Lição 13, Central Gospel, Chamado à Perseverança e à Santidade, 1Tr23, Pr Henrique, EBD NA TV
Vídeo https://youtu.be/hUbZtgNUS1c
Escrita https://ebdnatv.blogspot.com/2023/03/escrita-licao-13-cg-chamado.html
Slides https://ebdnatv.blogspot.com/2023/03/slides-licao-13-central-gospel-um.html
SUBSÍDIOS
12.2 OLHANDO PARA JESUS. Na nossa corrida da fé, olhamos para Jesus
como: (1) nosso exemplo de confiança em Deus (Hb 2.13),
de dedicação à vontade de Deus (Mc 14.36; 10.7-10),
de oração (5.7; Mc
1.35; Jo
17), de vencer as tentações e os sofrimentos (Hb 2.10; 4.15),
de perseverança na lealdade ao Pai (vv. 2,3) e de terminar a obra para a qual
Deus nos chamou (v. 2; cf. Lc 15.6,24,32; Jo 15.11); e
(2) nossa fonte de energia, amor, graça, misericórdia e auxílio (Hb 4.16; 7.25; 10.22; Ap 3.21).
12.5 A CORREÇÃO DO SENHOR. Vejamos vários fatos a respeito da
disciplina que Deus aplica aos crentes, e as dificuldades e aflições que Ele
permite que soframos. (1) São um sinal de que somos filhos de Deus (vv. 7,8).
(2) São uma garantia do amor e cuidado de Deus por nós (v. 6). (3) A disciplina
do Senhor tem dois propósitos: (a) que não sejamos, por fim, condenados com o
mundo (1 Co
11.31,32), e
(b) que compartilhemos da santidade de Deus e continuemos a viver uma vida
santificada, sem a qual nunca veremos o Senhor (vv. 10,11,14). (4) Há dois
possíveis resultados da disciplina do Senhor. (a) Podemos suportar as
adversidades, às quais Deus nos leva, submeter-nos à sua vontade e continuarmos
fiéis a Ele (vv. 5,6). Fazendo assim, continuaremos a viver como filhos espirituais
de Deus (vv. 7-9), a compartilhar da sua santidade (v. 10); e produziremos
então o fruto da justiça (v. 11). (b) Podemos desprezar a disciplina de nosso
Pai (v. 5), rebelar-nos contra Ele por causa do sofrimento e da adversidade, e
daí cairmos em apostasia (Hb 3.12-14; 12.25).
(5) Andando na vontade de Deus, podemos sofrer adversidades: (a) como resultado
da nossa guerra espiritual contra Satanás (Ef 6.11-18);
(b) como teste para fortalecer a nossa fé (1 Pe 1.6,7) e
as nossas obras (Mt 7.24-47; 1 Co 3.13-15);
ou (c) como parte da nossa preparação para consolarmos o próximo (2 Co 1.3-5) e
para manifestar a vida de Cristo (2 Co 4.8-10,12,16).
(6) Em todos os tipos de adversidades, devemos buscar a Deus, examinar a nossa
vida (2 Cr
26.5; Sl
3.4; 9.12; 34.17) e
abandonar tudo quanto é contrário a sua santidade (vv. 10,14; Sl 66.18;
60.1-12).
12.14 SEGUI... A SANTIFICAÇÃO
Ser santo é estar separado do pecado e consagrado a Deus. É ficar
perto de Deus, ser semelhante a Ele, e, de todo o coração, buscar sua presença,
sua justiça e a sua comunhão. Acima de todas as coisas, a santidade é a
prioridade de Deus para os seus seguidores (Ef 4.21-24).
(1) A santidade foi o propósito de Deus para seu povo quando Ele planejou sua
salvação em Cristo (Ef
1.4). (2) A santidade foi o propósito de Cristo para seu povo quando
Ele veio a esta terra (Mt 1.21; 1 Co 1.2,30).
(3) A santidade foi o propósito de Cristo para seu povo quando Ele se entregou
por eles na cruz (Ef 5.25-27).
(4) A santidade é o propósito de Deus, ao fazer de nós novas criaturas e nos
conceder o Espírito Santo (Rm 8.2-15; Gl 5.16-25, Ef 2.10).
(5) Sem santidade, ninguém poderá ser útil a Deus (2 Tm 2.20,21).
(6) Sem santidade, ninguém terá intimidade nem comunhão com Deus (Sl 15.1,2).
(7) Sem santidade, ninguém verá o Senhor (v. 14; Mt 5.8)
12.15 RAIZ DE AMARGURA. "Raiz de amargura" refere-se a um
espírito e atitude caracterizados por animosidade e ressentimento intensos.
Aqui, talvez se refira a ressentimento do crente contra a disciplina de Deus,
ao invés de submissão humilde à sua vontade para nossa vida. A amargura pode
ter como objeto pessoas da igreja. Isso prejudica a pessoa que está assim
amargurada, i.e., deixando-a sem condições de entrar na presença de Deus em
oração. A amargura entre um grupo de crentes pode alastrar-se e corromper a
muitos, destruindo a "santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor"
(v. 14).
12.18-25 O MONTE PALPÁVEL. As circunstâncias aterradoras da outorga
da lei (cf. Êx
19.10-25; Dt
4.11,12; 5.22-26) e
os aspectos do evangelho são aqui contrastados entre si. Quem, hoje, abandona o
evangelho sofre piores consequências e perdas do que aqueles que rejeitavam a
lei.
12.26-29 MOVEU... A TERRA. Deus um dia destruirá a presente ordem
mundial e abalará o universo material, desfazendo-o (ver Ag 2.6 - 3.21). A
presente configuração do mundo não é eterna; será destruída por fogo e
substituída por um novo céu e uma nova terra (Ap 20.11; 21.1;
cf. 2 Pe
3.10-13). A única coisa que sobreviverá na sua forma presente será o reino
de Deus e aqueles que a ele pertencem (v. 28).
13.1 A CARIDADE FRATERNAL. Na igreja do NT, os crentes consideravam
uns aos outros como irmãos e irmãs em Cristo e assim se tratavam (cf. 1 Ts 4.9,10; 1 Pe 1.22; 2 Pe 1.7). A
fraternidade cristã provém do nosso mútuo relacionamento com o Pai e com o
Filho (1.2). À medida que participamos da graça de Cristo, somos todos feitos
juntamente com Ele, filhos e filhas e co-herdeiros das bênçãos do Pai (1.2; Jo 1.12,13; Rm 8.14-17; Ef 1.5-7).
Por causa dessa fraternidade, somos ensinados pelo Pai a nos amar uns aos
outros (1 Ts
4.9; 1 Jo
4.11; ver Jo
13.34,35).
13.4 VENERADO SEJA... O MATRIMÔNIO. Deus tem elevados padrões para
seu povo, quanto ao casamento e à sexualidade. Para um tratamento desse
importante assunto.
PADRÕES DE MORALIDADE SEXUAL
Hb
13.4 “Venerado seja entre todos o matrimônio e o leito sem mácula;
porém aos que se dão à prostituição e aos adúlteros Deus os
julgará”.
O crente, antes de mais nada, precisa ser moral e sexualmente puro
(cf. 2Co
11.2; Tt
2.5; 1Pe
3.2).
A palavra “puro” (gr. hagnos ou amiantos) significa livre de toda
mácula da lascívia. O termo refere-se a abstenção de todos os atos e
pensamentos que incitam desejos incompatíveis com a virgindade e a castidade ou
com os votos matrimoniais da pessoa. Refere-se, também, ao domínio próprio e a
abstenção de qualquer atividade sexual que contamina a pureza da pessoa diante
de Deus. Isso abrange o controle do corpo “em santificação e honra” (1Ts 4.4) e
não em “concupiscência” (4.5). Este ensino das Escrituras é tanto para os
solteiros, como para os casados. No tocante ao ensino bíblico sobre a moral
sexual, vejamos o seguinte:
A intimidade sexual é limitada ao matrimônio. Somente nesta
condição ela é aceita e abençoada por Deus (ver Gn 2.24; Ct 2.7;
4.12). Mediante o casamento, marido e mulher tornam-se uma só carne, segundo a
vontade de Deus. Os prazeres físicos e emocionais normais, decorrentes do
relacionamento conjugal fiel, são ordenados por Deus e por Ele honrados.
O adultério, a fornicação, o homossexualismo, os desejos impuros e
as paixões degradantes são pecados graves aos olhos de Deus por serem
transgressões da lei do amor (Êx 20.14) e
profanação do relacionamento conjugal. Tais pecados são severamente condenados
nas Escrituras (ver Pv 5.3) e
colocam o culpado fora do reino de Deus (Rm 1.24-32; 1Co 6.9,10; Gl 5.19-21).
A imoralidade e a impureza sexual não somente incluem o ato sexual
ilícito, mas também qualquer prática sexual com outra pessoa que não seja seu
cônjuge. Há quem ensine, em nossos dias, que qualquer intimidade sexual entre
jovens e adultos solteiros, tendo eles mútuo “compromisso”, é aceitável, uma
vez que não haja ato sexual completo. Tal ensino peca contra a santidade de
Deus e o padrão bíblico da pureza. Deus proíbe, explicitamente, “descobrir a
nudez” ou “ver a nudez” de qualquer pessoa a não ser entre marido e mulher
legalmente casados (Lv 18.6-30; 20.11, 17, 19-21;
ver 18.6).
O crente deve ter autocontrole e abster-se de toda e qualquer
prática sexual antes do casamento. Justificar intimidade pré-marital em nome de
Cristo, simplesmente com base num “compromisso” real ou imaginário, é transigir
abertamente com os padrões santos de Deus. É igualar-se aos modos impuros do
mundo e querer deste modo justificar a imoralidade. Depois do casamento, a vida
íntima deve limitar-se ao cônjuge. A Bíblia cita a temperança como um aspecto
do fruto do Espírito, no crente, i.e., a conduta positiva e pura, contrastando
com tudo que representa prazer sexual imoral como libidinagem, fornicação,
adultério e impureza. Nossa dedicação à vontade de Deus, pela fé, abre o
caminho para recebermos a bênção do domínio próprio: “temperança” (Gl 5.22-24).
Termos bíblicos descritivos da imoralidade e que revelam a extensão
desse mal. (a) Fornicação (gr. porneia). Descreve uma ampla variedade de
práticas sexuais, pré ou extramaritais. Tudo que significa intimidade e carícia
fora do casamento é claramente transgressão dos padrões morais de Deus para seu
povo (Lv
18.6-30; 20.11,12, 17, 19-21; 1Co 6.18; 1Ts 4.3).
(b) A lascívia (gr. aselgeia) denota a ausência de princípios morais,
principalmente o relaxamento pelo domínio próprio que leva à conduta virtuosa
(ver 1Tm
2.9). Isso inclui a inclinação à tolerância quanto a paixões
pecaminosas ou ao seu estímulo, e deste modo a pessoa torna-se partícipe de uma
conduta antibíblica (Gl
5.19; Ef
4.19; 1Pe
2.2,18).
(c) Enganar, i.e., aproveitar-se de uma pessoa, ou explorá-la (gr. pleonekteo,
e.g., 1Ts
4.6), significa privá-la da pureza moral que Deus pretendeu para essa
pessoa, para a satisfação de desejos egoístas. Despertar noutra pessoa
estímulos sexuais que não possam ser correta e legitimamente satisfeitos,
significa explorá-la ou aproveitar-se dela (1Ts 4.6; Ef 4.19).
(d) A lascívia ou cobiça carnal (gr. epithumia) é um desejo carnal imoral que a
pessoa daria vazão se tivesse oportunidade (Ef 4.22; 1Pe 4.3; 2Pe 2.18;
ver Mt
5.28).
13.5 SEM AVAREZA. Note que a admoestação para se ficar livre do
amor ao dinheiro, segue-se à exortação contra a imoralidade (v. 4). A avareza e
a imoralidade têm estreita conexão entre si no NT (1 Co 5.11; 6.9,10; Ef 5.3; Cl 3.5).
Com grande frequência o amor à abundância e ao luxo, bem como a busca constante
de riqueza, fazem da pessoa presa fácil dos pecados sexuais (ver 1 Tm 6.6-10).
13.6 O SENHOR É O MEU AJUDADOR. Não importa quão limitadas sejam
nossas possessões terrenas, nem quão difíceis sejam as nossas circunstâncias,
nunca devemos temer que Deus nos deixará ou nos abandonará (cf. Js 1.5).
As Escrituras declaram que o Pai celestial tem cuidado de nós. Por isso,
podemos dizer juntamente com o escritor de Hebreus, que brada com o salmista:
"O Senhor é o meu ajudador e não temerei". Essa afirmação pode ser
feita com confiança em tempos de necessidade, de aflição, de provações ou de
adversidade (ver Mt
6.30,33).
