Escrita Lição 1, A Autoridade Da Bíblia, 1tr22, Pr Henrique, EBD NA TV

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Lição 1, A Autoridade Da Bíblia
Lições Bíblicas - 1º Trimestre de 2022 - CPAD - Para adultos
Tema: A Supremacia das Escrituras, a Inspirada, Inerrante e Infalível Palavra de DEUS
Comentário: Pr. Douglas Baptista (Pr. Pres. Assembleia de DEUS Missão, Brasília, DF)
Complementos, ilustrações, questionário e vídeos: Pr. Henrique
 
 
 
 
Lição 1, A Autoridade Da Bíblia
Escrita
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Slides
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TEXTO ÁUREO
“Bem-aventurados os que trilham caminhos retos e andam na lei do Senhor.”  (Sl 119.1)
 

VERDADE PRÁTICA
A Bíblia Sagrada é a autoridade final da nossa regra de fé e prática
 

LEITURA DIÁRIA
Segunda - 2 Pe 1.20,21 As Sagradas Escrituras têm origem no próprio DEUS
Terça - Sl 19.1-4 A natureza manifesta a grandeza de DEUS ao ser humano
Quarta - Jo 20.30,31 A Bíblia revela a pessoa de JESUS CRISTO, o Filho de DEUS
Quinta - Hb 4.12 Podemos ouvir a voz de DEUS por meio da leitura da Bíblia
Sexta - Mc 13.31 As gerações passam, mas a Palavra de DEUS permanece inalterada
Sábado - Ap 22.18,19 As Sagradas Escrituras transmitem toda a doutrina da salvação
 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Salmos 119.1-8
1 - Bem-aventurados os que trilham caminhos retos e andam na lei do Senhor. 2 - Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos e o buscam de todo o coração. 3 - E não praticam iniquidade, mas andam em seus caminhos. 4 - Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos. 5 - Tomara que os meus caminhos sejam dirigidos de maneira a poder eu observar os teus estatutos. 6 - Então, não ficaria confundido, atentando eu para todos os teus mandamentos. 7 - Louvar-te-ei com retidão de coração, quando tiver aprendido os teus justos juízos. 8 - Observarei os teus estatutos; não me desampares totalmente.
 
119.1-176 BEM-AVENTURADOS OS QUE TRILHAM CAMINHOS RETOS. Este salmo expressa um grandioso amor à Palavra escrita de DEUS. Ele alude à Palavra como promessa, mandamento, direção, testemunho, ensino, sabedoria, verdade, justiça e repreensão. Este salmo revela a Palavra como o consolo do salmista, sua proteção, norma para sua vida, deleite para seu coração e alma, e provedor de todas as suas necessidades. (1) O salmista expressa um profundo amor a DEUS pelo fato de ele ler a sua Palavra, meditar nela e, mediante ela, orar. Ele nos ensina que só cresceremos em graça e em retidão à medida que o nosso amor crescer por ela. (2) Este salmo forma um acróstico alfabético. Suas vinte e duas seções de oito versículos cada correspondem às vinte e duas letras do alfabeto hebraico. Cada versículo começa com a letra da sua respectiva seção.
119.1 BEM-AVENTURADOS. DEUS promete derramar a sua bênção sobre aqueles que decidirem viver segundo a sua Palavra, com todos os seus padrões e preceitos. Os tais disporão da presença pessoal de DEUS (cf. Gn 26.3), que lhes proporcionará fortaleza, ajuda e proteção (Ef 3.16; Cl 1.11; ver Lc 24.50).
119.1 A LEI. A Lei (hb. torah) representa a totalidade do ensino de DEUS ao seu povo Israel. É também chamada Pentateuco (os primeiros cinco livros do AT), ou ainda todo o AT.
119.2 TESTEMUNHOS. Os testemunhos (hb. edot) de DEUS representam as condições ou requisitos do seu concerto, expressando a sua vontade.
119.3 CAMINHOS. Os caminhos (hb. derek) de DEUS representam os princípios e meios pelos quais DEUS se relaciona com seu povo e realiza a sua redenção na terra. Seus caminhos se opõem à sabedoria e valores humanistas (ver Is 55.8,9).
119.4 MANDAMENTOS [PRECEITOS]. Os preceitos (hb. piqqudim) de DEUS abrangem as instruções detalhadas da parte do Senhor.
119.5 ESTATUTOS. Os estatutos (hb. huqqim) de DEUS consistem em regulamentos para o seu povo, individual e coletivamente.
119.5 TOMARA QUE OS MEUS CAMINHOS SEJAM DIRIGIDOS DE MANEIRA A PODER EU OBSERVAR OS TEUS ESTATUTOS! O crente deve pedir continuamente a DEUS a graça necessária para fazer a sua vontade e permanecer firme em seus caminhos. Esta oração é necessária, porque ninguém consegue permanecer fiel à Lei de DEUS, sem a sua ajuda contínua e sem a obra do ESPÍRITO SANTO em nosso interior (ver Mt 7.21).
119.6 MANDAMENTOS. Os mandamentos (hb. miswot) de DEUS são as regras e diretrizes expressando a sua autoridade e vontade para com o seu povo, os quais demandam a nossa obediência.
119.7 JUÍZOS. Os juízos (hb. mishpatim) de DEUS são seus vereditos como o divino Juiz, no trato das pessoas entre si.


 
PALAVRA-CHAVE - Autoridade

Resumo da Lição 1, A Autoridade Da Bíblia
I – A ORIGEM DA BÍBLIA E A REVELAÇÃO DIVINA
1. A origem da Bíblia.
2. Revelação Geral.
a) Na História.
b) No Universo.
c) No Ser Humano criado à imagem e semelhança divina (Gn 1.26,27).
3. Revelação Especial.
II – EVIDÊNCIAS DA AUTENTICIDADE DA BÍBLIA
1. Evidências Internas.
a) Unidade e consistência:
b) Ação do ESPÍRITO SANTO:
c) Profecias de Eventos Futuros.
2. Evidências externas.
III – A MENSAGEM DA BÍBLIA
1. A Supremacia da Bíblia.
2. O poder da Palavra de DEUS.
3. O propósito da Bíblia.
 
 
Capítulo I - Teologia Sistemática Pentecostal
Bibliologia — A Doutrina das Escrituras - Claudionor de Andrade



Durante a Segunda Guerra Mundial, quando milhares de evangélicos alemães apostatavam da fé para seguir o nacional-socialismo de Adolf Hitler, um corajoso homem de DEUS se levanta e, ousadamente, desafia a suástica. Ele sabia que o seu gesto acabaria por custar-lhe a vida. No entanto, não a tinha por preciosa aos seus olhos; estava disposto a morrer pela santíssima fé.
A semelhança de Martinho Lutero, era Dietrich Bonhoeífer íntimo da Bíblia Sagrada. Certa feita, ele advertiu solene e severamente aos seus contemporâneos: “Não tente tornar a Bíblia importante; ela já é importante em si mesma”.
Introdução à Bibliologia
No Brasil, com o avanço do liberalismo teológico em faculdades e seminários outrora ortodoxos, a doutrina da Bíblia nunca se fez tão necessária. Pois não são poucos os teólogos que não mais a defendem como a Palavra de DEUS inspirada e inerrante.
Neste capítulo, entraremos a ver o que é realmente a Bíblia, sua autoria divino- humana e outros pontos de igual importância, que nos ajudarão a compreender por que as Sagradas Escrituras são o Livro dos livros. Apesar de sua antiguidade, continua a Bíblia tão atual quanto o foi nos dias de Moisés, Jeremias e Paulo. Ela dá testemunho acerca de CRISTO e testifica que Ele é, de fato, o Filho de DEUS.
Durante o ministério terreno de Nosso Senhor, as Escrituras do Antigo Testa­mento eram conhecidas, genericamente, como a Lei, os Escritos e os Profetas. Vieram, então, as Escrituras dos apóstolos, igualmente inspiradas pelo ESPÍRITO SANTO. Como denominar, pois, ambos os Testamentos? Alguns pais da igreja cognominávamo-nos de Divina Literatura.
Faltava, porém, uma palavra técnica que viesse a dar uma visão exata do sig­nificado das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. Era necessário, pois, denominar o conjunto dos pequenos livros que compunham a Palavra de DEUS. Foi assim que a palavra Bíblia começou a popularizar-se.
O significado da palavra grega bíblia. Originário do grego, o termo bíblia significa “livros”, ou “coleção de pequenos livros”. Atribui-se a João Cri­sóstomo a disseminação do uso desse vocábulo para se referir à Palavra de DEUS. No Ocidente, a palavra em questão foi introduzida por Jerônimo
tradutor da Vulgata —, o qual, costumeiramente, chamava o Sagrado Livro de Biblioteca Divina.
A palavra bíblia é o plural de biblos. Os gregos assim chamavam os rolos, nos quais escreviam as suas obras, numa clara referência ao centro produtor desse material — a cidade de Biblos (no Antigo Testamento, a cidade de Gebal), localizada na costa mediterrânea ocupada hoje pelo Líbano.
Desde João Crisóstomo e Jerônimo, os livros do Antigo e do Novo Testa­mentos passaram a ser universalmente conhecidos como a Bíblia, na qual judeus e cristãos baseamos a nossa fé. Os primeiros reconhecem apenas a primeira parte das Escrituras — o Antigo Testamento; os segundos consideram tanto a sua primeira quanto a sua segunda parte como a palavra inspirada, inerrante e infalível de DEUS.

A AUTORIA DIVINO-HUMANA DA BÍBLIA
A Bíblia Sagrada é um livro de dupla autoria. Se, por um lado, foi inspirada por DEUS; por outro, não podemos nos esquecer de ter sido ela escrita por homens que estiveram sob a inspiração e supervisão do ESPÍRITO SANTO:
Temos, assim, tanto mais confirmada a palavra profética, e fazeis bem em atendê-la, como a uma candeia que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vosso coração, sabendo primeiramente, isto: que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de DEUS, movidos pelo ESPÍRITO SANTO (II Pe l.l 9-21, ARA).
E por isso que, ao lermos as Sagradas Escrituras, ouvimos DEUS nos falar de maneira única e singular pelos lábios dos santos profetas e apóstolos. A Palavra de DEUS, de fato, é uma só; os estilos, porém, são os mais diversos, pois o ESPÍRITO SANTO inspirou e capacitou cerca de quarenta diferentes autores, a fim de que, num período de aproximadamente 1.600 anos, nos produzissem o Livro dos livros.
Fosse a Bíblia apenas um livro humano, jamais haveria de nos ungir com o azeite da verdadeira alegria; posto que também é divina, e divinamente inspirada, proporciona- nos os mais altos lenitivos. O poeta inglês Samuel Taylor Coleridge (1772-1834) testemunha acerca do poder que as Sagradas Escrituras exerciam sobre a sua alma:
Encontro na Bíblia palavras para os meus mais íntimos pensamentos, canções para a minha alegria, lenitivo para as minhas dores mais profundas, reabilitação de todas minhas debilidades e fraquezas.
Acerca da autoria divino humana da Bíblia, leciona Tomás de Aquino: “O autor principal da Santa Escritura é o ESPÍRITO SANTO; o homem foi apenas o seu autor instrumental”. Por conseguinte, o ESPÍRITO de DEUS, fazendo de cada hagiógrafo um instrumento especialmente selecionado na composição da Bíblia, outorgou-nos o Livro Eterno, cujas belezas literárias são únicas.

A Bíblia como literatura
Ao enaltecer a Bíblia como o Livro dos livros, afirmou Thomas Browne:
A Palavra de DEUS, pois é o que creio serem as Sagradas Escrituras; fosse apenas obra do homem, seria a mais singular e sublime, desde o primeiro instante da criação.
Somos constrangidos a concordar com Browne. Até hoje ainda não li um livro mais sublime e perfeito do que a Bíblia Sagrada. Tudo nela é singular: estilo, correção, graça e proposta. Sua singularidade, porém, acha-se no fato de ela ser a Palavra de DEUS.
Nenhum escritor, até hoje, foi capaz de produzir uma obra literária tão rica, tão bela e tão excelsa. Em suas páginas, os poemas mais sublimes; as histórias mais eletrizantes; os discursos mais eloquentes; os tratados mais investigativos. E as suas profecias? E as suas dissertações acerca de DEUS e de suas relações com o ser humano?
Em sua obra O Gênio do Cristianismo, o francês Chateaubriand discorre longa­mente a respeito das qualidades literárias das Sagradas Escrituras. Numa prosa digna da França, Chateaubriand afiança que nenhuma obra jamais conseguiu superar a peregrina genialidade do Livro de DEUS. Não houvesse a Bíblia, a literatura mundial seria pobre e inexpressiva; as maiores obras tiveram-na como fonte de inspiração e modelo.
Que outro livro pode fazer semelhante reivindicação? Embora produzida no con­texto histórico-cultural judaico, ninguém haverá de negar-lhe a universalidade. E a Bíblia, portanto, o único livro contemporâneo de toda a humanidade, em todas as eras.
Nosso objetivo, entretanto, não é estudar a Bíblia como literatura; estudá-la-emos como a Palavra de DEUS. Se assim não a acolhermos, de nada nos adianta exaltar lhe os predicados literários. Foi-nos ela entregue, para que reconheçamos DEUS como o Ser supremo por excelência, e a seu Unigênito como o nosso suficiente Salvador.

A POSIÇÃO LIBERAL
O racionalismo, nascido no território sempre fértil da incredulidade acadêmi­ca, não demorou muito a fixar raízes em searas protestantes. Como sói acontecer nessas ocasiões, começou por invadir os seminários e universidades, dantes tão piedosos, para se alojar nos púlpitos de muitas igrejas.
Racionalismo, o falso culto à razão. Em seus Pensamentos, investe-se Pascal duramente contra o endeusamento da razão: “Por mais que a razão proteste, ela não pode colocar o preço nas coisas”. Infelizmente, não poucos teólogos colocaram a razão num altar e fizeram-na a suprema árbitra, até mesmo da soberana Palavra de DEUS. Parece que jamais tiveram eles um discernimento claro da supremacia da Bíblia Sagrada, como o escritor francês demonstrou possuir do Universo. Tornaram-se eles subservientes à razão sem qualquer razão justificável.
O racionalismo pode ser definido como o método que, utilizando-se apenas da razão, coloca-a como o padrão supremo de todas as atividades humanas, quer terrenas, quer metafísicas. Filosoficamente, é a doutrina cujo objetivo se detém no exame das coisas exclusivamente pela razão, sem levar em conta a intuição, a vontade e a sensibilidade.
Racionalismo teológico. Fazendo do racionalismo o seu credo, afirmavam tais teólogos ser a razão a palavra final para a resolução de todos os dilemas mo­rais e espirituais do ser humano. Ao mesmo tempo, como faziam questão de ressaltar, a Bíblia não era tão importante quanto ensinava Lutero e Calvino. Emil Brunner, aliás, chegou a alcunhar a Palavra de DEUS de “papa de papel”, porque os protestantes tributavam-lhe uma autoridade que só achava similar na divinização com que os católicos tratavam o seu chefe espiritual. O teólogo suíço não podia aceitar as Sagradas Escrituras como a inspirada e infalível Palavra de DEUS.
O que mais nos entristece é saber que esses mestres e doutores provinham de diversas confissões protestantes. Mas, abandonando eles a simplicidade do evangelho de CRISTO, se puseram a erigir os mais exaltados altares à razão, esquecendo-se de que, acima desta, encontra-se a Palavra de DEUS. Como um abismo chama outro, saíram de suas tocas, a fim de desferir os mais impiedosos ataques contra a Palavra de DEUS. Ataques esses travestidos de eruditas premissas, intocáveis silogismos e venerandos enunciados teológicos.
Na Alemanha, espezinharam a herança que lhes legara Martinho Lutero, que sempre tivera a Bíblia como a infalível árbitra em todas as áreas do conhecimento e do proceder humanos. E, desvanecendo-se já em seus discursos, guindaram-se acima dos arcanos e oráculos de DEUS. Num contexto tão pródigo de increduli­dade e apostasias, a teologia liberal começou a cancerar uma parte considerável do protestantismo histórico.
Não reconhecendo a Bíblia como a Palavra de DEUS, os teólogos liberais blasfemavam, sutilmente, do Todo-Poderoso, resistindo ao ESPÍRITO SANTO. O que eram, na verdade, suas teorias? Vãs especulações. Buscando mascarar as suas apostasias e os seus erros, asseveravam que a Bíblia apenas contém a Palavra de DEUS. Outros, à semelhança do teólogo americano Gordon Kaufman, se limitavam a exaltar a Bíblia como “literatura gloriosa”.
Infelizmente, muitos desses sábios segundo o mundo têm-se infiltrado em seminários dantes conservadores e, habilmente, vêm desviando os futuros pre­gadores da verdade. Faz-se necessário, pois, que estejamos sempre precavidos quanto a esses doutores que, veladamente, instilam o seu veneno sobre aqueles a quem DEUS chamou para proclamar o Evangelho de CRISTO.
Se antes o liberalismo contentava-se em atacar a Bíblia, ensinando que ela meramente contém a Palavra de DEUS, mas não é a Palavra de DEUS, hoje os seus proponentes fizeram-se muito mais incrédulos; nem no DEUS da Bíblia acreditam mais. Negando o supremo Ser, afirmam, com a ousadia própria dos insensatos, que o SANTO Livro não passa de uma coleção de mitos hebraicos. Haja vista a teoria da desmitologização de Rudolf Bultman.
Para este teólogo alemão, a Bíblia só é crível se dela extirparmos os mitos — milagres, sinais, teofanias e outras revelações sobrenaturais. Depois de lermos semelhantes teólogos, concluímos com estas palavras do divino Mestre: “Quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lc 18.8).
No Brasil, seminaristas de várias denominações têm se voltado, ultimamente, aos teólogos liberais, numa busca insana por afirmação. Alguns o fazem para contestar o credo de suas igrejas; outros, para se mostrarem na vanguarda; outros, ainda, por mera e triste imitação. De uma forma, ou de outra, levam eles ao seio
de suas comunidades de fé o vírus do modernismo teológico com todas as suas inevitáveis consequências: incredulidade; leniência para com o pecado; relativismo moral e ético; relaxo para com a evangelização, etc. Tal atitude é observada, inclu­sive, entre seminaristas de igrejas que, até então, eram aclamadas por seu ardente zelo pela ortodoxia bíblica.

A POSIÇÃO NEO-ORTODOXA
Reagindo contra o liberalismo teológico, principalmente na Alemanha, en­sinam os neo-ortodoxos que a Bíblia torna-se a Palavra de DEUS à medida que alguém, ao lê-la, tem um encontro experimental com o Senhor. Apesar das apa­rências, esse posicionamento abre espaço para muitas especulações danosas à fé cristã. A Bíblia não se torna a Palavra a DEUS; ela sempre é a Palavra de DEUS.
Portanto, erram aqueles que afirmam: “A Bíblia fechada é um simples livro; aberta, a boca de DEUS falando”. Nada mais errado; aberta ou fechada, a Bíblia é a Palavra de DEUS inspirada e inerrante! Há que se tomar muito cuidado, pois, com as sutilezas teológicas; destas é que nascem as heresias. Karl Barth, apesar de seus esforços em combater o liberalismo, não foi de todo feliz. Ele deveria, por exemplo, ter ensinado que a Bíblia, independentemente da reação de seus leitores, jamais deixou de ser a Palavra de DEUS.
Embora considerado o maior teólogo do Século XX, Barth não foi de todo ortodoxo. E, como todos o sabemos, no terreno das Sagradas Escrituras não há meia ortodoxia; a ortodoxia tem de ser absoluta. Se a tornarmos relativa, não teremos, então, nenhuma ortodoxia; e, sim, heresias, apostasias e erros. A neo- ortodoxia de Barth não foi de todo eficaz; pecou pelos meios-termos.

A POSIÇÃO CONSERVADORA
Os ortodoxos afirmamos que a Bíblia é a Palavra de DEUS. Dessa forma, colocamo-la no lugar em que ela tem de estar: como a nossa suprema e inques­tionável arbitra em matéria de fé e prática. Se a Escritura diz, é a nossa obrigação ser-lhe obediente sem quaisquer questionamentos. Ela é soberana! Os cristãos jamais deixaram de ser dogmáticos quanto à origem divina da Bíblia.
A Igreja Primitiva. Firmados, principalmente, em 2 Timóteo 3.16 e 2 Pedro 1.20,21, os cristãos primitivos tinham os profetas hebreus como oráculos de DEUS. Igual deferência concediam eles aos escritos dos apóstolos de nosso Senhor e daqueles que lhes foram íntimos seguidores — Marcos e Lucas, por exemplo.
No século II, quando o herege Marcião se insurgiu contra as Sagradas Escrituras, tentando extirpar do cânon os livros apostólicos, por considerá-los escandalosa­mente judaicos, os líderes da igreja condenaram-no em uníssono e energicamente. Atuando como porta-voz dos pastores e bispos, Tertuliano escreveu Contra Marcião, numa apaixonada apologia do cânon atual da Bíblia Sagrada.
Orígenes de Alexandria, nascido no Egito por volta de 185, também saiu com presteza, a fim de defender o cânon das Sagradas Escrituras. Ele asseverou que tanto as Escrituras do Antigo quanto as do Novo Testamentos foram ins­piradas pelo mesmo ESPÍRITO SANTO. Logo, acrescenta o doutor alexandrino, “as Escrituras Sagradas foram redigidas pelo ESPÍRITO de DEUS”.
Nascido em 296, Atanásio tornou-se conhecido como o pai da ortodoxia em virtude de seu apaixonado zelo pela pureza doutrinária da fé cristã. A semelhança de seus predecessores, fez ele uma brilhante apologia da inspiração divina das Escrituras Sagradas como a Palavra de DEUS.
Os reformadores. Ao deflagrar a Reforma Protestante, Martinho Lutero fez questão de ressaltar a importância da Bíblia Sagrada como a Palavra de DEUS. Se até àquele dia a igreja de Roma tinha as suas tradições como mais importantes que as Sagradas Escrituras, veio Lutero e afirmou que estas são a nossa única norma em matéria de fé e prática. Foi a partir desse ponto doutrinai que Lutero revolucionou espiritualmente a igreja de CRISTO, levando os fiéis a depositarem toda a sua confiança no Antigo e no Novo Testamento.
Cognominando a Bíblia como o berço que traz o CRISTO, Lutero — natural de Eisleben, na Alemanha— defendeu ardorosamente a inspiração divina das Sagradas Escrituras. Exortava ele os cristãos a lerem a Palavra de DEUS sob a luz de CRISTO.
João Calvino, de igual modo, sustentava a origem divina da Bíblia:
Visto que DEUS se comunicou por sua Palavra de Vida a todos os que Ele recebeu por sua graça, disso devemos inferir que os fez participantes da vida eterna. Eu digo que na Palavra de DEUS há tal eficácia de vida que a sua comunicação é uma segura e certa vivificação da alma. Entendo por comunicação não a geral e comum, que se propaga por céus e terra sobre todas as criaturas do mundo. Porque, conquanto esta vivificação que todas as coisas conforme a sua respectiva natureza diversa, todavia não livra nada nem ninguém da corrupção. Mas a comunicação a que me refiro ê especial, e por esta a alma dos crentes é iluminada no conhecimento de DEUS e de algum modo é ligada a Ele.
Os pentecostais. A comunidade de fé pentecostal, formada principalmente pelas Assembleias de DEUS, sempre acreditou ser a Bíblia a inspirada, inerrante, infalível e completa Palavra de DEUS. Vejamos como se posicionaram alguns de nossos maiores e mais respeitados teólogos.
O missionário finlandês Lars Eric Bergstén, que, durante cinco décadas pe­regrinou pelo Brasil, ensinando a lídima doutrina bíblica, assim se posicionou acerca das Sagradas Escrituras:
DEUS, que antigamente falou “muitas vezes e de muitas maneiras aos país”, queria que a sua Palavra não jicasse guardada pelos homens apenas através da experiência com Ele ou pela tradição falada, isto é, os país contando para os seus filhos, etc. DEUS queria que as verdades reveladas fossem conservadas em um autêntico documento. Por isso, Ele mesmo tomou as providências para que suas palavras, revelações e acontecimentos — maravilhas operadas em meio ao seu povo —fossem escritos.
Antonio Gilberto, um dos maiores teólogos do Brasil, afirmou acerca da origem divina da Bíblia:
E a revelação de DEUS à humanidade. Seu autor ê DEUS mesmo. Seu real intérprete é o ESPÍRITO SANTO. Seu assunto central é o Senhor JESUS CRISTO.

A NECESSIDADE DA BÍBLIA SAGRADA
“Arranhe a superfície das Escrituras onde quiser, e você descobrirá uma fatia de vida” — é o que afirma Arthur Skevington Wood. Implicitamente, está ele a dizer-nos: a Bíblia é absolutamente necessária para alcançarmos a vida eterna; sem ela, todos estaríamos condenados.
Logo, é a Palavra de DEUS de suma importância não somente para o nosso crescimento moral e espiritual, como também para a solidificação de nossa sociedade. O Ocidente, aliás, é tributário das Sagradas Escrituras e não da civilização greco-romana. A humanidade toda não pode, sob nenhuma hipótese, prescindir da Bíblia.
Necessidade espiritual. Quando tentado pelo Diabo, o CRISTO calou-lhe a voz, citando-lhe o Deuteronômio: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de DEUS” (Mt 4.4). Mais tarde, emudecendo os fari­seus, que, embora conscientes da messianidade dEle, recusavam-se a aceitá-la, asseverou-lhes: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. E não quereis vir a mim para terdes vida” (Jo 5.39,40).
Que outro livro é capaz de proporcionar ao ser humano a vida eterna? A Bíblia, conforme escreve Paulo a Timóteo, não se limita a salvar o homem; torna-o perfeito diante de DEUS (2Tm 3.16). Discorrendo acerca da eficácia das Escrituras em libertar-nos do pecado, Timothy Dwight é categórico: “A Bíblia é uma janela na prisão deste mundo, através da qual podemos olhar para a eternidade”.
O ser humano tem sede do Criador. E só virá a dessedentar-se quando volver os olhos e o coração à Bíblia Sagrada. Sem ela morreremos nesse deserto para onde nos lançaram os pecados que vimos cometendo desde que expulsos do Éden.
Necessidade moral. Vários códigos já escreveram os homens ao longo de sua história. Hamurabi, buscando disciplinar seus contemporâneos, proscreveu-lhes uma série de leis e ditames. Preocupação semelhante acometeu o chinês Confúcio. E os estatutos de Drácon? E as Doze Tábuas de Roma? Tais iniciativas, porém, não puderam melhorar a índole dos filhos de Adão, que, segundo escreveu Paulo aos romanos, se entregaram às mais infames paixões (Rm 1.26).
A Palavra de DEUS, entretanto, prescreve-nos leis tão altas e sublimes que — prova-nos a história — modifica não apenas o homem como a sociedade. Haja vista os Dez Mandamentos. Sem dúvida, todas as legislações do mundo poderiam ser substituídas por estes. D.J. Burrell realça a singularidade das leis divinas:
O DEUS da Bíblia e nenhum outro, pode satisfazer as necessidades humanas. Seu código moral atravessou durante séculos as chamas da controvérsia, mas não fcou nem mesmo com cheiro de queimado.
Se a moral das Escrituras continua tão atual, onde se acham os demais códigos? Fizeram-se anacrônicos; tiveram de ser substituídos. Eis por que a Bíblia Sagrada faz-se tão necessária à raça humana. Sua moral não haverá jamais de ser adulterada nem relativizada; é um livro que trata com valores absolutos, pois absoluto ele é.
No Salmo 119, canta o salmista — Davi? — as grandezas e infinitudes da Lei de DEUS. O rei de Israel cumpria-a rigorosamente; não a achava pesada; era o seu deleite. Acontece o mesmo com aqueles que, ao aceitarem a CRISTO, têm o estatuto divino escrito em seu coração, conforme enfatiza Matthew Henry: “Quando a lei de DEUS é escrita em nosso coração, nossos deveres são nossos prazeres”.
Necessidade histórica. Ao contrário do que supunha o filósofo francês, Augusto Comte, a história não é cíclica: é circular; não se repete. Encaminha-se para um clímax, quando CRISTO JESUS, como o Rei dos reis e Senhor dos senhores, implantar o Reino de DEUS na Terra, submetendo todas as coisas ao absoluto comando de seu Pai.
Sem a Bíblia, jamais poderíamos compreender devidamente a história; seria­mos induzidos a pensar fossem todas as coisas obras do mero acaso. Os santos
profetas e os apóstolos de nosso Senhor nos deixam claro que, estando DEUS no comando de todas as coisas, dirige a história, conduzindo-a ao ápice de seu Reino. Não foi essa, por acaso, a petição que o CRISTO ensinou aos seus discípulos: “Venha o teu Remo”? Assim, passaram os discípulos a rogar a DEUS.
Compreendendo perfeitamente a teologia da História, afirmou Oliver Cromwell: “O que é a história, senão a manifestação de DEUS?” Assim a entendeu também Nabucodonosor. O rei de Babilônia, após haver passado sete tempos como um bicho, devido ao seu orgulho, reconhece que, acima dos reis e demais potentados, acha-se DEUS a controlar todos os negócios terrenos.
Seria maravilhoso se todos os seres humanos chegassem a essa conclusão. Por conseguinte, esta deve ser a conclusão básica acerca da História, conforme escreveu
Martyn Lloyd Jones: “A chave para a história do mundo é o remo de DEUS”.

A FORMAÇÃO DO CÂNON

Em nossos credos, afirmamos peremptoriamente ser a Bíblia a inspirada, inerrante, infalível, soberana e completa Palavra de DEUS. Nesse inegociável e intransferível dogma, baseia-se o cânon das Sagradas Escrituras.
Antes de entrarmos a estudar com mais propriedade a canonicidade da Bíblia, é mister que deixemos algo bem claro: esta não é inspirada porque os doutores da igreja assim a chancelaram; eles a sancionaram como tal porque ela é, de fato, a inspirada Palavra de DEUS. Escreve Norman Geisler:
Os livros da Bíblia não são considerados oriundos de DEUS por se haver descoberto neles algum valor; são valiosos porque provieram de DEUS —Jonte de todo bem.
Se eles, nalgum momento, tivessem negado a inspiração de algum livro das Sagradas Escrituras, estas, em sua totalidade, ainda continuariam inspiradas. Pois a inspiração da Bíblia independe da aprovação humana. A canonização, conforme veremos, nada mais é do que o reconhecimento humano de uma obra singularmente divina.
A canonização. Oriunda da palavra grega kanonizein, que, entre outras coisas, significa “tornar santo”, é o processo que levou ao reconhecimento dos livros que compõem a Bíblia como singularmente inspirados por DEUS.
Esse processo — que durou vários séculos — é-nos mui importante, porque mostra quão criteriosa e exaustivamente os doutores da igreja se agastaram em examinar os livros das Sagradas Escrituras, a fim de averiguar se estes, realmente, são de origem divina ou produto do engenho e arte da imaginação humana.
Concluído esse processo, os doutores e teólogos da igreja, trilhando um caminho já palmilhado pelos sábios rabis de Israel, concluíram que os livros que compõem a Bíblia são de fato a inspirada e inerrante Palavra de DEUS.
Mais tarde, os católicos romanos, no Concilio de Trento, houveram por bem, de maneira arbitrária e antagônica às comunidades de Israel e dos pro­testantes, acrescentar vários livros ao Antigo Testamento, buscando justificar algumas de suas doutrinas que, durante a Reforma Protestante, foram dura­mente combatidas pelos seguidores de Martinho Lutero e João Calvino. Lendo tais livros apócrifos, no entanto, logo percebemos suas fragilidade, errância e até ilogicidade.
O que é o cânon ia Bíblia. Procedente do vocábulo hebraico kannesh, que significa ‘ vara de medir” — e do grego kanon, que, basicamente, tem o mesmo significado do termo hebreu —, a palavra “cânon” é usada em teologia com este significado: padrão, regra de procedimento, critério norma.
A Bíblia, como o nosso cânon por excelência, arvora-se como a nossa única regra de fé e conduta, pois a temos como a infalível Palavra de DEUS. Em termos técnicos, podemos definir assim o cânon das Sagradas Escrituras: coleção de livros reconhecidos pela igreja cristã como singularmente inspirados pelo ESPÍRITO SANTO.
Como foi estabelecido o cânon bíblico. Os homens que DEUS usou para chancelar o cânon da Bíblia, procederam da seguinte forma:
0 exame do texto sagrado. Em primeiro lugar, os sábios judeus e cristãos examinaram o texto sagrado, em si, para comprovar se este, de fato, proveio o ESPÍRITO SANTO como escritura singularmente inspirada. Isso não significa que esses doutores se achavam acima da Bíblia nem que houvessem eles lhe transmitido a inspiração divina. Caso tivessem errado em sua avaliação, a Bíblia continuaria a ser a Palavra de DEUS.
Do texto sagrado, examinaram: o conteúdo, a correção doutrinária, o caráter edificativo, a harmonia da parte com o todo e o assentimento intelectual e particular, através dos quais, quando o lemos, sentimos que DEUS nos fala de maneira distintíssima e clara.
O exame do autor sagrado. Quem escreveu o texto sagrado era, realmente, digno de confiança? Considerando que a Bíblia foi escrita por, aproximada­mente, quarenta escritores, temos de responder as seguintes perguntas.
Houve absoluta concordância entre seus autores, apesar do tempo decorrido entre o Gênesis e o Apocalipse? (A Bíblia, como se sabe, levou 1.600 anos para ser escrita.) No que tange ao Antigo Testamento, eram os seus autores realmente mestres incontestáveis do conhecimento de DEUS? Com DEUS mantinham estreita e íntima comunhão? E o seu caráter, era realmente ilibado?
Davi e Salomão, por exemplo, apesar de haverem desobedecido gravemente ao Senhor, arrependeram-se de suas faltas e foram espiritualmente restaurados. No Salmo 51, temos o cântico penitencial do primeiro; e, no Eclesiastes, encon­tramos a pública confissão de faltas do segundo.
Concernente ao Novo Testamento, além das exigências acima apresentadas, demandava-se que o escritor sagrado pertencesse ao círculo restrito dos apóstolos do Cordeiro, ou que com eles houvessem tido um relacionamento privilegiado. E o caso de Marcos, Paulo e Lucas, o médico amado. Tiago e Judas eram irmãos uterinos de nosso Senhor JESUS CRISTO.
3) Aceitação do livro na comunidade dos fiéis. Como a antiga comunidade de Israel e a igreja primitiva se houveram com os livros da Bíblia Sagrada?
O cânon do Antigo Testamento. Os livros do Antigo Testamento jamais estiveram em disputa na antiga comunidade de Israel. Conforme depreendemos de Esdras e das tradições judaicas, após o derradeiro profeta fazer ecoar as palavras do Senhor, não havia mais o que se discutir: o cânon do Testamento Antigo já estava definitivamente encerrado, esperando, agora, os primeiros acordes do Novo Testamento.
Por conseguinte, o Concilio Judaico de Jamnia, realizado próximo da atual cidade israelense de Jope, teve um caráter mais formal do que dogmático, consi­derando que os filhos de Israel da Diáspora sempre tiveram o texto massorético como o cânon de suas Sagradas Escrituras.
O cânon do Novo Testamento. Em virtude da complexidade da igreja cristã, o cânon do Novo Testamento demorou um pouco mais para ser definitivamente estabelecido. Em primeiro lugar, porque os livros neotestamentários foram escritos nos mais diferentes lugares: de Israel à capital do Império Romano, mostrando a universalidade da mensagem cristã.
Em 367, o bispo Atanásio, conhecido como o pai da ortodoxia cristã, alista, numa de suas cartas, os 27 livros que compõem o Novo Testamento. Os concílios de Hipona — realizado em 393 — e o de Cartago, convocado em 397, ambos no Norte da África, ratificaram a lista elaborada por Atanásio.
Hoje, não mais precisamos debater acerca da inspiração dos livros que compõem o cânon da Bíblia Sagrada. Tanto os 39 do Antigo quanto os 27 do Novo Testamentos são comprovadamente de origem divina; foram inspirados pelo ESPÍRITO SANTO.

