Lição 12 - Não Cobiçarás - 2 parte Rm 7.7 Se a lei não é pecado (7.7) nem provoca a morte (7.13), qual é seu papel? Qual é seu ministério? Qual é seu propósito? Paulo oferece três respostas: O propósito da lei é revelar o pecado (7.7). O pleno conhecimento do pecado vem pela lei (3.20). A lei é um espelho que revela o ser interior e mostra como somos imundos (Tg 1.22-25). E como um prumo que mostra a sinuosidade da nossa vida. E como um raio-X que diagnostica os tumores infectos da nossa alma. A lei detecta as coisas ocultas na escuridão e as arrasta à luz do dia. É a lei que destampa o fosso do nosso coração e traz à tona a malignidade do nosso pecado. Digno de nota é o fato de Paulo mencionar o décimo mandamento do decálogo como aquele que o tornou cônscio do seu pecado e abriu seus olhos para a própria devassidão: “Não cobiçarás” (7.7) Os nove primeiros mandamentos da lei são objetivos: “Nao terás outros deuses diante de mim”; “Não farás para ti imagem de escultura”; “Não tomarás o nome do Senhor teu DEUS em vão”; “Lembra-te do dia do sábado para o santificar”; “Honra a teu pai e a tua mãe”; “Não matarás”; “Não adulterarás”; “Não furtarás”; “Não dirás falso testemunho”. Todos esses mandamentos são objetivos, e qualquer tribunal da terra pode legislar sobre eles, fiscalizá-los e condená-los. Mas o décimo mandamento (“Não cobiçarás”) é subjetivo, pertence à jurisdição do foro íntimo, e nenhum tribunal da terra tem competência para julgar foro íntimo. A lei de DEUS, porém, penetra como uma câmara de raio-X e faz uma leitura dos propósitos mais secretos do nosso coração, trazendo à luz seus desejos pervertidos. William Greathouse escreve oportunamente: “A lei não é um simples reagente pelo qual se pode detectar a presença do pecado; é também um catalisador que ajuda e até mesmo inicia a ação do pecado sobre o homem. A lei insufla o desejo ilícito”. A cobiça, do grego epithymia, é algo que se expressa internamente — é um desejo, um impulso, uma concupiscência. Na verdade, inclui todo tipo de desejo ilícito, sendo em si mesma uma forma de idolatria, uma vez que põe o objeto do desejo no lugar de DEUS. Segundo F. F. Bruce, epithymia pode ser tanto um desejo ilícito como um desejo lícito em si, mas de tão egocêntrica intensidade que usurpa o lugar que somente DEUS deve ocupar na alma humana. LOPES. Hernandes Dias. ROMANOS O Evangelho segundo Paulo. Editora Hagnos. pag. 264-265. 3. O TEXTO PARALELO. Dt 5.21. A última lei do Decálogo, referente à cobiça, exige comentários especiais. Trata da motivação intrínseca. A fraseologia difere um pouco da utilizada em Êxodo 20:17, onde a casa do próximo (possivelmente “família e propriedades”) é mencionada antes da mulher do próximo e aparece separadamente com o verbo hàmad, ao passo que outros itens são mencionados numa outra frase, juntamente com a esposa, governados pelo mesmo verbo. Em Deuteronômio a esposa aparece em primeiro lugar, com o verbo hãmãd, ao passo que os outros itens são agrupados com um verbo diferente (hifawwâ). A passagem em Deuteronômio sugere uma atitude diferente da demonstrada em Êxodo para com as mulheres. Há exemplos desta atitude mais sensível para com as mulheres em Deuteronômio, como por exemplo, 21:1-5. I. A. Thompson. Deuteronômio Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag. 47-48. Exemplo Bíblico de Cobiça. Labão (Gên. 31:41); Acã (Jos. 7:21); os filhos de Eli (I Sam. 2:12); Saul (I Sam. 15:9,19); Acabe (I Reis 21:2); os nobres dos judeus (Nee. 5:7); a Babilônia (Jer. 51:13); Judas Iscariotes (Mat. 26:14.15); os fariseus (Luc. 16:14); Ananias (Atos 5:1-10); Félix (Atos 24:26); Balaão (II Ped. 2:15; Jud. 11). A cobiça é alistada como um dos pecados mortais, pela Igreja Católica Romana. CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 774.
III. A VINHA DE NABOTE 1. PROPOSTA RECUSADA. O Vinhedo de Nabote (21.1-29) A Iniquidade de Acabe e Jezabel. A essência da história é a seguinte: Acabe queria comprar o terreno adjacente a seu palácio, em Jezreel, sem dúvida com propósito de edificar ali uma horta (ou talvez um jardim). Ele queria tomar-se mais glorioso. No entanto, Nabote recusou-se a vender a terra que era sua herança ancestral. Acabe voltou para casa para lamentar-se e adoeceu a tal ponto que nem ao menos comia. Jezabel, sua esposa, perguntou-lhe a causa de toda aquela melancolia. Quando ela soube o motivo da tristeza de Acabe, simplesmente ordenou que Nabote fosse executado com base em uma falsa acusação, a de ter blasfemado contra DEUS e contra o rei. Acabe então tomou conta das terras. Elias foi enviado por DEUS