13.8 JESUS CRISTO É O MESMO. A verdade de que Jesus Cristo nunca
muda é qual âncora segura para nossa fé. Significa que os crentes dos nossos
dias não devem se dar por satisfeitos, antes de experimentarem a mesma
salvação, comunhão com Deus, batismo no Espírito Santo e o poder que os crentes
do NT experimentavam no servir a Deus, mediante Cristo JESUS.
13.12 SANTIFICAR O POVO. Jesus sofreu na cruz fora da porta da
cidade de Jerusalém para que sejamos santificados, i.e., separados da antiga
vida pecaminosa e dedicados a servir a DEUS.
13.13 SAIAMOS. Ser seguidor de Cristo envolve sair "fora do
arraial". Para esses cristãos judaicos, o "arraial" representava
o judaísmo. Para nós, representa o mundo com todos os seus prazeres
pecaminosos, valores iníquos e alvos temporais. Devemos levar o vitupério de
Cristo a fim de segui-lo, ter o seu mesmo sentimento, ser seu amigo,
identificar-nos com Ele e anunciar ao mundo nossa dedicação aos seus padrões e
propósitos. Ao sairmos fora da porta, percebemos que somos estrangeiros e
exilados na terra (v.14; 11.13). Todavia, não estamos sem cidade, porque
buscamos uma cidade futura, que tem fundamentos, "da qual o artífice e
construtor é Deus?? (Hb
11.10,14,16; 13.14).
13.17 OBEDECEI A VOSSOS PASTORES. A obediência e a fidelidade aos
líderes cristãos, aos pastores e mestres, deve basear-se numa superior lealdade
a Deus. A lealdade do crente, em escala descendente, é a seguinte: (1)
primeiramente, lealdade a Deus num relacionamento pessoal (ver Mt 22.37),
inclusive fidelidade aos princípios da sua; (2) segundo, lealdade à igreja
visível, à medida que ela permanecer fiel a Deus e a sua Palavra escrita (Jo 15.12; Gl 6.10); e
(3) terceiro, lealdade aos dirigentes da igreja, enquanto permanecerem fiéis e
leais a Deus, à sua Palavra e ao seu propósito para a igreja
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Com. Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo) AT e NT
Hebreus 12
Nesse capítulo, o apóstolo aplica o que ele reuniu no capítulo
anterior, e faz uso disso como um grande motivo para paciência e perseverança
na fé e na prática cristãs, fundamentando o argumento: I. Com base num exemplo
maior do que os mencionados até então, o do próprio Cristo (vv. 1-3). II. Com
base na natureza moderada e generosa das aflições que eles sofreram em sua jornada
cristã (vv. 4-17). III. Com base na comunhão e na conformidade entre o estado
da igreja cristã na terra e a igreja triunfante no céu (vv. 18-29).
Cristo, o Grande Exemplo
Hebreus 12:1-3
Observe aqui qual é o grande dever que o apóstolo impõe aos hebreus,
e ao qual ele tanto gostaria que eles obedecessem: “...deixemos todo embaraço e
o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que
nos está proposta”. O dever consiste em duas partes, uma preparatória, a outra
aperfeiçoadora.
I
Parte preparatória:
“...deixemos todo embaraço e o pecado...”. 1. Todo embaraço, isto é, todo
sentimento e preocupação excessivos pelo corpo e pela presente vida no mundo. A
preocupação excessiva por esta vida, ou a predileção por ela, é um peso morto
sobre a alma, que a puxa para baixo quando esta deveria subir, e a puxa para
trás quando deveria incentivá-la a ir adiante; torna os deveres e dificuldades
mais pesados do que seriam por si só. 2. E o pecado que tão de perto nos
rodeia; é o pecado que tem a maior vantagem sobre nós, pelas circunstâncias em
que estamos, nossa constituição, nossa companhia. Isso pode significar ou o
pecado condenatório da incredulidade ou, antes, o pecado predileto dos judeus,
a afeição exagerada pela sua própria dispensação. Deixemos de lado todos os
empecilhos exteriores e interiores.
II
Parte aperfeiçoadora:
“...corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta. O apóstolo fala
no estilo dos esportes, extraído dos jogos Olímpicos e de outros exercícios.
1. Os cristãos têm uma corrida para correr, uma corrida de serviço
e uma corrida de sofrimentos, um curso de obediência ativa e passiva.
2. Essa corrida está proposta para eles; está marcada para eles,
tanto pela palavra de Deus quanto pelos exemplos dos servos fiéis de Deus,
aquela nuvem de testemunhas que está em volta deles. Ela está marcada por
limites e direções apropriadas; o alvo para o qual correm e o prêmio pelo qual
correm estão colocados diante deles.
3. Essa corrida precisa ser corrida com paciência e perseverança.
Haverá necessidade de paciência para enfrentar as dificuldades que estão no
nosso caminho, de perseverança para resistir a todas as tentações que querem
nos fazer desistir ou nos desviar. A fé e a paciência são as virtudes que levam
à vitória, e por isso precisam ser sempre cultivadas e mantidas em constante
atividade.
4. Os cristãos têm um exemplo maior para incentivá-los e
encorajá-los no seu percurso cristão do que quaisquer, ou todos, dos que foram
mencionados anteriormente, e esse é o Senhor Jesus Cristo: “...olhando para
Jesus, autor e consumador da fé” (v. 2). Observe aqui:
(1) O que o Senhor Jesus é para o seu povo: Ele é o autor e
consumador da fé – o iniciador, aperfeiçoador e galardoador dela. [1] Ele é o
autor da nossa fé; não somente o seu objeto, mas o seu autor. Ele é o grande
líder e precedente da nossa fé, ele confiou em Deus; Ele é o que obteve por seu
sangue o Espírito de fé, o que proclamou a regra de fé, a causa eficiente da
graça da fé, e em todos os aspectos é o autor da nossa fé. [2] Ele é o
consumador da nossa fé; Ele é aquele que cumpre e é o cumprimento de todas as
promessas e profecias das Escrituras; Ele é o aperfeiçoador do Cânon das
Escrituras; Ele é o aperfeiçoador da graça, e da obra da fé com poder na alma
das pessoas; e Ele é o juiz e galardoador da nossa fé; Ele determina quem são
os que alcançam o alvo, e dele, e nele, eles têm o prêmio.
(2) Quais provações Cristo enfrentou na sua corrida e na sua
jornada. [1] Ele “...suportou tais contradições dos pecadores contra si mesmo”
(v. 3). Ele suportou a oposição que lhe fizeram, tanto em suas palavras quanto
em seu comportamento. Eles estavam contradizendo-o o tempo todo, e se opondo
aos seus grandes planos; e embora Ele os pudesse ter facilmente refutado e
confundido – e às vezes lhes deu uma amostra do seu poder –, contudo, suportou
suas más maneiras com grande paciência. As contradições deles foram dirigidas
ao próprio Cristo, contra a sua pessoa como Deus-homem, contra a sua
autoridade, contra a sua pregação, e mesmo assim Ele suportou tudo isso. [2]
Ele “...suportou a cruz” – todos os sofrimentos que enfrentou no mundo; porque
Ele assumiu a sua cruz já cedo, e foi no final pregado nela, e suportou uma
morte dolorosa, infame e maldita, na qual foi contado entre os transgressores,
os mais vis malfeitores; porém, tudo isso sofreu com paciência e determinação
invencíveis. [3] Ele desprezou “...a afronta”. Todas as afrontas que foram
lançadas contra Ele, tanto na sua vida quanto na sua morte, Ele desprezou; Ele
estava infinitamente acima delas; Ele conhecia a sua própria inocência e
excelência, e desprezou a ignorância e maldade dos que o desprezaram.
(3) O que sustentou a alma humana de Cristo quando estava nesses
sofrimentos incomparáveis: “...o gozo que lhe estava proposto”. Ele tinha algo
em vista em todos os seus sofrimentos, algo que lhe era agradável. Ele se
alegrou em ver que por meio de seus sofrimentos poderia fazer reparação à
justiça de Deus que fora ofendida e dar segurança à sua honra e ao seu governo;
que poderia estabelecer a paz entre Deus e o homem; que poderia selar o
concerto da graça e ser o Mediador dela; que poderia abrir um caminho para a
salvação para o maior dos pecadores e que poderia efetivamente salvar todos
aqueles que o Pai lhe dera, e ser Ele mesmo o primogênito entre muitos irmãos.
Essa era a alegria que lhe foi proposta.
(4) A recompensa pelo seu sofrimento: “...assentou-se à destra do
trono de Deus”. Cristo, como Mediador, foi exaltado ao estágio da mais elevada
honra, do mais elevado poder e influência. Ele está à destra do Pai. Nada
acontece no céu e na terra sem passar por Ele. Ele faz tudo que é feito. Ele
vive “...sempre para interceder por eles” (Hb 7.25).
(5) Qual é o nosso dever com relação a esse Jesus. Precisamos: [1]
Olhar para Ele; isto é, precisamos colocá-lo continuamente como nosso exemplo e
como nosso grande encorajamento; precisamos olhar para Ele para buscar direção,
ajuda e aceitação, em todos os nossos sofrimentos. [2] Precisamos considerá-lo,
pensar muito nele, e argumentar conosco mesmos com base no caso dele a fim de
aplicá-lo a nós. Precisamos fazer a analogia, como sugere a palavra: comparar
os sofrimentos de Cristo aos nossos; e vamos descobrir que os seus sofrimentos
excedem em muito os nossos, em natureza e medida, assim a sua paciência excede
em muito a nossa, e é um padrão perfeito para que o imitemos.
(6) A vantagem que teremos ao fazer isso: será um meio de impedir a
nossa fadiga e desfalecimento (v. 3): “...para que não enfraqueçais,
desfalecendo em vossos ânimos”. Observe: [1] Até nos melhores há uma propensão
à fadiga e ao desfalecimento em suas provações e aflições, especialmente quando
são pesadas e de longa duração. Isso procede das imperfeições humanas e dos
resíduos da corrupção. [2] A melhor forma de impedir isso é olhar para Jesus, e
considerá-lo. A fé e a meditação trazem novas reservas de força, conforto e
coragem; pois Ele lhes garantiu que, se perseverarem no sofrimento com Ele,
também com Ele reinarão (2 Tm 2.12). E essa esperança será o capacete da
salvação deles.
O Benefício das Aflições. A Utilidade das Aflições. Advertências
contra a Apostasia
Hebreus 12:4-17
Aqui o apóstolo reforça sua exortação à paciência e perseverança
por meio de um argumento tomado da medida moderada e da natureza generosa dos
sofrimentos que os hebreus cristãos estavam suportando na sua corrida cristã.
I
Com base na intensidade e
medida moderadas dos seus sofrimentos: “Ainda não resististes até ao sangue,
combatendo contra o pecado” (v. 4). Observe:
1. Ele reconhece que eles sofreram muito, tinham lutado com agonia
contra o pecado. Aqui: (1) A causa do conflito era o pecado, e estar engajado
na luta contra o pecado é estar lutando numa boa causa, pois o pecado é o pior
inimigo tanto de Deus quanto do homem. Nossa luta espiritual é tanto honrosa
quanto necessária; pois estamos nos defendendo a nós mesmos contra aquilo que
quer nos destruir, se obtiver a vitória sobre nós; estamos lutando por nós
mesmos, pela nossa vida, e por isso devemos ser pacientes e resolutos. (2) Cada
cristão está alistado sob a bandeira de Cristo, para lutar contra o pecado,
contra doutrinas pecaminosas, práticas pecaminosas e hábitos e costumes
pecaminosos, tanto em si mesmo quanto nos outros.
2. Ele os faz pensar que eles poderiam ter sofrido mais, que não
sofreram tanto quanto os outros; pois ainda não tinham resistido até ao sangue,
não haviam sido desafiados ainda ao martírio, embora não soubessem quão cedo
isso poderia acontecer. Aprenda aqui: (1) O nosso Senhor Jesus, “...o Príncipe
da nossa salvação” (Hb 2.10), não chama o seu povo para as sua provações mais
duras no início, mas sabiamente o treina por meio de sofrimentos menos pesados
para que esteja preparado para os maiores. Ele não vai colocar vinho novo em
odres fracos. Ele é o bom pastor, Ele não vai sobrecarregar os seus filhos mais
novos. (2) É adequado que os cristãos observem a moderação com que Cristo
adapta suas provações às forças deles. Eles não devem aumentar suas aflições,
mas devem observar a misericórdia que está combinada com elas, e devem ter
piedade daqueles que são chamados às provações mais cruéis para resistirem até
o sangue; não para derramar o sangue dos seus inimigos, mas para selar o seu
testemunho com o seu próprio sangue. (3) Os cristãos devem se envergonhar de
desfalecer sob provações moderadas, quando vêem que outros estão suportando
provações mais pesadas, e não sabem quão cedo eles mesmos terão de enfrentar as
piores provações. Se corremos com os soldados de infantaria e nos cansamos,
como vamos competir com os cavalos? Se estamos cansados numa terra de paz, o
que faremos na enchente do Jordão? (Jr 12.5).