A INSPIRAÇÃO DIVINA DA BÍBLIA SAGRADA
Matthew Henry — um dos maiores expositores das Sagradas Escrituras
é categórico ao se referir à inspiração da Bíblia: “As palavras das Escrituras devem ser consideradas palavras do ESPÍRITO SANTO”. Como não concordar com Henry? Basta ler a Bíblia para sentir, logo em suas palavras iniciais, a presença do ESPÍRITO SANTO.
Que outro livro trouxe tanta mudança à humanidade como a Bíblia Sagrada? Homero, Aristóteles, Camões, Karl Marx? O Capital de Marx, por exemplo, em­bora considerado a “bíblia” do comunismo, é tão seco e árido que dificilmente alguém consegue lê-lo do início ao fim. A Escritura, porém, vem sendo lida de geração em geração com o mais vivo interesse. O imperador brasileiro Dom Pedro II revelou que a lia cotidianamente.
Qual a diferença entre ela e os demais livros? Sem dúvida, a sua inspiração.
Definição etimológica. A palavra “inspiração” vem de dois vocábulos gregos: theo, “DEUS”; e pneustos, “sopro”. Literalmente, significa: “aquilo que é dado pelo sopro de DEUS”.
Definição teológica. “Ação sobrenatural do ESPÍRITO SANTO sobre os escritores sagrados, que os levou a produzir, de maneira inerrante, infalível, única e sobre­natural, a Palavra de DEUS — a Bíblia Sagrada” (Dicionário Teológico, de Claudionor de Andrade, CPAD).
Em português, a palavra “inspirar” é originária do verbo latino inspirare, que significa: “introduzir ar nos pulmões”. È um processo fisiológico tão necessário à vida, que a mantém em pleno funcionamento. È algo automático; independe de nossa vontade. Basta estarmos vivos para que o ar nos entre pela boca e pelas narinas e nos chegue até os pulmões.
Assim também ocorreu com os santos profetas e apóstolos usados para es­crever a Bíblia Sagrada. O ESPÍRITO SANTO insuflou-lhes a Palavra de DEUS de tal forma, que foram eles impulsionados a registrar os arcanos e desígnios divinos de maneira sobrenatural, inerrante, infalível e singular. Nenhum outro livro foi inspirado dessa forma; foi um milagre que se deu na área do conhecimento humano e nunca mais se repetiu.
Inspiração verbal e plenária àa Bíblia. È a doutrina que assegura ser a Bíblia, em sua totalidade, produto da inspiração divina. Plenária: todos os livros da Bíblia, sem qualquer exceção, foram igualmente inspirados por DEUS. Verbal: o ESPÍRITO SANTO guiou os autores não somente quanto às idéias, mas também quanto às palavras dos mistérios e concertos do Altíssimo (2Tm 3.16).
A inspiração plenária e verbal, todavia, não eliminou a participação dos autores humanos na produção da Bíblia. Pelo contrário: foram eles usados de acordo com seus traços personais, experiências e estilos literários (2 Pe 1.21).
Se no profeta Isaías deparamo-nos com um estilo sublime e clássico, em Amós encontramos um prosa simples e humilde, como os campos palmilhados pelo
mensageiro campesino. E, se em Paulo encontramos um grego que se amolda à dicção do heleno ático, em Marcos encontramos um grego humilde como humilde era o seu autor. Contudo, tanto nos primeiros como nos segundos, não podemos negar a exatidão e a ortodoxia da inspirada Palavra de DEUS.
A inspiração da Bíblia ê única. Conforme já dissemos, além da Bíblia, nenhum outro livro foi produzido de maneira sobrenatural e inconfundivelmente divina. Eis porque a Palavra de DEUS é a obra-prima por excelência da raça humana. Até mesmo os seus mais arrebatados inimigos são obrigados a se curvar ante a sua beleza suprema e célica. Haja vista em todas as universidades realmente impor­tantes haver uma cadeira dedicada ao idioma hebraico por causa da crescente importância da Bíblia.
Aliás, não fora a Palavra de DEUS, a civilização ocidental, como a conhecemos, seria impossível. O que os gregos não lograram com a sua filosofia e lógica, a Bíblia alcançou através de sua mensagem, que, embora singela, derrubou grandes reinos e impérios.
Declaração doutrinária das Assembleias de DEUS no Brasil. “Cremos na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão”. A maioria das denominações evangélicas, realmente conservadoras, tem a Bíblia como a inspirada Palavra de DEUS. Sem esse artigo de fé, o evangelismo perde todo o seu conteúdo.
Evidências da inspiração divina da Bíblia. Há evidências que nos indicam ser a Bíblia a Palavra inspirada de DEUS? Basta uma leitura das Sagradas Escrituras para se concluir, de imediato, terem sido elas produto da ação direta do Es­pírito SANTO sobre os hagiógrafos, levando-os a escrever os livros que fazem parte do cânon bíblico.
Entre as evidências, que nos indicam a procedência divina das Escrituras Sagradas, podemos citar:
A influência na vida do ser humano. Que outro livro, a não ser a Bíblia, é capaz de transformar radicalmente o homem? Temos testemunhos emo­cionantes de homens, mulheres, jovens e crianças que, no contato com a Palavra de DEUS, se tornaram novas criaturas.
A influência na história da humanidade. Ultrapassando as fronteiras de Israel, de onde provieram quase todos os seus escritores, a Bíblia foi a responsável direta pela criação da cultura ocidental. A influência do SANTO Livro, aliás, ultrapassou o Ocidente e, hoje, faz com que a Palavra de DEUS seja admirada em países que sempre se opuseram ao cristianismo. Haja vista a China e o Japão. Até mesmo nos países ára­bes, que se deixam conduzir pelo Alcorão, a influência das Escrituras é mais que notória.
A influência na vida moral da humanidade. Sem a Bíblia Sagrada, estaria a humanidade mergulhada em densas trevas espirituais e mo­rais. O homem em nada haveria de diferir das bestas feras. Todavia, a moralidade que a Bíblia vem exigindo do ser humano, desde os Dez Mandamentos, vem elevando os filhos de Adão aos mais altos ideais, impedindo que se degenerem.

A INERRÂNCIA DA BÍBLIA SAGRADA
Em sua apologia sobre a merrância da Bíblia, John Wesley é incisivo e direto: “Se há algum erro na Bíblia, então pode haver mil erros”. Por isso, conclui: “Se há uma falsidade sequer naquele Livro, ele não proveio da verdade”. Como discor­dar de um artigo de fé tão cristalino e lógico? Sem esta doutrina, o cristianismo seria impossível; suas verdades, tendo como base a Bíblia Sagrada, exigem seja esta não apenas divinamente inspirada, mas de igual modo infalível, completa e inerrante.
Por conseguinte, se não aceitarmos integralmente a inerrância das Sagradas Escrituras, todo o arcabouço doutrinário da religião fundada por JESUS de Na­zaré haverá de desaparecer. Se primarmos, no entanto, pela ortodoxia bíblica e teológica, não há por que temer aqueles que, embora se autodenominem liberais, revelam-se intolerantes e impiedosos em sua abordagem ao fundamentalismo evangélico. Sob o manto do liberalismo, exibem-se agressivos e inquisitoriais; a maioria nem mesmo aceita o debate acadêmico.
Afinal, o que é a inerrância bíblica? Por que ela é tão importante para a nossa fé? E por que sem essa doutrina as Sagradas Escrituras perdem toda a razão de ser?
Definição. A melhor maneira de se compreender uma doutrina é buscar-lhe uma definição adequada. Sua conceituação, a partir daí, torna-se mais fácil e não pecará pela falta de clareza e objetividade. Vejamos, pois, de que forma haveremos de definir a doutrina da inerrância bíblica.
Definição etimológica. A palavra “inerrância” vem do vocábulo latino inerrantia e significa, literalmente, “qualidade daquilo que não tem erro; infalível”.
Definição teológica. A inerrância bíblica é a doutrina segundo a qual as Sagradas Escrituras não contêm quaisquer erros, por serem a inspira­da, infalível e completa Palavra de DEUS. A Bíblia é inerrante tanto nas informações que nos transmite como nos propósitos que expõe e nas reivindicações que apresenta. Sua inerrância é plena e absoluta. Isenta de erros doutrinários, culturais e científicos, inspira-nos ela confiança plena em seu conteúdo.
Neste sentido, a doutrina da inerrância bíblica pode ser compreendida, também, como sinônimo de infalibilidade.
O teólogo pentecostal John R. Higgms assim define a doutrina da inerrância das Sagradas Escrituras:
Embora os termos “infalibilidade” e “inerrância” tenham sido, historicamente, quase que sinônimos do ponto de vista da doutrina cristã, muitos evangélicos têm preferido ora um termo, ora outro. Alguns preferem “inerrância” para se distinguirem dos que sustentam poder a “infalibilidade” referir-se à veracidade da mensagem da Bíblia, sem necessariamente indicar que a Bíblia não contém erros. Outros preferem “infalibilidade” a fm de evitar possíveis mal-entendimentos em virtude de uma definição demasiadamente limitada da “inerrância”. Atualmente, o termo “inerrância” parece estar mais em voga que “infalibilidade”.
Inerrância, o grande debate teológico do século XX. Foi exatamente em torno da iner­rância bíblica que girou a maior controvérsia teológica do Século XX. Até então, tinha-se como pressuposto básico que a Bíblia, como a inspirada Palavra de DEUS, era absolutamente inerrante tanto no que concerne à doutrina como no que tange às informações geográficas, históricas e científicas. Nenhum teólogo cristão ousava colocar em dúvida a inerrância da Palavra de DEUS.
Se, na comunidade cristã, quer católica, quer protestante, ninguém se atrevia a questionar a inerrância das Sagradas Escrituras, os filósofos seculares vinham, desde o iluminismo, lançando não poucas dúvidas sobre a integridade da doutrina e das informações contidas na Bíblia.
Toda essa discussão veio a se acirrar com a chamada teologia liberal, que
conquanto nascida no Século XVIII — veio a ganhar corpo no século passado. De repente, o que parecia inconcebível já era discutido abertamente no mundo acadêmico: ‘Afinal, a Bíblia é ou não é a inerrante Palavra de DEUS?” Se a inerrância era posta em dúvida, por que ficaria intocada a sua inspiração verbal e plenária?
Semelhante controvérsia levou a ortodoxia cristã a se reunir para apresentar uma apologia da inerrância e da inspiração sobrenatural da Bíblia Sagrada. E desse debate resultou um documento conhecido como a Declaração de Chicago.
A Declaração de Chicago. Em 1978, eruditos de várias confissões cristãs se reuniram na cidade norte-americana de Chicago, a fim de discutir a inspiração sobrenatural da Bíblia e a sua consequente inerrância. Findos os trabalhos, os participantes do encontro publicaram uma declaração, realçando a ortodoxia dos princípios teológicos acerca da Bíblia Sagrada.
A Declaração de Chicago sobre a inerrância Bíblica, entre outras coisas, afirma:
A autoridade das Escrituras é a chave para a igreja cristã em todos os séculos.
Aqueles que professam a sua fé em JESUS CRISTO como o seu Salvador e Senhor são intimados a mostrar a realidade de seu discipulado através da humildade e da obediente fidelidade à Palavra escrita de DEUS. Rejeitar as Escrituras como a nossa regra de fé e conduta constitui-se em deslealdade para com o nosso Mestre.
O reconhecimento inquestionável e irrestrito das Sagradas Escrituras é essencial para a completa compreensão e confissão de sua autoridade.
Os cinco primeiros artigos da Declaração de Chicago sintetizam a fé ortodoxa concernente à inerrância da Bíblia Sagrada:
Z. DEUS, sendo Ele a própria verdade por falar somente a verdade, inspirou as Sagradas Escrituras, para que, através delas, revelasse a si mesmo à humanidade caída, por inter­médio de JESUS CRISTO, como o Criador; Senhor; Redentor e Juiz. As Sagradas Escrituras, portanto, testificam do próprio DEUS.
As Sagradas Escrituras, sendo a própria Palavra de DEUS, escritas por homens devidamente preparados, inspirados e superintendidos pelo ESPÍRITO SANTO, são divinamente infalíveis em todas as matérias de que tratam. Por conseguinte, devem elas ser cridas, como a instrução de DEUS, em tudo o que afirmam; obedecidas, como mandamento de DEUS, em tudo o que demandam; recebidas, como garantia de DEUS, em tudo o que prometem.
O ESPÍRITO SANTO, como o autor das Escrituras, tanto autentica o seu testemunho interno como nos abre a mente para entendê-las.
Sendo total e primariamente dadas pelo próprio DEUS, as Escrituras estão isentas de erros nem se acham equivocadas quanto a todos os seus ensinos, nem quanto às suas declarações sobre os atos de DEUS na criação, os eventos da história mundial e acerca de sua própria origem literal sob a inspiração divina e também quanto às declarações de DEUS com respeito à salvação individual dos seres humanos pela graça manifestada em CRISTO JESUS.
A autoridade das Escrituras será fatalmente enfraquecida se a sua absoluta inerrância for, de alguma forma, menosprezada ou negligenciada, ou vier a ligar-se a uma visão da verdade contrária à própria Bíblia. Tais desvios trariam irreparáveis perdas tanto para os crentes em particular quanto para a igreja de CRISTO como um todo.
O artigo XIII da Declaração de Chicago é mais do que incisivo: “Declaram que a Bíblia, em sua totalidade, é inerrante, estando, por conseguinte, isenta c toda falsidade, fraude ou engano”.
A coerência da inerrância. A doutrina da inerrância da Bíblia Sagrada não é inerente nem fere a razão, embora esteja muito acima desta; a inerrância bíblica razoável e crível; não precisa ser aceita de forma cega e mística: comporta os ma duros questionamentos justamente por ser absoluta e inquestionável. Ela não fei a legitimidade de nenhum ramo do verdadeiro saber humano, que, sendo outorgado por DEUS, jamais contrariará o saber divino.
Em relação à filosofia. A Bíblia Sagrada, como a inspirada e inerrante P; lavra de DEUS, não vai de encontro à verdadeira filosofia. Acha-se, porém infinitamente acima desta. Se a segunda limita-se a levantar os problemas d vida, a primeira é a sua solução. E se a filosofia limita-se a especular acerca da realidade última das coisas, a Escritura desvenda-nos o próprio Deu como o nosso supremo bem, revelando-nos o caminho a seguir.
Em relação à ciência. Não contém a Bíblia quaisquer erros científicos. Por conseguinte, quando um homem de ciências a acusa de incoerência científica, duas coisas podem estar acontecendo: o cientista, deixando o campo da experimentação, põe-se a palmilhar levianamente o terreno movediço d, especulação. Se assim é, não temos um cientista, mas um confuso filosofe Pois não são poucas as matérias que, tidas como científicas, na verdade não passam de mitos e fantasias. Haja vista a teoria da evolução. Aliás, se é teoria como pode arrogar-se como ciência, se até hoje não foi comprovada?
Entre a ciência e a filosofia, há uma fronteira mui tênue que pode ser cruzada sem que o cientista o perceba e sem que o filósofo disso se dê conta, Francis Bacon, por exemplo, embora filósofo, traçou o caminho a ser trilhado pela ciência moderna. E o discurso do método de Descartes?
Portanto, a ciência não tem a necessária autoridade para julgar a Bíblia Sagrada Pois se esta é a Palavra revelada daquele que tudo fez, como se haverá aquela com as suas especulações? Não é a ciência que deve julgar a Bíblia; esta é que tem de julgar aquela. Aliás, nenhuma autoridade humana, por mais culta e sábia, detém direito de submeter as Escrituras aos seus crivos. Porque a Palavra de DEUS julga todas as coisas, discernindo-nos claramente tudo o que existe no Universo.
A inerrância bíblica é aceita como algo plenamente crível e coerente pela verdadeira ciência.
Em relação à arqueologia. A arqueologia vem sendo largamente utilizada para realçar quão firme é a doutrina da inerrância bíblica. Levemos em conta, porém, que ela, devido às suas limitações, nem sempre consegue reunr as evidências exigidas pelos céticos acerca dos eventos bíblicos. Jamais encontraremos, por exemplo, a arca da aliança (Jr 3.16), o Tabernáculo ou os castiçais que estavam no santo Templo. Além do mais, a História da Salvação, independentemente dos achados arqueológicos, exige ser aceita pela fé.
Imaginemos se a arca da aliança fosse encontrada. Transformar-se-ia logo tal evidência em relíquia e seria mais nociva à Bíblia Sagrada do que a falta de evidências quanto à sua inspiração divina e inerrância.
Uma questão de fé e de bom senso. Diante do exposto, convenhamos: a doutrina da inerrância das Sagradas Escrituras é perfeitamente razoável. Ê lógica e coerente. Acha-se em perfeita consonância com o bom senso, conquanto se encontre bem acima deste. E também uma questão de fé. Se alguém a rejeita, demonstra não possuir qualquer senso lógico.
A inerrância bíblica é absoluta. Não existe meia inerrância. Ou a Bíblia é a inerrante Palavra de DEUS ou é a errante e falível palavra do homem. O pensador Charles Colson afirmou, de forma categórica, que podemos aceitar integralmente a Bíblia; nela não há erros nem contradições. Mais adiante, conclui:
A Bíblia é historicamente precisa. As evidências refutaram muitas objeções feitas pelos críticos. Temos todas as razões para acreditar na exatidão dos textos do Novo Testamento.
Muitos dos homens que o escreveram eram hebreus, e os estudiosos concordam que os hebreus eram meticulosos, e suas transcrições, precisas.
O testemunho do Antigo Testamento. Lendo a Bíblia com sinceridade e singeleza de coração, convencemo-nos, de imediato: ela é, de fato, a inspirada e inerrante Palavra de DEUS. Suas reivindicações quanto à própria inerrância são irrespondíveis.
0 exórdio profético: “Assim diz o Senhor”. Através dessa fórmula clás­sica, os profetas de Jeová apresentavam-se a Israel como mensageiros do DEUS de Abraão, Isaque e Jacó (Ex 4.22; Is 30.15; Jr 6.16). Ao mesmo tempo, demonstravam: a Palavra que anunciavam não era propriamente sua; era do Senhor e, como tal, não continha qualquer erro.
Atesta-nos o apóstolo Pedro:
E temos, muiforme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia esclareça, e a estrela da alva apareça em vosso coração, sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida
por vontade de homem algum, mas os homens santos de DEUS falaram inspirados pelo ESPÍRITO SANTO.
A Palavra de DEUS é reta. Quando o salmista asseverou ser reta a Palavra do Senhor, quis ele deixar bem claro que nela inexistiam erros ou ilogicidades. Logo, ela é plena e absolutamente confiável: “Porque a palavra do Senhor é reta, e todas as suas obras são fiéis” (SI 33.4).
O que levou o salmista a se expressar dessa forma? Sabia ele muito bem que DEUS está presente em toda a sua Palavra. E o que professa Donald Grey Barnhouse: “O caminho mais curto para se entender a Bíblia é aceitar o fato de que DEUS está falando em cada linha”.
A Palavra de DEUS é pura. “Toda palavra de DEUS é pura; escudo é para os que confiam nele” (Pv 30.5). Por que fez o sábio semelhante assertiva? Ele confiava na inerrância das Sagradas Escrituras. Ao afirmar serem estas puras, estava reafirmando: elas não comportavam nenhum erro; são a mais alta expressão da verdade.
Pode o Autor divino cometer erros comezinhos quanto à geografia, cultura e etnografia? O pastor e teólogo inglês Matthew Henry testemunha acerca da inerrância absoluta da Bíblia: “As palavras das Escrituras devem ser consideradas palavras do ESPÍRITO SANTO”.
A Palavra de DEUS é eterna. Há documentos mais antigos que a Bíblia? Sua errância, entretanto, tornou-os de tal forma obsoletos e desatualizados que, hoje, somente são usados como peças paleográficas. Haja vista o Código de Hamurahi. Concernente à Bíblia, é a eterna contemporânea de todas as gera­ções. Na verdade, livros há que, embora vindos à luz depois das Escrituras, fizeram-se logo desatualizados; alguns não foram além da primeira edição.
Mas a Palavra de DEUS é eterna. Edith Deen escreveu: “A Bíblia jamais enve­lhece”. Diante de sua perenidade, cantou o profeta Isaías: “Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra de nosso DEUS subsiste eternamente” (Is 40.8).
Os escritores do Novo Testamento. Os autores do Novo Testamento asseveram a completa inerrância da Bíblia. Estes, que também escreveram inspirados pelo ESPÍRITO SANTO e de forma inerrante, atestam a infalibilidade das Sagradas Es­crituras? do Antigo Testamento. Para denotar a inspiração sobrenatural e infalível da Palavra de DEUS, usam os apóstolos várias expressões chave.
Gegraptai. Esta alocução significa, literalmente, “está escrito” (Rm 9.13). Warfield desta forma comenta a força dessa expressão: “Tudo o que for escrito como gegraptai tem caráter normativo porque é garantido pelo poder inescapável de Javé, Rei e Legislador”.
Ta logia. “Os oráculos de DEUS”. Em Romanos 3.2, lemos: “Aos judeus foram confiados os oráculos de DEUS”. O comentário a seguir é de Edwim A. Blum: “A interpretação mais adequada do texto de Romanos 3.2 remete a todo o Antigo Testamento, e não a passagens específicas dele”.
Graphe. Este vocábulo é usado no Novo Testamento, quer no singular, quer no plural, mais de cinquenta vezes. Shrenk dessa maneira discorre acerca dessa palavra: “De acordo com a concepção judaica tardia, a Escritura tem importância normativa, possui autoridade e é sagrada. Sua validade é permanente e incontestável”.
Ressaltamos que a Bíblia atesta a sua inerrância não somente quanto ao Antigo Testamento, mas, igualmente, quanto ao Testamento Novo (2 Pe 3.14-18; I Co 11.23; 14.37). Na Segunda Epístola de Paulo a Timóteo, deixa o apóstolo bem patente que toda a Escritura é inspirada: “Toda a Escritura é inspirada por DEUS...” (2 Tm 3.16, ARA).
O testemunho interno quanto à inerrância da Bíblia. Além de todos os testemunhos arrolados, há que se levar em conta, de igual forma, o testemunho interior do ESPÍRITO SANTO. Lendo as Sagradas Escrituras, sentimos que estamos diante da inspirada e inerrante Palavra de DEUS. Aliás, esta foi uma das maiores divisas da Reforma Protestante: Testimonium Spiritus Sancti internum.
Há uma passagem no Evangelho de Lucas que ilustra de modo surpreendente essa evidência. Refiro-me aos discípulos no caminho de Emaús. Ouvindo o Senhor JESUS discorrer-lhes sobre as passagens messiânicas do Antigo Testamento, um deles expressou o que ambos naquele momento sentiam: “Porventura, não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava e quando nos abria as Escrituras?” (Lc 24.32). O que é isso senão uma evidência do testemunho interno do ESPÍRITO SANTO?
Testemunhos externos. Os mais conceituados teólogos aceitam, defendem e proclamam a inerrância da Bíblia Sagrada como a infalível Palavra de DEUS. Têm-na como uma das colunas do cristianismo; sem ela, a nossa fé não teria qualquer razão de ser.
Tomás de Aquino é incisivo quanto a essa verdade: “Em parte alguma pode haver falsidade no sentido literal das Escrituras Sagradas”.
Agostinho também é contundente: “Creio firmemente que nenhum da­queles autores errou em qualquer aspecto quando escreveu”.
Martinho Lutero mostrou-se firme quanto à inerrância bíblica: “Aprendi a atribuir infalibilidade apenas aos livros chamados canônicos, de forma que creio confiantemente que nenhum de seus autores cometeu erros .
Charles Spurgeon, como príncipe dos pregadores, enuncia: “DEUS escreve com uma pena que nunca borra, fala com uma língua que nunca erra, age com uma mão que nunca falha”.

A INFALIBILIDADE DA BÍBLIA
Ao tratar da infalibilidade da Palavra de DEUS, ousadamente expressou-se Carl F. Henry: “Há apenas uma úmca coisa realmente inevitável: é necessário que as Escrituras se cumpram”. O que isso significa? Simplesmente que a Bíblia é infalível; as suas palavras hão de cumprir-se de maneira inexorável. Aliás, a infalibilidade da Escritura acha-se estreitamente ligada à sua inspiração e inerrância; somente um livro divina e singularmente inspirado poderia ser absolutamente infalível.
Tudo o que a Bíblia diz, cumpre-se; tudo o que promete, realiza-se; tudo o que prevê, acontece. A Palavra de DEUS não pode voltar vazia; antes, faz o que lhe apraz.
O que é a infalibilidade. E a qualidade, ou virtude, do que é infalível; é algo que jamais poderá falhar. Assim está escrito no Dicionário Teológico, de Claudionor de Andrade (CPAD), acerca da infalibilidade da Palavra de DEUS:
Doutrina que ensina ser a Bíblia infalível em tudo o que diz. Eis porque a Palavra de DEUS pode ser assim considerada: l) Suas promessas são rigorosamente observadas; 2)
Suas profecias cumprem-se deforma detalhada e clara (haja vista as Setenta Semanas de Daniel); 3) O Plano de Salvação é executado apesar das oposições satânicas. Nenhuma de suas palavras jamais caiu, nem cairá, por terra.
A Bíblia dá testemunho de sua infalibilidade. Muitas são as passagens que atestam a infalibilidade das Sagradas Escrituras. Isso significa que elas realmente são a Palavra de DEUS. Se Ele não mente nem volta atrás, porque seria diferente a sua Palavra? Vejamos o que os profetas e apóstolos disseram acerca da doutrina da infalibilidade da Bíblia.
Moisés. “Quando o tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra se não cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou o tal profeta; não tenhas temor dele” (Dt 18.22).
O cronista do Reino de Israel. “E crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra” (I Sm 3.19).
Daniel. “No ano primeiro do seu reinado, eu, Daniel, entendi pelos livros que o número de anos, de que falou o Senhor ao profeta Jeremias, em que haviam de acabar as assolações de Jerusalém, era de setenta anos” (Dn 9.2).
Mateus. “Tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor pelo profeta” (Mt 1.22).
JESUS. “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13.31).
Lucas. “Aos quais também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas e infalíveis provas, sendo visto por eles por espaço de quarenta dias e falando do que respeita ao Reino de DEUS” (At 1.3).
No Brasil, não são poucos os teólogos — e até seminários — que lançam suspeições sobre a infalibilidade das Sagradas Escrituras. Sob a influência da teo­logia alemã, que, abandonando os princípios de Lutero e Melanchton, presumem que um teólogo de vanguarda é aquele que até do supremo Ser duvida, não mais consideram a Bíblia Sagrada como a infalível Palavra de DEUS.
Ouvi um professor afirmar que a verdadeira teologia nasceu na Alemanha; foi estragada na Inglaterra e nos Estados Unidos; e é vorazmente consumida no Brasil. Não concordo com semelhante assertiva. Apesar dos avanços alemães na área de estudos bíblicos, opto por ficar com os teólogos anglo-americanos. Até ao presente momento, vêm estes — excetuando-se os liberais — mostrando, além do conheci­mento, uma prática de vida cuja piedade é incontestável.

A CLAREZA DA BÍBLIA
Quem se põe a ler as profecias de Nostradamus, se depara com um emaranha­do de palavras, frases e orações sem quaisquer nexos. Na obra desse falso profeta, qualquer interpretação é possível. Eis porque os charlatães, aproveitando-se da ingenuidade das gentes crédulas, jogam com aqueles versos, afirmando que Nos­tradamus é sempre atual. Mas, na realidade, quem entende aqueles cipoais?
No Brasil, onde o misticismo faz parte de nosso atribulado cotidiano, Nostrada­mus e seus congêneres nunca foram tão estudados. Cada vez que um cataclismo sacode o planeta, aparece um intérprete desse falso profeta; e, citando alguma centúria, força um cumprimento bobamente profético que, desmerecendo todas as leis da hermenêu­tica, parece atual, conquanto não passe de um emaranhado de frases sem nexo.
A Bíblia, porém, é clara e cristalinamente simples; as suas profecias não se escondem em possibilidades; mostram-se em cumprimentos e realizações. A clareza das Escrituras é uma das doutrinas mais surpreendentes da Palavra do Senhor; mostra-nos que podemos confiar num DEUS que se comunica conosco em nossa linguagem; sua mensagem, posto encontrar-se acima de nossa razão, não a contraria; surpreende-a com coisas grandes e jamais cogitadas.
Consideremos, pois, a clareza das Sagradas Escrituras.
O que é clareza, “Qualidade do que é claro, inteligível e perfeitamente compre­ensível”. A clareza é conhecida também como perspicuidade.
Definição teológica. A clareza da Bíblia é uma de suas principais características através da qual se torna ela plenamente inteligível aos que se dispõem a examina-la com um coração reto, humilde e predisposto a aceitá-la como a inspirada infalível e inerrante Palavra de DEUS.
O testemunho a Bíblia quanto à sua clareza. Nas Sagradas Escrituras, deparamos-nos com muitos testemunhos acerca de sua clareza. No Salmo 19, lemos: “A lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma; o testemunho do Senhor é fiel e à sabedoria aos símplices” (Sm 19.7).
Mais adiante, canta o salmista: “A exposição das tuas palavras dá luz e dá en­tendimento aos símplices” (Sm 119.130). Consideremos, ainda, este mandamento do Senhor por intermédio de Moisés: “E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te” (Dt 6.6,7).
Ora, se uma criança é capaz de entender a Palavra de DEUS, como um adulto ilustrado não a entenderá? Aliás, é a Bíblia tão simples que, para se compreendê-la, é mister que nos façamos como as crianças: com um coração puro, ouçamos a voz do Senhor.

A SUPREMACIA DA BÍBLIA EM MATÉRIA DE FÉ E PRÁTICA
“A autoridade da Bíblia não provém da capacidade de seus autores humanos, mas do caráter de seu Autor” — foi o que afirmou J. Blanchard. Se a autoridade da Bíblia é absoluta, como haveremos nós de questioná-la? Se a nossa autoridade é limitada, a da Bíblia não conhece limites; é suprema em matéria de fé e prática. Por conseguinte, que nenhum órgão eclesiástico desafie o que nos legaram os profetas hebreus e os apóstolos de nosso Senhor JESUS CRISTO.
Assim como Israel acatava sem questionar os oráculos do Eterno; e assim a igreja primitiva curvava-se ante a autoridade das Sagradas Escrituras, devemos nós agir, em temor e grande tremor, a fim de que sejamos havidos como filhos de DEUS.
No Brasil, onde a fé evangélica ainda é pura e conserva a simplicidade dos que nos trouxeram a fé, questionar a supremacia da Bíblia Sagrada é algo inima­ginável. Desde criança, aprendi: quando a Bíblia fala já não precisamos ter voz alguma. Infelizmente, vêm aparecendo, nalguns seminários e faculdades teológicas, algumas vozes atrevidas e postulantes que — embaladas pelo orgulho do ungido querubim — põem-se a questionar não somente a Palavra de DEUS como ao próprio ESPÍRITO que a inspirou.
Vejamos, em primeiro lugar, o que é a autoridade da Bíblia e em que ela consiste.
Definição. Oriunda do vocábulo latino autoritatem, esta palavra significa: “direito absoluto e inquestionável de se fazer obedecer, de dar ordens, de estabelecer decretos e, de acordo com estes, tomar decisões e agir a fim de que cada decreto seja rigorosamente observado”.
Definição teológica. “Poder absoluto e inquestionável reivindicado, demonstrado e sustentado pela Bíblia em matéria de fé e prática. Tal autoridade advém-lhe do fato de ela ser a inspirada, inerrante e infalível Palavra de DEUS” (Dicionário Teológico, da CPAD).
Testemunho da Bíblia a respeito de sua autoridade. A Palavra de DEUS diz:
A lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva (Is 8.20).
E os teus ouvidos ouvirão a palavra que está por trás de ti, dizendo: Este é o caminho; andai nele, sem vos desviardes nem para a direita nem para a esquerda
(Is 30.21).
Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor (l Co 14.37).
Uma das maiores virtudes da Reforma Protestante foi resgatar, no seio da cristandade, a supremacia da Bíblia Sagrada em matéria de fé e prática. Até en­tão se renegava a doutrina dos apóstolos e dos profetas, colocando a tradição da Igreja Católica Romana acima das Sagradas Escrituras. E, com isso, cometiam-se os maiores absurdos em nome de JESUS CRISTO. Haja vista as Cruzadas, o Tribunal da Inquisição e as perseguições contra os que ousavam pensar diferentemente da hierarquia romana.
Os reformadores, porém, guiados pelo ESPÍRITO SANTO, recolocaram as Sagradas Escrituras no lugar onde elas sempre deveriam estar: no centro da igreja de nosso Senhor JESUS CRISTO, legislando sobre a doutrina e acerca da conduta dos cristãos.

A COMPLETUDE DA BÍBLIA

Há duas verdades quanto às Escrituras Sagradas que andam de mãos dadas: sua autoridade e completude; é impossível dissociá-las. A primeira é a palavra final em matéria de fé e prática; a segunda não admite quaisquer autoridades que contrariem a Bíblia, quer diminuindo-lhe a revelação, quer acrescentando outros dados além daqueles que nos foram apresentados pelo Senhor através da inspiração do ESPÍRITO SANTO. A seguir, veremos a importância da comple­tude bíblica.
Definição. Completude é aquilo que, pela excelência de suas qualidades, sa­tisfaz plenamente, não admitindo acréscimos nem diminuições; é aquilo que é suficiente por si mesmo.
Definição teológica. Assim Wayne Gruden define a completude das Sagradas Escrituras:
A Bíblia contém todas as palavras divinas que DEUS quis dar ao seu povo em cada estágio da história da redenção e que hoje contém todas as palavras de DEUS de que precisamos para a salvação, para que, de maneira perfeita, nele possamos confiar e a ele obedecer.
O testemunho da Bíblia quanto à sua suficiência. Dessa forma, exorta Paulo ao jovem m Timóteo: “E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em CRISTO JESUS” (2 Tm 3.15).
A seguir, o mesmo apóstolo mostra a inspiração como prova da completude da Bíblia: “Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm 3.16).
Bem antes de Paulo o legislador dos hebreus, Moisés, exorta Israel a que preserve a doutrina da completude da Palavra de DEUS: “Nada acrescentareis à palavra que vos mando, nem dimimuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor, vosso DEUS, que eu vos mando” (Dt 4.2).
Finalmente, no último livro do cânon sagrado, deixa-nos João esta seriíssima advertência:
Porque eu testifico a todo aquele que: ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém íles acrescentar alguma coisa, DEUS fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e; se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, DEUS tirará a sua parte da árvore da vida e da Cidade Santa, que estão escritas neste livro. Aquele que testifica estas coisas diz: Certamente, cedo venho. Amém! Ora, vem, Senhor Jesus! A graça de nosso Senhor JESUS CRISTO seja com todos vós. Amém! (Ap 22.18-2).
Certa vez, foi lançado um livro, nos Estados Unidos, que — garganteavam seus autores — seria a mais perfeita complementação da Bíblia Sagrada. Tra­zendo o “irrevelável” e colocando à disposição dos simples e incautos mortais as palavras seladas de Daniel, a súmula da visão de Paulo e a interpretação das vozes ouvidas por João no Apocalipse, o referido livro era de tal forma pode­roso que, apropriando-se alguém dele, não se sustinha em pé; era de imediato arrojado por terra.
Quando a obra me chegou às mãos, examinei-a para constatar apenas ímpropriedades lógicas, erros gramaticais, estilo paupérrimo e aleijões doutrinais que, ultra­passando as raias do bom senso, já resvalavam aqui para a heresia, já escorregavam ali para a apostasia, já deslizavam mais além para as garras do pai da mentira.
Se estudarmos atentamente as heresias, constataremos: a maioria delas surgiu porque os seus autores desconheciam esta verdade elementar: a Bíblia é completa em si mesma. O seu cânone foi encerrado quando João recebeu do Senhor a visão das coisas que, brevemente, devem acontecer. E os pais da igreja, sabedores disso, houveram por bem recusar todos os livros que não tinham condições de figurar no cânon da Bíblia Sagrada.
A Bíblia, pois, não necessita de quaisquer acréscimos: ela é completa em si mesma. Os pentecostais devemos estar atentos a esse artigo de fé e jamais per­mitir que o dom de profecia, por exemplo, seja exercido de maneira abusiva por alguém que, já não aceitando ser usado pelo ESPÍRITO SANTO, presume-se muito superior ao Consolador. Ao coríntios, deixa Paulo uma exortação mui oportuna. Afirma o apóstolo que, se alguém busca arrogar-se como profeta ou espiritual, deve saber que as coisas escritas por ele são mandamentos do Senhor.
Como interpretar corretamente a Bíblia
Em seu excelente livro Cristianismo em Crise, Hank Hanegraaff, utilizando a palavra ligths, em inglês, mostra como se deve interpretar as Sagradas Escrituras. Fugindo ao extremismo da interpretação alegórica de Orígenes, e não se detendo naqueles que tudo procuram interpretar de forma literal, mostra-nos Hanegraaff que a Bíblia tem de ser interpretada com muito equilíbrio e precisão.
Fazendo um acróstico da palavra ligths, traduzida por luzes em português, dá-nos ele uma perfeita síntese da verdade hermenêutica:

L — Interpretação Literal
— Iluminação Espiritual G — Princípios Gramaticais H — Contexto Histórico T — Ensino Teológico S — Simetria Bíblica
Apesar de o acróstico ter sido feito para o inglês, adapta-se muito bem ao português.
Interpretação literal. Devemos interpretar a Bíblia de modo natural, levando em consideração o que as palavras, em si, realmente significam. Quando nos depa­rarmos como uma parábola, ou com uma metáfora, interpretemo-las de acordo com o método metafórico. Se o Senhor JESUS, pois, afirma que é a porta, não devemos imaginar madeira, dobradiças e trancas. Mas, se Ele declara ser o Filho de DEUS, por que buscar, nesta passagem, alguma alegoria? O mesmo princípio tem de ser aplicado aos demais textos das Escrituras.
Iluminação espiritual Se acreditamos, de fato, ser o ESPÍRITO SANTO o inspirador da Palavra de DEUS, é mister crer que, na leitura e interpretação da Bíblia, pode­mos contar com a sua iluminação.
Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que DEUS preparou para os que o amam. Mas DEUS no-las revelou pelo seu ESPÍRITO; porque o ESPÍRITO penetra todas as coisas, ainda as profundezas de DEUS. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de DEUS, senão o ESPÍRITO de DEUS (I Co 2.9-11).
De que forma advém-nos a iluminação? Diz o autor sagrado que a exposição da Palavra de DEUS dá-nos luz. Lembremo-nos ainda da exposição que o mesmo Senhor fez aos discípulos no caminho de Emaús. Enquanto Ele expunha-lhes as Escrituras, sentiam-se eles como que os seus corações ardessem. E foi assim que os viajores passaram a entender que JESUS era, realmente, o Filho de DEUS.
Princípio gramatical. Na interpretação da Bíblia, levemos em consideração que foi ela escrita de conformidade com as regras gramaticais. Logo, deve ser interpretada também segundo as mesmas regras. Eis porque é de suma importância ao leitor das Escrituras conhecer as regras básicas da gramática e da sintaxe.
Contexto histórico. Não nos esqueçamos de que a Bíblia foi escrita num contexto histórico-cultural específico. Significa isso que deve ela ser interpretada tendo-se em conta este mesmo contexto. Eis porque é mister que entendamos como viviam os judeus dos tempos bíblicos: suas casas, roupas, profissões, relações sociais, culto, etc. Temos hoje não poucos manuais que nos auxiliam nessa grande tarefa.
Ensino teológico. Embora possamos examinar livremente a Bíblia Sagrada, não podemos descurar o trabalho dos mestres e dos que se afadigam na interpretação da Palavra de DEUS. Afinal de contas, os mestres foram-nos dados por CRISTO, a fim de que nos aperfeiçoem no conhecimento divino (Ef 4.11).
O eunuco etíope, apesar de ler regularmente a Bíblia, como depreendemos do texto de Atos, só veio a entender o caminho da salvação quando Filipe, sentando- se ao seu lado, pôs-se a falar-lhe de JESUS CRISTO, o Filho de DEUS.
Por conseguinte, o ensino teológico é imprescindível na interpretação das Sagradas Escrituras.
Simetria bíblica. O mais forte dos princípios da hermenêutica sagrada é que a Bíblia interpreta-se a si mesma. Por isso, não podemos, sob hipótese alguma, fazer doutrinas a partir de passagens isoladas, pois devem estas se harmonizar com o todo. Aí está a simetria. E justamente a harmonia resultante entre as partes e o todo.
Escrita num período de 1.600 anos por quarenta autores das mais variadas ocu­pações, a simetria da Bíblia é absoluta. Portanto, ela não entra em contradição consigo mesma, desde que interpretada de conformidade com as regras da hermenêutica.

