Lição
2 - Um Libertador Para Israel
LIÇÕES
BÍBLICAS - 1º Trimestre de 2014 - CPAD - Para jovens e adultos
Tema:
Uma Jornada de Fé - A Formação do povo de Israel e sua herança espiritual
Comentário: Pr. Antônio Gilberto
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva
Comentário: Pr. Antônio Gilberto
Complementos, ilustrações, questionários e vídeos: Ev. Luiz Henrique de Almeida Silva
NÃO
DEIXE DE ASSISTIR AOS VÍDEOS DA LIÇÃO ONDE TEMOS MAPAS, FIGURAS, IMAGENS E
EXPLICAÇÕES DETALHADAS DA LIÇÃO
TEXTO ÁUREO
“E disse DEUS a Moisés: EU SOU o QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos
filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êx 3.14).
VERDADE PRÁTICA
Assim como Moisés, usado por DEUS, libertou Israel do cativeiro, CRISTO
nos liberta da escravidão do pecado e do mundo.
LEITURA DIÁRIA
Segunda- Hb 3.3 CRISTO é superior a Moisés
Terça- Hb 3.5 Moisés, um servo fiel
Quarta - Êx 2.23-2 5 DEUS ouve o clamor do povo
Quinta - Êx 3.10 DEUS chama Moisés
Sexta - Ex 4.3-8 DEUS confirma a liderança de Moisés com sinais
Sábado - Êx 5.1 Moisés diante de Faraó
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Êxodo 3.1-9
1 - E apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em
Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto e veio ao monte de DEUS, a Horebe.
2 -E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em uma chama de fogo, no meio de uma
sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
3 - E Moisés disse: Agora me virarei para lá e verei esta grande visão,
porque a sarça se não queima.
4 - E, vendo o SENHOR que se virava para lá a ver, bradou DEUS a ele do
meio da sarça e disse: Moisés! Moisés! E ele disse: Eis-me aqui.
5 - E disse: Não te chegues para S cá; tira os teus sapatos de teus pés;
porque o lugar em que tu estás é terra santa.
6 - Disse mais: Eu sou o DEUS de teu pai, o DEUS de Abraão, o DEUS de
Isaque e o DEUS de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para
DEUS.
7 - E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo, que
está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores, porque
conheci as suas dores.
8 - Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo
subir daquela terra a uma terra boa e larga, a uma terra que mana leite e mel;
ao lugar do cananeu, e do Heteu, e do a morreu, e do Ferezeu, e do Heveu, e do
Jebuseu.
9 - E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou a mim, e
também tenho visto a opressão com que os egípcios os oprimem.
INTERAÇÃO
DEUS tinha um plano traçado para o seu povo através de Moisés. Este o
conduziria até Canaã. Moisés foi dia a dia preparado e lapidado pelo Senhor
para cumprir os propósitos divinos. A formação de um líder requer tempo, mas
infelizmente muitos na atualidade não querem respeitar o momento de DEUS.
Vivemos em uma sociedade imediatista onde as pessoas não admitem mais esperar.
O enfoque da lição de hoje é o preparo de Moisés para se tornar o
libertador do povo de DEUS. Quando assumiu a missão de conduzir os israelitas
pelo deserto, Moisés já havia sido preparado pelas universidades egípcias e
pelo próprio Todo-Poderoso. O DEUS que levantou Moisés não mudou, Ele continua
a levantar e preparar pessoas para serem usadas na sua obra. Você está disposto
a servir mais a DEUS? O Senhor deseja usá-lo em sua obra para que muitos sejam
libertos da escravidão do pecado e da ignorância espiritual.
OBJETIVOS - Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:
Compreender como se deu a chamada e o preparo de Moisés.
Saber quais foram as desculpas apresentadas por Moisés ao Senhor.
Analisar como foi a apresentação de Moisés a Faraó.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, reproduza o mapa da página seguinte. Utilize-o para mostrar
aos alunos o caminho que Moisés teve que percorrer de volta ao Egito. Ele andou
aproximadamente 320 quilômetros. Enfatize que DEUS chamou Moisés para uma
importante Missão — libertar os israelitas do jugo da escravidão. Em obediência
ao Senhor, Moisés voltou ao Egito. Muitas vezes DEUS requer que voltemos de
onde saímos. Porém, ao retornar, Moisés era um novo homem. Agora não agiria
mais segundo as suas forças, mas em obediência restrita a DEUS.
TEXTO ÁUREO
“E disse DEUS a Moisés: EU SOU o QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos
filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós” (Êx 3.14).
VERDADE PRÁTICA
Assim como Moisés, usado por DEUS, libertou Israel do cativeiro, CRISTO
nos liberta da escravidão do pecado e do mundo.
Resumo da Lição 2 - Um Libertador Para Israel
I - MOISÉS - SUA CHAMADA E SEU PREPARO (ÊX 3.1-17)
1. DEUS chama o seu escolhido.
2. O preparo de Moisés (Êx 3.10-15).
3. O objetivo da chamada divina (Êx 3.10).
II - AS DESCULPAS DE MOISÉS E A SUA VOLTA PARA O EGITO
1, O receio de Moisés e suas desculpas.
2. DEUS concede poderes a Moisés.
3. O retorno de Moisés.
III - MOISÉS SE APRESENTA A FARAÓ (ÊX 5.1-5)
1. Moisés diante de Faraó.
2. A queixa dos israelitas (Êx 5.20,21).
3. DEUS promete livrar seu povo (Êx 6.1).
SINOPSE DO TÓPICO (1) - Moisés foi chamado e preparado por DEUS para que
cumprisse sua missão com excelência.
SINOPSE DO TÓPICO (2) - DEUS não aceitou as escusas de Moisés. Ele
também não aceitará as nossas, pois Lie conhece o mais profundo do nosso ser.
SINOPSE DO TÓPICO (3) - Depois do encontro que Moisés tivera com DEUS,
ele estava finalmente preparado para apresentar-se ao rei do Egito.
BIBLIOGRAFIA SUGERIDA
COHEN, Armando Chaves. Êxodo 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
HAMILTON, Victor P. Manual do Pentateuco. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 57, p.37.
Moisés foi sendo preparado dia a dia pelo Senhor a fim de que se
tornasse o líder do seu povo e os conduzisse rumo à Terra Prometida. Aprendemos
com a segunda lição do trimestre que DEUS vocaciona e chama líderes para sua
obra, porém aqueles que forem chamados precisam fazer a sua parte
preparando-se. Se você tem um chamado de DEUS em sua vida, prepare-se. Faça a
sua parte e deixe que o Senhor faça a dEle.
Moisés é preparado para se tornar o libertador (Êx 3.1-22)
Moisés viveu seus primeiros anos de vida na casa de seus pais.
Certamente uma família humilde, porém temente a DEUS. Em seu lar ele foi
preparado para poder viver mais tarde no palácio de Faraó. Segundo os
historiadores, como príncipe, Moisés teve uma educação primorosa, pois o texto
bíblico de Atos 7.22 declara que ele foi "instruído em toda a ciência dos
egípcios". O conhecimento adquirido por Moisés não foi certamente
desperdiçado, mas muito o ajudou como líder do seu povo, profeta, escritor e
legislador.
DEUS tinha um propósito definido ao chamar Moisés, Ele também tem um
propósito definido em sua vida. Porém, muitos não querem assumir um compromisso
com DEUS e a sua obra. Você deseja assumir um compromisso com o Todo-Poderoso?
Ao chamar Moisés, DEUS foi bem enfático quanto ao seu propósito:
"Para que tires o meu povo do Egito" (Êx 3.8-10). DEUS desejava
redimir o seu povo e organizá- -lo como nação a fim de que todas as famílias da
terra fossem abençoadas. O Senhor precisava de um único homem, Moisés, para
redimir seu povo da escravidão. Na Nova Aliança, DEUS também necessitava de um
único homem, porém este deveria ser perfeito. Então o Todo-Poderoso enviou seu
próprio Filho, JESUS CRISTO. JESUS atendeu ao Pai, se fez homem e habitou entre
nós para nos libertar da escravidão do pecado (Jo 3.16).
Quantos, ao serem chamados pelo Senhor para alguma obra já não
apresentaram uma lista vasta de desculpas? Com Moisés não foi diferente, ele
também apresentou a DEUS várias dificuldades. Porém, assim como nós, ele se
esqueceu de que DEUS é o nosso Criador. Ele nos conhece melhor do que nós
mesmos. As escusas de Moisés, assim como as nossas, não vão impressionar o
Senhor. Confie naquEle que está chamando você e não queira perder tempo com
desculpas.
Quem sabe o Senhor não esteja também chamando você para a realização da
sua obra? Evite as escusas. Confie no Senhor e permita que Ele use seus dons e
talentos para que muitos sejam libertos da escravidão do pecado.
COMENTÁRIO
INTRODUÇÃO
DEUS tinha um plano de libertação para Israel, e iria usar um homem
chamado Moisés para tal feito. Neste capítulo veremos de que forma DEUS tratou
com Moisés pessoalmente, chamando-o para que fosse uma das grandes figuras do
Antigo Testamento.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 16.
MOISÉS O grande líder e legislador dos hebreus, sob cuja mão DEUS levou
os israelitas do Egito às fronteiras da terra prometida. Moisés foi a maior
personalidade na dispensação do AT, porque foi seu fundador e, como tal,
tipificou o Senhor JESUS CRISTO (cf. Hb 3.1-6).
O nome. Em Êxodo 2.10, é feito um trocadilho com o nome Moisés: "E
chamou o seu nome Moisés e disse: Porque das águas o tenho tirado
[meshiti-hu]". Há uma questão exegética relacionada à pessoa que deu o
nome a Moisés. Se foi sua mãe, possivelmente a palavra deveria ser explicada
como relacionada a masha ("extrair"), uma adaptação semítica de uma
forma egípcia. Por outro lado, a maioria dos estudiosos pensa que a filha do
Faraó escolheu o seu nome, e que a palavra é realmente egípcia, embora existam
dificuldades lingüísticas em tal opinião.
A vida. De acordo com Êxodo 2.1, os pais de Moisés eram descendentes de
Levi, embora não possamos dizer quantas gerações houve entre Levi e Moisés. A
história da infância de Moisés é bem conhecida. Desafiando a ordem do rei de
lançar no rio todo menino que nascesse, os pais esconderam o bebê Moisés em uma
arca, uma pequena cesta de bambu, vedada com piche. Arca de Juncos. A
filha do Faraó foi ao rio se banhar, viu a arca, e teve compaixão da criança. A
irmã de Moisés, que estava por perto, armou um plano para que a sua mãe tomasse
conta dele. Assim DEUS graciosamente salvou a vida do menino.
Com relação à sua vida na corte egípcia, praticamente nada se sabe,
salvo que de acordo com Hebreus 11.24, Moisés "recusou ser chamado filho
da filha de Faraó". Sabemos que ele foi "instruído em toda a ciência
dos egípcios" (At 7.22). Sabemos também que quando cresceu, ele demonstrou
interesse pelo bem estar do seu povo. Ao ver um egípcio espancando um hebreu,
Moisés interveio e matou o egípcio. No segundo dia, quando Moisés tentou
intervir na disputa entre dois hebreus, um deles o acusou referindo-se ao
assassinato do dia anterior. Moisés percebeu que sua façanha tinha sido
descoberta e fugiu para Midiã, um distrito da Arábia. Faraó ficou sabendo da
sua atitude e procurou matá-lo.