II
Ele argumenta com base na
natureza peculiar e generosa daqueles sofrimentos que sobrevêm ao povo de Deus.
Embora os inimigos e perseguidores sejam os agentes que infligem tais
sofrimentos ao povo cristão, contudo eles são castigos divinos. O Pai celestial
tem a sua mão em tudo isso, e o seu sábio propósito em tudo. Ele lhes deu
informações adequadas sobre isso, e eles não devem esquecer (v. 5). Observe:
1. Aquelas aflições que talvez sejam verdadeiras perseguições no
que tange ao envolvimento dos homens são também repreensões e castigos divinos
no que concerne a Deus. A perseguição por causa da fé é, às vezes, uma correção
e repreensão pelos pecados dos que professam a religião. Os homens os perseguem
porque são crentes; Deus os castiga porque não são mais devotos. Os homens os
perseguem porque não abrem mão da sua profissão de fé; Deus os castiga porque
não vivem de acordo com a sua profissão de fé.
2. Deus orientou o seu povo acerca de como devia se comportar em
todas as aflições; seus servos precisam evitar os extremos em que muitos
incorrem. (1) Não devem desprezar o castigo do Senhor; não devem considerar
insignificantes as aflições, e ser estúpidos e insensíveis quando estiverem
nelas, pois são a mão e a vara de Deus, e a sua censura pelo pecado. Os que não
levam a sério as aflições, não levam Deus a sério e não levam o pecado a sério.
(2) Eles não podem desfalecer quando forem repreendidos; não podem se
desesperar e afundar quando estiverem na aflição, nem se lamentar e se queixar,
mas suportá-la com fé e paciência. (3) Se incorrerem em algum desses extremos,
é sinal de que esqueceram o conselho e a exortação do seu Pai celestial, que
Ele lhes deu com verdadeiro e terno amor.
3. As aflições, corretamente suportadas, embora possam ser o
resultado do desagrado de Deus, são mesmo assim provas do seu amor paternal
pelo seu povo e do seu cuidado por ele (vv. 6,7). “...porque o Senhor corrige o
que ama e açoita a qualquer que recebe por filho”. Observe: (1) Os melhores dos
filhos de Deus precisam de correção. Eles têm suas falhas e sua insensatez, que
precisam ser corrigidas. (2) Embora Deus possa deixar outros sozinhos em seus
pecados, Ele corrige os pecados nos seus próprios filhos; eles são da sua
família, e não escaparão da sua correção quando precisarem dela. (3) Dessa
forma, Ele age como é apropriado a um pai, e os trata como filhos; nenhum pai
vai pestanejar diante das falhas de seus próprio filhos como ele hesita diante
das falhas de outros; sua relação e seu amor o obrigam a observar melhor as
falhas dos seus próprios filhos do que as dos outros. (4) Ser tolerado na
continuação do pecado sem repreensão é um triste sinal de alienação de Deus;
tais são bastardos, não filhos. Eles podem até chamá-lo Pai, porque nasceram no
seio da comunidade de crentes; mas são filhos de outro pai, não filhos
legítimos de Deus (vv. 7,8).
4. Aqueles que são impacientes sob a disciplina do seu Pai
celestial se comportam de forma pior para com Ele do que o fariam em relação
aos seus pais terrenos (vv. 9,10). Aqui: (1) O apóstolo elogia um comportamento
responsável e obediente deles como filhos para com os seus pais terrenos. Eles
os reverenciavam mesmo quando os corrigiam. É dever dos filhos reverenciar com
obediência as justas ordens dos seus pais, e reverenciar com submissão a
correção deles quando forem desobedientes. Os pais não somente têm autoridade,
mas a ordem de Deus, de corrigir os seus filhos quando for necessário, e Ele
ordenou que os filhos aceitassem bem essa correção. Ser teimoso e descontente
quando corrigido é uma falta dupla; pois a correção pressupõe que houve falta
já cometida contra o poder ordenador do pai, e acrescenta, além disso, mais uma
falta contra o seu poder de correção. Daí: (2) Ele recomenda o comportamento
humilde e submisso para com o nosso Pai celestial, quando debaixo da sua
correção; e isso ele faz com base num argumento do menor para o maior. [1] Os
nossos pais terrenos são apenas “...nossos pais segundo a carne”, mas Deus é o
nosso “...Pai dos espíritos”. Nossos pais terrenos foram agentes na geração do
nosso corpo, que é apenas carne, uma coisa insignificante, mortal e vã, formada
do pó da terra, como o é o corpo dos animais. E mesmo assim, sendo curiosamente
formado, e feito parte da nossa pessoa, um tabernáculo apropriado para que nele
habite a alma, e como um órgão pelo qual podemos agir, devemos reverência e
amor àqueles que foram agentes na sua procriação. No entanto, devemos muito
mais àquele que é o Pai do nosso espírito. Nossa alma não é constituída de
substância material, nem do tipo mais refinado; não é extraída por transmissão
de um para outro; afirmar isso não é boa filosofia, e a pior teologia; ela veio
direto de Deus, que, depois de ter formado o corpo do homem da terra, soprou
nele um espírito de vida, e assim ele se tornou alma vivente. [2] Os nossos
pais terrenos “...nos corrigiam como bem lhes parecia”. Às vezes o faziam para
satisfazer sua raiva e não para corrigir nossas maneiras. Essa é uma fraqueza a
que estão expostos os nossos pais segundo a carne, e eles devem ser cuidadosos
e vigilantes em relação a isso. Pois, por meio disso, eles desonram a
autoridade paterna que Deus colocou sobre eles e prejudicam grandemente a
eficácia dos seus castigos. Mas o Pai do nosso espírito nunca aflige de boa
vontade, nem assim castiga os filhos dos homens, muito menos seus próprios
filhos. É sempre para nosso proveito; e a vantagem que Ele tem em mente para
nós é nada menos do que sermos participantes da sua santidade; é corrigir e
curar aquelas desordens pecaminosas que nos tornam dessemelhantes de Deus, e
para melhorar e aumentar aquelas virtudes que são a imagem de Deus em nós, para
que sejamos e ajamos mais de acordo com o nosso Pai celestial. Deus ama tanto
os seus filhos que gostaria que eles fossem semelhantes a si mesmo o máximo
possível, e para esse propósito Ele os corrige sempre que é necessário. [3] Os
pais segundo a nossa carne nos corrigiram “...por um pouco de tempo”, no estado
da infância, quando menores; e embora estivéssemos naquele estado irritadiço,
nós lhes devíamos respeito, e quando chegamos à maturidade os amamos e honramos
muito mais por isso. Toda a nossa vida aqui é um estado de infância, menoridade
e imperfeição, e por isso precisamos nos submeter à disciplina de tal estado;
quando chegarmos ao estado de perfeição, estaremos completamente reconciliados
com todas as medidas da disciplina de Deus sobre nós. [4] A correção de Deus
não é nenhuma condenação. Seus filhos podem temer no começo para que não venha
a aflição sobre aquela terrível incumbência e nós clamemos: “Não me condenes,
mas faze-me saber por que contendes comigo” (Jó 10.2). Mas isso está tão
distante de ser o plano de Deus para o seu próprio povo que Ele por isso os
castiga agora “...para não serem condenados com o mundo” (1 Co 10.32). Ele faz
isso para impedir a morte e a destruição da sua alma, para que vivam para Deus
e sejam semelhantes a Deus, e estejam para sempre com Ele.
5. Os filhos de Deus, em suas aflições, não devem julgar a forma
como Ele trata com eles por meio dos sentidos no presente, mas pela razão, fé e
experiência: “E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de
gozo, senão de tristeza, mas, depois, produz um fruto pacífico de justiça nos
exercitados por ela” (v. 11). Observe aqui:
(1) O discernimento dos sentidos nesse caso – as aflições não são
agradáveis aos sentidos, mas dolorosas; a carne vai senti-las, e será oprimida
por elas, e vai gemer nelas.
(2) O discernimento da fé, que corrige o dos sentidos e declara que
a aflição santificadora produz os frutos da justiça; esses frutos são
pacíficos, e tendem ao sossego e ao conforto da alma. A aflição produz a paz,
ao produzir mais justiça; pois o fruto da justiça é paz. E se a dor do corpo
contribui dessa forma para a paz da mente, e breves aflições presentes produzem
frutos de longa duração, os hebreus não tinham razão alguma para se lamentar ou
desfalecer nelas. Mas a sua grande preocupação é que a disciplina sob a qual
estavam seja suportada por eles com paciência, e os conduza a um nível mais
elevado de santidade. [1] Que a aflição deles seja suportada com paciência, que
é a linha principal do discurso do apóstolo acerca desse tópico; e ele
novamente volta a exortá-los que pela razão mencionada anteriormente eles devem
“...levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados” (v. 12). Um fardo de
aflições é capaz de fazer com que as mãos do cristão fiquem caídas pelo
cansaço, e os seus joelhos fiquem fracos, e assim o desanimem e o desencorajem;
mas ele precisa lutar contra isso, e por duas razões: em primeiro lugar, para
que ele possa correr melhor a sua corrida espiritual. A fé, e a paciência, e a
santa coragem e determinação vão fazê-lo caminhar mais seguramente, ajudá-lo a
manter um caminho mais reto, impedir o vacilo e o devaneio. Em segundo lugar,
para que ele possa encorajar e não desanimar outros que estão no mesmo caminho
com ele. Há muitos que estão no caminho para o céu que ainda andam de forma
manca e trôpega nele. Esses são capazes de desencorajar os outros, e atrapalhar
os outros; mas é obrigação do cristão ter coragem e agir por fé, e assim ajudar
outros no caminho para o céu. [2] Que na aflição que passam sejam promovidos a
um degrau mais elevado de santidade. Visto que esse é o plano de Deus, deve ser
o plano e interesse dos seus filhos, que com a força e a paciência renovadas
eles sigam “...a paz com todos e a santificação” (v. 14). Se os filhos de Deus
se tornam impacientes nas aflições, então não andam de forma tão calma e
pacífica em relação aos homens, nem de forma tão piedosa para com Deus, quanto
deveriam. No entanto, a fé e a paciência vão capacitá-los a seguir a paz e a
santificação também, assim como um homem segue o seu chamado, com constância,
diligência e com prazer. Observe que, em primeiro lugar, é dever dos cristãos,
mesmo quando num estado de sofrimento, seguir a paz com todos, aliás, até mesmo
com aqueles que talvez sejam os agentes do seu sofrimento. Esta é uma lição
difícil, e uma grande realização, mas é o que Cristo chamou o povo a fazer. Os
sofrimentos têm o potencial de azedar o espírito e intensificar a raiva; mas os
filhos de Deus precisam seguir a paz com todos. Em segundo lugar, paz e a
santidade estão associadas; não pode haver verdadeira paz sem santidade. Pode
haver prudência e consideração discreta, e uma demonstração de amizade e de boa
vontade para com todos; mas essa verdadeira índole pacífica cristã nunca está
separada da santidade. Não devemos, sob o pretexto de viver pacificamente com
todos os homens, deixar os caminhos da santidade, mas cultivar a paz de forma
santa. Em terceiro lugar, sem a santificação “...ninguém verá o Senhor”. A
visão de Deus nosso Salvador no céu está reservada como recompensa à santidade,
e a ênfase da nossa salvação é colocada na nossa santidade, embora uma
disposição pacífica serena contribua muito para o nosso encontro no céu.
6. Nas situações em que as aflições e os sofrimentos pela causa de
Cristo não são considerados pelos homens como correção do Pai celestial, e eles
não melhoram em função disso, tais ocorrências serão uma perigosa armadilha e
tentação à apostasia, contra as quais todo cristão deve estar especialmente
vigilante (vv. 15,16): “...tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de
Deus”.
(1) Aqui o apóstolo começa uma séria advertência contra a
apostasia, e a fundamenta num exemplo terrível:
[1] Ele começa uma séria advertência contra a apostasia (v. 15).
Aqui você pode observar, em primeiro lugar, a natureza da apostasia: é
privar-se da graça de Deus; é se tornar falido espiritualmente, por falta de um
bom fundamento, e cuidado e diligência apropriados; é privar-se da graça de
Deus, ficando aquém do princípio da verdadeira graça na alma, não obstante os
meios da graça e a profissão de fé na religião, e assim ficando aquém do amor e
do favor de Deus aqui e no porvir. Em segundo lugar, as consequências da
apostasia: sempre que pessoas se privam da graça de Deus, nasce uma raiz de
amargura, a depravação prevalece e irrompe. Uma “...raiz de amargura”, uma raiz
amarga, produzindo frutos amargos para si mesmos e para os outros. Produz para
si mesmos princípios corrompidos, que conduzem à apostasia e são grandemente
fortalecidos e enraizados na apostasia – erros condenáveis (para a depravação
da doutrina e da adoração da igreja cristã) e práticas corrompidas. Apóstatas
em geral se tornam cada vez piores e caem nas perversidades mais grosseiras,
que em geral terminam em ateísmo total ou em desespero. Também produz frutos
amargos para os outros, para as igrejas a que esses homens pertenceram; por
seus princípios e práticas corrompidos muitos são atribulados, a paz da igreja
é violada, a paz da mente dos homens é perturbada, e muitos se contaminam,
manchados por aqueles maus princípios, e atraídos para práticas imundas. Dessa
forma, as igrejas sofrem tanto na sua pureza quanto na sua paz. Mas os próprios
apóstatas serão os que mais sofrerão no final.
