Escrita Lição 8, Betel, Ordenança para confessar os pecados e perdoar as ofensas, 2Tr24, Pr Henrique, EBD NA TV
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EBD, Revista
Editora Betel, 2° Trimestre De 2024, TEMA: ORDENANÇAS
BÍBLICAS – Doutrina Fundamentais Imperativas aos Cristãos para uma
vida bem-sucedida e de Comunhão com DEUS, Escola Bíblica Dominical
ESBOÇO DA LIÇÃO
1- PRECISAMOS DO
PERDÃO DE DEUS
1.1. A necessidade
do arrependimento.
1.2. A necessidade
da confissão do pecado para o perdão.
1.3. O constante
pedido de perdão.
2- O CREDOR
INCOMPASSIVO
2.1. O perdão exige
reciprocidade.
2.2. O perdão
excede a nossa compreensão de merecimento.
2.3. A nossa dívida
era impagável.
3- PERDOAI-VOS UNS
AOS OUTROS
3.1. Jesus ensina o
caminho do perdão.
3.2. O perdão é o
caminho para cura do corpo e da alma.
3.3. O perdão
precede a adoração.
TEXTO ÁUREO
“E, quando
estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que
vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas.” Marcos 11.25
VERDADE APLICADA
O perdão é uma
ordenança bíblica e precisamos exercitar o perdão nos nossos relacionamentos.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
Ressaltar que
o perdão é uma ordenança bíblica.
Mostrar que a base do perdão é o arrependimento.
Falar que precisamos exercitar o perdão.
TEXTOS DE
REFERÊNCIA
1 JOÃO 1
7 Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado.
8 Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há
verdade em nós.
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está
em nós.
LEITURAS
COMPLEMENTARES
SEGUNDA | SI
51.1-2 Davi confessa o seu pecado e suplica perdão.
TERÇA | Jo 8.7 Quem não tem pecado atire a primeira pedra.
QUARTA | Rm 3.21-31 A justificação pela fé em Jesus Cristo.
QUINTA | Rm 10.10 Com a boca se faz confissão para a salvação
SEXTA | НЬ 12.1 O pecado que tão de perto nos rodeia.
SÁBADO | Tg 1.15 O pecado consumado gera a morte.
HINOS SUGERIDOS: 20, 116, 521
MOTIVO DE ORAÇÃO
Ore pedindo graça
para perdoar os que te ofenderam.
))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
SUBSÍDIOS EXTRAS
PARA A LIÇÃO
)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Escrita Lição 8, CPAD, Confessando E Abandonando O Pecado, 2Tr24,
Pr Henrique, EBD NA TV
Para ne ajudar PIX 33195781620 (CPF) Luiz Henrique de Almeida Silva
Lição
8, CPAD, Confessando e Abandonando o Pecado, 2Tr24, Pr Henrique, EBD NA TV
https://youtu.be/cDXP1vVP_78?si=0XopVYqLqIrq3imw Vídeo
Escrita https://ebdnatv.blogspot.com/2024/05/escrita-licao-8-cpad-confessando-e.html
Slides https://ebdnatv.blogspot.com/2024/05/slides-licao-8-cpad-confessando-e.html
ESBOÇO DA LIÇÃO
I – A CONFISSÃO DE PECADO
1. Definição.
2. A confissão bíblica de pecado.
3. O símbolo da confissão de pecado.
II – O PERIGO DO PECADO NÃO CONFESSADO
1. Os males dos pecados não confessados.
2. As consequências do pecado de Adão e Eva.
III – CONFISSÃO DE PECADO: UM CAMINHO DE CURA E RESTAURAÇÃO
1. Confessando o pecado a DEUS.
2. Alcançando cura e restauração.
PECADO
חטאה chatta’ah ou חטאת chatta’th HEBRAICO
pecado, pecaminoso, condição de pecado, culpa pelo pecado, punição pelo pecado,
oferta pelo pecado, purificação dos pecados de impureza cerimonial
pecado, pecaminoso, condição de pecado, culpa pelo pecado, punição pelo pecado,
oferta pelo pecado, purificação dos pecados de impureza cerimonial
αμαρτια hamartia GREGO
não ter parte em, errar o alvo, estar errado, errar ou desviar-se do caminho de
retidão e honra, fazer ou andar no erro, desviar-se da lei de DEUS, violar a
lei de DEUS, aquilo que é errado, uma ofensa, uma violação da lei divina em
pensamento ou em ação, coletivamente, o conjunto de pecados cometidos seja por
uma única pessoa ou várias.
)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Lição 6, A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS
3º Trimestre de 2017 - Título: A Razão da Nossa Fé: Assim Cremos,
assim Vivemos
Comentarista: Pr. Pres. Esequias Soares, Assembleia de DEUS, Jundiaí, SP
Complementos, ilustrações e vídeos: Pr. Luiz Henrique de Almeida Silva -
99-99152-0454
FIGURAS ILUSTRATIVAS USADAS NOS VÍDEOS - https://ebdnatv.blogspot.com.br/2017/07/figuras-da-licao-6-licao-6.html
Resumo da Lição 6, A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a
DEUS
I - DEFININDO OS TERMOS
1. Pecado.
2. Os termos hebraicos awon e peshá.
3. O que é pecado?
II - ORIGEM DO PECADO
1. O pecado no céu.
2. O pecado no Éden.
3. A universalidade do pecado.
III - A SOLUÇÃO PARA O PECADO
1. Nem tudo está perdido.
2. A provisão de DEUS.
PARA REFLETIR - A respeito da pecaminosidade humana e a sua restauração a DEUS,
responda:
Qual o termo genérico para designar o pecado e qual o seu significado? O termo
genérico para designar o pecado com todos os seus detalhes, chattath, e seu
equivalente verbal chattá (pronuncia-se hatá, com "h" aspirado), que
literalmente significa "errar o alvo" (Jz 20.16).
O que é pecado nas palavras de 1 João 3.4? É a transgressão da lei (1 Jo 3.4;
ARA).
Onde se originou o pecado e por quem tudo começou? O pecado se originou no céu
e tudo começou pelo mau uso do livre-arbítrio.
Qual a prova incontestável da universalidade do pecado? A prova incontestável
da universalidade do pecado é a morte (Rm 5.12).
Quem é a provisão de DEUS para o pecador? JESUS CRISTO, "Cordeiro de DEUS,
que tira o pecado do mundo".
CONSULTE - Revista
Ensinador Cristão -
CPAD, nº 71, p39.
Comentário Rápido do Pr. Henrique da Lição 6, A Pecaminosidade
Humana e a sua Restauração a DEUS
INTRODUÇÃO
Lembre-se, Hino da harpa não é bíblia. Tem hino absurdo na harpa. Pergunta para
você: Como se chamava a árvore que Adão não podia comer dela? Quem a criou?
Versículos para você analisar:
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia
em que dela comeres, certamente morrerás. Gênesis 2:17
Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço
todas estas coisas. Isaías 45:7
Como haveria livre arbítrio se não tivesse pelo menos duas opções de escolha? O
bem e o mal foram cridos por DEUS para opção tanto dos anjos quanto dos homens.
30% dos anjos escolheram o mal e bem mais do que isso dos homens escolheram o
mal. No Éden com Adão e Eva, 100% escolheram desobedecer a DEUS - depois 25%
com Caim e Abel. Na parábola do semeador só se aproveitou 25% das sementes
plantadas. Das virgens só 50 % entraram, dos talentos só a terça parte
produziu.
Veremos nesta lição a parte da teologia que estuda o pecado - a
Hamartiologia. Destacaremos aqui a entrada do pecado no céu e na Terra.
Definiremos o que o pecado. Apresentaremos as causas da entrada desse pecado no
mundo. Analisaremos o resultado da entrada do pecado no mundo. Focaremos na
universalidade do pecado. Apresentaremos a solução dada por DEUS para o perdão
do pecado e a restauração do ser humano.
Nesta lição não estudaremos o pecado após a conversão, pecados dos que
continuam vivendo em pecado e dos que se acham no direito de pecarem obtendo
perdão. Nem abordaremos detalhadamente o pecado imperdoável. A lição não se
atém a esses assuntos mas ao pecado de Satanás e à pecaminosidade do ser humano
antes de sua conversão e à solução apresentada por DEUS. JESUS.
Por Adão o pecado entrou no mundo. Rm 5.12
E tomou o Senhor DEUS o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o
guardar.
E ordenou o Senhor DEUS ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás
livremente,
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia
em que dela comeres, certamente morrerás.
E disse o Senhor DEUS: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
ajudadora idônea para ele.
Gênesis 2:15-18
Eva nem tinha nascido quando DEUS deu a ordem para Adão. Depois Adão contou a
Eva, mas DEUS não deu ordem a Eva para não comer.
Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,
assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram.
Romanos 5:12
Isaías 53:4,5 - Pecado males
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores
levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de DEUS, e oprimido.
Alguns Resultados do pecado
Iniquidade, toda iniquidade é pecado.
Dores, doenças. Aquilo que causa dor. Dói. Ex. Hérnia de disco, enxaqueca,
câncer, etc..
Enfermidades, causam problemas, mas não dor. Ex. Depressão. Medo, síndrome de
pânico, cegueira, surdez, etc...Solução
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das
nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados.
Tomemos cuidado com o câncer calvinista.
Este trimestre é para acordarmos antes que o ESPÍRITO SANTO se entristeça de
vez e a blasfêmia seja reconhecida em nosso meio. Pode ser a última chance para
muitos. DEUS está fazendo tremendos milagres e ainda tem gente tentando
extinguir o ESPÍRITO SANTO.
Me preocupou um entendimento que vi em alguns estudos. Vi alguns ensinos
dizendo que o homem será condenado por causa do pecado de Adão. Não creio
assim. Ninguém vai para o inferno porque Adão pecou. A semente do pecado vem de
Adão, mas cada um é responsável por dar lugar a esta semente ou não. Não é por causa
de Adão que existe condenação, mas é por causa do pecado individual de cada um.
Cada um é atraído e só sede se quiser- Cada um tem seu livre-arbítrio Eis que
todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho
é minha: a alma que pecar, essa morrerá. Ezequiel 18:4
Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau
caminho, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu livraste a tua alma. Ezequiel
3:19
A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o
pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a
impiedade do ímpio cairá sobre ele. Ezequiel 18:20 Mas cada um é tentado,
quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Tiago 1:14
A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o
pai levará a iniquidade do filho. não podemos jogara culpa de alguém pecar em
cima de Adão. Cada um peca porque quer Pecar.
A semente foi plantada em Adão no Éden. Passou de pai para filho. Mas eu decido
se vou pecar ou não. Não é forçado alguém pecar.
: Todo ser humano só é condenado porque pecou. Se não pecar não pode ser
condenado, Mas existe alguém, assim? Só JESUS conseguiu esta proeza. Por isso
mesmo que uma criancinha é salva se morrer antes de ter consciência do pecado.
Não teve consciência do que é pecado, não escolheu pecar.
Temos que tomar cuidado com o calvinismo. Não podemos jogar a culpa de
nosso pecado em Adão. Cada um, peca porque atende a seus próprios desejos de
pecar. Isso se chama Livre arbítrio. DEUS não iria me condenar ao inferno sendo
que eu não pequei, mas foi Adão que pecou.
Quando Paulo faz uma análise ele vê todos pecando, pois não conseguem viver na
Terra sem pecar. Só JESUS conseguiu isso. Romanos 3.23. Em Rm 5.12 Paulo fala
da semente que está no homem e que lhe dá a escolha entre dar lugar ao pecado
ou não. A semente está lá, vamos jogar água e adubar para dar frutos (pecados)?
Em Rm 6.23 ele fala do salário deste pecado e de sua solução.
Se alguém diz que o pecado de Adão condenou toda raça humana ao inferno, está
dizendo que uma criança recém-nascida vai para o inferno se morrer, pois Adão
pecou e esta criança é descendente de Adão.
Jonas teve sua escolha - Foi para Társis - Desobedeceu e mereceu seu
castigo, o juízo. Agora entra o juízo. No juízo DEUS exerce seu poder e
autoridade. Jonas já estava morto no interior daquele peixe (espiritualmente
falando) - o juízo já tinha vindo. Estar dentro do peixe era como estar dentro
da terra, sepultado - JESUS disse isso sobre Jonas figura de CRISTO sepultado.
jonas serve também como figura do crente no batismo nas águas - como que
"ressuscitado", como nós após o batismo de morte, batismo nas águas,
saiu para uma nova vida de obediência - Todos usaram o livre arbítrio para
pecar - Só JESUS que não.
Israel no meio de Canaã. Canaã teve sua escolha. Seguir Israel sabendo que
tinham um DEUS poderoso que fazia milagres (Raabe fez sua escolha
certa). Faraó teve sua escolha. Escolheu não deixar o povo ir. Alguns
egípcios fizerem a escolha certa e foram com os israelitas.
Tudo é questão de escolha e escolha é Livre Arbítrio.
Após pecar o homem condenado a juízo só tem pela frente dois destinos.
Primeiro: Se permanecer como está, seu destino é o lago de fogo e enxofre.
Segundo, Se arrepender de seu pecado e crer, pela fé, que JESUS morreu em seu
lugar, confessando JESUS como Salvador e Senhor, crendo que Ele ressuscitou,
será salvo. Romanos 10.9
Esta operação de Salvação é feita e conduzida pelo ESPÍRITO SANTO que convence
o homem do pecado, da justiça e do juízo.
E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. João
16:8
A salvação é totalmente dependente de DEUS e só acontece pela graça de DEUS.
Não tem o mérito humano.
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de
DEUS. Efésios 2:8
JESUS fez tudo o que precisava ser feito para nos salvar - só precisamos crer
no que já está feito. O livre arbítrio foi usado para pecar. Todos usaram o
livre arbítrio para pecar - Só JESUS que não.
Livre arbítrio
Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição; Deuteronômio
11:26 Dois caminhos são propostos - isso é livre arbítrio.
Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que
vivas, tu e a tua descendência, Deuteronômio 30:19 Dois caminhos são propostos
- isso é livre arbítrio. DEUS ainda orienta qual o melhor caminho a seguir.
A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor JESUS, e em teu
coração creres que DEUS o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo. Romanos
10:9 - Este "se" é condicional. Grifo nosso.
E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens também o Filho do
homem o confessará diante dos anjos de DEUS. Lucas 12:8 Condicional - isto é
livre arbítrio - ninguém é obrigado a confessar.
Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante
de meu Pai, que está nos céus. Mateus 10:32 - Condicional - isto é livre
arbítrio - ninguém é obrigado a confessar.
Se dissermos que não temos pecado... Se confessarmos nossos pecados.. (Pecados
depois da salvação)
1.7 ANDARMOS NA LUZ. Isso significa crer na verdade de DEUS, conforme revelada
na sua Palavra e esforçar-se sincera e continuamente por sua graça, para
cumpri-la por palavras e obras. "O sangue de JESUS CRISTO, seu filho, nos
purifica de todo pecado", refere-se à obra contínua da santificação dentro
do crente, e à purificação contínua, pelo sangue de CRISTO, dos nossos pecados
involuntários. É provável que aqui João não esteja pensando nos pecados
deliberados contra DEUS, já que está falando em andar na luz. Essa purificação
contínua propicia a nossa íntima comunhão com DEUS (ver o estudo A
SANTIFICAÇÃO)
1.8 SE DISSERMOS QUE NÃO TEMOS PECADO. João emprega o substantivo
"pecado" em vez da forma verbal "pecamos", para enfatizar o
pecado como um princípio imanente na natureza humana. (1) João está
provavelmente argumentando contra os que afirmam que o pecado não existe como
um princípio ou poder na natureza humana, ou contra os que afirmam que as más
ações que eles cometem não são realmente pecado. Essa heresia continua ainda
hoje entre os que negam a realidade do pecado e que interpretam a iniquidade em
termos de causas deterministas, psicológicas ou sociais (ver Rm 6.1nota;
7.9-11 nota). (2) Os crentes devem conscientizar-se de que a carne, ou a
natureza humana pecaminosa, é uma ameaça constante na sua vida, e que devem
sempre estar mortificando as suas más obras por meio do ESPÍRITO SANTO que
neles habita (Rm 8.13; Gl 5.16-25 (refs2)).
1.9 CONFISSÃO DE PECADO. Devemos reconhecer os nossos pecados e buscar em DEUS
o perdão e a purificação deles. Os dois resultados disso são (1) o perdão
divino e a reconciliação com DEUS, e (2) a purificação (i.e., remoção) da culpa
e a destruição do poder do pecado, a fim de vivermos uma vida de santidade (Sl
32.1-5; Pv 28.13; Jr 31.34; Lc 15.18; Rm
6.2-14 (refs5)).
1.10 NÃO PECAMOS. Quem afirma que não peca, também não precisa da eficácia
salvífica da morte vicária de CRISTO, e está fazendo DEUS de mentiroso
(cf. Rm 3.23).
I - DEFININDO OS TERMOS
1. Pecado.
O termo “hamartiologia” deriva de dois vocábulos da língua grega, a língua do
Novo Testamento: hamartia e logos, os quais significam “estudo acerca do
pecado”. O termo é aplicável ao pecado, seja este considerado um ato, seja
considerado um estado ou uma condição. O sentido do termo é que o pecado é um
desvio do fim (ou propósito) estabelecido por DEUS para determinado fato ou
conduta humana.
A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as quais
indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. No Antigo Testamento
encontramos pelo menos NOVE palavras básicas que conceituam o pecado; no Novo
Testamento, temos, pelo menos, ONZE outras que descrevem as várias formas de
manifestações negativas relacionadas com o termo “pecado”.
As Escrituras ensinam que o pecado é real e pessoal; que se originou na queda
de Satanás, um ser pessoal, maligno e ativo; e que, através da queda de Adão,
propagou-se entre a humanidade, que fora criada boa por um DEUS totalmente bom.
Há um termo genérico para designar o pecado com todos os seus detalhes,
chattath, e seu equivalente verbal chattá (pronuncia-se hatá, com "h"
aspirado), que literalmente significa "errar o alvo" (Jz 20.16).
PECAR - dicionário Strong Português - חטא chata’
1) pecar, falhar, perder o rumo, errar, incorrer em culpa, perder o direito,
purificar da impureza
1a) (Qal) - 1a1) errar - 1a2) pecar, errar o alvo ou o caminho do correto e do
dever
1a3) incorrer em culpa, sofrer penalidade pelo pecado, perder o direito
1b) (Piel) - 1b1) sofrer a perda - 1b2) fazer uma oferta pelo pecado
1b3) purificar do pecado - 1b4) purificar da impureza
1c) (Hifil) - 1c1) errar a marca - 1c2) induzir ao pecado, fazer pecar
1c3) trazer à culpa ou condenação ou punição - 1d) (Hitpael)
1d1) errar, perder-se, afastar do caminho
2. Os termos hebraicos awon e peshá. (e outros)
Temos no AT pelo menos 9 nomes dados aos pecados.
1- Hamartia - Hattat *(chattath - Lê-se hatá). Este vocábulo, que aparece
522 vezes nas páginas veterotestamentárias, e seu termo correlato no Novo
Testamento — sugerem a ideia de “errar o alvo” ou “desviar-se do rumo”, como o
arqueiro antigo que atirava as suas flechas e errava o alvo. Porém, o termo
também sugere alguém que erra o alvo propositadamente; ou seja, que atinge
outro alvo intencionalmente.
Não se trata de uma ideia passiva de erro, mas implica uma ação proposital.
Significa que cada ser humano tem da parte de DEUS um alvo definido diante de
si para alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de pecar como o
ato resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou,
foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv
16.21; Sm
1.1; 51.4; 103.10; Is
1. 18; Dn
9.16; Os
12.8).
2- Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”, “rebelar”, "revoltar-se”.
Porém, uma variante forte para defini-la implica o ato de invadir, de ir além,
de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi além dos limites
estabelecidos (Gn
31. 36; I Rs
12.19; 2 Rs
3.5; 1 Sm 5.1-12; Is
1.2; Am
4.4).
TRANSGRESSÃO - Strong Português - פשע pesha
Ì - Pesha.
1) transgressão, rebelião - 1a1) transgressão (contra indivíduos)
1a2) transgressão (nação contra nação) - 1a3) transgressão (contra DEUS)
1a3a) em geral - 1a3b) reconhecida pelo pecador - 1a3c) como DEUS lida com ela
1a3d) como DEUS perdoa - 1a4) culpa de transgressão - 1a5) castigo por
transgressão - 1a6) oferta por transgressão
3- Raa. רע ra Ì - 1)
ruim, mau 2) mal, aflição, miséria, ferida, calamidade 3) mal, miséria,
aflição, ferida - Outra palavra hebraica que tem seu equivalente no
grego — como kakos ou poneros — e traz a ideia básica de romper, quebrar;
“aquilo que causa dano, dor ou tristeza”. E um tipo de pecado deliberado,
malicioso, planejado, que provoca e enfurece. Dá a ideia de “ser mau” (Gn
8.21; Ex
33.4; Jr
11.11; Mq
2.1-3). Indica também algo injurioso e moralmente errado. São os pecados
expressos por violência (Gn
3.5; 38.7; Jz
11.27).
O profeta Isaías profetizou que DEUS criou a luz e as trevas, a paz e o raa Is
4.57. E o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição, infortúnio. DEUS
não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a responsabilidade pelos
pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a criatura rebelde,
transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.
4- Rama quer dizer “enganar”; dá a ideia de prender numa armadilha, num laço.
Implica, portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem cair. E uma
forma de enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13; 55.11; Jó
13.7; Is
53.9).
5- Pata. E um termo que dá a ideia de seduzir. O sentido literal da palavra é
“ser aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter livre curso. No Èden, Adão e
Eva se deixaram seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado (Satanás),
personificado numa serpente (Gn
3.4-7).
6- Shagag. O sentido aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha ou um
bêbado (Is
28.7). E um tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável,
ante a lei divina que condena o seu erro — pecado (Lv
4.2; Nm
15.22).
7- Rasha. Esta palavra aparece especialmente nos Salmos, com a ideia de
impiedade ou perversidade. O sentido metafórico é o pecado em oposição à
justiça (Êx
2.13; SI 9; SI 16; Pv
15.9; Ez
18.23).
8- Ta a. Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não se trata de
algo acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto negativo
gerado pelos seus atos pecaminosos (Nm
15.22; Sl
58.3; 119.21; Is
53.6; Ez
44.10,15).
9- Awon ("iniquidade"), proveniente da ideia de ser “torto” ou
"pervertido", refere-se a pecados graves e muitas veres forma um
paralelo com chatta'th (Is
43.24). O verbo 'avar fala em ir além de uma fronteira e, portanto
(metaforicamente), da transgressão (Nm
14.41; Dt
17.2). Resha' pode referir-se a coisa errada (Pv
11.10) ou à injustiça (Pv
28.3,4).
INIQUIDADE - Strong Português - עון Ìavon
ou עוון Ìavown (2Rs 7.9; Sl 51.5)
1) perversidade, depravação, iniquidade, culpa ou punição por iniquidade
1a) iniquidade
1b) culpa de iniquidade, culpa (como grande), culpa (referindo-se a condição)
1c) consequência ou punição por iniquidade
No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado” também tem vários sentidos, e
alguns são correlatos com os termos hebraicos
1- Hamartia. Já citada em correlação com kattaa (hb.), seu sentido é “errar o
alvo”, “perder o rumo”, “fracassar”. Indica que o primeiro homem, no princípio,
perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não atingir o padrão divino
estabelecido para a sua vida. No Novo Testamento, os escritores usaram o termo
hamartia para designar o pecado. Ainda que o sentido equivalente no Antigo
Testamento seja o de “errar o alvo”, nas páginas neotestamentárias a palavra em
apreço tem uma abrangência bem maior — possui um sentido mais forte que a ideia
de fracasso ou transgressão. Ela tem o sentido de “poder de engano do pecado” (Rm
5.12; Hb
3.13); é mais que um fracasso. Trata-se de uma condição responsável ou
uma característica que implica culpabilidade.
2- Kakia. No grego, relaciona-se com perversidade ou depravação, como algo
oposto à virtude. E um termo que descreve o caráter e a disposição interiores,
e não apenas os atos exteriores. Dele deriva-se outra palavra, kakos, cujo
sentido transcende a mal-estar físico ou doenças (Mc 1.32; Mt
21.41; 24.48; At
9.13; Rm
12.17;13,3,4,10; 16.19; I Tm
6.10).
3- Adíkía. Denota injustiça, falta de integridade; como alguém que abandona o
caminho original. Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer conduta
errada e significa, ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co
12.13; Hb
8.12; Rm
1.18; 9.14). O
texto de Romanos
1.18 descreve a injustiça como inimizade para com a verdade.
Em I
João 5.17, o apóstolo João afirma que toda iniquidade (gr. adikia) é pecado
(gr. hamartia).
4- Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais palavras são traduzidas
frequentemente como “iniquidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido literal de
anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de DEUS pratica a iniquidade (Mt
13.41; 24.12; I Tm
1.9). O Anticristo é anomos— “o míquo” (2Ts
2.8).
5- Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e significa “infidelidade”,
“falta de fé” ou algum tipo de resistência ou vergonha (Hb
3.12; I Tm I.13). Em I
Timóteo 1.13 está escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz
ignorantemente, na incredulidade [gr. apistia]”.
6- Asebeia. Usado por Paulo nas epístolas com o sentido de impiedade (Rm
1.18; 11.26; 2Tm
2.16;Tt
2.12; Jd vv.I5,I8). Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base
da asebeia.
7- Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade ou mesmo sensualidade. Em Judas
v.4 encontramos dois termos que explicam essas palavras: “... homens ímpios
[asebeis] que convertem em dissolução [aselgeian, ‘libertinagem’] a graça de
DEUS”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem restrições à prática do
pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito que domina uma pessoa e
a torna impudica de tal modo que perde totalmente o senso de vergonha e, por
isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu pecado.
O termo em análise significa, por conseguinte, “a pura e autossatisfação sem o
menor pudor”, haja vista o desejo pelos prazeres tornar a sua vítima
despudorada, sem restrições. As chamadas taras sexuais, a embriaguez e outras
manifestações são típicas de aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma das
palavras mais repulsivas do Novo Testamento (Mt
7.22; 2 Co
12.21; G1 5.19; Ef
4.19; I Pe
4.3; Jd v.4; Rm
13.13; 2 Pe
2.2,7,18). A
versão ARC traduz o termo por “libertinagem”, enquanto a ARA prefere
“dissolução”.
8- Epitkymía. Significa “desejo”. Porém, é o contexto da palavra
encontrada no Novo Testamento que pode indicar o caráter moral do desejo, se é
bom ou mau. Coisas, como: motivo, intenção, direção e relação, revelarão o
caráter moral de epithymia (Mc 4.19; Lc
22.15; Fp
1.23; I Ts
2.17). De modo geral, o vocábulo quase sempre se identifica com algo
negativo e pecaminoso. Daí o significado poderá indicar “desejo incontinente”,
normalmente traduzido como “concupiscência”, “paixão impura” (G1 5.24; Cl
3.5; I Ts
4.5;Tg I.I4; 2 Pe
2.10).
9- Parabasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O
significado primário do termo é “transgressão”, que dá a ideia de alguém que
não respeita as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se esse
vocábulo com o sentido de “desvio”, “violação” e “transgressão”. No texto
de Romanos
5.14, Paulo faz uma relação entre hamartia e parabasis, ao afirmar: “No
entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não
pecaram à semelhança da transgressão de Adão”.
O apóstolo Paulo não está dizendo que os que pecaram desde Adão até Moisés
estão livres de culpa, e sim que aquelas gerações, não tendo a lei de Moisés,
seu pecado era tão real quanto ao dos que tinham a lei. Em I
Timóteo 2.14 está escrito que Eva caiu em transgressão (parabasis), ao ser
enganada, porque ela foi rebelde contra a ordem divina. Não se tratava de
reduzir a culpa de Eva, e sim reconhecer que ela podia ter evitado o pecado de
desobediência.
10- Paraptoma. Deriva de parapipto e significa “decair ao lado de”, “perder o
caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma ofensa
pela qual a pessoa é responsável”. Vários textos exemplificam o termo
paraptoma (Mt
6.14; Rm
5.15-20; 2 Co
5.19; G1 6.19; Ef 2.I;Tg
5.16).
11- Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado porque se refere àquele que se
desgarra culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a ovelha que foge
do aprisco (I Pe
2.25); também significa levar, por meio do engano, outras pessoas ao
mau caminho (Mt
24.5,6; I Jo
1.8).
3. O que é pecado?
John Wesley, pai do metodismo, definiu o pecado como uma transgressão
voluntária de uma lei conhecida. Um outro famoso teólogo da época ressaltou a
natureza dupla do pecado ao declarar que “a ideia primária designada pelo termo
pecado nas Escrituras é a falta de conformidade com a lei, uma transgressão da
lei; o fazer algo proibido, o deixar de fazer aquilo que é requerido”.
Augustus Hopkins Strong, eminente professor de teologia nos Estados Unidos,
escreveu sobre a doutrina do Pecado em sua Teologia Sistemática de 1886, que
“pecado é a falta de conformidade com a lei moral de DEUS quer em ato,
disposição ou estado”.
W.T. Conner, em Doctrína Cristiana, ao falar da natureza do pecado escreveu:
“... definimos o pecado como a rebelião contra a vontade de DEUS”; “o pecado,
como algo voluntário, implica conhecimento. Se o homem peca voluntariamente,
então seu pecado é contra a luz”. Paulo esclareceu que todo ser humano tem
um certo grau de conhecimento da lei moral de DEUS e, por isso, “não há um
justo, nenhum sequer” (Rm
3.10).
Charles Hodge escreveu que “o pecado é falta de conformidade com a lei de DEUS”
e “inclui culpa e contaminação; a primeira expressa sua relação com a justiça;
a segunda, sua relação com a santidade de DEUS”.
Outras definições de pecado. E um ato livre e voluntário do ser humano, tendo
em vista que ele é um ser moral e, por isso, capaz de perceber o certo e o
errado. O homem é um agente moral livre para decidir o que fazer da sua vida, o
qual deve seriamente considerar Eclesiastes
11.9.
O pecado é um tipo de mal. Nem todo mal é pecado. Existem males físicos
resultantes da entrada do pecado no mundo. Na esfera física temos um tipo de
mal manifesto nas doenças e enfermidades. Entretanto, na esfera ética, o mal
tem sentido moral. Nesta esfera moral atua o pecado. Os vários termos hebraicos
e gregos das línguas originais da Bíblia, quando falam do pecado apontam para o
sentido ético, porque falam da prática do pecado, ou seja, dos atos
pecaminosos.
O pecado é, de fato, uma ativa oposição a DEUS, uma transgressão das suas leis,
que o homem, por escolha própria (livre), resolveu cometer conforme
relata a Bíblia (Gn
3.1-6; Is
48.8; Rm
1.18-32; I Jo
3.4).
Louis Berkhof ensina que o pecado tem caráter absoluto. Sem dúvida, seu
conceito está correto e é bíblico. Não se faz distinção ou graduação entre o
bem e o mal, porque o caráter é qualitativo. Uma pessoa boa não se torna má por
uma diminuição de sua bondade, mas quando se deixa envolver com o pecado. È uma
questão de qualidade, e não de quantidade.
O pecado não implica um grau menor de bondade, mas algo negativo e absoluto.
Biblicamente, não há neutralidade nem meio termo quanto ao bem ou ao mal. O que
é mal não é mais ou menos mal. Ou se está do lado justo e certo ou se está do
lado injusto e errado (Mt
10.32,33; 12.30; Lc
II.23;Tg
2.10).
Não se trata de pecado apenas porque se praticou algum ato pecaminoso. “O
pecado não consiste apenas em atos manifestos”. O pecado não é somente
aquilo que se pratica erradamente, mas é algo entranhado na natureza pecaminosa
adquirida da raça humana. E um estado pecaminoso que origina hábitos
pecaminosos os quais se manifestam na vida cotidiana.
Todas as tendências e propensões pecaminosas típicas da natureza corrompida de
cada um de nós demonstram o estado pecaminoso do ser humano. A esse estado
decaído, a Bíblia denomina “carne”, o qual precisa ser superado pela nova vida
em CRISTO, a vida regenerada pelo ESPÍRITO (2 Co
5.17; Jo
3.5).
O Novo Testamento descreve o pecado como:
(a) Errar o alvo, que expressa a mesma ideia que a conhecida palavra do
Antigo Testamento.
(b) Dívida. (Mat.
6:12.) O homem deve (a palavra "deve" vem de dívida) a
DEUS a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é contração de
uma dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser perdoado,
ou obter remissão da dívida.
(c) Desordem. "O pecado é iniquidade"
(literalmente "desordem", 1
João 3:4). O pecador é um rebelde e um idólatra porque deliberadamente
quebra um mandamento, ao escolher sua própria vontade em vez de escolher a
vontade de DEUS; pior ainda, está se convertendo em lei para si mesmo
e, dessa maneira, fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no coração
daquele exaltado anjo que disse: "Eu farei", em oposição à
vontade de DEUS. (Isa.
14:13, 14). O
anticristo é proeminentemente "o sem-lei" (tradução literal de
"iníquo"), porque se exalta a si mesmo sobre tudo que é adorado
ou que é chamado DEUS. (2
Tess. 2:4-9.) O pecado é essencialmente obstinação e obstinação
é essencialmente pecado. O pecado destronaria a DEUS; o
pecado assassinaria DEUS. Na Cruz do Filho de DEUS, poderiam ter
sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"
(d) Desobediência, literalmente, "ouvir mal"; ouvir com falta de
atenção. (Heb.
2:2.) "Vede pois como ouvis" (Luc.
8:18.)
(e) Transgressão, literalmente, "ir além do limite" (Rom.
4:15). Os mandamentos de DEUS são cercas, por assim dizer,
que impedem ao homem entrar em território perigoso e dessa
maneira sofrer prejuízo para sua alma.
(f) Queda, ou falta, ou cair para um lado (Efés.
1:7) no grego, donde a conhecida expressão, cair no pecado. Pecar
é cair de um padrão de conduta.
(g) Derrota é o significado literal da palavra "queda" em Rom.
11:12. Ao rejeitar a CRISTO, a nação judaica sofreu uma derrota e
perdeu o propósito de DEUS.
(h) Impiedade, de uma palavra que significa "sem adoração,
ou reverência". (Rom.
1:18; 2
Tim. 2:16.) O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a DEUS e
às coisas sagradas. Estas não produzem nele nenhum sentimento de temor e
reverência. Ele está sem DEUS porque não quer saber de DEUS.
(i) O erro (Heb.
9:7) Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da ignorância, e
dessa maneira se diferenciam daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar
da luz esclarecedora. O homem que desafiadoramente decide fazer o mal,
incorre em maior grau de culpa do que aquele que é apanhado em falta, a
que foi levado por sua debilidade.
II - ORIGEM DO PECADO
1. O pecado no céu.
A ORIGEM DO PECADO NO UNIVERSO
A primeira manifestação foi na esfera angelical. Os teólogos divergem quanto ao
fato de que a primeira manifestação de pecado tenha começado no céu. Sendo DEUS
o Criador de todas as coisas, não podemos atribuir a Ele a autoria do pecado.
Toda a Bíblia rejeita essa ideia quando diz: “Longe de DEUS a impiedade, e do
Todo-poderoso, a perversidade” (Jó
34.10).
Em outra passagem está escrito que não há injustiça nEle (Dt
32.4; SI 92.15). Tiago, no Novo Testamento, disse que o Senhor não pode
ser tentado pelo mal (Tg I.13). Por isso, é blasfêmia considerar DEUS como
autor do pecado. Ora, duas passagens bíblicas que melhor ilustram a origem do
pecado no Céu são metafóricas (Is
14.12-20; Ez
28.12-19); daí a dificuldade na compreensão desses textos pelos
intérpretes. Do ponto de vista pentecostal esses textos falam do pecado
iniciado entre os anjos e pelo principal deles, Lúcifer.
Leituras que nos dão a ideia de que Lúcifer se revoltou contra DEUS e se tornou
Satanás, o Diabo.
Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por
terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao
céu, acima das estrelas de DEUS exaltarei o meu trono, e no monte da congregação
me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e
serei semelhante ao Altíssimo. E contudo levado serás ao inferno, ao mais
profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão, considerar-te-ão, e dirão:
É este o homem que fazia estremecer a terra e que fazia tremer os reinos? Que
punha o mundo como o deserto, e assolava as suas cidades? Que não abria a casa
de seus cativos? Todos os reis das nações, todos eles, jazem com honra, cada um
na sua morada. Porém tu és lançado da tua sepultura, como um renovo abominável,
como as vestes dos que foram mortos atravessados à espada, como os que descem
ao covil de pedras, como um cadáver pisado. Com eles não te reunirás na
sepultura; porque destruíste a tua terra e mataste o teu povo; a descendência
dos malignos não será jamais nomeada. Isaías 14:12-20.
Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim
diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em
formosura. Estiveste no Éden, jardim de DEUS; de toda a pedra preciosa era a
tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira,
carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus
pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim,
ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de DEUS estavas, no meio
das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em
que foste criado, até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu
comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei,
profanado, do monte de DEUS, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das
pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura,
corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei,
diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas
iniquidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu,
pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza
sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem
entre os povos estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca
mais subsistirá. Ezequiel 28:12-19
Observação do Pr.Henrique:
Satanás também é identificado por JESUS como aquele que entrou na terra por
outra porta que não foi o nascimento físico, através de uma mulher.
1 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral
das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. 10 O ladrão não
vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a
tenham com abundância. João 10:1,10.
JESUS fala acerca do Diabo dizendo ser ele homicida desde o princípio (Jo
8.44).
O apóstolo João diz que o Diabo peca desde o princípio (1 Jo
3.8).
Anjos que se tornaram demônios
As Escrituras parecem indicar que, em algum momento entre Gênesis 1.31 e
Gênesis 3.1, houve uma rebelião no mundo angélico, no qual muitos anjos bons se
voltaram contra DEUS e se tornaram maus. O teólogo italiano Tomás de Aquino
(1225-1274) ensinou que uma vez que os anjos não têm natureza carnal pecaminosa
o pecado deles foi espiritual. Eles foram seduzidos pelo diabo, que os envolveu
com o orgulho e a inveja contra DEUS. Os anjos pecaram voluntariamente (Tomás
de Aquino, “Suma Contra os Gentios”, 63:1-9). Alguns fazem alusão ao texto de
Judas 6 para apoiar esse ponto de vista quanto à queda dos anjos. As táticas de
Satanás e dos demônios são a mentira, o engano, o homicídio e toda sorte de
malignidade. Fazem isso para afastar as pessoas de DEUS e levá-las à destruição
(Jo 8.44; Ap 12.9; Sl 106.37). Mas, assim como Satanás e suas hostes foram
expulsos do céu, também seu domínio e ação serão extirpados totalmente da face
da terra (1 Jo 3.8; Lc 9.1, 10.19; At 16.18; Rm 16.20; Ap 20.10). (http://www.cacp.org.br/o-que-levou-a-terca-parte-dos-anjos-seguir-a-lucifer).
E houve batalha no Céu; Miguel e seus anjos batalhavam contra o dragão, e
batalhava o dragão e seus anjos; mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se
achou nos Céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o
diabo e Satanás, que engana a todo o mundo; ele foi precipitado na Terra, e
seus anjos foram lançados com ele”. (Apocalipse 12:7 - 9).
E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria
habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele
grande dia; (Judas 1.6).
Porque, se DEUS não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os lançado no
inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados para o juízo;
(2 Pedro 2:4).
Os textos acima mencionados são tidos como relacionados à queda de Lúcifer e o
começo do pecado no Universo. O primeiro (Isaías) refere-se ao rei caído da
Babilônia, cujo orgulho tornou-o soberbo; por isso, ele não pôde subsistir, com
tirania e orgulho, ante o DEUS Vivo. Diz o texto que esse rei era elevado e
importante, mas por seu orgulho foi cortado como uma árvore.
Segundo, a linguagem metafórica, o texto sugere o relato a história da queda de
Lúcifer, denominado “estrela da manhã”, o qual, por sua rebelião foi expulso da
presença de DEUS. O segundo texto (Ezequiel) apresenta um lamento sobre o rei
de Tiro, mas a linguagem figurada ilustra a queda de Satanás.
O registro bíblico da origem do pecado prossegue noutras referências que tratam
do assunto. O que fica claro é que o pecado foi originado por Satanás. Ele
pecou antes de Adão e Eva quando se apresentou na forma de uma serpente para
tentar Eva (Gn
3.1-6; 2 Co
11.3). JESUS declarou que Satanás é homicida “desde o princípio” (Jo
8.44; I Jo
3.8). A expressão “desde o princípio” não quer dizer que este ser
angélico foi sempre mau. Seu primeiro estado era de santidade. A expressão
“desde o princípio” indica no contexto da história da criação que Ele se fez
opositor do DEUS trino desde o início da criação do mundo.
Entretanto, antes da criação do Universo material, os anjos já haviam sido
criados. Mesmo considerando as nossas dificuldades para entendermos plenamente
a origem do pecado no céu, sabemos que DEUS conhece todas as coisas e “faz
todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef
1. 11).
O pecado entrou na vida da humanidade através de Adão e Eva (Gn
3.1-19). Como isso aconteceu? A história bíblica descreve como o pecado
tomou-se uma realidade na vida da humanidade quando uma criatura extraordinária
e espiritual se materializou numa “serpente” (Gn
3.1-7) para enganar as mais belas criaturas da terra, o homem e a
mulher. Essa criatura é denominada em outras passagens como “a antiga
serpente”, o “Diabo” e “Satanás” (Ap
12.9; 20.2).
Foi essa criatura que pecou desde o princípio e se tomou inimiga da criação de
DEUS e originou a catástrofe cósmica.
Pela soberana e sábia vontade de DEUS permitiu-se que no Eden, o jardim idílico
criado por DEUS para que Adão e Eva vivessem felizes, Satanás penetrasse para
tentá-los com astúcia e engano. A história da criação da criatura humana relata
que Adão e Eva foram criados “bons” e colocados no Eden para desfrutarem de
todas as benesses daquele jardim e manter comunhão com seu Criador (Gn
1.26—2.25). Por serem criaturas, humanas e finitas, estavam sujeitas a
pecar.
DEUS, então, estabeleceu para eles uma regra para não comerem de uma árvore
denominada “árvore do conhecimento do bem e do mal”, mas Eva se deixou enganar
pela insinuação diabólica da serpente e tomou do fruto, comeu e o deu ao seu
marido (Gn
3.6). Duvidaram da veracidade da palavra de DEUS e acataram as
insinuações do Inimigo. Daí desobediência, egotismo, rebeldia, pecado, queda e
suas consequências, que se transmitiram à toda posteridade de Adão.
O pecado de Adão foi um ato pessoal. Já consideramos o fato de que o pecado é
um estado da vontade e que esse estado egoísta da vontade é universal. Uma vez
que o homem preferiu obedecer ao seu “eu”, pervertendo sua própria vontade,
também, tornou-se responsável pelas consequências de sua transgressão.
Ele adquiriu uma natureza corrompida e afetou universalmente toda criatura na
terra. Seus atos pecaminosos e suas disposições são frutos de seu estado
corrupto inato. JESUS explicou muito bem esse ponto quando disse: “... não há
árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira
o mal” (Lc
6.43-45; Mt
12.34).
Tentação e Queda não são coisas míticas ou alegóricas. Tem havido a tentativa
de pseudo-teólogos tornarem o relato escriturístico da tentação e a Queda como
algo alegórico. Não há qualquer linguagem figurada em Gênesis
3 que negue o fato histórico relatado naquela passagem. No
desenrolar da tentação Satanás apelou aos apetites que poderiam dar a Eva o
prazer de fazer sua própria vontade em desobediência do Criador. Satanás apelou
aos sentidos egoísticos de Eva e ela deu ouvidos ao tentador em vez de rejeitar
e expulsar o tentador que visava levá-la a desobedecer a DEUS (Gn
3.1-3).
Satanás levou o casal a duvidar da veracidade de DEUS insinuando que o Criador
estaria tirando deles o direito de conhecer coisas mais sublimes. Adão e Eva,
então, pecaram e deixaram que seus corações fossem corrompidos e afetasse seus
apetites naturais. Diz o relato bíblico que sua disposição interior se
manifestou em atos. O texto diz, literalmente: “... ela tomou do seu fruto, e
comeu, e deu também ao seu marido, e ele comeu com ela” (Gn
3.6).
O homem seguiu a indução do seu coração e fez a escolha do seu “eu” em
desacordo com DEUS. Portanto, o pecado surgiu de dentro do homem, do seu
interior, e ele transgrediu a lei do Senhor (Tg I.I5).
2. O pecado no Éden.
O PECADO ORIGINAL E SUA AFETAÇÃO
Distinção entre pecado original e culpa original. Na língua latina usa-se a
expressão peccatum originale, que se traduz literalmente por “pecado original”.
Para entendermos o assunto precisamos fazer distinção entre pecado original e
culpa original.
a- Por pecado original entendemos que se trata do pecado herdado de nossos
primeiros pais, Adão e Eva, o qual passou a toda criatura humana.
b- A culpa não é herdada, e sim imputada a cada criatura. A expressão “pecado
original” não se encontra na Bíblia de forma literal, mas a sua manifestação
está implícita na história da Queda; por isso, o pecado original está na vida
de todo ser humano desde o seu nascimento. Outrossim, precisamos esclarecer que
a expressão “pecado original” nada tem que ver com a constituição original do
homem, haja vista DEUS não o ter criado pecador.
Toda criatura humana é culpada em Adão e consequentemente tem sua natureza
corrompida desde o nascimento (SI 51.5; 58.3).
Pecados veniais e pecados mortais. A igreja romana ensina e faz distinção entre
pecados veniais e mortais. Ao mesmo tempo, ela tem dificuldades em distinguir
esses pecados. Tal distinção não é bíblica, visto que todo pecado é anomia
diante de DEUS — termo grego que significa “falta de retidão”, “falta de
obediência à lei”.
O Antigo Testamento faz distinção entre os pecados cometidos intencionalmente e
os praticados por ignorância. Se cometido intencionalmente ou por ignorância, o
pecado não deixará de ser pecado, porque é um fato e torna a pessoa culpada
diante de DEUS (Gl
6.1; Ef
4.18; I Tm I.I3; 5.24). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo deixou
clara a ideia de que o grau do pecado é determinado pelo grau de conhecimento
(luz) que o pecador possua (Rm LI8-32).
3. A universalidade do pecado.
Pelágio, teólogo inglês, renegava a ideia do pecado original porque entendia
que os homens que nascem no mundo, desde a Queda, vivem no mesmo estado em que
Adão foi criado e que o pecado deste prejudicou apenas a ele próprio. Por isso,
essa teoria rejeita a ideia da hereditariedade do pecado sobre toda a raça
humana.
Pelágio ensinava que Adão morreu pela constituição de sua natureza, tivesse ele
pecado ou não. Entretanto, o ensino claro da Bíblia a esse respeito não deixa
dúvida de que a culpa original refere-se àquela recebida por Adão e Eva após
terem pecado contra a lei de DEUS.
o viver em pecado consiste então, em viver uma vida centralizada no “eu” e
significa o fazer a própria vontade como a da vida. Neste sentido o homem
merece receber a punição do seu pecado ( Rm
5.12).
A culpa legal O aspecto legal da culpa perante DEUS diz respeito ao fato de que
quando Adão e Eva cometeram o pecado contra a ordem divina, tornaram-se
legalmente culpados e dignos da pena estabelecida por DEUS. O Criador havia
lhes dito que um só ato de desobediência à sua palavra implicaria na pena de
morte (Gn
2.17). O apóstolo Paulo entendeu essa questão doutrinária e declarou
que “o juízo veio de uma só ofensa, para condenação” (Rm
5.16).
Portanto, por um só ato pecaminoso contra DEUS, Adão tomou-se incapaz de
permanecer na presença santa de DEUS. Essa ofensa de Adão tornou-se a culpa de
toda sua descendência, de toda a raça humana. Perante DEUS, legalmente, todos
são culpados, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS” (Rm
3.23).
Isso significa que em Adão todos participaram da sua transgressão. A expressão
“estão destituídos da glória de DEUS” indica a necessidade de recuperação do
primeiro estado de glória de Adão antes da Queda. Significa a recuperação
daquela realeza moral e espiritual que o homem tinha, isto é, a imagem e
semelhança de DEUS, deformada pelo pecado. Foi o segundo Adão, JESUS CRISTO,
quem veio a este mundo para recuperar a glória perdida do homem (Rm
3.24-26).
A culpa não significa mera propensão ao castigo. Isso significa que a culpa
incorre mediante a transgressão do pecador. Não há na justiça de DEUS o
conceito de culpa construtiva, porque o pecador é culpado por aquilo que tem
praticado. Somos culpados do pecado, tanto em relação a culpa original de
nossos primeiros
pais quanto pelos pecados que cometemos hoje. Devemos entender que somos
culpados pela natureza pecaminosa herdada de Adão e Eva. Esse é o aspecto
coletivo que abrange todos os homens. Porém, cada um de nós é individualmente
responsável pelos seus próprios pecados.
A HEREDITARIEDADE DO PECADO
Como um ato de pecado individual afetou a todos? A Bíblia tem a resposta cabal
desta questão. Paulo, em Romanos disse “que todos pecaram” (Rm
3.23) e dá a ideia de que todos os seres humanos participaram da
transgressão de Adão; e, como indivíduos, tornaram-se pecadores. Ele explica os
efeitos do pecado de Adão: “Portanto, por um homem entrou o pecado no mundo, e
pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens” (Rm
5.12).
Paulo não estava falando de pecados factuais, do dia-a-dia, mas da herança do
pecado. A morte, como punição do pecado, tem um caráter universal, porque “a
morte passou a todos os homens”. Por causa do pecado de Adão, todos os seus
descendentes tomaram-se pecadores e culpados. Porém, DEUS providenciou a nossa
expiação — nas palavras de Paulo — outra vez: “Mas CRISTO morreu por nós, sendo
nós ainda pecadores” (Rm
5.8).
Portanto, o pecado é hereditário. A sua universalidade deve-se à corrupção da natureza
humana. E a Palavra de DEUS afirma que o primeiro homem violou a vontade
expressa de DEUS, e, por consequência, toda a vida humana se corrompeu.
Inevitavelmente, quando o homem se depara com a idade da consciência moral,
está tão identificado com os maus impulsos existentes dentro de si que
precisará esforçar-se para manter o equilíbrio moral e espiritual de sua vida.
Não se trata meramente de um impulso momentâneo da sua vontade, mas é algo
implícito na sua natureza pecaminosa, que é sinistro e obscuro. A tendência má
que se revela numa criança se percebe na semente dessa tendência má. Nesse
sentido, toda criança é pecadora, conquanto não tenha culpa pessoal. Não
podemos cobrar responsabilidade pessoal de uma criança recém-nascida.
A Bíblia e a consciência moral dão testemunho da responsabilidade que temos de
nossa vida, apesar da natureza que temos herdado. Na verdade, a herança do
pecado se constituí numa condição de vida, para a qual precisamos da graça
salvadora de CRISTO para dominá-la. Por isso, mesmo como pecadores regenerados
pelo ESPÍRITO SANTO precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar a nossa cruz e
sermos crucificados com CRISTO (G1 2.20).
Todo ser humano nasce com uma natureza corrompida. Todos os atos pecaminosos
das pessoas são frutos de sua natureza pecaminosa. Ora, o que se entende por
natureza
no contexto desse estudo? Ê aquilo que é inato em cada pessoa, isto é, nasce
com ela. JESUS, disse, certa feita aos seus discípulos que “não há árvore boa
que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal” (Lc
6.43-45).
Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido com uma
“natureza corrompida”. E algo que faz parte do seu ser e é subjacente à sua
própria consciência. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante de
DEUS, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a
terra.
O salmista Davi declarou que fora formado em iniquidade e concebido em pecado
(Sm 51.5). Na verdade, com isso, confessou não o pecado de sua mãe, e sim o seu
próprio pecado, e que esse estado — entendeu ele — vinha desde o momento de sua
concepção.
A natureza corrompida e congênita de toda criatura humana. O apóstolo Paulo
usou uma expressão forte em Efésios, a qual merece a nossa apreciação: “éramos
por natureza filhos da ira” (2.3). A expressão “filhos da ira” denota o estado
de condenação por causa da herança do pecado que todos recebemos de nossos pais
(Adão e Eva). Entende-se por “natureza” algo inato e original distinto daquilo
que se adquire posteriormente.15
Sem dúvida, o apóstolo coloca o texto no passado com o verbo “éramos”, para
indicar que, ao sermos regenerados pelo ESPÍRITO SANTO, fomos agraciados pela
graça de DEUS. A criança é despida de consciência moral, mas congenitamente
possui a natureza pecaminosa herdada. Por isso, a morte é a penalidade global
que afeta todas as pessoas e, inevitavelmente, afeta as crianças, haja vista
elas morrerem como todos os demais seres.
As crianças estão colocadas num estado de pecado e, por isso, necessitam de
regeneração e salvação através de JESUS CRISTO. Naturalmente, elas são objeto
de salvação pela graça de CRISTO, que as salva, independentemente da
consciência moral. Contudo, a condição dos adultos é diferente da das crianças.
O adulto precisa de fé pessoal para ser salvo, e a Bíblia declara que CRISTO
morreu por todos (2 Co
5.15).
No Juízo Final, as pessoas serão julgadas mediante o teste da conduta pessoal,
enquanto as crianças, mesmo tendo uma tendência para mal, são incapazes de
transgressão pessoal; por isso, cremos que elas estarão entre os salvos (Mt
25.45,46).
Adão depois da Queda. Já dissemos anteriormente que Adão e Eva, quando pecaram,
perderam o direito do primeiro estado de santidade em que foram criados e
vieram a ser objeto de várias mudanças negativas transcendentais.
Paulo declarou que por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a
morte” (Rm
5.12).
A pecaminosidade do homem está registrada em toda a extensão das Escrituras (Gn
6.5; 1 Rs
8.46; Sl
53.3; 143.2; Pv
20.9; Ec
7.20; Is
53.6; 64.6; Rm
3.1-12,19,20,23;Gl
3.22; Tg 3; 1 Jo
1.8,10).
