A história claramente enfatiza a importância da circuncisão como um
sinal da aliança. Não se trata de um ritual a ser realizado conforme a
conveniência do momento. Não se pergunta ao adorador se ele acha isso
apropriado e importante. A circuncisão é uma ordenança divina. O ministério
junto à família tem precedência sobre o ministério para com a congregação. A
respeito desse incidente, C. H. Gordon comenta: “Ele tem o objetivo de alertar
os judeus de todas as gerações: ‘Não deixem de circuncidar seus filhos! Se nem
Moisés conseguiu fugir disso, como poderiam vocês?’”
A utilidade da narrativa, contudo, vai além de uma lição com fins
práticos para as gerações vindouras. Já vimos que interiormente que a
circuncisão era o sinal da aliança especial com Abraão e sua semente (Gn 17).
Como mediador da aliança, Moisés precisa cumprir em si o sinal da aliança. Além
do mais, a circuncisão feita por Zípora identifica Moisés e seu filho como
pertencentes à descendência de Abraão. A aliança de DEUS com Abraão incluiu
Moisés na qualidade de filho de Abraão. Toda tentativa de se traçar distinções
rígidas entre a aliança com os patriarcas e a aliança firmada no Sinai acaba
neutralizada pela correspondência entre as obrigações de Moisés e Abraão.
Greenberg relaciona as temáticas desse relato e da experiência de Jacó
em Peniel. Um agressor divino, encoberto pela escuridão, ataca alguém que está
desprevenido. Jacó estava na expectativa de se reconciliar com Esaú. Moisés
estava voltando ao Egito para reunir-se com seus compatriotas e enfrentar
Faraó. O sangue ali derramado, que resultou no livramento de Moisés, prenuncia
a libertação de Israel do Egito, também com derramamento de sangue. As
correspondências entre esse incidente, em Êxodo 4. e a Páscoa, em Êxodo 12, são
por demais interessantes. Ambos acontecem à noite (4.24; 12.8,12,29). Em ambos,
a circuncisão tem um papel fundamental (4.25,26; 12.43-49). Ambas utilizam o
verbo “lançar” (nãga")\ em 4.25, Zípora “lançou” o prepúcio aos pés de
Moisés ou de seu filho; enquanto, em 12.22, as pessoas devem “lançar” um pouco
de sangue nas vergas e ombreiras das portas de suas casas. E, acima de tudo, em
ambos os casos o sangue derramado protege alguém da ira de DEUS. Para esse
episódio, existem outros temas análogos em Gênesis e Êxodo. O Senhor, por
exemplo, livra, comissiona e, então, procura matar Moisés. De forma semelhante,
o Senhor livra, comissiona e procura, logo em seguida, exterminar seu povo (Ex
32.10). Em ambos os casos, o juízo é causado por uma violação dessa aliança. A
presteza de Zípora salvou Moisés e a intercessão de Moisés salvou os
israelitas.
Assim como a atitude astuta de Raquel salvou Jacó de Labão a agilidade
de Zípora salvou Moisés de DEUS. Knight levanta algumas questões interessantes:
“Será que Zípora compreendia esse aspecto da aliança melhor que seu marido?
Cria ela que a união de um homem e uma mulher em aliança refletia a importância
da própria aliança divina, de modo que seu marido havia desonrado tanto ela
como a DEUS? Seria possível que ela, intuitivamente, tivesse compreendido a
gravidade da revelação de que não há redenção sem o derramamento de sangue?”
Pelo menos no curto prazo, a vida de Moisés não se tornou nem um pouco
mais agradável. Após um difícil diálogo com DEUS (3.1—4.17), ele se acha à
beira da morte (4.18-26). Ele já havia conhecido a DEUS em meio a um debate;
agora, conhecia-o como um divino agressor. Em seguida, há um momento de alívio
(4.27-31), quando Moisés é recebido de volta e se reúne com todo o povo em um
culto de adoração e louvor.
O Faraó, no entanto, é obstinado. Ele é totalmente indiferente aos
apelos de Moisés (5.3). Ao afirmar: “Não conheço o Senhor”.
Faraó quer dizer que não reconhece sua autoridade. Sua declaração parece
ser uma combinação de desafio e ignorância. Um Faraó anterior não “conhecera”
José (1.8) e aquele Faraó não “conhecia" Jeová como Jeová, tal qual os
patriarcas que, conforme 6.3, são impedidos de “conhecer” Jeová como Jeová.
Para piorar tudo, a carga de trabalho exigida dos hebreus foi aumentada
de maneira absurda (5.4-18). Como seria de se esperar, os hebreus ficam
profundamente ressentidos com seu suposto libertador (5.19-21). Que mudança de
ânimo! Num dia, lisonja no outro, repúdio. Diante de um outro libertador, um
dia o povo diria: “Hosana”; e então, no dia seguinte: “Crucifica-o!” Observe a
aspereza das palavras de Moisés para DEUS nos versículos 22,23. Em sua raiva e
perplexidade, ele dá início a uma tradição de dizer a verdade em oração,
novamente verificada em alguns salmos de lamento (SI 73, por exemplo) e nas
“confissões” de Jeremias (Jr 12.1-6; 15.16-18; 20.7).
VICTOR P. HAMILTON. Manual do Pentateuco. Editora CPAD. pag. 162-169.
2. DEUS concede poderes a Moisés.
DEUS não apenas convocou Moisés para aquela empreitada, mas deu- lhe
poderes específicos para que o representasse. Os sinais que Moisés presenciou
eram um prenúncio do que DEUS haveria de fazer no Egito. Ele deveria contar aos
hebreus o que presenciara e, mais que isso, deveria, por recomendação divina,
pegar a água do rio e lançá-la na terra, para que se tornasse em sangue. Moisés,
portanto, tinha não apenas os sinais para contar aos hebreus, mas tinha também
outro para fazer na frente deles, caso não acreditassem na sua palavra.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 21.
DEUS Concede Poderes a Moisés (4.1-17)
Os críticos atribuem esta seção a uma combinação das fontes J, E e P(S).
Moisés tinha recebido o informe de que era participante do Pacto
Abraâmico (Êxo. 2.24). Tinha recebido o Novo Nome de DEUS que impressionaria
Israel com sua autoridade (Êxo. 3.14). Tinha recebido muitas promessas de
sucesso (Êxo. 3.16 ss.), a começar pelos anciãos de Israel, o que culminaria
com o resgate de Israel da servidão no Egito. Agora, porém, ele precisava receber
poderes divinos, sendo esse o tema da seção à nossa frente. Esses poderes
seriam miraculosos, porquanto somente milagres de DEUS poderiam conseguir o
livramento de Israel. Ver as notas sobre o Pacto Abraâmico em Gên. 15.18, como
também os vss. 13 e 16 daquele capítulo.
O texto que se segue destaca mais duas objeções feitas por Moisés. Ver
Êxo. 3.11 quanto às três objeções de Moisés, com suas respectivas referências.
Agora, era mister que Moisés autenticasse sua autoridade diante dos anciãos de
Israel (Êxo. 4.1); e também deveria haver alguma provisão para que ele se
comunicasse bem, pois não era homem eloquente (Êxo. 4.10). DEUS cuidou paciente
e eficazmente dos temores de Moisés. Mas quem não teria tais temores se tivesse
de enfrentar ao Faraó e a uma tarefa aparente- mente impossível? DEUS deu a
Moisés poderes miraculosos (vss. 3,5-9) a fim de mostrar-lhe que o projeto
divino contaria com o poder de DEUS, que se manifestaria através dele.
No Egito florescia uma mágica supersticiosa. Mas não devemos supor que
Moisés participasse dessas artes mágicas. Foi-lhe dado o poder divino, e não um
poder mágico. Alguns estudiosos liberais atribuem esse relato a meras noções
supersticiosas. O homem espiritual, porém, sabe que existem milagres.
Êx 4.1 Eis que não crerão. Moisés referia-se aos anciãos de Israel (ver
os vss. 5 e 21). Além disso, o Faraó também não daria crédito à simples palavra
de Moisés. Era mister que ele se tornasse um Moisés dotado de poderes
miraculosos, para que seu testemunho fosse eficaz. Os milagres sempre foram
úteis para efeito de autenticação. Mas também servem de veículos da
misericórdia divina. Cf. Atos 7.22. Moisés possuía toda a sabedoria do Egito,
mas agora estava munido de muito mais do que isso. Agora também fora
divinamente dotado, o que o distinguia dos mágicos do Egito.
