Escrita Lição 12, As Epístolas Instruem E formam Os Cristãos, 2Tr22, Pr Henrique, EBD NA TV

Lição 12, As Epístolas Instruem E formam Os Cristãos
Lições Bíblicas - 1º Trimestre de 2022 - CPAD - Para adultos
Tema: A Supremacia das Escrituras, a Inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de DEUS
Comentário: Pr. Douglas Baptista (Pr. Pres. Assembleia de DEUS Missão, Brasília, DF)
Complementos, ilustrações, questionário e vídeos: Pr. Henrique
 
 
Lição 12, As Epístolas Instruem E formam Os Cristãos
Escrita - https://ebdnatv.blogspot.com/2022/03/escrita-licao-12-as-epistolas-instruem.html
Slides - https://ebdnatv.blogspot.com/2022/03/slides-licao-12-as-epistolas-instruem-e.html
Vídeo - https://youtu.be/7YxelA0EOpU
 
  



      
TEXTO ÁUREO
“A graça, a misericórdia, a paz, da parte de DEUS Pai e da do Senhor JESUS CRISTO, o Filho do Pai, sejam convosco na verdade e amor.”  (2 Jo 1.3)
 

VERDADE PRÁTICA
As epístolas apresentam instruções vitais para a compreensão da doutrina cristã, bem como para a formação dos cristãos.


LEITURA DIÁRIA
Segunda - Rm 1.17 Em CRISTO descobrimos a justiça de DEUS: o justo viverá pela fé
Terça - Ef 1.22,23 CRISTO é o cabeça; e a Igreja, o seu Corpo
Quarta - 1 Pedro 1.7 A fé é provada como o ouro é provado pelo fogo
Quinta - 1 Jo 1.6,7 O salvo deve viver em comunhão com os irmãos
Sexta - 2 Co 7.1 O crente deve purificar-se de toda imundícia da carne e do espírito
Sábado - Ef 4.13 O cristão deve buscar a medida da estatura de CRISTO

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - 1 Coríntios 1.1-3; 1 Pedro 1.1,2; 2 João 1.1-3
1 Coríntios 1.1 - Paulo (chamado apóstolo de JESUS CRISTO, pela vontade de DEUS) e o irmão Sóstenes,
2 - À igreja de DEUS que está em Corinto, aos santificados em CRISTO JESUS, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor JESUS CRISTO, Senhor deles e nosso: 3 - graça e paz, da parte de DEUS, nosso Pai, e do Senhor JESUS CRISTO.
1 Pedro 1.1 - Pedro, apóstolo de JESUS CRISTO, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia;
2 - Eleitos segundo a presciência de DEUS Pai, em santificação do ESPÍRITO, para a obediência e aspersão do sangue de JESUS CRISTO: Graça e paz vos sejam multiplicadas.
2 João 1.1 - O ancião à senhora eleita e a seus filhos, aos quais amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que têm conhecido a verdade,
2 - Por amor da verdade que está em nós e para sempre estará conosco.
3 - A graça, a misericórdia, a paz, da parte de DEUS Pai e da do Senhor JESUS CRISTO, o Filho do Pai, seja convosco na verdade e amor.


PALAVRA-CHAVE - Epístola
 
 
Resumo da Lição 12, As Epístolas Instruem E formam Os Cristãos
I – COMO AS EPÍSTOLAS PAULINAS NOS INSTRUEM
1. Instruções salvíficas.
2. Instruções a respeito de CRISTO.
3. Instruções sobre as últimas coisas.
4. Instruções pastorais e pessoais.
II – COMO AS EPÍSTOLAS GERAIS NOS FORMAM
1. As Epístolas de Pedro.
2. As Epístolas de João.
3. As outras Gerais.
III – AS EPÍSTOLAS CONTINUAM A FALAR
1. A doutrina da justificação.
2. A doutrina da santificação.
3. A doutrina da glorificação.
 
 


  
CARTA: PEQUENA ENCICLOPÉDIA BÍBLICA - ORLANDO BOYER
 Manuscrito fechado, com endereço e remetente. Designação de diversos títulos ou documentos oficiais. Davi escreveu uma carta, 2 Sm 1.14. Tendo Ezequias recebido a carta, 2 Rs 19.14. Carta de divórcio, Mc 10.4; Dt 24.1. Carta de recomendação, 2 Co 3.1. Vós sois a nossa carta, 2 Co 3.2. Carta, escrita não com tinta, 2 Co 3.3. Contristado com a carta, 2 Co 7.8. As cartas são graves e fortes, 2 Co 10.10.

EPÍSTOLA: PEQUENA ENCICLOPÉDIA BÍBLICA - ORLANDO BOYER
Chamam-se epístolas, 21 dos 27 livros do Novo Testamento. São cartas escritas por apóstolos. Treze (ou 14) são paulinas, isto é, escritas pelo apóstolo Paulo: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon (e Hebreus?*. Havendo ainda a Epístola aos Hebreus que muitos supõem ser também do apóstolo Paulo. As três epístolas pastorais, na ordem em que foram escritas, são: 1 Timóteo, Tito e 2 Timóteo. Não são dirigidas a uma igreja mas a pastores. Cinco das epístolas, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 João e Judas, são católicas, isto é, gerais ou universais, porque foram dirigidas à Igreja em geral. A Igreja Primitiva contava sete epístolas católicas, incluindo 2 e 3 João. Essas, contudo, são epístolas pessoais dirigidas a indivíduos. Urna vez lida esta e perante vós. . . que seja lida na igreja dos laodicenses, Cl 4.16. Que esta seja lida a todos os irmãos, 1 Ts 5.27. Seja por palavra, seja por  nossa, 2 Ts 2.15. Obediência a nossa palavra dada por esta e, 2 Ts 3.14. De próprio punho: Paulo, este é o sinal em cada e, 2 Ts 3.Í7. Está a segunda e, 2 Pe 3.1. E, nas quais há certas coisas difíceis, 2 Pe 3.16.
 
 
 
EPÍSTOLA - Dicionário Bíblico Wycliffe
No uso geral, o termo epístola refere-se à correspondência escrita, seja particular ou pública. Este uso amplo incluiria as cartas do AT, embora elas não sejam chamadas especificamente de epístolas (2 Sm 11.14,15; 1 Rs 21.8-11; Ed 4.11- 22; Jr 29,1-29).
No NT o termo gr. epistole ocorre 24 vezes e é a designação de 21 dos escritos do NT. Destes, 13 são da pena de Paulo e sete ou oito. dependendo se Hebreus está incluído ou não são classificados como epístolas gerais ou universais. As 13 cartas de Paulo são geralmente divididas em quatro grupos, escatológicas (1 e 2 Tessalonicenses), soteriológicas (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas), da prisão (Efésios, Filipenses, Colossenses, Filemom) e pastorais (1 e 2 Timóteo, Tito). As epistolas não-paulinas têm sido chamadas de universais (ou católicas) porque eram supostamente gerais quanto ao seu destino. Isto, porém, não é uma designação exata no caso de Hebreus, e de 2 e 3 João, que foram enviadas para pessoas e grupos específicos. Em geral, as epístolas do NT seguem a forma padrão das cartas antigas, como pode ser visto pelo estudo da extensa correspondência em papiros que foi preservada. A ordem epistolar usual era: nome do escritor e destinatários, saudação, oração ou desejo de bem-estar dos leitores, corpo da carta e saudações finais.
Alguns, seguindo a sugestão de A. Deissmann, têm feito uma distinção entre cartas e epístolas. As cartas seriam pessoais, com trechos não-literários sem a intenção de uso permanente, ao passo que as epístolas seriam impessoais, com trechos literários, escritas para um público mais geral e com a intenção de permanência. Outros têm corretamente insistido que esta distinção é demasiadamente sofisticada e simplificada. A maioria das epístolas do NT combina elementos tanto de carta como de epístola, conforme distinguido por Deissmann. A correspondência do NT foi, em sua maior parte, escrita em resposta a cartas ou palavras pessoais com relação a problemas ou necessidades que exigiram um tratamento por parte de alguém que tivesse autoridade apostólica. D. W. B.
 
  
PROVÁVEL CRONOLOGIA DOS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO
 
 
NOVO TESTAMENTO
 
-1 Tessalonicenses
51 d.C.
-2 Tessalonicenses
52 d.C.
-1 Coríntios
56 d.C.
-2 Coríntios
57 d.C.
-Gálatas
57 d.C.
-Romanos
58 d.C.
-Mateus
60 d.C.
- Efésios    
61 d.C.
-Tiago       
61 d.C.
- Filipenses
62 d.C.
-Colossenses      
62 d.C.
- Filemom
62 d.C.
-Lucas       
63 d.C.
- Hebreus  
63 d.C.
-Atos dos apóstolos.     
63 d.C.
1 Timóteo
64 d.C.
- 1 Pedro   
64 d.C.
- Tito
65 d.C.
- Marcos    
65 d.C.
-2 Pedro             
64/5 d.C.
-2 Timóteo 
67 d.C.
-Judas.      
70 d.C.
-João (Evangelho)
85 d.C.
-1 João      
90d.C.
-2 João      
90 d.C.
-3 João      
90 d.C.
-Apocalipse
96d.C
 
 
 
EPÍSTOLAS GERAIS - Dicionário Bíblico Wycliffe
Sete cartas do NT - Tiago; 1a e 2a Pedro; 1a, 2a e 3a João e Judas - são assim chamadas porque não contêm destinatários específicos (note o contraste com as epístolas paulinas). A descrição “sete epístolas universais” (isto é, com destino indefinido e abrangente) foi dada pela primeira vez por um patriarca da igreja, Eusébio (Ecel. Hist, II, 23-25). No entanto, mesmo uma leitura superficial das cartas mostra que elas não são todas verdadeiramente “gerais” -1 Pedro foi destinada a províncias específicas na Ásia Menor; 3 João foi enviada a um certo Gaio; e 3 João a uma igreja local ou a um indivíduo.
Não houve uma pronta aceitação destas cartas na igreja primitiva. No século IV, Eusébio afirmou que a maioria delas eram discutidas, embora tenham sido incluídas em várias listas e manuscritos importantes do NT no mesmo século. Algumas delas, especialmente 2 Pedro e Tiago, têm sido contestadas de um modo ou de outro em várias ocasiões até o dia de hoje. (Para detalhes veja Cânon das Escrituras - NT.)
No que diz respeito às ênfases maiores, Tiago e 1 Pedro tratam do problema do sofrimento (veja, por exemplo, Tg 1.2-4; 5.4-11; 1 Pe 1.6,7; 2.18-20; 3.14-17; 4.12-16). Na verdade, as palavras “sofrer” ou “sofrimento” aparecem pelo menos 15 vezes somente em 1 Pedro. As outras cartas refletem o crescimento do falso ensino e como a igreja primitiva se opôs a ele (veja 2 Pe 2.2,3; 3.1-7; 1 Jo 1.6- 10; 2.22,23; 4.1-6; Jd 3,4). W. M. D.
 
 
EPÍSTOLAS CATÓLICAS - Dicionário Bíblico Wycliffe
Uma designação tradicional das sete últimas epístolas do Novo Testamento.
A palavra *católico” deriva do grego katkolikos, que significa “geral”, “muito difundido”, “universal. Com a exceção da segunda e da terceira epístola de João, que são escritas para um indivíduo ou para uma igreja em particular, estas epístolas dirigem-se a um público mais amplo do que uma igreja local ou um indivíduo. Mais tarde, a palavra “católica” foi empregada para as epístolas que eram universalmente aceitas pela igreja e que continham doutrinas ortodoxas; assim, o termo tornou-se sinônimo de “genuíno” ou “canônico”.
 
 
EPÍSTOLAS PAULINAS - Dicionário Bíblico Wycliffe
Paulo escreveu mais do que qualquer outro no Novo Testamento (14 das 21 cartas e epístolas, incluindo Hebreus). Lucas escreveu o evangelho de Lucas e o evangelho do ESPÍRITO SANTO, Atos. Paulo também escreveu seu evangelho - Romanos. O evangelho da justificação pela fé.
no dia em que DEUS há de julgar os segredos dos homens, por JESUS CRISTO, segundo o meu evangelho. Romanos 2:16
Lembra-te de que JESUS CRISTO, que é da descendência de Davi, ressuscitou dos mortos, segundo o meu evangelho; 2 Timóteo 2:8
Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de JESUS CRISTO, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto, Romanos 16:25
Nenhum outro escritor da Bíblia teve tanta revelação da Palavra de DEUS como Paulo. Ele usou a escritura da Lei e dos profetas com maestria para aplicar seus ensinos doutrinários.
Exemplo:
Para falar da libertação concedida a todos os crentes em CRISTO usou uma citação de Deuteronômio em sua epístola aos Gálatas.
o seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia, porquanto o pendurado é maldito de DEUS; assim, não contaminarás a tua terra, que o Senhor , teu DEUS, te dá em herança. Deuteronômio 21:23
CRISTO nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro; Gálatas 3:13
Paulo recebeu a revelação da existência da Igreja (Ef 3.9-11, Cl 1.26; 27). 

 


EPÍSTOLAS PAULINAS - Comentários BEP - CPAD
 
ROMANOS
Esboço
Autor: Paulo
Tema: A Revelação da Justiça de DEUS
Data: Cerca de 57 d.C.

 
Considerações Preliminares
Romanos é a epístola de Paulo mais longa, mais teológica e mais influente. Talvez por essas razões foi colocada em primeiro lugar entre as do apóstolo. De modo contrário à tradição católica romana, a igreja de Roma não foi fundada por Pedro, nem por qualquer outro apóstolo. Ela talvez tenha sido iniciada por convertidos de Paulo provenientes da Macedônia e da Ásia, bem como pelos judeus e prosélitos convertidos no dia de Pentecoste (At 2.10). Paulo não tinha Roma como campo específico de outro apóstolo (15.20).
Em Romanos, Paulo afirma que muitas vezes planejou ir até Roma para ali pregar o evangelho, mas que, até então fora impedido (Rm 1.13-15; 15.22). Reafirma seu desejo de ir até eles (15.23-32).
Paulo, ao escrever esta epístola, perto do fim da sua terceira viagem missionária (cf. Rm 15.25,26; At 20.2,3; 1 Co 16.5,6), estava em Corinto como hóspede na casa de Gaio (16.23; 1 Co 1.14). Enquanto escrevia Romanos através do seu auxiliar Tércio (16.22), planejava voltar a Jerusalém para o dia de Pentecoste (At 20.16; provavelmente na primavera de 57 ou 58 d.C.) e entregar pessoalmente uma oferta de socorro das igrejas gentias aos crentes pobres de Jerusalém (15.25-27). Logo a seguir, Paulo esperava partir para a Espanha levando-lhe o evangelho, visitar de passagem a igreja de Roma e receber ajuda dos crentes ali para prosseguir em sua caminhada para o oeste (15.24, 28).
Propósito
Paulo escreveu esta carta a fim de preparar o caminho para a obra que ele esperava realizar em Roma e na sua missão prevista para a Espanha. (1) Seu propósito era duplo.
Segundo parece, os romanos tinham ouvido boatos falsos a respeito da mensagem e da teologia de Paulo (e.g., Rm 3.8; 6.1,2, 15); daí ele achar necessário registrar por escrito o evangelho que já pregava há vinte e cinco anos. (2) Queria corrigir certos problemas da igreja, causados por atitudes erradas dos judeus para com os gentios (e.g., 2.1-29; 3.1, 9), e dos gentios para com os judeus (e.g., Rm 11.11-32).
Visão Panorâmica
O tema de Romanos está em Rm 1.16,17, a saber: que no Senhor JESUS a justiça de DEUS é revelada como a solução à sua justa ira contra o pecado. A seguir, Paulo expõe as verdades fundamentais do evangelho. Primeiro, destaca o fato de que o problema do pecado e a necessidade humana da justificação são universais (Rm 1.18—3.20). Posto que tanto os judeus quanto os gentios estão sujeitos ao pecado e, portanto, sob a ira de DEUS, ninguém pode ser justificado diante dEle à parte do dom da justiça (3.24) mediante a fé em JESUS CRISTO (Rm 3.21—4.25).
Sendo justificado generosamente pela graça de DEUS, e tendo recebido a certeza da salvação (Rm 5), o crente demonstra que recebeu o dom divino da justificação, ao morrer com CRISTO para o pecado (cap. 6); é liberto da luta com a justiça da lei (Rm 7), e é adotado como filho de DEUS, recebendo nova vida segundo o ESPÍRITO, o que o conduz à glorificação (8.18-30). DEUS está levando a efeito o seu plano da redenção, a despeito da incredulidade de Israel (9–11).
Finalmente, Paulo declara que uma vida transformada em CRISTO resulta na prática da retidão e do amor em todos os aspectos da vida social, civil e moral da pessoa (12–14). Paulo termina Romanos expondo seus planos pessoais (cap. 15), uma longa lista de saudações pessoais, uma última admoestação e uma doxologia (cap. 16).
Características Especiais
Sete destaques principais caracterizam Romanos. (1) Romanos é a mais sistemática epístola de Paulo; a epístola teológica por excelência do NT. (2) Paulo escreve num estilo de pergunta-e-resposta, ou de diálogo (e.g., Rm 3.1, 4-6, 9, 31). (3) Paulo usa amplamente o AT como a autoridade bíblica na apresentação da verdadeira natureza do evangelho. (4) Paulo apresenta “a justiça de DEUS” como a revelação fundamental do evangelho (Rm 1.16,17); DEUS restaura e ordena a situação do homem em JESUS CRISTO e através dEle. (5) Paulo focaliza a natureza dupla do pecado, bem como a provisão de DEUS em CRISTO para cada aspecto: (a) o pecado como uma transgressão pessoal (Rm 1.1—5.11) e o pecado como um princípio ou lei (gr. he hamartia), i.e., a tendência natural e inerente para pecar, existente no coração de toda pessoa, desde a queda de Adão (5.12—8.39). (6) O capítulo 8 é o mais longo da Bíblia sobre a obra do ESPÍRITO SANTO na vida do crente. (7) Romanos contém o estudo mais profundo da Bíblia sobre a rejeição de CRISTO pelos judeus
(excetuando-se um remanescente), bem como sobre o plano divino-redentor para todos, alcançando por fim Israel (9–11).
 
 
1 CORÍNTIOS
Autor: Paulo
Tema: Problemas da Igreja e Suas Soluções
Data: 55/56 d.C.

 
Considerações Preliminares
Corinto, uma cidade antiga da Grécia, era, em muitos aspectos, a metrópole grega de maior destaque nos tempos de Paulo. Assim como muitas das cidades prósperas do mundo de hoje, Corinto era intelectualmente arrogante, materialmente próspera e moralmente corrupta. O pecado, em todas as suas formas, grassava nessa cidade de má fama, pela sua licenciosidade.
Juntamente com Prisca e Áquila (16.19) e com sua própria equipe apostólica (At 18.5), Paulo fundou a igreja em Corinto, durante seu ministério de dezoito meses ali, na sua segunda viagem missionária (At 18.1-17). A igreja era composta dalguns judeus, sendo sua maioria constituída de gentios convertidos do paganismo. Depois da partida de Paulo de Corinto, surgiram vários problemas na jovem igreja, que requereram sua autoridade e doutrina apostólica, por carta e visitas pessoais.
A primeira epístola aos Coríntios foi escrita durante seu ministério de três anos em Éfeso (At 20.31), na sua terceira viagem missionária (At 18.23—21.16). Paulo soube em Éfeso dos problemas de Corinto (1Co 1.11); depois, uma delegação da congregação em Corinto (16.17) entregou uma carta a Paulo, em que lhe pediam instruções sobre vários assuntos (7.1; cf. 1Co 8.1; 12.1; 16.1). Paulo escreveu esta epístola tendo em vista os informes ouvidos e a correspondência recebida daquela igreja.
Propósito
Paulo tinha dois motivos principais ao escrever esta epístola: (1) Tratar dos sérios problemas da igreja de Corinto, de que fora informado. Eram pecados que os coríntios não levavam muito a sério, mas que Paulo sabia serem graves. (2) Aconselhar e doutrinar sobre variados assuntos que os coríntios lhe encaminharam por escrito. Isso incluía assuntos doutrinários e de conduta e pureza, tanto individual, como da congregação.
Visão Panorâmica
Esta epístola trata dos problemas que uma igreja experimenta quando seus membros continuam “carnais” (3.1-3) e não se separam de uma vez, dos incrédulos a seu redor (2 Co 6.17). São problemas tipo espírito de divisão (1Co 1.10-13; 11.17-22), tolerância de pecado tipo incesto (5.1-13), imoralidade sexual em geral (6.12-20), ação judicial entre os cristãos (6.1-11), idéias humanistas a respeito da verdade apostólica (15) e conflitos a respeito da “liberdade cristã” (8;10). Paulo também instrui os coríntios a respeito do celibato e do casamento (7), o culto público, inclusive a Ceia do Senhor (11—14) e a oferta para os santos de Jerusalém (16.1-4).
Entre os ensinos mais importantes de Paulo em 1 Coríntios, está o das manifestações e dons do ESPÍRITO SANTO nos cultos da igreja (12—14). O ensino desses capítulos é o mais rico do NT sobre a natureza e o conteúdo da adoração na igreja primitiva (14.26-33). Paulo mostra que o propósito de DEUS para a igreja inclui uma rica variedade de dons do ESPÍRITO através de crentes fiéis (12.4-10) e de pessoas chamadas para exercer certos ministérios (12.28-30) — uma diversidade dentro da unidade, comparável às múltiplas funções do corpo humano (1Co 12.12-27). No da operação dos dons espirituais na congregação, Paulo faz uma distinção essencial entre a edificação individual e a coletiva como assembleia (1Co 14.2-6,12,16-19,26), e reitera que todas as manifestações públicas dos dons devem brotar do amor (13) e existirem para a edificação de todos os crentes (1Co 12.7; 14.4-6,26).
Características Especiais
Cinco características especiais vemos em 1 Coríntios. (1) De todo o NT, é a epístola que mais trata de problemas. Ao tratar dos vários problemas e assuntos de Corinto, Paulo apresenta princípios espirituais claros e permanentes, sendo cada um deles universalmente aplicáveis à igreja (e.g. 1Co 1.10; 6.17,20; 7.7; 9.24-27; 10.31,32; 14.1-10; 15.22,23). (2) Há um destaque geral sobre a unidade da igreja local como corpo de CRISTO, destaque este no ensino sobre divisões, Ceia do Senhor e dons espirituais. (3) Esta epístola contém o mais amplo ensino do NT em assuntos de grande importância como o celibato, o casamento e novo casamento (7); a Ceia do Senhor (1Co 10.16-21; 11.17-34); línguas, profecias e dons espirituais durante o culto (12,14); o amor cristão (13); e a ressurreição do corpo (15). (4) A epístola é de valor incalculável para o ministério pastoral, no tocante à disciplina eclesiástica (cap. 5). (5) Salienta a possibilidade indubitável de decair da fé, aqueles que persistem numa conduta ímpia e que não têm firmeza em CRISTO (1Co 6.9,10; 9.24-27; 10.5-12,20,21; 15.1-2)
 
 
2 CORÍNTIOS
Autor: Paulo
Tema: Glória Através do Sofrimento
Data: 55/56 d.C.

 
Considerações Preliminares
Paulo escreveu esta epístola à igreja de Corinto e aos crentes de toda a Acaia (1.1), identificando-se duas vezes pelo nome (1.1; 10.1). Tendo Paulo fundado a igreja em Corinto, durante sua segunda viagem missionária, manteve contato frequente com os coríntios a partir de então, por causa dos problemas daquela igreja (ver a introdução a 1 Coríntios).A sequência desses contatos e o contexto em que 2 Coríntios foi escrito são os seguintes: (1) Depois de alguns contatos e correspondência inicial entre Paulo e a igreja (e.g. 2Co 1.1; 5.9; 7.1), ele escreveu 1 Coríntios, de Éfeso, (primavera de 55 ou 56 d.C.). (2) Em seguida, ele fez uma viagem a Corinto, cruzando o mar Egeu, para tratar de problemas surgidos na igreja. Essa visita, no período entre 1 e 2 Coríntios (cf. 13.1,2), foi espinhosa para Paulo e para a congregação (2.1,2). (3) Depois dessa visita afonosa, informes chegaram a Paulo em Éfeso de que seus adversários estavam atacando a sua autoridade apostólica em Corinto, tentando persuadir uma parte da igreja a rejeitá-lo. (4) Respondendo, Paulo escreveu 2 Coríntios, na Macedônia (outono de 55 ou 56 d.C.). (5) Pouco depois, Paulo viajou outra vez a Corinto (13.1), permanecendo ali cerca de três meses (cf. At 20.1-3a). Foi ali que escreveu a Epístola aos Romanos.
Propósito
Paulo escreveu esta epístola a três classes de pessoas em Corinto. (1) Primeiro, escreveu para encorajar a maioria da igreja que lhe era fiel, como seu pai espiritual. (2) Escreveu para contestar e desmascarar os falsos apóstolos que continuavam a difamá-lo, para, assim, enfraquecer a sua autoridade e o seu apostolado, e distorcer a sua mensagem. (3) Escreveu, também, para repreender a minoria na igreja influenciada por seus oponentes e que não acatavam a sua autoridade e correção. Paulo reafirmou sua integridade e sua autoridade apostólica em relação a eles, esclareceu os seus motivos e os advertiu contra novas rebeliões. 2 Coríntios visou a preparar a igreja como um todo, para sua visita iminente.
Visão Panorâmica
2 Coríntios tem três divisões principais. (1) Na primeira (1—7), Paulo começa dando graças a DEUS pela sua consolação em meio aos sofrimentos em prol do evangelho, elogia os coríntios por disciplinarem um grande transgressor e defende a sua integridade ao alterar seus planos de viagem. Em 2Co 3.1—6.10, Paulo apresenta o mais extenso ensino do NT sobre o verdadeiro caráter do ministério. Ressalta a importância da separação do mundo (2Co 6.11—7.1) e expressa sua alegria ao saber, através de Tito, do arrependimento de muitos na igreja de Corinto, que antes desacatavam a sua autoridade apostólica (7). (2) Nos caps. 8 e 9, Paulo exorta os coríntios a demonstrar a mesma generosidade cristã e sincera dos macedônios, ao contribuírem na campanha por ele dirigida, a favor dos crentes pobres de Jerusalém. (3) O estilo da epístola muda nos caps. 10—13. Agora, Paulo defende o seu apostolado, discorrendo sobre a sua chamada, qualificações e sofrimentos como um verdadeiro apóstolo. Com isso, Paulo espera que os coríntios reconheçam os falsos apóstolos entre eles, o que os poupará de futura disciplina quando ele lá chegar. Paulo termina 2 Coríntios com a única bênção trinitária no NT (2Co 13.14 ).
Características Especiais
Quatro fatos principais caracterizam esta epístola. (1) É a mais autobiográfica das epístolas de Paulo. Suas muitas referências pessoais são feitas com humildade, desculpas e até mesmo constrangimento, mas foi necessário, tendo em vista a situação em Corinto. (2) Ultrapassa todas as demais epístolas paulinas no que tange à revelação da intensidade e profundidade do amor e cuidado de Paulo por seus filhos espirituais. (3) Contém a mais completa teologia do NT sobre o sofrimento do crente (2Co 1.3-11; 4.7-18; 6.3-10; 11.23-30; 12.1-10), e de igual modo, sobre a contribuição cristã (8—9). (4) Termos-chaves, tais como fraqueza, aflição, lágrimas, perigos, tribulação, sofrimento, consolação, jactância, verdade, ministério e glória, destacam o conteúdo incomparável desta carta.
 
 
GÁLATAS
Autor: Paulo
Tema: Salvação Pela Graça Mediante a Fé
Data: Cerca de 49 d.C.

 
Considerações Preliminares
Paulo escreveu esta epístola (Gl 1.1; 5.2; 6.11) “às igrejas da Galácia” (1.2). As autoridades no assunto declaram que os gálatas eram gauleses oriundos do Norte da Galácia e que, mais tarde, parte deles emigrou para o Sul da Europa, de cujo território a França de hoje faz parte. É muito mais provável que Paulo haja escrito esta epístola às igrejas do Sul da província da Galácia (Antioquia da Pisídia, Icônio, Listra, Derbe), onde ele e Barnabé evangelizaram e estabeleceram igrejas durante sua primeira viagem missionária (At 13,14). A data mais provável da carta situa-se logo após o regresso de Paulo à igreja que o enviou – Antioquia da Síria, e pouco antes do Concílio de Jerusalém (At 15).  O assunto principal de Gálatas é o mesmo debatido e resolvido em Jerusalém (c. de 49 d.C.; cf. At 15). Tal assunto implica uma dupla pergunta: (1) A fé em JESUS CRISTO como Senhor e Salvador é o requisito único para a salvação? (2) É necessário obedecer a certas práticas e leis judaicas do AT para se obter a salvação em CRISTO? Talvez Paulo haja escrito Gálatas antes da controvérsia da lei, na Assembleia de Jerusalém (At 15), e antes de a igreja comunicar a sua posição final. Se assim foi, então Gálatas é a primeira epístola
que Paulo escreveu.
Propósito
Paulo tomou conhecimento de que certos mestres judaicos estavam inquietando seus novos convertidos na Galácia, impondo-lhes a circuncisão e o jugo da lei mosaica como requisitos necessários à salvação e ao ingresso na igreja. Ao saber disso, Paulo escreveu: (1) para demonstrar cabalmente que as exigências da lei, como a circuncisão do velho concerto, nada tem a ver com a operação da graça de DEUS em CRISTO para a salvação sob o novo concerto; e (2) para reafirmar claramente que o crente recebe o ESPÍRITO SANTO e com Ele a nova vida espiritual por meio da fé no Senhor JESUS CRISTO e não por meio da lei do AT.
Visão Panorâmica
Pelo conteúdo desta carta, conclui-se que os oponentes judaicos de Paulo na Galácia o atacavam pessoalmente a fim de solapar sua influência nas igrejas. Sua acusação era de que: (1) Paulo não era um dos apóstolos originais e, portanto, desprovido de autoridade direta (cf. Gl 1.1,7,12; 2.8,9); (2) sua mensagem diferia do evangelho pregado em Jerusalém (cf. Gl 1.9; 2.2-10); e (3) sua mensagem da graça resultaria numa vida iníqua (cf. Gl 5.1,13,16,19,21).
Paulo deu respostas diretas a todas três acusações. (1) Defendeu energicamente a sua própria autoridade de apóstolo de JESUS CRISTO, autoridade esta recebida diretamente de DEUS e que foi confirmada por Tiago, Pedro e João (1,2). (2) Defendeu com ardor o evangelho da salvação pela graça, mediante a fé em CRISTO, à parte das obras da lei (3,4). (3) Finalmente, Paulo sustentou com veemência que o verdadeiro evangelho de CRISTO abrange a liberdade da escravidão do legalismo judaico tanto quanto a liberdade do pecado e das obras da carne. A verdadeira liberdade cristã consiste em viver no ESPÍRITO e cumprir a lei de CRISTO (5,6).
Gálatas contém uma síntese do feitio dos crentes judaicos que se opunham à Paulo na Galácia, em Antioquia e em Jerusalém (At 15.1,2,5) e na maioria dos lugares onde ele trabalhou.
Características Especiais
Quatro fatos singulares caracterizam esta epístola. (1) É a defesa mais veemente no NT da natureza do evangelho. Seu tom é enérgico, intenso e urgente, uma vez que Paulo lida com oponentes em erro (e.g., Gl 1.8,9; 5.12), enquanto repreende os gálatas por se deixarem iludir tão facilmente (1.6; 3.1; 4.19,20). (2) Quanto ao número de referências autobiográficas, Gálatas é superada somente por 2 Coríntios. (3) Esta é a única epístola de Paulo em que ele explicitamente se dirige a várias igrejas (ver, no entanto, a introdução a Efésios). (4) Contém a descrição do fruto do ESPÍRITO (5.22,23) e a lista mais completa do NT das obras da carne (5.19-21).
 
 
EFÉSIOS
Autor: Paulo
Tema: CRISTO e Sua Igreja
Data: Cerca de 62 d.C.


Considerações Preliminares
Efésios é um dos picos elevados da revelação bíblica, ocupando lugar único entre as Epístolas de Paulo. Ela não foi elaborada no árduo trabalho da bigorna da controvérsia doutrinária ou dos problemas pastorais (como muitas outras epístolas de Paulo). Ao contrário, Efésios transmite a impressão de um rico transbordar de revelação divina, brotando da vida de oração de Paulo. Ele escreveu a carta quando estava prisioneiro por amor a CRISTO (3.1; 4.1; 6.20), provavelmente em Roma. Efésios tem muita afinidade com Colossenses, e talvez tenha sido escrita logo após esta. As duas cartas podem ter sido levadas simultaneamente ao seu destino por um cooperador de Paulo chamado Tíquico (6.21; cf. Cl 4.7).
É crença geral que Paulo escreveu Efésios também para outras igrejas da região, e não apenas a Éfeso. Possivelmente ele a escreveu como carta circular às igrejas de toda a província da Ásia. Muitos crêem que Efésios é a mesma carta aos Laodicenses, mencionada por Paulo em Cl 4.16.
Propósito
O propósito imediato de Paulo ao escrever Efésios está implícito em Ef 1.15-17. Em oração, ele anseia que seus leitores cresçam na fé, no amor, na sabedoria e na revelação do Pai da glória. Almeja profundamente que vivam uma vida digna do Senhor JESUS CRISTO (e.g., Ef 4.1-3; 5.1,2). Paulo, portanto, procura fortalecer-lhes a fé e os alicerces espirituais ao revelar a plenitude do propósito eterno de DEUS na redenção “em CRISTO” (Ef 1.3-14; 3.10-12) à igreja (Ef 1.22,23; 2.11-22; 3.21; 4.11-16; 5.25-27) e a cada crente (Ef 1.15-21; 2.1-10; 3.16-20; 4.1-3,17-32; 5.1—6.20).
Visão Panorâmica
Há dois temas fundamentais no NT: (1) como somos redimidos por DEUS, e (2) como nós, os redimidos, devemos viver. Os capítulos 1—3 de Efésios tratam principalmente do primeiro desses temas, ao passo que os capítulos 4—6 focalizam o segundo.
(1) Os capítulos 1—3 começam por um parágrafo de abertura que é um dos trechos mais profundos da Bíblia (1.3-14). Esse grandioso hino sobre redenção tributa louvores ao Pai pela eleição, predestinação e adoção que Ele nos propiciou (1.3-6), por nossa redenção mediante o sangue do Filho (1.7-12) e pelo ESPÍRITO, como selo e garantia da nossa herança (1.13,14). Nesses capítulos, Paulo ressalta que a redenção pela graça mediante a fé, DEUS nos reconcilia consigo mesmo (2.1-10) e com outros que estão sendo salvos (2.11-15), e, em CRISTO, nos une em um só corpo, a igreja (2.16-22). O alvo da redenção é “tornar a congregar em CRISTO todas as coisas... tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (1.10). (2) Os capítulos 4—6 consistem mais de instruções práticas para a igreja no tocante aos requisitos que a redenção em CRISTO demanda de nossa vida individual e coletiva. Entre as 35 diretrizes dadas em Efésios, sobre como os redimidos devem viver, destacam-se três categorias gerais. (1) Os crentes são chamados a uma nova vida de pureza e separação do mundo. São chamados a serem “santos e irrepreensíveis diante dele” (1.4), a crescer “para templo santo no Senhor” (2.21), a andar “como é digno da vocação com que fostes chamados” (4.1), a “varão perfeito” (4.13), a viver “em verdadeira justiça e santidade” (4.24), a andar “em amor” (5.2; cf. 3.17-19) e a serem santos “pela palavra” (5.26), a fim de que CRISTO tenha uma “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga... santa e irrepreensível” (5.27). (2) O crente é chamado a um novo modo de viver nos relacionamentos familiares e vocacionais (5.22—6.9). Esses relacionamentos devem ser regidos por princípios de conduta que distingam o crente da sociedade descrente à sua volta. (3) Finalmente, o crente é chamado a manter-se firme contra as astutas ciladas do diabo e as terríveis “hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (6.10-20).
Características Especiais
Há quatro características que predominam nesta epístola. (1) A revelação da grande verdade teológica dos capítulos 1—3 é interrompida por duas grandiosas orações apostólicas. Na primeira, o apóstolo pede para os crentes sabedoria e revelação no conhecimento de DEUS (1.15-23); na segunda, roga que possam conhecer o amor, o poder e a glória de DEUS (Ef 3.14-21). (2) “Em CRISTO”, uma expressão paulina de peso (106 vezes nas epístolas de Paulo), sobressai grandemente em Efésios (cerca de 36 vezes). “Toda bênção espiritual” e todo assunto prático da vida relaciona-se com o estar “em CRISTO”. (3) Efésios salienta o propósito e alvo eterno de DEUS para a igreja. (4) Há um realce multifacetado do papel do ESPÍRITO SANTO na vida cristã (Ef 1.13,14,17; 2.18; 3.5,16,20; 4.3,4,30; 5.18; 6.17,18). (5) Efésios é tida, às vezes, como epístola gêmea de Colossenses, pelo fato de apresentarem definidas semelhanças em seus conteúdos e terem sido escritas quase ao mesmo tempo (ver o esboço das duas).
 
 
FILIPENSES
Autor: Paulo
Tema: Alegria de Viver por CRISTO
Data: Cerca de 62/63 d.C.

 
Considerações Preliminares
A cidade de Filipos, na Macedônia oriental, a 16 km do Mar Egeu, foi assim chamada em homenagem a Filipe II da Macedônia, pai de Alexandre Magno. Nos dias de Paulo, era uma cidade romana privilegiada, tendo uma guarnição militar.
A igreja de Filipos foi fundada por Paulo e sua equipe de cooperadores (Silas, Timóteo, Lucas) na sua segunda viagem missionária, em obediência a uma visão que DEUS lhe dera em Trôade (At 16.9-40). Um forte elo de amizade desenvolveu-se entre o apóstolo e a igreja em Filipos. Várias vezes a igreja enviou ajuda financeira a Paulo (2 Co 11.9; Fp 4.15,16) e contribuiu generosamente para a coleta que o apóstolo providenciou para os crentes pobres de Jerusalém (cf. 2 Co 8-9). Parece que Paulo visitou a igreja duas vezes na sua terceira viagem missionária (At 20.1,3,6).
Propósito
Da prisão (Fp 1.7,13,14), certamente em Roma (At 28.16-31), Paulo escreveu esta carta aos crentes filipenses para agradecer-lhes pela sua oferta generosa, cujo portador foi Epafrodito (Fp 4.14-19) e para informá-los do seu estado pessoal. Além disso, escreveu para transmitir à congregação a certeza do triunfo do propósito de DEUS na sua prisão (Fp 1.12-30), para assegurar à igreja que o mensageiro por ela enviado (Epafrodito) cumprira fielmente a sua tarefa e que não estava voltando antes do devido tempo (Fp 2.25-30), e para levar os membros da igreja a se esforçarem para conhecer melhor o Senhor, conservando a unidade, a humildade, a comunhão e a paz.
Visão Panorâmica
Diferente de muitas das cartas de Paulo, Filipenses não foi escrita primeiramente devido a problemas ou conflitos na igreja. Sua tônica básica é de cordial afeição e apreço pela congregação. Da saudação inicial (1.1) à bênção final (4.23), a carta focaliza CRISTO JESUS como o propósito da vida e a esperança da vida eterna por parte do crente. Nesta epístola, Paulo trata de três problemas menores em Filipos: (1) O desânimo dos crentes ali, por causa da prisão prolongada de Paulo (1.12-26); (2) pequenas sementes de discórdia entre duas mulheres da igreja (4.2; cf. 2.2-4); e (3) a ameaça de deslealdade sempre presente entre as igrejas, por causa dos mestres judaizantes e dos crentes de mentalidade terrena (cap. 3). Em meio a esses três problemas em potencial, temos os ensinos mais ricos de Paulo sobre (1) alegria em meio a todas as circunstâncias da vida (e.g., Fp 1.4,12; 2.17,18; 4.4,11-13), (2) a humildade e serviço cristãos (2.1-16), e (3) o valor incomensurável de conhecer a CRISTO (cap. 3).
Características Especiais
Cinco assuntos principais caracterizam esta epístola. (1) Ela é muito pessoal e afetuosa, refletindo assim o estreito relacionamento entre Paulo e os crentes filipenses. (2) É altamente cristocêntrica, revelando a estreita comunhão entre Paulo e CRISTO (e.g., 1.21; 3.7-14). (3) Contém uma das declarações cristológicas mais profundas da Bíblia (2.5-11). (4) É preeminentemente a “Epístola da Alegria” no NT. (5) Apresenta um modelo de vida cristã dinâmica e resignada, inclusive o viver humilde e como servo (2.1-8); prosseguir com firmeza para o alvo (3.13,14); regozijar-se sempre no Senhor (4.4); libertar-se da ansiedade (4.6), contentar-se em todas as circunstâncias (4.11) e fazer todas as coisas mediante a potente graça de CRISTO (4.13).
 
 
COLOSSENSES
Autor: Paulo
Tema: A Supremacia de CRISTO
Data: Cerca de 62 d. C.


Considerações Preliminares
A cidade de Colossos estava localizada perto de Laodicéia (cf. 4.16), no sudeste da Ásia Menor, cerca de 160 quilômetros a leste de Éfeso. A igreja colossense, tudo indica, foi fundada como resultado do grandioso ministério de Paulo em Éfeso, durante três anos (At 20.31), cujos efeitos foram tão poderosos e de tão grande alcance que “todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor JESUS” (At 19.10). Paulo talvez nunca tenha visitado Colossos pessoalmente (2.1), mas mantivera contatos com a igreja através de Epafras, um dos seus convertidos e cooperadores naquela cidade (Cl 1.7; 4.12).
O motivo desta epístola foi o surgimento de ensinos falsos na igreja colossense, ameaçando o seu futuro espiritual (2.8). Quando Epafras, dirigente da igreja colossense e seu provável fundador, viajou com o objetivo de visitar Paulo e informar-lhe a respeito da situação em Colossos (1.8; 4.12), Paulo então escreveu esta epístola. Nessa ocasião Paulo estava preso (4.3,10,18), possivelmente em Roma (At 28.16-31), aguardando comparecer perante César (At 25.11,12). O cooperador de Paulo, Tíquico, entregou pessoalmente a carta em Colossos, em nome do apóstolo (4.7).
Não está descrita claramente na carta a heresia surgida em Colossos, uma vez que os leitores originais a conheciam bem. No entanto, pelas refutações de Paulo ao falso ensino, deduz-se que era uma mistura estranha de ensinos cristãos, tradições judaicas extrabíblicas e filosofias pagãs (semelhante ao sincretismo religioso das seitas falsas de hoje). Tal ensino subvertia e substituía a centralidade de JESUS.
Propósito
Paulo escreveu esta carta: (1) para combater os falsos ensinos em Colossos, que estavam suplantando a centralidade e supremacia de JESUS CRISTO na criação, na revelação, na redenção e na igreja; e (2) para ressaltar a verdadeira natureza da nova vida em CRISTO e suas exigências para o crente.
Visão Panorâmica
Depois de saudar a igreja e expressar gratidão pela fé, amor e esperança dos crentes colossenses, bem como pelo seu progresso contínuo, Paulo focaliza dois assuntos principais: a doutrina correta (Cl 1.13—2.23) e exortações práticas (3.1—4.6).
Teologicamente, Paulo enfatiza o verdadeiro caráter e glória do Senhor JESUS CRISTO. Ele é a imagem do DEUS invisível (1.15), a plenitude da deidade em forma corpórea (2.9), o criador de todas as coisas (1.16,17), o cabeça da igreja (1.18) e a fonte toda suficiente da nossa salvação (Cl 1.14,20-22). Enquanto CRISTO é todo suficiente, a heresia colossense é totalmente insuficiente — vazia, enganosa e humanista (2.8); de espiritualidade superficial e arrogante (2.18) e sem poder contra os apetites pecaminosos do corpo (2.23).
Nas suas exortações práticas, Paulo faz um apelo em favor de uma vida alicerçada na suficiência completa de CRISTO, como o único meio de progresso no viver cristão. A realidade da habitação de CRISTO neles (1.27) deve evidenciar-se na conduta cristã (3.1-17), no relacionamento doméstico (Cl 3.18—4.1) e na disciplina espiritual (4.2-6).
Características Especiais
Três características principais tem esta epístola. (1) Mais do que qualquer outro livro do NT, Colossenses focaliza a dupla verdade da preeminência de CRISTO e da perfeição do crente nEle. (2) Afirma com toda intensidade a plena divindade de CRISTO (2.9) e contém um dos trechos mais sublimes do NT a respeito da sua glória (1.15-23). (3) Às vezes, Colossenses é tida como uma “epístola gêmea” de Efésios, porque as duas têm certas semelhanças de conteúdo, e foram escritas provavelmente na mesma época.
 
 
1 TESSALONICENSES
Autor: Paulo
Tema: A Volta de CRISTO
Data: Cerca de 51 d.C.

 
Considerações Preliminares
Tessalônica, situada há pouco menos de 160 km a sudoeste de Filipos, era a capital, cidade principal e porto da província romana da Macedônia. Entre os 200.000 habitantes da cidade, havia ali uma grande comunidade judaica. Quando Paulo fundou a igreja tessalonicense, na sua segunda viagem missionária, seu frutífero ministério ali foi encerrado prematuramente devido à intensa hostilidade judaica (At 17.1-9).
Forçado a sair de Tessalônica, Paulo foi a Beréia, onde outro ministério breve, porém bem- sucedido, foi interrompido pela perseguição movida pelos judeus que o seguiram desde Tessalônica (At 17.10-13). A seguir, viajou para Atenas (At 17.15-34), onde Timóteo se encontrou com ele; depois, Paulo enviou Timóteo de volta à Tessalônica para verificar a condição da nova igreja (3.1-5); ao mesmo tempo, Paulo seguiu para Corinto (At 18.1-17). Timóteo, ao completar sua tarefa, viajou para Corinto levando a Paulo informações sobre a igreja tessalonicense (3.6-8), o que levou Paulo a escrever esta carta, talvez três a seis meses após fundada a igreja.
Propósito
Por ter sido Paulo forçado pela perseguição a sair de Tessalônica, os novos convertidos receberam apenas um mínimo de ensino sobre a vida cristã. Ao saber Paulo, por meio de Timóteo, das reais circunstâncias, escreveu esta epístola (1) para expressar sua alegria pela fé e perseverança dos tessalonicenses em meio à perseguição, (2) para instruí-los na santidade e na vida piedosa e (3) para elucidar certas doutrinas, especialmente no tocante à situação dos crentes que morrem antes da volta de CRISTO.
Visão Panorâmica
Depois de saudar a igreja (1.1), Paulo, com alegria, enaltece os tessalonicenses pelo seu zelo e fé perseverantes em meio à adversidade (1Ts 1.2-10; 2.13-16). Responde às críticas contra ele, relembrando à igreja a pureza dos seus motivos (2.1-6), a sinceridade da sua afeição e solicitude pelo rebanho (1Ts 2.7,8,17-20; 3.1-10) e a integridade da sua conduta entre eles (2.9-12). Paulo destaca a necessidade e importância da santidade e do poder na vida cristã. O crente precisa ser santo (1Ts 3.13; 4.1-8; 5.23,24), e o evangelho, acompanhado pelo poder e manifestação do ESPÍRITO SANTO (1.5). Paulo admoesta os tessalonicenses a não extinguirem o ESPÍRITO, ao desprezar as suas manifestações, especialmente a profecia (5.19,20).
Um tema de destaque é a volta de CRISTO para livrar seu povo da ira de DEUS sobre a terra (1Ts 1.10; 4.13-18; 5.1-11). Parece que alguns crentes haviam morrido em Tessalônica, motivando preocupação sobre a sua salvação final. Por isso, Paulo explica o plano de DEUS para os santos que já tiverem partido quando CRISTO voltar para buscar a sua igreja (4.13-18), e exorta os vivos sobre a importância de estarem preparados quando Ele vier (1Ts 5.1-11). Paulo termina a carta com uma oração pela santificação e preservação espiritual dos tessalonicenses (5.23,24).
Características Especiais
São quatro as características principais desta epístola. (1) Ela foi um dos primeiros livros escritos do NT. (2) Contém textos chaves do NT sobre a ressurreição dos santos falecidos por ocasião do arrebatamento da igreja (4.13-18), e a respeito do “Dia do Senhor” (5.1-11). (3) Todos os cinco capítulos fazem referência à volta de CRISTO e à relevância deste evento para os salvos (1Ts 1.10; 2.19; 3.13; 4.13-18; 5.1-11,23). (4) Oferece uma visão única (a) do estado de uma igreja zelosa, mas imatura, no começo da década de 50 d.C., e (b) das características do ministério de Paulo como pioneiro do evangelho.
 
 
2 TESSALONICENSES
Autor: Paulo
Tema: A Volta de CRISTO
Data: Cerca de 51 ou 52 d.C.

 
Considerações Preliminares
Ao escrever Paulo esta epístola, a situação na igreja de Tessalônica era quase a mesma da ocasião em que ele escreveu a primeira carta (ver introdução a 1 Tessalonicenses). É provável, pois, que esta carta tenha sido escrita apenas poucos meses depois de 1 Tessalonicenses, quando Paulo ainda se encontrava trabalhando em Corinto com Silas e Timóteo (1.1; cf. At 18.5). Tudo indica que Paulo, ao ser informado do acolhimento da sua primeira carta e do progresso dos crentes tessalonicenses, foi movido a escrever esta segunda carta.
Propósito
O propósito de Paulo nesta epístola é semelhante ao de 1 Tessalonicenses: (1) animar seus novos convertidos perseguidos; (2) exortá-los a dar bom testemunho cristão e a trabalhar cada um pelo seu sustento; e (3) corrigir certos erros doutrinários sobre eventos dos tempos do fim, ligados ao Dia do Senhor (“Dia de CRISTO’’) (2.2).
Visão Panorâmica
O tom da primeira carta de Paulo aos tessalonicenses é o de uma ama que cria os seus filhos (1 Ts 2.7). Na segunda, o tom é primeiramente o de um pai que disciplina os filhos desobedientes para corrigir seus caminhos (2Ts 3.7-12; cf. 1 Ts 2.11). Elogia-os, porém, pela sua fé perseverante e volta a encorajá-los a permanecer fiéis em todas as perseguições (1.3-7).
A seção principal da carta trata do Dia do Senhor, no seu aspecto escatológico (2Ts 2.1-12; cf. 2Ts 1.7-10). Afigura-se de 2.2 que alguns em Tessalônica afirmavam por “espírito” (suposta revelação profética), por “palavra” (mensagem verbal) ou “epístola” (supostamente escrita por Paulo), que o tempo da grande tribulação e o Dia do Senhor já haviam começado. Paulo corrige tal erro, declarando que três eventos notáveis assinalarão e precederão a chegada do Dia do Senhor (2.2): (1) ocorrerá uma grande apostasia e rebelião (2.3); (2) a restrição determinada por DEUS para resistir à injustiça, será removida (2.6,7); e (3) “o homem do pecado” se revelará (2Ts 2.3,4,8-11). Paulo repreende aqueles que, na igreja, estavam se aproveitando da expectativa da iminente volta de CRISTO como desculpa para a ociosidade. Exorta os crentes a serem diligentes e disciplinados no seu viver (2Ts 3.6-12).
Características Especiais
Três são as características especiais desta epístola. (1) Ela contém um dos trechos mais completos do NT a respeito da iniquidade e da impostura desenfreadas, no final dos tempos (2Ts 2.3-12). (2) O justo juízo de DEUS, vinculado à segunda vinda de CRISTO é descrito aqui em termos apocalípticos, como no livro de Apocalipse (1.6-10; 2.8). (3) Emprega termos descritivos do Anticristo que não se acham noutras partes da Bíblia (2.3,8).
 
1 TIMÓTEO
Autor: Paulo
Tema: A Sã Doutrina e as Boas Obras
Data: Cerca de 65/66 d.C.

 
Considerações Preliminares
1 e 2 Timóteo e Tito — comumente chamadas “epístolas pastorais” — são cartas escritas por Paulo (1.1; 2 Tm 1.1; Tt 1.1) a Timóteo (em Éfeso) e Tito (em Creta) concernente ao cuidado pastoral das igrejas. Alguns críticos questionam a autoria destas cartas por Paulo, mas a igreja primitiva corroborava sua autoria paulina. Embora haja diferenças de estilo e de vocabulário nas epístolas pastorais ao compará-las com as outras cartas de Paulo, estas diferenças podem decorrer da avançada idade de Paulo e sua solicitude pessoal com os ministérios de Timóteo e de Tito. 
Paulo escreveu 1 Timóteo depois dos eventos relatados no fim de Atos a primeira prisão de Paulo em Roma (At 28) terminou, segundo parece, com a sua libertação (2 Tm 4.16,17). Posteriormente, segundo Clemente de Roma (cerca de 96 d.C.) e o Cânon Muratoriano (cerca de 190 d.C.), Paulo viajou de Roma, dirigindo-se para o oeste, até a Espanha, e ministrou a Palavra de DEUS ali, como era seu desejo há longo tempo (cf. Rm 15.23,24,28). Conforme relatam as Epístolas Pastorais, Paulo, a seguir, voltou à região do mar Egeu (especialmente Creta, Macedônia e Grécia) e aí continuou seu ministério. Durante esse período (cerca de 64,65 d.C.), Paulo comissionou Timóteo como seu representante apostólico para ministrar em Éfeso, e Tito para fazer o mesmo em Creta. Da Macedônia, Paulo escreveu sua primeira carta a Timóteo, e, pouco mais tarde, escreveu a Tito. Posteriormente, Paulo foi preso de novo em Roma, quando então escreveu uma segunda carta a Timóteo pouco antes do seu martírio em 67/68 (ver 2 Tm 4.6-8; ver também introdução a 2 Timóteo).
Propósito
Paulo teve um tríplice propósito ao escrever 1 Tm: (1) exortar o próprio Timóteo a respeito do seu ministério e da sua vida pessoal; (2) exortar Timóteo a defender a pureza do evangelho e seus santos padrões da corrupção causada por falsos mestres; e (3) dar a Timóteo instruções a respeito de vários assuntos e problemas de Éfeso.
Visão Panorâmica
Um dos cuidados principais que Paulo transmite ao seu jovem auxiliar é que Timóteo lute com denodo pela fé e refute os falsos ensinos que estavam comprometendo o poder salvífico do evangelho (1Tm 1.3-7; 4.1-8; 6.3-5,20,21). Paulo também instrui Timóteo a respeito das qualificações espirituais e pessoais dos dirigentes da igreja, e oferece um quadro geral das qualidades de um obreiro candidato a futuro pastor de igreja (ver a lista detalhada das qualidades de ministros e diáconos no esboço supra).
Entre outras coisas, Paulo ensina a Timóteo sobre o relacionamento pastoral com os vários grupos dentro da igreja, como as mulheres em geral (1Tm 2.9-15; 5.2), as viúvas (1Tm 5.3-16), os homens mais idosos e os mais jovens (5.1), os presbíteros (5.17-25), os escravos (6.1,2), os falsos mestres (6.3-6) e os ricos (1Tm 6.7-10,17-19). Paulo confia a Timóteo cinco tarefas distintas para ele cumprir (1Tm 1.18-20; 3.14-16; 4.11-16; 5.21-25; 6.20-21). Nesta epístola, Paulo exprime sua afeição a Timóteo como seu convertido e filho na fé, e estabelece um elevado padrão de piedade para a vida dele e da igreja. 
Características Especiais
Quatro características se projetam nesta epístola. (1) É dirigida diretamente a Timóteo como representante de Paulo na igreja de Éfeso, daí a carta ser muito pessoal e escrita com profunda emoção e sentimento. (2) Juntamente com 2 Tm, ressalta mais do que qualquer outra epístola do NT a responsabilidade pastoral de manter o evangelho puro e livre de falsos ensinos que enfraqueçam o seu poder salvífico. (3) Enfatiza o valor supremo do evangelho, a influência demoníaca corruptora do evangelho, a santa vocação da igreja e as altas qualificações que DEUS requer para os seus obreiros. (4) Fornece a orientação mais específica do NT sobre o correto relacionamento do pastor com os grupos sociais da igreja segundo a idade e sexo deles.
 
2 TIMÓTEO
Autor: Paulo
Tema: Perseverança Inabalável na Fé
Data: Cerca de 67 d.C.

 
Considerações Preliminares
Esta é a última carta de Paulo. Ela foi escrita quando o imperador Nero procurava impedir a expansão da fé cristã em Roma, perseguindo severamente os crentes. E Paulo voltara a ser prisioneiro do imperador em Roma (1.16,17). Estava sofrendo privações como se fosse um criminoso comum (2.9), abandonado pela maioria dos seus amigos (1.15), e tinha consciência de que o seu ministério terminara, e que sua morte se aproximava (2Tm 4.6-8,18; ver introdução a 1 Timóteo para um exame mais completo da autoria e do contexto da epístola).
Paulo escreve a Timóteo como “amado filho” (1.2) e fiel cooperador (cf. Rm 16.21). Sua intimidade com Timóteo e sua confiança nele percebe-se no fato de o apóstolo mencioná-lo como seu cooperador na escrita de seis epístolas, de Timóteo haver permanecido consigo durante sua primeira prisão (Fp 1.1; Cl 1.1; Fm 1), e de lhe haver escrito duas cartas pessoais. Ante sua execução iminente, Paulo pede duas vezes a Timóteo que venha estar novamente com ele em Roma (4.9,21). Timóteo ainda residia em Éfeso quando Paulo lhe enviou esta segunda epistola (1 Tm 1.3; 2 Tm 1.18). Nesta epístola, o apóstolo envia saudações a Onesíforo que residia em Éfeso (1.16), e igualmente para o casal Áquila e Priscila (4.19).
Propósito
Sabendo Paulo que Timóteo era tímido e enfrentava adversidades no ministério, e divisando a sombria perspectiva de forte perseguição vinda de fora, contra a igreja, e da atividade nociva dos falsos mestres dentro dela, ele exorta Timóteo a defender o evangelho, a pregar a Palavra, a perseverar na tribulação e a cumprir sua missão.
Visão Panorâmica
No capítulo 1, Paulo assegura a Timóteo o seu incessante amor e orações, e exorta-o a nunca transigir na fidelidade ao evangelho, a guardar com diligência a verdade e a seguir o seu exemplo.
No capítulo 2, Paulo incumbe seu filho espiritual a preservar a fé, transmitindo suas verdades a homens fiéis que, por sua vez, ensinarão a outros (2.2). Admoesta o jovem pastor a sofrer as aflições como bom soldado (2.3), a servir a DEUS com diligência e a manejar corretamente a palavra da verdade (2Tm 2.15), a separar-se daqueles que se desviam da verdade apostólica (2.18-21), a manter-se puro (2.22) e a trabalhar com paciência como mestre (2Tm 2.23-26).
No capítulo seguinte, Paulo declara a Timóteo que o mal e a apostasia aumentarão (3.1-9), porém, ele precisa permanecer sempre, e em tudo, leal às Escrituras (3.10-17).
No capítulo final, Paulo incumbe Timóteo de pregar a Palavra e de cumprir todos os deveres do seu ministério (2Tm 4.1-5). Termina, informando a Timóteo quanto aos seus assuntos pessoais, quando ele já encarava a morte, e instando com o jovem pastor a vir logo ao seu encontro (2Tm 4.6-21).
Características Especiais
Há cinco características principais nesta epístola. (1) Contém as últimas palavras escritas por Paulo antes da sua execução por ordem de Nero, em Roma, uns 35 anos depois da sua conversão a CRISTO, na estrada de Damasco. (2) Contém uma das declarações mais claras, na Bíblia, a respeito da inspiração divina das Escrituras e do seu propósito (3.16,17); Paulo reafirma que as Escrituras devem ser interpretadas com exatidão pelos ministros da Palavra (2.15) e insiste que a Palavra de DEUS seja confiada a homens fiéis que, por sua vez, possam ensinar a outros (2.2). (3) Do começo ao fim da carta aparecem exortações sucintas, e.g., “despertes o dom de DEUS” (1.6), “não te envergonhes” (1.8), sofre pelo evangelho (1.8), “conserva o modelo das sãs palavras” (1.13), guarda a verdade (1.14), “fortifica-te na graça” (2.1), passa adiante a mensagem (2.2), sofre as aflições (2.3), sê diligente na Palavra (2.15), “evita os falatórios profanos” (2.16), “foge dos desejos da mocidade e segue a justiça” (2.22), acautela-te da apostasia que há de vir (3.1-9), permanece na verdade (3.14), “pregues a palavra” (4.2), “faze a obra de um evangelista” (4.5) e “cumpre o teu ministério” (4.5). (4) Os temas iterativos destas muitas exortações são: manter firme a fé (em JESUS CRISTO e no evangelho apostólico original), guardá-la da distorção e da corrupção, opor-se aos falsos mestres e pregar o evangelho com perseverança inabalável. (5) O testemunho de despedida de Paulo é um exemplo comovedor de coragem e esperança diante do martírio sentenciado (4.6-8).
 
TITO
Autor: Paulo
Tema: A Sã Doutrina e as Boas Obras
Data: Cerca de 65/66 d.C.

 
Considerações Preliminares
Tito, como 1 e 2 Timóteo, é uma carta pessoal de Paulo a um dos seus auxiliares mais jovens. É chamada de “epístola pastoral” porque trata de assuntos relacionados com a ordem e o ministério na igreja. Tito, um gentio convertido (Gl 2.3), tornou-se íntimo companheiro de Paulo no ministério apostólico. Embora não mencionado nominalmente em Atos (por ser, talvez, irmão de Lucas), o grande relacionamento entre Tito e o apóstolo Paulo vê-se (1) nas treze referências a Tito nas epístolas de Paulo, (2) no fato de ele ser um dos convertidos e fruto do ministério de Paulo (1.4; como Timóteo), e um cooperador de confiança (2 Co 8.23), (3) pela sua missão de representante de Paulo em pelo menos uma missão importante a Corinto durante a terceira viagem missionária do apóstolo (2 Co 2.12,13; 7.6-15; 8.6, 16-24), e (4) pelo seu trabalho como cooperador de Paulo em Creta (1.5).
Paulo e Tito trabalharam juntos por um breve período na ilha de Creta (a sudoeste da Ásia Menor, no Mar Mediterrâneo), no período entre a primeira e a segunda prisão de Paulo em Roma (ver introdução a 1 Timóteo). Paulo deixou Tito em Creta cuidando da igreja ali (1.5), enquanto ele (Paulo) seguia adiante para a Macedônia (cf. 1 Tm 1.3). Algum tempo depois, Paulo escreveu esta carta a Tito, incumbindo-o de completar a tarefa em Creta que os dois haviam começado juntos. É provável que Paulo tivesse mandado a carta pelas mãos de Zenas e Apolos, que passaram por Creta, em viagem (3.13).
Nesta carta, Paulo informa sobre seus planos para enviar Ártemas ou Tíquico para substituir Tito dentro em breve. E nessa ocasião Tito devia encontrar-se com Paulo em Nicópolis (Grécia), onde o apóstolo planejava passar o inverno (3.12). Sabemos que isto aconteceu, já que na ocasião posterior, Paulo designara Tito para a Dalmácia, no litoral oriental do mar Adriático (na ex-Iugoslávia), em cuja região ficava Nicópolis, na Grécia (3.12).
Propósito
Paulo escreveu primeiramente para instruir Tito na sua tarefa de (1) pôr em ordem o que ele (Paulo) deixara inacabado nas igrejas de Creta, inclusive a instituição de presbíteros nessas igrejas (1.5); (2) ajudar as igrejas a crescerem na fé, no conhecimento da verdade e em santidade (1.1); (3) silenciar falsos mestres (1.11); e (4) vir até Paulo, uma vez substituído por Ártemas ou Tíquico (3.12).
Visão Panorâmica
Nesta epístola, Paulo examina quatro assuntos principais. (1) Ensina Tito a respeito do caráter e das qualificações espirituais necessárias a todos os que são separados para o ministério na igreja. Os presbíteros devem ser homens piedosos, de caráter cristão comprovado, e bem-sucedidos na direção da sua família (1.5-9). (2) Paulo manda Tito ensinar a sã doutrina, repreender e silenciar falsos mestres (Tt 1.10—2.1). No decurso da carta, Paulo apresenta dois breves resumos da sã doutrina (Tt 2.11-14; 3.4-7). (3) Paulo descreve para Tito (cf. 1 Tm 5.1—6.2) o devido papel dos anciãos (2.1, 2), das mulheres idosas (2.3,4), das mulheres jovens (2.4,5), dos homens jovens (2.6-8) e dos servos (2.9,10). (4) Finalmente, Paulo enfatiza que as boas obras e uma vida de retidão são o devido fruto da fé genuína (Tt 1.16; 2.7,14; 3.1, 8, 14; cf. Tg 2.14-26).
Características Especiais
Três características principais temos nesta epístola. (1) Dois breves resumos da verdadeira natureza da salvação em JESUS CRISTO (Tt 2.11-14; 3.4-7). (2) A igreja e o seu ministério devem estar edificados sobre firmes alicerces espirituais, teológicos e éticos. (3) Contém uma das duas listas no NT enumerando as qualificações necessárias à direção da igreja (1.5-9; cf. 1 Tm 3.1-13).
 
FILEMOM
Autor: Paulo
Tema: Reconciliação
Data: Cerca de 62 d.C.

 
Considerações Preliminares
Paulo escreveu esta “epístola da prisão” (vv. 1, 9) como uma carta pessoal a um homem chamado Filemom, mais provavelmente durante sua primeira prisão em Roma (At 28.16-31). Os nomes idênticos mencionados em Filemom (vv. 1,2, 10, 23,24) e em Colossenses (Cl 4.9,10-17), indicam que Filemom morava em Colossos e que as duas cartas foram escritas e entregues juntas.
Filemom era um senhor de escravos (v. 16) e membro da igreja de Colossos (compare vv. 1,2 com Cl 4.17), talvez um convertido de Paulo (v. 19). Onésimo era um escravo de Filemom que fugira para Roma; ali, teve contato com Paulo, que o levou a CRISTO. Desenvolveu-se um forte vínculo de amizade entre os dois (vv 9-13). Agora, Paulo, um tanto apreensivo, envia Onésimo de volta a Filemom, acompanhado por Tíquico, cooperador de Paulo, levando esta carta (cf. Cl 4.7-9).
Propósito
Paulo escreveu a Filemom para tratar do problema específico do escravo fugitivo deste, Onésimo. Segundo a lei romana, um escravo fugitivo era passível da pena de morte. Paulo intercede junto a Filemom em favor de Onésimo e pede-lhe que graciosamente receba Onésimo de volta, como um irmão crente e como companheiro de Paulo, com o mesmo amor com que acolheria o próprio Paulo.
Visão Panorâmica
Eis o apelo de Paulo a Filemom: (1) Roga que Filemom, como irmão na fé cristã (vv. 8,9, 20,21), receba Onésimo de volta, não como escravo, mas como irmão em CRISTO (vv. 15,16). (2) Num trocadilho (no grego), Paulo chama atenção para o fato que Onésimo (cujo nome significa “útil”) era anteriormente “inútil”, mas agora é “útil” tanto a Paulo como a Filemom (vv. 10-12). (3) Paulo queria que Onésimo permanecesse com ele em Roma, mas prefere enviá-lo de volta ao seu legítimo senhor (vv. 13,14). (4) Paulo oferece-se para pagar a dívida de Onésimo e relembra a Filemom que este deve sua vida ao Apóstolo (vv. 17-19). A carta termina com saudações dalguns dos cooperadores de Paulo em Roma (vv. 23,24) e com uma bênção (v. 25).
Características Especiais
Três características principais acham-se nesta epístola. (1) Essa é a mais breve de todas as epístolas de Paulo. (2) Mais do que qualquer outra parte do NT, ela ilustra como Paulo e a igreja primitiva tratavam do problema da escravidão no império romano. Ao invés de atacá-la diretamente ou de instigar rebelião armada, Paulo expôs princípios cristãos que eliminavam a severidade da escravidão romana e que finalmente levaram à sua abolição total no meio da Cristandade. (3) Oferece um vislumbre incomparável da natureza íntima de Paulo, pois este se identificou tanto com um escravo que o chamou de “meu coração” (v. 12).
 
 
EPÍSTOLAS GERAIS - Comentários BEP - CPAD
 
HEBREUS (EU INCLUIRIA A AUTORIA DE PAULO AQUI)
 
Autor: Desconhecido
Tema: Um Melhor Concerto
Data: Cerca de 67-69 d.C.

