucas tenha omitido tudo em Marcos 6:45-8:26. Talvez
esta omissão fosse acidental. Não era fácil localizar uma passagem num rolo
antigo, e tem sido sugerido que Lucas pudesse facilmente ter passado
acidentalmente da multiplicação dos pães para as multidões em Marcos 6:42-44
para as palavras semelhantes em 8:19-21.
Ou talvez achasse que já tinha paralelos suficientemente próximos
da maior parte de matéria nesta seção. Tais objeções não são consideradas
decisivas. A maioria dos estudiosos, portanto, sustenta que Marcos foi o
primeiro dos quatro Evangelhos que temos a ser escrito. Pensam que este
Evangelho foi usado tanto por Mateus quanto por Lucas. Esta parece ser a
interpretação mais provável da evidência, mas não podemos dizer mais do
que isto. Não foi completamente comprovado, e devemos ter em mente que alguns
estudiosos sustentam a prioridade de Mateus10.3 e alguns poucos, até mesmo a de
Lucas.
Voltamo-nos agora para Q, a outra fonte na teoria dos dois
documentos. As seguintes considerações são relevantes.
1. Há cerca de 250 versículos que Mateus e Lucas tem em comum, mas
que faltam em Marcos.
2. O grau de semelhança varia.
Algumas passagens são quase idênticas, palavra por palavra (e.g. a seção da
“raça de víboras”, Mt 3:8-10; Lc 3:7-10; no Grego, 60 de 63 palavras são
idênticas nos dois relatos: assim também Mt 6:24 é semelhante à Lc 16:13; Mt
7:3-5 a Lc 6:4142; Mt 7:7-10 a Lc 11.9-13;Mt 11:4-6, 7b-11 a Lc 7:22-23, 24b-28
; Mt 11:21- 23 a Lc 10:13-15;Mt 11:25-27 a Lc 10:21-22;Mt 12:4345 a Lc
11:24-26; Mt 23:37-38 a Lc 13:34-35;Mt 24:45-51 a Lc 12:4246). As concordâncias
podem chegar a palavras e frases incomuns, e peculiaridades gramaticais.
Noutras passagens, no entanto, as diferenças são tão notáveis
quanto às semelhanças (e.g. as Bem-aventuranças, Mt 5:3-l 1 ; Lc 6:20-22).
3. A matéria em comum ocorre em contextos diferentes.
Segundo Streeter, subsequentemente a narrativa da tentação, não há um só
caso em que Mateus e Lucas encaixam um trecho de matéria Q (Original de
Marcos) no mesmo contexto de Marcos. Não é surpreendente, portanto, que a ordem
em que a matéria Q (Original de Marcos) ocorre é diferente nos dois
Evangelhos. Sustenta-se usualmente que Lucas conservou alguma coisa da ordem do
original, ao passo que Mateus dispôs sua matéria por tópicos.
4. Há pouca matéria narrativa na matéria que há em comum. Q
(Original de Marcos) é principalmente um documento de ditos. Teoricamente, a
matéria que há em comum pode ser devida a dependência direta ao invés de ao uso
do mesmo documento; mas poucos acham que há qualquer justificativa para
sustentar que Mateus copiou Lucas. Alguns estudiosos, porém, pensam que Lucas
depende de Mateus. Contra eles, porém, há o fato já notado de que, depois da
história da tentação, nunca achamos a matéria em comum no mesmo contexto. Por
que Lucas sistematicamente tiraria a matéria de Mateus fora do seu
contexto e a colocaria noutro lugar? Além disto, não parece haver motivo
algum porque Lucas não retomou nenhum dos acréscimos que Mateus fez ao texto de
Marcos. Isto parece inexplicável. Uma consideração um pouco subjetiva e que os
estudiosos usualmente acham que, onde há leves diferenças entre a matéria em
comum, o relato de Lucas é mais viçoso e parece mais original. Não parece,
portanto, que qualquer destes dois Evangelhos depende diretamente do outro, A
maioria dos estudiosos sustenta que uma fonte tal como Q (Original de Marcos)
realmente existia, embora haja pouca concordância quanto ao conteúdo dela.
James Moffatt cita dezesseis reconstruções diferentes e oferece
mais uma dele mesmo. Streeter oferece ainda outra. O problema, naturalmente, é
com as passagens que revelam diferenças bem como semelhanças. Devem ser
incluídas em Q (Original de Marcos)? Alguns sustentam que devem, e que havia
recensões diferentes daquele documento. Mateus, pois, usou uma forma de Q
(Original de Marcos), e Lucas, outra. Outros pensam que Q (Original de Marcos)
era uma fonte aramaica (talvez os logia de Mateus, referidos por Papias e que
nossos Evangelistas estejam usando traduções diferentes para o Grego. Algumas
das diferenças entre Mateus e Lucas podem ser explicadas com base nas leves
diferenças entre palavras aramaicas ou de palavras aramaicas com dois sentidos.
Outro fator complicante é a probabilidade de que às vezes apenas um dos nossos
Evangelistas empregou Q (Original de Marcos). Os estudiosos diferem entre si
quando procuram identificar tais passagens. Aqueles que acham que a existência
de Q (Original de Marcos) não foi demonstrada de modo satisfatório indicam que
não se pode comprovar a existência de nenhum exemplar do tipo de literatura
semelhante. Talvez o Evangelho segundo Tomé chegue mais perto, mas este é um
documento do século II, provavelmente gnóstico. Nada semelhante a ele é
conhecido nos tempos neotestamentários. As concordâncias entre Mateus e Lucas
realmente apresentam um problema, mas não é incapaz de solução. Alguns pensam
que Mateus é anterior a Lucas e que Lucas usou tanto ele quanto Marcos. Tais
pontos de vista não estão sem dificuldades próprias, mas a sua própria
existência demonstra que a hipótese de que Marcos e Q (Original de Marcos)
subjazem nosso primeiro e terceiro Evangelho não foi comprovada. É difícil
escapar a impressão de que muitos críticos estão procurando forçar um número de
hipóteses dentro do documento Q (Original de Marcos). Estão desconsiderando a
expressa declaração de Lucas de que muitos tinham escrito antes dele (1:1). A
melhor maneira de esclarecer o problema das diferenças e das semelhanças parece
ser levar a sério esta declaração de Lucas. Onde Mateus e Lucas são iguais,
quase palavra por palavra, não precisamos duvidar de que estão usando um
documento escrito em comum. É bem possível que tenha havido mais de uma de
tais fontes. Mas onde as diferenças são tão grandes quanto às semelhanças,
parece melhor pensar em fontes diferentes. Não deixa de ser interessante que em
tempos recentes parece haver uma tendência para ser menos dogmático acerca
de Q (Original de Marcos). Muitos estudiosos o consideram nada mais do que um
modo conveniente de referir-se a matéria comum a Mateus e Lucas que obtiveram
da mesma origem ou origens. Empregaremos o símbolo exatamente desta maneira.
Um desenvolvimento interessante da teoria de Streeter e seu
conceito da maneira em que o Evangelho segundo Lucas foi composto. Pensa que
quando Lucas começou a escrever, dependia principalmente de Q (Original de
Marcos) e L e que somente depois de ter combinado estes num primeiro esboço de
um Evangelho (que Streeter chama de Proto-Lucas) é que teve em mãos um
Evangelho segundo Marcos. Passou, então, a encaixar matéria de Marcos em
Proto-Lucas e formou o presente Evangelho. Antes de Streeter, o conceito usual
foi que Lucas tomou Marcos como base e encaixou sua matéria não-marcana no
arcabouço marcano. Streetter, porém, rompe com o ponto de vista de que
Marcos era uma fonte primária para Lucas, e nega que Marcos forneceu o
arcabouço de Lucas. Caird indica que a resolução desta questão tem
interesse mais do que meramente acadêmico, porque envolve nosso conceito do
valor histórico deste Evangelho. Se Lucas usou Marcos como sua base, segue-se,
então, que “usou de muita liberdade editorial em reescrever suas fontes.”
As evidencias principais em prol de Proto-Lucas são as seguintes.
Observação do Pr. Luiz Henrique - Proto-Lucas significa que Lucas
escreveu seu evangelho sem nenhuma influência dos outros evangelhos escritos
até então, depois pegou o evangelho de Marcos e Mateus e encaixou em seu
próprio evangelho do que achou de mais interessante.
1. Lucas tem blocos alternados de matérias marcanas e não-marcanas.
Faz muito pouco uso de Marcos nas seções 3:1-4:30; 6:20-8:3; 9:51-18:14;
19:1-27, e sua narrativa da Paixão parece ser basicamente independente daquela
de Marcos. Não dá qualquer impressão de combinar suas matérias marcanas e
não-marcanas dalguma maneira semelhante ao modo em que combinou os fios
diferentes na sua matéria não-marcana. Por alguma razão, não registra nada
tirado de Marcos 6:45-8:10.
2. Lucas 3:1 dá a impressão de ser o início de um livro. Se
realmente o foi, a posição da genealogia, logo após a primeira menção do nome
de JESUS, é natural. Aqueles que sustentam a hipótese do Proto-Lucas, é
lógico, normalmente acreditam que este documento não incluía as narrativas
da Infância.
3. Às vezes, quando Lucas está aparentemente seguindo Marcos, um
incidente específico é omitido. Mas o achamos numa forma diferente num lugar
diferente. Tais incidentes incluem a controvérsia acerca de
Belzebu (Q) (Original de Marcos), o grão de mostarda (Q) (Original
de Marcos), a rejeição em Nazaré (L) (Lucas:), a unção (L) (Lucas), etc. Caird
alista dezessete lugares em que Lucas sai da ordem marcana como em Marcos
1:1-14. Parece que Lucas preferia sua fonte não-marcana, mesmo quando a versão
de Marcos é mais vigorosa. Isto é inteligível se Lucas tinha anteriormente
incorporado aquela fonte na sua obra, mas menos inteligível se está operando
tendo Marcos por base. Na realidade, parece que quando Lucas não está seguindo
a ordem de Marcos, não está livremente corrigindo o outro Evangelista, mas,
sim, simplesmente seguindo outra fonte.
4. Q (Original de Marcos)+ L formariam um documento
consideravelmente maior do que Marcos. É difícil, à luz disto, ver Marcos como
o arcabouço de Lucas.
5. Esta hipótese explicaria por que Lucas omite muito mais de
Marcos do que Mateus.
6. O uso de “o Senhor” ao invés de “JESUS” na narrativa não se acha
em Mateus nem Marcos, nem ocorre na matéria marcana em Lucas. Mas acha-se
quinze vezes no restante, e em números aproximadamente proporcionais em Q
(Original de Marcos) e L. De modo semelhante, o trato Kyrie, “Senhor,” acha-se
uma só vez em Marcos (a mulher siro-fenícia), mas dezesseis vezes em
Lucas, das quais quatorze no Proto-Lucas (oito em L e seis em Q). Também se
acha dezenove vezes em Mateus. Fica claro que o uso do termo não caracteriza a
composição final do livro, senão, estaria nas seções marcanas. A inferência é
que pertence a uma etapa anterior do escrito de Lucas.
7. A narrativa da Paixão, escrita por Lucas, não é uma reformulação
da de Marcos. Quando Lucas está empregando matéria marcana, normalmente tem
cerca de 53% das palavras de Marcos, mas na narrativa da Paixão, somente 27%. e
isto inclui muitas palavras sem as quais seria quase impossível contar uma
história da Paixão. Lucas tem, além disto, uma dúzia de variações da ordem
marcana. Há mais: os aparecimentos em Lucas estão localizados em Jerusalém. A
opinião dos estudiosos está dividida entre a ideia de o Evangelho segundo
Marcos originalmente ter terminado onde termina em nossos exemplares, e neste
caso não houve aparecimentos depois da ressurreição, ou de ter havido um
término que agora está perdido, e neste caso a maioria concorda que os
aparecimentos devem ter sido na Galileia (Mc 16:7). Em qualquer destes casos,
Lucas não depende de Marcos.
8. Quando Lucas emprega matéria Q (Original de Marcos), não a
encaixa simplesmente num arcabouço marcano, mas, sim, combina-a com L.
Streeter conclui, a partir de evidencias deste tipo, que Lucas
provavelmente tinha completado o primeiro esboço do seu Evangelho antes de
ter visto Marcos. Se este for o caso, então Proto-Lucas é extremamente antigo.
Os estudiosos têm tido o hábito de atribuir valor especial a Marcos e a Q
(Original de Marcos), porque são documentos mais antigos do que Mateus e Lucas,
e que eram tão altamente estimados que estes dois confiassem neles, devem ser
tão primitivos quanto fidedignos. Streeter pensa que Proto-Lucas deve ser
considerado parte da mesma classe. Sua teoria ressalta o valor de muita coisa
em Lucas. Nem todos foram persuadidos por ele, no entanto. Os estudiosos
usualmente acham que não foi produzida evidência suficiente para comprovar que
Mateus e Lucas existiam como documentos. Que Mateus e Lucas tinham fontes
especiais de informação fica bastante claro. Que estas fontes eram incorporadas
em dois documentos não fica claro. Além disto, se separarmos as passagens
atribuídas a Proto-Lucas, alguns não ficarão impressionados. J. M. Creed chama
o resultado de “uma coletânea amorfa de narrativa e discurso. Não fica sendo um
Evangelho bem contornado. Aqueles, porém, que rejeitam Proto-Lucas, não parecem
ter dado uma explicação convincente de dois fatos:
1. Lucas habitualmente combina sua matéria especial com Q (Original
de Marcos), mas nunca com Marcos, e
2. Lucas aparta-se de Marcos muito frequentemente na história da
Paixão.
Parece que dava muita importância a sua combinação de Q (Original
de Marcos) e Lucas. Era, aparentemente, sua fonte para suas narrativas da
Infância, e, perto do começo do seu Evangelho há um bloco de matéria
não-marcana imediatamente após suas histórias da Infância (3:1-4:30). Há, é
verdade, algumas expressões em comum com Marcos nesta seção, e alguns
críticos consideram que Lucas depende de Marcos em todas as partes dela. Isto,
porém, dificilmente parece justificado, pois o maior volume desta seção é claramente
não-marcano. Há evidência de que Marcos e Q (Original de Marcos) coincidiram
parcialmente. Por exemplo, Lucas 8:16 aparece num contexto marcano (Mc
4:21) e 11:33, que é muito semelhante, usualmente é atribuído a Q (Original de
Marcos) (cf. Mt 5:15). Parece que Lucas tirou este dito das suas duas fontes. O
mesmo fenômeno é repetido varias vezes, e isto deixa os estudiosos quase
uniformemente convictos que Marcos e Q (Original de Marcos) coincidiam
parcialmente. Sendo este o caso, Lucas não precisa ter derivado de Marcos
aquilo que parecer ser matéria marcana em 3:1. Talvez tivesse sua origem
em Q (Original de Marcos) e, considerando a natureza e a extensão das
diferenças, é isto que realmente aconteceu, conforme parece. Muitos já
indicaram que se destacarmos as seções marcanas do Evangelho segundo Lucas, há
pouca coesão entre elas. Não dão a impressão de serem o arcabouço do mais longo
dos nossos Evangelhos. Este fato dá a impressão de que Lucas empregou
Marcos tardiamente na sua composição, e não desde o início. A certeza é
impossível em tal situação, mas certamente parece que Lucas já tinha estado
ativo muito tempo antes de conhecer o Evangelho segundo Marcos. Talvez seja um
exagero alegar que já tinha produzido o Proto-Lucas de Streeter. Os fatos
parecem mais bem esclarecidos se Lucas estava colecionando matérias de uma
variedade de fontes, tanto a tradição oral quanto quaisquer escritos que
encontrou, e que combinava tudo num documento experimental. A combinação
frequente de Q (Original de Marcos) e L parece indicar nada menos do que isto.
Depois, quando achou um exemplar de Marcos, encaixou as seleções que achou
apropriadas no seu documento parcialmente escrito, alterando a redação onde era
necessário. Dalguma maneira semelhante, produziu o presente volume.
Muita coisa permanece incerta. Ao ler algumas explicações do problema
sinótico, nunca se poderia descobrir que há tantas exceções às regras que
os estudiosos preconizam. Os fatos são extraordinariamente complexos, e
nada mais do que uma hipótese experimental pode ser justificada. O problema
deve ser levado adiante. Não podemos trabalhar com estes Evangelhos sem
hipóteses dalgum tipo. No estado presente do nosso conhecimento, no entanto,
não devemos ser dogmáticos demais.
b. Lucas e João.
Um aspecto interessante e enigmático deste Evangelho é o grande
número de pontos de contato que tem com o Quarto Evangelho. Há muito mais do
que em qualquer das outros Evangelhos Sinóticos. Destarte, varias pessoas
são mencionadas por Lucas e João somente, a saber: Maria e Marta (João fala do
irmão delas, Lázaro, e Lucas emprega este nome numa parábola), um discípulo
chamado Judas que é diferente de Judas Iscariotes, e Anás. Estes dois
escritores demonstram um interesse pela Samaria e por Jerusalém muito maior do
que qualquer coisa registrada em Mateus e Marcos, e o mesmo se pode dizer das
suas referências ao Templo. Há outras ligações, especialmente na narrativa da
Paixão. Os dois, por exemplo, falam do papel de Satanás na traição (Lc
22:3; Jo 13:27); os dois nos dizem que foi a orelha direita do escravo que
Pedro cortou no Jardim (Lc 22:50; Jo 18:10); que Pilatos repetiu três vezes que
JESUS era inocente (Lc 23:4, 14, 22; Jo 18:38; 19:4, 6); que o sepulcro de José
não tinha sido usado antes (Lc 23:53; Jo 19:41); que havia dois anjos na manhã
da ressurreição (Lc 24:4; Jo 20:12);e que os aparecimentos da ressurreição
ocorreram em Jerusalém (Lucas se refere, de modo breve, a uma visita ao túmulo,
que João descreveu mais detalhadamente, Lc 24:12, 24; Jo 20:3-10). Alguns
tem explicado este tipo de coisa ao sustentar que João usou Lucas como uma das
suas fontes. Há, porém, outras evidências que tornam isto improvável. Assim, estes
dois Evangelhos têm histórias acerca de uma mulher que ungiu a JESUS, mas ao
passo que Lucas fala de uma prostituta realizando a ação na casa de um fariseu
(Lc 7:36ss,), João descreve a ação de Maria, uma amiga de JESUS, no
próprio lar dela (Jo 12:1 ss.). Além disto, ambos contam de uma pesca
maravilhosa, Lucas no início do ministério de JESUS, e João na ocasião de um
dos aparecimentos depois da ressurreição (Lc 5:1 ss.; Jo 21:1ss.). Outros
exemplos poderiam ser citados de incidentes que são algo semelhantes, mas onde
as diferenças são tão importantes como as semelhanças. Tomam muito difícil
pensar em dependência direta ou no uso de fontes em comum. Nas circunstâncias,
a conclusão de Caird não é muito forte: “A inferência inevitável é que Lucas e
João estavam dependendo de duas correntes afins de tradição oral.”