Ao mesmo tempo, Moisés não temeu a ira do rei (Hb 11.27). Em Midiã ele
ajudou as filhas de Reuel (Jetro) a dar de beber ao seu rebanho e mostrou a
nobreza do seu caráter ao defendê-las de outros pastores. Ele se casou com
Zípora, uma das filhas de Jetro. Com relação à sua vida como pastor de ovelhas
em Midiã, pouco se sabe, porque o propósito das Escrituras não é tanto enfocar
a atenção nos detalhes da vida de Moisés, porém, mostrar seu lugar na obra de
libertação e no cumprimento dos propósitos de DEUS. No deserto, DEUS apareceu a
Moisés na sarça ardente, pois a obra do DEUS da aliança na redenção é cercada
por milagres. Este evento tinha todas as características de um verdadeiro
milagre; era um trabalho realizado pelo poder sobrenatural de DEUS no mundo
exterior. DEUS fez com que a sarça queimasse de forma que Moisés o visse. Isto
parece ter sido contrário à obra providencial usual do Senhor, e assim atende
aos requisitos do termo niflaoth ("maravilhas" "aquelas coisas
que são distintas"). Além do mais, o evento tinha o propósito de ser um
sinal. Ele indicava a presença de DEUS como um fogo consumidor, e revelava que
a sua presença estava com o seu povo. Este evento mostrava que Ele os
libertaria da escravidão, e que não havia se esquecido das suas promessas aos
patriarcas.
Moisés estava de alguma forma hesitante em retornar ao Egito para
encontrar o Faraó e, de modo amoroso, DEUS tratou com ele, assegurando-lhe que
estaria com ele. O Senhor permitiu que o irmão de Moisés, Arão agisse como
intermediário ou profeta, declarando a palavra de Moisés - a mensagem dada por
DEUS - a Faraó.
O encontro com Faraó foi muito interessante. Em última análise, ele
levou a uma competição entre Jeová, o DEUS de Israel, e o "deus"
Faraó, uma representação dos poderes das trevas. Em primeiro lugar, Moisés
simplesmente pediu que os israelitas tivessem permissão para fazer uma pequena
viagem ao deserto e adorar ao seu DEUS. Como seu pedido fora recusado, DEUS
mostrou seus sinais e maravilhas a Faraó. As pragas tiveram a finalidade de
convencer os egípcios e os israelitas de que o DEUS de Israel era o DEUS
Todo-poderoso. As pragas culminaram com a morte do primogênito do
Faraó.
O relato de Êxodo é transmitido de maneira simples e direta. Quando os
israelitas chegaram ao Sinai, DEUS revelou que Ele os havia escolhido para
serem o seu povo, e deu-lhes sua lei, santa e imutável. Moisés deveria ser o
mediador entre a nação e DEUS. As Escrituras relatam as peregrinações dos
israelitas até chegarem às fronteiras da Palestina, porém Moisés não foi
autorizado a entrar na terra. Ele morreu e foi sepultado no monte Nebo, e não
se conhece a localização de sua sepultura. O esboço da vida de Moisés, descrito
acima, revela a importância deste grande homem. Sua verdadeira grandeza é
trazida, entretanto, em conexão com um episódio que se passou depois que os
israelitas deixaram o Sinai. Miriã e Arão demonstraram ciúme pelo fato de DEUS
ter dado revelações a Moisés. "Porventura, falou o Senhor somente por
Moisés? Não falou também por nós?" (Nm 12.2). Moisés não podia falar em
sua própria defesa, por causa da elevada posição que ocupava no plano divino.
Ele foi humilde na elevada posição em que foi colocado por DEUS, de forma que
se engajar em uma defesa pessoal teria desviado a atenção da sua posição, e
atraído a atenção para si, pessoalmente. Por esta razão, o Senhor interveio
subitamente e esclareceu o relacionamento correto entre Moisés, Arão e Miriã.
Para os verdadeiros profetas, DEUS se fez conhecer por intermédio de sonhos e
visões; mas para Moisés, que era seu servo e fiel em toda a sua casa, o Senhor
falou diretamente e sem a capa da ambigüidade. O mesmo pensamento é encontrado
em Hebreus 3, onde se faz uma comparação entre Moisés e CRISTO. Nesta passagem
fica claro que Moisés foi o homem mais exaltado na dispensação do AT, e ainda
que esta dispensação apontava diretamente para o Senhor JESUS CRISTO, e nele
teria o seu cumprimento. Enquanto Moisés, como servo, foi fiel em toda a casa
de DEUS, CRISTO, como o Filho, governa aquela casa. O AT é, em grande parte, o
relato da dispensação Mosaica. Entretanto, os profetas e todos os outros como
Miriã e Arão, estavam em uma posição inferior à de Moisés. Por isso, o pecado
de Miriã e Arão era tão abominável. Miriã, que sem dúvida foi a instigadora,
foi punida com lepra. Moisés, o homem que ocupou esta posição exaltada no plano
divino do AT, era um homem de verdadeira grandeza. Ele viveu pela fé em DEUS
(cf. Hb 11.27), e teve uma profunda preocupação pela honra do DEUS a quem
servia (Nm 14.13ss.). Esta preocupação também manifestava um desejo genuíno de
que os propósitos de DEUS fossem cumpridos. Uma leitura cuidadosa de Hebreus 11
mostra que Moisés tinha consciência de que era um servo de DEUS, a serviço do
cumprimento dos seus propósitos de redenção. Moisés chegava a considerar a
possibilidade de ter o seu próprio nome riscado do livro de DEUS, para que o
seu povo pudesse ser salvo (Êx 32.32). Só um homem com uma profunda devoção
poderia ter servido ao Senhor em tantas situações como Moisés. Ele se mostrou
um verdadeiro líder do seu povo. Embora tenha pecado e, às vezes, demonstrado
fraquezas, prosseguiu em sua tarefa até levar o povo à fronteira da terra
prometida. Na época da grande apostasia, no incidente do bezerro de ouro, ele
afirmou vigorosamente a sua liderança. O mesmo ocorreu na rebelião de Corá,
Data e Abirão (Nm 16). Só um homem da grandeza de Moisés poderia ter trazido a
nação de Israel do Egito até a terra prometida. Moisés também era um
legislador, e será sempre lembrado neste aspecto. "A lei foi dada por
Moisés" (Jo 1.17). Israel recebeu mais do que um código de leis tal como o
código-lei de Hamurabi; na realidade, Moisés era o mediador de uma aliança. Um
estudo dos tratados e alianças feitos pelos antigos heteus indica que ao dar a
aliança a Israel, DEUS empregou uma forma que foi bem entendida na época, o
chamado tratado de suserania. Entre este tipo de aliança e a aliança de Israel
há similaridades formais. Entretanto, há uma diferença profunda em relação ao
conteúdo. Os suseranos heteus impunham uma série de condições que os povos
conquistados tinham que obedecer. Entre o rei e o povo não havia amor ou
afeição especial. No caso de Israel, entretanto, tudo era diferente. Israel
deveria ouvir a voz de DEUS e obedecê-la, porque DEUS era verdadeiramente
soberano. Além do mais, DEUS havia manifestado o seu amor por Israel através de
sua escolha e redenção. Israel foi a nação que DEUS escolheu dentre todas as nações
que estão sobre a face da terra. Ela seria o seu povo peculiar e a proximidade
do seu relacionamento com DEUS foram demonstradas através de sua libertação da
escravidão do Egito. Israel não prestaria uma obediência baseada na força, mas
como uma nação santa, sem dúvida serviria ao seu DEUS em amor, como um reino de
sacerdotes. DEUS se revelou a Israel como Jeová, o DEUS da aliança, o DEUS da
libertação. O homem que foi honrado por DEUS como mediador da aliança foi
Moisés. Moisés também demonstrou a sua grandeza através de suas produções
literárias. Como mediador da aliança, o servo fiel na casa de DEUS, Moisés foi
o autor da lei, os cinco livros que falam do estabelecimento da teocracia. A
questão da autoria Mosaica, então, é fundamentalmente teológica. Os livros de
Moisés diferenciam-se de todos os demais livros do AT, pois mostram o
pensamento daquele homem que foi escolhido por DEUS para ser mediador da
aliança, o pensamento de um legislador.
Isto não sugere que estes livros contenham algo imaginário. Moisés sem
dúvida empregou documentos escritos que foram transmitidos de geração em
geração; sem dúvida empregou sua vasta cultura, pois foi um homem criado em
toda a sabedoria e conhecimento dos egípcios (At 7.22). Também não podemos nos
esquecer de que os 5 livros da lei são Escrituras; e, assim, ao escrevê-los,
Moisés foi um profeta que revelou as palavras de DEUS ao povo. Ele se tornou o
padrão para todos os verdadeiros profetas que se seguiram, culminando no Senhor
JESUS CRISTO, o Messias (Dt 18.15,18). Como um escritor das Escrituras, ele
estava sob a direção do ESPÍRITO SANTO, de tal forma que escreveu sob a
inspiração de DEUS (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21). Assim, os 5 livros de Moisés, cujo
autor humano era um servo de DEUS, são também a Palavra de DEUS.
Moisés e o golpe na rocha. Depois de uma longa jornada pelo deserto,
Moisés não teve permissão para entrar na terra prometida. O motivo declarado é
que ele golpeou a rocha em Cades. Este foi um ato de desobediência, no qual
DEUS não estava sendo glorificado. Golpear a rocha também foi um ato de
descrença por parte de Moisés. Aqui, o grande líder hesitou; aqui ele renunciou
efetivamente a tudo que ele mesmo representava, e mostrou descrença na Palavra
de DEUS. Por este motivo, não lhe foi permitido entrar na terra prometida. Este
episódio é uma mácula no currículo do servo fiel e confiável do DEUS da
aliança.
PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag.
1300-1302, 1304.
I - MOISÉS - SUA CHAMADA E SEU PREPARO (ÊX 3.1 17)
1. DEUS chama o seu escolhido.
Moisés foi chamado por DEUS quando estava vivendo em Midiã, com seu
sogro Jetro. Ele chegara a Midiã aos 40 anos, fugido do Egito, e agora, aos 80
anos, quando cuidava das ovelhas do sogro, tem um encontro com DEUS.
Moisés foi chamado por DEUS em uma fase da vida em que, aos olhos
humanos, poderia se aposentar e aproveitar os poucos anos que lhe restariam sem
se aborrecer. Mas aqui reside um principio divino: DEUS não depende de nossa
faixa etária para nos convocar a ser úteis para Ele. Com certeza havia pessoas
mais jovens e mais dispostas a fazer o que Moisés faria, mas DEUS escolheu
Moisés para aquela missão.
DEUS não apenas escolhe as pessoas para determinadas obras, mas também
as convoca. De que adianta ser escolhido por DEUS e não ser informado dessa
chamada? Como DEUS faz tudo de forma perfeita, Ele mesmo se encarregou de falar
com Moisés de modo sobrenatural e convincente.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 16-17.