 
Considerações Preliminares
Este livro foi destinado originalmente aos cristãos de Roma. O seu título, nos manuscritos gregos mais antigos, diz apenas “Aos Hebreus”. Seu conteúdo, no entanto, revela que foi escrito a cristãos judeus. O emprego que o autor fez da Septuaginta (versão grega do AT), nas citações do AT, indica que os primeiros leitores foram provavelmente judeus de idioma grego que viviam fora da Palestina. A expressão “Os da Itália vos saúdam” (13.24) significa provavelmente que o autor escrevia para Roma, e que na ocasião incluiu saudações de crentes italianos que viviam longe da pátria. Os destinatários podem ter sido igrejas em lares, da comunidade cristã de Roma, das quais algumas estavam a ponto de abandonar a fé em JESUS e voltar para a antiga fé judaica por causa da perseguição e do desânimo.
O escritor não se identifica no título original, nem através do livro, embora fosse bem conhecido dos seus leitores (Hb 13.18-24). Por alguma razão, perdeu-se a sua identidade ao findar-se o século I. Posteriormente, na tradição da igreja primitiva (séculos II ao IV), surgiram muitas opiniões diferentes sobre o possível escritor de Hebreus. A opinião de que Paulo haja sido o autor não tinha aceitação até o século V.
Muitos eruditos conservadores descartam a autoria de Paulo, uma vez que o estilo esmerado e alexandrino do autor, seu embasamento na Septuaginta, sua maneira de introduzir as citações do AT, seu método de argumentar e ensinar, a estrutura da argumentação e a omissão da sua identificação pessoal são características muito diferentes das de Paulo. Além disso, enquanto Paulo sempre apela à sua revelação recebida diretamente de CRISTO (cf. Gl 1.11,12), esse escritor demonstra ser um dos cristãos da segunda geração aos quais o evangelho fora confirmado por testemunhas oculares do ministério de JESUS (2.3). Entre os homens mencionados nominalmente no NT, a descrição que Lucas oferece de Apolo, em At 18.24-28, ajusta-se melhor ao perfil do escritor de Hebreus.
Deixando de lado o nome do escritor de Hebreus, uma coisa é certa: ele escreveu na plenitude do ESPÍRITO e com entendimento, revelação e autoridade apostólicos. A ausência de qualquer referência, em Hebreus à destruição do templo de Jerusalém e do seu culto levítico é um forte indício que o autor escreveu antes de 70 d.C.
Propósito
Hebreus foi escrito principalmente para os cristãos judeus que estavam sob perseguição e esmorecimento. O escritor procura fortalecê-los na fé em CRISTO, demonstrando cuidadosamente a superioridade e finalidade da revelação e redenção da parte de DEUS em JESUS CRISTO. Demonstra que as disposições divinas para a redenção vistas no Antigo Concerto se cumpriram e se tornaram obsoletas pela vinda de JESUS e pelo estabelecimento de um Novo Concerto, mediante a sua morte vicária. O escritor anima seus leitores (1) a manterem firme sua confissão de CRISTO até o fim, (2) a prosseguirem para a maturidade espiritual, e (3) não volverem ao estado de condenação caso abandonem a fé em JESUS CRISTO.
Visão Panorâmica
Hebreus parece mais um sermão do que uma epístola. O autor descreve sua obra como “uma palavra de exortação” (13.22). Contém três divisões principais. (1) Primeiro, JESUS, o poderoso Filho de DEUS, é declarado a plena revelação de DEUS à humanidade — maior do que os profetas (Hb 1.1-3), do que os anjos (Hb 1.4—2.18), Moisés (3.1-6) e Josué (4.1-11). Nesta divisão do livro, ocorre uma advertência solene no tocante às consequências do abandono da fé ou do endurecimento do coração pela incredulidade (Hb 2.1-3; 3.7—4.2). (2) A segunda divisão apresenta JESUS como o sumo sacerdote, cujas qualificações (Hb 4.14—5.10; 6.19—7.25), caráter (Hb 7.26-28) e ministério (Hb 8.1—10.18), são perfeitos e eternos. Há uma solene advertência para quem permanecer espiritualmente imaturo ou mesmo “cair” depois de se tornar participante de CRISTO (Hb 5.11—6.12). (3) A divisão final (Hb 10.19—13.17) admoesta enfaticamente os crentes a perseverarem na salvação, na fé, no sofrimento e na santidade.
Características Especiais
Oito características afloram neste livro. (1) No NT é único quanto à sua estrutura: “começa como tratado, desenvolve-se como sermão e termina como carta” (Orígenes). (2) É o texto mais refinado do NT, abeirando-se do estilo do grego clássico, mais do que qualquer outro escritor do NT (com exceção, quiçá, de Lucas, em Lc 1.1-4). (3) É o único escrito do NT que desenvolve o conceito do ministério sumo sacerdotal de JESUS. (4) A cristologia do livro é ricamente variada, apresentando mais de vinte nomes e títulos de JESUS. (5) Sua palavra-chave é “melhor” (13 vezes). JESUS é melhor do que os anjos e todos os mediadores do AT. Ele provê melhor repouso, concerto, esperança, sacerdócio, expiação pelo sacrifício vicário e promessas. (6) Contém o principal capítulo do NT a respeito da fé (cap. 11). (7) Está repleto de referências e alusões ao AT que oferecem um rico conhecimento da interpretação cristã primitiva da história e da adoração no AT, mormente no campo da tipologia. (8) Adverte, mais do que qualquer outro escrito do NT contra os perigos da apostasia espiritual.
 
 
TIAGO
 
Autor: Tiago
Tema: A Fé Manifesta-se pelas Obras
Data: 45-49 d.C.

 
Considerações Preliminares
Tiago é classificada como “epístola universal” porque foi originalmente escrita para uma comunidade maior que uma igreja local. A saudação: “Às doze tribos que andam dispersas” (1.1), juntamente com outras referências (2.19-21), indicam que a epístola foi escrita inicialmente a cristãos judeus que viviam fora da Palestina. É possível que os destinatários fossem os primeiros convertidos em Jerusalém, que, após a morte de Estêvão, foram dispersos pela perseguição (At 8.1) até a Fenícia, Chipre, Antioquia da Síria e além (At 11.19). Isso explicaria (1) a ênfase inicial da carta quanto ao sofrer com alegria as provações que testam a fé e que demandam perseverança (Tg 1.2-12), (2) o conhecimento pessoal que Tiago demonstra ter pelos crentes “dispersos”, e (3) o tom de autoridade da carta. Como pastor da igreja de Jerusalém, Tiago escreve às suas ovelhas dispersas.
A maneira do autor se identificar simplesmente como “Tiago” (1.1), revela sua posição de destaque na obra. Tiago, meio-irmão de JESUS e dirigente da igreja de Jerusalém, é geralmente tido como o autor. Seu discurso no Concílio de Jerusalém (At 15.13-21), bem como as descrições dele noutras partes do NT (e.g., At 12.17; 21.18; Gl 1.19; 2.9,12; 1 Co 15.7) correspondem perfeitamente com o que se sabe dele como autor desta epístola. O mais provável é que Tiago tenha escrito esta epístola durante a década dos 40 d.C. A data tão remota para a escrita provém de vários fatores, e.g., Tiago emprega a palavra grega synagoge (lit. “sinagoga”) para referir-se ao local de reunião dos cristãos (2.2). Segundo o historiador judaico Josefo, Tiago, irmão do Senhor, foi martirizado em Jerusalém, em 62 d.C.
Propósito
Tiago escreveu (1) para encorajar os crentes judeus que enfrentavam várias provações, que punham sua fé à prova, (2) para corrigir crenças errôneas a respeito da natureza da fé salvífica, e (3) para exortar e instruir os leitores concernente ao resultado prático da sua fé na vida de retidão e nas boas obras.
Visão Panorâmica
Esta epístola trata de uma ampla variedade de temas relacionados à verdadeira vida cristã. Tiago exorta os crentes a suportarem com alegria as suas provações e a tirarem proveito delas (Tg 1.2-11), exorta-os a resistirem às tentações (1.12-18), a serem praticantes da Palavra e não apenas ouvintes (1.19-27) e a demonstrarem uma fé ativa, e não uma profissão de fé vazia (Tg 2.14-26). Adverte solenemente contra a pecaminosidade de uma língua indomável (Tg 3.1-12; 4.11,12), a sabedoria carnal (3.13-16), a conduta pecaminosa (Tg 4.1-10), a vida presunçosa (4.13-17), e a riqueza egocêntrica (5.1-6). Tiago encerra ressaltando a paciência, a oração e a restauração dos desviados (5.7-20). Em todos os cinco capítulos destaca-se o relacionamento entre a verdadeira fé e a vida piedosa. A fé genuína é uma fé provada (1.2-16), ativa (Tg 1.19-27), pela qual se ama o próximo como a si mesmo (2.1-13), manifesta-se pelas boas obras (2.14-26), mantém a língua sob rígido controle (3.1-12), busca a sabedoria de DEUS (3.13-18), submete-se a DEUS como justo juiz (4.1-12), confia em DEUS para o viver de cada dia (4.13-17), não é egocêntrica, nem libertina (5.1-6), é paciente no sofrimento (5.7-12) e diligente na
oração (5.13-20).
Características Especiais
Sete características principais assinalam esta epístola. (1) É muito provável que ela tenha sido o primeiro livro do NT a ser escrito. (2) Embora contenha apenas duas referências nominais a CRISTO, há nela mais alusões aos ensinos de JESUS do que todas as demais do NT. Isso inclui 15 referências ao Sermão do Monte. (3) Mais da metade dos seus 108 versículos são expressões imperativas, ou mandamentos. (4) Sob vários aspectos, é o livro de Provérbios do NT, pois (a) está repleto de sabedoria divina e instruções práticas, visando a uma vida cristã realista, e (b) está escrito em estilo sucinto, com preceitos diretos e analogias realistas. (5) Tiago é um hábil observador dos fenômenos naturais e da natureza humana pecaminosa. Repetidas vezes, ele extrai lições disso para desmascarar esta última (e.g., 3.1-12). (6) Mais do que qualquer outro livro do NT, Tiago destaca o devido relacionamento entre a fé e as obras (principalmente Tg 2.14-26). (7) Tiago, às vezes, é chamado o Amós do NT por tratar com firmeza a injustiça e as desigualdade sociais.
 
1 PEDRO
 
Autor: Pedro
Tema: Sofrimento por Amor a CRISTO
Data: Cerca de 60-63 d.C.

 
Considerações Preliminares
Esta é a primeira de duas cartas no NT escritas pelo apóstolo Pedro (1.1; 2 Pe 1.1). Ele testifica que escreveu sua primeira carta com a ajuda de Silvano (cuja forma contrata em grego é Silas), como seu escriba (5.12). O grego fluente de Silvano e seu estilo literário aparecem aqui, enquanto, possivelmente, o grego menos esmerado de Pedro apareça na sua segunda epístola. O tom e o conteúdo de 1 Pedro combinam com o que sabemos a respeito de Simão Pedro. Os anos que viveu em estreito convívio com o Senhor JESUS estão implícitos nas suas referências à morte de JESUS (1Pd 1.11,19; 2.21-24; 3.18; 5.1) e à sua ressurreição (1.3,21; 3.21). Indiretamente, ele parece referir-se, inclusive, às ocasiões em que JESUS lhe apareceu na Galileia, depois da ressurreição (1Pd 2.25; 5.2a; cf. Jo 21.15-23). Além disso, muitas semelhanças ocorrem entre esta carta e os sermões de Pedro registrados em Atos.
Pedro dirige esta carta aos “estrangeiros dispersos” nas províncias romanas da Ásia Menor (1.1). Alguns destes, talvez haja se convertido no dia de Pentecoste, ao ouvirem a mensagem de Pedro, e retornaram às suas respectivas cidades levando a fé que acabavam de conhecer (cf. At 2.9,10). Estes crentes são chamados “peregrinos e forasteiros” (2.11), relembrando-lhes, assim, que a peregrinação cristã ocorre num mundo hostil a JESUS CRISTO; mundo este, do qual só podem esperar perseguição. É provável que Pedro escreveu esta carta em resposta a informes dos crentes da Ásia Menor sobre a crescente oposição a eles (4.12-16), ainda sem consentimento do governo (1Pd 2.12-17).
Pedro escreveu de “Babilônia” (5.13). Isto pode referir-se literalmente à cidade de Babilônia, na Mesopotâmia, ou pode ser uma expressão figurada referente a Roma, o centro principal de oposição a DEUS, no século primeiro. Embora Pedro possa ter visitado alguma vez a grande colônia de judeus ortodoxos em Babilônia, é mais consentâneo entender, aqui, a presença de Pedro, Silas (5.12) e Marcos (5.13), juntos em Roma (Cl 4.10; cf. os comentários de Pápias a respeito de Pedro e Marcos em Roma), no começo da década de 60, do que em Babilônia. Pedro escreveu mais provavelmente entre 60 e 63 d.C., certamente antes do terrível banho de sangue em Roma, ordenado por Nero (64 d.C.).
Propósito
Pedro escreveu esta epístola de alegre esperança a fim de levar o crente a ver a perspectiva divina e eterna da sua vida terrestre e prover orientação prática aos cristãos que se encontravam sob o fogo do sofrimento entre os pagãos. O cuidado de Pedro visava a evitar que os crentes não perturbassem, sem necessidade, o governo, e sim seguissem o exemplo de JESUS no sofrimento, sendo inocente, mas portando-se com retidão e dignidade.
Visão Panorâmica
1 Pedro começa lembrando os leitores (1) de que têm uma vocação gloriosa e uma herança celestial em JESUS CRISTO (1.2-5), (2) de que sua fé e amor nesta vida estarão sujeitos a provas e purificação e que isso resultará em louvor, glória e honra na vinda do Senhor (1.6-9), (3) de que essa grande salvação foi predita pelos profetas do AT (1.10-12), e (4) de que o crente deve viver uma vida santa, bem diferente do mundo ímpio ao seu redor (1Pd 1.13-21). Os crentes, escolhidos e santificados (1.2), são crianças em crescimento que precisam do puro leite da Palavra (2.1-3), são pedras vivas em que estão sendo edificadas como casa espiritual (1Pd 2.4-10) e peregrinos, caminhando em terra estranha (1Pd 2.11,12); devem viver de modo honroso e humilde no seu trato com todas as pessoas durante a sua peregrinação aqui (1Pd 2.13—3.12).
A mensagem preeminente de 1 Pedro diz respeito à submissão e a sofrer, perseverando na retidão, por amor a CRISTO, de conformidade com o próprio exemplo dEle (1Pd 2.18-24; 3.9—5.11). Pedro assegura aos fiéis que eles obterão o favor e a recompensa de DEUS ao sofrerem por causa da justiça. No contexto desse ensino do sofrimento por CRISTO, Pedro ressalta os temas conexos da salvação, da esperança, do amor, da fé, da santidade, da humildade, do temor a DEUS, da obediência e da submissão.
Características Especiais
Cinco características principais vemos nesta epístola. (1) Juntamente com Hebreus e Apocalipse, sua mensagem gira em torno dos crentes sob a perspectiva de severa perseguição, por pertencerem a JESUS CRISTO. (2) Mais do que qualquer outra epístola do NT, contém instruções sobre o comportamento do cristão ante à perseguição e ao sofrimento injustos (1Pd 3.9—5.11). (3) Pedro destaca a verdade de que o crente é estrangeiro e peregrino na terra (1Pd 1.1; 2.11). (4) Muitos dos títulos do povo de DEUS no AT são aplicados aos crentes do NT (e.g., 1Pd 2.5,9,10). (5) Contém um dos trechos do NT de mui difícil interpretação: quando, onde e como JESUS “pregou aos espíritos em prisão, os quais em outro tempo foram rebeldes... nos dias de Noé” (1Pd 3.19,20).
 
2 PEDRO
 
Autor: Pedro
Tema: A Verdade de DEUS e o Falso Ensino dos Homens
Data: Cerca de 66-68 d.C.

 
Considerações Preliminares
Na saudação, Simão Pedro identifica-se como o autor da carta. Mais adiante ele declara aos seus leitores que esta é a sua segunda epístola (3.1), indicando assim que está escrevendo aos mesmos crentes da Ásia Menor, a quem dirigira a primeira epístola (1 Pe 1.1). Visto que Pedro, assim como Paulo, foi executado por decreto do perverso Nero (que, por sua vez, morreu em junho de 68 d.C.), é mais provável que Pedro escreveu esta epístola entre 66 e 68 d.C., pouco antes do seu martírio em Roma (2Pd 1.13-15).
Alguns estudiosos do passado e do presente, ignorando certas notáveis semelhanças entre 1 e 2 Pedro e destacando, ao invés disso, as diferenças entre elas, supõem que não é de Pedro a autoria da carta. Essas diferenças de conteúdo, vocabulário, ênfases e estilo literário podem ser uma decorrência das diferentes circunstâncias de Pedro e de seus leitores, nas duas cartas. (1) As circunstâncias originais dos endereçados haviam mudado. Antes, ardia o fogo da perseguição movida pela sociedade em derredor; agora, eram ataques vindos de dentro, através dos falsos mestres que ameaçavam os fundamentos da igreja: a verdade e a santidade. (2) As circunstâncias de Pedro também eram outras. Enquanto na primeira carta ele contou com a cooperação eficiente de Silvano na escrita (1 Pe 5.12), parece que agora este último não estava disponível ao ser escrita esta segunda epístola. Talvez, Pedro tenha empregado seu próprio grego galileu singelo, ou serviu-se de um escriba menos hábil do que Silvano.
Propósito
Pedro escreveu (1) para exortar os crentes a buscarem com diligência a santidade de vida e o verdadeiro conhecimento de CRISTO e (2) para desmascarar e repudiar a atividade traiçoeira dos falsos profetas e mestres que agiam nas igrejas da Ásia Menor, pervertendo a verdade bíblica. Pedro resume o propósito do livro, em 3.17,18, onde exorta os crentes verdadeiros (1) a estarem alerta para não serem enganados por homens perversos (2Pd 3.17) e (2) a crescer “na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador JESUS CRISTO” (3.18).
Visão Panorâmica
Esta breve epístola solenemente instrui os crentes a tomarem posse da vida e da piedade, mediante o verdadeiro conhecimento de CRISTO. O primeiro capítulo acentua a importância do crescimento cristão. Tendo começado pela fé, o crente deve buscar diligentemente a excelência moral, o conhecimento, a temperança, a perseverança, a piedade, o amor fraternal e a caridade (amor altruísta), que levam à fé madura e ao verdadeiro conhecimento do Senhor JESUS (1.3-11).
O capítulo seguinte adverte solenemente contra os falsos profetas e mestres que surgem dentro das igrejas. Pedro os denuncia como anarquistas e perniciosos (2Pd 2.1,3;3.17), que se comprazem nas concupiscências da carne (2Pd 2.2,7,10,13,14,18,19); são cobiçosos (2.3,14,15), arrogantes (2.18) e obstinados (2.10) e que desprezam a autoridade (2.10-12).
Pedro procura resguardar os verdadeiros crentes contra as suas heresias destrutivas (2.1) pondo a descoberto seus motivos e conduta malignos.
2Pd 3, Pedro refuta o ceticismo desses mestres, no tocante à vinda do Senhor (3.3,4). Assim como a geração dos dias de Noé, enganada, zombava da ideia do juízo da parte de DEUS, através de um grande dilúvio, esses outros zombadores estão igualmente cegos quanto às promessas da volta de CRISTO. Mas, com a mesma certeza manifesta no julgamento pelo dilúvio (3.5,6), CRISTO voltará e desintegrará a presente terra, no fogo (3.7-12), e criará uma nova ordem sob a justiça (3.13). Tendo em vista esse fato, os crentes devem viver vidas santas e piedosas na presente era (3.11,14).
Características Especiais
Esta carta tem quatro características principais. (1) Ela contém uma das declarações de maior peso em toda a Bíblia no tocante à inspiração, à fidedignidade e à autoridade das
Sagradas Escrituras (1.19-21). (2) 2 Pe 2 e a epístola de Judas têm semelhanças notáveis na incriminação dos falsos mestres. Talvez Judas, enfrentando em data posterior o
mesmo problema dos falsos mestres, empregou trechos dos ensinos inspirados de Pedro, para transmitir a mesma lição (ver Introdução a Judas). (3) O capítulo 3 é um dos
grandes capítulos do NT sobre a segunda vinda de CRISTO. (4) Pedro cita indiretamente os escritos de Paulo como Escrituras, ao mencioná-los juntamente com “as outras
Escrituras” (3.15,16).
 

1 JOÃO
 Autor: João

Considerações Preliminares
Cinco livros do NT levam o nome de João: um Evangelho, três epístolas e o Apocalipse. Embora João não se identifique pelo nome nesta epístola, testemunhas do século II (e.g., Papias, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria) afirmam que ela foi escrita pelo apóstolo João, um dos doze primeiros discípulos de JESUS. Fortes semelhanças no estilo, no vocabulário e nos temas, entre 1 João e o Evangelho segundo João, sancionam o testemunho fidedigno dos cristãos primitivos, afirmando que os dois livros foram escritos pelo apóstolo João (ver introdução ao Evangelho segundo João).
Não há indicação dos destinatários desta carta, como também não há saudações, nem menção de pessoas, lugares ou eventos. A explicação mais provável dessa forma rara epistolar é que João escreveu de onde residia, em Éfeso, a certo número de igrejas da província da Ásia, que estavam sob sua responsabilidade apostólica (cf. Ap 1.11).
Visto que as congregações tinham um problema comum e necessidades semelhantes, João escreveu esta epístola como carta circular, enviando-a por um emissário pessoal, juntamente com suas saudações pessoais.
O assunto principal desta epístola é o problema dos falsos ensinos a respeito da salvação em CRISTO e seu processo no crente. Certas pessoas, que anteriormente conviveram com os leitores da epístola, deixaram as congregações (1Jo 2.19), mas os resultados dos seus falsos ensinos continuavam a distorcer o evangelho, quanto a “saber” que tinham a vida eterna. Doutrinariamente, a sua heresia negava que JESUS é o CRISTO (1Jo 2.22; cf. 1Jo 5.1) ou que JESUS veio em carne (1Jo 4.2,3). Na área moral, ensinavam que não era necessário à fé salvífica (cf. 1Jo 1.6; 5.4,5), a obediência aos mandamentos de JESUS (2.3-4; 5.3) e uma vida santa, separada do pecado (1Jo 3.7-12) e do mundo (1Jo 2.15-17).
Propósito
O propósito de João ao escrever esta epístola foi duplo: (1) expor e rebater os erros doutrinários e éticos dos falsos mestres e (2) exortar seus filhos na fé a manter uma vida de santa comunhão com DEUS, na verdade e na justiça, cheios de alegria (1.4) e de certeza da vida eterna (5.13), mediante a fé obediente em JESUS, o Filho de DEUS (1Jo 4.15; 5.3-5,12), e pela habitação interior do ESPÍRITO SANTO (2.20; 4.4,13). Alguns crêem que a epístola também foi escrita como uma sequência do Evangelho segundo João.
Visão Panorâmica
A fé e a conduta estão fortemente entrelaçados nesta carta. Os falsos mestres, aos quais João chama aqui de “anticristos” (1Jo 2.18-22), apartaram-se do ensino apostólico sobre CRISTO e a vida de retidão. De modo semelhante a 2 Pe e Jd 1, 1 Jo refuta e condena com veemência os falsos mestres (e.g., 1Jo 2.18,19,22,23,26; 4.1,3,5) com suas crenças e conduta destruidoras.
Do ponto de vista positivo, 1 Jo expõe as características da verdadeira comunhão com DEUS (e.g., 1Jo 1.3—2.2) e revela cinco evidências específicas pelas quais o crente poderá “saber”, com confiança e certeza, que tem a vida eterna: (1) a evidência da verdade apostólica a respeito de CRISTO (1Jo 1.1-3; 2.21-23; 4.2,3,15; 5.1,5,10,20); (2) a evidência de uma fé obediente que guarda os mandamentos de CRISTO (1Jo 2.3-11; 5.3,4); (3) a evidência de um viver santo, i.e., afastar-se do pecado, para comunhão com DEUS (1Jo 1.6-9; 2.3-6,15-17,29; 3.1-10; 5.2,3); (4) a evidência do amor a DEUS e aos irmãos na fé (1Jo 2.9-11; 3.10,11,14,16-18; 4.7-12,18-21); e (5) a evidência do testemunho do ESPÍRITO SANTO no crente (1Jo 2.20,27; 4.13). João afirma, por fim, que a pessoa pode saber com certeza que tem a vida eterna (5.13) quando estas cinco evidências são manifestas na sua vida.
Características Especiais
Cinco características principais há nesta epístola. (1) Ela define a vida cristã empregando termos contrastantes e evitando todo e qualquer meio-termo entre luz e trevas, entre verdade e mentira, entre justiça e pecado, entre amor e ódio, entre amar a DEUS e amar ao mundo, entre filhos de DEUS e filhos do diabo etc. (2) É importante ressaltar que este é o único escrito do NT que fala de JESUS como nosso “Advogado (gr. parakletos) para com o Pai”, quando o crente fiel peca (2.1,2; cf. Jo 14.16,17,26; 15.26; 16.7,8). (3) A mensagem de 1 Jo fundamenta-se quase que inteiramente no ensino apostólico, e não na revelação anterior do AT; não há claramente na carta referências às Escrituras do AT. (4) Visto tratar da cristologia, e ao mesmo tempo refutar determinada heresia, a carta focaliza a encarnação e o sangue (i.e., a cruz) de JESUS, sem mencionar especificamente a sua ressurreição. (5) Seu estilo é simples e reiterativo, à medida que João apresenta certos termos principais, como “luz”, “verdade”, “crer”, “permanecer”, “conhecer”, “amor”, “justiça”, “testemunho”, “nascido de DEUS” e “vida eterna”.
 

2 JOÃO
 Autor: João

Considerações Preliminares
O autor se identifica como “o ancião” (v. 1). Provavelmente, um título honroso atribuído ao apóstolo João nas duas décadas finais do século I, devido a sua idade avançada e sua respeitável posição de autoridade espiritual como o único dos doze apóstolos ainda vivo.
João dirige esta carta “à senhora eleita e a seus filhos” (v. 1). Alguns interpretam “a senhora eleita”, figuradamente, como uma igreja local, sendo “seus filhos” os membros dessa igreja e sua “irmã, a eleita” (v. 13), como uma congregação idêntica. Outros interpretam a endereçada, literalmente, como uma viúva cristã de destaque, conhecida de João, numa das igrejas da Ásia Menor, sob seus cuidados pastorais. A família dessa senhora (v. 1), bem como os filhos da sua irmã (v. 13) são pessoas de destaque entre as igrejas daquela região. Como as outras epístolas de João, 2 Jo provavelmente foi escrita de Éfeso, em fins da década de 80 ou no começo da década de 90 d.C.
Propósito
João escreveu esta carta a fim de prevenir “a senhora eleita” contra os falsos obreiros (mestres, evangelistas e profetas) que perambulavam pelas igrejas. Os tais abandonaram os ensinos do evangelho e propagavam os seus falsos ensinos. A destinatária não devia recebê-los, dialogar com eles, nem os auxiliar. Fazer isso, significaria ajudá-los a disseminar os seus erros e participar da sua culpa. A carta repudia o mesmo falso ensino denunciado em 1 Jo.
Visão Panorâmica
Esta epístola realça uma advertência, que também se acha em 1 Jo, sobre o perigo de falsos mestres que negam a encarnação de JESUS CRISTO e que se afastam da mensagem do evangelho (vv. 7,8). João se alegra por ver que “a senhora eleita” e seus filhos “andam na verdade” (v. 4). O verdadeiro amor cristão deve ser obediente aos mandamentos de CRISTO e ser mútuo entre os irmãos (vv. 5,6). O amor cristão deve também incluir o discernimento entre a verdade e o erro, e também não dar apoio aos falsos mestres (vv. 7-9). Receber amavelmente os falsos mestres é participar dos seus erros (vv. 10,11). A carta é breve, pois João planeja uma visita para breve, e assim falar-lhe “de boca a boca” (v.
12).
Características Especiais
São três as características principais desta epístola. (1) É o menor livro do NT. (2) Tem semelhanças surpreendentes com 1 e 3 Jo, quanto à sua mensagem, vocabulário e estilo simples de escrita. (3) Constitui-se num importante complemento à mensagem de 3 Jo, como prevenção quanto a receber e ajudar obreiros estranhos, desconhecidos. Conclui, insistindo na necessidade de cuidadoso discernimento, à luz dos ensinos de CRISTO e dos apóstolos, antes de alguém apoiar esses falsos obreiros.
 
3 JOÃO

Autor: João
Tema: Procedendo com Fidelidade
Data: 85-95 d.C.


Considerações Preliminares
João, o apóstolo amado, apresenta-se novamente como “o presbítero” (v. 1; ver introdução de 2 Jo.1-). Esta carta pessoal é endereçada a um fiel cristão chamado Gaio (v. 1), talvez pertencente a uma das igrejas da Ásia Menor. Assim como as demais epístolas de João, 3 João foi certamente escrita em Éfeso, em fins da década de 80 d.C. ou início da década de 90 d.C.
Em fins do primeiro século, ministros itinerantes da igreja viajavam de cidade em cidade, sendo comumente sustentados pelos crentes que os acolhiam em casa e os ajudavam nas despesas de viagem (vv. 5-8; cf. 2 Jo 10). Gaio era um dos muitos cristãos dedicados que graciosamente acolhiam e auxiliavam ministros viajantes de confiança (vv. 1-8). Ao mesmo tempo, um homem de projeção chamado Diótrefes resistia com arrogância à autoridade de João e recusava hospitalidade aos irmãos viajantes, enviados da parte deste.
Propósito do livro
João escreveu para dar testemunho de Gaio pela sua fiel hospitalidade e ajuda prestada aos fiéis obreiros viajantes, para fazer uma advertência indireta ao petulante Diótrefes e para preparar o caminho da sua própria visita pessoal.
Visão Panorâmica
Três homens são mencionados por nome em 3 Jo. (1) Gaio é calorosa e honrosamente mencionado pela sua piedosa vida na verdade (vv. 3,4), e pela sua hospitalidade exemplar para com os irmãos viajantes (vv. 5-8). (2) Diótrefes, um dirigente ditador, é denunciado pelo seu orgulho (“procura ter entre eles o primado”, v. 9), cujas manifestações são: rejeitar uma carta anterior de João (v. 9), calúnia contra João (v. 9), recusar o acolhimento aos mensageiros de João e ameaçar com exclusão aqueles que os receberem (v. 10). (3) Demétrio, talvez o portador desta carta, ou pastor de uma comunidade na vizinhança, é louvado como um homem de boa reputação e lealdade à verdade (v. 12).
Características Especiais
Duas características principais sobressaem nesta epístola. (1) Embora seja pequena, dá uma noção de várias facetas importantes da história da igreja primitiva, perto do final do século I. (2) Há semelhanças notáveis entre 3 Jo e 2 Jo. Mesmo assim, as duas epístolas diferem entre si em um aspecto importante: 3 Jo elogia a hospitalidade e ajuda oferecidas aos bons ministros viajantes, ao passo que 2 Jo acentua que não se conceda hospitalidade e sustento a maus obreiros, para não sermos culpados de apoiar seus erros ou más obras.
 
JUDAS
Autor: Judas
Tema: Batalhar pela Fé
Data: 70-80 d.C.

 
Considerações Preliminares
Judas se identifica simplesmente como o “irmão de Tiago” (v. 1). Os únicos irmãos do NT que têm nomes de Judas e Tiago são os dois meio-irmãos de JESUS (Mt 13.55; Mc 6.3).
Talvez Judas mencionou Tiago porque a posição de destaque do seu irmão, sendo dirigente da igreja de Jerusalém serviria para esclarecer sua própria identidade e posição.
Esta curta epístola, porém de linguagem enérgica, foi escrita contra os falsos mestres, que eram abertamente antinominianos (i.e., ensinavam que a salvação pela graça lhes permitia pecar sem haver condenação) e que zombando, rejeitavam a revelação divina a respeito da Pessoa e da natureza de JESUS CRISTO, segundo as Escrituras (v. 4). Dessa maneira, dividiam as igrejas, concernente à fé (vv. 19a, 22) e quanto à conduta (vv. 4, 8, 16). Judas descreve esses homens vis como “ímpios” (v. 15), que “não têm o ESPÍRITO” (v. 19).
O possível relacionamento entre Jd e 2 Pe 2.1—3.4 depende do fator data do primeiro. O mais provável é que Judas tinha conhecimento de 2 Pedro (vv. 17,18) e, daí, sua epístola se situaria posteriormente, i.e., entre 70-80 d.C. Não está esclarecido sobre os destinatários, mas podem ter sido os mesmos de 2 Pedro (ver introdução de 2 Pedro).
Propósito
Judas escreveu esta carta (1) para, com empenho, advertir os crentes sobre a grave ameaça dos falsos mestres e sua influência destruidora nas igrejas, e (2) para energicamente conclamar todos os verdadeiros crentes a resolutamente “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (v. 3).
Visão Panorâmica
Seguindo-se à saudação (vv. 1,2), Judas revela que sua primeira intenção era escrever sobre a natureza da salvação (v. 3a). Em vez disso, ele foi movido a escrever sobre o assunto que se segue, por causa dos mestres apóstatas que estavam pervertendo a graça de DEUS e, ao agirem assim, corrompiam a verdade e o caminho da retidão nas igrejas (v. 4). Judas os acusa de impureza sexual (vv. 4, 8, 16, 18), liberais como Caim (v. 11), cobiçosos como Balaão (v. 11), rebeldes como Coré (v. 11), arrogantes (vv. 8, 16), enganosos (vv. 4a, 12), sensuais (v. 19) e causadores de divisões (v. 19). Afirma a certeza do julgamento divino contra todos que vivem em tais pecados e ilustra esse fato com seis exemplos do AT (vv. 5-11). Os doze fatos descritivos da vida deles revelam que a medida do seu pecado está cheia para o julgamento divino (vv. 12-16). Os crentes são despertados a crescer na fé e a ter compaixão com temor, no tocante àqueles que estão vacilando na fé (vv. 20-23). Judas termina com palavras de louvor a DEUS, de grande inspiração, ao impetrar a sua bênção (vv. 24,25).
Características Especiais
Quatro características principais estão nesta epístola. (1) Contém a incriminação mais vigorosa e direta do NT sobre os falsos mestres. Chama a atenção de todas as gerações para a gravidade do perigo constante da falsa doutrina contra a genuína fé e a vida santa. (2) Exemplifica o caso de ilustrações tríplices, e.g., três exemplos de julgamento tirados do AT (vv. 5-7), uma descrição tríplice dos falsos mestres (v. 8) e três exemplos de homens ímpios, tirados do AT (v.11). (3) Sob a plena influência do ESPÍRITO SANTO, Judas fez menção de vários escritos: (a) as Escrituras do AT (vv. 5-7, 11); (b) as tradições judaicas (vv. 9.14,15); e (c) 2 Pedro, citando diretamente 2 Pe 3.3, que ele confirma como procedente dos apóstolos (vv. 17,18). (4) Contém a bênção mais sublime do NT.
 
 
COMENTÁRIOS - SERIE Comentário Bíblico Epístolas Paulinas
Cartas que mudaram a história da Igreja em todo o mundo.
Myer Pearlman - Epístolas Paulinas
 
Índice
1. O Plano da Salvação (Rm 1—4 )
2. Vivendo para DEUS (Rm 5 ,6 )
3. A Vida Cheia do ESPÍRITO (Rm 7,8)
4. A Restauração de Israel (Rm 9— 11)
5. O Tribunal de CRISTO (2 Co 5; 1 Co 3.10-15)
6. A Contribuição Cristã (2 Co 8,9)
7. O Custo do Verdadeiro Cristianismo (2 Co 10,11)
8. Os Perigos do Orgulho Espiritual (2 Co 12)
9. Semeando e Ceifando (Gl 1-6 )
10. A Graça Salvadora de DEUS (Ef 1— 3 )
11 .O Viver Cristão (Ef 4.1— 6.9)
12. A Guerra do Cristão (Ef 6.10-20)
13. CRISTO, o Nosso Exemplo (Fl 1,2)
14. A Corrida Cristã (Fl 3 )
15. A Vida Cristã Feliz (Fl 4 )
16. O CRISTO Preeminente (Cl 1,2)
17. Vivendo a Vida Cristã (Cl 3,4)
18. A Vinda de CRISTO (1 Ts 1 - 4 )
19. A Conduta Cristã em vista da Vinda de CRISTO (1 Ts 5 )
20. Um Estudo do Anticristo (2 Ts 2 )
21. A História de Timóteo (1 e 2 Tm )
22. Provas da Graça Divina (Tt 2.11— 3.9)
23. O Servo Inútil se Torna Útil (Fm )
 
 
1- O PLANO DA SALVAÇÃO
 
Texto: Romanos 1— 4

Introdução
Jó perguntou: “Como se justificaria o homem para com DEUS?” (Jó 9.1). “Que é necessário que eu faça para me salvar?” perguntou o carcereiro de Filipos (At 16.30). Esses dois homens deram expressão a uma das mais importantes perguntas que se pode fazer: como o homem pode ficar de bem com DEUS e ter a certeza da sua aprovação? Romanos é uma resposta lógica, detalhada e inspirada a essa pergunta. O tem a do livro acha-se em 1.16,17, e pode ser enunciado da seguinte maneira: o Evangelho é o poder de DEUS para a salvação dos homens, porque demonstra como a posição e a condição dos pecadores pode ser alterada de tal modo que fiquem reconciliados com DEUS. Uma das frases mais marcantes do livro é: “A justiça de DEUS”. O apóstolo inspirado descreve o tipo de justiça que é aceitável a DEUS, de tal maneira que o homem, ao possuí-la, é considerado “justo” aos olhos de DEUS. É a justiça que resulta da fé em CRISTO. Essa doutrina é primeiramente declarada (3.21-26) e depois ilustrada (4.1-8).

I - A Doutrina Declarada (Rm 3.21-26) 
Estude as seguintes verdades com respeito à “justiça de DEUS” :
1. Sua natureza: Paulo demonstra que todos os homens precisam da justiça de DEUS, porque a raça inteira pecou. Os gentios estão sob condenação, e os vários degraus da sua queda são facilmente perceptíveis: tempo havia quando conheciam a DEUS (1.19,20), mas, por causa da sua negligência quanto a adorá-lo e servi-lo, suas mentes ficaram obscurecidas (1.21,22). A cegueira espiritual levou-os à idolatria (v. 23) e a idolatria levou à corrupção moral (vv. 24-31). Estão sem desculpas, porque existe para eles uma revelação de DEUS na natureza, e têm uma consciência que aprova ou desaprova suas ações (1.19,20; 2.14,15). O judeu também jaz sob a condenação. Por certo, ele pertence à nação escolhida, tendo conhecido a lei de Moisés durante séculos, mas tem violado essa lei em pensamento, em atos e em palavras (cap. 2). Paulo encerra de vez seu pronunciamento sobre a condenação da raça humana com as seguintes palavras: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de DEUS. Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (3.19,20). Qual é a justiça que o homem necessita tão urgentemente? A palavra significa ser justo, reto, certo; às vezes descreve assim o caráter de DEUS, livre de imperfeições e de injustiças. Quando a palavra se aplica ao homem, significa o estado de estar certo com DEUS. “Justo”, originalmente, tem o significado de ser reto, em conformidade com um padrão ou regra. Um homem justo, portanto, é um homem cuja vida está em linha reta com a lei de DEUS. Se porém, descobre que, ao invés de ser “reto”, ele é “perverso” (literalmente, “torto”), e sem a possibilidade de se endireitar a si mesmo, então precisa da justificação. Essa é a operação de DEUS.
2. Seu relacionamento com a Lei. Paulo declarou que ninguém é justificado mediante as obras da Lei. Isso não é uma crítica contra a Lei, pois que ela é santa e perfeita. A declaração apenas significa que a Lei não foi dada visando o propósito de tomar justos os homens, e sim para oferecer um padrão de perfeita retidão. A Lei pode ser comparada a uma fita métrica, que pode indicar o comprimento de um corte de tecido sem porém aumentá-lo; ou a uma balança que pode indicar o nosso peso sem porém nada acrescentar a ele. “Porque pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”. Dr. Jenner não inventou a varíola, e o Dr. Pasteur não inventou a hidrofobia; esses estudiosos simplesmente definiram a presença dessas doenças, revelaram a sua natureza e expuseram as verdades com respeito a elas, visando o propósito da sua respectiva cura. A Lei não criou o pecado; foi dada para revelar a sua presença, a sua natureza e a sua culpabilidade, a fim de que o remédio seja receitado por DEUS.
3. Sua revelação. “Mas, agora, se manifestou, sem a lei, a justiça de DEUS”. Note a palavra “agora”. Para Paulo, todo o tempo se divide em dois períodos: “então” e “agora”; a vinda de CRISTO abriu um novo capítulo no modo de DEUS se haver com os homens. Durante inúmeros séculos, os homens tinham pecado e aprendido a impossibilidade de vencer seus próprios pecados. Agora, porém, DEUS revelou clara e abertamente o caminho. Muitos israelitas, cônscios da sua necessidade, sentiam que devia haver uma maneira de se receber a justificação, independentemente da rigorosa observação de toda a Lei, porque, afinal, o homem pecaminoso nunca poderia observá-la perfeitamente. Sentiam que devia existir uma justiça que não dependesse inteiramente das suas próprias obras e esforços. Em outras palavras, ansiavam pela redenção e pela graça. E DEUS lhes deu a certeza de que tal justiça seria revelada. E por isso que Paulo fala da justiça de DEUS sem a Lei, “tendo o testemunho da Lei [Gn 3.15; 12.3; G1 3.6-8] e dos Profetas [Jr 23.6; 31.31-34]”. A lei de Moisés foi dada para fazer o homem sentir o quanto necessita da redenção. Leia Gálatas 3.19-26.
4. Sua apropriação. Sendo que a Lei não poderá justificar, a única esperança do homem é a “justiça sem a lei” (não uma justiça contrária à Lei, nem uma religião que nos permita pecar, e, sim, uma mudança de posição e condição produzida à parte da Lei). Por que método isto é levado a efeito? E a “justiça de DEUS”, ou seja, uma justiça que DEUS dá; é uma dádiva, porque o homem não tem a capacidade de desenvolvê-la ou operá-la (Ef 2.8-10). Se é uma dádiva, devemos aceitá-la. Como? “Pela fé em JESUS CRISTO”. A fé é a mão que humildemente aceita o que DEUS oferece. A salvação que se recebe é uma dádiva não merecida, um salário pelo qual não se trabalhou. Não seria, porém, mais de acordo com a dignidade humana se o homem pudesse trabalhar para produzir a sua própria salvação? Do ponto de vista de DEUS, o ser humano decaído não possui dignidade alguma; não tem a capacidade de acumular uma suficiência de bondade para comprar a salvação. “Por isso, nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei”.
5. Seu escopo. Essa justiça é “para todos e sobre todos os que crêem; porque não há diferença”. DEUS não faz distinções quanto à nacionalidade da pessoa, nem quanto à sua posição social, nem quanto a qualquer outro aspecto. A dádiva divina, a justiça que DEUS oferece é realmente para toda pessoa que crê. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS”. Não há distinção entre os homens no que diz respeito ao pecado, ou seja, no fato de todos serem pecadores, embora haja diferença entre os tipos de pecados. A “glória de DEUS” aqui significa o caráter de DEUS, e o caráter de DEUS é o padrão para o comportamento humano (Lv 19.2); todos fracassaram ao serem medidos contra esse padrão. A “glória de DEUS” é o fim para o qual a vida humana foi designada; a salvação nos coloca no trilho que vai avançando para esse destino. A Lei nos convence da realidade da nossa “carência”, do nosso fracasso, mas nenhum poder possui para nos fazer ficar à altura do padrão que DEUS nos deu. Será que DEUS não faz qualquer distinção entre a pessoa que vive uma vida respeitável de moralidade e o viciado que jaz no lamaçal da iniquidade? Responde o Dr. Moule: “O adúltero, o mentiroso e o assassino carecem da glória de DEUS; mas você também. Talvez aqueles estejam no fundo de um poço, e você, no topo de uma montanha; você, porém, não tem mais possibilidade de tocar as distantes estrelas do que eles”.
6. Sua concessão. “Sendo justificados”. A palavra “justificar” é uma expressão judicial que significa pronunciar inocente, justo. No seu emprego no Novo Testamento, significa ainda mais do que perdoar o pecador e remover a condenação; significa, também, colocar o culpado na situação de um homem justo. Um governador de um Estado pode perdoar um criminoso, mas não pode restaurá-lo à posição de quem nunca violou a lei. DEUS, no entanto, pode fazer ambas as coisas. Apaga o pretérito com os pecados então cometidos e depois age para com a pessoa como se nunca na vida tivesse praticado um erro! Ninguém diz que um criminoso é um homem bom ou justo; quando, porém, DEUS justifica o pecador, declara-o justificado, portanto justo aos olhos dEle.
7. Sua origem. “Gratuitamente pela sua graça”. Os homens nada possuíam para comprar sua própria justificação, absolutamente nada. DEUS não poderia reduzir o nível da sua justiça para aquilo que os homens podem galgar; e os homens não poderiam subir até as alturas das exigências de DEUS. Ele, portanto, graciosamente deu a salvação de graça, “gratuitamente pela sua graça”. A graça é o favor divino mostrado aos que não o merecem. A salvação mediante a graça remove dois perigos; primeiro, o desejo de alguém se justificar a si mesmo mediante seus próprios esforços; segundo, o temor das pessoas quanto a serem fracas demais para serem justificadas.
8. Sua base. Como é que DEUS pode chamar o pecador de justo e tratá-lo como homem virtuoso? É porque DEUS lhe dá a justiça. Surge a pergunta, porém: é certo dar o título de “bom” e “justo” a quem não o mereceu? Foi JESUS quem obteve o título para o pecador, que passa a ser chamado justo “pela redenção que há em CRISTO JESUS”. A redenção é a libertação total obtida mediante o preço pago, libertação da penalidade do pecado, do poder do pecado e da presença do pecado. Comparecemos diante de DEUS revestidos na retidão de CRISTO. Ele, CRISTO, é nosso Representante, é justo, e nós, que nEle confiamos, participamos da justiça dEle. DEUS nos aceita, porque aceita CRISTO.
9. Seu método. “Ao qual DEUS propôs para propiciação pela fé no seu sangue” (cf. 1 Jo 2.1,2). A propiciação é um sacrifício ou uma dádiva que afasta a ira de DEUS, fazendo com que seja misericordioso e favorável para com o pecador. E o que compra o favor de DEUS para com os que não o merecem. CRISTO morreu a fim de nos salvar da justa ira de DEUS e de obter para nós o favor divino.
10. Sua vindicação. “Para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de DEUS”. Parecia, em épocas passadas, que DEUS deixava de punir devidamente os pecados das nações, que os homens pecavam sem receber a justa paga pela sua maldade. E, assim, surge a pergunta: DEUS não tomava conhecimento do pecado? A crucificação, porém, revelou a hediondez do pecado, demonstrando qual a terrível penalidade para ele, qual o preço para o perdão. A cruz de CRISTO proclama que DEUS nunca foi indiferente para com os pecados humanos e que nunca o será. DEUS provou (1.24-27) sua ira contra o pecado, mediante sua punição aos gentios e ao seu povo, em muitas ocasiões, deixando, porém, de aplicar a totalidade, que teria causado a destruição total da raça inteira. Em grande parte, deixou impunes os pecados dos homens; muitas pessoas interpretavam isto como sinal de que DEUS não teria a inclinação nem a autoridade para puni-las. Quando DEUS entregou CRISTO à morte, demonstrou que sua tolerância tinha em vista a sua perfeita justiça que seria satisfeita por CRISTO. Que JESUS morreu em prol dos homens, é uma verdade bastante conhecida, mas é também verdade que JESUS morreu em prol de DEUS - ou seja, para vindicar a justiça de DEUS. “Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em JESUS”. DEUS é justo e, portanto, tem que punir o pecador; DEUS é misericordioso e deseja perdoá-lo. Noutras palavras, quer ser justo e também Justificador. O problema foi resolvido no Calvário, quando o próprio Filho de DEUS tomou sobre si a penalidade merecida pelo pecador, fazendo assim com que seja possível que DEUS seja justo e misericordioso ao mesmo tempo. “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (SI 85.10). Facilmente se entende que DEUS é justo quando pune e misericordioso quando perdoa; mais difícil é entender como DEUS pode ser justo no seu ato de justificar os culpados. O Calvário soluciona o problema.
II - A Doutrina Ilustrada (Rm 4.1-8)
Podemos imaginar um ouvinte judeu do apóstolo exclamando, indignado: “Ensinar que o homem pode ser justo, independentemente da Lei, é a mais avançada heresia. A Lei é o próprio fundamento da moral e da religião, e sua expressão ‘justiça independentemente da Lei’ é uma contradição em termos; não se pode imaginar doutrina mais contrária à Palavra”. Paulo agora passa a comprovar que sua doutrina é fiel às Escrituras, e cita dois exemplos do Antigo Testamento.
1. Abraão. Paulo toma como exemplo Abraão, amigo de DEUS. Certamente ele deve ser considerado exemplo de homem justo. Foi um homem justificado. Mas, em que base foi justificado? Na das obras, ou de quaisquer esforços dos quais poderia se jactar? Não; porque as Escrituras declaram: “Creu Abraão em DEUS, e isso lhe foi imputado como justiça”. O patriarca tinha muitas qualidades e privilégios em que poderia ter-se jactado; a única coisa, no entanto, que lhe foi contado por justiça foi ter crido nas promessas de DEUS. Mas, afinal, não merecemos algum louvor por confiar em DEUS? Não merecemos mais louvor do que o mendigo que estende a mão para receber um presente. Pela fé, abrimos nossa mão estendida para receber como dádiva aquilo que não podemos comprar nem merecer como salário.
2. Davi. Certamente, Davi foi um homem de DEUS, mas as manchas no seu caráter, e seu duplo crime (2 Sm 12) comprovam a falsidade da ideia de ele ter sido justificado mediante as obras. “Assim também Davi declara bem-aventurado o homem a quem DEUS imputa a justiça sem as obras, dizendo: Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos” (cf. Pv 28.13). “Bem-aventurado [a descrição da experiência, Rm 5.1-5] o homem a quem o Senhor não imputa pecado” (cf. SI 32). No caso de Abraão, Paulo toca no lado positivo da justificação, demonstrando como DEUS imputa a justiça ao que crê; agora, passa a tratar do lado negativo, mostrando como DEUS deixa de imputar pecado àquele que justificou. A palavra “imputar”, tão frequentemente repetida no capítulo 4, é uma metáfora tirada da contabilidade, e indica algo colocado na conta a crédito de alguém. No processo da justificação, os pecados dos homens são debitados e a justiça de CRISTO é lançada a crédito.
III - Ensinamentos Práticos
1. A justiça imputada e operada. Já ficamos sabendo que a justificação significa que DEUS pode declarar justo o pecador, por ter sido lançada na conta dele a justiça de CRISTO. É justo quanto à sua posição, mas (deve ser ressaltado também) é justo quanto ao seu caráter. É justificado mediante a fé, mas se for uma fé viva e forte, produzirá boas obras; será “a fé que opera por caridade” (G1 5.6). O crente, revestido com a justiça de CRISTO, vive uma vida em conformidade com aquele caráter. “Porque o linho fino são as justiças dos santos” (Ap 19.8). A salvação exige uma vida de santidade prática. O que pensaríamos de uma pessoa que sempre usa roupas limpas e brancas, mas que nunca lava o rosto nem toma banho? Certamente, há uma falta de consistência em tal comportamento. Aqueles que estão vestindo a justiça que CRISTO lhes atribui, devem tomar o cuidado de se purificar assim como CRISTO é puro (1 Jo 3.3).
2. A justificação para os ímpios. Nenhum juiz poderia, com justiça, inocentar um criminoso, declarando-o um homem justo e bom. E, se DEUS fosse sujeito às mesmas limitações e justificasse apenas as pessoas boas, já não existiria um Evangelho para os pecadores. Paulo nos dá a certeza de que DEUS justifica os ímpios. O milagre do Evangelho é que DEUS se chega aos ímpios, com misericórdia totalmente reta e pura, capacitando-os, mediante a  fé, a despeito daquilo que são, a entrar em novo relacionamento com Ele mediante o que a bondade passa a ser uma possibilidade real. O grande segredo do Cristianismo do Novo Testamento, de todo reavivamento religioso e de toda reforma da igreja se acha neste paradoxo grandioso e jubiloso: “DEUS que justifica os ímpios”.
3. “Não há diferença ” nos seguintes aspectos:
3.1. No fato do pecado. O Novo Testamento não ensina que não há diferentes graus de pecado entre a pessoa que procura viver à altura da sua consciência e a que deliberada e sistematicamente rompe todos os mandamentos. Os ímpios serão julgados segundo o mal que fizeram. Paulo aqui fala não dos graus do pecado, e sim do fato do pecado. Neste sentido, é verdade que “todos pecaram”, porque o mal é ruim, independentemente da quantidade ou da intensidade. Qualquer pessoa que examinar a sua consciência à luz da face de DEUS terá que reconhecer suas próprias falhas e imperfeições. O que chamamos de “falhas”, “deslizes”, “fraquezas”, “defeitos” e muitos outros nomes que visam esconder a fealdade do pecado será revelado quanto à sua magnitude e importância como pecado, logo que o conceito de DEUS começar a entrar na nossa vida. Tudo isso, contemplado à luz da lei de DEUS, é pecado.
3.2. Não há distinção quanto ao fato do amor de DEUS para conosco. DEUS ama os homens, não por causa daquilo que eles são, e sim por causa daquilo que Ele é. Sua natureza é amar. Da mesma forma, não cessa de amar os homens por causa daquilo que são. “DEUS amou o mundo de tal maneira”. O pecado da nossa parte não faz com que DEUS cesse de nos amar, mas efetua em nós mesmos uma capacitação tal que não nos deixa aceitar as bênçãos que o amor divino oferece. É como o caso de quem fecha as venezianas; não impede o Sol de brilhar, mas esconde-se da sua luz.
3.3. Não há distinção na eficácia da morte de CRISTO para todos. CRISTO morreu em prol de todos. O remédio cobre uma área tão grande quanto a doença. O remédio vai tão profundo quanto a doença. Por mais longe que o pecador tenha se desviado, existe na cruz perdão para os seus pecados. 3.4. Não há distinção quanto à maneira da apropriação. A salvação é para os ricos e para os pobres, para os sábios e para os analfabetos, para os reis e para os mendigos, para pessoas de todas as raças e para adultos e crianças. DEUS determinou um caminho que pode ser seguido por todos - o caminho da simples fé naquilo que Ele realizou mediante CRISTO. Se este caminho parece muito estreito, é porque as pessoas ficam insufladas com pecados e orgulho, achando-se por demais grandiosas. Naamã teria feito algo de grandioso se isto tivesse sido exigido por parte dele, mas ficou escandalizado quando recebeu ordens no sentido de se lavar no rio Jordão. Quando, afinal, deixou de lado o seu orgulho e se humilhou, foi curado mediante o meio simples (2 Rs 5). Não importa a natureza dos meios; a pergunta é: esse é o meio de DEUS? Se é, funcionará, havendo fé e obediência da nossa parte.
 
2- VIVENDO PARA DEUS
Texto: Romanos 5 e 6
 
Introdução
Paulo continua o grande tema de Romanos - o método divino de fazer justos os pecadores. No capítulo anterior, mostrou-nos como DEUS muda a posição do homem; agora, passaremos a considerar o outro aspecto da justificação, que providencia uma mudança na condição do homem. A primeira seção tratou da questão dos pecados; agora, levanta-se a questão da graça. A primeira seção define o perdão da culpa do pecado; esta seção descreve a libertação do poder do pecado. E o tópico é bem prático. Muitos convertidos, após experimentarem a alegria de receber o perdão dos seus pecados, descobrem, com desgosto e humilhação, que ele não foi totalmente dominado nas suas vidas. Este capítulo enfrenta o problema.
I - Refutação de um Erro (Rm 6.1,2)
Imaginemos que, enquanto Paulo fazia sua exposição da doutrina da justificação mediante a fé, alguns judeus estivessem ouvindo. Podemos imaginar que diriam, em protesto: “Isto é heresia, e do tipo mais perigoso! Se você disser ao povo que nada mais precisam fazer em prol da sua própria salvação, por ser ela resultado da graça de DEUS, ficarão descuidados quanto ao seu viver, pensando que pouco importa o que façam, se pelo menos crerem. Sua doutrina acerca da fé promove o pecado”. Paulo responde a esta objeção: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?” Noutras palavras, se a justificação é mediante a graça somente, independentemente das obras, por que romper com o pecado? Por que não continuar nele para obter ainda mais graça? Os inimigos de Paulo realmente o acusaram de pregar assim (Rm 3.8). Paulo repudia, horrorizado, tal perversão dos seus ensinos: “De modo nenhum!”
II - A Doutrina Ilustrada (Rm 6.2-5)
“Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” Estas palavras declaram o tema dos primeiros 14 versos do capítulo. Continuar no pecado é impossível para um homem realmente justificado, por causa da sua união com CRISTO na morte e na vida (cf. Mt 6.24). Em virtude da sua fé em CRISTO, o homem salvo teve uma experiência que inclui um rompimento com o erro tão nítido, que é descrito como sendo a morte para o pecado; sua experiência é uma transformação tão radical que é descrita como sendo uma ressurreição. O batismo nas águas é uma representação dessa experiência. A imersão do convertido testifica o fato de que morreu para o pecado, em virtude da sua união com o CRISTO crucificado; o fato de ele ser erguido e tirado das águas testifica que seu contato com o CRISTO ressurreto simboliza que, “como CRISTO ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida”. CRISTO morreu em prol dos nossos pecados, a fim de que morrêssemos para o pecado.
III - Um Fato Declarado (Rm 6.6-9)
“Porque, se fomos plantados juntamente com ele na semelhança da sua morte, também o seremos na da sua ressurreição; sabendo isto: que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado”. A expressão “velho homem” refere-se ao antigo eu, à vida não regenerada, cheia de pecado. Mediante a regeneração, despimo-nos do “velho homem”, revestindo-nos do “novo homem”, da nova natureza. “O corpo do pecado” não é expressão que signifique que o pecado tem sua origem no corpo, e sim que o corpo é o instrumento usado para praticar o pecado. É a alma que peca, mas é mediante o corpo que a alma se expressa. “Destruir” aqui não significa aniquilar, e sim tomar ineficaz. O verso nos ensina que, mediante a união com o CRISTO crucificado, mas agora ressurreto, o pecado foi despojado do seu poder. Este fato se toma realidade em cada um de nós mediante a fé. “Porque aquele que está morto está justificado do pecado”. A morte cancela todas as obrigações e rompe todos os laços. Mediante a sua união com CRISTO, o crente morreu para a antiga vida, sendo rompidos os grilhões do pecado. Assim como a morte findava a escravidão literal, assim também a morte do crente para a antiga vida libertou-o da escravidão do pecado. Continuando a ilustração: a lei não tem nenhuma jurisdição sobre um morto; seja qual for a natureza dos crimes por ele cometidos, está além do alcance da justiça humana, uma vez morto. Semelhantemente, a lei de Moisés, muitas vezes quebrada pelo convertido, não pode “prendê-lo”, porque, mediante a sua experiência com CRISTO, já está morto (Rm 7.1-4).
IV - Um Dever a que Somos Conclamados (Rm 6.9-14)
1. A atitude da fé. “Sabendo que, havendo CRISTO ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para DEUS. Assim também vós vos considerai como mortos para o pecado, mas vivos para DEUS, em CRISTO JESUS, nosso Senhor”. A morte de CRISTO pôs fim àquele estado em que tinha contato com o pecado, e sua vida é agora de ininterrupta comunhão com DEUS. Os crentes, embora ainda estejam no mundo, podem também compartilhar da sua experiência, porque estão unidos a Ele. Como? “Assim também vós vos considerai como mortos para o pecado, mas vivos para DEUS, em CRISTO JESUS, nosso Senhor”. O que significa isto? DEUS disse que, mediante a nossa fé em CRISTO, somos mortos para o pecado e vivos para a justiça. Só nos resta fazer uma coisa: crer em DEUS e considerar-nos mortos para o pecado, marcando isto como fato em nossa conta corrente religiosa. A fé aceita, com respeito a nós mesmos, a declaração que DEUS fez acerca de nós. DEUS diz que, quando CRISTO morreu, nós também morremos para o pecado; quando CRISTO ressuscitou, nós também ressuscitamos com Ele para uma nova vida. Devemos contar sempre com estes fatos, como sendo absolutamente verdadeiros; então, na medida em que contamos com eles, ficarão poderosos em nossas vidas, porque nos transformamos naquilo que confiamos ser. Para alguns, isto pode soar como um tipo de autopersuasão, mas não é assim, porque o que DEUS declara é verdade, e agora DEUS está dizendo que, ao crermos em CRISTO, morremos para o pecado, sendo libertados do seu poder. Sempre que acreditamos naquilo que DEUS disse, algo acontece!
2. A operação da fé. “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências”. Enquanto vivemos neste corpo mortal, nós, que temos comunhão com CRISTO, ainda por um tempo estamos sujeitos a receber os ataques de Satanás, e temos que resistir a todos os esforços feitos por ele no sentido de nos desviar da lealdade à vontade de DEUS e nos sujeitar às tendências pecaminosas. Não devemos deixar nosso corpo ser nosso “rei”. O corpo é um servo útil, mas é um péssimo mestre. As “paixões” aqui são os desejos, de todos os tipos, que podem nos desviar da vontade de DEUS. Da obstinação em cumprir as nossas próprias vontades surgem muitos pecados. Como podemos cumprir, na prática, a exortação para nos considerarmos mortos para o pecado? O apóstolo responde: “Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a DEUS, como vivos dentre mortos, e os vossos membros a DEUS, como instrumentos de justiça”. Uma vez sabido que, mediante a obra de CRISTO, somos mortos para o pecado, podemos dizer “não” a cada tentação, e “sim” a cada manifestação da vontade de DEUS. Em nossa vida na terra, sempre teremos que escolher entre o certo e o errado, entre o bem e o mal; nossa vontade é o volante para guiar nossa maneira de viver, para entrar no caminho certo ou no caminho errado, e devemos respeitar os sinais de DEUS que digam: “Trânsito impedido”. Derrubar uma barreira desta natureza nos causará muitos sofrimentos.
3. O encorajamento da fé. Surgirá a pergunta: “Mas será que tenho forças suficientes para romper com o pecado?” Paulo responde: “Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça”. A cruz de CRISTO nos libertou não somente das consequências do pecado, como também da sua autoridade. A Lei revelava o pecado, e exigia o devido castigo, mas não oferecia nenhuma capacidade para vencê-lo; a graça, além de cancelar a penalidade, concede poder para vencer o pecado. A Lei diz: “Há algo que precisa ser feito por você”. A graça diz: “Há algo que foi feito para você”. Se o crente pecar, o sangue de CRISTO ainda estará ao seu dispor (1 Jo 2.1), mas viver segundo a graça não oferece nenhuma licença quanto ao pecar deliberadamente (Rm 6.15), porque quem assim despreza a graça se afasta mais e mais de DEUS.
V - Ensinamentos Práticos
1. A Santidade prática. Estudamos alguma coisa acerca da doutrina do viver em santidade, mas agora devemos vincular estes ensinos à vida prática, mencionando algumas das qualidades que revelam a presença de santificação na vida.
1.1. Amor. A vida vitoriosa não somente vence os pecados mais grosseiros, como também aqueles que muitas vezes não são considerados sérios, tais como: irritabilidade, ressentimento, respostas zangadas, mau humor e aversão a certas pessoas. O melhor teste para tudo isto é o seguinte: não seremos puros se não pudermos nos achegar a alguém, estender-lhe a mão e dizer-lhe: “Amo-o”, isto é, com o mesmo amor descrito em 1 Coríntios 14.4-7. Alguém poderá responder que um padrão tão alto exige um milagre, e realmente a santidade sempre é um milagre. Ninguém pode evitar que instantaneamente surja o ressentimento mediante uma afronta por nós recebida; mas CRISTO, reinando em nossa vida, e dando-nos a confiança de ser em nós a plenitude da vida, pode dar-nos reações imediatas que são puras e santas.
1.2. Pureza. A atmosfera deste mundo está cheia de impureza, e sugestões quanto à prática do mal se nos defrontam na rua, nas revistas e na televisão. Certamente o cristão não pode literalmente deixar o mundo, mas pode ser capacitado a resistir às suas tentações. Existem muitas teorias que descrevem a remoção do pecado; a teoria da erradicação, a teoria da supressão, e outras. O método mais certo é deixar CRISTO encher todos os recantos do nosso viver de tal maneira que sua presença vá afastando de nós todas as coisas que não condizem com a vida cristã.
1.3. Fé. A descrença é a raiz de outros pecados. “Tudo o que não é de fé é pecado” (Rm 14.23). Inversamente, a fé é a raiz da força moral. “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5.4). “Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Ef 6.16). Se você sofre de falta de fé no que diz respeito a qualquer doutrina em que deve crer e não tem suficiente fé para amar ao seu próximo, peça a DEUS que remova o pecado da descrença do seu coração. Se há alguma coisa que está fazendo errado, e não consegue fazer o bem, nem com oração, então peça a DEUS que lhe encha o coração com fé, que tire o pecado da incredulidade, e as outras coisas irão para o lugar.
2. Inteira consagração. Existem pessoas que são verdadeiramente cristãs sem serem inteiramente cristãs. Receberam a salvação, sem porém entregarem tudo a DEUS. Essa entrega deve incluir o abandono de todos os pecados, conhecidos ou desconhecidos. Como entregar os pecados desconhecidos? Deixando que DEUS no-los revele. A entrega também inclui o “desembaraçar-nos de todo peso” (cf. Hb 12.1). Esses pesos podem ser coisas legítimas ou não, que são empecilhos ao nosso progresso espiritual. A entrega significa que dedicamos a DEUS a nossa vida, deixando que Ele a governe. A pessoa mundana vive uma vida centralizada em si, e a partir deste ponto central organiza toda a sua vida — uma proporção para negócios, para prazeres, para recreio, para a vida social, para a vida no lar e, talvez, até alguma coisa para DEUS e a igreja. A pessoa consagrada vive uma vida centralizada em DEUS, e todas as suas atividades são distribuídas de acordo com a vontade de DEUS. Ilustrando a vida humana por meio de uma roda, na vida consagrada o cubo da roda representaria a presença de DEUS, e os raios, as várias atividades da vida. Inúmeras pessoas podem testificar que a verdadeira paz e felicidade vieram a elas depois de reconhecerem DEUS como verdadeiro centro das suas vidas.
3. Recebendo a vitória. “Considerai-vos como mortos para o pecado”. Existe importante distinção entre as promessas da Bíblia e os fatos da Bíblia. JESUS disse: “Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito”. Trata-se de uma promessa, porque está no futuro e ainda será cumprida. Quando, porém, Paulo diz: “CRISTO morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras”, declara um fato, algo que já foi feito. Compare a declaração de Pedro: “Por suas chagas fostes sarados”. E quando declara: “Foi crucificado com ele o nosso velho homem”, Paulo está denunciando um fato, algo que foi feito. Só resta perguntar se nós estamos dispostos a crer naquilo que DEUS declarou ser realidade a nosso respeito, se estamos dispostos a estender a mão vazia da fé para receber aquilo que DEUS oferece graciosamente. Certo missionário queria ensinar este fato a uma obreira cristã, e ela respondeu: “Não posso dar graças a DEUS por uma coisa realizada, quando, de fato, não foi realizada. Não devo agradecer aquilo que não foi feito”. Disse o missionário: “Está bem, mas aqui DEUS está dizendo que foi feito”. Depois, reconhecendo a dificuldade de explicar aquilo que melhor pode ser entendido mediante a experiência espiritual, orou sincera e fervorosamente em prol dela. Logo a mulher começou a clamar: “Senhor, tua Palavra me diz que estou livre! É verdade, Senhor! Estou livre, livre, LIVRE!” Estivera livre o tempo todo, sem saber, e só agora aceitara a revelação do ESPÍRITO SANTO com respeito às coisas que DEUS nos concede gratuitamente.
 