O EVANGELHO DE LUCAS - INTRODUÇÃO E
COMENTÁRIO - Leon L. Morris, M.Sc., M.Th., Ph.D. - Diretor, Ridley College,
Melbourne - l.a edicao: 1983
Reimpressoes: 1986, 1990,1996,1997, 2000,2005,2006,2007 - Publicado
no Brasil com a devida autorizacao e com todos os direitos reservados por Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova,
Caixa Postal 21266, Sao Paulo, SP - 04602-970 - www.vidanova.com.br - Tradução
Gordon Chown Revisão de Julio Paulo Tavares Zabatiero.
Mais COMENTÁRIOS de Vários Livros.
INTRODUÇÃO
Lucas, o médico amado, não foi um apóstolo nem tampouco foi uma
testemunha ocular da vida de JESUS, todavia deixou uma das mais belas obras
literárias já escritas sobre os feitos do Salvador e os primeiros anos da
comunidade cristã. A narrativa de Lucas descreve, com riqueza de detalhes, o
ministério terreno de JESUS, como ele nasceu, cresceu, libertou os oprimidos,
formou os seus discípulos, morreu pendurado em uma cruz e ressuscitou dos
mortos.
O terceiro Evangelho possui uma forte ênfase carismática. Mais do
que qualquer outro evangelista ou escrito do Novo Testamento, Lucas dá amplo
destaque à pessoa do ESPÍRITO SANTO durante o ministério público de JESUS até
sua efusão sobre os cristãos primitivos. Nesse aspecto, a obra de Lucas deve
ser entendida como um compêndio de dois volumes, onde o segundo volume, Atos
dos Apóstolos, é entendido a partir do primeiro, o terceiro Evangelho, e
vice-versa.
Um erro bastante comum cometido por vários teólogos, principalmente
aqueles que não creem na atualidade dos dons espirituais, é tentar “paulinizar”
os escritos de Lucas. Por não entenderem o pensamento lucano, não o vendo como
teólogo como de fato ele era, mas apenas como um historiador, tentam
interpretá-lo à luz dos escritos de Paulo. Evidentemente que toda Escritura é
inspirada por DEUS e que o princípio da analogia é uma das ferramentas básicas
da boa exegese, todavia isso não nos dá o direito de transformar Lucas em mero
coadjuvante da teologia paulina. Em outras palavras, Paulo deve ser usado para
se compreender corretamente Lucas, mas também Lucas deve ser consultado para se
quer entender, de fato, o que Paulo escreveu.
Esse entendimento se torna mais ainda relevante quando aplicamos
essa metodologia em relação aos carismas do ESPÍRITO narrado no terceiro
Evangelho, em Atos dos Apóstolos e nas epístolas paulinas. Se Paulo foi um
teólogo, possuindo independência para falar dos dons do ESPÍRITO, Lucas da
mesma forma também o foi e seu pensamento é tão relevante quanto o de Paulo.
Nesse aspecto Lucas não deve ser entendido apenas como um narrador de fatos
históricos, mas como um teólogo que escreveu a história.
Este livro mostra facetas dessa abordagem metodológica na
interpretação de Lucas, mas não segue o modelo adotado nos comentários de
natureza puramente expositiva.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de JESUS, o
Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 11-12.
O Evangelho de JESUS CRISTO segundo Lucas é conhecido como “a mais
bela obra literária do mundo”. Os que conhecem, intimamente, a Mensagem do
livro e a maneira de Lucas a apresentar não querem contestar essa opinião. A
destra pena do escritor, para introduzir a transcendente história, leva-nos a
presenciar a visita de DEUS ao lar de Zacarias e Isabel, na região montanhosa
de Judá. Conta também como Ele visita a estrebaria, em Belém, e narra como nos
campos de Belém aparece a multidão da milícia celestial, aclamando com inefável
júbilo o nascimento do Salvador. Como se diz acerca desse livro: “A dulcíssima história
está narrada de maneira dulcíssima”.
O Quarto Evangelho
Fala-se em “quatro Evangelhos”, apesar de, realmente, existir um
só, justamente como há sete arcos, cada um de cor diferente, em um só
arco-íris. Pode-se dizer, também, que os quatro Evangelhos são como os quatro
muros da Nova Jerusalém, que João viu em visão. Todos esse muros, com suas três
respectivas portas, olham em sentidos diferentes, contudo todos cercam e
guardam uma só cidade de DEUS. Assim os quatro Evangelhos olham, também, em
sentidos diferentes.
Cada um tem seu próprio aspecto e inscrição, e todos juntos
descobrem um só CRISTO, “que é, que era, e que há de vir, o Todo-Poderoso”. “Há
diversidades de operações”, também, em escrever Evangelhos, “mas é o mesmo
ESPÍRITO que opera tudo em todos”.
Mateus descrevera JESUS como Rei, salientando Sua majestade. Marcos
O apresentara como o Servo do Senhor, dando ênfase a Seu poder. Lucas,
então, apresentou-O como o Filho do homem, destacando Sua humanidade. João
focalizou-O, depois, como DEUS, chamando nossa atenção para a Sua divindade.
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD.
pag. 14-15.
Observação do Pr. Henrique - No
livro de Ezequiel temos a figura de JESUS representada em quatro retratos. Ele
é descrito como LEÃO, BOI, HOMEM E ÁGUIA. Ez 1:10 cf. 10:14
Leão - sua realeza - evangelho de Mateus
Boi – sua humilhação - evangelho de Marcos
Homem – sua humanidade - evangelho de Lucas
Águia – sua divindade - evangelho de João
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. LUCAS. pag. 4
I - O TERCEIRO EVANGELHO
1. AUTORIA E DATA.
Como veremos mais adiante, a tradição que atribui autoria lucana para o terceiro Evangelho é muito antiga. No texto bíblico, as referências ao “médico amado” são Colossenses 4.14; 2 Timóteo 4.11 e Filemon 24. Todavia assim como outros escritos do Novo Testamento, o terceiro Evangelho também não traz grafado o nome de seu autor.
Evidências internas da autoria lucana
Diferentemente de outros livros neotestamentários que são anônimos, o terceiro Evangelho deixou pistas que permitiram à igreja atribuir a Lucas, o médico amado, a sua autoria. Alguns desses indícios internos listados pelos biblistas são:
1. Tanto o livro de Lucas como o livro de Atos são endereçados a uma pessoa identificada como Teófilo. “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio” (Lc 1.3), “Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo que JESUS começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia em que foi recebido em cima, depois de ter dado mandamentos, pelo ESPÍRITO SANTO, aos apóstolos que escolhera; aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de DEUS” (At 1.1-3).
2. Como vimos, o livro de Atos se refere a um outro livro que fora escrito anteriormente (At 1.1), que sem dúvida alguma trata-se do terceiro Evangelho. Quem escreveu Atos dos Apóstolos, portanto, escreveu também o terceiro evangelho.
3. O estilo literário e as características estruturais de Lucas e Atos apontam na direção de um só autor;
4. Muitos temas comuns ao terceiro Evangelho e Atos não são encontrados em nenhum outro lugar do Novo Testamento. Por exemplo, a ênfase na ação carismática do ESPÍRITO SANTO sobre JESUS e seus seguidores (Lc 24.49; At 1.4-8). Devemos observar ainda, como destaca Walter Liefeld, dentro dessa perspectiva, que o autor de Lucas-Atos não foi uma testemunha ocular dos feitos de JESUS, mas um cristão da segunda geração que se propôs a documentar a tradição existente sobre JESUS e o andar dos primeiros cristãos. Na passagem de Atos 16.10-17, a referência à primeira pessoa do plural (nós) além de revelar que Lucas era um dos companheiros de Paulo na segunda viagem missionária mostra também que era ele quem documentava esses registros:
“E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis; e dali, para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia e é uma colônia; e estivemos alguns dias nesta cidade. No dia de sábado, saímos fora das portas, para a beira do rio, onde julgávamos haver um lugar para oração; e, assentando-nos, falamos às mulheres que ali se ajuntaram. E uma certa mulher, chamada Lídia, vendedora de púrpura, da cidade de Tiatira, e que servia a DEUS, nos ouvia, e o Senhor lhe abriu o coração para que estivesse atenta ao que Paulo dizia. Depois que foi batizada, ela e a sua casa, nos rogou, dizendo: Se haveis julgado que eu seja fiel ao Senhor, entrai em minha casa e ficai ali. E nos constrangeu a isso. E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do DEUS Altíssimo” (At 16.10-17).
Essas evidências internas, sem sombra de dúvidas, apontam a autoria lucana do terceiro Evangelho. A propósito, em 1882 o escritor W.K. Hobart em seu livro: A Linguagem Médica de Lucas demonstrou a existência de vários termos médicos usados no terceiro Evangelho, o que confirmaria a autoria lucana. Posteriormente a obra O Estilo Literário de Lucas, escrita por H. J. Cadbury tentou mostrar que não somente Lucas usou termos médicos em sua obra, mas que outros escritores, mesmo não sendo médicos, fizeram o mesmo. Mas como bem observou William Hendriksen, quando se faz um paralelo entre Lucas e os demais Evangelhos Sinóticos observa-se a peculiaridade do vocabulário médico empregado por Lucas. Hendriksen comparou, por exemplo, Lucas 4.38 com Mateus 8.14 e Marcos 1.30 (a natureza ou grau da febre da sogra de Pedro); Lucas 5.12 com Mateus 8.2 e Marcos 1.40 (a lepra); e Lucas 8.43 com Marcos 5.26 (a mulher e os médicos). Ainda de acordo com Hendriksen, pode-se acrescentar facilmente outros pequenos toques. Por exemplo, somente Lucas declara que era a mão direita que estava seca (6.6, cf. Mt 12.10; Mc 3.1); e entre os escritores sinóticos, somente Lucas menciona que foi a orelha direita do servo do sumo sacerdote a ser cortada (22.50; cf. Mt 26.51 e Mc 14.47). Compare também Lucas 5.18 com Mateus 9.2, 6 e Marcos 2.3, 5, 9; e çf. Lucas 18.25 com Mateus 19.24 e Marcos 10.25. Além do mais, conclui Hendrinksen, embora seja verdade que os quatro Evangelhos apresentam CRISTO como o Médico compassivo da alma e do corpo, e ao fazê-lo revelam que seus escritores também eram homens de terna compaixão, em nenhuma parte é este traço mais abundantemente notório que no Terceiro Evangelho.
Além dessas evidências internas, há também diversas evidências externas, que fazem parte da tradição cristã, atestando a autoria lucana para o terceiro Evangelho. Uma delas, o cânon muratoriano, escrita em cerca de 180 d.C., confirma a autoria de Lucas: “o terceiro livro do Evangelho, segundo Lucas, que era médico, que após a ascensão de CRISTO, quando Paulo o tinha levado com ele como companheiro de sua jornada, compôs em seu próprio nome, com base em relatório”. Em cerca de 135 d. C., antes portanto do Cânon muratoriano, Marcião, o herege, também atesta a autoria de Lucas para o terceiro Evangelho. Testemunho confirmado posteriormente por Irineu (Contra as Heresias, 3.14-1) e outros escritores posteriores.
Data de Composição da Obra
A data da composição do terceiro evangelho é melhor definida pelos biblistas quando se leva em conta alguns fatores. Por exemplo, se Lucas valeu-se do Evangelho de Marcos como uma de suas fontes, nesse caso é preciso situá-lo em data posterior ao escrito de Marcos que foi redigido alguns anos antes do ano 70 d. C. Segundo, se Lucas é o primeiro volume de uma obra em dois volumes (Lucas-Atos), como se acredita que é, fica bastante evidente que o terceiro Evangelho foi compilado antes dos Atos dos Apóstolos. Nesse caso será preciso primeiramente datar o livro de Atos. Os eruditos acreditam que, levando-se em conta uma análise detalhada do livro de Atos dos Apóstolos, a data para sua redação está entre 61 a 65 d. C. Em Terceiro lugar, a data para a redação de Lucas é anterior à destruição de Jerusalém. É o que os teólogos denominam de vaticinium ex eventu, isto é, uma profecia que é feita antes que o evento ocorra.
Em resumo, Lucas redigiu sua obra entre os anos 60 e 70, sendo que alguns estudiosos opinam para a primeira parte dessa década enquanto outros pela segunda. Seja como for, isso em nada altera aquilo que Lucas escreveu.
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de JESUS, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 14-16.
O autor do quarto Evangelho
Lucas, “o médico amado”(Cl 4.14), a pena que o ESPÍRITO SANTO usou para escrever este livro, não era um dos apóstolos, como se diz comumente. Nem era discípulo, quando CRISTO andava neste mundo. (Compare Lc 1.1,2). Mas, depois de se converter, foi colaborador e amigo íntimo e amado do apóstolo Paulo, acompanhando-o na maior parte das viagens missionárias. Foi-lhe, também, fiel companheiro na prisão de Cesaréia e depois na de Roma, Cl 4.14; Fm 24. Lucas era de descendência judaica. O bom estilo do grego que escreveu indica que era judeu da dispersão. Conforme a tradição era judeu de Antioquia, como Paulo o era de Tarso. Entre os escritores antigos, somente Gregório afirma que Lucas morreu mártir.
A data do livro de Lucas
Foi, talvez, durante o tempo da prisão em Roma, que Lucas teve vagar para escrever seu Evangelho e, também, Atos dos Apóstolos. Os eruditos, geralmente, concordam que foi entre os anos 63 e 68. Quanto a Igreja deve às prisões pelos preciosos escritos que possui atualmente!
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 16.
O autor de Atos se refere ao Evangelho especificamente como “o primeiro tratado,” (At 1.1), e ambos são dirigidos a Teófilo (Lc 1.3; At 1.1). Ele fala de si mesmo em ambos os livros como “eu” na frase “pareceu-me” Kajaol, Lc 1.3) e [Eu] fiz eu o At 1.1. Ele se refere a si mesmo com outros termos como “nós”, como em Atos 16.10, e nas seções “nós” de Atos. O mesmo estilo aparece no Evangelho e em Atos, de forma que a pressuposição é forte em apoio à afirmação do autor. É bem possível que a Introdução formal ao Evangelho (1.1-4) se destinasse também a ser aplicada em Atos que possui apenas uma oração introdutória. Plummer argumenta que supor que o autor de Atos tenha imitado o Evangelho intencionalmente é supor um milagre literário. Até mesmo Cadbury, que não está convencido da autoria de Lucas, diz: “Em meu estudo de Lucas e Atos, a sua unidade é um axioma fundamental e inspirador.” Ele acrescenta: “Elas não são meramente duas escrituras da mesma caneta; elas são uma obra única e contínua. Atos não é um apêndice nem uma reflexão posterior. É provavelmente uma parte integral do plano e propósito originais do autor.”
A DATA DO EVANGELHO
Existem dois fatos extraordinários para marcar a data deste Evangelho de Lucas. Foi depois do Evangelho de Marcos, visto que Lucas faz uso abundante dele. Foi antes de Atos dos Apóstolos, visto que ele definitivamente se refere a ele em Atos 1.1. Infelizmente a data precisa de ambos termini é incerta. Muitos que aceitam este ponto de vista defendem a autoria de Atos e do Evangelho como sendo de Lucas.
Há muito tempo defendo este ponto de vista, não tão habilmente defendido por Hamack, de que Atos dos Apóstolos termina da maneira que termina pelo motivo simples e óbvio de que Paulo ainda estava preso em Roma. Se Lucas quis que Atos fosse usado no tribunal em Roma, o que pode ter acontecido ou não, não é a questão. Alguns argumentam que Lucas contemplava um terceiro livro que cobriria os eventos do tribunal e a carreira posterior de Paulo. Não há prova deste ponto de vista. O fato impressionante é que o livro termina com Paulo já prisioneiro por dois anos em Roma.
Se Atos foi escrito por volta de 63 d.C., como eu acredito ser o caso, então obviamente o Evangelho vem antes; quanto tempo antes, não sabemos. Acontece que Paulo era prisioneiro há pouco mais de dois anos em Cesareia. Este período deu a Lucas uma abundante oportunidade para o tipo de pesquisa do qual ele fala em Lucas 1.1-4. Na Palestina ele poderia ter acesso a pessoas familiares com a vida e os ensinos terrenos de JESUS e a quaisquer documentos que já estivessem produzidos a respeito destas questões. Lucas pode ter produzido o Evangelho durante o final da estada de Paulo em Cesareia ou durante a primeira parte da primeira prisão romana, em algum ponto entre 59 e 62 d. C.
O outro testemunho diz respeito à data do Evangelho de Marcos. Não há uma dificuldade real no caminho da data inicial do Evangelho de Marcos. Todos os fatos que são conhecidos admitem, e até mesmo favorecem uma data próxima a 60 d. C. Se Marcos escreveu o seu Evangelho em Roma, como é possível, certamente seria antes de 64 d.C., a data em que Nero pôs fogo em Roma. Há estudiosos, porém, que defendem uma data muito anterior para o seu Evangelho, chegando a 50 d. C.