Os milagres cristalizam-se em torno de certas crises do trato de DEUS
com o homem” (Ellicott, in loc).
As palavras têm grande valor. Algumas vezes, porém, é mister adicionar
obras. E mais ocasionalmente ainda, deve haver obras miraculosas se os
propósitos de DEUS tiverem de cumprir-se.
Êx 4.2,3 Uma vara. Provavelmente era um cajado comum. Mas logo a vara
seria transformada em uma serpente. A habilidade dos mágicos egípcios
aparentemente incluía a capacidade de hipnotizar uma serpente, fazendo-a
tornar-se rígida. E assim os mágicos eram capazes de segurar na mão uma
serpente hipnotizada, para admiração dos circunstantes. Era um truque de
mágico. Mas fazer um pedaço de madeira transformar-se realmente em uma serpente
era coisa totalmente diversa.
Os céticos pensam que temos aqui uma exibição de antigas artes mágicas,
aprendidas no Egito por Moisés. Os mágicos são capazes de fazer coisas deveras
admiráveis, embora tudo não passe de ilusão. Mas quando Moisés fugiu da
serpente, não havia nela nenhuma ilusão! Os egípcios usavam de ilusão e
imitação. Moisés, porém, realizava feitos reais extraordinários. Essa era a
diferença vital entre o antigo Moisés e 0 novo Moisés. Se os críticos veem
apenas um elemento supersticioso nessa questão da “vara”, podemos estar certos
de que havia ali poder, por causa do poder que Yahweh tinha atribuído a Moisés.
Assim também a coroa de um rei não tem, em si mesma, nenhuma autoridade.
Trata-se apenas de um símbolo dessa autoridade. A vara de Moisés era apenas um
objeto de madeira. Mas pareceu bem a Yahweh agir quando Moisés brandia aquela
vara. Esta tornara-se emblema do poder divino nele investido, que funcionava
sempre que isso se tomava necessário. Ver Êxo. 4.17 quanto a notas adicionais
sobre a vara.
O Primeiro Milagre. Temos aqui o primeiro milagre a ser registrado na
Bíblia. Os intérpretes judeus ornavam o texto com toda espécie de descrição
pavorosa sobre as serpentes venenosas. Filo, porém, realmente exagerou nos
comentários, ao dizer que a serpente era, de fato, um enorme dragão (De Vita
Mosis, 1.1 614).
Êx 4.4 Pega-lhe pela cauda. Moisés fugiu de medo, mas a voz de DEUS
ordenou- lhe que não tivesse medo e segurasse a serpente pela cauda, 0 que não
exigia pequena coragem! Moisés obedeceu e, para seu espanto, a serpente
transformou-se de novo em uma simples vara. Esse ato final foi necessário para
mostrar a Moisés que aquilo que tinha acontecido não era apenas uma ilusão.
Moisés tinha que ver, antes de tudo, a autenticidade do poder divino, antes que
pudesse convencer os outros a esse respeito.
Metáforas. O que os intérpretes judeus dizem aqui, embora interessante,
é totalmente inútil. A serpente é concebida como 0 diabo, ao qual Moisés
aprendeu a controlar. Além disso, seus três estados ilustrariam a vida de
Israel: primeiro Israel floresceria no Egito, sob José (a serpente como uma
vara); então Israel seria escravizado (a serpente adquire vida e torna-se
perigosa); e, então, Israel seria libertado (a serpente volta a ser uma vara,
sem nenhum dano).
Os intérpretes cristãos veem CRISTO aqui: a vara, Sua força; Ele foi
lançado por terra em Sua humilhação; finalmente, foi-Lhe restaurado o poder.
Mas outros eruditos pensam mais no ministério de Moisés: a principio, em
conforto e em paz; então, em perigo; finalmente, foi-lhe devolvida a paz e a
vitória.
A fé triunfou sobre o mero instinto. O instinto de Moisés consistiu em
fugir da serpente. Mediante a fé, porém, foi capaz de vencer isso e segurar a
serpente pela cauda. Por igual modo, ele seria capaz de domar a serpente, ou
seja, o Faraó.
Êx 4.5 Para que creiam. Os milagres autenticam a fé, e esse tem sido
sempre o uso da fé. Este versículo faz-nos voltar aos nomes divinos que figuram
com tanta importância neste texto.
Em seguida, Moisés levou a Israel os nomes tradicionais de Yahweh e
Elohim, associando-se ao propósito que tinha operado através dos patriarcas
(Êxo. 3.15). E isso é repetido neste versículo. Ver Êxo. 3.13 quanto ao poder
existente no nome de uma pessoa, de acordo com uma antiga crença.
Para que [eles] creiam. Esse “eles” (oculto em nossa versão portuguesa)
refere-se aos anciãos de Israel, cuja cooperação com Moisés seria um sine qua
non (sem a qual não) do projeto divino. O vs. 21, porém, aplica a questão aos
egípcios.
“Sem o dom de milagres, nem Moisés teria persuadido os israelitas, nem
os apóstolos teriam convertido o mundo” (Ellicott, in loc.).
Êx 4.6,7 O Segundo Milagre Autenticador. O primeiro milagre, Moisés
exibiu diante dos egípcios (Exo. 7.10 ss.). Mas este segundo milagre não foi
efetuado diante do Faraó, pelo menos até onde vai o registro sagrado. Mas
talvez o vs. 30 tencione dizer que assim aconteceu.
A mão estava leprosa. No Oriente, essa era uma doença comum, ainda que
outras enfermidades, e não somente a doença de Hansen, fossem chamadas por esse
nome. Ver uma de suas mãos leprosa deve ter assustado Moisés mais ainda do que
a serpente. Um mágico poderia fingir tal acontecimento, escondendo algo em sua
capa que se apegasse à sua mão como se fosse pele leprosa. Mas um homem que
realmente ficasse com uma mão leprosa, mesmo que por alguns segundos apenas,
certamente teria consciência do fato. DEUS é aqui visto como aquele que pode
curar doenças incuráveis. Moisés deve ter passado do horror para o alívio. Essa
foi outra lição objetiva de poder. Esse poder foi posto à sua disposição. O
primeiro sinal talvez não fosse convincente; mas 0 segundo sem dúvida
convenceria (vs. 8).
Josefo, ao que parece, pensava que Moisés também tinha usado esse
segundo sinal, embora isso não seja registrado na Bíblia. Os egípcios chamavam
os hebreus de leprosos”, talvez porque Moisés lhes tinha mostrado esse sinal.
Ver Contra Ap. 1.26.
A modalidade esbranquiçada de lepra era considerada a pior, incurável.
Ver Lev. 13.3,4; Num. 12.10. Alguns antigos escritores registraram que 0 povo
de Israel foi expulso do Egito porque entre eles havia tão grande número de
leprosos que os egípcios não queriam contato com eles. Assim disseram Tácito
(Hist. 1.5 c.3) e Trogo (Justino e Trogo, 1.36 c.2).
Êx 4.8 O Segundo Sinal. O sinal da mão leprosa, que era curada, foi 0
mais estonteante, garantindo que a Moisés dar-se-ia crédito. Ver no Dicionário
0 artigo Sinal (Milagre). Diz literalmente o hebraico, “a voz do sinal”. Tal
sinal daria uma mensagem clara e convincente. Naturalmente, há milagres falsos,
ou seja, milagres por trás dos quais falam vozes malignas. As pessoas também
dão ouvidos a esses “falsos sinais”. Um milagre não serve de prova indiscutível
de correção. No caso de Moisés, entretanto, eram esperados resultados
positivos.
Êx 4.9 O Terceiro Sinal. JESUS transformou água em vinho (João 2). Esse
foi 0 Seu primeiro milagre. Moisés transformou água em sangue. Potencialmente,
esse foi o seu terceiro milagre. Uma vez mais, não há registro bíblico de que
ele tenha usado esse “milagre-sinal”, tal como no caso do segundo (vss. 6,7).