O ENCONTRO ENTRE DEUS E MOISÉS (3-5)
Em função desses acontecimentos e antes do comissionamento de Moisés,
ocorre o episódio da sarça ardente (3.1-6). O termo hebraico para “sarça”
(sêneh) só aparece no Antigo Testamento aqui e em Deuteronômio 33.16, quando
Moisés canta que DEUS era “[aquele] que habitava na sarça (ardente)”. Quão
oportuno que as últimas palavras de Moisés registadas nas Escrituras sejam,
entre outras coisas, sobre seu primeiro encontro com DEUS na sarça ardente!
Essa palavra hebraica soa e faz lembrar a palavra “Sinai” (,sny e snft). Por
duas vezes, DEUS apareceu a Moisés de forma incandescente. Primeiro em uma snh
(capítulo 3), depois no sny (capítulo 19). DEUS costuma aparecer nos locais
mais inesperados, como em uma sarça. Foi próximo a um arbusto que Ele apareceu
para Agar (Gn 21.15, com uma outra palavra hebraica para “arbusto”, síah) e foi
em um arbusto, ou sarça, que apareceu pela primeira vez a Moisés. Falando em lugares
inesperados, talvez seja possível estabelecer uma analogia entre o anjo de DEUS
que apareceu no meio do nada para o pastor Moisés, fazendo um importante
anúncio; e os anjos que apareceram diante de um grupo de pastores, no meio do
nada, a fim de fazer um importante anúncio (Lc 2.8-20).
VICTOR P. HAMILTON. Manual do Pentateuco. Editora CPAD. pag. 160.
O QUE VEMOS E OUVIMOS
Examinemos agora o que Moisés viu e ouviu, atrás do deserto. Teremos
ocasião de ver como ele aprende ali lições que estão muito acima da
inteligência dos mais eminentes sábios do Egito. Poderia parecer à razão humana
uma estranha perda de tempo um homem como Moisés ter de passar quarenta anos
sem fazer nada senão guardar ovelhas no deserto. Porém, ele estava ali com
DEUS, e o tempo assim passado nunca é perdido. É conveniente recordar que há
para o verdadeiro servo de CRISTO alguma coisa mais do que mera atividade. Todo
aquele que está sempre em atividade corre o risco de trabalhar demais. Um tal
homem deveria meditar cuidadosamente nas palavras profundamente práticas do
Servo perfeito: "Ele desperta-me todas as manhãs, desperta-me o ouvido
para que ouça, como aqueles que aprendem" (Isaías 50:4). O servo deve
estar frequentemente na presença do seu mestre, a fim de poder saber o que deve
fazer. O "ouvido" e a "língua" estão intimamente unidos, em
vários aspectos; porém, debaixo do ponto de vista espiritual, ou moral, se o
ouvido está fechado e a língua desatada, não restam dúvidas que se dirão muitas
coisas bem tolas. Por isso, "amados irmãos... todo o homem seja pronto
para ouvir; tardio para falar" (Tiago 1:19). Esta exortação oportuna
baseia-se em dois fatos: a saber, que tudo o que é bom vem do alto, e que o
coração está repleto de maldade, pronto a transbordar. Daí, a necessidade de ter
o ouvido aberto e a língua refreada: rara e admirável ciência!—ciência na qual
Moisés fez grande progresso "atrás do deserto", e que todos podem
adquirir, desde que estejam dispostos a aprender nessa escola.
A SARÇA
"E apareceu-lhe o Anjo do SENHOR em uma, chama de fogo no meio de
uma sarça; e olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se consumia.
E Moisés disse: agora me virarei para lá e verei esta grande visão, porque a
sarça se não queima" (versículos 2-3). Era efetivamente uma grande visão,
porque uma sarça ardia e não se consumia. A corte do Faraó nunca poderia
oferecer nada de semelhante. Porém, era uma visão graciosa porque nela era
simbolizada de um modo notável a situação dos eleitos de DEUS. Eles
encontravam-se no meio do forno do Egito; e o Senhor revelava-se no meio de uma
sarça ardente. Porém, assim como a sarça se não consumia, tampouco eram eles
consumidos, porque DEUS estava com eles. "O SENHOR dos Exércitos está
conosco: o DEUS de Jacó é o nosso refúgio" (SI 46:7). Aqui temos força e
segurança, vitória e paz. DEUS conosco, DEUS em nós, e DEUS por nós. Isto é
provisão abundante para todas as necessidades.
Não há nada mais interessante e mais instrutivo do que a maneira como
aprouve ao Senhor revelar-Se a Moisés na passagem que estamos considerando. Ele
ia confiar-lhe o encargo de tirar o Seu povo do Egito, para que eles fossem a
Sua Assembleia, para habitar no meio deles tanto no deserto como na terra de
Canaã; e é do meio de uma sarça que lhe fala.
Símbolo belo, solene e próprio do Senhor habitando no meio do Seu povo
eleito e resgatado; "O nosso DEUS é um fogo consumidor" (Hb
12:29)-não para MOS consumir, mas para consumir em nós e à nossa volta tudo que
é contra a Sua santidade, e que é, portanto, um perigo para a nossa verdadeira
e eterna felicidade. "Mui fiéis são os teus testemunhos; a santidade
convém à tua casa, SENHOR, para sempre" (Salmo 93:5).
O Velho e o Novo Testamento encerram vários casos em que DEUS Se
manifesta como "um fogo consumidor": como por exemplo o caso de Nadabe
e Abiú, em Levítico 10. Tratava-se de uma ocasião solene. DEUS habitava no meio
do Seu povo, e queria manter este numa posição digna de Si Próprio. Não podia
ter feito outra coisa. Não seria para Sua glória nem para proveito dos Seus se
Ele tolerasse qualquer: coisa, neles incompatível com a pureza da Sua presença.
O lugar de habitação de DEUS tem que ser santo.
Do mesmo modo, em Josué, capítulo 7, temos outra prova notável, no caso
de Acã, de que o Senhor não pode sancionar o mal com a Sua presença, qualquer
que seja a forma que o mal possa revestir ou por muito oculto que possa estar.
O Senhor é "um fogo consumidor", e, como tal, tinha de agir a
respeito de tudo que pudesse manchar a Assembleia no meio da qual habitava.
Procurar unir a presença de DEUS com o pecado não julgado é o indício da
impiedade.
Ananias e Safira (Atos, 5) dão-nos a mesma lição. DEUS o ESPÍRITO SANTO
habitava na Igreja, não somente como uma influência, mas, sim, como uma pessoa
divina, de tal maneira que ninguém podia mentir na Sua presença. A Igreja era,
e é ainda agora, morada de DEUS; e é Ele Quem deve governar e julgar no meio
dela. Os homens podem reviver em união a concupiscência, a impostura e a
hipocrisia; mas DEUS não pode fazê-lo. Se quisermos que DEUS ande conosco, devemos
julgar os nossos caminhos, ou então Ele os julgará por nós (1 Co 11:29-32).
Em todos estes casos e em muitos mais que podíamos aduzir, vemos a força
destas palavras solenes, "a santidade convém à tua casa, SENHOR, para
sempre" (SI 93:5). Para aquele que a tiver compreendido, esta verdade
produzirá sempre sobre ele um efeito moral idêntico àquele que exerceu sobre
Moisés: "Não te chegues para cá; tira os teus sapatos de teus pés; porque
o lugar em que tu estás é terra santa" (versículo 5). O lugar da presença
de DEUS é santo, e só se pode caminhar por ele com os pés descalços. DEUS,
habitando no meio do Seu povo, comunica à Assembleia desse povo um caráter de
santidade que é a base de todo o santo afeto e de toda a santa atividade. O caráter
da habitação deriva do caráter d'Aquele que a habita.
A aplicação deste princípio à Igreja, que é agora a habitação de DEUS,
em ESPÍRITO, é da maior importância prática. Assim como é bem-aventuradamente
verdade que DEUS habita, pelo Seu ESPÍRITO, em cada membro da Igreja, dando
deste modo um caráter de santidade ao indivíduo, é igualmente certo que Ele
habita na Assembleia; e, por isso, a Assembleia deve ser santa. O centro em
volta do qual os membros se reúnem é nada menos do que a Pessoa de um CRISTO
vivo, vitorioso e glorificado. O poder que os une é nada menos do que o
ESPÍRITO SANTO; e o Senhor DEUS Todo-Poderoso habita neles e entre eles (vede
Mt 18:20; 1 Co 6:19; 3:16-17; Ef 2:21-22). Se tais são a santidade e dignidade
que pertencem à morada de DEUS, é evidente que nada impuro, quer seja em
princípio, quer na prática, deve ser tolerado. Todos os que estão lugar em que
tu estás é terra santa." "Se alguém destruir o templo de DEUS, DEUS o
destruirá" (1 Co 3:17). Estas palavras são dignas de toda a aceitação da
parte de todos os membros da Assembleia—de cada pedra viva no Seu santo templo!
Possamos nós todos aprender a pisar os átrios do Senhor com os pés descalços!
O Monte Horebe: Santidade e Graça Debaixo de todos os aspectos, as
visões de Horebe rendem testemunho, ao mesmo tempo, da graça e da santidade do
DEUS de Israel. Se a graça de DEUS é infinita, a Sua santidade também o é; e,
assim como a maneira em que Ele se revelou a Moisés nos faz conhecer a
primeira, o próprio fato de Se revelar atesta a última. O Senhor desceu porque
era misericordioso; mas, depois de haver descido, é dito que Se revelou como
sendo santo: "Disse mais: Eu sou o DEUS de teu pai, o DEUS de Abraão, o
DEUS de Isaque e o DEUS de Jacó. E Moisés encobriu o seu rosto, porque temeu
olhar para DEUS" (versículo 6). A natureza humana esconder-se-á sempre
como resultado da presença divina; quando estamos na presença de DEUS, com os
pés descalços e o rosto coberto, quer dizer, naquela disposição de alma que
esses atos exprimem de um modo tão admirável, estamos em condições vantajosas
para ouvir os doces acentos da graça. Quando o homem ocupa o lugar que lhe
compete, DEUS pode falar-lhe em linguagem de pura misericórdia.
"E disse o SENHOR: Tenho visto atentamente a aflição do meu povo,
que está no Egito, e tenho ouvido o seu clamor por causa dos seus exatores,
porque conheci as suas dores. Portanto, desci para livrá-lo da mão dos egípcios
e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e larga, a uma terra que
mana leite e mel;.. .E agora, eis que o clamor dos filhos de Israel chegou a
mim, e também tenho visto a opressão com que os egípcios os oprimem"
(versículos 7 a 9). Neste trecho, a graça absoluta, livre e incondicional do
DEUS de Abraão brilha em todo o seu esplendor, livre dos "ses" e dos
"mas", dos votos, das resoluções e das condições impostas pelo
espírito legalista do homem. DEUS havia para Se manifestar em Sua graça
soberana, para realizar a obra de salvação, para cumprir a Sua promessa a
Abraão, promessa repetida a Isaque e a Jacó. Não havia descido para ver se, na
realidade, os herdeiros da promessa estariam em condições de merecer a
salvação. Bastava-Lhe que Necessitassem dela. Ponderarão seu estado oprimido,
as suas aflições, as suas lágrimas, os seus suspiros, e a sua pesada servidão;
pois, bendito seja o Seu nome, Ele conta os "ais" do Seu povo e põe
as suas lágrimas no Seu odre (Sl 56:8). Não foi por coisa alguma de bom que
houvesse visto neles que os visitou, porque Ele sabia o que havia neles. Numa
palavra, o verdadeiro fundamento da intervenção misericordiosa do Senhor a
favor do Seu povo é revelado nestas palavras: "Eu sou o DEUS de
Abraão" e "Tenho visto a aflição do meu povo."