Conclusão
Como filhos de DEUS, não podemos nos afastar jamais das Sagradas Escritu­ras; destas, todos dependemos vitalmente. Quanto mais as lermos, mais íntimos seremos de seu Autor. Os maiores santos e campeões de DEUS fizeram-se tão afeiçoados à Bíblia que vieram a ser confundidos com o Livro dos livros.
E nós? Como nos haveremos diante da Bíblia Sagrada? Não podemos relega-la a um plano terciário: tanto na igreja de CRISTO como em nossa vida, deve ela ocupar sempre o primeiro lugar. Se assim não a considerarmos, jamais nos tor­naremos aptos para a vida eterna.
Houve um tempo, em nossa pátria, em que os crentes éramos de tal forma iden­tificados com a Bíblia Sagrada que os incrédulos taxavam-nos de “os bíblias”.
Zombando dos santos que, altaneiramente, iam para o templo levando a sua Bíblia junto ao peito, não imaginavam aqueles escarnecedores que as suas palavras, antes de nos constituírem uma afronta, eram-nos um louvor singular. Aliás, se de fato somos povo de DEUS, temos de ser identificados com o Livro de DEUS. Nós também, à semelhança dos israelitas, somos o povo do livro.
Dê o significado da palavra “Bíblia”, mencionada neste capítulo.
O que abrange a Bibliologia; isto é, em que consiste esta matéria?
Qual é o perigo do avanço do liberalismo teológico em faculdades e seminários outrora ortodoxos?
Em que consiste a autoria divino humana da Bíblia?
Cite pelo menos dois textos da Bíblia que comprovem a sua inspiração divina.
A Bíblia foi escrita por quantos autores, e num período de quantos anos?
Por que a Bíblia é o único livro contemporâneo de toda a huma­nidade, em todas as eras?
Qual é a posição dos teólogos liberais quanto à inspiração plenária das Escrituras?
O que é o racionalismo teológico?
Explique por que a posição neo-ortodoxa é equivocada.
Por que deve o hermeneuta ortodoxo abraçar a posição conservadora?
Em qual século o herege Marcião se insurgiu contra as Sagradas Escrituras, e de que forma fez ele isso?
Por que Atanásio tornou-se conhecido como o pai da ortodoxia?
Assinale apenas a alternativa correta e justifique a sua res­posta. A comunidade de fé pentecostal', formada principalmente pelas Assembleias de DEUS, sempre acreditou ser a Bíblia...
Inspirada, errante, infalível e completa Palavra de DEUS.
Inspirada, inerrante, falível e incompleta Palavra de DEUS.
Inspirada, errante, infalível e imcompleta Palavra de DEUS.
Inspirada, inerrante, infalível e completa Palavra de DEUS.
Explique o processo de canonização. Como ele se deu?
Cite as três evidências da inspiração divina da Bíblia e explique-as.
O que é a inerrância bíblica?
Quais são as três expressões chave usadas pelos apóstolos para de­finir a inspiração sobrenatural e infalível da Palavra de DEUS?
Mencione pelo menos três passagens bíblicas que confirmem a infalibilidade das Escrituras.
Cite os passos hermenêuticos contidos no acróstico lights.
 
Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - Teologia Sistemática - Myer Pearman - EDITORA VIDA
 
I. A necessidade das Escrituras
"Que é a verdade?" perguntou Pilatos, e o tom de sua voz inferiu que em vão se buscaria essa qualidade.
Se não houvesse um meio de chegar ao conhecimento de DEUS, do homem e do mundo, Pilatos então teria razão.
Mas não há razão de andar às apalpadelas nas dúvidas e no ceticismo, porque existe um livro — as Sagradas Escrituras — que "podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em CRISTO JESUS" (2 Tim. 3:15).

1. Essa revelação é desejável.
O DEUS que criou o universo só pode ser um DEUS sábio, e um DEUS sábio certamente terá um propósito para suas criaturas. Negligenciar esse propósito é loucura e contrariá-lo constitui pecado. "Mas, como se verifica com certeza o propósito divino? A história prova que os homens chegam a conclusões muito diversas e muitas pessoas não chegam a conclusão nenhuma! A experiência demonstra que esse problema não se resolve somente pelos estudos. Alguns não dispõem de tempo suficiente, e outros, ainda que tenham o desejo, não possuem a habilidade; mesmo que alcançassem êxito, suas conclusões seriam alcançadas lentamente e com grande desconfiança. Os sábios são capazes de levantar escadas de pensamentos no esforço de alcançarem as verdades celestiais, mas a escada mais elevada ainda estaria muito aquém da necessidade. "O mundo pela sabedoria (filosofia) não conheceu a DEUS." As verdades que informam o homem como passar da terra para o céu devem ser enviadas do céu à terra. Em outras palavras, o homem precisa de uma revelação.

2. Essa revelação é de se esperar.
A natureza é a revelação de DEUS que se alcança pela razão. Mas quando o homem está algemado pelos seus pecados e sobrecarregada a alma, a natureza e a razão são impotentes para esclarecer e aliviar a situação. Vamos permitir que os homens da razão testifiquem. Disse Kant, um dos maiores pensadores de todos os tempos, acerca dos cristãos: "Fazem bem em basear a sua paz e piedade nos Evangelhos porque somente neles está a fonte das verdades profundas e espirituais, depois de a razão haver explorado em vão todas as possibilidades." Outro físico de renome, Hegel, quando estava no leito de morte, não permitiu que se lesse nenhum outro livro para ele a não ser a Bíblia. Ele disse que no caso de se prolongar a sua vida ele faria desse Livro o seu único estudo, pois nele encontrara o que a razão não lhe pudera proporcionar.
Se existe um bom DEUS, como cremos, é razoável crer que ele conceda às suas criaturas uma revelação pessoal de si mesmo. Assim escreveu David S. Clarke:" não podemos crer que um pai se oculte para sempre de seu filho, sem nunca se comunicar com ele. Nem tampouco podemos imaginar um DEUS que retivesse o conhecimento do seu ser e de sua vontade, ocultando-o às suas criaturas que ele criara à sua própria imagem.
DEUS fez o homem capaz e desejoso de conhecer a realidade das coisas. Será que ele ocultaria uma revelação que satisfizesse esse anelo? A mitologia egípcia antiga conta a história da fabulosa Esfinge que propunha enigmas aos transeuntes e como os matava quando não lhe podiam decifrá-los. Não é de crer que um DEUS amoroso e sábio permita que o homem pereça por falta de conhecimento, perplexo diante do enigma do universo. E o Dr. Hodges escreve: "A inteligência divina nos leva a crer que DEUS tenha adaptado os meios ao fim, e que ele, enfim, coroará essa natureza religiosa com uma religião sobrenatural. A benevolência de DEUS nos conduz a esperar que ele solucione a grave perplexidade e evite o perigo para as suas criaturas. A justiça de DEUS nos conduz à esperança de que falará ele em tons claros e com autoridade à nossa consciência."

3. Essa revelação deveria estar em forma escrita.
É razoável que sua mensagem tomasse forma de livro. Como disse o Dr. Keyser: "Os livros representam o melhor meio de preservar a verdade em sua integridade e transmiti-la de geração a geração. A memória e a tradição não merecem confiança. Portanto, DEUS agiu com a máxima sabedoria e também dum modo normal dando ao homem a sua revelação em forma de livro. De nenhuma outra maneira, pelo que podemos ver, podia ter ele entregue aos homens um ideal infalível que estivesse acessível a todos os homens e que continuasse intacto através dos séculos e do qual todos os povos pudessem obter a mesma norma de fé e prática."
É razoável concluir que DEUS inspirasse os seus servos a arquivarem essas verdades, verdades que não poderiam ser descortinadas pela razão humana. E, finalmente, é razoável crer que DEUS tivesse preservado, por sua providência, os manuscritos das escrituras bíblicas e que tivesse influenciado a sua igreja a incluir no cânon sagrado somente os livros que fossem divinamente inspirados.
 
II. A inspiração das Escrituras
É possível que haja uma religião divina sem uma literatura inspirada. O professor Francis L. Patton observa: Se o simples testemunho histórico prova que JESUS operou milagres, pronunciou profecias e proclamou a sua divindade — se pode ser demonstrado que ele foi crucificado para redimir os pecadores, e que foi ressuscitado dentre os mortos e que fez com que o destino dos homens dependesse de aceitá-lo como o seu Salvador então, sejam inspirados ou não os registros, aí daquele que descuidar de tão grande salvação."
Todavia, não tomaremos mais tempo com isso, pois não existe nenhuma dúvida quanto à inspiração da Bíblia. "Toda a Escritura é divinamente inspirada" (1iteralmente: "é dada pelo sopro de DEUS"), declara Paulo. (2 Tim. 3:16.) "Porque a profecia não foi antigamente produzida por vontade de homem algum", escreve Pedro, "mas os homens santos de DEUS falaram, inspirados pelo ESPÍRITO SANTO" (2 Pedro 1:21).
Assim define Webster a inspiração: "A influência sobrenatural do ESPÍRITO de DEUS sobre a mente humana, pela qual os profetas, apóstolos e escritores sacros foram habilitados para exporem a verdade divina sem nenhuma mistura de erro."
Segundo o Dr. Gaussen, "é o poder inexplicável que o ESPÍRITO Divino exerce sobre os autores das Escrituras, em guiá-los até mesmo no emprego correto das palavras e em preservá-los de todo erro, bem como de qualquer omissão".
Assim escreveu o Dr. William Evans: "A inspiração divina, como é definida por Paulo nesta passagem (2 Tim. 3:16), é a forte inspiração espiritual de DEUS sobre os homens, capacitando-os a expressarem a verdade; é DEUS falando pelos homens, e, por conseguinte, o Antigo Testamento é a Palavra de DEUS. é como se o próprio DEUS houvesse falado cada palavra do livro. As Escrituras são o resultado da divina inspiração espiritual, da mesma maneira em que o falar humano é efetuado pela respiração pela boca do homem." Podemos dizer que a declaração de Pedro revela que o ESPÍRITO SANTO estava presente duma maneira especial e milagrosa sobre os escritores das Escrituras, revelando-lhes as verdades que antes não conheciam e guiando-os também no registro dessas verdades e dos acontecimentos, dos quais eram testemunhas oculares, de maneira que as pudessem apresentar com exatidão substancial ao conhecimento de outrem.
Alguém poderia julgar, pela leitura dos vários credos do Cristianismo, tratar-se de assunto bastante complexo, cheio de enigmas teológicos e tumultuado por definições obscuras. Mas esse não é o caso. As doutrinas no Novo Testamento, como originalmente expostas, são simples e se podem definir de maneira simples. Mas, com o passar dos tempos, a igreja teve de enfrentar doutrinas e opiniões erradas e defeituosas e, por conseguinte, se viu obrigada a cercar as doutrinas certas e protegê-las com definições. Deste processo de definições exatas e detalhadas surgiram os credos. As declarações doutrinárias ocuparam uma parte importante e necessária na vida da igreja, e constituíram impedimento a seu progresso unicamente quando uma aquiescência formal a essas doutrinas veio substituir a viva fé.
A doutrina da inspiração, como é apresentada na Palavra, é relativamente simples, mas o surgimento de idéias errôneas criou a necessidade de proteger a doutrina certa com definições completas e detalhadas. Contra certas teorias, é necessário afirmar que a inspiração das Escrituras é a seguinte:

1. Divina e não apenas humana.
O modernista identifica a inspiração das Escrituras Sagradas com o mesmo esclarecimento espiritual e sabedoria de que foram dotados tais homens como: Platão, Sócrates, Browning, Shakespeare e outros gênios do mundo literário, filosófico e religioso. A inspiração, dessa forma, seria considerada apenas uma coisa puramente natural. Essa teoria rouba à palavra inspiração todo o seu significado e não combina, em absoluto, com o caráter sobrenatural e único da Bíblia.

2. Única e não comum.
Alguns confundem a inspiração com o esclarecimento. Refere-se à influência do ESPÍRITO SANTO, comum a todos os cristãos, influência que os ajuda a compreender as coisas de DEUS. (1 Cor. 2:4; Mat. 16:17.) Eles mantêm a opinião de que esse esclarecimento espiritual seja a explicação adequada sobre a origem da Bíblia. Existe uma faculdade nos homens, assim ensinam eles, pela qual se pode conhecer a DEUS — uma espécie de olho da sua alma. Quando os homens piedosos da antiguidade meditavam em DEUS, o ESPÍRITO Divino vivificava essa faculdade, dando-lhes esclarecimentos dos mistérios divinos.
Tal esclarecimento é prometido aos crentes e tem sido experimentado por eles. Mas este esclarecimento não é o mesmo que inspiração. Sabemos, segundo está escrito em 1Ped. 1:10-12, que às vezes os profetas recebiam verdades por inspiração e lhes era negado esclarecimento necessário à sua compreensão dessas mesmas verdades. O ESPÍRITO SANTO inspirou-lhes as palavras mas não achou por bem conceder-lhes a compreensão do seu significado. Descreve-se Caifás como sendo o veículo duma mensagem inspirada (se bem que o foi inconscientemente), apesar de não estar ele pensando em DEUS. Nesse momento ele foi inspirado mas não esclarecido. (João 11:49-52.)
Notemos duas diferenças especificas entre o esclarecimento e a inspiração:
1) Quanto à duração, o esclarecimento é, ou pode ser, permanente. "Porém a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito" (Prov. 4:18). A unção que o crente recebeu do ESPÍRITO SANTO permanece nele, diz o apóstolo João (1 João 2:20-27). Por outro lado, a inspiração também era intermitente; o profeta não podia profetizar à vontade, porém estava sujeito à vontade do ESPÍRITO. "Porque a profecia não foi antigamente produzida por vontade de homem algum", declara Pedro, "mas os homens santos de DEUS falaram, inspirados pelo ESPÍRITO SANTO" (2 Pedro 1:21). Que a inspiração profética viesse repentinamente está implícita na expressão comum: "A palavra do Senhor veio" a este ou àquele profeta. Uma distinção clara se faz entre os verdadeiros profetas, que profetizam unicamente quando lhes vem a palavra do Senhor, e os profetas falsos que proferem uma mensagem de sua própria invenção. (Jer. 14:14; 23:11, 16; Ezeq. 13:2, 3.)
2) O esclarecimento admite a graduação, enquanto a inspiração não admite graduação alguma. Varia de pessoa para pessoa o grau de esclarecimento, mas no caso da inspiração, no sentido bíblico, a pessoa ou recebeu ou não recebeu a inspiração.

3. Viva e não mecânica.
A inspiração não significa ditado, no sentido de que os escritores fossem passivos, sem que tomassem parte as suas faculdades no registro da mensagem, embora sejam algumas porções das Escrituras ditadas, como por exemplo os Dez Mandamentos e a Oração Dominical. A própria palavra inspiração exclui o sentido de ação meramente mecânica, e a ação mecânica exclui qualquer sentido de inspiração. Por exemplo, um homem de negócios não inspira sua secretária ao ditar-lhe as cartas. DEUS não falou pelos homens como quem fala por um alto falante. Antes seu Divino ESPÍRITO usou as suas faculdades mentais, produzindo desta maneira uma mensagem perfeitamente divina, e que, ao mesmo tempo, conservasse os traços da personalidade do autor. Embora seja a Palavra do Senhor, é ao mesmo tempo, em certo sentido, a palavra de Moisés, ou de Paulo.
"DEUS nada fez a não ser pelo homem; o homem nada fez, a não ser por DEUS. é DEUS quem fala no homem, é DEUS quem fala pelo homem, é DEUS quem fala como homem, é DEUS quem fala a favor do homem."
O fato de haver cooperação divina e humana na produção duma mensagem inspirada é bastante conhecido; mas "como" se processa esta cooperação é mais difícil de explicar. Se o entrosamento de mente e corpo já é um mistério demasiado grande, mesmo para o homem mais sábio; quanto mais não é o entrosamento do ESPÍRITO de DEUS e o espírito do homem!

4. Completa e não somente parcial.
Segundo a teoria da inspiração parcial, os escritores seriam preservados do erro em questões necessárias à salvação dos homens, mas não em outras matérias como sejam: história, ciência, cronologia e outras semelhantes. Portanto, segundo essa opinião, seria mais correto dizer que "A Bíblia contém a Palavra, em lugar de dizer que é a Palavra de DEUS".
Essa teoria nos submergiria num pântano de incertezas, pois quem pode, sem equívoco, julgar o que é e o que não é essencial à salvação? Onde está a autoridade infalível que decida qual parte é a Palavra de DEUS e qual não o é? E se a história da Bíblia é falha, então a doutrina também o é, porque a doutrina bíblica se baseia na história bíblica. Finalmente, as Escrituras mesmas reivindicam para si a inspiração plenária. CRISTO e seus apóstolos aplicaram o termo "Palavra de DEUS" a todo o Antigo Testamento.

5. Verbal e não apenas de conceitos.
Segundo outra teoria, DEUS inspirou os pensamentos mas não as palavras dos escritores. Isto é, DEUS inspirou os homens, e deixou ao critério deles a seleção das palavras e das expressões. Mas a ênfase bíblica não está nos homens inspirados, mas sim nas palavras inspiradas. "Havendo antigamente falado aos pais pelos profetas" (Heb. 1:1). "Homens santos de DEUS falaram inspirados pelo ESPÍRITO SANTO" (2 Pedro 1:21). Ainda mais, é difícil separar a palavra do pensamento; um pensamento é uma palavra antes de ser ela proferida. ("não comeceis a dizer em vossos corações"; "o tolo disse em seu coração"); uma palavra é um pensamento ao qual se deu expressão. Pensamentos divinamente inspirados naturalmente teriam sua expressão em palavras divinamente inspiradas. Paulo nos fala de "palavras ensinadas pelo ESPÍRITO" (1Cor. 2:13). Finalmente, uma simples palavra é citada como sendo o fundamento de doutrinas básicas. (João 10:35; Mat. 22:42-45; Gál. 3:16; Heb. 12:26, 27.)
Precisamos fazer distinção também entre a revelação e a inspiração. Por revelação queremos dizer aquele ato de DEUS pelo qual ele dá a conhecer o que o homem por si mesmo não podia saber; por inspiração queremos dizer que o escritor é preservado de qualquer erro ao escrever essa revelação. Por exemplo, os Dez Mandamentos foram revelados, e Moisés foi inspirado ao registrá-los no Pentateuco.
A inspiração nem sempre implica revelação; por exemplo, Moisés foi inspirado a registrar eventos que ele mesmo havia presenciado e que dessa maneira estavam dentro do âmbito do seu próprio conhecimento. Distingamos também entre as palavras inspiradas e os registros inspirados. Por exemplo, muitos dizeres de Satanás são registrados nas Escrituras e sabemos que o diabo certamente não foi inspirado por DEUS ao proferi-los; mas o registro dessas expressões satânicas foi inspirado.
 
III. A verificação das Escrituras
1. Elas reivindicam inspiração.
O Antigo Testamento declara-se escrito sob uma inspiração especial de DEUS. A expressão "e DEUS disse", ou equivalente, é usada mais de 2.600 vezes. A história, a lei, os salmos e as profecias são declarados escritos por homens sob inspiração especial de DEUS. (Vide Êxo. 24:4; 34:28; Jos, 3:9; 2 Reis 17:13; Isa.34:16; 59:21; Zac. 7:12; Sal. 78:1; Prov. 6:23.) CRISTO mesmo sancionou o Antigo Testamento, citou-o e viveu em harmonia com os seus ensinos. Ele aprovou a sua veracidade e autoridade (Mat. 5:18; João 10:35; Luc. 18:31-33; 24:25, 44; Mat.23:1, 2; 26:54). E o mesmo fizeram os apóstolos. (Luc. 3:4; Rom. 3:2; 2 Tim. 3:16; Heb. 1:1; 2 Pedro 1:21; 3:2; Atos 1:16; 3:18; l Cor. 2:9-16.)
Arroga-se o Novo Testamento uma inspiração semelhante? Quanto à inspiração dos Evangelhos é garantida pela promessa de CRISTO de que o ESPÍRITO traria à mente dos apóstolos todas as coisas que ele lhes havia ensinado, e que o mesmo ESPÍRITO os guiaria em toda verdade. Em todo o Novo Testamento ele se declara uma revelação mais completa e clara de DEUS do que aquela dada no Antigo Testamento, e com absoluta autoridade declara a ab-rogação das leis antigas. Portanto, se o Antigo Testamento é inspirado, a mesma inspiração deve ter o Novo. Parece que Pedro procura colocar as epístolas de Paulo no mesmo nível dos livros do Antigo Testamento, (2 Ped. 3:15,16), e Paulo e os demais apóstolos afirmam falar com a autoridade divina, (1 Cor. 2:13; 14:31; 1Tess. 2:13; 4:2; 2 Ped. 3:2; l João 1:5; Apoc. 1:1.)

2. Dão a impressão de serem inspiradas.
As Escrituras se dizem inspiradas; um exame delas revelará o fato de que seu caráter sustenta essa posição. A Bíblia, ao se apresentar em juízo, o faz com bom testemunho! Quanto a seus autores, foi ela escrita por homens cuja honestidade e integridade não podem ser postas em dúvida; quanto ao seu conteúdo, há nele a mais sublime revelação de DEUS ao mundo; quanto à influência, tem trazido a luz salvadora às nações e indivíduos, e possui um poder infalível para guiar os homens a DEUS e transformar-lhes o caráter; quanto à sua autoridade, desempenha o papel dum tribunal supremo em assuntos religiosos, de maneira que até mesmo os cultos falsos são obrigados a citar suas palavras para poderem impressionar o público.
Falam sobre coisas especificas. Notemos:
1) Sua exatidão. Nota-se a ausência total dos absurdos que se encontram em outros livros "sagrados". não lemos, por exemplo, que a terra saísse dum ovo, tendo transcorrido certo número de anos para a sua incubação, descansando ele sobre uma tartaruga; a terra rodeada por sete mares de água salgada, suco de cana, bebidas alcoólicas, manteiga pura, leite coalhado, etc. Escreve o Dr. D. S. Clarke: "Há uma diferença insondável entre a Bíblia e qualquer outro livro. Essa diferença deve-se à sua origem."
2) Sua unidade. Contendo sessenta e seis livros, escritos por uns quarenta diferentes autores, num período de mais ou menos mil e seiscentos anos, abrangendo uma variedade de tópicos, ela, no entanto, demonstra uma unidade de tema e propósito que só se explica como tendo ela uma mente diretriz.
3) Quantos livros suportam serem lidos mesmo duas vezes? Mas a Bíblia pode ser lida centenas de vezes sem se poder sondar suas profundezas ou sem que se perca o interesse do leitor.
4) A sua assombrosa circulação, estando já traduzida em milhares de idiomas e dialetos, e lida em todos os países do mundo.
5) O tempo não a afeta. é um dos livros mais antigos do mundo e ao mesmo tempo o mais moderno. A alma humana nunca a pode dispensar. O pão é um dos alimentos mais antigos, e ao mesmo tempo o mais moderno. Enquanto os homens tiverem fome, desejarão o pão para o corpo; e enquanto anelarem por DEUS e as coisas eternas, desejarão a Bíblia.
6) Sua admirável preservação em face de perseguição e a oposição da ciência. "Os martelos se gastam mas a bigorna permanece."

3. Sente-se que são inspiradas.
"Mas será que você crê naquele livro?" disse um professor de um colégio de Nova York a uma aluna que havia assistido às classes bíblicas. "Oh, sim," ela respondeu; "acontece que conheço pessoalmente o Autor." Ela declarou a mais ponderável razão de crer na Bíblia como a Palavra de DEUS; a saber, o seu apelo ao nosso conhecimento pessoal, falando em tom que nos faz sentir sua origem divina.
A Igreja Romana assevera que a origem divina das Escrituras depende, em última análise, do testemunho da igreja, a qual se considera o guia infalível em todas as questões de fé e prática. "Como se a verdade eterna e inviolável de DEUS dependesse do juízo do homem!" declarou João Calvino, o grande Reformador.
Ainda, declarou ele: Assevera-se que a igreja decide qual a reverência que se deve às Escrituras, e quais os livros que devem ser incluídos no cânone sagrado. Esta interrogação: "Como saberemos que vieram de DEUS as Escrituras, a não ser que haja uma decisão da igreja?" é tão tola quanto a seguinte pergunta: "como discerniremos a luz das trevas, o branco do negro, o amargo do doce?" O testemunho do ESPÍRITO é superior a todos os argumentos.
DEUS, na sua Palavra, é a única testemunha fidedigna concernente a si mesmo: da mesma maneira a sua Palavra não achará crença verdadeira nos corações dos homens enquanto não for selada pelo testemunho do seu ESPÍRITO. O mesmo ESPÍRITO que falou pelos profetas deve entrar em nossos corações para convencer-nos de que esses profetas fielmente entregaram a mensagem que DEUS lhes confiara. (Isa. 59:21.)
Que este então seja um assunto resolvido: aqueles que são ensinados internamente pelo ESPÍRITO SANTO depositam confiança firme nas Escrituras; que as Escrituras são a sua própria evidência; que elas não podem legalmente estar sujeitas às provas e aos argumentos, mas sim que obtenham, pelo testemunho do ESPÍRITO, a confiança que merecem.
Sendo assim, por que aduzimos evidências externas da exatidão das Escrituras e de seu merecimento geral? Fazemos isto primeiramente, não para poder crer que são certas, mas sim porque sentimos que são certas; em segundo lugar, é natural motivo de alegria poder apontar evidências externas das coisas que cremos no coração; finalmente, estas provas servem de veiculo e receptáculo, por assim dizer, pelos quais podemos expressar em palavras a nossa convicção íntima, e dessa maneira "estando sempre preparados para responder a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vos" (1 Ped. 3:15).

4. Provam ser inspiradas.
O Dr. Eugene Stock disse: Quando em menino, li uma história que me mostrou os diferentes meios pelos quais podemos ter certeza de que esta grande biblioteca de Livros Sagrados, a que chamamos bíblia, é realmente a Palavra de DEUS, e sua revelação aos homens.
O escritor da história havia explicado três classes de evidências — a histórica, a interna e a experimental. Então ele contou como certa vez enviou um menino a um químico para comprar uns gramas de fósforo. O menino voltou com um pacotinho; seria mesmo fósforo? O menino relatou que foi à drogaria e pediu fósforo. O químico foi às prateleiras, tirou uma substância dum frasco, colocou-a num pacotinho e lho deu. O menino o levou diretamente à casa. Esta foi então a evidência histórica de que no pacotinho havia fósforo. Ao abrir-se o pacotinho, notava-se que o conteúdo parecia ser fósforo e cheirava também a fósforo. Essa foi a evidência interna. Quando ateou fogo à substância houve fortíssima combustão! Essa foi a evidencia experimental!
As defesas intelectuais da Bíblia têm seu lugar; mas, afinal de contas, o melhor argumento é o prático. A Bíblia tem produzido resultados práticos. Tem influenciado a civilização, transformado vidas, trazido luz, inspiração e conforto a milhões e sua obra ainda continua.
 
 
BIBLIOLOGIA - As Grandes Doutrinas da Bíblia - Raimundo de Oliveira - CPAD

BIBLIOLOGIA -
INTRODUÇÃO

Chamada "Escritura Sagrada", "Sagradas Escrituras", simplesmente "Escrituras" ou "Palavra de DEUS", a Bíblia se constitui na única regra de fé e de conduta do cristão. Ela contém a mente de DEUS, o estado espiritual do homem, o caminho da salvação, a condenação dos impenitentes, e a felicidade dos santos. Suas doutrinas são santas, seus preceitos são leis, suas histórias são verídicas e suas decisões irrevogáveis. Compreender a origem, propósito e alcance da Bíblia Sagrada é condição indispensável a todos quantos buscam compreender a boa, santa e agradável vontade de DEUS, e a estarem habilitados a cumpri-la em suas vidas diariamen­te.

I. A NECESSIDADE DAS ESCRITURAS
A existência das Escrituras só pode ser aceita e a sua mensagem assimilada, na medida da nossa compreensão da necessidade da revelação de DEUS. Isto é: a Bíblia Sa­grada é o livro (o registro) da revelação especial de DEUS. Tudo quanto o homem necessita saber acerca de DEUS e do Seu propósito redentor para com a humanidade caída, ele encontrará nas Escrituras. As Escrituras, pois, se tornaram necessárias e a sua existência é justificada pelo menos pelas seguintes razões:
1.Por Causa da Queda do Homem
A queda do homem tolheu não só a sua liberdade de escolher e fazer o que é bom. A queda inibiu a capacidade criadora do homem, bem como a sua capacidade de assi­milação da revelação de DEUS, dentro dos moldes até então conhecidos. O estado de queda do homem é descrito nas seguintes palavras do apóstolo Paulo: "Não há um justo, nem um se­quer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a DEUS. Todos se extraviaram, e juntamente se fi­zeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com as suas línguas tratam enganosamente, peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargu­ra. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conhecem o cami­nho da paz. Não há temor de DEUS diante de seus olhos” Rm 3.10-18).
Em estado de queda e de desgraça, o homem já não desfrutava do privilégio de ouvir "a voz do Senhor DEUS, que passeava no jardim pela viração do dia (Gn 3.8). - Aprouve, po­rém, a DEUS, fazer uso da Palavra escrita, como meio de conduzir o homem caído à luz, ao arrependimento, à con­fissão e à redenção. Através das Escrituras, DEUS desce ao nível da com­preensão do homem, e, com o auxílio do ESPÍRITO SANTO e da exposição do Evangelho, faz da Bíblia Sagrada a porta de escape e de volta do homem ao estado de graça perdido decorrente da queda.
2.Por Causa do Amor de DEUS
É difícil compreender como DEUS podendo viver sem o homem, criou meios - verdadeiros laços de amor (Os 11.4). -, atra­vés dos quais traz o homem de volta à sua presença, como se lhe fosse impossível viver sem a companhia e a amizade do homem! A existência das Escrituras é prova mais do que plausível dos esforços de DEUS no sentido de aproximar o homem de seu meigo coração. O testemunho milenar das Escrituras é que "DEUS se dá a conhecer”. A nossa crença na bondade de DEUS há de nos condu­zir, necessariamente, à compreensão de que através da sua Palavra. Ele se revela pessoalmente àqueles que Ele criou.
"Não podemos crer que um pai se oculte para sempre de seu filho, e sem nunca se comunicar com ele. Tampouco podemos imaginar um DEUS que retivesse o conhecimento do seu ser e de sua vontade, ocultando-se às suas criaturas que Ele criara à Sua própria imagem" (Conhecendo as Doutrinas Bíblicas – Editora Vida – Pág. 19). DEUS fez o homem capaz e desejoso de conhecer a rea­lidade das coisas. Será que Ele ocultaria uma revelação que satisfizesse esse anelo? Pelo contrário. Diz o profeta de DEUS: "Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Se­nhor; como a alva será a sua saída; e ele nos virá como a chuva, como a chuva serôdia que rega a terra" (Os 6.3). A revela­ção de DEUS é possível, é progressiva, é certa.
A mitologia do Egito antigo, conta da Esfinge que pro­punha enigmas aos transeuntes, e como os matava quando não os podiam decifrar. Não é assim que DEUS age. Ele não nos submete a nenhum teste para nos convencer de quão ignorantes somos. Pelo contrário. Ele se revela a nós com o propósito de nos fazer entender que é possível conhecê-lo melhor. Os "mistérios" registrados nas Escrituras não se­rão mistérios eternamente.
O que hoje nos é encoberto, no futuro será revelado dentro duma visão mais completa da vontade de DEUS." Agora só podemos ver e compreender um pouquinho a respeito de DEUS, como se estivéssemos observando seu reflexo num espelho muito ruim; mas o dia chegará quan­do o veremos integralmente, face a face. Tudo quanto sei agora é obscuro e confuso, mas depois verei tudo com cla­reza, tão claramente como DEUS está vendo agora mesmo o interior do meu coração" (1 Co 13.12, O Novo Testamento Vivo).
3.Por Causa da Igreja
Uma vez que as Escrituras nos foram dadas como "proveitosas para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de DEUS seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra" (2 Tm 3.16,17), como compreender a Igreja caso as Escrituras não existissem? A Igreja, sua organização, seu governo e seu serviço, seriam simplesmente inconcebíveis, caso a Bíblia não exis­tisse. Assim como o Estado necessita duma Constituição, baseada na qual os seus governantes e legisladores possam governar e legislar, de igual modo a Igreja depende da ação reguladora das Escrituras.
O futuro da Igreja na terra é determinado por aquilo que ela crer acerca do que a Bíblia diz. Se a Igreja tiver a Bíblia na conta de autoridade e constituição, então suas afirmações positivas constituem para nós a única base da doutrina cristã.
4.Por Causa do Cristão Individualmente
A regra cristã do certo e do errado é a Palavra de DEUS - os escritores do Antigo e do Novo Testamento, tudo o que os profetas e os homens santos da antiguidade escreveram quando movidos pelo ESPÍRITO SANTO; toda a Escritura que foi dada pela inspiração de DEUS é que é realmente provei­tosa para a doutrina e para ensinar toda a vontade de DEUS, para reprovação do que lhe é contrário, para corre­ção do erro, para instruir-nos e treinar-nos na justiça (2 Tm 3.16,17).
A Bíblia é lâmpada para os pés do cristão bem como luz para todos os seus caminhos. Ele a recebe como a sua única regra do que é justo e do que é errado, de tudo aquilo que é realmente bom ou mau. Ela nada tem como bom se­não aquilo que nela contém, quer diretamente ou por sim­ples consequência; nada tem como mau senão o que ela proíbe, quer claramente ou por inferência inegável. Tudo o que a Escritura não proíbe nem ordena quer diretamente ou por simples consequência, o cristão crê que seja de na­tureza indiferente, nem bom nem mau em si mesmo; esta é a regra total e única pela qual a sua consciência é dirigida em todas as coisas.

II. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS
O uso do termo inspiração tem a finalidade de desig­nar a influência controladora que DEUS exerceu sobre os es­critores da Bíblia. Tem a ver com a habilidade comunica­da pelo ESPÍRITO SANTO, de receber a mensagem divina e de registrá-la com absoluta exatidão. O que diferencia a Bíblia dos demais livros do mundo é a sua inspiração divina. É devido à sua inspiração que a Bíblia é chamada A Palavra de DEUS.
1. O Fato da Inspiração das Escrituras
É muito interessante compreendermos a contribuição exata do fato de que a inspiração divina das Escrituras re­sume o propósito divino da revelação (2 Pd 1.19-21). Este é um assunto que precisa ser exposto com a mais absoluta clareza face às objeções contra ele levantadas. Contra a crença de que as Escrituras resumem em si a totalidade do propósito da revelação divina, levantam-se os seguintes argumentos:
a) CRISTO Versus Apóstolos
Este conceito consiste em distinguir entre a crença de CRISTO e a dos apóstolos, supostamente em níveis diferen­tes. Tem o propósito de apresentar CRISTO em oposição aos apóstolos, procurando salvá-los das errôneas tradições dos judeus, incluindo evidentemente a crença na inerrância das Escrituras. Procurando dar bases escriturística a essa errônea interpretação, os seus defensores valem-se de pas­sagens bíblicas isoladas, tais como: Mateus 22.29; Marcos 12.24 e João 5.39.
b) Acomodação
Segundo este argumento, os apóstolos criam que a inerrância das Escrituras judaicas se constituía numa teo­ria insustentável. Deste modo, em vez de adotarem uma li­nha de interpretação revolucionária, os escritores do Novo Testamento teriam decidido por acomodar a sua lingua­gem à realidade espiritual dos seus dias. Um dos principais defensores deste argumento disse que "as Escrituras do Novo Testamento estão completamente dominadas pelo espírito de sua época. Assim o seu testemunho concernente â inspiração das Escrituras carece de valor independente".
c) Ignorância
Os defensores deste argumento dizem que os apóstolos eram "homens sem letras e indoutos" (At 4.13), e, portanto, esta­vam sujeitos a errar, e que CRISTO, devido à sua encarnação, sabia apenas um pouco acima dos seus contemporâ­neos. Ainda, segundo este argumento, uma vez que CRISTO não teve acesso às descobertas científicas do nosso tempo, não podia ter estado muito acima do nível cultural da sua própria época.
d) Contradição
Sempre tem havido quem discuta no tocante à supos­ta "contradição", "inexatidão" e "inconsistência" das Es­crituras?. Segundo esses críticos, um livro não pode ter tão grande valor como o atribuído à Bíblia, quando contém to­dos estes elementos. Esses argumentos quanto à inspiração e inerrância das Escrituras, não têm nada de novo. A negação da ori­gem divina da Bíblia tem aparecido em todas as gerações com maior ou menor intensidade neste mundo onde medra a incredulidade. A raiz do problema está no que se há de aceitar como última palavra no assunto: Devemos aceitar o ensinamento da Bíblia acerca de si mesma, ou aceitar o ensinamento contraditório de homens?
2. O Que a Bíblia Diz Acerca da Sua Inspiração
Como qualquer outra doutrina bíblica, a doutrina da inspiração deriva das Escrituras. A Bíblia mesma testifica abundantemente da sua inspiração e sustenta o ponto de vista mais estrito com respeito ao assunto. Os escritores do Antigo Testamento tinham consciência de que escreviam aquilo que o Senhor lhes mandava (Ex 17.14; 34.27; Nm 33.2; Is 8.1;30.8; Jr 25.13;30.2; Ez 24.1; Dn 12.4) Os profetas tinham consciência de que eram portadores duma mensagem divi­na, e, portanto, a introduziam com fórmulas, como: "As­sim diz o Senhor" - "Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo" - "Assim me mostrou o Senhor Jeová", etc. Estas fórmulas se referem à palavra falada, porém se aplicam também à palavra escrita (Jr 36.27,32; Ez 24.1; Dn 12.4). Os escritores do Novo Testamento com frequência ci­tam passagens do Antigo Testamento como palavra de DEUS ou do ESPÍRITO SANTO (Mt 15.4; Hb 1.5; 3.7; 4.3; 5.6; 7.21).Paulo fala de suas próprias palavras como palavras que o ESPÍRITO lhe havia ensina­do (1 Co 2.13), e alega que é CRISTO quem fala a ele (2 Co 13.3).Sua mensagem aos tessalonicenses é "a palavra de DEUS” (1 Ts 2.13). Finalmente, diz na passagem clássica da inspiração: "Toda a Escritu­ra divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça " (2 Tm 3.16).
3.A Natureza da Inspiração das Escrituras
Ao considerar a natureza da inspiração das Escritu­ras, atente-se primeiramente para dois conceitos errôneos, porém comuns, conhecidos como: "inspiração mecânica" e "inspiração dinâmica".
a) Inspiração Mecânica
Com frequência se tem concebido o processo da inspi­ração das Escrituras duma maneira mecânica. Segundo este conceito, DEUS simplesmente ditava o que os autores humanos dos livros da Bíblia deviam escrever. Estes escri­tores seriam qual amanuenses do ESPÍRITO SANTO, regis­trando seus pensamentos em palavras que Ele escolhia. As faculdades mentais dos escritores se encontravam em re­pouso e não contribuíam de forma alguma no conteúdo ou forma dós seus escritos.
Ê assim que o estilo das Escrituras é o estilo do ESPÍRITO SANTO. As investigações, porém, têm mostrado que este con­ceito é insustentável. A Bíblia mesma dá prova de que os seus escritores não eram meros instrumentos passivos na produção dos seus livros, mas sim, eles eram autores no verdadeiro sentido da palavra. Em alguns casos os escritos da Bíblia são resultados de investigações históricas, pois se referem a essas investigações (Lc 1.1-4), e às vezes fazem menção de suas fontes, como os livros de Samuel, Reis, Crônicas, etc. Noutros casos os autores registram as suas próprias expe­riências pessoais, como nos Salmos, nos livros proféticos, em Atos, e nas Epístolas. Cada escritor tinha estilo pró­prio. O estilo de Isaías não é como o de Ezequiel, nem o es­tilo de Paulo ê como o de Pedro.
b) A Inspiração Dinâmica
Face ao conceito mecânico da inspiração das Escritu­ras, vários eruditos nos séculos XVIII e XIX optaram pelo que chamaram "inspiração dinâmica". Esta teoria rejeita a ideia duma operação direta do ESPÍRITO SANTO sobre a produção dos livros da Bíblia, isto é, uma operação que te­ria como propósito específico a produção desses livros, e põe em seu lugar a ideia duma inspiração geral dos escrito­res. Essa inspiração teria sido uma característica perma­nente dos escritores. Ela não difere em essência, mas so­mente em grau, da iluminação espiritual do crente em ge­ral. Ela penetra em todas as partes das Escrituras, ainda que não em todas na mesma medida. Os livros históricos, por exemplo, não seriam inspirados na mesma medida que os livros doutrinários. Desse modo, ainda que em geral os escritos bíblicos sejam confiáveis, eles estão sujeitos a er­ros principalmente os livros históricos. Evidentemente, este conceito não faz justiça aos da­dos bíblicos sobre a inspiração das Escrituras, uma vez que ele despoja a Bíblia do seu caráter sobrenatural, reduzindo-a ao nível da revelação geral, destruindo, portanto, a sua infalibilidade.
c) A Inspiração Orgânica
O conceito de Inspiração geralmente aceito nos círcu­los cristãos conservadores, se denomina inspiração "plená­ria" ou "orgânica". O termo "orgânico" põe em relevo o fato de que DEUS não usou os escritores da Bíblia, no senti­do mecânico, como se eles fossem robôs, mas que atuou sobre eles de forma orgânica, em harmonia com as leis do ser interior desses escritores. Isto é, DEUS os usou tal qual eram, com seu caráter e temperamento, seus dons e talen­tos, sua educação e cultura, seu vocabulário e estilo; iluminou as suas mentes, os impulsionou a escrever, excluindo a influência do pecado sobre suas atividades literárias.
Na verdade, DEUS os guiou na seleção de suas palavras e na ex­pressão de seus pensamentos. Este conceito apresenta os escritores da Bíblia, não como simples amanuenses, mas como verdadeiros autores da Bíblia. Ás vezes eles registravam comunicações diretas de DEUS, e em outras ocasiões escreviam os resultados de suas próprias investigações históricas, ou registravam suas experiências. Isto explica a individualidade dos livros da Bíblia, posto que cada escritor tinha seu próprio estilo e firmou em sua produção literária seu selo pessoal e as mar­cas da época em que viveu.
4.Provas da Inspiração da Bíblia
Dentre outras provas da inspiração da Bíblia, a dar-lhe patente divina, destacam-se as seguintes:
a) A Aprovação da Bíblia por JESUS
JESUS aprovou a Bíblia ao lê-la, ao ensiná-la, ao cha­má-la "a palavra de DEUS", e ao cumpri-la (Lc 4.16-20; 24.27; Mc 7.13; Lc 24.44).Quanto ao Novo Testamento, em João 14.26, o Senhor antecipadamente pôs nele o selo de sua aprovação divina, ao declarar: "Mas aquele Consolador, o ESPÍRITO SANTO, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar tudo quanto vos tenho dito". As­sim sendo, o que os apóstolos ensinaram e escreveram não foi a recordação deles mesmos, mas a do ESPÍRITO SANTO.
JESUS disse ainda que o ESPÍRITO nos guiaria em "toda a verdade" (Jo 16.13,14). Portanto, no Novo Testamento temos a essên­cia da revelação divina.
b) O Testemunho do ESPÍRITO SANTO no Crente
O mesmo ESPÍRITO que conduz o pecador a aceitar a JESUS como Salvador pessoal, convence o neo-convertido da origem divina das Escrituras. Não é necessário que o novo crente faça um curso neste sentido, não. A crença na auto­ria e inspiração divina das Escrituras é algo que se dá ins­tantaneamente.
Samuel Rutherford, num tratado contra a teologia vaticana, pergunta: "Como sabemos que a Escritura é a Pa­lavra de DEUS?" Se já houve um lugar onde se poderia es­perar que um teólogo empregasse o estilo de argumentos ra­cionais dos próprios teólogos católicos, conforme fizeram alguns teólogos protestantes do passado, seria aqui. Rutherford, ao invés disto, apelou ao ESPÍRITO de CRISTO fa­lando na Escritura: "As ovelhas são criaturas dóceis (Jo 10.27). As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as co­nheço, e elas me seguem... assim o instinto da Graça co­nhece a voz do Amado entre muitas vozes (Ct 2.8), e este poder de discernimento está no sujeito" (O alicerce da Autoridade Bíblica – Edições Vida Nova - Págs. 50,51).
c) O Fiel Cumprimento da Profecia
Inúmeras profecias se cumpriram no passado, em sen­tido parcial ou total; inúmeras outras cumprem-se em nos­sos dias, e muitas outras cumprir-se-ão no futuro. O cumprimento contínuo das profecias bíblicas é uma prova da sua origem divina. O que DEUS disse, sucederá (Jr 1.12).Glória, pois, a DEUS, por tão sublime livro!
d) A Perenidade das Escrituras
O tempo não exerce nenhuma influência sobre a Bíblia. É o livro mais antigo do mundo, e ao mesmo tempo o mais moderno. O jornal de amanhã não se lhe sobrepuja em atualidade. Em mais de vinte séculos de progresso em todas as áreas da ciência, homem algum tem sido capaz de melhorar a Bíblia, nem de fazer outro livro que lhe exceda em valor. Um livro de origem puramente humana, após tantos milênios de uso, já teria caducado e, se conservado, com certeza estaria guardado nalgum museu, ou então já teria sido consumido pelas traças. Esta é mais uma irrefu­tável prova da origem sobrenatural das Escrituras.

5. A História da Igreja Aprova a Inspiração das Es­crituras?
Os grandes líderes espirituais cujos nomes a História da Igreja faz menção elevam as suas vozes em defesa da inspiração, inerrância e infalibilidade das Escrituras. Seja qual tenha sido o meio pelo qual Agostinho che­gou ao entendimento de que a Bíblia é a Palavra de DEUS, sua posição quanto a inspiração e inerrância das Escritu­ras, brota espontânea e abundantemente nos seus escritos. Ele escreve que "nenhuma palavra e nenhuma sílaba é su­pérflua" nas Escrituras. Confessa: "Aprendi a dar a eles (os Livros canônicos) tal honra e respeito a ponto de crer com muita firmeza que nenhum destes autores errou ao es­crever qualquer coisa que seja". As "mãos dos autores das Escrituras escreviam aquilo que a cabeça ditava", insistia. "Nenhuma discordância de qualquer tipo teve permissão de existir" na Bíblia de Agostinho. Conforme escreve Seeberg: "A mais alta autoridade normativa e a única infalí­vel é, para Agostinho, a Sagrada Escritura" (O Alicerce da Autoridade Bíblica – Edições Vida Nova – Págs. 50,51).
Os Reformadores adotaram sem questionar e sem re­servas a declaração acerca da inspiração, e até mesmo da inspiração verbal da Bíblia. Lutero se mostra consistente quando o ouvimos trovejar no fim da sua vida: "Logo, ou cremos redondamente, e totalmente e completamente, ou nada cremos: o ESPÍRITO SANTO não se deixa cortar ou sepa­rar, de modo que deixasse uma parte ser ensinada ou crida de modo verdadeiro, a outra parte de modo falso... Pois é moda dos hereges começarem primeiramente com um úni­co artigo, mas depois todos devem ser totalmente negados, como um anel que não tem mais valor quando tem uma quebra ou corte, ou um sino que, quando está rachado num lugar, não soará mais, e é totalmente inútil". João Wesley levanta quatro argumentos grandes e po­derosos que nos induzem a crer que a Bíblia precisa ser de origem divina: os milagres, as profecias, a bondade da dou­trina e o caráter moral dos escritores. Todos os milagres fluem do poder divino; a bondade da doutrina, da bondade divina, e o caráter moral dos escritores, da santidade divi­na. Deste modo o cristianismo é constituído sobre quatro grandes pilares: o poder, a compreensão, a bondade e a santidade de DEUS.
O poder divino é a fonte de todos os mi­lagres; a compreensão divina, a da bondade da doutrina; a santidade divina, a do caráter moral dos escritores. Prosseguindo no seu esforço de provar a origem divina das Escrituras, Wesley diz o seguinte: A Bíblia deve ser a invenção de homens bons ou de an­jos; de homens maus ou de demônios; ou de DEUS.
a)Ela não podia ser a invenção de homens bons ou de anjos, pois eles não fariam nem poderiam fazer um livro contando mentiras durante todo o tempo em que o esta­vam escrevendo, dizendo: "Assim diz o Senhor" quando o livro era a sua própria invenção.
b)Ela não podia ser invenção de homens maus ou de demônios pois eles não fariam um livro que impõe todos os deveres, proíbe todos os pecados e condena as suas almas ao inferno por toda a eternidade.
c)Eu tiro, portanto, a conclusão de que a Bíblia preci­sa ter sido dada por inspiração divina (Coletânea da Teologia de João Wesley – Imprensa Metodista – Pág. 18).

III. HARMONIA E UNIDADE DAS ESCRITURAS
A harmonia e unidade das Escrituras se constituem num milagre singular. Nunca em qualquer outro lugar e em cir­cunstâncias tão adversas, se juntaram tantos e diferentes tratados contendo história, biografia, ética e poesia, para formar um único livro. Neste particular a Bíblia não tem nenhum paralelo com a literatura humana, visto que todas as condições humanamente falando, não apenas são desfa­voráveis, mas fatais a tal combinação (Teologia Elementar – Imprensa Batista Regular – Pag. 11)
1. Pormenores da Harmonia das Escrituras
A existência da Bíblia até os nossos dias é algo sim­plesmente miraculoso. Seus 66 livros escritos por cerca de 40 autores, durante um período de mais ou menos dezes­seis séculos, somam-se num só com uma mensagem una e harmônica. Seu aspecto miraculoso e sobrenatural se acentua quando analisados os seguintes elementos, partes do seu processo de preparação como livro.
a) Os Escritores
Os homens escolhidos por DEUS, para compor a Bíblia, eram homens de praticamente todas as atividades da vida humana então conhecidas, razão porque encontramos os mais variados estilos nos seus escritos. Por exemplo: Moi­sés foi príncipe e legislador. Josué foi um valoroso soldado. Davi e Salomão foram reis e poetas. Isaías, estadista e pro­feta. Daniel, ministro de Estado na Babilônia. Jeremias e Zacarias, sacerdotes e profetas. Amos, agricultor e vaquei­ro. Pedro, Tiago e João, pescadores. Mateus, funcionário público romano. Lucas, médico e historiador. Paulo, teólo­go e erudito. Apesar da variedade de formação e ocupação dos es­critores da Bíblia, examinados os seus escritos, é incrível notar como eles se harmonizam e se inteiram do começo ao fim. Eles não tomam rumos diferentes. Do começo ao fim eles tratam dum só assunto, formando um só livro (A Bíblia Através dos Séculos – Edições CPAD – Pag.37)
b) As Condições
Foram as mais variadas as condições sob as quais os escritores da Bíblia receberam e registraram a Palavra de DEUS. Note, por exemplo: Moisés escreveu os seus livros nas solitárias paragens do deserto durante a peregrinação do Egito para Canaã. Jeremias, nas trevas e imundícies dum cárcere. Davi, nas campinas e elevações dos campos. Paulo escreveu suas epístolas ora em prisões, ora em via­gens. João escreveu o Apocalipse na ilha de Patmos quan­do exilado por causa do testemunho de JESUS CRISTO.
Não obstante tantas e diferentes condições em que os livros da Bíblia foram escritos, juntos eles são duma uni­formidade incrível. O pensamento de DEUS, e não propria­mente o dos seus escritores, corre uniforme e progressiva­mente através dela, como um rio que brotando da sua nas­cente, assemelha-se a um tênue fio dágua que vai se avolu­mando até se tornar num caudaloso "Amazonas" de DEUS. Esta harmonia e perfeição é uma característica exclusiva do Livro de DEUS.
c) As Circunstâncias
Foram as mais diversas as circunstâncias às quais es­tavam sujeitos os escritores da Bíblia quando tiveram de escrever os seus respectivos livros. Partes dos escritos do rei Davi foram feitos no calor das batalhas, enquanto que Salomão escreveu na paz e conforto dos seus palácios. Alguns dos profetas escreveram os seus livros em meio à mais pro­funda tristeza, ao passo que Josué escreveu o seu livro em meio às alegrias da conquista de Canaã. Apesar dessa plu­ralidade de condições, a Bíblia apresenta uma uniformida­de incrível a fluir suavemente do Gênesis ao Apocalipse.
2.O Porquê da Harmonia e Unidade da Bíblia
Se a Bíblia fosse um livro resultante de esforços pura­mente humanos, certamente que a sua composição seria algo extremamente confuso e indecifrável. Seria uma ver­dadeira Babel.
a) A Confusão do Homem e a Harmonia Divina
Imaginemos quarenta dos melhores escritores da atualidade, providos de todos os recursos necessários, iso­lados uns dos outros, em situações as mais diversas, cada um com a missão de escrever um livro que juntado aos de­mais livros formasse um todo perfeito e harmônico. Qual seria o resultado de tão empreendedor esforço? Não há dú­vida, o resultado seria algo confuso. Teríamos algo seme­lhante a uma colcha de retalhos, de cores e texturas dife­rentes. Seria uma verdadeira miscelânea.
Pois bem, imaginemos isto acontecendo nos antigos tempos em que os livros da Bíblia foram escritos. A confu­são seria muito maior. Numa época em que os meios de co­municação em nada se assemelhavam aos de nossos dias, nada a não ser a mente inteligente de DEUS assegurou o su­cesso e a harmonia das Escrituras.
b) A Catedral da Revelação Divina
"Grandes catedrais, como as de Milão e Colônia, pre­cisaram de séculos para serem edificadas. Centenas de mi­lhares de trabalhadores foram empregados. Certamente ninguém necessita ser informado que por trás do trabalho desses edificadores havia algum arquiteto que construiu mentalmente esse templo, antes de ser lançada a pedra de fundamento, e que esse arquiteto, antes de mais nada, tra­çou os planos e forneceu até mesmo as especificações minuciosas, de modo que a estrutura deve sua simetria ini­gualável, não aos trabalhadores braçais que fizeram o tra­balho bruto, mas àquele único arquiteto, ó cérebro da construção, que planejou a catedral em sua totalidade.
"A Bíblia é uma majestosa catedral. Muitos edifica­dores humanos, cada um por sua vez, contribuíram para a estrutura. Mas, quem é o arquiteto? Que mente una foi aquela que planejou e enxergou o edifício completo, antes que Moisés tivesse escrito aquelas primeiras palavras do Gênesis, as quais, não por acidente, mas tendo o propósito de gravar nome do arquiteto no vestíbulo, são estas: 'No princípio, DEUS’?”(Teologia Elementar – Imprensa Batista Regular – Pág.11).

IV. JESUS, O TEMA DAS ESCRITURAS
A Bíblia está repleta de JESUS. Toda a profecia o tem como tema. As Escrituras nos fornecem a linha da descen­dência de CRISTO, o Messias de DEUS. Ele havia de ser a se­mente da mulher; da raça de Sem; da linhagem de Abraão, por meio de Isaque e Jacó; da tribo de Judá e da família de Davi. As Escrituras registram eventos futuros relacionados à Pessoa e ministério terreno de CRISTO. Desde o lugar do seu nascimento até a sua segunda vinda e seu reino eterno - tudo foi predito em termos inequívocos, do Gênesis ao Apocalipse.
1. CRISTO, do Gênesis ao Apocalipse
Estudiosos da Bíblia têm calculado que mais de tre­zentos detalhes proféticos foram cumpridos fielmente em CRISTO. Aqueles que ainda não foram cumpridos, referem-se à sua segunda vinda e ao seu reino, ainda futuros.
a) CRISTO no Pentateuco
O Pentateuco compreende os primeiros cinco livros da Bíblia, escritos por Moisés. Eles falam de CRISTO como o descendente da mulher, o nosso Cordeiro Pascal, q nosso Sacrifício pelo pecado, Aquele que foi levantado pára nos­sa cura e redenção, e o Verdadeiro Profeta.
b) CRISTO nos Livros Históricos
Os livros históricos agrupam os livros da Bíblia que vão desde Josué até o livro de Ester. Da dramaticidade dos seus relatos, se sobressai a figura singular do Salvador co­mo: o Capitão da nossa salvação, o nosso Juiz e Liberta­dor, o nosso Parente Resgatador, o nosso Rei Soberano, o Restaurador de nossas vidas, e a divina corte de apelação das causas perdidas.
c) CRISTO nos Livros Poéticos
O conjunto de livros que formam a seção dos livros poéticos compreende os livros de Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares. Na Bíblia eles se irmanam na exal­tação do Senhor JESUS CRISTO como o nosso Redentor que vive, o nosso Socorro e Alegria, a Sabedoria de DEUS só achada pelos diligentes madrugadores, o Alvo Verdadeiro, e o Amado da nossa alma.
d) CRISTO nos Livros Proféticos
Os livros proféticos do Antigo Testamento são os li­vros compreendidos desde Isaías até Malaquias. Neles o espírito profético vaticina a humanização, humilhação e glorificação do Messias. Eles o apresentam como o Messias que há de vir, o Renovo da Justiça, o Filho do homem, o Soberano de toda a terra cujo trono jamais será removido, o Marido fiel, o Restaurador benevolente, o Lavrador divi­no, o nosso Salvador imutável, a nossa Ressurreição e Vi­da, a Testemunha Fiel contra as nações rebeldes, a nossa Fortaleza no dia da angústia, o DEUS da nossa salvação, o Senhor Zeloso, o Desejado de todas as nações, o Pastor ferido, o Sol da Justiça.
e) CRISTO no Novo Testamento
O CRISTO vaticinado no Antigo Testamento encontra nos escritos do Novo a sua maior expressão. Este o apre­senta como o Messias manifesto, o Servo de DEUS, o Filho do homem, o Filho de DEUS, o Senhor redivivo, a divina Causa da nossa justificação, o Senhor nosso, a nossa Sufi­ciência, o nosso Libertador do jugo da Lei, o nosso Tudo em todas as coisas, a nossa Alegria e Gozo, a nossa Vida, Aquele que há de vir, o Senhor que vai voltar, o nosso Mes­tre, o nosso Exemplo, o nosso Modelo, o nosso Senhor e Mestre, o nosso Intercessor junto ao Pai, a Preciosa Pedra Angular da nossa fé, a nossa Força, a nossa Vida, o nosso Caminho, Aquele que há de vir com milhares dos seus san­tos e anjos, e o Triunfante Rei dos reis e Senhor dos senho­res.
2. JESUS Aprovou a Bíblia
Em JESUS a Bíblia teve o seu mais leal defensor. De que modo JESUS deu a sua aprovação às Escrituras?
a) JESUS Leu a Bíblia
"E, chegando [JESUS] a Nazaré, onde fora criado, en­trou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinago­ga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: O ESPÍRITO do Senhor é sobre mim, pois que me un­giu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor. E, cerrando o livro, e tornando a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de to­dos na sinagoga estavam fitos nele. Então começou a di­zer-lhes: Hoje se cumpriu esta escritura em vossos ouvi­dos" (Lc 4.16-21).
b) JESUS Ensinou a Bíblia
"E [JESUS] lhes disse: ô néscios, e tardos de coração para crer em tudo o que os profetas disseram! Porventura não convinha que o CRISTO padecesse estas coisas e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras" (Lc 24.25-27).

c) JESUS Chamou a Bíblia de "a Palavra de DEUS"
"Porém vós dizeis: Se um homem disser ao pai ou à mãe: Aquilo que poderias aproveitar de mim é Corbã, isto é, oferta ao Senhor; nada mais lhe deixais fazer por seu pai ou por sua mãe, invalidando assim a palavra de DEUS pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas" (Mc 7.11-13).
c) JESUS Cumpriu a Bíblia
"E disse-lhes [JESUS]: São estas as palavras que vos disse estando ainda convosco. Que convinha que se cum­prisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, e nos profetas, e nos Salmos" (Lc 24.44). JESUS também afirmou que as Escrituras são a verdade (Jo 17.17). Ele viveu e procedeu de acordo com elas (Lc 18.31). Declarou que o escritor Davi falou pelo ESPÍRITO SANTO (Mc 12.35,36). No deserto, ao derrotar o inimigo, fê-lo citando a Palavra de DEUS (Dt 8.3; 6.13,16; Mt 4.1-11).

V. A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS
A investigação do caráter das Escrituras se constitui num esforço no sentido de descobrir a verdadeira base da sua autoridade. As Escrituras do Antigo e Novo Testamento formam um cânon devido ao fato de que estas são pala­vras ou oráculos autorizados. A autoridade das Escrituras é inerente, sendo como é, nada menos que um edito impe­rial: "Assim diz o Senhor".
1. Bases da Autoridade das Escrituras
O mundo moderno, que se encontra vacilante entre a influência desmoralizadora dos ideais satânicos e das filo­sofias de homens sem DEUS não aprecia nem respeita a Bíblia. Podemos dizer, porém, que até mesmo essa mani­festa hostilidade que o mundo tem para com a Bíblia, se constitui, dalgum modo, numa prova do caráter sobrena­tural dela, positivamente analisado é uma prova insofis­mável da autoridade das Escrituras.
a) A Bíblia Emana de DEUS
Declarar das Escrituras como elas fazem de si mes­mas, que são de origem divina (2 Tm 3.16), é reconhecer a autoridade suprema que só pertence a DEUS e que elas procedem dire­tamente de DEUS. Isto significa que, em seu caráter plenário, as Escrituras são, em sua totalidade, a Palavra de DEUS. Elas possuem a peculiaridade indiscutível de ser nada menos que o decreto real divino - "Assim diz o Se­nhor".
b) A Bíblia foi Escrita por Homens Escolhidos
Este aspecto da autoridade bíblica está entranhavelmente relacionada com o fato de que a mensagem que es­ses homens escolhidos receberam e registraram, era inspirada por DEUS (2 Pd1. 20,21). A contribuição específica que isto dá ao estudo da autoridade bíblica é que garante que a partici­pação humana na autoria da Bíblia não afeta em nada a perfeição e valor infinito da mensagem divina através do Livro Sagrado. As Escrituras são inerrantes, acima de tu­do, porque procedem de DEUS. Prova evidente de que a autoridade da Bíblia inde­pende dos homens inspirados que a escreveram, reside no fato de que mesmo aqueles livros cujos nomes dos autores são ignorados, são inspirados por DEUS tanto quanto os de­mais que compõem o cânon sagrado.
c) A Bíblia foi Crida Pelos que a Receberam
No caso do Antigo Testamento, a congregação de Is­rael, sob a liderança de seus anciãos, reis, sacerdotes e pro­fetas, deu sua aprovação àqueles escritos como sendo divi­namente inspirados e inerrantes. No caso do Novo Testa­mento, a Igreja primitiva deu sua sanção aos escritos aí contidos, completando, assim, o cânon das Escrituras. Sem terem consciência, tanto num caso como no outro, de que estavam sendo usados por DEUS para realizar um obje­tivo tão importante aprovaram o cânon da Bíblia como algo de singular valor para todos os homens, em todos os lugares e em todos os tempos.
d) A Bíblia foi Autenticada por JESUS
Os quatro Evangelhos contêm nada menos do que trinta e cinco referências diretas do Antigo Testamento, citadas diretamente por JESUS. Estas, como se pode notar, não apenas registram seu testemunho no tocante ao caráter divino da inspiração plenária das Escrituras, mas também, tomadas como um todo completam o Antigo Testamento e certificam os aspectos plenários da sua perfeição.
Quando CRISTO declarou: “Eu sou... a verdade” (Jo 14.6). Ele estava declarando ser algo mais que a verdadeiro. Ele se declarou como sendo a verdade no sentido em que Ele é o tema central da Palavra da Verdade. Ele é o Amém, a testemunha Fiel e Verdadeira (Ap 1.5; 3.14; Is 55.4).

2. Os Antigos Atestaram as Escrituras
Os profetas do Antigo Testamento foram divinamente incumbidos de transmitir ao povo os oráculos de DEUS, do mesmo modo também os escritores do Novo Testamento. Quando falava com o apóstolo João na ilha de Patmos, o anjo disse:’’...eu sou conservo teu e de teus irmãos, os profetas...” ( Ap 22.9). A lei mosaica designou responsabilidades específicas a vários grupos e ofícios do Antigo Testamento com respeito às escrituras.
a) As Escrituras com Relação ao Povo Israelita
À congregação de Israel foi dito: “Não acrescentarás à Palavra que vos mando, nem diminuíres dela, para que guardais os mandamentos do Senhor vosso DEUS, que eu vos mando” (Dt 4.2). Está entendido que o povo não possuía autoridade para questionar o valor da Palavra de DEUS, nada podendo aumentar ou omitir dela. Cabia-lhe apenas obedecer-lhe.
b) As Escrituras em Relação ao Rei
A obrigação do rei de Israel para com as Escrituras era como se segue: “Será também que, quando se assentar sobre o trono do seu reino, então escreverá para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos sacerdotes levitas. E terá consigo, e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer ao Senhor seu DEUS, para guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para fazê-los” (Dt 17.18,19). O rei possuía autoridade governamental para matar ou manter vivo a quem ele quisesse, porém, em relação à Palavra de DEUS ele tinha o dever de obedecer a ela. Nesta particular, o rei em nada era superior ao mais humilde de seus súditos.
c) As Escrituras em Relação aos Juízes
Os juízes eram mediadores em assuntos comuns, domésticos, dentro da nação de Israel, porém se fosse trazido perante eles algum assunto muito difícil de resolver, apelavam para o sacerdote, que servia como suprema corte entre os juízes. O juiz era instruído da seguinte maneira: “Quando alguma coisa te for dificultosa em juízo...então te levantarás, e subirás ao lugar que escolher o Senhor teu DEUS; e virás aos sacerdote levitas, e ao juiz que houver naqueles dias, e inquirirás, e te anunciarão a palavra que for do juízo. E farás conforme ao mandado da palavra que te anunciarão do lugar que escolher o Senhor; e terás cuidado de fazer conforme a tudo que te ensinaram” (Dt 16.18-20; 17.8-12). Os juízes eram constituídos sobre o povo para exercer o juízo conforme a Lei, conforme a Palavra do Senhor.
d) As Escrituras em Relação aos Levitas
Aos levitas foi a custódia das Escrituras. Deste modo eles foram instruídos a procederem da seguinte maneira: “Tomai este livro da Lei e ponde-o ao lado da arca do concerto do Senhor, vosso DEUS, para que ali esteja por testemunha contra ti ” (Dt 31.26).
e) As Escrituras em Relação aos Profetas
Aos profetas foi confiada a sublime responsabilidade de receber e comunicar a Palavra de DEUS. A prova entre o verdadeiro e o falso profeta era tanto razoável como natural. As instruções eram: “E se disseres no teu coração: Como conheceremos a palavra que o Senhor não falou? Quando o tal profeta falar em nome do Senhor, e tal palavra se não cumprir, nem suceder assim, esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou o tal profeta; não tenhas temor dele.

VI. A CONONICIDADE DAS ESCRITURAS
A palavra cânon significa norma ou vara de medir. Referindo-se à Bíblia, designa coleção de livros que foram aceitos por sua autenticidade e autoridade divinas. Significa que estes livros são norma de conduta da Igreja e do cristão. Como se formou, pois, o cânon sagrado?
1. Provas da Canonicidade das Escrituras
Antes de responder como se formou o cânon sagrado, devemos ter em mente que certos livros foram considerados canônicos antes mesmo de serem submetidos a qualquer prova de canonicidade. Os critérios usados para pôr à prova um texto, a fim de saber se ele era ou não canônico (sagrado), só provavam o que o texto continha. Nada mais que isso. Deste modo, nem a igreja nem os concílios tinham o poder de fazer com que um livro fosse ou não autêntico. Por si só o livro era ou não canônico. Que provas aplicou a Igreja para determinar a canonicidade dos livros que viriam a se incorporar à Bíblia Sagrada como a conhecemos hoje?
1° Houve a investigação da autoridade do escritor do livro. Em relação ao Antigo Testamento, tinha que ser reconhecida a autoridade do autor do livro em exame. Em relação ao Novo Testamento, o livro tinha de ter sido escrito ou respaldado por um dos apóstolos do Senhor JESUS CRISTO, para ser reconhecido como canônico. Noutras palavras, tinha de estar firmado pela a autoridade apostólica. Pedro, por exemplo, respaldou Marcos, e Paulo a Lucas.
2° Os livros mesmos deveriam oferecer alguma evidência interna de seu caráter único, como inspirados e de autoridade. O conteúdo devia satisfazer o leitor, como algo diferente de qualquer outro livro, em que comunicava a revelação de DEUS.
3° O veredito das igrejas locais quanto à natureza desses livros era importante. Na verdade, houve entre elas uma surpreendente unanimidade quanto à certeza de que os livros aprovados podiam ser contados no número dos livros inspirados por DEUS.
2. A Formação do Cânon Sagrado
Alguns estudiosos dizem que os livros do Antigo Testamento canônicos, foram colecionados e reconhecidos por Esdras, no V século a.C. Em referências feitas pelo o historiador Flávio Josefo (ano 95 d.C.) e de outros escritores do ano 100 d.C., está indicado que o cânon do Antigo Testamento compreendia trinta e nove livros, que são os que conhecemos hoje. O senhor JESUS delimitou a extensão dos livros canônicos do Antigo Testamento quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os profetas que foram desde Abel até Zacarias (Lc 11.51). O relato da morte de Abel se encontra, naturalmente, em Gênesis, porém o de Zacarias está em 2 Crônicas 24.20,21, que é o último livro da Bíblia hebraica. Portanto, é como se JESUS tivesse dito: “Vosso pecado vem assinalado ao longo de toda a Bíblia, desde Gênesis até Malaquias”, excetuando os livros apócrifos que existiam em seu tempo e que continham as historias doutros mártires.
O primeiro concílio da Igreja que fez vinte e sete livros do Novo Testamento, foi o concílio de Cartago, na África, no ano 397, da nossa Era. Livros soltos do Novo Testamento já eram considerados como Escritura canônica bem antes deste tempo (2 Pd 3.17; 1 Tm 5.17), enquanto que a maioria foi aceita nos anos posteriores ao apóstolos. A seleção do cânon foi um processo que continuou até que cada livro mostrou seu valor para ser reconhecido como realmente canônico. Os livros apócrifos nunca foram aceitos pelos judeus nem pelo Senhor JESUS CRISTO como parte do Antigo Testamento. Foram respeitados, mas nunca considerados parte inseparável das Escrituras Sagradas aceitas como divinamente inspiradas.

3. Merece confiança o Cânon Sagrado?
Desde os tempos de Moisés (cerca de 1450 a.C.) até os tempos de Malaquias (cerca de 400 a.C), as cópias origi­nais do Antigo Testamento eram feitas em pergaminho e papiro. Até o sensacional achado dos rolos do mar morto, em 1947, não possuíamos cópias do Antigo Testamento an­teriores ao ano 895 da nossa Era. Quando os rolos do mar Morto foram descobertos, os estudiosos tinham a certeza de terem em mãos um texto hebraico do II ou do I Século antes de CRISTO. A compara­ção dos textos contidos nesses rolos com os textos até então conhecidos, dos quais foram feitas as traduções da septuaginta e da Vulgata latina, se constituem provas mais que sobejas de que o Texto Sagrado que conhecemos e possuí­mos hoje, é da mais absoluta autenticidade. Mais de 5.000 manuscritos do Novo Testamento po­dem ser encontrados hoje, o que torna o documento mais autêntico de todos os escritos da antiguidade.
Na opinião geral, a Bíblia é exclusivamente História Sagrada, testemunho de crença para os cristãos de todo o mundo. Na verdade ela é, ao mesmo tempo, um livro de acontecimentos reais. Certo, sob este ponto de vista, ela carece de integralidade, porque o povo judeu escreveu sua história somente em relação a Jeová e sob o ponto de vista de seus pecados e expiação. Mas esses acontecimentos são historicamente genuínos e se têm revelado de uma exati­dão verdadeiramente espantosa. Com o auxílio dos resultados das explorações, diversas narrativas bíblicas podem ser agora muito mais bem com­preendidas e interpretadas do que antes. Verdade é que existem correntes teológicas para as quais vale a palavra e nada mais que a palavra. "Mas como se poderá compreen­dê-la", esclarece o Prof. André Parrot, arqueólogo francês mundialmente famoso, "se não for possível encaixá-la no seu preciso quadro cronológico, histórico e geográfico?"
Até agora o conhecimento destas descobertas extraor­dinárias era privilégio de um pequeno círculo de peritos. Ainda há meio século se perguntava o professor Friedrich Delitzsch, em Berlim: "Para que tantas fadigas em terras distantes, inóspitas e perigosas? Para que esse dispendioso revolver de escombros multimilenários, até atingir as águas subterrâneas, onde não se encontra ouro nem prata? Para que essa competição das nações no sentido de assegu­rarem para si o privilégio de escavar essas áridas colinas?" O sábio alemão Gustav Dalman deu-lhe, em Jerusalém, a resposta adequada, quando expressou a esperança de que, um dia, tudo o que as pesquisas "viram e comprovaram se­ria não só valorizado em trabalhos científicos mas também utilizado praticamente na Escola e na Igreja"...
Nenhum livro da história da humanidade já produziu um efeito tão revolucionário, exerceu uma influência tão decisiva no desenvolvimento de todo o mundo ocidental e teve uma difusão tão universal como o "Livro dos livros", a Bíblia. Ela está hoje traduzida em 1.120 línguas e dialetos (isto em 1955) e, após dois mil anos, ainda não há qualquer sinal de que haja terminado a sua carreira triunfal (E A Bíblia Tinha Razão – Edições Melhoramentos – Pág.9).

