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Comentário: Pr. Elienai Cabral
Complementos, ilustrações e vídeos: Pr. Henrique Lição 1, O Mundo do Apóstolo Paulo Escritahttps://ebdnatv.blogspot.com/2021/09/escrita-licao-1-o-mundo-do-apostolo.htmlSlideshttps://ebdnatv.blogspot.com/2021/09/slides-licao-1-o-mundo-do-apostolo.html TEXTO ÁUREO
“Disse-lhe, porém, o Senhor: Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel.” (At 9.15) VERDADE PRÁTICA
Segundo a sua soberana vontade, DEUS usa as circunstâncias para fazer uma grande obra.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Rm 1.1; 1 Co 1.1; Ef 1.1 Paulo, chamado para ser apóstolo
Terça - At 26.16-18 Enviado para os gentios
Quarta - 1 Co 8.5,6 Paulo, um defensor da fé
Quinta - At 22.3 Paulo declara sua identidade judaica
Sexta - Gl 1.14 Seu zelo pela religião judaica
Sábado - Atos 13.1-3 O chamado de Paulo para missões
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Atos 26.1-7
1 - Depois, Agripa disse a Paulo: Permite-se-te que te defendas. Então, Paulo, estendendo a mão em sua defesa, respondeu: 2 - Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja, hoje, de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus, 3 - mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência. 4 - A minha vida, pois, desde a mocidade, qual haja sido, desde o princípio, em Jerusalém, entre os da minha nação, todos os judeus a sabem. 5 - Sabendo de mim, desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu. 6 - E, agora, pela esperança da promessa que por DEUS foi feita a nossos pais, estou aqui e sou julgado, 7 - à qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a DEUS continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus.
Resumo da Lição 1, O Mundo do Apóstolo Paulo
1. Entendendo a origem de Paulo.2. A geografia do mundo de Paulo.3. Paulo, chamado para os gentios.II – O MUNDO CULTURAL DE PAULO
1. A língua mundial daqueles dias era o grego.2. O mundo cultural do apóstolo Paulo.3. A influência da filosofia grega.III – O MUNDO RELIGIOSO DE PAULO
1. Paulo se identifica como judeu.2. Paulo foi criado dentro da fé judaica.3. O mundo: palco da mensagem de Paulo ao povo gentílico. INTRODUÇÃOEstudaremos neste trimestre sobre o apóstolo aos gentios. Paulo de Tarso, da tribo de Benjamim, Judeu, que falava Hebraico, Aramaico, Grego e latim.Paulo, o maior imitador de CRISTO. Também chamado "Paulo, o velho" (Fm 1:9), "O prisioneiro de CRISTO" (Fm 1:9).
Paulo escreveu mais da metade dos livros do NT.
Considero Hebreus escrito por Paulo.
Paulo influenciou a escrita do evangelho de Lucas.
Paulo era usado em todos os dons do ESPÍRITO SANTO Pedro abriu a porta, mas quem percorreu todos os cômodos da casa e se instalou nela foi Paulo. Foi Paulo usado por DEUS para transformar a "seita dos nazarenos" em Igreja de CRISTO. Paulo usava escrituras, livros e pergaminhos.
Anotava sempre o que ia recebendo de DEUS.
É o maior instrumento do ESPÍRITO SANTO para nossos ensino, sempre baseado nós ensinos de JESUS CRISTO. No tempo de JESUS e de Paulo (eram contemporâneos, com diferença de idade entre 9 e 12 anos) o Império romano se impõe como reino que não tem adversário a altura.
Politicamente e belicamente não havia concorrentes.
A cultura grega dominava, mas prevalecia a autoridade Romana. Império romano governava desde a Inglaterra até a Persia.
Entre anos 60 e 150, governo romano experimentou seu apogeu e a Pax romana, com estradas ligando todo o império, possibilitando assim a intercomunicação e o comércio entre todos os países do império. Mar mediterrâneo e norte da África também eram dominados pelo império romano. COMENTÁRIOS DE LIVROS A RESPEITO DO ASSUNTO A Quinta Defesa de Paulo - Atos 26:1-11 - Comentário Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo) AT e NT
Agripa era a pessoa mais ilustre na assembléia, tendo o título de rei que lhe fora concedido, embora sob outros aspectos tivesse somente o poder dos outros governadores sob o imperador e, mesmo não sendo superior aqui, era veterano em relação a Festo; e por isso, depois de Festo ter aberto a sessão, Agripa, como o orador da corte, concede a Paulo licença para que se defenda (v. 1). Paulo ficou em silêncio até que tivesse conseguido essa liberdade; porque não são os mais dispostos a falar que são os mais preparados para falar e falam melhor. Esse era um favor que os judeus não lhe dariam, ou não sem dificuldade; mas Agripa de bom grado o dá a ele. E a causa de Paulo era tão boa que ele não queria mais que ter a liberdade de falar por si mesmo; ele não precisava de advogado, de nenhum Tértulo para falar por ele. Seu gesto é registrado: Ele estendeu sua mão, como alguém que não estava em nada consternado, mas tinha perfeita liberdade e domínio de si mesmo; e isso também dá a entender que ele estava falando sério e esperava a atenção deles enquanto respondia por si. Observe: Ele não insistiu em seu apelo a César como uma desculpa para ficar em silêncio, ele não disse: “Eu não mais serei examinado até que eu vá ao imperador em pessoa”; mas amavelmente abraçou a oportunidade de honrar a causa pela qual ele sofria. Se nós devemos estar sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que nos pedir a razão da esperança que há em nós, muito mais a cada homem de autoridade (1 Pe 3.15). Sendo assim, nessa última parte do discurso:
I
Paulo dirige-se com um respeito muito particular a Agripa (vv. 2,3). Ele respondeu amavelmente diante de Félix, porque ele sabia que tinha sido por muitos anos juiz para aquela nação (Atos 24.10). Mas sua opinião quanto a Agripa vai mais além. Observe: 1. Sendo acusado pelos judeus, e tendo muitas coisas desprezíveis postas em sua acusação, ele está contente que tenha uma oportunidade de se esclarecer; tão longe está ele de imaginar que por ser um apóstolo estaria isento da jurisdição dos poderes civis. A magistratura é uma ordenança de DEUS, da qual todos nós nos beneficiamos, e, portanto, todos devem estar sujeitos a ela. 2. Visto que é forçado a responder por si mesmo, ele está contente em estar diante do rei Agripa, que, sendo ele mesmo um prosélito da religião judaica, entendia todas as questões relativas a ela melhor do que os outros governadores romanos: Eu sei que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus. Parece que Agripa era um erudito, e era particularmente versado no ensino judaico, que era perito nos costumes da religião judaica, e conhecia a natureza deles, e que eles não estavam designados a serem universais ou perpétuos. Ele também era perito nas questões que surgiam sobre aqueles costumes, determinando que os próprios judeus não pensavam todos da mesma forma. Agripa era bem versado nas escrituras do Antigo Testamento, e, portanto, podia fazer, mais do que outros, um julgamento melhor sobre a controvérsia entre ele e os judeus a respeito de JESUS poder ser o Messias. É um encorajamento para um pregador ter ouvintes que são inteligentes e que podem discernir coisas que diferem entre si. Quando Paulo diz: julgai vós mesmos o que digo, ele está falando como a sábios (1 Co 10.15). 3. Ele, portanto, roga que ele o ouça pacientemente, makrothymos – com longo ânimo. Paulo planeja um longo discurso, e implora que Agripa o ouça por completo, e não fique entediado; ele planeja um discurso claro, e roga que o ouça com mansidão, e não fique furioso. Paulo tem uma certa razão em temer que, como Agripa, sendo judeu, era bem versado nos costumes judeus, e por isso um juiz tanto mais competente de sua causa, ele fosse também influenciado em alguma medida pelo fermento judeu, e portanto podia carregar um preconceito contra Paulo como o apóstolo dos gentios; ele portanto diz isso para abrandá-lo: eu rogo a ti que me ouças pacientemente. Com certeza, o mínimo que podemos esperar, quando pregamos a fé em CRISTO, é sermos ouvidos pacientemente.
II
Ele declara que embora fosse odiado e estigmatizado como apóstata, ainda assim aderia a todo aquele bem no qual fora educado e instruído no início; sua religião sempre foi construída sobre a promessa de DEUS feita aos pais; e sobre isso ele ainda construía.
1. Veja aqui qual era sua religião em sua juventude: Sua vida, todos os judeus a sabem (vv. 4,5). Na verdade, ele não nasceu em sua própria nação, mas foi criado entre eles em Jerusalém. Embora ele tivesse nos últimos anos tido contatos com os gentios (o que havia causado grande ofensa aos judeus), contudo, em suas viagens pelo mundo, ele estava intimamente ligado com a nação judaica, e agia inteiramente em seu benefício. Sua formação não era nem estranha nem obscura; estava entre sua própria nação em Jerusalém, onde a religião e a instrução floresciam. Todos os judeus a conheciam, tudo isso poderia ser lembrado por muito tempo, porque Paulo tornou-se notável ainda moço. Aqueles que o conheciam desde o princípio poderiam testificar por ele que ele era fariseu, que ele era não somente da religião judaica, e um observador de todas as ordenanças dela, mas que ele era da mais severa seita da nossa religião, mais exigente e exato em observar por si mesmo as suas instituições, e mais rígido e crítico ao impô-las a outros. Ele não somente era chamado de fariseu, mas ele viveu fariseu. Todos que o conheceram sabiam muito bem que nunca qualquer fariseu se conformou mais pontualmente às regras de sua ordem do que ele. E ainda mais, ele era do melhor tipo de fariseu; porque ele fora educado aos pés de Gamaliel, que foi um rabino eminente da escola ou casa de Hillel, que era de muito maior reputação para a religião do que a escola ou casa de Shamai. Sendo assim, se Paulo era fariseu, e viveu como fariseu: (1) Então ele era um erudito, um homem instruído, e não um ignorante, iletrado; os fariseus conheciam a lei e eram bem versados nela, e nas suas exposições tradicionais. Havia uma censura aos outros apóstolos por não terem tido uma formação acadêmica, mas tinham sido treinados como pescadores (Atos 4.13). Portanto, para que os judeus descrentes pudessem ser deixados sem desculpa, aqui está um apóstolo destacado que havia se assentado aos pés de seus doutores mais eminentes. (2) Então ele era um moralista, um homem de virtude, e não um jovem dissoluto ou pervertido. Se ele viveu como fariseu, não era nenhum bêbado ou fornicador; e, sendo um jovem fariseu, podemos esperar que ele não era nenhum extorquidor, nem tinha ainda aprendido as artes que os velhos fariseus astutos e cobiçosos praticavam de devorar as casas das viúvas pobres; mas era, segundo a justiça que há na lei, irrepreensível. Ele não era culpado de nenhum exemplo de vício e profanação conhecidos; e, portanto, como não se podia considerá-lo desertor de sua religião por não conhecê-la (pois ele era um homem instruído), também não se podia considerar que ele desertara dela porque não a amava, ou não tinha afeição às suas obrigações, pois ele era um homem virtuoso, e não era inclinado a nenhuma imoralidade. (3) Então ele era ortodoxo, são na fé, e não um deísta ou cético, ou um homem de princípios corruptos que levam à infidelidade. Ele era fariseu, em oposição aos saduceus; ele aceitava aqueles livros do Antigo Testamento que os saduceus rejeitavam, acreditava num mundo de espíritos, na imortalidade da alma, na ressurreição do corpo e nas recompensas e castigos do estado futuro, tudo que os saduceus negavam. Eles não podiam dizer: Ele abandonou sua religião por falta de um princípio, ou por falta do devido respeito para com a revelação divina; não, ele sempre tivera uma veneração pela antiga promessa feita por DEUS aos pais, e construíra sua esperança sobre ela.
Ora, embora Paulo soubesse muito bem que tudo isso não o justificava diante de DEUS, nem era justificação para ele, ele sabia que isso valia por sua reputação entre os judeus, e um argumento ad hominem – como Agripa deveria sentir, que ele não era um homem tal qual eles o fizeram parecer. Embora ele considerasse tudo isso como perda para que pudesse ganhar a CRISTO, ainda o mencionava quando podia servir para honrar a CRISTO. Ele sabia muito bem que em todo esse tempo ele era um estranho à natureza espiritual da lei divina, e à religião do coração, e que a menos que sua justiça excedesse isso, ele jamais iria para o céu; no entanto, ele reflete sobre isso com alguma satisfação de que antes da sua conversão não tinha sido um ateu, profano ou corrupto, mas, de acordo com a luz que ele possuía, tinha andado diante de DEUS com toda a boa consciência.