[2] O apóstolo fundamenta a admoestação com um exemplo terrível, e
esse é o de Esaú, que embora nascido em uma família piedosa, e tendo o direito
de primogenitura como o filho mais velho, e assim intitulado a ser profeta,
sacerdote e rei, na sua família, foi tão profano que desprezou esses
privilégios sagrados e vendeu o seu direito de primogenitura por um bocado de
carne. Observe aqui, em primeiro lugar, o pecado de Esaú. Ele profanamente
desprezou e vendeu o seu direito de primogenitura, e todas as vantagens
associadas a ele. Assim os apóstatas, para evitar a perseguição e desfrutar das
facilidades e prazeres sensuais, não obstante tenham o caráter de filhos de
Deus, e o direito à bênção e herança, abrem mão de todas as pretensões a isso.
Em segundo lugar, o castigo de Esaú, que foi apropriado ao seu pecado. A sua
consciência foi convencida do pecado e da sua insensatez, mas era tarde demais:
“...querendo ele ainda depois herdar a bênção”. O seu castigo foi duplo: 1. Ele
foi condenado pela sua própria consciência; ele então viu que a bênção que
tinha desconsiderado era digna de ser possuída, digna de ser buscada, embora
com muito cuidado e lágrimas. 2. Ele foi rejeitado por Deus: “...porque não
achou lugar de arrependimento” em Deus ou em seu pai; a bênção foi dada a
outro, àquele a quem ele a tinha vendido por um cozido. Esaú, na sua grande
maldade, tinha feito a barganha, e Deus, em seu justo julgamento, ratificou-a e
confirmou-a, e não permitiu que Isaque a revertesse.
(2) Disso tudo podemos aprender: [1] Que a apostasia da fé em
Cristo é fruto da preferência pela gratificação da carne em detrimento da
bênção de Deus e da sua herança celestial. [2] Que os pecadores nem sempre
nutrem esses maus pensamentos sobre a bênção e a herança divinas como o fazem
ao apostatar. Virá o tempo em que vão pensar que nenhum esforço é grande
demais, nenhuma lágrima e cuidado são demais para obter a bênção perdida. [3]
Quando o dia da graça tiver passado (como às vezes pode acontecer nesta vida),
eles não encontrarão lugar para arrependimento. Eles já não poderão se
arrepender corretamente do seu pecado; e Deus não vai se arrepender da sentença
que pronunciou sobre eles pelo pecado que cometeram. E por isso, como é o
desígnio de todos, os cristãos não devem abrir mão do seu título, e da
esperança da bênção e da herança dos seus pais, e se expor a essa ira e
maldição irrevogáveis, ao desertarem da sua santa fé cristã, para evitar o
sofrimento, que, embora possa ser perseguição no que tange a homens ímpios, é
somente uma vara de correção e castigo nas mãos do Pai celestial, para levá-los
para perto dele em conformidade e comunhão. Este é o sentido da argumentação do
apóstolo com base na natureza dos sofrimentos do povo de Deus mesmo quando
sofrem por causa da justiça; e a argumentação é muito forte.
A Natureza da Economia Cristã
Hebreus 12:18-29
Aqui o apóstolo continua a encorajar os hebreus cristãos a
perseveram na sua corrida e luta cristãs, e a não recaírem no judaísmo. Ele faz
esse apelo ao lhes mostrar o quanto a dispensação do evangelho difere do
concerto antigo dos judeus, e quanto ela se assemelha à igreja triunfante no
céu, e em ambos os relatos exige e merece a nossa diligência, paciência e perseverança
na fé cristã.
I
Ele mostra o quanto a igreja
cristã difere da religião judaica, e quanto a sobrepuja. E aqui temos uma
descrição muito particular da experiência dos judeus na dispensação mosaica
(vv. 18-21). 1. Era uma experiência totalmente suscetível aos sentidos. O monte
Sinai, sobre o qual aquele concerto dos judeus foi constituído, era um
“...monte palpável” (v. 18), um lugar totalmente palpável; assim foi a
dispensação deles. Era em grande parte exterior e terrena, e assim mais
assustadora. A experiência da igreja cristã no monte Sião é mais espiritual,
racional e agradável. 2. Foi uma experiência tenebrosa. Sobre aquele monte
houve escuridão e trevas, e aquele concerto estava coberto de sombras e tipos;
a dispensação do evangelho é muito mais clara e luminosa. 3. Foi uma
dispensação amedrontadora e terrível; os judeus não puderam suportar o terror
dela. O trovão e o relâmpago, a trombeta tocando, a voz do próprio Deus falando
a eles, tudo os chocou com tal pavor que “...os que a ouviram pediram que se
lhes não falasse mais” (v. 19). Aliás, o próprio Moisés disse: “Estou todo
assombrado e tremendo”. Os melhores entre os homens da terra não são capazes de
falar com Deus e seus santos anjos sem intermediário. Por outro lado, o
evangelho é suave, bondoso e condescendente, adequado à nossa fraca estrutura
humana. 4. Foi uma dispensação limitada; ninguém podia se aproximar daquele
monte, a não ser Moisés e Arão. Sob o evangelho, todos temos acesso com ousadia
a Deus. 5. Foi uma dispensação muito perigosa. O monte ardia com fogo, e
qualquer homem ou animal que o tocasse seria apedrejado (v. 20). Sempre será
perigoso para pecadores presunçosos e brutais se aproximarem de Deus; mas não
haverá morte certa e imediata, como ocorria naqueles dias. Essa era a situação
dos judeus, adequada para atemorizar um povo de coração duro, para estabelecer
a estrita e tremenda justiça de Deus, para desacostumar o povo dessa
dispensação e induzi-los a abraçar mais prontamente a agradável e suave
administração do Evangelho, sendo leais a ele.
II
Ele mostra o quanto a igreja
de Cristo na terra representa a igreja triunfante no céu, a comunicação que há
entre uma e outra. A igreja de Cristo é chamada de o “...monte Sião, a
Jerusalém celestial”, que é livre, em oposição ao monte Sinai, que tende à
servidão (Gl 4.24). Esse foi o monte em que Deus colocou o seu rei, o Messias.
Agora, ao virem ao monte Sião, os cristãos vêm aos lugares celestiais, e a uma
sociedade celestial.
1. A lugares celestiais: (1) “...à cidade do Deus vivo”. Deus fixou
a sua agradável residência na igreja de Cristo, que nesse sentido é um emblema
do céu. Ali o seu povo pode encontrá-lo governando, conduzindo, santificando e
confortando. Nessa igreja, Deus fala com eles por meio do ministério do
evangelho; eles falam com Ele pela oração, e Ele os ouve; Ele os treina para o
céu e lhes dá a garantia da sua herança. (2) “...à Jerusalém celestial” como
nascidos e gerados nela, como naturalizados e livres nela. Na igreja de Cristo
os crentes têm uma visão mais clara do céu, evidências mais diretas do céu e
uma maior e melhor disposição celestial da alma.
2. A uma sociedade celestial. (1) “...aos muitos milhares de
anjos”, que são da mesma família dos santos, sob a mesma cabeça, e em grande
medida utilizados na mesma obra, ministrando aos crentes para o bem destes,
guardando-os em todos os seus caminhos, e armando as suas tendas em volta
deles. O número desses anjos é incontável, e eles são uma companhia na ordem e
na união, e que companhia gloriosa. E aqueles que pela fé são acrescentados à
igreja de Cristo são acrescentados aos cuidados dos anjos, e no final serão
como eles, semelhantes a eles. (2) “...à universal assembleia e igreja dos
primogênitos, que estão inscritos nos céus”, isto é, a Igreja universal, por mais
dispersa que esteja. Pela fé chegamos a eles, temos comunhão com eles pela
mesma cabeça, pelo mesmo Espírito, e na mesma abençoada esperança, e andamos no
mesmo caminho de santidade, lutando com os mesmos inimigos espirituais, e
avançando rapidamente para o mesmo descanso, a mesma vitória e os mesmos
gloriosos triunfos. Eis a assembleia geral dos primogênitos, os santos de
épocas anteriores, que viram as promessas do evangelho, mas não as receberam,
como também aqueles que foram os primeiros a recebê-las sob o evangelho, e
foram regenerados por elas, e assim foram os primogênitos, e os primeiros
frutos do Evangelho. E, por meio disso, como primogênitos, avançaram para
honras e privilégios maiores do que o restante do mundo. De fato, todos os
filhos de Deus são herdeiros, e cada um tem os privilégios de primogênito. Os
nomes deles estão inscritos no céu, nos registros da igreja celestial. Eles têm
um nome na casa de Deus, como inscritos entre os vivos de Jerusalém; eles têm
uma boa reputação por sua fé e fidelidade, e estão arrolados no livro da vida
do Cordeiro, assim como os cidadãos estão arrolados nos livros de registro das
cidades. (3) “...a Deus, o Juiz de todos”, aquele grande Deus que vai julgar
tanto judeus quanto gentios de acordo com a lei sob a qual estão. Os crentes
vêm a Ele agora pela fé, fazem súplica ao Juiz e recebem a sentença de
absolvição no evangelho, e na corte de sua consciência, e por meio disso eles
sabem que serão justificados no porvir. (4) “...aos espíritos dos justos
aperfeiçoados”; ao melhor tipo de homens, os justos, que são mais excelentes
que os seus vizinhos; à melhor parte dos homens justos, seus espíritos, e a
estes no seu melhor estado, aperfeiçoados. Os crentes têm união com os santos
que partiram e uma e a mesma cabeça e Espírito, e um pouco da mesma herança, da
qual os que estão na terra são herdeiros, e os que estão no céu, possuidores.
(5) “...e a Jesus, o Mediador de uma nova aliança, e ao sangue da aspersão, que
fala melhor do que o de Abel”. Este não é somente um pequeno encorajamento para
se perseverar no evangelho, visto ser um estado de comunhão com Cristo, o
Mediador do novo concerto, e na transmissão do seu sangue, que fala coisas
melhores do que o sangue de Abel. [1] O concerto do evangelho é o novo concerto,
distinto do concerto das obras; e está agora sob uma nova dispensação, distinta
daquela do Antigo Testamento. [2] Cristo é o Mediador desse novo concerto. Ele
é o intermediário que se põe entre as duas partes, Deus e o homem, para
reuni-los nesse concerto, para mantê-los unidos não obstante os pecados do povo
e o desagrado de Deus contra eles em virtude dos pecados cometidos, para
oferecer nossas orações a Deus e para trazer os favores de Deus a nós, para
pleitear com Deus a nosso favor e para pleitear conosco a favor de Deus, e no
final para reunir Deus e o seu povo no céu, e ser o Mediador para o gozo entre
eles para sempre, eles contemplando e desfrutando Deus em Cristo e Deus
contemplando e abençoando-os em Cristo. [3] Esse concerto é ratificado pelo sangue
de Cristo aspergido sobre nossa consciência, assim como o sangue do sacrifício
era aspergido sobre o altar e o sacrifício. Esse sangue de Cristo apazigua a
ira de Deus e purifica a consciência dos homens. [4] Esse é o sangue que fala,
e diz coisas melhores do que o de Abel. Em primeiro lugar, ele fala a Deus a
favor dos pecadores; pleiteia não por vingança, como fez o sangue de Abel
contra aquele que o derramou, mas por misericórdia. Em segundo lugar, aos
pecadores, em nome de Deus. Declara o perdão dos seus pecados, e traz paz à
alma deles; e recomenda a mais estrita obediência deles e o seu mais profundo
amor e gratidão.
III
Tendo ampliado assim o
argumento a favor da perseverança extraído da natureza celestial do evangelho,
o apóstolo conclui o capítulo ao aprimorar o argumento de uma maneira adequada
à sua importância (v. 25ss.): “Vede que não rejeiteis ao que fala” – que fala
pelo seu sangue; e não somente fala de outra maneira do que o sangue de Abel
falou da terra, mas do que Deus falou pelos anjos, e por Moisés no monte Sinai;
primeiro falou na terra, agora Ele fala do céu. Observe aqui:
1. Quando Deus fala aos homens na forma mais excelente, Ele com
razão espera deles a mais cuidadosa atenção e consideração. Então é no
evangelho que Deus fala aos homens da maneira mais excelente. Pois: (1) Ele
agora fala de um trono mais elevado e glorioso, não do monte Sinai, que estava
nesta terra, mas do céu. (2) Ele agora fala mais imediatamente pela sua palavra
inspirada e pelo seu Espírito, que são suas testemunhas. Ele agora não fala
nenhuma coisa nova aos homens, mas pelo seu Espírito fala a mesma palavra ao
fundo da consciência. (3) Ele agora fala de forma mais eficaz e poderosa.