A. T. ROBERTSON. COMENTÁRIO LUCAS À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag. 14; 17-18.
A tradição tem sempre crido que Lucas é o autor e não temos nenhum escrúpulo em aceitar a tradição neste caso. No mundo antigo era comum atribuir os livros a nomes famosos; ninguém via mal nisso. Mas Lucas nunca foi uma figura famosa na igreja primitiva. Se não tivesse escrito o evangelho é mais que seguro que ninguém o tivesse atribuído como autor. Lucas era um gentio; e tem a distinção de ser o único autor do Novo Testamento que não é judeu. Era médico de profissão (Colossenses 4:14) e possivelmente esse mesmo feito lhe conferisse a grande simpatia que possuía.
Tem-se dito que um pastor vê o melhor dos homens; um advogado vê o pior, e um médico os vê tal como são. Lucas via os homens e os amava. O livro foi escrito para um homem chamado Teófilo. É chamado excelentíssimo Teófilo, tratamento que geralmente se dava aos altos funcionários do governo romano. Sem dúvida Lucas o escreveu para contar mais a respeito de JESUS a uma pessoa muito interessada; e teve êxito em dar a Teófilo um quadro que deve ter aproximado seu coração ainda mais ao JESUS do qual tinha ouvido.
BARCLAY. William. Comentário Bíblico. LUCAS. pag. 4
2. A OBRA.
As narrações de Lucas nos arrebatam por seu interesse humano. São histórias de eventos na vida humana, eventos comoventes, eventos cheios de alegria e de tristeza, cheios de cânticos e de lágrimas, de louvor e de oração.
E só Lucas que escreve o nascimento e a meninice de JESUS CRISTO e de Seu precursor, lançando um grande e significativo halo de glória sobre a infância de todos nós.
O livro de Lucas é notável pelos cânticos registrados. Há, ao menos, seis: Maria com o anjo Gabriel, 1.28. A Beatitude de Isabel, 1.42. O Magnificai, de Maria, 1.46-55. O Benedictus, de Zacarias, 1.68-79. O Glória in excelsis, dos anjos, 2.14. O Nunc-dnnittis, de Simeão, 2.29-32.
É Lucas que marca as datas mais plenamente. (Vede cap. 1.5,26,36; 2.1,2,21,22,36,37,42; 3.1,2.)
Lucas é que dá mais atenção ao sexo feminino, falando sobre o grupo de mulheres que andavam com JESUS: Isabel, a virgem mãe, a idosa Ana, a viúva de Naim, a viúva que ofertou tudo que possuía, as irmãs de Betânia, a pecadora penitente, a mulher curvada por Satanás, as mulheres santas que seguiam a JESUS de aldeia em aldeia, as “filhas de Jerusalém” que, chorando, O acompanharam até a cruz,...
Lucas fala mais nas orações de CRISTO do que Mateus, Marcos ou João (Vede cap. 3.21; 5.16; 6.12; 9.18,29; 11.1; etc.)
É só Lucas que dá a parábola de 1) Os dois devedores (7.41-43), 2) 0 bom samaritano (10.25-37), 3) O amigo importuno (11.5-8), 4) O rico insensato (12.116-21), 5) Os servos vigilantes (12.35-40), 6) O mordomo (12.42-48), 7) A figueira estéril (13.6-9), 8) A grande ceia (14.16-224), 9) A construção de uma torre (14.28-33), 10) A moeda perdida (15.8-10), 11) O filho perdido (15.11-32), 12) O administrador infiel (16.1.13), 13) O rico e Lázaro (16.19-31), 14) O senhor e seu servo (17.7-10), 15) A viúva importuna (18.1-8), 16) O fariseu e o publicano (18.10-14), 17) As dez minas (19.12-27).
Lucas é o Evangelho do lar. É esse livro que nos dá um olhar momentâneo para a vida no lar em Nazaré, da cena na casa de Simeão, da hospitalidade de Maria e Marta, da refeição com os dois discípulos em Emaús, da parábola do amigo importuno à meia noite, da mulher varrendo a casa, em procura da dracma perdida, e do pródigo, que volta ao lar paterno.
O livro de Lucas é, também, o Evangelho dos pobres e dos humildes como se descobre no cântico de Maria, no nascimento do Rei dos reis em uma estrebaria, na vida do precursor do Rei no deserto, na parábola do néscio rico, na história do rico e Lázaro e no óbolo da viúva.
Grande e eterna é a perda daqueles que não conhecem intimamente o Evangelho segundo Lucas. Que o ESPÍRITO SANTO abra nossos olhos para ver a admirável beleza da “mais bela obra do mundo”! Então podemos levar os alunos de nossa Escola Bíblica Dominical, e os membros de nossa igreja, a contemplarem praticamente a beleza que é verdadeira, que é eterna e que nos encanta mais. “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (Jo 15.7).
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 17.
Os textos de Lucas estão entre os mais literários dos livros do Novo Testamento, distintos no original por seu estilo fluente e belo. Lucas é o único dos autores a escrever uma sequência — o Livro de Atos — que conta a história da igreja primitiva e sua disseminação. Diferentemente dos outros Evangelhos, cujo conteúdo pode ser traçado a partir do passado pelas narrativas das testemunhas oculares da vida de JESUS compartilhada com seus discípulos, Mateus, João e Pedro (a fonte do Evangelho de Marcos), Lucas desenvolve sua narrativa através do que poderíamos chamar, hoje, de “reportagem investigativa”. Na introdução, Lucas nos conta (1.1-4) que seu trabalho é fruto de cuidadosa pesquisa, no estilo de “uma narrativa ordenada” com o objetivo de levar o leitor “para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado”. E muito provável que Lucas tenha realizado a maior parte de sua pesquisa durante os anos em que Paulo esteve preso em Cesaréia, aguardando julgamento (cf. At 23-27).
A exemplo de outros escritores do Evangelho, Lucas tem em mente determinada audiência. Para tanto, moldou seu material para reforçar temas de especial interesse a esse público e aos seus leitores em geral. Muitos concordam que Lucas escreve para os helenistas, com raízes na cultura grega, cujo ideal é arete, “excelência”. Lucas, sempre ciente da divindade de JESUS, também o considerava como o ser humano ideal, capaz de redefinir a excelência.
A “excelência” em JESUS, é vista não como uma superioridade pessoal em detrimento dos outros, mas uma superioridade pessoal expressa na preocupação com os outros. Os demais valores de JESUS são sutilmente desprezados pela sociedade: a mulher, o pobre, o excluído. A confiança de JESUS na oração e no ESPÍRITO SANTO revela a humanidade em sua íntima relação com o universo, dependente de um DEUS que, embora exista além de nós, nos ama de tal maneira que decidiu se envolver inteiramente em nossa vida. Tudo isso faz de Lucas talvez o mais caloroso e sensível dos quatro Evangelhos e nos proporciona o mais atraente dos retratos de JESUS CRISTO.
RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 649.
3. OS DESTINATÁRIOS ORIGINAIS.
E inegável que Lucas, como um teólogo, demonstrou um grande interesse pelos fatos históricos quando redigiu sua obra. O prólogo, escrito a Teófilo, que se acredita ser um gentio de alta posição social, atesta isso. “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó excelentíssimo Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado minuciosamente de tudo desde o princípio, para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado” (Lc 1.1-4).
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de JESUS, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 19.
O próprio autor declara peremptoriamente um dos propósitos que teve, ao escrever a sua obra, no prefácio deste evangelho (1:1-4). Muitas pessoas haviam escrito a respeito de JESUS e sua vida admirável, talvez de maneiras incompletas e quiçá contraditórias; e Lucas desejava suprir uma narrativa em ordem e digna de confiança para Teófilo (que evidentemente era um alto oficial romano, possivelmente recém-convertido ao cristianismo). Todavia, também é possível que Teófilo não fosse o único destinatário porque Lucas pode ter tido o interesse de suprir um evangelho em ordem e completo para leitores não-judeus. E Lucas também queria esclarecer, ao governo imperial de Roma, que os cristãos não eram alguma seita sediciosa e subversiva, e nem mera facção do judaísmo; pelo contrário, que a sua mensagem é universal, e, por isso mesmo, importante para todos os povos. Também desejava apresentar um Salvador universal, um grande e compassivo Médico, Mestre e Profeta, que viera aliviar os sofrimentos humanos e salvar as almas dos homens.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 1-2.
Entre os evangelhos sinóticos: Mateus escreveu para os judeus, Marcos para os romanos, Lucas para os gentios. Tanto o terceiro Evangelho como Atos refletem um enorme interesse em difundir o cristianismo aos não-judeus. No Evangelho de Lucas, por exemplo, JESUS disse que a fé do centurião foi superior ao de qualquer judeu; a história do Bom Samaritano, onde JESUS, quase irônico, condena a religiosidade dos judeus.
Destinatários-leitores, apenas um é mencionado: um tal de Teófilo, o epíteto krátistos 2903 , também aplica ao governador romano Félix e a Festus o tratamento de potentíssimo (Atos 23:26; 24:3; 26:25), e serve para confirmar que Teófilo não é simplesmente um termo genérico para todos os crentes como "amado do Senhor", mas indica uma pessoa de alguma elevada posição social (comp. 1 Coríntios. 1:26). No entanto, é possível que, apesar de ser especificamente destinada a um possível empresário rico, o objetivo geral era precisamente aqueles considerados excluídos da aliança (gentios). Mas esta maneira de abordar este convertido gentio, Teófilo é realmente um trabalho de dedicado discipulado. FF Bruce afirma que o título de "Excelência", se usado com precisão aponta para um elevado membro da Ordem Equestre da sociedade romana; mas poderia ser usado de forma mais geral, como um título de cortesia.
Pode muito bem ser esperado que Theophilus apoiaria a publicação do livro de Lucas. O que está claro é que Lucas tinha em mente os leitores gentios. Por exemplo, deve-se notar o cuidado de Lucas para informar seus leitores sobre pontos palestinianos relacionados à geografia, mesmo os mais simples, e isso contrasta com o fato de que seus leitores eram judeus. Por outro lado, Lucas deliberadamente evita o uso de Aramaísmos como rabi ; ou semitismos como hosana. Isso explica mais uma vez que Lucas escolheu um monte de material da sociedade judaico-romana, incluindo a "leitura de Nazaré", porque ele queria enfatizar que o ministério de JESUS fora ungido pelo ESPÍRITO do Senhor, o que era completamente desconhecido para os crentes gentios.
Daniel Carro; José Tomás Poe; Ruben O. Zorzoli. Comentário bíblico mundo hispano. Editora Mundo Hispânico. Casa Batista de Pulblicaiones.
II - OS FUNDAMENTOS E HISTORICIDADE DA FÉ CRISTÃ
1. O CRISTIANISMO NO SEU CONTEXTO HISTÓRICO.
Como um escritor inspirado e um teólogo cristão, Lucas mostra que o tempo do cumprimento das promessas de DEUS, preditas nos antigos profetas, havia chegado. Fica claro para ele que o advento do cristianismo foi precedido pela renovação do ESPÍRITO profético. O último profeta, Malaquias, havia silenciado cerca de quatrocentos anos antes. Esse hiato entre os dois testamentos é conhecido como período Inter bíblico. Agora esse silêncio é rompido, primeiramente pelo anúncio feito a Zacarias, pai de João Batista (Lc 1.13) e posteriormente a Maria, a mãe de JESUS (Lc 1.28). É, contudo, no ministério de João Batista, que Lucas mostra a restauração da antiga profecia bíblica: “E, no ano quinze do império de Tibério César, sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia, e Herodes, tetrarca da Galileia, e seu irmão Filipe, tetrarca da Itureia e da província de Traconites, e Lisânias, tetrarca de Abilene, sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes, veio no deserto a palavra de DEUS a João, filho de Zacarias” (Lc 3.1-2).
Essa restauração da antiga profecia bíblica, como veremos em capítulos posteriores, é importante no contexto da teologia carismática de Lucas. Já foi dito que Lucas escreveu uma obra em dois volumes e esse é um fato importante porque essa homogeneidade nos ajuda compreender a ação do ESPÍRITO SANTO na teologia Lucas-Atos. No Evangelho, Lucas mostra o ESPÍRITO atuando sobre o Messias e capacitando-o para realizar as obras de DEUS como havia sido prometido nas profecias (Lc 4.18; Is 61.1). Por outro lado, no livro de Atos está o cumprimento da promessa do Messias de derramar esse mesmo ESPÍRITO sobre os seus seguidores (Lc 11.13; 24.49; At 1.8). Em outras palavras, o mesmo revestimento de poder que estava sobre JESUS CRISTO e que o capacitou a curar os enfermos, ressuscitar os mortos e expulsar os demônios seria também dado a seus seguidores quando ele fosse glorificado. “De sorte que, exaltado pela destra de DEUS e tendo recebido do Pai a promessa do ESPÍRITO SANTO, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” (At 2.33); “nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o ESPÍRITO SANTO, que DEUS deu àqueles que lhe obedecem” (At 5.32).
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de JESUS, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 20.
Tetrarca (v.l): Governador de uma das quatro partes em que se dividiam alguns estados.
Herodes (v.l): Herodes, o Grande, era rei da Judéia, de 39 a 4 AC. Seu filho, Herodes Antipas, que degolou João Batista, era tetrarca da Galileia, 4 AC a 39 AD.
Herodes Agripa I, que matou a Tiago (At 12) era rei de 27 a 44 AD.
Eis a negra lista dos que governavam no lugar de Davi! Tibério, Pôncio Pilatos, Herodes, Filipe (irmão de Herodes), Anás e Caifás eram homens acerca dos quais sabemos muito pouco, a não ser que eram cruéis, pérfidos, traiçoeiros e sem escrúpulo.
É suficiente isto para salientar o fato de haver chegado o tempo da imperiosa necessidade de João Batista iniciar sua obra.
Nunca nos convém cair no desespero por causa das nuvens sombrias e ameaçadoras que pairam mais e mais sobre a humanidade. Como no tempo de João Batista, a libertação dos céus pode estar mais perto do que pensamos. Num momento DEUS pode tornar as trevas da meia noite no clarão do meio-dia.
Sendo Anás e Caifás sumos sacerdotes (v. 2): No início, os judeus reconheciam apenas um sumo sacerdote. Mas depois, parece o costume de ter dois sumos sacerdotes 2 Rs 25.18. Tanto Zadoque como Abiatar, exerciam o ofício de sumo sacerdote no tempo de Davi, 2 Sm 15.29. Apesar de Anás ter sido deposto por Pilatos, ele continuava a ter grande influência e exercer muito do poder de seu genro Caifás. (Vede Jo 18.13; At 4.6.)
Veio no deserto a palavra de DEUS a João (v. 2): João, sem dúvida, permanecia no deserto, onde, separado dos homens, podia discernir melhor a vontade do Senhor.
O tempo que gastamos dentro de nosso quarto, com a porta fechada e a sós com DEUS, não é tempo perdido.
Somente aqueles chamados por DEUS, aqueles em que o fogo divino arde, devem pregar. Como pode um homem anunciar as verdades que ele mesmo nunca experimentou? Como pode testificar de um Salvador que nunca viu? Como pode pregar a Palavra de DEUS se essa Palavra nunca lhe veio? E percorreu... (v. 3): João Batista não foi desobediente à visão celestial, do v. 2. Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento (v. 8): João discriminava praticamente os frutos que deviam produzir: 1) A multidão (v. 10), 2) Aos publicanos, vv . 12,13. 3) Aos soldados, v. 14. Isso nos ensina que 1) O Evangelho é muito prático.
2) Não todas as pessoas têm as mesmas tentações, que há certos pecados que nos apegam mais que outros. (Vede Hb 12.1.)
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 53.
1. Lucas começa com datas pormenorizadas, não no início do ministério de JESUS, mas, sim, no início daquele de João. Reflete, assim, a importância crítica do reavivamento da profecia. E coloca aquilo que se segue firmemente no contexto da história secular. Visto que Augusto morreu em 19 de agosto de 14 d.C., o décimo quinto ano do reinado de Tibério César foi de agosto de 28 d. C. até agosto de 29 d. C. Alguns argumentam que a contagem deveria começar com a corregência de Tibério com Augusto, 11-12 d.C.; mas nenhum exemplo pode ser citado de alguém que em qualquer tempo calculasse a data a partir de então. As datas sempre são a partir do tempo em que Tibério veio a ser imperador. Outros sustentam que Lucas está usando o método sírio mediante o qual o ano começava em 1 de outubro. O período de 19 de agosto até 30 de setembro seria contado como o primeiro ano do reinado, e o segundo ano começaria em 1 de outubro. Assim, chegaríamos ao ano que começou em 1 de outubro de 27 d. C. Se fosse seguir um sistema judaico semelhante, o ano seria aquele que começava em 1 de Nisã (março-abril) de 28 d. C.; Não parece que possamos chegar mais perto de que cerca de 27-29 d. C.
Sendo Pôncio Pilatos governador. Esta palavra tem significado muito geral, mas uma inscrição mostra que seu título era “prefeito” (e não “procurador,” conforme muitas vezes tem sido sustentado). A Judeia fazia parte da região distribuída por Herodes Magno a Arqueleu, mas este reinou tão mal que seus súditos dirigiram uma petição aos romanos para que o removessem. Fizeram-no, e instalaram seu próprio governador em 6 d. C. Pilatos deteve este cargo em 26-36 d.C .Herodes é Herodes Antipas, filho de Herodes Magno. Ficou sendo tetrarca da Galileia e da Peréia na ocasião da morte do seu pai em 4 a.C., e deteve o cargo até 39 d. C. Destarte, reinou durante a maior parte da vida de JESUS sobre o território em que a maior parte do tempo de JESUS foi passada. A palavra tetrarca significa, a rigor, um soberano sobre uma quarta parte de uma região, mas veio a ser empregada para qualquer príncipe insignificante (Herodes Magno, na realidade, dividiu seu reino em três partes). O irmão de Herodes, Filipe, reinou sobre sua tetrarquia (que ficava ao nordeste do Mar da Galileia) de 4 a.C. até 33 ou 34 d. C. Lisânias é um problema. Josefo menciona um homem com este nome que governou um território extenso a partir da sua capital de Cálquis até sua morte em 36 (ou 34) a.C. (Antiguidades xv.92).