Estas palavras revelam um princípio fundamental nos caminhos de DEUS. É
com base naquilo que Ele é que atua sempre. "EU SOU" assegura todas
as cosias para "O MEU POVO". Certamente, DEUS não ia deixar o Seu
povo no meio dos fornos de tijolo do Egito, e debaixo do azorrague dos exatores
do Faraó. Era o Seu povo, e, portanto, queria agir, com respeito a esse povo,
de uma maneira digna de Si Próprio. O fato de ser o Seu povo, o objeto
favorecido do Seu amor de eleição e possuidor da Sua promessa incondicional,
era suficiente. Nada podia impedir a manifestação pública da relação que
existia entre o Senhor e aqueles a quem, segundo os Seus desígnios eternos,
havia sido assegurada a posse da terra de Canaã. Havia descido para os
libertar, e os poderes da terra e do inferno reunidos não poderiam retê-los nem
uma hora além do tempo determinado por Ele. Podia servir-Se, e de fato
serviu-Se, do Egito como escola, na qual estava o Faraó como um mestre; porém,
uma vez cumprida a sua missão, o mestre e a escola são postos de parte, e o Seu
povo é libertado com mão forte e braço estendido.
A GRAÇA DE DEUS LEMBRA-SE SOMENTE DOS ATOS DA FÉ (HEBREUS 11)
Nisto, como em tudo mais, o Mestre bendito forma um contraste notável
com os Seus servos mais honrados e destacados. O próprio Moisés
"temeu" (versículo 14), e Paulo teve de se arrepender (2 Co 7:8);
porém, o Senhor JESUS nunca fez uma coisa nem outra. Jamais se viu forçado a
recuar um passo, a arrepender-se duma palavra ou a corrigir um pensamento.
Tudo quanto fez foi absolutamente perfeito. Era tudo fruto dado na
estação própria. O curso da Sua vida santa e celestial deslizava adiante sem
obstáculos nem deslizes. A sua vontade estava perfeitamente submissa ao Pai. Os
melhores homens, e até mesmo os mais dedicados, cometem erros; mas é
perfeitamente exato que quando mais, pela graça, nos é dado mortificarmos a nossa
vontade, menos erramos. E uma feliz circunstância quando, dum modo geral, a
nossa vida é de fé e de dedicação exclusiva a CRISTO.
Assim sucedeu com Moisés. Era um homem de fé, um homem que absorveu em
alto grau o espírito do seu Mestre e que seguiu com maravilhosa firmeza os Seus
passos. É certo que antecipou, como notamos, em quarenta anos o período
que DEUS destinara para julgar o Egito e libertar Israel; todavia, quando
lemos o comentário inspirado do Capítulo 11 de Hebreus nenhuma menção encontramos
deste fato. Encontramos somente o princípio divino que, dum modo geral,
orientou a sua vida: "Pela fé, Moisés, sendo já grande, recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, escolhendo, antes, ser maltratado com o povo
de DEUS do que por, um pouco de tempo, ter o gozo do pecado; tendo, por maiores
riquezas, o vitupério de CRISTO do que os tesouros do Egito; porque tinha em
vista a recompensa. Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque
ficou firme, como vendo o invisível" (Hb 11: 24-27). Esta passagem
apresenta-nos os atos de Moisés de uma maneira cheia de graça. É assim que o
ESPÍRITO SANTO sempre conta a história dos santos do Velho Testamento. Quando
descreve a vida dum homem, apresenta-o como ele é, com todas as suas falhas e
imperfeições. Mas quando, no Novo Testamento, comenta essa biografia limita-se
a dar o princípio que o orientou e o resultado da sua atividade. Por isso, não
obstante lermos em Êxodo que Moisés "olhou a uma e a outra banda", e
disse; "certamente este negócio foi descoberto", e por fim que
"fugiu de diante da face de Faraó", lemos também na epístola aos
Hebreus que o que ele fez, fê-lo "pela fé"— não temeu a ira do rei —
e ficou firme como vendo o invisível.
Assim acontecerá em breve quando vier o Senhor, "o qual também trará
à luz as coisas ocultas das trevas e manifestará os desígnios dos corações; e
então cada um receberá de DEUS o louvor" (1 Co 4:5). Eis aqui uma verdade
consoladora e preciosa para toda a alma reta e o coração fiel. O coração pode
formar muitos projetos que, por diversas razões, a mão não pode realizar. Todos
esses intentos serão manifestados quando o Senhor vier. Bendita seja a graça
divina por nos haver dado uma tal certeza! As devoções do coração são muitos
mais preciosas para CRISTO do que as obras mais espaventosas que as mãos possam
executar. Estas podem dar algum brilho aos olhos do homem; mas aquelas são
devidamente apreciadas pelo coração de JESUS. As obras podem ser assunto de
conversação dos homens, mas as afeições são manifestadas diante de DEUS e dos
Seus anjos. Que todos os servos de CRISTO saibam ter os seus corações somente
ocupados com Ele e os seus olhos postos na Sua vinda.
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação
Religiosa Imprensa da Fé.
2. O preparo de Moisés (Êx 3.10-15).
DEUS se utiliza de diversos recursos para treinar aqueles a quem
escolheu. Com Moisés não foi diferente. Ele passou por pelo menos três grandes
ambientes em sua vida, onde fora colocado por DEUS para exercer seu ministério
futuro como libertador, legislador e líder de um grupo de pessoas que deixaria
uma vida de escravidão para entrar em uma terra própria e se tornarem uma
nação.
O primeiro grande ambiente pelo qual Moisés passou foi, sem dúvida, o
lar em que foi criado por seus pais. Lá ele foi instruído sobre seu povo e sua
cultura, e certamente aprendeu algo acerca de DEUS.
O segundo grande ambiente foi a corte do Egito. Nesse local ele foi
ensinado no que o Egito tinha de melhor em tecnologia e conhecimento,
construindo uma vida acadêmica e preparando-se para um futuro brilhante na
liderança egípcia.
O terceiro foi o deserto. A esse lugar Moisés se dirigiu quando matou um
egípcio e foi perseguido. Em Midiã, Moisés constituiu uma família com Zipora,
filha de Jetro. Não há indícios de que Moisés tenha se casado no Egito.
Portanto, o preparo de Moisés durou muitos anos, e mesmo que ele não o
soubesse, DEUS o estava preparando como instrumento para uma grande missão.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 17.
O Pacto Abraâmico foi confirmado a Moisés (Êxo. 2.24). Ele foi nomeado
para tornar-se um instrumento especial desse pacto, passando a desempenhar um
papel cêntrico para tirar Israel do Egito e fazê-lo voltar à Terra Prometida.
Jacó e seus filhos, ao fugirem da seca na terra de Canaã, desceram ao Egito
para estarem em companhia de José (ver Gên. 46-50). Isso armou o palco para o
exílio e a escravidão naquele país. Agora, essa situação seria revertida, e o
cronograma de DEUS estava avançando para uma fase nova. Ver Gên. 15.13,16 e as
notas sobre 0 Pacto Abraâmico em Gên. 15.18.
Os críticos pensam que esta seção é uma mescla das fontes informativas
J, E e P(S). Moisés era considerado o maior de todos os profetas de Israel
(Êxo. 34.10); e outros ainda o exaltavam mais do que isso (Núm. 12.6,7). Seja
como for, ele foi o homem escolhido por DEUS para aquele momento crítico. Foi
mister que ele recebesse uma autoridade e um poder real, e isso lhe foi
concedido pela presença de DEUS, que começou quando da teofania que lhe foi
outorgada. Isso faz-nos lembrar da chamada de Isaías (Isa. 6).
A seção à nossa frente consiste em três divisões:
1. Confrontação com DEUS (Êxo. 3.1-12)
2. Instruções (Êxo. 3.13-22)
3. Queixas de Moisés (Êxo. 4.1-17).
Êx 3.1 Apascentava Moisés o rebanho. Moisés sentia-se satisfeito no
deserto, enquanto ajudava a cuidar do rebanho de seu sogro. Não havia
excitações, mas também não havia ameaças nem necessidades. Tinha tudo 0 de que
precisava, com sua pequena família: sua esposa e seus dois filhos. Mas 0 plano
de DEUS em breve haveria de agitar a sua vida, preparando-o para uma
importantíssima mis- são. Por igual modo, séculos depois, Davi também foi
arrancado de suas ocupações pastoris para cumprir um notável destino.
Jetro. Em Êxo. 2.18, o nome do sogro de Moisés aparece como Reuel. Ver
as notas em Êxo. 2.16-18 quanto ao problema da aparente confusão de nomes
próprios. Talvez Reuel fosse o pai de Jetro.
O lado ocidental do deserto. Essa era a estreita faixa de terra fértil
que ficava por trás da planície arenosa, estendendo-se desde a serra do Sinai
até as praias do golfo Elanítico.
Horebe. Chamado algures de “monte de DEUS”. Cuidando de seu rebanho,
Moisés acabou chegando a esse lugar. E ali, inesperadamente, teve um encontro
com a presença de DEUS. Parece que Horebe era o nome de toda a cadeia
montanhosa que havia naquela área. O Sinai era apenas uma parte dessa cadeia,
posteriormente conhecido como Jebel Musa. Alguns estudiosos opinam que Horebe e
Sinai eram os nomes de dois picos da serra em pauta. E Horebe, nesse caso, veio
a ser conhecido como “monte de DEUS” porque foi ali que DEUS apareceu a Moisés.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 312.
A sarça ardente (3.1-6). De acordo com Estêvão (At 7.23), Moisés tinha
quarenta anos quando matou o egípcio, e, depois de outros quarenta anos, ele
encontrou o Senhor na sarça ardente (At 7.30). Depois deste período no deserto,
DEUS viu que seu povo e Moisés estavam prontos para o milagre de libertação.
Aqui, o sogro de Moisés recebe o nome Jetro (1), embora seja possível que Jetro
fosse o filho de Reuel e, portanto, cunhado de Moisés.15 Ainda pastor, Moisés
estava nas proximidades de Horebe, o monte de DEUS (1), também chamado Sinai
(ver Mapa 3). E provável que Horebe fosse o nome dado à cadeia de montanhas, ao
passo que Sinai dissesse respeito a um grupo menor ou a um único cume.
Os estudiosos da Bíblia consideram que o anjo do SENHOR (2) na sarça
ardente seja CRISTO pré-encarnado, embora o Novo Testamento nunca use essa
expressão para se referir a ele. Na Bíblia, uma chama de fogo simboliza a
presença de DEUS (Hb 12.29).