para proferir uma maldição contra Acabe e sua família. As coisas haveriam de terminar mal para eles. Haveria desastre e morte no seu caminho. Acabe humilhou-se diante de Yahweh, pelo que o julgamento contra a sua casa foi adiado por uma geração, mas isso não impediu que Acabe tivesse um fim violento, o que também sucedeu no caso de Jezabel. I Reis 21.1 Sucedeu depois disto. O incidente ocorreu algum tempo depois dos eventos registrados no capítulo 20. A Septuaginta apresenta-nos a mesma ordem. O incidente mostrou que Acabe, bem como Jezabel, em nada tinha mudado. Portanto, as temíveis profecias contra Acabe dadas no capítulo 20 por certo ocorreriam. Nabote, o jezreelita. Nabote tinha uma pequena vinha localizada no terreno de sua família. Mas ele não haveria de vender a herança de sua família nem que fosse para agradar o rei, nem para conseguir uma vinha maior e melhor. Acabe teria de tolerá-lo ali, ao lado do palácio real de Jezreel. Acabe aceitou essa derrota e foi para casa lamentar-se entristecido. Mas Jezabel não suportaria a arrogância de Nabote. Antes, Nabote seria um homem morto. Nabote estava dentro de seus direitos, mas Jezabel tinha o poder, e, de acordo com alguns, “o poder é direito”. I Reis 21.2 Razões Estéticas. O rei Acabe, pelo menos por enquanto, estava livre da guerra. Ele tinha derrotado os sírios (capítulo 20) quando estes tinham muito maior número de homens de guerra, mas só ganhou a guerra devido à ajuda de Yahweh. Portanto, ali estava ele, em sua residência de verão, a desfrutar de uma vida amena. Então teve a idéia de embelezar sua propriedade. Seu palácio era um lugar suntuoso, mas pareceria melhor ainda se contasse com uma horta (ou talvez um jardim) adjacente. A dificuldade, porém, foi que Nabote era o proprietário das terras vizinhas ao palácio, e isso impedia a aventura estética de Acabe. Ver a introdução a este capítulo quanto a um sumário da história. Acabe Mostrou-se Generoso. Ele ofereceu a Nabote uma vinha muito melhor em troca da sua. Mas Nabote estava impedido (pela lei) de vender sua propriedade, visto ser sua herança ancestral, que deveria passar adiante a seus descendentes. As leis, contudo, podem ser violadas e mudadas de acordo com a vontade dos políticos, usualmente em troca de alguma vantagem pessoal. Kimchi informa-nos que era costumeiro às pessoas mais ricas ocupar-se de pequenos projetos agrícolas, próximo de suas casas, a fim de embelezá-las, além de dar-lhes um suprimento de verduras frescas. Acabe ofereceu uma vinha melhor, ou dinheiro, se Nabote assim preferisse; mas esse homem não queria fazer nenhum tipo de negócio. Isso lhe custaria a própria vida. A oferta de Acabe, pois, foi “cortês e liberal” (Ellicott, in loc.). Mas era contrária à herança dos hebreus. Ver o vs. 3 deste capítulo. (Observação do Ev. Henrique - Acabe não se interessava pela importância da lei de DEUS e nem pela família que mantinha suas posses para deixar para seus filhos uma herança dada por DEUS - Ele era rico e poderoso, pensava que podia comprar o que quisesse, inclusive a consciência das pessoas). I Reis 21.3 Yahweh não toleraria tal transação, pois, afinal de contas, Sua lei, dada através de Moisés, proibia esse tipo de negociação. Ver Lev. 25.13-28 e Núm. 36.7. Nabote era homem de razoáveis riquezas financeiras e estava contente com o que possuía. Ademais, queria obedecer à lei mosaica. De acordo com a lei, seu terreno poderia ser temporariamente alienado, para mais tarde ser redimido. Havia preceitos que governavam as negociações de terras. Mas Acabe, como é óbvio, queria ter a terra de forma permanente. Aquelas terras precisavam ser dele. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1450. A recusa de Nabote de vender sua vinha para Acabe (21.1-4). Nabote era um israelita de Jezreel que tinha um pedaço de terra cobiçado por Acabe. Jezreel estava localizada na base do monte Gilboa, na região oriental do vale e da planície de mesmo nome. A vinha de Nabote era próxima ao palácio real, isto é, da casa de verão, e, aparentemente, Acabe, levado por um capricho, desejava transformá-la em um jardim (ou horta). Nabote tinha todo o direito de se recusar a vendê-la. Na verdade, ele teria transgredido não só uma tradição, como também a sua consciência, se fizesse essa venda (cf. Lv 25.23-28; Nm 36.7ss.). Acabe reconhecia que Nabote estava religiosamente obrigado a conservar a posse de sua terra e que essa obrigação não poderia ser contrariada. Entretanto, ele ainda assim queria essa área; ele se irritou, adoeceu e deixou de comer. A única coisa pior que uma criança mimada é um adulto amuado. Lv 25.23 Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois estrangeiros e peregrinos comigo. Nm 36.7 Assim, a herança dos filhos de Israel não passará de tribo em tribo; pois os filhos de Israel se chegarão cada um à herança da tribo de seus pais. Harvey E. Finley. Comentário Bíblico Beacon I e II Reis. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 338. I Reis 21.1-3 Acabe colocou seus olhos e o seu coração nessa vinha (v. 2). A recusa que ele encontrou em relação ao seu desejo. De forma alguma Nabote desistiria dela: guarde-me o Senhor (v. 3); e o Senhor tinha mesmo proibido a negociação, do contrário ele não teria sido tão rude e descortês para com o seu príncipe não o satisfazendo em um assunto tão pequeno. De forma peculiar, Canaã era a terra de DEUS, os israelitas eram os seus arrendatários, e essa era uma das condições do seu arrendamento, que eles não alienassem (não, nunca para outra pessoa) qualquer parte daquilo que caísse como seu lote, a menos em caso de extrema necessidade, e então apenas até o ano do jubileu (Lv 25.28). Agora Nabote previa que, se a sua vinha fosse vendida para a coroa, ela jamais retornaria para seus herdeiros, não mesmo, nem no jubileu. De bom grado ele favoreceria ao rei, mas devia obedecer a DEUS mais do que aos homens, e por isso, deseja ser desculpado quanto a esse assunto. Acabe conhecia a lei, ou devia conhecê-la, e por essa razão fez mal em pedir aquilo que o seu súdito não poderia conceder sem pecar. Alguns imaginam que Nabote olhava com respeito a sua herança terrestre como uma garantia da sua parte na Canaã celestial, e por isso não poderia desfazer-se da primeira, para que não perdesse o direito à segunda. Parece que ele foi um homem consciencioso, que preferia arriscar-se a desagradar ao rei a ofender a DEUS, e provavelmente era um dos sete mil que não tinham se curvado diante de Baal, pelo que, talvez, Acabe lhe tivesse rancor. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 532. 2. O DIREITO DE PROPRIEDADE. PROPRIEDADE Esse vocábulo vem do latim, proprus, «próprio», «pertencente a alguém». Popularmente, a palavra indica algum objeto de valor que pertence a uma pessoa como sua possessão. Mas também significa aquilo que pertence a um objeto, como uma característica ou qualidade distintiva. Na filosofia, indica aquilo que é comum a todos os membros de alguma classe, ou aquilo que uma pessoa possui. Idéias dos Filósofos: 1. Aristóteles fazia da propriedade um dos cinco tipos de atribuição. Esses cinco tipos são: espécie, gênero, diferença, propriedade e acidente. Uma propriedade do homem é a sua capacidade de aprender as regras da gramática. 2. Locke falava nas propriedades no sentido de um «direito natural». Ele acreditava que a possessão de uma propriedade é um direito outorgado por DEUS, algo básico à existência humana. 3. Hegel, concordando com Locke, referia-se ao direito de ter alguma propriedade como a primeira manifestação da liberdade humana. Para ele, negar o direito à propriedade privada a um homem era furtar-lhe a sua liberdade, que é sua mais preciosa possessão. 4. Marx e o marxismo, por outro lado, fazem do Estado o único proprietário. E isso impôs o que Hegel temia, o arrebatamento da liberdade básica de um homem. Marx pensava que aqueles que buscam ter propriedades ou as mantêm usualmente estão envolvidos em alguma forma de divisão. No entanto, ele não hesitou em viver do dinheiro e das propriedades que Engel lhe deixara, em seu testamento. CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 467. I Reis 21.4 Então Acabe veio desgostoso e indignado para sua casa. O arrogante Nabote havia negado ao “pobre rei” o seu brinquedo. Ele ficou deitado em sua cama, adoentado e desapontado. “Pobre alma! Ele era senhor sobre dez doze avos da terra, e, no entanto, sentia-se miserável porque não podia obter a vinha de um homem pobre!... Toda privação e cruz faz uma alma imunda sentir-se infeliz” (Adam Clarke). O descontentamento de Acabe terminaria em um crime franco. O grande rei Acabe agia como uma criança, mas Jezabel seria a executora. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1450. I Reis 21.4 O seu espírito orgulhoso piorou a injúria que Nabote lhe fez ao negá-lo, como algo intolerável. Ele amaldiçoou o escrúpulo da consciência de Nabote, que ele fingiu consultar em paz, e secretamente planejou vingança. Ele não podia suportar o desapontamento que lhe cortava o coração ao ser contrariado em seus desejos e estava completamente aborrecido. Note: (1) O descontentamento é um pecado que é a sua própria punição e faz com que nos atormentemos a nós mesmos; ele faz que o espírito se entristeça, o corpo adoeça, e todas as alegrias se tornem amargas; é o maior peso do coração e a maior corrupção dos ossos. (2) É um pecado que é seu próprio pai. Ele não se levanta da condição, mas da mente. Como nós encontramos Paulo satisfeito em uma prisão, também vemos Acabe insatisfeito em seu palácio. Ele tinha todos os deleites de Canaã, aquela terra prazerosa, às ordens, a riqueza de um reino, os prazeres de uma corte e as honras e poderes de um trono; mas nada disso lhe valia sem a vinha de Nabote. Desejos imoderados expõem os homens a contínuos vexames, e aqueles que estão dispostos a se afligir, mesmo estando felizes, sempre encontrarão alguma coisa de que se lamentar. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 533. I Reis 21.4 Após ouvir o juízo de DEUS (20.42), Acabe foi para sua casa aborrecido. O mesmo sentimento que o levou a procurar apossar-se do poder, trouxe-lhe um forte ressentimento em relação ao seu vizinho. A ira gerou o ódio que o levou a um assassinato. Nabote. porém, quis obedecer às leis de DEUS: Era considerado um dever rnanter em família a terra de seus ancestrais. Este incidente mostra a cruel interação entre Acabe e Jezabel. dois dos lideres mais impiedosos na história de Israel. BÍBLIA APLICAÇÃO PESSOAL. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Editora CPAD. pag. 497. 3. O PECADO DE ACABE E JEZABEL. O rei Acabe cobiçou a vinha de Nabote e isso resultou num escândalo nacional que levou à ruína a casa real (1 Rs 21.1-16). Ele e sua esposa, Jezabel, violaram o sexto mandamento: "Não matarás"; o oitavo: "Não furtarás"; o nono: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo"; e o décimo: "Não cobiçarás". Dois outros casos de cobiça aconteceram na casa de Davi: seu filho Amnom violentou a própria irmã, Tamar, movido pela lascívia (2 Sm 13.15), e Absalão desejou ocupar o trono de seu pai enquanto Davi ainda era vivo e reinava em Israel (2 Sm 15.16). No Novo Testamento, encontramos Ananias e Safira, que desejavam prestígio na Igreja, mas tentaram consegui-lo de maneira pecaminosa (At 5.1-11). Simão Mago, de Samaria, tentou comprar os dons de DEUS com dinheiro, pois almejava poderes sobrenaturais para ostentação pessoal (At 8.18). Diótrefes, personagem desconhecida, cuja única menção no Novo Testamento é desabonadora, já que ele procurava ter o primado na Igreja (3 Jo 9). Esequias Soares. Os Dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 136. I Reis 21.9 Apregoai um jejum, e trazei a Nabote para a frente do povo. Nabote deveria ser zombeteiramente exaltado e louvado. Ele era um homem bom, e o público reconheceria isso. Muitas pessoas estariam presentes para honrá-lo, mas ao lado dele haveria dois patifes que, de repente, acusariam o bom homem de blasfêmia contra o rei e contra Elohim (o DEUS de Israel, ou, talvez os deuses, conforme a palavra hebraica pode ser traduzida). Seja como for, a acusação, nunca ouvida nem provada em tribunal, resultaria em sua execução (vs. 13). Bastava que duas testemunhas testificassem contra uma pessoa para que as acusações tomassem um aspecto legal. Os dois patifes “cumpriram” a exigência legal. Ver Deu. 17.6,7. Quanto a uma interpretação alternativa, ver a seguir. O texto hebraico original aceita outra interpretação. Em lugar da idéia de exaltação, a colocação de Nabote à frente do povo pode significar “seja submetido a julgamento”. Mas, quer ele fosse exaltado, quer fosse submetido a julgamento, o pobre Nabote seria atraiçoado e executado por crimes que não tinha cometido. Disse John Gill (in loc.): “...trazei-o ao tribunal e julgai-o. Talvez em seus tribunais de juizo houvesse lugares mais elevados, acima da cabeça das pessoas, onde os criminosos acusados costumavam pôr-se de pé, quando estavam sendo julgados, a fim de que pudessem ser vistos e ouvidos por todos”. Um jejum. Jezabel fingiu que Israel estava enfrentando os pecados de Nabote. Jejuns eram decretados em tempos de emergência nacional. Yahweh estaria prestes a punir um povo desviado. Era necessário um arrependimento em massa, e pecados secretos tinham de vir à luz. Algumas poucas execuções avivariam tais questões, e isso aliviaria a ira divina. O jejum alegadamente prepararia o povo para aproximar-se da deidade. A presença divina revelaria por que o país enfrentava o perigo. Um jejum de sete dias era comum nos sepultamentos, em lamentação pelos mortos (ver I Sam. 31.13), de modo que um jejum era com freqüência associado à morte, e quase sempre ao pecado. Nas religiões