De fato, a Bíblia mostra o pecado como uma herança inevitável que o homem tem
de administrar desde o seu nascimento, e que está presente na natureza do homem
e com ele continuará até a morte (Sl
5.5; Jó
14.4; Jo
3.6; Ef
2.3). Escrevendo aos Efésios, diz o apóstolo Paulo que nós, os
crentes, “éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef
2.3). o pecado, pois, é algo original, do qual todos participam, e que
os fazem culpados diante de DEUS. O pecado e a morte nivelam os homens. A maior
prova em favor da universalidade do pecado é que a própria obra realizada por
CRISTO na cruz, que no seu escopo apresenta-se como uma obra de caráter
universal, e como remédio único para a doença espiritual de toda a humanidade.
III - A SOLUÇÃO PARA O PECADO
1. Nem tudo está perdido.
Veio JESUS CRISTO, da parte de DEUS; se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14),
assumindo a penalidade da lei, causada pela nossa culpa, tomando-se o nosso
substituto vicário, justificando o homem dos seus pecados (Rm
4.24,25; 5.1,8).
Adão cometeu o pecado e na qualidade de chefe federal da raça humana; por ele
foi imputada a todos os seus descendentes a culpa do pecado. A Bíblia enfatiza
este ensino quando declara que a morte é o castigo do pecado, para todos os
seus
descendentes (Rm
5.12-19; Ef
2.3; I Co
15.22).
A obra de CRISTO
CRISTO realizou muitas obras, porém a obra suprema que ele consumou foi a de
morrer pelos pecados do mundo. (Mat.
1:21; João
1:29.) Incluídas nessa obra expiatória figuram a sua morte,
ressurreição, e ascensão. Não somente devia ele morrer por nós, mas também
viver por nós. Não somente devia ressuscitar por nós, mas também ascender
para interceder por nós diante de DEUS. (Rom.
8:34; 4:25; 5:10.)
Sua morte.
(a) Sua importância. O evento mais importante e a doutrina central do Novo
Testamento resumem-se nas seguintes palavras: "CRISTO morreu (o evento)
por nossos pecados (a doutrina)" (1 Cor.
15:3). A morte expiatória de CRISTO é o fato que caracteriza a
religião cristã. Martinho Lutero declarou que a doutrina cristã se
distingue de qualquer outra, e mui especialmente daquela que apenas parece
ser cristã, pelo fato de ser ela a doutrina da Cruz. Todas as batalhas da
Reforma travaram-se em torno da correta interpretação da Cruz. O ensino dos
reformadores era este: quem compreende perfeitamente a Cruz, compreende a
CRISTO e a Bíblia! É essa característica singular dos Evangelhos que faz
do Cristianismo a única religião; pois o grande problema da
humanidade é o problema do pecado, e a religião que apresenta uma
perfeita provisão para o resgate do poder e da culpa do pecado tem
um propósito divino. JESUS é o autor da "salvação eterna" (Heb.
5:9), isto é, da salvação final. Tudo quanto a salvação
possa significar é assegurado por ele.
(b) Seu significado. Havia certa relação verdadeira entre o homem e seu
Criador. Algo sucedeu que interrompeu essa relação. Não somente está o homem
distanciado de DEUS, tendo seu caráter manchado, mas existe um obstáculo tão
grande no caminho que o homem não pode removê-lo pelos seus próprios
esforços. Esse obstáculo é o pecado, ou melhor, a culpa. O homem não pode
remover esse obstáculo; a libertação terá que vir da parte de DEUS. Para
isso DEUS teria que tomar a iniciativa de salvar o homem. O testemunho das
Escrituras é este: que DEUS assim fez. Ele enviou seu Filho do céu à terra
para remover esse obstáculo e dessa maneira reconciliou os homens com
DEUS. Ao morrer por nossos pecados, JESUS removeu a barreira; levou o que
devíamos ter levado; realizou por nós o que estávamos impossibilitados de fazer
por nós mesmos; isso ele fez porque era a vontade do Pai. Essa é a
essência da expiação de CRISTO.
Condições da salvação.
Que significa a expressão condições da salvação? Significa o que DEUS exige do
homem a quem ele aceita por causa de CRISTO e a quem dispensa as bênçãos do
Evangelho da graça.
As Escrituras apresentam o arrependimento e a fé como condições da salvação; o
batismo nas águas é mencionado como símbolo exterior da fé interior do
convertido. (Mar.
16:16; Atos
22: 16; 16:31; 2:38; 3:19.)
Abandonar o pecado e buscar a DEUS são as condições e os preparativos para a
salvação. Estritamente falando, não há mérito nem no arrependimento nem na fé;
pois tudo quanto é necessário para a salvação já foi providenciado a favor do
penitente. Pelo arrependimento o penitente remove os obstáculos à recepção do
dom; pela fé ele aceita o dom. Mas, embora sejam obrigatórios o arrependimento
e a fé, sendo mandamentos, é implícita a influência ajudadora do ESPÍRITO
SANTO. (Notem a expressão: "Deu DEUS o arrependimento" Atos
11:18.)
A fonte da justificação: a graça.
Graça significa, primeiramente, favor, ou a disposição bondosa da parte de
DEUS. Alguém a definiu como a "bondade genuína e favor não
recompensados", ou "favor não merecido". Dessa forma a graça
nunca incorre em dívida. O que DEUS concede, concede-o como favor; nunca
podemos recompensá-lo ou pagar-lhe. A salvação é sempre apresentada como dom,
um favor não merecido, impossível de ser recompensado; é um benefício legítimo
de DEUS. (Rom.
6:23) O serviço cristão portanto, não é pagamento pela graça de DEUS;
serviço cristão é um meio que o crente aproveita para expressar sua devoção e
amor a DEUS. "Nós o amamos porque ele primeiramente nos amou."
A graça é transação de DEUS com o homem, absolutamente independente da questão
de merecer ou não merecer. "Graça não é tratar a pessoa como merece, nem
tratá-la melhor do que merece", escreveu L. S. Chafer. "E tratá-la
graciosamente sem a mínima referência aos seus méritos. Graça é amor infinito
expressando-se em bondade infinita."
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de
DEUS. Efésios 2:8
2. A provisão de DEUS.
Mas, vindo a plenitude dos tempos, DEUS enviou seu Filho, nascido de mulher,
nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de
recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, DEUS enviou aos vossos
corações o ESPÍRITO de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Gálatas 4:4-6
Porque DEUS amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que
todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. João 3:16
A questão do pecado encontra resposta e solução quando encontramos na Bíblia a
declaração de Paulo de que DEUS propôs JESUS CRISTO como propiciação pelo seu
sangue, para receber toda a carga da ira de DEUS contra o pecado (Rm
3.25; 2 Co
5.21; Gl
3.13). Significa que a cruz foi o meio pelo qual DEUS castiga o pecado.
O próprio DEUS, perfeito em justiça, tornou possível a expiação dos pecados por
aquele que se fez nosso justificador perfeito (Rm
3.26).
A redenção.
Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três revelações de DEUS,
que por toda a Bíblia figuram em todas as relações de DEUS com o homem. O
Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o DEUS do Pacto que entra em
relações pessoais com o homem (cap. 2); o Redentor, que faz provisão para
a restauração do homem (cap. 3).
(a) Prometida. (Vide Gên.
3:15.) (1) A serpente procurou fazer aliança com Eva contra DEUS,
mas DEUS por fim a essa aliança. "E porei inimizade entre ti e a mulher, e
entre a tua semente (descendentes) e a sua semente." Em outras palavras,
haverá uma luta constante entre o homem e o poder maligno que causou a
sua queda. (2) Qual será o resultado desse conflito? Primeiro, vitória
para a humanidade, por meio do Representante do homem, a Semente da
mulher. "Ela (a semente da mulher) te ferirá a cabeça." CRISTO, a
Semente da mulher, veio ao mundo para esmagar o poder do diabo. (Mat.
1:23, 25; Luc.
1:31-35,76; Isa.
7:14; Gál.
4:4; Rom.
16:20; Col.
2:15; Heb.
2:14,15; 1
João 3:8; 5:5; Apoc.
12:7, 8, 17; 20:1-3, 10.)
(3) Porém a vitória não será sem sofrimento. "E tu (a serpente) lhe
ferirás o calcanhar." No Calvário a Serpente feriu o calcanhar da
Semente da mulher; mas este ferimento trouxe a cura para a humanidade.
(Vide Isa.
53:3,4,12; Dan.
9:26; Mat.
4:1-10; Luc.
22:39-14,53; João
12:31-33; 14:30,31; Heb.
2:18; 5:7; Apoc.
2:10.)
(b) Prefigurada. (Verso 21.) DEUS matou um animal, uma criatura inocente, para
poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista por causa do
pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à morte, a fim de
prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
Três aspectos da salvação.
Há três aspectos da salvação, e cada qual se caracteriza por uma palavra que
define ou ilustra cada aspecto:
(a) Justificação é um termo forense que nos faz lembrar um tribunal.
O homem, culpado e condenado, perante DEUS, é absolvido e declarado justo —
isto é, justificado.
(b) Regeneração (a experiência subjetiva) e Adoção (o
privilégio objetivo) sugerem uma cena familiar. A alma, morta em transgressões
e ofensas, precisa duma nova vida, sendo esta concedida por um ato divino de
regeneração. A pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de DEUS e membro de
sua família.
(c) A palavra santificação sugere uma cena do templo, pois essa
palavra relaciona-se com o culto a DEUS. Harmonizadas suas relações com a lei
de DEUS e tendo recebido uma nova vida, a pessoa, dessa hora em diante,
dedica-se ao serviço de DEUS. Comprado por elevado preço, já não é dono de si;
não mais se afasta do templo (figurativamente falando), mas serve a DEUS de dia
e de noite. (Luc.
2:37.) Tal pessoa é santificada e por sua própria vontade entrega-se a
DEUS.
O homem salvo, portanto, é aquele cuja vida foi harmonizada com DEUS, foi
adotado na família divina, e agora dedica-se a servi-lo. Em outras palavras,
sua experiência da salvação, ou seu estado de graça, consiste em justificação,
regeneração (e adoção), e santificação. Sendo justificado, ele pertence aos
justos; sendo regenerado, ele é filho de DEUS; sendo santificado, ele é
"santo" (literalmente uma pessoa santa)
São essas bênçãos simultâneas ou consecutivas? Existe, de fato, uma ordem
lógica: o pecador harmoniza-se, primeiramente, perante a lei de DEUS; sua vida
é desordenada; precisa ser transformada. Ele vivia para o pecado e para o mundo
e, portanto, precisa separar-se para uma nova vida, para servir a DEUS. Ao
mesmo tempo as três experiências são simultâneas no sentido de que, na prática,
não se separam. Nós as separamos para poder estudá-las. As três constituem a
plena salvação. À mudança exterior, ou legal, chamada justificação, segue-se a
mudança subjetiva chamada regeneração, e esta , por sua vez, é seguida por
dedicação ao serviço de DEUS. Não concordamos em que a pessoa verdadeiramente
justificada não seja regenerada; nem admitimos que a pessoa verdadeiramente
regenerada não seja santificada (embora seja possível, na prática, uma pessoa
salva, às vezes, violar a sua consagração). Não pode haver plena salvação \ sem
essas três experiências, como não pode haver um triângulo sem três lados.
Representam elas o tríplice fundamento sobre o qual se baseia subsequente vida
cristã. Começando com esses três princípios, progride a vida cristã em direção
à perfeição.
Essa tríplice distinção regula a linguagem do Novo Testamento em seus mínimos
detalhes. Ilustremos assim:
(a) Em relação à justificação: DEUS é o Juiz, e CRISTO é o Advogado; o pecado é
a transgressão da lei; a expiação é a satisfação dessa lei; o arrependimento é
convicção; aceitação traz perdão ou remissão dos pecados; o ESPÍRITO testifica
do perdão; a vida cristã é obediência e sua perfeição é o cumprimento da lei da
justiça.
(b) A salvação é também uma nova vida em CRISTO. Em relação a essa nova vida,
DEUS é o Pai (Aquele que gera), CRISTO é o Irmão mais velho e a vida; o pecado
é obstinação, é a escolha da nossa própria vontade em lugar da vontade do Chefe
da família; expiação é reconciliação; aceitação é adoção; renovação de vida é
regeneração, é ser nascido de novo; a vida cristã significa a crucificação e
mortificação da velha natureza, a qual se opõe ao aparecimento da nova
natureza, e a perfeição dessa nova vida é o reflexo perfeito da imagem de
CRISTO, o unigênito Filho de DEUS.
(c) A vida cristã é a vida dedicada ao culto e ao serviço de DEUS, isto é, a
vida santificada. Em relação a essa Vida santificada, DEUS é o SANTO; CRISTO é
o sumo sacerdote; o pecado é a impureza; o arrependimento é a consciência dessa
impureza; a expiação é o sacrifício expiatório ou substitutivo; a vida cristã é
a dedicação sobre o altar (Rom.
12:1); e a perfeição desse aspecto é a inteira separação do pecado;
separação para DEUS.
E essas três bênçãos da graça foram providas pela morte expiatória de CRISTO, e
as virtudes dessa morte são concedidas ao homem pelo ESPÍRITO SANTO. Quanto à
satisfação das reivindicações da lei, a expiação proveu o perdão e a justiça
para o homem. Abolindo a barreira existente entre DEUS e o homem, ela
possibilitou a nossa vida regenerada. Como sacrifício pela purificação do
pecado, seus benefícios são santificação e pureza.
Notemos que essas três bênçãos fluem da nossa união com CRISTO. O crente é um
com CRISTO, em virtude de sua morte expiatória e em virtude do seu ESPÍRITO
vivificante. Tornamo-nos justiça de DEUS nele, (2
Cor. 5:21); por ele temos perdão dos pecados (Efés.
1:7); nele somos novas criaturas, nascidos de novo, com nova vida (2
Cor. 5:17); nele somos santificados (1Cor.
1:2), e ele é feito para nós santificação (1Cor.
1:30). Ele é "autor da salvação eterna"
A ressurreição de CRISTO é o grande milagre do Cristianismo. Uma vez que é
estabelecida a realidade desse evento, torna-se desnecessário procurar
provar os demais milagres dos Evangelhos. Ademais, é o milagre com o qual
a fé cristã está em pé ou cai, isso em razão de ser o Cristianismo uma
religião histórica que baseia seus ensinos em eventos definidos
que ocorreram na Palestina há mais de mil e novecentos anos.
Esses eventos, são: o nascimento e o ministério de JESUS CRISTO, culminando
na sua morte, sepultamento e ressurreição. Desses, a ressurreição é a
pedra angular, pois se CRISTO não tivesse ressuscitado, então não seria o
que ele próprio afirmou ser; e sua morte não seria expiatória. Se CRISTO
não houvesse ressuscitado, então os cristãos estariam sendo enganados
durante séculos; os pregadores estariam proclamando um erro; e os fiéis
estariam sendo enganados por uma falsa esperança de salvação. Mas, graças
a DEUS, que, em vez de ponto de interrogação, podemos colocar o ponto de
exclamação após ter sido exposta essa doutrina: "Mas agora CRISTO
ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem!"
A ressurreição. Ela significa que JESUS é tudo quanto ele afirmou ser:
Filho de DEUS, Salvador, e Senhor (Rom.
1:4). A resposta do mundo às reivindicações de JESUS foi a cruz;
a resposta de DEUS, entretanto, foi a ressurreição. A ressurreição significa
que a morte expiatória de CRISTO foi uma divina realidade, e que o homem pode
encontrar o perdão dos seus pecados, e assim ter paz com DEUS (Rom.
4:25). A ressurreição é realmente a consumação da morte expiatória
de CRISTO. Como sabemos pois que não foi uma morte comum — e que realmente
ela tira o pecado? Porque ele ressuscitou! A ressurreição significa que
temos um Sumo Sacerdote no céu, que se compadece de nós, que viveu a nossa
vida e conhece as nossas tristezas e fraquezas; que é poderoso para
dar-nos poder para diariamente vivermos a vida de CRISTO. JESUS que morreu
por nós, agora vive por nós. (Rom.
8:34; Heb.
7:25.) Significa que podemos saber que há uma vida vindoura. Uma
objeção comum a essa verdade é: "Mas ninguém jamais voltou para falar-nos
do outro mundo." Mas alguém voltou — esse alguém é JESUS CRISTO!
"Se um homem morrer, tornará a viver?" A essa pergunta antiga a
ciência somente pode dizer: "não sei." A filosofia apenas diz:
"Deve haver uma vida futura." Porém, o Cristianismo afirma:
"Porque ele vive, nós também viveremos; porque ele ressuscitou dos
mortos, também todos ressuscitaremos"! A ressurreição de CRISTO não
somente constitui a prova da imortalidade, mas também a certeza da
imortalidade pessoal, (1 Tes.
4:14; 2
Cor. 4:14; João
14:19.) Isto significa que há certeza de juízo futuro. Como disse o
inspirado apóstolo, DEUS "tem determinado um dia em que com justiça
há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza
a todos, ressuscitando-o dos mortos" (Atos
17:31). Tão certo como JESUS ressuscitou dos mortos para ser o Juiz
dos homens, assim ressuscitarão também da morte os homens para
serem julgados por ele.
CONCLUSÃO
Dentre as muitas definições do termo pecado encontramos dois principais termos
hebraicos awon e peshá. O que é pecado? "o pecado é a transgressão da
lei" (1 Jo 3.4; ARA) e "toda iniquidade é pecado" (1 Jo 5.17). A
origem do pecado é vista na Bíblia, primeiro, na esfera celeste, através de
Lúcifer, que se torna Satanás; depois na esfera terrestre, com Eva sendo
enganada e Adão sendo responsabilizado pela entrada do pecado no mundo e
gerando assim, a morte a todos os seres humanos (Rm 5.12), o que é chamado de
universalidade do pecado. Isso se deu no Éden.
DEUS em seu infinito amor e misericórdia traçou um plano de redenção antes
mesmo da fundação do mundo, já que para DEUS não existe passado, presente e
futuro; ELE viu o nascimento do primeiro homem e sua queda e o resultado de seu
pecado na raça humana inteira, assim já criou meio pelo qual a raça humana
pudesse ser salva, perdoada de seus pecados. Enviou ao mundo a solução para o
pecado. Nem tudo estava perdido. DEUS trouxe sua provisão – JESUS CRISTO.
Glória a DEUS. Fomos restaurados a DEUS pelo arrependimento (At 3.19; 2 Co
7.10) e pela fé em JESUS (Rm 5.1). Confessamos a JESUS e cremos em sua morte e
ressurreição e somos salvos. (Rm 10.9). Sem merecimento algum, somente pelka
graça de DEUS (Ef 2.8, 9).
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Comentários de algumas Bíblias, Dicionários e Livros
Teologia Sistemática Pentecostal - CPAD - Capítulo 6 - Hamartiologia - A
Doutrina do Pecado - Pr. Elienai Cabral
Um dos mais profundos problemas da teologia e da filosofia é a existência e
a ação do mal. Ao longo da História, o mal tem sido motivo de estudo, pesquisa
e discussão, de modo especulativo, mas também de maneira séria. Haja vista o
poder do mal impor-se de modo natural na experiência humana, a preocupação com
a sua origem desafia a inteligência e aguça o interesse em descobri-lo na sua
essência.
Neste campo da realidade universal do mal entra a História da raça humana
através da primeira criatura: o homem. Este, por seu livre-arbítrio, cai na
rede de engano do agente do mal, o Diabo, e pratica o pecado de rebelião contra
o Criador.
O que é pecado? Como se manifesta? Como entrou no mundo? Essas perguntas têm
deixado muitos pensadores perplexos. Neste capítulo, trataremos da abordagem
teológica e também filosófica acerca do pecado e o que corretamente ensina a
Bíblia sobre o assunto.
Introdução à Hamartiologia
A questão do mal é tratada na Bíblia a partir do relato do livro de Gênesis
sobre a Queda do homem. O relato histórico descreve o princípio da tentação ao
homem e seu pecado, trazendo maldição para a sua vida pessoal e a toda a
humanidade. As questões levantadas ao longo da História sobre a Queda serão
aclaradas neste capítulo.
Na teologia cristã, a doutrina do pecado ocupa grande espaço porque o
cristianismo é a religião da redenção da raça humana. De todas as doutrinas
bíblicas, três delas são de vasta amplitude porque tratam de DEUS, do pecado e
da redenção. Existe uma inter-relação entre essas três doutrinas. É impossível
tratar do pecado sem mencionar a redenção do pecador e, naturalmente, a sua
relação com a sua fonte: DEUS.
O termo “hamartiologia” deriva de dois vocábulos da língua grega, a língua do
Novo Testamento: hamartia e logos, os quais significam “estudo acerca do
pecado”. O termo é aplicável ao pecado, seja este considerado um ato, seja
considerado um estado ou uma condição. O sentido do termo é que o pecado é um
desvio do fim (ou propósito) estabelecido por DEUS para determinado fato ou
conduta humana.
O QUE É PECADO
A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as quais
indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. São vários os termos que
amplificam o conceito de pecado nas suas várias manifestações.
No Antigo Testamento. Encontramos no Antigo Testamento pelo menos oito palavras
básicas que conceituam o pecado; no Novo Testamento, temos, pelo menos, doze
outras que descrevem as várias formas de manifestações negativas relacionadas
com o termo “pecado”. No étimo das palavras mencionadas no Antigo Testamento
descobrimos a abrangência do pecado em suas manifestações.
Hattat. Este vocábulo, que aparece 522 vezes nas páginas veterotestamentárias,
e seu termo correlato no Novo Testamento — hamartia — sugerem a ideia de “errar
o alvo” ou “desviar-se do rumo”, como o arqueiro antigo que atirava as suas
flechas e errava o alvo. Porém, o termo também sugere alguém que erra o alvo
propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo intencionalmente.
Não se trata de uma ideia passiva de erro, mas implica uma ação proposital.
Significa que cada ser humano tem da parte de DEUS um alvo definido diante de
si para alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de pecar como o
ato resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o pecado; se pecou,
foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv
16.21; Sm
1.1; 51.4; 103.10; Is
1. 18; Dn
9.16; Os
12.8).
Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”, “rebelar”,
"revoltar-se”. Porém, uma variante forte para defini-la implica o ato de
invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi além dos
limites estabelecidos (Gn
31. 36; I Rs
12.19; 2 Rs
3.5; Sm 51.13; 89.32; Is
1.2; Am
4.4).
Raa. Outra palavra hebraica que tem seu equivalente no grego — como kakos ou
poneros — e traz a ideia básica de romper, quebrar; “aquilo que causa dano, dor
ou tristeza”. E um tipo de pecado deliberado, malicioso, planejado, que provoca
e enfurece. Dá a ideia de “ser mau” (Gn
8.21; Ex
33.4; Jr
11.11; Mq
2.1-3). Indica também algo injurioso e moralmente errado. São os pecados
expressos por violência (Gn
3.5; 38.7; Jz
11.27).
O profeta Isaías profetizou que DEUS criou a luz e as trevas, a paz e o raa Is
4.57. E o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição, infortúnio. DEUS
não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a responsabilidade pelos
pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a criatura rebelde,
transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.
Rama quer dizer “enganar”; dá a ideia de prender numa armadilha, num laço.
Implica, portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem cair. E uma
forma de enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13; 55.11; Jó
13.7; Is
53.9).
Pata. E um termo que dá a ideia de seduzir. O sentido literal da palavra é “ser
aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter livre curso. No Èden, Adão e Eva se
deixaram seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado (Satanás),
personificado numa serpente (Gn
3.4-7).
Shagag. O sentido aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha ou um
bêbado (Is
28.7). E um tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável,
ante a lei divina que condena o seu erro — pecado (Lv
4.2; Nm
15.22).
Rasha. Esta palavra aparece especialmente nos Salmos, com a ideia de impiedade
ou perversidade. O sentido metafórico é o pecado em oposição à justiça (Êx
2.13; SI 9; SI 16; Pv
15.9; Ez
18.23).
Ta a. Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não se trata de
algo acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto negativo
gerado pelos seus atos pecaminosos (Nm
15.22; Sl
58.3; 119.21; Is
53.6; Ez
44.10,15).
Existem outras variantes do termo que ensinam sobre o pecado no Antigo
Testamento, mas nos detivemos apenas em oito deles que ilustram a diversidade e
a perversidade do pecado em suas várias manifestações.
No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado” também tem vários sentidos, e
alguns são correlatos com os termos hebraicos. Todos esses vocábulos do grego
bíblico descrevem o pecado em seus vários aspectos. Apresentaremos uma lista
menos extensa, mas igualmente proveitosa para definir o incisivas das palavras
mais incisivas e usadas com mais frequência no Novo Testamento acerca do
pecado.
Hamartia. Já citada em correlação com kattaa (hb.), seu sentido é “errar o
alvo”, “perder o rumo”, “fracassar”. Indica que o primeiro homem, no princípio,
perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não atingir o padrão divino
estabelecido para a sua vida. No Novo Testamento, os escritores usaram o termo
bamartia para designar o pecado.
Ainda que o sentido equivalente no Antigo Testamento seja o de “errar o alvo”,
nas páginas neotestamentárias a palavra em apreço tem uma abrangência bem maior
— possui um sentido mais forte que a ideia de fracasso ou transgressão. Ela tem
o sentido de “poder de engano do pecado” (Rm
5.12; Hb
3.13); é mais que um fracasso. Trata-se de uma condição responsável ou
uma característica que implica culpabilidade.
Kakia. No grego, relaciona-se com perversidade ou depravação, como algo oposto
à virtude. E um termo que descreve o caráter e a disposição interiores, e não
apenas os atos exteriores. Dele deriva-se outra palavra, kakos, cujo sentido
transcende a mal-estar físico ou doenças (Mc 1.32; Mt
21.41; 24.48; At
9.13; Rm
12.17; 13,3,4,10; 16.19; I Tm
6.10).
Adíkía. Denota injustiça, falta de integridade; como alguém que abandona o
caminho original. Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer conduta
errada e significa, ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co
12.13; Hb
8.12; Rm
1.18; 9.14). O
texto de Romanos
1.18 descreve a injustiça como inimizade para com a verdade.
Em I
João 5.17, o apóstolo João afirma que toda iniquidade (gr. adikia) é pecado
(gr. hamartia).
Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais palavras são traduzidas
frequentemente como “iniquidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido literal de
literal de anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de DEUS pratica a
iniquidade (Mt
13.41; 24.12; I Tm
1.9). O Anticristo é anomos— “o míquo” (2Ts
2.8).
Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e significa “infidelidade”,
“falta de fé” ou algum tipo de resistência ou vergonha (Hb
3.12; I Tm I.13). Em I
Timóteo 1.13 está escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz
ignorantemente, na incredulidade [gr. apistia]”.
Asebeia. Usado por Paulo nas epístolas com o sentido de impiedade (Rm
1.18; 11.26; 2Tm
2.16;Tt
2.12; Jd vv.I5,I8). Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base
da asebeia.
Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade ou mesmo sensualidade. Em Judas
v.4 encontramos dois termos que explicam essas palavras: “... homens ímpios
[asebeis] que convertem em dissolução [aselgeian, ‘libertinagem’] a graça de
DEUS”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem restrições à prática do
pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito que domina uma pessoa e
a torna impudica de tal modo que perde totalmente o senso de vergonha e, por
isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu pecado.
O termo em análise significa, por conseguinte, “a pura e auto-satisfação sem o
menor pudor”, haja vista o desejo pelos prazeres tornar a sua vítima
despudorada, sem restrições. As chamadas taras sexuais, a embriaguez e outras
manifestações são típicas de aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma das
palavras mais repulsivas do Novo Testamento (Mt
7.22; 2 Co
12.21; G1 5.19; Ef
4.19; I Pe
4.3; Jd v.4; Rm
13.13; 2 Pe
2.2,7,18). A
versão ARC traduz o termo por “libertinagem”, enquanto a ARA prefere
“dissolução”.
Epitkymía. Significa “desejo”. Porém, é o contexto da palavra encontrada no
Novo Testamento que pode indicar o caráter moral do desejo, se é bom ou mau.
Coisas, como: motivo, intenção, direção e relação, revelarão o caráter moral de
epithymia (Mc 4.19; Lc
22.15; Fp
1.23; I Ts
2.17). De modo geral, o vocábulo quase sempre se identifica com algo
negativo e pecaminoso. Daí o significado poderá indicar “desejo incontinente”,
normalmente traduzido como “concupiscência”,
“paixão impura” (G1 5.24; Cl
3.5; I Ts
4.5;Tg I.I4; 2 Pe
2.10).
Parabasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O significado
primário do termo é “transgressão”, que dá a ideia de alguém que não respeita
as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se esse vocábulo com o sentido
de “desvio”, “violação” e “transgressão”. No texto de Romanos
5.14, Paulo faz uma relação entre hamartia e parabasis, ao afirmar: “No
entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não
pecaram à semelhança da transgressão de Adão” (grifos do autor).
O apóstolo Paulo não está dizendo que os que pecaram desde Adão até Moisés
estão livres de culpa, e sim que aquelas gerações, não tendo a lei de Moisés,
seu pecado era tão real quanto ao dos que tinham a lei. Em I
Timóteo 2.14 está escrito que Eva caiu em transgressão (parabasis), ao ser
enganada, porque ela foi rebelde contra a ordem divina. Não se tratava de
reduzir a culpa de Eva, e sim reconhecer que ela podia ter evitado o pecado de
desobediência.
Paraptoma. Deriva de parapipto e significa “decair ao lado de”, “perder o
caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma ofensa
pela qual a pessoa é responsável”.1 Vários textos exemplificam o termo
paraptoma (Mt
6.14; Rm
5.15-20; 2 Co
5.19; G1 6.19; Ef 2.I;Tg
5.16).
Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado porque se refere àquele que se
desgarra culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a ovelha que foge
do aprisco (I Pe
2.25); também significa levar, por meio do engano, outras pessoas ao
mau caminho (Mt
24.5,6; I Jo
1.8).
Todas essas palavras, segundo o seu étimo, descrevem o caráter geral do pecado.
Porém, definiremos o pecado, também, em outras perspectivas, para que
entendamos toda a sua abrangência na vida humana.
O HOMEM ANTES DA QUEDA
A Bíblia é a única fonte segura concernente a criação do homem e seu estado
original. De forma simples e objetiva o Gênesis declara que, depois de tudo
feito — especialmente, o homem —, “viu DEUS que era muito bom” (Gn
1.31). Contudo, a Bíblia não só revela o primeiro estado do homem, como
relata a história da perda do seu primeiro estado de santidade, pela Queda, e
também a possibilidade de sua restauração (Cl
3.10; Ef
4.24).
Criado à imagem e semelhança de DEUS (Gn
1.26,27).
Em que consiste esta imagem de DEUS? Ao longo da História, os teólogos vêm
discutindo sobre as diferenças entre “imagem e semelhança”. Porém, a distinção
entre as duas características quase se confunde com a diferença entre
personalidade (ou pessoalidade) e espiritualidade. No hebraico, as palavras
“imagem” fselem) e “semelhança” (demutj exprimem a ideia de algo similar, mas
não idêntico à coisa que representa ou de que é uma “imagem”.
Há uma distância infinita entre DEUS e a sua criatura-prima — o homem. Só
CRISTO é a imagem expressa da Pessoa de DEUS, como o Filho do Pai, que possui a
mesma natureza daquEle. Na verdade, a imagem divina no homem é como a sombra no
espelho.
Mathew Henry, em seu Comentário Bíblico, escreveu:
... a imagem de DEUS no homem consiste em três coisas. (Vj Em sua natureza
e constituição, não do corpo, pois DEUS não tem corpo, e sim de características
da alma e espírito. (2) Em seu lugar e autoridade, pois quando disse: “façamos
o homem à nossa imagem... e domineo homem recebeu autoridade sobre as criaturas
inferiores (os animais). (3) Em sua pureza e retidão. A imagem de DEUS no homem
é revestida de retidão e santidade (Ef
4.24; Cl
3.10).
O homem, como imagem de DEUS, foi dotado de atributo moral, isto é, de justiça
original. Porém, essa justiça não era imutável; havia a possibilidade de
pecado. Ele foi dotado de livre-arbítrio. O homem foi criado com uma natureza
santa, voltada naturalmente para DEUS e sua vontade. Essa imagem divina no
homem revela a natureza religiosa dele, haja vista ter sido dotado de
“espírito”, para manter comunhão com o seu Criador.
A Queda distorceu e avariou a imagem divina no homem. O destaque maior no
relato da criação está na palavra “imagem”: “E criou DEUS o homem à sua imagem,
à imagem de DEUS o criou” (Gn
1.27). Existem alguns ensinamentos de que o ser humano na Queda perdeu
a imagem de DEUS em si. Essa teoria é incoerente, pois a imagem e a semelhança,
de fato, se referem aos aspectos moral e espiritual, os quais ainda persistem
no ser humano, apesar de desfigurados e transtornados pela Queda e o pecado
subsequente.
Quanto à imagem moral, o homem é constituído de intelecto, vontade e
sentimento; isto é, as faculdades da alma. Quanto à imagem espiritual, ele
possui espírito e alma. Essas imagens não integram a criação animal.
O homem perdeu a santidade original, a pureza de atitudes. Seu caráter foi
afetado; tornou-se o ser humano pecaminoso. Seu intelecto foi corrompido pela
mentira, pela falsidade e pelo engano. Disse o sábio, em Eclesiastes que DEUS
fez o homem reto, mas ele se envolveu em muitas astúcias (7.29).
A imagem de DEUS no homem está, pois, deturpada. Só é possível a sua
restauração pela obra expiatória de CRISTO. O corpo não é a imagem de DEUS,
porque é formado do pó. Porém, o Senhor soprou nele a nephesh — a vida física
da alma que possui a imagem e semelhança de DEUS (Gn
2.7). Os impulsos físicos, pois, encontram-se sob o controle do
espírito humano, a sua parte superior.
O primeiro homem possuía um corpo e um espírito (e alma) perfeitamente
adequados um ao outro. Não havia conflito entre os impulsos pessoais e os
espirituais. Era um tipo de perfeição física e espiritual, mas não era uma
perfeição absoluta, e sim relativa e provisória (Gn
3.22).
Teorias filosóficas
Ao longo da História, a preocupação com a existência do mal tem provocado
muitas perguntas e respostas. O problema da presença do pecado no Universo é
discutido por filósofos, sociólogos, psicólogos e teólogos. Especialmente, no
campo da filosofia, há muitas teorias que tentam em vão analisar e definir o
que é pecado.
Conceitos antíteístas e anticristãos. Há opiniões extremamente especulativas e
arbitrárias sobre esse assunto. Por isso, ao trazê-las à tona neste estudo,
queremos destacar dois elementos auxiliares para o estudo do pecado. O primeiro
trata da natureza metafísica do pecado, e o segundo, de sua natureza moral.
Surgem, então, as questões: O que é aquilo que denominamos pecado? Seria uma
substância, um princípio ou um ato? Significaria privação, negação ou defeito?
Seria alguma coisa relacionada com sentimento?
Essas perguntas se relacionam com a natureza metafísica do pecado. Mas, e as
questões sobre a natureza moral do pecado? Como o pecado se relaciona com a lei
de DEUS? Que relação tem o pecado com a santidade e com a justiça? Algumas
teorias sobre a natureza do pecado são apresentadas ao longo da História, no
estudo progressivo das doutrinas cristãs. Algumas dessas teorias são
incoerentes com a realidade bíblica do pecado e, por isso, heréticas; mas
outras merecem a nossa apreciação.
A primeira teoria filosófica e antibíblica que mencionaremos é a que ensina a
existência de um eterno princípio do mal. Ela se difundiu e foi introduzida na
igreja nos primeiros séculos da Era Cristã. Para alguns, esse princípio
original do mal se identificava como um ser pessoal. Trata-se do gnosticismo.
Para outros, seguidores do gnosticismo, dos marcionistas e dos maniqueus, tal
princípio era uma substância, uma matéria eterna.
Esses dois princípios não encontram respaldo na Palavra de DEUS e, por essa
razão, são nulos. Tal teoria vê o pecado como um mal físico que contamina o
espírito humano. Por isso, esse mal deve ser vencido por meios físicos.
Trata-se de uma teoria que insinua que o pecado é eterno e independente do DEUS
Eterno. Sugere que DEUS é limitado por um poder coeterno, que Ele não pode
controlar. Ou seja, o mal tem o seu próprio poder, assim como DEUS possui o
seu.
A ideia sugerida por essa teoria, de que o mal é um poder independente e sem
controle, destrói, por assim dizer, a natureza do pecado como um mal moral,
haja vista fazer dele uma substância inseparável da natureza humana. Dessa
forma, não admite que o homem possa se livrar do pecado.
Essa teoria compromete, ainda, a responsabilidade humana, uma vez que atribui a
sua origem a um mal eterno. Claramente, a Bíblia refuta terminantemente essa
teoria, pois o pecado não é eterno; e, quando o homem pecou, fez isso por
escolha intencional e voluntária.
Outra teoria filosófico-antibíblica é a que apresenta o pecado como um mal
necessário. Ela se baseia na lei de que toda a vida implica ação e reação.
Argumenta-se que, no Universo material, prevalece a mesma lei pela qual os
corpos celestes são conservados em suas órbitas pelo equilíbrio de forças
centrífugas e centrípetas. Ensina, ainda, que todas as mudanças químicas são
produzidas por atração e repulsão, e que a mesma lei deve prevalecer no mundo
moral; e que não pode haver bem sem mal.
Essa teoria ensina, portanto, que, em relação ao homem, a sua vida é
equilibrada por forças contrárias e se desenvolve através do antagonismo; ou
seja, por princípios opostos, de modo que um mundo moral sem pecado é
impossível. A essência dessa teoria é a de que o pecado é a condição necessária
para a existência do bem. Defende-se por esse conceito a ideia de que “o pecado
é um resultado necessário, e decorrente, da limitação do ser finito do homem”2,
“um incidente do desenvolvimento imperfeito, fruto da ignorância e falta de
poder; portanto, o pecado não é um mal absoluto, mas relativo”.3
Não obstante, a Palavra de DEUS ensina, refutando essa teoria, que se o bem não
pode existir sem o mal, o mal deixa de ser algo condenável e repulsivo diante
de DEUS, e a criatura humana deixa de ser responsável pelo pecado entranhado em
sua natureza. Entende-se, então, por essa teoria, que a natureza humana seria
um engano, e tudo quanto a Bíblia ensina contra o pecado, uma utopia.
A terceira teoria falsa ensina que a fonte e a sede do pecado estão na natureza
sensorial do homem. Essa teoria separa e distingue o corpo do espírito humano.
Por ela entende-se que essa distinção especifica o pecado como algo sensorial.
Ensina que, mediante o corpo, o homem está ligado ao mundo físico ou à natureza
externa; e, por meio da alma, ao mundo espiritual e a DEUS.
Essa teoria declara que o homem é governado universalmente, sempre em grau
pecaminoso, por sua natureza sensorial. Em síntese, o negativo prevalece sobre
o positivo, por isso, o homem é vencido pelo pecado. Biblicamente, essa
teoria é falsa e equivocada, porque o pecado não é um ato ou estado
sensorial no homem. Essa teoria neutraliza a consciência de pecado e de culpa,
porque faz do pecado um mera debilidade.
A doutrina bíblica ensina que a pecaminosidade do homem se identifica,
metaforicamente, como “carne”, que refere-se à sua natureza corrompida e
pecaminosa, adquirida na Queda. A Bíblia desmente a teoria que faz do corpo ou
da natureza sensorial do homem a fonte do pecado. Rejeita a ideia de que os
pecados mais degradantes cometidos pelo homem nada tenham a ver com o corpo.
Pelo contrário, a Bíblia diz que seremos julgados por aquilo que tivermos feito
por meio do corpo, bem ou mal (2 Co
5.10).
Outra teoria filosófica ao tratar do caráter do pecado declara que a essência
do pecado é o egoísmo. A Bíblia declara que o homem foi criado com perfeição e,
portanto, seu ego correspondia ao ideal divino do “livre-arbítrio”. Ora,
pertencente a natureza original do homem, o egoísmo não pode ser confundido com
seu instinto de autopreservação e de buscar as coisas que lhe dão prazer e
satisfação.
Naturalmente, isto não se constitui um estado pecaminoso. Buscar com retidão a
felicidade e o prazer na vida não significa, essencialmente, angariá-los em
detrimento dos demais seres. O que torna essa busca um modo egoístico negativo
de se obter felicidade é a força do pecado entranhada na natureza pecaminosa
embutida no homem (Rm
5.12).
O egoísmo integra o estado decaído do homem. Alguns teólogos declaram que “o
pecado de Adão teve origem no egoísmo, porque ele quis ser igual a DEUS”.4
Langston entende que o egoísmo é o coração do pecado e é a origem do pecado. O
pecado veio de fora e a Bíblia o declara como transgressão da lei de DEUS (I Jo
3.4). Antes da manifestação do pecado na vida do homem havia uma “lei
escrita no seu coração” (Rm
2.15).
Definições conceituais do pecado
Abordamos definições de termos bíblicos relacionados com o pecado e, também,
definições filosóficas. Os estudiosos cristãos do assunto em apreço tentam
definir de várias maneiras, partindo do conceito mais expressivo e bíblico de
que o pecado existe como um ato, bem como um estado ou condição. Alguns nomes
respeitados da história do cristianismo, “Idade Média” em diante, conceituam
teologicamente o pecado de forma bem clara.
John Wesley, pai do metodismo, definiu o pecado como uma transgressão
voluntária de uma lei conhecida. Um outro famoso teólogo da época ressaltou a
natureza dupla do pecado ao declarar que “a ideia primária designada pelo termo
pecado nas Escrituras é a falta de conformidade com a lei, uma transgressão da
lei; o fazer algo proibido, o deixar de fazer aquilo que é requerido”.
Augustus Hopkins Strong, eminente professor de teologia nos Estados Unidos,
escreveu sobre a doutrina do Pecado em sua Teologia Sistemática de 1886, que
“pecado é a falta de conformidade com a lei moral de DEUS quer em ato,
disposição ou estado”.3
W.T. Conner, em Doctrína Cristiana, ao falar da natureza do pecado escreveu:
“... definimos o pecado como a rebelião contra a vontade de DEUS”; “o pecado,
como algo voluntário, implica conhecimento. Se o homem peca voluntariamente,
então seu pecado é contra a luz”.6 Paulo esclareceu que todo ser humano tem um
certo grau de conhecimento da lei moral de DEUS e, por isso, “não há um justo,
nenhum sequer” (Rm
3.10).
Charles Hodge escreveu que “o pecado é falta de conformidade coma lei de DEUS”
e “inclui culpa e contaminação; a primeira expressa sua relação com a justiça;
a segunda, sua relação com a santidade de DEUS”.7
Outras definições de pecado. E um ato livre e voluntário do ser humano, tendo
em vista que ele é um ser moral e, por isso, capaz de perceber o certo e o
errado. O homem é um agente moral livre para decidir o que fazer da sua vida, o
qual deve seriamente considerar Eclesiastes
11.9.
O pecado é um tipo de mal. Nem todo mal é pecado. Existem males físicos
resultantes da entrada do pecado no mundo. Na esfera física temos um tipo de
mal manifesto nas doenças e enfermidades. Entretanto, na esfera ética, o mal
tem sentido moral. Nesta esfera moral atua o pecado. Os vários termos hebraicos
e gregos das línguas originais da Bíblia, quando falam do pecado apontam para o
sentido ético, porque falam da prática do pecado, ou seja, dos atos
pecaminosos.
O pecado é, de fato, uma ativa oposição a DEUS, uma transgressão das suas leis,
que o homem, por escolha própria (livre), resolveu cometer conforme relata
a Bíblia (Gn
3.1-6; Is
48.8; Rm
1.18-32; I Jo
3.4).
Louis Berkhof ensina que o pecado tem caráter absoluto.8 Sem dúvida, seu
conceito está correto e é bíblico. Não se faz distinção ou graduação entre o
bem e o mal, porque o caráter é qualitativo. Uma pessoa boa não se torna má por
uma diminuição de sua bondade, mas quando se deixa envolver com o pecado. È uma
questão de qualidade, e não de quantidade.
O pecado não implica um grau menor de bondade, mas algo negativo e absoluto.
Biblicamente, não há neutralidade nem meio termo quanto ao bem ou ao mal. O que
é mal não é mais ou menos mal. Ou se está do lado justo e certo ou se está do
lado injusto e errado (Mt
10.32,33; 12.30; Lc
II.23;Tg
2.10).
Não se trata de pecado apenas porque se praticou algum ato pecaminoso. “O
pecado não consiste apenas em atos manifestos”.9 O pecado não é somente aquilo
que se pratica erradamente, mas é algo entranhado na natureza pecaminosa
adquirida da raça humana. E um estado pecaminoso que origina hábitos
pecaminosos os quais se manifestam na vida cotidiana.
Todas as tendências e propensões pecaminosas típicas da natureza corrompida de
cada um de nós demonstram o estado pecaminoso do ser humano. A esse estado
decaído, a Bíblia denomina “carne”, o qual precisa ser superado pela nova vida
em CRISTO, a vida regenerada pelo ESPÍRITO (2 Co
5.17; Jo
3.5).
A ORIGEM DO PECADO NO UNIVERSO
A primeira manifestação foi na esfera angelical. Os teólogos divergem
quanto ao fato de que a primeira manifestação de pecado tenha começado no céu.
Sendo DEUS o Criador de todas as coisas, não podemos atribuir a Ele a autoria
do pecado. Toda a Bíblia rejeita essa ideia quando diz: “Longe de DEUS a
impiedade, e do Todo-poderoso, a perversidade” (Jó
34.10).
Em outra passagem está escrito que não há injustiça nEle (Dt
32.4; SI 92.15). Tiago, no Novo Testamento, disse que o Senhor não pode
ser tentado pelo mal (Tg I.13). Por isso, é blasfêmia considerar DEUS como
autor do pecado. Ora, duas passagens bíblicas que melhor ilustram a origem do
pecado no Céu são metafóricas (Is
14.12-14; Ez
28.12-17); daí a dificuldade na compreensão desses textos pelos
intérpretes. Do ponto de vista pentecostal esses textos falam do pecado miciado
entre os anjos e pelo principal deles, Lúcifer.
Os dois textos acima mencionados são tidos como relacionados à queda de Lúcifer
e o começo do pecado no Universo. O primeiro (Isaías) refere-se ao rei caído da
Babilônia, cujo orgulho tornou-o soberbo; por isso, ele não pôde subsistir, com
tirania e orgulho, ante o DEUS Vivo. Diz o texto que esse rei era elevado e
importante, mas por seu orgulho foi cortado como uma árvore.
Segundo, a linguagem metafórica, o texto sugere o relato a história da queda de
Lúcifer, denominado “estrela da manhã”, o qual, por sua rebelião foi expulso da
presença de DEUS. O segundo texto (Ezequiel) apresenta um lamento sobre o rei
de Tiro, mas a linguagem figurada ilustra a queda de Satanás.
O registro bíblico da origem do pecado prossegue noutras referências que tratam
do assunto. O que fica claro é que o pecado foi originado por Satanás. Ele
pecou antes de Adão e Eva quando se apresentou na forma de uma serpente para
tentar Eva (Gn
3.1-6; 2 Co
11.3). JESUS declarou que Satanás é homicida “desde o princípio” (Jo
8.44; I Jo
3.8). A expressão “desde o princípio” não quer dizer que este ser
angélico foi sempre mau. Seu primeiro estado era de santidade. A expressão
“desde o princípio” indica no contexto da história da criação que Ele se fez
opositor do DEUS trino desde o início da criação do mundo.
Entretanto, antes da criação do Universo material, os anjos já haviam sido
criados. Mesmo considerando as nossas dificuldades para entendermos plenamente
a origem do pecado no céu, sabemos que DEUS conhece todas as coisas e “faz
todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef
1. 11).
O pecado entrou na vida da humanidade através de Adão e Eva (Gn
3.1-19). Como isso aconteceu? A história bíblica descreve como o pecado
tomou-se uma realidade na vida da humanidade quando uma criatura extraordinária
e espiritual se materializou numa “serpente” (Gn
3.1-7) para enganar as mais belas criaturas da terra, o homem e a
mulher. Essa criatura é denominada em outras passagens como “a antiga
serpente”, o “Diabo” e “Satanás” (Ap
12.9; 20.2).
Foi essa criatura que pecou desde o princípio e se tomou inimiga da criação de
DEUS e originou a catástrofe cósmica.
Pela soberana e sábia vontade de DEUS permitiu-se que no Eden, o jardim idílico
criado por DEUS para que Adão e Eva vivessem felizes, Satanás penetrasse para
tentá-los com astúcia e engano. A história da criação da criatura humana relata
que Adão e Eva foram criados “bons” e colocados no Eden para desfrutarem de
todas as benesses daquele jardim e manter comunhão com seu Criador (Gn
1.26—2.25). Por serem criaturas, humanas e finitas, estavam sujeitas a
pecar.
DEUS, então, estabeleceu para eles uma regra para não comerem de uma árvore
denominada “árvore do conhecimento do bem e do mal”, mas Eva se deixou enganar
pela insinuação diabólica da serpente e tomou do fruto, comeu e o deu ao seu
marido (Gn
3.6). Duvidaram da veracidade da palavra de DEUS e acataram as
insinuações do Inimigo. Daí desobediência, egotismo, rebeldia, pecado, queda e
suas consequências, que se transmitiram à toda posteridade de Adão.
O pecado de Adão foi um ato pessoal. Já consideramos o fato de que o pecado é
um estado da vontade e que esse estado egoísta da vontade é universal. Uma vez
que o homem preferiu obedecer ao seu “eu”, pervertendo sua própria vontade,
também, tornou-se responsável pelas consequências de sua transgressão.
Ele adquiriu uma natureza corrompida e afetou universalmente toda criatura na
terra. Seus atos pecaminosos e suas disposições são frutos de seu estado
corrupto inato. JESUS explicou muito bem esse ponto quando disse: “... não há
árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira
o mal” (Lc
6.43-45; Mt
12.34).
Tentação e Queda não são coisas míticas ou alegóricas. Tem havido a tentativa
de pseudo-teólogos tornarem o relato escriturístico da tentação e a Queda como
algo alegórico. Não há qualquer linguagem figurada em Gênesis
3 que negue o fato histórico relatado naquela passagem. No
desenrolar da tentação Satanás apelou aos apetites que poderiam dar a Eva o
prazer de fazer sua própria vontade em desobediência do Criador. Satanás apelou
aos sentidos egoísticos de Eva e ela deu ouvidos ao tentador em vez de rejeitar
e expulsar o tentador que visava levá-la a desobedecer a DEUS (Gn
3.1-3).
Satanás levou o casal a duvidar da veracidade de DEUS insinuando que o Criador
estaria tirando deles o direito de conhecer coisas mais sublimes. Adão e Eva,
então, pecaram e deixaram que seus corações fossem corrompidos e afetasse seus
apetites naturais. Diz o relato bíblico que sua disposição interior
manifestou-se em atos. O texto diz, literalmente: “... ela tomou do seu fruto,
e comeu, e deu também ao seu marido, e ele comeu com ela” (Gn
3.6).
O homem seguiu a indução do seu coração e fez a escolha do seu “eu” em
desacordo com DEUS. Portanto, o pecado surgiu de dentro do homem, do seu
interior, e ele transgrediu a lei do Senhor (Tg I.I5).
O PECADO ORIGINAL E SUA AFETAÇÃO
Distinção entre pecado original e culpa original. Na língua latina usa-se a
expressão peccatum originale, que se traduz literalmente por “pecado original”.
Para entendermos o assunto precisamos fazer distinção entre pecado original e
culpa original.
Por pecado original entendemos que se trata do pecado herdado de nossos
primeiros pais, Adão e Eva, o qual passou a toda criatura humana.
A culpa não é herdada, e sim imputada a cada criatura. A expressão “pecado
original” não se encontra na Bíblia de forma literal, mas a sua manifestação
está implícita na história da Queda; por isso, o pecado original está na vida
de todo ser humano desde o seu nascimento. Outrossim, precisamos esclarecer que
a expressão “pecado original” nada tem que ver com a constituição original do
homem, haja vista DEUS não o ter criado pecador.
Toda criatura humana é culpada em Adão e consequentemente tem sua natureza
corrompida desde o nascimento (SI 51.5; 58.3).
Pecados veniais e pecados mortais. A igreja romana ensina e faz distinção entre
pecados veniais e mortais. Ao mesmo tempo, ela tem dificuldades em distinguir
esses pecados. Tal distinção não é bíblica, visto que todo pecado é anomia
diante de DEUS — termo grego que significa “falta de retidão”, “falta de
obediência à lei”.
O Antigo Testamento faz distinção entre os pecados cometidos intencionalmente e
os praticados por ignorância. Se cometido intencionalmente ou por ignorância, o
pecado não deixará de ser pecado, porque é um fato e torna a pessoa culpada
diante de DEUS (Gl
6.1; Ef
4.18; I Tm I.I3; 5.24). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo deixou
clara a ideia de que o grau do pecado é determinado pelo grau de conhecimento
(luz) que o pecador possua (Rm LI8-32).
A CULPA DO PECADO
O que e qual é a culpa do pecado? Ora, a culpa é o sentimento pessoal na
consciência, de transgressão de uma lei mediante o ato do pecado. Inclui a
ideia dupla de responsabilidade pelo ato praticado do pecado, assim como a
punição (castigo) pelo pecado. A punição, ou seja, a pena, segue
automaticamente ao pecado.
A culpa é o estado ou a condição delituosa de quem transgrediu a lei. A culpa
toma forma de condenação pela desaprovação de DEUS. Logo após Adão e Eva terem
pecado, seus olhos foram abertos, ou seja, tiveram consciência de suas culpas:
“então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus” (Gn
3.7). A culpa é a convicção na consciência, pela violação voluntária
da lei de DEUS. O transgressor é conscientizado pela consciência ou pela lei,
que o seu ato exige expiação para que seja perdoado.
Já dissemos anteriormente acerca da distinção entre pecado original e culpa
original. Pelágio, teólogo inglês, renegava a ideia do pecado original porque
entendia que os homens que nascem no mundo, desde a Queda, vivem no mesmo
estado em que Adão foi criado e que o pecado deste prejudicou apenas a ele
próprio. Por isso, essa teoria rejeita a ideia da hereditariedade do pecado
sobre toda a raça humana.