Antes, de fato a sua voz abalou a terra, mas agora, ao introduzir o Evangelho,
Ele não abalou somente a terra, mas os céus – não somente abalou os montes e
montanhas, ou os espíritos dos homens, ou o estado civil da terra de Canaã,
para estabelecer um lugar para o seu povo – não somente abalou o mundo, com fez
então, mas Ele abalou a nação judaica, e os abalou naquilo que no Antigo
Testamento era um céu na terra; esse estado espiritual deles Ele então abalou.
Foi pelo evangelho celestial que Deus abalou e despedaçou o estado civil e
eclesiástico da nação judaica, e introduziu um novo concerto na igreja, que não
pode ser removido, nunca será substituído por qualquer outro na terra, mas
permanecerá até que seja aperfeiçoado no céu.
2. Quando Deus fala aos homens na maneira mais excelente, a culpa
daqueles que o rejeitam é maior, e o seu castigo será mais inevitável e
intolerável; não há escape, nem forma de suportá-lo (v. 25). As diferentes
maneiras de Deus tratar com os homens na terra sob o Evangelho, em forma de
graça, nos asseguram que Ele vai tratar com os que desprezam o evangelho de
maneira diferente do que trata com outros homens, em forma de julgamento. A
glória do em evangelho, que deveria recomendá-lo fortemente à nossa
consideração, aparece nestas três coisas: (1) Foi pelo som da trombeta do
evangelho que a dispensação e o estado anteriores do povo de Deus foram
estremecidos e removidos; e desprezaremos aquela voz de Deus que derrubou um
estado de tanta duração e edificado pelo próprio Deus? (2) Foi pelo som da
trombeta do evangelho que um novo reino foi levantado por Deus no mundo, que
nunca poderá ser tão abalado a ponto de ser removido. Essa foi uma mudança
feita de uma vez para sempre; nenhuma outra mudança haverá até não existir mais
o tempo. Recebemos agora um reino que não pode ser removido, e nunca pode dar
lugar a uma nova dispensação. O Cânon das Escrituras foi agora aperfeiçoado,
cessou o espírito de profecia, o mistério de Deus foi concluído, e Ele colocou
a sua última mão nela. A igreja de Cristo pode até ser aumentada, tornada mais
próspera e pode ser mais purificada de contaminações adquiridas, mas nunca será
substituída por outra dispensação. Os que perecem sob o evangelho perecem sem
remédio. E daí o apóstolo conclui com razão: [1] O quanto é necessário para nós
obtermos de Deus a graça, “...pela qual sirvamos a Deus agradavelmente...”; se
não formos aceitos por Deus nesta dispensação, nunca mais seremos aceitos; e
perderemos todo o nosso esforço espiritual se não formos aceitos por Deus. [2]
Não podemos adorar a Deus de forma aceitável, a não ser que o adoremos “...com
reverência e piedade”. Além da fé, é necessário o santo temor para a adoração
aceitável. [3] Somente a graça de Deus nos capacita a adorar a Deus da maneira
correta. A natureza não consegue chegar a esse ponto. Ela não consegue produzir
essa fé preciosa nem o santo temor que são necessários para a adoração
aceitável. [4] Deus é o mesmo Deus justo e reto sob o Evangelho que pareceu ser
sob a Lei. Embora seja o nosso Deus em Cristo, e agora trate conosco de maneira
mais bondosa e graciosa, mesmo assim Ele é em si mesmo um “...fogo consumidor”;
isto é, um Deus de justiça severa, que se vinga de todos os que desprezam a sua
graça, e de todos os apóstatas. Sob o Evangelho, a justiça de Deus é revelada
de uma maneira mais terrível, embora não de maneira tão palpável quanto sob a
Lei. Sob o Evangelho vemos a justiça divina movendo o Senhor Jesus Cristo, e
fazendo dele um sacrifício propiciatório, fazendo de seu corpo e alma um
sacrifício pelo pecado, o que é uma demonstração de justiça muito além do que
foi visto e ouvido no monte Sinai quando a Lei foi dada.
Hebreus 13
Tendo tratado de Cristo em grande parte da epístola, e da fé, e da
graça, e dos privilégios do evangelho, e tendo advertido os hebreus acerca da
apostasia, o apóstolo agora, na conclusão de tudo, recomenda diversos e
excelentes deveres a eles, como os frutos apropriados da fé (vv. 1-17). Então
encomenda-lhes orações por ele, e oferece suas orações a Deus por eles, dá-lhes
alguma esperança de que irão vê-lo, como também a Timóteo, e termina com
saudações e uma bênção geral (vv. 18-25).
Vários Deveres
Hebreus 13:1-17
O plano de Cristo ao se oferecer por nós é que Ele pudesse comprar
“...para si um povo seu especial, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). Agora o
apóstolo chama os crentes hebreus à realização de muitos deveres excelentes,
nos quais é apropriado que os cristãos se sobressaiam.
I
Estímulo ao amor fraternal
(v. 1): “Permaneça a caridade fraternal”. Com isso ele não quer dizer uma
afeição geral por todos os homens, como os nossos irmãos por natureza, todos
feitos do mesmo sangue, nem aquela afeição mais limitada que devemos àqueles
que são filhos dos mesmos pais imediatos, mas aquela afeição especial e
espiritual que deve existir entre os filhos de Deus. 1. Supõe-se aqui que os
hebreus tinham esse amor uns pelos outros. Embora naquela época essa nação
estivesse miseravelmente dividida e confusa em si mesma, tanto acerca de
questões de religião quanto de questões do estado civil, mesmo assim ainda
havia amor fraternal entre aqueles que entre eles criam em Cristo; e isso
apareceu de uma forma bem evidente naquele momento após o Espírito Santo ter
sido derramado, quando tinham todas as coisas em comum, e venderam as suas
posses para fazer um fundo comum para a subsistência dos seus irmãos. O espírito
do cristianismo é um espírito de amor. A fé opera por meio do amor. A
verdadeira religião é o vínculo mais forte de amizade; se não for assim, em vão
levam o seu nome. 2. Esse amor fraternal estava em perigo de se perder, e isso
numa época de perseguição, quando seria mais necessário; estava em perigo de se
perder em virtude daquelas disputas que havia entre eles com relação ao
respeito que ainda deviam ter pelas cerimônias da lei mosaica. Disputas acerca
da religião muitas vezes produzem o declínio da afeição cristã; mas precisamos
ser vigilantes acerca disso, e todos os meios precisam ser empregados para a
preservação do amor fraternal. Os cristãos devem sempre amar e viver como
irmãos, e quanto mais crescerem em devoção e afeição por Deus, seu Pai celestial,
tanto mais vão crescer em amor uns pelos outros por causa dele.
II
À hospitalidade: “Não vos
esqueçais da hospitalidade” (v. 2). Precisamos acrescentar ao amor fraternal a
hospitalidade. Observe aqui: 1. O dever exigido – hospitalidade, tanto para com
aquelas pessoas que são estranhas à comunidade de Israel quanto para com
aquelas que são estranhas à nossa pessoa, especialmente os que sabem que são
estrangeiros aqui e estão buscando uma nova pátria, que é o caso do povo de
Deus, e era assim nessa época: os judeus que criam estavam numa condição
desesperadora e angustiante. Mas ele parece referir-se à hospitalidade em
relação a estranhos como tais; embora não saibamos quem são, nem de onde vêm,
mesmo assim, vendo que estão sem um lugar definido de hospedagem, devemos lhes
dar lugar no nosso coração e na nossa casa, à medida que tivermos oportunidade
e condições. 2. O motivo: “...porque, por ela, alguns, não o sabendo,
hospedaram anjos”; foi assim no caso de Abraão (Gn 18), e de Ló (Gn 19), e um dos
que Abraão recebeu era o Filho de Deus; e, embora não possamos supor que isso
sempre seja o nosso caso, mas o que fizermos aos estranhos, em obediência a
Ele, Ele vai considerar e recompensar como tendo sido feito a Ele mesmo (Mt
25.35): “Era estrangeiro, e hospedastes-me”. Deus com frequência concedeu
honras e favores aos seus servos hospitaleiros, além de toda a imaginação e de
forma inesperada.
III
À compaixão cristã:
“Lembrai-vos dos presos” (v. 3). Observe aqui:
1. O dever – lembrar dos presos, e dos maltratados. (1) Deus com
frequência ordena as coisas de tal forma que enquanto alguns cristãos e igrejas
estão em meio a adversidades, outros desfrutam de paz e liberdade. Nem todos
são chamados ao mesmo tempo a resistirem até o sangue. (2) Aqueles que estão em
liberdade precisam ter compaixão daqueles que estão presos e em meio a
adversidades, como se estivessem presos com eles nas mesmas correntes; eles
precisam sentir os sofrimentos dos seus irmãos.
2. A razão desse dever: “...como se estivésseis presos com eles
[...] como sendo-o vós mesmos também no corpo”; não somente no corpo natural, e
assim propensos a sofrimentos semelhantes, e vocês devem se compadecer deles
agora para que outros se compadeçam de vocês quando chegar o seu tempo de
provações. Mas também no mesmo corpo místico, debaixo da mesma cabeça: “De
maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele”. Não seria
natural nos cristãos se não carregassem os fardos uns dos outros.
IV
À pureza e castidade (v. 4).
Aqui temos: 1. Uma recomendação da ordenança divina para o matrimônio, que ele
“venerado seja entre todos...”, e deve ser estimado assim por todos, e não deve
ser negado àqueles a quem Deus não o negou. Ele é digno de honra, porque Deus o
instituiu para o homem no paraíso, sabendo que não era bom que ele estivesse
sozinho. Ele casou e abençoou o primeiro casal, os primeiros pais da
humanidade, para dirigir a todos que olhassem para Deus com relação a essa
importante questão, e a que se casassem no Senhor. Cristo honrou o casamento
com a sua presença e o seu primeiro milagre. É digno de honra como meio para
impedir a impureza e a cama maculada. É algo venerado e bem-aventurado, quando
pessoas se unem puras e castas, e preservam o matrimônio sem mácula, não
somente de afeições ilegais, mas também de afeições imoderadas. 2. Uma
terrível, mas justa censura contra a impureza e a lascívia: “...aos que se dão
à prostituição e aos adúlteros Deus os julgará”. (1) Deus sabe quem é culpado
de tais pecados, nenhuma escuridão consegue escondê-lo da sua presença. (2) Ele
vai chamar tais pecados pelo seu nome, e não pelos nomes do amor e do
galanteio, mas de prostituição e adultério, prostituição no estado solteiro, e
adultério no estado casado. (3) Ele vai levá-los a julgamento, vai julgá-los,
ou pela sua própria consciência aqui, e colocar os seus pecados diante deles
para a sua profunda humilhação (e a consciência, quando despertada, é muito
severa sobre esses pecadores), ou Ele vai colocá-los no seu tribunal na morte,
e no último dia. Ele vai convencê-los, condená-los e lançá-los fora para
sempre, se eles morrerem com a culpa desse pecado.
V
Ao contentamento cristão
(vv. 5,6). Observe aqui: 1. O pecado que é contrário a essa graça e dever – a
avareza, um desejo exagerado pelas riquezas deste mundo, invejando aqueles que
têm mais do que nós. É o pecado ao qual não podemos dar lugar nas nossas
conversas; pois, embora seja um desejo espreitando no nosso coração, se não for
subjugado vai entrar nas nossas conversas e se revelar na nossa maneira de
falar e agir. Devemos tomar cuidado não somente para dominar esse pecado, mas
para desarraigá-lo da nossa alma. 2. O dever e a graça que são contrários à
avareza – estar satisfeito e contente “...com o que tendes”; com as coisas
presentes, pois as coisas passadas não podem ser chamadas de volta, e as coisas
futuras estão somente nas mãos de Deus. O que Deus nos dá para cada dia, com
isso precisamos estar contentes, mesmo que fique aquém do que temos desfrutado
até então, e que não seja o que esperamos para o futuro. Precisamos estar
contentes com o que temos no momento. Precisamos trazer as nossas expectativas
à nossa condição presente, e esse é o caminho mais seguro para o contentamento;
e aqueles que não conseguem fazer isso não estariam contentes mesmo que Deus
elevasse a condição deles às suas expectativas, pois as expectativas cresceriam
com a condição. Hamã era o grande favorito da corte, e mesmo assim estava
insatisfeito; Acabe estava no trono, e mesmo assim estava insatisfeito; Adão
estava no paraíso, e mesmo assim estava insatisfeito; sim, até os anjos estavam
no céu, e ainda assim estavam insatisfeitos; mas Paulo, embora desprezado e
destituído, tinha aprendido a estar contente em toda e qualquer situação. 3.