2. Veja aqui o que é sua religião. Na verdade, ele não tem grande zelo pela lei cerimonial como ele teve em sua juventude. Os sacrifícios e ofertas designados por essa lei, ele pensa, são superados pelo grande sacrifício que eles tipificavam; ele não leva mais em consideração as contaminações e suas purificações cerimoniais, e pensa que o sacerdócio levítico foi nobremente absorvido pelo sacerdócio de CRISTO; mas quanto aos princípios fundamentais de sua religião, ele é tão zeloso por eles como sempre, e mais ainda, ele está pronto a viver e morrer por eles.
(1) Sua religião é edificada sobre a promessa feita por DEUS aos pais. Está edificada sobre a revelação divina, que ele recebe e crê, e na qual arrisca sua alma; ela está edificada sobre a graça divina, a graça manifestada e transmitida pela promessa. A promessa de DEUS é o guia e a base de sua religião, a promessa feita aos pais, que era mais antiga do que a lei cerimonial, essa aliança que foi confirmada diante de DEUS em CRISTO, e que a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não invalida, de forma a abolir a promessa (Gl 3.17). CRISTO e o céu são as duas grandes doutrinas do evangelho – que DEUS nos deu a vida eterna e essa vida está em seu filho. Sendo assim, essas duas são a substância da promessa feita aos pais. Ela pode remontar até a promessa feita ao pai Adão, a respeito da semente da mulher, e aquelas descobertas de um estado futuro em cuja fé os primeiros patriarcas agiram, e foram salvos por aquela fé; mas ela diz respeito principalmente à promessa feita ao pai Abraão, de que por sua semente todas as famílias da terra seriam abençoadas, e que DEUS seria um DEUS para ele e para sua semente depois dele: a primeira quer dizer CRISTO, a última, o céu; porque, se DEUS não tivesse preparado uma cidade para eles, Ele teria se envergonhado de chamar a si mesmo de seu DEUS (Hb 11.16).
(2) A sua religião consiste nas esperanças dessa promessa. Ele não a estabelece, como eles fizeram, em comidas e bebidas, e na observação de mandamentos carnais (DEUS tem muitas vezes mostrado quão pouco Ele se importa com eles), mas na dependência confiante da graça de DEUS na aliança, e na promessa, que foi a grande carta régia pela qual a igreja foi inicialmente fundada. [1] Ele tinha esperança em CRISTO como a semente prometida; ele esperava ser abençoado nele, para receber a bênção de DEUS e ser verdadeiramente abençoado. [2] Ele tinha esperanças do céu; isso é expressamente afirmado, como aparece na comparação com o capítulo 24.15: de que há de haver ressurreição de mortos. Paulo não confia na carne, mas em CRISTO; nenhuma expectativa de grandes coisas deste mundo, mas de coisas do outro mundo maiores do que qualquer uma que este mundo possa almejar; ele tem seu olhar voltado para um estado futuro.
(3) Nisso, ele concordava com todos os judeus piedosos; sua fé não estava só de acordo com as Escrituras, mas de acordo com o testemunho da igreja, que era um apoio para ela. Embora eles o pusessem como um marco ele não era singular: “nossas doze tribos, o corpo da igreja judaica, continuamente servindo a DEUS noite e dia, esperavam atingir essa promessa, isto é, o bem prometido”. O povo de Israel é chamado de doze tribos, porque assim eles eram no início; e, embora nós não leiamos do retorno das dez tribos em um corpo, ainda assim podemos pensar em muitas pessoas em particular, mais ou menos de cada tribo, que retornaram à sua terra; talvez, gradualmente, a maior parte daqueles que foram levados cativos. CRISTO fala das doze tribos (Mt 19.28). Ana era da tribo de Aser (Lc 2.36). Tiago endereça sua epístola às doze tribos que andam dispersas (Tg 1.1). “Nossas doze tribos, que formam o corpo de nossa nação, à qual eu e outros pertencemos. Ora, todos os israelitas professam crer nessa promessa, tanto de CRISTO quanto do céu, e esperam alcançar os benefícios delas. Todos eles esperam por um Messias futuro, e nós que somos cristãos esperamos em um Messias que já veio; de maneira que todos nós concordamos em edificar sobre a mesma promessa. Eles esperam pela ressurreição dos mortos e a vida do mundo vindouro, e isso é o que eu espero também. Por que eu deveria ser visto como tendo apresentado algo perigoso e heterodoxo, ou como um apóstata da fé e do culto da igreja judaica, quando concordo com eles nesse artigo fundamental? Eu espero por fim chegar ao mesmo céu a que eles esperam chegar; e, se nós esperamos nos encontrar de maneira tão feliz em nosso fim, por que deveríamos nos desentender de forma tão infeliz no caminho?” E mais, a igreja judaica não somente esperava alcançar essa promessa, mas, na esperança dela, eles estão servindo a DEUS continuamente, noite e dia. O serviço do templo, que consistia em uma série contínua de deveres religiosos, manhã e tarde, dia e noite, do início ao fim do ano, e era mantido pelos sacerdotes e levitas, e pelos homens fixos, como eram chamados, que continuamente assistiam ali para pôr suas mãos sobre os sacrifícios públicos, como os representantes de todas as doze tribos, esse serviço baseava-se na profissão de fé na promessa da vida eterna, e, na expectativa dela, Paulo insistentemente serve a DEUS dia e noite no evangelho de seu Filho. As doze tribos por meio de seus representantes fazem o mesmo com relação à lei de Moisés, mas ele e elas o fazem na esperança da mesma promessa: “Por isso, eles não deveriam me olhar como um desertor de sua igreja, já que eu me sustento pela mesma promessa pela qual eles se sustentam”. Muito mais deveriam os cristãos, que esperam pelo mesmo JESUS, pelo mesmo céu, embora diferindo nos modos e cerimônias de culto, esperar o melhor uns dos outros, e viverem juntos em santo amor. Ou isso pode ser uma referência a pessoas particulares que continuaram na comunhão da igreja judaica e foram muito devotas a seu modo, servindo a DEUS com grande intensidade e forte aplicação da mente, e constantes nisso, noite e dia, como Ana, que não saía do templo, mas servia a DEUS (a mesma palavra é usada aqui) com jejuns e orações de noite e de dia (Lc 2.37). “Nesse caminho eles esperavam alcançar a promessa, e eu espero que eles a alcancem.” Note: Só podem esperar com bons motivos a vida eterna aqueles que são diligentes e constantes no serviço de DEUS; e a boa esperança dessa vida eterna deveria nos estimular à diligência e constância em todos os exercícios religiosos. Nós devemos continuar com nossa obra tendo o céu em nossa mira. E devemos julgar de maneira caridosa aqueles que insistentemente servem a DEUS noite e dia, ainda que não do nosso jeito.
(4) E isso era pelo que ele agora estava sofrendo – por pregar essa doutrina que eles mesmos, caso eles a entendessem corretamente, deveriam reconhecer: eu sou julgado pela esperança da promessa feita aos pais. Ele se prendia à promessa, contra a lei cerimonial, enquanto seus acusadores se prendiam à lei cerimonial contra a promessa: “Por essa esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus – porque eu faço aquilo que eu me considero obrigado a fazer pela esperança dessa promessa”. É comum aos homens odiar e perseguir em outros o poder daquela religião da qual eles, não obstante, se orgulham na forma. A esperança de Paulo era o que esses mesmos também esperam (Atos 24.15), e, no entanto, eles estavam, desse modo, enfurecidos contra ele por agir de acordo com aquela esperança. Contudo, era uma honra que quando ele sofria como cristão ele sofria pela esperança de Israel (Atos 28.20).
(5) Isso era o que ele deveria persuadir a adotar todos que o ouviam cordialmente (v. 8): Julga-se coisa incrível entre vós que DEUS ressuscite os mortos? Isso parece vir de maneira um tanto brusca; mas é provável que Paulo tenha dito muito mais do que está aqui relatado, e que ele tenha explicado a promessa feita aos pais como sendo a promessa da ressurreição e vida eterna, e provado que estava no caminho certo na busca de sua esperança daquela felicidade porque ele acreditava em CRISTO, que tinha ressuscitado dos mortos, o que era um penhor e garantia daquela ressurreição pela qual os pais esperavam. Paulo está, portanto, certo de conhecer a virtude da ressurreição de CRISTO, que por ela ele podia chegar à ressurreição dos mortos; veja Fp 3.10,11. Agora, muitos de seus ouvintes eram gentios, a maioria deles talvez, Festo particularmente, e nós podemos supor que quando eles o ouviram falar tanto da ressurreição de CRISTO quanto da ressurreição dos mortos, pela qual as doze tribos esperavam, eles zombaram, como fizeram os atenienses, que começaram a rir e a murmurar uns com os outros que coisa absurda era aquela, o que levou Paulo, desse modo, a argumentar com eles. Pois quê? Julga-se coisa incrível entre vós que DEUS ressuscite os mortos? Assim pode ser lido. Se isso for maravilhoso aos olhos do resto deste povo, será também maravilhoso aos meus olhos? Diz o Senhor dos exércitos (Zc 8.6). Se estiver acima do poder da natureza, contudo, não está acima do poder do DEUS da natureza. Note: Não há razão por que nós devamos pensar ser incrível que DEUS ressuscite os mortos. Não somos obrigados a acreditar em nada que seja inacreditável, qualquer coisa que implique uma contradição. Há motivos de credibilidade suficientes para nos sustentar em todas as doutrinas da religião cristã, e de maneira especial isso vale para a ressurreição dos mortos. Acaso DEUS não tem poder infinito, para o qual nada é impossível? Não criou Ele o mundo do nada, com apenas uma palavra? Não formou Ele nossos corpos a partir do barro e soprou em nós o sopro de vida? E não pode o mesmo poder formá-los novamente a partir de seu próprio barro e pôr vida neles novamente? Não vemos um tipo de ressurreição na natureza, na volta de cada primavera? O sol tem uma força semelhante de ressuscitar plantas mortas, e deveria parecer incrível para nós que DEUS ressuscitasse corpos mortos?
III
Ele reconhece que enquanto continuava fariseu, era inimigo amargo dos cristãos e do cristianismo, e ele pensava que deveria ser assim, e continuou assim até o momento em que CRISTO operou essa maravilhosa mudança nele. Isso ele menciona:
1. Para mostrar que o fato de se tornar cristão e pregador não era o produto e resultado de nenhuma disposição ou inclinação prévia a esse movimento, ou qualquer avanço gradual de pensamento a favor da doutrina cristã; ele não se convenceu a favor do cristianismo por uma seqüência de argumentos, mas foi introduzido no grau mais elevado de certeza dele, imediatamente do mais alto grau de preconceito contra ele, pelo que parecia que ele foi feito cristão e pregador por um poder sobrenatural; de maneira que sua conversão de tal modo miraculoso não era somente para ele, mas para outros também, uma prova convincente da verdade do cristianismo.
2. Talvez ele pretenda com isso uma desculpa a seus acusadores, como CRISTO fez pelos seus, quando Ele disse: Eles não sabem o que fazem. O próprio Paulo uma vez pensou que fez o que deveria fazer quando perseguia os discípulos de CRISTO, e ele caridosamente considera que eles agiam sob o mesmo engano. Observe:
(1) Quão tolo ele era em sua opinião (v. 9): Ele pensava consigo mesmo que contra o nome de JESUS, o Nazareno, devia praticar muitos atos, tudo que estava em seu poder, contrário à sua doutrina, sua honra e seu interesse. Esse nome não fez nenhum mal, contudo, porque ele não concordava com a noção que ele tinha do reino do Messias, ele estava pronto para fazer tudo que pudesse contra esse nome. Ele pensava prestar um bom serviço a DEUS ao perseguir aqueles que invocavam o nome de JESUS CRISTO. Note: É possível que os que estão evidentemente no caminho errado estejam confiantes de que estão no caminho certo; e que os que estão voluntariosamente persistindo no maior dos pecados pensem que estão fazendo o seu dever. Aqueles que odiavam seus irmãos e os expulsavam, diziam: O Senhor seja glorificado (Is 66.5). Sob o disfarce e pretexto de religião, as vilanias mais bárbaras e desumanas têm sido não apenas justificadas, mas santificadas e exaltadas (Jo 16.2).