Pelágio ensinava que Adão morreu pela constituição de sua natureza, tivesse ele
pecado ou não. Entretanto, o ensino claro da Bíblia a esse respeito não deixa
dúvida de que a culpa original refere-se àquela recebida por Adão e Eva após
terem pecado contra a lei de DEUS.
o viver em pecado consiste então, em viver uma vida centralizada no “eu” e
significa o fazer a própria vontade como a da vida. Neste sentido o homem merece
receber a punição do seu pecado ( Rm
5.12).
A natureza da culpa. Ainda que haja uma interligação entre os pontos destacados
neste capítulo, ao tratar da natureza da culpa, entendemos que o mérito da
culpa é a punição. Culpa, portanto, significa o merecimento da punição, por ter
o culpado de satisfazer a justiça divina pelo seu pecado praticado.
O apóstolo Paulo escreveu aos romanos que “do céu se manifesta a ira de DEUS
sobre toda a impiedade e injustiça dos homens” (Rm
1.18). Ora, a ira de DEUS no contexto dessa passagem significa a reação
da santidade de DEUS contra o pecado; não importando se tenha ocorrido por ato
ou estado, o pecado acarreta a manifestação da justiça de DEUS.
A culpa legal O aspecto legal da culpa perante DEUS diz respeito ao fato de que
quando Adão e Eva cometeram o pecado contra a ordem divina, tornaram-se
legalmente culpados e dignos da pena estabelecida por DEUS. O Criador havia
lhes dito que um só ato de desobediência à sua palavra implicaria na pena de
morte (Gn
2.17). O apóstolo Paulo entendeu essa questão doutrinária e declarou
que “o juízo veio de uma só ofensa, para condenação” (Rm
5.16).
Portanto, por um só ato pecaminoso contra DEUS, Adão tomou-se incapaz de
permanecer na presença santa de DEUS. Essa ofensa de Adão tornou-se a culpa de
toda sua descendência, de toda a raça humana. Perante DEUS, legalmente, todos
são culpados, “porque todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS” (Rm
3.23).
Isso significa que em Adão todos participaram da sua transgressão. A expressão
“estão destituídos da glória de DEUS” indica a necessidade de recuperação do
primeiro estado de glória de Adão antes da Queda. Significa a recuperação
daquela realeza moral e espiritual que o homem tinha, isto é, a imagem e
semelhança de DEUS, deformada pelo pecado. Foi o segundo Adão, JESUS CRISTO,
quem veio a este mundo para recuperar a glória perdida do homem (Rm
3.24-26).
A culpa não significa mera propensão ao castigo. Isso significa que a culpa
incorre mediante a transgressão do pecador. Não há na justiça de DEUS o
conceito de culpa construtiva, porque o pecador é culpado por aquilo que tem
praticado. Somos culpados do pecado, tanto em relação a culpa original de
nossos primeiros
pais quanto pelos pecados que cometemos hoje. Devemos entender que somos
culpados pela natureza pecaminosa herdada de Adão e Eva. Esse é o aspecto
coletivo que abrange todos os homens. Porém, cada um de nós é individualmente
responsável pelos seus próprios pecados.
A manifestação da culpa na consciência humana. A culpa do pecado se manifesta
na consciência, que é o componente racional e moral do espírito humano, para
sinalizar o certo e o errado nas decisões do ser humano (Rm
2.15,16).
Pela corrupção moral e espiritual do homem por causa da Queda, há em todo homem
uma disposição geral para o pecado e para esconder ou negar a responsabilidade
pelo pecado cometido, como fizeram Adão e Eva (Gn
3.8-14).
Entende-se, portanto, que a acusação de sua consciência contribuiu para
assinalar a culpa do pecado. Visto que o pecado é transgressão diante de um
DEUS SANTO, o pecado é merecedor de punição e reprovação divina. A culpa se
manifesta como um resultado objetivo, isto é, ela é produzida mediante o fato
da prática do pecado e não deve ser confundida com o papel da consciência que
expõe a culpa subjetivamente.
Ora, o que é consciência subjetiva da culpa? O que está revelado em Levítico
5.17 esclarece bem este ponto, quando diz: “e, se alguma pessoa
pecar e fizer contra algum de todos os mandamentos do Senhor o que não se deve
fazer, ainda que o não soubesse, contudo, será ela culpada e levará a sua
iniquidade”.
A expressão “ainda que o não soubesse” indica que a culpa implica inicialmente
uma relação com DEUS e, depois, uma relação com a consciência. O texto trata da
prática do pecado por ignorância, por não se saber que determinada ação seja
pecaminosa. Então a consciência age subjetivamente.
Um determinado teólogo declarou que “o maior dos pecados é não estar consciente
de nada”, isso porque a consciência pode tornar-se cauterizada, pela
multiplicação do pecado, extinguindo no pecador a sensibilidade moral acerca do
que é errado ou certo. Por isso, quando andamos com DEUS segundo a sua justiça
a partir da conversão, somos por Ele santificados quanto ao pecado, e a nossa
santificação subjetiva pelo ESPÍRITO SANTO desenvolve em nós mais e mais a
consciência da realidade do pecado.
A culpa tem relação com a lei moral de DEUS. “A culpa não faz parte da essência
do pecado, mas é, antes, uma relação com a sanção penal da lei”.10 Por isso, a
culpa só pode ser removida mediante a satisfação da lei. Visto que a justiça
original no homem tornou-se em “trapos de imundícia” (Is
64.6), a justiça requerida tem de ser vicária e pessoal. Ela pode ser
transferida de uma pessoa para outra, mas, nenhuma criatura humana teria
condições para assumir os pecados das demais, por sermos todos uma raça de
pecadores (Sm 14.1-3; Rm
3.9-12).
Veio JESUS CRISTO, da parte de DEUS; se fez carne e habitou entre nós (Jo
1.14), assumindo a penalidade da lei, causada pela nossa culpa, tomando-se o
nosso substituto vicário, justificando o homem dos seus pecados (Rm
4.24,25; 5.1,8).
Adão cometeu o pecado e na qualidade de chefe federal da raça humana; por ele
foi imputada a todos os seus descendentes a culpa do pecado. A Bíblia enfatiza
este ensino quando declara que a morte é o castigo do pecado, para todos os
seus descendentes (Rm
5.12-19; Ef
2.3; I Co
15.22).
Graus de culpa. Tem havido interpretações equivocadas sobre esse ponto. Não
obstante, é fato bíblico que existem diferentes graus de culpa atribuídos a
certos tipos de pecados. Não encontra aqui respaldo a doutrina católica romana
que distingue pecados veniais e pecados mortais. Com esse conceito a Igreja
Romana entende que pode determinar o grau do pecado de uma pessoa e aplicar à
mesma a penitencia equivalente.
Ora, entendemos que todo pecado é venial, isto é, pode ser perdoado. A exceção
está no “pecado contra o ESPÍRITO SANTO” (Mt I2.3I).Que tipos de pecados são
esses para os quais são atribuídos graus de culpa? Na realidade, existem
pecados perdoáveis e os pecados não perdoáveis, ou seja, pecados que são para a
morte e pecados que não são para a morte.
Em I
João 5.16,17 está
escrito: Se alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para a morte; orará,
e DEUS dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e
por esse não digo que ore. Toda iniquidade é pecado,e há pecado que não é para
morte.
Percebe-se que há um contraste entre o pecado para a morte e o que não é para a
morte. Há quem diga que o pecado para morte é aquele que, sendo extremamente
grave, conduz inevitavelmente à morte eterna; e que o pecado que não é para a
morte seria o pecado venial; ou seja, o menos grave. São ideias sem suporte
bíblico.
Outros afirmam que esse texto refere-se a “pecados intencionais ou não”, sendo
o último o pecado perdoável, e o primeiro, não (Nm
15.22-30). Naturalmente, o sentido da palavra “morte” no contexto dessa
passagem refere-se à morte física, e isso se toma claro quando o autor
aconselha a orar para que tenha vida, e diz, literalmente: “orará, e DEUS dará
a vida àqueles que não pecarem para morte”.
Ora, a Bíblia afirma que toda iniquidade é pecado (I Jo 5-17). Portanto,
distinguir e graduar os tipos de pecados é impraticável. E bem verdade que,
em I
Coríntios 11.30, Paulo fala de um tipo de juízo que afeta o
crente que peca até ao ponto de DEUS aplicar-lhe disciplina. Mas a morte
física, aqui, não significa morte eterna ou punição final, e sim morte que não
é final.
Nessa esfera, poderíamos apontar os pecados de ignorância e pecados de
conhecimento, como cita Strong:11 pecados da carne (Gl
5.19-21); o pecado de blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO (Mt
12.31,32).
Strong escreveu:
... o pecado contra o ESPÍRITO SANTO não deve ser considerado como um
simples ato isolado, mas também como o sintoma exterior de um coração tão
radical e irreversível contra DEUS que nenhuma força que DEUS possa
consistentemente usar o poupará.
Tal pecado, portanto, só pode ser o clímax de um longo curso de endurecimento
de si mesmo e depravação de si mesmo.
Em relação ao episódio da blasfêmia dos fariseus contra JESUS entendemos que o
pecado de blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO refere-se, no ensino do Mestre, à
atribuição voluntária e consciente de seus adversários de que a obra que Ele
fazia era demoníaca. Tratava-se de uma rejeição presunçosa daquela casta
religiosa à pessoa de JESUS e a atribuição de ação demoníaca à obra do ESPÍRITO
SANTO.
Realidade da ação do pecado
Consequências do pecado no mundo. Indiscutivelmente, o pecado trouxe graves
consequências ao Universo, especialmente à vida na Terra. A Bíblia faz várias
declarações a respeito da universalidade do pecado. Por exemplo, temos no
Antigo Testamento alguns exemplos, tais como: “não há homem que não peque” (I Rs
8.46); “porque à tua vista não há justo nenhum vivente” (Sm
143.2).
Paulo, em Romanos, disse: “Não há um justo, nenhum sequer; não há quem faça o
bem, nenhum sequer” (Rm
3.10-12); “pois todos pecaram e carecem da gloria de DEUS” (Rm
3.23). O apóstolo João também disse: “Se dissermos que não temos pecado
nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós” (I Jo
1.8).
A escolha preferencial do “eu” em detrimento de DEUS. O pecado de Adão e Eva
foi uma escolha feita por ambos, uma escolha preferencial do “eu”, em
detrimento de DEUS como objeto do sentimento e fim principal de suas vidas.
Preferiram atender aos ímpetos do seu ego a fazer de DEUS o centro de suas
vidas. Renderam-se incondicionalmente ao seu ego em prejuízo do projeto do
Criador para suas vidas.
O Dr. E.G. Robinson, citado por Berkhof, escreveu que “enquanto o pecado como
estado é dessemelhança em relação a DEUS, como princípio é oposição a DEUS, e
como ato é transgressão à lei de DEUS”. Portanto, entendemos que o pecado não
é, meramente, algo de fora (ou externo), tampouco é o fruto de coação vinda de
fora, mas “é uma depravação dos sentimentos e uma perversão da vontade, que
constitui caráter íntimo do homem”. A realidade do pecado traz as consequências
inevitáveis que são a culpa e o castigo.
A HEREDITARIEDADE DO PECADO
Como um ato de pecado individual afetou a todos? A Bíblia tem a resposta
cabal desta questão. Paulo, em Romanos disse “que todos pecaram” (Rm
3.23) e dá a ideia de que todos os seres humanos participaram da
transgressão de Adão; e, como indivíduos, tornaram-se pecadores. Ele explica os
efeitos do pecado de Adão: “Portanto, por um homem entrou o pecado no mundo, e
pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens” (Rm
5.12).
Paulo não estava falando de pecados factuais, do dia-a-dia, mas da herança do
pecado. A morte, como punição do pecado, tem um caráter universal, porque “a
morte passou a todos os homens”. Por causa do pecado de Adão, todos os seus
descendentes tomaram-se pecadores e culpados. Porém, DEUS providenciou a nossa
expiação — nas palavras de Paulo — outra vez: “Mas CRISTO morreu por nós, sendo
nós ainda pecadores” (Rm
5.8).
Portanto, o pecado é hereditário. A sua universalidade deve-se à corrupção da
natureza humana. E a Palavra de DEUS afirma que o primeiro homem violou a
vontade expressa de DEUS, e, por consequência, toda a vida humana se corrompeu.
Inevitavelmente, quando o homem se depara com a idade da consciência moral,
está tão identificado com os maus impulsos existentes dentro de si que
precisará esforçar-se para manter o equilíbrio moral e espiritual de sua vida.
Não se trata meramente de um impulso momentâneo da sua vontade, mas é algo
implícito na sua natureza pecaminosa, que é sinistro e obscuro. A tendência má
que se revela numa criança se percebe na semente dessa tendência má. Nesse
sentido, toda criança é pecadora, conquanto não tenha culpa pessoal. Não podemos
cobrar responsabilidade pessoal de uma criança recém-nascida.
A Bíblia e a consciência moral dão testemunho da responsabilidade que temos de
nossa vida, apesar da natureza que temos herdado. Na verdade, a herança do
pecado se constituí numa condição de vida, para a qual precisamos da graça
salvadora de CRISTO para dominá-la. Por isso, mesmo como pecadores regenerados
pelo ESPÍRITO SANTO precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar a nossa cruz e
sermos crucificados com CRISTO (G1 2.20).
Todo ser humano nasce com uma natureza corrompida. Todos os atos pecaminosos
das pessoas são frutos de sua natureza pecaminosa. Ora, o que se entende por
natureza
no contexto desse estudo? Ê aquilo que é inato em cada pessoa, isto é, nasce
com ela. JESUS, disse, certa feita aos seus discípulos que “não há árvore boa
que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira o mal” (Lc
6.43-45).
Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido com uma
“natureza corrompida”. E algo que faz parte do seu ser e é subjacente à sua
própria consciência. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante de
DEUS, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a
terra.
O salmista Davi declarou que fora formado em iniquidade e concebido em pecado
(Sm 51.5). Na verdade, com isso, confessou não o pecado de sua mãe, e sim o seu
próprio pecado, e que esse estado — entendeu ele — vinha desde o momento de sua
concepção.
A natureza corrompida e congênita de toda criatura humana. O apóstolo Paulo
usou uma expressão forte em Efésios, a qual merece a nossa apreciação: “éramos
por natureza filhos da ira” (2.3). A expressão “filhos da ira” denota o estado
de condenação por causa da herança do pecado que todos recebemos de nossos pais
(Adão e Eva). Entende-se por “natureza” algo inato e original distinto daquilo
que se adquire posteriormente.
Sem dúvida, o apóstolo coloca o texto no passado com o verbo “éramos”, para
indicar que, ao sermos regenerados pelo ESPÍRITO SANTO, fomos agraciados pela
graça de DEUS. A criança é despida de consciência moral, mas congenitamente
possui a natureza pecaminosa herdada. Por isso, a morte é a penalidade global
que afeta todas as pessoas e, inevitavelmente, afeta as crianças, haja vista
elas morrerem como todos os demais seres.
As crianças estão colocadas num estado de pecado e, por isso, necessitam de
regeneração e salvação através de JESUS CRISTO. Naturalmente, elas são objeto
de salvação pela graça de CRISTO, que as salva, independentemente da
consciência moral. Contudo, a condição dos adultos é diferente da das crianças.
O adulto precisa de fé pessoal para ser salvo, e a Bíblia declara que CRISTO
morreu por todos (2 Co
5.15).
No Juízo Final, as pessoas serão julgadas mediante o teste da conduta pessoal,
enquanto as crianças, mesmo tendo uma tendência para mal, são incapazes de
transgressão pessoal; por isso, cremos que elas estarão entre os salvos (Mt
25.45,46).
Adão depois da Queda. Já dissemos anteriormente que Adão e Eva, quando pecaram,
perderam o direito do primeiro estado de santidade em que foram criados e
vieram a ser objeto de várias mudanças negativas transcendentais.
O casal submeteu-se ao domínio da morte espiritual. A penalidade declarada por
DEUS antes da Queda foi: “porque no dia em que dela comeres, certamente
morrerás” (Gn
2.17). Imediatamente ao ato pessoal do pecado, Adão e Eva tiveram a
sentença cumprida. Não só se tornaram culpados e submissos à pena do pecado com
a limitação da vida física e a morte física posteriormente, mas imediatamente
ficaram sob a égide da morte espiritual, perdendo a comunhão livre que tinham
com DEUS, separando-se da relação com Ele.
O juízo de DEUS veio também sobre Satanás e a serpente usada por ele (Gn
3.14). O Criador predisse, então, o futuro conflito entre CRISTO e o
Diabo, conforme Gênesis
3.15: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a
sua semente, esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
A semente da mulher foi JESUS CRISTO, que, sendo o Filho de DEUS, fez-se homem,
para identificar-se com os homens, e foi ferido no Calvário. JESUS morreu na
cruz, mas não foi retido na sepultura e na morte. Pelo contrário, pelo ESPÍRITO
SANTO foi ressuscitado e venceu a morte e o próprio Diabo. Ele morreu por toda
a humanidade; além disso, anulou a sentença da morte eterna aos que o aceitarem
como Salvador e Senhor.
DEUS proferiu um juízo específico sobre a mulher, Eva, a qual experimentaria a
dor ao dar a luz seus filhos e seria submissa ao seu marido (Gn . Quarto, uma
maldição especial caiu sobre o homem, Adão, o qual teria que lavrar a terra,
agora maldita com espinhos e cardos, para obter sua subsistência (v. 17).
A terra foi amaldiçoada (Gn
3.17.18) e o efeito do pecado atingiria a vida dos descendentes de
Adão. Foi expulso do Jardim de DEUS e começou a experimentar a dor e a luta
para sobreviver. O pior em toda esta maldição foi Adão experimentar a morte
espiritual e, por isso, perder sua comunhão com o Criador e sofrer a pena da
morte física.
Três imputações. Como resultado imediato da Queda, todo o gênero humano foi
atingido. A Bíblia menciona, pelo menos, três imputações decorrentes do pecado
de Adão:
Seu pecado foi imputado à sua posteridade (Rm
5.12-14).
Seu pecado foi imputado a CRISTO (2 Co
5.21).
DEUS imputou sua justiça sobre os que crêem em CRISTO (Gn
3.15; 15.6; Sl
32.2; Rm
3.22; 4.3,8,21-25; 2 Co
5.21). Nesse sentido, a Bíblia revela que se efetuou uma transferência
de caráter judicial do pecado do homem para JESUS CRISTO, que levou sobre a
cruz o pecado da humanidade (Is
53.5; Jo
1.29; I Pe
2.24; 3.18).
Outra verdade, nesse contexto, é o fato de que, de igual modo, DEUS efetuou a
transferência, de caráter judicial, da justiça de DEUS para o crente em CRISTO
(2 Co
5.21), visto que o único modo de justificação ou aceitação diante de
DEUS era este. Por este ato justificador de CRISTO, o crente passa a fazer
parte da vida organística de CRISTO, isto é, do seu corpo e, por conseguinte,
participa de tudo o que CRISTO é.
Torna-se claro, portanto, que a participação dos homens na Queda resultante do
pecado não se efetua quando cometem seus primeiros pecados, porque eles nascem
sob a égide do pecado, como criaturas caídas, procedentes de Adão. Os pecadores
não se convertem em pecadores por meio da prática de qualquer pecado
individual, mas eles pecam imbuídos pela sua própria natureza pecaminosa
adquirida; por isso, são pecadores.
O significado de estar debaixo do pecado. O texto de Romanos
3.9 diz, literalmente: “Pois quê? Somos melhores do que eles? De
maneira nenhuma, pois já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos
estão debaixo do pecado”. Quando Paulo escreveu sobre esse assunto, estava
enfrentando discussões e polêmicas entre os cristãos convertidos em Roma,
cidade que reunia judeus e gentios.
Cada qual tentava justificar sua posição diante de DEUS. Paulo, então, colocou
ambos na mesma condição e posição, quando disse: “Todos estão debaixo do
pecado”. Uma vez que pecado é transgressão da lei de DEUS, o próprio judeu que
possuía a lei de DEUS foi o primeiro a pecar contra ela.
O gentio, por outro lado, não tinha a lei de Moisés, mas tinha a lei da
consciência escrita no coração e não podia justificar-se diante de DEUS, tanto
quanto o judeu. Paulo mostrou aos Romanos, em 3.10-12, a universalidade do
pecado; e terminou enunciando o veredicto final de DEUS contra o pecado em
3.19,20. O judeu tendo a lei de Moisés não conseguiu justificar-se do pecado
mediante as obras da lei, e está incluído na universalidade da frase: todos
estão debaixo do pecado”. O remédio para o pecado está, não em algum mérito
pessoal do pecador, mas no mérito da obra expiatória de CRISTO que tira o
pecador do estado de pecado e o coloca “debaixo da graça salvadora de DEUS
através de CRISTO JESUS (Rm
5.1). Vemos, então, que “o pecador é salvo com base meritória, mas o
mérito é daquEle que foi feito justiça de DEUS para ele”.
O CASTIGO do pecado
Já dissemos que o pecado é tanto um ato como um estado. E um ato porque o
homem mesmo preferiu, de seu livre-arbítrio, desobedecer à lei de DEUS,
rebelando-se contra Ele. Porém, o pecado implica um estado pecaminoso porque o
homem quebrou a comunhão e a relação com o seu Criador, separando-se dEle.
Inevitavelmente, segue-se à prática do pecado o juízo, ou seja, o castigo
positivo (Gn
2.17; Rm
6.23).
O castigo imediato do pecado. Em pontos anteriores já abordamos sobre o
castigo sem aprofundar a sua importância no contexto da doutrina do pecado. A
partir do capítulo
de Gênesis, a Bíblia trata da Queda e dos efeitos imediatos do pecado na vida
do homem. Adão experimentou, de modo imediato, as consequências do seu pecado
após ter desobedecido a DEUS. Fugiu da presença de DEUS no jardim do Éden (Gn
3.8) levando consigo o estigma do pecado e tomando-se culpado aos
olhos de DEUS.
O pecado desfigurou a imagem divina do homem. Adão não perdeu completamente a
imagem divina porque em parte permaneceram nele os elementos de pessoalidade
dessa imagem, na sua alma e no seu espírito. Porém, esses elementos da imagem
foram desfigurados pelo pecado. Em que consistia a imagem original de DEUS no
homem? O texto de Gn
1.26,27 diz
que o homem foi criado à imagem de DEUS. “Strong define a
pessoalidade, como imagem natural de DEUS e a santidade como imagem
moral de DEUS. Em relação à pessoalidade, o homem foi criado como ser pessoal e
isto o distingue dos seres irracionais”.
Trata-se da capacidade do homem para pensar, conhecer a si mesmo e
relacionar-se com o mundo ao seu redor e determinar o seu “eu” quanto ao certo
e o errado, ao que é justo e o que é injusto (Gn
9.6; I Co
11.7; Tg
3.9). Em relação à imagem moral, o homem foi dotado de sentimento,
inteligência e vontade que o capacita a ter escrúpulos e autodeterminação
quanto à justiça e santidade. Esse sentido moral da imagem divina no homem
revela-se na finalidade da sua criação que é a retidão. Diz a Bíblia que “DEUS
fez o homem reto” (Ec
7.29) e a justiça é essencial à sua imagem (Ef
4.24; Cl
3.10). Mas ele a distorceu por seu pecado afetando toda a criação e sua
descendência (Rm
5.12).
O pecado deu origem a um estado pecaminoso que afetou toda a raça
humana. Myer Pearlman afirmou: “O efeito da Queda arraigou-se tão
profundamente na natureza humana, que Adão, como pai da raça humana, transmitiu
a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar”. Neste aspecto toda
criatura humana é pecadora porque adquiriu a imagem degenerada e decaída de seu
pai.
Ernesto Naville escreveu: “Não digo que todos sejamos malfeitores manifestos,
mas, sim, afirmo que em cada um dos homens existe o princípio do egoísmo que é
a natureza do pecado”. Fiá uma disposição entranhada no interior de cada
criatura humana para praticar o pecado (Ef
2.2,3), e
Paulo ensina e atribui a universalidade do pecado ao cabeça da raça humana (Rm
5.12).
O apóstolo Paulo tratou profundamente da doutrina do pecado e ensina que os
cristãos autênticos, antes de serem alcançados pela graça de DEUS, mediante a
obra expiatória de CRISTO, viviam em ofensas e pecados, fazendo a vontade do
Diabo, da carne e dos pensamentos, e por isso eram considerados “filhos da ira
divina” (Ef
2.3).
Mais uma vez Myer Pearlman esclarece esse assunto:
Esta condição moral da alma é descrita de muitas maneiras: todos pecaram (Rm
3.9); todos estão debaixo da maldição ÍCl
3.1 0); o
homem natural é estranho às coisas de DEUS (l Co
2.14); o coração natural é enganoso e perverso (Jr
1 7.9); a
natureza mental e moral é corrupta (Gn
6.5,12; 8.21; Rm
1,19-21); a mente carnal é inimizade contra DEUS (Rm S. 1,8); o pecador é
escravo do pecado (Rm
6.11; 1.15); é
controlado pelo príncipe das potestades do ar (Ef
2.2); está morto em ofensas e pecados (Ef
2.1); é filho da ira (Ef
2.3).
O pecado acarretou punições naturais e físicas na vida do homem. Louis Berkhof
diz que são “punições naturais e positivas” em que as leis naturais da vida são
violadas. São punições de ordem física que resultam em doenças, dores e
sofrimentos ao homem. Não se trata de punições imediatas à qualquer prática de
pecado, mas se trata daquelas doenças impregnadas na terra, no ar e nas águas.
Essas punições naturais resultam da “maldição do pecado” no nosso planeta.
A promessa de cura e redenção da Terra e do homem provém da pessoa de JESUS, o
Filho de DEUS, que se fez carne, habitou entre nós, para expiar a culpa do
pecado dos homens (Gn
3.15; Is
53.4,5; Rm
5.21). Os sofrimentos da vida tomaram-se realidade na vida cotidiana do
homem, como resultado da penalidade do pecado.
Seu corpo físico tomou-se presa de doenças e fraquezas provocando mal-estar e
desconforto. Sua vida mental e emocional ficou sujeita a angustias, tristezas,
paixões sem domínio e desejos conflitantes. Sua vontade perdeu a capacidade de
escolha, e conforme disse Paulo, toda a criação ficou sujeita à vaidade e
escravidão (Rm
8.20). De certo modo, nosso sofrimento físico nos dá, pela morte
física, a esperança de obtermos, um dia, corpos transformados e espirituais.
O pecado gerou um contínuo conflito moral e espiritual entre corpo e alma de
cada criatura humana. Tão logo o homem pecou, entranhou-se em seu ser um
conflito entre sua natureza superior, expressa por alma e espírito, e sua
natureza inferior, manifesta através do corpo. O homem se encontrou dividido em
si mesmo, e sua natureza física e inferior, tornou-se frágil e subjugada aos
poderes do pecado (Rm
7.24).
O grande pregador Charles H. Spurgeon falou em uma de suas pregações que “o mar
todo fora do navio não causa dano enquanto a água não penetra nele e enche- lhe
o porão”. Aprendemos com esse ensino de Spurgeon que o perigo está dentro de
nós mesmos. E interno e na linguagem metafórica da Bíblia esse perigo chama-se
coração, que é, de fato, o nosso maior inimigo, porque nos engana. A síntese
dessa ideia é que devemos ter o coração sob controle para que ele não nos
engane.
Nesse fato está a questão da tentação. Ela em si mesma não se constitui pecado,
mas ela pode se tornar em ocasião para o pecado. O Novo Testamento,
especialmente, fala constantemente sobre “carne e espírito” como opostos um ao
outro (Gl
5.13,24; Mt
26-41). Esse conflito envolve a totalidade da pessoa, porque a “carne” induz a
volta ao domínio do pecado, no caso do cristão. Porém, o cristão fortalece o
seu espírito para vencer a carne e estar submisso ao senhorio de CRISTO JESUS e
do ESPÍRITO SANTO (Gl
5.16; Rm
8.4-14).
O pecado despertou a consciência do homem. Diz o texto literalmente: “Então,
foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus, e coseram folhas
de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn
3.7). Na verdade, quando os seus olhos foram abertos, os olhos de suas
almas, olhos do interior, uma forte convicção de que haviam desobedecido a DEUS
lhes sobreveio. Quando já era demasiado tarde, compreenderam a loucura de haver
comido do fruto proibido por DEUS.
A lei moral de suas consciências deu o sinal quando descobriram que estavam
nus. Esta consciência de nudez os fez perceber que haviam perdido todas as
honras e encantos da vida no paraíso que DEUS havia feito para eles. Outrossim,
ficaram envergonhados, porque se viram frente ao desprezo e à perda da comunhão
com o Criador. Ficaram totalmente indefesos, porque, a partir da Queda, estavam
sós, sem a presença do Criador.
O pecado trouxe ao homem a punição da morte física. Paulo declarou que por um
homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm
5.12). A palavra “morte”, thanatos (gr.), significa separação das
partes física e espiritual do ser humano. Indiscutivelmente, a separação de
corpo e alma faz parte da penalidade imediata do pecado. A Bíblia diz que “o
salário do pecado é a morte” (Rm
6.23).
Pelágio e seus discípulos ensinaram que a morte física fazia parte do primeiro
estado do homem antes do pecado e que ele fora criado como um ser mortal.
Naturalmente, esse conceito errôneo foi rejeitado através da história. A igreja
adotou uma posição definida quanto a questão da morte, a saber, que a morte
sempre se constituiu uma penalidade do pecado.
O castigo disciplinador Os teólogos procuram fazer distinção entre castigo,
punição e pena e, sem dúvida, há certa distinção que deve merecer a nossa apreciação.
Entretanto, preferi usar o termo castigo com abrangência ao modo de tratamento
de DEUS quanto aos pecados cotidianos dos cristãos e quanto aos pecados que
implicam o tratamento final de DEUS.
Nesse ponto, especialmente, o castigo disciplinador relaciona-se com o
comportamento do cristão, e objetiva corrigido e repreendê-lo, a fim de que não
se perca. A doutrina no que tange a esse tipo de castigo revela que é possível
até
mesmo morte prematura do cristão como modo de disciplina divina e a salvação da
alma (I Co
11.30-32). O autor da Carta aos Hebreus faz uma distinção entre filhos e
bastardos (Hb
12.6-8). Neste texto DEUS se mostra como “Pai amoroso que corrige os
filhos”; por isso, a correção tem sentido disciplinador.
Quando o escritor emprega o termo “bastardo”, faz isso para distingui-lo do
filho verdadeiro de DEUS, aquele que aceita a correção do Pai (v.8). Chafer
escreveu, em sua Teologia Sistemática, que “a disciplina, numa forma ou
outra, é a experiência universal de todos os que são salvos; o ramo que produz
fruto é podado, para que produza mais fruto ainda (Jo
15.12)”.
O castigo (a pena) final do pecado. Se morte física significa separação de
corpo e alma e é parte da pena do pecado, entendemos que, de modo nenhum, a
morte física venha significar a penalidade final. Nas Escrituras a palavra
morte é frequentemente usada com sentido moral e espiritual. Isto
significa que a verdadeira vida da alma e do espírito, é a relação com a
presença de DEUS. Portanto, a pena divina contra o pecado do homem no Éden foi
a separação da comunhão com o Criador.
A morte espiritual tem dois sentidos especiais: um sentido é negativo e o outro
é positivo. Em relação à vida cristã, todo verdadeiro crente está morto para
o pecado, porque a pena do pecado foi cancelada e ele está livre do domínio do
pecado (Rm
6.14).Trata-se da separação da vida de pecado depois que se aceita a
CRISTO e é expiado por Ele. Porém, em relação ao futuro, o crente terá a vida
eterna, isto é, terá a redenção plena do corpo do pecado (Ap
21.27; 22.15).
Porém, o sentido negativo de morte espiritual refere-se à morte no
pecado. O crente está morto para o pecado, mas o ímpio está morto
espiritualmente no pecado. Significa que o pecador vive um estado de vida
separado de DEUS e de sua comunhão. Significa estar “debaixo do pecado” e estar
sob o seu domínio (Ef
2.1,5). O
efeito desses dois sentidos é presente e temporal. O pecador sem DEUS, no
presente, está numa condição temporal de excomunhão com DEUS, mas pela graça de
DEUS poderá sair desse estado e morrer para o pecado (Ef
4.18; Gn
2.17).
A punição final do pecado é a morte eterna, ou seja, o juízo final contra o
pecado (Hb
9.27). A morte eterna é a culminância e complementação da morte
espiritual. Diz respeito à repugnância da santidade divina que requer justiça
contra o pecado e contra o pecador impenitente. Significa a retribuição
positiva de um DEUS pessoal, tanto sobre o corpo como sobre a sua alma e
espírito (Mt
10.28; 2Ts
1.9; Hb
10.31; Ap
14.11).
Existem algumas teorias que tentam anular a doutrina bíblica da morte eterna,
como castigo final do pecado. O universalismo ensina que DEUS é bom demais para
excluir alguém da sua presença no Céu, pois JESUS morreu por todos; por isso,
ao final, todos serão salvos. O restauracionismo é outra ideia equivocada e
antibíblica, porque ensina que DEUS vai restaurar todas as coisas ao final da
história da humanidade, quando então todos serão salvos.
A ideia do purgatório, ensinada pela igreja romana, de que o purgatório é um
período probatório pelo qual, entre a morte e a ressurreição, os pecadores que
morreram serão provados e poderão se recuperar e se livrar da pena final de
seus pecados. Por último, a teoria da aniquilação ensina que, ao final de tudo,
no juízo, todos os ímpios serão aniquilados; isto é, extinguidos, como quem
extingue uma folha de papel no fogo que vira cinza. Interpretam erradamente 2
Tessalonicenses 1.9; substituem a palavra “aniquilar” por “extinguir”. O
sentido bíblico de “aniquilar” é “banir” da presença de DEUS.
Portanto, morte eterna é a eterna separação (banimento) da presença de DEUS e a
impossibilidade de arrependimento e salvação. Os ímpios são constituídos por
aquelas pessoas que rejeitaram conscientemente a graça de DEUS e, por isso,
depois da morte física, serão ressuscitados e comparecerão diante do Grande
Trono Branco do Juízo de DEUS e receberão a justa retribuição dos seus pecados
com a morte eterna, sendo lançados no Geena, isto é, o “lago de fogo eterno (Ap
20.14,15; Mt
5.22,29,30; 10.26; 23.14,15,33).
Existe uma distinção entre a primeira e a segunda morte. A primeira é física;
morre-se uma só vez (Hb
9.27); é temporal e para todas as pessoas no mundo: justos e injustos.
A “segunda” morte é espiritual e eterna; a “segunda” tem um sentido moral,
porque todos quantos irão passar por ela saberão e terão “consciência” depois
da primeira morte (At 24.15).
Uma das grandes verdades acerca do castigo do pecado é que a justiça de DEUS o
exige afim que ninguém o acuse de injustiça. Pelo contrário, Ele é o Senhor que
pratica a misericórdia, juízo e justiça na terra (Jr
9.24).
A questão do pecado encontra resposta e solução quando encontramos na Bíblia a
declaração de Paulo de que DEUS propôs JESUS CRISTO como propiciação pelo seu
sangue, para receber toda a carga da ira de DEUS contra o pecado (Rm
3.25; 2 Co
5.21; Gl
3.13). Significa que a cruz foi o meio pelo qual DEUS castiga o pecado.
O próprio DEUS, perfeito em justiça, tornou possível a expiação dos pecados por
aquele que se fez nosso justificador perfeito (Rm
3.26).
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As Grandes Doutrinas da Bíblia - HAMARTIOLOGIA - Raimundo de Oliveira - CPAD
ÍNDICE
I. A ORIGEM DO PECADO
1. Conceitos Históricos Sobre a Origem do Pecado
2. O Que a Bíblia Ensina Sobre a Origem do Pecado
3. O Caráter do Primeiro Pecado do Homem
4. A Universalidade do Pecado
II. A NATUREZA ESSENCIAL DO PECADO
1. A Ideia Bíblica do Pecado
2. O Pecado Original
3. O Pecado Atual
4. O Pecado Imperdoável
5. O Pecado e o Crente
HAMARTIOLOGIA
INTRODUÇÃO
As Escrituras destacam dois grandes princípios morais mediadores do
comportamento do homem em relação a DEUS: a santidade e o pecado. Na esfera
moral, a santidade corresponde ao bem, enquanto que o pecado corresponde ao
mal. Todos os mais princípios e qualidades morais podem ser classificados de
maneira a se identificarem com a santidade e o bem, ou com o pecado e o mal.
Por essa razão a doutrina do pecado recebe especial atenção na Bíblia.
I. A
ORIGEM DO PECADO
Qualquer pessoa que se dá a meditar na doutrina do pecado, procurando
compreendê-la mesmo à luz das Escrituras, inevitavelmente há de se defrontar
com a seguinte indagação: Qual a origem do pecado? Esta indagação quer a
encaremos no contexto da Igreja ou da Teologia, amplia-se numa indagação sobre
a origem do mal em todo o mundo. As perturbações da vida e a consciência de
algo anormal atuando decisivamente no mundo, conduzem o homem pensante a essa
questão; e inúmeras são as respostas formuladas através da história; respostas
nem sempre harmônicas entre si.
1.Conceitos Históricos Sobre a Origem do Pecado
São os mais diversos conceitos que ao longo da historias surgiram acerca da
origem do pecado. Irineu, bispo de Lyon, na Ásia Menor (130-208 d.C.), foi,
talvez, o primeiro dos países da Igreja Antiga, a assegurar que o pecado no
mundo se originou na transgressão voluntária do homem no Éden. O conceito de
Irineu logo tomou conta do pensamento e da teologia da Igreja, especialmente
como arma no combate ao gnosticismo, pois este ensinava que o mal é inerente à
matéria.
Do Gnosticismo a Orígenes
O gnosticismo ensinava que o contato da alma humana com a matéria era que a
tornava imediatamente pecadora. Esta teoria naturalmente despojou o pecado do
seu caráter voluntário como é apresentado na Bíblia. Orígenes (185-254 d.C.)
sustentou este mesmo ponto de vista por meio de sua teoria chamada
“preexistencismo”. Segundo ele, as almas dos homens pecaram voluntariamente em
existência prévia, e, portanto, todas entraram no mundo numa condição
pecaminosa.
Este conceito de Orígenes sofreu forte oposição mesmo nos seus dias.
Os pais da Igreja Grega
Em geral os Pais da Igreja grega dos séculos III e IV se mostraram inclinados a
negar a relação direta entre o pecado de Adão e seus descendentes. Em
contraposição, os Pais da Igreja latina ensinaram com bastante clareza que a
presente condição pecaminosa do homem encontra sua explicação na primeira
transgressão de Adão no Éden.
De Agostinho à Reforma
O ensino da Igreja do Ocidente quanto à origem do pecado teve seu ponto mais
elevado na pessoa de Agostinho. Ele insistiu no ensino de que em Adão toda a
humanidade se acha culpada e maculada. Já os teólogos semipelagianos, admitiam
que a mancha do pecado, e não o pecado mesmo, é que era causada pelo
relacionamento humanidade – Adão. Durante a Idade Média, o que se cria a
respeito de assunto era uma mistura de agostinismo e pelagianismo. Os
Reformadores, particularmente, comungaram do ensino de Agostinho.
Do Racionalismo a Karl Barth
Sob a influência do racionalismo e da teoria evolucionista, a doutrina da queda
do homem e de seus efeitos fatais sobre araçá humana, foi descartando-se
gradualmente. Começou a si difundir a ideia de que, se realmente houve o que a
Bíblia chama “queda” do homem, essa queda foi para o alto. A ideia do pecado
odioso aos olhos santos de DEUS foi substituída pelo mal, e este mal se aplicou
de diferentes maneiras. Por exemplo, Emmanuel Kant o considerou como parte
inseparável do que há de mais profundo no ser humano, e que não se pode
explicar. O evolucionismo chama esse “mal” de oposição das baixas inclinações
ao desenvolvimento gradual da consciência moral. Karl Barth, teólogo suíço
(1886-1968), fala da origem do pecado como um mistério da predestinação. Em
suma: o que muitas correntes da teologia racional erradamente ensinam é que
Adão foi na verdade o primeiro pecador, porém sua obediência não pode ser
considerada como causa do pecado no mundo. O pecado do homem estaria
relacionado de alguma forma com a sua condição de criatura. A história do
paraíso nada mais proporciona ao homem do que a simples informação de que ele
necessariamente não precisa ser pecador.
2. O Que a Bíblia Ensina Sobre a Origem do Pecado
Na Bíblia, o mal moral que assola o mundo, normalmente chamado pelos homens de
fraqueza, equívoco, deslize, queda para o alto, se define claramente como
pecado, fracasso, erro, iniquidade, transgressão, contravenção, e injustiça. A
Bíblia apresenta o homem como transgressor por natureza. Mas, como adquiriu o
homem essa natureza pecaminosa? O que a Bíblia nos diz acerca disso? Para
termos respondidas estas indagações, é interessante e indispensável considerar
o seguinte:
a) DEUS não é o Autor do Pecado
Evidentemente DEUS, na sua onisciência, já vira a entrada do pecado no mundo,
bem antes da criação do homem. Porém, deve-se ter cuidado para que ao se fazer
esta interpretação, não fazer de DEUS a causa ou autor do pecado. “Longe de
DEUS o praticar ele a perversidade, e do Todo-poderoso o cometer injustiça” (Jó
34.10). DEUS é santo (Is
6.3). E não há nele nenhuma injustiça (Dt
32.4; Sl 95.15). “Ninguém ao ser tentado, diga: Sou tentado por DEUS;
por que DEUS não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg
1.13). DEUS odeia o pecado e como prova disto enviou a JESUS CRISTO
como provisão salvadora para o homem. Assim sendo, as Escrituras rechaçam todas
aquelas ideias deterministas, segundo as quais DEUS é autor e responsável pela
a entrada do pecado no mundo. Tais ideias são contrárias às Escrituras, mas
também à voz da consciência que dá testemunho da responsabilidade do homem
perante o DEUS cuja santidade foi ultrajada.
b) O Pecado Teve Origem no Mundo Angélico
Se quisermos conhecer a origem do pecado, teremos de ir além da queda do homem,
descrita no capitulo 3 de Gêneses, e pôr a nossa atenção em algo que aconteceu
no mundo dos anjos. DEUS criou os anjos dotados de perfeição, porém, Lúcifer e
legiões deles se rebelaram contra DEUS, pelo que caíram em terrível condenação.
O tempo exato dessa queda não é dado a conhecer na Bíblia. JESUS fala acerca do
Diabo dizendo ser ele homicida desde o princípio (Jo
8.44). O apóstolo João diz que o Diabo peca desde o princípio (1 Jo
3.8). Pouco se diz a respeito do pecado que ocasionou a queda dos
anjos; porém, quando Paulo adverte a Timóteo no sentido de que nenhum neófito
seja designado bispo sobre a casa de DEUS, diz o apóstolo porque: “...para não
suceder que se ensoberbeça e caia na condenação do Diabo” (1 Tm
3.6). Daí se conclui que o pecado do Diabo foi a soberba e o desejo de
sobrepujar a DEUS.
c) A Origem do Pecado na Raça Humana
A origem do pecado na história da raça humana foi a transgressão voluntária de
Adão no Éden. O homem deu ouvidos à insinuação do tentador, de que, se
colocasse em oposição a DEUS, se tornaria igual a Ele. Tomando do fruto que
DEUS proibira, Adão caiu, abrindo a porta de acesso ao pecado no mundo. Ele não
somente pecou, ele também se tornou servo do pecado. Neste sentido escreve o
apóstolo Paulo: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que
todos pecaram...Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça
sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela
obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm
5.12,18,19).
3. O Caráter do Primeiro Pecado do Homem
De acordo com o relato sagrado, primeiro pecado do homem, consistiu em haver
Adão comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, em desacato a ordem de
DEUS: “... da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque, no
dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn
2.17).
a) Seu Caráter Formal
Ignoramos a razão porque o elemento de prova do homem no Éden é chamado de
“árvore do conhecimento do bem e do mal”. Porém, segundo uma ideia muito comum,
ela se chama assim pelo fato de que o homem, comendo dela, adquiriria
conhecimento prático do bem e do mal. Berkhof é da opinião de que essa
interpretação dificilmente se harmoniza com as Escrituras que afirmam que o
homem, ao comer dela se tornaria igual a DEUS no que diz respeito à aquisição
do conhecimento do bem e do mal e portanto não tem conhecimento prático dele.
Parece muito mais aceitável que essa árvore se chamava assim pelo fato de que
ele estava destinado a revelar: Se o estado futuro do homem seria bom ou mau;
Se o homem permitiria que DEUS determinasse em seu lugar o que lhe era bom ou
mau, ou se o homem determinaria por si mesmo. Qualquer significado que se dê à
árvore do conhecimento do bem e do mal, deve-se ter sempre em mente que a
finalidade da sua designação por DEUS foi de simplesmente de provar o homem
criado à sua imagem e semelhança. Adão teria de demonstrar interesse e se
submeter à sua própria vontade ou à vontade de DEUS, com obediência implícita e
absoluta.
b) Seu Caráter Essencial e Material
A essência do pecado de Adão consiste em que ele se colocou em oposição a DEUS,
recusando submeter-se à sua vontade e impedindo que DEUS determinasse o curso
da sua vida. Adão tomou as rédeas da sua vida das mãos de DEUS, determinado o
seu futuro por si mesmo. O homem que não tinha nenhum direito sobre DEUS, separou-se
dele como se nada lhe devesse. Com essa ação, o homem estava como que
levantando os punhos em direção a DEUS e lhe dizendo: ”Eu não preciso mais de
ti”. A ideia de que a ordem de DEUS ainda estava na mente do homem no momento
do seu pecado é comprovada na resposta de Eva à pergunta de Satanás, “nem
tocareis nele” (Gn
3.3). Possivelmente, Eva quis enfatizar que o mandamento de DEUS não
havia sido razoável, isto é, era muito mais pesado do que se podia imaginar.
Foi assim que no desejo de ser igual a DEUS, o homem pecou e foi reduzido à
categoria de servo do pecado.
4. A Universalidade do Pecado
Ainda que muitos tenham diferentes opiniões quanto à natureza do pecado e o
modo como ele se originou, bem poucos se inclinam a negar o fato de que o
pecado é um tormento no coração do homem, em todos os quadrantes da terra. Seja
em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, ou nas mais esquecidas
aldeias no seio da África, o pecado é um flagelo diário.
a) O Testemunho da História
A própria história das religiões pagãs testifica da universalidade do pecado. A
pergunta do patriarca Jó: “Como, pois, seria justo o homem perante DEUS, e como
seria puro aquele que nasce da mulher?” (Jó
25.4). É uma pergunta feita tanto por aqueles que conhecem a revelação
especial DEUS, quanto por aqueles que a ignoram. Quase todas as religiões dão
testemunho de um conhecimento universal do pecado e da necessidade de
reconciliação com o Supremo. Há um sentimento generalizado de que os deuses
estão ofendidos e de que algo deve ser feito para apaziguá-los. A voz da
consciência acusa o homem diante do seu fracasso em alcançar o ideal da vida
perfeita dizendo que ele está condenado aos alhos de alguém que possui um poder
superior. Os altares banhados de sangue e as frequentes confissões de agravo,
feitas por pessoas que buscam livrar-se do mal, apontam conjuntamente para o
conhecimento do pecado e da gravidade dele. Onde quer que os missionários
cristãos se encontrem, apodera-se deles a certeza de que o pecado é um flagelo
universal. Os filósofos gregos, na sua luta contra o problema do mal, foram
levados a admitir a universalidade do pecado, ainda que incapaz de explicar
esse fenômeno.
b) Todos Pecaram
A pecaminosidade do homem está registrada em toda a extensão das Escrituras (Gn
6.5; 1 Rs
8.46; Sl
53.3; 143.2; Pv
20.9; Ec
7.20; Is
53.6; 64.6; Rm
3.1-12,19,20,23; Gl
3.22; Tg 3; 1 Jo
1.8,10).
De fato, a Bíblia mostra o pecado como uma herança inevitável que o homem tem
de administrar desde o seu nascimento, e que está presente na natureza do homem
e com ele continuará até a morte (Sl
5.5; Jó
14.4; Jo
3.6; Ef
2.3). Escrevendo aos Efésios, diz o apóstolo Paulo que nós, os
crentes, “éramos por natureza filhos da ira, como também os demais” (Ef
2.3). o pecado, pois, é algo original, do qual todos participam, e que
os fazem culpados diante de DEUS. O pecado e a morte nivelam os homens. A maior
prova em favor da universalidade do pecado é que a própria obra realizada por
CRISTO na cruz, que no seu escopo apresenta-se como uma obra de caráter
universal, e como remédio único para a doença espiritual de toda a humanidade.
II. A NATUREZA ESSENCIAL DO PECADO
O caráter santo de DEUS é a norma única e final mediante a qual podemos julgar
com exatidão os valores morais. Para aqueles que não levam DEUS em conta, não
existem normas morais fora dos costumes sociais e dos ditames duma consciência
pervertida.
1. A Ideia Bíblica do
Pecado
Não podemos assimilar a ideia bíblica do pecado, a menos que levemos em
consideração as seguintes particularidades na conceituação do pecado.
a) O Pecado é uma Classe Específica de Mal
Comparativamente, o que ouvimos e lemos hoje sobre o mal é muito mais do que
aquilo que ouvimos e lemos a respeito do pecado. Isto se dá, talvez, devido à
opinião comum de que mal e pecado são a mesma coisa. Porém, é bom lembrar que,
apesar de todo o pecado ser um mal, nem tudo que consideramos mal é pecado. O
pecado não deve ser confundido com o mal físico que produz prejuízos e calamidades.
O pecado é a causa do mal, enquanto que o mal é o efeito do pecado. Os termos
bíblicos para designar o pecado são variados. Em geral é apresentado como
“fracasso”, “erro”, “iniquidade”, “transgressão”, “contravenção”, “falta de
lei” e “injustiça”. Porém, a definição de pecado não pode ser derivada
simplesmente dos termos bíblicos para denotá-lo. A característica principal ele
está orientado contra DEUS (Sl
51.4; Rm
8.7).
b) O Pecado Tem um Caráter Absoluto
O contraste entre o bem e o mal é absoluto, e não há neutralidade alguma entre
ambos; tanto que a transição entre um e outro não é de caráter quantitativo,
mas qualitativo. Um ser moral, que não é bom, não se torna mau só por diminuir
a sua bondade, mas por uma mudança radical que o leva a envolver-se com o
pecado. JESUS disse: “Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta
espalha” (Mt
12.30). o homem tem de estar do lado do bem e da justiça, ou do mal. Em
assuntos espirituais, a Escritura não conhece uma posição de neutralidade.
c) O Pecado é Sempre Dirigido Contra DEUS
É impossível se ter um conceito correto do pecado sem vê-lo em relação com a
pessoa e a vontade de DEUS. É compreendendo assim que o pecado pode ser
interpretado como “falta de conformidade com a lei de DEUS”. Esta é a definição
formal mais correta de pecado. Os seguintes trechos extraídos das Escrituras
abordam o pecado em relação a DEUS e a sua Lei: “os quais, conhecendo a justiça
de DEUS (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as
fazem, mas também aprovam aos que as fazem” (Rm
1.32). “... se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado e sois
redarguidos pela lei como transgressores” (Tg
2.9). “Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei,
porque o pecado é a transgressão da lei” (1 Jo
3.4).
d) O Pecado Inclui Tanto a Culpa Como a Corrupção.
A culpa é um estado em que se sente merecer o castigo pela a violação da lei
moral. Ela expressa também a relação que o pecado tem com a justiça e com o
castigo da lei. Porém, por ser uma palavra de significado duplo, a culpa tanto
denota a qualidade própria do pecado, como denota a culpabilidade que nos faz
dignos do juízo e do castigo divino. Dabney fala deste último aspecto da culpa
como “culpa potencial”. A culpa atual pode ser removida por meio de um
substituto, mediante a satisfação das exigências da lei (Mt
6.12; Rm
3.19; 5.18; Ef
2.3). Corrupção é a contaminação inerente a cada pecador, e é uma
realidade na vida de todo individuo. Todo aquele que é nascido de Adão tem em
si a natureza manchada pelo pecado (Jó
14.4; Jr
17.9; Mt
7.15-20; Rm
8.5-8; Ef
4.17-19).
e) O Pecado tem Lugar no Coração
O pecado não reside em nenhuma faculdade da alma, mas sim no coração, o âmago
da alma, de onde flui a vida. Ele é o centro das influencias que põe em
operação o intelecto, a vontade e os afetos. Em seu estado pecaminoso, o
coração torna o homem objeto do desagrado de DEUS. Sobre o coração como
continente do pecado, escreveu o profeta Jeremias: “Enganoso é o coração, mais
do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá?” (Jr
17.9; Pv
4.23; Mt
15.19,20; Lc
6.45; Hb
3.12).
2. O Pecado Original
A condição pecaminosa em nasce o homem é definida teologicamente como “pecado
original”. Ele é chamado assim: - porque se deriva de Adão, o tronco original
da raça humana; - porque está presente na vida de cada indivíduo desde o
momento do seu nascimento, pelo que não pode ser considerado como resultado de
simples imitação; - porque é a raiz interna de todos os pecados atuais que
maculam a vida do homem. Deve-se, porém, evitar o erro de se pensar que o termo
“pecado original” implica em que este pecado pertence à constituição original
da natureza humana, posto que isto implicaria em que DEUS criou o homem como
pecador.
a) Conceito Histórico
É de opinião geral dos teólogos que os Pais da Igreja primitiva não se deram ao
labor de escrever o suficiente sobre o pecado original. Contudo, segundo os
Pais da Igreja grega, há uma corrupção física na raça humana proveniente de
Adão, porém isto não envolve culpa. A liberdade da vontade em nada foi afetada
pela queda. Respeitáveis teólogos são da opinião de que este parecer dos Pais
gregos, culminou com o surgimento do pelagianismo, movimento religioso herético
fundado por Pelágio, britânico, que viveu entre 360 e 422 da nossa Era. O
pelagianismo negava completamente as doutrinas da graça e do pecado original.