“O DEUS da fé bíblica é senhor do mundo que Ele mesmo criou. O DEUS que
controla até os demônios não é alguém que possa ser lisonjeado pelos homens;
antes, Ele impõe ao homem a responsabilidade e chama-o para que entre em
compromisso sério” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Visto que os egípcios
consideravam o rio Nilo como uma fonte de vida, e alguns chegavam mesmo a
pensar que esse rio era divino, Moisés, ao transformar suas águas em sangue,
mostraria ser controlador até mesmo daquilo que era tão reverenciado pelos
egípcios. O vs. 30 deste capítulo pode significar que os vários sinais (todos
eles) foram realizados, embora nada de específico seja dito a respeito. Seja
como for, o resultado foi a crença, conforme fora prometido a Moisés. Mais
tarde, quando Arão feriu as águas do Nilo com sua vara, estas se transformaram
em sangue (Êxo. 7.17-21). Milagres com sangue aparecem entre os milagres e os
juízos apocalípticos (Apo. 8.7; 11.6; 16.4).
O rio Nilo era considerado sagrado e vital para a vida humana no Egito.
Se Moisés foi capaz de poluir ou causar dano às suas águas, então é que os
egípcios tinham encontrado nele um respeitável adversário. A libertação de
Israel seria o resultado final do dramático conflito.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 316-317.
Os sinais divinos (4.1-9). Moisés era muito humano, e sua fé ainda estava
fraca. Ele disse acerca dos hebreus: Eis que me não crerão (1). DEUS então
pacientemente lhe deu mais garantias. Usando o cajado comum de pastor, DEUS deu
provas do seu poder sobrenatural (2,3) transformando a vara em cobra.
O segundo sinal para Moisés foi a mão que ficou leprosa (6,7). Se as
pessoas não cressem no primeiro nem no segundo sinal, creriam no terceiro: a
transformação das águas do rio em sangue quando fossem despejadas em terra seca
(9). Além do caráter miraculoso, estes sinais ensinavam lições importantes.
Avara, símbolo do pastor ou trabalhador comum, quando entregue a DEUS se torna
maravilha e poder. A lepra, símbolo do pecado e corrupção no Egito, pode ser
curada imediatamente pelo poder de DEUS. O sangue, sinal de guerra e julgamento,
garantia vingança pela maldade dos egípcios.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 147.
Os três sinais.
1. YHWH não te apareceu. Moisés aceitou a realidade da revelação de
DEUS, mas será que seu povo faria o mesmo? O prometido sinal de que iriam
sacrificar a DEUS em Seu monte não seria suficiente para eles, pois já exigia a
presença de fé (como o sinal da ressurreição de CRISTO, Mt 12:39) e nem isso
eles possuíam. Moisés solicita sinais de nível inferior, sinais que possam conduzir
à fé ou até mesmo criá-la, e assim validar sua vocação aos olhos do povo de
Israel. João Batista jamais recebeu poder para realizar “ sinais” desta
natureza (Jo 10:41); CRISTO se recusou a realizá-los (Mt 12:39), mas alguns
personagens do Velho Testamento receberam sinais confirmatórios (por exemplo
Acaz, em Isaías 7:11). A passagem em discussão não implica necessariamente em
que Israel já conhecesse o nome YHWH. O narrador ou Moisés pode estar
simplesmente usando o novo nome para indicar o conhecido DEUS patriarcal (6:3).
Já que a frase é uma negativa enfática, podemos parafraseá-la “ o DEUS de
nossos ancestrais não te apareceu” . Moisés está pensando ainda na amarga
experiência de 2:14, “ Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós?”
2. Uma vara. Provavelmente o tradicional cajado curvo do pastor
mencionado no Salmo 23:4. No versículo 20 ela é chamada “ a vara de DEUS” , por
ser usada nos milagres e em 7:9 é usada por Arão. Comentaristas que procuram
determinar fontes salientam o fato de que na tradição J, ela aparece como um
cajado nas mãos de Moisés; na fonte E, ela aparece como uma miraculosa “ vara
de DEUS” (4:20), ao passo que em material sacerdotal (fonte P) aparece como a
vara de Arão (7:9). Essas “ contradições” aparentes são apenas verbais, normais
em tradição oral e apenas confirmam a existência de testemunhas independentes
de uma tradição fidedigna.
3. Cobra, nãfyãsé a palavra hebraica comum para cobra. Números 21:9 usa
esta palavra como explicação para o termo “ seraph” , as serpentes que atacaram
Israel no deserto, das quais uma imagem foi colocada num mastro, mas os dois
incidentes não são paralelos. Êxodo 4:30 menciona a realização deste (v. 3) e
dos outros sinais na presença dos israelitas (aparentemente por Arão e não por
Moisés). Em 7:9-10 Arão realiza o mesmo sinal mais uma vez, perante o incrédulo
Faraó. Nessa referência, entretanto, a palavra usada para cobra é tannin, que
bem pode significar um lagarto ou até mesmo um pequeno crocodilo (Driver), bem
apropriado para as margens do Nilo.
9. Se nem ainda crerem mediante estes dois sinais. Um terceiro sinal
ainda mais impressionante deveria ser dado. Estes três podem ser considerados
juntamente, como sendo do mesmo tipo. São os três de natureza mais superficial,
com o objetivo de promover fé. Eles convencem a Israel (4:31) mas não convencem
a Faraó (7:13,23). Não há referência direta ao uso do sinal da lepra perante
Faraó, mas é interessante comparar a narrativa da lepra e cura de Miriã em
Números 12. Não podemos agora precisar a natureza exata destes sinais. Podemos
afirmar a sua descrição nas Escrituras, tal como devem ter parecido aos olhos
de quem os presenciou: uma vara transformada em cobra, uma mão leprosa curada e
água transformada em sangue. Alguns aceitam a narrativa literalmente, como o
que chamaríamos de manifestações sobrenaturais do poder de DEUS. Outros
procuram encontrar DEUS, o Senhor da natureza, operando pelo que chamaríamos de
meios naturais. Outros os consideram metáforas espirituais. Podemos rejeitar
esta última hipótese de imediato; metáforas jamais convenceriam escravos
oprimidos, muito menos a Faraó. É imperioso que tenham ocorrido sinais
externos, qualquer que seja a explicação correta entre as duas primeiras
hipóteses, ou ainda que a verdade esteja numa combinação de ambas.
Provavelmente incorremos em erro ao estabelecer tais distinções entre as duas;
certamente isso jamais ocorreria à mente de um israelita. Seja qual for a
maneira em que DEUS escolhe agir, através do mundo que criou ou independente
dele, a obra é Sua e, tal como Israel, devemos curvar nossas cabeças perante
Ele e adorá-lo (4:31).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
pag. 70-72.
3. O retorno de Moisés.
Moisés recebe a ordem para retornar ao Egito e falar com Faraó com uma
certeza: DEUS estaria com ele. Ele já tinha a chamada, e também os sinais.
Faltava agora obedecer. E ele o fez. E evidente que Moisés não saiu de Midiã
sem a anuência de seu sogro. Jetro recebeu Moisés de bom grado, e deu-lhe sua
filha em casamento. Moisés tinha laços afetivos com a família de Jetro, e antes
de ir ao Egito, deveria dizer ao sogro para onde iria e o que faria. É evidente
que Moisés não disse tudo, mas o que disse foi suficiente para obter a
permissão para se ausentar daquela região e dar prosseguimento ao plano de
DEUS.
Porém Moisés ainda tinha uma pendência a resolver. Ele tinha um crime em
sua “ficha”, quando pertencia à corte egípcia e matou um egípcio quando este
açoitava um hebreu. Por esse crime, Moisés teve de fugir, e certamente seu
coração não estava esquecido desse detalhe. Como DEUS não faz nada de forma
incompleta, disse a Moisés: “Vai, volta para o Egito; porque todos os que
buscavam a tua alma morreram” (Ex 4.19). Moisés poderia levar a cabo sua missão
sem se preocupar com aquela mácula.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 21-22.