 
3- A VIDA CHEIA DO ESPÍRITO
Texto: Romanos 7 e 8
 
Introdução
Os capítulos 7 e 8 de Romanos continuam o assunto da santificação; falam da libertação do crente, mediante o que fica livre do poder do pecado, e descrevem o seu crescimento em santidade. No capítulo 6, aprendemos que a vitória sobre o poder do pecado foi alcançada mediante a fé. O capítulo apresenta outro aliado na batalha contra o pecado — o ESPÍRITO SANTO. Como base dos ensinos do capítulo 8, vamos estudar os pensamentos desenvolvidos no capítulo 7. Paulo demonstra que a Lei não tem poder para salvar e santificar, não porque a Lei não seja boa, e sim por causa da tendência pecaminosa na natureza humana, que é chamada “a carne”. A lei revela o fato do pecado (v. 7), a ocasião do pecado (v. 8), o poder do pecado (v. 9), a traição do pecado (v. 11), o efeito do pecado (vv. 10,11) e a malignidade do pecado (vv. 12,13).
Paulo que, segundo parece, aqui descreve a própria experiência, diz que a Lei que ele tão zelosamente queria observar despertava nele impulsos pecaminosos. O resultado fora uma “guerra civil” na sua alma. É impedido de fazer o bem que quer praticar e impulsionado a fazer as coisas que odeia. “Acho, então, esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de DEUS. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros”. A parte final do capítulo 7 mostra um homem sob a Lei, que já percebeu a profundidade da espiritualidade contida na Lei, mas vendo que o pecado que nele habita é o grande empecilho contra o cumprimento de tão nobre meta. Por que Paulo descreve este conflito? Para demonstrar que a Lei não pode nos justificar, tampouco pode nos santificar. A chave desta seção é perceber que “eu” é repetido trinta vezes sem haver uma única referência ao ESPÍRITO SANTO. Indica o eu próprio lutando por fazer, sem nada conseguir, aquilo que a Lei manda, sem apelar ao ESPÍRITO SANTO. Enquanto no capítulo 8 há, no mínimo, vinte referências ao ESPÍRITO SANTO, no capítulo 7 é a Lei que é aludida uma vintena de vezes. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” E Paulo, terminando a descrição da experiência sob a Lei, passa agora a dar testemunho da experiência sob a graça: “Graças a DEUS (que recebi a libertação) por JESUS CRISTO, nosso Senhor”. E assim, com este brado de triunfo, entramos no maravilhoso capítulo oitavo, cujo tema dominante é a libertação da natureza pecaminosa mediante o poder do ESPÍRITO SANTO.
I - O Poder do ESPÍRITO (Rm 8.1-4)
1. O fato. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em CRISTO JESUS”. Os que estão “em CRISTO” saíram do ambiente da condenação da Lei e alcançaram uma posição de onde podem subjugar a carne. A batalha continua ao derredor, mas eles são vencedores em CRISTO na medida em que não andam segundo a carne, mas segundo o ESPÍRITO. Romanos 8 começa falando em “nenhuma condenação”, e, seguindo estas verdades, podemos falar em "nenhuma derrota!”
2. A explicação. “Porque a lei do ESPÍRITO de vida, em CRISTO JESUS, me livrou da lei do pecado e da morte”. Mediante nossa união com o Filho de DEUS ressurreto e glorificado, um novo poder, o poder do ESPÍRITO SANTO, entra na natureza humana para subjugar o pecado. “Quem tem o Filho tem a vida” (1 Jo 5.12), porque no Filho descobre também o ESPÍRITO vivificante. A lei do pecado e da morte 6 inerente à natureza humana, mas esta lei é superada pela lei do ESPÍRITO da vida, que opera em nós na medida em que conservamos nossa comunhão com nosso Salvador celestial.
3. A causa. O verso 3 explica como este poder ficou disponível. A Lei não possui nenhum poder para inutilizar a atuação do pecado, mas DEUS tem este poder e, ao enviar CRISTO para morrer em nosso lugar, rompeu o poderio do pecado. A Lei era santa e espiritual, mas o homem era carnal, sem possuir o poder de obediência. A âncora da Lei era forte em si mesma, mas não pôde firmar-se no lodo que há no fundo de cada coração. Nesse caso, ou a Lei tinha que ser alterada ou o homem tinha que ser transformado. DEUS nunca mudará os eternos princípios da sua justiça, mas mediante o envio de novas forças espirituais, providenciou a mudança da natureza humana. Essa força foi colocada ao nosso dispor mediante a obra expiatória de CRISTO (cf. G1 3.13,14; Jo 3.5,14-16).
4. O propósito. “Para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o ESPÍRITO”. Quando CRISTO entra em nossa vida, inspira desejos e afetos novos e diferentes. Por assim dizer, fechou a fábrica do pecado e abriu uma indústria de retidão. O amor cumpre a lei de DEUS porque nenhum mal prática, e porque gosta de fazer o bem aos outros (Rm 13.10). E uma das evidências de que alguém passou da morte para a vida é o fato de ele amar os irmãos (1 Jo 3.14). Nota-se quão alegremente Zaqueu cumpriu o preceito da Lei ao distribuir bens aos pobres e restituir o que tirara de pessoas que lesara. Sempre sabia que assim devia agir, mas só a influência de JESUS na sua vida fez com que desejasse fazer o que era certo.
II - O Empecilho para a Obra do ESPÍRITO (Rm 8.5-8)
Paulo demonstrou, nos versos 1-4, que ninguém pode ter santidade sem primeiro receber a justificação; agora, nos versos 5-11, mostra que se alguém não viver uma vida santa, é porque não recebeu a justificação. Noutras palavras, uma vida santa é a evidência prática de alguém ser regenerado para com DEUS. A pessoa verdadeiramente salva não viverá “na carne”, porque a carne é inimiga do ESPÍRITO.
1. O princípio. “Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o ESPÍRITO, para as coisas do ESPÍRITO”. A palavra “carne” representa a natureza antiga e pecaminosa que não recebeu a renovação e vive segundo o homem não regenerado. Pode ser considerada a “baixa natureza”, ou a “natureza animalesca”. A expressão abrange a totalidade da vida não renovada que se vive longe de DEUS. Isso não significa, necessariamente, que a pessoa tenha uma vida cheia de vícios e pecados grosseiros, porque a “carne” pode ser culta, refinada e educada. A “carne” pode até chegar a ser religiosa, expressando sua devoção mediante cerimônias gloriosas e atos externos de abnegação. Por mais que a “carne” seja enfeitada e coberta com uma falsa camada de religiosidade, ainda é verdade que “o que nasce da carne, é carne”. A palavra “carne” abrange todas as atividades em que o eu próprio é o centro. Quando alguém passa a colocar DEUS no centro da sua vida, passa a andar segundo o ESPÍRITO.
2. O resultado. “Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do ESPÍRITO é vida e paz”. A palavra “morte” se refere a mais do que a morte física, porque até o crente morre fisicamente. Refere-se aqui ã separação presente e futura de DEUS, fonte de toda a vida espiritual. Embora os maus venham a ser ressuscitados da morte, será uma ressurreição para a condenação eterna, e continuarão a existir, após o Juízo Final, mas não a viver. O crente, no entanto, embora passe pelo túmulo, não morre realmente, porque sua comunhão vital com DEUS não é interrompida pela morte física. Foi assim que JESUS explicou a Maria e a Marta que a sepultura não fizera reparação entre Ele e Lázaro (Jo 11.25,26).
3. A razão. “Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra DEUS, pois não é sujeita à lei de DEUS, nem, em verdade, o pode ser”. O homem carnal, para quem o eu próprio é a lei suprema, naturalmente tem ressentimento contra a vontade do Poder Superior. Para ele, sua lei é seguir seu próprio Caminho. O que há de mais trágico nisto é que alguém pode ficar sem ter consciência desta rebelião contra DEUS, pode até Chegar a pensar que está servindo a DEUS, quando, na realidade, está servindo a si mesmo. Muitos obreiros cristãos, após examinarem-se até o fundo do coração, já têm feito a humilhante descoberta de que todas as suas atividades religiosas não passaram de uma capa debaixo da qual ostentava seu eu próprio orgulhoso e sedento de receber louvores. Em muitos casos, no entanto, esta dolorosa revelação tem sido o trampolim para se chegar à verdadeira consagração. Por maiores que sejam as qualidades possuídas por alguém, ou por mais importantes que pareçam ser os trabalhos religiosos que realiza, 16 ainda está “na carne”, pensando em si em primeiro lugar, “não pode agradar a DEUS”.
III - O ESPÍRITO que em Nós Habita (Rm 8.9)
“Vós, porém, não estais na carne, mas no ESPÍRITO, se é que o ESPÍRITO de DEUS habita em vós. Mas, se alguém não tem o ESPÍRITO de CRISTO, esse tal não é dele” (cf. Jd 19). Estar “no ESPÍRITO” quer dizer que o ESPÍRITO em nós habita, dirigindo nossa vida. Paulo declara que, se alguém não tem o Espírito habitando com ele, não é cristão, não pertence a CRISTO (v. 9). O “ESPÍRITO de CRISTO” é o ESPÍRITO SANTO em pessoa, e não, como alguns afirmam, o caráter e disposição de CRISTO. E chamado o “ESPÍRITO de CRISTO” porque foi enviado em nome de CRISTO (Jo 14.26), porque transforma em realidade o que CRISTO fez por nós e porque é o “outro Consolador” que veio tomar o lugar de CRISTO aqui na terra. Essa interpretação significa que a pessoa não é salva se não recebeu o batismo no ESPÍRITO SANTO? Não; trata-se de duas operações distintas do ESPÍRITO. A presença em nós do ESPÍRITO de CRISTO é vinculada à regeneração da nossa natureza. O batismo no ESPÍRITO nunca é vinculado à salvação, mas ao poder para o serviço. Como saber se é o ESPÍRITO de CRISTO, o ESPÍRITO de DEUS, o SANTO ESPÍRITO, que em nós habita? Existem aqui distinções e diferenças? Não, as Pessoas da trindade formam uma unidade tão perfeita que não pode haver distinção (ver Jo 14.11,23). A presença de DEUS chega ao nosso conhecimento mediante a operação do ESPÍRITO, que não fala acerca de si, agindo sempre como representante das demais pessoas da Deidade.
IV - A Vivificação Dada pelo ESPÍRITO (Rm 8.10,12)
“E, se CRISTO está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado”. Embora o corpo do crente seja templo do ESPÍRITO SANTO, está sujeito à morte. Os crentes foram redimidos do efeito da queda de Adão, mas os resultados finais da redenção ainda estão no futuro (cf. 1 Co 15.51- 54; Fp 3.20,21). “Mas o espírito vive por causa da justiça. E, se o ESPÍRITO daquele que dos mortos ressuscitou a JESUS habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a CRISTO também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu ESPÍRITO que em vós habita”. Paulo aqui faz o contraste entre o corpo humano e o espírito: aquele morre fisicamente por causa do pecado de Adão; o espírito, porém, em virtude da presença nele do ESPÍRITO SANTO, transforma-se em força viva que finalmente penetrará em todos os recantos do seu ser, inclusive no corpo. A habitação do ESPÍRITO em nós é prova, não somente da ressurreição espiritual que já houve em nossas vidas, mas também é promessa e garantia da futura ressurreição da nossa pessoa total. Para os demais, a morte é a desintegração da personalidade.
V - Andando no ESPÍRITO (Rm 8.12,13)
1. A dívida. O crente foi livrado da condenação e do poderio da carne; privilégios, no entanto, sempre trazem consigo responsabilidades, e a operação dos propósitos divinos pedem a cooperação do homem. “De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne”. Por que voltar para a carne, que foi a causa de tantas desgraças em nossa vida? O bom raciocínio exige que os crentes sigam a liderança do ESPÍRITO, pois é Ele quem traz paz e alegria às suas vidas.
2. O perigo. “Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis”. Viver segundo a carne, depois de tudo aquilo que DEUS fez por nós, seria brincar com a morte espiritual, seria rolar no lamaçal como a porca lavada (2 Pe 2.20-22).
3. O dever. “Mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis”. Isto não quer dizer que devamos danificar nosso corpo físico mediante açoites e a fome, como faziam os monges da Antiguidade, para crucificar a carne. Um ladrão, com as mãos amputadas, continuará sendo ladrão enquanto permanecer o impulso do furto. É o coração que furta, cobiça e comete impurezas (Mt 15.19). Mortificar os feitos do corpo é abafar os desejos pecaminosos, fazendo-os morrer de inanição ou atrofia enquanto alimentamos nossa alma com o ESPÍRITO SANTO. “Não tenhais cuidado da carne em suas concupiscências” (Rm 13.14). O crente não está na carne, mas a carne está com ele; portanto, precisa de constante vigilância e abnegação.
VI - A Orientação do ESPÍRITO (Rm 8.14)
“Porque todos os que são guiados pelo ESPÍRITO de DEUS, esses são filhos de DEUS”. Os que são realmente filhos de DEUS demonstrarão ter as características da Família (1 Jo 3.8-10; Ef 5.1). E, naturalmente, seus planos e propósitos serão regulados de acordo com a vontade de DEUS. A vida cheia do ESPÍRITO é a vida que põe DEUS no centro.
VII - Ensinamentos Práticos
1. Encorajamento para os que são sinceros. “Portanto, agora, nenhuma condenação há...” Não se declara que não há deslizes, fracassos, enfermidades, inconsistências — mas condenação já não há, para os que são filhos de DEUS, que agora odeiam o pecado e querem fazer a vontade de DEUS. Não devem temer que uma falha os leve à perda da salvação, porque: “E, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, JESUS CRISTO, o Justo” (1 Jo 2.1). No entanto, Romanos 8.1 não se aplica aos que procuram uma desculpa para viver descuidadamente ou para continuar no pecado, e sim para os que querem avançar ao lado do Senhor, mas que se sentem desanimados por causa dos seus pecados. Muitas vezes se tem feito comparações entre mundanos e crentes, no sentido de se dizer: “Fulano não é crente, mas vive uma vida melhor do que muitos crentes”. É verdade que muitos não crentes vivem uma vida com alto padrão do comportamento, mas isto, em si, não basta para a salvá-lo. Alguém pode viajar num carro de luxo, em alta velocidade e sem panes, na estrada errada, enquanto outra pessoa, sofrendo muitos defeitos com seu carro, chegará finalmente ao seu destino, se estiver viajando pelo caminho certo. O crente pode ter suas falhas, mas, seguindo firmemente pelo caminho certo, DEUS lhe ajudará na sua viagem, pois pura ele “não há condenação”.
2. Regeneração ou legislação? Os crentes devem sempre tomar o lado certo em toda questão social e moral. Naturalmente apoiam tudo quanto condiz com a virtude e A retidão. Mesmo assim, reconhecerão que a virtude não pode ser imposta mediante leis. Acerca do maior código de leis já dado ao homem, código divinamente inspirado, foi escrito: “Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne...” Todos os legisladores sabem que suas leis são fracas por não terem a capacidade de Inspirar a obediência que exigem, e é por isso mesmo que 0« legisladores contam com policiais e prisões. A maior necessidade do mundo não é mais legislação, e sim regeneração. O homem já possui todas as leis que se podem quebrar!
3. Desculpas ou condenação? Muitas pessoas, no seu desespero para vencer o pecado, chegam à conclusão de que ele não é tão maligno assim, e que faz parte necessária das nossas vidas, por desagradável que seja. A palavra “pecado” até foi banida do vocabulário de muitos pensadores modernos, que falam em “deslizes”, “indiscrições” etc. Tal procedimento causa profundos distúrbios na distinção entre o bem e o mal, e seu resultado é chamar o mal de bem e o bem de mal (Is 5.20). CRISTO, no entanto, deu sua própria vida para nos livrar do pecado, e para cumprir isto condenou (e não desculpou) o pecado na carne. Primeiro, reconheceu que o pecado é maligno, e revelou o horror do pecado ao mostrar qual a penalidade que dEle exigiu o erro do mundo. Em segundo lugar, condenou-o no sentido de despojá-lo do seu poder, declarando que ninguém precisa viver escravizado ao pecado.
 4. Não podemos salvar a nós mesmos. Paulo, ao enfatizar o fato de que a Lei não pode santificar a natureza humana, não está desprezando a Lei; simplesmente a defende contra um conceito errado quanto ao seu propósito. Para um homem ser salvo do pecado, precisa de um poder vindo de fora de si mesmo. Assim como um termômetro nada pode fazer para atingir a temperatura desejada, dependendo inteiramente de condições fora de si mesmo, assim também quem percebe que não está à altura daquilo que DEUS dele exige precisa da operação de uma força superior a ele: o poder do ESPÍRITO SANTO.
5. DEUS, a fonte da santidade. Vencer o pecado não é questão de armazenarmos certa porção da graça divina, é questão de ficarmos sempre em contato com o próprio DEUS. A santidade não se centraliza em mim, mas em DEUS. Um carro pode funcionar com uma reserva de gasolina, mas o bonde depende do contato elétrico permanente. A vida cristã funciona mediante o princípio do contato: a santidade no viver depende da nossa comunhão com aquEle que é fonte de vida, poder e virtude.


4- A RESTAURAÇÃO DE ISRAEL
capítulos 9, 10 e 11 de Romanos


Introdução
Os capítulos 9, 10 e 11 de Romanos parecem adotar uma linha de pensamento diferente do que se apresenta nos capítulos anteriores. Paulo estava tratando do indivíduo, e agora passa a debater o destino de uma nação. Estava tratando da Igreja, e agora começa a falar acerca de Israel. Já insistiu que a nacionalidade da pessoa não faz diferença no eterno destino, e agora define quais são os privilégios especiais de Israel como povo de DEUS. Essas explicações seriam necessárias face às objeções dos judeus que ouviam a pregação de Paulo. Os judeus, decerto, achavam que, quando Paulo pregava a responsabilidade do indivíduo diante de DEUS, esquecia-se das imutáveis promessas feitas a Israel por parte dEle registradas no Antigo Testamento. Paulo, então, passa a explicar qual o relacionamento entre o Evangelho e as promessas de DEUS feitas a Israel, e qual o relacionamento entre a Igreja e Israel. Para explicar melhor o pensamento revelado nesses capítulos, seria útil, a cada passo, mostrar as objeções dos judeus às quais Paulo respondia.
1. A lição de Israel (cap. 9). Objeção dos judeus: Se, ao rejeitar JESUS, a nação judaica inteira rejeitou o Messias, cuja vinda aguardavam e em prol de cuja vinda existiam, então fracassou o plano que DEUS fizera para Israel. Paulo responde: O plano de DEUS não fracassou, porque não é o mero nascimento que faz um israelita (cf. 2.28,29; G1 6.16). Os israelitas que DEUS aceita são os espiritualmente israelitas, e o “remanescente espiritual” de milhares de israelitas aceitaram a JESUS, cumprindo assim o plano de DEUS. Esses receberam a salvação, e aqueles foram rejeitados. Esse método está de acordo com o modo de DEUS agir na história de Israel (vv. 7-13) e condiz com a sua justiça (vv. 14-24), conforme os próprios profetas do Antigo Testamento proclamaram (vv. 25-33).
2. A rejeição de Israel (cap. 10). Objeção dos judeus: Como foi possível que DEUS tenha nos permitido cometer a tragédia dos séculos ao matarmos seu CRISTO e rejeitarmos seu plano para nós? Paulo responde: É a culpa exclusiva de Israel. Os israelitas queriam a salvação mediante a Lei ao invés de confiar no Senhor e no seu CRISTO. Não havia nenhuma desculpa para tal comportamento: o Evangelho fora pregado abertamente, e pregado com clareza singela, e Israel o rejeitou deliberadamente.
3. A restauração de Israel (cap. 11). Objeção dos judeus: DEUS quebrou suas promessas solenes e incondicionais feitas à nação? Paulo responde: não. A rejeição de Israel é apenas temporária; após completar seu plano para a presente era, DEUS mais uma vez se voltará para o seu povo e cumprirá sua promessa de restauração nacional.
I - O Fracasso de Israel (Rm 10.1-4)
1. Uma emoção revelada. “Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a DEUS por Israel é para sua salvação”. O apóstolo não debate a rejeição de Israel como se fosse uma teoria fria. Fica profundamente sentido, e não pode mencionar o assunto sem primeiro falar do seu grande pesar por causa da situação de Israel. Ele pessoalmente Sofreu muito por causa da fúria do zelo mal orientado deles, e seu corpo trazia as marcas de muitos apedrejamentos e surras. Mesmo assim, só queria o bem para eles, e seu grande desejo não era vê-los julgados e condenados, e sim Vê-los salvos. A paixão pelas almas não deixou em seu Coração lugar para a condenação das almas.
2. Uma razão apresentada. “Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de DEUS, mas não com entendimento”. Os judeus tinham zelo; conheciam a Lei, citavam-na, estudavam-na, e lutavam em prol da conversão dos gentios à Obediência da Lei. Este zelo, no entanto, era inaceitável a DEUS e incapaz de promover seus propósitos por seu zelo sem entendimento. O zelo, como a sinceridade, não é suficiente em si, porque alguém pode ter zelo em lutar em prol de uma causa errada, sendo portanto, zelo bem-orientado. Saulo de Tarso, ao perseguir a Igreja, tinha zelo por DEUS, e achava que estava fazendo um favor a Ele ao agir assim; mais tarde, porém, ficou sabendo que tinha lutado contra DEUS, quebrando as suas leis. O zelo pode ser uma força para o bem ou para o mal; tudo depende do objetivo de tal zelo.
3. Um erro desmascarado. “Porquanto, não conhecendo a justiça de DEUS e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de DEUS”. Interpretaram mal o propósito da Lei. Chegaram a confiar nela como meio de salvação espiritual; não tomando conhecimento da pecaminosidade do íntimo dos seus corações, imaginavam que pudessem galgar a salvação ao observar a letra da Lei. Dessa forma, quando CRISTO veio a eles oferecendo a salvação dos seus pecados, imaginavam não precisar de um Messias assim (Jo 8.32-34). Imaginavam que Ele deveria anunciar algumas exigências mediante as quais pudessem ganhar a vida eterna. Perguntavam: “Que faremos para realizar as obras de DEUS?” Não queriam, porém, seguir o caminho indicado por JESUS: “A obra de DEUS é esta: que creiais naquele que ele enviou” (Jo 6.29). Estavam tão ocupados em procurar estabelecer e calcular seu próprio sistema, para obter a justiça própria, que não aceitaram o plano de DEUS para a justificação dos pecadores. Existe a ideia, profundamente arraigada na mente humana, de que o homem precisa fazer algo para operar e merecer a sua própria salvação. O hindu se lava no rio sagrado; o judeu dá esmolas, faz suas orações e observa a tradição dos antigos. O católico faz penitência faz suas orações e realiza romarias. O protestante formalista se contenta com conhecimentos intelectuais acerca do Cristianismo, vive certo nível de bom comportamento e frequência à igreja. Essas atividades, juntamente com outras, revelam a tendência natural da consciência humana de estabelecer seus próprios padrões e sistemas de justiça e retidão.
4. Uma verdade declarada. “Porque o fim da lei é CRISTO para justiça de todo aquele que crê”. Ao viajar de trem, ninguém pensa em fazer dele a sua moradia; pelo contrário, salta dele quando chega na estação da cidade onde mora. Assim também, a Lei fora dada a Israel para levar o povo ao “ponto final” certo, que é a fé na graça salvadora de DEUS. Quando, porém, veio o Redentor, o judeu, satisfeito com suas próprias virtudes legalistas, não quis receber a informação de que chegara ao seu destino, que chegara ao “fim da linha”, e permaneceu “em trânsito”.
II - A Restauração de Israel (Rm 11.11-15,25-29)
Pergunta-se se DEUS cancelou suas promessas e negou sua própria Palavra com respeito aos judeus. “Porventura, rejeitou DEUS o seu povo?” Paulo responde com ênfase: “De modo nenhum”, e passa a demonstrar que a queda de Israel não é total (vv. 1-11), nem permanente (vv. 11-32); não é total, porque um remanescente de judeus, como Paulo, aceitou a CRISTO; não é permanente, porque DEUS ainda cumprirá as promessas nacionais feitas ao seu povo. A queda de Israel:
1. Não é permanente. “Digo, pois: porventura, tropeçaram, para que caíssem?” Noutras palavras, já tropeçaram (1 Co 1.23) e caíram — mas é permanente a sua queda? Paulo responde: “De modo nenhum”. A nação judaica não está rejeitada e perdida, sem possibilidade de recuperação. Essa queda não pode ser o ponto culminante da sua maravilhosa história. DEUS ainda tem um futuro para Israel. 2. Foi transformada em bênção. “Mas, pela sua queda, veio a salvação aos gentios”. Os filhos de Jacó prosseguiram o irmão deles, José, mas DEUS transformou a maldade deles em bênção para os gentios, e finalmente, em bênção para os próprios irmãos de José. Parecia uma tragédia quando os judeus rejeitaram seu Messias, mas DEUS transformou aquela rejeição em bênção, fazendo com que a palavra da salvação fosse levada às nações gentias. E os judeus, vendo os gentios recebendo as bênçãos que eles poderiam ter recebido, passariam a ter “ciúmes” (cf. Dt 32.21; At 13.44). Já na época de Paulo os judeus estavam cheios de inveja ao verem os gentios receberem bênçãos das quais (segundo pensavam) somente os judeus eram dignos. Quando os judeus rejeitaram a CRISTO, o novo povo escolhido (a Igreja) passou a desempenhar o papel central de testemunhas de DEUS (Mt 21.43; 1 Pe 2.9,10).
3. Trará bênçãos abundantes. “E, se a sua queda é a riqueza do mundo, e a sua diminuição [mediante a rejeição] a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude [restauração a todos os privilégios]!” No princípio, DEUS fez de Israel uma nação escolhida e povo particular seu, a fim de que, finalmente, chegasse a ser uma bênção para todas as demais nações. Assim sendo, a bênção das nações tem sido vinculada ao destino e à vocação de Israel. Quando Israel fracassou, rejeitando CRISTO, parecia que esta queda causaria perda para as demais nações. DEUS, porém, na sua sabedoria e poder, transformou a queda em bênção para os gentios. Ora, se sua rejeição trouxe tantas bênçãos para o mundo, quem poderá medir o tamanho das bênçãos que sua restauração traria! Segundo os profetas, a restauração de Israel será o ponto inicial para a vinda do Reino de DEUS na terra. 
4. Deve ser entendida. O assunto da restauração de Israel tem os seguintes aspectos:
4.1. Suprema importância. “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo”. Este é o modo característico de Paulo chamar a atenção a alguma verdade importante (cf. Rm 1.13; 1 Co 12.1; 1 Ts 4.13; 1 Co 10.1).
4.2. Uma característica especial. “Este segredo”. No Novo Testamento, a palavra “segredo” se refere a alguma verdade, antes escondida, e agora revelada, e cuja compreensão exige discernimento espiritual. Refere-se a alguma verdade que não poderia ser descoberta por meios naturais e que nunca teria sido conhecida, se DEUS não a revelasse. A palavra se aplica: ao Evangelho (Mt 13.11), à união de judeus e gentios num só corpo (Ef 3.6), à união de CRISTO com a igreja (Ef 5), à transformação levada a efeito na ressurreição do corpo (1 Co 15), à revelação do Anticristo (2 Ts 2.7) e à futura conversão de Israel. Nesse caso, o mistério é que Israel ficará cego e rejeitado até que “haja entrado a plenitude dos gentios”.
4.3. Um propósito prático. “Para que não presumais de vós mesmos”. Paulo adverte seus leitores gentios de que não devem ficar tão orgulhosos na sua posição de privilégio ao ponto de desprezar os judeus. Provera DEUS a igreja em Roma tivesse sempre respeitado esta advertência!
4.4. Uma consumação gloriosa. “E, assim, todo o Israel será salvo”. Isso não significa que cada indivíduo entre os israelitas chegará finalmente a ser salvo. Paulo fala aqui do destino nacional, e não da salvação individual. Quer dizer que Israel, como nação, será libertada dos seus inimigos, espirituais e físicos, sendo restaurada à sua antiga situação de testemunha de DEUS. “De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades”. Quem é este Libertador? Leia Zacarias 12.10. “Quanto ao evangelho, são inimigos por causa de vós”. Desde o princípio, a nação israelita, como um todo, tomou posição contra JESUS, e até hoje a mesma atitude foi conservada; nenhuma nação já resistiu ao Evangelho como os judeus. “Por causa de vós” significa que os gentios receberam benefícios do fato de os judeus terem rejeitado o Evangelho. DEUS, porém, não os rejeitou completamente, apesar desta atitude deles, contrária a CRISTO. “Quanto à eleição [a escolha deles como povo especial de DEUS], amados por causa dos pais”, ou seja, com base nas promessas feitas a Abraão, Isaque e Jacó. “Porque os dons e a vocação de DEUS são sem arrependimento” . Mais uma vez, Paulo continua debatendo o destino terreno da nação, e não o destino celestial do indivíduo. Quais são os dons e a vocação aqui aludidos? Veja Romanos 9.4,5. Em que sentido são “sem arrependimento”? No sentido da nação de Israel não ser eternamente rejeitada como povo de DEUS. As promessas divinas com respeito ao seu destino nacional são incondicionais, ou seja, garantem que esta nação será finalmente uma bênção para o mundo, apesar da necessidade de fazê-la passar por longos séculos de castigos (ver Jr 31.35-37; 33.24-26; cf. Rm 11.27 e Jr 31.31-34).
III - Ensinamentos Práticos
Do ponto de vista humano, os judeus são um povo surgido na terra da Judéia, agora espalhado por muitas nações, com talentos e peculiaridades marcantes. Destaca-se como povo de Moisés e dos profetas, sendo a nação que mais rejeita a CRISTO. Há, porém, um ponto de vista divino, o propósito de DEUS em conexão com a sua história, e Paulo não queria que os gentios, no decurso dos anos, chegassem a tratar os judeus somente do ponto de vista humano: “Porque não quero, irmãos, que ignoreis este segredo (para que não presumais de vós mesmos)”. A restauração de Israel é certa e iminente; DEUS, de fato, não é homem para que minta (Nm 23.19), e fará cumprir suas promessas, ainda que na vigência da Nova Aliança. “Porventura rejeitou DEUS o seu povo?” De modo algum. A queda de Israel foi transformada em bênção: quando os judeus rejeitaram a CRISTO, nós, a Igreja, passamos a desempenhar o papel de testemunhas de DEUS
 

5- O TRIBUNAL DE CRISTO
Texto: 2 Coríntios 5; 1 Coríntios 3.10-15
 
Introdução
Os pensamentos seguintes são os que levam à declaração de 1 Coríntios 3.9-15. O apóstolo repreende os coríntios pelas suas facções. Tinham perdido CRISTO do centro de suas vidas; estavam dando mais atenção a pregadores individuais. Como resultado, a igreja era dividida na sua preferência por certos ministros. Alguns preferiam Paulo, outros gostavam mais de Pedro, enquanto outros pensavam que Apoio fosse o melhor (1.11-16). Paulo condena este gloriar-se nos homens e lembra-os da supremacia de CRISTO e da mensagem da cruz (cap. 2). A mensagem era tão importante que o apóstolo estava resoluto: confiaria nela para receber resultados, e não na sua eloquência culta. Embora a mensagem do Evangelho seja simples, não é superficial, contém profundidades da sabedoria divina que somente os que têm o ESPÍRITO de DEUS podem entender. Paulo lamenta o fato de que não podia transmitir a eles essa sabedoria mais alta; a presença de facções e contendas entre eles revelava sua imaturidade e a sua falta de capacidade para receber ensinos mais profundos (3.1-3). Não devem gloriar-se nos homens, mas lembrar-se de que os obreiros cristãos são apenas instrumentos nas mãos de DEUS para levar as pessoas à salvação, nenhum poder têm de si mesmos. Paulo estabeleceu (“plantou”) a igreja, e Apoio a instruiu (“regou”), mas, afinal de contas, foi DEUS quem fez frutificar esses esforços. Paulo e Apoio eram apenas cooperadores no desenvolvimento da igreja. Os versos seguintes têm sua mensagem especialmente para obreiros cristãos. Paulo lançou os fundamentos da igreja por meio de pregar a CRISTO, mas cada construtor é responsável pela maneira que edifica sobre esses fundamentos. Isso porque, na vinda de CRISTO, a obra de cada homem será testada e seu galardão dado conforme o valor da obra. Enquanto o primeiro texto estudado trata com obreiros cristãos em particular, também tem uma aplicação geral a todos os cristãos. O segundo texto trata de julgamento de crentes em geral. 0 ensino dos dois textos pode ser dividido conforme a ilustração que Paulo deu, de uma construção:
1 — O fundamento.
II — A estrutura.
III — O teste.
IV — Os resultados.
V — Conclusão: A vida diária e o julgamento futuro (2 Co 5.8-10).
I - O Fundamento (1 Co 3.10-15)
“Segundo a graça de DEUS que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é JESUS CRISTO”. Pela graça de DEUS, Paulo foi o fundador da igreja de Corinto. Como a fundou? Por meio de pregar a CRISTO. O único fundamento verdadeiro para a salvação e para a vida espiritual é o Senhor JESUS CRISTO e a sua obra em prol dos homens (At 4.11,12). Ele é o fundamento da verdade: a doutrina cristã é edificada sobre Ele. Ele é o fundamento da vida: a Igreja é edificada sobre Ele, e os que crêem nEle são as pedras espirituais (Mt 16.18; 1 Pe 2.4-8). Ele é o fundamento da certeza da salvação. CRISTO é o fundamento divino: DEUS o mandou para o mundo (cf. Is 28.16). Ele é o fundamento seguro: sua obra não pode fracassar. Ele é um fundamento testado: resistiu todas as tentativas do diabo para derrubá-lo. Ele é o único fundamento: opiniões e méritos humanos são apenas fundamentos de areia.
II - A Estrutura “Mas veja cada um como edifica”.
1. A obra precisa ser bem-organizada. Não basta trabalhar para o Senhor, precisamos trabalhar sabiamente e bem. Alguém disse: “O trabalho mais desmazelado e malfeito neste mundo tem sido levado a efeito em nome de DEUS, em conexão com o seu Reino”. A obra do Senhor merece a mesma eficiência e dedicação que se revela em outras esferas de atividades. Os que edificam descuidadamente precisam prestar atenção ao que Paulo falou: “Mas veja cada um como edifica”.
2. Os materiais certos devem ser empregados. Paulo considerou que os muitos ensinadores em Corinto estavam ocupados em edificar na mesma estrutura. Alguns desses edificadores estavam colocando coisas valiosas, como ouro e prata, pedras valiosas (mármore e outros), outros estavam trazendo feno, madeira, restolho, caniços dos pântanos e coisas assim. Dois tipos de materiais estavam sendo empregados — materiais apropriados para uma estrutura forte e permanente e materiais perecíveis apropriados para uma estrutura temporária. Podemos aplicar isto à:
2.1. Doutrina. O ouro, a prata e as pedras valiosas representam ensinos bíblicos puros, preciosos e permanentes; a madeira, o feno e a palha representam especulações e opiniões humanas que tomam o lugar da verdade de DEUS.
2.2. Vida. O ouro e a prata podem simbolizar a vida cristã do tipo mais nobre, edificada com fé, esperança e amor. A madeira pode representar a vida cristã do tipo inferior — com pouco zelo ou entendimento espiritual. O feno nos faz pensar naqueles que são movidos por todas as brisas de opiniões e erros (Ef 4.14). A palha pode representar os cristãos infrutíferos.
III - O Teste Virá o dia de provas quando será revelado o valor da obra de cada um.
1. Quando? A obra cristã é testada em muitas ocasiões, e boa parte dela não sobrevive ao teste. Mas no dia que JESUS voltar (cf. Mt 25.14-30), tudo será testado de modo final. “A obra de cada um se manifestará”; seu verdadeiro caráter então será visto. “O Dia a declarará”, não como parecia ser, mas como realmente é. Agora pode parecer bom, mas qual será a sua aparência naquele dia? Haverá muitas surpresas, então! Há modos de encobrir trabalho inferior, mas não há maneiras de escapar ao teste final.
2. Como? “E o fogo provará qual seja a obra de cada um”. Não se trata do fogo do purgatório - aquela doutrina católica romana que aplica o fogo às pessoas, mas aqui o apóstolo o aplica às obras; na doutrina católica, o fogo é para purificar — aqui tem o propósito de testar. O fogo mencionado aqui representa a santidade do Senhor, que reage contra tudo quanto é mau e diferente dEle, assim como o fogo natural reage contra tudo quanto é inflamável (cf. Dt 4.24; 9.3; SI 50.3; Is 66.15,16; Ml 3.2,3; 2 Ts 1.8; Hb 12.29). 3. Por quê. Qual é o propósito do teste? Para tornar manifesta a obra de cada um. O fogo manifestará:
(1) a base da obra, se foi levada a efeito pela pregação de CRISTO ou por métodos e especulações humanas;
(2) o espírito que inspirou a obra, se foi feita para CRISTO ou para o eu próprio. DEUS não somente vê o ato, mas a motivação dele. Considera não somente o que fazemos, mas por que o fazemos.
IV - Os Resultados
A verdadeira natureza da nossa vida e obra nem sempre é vista aqui e agora. Há aqueles que louvam a madeira como se fosse ouro, e desprezam o ouro como se fosse madeira. Quando JESUS vier, porém, a verdade será conhecida.
1. A obra sólida ficará de pé. A verdade sobreviverá ao fogo, e um caráter e obra que se assemelha a CRISTO também sobreviverá. A obra feita para o tempo perece, mas a obra feita para a eternidade permanece. O teste pelo fogo ressaltará a verdadeira qualidade de todo o trabalho. O edificador receberá um galardão ao ver a sua obra permanecer (Fp 2.16) e ao ser reconhecido como bom trabalhador (Mt 25.21). Observemos que o galardão não é por ser no fundamento. As pessoas descritas nesses versos são pessoas salvas, já no fundamento. Como pessoas salvas, os seus pecados foram julgados no Calvário, por isso não precisam comparecer em juízo juntamente com os pecadores. Paulo descreve aqui um julgamento por aquilo que foi edificado sobre o fundamento da salvação, ou seja, o serviço cristão. A salvação é um dom gratuito (Ef 2.8-10), e não um galardão; é o serviço cristão levado a efeito após a salvação que será recompensado. Notemos que o fogo neste caso não é o fogo da ira, porque testa o ouro e a prata, e não somente os materiais inferiores. É o fogo do Refinador, e não do Vingador.
2. O material fraco será destruído. Toda a obra animada pelo espírito de egoísmo, mundanismo, inveja, contenda e outras atitudes errôneas será destruída. “Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento [cf. 2 Jo 8]; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”. O edificador fica contente ao se safar com vida, assim como alguém que escapa de uma casa incendiada, salvo “como pelo fogo”. Imagine o desgosto do pobre edificador ao ver o fogo fazer seu terrível trabalho e presenciar o colapso da obra da sua vida. Ele pessoalmente é salvo pela obra de CRISTO, mas seu trabalho se perde (cf. Zc 3.2; Am 4.11; Jd 23; 1 Pe 4.8). Estude a vida de Ló, como exemplo de alguém salvo como que através do fogo (Gn 19.17-22).
V - Conclusão: A Vida Diária e o Julgamento Futuro (2 Co 5.8-10)
1. A bendita esperança. No meio das fraquezas e aflições do corpo, Paulo é consolado pelo pensamento de que as coisas terrenas são por pouco tempo, enquanto as coisas celestiais são eternas (2 Co 4.16-18). Continua falando da grande esperança que o sustém - um corpo eterno e celestial tomará o lugar do seu corpo terrestre. Espera viver até a vinda de CRISTO e receber o corpo celestial sem passar pela experiência da morte; mas, mesmo se DEUS planejou diferentemente para ele, não teme a morte, porque estar ausente do corpo é estar presente com o Senhor, e, embora ausente do antigo corpo, receberá um corpo novo e glorificado. Esse pensamento o leva a pensar no seu encontro com CRISTO, quando lhe prestará contas diante do tribunal.
2. A certeza confiante. O verso 6 representa a ausência de medo de Paulo ao enfrentar a morte. O que explica a sua confiança? Primeiro, o conhecimento de que a morte não seria uma ameaça aos interesses do seu ser. Estar ausente do corpo é estar presente com o Senhor. Segundo, o conhecimento de que a morte não destruiria o grande propósito da sua vida, a saber, ser aceitável a CRISTO. Terceiro, o conhecimento de que a morte não impediria o recebimento dos galardões pela sua obra (v. 10).
3. O futuro solene. “Pelo que muito desejamos também ser-lhe agradáveis, quer presentes, quer ausentes. Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de CRISTO”. A qual juízo isso se refere — ao juízo geral de bons com maus ou somente de crentes? Concluímos que descreve o julgamento de crentes. Primeiro, por causa do uso do pronome “nós”, em segundo lugar, de conformidade com Apocalipse 20.4-6, os dois julgamentos serão separados por um período de mil anos. As coisas feitas “por meio do corpo” são aquelas que se praticam na vida terrestre. Em que sentido alguém pode “receber” por aquilo que é mau? A resposta é sugerida em 1 Coríntios 3.15: “sofrerá ele dano”.
VI - Ensinamentos Práticos
1. O único fundamento. “Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é JESUS CRISTO”. Um hindu certa vez perguntou a um missionário cristão: “O que vocês têm na sua religião que nós não temos na nossa?” Esperava uma discussão com respeito à doutrina e à moralidade, mas, ao invés disto, ouviu a resposta: “Vocês não têm CRISTO”. Assim como um rei francês disse: “Eu sou o Estado”, assim também JESUS poderia ter dito: “Eu sou a minha religião”. O Cristianismo não é um mero sistema de doutrina. Não é apenas um padrão segundo o qual se deva viver. Não é somente uma força social. E o relacionamento com uma Pessoa divina. CRISTO é o Cristianismo, e o Cristianismo é CRISTO.
1.1. CRISTO é o fundamento do Cristianismo. Se Ele fosse removido não haveria Cristianismo; se Ele não está devidamente honrado, o Cristianismo se torna fraco e prestes a cair.
1.2. CRISTO é o fundamento da igreja. “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18). Nenhum furacão ou tempestade a moverá, se estiver firme na Rocha; mas se depender das areias movediças das riquezas, da posição, do poder político, da sabedoria humana ou de outras coisas dos homens, ai dela! Sem o CRISTO vivo, a igreja degenera em clube social.
1.3. CRISTO é o único fundamento para o trabalho cristão. Paulo fez de CRISTO o fundamento da sua obra entre os coríntios quando resolveu nada saber senão a CRISTO crucificado (1 Co 2.2). Há aqueles que falsamente supõe que podem segurar pessoas ao introduzirem divertimento e sensacionalismo na igreja. Por esses meios, porém, as almas não são salvas nem as vidas santificadas.
1.4. CRISTO é o único fundamento para uma vida piedosa. “Ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6). “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). E de CRISTO que recebemos o poder de viver corretamente. Algumas pessoas procuram operar a sua própria salvação, procuram ser religiosas a fim de poder chegar a CRISTO, ao invés de chegar a CRISTO a fim de serem religiosas. São como aquele que quer edificar a casa primeiro e depois colocar os alicerces.
1.5. CRISTO é o único fundamento para a vida nacional. Uma nação poderá ser grande som ente se estiver fundamentada em princípios cristãos. “A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos” (Pv 14.34).
2. Julgamento na Casa de DEUS (1 Pe 4.17). Não erramos ao ressaltar a graça livre de DEUS e as bênçãos da salvação, porque o Evangelho é primariamente Boas Novas. Mas, às vezes, nos esquecemos de dizer aquilo que o Novo Testamento fala acerca do juízo da casa de DEUS. A graça de DEUS isentará todo aquele que crê no julgamento final dos pecadores, mas não o livra do juízo das suas obras. “Aquilo que alguém semear, isto também ceifará” foi primeiramente falado a cristãos. Há de vir um dia em que as obras do cristão serão examinadas pelo escrutínio da presença divina. Apocalipse 1 descreve o Juiz, e os capítulos 2 e 3 declaram alguns dos princípios do julgamento. Alguns de nós não fomos leais ao Senhor. Paulo diz: “Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados” (1 Co 11.31). Como podemos julgar a nós mesmos? Mediante a confissão e o arrependimento. Pecados “cobertos pelo sangue do Cordeiro” (1 Jo 1.9; 2.1) não virão contra nós no juízo.
3. Um fundamento precioso merece uma boa estrutura. Em 1 Coríntios 3.11-15, Paulo está falando acerca de cristãos verdadeiros, aqueles que têm CRISTO como fundamento das suas vidas. Há no profundo do coração deles fé e amor para com o Senhor JESUS CRISTO, e neste fundamento eles edificam o seu caráter. Muitos, porém, não conseguem se entregar plenamente àquela fé e àquele amor, com o resultado de que muitos dos seus atos, palavras e atitudes não correspondem ao fundamento. Estão no fundamento, mas suas vidas apresentam uma mistura de bondade e maldade. Têm desejos celestiais e pensamentos de abnegação, mas justamente com tudo isso aparecem atitudes pouco cristãs. Num momento estão cheios de calor e amor, e noutro momento são gelo e egoísmo. Pedro tinha JESUS como seu fundamento, mas quando negou seu Mestre, estava edificando lixo sobre aquele fundamento precioso Sendo que CRISTO é o nosso fundamento, devemos tomar o cuidado de viver uma vida que corresponda a Ele. Aquele que habita em nosso coração deve ter livre expressão da sua vontade em nossos pensamentos, palavras e atos. Temos um fundamento precioso - para que edificar nele uma choupana barata?
4. Salvo por um triz. “Mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”. Essas palavras ilustram a posição de certos cristãos inconsistentes diante do tribunal de CRISTO. Paulo diz que serão inocentados porque havia nos seus corações o fundamento da verdadeira fé em CRISTO. Essa fé, porém, era tão fraca e inativa nas suas vidas, que não podia evitar que acumulassem inconsistências e as edificassem no seu caráter. Diante do tribunal de CRISTO, aquele lixo é queimado e eles mesmos com dificuldades são salvos. Quase nem sequer “passam no teste”. Quem gostaria de ser salvo de tal maneira? E quem queria arriscar sua sorte, vivendo indignamente? Não - vamos viver de tal maneira que nos “será amplamente concedida a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador JESUS CRISTO” (2 Pe 1.11).
 

6- A CONTRIBUIÇÃO CRISTÃ
Texto: 2 Coríntios 8 e 9
 
Introdução
A prática de ter tudo em comum (At 4.32) foi abandonada muito cedo na história da Igreja. Aquele sistema, muito belo no seu devido lugar e época, foi passando quando o desenvolvimento da Igreja o tomou impraticável. Mesmo assim, a benevolência cristã continuou a se manifestar de várias maneiras. Foi vista na comunhão entre as seções judaica e gentia da Igreja. Os gentios tinham sido pobres espiritualmente, “não tendo esperança, e sem DEUS no mundo” (Ef 2.12). Os pregadores judeus estavam pobres em coisas materiais, e os cristãos gentios expressavam a sua gratidão ao trazer-lhes ajuda financeira. Esse foi um dos argumentos de Paulo, o apóstolo, enquanto levantava ofertas em prol dos cristãos necessitados da Judéia (Rm 15.26,27). O objetivo de levantar a oferta era duplo: primeiro, aliviar o infortúnio financeiro dos santos judeus; segundo, fortalecer os vínculos de comunhão entre os cristãos judeus e gentios.
Tiraremos nosso estudo daqueles capítulos de 2 Coríntios nos quais Paulo apela aos coríntios para contribuírem para esse fundo específico. O capítulo seguinte é um resumo dos pensamentos dominantes daqueles. Paulo como que diz: “Há um ano vocês me transmitiram a certeza de que dariam uma oferta liberal aos santos judeus necessitados, de tal maneira que, em todos os lugares, estou apontando vocês como um exemplo de generosidade, dizendo: ‘Faz um ano que a Acaia está pronta’. Agora estou enviando Tito e outros companheiros, a fim de receberem as mesmas ofertas. Por favor, estejam prontos com a contribuição: pensem como será embaraçoso para mim se vocês não se comportarem à altura daquilo que tenho dito sobre vocês. Digo isso não somente por mim, porque não tiro lucro disso, nem somente por causa dos necessitados da Judéia, que darão graças a DEUS por esse sinal do seu amor cristão, mas também por amor a vocês, para que possam ceifar a bênção que DEUS prometeu àquele que dá com alegria”. Nosso tópico será: a contribuição cristã - sua origem, sua natureza, sua expressão e sua recompensa.
I - Sua Origem (2 Co 8.1)
Nesse verso, Paulo conta aos coríntios acerca da extrema liberalidade dos macedônios (as igrejas de Filipos, Tessalônica e Beréia); era sua prática despertar o zelo de uma igreja citando o exemplo de outra (2 Co 9.2). Ressalta o fato de que a sua generosidade era prova da graça que recebiam do ESPÍRITO SANTO (cf. At 4.33,34). Seja qual for o sistema financeiro operante numa igreja, é a graça de DEUS trabalhando nos seus corações que inspirará a liberalidade. Há vários tipos de graça: a graça preventiva, que traz o pecador para DEUS; a graça salvadora, que o transforma em filho de DEUS; a graça cooperadora, que ajuda o crente na vida de santidade e a graça sustentadora, que o ajuda a passar por provações e tristezas. Há também a graça de dar, mediante o que a realidade da presença do ESPÍRITO inspira os cristãos com liberalidade.
II - A Sua Natureza (2 Co 8.2-5)
Paulo desperta o zelo dos coríntios ao citar o exemplo da igreja da Macedônia, cuja beneficência era:
1. Abnegada. O verso 2 tem sido interpretado: “No meio de uma severa provação de dificuldades, sua alegria abundante e sua profunda pobreza juntamente derramaram uma inundação de rica generosidade”. Essas igrejas tinham problemas financeiros próprios: havia exércitos estrangeiros ocupando o país, e consequentemente havia muita pobreza. Além disso, estavam sofrendo severa perseguição por parte dos seus patrícios, e isto afetaria os que faziam negócios ou que eram empregados dos pagãos. A despeito de tudo isso, porém, tinham boa vontade em participar dos fardos dos outros, cumprindo assim a lei de CRISTO. A graça de DEUS lhes deu forças para aguentar mais esse fardo. O verso 1 tem sido traduzido: “Ora, quero lhes contar, irmãos, acerca do dom gracioso que Ele deu às igrejas da Macedônia - o dom da generosidade”.
2. Espontânea. “Deram voluntariamente”. As pressões externas podem levar as pessoas a contribuir com relutância, mas depois se sentem como o indivíduo estonteado, que vai sarando do choque causado pelos poderes quase hipnóticos da eloquência mágica de um vendedor de alta pressão! No caso dos macedônios, não se tratava de pressões externas, mas do amor de DEUS vindo de dentro, que os levava a contribuir.
3. Sincera. “Pedindo-nos com muitos rogos a graça e a comunicação desse serviço, que se fazia para com os santos”. Podem ser pleiteadas muitas desculpas - a falta de conhecimento pessoal dos santos judeus, suas próprias obrigações, a caridade começa em casa etc. A despeito de tudo, deram com uma liberalidade que deixou Paulo atônito. Por certo, Paulo, conhecendo a sua pobreza e vendo o tamanho da oferta, deve ter dito: “Amigos, vocês não podem ofertar uma soma tão grande”. Esses crentes pobres, porém, insistiram para que ele aceitasse o dinheiro. Por quê? Consideravam que era um privilégio contribuir, tinham a graça da generosidade.
4. Espiritual (v. 5). A oferta era uma expressão da sua inteira consagração à vontade de DEUS. Tendo entregado tudo a DEUS, foi-lhes fácil dar uma parte. A dádiva deles era um ato da propriedade mais alta, em que eles, como sacerdotes espirituais que pertenciam a DEUS, apresentavam sua contribuição como reconhecimento de que a DEUS pertencia tudo (cf. 1 Cr 29.14-18; Hb 13.16). Algumas pessoas podem imaginar que uma oferta é uma intrusão das coisas seculares nas coisas sagradas; na verdade, porém, a oferta deve fazer parte do culto tanto quanto à oração ou à bênção. Os macedônios não somente deram o seu dinheiro, deram a si mesmos aos apóstolos como seus ajudadores. A sua consagração incluía dar o seu tempo e a sua energia, e não somente o seu dinheiro.
III - Seu Exemplo (2 Co 8.6-9)
1. O exemplo dos macedônios. Notem o verso 6. Tito, ajudante de Paulo, tinha sido enviado a Corinto para notificar o povo da necessidade dos cristãos judeus, e ele trouxe para Paulo o recado de que os coríntios estavam dispostos a contribuir. O verso 6 pode ser interpretado: “Como consequência disso, já estou suplicando a Tito que coloque a coroa de completação neste movimento generoso seu, sendo que seu início partiu dele”. O sucesso da coleta na Macedônia induzira Paulo a enviar Tito para Corinto, para iniciar uma coleta ali também. Ele já visitara Corinto no mesmo assunto (12.14) e agora estava a caminho de lá para completar esta “graça”. Notemos quantas vezes Paulo emprega a palavra “graça”; isso porque não está exercendo pressão para obter contribuições, porque é confiante que os corações deles serão comovidos pelo Espírito SANTO. 1.1. Verso 7. Paulo demonstra que a generosidade cristã é essencial a um caráter completo. Ele como que diz: “Sei que a graça de DEUS é real no meio de vocês, e que conhecem as atuações do ESPÍRITO, que inspira a fé, a palavra, a iluminação, o zelo e o amor, mas quero que também saibam a inspiração do contribuir”. A liberalidade cristã é um meio de graça, no sentido de obter o favor divino para conosco (At 20.35).
1.2. Verso 8. Paulo assevera aos coríntios que não está lhes dando ordens, mas apenas inspirando-os a agir seguindo o exemplo de outros e também oferecendo-lhes uma oportunidade de comprovar que o seu amor é genuíno. A contribuição cristã não precisa ser assunto de mandamentos. “Não digo isso como quem manda”. Dádivas entregues por dever não são realmente dádivas — são impostos. Não deixam nenhum perfume agradável na mão que dá e não trazem nenhum perfume à mão que recebe.
2. O exemplo de CRISTO (v. 9). Paulo não acha satisfatório o exemplo humano; indo até o ambiente mais alto da graça, ele descortina o supremo motivo para a contribuição cristã - o exemplo de CRISTO. “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor JESUS CRISTO” - noutras palavras, lembrem-se o quanto Ele deu.
(1) Lembrem-se de quem JESUS era (Jo 17.5,2; Mt 26.52; Jo 1.1,14; Fp 2.5-7).
(2) Lembrem-se de quem JESUS tornou-se. “Se fez pobre”. Nasceu num estábulo, foi criado por pais pobres, trabalhou numa oficina de carpinteiro e foi sujeito a todas as fraquezas da natureza humana, porém sem pecado.
(3) Notemos também qual foi o propósito de JESUS: “Para que pela sua pobreza vos tomásseis ricos”. Através da sua humilhação, JESUS fez com que as riquezas de DEUS estivessem disponíveis a todos.
Tornou-se pecado a fim de que nós nos tomássemos santos. Foi feito maldição para que nós fôssemos abençoados. Sofreu a morte, a fim de que nós pudéssemos viver para sempre. Sofreu as tristezas da Terra, a fim de que nós pudéssemos desfrutar das alegrias do Céu.
IV - Sua Expressão (2 Co 9.6-8) 
Quais são algumas das características da contribuição cristã?
1. Liberalmente (v. 6). Como incentivo à contribuição liberal, o apóstolo a vincula com a lei do semear e ceifar (cf. Lc 6.38; Pv 11.24). O dar abençoa quem dá. “Cada flor que você planta ao longo do caminho de outrem, derrama a sua fragrância sobre você”.
 2. Com boa vontade. “Cada um contribua segundo propôs no seu coração”. O doador generoso é movido pelo impulso bondoso do seu coração e por princípios profundos, e não pelas ferroadas da sua consciência ou pelo desejo de parecer generoso aos olhos dos outros. Muitas pessoas contribuem sob a influência de um apelo comovente, mas têm pena da sua própria generosidade logo que dão o dinheiro. Há aqueles que contribuem quando comovidos por uma emoção irresistível — o que é bom; melhor, porém, é dar porque o princípio do dar está arraigado no coração.
3. Com alegria. “Não com tristeza ou por necessidade”. Aquele que contribui com alegria considera que o contribuir é um prazer, e não algo doloroso; gosta de dar, e sente-se triste quando não tem nada para ofertar. Há, porém, aqueles que se separam das suas ofertas como quem está dando o seu sangue vital. Aquele que dá relutantemente não está dando. O maior dos ensinadores gregos recusou permitir que o título “liberal” fosse dado ao homem que dava grandes somas sem sentir nisto prazer algum. “A dor que ele sente comprova que gostaria mais de ficar com o dinheiro do que praticar o ato nobre. A boa disposição naquele que dá aumenta o valor da dádiva”.
V - Sua Recompensa (2 Co 9.7,8)
1. A aprovação divina. “DEUS ama ao que dá com alegria”. O que DEUS pensa de nós é uma pergunta muito importante. É um grande incentivo saber que o DEUS Altíssimo aprova quem dá com alegria (lit. “hilaridade”); é mais do que a aprovação formal, porque DEUS ama tal pessoa. Por quê? Porque aquele que dá com alegria tem uma semelhança com DEUS, porque Ele mesmo dá com liberalidade. O Senhor vê o seu próprio caráter refletivo naquele que dá com alegria e generosidade.
2. A provisão divina. O verso 8 tem sido traduzido conforme segue: “DEUS pode abençoar você com meios amplos, de tal modo que você sempre tenha bens suficientes para qualquer emergência e bastante sobra para atos de bondade para com os outros”. Esse verso sugere três lições:
(1) DEUS é a fonte de bênçãos ilimitadas. “E DEUS é poderoso para tornar abundante em vós toda graça”. Notemos como recorre a palavra “toda”. O que significa “graça”? A graça descreve aquela disposição da parte de DEUS de dar livre e generosamente as coisas de que precisamos. DEUS tem um atributo de dar. Notemos que Paulo diz que DEUS pode fazer-vos... e não DEUS “vos fará...” Há certas condições a serem preenchidas, a fim de transformar a capacidade de DEUS para dar em dádiva concreta. Essas condições são o desejo, a petição e a mordomia fiel.
(2) A fonte da graça de DEUS flui, a fim de que as nossas necessidades sejam plenamente supridas. “A fim de que, tendo sempre, em tudo, ampla suficiência...”. A palavra “sempre” sugere constância. Nossos vasos podem ficar cheios e transbordando o tempo todo, ao invés de estarem cheios um dia, meio cheios o dia seguinte e talvez vazios e secos num outro dia.
(3) DEUS nos concede a sua graça, a fim de que nos tornemos uma bênção para outros. “A fim de que... superabundeis em toda boa obra”. O fluxo para dentro precisa ser seguido pelo fluxo para fora.
VI - Ensinamentos Práticos
1. Os cristãos devem dar o dízimo. Nosso texto trata de princípios que devem regular a contribuição cristã e do espírito correto que deve inspirá-la. Para sermos práticos, no entanto, precisamos de alguma regra ou medida para determinar se aquilo que estamos dando é suficiente. Os israelitas não passaram incerteza alguma quanto a isto. DEUS especificou o mínimo que deviam contribuir, a saber, o dízimo. Além disso, podiam dar ofertas voluntárias. Se o dízimo solucionou o problema da contribuição sistemática e suficiente para os israelitas, não terá o mesmo resultado para o cristão que sinceramente deseja contribuir de acordo com a vontade de DEUS? A prática e a experiência de multidões de cristãos respondem afirmativamente a essa pergunta. Consideremos algumas das razões por que o cristão deve se sentir muito feliz em contribuir com uma décima parte da sua renda à obra de DEUS:
1.1. Regozijemo-nos, porque vivemos numa dispensação mais gloriosa do que aquela em que viveram os israelitas; dizemos que estamos sob a graça, e não sob a Lei, muito bem. Mas se aqueles que viviam sob a Lei pagavam a DEUS a décima parte do seu salário, será que nós, que vivemos sob a graça, podemos fazer menos? “Se o judeu dava um dízimo sob a Lei, é uma desgraça para um cristão dar menos sob a graça”. Tertuliano, um grande estudioso da Igreja Primitiva, no século II, disse: “Oferecemos as ‘primícias’ àquele a quem enviamos as nossas orações. Como a nossa justiça poderá exceder a dos escribas e fariseus (Mt 5.20), que pagam dízimos e primícias, se nós não fizermos nada disso?”
Deve ser notado que o dizimar era praticado antes da Lei, mesmo por Abraão, pai dos fiéis (Gn 14.17-20).
1.2. Precisamos de algum sistema como esse para garantir que a nossa mordomia cristã é uma realidade, e não meramente um modo de enganar a nós mesmos. Spurgeon se refere a certo tipo de indivíduo, bem de vida, que canta no culto: “Se todos os bens do mundo fossem meus, seria uma oferta por demais pequena” - e depois coloca uma moedinha na oferta. Quando colocamos um dízimo da nossa renda diante do altar do Senhor, sabemos que estamos realmente, e não professadamente, honrando-o como Senhor do Universo.
1.3. O bom senso apoia o dízimo. Se DEUS deu a lei do dízimo, e foi boa para os homens durante três mil anos, então por certo deve ser boa para nós hoje. DEUS não precisa do nosso dízimo; tem o poder de remover todas as nossas riquezas. Mas Ele sabe que precisamos do privilégio de dar. Noutras palavras, contribuir faz bem ao homem. Essa era uma lição que Paulo ressaltava ao escrever aos coríntios.
1.4. Os ensinos de CRISTO abundam em advertências contra os perigos das riquezas. Ensinava que as riquezas custavam demais - podiam até custar a alma de um homem. Quando o piedoso cristão hindu, Sadhu Sundar Singh, visitou um país ocidental e viu com tristeza a grande luta em prol de se granjear riquezas, afirmou: “CRISTO teria que dizer aqui: ‘Vinde a mim vós que sois sobrecarregados com ouro, e eu os aliviarei’”. Paulo declarou que “o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males”. Como (se possuímos uma boa quantidade de dinheiro) podemos nos proteger contra as influências sutis da cobiça pelo dinheiro? Observando a lei de DEUS, com respeito ao emprego dos bens, a saber, a lei do dízimo.
1.5. O próprio Senhor JESUS endossou a lei do dízimo. Quando estava repreendendo os fariseus por tirarem o dízimo até das menores ervas do jardim enquanto negligenciavam os assuntos mais importantes da Lei, tomou o cuidado de dizer: “Devíeis, porém, fazer estas coisas [o dizimar], sem omitir aquelas” (Mt 23.23).
1.6. O sucesso material não é o alvo supremo do cristão nesta vida. Mas numerosos testemunhos comprovam que vale a pena dar o dízimo. Um jovem estava deixando o lar porque seu pai era pobre demais para cuidar dele. Encontrou um vizinho que lhe deu o seguinte conselho: “Alguém terá que ser o principal fabricante de sabonete em Nova Iorque, e espero que seja você. Seja um homem bom, dê seu coração a CRISTO, dê ao Senhor a proporção que lhe pertence de tudo quanto você ganha. Faça um sabonete honesto, e dê o peso certo, e depois terei certeza de que você será um homem próspero”. O conselho foi fielmente seguido. A primeira moeda ganha foi dizimada, e a prática de dar o dízimo de tudo foi seguida. Tornou-se sócio da firma onde trabalhava, e depois dono. Mandou seu contador abrir uma conta para a obra do Senhor, e ordenou que dez por cento das rendas fossem colocados nesta conta. Seus negócios cresceram, e ele ficou rico mais rapidamente do que poderia imaginar. Passou a dar dois dízimos, e prosperava ainda mais. Depois deu três dízimos, e depois quatro dízimos, e então cinco dízimos. Mas nunca conseguiu ultrapassar a DEUS no assunto de generosidade. E esta é a história do crescimento da famosa Companhia Colgate.
1.7. A promessa de uma bênção celestial é vinculada com o pagamento do dízimo (Ml 3.10). DEUS está contente com pessoas que o honram com seus meios, porque ama a quem dá com alegria.
2. A primeira dádiva. O segredo da generosidade dos macedônios se declara nas palavras: “Deram-se a si mesmos primeiro ao Senhor”. Quando isso é feito, torna-se fácil doar coisas menos importantes. E difícil dar quando o coração não foi dado primeiro. “Atire no coração do pássaro e obterá as penas”. Quando o coração tem sido traspassado pelo amor de DEUS, outras coisas são facilmente entregues a Ele. A contribuição não é penosa àquele que pode orar: “Toma minha vida, e deixe que seja consagrada, Senhor, a ti. Toma tudo quanto tenho, e que seja dedicado, CRISTO, a ti”.
3. A graça de dar. Em todo o texto dos capítulos 8 e 9, Paulo não menciona o dinheiro uma só vez. Por si mesmo, o dinheiro não tem caráter; o espírito com que é dado e o modo do seu uso determinam o seu caráter. Paulo ergue o assunto do dinheiro para a atmosfera espiritual ao chamar a oferta de “graça”, “serviço”, “comunhão”, “bênção”. Quando uma pessoa está vivendo na graça de DEUS? Quando tem prazer em fazer aquilo que deve fazer. Quando uma pessoa gosta de contribuir porque ama a DEUS, então, para ela, o dar é uma graça. Dá, não primariamente à igreja ou ao indivíduo, mas a DEUS.
 