Na igreja latina, porém apareceu uma tendência diferente através da pessoa de
Tertuliano, que segundo alguns teólogos, foi o homem que depois de Paulo, teve
maior senso a respeito do pecado. Tertuliano considerou o pecado original uma
infecção hereditária. Ambrósio, outro famoso Pai da Igreja latina, foi além de
Tertuliano na questão do pecado original e o descreveu como um estado, e fez
uma distinção entre corrupção inata e a resultante culpa do homem. Porém, foi
através do talento e do espírito de estudo de Agostinho que a doutrina do
pecado original alcançou um total desenvolvimento. Segundo ele, a natureza do
pecador, tanto física como moralmente, está de toda corrompida por causa do
pecado de Adão, de tal maneira que o homem não consegue fazer outra coisa senão
pecar. Os reformadores, de modo geral, estiveram de acordo com Agostinho.
Somente Calvino diferia dele, principalmente em dois pontos: Primeiro, que o
pecado original não é algo completamente negativo, uma vez que esse pecado,
segundo ele, dá lugar à eleição de DEUS; Segundo, que esse pecado está limitado
à natureza sensível do homem.
b) Elementos do Pecado Original
São dois os principais aspectos do pecado original: culpa e corrupção. A
palavra culpa, com relação ao pecado original, expressa a relação que a justiça
tem com o pecado, e, como expressavam os teólogos mais antigos, a relação que o
pecado tem com a pena da Lei. É assim que a culpa do pecado de Adão, como
cabeça federal da raça humana, é impossível a todos os seus descendentes (Rm
5.12-19; Ef
2.3; 1 Co
15.22). A corrupção original do homem inclui a ausência da justiça
original e a presença de um mal real. É a tendência da natureza caída, herdada
de Adão, que condiciona o homem para pecar. Deve-se, portanto, notar: Primeiro,
que essa corrupção não é meramente uma enfermidade; Segundo, ele não é
meramente uma privação.
3. O Pecado Atual
O pecado se originou num ato de livre vontade de Adão como representante da
raça humana; uma transgressão da lei de DEUS e uma corrupção da natureza humana
que deixou o homem exposto ao juízo e castigo de DEUS.
É esta natureza corrompida a fonte donde flui todos os pecados atuais, diários.
a) Relação Entre Pecado Original e Pecado Atual
“Pecados atuais” são aquelas ações externas que se executam através do corpo.
São também todos aqueles maus pensamentos conscientes. São os pecados
individuais de fato. O pecado original é um só, enquanto o pecado atual
desdobra-se em diferentes classes, tais como: atos ou atitudes. O que o
apóstolo João escreveu no capítulo primeiro em sua primeira epístola universal,
poderá nos ajudar a compreender melhor a diferença entre pecado original e
pecados atuais. “Se dissermos que não temos PECADO, enganamo-nos a nós mesmos,
e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos PECADOS, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 8,9).
Atente para os termos PECADO e PECADOS. A palavra PECADO, no singular, citada
no versículo 8, é uma referência precisa e direta ao pecado original, ou seja,
à natureza caída do homem; enquanto que a palavra PECADOS, no plural, citada no
versículo 9, refere-se ao pecado atual, do dia-a-dia.
b) Classificação dos Pecados Atuais
É impossível classificar todos os pecados atuais, pois variam de classe e de
grau e podem diferenciar-se em mais de um ponto. A teologia católico romana faz
uma bem conhecida distinção entre pecados veniais e pecados mortais, porém tem
dificuldades em apontar quando o pecado é venial ou mortal. A mais completa
lista das diferentes classes de pecados habituais, registrada na Bíblia, é
extraída dos escritos do apóstolo Paulo, mas precisamente da Epístola aos
Gálatas. “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras,
pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e
coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos
disse, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de DEUS” (Gl
5.19-21). O Novo Testamento determina a gravidade do pecado de acordo com
o grau de conhecimento que se tenha a respeito dele. Os gentios, que estão no
seu pecado, são culpados aos olhos de DEUS; porém, aqueles que gozam do favor
do Evangelho e têm revelação de DEUS são muito mais culpados quando caem (Mt
10.15; Lc
12.47,48; 23.24; Jo
19.11). o crente, em particular, é advertido no sentido de evitar o
pecado que tão de perto o rodeia (Hb
12.1). O pecado tanto pode ser por comissão como por omissão. Isto é:
aquele que não faz o bem e deveria fazer, é tão culpado diante de DEUS quanto
aquele que faz o mal que não deveria fazer.
4. O Pecado Imperdoável
Diferentes passagens das Escrituras falam de um pecado que não pode ser
perdoado, sendo impossível a mudança de coração depois de alguém o haver
cometido, e pelo qual não se deve orar. Sobre ele, disse JESUS: “Portanto, eu
vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra
o ESPÍRITO não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma palavra
contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o
ESPÍRITO SANTO, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro” (Mt
12.31,32).
Opinião Sobre Esse Pecado
Durante séculos têm surgido as mais diversas opiniões a respeito da natureza do
pecado para o qual não há perdão. Por exemplo, Jerônimo e Crisóstomo pensavam
que esse foi o pecado cometido unicamente pelos contemporâneos de JESUS,
durante o seu ministério terreno. Agostinho e alguns teólogos luteranos e
escoceses ensinaram que esse pecado consistia da penitência que persiste até o
fim. Anos depois da Reforma, alguns teólogos luteranos ensinavam que só as
pessoas regeneradas estão sujeitas ao pecado de blasfêmia contra o ESPÍRITO
SANTO, pecado para o qual não há perdão.
b) Opinião Correta a Respeito Desse Pecado
O conceito reformado quanto ao pecado imperdoável, é o que melhor se harmoniza
com as Escrituras a respeito do assunto. Esse pecado consiste na rejeição
consciente, maliciosa e voluntária da evidência e convicção do testemunho do
ESPÍRITO SANTO, com respeito à graça de DEUS manifesta em JESUS CRISTO. Esse
pecado não consiste em duvidar da verdade manifesta em e por CRISTO, nem em
simplesmente negá-la, mas sim em contradizê-la. Ao cometer esse pecado, o homem
voluntária, maliciosa e tencionalmente atribui à influência de satanás aquilo
que reconhecidamente é obra de DEUS. Em suma, esse pecado não é outra coisa
senão um deliberado ultraje ao ESPÍRITO SANTO, uma declaração audaz de que o
ESPÍRITO SANTO é um espírito maligno, que a verdade é mentira e que CRISTO é
satanás. Esse pecado é imperdoável não porque sua gravidade supere os méritos e
eficácia da obra de CRISTO levada a afeito na cruz do Calvário, ou porque ele
foge aos limites do poder restaurador do ESPÍRITO SANTO, mas porque nos
domínios do pecado, existem leis e ordenanças estabelecidas e mantidas por
DEUS.
c) O Crente Está Sujeito a Este Pecado
De que o crente pode cometer o pecado de blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO e
cair em declarada apostasia é ensino implícito no seguinte texto das
Escrituras: “é impossível, pois, que aqueles que uma vez iluminados e provaram
o dom celestial e se tornaram participantes do ESPÍRITO SANTO, e provaram a boa
palavra de DEUS e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é impossível
outra vez renová-los para o arrependimento, visto que de novo estão
crucificando para si mesmo o filho de DEUS, e expondo-o à ignomínia” (Hb
6.4-6). A respeito do perigo de se cometer este pecado, escreveu o
saudoso pastor e escritor João de Oliveira: “pecando o homem contra DEUS, veio
JESUS para conduzi-lo de volta a DEUS; havendo pecado contra JESUS, veio o ESPÍRITO
SANTO para reconciliá-lo com JESUS; mas, pecando o homem contra o ESPÍRITO
SANTO, quem o há de salvar?”. Em atenção ao fato de que esse pecado nunca segue
o arrependimento, é possível assegurar que aqueles que julgam tê-lo cometido e
se entristecem por isso, e desejam as orações de outros para perdão, na verdade
nunca cometeram. É o ESPÍRITO SANTO quem conduz o homem ao arrependimento; se
alguém tivesse pecado contra Ele, é obvio que Ele não levaria esse alguém ao
arrependimento, se o perdão completo não fosse atingível.
5. O pecado e o Crente
O significado e a gravidade do pecado são mais bem compreendidos pelo do que
por qualquer outra pessoa. Ao longo de toda a narrativa bíblica, o crente é
advertido contra o “pecado que tão de perto nos rodeia” (Hb
12.1), e a caminhar para o alvo maior, que é a semelhança da estatura e
perfeição de CRISTO. Por isso, ao ouvido de cada crente, hoje, deve continuar
soando a solene advertência de CRISTO: “... vai e não peques mais” (Jo
8.11).
a) É Possível o Crente Pecar?
Para muitos cristãos, a descoberta de que após aceitar a JESUS ainda estavam
sujeitos ao pecado, foi tão espantoso quanto ao próprio fato de agora saberem
que foram feitos novas criaturas em CRISTO. De que é possível o crente pecar, é
assunto pacífico em toda a Escritura. Só no NT há capítulos inteiros, como por
exemplo, Romanos
7 e 8, que mostram o conflito interior do crente entre a sua
natureza divina que nele habita, mostrando a possibilidade de o crente vir a
cometer pecado. Sobre esse assunto, escreveu o apóstolo João: “Se dissermos que
não temos PECADO, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se
confessarmos os nossos PECADOS, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo
1.8,9).
Já mostramos que a palavra PECADO, no singular, citada no versículo 8, é uma
referência à natureza caída do homem, de onde provêm os PECADOS, no plural
(versículo 9). É evidente que o cristão possui dupla natureza: a natureza
caída, ainda sujeita ao pecado, e a natureza divina. Esta ultima foi implantada
no crente mediante a sua ligação com JESUS CRISTO, “a videira verdadeira” (Jo
15.1). Enquanto a primeira natureza estiver subjugada o crente estará
sendo levado a viver de vitória em vitória.
b) Possíveis Causas de Pecados na Vida do Crente
Dentre as muitas causas pelas quais o crente poderá ser levado à pratica do
pecado, destacamos as três principais, dadas a seguir:
- A natureza pecaminosa (Rm
8.21-15).
- O sistema mundial que está sob domínio de satanás (1 Jo
2.15-17).
- Falta de oração e de cuidadoso estudo das Escrituras (Ef
6.10-15).
O crente que relaxa o hábito da oração e da leitura e estudo das Escrituras,
está incorrendo em sérios riscos espirituais, podendo se tornar presa fácil dos
laços do adversário.
c) Consequências do Pecado na Vida do Crente
Dentre as muitas consequências do pecado na vida do crente, vale destacar:
- A perda da comunhão com DEUS (1 Jo
5.6; Sl
51.11).
- Oportunidade de os inimigos blasfemarem do nome de DEUS (2 Sm
12.14).
- Perda do galardão (1 Co
4.5; 3.13-15).
- Possível morte (Act
5.1-11; 1 Co
11.30).
- Mau exemplo (1 Co
8.9,10).
- Destruição da fé e consequente morte espiritual (Rm
6.16; 1 Jo
5.16,17).
d) Como o Crente Deve tratar Com o Pecado
Quando ao trato que o crente deve dar ao pecado, a Bíblia recomenda que o
crente deve:
- Reconhecê-lo (Sl
51.3)
- Evitá-lo (1 Tm
5.22)
- detestá-lo (Jd v.23)
- Resiste a ele com confiança em DEUS (Tg
4.7,8).
- Confessá-lo (1 Jo
1.9).
- Abandoná-lo (Pv
28.13).
O apóstolo João escreveu dizendo: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo
para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai,
JESUS CRISTO, o Justo” (1Jo
2.1).
A Doutrina do Pecado - Severino Pedro - CPAD - O Pecado Herdado e a
Imputação da Culpa
I. O Pecado Herdado
1. O pecado herdado. Com a queda do homem, o pecado assumiu uma espécie de
“veículo transmissor”. Há o pecado “congênito”, inato, herdado de Adão,
nosso pai (a exemplo do veneno da serpente que se generaliza no corpo através
da corrente sanguínea), que só termina seu poder de ação, quando a pessoa
humana se toma uma “nova criatura”, por meio de JESUS CRISTO (2 Co
5.17). É exatamente o que Paulo declara em Romanos
6.23, “o salário do pecado”. Há o pecado praticado, isto é, a
“transgressão” (1 Jo
1.9). O primeiro vem no singular, o segundo no plural. No tocante a
sua prática, a primeira é por comissão (a voluntariedade), conforme se
depreende de Tiago
1.14,15,
quando diz: “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria
concupiscência. Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado;
e o pecado, sendo consumado, gera a morte”; a segunda por omissão (a
indisposição). Tiago descreve também esta segunda parte, em 4.17, quando diz:
“Aquele pois que sabe fazer o bem e não faz, comete pecado”. E Paulo
acrescenta: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que
todos pecaram” (Rm
5.12). Neste versículo e naqueles que se seguem, o apóstolo mostra-nos
que a introdução do pecado no mundo deu-se por causa da desobediência de Adão.
De acordo com os ensinamentos de Paulo e de outros escritores do Novo
Testamento, a ‘culpa original’ passou a todos os homens. Assim; “todos
pecaram”. Quando uma criança pode ser capaz (ou incapaz) de assumir a culpa do
pecar. Pensando na “culpa herdada”, alguns estudiosos têm perguntado: “Quando
uma criança pode se tomar um pecador?”, ou ainda “quando DEUS passa a imputar o
pecado na vida de uma criança?”. Tanto sociólogos, como psicólogos e teólogos
sustentam que há uma espécie de “idade de responsabilidade” antes da qual as
crianças não são consideradas responsáveis pelo pecado e portanto, não são
culpadas perante DEUS — ainda que sejam advertidas no campo moral comparativo.
Do ponto de vista divino de observação, depreendido do Antigo Testamento, DEUS
tomou isento da culpa as pessoas de “20 anos para baixo” e imputável as de “20
anos para cima”. Assim Ele falou a Moisés, dizendo: “Neste deserto cairão os
vossos cadáveres, como também todos os que de vós foram contados segundo a
vossa conta, ‘de vinte anos e para cima’, os que dentre vós contra mim
murmurastes” (Nm
14.29). Os rabinos (depois passou para os Pais da Igreja) admitiam uma
espécie de “predestinação ampla” para todas as crianças. “As crianças (diziam
eles) não são responsáveis pelo “pecado hereditário”, pois há não culpa sem a
noção do bem e do mal. Somente aos 20 anos (segundo este conceito) começa a
plena responsabilidade,
que toma possível o pecado atual”. Este ensinamento foi deduzido de certas
passagens do Antigo Testamento (Êx
30.14; 38.26; Nm
14.29).
2. O pecado herdado no conceito dos Pais da Igreja. Os Pais da Igreja,
entretanto, achavam a faixa de “vinte anos” para concepção do “EU” bastante
longa e passaram a estabelecerem certos números de anos, tais como: “um ano”,
“sete anos”. Um terceiro grupo, opinou para “nove”. Os rabinos judaicos
passaram para suas tradições doze para a sociedade (Êx
2.10; 1 Sm
1.2028; 2.1-11; Lc
2.42; 8.42) e
para maioridade religiosa treze (Gn
17.25). A Bíblia não nos informa se esta determinação de DEUS fora
apenas para aquela geração ou se ela tomou-se extensiva a todos os jovens
israelitas ou não. As Escrituras silenciam nesta direção, então é melhor não
arriscar. Alguns teólogos e psicólogos vêm esta exigência por parte de DEUS, de
modo diferente e opinam que, a idade para a Imputação da culpa é de 7 anos,
outros, defendem 13 anos; isso levando em contas a maioridade judaica. Idade
esta, que segundo a tradição judaica o menino é apresentado a congregação e os
rabinos o declaram como membro da fé em DEUS e participante do Pacto Abraâmico
(Gn
17.25).
3. Como o pelagianismo entendia por pecado herdado. A teoria do pelagianismo é
atribuída a Pelágio (350-425), um monge da Bretanha. Pelágio foi um professor
de índole cristã muito popular em Roma por volta de 383-410 d.C., e mais tarde
na Palestina até 424 d. C. Ele ensinava que DEUS considera o homem responsável
somente por aquelas coisas que o homem é capaz de fazer. Como DEUS nos adverte
a fazer o bem, portanto, devemos ter essa capacidade de praticar o bem que DEUS
ordena. A posição pelagiana rejeita a doutrina do “pecado herdado” ou do
“pecado original” e sustenta que o pecado consiste somente em atos pecaminosos
isolados.
a) O pelagianismo é uma teoria teológica cristã. O pelagianismo é uma teoria
teológica cristã atribuída a Pelágio, conforme já ficou demonstrado acima. Essa
teoria sustenta basicamente que todo homem é totalmente responsável pela sua
própria salvação e portanto, não necessita da graça divina. Segundo os
Pelagianos, todo homem nasce “moralmente neutro”, sendo capaz, por si mesmo,
sem qualquer influência divina, de salvar-se quando assim o desejar. Uma das
grandes disputas durante a Reforma Protestante versou sobre a natureza e a
extensão do pecado original. No início do século V, Pelágio havia debatido
ferozmente com SANTO Agostinho sobre este assunto. Agostinho mantinha que o
pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que, mesmo que o
homem caído retenha a habilidade para escolher, ele está escravizado ao pecado
e não pode não pecar. Por outro lado, Pelágio insistia que a queda de Adão
afetara apenas a Adão, e que se DEUS exige das pessoas que vivam vidas
perfeitas, ele também dá a habilidade moral para que elas possam fazê-lo e
embora considerasse Adão como “um mau exemplo” para a sua descendência, suas
ações não teriam consequências para a mesma, sendo o papel de JESUS definido
pelos Pelagianos como “um bom exemplo fixo” para o resto da humanidade
(contrariando assim o mau exemplo de Adão), bem como proporciona uma expiação
pelos seus pecados, tendo a humanidade em suma, total controle pelas suas
ações, posteriormente Pelágio reivindicou que a graça divina era desnecessária
para a salvação, embora facilitasse a obediência.
b) O pensamento pelagiano rejeita o conceito da culpa (pecado) original.
Pelágio rejeitava o conceito bíblico do ‘pecado herdado’ e do ‘pecado
original’. Mas, esta sua concepção de ver o homem como um inocente no tocante a
esse ponto de vista, não encontra apoio nas Escrituras e também não se coaduna
com a tese e argumento principal, do pensamento cristão. Com a queda do homem,
o pecado assumiu uma espécie de “veículo transmissor”. Há o pecado “congênito”,
inato, herdado de Adão, nosso pai (a exemplo do veneno da serpente que se
generaliza no corpo através da corrente sanguínea), que só termina seu poder de
ação, quando o homem se toma uma “nova criatura”. DEUS coloca diante do homem
“a vida e o bem, e a morte e o mal”. Depois no contexto posterior Ele
acrescenta: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, que te
tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida,
para que vivas, tu e a tua semente” (Dt
30.15,19).’
c) O pensamento das Escrituras desaprova o pelagianismo sobre o pecado herdado.
Refutando o conceito pelagiano devemos analisar aqui três pontos de vista, no
tocante ao homem: a sua salvação; a culpa herdada e o pecado como herança
hereditária. A ideia cristã desaprova a doutrina pelagiana, apresentando vários
aspectos. O pensamento de perdoar o homem sem que ele tenha consciência daquilo
que DEUS fez e está fazendo na sua vida, não é a vontade divina. E, este, com
efeito, não era o plano de DEUS, pois tal pensamento não se coaduna com o
pensamento geral das Escrituras e nem com a tese e argumento principal.
Outrossim, não é o mundo que irá criar o “caminho da Redenção”. Este foi criado
por DEUS e inaugurado pelo próprio CRISTO por meio de sua morte na cruz (Hb
10.20). A culpa praticada (quer dizer: a culpa herdada pela transgressão
individual e voluntária) é apresentada nas Escrituras desde o início até o fim.
O profeta Ezequiel fala disso por expressa ordem de DEUS, quando diz: “A alma
que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará
a maldade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio
cairá sobre ele” (Ez
18.20). Outras passagens das Escrituras nos informam que DEUS perdoa,
mas corrige “a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem
por inocente. Que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os
filhos dos filhos até à terceira e quarta geração” (Ex
34.7). Com efeito, porém, mesmo havendo um sentimento de boa vontade no
pensamento pelagiano a este respeito, contudo, a ideia de que somos somente
responsáveis perante DEUS por aquilo que somos capazes de fazer é contrário ao
pensamento geral das Escrituras, visto que por si mesmo, o homem é incapaz de
praticar o bem de natureza espiritual, sem que nele passe a habitar o ESPÍRITO
SANTO de DEUS.
II. A Imputação da Culpa
1. A culpa ocasionada pela ofensa de Adão. A culpa ocasionada através do pecado
de Adão tomou-se uma deformação genética a todos os homens. DEUS alumia a todo
o homem que vem ao mundo (Jo
1.9). Também, segundo um conceito mais radical, exige também santidade
de todo o homem que está no mundo. Então, nesse caso, esse tipo de culpa
imputada não é a culpa praticada, mas a culpa herdada. É neste sentido que o
Salmista declara em seu argumento sobre o pecado, dizendo: “Eis que em
iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl
51.5). E ainda acrescenta no salmo
58.3, quando diz: “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados
desde que nasceram”. Também no passado, cidades inteiras foram destruídas por
expressa ordem de DEUS. Em algumas delas, a ordem de destruição era total, como
por exemplo:
a) Na destruição de Jericó. “E, tudo quanto na cidade havia, destruíram
totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o menino até ao
velho” (Js
6.21).
b) Na destruição dos amalequitas. “Assim diz o Senhor dos exércitos: Eu me
recordarei do que fez Amaleque a Israel, como se lhe opôs no caminho, quando
subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e destrói totalmente a tudo
o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem até à mulher, desde
os meninos até aos de mama” (1 Sm
15.2,3).
c) Na destruição de Jerusalém. “Matai velhos, mancebos, e virgens, e meninos, e
mulheres, até exterminá-los” (Ez
9.6a).
2. A culpa ocasionada pela ofensa de Adão pode ser anulada. O homem culpado que
olha para CRISTO, tem a sua culpa anulada. Este é conceito geral das Escrituras
com respeito ao pecado e a salvação da pessoa humana. Todo o processo se dá por
meio de JESUS CRISTO. Ele é o mediador entre DEUS e o homem. “Porque há um só
DEUS, e um só Mediador entre DEUS e os homens, JESUS CRISTO homem” (1 Tm
2.5). O homem não é capaz de salvar a si mesmo, sem que haja por parte
de DEUS uma participação neste processo. Paulo disse: “Porque pela graça sois
salvos, por meio da fé; e isto (enfatiza o apóstolo) não vem de vós; é dom de
DEUS” (Ef
2.8).
Um pouco de silêncio sobre a Imputação da culpa. A Bíblia não nos informa se
esta determinação de DEUS fora aplicada (como uma espécie de dispensação)
apenas para aquela geração ou se ela tomou-se extensiva a todos os jovens
israelitas ou não. As Escrituras silenciam nesta direção, então é melhor não
arriscar. Com efeito, porém, mesmo havendo um sentimento de boa vontade no
pensamento pelagiano a este respeito, contudo, a ideia de que somos somente
responsáveis perante DEUS por aquilo que somos capazes de fazer é contrário ao
pensamento geral das Escrituras, visto que por si mesmo, o homem é incapaz de
praticar bem de natureza espiritual, sem que nele passe a habitar o ESPÍRITO
SANTO de DEUS.
3. A culpa hereditária e a culpa praticada. A culpa herdade tomou-se uma
espécie de consequência hereditária. Já a culpa praticada ou contraída, é
factual e pode existir e não existir. Pois nesse caso, ela somente passa a ser
inquirida depois de sua prática. Paulo durante todo o passo do argumento em
foco, usa a expressão “ofensa” como contraposta ao “dom gratuito” da parte de
DEUS e a frase estar presente nos seguintes versículos: 15,16 (3 vezes),
17,18,20. É evidente, portanto, que analisemos dois pontos importantes nesta
argumentação:
a) A culpa herdada no pensamento cristão. A culpa herdada passou a estar
presente a todos os descendentes de Adão. Atuando com maior agressividade de
Adão até Moisés: “sobre aqueles que não pecaram à semelhança de Adão”. A culpa
herdada neste caso tomou-se uma espécie de consequência volubilidade, à
semelhança de uma família em que um dos membros foi envolvido num ato perverso
de grande magnitude. Doravante perante as autoridades e aos olhos da própria
sociedade, aquela família, mesmo não tendo culpa, passa a ser coparticipante
indiretamente das consequências e dissabores dos atos e processos até que
aquele (ou aquela) membro da família seja condenado ou absolvido. Sendo que, a
consequência somente é debelada através do processo de absolvição. Fora disso,
a culpa involuntária continua. DEUS podia corrigir o pecado até a 4a geração
daqueles que lhe aborreciam (Ex
34.7). Na culpa herdada, os descendentes de Adão não foram envolvidos
nela voluntariamente; e, sim, na extensão da consequência não expiada. Com a
presença da Lei, o pecado reviveu; isto é, passou a estar presente — mas como
solução imediata, DEUS abriu uma espécie de “caminho da redenção” pelos
sacrifícios estabelecidos pela lei cerimonial. Eles eram sombra do sacrifício
perfeito de CRISTO que através do seu próprio sangue inauguraria um sacrifício
maior e mais perfeito.
1°. O que alguns rabinos pensam sobre a origem e a culpa trazida pelo pecado.
No conceito rabínico, a origem do pecado — especialmente sua introdução no
mundo, encontra-se envolvido tanto na história da Bíblia como na própria
tradição. O rabino Manis Friedman declara que na primeira sexta-feira, sexto
dia da Criação, quando o mundo era inocente e puro, Adão e Eva estavam vivendo
no jardim do Éden, recentemente criados pelas mãos de DEUS. Receberam a tarefa
de cultivar e proteger o Jardim. DEUS lhes ordenou: “Não comam da árvore do
conhecimento, pois no dia em que comerem morrerão”. Tiveram uma opção:
abster-se de comer o fruto da árvore e viver para sempre no Jardim; ou comê-lo
e serem banidos para o mundo da mortalidade. Após três horas de sua criação,
comeram da árvore. DEUS permitiu que Adão e Eva permanecessem enquanto durasse
o Shabat, mas quando este terminou, foram expulsos do Éden para sempre. É uma
história intrigante (continua o rabino), e desperta várias questões. DEUS criou
dois seres humanos perfeitos, sem nenhuma malícia ou “bagagem.” Ele, o
Todo-Poderoso, ordenou-lhes explicitamente para não comer do fruto de uma
determinada árvore. Mesmo assim, estas duas almas inocentes, que jamais haviam
sido expostas a influências corruptoras, desobedeceram-no em poucas horas.
Houve alguma falha em sua criação? Ou, inimaginável, havia algo errado com
DEUS? O diretor de uma escola cujas instruções seguem ignoradas é um líder
ineficiente. Se DEUS falasse a você e dissesse: “Não coma desta árvore,” após
algumas horas, você iria em frente e comería? Era o plano de DEUS que Adão e
Eva vivessem para sempre no Jardim, em um estado divino de pureza, inocência e
imortalidade? Ou, seu plano era criar um mundo no qual existisse o mal e, ou
obedecemos suas leis escrupulosamente e vamos para o céu, ou as desobedecemos e
vamos para o inferno? Nos ensinamentos clássicos, esta pergunta é feita em tons
mais suaves: Por que DEUS desejaria instilar em nós um pedacinho de si mesmo, a
alma Divina, e expô-la a um mundo de feiúra e trevas?
Mais à frente, em uma outra seção de seu argumento, o rabino invoca para
enfatizar seu ponto de vista no tocante ao pecado e a culpa em cada pessoa, os
ensinamentos cabalísticos. Então ele diz: “Como a Cabala explicará, a descida
proporciona uma subida ainda maior. DEUS criou o universo por um desejo de “uma
morada nos mundos inferiores”. Este é o significado mais profundo de “algo a
partir do nada,” como a Torá descreve a criação. “Nada” significa que nada há
sobre um universo físico que justifique sua própria existência — somente o desejo
de DEUS de fazer de nosso mundo um lar, de tomar este mundo de carne e pedra
hospitaleiro a Ele, onde Ele possa ser conhecido e adorado. Eva entendeu a
necessidade de DEUS de que este mundo inferior, um mundo contaminado pela morte
e pelo pecado, fosse elevado e unido a Ele. Ela entendeu que os seres humanos
devem deixar o Éden e descer ao mundo inferior, e ali criar um lar para DEUS.
Ela entendeu que a tarefa de elevar os “seis dias da semana” culminando no
Shabat e os “seis milênios” levando à nossa redenção. E assim ela comeu da
árvore, e convenceu Adão a fazer o mesmo. Quando DEUS perguntou a Adão: “Tu
comeste da árvore?” — não foi uma repreensão ou censura. Ele estava admirando a
sabedoria de Adão em ter tomado a decisão correta. Adão, em sua inocência,
admitiu que fora a sabedoria de Eva, não a sua. “Ela deu-me o fruto da árvore,
e eu comi.” Em resposta, DEUS disse: “Porque o fizeste, morrerás; comerás o pão
pelo suor de teu rosto, e em dor darás à luz.” Este não foi um castigo pelo
pecado, mas sim uma continuação do plano, com o qual Adão e Eva tinham
voluntariamente se comprometido. O mundo agora pode tomar-se confortável para
Ele, quando as coisas que O definem — seus mandamentos — são praticados. Assim
fazendo, preparamos o mundo para nossa suprema redenção”.2
2º. O pensamento cabalístico sobre a culpa herdada é contrário a Bíblia. Na
opinião cabalística conforme acabamos de ver, é admitido que Eva entendeu que o
plano de DEUS era que eles deixassem o Éden e fossem habitar no “mundo
inferior”. Mas este, com efeito, não era o plano de DEUS, pois tal pensamento
não se coaduna com o pensamento geral das Escrituras e nem com a tese e
argumento principal. Outrossim, não é o mundo que irá criar o “caminho da
Redenção”. Este foi criado por DEUS e inaugurado pelo próprio CRISTO por meio
de sua morte na cruz (Hb
10.20).
b) A culpa praticada. (Quer dizer: a culpa herdada pela transgressão individual
e voluntária). O profeta Ezequiel fala disso por expressa ordem de DEUS, quando
diz: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem
o pai levará a maldade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a
impiedade do ímpio cairá sobre ele” (Ez
18.20). Outras passagens das Escrituras nos informam que DEUS perdoa,
mas corrige “a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem
por inocente. Que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os
filhos dos filhos até à terceira e quarta geração” (Ex
34.7).
1º. A culpa imputada pelo pecado de omissão. Muitas vezes pecamos por fazermos,
esta é a transgressão; e em outras oportunidades, pecamos porque não fazemos,
esta é a “omissão”. Frost descreve isso da seguinte maneira: “Aqui passamos do
lado negativo para o lado positivo da vida cristã, ou vice-versa, e aprendemos
que deixar por fazer aquilo que sabemos omitimo-nos, é pecar conscientemente.
Suponhamos que, do presente momento em diante, nunca mais praticássemos
qualquer mal, nem prejudicássemos de nenhuma forma nosso semelhante, viveríamos
sem pecar? Não, pois nosso pecado apareceria no fato de não fazermos todo o bem
que deveríamos fazer”.3
O Senhor JESUS julgará aqueles que cometerem o pecado de omissão. Então Ele
diz: “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai- vos de mim,
malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos; porque tive
fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo
estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na
prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor,
quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na
prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo
que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim. E irão
estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna” (Mt
25.41-46). De igual modo Tiago fala em seu livro do pecado de omissão
quando diz: “Aquele pois que sabe fazer o bem e o não faz, comete pecado” (Tg
4.17). Por outro lado, existem também as pessoas que a si mesmas se
exercitaram tanto na prática do pecado, que são por conseguinte, chamados de
“os obreiros da iniquidade” (Sl
53.4).
2º. A culpa imputada pelo pecado de comissão. O pecado de “comissão”, do ponto
de vista teológico, significa aquele pecado que é praticado com satisfação na
alma do que tal ato pratica. No pecado de “omissão”, existe uma omissão por
parte do bem, mas não existe uma voluntariedade para que tal coisa seja assim.
No de “comissão”, porém, existe uma vontade de que tal prática seja realizada
para satisfação dos desejos daquele que tal coisa pratica. O pecado em seu
estágio avançado, toma-se depravação (Ap
22.15). A depravação é o inverso do pecado de “omissão”. No primeiro, a
pessoa se omite; aqui, porém, a pessoa se deprava; quer dizer, sua mente se
toma dissoluta e libertina como o soltar das águas. Nesse sentido, o pecado
procede de algo que é mais profundo do que a própria volição, o que igualmente
sucede à volição pecaminosa. Um ato pecaminoso é a expressão de um coração
depravado (Pv
4.23; 23.7; Mc
7.20-23). O pecado deve incluir, por conseguinte, a perversidade do
coração (quando é voluntário), e essa consiste e persiste sempre em corações
depravados, que quer dizer “desprovidos da natureza divina”.
(I) A culpa sem controle emocional — mente depravada. Quando a mente humana
fica desprovida do controle divino, ela não somente peca, mas se exercita na
imaginação e criação do erro. Paulo os descreve em Romanos
1.29-31, dizendo: “Estando cheios [os depravados] de toda a iniquidade,
prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda,
engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de DEUS,
injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos
pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural,
irreconciliáveis, sem misericórdia”.
O testemunho das Escrituras Sagradas sobre a universalidade e totalidade dessa
“depravação” é explícita em Gênesis
6.5,8,21:
provém de um caso comprovado.
(1) Há ali a intensidade da depravação: “a maldade do homem se multiplicava
sobre a terra”;
(2) Há ali o seu caráter íntimo: “toda a imaginação dos pensamentos de seu
coração era só má continuamente”. Expressões estas que ultrapassam qualquer
possibilidade de entendimento da pessoa humana. É difícil identificar que o
movimento rudimentar do pensamento era perverso;
(3) Há ali a totalidade de depravação: “Todo designo”, do coração é só mau
continuamente.
(4) Há ali extensão da depravação toda sua consciência: era só má
“continuamente”;
(5) Há seu exclusivismo: “continuamente má”;
(6) Há sua manifestação desde o princípio: “desde a meninice”.
(II) As qualificações pecaminosas são ascendentes. As qualificações bíblicas
posteriores sobre nossa condição pecaminosa seguem a mesma direção. Por isso,
em certo sentido, somos “nascidos em pecados” (Sl
51.5); e, na concepção dos judeus: “nascido todo em pecado” (Jo
9.34); e, se não arrepender-se, morrerá no pecado sem misericórdia (Lc
13.5; Jo
8.24).
(1) Em relação aos padrões morais estabelecidos por DEUS. Há ainda outro ponto
peculiar à moralidade das Escrituras, e que é, ao mesmo tempo, verdadeiro em si
mesmo e admirável. Em toda a Bíblia se fala do pecado, como sendo um mal contra
DEUS, e, de outro lado, em parte alguma é exaltado o instrumento ou agente
humano [pelo menos do ponto de vista divino] porque pecou. Talvez tomássemos
como exceções alguns casos registrados na Bíblia, tais como, a afirmação de
Raabe diante de seus patrícios de que os “espias” já tivessem partido de sua
casa — seria então o pecado de mentira (Js
2.4,5),
ou no caso de Sansão, que enquanto escondia seu segredo, conserva consigo o
poder de DEUS; quando porém, falou a verdade, este poder foi retirado de seu
coração — porque nesse caso, segundo a visão da lógica, ele somente conservava
este poder enquanto mentia (Jz
16). Contudo, devemos ter em mente que, em ambos os casos não houve
nenhuma transgressão diretamente contra DEUS; e, sim, atos que foram
realizados, ainda que de forma ilícita aos nossos olhos, em favor do povo de
DEUS contra agentes humanos completamente inimigos de DEUS e do seu povo —
ainda que isso não foi legal na concepção do direito que não está mesclado com
a caridade. Nas Escrituras, ao contrário da filosofia pagã, o pecado é
representado como coisa amarga e má, porque é desonroso para DEUS: Essa ideia
aparece distintamente no Antigo Testamento, sendo na verdade uma das suas mais
notadas particularidades. Exemplificando, temos o poder de DEUS se manifestando
de forma versátil e sendo lançado no campo da destruição física e da repreensão
moral, em coisas e em indivíduos, como por exemplo:
(2) A destruição de Sodoma e Gomorra juntamente com as cidades da campina (Gn
19).
(3) As dez pragas mortíferas que desabaram sobre o Egito, contra Faraó e contra
seus súditos (Ex 7 — 12).
(4) A destruição dos amalequitas (Ex
17).
(5) O juízo severo contra Coré e o seu grupo, que foram tragados pelo castigo
iminente de DEUS (Nm
16).
(6) Os castigos de DEUS, ainda que mesclados com misericórdia contra Israel —
levando-o para o cativeiro em diversas oportunidades (2 Cr
36; Lc
21).
(7) Contra o monarca Senaqueribe e seu exército invasor (2 Cr
32).
(8) Contra o rei Belsazar durante sua orgia na corte babilônica (Dn 6).
(9) O abandono do mundo gentílico à depravação (Rm 1).
Outros castigos foram aplicados por DEUS contra famílias e indivíduos etc.
Assim sendo, o pecado é reputado como sendo o “grande tirano”, denunciado pela
justiça divina sem lhe oferecer nenhuma trégua em todos os elementos
doutrinários das Escrituras Sagradas.
4. A culpa contraída. Um outro ponto a ser analisado neste argumento, é o
pecado contraído; isto é, em outras palavras: “o pecado do erro”. Uns erram
movidos pelo engano; outros erram porque gostam de errar e que já nascem
alienados como o erro (Sl
58.3). O erro praticado voluntariamente, trás o sentido mais lato e
ordinário da definição do pecado e suas formas de expressão. Exatamente é o
erro, que quer dizer “fraqueza” ou “errar o alvo no sentido religioso”. Na
declaração feita por DEUS em Gênesis
8.21, de que não mais iria amaldiçoar a terra por causa do homem,
“porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice”; significa
que o coração humano é por natureza “inclinado” (pendido) para o mal. Também se
fala o mesmo em relação a Israel. Arão lembrou a Moisés, seu irmão, quando o
mesmo lhe fazia inquirimento no tocante ao pecado do povo, então ele lhe
respondeu dizendo: “Não se acenda a ira do meu Senhor; tu sabes que este povo é
inclinado ao mal” (Êx
32.22b).
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Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - Teologia Sistemática - Myer Pearman
PECADO
I. O fato do pecado
Não há necessidade de discutir a questão da realidade do pecado; a história e o
próprio conhecimento íntimo do homem oferecem abundante testemunho do
fato. Muitas teorias, porém, apareceram para negar, desculpar, ou diminuir
a natureza do pecado.
1. O ateísmo, ao negar a DEUS, nega também o pecado, porque, estritamente
falando, todo pecado é contra DEUS; e se não há DEUS, não há pecado. O homem
pode ser culpado de pecar em relação a outros; pode pecar contra si mesmo,
porém estas coisas constituem pecado unicamente em relação a DEUS. Enfim,
todo mal praticado é dirigido contra DEUS, porque o mal é uma violação
do direito, e o direito é a lei de DEUS. "Pequei contra o céu
e perante ti", exclamou o pródigo. Portanto, o homem necessita
do perdão baseado em uma provisão divina de expiação.
2. O determinismo é a teoria que afirma ser o livre arbítrio uma ilusão e não
uma realidade. Nós imaginamos que somos livres para fazer nossa escolha,
porém realmente nossas opções são ditadas por impulsos internos e
circunstâncias que escaparam ao nosso domínio. A fumaça que sai pela
chaminé parece estar livre, porém se esvai por leis inexoráveis. Sendo
assim — continua essa teoria, — uma pessoa não pode deixar de atuar da
maneira como o faz, e estritamente falando, não deve ser louvada por
ser boa nem culpada por ser má. O homem é simplesmente um escravo
das circunstâncias. Mas as Escrituras afirmam terminantemente que o homem
é livre para escolher entre o bem e o mal — uma liberdade implícita em
todos os mandamentos e exortações. Longe de ser vítima da fatalidade e
casualidade, declara-se que o homem é o árbitro do seu próprio destino.
Durante uma discussão sobre a questão do livre arbítrio, o Dr. Johnson, notável
autor e erudito inglês, declarou: "Cavalheiro, sabemos que nossa vontade é
livre, e isto é tudo que há no assunto!" Cada grama de bom senso
excede em peso a uma tonelada de filosofia! Uma consequência prática do
determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade por cuja
causa o pecador merece dó ao invés de ser castigado. Porém, a voz da
consciência que diz "eu devo" refuta essa teoria. Recentemente,
um homicida de dezessete anos recusou-se a alegar loucura. Seu crime era
indesculpável, ele declarou, porque sabia que o havia cometido
conscientemente, apesar dos ensinos que recebera dos pais e na Escola
Dominical. Desse modo, insistiu que fosse cumprida a pena capital.
Jovem como era, e diante da morte, recusou enganar-se a si mesmo.
3. O hedonismo (da palavra grega que significa "prazer") é
a teoria que sustenta que o melhor ou o mais proveitoso que existe na vida
é a conquista do prazer e a fuga à dor; de modo que a primeira pergunta que se
faz não é: "Isto e correto?", mas: "Traz prazer?" Nem todos
os hedonistas têm uma vida de vícios, mas a tendência geral do hedonista é
desculpar o pecado e disfarçá-lo, qual pílula açucarada, com designações tais
como estas: "é uma fraqueza inofensiva"; "é pequeno
desvio"; "é mania do prazer"; "é fogo da
juventude". Eles desculpam o pecado com expressões como estas:
"Errar é humano"; "o que é natural é belo e o que é belo é
direito." é sobre essa teoria que se baseia o ensino moderno de
"auto-expressão". Em linguagem técnica, o homem deve "libertar
suas inibições"; em linguagem simples, "ceder à tentação porque
reprimi-la é prejudicial à saúde". Naturalmente, isso muitas
vezes representa um intento para justificar a imoralidade. Mas esses
mesmos teóricos não concordariam em que a pessoa desse liberdade às suas
inibições de ira, ódio criminoso, inveja, embriaguez ou alguma outra
tendência similar. No fundo dessa teoria está o desejo de diminuir a gravidade
do pecado, e ofuscar a linha divisória entre o bem e o mal, o certo e
o errado. Representa uma variação moderna da mentira antiga: "Certamente
não morrerás." E muitos descendentes de Adão têm engolido a amarga
pílula do pecado, adoçada com a suposta suavizante segurança: "Isto
não te fará dano algum." O bem é simbolizado pela alvura, e o pecado
pela negrura, porém alguns querem misturá-los, dando-lhes uma cor cinzenta
neutra. A admoestação divina àqueles que procuram confundir as
distinções morais, é: "Ai daqueles que chamam o mal bem, e o bem
mal"
4. Ciência Cristã. Esta seita nega a realidade do pecado. Declara que o
pecado não é algo positivo, mas simplesmente a ausência do bem. Nega que o
pecado tenha existência real e afirmam que é apenas um "erro da mente
moral". O homem pensa que o pecado é real, por conseguinte, seu
pensamento necessita de correção. Mas, depois de examinar o pecado e a
ruína que são mais do que reais no mundo, parece que esse tal "erro
da mente mortal" é tão terrível como aquilo que toda gente conhece
por "pecado"! As Escrituras denunciam o pecado como uma violação
positiva da lei de DEUS, como uma verdadeira ofensa que merece castigo
real num inferno real.
5. A evolução considera o pecado como herança do animalismo primitivo do
homem. Desse modo em lugar de exortar a gente a deixar o "homem
velho", ou o "antigo Adão", os proponentes dessa
teoria deviam admoestá-los a que deixassem o "velho macaco" ou o
"velho tigre"! Como já vimos, a teoria da evolução é
antibíblica. Além disso, os animais não pecam; eles vivem segundo sua
natureza, e não experimentam nenhum sentido de culpa por seu comportamento.
O Dr. Leander Keyser comenta: "Se a luta egoísta e sangrenta
pela existência no reino animal for o método de progresso que trouxe
o homem à existência, por que deverá ser um mal que o homem continue
nessa rota sangrenta?" É certo que o homem tem uma natureza física,
porém essa parte inferior de seu ser foi criação de DEUS, e é plano de
DEUS que esteja sujeita a uma inteligência divinamente iluminada.
II. A origem do pecado
O terceiro capítulo de Gênesis oferece os pontos chaves que caracterizam a
história espiritual do homem, as quais são: A tentação, a culpa, o juízo e a
redenção.
1. A tentação: sua possibilidade, origem e sutileza.
(a) A possibilidade da tentação. O segundo capítulo de Gênesis relata o
fato da queda do homem, informando acerca do primeiro lar do homem, sua
inteligência, seu serviço no Jardim no Éden, as duas árvores, e o primeiro
matrimônio. Menciona especialmente as duas árvores do destino — a árvore
da ciência do bem e do mal e a árvore da vida. Essas duas árvores
constituem um sermão em forma de quadro dizendo constantemente a nossos
primeiros pais: "Se seguirdes o bem e rejeitardes o mal, tereis a
vida." E não é esta realmente a essência do Caminho da Vida
encontrada através das Escrituras? (Vide Deut.
30:15.) Notemos a árvore proibida. Por que foi colocada ali? Para
prover um teste pelo qual o homem pudesse, amorosa e livremente, escolher
servir a DEUS e dessa maneira desenvolver seu caráter. Sem vontade livre o
homem teria sido meramente uma máquina.
(b) A origem da tentação. "Ora, a serpente era mais astuta que todas
as alimárias do campo que o Senhor DEUS tinha feito." É razoável
deduzir que a serpente, que naquele tempo deveria ter sido uma criatura
formosa, foi o agente empregado por Satanás, o qual já tinha sido lançado
fora do céu antes da criação do homem. (Ezeq.
23:13-17; Isa.
14:12-15.) Por essa razão, Satanás é descrito como "essa antiga
serpente, chamada o diabo" (Apoc.
12:9). Geralmente Satanás trabalha por meio de agentes.
Quando Pedro (embora sem má intenção) procurou dissuadir seu Mestre
da senda do dever, JESUS olhou além de Pedro, e disse, "Para trás
de mim, Satanás" (Mat.
16:22,23).
Neste caso Satanás trabalhou por meio de um dos amigos de JESUS; no Éden
empregou a serpente, uma criatura da qual Eva não desconfiava.
(c) A sutileza da tentação. A sutileza é mencionada como característica
distintiva da serpente. (Vide Mat.
10:16.) Com grande astúcia ela oferece sugestões, as quais, ao
serem abraçadas, abrem caminho a desejos e atos pecaminosos. Ela
começa falando com a mulher, o vaso mais frágil, que, além dessa
circunstância, não tinha ouvido diretamente a proibição divina. (Gên.
2:16, 17.) E
ela espera até que Eva esteja só. Note-se a astúcia na aproximação. Ela
torce as palavras de DEUS (Vide Gén.
3:1 e 2:16, 17) e então finge surpresa por estarem assim
torcidas; dessa maneira ela, astutamente, semeia dúvida e suspeitas
no coração da ingênua mulher, e ao mesmo tempo insinua que está
bem qualificada para ser juiz quanto à justiça de tal proibição. Por meio
da pergunta no versículo 1, lança a tríplice dúvida acerca de DEUS.
1) Dúvida sobre a bondade de DEUS. Ela diz, com efeito: "DEUS está
retendo alguma bênção de ti."
2) Dúvida sobre a retidão de DEUS. "Certamente não morrereis."
Isto é, "DEUS não pretendia dizer o que disse".
3) Dúvida sobre a santidade de DEUS. No versículo 5 a serpente diz, com
efeito: "DEUS vos proibiu comer da árvore porque tem inveja de vos.
Não quer que chegueis a ser sábios tanto quanto ele, de modo que
vos mantém em ignorância. Não é porque ele se interesse por vós, para
salvar-vos da morte, e sim por interesse dele, para impedir que chegueis a
ser semelhantes a ele."
2. A Culpa.
Notemos as evidências de uma consciência culpada:
1) "Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam
nus." Expressão usada para indicar esclarecimento milagroso ou repentino.
(Gên.
21:19; 2
Reis. 6:17.) As palavras da serpente (versículo 5) cumpriram-se; porém,
o conhecimento adquirido foi diferente do que eles esperavam. Em vez de
fazê-los semelhantes a DEUS, experimentaram um miserável sentimento de
culpa que os fez ter medo de DEUS. Notemos que a nudez física é um quadro
de uma consciência nua ou culpada. Os distúrbios emocionais
refletem-se muitas vezes em nossas feições. Alguns comentadores
sustentam que antes da queda, Adão e Eva estavam vestidos com uma auréola ou
traje de luz, que era um sinal da comunhão com DEUS e do domínio do espírito
sobre o corpo. Quando pecaram, essa comunhão foi interrompida; o corpo
venceu o espírito, e ali começou esse conflito entre a carne e o espírito
(Rom.
7:14-24), que tem sido a causa de tanta miséria.
2) "E coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais."
Assim como a nudez física é sinal de uma consciência culpada, da mesma
maneira, o procurar cobrir a nudez é um quadro que representa o homem a
procurar cobrir sua culpa com a indumentária do esquecimento ou o traje
das desculpas. Mas, somente uma veste feita por DEUS pode cobrir
o pecado (Verso 21).
3) "E ouviram a voz do Senhor DEUS, que passeava no jardim pela
viração do dia: e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor DEUS
entre as árvores do jardim." O instinto do homem culpado é fugir de
DEUS. E assim como Adão e Eva procuraram esconder-se entre as árvores, da
mesma forma as pessoas hoje em dia procuram esconder-se nos prazeres e
em outras atividades.
3. O juízo.
(a) Sobre a serpente. "Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que
toda a besta, e mais que todos os animais do campo; sobre o teu ventre
andarás, e o pó comerás todos os dias da tua vida." Essas palavras
implicam que a serpente outrora foi uma criatura formosa e honrada.
Depois, porque veio a ser o instrumento para a queda do homem, tomou-se
maldita e degradada na escala da criação animal. Uma vez que a serpente foi
simplesmente o instrumento de Satanás, por que deve ser punida? Porque é a
vontade de DEUS fazer da maldição da serpente um tipo e profecia da
maldição sobre o diabo e sobre todos os poderes do mal. O homem deve
reconhecer, pelo castigo da serpente, como a maldição de DEUS ferirá todo
pecado e maldade; arrastando-se no pó recordaria ao homem o dia em
que DEUS derribará até ao pó, o poder do diabo. Isso é um
estímulo para o homem: ele, o tentado, está em pé, erguido, enquanto
a serpente está sob a maldição. Pela graça de DEUS o homem
pode ferir-lhe a cabeça — pode vencer o mal. (Vide Luc.
10:18; Rom.
16:20; Apoc.
12:9; 20:1-3, 10.)
(b) Sobre a mulher. "E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a
tua dor e a tua concepção; com dor terás filhos; e o teu desejo será para
teu marido, e ele te dominará" (Gên.
3:16). Assim disse certo escritor: A presença do pecado tem sido
a causa de muito sofrimento, precisamente do modo indicado acima. Não há
dúvida que dar à luz filhos constitui um momento critico e penoso na vida
da mulher. O sentimento de faltas passadas pesa de uma maneira particular
sobre ela, e também a crueldade e loucura do homem contribuíram para fazer
o processo mais doloroso e perigoso para a mulher do que para os animais.
O pecado tem corrompido todas as relações da vida, e mui particularmente a
relação matrimonial. Em muitos países a mulher é praticamente escrava do
homem; a posição e a condição triste de meninas viúvas e meninas mães na
Índia têm sido um fato horrível em cumprimento dessa maldição.
(c) Sobre o homem. (Versos 17-19.) O trabalho para o homem já tinha sido
designado (2:15). O castigo consiste no afã, nas decepções e aflições que
muitas vezes acompanham o trabalho. A agricultura é especificada em
particular, porque sempre tem sido um dos empregos humanos mais
necessários. De alguma maneira misteriosa, a terra e a criação em geral
têm participado da maldição e da queda do seu senhor (o homem) porém estão
destinadas a participar da sua redenção. Este é o pensamento de Rom.
8:19-23. Em Isaias
11:1-9 e 65:17-25, temos exemplos de versículos que predizem a
remoção da maldição da terra durante o Milênio. Além da maldição física
que se apossou da terra, também é certo que o capricho e o pecado humanos
têm dificultado de muitas maneiras o labor e provocado as condições de
trabalho mais difíceis e mais duras para o homem. Notemos a pena de morte.
"Porquanto és pó, e em pó te tornarás." O homem foi criado capaz de
não morrer fisicamente; teria existência física indefinidamente se tivesse
preservado sua inocência e continuasse a comer da árvore da vida. Ainda
que volte à comunhão com DEUS (e dessa maneira vença a morte espiritual)
por meio do arrependimento e da oração, não obstante, deve voltar
ao seu Criador através da morte. Visto que a morte faz parte da
pena do pecado, a salvação completa deve incluir a ressurreição
do corpo, (1
Cor. 15:54-57.) não obstante, certas pessoas, como Enoque, terão o
privilégio de escapar da morte física. (Gên.
5:24; 1
Cor. 15:51.)
4. A redenção.
Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três revelações de DEUS,
que por toda a Bíblia figuram em todas as relações de DEUS com o homem. O
Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o DEUS do Pacto que entra em
relações pessoais com o homem (cap. 2); o Redentor, que faz provisão para
a restauração do homem (cap. 3).
(a) Prometida. (Vide Gên.
3:15.) (1) A serpente procurou fazer aliança com Eva contra DEUS,
mas DEUS por fim a essa aliança. "E porei inimizade entre ti e a mulher, e
entre a tua semente (descendentes) e a sua semente." Em outras palavras,
haverá uma luta constante entre o homem e o poder maligno que causou a
sua queda. (2) Qual será o resultado desse conflito? Primeiro, vitória
para a humanidade, por meio do Representante do homem, a Semente da
mulher. "Ela (a semente da mulher) te ferirá a cabeça." CRISTO, a
Semente da mulher, veio ao mundo para esmagar o poder do diabo. (Mat.
1:23, 25; Luc.
1:31-35,76; Isa.
7:14; Gál.
4:4; Rom.
16:20; Col.
2:15; Heb.
2:14,15; 1
João 3:8; 5:5; Apoc.
12:7, 8, 17; 20:1-3, 10.)
(3) Porém a vitória não será sem sofrimento. "E tu (a serpente) lhe
ferirás o calcanhar." No Calvário a Serpente feriu o calcanhar da
Semente da mulher; mas este ferimento trouxe a cura para a humanidade.
(Vide Isa.
53:3,4,12; Dan.
9:26; Mat.
4:1-10; Luc.
22:39-14,53; João
12:31-33; 14:30,31; Heb.
2:18; 5:7; Apoc.
2:10.)