(2) Com que fúria ele agia (vv. 10,11). Não há um princípio mais violento no mundo do que a consciência mal informada. Quando Paulo considerava ser seu dever fazer tudo que pudesse contra o nome de CRISTO, ele não poupava esforços nem custo nessa tarefa. Ele dá um relato do que fez nesse sentido, e o agrava como algo pelo qual estava verdadeiramente arrependido: fui blasfemo, e perseguidor (1 Tm 1.13). [1] Ele encheu as celas com cristãos, como se eles fossem os piores criminosos, cogitando por esse meio não somente aterrorizá-los, mas torná-los odiosos ao povo. Ele era o diabo que lançava alguns deles na prisão (Ap 2.10), os levava sob custódia, para que fossem processados. Encerrei muitos dos santos nas prisões (v. 10), tanto homens como mulheres (Atos 8.3). [2] Ele tornou-se o agente dos principais sacerdotes. Deles recebeu poder, como um oficial inferior, para pôr suas leis em execução, e orgulhava-se muito de que era um homem com autoridade para esse propósito. [3] Ele era muito solícito para se manifestar, mesmo que não solicitado, a favor da entrega dos cristãos à morte, particularmente Estêvão, em cuja morte Saulo consentiu (Atos 8.1), e assim tornou-se particeps criminis – cúmplice no crime. Talvez ele tenha, por seu grande zelo, embora jovem, se tornado um membro do sinédrio, e ali votado pela condenação dos cristãos à morte; ou, depois que eles eram condenados, ele justificava o fato, e o celebrava, tornando-se assim culpado ex post facto – depois de cometido o ato, como se ele tivesse sido um juiz ou jurado. [4] Ele os punia com castigos de uma natureza inferior, nas sinagogas, onde eles eram castigados como transgressores das regras da sinagoga. Ele teve participação no castigo de muitos; mais ainda, parece que as mesmas pessoas eram por seus meios castigadas muitas vezes, como ele mesmo foi cinco vezes (2 Co 11.24). [5] Ele não somente os punia pela religião deles, mas, orgulhando-se de triunfar sobre a consciência das pessoas, ele as forçava a abjurar de sua religião, entregando-as à tortura: “Os obriguei a blasfemar contra CRISTO, e a dizer que Ele era um enganador e que eles haviam sido enganados por Ele – compelia-os a negar seu Mestre, e a renunciar a suas obrigações para com Ele”. Nada será mais pesado sobre os acusadores do que forçar a consciência dos homens, por mais que eles possam agora triunfar pelos prosélitos que eles fizeram pela violência. [6] Sua fúria cresceu tanto contra os cristãos e o cristianismo que a própria Jerusalém tornou-se um palco muito estreito para ele agir, e assim, ele declara: E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui. Ele estava furioso contra eles, para ver o quanto eles tinham a dizer a favor de si mesmos, não obstante tudo que ele fazia contra eles, enfurecido por vê-los se multiplicar ainda mais por serem afligidos. Ele estava enfurecido demasiadamente; e o rio de sua fúria não admitiria nenhuma margem, nenhum limite, contudo ele era um terror tão grande para si mesmo como era para eles, tamanho era seu tormento dentro de si mesmo pelo fato de não poder vencer, como era grande também sua indignação contra eles. Perseguidores são homens enfurecidos, e alguns deles demasiadamente enfurecidos. Paulo estava irritado por ver que aqueles em outras cidades não eram tão violentos contra os cristãos, e por isso se ocupou onde ele não tinha obrigações, e perseguiu os cristãos até mesmo em cidades estrangeiras. Não há um princípio mais incansável do que fazer o mal, especialmente aquele que aparenta consciência.
Esse era o caráter de Paulo, e essa a sua maneira de viver no início de sua carreira; e por isso não se poderia presumir que ele fosse cristão por educação ou costume, ou que tivesse sido atraído pela esperança de promoção, porque todas as objeções exteriores imagináveis estavam contra ele ser cristão. Atos 26:1-7 - Comentário - NVI (FFBruce)Alcançamos o zénite desse ministério especial no que concerne à Palestina. Após as apresentações feitas por Festo, Agripa assumiu a sessão e, imediatamente, deu oportunidade a Paulo para que falasse em sua defesa (26.1).
4) A defesa de Paulo diante de Agripa e Festo (26.2-23)
O conteúdo e o estilo da defesa. Essa fala não é uma defesa e um testemunho improvisado, como foi a sua mensagem à multidão no cap. 22, pois Paulo tinha tido tempo suficiente para o preparo e percebeu a importância da ocasião. Por isso, o discurso é tão rico em conteúdo doutrinário, histórico e apologético e, portanto, muito difícil de ser resumido em espaço limitado. Alguns estudiosos nos informam que Paulo lembrou das suas lições em retórica que tinha aprendido em Tarso, visto que nessa ocasião dá atenção especial ao estilo, embora a língua seja, evidentemente, grego helenístico, e não clássico. Outros, no entanto, consideram extremamente duvidoso que ele tenha estudado em uma escola grega em Tarso, interpretando At 22.3 como significando que Jerusalém foi a cidade da sua adolescência e juventude.
O preâmbulo (v. 2,3). O preâmbulo era obrigatório nessas “apologias” diante de juízes distintos, e mais uma vez Paulo soube como combinar polidez e verdade, podendo de fato considerar-se feliz em expor os seus argumentos diante de um soberano profundamente versado em questões judaicas, e não ignorante acerca do início do cristianismo.
Saulo, o fariseu (v. 4,5). Paulo gostaria que a sua conversão e ministério cristão fossem vistos contra o pano de fundo da sua história inicial como judeu ortodoxo, adepto do partido mais rigoroso, o dos fariseus. Embora fosse nativo de Tarso, cidade de gentios, a sua vida tinha sido vivida entre os de seu povo, embora isso não excluísse influências gregas.
Paulo entregou-se à esperança de Israel (v. 6-8). Ele não era nenhum separatista perigoso, mas se apegava firmemente à esperança que se originava nas promessas fundamentais dadas à nação (Gn 12—15) e que tiveram seu cumprimento na ressurreição; pois desde o início Abraão tinha aprendido a confiar no DEUS que dá vida aos mortos (Rm 4.16-25). A nação ideal das 12 tribos (naquele momento representada pelo remanescente fiel) nunca tinha aberto mão dessa esperança no desenrolar da sua adoração a DEUS, e a ressurreição dos mortos é incrível somente para os que não conhecem DEUS.
Saulo, o perseguidor (v. 9-11). Paulo volta à sua história e mostra que não somente era fariseu, mas o grande líder da primeira perseguição geral da igreja em Jerusalém.
Podemos observar os detalhes vívidos daquele período trágico e da sua fúria contra eles, os cristãos. E difícil entender a relutância de alguns estudiosos em admitir que a afirmação e quando eles eram condenados à morte eu dava o meu voto contra eles signifique que Saulo, apesar de muito jovem, era membro do Sinédrio, pois cortes inferiores não podiam sentenciar a pena de morte. A Vida e a Época do Apóstolo Paulo - 220.92 - Biografia - Ball. Charles Ferguson - BALa A Vida e a Época do Apóstolo Paulo.../ Bali, Charles Ferguson - 1° ed. - Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de DEUS, 1998. ISBN 85-263-0186-1 - Biografia. 2. História Bíblica.Grande parte da vida e da época de Paulo nos tem sido preservada no Novo Testamento, principalmente nos escritos pessoais do apóstolo. Numa narrativa envolvente, Charles Ferguson Ball apresenta, pormenorizadamente, a vida do grande apóstolo dos gentios. Onde a história se cala, o autor busca prováveis detalhes em suas pesquisas, mantendo sempre a conformidade com o registro bíblico. OS PORTOES DO OCIDENTE
A província da Cilícia estendia-se numa estreita faixa de terra a nordeste do mar Mediterrâneo. Medindo apenas 112 quilômetros de norte a sul, alongava-se do ocidente para o oriente da Panfília, indo até as montanhas da Síria. As águas azuis do Mediterrâneo banhavam as costas ao sul, formadas de planícies férteis e montanhas onduladas, até chegar aos sombrios montes Tauros.
Os rochedos, dos três lados da Cilícia, isolavam-na completamente de seus vizinhos, exceto por duas conhecidas passagens nas montanhas.
As passagens eram fáceis de serem vigiadas, pois, através delas, só podia transitar um veículo de cada vez e, mesmo assim, com dificuldade. Em todo o Oriente eram mui afamadas como as guardiãs do único acesso, por terra, entre a Síria e o Ocidente.
Na estrada para Antioquia, em direção ao sul, ficava a passagem conhecida como o Portão da Síria. Todo o trânsito procedente da Ásia e do Sul tinha de ser feito por mar ou pelas estradas montanhosas da Cilícia. Na extremidade ocidental da Cilícia, cruzando os rochedos escarpados em direção às longínquas Grécia e Europa, encontrava-se a outra passagem estreita, chamada Portão da Cilícia ou Ciliciano.
Durante séculos, comerciantes e viajores entraram e saíram por esses portões. Sua localização estratégica proporcionou imensos lucros à Cilícia. Entretanto, por esses mesmos portões marcharam também os exércitos imperiais; e, em caso de guerra, vencia a batalha o comandante que primeiro dominasse as estradas das montanhas. A Cilícia fora conquistada e reconquistada muitas vezes. Disputada por gregos e romanos, agora pertencia a Roma. Não obstante, o idioma falado nas ruas das cidades continuou a ser o grego.
Se esses portões pudessem contar sua história, que formidável narrativa não seria! Conquistadores e cruzados, soldados e mendigos, peregrinos e ladrões - todos passavam por eles em suas viagens entre a Europa e a Ásia. Na verdade, ali estava o portão de saída para o Ocidente.
O rio Cnido, nascido nas rochas de um vale profundo, ia saltando de saliência em saliência até chegar às terras baixas do Sul. Ao longo do percurso, reuniam-se-lhe outros rios menores, cada um transbordando com a neve derretida das altas serranias dos montes Tauros. Assim aumentado, alargava-se e percorria preguiçosamente seu caminho em direção ao mar.
Pequenas aldeias, fazendas e cabanas de barro escuro salpicavam a planície. Para o ocidente, a terra era ondulada e menos fértil. Por não se prestar ao cultivo, era usada como pastagem para o rebanho. Na direção leste, porém, o solo era rico e as colheitas boas. Aninhada entre os picos altaneiros, cobertos de neve, e o mar azul e quente, a Cilícia era um lugar mui agradável.
Tarso, a Cidade Natal de Paulo
Tarso, onde Paulo nasceu e foi criado, era a capital e principal cidade da Cilícia. Era uma das maiores cidades do Império Romano. Hoje, não passa de uma insignificante cidadezinha turca. Alguns de seus largos muros de proteção ainda existem, mas em completa ruína, com flores e mato crescendo pelas frestas.
Fora da atual Tarso encontra-se uma ponte sob cujos arcos o rio Cnido correra no passado. (Se essas pedras pudessem falar!) Hoje só podemos olhar as ruínas e os registros históricos da cidade que abrigou Paulo em sua juventude, e imaginar a influência que suas escolas, academias e ginásios exerceram sobre ele.
Apesar de sua grandeza, Tarso não se destacava por sua antigüidade. Embora fundada antes de Atenas e Roma, se comparada a Damasco, ou a Jerusalém, não passava de uma criança. Ela experimentou suas primeiras glórias nos dias de Alexandre, o Grande, quando muitos gregos abastados construíram ali suas residências e palácios. A fama lhe proveio principalmente de seu entusiasmo pela cultura. Suas escolas atraíam filósofos e professores de renome internacional. A afirmação de que ofuscava qualquer cidade como centro cultural era bem justificada.
Uma Cidade Famosa
Bem antes dos dias de Paulo, os filósofos e eruditos de Tarso já ensinavam retórica, matemática, ética, gramática e música. Paulo ainda não brincava nas ruas da cidade, quando grandes poetas, médicos, oradores e filósofos, treinados nas escolas de Tarso, levavam-lhe o nome para outras terras. Era tão grande a reputação da cidade que César Augusto, ele mesmo educado por Atenodoro de Tarso, escolheu Nestor, outro educador da cidade, como mestre de seu filho.
Tarso possuía inúmeros prédios públicos além de palácios e casas humildes. Havia ali um enorme teatro ao ar livre, construído para acomodar milhares de pessoas, num grande espaço aberto, aos pés de uma encosta, com fileiras e fileiras de bancos de mármore dispostos num largo semicírculo. Peças gregas eram encenadas no palco central, atraindo multidões. Ali também se apresentava a música da moda e liam-se poesias. O teatro ocupava um lugar importante na vida de ricos e pobres.
Marco Antônio, famoso general romano, morara em Tarso. Gostava tanto da cidade, que lhe deu autonomia; isto é, permitiu que seus cidadãos fizessem suas próprias leis sem qualquer interferência de Roma e sem lhes cobrar quaisquer impostos. O imperador Augusto, por sua vez, ficou tão impressionado com a cultura da cidade que lhe permitiu ter seus próprios tribunais e nomear seus magistrados. Tarso tornou-se um centro favorecido, despertando a inveja das cidades vizinhas.
Sua fama não lhe provinha apenas da cultura. Tarso era também um centro financeiro. As rotas comerciais davam-lhe proeminência. Nos dias de Paulo, o rio Cnido era tão largo que navios de grande porte subiam por seu leito, cerca de 19 quilômetros, e descarregavam suas mercadorias nos desembarcadouros da cidade. O cais era um espetáculo pitoresco. Transitavam por aqui egípcios de rosto acobreado, e africanos negros e fortes. Navios de Creta, Chipre, Rodes e Jope carregavam em seu bojo uma estranha mistura de marinheiros alegres que exaltavam a grandeza e o cosmopolitismo de Tarso.