modernas, essa não é a razão principal para que haja jejum. I Reis 21.10 Dois homens malignos. Nossa versão portuguesa provavelmente mostra-se correta ao fazer do nome Belial um adjetivo que significa “homens malignos”. Esta nova versão portuguesa concorda com a Revised Standard Version. Somente mais tarde a palavra hebraica veio a significar um nome para Satanás, visto que essa doutrina só se desenvolveu no judaísmo posterior. Eram essenciais duas testemunhas, de acordo com a lei antiga (ver Deu. 17.6; 19.15; Núm. 35.30; Mat. 26.60). Isso deixava a questão aberta para a injustiça, porquanto não seria difícil conseguir duas “testemunhas” que concordassem em levantar uma acusação qualquer contra alguém inocente. É admirável que o testemunho tenha sido aceito, e não tenha havido nenhum julgamento como estamos acostumados a ver hoje em dia. "... eles eram uns coitados inúteis, que tinham lançado fora o jugo da lei, visto que belial significa criaturas abandonadas e sem lei, que não têm consciência de coisa alguma” (John Gill, in loc.). Blasfêmia. Falar coisas pesadas e perversas contra DEUS e o rei, esse foi o alegado “crime” de Nabote. Entrementes, a abominável e idólatra Jezabel saiu livre de qualquer punição, embora ela fosse um caso público e escandaloso de alguém que deveria ser executado de acordo com os padrões da legislação mosaica. Esse era um crime passível de execução e uma violação direta do segundo mandamento (Êxo. 20.4). Ver Deu. 17.2-5 quanto à pena de morte (por apedrejamento), que era o castigo contra esse crime. A blasfêmia era punida com o apedrejamento, conforme aprendemos em Lev. 24.16 e Deu. 13.9,10. A palavra hebraica aqui usada e traduzida como “blasfêmia” usualmente significa “abençoar”, mas em um uso eufemístico significa também “amaldiçoar”. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1450-1451. O plano de Jezabel (21.5-16). A consciência de Jezabel, de Tiro, não tinha sido desenvolvida pelas tradições israelitas e pelo respeito aos direitos alheios. Como Acabe não se apossou imediatamente da vinha de Nabote, uma coisa que dificilmente seria capaz de entender (7), ela continuou com seu plano diabólico. Os filhos de Belial (10) seriam homens desonestos. Nunca foi exposta a falsa acusação de blasfêmia levantada contra Nabote perante a assembleia dos anciãos e dos nobres. Este sincero israelita foi apedrejado de acordo com a lei (13; cf. Lv 24.13-16), sob o testemunho de duas pessoas que teriam presenciado a suposta ofensa (cf. Dt 17.6,7). Com a eliminação de Nabote, Acabe tomou posse da vinha (15-16) que, sem dúvida, havia perdido grande parte de seus antigos atrativos. Harvey E. Finley. Comentário Bíblico Beacon I e II Reis. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 338-339. Para satisfazê-lo, ela planeja e maquina a morte de Nabote. Não menos do que o seu sangue servirá para reparar a afronta que fizera a Acabe, o qual deseja com mais avidez por causa da sua adesão à lei DEUS de Israel. 1. Tivesse ela desejado apenas suas terras, suas falsas testemunhas podiam ter jurado falsamente por meio de um fato forjado (ela não podia ter emitido um documento tão fraco, mas os anciãos de Jezreel teriam julgado que ele era muito bom); mas a adúltera anda à caça de preciosa vida. (Pv 6.26). A vingança é doce. Nabote deve morrer, e morrer como um malfeitor, para satisfazê-la. (1) Nunca ordens mais perversas do que aquelas que Jezabel enviou aos magistrados de Jezreel foram enviadas por qualquer príncipe (w. 8-10). Resumindo, ela os ordena, com a submissão deles, que condenem Nabote à morte sem lhes dar qualquer motivo para fazerem isso.Tivesse ela enviado testemunhas para denunciá-lo, os juízes (que devem proceder secundum allegata et probata — de acordo com as alegações e provas poderiam ter sido enganados, e a sua sentença podia ter sido mais infeliz do que seu crime; mas obrigá-los a encontrarem testemunhas, filhos de Belial, para eles mesmos suborná-las, e depois darem o veredicto sobre um testemunho que eles sabiam ser falso, era uma provocação sem vergonha a tudo o que era justo e sagrado, como não esperamos que possa ter paralelo em qualquer história. Ela devia ter considerado os anciãos de Jezreel como homens perfeitamente perdidos em relação a qualquer coisa que é honesta e honrável ao esperar que essas ordens fossem obedecidas. Mas ela lhes ensinará um jeito de fazer isso, tendo tanto da sutileza da serpente como tinha do seu veneno. [1] Isso devia ser feito sob as aparências da religião: “apregoai um jejum; indicai a vossa cidade que estais apreensivos acerca