(b) Prefigurada. (Verso 21.) DEUS matou um animal, uma criatura inocente, para
poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista por causa do
pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à morte, a fim de
prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
III. A natureza do pecado
Que é pecado? A Bíblia usa uma variedade de termos para expressar o mal de
ordem moral, os quais nos explicam algo de sua natureza.
Um estudo desses termos, nos originais hebraico e grego, proporcionará a
definição bíblica do pecado.
1. O ensino do Antigo Testamento.
O pecado considerado — As diferentes palavras hebraicas descrevem o pecado
operando nas seguintes esferas: (*)
(a) Na esfera moral. As palavras usadas para expressar o pecado nesta
esfera são as seguintes:
1) A palavra mais comumente usada para o pecado significa "errar
o alvo". Reúne as seguintes ideias: (1) Errar o alvo, como
um arqueiro que atira mas erra, do mesmo modo, o pecador erra o
alvo final da vida. (2) Errar o caminho, como um viajante que sai
do caminho certo. (3) Ser achado em falta ao ser pesado na balança
de DEUS. Em Gên.
4:7, onde a palavra é mencionada pela primeira vez, o pecado é
personificado como uma besta feroz pronta para lançar-se sobre quem lhe der
ocasião.
2) Outra palavra significa literalmente "tortuosidade", e
é muitas vezes traduzida por "perversidade". É, pois, o
contrário de retidão, que significa literalmente, o que é reto
ou conforme um ideal reto.
3) Outra expressão comum que se traduz por "mal", exprime
o pensamento de violência ou infração, e descreve o homem
que infringe ou viola a lei de DEUS.
(b) Na esfera da conduta fraternal. A palavra usada para determinar o
pecado nesta esfera, significa violência ou conduta injuriosa. (Gên.
6:11; Ezeq.
7:23; Prov.
16:29.) Ao excluir a restrição da lei, o homem maltrata e oprime
seus semelhantes.
(c) Na esfera da santidade. As palavras usadas para descrever o pecado
nesta esfera implicam que o ofensor usufruiu da relação com DEUS. Toda a
nação israelita foi constituída em "um reino de sacerdotes",
cada membro considerado como estando em contato com DEUS e seu santo
tabernáculo. Portanto, cada israelita era santo, isto é, separado para
DEUS, e toda a atividade e esfera de sua vida estavam reguladas pela Lei
da Santidade. As coisas fora dessa lei eram "profanas" (o
contrário de santas), e o que participava delas se tornava
"imundo" ou contaminado. (Lev.
11:24, 27, 31, 33, 39.)
Se persistisse na profanação, era considerada uma pessoa irreligiosa ou
profana. (Lev.
21:14; Heb.
12:16.) Se acaso se rebelasse e deliberadamente repudiasse a
jurisdição da lei da santidade, era considerado "transgressor".
(Sal.
37:38; 51:13; Isa.
53:12.) Se prosseguia neste último caminho, era julgado como
criminoso, e tais eram os publicanos, na opinião dos contemporâneos do
nosso Senhor JESUS.
(d) Na esfera da verdade. As palavras que descrevem o pecado nesta esfera
dão ênfase ao inútil e fraudulento elemento do pecado. Os pecadores falam
e tratam falsamente (Sal.
58:3; Isa.
28:15), representam falsamente e dão falso testemunho (Êxo.
20:16; Sal.
119:128; Prov.
19:5, 9).
Tal atividade é "vaidade" (Sal.
12:2; 24:4; 41:6),
isto é, vazia e sem valor. O primeiro pecador foi um mentiroso (João
8:44); o primeiro pecado começou com uma mentira (Gên.
3:4); e todo pecado contém o elemento do engano (Heb.
3:13).
(e) Na esfera da sabedoria. Os homens se portam impiamente porque não pensam ou
não querem pensar corretamente; não dirigem suas vidas de acordo com a
vontade de DEUS, seja por descuido ou por deliberada ignorância.
1) Muitas exortações são dirigidas aos "simples" (Prov.
1:4, 22; 8:5).
Essa palavra descreve o homem natural, que não se desenvolveu, quer na
direção do bem, quer do mal; sem princípios fixos, mas com uma inclinação
natural para o mal, a qual pode ser usada a fim de seduzi-lo. Falta-lhe
firmeza e fundamento moral; ele ouve mas esquece; portanto, é facilmente
conduzido ao pecado. (Vide Mat.
7:26.)
2) Muitas vezes lemos acerca desses "faltos de entendimento" (Prov.
7:7; 9:4),
isto é, aqueles que por falta de entendimento, mais do que por propensão
pecaminosa, são vitimas do pecado. Faltos de sabedoria, são conduzidos a
expressar precipitados juízos acerca da providência divina e das coisas
além da sua compreensão. Desse modo precipitam-se na impiedade. Tanto essa
classe, como os "simples", são indesculpáveis porque as
Escrituras apresentam o Senhor oferecendo gratuitamente — sim,
rogando-lhes que aceitem (Prov.
8:1-10) — aquilo que os fará sábios para a salvação.
3) A palavra frequentemente traduzida "insensato" (Prov.
15:20), descreve uma pessoa capaz de fazer o bem, contudo está presa às
coisas da carne e facilmente é conduzida ao pecado pelas suas inclinações
carnais. Não se disciplina a si mesma nem guia as suas tendências de
acordo com as leis divinas.
4) O "escarnecedor" (Sal.
1:1; Prov.
14:6) é o homem ímpio que justifica sua impiedade com argumentos
racionais contra a existência ou realidade de DEUS, e contra as coisas
espirituais em geral. Assim, "escarnecedor" é a palavra do
Antigo Testamento equivalente à nossa moderna palavra "infiel",
e a expressão "roda dos escarnecedores" provavelmente se refere
à sociedade local dos infiéis.
2. O ensino do Novo Testamento.
O Novo Testamento descreve o pecado como:
(a) Errar o alvo, que expressa a mesma ideia que a conhecida palavra do
Antigo Testamento.
(b) Dívida. (Mat.
6:12.) O homem deve (a palavra "deve" vem de dívida) a
DEUS a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é contração de
uma dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser perdoado,
ou obter remissão da dívida.
(c) Desordem. "O pecado é iniquidade"
(literalmente "desordem", 1
João 3:4). O pecador é um rebelde e um idólatra porque deliberadamente
quebra um mandamento, ao escolher sua própria vontade em vez de escolher a
vontade de DEUS; pior ainda, está se convertendo em lei para si mesmo
e, dessa maneira, fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no coração
daquele exaltado anjo que disse: "Eu farei", em oposição à
vontade de DEUS. (Isa.
14:13, 14). O
anticristo é proeminentemente "o sem-lei" (tradução literal de
"iníquo"), porque se exalta a si mesmo sobre tudo que é adorado
ou que é chamado DEUS. (2
Tess. 2:4-9.) O pecado é essencialmente obstinação e obstinação
é essencialmente pecado. O pecado destronaria a DEUS; o
pecado assassinaria DEUS. Na Cruz do Filho de DEUS, poderiam ter
sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"
(d) Desobediência, literalmente, "ouvir mal"; ouvir com falta de
atenção. (Heb.
2:2.) "Vede pois como ouvis" (Luc.
8:18.)
(e) Transgressão, literalmente, "ir além do limite" (Rom.
4:15). Os mandamentos de DEUS são cercas, por assim dizer,
que impedem ao homem entrar em território perigoso e dessa
maneira sofrer prejuízo para sua alma.
(f) Queda, ou falta, ou cair para um lado (Efés.
1:7) no grego, donde a conhecida expressão, cair no pecado. Pecar
é cair de um padrão de conduta.
(g) Derrota é o significado literal da palavra "queda" em Rom.
11:12. Ao rejeitar a CRISTO, a nação judaica sofreu uma derrota e
perdeu o propósito de DEUS.
(h) Impiedade, de uma palavra que significa "sem adoração,
ou reverência". (Rom.
1:18; 2
Tim. 2:16.) O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a DEUS e
às coisas sagradas. Estas não produzem nele nenhum sentimento de temor e
reverência. Ele está sem DEUS porque não quer saber de DEUS.
(i) O erro (Heb.
9:7) Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da ignorância, e
dessa maneira se diferenciam daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar
da luz esclarecedora. O homem que desafiadoramente decide fazer o mal,
incorre em maior grau de culpa do que aquele que é apanhado em falta, a
que foi levado por sua debilidade.
IV. Consequências do pecado
O pecado é tanto um ato como um estado. Como rebelião contra a lei de
DEUS, é um ato da vontade do homem; como separação de DEUS, vem a ser um
estado pecaminoso. Segue-se uma dupla consequência: o pecador traz o mal sobre
si mesmo por suas más ações, e incorre em culpa aos olhos de DEUS. Duas
coisas, portanto, devem distinguir-se; as más consequências que seguem os atos
do pecado, e o castigo que virá no juízo. Isto pode ser ilustrado da
seguinte maneira: Um pai proíbe ao filho pequeno o fumar cigarros, e fá-lo ver
uma dupla consequência: primeira, o fumar fá-lo-á sentir-se doente;
segunda, ser castigado pela sua desobediência. O menino desobedece e fuma
pela primeira vez. As náuseas que lhe sobrevêm representam as más
consequências do seu pecado, e o castigo corporal subsequente representa o
castigo positivo pela culpa. Da mesma maneira as Escrituras descrevem dois
efeitos do pecado sobre o culpado: primeiro, é seguido por consequências
desastrosas para sua alma; segundo, trará da parte de DEUS o positivo
decreto de condenação.
1. Fraqueza espiritual.
(a) Desfiguração da imagem divina. O homem não perdeu completamente a
imagem divina, porque ainda em sua posição decaída é considerado uma criatura à
imagem de DEUS (Gên.
9:6; Tia.
3:9) — uma verdade expressa no provérbio popular: "Há algo
de bom no pior dos homens." Maudesley, o grande psiquiatra
inglês, sustenta que a majestade inerente da mente humana evidencia-se até
mesmo na ruína causada pela loucura. Apesar de não estar inteiramente perdida,
a imagem divina no homem encontra-se muito desfigurada. JESUS CRISTO veio
ao mundo tornar possível ao homem a recuperação completa da semelhança divina
por ser recriado à imagem de DEUS. (Gál.
3:10.)
(b) Pecado inerente, ou "pecado original". O efeito da queda
arraigou-se tão profundamente na natureza humana que Adão, como pai da
raça, transmitiu a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar. (Sal.
51:5.) Esse impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens
nascem, é conhecido como pecado original. Os atos pecaminosos que se seguem
durante a idade de plena responsabilidade do homem são conhecidos como
"pecado atual". CRISTO, o segundo Adão, veio ao mundo resgatar-nos de
todos os efeitos da queda. (Rom.
5:12-21.) Esta condição moral da alma é descrita de muitas maneiras:
todos pecaram (Rom.
3:9); todos estão debaixo da maldição (Gál.
3:10); o homem natural é estranho às coisas de DEUS (1 Cor.
2:14); o coração natural é enganoso e perverso (Jer.
17:9); a natureza mental e moral é corrupta (Gên.
6:5, 12; 8:21; Rom.
1:19-31); a mente carnal é inimizade contra DEUS (Rom.
8:7, 8);
o pecador é escravo do pecado (Rom.
6:17; 7:5); é
controlado pelo príncipe das potestades do ar (Efés.
2:2); está morto em ofensas e pecados (Efés.
2:1); e é filho da ira (Efés.
2:3).
(c) Discórdia interna. No princípio DEUS fez o corpo do homem do pó,
dotando-o, desse modo, de uma natureza física ou inferior; depois soprou em seu
nariz o fôlego da vida, comunicando-lhe assim uma natureza mais elevada,
unindo-o a DEUS. Era o propósito de DEUS a harmonia do ser humano, ter o corpo
subordinado à alma. Mas o pecado interrompeu a relação de tal maneira que o
homem se encontrou dividido em si mesmo; o "eu" oposto ao
"eu" em uma guerra entre a natureza superior e a inferior. Sua
natureza inferior, frágil em si mesma, rebelou-se contra a superior e abriu as
portas de seu ser ao inimigo. Na intensidade do conflito, o homem exclama:
"Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo
desta morte?" (Rom.
7:24.) O "DEUS de paz" (1
Tess. 5:23) subjuga os elementos beligerantes da natureza do homem e
santifica-o no espírito, alma e corpo. O resultado é a bem-aventurança interna
— "justiça, e paz, e alegria no ESPÍRITO SANTO" (Rom.
14:17).
2. Castigo positivo.
"No dia em que dela comeres certamente morrerás" (Gên.
2:17) "O salário do pecado é a morte" (Rom.
6:23). O homem foi criado capaz de viver eternamente; isto é, não
morreria se obedecesse à lei de DEUS. Para que pudesse "lançar mão"
da imortalidade e da vida eterna, foi colocado sob um pacto de obras,
figurado pelas duas árvores — a árvore da ciência do bem e do mal e a
árvore da vida. Desse modo, a vida estava condicionada à obediência; enquanto
Adão observasse a lei da vida teria direito à árvore da vida. Mas desobedeceu;
quebrou o pacto de vida, e ficou separado de DEUS, a Fonte da vida. Desde
esse momento, teve a morte o seu inicio e foi consumada na
morte física com a separação da alma e do corpo. Mas notamos que
o castigo incluía mais do que uma morte física; a dissolução física
era uma indicação do desagrado de DEUS, do fato que o homem estava sem
contato com a Fonte da vida. Ainda que Adão se tivesse reconciliado mais
tarde com o seu Criador, a morte física continuaria de acordo com o
decreto divino: "No dia em que dela comeres certamente
morrerás." Somente por um ato de redenção e de recriação o homem teria
outra vez direito à árvore da vida que está no meio do paraíso de DEUS.
Por meio de CRISTO a justiça é restaurada à alma, a qual, na ressurreição,
é reunida a um corpo glorificado.
Vemos, então, que a morte física veio ao mundo como castigo, e, nas
Escrituras, sempre que o homem é ameaçado com a morte como castigo pelo
pecado, significa primeiramente a perda do favor de DEUS. Assim, o pecador
já está "morto em ofensas e pecados" e no momento da morte
física ele entra no mundo invisível na mesma condição. Então no grande
Julgamento o Juiz pronunciará a sentença da segunda morte, que envolve
"indignação e ira, tribulação e angústia" (Rom.
2:7-12). De maneira que "a morte", como castigo, não é a
extinção da personalidade, e, sim, o meio de separação de DEUS. Há três
fases desta morte: morte espiritual, enquanto o homem vive (Efés.
2:1; l Tim. 5:6); morte física (Heb.
9:27); e a segunda ou morte eterna (Apoc.
21:8; João
5:28, 29; 2
Tess. 1:9; Mat.
25:41).
Por outro lado, quando as Escrituras falam da vida como recompensa pela
justiça, isso significa mais do que existência, pois os ímpios existem no
inferno. Vida significa viver em comunhão com DEUS e no seu favor —
comunhão que a morte não pode interromper ou destruir. (João
11:25, 26.) é
uma vida que proporciona união consciente com DEUS, a Fonte da vida.
"E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti só (em experiência e
comunhão) por único DEUS verdadeiro, e a JESUS CRISTO, a quem
enviaste" (João 17:3). A
vida eterna é uma existência perfeita; a morte eterna é uma existência má,
miserável e degradada.
Notemos que a palavra "destruição", usada quanto à sorte
dos ímpios (Mat.
7:13; João
17:12; 2
Tess. 2:3), não significa extinção. De acordo com o grego, perecer ou
ser destruído, não significa extinção e sim ruína. Por exemplo: que os
odres "estragam-se" (Mat.
9:17) significa que já não servem como odres, e não que tenham
deixado de existir. Da mesma maneira, o pecador que perece, ou que é
destruído, não é reduzido ao nada, mas experimenta a ruína no que concerne
a desfrutar comunhão com DEUS e a vida eterna. O mesmo uso ainda existe
hoje; quando dizemos: "sua vida está arrumada", não queremos
dizer que o homem está morto, e, sim, que perdeu o verdadeiro alvo ou
objetivo da vida.
IV. A obra de CRISTO
CRISTO realizou muitas obras, porém a obra suprema que ele consumou foi a de
morrer pelos pecados do mundo. (Mat.
1:21; João
1:29.) Incluídas nessa obra expiatória figuram a sua morte,
ressurreição, e ascensão. Não somente devia ele morrer por nós, mas também
viver por nós. Não somente devia ressuscitar por nós, mas também ascender
para interceder por nós diante de DEUS. (Rom.
8:34; 4:25; 5:10.)
1. Sua morte.
(a) Sua importância. O evento mais importante e a doutrina central do Novo
Testamento resumem-se nas seguintes palavras: "CRISTO morreu (o evento)
por nossos pecados (a doutrina)" (1 Cor.
15:3). A morte expiatória de CRISTO é o fato que caracteriza a
religião cristã. Martinho Lutero declarou que a doutrina cristã
distingue-se de qualquer outra, e mui especialmente daquela que apenas
parece ser cristã, pelo fato de ser ela a doutrina da Cruz. Todas as
batalhas da Reforma travaram-se em torno da correta interpretação da Cruz. O
ensino dos reformadores era este: quem compreende perfeitamente a
Cruz, compreende a CRISTO e a Bíblia! É essa característica singular dos
Evangelhos que faz do Cristianismo a única religião; pois o grande
problema da humanidade é o problema do pecado, e a religião que apresenta
uma perfeita provisão para o resgate do poder e da culpa do pecado tem
um propósito divino. JESUS é o autor da "salvação eterna" (Heb.
5:9), isto é, da salvação final. Tudo quanto a salvação
possa significar é assegurado por ele.
(b) Seu significado. Havia certa relação verdadeira entre o homem e seu
Criador. Algo sucedeu que interrompeu essa relação. Não somente está o homem
distanciado de DEUS, tendo seu caráter manchado, mas existe um obstáculo tão
grande no caminho que o homem não pode removê-lo pelos seus próprios
esforços. Esse obstáculo é o pecado, ou melhor, a culpa. O homem não pode
remover esse obstáculo; a libertação terá que vir da parte de DEUS. Para
isso DEUS teria que tomar a iniciativa de salvar o homem. O testemunho das
Escrituras é este: que DEUS assim fez. Ele enviou seu Filho do céu à terra
para remover esse obstáculo e dessa maneira reconciliou os homens com
DEUS. Ao morrer por nossos pecados, JESUS removeu a barreira; levou o que
devíamos ter levado; realizou por nós o que estávamos impossibilitados de fazer
por nós mesmos; isso ele fez porque era a vontade do Pai. Essa é a
essência da expiação de CRISTO. Considerando a suprema importância deste
assunto será ele abordado mais pormenorizadamente em um capítulo à parte.
2. Sua ressurreição.
(a) O fato. A ressurreição de CRISTO é o grande milagre do Cristianismo.
Uma vez que é estabelecida a realidade desse evento, torna-se
desnecessário procurar provar os demais milagres dos Evangelhos. Ademais,
é o milagre com o qual a fé cristã está em pé ou cai, isso em razão de ser
o Cristianismo uma religião histórica que baseia seus ensinos em eventos
definidos que ocorreram na Palestina há mais de mil e novecentos anos.
Esses eventos, são: o nascimento e o ministério de JESUS
CRISTO, culminando na sua morte, sepultamento e ressurreição. Desses,
a ressurreição é a pedra angular, pois se CRISTO não
tivesse ressuscitado, então não seria o que ele próprio afirmou ser; e
sua morte não seria expiatória. Se CRISTO não houvesse
ressuscitado, então os cristãos estariam sendo enganados durante séculos;
os pregadores estariam proclamando um erro; e os fiéis estariam sendo
enganados por uma falsa esperança de salvação. Mas, graças a DEUS, que, em
vez de ponto de interrogação, podemos colocar o ponto de exclamação após ter
sido exposta essa doutrina: "Mas agora CRISTO ressuscitou dos mortos,
e foi feito as primícias dos que dormem!"
(b) A evidência. "Vocês cristãos vivem na fragrância de um
túmulo vazio", disse um cético francês. É um fato que aqueles
que foram a embalsamar o corpo de JESUS, na memorável manhã
da ressurreição, encontraram seu túmulo vazio. Esse fato nunca foi
nem pode ser explicado a não ser pela ressurreição de JESUS!
Quão facilmente os judeus poderiam ter refutado o testemunho
dos primeiros pregadores se tivessem exibido o corpo do nosso Senhor!
Mas não o fizeram — porque não o puderam fazer! Como vamos explicar a própria
existência e origem da igreja cristã, que certamente teria permanecido
sepultada juntamente com seu Senhor — se ele não tivesse ressuscitado? A igreja
viva e radiante do dia de Pentecoste não nasceu de um Dirigente morto! Que
faremos com o testemunho daqueles que viram a JESUS depois de sua ressurreição,
muitos dos quais o apalparam, falaram e comeram com ele, centenas dos quais,
Paulo disse, estavam vivos naqueles dias, muitos dos quais cujo testemunho
inspirado se encontra no Novo Testamento? Como receberemos o testemunho de
homens demasiado honestos e sinceros para pregarem uma mensagem
propositadamente falsa, homens que tudo sacrificaram por essa mensagem?
Como explicaremos a conversão de Saulo de Tarso, o perseguidor do Cristianismo,
em um de seus maiores apóstolos e missionários, a não ser pelo fato de ele
realmente ter visto a JESUS no caminho de Damasco? Há somente uma resposta
satisfatória a essas perguntas: CRISTO ressuscitou! Muitas tentativas já
foram feitas para superar esse fato. Os chefes dos judeus asseveraram que
os discípulos de JESUS haviam roubado o seu corpo. Mas isso não explica
como um pequeno grupo de tímidos e desanimados discípulos pôde reunir
suficiente coragem para arrebatar dos endurecidos soldados romanos o corpo
de seu Mestre, cuja morte lhes significava o fracasso completo das suas
esperanças! Os eruditos modernos também apresentam estas explicações:]
1) "Os discípulos simplesmente experimentaram uma visão."
Então perguntamos: como podiam centenas de pessoas ter a mesma visão
e imaginar, a um só tempo, que realmente viam a CRISTO?
2) "JESUS realmente não morreu; ele simplesmente desmaiou e ainda estava
vivo quando o tiraram da cruz." A isso respondemos: então um JESUS pálido
e exausto, decaído e abatido, podia persuadir os discípulos cheios de
dúvidas, e sobretudo a um Tomé, de que ele era o ressuscitado Senhor da vida?
não é possível! Essas explicações são tão inconsistentes que por si mesmas
se refutam. Novamente afirmamos, CRISTO ressuscitou! DeWette,
teólogo modernista, afirmou que "a ressurreição de JESUS CRISTO é
um fato tão bem comprovado quanto o fato histórico do assassinato
de Júlio César".
(c) O significado. A ressurreição. Ela significa que JESUS é tudo quanto
ele afirmou ser: Filho de DEUS, Salvador, e Senhor (Rom.
1:4). A resposta do mundo às reivindicações de JESUS foi a cruz;
a resposta de DEUS, entretanto, foi a ressurreição. A ressurreição significa
que a morte expiatória de CRISTO foi uma divina realidade, e que o homem
pode encontrar o perdão dos seus pecados, e assim ter paz com DEUS (Rom.
4:25). A ressurreição é realmente a consumação da morte expiatória
de CRISTO. Como sabemos pois que não foi uma morte comum — e que realmente
ela tira o pecado? Porque ele ressuscitou! A ressurreição significa que
temos um Sumo Sacerdote no céu, que se compadece de nós, que viveu a nossa
vida e conhece as nossas tristezas e fraquezas; que é poderoso para
dar-nos poder para diariamente vivermos a vida de CRISTO. JESUS que morreu
por nós, agora vive por nós. (Rom.
8:34; Heb.
7:25.) Significa que podemos saber que há uma vida vindoura. Uma
objeção comum a essa verdade é: "Mas ninguém jamais voltou para falar-nos
do outro mundo." Mas alguém voltou — esse alguém é JESUS CRISTO!
"Se um homem morrer, tornará a viver?" A essa pergunta antiga a
ciência somente pode dizer: "não sei." A filosofia apenas diz:
"Deve haver uma vida futura." Porém, o Cristianismo afirma:
"Porque ele vive, nós também viveremos; porque ele ressuscitou dos
mortos, também todos ressuscitaremos"! A ressurreição de CRISTO não
somente constitui a prova da imortalidade, mas também a certeza da
imortalidade pessoal, (1 Tes.
4:14; 2
Cor. 4:14; João
14:19.) Isto significa que há certeza de juízo futuro. Como disse o
inspirado apóstolo, DEUS "tem determinado um dia em que com justiça
há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza
a todos, ressuscitando-o dos mortos" (Atos
17:31). Tão certo como JESUS ressuscitou dos mortos para ser o Juiz
dos homens, assim ressuscitarão também da morte os homens para serem julgados
por ele.
3. Sua ascensão.
Os evangelhos, o livro dos Atos e as Epístolas dão testemunho da ascensão.
Qual o significado desse fato histórico? Quais as doutrinas que nele se
baseiam? Quais seus valores práticos? A ascensão ensina que nosso Mestre é:
(a) O CRISTO celestial. JESUS deixou o mundo porque havia chegado o tempo de
regressar ao Pai. Sua partida foi uma "subida", assim como sua
entrada ao mundo havia sido uma "descida". Ele que desceu agora
subiu para onde estava antes. E assim como sua entrada no mundo foi
sobrenatural, assim o foi sua partida. Consideremos a maneira de sua partida.
Suas aparições e desaparições depois da ressurreição foram instantâneas; a
ascensão foi, no entanto, gradual — "vendo-o eles" (Atos
1:9). Não foi seguida por novas aparições, nas quais o Senhor
surgiu entre eles em pessoa para comer e beber com eles; as aparições
dessa classe terminaram com a sua ascensão. Sua retirada da vida terrena
que vivem os homens aquém da sepultura foi de uma vez por todas.
Dessa hora em diante os discípulos não deveriam pensar nele como o
"CRISTO segundo a carne", isto é, como vivendo uma vida terrena,
e sim, como o CRISTO glorificado, vivendo uma vida celestial na presença
de DEUS e tendo contato com eles por meio do ESPÍRITO SANTO. Antes da
ascensão, o Mestre aparecia, desaparecia e reaparecia de tempos em tempos para
fazer com que paulatinamente os discípulos perdessem a necessidade de um
contato visual e terreno com ele, e acostumá-los a uma comunhão espiritual
e invisível com ele. Desse modo, a ascensão vem a ser a linha divisória entre
dois períodos da vida de CRISTO: Do nascimento até à
ressurreição, ele é o CRISTO da história humana, aquele que viveu uma
vida humana perfeita sob condições terrenas. Desde a ascensão, ele
é o CRISTO da experiência espiritual, que vive no céu e tem contato
com os homens por meio do ESPÍRITO SANTO.
(b) O CRISTO exaltado. Afirma certa passagem que CRISTO "subiu", e
outra diz que foi "levado acima". A primeira representa a CRISTO como
entrando na presença do Pai por sua própria vontade e direito; a segunda
acentua a ação do Pai pela qual ele foi exaltado em recompensa por sua
obediência até a morte. Sua lenta ascensão ante os olhares dos discípulos
trouxe-lhes a compreensão de que JESUS estava deixando sua vida terrena, e
os fez testemunhas oculares de sua partida. Mas uma vez fora
do alcance de sua vista, a jornada foi consumada por um ato
de vontade. O Dr. Swete assim comenta o fato: Nesse momento toda a glória
de DEUS brilhou em seu derredor, e ele estava no céu. Não lhe era a cena
inteiramente nova; na profundidade do seu conhecimento divino, o Filho do
homem guardava lembranças das glórias que, em sua vida anterior à
encarnação, gozava com o Pai "antes que o mundo existisse" (João
17:5). Porém, a alma humana de CRISTO até o momento da ascensão,
não experimentara a plena visão de DEUS que transbordou sobre ele ao ser
levado acima. Esse foi o alvo de sua vida humana, o gozo que lhe estava
proposto (Heb.
12:2), que foi alcançado no momento da ascensão. Foi em vista de
sua ascensão e exaltação que CRISTO declarou: é-me dado todo o poder
(autoridade) no céu e na terra" (Mat.
28:18; vide Efés.
1:20-23; 1
Ped. 3:22; Fil.
2:9-11; Apoc.
5:12). Citemos outra vez o Dr. Swete: Nada se faz nesse
grandioso mundo desconhecido, que chamamos o céu, sem sua iniciativa,
direção e autoridade determinativa. Processos incompreensíveis à nossa mente
realizam-se no outro lado do véu por meios divinos igualmente incompreensíveis.
Basta que a igreja compreenda que tudo que se opera ali é feito pela
autoridade de seu Senhor.
(c) O CRISTO soberano. CRISTO ascendeu a um lugar de autoridade sobre todas as
criaturas. Ele é a "cabeça de todo o varão" (1Cor.
11:3), a "cabeça de todo o principado e potestade" (Col.
2:10); todas as autoridades do mundo invisível, tanto como as do mundo
dos homens, estão sob seu domínio, (1
Ped. 3:22; Rom.
14:9; Fil.
2:10, 11.)
Ele possui essa soberania universal para ser exercida para o bem da igreja, a
qual é seu corpo; DEUS "sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre
todas as coisas o constituiu como cabeça da Igreja." Em um sentido
muito especial, portanto, CRISTO é a Cabeça da igreja. Essa autoridade
se manifesta de duas maneiras:
1) Pela autoridade exercida por ele sobre os membros da igreja. Paulo usou a
relação matrimonial como ilustração da relação entre CRISTO e a igreja (Efés.
5:22-23). Como a igreja vive em sujeição a CRISTO, assim as mulheres
devem estar sujeitas a seus maridos; como CRISTO amou a igreja e a si
mesmo se entregou por ela, assim os maridos devem exercer sua autoridade
no espírito de amor e auto sacrifício. A obediência da igreja a CRISTO é
uma submissão voluntária; da mesma maneira a esposa deve
ser obediente, não só por questão de consciência mas por amor
e reverência. Para os cristãos, o estado de matrimonio se tomou um
'"mistério" (isto é, uma verdade com significado espiritual), porque
revela a união espiritual entre CRISTO e sua igreja; "autoridade
da parte de CRISTO, subordinação da parte da igreja, amor de ambos
os lados — o amor retribuindo amor, para ser coroado pela plenitude do
gozo, quando essa união for consumada na vinda do Senhor" (Swete).
Uma característica proeminente da igreja primitiva era a atitude de
amorosa submissão a CRISTO. "JESUS é Senhor" não era somente
a declaração do credo mas também a regra de vida.
2) O CRISTO glorificado não é somente o Poder que dirige e governa a
igreja, mas também a fonte de sua vida e poder. O que a videira é para a
vara, o que a cabeça é para o corpo, assim é o CRISTO vivo para a sua
igreja. Apesar de estar no céu, a Cabeça da igreja, CRISTO está na mais
íntima união com seu corpo na terra, sendo o ESPÍRITO SANTO o vínculo. (Efés.
4:15, 16; Col.
2:19.)
(d) O CRISTO que prepara o caminho. A separação entre CRISTO e sua igreja
na terra, separação ocasionada pela ascensão, não é permanente. Ele subiu
como um precursor a preparar o caminho para aqueles que o seguem. Sua
promessa foi: "Onde eu estiver, ali estará também o meu servo" (João
12:26). O termo "precursor" é primeiramente aplicado a
João Batista como aquele que prepararia o caminho de CRISTO (Luc.
1:76). Como João preparou o caminho para CRISTO, assim também o
CRISTO glorificado prepara o caminho para a igreja. Esta esperança é
comparada a uma "âncora da alma segura e firme, e que penetra até ao
interior do véu; onde JESUS, nosso precursor, entrou por nós" (Heb.
6:19,20).
Ainda que agitada pelas ondas das provações e das adversidades, a alma do
crente fiel não pode naufragar enquanto sua esperança
estiver firmemente segura nas realidades celestiais. Em
sentido espiritual, a igreja já está seguindo o CRISTO glorificado;
e tem-se "assentado nos lugares celestiais, em CRISTO JESUS" (Efés.
2:6). Por meio do ESPÍRITO SANTO, os crentes, espiritualmente, no
coração, já seguem a seu Senhor ressuscitado. Entretanto, haverá uma ascensão
literal correspondente à ascensão de CRISTO, (1
Tess. 4:17; l Cor. 15:52.) Essa esperança dos crentes não é uma ilusão,
porque eles já sentem o poder de atração do CRISTO glorificado (1Ped.
1:8). Com essa esperança, JESUS confortou os seus discípulos
antes de sua partida (João
14:1-3). "Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas
palavras" (1
Tess. 4:18).
(e) O CRISTO intercessor. Em virtude de ter assumido a nossa natureza e ter
morrido por nossos pecados, JESUS é o Mediador entre DEUS e os homens (1
Tim. 2:5). Mas o Mediador é também um Intercessor, e a intercessão é mais
do que mediação. Um mediador pode ajuntar as duas partes e depois
deixá-las a si mesmas para que resolvam suas dificuldades; porém, um
intercessor diz alguma coisa a favor da pessoa pela qual se interessa. A
intercessão é um ministério importante do CRISTO glorificado (Rom.
8:34). A intercessão forma o apogeu das suas atividades
salvadoras. Ele morreu por nós; ressuscitou por nós; ascendeu por nós;
e intercede por nós (Rom.
8:34). Nossa esperança não está em um CRISTO morto, mas em um
CRISTO que vive; e não somente em Um que vive, mas em um CRISTO que vive e
reina com DEUS. O sacerdócio de CRISTO é eterno; portanto, sua intercessão é
permanente. "Portanto, ele pode levar a um desfecho feliz
("perfeitamente", Hebreus
7:25) toda a causa cuja defesa ele pleiteia assegurando assim
àqueles que se chegam a DEUS, por sua mediação, a completa restauração ao favor
e à bênção divinos. Realmente, o propósito de sua vida no céu é precisamente
esse; ele vive sempre com esse intento de interceder diante de DEUS a favor dos
seus.
Enquanto DEUS existir, não pode haver interrupção de sua obra intercessora...
porque a intercessão do CRISTO glorificado não é uma oração apenas, mas uma
vida. O Novo Testamento não o apresenta como um suplicante constantemente
presente perante o Pai, de braços estendidos e em forte pranto e lágrimas,
rogando por nossa causa diante de DEUS como se fora um DEUS relutante, mas o
apresenta como um Sacerdote Rei entronizado, pedindo o que deseja de um
Pai que sempre o ouve e concede Sua petição" (Swete). Quais as principais
petições de CRISTO em seu ministério intercessor? A oração do capítulo 17 de
João sugere a resposta. Semelhante ao oficio de mediador é o de advogado (no
grego, "parácleto"). (1João
2:1.) Advogado ou parácleto é aquele que é chamado a ajudar uma
pessoa angustiada ou necessitada, para confortá-la ou dar-lhe conselho e
proteção. Essa foi a relação do Senhor para com seus discípulos durante os
dias de sua carne. Mas o CRISTO glorificado também está interessado no problema
do pecado. Como Mediador, ele obtém acesso para nós na presença
de DEUS; como Intercessor, ele leva nossas petições perante DEUS;
como Advogado, ele enfrenta as acusações feitas contra nós pelo "acusador
dos irmãos", na questão do pecado. Para os verdadeiros cristãos uma vida
habitual de pecado não é admissível (1
João 3:6); porém, isolados atos de pecado podem acontecer aos melhores
cristãos, e tais ocasiões requerem a advocacia de CRISTO. Em l João
2:1, 2 estão
expostas três considerações que dão força a sua advocacia: primeira, ele
está "com o Pai", na presença de DEUS; segunda, ele é "o
Justo", e como tal, pode ser uma expiação por outrem; terceira, ele é
"a propiciação pelos nossos pecados", isto é, um sacrifício que
assegura o favor de DEUS por efetuar expiação pelo pecado.
(f) O CRISTO onipresente. (João
14:12.) Enquanto estava na terra, CRISTO necessariamente
limitava-se a estar em um lugar de cada vez, e não podia estar em contato
com todos os seus discípulos ao mesmo tempo. Mas ao ascender ao lugar de onde
procedera a força motriz do universo, foi-lhe possível enviar seu poder
e sua personalidade divina em todo tempo, a todo lugar e a todos os
seus discípulos. A ascensão ao trono de DEUS deu-lhe não somente onipotência (Mat.
28:18) mas também onipresença, cumprindo-se assim a promessa:
"Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ai estou eu
no meio deles" (Mat.
18:20).
(g) Conclusão: Valores da ascensão. Quais os valores práticos da doutrina
da ascensão?
1) O conhecimento interno do CRISTO glorificado, a quem brevemente
esperamos ver, é um incentivo à santidade. (Col.
3:1-4.) O olhar para cima vencerá a atração das coisas do mundo.
2) O conhecimento da ascensão proporciona um conceito correto da igreja. A
crença em um CRISTO meramente humano levaria o povo a considerar a igreja como
uma sociedade meramente humana, útil, sim, para propósitos filantrópicos
e morais, porém destituída de poder e autoridade sobrenaturais. Por outro
lado, um conhecimento do CRISTO glorificado resultará no reconhecimento da
igreja como um organismo, um organismo sobrenatural, cuja vida divina
emana da Cabeça — CRISTO ressuscitado.
3) O conhecimento interno do CRISTO glorificado produzir uma atitude
correta para com o mundo e as coisas do mundo. "Mas a nossa cidade
(literalmente, "cidadania") está nos céus donde também esperamos
o Salvador, o Senhor JESUS CRISTO" (Fil.
3:20).
4) A fé no CRISTO glorificado inspirará um profundo sentimento de
responsabilidade pessoal. A crença no CRISTO glorificado leva consigo o
conhecimento de que naquele dia teremos que prestar contas a ele mesmo. (Rom.
14:7-9; 2
Cor. 5:9,10.) O
sentido de responsabilidade a um Mestre no céu atua como um freio contra o
pecado e serve de incentivo para a retidão. (Efés.
6:9.)
5) Junto à fé no CRISTO glorificado temos a bendita e alegre esperança de
seu regresso. "E se eu for, e vos preparar lugar, virei outra
vez" (João
14:3).
V. A Expiação no Novo Testamento
1. O fato da expiação.
A expiação que fora preordenada desde a eternidade e prefigurada tipicamente
no ritual do Antigo Testamento cumpriu-se historicamente, na crucificação de
JESUS, quando se consumou o divino propósito redentivo. "Está
consumado!" Os escritores dos Evangelhos descreveram os sofrimentos e
a morte de CRISTO com profusão de pormenores que não se vêm nas narrativas
de outros eventos das profecias do Antigo Testamento, os quais indicam
a grande importância do evento. Alguns escritores da escola
"liberal" defendem a teoria de que a morte de CRISTO fora acidente e
tragédia.! Ele teria iniciado seu ministério com grande esperança de sucesso,
segundo eles, mas depois viu-se envolvido em certas circunstâncias que
ocasionaram a sua destruição imprevista, à qual não pôde escapar. Mas,
que dizem os Evangelhos a respeito? Segundo o seu testemunho,
JESUS sabia desde o princípio que o sofrimento e a morte faziam parte
do seu destino divinamente ordenado. Em sua declaração, que o Filho do
homem devia sofrer, a palavra "devia" indica a vocação divina e não a
fatalidade imprevista e inevitável. No ato do seu batismo ele ouviu as
palavras: "Este é o meu filho amado, em quem me comprazo" (Mat.
3:17). Essas palavras são extraídas de duas profecias, a primeira
declarando a filiação do Messias e sua Divindade (Sal.
2:7), e a segunda descrevendo o ministério do Messias como o
Servo do Senhor (Isa.
42:1). O servo mencionado em Isa.
42:1 é o Servo sofredor de Isa.
53. A conclusão à qual chegamos é que mesmo na hora do seu
batismo, JESUS estava ciente do fato de que sofrimento e morte faziam
parte de sua vocação. A rejeição das ofertas de Satanás no deserto
implicava desfecho trágico de sua obra, pois ele escolheu o caminho duro
da rejeição em vez do fácil e popular. O próprio fato de o SANTO estar no
meio do povo (Luc.
3:21) que se batizava, e o submeter-se ao mesmo batismo foi um ato de
identificação com a humanidade pecaminosa, a fim de levar os pecados desse
mesmo povo. O Servo do Senhor, segundo Isaias
53, seria "contado com os transgressores" (ver. 12). O
batismo de JESUS pode ser considerado como "o grande ato de amorosa
comunhão com a nossa miséria", pois nessa hora ele identifica-se com
os pecadores e, por conseguinte, em certo sentido sua obra de expiação jà
começou. Muitas vezes durante o curso do seu ministério o Senhor, em linguagem
oculta e figurada, referiu-se à sua morte (Mat.5:10-12; 23:37; Mar.
9:12,13; 3:6,20-30; 2:19),
mas em Cesaréia de Filipe ele claramente disse aos discípulos que devia
sofrer e morrer. Daquele tempo em diante ele procurou esclarecer-lhes as
mentes sobre este fato, que teria que sofrer, para que, sendo avisados,
não naufragassem em sua fé ante o choque da crucificação. (Mar.
8:31; 9:31; 10:32.)
Ele também lhes explicou o significado de sua morte. não a deveriam considerar
como tragédia imprevista e infeliz à qual teria que se resignar, e, sim, como
sendo morte cujo propósito era fazer expiação. "O Filho do homem veio a
dar a sua vida em resgate de muitos." Na última ceia JESUS deu instruções
acerca da futura comemoração de sua morte, como sendo o supremo ato de seu
ministério. Ele ordenou um rito que comemoraria sua redenção da
humanidade, assim como a Páscoa comemorava a redenção de Israel do Egito.
Seus discípulos, que ainda estavam sob a influência de ideias judaicas
acerca do Messias e do reino, não podiam compreender a necessidade de sua
morte e só com dificuldade podiam aceitar o fato. Mas após a ressurreição e a
ascensão eles o entenderam e sempre depois disso afirmaram que a morte de
CRISTO fora divinamente ordenada como o meio da expiação. "CRISTO
morreu pelos nossos pecados", é seu testemunho de sempre.
2. A necessidade da expiação.
A necessidade da expiação é consequência de dois fatos: a santidade de
DEUS e a pecabilidade do homem. A reação da santidade de DEUS contra a
pecabilidade do homem é conhecida como sua ira, a qual pode ser evitada
mediante a expiação. Portanto, os pontos-chave do nosso estudo serão os seguintes:
Santidade, pecabilidade, ira e expiação.
(a) A santidade de DEUS. DEUS é santo por natureza, o que significa que
ele é justo em caráter e conduta. Esses atributos do seu caráter
manifestam-se em seus tratos com a sua criação. "Ele ama a justiça e
o juízo" (Sal.
33:5). "Justiça e juízo são a base do teu trono" (Salm
89:14). DEUS constituiu o homem e o mundo segundo leis especificas,
leis que formam o próprio fundamento da personalidade humana, escritos no
coração e na natureza do homem. (Rom.
2:14, 15.)
Essas leis unem o homem ao seu Criador pelos laços de relação
pessoal e constituem a base da responsabilidade humana. "Porque nele
vivemos, e nos movemos e existimos" (Atos17:28),
assim foi dito da humanidade em geral. O pecado perturba a relação
expressa nesse verso, e ao fim o pecador impenitente será lançado
eternamente da presença de DEUS. Esta é "a segunda morte". Em muitas
ocasiões essa relação foi reafirmada, ampliada e interpretada sob outro
sistema chamado aliança. Por exemplo, no Sinai DEUS reafirmou as condições
sob as quais ele podia ter comunhão com o homem (a lei moral) e, então
estabeleceu uma série de regulamentos pelos quais Israel poderia observar
essas condições na esfera da vida nacional e religiosa. Guardar a aliança
significa estar em relação com DEUS, ou estar na graça; pois aquele que é
justo pode ter comunhão somente com aqueles que andam na justiça.
"Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós
3:3). E estar em comunhão com DEUS significa vida. Do princípio
ao fim, as Escrituras declaram esta verdade, que a obediência e a vida
andam juntas. (Gên.
2:17; Apoc.
22:14.)
(b) A pecabilidade do homem. Essa relação foi perturbada pelo pecado que é
um distúrbio da relação pessoal entre DEUS e o homem. E desrespeitar a
constituição, por assim dizer, ação que afeta a DEUS e aos homens, tal
qual a infidelidade que viola o pacto matrimonial sob o qual vivem o homem
e sua mulher. (Jer.
3:20.) "Vossas iniquidades fazem divisão entre vós e o vosso
DEUS" (Isa.
59:2). A função da expiação é fazer reparação pela lei violada e
reatar a comunhão interrompida entre DEUS e o homem.
(c) Ira. O pecado é essencialmente um ataque contra a honra e a santidade
de DEUS. É rebelião contra DEUS, pois pelo pecado deliberado, o homem
prefere a sua própria vontade em lugar da vontade de DEUS, e por algum
tempo torna-se "autônomo". Mas se DEUS permitisse que sua honra
fosse atacada então ele deixaria de ser DEUS. Sua honra pede a destruição
daquele que lhe resiste; sua justiça exige a satisfação da lei violada; e
sua santidade reage contra o pecado sendo essa reação reconhecida como
manifestação da ira. Mas essa reação divina não é automática; nem sempre
ela entra em ação instantaneamente, como acontece com a mão em contato com
o fogo. A ira de DEUS é governada por considerações pessoais; DEUS é
tardio em destruir a obra de suas mãos. Ele insta com o homem; ele espera ser
gracioso. Ele adia o juízo na esperança de que sua bondade conduza o homem
ao arrependimento. (Rom.
2:4; 2
Ped. 3:9.) Mas os homens interpretam mal as demoras divinas e zombam do dia
de juízo. "Visto como se não executa imediatamente o juízo sobre a má
obra, por isso o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto
para praticar o mal" (Ecl.
8:11). Mas, embora demore, a retribuição final virá, pois num
mundo governado por leis ter de haver um ajuste de contas.
"não erreis: DEUS não se deixa escarnecer; porque tudo o que o
homem semear, isso também ceifará" (Gál.
6:7). Essa verdade foi demonstrada no Calvário, onde DEUS
declarou "sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob
a paciência de DEUS" (Rom.
3:25). Assim alguém traduz essa passagem: "Isto foi
para demonstrar a justiça de DEUS em vista do fato de que os
pecados previamente cometidos durante o tempo da tolerância de DEUS
foram ignorados". Outro assim parafraseia a passagem: "Ele
suspendeu o juízo sobre os pecados daquele período anterior, o período
de sua paciência, tendo em vista a revelação de sua justiça sob
esta dispensação, quando ele, justo Juiz, absolverá o pecador
que afirma sua fé em JESUS." Em séculos passados parece que DEUS
não levou em conta os pecados das nações; os homens continuaram
no pecado, aparentemente sem ceifar as suas consequências. Dai
a pergunta: "Então DEUS não toma conhecimento do pecado?" Mas
a crucificação revelou o caráter horrendo do pecado, e
demonstra vivamente o terrível castigo sobre ele. A cruz de CRISTO
declara que DEUS nunca foi, não é, e nunca poderia ser indiferente
ao pecado dos homens. Assim comenta o assunto um erudito: DEUS
deu provas de sua ira contra o pecado quando ocasionalmente
castigou Israel e as nações gentílicas. Mas ele não infligiu a
plena penalidade, caso contrário a raça humana teria perecido. Em grande
parte ele "passou por alto" os pecados dos homens. Seria injusto
o rei que deixasse de punir um crime ou mesmo que adiasse a punição. E
na opinião de alguns. DEUS perdeu prestígio por causa de sua tolerância, a
qual interpretam como um meio de escapar à punição divina. DEUS destinou
CRISTO para morrer a fim de demonstrar a sua justiça em vista da tolerância
dos pecados passados, tolerância que parecia ofuscar a justiça.
(d) Expiação. O homem tem quebrado as leis de DEUS e violado os princípios
da justiça. O conhecimento desses atos está registrado em sua memória e a sua
consciência o acusa. Que se pode fazer para remediar o passado e ter
segurança no futuro? Existe alguma expiação pela lei violada? Para essa
pergunta existem três respostas:
1) Alguns afirmam que a expiação não é possível e que a vida é governada
por uma lei inexorável, a qual punirá com precisão matemática todas as
violações. O que o homem semear, fatalmente, isso mesmo ele ceifará. O
pecado permanece. Assim o pecador nunca escapará às culpas do passado. Seu
futuro está hipotecado e não existe redenção para ele. Essa teoria faz do
homem um escravo de suas circunstâncias; nada pode fazer quanto ao seu
destino. Se os proponentes dessa teoria reconhecem a DEUS, para eles DEUS é
escravizado às suas próprias leis, incapaz de prover um meio de escape para
os pecadores.
2) No outro extremo há aqueles que ensinam que a expiação é desnecessária.
DEUS é tão bom que não punirá o pecador, e tão gracioso que não exigirá a
satisfação da lei violada. Por conseguinte, a expiação toma-se
desnecessária e é de supor que DEUS perdoará a todos. Certa vez um médico
disse a uma cliente que lhe havia falado do Evangelho: Eu não preciso de
expiação. Quando erro, peço simplesmente a DEUS que me desculpe, e é
quanto basta." Depois de certo tempo a cliente voltou ao médico e lhe
disse: "Doutor, agora estou bem. Sinto muito haver ficado doente, e
prometo-lhe que me esforçarei para nunca mais adoecer." Ao mesmo
tempo ela insinuou que nenhuma necessidade havia de considerar ou pagar
a conta! Cremos que o médico compreendeu a lição, isto é, que mero
arrependimento não salda conta, nem repara os estragos causados pelo
pecado.
3) O Novo Testamento ensina que a expiação é tanto necessária como também
possível; possível porque DEUS é benévolo, bem como justo; necessária
porque DEUS é justo, bem como benévolo. Os dois erros acima tratados são
exageros de duas verdades sobre o caráter de DEUS. O primeiro exagera a
sua justiça, excluindo a sua graça. O segundo exagera sua graça, excluindo
a sua justiça. A expiação faz justiça a ambos os aspectos de seu caráter,
pois na morte de CRISTO, DEUS está agindo de modo justo como também
benévolo. Ao tratar do pecado, ele precisa mostrar sua graça, pois ele não
deseja o morte do pecador; mas, ao perdoar o pecado, ele precisa revelar a
sua justiça, pois a própria estabilidade do universo depende da soberania
de DEUS. Na expiação DEUS faz justiça a seu caráter como um DEUS benévolo. Sua
justiça clamou pelo castigo do pecador, mas sua graça proveu um plano para
o perdão. Ao mesmo tempo ele faz justiça a seu caráter como um DEUS justo
e reto. DEUS não faria justiça a si mesmo se manifestasse compaixão para
com os pecadores de maneira que fizesse do pecado uma coisa leve e que
ignorasse sua trágica realidade. Poderíamos pensar que DEUS seria então
indiferente ou indulgente quanto ao pecado. O castigo do pecado foi pago
no Calvário, e a lei divina foi honrada; dessa maneira DEUS pôde ser benévolo
sem ser injusto, e justo sem ser inclemente.
3. A natureza da expiação.
A morte de CRISTO é: "CRISTO morreu", expressa o fato histórico da
crucificação; "por nossos pecados", interpreta o fato. Em que
sentido morreu JESUS por nossos pecados? Como é explicado o fato no Novo
Testamento? A resposta encontra-se nas seguintes palavras-chave aplicadas à
morte de CRISTO: Expiação, Propiciação, Substituição, Redenção
e Reconciliação.
(a) Expiação. A palavra expiação no hebraico significa literalmente
'cobrir', e é traduzida pelas seguintes palavras: fazer expiação,
purificar, quitar, reconciliar, fazer reconciliação, pacificar, ser
misericordioso. A expiação, no original, inclui a ideia de cobrir, tanto
os pecados (Sal.
78:38;79:9; Lev.
5:18) como também o pecador. (Lev.
4:20.) Expiar o pecado é ocultar o pecado da vista de DEUS de modo
que o pecador perca seu poder de provocar a ira divina. Citamos aqui o Pr.
Alfred Cave: A ideia expressa pelo original hebraico da palavra traduzida
"expiar", era "cobrir" e "cobertura", não no
sentido de torná-lo invisível a Jeová , mas no sentido de ocupar sua
vista com outra coisa, de neutralizar o pecado, por assim dizer, de
desarmá-lo, de torná-lo inerte para provocar a justa ira de DEUS. Expiar o
pecado... era arrojar, por assim dizer, um véu sobre o pecado tão
provocante, de modo que o véu., e não o pecado, fosse visível; era colocar lado
a lado com o pecado algo tão atraente que cativasse completamente a
atenção. A figura que o Novo Testamento usa ao falar das vestes novas (de
justiça), usa-a o Antigo Testamento ao falar da "expiação".
Quando se fazia expiação sob a lei, era como se o olho divino, que se havia
acendido pela presença do pecado e a impureza, fosse aquietado
pela vestidura posta ao seu derredor; ou, usando uma figura
muito mais moderna, porém igualmente apropriada, era como se o pecador,
exposto a uma descarga elétrica da ira divina, houvesse sido
repentinamente envolto e isolado. A exposição significa cobrir de tal
maneira o pecador, que seu pecado era invisível ou inexistente no sentido
de que já não podia estar entre ele e seu Criador. Quando o sangue era
aplicado ao altar pelo sacerdote, o israelita sentia a segurança de que a
promessa feita a seus antecessores se faria real para ele. "Vendo eu
sangue, passarei por cima de vós" (Êxo.
12:13). Quais eram o efeitos da expiação ou da cobertura? O pecado
era apagado (Jer.
18:23; Isa.
43:25; 44:22);
removido (Isa.6:7);
coberto (Sal.
32:1); lançado nas profundidades do mar (Miq.
7:19); perdoado (Sal.
78:38). Todos esses termos ensinam que o pecado é coberto de modo
que seus efeitos sejam removidos, afastados da vista, invalidados,
desfeitos. Jeová já não vê nem sofre influência alguma dele. A morte de
CRISTO foi uma morte expiatória, porque seu propósito era apagar o pecado.
(Heb.
9:26, 28; 2:17; 10:12-14; 9:14.)
Foi uma morte sacrificial ou uma morte que tinha relação com o pecado. Qual era
essa relação? "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre
o madeiro" (1Ped.