Moisés Regressa ao Egito (4.18-31)
Moisés foi chamado, instruído e dotado de poder para a sua missão. E
agora voltou o rosto na direção do temível Faraó, e, com firme propósito no
coração e confiança na missão que DEUS lhe dera, partiu para a cena onde se
mostraria ativo. Deixando sua “terra", naturalmente ele precisou
despedir-se daqueles que deixava para trás, principalmente seu sogro, Jetro, e
outros parentes por casa- mento. Ele tinha morado em Midiã pelo espaço de
quarenta anos — 0 segundo dos três ciclos de sua vida. Esse número, “quarenta”,
simboliza os “testes” pelos quais passamos. Ver no Dicionário os artigos
intitulados Quarenta e Numerologia. Os últimos quarenta anos de vida de Moisés
seriam passados no cumprimento da missão para a qual ele tinha sido
cuidadosamente preparado. Ver Êxo. 2.11 e suas notas quanto aos três ciclos de
quarenta anos cada, na vida de Moisés.
Êx 4.18 Jetro. Tanto Reuel quanto Jetro são chamados de sogro de Moisés.
Ver Êxo. 2.16,18 e os artigos sobre ambos quanto a completas explicações sobre
essa questão, até onde ela pode ser explicada. Moisés despediu-se de seu sogro,
embora sem revelar, na oportunidade, qual a verdadeira razão de sua viagem,
dizendo apenas que tinha de ver novamente os seus irmãos, ou seja, os hebreus.
A vontade de DEUS, antes de sua execução, fora revelada ao profeta e libertador
Moisés. Haveria tempo para explicações e comunicações posteriores. Moisés tinha
servido corretamente Jetro, e não houve objeção ante a sua partida. De fato,
Jetro abençoou Moisés. Ele bem que precisava de toda a bênção que pudesse
receber, visto que, segundo os padrões humanos, estava ocupado em uma missão
impossível. Para DEUS, todavia, os impossíveis são possíveis (Mat. 17.20).
“Os laços tribais eram apertados, e exigiam que se pedisse permissão
para viajar, pois mesmo uma ausência temporária, requeria o curso de ação
apropria- do, mesmo que não fosse necessário” (Ellicott, in loc.).
Êx 4.19 Ver Mateus 2.19,20 quanto a um paralelo na vida de JESUS. Ver em
Êxo. 2.2 quanto a Moisés como um tipo de CRISTO. Todos, embora esteja no
plural, tem em mente principalmente a pessoa de Faraó. Ver na Enciclopédia de
Bíblia, Teologia e Filosofia, o artigo intitulado Faraó, em sua terceira seção,
onde se tenta identificar os faraós mencionados na Bíblia. Moisés era um
“fugitivo da justiça”, porquanto havia matado um egípcio quando defendia outro
hebreu (Êxo. 2.15 ss.). Mas mortas agora as principais autoridades do Egito,
Moisés podia reiniciar sua tarefa de libertador. Mas a sua missão em breve
haveria de identificá-lo como um revolucionário radical, e sua vida também se
tornaria muito miserável. Moisés, todavia, estava pronto para o que viesse, e
desceu ao Egito com bom ânimo e cheio de esperança.
O Faraó tinha falecido; os homens de seu governo, também; e outro tanto
sucedia a todos quanto poderiam lembrar-se de Moisés. Moisés, pois, teve um
novo começo, iniciando-se assim 0 terceiro de seus três ciclos de quarenta anos
cada. Ver as notas introdutórias ao vs. 18.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 319.
A prestação de contas (4.18-20). Moisés, agora submisso ao plano de
DEUS, primeiramente foi obter permissão de Jetro para ir embora e voltar ao
Egito (18). Não lhe apresentou todas as razões para a mudança, mas o motivo que
deu foi suficiente para obter aprovação. Seus irmãos eram as pessoas de sua
nação, os israelitas. Jetro disse: Vai em paz. Deu liberdade a Moisés e, assim,
não pôs impedimento ao plano de DEUS.
DEUS garantiu que as pessoas que procuravam a vida de Moisés estavam
mortas (19). Moisés começou a viagem com sua mulher e dois filhos (20; cf.
18.3,4), embora pareça que depois do episódio da circuncisão (24-26), ele os
tenha mandado de volta a Jetro (18.2) e prosseguido sozinho com Arão (29). E
lógico que as palavras tornou à terra do Egito (20) é uma declaração geral que
teve cumprimento no versículo 29. Pode ser traduzida por: “Pôs-se a voltar para
a terra do Egito”.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag. 148.
Êx 5.18. Moisés precisava antes de tudo levar os rebanhos de volta a
Jetro, onde quer que ficasse a povoação dos midianitas (seria apenas um
acampamento temporário?). Depois, ao contrário de Jacó, obteve de seu sogro a
permissão de partir com a esposa e a família que, ao que parece, no tempo dos
patriarcas, permaneciam sob a autoridade do sogro (compare a posição da esposa
do escravo que deseja deixar o serviço de seu senhor, 21:4).
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
pag. 74.
III - MOISÉS SE APRESENTA A FARAÓ (ÊX 5.1-5)
1. Moisés diante de Faraó.
Como era de se esperar, o encontro de Moisés com Faraó não foi nada
promissor. Isso vemos da resposta que o rei deu a Moisés: “Quem é o Senhor,
cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? Não conheço o Senhor, nem tampouco
deixarei ir Israel” (Êx 5.2). A lógica de Faraó era a seguinte: Há vários
deuses no Egito. Por que obedecer a um que não conheço, e que acha que pode me
ordenar a libertar minha mão de obra escrava? Esse DEUS do deserto não tem uma
forma definida, e ainda me manda um representante pastor...
DEUS já avisara a Moisés que os diálogos com Faraó mostrariam o quanto o
coração do rei era duro, e que apenas pela forte mão de DEUS os hebreus sairiam
daquela nação.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 22.
Moisés e Arão Falam ao Faraó (5.1-5)
O Faraó era um homem idólatra e despótico. Reagiu às demandas de Moisés
exibindo ambos esses defeitos. De imediato ficou claro que a tarefa consumiria
muito tempo e muita luta. Duas qualidades são necessárias para alguém realizar
um grande projeto: entusiasmo e persistência. O Faraó haveria de testar Moisés
quanto a esses dois pontos. Seria necessário muito sacrifício pessoal. Para
obterem livramento, os escravos sacrificam tudo mais (cf. Fil. 3.8). Os
escravos do pecado, por igual modo, enfrentam o sacrifício de seus antigos
caminhos, tendo de adotar um caminho total- mente novo. O mesmo se dá com a
dedicação do crente ao Senhor (Rom. 12.1,2).
Moisés teria de enfrentar a cólera do Faraó, bem como a insatisfação de
sua própria gente. Coisa alguma funcionaria com suavidade.
Êx 5.1 Uma Petição Humilde. Moisés estava sondando a situação, como um
lutador de boxe que não mostra o seu jogo logo no primeiro round. E fez uma
petição humilde: queria apenas licença para uma breve jornada deserto adentro,
a fim de realizar um ato religioso. Não disse claramente, mas deixou implícito,
que traria 0 povo de Israel de volta depois de três dias (vs. 3). Talvez,
porém, estivesse planejando continuar caminhando, efetuando assim um êxodo
rápido, o que solucionaria a escravidão com um golpe simples e astucioso.
Faraó. Alegadamente filho de uma divindade, versado no folclore
politeísta, era profundo conhecedor de verdades religiosas. Mas nunca tinha
ouvido falar em Yahweh, o DEUS dos hebreus, e não se dispunha a fazer nenhuma
concessão a uma divindade estrangeira (e, para ele, falsa).
“Era absurdo que ele entregasse Israel a uma divindade que nem ao menos
conhecia. A ironia do drama que se segue é que esse foi o próprio DEUS que,
progressiva- mente, despiu o Faraó de todas as coisas” (J. Coert Rylaarsdam, in
loc.). O homem deificado seria derrotado miseravelmente no seu conflito contra
o verdadeiro DEUS. E assim sucedeu.
O Targum de Jonathan diz: “Não encontrei o nome de Yahweh escrito no
livro dos anjos. Não tenho medo dele”.
O Senhor DEUS. No hebraico, Yahweh Elohim, dois nomes tradicionais do
DEUS dos hebreus.