Que razões os cristãos têm para estar contentes com a sua situação. (1)
“...porque ele disse: Não te deixarei, nem te desampararei” (vv. 5,6). Isso foi
dito a Josué (Hb 1.5), mas pertence a todos os servos fiéis de Deus. As
promessas do Antigo Testamento podem ser aplicadas aos santos do Novo
Testamento. Essa promessa contém o resumo e a essência de todas as promessas:
Nunca te deixarei nem te desampararei. Veja as negativas que estão reunidas
aqui, para confirmar a promessa; o verdadeiro crente terá a presença graciosa
de Deus consigo na sua vida, na sua morte e para sempre. (2) Com base nessa
promessa tão abrangente eles podem estar certos da ajuda de Deus: “E, assim,
com confiança, ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador, e não temerei o que me
possa fazer o homem” (v. 6). Os homens não podem fazer nada contra Deus, e Deus
pode fazer com que tudo que as pessoas fazem contra o seu povo se torne em bem
para eles.
VI
À obrigação que os cristãos
devem aos seus ministros, tanto para com os que estão mortos, quanto para com
os que ainda estão vivos.
1. Aos que estão mortos: “Lembrai-vos dos vossos pastores” (v. 7).
Observe aqui:
(1) A descrição dada acerca deles. Eram tais que tinham o governo
sobre eles, e tinham falado a palavra de Deus a eles; tinham sido seus guias e
líderes, que lhes haviam ensinado a palavra de Deus. Aqui está a dignidade à
qual eles foram promovidos – ser guias e líderes do povo, não de acordo com a
sua própria vontade, mas de acordo com a vontade e a palavra de Deus; e esse
caráter eles preencheram com os deveres apropriados. Eles não governaram à
distância, e não governaram por meio de outros, mas governaram pela presença e
instrução pessoais, de acordo com a palavra de Deus.
(2) As obrigações que eram lhes devidas, mesmo estando eles mortos.
[1] “Lembrai-vos deles – de sua pregação, suas orações, seu
conselho pessoal, seu exemplo”.
[2] “A fé dos quais imitai; sede inabaláveis na profissão da fé que
eles vos pregaram, e trabalhai segundo a graça da fé pela qual eles viveram e
morreram tão bem. Considerai atentamente o fim da vida deles, quão prontamente,
quão alegremente eles terminaram a sua carreira!” Então o apóstolo amplia essa
obrigação de seguir a mesma fé verdadeira na qual eles haviam sido instruídos,
e os exorta seriamente a isso, não somente com base na lembrança dos seus guias
que haviam partido, mas com base em diversos outros motivos.
Em primeiro lugar, com base na imutabilidade e eternidade do Senhor
Jesus Cristo. Embora alguns dos seus ministros estejam mortos, e outros
morrendo, contudo o grande cabeça e sumo sacerdote da igreja, o “...Bispo da
vossa alma” (1 Pe 2.25), vive para sempre, e sempre é o mesmo; e eles devem ser
inabaláveis e imutáveis, na imitação de Cristo, e devem lembrar que Cristo vive
sempre para observar e recompensar a fiel lealdade deles às suas verdades, e
para observar e castigar seus desvios pecaminosos dele. “Jesus Cristo é o mesmo
ontem, e hoje, e eternamente”, o mesmo nos dias do Antigo Testamento, nos dias
do Evangelho e será sempre assim para o seu povo.
Em segundo lugar, com base na natureza e tendência daquelas
doutrinas falsas nas quais eles estavam em perigo de cair.
a. Eram “...várias e estranhas” (v. 9), diferentes das que eles
tinham recebido dos seus antigos e fiéis mestres, e incoerentes em si mesmas.
b. Eram doutrinas estranhas, com as quais a igreja cristã não
estava familiarizada, e estranhas ao evangelho.
c. Eram de natureza perturbadora e confusa, como o vento pelo qual
um navio é golpeado, e em perigo de ser arrancado da sua âncora, levado adiante
para se chocar contra as rochas. Elas eram totalmente contrárias àquela graça
de Deus que firma e estabelece o coração, o que é uma coisa excelente. Essas
doutrinas estranhas mantêm o coração sempre vacilante e inquieto.
d. Eram maldosas e vis em relação ao seu tópico. Elas se ocupavam
com coisas exteriores, pequenas, perecíveis, como carnes e bebidas etc.
e. Elas eram inúteis. Aqueles que estavam mais entusiasmados com
elas, e ocupados com elas, não obtiveram nenhum bem real por meio delas para a
sua alma. Elas não os tornaram mais santos, nem mais humildes, nem mais gratos,
nem mais celestiais.
f. Elas excluíam aqueles que as abraçavam dos privilégios do altar
cristão (v. 10): “Temos um altar...”. Esse é um argumento de grande
importância, e por isso o apóstolo insiste ainda mais nele. Observe:
(a) A igreja cristã tem um altar. Fazia-se objeção contra a igreja
cristã primitiva de que suas assembléias eram destituídas de um altar; mas isso
não era verdade. Temos um altar, não um altar material, mas um altar pessoal, e
esse é Cristo; Ele é tanto o nosso altar quanto o nosso sacrifício; Ele
santifica a oferta. Os altares sob a lei eram tipos de Cristo; o altar de
bronze, do seu sacrifício; o altar de ouro, da sua intercessão.
(b) Esse altar fornece um banquete para o verdadeiro crente, um
banquete relacionado ao sacrifício, um banquete de coisas gordurosas, de força
e crescimento espirituais, e de prazer e gozo santos. A mesa do Senhor não é
nosso altar, mas é servida com provisões do altar. “Porque Cristo, nossa
páscoa, foi sacrificado por nós” (1 Co 7.5), e o texto segue: “Pelo que façamos
festa”. A Ceia do Senhor é a festa da Páscoa do evangelho.
(c) Aqueles que se dedicam ao tabernáculo, ou à dispensação
levítica, ou voltam a ele novamente, se excluem dos privilégios desse altar,
dos benefícios obtidos por Cristo. Se eles servem ao tabernáculo, estão
determinados a se sujeitar aos ritos e cerimônias antiquados, a renunciar ao
seu direito do altar cristão. E essa parte do argumento ele prova primeiro e
depois amplia.
[a] Ele prova que essa lealdade servil ao estado judaico é uma
barreira aos privilégios do altar do evangelho; e ele argumenta assim: Sob a
lei judaica, nenhuma parte da oferta pelo pecado podia ser comida, mas tudo devia
ser queimado fora do acampamento enquanto habitavam em tabernáculos, e fora dos
portões quando moravam em cidades; então, se eles se submeterem novamente
àquela lei, não poderão comer do altar do evangelho; pois o que é comido ali é
provido por Cristo, que é a grande oferta pelo pecado. O banquete do evangelho
é o fruto e a obtenção do sacrifício, ao qual não têm direito os que não
reconhecem o próprio sacrifício. E para que pudesse parecer que Cristo era
realmente o antítipo da oferta pelo pecado, e, como tal, pudesse santificar e
purificar o seu povo com o seu próprio sangue, Ele se conformou com o tipo, ao
sofrer fora dos portões. Essa foi uma notável amostra da sua humilhação, como
se Ele não tivesse sido apropriado para a sociedade sagrada nem para a civil! E
isso mostra como o pecado, que era a causa que tornou necessários os
sofrimentos de Cristo, é uma abdicação de todos os direitos sagrados e civis, e
o pecador, uma praga comum e um incômodo para toda a sociedade, se Deus fosse
severo em marcar a iniquidade. Tendo, assim, demonstrado que a lealdade à lei
levítica iria barrar, até mesmo de acordo com suas próprias regras, os homens
ao altar cristão, ele continua:
[b] Para aperfeiçoar o seu argumento (vv. 13-15) com conselhos
apropriados. Em primeiro lugar: “Saiamos, pois, a ele fora do arraial”; saiamos
da lei cerimonial, do pecado, do mundo, de nós mesmos, do nosso próprio corpo,
quando Ele nos chama. Em segundo lugar: Estejamos dispostos a levar “...o seu
vitupério”, dispostos a ser considerados o refugo de todas as coisas, indignos
de viver, indignos de morrer uma morte comum. Essa foi a sua vergonha, e
precisamos nos submeter a ela; e temos razão muito maior porque, se avançarmos
ou não deste mundo para Cristo, necessariamente precisamos avançar em pouco
tempo pela morte: “Porque não temos aqui cidade permanente”. O pecado, os
pecadores, a morte, não vão permitir que permaneçamos aqui por muito tempo; e
por isso devemos avançar agora por fé, e buscar em Cristo o descanso e a
segurança que este mundo não pode nos oferecer (v. 14). Em terceiro lugar:
Façamos uso correto desse altar; que não somente participemos dos seus
privilégios, mas cumpramos as obrigações do altar, como aqueles a quem Cristo
fez sacerdotes para servir no seu altar. Levemos os nossos sacrifícios a esse
altar, e a esse nosso sumo sacerdote, e os ofereçamos por meio dele (vv.
15,16). Agora, quais são os sacrifícios que devemos levar e oferecer nesse
altar, que é Cristo? Nenhum sacrifício expiatório; não há necessidade deles,
Cristo já ofereceu o grande sacrifício expiatório; nossos são apenas os
sacrifícios de reconhecimento; e eles são: 1. O sacrifício de louvor a Deus,
que devemos oferecer a Deus continuamente. Nisso estão incluídas todas as
orações e a adoração, como também as ações de graça; esse é “...o fruto dos
lábios que confessam o seu nome”; temos de anunciar os louvores a Deus de
lábios sinceros; e isso precisa ser oferecido somente a Deus, não a anjos, nem
a santos, nem a qualquer criatura, mas somente ao nome de Deus; e precisa ser
oferecido por meio de Cristo, em dependência dos seus méritos e suficiência de
sua intercessão. 2. O sacrifício de doações e boas obras, e da caridade cristã:
“E não vos esqueçais da beneficência e comunicação, porque, com tais
sacrifícios, Deus se agrada” (v. 16). Precisamos, de acordo com nossas
possibilidades, comunicar às necessidades da alma e do corpo dos homens; não
nos contentando em oferecer o sacrifício dos nossos lábios, de meras palavras,
mas o sacrifício das boas obras; e essas precisamos depositar no seu altar, não
dependendo do mérito das nossas boas obras, mas do nosso grande sumo sacerdote.
E com sacrifícios como esses, a adoração e as boas obras assim oferecidas, Deus
se agrada. Ele vai aceitar as ofertas com prazer, e vai aceitar e abençoar as
ofertas por meio de Cristo.
2. Tendo nos ensinado, assim, as obrigações que os cristãos têm com
os seus ministros que já partiram, que consistem principalmente em seguir a sua
fé e não se afastar dela, o apóstolo nos revela agora qual é a obrigação que as
pessoas têm para com os seus ministros ainda vivos (v. 17) e as razões dessa
obrigação. (1) A obrigação – de lhes obedecer e de se submeterem a eles. Aqui
não são requeridas uma obediência irrestrita ou uma submissão absoluta, mas só
na medida em que são apropriadas à mente e à vontade de Deus reveladas na sua
Palavra; e, mesmo assim, é verdadeira obediência e submissão, e isso não
somente a Deus, mas à autoridade do ofício ministerial, que procede de Deus tão
certamente, em todas as coisas pertencendo a esse ofício, como também a
autoridade dos pais e dos magistrados civis nas coisas de sua esfera. Os
cristãos precisam se submeter a serem instruídos por seus ministros, e não se
acharem sábios demais, bons demais, ou grandes demais, para aprender deles. E,
quando acharem que as instruções ministeriais são concordantes com a palavra
escrita, devem obedecer-lhes. (2) Os motivos para essa obrigação. [1] Eles têm
o governo sobre o povo; o seu ofício, embora não magistral, mesmo assim é de
verdadeira autoridade. Eles não têm autoridade alguma para oprimir o povo, mas
para conduzi-los nos caminhos de Deus, ao informá-los e instruí-los,
explicando-lhes a palavra de Deus, e ao aplicá-la aos diversos casos. Eles não
devem fazer leis por si mesmos, mas devem interpretar as leis de Deus; nem deve
ser a sua interpretação recebida imediatamente sem análise, mas as pessoas
devem examinar as Escrituras, e, na medida em que as instruções do seu ministro
estiverem de acordo com essa regra, devem recebê-las, “...não como palavra de
homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus, a qual também opera
nos que creram”. [2] Eles velam pela alma das pessoas, não para pegá-la em
armadilha, mas para salvá-la; para ganhá-la, não para si mesmos, mas para
Cristo; para edificá-la em conhecimento, fé e santidade. Eles devem vigiar
acerca de tudo que pode ser prejudicial à alma dos homens, e lhes dar
advertência de erros perigosos, das artimanhas de Satanás, de juízos que se
aproximam; eles devem vigiar por todas as oportunidades para ajudar a alma dos
homens a progredir no caminho para o céu. [3] Eles precisam prestar contas de
como cumpriram a sua obrigação, e o que aconteceu com as almas que lhes foram
confiadas, se alguma se perdeu devido à sua negligência, e se algumas foram
trazidas e edificadas sob o seu ministério. [4] Eles terão alegria em dar um
bom relatório de si mesmos e dos seus ouvintes. Se então puderem dar um
relatório da sua própria fidelidade e sucesso, será um dia feliz para eles;
aquelas almas que se converteram e foram confirmadas sob o seu ministério serão
a sua alegria e sua glória no dia do Senhor Jesus. [5] Se eles derem o seu
relatório com tristeza, será para prejuízo do povo e deles. É do interesse dos
ouvintes que o relatório dos seus ministros acerca deles seja dado com alegria,
e não com tristeza. Se ministros fiéis não forem bem-sucedidos, a tristeza será
deles, mas o prejuízo será das pessoas. Os ministros fiéis empenharam sua
própria alma, mas o sangue e a ruína de um povo infrutífero e infiel estarão
sobre a própria cabeça do povo.