2:24). "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós,
para que nele fôssemos feitos justiça de DEUS" (2
Cor. 5:21) Expiar o pecado significa levá-lo embora, de modo que ele é
afastado do transgressor, o qual é considerado, então, como justificado de toda
a injustiça, purificado de contaminação e santificado para pertencer ao povo
de DEUS. Uma palavra hebraica usada para descrever a purificação
significa, literalmente, "quitar o pecado". Pela morte expiatória de
CRISTO os pecadores são purificados do pecado e logo feitos participantes da
natureza de CRISTO. Eles morrem para o pecado a fim de viverem para
CRISTO.
(b) Propiciação. Crê-se que a palavra propiciação tem sua origem em uma
palavra latina "propõe", que significa "perto de". Assim se
nota que a palavra significa juntar, tornar favorável. O sacrifício de
propiciação traz o homem para perto de DEUS, reconcilia-o com DEUS fazendo
expiação por suas transgressões, ganhando a graça e favor. (Em sua
misericórdia, DEUS aceita o dom propiciatório e restaura o pecador a seu
amor. Esse também é o sentido da palavra grega como é usada no Novo
Testamento. Propiciar é aplacar a ira de um DEUS santo pela oferenda dum
sacrifício expiatório. CRISTO é descrito como sendo essa propiciação (Rom.
3:25: 1
João 2:4; 4). O
pecado mantém o homem distanciado de DEUS; mas CRISTO tratou de
tal maneira o assunto do pecado, a favor do homem, que o seu
poder separador foi anulado. Portanto, agora o homem pode
"chegar-se" a DEUS "em seu nome". O acesso a DEUS, o mais
sublime dos privilégios, foi comprado por grande preço: o sangue de CRISTO.
Assim escreve o Dr. James Denney: E assim como no Antigo Testamento
todo objeto usado na adoração tinha que ser aspergido com sangue
expiatório, assim também todas as partes da adoração cristã; todas as nossas
aproximações a DEUS devem descansar conscientemente sobre a expiação. Deve-se
sentir que é um privilégio de inestimável valor; deve ser permeado com o
sentimento da paixão de CRISTO e com o amor com que ele nos amou
quando sofreu por nossos pecados de uma vez para sempre, o justo
pelos injustos para chegar-nos a DEUS. A palavra "propiciação"
em Romanos
3:25 é tradução da palavra grega "hilasterion", que
se encontra também em Heb.
9:5 onde é traduzida como "propiciatório". No
hebraico, "propiciatório" significa literalmente "coberta",
e, tanto no hebraico como no grego, a palavra expressa o pensamento de um
sacrifício (*). Refere-se à arca da aliança (Êxo.
25:10-22) que estava composta de duas partes: primeira, a arca,
representando o trono do justo governante de Israel, contendo as tábuas da lei
como a expressão de sua justa vontade; segunda, a coberta, ou tampa,
conhecida como "propiciatório", coroada com figuras angélicas
chamadas querubins. Duas lições salientes eram comunicadas por essa mobília:
primeira, as tábuas da lei ensinavam que DEUS era um DEUS justo que não
passaria por alto o pecado e que devia executar seus decretos e castigar os
ímpios. Como podia uma nação pecaminosa viver ante sua face? O propiciatório,
que cobria a lei, era o lugar onde se aspergia o sangue uma vez por ano
para fazer expiação pelos pecados do povo. Era o lugar onde o pecado era
coberto, e ensinava a lição de que DEUS, que é justo, pode perfeitamente
perdoar o pecado por causa dum sacrifício expiatório. Por meio do sangue
expiatório, aquilo que é um trono de juízo se converte em trono de graça.
A arca e o propiciatório ilustram o problema resolvido pela expia ao. O
problema e sua solução são declarados em Rom.
3: 24-26, onde lemos: "sendo justificados gratuitamente pela sua
graça, pela redenção que há em CRISTO JESUS, ao qual DEUS propôs
para propiciação (um sacrifício expiatório) pela fé no seu
sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados
dantes cometidos (demonstrar que a aparente demora em executar o juízo não
significa que DEUS passou por alto o pecado) sob a paciência de DEUS; para
demonstração da sua justiça, neste tempo presente (sua maneira de fazer justos
os pecadores), para que ele seja justo (infligir o devido castigo pelo
pecado), e justificador (remover o castigo pelo pecado) daquele que tem fé
em JESUS". Como pode DEUS realmente infligir o castigo do pecado e ao
mesmo tempo cancelar esse castigo? DEUS mesmo tomou o castigo na pessoa de
seu Filho, e desta maneira abriu o caminho para o perdão do culpado.
Sua lei foi honrada e o pecador foi salvo. O pecado foi expiado
e DEUS foi propiciado. Os homens podem entender como DEUS pode
ser justo e castigar, ser misericordioso e perdoar; mas a maneira
como pode DEUS ser justo no ato de justificar ao culpado, é para
eles um enigma. O Calvário resolve o problema. É preciso esclarecer o fato
de que a propiciação foi uma verdadeira transação, porque alguns ensinam
que a expiação foi simplesmente uma demonstração do amor de DEUS e de
CRISTO, com a intenção de comover o pecador ao arrependimento. Esse
certamente é um dos efeitos da expiação (1
João 3:16), mas não representa o todo da expiação. Por exemplo,
poderíamos pular para dentro dum rio e afogarmo-nos à vista de uma pessoa
muito pobre a fim de convencê-la do nosso amor por ela; mas esse ato não
pagaria o aluguel da casa nem a conta do fornecedor que ele devesse!
A obra expiatória de CRISTO foi uma verdadeira transação que removeu
um verdadeiro obstáculo entre nós e DEUS, e pagou a dívida que não podíamos
pagar.
(c) Substituição. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram substitutos por
natureza; eram considerados como algo a que se procedia, no altar, para o
israelita, que não podia fazê-lo por si mesmo. O altar representava o
pecador; a vítima era o substituto do israelita para ser aceita em seu
favor. Da mesma forma CRISTO, na cruz, fez por nós o que não
podíamos fazer por nos mesmos, e qualquer que seja a nossa
necessidade, somos aceitos "por sua causa". Se oferecemos a DEUS
nosso arrependimento, gratidão ou consagração, fazemo-lo "em seu
nome", pois ele é o Sacrifício por meio do qual chegamos a DEUS o
Pai. O pensamento de substituição é saliente nos sacrifícios do Antigo
Testamento, onde o sangue da vítima é considerado como uma coberta ou como
fazendo expiação pela alma do ofertante. No capítulo em que os sacrifícios do
Antigo Testamento alcançam seu maior significado (Isa.
53) lemos: "Verdadeiramente" ele tomou sobre si as
nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si... mas ele foi
ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo
que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados,
(vers. 4, 5). Todas essas expressões apresentam o Servo de Jeová como
levando o castigo que devia cair sobre outros, a fim de "justificar
a muitos"; e "levar as iniquidades deles". CRISTO, sendo o
Filho de DEUS, pôde oferecer um sacrifício de valor eterno e infinito.
Havendo assumido a natureza humana, Pôde identificar-se com o gênero humano e
assim sofrer o castigo que era nosso, a fim de que pudéssemos escapar.
Isso explica a exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?"
Ele que era sem pecado por natureza, que nunca havia cometido um
pecado sequer em sua vida, se fez pecador (ou tomou o lugar do pecador).
Nas palavras de Paulo: "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado
por nós" (2
Cor. 5:21). Nas palavras de Pedro: "Levando ele mesmo em seu corpo
os nossos pecados sobre o madeiro" (1
Ped. 2:24).
(d) Redenção. A palavra redimir, tanto no Antigo como no Novo Testamento,
significa tornar a comprar por um preço; livrar da servidão por preço,
comprar no mercado e retirar do mercado. O senhor JESUS é um Redentor e
sua obra expiatória é descrita como uma redenção. (Mat.
20:28; Apoc.
5:9; 14:3, 4; Gál.
3:13; 4:5; Tito
2:14; 1
Ped. 1:18.) A mais interessante ilustração de redenção se encontra no
Antigo Testamento, na lei sobre a redenção dum parente. (Lev.
25:47-49.) Segundo essa lei, um homem que houvesse vendido sua
propriedade e se houvesse vendido a si mesmo como escravo, por causa de
alguma dívida, podia recuperar, tanto sua terra como sua liberdade,
em qualquer tempo, sob a condição de que fosse redimido por um homem
que possuísse as seguintes qualidades: Primeira, deveria ser parente do
homem; segunda deveria estar disposto a redimi-lo ou comprá-lo novamente;
terceira, deveria ter com que pagar o preço. O Senhor JESUS CRISTO reuniu
em si essas três qualidades: Fez-se nosso parente, assumindo nossa
natureza; estava disposto a dar tudo para redimir-nos (2
Cor. 8:9); e, sendo divino, pôde pagar o preço... seu próprio sangue precioso.
O fato da redenção destaca o alto preço da salvação e, por conseguinte,
deve ser levado em grande consideração. Quando certos crentes em Corinto
se descuidaram de sua maneira de viver, Paulo assim os admoestou: "não sabeis...
que não sois de vós mesmos? porque fostes comprados por bom preço;
glorificai pois a DEUS no vosso corpo e no vosso espírito, os quais
pertencem a DEUS" (1
Cor. 6:19. 20).
Certa vez JESUS disse: "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e
perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" (Mar.
8:36, 37).
Com essa expressão ele quis dizer que a alma, a verdadeira vida do homem,
podia perder-se ou arruinar-se; e perdendo-se não podia haver compensação
por ela, porque não havia meios de tornar a comprá-la. Os homens ricos
poderão jactar-se de suas riquezas e nelas confiar, porém o poder delas é
limitado. O Salmista disse: "Nenhum deles de modo algum pode remir a
seu irmão, ou dar a DEUS o resgate dele (pois a redenção da sua alma é
caríssima, e seus recursos se esgotariam antes) por isso tão pouco viver
para sempre ou deixar de ver a corrupção" (Sal
49: 7-9). Mas uma vez que as almas de multidões já foram
"confiscadas", por assim dizer, por viverem no pecado, e não podem
ser redimidas por meios humanos, que se pode fazer em favor delas? O Filho
do homem veio ao mundo "para dar a sua vida em resgate (ou para
redenção) de muitos (Mat.
20:28). O supremo objetivo de sua vinda ao mundo foi dar sua vida
como preço de resgate para que aqueles, cujas almas foram
"confiscadas", pudessem recuperá-las. As vidas (espirituais) de
muitos, "confiscadas", são libertadas pela rendição da vida por
parte de CRISTO. Pedro disse a seus leitores que eles foram resgatados de
sua vã maneira de viver, que por tradição (pela rotina ou costumes), receberam
dos seus pais (1
Pedro 1:18). A palavra "vã" significa "vazia", ou aquilo
que não satisfaz. A vida, antes de entrar em contato com a morte de
CRISTO, é inútil e vã é andar às apalpadelas, procurando uma coisa que
nunca poderá ser encontrada. Com todos os esforços não logra
descobrir a realidade; não tem fruto permanente. "Que adianta tudo
isso?" exclamam muitas pessoas. CRISTO nos redimiu dessa servidão. Quando
o poder da morte expiatória de CRISTO tem contato com a vida de alguém, essa
vida desfruta de grande satisfação. não está mais escravizada às tradições
de ancestrais ou limitada à rotina ou aos costumes estabelecidos. Antes,
as ações do cristão surgem duma nova vida que veio a existir pelo poder da
morte de CRISTO. A morte de CRISTO, sendo uma morte pelo pecado, liberta
e "toma a criar" a alma.
(e) Reconciliação. "Tudo isto provém de DEUS, que nos
reconciliou consigo mesmo por JESUS CRISTO, e nos deu o ministério
da reconciliação; isto é, DEUS estava em CRISTO reconciliando consigo o
mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nos a palavra da
reconciliação" (2
Cor. 5: 18, 19.)
Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com DEUS pela morte do seu
Filho (Rom.
5:10). Homens que em outro tempo eram estranhos entre si
e inimigos no entendimento pelas suas obras más, agora no corpo
da sua carne, pela morte, foram reconciliados (Col.
1:21). Muitas vezes a expiação é mal-entendida e, por conseguinte,
mal interpretada. Alguns imaginam que a expiação significa que
DEUS estava irado com o pecador, e que se afastou, mal-humorado,
até que se aplacasse a ira, quando seu Filho se ofereceu a pagar
a pena. Em outras palavras, pensam eles, DEUS teve que
ser reconciliado com o pecador. Essa ideia, entretanto é uma
caricatura da verdadeira doutrina. Através das Escrituras vemos que é
DEUS, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em prover expiação pelo
homem. Foi DEUS quem vestiu nossos primeiros pais; é o Senhor quem ordena os
sacrifícios expiatórios; foi DEUS quem enviou e deu seu Filho em
sacrifício pela humanidade. O próprio DEUS é o Autor da redenção do homem.
Ainda que sua majestade tenha sido ofendida pelo pecado do homem, sua
santidade, naturalmente, deve reagir contra o pecado, contudo, ele não
deseja que o pecador pereça (Ezeq.
33:11), e, sim, que se arrependa e seja salvo. Paulo não disse que DEUS
foi reconciliado com o homem, mas sim que DEUS fez algo a fim de
reconciliar consigo o homem. Esse ato de reconciliação é uma obra consumada; é
uma obra realizada em benefício dos homens, de maneira que, à vista de
DEUS, o mundo inteiro está reconciliado. Resta somente que o
evangelista a proclame e que o indivíduo a receba. A morte de CRISTO
tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com DEUS; cada indivíduo
deve torná-la real. Essa, em essência, é a mensagem do evangelho; a morte de
CRISTO foi uma obra consumada de reconciliação, efetuada independente de
nós, a um custo inestimável, para a qual são chamados os homens mediante
um ministério de reconciliação.
4. A eficácia da expiação.
Que efeito tem para o homem a obra expiatória de CRISTO? Que produz ela em
sua experiência?
(a) Perdão da transgressão. Por meio de sua obra expiatória, JESUS CRISTO
pagou a dívida que nos não podíamos saldar e assegurou a remissão dos pecados
passados. Assim, o passado pecaminoso para o cristão não é mais aquele
peso horrendo que conduzia, pois seus pecados foram apagados, carregados e
cancelados. (João
1:29; Efés.
1:7; Heb.
9:22-28; Apo.
1:5.) Começou a vida de novo, confiando em que os pecados do passado
nunca o encontrarão no juízo. (João
1^:24.)
(b) Livramento do pecado. Por meio da expiação o crente é liberto, não
somente da culpa dos pecados, mas também pode ser liberto do poder do
pecado. O assunto é tratado em Romanos, caps. 6 a 8. Paulo antecipa uma
objeção que alguns dos seus oponentes judeus devem ter suscitado muitas
vezes a saber, que se a pessoa fosse salva meramente por crer em JESUS,
essa pessoa teria opinião leviana sobre o pecado, dizendo: "Se
permanecermos no pecado, sua graça abundará" (Rom.
6:1). Paulo repudia tal pensamento e assinala que aquele que
verdadeiramente crê em CRISTO, rompeu com o pecado. O rompimento tão
decisivo que é descrito como "morte". A viva fé no Salvador
crucificado resulta na crucificação da velha natureza pecaminosa. O homem que
crê com todos os poderes de sua alma (é essa a verdadeira crença) que
CRISTO morreu por seus pecados, terá uma tal convicção sobre a
condição terrível do pecado, e o repudiará com todo o seu ser. A
cruz significa a sentença de morte sobre o pecado. Mas o tentador
está ativo e a natureza humana é fraca; por isso é necessária uma
vigilância constante e uma crucificação diária dos impulsos pecaminosos. (Rom.
6:11.) E a vitória é assegurada "Porque o pecado não terá domínio
sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rom.
6:14.) Isto é, a lei significa que algo deve ser feito pelo pecador;
não podendo pagar a dívida ou cumprir a exigência da lei, ele permanece
cativo pelo pecado. Por outro lado, graça significa que algo foi feito a favor
do pecador... a obra consumada do Calvário. Conforme o pecador crê no que foi
feito a seu favor, assim ele recebe o que foi feito. Sua fé tem um
poderoso aliado na Pessoa do ESPÍRITO SANTO, que habita nele. O ESPÍRITO
SANTO ajuda-o a repudiar as tendências pecaminosas; ajuda-o na oração e dá-lhe
a certeza de sua liberdade e vitória como um filho de DEUS. (Rom.
8). Na verdade, CRISTO morreu para remover o obstáculo do
pecado, para que o ESPÍRITO de DEUS possa entrar na vida humana (Gál.
3:13, 14).
Sendo salvo pela graça de DEUS, revelada na cruz, o crente recebe uma
experiência de purificação e vivificação espiritual (Tito
3: 5-7). Havendo morrido para a antiga vida de pecado, a pessoa nasce de
novo, para uma nova vida... nasce da água (experimentando a purificação) e
nasce do ESPÍRITO (recebendo a vida divina). (João 3:5.)
(c) Libertação da morte. A morte tem um significado tanto físico como
espiritual. No sentido físico denota a cessação da vida física,
consequente de enfermidade, decadência natural ou de causa violenta. é
porém, mais usada no sentido espiritual, isto é, como o castigo imposto
por DEUS sobre o pecado humano. A palavra expressa a condição espiritual
de separação de DEUS e do desagrado divino por causa do pecado. O
impenitente que morrer fora do favor de DEUS permanecerá eternamente
separado dele no outro mundo, sendo conhecida essa separação como a
"segunda morte". Este aviso: "No dia em que dela comeres,
certamente morrerás", não se teria cumprido se a morte fosse apenas o
ato físico de morrer, pois Adão e Eva continuaram a viver depois daquele
dia. Mas o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra
"morte" implicava todas as consequências penais do pecado — separação
de DEUS, iniquidade, inclinação para o mal, debilidade física,
e, finalmente, a morte física e as suas consequências. Quando as
Escrituras dizem que CRISTO morreu por nossos pecados, querem dizer que CRISTO
se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a
pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte
"para que, pela graça de DEUS, provasse a morte por todos" (Heb.
2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde
efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão,
porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A
verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o
"como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os
benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou
porque não compreende as leis do seu funcionamento.
Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de
não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expiação à simplicidade de. um
problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e CRISTO
deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer.
Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o
horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a
exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?" Essas não
são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo
conhecimento interno da presença de DEUS; são palavras de Um que efetuou um ato
que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou
os nossos pecados. (2
Cor. 5:21.) Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que
sofrer a morte física (Rom.
8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da
morte, e esta se toma uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido
JESUS afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca
morrerá" (João
11:26).
(d) O dom da vida eterna. CRISTO morreu para que nos não perecêssemos (a
palavra é usada no sentido bíblico de ruína espiritual), mas
"tenhamos a vida eterna" (João
3:14-16. Vide Rom.
6;23.) A vida eterna significa mais do que mera existência;
significa vida no favor de DEUS e comunhão com ele. Morto em transgressões e
pecados, o homem está fora do favor de DEUS; pelo sacrifício de CRISTO, o
pecado é expiado e ele restaurado à plena comunhão com DEUS. Estar no
favor de DEUS e em comunhão com ele é ter vida eterna, pois é a vida com
ele que é o Eterno. Essa vida é possuída agora porque os crentes estão em
comunhão com DEUS; a vida eterna é descrita como futura (Tito
1:2; Rom.
6:22), porque a vida futura trará perfeita comunhão com DEUS. "E
verão o seu rosto" (Apo.
22:4).
(e) A vida vitoriosa. A cruz é o dínamo que produz no coração humano essa
resposta que constitui a vida cristã. A expressão "eu viverei para
ele que morreu por mim", diz bem o dinamismo da cruz. A vida cristã é
a reação da alma ante o amor de CRISTO. A cruz de CRISTO inspira o verdadeiro
arrependimento, o qual é arrependimento para com DEUS. O pecado muitas vezes é
seguido de remorso, vergonha e ira; mas somente quando houver tristeza por ter
ofendido a DEUS, há verdadeiro arrependimento. Esse conhecimento interno
não se produz por vontade própria, pois a própria natureza do pecado tende
a obscurecer a mente e a endurecer o coração. O pecador precisa de um
motivo poderoso para arrepender-se — algo que o faça ver e sentir que seu
pecado ofendeu e injuriou profundamente a DEUS. Mas o decreto é
profundamente certo quando recordamos que a palavra "morte"
implicava todas as consequências penais do pecado — separação de DEUS,
iniquidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a
morte física e as suas consequências. Quando as Escrituras dizem que CRISTO
morreu por nossos pecados, querem dizer que CRISTO se submeteu, não
somente à morte física mas também à morte que significa a pena do pecado.
Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para que, pela
graça de DEUS, provasse a morte por todos" (Heb.
2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde
efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão,
porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A
verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o
"como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os
benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou
porque não compreende as leis do seu funcionamento.
Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de
não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expia ao à simplicidade de. um
problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e CRISTO
deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer.
Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o
horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a
exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?" Essas não
são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo
conhecimento interno da presença de DEUS; são palavras de Um que efetuou um ato
que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou
os nossos pecados. (2
Cor. 5:21.)
Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte
física (Rom.
8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da
morte, e esta se torna uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido
JESUS afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca
morrerá" (João
11:26).A cruz de CRISTO fornece esse motivo, pois ela demonstra a
natureza horrenda do pecado, pelo fato de ter causado a morte do Filho de
DEUS. Ela declara o terrível castigo sobre o pecado; mas revela também
o amor e a graça de DEUS. Está muito certo o que alguém disse: "Todos
os verdadeiros penitentes são filhos da cruz. Seu arrependimento não é
deles mesmos; é a reação para com DEUS produzida em suas almas pela
demonstração do que o pecado é para ele, e o que faz o seu amor para
alcançar e ganhar os pecadores."
Está escrito acerca de certos santos que vieram da grande tribulação, que
"Lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro" (Apoc.
7:14). A referência é ao poder santificador da morte de CRISTO. Eles
haviam resistido ao pecado, e agora eram puros. De onde receberam a força para
vencer o pecado? O poder do amor de CRISTO revelado no Calvário os constrangeu.
O poder da cruz, descendo em seus corações, os capacitou para vencerem o
pecado. (Vide Gál.
2:20.) "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra
do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte" (Apoc.
12:11). O amor de DEUS os constrangeu e ajudou-os a vencer. A pressão
sobre eles foi grande, mas, com o sangue do Cordeiro como o motivo que os
impulsionava, eram invencíveis. "Tendo em vista a cruz sobre a qual JESUS
morreu, não puderam "trair sua causa pela covardia, e não amaram mais as
suas vidas do que ele amou a sua. Eles pertenciam a CRISTO, como ele pertencia
a eles".
A vida vitoriosa inclui a vitória sobre Satanás. O Novo Testamento declara que
CRISTO venceu os demônios. (Luc.
10:17-20; João
12:31, 32; 14:30; Col.
2:15; Heb.
2:14, 15; Apoc.
12: 11.) Os crentes têm a vitória sobre o diabo enquanto tiverem o
Vencedor sobre o diabo!
VI. A natureza da salvação
O assunto desta secção será: Que é que constitui a salvação, ou "estado de
graça"?
1. Três aspectos da salvação.
Há três aspectos da salvação, e cada qual se caracteriza por uma palavra que
define ou ilustra cada aspecto:
(a) Justificação é um termo forense que nos faz lembrar um tribunal. O homem,
culpado e condenado, perante DEUS, é absolvido e declarado justo — isto é,
justificado.
(b) Regeneração (a experiência subjetiva) e Adoção (o privilégio objetivo)
sugerem uma cena familiar. A alma, morta em transgressões e ofensas, precisa
duma nova vida, sendo esta concedida por um ato divino de regeneração. A
pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de DEUS e membro de sua família.
(c) A palavra santificação sugere uma cena do templo, pois essa palavra
relaciona-se com o culto a DEUS. Harmonizadas suas relações com a lei de DEUS e
tendo recebido uma nova vida, a pessoa, dessa hora em diante, dedica-se ao
serviço de DEUS. Comprado por elevado preço, já não é dono de si; não mais se
afasta do templo (figurativamente falando), mas serve a DEUS de dia e de noite.
(Luc.
2:37.) Tal pessoa é santificada e por sua própria vontade entrega-se a
DEUS.
O homem salvo, portanto, é aquele cuja vida foi harmonizada com DEUS, foi
adotado na família divina, e agora dedica-se a servi-lo. Em outras palavras,
sua experiência da salvação, ou seu estado de graça, consiste em justificação,
regeneração (e adoção), e santificação. Sendo justificado, ele pertence aos
justos; sendo regenerado, ele é filho de DEUS; sendo santificado, ele é
"santo" (literalmente uma pessoa santa).
São essas bênçãos simultâneas ou consecutivas? Existe, de fato, uma ordem
lógica: o pecador harmoniza-se, primeiramente, perante a lei de DEUS; sua vida
é desordenada; precisa ser transformada. Ele vivia para o pecado e para o mundo
e, portanto, precisa separar-se para uma nova vida, para servir a DEUS. Ao
mesmo tempo as três experiências são simultâneas no sentido de que, na prática,
não se separam. Nós as separamos para poder estudá-las. As três constituem a
plena salvação. À mudança exterior, ou legal, chamada justificação, segue-se a
mudança subjetiva chamada regeneração, e esta , por sua vez, é seguida por
dedicação ao serviço de DEUS. Não concordamos em que a pessoa verdadeiramente
justificada não seja regenerada; nem admitimos que a pessoa verdadeiramente
regenerada não seja santificada (embora seja possível, na prática, uma pessoa
salva, às vezes, violar a sua consagração). Não pode haver plena salvação \ sem
essas três experiências, como não pode haver um triângulo sem três lados.
Representam elas o tríplice fundamento sobre o qual se baseia subsequente vida
cristã. Começando com esses três princípios, progride a vida cristã em direção
à perfeição.
Essa tríplice distinção regula a linguagem do Novo Testamento em seus mínimos
detalhes. Ilustremos assim:
(a) Em relação à justificação: DEUS é o Juiz, e CRISTO é o Advogado; o pecado é
a transgressão da lei; a expiação é a satisfação dessa lei; o arrependimento é
convicção; aceitação traz perdão ou remissão dos pecados; o ESPÍRITO testifica
do perdão; a vida cristã é obediência e sua perfeição é o cumprimento da lei da
justiça.
(b) A salvação é também uma nova vida em CRISTO. Em relação a essa nova vida,
DEUS é o Pai (Aquele que gera), CRISTO é o Irmão mais velho e a vida; o pecado
é obstinação, é a escolha da nossa própria vontade em lugar da vontade do Chefe
da família; expiação é reconciliação; aceitação é adoção; renovação de vida é
regeneração, é ser nascido de novo; a vida cristã significa a crucificação e
mortificação da velha natureza, a qual se opõe ao aparecimento da nova
natureza, e a perfeição dessa nova vida é o reflexo perfeito da imagem de
CRISTO, o unigênito Filho de DEUS.
(c) A vida cristã é a vida dedicada ao culto e ao serviço de DEUS, isto é, a
vida santificada. Em relação a essa Vida santificada, DEUS é o SANTO; CRISTO é
o sumo sacerdote; o pecado é a impureza; o arrependimento é a consciência dessa
impureza; a expiação é o sacrifício expiatório ou substitutivo; a vida cristã é
a dedicação sobre o altar (Rom.
12:1); e a perfeição desse aspecto é a inteira separação do pecado;
separação para DEUS.
E essas três bênçãos da graça foram providas pela morte expiatória de CRISTO, e
as virtudes dessa morte são concedidas ao homem pelo ESPÍRITO SANTO. Quanto à
satisfação das reivindicações da lei, a expiação proveu o perdão e a justiça
para o homem. Abolindo a barreira existente entre DEUS e o homem, ela
possibilitou a nossa vida regenerada. Como sacrifício pela purificação do
pecado, seus benefícios são santificação e pureza.
Notemos que essas três bênçãos fluem da nossa união com CRISTO. O crente é um
com CRISTO, em virtude de sua morte expiatória e em virtude do seu ESPÍRITO
vivificante. Tornamo-nos justiça de DEUS nele, (2
Cor. 5:21); por ele temos perdão dos pecados (Efés.
1:7); nele somos novas criaturas, nascidos de novo, com nova vida (2
Cor. 5:17); nele somos santificados (1Cor.
1:2), e ele é feito para nós santificação (1Cor.
1:30). Ele é "autor da salvação eterna".
2. Salvação - externa e interna.
A Salvação é tanto objetiva (externa) como subjetiva (interna).
(a) A justiça, em primeiro lugar, é mudança de posição, mas é acompanhada por
mudança de condições. A justiça tanto é imputada com também conferida.
(b) A adoção refere-se a conferir o privilégio da divina filiação; a
regeneração trata da vida interna que corresponde à nossa chamada e que nos faz
"participantes da natureza divina".
(c) A santificação é tanto externa como interna. De modo externo é separação do
pecado e dedicação a DEUS; de modo interno é purificação do pecado.
O aspecto externo da graça é provido pela obra expiatória de CRISTO; o aspecto
interno é a operação do ESPÍRITO SANTO.
3. Condições da salvação.
Que significa a expressão condições da salvação? Significa o que DEUS exige do
homem a quem ele aceita por causa de CRISTO e a quem dispensa as bênçãos do
Evangelho da graça.
As Escrituras apresentam o arrependimento e a fé como condições da salvação; o
batismo nas águas é mencionado como símbolo exterior da fé interior do
convertido. (Mar.
16:16; Atos
22: 16; 16:31; 2:38; 3:19.)
Abandonar o pecado e buscar a DEUS são as condições e os preparativos para a
salvação. Estritamente falando, não há mérito nem no arrependimento nem na fé;
pois tudo quanto é necessário para a salvação já foi providenciado a favor do
penitente. Pelo arrependimento o penitente remove os obstáculos à recepção do
dom; pela fé ele aceita o dom. Mas, embora sejam obrigatórios o arrependimento
e a fé, sendo mandamentos, é implícita a influência ajudadora do ESPÍRITO
SANTO. (Notem a expressão: "Deu DEUS o arrependimento" Atos
11:18.) A blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO afasta o único que pode
comover o coração e levá-lo à contrição. Por conseguinte, para tal pecado não
há perdão.
Qual é a diferença entre o arrependimento e a fé? A fé é o instrumento pelo
qual recebemos a salvação, fato que não se dá com o arrependimento. O
arrependimento ocupa-se com o pecado e o remorso, enquanto a fé ocupa-se com a
misericórdia de DEUS.
Pode haver fé sem arrependimento? Não. Só o penitente sente a necessidade do
Salvador e deseja a salvação de sua alma.
Pode haver arrependimento verdadeiro sem fé? Ninguém poderá arrepender-se no
sentido bíblico sem fé na Palavra de DEUS, sem acreditar em suas ameaças do
juízo e em suas promessas de salvação.
São a fé e o arrependimento apenas medidas preparatórias à salvação? Ambos
acompanham o crente durante sua vida cristã; o arrependimento torna-se em zelo
pela purificação da alma; e a fé opera pelo amor e continua a receber as coisas
de DEUS.
(a) Arrependimento. Alguém definiu o arrependimento das seguintes maneiras:
"A verdadeira tristeza sobre o pecado, incluindo um esforço sincero para
abandoná-lo"; "tristeza piedosa pelo pecado"; "convicção da
culpa produzida pelo ESPÍRITO SANTO ao aplicar a lei divina ao coração";
ou, nas palavras de menino: "Sentir tristeza a ponto de deixar o
pecado."
Ha três elementos que constituem o arrependimento segundo as Escrituras:
intelectual, emocional e prático. Podemos ilustrá-los da seguinte maneira: (1)
O viajante que descobre estar viajando em trem errado. Esse conhecimento corresponde
ao elemento intelectual pelo qual a pessoa compreende, mediante a pregação da
Palavra, que não está em harmonia com DEUS. (2) O viajante fica perturbado com
a descoberta. Talvez alimente certos receios. Isso ilustra o lado emocional do
arrependimento, que é uma autoacusação e tristeza sincera por ter ofendido a
DEUS. (2
Cor. 7:10) (3) Na primeira oportunidade o viajante deixa esse trem e embarca
no trem certo. Isso ilustra o lado prático do arrependimento, que significa em
"meia-volta.. . volver!" e marchar em direção a DEUS. Há uma palavra
grega traduzida "arrependimento", que significa literalmente
"mudar de ideia ou de propósito". O pecador arrependido se propõe
mudar de vida e voltar-se para DEUS; o resultado prático é que ele produz
frutos dignos do arrependimento. (Mat.
3:8.)
O arrependimento honra a lei como a fé honra o evangelho. Como, pois, o
arrependimento honra a lei? Contristado, o homem lamenta ter-se afastado do
santo mandamento, como também lamenta sua impureza pessoal que, à luz dessa
lei, ele compreende. Confessando — ele admite a justiça da sentença divina. Na
correção de sua vida ele abandona o pecado e faz a reparação possível e
necessária, de acordo com as circunstâncias.
De que maneira o ESPÍRITO SANTO ajuda a pessoa a arrepender-se? Ele a ajuda
aplicando a Palavra de DEUS à consciência, comovendo o coração e fortalecendo o
desejo de abandonar o pecado.
(b) Fé. Fé, no sentido bíblico, significa crer e confiar. É o assentimento do
intelecto com o consentimento da vontade. Quanto ao intelecto, consiste na
crença de certas verdades reveladas concernentes a DEUS e a CRISTO; quanto à
vontade, consiste na aceitação dessas verdades como princípios diretrizes da
vida. A fé intelectual não é o suficiente (Tia.
2:19; Atos
8:13, 21)
para adquirir a salvação. É possível dar seu assentimento intelectual ao
Evangelho sem, contudo, entregar-se a CRISTO. A fé oriunda do coração é o
essencial (Rom.
10:9). Fé intelectual significa reconhecer como verídicos os fatos do
evangelho; fé provinda do coração significa a pronta dedicação da própria vida
as obrigações implícitas nesses fatos. Fé, no sentido de confiança, implica
também o elemento emocional. Por conseguinte, a fé que salva representa um ato
da inteira personalidade, que envolve o intelecto, as emoções e a vontade.
O significado da fé determina-se pela maneira como se emprega a palavra no
original grego. Fé, às vezes, significa não somente crer em um corpo de
doutrinas, mas, sim, crer em tudo quanto é verdade, como, por exemplo nas
seguintes expressões: "Anuncia agora a fé que antes destruía
(Gál.
1:23); apostatarão alguns da fé" (1
Tim. 4:1); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jud.
3). Essa fé é denominada, às vezes, "fé objetiva" ou
externa. O ato de crer nessas verdades é conhecido como fé subjetiva.
Seguida por certas preposições gregas a palavra "crer" exprime a
ideia de repousar ou apoiar-se sobre um firme fundamento; é o sentido da
palavra crer que se lê no Evangelho de João
3:16. Seguida por outra preposição, a palavra significa a confiança que
faz unir a pessoa ao objeto de sua fé. Portanto, te e o elo de conexão entre a
alma e CRISTO.
A fé é atividade humana ou divina? O fato de que ao homem e ordenado crer
implica capacidade e obrigação de crer. Todos os homens tem a capacidade de
depositar sua confiança em alguém e em alguma coisa. Por exemplo: um deposita
sua fé em riquezas, outro no homem, outro em amigos, etc. Quando a crença e
depositada na palavra de DEUS, e a confiança está em DEUS e em CRISTO, isso
constitui fé que salva. Contudo, reconhecemos a graça do ESPÍRITO SANTO, que
ajuda, em cooperação com a Palavra, na produção dessa fé (Vide João
6:44; Rom.
10:17; Gál.
5:22; Heb.
12:2.)
Que é então, a fé que salva? Eis algumas definições: "Fé em CRISTO e graça
salvadora pela qual o recebemos e nele confiamos inteiramente para receber a
salvação conforme nos é oferecida no evangelho." E o "ato
exclusivamente do penitente, ajudado, de modo especial, pelo ESPÍRITO, e como
descansando em CRISTO." "É ato ou hábito mental da parte do
penitente, pelo qual, sob a influência da graça divina, a pessoa põe sua
confiança em CRISTO como seu único e todo suficiente Salvador." "É
uma firme confiança em que CRISTO morreu pelos meus pecados, que ele me amou e
deu-se a si mesmo por mim." "E crer e confiar nos méritos de CRISTO,
e por cuja cousa DEUS está disposto a mostrar-nos misericórdia." "É a
fuga do pecador penitente para a misericórdia de DEUS em cristo.
4. Conversão.
Conversão, segundo a definição mais simples, é abandonar o pecado e
aproximar-se de DEUS. (Atos
3:19.) O termo é usado para exprimir tanto o período crítico em que o
pecador volta aos caminhos da justiça como também para expressar o
arrependimento de alguma transgressão por parte de quem já se encontra nos
caminhos da justiça. (Mat.
18:3; Luc.
22:32; Tia.
5:20.)
A conversão está muito relacionada com o arrependimento e a te, e,
ocasionalmente, representa tanto um como outro ou ambos, no sentido de englobar
todas as atividades pelas quais o homem abandona o pecado e se aproxima de
DEUS. (Atos
3:19; 11:21; 1
Ped. 2:25.) O Catecismo de Westminster, em resposta à sua própria pergunta,
oferece a seguinte e adequada definição de conversão:
Que é arrependimento para a vida?
Arrependimento para a vida é graça salvadora, pela qual o pecador, sentindo
verdadeiramente o seu pecado , e lançando mão da misericórdia de DEUS em
CRISTO, e sentindo tristeza por causa do seu pecado e ódio contra ele,
abandona-o e aproxima-se de DEUS, fazendo o firme propósito de, daí em diante,
ser obediente a DEUS.
Note-se que, segundo essa definição, a conversão envolve a personalidade toda —
intelecto, emoções e vontade.
Como se distingue conversão de salvação? A conversão descreve o lado humano da
salvação. Por exemplo: observa-se que um pecador, bêbado notório, não bebe
mais, nem joga, nem frequenta lugares suspeitos; ele odeia as coisas que antes
amava e ama as coisas que outrora odiava. Seus amigos dizem: "Ele está
convertido; mudou de vida." Essas pessoas estão descrevendo o que aparece,
isto é, o lado humano do fato. Mas, do lado divino, diríamos que DEUS perdoou o
pecado do pecador e lhe deu um novo coração.
Mas isso significa que a conversão seja inteiramente uma questão de esforço
humano? Como a fé e o arrependimento estão inclusos na conversão, a conversão é
uma atividade humana; mas ao mesmo tempo é um efeito sobrenatural sendo ela a
reação por parte do homem ante o poder atrativo da graça de DEUS e da sua
Palavra. Portanto, a conversão é o resultado da cooperação das atividades
divinas e humanas. "Assim também operai a vossa salvação com temor e
tremor; porque DEUS é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar segundo
a sua boa vontade" (Fp
2:12,13).
As seguintes passagens referem-se ao lado divino da conversão: Jer.
31:18; Atos
3:26. E estas outras referem-se ao lado humano: Atos
3:19; 11:18; Ezeq.
33:11.
Qual se opera primeiro, a regeneração ou a conversão? As operações que envolvem
a conversão são profundas e de caráter misterioso; por conseguinte, não as
analisaremos com precisão matemática. O teólogo Dr. Strong conta o caso de um
candidato à ordenação a quem fizeram a pergunta acima. Ele respondeu: "Regeneração
e conversão são como a bala do canhão e o furo do cano do canhão — ambos
atravessam o cano juntos."
VII. A Justificação
1. Natureza da justificação: absolvição divina.
A palavra "justificar" é termo judicial que significa absolver,
declarar justo, ou pronunciar sentença de aceitação. A ilustração procede das
relações legais. O réu está perante DEUS, o justo Juiz; mas, ao invés de
receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição.
O substantivo "justificação" ou "justiça", significa o
estado de aceitação para o qual se entra pela fé. Essa aceitação é dom gratuito
da parte de DEUS, posto à nossa disposição pela fé em CRISTO. (Rom.
1:17; 3:21,22.) É
o estado de aceitação no qual o crente permanece (Rom.
5:2). Apesar de seu passado pecaminoso e de imperfeições no presente,
o crente goza de completa e segura posição para com DEUS.
"Justificado" é o veredito divino e ninguém o poderá contradizer. (Rom.
8:34.) Essa doutrina assim se define: "Justificação é um ato da
livre graça de DEUS pelo qual ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita
como justos aos seus olhos somente por nos ser imputada a justiça de CRISTO,
que se recebe pela fé."
Justificação é primeiramente uma mudança de posição da parte do pecador, o qual
antes era um condenado; agora, porém, goza de absolvição. Antes estava sob a
condenação, mas agora participa da divina aprovação.
Justificação inclui mais do que perdão dos pecados e remoção da condenação,
pois no ato da justificação DEUS coloca o ofensor na posição de justo. O
presidente da República pode perdoar o criminoso, mas não pode reintegrá-lo na
posição daquele que nunca desrespeitou as leis. Mas a DEUS é possível efetuar
ambas as coisas! Ele apaga o passado, os pecados e ofensas, e, em seguida,
trata o ofensor como se nunca tivesse cometido um pecado sequer! O criminoso
perdoado não é considerado ou descrito como bom ou justo; mas DEUS, ao perdoar
o pecador, o declara justificado, isto é, justo aos olhos divinos. Juiz algum
poderia justificar o criminoso, isto é, declará-lo homem justo e bom. Se DEUS
estivesse sujeito às mesmas limitações e justificasse somente gente boa, então
não haveria evangelho nenhum a ser anunciado aos pecadores. Paulo nos assegura
que DEUS justifica o ímpio. "O milagre do Evangelho é que DEUS se aproxima
dos ímpios, com uma misericórdia absolutamente justa e os capacita pela fé, a
despeito do que são, a entrarem em nova relação com ele, relação pela qual é
possível que se tomem bons. O segredo do Cristianismo do Novo Testamento, e de
todos os avivamentos e reformas da igreja, é justamente este maravilhoso
paradoxo: "DEUS justifica o ímpio!"
Assim vemos que justificação é primeiramente subtração — o cancelamento dos
pecados; segundo, adição — imputação de justiça.
2. Necessidade da Justificação: a condenação do homem.
"Como se justificará o homem para com DEUS?" perguntou Jó
9:2. "Que é necessário que eu faça para me salvar?"
interrogou o carcereiro de Filipos. Ambos expressaram a maior de todas as
perguntas: Como pode o homem acertar sua vida perante DEUS e ter certeza da
aprovação divina?
A resposta a essa interrogação encontra-se no Novo Testamento, especialmente na
epístola aos Romanos, na qual se apresenta, em forma sistemática e detalhada, o
plano da salvação. O tema do livro encontra-se no capítulo 1:16,17, o qual se
pode parafrasear da seguinte maneira: O evangelho é o poder de DEUS para a
salvação dos homens, pois o evangelho revela aos homens como se pode mudar de
posição e de condição, de maneira que eles sejam justos perante DEUS.
Uma das frases proeminentes da mesma epístola é: "A justiça de DEUS."
O inspirado apóstolo descreve a qualidade de justiça que DEUS aceita, de forma
que o homem que a possui tenha aceitação como justo perante ele. Essa justiça
resulta da fé em CRISTO. Paulo demonstra que todos os homens necessitam dessa
justiça de DEUS, porque toda a raça pecou. Os gentios estão sob condenação. Os
passos de sua degradação foram claros: outrora conheceram a DEUS (1:19,20);
falhando em o servirem e adorarem, seu coração insensato se obscureceu Rm
1:21,22; a
cegueira espiritual os conduziu à idolatria (Rm
1: 23) e a idolatria os conduziu à corrupção moral (vers. 24-31). São
indesculpáveis porque tinham a revelação de DEUS na natureza, e a consciência
que aprova ou desaprova seus atos. (Rom.
1:19,20; 2:14,15.) O
judeu também está sob condenação. É verdade que ele pertence à nação escolhida,
e conhece a lei de Moisés de há muitos séculos, mas transgrediu essa lei em
pensamentos, atos e palavras (cap. 2). Paulo, assim, estrondosamente, encerra
toda a raça humana sob a condenação: "Ora, nós sabemos que tudo o que a
lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja
fechada e todo o mundo seja condenável diante de DEUS. Por isso nenhuma carne
será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o
conhecimento do pecado" (Rom.
3:19,20).
Qual será essa "justiça" de que tanto necessita o homem? A própria
palavra significa "retidão", ou estado de reto, ou justo. A palavra
às vezes descreve o caráter de DEUS, como sendo isento de toda imperfeição ou
injustiça. Quando aplicada ao homem, significa o estado de retidão diante de
DEUS. Retidão significa "reto", aquilo que se conforma a um padrão ou
norma. Por conseguinte, é o homem que se conforma à lei divina. Mas que
acontecerá se esse homem descobrir que, em vez de ser "reto", ele é
perverso (literalmente "torto") sem poder se endireitar? É então que
ele precisa da justificação — que é obra exclusiva de DEUS.
Paulo declarou que pelas obras da lei ninguém será justificado. Essa declaração
não é uma crítica contra a lei, a qual é santa e perfeita. Significa
simplesmente que a lei não foi dada com esse propósito de fazer justo o povo,
e, sim, de suprir a necessidade duma norma de justiça. A lei pode ser comparada
a uma fita métrica que pode medir o comprimento do pano, sem, contudo, aumentar
o comprimento. Podemos compará-la à balança que determina o nosso peso, sem,
contudo, aumentar esse peso. "Pela lei vem o conhecimento do pecado."
"Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de DEUS" (Rom.
3:21). Notem a palavra "agora". Alguém disse que Paulo
dividiu todo o tempo em "agora" e "depois". Em outras
palavras, a vinda de CRISTO operou uma grande mudança nas transações de DEUS
com os homens. Introduziu uma nova dispensação. Durante séculos os homens
pecavam e aprendiam a impossibilidade de aniquilarem ou vencerem seus pecados.
Mas agora DEUS, clara e abertamente, revelou-lhes um novo caminho.
Muitos israelitas julgavam que devia haver um meio de serem justificados sem
ser pela guarda da lei; por duas razões: 1) perceberam um grande abismo entre
as exigências de DEUS para com Israel e seu verdadeiro estado espiritual.
Israel era injusto, e a salvação não podia proceder dos próprios méritos ou
esforços. A salvação teria que proceder de DEUS, por sua intervenção. 2) Muitos
israelitas reconheceram por experiência própria sua incapacidade para guardar
perfeitamente a lei. Chegaram à conclusão de que devia haver uma justiça
alcançável independentemente de suas próprias obras e esforços. Em outras
palavras, anelavam por redenção e graça. E DEUS lhes assegurou que tal justiça
lhes seria revelada. Paulo (Rom.
3:21) fala da justiça de DEUS sem a lei, "tendo o testemunho da
lei (Gên.
3:15; 12:3; Gál.
3:6-8) e dos profetas (Jer.
23:6; 31:31-34)".
Essa justiça incluía tanto o perdão dos pecados como a justiça íntima do
coração.
Na verdade, Paulo afirma que a justificação pela fé foi o plano original de
DEUS para a salvação dos homens; a lei foi acrescentada para disciplinar os
israelitas e fazê-los sentir a necessidade de redenção. (Gál.
3:19-26.) Mas a lei em si não possuía poder para salvar, como o termômetro
não tem poder para baixar a febre que ele registra. Seria o próprio Senhor, o
Salvador do seu povo; e sua graça seria a sua única esperança.
Infelizmente, os judeus exaltaram a lei, imaginando que ela fosse um agente
justificador, e elaboraram um plano de salvação baseado no mérito pela guarda
dos seus preceitos e das tradições que lhes foram acrescentadas.
"Porquanto, não conhecendo a justiça de DEUS, e procurando estabelecer a
sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de DEUS" (Rom.
10:3). Não conheceram o propósito da lei. Confiaram nela como meio de
salvação espiritual, ignorando a pecabilidade dos seus próprios corações, e
imaginavam que seriam salvos pela guarda da letra da lei. Por essa razão,
quando CRISTO veio, oferecendo-lhes a salvação dos seus pecados, pensavam que
não precisavam dum Messias como ele. (vide João
8:32-34.) O pensamento dos judeus era o de estabelecer rígidos requisitos
pelos quais conseguiriam a vida eterna. "Que faremos para executarmos as
obras de DEUS?" perguntaram. E não se prontificaram a obedecer à indicação
de JESUS: "A obra de DEUS é esta: Que creiais naquele que ele enviou"
(João
6:28,29).
Tão ocupados estavam em estabelecer seu próprio sistema de justiça, que
perderam, por completo, a oportunidade de serem participantes da justificação
divinamente provida para os homens pecadores. Na viagem, um trem representa o
meio de conseguir um determinado alvo. Ninguém pensa em fazer do trem sua
morada; antes, preocupa-se tão somente em chegar ao destino. Ao chegar a esse
destino, deixa-se o trem. A lei foi dada a Israel com o propósito de conduzi-lo
a um destino, e esse destino é a fé na graça salvadora de DEUS. Mas, ao
aparecer o Redentor, os judeus satisfeitos consigo mesmos, fizeram o papel do
viajante que, chegando ao destino, se recusa a deixar o trem, embora o condutor
lhe diga: "Estamos no fim da viagem"! Os judeus se recusaram a deixar
as poltronas do "trem do Antigo Pacto", muito embora o Novo
Testamento lhes assegurasse: "O fim da lei é CRISTO", e que se
cumpriu o Antigo Testamento. (Rom.
10:4.)
3. A fonte da justificação: a graça.
Graça significa, primeiramente, favor, ou a disposição bondosa da parte de
DEUS. Alguém a definiu como a "bondade genuína e favor não
recompensados", ou "favor não merecido". Dessa forma a graça
nunca incorre em dívida. O que DEUS concede, concede-o como favor; nunca
podemos recompensá-lo ou pagar-lhe. A salvação é sempre apresentada como dom,
um favor não merecido, impossível de ser recompensado; é um benefício legítimo
de DEUS. (Rom.
6:23) O serviço cristão portanto, não é pagamento pela graça de DEUS;
serviço cristão é um meio que o crente aproveita para expressar sua devoção e
amor a DEUS. "Nós o amamos porque ele primeiramente nos amou."
A graça é transação de DEUS com o homem, absolutamente independente da questão
de merecer ou não merecer. "Graça não é tratar a pessoa como merece, nem
tratá-la melhor do que merece", escreveu L. S. Chafer. "E tratá-la
graciosamente sem a mínima referência aos seus méritos. Graça é amor infinito
expressando-se em bondade infinita."
Devemos evitar certo mal-entendido. Graça não significa que DEUS é de coração
tão magnânimo que abranda a penalidade ou desiste dum justo juízo.
Sendo DEUS o Soberano perfeito do universo, ele não pode tratar indulgentemente
o assunto do pecado pois isso depreciaria sua perfeita santidade e justiça. A
graça de DEUS aos pecadores revela-se no fato de que ele mesmo pela expiação de
CRISTO, pagou toda a pena do pecado. Por conseguinte, ele pode justamente
perdoar o pecado sem levar em conta os merecimentos ou não merecimentos. Os
pecadores são perdoados, não porque DEUS seja benigno para desculpar os pecados
deles, mas porque existe redenção mediante o sangue de CRISTO. (Rom.
3:24; Efés.
1:6.) Os pregadores modernistas erram nesse ponto; pensam que DEUS por
sua benignidade perdoa os pecados; entretanto, seu perdão baseia-se na mais
rigorosa justiça. Ao perdoar o pecado, "Ele é fiel e justo" (1
João 1:9). A graça de DEUS revela-se no fato de haver ele provido uma
expiação pela qual pode ser justo e justificador e, ao mesmo tempo, manter sua
santa e imutável lei. A graça manifesta-se independente das obras ou atividades
dos homens. Quando a pessoa está sob a lei, não pode estar sob a graça; e
quando está sob a graça, não pode estar sob a lei. Está "sob a lei"
quando tenta assegurar a sua salvação ou santificação como recompensa, por
fazer boas obras ou observar certas cerimônias. Essa pessoa está "sob a graça"
quando assegura para si a salvação por confiar na obra que DEUS fez por ela, e
não na obra que ela faz para DEUS. As duas esferas são mutuamente exclusivas. (Gál.
5:4.) A lei diz: "paga tudo"; mas a graça diz: "Tudo
está pago." A lei representa uma obra a fazer; a graça é uma obra
consumada. A lei restringe as ações; a graça transforma a natureza. A lei
condena; a graça justifica. Sob a lei a pessoa é servo assalariado; sob a graça
é filho em gozo de herança ilimitada.
Enraizada no coração humano está a ideia de que o homem deve algo para
tornar-se merecedor da salvação. Na igreja primitiva certos instrutores
judaico-cristãos insistiam em que os convertidos fossem salvos pela fé e a
observância da Lei de Moisés. Entre os pagãos, e em alguns setores da igreja
cristã, esse erro tem tomado a forma de auto castigo, observância de ritos,
peregrinações, e esmolas. A ideia substancial de todos esses esforços é a
seguinte: DEUS não é bondoso; o homem não é justo; por conseguinte, o homem
precisa fazer-se justo a fim de tornar DEUS benigno. Esse foi o erro de Lutero,
quando, mediante auto mortificações, envidava esforços para efetuar a sua
própria salvação. "Oh quando será que você se tornará piedoso a ponto de
ter um DEUS benigno?" exclamou certa vez, referindo-se a si próprio.
Finalmente Lutero descobriu a grande verdade básica do evangelho: DEUS é
bondoso; portanto deseja fazer justo o homem. A graça do amoroso Pai, revelada
na morte expiatória de CRISTO é um dos elementos que distinguem o Cristianismo
das demais religiões.
Salvação é a justiça de DEUS imputada ao pecador; não é a justiça imperfeita do
homem. Salvação é divina reconciliação; não é regulamento humano. Salvação é o
cancelamento de todos os pecados; não é eliminar alguns pecados. Salvação é ser
libertado da lei e estar morto para a lei; não é ter prazer na lei ou obedecer
á lei. Salvação é regeneração divina; não é reforma humana. Salvação é ser
aceitável a DEUS; não é tornar-se excepcionalmente bom. Salvação é perfeição em
CRISTO; não é competência de caráter. A salvação, sempre e somente, procede de
DEUS; nunca procede do homem. — Lewis Sperry Chofer. Usa-se, às vezes, a
palavra "graça", no sentido íntimo, para indicar a operação da
influência divina (Efés.
4:7) e seus efeitos (Atos
4:33; 11:23; Tia.