Há, porém, inscrições que se referem a um Lisânias num período posterior que reinou como tetrarca de Abilene, que fica ao norte das demais regiões mencionadas. Parece melhor sustentar que Lucas independe de Josefo e que escreve acerca deste Lisânias posterior. Nada mais se sabe acerca deste homem.
2. Lucas passa a acrescentar uma data de especial importância aos judeus, a saber: a referência aos sumos sacerdotes. Anás era sumo sacerdote em 6-15 d,C., quando, então, o governador romano Grato o depôs. Cinco dos seus filhos vieram a ser sumos sacerdotes no decurso do tempo, e Caifás, que deteve o cargo de 18 até 36 d.C., foi seu genro. Lucas emprega o singular, que demonstra que sabia que havia um só sumo sacerdote. Parece que quer dizer que Caifás era o detentor oficial do cargo, mas que Anás ainda exercia grande influência, e talvez que ainda fosse considerado por muitos judeus como o verdadeiro sumo sacerdote (cf. At 4:6).
Talvez valha a pena indicar que quando JESUS foi preso, foi trazido primeiramente a Anás (Jo 18:13).
Na ocasião definida de modo tão impressionante, pois, veio a palavra de DEUS a João. A expressão é muito semelhante àquela que se emprega na LXX acerca da maneira de os profetas receberem sua mensagem (cf. Jz 1:2). Provavelmente visa colocar João na sucessão profética verdadeira.
3. Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão parece significar que João viajava muito no vale do Jordão. Diferentemente de Mateus e Marcos, Lucas nada diz acerca da aparência e dos hábitos dietéticos de João. Vai diretamente à mensagem dele. João pregava batismo de arrependimento para remissão de pecados. Trata-se de um batismo que segue o arrependimento e que é sinal dele, João conclamava as pessoas a se voltarem dos seus pecados, A aceitação do batismo era um sinal que assim fizeram.
O propósito era o perdão. o batismo era um rito de purificação em certo número de religiões. Parece certo que neste tempo os judeus usavam o batismo dos prosélitos. Consideravam impuros todos os gentios, de modo que os batizavam quando se tomavam prosélitos (além de circuncidar os homens). O ferrão que havia na prática de João era que aplicava aos judeus a cerimônia considerada apropriada para os gentios impuros. Muitos judeus esperavam que no julgamento DEUS tratasse duramente com os pecadores gentios, mas que os judeus, os descendentes de Abraão, o amigo de DEUS, estariam seguros. João denuncia esta atitude e remove a imaginada segurança.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 89-91.
No versículo 1, Lucas faz menção de várias regiões políticas nas quais o país dos judeus fora dividido e que existia quando João começou seu ministério público.
Os seis itens cronológicos aos quais Lucas faz menção serão comentados na ordem 2, 3, 4, 5, 6,
1. Essa sequência será seguida porque, como este autor a vê, o sexto item lança luz sobre a compreensão correta do item 1.
2. A palavra de DEUS veio a João, filho de Zacarias, “sendo Pôncio Pilatos governador da Judeia”. O que sucedeu foi o seguinte: Herodes o Grande elaborou um testamento que foi por ele revisado várias vezes. No momento de sua morte (em ou antes de 4 de abril do ano 4 a. C.), o governo romano permitiu que a última revisão fosse reconhecida. Consequentemente, Arquelau, um filho que Herodes o Grande, teve com Maltace, foi feito etnarca da Judeia, Samaria e Iduméia. Devido, porém, ao fato de Arquelau ter sido um governante cruel, ele foi deposto no ano 6 d. C. O imperador designou então um “governador” para substituir Arquelau, e a tríplice região, que então passou a chamar-se província da Judeia, passou a ser uma divisão da prefeitura da Síria, de modo que o governador ficasse, em alguma medida, subordinado ao legado da Síria. Não obstante, na própria Judeia, o governador exercia autoridade irrestrita.
Os governadores seguiam uns aos outros em rápida sucessão. A província da Judeia não foi uma exceção. Pôncio Pilatos foi o quinto desses “governadores”. Nessa qualidade, ele governou de 26 a 36 d. C.
3. “Herodes, tetrarca da Galileia.” Esse homem, comumente conhecido como “Herodes Agripa”, era irmão de Arquelau. O mesmo fato que fez Arquelau um “etnarca”, fez Herodes Antipas um “tetrarca” da Galileia (e Peréia). Este permaneceu em sua posição de 4 a.C. a 39 d.C., quando foi banido para Lião, na Gália. Algum tempo depois o domínio que lhe fora tirado foi agregado ao reino de Herodes Agripa I, o Herodes a que faz referência Atos 12.
Herodes Antipas é o “Herodes” que encontramos nos Evangelhos (com exceção de Mt 2.1-19 e Lc 1.5, onde a referência é a seu pai, Herodes I, o Grande).
4. “Seu irmão Filipe, tetrarca da região de Ituréia e Traconite.” Filipe era um filho de Herodes I com Cleópatra de Jerusalém (não confundir com a Cleópatra egípcia). A informação que temos dele devemos, em sua grande parte, a Josefo, Antiguidades XVIII 106-108. Filipe foi quem ampliou e embelezou a cidade de Paneas, situada próximo à nascente do Jordão, e a chamou Cesaréia. Para distinguir esse lugar da Cesaréia no Mediterrâneo, começou a ser chamada “Cesaréia de Filipe” (Mt 16.13). Ele também ampliou Betsaida, isto é, a Betsaida localizada próximo à confluência setentrional do lago da Galileia e do rio Jordão, e a chamou Betsaida Júlia, em honra de Júlia, filha do imperador Augusto. Segundo Josefo, esse Filipe foi um homem de excelente caráter, alguém que teve cuidado especial por seu povo. Ele governou de 4 a.C. até sua morte, em 34 d. C.
5. “E Lisânias, tetrarca de Abilene.” A afirmação de Lucas já não está só, como sucedeu durante muitos anos. Foi confirmada por uma inscrição numa rocha a oeste de Damasco. Essa inscrição afirma que Lisânias realmente foi governador dessa região.
6. “E sendo sumos sacerdotes Anás e Caifás.” Anás (ou “Ananus”, como Josefo o chama) fora designado sumo sacerdote por Quirino no ano 6 a.C., e foi deposto por Valério Grato em cerca do ano 15 d. C. Mas, embora deposto, ele continuou sendo por longo tempo o espírito predominante do Sinédrio. Cinco filhos e um neto o sucederam no sumo sacerdócio; também um genro, o mesmo mencionado por Lucas, a saber, Caifás. Este último manteve o ofício sumo sacerdotal de 18 a 36 d. C. O Novo Testamento se refere a Caifás nas seguintes passagens (além de Lc. 3.2): Mateus 26.3, 57; João 11.49; 18.13, 14, 24, 28; e Atos 4.6; a Anás, também em João 18.13, 24; Atos 4.6.
Pode parecer estranho que Lucas identifique o começo do ministério de João Batista com o sumo sacerdócio não só de Caifás, mas “de Anás e Caifás”. Anás, afinal de contas, foi deposto de seu ofício em 15 d.C., bem antes de o ministério de João Batista começar. Podemos compreender que Lucas identifique o começo do ministério de João com o sumo sacerdócio de Caifás (18-36 d.C.), mas por que o de Anás?
Não obstante, Lucas está certo. Ele está pensando na situação real, não unicamente oficial. A verdadeira situação era que tanto Anás quanto Caifás eram os condutores durante todo o período do ministério de João e durante o tempo que durou o ministério de CRISTO; Anás, com a mesma autoridade de Caifás - talvez com mais autoridade ainda que Caifás.
7. Voltamos agora ao primeiro item cronológico dado por Lucas, a saber, “No ano décimo quinto do império de Tibério César... a palavra de DEUS veio a João, filho de Zacarias ...”
Há quem argumente dizendo que, já que João começou seu ministério “no ano décimo quinto de Tibério César”, e já que Tibério começou a reinar quando da morte do Imperador Augusto em 19 de agosto do ano 14 d.C., o ministério de João deve ter-se iniciado no ano 28 ou, talvez, em 29 d. C.
HENDRIKSEN. William. Comentário do Novo Testamento. Lucas I. Editora Cultura Cristã. pag. 269-272.
2. DISCIPULADO ATRAVÉS DOS FATOS.
Lc 1.4. O verbo instruído ê frequentemente usado para a instrução dos convertidos cristãos ou os interessados {katècheõ; ver Atos 18:25; 1 Co 14:19, etc.). Alguns deduzem que Teófilo era crente, e apoiam esta ideia com o argumento de que dificilmente teria sido o patrocinador literário de Lucas se não o fosse. Contra a ideia, no entanto, insiste-se que provavelmente teria sido chamado “irmão” se fosse crente. De qualquer maneira, o verbo pode ser usado de um relatório tanto hostil como errado (e, g. Atos 21:21, 24), de modo que devamos conservar aberta a possibilidade de que não passasse de alguém de fora que estava interessado. Certamente sabia alguma coisa acerca da fé cristã, e Lucas quer que ele saiba as verdades dela. Ne d B. Stonehouse entende que a verdade é especialmente importante no Prólogo. O “impacto principal” do Prólogo é “que o cristianismo é verdadeiro e é capaz de confirmação.”
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 63-64.
Lc 1.4. A certeza sem deslizar (tropeçar ou cair, e a negação). Lucas promete uma narrativa confiável. “Teófilo saberá que a fé que ele abraçou tem uma inexpugnável fundação histórica”.
Das coisas, literalmente, palavras, os detalhes das palavras na instrução.
Estás informado um primeiro indicativo aoristo passivo. Ele não é encontrado no Antigo Testamento, e é raro no grego antigo, mas aparece nos papiros. A palavra é a nossa palavra eco; (repetir, instruir, dar instrução oral. (Cf. 1 Co 14.9; At 21.21,24; 18.25; G1 6.6). Os homens, que davam o ensinamento, eram chamados catequistas e os que recebiam a instrução eram chamados catecúmenos. Se Teófilo era ainda um catecúmeno, não se sabe. Este prefácio, escrito por Lucas, está em Koivf| literário esplêndido, e não é superado por nenhum autor grego (Heródoto, Tucídides, Políbio). É inteiramente possível que Lucas estivesse familiarizado com este hábito dos historiadores gregos de escrever prefácios, uma vez que ele era um homem culto.
A. T. ROBERTSON. COMENTÁRIO LUCAS À Luz do Novo Testamento Grego. Editora CPAD. pag. 27.
Observe por que Lucas enviou o Evangelho a “Teófilo”: Eu lhe escrevi estas coisas não para que você possa dar reputação ao trabalho, mas para que você possa ser edificado por ele, (v. 4): “Para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado.”
1. Está implícito que Teófilo fora instruído sobre estas coisas, antes do seu batismo, ou logo depois, ou ambas as hipóteses, de acordo com a lei, Mateus 28.19,20. Provavelmente Lucas o batizara, e sabia o quão instruído ele estava; peri hon katecheth.es - a respeito daquilo com que você foi catequizado, esta é a palavra; os cristãos de maior conhecimento começavam sendo catequizados (ou discipulados). Teófilo era uma pessoa de qualidade, talvez de família nobre; e mais esforços devem ser empreendidos com tais pessoas quando são jovens, para ensiná-las os princípios dos oráculos de DEUS, para que possam ser fortalecidas contra as tentações, e capacitadas para as oportunidades, sim, aos que têm uma elevada condição no mundo.
2. A intenção era que ele conhecesse a certeza destas coisas, compreendendo-as mais claramente e crendo mais firmemente. Existe uma certeza no Evangelho de CRISTO, existe algo sobre o que podemos edificar; e aqueles que são bem instruídos nas coisas de DEUS quando são jovens, mais tarde devem procurar diligentemente conhecer a certeza de tais coisas – conhecer não somente aquilo em que cremos, mas saber por que cremos nisto, para que possam ser capazes de dar “a razão da esperança” que há em nós.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 509.
III - A UNIVERSALIDADE DA SALVAÇÃO
1. A HISTÓRIA DA SALVAÇÃO.
A história da Salvação no terceiro Evangelho é revelada em seu aspecto particular e universal. Sem dúvida a ênfase maior está na universalidade da Salvação. JESUS veio para os judeus, mas não somente para estes, ele veio também para os gentios. A Salvação é para todos! Esse princípio teológico de Lucas fica em evidência quando se observa o lugar que os excluídos ocupam nos seus registros. No anúncio do nascimento de JESUS feito pelos anjos aos camponeses foi dito: “Vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo” (Lc 2.10).
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de JESUS, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 21.
No primeiro enunciado (v. 16), JESUS declara que a lei e os profetas duraram até João. João Batista é ao mesmo tempo o fim da antiga era e o início da nova. Ele havia recebido o ministério de preparar o povo para a chegada do Messias (v. 1:57-80; 3:120).
Desde então (desde o Batista) é anunciado o reino de DEUS, a saber, o reino é pregado por JESUS e seus apóstolos (v. 16). Conforme vimos na Introdução (v. a p. 22ss.), Lucas 16:16 é um versículo importante para que se entenda o conceito do evangelista a respeito da obra redentora de DEUS na história. Parece que Lucas entendia que a história era formada de três eras, ou épocas (v. Fitzmyer, p. 185). A primeira época é mencionada em Lucas 16:16a, que vai da criação ao aparecimento de João Batista. É o período da “lei e dos profetas”. Com o surgimento de João Batista, encerra-se esse período e inaugura-se outro. Esse segundo período, mencionado no v. 16b, é o período de JESUS na terra, quando o Senhor proclamou “as Boas Novas do reino de DEUS. A terceira época é o período da igreja, como se pode verificar em Atos 1:6-8; nesse tempo os seguidores de JESUS pregam a fé da Páscoa (v. Atos 2:16-39). Durante esse tempo a igreja tem a ordem de pregar as Boas Novas por todo o mundo (Atos 1:8).
Craig a. Evans. Comentário Bíblico Contemporâneo. Lucas. Editora Vida. pag. 278.
O Senhor JESUS passou a se dirigir aos publicanos e pecadores como os candidatos que mais provavelmente seriam os objetos da operação do seu Evangelho, do que aqueles fariseus avarentos e presunçosos (v. 16): “A Lei e os Profetas duraram até João, e a dispensação do Antigo Testamento, que estava limitada a vós, judeus, continuou; até que João Batista apareceu a vós, que parecíeis ter o monopólio da justiça e da salvação, e estais envaidecidos com isto, e isto vos confere uma elevada estima entre os homens, que vos consideram como os maiores estudantes da lei e dos profetas.” Mas, desde que João Batista apareceu, o Reino de DEUS é anunciado. Esta é a dispensação do Novo Testamento, que não avalia os homens por serem doutores da lei, mas todo homem entra no reino do Evangelho, gentios bem como judeus, e nenhum homem se considera tão bom ou merecedor de tamanha misericórdia a ponto de deixar que suas qualidades passem adiante de si, ou de permanecer até que os príncipes e os fariseus o conduzam por este caminho. Esta não chega a ser uma constituição nacional política como era o governo judaico, quando a salvação era somente dos judeus; mas é como uma preocupação pessoal específica. E, assim, todo homem que está convencido de que tem uma alma para salvar, e uma eternidade para a qual deve se preparar, se esforça para entrar, para que o seu acesso ao céu não seja barrado por causa de alguma ninharia ou lisonja”. Alguns dão este sentido a esta palavra; eles zombavam de CRISTO ou falavam com desprezo das riquezas, porque pensavam da seguinte forma: Não havia muitas promessas de riquezas e outras coisas temporais boas na lei e nos profetas? E grande parte dos melhores servos de DEUS não era composta por muito ricos, como Abraão e Davi? “É verdade,” disse CRISTO, “assim foi, mas agora que o Reino de DEUS começou a ser anunciado, as coisas tomam um novo rumo: agora bem-aventurados são os pobres, os que choram, e os que são perseguidos.” Os fariseus, para retribuírem ao povo pela opinião elevada que tinham deles, permitiam que tivessem uma religião insignificante, fácil e formal. “Mas,” disse CRISTO, “agora que o Evangelho é anunciado, os olhos das pessoas são abertos. E como não podem ter, agora, uma veneração pelos fariseus, como vinham tendo, eles não podem se satisfazer com tal indiferença na religião, como haviam sido instruídos, mas se lançam com uma santa violência para dentro do Reino de DEUS”. Observe que aqueles que querem ir para o céu devem padecer, devem lutar contra a corrente, devem produzir uma forte impressão na multidão que está indo na direção contrária.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 664.
A vinda de JESUS marcava uma linha divisória. Até então, a revelação de DEUS tinha sido feita na lei (a rigor: os livros de Gênesis até Deuteronômio) e os profetas. A expressão combinada representa a totalidade do Antigo Testamento. Operava bem até aos tempos de João Batista. Conzelmann atribui muito significado a esta passagem. Entende que “o período de Israel” durou até este ponto, inclusive o ministério de João. Enfatiza isto mais do que as palavras de Lucas exigem, mas há, sem dúvida, uma ênfase sobre a nova situação causada pela vinda de JESUS. Agora, vem sendo anunciado o evangelho do reino de DEUS. O reino é o tópico predileto de JESUS no Seu ensino (ver sobre 4:43). Representa o domínio de DEUS na totalidade da vida.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 235-236.
2. A SALVAÇÃO EM SEU ASPECTO UNIVERSAL.
Todo o povo, e não apenas os judeus, era objeto da graça de DEUS. É inegável a atenção que se dá aos pobres, excluídos e marginalizados no Evangelho de Lucas. O ESPÍRITO SANTO estava sobre JESUS para “evangelizar os pobres” (Lc 4.18). É interessante observarmos que a palavra grega ptochoi, traduzida como pobres, significa alguém que possui alguma carência. E exatamente esses carentes que JESUS irá priorizar em seu ministério. Ele dará grande atenção aos publicanos, pecadores, mulheres e aos samaritanos que eram discriminados naquela cultura (Lc 5.32; 7.34-39;9.51-56; 10.3; 15.1; 17.16; 18.13; 19.10).