7- O CUSTO DO VERDADEIRO CRISTIANISMO
Texto: 2 Coríntios 10 e 11
 
Introdução
O propósito e a mensagem da Segunda Epístola aos Coríntios se tomarão claros enquanto aprendemos as circunstâncias que levaram à sua composição (ler Atos 15). Depois de milhares de gentios terem entrado na Igreja através do ministério de Paulo, certos cristãos judeus (“judaizantes”) tinham começado a ensinar que esses gentios não poderiam alcançar a salvação total até se tomarem judeus e observarem a lei de Moisés. Paulo viu claramente que se esses ensinadores tivessem o poder de impor a sua vontade, o Cristianismo se degeneraria numa seita judaica; sua vida espiritual seria estrangulada pelas leis e cerimônias de uma aliança vencida. O assunto foi levado ao debate num concílio em Jerusalém, onde, após muita discussão, a decisão foi favorável à Paulo. Foi uma grande vitória para a liberdade dos gentios. Os judaizantes, no entanto, convencidos contra a sua vontade, continuavam na mesma opinião anterior. Tomaram-se os oponentes mais amargos de Paulo e fizeram o melhor que podiam para desacreditá-lo, especialmente naquelas igrejas que ele estabelecera. Um deles chegou a Corinto, e muitos tipos de comentários desagradáveis acerca de Paulo começaram a circular. Por exemplo, diziam que não se podia confiar nas promessas dele (1.16,17); que não levava credenciais dos apóstolos, dando-se a entender que seus ensinos não concordavam com os deles (3.1); que não estava certo da cabeça (5.13); que era um valentão que escrevia cartas ameaçadoras quando estava ausente, mas que agia com muita meiguice na presença deles (10.2,10,11); e que era um intrigante impulsionado por considerações dos seus próprios interesses (10.2). Com essas e outras insinuações semelhantes, os atos e motivos mais nobres de Paulo foram falsamente interpretados e representados. Esses falsos ensinadores não somente caluniavam Paulo, mas também procuravam diminuir o ministério dele ao jactar-se acerca de si mesmos (10.12-18). Assim agiam com um homem, cujos sapatos não eram dignos de tirar. Para responder a essas acusações falsas e desmascarar o caráter dos autores deles, Paulo foi forçado a debater assuntos acerca dos quais desejava guardar silêncio. E por isso que há tantas referências pessoais nos capítulos 11 e 12. Nosso texto sugere três retratos de Paulo.
I - O pastor fiel.
II - O pregador abnegado.
III- O herói cristão.
I - O Pastor Fiel (2 Co 11.1-4) 
A afeição de Paulo pelos seus convertidos leva-o a adverti-los contra os falsos ensinadores.
1. O desejo sincero de Paulo. E uma tristeza para um verdadeiro pastor ver os seus convertidos se desviarem. E por isso que escreveu: “Porque estou zeloso de vós com zelo de DEUS”. Não se trata do vício terrestre de ciúmes (Nm 5.14), mas de um zelo celestial de amor. O zelo dele é piedoso — um zelo que se centraliza no bem-estar dos outros e que se preocupa com a honra de DEUS. “Porque vos tenho preparado para vos apresentar como uma virgem pura a um marido, a saber, a CRISTO”; Paulo se compara ao “amigo do noivo” (Jo 3.29), cujo dever era preparar o noivado e o casamento do casal. Paulo agira nessa capacidade quando levou os coríntios a CRISTO (cf. Is 54.5; Os 2.19; Ef 5.25-27). Isso será completado quando a esposa do Cordeiro se preparar (Ap 19.9).
2. O temor piedoso de Paulo. O maior temor de Paulo é que seus convertidos se desviem. “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva [Gn 3.1-6; Ap 12.9] com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos [cf. Cl 2.4-8; 1 Tm 4.1] e se apartem da simplicidade que há em CRISTO [o ansiar por CRISTO somente, de todo o coração]”. Qual perigo ameaçava a devoção dos coríntios a CRISTO? A presença de falsos ensinadores no seu meio (v. 4). Paulo como que diz: “Se vocês toleram aquele que lhes ensina um evangelho diferente, então devem aguentar comigo”. Notemos o que se diz dos judaizantes: ensinavam “outro JESUS”. Paulo pregava CRISTO como Redentor divino. Os judaizantes provavelmente o apresentavam como chefe de um reino judaico que exigia a observância da lei de Moisés. Estava pregando um espírito diferente - o espírito de escravidão e não de liberdade. Estava pregando um “evangelho diferente” — a salvação mediante a observância da Lei.
II - O Pregador Abnegado (2 Co 11.5-20)
1. Um verdadeiro obreiro mal interpretado. De acordo com esses versos, as seguintes críticas tinham sido feitas contra Paulo:
1.1. Seus oponentes negavam a sua posição de apóstolo e contestavam-no de modo desfavorável junto aos principais apóstolos em Jerusalém. Paulo, porém, sabia que recebera a sua comissão do Senhor JESUS. Por isso, responde: “Porque penso que em nada fui inferior aos mais excelentes apóstolos” (v. 5).
1.2. Queixavam-se de que ele não era um preletor eloquente. Sua resposta, no verso 6, tem sido traduzida da seguinte maneira: “Não sou nenhum orador, talvez, mas possuo conhecimento; nunca deixei de me fazer inteligível a vocês”.
1.3. Se tivesse consciência da sua autoridade apostólica, por que pregava de graça quando tinha o direito de ser sustentado pelos seus convertidos (vv. 7-12)? Paulo recusava o sustento, não porque não tivesse direito a ele, nem porque não tinha necessidades, nem porque lhe faltava amor aos convertidos, mas por duas razões.
(1) Para comprovar com a sua própria vida que o Evangelho é gratuito. “Porque de graça vos anunciei o evangelho de DEUS”. Paulo pregava o Evangelho onde o nome de JESUS não fora ouvido, e naturalmente os pagãos poderiam imediatamente suspeitar que ele estivesse querendo o dinheiro deles. O fato de Paulo se sustentar enquanto pregava os convenceria de sua sinceridade. Que Paulo aceitava ofertas em certas ocasiões é comprovado no verso 8 (nota-se que a palavra “despojei” é figurativa, cf. v. 9).
(2) Para compelir os seus oponentes, mediante o exemplo dele, a agirem com impulsos generosos (v. 12). Esses judaizantes alegavam ser abnegados no ministério deles. Nesse caso, diz Paulo, que recusem as ofertas como eu recusei.
2. Obreiros falsos desmascarados. “Porque tais falsos apóstolos [“apóstolo” aqui corresponde à nossa palavra “missionário”] são obreiros fraudulentos [impostores], transfigurando-se em apóstolos de CRISTO”. E se algum coríntio exclamasse: “É impossível que homens maus se façam passar por obreiros cristãos!”, Paulo continua: “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz. Não é muito, pois, que os seus ministros se transfigurem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”. No verso 20, Paulo dá um vislumbre do caráter desses obreiros. Escravizavam (G1 2.4), eram gananciosos (Mt 23.14; 1 Pe 5.2,3), dominavam (2 Jo 9) e eram até pessoalmente violentos. Por estranho que pareça, os coríntios acreditavam que esses homens eram o que alegavam ser, e aguentavam a insolência deles, enquanto tinham suspeitas do apóstolo abnegado e amoroso. O ministério proporciona mágoas de coração, além de alegrias!
III - O Herói Cristão (2 Co 11.21-28)
1. O falso gloriar-se. Os judaizantes, insuflados com a ideia da sua própria importância, gostavam de mostrar a sua autoridade sobre os coríntios. Gloriavam-se neste fato, e provavelmente diziam: “Paulo é fraco demais para exercer autoridade sobre esse povo”. No verso 21, Paulo como que diz: “Se tal conduta despótica é a verdadeira medida de força, então eu sou fraco”. Acrescenta: “No que qualquer tem ousadia... eu tenho ousadia”. Noutras palavras: “Se estes ensinadores têm o direito de dominar por causa dos seus privilégios, não existe nenhum daqueles privilégios aos quais eu também não faça jus”. Lembrem-se de que, nos versos 17-20, Paulo está falando com ironia (cf. 1 Rs 18.27), a fim de repreender os coríntios por terem sido enganados pelas reivindicações jactanciosas dos judaizantes. O significado dos versos 22-28 é o seguinte: “Como estes ensinadores, eu poderia gloriar-me em todos os meus privilégios e empregá-los para meus próprios interesses; prefiro, no entanto, gloriar-me nos meus sofrimentos e humilhações por amor a CRISTO”. Como eles, era um hebreu, alguém que falava a língua hebraica; como eles, era um israelita, criado na religião dos israelitas; como eles, era da descendência de Abraão, segundo a carne. Quanto valor, porém, Paulo dava a essas coisas? Leia Filipenses 3.1-9. Paulo amava a sua própria nação. Não tinha vergonha da sua nacionalidade, mas não fez dela um assunto de jactância carnal, um meio de obter vantagens materiais.
2. O verdadeiro gloriar-se. “São ministros de CRISTO?” Como os judaizantes gostavam de saborear aquela frase! Como exigiam que as pessoas se lembrassem da sua posição exaltada (cf. Mt 23.6-12)! A expressão “falo como fora de mim” significa: “Sei que é coisa insensata jactar-me desta maneira, mas é para o seu bem, e para desmascarar esses falsos obreiros preciso falar dos meus trabalhos. São ministros de CRISTO? Eu ainda mais”. E então passa a justificar essa asseveração ao fazer uma declaração (vv. 24-28), que certo estudioso descreveu como “um fragmento de biografia que sempre deve ser considerado o mais marcante e incomparável na história do mundo”. Notemos algumas das lições sugeridas por esse catálogo de sofrimentos:
(1) Paulo poderia, com toda a razão, ter indicado seus sucessos missionários como evidência da sua superioridade sobre os falsos ensinadores, mas ao invés disso resolveu contar os seus sofrimentos em prol do Mestre. Por quê? Sabia que a cruz era a verdadeira medida de um discípulo (Lc 14.26,27). Esses judaizantes não estavam se colocando no meio de perigos por amor à sua mensagem; “o mercenário foge, porque é mercenário, e não tem cuidado das ovelhas” (Jo 10.13). Eles não estavam dispostos a enfrentar durezas a fim de fundar igrejas; era mais fácil perturbar igrejas estabelecidas por Paulo!
(2) Essa lista de sofrimentos nos lembra que até os melhores dos santos de DEUS não estão isentos de sofrimentos e dificuldades.
(3) O que deu forças para Paulo continuar em face destes sofrimentos? O amor de CRISTO!
(4) Que fizeram estes sofrimentos em prol do apóstolo? Inspiraram nele a simpatia pelos outros que sofriam (v. 29) e encheram a sua alma de regozijo (v. 30, cf. At 5.41).
IV - Ensinamentos Práticos
1. Simplicidade devida a CRISTO (v. 3). Muitas vezes essa expressão é entendida como sendo a singeleza na apresentação do Evangelho. Refere-se, na realidade, à simplicidade para com CRISTO, à honestidade transparente e à devoção pura - uma atitude belamente apresentada na ilustração da devoção de uma moça casta ao seu noivo. Como podemos manifestar simplicidade para com CRISTO?
1.1. Confiando nEle como única fonte de salvação e luz. Os ensinadores judaizantes em Corinto estavam levando o povo a colocar sua confiança na guarda de dias e festas e outros costumes da lei mosaica. Se tivessem conseguido, o Cristianismo teria se tornado questão de leis e cerimônias ao invés de singela comunhão com CRISTO. Quantas vezes na história da Igreja, a tradição e o ritualismo humanos desviaram os homens desta simplicidade de fé! É, porém, somente JESUS que fala - não as leis, não o ritual, não a Igreja.
1.2. Amando-o acima de tudo o mais. Ele deve ser supremo em nossas afeições, e nós devemos amar através dEle as outras coisas. Quanto maior fica sendo o nosso amor pelo Senhor, quanto mais duradouro e profundo fica sendo o nosso amor pelos outros! “O diamante no centro faz com que as pedras menores engastadas ao derredor dele sejam mais lustrosas”. Devemos amar o Senhor JESUS totalmente, ou de nenhum modo.
1.3. Dedicando a Ele obediência absoluta. “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”. Deve haver a simplicidade, o único propósito na mente que obedece com rapidez, alegria e constância. A simplicidade é uma característica de pessoas verdadeiramente grandes. E o segredo da paz de espírito. Enquanto vivemos neste mundo complexo, barulhento, superativo, evitemos toda influência que nos furtaria da nossa simplicidade para com CRISTO.
2. Zelo de DEUS. O zelo é tão vinculado aos ciúmes, com as suas associações pecaminosas, que não pensaríamos em atribuí-lo a DEUS. Mesmo assim, lemos: “Eu o Senhor vosso DEUS sou um DEUS zeloso”, e Paulo escreve aos coríntios: “Porque estou zeloso de vós com zelo de DEUS”. “Zelo de DEUS” é um zelo inspirado por DEUS. Como se manifesta este zelo divino?
2.1. No zelo pela verdade, pureza, justiça e retidão. Quando a iniquidade se multiplica, o amor de quase todos esfria (Mt 24.12) e há o perigo de alguém ser endurecido pelo engano do pecado (Hb 3.13). Quando a chama do zelo piedoso não é alimentada pela oração e pela vigilância, vai queimando cada vez mais fracamente, e o resultado será relaxamento do viver e serviço cristão.
2.2. O zelo carnal significa ter ciúmes de pessoas; o zelo de DEUS quer dizer ter ciúmes em prol delas — para seu bem-estar, para seu crescimento na graça, para a sua segurança espiritual. Quando JESUS denunciava os fariseus, não era porque tinha ciúmes deles, mas porque tinha zelo pelas pessoas enganadas. Quando limpou o templo, não tinha ciúmes dos sacerdotes, mas sim zelo pelos adoradores que estavam sendo perturbados e escandalizados com a comercialização da religião.
3. Ministros de CRISTO (v. 23). Nos versos 24-29, Paulo narra as experiências que passou no cumprimento do seu ministério, e é fácil ver que sua vida não era nenhum mar de rosas. Nem todos os ministros do Evangelho precisam passar pelas mesmas experiências, mas todos têm as suas provações. Têm uma vocação sublime, mas são seres humanos que sofrem desânimos e têm fardos como outras pessoas. E tão fácil criticar — mais fácil criticar um sermão do que pregar um, mais fácil criticar a direção de uma igreja do que fazer o trabalho organizacional. Os ministros do Evangelho precisam das nossas orações, sua responsabilidade é grande, e são um alvo especial para os dardos do inimigo.
4. O heroísmo cristão. Quando Garibaldi, o patriota italiano, estava recrutando um exército para lutar pela liberdade da Itália, disse: “Ofereço-lhes novas batalhas e nova glória. Quem quiser me seguir será recebido entre o seu próprio povo, mas será a preço de grandes esforços e grandes perigos. Não peço nada da sua parte a não ser corações cheios de amor pela pátria. Não posso oferecer pagamento, nenhum descanso, e a comida terá que ser achada. Quem não estiver satisfeito com estas condições deve ficar para trás”. E os jovens italianos vieram seguindo Garibaldi aos milhares! Foi em termos semelhantes que JESUS, o Capitão da nossa salvação, se dirigiu aos seus ouvintes (Lc 14.24-33). Oferecia a eterna vida às pessoas, mas disse francamente em que consistia a luta espiritual. Apelava para o lado heroico dos homens, e eles o seguiram! As seguintes palavras merecem cuidadosa consideração: “Nestes dias, estamos em grave perigo de buscar atrair pessoas para o Reino através daquilo que é agradável, ao invés de conclamar àquilo que é difícil e heroico. Convidamo-nos a passar uma meia hora ou uma tarde agradável ao invés de palmilhar o caminho da cruz do Senhor. Foi, porém, para a cruz que JESUS chamava os seus discípulos e para a cruz que Ele os chama hoje. Se chamássemos homens ao serviço, responderiam. Se conclamássemos homens à batalha, muitas fortalezas de iniquidade que agora erguem seus muros sólidos diante da vista do Senhor teriam sido arruinadas”. Isto significa que precisamos fazer algo espetacular na causa do Senhor? Não necessariamente. Podemos manifestar o heroísmo cristão no cumprimento alegre da nossa tarefa diária, ao suportar com coragem os fardos da vida e no fiel cumprimento de pequenos trabalhos para o Senhor. E glorioso morrer por amor do Senhor, mas é igualmente glorioso viver por amor dEle. Conforme disse Horace Mann: “É mais difícil, e exige mais energias das almas, viver como um mártir do que morrer como um mártir”.
 

8- OS PERIGOS DO ORGULHO ESPIRITUAL
Texto: 2 Coríntios 12
 
Introdução
O capítulo 12 continua a linha de pensamento estudada no capítulo anterior. Paulo fora compelido a falar acerca de si mesmo e do seu ministério a fim de proteger-se, bem como aos coríntios, contra as calúnias dos judaizantes. Enumerou as muitas adversidades que sofreu por amor ao Evangelho como evidência da sinceridade do seu ministério. Nesse capítulo, refere-se a uma visão maravilhosa que lhe fora concedida. “Passarei às visões e revelações do Senhor”. Não será vantajoso para ele jactar-se disso, por causa das circunstâncias dolorosas (v. 7) vinculadas às suas vidas.
I - A Experiência Celestial de Paulo (2 Co 12.1-4)
1. A natureza da experiência. “Conheço um homem em CRISTO que, há catorze anos...” Paulo está falando de si mesmo, e por humildade apenas faz uma referência indireta. Esse homem estava “em CRISTO”. Os pagãos dos dias de Paulo diziam que um homem endemoninhado estava “no demônio”, ou seja, sob o controle do demônio. Estar “em CRISTO” é estar sob o controle de CRISTO, significa ter a vontade de CRISTO como atmosfera da alma, significa que a vida da pessoa se perde na vida de CRISTO. Um verdadeiro cristão é um “homem em CRISTO”. Esses versos nos ensinam as seguintes verdades acerca da natureza do homem:
1.1. A alma é capaz de existir sem o corpo. “Se no corpo, não sei; se fora do corpo, não sei”. As palavras “fora do corpo” dão a entender que a alma ou espírito pode ser arrebatado para DEUS para viver uma existência consciente separadamente do corpo. “Arrebatado” se refere a uma experiência de êxtase, na qual o espírito humano é erguido acima do natural para aquela esfera onde pode ver e ouvir coisas que pertencem ao outro mundo (Ez 8.1-3; 11.24; At 22.17). Paulo foi arrebatado até o terceiro céu. A Bíblia fala de três céus: primeiro, o céu da nossa atmosfera; segundo, o céu estrelado; terceiro, o céu onde DEUS e seus anjos habitam. Paulo foi arrebatado até a presença de DEUS. Esse lugar é também chamado “paraíso” (cf. Lc 23.43; Ap 2.7). A própria palavra significa um jardim frutífero - que nos lembra o Éden, o lar do homem antes da queda. Agora descreve o lugar de descanso, de beleza na presença do Senhor, onde os santos que partiram desta vida esperam a ressurreição.
1.2. A alma, separada do corpo, é capaz de receber visões e revelações. “E ouviu palavras inefáveis [‘segredos sagrados’] de que ao homem não é lícito [permissível ou possível] falar”. Se Paulo tivesse tentado descrever o que vira, é improvável que suas palavras fossem entendidas por aqueles que não tiveram a mesma visão. É inútil especular acerca daquilo que ele viu. Sejamos felizes por termos as verdades compreensíveis e transmissíveis do Evangelho para nos preparar para as experiências inefáveis do mundo do porvir!
1.3. A alma é a verdadeira personalidade. Mesmo fora do corpo, Paulo era “um homem em CRISTO”. O corpo era a vestimenta carnal de Paulo, mas não era o próprio Paulo (2 Co 5.1-8; 2 Pe 1.14).
2. O propósito da evidência. Por que essa experiência celestial foi concedida à Paulo? Para encorajá-lo no meio das suas muitas labutas e sofrimentos. Ajuda-nos a entender como Paulo conseguiu aguentar as experiências descritas em 11.23-28. Aqueles que passam por provações especiais experimentam consolações e ajudas especiais. É como o caso da Transfiguração de CRISTO, concedida para Ele a fim de fortalecê-lo em face da crucificação. “Andamos pela fé, e não pela vista”, nem pelos sentimentos. DEUS, no entanto, muitas vezes nos concede graciosamente alguma visitação especial para nos assegurar que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam” (Hb 11.1).
II - O Teste Doloroso de Paulo (2 Co 12.5-10)
Experiências como a que acaba de ser mencionada são assuntos legítimos de “jactância”, porque são privilégios celestiais, e não motivos mundanos de superioridade. Paulo, no entanto, não quer jactar-se acerca de si mesmo pessoalmente, a não ser nas suas fraquezas e sofrimentos (v. 5). Mesmo que se gloriasse, não agiria estultamente, porque estaria contando a verdade. Mesmo assim, disse que não contaria outras visões e revelações, a fim de que os coríntios não pensassem dele acima dos seus merecimentos (v. 6). Então, mais uma vez, Paulo dá atenção às coisas dolorosas e humilhantes da sua experiência. Como os apóstolos na Transfiguração, gostaria de ter permanecido na luz da glória celestial, mas, como eles, precisava descer para enfrentar as tarefas e provações da terra.
1. A disciplina espiritual é necessária para todos. Paulo era um cristão com excepcional santidade, mas mesmo assim era tentado a sentir orgulho, a “ensoberbe-se com a grandeza das revelações”. Não há nenhuma falsa reticência em Paulo; livremente fala acerca das suas próprias fraquezas (cf. 1 Co 9.26,27). Que abismo o separa do seu Mestre divino, cujas palavras e ações não revelam nenhuma consciência de pecado ou imperfeição!
2. A disciplina espiritual é muitas vezes dolorosa. “Foi-me dado um espinho [lit. uma estaca] na carne, a saber, um mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de não me exaltar”. E agora surge aquela pergunta difícil — qual era o espinho na carne de Paulo? A expressão tem sido traduzida “um aguilhão na carne”, alguns imaginam um espinho produzindo infecção, outros pensam que há referência ao tipo de estaca, à qual os criminosos eram atados ou uma cruz, à qual eram pregados. Qual realidade é expressa no “espinho na carne”? Tem havido várias explicações: sugestões malignas, algum adversário destacado (cf. Nm 33.55); uma aflição física dolorosa ou doença dos olhos; defeitos na fala, apetites carnais, provações espirituais tais como dúvidas etc.; algum defeito de caráter, talvez a perda da calma; alguém até sugeriu uma esposa implicante! Realmente não sabemos o que era esse espinho, e talvez a natureza precisa dele nos tenha sido ocultada por algum motivo sábio. Notemos o verso 10, e especialmente a expressão “pelo que”, indicando uma conexão com o que foi dito antes. Paulo diz que sentirá prazer naquilo que não era a vontade de DEUS remover. Em que ele sente prazer? Nas fraquezas (do caráter ou do corpo), nas injúrias, nas perseguições, nas angústias (privações e calamidades). Parece que o espinho na carne pode ser qualquer dessas coisas. Qual? Um velho rabino disse certa vez aos seus estudantes: “Aprendam a dizer: Não sei’”. Foi um “mensageiro de Satanás” (cf. Jó 2.7; Lc 13.16). Era empregado por Satanás para perguntar, deprimir e causar dor a Paulo na esperança de impedir o seu trabalho. Paulo estava interferindo com o reino do diabo; não é de se maravilhar que o diabo interferisse com ele. A mão de DEUS estava nesse assunto, e não somente a do diabo. Isso também se pode dizer com respeito a todas as nossas tribulações; num aspecto, são mensageiros de DEUS. Tudo depende disto: conseguimos reconhecer a mão de DEUS na provação, ou somente a mão de Satanás? Notemos que Satanás somente pode fazer aquilo que é permitido por DEUS.
3. A disciplina espiritual é, às vezes, mal-entendida. “Acerca do qual três vezes orei ao Senhor, para que se desviasse de mim”. Paulo era humano, e consequentemente, sentia-se inquieto sob essa visitação. Não se queixava, porém, nem criticava dEle, nem se assentava em desespero. Orava acerca do assunto. A aflição deve nos levar a DEUS, e não para longe de DEUS. Orou sinceramente, e com importunidade, três vezes. Orou de maneira específica - por “esta coisa”. Algumas pessoas oram por tudo em geral, e por nada em particular. Orava para que o “espinho” se afastasse dele. Foi ali que Paulo orou em ignorância. Ainda bem que nem todas as nossas orações são respondidas conforme queremos; poderíamos mandar embora aquilo que nos faz bem e convidar aquilo que seria mau para nós.
4. A disciplina espiritual é enviada por DEUS. O apóstolo ficou às portas do céu até receber uma resposta. Recebeu a resposta — que era “não”; esta é uma resposta à oração tanto quanto um “sim”. DEUS frequentemente responde às nossas orações não as atendendo! Recebemos aquilo que necessitamos, e não aquilo que queremos. Nós ditamos a nossa oração e DEUS dita a resposta. DEUS não respondeu à petição de acordo com as palavras de Paulo - respondeu-a conforme o seu próprio propósito. “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”. A graça é o favor de DEUS mostrado ao homem independentemente da questão do merecimento humano. A referência aqui é à graça sustentadora de DEUS. DEUS não determinou a remoção do espinho na carne, mas deu a Paulo ajuda para aguentá-lo (cf. 1 Co 10.13). O que importa o peso do fardo, se as forças são suficientes para suportá-lo com facilidade (cf. Fp 4.13)? A disciplina espiritual deve ser suportada com bom ânimo. “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite [como uma tenda] o poder de CRISTO. Pelo que sinto prazer [aguento com alegria] nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de CRISTO. Porque, quando estou fraco, então, sou forte”. Aquilo que Paulo quis perder agora quer conservar. O espinho na carne pode ser uma moradia para o poder de CRISTO. Basta para ele que, através de sua humilhação, CRISTO seja exaltado. Muitos se resignam sob o sofrimento. Paulo, porém, vai mais longe: pode sentir prazer no sofrimento, porque a sua própria fraqueza dá a DEUS uma oportunidade para ajudá-lo e revelar o seu poder.
III - Ensinamentos Práticos
1. O espinho na carne. Há várias coisas das quais podemos esperar libertação. De outro lado, há coisas na vida que nos testam a paciência, mas que terão que ser aguentadas sem a esperança de alívio. Não nos referimos a algo maligno ou pecaminoso, mas a algum problema, incapacidade, defeito ou limitação que causa perturbação, inconveniência ou profunda tristeza a uma pessoa. Tomemos um exemplo. Alguém vem a este mundo com um certo tipo de temperamento que tende a tornar as coisas desagradáveis para ele mesmo e àqueles que vivem ao redor dele. “Quem me dera ter um temperamento como fulano!” exclama ele. Leva seu fardo ao Senhor em oração. Ora, o que seria maior para a glória de DEUS: uma transformação tão milagrosa e completa da sua personalidade, que seus amigos dificilmente o reconheceriam como a mesma pessoa, ou dotá-lo com tão grande controle sobre si mesmo que as pessoas se maravilhassem ao perceber a graça de DEUS sustentando-o? Responderemos a essa pergunta através de outra pergunta: se víssemos alguém carregando um fardo pesado, qual seria melhor testemunho à nossa utilidade e uma bênção maior para o sobrecarregado — tirar o fardo das suas costas e carregá-lo sozinho, ou dar-lhe forças para que possa carregar o fardo? A resposta é óbvia. A maneira de DEUS ajudar Paulo foi a segunda das duas descritas. DEUS disse: “O meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”, e Paulo responde, alegre: “De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas”. Não oremos pedindo vida sem problemas. Peçamos a DEUS forças para enfrentar as batalhas da vida. Não oremos pedindo tarefas que correspondam às nossas forças. Peçamos forças para levar a efeito as nossas tarefas.
2. DEUS resiste ao soberbo. Alguém disse: “Tomemos cuidado com o nosso orgulho. Alguns se orgulham das vestes, outros da sua raça, outros da sua situação na vida, outros da sua aparência pessoal e outros do seu estado de graça diante de DEUS”. A última mencionada é a pior forma de orgulho, porque representa a corrupção daquilo que é mais alto e precioso na vida. DEUS odeia o orgulho, e quer libertar o homem desse pecado. Quando alguém perguntou a um sábio o que fazia o grande DEUS, ele respondeu: “Sua ocupação inteira é erguer os humildes e rebaixar os orgulhosos”. Consideremos as muitas advertências contra o orgulho (SI 10.2; 73.6; Pv 11.2; 16.18; 28.25; 1 Jo 2.16). Veja como o orgulho é ilustrado em muitas personalidades bíblicas: Faraó (Êx 5.2), Naamã (2 Rs 5.11); Uzias (2 Cr 26.16), Nabucodonosor (Dn 4.30); Belsazar (Dn 5.23); o fariseu (Lc 18.11). O orgulho sempre precede uma queda. É como um prédio que é levantado vários andares além do que os alicerces permitem. O orgulho é estultícia. As hastes de trigo que se levantam tão alto são de cabeça oca, e aquelas que penduram modestamente as suas cabeças estão cheias de grãos preciosos. As pessoas que ficam com as cabeças muito altas são aquelas que não têm suficiente bom senso para levar algum peso na cabeça. Conta-se que um relógio de pulso pequeno invejava o grande relógio da cidade, numa posição tão alta. “Gostaria de estar lá em cima, onde poderia melhor servir às pessoas”, dizia. A sua vontade foi cumprida, e uma vez elevado a tão grande altura, eis que já não era visível. Sua posição alta destruiu a sua utilidade! Essa parábola ilustra o triste fim daqueles que querem ser “grandes”. DEUS amorosamente permite que humilhações dolorosas abatam o nosso orgulho, e assim nos salva da destruição que se segue após a soberba. Alguns se quebrantam, e assim escapam à humilhação. Outros se exaltam, sofrem humilhações e finalmente são humilhados (ver Tg 4.10).
3. Graça abundante. A graça tem sido definida como “o amor de DEUS em ação”, “o dom de fortaleza espiritual”. É claramente força celestial, dada aos homens para socorro em tempo devido. Acha sua ocasião quando chegamos ao fim das nossas capacidades. Quando Paulo achava que não podia mais aguentar o espinho, ouviu DEUS dizer: “A minha graça te basta”. É bom sublinhar as palavras “minha” e “te” para sentirmos a força integral desta declaração. Spurgeon escreveu: “Parecia que ridicularizava a minha descrença; porque certamente a graça de alguém tal como o Senhor JESUS é mais do que suficiente para um ser tão insignificante como eu. Parecia-me que algum pequeno peixe, preocupado com o medo de beber o rio até que secasse, ouvisse a resposta do Amazonas: ‘Pobre peixinho, minhas correntezas lhe bastam’. Ou imaginem um ratinho colocado nos depósitos de trigo no Egito, quando estavam cheios após sete anos de fartura, queixando-se da preocupação de morrer de fome. ‘Ânimo!’ diz Faraó. ‘Pobre ratinho, meus depósitos de trigo bastam para você”’. Quando sentimos a pressão da condenação, sofrimento ou tentação, em outras experiências difíceis, ouçamos a voz do Senhor dizendo: “A minha graça te basta”.
4. O poder se aperfeiçoa na fraqueza. “É na forja da fraqueza que a força é trabalhada até ficar perfeita”. “É na fraqueza que o meu poder pode ser plenamente sentido”. Por meio da queda do homem, muitos males e fraquezas entraram no mundo, mas esse triste evento também veio a ser uma oportunidade para DEUS demonstrar as riquezas da sua graça (Rm 5.15-21). “Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça”. O poder salvador de DEUS é feito perfeito através da condenação (Rm 5.20, Lc 18.9-14); o poder curador de DEUS é aperfeiçoado nas doenças; seu poder para providenciar é aperfeiçoado através da necessidade humana (ilustrado ao alimentar os cinco mil); seu poder revelador é aperfeiçoado pela ignorância do homem (At 4.13); seu poder sustentador é revelado na canseira e desânimo humanos (At 18.9; 23.11; 27.23,24; 2 Tm 4.17); a força vitoriosa de DEUS é aperfeiçoada na incapacidade humana (Jz 7; Zc 4.6); o poder consolador de DEUS é aperfeiçoado na tristeza. Esse é um argumento em prol de permanecer na fraqueza? Oferece uma desculpa para argumentar: “Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?” (Rm 6.1). Pelo contrário, é uma chamada para nos erguermos acima da fraqueza ao buscarmos a ajuda de DEUS! Já que a graça de DEUS é suficiente, é um pecado permanecer fraco - uma violação do seu próprio mandamento: “Sê forte” (Js 1.9; 2 Tm 2.1). A expressão “Quando estou fraco, então sou forte” se aplica quando a consciência da nossa própria fraqueza nos leva a colocar a nossa confiança em DEUS.
 

9- SEMEANDO E CEIFANDO
Texto: Gálatas 6
 
Introdução
Provavelmente esgotado pela sobrecarga de serviço na segunda viagem missionária, Paulo parou para descansar numa cidade da Galácia, onde, a despeito da famosa “enfermidade da carne”, conseguiu fundar uma igreja. Mais tarde, o apóstolo recebeu a notícia perturbadora de que os gentios tinham sido reduzidos à dependência da aliança mosaica pelos judaizantes. A fim de restaurar os crentes à liberdade da graça, Paulo escreveu essa epístola. O tópico do nosso estudo é “Semeando e Ceifando”. Começaremos com o verso 6, que inicia a linha de pensamento que leva a este tópico.
 
I - Apoiem o Ministério! (G1 6.6)
“E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui”. Essas palavras ensinam que se deve manter uma união ativa e simpática entre as congregações e seus ministros. A referência primária, naturalmente, é ao sustento financeiro. O sacerdote no Antigo Testamento recebia uma porção de tudo quanto oferecia no altar; ministrava no altar e pelo altar era sustentado (ver I Co 9.13,14; cf. Mt 10.10). Essas palavras, porém, podem ser aplicadas, num sentido mais elevado, ao apoio espiritual. O ministro precisa todo povo de DEUS ao lado dele, porque não pode travar sozinho a batalha do Senhor. Um verdadeiro ministro ou missionário considera o apoio e cooperação espiritual mais sagrados do que o apoio material (1 Co 4.14-17; 2 Co 6.11- 13; Fp 1.3-7).
II - Considerem a Ceifa! (G1 6.7,8) 
Os versos acima têm sido usados como uma mensagem de salvação para os não convertidos, e com toda a razão. Notemos, no entanto, que primariamente eram endereçados a cristãos em conexão com o emprego correto do dinheiro. Paulo se refere ao tópico mencionado no verso 6, e considera-o à luz da eternidade. Provavelmente alguns gálatas tinham mostrado uma indisposição para cooperar em assuntos materiais ou espirituais. Esses homens podem praticar males uns contra os outros, podem entristecer os servos de DEUS, mas ninguém é suficientemente sagaz para enganar a DEUS. Teriam enganado a si mesmos, mas não a DEUS. Por isso, Paulo dá a advertência: “Não erreis: DEUS não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. Quando os homens praticam o mal e imaginam que DEUS não verá, quando vivem para o eu próprio e esperam as glórias do Céu, estão meramente enganando a si mesmos e rejeitando as reivindicações de DEUS com zombaria. Consideraremos algumas operações da “lei da Ceifa”.
1. Nesta vida, estamos semeando as sementes da ceifa futura. Nossas ações não acabam quando as completamos, nem nossas palavras quando as falamos, nem nossos pensamentos quando nos ocorrem à cabeça. Cada um desses é uma quantidade de semente plantada, e trará fruto segundo o seu tipo. Nossos pensamentos, palavras e atos voltam para nós, seja para o bem, seja para o mal. Se conservássemos isso em mente, como seríamos cuidadosos e, em consequência disso, como viveríamos mais felizes!
2. A ceifa corresponde, no seu tipo, à semeadura. Cada semente produz segundo o seu próprio tipo, porque DEUS assim ordenou. O fazendeiro pode ter dúvidas na sua mente quanto ao tamanho da ceifa ou, se surge uma seca, pode duvidar se vai haver ceifa, mas sabe que qualquer ceifa que tiver será do mesmo tipo que plantou. Isso ocorre com atos bons (Mt 5.16) e atos maus (Nm 32-23; Jó 4.8, Pv 1.31; Os 8.7; 10.13; Lc 16.25; Rm 2.6- 10; 2 Co 9.6).
3. A ceifa sempre é um aumento da semeadura. “Porque o que semeia na sua carne da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no ESPÍRITO do ESPÍRITO ceifará a vida eterna”. “Carne” significa a natureza humana à parte da graça de DEUS. A ceifa é a multiplicação da semente. Plantamos um grão único, colhemos uma espiga cheia, espalhamos aos quilos e recolhemos em depósitos.
(1) Semear na carne significa viver à busca da nossa gratificação própria, e ser movido por motivos baixos e mundanos (Rm 6.3,13; 8.13; 13.14; Tg 3.18). Consideremos a ceifa terrível que tem seguido um ato de satisfação das próprias vontades da parte de algum obreiro cristão. Consideremos o senso de temor que Paulo tinha a respeito de tal possibilidade (1 Co 9.27). Comparemos o que Davi semeou com a colheita que obteve (2 Sm 12.7-14).
(2) Se semeamos no ESPÍRITO, ou seja, vivemos para DEUS, o resultado será a vida eterna — a santidade eterna, a felicidade eterna, a recompensa eterna (Mt 19.29; Lc 18.30; Jo 4.14,36; 6.27; Rm 6.22; 1 Tm 1.16; Tt 3.7; Jd 21). Cada ato feito para o Senhor, por pequeno que seja e por menos atenção que tenha recebido, produzirá no futuro uma ceifa que nos surpreenderá.
III - Perseverem na Prática do Bem! (G1 6.9,10)
Aqui segue-se um dever baseado nesta lei do semear e ceifar, o dever da benevolência.
1. Empecilhos para a prática do bem. “E não nos cansemos de fazer o bem”. O caminho da prática do bem nem sempre é liso; sempre haverá dificuldades para nos desencorajar e nos levar a pensar que não vale a pena. A prática do bem inclui carregar os fardos dos outros; pode nos levar a trabalhar com pessoas que não são agradáveis e não cooperam; pode parecer que tal obra não produz resultados, ou os resultados podem ser pouquíssimos, comparados com o esforço exigido.
2. Um encorajamento para a prática do bem. “Porque a seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido”. Não podemos escapar à tentação de nos cansarmos na prática do bem. O que podemos fazer, no entanto, é recusarmos nos submeter à tentação, lembrando-nos do decreto que, mediante a operação de leis imutáveis, toda bondade receberá a sua recompensa. Constituiu uma ocasião de ceifa (“a seu tempo”). Qual é a condição desta promessa, porém? (Ver v. 9, cf. Lc 18.1; 1 Co 15.58; Ec 11.1.)
3. Os objetos da prática do bem. “Façamos o bem a todos”. A benevolência cristã não reconhece nenhuma limitação de nacionalidade, de credo, de posição social; o próximo do cristão é qualquer pessoa necessitada que esteja dentro do alcance da sua ajuda (cf. 1 Ts 5.15; 1 Tm 2.3- 7; At 26.29). Há, porém, uma esfera dentro da qual a benevolência cristã assume um caráter mais íntimo e intenso, conforme se sugere nas palavras: “principalmente aos domésticos da fé” (aqueles que são da mesma família espiritual). Assim como, na esfera natural, nosso próprio lar tem o primeiro direito sobre nós, o mesmo acontece na esfera espiritual (cf. 1 Tm 5.8). É bom lembrar, porém, que, embora “a caridade comece em casa”, não para ali.
IV - Evitem os Ensinadores Falsos! (G1 6.11-13)
O verso 11 pode ser traduzido: “Vejam quão grandes letras faço quando escrevo de próprio punho!” Paulo normalmente ditava as suas cartas a um secretário (Rm 16.22), mas nesse caso estava tão perturbado com a condição dos gálatas que escreveu de próprio punho, e em letras grandes, para enfatizar o que escrevia. Alguns crêem que só escreveu os versos 11-17 para colocar sua assinatura na mensagem central da carta. Paulo desmascara o caráter e os motivos dos judaizantes. Eram:
1. Carnais. “Todos os que querem mostrar boa aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos” (cf. At 15.1,5). Os judaizantes se achavam muito zelosos ao persuadirem os gálatas a praticar os costumes externos da Lei (“ostentar-se na carne”), mas o eu próprio estava no centro das atividades deles. Como os fariseus, quiseram fazer uma demonstração externa do seu zelo para com a religião (Mt 6.1-5,16-18).
2. Covardes. “Somente para não serem perseguidos por causa da cruz de CRISTO”. A doutrina de um Messias crucificado era um opróbrio e pedra de tropeço aos judeus (1 Co 1.23), e a pregação da cruz despertava sua ira violenta. Os judaizantes estavam muito longe de serem mártires e, a fim de evitar a oposição dos seus compatriotas, procuravam diluir o Evangelho ao minimizar a morte de CRISTO e ao enfatizar a guarda da Lei. Esse, no entanto, era um meio-termo que meramente resultaria em transformar gentios em judeus.
 3. Hipócritas. “Porque nem ainda esses mesmos que se circuncidam guardam a lei”. Colocaram nos convertidos gentios um fardo que nem eles queriam suportar (cf. Mt 23.4; At 15.10). Não é um zelo genuíno pela Lei, que inspirava suas ações, mas somente o desejo de ficar de bem com os judeus.
4. Vaidosos. “Querem que vos circuncideis, para se gloriarem na vossa carne”. Queriam ter um relatório grande para enviar, relatando o grande número de convertidos (cf. Mt 23.15). O apóstolo era indevidamente severo em desmascarar assim os judaizantes? Há uma distinção entre encobrir as falhas pessoais do nosso vizinho e o desmascarar ensinadores de falsas doutrinas.
V - Firmem-se na Cruz! (G1 6.14-17).
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor JESUS CRISTO”. A referência não é à cruz de madeira reverenciada pelos católicos romanos; nem se refere primariamente à cruz do cristão, ou seja, as aflições aguentadas por amor ao Evangelho. Paulo se refere à morte expiadora de CRISTO, o fato central do Evangelho. Os judaizantes estavam enfatizando a guarda da Lei. Por que o apóstolo se gloriava na cruz? Porque CRISTO, mediante o seu sofrimento expiador, comprou para nós a salvação. Já havia muito, Paulo abandonara a confiança na sua justiça própria (Fp 3.1-9). Chegou a época em que a igreja de Roma cometeu o mesmo erro dos judaizantes e colocou a ênfase na obediência às leis e tradições para merecer a salvação. Então surgiu Lutero, pregando que a salvação era doada mediante a morte expiadora de CRISTO e recebida pela fé.
1. Os efeitos da cruz. “Pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo”. O que é o mundo? E a sociedade organizada à parte de DEUS, e contrariamente a Ele, e cujas atividades são influenciadas pela concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida (1 Jo 2.16). “A amizade do mundo é inimizade contra DEUS” (Tg 4.4). Como o mundo pode ser crucificado para nós? Não no sentido em que o mundo é inútil, nem que é um lugar para ser abandonado, conforme pensavam os monges que se retiravam para lugares desertos; nem no sentido de nos tornarmos amargos em nossa atitude para com ele. O mundo é crucificado para nós porque perdeu seu poder e encanto sobre nós. Como podemos ser crucificados para o mundo? O mundo nos considera como mortos, do ponto de vista dele. A cruz de CRISTO destruiu o relacionamento entre o mundo e o crente. Ele não quer nada mais com o mundo, e o mundo não quer nada mais com ele. O mundo considera que já não é seu, e odeia-o a ponto de persegui-lo.
VI - Fiquem Seguros nas Coisas Fundamentais! (G1 6.15-17)
1. Uma declaração. “Porque, em CRISTO JESUS, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura”. Os judaizantes colocavam como coisas essenciais as práticas externas, tais como a circuncisão, o uso de certas comidas, a observância de certos dias de festa etc. Tal pregação só produziria uma mudança de práticas; ou seja, o gentio deixaria os seus costumes pagãos e seguiria os costumes judaicos. Mas o aspecto principal na vida cristã é uma mudança de coração, que produz uma mudança de vida, com novos desejos, novos princípios, novas afeições, novas esperanças, novas virtudes (2 Co 5.17). Uma mudança de práticas não produzirá uma mudança de coração, mas uma mudança de coração produzirá uma mudança de práticas.
1. Uma bênção. “E, a todos quanto andarem conforme esta regra [a de colocar a cruz em primeiro lugar], paz e misericórdia sobre eles e sobre o Israel de DEUS”. Os judaizantes falavam muito de privilégios nacionais e colocavam diante dos gentios a honra de pertencerem ao povo escolhido, na condição de observarem a lei de Moisés. A bênção de Paulo, porém, é para o Israel de DEUS, ou seja, o verdadeiro povo escolhido, aqueles que foram escolhidos em CRISTO JESUS (cf. G1 4.28, 3.29; 4.26; 1 Pe 2.10; Mt 21.43; Rm 2.28,29; Ez 36.25-27).
2. Um pedido. “Desde agora, ninguém me inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor JESUS”. Noutras palavras: “Que ninguém acrescente os meus fardos, contradizendo a minha doutrina e negando a minha posição como apóstolo. Estes falsos mestres querem escapar à perseguição mediante o meio-termo, mas eu trago em mim as marcas dos sofrimentos por amor ao Senhor JESUS CRISTO”. Assim como certos escravos eram ferreteados, também as marcas deixadas pelos sofrimentos de Paulo mostravam que ele era um verdadeiro escravo de CRISTO.
VII - Ensinamentos Práticos
1. A lei da ceifa. “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará”. Essas palavras expressam a grave realidade de que a nossa vida presente é o tempo de semear uma ceifa eterna, e que todos os nossos atos, pensamentos e palavras produzirão segundo o seu tipo, e que a ceifa afetará o nosso destino. “Os atos que cumprimos, as palavras que falamos, embora pareçam fugir no ar, e nós os contemos como sempre passados, mesmo assim durarão, e nós nos encontraremos com eles no terrível dia do julgamento”. Esse pensamento deve nos inspirar com um cuidado escrupuloso no que diz respeito a todos os aspectos da nossa conduta. Há, porém, algum meio de escapar a uma lei tão solene? Quando uma pessoa se arrepende e nasce de novo, há mudança da sua natureza e destino (2 Co 5.17). Há, porém, certos pecados para os quais não podemos evitar a ceifa. O arrependimento sincero nos salvará da penalidade eterna daqueles pecados; devemos, então, suportar em santa resignação aquelas consequências terrestres que devem se seguir (2 Sm 12.7-23; cf. Tg 5.14; Jo 5.14). Lembre-se também de que há uma lei mais alta que as cancela, sem se opor à lei do semear e ceifar — é a lei da graça. Se mostramos arrependimento e melhoramos os nossos caminhos, ceifaremos o perdão de DEUS. Se semeamos consagração, ceifaremos uma colheita de retidão.
2. Três cruzes (G1 6.14). Três cruzes, ou crucificações, são mencionadas neste verso:
2.1. CRISTO crucificado. “Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor JESUS CRISTO”. Podemos imaginar uma família que se glorie no cadafalso sobre o qual algum dos seus membros foi executado? Paulo, porém, se gloria na cruz desprezada em que o seu líder morreu. Foi porque, naquela cruz, CRISTO morreu para a nossa redenção. Assim como a cruz era um objeto de repugnância para o povo nos dias de Paulo, também a doutrina da cruz é uma ofensa e opróbrio para os sábios dos nossos dias. Gloriamo-nos na cruz não como nos gloriamos num credo, porque experimentamos o seu poder; não nos gloriamos no sentido de jactância vazia, mas por causa da satisfação íntima. Disse Spurgeon: “As Escrituras a afirmam, o ESPÍRITO SANTO dá testemunho dela, e o seu efeito sobre a nossa natureza íntima nos assegura dela. Há um abismo que ninguém conseguiu atravessar sem ela, pois alivia a nossa consciência, inspira a nossa devoção e eleva a nossa aspiração; somos unidos a ela e diariamente nos gloriamos nela”.
2.2. O mundo crucificado. Muito se diz acerca da “opinião pública”, “a crença popular”, “o sentimento atual”, “o espírito da época”. Essas expressões frequentemente são invocadas para apoiar alguma ideia ou prática contrária às Escrituras. Para o cristão, porém, qual é a importância da opinião do mundo? E crucificado para ele! Diante de DEUS o mundo é como um criminoso condenado; já foi julgado, e sua opinião não importa mais. Sua honra, fama e tesouros são crucificados no que diz respeito ao crente. Quando Paulo disse: “O mundo está crucificado para mim”, quis dizer que não estava escravizado pelas atividades dele nem governado pelo espírito dele; não procurava os seus sorrisos nem temia as suas ameaças. O homem que teme a CRISTO e ama a cruz tem firmeza moral que o ajuda a fazer pouco caso do brilho deste mundo.
2.3. O cristão crucificado para o mundo. Enquanto corria juntamente com o mundo, frequentava suas festas barulhentas, participava das suas orgias de bebida e escutava suas histórias indecentes, era considerado um tipo muito bom. Quando, porém, se tornou cristão, era chamado tolo, hipócrita, louco, e era boicotado. Foi crucificado para o mundo! Foi necessário ele abandonar o mundo? Não, o mundo o abandonou! Num mundo que cambaleia na sua confusão e é rompido pelas lutas, gloriemo-nos na cruz, porque é o poder de DEUS para a salvação.
3. As marcas de CRISTO. “Trago no meu corpo as marcas do Senhor JESUS”. Na Roma antiga, escravos fugitivos eram frequentemente ferreteados, como estigma de vergonha. Paulo se considerava um escravo de JESUS CRISTO; mas ao invés de ser uma vergonha para ele, era a sua glória. Gloriava-se nas marcas que o distinguiam como escravo de CRISTO - as marcas das dificuldades, sofrimentos, perseguições e opróbrio. Nem todos podemos esperar ter as mesmas experiências do grande apóstolo, mas todo cristão deve ter algum sinal de pertencer a JESUS CRISTO.
3.1. Marcas externas. A vida sempre deixa a sua marca. A gula, a frivolidade, a crueldade, a concupiscência, a intemperança, a tristeza, o orgulho - todos deixam algum sinal no rosto. E a vida espiritual também deixa uma marca no rosto. A paz e a alegria íntimas são refletidas na expressão do rosto. Certo convertido escreveu ao piedoso Robert Murray McCheyne: “Não foi nada que o senhor tenha dito que me levou primeiramente a ser cristão, foi a beleza da santidade que vi no seu rosto”.
3.2. Marcas espirituais. Quais são as marcas que identificam as pessoas como pertencendo ao Senhor JESUS? O próprio Mestre mencionou e ressaltou três: a obediência (Mt 12.50), o amor (Jo 13.35) e o sacrifício (Lc 14.27, cf. também G1 5.22,23)
 

10 - A GRAÇA SALVADORA DE DEUS
Texto: Efésios 1— 3
 
Introdução
Leia a narrativa da fundação da igreja em Éfeso (At 19). Éfeso era uma poderosa fortaleza da idolatria e viveiro de superstição. Mediante a operação de muitos milagres, o nome de JESUS estava sendo engrandecido acima de qualquer outro nome, e muitos se converteram ao Senhor. Mesmo assim, alguns desses convertidos continuavam suas antigas práticas pagãs, conservando alguns dos seus livros de artes mágicas. Depois de uma dolorosa humilhação de alguns mágicos pagãos que procuravam lançar mão do nome de JESUS, os membros da igreja que possuíam livros mágicos pagãos confessaram e entregaram a literatura. Sabiam que o Evangelho e o paganismo não podiam ser misturados! Os livros queimados valiam cinquenta mil peças de prata! Foi uma grande perda financeira, mas podemos ter a certeza de que os efésios receberam recompensa abundante quando Paulo mandou-lhes aquela epístola de valor incalculável, que é considerada uma das mais profundas e ricas de todo o Novo Testamento. Cercados pelo mais profundo paganismo, os efésios estavam constantemente sendo tentados a desviar-se para os padrões pagãos. Essa epístola foi escrita para lembrar-lhes da sua alta vocação como cristãos, e para exortá-los a andar dignamente naquela vocação (4.1). No começo do segundo capítulo, Paulo contrasta as trevas em que viviam com o brilho da sua posição em CRISTO.
(1) Antes estavam mortos, agora estão vivos.
(2) Antes estava perdidos, agora estão salvos.
(3) Antes estavam longe de DEUS, agora estão perto.
I - Antes Mortos, Agora Vivos (E f 2.1-7)
1. Mortos em delitos e pecados.
“E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados”. Ser fisicamente morto é estar fora de contato com o mundo físico; ser espiritualmente morto é estar fora de contato com o mundo espiritual. As belezas da santidade não atraem o homem na condição de morte física, e nem os futuros sofrimentos do inferno o detêm do seu mau caminho. Os sofrimentos de CRISTO não o comovem. O cadáver não pode se levantar do túmulo e voltar à sociedade e ao cenário do mundo dos vivos. Assim também o homem espiritualmente morto não pode se vivificar. Ele não pode voltar à vida porque não quer, e por isso é responsável. O que causa a morte espiritual? “Mortos em ofensas [atos específicos de pecado] e pecados [movimentos pecaminosos da alma]”. O pecado não somente é a causa da morte, mas é também uma condição da morte. Quando dizemos que alguém está doente de febre, queremos dizer que a febre causou e constitui a sua doença. “Em que noutro tempo, andastes”. Mortos andando! Sim, há multidões de pessoas que estão mortas sem o saberem. Estão mortas para DEUS, para a Bíblia, para a oração “Segundo o curso deste mundo”. Em linguagem moderna: “Segundo o espírito da época”. Viviam de acordo com os padrões e práticas de uma sociedade desviada de DEUS - ímpia e oposta a DEUS (Jo 12.31; 18.36; 1 Co 1.20; 3.19; 5.10; G1 4.3). “Segundo o príncipe das potestades do ar” (cf. 2 Co 4.4; Jo 12.31, 14.30; 16.11; Cl 2.15; 1 Jo 3.8; 5.18; Cl 1.13). É chamado “o príncipe das potestades do ar” porque é líder daqueles espíritos malignos que pairam ao redor do homem (Ef 6.12). Embora denotado por CRISTO, Satanás ainda é ativo no mundo. Seu espírito caracteriza “os filhos da desobediência”. Satanás foi o primeiro rebelde, e desde então vive incitando o homem à rebelião (cf. Ap 16.14, 20.7,8). “Entre os quais todos nós também [Paulo aqui inclui os judeus], antes, andávamos nos desejos da nossa carne [a natureza humana em seu estado caído], fazendo a vontade da carne e dos pensamentos”. “A vontade da carne” indica os pecados grosseiros, enquanto a vontade dos pensamentos descreve todo o pensamento pecaminoso em geral (Mt 15.19; Lc 11.17). O Filho Pródigo cumpria os desejos da carne, enquanto o filho mais velho, com seu espírito orgulhoso e destituído de amor, andava segundo a vontade dos pensamentos (Lc 15). “E éramos por natureza filhos da ira, como os outros também”. Segundo a linguagem bíblica, ser “filho” de algo ou alguém é participar daquela natureza. Por exemplo, um “filho da paz” é alguém de natureza pacífica, um “filho da perdição” é alguém já condenado; “filhos da desobediência” são aqueles que realmente vivem na desobediência. “Filhos da ira” são aqueles que já vivem sob a ira divina. A ira de DEUS pesa sobre os pecadores, porque o pecado é tão contrário à sua natureza que sua ira pura é despertada contra ele (cf. Rm 1.18; Jo 3.36). “Éramos por natureza filhos da ira”. Como o pai da raça, Adão incluiu todos os seus descendentes na sua queda, de tal maneira que cada ser humano entra no mundo com uma tendência ao pecado (“pecado original”, ver Rm 5.17-21; SI 51.5). Na salvação, a culpa humana é purificada pelo sangue de CRISTO, e sua natureza é mudada pelo ESPÍRITO (Jo 3.5-7).
2. Vivificados pela misericórdia de DEUS.
“Mas DEUS, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas...” O mundo é um “cemitério” espiritual, povoado por aqueles que estão espiritualmente mortos. O Pai celeste, porém, se curva em amor sobre seus filhos mortos e ainda os ama (cf. Lc 15.32). DEUS ama o homem, a despeito do pecado deste, e seu amor assume a forma de misericórdia, que poupa o pecador arrependido e lhe oferece uma expiação (Rm 5.8; 1 Jo 3.16). Há quase dois mil anos que essa expiação está sendo oferecida, e já foi recebida por miríades das suas criaturas; mesmo assim, é uma mina de riquezas que nunca foi esgotada. O amor e a misericórdia de DEUS se expressam em ação. Ele vivifica aqueles que estavam espiritualmente mortos. Como? Unindo-os ao seu Filho, que é a fonte de vida.
(1) A sua vida é a vida deles (ler Jo 6.27-58; 5.24,25). Ele é o caminho, a verdade e a vida. A vida deles é “escondida com CRISTO, em DEUS” (Cl 3.3). Assim como o sarmento é relacionado à videira, também eles se relacionam a Ele (Jo 15).
DEUS coloca o Céu dentro de nós antes de nos colocar nele! (v. 7). O caráter de DEUS é conhecido e manifestado na ação. A misericórdia de DEUS foi demonstrada na salvação de pecadores tais quais eram os efésios. São “amostras” da sua graça (cf. 1 Tm 1.16). Os “séculos vindouros” incluem toda a história do mundo a partir dos dias de Paulo; o que DEUS fez para os efésios nos dias deles pode fazer a qualquer tempo!
II - Antes Perdidos, Agora Salvos (Ef 2.8-10)
1. A graça é a fonte da salvação. “Porque pela graça sois salvos”. A graça é o favor de DEUS para com os que nada merecem. DEUS não tinha nenhuma obrigação de salvar o homem, porque a sua lei poderia ter seguido o seu curso natural, e a penalidade poderia ter sido aplicada com toda a justiça. O pecador merece punição, mas não merece a salvação. “Não vem das obras, para que ninguém se glorie”. DEUS não poderia aceitar as condições do homem, porque a retidão humana é como trapo imundo, o homem não poderia cumprir as condições de DEUS, e assim, DEUS fez da salvação um dom gratuito. Mesmo assim, a justiça não foi deixada de lado ou menosprezada, porque CRISTO carregou sobre si a penalidade que era devida ao pecador.
2. A fé aceita a salvação. Uma dádiva precisa ser aceita. Como é que um homem aceita a salvação? Mediante a fé. Crê na promessa de salvação proferida por DEUS, crê que JESUS morreu no lugar dele e confia plenamente no Salvador. A fé é a mão que recebe aquilo que DEUS oferece. Algum merecimento existe da parte do pecador porque assim acreditou em DEUS? Nada mais do que se atribui a um esmolante que estende a sua mão para receber uma moeda, nada mais do que se atribui a alguém que, vendo que sua casa pegou fogo, sai correndo para salvar a sua vida; nada mais do que se atribui a alguém que está se afogando, mas que segura uma boia jogada para ele.
(2) A sua ressurreição é a ressurreição deles: “e juntamente com ele nos ressuscitou” (cf. Fp 3.10), de tal maneira que já não mais andamos segundo o curso deste mundo, mas “em novidade de vida”. A alma restaurada ao favor divino volta a viver de novo. Esta vida se manifesta em bênçãos íntimas e no viver santificado.
(3) A sua ascensão é a ascensão deles. Assim como DEUS colocou JESUS à sua mão direita no Céu, também colocou o seu povo com Ele em lugares celestiais - onde se distribuem os privilégios e onde se experimentam a alegria e a paz do Céu
3. As obras seguem a salvação. Já que a salvação é um dom gratuito e não depende das obras, será que os que crêem vão ficar descuidados na sua maneira de viver? Não, se entenderam corretamente a salvação. Assim como um mecânico constrói uma máquina para obter dela certo tipo de trabalho, também DEUS nos salva a fim de obter da nossa parte um certo tipo de conduta e trabalho (ver v. 10). Somos salvos para vivermos vidas santas. Somos salvos para servir. Não somos salvos porque vivemos corretamente, vivemos corretamente porque somos salvos. Boas obras são o fruto, e não a raiz da salvação. A salvação significa união com CRISTO; a união com CRISTO diz respeito a uma mudança de coração; uma mudança de coração traz consigo uma mudança de conduta (1 Jo 2.6).
III - Antes Longe, Agora Perto de DEUS (Ef 2.11-13)
1. Longe de DEUS. A salvação trouxe uma mudança de condição: antes mortos, agora vivos. A salvação traz uma mudança de posição: antes destituídos de privilégios, agora favorecidos por DEUS. Os salvos devem lembrar o que eram pela natureza, e o que agora são mediante a graça. Eram gentios (não israelitas), faltando-lhes a marca externa (a circuncisão) característica do povo escolhido e, portanto, não marcados para a bênção. Naquela condição estavam:
(1) sem CRISTO — durante séculos, Israel tinha a promessa do Messias, ou CRISTO, mas nenhuma promessa semelhante foi feita aos gentios em geral;
(2) sem igreja — “separados da comunidade de Israel”; antes da vinda de CRISTO, Israel como nação representava a igreja de DEUS (At 7.38), um povo santo, chamado para fora do mundo, mas agora os gentios estavam tendo o privilégio pertencente a uma nação chamada por DEUS (Rm 9.4,5);
(3) sem aliança — “estranhos aos concertos da promessa”; uma aliança é um acordo entre DEUS e o homem, trazendo consigo um relacionamento e incluindo promessas de bênçãos (ver Gn 12.3; 22.18; 26.3; 28.13; Êx 24.8; 2 Sm 7.12; Jr 31.31-34; Rm 11.27) e Israel rejeitou a nova aliança (Mt 26.28), que então foi oferecida aos gentios (Rm 11.11), dentre os quais DEUS escolheu um povo da aliança (At 15.14; Mt 21.43): antes disso não tinham alianças;
(4) sem esperança — nenhuma esperança de tempos melhores, nenhuma esperança de satisfação espiritual, nenhuma esperança de felicidade eterna, só tinham no futuro deles a escuridão da sepultura e o terror do juízo; (5) sem DEUS — não que negassem a existência de DEUS ou de deuses. Mas DEUS não era real para eles, e viviam como se DEUS não existisse: mais numerosos do que aqueles que negam a DEUS pela palavra são aqueles que o negam no viver diário.
 2. Aproximados de DEUS (v. 13). Os religiosos judeus se consideram “perto”, e os pagãos para eles estão “longe”. Quando um pagão era convertido ao judaísmo, diziam que era “trazido para perto”. Os gentios estavam longe de DEUS - longe do seu favor, da sua comunhão, da sua graça perdoadora, do seu poder renovador. Através de CRISTO e da sua obra expiadora, ficaram perto de DEUS e Ele agora é Pai deles. O pecado nos separa de DEUS, o sangue de CRISTO nos limpa do pecado e nos capacita a nos aproximarmos de DEUS (Hb 10.19-22; 1 Pe 3.18; Cl 1.21,22).
IV - Ensinamentos Práticos
1. A morte e a ressurreição espirituais. Paulo despreza o mundo com todas as suas várias atividades e considera-o um grande cemitério. Em cada lápide vê a mesma inscrição: “Morto pelo pecado”. Em linguagem atual, falamos de alguém que é “morto para a honra”, “morto para a vergonha”, e um homem profundamente adormecido é descrito como sendo “morto para o mundo”. As Escrituras dizem que os não convertidos são mortos no pecado. Espiritualmente demonstram as características da morte: inconsciência para com coisas espirituais, inatividade no que diz respeito ao serviço de DEUS, corrupção no seu comportamento O que podemos dizer para despertar as pessoas dessa condição? Assim como, nos últimos dias, o anjo fará soar a trombeta e os mortos ressuscitarão, também podemos agora soar o clarim da pregação do Evangelho, e o ESPÍRITO de DEUS levantará pessoas que estavam mortas em delitos e pecados. Podemos dizer a elas: “Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e CRISTO te esclarecerá” (Ef 5.14). Para podermos dizer isso, nós mesmos precisamos estar muito cheios de vida. Foi para cristãos que Paulo escreveu: “Vigiai justamente e não pequeis” (1 Co 15.34).
2. A Plena Salvação. “Pela graça sois salvos”. A plena salvação inclui:
2.1. Libertação da culpa do pecado (Rm 3.21-26). Aceitando CRISTO como nosso sacrifício expiador, nossos pecados são apagados, e somos declarados retos aos olhos de DEUS.
2.2. Libertação do poder do pecado (Rm 6.1-14). Quando os crentes descobrem que estão amarrados por algum pecado que sempre os assedia, devem lembrar que JESUS morreu para libertá-los do poder do pecado, e não somente da sua culpa. Enquanto reconhecem isso, aceitando-o pela fé, experimentam libertação. O ESPÍRITO SANTO então faz real o que CRISTO fez por eles.
2.3. Libertação do amor ao pecado. Muitos pecados são devido a desejos errados. As pessoas desejam coisas proibidas, e seus desejos muitas vezes acabam sendo traduzidos em ação. A salvação inclui uma mudança do coração, de tal modo que a pessoa passa a odiar as coisas que antes amava e a amar as coisas que antes odiava (2 Co 5.17).
2.4. Libertação da presença do pecado. A salvação será perfeitamente completada com a vinda de CRISTO, quando os corpos dos santos mortos serão ressuscitados e os corpos dos santos vivos transformados. Então, estarão para sempre com o Senhor (Rm 13.11; Fp 3.20,21)
3. Vivendo na graça. Quando perguntaram a uma menininha o que era a graça, ela respondeu: “E receber tudo sem pagar nada”. E uma boa definição, mas a graça é ainda mais do que isso. Poderia ter dito: “É alguém que merece tudo quanto é ruim, recebendo sem pagar nada tudo de bom”. “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante?” E, juntamente com o apóstolo, devemos responder, enfaticamente: “De modo nenhum!” (Rm 6.1,2). Sendo salvos pela graça, devemos viver pela graça. O que quer dizer viver pela graça? Notemos três níveis de vida.
3.1. O nível do instinto. Aqueles que vivem nesse nível fazem exatamente o que querem.
3.2. O nível da consciência. Aqueles que vivem nesse plano fazem aquilo que devem. Agem impulsionados por um sentido de dever.
3.3. O nível da graça. Aqueles que vivem nesse nível gostam de fazer aquilo que devem fazer. Amam a DEUS por causa da sua bondade para com eles através de CRISTO, e, portanto, alegremente fazem a sua vontade e guardam os seus mandamentos. Quando gostamos de fazer aquilo que DEUS quer que façamos, estamos andando na graça! Mas o que acontece se há relutância para fazer aquilo que é certo? Então podemos orar: “Cria em mim, ó DEUS, um coração puro e renova em mim um espírito reto” (SI 51.10).
4. A atmosfera da alma. Assim como há uma atmosfera física que afeta os nossos corpos, assim também há uma atmosfera espiritual que afeta a nossa alma. A atmosfera deste mundo é infeccionada com o espírito “do príncipe das potestades do ar”. E um espírito de desobediência e rebeldia. No dia de Pentecostes, porém, “veio do céu um som, como de um vento veemente”, e o ESPÍRITO SANTO, revelado através do povo de DEUS, entrou no mundo para lutar contra o espírito do mal. Uma nova atmosfera foi criada, em que as pessoas são convictas e se voltam para DEUS. O espírito de Satanás ainda está no mundo, mas graças a DEUS, podemos andar no ESPÍRITO e desfrutar da presença de DEUS.
5. A obra de arte de DEUS. “Pois somos feitura dele”. Um oleiro toma alguns pedaços de barro, um pouco de corante e um fogo quente. Produz um vaso que é vendido por alguns reais. Os materiais originais, no entanto, só valem uns poucos centavos. O que fez tanta diferença no valor? O poder e a perícia do artista! Nós, também, éramos sem valor diante de DEUS, mero barro da terra, condenados à inutilidade eterna. Agora, porém, somos filhos de DEUS; a beleza do Senhor nosso DEUS está sobre nós, e somos preciosos à vista dEle. O que fez a diferença? O poder e a graça de DEUS! Lembre-se daquilo que os efésios eram (2.1 1,12) e veja o que DEUS fez com eles (vv. 13-20). O Senhor ainda está transformando vidas - trasladando pessoas das trevas para a luz, do desespero para a esperança, do pecado para a santidade.
 