Homens desciam o rio Cnido em balsas e barcos rústicos, transportando as mercadorias de suas fazendas e oficinas. Eram os fardos transportados para os navios e trocados por grãos, peles, lã, e barris de óleo e vinho. Os portos eram uma confusão de homens e longas fileiras de jumentos, mulas e cavalos. Quando o navio finalmente acabava de ser carregado, os gritos dos marinheiros e estivadores enchiam o ar à medida que as cordas eram desamarradas e o barco abria caminho no mar cintilante. Esse era o cotidiano no porto de Tarso.
O Barco Dourado de Cleópatra
O mais esplêndido navio que já aportara em Tarso era, agora, apenas uma lembrança, mas ainda perdurava a profunda impressão que deixara. Ficou conhecido como o barco dourado de Cleópatra, a lendária rainha do Egito. Ela fora encontrar-se ali com Marco Antônio para seduzi-lo com os seus encantos. Tinha os lábios pintados de vermelho e as unhas de um amarelo brilhante, cor de açafrão. Por toda parte corria a fama de sua beleza.
Naquele dia longínquo, pessoas ansiosas ajuntavam-se às margens do rio, procurando vislumbrar a belíssima rainha. O dia estava ensolarado e alegre, e o céu, azul. No alto do mastro, uma grande vela de seda vermelha flutuava ao sabor da brisa; flâmulas amarelas, carmesins, azuis e brancas esvoaçavam no mastro principal da embarcação. Um espírito festivo permeava a cidade enquanto o barco subia o rio. Os espectadores podiam ver a sua popa incrustada de ouro e coberta por um dossel dourado. Sob o dossel, num divã, entre macias almofadas, reclinava-se Cleópatra, enfeitada de jóias resplendentes.
Os largos remos, revestidos de prata, rebrilhavam, enquanto feriam aquelas águas. Aquele fora um dia inesquecível. Sem dúvida, a história do seu esplendor seria contada e recontada no decorrer dos anos.
Os Jogos
Os gregos e romanos gostavam de competições atléticas. Apreciavam tanto o jovem que se destacava nas corridas quanto o homem que vencia uma batalha. De seus heróis e campeões, erguiam estátuas e monumentos. A pista de corrida era um lugar enorme, aberto, como um teatro. De um lado, enfileiravam-se as arquibancadas, construídas em forma de estádio para as multidões que iam assistir aos jogos e corridas. Milhares de jovens treinavam para os jogos, e sua maior ambição era a conquista dos prêmios.
A leste da cidade, na encosta de um monte, um grande prédio erguia-se em toda a sua magnificência. Era o ginásio - lugar onde os meninos aprendiam a ser ágeis e fortes. Dos 16 aos 18 anos, os rapazes nada aprendiam além de atletismo. Outras áreas da sua educação seriam cuidadas mais tarde. Afinal, o que mais importava para os gregos e romanos era o condicionamento físico. Os meninos aprendiam a correr, saltar, lutar e nadar. Havia ali banhos quentes e frios. Depois dos jogos, eles banhavam-se e esfregavam o corpo com óleo de oliva.
O ginásio era um lugar animado; ressoava com os gritos e risos de centenas de rapazinhos. O edifício era majestoso, com enormes pilares e estátuas esculpidas em mármore, representando grandes mestres, filósofos e homens vigorosos. Os meninos ficavam então cercados de exemplos de homens cultos e fortes - os líderes da sua época.
A Grandeza de Paulo
De todos os homens ilustres de Tarso, produtos do ginásio e das famosas escolas, ninguém foi maior que Paulo. Ele galgou alturas superiores a todos os demais. Todos foram esquecidos e, apesar de tanta grandeza, deixaram apenas uma pequena marca na história. O grande apóstolo de CRISTO, porém, cativou de tal forma o coração de milhões de pessoas em todas as eras, e alçou-se a tal proeminência, que a própria Tarso é lembrada, não por suas escolas e comércio, mas porque Paulo ali viveu.
O Mundo de Paulo
Naqueles dias, toda a vida do mundo concentrava-se no Mediterrâneo. Todas as grandes civilizações desenvolveram-se junto ao mar cujo nome aludia ao centro da terra. A palavra Mediterrâneo é formada por dois vocábulos que, juntos, significam "o meio da terra". Todos os interesses da vida humana achavam-se concentrados numa estreita faixa que se estendia pela costa sul da Europa, pela costa norte da África e pelas costas ocidentais da Síria e Palestina. Além dessa fronteira, havia regiões inexploradas, onde viviam povos bárbaros, que só entrariam na corrente da civilização anos mais tarde.
Três nações da época foram suficientemente grandes e fortes para deixar sua marca sobre as demais: Roma, Grécia e Israel.
ROMA
Os romanos governavam o mundo. Conquistaram esse direito pela força dos seus exércitos. Eles possuíam o dom da colonização e do governo (sua pequena espada, gladium, fez sucesso e era eficiente), as estratégias de guerra era infalível para as conquistas de seus exércitos.
Devido ao poder de suas legiões estacionadas em todas as colônias, eram os donos do mundo. Embora poderosos, não se aproveitavam dos povos conquistados; pelo contrário, procuravam integrá-los ao seu império, dando-lhes um lugar de honra.
Roma enviou grandes construtores e arquitetos, que edificaram magníficas estradas e levantaram prédios e templos por toda parte. As leis e instituições políticas romanas eram famosas por sua justiça, garantindo o direito de todos os cidadãos. Paulo apelou a esta lei, quando se tomou evidente o preconceito dos tribunais da Judéia contra si.
O cenário, porém, não era inteiramente luminoso. Com o aumento do poder e da riqueza, Roma tornou-se corrupta e frívola, presa à sensualidade, ao pecado e ao luxo. Em conseqüência, o povo fez-se dolente e fraco. O império de que tanto se orgulhavam desmoronou-se diante dos bárbaros vindos do Norte, que o invadiram e saquearam. Mesmo nos dias de seu maior poderio, não tinham força espiritual; deleitavam-se em prazeres vulgares e brutais, como as lutas de gladiadores. Durante os feriados, os lutadores combatiam até a morte nas arenas. No reinado de Trajano, dez mil gladiadores lutaram num período de apenas seis meses. Lutavam entre si como tigres e leões, e milhares de espectadores aplaudiam-nos enquanto mutuamente se matavam. Multidões acorriam ao Coliseu de Roma para assistir à morte de cristãos devorados pelas feras.
Tanto por sua grandiosidade quanto por sua fraqueza, os romanos deixaram na história a sua marca indelével. A seu favor deve ser dito que construíram o maior império que o mundo já viu.
Grécia
Se os romanos foram os líderes mundiais no tocante à lei e ao governo, os gregos lideraram na cultura e no conhecimento. A arte, a ciência e a literatura desenvolveram-se mais na Grécia que em qualquer outra parte. Embora o império fosse romano, a língua grega foi reconhecida como o idioma empregado pelas pessoas cultas. Os eruditos de todas as nações orientais falavam e escreviam o grego. Essa é a razão de o Antigo Testamento ter sido traduzido para o grego muito antes do nascimento de CRISTO, e das cópias mais antigas do Novo Testamento estarem em grego.
Os gregos eram um povo genial. Guiados por Alexandre, o Grande, conquistaram o mundo e procuraram helenizá-lo. Desempenharam tão bem sua tarefa que, mesmo após a morte de Alexandre e a divisão de seu império, uma porção da arte e da literatura gregas permaneceu em cada nação. Os professores e filósofos gregos eram os intelectuais reconhecidos da época. Eles divulgaram, em todas as nações, a literatura, arquitetura e pensamento científico de seu país.
Muitos judeus, nos dias de Paulo, liam as Sagradas Escrituras na tradução grega - a Septuaginta (Até mesmo JESUS usou suas citações) - pois o hebraico estava se tornando rapidamente uma língua morta.
Quando o Cristianismo surgiu, toda praça de mercado tinha seu grupo de eruditos gregos que se deleitavam em discutir palavras e frases, e cujo talento degenerava em confusão. A balbúrdia era às vezes tão grande que milhares de pessoas, tanto conquistadores como conquistados, abandonavam a crença em seus deuses e sistemas filosóficos. As religiões pagãs achavam-se à beira de um completo colapso, decadência e corrupção. Essa era a situação cultural do mundo, quando JESUS e Paulo nasceram.
ISRAEL
A nação, porém, que mais marcou a civilização mundial foi Israel. Sua marca jamais se apagará. Embora os judeus não tivessem poderio militar, destacaram-se por sua religião. Dispersos por todas as terras, construíam sinagogas para adorar a DEUS. Estrabão, um dos grandes historiadores da época de CRISTO, escreveu: "E difícil encontrar um único lugar na terra que não haja admitido essa tribo de homens e sido por ela influenciado".
Isso se dera devido ao fato de a Assíria, Babilônia e Roma terem invadido a Palestina, e levado daqui milhares de judeus para o cativeiro. Onde quer que fosse, o povo escolhido levava consigo as Sagradas Escrituras e as profecias de um Messias vindouro.
Eram homens orgulhosos e exclusivistas, envolvendo-se em seus mantos de justiça enquanto voltavam as costas ao grande propósito para o qual haviam sido chamados: representar a DEUS entre os demais povos. Escrevendo aos Romanos, Paulo resume o lugar de Israel no mundo, e aponta suas falhas em palavras contundentes:
Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em DEUS; e sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?... Porque, como está escrito, o nome de DEUS é blasfemado entre os gentios por causa de vós (Rm 2.17-21,24).
Embora seja penosamente óbvio o fracasso dos judeus em executar os planos divinos, eles estabeleceram sinagogas desde a longínqua Babilônia até a cidade de Roma. Na história do Pentecostes, os judeus que voltaram a Jerusalém, abrangiam conterrâneos de todas as províncias do império romano:
Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, e Judéia, e Capadócia, Ponto e Ásia. E Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes (At 2.9-11).
Lucas faz um resumo, dizendo que os judeus eram de "todas as nações que estão debaixo do céu" (At 2.5).
Onde quer que os judeus construíssem suas sinagogas e cumprissem seus rituais, estabeleciam um centro para a adoração do DEUS Único e Verdadeiro.
Sua presença no Império Romano foi de grande ajuda, servindo de porta para o programa futuro da Igreja. Quando Paulo viajava para um novo local, sempre procurava a sinagoga para pregar, e isso geralmente dava início a uma nova igreja.
O Plano de DEUS
Eis aí um vislumbre do mundo em que Paulo nasceu. O cenário era de confusão, conflito, insatisfação e necessidade - necessidade que não podia ser satisfeita pela lei romana, erudição grega ou religião judaica.
Entretanto, DEUS decidiu enviar a este mundo um homem que, pelos seus dons naturais, pôde cativar toda classe de pessoas. Com seus antecedentes e preparo, estava apto a falar com autoridade aos romanos, gregos e hebreus. DEUS separou esse homem, mudou todo o curso de sua vida e usou-o para fortalecer a Igreja de maneira milagrosa. Saulo de Tarso, o escolhido de DEUS, tornou-se um dos maiores pensadores e, certamente, o maior líder e teólogo da Igreja. O LAR EM TARSO
Jamais foi escrita uma biografia completa do apóstolo Paulo. Essa tarefa é simplesmente impossível por nos faltarem o início e o fim de sua história. Nosso registro de suas atividades começa em sua juventude, pouco antes de ele iniciar o apostolado. Foi aí que Lucas o conheceu e incluiu-o em sua história da Igreja Primitiva. Além disso, só temos algumas notas pessoais nas 13 epístolas eclesiásticas e pastorais escritas por ele em diferentes partes do Império Romano. Apesar das muitas lacunas desses registros, temos o suficiente para tornar o relato um dos mais emocionantes da História.
Está claro que não houve monotonia na vida de Paulo. Sumariando esse período, ele menciona vividamente alguns episódios:
Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo. Em viagens muitas vezes, em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da. minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos. Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum muitas vezes, em frio e nudez (2 Co 11.2427).
Em lugar algum, porém, esta história é inteiramente contada. Além do breve relato de um naufrágio, os outros não são mencionados. Não há nenhuma narrativa da noite e do dia terríveis passados em alto mar, agarrado talvez a um destroço. Nem é feita a descrição dos assaltos nas passagens montanhosas, onde os ladrões tornaram-se tão ameaçadores para os viajantes, que estes tinham de se organizar em caravanas. A seguir vieram os rios caudalosos e as enchentes, com apenas algumas pontes para cruzá-los. Para os de viva imaginação, essas aventuras são verdadeiramente estimulantes!