Deixa ir o meu povo. Esse é o tema central bem como o grito de guerra do
livro de Êxodo. Cf. Êxo. 4.22,23. O povo de Israel era o filho primogênito de
Yahweh, o filho privilegiado. Se não fossem libertados, pereceriam todos os
filhos primogênitos do Egito.
Uma festa no deserto. Não foi especificada a natureza dessa festa. Os
israelitas cumpririam seus deveres religiosos diante de seu DEUS. E então,
presumivelmente, voltariam ao Egito. A viagem ao deserto talvez tivesse sido
planejada para impedir a indignação dos egípcios que seriam testemunhas do
sacrifício de animais que eles reputavam sagrados. Pelo menos, Moisés pode ter
apresentado essa desculpa como razão pela qual ele queria uma saída até algum
deserto.
Êx 5.2 Não conheço 0 Senhor. Faraó não poderia mesmo ter respondido de
outra maneira. Primeiramente, porque nenhum perdido conhece o Senhor DEUS, como
uma experiência pessoal. Porquanto está morto em seus pecados. E, em segundo
lugar, porque DEUS estava endurecendo o coração do Faraó, ao passo que o Faraó
também endurecia, por sua vez, o seu próprio coração, conforme por tantas vezes
se lê a respeito de todo este incidente longamente historiado. Por conseguinte,
o Faraó falou de tal modo que exprimiu o seu caráter distorcido e a realidade
de seu estado espiritual.
Êx 5.3 0 DEUS dos hebreus. No hebraico, Elohim. Também chamado Yahweh
(vs. 2). DEUS é quem havia baixado a ordem. Moisés afirmava ter tido um
encontro pessoal com Yahweh, de acordo com o incidente registrado em Êxo. 3.2
ss., bem como boa parte do quarto capítulo deste livro. Tinha havido uma longa
entrevista, que incluíra muitas instruções. Moisés reivindicava ter
conhecimento em primeira mão de seu DEUS. Não havia apenas lido sobre Ele em
algum livro, nem ouvira 0 Seu nome ser louvado por homens sábios e piedosos.
Outro tanto tem acontecido a muitos homens espirituais. Se quisermos poder
espiritual, teremos de receber o toque místico em nossa vida. Além disso, esse
poder é transformador, tal como Moisés, o humilde pastor de Midiã, agora era o
líder de Israel, a proferir palavras exigentes diante do monarca do Egito.
Ver Êxo. 3.18; 7.16; 9.1,13 e 10.3 quanto a esse título, “o DEUS dos
hebreus”. O DEUS único e verdadeiro foi posto em confronto com os muitos deuses
e espíritos venerados no antigo Egito.
Caminho de três dias. Ou seja, do Egito ao Sinai (ou Horebe), o monte de
DEUS (Êxo. 3.1; 4.27), onde seriam efetuadas a festividade e a adoração.
E não venha ele sobre nós. Se o DEUS de Israel fosse desobedecido,
haveria punição. Para o Faraó, porém, isso pareceu apenas como outro aspecto da
mitologia de Moisés.
Êx 5.4 Ide às vossas tarefas. O Faraó percebeu que o problema envolvia
apenas o relacionamento senhor-escravos. Hoje em dia a luta se dá entre o
capital e 0 trabalho, e há muitos empregados que são virtuais escravos. Os
oficiais dos governos vivem em escandalosa luxúria, com contas polpudas nos
bancos nacionais e estrangeiros, ao passo que metade da população do país nem
tem o suficiente para alimentar-se.
No versículo anterior, o Faraó tentou descartar DEUS tão voluvelmente,
e, agora, fazia-o com Moisés. O porta-voz de Moisés recebeu um tratamento
similar. Provável- mente, o Faraó supôs que Moisés tinha sido enviado como
representante dos escravos. A parte divina da história seria uma fábula. Os
escravos estariam tentando escapar de seus superintendentes, os quais desde há
muito tinham provado ser homens sem razão e sem misericórdia. Devem ter pensado
que um apelo feito diretamente ao Faraó lograria resultados. O Faraó deve ter
pensado que estava sendo promovida alguma agitação, e quis cortá-la pelas
raízes. E assim, respondeu com severidade, não cedendo um milímetro. Sua
resposta para o problema foi mais trabalho. Não foram reconhecidos direitos dos
trabalhadores, uma provocação que, finalmente, haveria de devastar o país
inteiro.
Êx 5.5 ׳ A greve havia deixado
ociosa praticamente toda a população. A produtividade estancara, a um custo
incalculável! As palavras do Faraó foram um reca- do indireto a seus oficiais,
salientando o dano causado por aquele atrevido Moisés.
O povo da terra já é muito. Em algumas traduções lemos aqui: “O povo da
terra está preguiçoso”. Mas isso requer leve emenda textual, a qual, contudo,
pode estar com a razão.
Se os escravos descansassem de seus labores, isso significaria
“torná-los mais numerosos ainda” (John Gill, in loc.). O outro decreto do
Faraó, ordenando que os meninos hebreus fossem afogados no rio Nilo, falhara
miseravelmente, e 0 problema tinha apenas aumentado. Ver Êxo. 1.22.
O Faraó Intensifica a Opressão (5.6-14)
Êx 5.6,7 Naquele mesmo dia. Cargas de Israel Foram Aumentadas. Se,
anterior- mente, os capatazes, para facilitar as coisas, forneciam palha para o
fabrico de tijolos, agora foi descontinuada essa pequena ajuda, aumentando mais
ainda 0 trabalho dos escravos israelitas. E embora agora tivessem de trabalhar
extra para conseguir a palha, a quantidade de tijolos não foi diminuída (vs.
8). “A palha era misturada com a argila e a areia, não tanto como agente
cimentador, mas para fazer a argila tornar-se mais duradoura” (John D. Hannah,
in loc.).
As pessoas que têm conhecimento das coisas dizem que essa exigência deve
ter dobrado o labor dos escravos. Usualmente, no Oriente, os tijolos eram secos
ao sol, embora também haja provas de que alguns coziam seus tijolos ao forno.
Filo (Oper. edit. vol. íi. par. 86) refere-se ao processo e diz que a palha
servia de liga. Ver no Dicionário 0 artigo chamado Tijolo, quanto a informações
sobre 0 fabrico de tijolos no mundo antigo.
Obter palha requeria dos escravos ir aos campos, cortar certas plantas,
transportar o material a depósitos, e, finalmente, trazê-lo até onde os tijolos
estavam sendo feitos. No Egito, tijolos crus eram feitos do lodo do Nilo
misturado com palha cortada, que eram então secos ao sol. E os tijolos eram
usados na construção de casas, túmulos, muros, fortificações, recintos
sagrados, edifícios e toda espécie de construção. E, em casos raros, eram
usados até na construção de pirâmides. Ver Heródoto (Hist. vol. 2, par. 213).
Êx 5.8 Exigireis deles a mesma conta de tijolos. O ócio dos israelitas
seria curado mediante maior carga de trabalho, 0 que os forçaria a desistir da
ideia de perder tempo com inúteis cerimônias religiosas. Embora agora tivessem
de trabalhar o dobro, porque tinham de conseguir a palha que antes lhes era
fornecida, continuavam tendo de produzir a mesma quantidade de tijolos.
O fervor religioso dos israelitas seria abafado com grande excesso de
trabalho. Se o Faraó mostrou-se tão severo diante do pedido dos escravos de se
afastarem por três dias, qual não seria sua severidade se eles quisessem deixar
o país de forma permanente? A ira provocada pelas circunstâncias forma o
ambiente em volta do qual foi escrito o livro de Êxodo.
Êx 5.9 Agrave-se 0 serviço. Uma conversa tola seria descontinuada por um
trabalho físico redobrado. Moisés teria despertado esperanças de libertação no
coração dos israelitas, mediante “palavras mentirosas” (ver Êxo. 4.30). Também
é possível que o Faraó tenha percebido que a jornada de três dias, deserto
adentro, fosse apenas um ardil para que partissem do Egito de forma permanente.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 320, 322-323.
a) A recusa do rei (5.1-5). Ao homem que mantinha Israel em seu poder,
Moisés e Arão proferiram a palavra de DEUS: Deixa ir o meu povo (1). Não há que
duvidar que Faraó ficou surpreso, porque ele considerava que Israel era seu
povo. Fazia mais de quatro séculos que os hebreus estavam no Egito. Como alguém
poderia pedir a lealdade destes escravos e exigir que fizessem uma festa de
sacrifício?