11- O VIVER CRISTÃO 
Texto: Efésios 4.1— 6.9
 
Introdução
Depois de examinarmos as condições morais do mundo pagão, teremos melhores condições de reconhecer de que tipo de vida os efésios foram salvos e quais as tentações que os cercavam. Os divertimentos daqueles dias eram brutais e degradantes. Baixos padrões de comportamento eram ensinados nos teatros. Nos anfiteatros, escravos, cativos e criminosos lutavam entre si até a morte, para satisfazer o desejo do povo — ver sangue. O casamento perdera a sua santidade; era levianamente contratado porque era facilmente anulado. Crianças malformadas ou doentias eram abandonadas e expostas para morrer. A sociedade era indulgente para com o vício. “Desviar-se é humano” era o seu lema. Para um grupo de pessoas habitantes, mas libertas de tal mundo foi que Paulo endereçou as suas exortações. Depois de descrever o caráter moral do mundo pagão (4.17-19), diz: “Mas vós não aprendestes assim a CRISTO, se é que o tendes ouvido 108 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs e nele fostes ensinados, como está a verdade em JESUS”. Noutras palavras, os efésios tinham aprendido outro padrão de conduta mediante o ouvir do Evangelho. O apóstolo menciona algumas das lições que aprenderam através da comunhão com CRISTO.
I - A Abnegação (Ef 4.22)
“Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano”. O “velho homem” se refere à natureza pecaminosa herdada de Adão. Essa natureza é corrompida e inspirada por desejos e concupiscências que colocam os homens numa armadilha e os destroem. A concupiscência pelo ganho leva à avareza; a concupiscência pelo prazer toma as pessoas sensuais. Cada desejo forte que deixa DEUS de fora é uma “concupiscência”. Essas concupiscências são “do engano” porque enganam as pessoas com brilhantes promessas de felicidade (Ec 2.1-11). O cristão deve lançar fora esses desejos assim como alguém tira uma roupa suja.
II - O Pensar Correto (Ef 4.23)
“E vos renoveis no espírito do vosso sentido”. Como alguém pensa no coração, assim é. Para vivermos corretamente, precisamos pensar de modo certo e ter atitudes corretas. Os pagãos imaginavam que seus deuses não se importavam como eles viviam porque, segundo a mitologia pagã, os deuses cometiam os mesmos pecados que os homens. Tais pensamentos naturalmente levam a um viver corrupto. O cristão deve dirigir o seu pensar de acordo com o ensino do Novo Testamento. Então terá “a mente de CRISTO”.
III - A Vida Santa (Ef 4.24)
“E vos revistais do novo homem, que, segundo DEUS, é criado em verdadeira justiça e santidade”. O “novo homem” O Viver Cristão 109 se refere àquela qualidade santa do viver, que é o resultado da redenção. No princípio, DEUS criou o homem à sua própria imagem; aquela imagem foi danificada pelo pecado, mas é restaurada quando uma pessoa nasce de novo. O “novo homem” está em contraste direto com o “velho homem”. Tendo sido libertado da sua vida antiga, o cristão deve rejeitar tudo aquilo que traz consigo o sabor daquela vida; tendo se tornado uma nova criatura em Cristo, precisa cultivar aquelas graças e qualidades que pertencem à nova vida (2 Co 5.17). Qual cerimônia é uma representação dessa verdade? (Rm 6.1-3; G1 3.27; Rm 13.12,14). 
IV - A Verdade no Falar (Ef 4.25) 
“Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu próximo”. Uma mentira é algo falso que tem o propósito de enganar e tem um desígnio errado. É representar falsamente aquilo acerca do qual uma pessoa tem o direito de saber. Toda mentira, insinceridade e falsa representação dos fatos é totalmente inconsistente com a nova vida. Os cristãos devem falar a verdade integral sem distorção ou exagero; a palavra de um cristão deve ser a sua obrigação firme. Notemos a razão para se falar a verdade: “Porque somos membros uns dos outros”. Meu vizinho cristão pertence ao mesmo corpo ao qual pertenço, e qualquer coisa feita contra ele é feita contra mim. Será que o olho mentiria ao pé, dizendo que não há perigo, quando o olho o está vendo? Ou será que o pé mentiria ao olho, dizendo que o terreno é firme, quando não é? A falsidade traz confusão aos relacionamentos humanos.
V - Bom Humor (Ef 4.26)
1. Quando a ira é certa. “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira”. Essas palavras dão a entender que há uma ira que não é pecaminosa. A primeira expressão pode ser interpretada: “Não haja pecado na vossa ira”. Registra-se que JESUS ficou zangado com a dureza do coração de certas pessoas (Mc 3.5). Essa indignação justa é necessária para um caráter cristão forte; aquele que ama a retidão e a realidade odiará o pecado e a hipocrisia. “Vós que amais ao Senhor, aborrecei o mal” (SI 97.10). Sem existir esse ódio àquilo que é mau, o amor se tomaria flácido e sentimental.
2. Quando a ira é pecaminosa. A ira se torna pecaminosa nas seguintes circunstâncias:
2.1. Quando é incapaz de ser governada, de tal maneira que qualquer ofensa imaginária ou coisa sem importância desperta a fúria.
2.2. Quando interfere com o amor. A ira justa é livre de ódio. Podemos odiar o pecado sem odiar o pecador.
2.3. Quando é permanente. “Não se ponha o sol sobre a vossa ira”. O dia da ira deve ser o mesmo da reconciliação. A ira deve ser uma emoção breve, lenta a ser despertada e logo repudiada. Se a ira tem licença de permanecer na mente, produz inimizade, ódio ou vingança, coisas que são positivamente pecaminosas. Conservar no coração qualquer rancor ou ressentimento é inconsistente com o discipulado cristão.
2.4. Quando é egoísta. O Senhor JESUS nunca se ressentia de ofensas pessoais contra Ele. Sua indignação se despertava contra o tratamento duro e injusto dado àqueles que amava. Uma boa parte da ira humana é puramente egoísta.
2.5. Quando dá a Satanás uma oportunidade para trabalhar. Satanás tem simpatia por um espírito rancoroso e malévolo — é bastante semelhante ao dele. Se o mau humor e a falta de controle próprio conquista o coração, abre as portas para aquelas paixões diabólicas que são semelhantes a ele. Sentimentos irados dão ao diabo uma oportunidade para trabalhar.
VI - A Honestidade (Ef 4.28) Esse verso sugere três deveres:
1. A honestidade. O padrão cristão com respeito ao furto, vai mais profundo do que o padrão popular. Todos consideramos como ladrão aquele que a lei condenou por furto. Mas, em outras formas, o furto é tão comum como o mentir. Por exemplo, o vendedor que dá pesos e medidas incompletos é um ladrão. O trabalhador que deliberadamente negligência o seu trabalho é um ladrão (ver 2 Sm 15.6 que descreve uma forma muito sutil de furtar). Como é que os homens furtam de DEUS? (Ml 3.8).
2. O esforço. “Antes, trabalhe, fazendo com as mãos o que é bom” (cf. 2 Ts 3.11). Quem deu o exemplo? Leia Atos 20.33,34; Marcos 6.3. A corrupção geralmente segue após a inatividade e a preguiça. O homem preguiçoso é usualmente mentiroso, descuidado e indigno de confiança.
3. A generosidade. “Para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade”. Será que aqui Paulo pregava algo que não praticava? (ver At 20.35). A quem foram faladas estas palavras? (At 20.17). Nota-se que os cristãos têm que “fazer o que é bom”, as contribuições generosas à caridade não compensarão os males das riquezas ganhas desonestamente.
VII - Conversação Santa (Ef 4.29,30)
O verso 29 pode ser explicado da seguinte forma: “Não permitam que palavras más venham a poluir os seus lábios. Falem apenas as palavras que ajudarão o progresso espiritual do seu irmão e que serão uma bênção para ele de acordo com a sua necessidade”. Que tipo de conversa é condenada? Palavras irreverentes que tratam levianamente as coisas sagradas. A zombaria que procura reduzir a nada o valor do nosso próximo. Conversa maliciosa que procura solapar outras pessoas. Palavras sugestivas de indecência. Palavras estultas, faladas numa tentativa de divertir. Nossas palavras devem ser cuidadosamente escolhidas. Milton disse: “Uma palavra tem alterado um caráter, e um caráter já alterou um reino”. A conversa corrompida não somente danifica almas humanas, como também ofende a DEUS. “E não entristeçais o ESPÍRITO SANTO de DEUS”. Entristecemos o ESPÍRITO quando fazemos aquilo que é repugnante a Ele, por exemplo, as coisas proibidas nos versos 25-32 e todo tipo de imoralidade. O resultado do entristecimento do ESPÍRITO SANTO será o afastamento da sua presença e das suas bênçãos. Wesley conta que certa vez ficou em trevas espirituais ao falar mal de alguém. “No qual estais selados, para o Dia da redenção’. Quando um negociante efésio comprava madeira, colocava o seu selo nas toras e depois mandava o seu empregado ir buscá-las. O selo era sinal de propriedade. Aqueles que são salvos e se tornam a propriedade de DEUS são selados com o ESPÍRITO SANTO. Um dia, o Senhor virá buscar aqueles que selou. Então experimentarão a plena redenção na glorificação dos seus corpos, ficando eternamente na presença do Senhor.
VIII - Bondade (Ef 4.31— 5.2)
“Toda a amargura [em pensamento, mentalidade e disposição], e ira [um estado tumultuoso da mente, do qual surge] ... e cólera [um sentimento firme de aversão ou inimizade], e gritaria [brigando com os oponentes e não deixando-os falar], e blasfêmias [maledicências, sujando a reputação alheia], e toda malícia [desejando o mal para outra pessoa] seja tirada de entre vós. Antes, sede uns para com os outros benignos [de doce disposição], misericordiosos [tendo dó das fraquezas e misérias de outros], perdoando-vos uns aos outros [não tratando os outros duramente por causa das suas faltas, lembrando-nos de que nós também temos faltas], como também DEUS vos perdoou em CRISTO [o motivo supremo para o perdão]”. “Sede, pois, imitadores de DEUS, como filhos amados [dEle]; e andai em amor”. Não podemos nos tornar semelhantes a DEUS na sabedoria, poder e soberania, mas podemos nos assemelhar a Ele no amor (Mt 5.43-48). Nosso amor se assemelha ao de DEUS quando amamos os nossos inimigos e aqueles que são difíceis de amar. “CRISTO vos amou e se entregou a si mesmo por nós [morreu em nosso lugar, G1 1.4; 2.20; Tt 2.14; 1 Tm 2.6], em oferta e sacrifício a DEUS [a oferta ressalta a ideia de presente, o sacrifício ressalta o pensamento da morte] em cheiro suave [algo agradável a DEUS]” (cf. Gn 8.21). A obra inteira de CRISTO e a bela atitude com que se ofereceu eram agradáveis ao Pai e asseguram uma bênção para todos aqueles que, pela fé, se tornam participantes do sacrifício.
IX - Ensinamentos Práticos
1. A verdade acerca da natureza humana. “O velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano”. Pessoas de mentalidade moderna se queixam de que o quadro que a Bíblia nos dá a respeito da natureza humana é melancólico, e que é muito deprimente ensinar que a natureza humana é totalmente corrupta. No entanto, os seguintes fatos devem ser considerados:
1.1. A questão não é de ser melancólica a doutrina bíblica do homem; trata-se de averiguar se esta é a verdade. Quem conhece o seu próprio coração e o do seu próximo concordará que: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr 17.9). Em períodos de guerra e revolução, as fornalhas vulcânicas que descansam no coração humano irrompem através da crosta de educação e civilização, e então ficamos sabendo que o quadro que a Bíblia pinta da natureza humana é verdadeiro. A guerra é um inferno, e a guerra nasce no coração do homem (Tg 4.1). 114 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs
1.2. Se um médico sabe que pode curar uma doença, pode se permitir dar toda ênfase à gravidade dos sintomas. A Bíblia ensina a cura divina para o pecado e, portanto, revela toda a hediondez do pecado. Por outro lado, se um médico sabe que não pode curar uma doença, pode ser tentado a minimizar a sua importância, a fim de encorajar o paciente a aguentá-la. Aqueles que não conhecem cura alguma para o pecado são tentados a minimizar a sua severidade e a desculpá-lo.
1.3. O quadro bíblico da natureza é realmente brilhante, porque ensina que o pecado não é essencial ao homem, mas que entrou como intruso. Sendo assim, pode ser expulso. Aqueles, porém, que negam o remédio para o pecado querem alegar que ele é parte natural do homem, e excluem toda a esperança de libertação. Nenhum livro descreve de forma mais sombria aquilo que somos do que a Bíblia, mas nenhum outro livro oferece esperanças tão brilhantes quanto àquilo que podemos vir a ser mediante a graça de DEUS.
2. Os apetites devem ser servos, e não mestres. Paulo fala em “concupiscências do engano”. As “concupiscências” são desejos de todos os tipos - pelo dinheiro, pela fama, pela comida, pela bebida, e por outras satisfações físicas. Alguém pode dizer: “Não é verdade que DEUS me criou com esses desejos, e não é meu dever satisfazê-los?” A resposta é que foram feitos para nos servir, e não para nós servirmos a eles. São impulsos, e não guias. Nós fomos feitos para dirigi-los; não foram feitos para dirigir-nos. As locomotivas precisam de engenheiros e trilhos. Os impulsos humanos precisam da consciência e do raciocínio para guiá-los. É comum ver um cachorro abanando o rabo, mas seria triste ver o rabo abanando o cachorro! A posição dos apetites está debaixo do nosso controle, e não assumindo o controle sobre nós. “O fruto do ESPÍRITO é... temperança” (G1 5.22).
 3. Somente CRISTO pode purificar a alma. “Vos despojeis do velho homem... e vos revistais do novo homem”. Os moralistas nos ensinam que precisamos afastar aquilo que há de mau em nossa natureza, mas não explicam como. Como pode uma coisa limpa surgir daquilo que é sujo? A natureza humana não tem poder para lançar fora o seu próprio pecado. Martinho Lutero empregava a seguinte ilustração: o coração humano é como um estábulo muito sujo. Carrinhos de mão e pás podem ser usados para remover parte da sujeira superficial, e sujam os corredores no processo. O que se pode fazer? Faça um rio passar por ele, e as correntezas levarão para longe toda a poluição. Aqueles acúmulos de pecado multiplicados durante os anos e a maldade profundamente arraigada que manchou a nossa alma não podem ser purificados por nossos próprios esforços, mas só pela graça de CRISTO, que perdoa e purifica. Ele nos receberá e nos revestirá com as suas vestes de retidão. Uma reforma de caráter afeta a forma, e não a substância, dá novas feições à matéria antiga. A regeneração, pelo contrário, empurra para longe a vida velha infundindo uma vida nova que é divina e pura.
4. Forte e tenro. Certo escritor viu uma rocha enorme de granito duro - granito que podia desafiar os raios e ficar firme no meio da tempestade mais violenta. Do coração dela, porém, fluía uma fonte cristalina e refrescante de água bem doce. O cristão, na sua resistência contra o pecado, deve ser firme como uma rocha. Mesmo assim, deve fluir da parte dele uma corrente de bondade para com os outros. “Sede uns para com os outros benignos”.
5. “Mais bem-aventurado é dar que receber”. “Antes trabalhe... para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade”. Disse um rico a Paton, o herói missionário de algumas décadas atrás: “Orei ao Senhor para que Ele me dê sucesso”. O missionário respondeu: “E Ele o deu ao senhor. Quão grande dívida tens com Ele! Qual vai ser o seu modo de pagá-lo?” O conselho de João Wesley era: “Ganhe o que puder. Poupe o que puder. Dê o quanto puder”.
6. Não entristeçais o ESPÍRITO. O ESPÍRITO SANTO frequentemente é descrito de forma impessoal como Fogo que purifica, Água que refrigera, Sopro que enche, Unção que é derramada, o Selo que preserva. Tais palavras apenas se referem às suas operações. Quanto à sua natureza, é claramente descrito como Pessoa que pensa, que exerce vontade e que sente. O fato de que é possível entristecê-lo comprova a sua personalidade, porque não podemos entristecer uma influência. Por ele somos selados para o dia da redenção. Quando um selo fica em contato com um objeto, deixa ali a sua impressão. O ESPÍRITO SANTO entra em contato com o nosso espírito e deixa ali a impressão divina. Ele foi enviado não somente para nos dar poder, mas também para nos tornar santos, amorosos, bondosos, pacientes, alegres, calmos e controlados. Essas são as influências que o ESPÍRITO traz às nossas vidas. Podemos ou cooperar com elas ou resisti-las. O pecado de qualquer tipo entristece o ESPÍRITO.

 
12- A GUERRA DO CRISTÃO
Texto: Efésios 6.10-20
 
Introdução
Quando estava em Éfeso, Paulo travou muitas batalhas vitoriosas contra os poderes das trevas. A guerra, no entanto, ainda estava em andamento, porque o inimigo é muito persistente. Se ele se afasta depois de tentar alguém, mas sem sucesso, sua ausência será apenas “por algum tempo” (Lc 4.13). Um espírito maligno, uma vez expulso, achará reforços e procurará retomar o seu lar perdido (Mt 12.43- 45). O apóstolo, escrevendo da sua prisão em Roma, adverte os efésios a serem vigilantes e preparados. Como ele podia fazer com que a sua mensagem fosse vívida para os seus leitores? Acorrentado a ele há um soldado romano em plena armadura, provavelmente um veterano de muitas guerras. Ah! pensava Paulo, seria bom que o povo de DEUS fosse assim na vida espiritual — completamente armado, forte, disciplinado, vigilante. Curvando-se sobre o seu manuscrito, chega à conclusão da sua carta: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de DEUS”.
I - Seja Forte para o Conflito! (Ef 6.10-12)
“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor”. Ser forte “no Senhor” indica que a fonte da nossa força está em nosso relacionamento com CRISTO. A força é dEle, mas, pela fé, torna-se a nossa força. CRISTO é a fortaleza do seu povo. Ser forte é o nosso dever; ser fraco é pecado. Podemos ter confiança forte, esperança forte, perseverança forte, amor forte, na condição de ficarmos em comunhão com Ele. Note que recebemos a exortação de sermos fortes no Senhor antes de recebermos a ordem de colocarmos a nossa armadura. Um soldado pode ter um belo uniforme e armas de primeira qualidade, mas isso nada adiantará se ele não tiver coragem. “Revesti-vos de toda a armadura de DEUS”. É armadura que precisamos vestir, porque a vida é um campo de batalha, e não um piquenique. É a armadura de DEUS que temos que vestir, pois foi Ele que a providenciou. Devemos vestir toda a armadura de DEUS, porque cada parte de nós precisa de ser protegida. “Para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo”. O grande inimigo do homem é um veterano feroz e malicioso. Ele luta, não em terreno aberto, mas por assaltos repentinos e investidas secretas e astutas. “Porque não temos que lutar contra carne e sangue”. O conflito não é contra os mortais fracos, mas contra “principados e potestades”. A luta não é contra demônios comuns, mas contra espíritos de alta posição. Provavelmente são espíritos caídos que tinham antes um alta posição no Céu e agora mantêm uma posição semelhante entre as hostes de anjos caídos. “Contra os príncipes das trevas deste século” ou, como alguém traduziu: “contra os dominadores mundiais destas trevas”. Os espíritos malignos têm um domínio especial nesta terra e não estão dispostos a serem expulsos das suas posições, não há nenhuma parte do globo para onde a sua influência não se tinha estendido. Regem nas “trevas”. A escuridão é o elemento em que trabalham e o resultado que produzem. Produzem confusão, ignorância, crime, terror e todas as formas de miséria. Contrastam-se com os filhos de DEUS, que são filhos da luz e vivem no elemento de conhecimento, pureza, paz, alegria e santidade. “Contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Sua natureza é maligna, sua comissão é maligna e sua obra é maligna. Estamos assentados com CRISTO “em lugares celestiais”, mas mesmo ali não estamos isentos do conflito. Assim como Satanás penetrou o Céu para acusar Jó (Jó 1), também penetra os “lugares celestiais” da experiência espiritual para nos atacar.
II - Seja Armado para o Conflito! (Ef 6.13-17)
“Portanto, tomai toda a armadura de DEUS, para que possais resistir no dia mal e, havendo feito tudo, ficar firmes”. A armadura do cristão não é para um desfile, nem é uniforme de gala para festas. O inimigo precisa ser enfrentado. O que é o “dia mal”? É o dia em que as forças do mal atacam. Também é mal por causa da possibilidade de derrota. A armadura inteira de DEUS inclui:
1. O cinturão da verdade. “Estai, pois, firmes, tendo cingido os vossos lombos com a verdade”. O cinturão conservava a armadura no lugar apropriado, dando força e liberdade de ação. A verdade se refere aqui em seu sentido compreensivo, e significa honestidade e sinceridade, em contraste com o fingimento, a leviandade, a hipocrisia e o erro, porque estas coisas dissolvem as forças espirituais e nos debilitam para a nossa batalha contra o pecado e o diabo (cf. Tt 1.2; Jo 8.44). Não pode haver genuína força de caráter sem sinceridade e honestidade.
2. A couraça da justiça. O peito desprotegido da nossa própria justiça não desviará os dardos malignos do inimigo. Se, porém, apelamos à justiça de CRISTO, que é imputada àqueles que nEle crêem, seremos invulneráveis. Quando o inimigo sibila: “Veja quão miseravelmente você fracassou!”, podemos responder: “É verdade, mas veja quão gloriosamente CRISTO triunfou”. Quando ele zomba: “Você está amaldiçoado com a maldição da Lei quebrada”, podemos responder: “CRISTO nos redimiu da maldição da Lei”. Quando ele insinua: “Depois de todas as suas aspirações pela santidade, ainda é um pecador”, podemos responder: “Mas o sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo o pecado” (ver Ap 12.10,11).
3. Sapatos de preparação. “Calçados os pés na preparação do Evangelho da paz” (cf. Is 52.7). Nossos pés devem ser calçados com a disposição de enfrentar o inimigo. A sandália romana tinha pregos embaixo, a fim de firmar-se em terreno escorregadio ou inclinado. Assim também a paz de espírito, que é o fruto do Evangelho, nos conservará firmes em cada emergência. Nesses dias de tensões e confusão, DEUS não nos deixará deslizar para a depressão e descrença. Estude a experiência daquele santo homem no Antigo Testamento cujos pés quase resvalaram (SI 73).
4. O escudo da fé. “Com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno”. Nas guerras daqueles tempos, flechas com pontas de matérias inflamáveis acesas eram atiradas para dentro das cidades, a fim de incendiar as suas construções. Há coisas dentro de nós que atraem os dardos inflamados: desejos, apetites, paixões e concupiscências que guerreiam contra a alma e que só precisam de um toque de fogo para flamejar como barris de alcatrão, produzindo fumaça negra e espessa que escurece os céus. Como é que a fé nos protege? Porque representa a confiança naquEle que é mais forte que o diabo e que pode nos dar poder para conquistar. Por exemplo, aquele que crê plenamente nas promessas contidas em 1 Coríntios 10.13 e Hebreus 2.18 é grandemente fortalecido contra a tentação (cf. Gn 15.1; SI 56.3,4,10,11; Pv 18.10; 2 Co 1.24; 4.16- 18; Hb 6.17,18; 11.24-34; 1 Pe 5.8,9).
5. O capacete da salvação. Se possuímos conscientemente a verdadeira salvação e estamos desfrutando dela, passaremos sem danos por tentações que, em outras circunstâncias, poderiam nos derrubar. A taça cheia não tem lugar para veneno. O olho que está contemplando as distantes montanhas brancas não vê as imundícies e frivolidades em derredor. Aquele que tem as primícias da felicidade eterna não as abandonará facilmente para os prazeres momentâneos do pecado.
6. A espada do ESPÍRITO. “E a espada do ESPÍRITO, que é a palavra de DEUS”. As outras partes da armadura eram defensivas, essa é usada para o ataque e a defesa. A Palavra de DEUS é descrita como sendo uma espada, porque penetra todos os disfarces do erro e porque desnuda “as ciladas do diabo”. Essa arma foi usada por CRISTO durante a sua grande tentação. E continua sendo a única arma de ataque do crente. Seja qual for a forma da tentação, para nos levar ao desespero, descrença, cobiça, orgulho, ódio ou mundanismo, pode ser destruída e vencida por um “assim diz o Senhor”. A Palavra de DEUS tem o propósito de ajudar na batalha contra o mal, e aquilo que foi escrito com respeito ao Messias (Is 49.2) pode ser um atributo de cada cristão - “com o sopro dos seus lábios matará o ímpio” (Is 11.4).
III - Enfrente o Conflito com Oração! (Ef 6.18-20)
Embora a oração tivesse sido subentendida nas exortações acerca da armadura, agora é mencionada com clareza (vv. 18-20). A oração que é necessária tem seis características:
1. Múltipla. ‘Toda oração” significa todos os tipos de oração - secreta, pública, em alta voz, silenciosa, breve, prolongada.
2. Incessante. “Orando em todo o tempo”. Como podemos “orar sem cessar”? É possível cultivar uma atitude de oração tal, que possa erguer o coração a DEUS em qualquer momento do dia.
3. Espiritual. “Orando... no ESPÍRITO” (cf. Rm 8.26; Jd 20). Podemos distinguir três graus de oração; primeiro, meramente repetir orações, que não têm poder de comover DEUS nem os homens; segundo, o orar com intensidade e sinceridade - o que comove DEUS e os homens; terceiro, o grau mais alto de oração é atingido quando o ESPÍRITO SANTO está orando através da pessoa.
4. Com vigilância. “E vigiando nisso” - contra a formalidade, a negligência e o esquecimento. Vigiando, também, pela resposta, assim como alguém aguarda uma carta importante.
5. Perseverante. “Com toda perseverança” (cf. Mt 15.21-28).
6. Compreensiva. “Por todos os santos”. Este é um dos grandes objetivos de se agrupar todos os santos em um só corpo, a Igreja, a fim de que sejam sustentados na guerra e no serviço, por orações uns pelos outros, e protegidos de deslizes, enfermidades e pecados mortíferos. Paulo nunca se sentia tão forte que pudesse passar sem as orações e ajuda de outros (vv. 19,20). Pede oração até o fim, para que o seu cativeiro não lhe fizesse perder a liberdade e a coragem quanto ao falar.
IV - Ensinamentos Práticos
1. Não arredando pé. Ao aceitar o Senhor JESUS CRISTO como Salvador e Mestre, aceitamos uma posição destacada em prol da retidão e do serviço consagrado. Há, porém, muitas influências no mundo que, se possível, nos levariam a duvidar, e então abandonar a nossa posição. Por isso as exortações: “Fortalecei-vos”; “Estai, pois, firmes”. Temos que ser perseverantes em seguir a CRISTO (Jo 8.31). O guerreiro cristão tem que dizer: “Estou resoluto em perseverar até ao fim’'. Somos admoestados a ser firmes e inabaláveis na obra do Senhor (1 Co 15.58). Estamos oprimidos pelo senso de fracasso em nosso serviço ao Senhor? A verdade é que todo trabalhador bem-sucedido passou pela mesma experiência. Continue avançando! Devemos conservar com firmeza a fé (Cl 2.5; 1 Pe 5.9; Jd 3). Enquanto tantas doutrinas falsas são semeadas em derredor, devemos ficar firmes no nosso testemunho (Hb 4.14; 10.23). Dar testemunho frequentemente é uma fonte de fortaleza espiritual. Cada vez que testificamos, estamos firmando a nossa posição na rocha. A aflição testa o nosso poder de ficar firmes (Rm 8.35-37). Podemos ainda conservar a vitória quando as coisas não estão indo bem? Se podemos, estamos fortes no Senhor. E um assunto severo e implacável este de ficar em pé no meio de ataques e tentações! Tiremos inspiração daqueles que foram à nossa frente. Lembre-se de Calebe, que resolveu avançar quando a maioria estava contra ele (Nm 14.6,24). Pode ser que tenhamos de tomar posição firme, porque a expressão “todos fazem assim” não faz com que algo seja necessariamente correto. Pense em Josué, que ficou resoluto de que ele e a sua casa serviriam ao Senhor (Js 24.15), sem levar em conta o que os outros fariam. Fiquemos emocionados e admirados ao pensar na coragem dos três jovens hebreus que foram fiéis a DEUS até o ponto de enfrentar a morte (Dn 3.18). Pense em Daniel que ficou firme na sua vida de oração, mesmo quando assim arriscava perder tudo (Dn 6.10). Por que não foi comido pelos leões? Não conseguiram enfrentar sua força de caráter. Precisamos de muita força de caráter espiritual nesses dias. Consideremos, acima de tudo, o nosso Mestre divino (Lc 9.51). Enfrentando as tentações para tomar a saída fácil, tomou a intrépida resolução de ir ao Calvário, e assim tornou-se o nosso Salvador. O ficar firme não somente galga a aprovação divina, mas também traz a sua própria recompensa na forma de um aumento de força. Os peles-vermelhas acreditam que as forças dos inimigos mortos na luta passavam para os vencedores; assim, cada tentação resistida e cada conflito vencido fortalece os nossos músculos espirituais. Notemos que Paulo não menciona nenhuma armadura para as costas; não existe a alternativa de fugir do inimigo.
2. Preparando-se para o inesperado. A vida cristã inteira é uma guerra, mas, como em todas as guerras, há dias de calma e dias de ataques. O “dia mau” na guerra espiritual é aquele que especialmente ameaça o nosso caráter moral e espiritual. O dia mau de José veio quando ele foi tentado, mas resistiu vitoriosamente; o dia mau de Pedro veio quando estava no pátio do sumo sacerdote, e para ele era duplamente mau, porque negou o seu Mestre. Se fôssemos avisados de antemão que a provação ou a tentação se aproxima, poderíamos vigiar e esperar por ela (Lc 12.39). Infelizmente, essas coisas vêm de modo repentino e nos pegam desprevenidos. Sendo que o dia mau certamente virá, sendo que poderá vir a qualquer tempo, e sendo que é mais provável que virá quando menos esperamos, a prudência exige que estejamos preparados. Como podemos nos preparar? Os soldados se preparam para a guerra ao aprenderem a usar armas em tempos de paz. O guerreiro cristão se prepara para o dia mau pelo exercício constante dos meios da graça. A resistência à tentação repentina é mais vigorosa quando a bondade se torna um hábito arraigado. A pessoa que põe em prática a cada dia os preceitos da Palavra de DEUS é armada para enfrentar um ataque repentino. Aquele cujo deleite é a comunhão com DEUS e cujo coração se ocupa com as virtudes cristãs terá pouco lugar para as sugestões do inimigo. Por outro lado, se a vida de alguém está minada com o mal, o mais suave sopro de vento o derrubará (cf. Mt 7.24-28). Mesmo alguém bastante ocupado nas coisas cristãs e bem-preparado pode ser tentado pelo diabo, mas alguém que não tenha semelhante preparo tentará o diabo.
3. A armadura de DEUS. “Revesti-vos de toda a armadura de DEUS”. Noutros trechos é chamada “armas da justiça” (2 Co 6.7) e “armas da luz” (Rm 13.12). A armadura representa aquela santidade da alma que é transmitida pela graça de CRISTO, que nos liberta do mal e nos fortalece para resistir o mal. Por que é chamada de armadura de DEUS?
3.1. Somente DEUS pode concedê-la. Os filósofos podem emitir belos sentimentos e preparar códigos de conduta, os psicólogos podem escrever suas preleções de “animação” sobre o sucesso e o viver eficiente. Somente por meio do poder de DEUS, porém, é que o mal pode ser conquistado. O Evangelho não é bom conselheiro; é boas novas - notícias de que JESUS quebrou o poder do pecado.
3.2. É a armadura de DEUS porque podemos usá-la somente quando estamos em comunhão com Ele. Ao negligenciarmos os meios da graça, podemos esquecer ou perder certas partes da nossa armadura e assim ficar expostos a feridas pelos dardos do inimigo. Através da oração e do arrependimento, podemos pedir ao Senhor a peça que nos falta. A nossa armadura está completa?
3.3. E a armadura de DEUS porque a proteção que dá se deve ao poder de DEUS por dentro. Há algum tempo foi inventado um revestimento que protege o ser humano contra os perigos da eletricidade em alta tensão. A proteção consiste em uma roupa de gaze de bronze, de tecido fino, que cobre inteiramente o corpo e as extremidades, de tal maneira que a corrente, se passar por cima do corpo, somente chegará até a superfície metálica, e de lá será conduzida para fora, sem causar danos. De semelhante maneira, as tentações que apelam à mente e ao coração são neutralizadas pela armadura espiritual do ESPÍRITO de DEUS. A atmosfera é carregada com correntes perigosas do mal, que nos destruiriam, não fosse a nossa proteção com a “força do seu poder”.
3.4. É a armadura de DEUS porque CRISTO, o DEUS-homem, foi revestido com ela e com ela derrotou o inimigo. Assim como os soldados aprendem a manejar as suas armas ao olhar os métodos de um veterano, podemos aprender a empregar a armadura de DEUS ao observar como foi usada pelo Capitão da nossa salvação.


13- CRISTO, O NOSSO EXEMPLO
Texto: Filipenses 1 e 2
 
Introdução
Paulo, após ter sido preso e mediante o seu apelo a César (At 22— 25), foi levado a Roma para aguardar julgamento ali. Seu estado como prisioneiro não foi pesado naquela ocasião, pois tinha o direito de morar numa casa alugada por ele e de receber as visitas dos amigos. Certo dia, surgiu ali um mensageiro com sinais de ter feito uma longa viagem; era Epafrodito, membro da igreja em Filipos. Tinha trazido uma oferta para o apóstolo. Agradecendo aos filipenses a oferta, Paulo escreveu esta epístola (Fp 4.15-18). Paulo tinha, porém, razões mais sérias para escrever esta epístola. Parece que havia algum defeito na unidade da igreja. Não havia discórdia séria, porque a igreja como um todo estava numa condição de bom crescimento espiritual. Mesmo assim, a harmonia não era perfeita entre alguns dos membros. Parece ter havido alguma diferença de opinião quanto à questão de perfeição cristã (3.15), e os líderes na controvérsia eram duas obreiras cristãs, Evódia e Síntique (4.2). Não havia separação aberta, mas um leve esfriamento estava entrando na atmosfera da igreja. Paulo não denuncia isso, nem sequer repreende, mas procura derreter aqueles primeiros flocos de gelo que estavam surgindo no meio da atmosfera amorosa da igreja em Filipos. Consegue isso por meio de um compassivo apelo ao exemplo de CRISTO.
I - O Compassivo Apelo à Unidade (Fp 2.1-4)
1. Os motivos para a unidade. Paulo menciona aqueles sentimentos e experiências que devem impulsionar os filipenses a desejar a unidade.
(1) “Exortação em CRISTO”. A exortação é um conselho que anima. CRISTO anseia pela unidade do seu povo (Jo 17.11), e esse fato deve ser razão suficiente para o seu povo procurar e conservar a unidade. (2) “Consolação de amor”. Noutras palavras: lembrem-se da fortaleza e consolação que surgem do mútuo amor e não permitam que a falta de união lhes despoje dessa bênção.
(3) “Comunhão do Espírito”. A comunhão é o participar juntamente. Já são um em CRISTO porque participam da mesma experiência (1 Co 12.13). Devem, portanto, reconhecer esse fato e viver à altura. (4) “Entranháveis afetos e compaixões”. Se os corações são compassivos, não deve haver dificuldade em manter a unidade.
2. O apelo à unidade. “Completai o meu gozo”. Paulo já falou da alegria que deriva da vida e conduta dos filipenses; agora pede que completem essa alegria e vivam em união. Não é que deviam fazer assim apenas para agradar a ele, mas para o próprio bem deles. “Para que sintais o mesmo, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, sentindo uma mesma coisa”. Ter o mesmo sentimento significa ter os mesmos desejos, alvos, pontos de vista, esperanças e temores. Significa trabalhar juntamente em amor para atingir o mesmo propósito.
3. Ajudas e obstáculos à unidade. O que os ajudará a atingir e conservar a unidade?
3.1. Humildade. “Nada façais por contenda ou por vanglória”. O partidarismo surge do amor às contendas ou do desejo de gratificar o nosso próprio orgulho, e procura suprimir a vontade de outras pessoas. A vanglória é a disposição de pensar que somos importantes, de exigir uma posição de destaque e firmar-nos nela contra as reivindicações de outras pessoas. “Mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo”. Paulo quer dizer que uma pessoa que vive para servir aos outros e que luta em prol de causas que ajudam ao próximo, ao invés de buscar seus próprios interesses, está se colocando abaixo do seu próximo. Quando, por exemplo, alguém abandona tudo para ir a um país estrangeiro, a fim de pregar o Evangelho, está considerando aqueles estrangeiros mais importantes do que ele próprio.
3.2. Altruísmo. “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros”. Quando alguém está absorvido em si mesmo, seu coração é fechado contra outras pessoas. Nossos próprios interesses, quando indevidamente ressaltados, produzem barreiras entre nós e outros. Viver para o eu-próprio é a verdadeira raiz do pecado.
II - O Exemplo Inspirador de CRISTO (Fp 2.5-11)
“De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em CRISTO JESUS”. Isso quer dizer que não somente devem seguir o exemplo de CRISTO no que diz respeito à sua conduta exterior, mas também no que diz respeito à sua vida interior. Devem prestar atenção àquilo que prendia a atenção dEle, amar as coisas que Ele amava, odiar as coisas que Ele odiava. Devem ver as coisas do ponto de vista dEle, a atitude dEle deve ser a deles. Mais especialmente, devem seguir o exemplo do humilde servo que revelou ao entregar a si mesmo para a salvação do mundo. Notemos que estes versos declaram as doutrinas fundamentais do Cristianismo:
(1) A encarnação, mediante a qual o Filho de DEUS se tornou homem, a fim de que o homem seja feito um filho de DEUS.
(2) A expiação, que significa que o Filho de DEUS morreu em prol do homem, a fim de que o homem vivesse para DEUS.
1. Sua preexistência. AquEle que nasceu em Nazaré existia previamente num estado mais glorioso. Na eternidade, existia “em forma de DEUS” (Fp 2.6): tinha a mesma natureza de DEUS; “verdadeiro DEUS de verdadeiro DEUS”, conforme diz um antigo credo. Sua existência não começou na ocasião do seu nascimento, nem terminou com a sua morte.
2. Sua encarnação. Embora subsistisse em forma de DEUS, “não teve por usurpação ser igual a DEUS. Mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens”. Quando foi comissionado para salvar a raça humana, não considerava a sua natureza divina um motivo para isenção do dever. Livremente deixando de lado por um tempo a sua glória e atributos divinos, trocou a forma celestial de existência por uma forma terrestre, e como Filho de DEUS, tornou-se o Filho do homem. Assim como em certa ocasião deixou de lado as suas vestes externas a fim de lavar os pés dos seus discípulos (Jo 13.3-5), também, por alguns anos, deixou de lado a sua glória externa a fim de purificar do pecado a raça humana. Quando o Filho de DEUS se tornou homem, recebeu o nome para descrever sua missão terrestre: JESUS (Mt 1.21). AquEle que era Mestre de tudo (Cl 1.16) ficou sendo o Servo de todos (Mc 10.45; Lc 22.27).
3. Sua humilhação. “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte e morte de cruz”. Na vinda do Filho de DEUS, havia uma dupla descida: para assumir a natureza humana e para morrer a morte humana. Viveu e morreu humanamente. Não era uma morte comum, era a forma mais vergonhosa e dolorosa da morte — a morte na cruz. Quando o seu corpo foi deitado no túmulo, a descida do Filho do Homem ficou completa.
4. Sua exaltação. “Pelo que também DEUS o exaltou soberanamente e lhe deu um nome que é sobre todo o nome, para que ao nome de JESUS se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra”. Assim foram cumpridas as próprias palavras de CRISTO: “Aquele que se humilha será exaltado”. E sendo que, no plano final de DEUS, a exaltação está em proporção à humilhação, a exaltação de CRISTO é a maior que existe no Universo, porque a sua própria humilhação foi a mais profunda. Sua recompensa foi a soberania universal, recebendo a adoração de toda criatura (cf. Ap 5.6-14). Humilhou-se sob a poderosa mão de DEUS e, em tempo oportuno, foi exaltado (1 Pe 5.6).
III - A Chamada Vigorosa à Atividade (Fp 2.12-14)
“De sorte que, meus amados, assim como sempre obedecestes, não só na minha presença [não meramente para agradar a mim], mas muito mais agora na minha ausência [para agradar ao Senhor], assim também operai a vossa salvação com temor e tremor, porque DEUS é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade”. A expressão “assim” indica que a exortação que se segue é baseada no exemplo do Senhor. Paulo como que diz: “Vosso Senhor e Mestre cumpriu a sua missão e atingiu o seu destino através da obediência [v. 8]; segui nos seus passos e deixai que DEUS faça o que quiser nas vossas vidas”. Nesses versos, temos uma combinação de duas posições que à primeira vista parecem contraditórias: a fé numa salvação já completada, havendo, porém, a necessidade de trabalhar; DEUS trabalhando em nós e, mesmo assim, nós trabalhando da mesma forma; DEUS nos sustentando, e o cristão ainda se desenvolvendo com temor e tremor. Essas declarações realmente representam ambos os lados da nossa salvação, o lado divino e o lado humano, o que nos ensina que a vida cristã é questão de cooperar com a graça divina.
1. A salvação já foi efetuada, mas precisa ser desenvolvida. Três fatos devem ser notados. Primeiramente, Paulo está se dirigindo a cristãos que já aceitaram o dom da salvação oferecido por DEUS e que agora estão progredindo na vida cristã. Em segundo lugar, a palavra “salvação” é compreensiva. O cristão foi salvo quando aceitou a CRISTO. Está sendo salvo, no sentido de progredir naquele aspecto de salvação que tem a ver com a vida de santidade. Em terceiro lugar, será salvo quando a vinda do Senhor trouxer consigo o pleno resultado da salvação - a glorificação (Rm 13.11; 1 Pe 1.9,13). Paulo aqui se refere ao aspecto contínuo da salvação que diz respeito ao progresso na vida de santidade, e que trata do assunto de despojar-se do “velho homem” e vestir-se com o “novo homem”. A conversão não é a totalidade da salvação, o convertido precisa continuar a empregar os meios da graça e crescer espiritualmente (cf. 2 Co 9.10; Ef 4.15; Hb 6.1; 1 Pe 2.2; 2 Pe 1.5; 3.18).
2. DEUS trabalha em nós, mas nós também temos que trabalhar. O ESPÍRITO de DEUS nos inspira com um desejo de cumprir a vontade de DEUS, e a nós cumpre cooperar com essas inspirações. Tudo que o cristão faz de bom é fruto da operação de DEUS dentro dele e da sua entrega total a DEUS.
3. Nossa salvação é certa, porém temos que temer e tremer. As Escrituras ensinam que a nossa salvação é garantida, e que nada nos poderá separar do amor de CRISTO, e que ninguém nos poderá tirar da mão de DEUS. Sem tais promessas, não poderíamos ter a certeza da salvação, a alegria da salvação enquanto permanecemos fiéis. Do outro lado, temos que desenvolver a nossa salvação com temor e tremor. Esse não é um temor que nos atormenta, baseado numa dúvida e incerteza quanto à nossa salvação. Significa um temor sadio e piedoso de fracassar naquilo que DEUS quer de nós, temor este que nos levará a confiar sempre mais nEle e sempre menos em nós mesmos. Esse desenvolver a salvação com temor e tremor significa que a chave da nossa vida será: “Todavia, não eu, mas a graça de DEUS, que está comigo” (1 Co 15.10). “Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas”. Essas palavras se aplicam primariamente à íntima submissão à vontade de DEUS. Enquanto DEUS trabalha dentro de nós, inspirando-nos nos caminhos de santidade e serviço, devemos obedecer à sua orientação e não nos rebelarmos contra Ele no íntimo. Quantas vezes ficamos impacientes por dentro, discutindo com DEUS e procurando um raciocínio para evitar a cruz! Nossa salvação se desenvolve enquanto obedecemos de boa vontade à orientação de DEUS. Num certo sentido, toda a murmuração é contra DEUS (Nm 16.11). Note-se o verso 15. Os filipenses são exortados a exibir suas vidas em contraste com os israelitas que murmuravam (cf. Dt 32.5).
IV - Ensinamentos Práticos
1. O antídoto ao orgulho. Havia certa falta de harmonia entre os cristãos de Filipos. Paulo sabia que, para se criar harmonia, é preciso humildade de atitudes. Assim como um fogo vai se apagando quando lhe falta combustível, também as disputas e as rivalidades cessam quando acabam as ambições. Quando cada um é disposto a ser o menor, quando cada um quer colocar seus companheiros numa posição mais alta do que a sua própria, então terminam as lutas e o espírito de partidarismo. Como o apóstolo cria essa humildade de mente? Levando seus leitores à cruz, mostrando como JESUS estava disposto a renunciar aos seus direitos a fim de salvar outros. Na cruz, há uma cura para todas as doenças espirituais. Ali somos curados dos nossos pecados, e ali seremos libertados do orgulho e do egoísmo. O Filho de DEUS se dispôs a aceitar posições humildes, a fim de trazer paz à humanidade. Será que seus discípulos ousarão recusar situações de humildade, a fim de promover paz entre os irmãos?
2. Outros! Quando pediram ao general Booth um recado a ser transmitido ao Exército da Salvação em todas as partes do mundo, ele telegrafou uma só palavra: OUTROS. Não poderia ter sido escolhida uma palavra melhor para expressar o espírito que deveria animar a vida e o serviço cristãos. Mal-entendidos surgem porque não conseguimos perceber o ponto de vista do nosso próximo. Sem querer, magoamos intimamente outras pessoas porque deixamos de levar em consideração os seus direitos e os seus sentimentos. Muitos males são praticados porque não pensamos. Frequentemente fazemos uma crítica injusta por não nos colocarmos na situação de outros. Se o egoísmo fosse removido deste mundo, teríamos mais felicidade do que conseguiríamos absorver.
3. A mente de CRISTO. Somente à medida que temos a mente de CRISTO, podemos realmente representá-lo diante do mundo. Há alguns anos, irmãos humildes foram ao ministro do rei da Dinamarca para pedir permissão de ir pregar o Evangelho aos negros da ilha de São Tomé. O ministro lembrou-lhes que aqueles negros eram escravos, e que os escravos não confiariam neles, considerando que eram da raça dominadora. Os irmãos responderam: “Vamos nos vender como escravos por um período de tempo, a fim de ficarmos no mesmo nível com aqueles que queremos ajudar; olharemos nos olhos deles e contar-lhes-emos acerca do amor do Pai e do sacrifício de CRISTO, erguendo-os para os privilégios dos Filhos de DEUS”. Esses irmãos tinham a mente de CRISTO. O que não aconteceria se a Igreja inteira possuísse esse mesmo espírito!
4. A obediência é o caminho para a humildade. Há pessoas que escolhem métodos estranhos na tentativa de se humilhar. Há monges que se chicoteiam cada noite para se tornar humildes. Outras pessoas adotam um tom de humildade e falam com desprezo acerca de si mesmas, e, em muitos casos, tudo não passa de uma máscara para o orgulho. JESUS não inventou nenhum método para tornar-se ridículo; não vestiu nenhuma roupa especial para chamar a atenção à sua pobreza. O meio de o Senhor se humilhar foi através da obediência! Nenhuma forma de humildade se compara à obediência. “Obedecer é melhor do que sacrifício, e escutar do que a gordura de carneiros”.
5. Desenvolvendo o que DEUS operou. Quando certo ministro estava visitando a Califórnia, foi levado para ver um vale fértil cheio dos frutos mais suculentos e de flores encantadoras. Havia menos de dez anos, conforme explicou o anfitrião, o vale era completamente seco e deserto. Foi tudo o resultado da atividade de certo homem. Viu que o solo poderia ser levado a produzir, comprou o vale inteiro e, com grandes despesas, canalizou água para lá. Comprando sementes apropriadas, entregou-as a agricultores, dividiu os terrenos entre eles, contou-lhes os seus planos e disse: “Aqui estão as sementes; aqui temos água, ali está a terra: vão trabalhando o meu propósito”. Conosco DEUS agiu de semelhante maneira. Preparou o terreno do nosso coração, plantou ali a semente da vida eterna e aguou-a com o ESPÍRITO SANTO, a água da vida. Essa é a parte que cabe a Ele. Agora Ele nos diz: “Operem o meu propósito”. Qual é o propósito? (ver Fp 2.15,16; Ef 2.10).
6. “Desenvolvei... com temor e tremor”. A salvação é uma posse tão preciosa que devemos ter o cuidado de não a negligenciar. Disse Spurgeon: “Ninguém é tão cauteloso como aquele que possui a plena certeza da salvação, ninguém tem tanto temor santo de pecar contra DEUS, nem anda tão cuidadosamente, como aquele que possui a plena certeza da fé”.
 
 
14- A CORRIDA CRISTÃ
Texto: Filipenses 3
 
Introdução
Os mesmos judaizantes, cujas atividades são referidas nas epístolas aos coríntios e aos gálatas, procuraram infiltrar-se na igreja de Filipos. Contra eles, o apóstolo adverte os filipenses em linguagem severa (Fp 3.1-3). A fim de impressionar os crentes gentios, os judaizantes jactavam-se da sua nacionalidade judaica, da sua conexão com a igreja em Jerusalém e da sua observância escrupulosa da lei de Moisés. Paulo se refere à sua própria experiência, ao tempo quando ele, como os judaizantes, vivia na nuvem da sua própria retidão. Se a justiça fosse questão de descendência natural, de privilégios herdados e de observâncias legais, então Paulo teria tanto assunto de jactância quanto esses ensinadores (vv. 4-6). Quando, porém, a glória de CRISTO se revelou a Paulo, o brilho e os privilégios do judaísmo se desvaneceram como o cintilar das estrelas desaparece diante do esplendor do Sol. Como Wesley, Paulo podia dizer:
“Meus ganhos mais ricos considero como perda”. O apóstolo tivera alegria em lançar fora todas as vantagens da alta posição no judaísmo, a fim de atingir o que havia de mais precioso no Universo - a pessoa de CRISTO. Não se despojara de todas as ambições, mas fizera a sua ambição seguir a direção certa.
I - A Santa Ambição (Fp 3.8-11)
1. Ganhar CRISTO. Paulo considera os seus privilégios anteriores como refugo, ou lixo. Todas as coisas juntas são lixo e escórias comparadas com o único desejo de Paulo: ganhar o próprio CRISTO. O que significa ganhar CRISTO? Significa estar em comunhão com Ele e ter a sua presença na alma. Significa ser vinculado a Ele como nossa Cabeça, ser enxertado nEle como nossa Videira (Jo 15.1), ser casado com Ele como nosso Noivo (2 Co 11.2), ser edificado sobre Ele como nossa Pedra Fundamental. Ser achado “em CRISTO” é estar sob o seu controle, cuidado e proteção.
2. Possuir a retidão de DEUS. Quando Paulo teve uma visão de CRISTO no caminho para Damasco, ficou convicto de que era um pecador e que a sua justiça própria não passava de trapos imundos (Is 64.6), insuficiente para vestir a alma diante do olhar de DEUS, que a tudo perscruta. O Senhor, porém, lhe deu uma justiça que aguentaria o teste da eternidade - a justiça de DEUS imputada à pessoa que realmente confia em CRISTO para a salvação. Somos considerados justos porque o nosso Representante é justo.
3. Conhecer a CRISTO. “Para conhecê-lo”. Paulo não fala aqui de conhecimento intelectual, mas sim, em conhecimento baseado na experiência. Há uma grande diferença entre realmente conhecer a CRISTO e meramente saber acerca dEle. Assim como se sabe o gosto da comida ao comê-la, assim também conhecemos a CRISTO ao recebê-lo
4. Experimentar o poder da sua ressurreição. O poder da sua ressurreição é o poder que nos vivifica espiritualmente (Ef 2.1-5; Rm 6.4; Cl 3.1). Houve um tempo em que a nossa alma estava morta, como o corpo de CRISTO no túmulo de José. Mas o mesmo ESPÍRITO que ressuscitou CRISTO da morte vivificou as nossas almas e lhes deu vida. E aquele mesmo ESPÍRITO dará vida a nossos corpos mortais na ressurreição (Rm 8.11).
5. Comungar com seus sofrimentos. As palavras significam que é um privilégio, e não uma calamidade, participar dos sofrimentos de CRISTO. Não podemos, é certo, sofrer de modo expiatório como sofreu JESUS, não podemos sofrer e nos sacrificar para o bem do nosso próximo (Mt 20.22,23; Cl 1.24). Os sofrimentos por amor a CRISTO nos levam a ter estreita comunhão com Ele, porque o vínculo mais estreito que existe entre as pessoas é a simpatia que provém de sofrerem juntas.
6. Conformidade com sua morte. Ser conformado com a morte de CRISTO significa ser tão inspirado pelo seu Espírito, a ponto de estar disposto a dar a sua vida, se necessário, por amor a Ele (Lc 14.25-27). 7. Alcançar a ressurreição dentre os mortos. Paulo se refere à ressurreição daqueles que morreram em CRISTO, que serão ressuscitados antes daqueles que morreram sem Cristo (Ap 20.4,5; 1 Ts 4.15-17; Ap 20.11-15).
II - O Progresso Espiritual (Fp 3.12-14)
Paulo, embora seja muito rico em posses espirituais, em certo sentido ainda não atingiu tudo quanto CRISTO tem para ele. Ao invés de viver na base de experiências do passado, está olhando para um objetivo supremo, esforçando-se para chegar àquilo que é a culminância da sua vida e ministério. Informa-nos que as seguintes atitudes são necessárias ao progresso espiritual
1. Humildade. “Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito”. O apóstolo sabia que demasiada confiança nas experiências de sucesso do passado muitas vezes é inimiga do progresso futuro. Aqueles que são tentados a pensar que possuem tudo quanto DEUS tem para eles devem notar como Paulo humildemente confessa a sua imperfeição. Os cristãos mais experimentados e adiantados são os mais humildes. Quanto mais perto as pessoas ficam de CRISTO, mais sentem a sua própria falta de merecimento. Quanto mais perto ficamos de uma luz brilhante, mais evidentes ficarão as mínimas manchas em nossas roupas. Aqueles que falam e agem como se fossem perfeitos, sem mancha alguma, são bons demais para serem verdadeiros.
2. Perseverança. “Mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por CRISTO JESUS”. CRISTO apareceu a Paulo na estrada de Damasco, tirou-o da direção errada, mudou a sua vida e deu-lhe uma visão do ministério cristão. JESUS conquistou Paulo visando um propósito; a ambição suprema de Paulo era cumprir aquele propósito (At 26.19).
3. Concentração. “Mas uma coisa faço” (cf. SI 27.4; Lc 10.42). A dissipação de energias é fatal para qualquer trabalho. A concentração é necessária ao sucesso. Todos os poderes da alma devem ser unidos sob a liderança de algum propósito supremo.
4. Sábio esquecimento. “Esquecendo-me das coisas que atrás ficam”. Os pecados do passado devem ser confessados, e as injustiças, corrigidas na medida do possível. Não devemos, porém, remoer o passado. Lá algumas coisas precisam ser esquecidas, se é que vamos fazer progresso no futuro. Vamos aprender as lições que DEUS quer nos ensinar com os fracassos do passado — e depois vamos esperar vitórias futuras.
5. Atividade incansável. “Avançando”. Em certos aspectos, a vida cristã pode ser comparada ao andar de bicicleta - não caímos enquanto continuarmos pedalando. “Porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis” (2 Pe 1.10).
III - A Perfeição Cristã (Fp 3.15,16)
“Pelo que todos quantos já somos perfeitos, sintamos isto mesmo”. A palavra “perfeito” aqui significa aqueles que são crescidos ou maduros, em contraste com as criancinhas (1 Co 3.1,2), o que expressa não a perfeição cristã, mas uma certa maturidade na experiência cristã. Paulo como que diz: “Aqueles que são crentes adultos tenham estas convicções”. Quais convicções? (Ver vv. 8-13.).
 A palavra “perfeito” no verso 12 é diferente daquela no verso 15, que quer dizer “aperfeiçoados”, ou seja, no limite da perfeição. Aqueles que são “perfeitos” (espiritualmente adultos) devem avançar para a perfeição. “E, se sentis alguma coisa doutra maneira, também DEUS vo-lo revelará”. Noutras palavras: “Se alguns entre vocês têm um ponto de vista diferente acerca deste ensino de perfeição, se alguns estão satisfeitos consigo mesmos quanto ao seu progresso espiritual e estão cegos quanto a alguns defeitos no seu caráter, se alguns estão enganados com respeito à sua perfeição, DEUS lhes mostrará o que não conseguem ver”. Notemos, porém, a condição: “Andemos segundo a mesma regra”. DEUS revelará à pessoa quais coisas estão erradas na sua vida, na condição de que continue firmemente no caminho que conhece ser certo. Um automóvel precisa estar em movimento antes de ser dirigido à esquerda e à direita; uma pessoa precisa estar avançando no Senhor a fim de ser guiado por Ele. “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor” (Os 6.3).
IV - Uma Advertência Solene (Fp 3.17-19)
Nos versos 1-4, Paulo adverte seus leitores contra um erro do lado judaico, a saber, o legalismo, que é submeter a vida à escravidão das leis de Moisés. Nos versos 17-21, adverte-os contra o perigo do lado pagão, a saber: a frouxidão moral. “Sede também meus imitadores, irmãos, e tende cuidado, segundo o exemplo que tendes em nós” (cf. 1 Co 11.1; Rm 16.17). O que deviam imitar? Nos versos 7-13, lemos que Paulo não tinha confiança no seu eu-próprio, que estava disposto a sacrificar todas as coisas por CRISTO, que reconhecia a sua própria imperfeição e que estava grandemente desejoso para avançar com o Senhor. Sua advertência é necessária, porque há aqueles que tomam uma atitude diferente. São “inimigos da cruz de CRISTO”, não por causa de qualquer hostilidade da parte deles, mas por causa das vidas que vivem. Interessam-se mais em satisfazer os seus apetites do que servir a DEUS (“o deus deles é o ventre”) e jactam-se das liberdades que tomam na licenciosidade e vidas impuras (2 Pe 2.19). “Só pensam nas coisas terrenas” - alegam estar no caminho do Céu, mas amam as coisas mundanas; “o destino deles é a destruição”. Contraste com o verso 14.
V - O Futuro Glorioso (Fp 3.20,21)
Aqueles homens vivem para as coisas da terra, mas “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor JESUS CRISTO”. Alguém interpretou: “Mas a nossa cidade está nos céus”. Filipos era uma colônia romana, ou seja, uma cidade tendo os mesmos direitos que um território romano e cujos habitantes eram cidadãos romanos, com os nomes registrados em Roma. De semelhante maneira, a igreja em Filipos era uma colônia do Céu, vivendo a vida celestial e tendo os seus nomes registrados no Céu. A pátria dos cristãos é o Céu. Os imperadores romanos às vezes visitavam as províncias. Paulo aqui imagina os cristãos esperando que seu divino Imperador atravesse a expansão azul para visitá-los. “Donde também esperamos o Salvador, o Senhor JESUS CRISTO”. A palavra “esperar” dá a ideia de expectativa ansiosa; é como a sentinela nos muros de uma cidade sitiada, cujos olhos constantemente procuram o avanço do exército que trará alívio. Os falsos cristãos mencionados nos versos 18 e 19 provavelmente raciocinavam da seguinte maneira: este corpo, afinal, é da terra, fraco e perecível; quanto mais cedo nos vermos livre dele, melhor. Não importa o que fazemos com o corpo — os atos externos não afetam a alma (havia seitas naqueles dias que realmente ensinavam assim). A resposta de Paulo é que o Salvador vindouro “transformará o nosso corpo abatido [o corpo que é vinculado à nossa imperfeita existência terrestre], para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”. Muito longe de ser desprezível, o corpo é o templo do ESPÍRITO SANTO (1 Co 6.19,20), e é tão precioso aos olhos de DEUS que será ressuscitado e glorificado (1 Co 6.14).
VI - Ensinamentos Práticos
1. Perda e ganho. “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por CRISTO”. A verdadeira religião nos faz transbordar de entusiasmo, mas ao mesmo tempo a sua verdade pode suportar o exame mais severo e calmo. O Senhor disse àqueles que queriam ser discípulos que contassem o custo. Não queria que as pessoas o seguissem por algum impulso, para então deixá-lo quando o caminho se tomasse duro. Paulo nos diz que, depois da sua experiência na estrada de Damasco, calculou o custo. Fez uma lista dos seus privilégios e vantagens, e declarou o resultado desse cálculo nas seguintes palavras: “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por CRISTO”. Quando escreveu essa carta aos filipenses, já haviam se passado vinte anos. Ele ainda pensa que vale a pena ser cristão. Responde: “E, na verdade, tenho também por perda, todas as coisas, pela excelência do conhecimento de CRISTO JESUS meu Senhor”. Está ainda mais convicto de que conhecer a CRISTO é a melhor coisa no Universo. Quando recebemos a CRISTO, Ele valia mais do que tudo para nós, e a salvação da nossa alma valia mais do que ganhar o mundo inteiro. Ainda encaramos assim o assunto?
2. “Para conhecê-lo Paulo fala, não do conhecimento biográfico, mas do conhecimento pessoal, baseado na experiência. Assim como alguém conhece a felicidade do amor nupcial ao experimentá-la, e a beleza da música ao ouvi-la, e o brilho do dia ao vê-lo, assim também conhecemos a CRISTO ao ganhá-lo para nós. Fatos espirituais devem ser possuídos antes de serem realmente conhecidos. A salvação é realmente conhecida quando submetida à prova. O que foi dito acerca do nome misterioso (Ap 2.17) também pode ser dito acerca do Doador: “o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe”.
3. “A comunhão dos seus sofrimentos Sofrer para CRISTO é sofrer com CRISTO, e neste pensamento podemos achar forças para suportar qualquer tristeza que possa nos atacar por sermos cristãos. E, se fazemos com que os sofrimentos dEle sejam os nossos sofrimentos, Ele fará com que os nossos sofrimentos sejam os sofrimentos dEle. Quando Paulo estava perseguindo a Igreja, ficou sabendo que CRISTO sofre juntamente com aqueles que sofrem por Ele (At 9.4). Não somente podemos ter a certeza da sua simpatia, mas também “se sofrermos, também com ele reinaremos” (2 Tm 2.12). Aqueles que carregam a sua cruz terão uma coroa.
4. Avançando com o Senhor (v. 12). “Sei que o Senhor colocou a sua mão sobre mim”; essa expressão, tirada de uma canção espiritual dos negros, é um modo expressivo de descrever como CRISTO trata com a alma na conversão. O Senhor coloca a sua mão sobre uma pessoa para o seu propósito, mas esse propósito não pode ser realizado na vida, a não ser que a pessoa estenda a mão para segurá-lo. O Senhor JESUS oferece a vida eterna, e a nós cabe “tomar posse da vida eterna” (1 Tm 6.12). Paulo, tendo recebido a salvação, vai prosseguindo com Ele. Qual declaração se aplica a nós: “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Pv 4.18), ou: “Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de DEUS” (Hb 5.12)? Estamos cumprindo o propósito para o qual CRISTO nos salvou?
5. “Mas uma coisa faço ”. Se queremos furar um buraco, fazemos um aponta aguda. Da mesma forma, se queremos avançar na vida cristã, precisamos ter uma ponta aguda em nossas vidas, feita por meio de concentrar as nossas energias numa única tarefa suprema. A diferença entre um amador e um profissional é que o amador se dedica ao assunto como passatempo, enquanto o profissional faz do assunto o seu negócio. O cristão vitorioso é aquele que faz do Cristianismo a sua vida total. Somos amadores ou verdadeiros artistas na vida espiritual?
6. Lembre-se e esqueça-se. “Esquecendo-me das coisas que atrás ficam”. Qual deve ser a nossa atitude para com os fracassos do passado? Em primeiro lugar, vamos nos lembrar deles, a fim de evitar que pratiquemos o mesmo erro ou cometamos o mesmo pecado. Se o diabo colocou uma emboscada para nós em certo caminho, lembremo-nos do local para evitá-lo! Por outro lado, devemos nos esquecer dos nossos fracassos no sentido de recusar-nos a deixar que a lembrança nos leve ao desânimo. Os fracassos do passado não devem paralisar os sucessos do futuro. Se somos tentados a desistir por causa de fracassos repetidos, lembremo-nos das palavras de Paulo: “Esquecendo-me das coisas que atrás ficam”. E boa ideia esquecer-nos dos nossos sucessos e virtudes também, para evitar que fiquemos orgulhosos e cheios de confiança em nós mesmos
7. Vivendo à altura daquilo que cremos. “Mas, naquilo a que já chegamos, andemos segundo a mesma regra e sintamos o mesmo”. Assim como um trem precisa de trilhos sobre os quais avança, assim também o homem precisa de crenças específicas para dirigi-lo para o seu destino eterno. Essas crenças se acham nas Escrituras. Estão ali, no entanto, não apenas para que adquiramos conhecimento, mas a fim de que façamos a vontade de DEUS. Devemos andar na luz daqueles conhecimentos que já atingimos. A melhor maneira de testar a utilidade de uma ferramenta é fazer uso dela. A melhor maneira de testar a veracidade das doutrinas das Escrituras é agir de acordo com elas. “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de DEUS” (Jo 7.17). Se alguém tiver dúvidas honestas com respeito à Bíblia, mas aceitar experimentar a prática de tudo aquilo que a Bíblia recomenda, logo descobrirá que o Evangelho funciona. E aqueles que já estão no caminho cristão fariam bem se meditassem as seguintes palavras: “Viva o seu credo, e descobrirá e acreditará nele muito mais do que antes”. As verdades espirituais se nos tornam reais à medida que agimos à altura deles.
8. A cidadania celestial. Filipos era uma colônia de Roma. Paulo deu a entender, figurativamente, que a igreja de Filipos era uma colônia do Céu. Quais eram os privilégios da cidadania romana? A segurança, a comunhão, a liberdade. Privilégios, no entanto, acarretam consigo responsabilidades. Quais eram os deveres da cidadania romana? Sustentar a reputação da cidade, defender os seus interesses; estender a autoridade dela, manter as instituições dela. Como membros do Reino de DEUS, desfrutamos da segurança, da comunhão e da liberdade do Evangelho. Somos, porém, salvos para servir. Torna-se nosso dever, portanto, viver dignamente no Reino de DEUS, defender a fé, estender a autoridade de DEUS mediante a evangelização e manter as suas instituições mediante as nossas ofertas.
 