Embora não haja registro da infância de Paulo, uma história muito interessante pode ser montada a partir das informações colhidas da história, da tradição e das notas pessoais nos escritos paulinos.
O Nascimento de Paulo
O grande apóstolo nasceu por volta do ano três de nossa era, no lar de um piedoso casal, no bairro judeu de Tarso. As ruas eram estreitas e as casas pobres, mas aquele dia foi de imensa felicidade para a família. Contemplaram o rosto do filho, e sentiram-se satisfeitos e orgulhosos.
Embora vivessem numa cidade gentia, seus pais resolveram dedicá-lo ao serviço de DEUS, e fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para educá-lo como um verdadeiro israelita.
O pai pertencia à tribo de Benjamim e gabava-se disso sempre que os vizinhos mencionavam suas árvores genealógicas. Todos sabiam que Saul, o primeiro rei de Israel, era benjamita.
Apesar de morar em Tarso, a família considerava as montanhas orientais da Palestina o seu verdadeiro lar como o faziam os judeus piedosos. Para eles, Jerusalém era a cidade mais bela do mundo, pois ali estava a Casa de DEUS. Eles enviavam ofertas para os reparos do Templo, e a cada ano planejavam visitar a Cidade Santa por ocasião da Páscoa.
Oito dias após o nascimento do menino, os pais deram-lhe um nome. A cerimônia foi seguida de uma ceia, para a qual todos os amigos e parentes foram convidados, e cada um levou o seu presente. Ele recebeu o bom nome hebreu de Saulo. Esse era um nome mui querido de todos os descendentes de Benjamim porque assim se chamava o primeiro rei de Israel. Mas como viviam no mundo romano, usaram também a forma latina do nome — Paulo.
Nos negócios, ele era Paulo, porque isso impressionava os gentios. Mas a mãe sempre o chamava de Saulo, pois esse nome agradava-lhe o coração.
Primeiros Ensinamentos em Casa
O pai de Saulo era muito severo. Sendo fariseu, acreditava que os mandamentos de Moisés, como interpretados pelos rabinos e escribas, deveriam ser observados à risca.
Uma caixa metálica brilhante, medindo 2x7 centímetros, ficava pendurada no batente de sua porta. Quando os visitantes chegavam, ou saíam, tocavam-na e beijavam os dedos, resmungando algumas palavras da Escritura. Dentro da caixa, escritos num pedaço de pergaminho, estavam versículos da lei de Moisés, começando com aquelas palavras tão familiares: "Ouve, Israel, o Senhor nosso DEUS é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu DEUS de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder" (Dt 6.4-5). Esta caixa era chamada de mezuzah. Antes de o pequeno Saulo ter idade suficiente para falar, provavelmente já imitava os outros. Do colo da mãe, esticava o bracinho roliço para tocar a caixa brilhante, beijando em seguida a mão como vira outros fazerem. Prazenteira, a mãe sorria, acariciando-lhe a cabecinha.
À medida que Saulo crescia, aprendeu a ajoelhar-se com o rosto voltado à distante Jerusalém e, com as mãos cruzadas à frente, já fazia uma oração pela manhã e outra à noite. Quando perguntou a razão de ter de olhar para Jerusalém, foi-lhe dito que o SANTO Templo estava ali, e que no Lugar SANTO, por trás da grande cortina púrpura, DEUS habitava no meio de seu povo. O menino não compreendia tudo, mas ficava impressionado porque a voz da mãe tornava-se solene, e ela curvava a cabeça todas as vezes que falava de DEUS.
Ela também contava-lhe como o profeta Daniel, quando exilado numa nação gentia, jamais se esquecera de abrir as janelas em direção à Cidade Santa, e falar com o seu DEUS. Instado a não mais orar, recusou-se a obedecer o edito do rei e, como castigo, foi lançado à cova dos leões. Mas as feras não lhe fizeram mal algum, porque DEUS fechara-lhes a boca.
A mãe de Saulo contou-lhe as histórias de seu povo. Falou da opressão do Egito e de como DEUS libertara o povo das mãos de Faraó, fazendo-o atravessar em triunfo o mar Vermelho. Ela nunca se cansava de mencionar Saul, o rei de quem o filho levava o nome, e como ele fora o mais alto, belo e majestoso de todos os homens de Israel. Enfatizava repetidamente o fracasso dos juizes e a humildade de Saul, o primeiro rei de Israel. "Por causa de sua humildade", repetia-lhe a mãe, "ele foi honrado por DEUS".
Mas o fim trágico de Saul ficou gravado para sempre no coração de seu jovem homônimo, numa advertência de como DEUS rejeita o que dEle se desvia para buscar a própria glória. A mãe de Saulo costumava concluir seus ensinamentos, citando a Escritura: "Aos que me honram honrarei, porém os que me desprezam serão envilecidos" (1 Sm 2.30). De igual modo, contou a Saulo sobre Abraão, o pai do seu povo; Moisés, o grande legislador; Gideão, Sansão e a rainha Ester, filha de judeus pobres. Os heróis da nação judaica tornaram-se parte dos seus pensamentos e da sua conversa diária. Suas histórias preferidas eram as de aventuras e combates.
Quando o sol enorme e quente descia por trás dos morros da Panfília e as estrelas surgiam no céu púrpura, era a hora de todo menino dormir. Saulo e a irmã sentavam-se, então, nos joelhos da mãe e ouviam-na falar de Davi, o pastorzinho que matara um urso e um leão que tentaram devorar-lhe as ovelhas. Ela contava também sobre o grande rei Salomão, cuja glória maravilhava o mundo inteiro; falava ainda sobre a rainha de Sabá que fora a Israel verificar se era verdade tudo o que se dizia sobre a sabedoria e riqueza do rei Salomão.
Uma das histórias favoritas de Saulo era a do profeta Elias, que se escondera numa caverna e fora alimentado pelos corvos. Num dia glorioso, no monte Carmelo, com todos os profetas de Baal contra si, Elias pediu fogo do céu, e mostrou ao povo quem era verdadeiramente o DEUS Todo-Poderoso.
Aos poucos, mas solidamente, foi-se desenvolvendo no menino a consciência de que pertencia a um grande povo. Orgulhava-se de que, embora minoria em Tarso, os judeus tinham Jeová por DEUS, que sempre os abençoava quando eles o reverenciavam.
Nas longas noites de inverno em Tarso, com os postigos e portas bem fechados para impedir a entrada dos ventos frios do Norte, a família reunia-se ao redor da lâmpada de óleo que brilhava. A mãe tecia o pano para fazer um casaco para o pequeno Saulo. Enquanto seus dedos guiavam os fios, contava aos filhos sobre a túnica que Jacó dera a José, e como este, despertando os ciúmes dos irmãos, fora por eles vendido ao Egito. Mas DEUS estava com José, que se tornou o primeiro - ministro no governo de Faraó, rei do Egito. José foi o meio usado para salvar o seu povo da grande fome que sobreviera à terra de Canaã.
Mãe alguma tinha uma reserva tão grande de histórias, nem jamais as contara com tanto orgulho e convicção.
A Sinagoga
A mãe de Saulo levou-o à sinagoga quando ele atingiu a idade apropriada. Ao chegar, lavaram os pés empoeirados e depois sentaram-se na seção das mulheres e crianças, separada da dos homens adultos por uma treliça de pedra. Através da treliça, ele podia ver o pai sentado no chão com os homens, ouvindo enquanto o rabino lia a Lei, e dirigia-se à congregação.
Ouve, Israel, o Senhor nosso DEUS é o único Senhor. Amarás pois o Senhor teu DEUS de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu poder. E essas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as intimarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas (Dt 6.4-9).
O pequeno Saulo não compreendia muita coisa do que se passava na sinagoga. Mas a mãe achava que ele deveria conhecê-la desde a mais tenra idade para, mais tarde, sentir-se estimulado a freqüentá-la regularmente. Ela podia imaginá-lo dentro de poucos anos, sentado com os outros homens, discutindo os caminhos de DEUS e, depois, como rabino, explicando as Escrituras. Seu coração estremecia com o privilégio de educar um filho de Israel que freqüentasse a sinagoga de Tarso durante toda a sua vida.
Durante aqueles primeiros anos, a mãe de Saulo foi sua única professora. Olhos puros fitavam olhos confiantes. E, assim, Saulo passou a viver conforme o padrão escolhido pela mãe. Ela sabia que era seu dever levar o filho a conhecer e a amar as Escrituras conforme ensinara Moisés:
Quando teu filho te perguntar pelo tempo adiante, dizendo: Quais são os testemunhos, e estatutos e juízos que o Senhor nosso DEUS vos ordenou? Então dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó no Egito, porém o Senhor nos tirou com mão forte do Egito
(Dt 6.20,21).
Os Ensinamentos do Pai
Os rabinos da antigüidade diziam que as lições em casa deviam começar aos cinco anos. O pai seria o principal professor nesse período, cuidando da educação do filho. A escola começou então oficialmente para Saulo nessa idade. Depois disso, o aprendizado não se baseava tanto nas histórias, mas na memorização de versículos do Antigo Testamento e dos cânticos da sinagoga. Os salmos de Davi eram usados como hinos de adoração, e cada menino tinha de aprendê-los, juntamente com os mandamentos de Moisés e as tradições dos grandes rabinos.
Grande parte da educação resumia-se em decorar textos. Para Saulo, este exercício iniciou-se aos cinco anos e continuou até os trinta. Os judeus não precisavam estudar outros livros didáticos. As Escrituras continham todos os conhecimentos relativos à vida. As histórias do seu povo eram o seu único prazer, e extrair conhecimento de quaisquer outras fontes era desencorajado e visto com desconfiança.
A primeira lição de Saulo, baseada num versículo de Deuteronômio, foi-lhe transmitida em grego. Ele a repetiu várias vezes até decorá-la: "O que o Senhor requer de mim, senão adorá- lo e andar em seus caminhos, amá-lo e servi-lo de todo o meu coração e alma, e guardar os mandamentos que DEUS ordena neste dia para o meu bem?"
Depois disso, Saulo decorou verso após verso das muitas promessas divinas, pois os seus pais acreditavam que, se um judeu fosse bom e adorasse a DEUS, o Senhor abençoaria sua casa, campos e negócios. Mas, se não amasse e adorasse ao Senhor, certamente DEUS o castigaria, retirando-lhe sua bênção. Desde a infância, Saulo foi levado a crer em tudo o que a Escritura dizia. Mais tarde, não teve dificuldade em aceitar tudo o que ensinava o rabino.
Aos seis anos, seus pais o levaram pela mão à escola de rabinos. Com um olhar de medo e saudade, o menino largou a mão da mãe, que o entregou ao professor. O ambiente não era tão confortável como sua casa. O mestre era um estranho barbudo. O pai ficou ali mais algum tempo, observando o filho sentar-se de pernas cruzadas na companhia de outros trinta garotos, que olhavam fixamente à face severa do mestre.
Os pais voltaram para casa experimentando uma mistura de sentimentos. Orgulhavam- se pelo fato de o menino estar crescendo, mas entristeciam-se porque o tempo de seu aprendizado no lar chegara ao fim. Todavia, sentiam-se satisfeitos porque o filho ia ser educado como um verdadeiro hebreu, embora estivesse numa cidade grega e distante do Templo de Jerusalém.
Diferentemente das escolas gregas, não havia na escola da sinagoga nem aula de desenho nem de pintura. Traçar a figura de um homem, pássaro ou animal era proibido pela Lei. Os jogos e esportes gregos também não tinham espaço nas escolas rabínicas; eram costumes pagãos desprezados pelos eruditos judeus.
Em casa e na escola, Saulo aprendeu que a maior coisa do mundo era adorar a DEUS de todo o coração e obedecer aos mandamentos de Moisés.
Não havia necessidade de carregar livros, pois nem o professor os possuía. Em voz alta e monótona, este repetia as lições aos alunos até que tudo lhes ficasse gravado na memória. Era repetir, repetir e repetir.
Como todos os meninos, Saulo fazia inúmeras perguntas. Seus pais encorajavam-no a isso, especialmente no que dizia respeito aos rituais religiosos. Saulo devia perguntar por que a mãe varria a casa e acendia a lâmpada, entregando esta depois ao pai a fim de procurar migalhas em todos os aposentos. Por que comiam pão sem fermento, com as cabeças cobertas, como se estivessem prontos a fugir do inimigo? Por que a mãe acendia uma vela a cada noite, até que, depois de oito noites, a casa ficasse toda iluminada? Por que esperavam tão ansiosamente a lua nova? Ele perguntava todas essas coisas e muitas outras. O pai, muito orgulhoso, explicava-lhe o significado de cada uma delas: como eles celebravam os grandes dias de sua história, e como DEUS lhes ordenara que essas datas fossem lembradas. Os judeus eram diferentes de todos os povos do mundo; nessa diferença, repousava o seu orgulho e alegria.