Além disso, Faraó não reconhecia autoridade senão a si próprio. Ele
perguntou: Quem é o SENHOR, cuja voz eu ouvirei, para deixar ir Israel? (2).
Havia muitos deuses no Egito, e este rei conhecia todos. Para ele, as pessoas
tinham de manipular os deuses e não lhes obedecer. Seu ultimato foi: Não
conheço o SENHOR, nem tampouco deixarei ir Israel.
Moisés e Arão mantiveram-se firmes na petição. Disseram ao rei: O DEUS
dos hebreus nos encontrou (3). Pediram permissão para fazer uma viagem de três
dias a fim de sacrificar ao DEUS que serviam. No único tipo de linguagem que
Faraó entendia, avisaram que, caso o pedido fosse negado, o Senhor o julgaria:
E ele não venha sobre nós com pestilência ou com espada. Mas o rei recusou
assim mesmo.
Faraó os acusou de preguiçosos, indivíduos que procuram fugir da
responsabilidade apelando para a religião. Por que fazeis cessar o povo das
suas obras? (4). Para ele, tratava-se de preguiça e afronta. Em outras
palavras: “Por que afastar as pessoas do trabalho?” Os déspotas sempre acham
difícil acreditar que os súditos tenham uma causa justa. b) O aumento de
trabalho (5.6-14). O rei, furioso, ordenou imediatamente que os exatores do povo
e os oficiais (6)25 israelitas aumentassem o trabalho dos escravos. Em vez de
fornecer a palha dos campos já cortadas e prontas para uso, os exatores do povo
exigiram que as pessoas mesmas colhessem palha para si (7). A palha era
misturada com barro para deixar mais forte os tijolos secos ao sol. O restolho
era a parte inferior do talo das gramíneas. Embora houvesse o trabalho extra de
juntar a palha, a conta (o número) dos tijolos fabricados devia permanecer a
mesma (8). Este tirano, insensível ao bom senso, estava determinado a minar a
vontade do povo. Nem se dava conta de que não podia ir contra DEUS. Ele poderia
ser cruel com o povo de DEUS, mas as palavras que ouvira não eram palavras de
mentira (9).
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag.
149-150.
2. A queixa dos israelitas (Êx 5.20,21).
O povo de Israel sentiu-se prejudicado pela intervenção de Moisés junto
a Faraó. Na verdade, eles não sabiam que Moisés estava ali obedecendo a DEUS, e
que ele não tinha o desejo de fazer com que o sofrimento dos seus irmãos fosse
aumentado.
Esta deve ter sido uma prova dura para Moisés. Ele estava no Egito
obedecendo à voz de DEUS, falando com Faraó para que o povo fosse liberto, e
como consequência o rei ordena que os hebreus trabalhem mais. Não é incomum que
líderes se vejam nessa mesma situação: obedecem a DEUS, mas não veem de
imediato um fruto positivo de sua obediência.
O que devemos saber é que obedecer a DEUS não é uma garantia de que as
coisas que se seguirão não serão alvo de investidas de Satanás. Além disso, os
líderes devem entender que nem sempre o povo vai entender determinadas
atitudes, mas que se estamos agindo de forma correta e dentro da vontade de
DEUS, Ele vai se responsabilizar por nos honrar no devido tempo.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 22.
Êx 5.20 Moisés e Arão estavam esperando pelos representantes do povo de
Israel, os capatazes que estavam tendo uma audiência com 0 Faraó, para ouvirem
0 relatório que trariam. Havia uma expectação doentia, doentia porque era
inútil dialogar com 0 tresloucado Faraó, conforme Moisés e Arão já tinham
descoberto quando tentavam dialogar com ele.
Êx 5.21 Olhe o Senhor... e vos julgue. Assim disseram os capatazes
israelitas, Chegaram a invocar a DEUS como juiz. A sentença divina (conforme
estavam certos os capatazes) seria que Moisés e Arão tinham produzido toda a
miséria que tanto os afligia. O Faraó teria ficado indignado por causa da
sugestão tola de Moisés e de Arão que os israelitas se internassem no deserto
caminho de três dias. E apesar de os capatazes não terem sido encarcerados, a
vida dos escravos tinha sido reduzida a frangalhos. A violência poderia
irromper a qualquer instante. Os superintendentes egípcios tinham espadas nas
mãos; o Faraó poderia apelar para a execução em massa. “Temor e desespero” eram
as palavras que descreveriam bem a sorte dos israelitas. Moisés e Arão tinham
posto a espada nas mãos de seus inimigos.
... nos fizestes odiosos. Ou “mal cheirosos”, conforme a palavra
hebraica também pode ser traduzida. Aos olhos do Faraó, agora eles eram vis e
repelentes. Cf. a ideia de “mau cheiro" com os trechos de Gên. 34.30; I
Sam. 13.4; II Sam. 10.6.0 Papyr. Anastas, (i.27,7) diz algo semelhante. Agora
as espadas poderiam aparecer na cena, a fim de manter a ordem. E provavelmente
não temos aí mera metáfora, mas uma negra realidade.
Êx 5.22 Então Moisés, tornando-se ao Senhor. Moisés apresentou diante de
DEUS a sua queixa. Diz um antigo hino: “Leva tua carga ao Senhor, e deixa-a com
Ele”. Tão amarga foi a queixa de Moisés que ele reconheceu a alegada verdade
daquilo que o povo tinha dito, e passou a lançar a culpa sobre DEUS. É muito
fácil lançarmos a culpa sobre DEUS. Clamamos procurando saber “a razão” de
nosso sofrimento, e as respostas que obtemos não são satisfatórias. E, então, a
culpa pelo sofrimento humano é lançada sobre DEUS. É verdade que Moisés
aprendeu que aquela derrota inicial era, na verdade, uma primeira vitória
disfarçada. DEUS castigaria Faraó por causa do que ele estava fazendo. Em
outras palavras, as maldades do Faraó provocariam a ira divina, e esse seria,
afinal, 0 poder que libertaria o povo de Israel, e não os pobres discursos que
Moisés e os capatazes israelitas poderiam fazer. Naquela conjuntura, meras
palavras nada resolviam. A mão divina feriria os ofensores.
Moisés estava à cata de uma solução rápida para um problema dificílimo.
Ele tinha esperado fazer Israel sair do Egito com o simples ardil de levar 0
povo ao deserto num caminho de três dias (Êxo. 5.3), e, então, simplesmente
desaparecer. Mas o truque não deu certo. O Faraó percebeu a artimanha. Moisés
estava agora sem novas ideias. Mas o plano divino tinha muitas outras provisões
guardadas na algibeira.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 323-324.
Êx 5.20. Encontraram Moisés e Arão. Este é o mesmo verbo significativo
que Moisés e Arão usaram para descrever perante Faraó o encontro com YHWH no
monte Sinai (5:3).
Que estavam à espera deles. O verbo hebraico usado aqui sugere mais do
que simplesmente “ estar em pé à espera de alguém” ; a palavra (sãbah) tem a
conotação militar de “ estar postado” . Estariam os dois líderes cheios de
esperança ou estariam determinados a enfrentar as conseqüências do fracasso?
Êx 5.21. Olhe YH W H para vos outros e vos julgue. Esta é a costumeira
alegação de inocência de quem sofre injustamente (cf Gn 16:5). Moisés deve ter
ficado muito sentido com a observação, como se vê no v. 22. Nos fizestes
odiosos aos olhos de Faraó. Literalmente ‘ ‘nos fizestes cheirar mal” . Os
anciãos de Israel podem ser diretos e rudes, mas comunicaram muito bem o que
estavam pensando. Claramente eles pressentiam que o pior ainda estava para vir.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
pag. 80.
3. DEUS promete livrar seu povo (Êx 6-1).
A promessa divina para com Israel não foi esquecida por DEUS. Depois do encontro
com Faraó e das reclamações dos hebreus, DEUS diz a Moisés: “Agora verás o que
hei de fazer a Faraó; porque, por mão poderosa, os deixará ir, sim, por mão
poderosa, os lançará de sua terra” (Ex 6.1). Uma palavra de DEUS em meio às
adversidades e correntes contrárias é suficiente para que tenhamos a certeza de
que Ele está conosco, e que se aguardarmos nEle, no devido tempo ele cumprirá o
que prometeu.