Este fato despertou a curiosidade de Moisés, momento em que DEUS falou
com ele. Então, encobriu o seu rosto, porque temeu olhar para DEUS (6). Ele não
podia ficar em pé levianamente na presença de DEUS, e aprendeu que a presença
divina santifica o lugar onde Ele aparece (5).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 145.
A visão de DEUS. 1. Apascentava Moisés o rebanho. O texto hebraico
sugere que esta era sua ocupação habitual. Não há na Bíblia o menor indício de
que Midiã fosse uma região onde se minava o cobre, ou que os queneus fossem
ferreiros itinerantes, embora esses pontos de vista sejam prediletos dos
estudiosos mais recentes e, arqueologicamente, tentadores. Certamente havia
minas de cobre na Arabá, ao sul do Mar Morto, e durante sua peregrinação pelo
deserto Israel fabricou um grande número de objetos de cobre (cap. 35 seg.),
mas além disso não vai a tradição bíblica.
O lado ocidental do deserto. A palavra hebraica ’ah.ar, “ atrás, detrás”
, deve significar “ oeste” do ponto de vista midianita e portanto pode ser um
termo originado em Midiã. Como de costume, no pensamento semita, defronta-se
sempre o leste ao definir direções; atrás, portanto, se refere ao ocidente.
Horebe, o monte de DEUS. Possivelmente, “ Horebe, o grande monte” , segundo uma
expressão idiomática semita muito comum para descrever força ou tamanho muito
grande (cf. o uso em árabe). Os que usam os símbolos críticos convencionais
para descrever as pressupostas fontes do Pentateuco alegam que “ Horebe”
se encontra em material Eloísta e Deuteronomista, ao passo que “ Sinai” é o
nome utilizado em material Jeovista e sacerdotal. Não sabemos por que razão os
dois nomes foram usados, aparentemente alternadamente.
Já foi sugerido que Horebe é uma parte do Sinai, mas isso é pura
adivinhação. Horebe é comprovadamente um nome semita, cujo provável significado
é “ deserto” Ou “ desolação” . É possível que fosse o nome semita
correspondente ao nome Sinai, não-semita. Sinai deve ser um nome antigo e,
provavelmente, de ligações etimológicas com o vizinho deserto de Sin. Qualquer
ligação com seneh (heb. “ espinheiro” ) ou com Sin (o deus-Lua de Acade) é
resultado de uma etimologia duvidosa. Questão mais séria, à parte de seu nome,
é o fato de que não sabemos onde ficava o “ monte de DEUS” (o termo popular,
conforme usado neste versículo). Ficaria na Península do Sinai? Caso a resposta
seja afirmativa, ficaria ele ao sul (a área tradicional) ou a nordeste, entre
as montanhas de Seir, fronteiro ao oásis de Cades-Barnéia, onde Israel manteve
seu centro tribal por tanto tempo? Ou seria ainda nas montanhas da Arábia, a
nordeste do Golfo de Aqaba? Os detalhes geográficos gerais parecem sugerir a
área meridional da península: o local tradicionalmente apontado, Gebel Musa, “
o monte de Moisés” (2464 metros de altura) tem muito a seu favor, embora alguns
prefiram outras montanhas próximas mais elevadas. Um fato digno de nota é que,
tal como o exílio em Babilônia, este acontecimento tão importante para a fé
israelita aconteceu em solo estrangeiro (cf. a chamada de Abrão) e que, mais
tarde, Israel sempre pareceu ignorar e não se importar com a exata localização
do Sinai. Não há qualquer sugestão de peregrinações posteriores ao local, com a
possível exceção da jornada de Elias (1 Reis 19). Israel sabia, entretanto, que
o “ monte de DEUS” ficava em algum lugar ao sul de Canaã. Isto fica claro pelas
descrições em que DEUS vem ajudar Seu povo desde Parã ou Seir ou outras
montanhas vagamente definidas para os lados do sul (Dt 33:2). Este é um
contraste marcante em relação à mitologia cananita, em que os deuses habitavam
um monte no extremo norte.
Não há qualquer evidência no pensamento bíblico de que os israelitas
sequer pensassem que DEUS vivesse no Sinai. Pelo contrário, Sinai era o lugar
em que DEUS Se revelara a Moisés (3:2) e sobre o qual, posteriormente, dera a
lei a Seu povo (3:12). O Sinai, portanto, poder-se-ia dizer em terminologia
moderna, não era tanto o monte de DEUS quanto se tornaria o monte de DEUS em
virtude das coisas que ali Ele veio a dizer e fazer; este é um conceito
dinâmico e não estático. DEUS, em dias passados, podia ser adorado em qualquer
lugar onde aparecesse (20:24) e o Sinai é apenas mais um exemplo desse fato. É
verdade que há numerosas inscrições nabatéias na área do Sinai, indicando que
ao menos mais tarde ele foi considerado uma montanha sagrada. Com base nisso,
alega-se que bem poderia ter sido um lugar sagrado para os próprios midianitas.
Isso é impossível desmentir ou comprovar, em vista da absoluta falta de provas.
Moisés, pelo menos, não foi ao monte com qualquer motivo religioso, segundo o
texto, mas apenas para apascentar seu rebanho.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
pag. 60-61.
A ESCOLA DE DEUS
Vamos agora retomar a história pessoal de Moisés e considerar este
grande servo de DEUS durante o período tão interessante da sua vida de solidão,
período este que não vai além de quarenta dos seus melhores anos, se assim
podemos dizer. O Senhor, na Sua bondade, Sua sabedoria e Sua fidelidade, põe o
Seu servo à parte, livre das vistas e dos pensamentos dos homens, para o poder
educar debaixo da Sua imediata direção. Moisés tinha necessidade disso. Havia
passado quarenta anos na casa do Faraó; e, conquanto a sua estadia ali não
deixasse de ser proveitosa, todavia, tudo que tinha aprendido ali não era nada
em comparação com o que aprendeu no deserto. O tempo passado na corte pode ter
sido valioso, mas a sua estadia no deserto era indispensável.
Nada há que possa substituir a comunhão secreta com DEUS ou a educação que
se recebe debaixo da Sua disciplina. "Toda a ciência dos egípcios"
não havia habilitado Moisés para o serviço a que devia ser chamado. Havia
podido seguir uma carreira brilhante nas escolas do Egito, e deixara-as coberto
de honras literárias, com uma inteligência enriquecida por vastos conhecimentos
e o coração cheio de orgulho e vaidade. Havia podido tomar os seus títulos nas
escolas dos homens, mas tinha ainda de aprender o alfabeto na escola de DEUS.
Porque a sabedoria e a ciência humanas, por muito valor que tenham em si
mesmas, não podem fazer de ninguém um servo de DEUS nem qualificar alguém para
desempenhar qualquer cargo no serviço divino. Tais conhecimentos podem
qualificar o homem natural para desempenhar um papel importante diante do
mundo: porém é necessário que todo aquele que DEUS quer empregar ao Seu serviço
seja dotado de qualidades bem diferentes, qualidades aliás que só se adquirem
no santo retiro da presença de DEUS.
Todos os servos de DEUS têm aprendido por experiência a verdade do que acabamos
de dizer: Moisés em Horeb, Elias no ribeiro de Kerith, Ezequiel junto ao rio
Chebar, Paulo na Arábia, e João em Patmos, são todos exemplos da grande
importância de estarmos a sós com DEUS. E se considerarmos o Servo Divino,
vemos que o tempo que Ele passou em retiro foi dez vezes aquele que gastou no
Seu ministério público. Ainda que perfeito em inteligência e vontade, passou
trinta anos na casa humilde de um carpinteiro de Nazareth, antes de se
manifestar em público. E, mesmo depois de ter entrado na Sua carreira pública,
quantas vezes o vemos afastar-Se das vistas dos homens, para gozar a solidão
santa da presença do Pai! Pode perguntar-se, como poderá a falta de obreiros,
que tanto se faz sentir, ser suprida se é necessário que todos passem por uma
educação secreta tão prolongada antes de tomarem o seu trabalhou Mas isto é um
assunto do Mestre, e não nosso. É Ele Quem sabe chamar os obreiros, e Quem sabe
também prepará-los. Não é obra do homem. Só DEUS pode chamar e preparar um
verdadeiro obreiros, e se Ele toma muito tempo para educar um tal homem, é
porque assim o julga bom; sabemos que, se outra fosse a Sua vontade, Ele podia
realizar esta obra num instante. Uma coisa é evidente: DEUS tem tido todos os
Seus servos muito tempo a sós Consigo, tanto antes como depois da sua entrada
no ministério público; ninguém poderá dispensar este treino, e sem esta
disciplina, sem este exercício privativo, nunca seremos mais que teóricos
superficiais e inúteis. Todo aquele que se aventura numa carreira pública sem
se haver pesado na balança do santuário, e medido na presença de DEUS,
parece-se com um navio saindo à vela sem lastro próprio, que terá fatalmente de
soçobrar ao primeiro embate do vento. Pelo contrário, existe para todo aquele
que tem passado pelas diferentes classes da escola de DEUS uma profundidade,
uma solidez, e uma constância que são os elementos essenciais na formação do
carácter de um verdadeiro e eficiente servo de DEUS.
Por isso, quando vemos Moisés, à idade de quarenta anos, afastado de
todas as honras e magnificência de uma corte, para passar quarenta anos na
solidão do deserto, podemos esperar vê-lo empreender uma carreira de serviço
notável; no que aliás não ficamos desapontados. Ninguém é verdadeiramente
educado senão aquele a quem DEUS educa. Não está dentro das possibilidades do
homem preparar um instrumento para serviço do Senhor. A mão do homem é incapaz
de moldar um "vaso idôneo para uso do Senhor" (2 Tm 2:21).
Somente Aquele que quer usá-lo pode prepará-lo; e no caso presente temos um
exemplo singularmente belo do Seu modo de o fazer.
No Deserto
"E APASCENTAVA Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote em
Midiã; e levou o rebanho atrás do deserto e veio ao monte de DEUS, a
Horebe" (versículo 1). Aqui temos, pois, uma mudança admirável na vida de
Moisés. Lemos em Génesis, capítulo 46:34, que "todo o pastor de ovelhas é
abominação para os egípcios" e no entanto, Moisés, que era "instruído
em toda a ciência dos egípcios", é transferido da corte do Egito para trás
do deserto para apascentar um rebanho de ovelhas e preparar-se para o serviço
de DEUS. Seguramente isto não "é o costume dos homens" (2 Sm 7:19)
nem o curso natural das coisas: é um caminho incompreensível para a carne e o
sangue. Nós havíamos de pensar que a educação de Moisés estava terminada logo
que se tornou mestre de toda a sabedoria do Egito, gozando ao mesmo tempo das
vantagens que oferece a este respeito a vida de uma corte. Poderíamos supor que
um homem tão privilegiado havia de ter não apenas uma instrução sólida e extensa
mas também uma distinção tal em suas ações que o tornariam apto para cumprir
toda a espécie de serviço. Porém, ver um tal homem, tão bem dotado e instruído,
ser chamado a abandonar a sua elevada posição para ir apascentar ovelhas atrás
do deserto, e qualquer coisa incompreensível para o homem, qualquer coisa que
humilha até ao pó o seu orgulho e a sua glória, mostrando que as vantagens
humanas são de pouco valor diante de DEUS; mais ainda, que são "como
esterco", não somente aos olhos do Senhor, mas aos olhos de todos aqueles
que têm sido ensinados na Sua escola (Fp. 3:8).