Essa Salvação predita pelos profetas, anunciada pelos anjos e declamada em forma poética pelo sacerdote Zacarias e Maria, mãe de JESUS, é também de natureza escatológica. A teologia lucana mostra João anunciado a chegada do Reino e JESUS estabelecendo-o durante o seu ministério. Todavia esse Reino inaugurado pela manifestação messiânica (Lc 4.43; 8.1; 9.2; 17.21) ainda não está revelado em toda a sua extensão. Já podemos, sim, viver a sua realidade no presente, mas a sua plenitude somente na sua parousial (At 1.6-11).
Essa é a nossa esperança!
José Gonçalves. Lucas, O Evangelho de JESUS, o Homem Perfeito. Editora CPAD. pag. 21.
Apesar de suas origens judaicas, todavia, o cristianismo deveria ser reputado como religião universal, porque não reconhecia qualquer limitação racial ou cultural. O evangelho de Lucas traça a genealogia de JESUS até A dão, e não até Abraão; e esse fato, por si mesmo, é extremamente significativo, porquanto subentende universalidade. JESUS foi declarado pelo profeta Simeão como «...luz para revelação aos gentios, e para glória do teu povo de Israel» (Lucas 2:32). No evangelho de Lucas, em seu sermão inaugural, JESUS asseverou que Elias não fora enviado às muitas viúvas de Israel, e, sim, a Sarepta, na terra de Sidom, ao passo que Eliseu não purificou nenhum dos muitos leprosos que havia em Israel, mas tão-somente a Naamã, o sírio. Um samaritano, e não um judeu, é o herói de uma das mais coloridas parábolas do evangelho de Lucas. Quando JESUS curou os dez leprosos, apenas um, um agradecido samaritano, regressou para louvar a DEUS e dar-lhe graças. Além desses fatos, também devemos notar que o próprio evangelho de Lucas prepara o caminho para o livro de Atos, que é, bem definidamente, uma descrição sobre a evangelização universal, feita pelos cristãos primitivos.
E é assim que ouvimos Pedro a pregar: «Reconheço por verdade que DEUS não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável» (Atos 10:34,35). E é ali, igualmente, que encontramos as palavras de Paulo e Barnabé: «Eu te constituí para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra » (Atos 13:46,47). Por conseguinte, pode-se ver claramente que um dos grandes temas deste evangelho é a—universalidade—da mensagem cristã.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 2.
A medida que o evangelho se espalha, torna-se aguda a questão de como os gentios se enquadram no plano redentor de DEUS. Visto que muitos gentios na verdade creram e se uniram à igreja, que crescia rapidamente, ergueu-se, como seria natural, a questão: o que os gentios tinham que ver com um movimento religioso predominantemente judaico, enraizado em Israel, com suas promessas escriturísticas? Para Lucas a resposta tinha aspectos tanto positivos quanto negativos. De modo positivo, o evangelho do reino deveria ser oferecido a todos. O livro de Atos registra a divulgação do evangelho primeiro entre os judeus (Atos 2:5—7:60), depois aos samaritanos, que eram judeus “mestiços” (Atos 8:2-24), depois aos gentios “tementes a DEUS” (algumas traduções dizem “piedosos”) que haviam recebido instruções anteriores na fé judaica (Atos 10:1 — 11:18) e finalmente a gentios que jamais haviam tido contato com o judaísmo (Atos 13:2—28:31). O hábito de Paulo durante suas viagens missionárias de entrar primeiro nas sinagogas para pregar a seus compatriotas judeus (v. Atos 13:16-41; 14:1-3; 17:1-3, 10-12; 18:2-4) reflete esse padrão e exprime-se por essa filosofia de evangelização bem conhecida: “primeiro do judeu, e também do grego” (Romanos 1:16; 2:10). Outra evidência positiva da legitimidade dos gentios como membros participantes do movimento judaico messiânico foi o fato de os gentios receberem o batismo do ESPÍRITO SANTO.
A semelhança dos apóstolos judeus (Atos 2:2-4), samaritanos e gentios também receberam o ESPÍRITO SANTO (Atos 8:14-17; 10:44-47; 11:15-18). Nas palavras de Paulo, os primeiros cristãos, independentemente de identidade étnica, foram “batizados em um só ESPÍRITO... e a todos nós foi dado beber de um só ESPÍRITO” (I Coríntios 12:13).
Lucas também oferece uma resposta negativa à questão gentílica. Houve uma razão explícita para o fato de os missionários se voltarem para os gentios: a incredulidade dos judeus e sua rejeição do evangelho. Que a liderança religiosa judaica se opunha ao ensino apostólico se evidencia logo de início no registro de Atos (Atos 4:1-22; 5:17-42). Essa oposição representa apenas a continuação da descrença que JESUS havia encontrado previamente (Lucas 19:47,48; 20:1-8,19,20; 22:47,23:25), a qual era característica do renitente Israel (Lucas 13:34). De fato, Lucas vai à origem da descrença dos fariseus na pregação de João Batista: “Mas os fariseus e os doutores da lei rejeitaram o conselho de DEUS quanto a si mesmos, não tendo sido batizados por ele” (Lucas 7:30). A mudança formal da evangelização dirigida primordialmente aos judeus para uma evangelização voltada para os gentios encontra-se no sermão temático de Paulo em Atos 13:16-47. Paulo adverte seus compatriotas judeus a que não endureçam o coração à pregação do evangelho e cita uma profecia ominosa de Habacuque: “Vede entre as nações, e olhai, e maravilhai-vos, e admirai-vos, porque realizo em vossos dias uma obra, que vós não crereis, quando vos for contada” (Habacuque 1:5, citada em Atos 13:41). Exatamente como Paulo temera, os judeus começaram a encher-se “de inveja, e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava” (Atos 13:45). Então, Paulo declara: “Era necessário que a vós se pregasse primeiro a palavra de DEUS. Mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, voltamo-nos para os gentios” (Atos 13:46).
Como justificativa dessa nova estratégia Paulo cita Isaías 49:6, de que Simeão havia mencionado parte (Lucas 2:32), ao contemplar o menino JESUS; aquele ancião reconhecera o significado de JESUS para o mundo: “Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até os confins da terra” (Atos 13:47). Diferentemente dos judeus rebeldes e incrédulos, os gentios se regozijaram e reagiram demonstrando fé (Atos 13:42,43,48).
Essa mudança de judeus para gentios tem origem no próprio cerne do ensino de JESUS, com respeito a como ser membro do reino de DEUS. Não é, portanto, uma solução repentina e provisória, diante de uma circunstância inesperada. Em numerosas passagens, algumas das quais encontram-se apenas no evangelho de Lucas, JESUS declara que certas pessoas, cuja aparência sugeriria serem as mais prováveis receptoras do favor de DEUS, e segundo os padrões humanos seriam consideradas merecedoras desse favor divino, nem sempre se mostram receptivas à presença de DEUS. Muita gente “confiante” em sua salvação e em suas recompensas vir-se-á um dia sob julgamento. E outros indivíduos, que pareceriam menos religiosos, que teriam recebido menos bênçãos nessa vida, poderão vir a ser recompensados e abençoados. O exemplo clássico dessa ideia se encontra na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31). O rico gozou de todas as boas coisas que essa vida poderia oferecer. Vestia-se bem e alimentava-se bem, morando numa bela mansão. Lá fora, na rua, todavia, jazia o pobre Lázaro, esfarrapado, subnutrido, doente e desabrigado. Contrariando a crença popular da Palestina do primeiro século, Lázaro foi para o céu e o rico para o inferno.
Leon L. Morris. Lucas. Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 22-24.
IV - A IDENTIDADE DE JESUS, O MESSIAS ESPERADO
1. JESUS, O HOMEM PERFEITO.
Observação do Pr. Luiz Henrique - Inspiração para Lucas - Filipenses 2. 5 - Tende em vós aquele sentimento que houve também em CRISTO JESUS, 6 o qual, subsistindo em forma de DEUS, não considerou o ser igual a DEUS, coisa a que se devia aferrar, 7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; 8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Seu nome é Filho de DEUS não por causa de quaisquer façanhas extraordinárias ou por causa de uma graça que posteriormente se derrama sobre Ele, mas por ter sido em essência e desde a eternidade o Filho perpétuo de DEUS – por isso ele também continuou sendo o Filho de DEUS no momento de se tornar humano, em virtude de sua maravilhosa geração, ocorrida a partir de DEUS por intermédio do ESPÍRITO SANTO. CRISTO é verdadeiro DEUS, porém da mesma maneira verdadeiro ser humano. JESUS é o único ser humano que certamente precisava nascer, mas não renascer.
Fritz Rienecker. Comentário Esperança Evangelho de Lucas. Editora Evangélica Esperança.
Este Evangelho apresenta a JESUS como o Homem ideal e como o Salvador de todos os tipos de homens. Aqui vemo-Lo passar por todos os estágios de uma vida humana normal, da infância, através da meninice, até adulto amadurecido. Aqui Ele é visto atingindo a vida humana em todos os seus lados, entrando na vida doméstica do povo e movendo-Se entre todas as classes da sociedade. Lucas torna claro que a simpatia de JESUS dirigiu-se especialmente para com os pobres, os quais compõem a grande maioria da humanidade, e para com as mulheres, as quais eram desprezadas tanto pelos judeus como pelos gentios naquele mundo antigo.
O evangelho universal que Paulo pregava daria a Lucas a base para o retrato que ele pinta do Salvador, e a própria denominação que Lucas tinha como o “médico amado” dar-lhe-ia uma compreensão simpática da natureza e necessidades do homem.
DAVIDSON. F. Novo Comentário da Bíblia. Lucas. pag. 3-4.
«Filho de DEUS». aparece aqui para indicar uma relação toda especial com DEUS—provavelmente a participação na mesma essência—assim ensinando indiretamente a divindade de CRISTO.
Foi atribuído, sob diferentes circunstâncias a Israel, a reis e a sacerdotes, como título. Em algumas referências, quando CRISTO está em foco, não há qualquer intenção de destacar essa relação especial com DEUS ou com a natureza divina de JESUS. Se acompanharmos o uso dessa expressão pelas páginas sagradas, haveremos de encontrar as seguintes declarações:
1. JESUS é identificado com o personagem profético do Messias davídico do V.T.
2. Reivindica uma relação especial, existente entre JESUS e DEUS Pai.
3. Às vezes indica a natureza divina de JESUS, e até mesmo a perfeita união com o Pai (João 5:19,30; 16:32; Heb. 1:3,4).
4. Embora tenha sido inicialmente aplicada ao Messias davídico, posteriormente assume qualidades transcendentais e se torna um título de JESUS CRISTO, com o intuito de indicar a sua natureza divina.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 16.
Filho do homem. Expressão hebraica que significa, principalmente, uma posição humilde, depravação, ou ausência de privilégios especiais. Por cerca de oitenta vezes essa expressão é usada para indicar JESUS, e não é usada com referência a algum profeta por vir, como alguns supõem. Mat. 16:13-15 mostra que embora JESUS tivesse falado na terceira pessoa, o termo se refere a ele mesmo. Essa expressão pode conter dois sentidos principais:
1. Apresentação de JESUS como ser humano típico, isto é, representante da raça humana. Esse é o significado comum dos termos que contêm a expressão «filho de».
2. Identificação que JESUS fez de si mesmo com a personagem profética de Dan 7:13,14. Isso fica claro em I Crô. 16:13-17. Tudo indica que JESUS usou esse termo com ambos os sentidos. Sua missão usualmente é implícita, incluindo até a sua missão futura, ambas em um segundo advento (Mat. 10:23), e como juiz universal (João 5:22-27). Neste versículo, a ênfase recai sobre a idéia de sua posição humilde, como homem, ideia de aviltamento.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 343.
2. O MESSIAS E O ESPÍRITO SANTO.
O ESPÍRITO do Senhor é sobre mim, pois me ungiu para... (v.18): Notem-se os cinco ofícios com que o ESPÍRITO SANTO habilitou JESUS:
1) Evangelista, “pois me ungiu para evangelizar os pobres”. Uma das marcas mais notáveis da divindade do ministério de CRISTO, em grande contraste a qualquer outra obra no mundo, foi a de evangelizar “a toda criatura”, inclusive aos pobres e desprezados.
2) Médico, “enviou-me a curar”. JESUS, ao voltar do deserto, iniciou Sua investida tríplice contra o reino de Satanás (Mt 4.23): O diabo dominava os pensamentos dos homens, JESUS os livrara ensinando. O mesmo inimigo escravizava a vontade dos homens, JESUS a libertava pregando o Evangelho. Satanás afligia os corpos e as almas dos homens por meio de doenças e demônios, JESUS os curava.
3) Libertador, “a apregoar liberdade aos cativos”. JESUS é o verdadeiro Emancipador, rompendo o poder do mal sobre a vida dos homens.
4) Iluminador, “dar vista aos cegos”. Sua obra de restaurar vista aos cegos servia como símbolo de Ele restaurar vista, também, aos olhos espirituais. Note-se como CRISTO primeiramente abriu os olhos físicos ao cego de nascença (Jo 9) e depois seus olhos espirituais. Ele é que ilumina, pois é a Luz do mundo, Jo 9.5.
5) Restaurador, “anundar o ano aceitável do Senhor.” (Comp. 2 Co 6.2.) Isto é, CRISTO anundava a chegada da era de grandes favores dos céus para os homens. Refere-se primeiramente ao ano do jubileu. (Vede Lv 25.8-22.) De cinquenta em cinquenta anos o sacerdote tocava a trombeta anunciando a vibrantíssima notícia de que chegara o dia
1) de todos os escravos ficarem livres,
2) de todas as terras reverterem aos seus primeiros proprietários,
3) de perdão generoso de dívidas.
O Senhor pregava, proclamando, o jubileu espiritual, quando os cativos de Satanás foram soltos, quando a dívida do pecado foi cancelada, e quando a herança perdida pelo primeiro Adão, foi restaurada pelo segundo Adão.
Orlando S. Boyer. Espada Cortante 2. Editora CPAD. pag. 61.
Em primeiro lugar, como O Senhor JESUS foi qualificado para o trabalho: O ESPÍRITO do Senhor é sobre mim. Todos os dons e graças do ESPÍRITO foram outorgados a Ele, não por medida, como a outros profetas, mas sem medida, João 3.34. Ele veio pela virtude do ESPÍRITO, v. 14.
Em segundo lugar, Como Ele foi comissionado: Pois que me ungiu e enviou-me. A sua qualificação extraordinária elevou-se a uma comissão; o fato de ter sido ungido significa ser adequado para a tarefa como também chamado para ela. DEUS unge aqueles que Ele elege para qualquer serviço: Uma vez que Ele me enviou, Ele enviou o seu ESPÍRITO comigo.
Em terceiro lugar, qual era a sua obra? Ele foi qualificado e comissionado:
1. Para ser um grande profeta. Ele foi ungido para pregar; isto é mencionado três vezes aqui, pois esta era a obra que Ele agora estava iniciando. Observe:
(1) A quem Ele deveria pregar: aos pobres; àqueles que eram pobres no mundo, a quem os doutores judeus desdenhavam, não os ensinavam, e falavam deles com desprezo; aos que eram pobres de espírito, aos mansos e humildes, e àqueles que estavam verdadeiramente tristes pelo pecado: por eles o Evangelho e a graça serão bem recebidos, e eles os terão, Mateus 11.5.
(2) O que o Senhor JESUS deveria pregar. Em geral, Ele deve pregar o Evangelho. Ele é enviado euangelizesthai - para evangelizá-los; não só para pregar a eles, mas para tornar esta pregação efetiva; para trazer o evangelho não só aos seus ouvidos, mas aos seus corações, e moldá-los conforme o seu propósito. Três coisas que Ele deve pregar:
[1] Liberdade aos cativos. O evangelho é uma proclamação de liberdade, como aquela que beneficiou Israel no Egito e na Babilônia. Pelos méritos de CRISTO, os pecadores podem ser libertados das cadeias da culpa, e pelo seu ESPÍRITO e pela sua graça da servidão da corrupção. É uma libertação da pior das escravidões pela qual serão beneficiados todos aqueles que estiverem desejosos de fazer de CRISTO a sua Cabeça, e de serem governados por Ele.
[2] Dar vista aos cegos. Ele veio não só pela Palavra de seu Evangelho para trazer luz para aqueles que estavam nas trevas, mas pelo poder da sua graça, para dar vista aos cegos; não só ao mundo gentílico, mas a toda alma pecadora que não está somente na servidão, mas em cegueira, como Sansão e Zedequias. CRISTO veio para nos dizer que Ele tem um colírio para nós; para termos este colírio só é necessário que o peçamos. Se a nossa oração for: Senhor, que os nossos olhos possam ser abertos, a sua resposta será: Receba a tua visão.
[3] O ano aceitável do Senhor, v. 19. Ele veio para deixar o mundo saber que DEUS, a quem eles haviam ofendido, estava disposto a se reconciliar com eles, e a aceitá-los em novos termos; que ainda havia uma maneira de tornar o serviço deles aceitável a Ele; que há agora um tempo de boa vontade para com os homens. Esta bênção faz alusão ao ano da libertação, ou do jubileu, que era um ano aceitável para os servos, que estavam agora sendo colocados em liberdade; aos devedores, contra os quais todas as ações foram anuladas; e para aqueles que haviam hipotecado as suas terras, porque então retornariam a elas. CRISTO veio para tocar a trombeta do jubileu; e bem-aventurados foram aqueles que ouviram o som festivo, Salmos 89.15. Era um tempo aceitável, porque era um dia de salvação.
2. CRISTO veio para ser um grande Médico; porque Ele foi enviado para curar os quebrantados de coração, para consolar e curar as consciências aflitas, para dar paz àqueles que estavam perturbados e humilhados pelos pecados, e sob o medo da ira de DEUS contra eles por causa desta situação. O Senhor veio para trazer descanso para aqueles que estavam cansados e oprimidos sob o fardo da culpa e da corrupção.