E evidente que levou um tempo até que o que DEUS falou se cumprisse. As
dez pragas enviadas contra o Egito mostraram o quanto DEUS é poderoso, e o
quanto Ele deu oportunidade para que Faraó voltasse atrás e libertasse o povo
de Israel sem que a nação egípcia sofresse tantos danos e mortes. Entretanto,
DEUS cumpriu o que prometeu, e no devido tempo trouxe a libertação tão esperada
àquela nação e honrou seu servo, Moisés, diante de seus inimigos e diante do
seu próprio povo.
Lembremo-nos de que a chamada que DEUS tem para cada um deve ser
obedecida, e que no devido tempo, DEUS cumpre suas promessas e honra a fé
daqueles que confiaram nEle.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 23.
Agora verás. DEUS repassava agora as promessas que tinha feito ao povo
de Israel, além de ameaçar Faraó. Ambos esses fatores eram necessários para o
divino projeto de redenção de Seu povo.
“Agora precisamos continuar a confiar no Senhor. A religião consiste em
continuar a confiar em DEUS, depois de termos envidado nossos esforços ao
máximo... Moisés tinha feito o melhor ao seu alcance e estava desencorajado
diante dos resultados; mas fizera 0 máximo que podia. DEUS disse que, para ele,
isso poderia parecer um adiamento desnecessário, mas ele precisaria somente
confiar em DEUS, o qual entraria em ação quando chegas- se o momento oportuno
(J. Edgar Partt, in loc).
Por mão poderosa. Haveria a intervenção divina, sem a qual Israel
simples- mente nunca seria posta em liberdade. “A mão poderosa... o poder
soberano, aplicado de maneira súbita e com força” (Adam Clarke, in loc). A mão
de DEUS mostrar-se-ia tão poderosa que o Faraó em breve haveria de “deixá-los
ir-se”. Seria alto demais o preço a ser pago, se ele quisesse reter o trabalho
escravo.
Êx 6.2 Eu sou o Senhor. A Presença de DEUS continuava com Moisés. Por
muitas vezes, vemos a presença divina, nos primeiros livros da Bíblia. Toda
decisão e mudança importante que os homens de DEUS precisam enfrentar são
acompanha- das pela presença de DEUS: ou sob a forma do Anjo do Senhor; ou sob
a forma de uma teofania (ver sobre isso no Dicionário); ou sob a forma de um
sonho (ver as notas sobre Gên. 28.12; 31.10). Não basta tomarmos conhecimento
acadêmico das realidades espirituais, ler a Bíblia, orar e meditar. Precisamos
do toque místico em nossas vidas.
Êx 6,3 Apareci a Abraão. Conforme se vê em Gên. 17.1, onde aparece pela
primeira vez na Bíblia 0 nome El Shaddai (ver abaixo). A comissão dada a Moisés
estava ligada à história dos patriarcas de Israel. Cabia a Moisés dar
continuidade ao plano divino, à história sagrada que tinha começado com
aqueles. Este trecho do versículo tem paralelo em Êxo. 3.15. A comissão
outorgada a Moisés estava vinculada à missão dos patriarcas. No caso presente,
são nomeados Abraão, Isaque e Jacó, e não meramente Abraão.
O DEUS Todo-poderoso. No hebraico, El Shaddai. Esse era um antigo nome
de DEUS, que significa “o todo-suficiente”, embora outras ideias existam sobre
o seu significado. Esse nome não era usado exclusivamente pelo povo de Israel.
Ver Joel 1.15 e Deu. 32.17. Deuses estrangeiros e poderes destrutivos também
podiam ser chamados assim. Jó usou esse nome por trinta e uma vezes (Jó 5.17 e
outros trechos).
O Senhor. No hebraico, Yahweh. De acordo com este versículo, um nome
mediante o qual DEUS não se manifestara aos patriarcas. Essa declaração tem
deixado os estudiosos perplexos. Os trechos de Êxo. 13.3; 17.2 e outros contêm
esse nome. Os críticos supõem que essa declaração é oriunda da fonte
informativa P(S), ao passo que, em outras fontes, o nome Yahweh era conhecido
entre os patriarcas como um nome divino. Os críticos veem nisso apoio para sua
teoria de fontes múltiplas, supondo que o nome Yahweh (J seria a fonte do nome)
seria um nome divino usado por outra fonte informativa, mais tardia. Nesse
caso, o aparecimento do nome Yahweh, nos relatos sobre os patriarcas, deveria
ser visto como inserções feitas por algum editor, em narrativas antigas, e não
algo nativo a essas narrativas. Para Adão, o nome de DEUS era Elohim; para
Abraão, era Adonai; para Moisés, era Yahweh. Mas o culto a Yahweh foi
estabelecido muito antes de Moisés, assim a confusão permanece de pé. Seja como
for, o autor sacro diz-nos aqui que podemos chamar DEUS de El-Shaddai ou de
Yahweh, pois, em ambos os casos, nos estaremos referindo ao mesmo único DEUS.
Esse DEUS único guiara a Abraão; e agora estava guiando a Moisés.
Os eruditos conservadores opinam que o próprio Moisés inseriu o nome
Yahweh nos relatos anteriores (ver Gên. 2.4; 3.14; 9.1-9 etc.). Adam Clarke
escreveu toda uma página de duas colunas tentando explicar como Yahweh já era
um nome divino nos dias dos patriarcas, tendo achado esse nome até mesmo em
outras culturas semíticas do mundo antigo. Mas lemos aqui que não foi assim que
as coisas sucederam. Clarke não chegou a nenhum resultado definitivo, e é precisamente
ai que nos encontramos, fazendo-lhe companhia.
Observou John Gill (in loc.): “Isso não deve ser entendido em um sentido
absoluto; pois é certo que Ele se fizera conhecer por Abraão, Isaque e Jacó por
esse nome: Gên. 15.6-8; 26.2,24; 28.13. Mas comparativamente... Ele não era tão
bem conhecido por aqueles, por esse nome, do que era conhecido pelo outro nome
[El Shaddai]”. Uma boa tentativa, mas não o suficiente.
Este versículo tem sido alistado em favor da chamada hipótese quenita,
ou seja, de que Moisés aprendeu esse nome divino, Yahweh, bem como as práticas
religiosas ligadas a esse nome, da parte dos midianitas, entre os quais
permaneceu, com seu sogro, durante quarenta anos, na terra de Midiã. Ver Êxo.
18.1 e suas notas introdutórias, bem como as notas em Êxo. 18.12 onde a questão
é mais amplamente ventilada.
Êx 6.4 Estabeleci a minha aliança. O Pacto Abraâmico (ver as notas a
respeito em Gên. 15.18) reunia em um bloco toda a nação de Israel, a começar
por Abraão, estendendo-se aos demais patriarcas, até Moisés, e, finalmente, a
todo o povo de Israel. No livro de Gênesis, esse pacto é reiterado por
dezesseis vezes, em várias conexões e graus de plenitude. Uma das principais
provisões dessa aliança era que Israel teria um território pátrio. Mas antes
que esse território lhes pudesse ser dado, deveria haver um período de exílio
no Egito, ao mesmo tempo em que os habitantes originais da terra de Canaã
teriam de preencher a sua taça de iniquidade. Quando essa taça estivesse cheia,
então DEUS os julgaria, e um dos resultados desse juízo é que os cananeus
perderiam seus territórios. E, então, o povo de Israel apossar-se-ia deles. Ver
Gên. 15.13,16. Ver Êxo. 2.24 quanto a como DEUS lembrou o Seu pacto com Abraão,
e, por essa razão, tinha levantado Moisés para ser o libertador.
A terra em que habitaram como peregrinos. Ver Gên. 17.8 e 23.4. “Abraão,
Isaque e Jacó ocupavam a terra de Canaã por mera concessão; tinham permissão de
ocupá-la, porque ela não lhes pertencia, mas foi-lhes dado esse direito por
aqueles que realmente a possuíam. Esse território pertencia às nações
cananéias, aos hititas, e outros (Gên. 20.15; 23.3-20)” (Ellicott, in loc).