15- A VIDA CRISTÃ FELIZ
Texto: Filipenses 4
 
Introdução
A última lição a ser tirada do capítulo anterior (Fp 3) é que a nossa pátria está nos Céus, e que, portanto, devemos viver uma vida santa enquanto aguardamos a vinda do nosso Rei celestial. Essa exortação é seguida por um apelo à firmeza (4.1), à união (4.2) e ao apoio aos obreiros cristãos. O presente capítulo se compõe de uma série de exortações que indica qual é a atitude ou mentalidade do cristão vitorioso. Deve ser um homem de mentalidade alegre, tendo paz de espírito, uma mente santa e uma atitude de contentamento.
I - A Mente Alegre (Fp 4.4)
“Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos”. Esse verso soa a nota principal da epístola inteira, na qual abundam as palavras “alegria” e “alegrar se”. E o que há de maravilhoso nisso é que a epístola foi escrita enquanto o apóstolo estava na prisão. Dessa forma, a exortação comunica o pensamento de que há triunfo no meio de circunstâncias contrárias.
1. O dever da alegria. Se DEUS ordena que fiquemos alegres, não temos escolha no assunto. Quando DEUS manda, Ele dá a capacidade para a obediência; deu-nos o seu ESPÍRITO, e o fruto do ESPÍRITO é alegria. Devemos nos alegrar para o próprio bem da nossa obra. A alegria nos dá vigor. “A alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8.10). Devemos alegrar-nos por amor ao nosso próximo; nossa alegria será como a luz do Sol para outras pessoas. Nossa tristeza só serviria para fazer outras pessoas se sentirem infelizes. Ficaremos mais ricos em alegria ao reparti-la com outros; ficaremos mais pobres em tristeza se a guardarmos só para nós. A alegria é uma característica do verdadeiro cristão. O Evangelho é “boas novas de grande alegria”. A alegria do cristão é um testemunho em si mesma.
2. A natureza da alegria. “No Senhor”: essa alegria independe das circunstâncias externas; depende apenas da presença de CRISTO conosco. Já que as circunstâncias não a produziram, as circunstâncias não podem tirá-la de nós.
3. A constância da alegria. “Sempre”. É muito fácil alegrar-nos quando as circunstâncias são agradáveis e as emoções nos elevam; o cristão, porém, recebe a exortação de alegrar-se mesmo em circunstâncias adversas. As circunstâncias podem mudar, mas o Senhor sempre é o mesmo. Às vezes, a cidade de Londres fica escurecida no meio de uma névoa espessa, mas os prédios não se danificam. As névoas não podem danificar os fundamentos sólidos. Da mesma forma, as neblinas de depressão podem escurecer o horizonte do cristão, mas não podem danificá-lo enquanto está fundamentado sobre a rocha que é CRISTO.
4. A importância da alegria. “Outras vez digo, regozijai-vos”. A alegria é uma mola vital da energia. Uma marcha 148 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs A Vida Cristã Feliz. 149 estimulante pode eletrizar um regimento para a atividade e a atenção. O que uma banda faz para soldados cansados, a alegria do Senhor faz para os cristãos. A alegria do Senhor destrói o gosto dos prazeres pecaminosos, ao excluir do coração tudo quanto não se pode harmonizar com ela. “Torna a dar-me a alegria da tua salvação”, exclamou Davi, arrependido (SI 51.12). A alegria do Senhor dá ao cristão forças para enfrentar a perseguição: “com gozo permitiste a espoliação dos vossos bens” (Hb 10.34; At 5.40,41).
5. Um resultado da alegria. “Seja a vossa equidade [capacidade de aguentar tudo e entregar tudo] notória a todos os homens”. A palavra “equidade” se refere a um espírito razoável no tratar, pelo qual a regra da prática fica sendo a mútua consideração, e não o rigor dos direitos legais. Opõe-se às contendas, ao engrandecimento próprio, ao rigor e à severidade. É o espírito que capacita alguém, por amor à paz, a suportar com paciência as injúrias e não exigir aquilo que lhe é devido (1 Co 6.7). Como é que esse dever se vincula à alegria? A alegria cristã nos leva à meiguice e tolerância no trato com os outros. Aquele que está feliz com o Senhor não insistirá egoisticamente na obtenção dos seus direitos. Notemos uma razão pela prática da paciência: “Perto está o Senhor”. Toleremos uns aos outros, porque está perto o dia em que dependeremos da tolerância de DEUS para conosco (Tg 5.9).
II - A Mente Pacífica (Fp 4.6,7)
1. A enfermidade. “Não estejais inquietos por coisa alguma”. Paulo não quer dizer que as pessoas devem ser descuidadas e não fazer qualquer tentativa de cumprir os seus deveres e obrigações. Certa quantidade de consideração cuidadosa é necessária para o cumprimento de qualquer dever. O apóstolo aqui nos adverte contra a ansiedade nervosa, a inquietude e os maus pressentimentos com res­ 150 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs peito ao resultado da nossa obra e com respeito ao futuro. Numa palavra, ele nos diz: “Não se preocupem” (cf. Mt 6.25-32). A única justificativa pela preocupação seria quando ela ajuda a situação, mas ela nunca ajuda, só piora.
2. O remédio. É fácil dizer: “Não se preocupe”. O apóstolo, porém, receita confiantemente um remédio infalível: “Antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de DEUS, pela oração e súplicas, com ação de graças”. Notemos:
2.7. O alcance da oração. “Em tudo”. Essas duas pequenas palavras nos encorajam, porque muitas vezes levamos ao Senhor nossos problemas grandes, e guardamos para nós mesmos as nossas pequenas perturbações.
2.2. As variedades de oração. “Oração” é o conceito no seu sentido mais largo; a “súplica” é o pedido para uma necessidade especial; as “ações de graça” são o acompanhamento necessário da oração.
2.3. O resultado da oração. “E a paz de DEUS, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações [centro do intelecto, da emoção e da vontade] e os vossos sentimentos [pensamentos] em CRISTO JESUS”. O que significa a paz de DEUS? É a experiência profundamente arraigada da harmonia entre a alma e DEUS. E, portanto, mais do que o livramento dos problemas externos; de fato, existe a despeito deles. E algo tão fora dos costumes terrestres que “excede todo o entendimento”. E demais para o entendimento dos ímpios, porque é muito além do alcance da experiência deles; até ultrapassa o entendimento dos piedosos, porque a luz lhes irrompe no meio de situações tenebrosas de modo que é frequentemente misterioso. A palavra “guardar” é um termo militar que literalmente significa “guarnecer”, ou encher de soldados. Depois de a oração ter lançado fora toda a preocupação e ansiedade, DEUS envia a paz para proteger a mente contra a invasão de pensamentos que perturbam.
II - A Mente Santa (Fp 4.8,9)
1. A importância de pensar do modo correto. Nesses versos, Paulo admoesta os filipenses a meditar em tudo que é nobre diante de DEUS, em tudo que purifica a nós mesmos e em tudo que apela aos melhores sentimentos do homem. As Escrituras ressaltam o efeito que o pensamento tem sobre o caráter e o destino. “Porque, como imaginou na sua alma, assim é” (Pv 23.7, cf. Pv 4.23). Sábios em todos os períodos da história têm entendido que “o pensamento é o pai da ação”. Essa verdade é tão clara que, no Novo Testamento, aquele que dá abrigo a pensamentos de ódio é considerado assassino (1 Jo 3.15).
2. Os assuntos do pensar correto. Meus pensamentos produzem maus modos de viver; por outro lado, o pensar correto levará a uma vida correta. Paulo faz uma lista de assuntos que devem alimentar os pensamentos do cristão. “Nisso pensai”.
(1) “Tudo o que é verdadeiro”. As coisas verdadeiras se opõem à falsidade em palavras e conduta.
(2) “Tudo o que é honesto”. “Honesto” aqui significa literalmente o que é honroso ou reverente. Refere-se às coisas consistentes com santa dignidade e respeito e corresponde àquele amor que “não se conduz inconvenientemente”.
(3) “Tudo o que é justo”. O trato justo em todos os nossos relacionamentos. O cristão auferirá todos os seus pensamentos com a Regra Áurea.
(4) “Tudo o que é puro” refere-se à pureza no seu sentido mais lato - pensamentos, motivos, palavras e ações livres de elementos que rebaixam e maculam. “Bem-aventurados os limpos de coração”.
(5) “Tudo o que é amável” se refere à delicadeza, humildade e caridade que atraem o amor e tornam amáveis as pessoas.
(6) “Tudo o que é de boa fama” se refere às coisas que todos concordem ente recomendam : a cortesia, agradabilidade, justiça, temperança, verdade e respeito pelos pais. E possível alguém realizar coisas boas com modos tais que lancem opróbrio sobre a causa de DEUS. “Não 152 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs seja, pois, blasfemado o vosso bem” (Rm 14.16).
(7) E, para incluir todos os assuntos que merecem consideração, o apóstolo diz: “Se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”.
3. O resultado do pensar correto. A meditação verdadeira produzirá ação. “O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei”. Quando se age à altura da verdade conhecida, recebe-se evidência inabalável de que é a verdade mesmo. Torna-se parte de nós. Realmente, pode-se dizer que a verdade não pode ser expressa em palavras apenas precisa ser vivida. A bênção de DEUS é prometida para as vidas santas que resultam de pensamentos santos: “E o DEUS de paz será convosco”. Notemos uma distinção: “a paz de DEUS” se refere a uma dádiva no íntimo, trazendo paz à alma; “o DEUS da paz” descreve a presença de DEUS com aquele que crê, orientando, protegendo e providenciando todas as necessidades.
IV - A Mente Contente (Fp 4.10-13)
Os filipenses tinham enviado uma oferta a Paulo, e nos versos 10-19 agradece de maneira cristã.
1. Apreciação. “Ora, muito me regozijei no Senhor por, finalmente, reviver a vossa lembrança de mim; pois já vos tínheis lembrado, mas não tínheis tido oportunidade”. Os filipenses tinham demorado para entrar em contato com Paulo, mas ele atribui esse atraso a causas além do controle dele. Pode ser que não tivessem alguém apropriado para levar o recado. A alegria de Paulo ergueu-se acima da dádiva, para agradecer o amor que deu origem à dádiva, e depois subiu mais alto para agradecer ao Doador. Paulo amava grandemente os seus convertidos, e o amor que tinham por ele era, afinal de contas, o amor de CRISTO, a maior consolação e apoio dele. Paulo era grato, e sua felicidade aumentava muito mais por causa da generosidade A Vida Cristã Feliz 153 atenciosa dos seus convertidos, não somente porque ele precisava de dinheiro, mas porque a oferta revelava a graça de DEUS nas vidas deles. “Não digo isto como por necessidade”.
2. Contentamento. “Porque já aprendi a contentar-me com o que tenho”. O pensamento dos versos 12 e 13 é: “Não pensem que falo assim porque tenho sentido o aperto de passar necessidade. Pelo contrário, aprendi, seja qual for a minha condição, a ser independente das circunstâncias. Estou treinado para suportar as profundezas da pobreza, e também aprendi a lição de aguentar a abundância. Na vida como um todo, e em todas as circunstâncias, já dominei o segredo do viver — como ser o mesmo no meio de abundância e no meio de privações, quando fico repleto e quando passo fome”. Quando as circunstâncias furtam a paz do cristão, conseguem tirar dele uma das suas posses mais preciosas. Quando descobre que nenhuma circunstância ou pessoa pode roubar-lhe a calma, já possui o segredo da vitória. E isso se aplica à prosperidade também, porque ela pode se constituir em prova maior do que a adversidade. O apóstolo, porém, seja em abundância, seja em pobreza, mantinha sua mesma atitude de paz e confiança.
3. Poder. “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”. Se alguém dissesse a ele: “Irmão Paulo, você por certo tem grande força de caráter para se conservar paciente e vitorioso diante das adversidades e perseguições”, Paulo responderia: “Não mantenho essa atitude com minhas próprias forças; consigo todas essas coisas através de CRISTO que me fortalece”. A comunhão que Paulo mantinha com o CRISTO imutável conservou-o inabalável em todas as circunstâncias.
V - Ensinamentos Práticos
1. Conservando a nossa alegria. Pessoas salvas às vezes perdem a alegria da sua salvação quando fazem 154 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs algo que perturba a sua comunhão com o Senhor. Esse fato foi ilustrado de maneira bonita por George Cutting, como segue: “É uma bela noite enluarada. A lua é cheia e brilha fortemente com fulgor prateado. Um homem está olhando atentamente para o fundo de um poço profundo e parado, onde vê o reflexo da lua, e comenta com um amigo que está perto: ‘Quão bela e perfeitamente redonda ela está hoje à noite! Como ela avança serena e majestosa!’ Acaba de falar assim, quando o amigo deixa cair um pedregulho no poço, e o homem passa a exclamar: ‘Olhe, a lua foi quebrada em pedacinhos, e os fragmentos estão tremendo um contra o outro na maior desordem’. ‘Que coisa mais absurda!’ responde atônito o amigo. ‘Olhe para cima, homem! A lua não se mudou em qualquer detalhe que seja; o que mudou foi a condição do poço que a reflete’. Então, crente, aplique a figura singela. Seu coração é o poço. Quando não há lugar nele para qualquer mal, o bendito ESPÍRITO de DEUS toma das glórias e preciosidades de CRISTO e as revela a você; mas no momento em que um motivo errado é acalentado no seu coração, ou uma palavra ociosa escapa dos lábios, o ESPÍRITO SANTO começa a perturbar o poço, suas experiências felizes são despedaçadas, e você fica inquieto e perturbado por dentro até que, com espírito quebrantado diante de DEUS, confessa o seu pecado [aquilo que o perturbou] e fica restaurado à doce e calma alegria da comunhão”.
2. A cura para a preocupação. É muito fácil dizer: “Não se preocupe” a uma pessoa que está enfrentando verdadeiras dificuldades. Mas como ela pode evitar sentir-se ansiosa? Como pode afastar da sua mente os seus problemas? Seria a mesma coisa mandar um navio não subir e descer no meio das ondas açoitadas por uma tempestade, dizendo que deve se manter equilibrado sobre a sua quilha. Dizer a alguém que não deve se preocupar não basta. Precisa de ajuda para se proteger da preocupação. Quando Paulo aconselhou os filipenses a não andarem ansiosos de coisa alguma, ele mesmo estava na prisão, enfrentando a possibilidade de uma sentença de morte, e estava falando a pessoas que tinham menos causas de ansiedade do que ele. Não há dúvida de que Paulo descobrira o segredo de vencer os cuidados. O que era esse segredo? A oração! “Antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de DEUS, pela oração...” Certo antigo comentador disse: “A preocupação e a oração lutam entre si como fogo e água”.
3. “Antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de DEUS”. Esse é o caminho mais sábio, porque uma multidão de pequenas espinhas pode ser tão dolorosa e perigosa quanto uma grande úlcera. Uma nuvem de borrachudos pode injetar, com suas muitas picadas, a mesma quantidade de veneno que uma cobra injeta num homem com uma mordida. E se não pudermos obter ajuda de DEUS ao contar-lhe acerca destas coisas pequenas, bem pouca coisa das nossas vidas poderemos submeter ao seu cuidado. “Não estejais inquietos por coisa alguma” é uma impossibilidade se “tudo” não for submetido a DEUS em oração.
4. Os pensamentos tecem a teia dos atos. Como pensamos, assim somos. Tornamo-nos naquilo que é assunto dos nossos pensamentos. A alma é tingida pela cor dos pensamentos. Apliquemos essa verdade:
4.1. À felicidade. Se continuarmos a pensar acerca de fracassos do passado, ofensas recebidas, reais ou imaginárias, se concentrarmos os nossos pensamentos em nós mesmos, se remoermos a nossa condição, seremos muito infelizes. Muitas vezes escapamos à infelicidade ao escaparmos de nós mesmos.
4.2. À influência inconsciente. Visões perceptivas frequentemente conseguem ler o caráter íntimo da pessoa ao fixarem os olhos. Não podemos esconder o nosso caráter, porque os nossos pensamentos mais secretos se expressam em nosso rosto e em nossos atos. Nossos pensamentos secretos influenciam outras pessoas para o bem ou para o mal. E por isso que muitas vezes “sentimos” a atitude de outras pessoas. Abrigar pensamentos indignos é um pecado contra o nosso próximo tão certamente quanto é um pecado contra nós mesmos.
4.3. À tentação. Falamos que o pecado repentinamente agarra alguém. A verdade, porém, é que certos pensamentos foram recebidos no coração; ali receberam lugar, de tal maneira que, quando chegou a tentação, a pessoa foi traída pelo pecado abrigado no próprio peito. Certo pintor famoso declarou que não ousava olhar para uma pintura ruim, porque por muitos dias depois tinha tamanha influência sobre ele que não podia pintar bem. Se pudermos dominar os nossos pensamentos inveterados, conseguiremos dominar os nossos pecados inveterados. A melhor maneira de guardar o nosso coração contra maus pensamentos é enchê-lo com bons pensamentos. Disse um homem piedoso: “Quando os desejos carnais chegam, ocupo-me com santas meditações e desejos santos; então, quando a sugestão carnal bate à porta do meu coração, digo-lhe: ‘vá embora, porque a casa já está cheia, e não há lugar para mais hóspedes!’”
 

16- O CRISTO PREEMINENTE
Texto: Colossenses 1 e 2
 
Introdução
Durante a campanha missionária de Paulo, Éfeso se tornou um centro de evangelização para a Ásia Menor (At 19.10). As pessoas vinham de muitos lugares para ouvir o apóstolo, e então levavam a mensagem para as suas próprias cidades. Várias pessoas da cidade vizinha de Colossos se converteram com a pregação de Paulo, e voltaram para fundar uma igreja naquela cidade. Paulo menciona (Cl 2.1) que ele mesmo não visitara Colossos. Epafras, o pastor da igreja em Colossos (Cl 1.7), visitou o apóstolo em Roma e trouxe notícias acerca de uma doutrina estranha e perigosa que estava sendo sutilmente introduzida na igreja. Essa heresia foi conhecida em anos posteriores pelo nome de gnosticismo, palavra derivada do grego que significa conhecimento (cf. 1 Tm 6.20), e chamou-se assim porque alegava a posse de um conhecimento mais alto acerca de DEUS e do Universo do que 158 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs aquele que o Evangelho revela. Os ensinadores gnósticos diziam aos cristãos: “O que vocês possuem está correto dentro dos limites, mas não vai suficientemente longe. Nós possuímos um conhecimento mais elevado, que iniciará vocês nos segredos mais profundos do Universo”. O gnosticismo parece ter sido uma mistura de ensinos cristãos, judaicos e pagãos. Sua doutrina fundamental era que a matéria é essencialmente má e não pode ter sido criada por DEUS, que é essencialmente santo. Alegavam, outrossim, que “já que DEUS é santo e a matéria é má, há um abismo entre DEUS e o mundo, e esse abismo precisa ter uma ponte sobre ele, a fim de que o homem possa achar salvação. Essa ponte foi feita da seguinte maneira: de DEUS surgiu um ser menos santo, e deste surgiu um que era ainda menos santo, e assim por diante até que finalmente surgiu JESUS, que era tão esvaziado de santidade e de divindade que podia entrar em contato com o homem. Assim sendo, JESUS era apenas o último numa série de anjos intermediários. Por causa da sua obra na salvação do homem, esses anjos precisavam ser adorados”. Percebe-se que esse ensino é um atentado contra a doutrina da divindade de CRISTO, fazendo dEle apenas o mais baixo numa série de anjos. Era um desafio à suficiência da mensagem do Evangelho, porque ensinava que existia um conhecimento melhor e mais alto. Contra esses erros, Paulo declarou duas grandes verdades que formam a substância dessa exposição:
(1) CRISTO é preeminente sobre todas as criaturas, porque Ele é Criador delas (1.15-20).
(2) CRISTO é totalmente suficiente; toda a verdade e o poder necessários para a salvação se acham nEle (2.8-15). O gnosticismo não existe mais, porém seus ensinamentos sobrevivem na teosofia, no unitarismo, no espiritismo, na ciência cristã e em outras seitas. Por isso, temos necessidade hoje da mensagem de Colossenses: a supremacia e a suficiência de CRISTO.
I - CRISTO É Preeminente (Cl 1.15-20)
Depois das saudações (vv. 1,2), ações de graça (vv. 3- 6) e oração (vv. 9-12), Paulo chega ao tema principal - a exaltação de JESUS sobre todas as criaturas.
1. Ele é a imagem de DEUS (v. 15). Em 1 Timóteo 6.16, Paulo diz que DEUS habita em luz inacessível, “a quem nenhum dos homens viu nem pode ver”. É impossível que o olho contemple o brilho da glória divina. Podemos, porém, ver DEUS em CRISTO (Jo 14.9; 2 Co 4.6; Jo 1.18). O Filho de DEUS se tornou homem, a fim de que tenhamos uma perfeita revelação de DEUS através de uma personalidade humana. O CRISTO divino é o alicerce do Evangelho. E porque veio de DEUS, pode nos levar para DEUS. Ele é o Criador (vv. 15-17). Ele foi “o primogênito de toda a criação”. Essas palavras não ensinam que o próprio CRISTO era um ser criado, mas meramente declaram que Ele existia antes de todas as criaturas e é supremo sobre elas. Na literatura dos rabinos, o próprio DEUS é chamado primogênito de toda a criação, significando que Ele é supremo sobre todo o Universo. Sempre tem havido vívido interesse acerca da origem e da natureza do Universo. A ciência oferece as suas teorias, mas francamente confessa que não sabe com certeza como tudo começou. As Escrituras ensinam que DEUS criou tudo e que CRISTO foi seu agente na obra criadora (Hb 1.2; Jo 1.3,10). A mesma criação que o conhece como Criador anseia pela sua vinda como Redentor, a fim de que possa ser libertada da maldição (Rm 8.19). O Universo não somente foi criado por CRISTO, como também é sustentado por Ele. “E ele é antes de todas as coisas [cf. Jo 8.58], e todas as coisas subsistem por ele”. Ele é a pedra fundamental, e sem Ele tudo se dissolveria em nada.
2. Ele é a cabeça da Igreja (vv. 18,19). CRISTO é supremo no ambiente espiritual, assim como é no material. “E ele é a cabeça do corpo da igreja”. Os gnósticos não consideravam CRISTO como a cabeça (Cl 2.19). Assim como JESUS vivia a sua vida num corpo natural e humano, também vivia sua vida mística e invisível na terra num corpo tirado da raça humana - o seu corpo. Deixou o mundo há muito tempo, mas ainda continua a operar e falar através da Igreja, que é seu corpo. Exerce a sua posição de cabeça da igreja de duas maneiras:
(1) mediante a autoridade exercida por Ele sobre os membros da igreja (Ef 5.22-33);
(2) ao inspirar os seus membros com vida e energia (Jo 15.1; Ef 4.15,16; Cl 2.19). Paulo tem mais para dizer acerca da posição de CRISTO como cabeça da igreja. “É o princípio”, a fonte de tudo quanto é bom (Ap 3.14; 21.6; 22.13; At 3.15; 5.31; Hb 2.10; 12.2) e da Igreja especialmente; “o primogênito dentre os mortos”, ou seja, o primeiro a ressuscitar da morte num corpo glorificado (1 Co 15.24,26; Hb 2.10,14); porque Ele vive, viveremos também (1 Co 15.45; 1 Pe 1.3,21; Jo 11.25; Ap 1.5,18). “Para que em tudo tenha a preeminência”. O propósito da criação (v. 16) tinha sido frustrado pela entrada do pecado e da morte; assim sendo, a preeminência que pertence a CRISTO lhe foi negada (Jo 1.10). Ele precisava recebê-la, portanto, e se tornar preeminente. Isso ocorreu por meio da sua morte e ressurreição (Jo 12.31,32; Hb 2.14,15; 12.2; Fp 2.6-11; Is 53.12; Rm 14.9; 2 Co 5.15; Ap 1.18). Paulo dá a seguinte razão pela supremacia de CRISTO na igreja: “Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse”. DEUS tinha prazer em que residissem todos os poderes divinos no seu Filho (cf. Mc 1.10,11). Depois do Filho se esvaziar para a redenção do homem, DEUS mais uma vez se deleitou no fato de que toda a plenitude nEle residisse (Fp 2.5-11; Mt 28.18).
3. Ele é o Redentor, (v. 20, cf. 2 Co 5.18). CRISTO reconciliou o mundo com DEUS. Não é DEUS quem precisa ser reconciliado com o homem (ver Jo 3.16), é o homem quem O CRISTO Preeminente 161 precisa ser reconciliado com DEUS, porque está alienado dEle. Foi DEUS quem deu o primeiro passo para a conciliação, ao dar seu Filho em prol dos pecadores, enquanto ainda eram hostis a Ele (Rm 5.8; 1 Jo 3.16). O pecado colocou o Universo fora de harmonia com DEUS. CRISTO morreu para reconciliar todas as coisas a DEUS, e a obra da reconciliação continua através do ministério da Igreja. A obra de reconciliação em CRISTO será completada depois do milênio, quando todo o mal será tirado do universo, os habitantes do Céu e da Terra formarão uma grande família (Ef 1.9,10), e DEUS será tudo em todos (1 Co 15.28). Paulo não está fazendo especulações, porque os próprios colossenses experimentaram essa reconciliação. Antes eram pagãos, agora são cristãos; antes eram inimigos de DEUS, agora são os seus filhos; antes eram imundos, agora são santos (vv. 21-23).
II - CRISTO É Suficiente para Tudo (Cl 2.8-16)
Em Colossenses 1.24—2.7, Paulo conta qual foi a mensagem gloriosa entregue a ele. Está se esforçando ao máximo para transmiti-la aos seus convertidos, a fim de que cresçam espiritualmente em conhecimento e graça e se estabeleçam na verdade. Agora trata de alguns erros que ameaçavam a sua estabilidade.
1. A filosofia pagã (vv. 8-10). “Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias [sabedoria humana] e vãs sutilezas [ilusões vazias], segundo a tradição dos homens [conhecimentos passados de geração em geração], segundo os rudimentos do mundo [idéias religiosas inventadas pelos homens] e não segundo CRISTO [não de acordo com o Evangelho]”. Os gnósticos alegavam que possuíam uma reserva de conhecimentos misteriosos, nos quais os favorecidos eram iniciados, e que eram obrigados 162 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs sob juramento a não revelar aos de fora. Esse conhecimento, segundo alegaram, tinha sido transmitido desde tempos imemoráveis. Paulo fez uma distinção nítida entre o Evangelho e o sistema gnóstico. O Evangelho é uma revelação; o gnosticismo, como toda a filosofia, era especulação. As palavras “vãs sutilezas” dão a entender que alguns dos ensinamentos dos gnósticos era o produto de uma imaginação fértil e que tinham a finalidade de enganar pessoas simples. “Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Os gnósticos ensinavam que os poderes divinos habitavam naqueles anjos, através dos quais, segundo eles, DEUS entrou em contato com o mundo. Paulo, porém, declara que CRISTO é o único mediador entre DEUS e o homem. Sendo que, para eles, a matéria era má, ensinavam que JESUS não possuía um corpo verdadeiro (ver 2 Jo 7) e que seu corpo era de fantasma. Paulo, no entanto, declara que todos os poderes da Divindade habitam no corpo de CRISTO, que antes era mortal, mas que agora estava glorificado (Fp 3.21). Os gnósticos falaram aos cristãos que precisavam ser iniciados em todos os ensinos misteriosos gnósticos a fim de serem completos. Paulo, porém, diz: “E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo principado e potestade [e não meramente um dos anjos]”. As seitas não têm nada para acrescentar a nós, tudo de que precisamos nos achar em JESUS.
2. O legalismo judaico (vv. 11-15). Os falsos mestres em Colossos ensinavam a doutrina judaica da necessidade da circuncisão. A circuncisão era um sinal externo do membro de Israel, que era a “igreja” de DEUS no Antigo Testamento. Exigia-se a circuncisão de todos os meninos israelitas e de todos aqueles pagãos que professavam plena conversão ao judaísmo. Eram constantemente lembrados, no entanto, de que a mera marca não os tornava israelitas de fato, porque a circuncisão era apenas o sinal externo da santidade íntima e pronta obediência que DEUS requeria do seu povo (Dt 10.16; 30.6; Jr 6.10; Rm 3.30; G1 5.6; Rm 2.28,29). Assim como hoje há muitas pessoas batizadas que alegam a crença, sem passarem por uma mudança de coração, acontecia com o Israel antigo. No verso 11, Paulo nos explica a verdadeira circuncisão: despojar-nos da antiga natureza e nascer para uma vida nova, mediante o poder de CRISTO. Essa experiência é representada simbolicamente pelo batismo cristão (Rm 6.1-13). “E, quando vós estáveis mortos no pecado e na incircuncisão da vossa carne [possuindo uma natureza carnal], vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas”. Tanto os judeus como os gentios tinham a lei da consciência nos seus corações (Rm 2.15), a qual ninguém podia observar perfeitamente. A dívida da lei mosaica que pesava sobre o judeu era pior ainda. Encarregar-se de observá-la era como assinar uma nota promissória, por uma soma que ninguém poderia pagar. Pelo testemunho da nossa consciência culpada, a Lei “era contra nós” e “nos era prejudicial”. Estavam os profundam ente endividados e não tínhamos com que pagar. CRISTO, porém, pagou a dívida que nós não podíamos resgatar. Assim como uma promissória muitas vezes é colocada num arquivo, assim também o escrito que era contra nós foi marcado “pago” e pregado na cruz. Ali CRISTO carregou a penalidade da Lei em nosso lugar, de tal modo que já não há condenação para nós (G1 3.10-13; Rm 8.1). Isso não significa, porém, que estamos livres da responsabilidade de viver retamente. Morremos para Moisés, a fim de que vivamos para CRISTO. O verso 15, embora tenha ocasionado debates, parece suscetível da seguinte explicação: os falsos ensinadores em Colossos provavelmente ensinavam que os anjos deviam ser adorados (2.18) por serem os mediadores através dos quais DEUS deu a Lei (At 7.38; Hb 2.2), e muitas vezes revelavam a sua vontade. Paulo nos diz que assim como DEUS cancelou e removeu a Lei como meio de condenação, também, mediante a morte de CRISTO, deixou de lado os anjos como veículos de revelação e declarou que o Filho era o supremo Mediador entre Ele e os homens (cf. Hb 1.1-14). “E, [DEUS] despojando [tirando fora como uma roupa usada] os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo”. Na cruz, os anjos foram revelados no seu verdadeiro caráter, como subordinados e servos do Filho. Por isso, não devem ser adorados. Alguns comentaristas aplicam o verso 15 à vitória de Cristo sobre os poderes do mal (Ef 6.12).
III - Ensinamentos Práticos
1. A divindade de CRISTO. O texto em estudo declara em termos inconfundíveis a divindade de CRISTO, uma doutrina apoiada pela consciência, reivindicações, autoridade e perfeição de CRISTO. Talvez o argumento mais simples seja aquele dado por um pregador do interior que, quando lhe perguntavam como comprovaria a divindade de CRISTO, respondeu: “E porque Ele me salvou a alma”. Sabemos que JESUS é o Filho de DEUS porque só Ele satisfaz plenamente as mais profundas necessidades da alma humana. Ele é verdadeiramente o Pão da Vida vindo do Céu.
2. A base das missões. “E que, havendo feito por ele a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas”. Noutras palavras temos o fundamento da obrigação missionária. CRISTO morreu para reconciliar o homem com DEUS; é dever da Igreja proclamar esse fato para todos os homens (2 Co 5.18). Pediram a certo artista que pintasse uma igreja em estado moribundo. Pintou uma pequena congregação fraca numa construção arruinada? Muito pelo contrário. Pintou um edifício imponente com muito ornato no púlpito, no órgão e nas janelas. Na entrada, porém, estava uma pequena caixa, marcada “Coleta para Missões Estrangeiras”, e a ranhura para colocar as moedas estava entupida com teias de aranha. O artista percebeu que a atividade missionária era a verdadeira medida do vigor de qualquer igreja. As palavras de um grande poeta, sussurradas momentos antes de morrer, expressam o dever supremo de todos os seguidores de CRISTO: “Transmitam ao mundo o meu amor”.
3. Nos passos do Mestre. O teste da fé e da vida cristãs é bem declarado nas palavras: “segundo CRISTO” (2.8). Somente Ele é o nosso exemplo supremo, e somente aqueles que são verdadeiros líderes podem dizer, como Paulo: “Sede meus imitadores, como também eu, de CRISTO” (1 Co 11.1). P. B. Meyer estava conversando com a esposa do estudioso e piedoso Dr. Handley Moule. Na conversa, Dr. Meyer disse: “Todos nós temos motivo de estarmos gratos a seu marido pelos livros que publicou”. Respondeu ela: “Já vi todos aqueles livros vividos na prática”. Será que aqueles que nos conhecem melhor podem testificar que vivemos “segundo CRISTO”?
4. “Cheios de toda a plenitude de DEUS” (Ef 3.19). “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade”. Todos os tesouros do poder divino estavam guardados no vaso de barro da humanidade de CRISTO, para que ficassem dentro do nosso alcance. Tudo quanto precisamos é de JESUS. Nesses dias ouvimos falar sobre a psicologia do sucesso, o desenvolvimento da personalidade, a arte de ganhar amigos, e assim por diante. Mas o que nos dará mesmo uma personalidade mais rica é o contato diário com o Mestre. “E estais perfeitos nele”. Todas as riquezas do poder divino estão em CRISTO, e nos pertencem à medida que ficamos em contato com o Mestre. Disse Jowett: “Nunca na minha vida descobri uma única necessidade espiritual que não vi suprida em CRISTO”. Certo notável pregador disse à esposa: “Coloque na lápide do meu túmulo: ‘Tu, ó CRISTO, és tudo quanto é necessário’”.
 5. “Coroai-o senhor de tudo”. “Para em todas as coisas ter a primazia”. Entre os cristãos primitivos, “JESUS é Senhor” era uma frase devocional comum; era falada com sinceridade, conforme testificaram as suas vidas. Aquele que os redimiu era dono deles, não pertenciam a si mesmos, tinham sido comprados por um preço. Em todos os assuntos deles, Ele precisava ser preeminente e supremo. O verdadeiro cristão é um homem centralizado em CRISTO. Assim como o cubo é o centro da roda, também CRISTO precisa ser o centro de cada esfera da nossa vida. Se Ele não é Senhor de tudo, não é Senhor de modo algum. Em anos recentes, foram escavados documentos que nos dão uma idéia dos tempos quando vivia Paulo. Deles aprendemos que um método comum de cancelar uma nota promissória era o de traçar linhas diagonais no documento na forma da letra X. Um desses documentos antigos traz a sentença do juiz, declarando: “Seja cancelado o escrito”. Isso nos ajuda a entender as palavras de Paulo no verso 14. A cruz de CRISTO é o cancelamento divino de todos os nossos pecados. O passado foi apagado, e podemos ouvir o Juiz dizer: “Seja cancelado o escrito!
 

17- VIVENDO A VIDA CRISTÃ
Texto: Colossenses 3 e 4
 
Introdução
Quando Paulo estava na prisão em Roma, recebeu uma visita da igreja em Colossos (1.7), de quem ficou sabendo que certa falsa doutrina estava sendo espalhada na igreja. Essa doutrina parecia ser uma mistura de ensinos cristãos, judaicos e pagãos. Ensinava que toda a matéria, inclusive 0 corpo, era essencialmente má, e, portanto, a santidade é conseguida mediante a punição e negligenciamento do corpo, com jejuns e outras formas de abstinência. Paulo refuta esse erro dizendo que a santidade não é atingida ao seguir regras feitas pelos homens, mas pelo contato com o Salvador vivo que nos dá o poder de viver acima do pecado.
I- A União do Cristão com CRISTO (Cl 3.1-4)
Esses versos nos ensinam as seguintes verdades com respeito à nossa vida em CRISTO:
1. Sua direção: o Céu. “Portanto, se já ressuscitaste com CRISTO, buscai as coisas que são de cima, onde CRISTO está assentado à destra de DEUS”. O Cristianismo é a união com CRISTO mediante a fé. Ele morreu para o pecado; unidos com Ele, nós também morremos para com o pecado. Ele ressuscitou da sepultura; nós ressuscitamos com Ele para vivermos uma nova vida. Tudo isso é simbolizado no batismo nas águas (Rm 6). A vida cristã, portanto, é uma vida vivida em comunhão com o CRISTO ressuscitado, e à medida que estamos em comunhão com Ele, fixaremos nossos afetos nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra.
2. Sua natureza escondida (v. 3). “Porque já estais mortos” . Os homens são pecadores por dois motivos: têm uma natureza pecaminosa e cometeram atos de pecado. No Calvário, DEUS fez duas coisas: perdoou os nossos pecados e condenou a natureza pecaminosa que os produziu. Quando aceitam os a CRISTO, nossos pecados foram perdoados, e morremos para com a vida antiga. Mas o que acontece quando tomamos consciência da existência da velha natureza? Devemos condená-la, tom ar partido contra ela e considerar-nos mortos para ela (Rm 6.11). “E a vossa vida está escondida com CRISTO em DEUS”. Não é de se estranhar que o mundo não possa entender os verdadeiros cristãos! Se o mundo não conhece a CRISTO, como pode entender os seus seguidores? (1 Jo 3.1). Quando as pessoas, mediante o novo nascimento, entram nesta vida “oculta”, então a entendem (1 Co 2.14).
3. Sua futura manifestação (v. 4). Quando cantamos: “Sou filho do Rei”, o mundo ri e nos chama de fanáticos e sonhadores, porque julga pelas aparências externas. Quando, porém, CRISTO vier, assumiremos nossas vestes como filhos do Rei (Fp 3.21; Rm 8.18-23; 1 Jo 3.2).
II - O Cristão Separa-se do Pecado (Cl 3.5-14)
Unido ao CRISTO vivo, o crente morreu para o pecado e vive para a retidão. O que deve ser feito, porém, quando a velha natureza quer ressurgir, e apetites errados procuram predominar? Paulo usa duas ilustrações que apontam o caminho para a libertação.
1. A antiga natureza precisa ser morta. “Mortificai, pois, os vossos membros que estão sobre a terra”. Em virtude da sua fé em CRISTO, o convertido morre para com a sua velha natureza. “Porque já estais mortos”. Porém, mais cedo ou mais tarde, descobre que a antiga natureza se mostra de maneiras que o perturba. O que fazer? A antiga natureza não pode ser alimentada, precisa perecer por inanição (Rm 13.14). Um membro do corpo morre quando o sangue não vai para ele. Da mesma maneira, apetites errados morrem quando nossos pensamentos e nossas energias são retirados deles. Quanto mais alimentada a nova natureza, mais faremos a antiga natureza perecer de fome. O que devemos fazer morrer? Desejos errados de todos os tipos (ver v. 5). Note que esse verso trata do sexo e da busca do dinheiro - representando dois instintos poderosos da natureza humana. O poder de cooperar com o Criador, trazendo filhos ao mundo, é coisa santa; o desejo de trabalhar e ganhar dinheiro para sustentar os dependentes é um dever. Mas quando esses instintos são pervertidos até serem concupiscência e cobiça, transformam-se em maldição. Na leitura dos jornais pode-se notar que estão na raiz de quase todos os crimes.
2. A antiga natureza precisa ser despojada (v. 8). A ilustração é a de despir as roupas velhas e vestir roupas novas. Quais roupas precisam ser tiradas? Ira, indignação, linguagem obscena, mentira (vv. 8,9). Quais roupas devem ser vestidas? (v. 12). Os cristãos são eleitos (escolhidos por DEUS), santos (separados do mundo e dedicados a DEUS), amados (desfrutando de íntimo relacionamento com DEUS). Como devem viver tais pessoas? Devem cultivar e manifestar (“revesti-vos”) misericórdia, bondade, humildade, mansidão, longanimidade, um espírito de perdão, amor.
III - A Submissão do Cristão a CRISTO (Cl 3.15,16,23,24)
As seguintes forças devem influenciar a vida do cristão:
1. A paz de CRISTO (v. 15). O que é essa paz? É a calma e tranquilidade em face de todas as circunstâncias, baseadas na comunhão com DEUS e na obediência à sua vontade. Essa paz é um vínculo de união (cf. Ef 4.3) e um motivo de gratidão. Ser “árbitro” é reger ou ser juiz em nossos corações. Paulo nos ensina que quando o coração está dividido entre emoções, pensamentos e reivindicações conflitantes, a paz de CRISTO deve ser o árbitro entre eles. O que não é compatível com aquela paz é errado e deve ser excluído.
2. Esta paz é preciosa. Quando for perdida ao entristecer o ESPÍRITO, pode ser obtida de volta mediante o arrependimento e a confissão.
3. A palavra de CRISTO (v. 16). A “palavra de CRISTO” se refere geralmente a todos os ensinos acerca de CRISTO. Quando é que habita dentro de nós? Quando constantemente a lemos e a fixamos em nossas memórias. A palavra deve habitar “ricamente”; deve ser estudada com regularidade e diligência. Deve ser em “toda a sabedoria”, ou seja, deve ser entendida e não somente lida. Note o emprego da “palavra de CRISTO” no culto público: “Ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros”. O conhecimento de CRISTO traz consigo o dever de compartilhá-lo com outros. Na igreja primitiva, o ministério da Palavra não foi confinado aos anciãos ou líderes da igreja. Qualquer pessoa que possuísse um dom espiritual - seja profecia, seja ensino, seja conhecimento, línguas ou interpretação - tinha licença de contribuir com o culto. “Com salmos [do Antigo Testamento], hinos [hinos cristãos] e cânticos espirituais”. O cântico ocupava boa parte dos cultos cristãos antigos. Como sabemos, o hino é um veículo excelente para carregar o Evangelho para dentro dos corações dos participantes.
4. CRISTO é Senhor. Cada cristão é, em primeiro lugar, um servo de CRISTO. “A CRISTO, o Senhor, servis”. CRISTO deve ser em primeiro lugar. Que é a vida cristã senão uma vida vivida em comunhão com CRISTO? É de CRISTO que o cristão receberá a “recompensa da herança” (cf. Mt 25.34; 1 Pe 1.4). Assim como JESUS estava ocupado com os negócios do seu Pai quando estava no banco do carpinteiro, e assim como Paulo estava servindo ao Senhor JESUS enquanto costurava tendas, também CRISTO pode ser servido na fábrica ou na cozinha. A tarefa mais comum, feita por amor a DEUS, reveste-se com a dignidade de um serviço sagrado. O obreiro cristão fará seu serviço de tal modo que seja visto por DEUS, e não pelos homens. De fato, todos o serviço cristão deve ter esse motivo. Para exemplos de serviços feitos para serem vistos pelos homens, leia Mateus 6.1-18.
IV - A Conduta do Cristão no Mundo (Cl 4.5,6)
1. Sua conduta. É especialmente no trato com as pessoas do mundo que a sabedoria cristã é mais especialmente necessária. “Sede prudentes como as serpentes”, disse Jesus. O cristão deve viver de tal modo que convença os do mundo de que a piedade traz proveito nessa vida como também no porvir. Sua conduta deve mostrar que ser crente não furta um homem do seu bom senso, bom juízo e outras qualidades necessárias para uma vida condigna. O cristão deve ser bom pai, bom vizinho, bom cidadão e bom trabalhador. “Aproveitai as oportunidades”. O cristão deve mostrar sabedoria em selecionar os momentos mais oportunos para apresentar as reivindicações de CRISTO.
2. Sua fala. O modo cristão de falar deve sempre agradar. Não se trata apenas do que dizemos, mas como o dizemos. Deve ser saudável, “temperada com sal”. A conversa deve ser adocicada com a graça e também temperada com o sal de um propósito edificante. Quantas palavras se desperdiçam em conversas que não trazem proveito nem edificação! Uma boa regra seria: “Quando falar, diga algo!” Dois meninos estavam conversando acerca das suas respectivas mães. Um disse: “Minha mãe pode falar sobre qualquer assunto”. Respondeu outro: “Isso não é nada! Minha mãe pode falar sem assunto algum!” O que fala deve ser inteligente, “para que saibais como vos convém responder a cada um” (cf. 1 Pe 3.15; 3.15; Fp 1.27,28).
V - Ensinamentos Práticos
1. CRISTO, nossa vida. Não é recomendável enfatizar demasiadamente que CRISTO é o sacrifício pelos nossos pecados. Não devemos, no entanto, negligenciar a verdade de que Ele é a nossa vida. Precisamos de um Salvador para fazer algo por nós e em nós. Quando estamos unidos a Ele pela fé, o ESPÍRITO torna real para nós o que Ele nos fez. Então, aquilo que é uma realidade externa se torna uma realidade interna, e podemos dizer como Paulo: “Já estou crucificado com CRISTO; e vivo, não mais eu, mas CRISTO vive em mim” (G1 2.20). Quando alguém é “ressuscitado juntamente com CRISTO” e sua “vida está oculta juntamente com CRISTO, em DEUS”, espera-se que a sua conduta seja consistente com a sua experiência. Ninguém pode alegar ser águia enquanto rasteja como verme! O que se espera de alguém que está “ressuscitado juntamente com CRISTO”? Ele deve “buscar as coisas lá do alto”. Buscar é fazer de alguma coisa o alvo ou padrão da nossa vida. A elevação de uma arma determina o voo da bala. Da mesma maneira, a atitude do nosso coração determina a direção da nossa vida. No enterro de um homem piedoso, o pregador perguntou: “Onde está ele?”, e respondeu dizendo: “Para onde estava indo a última vez que foi visto”. E uma boa pergunta para os que vivem. Qual é a nossa direção? Qual é o alvo supremo das nossas vidas? O que quer dizer “as coisas lá do alto?” Significa CRISTO, porque toda a realidade e todas as bênçãos se acham nEle. O alvo supremo da vida cristã é ser como CRISTO, ser com CRISTO, agradar a CRISTO.
 2. Morrendo para o pecado. Quando a pessoa não é salva, seu relacionamento com as coisas espirituais é morto; seu problema é entrar em contato com a vida que é de DEUS. Depois de salvo, seu relacionamento com o mundo natural é descrito como de um morto (Cl 3.3); seu problema é ficar fora do contato com a vida velha (Cl 3.5-9). Depois de uma pessoa ser convertida, descobre que a vida antiga quer se asseverar e fica com forte vontade de romper com ela. A vida antiga começa a competir com a nova, e o convertido descobre que a sua alma é o cenário de uma guerra civil, em que a antiga e a nova lutam pela supremacia. Não deve tentar viver ambas as vidas. Andar na carne e no ESPÍRITO ao mesmo tempo é impossível. O que pode ser feito? A solução mais fácil seria morrer, perder contato com a velha vida e ir para o Céu. Mas isso não é possível, e o suicídio é pecado. Sendo negada a morte física, há algum substituto temporário? Sim. DEUS indicou uma maneira pela qual podemos morrer espiritualmente para a vida antiga e ainda viver aqui (ver G1 2.20). A morte física é causada pela perda total de contato com o ambiente que sustenta a vida. A morte para com o pecado é causada pela perda de contato com o ambiente que alimenta a vida antiga. Há três maneiras de efetuar isso.
2.1. A mutilação. Leia Mateus 18.9 e o comentário de Paulo sobre isso em Colossenses 3.5. Nosso Senhor não estava falando literalmente, porque sabemos que cortar o braço de um ladrão não alterará o seu coração. JESUS quis dizer que devemos tratar imediata e drasticamente com qualquer coisa que ameace a segurança da nossa alma. Não pode haver demora, nenhum meio termo e nenhuma redução gradativa. Por exemplo, um ladrão pode dizer: “Vou me reformar. Furtarei um milhão na semana que vem, depois meio milhão, até reduzir os furtos a nada”. Mas Paulo disse: “Aquele que furtava, não furte mais”. Deve haver uma morte completa para com o furto. Deve se libertar dele para que o hábito não o leve ao inferno. Esse princípio se aplica a qualquer hábito que arruína a alma.
2.2. A mortificação. Comparada com a mutilação, a mortificação é um processo gradativo (Rm 8.5-13). No caso de bebedeira, por exemplo, o problema é simples, porque trata-se de algo definido para ser abandonado, e o problema se soluciona. No caso de seu gênio, por exemplo, é mais complexo, porque não podemos abandonar de vez as pessoas e situações que causam aquela reação. Não se trata de caso “cirúrgico”, como o ladrão e o bêbado, a quem o ESPÍRITO a um só golpe pode libertar das más causas; o mau gênio ou qualquer outra emoção errada indicam que algo irritante perturbou a alma; o que se torna necessário é sarar os pontos doloridos e adocicar todo o íntimo. Mediante a comunhão com DEUS e a meditação na sua Palavra, a alma é curada e adocicada e atinge aquela saúde radiante que é o alvo de toda a santidade prática. A mortificação também inclui deixar a antiga natureza passar fome. Enquanto tomamos as nossas energias e emoções e as dirigimos na direção de CRISTO, a antiga natureza morre de fome e se torna inativa. O pecado é a perversão das nossas energias e faculdades, e o remédio é a conversão - mediante a qual entregamos aquelas faculdades a DEUS (Rm 6.12-23).
2.3. A limitação. Entramos em dificuldades não somente por fazer coisas positivamente erradas, como também por praticar demasiadamente coisas que são legítimas — tais como o comer, o lazer, a leitura, e assim por diante. Daí a necessidade de negarmos a nós mesmos, que significa a disposição de renunciar a coisas legítimas quando interferem com o nosso progresso espiritual. E isso que JESUS quis dizer quando falou em “odiar” a nossa vida - ou seja, amar com um afeto bem menor (ver Lc 14.26). Pessoas que procuraram a felicidade nas coisas do mundo chegaram a odiar a vida quando descobriram que foram enganadas. Essa é a maneira falsa de odiar a vida. A maneira certa de odiá-la é ter todas as coisas em subordinação à vontade de DEUS (ver Mt 6.34) e contar tudo como perda comparado com o reconhecimento de CRISTO (Fp 3.7)
 

18- A VINDA DE CRISTO
Texto: 1 Tessalonicenses 1— 4
 
Introdução Depois de fundar a igreja de Tessalônica (At 17.1- 15), Paulo enviou Timóteo e Silas para visitarem a igreja, a fim de averiguar se os convertidos estavam firmes. Na volta, os dois trouxeram o seguinte relatório: os convertidos estavam firmes; estavam sofrendo perseguição; havia a tentação de voltarem a padrões pagãos; alguns dos crentes morreram e os parentes deles queriam saber se perderiam a vinda de CRISTO; e o pensamento da próxima vinda de CRISTO fazia com que alguns negligenciassem o seu serviço (1 Ts 4.11,12; cf. 2 Ts 3.11). Paulo escreveu essa primeira carta aos Tessalonicenses para encorajar, advertir e instruir os novos convertidos. Não se pode errar quanto ao tema principal dessa carta; veja como todos os capítulos terminam.
 
 
ACREDITAMOS QUE A SEGUNDA VINDA DE JESUS SERÁ EM DUAS FASES DISTINTAS - ARREBATAMENTO (antes da grande tribulação) E VINDA EM GLÓRIA (final da grande tribulação).
 
  
A - Parte Expositiva
 



I - Santidade (1 Ts 4.1-8)
1. A vocação à santidade. Paulo não fala em linguagem de mandamentos, nem de ser dono da herança do Senhor. Usa a linguagem da graça: “Vos rogamos e exortamos no Senhor JESUS”. O motivo mais alto ao qual alguém pode apelar no tratamento com um cristão é “por amor a JESUS”. A gratidão a CRISTO é a grande força dinâmica do serviço cristão. Paulo nunca guarda a doutrina num lugar separado, sempre faz uma conexão com a vida prática. Implora: “Da maneira como recebeste de nós de que maneira convém andar e agradar a DEUS, assim andai, para que continueis a progredir cada vez mais”. A inspiração de Paulo é indicada pelo fato de suas instruções serem dadas por intermédio do Senhor JESUS.
2. A natureza da santidade. “Porque esta é a vontade de DEUS, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição”. O que é a santificação? A consagração de todos os nossos poderes, do corpo e da mente no serviço de DEUS. Implica em pureza no coração e na vida. A santificação começa com a conversão, quando o pecador é limpo das suas impurezas e continua em toda a sua vida cristã, enquanto morre mais e mais ao pecado e cresce mais e mais segundo a semelhança de CRISTO. Como é que alguém é santificado? Mediante o sangue de CRISTO, que o limpa da culpa do pecado (Hb 13.12; 1 Jo 1.7); pela Palavra de DEUS, que é espelho e meio de limpar (Jo 15.3; SI 119.11; Tg 1.23-25); e pelo ESPÍRITO SANTO, que produz o fruto da santidade (G1 5.22,23; 1 Pe 1.2). Por que a prostituição foi especialmente mencionada? Porque era um vício que prevalecia entre os ambientes pagãos e não era considerado errado.
3. Incentivos à santidade. Paulo trata especialmente de pureza pessoal.
(1) É a vontade de DEUS.
(2) O conheci mento recebido pelo cristão deve guardá-lo contra a impureza. O comportamento vil dos pagãos era o resultado da sua ignorância de DEUS (v. 5).
(3) Consideração para a honra da família do irmão (v. 6).
(4) Temor do castigo divino (v. 6).
(5) A natureza da vocação sagrada (v. 7).
(6) A impureza significa desprezar a DEUS, que nos deu o ESPÍRITO SANTO, a fim de que atinjamos a santificação.
II - O Amor Fraternal (1 Ts 4.9,10)
“Quanto, porém, à caridade fraternal, não necessitais de que vos escreva, visto que vós mesmos estais instruídos por DEUS que vos ameis uns aos outros”. Num mundo tão cheio de lutas e egoísmo, o amor dos cristãos uns pelos outros era tão marcante que provocava a admiração dos pagãos. “Como estes cristãos amam uns aos outros!” exclamavam. Para os que nasceram de DEUS é um instinto divino amar os filhos de DEUS, porque o ESPÍRITO dentro deles derrama o amor de DEUS em seus corações. Mas há tantas coisas que ameaçam esfriar esse amor! Por isso Paulo acrescenta: “Exortamos-vos, porém, a que ainda nisto continueis a progredir cada vez mais”. A melhor maneira de reter uma virtude é exercê-la. E empregar ou perder!
III - O Esforço no Trabalho (1 Ts 4.11,12)
Não somente o coração amoroso, como também um par de mãos diligentes, são necessários para uma experiência cristã bem balanceada (vv. 11,12). A vida cristã é uma vida prática, e as suas emoções mais sublimes devem ser postas em prática nos deveres rotineiros da vida. “E procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos”. Alguns dos tessalonicenses estavam tão emocionados com a idéia da segunda vinda do Senhor que estavam negligenciando as suas tarefas diárias. Paulo os exorta a ficar firmes no serviço para dar bom exemplo aos de fora e para evitar a pobreza e a falta de respeito próprio que segue a inatividade.
IV - A Esperança (1 Ts 4.13-18)
“Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem”. Alguns crentes já morreram, e seus parentes, ainda jovens em CRISTO, inexperientes quanto à vida e à doutrina cristãs, queriam saber o que lhes aconteceria. Perderiam a gloriosa vinda do Senhor? Tal era a dúvida que os assaltava. “Para que não vos entristeçais, como os demais, que não tem esperança”. O desespero em face à morte era uma característica do mundo pagão. Segundo eles, os pagãos, os vivos têm esperanças, mas os mortos estão sem esperança; não há ressurreição dos que morrem; o Sol se põe e se levanta, mas uma vez que o nosso breve dia termina, devemos dormir uma noite eterna. Tais eram os sentimentos expressados pelos seus sábios. Uma característica marcante dos antigos cristãos era a sua alegre confiança na ressurreição de JESUS como garantia da conquista da morte por todos aqueles que nEle crêem. “Porque, se cremos que JESUS morreu e ressuscitou, assim também aos que em JESUS dormem DEUS os tornará a trazer com ele”. A morte é simplesmente um sono, porque o sono dá a entender o descanso, a existência contínua e o despertar. Aqueles que dormem não estão mortos; serão despertados para novas atividades. “Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor [ou seja, por revelação direta]: que nós, os que ficamos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem”. Depois segue-se a ordem da vinda do Senhor: Ele descerá, os mortos cristãos subirão a Ele, e os santos vivos serão arrebatados nos ares. “E assim estaremos sempre com o Senhor”. Assim os novos convertidos foram consolados acerca dos mortos cristãos. Não pereceram, e não perderão qualquer bênção; pelo contrário, terão precedência sobre os vivos. “Portanto, consolai-vos uns ao outros com estas palavras”. O propósito supremo de toda a profecia é consolar 0 povo de DEUS com uma visão do futuro. Com esse fato em mente, evitaremos as especulações pouco proveitosas acerca de detalhes que somente ficarão claros quando o evento acontecer.
 
 


 
B - Parte Doutrinária
 
I - O Fato da Sua Vinda
A segunda vinda é mencionada mais de trezentas vezes no Novo Testamento. Paulo se refere a ela nas suas epístolas pelo menos cinquenta vezes. Calcula-se que a segunda vinda se menciona oito vezes mais do que a primeira. Livros inteiros (1 e 2 Tessalonicenses) e capítulos inteiros (Mt 24; Mc 13) são dedicados a ela. É, sem dúvida, uma das mais importantes doutrinas do Novo Testamento.
 
II - O Modo da Sua Vinda Será pessoal (Jo 14.3; At 1.10,11; 1 Ts 4.16; Ap 1.7; 22.7), literal (At 1.10,11; 1 Ts 4.16,17; Ap 1.7; Zc 14.4), INVISÍVEL NO ARREBATAMENTO (Mc 14.22; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. 1 Tessalonicenses 4:17) (VISÍVEL NA SEGUNDA FASE, NO FINAL DA GRANDE TRIBULAÇÃO (Hb 9.28; Fp 3.20; Zc 12.10) e gloriosa (Mt 16.27; 2 Ts 1.7-9; Cl 3.4; Mt 25.31).
 
Existem interpretações que procuram evitar a ideia literal da vinda pessoal de CRISTO. Alguns ensinam que a morte já é a segunda vinda de CRISTO. Mas a segunda vinda é bem diferente do que a morte, porque os que morrem em CRISTO ressuscitarão quando CRISTO voltar. Mediante a morte nós passamos a Ele, mas na sua vinda Ele vem nos buscar. Certos versos (Mt 16.28; Fp 3.20) perdem o sentido se colocarmos a morte no lugar da segunda vinda. Finalmente, a morte é um inimigo, enquanto a segunda vinda é uma gloriosa esperança. Alguns dizem que a segunda vinda foi a descida do ESPÍRITO no dia de Pentecostes. Outros ensinam que CRISTO veio na destruição de Jerusalém, em 70 d.C. Mas em nenhum desses casos houve a ressurreição dos mortos, o arrebatamento dos vivos ou outros eventos que acompanharão a segunda vinda.
III - O Tempo da Sua Vinda
Muitas vezes, cálculos têm sido feitos para marcar a data da segunda vinda, mas em cada caso o Senhor não observou a data marcada pelos homens! Declarou que o tempo exato da sua vinda está escondido nos conselhos de DEUS (Mt 24.36-40; Mc 13.21,22). Esse plano é sábio. Quem gostaria, por exemplo, de saber de antemão o momento exato da sua morte? Tal conhecimento perturbaria a pessoa e a deixaria incompetente para os deveres da vida. Basta saber que a morte pode vir a qualquer tempo, portanto, devemos trabalhar enquanto é dia, porque vem a noite, em que ninguém pode trabalhar. E o mesmo raciocínio pode ser aplicado à data final da presente era. Esse dia não nos foi revelado. Sabemos, porém, que será repentino (1 Co 15.52; Mt 24.27) e inesperado (2 Pe 3.4; Mt 24.48-51; Ap 16.15). A palavra que o Senhor deixa para os seus servos que esperam é: “Trabalhai até que eu venha”.
 IV - Os Sinais da Sua Vinda
As Escrituras ensinam que a vinda de CRISTO, introduzindo a era milenial, será precedida por um período de transição caracterizado por distúrbios físicos, guerras, dificuldades econômicas, declínio moral, apostasia religiosa, infidelidade, pânico e perplexidade generalizados (Grande Tribulação - 7 anos). A última parte desse período é chamada de Grande Tribulação, período durante o qual o mundo inteiro ficará sob o domínio de um governo anticristão. Os que crêem em DEUS serão brutalmente perseguidos, e a nação judaica, especialmente, passará por uma fornalha de aflição. (3 anos e meio de paz e 3 anos e meio de guerras e juízos).
V - O Propósito da Sua Vinda
1. Em relação à Igreja. Assim como a primeira vinda se estendeu sobre um período de trinta anos, também se incluem diferentes eventos na segunda vinda. Na primeira vinda, foi revelado como uma criança em Belém, depois como o Cordeiro de DEUS no seu batismo e finalmente como Redentor no Calvário. Na segunda vinda, aparecerá repentinamente aos seus para os levar às Bodas do Cordeiro (Mt 24.40,41). Essa aparência é chamada de Arrebatamento. Nessa ocasião, os crentes serão julgados segundo seus serviços, para as recompensas a serem recebidas. Depois do Arrebatamento, surge o período de terrível tribulação, que termina na Revelação, ou manifestação aberta de CRISTO vindo do Céu para estabelecer o Reino Messiânico na Terra.
2. Em relação a Israel. AquEle que é o Cabeça e Salvador da Igreja também é o Messias prometido de Israel. Como Messias, Ele os levará da tribulação, os reunirá dos quatro cantos do globo, os restaurará à sua antiga terra e reinará sobre eles como Rei prometido da Casa de Davi.
3. Em relação às nações. As nações serão julgadas, o reino deste mundo será derrubado e todos os povos serão sujeitados ao Rei dos reis (Dn 2.44; Mq 4.1; Is 49.22,23; Jr 23.5; Lc 1.32; Zc 14.9; Is 24.23; Ap 11.15). CRISTO regerá as nações com vara de ferro, varrerá toda a opressão e injustiça da face da terra e introduzirá a Era Dourada de mil anos (SI 2.7-9; SI 72; Is 11.1-9; Ap 20.6).
VI - Ensinamentos Práticos
1. A santificação progressiva. A santificação começa na conversão, quando uma pessoa se arrepende e volta para DEUS, passando a ser um “santo” (que significa, literalmente, “uma pessoa separada ou consagrada”). Esse, porém, é apenas o começo de um processo contínuo e progressivo. Não leva muito tempo entrar num trem, mas leva tempo até chegar ao destino. A pessoa se torna santa por um ato de fé em CRISTO JESUS, que nos atribui esse título, mas ser santo em cada aspecto da vida leva tempo. O trem não chega ao seu destino num pulo único, e nem nós nos tornamos santos desenvolvidos de um dia para outro. Precisamos crescer na graça e no conhecimento de JESUS CRISTO. Do ponto de vista prático, a santificação é o processo mediante o qual os separados se tornam santos na prática, os que estão sob a graça de CRISTO se tornam graciosos, e os cristãos se tornam semelhantes a CRISTO. A santificação é a cristianização dos cristãos.
2. Amor fraternal. O que é amor fraternal? É quando, como igreja, cultivamos um espírito de confiança mútua; quando cada um estima os outros mais do que a si mesmo; quando os fortes têm prazer em ajudar os fracos; quando os sábios têm paciência e ternura para com os de menos dotes; quando cuidamos cada um da boa reputação do outro; quando tratamos com mansidão as enfermidades uns dos outros; quando temos misericórdia, longanimidade e dedicação; então todos se lembrarão de que está escrito: “Novo mandamento vos dou, que vos ameis uns aos outros”.
3. Progresso espiritual. “Exortamos-vos, porém, a que ainda nisto continueis a progredir cada vez mais”. Essas frases singelas comunicam uma mensagem eloqüente acerca do progresso espiritual. O homem que pensa possuir tudo na vida espiritual mostra que perdeu tudo. Quando paramos de avançar, começamos a regredir. Quando paramos de crescer, morremos. É bom estar estabelecido na fé, mas não atolado. Nenhum cristão, tendo feito uma tarefa, pode sentar-se e dizer: “Tudo já está feito, agora posso deixar de me esforçar”. Qual é a recompensa por trabalhos bem-feitos? Mais trabalhos! O fiel cumprimento do nosso dever aumenta a nossa capacidade, e a capacidade maior exige mais tarefas. É um ditado comum: “Se quiser que algo seja feito, vá a um homem ocupado”. As pessoas ocupadas sempre estão sendo procuradas e geralmente estão felizes. Seja qual for a espiritualidade que tenhamos atingido, a ordem do Senhor é que continuemos cada vez mais.
4. Dever da diligência. “E procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos”. Certo camponês disse: “Tudo por aqui trabalha: a água trabalha, o vento trabalha, o fogo trabalha, a fumaça trabalha, o cachorro, o boi, o cavalo, o asno e o homem trabalham; tudo por aqui trabalha, menos o porco, que come, bebe e dorme na maior distinção”. Nenhum crente gostaria de ser “distinto” assim! Uma vida útil e ativa é uma bênção para o homem e agradável a DEUS.
5. A morte é chamada sono. Por que a morte do crente é chamada de sono? Por causa da sua natureza pacífica. Deita-se tão calmamente como um trabalhador descansando à noite. Assim como o trabalhador cansado espera o cair da tarde, também o crente suspira por aquele descanso dos fardos e tristezas da terra. É o estado de descanso que aguarda o povo de DEUS. Descansam das suas labutas, das perseguições, das dores, da guerra contra o pecado, a carne e o diabo. O crente que parte descansa em prazer consciente até que a ressurreição do corpo aconteça, o que completa a sua salvação e o seu destino. Devemos pensar mais naquEle que nos arrebata do que naquele que nos enterra. Alguns ficarão vivos até a segunda vinda.
 

 

19- A CONDUTA CRISTÃ EM VISTA DA VINDA DE CRISTO
Texto: 1 Tessalonicenses 5

Introdução
O tema de Tessalonicenses é a segunda vinda de CRISTO. O capítulo passado representou aquela vinda como uma esperança que conforta. Esse capítulo apresenta a doutrina como uma esperança purificadora.
 
I - A Vinda do Senhor (1 Ts 5.1-10)
1. O tempo da sua vinda.
“Mas, irmãos, acerca dos tempos e das estações, não necessitais de que se vos escreva” (cf. At 1.7). Paulo já explicava que não poderiam saber nem o dia nem a hora. Repete esse fato para reprimir aquela curiosidade que é natural aos homens e que já tinha sido a causa de muita perturbação e desordem na igreja. E uma verdade muito aplicável hoje. A palavra profética tem sido muito desprezada por pessoas que fixam datas, bem como todas as coisas absurdas que alegam “profecias”. “Porque vós mesmos sabeis muito bem que o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite” (cf. Mt 24.23; 36.39; Lc 12.39). O “Dia do Senhor” é a expressão comum no Antigo Testamento que descreve a vinda do juízo divino; em particular, descreve o julgamento de Israel e das nações, que terá lugar na vinda do Messias. Paulo declara como esse acontecimento será súbito e inesperado. O ladrão vem de noite, quando todos dormem e ninguém está preparado; de modo semelhante, quando CRISTO vier, achará o mundo despreparado, e não esperando a sua vinda (ver v. 3). Certamente, haverá sinais, mas os ímpios não os verão na sua verdadeira luz. Correrão para a destruição, sem prestar atenção aos sinais de “PARE” deixados por DEUS. “Mas vós, irmãos, já não estais em trevas, para que aquele Dia vos surpreenda como um ladrão”. As trevas não são apenas da ignorância, mas também do pecado. Paulo explica que os crentes não participam da condição ignorante e pecaminosa do mundo não redimido, para ficarem tomados de surpresa com o Dia do Senhor. Com os crentes é dia, e não noite, porque a luz do Evangelho brilha nos seus corações, e, portanto, o Dia não os achará despreparados. “Porque todos vós sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite nem das trevas”. Na linguagem bíblica, ser “filho de” é “participar da natureza de”. Um filho da luz é alguém que participa de uma natureza santa.
2. Os preparos para a sua vinda.
“Não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos sóbrios. Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam embebedam-se de noite”. Há três tipos de sono mencionados nas Escrituras: o sono natural, o sono da morte e o sono do descuido espiritual mencionado nesse texto. O que se diz do que dorme o sono natural pode ser dito do que dorme espiritualmente; não reconhece que há perigo, esquece-se de qualquer dever, não se comove por apelos e, talvez, nem reconheça que está dormindo. “Vigiemos e sejamos sóbrios. Porque os que dormem, dormem de noite, e os que se embebedam embebedam-se de noite”. Tanto os judeus como os pagãos consideravam uma grande vergonha alguém ficar bêbado de dia (cf. At 2.15). Espiritualmente falando, dormir quer dizer ser descuidado e preguiçoso; estar embriagado significa estar dissoluto em qualquer assunto. O descuido, a indiferença nas coisas espirituais e a gratificação do eu-próprio são sinais que alguém está nas trevas, e não pronto para a vinda do Senhor (cf. Lc 21.34-36). Outro motivo para a vigilância é que a vida é uma guerra espiritual. “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e da caridade e tendo por capacete a esperança da salvação”. A peças de armadura mencionadas são para a proteção das partes vitais: o coração e a cabeça. São armas defensivas, porque a referência aqui não é tanto à luta contra o mal, e sim à defesa contra surpresas. A fé e o amor irão preservar o coração do cristão contra os assaltos do maligno. A esperança da salvação (Rm 13.11) sustenta a nossa coragem em todas as provações da vida, ao nos prometer a eterna bem-aventurança. “Porque DEUS não nos destinou para a ira, mas para aquisição da salvação, por nosso Senhor JESUS CRISTO”. Outra razão para a vigilância indicada aqui é que DEUS não tem o propósito de que os crentes sofram a ira a ser derramada sobre o mundo durante a tribulação (cf. 1 Ts 5.10 com 4.13). Devemos esperar a libertação e orar para sermos achados prontos para ela (Lc 21.36).