de um terrível julgamento que é iminente sobre vós, ao qual deveis vos esforçar em evitar, não apenas pela oração, mas descobrindo e excluindo a coisa amaldiçoada; fingi estardes temerosos de haver escondido entre vós um grande infrator, por cuja causa DEUS está irado com a vossa cidade; encarregai o povo, se ele souber de algo assim, de denunciá-lo naquela ocasião solene, quando o povo estiver preocupado com o bem-estar da cidade; e finalmente, que Nabote seja preso como o suspeito, provavelmente porque ele não se junta aos seus vizinhos na adoração. Isso poderá servir de pretexto para que ele seja posto acima do povo, sendo convocado à corte. Fazei proclamação que, se alguém puder acusá-lo diante da corte, e provar que ele seja o Acã, deve ser ouvido; e então deixai que as testemunhas apareçam para testemunharem contra ele”. Note: Não existe perversidade tão desprezível, tão horrenda, para a qual algumas vezes a religião não tenha sido feita de manto e cobertura para ela. De qualquer modo, não devemos pensar o pior do jejum e da oração por eles terem sido usados às vezes de forma abusiva como aqui; porém, devemos pensar muito pior daqueles planos perversos que, em qualquer tempo, têm sido levados a efeito sob o abrigo deles. [2] Isso também deve ser feito sob a aparência da justiça e nas formalidades de um processo legal. Tivesse ela enviado a eles para alugar alguns de seus bandidos, alguns rufiões perigosos, para assassiná-lo, para golpeá-lo quando estivesse andando pelas ruas à noite, o feito teria sido mau o suficiente; mas destruí-lo através da lei, usando para assassinar ao inocente aquele poder que devia protegê-lo, foi tanto uma perversão violenta da justiça e do julgamento quanto algo verdadeiramente monstruoso, e ainda somos orientados a não nos maravilharmos com isso (Ec 5.8). O crime de que deviam acusá-lo era o de haver blasfemado contra DEUS e contra o rei — uma blasfêmia confusa. Com certeza ela não podia pensar em um sentido de blasfêmia na resposta que ele tinha dado a Acabe, como se lhe negar a sua vinha fosse blasfemar do rei, e dar razão à lei divina fosse blasfemar de DEUS. Não, ela não finge ter nenhum fundamento para a acusação. Embora não houvesse nenhuma plausibilidade nisso, as testemunhas deveriam jurar, e a Nabote não se devia permitir que se defendesse, ou examinasse as testemunhas, mas, imediatamente, sob o pretexto de um ódio universal ao crime, eles deviam levá-lo para fora da cidade e apedrejá-lo. Por haver blasfemado de DEUS ele teria o confisco da sua vida, mas não a de sua propriedade, e por isso ele também foi acusado de traição ao blasfemar do rei, por cujo ato sua propriedade devia ser confiscada, de maneira que Acabe pudesse ter a vinha que lhe pertencera. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 533-534. 4. O CASAL NÃO CONTAVA COM UMA TESTEMUNHA VERDADEIRA. I Reis 21.15 As boas novas foram comunicadas a Acabe. Agora ele tinha um brinquedo com o qual brincar, a saber, a vinha de Nabote. Não fora Acabe quem inventara o plano para assassinar Nabote, mas ele estava ansioso por tirar vantagem dos resultados desse plano, e assim tornou-se cúmplice de sua mulher, Jezabel. O infantil e velho rei levantou-se de seu “leito de enfermidade” e imediatamente foi até o terreno de Nabote para preparar ali um jardim (ou horta) (vs. 2). II Reis 9.26 mostra-nos que os filhos de Nabote também foram executados, e isso só serviu para complicar a questão inteira, a saber, acarretando a morte violenta de Jezabel e Acabe. O dia do castigo deles estava próximo. II Reis 9.26 Certamente vi ontem o sangue de Nabote e o sangue de seus filhos, diz o Senhor; e neste mesmo campo te retribuirei, diz o Senhor. Agora, pois, levanta-o, e lança-o neste campo, conforme a palavra do Senhor. I Reis 21.16 Josefo (Antiq. VIII.13.8) diz-nos que “Acabe alegrou-se diante do que tinha sido feito e levantou-se imediatamente do leito onde tinha jazido”. Acabe tinha menos força de vontade e má imaginação que Jezabel, mas era, igualmente, constituído de consciência. A Septuaginta, por outra parte, pinta Acabe como entristecido pela execução, mencionando que ele “rasgou suas roupas e vestiu-se de cilício". É possível que essas vestes rasgadas impliquem a verdade dos fatos, e que o texto massorético removeu essa porção, pensando exaltar demais ao ímpio Acabe. Até o cruel Acabe poderia ter ficado temporariamente chocado por causa daquele assassinato. Mesmo sua mente embrutecida poderia ter compreendido, naquele momento, a grande injustiça que fora cometida. Jezreel ficava a cerca de vinte e seis