Conclusão
Hebreus 13:18-25
Aqui:
I
O apóstolo se recomenda, e
os seus companheiros de sofrimento, às orações dos crentes hebreus (v. 18):
“Orai por nós, por mim e por Timóteo” (mencionado no v. 23), “e por todos entre
nós que se esforçam no ministério do evangelho”.
1. Essa é uma parte da obrigação que as pessoas têm para com os
seus ministros. Os ministros precisam das orações das pessoas; e quanto mais
sinceramente as pessoas orarem por seus ministros, tanto maiores benefícios
podem esperar colher do seu ministério. Eles devem orar para que Deus ensine
aqueles que devem ensiná-los depois, para que Ele os torne vigilantes, e
sábios, e zelosos, e bem-sucedidos – que Ele os ajude em todos os seus
esforços, os apóie em todos os seus fardos e os fortaleça em todas as suas
tentações.
2. Há boas razões por que as pessoas devem orar por seus ministros
e ele menciona duas:
(1) “...confiamos que temos boa consciência” (v. 18). Muitos dos
judeus tinham uma opinião negativa de Paulo, porque ele, sendo hebreu de
hebreus, tinha abandonado a lei levítica e louvado a Cristo. Mas o autor
declara aqui humildemente a sua integridade: “...confiamos que temos boa
consciência, como aqueles que em tudo querem portar-se honestamente”.
Confiamos! Ele poderia ter dito: Nós sabemos, mas ele escolheu falar em um estilo
humilde, para nos ensinar a não sermos confiantes demais acerca de nós mesmos,
mas mantermos um zelo divino sobre o nosso coração. “Confiamos que temos uma
boa consciência, uma consciência iluminada e bem-informada, uma consciência
pura e limpa, uma consciência sensível e fiel, uma consciência que testifica a
favor de nós, não contra nós. Uma boa consciência em tudo, nos deveres tanto da
primeira tábua quanto da segunda, para com Deus e para com os homens, e
especialmente em todas as coisas pertinentes ao nosso ministério; agimos
honesta e sinceramente em todas as coisas”. Observe: [1] Uma boa consciência
tem o respeito por todas as ordens de Deus e todos os nossos deveres. [2] Os
que têm essa boa consciência, mesmo assim ainda precisam das orações dos outros.
[3] Ministros conscienciosos são uma bênção pública, e merecem a oração do
povo.
(2) Outra razão por que ele deseja suas orações é que espera por
meio disso lhes ser restituído mais depressa (v. 19), sugerindo que
anteriormente havia estado entre eles – e que agora que estava distante deles,
tinha o grande desejo e a real intenção de ir a eles novamente – e que a melhor
forma de facilitar esse retorno, e de tornar isso uma misericórdia para ele e
para eles, era fazer disso um motivo das suas orações. Quando ministros vão a
um povo como resposta de suas orações, vão com maior satisfação para si mesmos
e maior sucesso para o povo. Devemos buscar todas as misericórdias pela oração.
II
Ele oferece suas orações por
eles a Deus, estando disposto a fazer por eles o que esperava que eles fizessem
por ele: “Ora, o Deus de paz...” (v. 20). Nessa excelente oração, observe: 1. O
título dado a Deus – o Deus de paz, que descobriu um caminho de paz e
reconciliação entre Ele mesmo e os pecadores, e que ama a paz na terra e
especialmente nas suas igrejas. 2. A grande obra atribuída a Ele: Ele
“...tornou a trazer dos mortos o nosso Senhor Jesus Cristo”. Jesus ressuscitou
pelo seu próprio poder; e, contudo, o Pai estava interessado nisso, atestando
com isso que a justiça foi satisfeita, e a lei, cumprida. Ele ressuscitou para
nossa justificação; e esse poder divino pelo qual Ele foi ressuscitado é capaz
de fazer tudo de que temos necessidade. 3. Os títulos dados a Cristo – nosso
Senhor Jesus, nosso Soberano, nosso Salvador, e o grande pastor das ovelhas,
prometido em Isaías 40.11, declarado por Ele mesmo que o era (Jo 10.14,15). Os
ministros são co-pastores, Cristo é o grande pastor. Isso denota o seu grande
interesse pelo seu povo. Eles são o rebanho do seu pastoreio, e o seu cuidado e
preocupação são por eles. 4. A forma e o método em que Deus se reconcilia, e
Cristo ressuscita dos mortos: “...pelo sangue do concerto eterno”. O sangue de
Cristo satisfez a justiça divina, e assim gerou a libertação de Cristo da
prisão da morte, como tendo pago a nossa dívida, de acordo com um concerto ou
acordo eterno entre o Pai e o Filho; e esse sangue é a sanção ou o selo de um
concerto eterno entre Deus e o seu povo. 5. A misericórdia pela qual se ora:
“...vos aperfeiçoe em toda a boa obra...” (v. 21). Observe: (1) O
aperfeiçoamento dos santos em toda a boa obra é aquela grande obra desejada por
eles e para eles, para que tenham aqui a perfeição da integridade, uma mente
limpa, um coração limpo, afeições vívidas, desejos regulares e resolvidos, e
força apropriada para toda a boa obra à qual são chamados agora, e no final a
perfeição dos passos para prepará-los para o serviço e a felicidade do céu. (2)
A forma em que Deus torna o seu povo perfeito; é ao operar neles sempre o que é
agradável à vista dele, e isso “...por Cristo Jesus, ao qual seja glória para
todo o sempre”. Observe: [1] Não há obra boa operada em nós a não ser que seja
obra de Deus. Ele age em nós, antes de sermos capazes para qualquer boa obra.
[2] Nenhuma coisa boa é operada em nós por Deus, a não ser por meio de Jesus
Cristo, por sua causa e pelo seu Espírito. E por isso: [3] A eterna glória é
devida a Ele, que é a causa de todos os bons princípios operados em nós e todas
as boas obras feitas por nós. A isso todos deveriam dizer: Amém!
III
Ele dá aos cristãos hebreus
um relato da libertação de Timóteo e de sua esperança de ir com ele vê-los em
pouco tempo (v. 23). Parece que Timóteo havia estado preso, sem dúvida pelo
evangelho, mas agora tinha sido libertado. O aprisionamento de ministros fiéis
é uma honra para eles, e a libertação deles é motivo de alegria para o povo.
Ele estava alegre com a esperança não só de ver Timóteo, mas de, na companhia
dele, ir ver os cristãos hebreus. Oportunidades de escrever às igrejas de Cristo
são desejadas pelos ministros fiéis de Cristo, e agradáveis para eles.
IV
Tendo pedido a atenção deles
e para que suportassem “...a palavra desta exortação” (v. 22), ele conclui com
saudações e uma bênção solene, mesmo que breve.
1. A saudação: (1) Dele mesmo para eles, dirigida a todos os seus
líderes que tinham governo sobre eles, e a todos os santos; a eles todos,
ministros e o povo. (2) Dos cristãos na Itália para eles. É muito bom ter a lei
do amor e da bondade de Deus escrita no coração dos cristãos e distribuída uns
para os outros. A fé cristã ensina os homens a mais verdadeira civilidade e as
reais boas maneiras. Não é uma coisa desagradável nem melancólica.
2. A saudação solene, mesmo que breve (v. 25): “A graça seja com
todos vós. Amém!” Que o favor de Deus esteja com vocês, e sua graça opere
continuamente em vocês, produzindo os frutos da santidade, como os primeiros
frutos da glória. Depois de o povo de Deus desfrutar a comunhão pela palavra
pregada ou escrita, bom seria se despedirem em oração, desejando uns aos outros
a continuação da graciosa presença de Deus, para que possam se encontrar
novamente no mundo do louvor.
))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Lição 13, CG, Chamado à Perseverança e à Santidade, 1Tr23, Pr
Henrique, EBD NA TV
RESUMO GERAL DA LIÇÃO
1- EXORTAÇÃO À PERSEVERANÇA EM MEIO ÀS TRIBULAÇÕES
1-1- Uma nuvem de testemunhas
1-2- Deixando o pecado e o embaraço
1-3- Correndo com paciência
2- EXORTAÇÃO À PAZ E À PUREZA
2-1- Levantando as mãos cansadas.
2-2- Seguindo a paz e a santificação
2-2-1- A paz
2-2-2- A santificação
3- RECOMENDAÇÕES FINAIS
3-1- Virtudes relevantes na vida cristã
3-1-1- O amor fraternal
3-1-2- A hospitalidade
3-1-3- Observância da beneficência
3-1-4- Valorização do matrimônio
3-1-5- Obediência à liderança
TEXTO BÍBLICO BÁSICO Hebreus 12.1,2,5,6,12-14; 13.1-3.
1 Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados de uma tão
grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço e o pecado que tão de perto
nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta,
2 olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo
que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se
à destra do trono de Deus.
5 E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como
filhos:
6 Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não desmaies
quando, por ele, fores repreendido;
12 porque o Senhor corrige o que ama e açoita a qualquer que recebe
por filho.
13 Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos
desconjuntados, e fazei veredas direitas para os vossos pés, para que o que
manqueja se não desvie inteiramente; antes, seja sarado.
14 Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá
o Senhor.
Hebreus 13.1-3
1 - Permaneça o amor fraternal.
2- Não vos esqueçais da hospitalidade, porque, por ela, alguns, não
o sabendo, hospedaram anjos,
3- Lembrai-vos dos presos, como se estivésseis presos com eles, e
dos maltratados, como sendo-o vós mesmos também no corpo,
TEXTO ÁUREO
E, assim, com confiança, ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador,
e não temerei o que me possa fazer o homem. Hebreus 13.6
SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª feira Hebreus 12.1-33 Cristo, exemplo de perseverança
3ª feira - Hebreus 12.7-13 O imperativo da santificação
4ª feira - Hebreus 12.14-17 O esforço para viver em paz
5ª feira - 1 Samuel 15.17-23 O valor da obediência
6ª feira - 2 Pedro 1.5-7 Fraternidade, uma virtude necessária
Sábado - 2 Timóteo 4.7,8 Resultado da corrida perseverante de fé
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá ser capaz de:
- Identificar o pecado e o embaraço como elementos que podem
atrapalhar a vida cristã;
- Reconhecer que a vida cristã é parecida com uma maratona;
- Entender que a santificação é a vontade de Deus para as nossas
vidas.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Prezado professor, para perseverar na fé, são necessárias
paciência, disciplina e santificação. Nesta última lição, exponha para os
alunos que a vida cristã é uma corrida que dura a vida inteira. Para tanto,
faz-se necessário muita resistência e paciência durante o percurso. Reforce que
tanto os antigos cristãos como nós somos aperfeiçoados em Cristo. Aqueles
alcançaram esta posição por sua fé, apesar de sofrerem tantas provações. Nós,
de igual modo, devemos ter uma fé ativa, despojando-nos de todo o embaraço e do
pecado, que nos assedia, para corrermos com perseverança a carreira que nos
está proposta.
Reforce também que são necessárias algumas virtudes, consideradas
essenciais à vida cristã, como amor fraternal, hospitalidade, pureza,
compaixão, submissão e obediência, as quais devem ser buscadas, se pretendemos,
genuinamente, servir a Deus nessa jornada até o céu. Excelente Aula!
COMENTÁRIO - Palavra introdutória
Há uma carreira proposta para o povo de Deus. Há um caminho a ser
percorrido. Há um alvo a ser alcançado. Diante dos exemplos de fé apresentados
em Hebreus 11, o escritor sagrado encoraja seus leitores a olharem para Jesus,
que suportou a cruz e desprezou a vergonha, vindo a sentar-se à destra do trono
de Deus (Hb 12.1-3).