A seguir, veio o aprendizado do alfabeto, tanto hebraico quanto grego. Se na sinagoga, o hebraico era falado e lido, em casa e nas ruas, até os judeus falavam o grego. Saulo teve, portanto, de aprender ambos os idiomas. O pai retirava os rolos sagrados da caixa, entregava-os ao filho, e punha-se a contemplá-lo satisfeito, enquanto o menino fazia a leitura na amada língua hebraica.
O Dia de Sábado
Como as escolas não funcionavam aos sábados, as crianças judaicas esperavam ansiosas por esse dia. Os cidadãos de Tarso não guardavam o sábado, e odiavam os judeus por serem tão diferentes. O pai suspendia o trabalho mais cedo na sexta-feira, e parecia contente ao ver a casa varrida e arrumada, os filhos vestidos com as melhores roupas e a refeição da noite sobre a mesa. O dia de descanso começava com o pôr-do-sol na sexta-feira e ia até o fim do sábado.
Quando a escuridão descia sobre a cidade, o som da trombeta era ouvido do alto da sinagoga. Os pais de Saulo inclinavam-se juntos. Em seguida, o chefe de família impetrava a bênção sobre o lar. Ato contínuo, lavava as mãos numa bacia de água e colocava um pouco de vinho na taça. Reunidos em volta da mesa, todos provavam do cálice. Então o pai dizia algumas palavras a respeito do Senhor e, mergulhando um naco de pão no sal, oferecia-o a cada membro da família.
Esse era o começo do melhor dia da semana.
Eles sentavam-se para uma refeição composta de peixe, sopa, pão e frutas. Era o dia de descanso solene e não se avistava nenhuma fumaça evolando-se das casas judias, pois DEUS ordenara fosse o sábado um dia de repouso. Nenhum fogo era aceso; nenhum alimento, cozido; e o pai declarava gravemente que quem desobedecesse devia ser morto. Moisés não condenara à morte o homem flagrado colhendo gravetos para acender o fogo no sábado?
Nesse dia, todos iam à sinagoga. Por trás da treliça que separava as mulheres e crianças da parte principal do prédio, Saulo podia ver o pai no grande salão onde ardia o castiçal de sete hastes. O pai removia os sapatos e amarrava filactérios nos braços e na testa; colocava um xale azul na cabeça, e voltava-se em direção a Jerusalém, para orar com os outros homens.
As portas eram então fechadas e, de algum ponto, uma voz cantava: "Bendito o Senhor, o Rei do universo, que fez a luz e as trevas, que envia a paz e cria todas as coisas e quem, na sua misericórdia, dá luz à terra; quem, na sua bondade, renova dia a dia as obras da criação". Podia se ouvir dos lábios dos ouvintes um "amém" em voz baixa, enquanto todas as cabeças mantinham-se inclinadas.
Enquanto observava, Saulo viu um dos homens pegar um rolo grande de pergaminho e fazer a leitura em hebraico. Era a lei de Moisés. Cada sentença era repetida em grego a fim de que todos pudessem entender. A seguir, um dos principais da sinagoga comentava o trecho lido. Às vezes, argumentava acaloradamente, citando opiniões dos grandes rabinos. Eles também faziam perguntas difíceis e procuravam respondê-las demonstrando grande autoridade.
Depois das perguntas, uma breve bênção despedia o povo que saía em silêncio. Às vezes, reuniam-se nas casas, mas nunca passeavam a pé, já que era proibido andar mais de §00 metros nesse dia. Quando o sol se punha, o pai reunia a família e orava por cada um em particular, pedindo a bênção de DEUS sobre o dia que terminava.
O Rigor dos Fariseus
Todas as regras que Saulo aprendia na escola eram seguidas rigorosamente pelo pai; este era meticuloso até na forma de lavar as mãos. No lar de Saulo, havia mais rigor e disciplina que na maioria dos de seus amigos. Seu pai era fariseu e decidira que o filho também o seria. Ser fariseu significava pertencer a mais importante seita do Judaísmo.
Os saduceus pertenciam à classe alta e rica; eram a aristocracia; ocupavam a maioria dos altos cargos, mas não se importavam com a fé nem com a moral. Aceitavam as Escrituras de modo geral, mas não acreditavam no céu, nem nos anjos, ou na vida após a morte. Os fariseus apiedavam-se deles; achavam que o desejo de ser modernos virara-lhes a cabeça.
Por seu turno, os fariseus não só aceitavam integralmente as Escrituras, como também as tradições orais dos rabinos. Diziam que as tradições originavam-se da Palavra de DEUS. Eles estavam continuamente brigando e discutindo com os saduceus, por acharem ter alcançado uma posição superior à de qualquer outra classe. Orgulhosos e intolerantes, agradeciam a DEUS por não serem como os demais.
Andar uma milha, carregar um graveto, ou acender o fogo no sábado era considerado ofensa grave por Saulo e seu pai. Até mesmo comer um ovo posto por uma galinha no sábado era considerado pecado. Saulo pensava, trabalhava e crescia segundo os ensinamentos do farisaísmo. Preparou-se gradualmente para liderar outros nessa tradição, sem jamais sonhar que, um dia, des-pojar-se-ia dela como de algemas pesadas, liberto que seria por CRISTO.
Influências Gentias
Ao norte da cidade ficava a pista onde eram disputadas as provas de atletismo. A cidade inteira comparecia para apreciar tais eventos. Menino algum que crescesse em Tarso poderia fugir à influência desse lugar. Os jovens da Grécia e de Roma gostavam tanto de correr, e davam a isso tamanha importância, que um vencedor tornava-se herói nacional, e tinha uma estátua erguida em sua honra.
Saulo foi tão influenciado por essa pista de corrida que, mais tarde, em seus escritos, comparou a vida cristã a uma prova atlética. Considerou que a vida em CRISTO tem um ponto de partida, uma pista e um alvo. O cristão não é alguém sem rumo; tem um alvo diante de si e concentra-se na busca do prêmio. À medida que a vida de Saulo aproximava-se do fim, sua mente voltava à pista. E ele escreveu a Timóteo: "Completei a carreira" (2 Tm 4.7).
Saulo provavelmente nunca teve permissão para assistir a esses jogos. Era um passatempo gentio e impróprio para um bom judeu, principalmente se fosse fariseu. Não obstante, ele via os jovens gregos treinando para as corridas, e não podia deixar de se interessar pelo vencedor.
O teatro também atraía milhares de pessoas cultas; o melhor no campo da música, poesia e drama era apresentado ali. Os judeus, porém, não apreciavam tais frivolidades. O pai de Saulo considerava-as supérfluas e inadequadas ao filho de um fariseu.
Quando permitia que Saulo fosse ao ginásio ver os rapazes saltar, correr e praticar todo tipo de esportes, dizia-lhe que o exercício físico era necessário à formação de bons soldados, mas o jovem que estudasse a lei de Moisés seria um homem melhor.
O Filho da Lei
Quando Saulo completou 13 anos, sua vida passou para um estádio totalmente novo. Aos poucos foi tomando consciência das responsabilidades da vida pessoal e comunitária. Conforme ensinavam os rabinos, ao chegar aos 13 anos, o jovem torna-se responsável por seus atos e já pode ser admitido na seção masculina da sinagoga. A fim de marcar tal mudança, Saulo foi levado à sinagoga para uma cerimônia conhecida atualmente como bar mitzvah.
O pai disse-lhe que até então ele estivera aprendendo a Lei, mas chegara a hora de obedecê-la. Chegara a hora da responsabilidade. Como bons pais, tinham feito o possível para educá-lo na pureza da fé. Agora, achava-se ele por conta própria aos olhos da Lei Mosaica; se deixasse de obedecê-la, poderia ser castigado pelo tribunal da sinagoga como qualquer outro judeu.
Depois de submetido a um exame solene, Saulo foi declarado apto para ter o filactério amarrado no braço, como sinal de haver adentrado a idade adulta. Na sinagoga mal iluminada, os amigos da família reuniram-se enquanto o pai apresentava o filho ao rabino. Este prendeu a pequena caixa preta na parte superior do braço de Saulo, e recomendou-lhe que nunca entrasse na sinagoga sem ela. A seguir, pela primeira vez em público, ele procedeu à leitura da Tora, mostrando ter sido educado como um verdadeiro hebreu. Depois disso, o rabino - seu velho amigo e professor fez-lhe um discurso, no qual resumiu muitas das lições que lhe ensinara. Com palavras de conselho, o líder espiritual acolheu-o na comunhão da sinagoga.
Na audiência, por trás da treliça, a mãe de Saulo ouviu seu menino ser declarado filho da Lei. Seus olhos encheram-se de lágrimas. Nunca mais ele se sentaria ao seu lado na sinagoga. Ela suspirou e chorou. Saulo tornara-se repentinamente um homem, e mãe alguma está preparada para tal mudança.
Na caixa presa ao braço de Saulo, havia trinta versículos da Escritura, escritos em pergaminho, começando com a admoestação:
E te será por sinal sobre tua mão, e por lembrança entre teus olhos; para que a lei do Senhor esteja em tua boca: porquanto com mão forte o Senhor te tirou do Egito. Portanto, tu guardarás este estatuto (Êx 13 9,10).
Veio a seguir a festa em casa; os amigos levaram presentes e deram-lhe os parabéns. Era a aceitação pública de Saulo como homem. Ele passou assim da infância para a idade adulta aos olhos de seu povo. Não era mais um simples escolar, e sim um estudante. Não abandonou os estudos; só mudou a maneira de estudar.
Fabricante de Tendas
Afirma o ditado rabínico: "O homem que não ensina um ofício ao filho quer que ele se tome ladrão, pois quem não trabalha para ganhar o próprio pão come o de outrem". Sabendo disso, o pai de Saulo desejava que o filho tivesse uma profissão. Ele era fabricante de tendas e fora morar em Tarso atraído pela fama de seus tecelões. Essa reputação devia-se ao fato de o cilicium, um tipo especial de tecido, ser um produto da província. Era fabricado com o fio comprido do pêlo das cabras que pasciam nos montes da Cilícia, a oeste e ao norte da cidade. O cilicium era considerado o melhor material para tendas, pois, de tão duro, tornava-se quase impermeável. Também era empregado nas velas dos barcos e trajes externos dos pescadores e marinheiros.
Havia uma pequena oficina nos fundos da casa de Saulo. Era um barracão comprido e baixo, aberto numa das extremidades, contendo um tear, rodas para tecer o fio, caldeirões para tingir o pêlo de cabra, e um banco para cortar o couro e costurar as tendas. Fardos de peles de cabra amontoavam-se num canto, do jeito que haviam saído das mãos do pastor.
Várias vezes ao ano, o pai de Saulo viajava para as montanhas distantes, a fim de comprar peles. Ele sabia onde encontrar os pastores que vendiam 3s peles de pêlo mais longo e resistente de toda a Cilícia. Completadas as compras, carregava os jumentos com sua mercadoria e voltava à oficina. O pêlo tinha de ser então penteado e preparado para ser tecido. Uma parte era tingida de vermelho, outras de amarelo, roxo e verde, para atrair os mercadores. O fio era depois enrolado em fusos e preparado para as lançadeiras e o grande tear manual.
Preparado o tecido, vinha a fabricação da tenda. Saulo observava o pai cortar o material em tiras e costurá-lo com um fio bem forte e uma grande agulha de bronze. O segredo era costurar tão bem e tão apertado, que nem uma gota de chuva pudesse atravessar, ou vento algum rasgar o material. Não era fácil fazer uma boa tenda. Era preciso prepará-la, enrolar a corda, fazer as estacas e colocar ilhoses e ganchos de couro para pendurar caldeirões, panelas e arreios. A seguir vinham as decorações. Algumas tendas eram coloridas com largas faixas amarelas, vermelhas ou azuis. Mas o tipo comum não tinha faixas, era sempre preto ou cinza.
Com o passar do tempo, Saulo tornou-se um perito na profissão e podia fabricar tendas tão fortes e boas quanto as de seu pai. Ele nunca se esqueceu do seu ofício e, anos mais tarde, voltou a praticá-lo em muitas das cidades que visitou, pois não aceitava dinheiro das igrejas para o seu sustento. Um fabricante de tendas de Tarso era sempre bem recebido. Sua habilidade nessa profissão foi reconhecida em todo o mundo.
Todavia, seus pais queriam que ele fosse um professor da Lei de Moisés, um rabino. Naqueles dias, todo rabino tinha um ofício, pois não era costume aceitar dinheiro pelo ensino.
Não use a Lei como enxada para cavar - disse um dos mais famosos.
Faça qualquer tipo de trabalho - disse outro. - Nem que seja tirar a pele de um cavalo à beira da estrada; e não diga para justificar-se: "Sou um sacerdote".