VII. O VALOR ETERNO DAS ESCRITURAS
Mesmo como composição literária, a Bíblia se consti­tui o livro mais notável jamais visto pelo mundo. De todos os escritos, ela é o mais antigo, e contém uma memória do mais vivo interesse. A história de sua influência é a histó­ria da civilização e do progresso. Não se pode apontar qua­se nenhuma passagem deste admirável livro que não tenha trazido instrução e conforto a milhares. Sob este ponto de vista único, merece a Bíblia a nossa particular atenção e reverente respeito.
1. Os Dois Testamentos se Completam
Antigo e Novo Testamentos se inteiram aumentando o valor um do outro. Como uma prova da estreita relação entre as duas dispensações, e da sanção dada, no Novo Testamento, ao Antigo, contém o primeiro cerca de duzentas e sessenta citações diretas do último, dando cerca da metade delas mais o sentido do que as palavras textuais; e as alusões são ainda mais numerosas, sendo o seu número talvez maior do que trezentos e cinqüenta. Os dois Testamentos contêm um mesmo plano de reli­gião; nenhuma das partes pode ser entendida sem a outra. O livro de Levítico ajuda na compreensão da Epístola aos Hebreus, enquanto que Daniel ajuda na compreensão de Apocalipse. Ambos os Testamentos tratam apenas de um assunto do princípio ao fim. Na verdade a Escritura é como o oceano, extrema­mente límpido, mas insondável. Ela parece dizer aos mi­lhares que a estudam: "Meus tesouros são inexauríveis; nunca me ponhais de lado, mas examinai-me incessante­mente" (Compêndio de Teologia – Editora Nazarena – Pág. 36).
2.O Divino Intérprete das Escrituras
Os mais ricos tesouros das Escrituras não se podem descobrir a menos que o ESPÍRITO SANTO os revele" (Sl 119.18; Lc 24.45; Jo 16.13; 1 Co 2.9-16). É com a luz do ESPÍRITO SANTO que ficamos convencidos da verdade da Bíblia, ou da verdadeira significação de determinadas passagens (Jo 7.17; 1 Co 2.13). O "intérprete", em cuja casa o Peregrino de Bunyan viu tantas maravilhas, é o ESPÍRITO SANTO. Além disso, a Escritura interpreta a própria Escritura. Deste modo, não há uma só passagem que, obscura mas conten­do alguma verdade importante, não seja explicada em al­gum outro lugar. A Bíblia, escrita sob a orientação daquele a quem to­dos os corações estão descobertos e que conhece todos os acontecimentos futuros, contém ensinos próprios para pro­veito da humanidade em todos os sentidos e em todos os tempos (Rm 11.4; 1 Co 10.11; 2 Tm 3.15-17). Os melhores escritos de um sábio, depois de al­gumas leituras, como as flores colhidas, murcham em nos­sas mãos e perdem a sua fragrância; mas estas flores imor­tais da verdade divina tornam-se cada vez mais belas aos nossos olhos, emitindo diariamente novos perfumes e sua­ve cheiro, e aquele que uma vez o tenha sentido, deseja-o de novo, e aquele que sente mais vezes sabe apreciá-lo mais (Sl 1.2; 119.11,97; Jó 23.12; Jr 15.16). Neste particular, as Escrituras assemelham-se ao Jardim do Éden, onde se acha toda a espécie de árvore que é agradável à vista e boa para alimento espiritual, inclusi­ve a Árvore da Vida, que é dada para a salvação das pes­soas (Pv 3.13-18; Ap 22.2).
3.Este Livro Singular
A Bíblia tem gozado duma aceitação no mundo ja­mais igualada por qualquer outro livro. A literatura da Grécia que se levanta como incenso dessa terra de templos e atos heroicos, não tem tido a metade da influência que tem tido este livro produzido numa nação menosprezada tanto no passado como no presente... A Bíblia é encontra­da tanto na choupana do homem pobre quanto nos palá­cios reais. Está entrelaçada na literatura do erudito e ador­na o eloquente falar dos sábios. Ela entra na privacidade dos homens mesclando de alegria as tristezas da vida.
A Bíblia atende os homens nas suas enfermidades, quando a febre do mundo abate-se sobre eles... É a Bíblia a melhor parte de nossos sermões; ela levanta o homem por sobre si mesmo. Nossas melhores orações estão baseadas em suas histórias com as quais nossos pais e os patriarcas oraram. O homem tímido, a ponto de despertar-se do sono de sua vida, mira através do límpido cristal das Escrituras e seus olhos voltam a brilhar: não tem medo de estar só, andar em caminhos desconhecidos e distantes, tomar a mão do anjo da morte e dizer adeus à esposa e aos filhos queridos... Mil famosos escritores deste século poderão já não serem lembrados no próximo, porém o fio de prata da Bíblia não está frouxo, nem a taça de ouro da revelação divina está a desmoronar. Como uma crônica do tempo, duas dezenas de séculos são passados, contudo a Bíblia continua como um monumento eterno.
Aqueles que negligenciam a sua Bíblia não imaginam o prazer que perdem por não voltarem os seus olhos à con­templação do objeto mais sublime e mais encantador dos que produziram o Universo inteiro.

QUESTIONÁRIO DE BIBLIOLOGIA
1. Quais as quatro razões básicas da necessidade das Escrituras?
2. Por que a queda do homem torna necessárias as Escrituras?
3. De que modo o amor de DEUS torna necessárias as Escrituras?
4. De que maneira a Igreja torna necessárias as Escrituras?
5. Que utilidade tem as Escrituras para o cristão indivi­dualmente?
6. O que se entende por "inspiração" em relação às Escrituras?
7. O que as Escrituras ensinam acerca da sua inspiração?
8. O que se entende por "inspiração mecânica" das Escrituras?
9. O que se entende por "inspiração dinâmica" das Escrituras?
10. O que se entende por "inspiração orgânica" das Escrituras?
11. Dê três provas bíblicas da inspiração das Escrituras.
12. De que modo a História da Igreja aprova a inspiração das Escrituras?
13. O que se entende por harmonia e unidade das Escrituras?
14. Cite pormenores da harmonia das Escrituras conside­rando os escritores, as condições e as circunstâncias em que seus livros foram escritos.
15. De acordo com o capítulo, qual a razão básica da har­monia e unidade das Escrituras?
16. O grande tema das Escrituras é: Abraão, Moisés, Davi ou JESUS?
17. De que modo JESUS aprovou as Escrituras como a inspirada Palavra do pai?
18. De acordo com o capítulo, quais as bases da autoridade das Escrituras?
19. Que conceito fazia a congregação de Israel em relação às Escrituras do seu tempo?
20. Quanto às Escrituras, o que recomendava DEUS aos reis em Israel?
21. Que relação tinham os juízes em Israel com as Escrituras?
22. Em relação ás Escrituras, que faziam os levitas?
23. Que vínculo havia entre os profetas do Antigo Testa­mento e as Escrituras?
24. Dê três provas da canonicidade das Escrituras.
25. Como se formou o cânon sagrado?
26. Cite duas razões porque o cânon sagrado merece con­fiança.
27. De que modo o Antigo e Novo Testamentos se completam?
 
 
 
 

A Palavra Inspirada de DEUS - John R. Higgins - TEOLOGIA SIST.HORTON

A teologia, na sua tentativa de conhecer a DEUS e de tornado conhecido, parte do princípio de que o conheci­mento a respeito do Supremo Ser já tenha sido revelado. Esta revelação é o fundamento de todas as afirmações e pronunciamentos teológicos. O que não foi revelado não pode ser conhecido, estudado ou explicado.
Noutras palavras, a revelação é o ato de tornar conheci­do algo que antes era desconhecido. O que estava escondido passa a ser conhecido. A mãe revela o que está sendo assado no forno; o mecânico, o que deu pane no motor. Cada um destes mistérios termina aí.
Embora a revelação ocorra em todas as áreas da vida, o termo acha-se especialmente associado à religião. "Onde houver religião, aí haverá uma reivindicação de revelação". As questões da fé centralizam-se no fato de que DEUS fez-se conhecido aos seres humanos. O cristianismo é a religião baseada na revelação que DEUS fez de si mesmo.
A Bíblia emprega vários termos em grego e hebraico para expressar o conceito da revelação. O verbo hebraico gãlãh significa revelar por meio do ato de descobrir ou de arrancar alguma coisa que cobre (Is 47.3). Frequentemente, é usado no tocante à revelação (comunicada) que DEUS faz de si mesmo às pessoas: "Certamente, o SENHOR DEUS não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profetas" (Am 3.7). A palavra grega apokalupsis (revelação) está associada a esta ideia: tornar conhecido o Evangelho. Paulo afirmou que não recebeu o Evangelho mediante instrução humana, mas "pela revelação de JESUS CRISTO" (Gl 1.12). J. Oliver Buswell alega que a palavra apokalupsis pode ser usada a respeito de pessoas, ou de objetos, mas que, usualmente, refere-se a alguma verdade revelada. Por outro lado, é DEUS quem manifesta ou mostra (gr. phaneroõ) a si mesmo (1 Tm 3.16).
A revelação, noutras palavras, envolve não somente in­formações a respeito de DEUS, mas a revelação que DEUS fez de si mesmo. Isso não significa, porém, que devemos rejeitar a revelação proposicional e preferir a existencial.  Pelo con­trário: "a revelação a respeito de DEUS é crucial para o conhecimento de DEUS". Através de suas palavras e ações, DEUS torna conhecida a sua Pessoa, seus caminhos, valores, propósitos e o seu plano de salvação. O alvo final da revela­ção divina é que as pessoas venham a conhecer a DEUS de modo real e pessoal.
Embora a revelação divina esteja frequentemente limita­da ao desvendamento que DEUS faz da própria Pessoa, em atos ou palavras, pode ela também ser considerada a concatenação maior de eventos revelados. Essa definição da revelação divina incluiria a reflexão e a inscrição (registrar a revelação na forma escrita) pelos escritores inspirados, o processo da canonização desses mesmos escritos e a ilumina­ção pelo ESPÍRITO SANTO daquilo que DEUS de fato revelou.

A Revelação de DEUS ao Gênero Humano
No conceito de um DEUS que se revela, está inerente a realidade de um DEUS que se encontra plenamente cônscio da própria existência. Cornélius Van Til descreve o conheci­mento que DEUS tem de si mesmo como analítico: "conheci­mento que não é obtido mediante a referência a algo que existe fora da pessoa que o exerce". O conhecimento que DEUS tem de si mesmo não proveio de comparar-se, ou contrastar-se, com algo fora de si mesmo: "DEUS possuía em si mesmo todo o conhecimento desde toda a eternidade. Portanto, todos os conhecimentos que qualquer criatura finita poderia ter de DEUS, quer a respeito dEle, quer a respeito do próprio universo criado, teriam de depender da revelação de DEUS".
O DEUS absoluto e eternamente consciente de si mesmo tomou a iniciativa de se tornar conhecido à sua criação.
A revelação que DEUS fez de si mesmo foi um autodesvendamento deliberado. Ninguém forçou a DEUS a se tomar conhecido; ninguém o descobriu por acidente. Num ato voluntário. DEUS fez-se conhecido aos que, de outra forma, não poderiam conhecê-lo. Emil Brunner enten­de que a autorrevelação divina é uma "incursão de outra dimensão", trazendo conhecimentos "totalmente inacessível às faculdades naturais que o homem possui à pesquisa e à descoberta".'
A humanidade finita deve lembrar-se de que o DEUS infinito não pode ser encontrado à parte do próprio convite para o conhecermos. J. Gresham Machem levanta graves dúvidas contra os deuses que os homens criam:
Um ser divino que pudesse ser descoberto mediante os meus própri­os esforços, independentemente de sua vontade graciosa de se revelar... seria, ou um mero nome para certo aspecto da própria natureza huma­na, um deus encontradiço dentro de nós mesmos, ou, por outro lado... uma coisa meramente passiva, sujeita à investigação assim como as substâncias que são analisadas no laboratório... Devemos estar mais que certos de que não podemos conhecer a DEUS a não ser que Ele tenha decidido revelar-se a nós. 

No livro de Jó, a resposta à pergunta de Zofar a respei­to da possibilidade de se sondar os mistérios divinos é um "não" em alto e bom som (Jó 11.7). Mediante nossas própri­as pesquisas, à parte daquilo que DEUS revelou, nada poderia ser descoberto a respeito dEle e de sua vontade, nem sequer de sua existência. Pelo fato de o infinito não poder ser desvendado pelo finito, todas as afirmações humanas a res­peito de DEUS acabam sendo perguntas em vez de firmarem como declarações. "As mais sublimes realizações da mente e do espírito humanos não bastam para chegarem ao conheci­mento de DEUS".
O ser humano jamais progride além desta realidade: o que DEUS revelou pela própria vontade estabelece os limites de todo o conhecimento a respeito dEle. A revelação divina destitui todas as alegações do orgulho, autonomia e autossuficiência humanos. O DEUS do Universo tornou-se conhecido; a maneira certa de acolhermos tal iniciativa é reconhe­cer esta revelação. Ele determinou qual seria essa revelação, a forma que ela teria e as várias condições e circunstâncias exigidas para recebermos a sua autorrevelação. Essa revela­ção foi um desvendamento controlado de seu próprio ser. A comunicação de si mesmo foi determinada exclusivamente pelo próprio DEUS.
DEUS determinou as ocasiões da sua revelação. Não se revelou de uma só vez, mas optou por revelar-se paulatina­mente no decurso de muitos séculos. "Havendo DEUS, anti­gamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais" (Hb 1.1). Mesmo para DEUS há "tempo de estar calado e tempo de falar" (Ec 3.7). Ele se revelou quando estava pronto para isso, quando achou por bem fazer conhecido o seu nome e os seus caminhos (Ex 3.14,15).
Até mesmo a maneira de DEUS se revelar - ajudando os seres humanos a compreender a sua natureza, caminhos e o seu relacionamento com eles - também foi por Ele determi­nada. Às vezes, o método era externo, tal como uma voz, um evento, uma nuvem ou um anjo. Em outras ocasiões, a revelação era interna: um sonho ou visão (Ex 13.21,22; Nm 12.6; Dn 9.21,22; At 9.3,4). Seja de modo externo ou inter­no, era sempre DEUS quem revelava; Ele escolheu a maneira de revelar a sua verdade.
Semelhantemente, DEUS determinou o local e as circuns­tâncias da sua revelação. Fez-se conhecer no jardim dq Éden, no deserto de Midiã e no monte Sinai (Gn 2.15-17; Ex 3.4-12; 19.9-19). Nos palácios, nos campos e nas prisões, Ele tornou conhecida a sua Pessoa, bem como seus caminhos (Ne 1.11; Lc 2.8-14; At 12.6-11). Quando o ser humano busca a DEUS, só consegue achá-lo segundo as condições por Ele estabelecidas (Jr 29.13). DEUS determina até mesmo quem receberá a sua revelação, quer se trate de pastores ou reis, quer de pescadores ou sacerdotes (Dn 5.5-24; Mt 4.18-20; 26.63,64).
O conteúdo da revelação divina é aquilo que DEUS que­ria fosse comunicado - nada mais, nada menos que isso. Todas as considerações a respeito de DEUS não passam de mera especulação à parte do que Ele mesmo revelou. Karl Barth descreve DEUS como aquele "para quem não existe caminho nem ponte, a respeito de quem não poderíamos dizer... uma única palavra se Ele, por sua própria iniciativa não viesse ao nosso encontro". A partir da revelação inicial que Ele fez de si mesmo, e por toda eternidade, Carl F. H. disse que "o DEUS da Bíblia é totalmente determinativo no tocante à revelação".
A revelação, proveniente e determinada por DEUS é, portanto, uma comunicação pessoal. Tem sua origem num DEUS pessoal, e é acolhida por uma criação pessoal. DEUS se revela não como alguma mera força cósmica ou objeto inani­mado, mas como um ser pessoal que fala, que ama, e que se importa com a sua criação. Ele despreza "outros deuses" que não passam de obra das mãos do artífice (Is 40.12-28; 46.5-10). Pois Ele se revela em termos de relacionamentos pesso­ais, e se identifica por designativos tais como Pai, Pastor, Amigo, Guia e Rei. E nesses tipos de relacionamentos pesso­ais que os seres humanos têm o privilégio de conhecê-lo.
A revelação de DEUS é uma expressão da graça divina. DEUS jamais sentira-se constrangido por qualquer necessida­de a revelar-se. A perfeita comunhão entre o Pai, o Filho e o ESPÍRITO SANTO não carecia de nenhuma suplementação ex­terna. Pelo contrário: DEUS se deu a conhecer aos seres humanos, visando o próprio bem destes. O maior privilégio do ser humano é poder conhecer a DEUS, glorificá-lo e des­frutar para sempre de sua presença.14 Essa comunicação pri­vilegiada reflete o amor e a bondade de DEUS que, graciosa­mente, deu-se a conhecer. Emil Brunner considera maravi­lhoso e estupendo que "o próprio DEUS haja dado de si mesmo pessoalmente a mim; somente dessa maneira, posso entregar-me a Ele ao aceitar a doação de si mesmo a mim".
Carl F. H. Henry chama a atenção para as expressões "a vós, a nós" da revelação divina, quando DEUS nos traz a boa nova, de valor incalculável, de que Ele chama a raça huma­na à comunhão com Ele.
O propósito de DEUS, na revelação, é que o conheçamos pessoal­mente conforme Ele é, que aceitemos seu perdão gracioso e sua oferta de uma nova vida, que sejamos libertos do julgamento catastrófico em consequência de nossos pecados, e que entremos na comunhão pessoal com Ele. Ele declara: "Eu vos serei por DEUS, e vós me sereis por povo" (Lv 26.12).
DEUS, na sua misericórdia, continua a revelar-se à humanidade caída. Andar com Adão e Eva no paraíso ajardinado foi bondade dEle, mas chamar ao perdão e à reconciliação os pecadores teimosos e contumazes revela amor bem maior (Gn 3.8; Hb 3.15). Seria compreensível que a revelação graciosa de DEUS terminasse com a colocação da espada de fogo no Éden, na fabricação do bezerro de ouro pelos israelitas, ou na rude cruz do Calvário. A revelação de DEUS, no entanto, é redentora no seu caráter. "O DEUS invisível, ocul­to e transcendente, a quem nenhum homem viu nem poderá ver, revelou-se na vida humana a fim de que os pecadores se aproximassem dEle".
A dádiva suprema que DEUS oferece à raça humana é o convite para que todos o conheçam pessoalmente. "Tu nos criaste para ti mesmo, e o nosso coração está inquieto até que ache repouso em ti".18 Conhecer a DEUS, mesmo um ' pouco, é desejar conhecê-lo melhor. "Pelo qual sofri a perda de todas estas coisas e as considero como esterco, para que possa ganhar a CRISTO JESUS" (Fp 3.8).
Fica óbvio: a revelação que DEUS fez de si mesmo visa o benefício do ser humano. Isso não quer dizer, porém, que a revelação divina, por si só, garanta uma resposta positiva a DEUS da parte de quem a recebeu. "Precisamente porque a revelação divina visa o benefício do homem, não ousamos obscurecer o seu conteúdo informativo, nem pensar errone­amente que a revelação divina outorga a salvação automáti­ca de quem a possua. Ouvir as boas novas reveladas por DEUS não nos redime automaticamente".
A revelação divina é uma proclamação de vida, mas quando rejeitada, é uma proclamação de morte (Dt 30.15; 2 Co 2.16).
Graciosamente, DEUS revelou-se a si mesmo, bem como os seus caminhos ao ser humano. Sua autorrevelação abran­ge os séculos; é variada na sua forma, e oferece comunhão privilegiada com o Criador. Essa revelação abundante, toda­via, não esgotou o mistério do DEUS eterno. Há aspectos de sua Pessoa e do seu propósito que Ele optou por não tornar conhecidos (Dt 29.29; Jó 36.26; SI 139.6; Rm 11.33). A retenção deliberada de tais informações serve-nos de lem­brança: DEUS transcende a própria revelação. O que DEUS não revelou está além das necessidades e possibilidades da descoberta humana.
A revelação tem sua base, mas também os seus limites, na vontade de DEUS... Os seres humanos universalmente não possuem recursos naturais para delinearem a natureza e a vontade divina. Nem sequer os dotados de capacidades especiais, ou de notáveis qualidades religiosas, poderão, mediante as próprias capacidades, aprofundar-se nos segredos do Infinito... e esclarecer, com o próprio poder e iniciativa, os mistérios da eternidade.

As bibliotecas estão cheias de explicações acerca da autorrevelação de DEUS, mas não se deve considerar que tais dissertações acrescentem algo à Sua revelação. A exemplo de João Batista, somos chamados a testificar da luz, e não para criar nova luz (Jo 1.7).
Em todos os aspectos, DEUS mantém o domínio total sobre a própria revelação. Não é prisioneiro da majestade de sua própria Pessoa a ponto de nem sequer poder se revelar. Ele pode selecionar o que é revelado. Assim como determina o conteúdo e as circunstâncias da sua revelação, também determina a extensão da revelação. A limitação consciente que DEUS impõe à sua revelação reflete a natureza de sua Pessoa. "Embora DEUS se revele na sua criação, Ele não deixa de transcender ontologicamente (no tocante à sua existência) o universo, como seu Criador, e também trans­cende o homem epistemologicamente (no tocante à nature­za e limites do conhecimento humano)".21 O DEUS da Bíblia não é panteísta; Ele se revelou à sua criação como Criador -uma revelação separada e voluntária que está inteiramente sob seu controle.
Embora os seres humanos não hajam esgotado total­mente o conhecimento de DEUS, tal revelação não é incom­pleta no que diz respeito às nossas necessidades básicas. O que DEUS já revelou é suficiente para a nossa salvação, aceitabilidade diante dEle, e para a nossa instrução na justi­ça. Mediante a revelação divina, podemos conhecê-lo e cres­cer nesse conhecimento (SI 46.10; Jo 17.3; 2 Pe 3.18; 1 Jo 5.19,20).
O DEUS inexaurível continuará a transcender a sua reve­lação. Somente no céu é que lograremos alcançar, dEle, um conhecimento maior e mais completo (1 Co 13.12). Uma a das alegrias celestiais será o desdobrar, durante toda a eterni­dade, de maiores entendimentos da pessoa divina e de seus modos, sempre graciosos, em lidar com os redimidos (Ef 2.7). O fato de agora conhecermos apenas "em parte" não altera, contudo, a validade, a importância e a fidedignidade da revelação divina em nosso dia-a-dia.
Tratando-se da revelação divina, o DEUS da Bíblia colo­ca-se em marcante contraste com os deuses do paganismo politeísta. Ele não é nenhuma deidade local que está a dispu­tar, com outras, as lealdades dos adoradores. Não é um ídolo mudo lavrado em madeira ou pedra. Tampouco é a voz projetada dos líderes políticos que revestem suas ideias com a mitologia religiosa. Pelo contrário: Ele é o único e verda­deiro DEUS; é o Senhor de todo o Universo. A revelação de sua vontade é lei para todos os povos. Ele é o Juiz de toda a terra (Gn 18.25; SI 24.1; Rm 2.12-16).
Walther Eichrodt discorre sobre a possibilidade linguística de se interpretar o Shema hebraico: "Yahweh nosso DEUS é o único DEUS" (Dt 6.4), indicando que Yahweh não é um DEUS que possa ser dividido em várias deidades ou poderes da mesma maneira que os deuses cananeus.22 Quando Ele fala, há uma só voz; não há lugar para mensagens confusas ou conflitantes. Embora DEUS possa optar por revelar-se através de vários meios, e falar através de muitas pessoas, a mensagem permanece sendo dEle só; fica evidente a conti­nuidade e coerência desta. Na revelação divina, não há revelações com duplo sentido, ou rivais, mas uma unidade compreensiva que flui de um só DEUS - o único e verdadeiro DEUS.
Consequentemente, a verdadeira revelação divina tem seu aspecto exclusivo. Henry sugere dois perigos que amea­çam sua exclusividade. O primeiro: ver a experiência huma­na sob o aspecto sobrenatural nas religiões não cristãs como se fora revelação divina válida. Tais religiões não falam com a voz de DEUS, mas com a de Satanás e seus demônios (1 Co 10.20). Algumas delas até mesmo negam o fator indispensá­vel da revelação divina genuína: a existência pessoal de DEUS. O segundo perigo: a tendência de se reconhecer fon­tes adicionais de revelação independente (tais como o raciocínio e a experiência humanos), e colocá-las lado a lado com a revelação feita pelo próprio DEUS. Não obstante o raciocínio humano capacitar-nos a tomar conhecimento da verda­de divina, o raciocínio não é uma nova fonte originária da verdade.23 Semelhantemente, podemos experimentar a ver­dade divina, mas a nossa experiência não a cria. Nossa teologia não deve edificar-se sobre a experiência subjetiva, mas na palavra objetiva de DEUS. Nossa experiência deve ser julgada pela palavra. Sejamos como os bereanos que "de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escri­turas se estas coisas eram assim" (At 17.11).

Categorias da Revelação Divina
As duas categorias primárias da revelação divina são a revelação geral e a especial. A geral envolve a revelação que DEUS fez de si mesmo a todos os homens em toda parte. A especial é o desvendamento que DEUS faz de si mesmo de modo imediato e sobrenatural. A teologia natural24 e a reve­lada são os conceitos teológicos utilizados para denotar a revelação geral e a especial. Usualmente, entende-se que a revelação geral consiste em DEUS se fazer conhecido através da história, do ambiente natural e da natureza humana.
A Revelação Geral
A história da humanidade. DEUS se revelou através de sua direção providencial na história da humanidade. Como Soberano do Universo, Ele atua na sua criação, supervisionando-a e dirigindo-a. Guia os assuntos da humanidade em direção ao cumprimento de seus propósitos. Em favor de seu povo, age de modo contundente e decisivo. Israel deleitava-se em recitar os poderosos "atos de DEUS" no decurso de sua história (SI 136). Ele é o DEUS que estabelece e derruba reis (Dn 2.21). Os credos da Igreja ressaltam os atos divinos de redenção na história. O Credo dos Apóstolos, por exemplo, enfatiza os atos da criação; da encarnação, crucificação, ressurreição, ascensão e segunda vinda de CRISTO; e do juízo final. O estudioso da história encontra traços da atuação divina nas interações que se verificam entre as diversas na­ções, povos e tribos. Como o DEUS que é justo e poderoso, seu modo de lidar com a humanidade tem continuidade e coerência: "A história tem o caráter teológico; a totalidade dela leva os sinais da atividade divina". Toda a história desdobra-se sob o propósito soberano de DEUS; Ele a contro­la, orienta e age pessoalmente nela.
A natureza. DEUS também se revela através da natureza e do Universo. A criação, com sua infinita variedade, beleza e ordem, reflete um DEUS infinitamente sábio e poderoso. A lua e as estrelas incontáveis, nos céus, são obra dos dedos do Senhor; seu nome é majestoso em toda a terra que por Ele foi criada (SI 8).
O Salmo 19 fornece informações importantes a respeito da revelação geral na natureza.
Os céus manifestam a glória de DEUS e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Sem linguagem, sem fala, ouvem-se as suas vozes em toda a extensão da terra, e as suas palavras, até ao fim do mundo (SI 19.1-4).
Este texto bíblico está envolto em controvérsia, mor­mente por causa da tradução mais literal do v. 3: "Não há linguagem, nem há palavras, e deles não se ouve nenhum som" (ARA), em contraste com: "Não existe linguagem nem idioma humano em que não se ouve a sua voz" (NVI). Dessa controvérsia, surgem quatro interpretações diferentes, que sugerem igual número de conceitos da revelação geral na natureza:
1. O Universo é mudo, e não há nenhuma revelação geral objetiva na natureza.
Há na natureza uma revelação geral objetiva, mas não é percebida subjetivamente por cair em ouvidos e olhos danificados pelo pecado.
Não existe revelação geral e objetiva na natureza. Pelo contrário: uma revelação geral e subjetiva, falsamente atri­buída à natureza, é obra exclusiva dos cristãos. O que já conhece a DEUS através da revelação especial imagina vê-lo na criação.
Há uma revelação geral objetiva, mas não é apresenta­da num idioma formal escrito ou falado, nem possui forma proposicional. Pelo contrário: acha-se envolvida na lingua­gem da natureza, que transcende toda a linguagem humana, que abrange toda a terra, e está à disposição de todo o ser humano.
A quarta interpretação parece encaixar-se melhor no contexto do Salmo 19 e das doutrinas encontradas noutras partes das Escrituras no tocante à revelação geral. "A men­sagem, sem palavras, da glória de DEUS, estende-se por toda a terra. A reflexão de DEUS na vasta exibição de corpos celestes pulsando no céu é. vista por todo ser humano".26 Outros Salmos, tais como o 29, 33, 93 e 104, celebram a majestade divina revelada no âmbito da natureza.
Aos habitantes de Listra, Paulo fala de um testemunho contínuo que DEUS, o Criador, deixou a respeito de seu relacionamento com a criação: "E vos anunciamos que vos convertais... ao DEUS vivo, que fez o céu, e a terra, e o mar, e tudo quanto há neles... não se deixou a si mesmo sem teste­munho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso coração" (At 14.15-17).
No discurso aos atenienses no Areópago (At 17), Paulo apela àquilo que já lhes fora descoberto mediante a revela­ção geral - DEUS é Criador e soberano sobre a sua criação. Ele é autossuficiente, a origem de toda a vida e de tudo o mais que a raça humana necessite. E age nos acontecimentos humanos. Paulo, de modo bem relevante, explica a razão da autorrevelação divina na natureza. DEUS fez assim" para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, o pudessem achar" (At 17.27). Este é o alvo positivo da revelação geral.
Romanos 1.8-21 tem sido chamado o trecho clássico da autorrevelação de DEUS na natureza.27 A revelação geral através da natureza é universalmente outorgada e universal­mente recebida. Leva a verdade a respeito de DEUS a todos os seres humanos, inclusive aos pecadores. Através da natu­reza, as qualidades invisíveis de DEUS - "tanto seu eterno poder como a sua divindade" - tornam-se visíveis. Tais verdades a respeito de DEUS, mediadas pela natureza, "se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão cria­das" (Rm 1.20). Tanto a percepção dos sentidos quanto a reflexão da mente são confrontadas pelo fenômeno da natureza.
A revelação da natureza é uma revelação da parte de, DEUS a respeito de DEUS. "A fala de DEUS na natureza não deve ser confundida com a noção de um cosmos falante. Há, inclusive, os que insistem que a natureza fala de tal modo que devemos escutá-la como se fora a voz de DEUS. Mas a mensa­gem da Bíblia é: 'Ouça a DEUS!' e não 'Escute a natureza!'" 
Não obstante DEUS se revelar na ordem da natureza, não deve ser identificado com o Universo criado como o quer o panteísmo. A terra e o Universo não são DEUS, nem deuses. Se o fossem, sua destruição implicaria na destruição de DEUS. Por outro lado, DEUS está envolvido nos acontecimentos do Universo que Ele criou, e no qual se revela de muitas maneiras.
Infelizmente, o pecador rebelde suprime a verdade que a natureza revela a respeito de DEUS, provocando-lhe a ira (Rm 1.18). E, dessa forma, cai o impenitente nas maiores profundezas da impiedade (Rm 1.21-32).
A natureza humana. A revelação geral também inclui a autorrevelação de DEUS através da natureza humana. A humanidade foi criada à imagem de DEUS (Gn 1.26-27). Mas a Queda levou ao rompimento na comunhão entre DEUS e o homem. Não obstante, o pecado não conseguiu extinguir de todo a imagem divina nos seres humanos.
Embora o homem seja totalmente pecador, a Bíblia reconhece ser ele uma criatura racional com quem DEUS pode se comunicar... É por isso que DEUS manifesta o seu convite: "Vinde, então, e argui-me, diz o SENHOR". Além disso, textos do Novo Testamento, tais como Efésios 4.24 e Colossenses 3.10, asseguram-nos existir um ponto básico de contato entre DEUS e o homem. 

Depois da Queda, a imagem divina no homem foi desfi­gurada e distorcida, mas não totalmente destruída (Gn 9.6; Tg 3.9). A renovação fazia-se premente.
A natureza moral e espiritual da humanidade reflete, mesmo de forma bastante inadequada, o caráter moral de um Criador santo e perfeito. Uma consciência universal (por mais distorcida) da conexão entre a humanidade e DEUS é afirmada repetidas vezes nas Escrituras. Que o diga o teste­munho dos missionários e antropólogos. Romanos 2 confir­ma a validade da revelação divina através da natureza hu­mana, mesmo à parte de qualquer revelação especial (Rm 2.11-15). Os que não possuem a Lei Mosaica "fazem natural­mente as coisas que são da lei", pois "mostram a obra da lei escrita no seu coração" (Rm 2.14,15). Até mesmo os que se acham alienados de DEUS por causa do pecado não estão destituídos da consciência moral e dos impulsos que refletem as normas de conduta. A graciosa revelação moral de DEUS ao coração humano tem preservado a raça adâmica de irrefreada autodestruição.
Os judeus tinham um código moral escrito na Lei. Os gentios, por outro lado, possuíam conceitos morais básicos fundamentais para a lei escrita no seu coração. Paulo, referindo-se às exigências da lei ("as coisas que são da lei"), enfatiza que os gentios não têm uma lei diferente. Essencialmente, era a mesma lei dos judeus. Essa "lei do coração" é inferior apenas por ter menos pormenores e clareza. O prin­cípio unificante entre a Lei escrita e a lei do coração é o próprio DEUS!
Muitos limitam essa revelação geral à consciência huma­na. Pois esta dá testemunho da "revelação ao coração" con­cedida por DEUS como um "segundo conhecer" que se acha lado a lado com que já foi revelado. O "testemunho conjun­to" da consciência julga se alguém está vivendo em obediên­cia às coisas da lei escrita no coração. Além disso, nossos pensamentos ou nos acusam, ou nos exime de culpas, de conformidade com nossa obediência ou desobediência à lei do coração (Rm 2.15). Consequentemente, os não regenerados, mesmo sem terem diante de si nenhuma lei divina escrita, experimentam incontáveis conflitos todos os dias ao se verem confrontados pela lei de DEUS dentro deles.
A revelação geral leva o conhecimento cognitivo de DEUS a toda a humanidade. Tal conhecimento é verdadeiro, claro e inexorável. "O testemunho que o DEUS Criador dá de si mesmo... continua dia após dia, hora após hora, e momen­to após momento. O homem caído, no seu dia-a-dia, nunca fica totalmente separado nem isolado da revelação de DEUS".33 A pessoa que declara que não há DEUS, é mui estulta. Semelhante declaração nega o que se acha no íntimo de nosso ser, e que surge diante de nós em todos os momentos de nossa existência.
Bruce Demarest alista 19 áreas específicas do conheci-a mento a respeito de DEUS que, segundo declaram as Escritu­ras, vem à humanidade através da revelação geral.34 Conclui que "a glória de DEUS (SI 19.1), a natureza divina (Rm 1.20), e as exigências morais (Rm 2.14,15) são conhecidas, até certo ponto, através da revelação geral!"35 A revelação geral que DEUS fez de si mesmo é objetiva, racional e válida, independentemente de o ser humano já ter correspondido (ou tido acesso) a qualquer revelação especial de DEUS. "A Revelação Geral não é algo que os que já conhecem a DEUS (por outros meios) alegam perceber na natureza. Pelo con­trário: está presente na Criação e na contínua providência divina". 
Aceitar a validade do propósito da revelação geral não implica em negar as consequências da Queda com respeito a tal revelação. De maneira bastante clara, a Bíblia afirma ter o pecado afetado o conhecimento que o ser humano possui de DEUS (At 17.23; Rm 1.18-21; 2 Co 4-4). O pecado obscu­rece o conhecimento divino que vem através da revelação geral a ponto de limitar a compreensão de que DEUS real­mente existe em majestade e poder, e que Ele executa julga­mento moral. Os efeitos do pecado sobre o intelecto têm influenciado as pressuposições e conclusões filosóficas, e cor­rompido a vontade humana. "Os incrédulos não são filhos de DEUS por se acharem desprovidos do conhecimento dEle, mas por não possuírem qualquer compromisso espiritual e vocação para a obediência". 
A humanidade pecaminosa e contumaz reprime e rejeita o conhecimento de DEUS. Ela fabrica suas próprias verdades, transgridem as leis divinas que se acham impressas em seu coração, e inventa novos deuses. O conhecimento do verda­deiro DEUS, proveniente da revelação geral, foi pervertido a tal ponto que acabou por gerar as muitas religiões e divinda­des. E, dessa forma, terminaram por fazer DEUS à imagem dos seres humanos ao invés de se aperceberem de que eles mesmos é que foram criados à imagem de DEUS.
A despeito da popularidade do neo-universalismo, (vide cap. 10) que aceita todas as religiões como verdade, há de se reconhecer, nessas mesmas religiões, gravíssimas distorções da verdadeira revelação divina. As pessoas que procuram a DEUS nas falsas religiões não podem ser aplaudidas como "boazinhas". Mesmo porque, a ira divina se há manifestado justamente para lhes punir a idolatria (Rm 1.18,23-32).
A revelação de DEUS (cognitiva) invade e penetra por completo a mente e a consciência humanas a despeito de, em face desta revelação, o homem não optar por conhecer a DEUS (existencial e experimental­mente). A condição humana não é a de um natural agnosticismo, nem somos obrigados a confiar em DEUS sem os recursos do conhecimento cognitivo. Não obstante, o pecador persiste em violar o que ele sabe ser a verdade e a justiça. 