Êx 6.6 Reiteração da Mensagem Divina. Moisés deveria anunciar ao povo a
mesma mensagem anterior. Agora Yahweh a tinha reiterado. Um grande livra- mento
estava surgindo no horizonte, e esse livramento contava com o poder de DEUS.
... vos resgatarei com braço estendido. O poder de DEUS haveria de
manifestar-se, e a tarefa da libertação seria cumprida. Ver em Êxo. 3.20 as
notas sobre a poderosa mão de DEUS. Ver Êxo. 3.10 quanto à declaração do
propósito divino de libertação.
Com grandes manifestações de julgamento. Esses juízos seriam dois: 1.
Me- diante uma longa série de prodígios que produziriam confusão e destruição,
culminando na décima praga mediante a qual pereceriam todos os primogênitos do
Egito. Ver Êxo. 12.28 ss. Assim teria cumprimento o que fora dito em Êxo.
4.22,23. Ou 0 filho primogênito (Israel) de Yahweh seria libertado, ou teriam
de morrer todos os primogênitos do Egito. 2. Haveria 0 grande milagre de
destruição na travessia do mar Morto (Êxo. 14).
Êx 6.7 Compare as declarações deste versículo com Êxo. 19.5,6 e Deu.
7.6. Uma nação havia sido escolhida para tornar-se o veículo da mensagem
espiritual e para produzir 0 Messias. Mas o mundo é o objeto dessa mensagem
(João 3.16; I João 2.2). DEUS era e sempre será o DEUS de todas as nações (Sal.
67.4). Todos os povos são aceitos por Ele (Atos 10.35; ver também Mat. 8.5-13;
Luc. 7.2-10; Atos 10.1-33). Confronte a escolha de Abraão, em Gên. 17.7,8, onde
as notas expositivas se aplicam a este versículo. A providência de DEUS (ver
sobre esse assunto no Dicionário) é multifacetada. Ela opera através de Israel
e beneficia a todas as demais nações, e não somente a nação de Israel.
Demonstrando a Natureza de DEUS. Esse é um dos propósitos do livramento
de Israel da servidão no Egito. DEUS seria exaltado; Seu poder seria exibido;
Sua justiça comprovada; Sua misericórdia mostrada; e Sua vingança seria provada
contra os injustos, especialmente contra Faraó. Uma pessoa é conhecida por meio
de seus atos.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 324, 326.
A Renovação da Promessa e da Ordem (6.1-13)
DEUS não deixou Moisés na mão. A demora na libertação não significava
renúncia da promessa. DEUS estava trabalhando em seus propósitos.
Smith-Goodspeed traduz o versículo 1 assim: “Agora verás o que farei a Faraó;
forçado por um grandioso poder ele não só os deixará ir, mas os expulsará da
terra”. Outras dificuldades tinham de vir sobre Israel (5.19), mas a promessa
de DEUS ainda era certa.
O valor da promessa estava no fato de DEUS endossá-la: Eu sou o SENHOR
(2). Os antepassados de Israel conheciam o DEUS Todo-poderoso (3), o DEUS de
poder e “força dominante”. “Aqui a ideia primária de Jeová concentra-se, pelo
contrário, em sua existência absoluta, eterna, incondicional e independente.”26
Ambos os nomes eram muito antigos e amplamente conhecidos (Gn 4.26; 12.8; 17.1;
28.3), mas DEUS se manifestou principalmente pelo nome de El Shaddai, DEUS
Todo-poderoso. Para este grande livramento, o próprio DEUS revelou o pleno
significado de Yahweh, “o Senhor”. Esta não é outra narrativa do chamado de
Moisés, diferente da anterior, como advogam muitos estudiosos liberais, mas
trata-se de uma renovação das promessas a Moisés com maior destaque a um povo
desanimado.
A nova revelação neste nome retratava que DEUS se ligara com seu povo
por concerto (4). Este concerto começou com os patriarcas e incluía a promessa
da terra de Canaã, por onde, durante muitos anos, vaguearam como peregrinos e
estrangeiros (Gn 15.18).
DEUS se lembrou do concerto quando ouviu o gemido dos filhos de Israel
por causa da escravidão (5). Ele não esqueceu; somente esperara até que os
filhos estivessem prontos para cumprir sua parte no concerto.
DEUS ordenou que Moisés renovasse a confiança dos israelitas. Ele tinha
de lhes dizer que seriam libertos da servidão egípcia, que DEUS os resgataria
com braço estendido (“ação especial e vigorosa”, ATA) e com juízos grandes (6)
sobre os opressores. Israel seria o povo especial de DEUS e lhe daria a terra
da promessa por herança (7,8).
Estas palavras tranquilizadoras foram apoiadas pela declaração: Eu, o
SENHOR. Embora a promessa fosse feita com firmeza, os líderes de Israel não
ouviram a Moisés, por causa da ânsia do espírito e da dura servidão (9). Embora
tivessem crido antes (4.31), o aumento da crueldade os abatera tanto que meras
palavras de promessa não bastariam. As vezes DEUS tem de operar para que
creiamos em suas promessas. Mais tarde, nos lembraremos das palavras da
promessa. Quando Moisés (10) não pôde convencer Israel, duvidou que pudesse
convencer Faraó (11), a quem agora DEUS o dirigia. Se Israel não lhe dava
ouvidos, por que Faraó escutaria? Incircunciso de lábios (12), de acordo com a
expressão idiomática em hebraico, seria um defeito que interfere com a
eficiência. O ouvido incircunciso era um ouvido que não ouvia (Jr 6.10), e o
coração incircunciso era um coração que não entendia.
A boca de Moisés não podia falar com clareza. Mas a despeito da
debilidade humana, DEUS falaria. Ele daria mandamento para os filhos de Israel
e para Faraó, e o assunto seria resolvido (13).
Encontramos em 5.22 a 6.13, certos “Problemas para a Fé”: 1) A demora de
DEUS em agir, 22,23; 2) Espíritos desanimados e abatidos, 9; 3) Pessoas
indiferentes, 12; 4) Enfermidades físicas, 9.
Nos versículos 1 a 8, temos estas “Garantias para a Fé”: 1) O poder de
DEUS, 1; 2) O nome de DEUS, 3; 3) A resposta de DEUS, 5; 4) O relacionamento de
DEUS, 7; 5) A promessa de DEUS, 8.
Leo G. Cox. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 1. pag.
150-151.
Êx 6:1. Agora verás o que hei de fazer. Eis aqui uma promessa divina
renovada, uma promessa que vai além da anterior. Faraó não irá apenas permitir
que os israelitas saiam de sua terra, o que até aqui recusou fazer; na verdade,
o monarca os “ lançará fora” . O verbo usado parece ser uma reminiscência clara
da “ expulsão” de Moisés para Midiã e provavelmente contém um trocadilho com o
nome de Gérson, filho de Moisés (2:22).
6. E vos resgatarei com braço estendido. Literalmente “ farei o papel do
parente resgatador” ou gõ ’êl. A melhor ilustração deste costume é a atividade
de Boaz em relação a Rute (Rt 4). A legislação aparece em Lv 25:25. Driver
sugere “ reivindicar como direito” ou “ vindicar” como traduções possíveis com
base nesse costume. Ao contrário do verbo pãdâh, gã’al sugere um relacionamento
pessoal íntimo entre o redentor e o redimido e assim o termo é apropriado para
descrever o DEUS da aliança.
7. Tomar-vos-ei por meu povo. Esta é uma das mais límpidas declarações
causadas pela aliança. O pensamento é ampliado em 19:5,6, por ocasião da
ratificação da aliança entre DEUS e Israel. Que vos tiro de debaixo das cargas
do Egito. Este é o começo do grande credo da fé israelita, e aparece de forma
mais distinta na introdução aos dez mandamentos (20:2). À medida que crescia a
experiência de Israel com DEUS, novos “ artigos” eram acrescentados ao credo,
mas este “ artigo” fundamental permaneceu o mesmo em toda a história da nação.
R. Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova.
pag. 80-81; 83.
ELABORADO: Pb Alessandro Silva.
Colaboração: Escriba Digital, Gospel books.