O escritor dessa epístola orienta seus destinatários a fixarem seus
olhos em Cristo com a mesma intensidade com que um atleta fixa sua atenção em
seu alvo. Além disso, ele os anima a perseverarem e a livrarem-se de qualquer
pecado que possa fazê-los tropeçar.
1- EXORTAÇÃO À PERSEVERANÇA EM MEIO ÀS TRIBULAÇÕES
Cristo deu-nos o exemplo de perseverança, suportando a cruz e a
ignomínia (Hb 12.2a), além da oposição dos pecadores (Hb 12.3a), para que não
enfraquecêssemos ou desfalecêssemos em nossos ânimos. Os destinatários dessa
epístola são exortados a pesar cuidadosamente a perseverança de Cristo ao
contemplarem suas próprias adversidades.
1-1- Uma nuvem de testemunhas
(...) Estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas (Hb
12.1a).
Os heróis do passado são considerados espectadores dos cristãos
que, hoje, estão na arena. O enfoque do texto muda para o presente, mas o valor
dos exemplos do passado é incorporado ao quadro total. Nota-se que o escritor
se identifica com aqueles que estão no campo de batalha, o que claramente
demonstra que ele está descrevendo a posição dos cristãos de maneira geral.
Quando diz: estamos rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas (Hb 12.1),
ele toma por certo que os cristãos têm consciência da presença desses
espectadores.
A palavra testemunha (gr. μαρτυς martus), utilizada em Hebreus
12.1, usualmente não denota espectador, mas, nesse texto, o escritor fez uso de
uma linguagem figurada, evocando tal sentido. Esse termo revela-nos, sobretudo,
algo acerca do caráter desses espectadores: eles observam das arquibancadas;
são bem qualificados para inspirar; dão testemunho da fidelidade de Deus e
estão nesse lugar para encorajar os competidores atuais.
1-2- Deixando o pecado e o embaraço
(...) Deixemos todo embaraço e o pecado (αμαρτια hamartia) que tão
de perto nos rodeia (Hb 12.1b). Os destinatários da carta aos Hebreus eram
cristãos verdadeiros (Hb 3.1); contudo, eles estavam sendo seduzidos por
mestres de falsas doutrinas (Hb 13.9) e corriam o risco de esquecer a
verdadeira Palavra que seus primeiros líderes lhes haviam ensinado (Hb 13.7),
vindo a retroceder (Hb 5.12).
Alguns cristãos deixaram de frequentar os cultos (Hb 10.25) e não
faziam qualquer progresso espiritual (Hb 6.1), O escritor deixa claro que é imperativo
desfazer-se do pecado que tão de perto nos rodeia (Hb 12,1b).
SUBSÍDIO1
Deixar todo embaraço e o pecado (Hb12,1) pressupõe um despojamento
definitivo porque nao há linha de chegada deste lado da vida, para quem se
predispõe a percorrer a carreira cristã.
1-3- Correndo com paciência
Corramos, com paciência (υπομονη hupomone), a carreira que nos está
proposta (Hb 12,1c - προκειμαι prokeimai). Nesta porção da Escritura, o
escritor sagrado dá-nos ciência de que os competidores não podem escolher sua
própria corrida, porque a carreira foi proposta pelo próprio Deus (1 Co
9.24-27).
A palavra paciência (perseverança ARA), também utilizada em Hebreus
10.36, passa a ideia de persistência, de corrida firme até o fim, a despeito
das dificuldades.
Na medida em que o escritor de Hebreus desdobra as verdades
relatadas nas lições anteriores, torna-se claro que não estamos sós em nossos
sofrimentos, mas rodeados de uma multidão de testemunhas fiéis. Por isso, nós
também devemos perseverar na fé, olhando para Jesus, o nosso grande sumo
sacerdote, autor e consumador da nossa fé (Hb 12.2a), enquanto corremos a
carreira rumo ao reino eterno de Deus.
2- EXORTAÇÃO À PAZ E À PUREZA
O escritor desta epístola faz uma só declaração específica acerca
do seu propósito: Rogo-vos, porém, irmãos, que suporteis a palavra desta
exortação (...) (Hb 13.22). Neste verso, o termo grego
παρακλησις paraklesis, traduzido por exortação, indica
encorajamento, ânimo. A intenção do escritor, inspirado pelo Espírito Santo, é
encorajar os cristãos a confiarem em Deus e a obedecerem à Sua Palavra.
SUBSÍDIO2
Variações do termo grego (παρακλησις paraklesis) aparecem
relacionadas à divina
consolação em Romanos 15.4 (παρακλησις paraklesis): em 2
Coríntios 1.5-7 (3 vezes a palavra παρακλησις paraklesis), em 2
Coríntios 7.7 (παρακλησις paraklesis); e em João
14.16 (παρακλητος parakletos), aqui indicando o ESPÍRITO SANTO como
substituto de JESUS CRISTO em nosso auxílio – um outro consolador.
2-1- Levantando as mãos cansadas.
Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas (παριημι pariemi) e os
joelhos desconjuntados (Hb 12.12 - παραλυω paraluo). O escritor explicou que a
correção é motivo de exultação, não de tristeza (Hb 12.11). Agora (Hb 12.12),
ele exorta os cristãos a agirem adequadamente: faz-se necessário abandonar a
postura (tanto literal quanto figuradamente) de desânimo, levantar as mãos em
louvor, estendê-las aos necessitados, colocando-as debaixo dos fardos da vida.
Os destinatários da epístola não deviam — e os leitores de hoje
também não devem — permitir que seus joelhos tremessem de medo; antes, eles
deviam levantar-se como cristãos preparados para a batalha (Ef 6.10-13).
2-2- Seguindo a paz e a santificação
Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor (Hb 12.14).
2-2-1- A paz
O modo imperativo do verbo — segui (διωκω dioko) — é enfático,
ecoando o Salmo 34.14: Aparta-te do mal e faze o bem; procura a paz e segue-a.
A paz com todos os homens é possível dentro dos limites daquilo que é certo;
mas, nesse verso, a mensagem central é a de que todos os esforços devem ser
empreendidos no sentido de estabelecê-la e mantê-la.
2-2-2- A santificação
A santificação, da mesma forma, deve ser perseguida, pois, sem ela,
ninguém verá o Senhor. Os leitores originais desta epístola conheciam o ritual
judaico de purificação que os preparava para a adoração; eles sabiam que
deveriam ser santos ou puros para entrar no templo. O termo grego empregado
neste verso, assim como seu significado em português, deixa claro que a
cláusula "sem a qual" está associada à santidade, não à paz. Esta
busca essencialmente espiritual é indispensável.
Deve-se compreender o termo santificação (gr. αγιασμος hagiasmos)
conforme aqui é empregado: no seu sentido fundamental, como separação de algo
ou pessoa do uso comum; um substantivo de ação, significando o estado
resultante de uma ação, um ser feito santo ou um tornar-se santo, para consagrá-lo
ao Santo, tal como convém à natureza de Deus e do Seu serviço.
O objetivo primordial da epístola aos Hebreus é levar os homens à
presença de Deus; no entanto, para permanecerem em Sua presença, os homens têm
de ser santos.
SUBSÍDIO3
No capítulo 10 de Hebreus, a santidade é apresentada em relação à
obra sumo sacerdotal de Cristo e em relação ao novo concerto; no capítulo 12,
ela é apresentada ao lado da responsabilidade humana quanto à sua obtenção.
3- RECOMENDAÇÕES FINAIS
O último capítulo de Hebreus não contém novas advertências, mas
reúne diversos elementos de admoestação final, tanto práticos quanto
doutrinários. Há, também, conselhos morais, que abrangem a vida social,
particular e religiosa. A
exortação final visa a que os leitores façam um rompimento nítido
com o judaísmo, que é mencionado sob o termo arraial (Hb 13.13).
3-1- Virtudes relevantes na vida cristã
3-1-1- O amor fraternal
Permaneça o amor fraternal (Hb 13.1). O amor fraternal (gr.
φιλαδελφια philadelphia) é uma expressão social do amor ágape, que revela a
consideração mútua de uns pelos outros, independentemente da etnia — uma
característica peculiar dos cristãos. Trata-se de uma combinação de duas ideias
básicas: o exercício do amor e a adoção de um novo relacionamento dentro da
família da fé.
O fato de os leitores serem conclamados à constância na
fraternidade sugere que pode ter havido uma tendência de eles terem
negligenciado a mútua compreensão, o que não é recomendado pelas Escrituras (Rm
12.10; 1 Ts 4.9; 1 Pe 1.22; 2 Pe 1.7).
3-1-2- A hospitalidade
Não vos esqueçais da hospitalidade (...) (Hb 13.2a). Muitos
cristãos haviam perdido todos os seus bens, em consequência da perseguição que
lhes impunha as autoridades constituídas. Em função disso, outra questão
prática de considerável importância era a manutenção da hospitalidade (gr.
φιλοξενια philoxenia), uma marca não somente das pessoas cultas, mas também dos
cristãos que se reuniam nos lares de outras pessoas.
O escritor de Hebreus alude a Abraão, conhecido por sua
hospitalidade, com respeito a seu encontro com três visitantes angelicais em
sua tenda, em Manre, quando ele e a esposa receberam a promessa do nascimento
de seu filho, Isaque (Gn 18.1-21).
3-1-3- Observância da beneficência
Devido à perseguição daqueles tempos, muitos cristãos
encontravam-se presos e maltratados por causa de sua fé. Como os encarcerados
estão fora da vista, são facilmente esquecidos; por isso o escritor sagrado
adverte: Lembrai-vos dos presos (δεσμιος desmios), como se estivésseis presos
com eles, e dos maltratados (σωμα soma), como sendo-o vós mesmos também no
corpo (Hb 13.3).
A expressão "lembrai-vos" (μιμνησκω mimnesko), nesse
verso, tem um sentido maior do que o de trazer à memória: envolve a ideia de
identificação com o vilipendiado. Seria necessário, portanto, uma profunda
abnegação de si para unir-se ao que sofria aflições.
3-1-4- Valorização do matrimônio
Venerado seja entre todos o matrimônio (γαμος gamos) e o leito sem
mácula - κοιτη koite (...) (Hb 13.4).
Nos círculos pagãos, a frouxidão moral e a imoralidade eram
generalizadas. Era de suma importância, portanto, que os ensinadores cristãos
oferecessem orientações específicas sobre este tema. O escritor desta epístola
não hesita em ressaltar que o casamento deve ser honrado.
Sem mácula – κοιτη koite
Leito matrimonial sem adultério, sem coabitação com alguém fora do
casamento, sem sexo ilícito, sem relação sexual imprópria (ex. sexo anal).
3-1-5- Obediência à liderança
Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus
(Hb 13.7).
A epístola aos Hebreus exorta seus leitores a manterem uma atitude
de honra apropriada aos líderes passados; além de claramente ordenar a
obediência aos líderes presentes, pois eles velam por nossas almas (Hb 13.17).
CONCLUSÃO
Desta lição, podemos extrair três ensinos primordiais:
- Sem escutar a Palavra de Deus, sem ouvi-la de fato, começamos a
nos desviar dos caminhos eternos;
- A negligência sempre nos afasta do rumo correto, tanto no que se
refere ao que é material e físico quanto ao que é espiritual;
- O pecado e o embaraço precisam ser abandonados a fim de que,
livres de todo peso, possamos avançar na direção que o Senhor nos apresenta.
Aceitemos, pois, a disciplina de Deus e corramos com paciência a
carreira que nos está proposta, sabendo que o próprio Cristo se encontra no
ponto final para encorajar-nos. Diante da multidão de testemunhas, ponhamos de
lado todos os pecados de indiferença e de negligência espiritual, bem como a
intenção de apostatarmos de Cristo.
ATIVIDADE PARA FIXAÇÃO
1. Para quem o cristão deve olhar durante sua carreira? R.: Para
Jesus
CENTRAL GOSPEL – 2º Trimestre de
2023
Revista
Nº 69 Lições Da Palavra De Deus Aluno: Fundamentos da Liderança Cristã - Modelo
Bíblico de Fé, Motivação e Empreendedorismo - Walter Brunelli
Pastor
da Assembleia de Deus
Bereana, com sede na Vila Mariana, São Paulo;
1. José, um líder proativo;
2. Moisés, um líder fiel à sua casa;
3. Bezalel, um líder artístico;
4. Josué, um líder para novas gerações;
5. Débora, uma líder estrategista;
6. Gideão, um líder com potencial escondido;
7. Davi, um líder guerreiro;
8. Neemias, um líder versátil;
9. Ester, uma líder perspicaz;
10. Pedro, um líder atípico;
11. Barnabé, um líder desprendido e solidário;
12. Paulo, um líder eficaz;
13. Jesus, o líder dos líderes.