quilômetros de Samaria, de modo que Acabe fez uma pequena viagem para dar outra olhada em “suas terras”, que se tornariam o “seu jardim ou horta” para embelezar sua residência de verão. John Gill (in loc.) imaginou que ele tenha ido até lá em meio a grande pompa e glória, sendo acompanhado por altos oficiais para celebrar a feliz ocasião. A Intervenção e a Retaliação de Elias (21.17-29) Acabe e Jezabel tinham semeado o vento e logo colheriam o tufão (ver Osé. 8.7). O sangue de Nabote e de seus filhos (ver a história anterior) seria vingado. “A dinastia de Onri, pai de Acabe, seria desmantelada, tal como aconteceu à família de Nabote, e pelas mesmas razões. Nenhuma dessas linhagens reais fora fiel aos ideais deuteronômicos" (Norman H. Snaith, in loc.). “Novamente, DEUS escolheu Elias para levar uma mensagem de julgamento a Acabe, que estava, naquele momento, na vinha de Nabote. DEUS transmitiu a Elias o que ele deveria dizer (vs. 19)” (Thomas L. Constable). A abominável e ímpia Jezabel tinha cometido o duplo crime de assassinato e confisco ilegal de uma herança familiar. Acabe foi o cúmplice declarado desses crimes e sofreria sorte igualmente horrível. I Reis 21.17,18 A palavra do Senhor (Yahweh) veio novamente a Elias. Ele teve uma visão, um sonho incomum, ouviu uma voz direta ou, de outra maneira qualquer, esteve em comunicação com o Ser Divino. Cf. I Reis 18.1, a primeira ocasião em que a palavra do Senhor veio a Elias, ordenando-lhe proferir julgamento contra Acabe. A localização de Acabe foi dada a Elias. Naquele exato instante, Acabe estava tomando posse da vinha de Nabote, que ele tinha obtido através de assassinato. Elias haveria de “apanhá-lo com a mão na botija”, porquanto estaria tomando posse ilegal de uma herança de família. O versículo à nossa frente parece indicar a localização da vinha em Samaria, mas Nabote era de Jezreel, e podemos supor que sua vinha estivesse ali. Acabe tinha uma residência de verão naquele lugar. É possível que a declaração feita pelo autor, neste versículo, tenha sido um equívoco. Acabe tinha palácios em dois lugares, porém o mais provável é que a vinha ficasse perto de Jezreel e a herança da família de Nabote também estivesse nessa última cidade. Elias desceu no dia seguinte após as matanças (ver II Reis 9.26). I Reis 21.19 A mensagem a ser transmitida foi direta e brutal. Acabe era um homem morto. Além disso, morreria em desgraça. No próprio lugar onde os cães tinham vindo lamber o sangue de Nabote, também lamberiam o sangue de Acabe, e dessa forma a Lei Moral da Colheita segundo a Semeadura teria exato cumprimento. Essa foi a Lex Talionis divina, isto é, uma punição em termos iguais, como olho por olho e dente por dente. A profecia não se cumpriu em termos exatos, mas, sim, quanto à sua essência, conforme salientou John Gill (in loc.): “... a profecia teve cumprimento em seus filhos, que eram sua carne e seu sangue (ver II Reis 9.26), porquanto o castigo foi adiado em seus dias e transferido para os seus filhos (ver o vs. 29). Os cães, entretanto, lamberam-lhe o sangue, embora não no mesmo local (ver I Reis 22.8)”. O arrependimento de Acabe alterou, até certo ponto, o cumprimento final da profecia, conforme vemos no vs. 29. “É inútil procurarmos um cumprimento literal dessa predição. Esta teria sido assim cumprida, mas a humilhação de Acabe induziu um DEUS misericordioso a dizer: 'Não trarei este mal nos seus dias, mas nos dias de seu filho o trarei sobre a sua casa’ (vs. 29)” (Adam Clarke, in loc.). Os cães lamberam o sangue de Nabote em Jezreel, e o de Acabe perto de Samaria. “Quando os cães lambiam o sangue de alguém, isso indicava uma morte desgraçada, especialmente no caso de um rei, cujo corpo normalmente seria guardado e sepultado com grande respeito” (Thomas L. Constable, in loc.). CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 1451-1452. A mensagem com a qual Elias foi enviado a Acabe, quando foi tomar posse da vinha de Nabote (w. 17-19). 