Existe uma diferença enorme entre o ensino humano e o divino. Aquele tem
por fim cultivar e exaltar a natureza; este começa por a "secar" e a
pôr de lado. "Ora, o homem natural não compreende as coisas do ESPÍRITO de
DEUS, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se
discernem espiritualmente" (1 Co 2:14). Podeis esforçar-vos por educar o
homem natural tanto quanto puderdes, sem que jamais consigais fazer dele um
homem espiritual. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do
ESPÍRITO é espírito" (Jo 3:6). Se alguma vez um "homem natural"
educado pôde esperar ter êxito no serviço de DEUS, esse tal foi Moisés: ele era
"instruído... e poderoso em suas palavras e obras" (At 7:22); e
todavia teve que aprender alguma coisa "atrás do deserto" que as
escolas do Egito nunca lhe haviam ensinado. Paulo aprendeu muito mais na Arábia
do que jamais havia aprendido aos pés de Gamaliel (¹). Ninguém pode ensinar
como DEUS; e é necessário que todos aqueles que querem aprender d'Ele estejam a
sós com Ele. Foi no deserto que Moisés aprendeu as lições mais preciosas, mais
profundas, mais poderosas e mais duráveis; e é ali que devem encontrar-se todos
os que queiram ser formados para o ministério.
C. H. MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação
Religiosa Imprensa da Fé.
3. O objetivo da chamada divina (Êx 3.10).
Êx 3.12 Resposta à Primeira Objeção. Moisés não era apenas Moisés; ele
era o Moisés em quem DEUS estava cumprindo o Seu propósito. Esse é um segredo
universal de homens verdadeiramente grandes. Eles são capacitados mediante a
presença e o poder divino. O projeto era de DEUS, e não de Moisés. Moisés seria
apenas um instrumento. Naturalmente, suas habilidades naturais e seu
conhecimento seriam usados no plano. Ele não seria apenas uma marionete.
O sinal. Temos aqui uma garantia dada por DEUS, como se fora uma
promessa, de que 0 plano teria êxito, de tal modo que, ao sair do Egito, o povo
de Israel serviria a DEUS naquele monte santo, o monte de DEUS, Horebe, ou
Sinai. E isso teve cumprimento, como é lógico. A lei foi concedida ali, e
Israel tornou-se uma nova espécie de nação, uma teocracia.
A Moisés foi dado entender que o êxodo seria um empreendimento
teocêntrico, envolvendo um sentido cósmico, o que significa que só o poder
divino poderia realizar o feito.
Alguns eruditos pensam que o sinal foi a sarça ardente (vs. 3,4); mas
isso é menos provável. Ver Êxo. 24.4,5 quanto ao cumprimento do sinal, em comparação
com Isa. 37.30, outro acontecimento da mesma natureza.
Êx 3.13 A Segunda Objeção. Israel não daria crédito ao radical Moisés,
que falava em visões e comissões dadas pelo DEUS de Abraão. Haveriam de
considerá-lo um visionário louco. Não o veriam como uma autoridade. Faltava a
Moisés a autoridade divina, de acordo com sua própria estimativa, e o povo de
Israel não demoraria a perceber isso. Moisés teria a tarefa de convencer o povo
de Israel de que tinha falado com DEUS e tinha recebido sua comissão.
Qual é o seu nome? De acordo com a Bíblia, o nome de uma pessoa indica o
seu caráter. Moisés, pois, estava reivindicando uma nova revelação, e isso
requereria um novo nome divino para dar-lhe respaldo. Isso pode ser com- parado
com a história do novo nome de Jacó, Israel (Gên. 32.27 ss.). “Cria-se nos dias
antigos que a essência de uma pessoa se concentrava em seu nome” (Oxford
Annotated Bible, sobre Gên. 32.27). Um novo nome é um novo “eu”. No caso de
Moisés, o novo nome indicava uma nova revelação de DEUS, um novo propósito.
Neste versículo está envolvido muito mais do que a ideia de o DEUS de
Israel ser identificado mediante um nome, em contraposição aos muitos nomes que
eram adorados no Egito, conforme alguns eruditos têm interpretado.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 318.
Embora DEUS pudesse ter livrado Israel diretamente por uma palavra,
preferiu fazer sua obra por seu servo. Disse DEUS a Moisés: Eu te enviarei a
Faraó (10). Este homem, outrora auto designado libertador, tinha de ir à
presença do orgulhoso rei e tirar Israel do Egito sob a direção de DEUS.
Identificamos “O Envolvimento de DEUS com o seu Povo” em cinco
declarações: 1) Tenho visto atentamente, 7; 2) Tenho ouvido, 7; 3) Conheci, 7;
4) Desci, 8; 5) Eu te enviarei, 10.
c) As instruções divinas (3.11-22). A princípio, Moisés contestou o
plano de DEUS usá-lo. Viu: a) sua incapacidade: Quem sou eu?; e b) a
impossibilidade da tarefa: E tire do Egito os filhos de Israel? (11). O
príncipe que há quarenta anos era confiante em si mesmo agora temia a tarefa.
Era mais sábio no que concerne à capacidade humana de ocasionar a libertação,
mas ainda tinha de aprender o poder de DEUS. Como é frequente hesitarmos quando
olhamos para nós mesmos — ato que devemos fazer —; mas não precisamos ter medo
quando olhamos para DEUS! Certamente eu serei contigo (12) sugere que quando
DEUS escolhe um mensageiro, Ele não se baseia na habilidade do indivíduo, mas
na submissão deste à vontade de DEUS. DEUS assegurou a Moisés que ele e o povo
serviriam a DEUS neste monte depois que Israel fosse libertado do Egito. A
expressão: Isto te será por sinal, está corretamente traduzida.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 146.
II - AS DESCULPAS DE MOISÉS E A SUA VOLTA PARA O EGITO
1, O receio de Moisés e suas desculpas.
Moisés foi chamado por DEUS, mas não atendeu à voz divina imediatamente.
Analisemos os textos que se seguem.
Em um primeiro momento (Êx 3.5,6), DEUS fala com o pastor Moisés para
que tenha temor ao se aproximar, e de imediato se identifica como sendo o DEUS
de Abraão, de Isaque e Jacó, uma clara referência de que Ele era reverenciado
pelos antepassados de Moisés.
Após se identificar (Ex 3.7,8), DEUS deixa claro que viu a aflição do
seu povo e que ia livrá-lo, tirando-os da escravidão e levando-os a uma terra
nova e frutífera.
“Vem agora, pois, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo,
os filhos de Israel, do Egito” (Ex 3.10). É curioso que DEUS diz a Moisés que
vai tirar seu povo do Egito, para depois dizer a Moisés que ele havia sido
escolhido para ir diante de Faraó e convencer o rei a libertar o povo. Por que
Ele mesmo não aparecia a Faraó e ordenava que o povo fosse solto? Ele tinha de
usar alguém para tal função? Sim, DEUS tinha de usar Moisés para tal feito.
Como Moisés, precisamos aprender que DEUS pode fazer grandes coisas sem
utilizar ninguém, mas em diversas situações Ele se utiliza de pessoas como eu e
você, limitadas, para cumprir seus propósitos.
Analisando de forma mais acurada o texto que narra a conversa de DEUS
com seu servo, poderemos observar: “Então, Moisés disse a DEUS: Quem sou eu,
que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel? E DEUS disse: Certamente eu
serei contigo; e isto te será por sinal de que eu te enviei: quando houveres
tirado este povo do Egito, servireis a DEUS neste monte” (Ex 3.11,12).
Moisés já tinha visto a sarça ardendo no deserto, e já ouvira DEUS
convocando-o para a missão que ocuparia uma parte importante de sua vida. Mas
nem sempre pessoas que serão grandemente utilizadas por DEUS estarão de
imediato prontas para obedecer à sua voz quando chamadas. Moisés trouxe seu
primeiro questionamento ao Senhor: “Quem sou eu para falar com Faraó e tirar o
povo do Egito?” Aos próprios olhos, Moisés não tinha tal capacidade. É provável
que ele estivesse pensando em seu passado, no crime que havia cometido, no
prejuízo que teria se retornasse ao Egito e alguém se lembrasse do que ele fizera.
Mesmo se essa possibilidade fosse remota, o certo é que Moisés não estava
disposto a obedecer à voz de DEUS, e deixou claro que não era qualificado para
falar com Faraó.
Observe que DEUS disse a Moisés que seria com ele. DEUS sabia das
limitações daquele homem, mas garantiu-lhe que o acompanharia. Essa é uma
promessa que nos deve fazer refletir, pois não raro, dependemos de muitos
fatores para nos sentirmos seguros para fazer a obra de DEUS, como recursos,
pessoal e tempo. E do que realmente precisamos? Da companhia de DEUS. Sem ela,
nossos recursos, por mais que se mostrem abundantes, serão insuficientes. Com a
presença de DEUS, os recursos, por mais escassos, tornam-se instrumentos de
abundância e de milagres diariamente.
Então, disse Moisés a DEUS: Eis que quando vier aos filhos de Israel e
lhes disser: O DEUS de vossos pais me enviou a vós; e eles me disserem: Qual é
o seu nome? Que lhes direi? E disse DEUS a Moisés:
EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU
me enviou a vós. E DEUS disse mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel:
O SENHOR, o DEUS de vossos pais, o DEUS de Abraão, o DEUS de Isaque e o DEUS de
Jacó, me enviou a vós; este é meu nome eternamente, e este é meu memorial de
geração em geração. (Êx 3.13-15) Moisés fez um segundo questionamento ao
Senhor: Qual era o nome daquele que o estava comissionando? Deuses deveriam ter
nomes. Os do Egito tinham suas nomenclaturas, e o nome das divindades
geralmente espelhava alguma característica relacionada a um poder ou a um
hábito dentro da teologia daquele povo.
O DEUS de Abraão, de Isaque e Jacó deveria ter um nome também. A
expressão “o DEUS de vossos pais” é muito impessoal. Se DEUS tem um nome,
porque Moisés não poderia sabe-lo? A resposta divina foi: “Diga aos filhos de
Israel que o EU SOU está mandando você para libertá-los. Lembre-os de que sou o
DEUS de Abraão, Isaque e Jacó”. DEUS deveria ser identificado como o DEUS dos
antepassados dos israelitas.
DEUS ordena que Moisés procure os anciãos e diga que o DEUS dos pais
deles tinha aparecido e ordenado a ele que fosse falar com Faraó. Observe que
DEUS não apenas trata de falar com Moisés, mas de dar a ele ordens bem
direcionadas e específicas. Ele deveria falar com Faraó que DEUS estava
ordenando que o rei deixasse o seu povo ir, mas havia a orientação para que
Moisés procurasse os anciãos do povo e comunicasse que DEUS tinha visto o que
os egípcios fizeram com os israelitas, que Ele os tiraria do Egito e que eles
prestariam culto ao Senhor (Êx 13.16-18).