Os Feriados Judeus
A semana mais importante do ano era a da Páscoa. Era uma grande data nacional; tinha um profundo significado religioso. A Páscoa celebrava a libertação dos israelitas do cativeiro no Egito. É claro que havia outros feriados, tal como o da Festa dos Tabernáculos, quando as crianças iam ao campo com os pais, e cortavam ramos para construir uma cabana em cima da casa, na parte plana do teto. Isso era feito para que se lembrassem da época distante, quando os judeus, ao deixarem o Egito, passaram a morar em tendas. Sem uma habitação permanente, vaguearam entre as rochas do deserto.
Havia também a Festa da Colheita, o Purim e o Dia da Expiação. Para cada grande dia, vários peregrinos piedosos deixavam Tarso e voltavam a Jerusalém. Saulo era ainda muito jovem para ir; mas, desde que Tarso ficava junto à estrada principal, ele se acostumara a ver centenas de judeus descansando ali, à noite, na longa viagem para o Sul. Por várias vezes, tios, primos e outros parentes haviam pernoitado em sua casa. Saulo lembrava-se de como, pelo menos uma vez ao ano, seu pai juntava-se a esses grupos de viajantes. Ele embrulhava suas melhores roupas a fim de vesti-las quando chegasse a Jerusalém, e depois arreava um jumento e partia alegre pela estrada que o levaria através das montanhas até o SANTO Templo.
Após meses de ausência, o pai voltava admirado, cheio de histórias de grandes aventuras, que entreteriam a família durante semanas. O menino, que nunca estivera em Jerusalém, ouvia extasiado as descrições entusiasmadas do pai e pensava que a grande cidade deveria estar logo abaixo do céu em glória e grandeza. O pai falava do toque das trombetas dos sacerdotes, ao iniciar-se o dia de adoração no Templo, e dos coros dos levitas, vestidos de branco, cantando os grandes salmos nos degraus de mármore.
As ruas ficavam cheias de multidões alegres; turistas de todas as partes do mundo. Costumes interessantes podiam ser vistos em toda parte, e línguas estrangeiras eram ouvidas quando os grupos se juntavam nos pontos de reunião. O jovem Saulo ouvia essas histórias até sua mente ficar repleta de sonhos e visões. Quando ele também poderia ir a Jerusalém?
- Seja paciente, meu filho, não falta muito para você poder ir com seu pai - dizia-lhe a
mãe.
De fato, na última viagem, o pai fizera alguns planos. Ele sempre esperara e ambicionara tirar o filho da cidade gentia de Tarso, dando-lhe a vantagem de uma escola em Jerusalém. Todo bom rabino fora treinado ali. Para ser bom professor era necessário ter contato com os grandes rabinos do templo.
Desde que a mãe concordara com o plano, não havia mais dúvidas. Os negócios na fábrica de tendas tinham sido bons e, para o filho, não queria nada menos que o melhor. Enquanto estivera em Jerusalém, só se falava do grande Gamaliel. Muitos o procuraram durante os feriados para ouvir-lhe a sabedoria. Não se tratava de um simples boato. Seus discursos eram poderosos, pois ele falava com autoridade. Ficou então decidido que Saulo iria para a Cidade Santa, e talvez retornasse mais tarde como um dos grandes rabinos de Israel. NA ESCOLA DE GAMALIEL
A sinagoga de Tarso muito se orgulhou ao saber que um de seus rapazes iria estudar com os grandes rabinos de Jerusalém. Muitos dos vizinhos tinham amigos ou parentes nesta cidade, e ofereceram-se para escrever-lhes contando sobre a ida de Saulo, e pedindo-lhes que o acolhessem. Todos queriam ser úteis, e na ceia, oferecida em sua homenagem, levaram-lhe presentes, apresentaram-lhe as congratulações e até lhe ofereceram alguns conselhos. Todos sabiam que Saulo era um bom estudante e dele esperavam grandes coisas. Foram unânimes em afirmar que, um dia, ele voltaria para falar, e talvez ensinar, em sua própria sinagoga.
Semanas antes da viagem, a mãe de Saulo ocupou-se fazendo-lhe roupas novas e arrumando as coisas que ele deveria usar na cidade grande. Ter várias mudas de roupas era sinal de riqueza e boa educação, e ela queria que o filho tivesse um bom começo. Medo e alegria subiam e desciam pelos corredores de sua alma, perseguindo-se mutuamente, quando pensava no filho saindo de casa e no grande vazio que lhe ficaria; mas ao mesmo tempo, pensava na honra e privilégio de sacrificar-se, como é dever de toda mãe, Para que o filho convivesse com os poderosos de Israel. O pai mantinha-se silencioso e distante, mas um brilho de orgulho surgia em seus olhos quando imaginava seu menino na escola de Gamaliel.
Muitas vezes Saulo observara as caravanas carregadas com todo tipo de mercadorias, partindo de manhã bem cedo, para aproveitar ao máximo a luz do dia. Houve ocasiões em que olhara para aquelas caravanas com inveja; agora iria partir com elas, e talvez permanecesse fora durante vários anos. Uma sensação de medo e solidão o envolvera. Era a primeira vez que ficaria longe de casa. E o mundo, agora, lhe parecia tão grande. Todavia, não estava triste, pois eram tidos como bem-aventurados os que podiam fazer a viagem. Nem todos tinham tais oportunidades ou um futuro assim promissor.
Para o leste, numa faixa branca e estreita, a estrada estendia-se pela vasta planície e desaparecia nos montes distantes. Um grito alegre elevou-se da caravana, enquanto os peregrinos acenavam com ramos verdes àqueles que tinham ido à sua despedida.
A Despedida
Saulo juntou-se à estranha caravana de velhos e jovens, ricos e pobres que, vagarosamente, iam deixando Tarso para trás. Seus olhos encheram-se de lágrimas enquanto, repetidas vezes, voltava-se para acenar aos pais, até que a longa estrada fez com que estes e a cidade desaparecessem de vista. O pequeno grupo continuou marchando lentamente, rindo, conversando e trocando histórias. Mas o coração de Saulo estava tão pesado que ele mal disse uma palavra o dia inteiro. Pensava em sua casa e em seus pais. Como tinham sido bons, e quão cuidadosamente protegeram-lhe a vida contra tudo que fosse errado! Agora, porém, estava por conta própria, e sua ambição era fazer com que os pais se orgulhassem dele. Jamais esqueceria as lágrimas da mãe em sua despedida.
O sol já se punha quando os peregrinos se aproximaram da cidade de Adana, a cerca de 32 quilômetros de casa, e armaram as tendas para passar a noite. Alguns mais ricos foram até a estalagem de Adana, mas a maioria acampou fora dos muros da cidade. A estalagem era um simples espaço aberto, cercado por um muro. No meio do cercado havia um poço, e ao longo do muro alinhavam-se pequenos pórticos em forma de arco, onde os viajantes se deitaram a fim de passar a noite. Não havia qualquer tipo de mobília. Cada um desenrolava sua esteira, preparando o próprio leito; todos levavam panelas e potes para cozinhar. Pelo menos estavam a salvo de ladrões.
Aquele era um bando interessante de viajores. Havia um velho mendigo com seu bordão e roupas em frangalhos. Fizera a viagem muitas vezes e nada mais o surpreendia. Havia também o menino de olhos vivazes, que viajava com o pai. Montavam cavalos e mantinham-se longe dos outros, pois eram ricos. E o mercador gordo, de turbante que, com uma faca na cinta, andava ao lado de suas mulas carregadas. Parecia desconfiar das pessoas e não falava muito. Em sua maioria, porém, os viajantes eram alegres e tagarelas, e os dias iam-se passando rapidamente. Cheios de expectativas, os viajantes pensavam no fim da jornada.
Atravessando Terras Históricas
Viajaram dia após dia, armando as tendas e levantando acampamento. As pedras que pavimentavam a estrada eram lisas e gastas, pois os exércitos de várias nações haviam marchado sobre elas. Mercadores com seus camelos caminhavam por essa estrada. Levas de escravos cansados, presos uns aos outros com correntes, tinham sido impelidos como gado ao longo desse mesmo caminho, até que seus pés sangrassem feridos. No quarto dia, os viajantes aproximar-se-iam do litoral, pois a estrada passava por uma larga baía de águas azuis, na extremidade oriental do Mediterrâneo. Em breve, voltar-se-iam para o sul, nas fronteiras da Cilícia.
A sua frente, levantavam-se as serranias da Síria. A estrada serpenteava pelos morros, subindo de saliência em saliência, até chegar a uma passagem estreita e difícil, que marcava a fronteira entre a sua província e a Síria. Era o Grande Portão da Síria. Depois de atravessar essa passagem, Saulo estaria do outro lado das montanhas que haviam sido a fronteira do seu mundo.
A velha cidade de Antioquia ficava logo adiante, estranha e diferente com seus muros maciços, parecendo uma fortaleza no alto de um morro. Antioquia era a capital da Síria. Seus teatros e templos eram mais esplêndidos que os de Tarso. Herodes, o Grande, de Jerusalém, pavimentara a rua principal e a enfeitara com pilares de mármore. A cidade era belíssima, e ainda mais rica que Tarso.
De Antioquia, eles seguiram para a estrada elevada de Damasco e depois pelas montanhas, até aproximarem-se da Terra Prometida. As neves do Monte Hermom brilhavam à distância, muito claras ao sol; e as florestas do Líbano, com suas lindas árvores de cedro, fizeram-no lembrar dos salmos que conhecia e tanto amava.
Chegaram a Nazaré, uma cidade de hospedadas, onde as caravanas sempre pernoitavam. Mas não passava de uma cidadezinha e não tinha boa reputação. Os viajantes apressaram-se por chegar ao rio Jordão. Aí, finalmente, Saulo estava chegando às terras que a história dos judeus tornara famosas. Ele pensou em Josué que, muitos anos antes, guiara os israelitas para uma terra que manava leite e mel. O monte Tabor, com suas densas florestas, fora onde Débora e Baraque reuniram dez mil homens e derrotaram Sísera com seus carros de ferro.
Ao sul do Tabor ficava o vale de Jezreel, salpicado de vilarejos e campos verdejantes. Grandes batalhas travaram-se ali. À distância adivinhava-se o monte Gilboa, onde o rei Saul jogara-se contra a própria espada, depois de perder uma difícil batalha.
O povo de Samaria era hostil aos judeus. Por isso, evitando atravessar a região, os viajantes que iam para a Cidade Santa passavam para a margem leste do rio Jordão, entrando em Decápolis e Peréia. Deixando rapidamente Samaria, Saulo e seus companheiros chegaram ao lugar onde, mil anos antes, os israelitas haviam cruzado o Jordão. O grupo entrou alegremente nas águas frias, como fazem os viajantes judeus até hoje. Atravessaram para o outro lado, e Saulo pôde, enfim, pisar pela primeira vez a terra tão amada pelos benjamitas. Aqui ficava a cidade que fora inexpugnável -Jerico - mas cujos muros caíram ao som das trombetas de Josué. Aqui também localizava-se Gilgal, onde o povo reunira-se para coroar Davi. Cada pedra, ribeiro, vale e colina tinha alguma história preciosa ao coração do judeu. E Saulo viu, pela primeira vez, a terra onde seu povo tornara-se grande e mui poderoso.Para além de Jerico, a terra tomava-se mais inóspita e a planície estreitava-se num vale cercado por montes íngremes e próximos. A estrada mostrava-se sinuosa como uma serpente, e eles corriam o risco de se depararem com bandos de salteadores. A subida era íngreme e os viajantes estavam cansados, mas alegravam-se com a perspectiva de poderem ver, dentro em breve, o monte das Oliveiras e a cidade mais bela da terra.
A Cidade de DEUS
Finalmente, do alto da estrada, avistaram a Cidade de DEUS, construída sobre um monte mais baixo que o das Oliveiras. Do outro lado do vale profundo, seus muros, torres e prédios abobadados apresentaram-se magníficos à luz dourada do sol poente. Entusiasmados, os peregrinos entreolharam-se com olhos úmidos. Experimentaram o mesmo ímpeto de alegria e orgulho pela grandeza da sua terra nativa. Algumas das cúpulas e torres eram revestidas de puro ouro. Do alto da montanha, Saulo contemplou o outro lado do vale do Cidrom e viu o pátio do templo; do ponto mais elevado, avistou também o prédio onde, sob as asas estendidas dos querubins de ouro, habitara Jeová.
Enquanto apreciava com interesse e reverência o cenário, o grupo de peregrinos começou a cantar um dos salmos que, através dos séculos, os viajantes entoavam ao aproximar- se dos muros de Jerusalém:
De bela e alta situação, alegria de toda terra é o monte Sião aos lados do norte, a cidade do grande Rei. Dai voltas a Sião, ide ao redor dela; contai as suas torres. Notai bem os seus antemuros, percorrei os seus palácios, para que tudo narreis à geração seguinte. Porque este DEUS é o nosso DEUS para todo o sempre; ele será nosso guia até a morte (SI 48.2,12-14).