Só pode ser suprimido o que já foi experimentado. A revelação geral traz o conhecimento de DEUS a todas as pessoas e, "embora possa ser ignorada, não há de ser destruída. Ela permanece intacta, pois profundamente sepultada no subconsciente da humanidade".40 Desde que este conheci­mento de DEUS acha-se disponível a todos, ninguém pode se haver como inescusado diante de DEUS (Rm 1.20).
Se por um lado a Bíblia legitima o propósito da revelação geral, por outro, nega a validade da teologia natural quando baseada apenas na razão humana. Não se pode refletir sobre a verdade proveniente da revelação geral e, a partir daí, desenvolver uma teologia que habilite alguém a obter o conhecimento salvífico de DEUS. O que Paulo afirma em Romanos 1 e 2 concernente à revelação geral deve ser en­tendido à luz do capítulo 3. Neste capítulo, o apóstolo enfatiza o fato de todos haverem fracassado quanto ao ideal divino, não havendo, por conseguinte, nenhum justo sobre a terra (Rm 3.23). A revelação geral não tem como meta proporci­onar, a partir das verdades que ela revela um conhecimento adicional de DEUS. Mas à semelhança "da Lei (da Escritura), a revelação geral serve meramente para denunciar o culpa­do, e não para justificá-lo". Este fato, contudo, leva o crente a regozijar-se na verdade (SI 19.1), e pode ser usado pelo ESPÍRITO para induzir-nos a procurar a verdade (At 17.27).
Em resposta à turbulenta questão de a justiça divina condenar os que jamais ouviram o Evangelho de maneira convencional, Millard J. Erickson afirma: "Ninguém jamais ficou completamente sem tal oportunidade. Todos conhe­cem a DEUS. E se alguém ainda não o percebeu de forma efetiva, é sinal de que a verdade já está sufocada em sua vida. Eis porque todos são responsáveis". E indispensável, toda­via, encarar a revelação geral não como se fora a insensibili­dade de DEUS, e, sim, como mais uma demonstração de sua misericórdia (11.32). "A revelação geral cósmico antropológica caminha lado a lado com a revelação especial de DEUS, em JESUS CRISTO, não somente por pertencerem ambas à revelação divina progressiva, mas porque a revelação geral estabelece e enfatiza a culpa universal do ser humano, a quem DEUS oferece resgate na manifestação especial da re­denção na pessoa de seu Filho". 
A semelhança da Lei escrita, a revelação geral condena os pecadores com o objetivo de lhes apontar um Redentor que lhes transcenda. Seu intento é guiá-los à revelação espe­cial. Pois a insuficiência da revelação geral para salvar a humanidade caída necessitava da revelação especial de JESUS CRISTO como a Verdade que liberta o povo das cadeias do pecado (Jo 8.36).

A Revelação Especial
Posto não podermos conhecer o plano divino da reden­ção por meio de alguma teologia natural, precisamos de uma teologia revelada mediante uma revelação especial de DEUS. Por exemplo: normas, mandamentos e proibições morais foram estabelecidos para Adão, no Éden, pela revelação especial, e não geral. Embora antecedesse à Queda, a revela­ção especial é primariamente entendida em termos de "pro­pósito redentor". A revelação especial complementa o desvendamento que DEUS fez de si mesmo na natureza, na história e na humanidade, e edifica-se no alicerce da revela­ção geral. Mas, levando-se em conta que a revelação geral não pode trazer a salvação, as verdades adicionais contidas na revelação especial são essenciais à felicidade eterna do ser humano (Rm 10.14-17).
Pessoal. "Através do CRISTO revelado nas Escrituras inspi­radas, o homem chega a conhecer a DEUS pessoalmente num relacionamento de redenção. Começando com o conheci­mento de coisas a respeito de DEUS (sua existência, perfei­ções e exigências morais), o homem adquire conhecimentos práticos do próprio DEUS por intermédio da comunhão pes­soal”. Embora a neo-ortodoxia considere que a revelação, especial exista somente na Pessoa de CRISTO, e classifique as Escrituras como mera "testemunha" dessa revelação divina, "o cristianismo evangélico reconhece como revelação tanto o Verbo vivo quanto a Palavra escrita". 
A restrição neo-ortodoxa da revelação a um encontro pessoal não proposicional com DEUS, que é "totalmente outro", também deixa de respeitar devidamente o conteúdo do ensino bíblico. Embora o Verbo represente a forma mais sublime da revelação que DEUS fez de si mesmo, a Escritura não limita a revelação divina a essa modalidade, embora importante. 

E mediante a revelação especial das Escrituras que che­gamos a conhecer JESUS CRISTO. "Estes, porém, foram escritos para que creiais [continueis crendo] que JESUS é o CRISTO, o Filho de DEUS" (Jo 20.31).
Compreensível Na revelação especial das Escrituras, DEUS se revelou na forma antropomórfica, ou seja, segundo as características da linguagem humana daqueles tempos, e empregou categorias humanas de pensamento e de ação. Erickson, no seu livro, tem uma seção bastante esclarecedora que trata da equivalência linguística usada na comunicação verbal de DEUS. Ele faz uma distinção entre os termos "unívoca" (palavra que tem um único significado, por exemplo, "coe­lho") e "equívoca" (palavra que possui significados comple­tamente diferentes como, por exemplo, "bote" para remar, e o "bote" dado por uma cobra) e sugere que as Escrituras empregam linguagem analógica (que se coloca entre a unívoca e a equívoca; por exemplo: uma "corrida" de automóveis e uma "corrida" a uma loja em liquidação).
Na linguagem analógica, sempre há, pelo menos, algum elemento unívoco... Ao se revelar, DEUS selecionou elementos que são unívocos no seu universo e no nosso... Ao empregar o termo analógico, pois, queremos dizer "qualitativamente iguais"; noutras palavras: a diferença é de grau, mais que de tipo ou de gênero. 

Quando a Bíblia emprega palavras como "amar", "dar", "obedecer", ou "confiar", significam elas para nós a mesma coisa que, basicamente, significam para DEUS, embora seja o seu amor muito maior que o nosso. Por isso, DEUS pode comunicar as Escrituras através de proposições verbalmente racionais.
O que possibilita o conhecimento analógico é o fato de o próprio DEUS haver selecionado os componentes usados por Ele em sua comuni­cação com o ser humano. DEUS, que sabe de maneira absoluta todas as coisas, também sabe quais elementos do conhecimento e da experiência humanos assemelham-se suficientemente à sua verdade para serem usados na construção de uma analogia significante. 

Já que o conceito analógico da comunicação não pode ser verificado exclusivamente pelo raciocínio humano, por não possuímos todos os fatos, aceitamos tal pressuposição como questão de fé. Ela, no entanto, pode ser defendida racionalmente à luz da própria declaração das Escrituras.
A humanidade depende de DEUS para se apropriar da revelação especial. Pelo fato de conhecemos apenas a esfera humana do conhecimento e da experiência (e isso em ínfimo grau), não conseguimos desenvolver nenhuma revelação es­pecial válida. Somente DEUS tem conhecimento de si mes­mo, e somente Ele pode dar-se a conhecer. Já que DEUS optou por se revelar de modo analógico, podemos apreendê-lo. Mas como o finito não pode entender totalmente o Infi­nito, jamais lograremos conhecer a DEUS exaustivamente. "DEUS sempre permanece incompreensível... Embora o que dEle conhecemos equivalha ao seu conhecimento de si mes­mo, o grau de nosso conhecimento é infinitamente me­nor". O conhecimento de DEUS, mediante as Escrituras, é limitado - mas verdadeiro e suficiente.
Progressiva. DEUS não revelou de uma só vez todas as verdades que nos queria transmitir a respeito de si mesmo e dos seus caminhos através das Escrituras. A revelação bíbli­ca levou uns quinze séculos para ser completada (Hb 1.1,2). A revelação especial era progressiva, não no sentido de um desenvolvimento evolucionário gradual, mas no sentido de as revelações posteriores acrescentarem mais detalhes às anteriores. "Não se trata de um movimento na revelação especial da não verdade para a verdade, mas de um des­vendamento menor para um mais completo". A revelação mais antiga de todas era verdadeira, e apresentava com exatidão a mensagem divina. A revelação servia para com­plementar ou suplementar aquilo que DEUS revelara antes, mas nunca para corrigi-lo nem contradizê-lo. A totalidade da sua revelação visava ensinar a humanidade quem Ele é, como ser reconciliado com Ele, e como viver aceitavelmente diante dEle.
Registrada. Certamente os modos da revelação especial não estão limitados às Escrituras. DEUS se revelou nos seus poderosos atos de redenção através dos profetas e apóstolos, e mais dramaticamente mediante o seu Filho (Hb 1.1). Po­deríamos perguntar: por que DEUS achou necessário, ou importante, mandar registrar, por escrito, boa parte dessa revelação, criando as Escrituras como uma revelação especi­al e exclusiva de si mesmo? Seguem-se três razões plausíveis.
Primeiro: é necessário um padrão objetivo para testar as alegações de crença e prática religiosas. A experiência subje­tiva é por demais obscura e variável para oferecer certezas a respeito da natureza e da vontade de DEUS. Considerando a relevância eterna da mensagem de DEUS à humanidade, não era necessário "um som incerto", mas uma palavra mui firme (1 Co 14.8; 2 Pe 1.19). O padrão escrito de revelação forne­ce a certeza e a confiança no "assim diz o Senhor".
Segundo: a revelação divina escrita garante que a revela­ção que DEUS fez de si mesmo seja completa e tenha conti­nuidade. Sendo a revelação especial progressiva, a posterior edifica sobre a anterior. E importante que cada ato da reve­lação seja registrada, visando uma compreensão mais com­pleta da mensagem integral de DEUS. De modo geral, a continuidade entre o Antigo e o Novo Testamento deixa-nos compreender com maior clareza a mensagem da reden­ção. Especificamente, teríamos bastante dificuldade em en­tender a Epístola aos Hebreus sem sabermos a respeito do sistema sacrificial detalhado no Pentateuco. Logo, ao ser registrada a "totalidade", as "partes" fazem mais sentido.
Terceiro: uma revelação registrada por escrito preserva melhor a forma da mensagem de DEUS no seu caráter inte­gral. No decurso de longos períodos, a memória e a tradição humanas tendem a uma fidedignidade cada vez mais frágil. O conteúdo crucial da revelação divina deve ser transmitido de modo exato às gerações que se sucedem. A mensagem l que hoje recebemos a respeito de DEUS, deve conter a mes­ma verdade revelada a Moisés, a Davi, ou a Paulo. Os livros têm sido o melhor método de se preservar e transmitir a verdade na sua totalidade de geração em geração.
Transmitida. A Bíblia, ao manter de forma perene a revelação especial de DEUS, é tanto o registro de DEUS e dos seus caminhos, quanto a intérprete dela própria. A revelação escrita é confinada aos 66 livros do Antigo e do Novo Testamento. A totalidade de sua revelação que Ele quis preservar para o benefício de toda a humanidade acha-se armazenada, em sua totalidade, na Bíblia. Examinar as Escri­turas é conhecer a DEUS da maneira que Ele quer ser conhe­cido 0° 5.39; At 17.11). A revelação divina não é um vislumbre fugaz, mas um desvendamento permanente. Ele nos convida a voltarmos repetidas vezes às Escrituras para, aí, aprendermos a respeito dEle.
Os atos revelatórios de DEUS, bem como suas palavras de auto divulgação, são registrados conjuntamente nas Escritu­ras. "A revelação dos atos poderosos de DEUS, sem a revela­ção do significado desses mesmos atos, é como um programa de televisão desprovido do próprio som; deixa a pessoa per­dida, confusa quanto ao significado daquilo que DEUS está fazendo".52 A Bíblia registra com fidelidade os atos de DEUS, e aumenta nossa compreensão destes ao fornecer a interpre­tação que o próprio DEUS dá de seus atos. "Os atos não poderiam ser compreendidos sem serem acompanhados pela palavra divina". Os eventos revelatórios, juntamente com a sua interpretação inspirada, são indivisivelmente unificados na Bíblia.
A Bíblia não somente armazena a revelação divina, como também no-la torna conhecida hoje. Já em data remota, Moisés chamou a atenção para a importância de se registrar por escrito a revelação divina a fim de que todo o povo de DEUS, nas gerações futuras, fosse beneficiado (Dt 31.24-26). DEUS falou no passado, e continua falan­do, hoje, através do registro nas Escrituras. "O que as Escrituras dizem, DEUS diz. A Palavra divina é lavrada de forma permanente nas Escrituras, que são o veículo durá­vel da revelação especial, e fornecem o arcabouço conceptual no qual nos encontramos... com DEUS". O que DEUS disse aos outros no passado, diz-nos agora atra­vés das Escrituras.
Muitas vezes, foi debatido se a Bíblia é a Palavra de DEUS, ou se, meramente, contém a Palavra de DEUS. Na realidade, ambas as ideias têm alguma veracidade, mas isso, sob pers­pectivas diferentes. A revelação que veio antes do seu regis­tro por escrito era, posteriormente, registrada como parte da mensagem bíblica. Logo, o registro bíblico contém a Palavra de DEUS que pode haver sido recebido por alguém muito tempo antes de ela ter sido registrada por escrito. Por exem­plo: a Bíblia contém o registro do que DEUS falou a Abraão, ou a Jacó (Gn 12.1; 46.2). Tal fato, no entanto, não justifica a distinção barthiana (referente a Karl Barth) entre a Pala­vra de DEUS (divina) e seu registro nas Escrituras (huma­no). Pelo contrário: a Bíblia é "um livro divino humano no qual cada palavra é, ao mesmo tempo, divina e humana". A totalidade das Escrituras é a Palavra de DEUS em virtude da inspiração divina dos seus autores humanos. A Palavra de DEUS, na forma da Bíblia, é um registro inspirado de eventos e verdades da autorrevelação de DEUS. Benjamin B. Warfield enfatiza que a Escritura não é meramente "o registro dos atos de redenção mediante os quais DEUS salva o mundo, mas é em si mesma um desses atos de redenção, e tem seu próprio papel a desempenhar na grande obra de estabelecer e edificar o reino de DEUS". 
Uma questão chave, nesse debate, é se DEUS pode reve­lar-se na forma proposicional, e se Ele já o fez. A neo-ortodoxia considera a revelação de DEUS como "pessoal, mas não proposicional", ao passo que o evangelicalismo a consi­dera pessoal, "cognitiva e proposicional". A maneira de definirmos a revelação determina se a Bíblia é coextensiva com a revelação especial. Se a revelação for definida somen­te como o ato ou processo de revelar, a Escritura não é revelação, pois esta frequentemente ocorreu muito tempo antes de ser registrada por escrito. Se, porém, a revelação também for definida como o resultado, ou produto, daquilo que DEUS revelou, a Escritura (como registro exato da reve­lação original) também tem o direito de ser chamada revela­ção especial. 59


A Autoridade das Escrituras
Rivais das Escrituras
Historicamente, a Igreja Cristã tem reconhecido a auto­ridade das Escrituras nas questões de fé e prática. Isto não quer dizer que não tem havido, e não continua a haver, rivais quanto à reivindicação de plena autoridade feita pela Bíblia. Esses rivais tendem a subordinar, ou qualificar, a autoridade das Escrituras, ou mesmo igualar-se a ela. O primeiro rival foi a tradição oral. Lado a lado com a Palavra escrita, circulavam amplamente histórias e ensinos religio­sos. A transmissão oral, todavia, independentemente de qual seja o tópico, acha-se sujeita à alteração, ao desenvolvimen­to, às mudanças e à distorção. As Escrituras forneciam um padrão, um ponto de referência, para a palavra oral. Por isso, estando a tradição oral de acordo com as Escrituras, reflete a autoridade delas; quando, porém, se desvia da Palavra escri­ta, a sua autoridade desaparece.
O segundo rival, quanto à autoridade religiosa, é a Igreja. Os católicos romanos sustentam essa autoridade por ter sido a Igreja divinamente estabelecida por CRISTO; e por já procla­mar o Evangelho antes de este haver sido registrado por escrito. Os católicos romanos alegam, também, que a Igreja foi a instituição que produziu as Escrituras do Novo Testa­mento e que, em certo sentido, estabeleceu o cânon das Escrituras. Na prática, a Igreja Católica coloca-se acima das Escrituras. Embora originalmente sustentasse a supremacia das Escrituras, já nos tempos da Reforma, a Santa Sé tinha exaltado suas tradições até ao nível das Escrituras. De modo ainda mais significante, a Igreja Católica insistia poderem os ensinos da Bíblia ser mediados, corretamente, através da hierarquia eclesiástica. De modo sutil, a Igreja Romana ha­via usurpado a autoridade das Escrituras, atribuindo-a aos seus próprios ensinos internos. Como consequência, o lema dos reformadores protestantes passou a ser Sola Scriptura (Somente a Escritura). A Bíblia, outorgada por DEUS, fala com a autoridade de DEUS, diretamente ao indivíduo. "Não precisa de Papas nem de Concílios para informar-nos o seu real sentido, como se falassem em nome de DEUS; a Bíblia pode até mesmo desafiar os pronunciamentos de Papas e Concílios, condená-los como ímpios e falsos, e exigir que os fiéis se apartem deles". 
Os credos, as confissões e outros padrões eclesiásticos de doutrina, às vezes chegam, consciente ou inconscientemente, a rivalizar com a autoridade das Escrituras. No decurso da história, igrejas e líderes têm se pronunciado (e com razão) a respeito de questões importantes da vida e da doutrina cris­tãs. Pessoas piedosas, grandemente usadas por DEUS, têm labutado para definir padrões de doutrina e comportamento cristãos, visando refletir a atitude e a vontade de DEUS. Repetidas vezes, houve apelo a esses documentos na busca de orientação autorizada. Mas sem dúvida, os escritores seri­am os primeiros a reconhecer serem as obras falíveis e passí­veis de revisão, embora se reconheça facilmente a erudição bíblica relevante por detrás desses importantes escritos. Além disso, todos os grandes credos da Igreja reconhecem a plena autoridade da Escritura. Os esforços piedosos merecem a nossa estima. DEUS os tem usado para a sua glória. Devem, contudo, ser conservados dentro do seu relacionamento apro­priado com as Escrituras. Permitir que se rivalizem com a autoridade bíblica destruirá seu próprio valor normativo, e rebaixará a Palavra de DEUS que tanto desejam honrar. O reconhecimento da autoridade incomparável das Escrituras estabelece o valor dos credos e confissões.
A autoridade da Escritura também tem sido desafiada por aquilo que alguns estimam como a autoridade do encon­tro pessoal que o indivíduo tem com DEUS. Isto é: o encontro supremo entre a pessoa e o Verbo Vivo, e não com a Palavra Escrita. Os que sustentam tal opinião dizem que a Bíblia pode ser usada para ajudar a levar a efeito semelhante en­contro; a Bíblia, porém, "não tem autoridade por si só mas, sim, em virtude do DEUS de quem dá testemunho e fala nas suas páginas". Os teólogos existencialistas acreditam que, mediante um encontro com DEUS, "a Bíblia deve tornar-se repetidas vezes a sua Palavra para nós".
É verdade que a autoridade do cristão é mais do que papel e tinta, mas "a revelação proposicional de DEUS não pode ser distinguida da autorrevelação divina". Nenhum encontro autoritativo com DEUS supera a autoridade de sua Palavra escrita. Doutra forma: a "experiência de DEUS" dos místicos hindus, ou de quem usa drogas psicotrópicas, poderia reivindicar igual autoridade. A validez de nosso encontro com DEUS é determinada pela autoridade das Escrituras que o revelam. Todas as experiências pessoais devem ser averi­guadas e avaliadas pelas Escrituras.
Até mesmo o ESPÍRITO SANTO tem sido considerado por alguns como um rival da autoridade bíblica. O Dr. Martyn Lloyd-Jones entende que o pentecostalismo e o catolicis­mo romano ficam em extremos opostos nas áreas tais como a estrutura e a hierarquia, mas são muito semelhan­tes na ênfase que dão à autoridade. O catolicismo enfatiza a autoridade da Igreja, ao passo que alguns pentecostais parecem realçar a autoridade do ESPÍRITO acima da autori­dade da Palavra.64 Erickson cita uma pesquisa de opinião pública feita pela Gallup, em 1979, que revelou que não eram poucas as pessoas que, entre 18 e 29 anos de idade, haviam escolhido o ESPÍRITO SANTO, ao invés da Bíblia, como sua autoridade religiosa principal.65 Alguns enaltecem uma "impressão direta" do ESPÍRITO SANTO, ou uma mani­festação do ESPÍRITO, tal como a profecia, acima da Pala­vra escrita. O ESPÍRITO SANTO é aquele que inspirou a Palavra e que lhe concede autoridade. Ele nada falará contrário àquilo que a Palavra inspirada declara, e nada além disso.
As reivindicações quanto à autoridade religiosa são en­grossadas pelas fileiras das religiões e seitas. Deve-se crer em JESUS mais do que em Sun Myung Moon? O Corão tem autoridade igual à da Bíblia? Uma palavra profética, hoje, tem a mesma autoridade das Escrituras? Essas e outras per­guntas fazem com que seja essencial considerarmos as evi­dências da autoridade bíblica. Virtualmente todas as religi­ões têm suas escrituras sagradas. Embora muitas delas conte­nham ensinamentos morais dignos, o Cristianismo tem sus­tentado historicamente ser a Bíblia a única e exclusiva Pala­vra de DEUS.
 

Evidências da Autenticidade das Escrituras
Os parágrafos que se seguem, apresentam algumas das evidências em favor da identidade da Bíblia como a Palavra de DEUS.
Apoio interno. É legítimo procurar a origem e o caráter de uma obra escrita por meio do exame de seu conteúdo. A Bíblia fornece um testemunho interno convincente de sua autoridade incomparável como a mensagem da parte de DEUS. "E a evidência interna positiva de sua origem divina que dá poder e autoridade às reivindicações da Bíblia”.
A Bíblia revela unidade e consistência espantosas quanto ao seu conteúdo, levando-se em conta a grande diversidade havida na sua composição. Foi escrita no decurso de um período de quinze séculos por mais de quarenta autores provenientes de várias classes sociais - políticos, pescadores, agricultores, médicos, reis, soldados e outro. Escreveram eles em diferentes locais (no deserto, no palácio, na prisão) e em várias circunstâncias (na guerra, no exílio, nas viagens). Alguns escreveram história; outros, leis; e ainda outros, poe­sia. Os gêneros literários variam entre alegoria, biografia e correspondência pessoal. Todos tinham os seus antecedente, experiências, virtudes e fraquezas pessoais. Escreveram em continentes diferentes, em três idiomas distintos, e trataram de centenas de temas. Mesmo assim, os seus escritos combi­nam-se entre si para formar um todo consistente que desdo­bra, de modo belíssimo, na história do relacionamento entre DEUS e a humanidade. "Não é uma unidade superficial, mas profunda... Quanto mais profundamente a estudamos, mais completa essa unidade se nos revela”.
Josh McDowell conta interessante história que compara a Bíblia com os Grandes Livros do Mundo Ocidental. Posto que o conjunto de livros consista na obra de muitos autores diferentes, o vendedor da coletânea reconhece que não ofe­rece nenhuma "unidade", mas uma mera "conglomeração”. "A Bíblia não é simplesmente uma antologia; há nela uma unidade que harmoniza todo o conjunto. Uma antologia é compilada por um antólogo, mas nenhum antólogo compi­lou a Bíblia". Semelhante unidade extraordinária pode ser mais plausivelmente explicada como o resultado da revela­ção outorgada por um só DEUS.
A Bíblia, correlacionada com a natureza complexa do ser humano, lida com todas as áreas essenciais de nossa vida. À medida que uma pessoa lê a Bíblia, esta, por sua vez, lê a pessoa. Embora escrita há muitos séculos, fala dinamicamente às necessidades de cada geração. É a voz de DEUS que a penetra até ao próprio âmago de nosso ser, e oferece respos­tas plausíveis às perguntas mais importantes (Hb 4.12,13). A Palavra de DEUS dirige continuamente o leitor em direção a DEUS como a fonte originária da relevância e do propósito para si mesmo e para o seu mundo. Para quem acolhe a sua mensagem, a Palavra tem poder de transformação. Cria fé no coração, e leva-nos a um encontro dinâmico com o DEUS vivo (Rm 10.17).
As Escrituras expõem um padrão de ética que supera em muito o que seria esperado de homens e mulheres comuns. Conclama a pessoa a uma moralidade que supera a nossa medida de justiça. "Cada um desses escritos... apresenta ideias morais e religiosas muito adiantadas para a época em que surgiram, e tais ideias continuam orientando o mun­do".72 A Bíblia lida, com franqueza, com os fracassos huma­nos e com o problema do pecado. Seu sistema ético é com­preensivo, pois inclui todas as áreas da vida. O alvo da ética bíblica não é meramente o que a pessoa faz, mas o que a pessoa é. Aderir a um código exterior está aquém da exigên­cia que a Bíblia faz: a bondade no íntimo (1 Sm 16.7; Mt 5; 15.8). Mas tanto o nosso fracasso moral quanto a nossa redenção são entendidos somente em termos de nosso rela­cionamento com um DEUS santo. Através da Bíblia, DEUS — nos chama, não a uma simples melhoria, mas à transforma­ção, para nos tornarmos novas criaturas em CRISTO (2 Co 5.17; Ef 4.20-24).
As profecias que falam dos eventos futuros (em vários casos, muitos séculos antes) permeiam as Escrituras. A exatidão dessas predições, conforme o demonstra seus respectivos cumprimentos, é realmente notável. Dezenas de profeci­as dizem respeito a Israel e às nações em seu redor. Por exemplo: Jerusalém e o seu templo seriam reedificados (Is 44-28); e Judá, embora salva dos assírios, cairia nas mãos de Babilônia (Is 39.6; Jr 25.9-12). O restaurador de Judá, Ciro da Pérsia, é mencionado pelo nome mais de cem anos antes de seu nascimento (Is 44.28). A Bíblia contém centenas de profecias feitas séculos antes dos próprios eventos. Entre elas, há predições acerca do nascimento virginal de CRISTO (Is 7.14; Mt 1.23), do local de seu nascimento (Mq 5.2; Mt 2.6), da maneira de sua morte (SI 22.16; Jo 19.36), e do local de seu sepultamento (Is 53.9; Mt 25.57-60).
Alguns críticos têm procurado, através da atribuição de novas datas aos livros do Antigo Testamento, minimizar o milagre preditivo das profecias bíblicas. Mesmo se concor­dássemos com as datas menos antigas, as profecias ainda teriam sido escritas centenas de anos antes do nascimento de CRISTO. (Posto que a tradução da Septuaginta [LXX] das Escrituras Hebraicas foi completada cerca de 250 a.C, as profecias nela contidas teriam sido, forçosamente, compos­tas antes dessa data).
Alguns têm sugerido que as profecias não predisseram a atividades de JESUS, mas que o próprio JESUS agiu deliberada­mente para cumprir o que fora dito no Antigo Testamento. Muitas das predições específicas, porém, estavam além do controle ou manipulação humanos. E os cumprimentos das predições não eram meras coincidências, levando-se em conta o número significativo das pessoas e eventos envolvidos. Peter Stoner examinou oito das predições a respeito de Je­sus, concluindo que, na vida de uma só pessoa, a probabili­dade de elas se coincidirem era de 1 e 1017 (1 em 100.000.000.000.000.000). A única explicação racional de tantas predições exatas, específicas, a longo prazo, é que o DEUS onisciente, soberano sobre a história, haja revelado tais conhecimentos aos escritores sagrados.
Apoio externo. A Bíblia também tem áreas de apoio externo à sua asseveração de que é a revelação divina. Quem negaria sua tremenda influência sobre a sociedade humana? Impressa, no todo, ou em parte, em mais de dois mil idiomas, é o livro mais lido de toda a história.  Reconhecendo-lhe a sabedoria e o valor, cristãos e incrédulos, indistintamente, citam-na em apoio aos seus pontos de vistas. Tem se dito que se a Bíblia fosse perdida, poderia ela ser reconstruída em suas partes base a partir das citações tiradas dos livros que se acham nas prateleiras das bibliotecas públicas. Seus princípi­os têm servido como o alicerce das leis das nações modernas, e como o ímpeto maior para as grandes reformas sociais da história. "A Bíblia... produziu os resultados supremos em todas as profissões existentes na vida humana. Tem inspira­do sublimemente as artes, a arquitetura, a literatura e a música... Não há livro que se compare a ela na sua influência benéfica sobre a raça humana."
DEUS atua na sociedade através das vidas das pessoas transformadas, e que seguem os ensinamentos de sua Pala­vra (SI 33.12).
A exatidão da Bíblia em todas as áreas, incluindo pesso­as, locais, costumes, eventos e ciência, tem sido mostrada pela história e pela arqueologia. Ás vezes, pensa-se que a Bíblia está historicamente errada, mas as descobertas têm dado testemunho de sua veracidade. Por exemplo: há algum tempo, pensava-se que a escrita não havia sido inventada senão depois dos tempos de Moisés. Mas agora, sabemos que essa ciência remonta até antes de 3000 a.C. Houve tempos quando os críticos negavam a existência de Belsázar. As escavações, contudo, identificam-no com seu nome babiló­nico: Bel-sharusur. Os críticos diziam que os heteus, menci­onados 22 vezes na Bíblia, nunca existiram. Agora sabemos que eles foram uma grande potência no Oriente Médio.
A história bíblica é confirmada pelas respectivas histórias das nações envolvidas com Israel. As descobertas arqueoló­gicas continuam a apoiar e a ajudar a interpretar o texto bíblico. McDowell compartilha com seus leitores uma cita­ção interessante de uma conversa entre Earl Radmacher, presidente do Seminário Batista Conservador do Oeste, e Nelson Glueck, arqueólogo e ex-presidente de um seminário teológico judaico:
Tenho sido acusado de ensinar a inspiração verbal e plenária das Escrituras...
Mas só cheguei a dizer que, em todas as minhas investigações arqueológicas, nunca descobri um único artefato da antiguidade que contradissesse qualquer declaração da Palavra de DEUS.
O mesmo juízo foi pronunciado pelo renomado arqueólogo William F. Albright:
O ceticismo excessivo dirigido contra a Bíblia por escolas históricas importantes dos séculos XVIII e XIX... vem sendo progressivamente desacreditado. Uma descoberta após outra tem confirmado a exatidão de pormenores, e tem aumentado cada vez mais o reconhecimento do valor da Bíblia como fonte de informações exatas para a história.
Mesmo os estudiosos que negam a exatidão total da i Bíblia por motivos filosóficos, sentem grandes dificuldades em defender a alegação de que há inexatidões no texto bíblico. Kenneth Kantzer comenta: "Embora Barth continu­asse a asseverar a presença de erros nas Escrituras, é muitís­simo difícil localizar qualquer exemplo nos seus escritos de que realmente tais erros existem". Considerando o grande número de pormenores na Bíblia, espera-se uma coletânea considerável de tais erros. No entanto, a exatidão espantosa da Bíblia indica que ela é, realmente, a revelação do DEUS verdadeiro.
A capacidade notável da sobrevivência da Bíblia tam­bém dá testemunho de sua autoridade divina. Comparativa­mente, poucos livros sobrevivem aos estragos produzidos pelo tempo. Quantas obras literárias de mil anos de idade podemos mencionar pelo nome? Um livro que sobrevive um século é um livro raro. A Bíblia, porém, além de sobreviver, tem se multiplicado. Existem literalmente milhares de ma­nuscritos bíblicos; mais do que todos os manuscritos reuni­dos das demais obras literárias.
O que torna mais notável a sobrevivência da Bíblia é o fato de ela haver passado por incontáveis períodos, quando sua leitura era proibida pelas autoridades eclesiásticas (du­rante a Idade Média) e das tentativas de vários governantes em se eliminá-la. Desde o Edito de Diocleciano em 303, que ordenou a destruição de todos os exemplares da Bíblia, até o presente, houve esforços organizados para se destruir a Bí­blia. "A Bíblia não somente tem recebido mais veneração e adoração do que qualquer outro livro, como também tem sido objeto da mais implacável perseguição e oposição". Considerando que durante os primeiros séculos do Cristia­nismo, as Escrituras eram copiadas manualmente, a extinção total da Bíblia não teria sido humanamente impossível. O célebre deísta francês Voltaire predisse que dentro de cem anos, o Cristianismo desapareceria. Cinquenta anos depois da sua morte ocorrida em 1778, a Sociedade Bíblica de Genebra estava usando o seu prelo e a sua casa para produzir grandes pilhas de Bíblias!85' Se, porém, a Bíblia realmente for a mensagem da redenção divina à humanidade, sua indestrutibilidade não seria tão espantosa. DEUS, com a sua mão onipotente, tem protegido a sua obra!
Tanto a autenticidade quanto a historicidade dos do­cumentos do Novo Testamento estão confirmadas de modo sólido. Norman Geisler indica que as evidências documentárias em favor da autenticidade do Novo Testa­mento são esmagadoras, e fornecem uma base, igualmente sólida, para a reconstrução do texto grego original. 86 Bruce Metzger, especialista em crítica textual, informa que, no século III a.G, os estudiosos em Alexandria indi­cavam que as cópias que possuíam da Ilíada de Homero apresentavam cerca de 95% de fidedignidade. Indica, tam­bém, que os textos setentrional e meridional da Mahabharata da índia diferem entre si numa extensão de 26.000 linhas.  Isto se contrasta com "mais de 99,5% de exatidão para as cópias manuscritas do Novo Testamen­to". Esse meio por cento de diferença consiste principal­mente nos erros de ortografia dos copistas e, mesmo as­sim, passíveis de correção. Nenhuma doutrina da Bíblia depende de algum texto cuja forma original não possa ser determinada com exatidão.
 

JESUS e seu Conceito das Escrituras
No fim do século I (no mais tardar) os escritos do Novo Testamento já haviam sido completados; muitos destes, en­tre 20 e 30 anos apenas após a morte e ressurreição de JESUS. / Temos ainda a garantia de que até mesmo a narração dos eventos foi orientada pelo ESPÍRITO SANTO a fim de que fossem evitados os erros ocasionados por eventuais esquecimentos (Jo 14.26). Os evangelhos, que contam detalhadamente a vida de JESUS, foram escritos por contemporâneos e testemunhas oculares. Tais escritos, fartamente corroborados, forne­cem informações fidedignas a respeito de CRISTO e de seus ensinos. A autoridade da Palavra escrita está ancorada na autoridade de JESUS. Posto que Ele nos é apresentado como o DEUS encarnado, seus ensinos são verdadeiros e plenos de autoridade. Por isso, o que JESUS ensina a respeito das Escri­turas, determina sua justa reivindicação à autoridade divina. JESUS dá testemunho consistente e enfático de que elas são, de fato, a Palavra de DEUS.
Em especial, JESUS dirigia a sua atenção ao Antigo Testamento. Quando falava de Adão, de Moisés, de Abraão ou de Jonas, Ele os tratava como a pessoas reais e históricas. Às vezes, correlacionava situações que lhe diziam respeito com um evento histórico do Antigo Testamento (Mt 12.39,40). Noutras ocasiões, buscava num determinado fato do Antigo Testamento apoio, ou reforço, para alguma coisa que estava ensinando (Mt 19.4,5). JESUS honrava as Escrituras do Anti­go Testamento, e enfatizava que Ele não viera abolir a Lei e os Profetas, mas cumpri-los (Mt 5.17). As vezes, fustigava os líderes religiosos por haverem elevado as próprias tradições acima das Escrituras (Mt 15.3; 22.29).
JESUS, nos seus ensinos, citou pelo menos quinze livros do Antigo Testamento, e fez alusão a muitos outros. Tanto no modo de falar quanto nas declarações específicas, demons­trava com clareza a sua estima pelas Escrituras do Antigo Testamento como a Palavra de DEUS. Era a palavra e o mandamento de DEUS (Mc 7.6-13). Citando Gênesis 2.24, JESUS declarou: "O Criador [não Moisés]... disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe" (Mt 19.4,5). Disse que Davi fez uma declaração "pelo ESPÍRITO SANTO" (Mc 12.36). A respei­to de uma declaração registrada em Êxodo 3.6, Ele pergun­tou: "Não tendes lido o que DEUS vos declarou?" (Mt 22.31). Repetidas vezes, JESUS apelou à autoridade do Antigo Testa­mento, citando a fórmula: "Está escrito" (Lc 4.4). John W. Wenham assevera que JESUS entendia essa fórmula no sentido de "DEUS diz!"
"Há uma objetividade grandiosa e sólida no uso do tem­po pretérito perfeito gegraptai, 'permanece escrito': 'aqui está o testemunho eterno e imutável do DEUS Eterno, regis­trado por escrito para a nossa instrução'." O modo decisivo de JESUS utilizar essa fórmula revela de modo enfático como ele considerava a autoridade das Escrituras. "A Palavra es­crita, portanto, é a autoridade de DEUS para solucionar todas as disputas a respeito da doutrina ou da prática. E a Palavra de DEUS nas palavras humanas; é a verdade divina em lin­guagem humana". Os que gostariam de alegar que JESUS simplesmente se acomodava ao modo judaico de entender as Escrituras, acompanhando passivamente as supostas falsas crenças dos judeus nesse assunto, deixam totalmente desapercebidos o seu tom enfático de plena aceitação e autoridade. Em vez de acomodar-se às opiniões religiosas dos seus dias, Ele as corrigia, e colocava as Escrituras de volta à sua suprema posição. Além disso, a acomodação à mentira não é moralmente possível para o DEUS que é a mesma verdade (Nm 23.19; Hb 6.18).
JESUS reivindicava a autoridade divina, não somente para as Escrituras do Antigo Testamento, como também para seus próprios ensinos. O que ouve as suas palavras e as pratica é sábio (Mt 7.24), porque os seus ensinos pro­vêm de DEUS (Jo 7.15-17; 8.26-28; 12.48-50; 14.10). JESUS é o semeador que semeia a boa semente da Palavra de DEUS (Lc 8.1-13). Sua expressão frequente: "Eu, porém, vos digo" (Mt 5.22), usada lado a lado com a total com­preensão do Antigo Testamento, demonstrava que "suas palavras levam toda a autoridade das palavras de DEUS".91 "O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não hão de passar" (Mt 24.35).
JESUS indicou, também, que haveria uma característica divina e especial no testemunho que seus seguidores dari­am dEle. O Senhor os havia treinado mediante suas pala­vras e seu exemplo, e os comissionara para serem teste­munhas até aos confins da terra, ensinando as pessoas a guardar todas as coisas que Ele lhes mandara (Mt 28.18-20). Ele lhes ordenara ainda que esperassem, em Jerusalém, a vinda do ESPÍRITO SANTO, a quem o Pai enviaria em seu nome, para que tivessem poder a fim de lhe servirem como testemunhas (Lc 24.49; Jo 14.26; At 1.8). O Espíri­to SANTO faria os discípulos lembrar-se de tudo quanto JESUS lhes dissera (Jo 14.26). O ESPÍRITO lhes ensinaria todas as coisas, guiá-los-ia em toda a verdade, contar-lhes-ia o que havia de acontecer, lançaria mão das coisas de CRISTO e as faria conhecidas aos discípulos (Jo 14.26; 15.26,27; 16.13-15).
Foram cumpridas as promessas que JESUS fizera aos seus discípulos. O ESPÍRITO SANTO inspirou alguns deles a escreve­rem a respeito do seu Senhor. Consequentemente, tanto os escritos do Antigo, quanto os do Novo Testamento; enfim, a Bíblia toda reivindica, de modo específico e direto, que é a revelação especial da parte de DEUS.
 