A mensagem foi dada, mas isto não indicava que as coisas seriam fáceis
para Moisés. DEUS diz a Moisés que Faraó não era uma pessoa de fácil
relacionamento, e que não deixaria o povo sair. Por isso, DEUS feriria o Egito
e no fim os israelitas seriam libertos e ainda pediriam aos seus vizinhos
egípcios bens em roupas e metais preciosos (Êx 3.19-22).
Moisés apresentou outra desculpa para não obedecer àquilo que DEUS
estava mandando: os israelitas não acreditariam nele, e ainda diriam que DEUS
não havia aparecido a Moisés. Se Moisés não se convenceu imediatamente de sua
chamada, como convenceria os israelitas de que ele era um enviado de DEUS? A
resposta de DEUS foi imediata, por meio de sinais. Moisés lançou no chão a vara
com que liderava as ovelhas de seu sogro, e ela se transformou em uma serpente.
Quando Moisés pegou a serpente pela cauda, ela se transformou em uma vara
novamente. Mas se este sinal foi pouco, DEUS tinha outra forma de mostrar seu
poder a Moisés:
E disse-lhe mais o Senhor: Mete agora a mão no peito. E, tirando-a, eis
que sua mão estava leprosa, branca como a neve. E disse: Torna a meter a mão no
peito. E tornou a meter a mão no peito; depois, tirou-a do peito, e eis que se
tornara como a sua outra carne. E acontecerá que, se eles te não crerem, nem ouvirem
a voz do primeiro sinal, crerão a voz do derradeiro sinal; e, se acontecer que
ainda não creiam a estes dois sinais, nem ouçam a tua voz, tomarás das águas do
rio e as derramarás na terra seca; e as águas que tomarás do rio tornar-se-ão
em sangue sobre a terra seca (Êx 4.6-9).
DEUS já conversara com Moisés, e lhe mostrou sinais de seu poder. Depois
de tantas demonstrações, disse que confirmaria um terceiro sinal, transformando
a água do rio em sangue. O que Moisés queria mais? Ele já tinha visto dois
sinais, e se isso fosse pouco, um terceiro sinal DEUS faria. Mas Moisés
permaneceu na defensiva: desta vez ele alegou que não era uma pessoa hábil para
realizar discursos que convencessem as pessoas.
O tom de voz de DEUS começou a mudar naquela conversa. DEUS disse que
Moisés fosse fazer seu trabalho que Ele o ensinaria como deveria falar (Ex
4.10-12). Moisés apenas deveria aprender a confiar no Senhor.
Essas desculpas podem parecer irreais a nós hoje, mas nos lembremos de
que Moisés até aquele momento, ao que parece, não tivera ainda um contato com
DEUS. Ele pode ter sido criado por uma família piedosa, mas ainda precisava ter
sua própria experiência com o Senhor. E por não ter ainda essa experiência,
provavelmente não estava disposto a obedecer. Para não ficar tão mal aos olhos
de DEUS, ele sugeriu: “Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviar, menos a mim”
(Ex 4.13, ARA).
Moisés já chegara ao seu limite, e não poderia mais protelar sua
obediência ao Senhor. DEUS disse-lhe que Arão seria um companheiro adequado
para aquela missão, e que Arão falaria ao povo por Moisés. Desta vez, ele não
teria mais alternativas a não ser obedecer (Ex 4.13-17).
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 17-21.
Êx 3.11 Quem sou eu para ir...? Moisés Apresentou Quatro Objeções. 1.
Inadequação pessoal (3.11). 2. A autoridade de DEUS (investida em Seu nome)
entregue a Moisés diante de Israel (3.13). 3. As dúvidas de Israel acerca da
comissão e da autoridade recebida por Moisés da parte de DEUS (4.1). 4. A falta
de eloquência de Moisés (4.10).
Moisés iniciou suas queixas falando sobre suas próprias inadequações. O
augusto Faraó nem lhe daria ouvidos. É como se Moisés tivesse dito: Domine, non
sum dignos. “Os homens mais aptos para grandes missões geralmente são os que se
julgam mais despreparados. Quando DEUS chamou Jeremias para ser um profeta, sua
resposta foi: Ah! Senhor DEUS! Eis que não sei falar; porque não passo de uma
criança (Jer. 1.6). Ambrósio lutou muito para não ser nomeado arcebispo de
Milão. Agostinho relutou em aceitar a missão na Inglaterra. Anselmo temia
aceitar a liderança da igreja nos dias maus de Rufo” (Ellicott, in loc.).
Durante quarenta anos (Atos 7.30), Moisés tinha sido um humilde pastor
no deserto. Estaria ele agora preparado para ir falar pessoalmente com o Faraó?
O Faraó tinha grande poder e um exército bem equipado. E 0 que tinha Moisés?
Êx 4.14 ... se acendeu a ira do Senhor. Temos aqui uma expressão
antropomórfica. Por que o Senhor se irou? Não porque Moisés estava sendo
humilde demais. Antes, estava demonstrando incredulidade e porque, naquele
momento, preferia sacrificar sua grande missão e privilégio em troca de
conforto pessoal. A maioria dos homens não se dispõe a sacrificar-se muito em
favor de DEUS e do bem. A maioria dos homens é egocêntrica.
O Substituto. O texto apresenta DEUS a raciocinar com Moisés, cedendo
diante de suas objeções e limitações, e, por assim dizer, concordando com as
suas condições. Todos nós procuramos tratar com DEUS dessa maneira, mas isso é
uma ilusão. A sugestão divina foi que, em lugar de substituir Moisés, haveria
de reforçá-lo no ponto de sua fraqueza. Arão, irmão de Moisés, homem que a
mente divina sabia ser eloquente (pois, afinal de contas, DEUS o havia criado
desse modo, vs. 11), seria um reforço para garantir o sucesso do projeto
divino. Fosse como fosse, conforme minha mãe costumava dizer: “Algumas vezes
podemos barganhar com DEUS, mas de outras vezes, não”. Ademais, 0 homem
espiritual sabe que, algumas vezes, 0 melhor dos homens precisa ser fortalecido
em seus pontos fracos, a fim de não fracassar. DEUS lembra-se de que somos
apenas pó. (Sal. 103.14).
A Elevação de Arão. Esse foi um dos fatores que 0 qualificou para sua
obra de sumo sacerdote, e qualificou a sua tribo, a dos levitas, a ocupar o
oficio sacerdotal. Arão tornou-se o porta-voz de Moisés. Neste versículo, Arão
é chamado de levita. Alguns críticos pensam que essa afirmação tenha sido feita
a fim de conferir a Arão e à sua tribo a autoridade sacerdotal, mediante um
texto de prova bíblico que favorece tal autoridade. O autor sagrado estaria
aqui firmando os levitas como uma ordem sacerdotal autorizada, mediante uma
palavra divina.
... se alegrará em seu coração. Provavelmente essas palavras indicam que
Arão sentir-se-ia feliz em participar do projeto de libertação, a despeito de
seus perigos, e não apenas que se alegraria por ver Moisés, ao qual talvez já
não visse por algum tempo, que não é aqui designado.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 318.
Moisés percebeu que, como porta-voz de DEUS, ele tinha de convencer o
povo. As pessoas perguntariam: Quem é este DEUS que está te enviando? Qual é o
seu nome? (13). Os deuses egípcios tinham nomes, e as pessoas iam querer saber
o nome do DEUS delas.
Aqui em Horebe, DEUS disse: EU SOU O QUE SOU (14). O original hebraico é
uma forma da palavra Yahweh (Jeová). O tempo é indefinido, podendo significar igualmente
o passado, o presente ou o futuro.20 DEUS “se revelou a Moisés não como o
Criador — o DEUS de poder — Elohim, mas como o DEUS pessoal de Salvação, e tudo
o que contém o ‘eu sou’ será manifestado pelos séculos por vir”.21 Este nome
também revelou sua eternidade — Ele era o DEUS de vossos pais e este seria seu
nome eternamente: Seu memorial de geração em geração (15). Mais tarde, este Ser
divino disse que seria ele aquele “que é, e que era, e que há de vir, o
Todo-poderoso” (Ap 1.8). E evidente por Gênesis 4.26 (onde Yahweh é traduzido
por “o SENHOR”) que aqui Moisés recebeu uma explicação de um nome há muito
conhecido (cf. tb. 6.3 e os comentários feitos ali).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag.
146-147.
10. Eu te enviarei. Davies aponta esta passagem como a comissão
apostólica de Moisés. Não há contradição entre o envio de Moisés e a intenção
declarada de DEUS de realizar pessoalmente a obra, DEUS normalmente trabalha
através da obediência voluntária de Seus servos, realizando Sua vontade. CRISTO
pode ter tido esta passagem em mente quando deu uma comissão apostólica
semelhante a Seus discípulos (João 20:21).
11. Quem sou eu. Esta não é uma pergunta existencial mas uma expressão
de dúvida (cf Jz 6:15). Moisés, ao contrário de seus anos no Egito, aprendera a
desconfiar de si mesmo tão profundamente a ponto de incorrer na ira de DEUS
(4:14). Auto-desconfiança só é virtude quando nos leva a confiar em DEUS. Caso
contrário, termina em paralisia e incapacidade espirituais, "bem como em
completa relutância em levar a cabo qualquer tipo de ação. Moisés, tal como
Elias, é o exemplo do homem que sofreu um “ colapso nervoso” e se encontra
completamente fechado para o trabalho de DEUS.
12. Eu serei contigo. A frase “ Eu serei” (hebraico ’ehyeh) é
quase com certeza um jogo de palavras com YHWH, o nome divino, explicado nos
versos 14 e 15. O único meio de “ traduzir” o jogo de palavras para o português
seria dizer “ Eu, DEUS, serei contigo” . DEUS responde à objeção levantada por
Moisés quanto à sua incapacidade, de duas maneiras. Primeiramente Ele promete
Sua própria presença; em segundo lugar, dá a Moisés um sinal ou prova de que
está com ele. Depois disso Moisés não tem mais direito de protestar. Já não se
trata de falta de autoconfiança (o que é bom) mas falta de fé (que é pecado).
Este será o sinal de que Eu te enviei. A despeito de várias outras
interpretações mais sofisticadas, a explicação mais simples de uma “ prova” é
ainda a melhor. A nação que fora escrava, depois de liberta, adoraria a DEUS um
dia naquele mesmo Monte Sinai. Como diríamos hoje, era questão de ver para
crer. O sucesso da missão confiada a Moisés provaria além de qualquer dúvida
que DEUS estava com ele e o havia enviado.
Tais sinais sempre seguem a fé. Por enquanto, Moisés deve avançar pela
fé; a situação é típica da perspectiva bíblica quanto a sinais. A grande
aliança e a doação da Lei no Sinai foram o cumprimento deste sinal (cap. 19
ss). Basta esta promessa para entendermos a insistência de Moisés perante Faraó
de que Israel precisava celebrar uma festa a YHWH no deserto (5:1); somente
assim o sinal poderia ser cumprido.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
pag. 65-66.