II - A Vida Cristã (1 Ts 5.16-22)
1. Regozijo incessante. “Regozijai-vos sempre”. O gozo é o sentimento que surge quando se possui algo bem atual ou da expectação de alguma felicidade futura. Em ambos os casos, os crentes têm motivos para regozijo abundante. E DEUS tem tanto desejo de que o seu povo seja feliz que chega a ordenar que se regozijem! 190 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs
2. Oração incessante. “Orai sem cessar”. Isso não pode significar que devamos estar de joelhos o tempo todo. Significa que devemos estar no espírito de oração, seja qual for a nossa atividade. A oração pode ser incessante no coração que está cheio da presença de DEUS.
3. Gratidão incessante. “Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de DEUS em CRISTO JESUS para convosco”. Um exemplo de quem dava graças em todas as coisas se vê em Jó 1.8,20,21. O diabo asseverou que Jó perderia toda a sua religiosidade quando tudo passasse a lhe ir mal; mas a atitude de Jó comprova que há pessoas que podem agradecer a DEUS mesmo por dores e perdas. Por que devemos dar graças em todas as circunstâncias? Leia Romanos 8.28.
4. Palavras inspiradas. Os versos 19-23 tratam do dom de profecia, palavras inspiradas (1 Co 14.3). Aos tessalonicenses Paulo disse: “Não extingais o ESPÍRITO”. Como estavam apagando o ESPÍRITO? Ao desprezar as profecias. Podemos imaginar alguém protestando: “Mas, Paulo, algumas dessas profecias não soam muito legítimas!” O apóstolo responde: “Examinai tudo, retende o bem”. O verso 22, embora comumente empregado de forma geral, aqui se aplica à profecia. “Abstende-vos de toda aparência do mal”. Ou seja, ao escutar uma mensagem profética, deve-se reter o que é bom e deixar o restante. Esse princípio deve ser aplicado a todas as esferas da vida. Água pura que corre por um encanamento enferrujado terá uma cor avermelhada. A mensagem profética passando pelo espírito humano pode levar consigo alguns elementos humanos. Por essa razão, os crentes têm o direito de testar a mensagem (1 Co 14.29; 1 Jo 4.1). O fato de uma pessoa dizer que está falando em nome do Senhor não significa que devamos fechar nossos olhos, abrir as nossas bocas e engolir tudo inteiro. A mensagem deve ser testada por sua conformidade às Escrituras (1 Jo 4.2,3) e ao caráter do mensageiro (Mt 7.15,16). Um dos propósitos do dom de discernimento é capacitar uma pessoa para saber quem está falando pelo ESPÍRITO de DEUS e quem está falando por outro espírito.
III - Ensinamentos Práticos
1. “Desperta, tu que dormes!”
A condição dos ímpios é descrita como um sono. Assim como as pessoas geralmente dormem de noite, também os que estão sem DEUS vivem na escuridão. Assim como o sono é frequentemente induzido com drogas, também há aqueles que estão drogados com as falsidades de Satanás, os prazeres dos sentidos e o brilho do mundo. Assim como no sono a mente é ocupada com sonhos, também os ímpios estão mortos para com a realidade e são ocupados com vãs ilusões. Paulo adverte os cristãos contra o sono espiritual. O diabo é ocupado; as oportunidades são muitas; o Senhor está para vir - vigiemos, portanto! Um cristão que dorme está a caminho de cessar de ser um cristão. O filósofo grego Aristóteles dormia com bolas de metal nas suas mãos, e estas caíam em vasos de metal ao seu lado. Fazia assim para limitar o seu sono, aumentando, portanto, seu tempo para trabalho e conservando clara a sua mente. O cristão, também, deve achar meios de se despertar espiritualmente.
2. O controle próprio.
O que quer dizer “sejamos sóbrios”? É a exortação para empregar controle próprio no uso de apego a todos os tesouros deste mundo. Geralmente pensamos que é ao ébrio que devemos exortar para que seja “sóbrio”, mas a palavra deve ser aplicada a todas as qualidades de temperança. Por exemplo, muitos passariam espiritual e fisicamente melhor se comessem menos. Sem o controle próprio, o ser humano entra em colapso. Quem é guiado por suas paixões e inclinações é como um carro com o tanque cheio, bem acelerado, mas ninguém no volante. A qualquer momento se aguarda destruição. Não pode haver vida espiritual ou nobreza de caráter sem a supressão da natureza mais baixa em prol da parte mais alta e nobre.
3. Filhos da luz.
Enquanto o Egito jazia coberto em trevas, os filhos de Israel tinham luz em suas moradias. Enquanto o mundo jaz em trevas, os que conhecem a Luz do mundo têm iluminadas as suas vidas. Não pertencem ao mundo, assim como os israelitas não pertenciam ao Egito, e aguardam a vinda do Salvador para os levar à Canaã celestial. Quais são as marcas dos filhos da luz? Alegria, conhecimento, retidão, coragem, ânimo, esperança! Como vagalumes carregando a sua própria luz, andam no mundo escurecido levando consigo a sua radiância, convencendo aqueles que se assentam nas trevas de que a vida espiritual é real. “Vós sois a luz do mundo”. “Todos vós sois filhos da luz”. Na Bíblia, o “vós sois” do privilégio é seguido pelo “vós deveis” da responsabilidade. Os filhos da luz pertencem a um outro estado de coisas do que aquele que os cerca, e isso exige uma vida de separação e abnegação.
4. A oração incessante.
“Orai sem cessar”. Aqueles que pensam que a oração é apenas petição - pedindo coisas - terão dificuldade para entender como se pode orar sem cessar. A oração, no entanto, inclui a comunhão, a gratidão, o louvor; inclui também aquelas emoções do coração que não podem ser expressas em palavras. Há a possibilidade de se viver num estado de oração - um estado em que DEUS está tão perto que apenas um pequeno movimento do coração e dos lábios basta para entrar em contato com Ele. Há duas ajudas para a oração incessante. (1) Pequenas petições faladas ajudam a atingir a condição de oração incessante. No meio das tensões e dificuldades do dia podemos soltar pequenas flechas de oração a DEUS - palavras de louvor, petição e confiança. (2) Precisaremos de tempos regulares de oração, a fim de podermos aprender a orar sem cessar. Na hora reservada para a oração, podemos, por assim dizer, encher o nosso tanque de gasolina, a fim de deixar o veículo da oração avançar pelos caminhos das rotinas diárias.
5. Regozijo incessante.
“Regozijai-vos sempre”. A corrente de alegria que traz regozijo ao coração do crente tem duas fontes: circunstâncias agradáveis e comunhão com DEUS. A primeira corrente está numa planície baixa e facilmente se seca; a segunda fonte está nas alturas das montanhas. O calor da adversidade seca a fonte baixa, mas esse mesmo calor derrete as neves nas montanhas de tal maneira que mesmo no meio de provações, o cristão pode ter as fontes de alegria. Grande é o mistério da vida cristã! “Como contristados, mas sempre alegres” (2 Co 6.10). A superfície da vida pode estar conturbada enquanto há grande calma no centro. Uma parte do homem pode estar sentindo as tristezas que vêm da terra, enquanto a outra parte está se regozijando com as bênçãos que vêm dos Céus.
6. “Não apagueis o ESPÍRITO ”.
 Essa expressão dá a entender que as operações do ESPÍRITO SANTO são comparadas ao fogo. Por quê? O fogo queima, o fogo purifica, o fogo se espalha, o fogo dá luz, o fogo causa excitação. Esse fogo santo pode ser apagado. Com o? Por deliberadamente continuarmos em pecados conhecidos, por adotarmos atitudes frívolas para com as coisas espirituais, por permitirmos que as coisas mundanas absorvam os afetos, por negligenciarmos os meios da graça, por desprezarmos verdadeiras manifestações do ESPÍRITO e por não exercer dons já possuídos (ver 1 Tm 1.6). Precisamos do fogo! As únicas pessoas que farão qualquer coisa de valor pela causa de DEUS neste mundo são aqueles que ardem com seriedade e zelo.
7. “Examinai tudo Estudiosos do grego nos informam que a palavra aqui traduzida “examinar” era aplicada aos bancários testando moedas.
As exortações de Paulo, portanto, podem ser expressas como segue: “Não aceitem com cega confiança todas as moedas espirituais que circulam; submetam-nas ao teste; conservem o que é real e de sólido valor, mas repudiem cada moeda falsa”. O mundo em que vivemos contém uma mistura de bom e de ruim, de coisas verdadeiras e falsas. Para se viver uma vida santa, é preciso discernir entre o bom e o mau, e escolher o bom. Tal era o princípio do código de santidade de Moisés, expresso no livro de Levítico. Por exemplo, os sacerdotes não devem beber vinho antes de entrar no santuário, “para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10.10). E o propósito das leis de comida e outras era “para fazer diferença entre o imundo e o limpo”. A santidade prática exige crescer espiritualmente; pessoas santas são “perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” (Hb 5.14). Criancinhas espirituais, como criancinhas físicas, estão dispostas a engolir tudo que acham! (Ef 4.14). Quantas pessoas já foram fascinadas por um estilo e personalidade brilhantes, e engoliram um falso ensino inteirinho! Testemos todas as coisas pela Palavra, considerando em oração e pelo bom conselho de cristãos maduros
 



 
20- UM ESTUDO DO ANTICRISTO
Texto: 2 Tessalonicenses 2
 
Introdução
Timóteo levou a primeira carta de Paulo aos tessalonicenses. Na volta, trouxe a notícia de que a igreja estava sofrendo um ataque muito severo de perseguição, e que estava havendo pânico por causa da falsa interpretação daquele evento. Paulo explica, noutras palavras (baseadas nos vv. 1,2), que, quanto à chegada do nosso Senhor JESUS CRISTO e à nossa reunião com Ele, não deixemos nossas mentes se perturbarem facilmente ou serem emocionadas por qualquer espírito de profecia, ou qualquer declaração ou carta, alegadamente vinda da parte dele (Paulo), dizendo que o Dia do Senhor já está aqui. A perseguição baixa como uma tempestade sobre os jovens crentes. Logo se espalha a história de que perderam o arrebatamento e já estão passando pelos castigos terríveis do Dia do Senhor. O que causou o pânico? Paulo sugere três origens. Primeiramente, “por espírito”, ou seja, por uma mensagem profética. Alguns crentes não tinham entendido bem as palavras de Paulo acerca do Dia do Senhor e, pensando que o dia já chegara, ficaram preocupados e imaginavam que a sua preocupação fosse uma inspiração profética. Em segundo lugar, tinham sido perturbados “por palavra”, por boatos ou por pregações sobre o assunto. Em terceiro lugar, por uma “epístola”, seja falsificada como se fosse escrita por Paulo, seja alegadamente fiel aos ensinos de Paulo.
I - A Natureza e a Obra do Anticristo
“Ninguém, de maneira alguma, vos engane”. Então Paulo indica que dois eventos de alcance mundial precisam preceder o Dia do Senhor.
1. A grande apostasia (cf. Mt 24.12; 1 Tm 4.1). Os que crêem que já estamos no Milênio dizem que o mundo inteiro deve ser convertido antes da vinda de CRISTO; mas o Novo Testamento nos ensina que o fim desta era será marcado por apostasia (ou desvio da fé) em grande escala por parte da Igreja, bem como por corrupção generalizada no mundo.
2. A revelação do Anticristo. “Porque não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição”. É chamado o “homem do pecado”, porque nele se resume perfeitamente a essência do pecado, assim como a essência da retidão foi resumida em CRISTO. No Anticristo, resume-se e revela-se mais perfeitamente a natureza caída do homem que não se sujeita à lei de DEUS. Assim como o CRISTO ressurreto é o representante da humanidade santa e redimida, também “o homem do pecado” representa a humanidade pecaminosa que recusa a redenção. Assim como a essência do pecado é a transgressão da Lei (1 Jo 3.4), a transgressão do Anticristo é a total rejeição da lei de DEUS. Assim sendo, o “homem da iniquidade” é bem qualificado para ser instrumento de Satanás e líder de todos os inimigos de DEUS e de CRISTO. O espírito do Anticristo já está no mundo (1 Jo 4.3; 2.18; 2.22). Mas haverá um Anticristo final que ainda está para vir (2 Ts 2.3). E, nos últimos dias, sairá do meio do mundo antigo (Ap 13.1) e será dominador sobre um novo tipo de império romano, conseguindo o domínio do mundo. Com o apoio de Satanás, assumirá grande poder político (Dn 7.8,25), comercial (Dn 8.25; Ap 13.16,17) e religioso (Ap 17.1-15). Será contrário a DEUS e contrário a CRISTO e perseguirá todos os fiéis numa tentativa de destruir o Cristianismo (Dn 7.25; 8.24; Ap 13.7,15). Sabendo que o homem precisa ter algum tipo de religião, estabelecerá uma, baseada na divindade do homem e na supremacia do Estado. Como encarnação do Estado, exigirá a adoração e nomeará um sacerdócio para impor e divulgar esse culto (2 Ts 2.9,10; Ap 13.12-15). O Anticristo levará ao limite supremo a doutrina da supremacia do Estado — que ensina que o governo é o poder supremo ao qual até a consciência do homem deve ser submetida. E, não havendo poder ou lei mais alto do que o Estado, DEUS e a sua lei terão que ser abolidos, e o Estado, colocado como objeto de adoração. O Novo Testamento considera o governo humano divinamente ordenado para a manutenção da ordem e da justiça. O cristão, portanto, deve lealdade ao seu país. Tanto a Igreja como o Estado têm uma parte no programa de DEUS, e cada um deve operar no seu próprio campo. DEUS deve receber as coisas que são de DEUS, e César deve receber as coisas que são de César (Mt 22.21). Muitas vezes, porém, “César” tem exigido as coisas que são de DEUS, com o resultado de a Igreja, contrária ao seu desejo, ter se achado em conflito com o governo. As Escrituras ensinam que, um dia, esse conflito será travado até o fim. A civilização final será anti-DEUS e anticristo; sua liderança, a ditadura mundial, fará a lei do Estado mundial supremo acima de todas as leis e exigirá adoração como expressão do Estado. As mesmas Escrituras nos asseguram que DEUS triunfará e que sobre as ruínas do império mundial anticristão estabelecerá um domínio em que DEUS é supremo - o Reino de DEUS (Dn 2.34,35,44; Ap 11.15; 19.11,12).

II - O ESPÍRITO do Anticristo
“Porque já o mistério [força secreta] da injustiça opera”. Nas Escrituras, um mistério não é algo que não possa ser conhecido; é uma verdade não revelada ao conhecimento geral, mas conhecida dos que têm discernimento espiritual. Mesmo nos dias de Paulo, as sementes do anticristianismo estavam sendo semeadas na forma de ensinamentos falsos e na perseguição judia e pagã dos cristãos. Nos últimos dias, todas as forças contrárias a DEUS e contrárias a CRISTO se declararão abertamente e seguirão a liderança do “homem do pecado”, na tentativa de varrer da Terra a adoração a DEUS e colocar no seu lugar a adoração ao homem. “E, agora, vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado. Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que, agora, resiste até que do meio seja tirado; e, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da sua vinda”. Quem é este que detém? Alguns pensam que Paulo se referia ao império romano, cujo governo forte restringia as forças contrárias à lei. Essa, porém, não pode ser a interpretação verdadeira, porque o mecanismo legal não pode impedir a iniquidade espiritual; além disso, o império romano desapareceu faz 15 séculos. O que o detém é nada menos que o próprio ESPÍRITO SANTO, operando através do povo de DEUS e impedindo as forças da iniquidade. A remoção do que o detém significa que o povo de DEUS na terra, entre o qual habita o ESPÍRITO, será levado embora antes de o Anticristo ser abertamente manifestado. Removido o “sal da terra”, a corrupção a cobrirá; removida a luz do mundo, trevas a envolverão. Então o homem da iniquidade assumirá o comando.





III - A Destruição do Anticristo
“E, então, será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca e aniquilará pelo esplendor da sua vinda” (cf. Ap 19.20). O Anticristo operará “prodígios da mentira”, ou seja, sinais para confirmar mentiras. Sua vinda será “com todo engano de injustiça aos que perecem”. Trata-se de engano que leva à prática da injustiça. “O homem da iniquidade” opera com traição e mentira, e operará milagres satânicos para se impor sobre o mundo. Seu poder, porém, não é irresistível, e enganará apenas aqueles que perecem, ou seja, os que fixaram seus corações contra DEUS e contra a retidão. Perecerão “porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos”. Não somente rejeitaram a verdade, como também não tinham nenhum amor ou desejo por ela. Quando as pessoas rejeitam a verdade, facilmente se tornam vítimas do erro, e, pela operação das leis de DEUS, aquele erro se torna em castigo por rejeitarem a verdade. “E, por isso [a rejeição do Evangelho], DEUS lhes enviará [como castigo] a operação do erro, para que creiam a mentira [as falsas alegações do homem da iniquidade]”. “Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniquidade”. Sua descrença não surgiu de qualquer falta de capacidade intelectual, mas do seu amor ao pecado.





IV - Ensinamentos Práticos
1. Falso alarme! Ouvem-se as sirenes tocar, e os carros dos bombeiros vão em alta velocidade pelas ruas. 200 Epístolas Paulinas: Semeando as Doutrinas Cristãs Poucos minutos mais tarde voltam bem mais devagar. Alguém deu um falso alarme. Da mesma maneira, muitos expositores da Bíblia soaram falsos alarmes ao fixarem a data para a volta do Senhor ou para alguma catástrofe mundial. Uma coisa é certa: o ensino da iminência da vinda do Senhor não visa perturbar as mentes do povo de DEUS; pelo contrário, é oferecido como uma esperança de consolo e paz. Se nosso coração estiver de bem com DEUS e se amarmos a vinda do Senhor, não há motivo para pânico algum. É muito melhor pregar e viver CRISTO do que especular acerca do Anticristo.
2. Santa cautela. Disse João, o apóstolo: “Amados, não creiais em todo espírito [aquilo que vem como mensagem espiritual], mas provai se os espíritos são de DEUS, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo” (1 Jo 4.1). Não é nenhum sinal de incredulidade mostrar cautela com relação a novas “revelações” ou “luzes”, porque grande número de bondosos fiéis já foram enganados por aqueles que se nomearam profetas e que mais tarde revelaram manchas na sua própria vida e doutrina. DEUS nos tem dado três maneiras de testar mensagens e mensageiros: a Palavra de DEUS (Is 8.20), o ESPÍRITO SANTO (1 Jo 2.19,20) e o bom senso (1 Co 14.20). Não tenhamos medo de aplicar esses testes, porque aquilo que é de DEUS passará por qualquer exame; de fato, alguém que sabe que DEUS lhe falou convidará à investigação. Disse João Wesley: “Não dê lugar a uma imaginação calorosa. Não se apresse em atribuir coisas a DEUS; não suponha com demasiada facilidade que os sonhos, as impressões, as visões e revelações vêm de DEUS. Podem ser dEle. Podem ser da própria natureza humana. Podem ser do diabo. Prove todas as coisas pela Palavra escrita e que tudo se submeta a ela”.
3. O amor à verdade é o caminho à verdade. O homem foi feito com a capacidade de ter fé; precisa crer em algo. Quando rejeita a verdade, automaticamente prepara lugar para aquilo que é falso. Tanto o espírito da verdade quanto o espírito da mentira existem no mundo, e todos fazem lugar para um ou para o outro. Cada seita falsa tem seguidores que rejeitaram o Cristianismo. G. K. Chesterton, conhecido escritor e defensor da fé, estava jantando com um grupo de agnósticos, homens que repudiavam os fundamentos da fé cristã como uma massa de superstições. Em conversa com esses homens, Chesterton descobriu que quase todos carregavam consigo algum tipo de talismã para dar sorte! Outro escritor afirma: “Não faz muito tempo, um homem expressou-me a dúvida sobre a veracidade da doutrina do nascimento virginal de CRISTO; no entanto, sei que ele planta batatas segundo a lua, não segue por um caminho que tenha sido atravessado por um gato preto, tem grande fé na eficácia de uma cebola que carrega no bolso, e ouvi-o chamar severamente a atenção da sua esposa por sacudir a toalha da mesa após o pôr-do-sol. Mas o nascimento virginal? Nunca! Não seria razoável para ele!” Note-se que receber o Evangelho é assunto que vai além do intelecto. As pessoas mencionadas nesse trecho da epístola são condenadas porque não receberam o amor da verdade. A verdade do Evangelho não é apenas algo para ser pesado pelo intelecto e por ele examinado; é uma verdade que apela ao coração, seja de um índio na floresta, seja de um filósofo. A pergunta é: esse homem ama a verdade de tal maneira que esteja disposto a abandonar todo o pecado e viver para DEUS? Se uma pessoa não ama a verdade, seu intelecto inventará todos os tipos de argumentos contra ela. É com o coração que alguém crê e é com o coração que descrê.
4. O pecado pune o pecado (v. 11). As pessoas são punidas por pecados, e não somente por causa de pecados. Assim como um relojoeiro planeja um relógio para bater em certos intervalos, também o Onipotente organizou o Universo de tal modo que as pessoas ceifam o que semeiam. Uma pessoa come demais, e tem a digestão arrumada. Outro vive uma vida de vícios, e o resultado é um corpo cheio de doenças. Outros cometem o pecado de rejeitar a verdade, e ficam vítimas de ilusões e erros. “Quanto ao ímpio, as suas iniquidades o prenderão, e, com as cordas do seu pecado, será detido” (Pv 5.22). “Como pode um DEUS de amor condenar pessoas?” perguntam alguns. Mas a verdade é que as pessoas condenam a si mesmas. Insistem em fazer a sua própria vontade, e DEUS as deixa fazer - para a própria destruição delas.
5. O mistério de iniquidade. Desde o tempo em que Paulo escreveu, sempre houve uma forte corrente de anticristianismo. Em nossos tempos, porém, parece que as coisas estão chegando a um clímax. Desde o início deste século, grandes mudanças estão ocorrendo no mundo. Devem ser esperadas, porque o colapso da velha ordem precisa dar lugar à nova. Os reinos deste mundo devem entrar em colapso para preparar o caminho para o Reino de DEUS. Que sinais hoje indicam que o mundo está sendo preparado para o Anticristo?
5.1. No mundo religioso, o modernismo, a sua negação da inspiração das Escrituras e do sobrenatural. A multiplicação das falsas seitas. A indiferença de grande número de cristãos professos.
5.2. No mundo literário sente-se uma corrente de sentimento contra a fé e os ideais cristãos.
5.3. No mundo da política, a doutrina da supremacia do Estado está crescendo, e esse ensino levado à sua conclusão lógica significa a guerra contra o Cristianismo. No Japão, o imperador, até recentemente, era adorado como DEUS, e os cristãos japoneses tinham a escolha entre lealdade a DEUS ou à pátria. Na Rússia, temos o exemplo de uma poderosa nação que oficialmente declarava guerra contra DEUS e a religião. Não devemos ficar pessimistas, no entanto, porque há muitos anos já fomos advertidos de que tais coisas aconteceriam, e podemos nos preparar espiritualmente. Os que conhecem o programa de DEUS não entrarão em pânico, porque a mesma Palavra que previu essas condições também nos garante a vitória do Reino de DEUS. Longe de paralisarmos as nossas atividades, essas condições devem nos despertar para mais intensivamente advertirmos as almas que perecem, a fim de salvar o maior número possível antes de chegar a noite, em que ninguém poderá trabalhar.
 

21- A HISTÓRIA DE TIMÓTEO
Texto: 1 e 2 Timóteo; Atos 16.1-3; 17.14,15
 
Introdução
Na igreja de San Paolo, em Roma, pode ser visto o túmulo tradicional do apóstolo Paulo, coberto por um manto suntuoso. Ao lado, há um túmulo mais modesto, no qual está inscrito um só nome: TIMOTHEI, onde, segundo se diz, jazem as cinzas de Timóteo. Não sabemos com certeza quanto à veracidade de estes túmulos serem os verdadeiros jazigos finais destes homens, mas é agradável pensar que dois honrados servos de DEUS, que juntamente amavam e labutavam, choravam e oravam agora jazem lado a lado, o pai com seu filho na fé. Começaremos com 2 Timóteo 3.14,15, que trata da infância de Timóteo e é um bom ponto para começar o estudo.
 
I - A Infância de Timóteo (2 Tm 3.14,15)
“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste”. O que Timóteo aprendera? Que o Messias, acerca de quem aprendera de sua mãe e de sua avó (2 Tm 1.5), viera e passara por tudo quanto o Antigo Testamento predissera acerca dEle. O que aprendera na infância tornou-se real mediante a experiência: “e de que foste inteirado”. Já que Timóteo tinha sido criado como menino judeu, Paulo podia dizer: “E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em CRISTO JESUS”. A súmula das exortações de Paulo é: “Não renegue suas convicções primeiras; fique firme em DEUS e na Bíblia da sua infância”. Timóteo deve “continuar”. A Bíblia é chamada “sagradas letras”. “Sagrado” quer dizer separado de todas as outras coisas para DEUS. A Bíblia, portanto, é livro sem igual, o Livro de DEUS, tão acima das composições humanas como DEUS está acima da terra. Paulo menciona o propósito do livro: “fazer-te sábio para a salvação, pela fé”. A salvação é o tema principal da Bíblia; a explicação do caminho da salvação é seu propósito principal. Contém todas as direções necessárias para guiar a alma da Terra para o Céu. Como é que a Bíblia nos guia para a salvação? “Pela fé que há em CRISTO JESUS” (cf. Rm 10.17). As Escrituras podem nos apontar para CRISTO, mas não podem tomar o seu lugar. Indicam o caminho, mas Ele mesmo é o próprio caminho.
II - A Conversão e Vocação de Timóteo (At 16.1-3; 17.14,15)
Calcula-se que Timóteo foi convertido com a primeira visita de Paulo a Listra (At 14.6-18), e ficou sendo o “filho na fé” do apóstolo. Na segunda visita (At 16.1-3), podemos imaginar que os líderes da igreja falassem a Paulo: “Temos um jovem aqui chamado Timóteo, que tem uma vocação à obra missionária. O senhor acha possível dar um começo a ele?” Das cartas a Timóteo, podemos tirar alguma ideia de como teria sido o impressionante culto de ordenação, antes do ministério de Timóteo como ajudante de Paulo. Timóteo ficou diante da congregação e fez seu voto de consagração (1 Tm 6.12). Depois, veio uma mensagem profética encorajando o jovem ministro (1 Tm 1.18). Quando os anciãos impuseram as mãos sobre ele, recebeu dons espirituais para poder realizar a sua obra (2 Tm 1.6). Timóteo foi filho de um casamento misto, sendo a mãe judia, e o pai, grego. Sendo que Paulo sempre pregava primeiramente na sinagoga, a presença de um gentio seria uma pedra de tropeço. Para facilitar a obra de atingir os judeus, Paulo mandou circuncidar Timóteo, a fim de que fosse um judeu, nacionalmente. Não houve qualquer intenção de Paulo declarar que a circuncisão era necessária à salvação, porquanto sempre negava isso; era simplesmente parte da sua política missionária, de vir a ser todas as coisas para todos os homens, a fim de salvá-los (1 Co 9.19,20). Atos 17.14,15 mostra Timóteo trabalhando como ajudante de Paulo.
III - A Vocação de Timóteo ao Conflito Espiritual (2 Tm 2.1-4,15,16,22)
Durante o reinado do imperador Nero, os cristãos foram acusados de atear um incêndio que destruiu Roma. Surgiu uma perseguição, durante a qual Paulo foi preso. Enquanto esperava a sua coroa de mártir, Paulo escreveu a sua última mensagem a Timóteo, que naquele tempo estava encarregado da igreja em Éfeso. Ele pede que Timóteo chegue ali antes da sua morte e encoraja-o a ser fiel numa situação difícil. A nota principal dessa seção é: “Sê forte!”
1. Forte na vida espiritual. ‘Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em CRISTO JESUS”. Por trás dessas palavras, podemos imaginar um moço tímido, sensível e talvez de saúde fraca (1 Tm 5.23), que precisava do constante encorajamento de seu pai espiritual. E Timóteo estava numa posição difícil. Fora da igreja havia a perseguição, dentro dela havia os falsos mestres. Dizer apenas “fortifica-te” para uma pessoa fraca é tão fútil como dizer “saia da água” a alguém que está se afogando e que não sabe nadar. Paulo, portanto, joga um salva-vidas para ajudar Timóteo a vencer as fraquezas — “a graça que está em CRISTO JESUS”. “E o que de mim, entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos para também ensinarem os outros”. Paulo talvez se refira ao sermão de ordenação, durante o qual expôs os fundamentos do Evangelho. Timóteo, encarregado do distrito de Éfeso, recebe poderes para ordenar outras pessoas no ministério e passar adiante o ensino do apóstolo. 2. Forte na resistência. A exortação para Timóteo ser forte é ilustrada na vida do soldado. “Sofre, pois, comigo, as aflições como bom soldado de JESUS CRISTO”. O ministro é um soldado de CRISTO, arrolado por Ele, treinado por Ele, armado por Ele, sustentado por Ele. O ministério é uma guerra, envolvendo o bom combate da fé contra tudo quanto se opõe à fé e à retidão.
3. Forte na consagração. “Ninguém que milita se embaraça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra”. O soldado romano era isolado, por lei, de todos os interesses, negócios e ações que pudessem interferir na disciplina da sua profissão. O soldado precisava abandonar todas as atividades civis e fazer do bom grado do comandante a lei da sua vida. De semelhante maneira, o ministro de JESUS CRISTO é um soldado, que deve fazer da vontade de seu Mestre a sua lei suprema. Dois outros quadros são acrescentados para ilustrar o serviço cristão: o atleta que precisa seguir a mais severa disciplina de treinamento (v. 5) e o lavrador que precisa de muita paciência e trabalho antes de desfrutar dos frutos colhidos (v. 6).
4. Forte na Palavra. “Procura apresentar-te a DEUS aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. Note-se o contraste entre “aprovado” e “não tem de que se envergonhar”. O trabalhador, cujo serviço é malfeito, é envergonhado quando a obra é testada e revelada como sendo inferior e desonesta. O trabalhador que trabalha honesta e conscientemente, com perícia e firmeza, nunca será envergonhado. O bom ministro precisa manejar bem a Palavra, distribuindo-a a cada um segundo a sua capacidade e as circunstâncias. Não deve pervertê-la, nem a desviar do seu verdadeiro sentido — deve declarar todo o conselho de DEUS. Não deve ir para a direita ou para a esquerda — deve fazer um curso reto no caminho da verdade.
5. Forte na santidade. “Foge, também, dos desejos da mocidade”. Esses são os desejos e as inclinações que especialmente tentam a juventude, tais como a intemperança, a arrogância, a petulância, a ambição, a leviandade, o cumprimento das próprias vontades, e semelhantes. As inclinações devem ser vigiadas para não se transformarem em desejos, apetites, paixões e, finalmente, concupiscências. “Segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor”. A vida cristã tem seu lado positivo, e não somente o lado negativo. A renúncia ao pecado deve ser seguida pela busca da virtude. Depois de esvaziar-nos de nós mesmos, devemos receber um enchimento de poder. A morte para com o pecado deve ser seguida por uma vida de retidão.
IV - Ensinamentos Práticos
1. “Fortifica-te”. Essa é uma ordem, não meramente um conselho, uma sugestão ou um lindo sentimento. DEUS nunca ordena o que não pode ser cumprido. Portanto, Ele suprirá as forças se confiarmos nEle. Sendo assim, a fraqueza é um pecado. Nós estamos sempre dispostos a fazer das nossas fraquezas um travesseiro para o sono espiritual. DEUS quer que declaremos guerra contra as nossas fraquezas e que clamemos a Ele pedindo forças. “Como bom soldado de JESUS CRISTO”. A guerra revela algumas das piores qualidades do homem, mas também produz qualidades nobres que podem ser transferidas para o serviço do Senhor. Por essa última razão, o serviço do Príncipe da Paz é frequentemente descrito como sendo uma luta. O que significa ser bom soldado de JESUS CRISTO?
1.1. Em primeiro lugar, precisamos ser alistados no seu exército. Assim como os israelitas eram numerados antes de entrar numa campanha, também cada cristão é numerado no exército do Senhor para a luta contra a iniquidade. No batismo nas águas, publicamente toma o juramento de fidelidade ao seu Comandante e veste, por assim dizer, o uniforme do soldado cristão. “Porque todos quantos fostes batizados em CRISTO já vos revestistes de CRISTO”. Qual é a bandeira sob a qual nos alistamos? A cruz! A obra que CRISTO fez por nós, sua morte em nosso lugar, sua ressurreição — tudo isso é a chamada enviada a todos os homens para que se alistem no seu serviço. A cruz é o único poder que atrai os homens de uma vida de pecado e egoísmo para lutar contra o mal em si mesmos e no mundo.
1.2. O soldado precisa treinar e ensaiar. Um bom soldado cristão não se faz num só dia. Requer exercício com a oração, exercício com a espada (Ef 6.17) e exercício em marchar — andar em amor, em luz, em espírito e nas pegadas de JESUS.
1.3. O bom soldado deve servir de bom grado. Um voluntário vale por muitos homens constrangidos. Quando só cumprimos os nossos serviços cristãos com relutância ou simplesmente por um senso de dever, já devemos pedir que DEUS mude o nosso coração. Viver sob a graça significa também que amamos nosso serviço a CRISTO.
1.4. A obediência implícita é requerida de um bom soldado. O único padrão de dever do soldado é a vontade do comandante. Essa absoluta submissão é coisa nobre e degradante? Isso depende de a autoridade ser boa ou má. Tendo, porém, o Líder divino, cujas ordens são dadas em amor e sabedoria e cujo serviço leva à máxima felicidade, então a absoluta obediência é a melhor coisa na vida. A mais alta liberdade vem quando voluntariamente submetemos as nossas vontades à vontade de DEUS. O motivo mais alto do cristão é agradar a CRISTO. Sem esse motivo o serviço cristão se transforma em formalidade e servidão enfadonha. Esse motivo nos ergue muito acima de várias tentações, que já não tentam um coração cujo intuito é agradar a CRISTO. Liberta-nos de nos preocuparmos acerca das críticas humanas, porque a opinião popular pouco importa para um soldado que apenas procura receber honra de seu comandante. Dá energia para o trabalho e transforma os duros e secos deveres em alegria, porque é sempre uma bênção trabalhar por aquEle a quem amamos.
1.5. Do soldado exige-se a heroica tolerância das dificuldades. O serviço militar exige sacrifício próprio, a resistência, a vigilância e a oposição organizada contra um inimigo incansável. Tal é a vida cristã. Não se pode imaginar um soldado correndo para o capitão durante a batalha, dizendo: “Aqueles soldados ruins estão atirando contra mim!” Nós somos soldados na batalha para a retidão; não devemos, portanto, ficar surpresos ou desencorajados quando o nosso serviço pelo Mestre nos traz situações desagradáveis e difíceis.
1.6. O soldado deve estar desligado de outros problemas. “Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida”. Isso não significa que o cristão deve imitar aqueles monges que fugiam da cidade e moravam nos desertos para evitar a tentação. A vida cristã deve ser vivida em todos os legítimos relacionamentos vitais — como no lar e na fábrica. Deve-se enfatizar a palavra “envolver”. Não é a ocupação com os assuntos da vida diária, mas o envolvimento com eles que danifica a nossa vida espiritual. Tudo que diminui o nosso amor por coisas espirituais é um envolvimento indevido. Se é mau, deve ser abandonado; se é legítimo, deve ser destronizado da sua posição de domínio e transformado em servo.
2. “Que maneja bem a palavra da verdade”. A expressão tem vários sentidos.
2.1. “Manejar bem”; a Palavra é como uma espada e precisa ser manejada corretamente. Não é para brincar; é para destruir o pecado e o erro. A Palavra não deve ser usada para reforçar teorias particulares nem para encorajar as pessoas nos seus pecados, “falsificando a palavra de DEUS” (2 Co 4.2).
2.2. A expressão “manejar bem” também quer dizer “cortar direito”, como cortar um sulco reto num campo. Paulo queria que Timóteo fosse direto em sua pregação, sem desvios nem truques.
2.3. Alguns acreditam que a alusão ao cortar se refere ao conhecimento do sacerdote de cortar o animal segundo o ritual. Assim, a Palavra deve ser analisada com perícia, e não rasgada em pedaços e servida em blocos informes. O obreiro aprovado por DEUS saberá distinguir os vários aspectos da verdade. Saberá, por exemplo, distinguir entre a Lei e a graça; entre o julgamento dos pecadores e o julgamento que os cristãos sofrem para receber galardões para as suas obras. Saberá distinguir entre a natureza humana do crente e a sua natureza mais alta dada pelo ESPÍRITO.
2.4. A expressão também dá a ideia de “manejar” ou “cortar” certas partes para certos propósitos. O ensinador deve saber escolher o assunto certo para as necessidades do auditório. Servirá leite para os que ainda são bebês espirituais, e carne forte para os adultos na fé. Saberá quais receitas espirituais deve indicar para cada enfermidade espiritual.
 



22- PROVAS DA GRAÇA DIVINA
Texto: Tito 2.11— 3.9
 
Introdução
As cartas a Timóteo e a Tito são chamadas Epístolas Pastorais porque foram escritas para instruir ministros no governo da igreja. Esse estudo foi tirado da epístola escrita a Tito, que foi deixada para superintendentes das igrejas em Creta. Os postos-chaves da carta são: sã doutrina e boas obras. A doutrina e a vida se acompanham. A doutrina sem as obras é isenta de realidade; as obras sem a doutrina não possuem vitalidade. No propósito de DEUS, a doutrina e a vida formam um conjunto, e ninguém deve separar o que DEUS juntou.
I - A Obra da Graça (Tt 2.11-15)
Na primeira parte do capítulo, Paulo exorta todos os tipos de pessoas na igreja a viverem piedosamente. Por quê? “Porque a graça de DEUS se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”. Os que vivem na graça devem viver graciosamente. A graça nos traz:
1. A salvação. A graça é o favor de DEUS derramado sobre os que não o merecem. E a misericórdia de DEUS que perdoa homens pecaminosos. “Manifestar-se” é quase sempre empregado em conexão com a vinda do Senhor JESUS. Assim como o sol brilha pela neblina, assim também o amor de DEUS em CRISTO brilhou através do pecado e da ignorância para nos dar à luz da salvação. Essa graça veio oferecer a salvação a “todos os homens”, isto é, se eles a aceitarem. O amor de DEUS flui pelo mundo, e entrará onde surge uma abertura.
2. A educação. A graça não somente faz nascer filhos espirituais como também ensina, disciplina, corrige e castiga. A educação inclui tudo isto. A salvação da alma deve ser seguida pelo ensinamento da alma. Isso inclui: (1) renunciar os caminhos maus: “Renunciando à impiedade [o viver sem DEUS] e às concupiscências mundanas [tais como egoísmo, orgulho, ambições errôneas]”; (2) a escolha do caminho certo: “Vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente [reconhecendo a presença de DEUS na vida diária]”.
3. A glorificação. “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande DEUS e nosso Senhor JESUS CRISTO”. A primeira vinda de JESUS trouxe graça para salvar e santificar; a sua segunda vinda trará graça para glorificar. Mas em primeiro lugar, vem a graça para salvar e santificar, porque “se deu a si mesmo por nós [como sacrifício], para nos remir [libertar pagando o preço] de toda iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras”. “Fala disto, e exorta, e repreende com toda a autoridade. Ninguém te despreze”. Tito tinha que explicar essas doutrinas até deixá-las claras; exortar, para impressioná-las na consciência; repreender os que violavam essas doutrinas; e, sobretudo, reforçar as suas palavras com uma vida consistente.
II - Provas da Graça (Tt 3.1-9)
1. Lealdade ao governo. “Admoesta-os a que se sujeitem aos principados e potestades, que lhes obedeçam e estejam preparados para toda boa obra” (cf. Rm 13.1-7; 1 Pe 2.13). O governo é uma instituição divina, no sentido que é da vontade de DEUS que todos vivam sob um governo. Mesmo um governo ruim é melhor do que a anarquia. Seja qual for a forma do governo, o cristão lhe deve obediência e respeito. O Evangelho não deve tomar um homem inferior em qualquer aspecto da vida. O cristão deve ser bom cidadão, bom trabalhador e bom pai.
2. A gentileza e a humildade para com os homens. “Que a ninguém infamem, nem sejam contenciosos, mas modestos, mostrando toda mansidão para com todos os homens”. Os cristãos são salvos não por causa da sua bondade, mas pela graça de DEUS. São pecadores salvos pela graça, e não devem assumir atitudes de superioridade para com os não cristãos. Devem se lembrar que, antes de receber a graça de DEUS, eram “insensatos, desobedientes, extraviados, servindo a várias concupiscências e deleites, vivendo em malícia e inveja, odiosos, odiando-nos uns aos outros”. Um bom remédio para o orgulho é lembrar-se dos pecados e falhas do passado (cf. 1 Tm 1.12-14). Onde existe base para a jactância e o orgulho? Fomos salvos “não pelas obras de justiça que houvéssemos feito”, mas pela bondade e amor de DEUS, segundo a sua misericórdia (v. 5). O caráter não produz a salvação; a salvação produz o caráter. As pessoas são salvas não porque vivem corretamente; vivem corretamente porque são salvas. A salvação peleis obras exigiria a perfeita observância de todos os detalhes da Lei, e quem já conseguiu isso? Como DEUS nos salvou? “Pela lavagem da regeneração [purificando do pecado] e da renovação do ESPÍRITO SANTO [dando vida nova]; que abundantemente ele derramou sobre nós por JESUS CRISTO, nosso Salvador” (cf. Jo 3.5). O homem “nasce da água” (ou seja, passa pela purificação) “e do ESPÍRITO” (ou seja, recebe a vida nova). A salvação, portanto, é a morte para a antiga vida do pecado e o nascimento para uma vida de retidão. Essas verdades são simbolizadas no batismo na água (Rm 6). “Justificados pela sua graça” - ou seja, declarados justos pelo dom gratuito de DEUS. O governador de um estado pode perdoar um criminoso, mas não pode declará-lo um homem bom. DEUS, porém, pode perdoar o pecador e declará-lo justo diante dEle. “Para que, sendo justificados pela sua graça, sejamos feitos herdeiros, segundo a esperança da vida eterna”. A vida eterna é a plenitude que jaz no futuro; nesta vida, o cristão recebe o ESPÍRITO SANTO como sinal ou primeira parte daquela herança (Ef 1.13,14; Rm 8.23). A esperança é a própria visão do futuro, aguardando o pleno cumprimento da promessa. 
3. Boas obras. “Fiel é a palavra, e isso quero que deveras afirmes, para que os que crêem em DEUS procurem aplicar-se às boas obras; essas coisas são boas e proveitosas aos homens”. A pregação do Evangelho da graça salvadora (vv. 5- 7) produzirá fé, e a fé, por sua vez, produzirá boas obras. Aquilo que uma pessoa verdadeiramente crê influencia a sua conduta. E se alguém não tem nenhuma obra boa, o que se diz da sua crença? Leia Tiago 2.14-20. “Mas não entres em questões loucas, genealogias e contendas e nos debates acerca da lei; porque são coisas inúteis e vãs”. Uma das coisas que tomaram difícil a tarefa de Tito foi a presença de mestres judeus que estavam obscurecendo os fundamentos do Evangelho com suas mesquinhas disputas acerca de cerimônias, tradições e assuntos não essenciais.




III - Ensinamentos Práticos
1. Como o cristão deve viver. A salvação do pecado é diferente, por exemplo, de ser salvo do afogamento. Este último pode continuar a viver como vivia antes de ser tirado da água. A salvação do pecado, no entanto, é a introdução a uma nova vida. Como deve viver a pessoa salva?
1.1. Em relação a si mesmo — “sensatamente”. E como a palavra “sóbrio”, que em linguagem comum significa abstinência ou autocontrole no que diz respeito às bebidas fortes. Nas Escrituras, a palavra significa autocontrole em todos os campos. O homem é uma coletânea de desejos, inclinações e apetites. Estes precisam de controle forte, sem o qual a anarquia reinará na alma. O motor de um navio o esmagará contra as rochas, se não houver um capitão para reger e um piloto para navegar. Regemos a nós mesmos quando colocamos CRISTO como Capitão da nossa alma.
1.2. Em relação a outros — “justamente”. Quando Pedro e João foram proibidos pelas autoridades judaicas de pregar o Evangelho, resolveram o assunto pela seguinte regra: “Julgai vós se é justo diante de DEUS...” (At 4.19). Essa é a regra mais alta do cristão em seus relacionamentos com outras pessoas. Isso, porém, não exclui a misericórdia, porque ela é o direito de todos os homens. A justiça sem misericórdia pode ser transformada em injustiça.
1.3. Em relação a DEUS — “piedosamente”. “O propósito principal do homem é glorificar a DEUS”, diz o catecismo. O mais alto relacionamento do homem é o que o liga a DEUS. Uma vida sem DEUS, por mais excelente que seja, é como uma pirâmide sem ápice, cujas linhas não se reuniram para apontar o Céu. O homem está em situação mais nobre quando adora ao Criador.
2. Negando as paixões mundanas. Nas Escrituras, a palavra “paixão” é empregada num sentido lato, referindo-se a desejos e inclinações de todos os tipos que nos prendem às coisas fugazes desta vida, achando a sua satisfação em coisas mundanas. Tais coisas, diz o apóstolo, precisam ser negadas. E por quê? Porque tomam posse da alma humana e precisam ser lançadas fora, para preparar lugar à piedade e desejos celestiais. O mau inquilino deve ser despejado para dar lugar ao bom inquilino. Existem aqueles que gostariam de ganhar ambos os mundos. Não pode ser feito assim. “Ninguém pode servir a dois senhores”. O inferior precisa ser sacrificado para se ganhar o superior. Não se trata apenas de religião correta - também é bom senso correto. Como expulsar o inferior? Assim como a seiva, ao subir nas árvores, empurra para fora as antigas folhas mortas, também o amor de CRISTO, entrando no coração, pode expulsar o mal. O coração não pode ser limpo com pá e carrinho — temos que desviar um rio para dentro dele. Quando a graça de DEUS inunda a alma, o mal é levado para longe.
3. A graça de DEUS eleva a natureza humana. Se a educação e o ensinamento da ética pudessem salvar o mundo, já há tempo ele teria sido salvo. Procurar curar os males do mundo mediante discursos sobre a retidão é como tentar extinguir um incêndio lendo para ele a lei contra incêndios. Precisamos do equipamento do corpo de bombeiros, e não de proclamações, para impedir sua ação devoradora. A natureza humana precisa de poder vindo de cima, para ser erguida a um nível mais alto. Esse poder é a graça de DEUS, que foi revelada mediante CRISTO.
4. A esperança feliz. A vinda do Senhor trará terror para os ímpios, mas para a Igreja - lutando contra o mundo, a carne e o diabo - significará a feliz libertação. E uma bendita esperança feliz. O que nos dá o direito de ter expectação da vinda de CRISTO? É que a graça salvadora de DEUS já se manifestou. E como estaremos prontos para a sua vinda, de tal maneira que seja de fato uma bendita esperança? Educando-nos na graça, aprendendo a negar a nós mesmos e vivendo uma vida piedosa. Esse mundo não é nenhum amigo da graça, e precisamos de toda a ajuda e incentivo à santidade. Que inspiração para uma vida santa é sabermos que um dia seremos como Ele! (1 Jo 3.1-3). É uma esperança que nos encoraja também. A esperança é como o sol: enquanto viajamos na sua direção, é lançada para trás de nós a sombra do nosso fardo.
5. Veja o seu pecado, e veja o seu Salvador. “O qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda a iniquidade”. Uma razão para a rejeição da obra expiadora de CRISTO são as noções pouco profundas acerca do pecado. Se uma pessoa pensa que não tem iniquidade, imagina que não precisa de um Salvador. E como se alguém pusesse papel de parede bonito na sua cela de prisão e se imaginasse livre por isso. São como os judeus nos dias de JESUS, dizendo: “Somos descendência de Abraão e nunca servimos a ninguém” (Jo 8.32-34). Mesmo não estando em escravidão a outros homens, são escravos de profundos desejos e tendências que, escondendo-se como tigres na floresta, estão prontos a pular sobre eles a qualquer momento. Quando alguém sabe o que é o pecado e a culpa; quando ouve a voz de uma consciência que acusa, então está pronto a escutar a mensagem de João Batista: “Eis o Cordeiro de DEUS, que tira os pecados do mundo”.
6. “Zeloso de boas obras”. Se zelo fosse analisado, três elementos seriam descobertos: primeiro, o reconhecimento de alguma verdade, pessoa ou causa; segundo, um sentimento emocional; terceiro, o sentimento de que somos constrangidos a dar tudo para a promoção daquela verdade, pessoa ou causa. Há aqueles que se queixam de que o zelo estreita as mentes das pessoas... Para furar uma prancha grossa, precisamos de um instrumento com uma ponta fina. Alguém disse: “O mundo nunca chega a ver verdade alguma, a não ser que seja martelada para dentro da sua cabeça por algum homem que não veja outras verdades”. O zelo fogoso dos cristãos tem sido denunciado como fanatismo. Mas ura ferro em brasa rapidamente furará uma prancha; e o zelo caloroso comoverá os corações mais rapidamente do que o frio raciocínio. O mundo é movido mais pelo coração do que pela razão. Como podemos adquirir zelo? Realmente crendo em tudo o que se inclui no Evangelho. Se realmente cremos que DEUS foi manifesto na carne (1 Tm 3.16), na pessoa de JESUS CRISTO para a salvação dos homens, não podemos ficar frios. Uma boa receita para se produzir zelo se acha em Salmos 39.3: “Incendeu-se dentro de mim o meu coração; enquanto eu meditava se acendeu um fogo: então falei com a minha língua”. Fervor artificialmente produzido pode produzir zelo sem entendimento; a meditação com oração sobre as verdades do Evangelho produzirá um zelo profundo, puro e duradouro.
7. “A ninguém infamem”. Ficamos horrorizados ao ouvir falar em assassinatos. Seria bom se sentíssemos igual horror acerca das reputações e dos bons nomes destruídos por mexericos maliciosos. Aquele que mandou: “Não matarás” também mandou: “Não darás falso testemunho contra o teu próximo”. Como se viola o nono mandamento? Pela calúnia - isto é, imputar ao caráter do outro algo sobre o qual é inocente. Pela maledicência, que é revelar aos outros alguma falha ou pecado do próximo que pode ser real. Pela difamação — atribuindo a outros, na sua ausência, falhas das quais o difamador sabe que é inocente. Se temos que falar sobre uma ofensa, falemos com a própria pessoa envolvida ou sussurremos o assunto a DEUS.
8. “Ninguém te despreze’’. Essas palavras se aplicam primariamente ao ministério. Quando é que as pessoas desprezam um ministro? Quando não há concordância entre a sua vida e a sua doutrina; quando prega como se não acreditasse na mensagem e quando é evidente que não deu muito trabalho para prepará-la; quando parece que quer engrandecer-se e quando é evidente que há nele outra motivação que não seja a glória de DEUS. Essas palavras também se aplicam a todos os cristãos, conclamando-os a viver de tal maneira que ganhem o respeito dos outros. O que acontece quando pessoas nos desprezam ao fazermos o bem? Fazem mal a si mesmas, e não a nós. Alguém pode nos oferecer uma garrafa de uísque, mas não precisamos tomá-la. Outros podem nos oferecer ofensas, mas não precisamos digeri-las. Geralmente, se vivemos vidas consistentes como filhos de DEUS, seremos respeitados. 9. “Não entres em questões loucas’’. Certo homem disse, após muito tempo gasto na especulação no livro do Apocalipse: “Não entendo bem estas sete trombetas, e você?” “Não”, foi a resposta, “mas se você desse mais atenção aos seus sete filhos e menos às sete trombetas, solucionaria mais os seus verdadeiros problemas”. Não é erro nenhum pesquisar profundamente as Escrituras, mas por que passar tempo em especulação de mistérios quando o mundo está caminhando para a destruição? Assim como quando se queima matéria úmida não conseguimos ver as chamas por causa da fumaça, também a luz das Escrituras é obscurecida pelos vapores das controvérsias.
 

23- O SERVO INÚTIL SE TORNA ÚTIL
Texto: Filemom
 
Introdução
Durante a sua longa estada em Éfeso (At 19.10), Paulo conheceu um colossense chamado Filemom, que juntamente com a sua esposa se convertera ao Cristianismo. Parece que ocupavam uma posição de destaque e que emprestavam a sua casa como lugar de reunião para a pequena comunidade cristã. Nesse lar, havia um escravo chamado Onésimo. Seu nome quer dizer, literalmente, “proveitoso” ou “útil”, mas não viveu à altura do seu nome, porque fugiu de seu senhor, ainda, talvez, lhe furtando algum dinheiro. Finalmente atingiu “o esgoto comum de toda a miséria e vício do mundo antigo”, a cidade de Roma. Como o filho pródigo, logo gastou o que levava consigo naqueles locais promíscuos, acessíveis a escravos fugitivos. Chegou o dia em que se achou sem dinheiro e sem amigos, um escravo sem valor, por quem ninguém se interessava. Para a maioria desses fugitivos, não havia meios de ganhar a vida a não ser com vício e crime. A não ser que o escravo se transformasse em pugilista ou ladrão profissional, ou se entregasse a ser escravo de outra pessoa, parecia não haver a possibilidade do ganha-pão. Quanto ao voltar ao seu senhor, o pensamento o aterrorizava. O homem mais bondoso em nada transgrediria os costumes do dia se ferreteasse o escravo ou o mandasse trabalhar em cadeias numa prisão horrível para escravos, torturando-o, ou revendendo-o para algum senhor especialmente cruel. Não nos é dito sob que circunstâncias houve um encontro entre o escravo e o apóstolo. Pode ser que, em algum lugar onde soldados se reuniam, os ouviu falando sobre um pregador judeu chamado Paulo, cujas palavras tinham tremendo efeito sobre quem as ouvia. O coração do escravo deve ter ficado cheio de alegria, porque talvez tenha ouvido Paulo pregar quando seu senhor viajava para Éfeso. Uma coisa sabemos: Onésimo descobriu onde ficava Paulo, e o apóstolo o recebeu com bondade e simpatia. Onésimo se tornou um cristão. Sua atitude era tal que o apóstolo gostou especialmente dele, e progrediu tanto que até teria gostado de conservá-lo como um ajudante. Sentia, porém, que seu dever era enviar o fugitivo de volta ao seu senhor legítimo. Podemos imaginar Onésimo com medo dos terríveis castigos que tradicionalmente se aplicavam aos escravos fugitivos. Paulo, por certo, respondeu: “Não tenha medo. Eu sou seu amigo e amigo do seu senhor. Sou seu pai espiritual e pai espiritual do seu senhor. Vou interceder, e Filemom vai lhe tratar bem por amor a mim” . E assim foi que o apóstolo escreveu o que tem sido chamado “a epístola cortês”. Nessa carta, percebemos a delicadeza e cortesia de Paulo, e observamos quanto tato, dignidade e graça o apóstolo aplicava ao pedir um favor. A intercessão de Paulo revela:  
I - Ternura (vv. 8,9)
Após honesto e afetuoso louvor a Filemom, Paulo chega ao assunto principal da carta. “Pelo que, ainda que tenha em CRISTO grande confiança para te mandar o que te convém, todavia, peço-te, antes, por caridade, sendo eu tal como sou, Paulo, o velho e também agora prisioneiro de JESUS CRISTO”. Provavelmente antecipava que Filemom ficaria, com toda a razão, zangado com a conduta do escravo, e por isso começa a sua intercessão com terna persuasão e tato.
1. Pede como favor aquilo que poderia ordenar como direito. Paulo poderia empregar a sua autoridade como apóstolo de CRISTO e ordenar que Onésimo fosse recebido e perdoado. No entanto, despoja-se dos seus direitos e apela à afeição pessoal que Filemom tem para com ele. Por estranho que pareça, a melhor maneira de exercer a autoridade é não a exercer. O melhor líder é aquele que pode inspirar e persuadir outros pelo respeito e afeição a sua própria pessoa. O tato de Paulo em se despojar dos seus direitos é para que Filemom pudesse fazer o mesmo, recebendo bem o escravo.
2. Paulo apela à compaixão de Filemom. Como se dissesse: “Filemom, este apelo vem de quem envelheceu no serviço do Senhor [Paulo talvez tivesse sessenta anos], de alguém que está na prisão por amor ao Evangelho”. Foi um poderoso apelo a um dever primário: reverência para com os idosos. Nota-se que, a cada passo, Paulo torna sempre mais difícil para Filemom recusar o seu pedido.
II - Estilo Específico (vv. 8-12)
O apóstolo toma o escravo pela mão, por assim dizer, e pede que Filemom o receba de volta, por três motivos:
1. É um convertido de Paulo. “Meu filho [espiritual] Onésimo, que gerei [cf. G1 4.19] nas minhas prisões”. Noutras palavras: “Levei o seu escravo a CRISTO”. 
2. Onésimo tinha mudado de caráter. Onésimo, o escravo, já estava à altura do seu nome! (“proveitoso”). Agora o jovem é útil de nome e de caráter. Aqui temos uma ilustração do poder do Cristianismo — levava escravos, transformava-os em filhos do DEUS vivo e fazia com que se sentissem de grande valor diante de DEUS. Leia Mateus 18.10-14. 
3. Onésimo é muito querido para Paulo. “E tu torna a recebê-lo como ao meu coração”. Paulo pede que Onésimo seja recebido como se fosse o seu próprio filho. Essa carta nos ajuda a conhecer a natureza afetuosa de Paulo. Ele amava as pessoas.
III - Cortesia (vv. 13,14)
1. Cortesia. Paulo tinha tanto afeto por Onésimo, que teria gostado de retê-lo como ajudante e companheiro; mas não faria isso sem o consentimento de Filemom; não queria tirar vantagem da amizade que Filemom sentia por ele. Paulo não gostava de se impor sobre os seus amigos.
2. Tato. As palavras contêm uma sugestão delicada: “Se Onésimo é apropriado para servir a Paulo, não pode ser proveitoso a você também?”
3. Sabedoria. Paulo foi sábio em m andar o escravo de volta para o seu senhor: primeiro, era ilegal receber ou deter escravos fugitivos — os descrentes poderiam ter levantado a acusação de que o Cristianismo encorajava os escravos a fugir dos seus senhores; segundo, era correto que Onésimo voltasse a fim de pessoalmente convencer Filemom de que a sua conversão era genuína que não se tornara cristão para se afastar do seu legítimo senhor; terceiro, Onésimo era propriedade legal de Filem om , e Paulo, que pregava a retidão e a honestidade, queria exemplificá-las. Sabia que mesmo que obtivesse a permissão de Filem om para reter o escravo, o inimigo teria sussurrado no ouvido do dono: “Aquele pregador é muito vivo com suas frases suaves: conseguiu obter seu escravo com um pouco de conversa!”
IV - Coragem (vv. 15-20)
1. A fé de Paulo. Nos versos 15 e 16, Paulo explica que certamente foi errado o que o escravo fez; mas quem sabe foi uma daquelas coisas que cooperam para o bem? Talvez tudo fizesse parte do plano de DEUS para trazer Onésimo a CRISTO, a fim de que voltasse a Filemom, não como escravo, mas como irmão em CRISTO. Paulo não pediu a emancipação de Onésimo, porque a escravidão era uma instituição legal e estabelecida havia muito tempo. Qual verdade, porém, é sugerida no verso 16, que é absolutamente inconsistente com a escravidão e que finalmente aboliu essa instituição? Paulo deu alguma indicação de que o escravo deveria ser libertado? (ver v. 21). A tradição declara que Onésimo recebeu a sua libertação e mais tarde veio a ser bispo da igreja de Beréia.
2. O pedido de Paulo. “Assim, pois, se me tens por companheiro”. Tendo tornado quase impossível a Filemom recusar o pedido, Paulo fala com firmeza e apela ao senso de companheirismo de Filemom. Depois, identificando-se com o escravo, acrescenta: “Recebe-o, como a mim mesmo”. Temos aqui um tipo de identificação de CRISTO com os seus discípulos: “Quem vos recebe a mim me recebe” (Mt 10.40). Que bela ilustração da identificação de CRISTO com o pecador! CRISTO é sempre aceitável ao Pai, e em prol do arrependido diz: “Recebe-o, como a mim mesmo”. Assim somos aceitos no Amado, e DEUS nos recebe “por amor a CRISTO”.
3. A garantia de Paulo. É provável que Onésimo tivesse furtado algo do seu mestre. Não tendo dinheiro, não poderia fazer restituição, e, sendo um escravo, nenhuma corte o aceitaria como devedor normal, com respeito ao seu senhor. Paulo, portanto, se oferece para fazer a restituição: “E, se te fez algum dano ou te deve alguma coisa, põe isso na minha conta”. Neste verso, Paulo toma a pena da mão do seu secretário (cf. Rm 16.22), tomando sobre si, de modo legal, o pagamento da dívida. Note também a delicada indicação: “Para te não dizer que ainda mesmo a ti próprio a mim te deves”. Noutras palavras: “Poderia dizer que é você que me deve algo, uma dívida enorme que é a ajuda pela qual você foi levado da escuridão espiritual para o Reino de DEUS. Mas não vou falar assim”. Depois, mais uma vez, o apóstolo pleiteia o favor pessoal: “Sim, irmão, eu me regozijarei de ti no Senhor, reanima o meu coração, no Senhor”.
V - Ensinamentos Práticos
1. A salvaguarda e a limitação da autoridade (v. 8). Paulo, com toda a justiça, dá a entender que tem o direito de dar ordens a Filemom . Limita seu direito pela autoridade “em CRISTO”, ou seja, no espírito de CRISTO. Se alguém exerce autoridade “em CRISTO” , tem o direito à obediência. Mas sendo “em CRISTO” o seu direito, tom ará muito cuidado para não abusar ou oprimir o povo de DEUS. Nossos direitos sobre as pessoas devem ser exercidos em CRISTO - de acordo com o seu espírito, com a sua justiça e com o seu amor. Nossos relacionamentos uns com os outros devem ser regulados e limitados por nosso mútuo relacionamento com CRISTO.
2. Em nome do amor (v. 9). O amor é o maior motivo para a ação nobre. A autoridade transforma-se em um a arma grosseira na mão de um homem fraco, que duvida do seu poder de influenciar pessoas, ou de um homem egoísta, que não se interessa em ganhar corações, na condição de poder possuir a obediência mecânica. O homem verdadeiramente forte, porém , é aquele que pode deixar de lado a sua autoridade e apelar ao amor e à lealdade. Tal pessoa é sábia, porque sabe que o amor produz resultados quando nada m ais funciona. Foi a essa motivação que JESUS CRISTO apelou: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”.
3. “Vós sois todos um em CRISTO JESUS”. “Meu filho Onésimo” . Com que ternura Paulo fala desse escravo! Que testem unho à realidade do vínculo que liga os nossos corações em amor cristão! Paulo é um apóstolo honrado; Filem om era um homem de posses; Onésimo era um pobre escravo sem posição; todos, porém , são um em CRISTO. O Cristianismo reconhece o fato das distinções sociais, mas revoga a tirania e o aspecto ofensivo delas na vida da igreja. Os relacionamentos espirituais são de importância soberana.
4. Em algemas, porém livre. “Onésimo, que gerei nas minhas prisões”. Paulo, embora na prisão, não estava inativo. Escrevia, pregava, recebia visitas e levava pessoas à salvação. Os servos de DEUS podem estar algemados, mas o seu espírito e a sua palavra estão livres. O cativeiro pode até libertar a influência de uma pessoa. Foi na prisão que Bunyan escreveu O Peregrino. Sem dúvida, Paulo considerava que a conversão de Onésimo mais do que compensava o fato de estar ele preso. Lembrando-nos de que todas as coisas concorrem para o bem, teremos uma atitude diferente para com as nossas dificuldades, e muitas vezes as transformaremos em triunfos.
5. CRISTO transforma caracteres. Onésimo era um escravo frígio. Nenhuma classe era tão degradada como a dos escravos, e nenhum escravo era tão desvalorizado como um escravo frígio. Mas agora Paulo escreveu que Onésimo se tornara proveitoso. Que testemunho ao poder transformador do Evangelho! Ele desconhece qualquer caso desesperador, porque é o poder de DEUS para a salvação. CRISTO veio do Céu para refazer os corações dos homens e dar-lhes uma nova natureza, novos motivos, novas ambições. “Eis que faço novas todas as coisas”.
6. Humor sério. No verso 11, temos um jogo de palavras. Paulo diz com humor: “Aquele que era inútil, apesar do seu nome querer dizer útil, agora vive à altura do seu nome”. Um senso de humor transforma muitas situações. Devemos ter dó de quem nunca tem uma risada na voz. Vale a pena não ser sombrio demais no caminho pelo mundo.
7. Resumindo deveres negligenciados. Vemos um escravo fugitivo, que furtara de seu senhor, voltando sem saber como seria recebido. Sendo agora um cristão, Onésimo sabia que era o seu dever voltar, e agiu à altura da sua convicção. Uma das evidências da graça no coração é a volta ao dever do qual fugimos. Depois de sofrermos as conseqüências de fugir do nosso dever, obrigamo-nos a voltar aos deveres negligenciados. Essa verdade se ilustra na história de Jonas.
8. O dever antes do prazer. Nos versos 13 e 14, tem os um a ilustração do desejo conquistado pela vontade. Paulo bem que queria guardar Onésimo consigo, mas resolveu fazer a coisa certa, m andando-o de volta ao seu senhor. Ser leal a DEUS pode, às vezes, exigir de nós que resolvam os fazer aquilo que não desejam os e, pela força da vontade, o que não é a nossa inclinação.
9. Não de obrigação, mas de livre vontade (v. 14). Essas palavras resumem o princípio que deve inspirar o serviço cristão. O serviço que agrada a DEUS é o feliz e livre, a expressão espontânea do coração. Certo comentarista quis concluir dessas palavras de Paulo o seguinte: “Nada na ação moral é bom se não é voluntário”. Há momentos em que é necessário orar: “Senhor, disponha-me a ser disposto”.
10. A modéstia é melhor do que o dogmatismo. Paulo sugere que a providência de DEUS pode ser vista na fuga de Onésimo. Diz “acredito ” . O apóstolo não fala dogmaticamente, como se soubesse tudo nos conselhos do Onipotente. Sua humildade é um exemplo para nós. Os que são sábios são modestos em suas asseverações e não entram em declarações dogmáticas que depois terão que negar. Por mais modéstia que Paulo usasse ao aplicar a doutrina na situação específica, não há dúvida acerca do fato de que DEUS pode transformar, na sua soberania, o mal em bem e utilizar os fracassos humanos para levá-los finalmente à bênção.
11. Nova inspiração para antigas tarefas. Embora agora seja um filho de DEUS, Onésimo não é isento do dever de voltar à sua posição anterior de servo. Haverá, porém, a seguinte diferença: ele terá uma nova atitude para com a vida e um cântico em seu coração, enquanto cumpre os seus deveres. Assim aprendemos que a salvação não incapacita os homens para os seus deveres na vida, mas os ajuda a cumprir suas tarefas com uma nova motivação e um novo espírito.
12. Cooperação. “Assim, pois, se me tens por companheiro”. Quanto poder a igreja teria se os cristãos deixassem de lado as suas rivalidades e invejas, e todos se considerassem companheiros na obra do Evangelho! Unidos, ficamos de pé; divididos, caímos.
13. Restituição. Paulo se oferece (v. 18) para fazer restituição por qualquer perda incorrida por Filemom nos seus atos maus. Assim reconhece que a conversão não libertou Onésimo das suas obrigações. A conversão é motivo forte para pagar as dívidas, guardar as promessas, ser diligente nas suas ocupações e fazer restituição para quaisquer maus atos praticados antes.
14. “Reanima o meu coração no Senhor” (v. 20). Essa é a oração silenciosa de muitos irmãos e irmãs passando por provas. Uma palavra de bondade, um aperto amistoso de mão, um olhar de simpatia e apreciação — todas estas coisas são como correntes de água num deserto. Como podemos reanimar outras pessoas? “Em CRISTO”. CRISTO é aquela fonte de amor de onde tiramos água para refrescar os demais.
 

EPÍSTOLAS ESPÚRIAS
Entre os escritos apócrifos do NT, há um pequeno número de epístolas imitando aquelas encontradas no cânon do NT, mas que não competem em importância com outros tipos de literatura apócrifa. As sete epístolas mais importantes são a Epístola dos Apóstolos, Epístolas de CRISTO e Abgarus, Epístola aos Laodicenses, Terceira Epístola aos Coríntios, Epístola de Lentulus, Epístola de Paulo e Sêneca, e a Epístola Apócrifa de Tito.
Na Epístola dos Apóstolos, 11 apóstolos (é feita uma distinção entre Pedro e Cefas!) supostamente se dirigem às “igrejas do oriente e do ocidente, do norte e do sul” e dão um resumo da vida e ressurreição de JESUS. A obra termina com um apocalipse do Senhor ressurrecto com relação ao futuro.
As Epístolas de CRISTO e Abgarus, encontradas por Eusébio (Ecclesiasticat History, I, 13), contêm uma carta endereçada a CRISTO por Abgarus, rei de Edessa, pedindo-lhe para vir e curar o rei, e compartilhar seu reino. CRISTO escreveu uma resposta na qual recusou o convite, mas prometeu enviar um apóstolo após sua ascensão. Tadeu foi enviado, curou o rei e fundou a igreja edesseana.
Tanto a Epístola aos Laodicenses quanto a Terceira Epístola aos Coríntios foram sugeridas por referências encontradas nas cartas de Paulo (Cl 4.16; 1 Co 5.9). Ambas tiveram uma circulação bastante grande no período medieval, embora tenham sido rejeitadas pelos antigos estudiosos. A epístola laodiceana contém 20 versículos copiados das cartas genuínas de Paulo. Esta provavelmente não é a mesma epístola mencionada no Fragmento Muratoriano. A Epístola Apócrifa de Tito é uma descoberta recente.
A Epístola de Lentulus, endereçada ao senado romano, fornece uma descrição física de JESUS extraída de pinturas medievais, embora reivindique ser de autoria de Lentulus, um oficial romano na Judéia no século I.
As Epístolas de Paulo e Sêneca são 14 breves cartas pessoais nas quais Paulo e Sêneca são representados como admiradores um do outro, e Sêneca elogia a inspiração de Paulo.
F. P.
 

COMENTÁRIOS - SERIE Comentário Bíblico Epístolas Paulinas
ATRAVÉS DA BÍBLIA, LIVRO POR LIVRO
Myer Pearlman - Epístolas Gerais

CAPÍTULO XX
EPÍSTOLA AOS HEBREUS
Tema. A epístola aos hebreus foi escrita, como indica o nome, particularmente aos judeus crentes, embora tenha um valor permanente e uma aplicação contínua para todos os crentes em todas as épocas. A leitura da epístola revelará o fato de que a maior parte dos hebreus cristãos, ao qual se dirige o autor, estava em perigo de afastar-se da fé. Comparado com a nação inteira, era um pequeno grupo de pouca importância, considerado pelos seus patrícios como traidores e objetos da sua suspeita e ódio. Sentiam a sua isolação, separados do resto da nação. Uma grande perseguição ameaçava-os. Oprimidos pelas tribulações presentes e pelo pensamento de adversidades futuras, cederam ao desânimo. Eles ficavam atrás no progresso espiritual (5:11-14); muitos estavam negligenciando o culto (10. 24, 25); muitos, cansados de andar pela fé, estavam olhando para o magnífico templo de Jerusalém, com os seus sacrifícios e ritos imponentes. Havia a tentação de abandonar o cristianismo e voltar ao judaísmo. Para impedir esta apostasia, foi escrita esta epístola, cujo propósito principal é mostrar a relação do sistema de Moisés com o cristianismo, e o caráter simbólico e transitório do primeiro. O escritor, antes de tudo, expõe a superioridade de JESUS CRISTO sobre todos os mediadores do Velho Testamento e mostra a superioridade do Novo Pacto sobre o Antigo, como a superioridade da substância sobre a sombra, do antítipo sobre o tipo e da reali­dade sobre o símbolo. Estes crentes estavam perplexos e desanimados pelas múltiplas tentações e pelo fato de terem que andar pela fé, no meio de adversidades, pela mera Palavra de DEUS, sem nenhum apoio e consolo visíveis. O autor da epístola prova-lhes que os heróis do Velho Testamento passaram por experiências semelhantes, andando pela fé, confiando na palavra de DEUS, apesar de todas as circunstâncias adversas e até enfrentando a morte (cap. 11). Assim, os crentes, como os seus antepassados, “hão de sofrer como vendo Aquele que é invisível”. O tema pode resumir-se da seguinte maneira : a religião de JESUS CRISTO é superior ao judaísmo, porque tem um pacto melhor, um sumo sacerdote melhor, um sacrifício e um Tabernáculo melhores.
 
AUTOR. Não há outro livro do Novo Testamento cuja autoria seja mais disputada, nem cuja inspiração seja mais incontestável. O próprio livro é anônimo. Por causa da diferença de estilo, comparado com os outros escritos de Paulo, muitos eruditos ortodoxos negam que fosse ele quem o escreveu. Tertuliano, no terceiro século, declarou que Barnabé foi o autor. Lutero sugeriu que fosse Apoio. “Finalmente, podemos dizer que, apesar das dúvidas mencionadas, não é necessário termos escrúpulos em falar desta parte da Escritura como a Epístola de Paulo, o apóstolo dos Hebreus”. Quer fosse escrita por Barnabé, por Lucas, por Clemente ou por Apoio, ela representa as idéias e está impregnada pela influência do grande apóstolo, cujos discípulos podem até serem chamados os maiores homens apostólicos. Por meio dos escritos deles, não menos que pelos seus, próprios, Paulo, embora morto, ainda fala”. — Conybeare e Howson — “Vida e Epístolas de São Paulo”.
 
PORQUE FOI ESCRITA. Para reprimir a apostasia dos judeus cristãos que tinham a intenção de voltar ao judaísmo.
 
ONDE FOI ESCRITA. Evidentemente na Itália 13:24.
 
CONTEÚDO.
I. A Superioridade de JESUS aos Mediadores e Líderes do Velho Testamento (Caps. 1:1 a 8:6).
II. A Superioridade da Nova Aliança sobre a Velha. Caps. 8:7 a 10:18.
III. Exortações e Admoestações. Caps. 10:19 a 13: 25.
 