A Extensão da Autoridade Bíblica
A Bíblia trata de assuntos pertencentes a várias áreas: ciências econômicas, geografia, cultura, biologia, política, astronomia etc. Todavia, não se declara livro texto exaustivo sobre tais assuntos, nem deve ser considerada como tal. Os modos de vestir, os meios de transporte, as estruturas políticas, os costumes e outras coisas correlatas, não são colocados como modelos a serem seguidos pelo simples fato de haverem sido mencionados nas Escrituras. Embora tudo quanto foi escrito nessas áreas seja fidedigno, não é necessariamente normativo. A Escritura não pretende ser normativa nessas áreas, a não ser que impliquem em questões teológi­cas ou éticas. (Por exemplo: do ponto de vista bíblico, não faz diferença se montamos um camelo ou se andamos de automóvel, mas se estes meios de transporte foram adquiri­dos de maneira honesta. Isto sim, faz toda a diferença).
Os sessenta e seis livros da Bíblia reivindicam autoridade plena e total no tocante à autorrevelação de DEUS e a todas as implicações quanto à fé e à prática. Embora a autoridade da Bíblia seja histórica, porque DEUS se revelou em eventos históricos, sua autoridade é primariamente teológica. A Bí­blia revela DEUS à humanidade, e explica o seu relaciona­mento com a sua criação. Pelo fato de DEUS ter de ser conhecido através deste livro, suas palavras têm de ser igual­mente autorizadas. A autoridade da Palavra é absoluta - as palavras do próprio DEUS a respeito dEle mesmo.
A autoridade ética da Bíblia provém de sua autoridade teológica. Não fala de tudo quanto deve ser feito em todas as épocas, nem de tudo quanto era feito nos tempos em que foi escrita. Mesmo assim, os princípios que ela apresenta, seu padrão de retidão, suas informações a respeito de DEUS, sua mensagem de redenção e suas lições para a vidas, são obriga­tórios em todos os tempos e épocas.
Certos trechos bíblicos não nos impõem determinada conduta, hoje, mas têm autoridade por nos revelarem um aspecto do relacionamento de DEUS com a humanidade. Por exemplo: as cerimônias do Antigo Testamento cumpridas em CRISTO. "No caso de uma promessa (ou prefiguração) e seu cumprimento, a figura só tem um propósito temporário, e cessa de ter autoridade obrigatória depois de cumprida".93 Embora CRISTO seja o cumprimento, as cerimônias são uma apresentação autorizada de um aspecto da obra divina da redenção. O relacionamento entre DEUS e os seres humanos, e a condição destes diante de DEUS, têm implicações para todos os aspectos da vida. Por isso, a Palavra tem aplicação autorizada a todas as esferas de nossa vida.
O escopo da autoridade das Escrituras é tão extensivo como a própria autoridade de DEUS em relação a todas as áreas da existência humana. DEUS está acima de todas as áreas de nossa vida, e fala a todas elas mediante a sua Palavra. A autoridade da Palavra escrita é a autoridade do próprio DEUS. A Bíblia não é meramente um registro da autoridade de DEUS no passado, mas continua sendo a auto­ridade de DEUS, hoje. Mediante a Palavra escrita, o ESPÍRITO SANTO continua a confrontar os homens e mulheres, em nossos dias, com as reivindicações de DEUS. Trata-se ainda de: 'Assim diz o Senhor!"
 

A Inspiração das Escrituras
DEUS se revelou à sua criação. A inspiração diz respeito ao registro, ou à escrita, dessa revelação divina. Posto que a Bíblia foi escrita por autores humanos, devemos perguntar: "Em que sentido seus escritos poderão (ou não) ser chama­dos a Palavra de DEUS?" Uma questão correlata diz respeito ao grau (ou extensão) em que seus escritos podem ser considerados revelação de DEUS.
 

A Base Bíblica para a Inspiração
Considerando que toda testemunha tem o direito de se expressar por si mesma, será examinada, em primeiro lugar, a reivindicação que os próprios escritores bíblicos fazem à inspiração divina. Muitos dos que compuseram as Escrituras eram participantes, ou testemunhas oculares, dos eventos a respeito dos quais escreveram.
O que era desde o princípio, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai e nos foi manifestada), o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos (1 Jo 1.1-3).

Cada um deles, seja Moisés, Davi, Jeremias, Mateus, João, Pedro, ou Paulo, escreveu com base em suas próprias experiências à medida que DEUS se revelava a eles (Ex 4.1-17; SI 32; Jr 12; At 1.1-3; 1 Co 15.6-8; 2 Co 1.3-11; 2 Pe 1.14-18). Mas seus escritos eram mais que relatos de pessoas envolvidas. Declaravam que escreviam não somente a res­peito de DEUS, mas também em prol de DEUS. A sua palavra era a Palavra de DEUS; a sua mensagem era a mensagem de DEUS.
Em todo o Antigo Testamento, deparamo-nos com ex­pressões tais como: "Falou o SENHOR a Moisés, dizendo" (Ex 14.1); "A palavra que veio a Jeremias, da parte do SENHOR, dizendo" (Jr 11.1); "Tu, pois, ó filho do homem, profetiza... e dize: Assim diz o SENHOR DEUS" (Ez 39.1); "Assim diz o SENHOR" (Am 2.1). Tais declarações são usadas mais de 3.800 vezes, e demonstram com clareza que os escritores tinham consciência de estar entregando uma mensagem autorizada da parte de DEUS.
Os escritores do Novo Testamento não tinham, também, a menor dúvida de estarem falando em nome de DEUS. JESUS não somente ordenou que os discípulos pregassem, mas tam­bém lhes disse o que deviam pregar (At 10.41-43). Suas palavras não eram "palavras de sabedoria humana, mas com as que o ESPÍRITO SANTO ensina, comparando as coisas espiri­tuais com as espirituais" (1 Co 2.13). Esperavam que as pessoas reconhecessem que, por escrito, estavam elas rece­bendo "mandamentos do Senhor" (cf. 1 Co 14.37). Paulo podia garantir aos gálatas que, "acerca do que vos escrevo, eis que diante de DEUS testifico que não minto" (Gl 1.20), porque o tinha recebido da parte de DEUS (Gl 1.6-20). Os tessalonicenses foram elogiados por terem recebido a mensa­gem "não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de DEUS" (1 Ts 2.13). Preceitos e mandamentos eram escritos à comunidade em nome de Je­sus, e deixar de observá-los podia ocasionar motivo para a exclusão do desobediente (2 Ts 3.6-14). Assim como DEUS tinha falado através dos santos profetas, agora o Senhor dava mandamentos através dos seus apóstolos (2 Pe 3.2). Receber , a vida eterna está vinculado com o ato de crer no testemu­nho de DEUS (registrado pelos discípulos) a respeito do seu Filho (ljo 5.10-12).
Nestes trechos, e em outros semelhantes, fica evidente que os escritores do Novo Testamento estavam convictos de estarem declarando "todo o conselho de DEUS" em obediên­cia ao mandamento de CRISTO e sob a orientação do ESPÍRITO SANTO (At 20.27). Os escritores do Novo Testamento tam­bém reconheciam a autoridade total das Escrituras do Anti­go Testamento, porque DEUS "falou pelo ESPÍRITO SANTO" através dos autores humanos (At 4.24,25; Hb 3.7; 10.15,16).
Paulo escreveu a Timóteo, asseverando que as Escrituras podiam fazê-lo "sábio para a salvação, pela fé que há em CRISTO JESUS" (2 Tm 3.15). O valor das Escrituras deriva-se de sua origem. Paulo indica que o mérito das Escrituras não está no escritor humano, mas no próprio DEUS. Ele afirma: "Toda Escritura é inspirada por DEUS" (2 Tm 3.16). O termo "inspiração" é derivado desse versículo, e aplicado à escrita da Bíblia. A palavra grega empregada aqui é theopneustos que, literalmente, significa "soprada por DEUS". As versões mais recentes dizem com razão: "Toda Escritura é inspirada [soprada] por DEUS" (NVI). Paulo não está dizendo que DEUS soprou alguma característica divina nos escritos huma­nos das Escrituras, ou que toda a Escritura respira um ambi­ente de DEUS, que fala dEle. O adjetivo grego (theopneustos) é claramente predicativo, e é usado para identificar a fonte originária de todas as Escrituras.95 DEUS é o Autor, em última análise. Logo, toda a Escritura é a voz de DEUS, a Palavra de DEUS (At 4.25; Hb 1.5-13).
O contexto de 2 Timóteo 3.16 tem em vista as Escrituras do Antigo Testamento. A declaração de Paulo é que a totalidade do Antigo Testamento é a revelação inspirada da parte de DEUS. O fato de que o Novo Testamento ainda estava sendo escrito, exclui a mesma reivindicação interna e explícita para ele. Mesmo assim, algumas declarações especí­ficas feitas pelos escritores do Novo Testamento subenten­dem que a inspiração das Escrituras estende-se à Bíblia intei­ra. Por exemplo, em 1 Timóteo 5.18 Paulo escreve: "Porque diz a Escritura: Não ligarás a boca ao boi que debulha. E: Digno é o obreiro do seu salário". Paulo está citando Deuteronômio 25.4 e Lucas 10.7, considerando "Escritura" as citações tanto do Antigo quanto do Novo Testamento. Além disso, Pedro refere-se a todas as epístolas de Paulo que, embora tratassem a respeito da salvação divina, contêm "pontos difíceis de entender". Por isso, algumas pessoas as "torcem e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição" (2 Pe 3.16, grifos nossos). Note que Pedro coloca todas as Epístolas de Paulo na categoria de Escritura. Torcê-las é torcer a Palavra de DEUS, resultando na destruição do transgressor. Os escritores do Novo Testamento comunicam "com as palavras que o ESPÍRITO SANTO ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais" (1 Co 2.13), assim como JESUS prometera (Jo 14.26; 16.13-15).
Na sua segunda epístola, Pedro fala de sua morte iminen­te e do seu desejo de que seus leitores se mantenham na verdade que ele já lhes havia compartilhado. Mostra-lhes que a fé em CRISTO não é nenhuma invenção, e lembra-lhes de que ele mesmo era testemunha ocular daqueles eventos. Pedro estava com CRISTO, vendo-o e ouvindo-o pessoalmente (2 Pe 1.12-18). O apóstolo passa, então, a escrever de algo mais firme que seu testemunho pessoal (2Pe 1.19). Falando das Escrituras, afirma que os autores humanos eram "levados adiante" (pheromenoi) pelo ESPÍRITO SANTO ao comunicarem as coisas de DEUS. O resultado disso era uma mensagem não iniciada pelos desígnios humanos nem produzida pelo mero raciocínio e pesquisa humanos (sem serem excluídas tais coisas). Pedro afiança: "Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação; porque a profecia nunca foi produzida por vontade de ho­mem algum, mas os homens santos de DEUS falaram inspira­dos pelo ESPÍRITO SANTO" (2 Pe 1.20,21).
O emprego que Pedro faz da expressão "profecia da Es­critura" é um caso de pars pro tota. Ou seja: uma parte da Escritura representa a totalidade desta. "O ímpeto que levou à escrita provinha do ESPÍRITO SANTO. Por essa razão, os leitores de Pedro devem prestar atenção... pois não é simplesmente a palavra dos homens, mas a Palavra de DEUS". 
Em virtude de sua inspiração pelo ESPÍRITO SANTO, toda a Escritura é fonte de autoridade. JESUS garante que até o menor dos mandamentos bíblicos é importante e obrigatório:
"Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus" (Mt 5.18,19).

A recompensa, ou o castigo, depende de nosso relaciona­mento com todos os mandamentos, incluindo-se o menor deles. Acusado de blasfêmia por haver reivindicado a própria divindade, JESUS apelou à expressão "sois 'deuses", que se acha no Salmo 82.6. Contra essa acusação, edificou a sua defesa na verdade, já bem aceita, de que até mesmo uma frase relativamente obscura das Escrituras não pode ser anu­lada (Jo 10.34,35). A razão por que não podia ser anulada era que, mesmo como fragmento da Escritura, não deixava de ser a Palavra de DEUS.
 

Modos de Inspiração
Uma vez aceito o testemunho que as Escrituras dão acerca de si mesmas, fica mais que clara a sua divina inspira­ção. A medida que os autores humanos da Bíblia a compunham, o próprio DEUS dava mostras inequívocas de achar-se envolvido neste processo de comunicação. E posto que na maioria dos casos a Bíblia não revela a forma de sua inspiração, várias teorias têm surgido a respeito. Cinco opi­niões básicas são consideradas resumidamente nesta seção.
Intuição natural. A inspiração é meramente uma perspi­cácia natural nos assuntos espirituais, exercida por pessoas bem dotadas. Assim como alguns têm aptidão para a mate­mática ou para a ciência, os escritores bíblicos teriam apti­dão para as ideias religiosas. Não se vê nisso qualquer envol­vimento especial de DEUS. A pessoa poderia ter a mesma inspiração natural para escrever uma poesia ou para compor um hino.
Iluminação especial. A inspiração seria uma intensifica­ção, ou exaltação, divina das percepções religiosas que todos os cristãos têm em comum. Os dons naturais dos escritores bíblicos teriam sido aguçados de alguma maneira pelo Espíri­to SANTO, mas sem nenhuma orientação especial, ou comu­nicação da verdade divina.
Orientação dinâmica. A inspiração é a orientação espe­cial pelo ESPÍRITO SANTO, dada aos escritores bíblicos, para garantir toda mensagem divina que trata de matérias concernentes à fé religiosa e ao viver piedoso. A ênfase recai nos pensamentos ou conceitos que DEUS, querendo fossem comunicados, fornecia aos escritores humanos, aos quais dava plena liberdade quanto à expressão natural. Os ele­mentos da fé e da prática religiosas eram assim orientados, mas as chamadas matérias não essenciais dependiam total­mente (segundo essa opinião) dos conhecimentos, experiên­cias, e escolhas dos próprios autores humanos.
Plenária verbal. A inspiração é a combinação entre a expressão natural dos escritores e a iniciação e orientação especiais dos seus escritos concedidas pelo ESPÍRITO SANTO. Mas o ESPÍRITO SANTO não somente dirigia os pensamentos, ou conceitos dos escritores, como também supervisionava a seleção das palavras para a totalidade do texto (e não so­mente para as questões de fé e prática). O ESPÍRITO SANTO garantia a exatidão e a suficiência de tudo quanto era escrito como a revelação da parte de DEUS.
Ditado divino. A inspiração é a superintendência infalí­vel da reprodução mecânica das palavras divinas à medida que o ESPÍRITO SANTO as ditava aos autores bíblicos. Estes, como obedientes estenógrafos, tudo registravam segundo as ordens especiais do ESPÍRITO SANTO quanto ao conteúdo, vo­cabulário e estilo.
Formulando um Conceito da Inspiração
O conceito de inspiração deve levar em conta tudo quanto é necessário para a revelação divina ser comunicada com exatidão. O modo correto de inspiração deve incluir todos os elementos que a Bíblia postula tanto no ato de inspirar quanto nos efeitos desse ato. Deve também reservar um lugar apropriado à atividade de DEUS e à atividade humana.
Ao examinarmos os dados fornecidos nas Escrituras, vá­rios elementos envolvidos no ato de inspirar são apresentados com clareza. (1) Toda a Escritura é respirada por DEUS; , procede da boca de DEUS (2 Tm 3.16). (2) Os autores da Escritura falaram inspirados pelo ESPÍRITO SANTO (2 Pe 1.21). (3) Os escritores sagrados não falavam segundo a própria vontade, mas de acordo com a vontade divina. (4) Todavia, eles tomavam parte ativa e dinâmica na produção das Escrituras. Não eram meros robôs (Lc 20.42; Jo 12.39; At 3.22).
Semelhantemente, a Escritura fornece soluções quanto ao ato de inspirar. (1) Toda a Escritura é respirada por DEUS e, portanto, toda a Escritura é a Palavra de DEUS (1 Co 14.37; 2 Tm 3.16). (2) Toda a Escritura é proveitosa; é uma regra completa e suficiente para a fé e prática (2 Tm 3.16,17). (3) Nenhuma linha da Escritura pode ser deixada de lado, anulada ou destruída; a totalidade da Escritura tem de ser aceita em sua integridade e plenitude (Jo 10.35). (4) A Escritura é mais fidedigna que qualquer observação mera­mente humana, seja empírica, seja científica, seja filosófica (2 Pe 1.12-19). (5) Nenhuma parte da Escritura é condicio­nada, quanto à sua veracidade, por nenhuma limitação de seu autor humano (2 Pe 1.20). O condicionamento histórico normal, bem como a pecaminosidade e finitude humanas, são contrabalançados pela supervisão do ESPÍRITO SANTO.
À luz dessas observações, extraídas da própria Escritura, pode-se fazer uma avaliação dos cinco modos de inspiração sugeridos. Tais conceitos, por considerarem a inspiração meramente um dom natural de iluminação, não prestam a devida atenção ao fato de DEUS haver "soprado"' a Escritura. O conceito da orientação dinâmica, que entende serem as questões de fé e práticas devidamente inspiradas, em con­traste com os assuntos mais corriqueiros, não fornece ne­nhum método seguro para determinar o que é inspirado e o que não o é. Nem sequer leva em conta a declaração bíblica de que toda a Escritura é inspirada, inclusive os versículos tidos como obscuros.
O conceito do ditado divino na inspiração não reconhe­ce devidamente o elemento humano - os estilos, expressões e ênfases específicos dos escritores de per si.
O conceito da inspiração verbal e plenária evita os exa­geros de se enfatizar a atividade de DEUS a ponto de negligenciar a participação humana, ou de enfatizar a contribui­ção humana a ponto de desprezar o envolvimento divino na produção da Escritura. A totalidade da Escritura Sagrada é inspirada, pois seus autores a escreviam sob a supervisão e orientação do ESPÍRITO SANTO. Isto permite variedades de estilo literário, gramática, vocabulário e outras peculiarida­des humanas. Afinal, alguns escritores bíblicos tinham, sob o apanágio da providência de DEUS, passado por longos anos de experiência e preparo incomparáveis. Eis por que foram usados por DEUS para comunicar a sua mensagem (Moisés, Paulo).
Os conceitos da orientação dinâmica e os da inspiração verbal e plenária são sustentados por muito eruditos; tais conceitos reconhecem a obra do ESPÍRITO SANTO, bem como as diferenças óbvias nos vocabulários e estilos dos escritores. Uma diferença importante entre as duas opiniões envolve a extensão da inspiração. Reconhecendo ter havido orienta­ção do ESPÍRITO SANTO, até onde esta se estende? No tocante aos escritos bíblicos, os defensores das várias opiniões dinâ­micas sugeriram que a orientação do ESPÍRITO estendeu-se aos mistérios além do alcance da razão humana, ou somente até à mensagem da salvação, ou ainda até as palavras de CRISTO, ou talvez até certos assuntos (tais como as seções didáticas ou proféticas, ou talvez a todas as matérias que se relacionam com a fé e prática cristãs). A inspiração plenária e verbal sustenta, porém, que a orientação do ESPÍRITO SANTO estendia-se a todas as palavras dos documentos originais (os autógrafos).
No tocante à orientação do escritor pelo ESPÍRITO, tem-se sugerido que a influência do ESPÍRITO estendeu-se somente ao impulso original para se escrever, ou somente à seleção dos tópicos, ou apenas aos pensamentos ou ideias do autor, conforme este achasse melhor. Na inspiração plenária e ver­bal, todavia, a orientação do ESPÍRITO estendia-se até às pró­prias palavras que o escritor selecionava para expressar os seus pensamentos. O ESPÍRITO SANTO não ditava as palavras, mas guiava o escritor para que este, livremente, escolhesse as palavras que realmente expressavam a mensagem de DEUS. (Por exemplo, o escritor poderia ter escolhido "casa" ou "construção", segundo a sua preferência, mas não poderia ter escolhido "campo", pois isso teria mudado o conteúdo da mensagem.) 
Qualquer combinação das sugestões no conceito da ori­entação dinâmica coloca-nos numa posição de relatividade quanto à extensão da inspiração das Escrituras. Esse posicionamento relativo requer seja aplicado algum princí­pio para diferenciar as partes inspiradas das não inspiradas (ou mais inspiradas e menos inspiradas) da Bíblia. Vários princípios têm sido sugeridos: tudo quanto é razoável; tudo quanto é necessário para a salvação; tudo quanto é valioso para a fé e a prática; tudo quanto traz o Verbo; tudo quanto é querigma genuíno, ou tudo aquilo sobre o qual o ESPÍRITO dá testemunho especial. Todos os princípios desse tipo são subjetivos e centralizam-se no homem. Além disso, há o problema de quem aplicará o princípio de modo decisivo. A hierarquia eclesiástica, os estudiosos bíblicos e os teólogos, os cristãos individuais, todos desejariam o poder de escolha. Em última análise, o conceito da orientação dinâmica acaba derivando do homem a autoridade da Bíblia, em vez de derivá-la de DEUS. Somente o conceito da inspiração plená­ria e verbal evita o problema da relatividade teológica, sem deixar de levar em conta a variedade humana ao reconhecer que a inspiração estende-se à totalidade das Escrituras.
A inspiração plenária e verbal contém uma definição essencial no próprio nome. E a crença de que a Bíblia é inspirada nas próprias palavras (verbal) escolhidas pelos es­critores. É inspiração plenária (plena, total, inteira) porque todas as palavras-, em todos os escritos originais (autógrafos), são inspiradas. Uma definição mais técnica da inspiração segundo a perspectiva plenária e verbal poderia ser esta: A inspiração é o ato especial do ESPÍRITO SANTO mediante o qual motivou os escritores bíblicos a escrever, orientando-os até mesmo no emprego das palavras, preservando-os de igual modo de todos os erros ou omissões.
Apesar de cada palavra da Bíblia ser inspirada por DEUS, a sua veracidade depende do contexto, isto é: ela pode registrar autoritativamente o conteúdo inspirado e verídico de uma mentira. Quando, por exemplo, a serpente disse a Eva que esta não morreria se comesse do fruto proibido, estava, sem dúvida alguma, mentindo - pois Eva morreria! (Gn 3.4,5). No entanto, posto que a totalidade da Bíblia seja inspirada, as palavras do tentador, embora falsas, foram registradas com exatidão.
A inspiração verbal e plenária era a opinião da Igreja Primitiva. Durante os oito primeiros séculos da Igreja, ne­nhum líder eclesiástico, de vulto, ousou sustentar outra opi­nião. Procedimento similar foi adotado pelas igrejas cristãs ortodoxas até ao século XVIII. 98 A inspiração plenária e verbal continua sendo o conceito sustentado pelo evangelicalismo.
A inspiração verbal e plenária eleva o conceito da inspi­ração até à plena infalibilidade, posto que todas as palavras são, em última análise, palavras de DEUS. A Escritura é infalível porque é a Palavra de DEUS, e DEUS é infalível. Nas últimas décadas do século XX, alguns procuraram apoiar o conceito da inspiração plenária e verbal sem o corolário da infalibilidade. Como resposta, livros foram escritos, confe­rências, realizadas, e organizações formadas na tentativa de firmar o modo histórico de se entender a inspiração das Escrituras Sagradas. Uma fileira de fortes adjetivos tem sido acrescentada à expressão "plenária e verbal" até ao ponto de alguns insistirem que esta opinião teológica seja chamada "inspiração verbal plenária, infalível, inerrante, ilimitada". Quando investigamos o significado de tantos qualificativos, constatamos que é exatamente isto o que significa a "inspira­ção plenária e verbal"!
 

A Inerrância Bíblica
Uma mudança notável da terminologia que resultou dos debates na área da inspiração das Escrituras foi a preferência pelo termo "inerrância" ao invés de "infalibilidade". Isso tem a ver com a insistência de alguns no sentido de que podemos ter uma mensagem infalível com um texto bíblico errante.
"Infalibilidade" e "inerrância" são termos empregados para se aludir à veracidade das Escrituras. A Bíblia não falha; não erra; é a verdade em tudo quanto afirma (Mt 5.17,18; Jo 10.35). Embora tais termos nem sempre hajam sido empre­gados, os teólogos católicos, os reformadores protestantes, os evangélicos da atualidade (e, portanto, os pentecostais "clás­sicos"), têm afirmado ser a Bíblia inteiramente a verdade; nenhuma falsidade ou mentira lhe pode ser atribuída. Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, Gregório Nazianso, Justino, o Mártir, Irineu, Tertuliano, Orígenes, Ambrósio, Jerônimo, Agostinho, Martinho Lutero, João Calvino, e um número incontável de outros gigantes da história da Igreja, reconhecem que a Bíblia foi, de fato, inspirada por DEUS, e que é inteiramente a verdade. Preste atenção à afirmação enfática de alguns destes notáveis:
Agostinho: "Creio com toda a firmeza que os autores sagrados estavam totalmente isentos de erros". 
Martinho Lutero: "As Escrituras nunca erram". "... onde as Sagradas Escrituras estabelecem algo que deve ser crido, ali não devemos desviar-nos de suas palavras".
Provavelmente, os dois acontecimentos mais significati­vos no tocante à doutrina da infalibilidade e da inerrância foram a declaração sobre as Escrituras na Aliança de Lausanne (1974) e a Declaração de Chicago (1978) do Concílio Inter­nacional da Inerrância Bíblica. A declaração de Lausanne oferece (segundo alguns) flexibilidade em demasia ao afir­mar que a Bíblia é inerrante em tudo quanto afirma". (Isto é: pode haver coisas que não foram "afirmadas" na Bíblia.) Como resposta, a Declaração de Chicago afirmou: "A Escri­tura na sua inteireza é inerrante, e está livre de toda a falsidade, fraude ou logro. Negamos que a infalibilidade e inerrância da Bíblia limitam-se aos temas espirituais, religio­sos ou redentores, excluindo-se as asseverações nos campos da história e das ciências". 
A Declaração de Chicago foi adotada por uma conven­ção de quase trezentos estudiosos no seu esforço para escla­recer e fortalecer a posição evangélica a respeito da doutrina da inerrância. Consiste em dezenove Artigos de Afirmação e de Negação, e tem uma prolongada exposição final, que se propõe a descrever e explicar a inerrância de tal modo que não deixa nenhuma possibilidade de existir nenhum tipo de erro em qualquer parte da Bíblia.
Embora seja possível questionar se a inerrância é ensina­da de modo dedutível nas Escrituras, conclui-se que o exame indutivo das Escrituras foi ensinado por JESUS e pelos escritores bíblicos. Deve ficar claro, porém, que a autoridade da Bíblia depende da veracidade da inspiração, e não da É doutrina de inerrância. Esta é uma inferência natural que segue a inspiração e é "tirada dos ensinos bíblicos, e tem o pleno, poio da atitude do próprio JESUS".105 Alguns têm sugerido que abrir mão da doutrina da inerrância é o primei­ro passo para se abrir mão da autoridade da Bíblia.
A inerrância reconhece contradições, ou inconsistênci­as, no texto, não como erros propriamente ditos, mas como dificuldades que poderão ser resolvidas ao serem conhecidos todos os seus dados relevantes. A possibilidade de se harmo­nizar trechos aparentemente contraditórios vem sendo de­monstrada frequentemente pelos estudiosos evangélicos que têm dedicado tempo e paciência, revendo dificuldades tex­tuais à luz das novas descobertas históricas, arqueológicas e linguísticas. (Devemos, no entanto, evitar harmonizações forçadas ou altamente especulativas).
A doutrina da inerrância é derivada mais da própria natureza da Bíblia do que de um mero exame dos seus fenômenos. "Se alguém crê que a Escritura é a Palavra de DEUS, não pode deixar de crer que seja ela inerrante".106 DEUS "soprou" as palavras que foram escritas, e DEUS não pode mentir. A Escritura não falha porque DEUS não pode mentir. Consequentemente, a inerrância é a qualidade que se espera da Escritura inspirada. O crítico que insiste em haver erros na Bíblia (em algumas passagens difíceis) parece ter outorgado para si mesmo a infalibilidade que negou às Escrituras. Um padrão passível de erros não oferece nenhu­ma medida segura da verdade e do erro. O resultado de negar a inerrância é a perda de uma Bíblia fidedigna. Se for admitida a existência de algum erro nas Sagradas Escrituras, estaremos alijando a veracidade divina, fazendo a certeza desaparecer.
 

A Definição de Inerrância
Embora os termos "infalibilidade" e "inerrância" tenha sido, historicamente, quase que sinônimos do ponto de vista da doutrina cristã, muitos evangélicos têm preferido ora um termo, ora outro. Alguns preferem "inerrância" para se dis­tinguirem dos que sustentam poder a "infalibilidade" referir­-se à veracidade da mensagem da Bíblia, sem necessariamen­te indicar que a Bíblia não contém erros. Outros preferem "infalibilidade" a fim de evitar possíveis mal entendimentos em virtude de uma definição demasiadamente limitada da "inerrância". Atualmente, o termo "inerrância" parece estar mais em voga que "infalibilidade". A série de declarações que se segue, portanto, é uma tentativa de se delimitar a definição de inerrância verbal que teria ampla aceitação na comunidade evangélica.
A verdade de DEUS é expressada com exatidão, e sem quaisquer erros, nas próprias palavras da Escritura ao serem usadas na construção de frases inteligíveis.
A verdade de DEUS é expressada com exatidão através de todas as palavras da totalidade da Escritura, e não mera­mente através das palavras de conteúdo religioso ou teo­lógico.
A verdade de DEUS é expressada de modo inerrante somente nos autógrafos (escritos originais), e de modo indi­reto, nos apógrafos (cópias dos escritos originais).
A inerrância dá lugar à "linguagem de aparência", aproximações e várias descrições não contraditórias, feitas a partir de perspectivas diferentes. (Por exemplo, dizer que o sol se levanta não é um erro, mas uma descrição perceptiva e reconhecida).
A inerrância reconhece o uso de linguagem simbólica e figurada, e uma variedade de formas literárias para se transmitir a verdade.
A inerrância entende que as citações no Novo Testa­mento de declarações do Antigo Testamento podem ser paráfrases, sem a intenção de serem traduções literais.
A inerrância considera válidos os métodos culturais e históricos de se relatar coisas tais como genealogias, medidas e estatísticas ao invés de exigir os métodos de precisão da moderna tecnologia.
Esperamos que, com base dessas declarações, poderemos construir um conceito de inerrância que evite os extremos, sem deixar de levar em conta o testemunho que a própria Escritura oferece no tocante à sua própria exatidão e veraci­dade. Mesmo assim, nossas tentativas de definir a inerrância não são inerrantes em si mesmas. Por isso, embora nos esfor­cemos para influenciar os outros para que aceitem a doutrina, da inerrância, seria bom respeitarmos o conselho sábio e amoroso do acatado defensor da doutrina da inerrância, Kenneth Kantzer: "Os evangélicos conservadores, principal­mente, devem ser mui cuidadosos e evitar a confrontação direta com o erudito, ou seminarista hesitante, que se sente perturbado por problemas no texto bíblico, ou por algumas das conotações comuns à palavra inerrante".107
Semelhantemente, deve-se compreender que "a inerrância bíblica não subentende que a ortodoxia evangélica se segue como consequência necessária da aceitação dessa doutri­na". 108 Deve se seguir a interpretação correta e a verdadeira dedicação espiritual.
 

Revelação Proposicional
Uma questão filosófica de vulto, que se relaciona com a questão da infalibilidade e da inerrância, diz respeito a se DEUS, na verdade, pode revelar a si mesmo. Aqui, verdade refere-se a declarações, ou asseverações, proposicionais que se correspondam com exatidão com o objeto, ou objetos, por elas referidos. DEUS pode revelar verdades a respeito de si mesmo? Ele tem condições de revelar à humanidade, de modo proposicional, algo a respeito de quem Ele realmente é?
Não é provável que DEUS haja deliberadamente feito uma revelação enganosa acerca de si mesmo. Nenhuma evidência de semelhante erro é indicada na Bíblia. Além disso, uma revelação deliberadamente errada é contrária à natureza divina, pois DEUS é a própria verdade. Ele sempre age segundo a sua própria natureza.
Dizer que DEUS não tinha capacidade de evitar erros na revelação de si mesmo é lançar dúvidas contra sua onisciência e onipotência. Dizer, à parte de uma revelação divina direta, o que DEUS pode ou não pode fazer, é presunção. Revelar corretamente a si mesmo não é uma das coisas que a Bíblia diz que DEUS não possa fazer (e isto não seria incapa­cidade dEle, mas uma imposição de sua natureza moral). Se DEUS, que criou todas as coisas (inclusive a mente humana), pode comunicar à pessoa humana alguma verdade isolada, não há impedimento lógico para que Ele não comunique toda e qualquer verdade que desejar.
Depois de reconhecermos que DEUS tem capacidade de fazer uma revelação verdadeira de si mesmo, perguntemos: Ele também ordenou que sua revelação fosse registrada (por escrito) de modo verdadeiro. Negar isso nos reduziria ao agnosticismo ou ao ceticismo quanto à existência de alguma verdade absoluta, na espera da comprovação empírica (mes­mo supondo que todos os assuntos são passíveis da verifica­ção empírica). Pelo contrário, se é para confiarmos na Bíblia como a Palavra de DEUS, devemos aceitar o próprio testemu­nho da Escritura como norma na definição da verdadeira doutrina da inspiração. Conforme já verificamos acima, Je­sus e os escritores bíblicos proclamam, a uma só voz, que a revelação que DEUS fez da verdade foi registrada de modo inerrante. Não pode ser anulada e jamais passará!
 

Preservação da Verdade das Escrituras
DEUS ordenou fosse sua revelação preservada com pure­za? Se "preservada com pureza" significa "preservada com inerrância", a resposta é "não". Conforme mencionada aci­ma, a inerrância pertence tão-somente aos autógrafos. Nos muitos manuscritos bíblicos preservados, há milhares de va­riações. A maioria destas foi causada pela negligência (orto­grafia, gramática, transposição de palavras etc). Todavia, nenhuma doutrina sequer tem por base textos questionáveis em qualquer manuscrito.
Se, porém, "preservada com pureza" significa que os ensi­nos da Escritura foram "preservados de modo incorruptível", a resposta é um "sim" de alto e bom som. Hoje, a Igreja tem várias versões modernas baseadas nos muitos manuscritos hebraicos e gregos existentes. Tais versões, traduzidas em centenas de idiomas, são comparadas cuidadosamente aos manuscritos antigos e às primeiras versões da Bíblia. E forne­cem ao leitor uma versão das Escrituras em linguagem (vo­cabulário e estilo) atualizada, sem deixar de manter a exati­dão quanto ao seu real significado.
Embora haja um longo período de tempo entre os autó­grafos e as versões atuais da Bíblia, existe pouca distância entre eles no tocante à exatidão. Há uma longa corrente de testemunhas que remonta às pessoas que declararam ter visto os autógrafos (Policarpo, Clemente de Roma). Tinham tanto o motivo quanto a oportunidade de verificar por conta própria a fidedignidade das cópias feitas a partir dos origi­nais. Havia um desejo entre os cristãos de preservar os ensi­nos da Escritura, e muitos cuidados foram dedicados à sua transmissão de uma geração para outra. Mediante os esfor­ços da ciência da crítica textual, é possível se chegar a um texto bíblico que é a representação exata dos autógrafos. Em seguida, à medida que abordarmos o conteúdo e o significa­do da Escritura (conforme DEUS mesmo quis fosse entendi­da) - com auxílio da crítica textual, da exegese e da interpretação - podemos dizer que nesta mesma medida estamos proclamando a Palavra de DEUS.
Isso só pode acontecer se tivermos certeza de que os autógrafos eram de fato a Palavra de DEUS, e que foram escritos infalivelmente por meio da inspiração sobrenatural. E essencial a inerrância (seja em que ponto for) para saber­mos o que é a verdade. O valor dos autógrafos inerrantes é que sabemos que, o que os homens registraram, foi exata­mente o que DEUS queria deixar por escrito. Os autógrafos derivam seu valor do fato de serem, em essência, a Palavra de DEUS, e meramente as palavras de escritores humanos.
Os apógrafos, por outro lado, derivam seu valor do fato de representarem com total exatidão os autógrafos. Não se pode dizer que as cópias, as versões e as traduções foram inspiradas na sua produção, mas seguramente (em algum sentido derivado e mediado) retêm a qualidade de inspiração que estava presente nos autógrafos. De outra forma, a Bíblia não seria fonte de autoridade. O ato da inspiração aconteceu uma só vez; a qualidade da inspiração continuou sendo mantida nos apógrafos. O ato original da inspiração produziu uma Palavra inspirada tanto nos autógrafos quanto nos apógrafos.
 