MOISÉS TENTA ESQUIVAR-SE DE DEUS
Longe de sentir-se encorajado com sua experiência na sarça ardente,
Moisés inventa uma série de desculpas que ele acredita desqualificá-lo como
escolha de DEUS. Quem sabe DEUS cometeu um erro de julgamento! Suas desculpas
são:
Incapacidade (ou au Lo dep reciação): “Quem sou eu, que vá a Faraó e
tire do Egito os filhos de Israel?” (3.11)
Ignorância'. “Eis que quando vier aos filhos de Israel [...] e eles me
disserem: Qual é o seu nome? Que lhes direi?” (3.13)
Incredulidade-, “Então, respondeu Moisés e disse: Mas eis que me não
crerão, nem ouvirão a minha voz, porque dirão: O Senhor não te apareceu” (4.1).
Inexpressividade. “Ah! Senhor! Eu não sou
homem eloquente [...] porque sou pesado de boca e pesado de
língua” (4.10).
Insubordinação-, “Ah! Senhor! Envia aquele que hás de enviai; menos a
mim” (4.13 — ARA).
Childs, com correção, comenta: “O avanço do diálogo é mais visceral que
racional”.
Felizmente para Moisés, o DEUS com quem ele conversou já estava
acostumado à desculpas semelhantes. DEUS retorque a cada escusa apresentada.
Incapacidade. Nas várias respostas de Moisés, nota-se que ele considera
seus próprios recursos, sem contar com os recursos de DEUS. Logo, para
corrigi-lo e refutar sua primeira desculpa, DEUS diz: “Eu estarei com você” (Ex
3.12 — NVI). Isso significa que, para Moisés, a principal questão não é “Quem
sou eu?”, mas “A quem pertenço?” (Conforme o que afirma o apóstolo Paulo:
“Porque, esta mesma noite, o anjo de DEUS, de quem eu sou e a quem sirvo,
esteve comigo” [At 27.23]). D. E. Gowan, em um fascinante estudo dessa
expressão (“Eu estarei com você” / “o Senhor estava com ele”) no Antigo
Testamento, frisa que ela é predominantemente utilizada com pessoas em posição
de liderança, ou prestes a assumi-la. E também utilizada com pessoas que
enfrentam um sério perigo ou cuja chance de fracasso é grande. Assim sendo,
jamais se pretendeu que ela significasse uma “garantia incondicional de
segurança do status quo [...] (ou) fosse uma expressão comum utilizada em
relação a um bem-estar geral”. Como garantia.
DEUS provê um “sinal” (3.12a). Para decepção de Moisés, o sinal se
tornaria evidente somente após ele arriscar a própria vida (3.12b). O que ele
deseja é um sinal antecipado, não posterior; não apenas a palavra do Senhor,
mas um sinal tangível.
Ignorância. Moisés previu que lhe seria perguntado algo que não saberia
responder. Pode ser que tal preocupação tivesse sido motivada por suposições
quanto à possibilidade de o nome de DEUS ter sido apagado da memória dos
hebreus, visto que já estavam há tanto tempo refugiados no Egito. Mais
provavelmente, contudo, ele estava preocupado com a possibilidade de lhe
pedirem para identificar pelo nome o DEUS que o enviou, como em um tipo de
teste para validar seu ministério entre eles. Talvez não seja incidental o fato
de as Escrituras jamais registrarem alguém fazendo essa pergunta. Apesar disso,
DEUS não considera as preocupações de Moisés inválidas.
Em resposta, surge o nome do próprio DEUS, Jeová, ou como ele é muitas
vezes chamado, o Tetragramaton (ou seja, o tetragrama formado por quatro letras
hebraicas\y-h-w-h). E enorme o número de estudiosos que já trataram dessa
questão. Para os principiantes, podemos definir como a terceira pessoa do
singular do verbo h-w-h, “ser”, ou seja: “ele é” ou “ele será”. Via de regra, a
tradução no versículo 14 de ’ehyeh ’ashèr ’ehyeh é “eu sou o que sou”, apesar
de uns poucos (como, por exemplo, C. H. Gordon e C. Isbell) estudiosos
defenderem que essa frase está na terceira pessoa e não na primeira pessoa, de
modo que deveria ser lida como “Ele é o que Ele é” .
Qual o significado da resposta de DEUS? Seria uma evasiva, uma
humilhação para Moisés, que, assim como Jacó (Gn 32.29) ou a mãe de Sansão (Jz
13.6), não tinha direito algum de indagar sobre o nome sagrado? O argumento
apresentado no versículo 14b (“Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me
enviou a vós”) demonstra que não se trata de uma evasiva. E uma resposta
suficiente e satisfatória para que Moisés atenda ao povo no caso de a questão
ser levantada.
Na sintaxe hebraica, quando o verbo da oração subordinada é o mesmo da
oração principal, existem duas traduções possíveis. E exatamente isso que
encontramos aqui: “Eu sou o que Sou” (3.14).
Para exemplificar, podemos citar Êxodo 4.13, onde se lê: “Envia aquele
que hás de enviar” (ARA); ou seja, “envie qualquer outro, menos eu” . Em 1
Samuel 23.13, lemos literalmente: “Então, se levantou Davi com os seus homens
[...] e foram-se aonde puderam”; ou seja, “foram para onde puderam ir”. Nesses
dois exemplos, com o orador no primeiro e o narrador no segundo, vemos
expressões deliberadamente genéricas. Ao comentar sobre essa expressão em Êxodo
3.14, Martin Noth observa: “O tipo de indefinição expressa deixa um grande
número de possibilidades em aberto (‘Eu sou aquilo que quiser ser’)” .
A mesma expressão pode transmitir não apenas indeterminação, mas também
veemência e realidade. Êxodo 33.19. “terei misericórdia de quem eu tiver
misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer” , por exemplo, não
expressa indefinição, mas veemência. Da mesma forma, Ezequiel 12.25.
“Porque eu, o Senhor, falarei, e a palavra que eu falar se cumprirá”,
significa que o Senhor não pode ser silenciado ou sua palavra abafada. Um texto
neotestamentário semelhante pode ser encontrado na palavras de Pilatos: “O que
escrevi, escrevi” (Jo 19.22).
Sua palavra é imutável e indelével.
Nesse sentido, portanto, “Eu sou o que Sou” significa que “eu estou (com
você, onde quer que você esteja), que eu realmente estou” . Parte dessa nuança
é aventada pela tradução da Septuaginta, que traz “Eu sou aquele que é” .
Voltando à sintaxe hebraica, o sujeito da oração subordinada deve concordar em
gênero e número com a oração principal. Sendo assim, Êxodo 20.2 literalmente
diz: “Eu sou o Senhor, teu DEUS, que [Eu] te tirei da terra do Egito, da casa
da servidão”. E claro que na sintaxe da língua portuguesa o “que” já bastaria
como sujeito do verbo, mas em hebraico, não passa de um conectivo que liga a
oração principal à subordinada. Em consequência, o termo equivalente a “Eu sou
o que Sou” seria “Eu sou ele que é”. E visto que ele é, ele está sempre
presente, ainda que em meio à confusão que havia no Egito.
O fato de DEUS revelar seu nome a Moisés indica a impossibilidade de
poder haver um relacionamento significativo com alguém cujo nome não se
conhece. Contudo, como Terence Fretheim enfatiza, conhecer o nome de alguém
implica em poder honrar ou desonrar esse nome. DEUS se dispõe a assumir esse
risco, mas não sem antes dar um alerta. Logo, o DEUS que revela seu nome a Moisés
em Êxodo 3 e 6 toma o cuidado de proibir seu uso errado em Êxodo 30 (v. 7).
Incredulidade. Ainda assombrado pela possibilidade de ser rejeitado,
Moisés sugere que sua credibilidade será atacada por seu próprio povo. O povo
de DEUS é mais difícil de lidar que os inimigos do Altíssimo.
Moisés recebeu três sinais de DEUS para comprovar seu chamado divino:
uma vara é transformada em cobra e então novamente em vara; uma mão é tomada
pela lepra e então curada; um copo cheio de água do Nilo, ao ser derramado na
terra, transforma-se em sangue (4.2-9). Os dois primeiros, ao menos para
Moisés, devem ter sido assustadores. George Knight comenta: “DEUS precisou
sacudir de Moisés seus raciocínios egoístas. Moisés precisou aprender que
ninguém menos que DEUS o chamava para fazer coisas absurdamente difíceis”.
Inexpressividade. Uma coisa é realizar atos miraculosos, mas o que
acontece se a pessoa também precisar falar e temer ficar com a língua presa ou
confundir as palavras? Poderiam alguns tropeços verbais destruir os bons
efeitos dos sinais sobre o povo?
E interessante observar que Estevão fala sobre um Moisés “instruído em
toda a ciência dos egípcios e [...] poderoso em suas palavras e obras” (At
7.22). Ou Estevão está deliberadamente exagerando em sua exposição, ou o que
Moisés demonstrou foi uma falsa humildade; ou seja, negou um dom que DEUS
efetivamente lhe dera.
Pode ser, no entanto, que Moisés de fato sofresse de algum tipo de
problema na fala (Tigay), o que justificaria seus temores.
Insubordinação. O esforço de Moisés em evitar suas responsabilidades
chegam ao clímax em sua quinta objeção: “Manda outra pessoa” . De modo
relutante, DEUS cede aos seus desejos, sugerindo que Arão seja o representante
de Moisés. As credenciais de Arão? “Eu sei que ele falará muito bem” (4.14).
Como bem? Pelo menos suficientemente bem para reunir apoio e recursos para a
apostasia do bezerro de ouro (Ex 32)!
Satisfeito por DEUS tê-lo ao menos suprido de um assistente, Moisés
volta até seu sogro para dizer adeus (um tanto diferente da separação entre
Jacó e Labão!) e segue para o Egito.
Em seguida, lemos o mais estranho acontecimento narrado no livro de
Êxodo. Antes de chegar a seu destino, Moisés encontra-se com o Senhor, que
tenta matá-lo. (Moisés ou o primogênito de Moisés?) A passagem é extremamente
confusa. Por que DEUS procuraria matar Moisés logo após chamá-lo? Na frase “o
Senhor o encontrou e o quis matar”, quem é o “o”? Seria Moisés ou um de seus
dois filhos? Caso fosse um filho, qual dos dois? Como Zípora, uma midianita,
sabe como reagir prontamente naquela situação?
Na frase “e o lançou a seus pés”, aos pés de quem ela lançou? Seriam os
pés de Moisés, do filho ou do agressor celestial (a ARA substitui abertamente o
“o” por “Moisés”)? Que devemos entender quando Zípora reage automaticamente:
circuncida seu filho com uma pedra afiada e toca os pés de alguém (seria isso
um eufemismo para genitália?) com o prepúcio. Graças à ação rápida da esposa,
Moisés (ou seu filho) é salvo. Fretheim comenta que Zípora, ao salvar Moisés
(ou seu filho) da ira de DEUS, prenuncia o ministério de intercessão de Moisés
(capítulo 32), o qual salva Israel da ira divina.
Se ela não tivesse tomado uma atitude, Moisés (ou seu filho) seria
morto. Se Moisés não orasse e implorasse pela misericórdia de DEUS, o povo de
Israel seria morto e DEUS começaria tudo outra vez com Moisés. Zípora
assemelha-se a Raabe e Rute: três mulheres gentias que demonstram grande
sabedoria e coragem, sendo usadas por DEUS para livrar e preservar seu povo.