3. Para ser um grande Redentor. Ele não só proclama a liberdade aos cativos, como fez Ciro aos cativos na Babilônia (Quem quer que desejar, poderá subir), mas o Senhor coloca em liberdade aqueles que são oprimidos. Ele, pelo seu ESPÍRITO, os inclina e capacita para fazerem uso da liberdade concedida, como até então nenhum deles havia feito, exceto aqueles cujo espírito DEUS despertou, Esdras 1.5. Ele veio em nome de DEUS Pai para pagar a dívida dos pobres pecadores que eram devedores e prisioneiros da justiça divina. Os profetas só puderam proclamar a liberdade; mas CRISTO, como alguém que possui autoridade, como alguém que tinha poder na terra para perdoar pecados, veio para colocar o povo em liberdade; portanto, esta frase é acrescentada aqui. CRISTO a acrescentou a partir de Isaías 58.6, onde foi expresso o dever do ano aceitável, que consistia em permitir que os oprimidos fossem postos em liberdade, e a frase que a Septuaginta usa é a mesma desta.
HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Novo Testamento MATEUS A JOÃO Edição completa. Editora CPAD. pag. 550.
«O ESPÍRITO do Senhor está sobre mim ...» A maior parte dessa seleção é extraída da versão LXX do trecho de Is. 61:1,2, e de um trecho de Is. 53:6, que diz: «...proclamar libertação aos cativos...», também baseado na LXX. A citação original expressava certa consciência post-exílica do profeta, acerca de uma missão especial. Essa passagem é considerada—messiânica— em seu sentido e aplicação mais amplos, pelo que JESUS a aplicou a si mesmo, o que demonstra que tinha consciência de estar cumprindo o ofício de Messias. Essa mesma passagem evidentemente sublinha as palavras que JESUS proferiu ante os mensageiros de João Batista, conforme se lê em Luc. 7:22 (ver também Mat. 11:5), a respeito da pergunta de João sobre a identidade de JESUS como Messias.
A frase empregada por Lucas, «...me ungiu...» sem dúvida tem por intenção servir de referência ao batismo de JESUS e à sua unção com o ESPÍRITO SANTO. Lucas também salientou especialmente a missão de JESUS, de pregar as boas novas aos «pobres». (Ver também Luc. 6:20). O cativeiro referido nestes versículos pode ser reputado como um cativeiro moral e espiritual. JESUS não se referia aqui a prisões físicas, e, sim, em libertar indivíduos das prisões invisíveis, mas perfeitamente reais da dúvida, do temor, do pecado e da depravação. Existe o cativeiro da carne, do erro, da inaptidão e da frustração. Prisões têm existido e continuam existindo em grande número, e são individuais e sociais; e nas Escrituras o pecado é pintado como o pior de todos os carcereiros, porquanto por causa do pecado ficamos separados de DEUS e da busca espiritual apropriada pela verdade e por DEUS. JESUS, pois, proclamou uma liberdade da qual todos podem participar, porque esse é o sentido do seu ministério.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 49-50.
JESUS E O ESPÍRITO SANTO
Lc 11.13: “Pois, se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o ESPÍRITO SANTO àqueles que lho pedirem?”
JESUS tinha um relacionamento especial com o ESPÍRITO SANTO, relacionamento este importante para nossa vida pessoal. Vejamos as lições práticas desse relacionamento.
AS PROFECIAS DO ANTIGO TESTAMENTO. Várias das profecias do AT sobre o futuro Messias afirmam claramente que Ele seria cheio do poder do ESPÍRITO SANTO (ver Is 11.2; 61.1-3). Quando JESUS leu Is 61.1,2 na sinagoga de Nazaré, acrescentou: “Hoje, se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos” (4.18-21; ver Jo 3.34b).
O NASCIMENTO DE JESUS. Tanto Mateus quanto Lucas declaram de modo específico e inequívoco que JESUS veio a este mundo como resultado de um ato milagroso de DEUS. Foi concebido mediante o ESPÍRITO SANTO e nasceu de uma virgem, Maria (Mt 1.18,23; Lc 1.27). Devido à sua concepção milagrosa, JESUS era um “santo” (1.35), i.e., livre de toda mácula do pecado. Por isto, Ele era digno de carregar sobre si a culpa dos nossos pecados e expiá-los (ver Mt 1.23).
Sem um Salvador perfeito e sem pecado, não poderíamos jamais obter a redenção.
O BATISMO DE JESUS. Quando JESUS foi batizado por João Batista, Ele, que posteriormente batizaria seus discípulos no ESPÍRITO, no Pentecoste e durante toda a era da igreja (ver Lc 3.16; At 1.4,5; 2.33,38,39), Ele mesmo pessoalmente foi ungido pelo ESPÍRITO (Mt 3.16,17; Lc 3.21,22). O ESPÍRITO veio sobre Ele em forma de uma pomba, dotando-o de grande poder para levar a efeito o seu ministério, inclusive a obra da redenção. Quando nosso Senhor foi para o deserto depois do seu batismo, estava “cheio do ESPÍRITO SANTO” (4.1). Todos os que experimentarem o sobrenatural renascimento espiritual pelo ESPÍRITO SANTO, devem, como JESUS, experimentar o batismo no ESPÍRITO SANTO, para lhes dar poder na sua vida e no seu trabalho (ver At 1.8).
A TENTAÇÃO DE JESUS POR SATANÁS. Imediatamente após o batismo, JESUS foi levado pelo ESPÍRITO ao deserto, onde foi tentado pelo diabo durante quarenta dias (4.1,2). Foi pelo fato de estar cheio do ESPÍRITO SANTO (4.1) que JESUS conseguiu resistir firmemente a Satanás e vencer as tentações que lhe foram apresentadas. Da mesma maneira, a intenção de DEUS é que nunca enfrentemos as forças espirituais do mal e do pecado sem o poder do ESPÍRITO. Precisamos estar equipados com a sua plenitude e obedecer-lhe a fim de sermos vitoriosos contra Satanás. Um filho de DEUS propriamente dito deve estar cheio do ESPÍRITO e viver pelo seu poder.
O MINISTÉRIO DE JESUS. Quando JESUS fez referência ao cumprimento da profecia de Isaías acerca do poder do ESPÍRITO SANTO sobre Ele, usou também a mesma passagem para sintetizar o conteúdo do seu ministério, a saber: pregação, cura e libertação (Is 61.1,2; Lc 4.16-19). (1) O ESPÍRITO SANTO ungiu JESUS e o capacitou para a sua missão. JESUS era DEUS (Jo 1.1), mas Ele também era homem (1Tm 2.5). Como ser humano, Ele dependia da ajuda e do poder do ESPÍRITO SANTO para cumprir as suas responsabilidades diante de DEUS (cf. Mt 12.28; LC 4.1,14; Rm 8.11; Hb 9.14). (2) Somente como homem ungido pelo ESPÍRITO, JESUS podia viver, servir e proclamar o evangelho (At 10.38). Nisto, Ele é um exemplo perfeito para o cristão; cada crente deve receber a plenitude do ESPÍRITO SANTO (ver At 1.8 notas; 2.4 notas).
A PROMESSA DE JESUS QUANTO AO ESPÍRITO SANTO. João Batista profetizara que JESUS batizaria seus seguidores no ESPÍRITO SANTO (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16, ver Jo 1.33), profecia esta que o próprio JESUS reiterou (At 1.5; 11.16). Em 11.13, JESUS prometeu que daria o ESPÍRITO SANTO a todos quantos lhe pedissem. Todos estes versículos acima referem-se à plenitude do ESPÍRITO, que CRISTO promete conceder àqueles que já são filhos do Pai celestial — promessa esta que foi inicialmente cumprida no Pentecoste (ver At 2.4) e permanece para todos que são seus discípulos e que pedem o batismo no ESPÍRITO SANTO (ver At 1.5; 2.39).
A RESSURREIÇÃO DE JESUS. Mediante o poder do ESPÍRITO SANTO, JESUS ressuscitou dentre os mortos e, assim, foi vindicado como o verdadeiro Messias e Filho de DEUS. Em Rm 1.3,4 lemos que, segundo o ESPÍRITO de santificação (i.e., o ESPÍRITO SANTO), CRISTO JESUS foi declarado Filho de DEUS, com poder, e em Rm 8.11 que “o ESPÍRITO... ressuscitou dos mortos a JESUS”. Assim como JESUS dependia do ESPÍRITO SANTO para sua ressurreição dentre os mortos, assim também os crentes dependem do ESPÍRITO para a vida espiritual agora, e para a ressurreição corporal no porvir (Rm 8.10,11).
A ASCENSÃO DE JESUS AO CÉU. Depois da sua ressurreição, JESUS subiu ao céu e assentou-se à destra do Pai como seu corregente (24.51; Mc 16.19; Ef 1.20-22; 4.8-10; 1Pe 3.21,22). Nessa posição exaltada, Ele, da parte do Pai, derramou o ESPÍRITO SANTO sobre o seu povo no Pentecoste (At 2.33; cf. Jo 16.7-14), proclamando, assim, o seu senhorio como rei, sacerdote e profeta. Esse derramamento do ESPÍRITO SANTO no Pentecoste e no decurso desta era presente dá testemunho da contínua presença e autoridade do Salvador exaltado.
A COMUNHÃO ÍNTIMA ENTRE JESUS E SEU POVO. Como uma das suas missões atuais, o ESPÍRITO SANTO toma aquilo que é de CRISTO e o revela aos crentes (Jo 16.14,15). Isto quer dizer que os benefícios redentores da salvação em CRISTO nos são mediados pelo ESPÍRITO SANTO (cf. Rm 8.14-16; Gl 4.6). O mais importante é que JESUS está bem perto de nós (Jo 14.18). O ESPÍRITO nos torna conscientes da presença pessoal de JESUS, do seu amor, da sua bênção, ajuda, perdão, cura e tudo quanto é nosso mediante a fé. Semelhantemente, o ESPÍRITO atrai nosso coração para buscar ao Senhor com amor, oração, devoção e adoração (ver Jo 4.23,24; 16.14).
A VOLTA DE JESUS PARA BUSCAR SEU POVO. JESUS prometeu voltar e levar para si o seu povo fiel, para estar com Ele para sempre (veja Jo 14.3; 1Ts 4.13-18). Esta é a bendita esperança de todos os crentes (Tt 2.13), o evento pelo qual oramos e ansiamos (2Tm 4.8). As Escrituras revelam que o ESPÍRITO SANTO impulsiona nosso coração a clamar a DEUS pela volta do nosso Senhor. É o ESPÍRITO quem testifica que nossa redenção permanece incompleta até a volta de CRISTO (cf. Rm 8.23). No final da Bíblia, temos estas últimas palavras que o ESPÍRITO SANTO inspirou “Ora, vem, Senhor JESUS” (Ap 22.20).
STAMPIS. Donald C. (Ed) Bíblia de Estudo Pentecostal: Antigo e Novo testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
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Os primeiros três, por causa de sua semelhança tão próxima uns com os outros em conteúdo e em pontos de vista, são chamados de Evangelhos Sinóticos. Embora sejam diferentes em muitos aspectos, eles seguem a mesma ordem geral de eventos, e lidam grandemente com o ministério de JESUS na Galileia. João, o quarto Evangelho, contém uma seleção diferente de eventos, narra principalmente a obra de JESUS na Judéia, e interpreta sua vida sob um ponto de vista mais teológico do que os outros.
Desde o período inicial da igreja cristã os Evangelhos foram reconhecidos como registros válidos da vida de JESUS, O primeiro escritor a mencioná-los pelo nome foi Papias de Hierápolis, que viveu no primeiro terço do século II. De acordo com o registro mostrado na obra Historia Ecclesiae de Eusébio (iii.39), de 350 d.C., Pápias relatou que “Mateus compôs sua história no dialeto hebreu...”, e que “Marcos, sendo o intérprete de Pedro, registrou tudo com grande exatidão, porém não na ordem em que as palavras foram faladas ou na ordem em que as obras foram realizadas pelo Senhor...”. Justino Mártir (aprox. 150 d.C.), mencionou “as memórias dos apóstolos, que são chamadas de Evangelhos”, “compostas pelos apóstolos e por aqueles que os seguiram" (I Apology 66-67; Dialogue with Trypho, 10, 100, 103). Tatiano, um escritor gnóstico da metade do século II, combinou os quatro Evangelhos em uma harmonia. Eles elevem, portanto, ter sido conhecidos e aceitos como uma obra de reconhecida autoridade antes do início do século II. Outras obras do início do século II, como o Didache, a Epístola de Inácio e a Epístola de Barnabé, contém alusões que podem ser identificadas como provenientes do Evangelho, principal mente do relato de Mateus. A recente descoberta do Evangelho Segundo Tomé, contendo exemplos muito antigos das palavras de JESUS, simplesmente confirma a existência prévia dos escritos básicos do Evangelho.
A igreja cristã não começou seu evangelismo pela distribuição de literatura, mas pela pregação pública. O testemunho dos apóstolos estava centralizado na morte e ressurreição de JESUS CRISTO (At 4.10), que, de acordo com Paulo, “por nossos pecados foi entregue e ressuscitou para nossa justificação״ (Rm 4.25). Aonde quer que os primeiros discípulos fossem, eles proclamavam a vinda de JESUS como o Messias prometido do AT, e contavam a história de sua vida e obras. Os eventos progressivos de sua paixão constituíram a mensagem inicial pregada em qualquer localidade estabelecida. Paulo lembrou os Coríntios de que ele lhes havia declarado, “primeiramente”, que “CRISTO morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras, e que foi visto,,.״ (1 Co 15.3-5). Sem dúvida alguma, porém, os apóstolos não se restringiram a estes poucos fatos, pois os seus ouvintes teriam desejado mais informações a respeito de JESUS, Os eventos significativos de sua vida devem ter sido narrados em ordem, trazendo um relato que geralmente corresponde ao conteúdo dos Evangelhos existentes.
Desde o início, os novos discípulos foram instruídos formalmente no “ensino dos apóstolos” (Atos 2.42), que deve ter contido a história e a interpretação da vida, morte e ressurreição do Senhor JESUS. Sem tal ensino, a igreja cristã teria perdido sua mensagem distinta. Embora a pregação oral possa não ter se tornado estereotipada, a constante repetição e uso do material na instrução dos crentes, provavelmente deram a ela uma forma relativamente estabelecida. Lucas faz alusão a tal procedimento ao escrever a seu amigo Teófilo: "... para que conheças a certeza das coisas de que já estás informado...” (do grego, catequisado; Lc 1.4). Este termo grego sugere a comunicação de conhecimento pela palavra falada, e pode referir-se ao ensino formal. Teófilo já havia sido informado oralmente sobre o conteúdo geral do Evangelho; Lucas fez um relato escrito deste material, para confirmar os fatos que já conhecia.
As teorias interdependentes. A explicação das semelhanças e diferenças nos Sinóticos pela reprodução de várias partes da tradição oral, algumas idênticas e algumas diferentes, não satisfez os estudiosos do final do século XVIII. Estes e seus sucessores mostraram que as semelhanças eram muito próximas para serem explicadas pela transmissão puramente verbal. Eles argumentaram que os Evangelhos devem ser dependentes uns dos outros. Todas as trocas de ordem possíveis foram sugeridas, mas nenhuma pôde provar um caso conclusivo. A interdependência tem sido geralmente abandonada como uma explicação do problema Sinótico.
As teorias documentárias. Uma teoria mais recente propõe que os Sinóticos basearam- se em duas fontes primárias; o Evangelho de Marcos e uma coleção hipotética das palavras e parábolas de JESUS chamada “Q”, do alemão Quelle significando “fonte”. A teoria deve sua origem à observação de que quase todo o conteúdo de Marcos está embutido em Lucas e Mateus, e que embora Marcos e Mateus possam harmonizar-se contra Lucas, ou Lucas e Marcos contra Mateus, Mateus e Lucas nunca se harmonizam contra Marcos. “Q” foi presumi dam ente reconstruído a partir do material de discurso comum existente em Mateus e Lucas que não ocorre em Marcos. De acordo com esta teoria de “dois documentos”, Marcos incorporou os fatos principais da vida de JESUS como foram correntemente pregados e ensinados na igreja. *Q” era composta por palavras e atos de JESUS que se tornaram conhecidos por proclamação, mas não era uma narrativa organizada. B. H. Streeter (The Four Gospels, 1936) estendeu sua hipótese para incluir duas outras “fontes”, “M” para o material peculiar de Mateus, e “L” para a contribuição específica de Lucas.
Uma defesa plausível para a hipótese documentária geral pode ser oferecida com base em que quase toda a narrativa de Marcos está incorporada em Mateus e Lucas, e que se sabe que existiram coleções semelhantes a “Q”. Fragmentos em papiro das palavras de JESUS foram descobertos em montes de entulho no Egito (veja B. P. Grenfell e A. S. Hunt, The Logia of JESUS, e R. M. Grant, The Secret Sayings of JESUS, Nova York. Doubleday, 1960).
Tal teoria, porém, levanta sérias dúvidas a respeito da independência e exatidão de Mateus e Lucas. Se os escritores destes documentos incorporaram Marcos na íntegra, ou com modificações e acréscimos quando consideraram ser adequado, eles produziram obras que podem ser classificadas com a dele por sua autoridade e importância? Além disso, nenhum traço de “Q” jamais foi encontrado. Sua existência é puramente conjectural, baseada na pressuposição de que Mateus e Lucas devem ter tido uma única fonte para seu material “não-marcosiano” comum. A construção da teoria é totalmente subjetiva, e há um desacordo entre os seus proponentes com relação à afirmação de que porções do texto do Evangelho podem ou não pertencer a *Q”. E. F. Scott, que aceita a hipótese documentária, admite que “Q” não representa um único documento, mas uma série de coleções das palavras de JESUS que podem ter existido em muitas cópias ou edições (E. F. Scott, Literature of the New Testament, p. 41).
Embora seja possível que os escritores dos Evangelhos tenham usado fontes escritas, não há motivo para que eles não pudessem ter dependido grandemente do conhecimento direto ou de informações orais diretas para a redação da parte mais volumosa de seu material; e há pouca evidência convincente para o apoio das teorias que colocam a época da produção dos Evangelhos no final do século I ou no início do século II. Os próprios escritores poderiam ter fornecido a maior parte do material creditado às “fontes". A teoria de Streeter não necessita de duas fontes adicionais; ele simplesmente atribuiu as cartas aos próprios autores.