I. A SUPERIORIDADE DE JESUS AOS MEDIADORES E LÍDERES DO VELHO TESTAMENTO. Caps. 1:1 a 8:6. 
1. JESUS é superior aos profetas porque: a) Nos tempos passados as revelações de DEUS aos profetas eram parciais, e eram dadas em diferentes tempos e de diversas maneiras. V. 1. b) Mas nesta dispensação, DEUS deu uma revelação perfeita por meio de Seu Filho. Vers. 2, 3. 
2. JESUS é superior aos anjos (1:4-14), pelos seguintes motivos :
a) Nenhum anjo individualmente foi chamado Filho. V. 5. b) O Filho é o objeto da adoração dos anjos. V. 6. c) Enquanto os anjos servem, o Filho reina. Vers. 7-9. d) O Filho não é uma criatura, mas sim é o Criador. Vers. 10-12. e) A nenhum anjo foi prometida autoridade universal, sendo que eles devem servir. Vers. 13, 14. 
3. Exortação em vista das declarações anteriores (2:1-4). Se a desobediência à palavra dos anjos trouxe castigo, que não será a perda se a salvação anunciada pelo Senhor for negligenciada? 
4. JESUS foi exaltado sobre os anjos. Por que foi feito menos do que eles? (2:5-18). Pelos seguintes motivos:
a) Para que a natureza humana pudesse ser glorificada e para que o homem pudesse tomar o seu lugar outorgado por DEUS como governador do mundo vindouro. Vers. 5-8.
b) Para que pudesse cumprir o plano de DEUS morrendo por todos os homens. V. 9.
c) Para que o Salvador e os salvos pudessem estar unidos. Vers. 11-15.
d) Para que pudesse cumprir todas as condições de um sacerdote fiel. 2:16*18.
5. JESUS é maior do que Moisés (3:1-6), porque:
a) Moisés era apenas uma parte da casa de DEUS; JESUS é o Fundador dela. Vers. 2, 3.
 b) Moisés era apenas um servo; JESUS é o Filho. Vers. 5, 6. 
6. Exortação em vista destas declarações em Caps. 3:1-6 (3:7 a 4:5). O crente é membro duma casa espiritual presidida pelo Filho de DEUS. Mas cuide de não perder o privilégio, como muitos israelitas perderam, de entrar em Canaã por causa da sua infidelidade e desobediência. Embora esses israelitas experimentassem a salvação de Jeová junto ao Mar Vermelho, não entraram na Terra da Promissão. O pecado que o excluiu foi o de incredulidade — pecado, que, continuado, excluirá o crente judeu dos privilégios da sua herança.
7. JESUS é maior do que Josué. 4:6-13.
 a) Josué conduziu os israelitas ao repouso de Canaã, que foi somente um símbolo do repouso espiritual ao qual JESUS conduz os fiéis, Vers. 6-10.
b) Exortação em vista desta declaração (vers. 11-13). “Procuraremos, pois, entrar naquele repouso, a fim de que nenhum de nós, imitando a desobediência do antigo Israel, perca a segunda oportunidade. Porque a Palavra de DEUS, na qual baseio o meu argumento, não é uma coisa do passado nem algo casual para nós; é ainda viva e cheia de energia; é mais afiada do que uma espada de dois gumes. Essa pode penetrar somente na carne, mas esta atinge a linha divisória entre a vida animal e o espírito imortal; penetra nos recônditos mais profundos da nossa natureza; analisa as próprias emoções e propósitos da parte mais íntima do coração. Não há, portanto, nenhuma coisa criada, que possa escapar o Seu conhecimento; todas as coisas apresentam-se nuas e patentes aos olhos d’Aquele a Quem temos que dar conta”. Tradução do Dr. Way.
8. O sumo sacerdócio de JESUS. 4:14 a 5:
10. O fato do sacerdócio de JESUS (v. 14); os crentes hão de conservar a fé que possuem, porque não estão sem um fiel sacerdote, como seus irmãos não cristãos talvez queiram lhes sugerir. O seu sumo sacerdote, embora invisível, intercede sempre por eles.
b) As qualidades de JESUS como sacerdote:
1) Pode compadecer-se da fraqueza humana (4:14 a 5:1-3, 7-9), porque Ele mesmo, como os homens, sofreu a tentação e suportou o sofrimento, mas com esta diferença — não pecou. 2) Foi chamado por DEUS como o foi Arão. 5:4-6, 10. 
9. O autor interrompe o fio de seu pensamento, a fim de proferir uma palavra de repreensão, exortação, admoestação e animação :
a) Uma repreensão (5:11-14). Ele está discutindo um tema profundamente simbólico, concernente a Melquisedeque — mas teme que a falta de madureza espiritual deles torne difícil a explicação.
b) Uma exortação (6:1-3). Eles devem passar do estado elementar da doutrina cristã a alcançar o conhecimento maduro. A expressão “princípios da doutrina de CRISTO”, pode ter referência às doutrinas fundamentais do cristianismo nas quais os convertidos eram instruídos antes do batismo.
c) Um aviso (6:6-8). O aviso contido nestes versículos dirige-se contra a apostasia, que é uma rejeição voluntária das verdades do Evangelho por aqueles que já tinham experimentado o seu poder. A verdadeira natureza do pecado mencionado nestes versículos, compreende-se melhor, ao lembrar-se a quem se dirigem e qual a relação especial entre a nação judaica e CRISTO. Os judeus do tempo do autor dividem-se em duas classes com relação à sua atitude para com CRISTO.
1) aqueles que O aceitaram como Filho de DEUS e;
2) aqueles que O rejeitaram, considerando-o um impostor e blasfemo. O judeu cristão que deixasse o cristianismo e voltasse ao judaísmo, testificaria por este ato que CRISTO, segundo a sua opinião, não é o Filho de DEUS, mas sim um falso profeta que merecia a crucificação, e assim ficaria ao lado daqueles que foram os responsáveis pela Sua morte. Antes da sua conversão, o mesmo judeu cristão participava, num certo sentido, da culpa da sua nação em crucificar CRISTO. Abandoná-lo e voltar ao judaísmo, seria rejeitar o Filho de DEUS pela segunda vez.
d) Um estímulo (vers. 9-20). Apesar deste aviso, o autor tem confiança que os crentes não se afastarão da fé (v. 9). Eram sinceros no desempenho de boas obras (v. 10); deseja que mostrem a mesma sinceridade para alcançar a esperança da sua herança espiritual (v. 11). Nisto, hão de ser seguidores daqueles que por meio da fé e paciência alcançaram a realização da sua esperança — por exemplo : Abraão (vers. 12, 13). A esperança do cristão é segura, uma âncora para a alma, que o segura firmemente num porto celestial (vers. 19, 20). É uma esperança certa, porque é fundada em duas coisas imutáveis : a promessa e o juramento de DEUS (vers. 13-18).
10. O sacerdócio de CRISTO (simbolizado pelo de Melquisedeque) é superior ao de Arão. 7:1 a 8:6. Melquisedeque é mencionado nesta conexão, como símbolo de CRISTO. O autor usa um modo judaico de ilustração. Toma um fato espiritual, como este, e demonstra o seu valor típico. Melquisedeque é um símbolo de CRISTO nas seguintes maneiras :
a) Devido ao significado do seu nome “Rei de Paz”. V. 2.
b) O seu sacerdócio não era hereditário. Exigia-se que os sacerdotes judaicos provassem a sua genealogia antes de serem admitidos ao ofício. Esdras 2: 61-63. Embora sendo sacerdote, não há um registro da genealogia de Melquisedeque e a isto refere-se a expressão “sem pai”, “sem mãe” (v. 3). Neste sentido, é um símbolo que não tinha uma genealogia sacerdotal. Heb. 7:14.
c) O fato de não haver registro de seu nascimento nem da sua morte, é característico da natureza eterna do. sacerdócio de CRISTO. A isto refere-se a expressão “que não tem princípio de dias nem fim de vida”. V. 3.
11. O sacerdócio de CRISTO, simbolizado por Melquisedeque, é superior ao de Arão, como é provado pelos seguintes fatos :
a) Levi, estando ainda, por assim dizer, nos lombos de Abraão, pagou os dízimos a Melquisedeque. 7:4-10.
b) A madureza espiritual não era atingível pelo sacerdócio de Arão e pela aliança da qual era mediador. Isto é testificado pelo fato de ter surgido uma outra ordem de sacerdócio — a ordem de Melquisedeque. Esta alteração de sacerdócio implica em uma alteração da Lei. A alteração foi efetuada por causa da incapacidade da Lei de Moisés em proporcionar madureza espiritual. (Comp. Rom. 8:1-4).
c) Contrário ao sacerdócio de Arão, o sacerdócio de Melquisedeque foi instituído com um juramento (V. 20-22). Um juramento de DEUS, acompanhando qualquer declaração, é uma prova de imutabilidade.
d) O ministério dos sacerdotes da ordem de Arão terminava com a morte; mas CRISTO, tem um sacerdócio eterno e imutável, porque Ele vive para sempre (vers. 23-25).
e) Os sacerdotes de Arão ofereciam sacrifícios cada dia; CRISTO ofereceu um sacrifício eternamente eficaz. 7:26-28.
f) Os sacerdotes de Arão serviam num Tabernáculo que era somente o símbolo terrestre do tabernáculo no qual CRISTO ministra. 8:1-5.
g) CRISTO é o mediador duma aliança melhor. 8:6.
II. A SUPERIORIDADE DA NOVA ALIANÇA À ANTIGA. Caps. 8:7 a 10:18. Esta superioridade manifesta-se das seguintes maneiras :
1. A Antiga Aliança era somente provisória (8:7- 13). Este fato é testificado pelas Escrituras do Antigo Testamento, as quais ensinam que DEUS fará uma nova aliança com o Seu povo.
2. As ordenanças e o santuário da Antiga Aliança eram simplesmente tipos e sombras que não proporcionavam a união perfeita com DEUS. 9:1-10.
3. Mas CRISTO, o verdadeiro sacerdote do santuário celestial — por um sacrifício perfeito — a Sua própria Pessoa, proveu redenção eterna e a perfeita comunhão com DEUS. Vers. 11-15.
4. A Nova Aliança foi selada com melhor sangue do que o dos bezerros e dos bodes — o sangue de JESUS Vers. 16-24.
 5. O único sacrifício da Nova Aliança é melhor do que os muitos sacrifícios da Velha. 9:25 a 10:18.
III. EXORTAÇÕES E ADMOESTAÇÕES. Caps. 10:19 a 13:25.
1. Uma exortação à fidelidade e à constância em vista do fato de terem acesso seguro a DEUS por meio de um fiel sumo sacerdote. 10:19-25.
2. Uma admoestação contra a apostasia (vers. 26- 31 Comp. 6:4-8). Aqueles que abandonam a CRISTO como o sacrifício pelos seus pecados, não devem pensar que possam encontrar um outro sacrifício no judaísmo. Rejeitá-lo, consciente e voluntariamente, significa repelir o sacrifício que os protege contra a terrível indignação de DEUS. Sugere um erudito, que se pode deduzir do versículo 29 as seguintes condições à readmissão às sinagogas, de judeus apóstatas do cristianismo :
1) — que negassem que JESUS fosse o filho de DEUS;
2) — que declarassem que Seu sangue fora justamente derramado como o de um malfeitor;-
3) — que atribuíssem — como fizeram os fariseus — os dons do ESPÍRITO à operação de demônios.
3. Uma exortação à paciência em vista da recompensa prometida. Vers. 32-36.
4. Uma exortação a andar pela fé (10:37 a 12:1-4). Nesta seção o propósito do autor é demonstrar que nos séculos passados os amados por DEUS foram os que andaram pela fé e que confiaram n’Êle apesar de todas as circunstâncias difíceis.
a) A fé recomendada. 10:37-39.
b) A fé descrita (11:1-3). A fé é aquilo que faz o crente confiar em que os objetos da sua esperança sejam reais e não imaginários. Manifesta-se, como mostra o caso dos santos no Antigo Testamento, por meio de uma obediência implícita e uma confiança em DEUS, apesar das aparências e circunstâncias adversas.
c) A fé conquistando por meio de DEUS (vers. 32-36).
d) A fé sofrendo por DEUS. Vers. 37-40. e) O exemplo supremo da fé — o Senhor JESUS, que deu o primeiro impulso à nossa fé e que a conduzirá à sua madureza final. 12:1-4. 5. Uma exortação à obediência escrupulosa por causa da sua vocação celestial (12:18-24), e por causa de seu Chefe celestial (vers. 25-29).
6. Exortações finais. 13:1-37.
a) A uma vida santificada (vers. 1-7).
 b) A uma vida firme. (vers. 8, 9).
 c) A uma vida separada (vers. 10-16. A tradução do Dr. Way esclarece os versículos 10-14 : “Tais restrições (v. 9), referentes às carnes puras e impuras, não se aplicam a nós; já temos um altar de sacrifício do qual nós participamos. Mas, aqueles que ainda aderem ao serviço do templo invalidado são desqualificados de participar dele. Digo isto, porque, quando foi levado ao lugar Santíssimo, pelos sumos sacerdotes, o sangue das vítimas mortas como ofertas pelo pecado, no Dia da Expiação, os corpos dessas vítimas não podiam ser comidos pelos adoradores, como outros sacrifícios, mas foram queimados fora do arraial. Por este motivo, JESUS sofreu fora da porta, para poder consagrar o povo de DEUS, pelo Seu próprio sangue, simbolizando o fato de que aqueles que permanecem no judaísmo, não participam d’Êle. Nós, que O aceitamos, temos que ir ao Seu encontro fora dos limites do judaísmo, e sofrer os insultos amontoados sobre Êle. Não estaremos sem lar; temos uma cidade permanente, mas não aqui. Aspiramos àquela que está para vir”.
d) Para a vida de submissão, v. 17.
7. Conclusão. Vers. 18-25.
 
 
C A P Í T U L O XXI
EPISTOLAS GERAIS
Estas epístolas chamam-se gerais, porque são diferentes das Epístolas paulinas, não se dirigindo a nenhuma igreja em particular, mas sim aos crentes em geral. Duas delas (Segunda e Terceira João) dirigem-se a indivíduos particulares.
 
 
EPÍSTOLA DE TIAGO
Tema. A epístola de Tiago é o livro prático do Novo Testamento, como “Provérbios” o é do Antigo. De fato, tem uma semelhança notável com o livro ultimamente mencionado, por causa das suas declarações francas e concisas de verdades morais. Contém muito poucas instruções doutrinárias; o seu propósito principal é pôr em relevo o aspecto religioso da verdade. Tiago escreveu a uma certa classe de Judeus cristãos na qual se manifestava uma tendência de separar a fé das obras. Pretendiam ter a fé, mas existia entre eles impaciência sob provação, contendas, respeitos humanos, difamações e mundanismo. Tiago explica que uma fé que não produz santidade de vida é coisa morta, meramente um consentimento a uma doutrina, que não vai além do intelecto. Salienta a necessidade de uma fé viva e eficaz para obter a perfeição cristã, e refere-se ao simples Sermão da Montanha que exige verdadeiros atos de vida cristã. “Há aqueles que falam da santidade e são hipócritas; aqueles que professem o amor perfeito, mas que não vivem em paz com os irmãos; aqueles que ostentam muita fraseologia religiosa, mas fracassam na filantropia prática. Esta epístola foi escrita para eles. Talvez não lhes dê muito consolo, mas deve ser-lhes muito útil. O misticismo que se contenta com sistemas e frases religiosas, mas negligência o sacrifício real e o serviço devoto, encontrará aqui o seu antídoto. O antinomianismo que professa grande confiança na livre graça, mas que não reconhece a necessidade de uma vida pura correspondente, deve estudar a sabedoria prática da epístola. Os “quietistas” que se contentam em sentar-se e cantar para conseguir a felicidade eterna, devem ler esta epístola até sentirem a sua inspiração a fim de apresentarem ativamente as boas obras, todos aqueles que são fortes na teoria e fracos na prática, devem mergulhar no espírito de Tiago; e como há gente desse gênero em cada comunidade em todas as épocas, a mensagem da epístola nunca envelhecerá. D. A. Hayes. Podemos resumir o tema da seguinte maneira; Cristianismo prático.
 
AUTOR. Há três pessoas com o nome Tiago, mencionadas no Novo Testamento : Tiago, o irmão de João (Mat. 10:2), Tiago, o filho de Alfeu (Mat. 10:3) e Tiago, o irmão do Senhor (Gál. 1:19). A tradição geral da Igreja identificou o autor da epístola com a pessoa última- mente mencionada. Este Tiago era o dirigente da Igreja em Jerusalém e quem presidiu ao primeiro concílio. Atos 12:7; 15:13-29. O tom autorizado da epístola está de acordo com a posição elevada do autor, na Igreja. Pela tradição sabemos alguns fatos concernentes a ele. Por causa da santidade de sua vida e aderência rígida à moralidade prática da Lei, era estimado pelos judeus da sua comunidade, pelos quais foi chamado “O Justo”, e ganhou muitos dêles para CRISTO. Diz-se que os seus joelhos eram calejados como os de um camelo, em consequência da sua constante intercessão em favor do povo. Josefo, o historiador judeu narra que Tiago foi apedrejado até a morte, por ordem do sumo sacerdote.
 
A QUEM FOI ESCRITA. Às doze tribos espalhadas no estrangeiro (1:1), isto é, os judeus cristãos na dispersão. O tom da epístola revela o fato de que foi escrita para os judeus.
PORQUE FOI ESCRITA. Pelas razões que se seguem :
1. Para consolar os judeus cristãos, que estavam passando por provas severas.
2. Para corrigir desordens em suas assembleias.
3. Para combater uma tendência de separar a fé das obras.
QUANDO FOI ESCRITA. Provavelmente cerca de 60 a. D., Acredita-se que foi a primeira epístola escrita à Igreja.
ONDE FOI ESCRITA. Provavelmente em Jerusalém.
CONTEÚDO.
I. A Tentação como Prova da Fé. 1:1-21.
II. As Obras como Evidência da Verdadeira Fé : 1:22 a 2:26.
III. As Palavras e seu Poder. 3:1-12.
IV. Verdadeira e Falsa Sabedoria. 3:13 a 4:17.
V. Paciência sob a Opressão : a Paciência da Fé. 5:1-12.
VI. Oração. 5:13-20.
 
I. A TENTAÇÃO COMO PROVA DA FÉ. Cap. 1:1-21. 
1. O propósito das tentações : aperfeiçoar o caráter cristão (vers. 2-4). A palavra “tentação” usa-se aqui num sentido mais amplo, incluindo perseguições externas e solicitações internas ao mal. Tiago ensina a lei aos leitores como transformar a tentação em bênção, fazendo dela uma fonte de paciência e usando-a desta maneira, como o fogo que prova o ouro. 
2. Uma qualidade que deve ser exercitada em suportar a tentação com êxito — a sabedoria. Esta sabedoria é um dom de DEUS, mas é concedida somente sob a condição de uma fé firme. Vers. 5-8. 
3. Uma fonte de prova e uma fonte de tentações — pobreza e riquezas (vers. 9-11). O pobre não há de sentir tristeza por causa da sua pobreza; o rico não se deve orgulhar, tão pouco, pela sua riqueza. Ambos hão de regozijar-se por sua vocação elevada. 
 4. A recompensa por suportar a prova e tentação — uma coroa de vida. V. 12. 
 5. A fonte de tentação interna para o mal (vers. 13-18). Embora DEUS possa mandar aflições para experimentar os homens, não envia impulsos maus para tentá-los. “Quando os homens dizem como muitas vezes disseram : que DEUS criou os homens assim”; que “a carne é fraca”, ou que “por um momento DEUS os desamparou”, que fizeram mal porque não podiam agir de outra maneira,- ou que o homem não passa de um autômato, sendo os seus atos os resultados inevitáveis e. portanto, irresponsáveis, do meio ambiente — estão atribuindo a DEUS a culpa dos seus atos... Tiago dá o verdadeiro sentido do mal. Esse vem da concupiscência — o desejo — que é para a alma, como meretriz tentadora que a tira do abrigo da inocência, a seduz e dá à luz o pecado cometido”. Deão Farrar. Nunca DEUS envia impulsos maus, mas é Ele quem nos dá o poder pelo qual somos elevados a uma nova e mais nobre vida (1:16-18). 
 6. A atitude que deve ser assumida em vista dos fatos anteriores — o controle da palavra e do temperamento, a pureza da conduta e uma atitude receptiva para com a Palavra de DEUS (vers. 19-21).
II. AS OBRAS COMO EVIDÊNCIA DA VERDADEIRA FÉ. Caps. 1:22 a 2:26.
1. A verdadeira fé deve manifestar-se tanto em obedecer como em ouvir a Palavra de DEUS (vers. 22 25).
 2. A verdadeira fé deve manifestar-se na religião prática, cujas características são : domínio da língua, amor fraternal, e separação do mundo (vers. 26-27).
3. A verdadeira fé é demonstrada pela imparcialidade no trato com os pobres e os ricos (2:1-13). Cortesia para com os ricos combinada com descortesia para com os pobres é uma parcialidade que indica fraqueza da fé e que constitui uma violação da Lei.
4. A fé é provada pelas suas obras (2:14-26). Uma leitura superficial deste trecho poderia dar a impressão de que Tiago estivesse negando a doutrina de Paulo, da justificação pela fé. Martinho Lutero, nos. seus primeiros dias, opôs-se fortemente a esta epístola, acreditando que contradizia absolutamente às doutrinas de Paulo. Mais tarde, no entanto, reconheceu o seu engano. Um estudo mais detalhado de seus escritos convencer-nos-á que Tiago e Paulo estão perfeitamente de acordo. Paulo crê nas obras da piedade tanto quanto Tiago (vide II Cor. 9:8; Efés. 2:10; I Tim. 6:17-19; Tit. 3:8). Tiago crê na fé salvadora tanto quanto Paulo (vide Tiago 1:3, 4, 6; 2:5). A contradição aparente a que acabamos de nos referir, explica-se pelo fato de ambos os autores usarem as palavras “fé”, “obras” e “justificação”, mas com diferentes significados para estes termos. Por exemplo :
a) A fé que Tiago tem em vista é o mero consentimento intelectual para com a verdade, que não conduz à justiça prática — tal como a fé dos demônios ao crerem em DEUS (2:19). “De que aproveita, meus irmãos, se um homem professa ter fé e os seus atos não correspondem? Poderá tal fé salvá-lo?” (v. 14, tradução de Weymouth). A fé que Paulo tem em vista é um poder intelectual, moral e espiritual que coloca a pessoa em união vital e consciente com DEUS.
b) As obras que Paulo tem em vista, são as obras mortas do legalismo, executadas simplesmente por um senso de dever e compulsão, e não pelo puro amor de DEUS. As obras que Tiago tem em mente, são os frutos do amor de DEUS disseminados no coração pelo ESPÍRITO SANTO.
c) A justificação mencionada por Paulo, é o ato inicial pelo qual DEUS pronuncia a sentença de absolvição para o pecador e lhe imputa a justiça de CRISTO A justificação da qual fala Tiago é a santidade contínua da vida que prova que o crente é um verdadeiro filho de DEUS. d) Paulo tem em mente a base da salvação, Tiago o fruto; Paulo está falando do princípio da vida cristã, Tiago de sua continuação. Paulo está condenando as obras mortas, Tiago a fé morta; Paulo destrói a confiança vã do legalismo, Tiago a confiança vã de quem meramente professa o cristianismo.
III. AS PALAVRAS E SEU PODER. 3:1-12.
1. Uma advertência contra o hábito de precipitadamente assumir a posição de mestre, em vista da grande responsabilidade desta vocação e dos perigos de ofender por meio da palavra falada, a qual é o meio de instrução usado pelo mestre (vers. 1, 2).
2. O poder da língua (vers. 3-5), que é comparado com o freio do cavalo, um leme e um fogo.
3. O mal da língua (vers. 0-12). "Sim, a língua — esse mundo de injustiça — é um fogo. Inflama o curso da vida e é sempre inflamada pelo fogo do inferno. É a única “criatura” que não pode ser domada, um mal que não cessa, cheia de veneno mortal. Com ela louvamos o Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens que são criados à semelhança de DEUS. Não é esta contradição monstruosa? Não é como uma fonte que dá água ao mesmo tempo doce e amarga? Pode uma árvore produzir frutos que não são seus? Pode o sal de uma língua que amaldiçoa produzir a água doce do louvor?”
IV. SABEDORIA VERDADEIRA E FALSA. Caps. 3:13 a 4:17.
1. As manifestações da verdadeira sabedoria. 3:13, 17, 18.
2. As manifestações da falsa sabedoria. 3:15; 4:1- 17.
V. PACIÊNCIA SOB A OPRESSÃO:
A PACIÊNCIA DA FÉ. Cap. 5:1-12.
1. Concernente aos opressores e oprimidos, (vers. 1-6). 
Tiago fala de uma condição que prevalecerá nos últimos dias (v. 4); da opressão da classe de trabalhadores pelos ricos, que acabará à vinda do Senhor. O julgamento dos ricos ímpios à destruição de Jerusalém é uma fraca ilustração da sua sorte nos últimos dias. Escreve o Deão Farrar : “e se estas palavras de Tiago foram dirigidas aos judeus e aos cristãos, cerca de 61 a. D., com que rapidez se cumpriram as suas admoestações, e com que terror desceu tão cedo a condenação retribuidora sobre estes tiranos ricos e luxuosos! Poucos anos depois, Vespasiano invadiu a Judéia. Certamente era necessário chorar e lamentar, quando, no meio dos horrores causados pela investida rápida dos exércitos romanos; o ouro e a prata dos ricos opressores não serviam para comprar pão e eles tinham que abandonar as roupas finas, cujo uso teria sido perigoso e daria ocasião a zombarias. Os adoradores da última Páscoa foram as vítimas. Os ricos foram escolhidos para a pior fúria dos zelotes, e a sua riqueza foi destruída nas chamas da cidade conflagrada. Inúteis eram os seus tesouros nestes últimos dias, quando se ouviu às suas portas o estrondo das intimações do Juiz! Em todos 03 seus ricos banquetes e orgias eles tão somente se engordaram quais oferendas humanas para o dia da matança”.
2. Acerca do Vingador (vers. 7-12). 
Com relação à condição descrita nos versículos 1-6, os filhos de DEUS têm que ser pacientes, esperando a vinda do Vingador e Juiz, tomando Jó e os profetas como exemplos de paciência.
VI. ORAÇÃO. 5:13-20.
1. Oração na aflição. V. 13.
2. Oração pelos enfermos. Vers. 14-16.
3. A eficácia da oração. Vers. 17, 18.
4. Nosso dever para com um irmão desviado (vers. 18-20). Assim, chegamos à conclusão tanto pelo contexto, como pelo significado da própria palavra, que Tiago e Pedro (1 Pedro 4:8) se referem a um ministério de restauração que faz voltar aos caminhos do Senhor um irmão desviado. Tal ministério causará o arrependimento e a confissão dos pecados, o conduzirá ao perdão, mesmo que estes pecados sejam uma “multidão”. Está escrito que “Se confessarmos os nossos pecados, Êle é fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda a injustiça”. Assim, por esse ministério, ao qual somos convocados pelo último verso de Tiago, podemos ser, não somente o meio de salvação de uma alma preciosa que ainda poderá ser útil no mundo, como também poderemos ser instrumentos para remover os seus pecados que de outra maneira, como malfeitor enfrentaria perante o tribunal de CRISTO”.
 
 
PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO
Tema. Nesta epístola oferece-se uma ilustração esplêndida de como Pedro cumpriu a missão que lhe foi dada pelo Senhor — “E tu, quando te converteres, fortalece teus irmãos”. Lucas 22:32. Purificado e confirmado por meio do sofrimento e amadurecido pela experiência, podia pronunciar palavras de encorajamento a grupos de cristãos que estavam passando por duras provas. Muitas das lições que ele aprendeu do Senhor, ele fez saber aos seus leitores (comp. I Pedro 1: 10 com Mat. 13:17; I Ped. 5:2 e João 21:15-17; I Ped. 5:8 com Luc. 22:31). O vers. 12 do último capítulo sugerirá o tema da epístola — a graça de DEUS. Aqueles a quem se dirigia estavam passando por tempos de prova. Assim os anima demonstrando-lhes que tudo quanto era necessário para ter força, caráter e coragem havia sido provido na graça de DEUS. DEUS é o “DEUS de toda graça” (5:10), cuja mensagem ao Seu povo é : “A minha graça é suficiente”. O tema de Primeira a Pedro pode ser resumido da seguinte maneira : a suficiência da graça divina e a sua aplicação prática com relação à vida cristã e para suportar a prova e o sofrimento.
 
PORQUE FOI ESCRITA. Para animar os fiéis a estarem firmes durante o sofrimento e a exortá-los à santidade.
QUANDO FOI ESCRITA. Provavelmente em 60 a. D.
ONDE FOI ESCRITA. Em Babilônia. 5:13.
CONTEÚDO.
I. Regozijo no Sofrimento por causa da Salvação. 1:1-12.
II. Sofrendo por causa da Justiça. 1:13 a 3.22.
II. Sofrendo com CRISTO. Cap. 4.
IV. Exortações Pinais. Cap. 5.
 
I. REGOZIJO NO SOFRIMENTO POR CAUSA DA SALVAÇÃO. 1:1-12.
1. A fonte da nossa salvação (v. 2). a) O Pai é Quem escolhe. b) O ESPÍRITO é quem santifica. c) O Filho com cujo sangue somos aspergidos
2. O resultado da salvação : o novo nascimento. V. 3.
3. A consumação da salvação : a aquisição da herança celestial que está reservada ao crente, enquanto ele mesmo está guardado pelo poder de DEUS. Vers. 4, 5.
4. O gozo da salvação (vers. 6-8). Até no meio de provas e tentações que apenas devem provar a fé, os fiéis podem regozijar-se no seu invisível Senhor, com gozo indizível e cheio de glória.
5. O ministério da salvação. Vers. 9-12. a) Os profetas que predisseram os sofrimentos e a glória de CRISTO, não compreenderam totalmente as suas próprias profecias. Em resposta às suas perguntas, foi-lhes revelado que a salvação que estavam profetizando não era para eles mas sim para aqueles que viveriam em outra dispensação. b) Os anjos que nunca pecaram, desejam prescrutar o gozo inexplicável daqueles que foram redimidos por CRISTO.
II. SOFRENDO POR CAUSA DA JUSTIÇA. Caps. 1:13 a 3:22. Nesta seção anotaremos as seguintes exortações :
1. À santidade (1:13-21). Com mente alerta e sóbria, os fiéis hão de separar-se de seus antigos hábito: de vida, vivendo uma vida de santidade esperando a vinda do Senhor.
2. A um amor intenso e sincero para com os irmãos (1:22-25). Este amor seguir-se-á como resultado natural da purificação da alma pelo ESPÍRITO SANTO, e do novo nascimento.
3. A um desenvolvimento espiritual (2:1, 2). Como uma criança recém-nascida instintivamente deseja alimentar-se com leite, assim os regenerados devem ter um desejo ardente pelo ensino não adulterado da Palavra de DEUS, a doçura da qual já têm experimentado
4. A aproximar-se de CRISTO, a pedra fundamental do grande templo espiritual, do qual são pedras vivas (2:3-10). Os crentes no seu conjunto formam um grande templo (Efésios 2:20-22), do qual eles mesmos são o sacerdócio e onde oferecem sacrifícios espirituais (Comp. Heb. 13:10, 15). A relação que Israel, como povo terrestre, tinha com DEUS, eles — os gentios como povo terrestre, têm com Êle, porque são um povo escolhido, uma nação santa, o tesouro peculiar de DEUS (v. 9) comp. Deut. 7:6).
5. A viver uma vida irrepreensível, para desarmar o preconceito e a inimizade dos pagãos que os cercam. 2 :11, 12.
6. A Submissão.
a) A submissão de todos os cristãos ao governo (2:13-17). “Era uma lição tão necessária para os cristãos desse tempo, que Pedro a ensinou tão energicamente quanto o próprio Paulo. Era necessário, mais do que nunca, numa época em que revoluções perigosas se concentravam na Judéia e quando o coração dos judeus no mundo inteiro ardia em forte chama de ódio contra as abominações da idolatria tirânica, quando, os cristãos foram acusados de revolucionar o mundo; quando qualquer um pobre escravo cristão, submetido ao martírio ou tortura, facilmente podia aliviar a tensão da sua alma, fazendo denúncias apocalípticas de condenação repentina contra os crimes da mística babilônia; quando os pagãos, em seu desprezo impaciente, arbitrariamente podiam interpretar uma profecia da conflagração final, como se fosse uma ameaça revolucionária e incendiária, e quando em Roma os cristãos já estavam sofrendo por esta razão as agonias de perseguição de Nero”. Farrar.
b) Submissão dos servos aos seus senhores (2:18-25). Os servos hão de ser obedientes até a seus senhores injustos e duros. Depois de terem sofrido em silêncio a injustiça, glorificarão a DEUS, e serão verdadeiros seguidores do CRISTO, que não Se defendeu mas entregou a Sua causa a DEUS o justo Juiz.
c) A submissão das mulheres a seus esposos (3:1-7). As mulheres cristãs, facilmente podiam considerar os seus esposos pagãos como inferiores a elas. Em lugar disso, hão de obedecer a seus esposos; se estes não aceitam a Palavra escrita, nem crêem no testemunho falado, podem ser ganhos pelo testemunho silencioso e efetivo de uma vida santa. Ao proceder assim, as mulheres cristãs seguirão o exemplo das mulheres santas da antiguidade.
7. Ao amor fraternal. Vers. 8-12.
8. Ao suportar o mal com paciência (Vers. 13-16). Se estão fazendo boas obras, não têm nada que temer (v. 13). Assim, se sofrerem inocentemente hão de recordar que se promete uma bênção àqueles que sofrem por causa da justiça. (V. 14, comp. Mat. 5:11, 12). A santidade interna do coração e prontidão exterior para defender a sua fé no espírito de brandura, juntamente com uma boa consciência, finalmente induzirão os pagãos a envergonhar-se de suas falsas acusações (vers 15, 16). Na questão de sofrer injustamente, o crente fiel tem o exemplo de CRISTO, o qual como o Único sem pecado, sofreu pelos injustos. Mas os Seus sofrimentos foram seguidos pelo triunfo e a glorificação; em triunfo, porque Êle proclamou a Sua vitória no Hades; em glorificação porque está agora sentado à destra de DEUS (vers. 18-20). Da mesma maneira, os sofrimentos dos cristãos serão seguidos pela glória.
III. SOFRENDO COM CRISTO. Cap. 4.
1. Morte ao pecado (4:1-6). Como CRISTO morreu para a vida terrestre e Se levantou de novo para uma vida celeste, assim os cristãos hão de considerar-se mortos à vida anterior de pecados, e vivos para uma vida nova de santidade (vers. 1-3, comp. Rom. 6).
2. Os pagãos admiram-se de sua maneira de viver e falam mal dêles. Mas, finalmente, o bem triunfará quando o Senhor julgar os vivos e os mortos (vers. 4-6).
3. O glorioso privilégio de sofrer com CRISTO (vers. 12-19). Os cristãos não hão de estar surpreendidos pelo processo de DEUS provar e purificá-los pelo sofrimento, mas hão de regozijar-se pelo fato de poderem participar dos sofrimentos de CRISTO (vers. 12, 13). Suportar o opróbio de CRISTO é um sinal da graça espiritual que há neles, mas sofrer como malfeitor é um sinal de desonra (v. 15). Os cristãos devem esperar o sofrimento, porque o juízo deve começar pela casa de DEUS — deve haver um tempo de purificação para a Igreja. Assim, todos que sofrem devem confiar naquele que é fiel (vers. 17-19).
IV. EXORTAÇÕES FINAIS. Cap. 5.
1. Aos pastores. Cap. 5:1-4.
2. Aos moços. Vers. 5, 6.
3. A Igreja em geral. Vers. 6-11.
4. Saudações. Vers. 12-14.
 
 
SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO
Tema. A Primeira Epístola de Pedro trata de um perigo fora da Igreja — das perseguições; a Segunda de Pedro, de um dentro da mesma — a falsa doutrina. A primeira foi escrita para animar, a segunda para advertir. Na primeira, vê-se Pedro cumprindo a sua missão de fortalecer os irmãos (Luc. 22:32); ‘na segunda, cumprindo a sua missão de pastorear as ovelhas, protegendo-as dos perigos ocultos e insidiosos, para que andem nos caminhos da justiça. João 21:15-17. Na segunda epístola, o autor dá uma viva descrição dos falsos mestres que ameaçam a fé da Igreja, e como um antídoto à vida pecaminosa deles, exorta os cristãos a servirem-se de todos os meios para crescer na graça e no conhecimento experimental de JESUS CRISTO. O tema pode se resumir da seguinte maneira : um conhecimento completo de CRISTO é uma fortaleza contra a falsa doutrina e uma vida impura.
PORQUE FOI ESCRITA. Para dar uma ilustração profética, da apostasia dos últimos dias, e para exortar os cristãos àquela preparação do coração e da vida que unicamente pode habilitá-los a enfrentar os seus perigos.
QUANDO FOI ESCRITA. Provavelmente em 66 a. D.
CONTEÚDO.
I. Exortação a crescer na Graça e no conhecimento Divino. Cap. 1.
II. Advertência contra os Falsos Mestres. Cap. 2.
III. Promessa da Vinda do Senhor. Cap. 3.
 
I. EXORTAÇÃO A CRESCER NA GRAÇA E NO CONHECIMENTO DIVINO. Cap. 1.
1. Saudação (vers. 1, 2). A graça e paz que Pedro pede para os santos, devem levar ao conhecimento experimental de DEUS e de CRISTO.
2. A base da sabedoria salvadora — as promessas de DEUS. Vers. 3, 4
3. O crescimento no conhecimento experimental (vers. 5-11). Não há uma parada na experiência cristã; haverá ou progresso ou retrocesso. O fiel tem um fundamento, a fé; mas sempre deve estar edificando sobre este fundamento uma “superestrutura” de caráter e virtude cristãos. Notem :
a) O resultado deste “acréscimo” espiritual (v. 5) : frutificação no conhecimento experimental aas coisas divinas e aquisição de uma entrada no reino do Senhor JESUS, amplamente suprida (vers. 8, 10, 11). b) O resultado da negligência do crescimento espiritual — cegueira espiritual e apostasia (v. 8).
4. As fontes do conhecimento salvador :
a) O testemunho dos apóstolos que eram testemunhas oculares da glória de CRISTO (Vers. 12-18).
b) O testemunho dos profetas (vers. 19-31). “Além disso, o apóstolo apela para a inspiração dos profetas na confirmação da sua doutrina. Nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida pela vontade de homem algum, mas os homens santos de DEUS, falariam inspirados pelo ESPÍRITO SANTO. Ele reconheceu como verdade primordial, que a profecia não é originada do próprio profeta, nem tão pouco se limita aos tempos do profeta. A profecia foi dada a ele, como foi dada a nós. Pedro e os seus companheiros não seguiram fábulas artificialmente compostas; foram guiados nas suas declarações proféticas pelo ESPÍRITO SANTO”.
II. ADVERTÊNCIA CONTRA OS FALSOS MESTRES, cap. 2.
1. A conduta dos falsos mestres (vers. 1-3). Eles introduzem, furtiva e artificialmente, heresias latais, negando até o próprio Senhor. Cobrindo os seus verdadeiros motivos com argumentos plausíveis, desviarão muitos do caminho.
2. A condenação certa destes falsos mestres mostra-se nos exemplos antigos de retribuição. Vers. 4-9 3. O caráter destes falsos mestres (vers. 10-22). O apóstolo provavelmente tem em vista o surgimento futuro das seitas gnósticas, que combinavam uma moral corrompida com uma vida contaminada. As seguintes seitas surgiram no segundo século : os ofiólatras, que adoravam a serpente do Jardim do Éden como o seu benfeitor; os Cainitas, que exaltavam como heróis, alguns dos personagens mais vis do Antigo Testamento; os Carpôcratas que ensinavam a imoralidade; os Antítactos que consideravam a violação dos Dez Mandamentos como um dever para com o DEUS supremo» pela razão de terem sido eles promulgados por um ímpio anjo mediador.
III. PROMESSA DA VINDA DO SENHOR. Cap. 3.
1. Zombadores e a promessa da segunda vinda (vers. 1-4). “Um ceticismo presunçoso e uma concupiscência desordenada pondo a natureza e suas chamadas leis, acima do DEUS da natureza e a revelação, e concluindo pela continuidade dos fenômenos naturais no passado que os mesmos não poderão ser interrompidos no futuro, foi o pecado dos Antediluvianos (aqueles que viviam antes do dilúvio) e será o pecado dos zombadores nos últimos dias”.
a) Eles obstinadamente fecham os seus olhos perante o relato das Escrituras, da Criação e do Dilúvio, este último é o próprio paralelo para o juízo vindouro do fogo... “Todas as coisas continuam como estavam, desde o princípio da criação”. Antes do dilúvio, a mesma objeção com a mesma plausibilidade poderia ter sido apresentada contra a possibilidade desse dilúvio. Os céus e a terra, sempre existiram. Tão pouco provável que não continuassem da mesma maneira! Mas, responde Pedro, o dilúvio veio a despeito desse raciocínio; da mesma maneira, virá a conflagração final da terra, a despeito dos zombadores dos últimos dias”.
b) A demora de DEUS deve-se à Sua misericórdia.
2. A certeza, a presteza e os efeitos da vinda do Senhor (vers. 10-13). O “dia do Senhor”, aqui mencionado, refere-se a uma série completa de acontecimentos começando com o advento premilenial e terminando com a destruição dos ímpios, a conflagração final e o juízo geral. “Como o Dilúvio foi o batismo da terra, resultando em uma terra renovada, parcialmente liberta da maldição, assim o batismo pelo fogo purificará a terra para que seja a morada renovada do homem regenerado e inteiramente libertado da maldição.
3. Exortações finais :
a) A viver sem culpa à luz da sua grande esperança. V. 14.
b) A lembrar que o motivo da demora do Senhor é dar aos homens uma oportunidade de se arrependerem (v. 15). Paulo mesmo escreveu a respeito do segundo advento. Muitos que são inconstantes na fé e movidos por toda a dificuldade aparente, precipitadamente interpretam mal os textos difíceis das suas Escrituras, em vez de esperar que DEUS, pelo Seu ESPÍRITO, os esclareça. (V. 16).
c) A guardar-se de se desviar do caminho pela falsa doutrina (v. 17).
d) A crescer na graça (V. 18).
 
 
PRIMEIRA EPÍSTOLA DE JOÂO
Tema. O Evangelho de João expõe os atos e palavras que provam que JESUS é o CRISTO, o Filho de DEUS; a Primeira Epístola de João expõe os atos e palavras que são obrigatórias àqueles que crêem nesta verdade. O Evangelho trata dos fundamentos da fé cristã, a Epístola, dos fundamentos da vida cristã. O Evangelho foi escrito para dar um fundamento de fé; a Epístola para dar um fundamento de segurança. O Evangelho nos conduz ao limiar do Pai, a Epístola, familiariza-nos com a Sua casa. A Epístola é uma carta afetuosa de um pai espiritual a seus filhos na fé, na qual ele os exorta a cultivar essa piedade prática que produz a união perfeita com DEUS, e a evitar esta forma de religião em que a vida não corresponde à profissão. Para alcançar o seu propósito, o apóstolo estabelece certas regrais, pelas quais pode ser provada a verdadeira espiritualidade — regras que formam a linha rígida de demarcação entre aqueles que apenas professam que andam em amor e santidade, e aqueles que verdadeiramente o fazem. Embora João fale de uma maneira clara e severa, ao tratar da doutrina errônea e da vida incompatível, o seu tom, contudo, em geral é afetuoso e mostra que ele merece o título de “apóstolo do amor”. A frequente repetição da palavra “amor” e a expressão “filhinhos meus”, faz com que a sua epístola tenha uma atmosfera de ternura. Aqui cabe bem a seguinte história concernente a João. Quando o apóstolo chegou a uma idade muito avançada e somente com dificuldade podia ser transportado à Igreja, nos braços dos seus discípulos, e estava fraco demais para poder proferir exortações extensas, nas reuniões dizia apenas : “Filhinhos, amai-vos uns aos outros!” Os discípulos e pais, cansados desta constante repetição das mesmas palavras, disseram : “Mestre, por que estás sempre repetindo isto?” Ele respondeu: “É o mandamento do Senhor e se for feito apenas isto, será o suficiente”. Resumiremos o tema da seguinte maneira : os fundamentos da segurança cristã e da comunhão com o Pai.
 
PORQUE FOI ESCRITA. Foi escrita com os seguintes propósitos, declarados na própria epístola :
1. Que os filhos de DEUS tenham comunhão com o Pai e o Filho, e uns com os outros (1:3).
2. Para que os filhos de DEUS possam ter plenitude de gozo (1:4).
3. Para que não pequem (2:1).
4. Para que reconheçam o fundamento da vida eterna (5:13).
 
QUANDO FOI ESCRITA. Provavelmente cerca de 90 a. D.
ONDE FOI ESCRITA. Provavelmente em Éfeso, onde João vivia e ministrava depois de sair de Jerusalém.
CONTEÚDO.
I. Introdução. 1:1-4.
II. Comunhão com DEUS. 1:5 a 2:28.
III. Filiação Divina. 2:29 a 3:24.
IV. O ESPÍRITO da Verdade e o ESPÍRITO do Erro. 4:1-6.
V. DEUS é Amor. 4:7-21.
VI. A Fé. 5:1-12.
VII. Conclusão : Confiança cristã. 5:13-21.
 
 Nota : As citações deste estudo de João são do comentário de Pakenham-Walsh sobre Primeira a João (McMilan Co, New York).
 
I. INTRODUÇÃO (Cap. 1:1-4).
1. A substância do Evangelho : a divindade, a encarnação de CRISTO. V. 1.
2. A garantia do Evangelho. a) A experiência do apóstolo (v. 1). Eles estiveram em contato pessoal com o Verbo da vida. b) O testemunho apostólico. V. 2.
3. O propósito de pregar o Evangelho. V. 3. a) Para que os crentes possam ter comunhão com os apóstolos e com todos os cristãos. b) Para que os crentes possam participar de todas as bênçãos e privilégios que os apóstolos obtiveram da sua comunhão com o Pai. c) O resultado do Evangelho : a plenitude de gozo que vem da comunhão perfeita com DEUS. V. 4.
II. COMUNHÃO COM DEUS. Caps. 1:5 a 2:28. O apóstolo dá as seguintes provas de comunhão com DEUS :
1. Andando na luz (1:5-7). “Havia mestres falsos nos dias de João, que tentavam levar os cristãos a deixarem a Igreja e se unirem a um grupo herege. Entre outras coisas, ensinavam que se a mente de um homem estivesse iluminada pelo conhecimento celestial, a sua conduta seria indiferente; ele poderia cometer todos os pecados à vontade. João disse que esta doutrina destruiria toda santidade e a verdade e era completamente oposta ao cristianismo. Nesta seção toma muito claro que, longe de ser certo que toda a conduta seja igual para o homem iluminado, o caráter da sua conduta demonstra se está iluminado ou não”. DEUS é a luz, quer dizer, Êle é a fonte da verdade pura, da santidade pura e da inteligência pura. Quem voluntariamente anda na escuridão do pecado, mente em dizer que tem comunhão com este Ser.
2. Conhecimento e confissão de pecado (1:8 a 2:1). Arrogar a si uma perfeição absoluta ou, por outro lado, negar ser pecado a prática de certos atos corporais (como fizeram os Antinômios), significa uma ilusão pela qual o homem se engana a si mesmo e acusa de mentira a revelação de DEUS. É a vontade de DEUS que não pequemos. Quando a luz de DEUS revelar em nós o pecado, devemos confessá-lo e obter a purificação que o sangue de JESUS e a Sua intercessão em nosso favor tornam possível.
3. Obediência aos mandamentos de DEUS em imitação de CRISTO (2:2-6). “Os mestres falsos declaravam que o conhecimento era o mais importante de todas as coisas; se um homem estivesse iluminado por aquilo que eles “consideravam conhecimento de amor”, a sua conduta não teria importância. João deseja demonstrar que tal conhecimento é um engano e que todo verdadeiro conhecimento de DEUS resultará em santidade devida, sendo sem está uma coisa morta e inútil. Assim sendo, ele ordena aos homens que dêem provas do seu conhecimento de DEUS. Para saberem de certo se têm ou não o conhecimento de DEUS, a prova é simples — guardam eles os mandamentos de DEUS?”
4. Amor para com os irmãos (2:7-11). João está escrevendo um mandamento antigo e novo; antigo, porque eles o ouviram quando se tornaram cristãos; novo, porque é recente e vivo para aqueles que têm comunhão com CRISTO, a verdadeira Luz que agora os ilumina.
5. Afastamento do mundanismo (vers. 12-17). Um cristão não pode amar ao mesmo tempo a DEUS e ao mundo — o mundo desordenado pelo domínio desenfreado das forças pecaminosas e acorrentado pela escravidão da corrupção.
6. Doutrina pura (2:18-28). Os crentes ouviram falar do Anticristo que virá ao fim desta, a última época. Mas o seu espírito está no mundo presente na pessoa de certos mestres falsos que negam a divindade e a missão Messiânica de CRISTO. O cristão não deve ser desviado de seu caminho pelos argumentos sutis e aparentemente certos daqueles errados, porque o ESPÍRITO os conduzirá a toda verdade. “Há aqui, uma alusão clara a um mestre falso, Cerinto, que negava que JESUS fosse o CRISTO e declarava que o homem JESUS e o “aeon” ou espírito, CRISTO, eram seres distintos. Ensinava que JESUS era um homem comum, até ao momento do seu batismo, quando este “aeon” desceu sobre Ele, tendo-lhe dado o poder de fazer milagres e revelando-Lhe o Pai, até então desconhecido. Este “aeon”, sendo incapaz de sofrer, deixou JESUS antes da Sua paixão. Assim, as duas verdades centrais da encarnação e a expiação foram negadas pela sua doutrina. Estes falsos mestres continuamente diziam aos cristãos : “Vós precisais de muita instrução; segui-nos e conduzir-vos-emos às profundidades da fé cristã. Conhecendo os mistérios ocultos, podemos ensinar a vós que necessitais do ensino”. João lembra aos cristãos a unção que eles receberam do divino Mestre, o ESPÍRITO SANTO e a Sua presença no meio deles... Tendo o ESPÍRITO SANTO, não necessitavam de nenhum outro mestre e mesmo na presença arrogantes mestres do erro podiam, sem temer, afirmar que possuíam esta unção. Não quer dizer que eles não necessitam de nenhum mestre, nem da instrução dos lábios de um apóstolo, ou mestre na Igreja. (Comp. Efés. 4:11; Heb. 5:12).
III. FILIAÇÃO DIVINA. Caps. 2:29 a 3:24. João deu as seguintes provas da filiação divina : 
1. Andar retamente (2:29 a 3:10). O cristão deve mostrar um antagonismo absoluto ao pecado por causa dos seguintes fatos :
a) a sua filiação divina e a esperança de chegar a ser como JESUS. 2:29 a 3:1-3.
b) o pecado é anarquia (transgressão da lei) — em suma, rebelião contra DEUS. 3:4.
c) por causa do caráter de CRISTO e a Sua obra expiatória por nós (vers. 5-7). Enquanto permanecermos em CRISTO, não pecaremos; enquanto pecarmos, não permaneceremos em CRISTO.
d) por causa da origem diabólica do pecado. V. 8.
e) por causa da qualidade divina da vida cristã. V. 9.
f) por causa de depender das nossas ações a prova final, se somos filhos de DEUS ou filhos do diabo. V. 10.
2. Amor para com os irmãos. 3:11-18.
a) O mandamento. V. 11.
b) O aviso. V. 12.
 c) A consolação. Vers. 13-15.
d) O modelo. V. 16.
e) A ilustração prática. Vers. 17, 18. “Atos falam mais alto do que palavras”.
3. Segurança. 3:19-24. a) A base da segurança. V. 19. A prática do amor inspirado por DEUS para com os irmãos, e não somente os nossos instáveis sentimentos, é a prova da realidade da nossa fé e da nossa união com CRISTO. b) Os resultados da segurança. Vers. 20-24.
IV. O ESPÍRITO DA VERDADE E O ESPÍRITO DO ÊRRO. Cap. 4:1-6.
O pensamento do ESPÍRITO habitando em nós (3:24), leva João a tratar — em parêntese — de outros espíritos — os espíritos falsos e maus, e de como os cristãos podem distingui-los.
1. O apelo (v. 1). Não importa quão eloquente seja um profeta e quantos dons possua; a sua doutrina deve ser provada.
2. A prova (v. 2) — a confissão da encarnação de CRISTO. Tudo isto se. relaciona com os nossos próprios dias, quando se fala tanto em espiritismo, teosofia e as comunicações dos homens com os espíritos e no mundo espiritual... A prova de João pode-se aplicar tão segura e certamente, hoje, como sempre. Há UM “médium” de comunicação espiritual entre o mundo invisível e o visível, entre o céu e a terra, e este é JESUS CRISTO vindo na carne. Todos os verdadeiros espíritos unem-se a Ele. Todos aqueles que não são fiéis, O negarão, criando “médiuns" independentes — sejam vestidos em corpos humanos ou não — criando um intercâmbio entre o céu e a terra”.
3. O conflito (v. 4). Evidentemente, tinha havido um conflito entre os cristãos e os falsos mestres, mas a Igreja aderiu à verdade. Sua vitória é a nossa vitória hoje.
4. O contraste (vers. 5, 6). Aqueles que estão possuídos pelo ESPÍRITO de DEUS, atraem discípulos semelhantes a si mesmos, homens sinceros, cheios do ESPÍRITO, e praticando a justiça; os outros também atraem discípulos semelhantes a si mesmos, homens mundanos cujas vidas são más.
V. DEUS É AMOR. Cap. 4:7-21.
1. A chamada ao amor. V. 7.
2. A razão para o amor : “DEUS é amor”. V. 8.
3. A prova do amor divino : o sacrifício de DEUS. Vers. 9, 10.
4. A exigência do amor: o amor de DEUS para conosco exige o nosso amor para com os nossos irmãos. V. 11.
 5. O resultado do amor da nossa parte: a manifestação da presença de DEUS (vers. 12-18); ousadia (v. 17); ausência do temor que condena (v, 18).
6. A prova do nosso amor : a prova do nosso amor para com DEUS invisível é o amor para com o nosso irmão, que é feito e restaurado à imagem de DEUS (vers. 19-21); a prova do nosso verdadeiro amor para com os irmãos encontra-se em nosso amor para com DEUS (5: 1-2); o nosso amor a DEUS encontra a sua manifestação na observância de Seus mandamentos (v. 3).
VI. FÉ. Cap. 5:4-12.
1. A vitória da fé (5:4, 5). “E esta é a vitória que venceu (no grego o tempo está no pretérito) o mundo’.’ João mostra-se muito audaz em falar da vitória como já acontecida. Em cada crente há um poder vital de DEUS, executado pela fé que deve vencer, que, sob o ponto de vista de DEUS, já venceu. No conjunto dos crentes, a Igreja de DEUS, há o mesmo poder para conseguir a vitória final contra o mundo. Quando João escreveu, a Igreja era uma seita desprezada, insignificante, consistindo principalmente de escravos e gente pobre da classe inferior; e estava muito longe de ser perfeita. Ela era molestada por mestres falsos; o mundo era o poder sólido, unido, irresistível e pagão, de Roma, controlando todas as riquezas, a força e todos os recursos da civilização. Mas, apesar disso, João não profetizou somente que a Igreja venceria o mundo, mas que já o tinha vencido. As suas palavras implicam, além disso, na vitória completa sobre todo o mal que resta em nós mesmos, sobre todo o mal que existe no mundo e sobre todo sistema de falsidade ou impiedade que luta contra DEUS. Tudo isso está assegurado, e sob o ponto de vista divino, já foi conseguido”.
2. O tríplice testemunho terrestre da fé. Vers, 6-8.
a) A água testifica do início do ministério terrestre de CRISTO, inaugurado por Seu batismo.
b) O sangue testifica da Sua morte que trouxe a redenção eterna.
c) O ESPÍRITO testifica em todos os séculos à Sua ressurreição e à vida sem fim. Notem a ênfase no vers. 6: “Não só por água, mas por água e por sangue”. Cerinto, o principal oponente de João, ensinou que o CRISTO celestial desceu sobre JESUS no Seu batismo, mas O deixou na véspera da Sua paixão. Assim sendo, JESUS morreu, mas o CRISTO, sendo espiritual, não sofreu. Isto significa que CRISTO veio por água (batismo), mas negou que viesse por sangue (morte). O objetivo do apóstolo é provar que Aquele que foi batizado e Aquele que morreu no Calvário eram a mesma Pessoa.
3. O testemunho celestial. Vers. 9-12.
VII. CONCLUSÃO: A CONFIANÇA CRISTÃ. Cap 5: 13-21.
1. A substância da confiança cristã — a segurança ou certeza da vida eterna. V. 13.
2. A manifestação da confiança cristã. a) Exteriormente, o poder de oferecer oração eficaz. Vers. 14-17. b) Convicção interna — “Sabemos”. Vers. 18- 20.
3. Exortação final (vers. 21). “Em JESUS achaste Aquele que é o verdadeiro DEUS e a vida eterna. Se estiveres n’Aquele que é verdadeiro, serás obrigado a fazer sincero e cuidadosamente um rompimento total entre si e todas as coisas pagãs, e a fugir então dos ídolos que antigamente adoravas”. Schlatter.
 
 
SEGUNDA EPÍSTOLA DE JOAO (Leia a Epístola)
Tema. A primeira epístola de João é uma carta à família cristã em geral, prevenindo-a contra a falsa doutrina e exortando-a à piedade prática. A segunda epístola é uma carta a um membro particular dessa família, escrita com o propósito de instruí-lo quanto à atitude correta para com os falsos mestres. Não devia dar-lhes hospitalidade. Tal mandamento pode parecer duro; mas é justificado pelo fato destas doutrinas atacarem os próprios fundamentos do cristianismo, e em muitos casos, ameaçarem a pureza da conduta. Ao receber tais mestres em sua casa, a crente, a que João escrevia, identificar-se-ia com os seus erros. João não ensinava o mal tratamento aos cristãos, que doutrinariamente diferem de nós ou que se encontram nos laços do erro. João escrevia em época em que os antinômios e gnósticos, errados, procuravam minar a fé e a pureza. Sob tais condições era imperativo que os cristãos denunciassem as suas doutrinas erradas, tanto por palavras, como pela atitude. O tema pode resumir-se da seguinte maneira: é dever obedecer à verdade e evitar comunhão com os seus inimigos.
 
PORQUE FOI ESCRITA.
Para advertir uma senhora cristã e hospitaleira a não atender a falsos mestres.
 
 
TERCEIRA EPISTOLA DE JOAO (Leia a Epístola)
Tema. Esta curta epístola dá uma ideia de certas condições que existiam numa Igreja local no tempo de João. A história que pode ser colhida da epístola, parece ser a seguinte: João tinha enviado um grupo de mestres itinerantes, com cartas de recomendação, a diferentes igrejas, uma das quais, era a assembleia a que pertenciam Gaio e Diótrefes. Diótrefes, dominado por ciúme pelos direitos da igreja local, ou por alguma razão pessoal, recusou-se a dar hospitalidade a estes mestres e excomungou os membros da sua igreja que os recebiam. Gaio, um dos membros da igreja, não deixou intimidar por este ditador espiritual e hospedava os missionários e obreiros, os quais mais tarde, informaram ao apóstolo sobre a sua bondade. Parece que João estava para enviar estes mestres pela segunda vez (v. 6) e exortou a Gaio a continuar no ministério de amor para com eles. João mesmo escreveu uma carta de advertência a Diótrefes, que foi desprezada. Por isso, o apóstolo expressou a sua intenção de fazer uma visita pessoal à igreja e a destituir esse tirano eclesiástico. Resumiremos o tema da seguinte maneira : o dever da hospitalidade para com o ministério e o perigo de uma direção ditatorial.
PORQUE FOI ESCRITA.
Para elogiar Gaio por ter recebido esses trabalhadores cristãos que dependiam inteiramente da hospitalidade dos crentes e para denunciar a falta de hospitalidade e a tirania de Diótrefes.
 
 
EPÍSTOLA DE JUDAS (Leia a Epístola)
Tema. Há certa semelhança entre a segunda epístola de Pedro e a de Judas; ambas tratam da apostasia na igreja e descrevem os chefes dessa apostasia. Parece que Judas, a respeito deste tema, cita Pedro (Comp. II Pedro 3:3 e Judas 18). Ambos têm em mente a mesma classe de desviados — homens de moral relaxada e de excessos vergonhosos. Pedro descreve a apostasia como futura; Judas, como presente. Pedro expõe os falsos mestres como ímpios e extremamente perigosos, mas não no seu estado pior; Judas em extrema depravação e na maior desordem. Foi a presença destes homens na igreja, e a sua atividade em propagar as suas doutrinas, o que fez Judas escrever esta epístola, cujo tema é o dever que têm os cristãos de guardarem-se sem mancha, e de lutarem sinceramente pela fé, no meio da apostasia.
 
AUTOR. Acredita-se que o autor foi Judas, irmão de Tiago, e de nosso Senhor. Mar. 6:3.
PORQUE FOI ESCRITA. Para adverti-los contra os apóstatas dentro da Igreja, aqueles que, embora tendo negado a fé, ficaram ainda como membros da Igreja.
QUANDO FOI ESCRITA. Provavelmente entre 70 e 80 a. D.
CONTEÚDO.
Segue-se uma breve análise da epístola : Depois da saudação (vers. 1, 2), Judas menciona o propósito de sua missiva. A princípio, tinha a intenção de escrever a respeito da doutrina, mas a presença dos falsos mestres fez com que os advertisse para lutar pelas verdades do Evangelho (vers. 3, 4). Para ilustrar a condenação destes mestres, ele menciona três exemplos da antiga apostasia, (vers. 5-7). Estes apóstatas, sempre cedendo às suas próprias imaginações, são culpados tanto de pecado carnal, como de rebelião contra a autoridade (v. 8), e falam da autoridade em termos que nem Miguel, o arcanjo, se atreveu a usar ao falar a Satanás (V. 9). Atrevem-se a falar mal das coisas espirituais, que não compreendem. Mas nas coisas que compreendem, eles se corrompem (v. 10). Seu pecado e a sua condenação estão prefigurados pela Escritura (v. 11) e pela natureza (vers. 12, 13). São os temas verdadeiros da profecia de Enoque (v. 14). Quanto ao caráter, são murmuradores, queixosos, aduladores astutos, zombadores das coisas espirituais, homens que causam separações, que são inteiramente carnais, não tendo o ESPÍRITO de CRISTO (vers. 16-19). Os crentes, porém, em contraste com estes, devem edificar-se na fé, orar no ESPÍRITO SANTO, permanecer no amor de DEUS, sempre olhando a JESUS (vers. 20, 21). Quanto àqueles que erraram por fraqueza e estavam vacilando, devia-se ter compaixão; quanto aos outros, devia-se empregar um esforço supremo para salvá-los, mas ao mesmo tempo sempre vigilantes para não se contaminarem com a roupa manchada da doutrina corrompida e da vida sensual (vers. 22,23). Judas conclui com uma doxologia que louva àquele que pode guardar o crente de cair na apostasia e no pecado e que é capaz de conservá-lo irrepreensível até ao Grande Dia (vers. 24,25).
 
 
 
SUBSÍDIOS DA REVISTA DA CPAD - LIÇÃO 12 - AS EPÍSTOLAS INSTRUEM E FORMAM OS CRISTÃOS
PLANO DE AULA
1. INTRODUÇÃO
A lição desta semana tem como proposta apresentar o conjunto de doutrinas entregue à Igreja do Senhor por intermédio dos autores das epístolas do Novo Testamento. O conteúdo dessas epístolas tem como função instruir e formar os crentes no que diz respeito à fé cristã, bem como prepará-los para o encontro com o Senhor por ocasião do arrebatamento da Igreja.
2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição: I) Apresentar a instrução doutrinária de Paulo às igrejas no que diz respeito a pessoa de JESUS CRISTO e acerca das últimas coisas; II) Expor a natureza das epístolas gerais a respeito da fé, santificação, combate aos falsos ensinos e esperança da vida eterna; III) ressaltar a atualidade das epístolas do Novo Testamento no tocante às doutrinas da justificação, santificação e glorificação do crente.
B) Motivação: É fundamental que o crente conheça as doutrinas bíblicas registradas nas Cartas do Novo Testamento. Seus ensinamentos trazem o aperfeiçoamento da fé e amadurecimento do caráter Cristão.
C) Sugestão de Método: Elabore com seus alunos uma lista com o nome de cada epístola do Novo testamento e o seu respectivo propósito. Faça isso na lousa. Você pode consultar a Bíblia de Estudo Pentecostal para elaborar a lista. Reforce aos seus alunos que conhecer a natureza de cada epístola ajuda a direcionar a leitura e interpretar a mensagem intrínseca em cada epístola.
3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: Tudo o que a Igreja precisa conhecer no que diz respeito à vontade de DEUS está na Bíblia. As epístolas, inclusive, trazem as instruções doutrinárias que orientam os crentes à prática da fé, a santificação e preparação para a vida eterna.
4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão: Vale a apena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios às Lições Bíblicas. Na edição 88, p. 42, você encontrará um subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará um auxílio que dará suporte na preparação de sua aula: 1) O texto "Epístola" aprofunda o primeiro tópico, explicando o conceito de epístola bíblica e sua mensagem aos crentes da igreja primitiva; 2) O texto "O que é o Processo de Comunicação", localizado no final do terceiro tópico, traz ao docente uma reflexão a respeito do processo de comunicação do docente com o aluno. Será que a forma como nos comunicamos com os alunos tem sido eficiente?
 
 
SINÓPSE I - As epístolas paulinas nos instruem a respeito de CRISTO, sobre as últimas coisas e trazem instruções pastorais e pessoais.
SINÓPSE II - As epístolas gerais advertem o crente a respeito da santificação, dos falsos ensinos; e enfatizam a supremacia de CRISTO e a esperança da vida eterna.
SINÓPSE III - A mensagem das epístolas permanece atual: ressalta a justificação, santificação e glorificação do crente.

AUXÍLIO DE BIBLIOLÓGICO TOP1
“Epístolas
No uso geral, o termo epístola refere-se à correspondência escrita, seja particular ou pública. [...] No Novo Testamento, o termo grego espistole ocorre 24 vezes e é a designação de 21 dos escritos do Novo Testamento. [...] Em geral, as epístolas do Novo Testamento seguem a forma padrão das cartas antigas, como poder ser visto pelo estudo da extensa correspondência em papiros que foi preservada. A ordem epistolar usual era: nome do escritor e destinatários, saudação, oração ou desejo de bem-estar dos leitores, corpo da carta e saudações finais. Alguns, seguindo a sugestão de A. Deissmann, têm feito uma distinção entre cartas e epístolas. As cartas seriam pessoais, com trechos não-literários sem a intenção de uso permanente, ao passo que as epístolas seriam impessoais, com trechos literários, escritas para um público mais geral e com a intenção de permanência. Outros tem corretamente insistido que esta distinção é demasiadamente sofisticada e simplificada. A maioria das epístolas do Novo Testamento combina elementos tanto de cartas como de epístola, conforme distinguido por Deissmann. A correspondência do Novo Testamento foi, em sua maior parte, escrita em resposta a cartas ou palavras pessoais com relação a problemas ou necessidades que exigiram um tratamento por parte de alguém que tivesse autoridade apostólica” (Dicionário Bíblico Wyclifee. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pp.652,53).

AUXÍLIO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ TOP2
“O que é o Processo de Comunicação.
As partes do processo de comunicação são as seguintes:
1. Aquele que envia-codifica (o emissor-codificador) a mensagem (o professor). Essa pessoa tem três deveres. Em primeiro lugar, deve escolher as palavras. Em segundo lugar, deve dar sentido às palavras. Em terceiro lugar, deve usar as palavras adequadamente.
2. Aquele que recebe-decodifica (o receptor-decodificador) a mensagem (aluno). Essa pessoa também tem três deveres. Em primeiro lugar, deve reconhecer as palavras. Em segundo lugar, deve interpretar as palavras. Em terceiro lugar, deve relacionar o significado das palavras ao que já conhece.
3. A mensagem. Essa é a lição que o professor deseja ensinar.
4. O canal. Esse é o método que o professor usa para transmitir a lição.
A mensagem está na mente do professor, que é a pessoa que envia-codifica. O professor dá às palavras o significado que deseja transmitir ao seu aluno. A mensagem é colocada em um canal para ser transmitida ao aluno. Um canal é a maneira como o professor transmite a mensagem. O aluno (receptor-decodificador) deve receber a mensagem e decodificá-la. Quando ouvir as palavras do professor, deverá saber o seu significado. Este é o processo da interpretação. O aluno deve aplicá-las à sua vida” (TOWNS, Elmer L. Enciclopédia da Escola Dominical. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.163).
 

VOCABULÁRIO
Docetismo: Doutrina herética propagada entre os séculos II e III d.C., que nega a existência do corpo físico de JESUS. Para os propagadores dessa heresia, JESUS seria apenas espírito.

REVISANDO O CONTEÚDO
1. Cite as epístolas que dão instruções a respeito da salvação. As epístolas que enfatizam os aspectos da doutrina da salvação são: Romanos, Gálatas, 1 e 2 Coríntios.
2. Cite as epístolas que instruem a respeito dos últimos dias. As epístolas que enfatizam os últimos acontecimentos são: 1 e 2 Tessalonicenses.
3. O que 1 Pedro aborda? A epístola de 1 Pedro aborda o sofrimento cristão.
4. Qual é a ênfase da Carta aos Hebreus? A Carta aos Hebreus enfatiza a supremacia de CRISTO.
5. Explique a doutrina da glorificação. A doutrina da glorificação é a última etapa de nossa salvação.