4:6; 2
Cor. 12:9). As operações desse aspecto da graça têm sido classificadas da
seguinte maneira: Graça proveniente (literalmente, "que vem antes") é
a influência divina que precede a conversão da pessoa, influências que produzem
o desejo de voltar para DEUS. É o efeito do favor divino em atrair os homens (João
6:44) e convencer os desobedientes. (Atos
7:51.) Essa graça, às vezes, é denominada eficiente, tornando-se eficaz
em produzir a conversão, quando não encontra resistência. (João
5:40; Atos
7:51; 13:46.) A
graça efetiva capacita os homens a viverem justamente, a resistirem à tentação,
e a cumprirem o seu dever. Por isso pedimos graça ao Senhor para cumprir uma
determinada tarefa. A graça habitual é o efeito da morada do ESPÍRITO SANTO que
resulta em uma vida plena do fruto do ESPÍRITO (Gál.
5:22,23).
4. Fundamento da justificação: a justiça de CRISTO.
Como pode DEUS tratar o pecador como pessoa justa? Resposta: DEUS lhe provê a
justiça. Mas será que isso é apenas conceder o título de "bom" e
"justo" a quem não o merece? Resposta: O Senhor JESUS CRISTO ganhou o
título a favor do pecador, o qual é declarado justo "mediante a redenção
que há em CRISTO JESUS". Redenção significa completa libertação por preço
pago.
CRISTO ganhou essa justiça por nós, por sua morte expiatória, como está
escrito: "Ao qual DEUS propôs para propiciação pela fé no seu
sangue." Propiciação é aquilo que assegura o favor de DEUS para com os que
não o merecem. CRISTO morreu por nós para nos salvar da justa ira de DEUS e nos
assegurar o seu favor. A morte e a ressurreição de CRISTO representam a
provisão externa para a salvação do homem, referindo-se o termo justificação à
maneira pela qual os benefícios salvadores da morte de CRISTO são postos à
disposição do pecador. Fé é o meio pelo qual o pecador lança mão desses
benefícios.
Consideremos a necessidade de justiça. Como o corpo necessita de roupa, assim a
alma necessita de caráter. Assim como é necessário apresentar-se em público
decentemente vestido, assim é necessário que o homem se vista da roupa dum
caráter perfeitamente justo para apresentar-se diante de DEUS. (Vide Apo.
19:8; 3:4; 7:13,14.)
As vestes do pecado estão sujas e rasgadas (Zac.
3:1-4); se o pecador se vestisse de sua própria bondade e seus próprios
méritos, alegando serem boas as suas obras, elas seriam consideradas como
"trapos de imundícia". (Isa.
64:6.) A única esperança do homem é adquirir a justiça que DEUS aceita
— a "justiça de DEUS". Visto que o homem por natureza está destituído
dessa justiça, terá que ser provida para ele essa justiça; terá que ser uma
justiça que lhe seja imputada, não merecida.
Essa justiça foi comprada pela morte expiatória de CRISTO. (Isa.
53:5,11; 2
Cor. 5:21; Rom.
4:6; 5:18,19.)
Sua morte foi um ato perfeito de justiça, porque satisfez a lei de DEUS. Foi
também um ato perfeito de obediência. Tudo isso foi feito por nós e posto a
nosso crédito. "DEUS nos aceita como justos aos seus olhos somente por nos
ter sido imputada a justiça de CRISTO", afirma determinada declaração
doutrinária.
O ato pelo qual DEUS credita essa justiça à nossa conta chama-se imputação.
Imputação é levar à conta de alguém as consequências do ato de outrem. As
consequências do pecado do homem foram levadas à conta de CRISTO, e as
consequências da obediência de CRISTO foram levadas à conta do crente. Ele
vestiu-se das vestes do pecado para que nós pudéssemos nos vestir do seu
"manto de justiça". "CRISTO... para nós foi feito por DEUS...
justiça" (1Cor.
1:30). Ele torna-se "O Senhor Justiça Nossa" (Jer.
23:6).
CRISTO expiou nossa culpa, satisfez a lei, tanto por obediência como por
sofrimento, e tornou-se nosso substituto, de maneira que, estando unidos com
ele pela fé, sua morte toma-se nossa morte, e sua obediência toma-se nossa
obediência. DEUS então nos aceita, não por qualquer bondade própria que nós
tenhamos, nem pelas coisas imperfeitas que são as nossas "obras" (Rom.
3:28; Gál.
2:16), nem por nossos méritos, mas porque nos foi creditada a perfeita
e toda-suficiente justiça de CRISTO. Por causa de CRISTO, DEUS trata o homem
culpado, quando este se arrepende e crê, como se fosse justo. Os méritos de
CRISTO são creditados a ele.
Também surgem as seguintes perguntas na mente da pessoa que investiga: sim, a
justificação que salva é algo externo e concernente à posição legal do pecador;
mas não haverá mudança alguma na condição moral? Afeta a sua situação, mas não
afetará sua conduta? A justiça é imputada somente e não concedida de modo
prático? Na justificação CRISTO somente será por nós, ou agirá também em nós?
Em outras palavras, parece que a imputação da justiça desonraria a lei se não
incluísse a certeza de justiça futura.
A resposta é que a fé que justifica é o ato inicial da vida cristã e esse ato
inicial, quando a fé for viva, é seguido por uma transformação interna
conhecida como regeneração. A fé une o crente com o CRISTO vivo; essa união com
o Autor da vida resulta em transformação do coração. "Se alguém está em
CRISTO, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez
novo" (2
Cor. 5:17). A justiça é imputada no ato da justificação e é comunicada na
regeneração. O CRISTO que é por nós torna-se o CRISTO em nós.
A fé pela qual a pessoa é realmente justificada, necessariamente tem que ser
uma fé viva. Uma fé viva produzirá uma vida reta; será uma fé que "opera
pelo amor" (Gál.
5:6). Outrossim, vestindo a justiça de CRISTO, o crente é exortado a
viver uma vida em conformidade com o caráter de CRISTO. "Porque o linho
fino são as justiças dos santos" (literalmente os atos de justiça) (Apoc.
19:8). A verdadeira salvação requer uma vida de santidade prática. Que
julgamento faríamos da pessoa que sempre se vestisse de roupa imaculada mas
nunca lavasse o corpo? Incoerente, diríamos! Mas não menos incoerente é a
pessoa que alega estar vestida da justiça de CRISTO, e, ao mesmo tempo, vive de
modo indigno do evangelho. Aqueles que se vestem da justiça de CRISTO terão
cuidado de purificar-se do mesmo modo como ele é puro. (1
João 3:3.)
5. Os meios da justificação: a fé.
Visto que a lei não pode justificá-lo, a única esperança do homem é receber
"justiça sem lei" (isto, entretanto, não significa injustiça ilegal,
nem tampouco religião que permita o pecado; significa sim, uma mudança de
posição e condição). Essa é a "justiça de DEUS", isto é, a justiça
que DEUS concede, sendo também um dom, pois o homem é incapaz de operar a
justiça. (Efés.
2:8-10.)
Mas um dom tem que ser aceito. Como, então, será aceito o dom da justiça? Ou,
usando a linguagem teológica: qual é o instrumento que se apropria da justiça
de CRISTO? A resposta é: "pela fé em JESUS CRISTO." A fé é a mão, por
assim dizer, que recebe o que DEUS oferece. Que essa fé é a causa instrumental
da justificação prova-se pelas seguintes referências: Rom.
3:22; 4:
11; 9:30; Heb.
11:7; Fil.
3:9.
Os méritos de CRISTO são comunicados e seu interesse salvador é assegurado por
certos meios. Esses meios necessariamente são estabelecidos por DEUS e somente
ele os distribui. Esses meios são a fé — o princípio único que a graça de DEUS
usa para restaurar-nos à sua imagem e ao seu favor. Nascida, como é, no pecado,
herdeira da miséria, a alma carece duma transformação radical, tanto por dentro
como por fora; tanto diante de DEUS como diante de si própria. A transformação
diante de DEUS denomina-se justificação; a transformação interna espiritual que
se segue, chama-se regeneração pelo ESPÍRITO SANTO. Esta fé é despertada no
homem pela influência do ESPÍRITO SANTO, geralmente em
conexão com a Palavra. A fé lança mão da promessa divina e apropria-se da
salvação. Ela conduz a alma ao descanso em CRISTO como Salvador e Sacrifício
pelos pecados; concede paz à consciência e dá esperança consoladora do céu.
Sendo essa fé viva e de natureza espiritual, e cheia de gratidão para com
CRISTO, ela é rica em boas obras de toda espécie.
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é
dom de DEUS. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efés.
2:8,9). O
homem nenhuma coisa possuía com que comprar sua justificação. DEUS não podia
condescender em aceitar o que o homem oferecia; o homem também não tinha
capacidade para cumprir a exigência divina. Então DEUS graciosamente salvou o
homem, sem pagar este coisa alguma —"gratuitamente pela sua graça" (Rom.
3:24). Essa graça gratuita é recebida pela fé. Não existe mérito nessa
fé, como não cabem elogios ao mendigo que estende a mão para receber uma
esmola. Esse método fere a dignidade do homem, mas perante DEUS, o homem
decaído não tem mais dignidade; o homem não tem possibilidades de acumular
bondade suficiente para adquirir a sua salvação. "Nenhuma carne será
justificada diante dele pelas obras da lei" (Rom.
3:20).
A doutrina da justificação pela graça de DEUS, mediante a fé do homem, remove
dois perigos: primeiro, o orgulho de autojustiça e de auto esforço; segundo, o
medo de que a pessoa seja fraca demais para conseguir a salvação.
Se a fé em si não é meritória, representando apenas a mão que se estende para
receber a livre graça de DEUS, que é então que lhe dá poder, e que garantia
oferece ela à pessoa que recebeu esse dom gratuito, de que viverá uma vida de
justiça? Importante e poderosa é a fé porque ela une a alma a CRISTO, e é
justamente nessa união que se descobre o motivo e o poder para a vida de
justiça. "Porque todos quantos fostes batizados em CRISTO já vos
revestistes de CRISTO"(Gál.
3:27). "E os que são de CRISTO crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências" (Gál.
5:24).
A fé não só recebe passivamente mas também usa de modo ativo aquilo que DEUS
concede. É assunto próprio do coração (Rom.
10:9,10;
vide Mat.
15:19; Prov.
4:23), e quem crê com o coração, crê também com suas emoções, afeições
e seus desejos, ao aceitar a oferta divina da salvação. Pela fé, CRISTO mora no
coração (Efés.
3:17). A fé opera pelo amor (a "obra da fé"... 1Tess.
1:3), isto é, representa um princípio enérgico, bem como uma atitude
receptiva. A fé, por conseguinte, é poderoso motivo para a obediência e para
todas as boas obras. A fé envolve a vontade e está ligada a todas as boas
escolhas e ações, pois "tudo que não é de fé é pecado" (Rom.
14:23).Ela inclui a escolha e a busca da verdade (2
Tess. 2:12) e implica sujeição à justiça de DEUS (Rom.
10:3).
O que se segue representa o ensino bíblico concernente à relação entre fé e
obras. A fé se opõe às obras quando por obras entendemos boas obras que a
pessoa faz com o intuito de merecer a salvação. (Gál.
3:11.) Entretanto, uma fé viva produzirá obras (Tia.
2:26), tal qual uma árvore viva produzirá frutos. A fé é justificada e
aprovada pelas obras (Tia.
2:18), assim como o estado de saúde das raízes duma boa árvore é
indicado pelos frutos. A fé se aperfeiçoa pelas obras (Tia.
2:22), assim como a flor se completa ao desabrochar. Em breves
palavras, as obras são o resultado da fé, a prova da fé, e a consumação da fé.
Imagina-se que haja contradição entre os ensinos de Paulo e de Tiago. O
primeiro, aparentemente, teria ensinado que a pessoa é justificada pela fé, o
último que ela é justificada pelas obras. (Vide Rom.
3:20 e Tia.
2:14-16.) Contudo, uma compreensão do sentido em que eles empregaram os
termos, rapidamente fará desvanecer a suposta dificuldade. Paulo está
recomendando uma fé viva que confia somente no Senhor; Tiago está denunciado
uma fé morta e formal que representa, apenas, um consentimento mental. Paulo
está rejeitando as obras mortas da lei, ou obras sem fé; Tiago está louvando as
obras vivas que demonstram a vitalidade da fé. A justificação mencionada por
Paulo refere-se ao início da vida cristã; Tiago usa a palavra com o significado
de vida de obediência e santidade como evidência exterior da salvação. Paulo
está combatendo o legalismo, ou a confiança nas obras como meio de salvação;
Tiago está combatendo antinomianismo, ou seja, o ensino de que não importa qual
seja a conduta da pessoa, uma vez que creia. Paulo e Tiago não são soldados
lutando entre si; são soldados da mesma linha de combate, cada qual enfrentando
inimigos que os atacam de direções opostas.
VIII. A Regeneração
1. Natureza da regeneração.
A regeneração é o ato divino que concede ao penitente que crê uma vida nova e
mais elevada mediante união pessoal com CRISTO. O Novo Testamento assim
descreve a regeneração:
(a) Nascimento. DEUS o pai é quem "gerou", e o crente é
"nascido" de DEUS (1
João 5:1), "nascido do ESPÍRITO" (João
3:8), "nascido do alto" (tradução literal de João
3:3,7).
Esses termos referem-se ao ato da graça criadora que faz do crente um filho de
DEUS.
(b) Purificação. DEUS nos salvou pela "lavagem" (literalmente,
lavatório ou banho) da regeneração". (Tito
3:5.) A alma foi lavada completamente das imundícias da vida de
outrora, recebendo novidade de vida, experiência simbolicamente expressa no ato
de batismo. (Atos
(c) Vivificação. Somos salvos não somente pela "lavagem da
regeneração", nas também pela "renovação do ESPÍRITO SANTO" (Tito
3:5. Vide também Col.
3:10; Rom.
12:2; Efés.
4:23; Sal.
51:10). A essência da regeneração é uma nova vida concedida por DEUS
Pai, mediante JESUS CRISTO e pela operação do ESPÍRITO SANTO.
(d) Criação. Aquele que criou o homem no princípio e soprou em suas narinas o
fôlego de vida, o recria pela operação do seu ESPÍRITO SANTO. (2
Cor. 5:17;Efés.
2:10; Gál.
6:15; Efés.
4:24; vide Gên.
2:7.) O resultado prático é uma transformação radical da pessoa em sua
natureza, seu caráter, desejos e propósitos.
(e) Ressurreição. (Rom.
6:4,5; Col.
2:13; 3:1; Efés.
2:5, 6.)
Como DEUS vivificou o barro inanimado e o fez vivo para com o mundo físico,
assim ele vivifica a alma em seus pecados e a faz viva para as realidades do
mundo espiritual. Esse ato de ressurreição espiritual é simbolizado pelo
batismo nas águas. A regeneração é "a grande mudança que DEUS opera na
alma quando a vivifica; quando ele a levanta da morte do pecado para a vida de
justiça" (João Wesley).
Notar-se-á que os termos acima citados são apenas variantes de um grande
pensamento básico da regeneração, isto é, uma divina comunicação duma nova vida
à alma do homem. Três fatos científicos relativos à vida natural também se
aplicam à vida espiritual; isto é, ela surge repentinamente; aparece
misteriosamente, e desenvolve-se gradativamente.
Regeneração é o aspecto singular da religião do Novo Testamento. Nas religiões
pagãs, reconhece-se universalmente a permanência do caráter. Embora essas
religiões recomendem penitências e ritos, pelos quais a pessoa espera expiar os
seus pecados, não há promessa de vida e de graça para transformar a sua
natureza. A religião de JESUS CRISTO é "a única religião no mundo que
declara tomar a natureza decaída do homem e regenerá-la, colocando-a em
contacto com a vida de DEUS". Assim declara fazer, porque o Fundador do Cristianismo
é Pessoa Viva e Divina, que vive para salvar perfeitamente os que por ele se
chegam a DEUS. (Heb.
7:25.) Não existe nenhuma analogia entre a religião cristã, e, digamos,
o Budismo ou a religião maometana. De maneira nenhuma se pode dizer: "quem
tem Buda tem a vida". (Vide 1João
5:12.) Buda pode ter algo em relação à moralidade. Pode estimular,
causar impressão, ensinar, e guiar, mas nenhum elemento novo foi acrescido às
almas que professam o Budismo. Tais religiões podem ser produtos do homem
natural e moral. Mas o Cristianismo declara-se ser muito mais. Além das coisas
de ordem natural e moral, o homem desfruta algo mais na Pessoa de Alguém mais,
JESUS CRISTO.
2. Necessidade da regeneração.
A entrevista de nosso Senhor com Nicodemos (João
3) proporciona um excelente fundo histórico para o estudo deste
tópico. As primeiras palavras de Nicodemos revelam uma série de emoções
provenientes do seu coração. A declaração abrupta de JESUS no verso 3, que
parece ser uma repentina mudança do assunto, explica-se pelo fato de JESUS
estar respondendo ao coração de Nicodemos e não às palavras de sua
interrogação. As primeiras palavras de Nicodemos revelam. 1) Fome espiritual.
Se esse chefe judaico tivesse expressado o desejo de sua alma, talvez teria dito:
"Estou cansado do ritualismo morto da sinagoga vou lá mas volto para casa
com a mesma fome com que saí. Infelizmente, a glória divina afastou-se de
Israel; não há visão e o povo perece. Mestre, a minh'alma suspira pela
realidade! Pouco conheço de tua pessoa, mas tuas palavras tocaram-me o coração.
Teus milagres convenceram-me de que és Mestre vindo de DEUS. Gostaria de te
acompanhar. 2) Faltou a Nicodemos profunda convicção. Sentiu a sua necessidade,
mas necessidade dum instrutor e não dum Salvador. Tal qual a mulher samaritana,
ele queria a água da vida (João
4:15), mas, como aquela, Nicodemos teve de compreender que era pecador,
que precisava de purificação e transformação. (João
4:16-18.) 3) Nota-se nas suas palavras um rasto de autocomplacência, coisa
muito natural num homem de sua idade e posição. Ele diria a JESUS: "Creio
que foste enviado a restaurar o reino de Israel, e vim dar-te alguns conselhos
quanto aos planos para conseguir esse objetivo." Provavelmente ele supôs
que sendo israelita e filho de Abraão, essas qualificações seriam suficientes
para o tornarem membro do reino de DEUS.
"JESUS respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele
que não nascer de novo, não pode ver o reino de DEUS." Parafraseando essa
passagem, JESUS diria: "Nicodemos, tu não podes unir-te à minha companhia
como se te unisses a uma organização. O pertencer à minha companhia não depende
da qualidade de tua vida; minha causa não é outra senão aquela do reino de
DEUS, e tu não podes entrar nesse reino sem experimentar uma transformação
espiritual. O reino de DEUS é muito diferente do que estás pensando, e o modo
de estabelecê-lo e de juntar seus súditos é muito diferente do meio de que
estás cogitando."
JESUS apontou a necessidade mais profunda e universal de todos os homens — uma
mudança radical e completa da natureza e caráter do homem em sua totalidade.
Toda a natureza do homem ficou deformada pelo pecado, a herança da queda; essa
deformação moral reflete-se em sua conduta e em todas as suas relações. Antes
que o homem possa ter uma vida que agrade a DEUS, seja no presente ou na
eternidade, sua natureza precisa passar por uma transformação tão radical, que
seja realmente um segundo nascimento. O homem não pode transformar-se a si
mesmo; essa transformação terá que vir de cima.
JESUS não tentou explicar o como do novo nascimento, mas explicou opor quê do
assunto. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido de ESPÍRITO
é espírito." Carne e espírito pertencem a reinos diferentes, e um não pode
produzir o outro. A natureza humana pode gerar a natureza humana, mas somente o
ESPÍRITO SANTO pode gerar a natureza espiritual. A natureza humana somente pode
produzir a natureza humana; e nenhuma criatura poderá elevar-se acima de sua
própria natureza. A vida espiritual não passa do pai ao filho pela geração
natural; ela procede de DEUS para o homem por meio da geração espiritual.
A natureza humana não pode elevar-se acima de si própria. Escreveu Marcus Dods:
Todas as criaturas possuem certa natureza segundo a sua espécie, determinada
pela sua ascendência. Essa natureza que o animal recebe dos seus pais
determina, desde o princípio, a sua capacidade e a esfera desse animal. A
toupeira não pode subir aos ares como o faz a águia; nem tampouco pode o
filhote da águia cavar um buraco como afaz toupeira. Nenhum treino jamais fará
a tartaruga correr como o antílope, nem fará o antílope tão forte como o
leão... Além de sua natureza, nenhum animal poderá agir.
O mesmo princípio podemos aplicar ao homem. O destino mais elevado do homem é
viver com DEUS para sempre; mas a natureza humana, em seu estado presente, não
possui a capacidade para viver no reino celestial. Portanto, será necessário
que a vida celestial desça de cima para transformar a natureza humana,
preparando-a para ser membro desse reino.
3. Os meios de regeneração.
(a) Agência divina. O ESPÍRITO SANTO é o agente especial na obra de
regeneração. Ele opera a transformação na pessoa. (João
3:6; Tito
3:5.) Contudo, todas as Pessoas da Trindade operam nessa obra.
Realmente as três Pessoas operam em todas as divinas operações, embora cada
Pessoa exerça certos ofícios que lhe são peculiares. Dessa forma o Pai é
preeminentemente o Criador; contudo, tanto o Filho como o ESPÍRITO SANTO são
mencionados como agentes na criação. O Pai gera (Tia.
1:18) e no Evangelho de João, o Filho é apresentado como o Doador da
vida. (Vide caps. 5 e 6.)
Notem especialmente a relação de CRISTO com a regeneração do homem. É ele o
Doador da vida. De que maneira ele vivifica os homens? Vivifica-os por morrer
por eles, de forma que, ao comerem sua carne e beberem seu sangue (que
significa crer em sua morte expiatória), eles recebem a vida eterna. Qual é o
processo de conceder a vida aos homens? Uma parte da recompensa de CRISTO era a
prerrogativa de conceder o ESPÍRITO SANTO (Vide João
3:3,13; Gál.3:13,14), e
ele ascendeu para que pudesse tomar-se a Fonte da vida e energia espiritual (João
6:62; Atos
2:33). O Pai tem vida em si (João
5:26); portanto, ele concede ao Filho ter vida em si; o Pai é a Fonte
do ESPÍRITO SANTO, mas ele concede ao Filho o poder de conceder o ESPÍRITO;
desta forma o Filho é um "ESPÍRITO vivificante" (1
Cor. 15:45), tendo poder, não somente para ressuscitar os mortos,
fisicamente, (João
5:25,26)
mas também vivificar as almas mortas dos homens. (Vide Gên
2:7; João
20:22; 1
Cor. 15:45.)
(b) A preparação humana. Estritamente falando, o homem não pode cooperar no ato
de regeneração, que é um ato soberano de DEUS; mas o homem pode tomar parte na
preparação para o novo nascimento. Qual é essa preparação? Resposta:
Arrependimento e fé.
4. Efeitos da regeneração.
Podemos agrupá-los sob três tópicos: posicionais (adoção); espirituais (união
com DEUS); práticos (a vida de justiça).
(a) Posicionais. Quando a pessoa passa pela transformação espiritual conhecida
como regeneração, torna-se filho de DEUS e beneficiário de todos os privilégios
dessa filiação. Assim escreve o Dr. William Evans: "Pela adoção, o crente,
que já é filho de DEUS, recebe o lugar de filho adulto; dessa forma o menino
torna-se filho, o filho menor torna-se adulto." (Gál.
4:1-7.) A palavra "adoção" significa literalmente: "dar a
posição de filhos" e refere-se, no uso comum, ao homem que toma para seu
lar crianças que não são as suas pelo nascimento.
Quanto à doutrina, devemos distinguir entre adoção e regeneração: o primeiro é
um termo legal que indica conceder o privilégio de filiação a um que não é
membro da família; o segundo significa a transformação espiritual que toma a
pessoa filho de DEUS e participante da natureza divina. Contudo, na própria
experiência, é difícil separar os dois, visto que a regeneração e a adoção
representam a dupla experiência da filiação.
No Novo Testamento a filiação comum é, às vezes, definida pelo termo
"filhos" ("uioi"— no grego), termo que originou a palavra
"adoção"; outras vezes é definida pela palavra "tekna", no
grego, também traduzida por "filhos", que significa literalmente
"os gerados", significando a regeneração. As duas ideias são
distintas e ao mesmo tempo combinadas nas seguintes passagens: "Mas, a
todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (implicando adoção) de serem feitos
filhos de DEUS... os quais... nasceram... de DEUS" (João
1:12,13).
"Vede quão grande caridade nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados
(implicando adoção) filhos de DEUS (a palavra que significa "gerados"
de DEUS)" (1
João 3:1). Em Rom.
8: 15,16 as
duas ideias se entrelaçam: "Porque não recebestes o espírito de
escravidão, para outra vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de
adoção de filhos, pelo qual clamamos Abba, Pai. O mesmo ESPÍRITO testifica com
o nosso espírito que somos filhos de DEUS."
(b) Espirituais. Devido à sua natureza, a regeneração envolve união espiritual
com DEUS e com CRISTO mediante o ESPÍRITO SANTO; e essa união espiritual
envolve habitação divina (2
Cor. 6:16-18; Gál.
2:20; 4:5,6; 1
João 3:24; 4:13.)
Essa união resulta em um novo tipo de vida e de caráter, descrito de várias
maneiras; novidade de vida (Rom.
6:4); um novo coração (Ezeq.
36:26); um novo espírito (Ezeq.
11:19); um novo homem (Efés.
4:24); participantes da natureza divina (2
Ped. 1:4). O dever do crente é manter seu contacto com DEUS mediante os
vários meios de graça e dessa forma preservar e nutrir a sua vida espiritual.
(c) Práticos. A pessoa nascida de DEUS demonstrará esse fato pelo ódio que tem
ao pecado (1
João 3:9; 5:18),
por obras de justiça (1
João 2:29), pelo amor fraternal (1
João 4:7) e pela vitória que alcança sobre o mundo (1
João 5:4).
Devemos evitar estes dois extremos: primeiro, estabelecer um padrão tão baixo
que a regeneração se torne questão de reforma natural; segundo, estabelecer um
padrão elevado demais que não leve em conta as fraquezas dos crentes. Crentes
novos que estão aprendendo a andar com JESUS estão sujeitos a tropeçar, como o
bebê que aprende a andar. Mesmo os crentes mais velhos podem ser surpreendidos
em alguma falta. João declara que é absolutamente inconsistente que a pessoa
nascida de DEUS, portadora da natureza divina, continue a viver habitualmente
no pecado (1
João 3.9), mas ao mesmo tempo ele tem cuidado em escrever: "Se alguém
pecar, temos um Advogado para com o Pai, JESUS CRISTO, o justo" (1
João 2:1).
IX. A Santificação
1. Natureza da santificação
Em estudo anterior afirmamos que a chave do significado da doutrina da
expiação, encontrada no Novo Testamento, acha-se no rito sacrificial do Antigo
Testamento. Da mesma forma chegaremos ao sentido da doutrina do Novo Testamento
sobre a santificação, pelo estudo do uso no Antigo Testamento da palavra
"santo".
Primeiramente, observa-se que "santificação", "santidade",
e "consagração" são sinônimos, como o são: "santificados" e
"santos". Santificar é a mesma coisa que fazer santo ou consagrar. A
palavra "santo" tem os seguintes sentidos:
(a) Separação. "SANTO" é uma palavra descritiva da natureza divina.
Seu significado primordial é "separação "; portanto, a santidade
representa aquilo que está em DEUS que o toma separado de tudo quanto seja
terreno e humano — isto é, sua perfeição moral absoluta e sua divina majestade.
Quando o SANTO deseja usar uma pessoa ou um objeto para seu serviço, ele separa
essa pessoa ou aquele objeto do seu uso comum, e, em virtude dessa separação, a
pessoa ou o objeto toma-se "santo".
(b) Dedicação. Santificação inclui tanto a separação de, como dedicação a
alguma coisa; essa é "a condição dos crentes ao serem separados do pecado
e do mundo e feitos participantes da natureza divina, e consagrados à comunhão
e ao serviço de DEUS por meio do Mediador".
A palavra "santo" é mais usada em conexão com o culto. Quando
referente aos homens ou objetos, ela expressa o pensamento de que esses são
usados no serviço divino e dedicados a DEUS, no sentido especial de serem sua
propriedade. Israel é uma nação santa, por ser dedicada ao serviço de Jeová; os
levitas são santos por serem especialmente dedicados aos serviços do
tabernáculo; o sábado e os dias de festa são santos porque representam a dedicação
ou consagração do tempo a DEUS.
(c) Purificação. Embora o sentimento primordial de "santo" seja
separação para serviço, inclui também a ideia de purificação. O caráter de
Jeová age sobre tudo que lhe é consagrado. Portanto, os homens consagrados a ele
participam de sua natureza. As coisas que lhe são dedicadas devem ser limpas.
Limpeza é uma condição de santidade, mas não a própria santidade, que é,
primeiramente, separação e dedicação.
Quando Jeová escolhe e separa uma pessoa ou um objeto para o seu serviço, ele
opera ou faz com que aquele objeto ou essa pessoa se torne santo. Objetos
inanimados foram consagrados pela unção do azeite (Êxo.
40:9-11). A nação israelita foi santificada pelo sangue do sacrifício da
aliança. (Êxo.
24:8. Vide Heb.
10:29). Os sacerdotes foram consagrados pelo representante de Jeová,
Moisés, que os lavou com água, ungiu-os com azeite e aspergiu-os com o sangue
de consagração. (Vide Lev., cap. 8.)
Como os sacrifícios do Velho Testamento eram tipos do sacrifício único de
CRISTO, assim as várias abluções e unções do sistema mosaico são tipos da
verdadeira santificação que alcançamos pela obra de CRISTO. Assim como Israel
foi santificado pelo sangue da aliança, assim "também JESUS, para
santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta" (Heb.
13:12).
Jeová santificou os filhos de Arão para o sacerdócio pela mediação de Moisés e
o emprego de água, azeite e sangue. DEUS o Pai (1
Tess. 5:23) santifica os crentes para um sacerdócio espiritual (1
Ped. 2:5) pela mediação do Filho (I
Cor. 1:2,30; Efés
5:26; Heb
2:11), por meio da Palavra (João
17:17; 15:3),
do sangue (Heb.
10:29; 13:12) e
do ESPÍRITO (Rom.
15:16; 1
Cor. 6:11; 1
Ped. 1:2).
(d) Consagração, no sentido de viver uma vida santa e justa. Qual a diferença
entre justiça e santidade? A justiça representa a vida regenerada em
conformidade com a lei divina; os filhos de DEUS andam retamente ( 1
João 3:6-10). Santidade é a vida regenerada em conformidade com a natureza
divina e dedicada ao serviço divino; isto pede a remoção de qualquer impureza
que estorve esse serviço. "Mas como é santo aquele que vos chamou, sede
vós também santos em toda a vossa maneira de viver" (1
Ped. 1:15). Assim a santificação inclui a remoção de qualquer mancha ou
sujeira que seja contrária à santidade da natureza divina.
Em seguida à consagração de Israel surge, naturalmente, a pergunta: "Como
deve viver um povo santo?" A fim de responder a essa pergunta, DEUS
deu-lhes o código de leis de santidade que se acham no livro de Levítico.
Portanto, em consequência da sua consagração, seguiu-se a obrigação de viver
uma vida santa. O mesmo se dá com o cristão. Aqueles que são declarados santos
(Heb.
10:10) são exortados a seguir a santidade (Heb.
12:14); aqueles que foram purificados (1
Cor. 6:11) são exortados a purificar-se a si mesmos (2
Cor. 7:1).
(e) Serviço. A aliança é um estado de relação entre DEUS e os homens no qual
ele é o DEUS deles e eles o seu povo, o que significa um povo adorador. A
palavra "santo" expressa essa relação contratual. Servir a DEUS,
nessa relação, significa ser sacerdote; por conseguinte, Israel é descrito como
nação santa e reino de sacerdotes (Êx
19:6). Qualquer impureza que venha a desfigurar essa relação precisa
ser lavada com água ou com o sangue da purificação.
Da mesma maneira os crentes do Novo Testamento são "santos", isto é,
um povo santo consagrado. Pelo sangue da aliança tornaram-se "sacerdócio
real, a nação santa... sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais
agradáveis a DEUS por JESUS CRISTO" (1
Ped. 2:9,5);
oferecem o sacrifício de louvor (Heb.
13:15) e dedicam-se como sacrifícios vivos sobre o altar de DEUS (Rom.
12:1).
Assim vemos que o serviço é elemento essencial da santificação ou santidade,
pois é esse o único sentido em que os homens podem pertencer a DEUS, isto é,
como seus adoradores que lhe prestam serviço. Paulo expressou perfeitamente
esse aspecto da santidade quando disse acerca de DEUS: "De quem eu sou, e
a quem sirvo" (Atos
27:23). Santificação envolve ser possuído por DEUS e servir a ele.
2. O tempo da santificação.
A santificação reúne: 1) ideia de posição perante DEUS e instantaneidade; 2)
prática e progressiva.
(a) Posicional e instantânea. A seguinte declaração representa o ensino dos que
aderem à teoria de santificação da "segunda obra definida", feita por
alguém que ensinou essa doutrina durante muitos anos:
Supõe-se que a justificação é obra da graça pela qual os pecadores, ao se
entregarem a CRISTO, são feitos justos e libertados dos hábitos pecaminosos.
Mas no homem meramente justificado permanece um princípio de corrupção, uma
árvore má, "uma raiz de amargura", que continuamente o provoca a
pecar. Se o crente obedece a esse impulso e deliberadamente peca, ele perde sua
justificação; segue-se portanto, a vantagem de ser removido esse impulso mau,
para que diminua a possibilidade de se desviar. A extirpação dessa raiz
pecaminosa é santificação. Portanto, é a purificação da natureza de todo pecado
congênito pelo sangue de CRISTO (aplicado pela fé ao realizar-se a plena
consagração), e o fogo purificador do ESPÍRITO SANTO, o qual queima toda a
escória, quando tudo é depositado sobre o altar do sacrifício. Isso, e somente
isso, é verdadeira santificação — a segunda obra definida da graça, subsequente
à justificação, e sem a qual essa justificação provavelmente se perderá.
A definição supra citada ensina que a pessoa pode ser salva ou justificada sem
ser santificada. Essa teoria, porém, é contrária ao ensino do Novo Testamento.
O apóstolo Paulo escreve a todos os crentes como a "santos"
(literalmente, "os santificados") e como já santificados (1
Cor. 1:2; 6:11).
Mas essa carta foi escrita para corrigir esses cristãos por causa de sua
carnalidade e pecados grosseiros. (1
Cor. 3:1; 5:1,2,7,8.)
Eram "santos" e "santificados em CRISTO", mas alguns desses
estavam muito longe de ser exemplos de cristãos na conduta. Foram chamados a
ser santos, mas não se portavam dignos dessa vocação santa.
Segundo o Novo Testamento existe, pois, um sentido em que a santificação é
simultânea com a justificação.
(b) Prática e progressiva. Mas será que essa santificação consiste somente em
ser conferida a posição de santos? Não, essa separação inicial é apenas o
começo duma vida progressiva de santificação. Todos os cristãos são separados
para DEUS em JESUS CRISTO; e dessa separação surge a nossa responsabilidade de
viver para ele. Essa separação deve continuar diariamente: o crente deve
esforçar-se sempre para estar conforme à imagem de CRISTO. "A santificação
é a obra da livre graça de DEUS, pela qual o homem todo é renovado segundo a
imagem de DEUS, capacitando-nos a morrer para o pecado e viver para a
justiça." Isso não quer dizer que vamos progredir até alcançar a
santificação e, sim, que progredimos na santificação da qual já participamos.
A santificação é posicionai e prática — posicional em que é primeiramente uma
mudança de posição pela qual o imundo pecador se transforma em santo adorador;
prática porque exige uma maneira santa de viver. A santificação adquirida em
virtude de nova posição, indica-se pelo fato de que todos os coríntios foram
chamados "santificados em CRISTO JESUS, chamados santos" (1
Cor. 1:2). A santificação progressiva está implícita no fato de alguns
serem descritos como "carnais" (1
Cor. 3:3), o que significa que sua presente condição não estava à altura de
sua posição concedida por DEUS. Em razão disso, foram exortados a purificar-se
e assim melhorar sua consagração até alcançarem a perfeição. Esses dois
aspectos da santificação estão implícitos no fato de que aqueles que foram
tratados como santificados e santos (1
Ped. 1:2; 2:5),
são exortados a serem santos (1
Ped. 1:15). Aqueles que estavam mortos para o pecado (Col
3:3) são exortados a mortificar (fazer morto) seus membros pecaminosos
(Col
3:5). Aqueles que se despiram do homem velho (Col.
3:9) são exortados a vestirem-se ou revestirem-se do homem novo. (Efés
4:22; Col.
3:8.)
3. Meios divinos de santificação.
São meios divinamente estabelecidos de santificação: o sangue de CRISTO, o
ESPÍRITO SANTO e a Palavra de DEUS. O primeiro proporciona, primeiramente', a
santificação absoluta, quanto à posição perante DEUS. É uma obra consumada que
concede ao pecador penitente uma posição perfeita em relação a DEUS. O segundo
meio é interno, efetuando a transformação da natureza do crente. O terceiro
meio é externo e prático, e diz respeito ao comportamento do crente. Dessa
forma, DEUS fez provisão tanto para a santificação interna como externa.
(a) O sangue de CRISTO, (Eterno, absoluto e posicionai.) (Heb.
13:12; 10:10,14; 1João
1:7.) Em que sentido seria a pessoa santificada pelo sangue de CRISTO?
Em resultado da obra consumada de CRISTO, o pecador penitente é transformado de
pecador impuro em adorador santo. A santificação é o resultado dessa
"maravilhosa obra redentora do Filho de DEUS, ao oferecer-se no Calvário
para aniquilar o pecado pelo seu sacrifício. Em virtude desse sacrifício, o
crente é eternamente separado para DEUS; sua consciência é purificada, e ele
próprio é transformado de pecador impuro, em santo adorador, unido em comunhão
com o Senhor JESUS CRISTO; pois, "assim o que santifica, como os que são
santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar
irmãos" (Heb.
2:11).
Que haja um aspecto contínuo na santificação pelo sangue, infere-se de 1
João 1:7: "O sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo
pecado." Se houver comunhão entre o santo DEUS e o homem, necessariamente
terá que haver uma provisão para remover a barreira de pecado, que impede essa
comunhão, uma vez que os melhores homens ainda assim são imperfeitos. Ao
receber Isaías a visão da santidade de DEUS, ele ficou abatido ao perceber a
sua falta de santidade; e não estava em condições de ouvir a mensagem divina
enquanto a brasa do altar não purificasse seus lábios. A consciência do pecado
ofusca a comunhão com DEUS; confissão e fé no eterno sacrifício de CRISTO
removem essa barreira. (1
João 1:9.)
(b) O ESPÍRITO SANTO. (Santificação Interna.) (1
Cor. 6:11; 2
Tess. 2:12; 1
Ped. 1:1,2; Rom.
15:16.) Nessas passagens a santificação pelo ESPÍRITO SANTO é
apresentada como o início da obra de DEUS nos corações dos homens,
conduzindo-os ao inteiro conhecimento da justificação pela fé no sangue
aspergido de CRISTO. Tal qual o ESPÍRITO pairava por cima do caos original (Gên.
1:2), seguindo-se o estabelecimento da ordem pelo Verbo de DEUS, assim
o ESPÍRITO paira sobre a alma humana, fazendo-a abrir-se para receber a luz e a
vida de DEUS. (2
Cor. 4:6.)
O capítulo 10 de Atos proporciona uma ilustração concreta da santificação pelo
ESPÍRITO SANTO. Durante os primeiros anos da igreja, a evangelização dos
gentios retardou-se visto que muitos cristãos-judeus consideravam os gentios
como "imundos", e não-santificados por causa de sua não conformidade
com as leis alimentares e outros regulamentos mosaicos. Exigia-se uma visão
para convencer a Pedro que aquilo que o Senhor purificara ele não devia tratar
de comum ou impuro. Isso importava em dizer que DEUS fizera provisão para a
santificação dos gentios para serem o seu povo. E quando o ESPÍRITO de DEUS
desceu sobre os gentios, reunidos na casa de Cornélio, já não havia mais dúvida
a respeito. Eram santificados pelo ESPÍRITO SANTO, não importando se obedeciam
ou não às ordenanças mosaicas (Rom.
15:16), e Pedro reptou os judeus que estavam com ele a negarem o símbolo
exterior (batismo nas águas) de sua purificação espiritual. (Atos
10:47; 15:8.)
(c) A Palavra de DEUS. (Santificação externa e prática.) (João
17:17, Efés
5:26; João
15:3; Sal.
119:9; Tia.
1:23-25.) Os cristãos são descritos como sendo "gerados pela Palavra
de DEUS"(l Ped. 1:23). A Palavra de DEUS desperta os homens a
compreenderem a insensatez e impiedade de suas vidas. Quando dão importância à
Palavra arrependendo-se e crendo em CRISTO, são purificados pela Palavra que
lhes fora falada. Esse é o início da purificação que deve continuar através da
vida do crente. No ato de sua consagração ao ministério, o sacerdote israelita
recebia um banho sacerdotal completo, banho que nunca se repetia; era uma obra
feita uma vez para sempre. Todos os dias porém, era obrigado a lavar as mãos e
os pés. Da mesma maneira, o regenerado foi lavado (Tito
3:5); mas precisa uma separação diária das impurezas e imperfeições
conforme lhe forem reveladas pela Palavra de DEUS, que serve como espelho para
a alma. (Tia.
1:22-25.) Deve lavar as mãos, isto é, seus atos devem ser retos; deve
lavar os pés, isto é, "guardar-se da imundície que tão facilmente se apega
aos pés do peregrino, que anda pelas estradas deste mundo".
4. Ideias errôneas sobre a santificação.
Muitos cristãos descobrem o fato de que seu maior impedimento em chegar à
santidade é a "carne", a qual frustra sua marcha para a perfeição.
Como se conseguirá libertação da carne? Três opiniões erradas têm sido
expostas:
(a) "Erradicação" do pecado inato é uma dessas ideias. Assim escreve
Lewis Sperry Chafer: "se a erradicação da natureza pecaminosa se
consumasse, não haveria a morte física, pois esta é o resultado dessa natureza.
(Rom.
5:12-21.) Pais que houvessem experimentado essa "extirpação",
necessariamente gerariam filhos sem a natureza pecaminosa. Mas, mesmo que fosse
realidade essa "extirpação", ainda haveria o conflito com o mundo, a
carne (à parte da natureza pecaminosa) e o diabo; pois a "extirpação"
desses males é obviamente antibíblica e não está incluída na própria teoria.
A erradicação é também contrária à experiência.
(b) Legalismo, ou a observância de regras e regulamentos. Paulo ensina que a
lei não pode santificar (Rom. cap. 6), assim como também não pode justificar (Rom.
3). Essa verdade é exposta e desenvolvida na carta aos Gálatas.
Paulo não está de nenhuma maneira depreciando a lei. Ele a está defendendo
contra conceitos errôneos quanto a seu propósito. Se um homem for salvo do
pecado, terá que ser por um poder à parte de si mesmo. Vamos empregar a
ilustração dum termômetro. O tubo e o mercúrio representam o indivíduo. O
registro dos graus representará a lei. Imaginem o termômetro dizendo:
"Hoje não estou funcionando exatamente; devo chegar no máximo a 30 graus."
Será que o termômetro poderia elevar-se à temperatura exigida? Não, deveria
depender duma condição/ora dele mesmo. Da mesma maneira o homem que percebe não
estar à altura do ideal divino não pode elevar-se em um esforço por alcançá-lo.
Sobre ele deve operar uma força à parte dele mesmo; essa força é o poder do
ESPÍRITO SANTO.
(c) Ascetismo. É a tentativa de subjugar a carne e alcançar a
santidade por meio de privações e sofrimentos — o método que seguem os
católicos romanos e os hindus ascéticos.
Esse método parece estar baseado na antiga crença pagã de que toda matéria,
incluindo o corpo, é má. O corpo, por conseguinte, é uma trava ao espírito, e
quanto mais for castigado e subjugado, mais depressa se libertará o espírito.
Isso é contrário às Escrituras, que ensinam que DEUS criou tudo muito bom. É a
alma e não o corpo que peca; portanto, são os impulsos pecaminosos que devem
ser subjugados, e não a carne material. Ascetismo é uma tentativa de matar o
"eu", mas o "eu" não pode vencer o "eu". Essa é a
obra do ESPÍRITO.
5. O verdadeiro método da santificação.
O método bíblico de tratar com a carne, deve basear-se obviamente, na provisão
objetiva para a salvação, o sangue de CRISTO; e na provisão subjetiva, o
ESPÍRITO SANTO. A libertação do poder da carne, portanto, deve vir por meio da
fé na expiação e por entregar-se à ação do ESPÍRITO. O primeiro é tratado no
sexto capítulo de Romanos, e o segundo na primeira parte do capítulo oitavo.
(a) Fé na expiação. Imaginemos que houvesse judeus presentes (o que sucedia com
freqüência) enquanto Paulo expunha a doutrina da purificação pela fé. Nós os
imaginamos dizendo em protesto: "Isso é uma heresia do tipo mais
perigoso!" Dizer ao povo que precisam crer unicamente em JESUS, e que nada
podem fazer quanto à sua salvação porque ela é pela graça de DEUS, tudo isso
resultará em que descuidarão de sua maneira de viver. Eles julgarão que pouco
importa o que façam, uma vez que creiam. Sua doutrina de fé fomenta o pecado.
Se a justificação é pela graça e nada mais, sem obras, por que então romper com
o pecado? Por que não continuar no pecado para que abunde ainda mais a graça?
Os inimigos de Paulo efetivamente o acusaram de pregar tal doutrina. (Rom.
3:8; 6:1.)
Com indignação Paulo repudiou tal perversão. "De modo nenhum . Nós, que
estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rom.
6:2). A continuação no pecado é impossível a um homem verdadeiramente
justificado, em razão de sua união com CRISTO na morte e na vida. (Vide Mat.
6:24.) Em virtude de sua fé em CRISTO, o homem salvo passou por uma
experiência que inclui um rompimento tão completo com o pecado, que se descreve
como morte para o pecado, e uma transformação tão radical que se descreve como
ressurreição. Essa experiência é figurada no batismo nas águas. A imersão do
convertido testifica do fato que em razão de sua união com o CRISTO crucificado
ele morreu para o pecado; ser levantado da água testifica que seu contacto com
o CRISTO ressuscitado significa que "como CRISTO ressuscitou dos mortos,
pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida" (Rom.
6:4). CRISTO morreu pelo pecado a fim de que nós morrêssemos para o
pecado.
"Aquele que está morto está justificado do pecado" (Rom.
6:7). A morte cancela todas as obrigações e rompe todos os laços. Por
meio da união com CRISTO, o cristão morreu para a vida antiga, e os grilhões do
pecado foram quebrados. Como a morte dava fim à servidão do escravo, assim a
morte do crente, que morreu para o mundo, o libertou da servidão ao pecado.
Continuando a ilustração: A lei nenhuma jurisdição tem sobre um homem morto.
Não importa qual seja o crime que haja cometido, uma vez morto, já está fora do
poder da justiça humana. Da mesma maneira, a lei de Moisés, muitas vezes
violada pelo convertido, não o pode "prender", pois, em virtude de
sua experiência com CRISTO, ele está "morto". (Rom.
7:1-4; 2
Cor. 5:14.)
"Sabendo que, havendo CRISTO ressuscitado dos mortos, já não morre; a
morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de uma vez
morreu para o pecado, mas, quanto a viver, vive para DEUS. Assim também vós
considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para DEUS em CRISTO JESUS
nosso Senhor" (Rom.
6:9-11). A morte de CRISTO pôs fim a esse estado terrenal no qual ele
teve contacto como o pecado; sua vida agora é uma constante comunhão com DEUS.
Os cristãos, ainda que estejam no mundo, podem participar de sua experiência,
porque estão unidos a ele. Como podem participar? "Considerai-vos como
mortos para o pecado, nas vivos para DEUS em CRISTO JESUS nosso Senhor."
Que significa isso? DEUS já disse que por meio da nossa fé em CRISTO, estamos
mortos para o pecado e vivos para a justiça. Resta uma coisa a fazer; crer em
DEUS e considerar ou concluir que estamos mortos para o pecado. DEUS declarou
que quando CRISTO morreu, nós morremos para o pecado; quando ele ressuscitou,
nós ressuscitamos para viver uma nova vida. Devemos continuar considerando
esses fatos como absolutamente certos; e, ao considerá-los assim, tornar-se-ão
poderosos em nossa vida, pois, seremos o que reconhecemos que somos. Uma
distinção importante tem sido assinalada, a saber, a distinção entre as
promessas e os fatos da Bíblia. JESUS disse: "Se vós estiverdes em mim, e
as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será
feito" (João
15:7). Essa é uma promessa, porque está no futuro; é algo para ser
feito. Mas quando Paulo disse que "CRISTO morreu por nossos pecados,
segundo as Escrituras", ele está declarando um fato, algo que foi feito.
Vide a expressão de Pedro: "Pelas suas feridas fostes sarados" (1
Ped. 2:24). E quando Paulo declara "que o nosso homem velho foi com ele
crucificado", ele está declarando um fato, algo que aconteceu. A questão
agora é: estamos dispostos ou não a crer
no que DEUS declara que são fatos acerca de nós? Porque a fé é a mão que aceita
o que DEUS gratuitamente oferece.
Será que o ato de descobrir a relação com CRISTO não constitui a experiência
que alguns têm descrito como "a segunda obra da graça"?
(b) Cooperação com o ESPÍRITO. Os capítulos 7 e 8 de Romanos continuam o
assunto da santificação; tratam da libertação do crente do poder do pecado, e
do crescimento em santidade. No cap. 6 vimos que a vitória sobre o poder do
pecado foi obtida pela/é. O capítulo 8 apresenta outro aliado na batalha contra
o pecado — o ESPÍRITO SANTO.
Como fundo para o capítulo 8 estuda-se a linha de pensamento no cap. 7, o qual
descreve um homem voltando-se para a lei a fim de alcançar santificação. Paulo
demonstra aqui a impotência da lei para salvar e santificar, não porque a lei
não seja boa, mas por causa da inclinação pecaminosa da natureza humana,
conhecida como a "carne". Ele indica que a lei revela o fato (v. 7),
a ocasião (v.8), o poder (v.9), a falsidade (v. 11), o efeito (vs. 10,11), e a
vileza do pecado (vs. 12,13).
Paulo, que parece estar descrevendo sua própria experiência passada, diz-nos
que a própria lei, que ele tão ardentemente desejava observar, suscitava
impulsos pecaminosos dentro dele. O resultado foi "guerra civil" na
sua alma. Ele é impedido de fazer o bem que deseja fazer, e impelido a fazer o
que odeia. "Acho então esta lei em mim; que, quando quero fazer o bem, o
mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de DEUS;
mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu
entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus
membros" (vs. 21-23).
A última parte do capítulo 7, evidentemente, apresenta o quadro do homem
debaixo da lei, que descobriu a perscrutadora espiritualidade da lei, mas em
cada intento de observá-la se vê impedido pelo pecado que habita nele. Por que
descreve Paulo esse conflito? Para demonstrar que a lei é tão impotente para
santificar como o é para justificar.
"Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte?"
(v. 24 Vide 6:6). E Paulo, que descrevia a experiência debaixo da lei, assim
testifica alegremente de sua experiência debaixo da graça: "Dou graças a
DEUS (que a vitória vem) por JESUS CRISTO nosso Senhor" (v. 25). Com essa
exclamação de triunfo entramos no maravilhoso capítulo oitavo, que tem por tema
dominante a libertação da natureza pecaminosa pelo poder do ESPÍRITO SANTO.
Há três mortes das quais o crente deve participar: 1) A morte no pecado, isto
é, nossa condenação. (Efés.
2:1; Col.
2:13.) O pecado havia conduzido a alma a essa condição, cujo castigo é
a morte espiritual ou separação de DEUS. 2) A morte pelo pecado, isto é, nossa justificação.
CRISTO sofreu sobre a cruz a sentença duma lei infligida, e nós, por
conseguinte, somos considerados como a havendo sofrido nele. O que ele fez por
nós é considerado como se fosse feito por nós mesmos. (2
Cor. 5:14; Gál.
2:20.) Somos considerados legal ou judicialmente livres da pena duma
lei violada, uma vez que pela fé pessoal consentimos na transação. 3) A morte
para o pecado, isto é, nossa santificação. (Rom.
6:11.) O que é certo para nós deve ser feito real em nós; o que é
judicial deve se tornar prático; a morte para a pena do pecado deve ser seguida
pela morte para o poder do pecado. E essa é a obra do ESPÍRITO SANTO. (Rom.
8:13.) Assim como a seiva que ascende na árvore elimina as folhas
mortas que ficaram presas aos ramos, apesar da neve e das tempestades, assim o
ESPÍRITO SANTO, que habita em nós, elimina as imperfeições e os hábitos da vida
antiga.
6. Santificação completa.
Muitas vezes esta verdade é discutida sob o tema: "Perfeição cristã."
(a) Significado de perfeição. Há dois tipos de perfeição: absoluta e relativa.
É absolutamente perfeito aquilo que não pode ser melhorado; isso pertence
unicamente a DEUS. E relativamente perfeito aquilo que cumpre o fim para o qual
foi designado; essa perfeição é possível ao homem.
A palavra "perfeição", no Antigo Testamento, significa ser
"sincero e reto" (Gên
6:9; Jó
1:1). Ao evitar os pecados das nações circunvizinhas, Israel podia ser
uma nação "perfeita" (Deut.
18:13). No Antigo Testamento a essência da perfeição é o desejo e a
determinação de fazer a vontade de DEUS. Apesar dos pecados que mancharam sua
carreira, Davi pode ser chamado um homem perfeito e "um homem segundo o
coração de DEUS", porque o motivo supremo de sua vida era fazer a vontade
de DEUS.
No Novo Testamento a palavra "perfeito" e seus derivados têm uma
variedade de aplicações, e, portanto, deve ser interpretada segundo o sentido
em que os termos são usados. Várias palavras gregas são usadas para expressar a
ideia de perfeição: 1) Uma dessas palavras significa ser completo no sentido de
ser apto ou capaz para certa tarefa ou fim. (2
Tim. 3:17.) 2) Outra denota certo fim alcançado por meio do crescimento
mental e moral. (Mat.
5:48; 19:21; Col.
1:28; 4:12 ; Heb.