Formgeschichte. A teoria da Formgesckichte, uma palavra alemã que significa “história da forma” (cujo título em inglês é Form Criticism) foi proposta por Martin Dibelius em 1919, que tentou penetrar na tradição oral que está por trás das “fontes”. Ele sugeriu que o material do qual os Evangelhos foram redigidos originalmente circulou como curtos relatos independentes que poderíam ser classificados por sua forma literária, para os quais ele propôs uma série de títulos: “A História da Paixão” quando se trata do final da vida de JESUS; “Paradigmas”, ou histórias das obras de JESUS que foram usadas como ilustrações de sua mensagem; “Contos”, ou eventos miraculosos que foram narrados por trazerem prazer aos ouvintes; “Lendas”, ou histórias aa vida de homens santos, citados como exemplos; “Palavras”, pronunciamentos epigramáticos de JESUS que foram usados em exortações. De acordo com esta teoria, a partir da variada série de citações e ilustrações, os primeiros sermões foram compostos e mais tarde editados nos Evangelhos. Embora não seja impossível que palavras e atos separados de JESUS possam ter sido citados e registrados nos Evangelhos, podemos ter dúvidas ao considerarmos se um processo tão complicado realmente ocorreu. Cada um dos Evangelhos possuí marcas de uma organização intencional ao invés de ser um acúmulo acidental da tradição circulante.
A evidência mais clara disponível a respeito da origem dos Evangelhos Sinóticos pode ser compilada a partir da introdução de Lucas. O escritor reconhece logo de início que outros tentaram produzir narrativas da vida de JESUS (1.1), mas havia duas possibilidades: (a) ele não as considerava confiáveis, ou (b) não estavam disponíveis aos seus destinatários. A sua declaração, “Igualmente a mim me pareceu bem... dar-te por escrito uma exposição em ordem* (1.3), mostra que ele presumiu ter um direito igual ao dos outros de redigir um documento a respeito da vida de JESUS, e que ele possuía informações que eram superiores em qualidade. A essência de seu relato não seria um romance, mas dizia respeito aos fatos que entre eles se realizaram (fatos que já estavam totalmente estabelecidos; 1.1). Lucas tinha como certo que eles foram aceitos pela igreja como um todo, e afirmou que lhe haviam sido transmitidos por homens "que desde o princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra* (1.2). A palavra “ministro” é idêntica à palavra usada em Atos 13.5 para descrever João Marcos que era o auxiliar de Barnabé e Paulo no início de seu ministério. Visto que Lucas não estava com eles naquele momento, ele pode ter obtido de Marcos parte da informação contida em seu Evangelho - um fato gue poderia explicar até certo ponto a identidade da redação. Qualquer que seja o caso, Lucas foi cuidadoso e utilizou informantes autorizados. Além disso, ele foi contemporâneo ao curso geral dos acontecimentos (1.3), alerta e consciencioso tanto na coleta quanto na transmissão da informação. Embora os outros dois escritores dos Evangelhos Sinóticos não expliquem seus procedimentos com uma clareza similar, a ordem e conteúdo gerais de suas narrativas revelam igual exatidão.
Mateus é o Evangelho que se conhece há mais tempo, e o mais largamente usado dentre os demais Evangelhos. Como observado anteriormente, Eusébio, um historiador do século IV d.C., citou Papias que disse que “Mateus compôs sua história no dialeto hebraico, e todos a traduziram como puderam” (Eusébio, Historia Ecclesiae, iii.39). Uma vez que Eusébio não citou tudo o que Pápias disse, o significado é incerto. Por “hebraico” Pápias poderia querer dizer aramaico, que era falado de forma corrente na Palestina judaica. Ele sugere que Mateus contribuiu com alguma informação clara a respeito de JESUS, que precedeu a expansão gentílica da igreja, e que consequentemente deve ter sido conhecida antes de 50 d.C.
Começando com Papias, os primeiros escritores da igreja unanimemente atribuem o segundo Evangelho a João Marcos, um jovem companheiro do grupo apostólico. A tradição corrente do século II foi bem resumida por Irineu (aprox. 180 d.C.): “Depois de sua partida [de Pedro e de Paulo], Marcos, o discípulo e intérprete de Pedro, também nos entregou por escrito o que havia sido pregado por este apóstolo” (Against Heresies iii. 1.1). Esta declaração é repetida em essência por Orígenes de Alexandria (aprox. 250 d.C.), por Tertuliano de Cartago (aprox. 200 d.C.) e por Jerônimo (aprox. 400 d.C.) o tradutor da Vulgata Latina. Nem em bases internas ou externas há qualquer boa razão para desafiar a autoria tradicional. A narrativa direta e simples de Marcos combina bem com o caráter conhecido de Pedro, e com o tipo de pregação que era empregada na Era Apostólica.
Existem mais informações a respeito da composição do terceiro Evangelho do que sobre a origem de Mateus e Marcos, pois o autor forneceu uma breve introdução (Lc 1.1-4) que explica seu método e propósito ao escrever. Este prefácio é uma cnave para o livro, que propicia ao leitor entender os motivos que levaram à escrita do Evangelho e as circunstâncias sob as quais ele foi produzido. Uma comparação desta introdução com a do livro de Atos mostra que os dois documentos foram escritos pelo mesmo homem, pois ambos foram dirigidos a Teófilo; e a introdução de Atos (1.1-5) fala de um “primeiro tratado” contendo a vida e as obras de JESUS. Uma vez que o vocabulário e o estilo das duas obras são estreitamente parecidos, não pode haver nenhuma dúvida de que eles tiveram um autor em comum.
Cadbury tinha a opinião de que a linguagem de Lucas não é um jargão técnico de um médico porque não havia nenhum nos dias do NT (The Style and Lüerary Method of Luke, em Harvard Theological Studies, VI, 39ss.). Cadbury pode estar certo ao pensar que os médicos gregos não tinham uma terminologia médica separada no século I, mas seu argumento não muda o fato de que o vocabulário de Lucas demonstra interesses e pontos de vista de um médico.
Além disso, o escritor parece ter tido acesso a alguns informantes que estariam disponíveis somente a uma pessoa que frequentasse tanto os círculos oficiais como os primeiros companheiros de JESUS e os apóstolos, Os dois primeiros capítulos contêm fatos que só poderiam ser obtidos junto à família de JESUS. O autor conhecia alguns dos apóstolos; entre as mulheres ele menciona Maria Madalena, e Joana, a mulher de Cuza, o procurador de Herodes, que teria conhecido a corte de Herodes; e é possível que ele tenha se tornado conhecido de algumas das pessoas mencionadas neste Evangelho, tais como Zaqueu, o publicano de Jericó (19.2), e Cleopas, um dos dois que viajaram para Emaús no dia da ressurreição (24.13,18). Algumas destas testemunhas, por causa de suas convicções, haviam se tornado cooperadores ativos na igreja, “ministros da palavra1.2) ״). Tanto por sua experiência como pot sua posição, elas seriam uma fonte adequada de informações confiáveis. Lucas afirma que ele havia sido contemporâneo destes homens (“Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram״) por um período considerável, e que ele estava, portanto, qualificado para escrever sobre seu testemunho.
Lucas não especificou se por “ordem” ele quis dizer sequência cronológica, continuidade lógica, ou procedimento homilético. Em geral, sua narrativa seguiu a mesma ordem de Marcos e Mateus, com algumas inserções. Talvez Lucas tenha combinado a sequência biográfica ou homilética da pregação corrente com seu próprio propósito didático, pois organizou o Evangelho que traz seu nome e o livro de Atos em torno do ministério do ESPÍRITO SANTO na vida de CRISTO e da igreja primitiva. O propósito dominante deste Evangelho era produzir certeza no raciocínio de seus leitores. O autor não poderia ter atingido este fim se tivesse construído sua narrativa sobre uma ficção ou sobre uma lenda.
O destinatário está claramente indicado na introdução. O Evangelho foi dedicado ao “excelentíssimo Teófilo” (Lc 1.3). “Excelentíssimo” era um epíteto geral mente reservado para a realeza e a nobreza (Atos 23.26; 24.3; 26.25). Teófilo era certamente um homem de elevada posição e cultura, provavelmente um oficial do governo, que havia se tornado amigo de Lucas e que era um novo cristão. Talvez a instrução que ele havia recebido na igreja conflitasse com os boatos a respeito de JESUS que lhe haviam sido familiares como um oficial do governo, e ele estava desejoso de certificar-se da verdade da questão. Lucas lhe escreveu como um amigo pessoal que poderia dirimir as suas dúvidas e levá-lo a uma fé inteligente.
Por causa de seu desejo de tornar a mensagem de CRISTO convincente a Teófilo, ele enfatiza o aspecto histórico do Evangelho. Explica totalmente o ambiente de onde JESUS veio, fornece sua genealogia pela descendência natural ao invés que traçar a linhagem real como faz Mateus, e coloca toda a narrativa em um cenário cronológico que tem relação com a corrente contemporânea dos assuntos do mundo (Lc 2.1,2; 3.1,2). Embora sua abordagem seja menos didática do que a de Mateus, ele inclui uma grande quantidade dos ensinos de JESUS de forma que seu pensamento seja adequadamente representado. Lucas lida mais com as personalidades do que os outros escritores Sinóticos, tanto nos contatos com as pessoas, como nas características literárias de suas parábolas. A ligação do Evangelho com Atos revela sua perspectiva histórica, pois ele estava considerando a vida de JESUS não como uma unidade por si só, mas como uma primeira parte do ministério, que teve sua continuidade através dos líderes da igreja que, finalmente, levaram o Evangelho de Jerusalém, o centro do mundo judeu, para Roma, o centro do mundo gentílico. Ele enxergou no cristianismo a manifestação do plano de DEUS para o mundo, e não simplesmente a origem de uma seita.
O Evangelho é universal em seu apelo. Ele apresenta JESUS como o Filho do Homem, que pertence a toda a humanidade e que se compadece de todos. Somente Lucas relata a parábola do Bom Samaritano, que mostra que o próximo não é determinado pela raça ou pela cultura, mas pelo amor. As mulheres e as crianças obtêm um maior reconhecimento em seu Evangelho do que em qualquer outro. Ele amplia o ministério de JESUS entre os pobres e oprimidos. O Magnificat (1.53) diz:
“Encheu de bens os famintos, despediu vazios os ricos”.
As primeiras palavras de JESUS na sinagoga em Nazaré eram uma citação de Isaías 61.1. “O ESPÍRITO do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres...” (Lc 4.18). Nas parábolas do rico tolo (12.16-21), da grande ceia (14.15-24), e do homem rico e Lázaro (16.19-31), Lucas refletiu a preocupação de JESUS pela difícil situação dos pobres. Lucas enfatiza particularmente dois temas teológicos. A oração é um dos seus tópicos mais proeminentes. Ele observa a oração de JESUS em seu batismo (3.21), em sua retirada para o deserto (5.16), antes da escolha dos doze discípulos (6.12), antes da predição de sua morte (9.18), antes de ensinar os seus discípulos (11,1), em uma intercessão especial por Simão Pedro (22,32), na oração no Getsêmani (22.41), e na cruz (23.34,46). Um segundo tema é o ESPÍRITO SANTO, que é mencionado mais vezes do que em Mateus e Marcos juntos. Lucas indica que tudo na vida de JESUS foi vivido pelo ESPÍRITO. O ESPÍRITO criou seu corpo (1.35); Ele foi batizado com o ESPÍRITO (3.22), provado pelo ESPÍRITO (4.1), comissionado pelo ESPÍRITO para a obra de sua vida (4.14,18), encorajado pelo ESPÍRITO em sua obra (10.21), e Ele ordenou que os seus discípulos aguardassem o ESPÍRITO antes que se incumbissem de seus trabalhos (24.49). Todos estes temas são mencionados pelo livro de Atos, que mostra que eles representam o interesse do autor, e também têm a finalidade de ser os fatos históricos.
O quarto Evangelho difere fortemente dos Sinóticos em conteúdo e organização.
Autor: Lucas
Tema: JESUS, o Salvador Divino-Humano
Data: 60-63 d.C.
O Evangelho segundo Lucas é o primeiro dos dois livros endereçados a um certo Teófilo (1.3; At 1.1). Embora o autor não se identifique pelo nome em nenhum dos dois livros, o testemunho unânime do cristianismo primitivo e as evidências internas indicam a autoria de Lucas nos dois casos.
Pelas epístolas de Paulo sabemos que Lucas era um “médico amado” (Cl 4.14) e um leal cooperador do apóstolo (2 Tm 4.11; Fm 24; cf. os trechos em Atos na primeira pessoa do plural; ver a introdução a Atos). Pelos escritos de Lucas, vemos que ele era um escritor culto e hábil, um historiador atento e teólogo inspirado. Segundo parece, quando Lucas escreveu o seu Evangelho, a igreja gentia não tinha nenhum desses livros completo ou bem conhecido, a respeito de JESUS. Primeiramente Mateus escreveu um Evangelho para os judeus, e Marcos escreveu um Evangelho conciso para a igreja em Roma. O mundo gentio de língua grega dispunha de relatos orais de JESUS, dados por testemunhas oculares, bem como breves tratados escritos, mas nenhum Evangelho completo com os fatos na devida ordem (ver 1.1-4). Daí, Lucas se propôs a investigar tudo cuidadosamente “desde o princípio” (1.3), e, provavelmente, fez pesquisas na Palestina enquanto Paulo esteve na prisão em Cesaréia (At 21.17; 23.23—26.32) e terminou o seu Evangelho perto do fim daquele período, ou pouco depois de chegar a Roma com Paulo (At 28.16).
Lucas escreveu este Evangelho aos gentios para proporcionar-lhes um registro completo e exato de “tudo que JESUS começou, não só a fazer, mas a ensinar, até ao dia que foi recebido em cima” (At 1.1b,2a). Escrevendo sob a inspiração do ESPÍRITO SANTO, sua intenção foi transmitir a Teófilo e outros convertidos e interessados gentios, com certeza, a plena verdade sobre o que já tinham sido oralmente inteirados (1.3,4). Lucas no seu Evangelho deixa claro que ele escreveu para os gentios. Por exemplo, ele apresenta a genealogia humana de JESUS, recuando-a até Adão (3.23-38) e não até Abraão, conforme fez Mateus (cf. Mt 1.1-17). Em Lucas, JESUS é visto claramente como o Salvador divino-humano, que veio como a provisão divina da salvação para todos os descendentes de Adão.
O Evangelho segundo Lucas começa com as narrativas mais completas da infância de JESUS (1.5—2.40), bem como apresenta o único vislumbre, nos Evangelhos, da juventude de JESUS (Lc 2.41-52). Depois de descrever o ministério de João Batista e apresentar a genealogia de JESUS, Lucas divide o ministério de JESUS em três seções principais: (1) seu ministério na Galiléia e arredores (Lc 4.14—9.50), (2) seu ministério durante a viagem final a Jerusalém (9.51—19.27); e (3) sua última semana em Jerusalém (19.28—24.43).
São oito as características principais do Evangelho segundo Lucas. (1) Seu amplo alcance no registro dos eventos na vida de JESUS, desde a anunciação do seu nascimento até a sua ascensão. (2) A qualidade excepcional do seu estilo literário, empregando um vocabulário rico e escrito com um domínio excelente da língua grega. (3) O alcance universal do Evangelho — que JESUS veio para salvar a todos: judeus e gentios igualmente. (4) Ele salienta a solicitude de JESUS para com os necessitados, inclusive mulheres, crianças, os pobres e os socialmente marginalizados. (5) Sua ênfase na vida de oração de JESUS e nos seus ensinos a respeito da oração. (6) O notável título de JESUS neste Evangelho, a saber: “Filho do Homem”. (7) Seu enfoque sobre a alegria que caracteriza aqueles que aceitam a JESUS e a sua mensagem. (8) Sua ênfase na importância e proeminência do ESPÍRITO SANTO na vida de JESUS e do seu povo (e.g., Lc 1.15, 41, 67; 2.25-27; 4.1, 14, 18; 10.21; 12.12; 24.49).
Tema: A Propagação Triunfal do Evangelho pelo Poder do ESPÍRITO SANTO
Data: Cerca de 63 d.C.
O livro de Atos, e de igual modo o Evangelho segundo Lucas, é endereçado a um homem chamado “Teófilo” (1.1). Embora nenhum dos dois livros identifique nominalmente o autor, o testemunho unânime do cristianismo primitivo e a evidência interna confirmatória dos dois livros denotam que ambos foram escritos por Lucas, “o médico amado” (Cl 4.14).
Atos abrange, de modo seletivo, os primeiros trinta anos da história da igreja. Como historiador eclesiástico, Lucas descreve, em Atos, a propagação do evangelho, partindo de Jerusalém até Roma. Ele menciona nada menos que 32 países, 54 cidades, 9 ilhas do Mediterrâneo, 95 diferentes pessoas e uma variedade de membros e funcionários do governo com seus títulos precisos. A arqueologia continua a confirmar a admirável exatidão de Lucas em todos os seus pormenores. Como teólogo, Lucas descreve com habilidade a relevância de várias experiências e eventos dos primeiros anos da igreja.
Na sua fase inicial, as Escrituras do NT consistiam em duas coletâneas: (1) os quatro Evangelhos, e (2) as Epístolas de Paulo. Atos desempenhou um papel substancial como elo de ligação entre as duas coletâneas, e faz jus à posição que ocupa no cânon. Nos caps. 13—28, temos o acervo histórico necessário para bem compreendermos o ministério e as cartas de Paulo. O pronome “nós”, empregado por Lucas através de Atos (16.10-17; 20.5—21.18; 27.1—28.16), aponta-o como estando presente nas viagens de Paulo.
Lucas tem pelo menos dois propósitos ao narrar os começos da igreja. (1) Demonstra que o evangelho avançou triunfalmente das fronteiras estreitas do judaísmo para o mundo gentio, apesar da oposição e perseguição. (2) Revela a missão do ESPÍRITO SANTO na vida e no papel da igreja e enfatiza o batismo no ESPÍRITO SANTO como a provisão de DEUS para capacitar a igreja a proclamar o evangelho e a dar continuidade ao ministério de JESUS. Lucas registra três vezes, expressamente, o fato de o batismo no ESPÍRITO SANTO ser acompanhado de enunciação em outras línguas (2.1-4.; 10.44-47; 19.1-6). O contexto destas passagens mostra que isto era normal no princípio da igreja, e que é o padrão permanente de DEUS para ela.