O Cânon das Escrituras
Nem toda a literatura religiosa, até a mais inspiradora e lida, é considerada Escritura. Essa verdade é válida hoje, como também o era nos dias em que o Antigo e o Novo Testamento foram escritos. Os apócrifos, os pseudoepígrafos e outros escritos religiosos, tinham reconhecidamente seus vários graus de valor, mas não eram considerados dignos de serem chamados a Palavra de DEUS. Somente os 66 livros contidos na Bíblia são chamados Escrituras. 109
O termo "cânon" provém da palavra grega kanõn, que denota uma régua de carpinteiro ou algum tipo de vara de medir. No mundo grego, cânon veio a significar "padrão ou norma para julgar ou avaliar todas as coisas".110 Foram desenvolvidos cânones para a arquitetura, a escultura, a literatura, a filosofia, e assim por diante. Os cristãos co­meçaram a empregar o termo de modo teológico para designar os escritos que tinham cumprido os requisitos para serem considerados Escrituras Sagradas. Os livros canónicos, pois, são considerados a revelação autorizada e infalível da parte de DEUS.
Compreende-se, pois, porque os judeus fiéis e os verda­deiros cristãos desejavam tanto um cânon de seus escritos tidos como inspirados por DEUS. A perseguição religiosa, a expansão geográfica e a circulação cada vez maior de uma ampla gama de escritos religiosos, aumentaram o ímpeto para ser estabelecido o cânon. A tradição sugere que, em grande medida, Esdras foi o responsável pela reunião dos escritos sagrados dos judeus num cânon oficialmente reco­nhecido. No entanto, o reconhecimento do cânon do Anti­go Testamento usualmente deu-se num suposto Concílio de Jâmnia entre 90 e 100 d.C.111 A mais antiga lista cristã sobrevivente do cânon do Antigo Testamento provém de cerca de 170 d.C, compilado por Melito, bispo de Sardes.112 Nos primeiros séculos do Cristianismo, foram propostos vári­os cânones das Escrituras, desde o do herege Marcião, em 140 d.C, e o Cânon Muratoriano, de 180 d.C, até ao primeiro cânon completo do Novo Testamento feito por Atanásio em 367 d.C. O cânon do Novo Testamento, con­forme hoje o possuímos, foi oficialmente reconhecido no Terceiro Concílio de Cartago em 397 d.C. e pela Igreja Oriental até 500 d.C. 113
Estabelecer o cânon da Bíblia não foi, porém, a decisão dos escritores, nem dos líderes religiosos, nem de um concí­lio eclesiástico. Pelo contrário: o processo da aceitação des­ses livros como Escritura deu-se mediante a influência providencial do ESPÍRITO SANTO sobre o povo de DEUS. O cânon foi formado por um consenso, e não por um decreto. A Igreja não resolveu quais livros deveriam estar no cânon sagrado, mas limitou-se a confirmar aqueles que o povo de DEUS já reconhecia como a sua Palavra. Fica claro que a Igreja não era a autoridade; mas percebia a autoridade na Palavra inspi­rada.
. No entanto, vários princípios orientadores, ou critérios, têm sido sugeridos para os escritos canónicos. Incluem a apostolicidade, a universalidade, o uso na igreja, a capacida­de de sobrevivência, a autoridade, a antiguidade, o conteú­do, a autoria, a autenticidade, e as qualidades dinâmicas. De interesse primário é saber se o escrito era considerado inspi­rado. Somente os escritos inspirados (ou "soprados") por DEUS cumprem os requisitos para serem tidos como a Palavra autorizada de DEUS.
O cânon bíblico está fechado. A revelação infalível que DEUS fez de si mesmo já foi registrada. Hoje, Ele continua falando através dessa Palavra. Assim como DEUS revelou a si mesmo, e inspirou os escritores a registrar essa revelação, Ele mesmo preservou esses escritos inspirados, e orientou o seu povo na escolha destes, a fim de garantir que a sua verdade viesse a ser conhecida. Não se deve acrescentar outros escri­tos às Escrituras canónicas, nem se deve tirar delas nenhum escrito. O cânon contém as raízes históricas da Igreja Cristã, e "o cânon não pode ser refeito assim como a história não pode ser mudada".114
 

O ESPÍRITO SANTO e a Palavra
A Inspiração
As Escrituras eram sopradas por DEUS a medida que o ESPÍRITO SANTO inspirava seus autores a escrever em prol de DEUS. Por causa de sua iniciação e superintendência, as palavras dos escritores eram verdadeiramente a Palavra de DEUS. Pelo menos em alguns casos, os escritores bíblicos tinham consciência de que a sua mensagem não era meramente sabedoria humana, mas "as palavras que o ESPÍRITO SANTO ensina" (1 Co 2.13).
Os próprios autores sagrados tinham consciência da qualidade inspirada dos escritos que compunham a Palavra de DEUS, conforme o demonstram expressões tais como: "O próprio Davi disse pelo ESPÍRITO SANTO" (Mc 12.36); "O ESPÍRITO do SENHOR falou por mim" (2 Sm 23.2); "Varões irmãos, convinha que se cumprisse a Escritura que o ESPÍRITO SANTO predisse pela boca de Davi" (At 1.16); "Bem falou o ESPÍRITO SANTO a nossos pais pelo profeta Isaías" (At 28.25); "Portanto, como diz o ESPÍRITO SANTO, se ouvirdes hoje a sua voz" (Hb 3.7); "E também o ESPÍRITO SANTO no-lo testifica, porque, depois de haver dito: Este é o concerto que farei" (Hb 10.15,16). Sendo assim, sejam quais forem os escritores - Moisés, Davi, Lucas, Paulo, ou desconhecidos (a nós) - escreveram eles "inspirados pelo ESPÍRITO SANTO" (2 Pe 1.21 ou "movidos pelo ESPÍRITO SANTO" ARA).

O ESPÍRITO SANTO, fazendo uso das respectivas personalidades dos vários autores, e de suas experiências, capacidades e estilos, supervisionava lhes os escritos a fim de garantir que a mensagem de DEUS fosse comunicada integralmente e com toda a exatidão. Conforme JESUS prometera aos seus discípulos, o ESPÍRITO os guiaria à verdade, trazendo-lhes à lembrança as suas palavras, e ensinar-lhes-ia tudo quanto era necessário à revelação divina (Jo 14-16).

A Regeneração
A obra do ESPÍRITO SANTO complementa a obra de CRISTO na regeneração. CRISTO morreu na Cruz a fim de possibilitar ao pecador ser revivificado para DEUS. Mediante o novo nascimento espiritual, entramos no Reino de DEUS (Jo 3.3). 0 ESPÍRITO SANTO aplica a obra salvífica de CRISTO ao coração do homem. E opera no coração deste a fim de o convencer do pecado, e para induzi-lo à fé no sacrifício expiador que CRISTO oferece. Ê essa fé que leva à regeneração mediante a união com CRISTO.
A fé regeneradora produzida pelo ESPÍRITO SANTO não deve, entretanto, ser considerada de modo abstrato. Ela não existe no vazio, mas surge do relacionamento com a Palavra de DEUS. A fé provém de ouvir a Palavra de DEUS (Rm 10.17). Não somente foi o ESPÍRITO SANTO responsável por registrar a mensagem da salvação que se acha nas Escrituras, mas também dá testemunho da veracidade destas. Posto que DEUS haja falado na Bíblia ao gênero humano, agora o Espí­rito SANTO tem de convencer as pessoas quanto a isso. O ESPÍRITO convence não apenas a respeito da veracidade geral das Escrituras, mas quanto a uma aplicação poderosamente pessoal dessa verdade (Jo 16.8-11). CRISTO, como Salvador pessoal, é o objeto da fé produzida no coração pelo ESPÍRITO. Essa fé está inseparavelmente ligada às promessas da graça divina que se acham em todas as partes da Bíblia. "Precisa­mos do ESPÍRITO e da Palavra. O ESPÍRITO lança mão da Palavra e a aplica ao coração a fim de produzir o arrependi­mento e a fé e, por esse meio, a vida".118 Por essa razão, a Bíblia fala na regeneração em termos de "nascer do ESPÍRITO" e de "sendo de novo gerados... pela palavra de DEUS, viva e que permanece para sempre" (1 Pe 1.23; ver também Jo 3.5).
Iluminação
A doutrina da iluminação do ESPÍRITO envolve a obra do ESPÍRITO SANTO na pessoa, levando-a a aceitar, entender e apropriar-se da Palavra de DEUS. Anteriormente, já havíamos considerado várias evidências internas e externas que confirmam ser a Bíblia a Palavra de DEUS. No entanto, mais poderosa e mais convincente que todas elas é o testemunho interior do ESPÍRITO SANTO. Embora as evidências sejam im­portantes, e o ESPÍRITO SANTO possa fazer uso delas, em última análise é a voz autorizada do ESPÍRITO, no coração humano, que produz a convicção de que a Escritura é, de fato, a Palavra de DEUS.119
Sem o ESPÍRITO SANTO, a humanidade nem aceita, nem entende as verdades oriundas de DEUS. A rejeição da verda­de divina pelos incrédulos acha-se vinculada à sua falta de entendimento espiritual. As coisas de DEUS são por eles consideradas loucuras (1 Co 1.22,23;2.14). JESUS descreveu os incrédulos como aqueles que ouvem mas não compreen­dem (Mt 13.13-15). Por causa do pecado "se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se lhes o cora­ção insensato" (Rm 1.21 - ARA). "O DEUS deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho" (2 Co 4.4). Sua única espe­rança para receberem o entendimento espiritual, ou para perceberem a verdade da parte de DEUS, é a iluminação do ESPÍRITO (Ef 1.18; 1 Jo 5.20). Essa percepção espiritual inicial resulta na regeneração, mas também abre a porta para uma nova vida de crescimento no conhecimento divino.
Embora as promessas de João 14-16, a respeito da orientação e ensino a serem ministrados pelo ESPÍRITO SANTO, façam referência especial aos discípulos de JESUS que seriam usados para escrever o Novo Testamento, há um sentido contínuo em que esse ministério do ESPÍRITO relaciona-se a todos os cristãos. "O mesmo Ensinador também continua a sua obra de ensino dentro de nós, não por meio de trazer uma nova revelação, mas por meio de trazer novo entendi­mento, nova compreensão, nova iluminação. Mas Ele faz mais do que nos mostrar a verdade. Ele nos coloca dentro da verdade, e ajuda-nos a pô-la em prática". 120
É importante manter juntas a Palavra escrita de DEUS e a iluminação do ESPÍRITO SANTO: O que o ESPÍRITO ilumina é a verdade da Palavra de DEUS, e não algum conteúdo místico oculto nessa revelação. A mente humana não é deixada de lado, mas vivificada à medida que o ESPÍRITO SANTO elucida a verdade. "A revelação é derivada da Bíblia, e não da experi­ência, nem do ESPÍRITO SANTO como uma segunda fonte de informação paralela à Escritura e independente desta".121 Nem sequer os dons de expressão vocal, dados pelo ESPÍRITO SANTO, têm a mínima igualdade com as Escrituras, pois eles também devem ser julgados pelas Escrituras (1 Co 12.10; 14.29; 1 Jo 4.1). O ESPÍRITO SANTO nem altera nem aumenta a verdade da revelação divina dada nas Escrituras. Estas ser­vem como padrão objetivo necessário e exclusivo através das quais a voz do ESPÍRITO SANTO continua a ser ouvida.
A iluminação do ESPÍRITO SANTO não visa ser um atalho para se chegar ao conhecimento bíblico, nem um substituto do estudo sincero da Palavra de DEUS. Pelo contrário: é à medida que estudamos as Escrituras que o ESPÍRITO SANTO vai nos outorgando entendimento espiritual, que inclui tanto a crença quanto a persuasão. "As pesquisas filológicas e exegéticas não são usualmente "locais" para sua operação, pois é no coração do próprio intérprete que Ele opera, crian­do aquela receptividade interior pela qual a Palavra de DEUS é realmente 'ouvida'." 122 O ESPÍRITO, fazendo como que a Palavra seja ouvida pelo coração, e não apenas pela cabeça, produz uma convicção a respeito da verdade que resulta numa apropriação zelosa desta mesma Palavra (Rm 10.17; Ef 3.19; 1 Ts 1.5; 2.13).
A neo-ortodoxia tende a confundir a inspiração com a iluminação ao considerar que as Escrituras "se tornam" a Palavra de DEUS quando o ESPÍRITO SANTO aplica seus escritos aos corações humanos. Segundo a neo-ortodoxia, a Escritura é revelação somente quando e onde o ESPÍRITO SANTO fala de modo existencial. O texto bíblico não tem nenhum significa­do objetivo específico. "Posto que não existem verdades reveladas, mas somente verdades da revelação, o modo de uma pessoa interpretar um encontro com DEUS pode ser diferente da maneira como outra pessoa entende igual situação".123
Os evangélicos, contudo, consideram a Escritura como a B Palavra escrita e objetiva de DEUS, inspirada pelo ESPÍRITO na ocasião em que foi escrita. A comunicação verdadeira a respeito de DEUS está presente na forma proposicional, quer a reconheçamos, quer a rejeitemos. A autoridade da Escritu­ra é intrínseca devido à inspiração, e não depende da ilumi­nação. E independente do testemunho do ESPÍRITO SANTO, e antecede a este. O ESPÍRITO SANTO ilumina o que Ele já tem inspirado, e a sua iluminação encontra-se vinculada exclusi­vamente com a Palavra escrita.

A Palavra Escrita e o Verbo Vivo
A revelação que DEUS fez de si mesmo centraliza-se em JESUS CRISTO. Ele é o Logos de DEUS. Ele é o Verbo Vivo, o Verbo encarnado, que revela o DEUS eterno em termos hu­manos. O título Logos só pode ser encontrado nos escritos joaninos, embora o emprego do termo haja sido relevante na filosofia grega daqueles dias. Alguns têm procurado uma ligação entre a linguagem de João e a dos estóicos, dos primeiros gnósticos, ou dos escritos de Filo de Alexandria. Estudos mais recentes sugerem que João foi influenciado primariamente pelos seus alicerces no Antigo Testamento e na fé cristã. E provável, porém, que tivesse consciência das conotações mais amplas do termo, e que a tivesse empregado deliberadamente, com o propósito de transmitir um signifi­cado adicional e especial. 124
O Logos é identificado com a Palavra de DEUS na Criação e também com sua Palavra autorizada (a lei para toda a humanidade). João deixa nossa imaginação atônita quando introduz o Logos eterno, o Criador de todas as coisas, o próprio DEUS, como o Verbo que se encarnou a fim de habitar entre a sua criação (Jo 1.1-3,14). "DEUS nunca foi visto por alguém. O filho unigénito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer" (Jo 1.18). O Verbo Vivo tem sido visto, ouvido, tocado, e agora proclamado medi­ante a Palavra escrita (1 Jo 1.1-3). Quando do encerra­mento do cânon sagrado, o Logos vivo de DEUS, o Fiel e Verdadeiro, está em estado de prontidão no Céu, prestes a voltar à Terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.11-16).
A suprema revelação de DEUS acha-se no seu Filho. Durante muitos séculos, mediante as palavras dos escritores do Antigo Testamento, DEUS havia se revelado progressiva­mente. Tipos, figuras, sombras e prefigurações desdobravam paulatinamente o plano de DEUS para a redenção da huma­nidade (Cl 2.17). Depois, na plenitude dos tempos, DEUS enviou o seu Filho para revelar o Pai de forma mais perfeita e para executar aquele gracioso plano mediante a sua morte na Cruz (1 Co 1.17-25; Gl 4-4). Toda a revelação bíblica, antes e depois da Encarnação de CRISTO, centraliza-se nEle. As muitas fontes originárias e maneiras da revelação anteri­or indicavam e prenunciavam a sua vinda à terra como homem. Toda a revelação subsequente engrandece e explica a sua vinda. A revelação que DEUS fez de si mesmo começou pequena e misteriosa, progrediu no decurso do tempo, e chegou ao seu ponto culminante na Encarnação do seu Filho. JESUS é a revelação mais completa de DEUS. Todos os escritos inspirados que se seguem após a sua vinda não acrescentam nenhuma revelação maior, mas engrandecem a importância de sua Encarnação. "[O ESPÍRITO] não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir" (Jo 16.13).
Na Pessoa de JESUS CRISTO, coincidem entre si a Fonte e o Conteúdo da revelação. Ele não era mais um meio de comu­nicar a revelação divina, conforme o foram os profetas e apóstolos. Ele mesmo é "o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa" (Hb 1.3). Ele é "o caminho, e a verdade, e a vida"; conhecer a Ele é conhecer também o Pai (Jo 14-6-7). Os profetas diziam: "Veio a mim a Palavra do Senhor", mas JESUS afirmava: "Eu vos digo"! JESUS inver­teu o uso do termo "amém", começando assim as suas decla­rações: "Na verdade [hb. Amen], na verdade te digo" (Jo 3.3). Tendo Ele falado, a verdade foi declarada de modo imediato e inquestionável.
CRISTO é a chave que revela o significado das Escrituras (Lc 24.25-27; Jo 5.39,40; At 17.2,3; 28.23; 2 Tm 3.15). Elas testificam dEle e da salvação que Ele outorga mediante a sua morte. O enfoque que as Escrituras dedicam a CRISTO não justifica, porém, o abandono irresponsável do texto bíblico nas áreas que parecem ter poucas informações abertamente cristológicas. Clark H. Pinnock lembra-nos, com toda a B sabedoria, que "CRISTO é o Guia hermenêutico no significado das Escrituras, e não seu bisturi crítico".125 A atitude do próprio CRISTO para com a totalidade das Escrituras era de total confiança e de plena aceitação. A revelação especial em CRISTO e nas Escrituras é consistente, coerente e conclu­siva. Encontramos CRISTO através das Escrituras, e estas nos revelam a vida eterna em CRISTO. "Estes, porém, foram escri­tos para que creiais que JESUS é o CRISTO, o Filho de DEUS, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (Jo 20.31).

Perguntas do Estudo
1. O animismo usualmente envolve a adoração de certos aspectos da Natureza. Reflita sobre o relacionamento entre o animismo e a revelação geral. Como a revelação geral serviria de ponto de contato para testemunhar aos animistas? Como?
A Bíblia reafirma o valor da revelação geral. Mesmo assim, o pecado tem tido um impacto negativo sobre a revelação geral. Como se deve entender a revelação geral antes da queda do homem e atualmente ao peca­dor e ao redimido?
A doutrina da inspiração das Escrituras não insiste te­nham os autores transcrito mecanicamente o que DEUS queria fosse comunicado. Os escritores retinham seu próprio estilo e forma literários específicos. Selecione dois autores bíblicos, e anote algumas das suas caracte­rísticas.
Tanto a profecia bíblica quanto a arqueologia bíblica têm sido conclamadas a fornecer evidência em prol da incomparabilidade da Bíblia. Compile uma lista de pro­fecias bíblicas e seus cumprimentos, bem como uma lista de descobertas arqueológicas que confirmem o conteúdo da Bíblia.
A doutrina da inerrância bíblica refere-se aos autógrafos bíblicos. Posto não possuirmos nenhum dos autógrafos, como a inerrância relaciona-se com as versões e tradu­ções da Bíblia que hoje usamos?
A maioria das religiões não cristãs tem seus próprios livros sagrados. De quais maneiras a Bíblia é incompará­vel com tais escritos?
Escolha dois textos bíblicos que parecem se contradizer, ou um trecho que parece conter erro. Sugira uma solu­ção possível.
Como os dons de expressão vocal, tais como a profecia, as línguas e a interpretação relacionam-se com um cânon fechado das Escrituras?
 
Salmo 119.1-3 - Com. Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo) AT e NT
1. Álefe
Aqui, o salmista mostra que as pessoas piedosas são felizes; na verdade, elas são e devem ser abençoadas. A felicidade é o que todos pretendemos alcançar e perseguimos. Ele não diz aqui no que ela consiste; basta sabermos o que devemos fazer e ser para que a possamos alcançar, e isso nos é dito aqui. Todos os homens poderiam ser felizes, mas poucos seguem o caminho correto; aqui, DEUS estende diante de nós o caminho correto, que podemos ter certeza termina em felicidade, apesar de o caminho ser estreito e difícil. Bem-aventurados são os justos; todas as espécies de bem-aventurança. Agora, observe o caráter da pessoa feliz. É feliz: 1. Os que fazem da vontade de DEUS a regra para todos seus atos e governam toda sua conversa por essa regra: eles andam na lei do Senhor (v. 1). A palavra de DEUS é lei para eles não só nessa ou naquela circunstância, mas em todo o curso de sua conversa; eles andam dentro dos limites da lei, e não ousam transgredi-la fazendo alguma coisa que ela proíbe; e eles trilham os caminhos dessa lei, com a qual não brincam, mas prosseguem neles para o alvo, dando cada passo de acordo com a regra e nunca caminhando com risco. Isso é anda[r] em seus caminhos (v.3), os caminhos que Ele marcou para nós e designou para que andássemos nele. Não nos serve de nada fazer da religião o objeto de nosso discurso, mas temos de transformá-la na regra de nosso caminhar; precisamos anda[r] em seus caminhos, não no caminho do mundo nem no do nosso coração (Jó 23.10,11; 31.7). 2. Os que são retos e honestos em sua religião – trilham caminhos retos, não só os que se mantêm puros da contaminação do pecado real, guarda[m]-se da corrupção do mundo, mas também são habitualmente sinceros em suas intenções, em cujo espírito não há engano, os que são tão bons quanto parecem ser e seguem o caminho para o qual olham. 3. Os que são verdadeiros à confiança depositada neles como pessoas que professam a DEUS. Era a honra dos judeus o fato de que as palavras de DEUS lhe[s] foram confiadas; e abençoados são aqueles que conservam puro e intato esse depósito sagrado, que guardam os seus testemunhos como tesouro de valor inestimável, guardam-nos como a menina de seu olho, como também guardam-nos para levar o conforto deles para o outro mundo e deixam o conhecimento e a confissão deles para os que vierem depois deles neste mundo. Os que andam na lei do Senhor devem guarda[r] os seus testemunhos, ou seja, suas verdades. Os que não aderem aos bons princípios não anseiam por tomar consciência das boas práticas. Ou seus testemunhos podem denotar sua aliança; a arca da aliança é chamada arca do Testemunho. Os que não mantêm aliança com DEUS não obedecem aos mandamentos de DEUS. 4. Os que têm um olhar singular para DEUS como seu bem maior e fim mais alto em tudo que faz na religião: eles o buscam de todo o coração (v. 2). Eles não buscam a si mesmos nem as suas próprias coisas, mas só a DEUS; este é o objetivo deles, que DEUS seja glorificado em sua obediência, e que eles possam ser felizes na aceitação de DEUS. Ele é e será o galardoador, o prêmio de todos que o buscam, o buscam de todo o coração, pois é isso que DEUS observa e exige; e de todo o coração, pois se o coração estiver dividido entre Ele e o mundo é um coração falho. 5. Os que evitam cuidadosamente todo pecado: não praticam iniquidade (v. 3); eles não se permitem cometer nenhum pecado; eles não os cometem como aqueles que são servos do pecado; não fazem dele uma prática, fazem dele um negócio. Eles têm consciência da muita iniquidade deles mesmos que os obstrui nos caminhos de DEUS, mas não da iniquidade que os afasta desses caminhos. Abençoados e santos são aqueles que, assim, exercitam sempre ter uma consciência sem ofensa.
 
Salmo 119.4-6
Somos ensinados a: 1. Assumirmos a mais alta obrigação de caminhar na lei de DEUS. O tentador poderia possuir os homens com a opinião de que são livres, quer façam da palavra de DEUS sua regra quer não, que isso, embora seja bom, todavia, não é tão necessário como os fazem crer. Ele ensinou nossos primeiros pais a questionar a ordem: é assim que DEUS disse: Não comereis? Por isso, estamos preocupados em estar bem firmes nisso: tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos (v. 4), tornássemos a religião nossa regra; e diligentemente os observássemos, fizéssemos da religião nosso negócio e prestássemos atenção a ela com constância e cuidado. Estamos presos e devemos obedecer para que não corramos risco. 2. Procurar a DEUS em busca de sabedoria e graça para fazer isso: tomara que os meus caminhos sejam dirigidos (v. 5) de acordo; não só para que todos os eventos concernentes a nos sejam tão ordenados e dispostos pela providência de DEUS para que nada seja um impedimento para nós, mas, antes, uma ajuda no serviço de DEUS, que nosso coração possa ser tão guiado e influenciado pelo ESPÍRITO de DEUS de forma a que não possamos em nada transgredir os mandamentos de DEUS – não só que nosso olho seja dirigido a observar os estatutos de DEUS, mas também nosso coração seja guiado a mantê-los. Veja como o desejo e a oração de um homem bom concorda exatamente com a vontade e a ordem de um DEUS bom: “Queres que eu guarde teus preceitos, e, Senhor, de bom grado os guardarei”. Porque esta é a vontade de DEUS, a vossa santificação, e essa deve ser nossa vontade. 3. Encorajar-nos no caminho da nossa obrigação com a perspectiva do conforto que encontraremos nela (v. 6). Observe: (1) É o caráter indubitável de todo homem bom que atende para todos os teus mandamentos. Ele respeita o mandamento, olha-o como sua cópia, tem o objetivo de se conformar a ele, lamenta onde fica aquém; e o que ele faz na religião o faz com observância consciente do mandamento, pois essa é a obrigação dele. Ele atenta [...] para todos os teus mandamentos, tanto um quanto outro, pois todos eles estão fundamentados na mesma autoridade (Tg 2.10,11) e todos apontam para o mesmo fim: glorificar a DEUS em nossa alegria. Os que têm respeito sincero por algum mandamento têm respeito geral por todos os mandamentos, pelos mandamentos dos dois Testamentos e pelas duas tábuas, pelas proibições e preceitos, por aqueles que dizem respeito tanto ao homem exterior quanto ao interior, à cabeça e ao coração, pelos que proíbem os pecados mais prazerosos e lucrativos e pelos que exigem as obrigações mais difíceis e perigosas. (2) Não fica[m] confundidos, os que atenta[m] [...] para todos os teus mandamentos, eles não só são guardados de fazer o que os confundiria, mas também têm confiança para com DEUS e coragem para acessar o trono de sua graça (1 Jo 3.21). Eles devem ter crédito diante dos homens, a honestidade deles é sua honra. E eles devem ter clareza e coragem em sua alma; eles não devem ficar confusos na introspecção nem no refletir a respeito de si mesmos, pois seu coração não os condena. Davi fala isso em relação a si mesmo. Os que são retos podem encontrar conforto em sua retidão. “Se for perverso, desgraça para mim, se for sincero, estou bem comigo.”
 
Salmo 119.7,8
Eis aqui:
I
O esforço de Davi para se aperfeiçoar em sua religião e para se tornar (conforme dizemos) mestre em seu negócio. Ele espera aprender os [...] justos juízos de DEUS. Ele sabia muito, mas ainda progredia e queria saber mais, ao que ele [ainda] não chegou; mas ele buscava alcançar até o ponto em que a perfeição é alcançável nesta vida e não ficaria aquém disso. Enquanto vivemos, devemos ser alunos na escola de CRISTO e nos assentar aos pés dele; mas devemos ter o objetivo de ser estudantes superiores e de obter a mais alta forma. Os julgamentos de DEUS são todos justos e, por isso, é desejável não só aprendê-los, mas também ser instruído neles, ser eloquente e poderoso nas Escrituras.
II
O uso que ele faria desse aprendizado divino. Ele deseja ser instruído nas leis de DEUS, não para fazer um nome para si mesmo, não por interesse entre os homens, nem para encher sua mente com especulações que entretêm, mas: 1. Para que ele dê a DEUS a glória por seu aprendizado: louvar-te-ei [...] quando tiver aprendido os teus justos juízos, sugerindo que ele não poderia aprender a menos que DEUS o ensinasse e que a instrução divina é uma bênção especial, pela qual temos motivo para ser agradecido. Embora CRISTO mantenha uma escola gratuita e ensine sem dinheiro nem preço, todavia, Ele espera que seus alunos o agradeçam por sua palavra e seu ESPÍRITO; sem dúvida, ser ensinado para um chamado tão benéfico como a religião é algo que merece agradecimento. Os que aprenderam uma boa lição aprenderam a louvar a DEUS, pois esse é o trabalho dos anjos, o trabalho do céu. É fácil louvar a DEUS na palavra e na língua, mas só aqueles que são bem instruídos nesse mistério aprenderam a louvar [...] com retidão de coração, ou seja, estão com Ele no íntimo ao louvá-lo e objetivam sinceramente a glória dele no curso de sua conversa e também no exercício da devoção. DEUS só aceita louvor do reto. 2. Que ele mesmo viva sob o governo desse aprendizado: quando tiver aprendido os teus justos juízos. Observarei os teus estatutos. Não podemos observá-los se não os aprendermos, mas os aprendemos em vão se não os observarmos. Os que aprenderam bem os estatutos de DEUS avançam para a plena resolução, na força da graça dele, de observá-los.
III
Sua oração a DEUS não o deixa: “Não me desampares, ou seja, não me deixe por conta própria, não afasta teu ESPÍRITO e tua graça de mim, pois então não observarei os teus estatutos”. Os homens bons consideram-se destruídos se DEUS os desamparar; pois, então, o tentador pode ser duro demais com eles. “Embora pareça que me abandonaste e ameace me abandonar e, por um tempo, tenhas te afastado de mim, não me abandones de forma definitiva e total, pois isso é o inferno. Não me desampares totalmente! Pois o infortúnio se abaterá sobre mim se DEUS me desamparar.”
 

REVISANDO O CONTEÚDO
1. O que Pedro enfatiza a respeito dos escritos sagrados? Pedro enfatiza que os escritos sagrados não têm sua origem nos homens, mas no próprio DEUS (2 Pe 1.20,21).
2. O que é Revelação Geral? Chama-se revelação geral aquela em que DEUS se fez conhecer em toda a parte por meio da História, do Universo e da Natureza Humana.
3. Caracterize a Revelação Especial. Reconhecemos a revelação especial tanto no Verbo vivo, JESUS CRISTO, quanto nas Escrituras Sagradas (Jo 1.1; 5.39). É por meio da revelação contida nas Escrituras que conhecemos a Pessoa de CRISTO.
4. Cite as três evidências internas que autenticam as Escrituras. Unidade e consistências das Escrituras; Ação do ESPÍRITO SANTO nas Escrituras; Profecias de eventos futuros nas Escrituras.
5. Como podemos ratificar que a Bíblia é a autoridade final? Todas as doutrinas necessárias para a salvação já nos foram transmitidas pelas Escrituras e que nenhuma tradição humana pode acrescer ou retirar coisa alguma (Ap 22.18,19). Assim, ratifica-se que a Bíblia é a fonte final de autoridade.
 
 
 
SUBSÍDIOS DA LIÇÃO 1 - CPAD
 
 
Livros recomendados pela CPAD - A Origem da Bíblia e Arqueologia Bíblica
 
SINÓPSE I - A Bíblia tem origem em DEUS. Este se revela na história, no universo e na humanidade; e, de modo especial, por meio de CRISTO e das Escrituras.
SINÓPSE II - A Bíblia Sagrada autentica a si mesma, tendo sua veracidade confirmada por fontes e registros históricos.
SINÓPSE III - A Palavra de DEUS é poderosa, autoridade infalível em matéria de fé e prática, cujo alvo principal é levar-nos à redenção em JESUS CRISTO.
 

AUXÍLIO TEOLÓGICO TOP1
“Categorias da Revelação Divina
Revelação Especial
[...] A Bíblia, ao manter de forma perene a revelação especial de DEUS, é tanto o registro de DEUS e dos seus caminhos, quanto a intérprete dela própria. A revelação escrita é confinada aos 66 livros do Antigo e do Novo Testamento. A totalidade de sua revelação que Ele quis preservar para o benefício de toda a humanidade acha-se armazenada, em sua totalidade, na Bíblia. Examinar as Escrituras é conhecer a DEUS da maneira que Ele quer ser conhecido (Jo 5.39; At 17.11). A revelação divina não é um vislumbre fugaz, mas um desvendamento permanente. Ele nos convida a voltarmos repetidas vezes às Escrituras para, aí, aprendermos a respeito dEle.
[...] A totalidade das Escrituras é a Palavra de DEUS em virtude da inspiração divina dos seus autores humanos. A Palavra de DEUS, na forma da Bíblia, é um registro inspirado de eventos e verdades da autorrevelação de DEUS” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pp.84,85).
 
AMPLIANDO O CONHECIMENTO TOP1
A Bíblia, os homens e o ESPÍRITO SANTO
“As Escrituras Sagradas são de origem divina; seus autores humanos falaram e escreveram por inspiração verbal e plenária do ESPÍRITO SANTO [...]. DEUS soprou nos escritores sagrados, os quais viveram numa região e época da história e cuja cultura influenciou na composição do texto.” Amplie mais o seu conhecimento, lendo a Declaração de Fé das Assembleias de DEUS, CPAD, pp.25,26.
 
 
AUXÍLIO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ TOP3
“O Professor que veio de DEUS
Em uma convenção da Evangelical Press Association (Associação das Editoras Evangélicas), A. W. Tozer, preocupado com o povo evangélico, recomendou quatro linhas de ação:
1- Os evangélicos precisam apresentar um cristianismo característico do século XX que seja manifestamente superior a qualquer outro estilo de vida. Somente a fé ancestral será capaz disso. Somente uma aplicação realista da fé aos dias de hoje pode torná-la eficaz.
2- Os evangélicos deviam fazer um chamado à ‘procriação espiritual’ e ir além das fileiras denominacionais e teológicas tradicionais, a fim de alcançar novas e vivificantes linhas de ação e pensamento. Tal veio de poder está disponível através da comunhão com todos aqueles que creem na divindade de CRISTO e na infalibilidade e autoridade das Escrituras Sagradas.
3- Os evangélicos deviam parar de seguir tendências e começar a lançá-las. O mundo buscará nossa liderança quando avançarmos pelos campos da ação cristã com uma agenda nova e revigorada. Atrairemos os formadores de opinião a novos e elevados patamares de visão e realização e, juntamente com eles, a massa.
4- Os evangélicos carecem de uma nova ênfase na ‘interioridade’ da fé cristã. Devem dar menos atenção às superficialidades e aos aspectos exteriores do cristianismo, dedicando a uma vida mais profunda com CRISTO em DEUS” (LEBAR, Lois E. Educação que é Cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p.55).
 
 
Ajuda
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/arvoredoconhecimento-biblia.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao1-arnf-3tr17-inspiracao-divina-e-autoridade-da-biblia.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao8-dlld-bibliapalavradedeus.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao9-dlld-ainerranciadabiblia.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao10-dlld-abibliacodigoetica.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao11-dlld-acompletudedabiblia.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao12-dlld-igrejaservadabiblia.htm
http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao13-dlld-ovalordoestudodabiblia.htm
 
 
 
SUBSÍDIOS DE LIÇÕES PASSADAS
4º Trimestre de 2008 - Lições Bíblicas CPAD - Jovens e Adultos
Tema: O  DEUS do Livro e o Livro de DEUS.
Comentarista: Pr. Elinaldo Renovato de Lima. 
Consultor Doutrinário: Pr. Antônio Gilberto 
Lição 1 - O DEUS da Bíblia
Lição 2 - O DEUS que se Comunica com o Homem
Lição 3 - O DEUS que Intervém na História
Lição 4 - O DEUS da Redenção  (Vídeo CongregaçãoMaranata)
Lição 5 - A Soberania de DEUS e o Livre-arbítrio Humano
Lição 6 - O DEUS que Comanda o Futuro
Lição 7 - A Rebelião Contra o DEUS da Bíblia
Lição 8 - A Bíblia é a Palavra de DEUS
Lição 9 - A Inerrância da Bíblia
Lição 10 - A Bíblia: O Código de Ética Divino
Lição 11 - A Completude da Bíblia
Lição 12 - A Igreja: Serva da Bíblia
Lição 13 - O Valor do Estudo da Bíblia
 
Vídeos deste Trimestre - http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/videosebd-4trim2008.htm