11:40.) 3) A palavra usada em 2
Cor. 13:9; Efés
4:12; e Heb.
13:21 significa um equipamento cabal. 4) A palavra usada em 2
Cor. 7:1 significa terminar, ou trazer a uma terminação. A palavra
usada em Apoc.
3:2 significa fazer repleto, cumprir, encher (como uma rede),
nivelar (um buraco).
A palavra "perfeito" descreve os seguintes aspectos da vida cristã:
1) Perfeição de posição em CRISTO (Heb.
10:14) — o resultado da obra de CRISTO por nós.
2) Madureza e entendimento espiritual, em contraste com a infância
espiritual. (1
Cor. 2:6; 14:20;2Cor.
13:11; Fil.
3:15;2Tim.
3:17) 3) Perfeição progressiva. (Gál.
3:3.) 4) Perfeição em certos particulares: a vontade de DEUS, o amor
ao homem, e serviço. (Col.
4:12; Mat.
5:48; Heb.
13:21.) 5) A perfeição final do indivíduo no céu. (Col.
1:28,22; Fil.
3:12; 1Ped.
5:10.) 6) A perfeição final da igreja, ou o corpo de CRISTO, isto é, o
conjunto de crentes. (Efés.
4:13; João
17:23.)
(b) Possibilidades de perfeição. O Novo Testamento apresenta dois aspectos
gerais da perfeição: 1) A perfeição como um dom da graça, o qual é a perfeita
posição ou estado concedido ao arrependido em resposta à sua fé em CRISTO. Ele
é considerado perfeito porque tem um Salvador perfeito e uma justiça perfeita.
2) A perfeição como realmente efetuada no caráter do crente. É possível
acentuar em demasia o primeiro aspecto e descuidar do Cristianismo prático. Tal
aconteceu a certo indivíduo que, depois de ouvir uma palestra sobre a Vida
Vitoriosa, disse ao pregador: "Tudo isso tenho em CRISTO." "Mas
o senhor tem isso consigo, agora, aqui em Glasgow?" foi a serena
interrogação. Por outra parte, acentuando demais o segundo aspecto, alguns praticamente
têm negado qualquer perfeição à parte do que eles encontram em sua própria
experiência.
João Wesley (o fundador do Metodismo) parece haver tomado uma posição
intermediária entre os dois extremos. Ele reconhecia que a pessoa era
santificada na conversão, mas afirmava a necessidade da inteira santificação
como outra obra da graça. O que fazia essa experiência parecer necessária era o
poder do pecado, que era a causa de o cristão ser derrotado. Essa bênção vem a
quem buscar com fidelidade; o amor puro enche o coração e governa toda a obra e
ação, resultando na destruição do poder do pecado.
Essa perfeição no amor não é considerada como perfeição absoluta, nem tampouco
isenta o crente de vigilância e cuidados constantes. Wesley escreveu:
"Creio que a pessoa cheia do amor de DEUS ainda está propensa a
transgressões involuntárias. Tais transgressões vocês poderão chamá-las de
pecados, se quiserem; mais eu não." Quanto ao tempo da inteira
santificação, Wesley escreveu:
"É esta morte para o pecado e renovação no amor, gradual ou instantânea?
Um homem poderá estar à morte por algum tempo; no entanto, propriamente
falando, não morre enquanto não chegar o instante em que a alma se separa do
corpo; e nesse momento ele vive a vida da eternidade. Da mesma maneira a pessoa
poderá estar morrendo para o pecado por algum tempo; entretanto, não está morto
para o pecado enquanto o pecado não for separado de sua alma; é nesse momento
que vive a plena vida de amor. E da mesma maneira que a mudança sofrida quando
o corpo morre é duma qualidade diferente e infinitamente maior que qualquer
outra que tenhamos conhecido antes, tão diferente que até então era impossível
conceber, assim a mudança efetuada quando a alma morre para o pecado é duma
classe diferente e infinitamente maior que qualquer outra experimentada antes,
e que ninguém pode conceber até que a experimente. No entanto, essa pessoa
continuará a crescer na graça, no conhecimento de CRISTO, no amor e na imagem
de DEUS; e assim continuará, não somente até a morte, mas por toda a eternidade.
Como esperaremos essa mudança? Não em um descuidado indiferentismo, ou
indolente inatividade; mas em obediência vigorosa e universal, no cumprimento
fiel dos mandamentos, em vigilância e trabalho, em negarmo-nos a nós mesmos,
tomando diariamente a nossa cruz; como também em oração fervorosa e jejum, e
atendendo bem às ordenanças de DEUS. E se alguém pensa em obtê-la de alguma
outra maneira (e conservá-la quando a haja obtido, mesmo quando a haja recebido
na maior medida) esse alguém engana sua própria alma."
João Calvino, que acentuara a perfeição do crente pela consumada obra de
CRISTO, e que não era menos zeloso da santidade de que Wesley, dá o seguinte
relato da perfeição cristã:
"Quando DEUS nos reconcilia consigo mesmo, por meio da justiça de CRISTO,
e nos considera como justos por meio da livre remissão de nossos pecados, ele
também habita em nós, pelo seu ESPÍRITO, e santifica-nos pelo seu poder,
mortificando as concupiscências da nossa carne e formando o nosso coração em
obediência à sua Palavra. Desse modo, nosso desejo principal vem a ser obedecer
à sua vontade e promover a sua glória. Porém, ainda depois disso, permanece em
nós bastante imperfeição para repelir o orgulho e constranger-nos à
humildade." ( Ecl.
7:20; 1Reis
8:46.)
Ambas as opiniões, a perfeição como dom em CRISTO e a perfeição como obra real
efetuada em nós, são ensinadas nas Escrituras; o que CRISTO fez por nós deve
ser efetuado em nós. O Novo Testamento sustenta um ideal elevado de santidade e
afirma a possibilidade de libertação do poder do pecado. Portanto, é dever do
cristão esforçar-se para conseguir essa perfeição. (Fil.
3:12; Heb.6:l.)
Em relação a isto devemos reconhecer que o progresso na santificação muitas
vezes implica uma crise na experiência, quase tão definida como a da conversão.
Por um meio ou outro, o crente recebe uma revelação da santidade de DEUS e da
possibilidade de andar mais perto dele, e essa experiência é seguida por um
conhecimento interior de ter ainda alguma contaminação. (Vide Isa.
6.) Ele chegou a uma encruzilhada na sua experiência cristã, na qual
deverá decidir se há de retroceder ou seguir avante, com DEUS. Confessando seus
fracassos passados, ele faz uma reconsagração, e, como resultado, recebe um
novo aumento de paz, gozo e vitória, e também o testemunho de que DEUS aceitou
sua consagração. Alguns têm chamado a essa experiência uma segunda obra da
graça.
Ainda haverá tentação de fora e de dentro, e daí a necessidade de vigilância (Gál.
6:1; I
Cor. 10:12); a carne é fraca e o cristão está livre para ceder, pois está em
estado de prova (Gál.
5:17; Rom.
7:18, Fil.
3:8); seu conhecimento é parcial e falho; portanto, pode estar
sujeito a pecados de ignorância. Porém ele pode seguir avante, certo de que
pode resistir e vencer toda a tentação que reconheça (Tia.
4:7; 1
Cor. 10:13; Rom.
6:14; Efés.
6:13,14);
pode estar sempre glorificando a DEUS cheio dos frutos de justiça (1
Cor. 10:31; Col.
1:10); pode possuir a graça e o poder do ESPÍRITO e andar em plena
comunhão com DEUS (Gál.
5:22, 23; Efés.
5:18; Col.
1:10,11; 1
João 1:7); pode ter a purificação constante do sangue de CRISTO e assim
estar sem culpa perante DEUS. (1
João 1:7; Fil.
2:15; 1Tess.
5:23).
X. A Segurança da Salvação
Temos estudado as preparações para a salvação e considerado a natureza desta.
Nesta seção consideramos: É a Salvação final dos cristãos incondicional, ou
poderá perder-se por causa do pecado?
A experiência prova a possibilidade duma queda temporária da graça, conhecida
por "desviar-se". O termo não se encontra no Novo Testamento, senão
no Antigo Testamento. Uma palavra hebraica significa "voltar atrás"
ou "virar-se"; outra palavra significa "volver-se" ou ser
"rebelde". Israel é comparado a um bezerro teimoso que volta para
trás e se recusa a ser conduzido, e torna-se insubmisso ao jugo. Israel
afastou-se de Jeová e obstinadamente se recusou a tomar sobre si o jugo de seus
mandamentos.
O Novo Testamento nos admoesta contra tal atitude, porém usa outros termos. O
desviado é a pessoa que outrora tinha o zelo de DEUS, mas agora se tomou fria (Mat.
24:12); outrora obedecia à Palavra, mas o mundanismo e o pecado
impediram seu crescimento e frutificação (Mat.
13:22); outrora pôs a mão ao arado, mas olhou para trás (Luc.
9:62); como a esposa de Ló, que havia sido resgatada da cidade da
destruição, mas seu coração voltou para ali (Luc.
17:32); outrora estava em contacto vital com CRISTO, mas agora está fora
de contacto, e está seco, estéril e inútil espiritualmente (João
15:6); outrora obedecia à voz da consciência, mas agora jogou para
longe de si essa bússola que o guiava, e, como resultado, sua embarcação de fé
destroçou-se nas rochas do pecado e do mundanismo (1
Tim. 1:19); outrora alegrava-se em chamar-se cristão, mas agora se
envergonha de confessar a seu Senhor (2
Tim. 1:8 ;2:12);
outrora estava liberto da contaminação do mundo, mas agora voltou como a
"porca lavada ao espojadouro de lama" (2
Ped. 2:22; vide Luc.
11:21-26).
É possível decair da graça; mas a questão é saber se a pessoa que era salva e
teve esse lapso, pode finalmente perder-se. Aqueles que seguem o sistema de
doutrina calvinista respondem negativamente; aqueles que seguem o sistema
arminiano (chamado assim em razão de Armínio, teólogo holandês, que trouxe a
questão a debate) respondem afirmativamente.
1. Calvinismo.
A doutrina de João Calvino não foi criada por ele; foi ensinada por santo
Agostinho, o grande teólogo do quarto século. Nem tampouco foi criada por
Agostinho, que afirmava estar interpretando a doutrina de Paulo sobre a livre
graça.
A doutrina de Calvino é como segue: A salvação é inteiramente de DEUS; o homem
absolutamente nada tem a ver com sua salvação. Se ele, o homem, se arrepender,
crer e for a CRISTO, é inteiramente por causa do poder atrativo do ESPÍRITO de
DEUS. Isso se deve ao fato de que a vontade do homem se corrompeu tanto desde a
queda, que, sem a ajuda de DEUS, não pode nem se arrepender, nem crer, nem
escolher corretamente. Esse foi o ponto de partida de Calvino — a completa
servidão da vontade do homem ao mal. A salvação, por conseguinte, não pode ser
outra coisa senão a execução dum decreto divino que fixa sua extensão e suas
condições.
Naturalmente surge esta pergunta: Se a salvação é inteiramente obra de DEUS, e
o homem não tem nada a ver com ela, e está desamparado, amenos que o ESPÍRITO
de DEUS opere nele, então, por que DEUS não salva a todos os homens, posto que
todos estão perdidos e desamparados? A resposta de Calvino era: DEUS
predestinou alguns para serem salvos e outros para serem perdidos. "A
predestinação é o eterno decreto de DEUS, pelo qual ele decidiu o que será de
cada um e de todos os indivíduos. Pois nem todos são criados na mesma condição;
mas a vida eterna está preordenada para alguns, e a condenação eterna para
outros." Ao agir dessa maneira DEUS não é injusto, pois ele não é obrigado
a salvar a ninguém; a responsabilidade do homem permanece, pois a queda de Adão
foi sua própria falta, e o homem sempre é responsável por seus pecados.
Posto que DEUS predestinou certos indivíduos para a salvação, CRISTO morreu
unicamente pelos "eleitos"; a expiação fracassaria se alguns pelos
quais CRISTO morreu se perdessem.
Dessa doutrina da predestinação segue-se o ensino de "uma vez salvo sempre
salvo"; porque se DEUS predestinou um homem para a salvação, e unicamente
pode ser salvo e guardado pela graça de DEUS, que é irresistível, então, nunca
pode perder-se.
Os defensores da doutrina da "segurança eterna" apresentam as seguintes
referências para sustentar sua posição: João
10:28,29: Rom.
11:29; Fil.
1:6; 1
Ped. 1:5; Rom.
8:35; João
17:6.
2. Arminianismo.
O ensino arminiano é como segue: A vontade de DEUS é que todos os homens sejam
salvos, porque CRISTO morreu por todos. (1
Tim. 2:4-6; Heb.
2:9; 2
Cor. 5:14; Tito
2:11,12.)
Com essa finalidade ele oferece sua graça a todos. Embora a salvação seja obra
de DEUS, absolutamente livre e independente de nossas boas obras ou méritos, o
homem tem certas condições a cumprir. Ele pode escolher aceitar a graça de
DEUS, ou pode resistir-lhe e rejeitá-la. Seu direito de livre arbítrio sempre
permanece.
As Escrituras certamente ensinam uma predestinação, mas não que DEUS predestina
alguns para a vida eterna e outros para o sofrimento eterno. Ele predestina
" a todos os que querem" a serem salvos — e esse plano é bastante
amplo para incluir a todos que realmente desejam ser salvos. Essa verdade tem
sido explicada da seguinte maneira: na parte de fora da porta da salvação lemos
as palavras: "quem quiser pode vir"; quando entramos por essa porta e
somos salvos, lemos as palavras no outro lado da porta: "eleitos segundo a
presciência de DEUS". DEUS, em razão de seu conhecimento, previu que essas
pessoas aceitariam o evangelho e permaneceriam salvos, e predestinou para essas
pessoas uma herança celestial. Ele previu o destino delas, mas não o fixou.
A doutrina da predestinação é mencionada, não com propósito especulativo, e,
sim, com propósito prático. Quando DEUS chamou Jeremias ao ministério, ele
sabia que o profeta teria uma tarefa muito difícil e poderia ser tentado a
deixá-la. Para encorajá-lo, o Senhor assegurou ao profeta que o havia conhecido
e o havia chamado antes de nascer (Jer.
1:5). Com efeito, o Senhor disse: "Já sei o que está adiante de
ti, mas também sei que posso te dar graça suficiente para enfrentares todas as
provas futuras e conduzir-te à vitória." Quando o Novo Testamento descreve
os cristãos como objetos da presciência de DEUS, seu propósito é dar-nos
certeza do fato de que DEUS previu todas as dificuldades que surgirão à nossa
frente, e que ele pode nos guardar e nos guardará de cair.
3. Uma comparação.
A salvação é condicional ou incondicional? Uma vez salva, a pessoa é salva
eternamente? A resposta dependerá da maneira em que podemos responder às
seguintes perguntas chave: De quem depende a salvação? É irresistível a graça?
1) De quem depende, em última análise, a salvação: de DEUS ou do homem?
Certamente deve depender de DEUS, porque, quem poderia ser salvo se a salvação
dependesse da força da própria pessoa? Podemos estar seguros disto: DEUS nos
conduzirá à vitória, não importa quão débeis ou desatinados sejamos, uma vez
que sinceramente desejamos fazer a sua vontade. Sua graça está sempre presente
para nos admoestar, reprimir, animar e sustentar.
Contudo, não haverá um sentido em que a salvação dependa do homem? As
Escrituras ensinam constantemente que o homem tem o poder de escolher
livremente entre a vida e a morte, e DEUS nunca violará esse poder.
2) Pode-se resistir à graça de DEUS? Um dos princípios fundamentais do
Calvinismo é que a graça de DEUS e irresistível. Quando DEUS decreta a salvação
de uma pessoa, seu ESPÍRITO atrai, e essa atração não pode ser resistida.
Portanto, um verdadeiro filho de DEUS certamente perseverará até ao fim e será
salvo; ainda que caia em pecado, DEUS o castigará e pelejará com ele.
Ilustrando a teoria calvinista diríamos: é como se alguém estivesse a bordo dum
navio, e levasse um tombo; contudo está a bordo ainda; não caiu ao mar.
Mas o Novo Testamento ensina, sim, que é possível resistir à graça divina e
resistir para a perdição eterna (João 6:40; Heb. 6:46; 10:26-30; 2
Ped. 2:21; Heb.
2:3; 2
Ped. 1:10), e que a perseverança é condicional dependendo de manter-se em
contacto com DEUS.
Note-se especialmente Heb. 6:4-6 e 10:26-29. Essas palavras foram
dirigidas a cristãos; as epístolas de Paulo não foram dirigidas aos não regenerados.
Aqueles aos quais foram dirigidas são descritos como havendo sido uma vez
iluminados, havendo provado o dom celestial, participantes do ESPÍRITO SANTO,
havendo provado a boa Palavra de DEUS e as virtudes do século futuro. Essas
palavras certamente descrevem pessoas regeneradas.
Aqueles aos quais foram dirigidas essas palavras eram cristãos hebreus, que,
desanimados e perseguidos (10:32-39), estavam tentados a voltar ao Judaísmo.
Antes de serem novamente recebidos na sinagoga, requeria-se deles que,
publicamente, fizessem as seguintes declarações (10:29): que JESUS não era o
Filho de DEUS; que seu sangue havia sido derramado justamente como o dum
malfeitor comum; e que seus milagres foram operados pelo poder do maligno. Tudo
isso está implícito em Heb.
10:29. (Que tal repúdio da fé podia haver sido exigido, é ilustrado pelo
caso dum cristão hebreu na Alemanha, que desejava voltar à sinagoga, mas foi
recusado porque desejava conservar algumas verdades do Novo Testamento.) Antes
de sua conversão havia pertencido à nação que crucificou a CRISTO; voltar à
sinagoga seria de novo crucificar o Filho de DEUS e expô-lo ao vitupério; seria
o terrível pecado da apostasia (Heb.
6:6); seria como o pecado imperdoável para o qual não há remissão,
porque a pessoa que está endurecida a ponto de cometê-lo não pode ser
"renovada para arrependimento"; seria digna dum castigo mais terrível
do que a morte (10:28); e significaria incorrer na vingança do DEUS vivo
(10:30, 31).
Não se declara que alguém houvesse ido até esse ponto; de fato , o autor está
persuadido de "coisas melhores" (6:9). Contudo, se o terrível pecado
da apostasia da parte de pessoas salvas não fosse ao menos remotamente possível,
todas essas admoestações careceriam de qualquer fundamento.
Leia-se 1
Cor. 10:1-12. Os coríntios se haviam jactado de sua liberdade cristã e da
possessão dos dons espirituais. Entretanto, muitos estavam vivendo num nível
muito pobre de espiritualidade. Evidentemente eles estavam confiando em sua
"posição" e privilégios no Evangelho. Mas Paulo os adverte de que os
privilégios podem perder-se pelo pecado, e cita os exemplos dos israelitas.
Estes foram libertados duma maneira sobrenatural da terra do Egito, por
intermédio de Moisés, e, como resultado, o aceitaram como seu chefe durante a
jornada para a Terra da Promissão. A passagem pelo Mar Vermelho foi um sinal de
sua dedicação à direção de Moisés. Cobrindo-os estava a nuvem, o símbolo
sobrenatural da presença de DEUS que os guiava. Depois de salvá-los do Egito,
DEUS os sustentou, dando-lhes, de maneira sobrenatural, o que comer e beber.
Tudo isso significava que os israelitas estavam em graça, isto é: no favor e na
comunhão com DEUS.
Mas "uma vez em graça sempre em graça" não foi verdade no caso dos
israelitas, pois a rota de sua jornada ficou assinalada com as sepulturas dos
que foram destruídos em consequência de suas murmurações, rebelião e idolatria.
O pecado interrompeu sua comunhão com DEUS, e, como resultado, caíram da graça.
Paulo declara que esses eventos foram registrados na Bíblia para advertir os
cristãos quanto à possibilidade de perder os mais sublimes privilégios por meio
do pecado deliberado.
4. Equilíbrio escriturístico.
As respectivas posições fundamentais, tanto do Calvinismo como do Arminianismo,
são ensinadas nas Escrituras. O Calvinismo exalta a graça de DEUS como a única
fonte de salvação — e assim o faz a Bíblia; o Arminianismo acentua a livre
vontade e responsabilidade do homem — e assim o faz a Bíblia. A solução prática
consiste em evitar os extremos antibíblicos de um e de outro ponto de vista, e
em evitar colocar uma ideia em aberto antagonismo com a outra. Quando duas
doutrinas bíblicas são colocadas em posição antagônica, uma contra a outra, o
resultado é uma reação que conduz ao erro. Por exemplo: a ênfase demasiada à
soberania e à graça de DEUS na salvação pode conduzir a uma vida descuidada,
porque se a pessoa é ensinada a crer que conduta e atitude nada têm a ver com
sua salvação, pode tornar-se negligente. Por outro lado, ênfase demasiada sobre
a livre vontade e responsabilidade do homem, como reação contra o Calvinismo,
pode trazer as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de toda a
confiança de sua salvação. Os dois extremos que devem ser evitados são: a
ilegalidade e o legalismo.
Quando Carlos Finney ministrava em uma comunidade onde a graça de DEUS havia
recebido excessiva ênfase, ele acentuava muito a responsabilidade do homem.
Quando dirigia trabalhos em localidades onde a responsabilidade humana e as
obras haviam sido fortemente defendidas, ele acentuava a graça de DEUS. Quando
deixamos os mistérios da predestinação e nos damos à obra prática de salvar as
almas, não temos dificuldades com o assunto. João Wesley era arminiano e George
Whitefield calvinista. Entretanto, ambos conduziram milhares de almas a CRISTO.
Pregadores piedosos calvinistas, do tipo de Carlos Spurgeon e Carlos Finney,
têm pregado a perseverança dos santos de tal modo a evitar a negligência. Eles
tiveram muito cuidado de ensinar que o verdadeiro filho de DEUS certamente
perseveraria até ao fim, mas acentuaram que se não perseverassem, poriam em
dúvida o fato do seu novo nascimento. Se a pessoa não procurasse andar na
santidade, dizia Calvino, bem faria em duvidar de sua eleição.
É inevitável defrontarmo-nos com mistérios quando nos propomos tratar as
poderosas verdades da presciência de DEUS e a livre vontade do homem; mas se
guardamos as exortações práticas das Escrituras, e nos dedicamos a cumprir os
deveres específicos que se nos ordenam, não erraremos. "As coisas encobertas
são para o Senhor DEUS, porém as reveladas são para nós" (Deut. 29:29).
Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir falando
indevidamente dos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios
de segurança — o poder de CRISTO como Salvador; a fidelidade do ESPÍRITO SANTO
que habita em nós, a certeza das divinas promessas, e a eficácia infalível da
oração. O Novo Testamento ensina uma verdadeira "segurança eterna",
assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das imperfeições, obstáculos ou
dificuldades exteriores, o cristão pode estar seguro e ser vencedor em CRISTO.
Ele pode dizer com o apóstolo Paulo: "Quem nos separará do amor de CRISTO?
A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição ou a fome, ou a nudez, ou o
perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte
todo o dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas
coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou
certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de DEUS, que está em CRISTO
JESUS nosso Senhor" (Rom. 8:35-39).
))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Lição 8, CPAD, Confessando E Abandonando O Pecado NA ÍNTEGRA
Escrita Lição 8, CPAD, Confessando E Abandonando O Pecado, 2Tr24, Pr
Henrique, EBD NA TV
ESBOÇO DA LIÇÃO
I – A CONFISSÃO DE PECADO
1. Definição.
2. A confissão bíblica de pecado.
3. O símbolo da confissão de pecado.
II – O PERIGO DO PECADO NÃO CONFESSADO
1. Os males dos pecados não confessados.
2. As consequências do pecado de Adão e Eva.
III – CONFISSÃO DE PECADO: UM CAMINHO DE CURA E RESTAURAÇÃO
1. Confessando o pecado a DEUS.
2. Alcançando cura e restauração.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Salmos 51.1-12; 1 João 1.8-10
Salmos 51
1 - Tem misericórdia de mim, ó DEUS, segundo a tua benignidade; apaga as minhas
transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
2 - Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu
pecado.
3 - Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre
diante de mim.
4 - Contra ti, contra ti somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal,
para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares.
5 - Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
6 - Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer a
sabedoria.
7 - Purifica-me com hissopo, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo
do que a neve.
8 - Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu quebraste.
9 - Esconde a tua face dos meus pecados e apaga todas as minhas
iniquidades.
10 - Cria em mim, ó DEUS, um coração puro e renova em mim um espírito
reto.
11 - Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu ESPÍRITO
SANTO.
12 - Torna a dar-me a alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito
voluntário
1 João 1
8 - Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há
verdade em nós.
9 - Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 - Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não
está em nós.
COMENTÁRIO - INTRODUÇÃO
Atualmente, muitos acreditam que não é preciso confessar o pecado por
denominá-lo mera fraqueza ligada ao ambiente e aos aspectos hereditários. Nesta
lição, veremos que a Bíblia não ensina assim. Em sua epístola, o apóstolo João
escreve que o pecado é real e, por isso, é um perigo para a vida do crente,
pois suas consequências são trágicas. A orientação bíblica é a de que, caso
ocorra um pecado, ele deve ser confessado, abandonado como evidência do
arrependimento para que o crente arrependido possa receber o perdão de DEUS (1 Jo
2.9; cf. Sl
32.5).
I – A CONFISSÃO DE PECADO
1. Definição.
O verbo “confessar”, da palavra hebraica yadah, aparece como “jogar”, “atirar”,
“lançar” (1 Rs 8.33), uma palavra que vem da raiz verbal de hadah que significa
“estender a mão”. Essa palavra está presente 900 vezes no Antigo Testamento,
aparecendo com o sentido de “tomar conhecimento”, “saber”, “reconhecer”. A
palavra aparece no AT no contexto de confissão de pecado (Sl 32.5). No Novo
Testamento, o verbo grego para “confessar” é homologéo, que significa “concordar
com”, “consentir”, “conceder”. Essa palavra é composta da raiz homou, junto de
pessoas reunidas; e de lógos, do ato de falar. A palavra homologéo ocorre 25
vezes no Novo Testamento (Mt 7.23, Rm 10.9,10; Tg 5.16). Há um verbo grego
importante para “confessar”, eksomologéo (Mt 3.6), que significa “professar”,
“reconhecer aberta e alegremente para a honra de alguém”; “prometer
publicamente que fará algo”, “comprometer-se com”. Logo, podemos dizer que
confessar é uma maneira de declarar o que se crê ou sabe.
2. A confissão bíblica de pecado.
O ensino bíblico geral da confissão de pecado traz a ideia de reconhecê-lo e
fazer a sua confissão, pois o perdão depende desse ato (Sl 32.5; 1 Jo 1.9).
Essa confissão pode ser no momento da conversão; ou depois dela, quando pecados
cometidos podem ser contra DEUS ou contra um irmão (Mt 5.21,22). Importante
ressaltar, porém, que, segundo o ensino bíblico, era tão somente depois da
confissão de pecados que se poderia viver verdadeiramente uma vida de oração e
comunhão com DEUS (Ne 1.6; Sl 66.18; Lc 18.9-14).
3. O símbolo da confissão de pecado.
No ato da confissão de pecados, a pessoa reconhece de maneira autônoma os
pecados cometidos e que, por isso, se encontra indigna de estar na presença de
DEUS. Ela reconhece a sua natureza pecaminosa diante do Altíssimo (Rm 3.10-12).
Então, em arrependimento sincero e em confissão, busca o que lhe é garantido
por meio da Palavra de DEUS: o perdão. Assim, quem experimenta o ato sincero e
humilde da confissão de pecado alcança a misericórdia de DEUS (Pv 28.13).
Então, a alma é consolada e a vida espiritual é restaurada.
SINÓPSE I
O ensino bíblico da confissão de pecado traz a ideia de reconhecê-lo e fazer a
sua confissão.
Assim, quem experimenta o ato sincero e humilde da confissão de pecado, alcança
a misericórdia de DEUS. Então, a alma é consolada, e a vida espiritual é
restaurada.”
Auxílio Bíblico teológico
Professor(a), leia juntamente com a sua classe o Salmo 51 que se encontra na
seção Leitura Bíblica em Classe. Utilize o texto para mostrar o conceito de
pecado e as suas consequências (perda da salvação, da presença de DEUS, da
vitalidade e da alegria espiritual). Enfatize que a preocupação de Davi não foi
com o fato de perder o trono, mas com a perda da comunhão com DEUS e a
salvação. Explique que, “este salmo de confissão é atribuído a Davi, alusivo ao
momento em que o profeta Natã revelou seus pecados de adultério e de homicídio
(cf. 2 Sm 12.1-3). (1) Note-se que este salmo foi escrito por um crente que
voluntariamente pecou contra DEUS e de modo tão grave foi privado da comunhão e
da presença de DEUS (cf. 11). (2) Provavelmente, Davi escreveu este salmo já
arrependido, após Natã declarar-lhe o perdão divino (2 Sm 12.13). Davi roga
diretamente a plena restauração da sua salvação, a pureza, a presença de DEUS,
a vitalidade espiritual e a alegria (vv. 7-13)” (Bíblia de Estudo Pentecostal
Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.856).
II – O PERIGO DO PECADO NÃO CONFESSADO
1. Os males dos pecados não confessados.
Quando lemos e analisamos Provérbios 28.13, percebemos que a confissão de
pecado não se trata apenas de um ensino judaico, mas também cristão. A Epístola
de João corrobora com a necessidade de se confessar o pecado, deixá-lo e
alcançar o perdão (1 Jo 1.9). Em contrapartida, quem ignora a confissão de
pecado, ocultando-o, vive uma vida de aparência e de morte espiritual;
semelhante ao que os nossos primeiros pais, Adão e Eva, viveram ao tentar
ocultar os seus pecados diante de DEUS (Gn 3.8); bem como o rei Davi, o homem
segundo o coração de DEUS, que procurou ocultar do Senhor seus pecados (2 Sm
11; 12).
2. As consequências do pecado de Adão e Eva.
A realidade bíblica do pecado pode ser vista no primeiro casal, Adão e Eva,
quando pecou e, por isso, recebeu sentenças devidas (Gn 3.14-19). Além disso,
nossos primeiros pais perderam o direito de viver no ambiente mais perfeito e
belo que DEUS criou (Gn 3.24). Por isso na vida de Adão e Eva há consequências
trágicas do pecado, tais como: alteração da condição física de ambos; a
transição da natureza imortal para mortal; diversas tenções no gênero humano e
na natureza. Assim, sabemos que as consequências do pecado de nossos primeiros
pais não se limitaram a eles, mas perpassaram a todo o gênero humano e natural
(Rm 5.12-14).
3. As consequências do pecado de Davi.
O rei Davi pagou um alto preço com o seu pecado. A Bíblia mostra que, por isso,
a espada não sairia da sua casa (2 Sm 12.10-12). Os capítulos 11 e 12 de 2
Samuel revelam o conflito e o senso de culpa que marcavam a vida de um homem
que, por certo tempo, ocultou o seu pecado, trazendo-lhe enfermidades morais e
aflição que o levavam a gemidos. O Salmo 32 mostra que, por se manter em
silêncio, não confessando o seu pecado, Davi enfraqueceu cada vez mais, perdendo
o vigor espiritual (Sl 32.2-4). Já o Salmo 51 mostra a confissão de pecado do
rei, reconhecendo todos os seus erros a fim de que eles fossem perdoados e o
salmista purificado (Sl 51.2-6).
SINÓPSE II
A Palavra de DEUS mostra a necessidade de se confessar o pecado, deixá-lo e
assim alcançar o perdão.
III – CONFISSÃO DE PECADO: UM CAMINHO DE CURA E RESTAURAÇÃO
1. Confessando o pecado a DEUS.
Segundo o ensino bíblico, a confissão de pecados deve primeiramente ser
dirigida a DEUS, por intermédio de seu Filho, pois só Ele pode perdoar os
nossos pecados (Sl 51.3,4; Mt 9.2,6). Ao longo do seu ministério, o Senhor
JESUS disse à mulher pecadora: “Os teus pecados te são perdoados” (Lc 7.48). Na
oração do Pai-Nosso, o Senhor JESUS ensinou: “[Pai] Perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12). Em 1 João 1,
lemos que os nossos pecados devem ser confessados a CRISTO (1 Jo 1.7-9). Dessa
forma, perdoar pecado é uma prerrogativa de DEUS Pai por intermédio do Senhor
JESUS, mediante a sua obra no Calvário.
[...] Ocultar o pecado é decidir por trilhar uma jornada de sofrimento
espiritual e emocional.”
2. Alcançando cura e restauração.
O texto áureo da presente lição nos lembra que ocultar o pecado é decidir por
trilhar uma jornada de sofrimento espiritual e emocional. Mas quem deixa de
lado o orgulho e a soberba para trilhar o caminho humilde da confissão de
pecado vive uma vida mais leve. Não há nada mais restaurador que desfrutar das
misericórdias do Senhor (Pv 28.13). Não há nada mais consolador do que
confessar o pecado e deixá-lo definitivamente, pois assim encontraremos
descanso para a alma. Todo esse processo de confissão e abandono de pecado
revela a eficácia do ministério da reconciliação de DEUS por meio de JESUS CRISTO
(2 Co 5.18). Quem faz assim encontra o caminho de cura e restauração, conforme
lemos nas palavras do salmista: “Enquanto eu me calei, envelheceram os meus
ossos pelo meu bramido em todo o dia. [...] Confessei-te o meu pecado e a minha
maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e
tu perdoaste a maldade do meu pecado” (Sl 51.3,5).
SINÓPSE III
A confissão de pecado é o único caminho para a cura e a restauração do corpo,
alma e espírito.
Auxílio Bíblico teológico
“O Senhor restaurou a Davi a alegria da salvação, mas observa-se o seguinte
respeito de sua vida: (1) As Escrituras ensinam claramente que ceifaremos
aquilo que semearmos; se semearmos no ESPÍRITO do ESPÍRITO ceifaremos a vida
eterna; se semearmos na carne, da carne ceifaremos a corrupção (Gl 6.7,8).
Davi, em virtude do seu pecado, sofreu consequências até o fim, na própria
vida, na sua família e no seu reino (2 Sm 12.1-14). (2) As terríveis
consequências do pecado de Davi, mesmo depois da sua sincera confissão e
arrependimento, devem suscitar em todos os filhos de DEUS um santo temor de
pecar deliberadamente em aberta rebelião contra a redenção provida para eles em
JESUS CRISTO” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2022,
2003, p.856).
CONCLUSÃO
Em nossa caminhada cristã estamos sujeitos ao pecado. Encobri-lo e viver uma
vida espiritual de aparência não é uma opção bíblica para o caminho da cura e
da restauração. Logo, uma jornada de perdão só é possível com a confissão do
pecado praticado e a resolução de abandoná-lo de uma vez por todas. Quem
procede assim desfrutará das infindáveis misericórdias divinas
)))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Lição 8, Betel,
Ordenança para confessar os pecados e perdoar as ofensas NA ÍNTEGRA
Escrita Lição 8,
Betel, Ordenança para confessar os pecados e perdoar as ofensas, 2Tr24, Pr
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EBD, Revista
Editora Betel, 2° Trimestre De 2024, TEMA: ORDENANÇAS
BÍBLICAS – Doutrina Fundamentais Imperativas aos Cristãos para uma
vida bem-sucedida e de Comunhão com DEUS, Escola Bíblica Dominical
ESBOÇO DA LIÇÃO
1- PRECISAMOS DO
PERDÃO DE DEUS
1.1. A necessidade
do arrependimento.
1.2. A necessidade
da confissão do pecado para o perdão.
1.3. O constante
pedido de perdão.
2- O CREDOR
INCOMPASSIVO
2.1. O perdão exige
reciprocidade.
2.2. O perdão
excede a nossa compreensão de merecimento.
2.3. A nossa dívida
era impagável.
3- PERDOAI-VOS UNS
AOS OUTROS
3.1. Jesus ensina o
caminho do perdão.
3.2. O perdão é o
caminho para cura do corpo e da alma.
3.3. O perdão
precede a adoração.
TEXTO ÁUREO
“E, quando
estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que
vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas.” Marcos 11.25
VERDADE APLICADA
O perdão é uma
ordenança bíblica e precisamos exercitar o perdão nos nossos relacionamentos.
OBJETIVOS DA LIÇÃO
Ressaltar que
o perdão é uma ordenança bíblica.
Mostrar que a base do perdão é o arrependimento.
Falar que precisamos exercitar o perdão.
TEXTOS DE
REFERÊNCIA
1 JOÃO 1
7 Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado.
8 Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e não há
verdade em nós.
9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os
pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está
em nós.
LEITURAS
COMPLEMENTARES
SEGUNDA | SI
51.1-2 Davi confessa o seu pecado e suplica perdão.
TERÇA | Jo 8.7 Quem não tem pecado atire a primeira pedra.
QUARTA | Rm 3.21-31 A justificação pela fé em Jesus Cristo.
QUINTA | Rm 10.10 Com a boca se faz confissão para a salvação
SEXTA | НЬ 12.1 O pecado que tão de perto nos rodeia.
SÁBADO | Tg 1.15 O pecado consumado gera a morte.
HINOS SUGERIDOS: 20, 116, 521
MOTIVO DE ORAÇÃO
Ore pedindo graça
para perdoar os que te ofenderam.
INTRODUÇÃO
Uma das características mais marcantes da
comunidade dos discípulos de Cristo é o fato de terem sido alcançados pela
manifestação das riquezas de misericórdia e compaixão de Nosso Senhor expressas
pelo perdão divino. Assim, pois, como foram perdoados e ingressaram na
comunidade, devem expressar nos relacionamentos interpessoais o perdão que
receberam, pois é o que o próprio Senhor Jesus Cristo ordenou [Mt 6.14-15;
18.35].
PONTO DE
PARTIDA – Perdoar é tirar lixos que os sujam o coração.
1- PRECISAMOS DO PERDÃO DE DEUS
O significado de perdão é remissão de pena; não
imputar mais o erro; cancelamento de uma dívida ou uma ofensa.
Etimologicamente, a palavra perdão vem do latim “perdonare, que significa a
ação de perdoar, ou seja, aceitar ou pedir desculpas; se redimir em relação a
algo de errado. A doutrina bíblica do perdão envolve nosso
relacionamento com Deus e com o próximo, O perdão de Deus para nós remove a
culpa e restaura nossa comunhão com Ele [Dn 9.9; 2Co 5.19; 1Jo 1.9]. Assim, o
perdão de Deus envolve o cancelamento do efeito do pecado cometido e a
aceitação do pecador.
1.1. A necessidade do arrependimento.
Quando da primeira pregação do apóstolo Pedro, após
a descida do Espírito Santo, várias pessoas ficaram com seus corações aflitos
ao ouvirem o que Pedro lhes dizia e perguntaram: “Que faremos?”. A exposição da
Palavra e a ação do Espírito produziu em alguns o interesse em saber o que
deveriam fazer para serem salvos e aceitos por Deus [At 2.21]. A resposta foi:
“Arrependei-vos…para perdão dos pecados…” [At 2.37-38], ou seja, voltem-se para
Deus. Vemos que o perdão de pecados está intimamente conectado ao arrependimento
[At 3.19, 5.31]. A chamada ao arrependimento também fez parte do anúncio de
Jesus Cristo no início de Seu ministério [Mc 1.15]. O amor de Deus é tão grande
para conosco que até mesmo o arrependimento é resultado de Sua bondade [Rm
2.4]. Não devemos, pois, desprezar tão imensa bondade.
Bispo Abner Ferreira (Revista
Betel Dominical, 4º Trimestre de 2017, Lição 4- Conhecendo o arrependimento
bíblico e frutífero): “Os agentes provocadores do arrependimento”. O
arrependimento é condição para restaurar a comunhão com Deus, pois sem comunhão
não existe vida em Cristo. Caso as pessoas não creiam em Cristo como seu
Salvador, morrerão em seus pecados [Jo 8.24). Mas quem fará esse trabalho? Quer
convencer o mundo dos seus pecados? O Espírito Santo. Só Ele é quem pode
convencer os homens de sua miséria. E qual ferramenta Ele utiliza para fazer
esta obra? Ele faz isto através da pregação do Evangelho. Aliado à Palavra, ele
não somente expõe a culpa nos corações empedernidos, Ele também desperta a
mente das pessoas para arrependimento. O mundo se acha justo. Mas o Espírito
Santo vem ensinar ao mundo que as pessoas não podem encontrar a salvação em
suas próprias justiças pecaminosas. Por isso, precisam arrepender-se [Jo
16.8].”
1.2. A necessidade da confissão do pecado para o
perdão.
Todos pecaram e carecem da glória de Deus, pois
foram destituídos dela [Rm 3.23]. No entanto: “Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar (…)” [1 Jo 1.9]. “O que encobre as
suas transgressões nunca prosperará (…)” [Pv 28.13]. A restauração está
reservada aos que confessam e deixam. A confissão é uma admissão para uma
mudança de vida. A confissão de pecado é feita a Deus por meio do Seu Filho
Jesus. Davi reconheceu: “Enquanto eu me calei, envelheceram os meus ossos pelo
meu bramido em todo o dia” [Sl 32.3]. Davi também abriu a sua boca e
disse tudo sobre os seus pecados e transgressões: “(…) apaga todas as minhas
iniquidades. (…) não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a
alegria da tua salvação (…)” [Sl 51.9, 11-12]. Como é agradável a Deus um
coração quebrantado e contrito.
R. N. Champlin (O Novo
Testamento interpretado versículo por versículo, Volume 6, Hagnos, 2014, p.
296) comenta sobre 1 João 1.9-“Se confessarmos”: “No grego, é “omologeo”,
palavra derivada de “omos” “a mesma coisa” e “lego”, “dizer”, ou seja,
“declarar a mesma coisa que outra pessoa, ou seja, “admitir a veracidade de uma
acusação”. Admitimos a Deus nossa pecaminosidade e nossos pecados particulares,
na tentativa de nos libertarmos deles, confessando sua acusação contra nós de
que somos pecadores. Mas a confissão, desacompanhada da resolução de livrar-se
do pecado (que é a atitude chamada “arrependimento”), é um gesto inútil”
1.3. O constante pedido de perdão.
É possível que se levante uma questão: “Se Deus diz
que não se lembrará mais de nossos pecados [Hb 8.12], então, por que deve
continuar pedindo perdão, mesmo após a conversão?”. Esse texto de Hebreus está
retratando o contraste entre a antiga e a nova aliança, estabelecida pelo
Senhor, que traz verdadeiro e definitivo perdão. Mas, enquanto estamos neste
mundo, ainda não alcançamos a medida da estatura completa de Cristo” [Ef 4.12].
Não vivemos mais na prática do pecado como seus escravos, mas continuamos com a
possibilidade de pecar. Por isso, a necessidade de constante vigilância e
oração. Continuamos pedindo perdão não pelos pecados de antes da conversão, mas
pelos cometidos após a conversão, no dia a dia. Confessamos e pedimos perdão
todas as vezes que somos confrontados ou percebemos que agimos de forma
contrária aos princípios bíblicos. Faz parte do processo da santificação.
Martyn Lloyd-Jones (Estudos no
Sermão do Monte, Editora Fiel, 2017, p. 516- 517) comenta sobre o pedido
de perdão na Oração do Pai Nosso e a necessidade de ser feito constantemente:
“O que temos aqui, pelo contrário, é aquilo que também encontramos em João 13.
Você deve estar lembrado de que, quando Ele lavou os pés dos discípulos, Pedro
Lhe disse: “Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça. A
isso, entretanto, Jesus retrucou: “Quem já se banhou não necessita de lavar
senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo” [Jo 13.2-10]. Só há uma lavagem
da pessoa inteira – por ocasião da justificação. Entretanto, uma vez
justificados, enquanto caminhamos por este mundo ficamos sujos e maculados pelo
pecado. Isso acontece com cada crente. Embora saibamos que fomos perdoados,
continuamos precisando de perdão para os nossos pecados e fracassos diários.
Tudo isso é declarado sucintamente em João 1, onde lemos que o crente, embora
ande na vida de fé, ainda assim pode incorrer em delito”
EU ENSINEI QUE
A doutrina bíblica do perdão envolve nosso
relacionamento com Deus e com o próximo
2- O CREDOR INCOMPASSIVO
A parábola de Jesus sobre o credor incompassivo [Mt
18.23-35] nos fala figuradamente sobre o perdão divino, dando-nos uma resposta
ou uma instrução correta do procedimento do cristão para com os seus
semelhantes, assim como fomos perdoados por Deus [Ef 4.32].
2.1. O perdão exige reciprocidade.
A falta de reciprocidade mostra a
ausência de reconhecimento e justiça. A reciprocidade significa dar e receber,
por isso, é uma condição essencial para a qualidade das relações entre as
pessoas. Quando a pessoa não paga na mesma moeda o que recebeu de compaixão e
misericórdia, como fez o servo perdoado pelo seu senhor, ao encontrar com o
conservo. Ser recíproco é ter uma pista de mão dupla, para lá e pra cá. A lei
da retribuição é uma das formas de dizer ‘muito obrigado’; ‘fiquei feliz com o
que você fez. A falta de reciprocidade mostra um coração endurecido para o
perdão. Mostra ingratidão e egoísmo, só pensa no ‘venha a nós, mostra uma
consciência fraca e enferma [Mt 18.28-30].
Klyne Snodgrass (Compreendendo
todas as Parábolas de Jesus) comenta sobre a parábola do Credor Incompassivo:
“A parábola ilustra o perdão de Deus, a necessidade de os homens perdoarem em
função de Deus nos perdoar e a advertência do juízo divino sobre aqueles que se
negarem a perdoar (…) O objetivo da história é duplo: a necessidade de
misericórdia e perdão e a seriedade da nossa negligência em demonstrar
misericórdia e perdão. (…) Se a misericórdia de Deus não firmar suas raízes no
coração, não é experimentada. Um perdão que não se pratica é um perdão que não
se conhece. O perdão de Deus precisa ser reproduzido na vida dos que o
receberam, o aviso é claro. Quando o perdão não for passado adiante, as pessoas
terão que prestar contas por isso.”
2.2. O perdão excede a nossa compreensão de
merecimento.
Olhando pelo lado humano, nenhum dos dois merecia
ser perdoado, nem o servo nem o conservo, porque eles tinham uma dívida real
que não foi paga. Por isso, o perdão vai além do nosso entendimento, pois o
merecimento não é computado, mas é o amor, a graça e a misericórdia de Deus que
fazem acontecer o perdão em nossas vidas. Assim, a parábola nos alerta que, na
comunidade messiânica, as riquezas da compaixão e misericórdia de Deus são
refletidas nas relações pessoais de seus membros. Afinal, só fazemos parte do
povo de Deus por causa do perdão divino. Então, impõe-se a cada discípulo de
Cristo a consciência e a disposição para perdoar.
R. V. G. Tasker (Mateus:
introdução e comentário, Vida Nova, 1980, p. 138- 139): “A comunidade
messiânica é primeiramente e acima de tudo a comunidade dos remidos. Deve a sua
existência ao perdão tornado possível pela morte do Messias. (…) Uma vez abandonada
a disposição para perdoar, perde-se a razão de ser da comunidade cristã. A
sociedade dos perdoados fica sem sentido, se os que são perdoados não perdoam
[Mt 18.21-22]. Portanto, não surpreende que Mateus conclua esta seção dos
ensinos de Cristo com a história, que se encontra somente no seu evangelho, do
devedor incompassivo, história que traz a moral: “Perdoa, e serás perdoado.”
2.3. A nossa dívida era impagável.
Uma dívida enorme fora das nossas possibilidades de
pagamento. Assim como o servo devia ao rei, pois não tinha com o que pagar;
apelou pela compaixão do seu senhor. O maior choque do servo foi quando o seu
senhor mandou que ele, e sua mulher, e seus filhos fossem vendidos com tudo que
tinha para que a dívida fosse paga. Simbolicamente, se refere a quando a pessoa
se prostra em reverência ao Senhor pedindo misericórdia, o Senhor se moveu de
íntima compaixão, libertando-a das suas amarras e perdoando-lhe as suas
dívidas, as suas transgressões, que Ele próprio levou sobre si, cravando os
nossos pecados na cruz do Calvário [Is 53.5; Cl 2.13-14].
Bíblia de Estudo Pentecostal:
“Salmo 32.1, bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada. As únicas
pessoas realmente felizes são aquelas que receberam de Deus o perdão dos seus
pecados, e por isso a culpa das suas transgressões não pesa mais sobre seus
corações e mentes, e a sua consciência não as perturba mais (…) O salmista
descreve de três maneiras o perdão divino: (1) Deus perdoa o pecado. (2) Ele
cobre o pecado (…) põe-no fora da vista. (3) O pecado não é imputado (…) a
culpa não é atribuída.”
EU ENSINEI QUE:
A base do perdão é o arrependimento
3- PERDOAI-VOS UNS AOS OUTROS
O perdão é o óleo que lubrifica as
engrenagens dos nossos relacionamentos. A nossa situação passou pelo perdão de
Deus [Cl 3.13]. Não existe cristianismo sem perdão. Quem não sabe perdoar
está na contramão do Evangelho. Olhando pelo lado divino, não há como negar o
perdão. Ser cristão sem exercer o perdão é uma grande incoerência. Nossas
atitudes em relação ao próximo refletem o nosso relacionamento com Deus [1 Jo 4.20-21].
3.1. Jesus ensina o caminho do perdão.
A importância do perdão surge porque as pessoas nos
seus relacionamentos interpessoais estão sempre ferindo umas às outras,
voluntária ou involuntariamente, com palavras agressivas ou ditas fora de hora;
por atitudes inconvenientes ou comportamentos incompatíveis e capazes de
machucar ou ferir os sentimentos da outra pessoa, ou até mesmo por desleixo ou
omissão das suas responsabilidades. Normalmente se consegue o perdão, mas a
confiança fica abalada, e é difícil de conquistar na plenitude anterior. Jesus
disse que é preciso perdoar as ofensas dos outros para ser perdoado pelo Pai
Celestial [Mt 6.14-15]. Perdão não é para questionar o merecimento ou não, é
para produzir restauração, é misericórdia. Jesus nos ensinou na oração do Pai
Nosso [Mt 6.12] que devemos tratar dos nossos pecados, mas, também, estar
dispostos a perdoar aqueles que nos fizeram mal.
Bispo Abner Ferreira (Revista
Betel a Dominical, 4º Trimestre de 2021, Lição 10-O novo homem e sua conduta
diante do mundo): “Benignos uns para com os outros. Aqui temos a cortesia
cristã. Isso nos fala de um afeto profundo e maduro. Todos nós conhecemos
cristãos com esse caráter que expressam seus sentimentos com seus gestos e
demonstrações de afeto. Misericórdia é o aspecto compassivo da pessoa gentil.
Ser benigno é ser: bondoso, útil, amoroso, gentil. Barclay escreve que é a
disposição mental que pensa nos interesses do próximo, como faz com os seus
próprios. A benignidade sempre olha para fora, não para dentro, preocupa-se dos
pesares, lutas e problemas de outros como dos próprios. Faz com que perdoemos a
outros como Deus nos perdoou [Ef 4.32; Cl 3.12-15].”
3.2. O perdão é o caminho para cura do corpo e da
alma.
O perdão é remédio eficaz para curar doenças
espirituais, doenças da alma e, também, do físico [Tg 5.16), mas muitos acham
esse remédio muito caro e permanecem doentes e sofrendo. A falta de perdão mexe
com as emoções, a pessoa fica psicologicamente abalada, fica espiritualmente
fragilizada e perde o relacionamento estreito com Deus. Perdoar não é
esquecimento, pois nós temos uma mente que não se apaga facilmente, não é
sofrer de amnésia ou mal de Alzheimer, mas deixar o passado para trás e
seguir em frente [Fp 3.12-14]. Perdoar é como um ferimento que deixa cicatriz,
mas não sentimos mais a dor.
Israel Maia (Enfermidades da
Alma, Editora Betel, 2014, Capítulo 12-Perdão, o antídoto para o rancor, p.
111- 118): “Uma das maneiras mais simples do rancor se desenvolver é através de
algo chamado ressentimento, que é identificado, entre outros aspectos, como
lembrança magoada de ofensa recebida. O remédio contra o rancor é o perdão e o
combustível do perdão é o amor e o amor é a essência do Evangelho [Mt 22.39; Jo
3.16]. Então já que fazemos parte do povo escolhido devemos em todo tempo amar
a todos. O próprio Cristo nos ensinou que devemos amar aos nossos inimigos [Mt
5.44].”
3.3. O perdão precede a adoração.
Jesus continua a nos ensinar sobre o perdão, pois a
nossa adoração deverá ser sem obstáculo nenhum [Mt 5.23-24); isto é, até para
ofertar se souber que o teu irmão tem alguma coisa contra você, precisa
reconciliar com ele primeiro para depois dar a sua oferta. A nossa oferta de
gratidão não tem valor diante de Deus, se não estivermos em paz com o nosso
irmão [1Jo 1.7]. O Senhor procura os verdadeiros adoradores [Jo 4.24]. Por
isso, Ele exige que a adoração do adorador seja em espírito e em verdade.
Ninguém pode adorar a Deus com hipocrisia e em litígio com os irmãos.
O perdão está no coração de
quem ama. Para liberar um perdão genuíno, é preciso amar sem fingimento e ser
misericordioso [Lc 6.36-37; Rm 12.9]. Os bons relacionamentos não dependem de
alcançar a perfeição e, sim, de admitir as falhas e os erros e abrir o coração
para o perdão. Quem perdoa mostra que ama, está disposto a perdoar para
continuar com o relacionamento que está acima dos erros e falhas, que todo ser
humano comete. Não deixe o seu coração endurecer para o perdão. Quem perdoa
mostra que venceu o orgulho e dá sinal de grandeza. O perdão é realmente a
prova da humildade e do amor.
EU ENSINEI QUE:
O perdão é o óleo que lubrifica os relacionamentos.
Ser cristão sem exercer o perdão é uma grande incoerência.
CONCLUSÃO
É dever dos nascidos de novo e membros da
comunidade de discípulos de Cristo um viver coerente, digno com a condição de
serem novas criaturas em Cristo Jesus. O reino de Deus possui valores
diferentes dos adotados pelo sistema do mundo contrário a Deus. Dentre estes
valores bíblicos está a relevância da confissão de pecados e arrependimento e a
disposição e prontidão em perdoar uns aos outros como Cristo nos perdoou.