Enquanto o Evangelho segundo Lucas relata “tudo que JESUS começou, não só a fazer, mas a ensinar” (1.1), Atos descreve o que JESUS continuou a fazer e a ensinar depois de sua ascensão, mediante o poder do ESPÍRITO SANTO, operando em, e através dos seus discípulos e da igreja primitiva. Ao ascender ao céu (1.9-11), a última ordem de JESUS aos discípulos foi para que permanecessem em Jerusalém até que fossem batizados no ESPÍRITO SANTO (1.4,5). O versículo-chave de Atos (1.8) contém um resumo teológico e geográfico do livro: JESUS promete aos discípulos que receberão poder quando o ESPÍRITO SANTO vier sobre eles; poder para serem suas testemunhas (1) em Jerusalém (1—7), (2) em toda a Judéia e Samaria (8—12) e (3) até aos confins da terra (13—28).
Nos caps. 1—12, o centro principal irradiador da igreja é Jerusalém. Aqui, Pedro é o mais destacado instrumento usado por DEUS para pregar o evangelho. Nos caps. 13—28, o centro principal de irradiação passou a ser Antioquia da Síria, onde o instrumento de maior realce nas mãos de DEUS foi Paulo para levar o evangelho aos gentios. O livro de Atos termina de modo repentino com Paulo em Roma aguardando julgamento perante César. Mesmo com o resultado do referido julgamento ainda pendente, o livro termina de modo triunfante, estando Paulo prisioneiro, porém cheio de ânimo e sem impedimento para pregar e ensinar acerca do reino de DEUS e do Senhor JESUS (28.31).
Nove principais destaques assinalam o livro de Atos. (1) A igreja. Atos revela a origem do poder da igreja e a verdadeira natureza da sua missão, juntamente com os princípios que devem norteá-la em todas as gerações. (2) O ESPÍRITO SANTO. A terceira pessoa da Trindade é mencionada cinqüenta vezes; o batismo no ESPÍRITO SANTO e o seu ministério outorgam poder (1.8), ousadia (4.31), santo temor a DEUS (5.3,5,11), sabedoria (6.3,10), direção (16.6-10), e dons espirituais (19.6). (3) Mensagens da igreja primitiva. Lucas relata com habilidade os ensinos inspirados de Pedro, Estêvão, Paulo, Tiago, e outros, apresentando assim um quadro da igreja primitiva não encontrado noutro lugar do NT. (4) Oração. Os cristãos primitivos dedicavam-se às orações com regularidade e fervor, que, às vezes, duravam a noite inteira, produzindo resultados maravilhosos. (5) Sinais, maravilhas e milagres. Estas manifestações acompanhavam a proclamação do evangelho no poder do ESPÍRITO SANTO. (6) Perseguição. A proclamação do evangelho com poder dava origem à oposição religiosa e/ou secular. (7) A ordem judaica/gentia. Do começo ao fim de Atos, o evangelho alcança primeiro os judeus e, depois, os gentios. (8) As mulheres. Há menção especial às mulheres dedicadas à obra contínua da igreja. (9) Triunfo. Barreira alguma nacional, religiosa, cultural, ou racial, nem oposição ou perseguição puderam impedir o avanço do evangelho.
Há quem considere o conteúdo do livro de Atos como se pertencesse a uma outra era bíblica e não como o padrão divino para a igreja e seu testemunho durante todo o período que o NT chama de “últimos dias” (cf. 2.17). O livro de Atos não é simplesmente um compêndio de história da igreja primitiva; é o padrão perene para a vida cristã e para qualquer congregação cheia do ESPÍRITO SANTO.
Os crentes devem desejar, buscar e esperar, como norma para a igreja atual, todos os fatos vistos no ministério e na experiência da igreja do NT (exceto a redação de novos livros para o NT). Esses fatos são evidentes quando a igreja vive na plenitude do poder do ESPÍRITO SANTO. Nada, em Atos e no restante do NT, indica que os sinais, maravilhas, milagres, dons espirituais ou o padrão apostólico para a vida e o ministério da igreja cessariam, repentina ou de uma vez, no fim da era apostólica.
Considerações Preliminares
O livro de Atos, e de igual modo o Evangelho segundo Lucas, é endereçado a um homem chamado “Teófilo” (1.1). Embora nenhum dos dois livros identifique nominalmente o autor, o testemunho unânime do cristianismo primitivo e a evidência interna confirmatória dos dois livros denotam que ambos foram escritos por Lucas, “o médico amado” (Cl 4.14).
Atos abrange, de modo seletivo, os primeiros trinta anos da história da igreja. Como historiador eclesiástico, Lucas descreve, em Atos, a propagação do evangelho, partindo de Jerusalém até Roma. Ele menciona nada menos que 32 países, 54 cidades, 9 ilhas do Mediterrâneo, 95 diferentes pessoas e uma variedade de membros e funcionários do governo com seus títulos precisos. A arqueologia continua a confirmar a admirável exatidão de Lucas em todos os seus pormenores. Como teólogo, Lucas descreve com habilidade a relevância de várias experiências e eventos dos primeiros anos da igreja.
Na sua fase inicial, as Escrituras do NT consistiam em duas coletâneas: (1) os quatro Evangelhos, e (2) as Epístolas de Paulo. Atos desempenhou um papel substancial como elo de ligação entre as duas coletâneas, e faz jus à posição que ocupa no cânon. Nos caps. 13—28, temos o acervo histórico necessário para bem compreendermos o ministério e as cartas de Paulo. O pronome “nós”, empregado por Lucas através de Atos (16.10-17; 20.5—21.18; 27.1—28.16), aponta-o como estando presente nas viagens de Paulo.
Propósito
Lucas tem pelo menos dois propósitos ao narrar os começos da igreja. (1) Demonstra que o evangelho avançou triunfalmente das fronteiras estreitas do judaísmo para o mundo gentio, apesar da oposição e perseguição. (2) Revela a missão do ESPÍRITO SANTO na vida e no papel da igreja e enfatiza o batismo no ESPÍRITO SANTO como a provisão de DEUS para capacitar a igreja a proclamar o evangelho e a dar continuidade ao ministério de JESUS. Lucas registra três vezes, expressamente, o fato de o batismo no ESPÍRITO SANTO ser acompanhado de enunciação em outras línguas (At 2.1-4.; 10.44-47; 19.1-6). O contexto destas passagens mostra que isto era normal no princípio da igreja, e que é o padrão permanente de DEUS para ela.
Visão Panorâmica
Enquanto o Evangelho segundo Lucas relata “tudo que JESUS começou, não só a fazer, mas a ensinar” (1.1), Atos descreve o que JESUS continuou a fazer e a ensinar depois de sua ascensão, mediante o poder do ESPÍRITO SANTO, operando em, e através dos seus discípulos e da igreja primitiva. Ao ascender ao céu (1.9-11), a última ordem de JESUS aos discípulos foi para que permanecessem em Jerusalém até que fossem batizados no ESPÍRITO SANTO (1.4,5). O versículo-chave de Atos (1.8) contém um resumo teológico e geográfico do livro: JESUS promete aos discípulos que receberão poder quando o ESPÍRITO SANTO vier sobre eles; poder para serem suas testemunhas (1) em Jerusalém (1—7), (2) em toda a Judéia e Samaria (8—12) e (3) até aos confins da terra (13—28).
Nos caps. 1—12, o centro principal irradiador da igreja é Jerusalém. Aqui, Pedro é o mais destacado instrumento usado por DEUS para pregar o evangelho. Nos caps. 13—28, o centro principal de irradiação passou a ser Antioquia da Síria, onde o instrumento de maior realce nas mãos de DEUS foi Paulo para levar o evangelho aos gentios. O livro de Atos termina de modo repentino com Paulo em Roma aguardando julgamento perante César. Mesmo com o resultado do referido julgamento ainda pendente, o livro termina de modo triunfante, estando Paulo prisioneiro, porém cheio de ânimo e sem impedimento para pregar e ensinar acerca do reino de DEUS e do Senhor JESUS (28.31).
Características Especiais
Nove principais destaques assinalam o livro de Atos. (1) A igreja. Atos revela a origem do poder da igreja e a verdadeira natureza da sua missão, juntamente com os princípios que devem norteá-la em todas as gerações. (2) O ESPÍRITO SANTO. A terceira pessoa da Trindade é mencionada cinquenta vezes; o batismo no ESPÍRITO SANTO e o seu ministério outorgam poder (1.8), ousadia (4.31), santo temor a DEUS (5.3,5,11), sabedoria (6.3,10), direção (16.6-10), e dons espirituais (19.6). (3) Mensagens da igreja primitiva. Lucas relata com habilidade os ensinos inspirados de Pedro, Estêvão, Paulo, Tiago, e outros, apresentando assim um quadro da igreja primitiva não encontrado noutro lugar do NT. (4) Oração. Os cristãos primitivos dedicavam-se às orações com regularidade e fervor, que, às vezes, duravam a noite inteira, produzindo resultados maravilhosos. (5) Sinais, maravilhas e milagres. Estas manifestações acompanhavam a proclamação do evangelho no poder do ESPÍRITO SANTO. (6) Perseguição. A proclamação do evangelho com poder dava origem à oposição religiosa e/ou secular. (7) A ordem judaica/gentia. Do começo ao fim de Atos, o evangelho alcança primeiro os judeus e, depois, os gentios. (8) As mulheres. Há menção especial às mulheres dedicadas à obra contínua da igreja. (9) Triunfo. Barreira alguma nacional, religiosa, cultural, ou racial, nem oposição ou perseguição puderam impedir o avanço do evangelho.
Princípio Hermenêutico
Há quem considere o conteúdo do livro de Atos como se pertencesse a uma outra era bíblica e não como o padrão divino para a igreja e seu testemunho durante todo o período que o NT chama de “últimos dias” (cf. At 2.17). O livro de Atos não é simplesmente um compêndio de história da igreja primitiva; é o padrão perene para a vida cristã e para qualquer congregação cheia do ESPÍRITO SANTO.
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1. UM GENTIO A SERVIÇO DE CRISTO
1.2. Um chamado transformador: a conversão de Lucas
1.3. Do ofício de médico ao compromisso com a missão
1.3.2. O escritor do evangelho e historiador de Atos dos Apóstolos
2. A JORNADA MISSIONÁRIA AO LADO DE PAULO
2.1. O encontro inicial: Lucas marca sua entrada na história apostólica
2.3. Retorno e dedicação: Lucas se junta a Paulo novamente
3. O EVANGELISTA E CRONISTA DO CRISTIANISMO
3.1. O evangelho segundo Lucas: o retrato completo de CRISTO
4. LIÇÕES DA VIDA DE LUCAS PARA A JORNADA DE FÉ
4.1. O cuidado com o próximo como essência da fé cristã
4.2. Humildade e entrega no caminho da salvação
6- Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo.
7- Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
8- Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.
9- Procura vir ter comigo depressa.
10- Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica; Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalmácia.
11a- Só Lucas está comigo.
Saúda-vos Lucas, o médico amado, Demas. Colossenses 4.14
Palavra introdutória
Embora Lucas não tenha conhecido JESUS pessoalmente, decidiu segui-lo, o que torna sua missão de falar sobre Ele instigante e desafiadora. Reconhecê-lo como um ícone da nova aliança é compreender seu papel como escritor inspirado e missionário altruísta, dedicado à propagação da mensagem redentora, ao lado de Paulo, Silas, Barnabé e outros valentes.
O texto bíblico destaca as habilidades e a dedicação de Lucas que, após sua conversão, empenhou-se intensamente na divulgação do evangelho. Porém, para compreender melhor seu caráter, é necessário recorrer a fontes extrabíblicas. Um texto antigo, datado de 160 d.C., afirma que Lucas era natural de Antioquia, gentio, médico, autor do terceiro evangelho na Acaia e que teria vivido até os 84 anos, sem se casar. Este testemunho é corroborado por líderes da Igreja, como Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e Jerônimo. Fontes históricas fidedignas indicam que ele teria falecido em Boeotia, um distrito da Grécia.
Não existe qualquer registro, no texto bíblico, que lance luz sobre a época, as condições ou as circunstâncias da conversão de Lucas ao cristianismo, mas seu comportamento, ao longo dos anos, demonstra que ele possuía uma fé firme no Senhor JESUS.
Lucas, mencionado no Novo Testamento como médico (CI 4.14), foi um apoio essencial para Paulo, que sofreu diversas agressões físicas, incluindo espancamentos e apedrejamentos (At 16.23; 2 Co 6.5; 11.24-27). Sua presença provavelmente proporcionou ao apóstolo os cuidados clínicos necessários, o que justificaria o título de médico amado que dele recebeu.
Embora conhecido como médico, uma das maiores contribuições de Lucas ao Reino de DEUS foi seu trabalho como historiador. Nos prólogos de seu evangelho e de Atos, ele demonstra compromisso com a precisão factual, registrando fielmente os eventos da vida de JESUS e do início da Igreja.
As duas obras literárias compostas por Lucas e sua trajetória ministerial não deixam dúvidas quanto ao seu entendimento sobre o caráter universal do evangelho. Para ele, este é o correto entendimento sobre a mensagem da cruz: a salvação é o dom de DEUS ao mundo (Lc 1.77; 2.30,32; At 4.12).
2.1. O encontro inicial: Lucas marca sua entrada na história apostólica
Em Filipos, Paulo, seguindo o costume judeu, buscou um lugar de oração ao ar livre, já que a cidade não possuía uma sinagoga formal (At 16.13). Paulo e Silas foram presos em Filipos (At 16.16-23), enquanto Timóteo e Lucas possivelmente passaram despercebidos por não terem aparência de judeus típicos. Após a prisão, Lucas e Timóteo provavelmente permaneceram na cidade para apoiar a jovem igreja local. Na Carta aos Filipenses, Paulo menciona o apoio financeiro que recebeu exclusivamente dessa igreja (Fp 4.15,16), sugerindo que Lucas e Timóteo podem ter intermediado essa ajuda.
Paulo e Lucas se reencontram em Atos 20.13, com Lucas acompanhando Paulo de Trôade a Assôs e, em seguida, passando por diversas cidades, como Cós, Rodes, Pátara, Tiro, Cesareia e Jerusalém (At 20.5-21.18), até Roma (At 27.1-28.16). Lucas não apenas registrou os eventos do terceiro evangelho, mas também participou ativamente das missões, ajudando a expandir o Reino de DEUS.
Nos últimos dias de Paulo, enquanto ele estava preso e aguardando sua provável execução (2 Tm 4.6-8), Lucas foi um dos poucos a permanecer ao seu lado, oferecendo apoio e companhia ao apóstolo (2 Tm 4.11).
Os escritos de Lucas, incluindo o evangelho e o Livro de Atos, foram dirigidos a uma audiência grega, representada por Teófilo e pelos gentios interessados nas boas novas.
Lucas buscou comunicar a história de JESUS e a expansão da fé cristã em uma linguagem e estilo acessíveis ao pensa- mento helenístico, enfatizando a universalidade do evangelho e seu alcance a todas as nações. Seu objetivo era consolidar a fé dos leitores na continuidade entre o ministério de JESUS e a expansão da Igreja primitiva, oferecendo uma perspectiva histórica e espiritual da ascensão e propagação do cristianismo para além das fronteiras judaicas.
Lucas também aborda os milagres com uma perspectiva cuidadosa, quase científica (8.43-48), destacando o impacto da cura sobre os gentios (7.1-10; 17.11-19) e registrando inúmeros ensinamentos por meio de parábolas exclusivas, como as do bom samaritano (10.25-37) e do filho pródigo (15.11-32).
Esse evangelho revela a compaixão e universalidade de JESUS (19.10), que busca incluir e salvar a todos, sem distinção.
Com uma estrutura narrativa que acompanha o cresci- mento da Igreja, Atos retrata a missão de testemunhar em Jerusalém (1.1-6.7), depois em Judeia e Samaria (6.8-9.31) e finalmente até os confins da Terra (9.32-28.31).
Esse relato conecta diretamente o chamado de JESUS a Seus discípulos com o nascimento e expansão da Igreja, destacando o cumprimento do mandato de CRISTO para levar a mensagem a todos os povos (Mc 16.15; At 1.8).
4.1. O cuidado com o próximo como essência da fé cristã
O Evangelho de Lucas destaca a compaixão de JESUS, revelando Seu olhar cuidadoso para com os marginalizados e esquecidos da sociedade. Desde o chamado ao amor misericordioso (6.36) até a cura da mulher encurvada (13.10-17), Lucas nos convida a uma fé que derruba obstáculos socioculturais, expressando-se em ações concretas.
O exemplo de CRISTO nos incita a refletir: como podemos imitar essa compaixão que não discrimina? A prática da misericórdia, tão central no Evangelho de Lucas, nos convoca a exercer uma fé vívida, dedicada ao cuidado dos menos favorecidos.
A abnegação de Lucas inspira-nos a refletir sobre o valor da lealdade em nossas relações. Em um mundo no qual o individualismo prevalece, sua postura convida-nos a cultivar um espírito de solidariedade com os irmãos em CRISTO, especialmente nos momentos de maior necessidade.
Lucas é considerado uma das grandes figuras do Novo Testamento e integra a galeria dos escritores bíblicos, es- colhidos por DEUS ao longo de 1.600 anos. Sendo provavelmente o único gentio entre eles, o médico amado ressalta a universalidade do evangelho, revelando que a mensagem de salvação é para todos.
O cronista da fé cristã ilustra essa realidade ao narrar o evento de Pentecostes, com a diversidade de nacionalidades presentes (At 2.7-11), e a visão de Pedro sobre os alimentos impuros (At 9.10-35), enfatizando a inclusão de todas as pessoas no plano redentor.
Lucas cumpriu brilhantemente sua missão de anunciar o propósito divino para a humanidade, destacando que a graça alcança todos os povos.
1. Qual era a nacionalidade de Lucas?
R.: Ele era siríaco de Antioquia, portanto, um gentio.