1. Até aqui DEUS se manteve em silêncio, não interferiu na correspondência de Jezabel, nem suspendeu o processo dos anciãos de Jezreel; mas agora Acabe é reprovado e o seu pecado é posto diante de seus olhos. (1) Elias é a pessoa enviada. Um profeta de posição inferior tinha sido enviado a ele com mensagens de bondade (20.13). Mas o pai dos profetas é enviado para afligi-lo e condená-lo por seu assassinato. (2) O lugar é a vinha de Nabote e o tempo, justamente quando Acabe está tomando posse dela; então, e ali, a sua sentença deve ser lida para ele. Ao tomar posse, ele aprovava tudo o que fora feito, e fez a si mesmo culpado ex post facto — como um cúmplice após o fato. Ele foi pego por autorizar os erros, e por isso a condenação cairia sobre ele com muito mais força. “O que tens tu para fazer nesta vinha? Que bem podes esperar dela quando a adquiriste com sangue (Hb 2.12) e sufocaste a alma do seu dono (Jó 31.39). Agora que ele está se alegrando com o seu bem adquirido desonestamente, e dando orientações para mudar a vinha em um jardim de flores, a sua comida se mudará nas suas entranhas. Porquanto não sentiu sossego. Haja, porém, ainda de que encher o seu ventre, e DEUS mandam sobre ele o ardor da sua ira (Jó 20.14,20,23). 2. Vejamos o que se passou entre ele e o profeta. (1) Acabe desabafou sua ira contra Elias, encolerizou-se ao vê-lo, e, em vez de humilhar-se diante do profeta, como devia ter feito (2 Cr 36.12), estava pronto para voar em seu pescoço. Já me achaste, inimigo meu? (v. 20). Isso mostra: [1] Que Acabe o odiava. A última vez em que os encontramos juntos separaram-se como bons amigos (18.46). Na ocasião, Acabe tinha permitido a reforma e por isso, tudo estava bem entre ele e o profeta; mas agora ele tinha reincidido e estava pior que nunca. A sua consciência lhe dizia que havia feito de DEUS seu inimigo e, por essa razão, ele não poderia esperar que Elias fosse seu amigo. Note: A condição do homem que fez da palavra de DEUS sua inimiga é muito miserável, e a sua condição, quando considera os ministros daquela palavra seus inimigos porque lhe dizem a verdade (G1 4.16), é muito desesperada. Tendo-se vendido ao pecado, Acabe estava resolvido a manter o negócio e não podia tolerar aquele que o teria ajudado a se recuperar. [2] Que Acabe o temia: Já me achaste? Insinuando que ele o evitava o quanto podia, e que agora era um terror para ele ter de vê-lo. Ver o profeta era, para Acabe, como a visão da mão escrevendo sobre a parede para Belsazar; então se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o turbaram. As juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos bateram um no outro. Nunca houve um pobre devedor ou criminoso tão confuso diante do oficial que veio para prendê-lo. Os homens podem se culpar se fazem de DEUS e da sua palavra um terror para si. (2) Elias pronunciou a ira de DEUS contra Acabe: Achei-te (diz ele no v. 20), porquanto já te vendeste para fazeres o que é mau. Note: Aqueles que se entregam ao pecado certamente serão descobertos, cedo ou tarde, para o seu horror e assombro. Agora, Acabe está no lugar do réu, como esteve Nabote, e treme mais do que Nabote tremeu. [1] Elias declara a sua acusação contra ele e o condena pelas evidências notórias do fato (v. 19): Não mataste e tomaste a herança? Assim ele foi responsabilizado pelo assassinato de Nabote, e não lhe adiantaria dizer que a lei o havia matado (a justiça pervertida é a maior das injustiças), nem que, se ele foi processado injustamente, não era sua culpa — que ele não sabia nada disso; pois tudo foi feito para agradá-lo e ele se mostrou feliz com isso e, dessa forma se fez culpado por tudo que tinha ocorrido na condenação injusta de Nabote. Ele matou, pois ele tomou posse. Se ele toma a vinha, leva a culpa junto com ele. Terra transit cum onere — a terra com o encargo. [2] Elias dá a sentença sobre ele. Ele lhe fala da parte de DEUS que a sua família será arruinada e arrancada (v. 21) e cortada toda a sua posteridade — que seria feito à sua casa como às de seus predecessores pervertidos, Jeroboão e Baasa (v. 24), particularmente, que aqueles que morressem na cidade seriam alimento para os cães e aqueles que morressem no campo, para os pássaros (v. 24); o que tinha sido predito a respeito da casa de Jeroboão (14.11) e da casa de Baasa (16.4) — que Jezabel, particularmente, seria devorada pelos cães (v. 23); o que se cumpriu (2 Rs 9.86) — e, para o próprio Acabe, que os cães lamberiam o seu sangue no mesmo lugar onde lamberam o de Nabote (v. 19 — “o teu sangue, o teu mesmo, embora seja sangue real, embora ele aumente em tuas veias com orgulho e ferva em teu coração com ira, em breve será diversão para os cachorros”), o que se cumpriu em 22.88. Isso implica que ele morreria de morte violenta, seria trazido ao seu túmulo com sangue, e que a desgraça o visitaria, cuja previsão deve necessariamente ser uma grande mortificação para um homem tão orgulhoso. Aqui se insiste nas punições após a morte, as quais, embora afetassem apenas o corpo, talvez fossem planejadas como figuras das misérias da alma depois da morte. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Josué a Ester. Editora CPAD. pag. 534-535.