O Templo
Na manhã seguinte, quando o sol surgiu no céu oriental, as ruas já estavam coalhadas de gente. Três toques de trombeta soaram dentro dos muros do Templo, proclamando o amanhecer de um novo dia de adoração. Eram necessários vinte homens para abrir os portões do templo. Quando as portas maciças giraram nos gonzos, a multidão invadiu os pátios externos. Saulo achou-se pela primeira vez no Templo do Senhor, e a primeira coisa que viu foi o sacrifício matutino queimando sobre o altar. Erguendo os olhos à cobertura dourada do Lugar SANTO, ele fez as orações matinais com uma sensação de força e proximidade que nunca antes experimentara.
Naquele lugar, os hinos de Israel pareciam ganhar um novo significado:
Quão amáveis são os teus tabernáculos, SENHOR dos Exércitos! A minha alma está anelante e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne clamam pelo DEUS vivo! Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si e para sua prole junto dos teus altares, SENHOR dos Exércitos, Rei meu e DEUS meu. Bem-aventurados os que habitam em tua casa; louvar-te-ão continuamente (Sela). Porque vale mais um dia nos teus átrios do que em outra parte, mil. Preferiria estar à porta da Casa do meu DEUS, a habitar nas tendas da impiedade... Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do Senhor (SI 84.1-4,10; 122.1).
O grande pátio externo era calçado com pedras coloridas, e muitos adoradores de países estrangeiros encontravam-se ali. Junto aos muros havia redis e gaiolas de madeira, onde se vendiam ovelhas e pombos para os sacrifícios diários. Havia também cambistas trocando moedas romanas e gregas pelo dinheiro de Israel, pois só a moeda hebraica era aceita como oferta no Templo. Ali comprava-se e vendia-se, pechinchava-se e enganava-se, pois os vendedores de animais não partilhavam a mesma reverência dos visitantes.
Saulo jamais vira pilares tão esplêndidos, nem um piso de tamanha magnificência; ajuntamentos de sacerdotes vestidos de branco, e tantas pilhas de dinheiro. Na extremidade do pátio, uma longa fileira de degraus levava a um terraço superior.
Quando Saulo aproximou-se deles, leu em grego e latim estas palavras: "O estrangeiro não deve subir estes degraus, sob pena de morte".
Ele subiu ao pátio interno. Nem sonhava que um dia, exatamente ali, sua vida seria ameaçada. As mulheres não podiam ir além desse segundo pátio, mas Saulo cruzou-o rapidamente, subiu um segundo lance de escadas e passou pela Porta de Nicanor, feita de prata e ouro puros, entrando no pátio dos homens e dos sacerdotes.
Ali, no centro do pavimento, estava o grande altar onde o fogo nunca se apagava. Suas pedras eram rústicas, pois nunca martelo ou cinzel as tocara. Ele viu as mesas onde as ovelhas eram mortas, e as longas filas de adoradores que carregavam ovelhas ou pombos, esperando a sua vez, enquanto os sacerdotes ofereciam os sacrifícios um a um.
A seguir, noutro terraço ainda mais alto, ficava o magnífico Lugar SANTO. Suas pedras eram revestidas de ouro. Grandes pilares brancos sustentavam o teto. Do lado de dentro havia uma porta de ouro puro, coberta por uma cortina externa tecida de azul e escarlate, roxo e branco. Por trás da cortina e da porta de ouro, onde ninguém podia entrar, exceto o sumo sacerdote uma vez ao ano, havia coisas tão sagradas que Saulo teve até medo de olhar para aquele lado. Ajoelhou-se com os olhos fechados e o rosto no chão, profundamente comovido, orando ao Senhor DEUS que habitava no Lugar SANTO.
Saulo sabia que a construção do Templo iniciara-se 40 anos antes, mas ainda não havia sido concluída. Havia casas para os sacerdotes e os guardas; era uma cidade dentro da cidade. O número de sacerdotes chegava a vinte mil e o de levitas e guardas era ainda maior. Cada homem tinha de servir apenas duas semanas no ano; portanto, não ficavam sobrecarregados, exceto nas grandes festas, quando todos deviam estar presentes. Os levitas eram cantores, músicos ou porteiros.
Essa não era uma simples sinagoga, mas o centro cultural de uma grande nação. O tesouro do Templo era o lugar mais seguro do mundo para se guardar ouro e jóias. Ricos presentes de judeus abastados, pratos de ouro de príncipes estrangeiros, e pilhas de artigos preciosos, enviados de todas as terras, achavam-se aí custodiados. As ofertas diárias dos adoradores, recolhidas dos gazofilácios, eram também depositadas na sala do tesouro.
No pátio externo, havia muitos pórticos com colunatas onde multidões se aglomeravam para ouvir os rabinos. Ouviam um deles por algum tempo e depois iam ouvir outro. Algumas vezes, o rabino falava com voz clara e forte, outras, com voz baixa e fraca. Alguns eram oradores, atraindo grandes multidões; outros tinham apenas pequenos grupos, atraídos mais por sua sabedoria que por seu timbre de voz. Enquanto passava de um para outro, Saulo não ouviu nada de novo. Era praticamente a mesma coisa que aprendera em Tarso. Nada questionou, pois nunca duvidara do conhecimento desses grandes homens. Fora ali para adorar aos seus pés. Só quando o sol já descambava no horizonte e o sacrifício noturno terminava, é que ele deixou os pátios. Aquela era, para ele, a Casa de DEUS. Chegara finalmente ao templo dourado.
Passou dias e dias nos pátios do Senhor, aprendendo tudo sobre a adoração a DEUS. Impressionava-se cada dia mais com a beleza e o esplendor do lugar. Chegaria a hora quando poderia dizer que conhecia e amava cada pedra do Templo. Enquanto Saulo adorava diante do altar, sua ambição de ensinar a Lei de DEUS foi tornando-se cada vez mais forte. Muitas vezes imaginava-se como um rabino famoso, sentado num dos alpendres fechados, interpretando a Lei de DEUS ao povo, mostrando que dominava perfeitamente o conhecimento de todas as eras.
A Escola de Gamaliel
Dentre os muitos rabinos de Jerusalém, o pai de Saulo escolhera Gamaliel. Em primeiro lugar porque, sendo fariseu, advertiria Saulo contra os saduceus; em segundo, pela grande reputação de sua sabedoria e bondade; e, em terceiro, porque era filho do rabino Simeão, e neto do rabino mais culto que já houvera em Israel. O avô Hillel morrera há muito tempo, mas todas as opiniões modernas ainda baseavam-se no que ele dissera ou escrevera. Ser neto de um mestre tão ilustre dava a Gamaliel um prestígio que ninguém mais possuía.
Gamaliel era um homem de meia-idade, forte e vigoroso. O povo o considerava tanto que o chamava de raban. Embora fosse um fariseu severo, era justo e mais tolerante que a maioria de seus pares. Anos mais tarde, quando o apóstolo Pedro fosse julgado perante o Sinédrio por falar de JESUS, Gamaliel aconselharia seus colegas a deixá-lo em paz: "Agora vos digo: Dai de mão a estes homens, deixai-os; porque se este conselho ou esta obra vem de homens, perecerá; mas, se é de DEUS, não podereis destruí-los, para que não sejais, porventura, achados lutando contra DEUS" (At 5-38-39).
É certo que Gamaliel seguiu os passos do pai e do avô em sua tolerância; havia, porém, rabinos mais severos e inflexíveis. O rabino Shammai era tão estreito de mente que foi chamado de "o Presilha". Ele prendia seus seguidores com tantas regras, que a religião tornara-se-lhes enorme fardo. Hillel, por outro lado, como fosse bondoso, generoso e tolerante, recebeu o título de "o Afrouxador". Ele iniciara como porteiro, carregando fardos pesados nas costas, e fora tão pobre nos tempos de estudante, que não podia sequer comprar roupas quentes.
Gamaliel olhou para o jovem Saulo e, com um amável bem-vindo, recebeu-o em sua escola. Logo Gamaliel descobriu que Saulo era um aluno dedicado e obediente. Em pouco tempo, já demonstrava grande simpatia pelo novo aluno, esperando deste grandes resultados. Percebeu no rapaz reais possibilidades de liderança. Saulo era tão sincero em seu aprendizado que cativou o coração do professor. Mais que isso, os pais de Saulo haviam cuidado para que o filho considerasse a religião o ponto mais importante de sua vida. Alguns estudantes não nutriam um verdadeiro amor pela cultura e adoração. Mas em Saulo havia um sentimento quase fanático, que o levava a ser piedoso não só nos dias de festas, mas em todo o tempo. Paulatinamente, o Zelo de Saulo foi-se fortalecendo. Ele descobriu que a vida em Jerusalém era diferente da de Tarso. Aqui ninguém ria nem perseguia os judeus. Não havia nada que lhe prejudicasse o desenvolvimento. Não havia influência gentia; só encorajamento para mergulhar cada vez mais fundo nos mistérios do Judaísmo.
Durante os meses que se seguiram, o rapazinho transformou-se num homem independente. Gamaliel alegrou-se com seu progresso. Passado um ano, os pais de Saulo viajaram a Jerusalém para festejar a Páscoa, mas o principal motivo era ver o filho. Aquele foi um grande dia! Ficaram observando orgulhosos, enquanto Saulo discutia vários aspectos da Páscoa. Julgaram ouvir uma nota de autoridade em sua voz, ao ouvi-lo discorrer sobre as coisas que aprendera de Gamaliel, provando-as com passagens das Escrituras. Ele sabia até apresentar argumentos contra os saduceus. Concluíram que Saulo sempre soubera raciocinar e argumentar com lógica, mas agora isso estava sendo trazido à superfície. Que satisfação lhes dava o filho!
Predição do Messias Vindouro
Quando analisado, o Judaísmo parecia uma simples religião de promessas e esperanças. Em seu âmago, a tristeza mesclava-se com o esplendor. Todo judeu sentia pesadamente o jugo de Roma; ansiava e orava pelo dia em que a nação seria liberta, e os exércitos de Roma, expulsos. Os mesmos peregrinos que se gloriavam no Templo também choravam amargamente em suas casas, clamando ao Senhor por livramento. Todos os sacrifícios e cerimônias perderiam o significado se os judeus tivessem de continuar sob o jugo de um rei estrangeiro. Certamente, um dia DEUS haveria de livrar e abençoar o seu povo, como fizera no passado.
Havia um grupo organizado de judeus patriotas, conhecidos como zelotes, que realizavam reuniões secretas e planejavam uma revolta contra Roma. As autoridades romanas mantinham-se ocupadas em procurá-los e castigá-los. Mas a sociedade trabalhava ocultamente, mantendo viva a esperança de que, um dia, DEUS enviaria um libertador poderoso como Moisés, que tiraria seu povo do cativeiro e novamente o exaltaria sobre todas as nações.
Havia uma coisa que Gamaliel ensinava com grande convicção. Não era um simples raio de esperança. Tratava-se do ensinamento dos antigos profetas sobre a vinda de um líder enviado por DEUS. Ele reuniria o povo de todas as partes do mundo para expulsar os romanos, e reinaria em Jerusalém para todo o sempre. Essa era a promessa que DEUS fizera a Davi: seu trono jamais desapareceria, por mais negro que o céu se tornasse. Esse grande Redentor, que traria a salvação a Israel, era o Messias.
Saulo sabia que a vinda do Messias tinha sido mencionada pelos profetas há mais de mil anos. E Gamaliel falava disso mais que qualquer rabino de Tarso, pois o esperava a qualquer momento. O sábio professor lia passagem após passagem sobre o CRISTO nos profetas, e até descobria promessas de sua vinda na Tora. Contava como seria o Messias e como julgaria todas as nações. Ele esmagaria o mal e reinaria com justiça.
Todo judeu sabia que o Messias pertenceria a tribo real de Judá, e nasceria em Belém, pois o profeta Miquéias predissera-o claramente. O professor de Saulo contou-lhe que, quando Ele viesse, ficaria oculto por algum tempo. A seguir, reuniria o povo e marcharia sobre Jerusalém, para dispersar os romanos e reinar para sempre pelo poder de DEUS.
Duas Opiniões
O que Saulo não sabia, até então, é que os rabinos estavam divididos em suas opiniões sobre o Messias. Alguns liam que Ele seria um príncipe poderoso, livrando seu povo pela guerra, e que as montanhas seriam tingidas de vermelho com o sangue dos seus inimigos. Certos rabinos chegavam a afirmar que chamas sairiam de sua boca para destruir os opositores.
Havia um grupo menor, porém, que estava muito confuso com certas passagens, como o capítulo 53 de Isaías e o Salmo 22. Esses versículos deixavam claro que o Messias muito sofreria. Ao mesmo tempo, ninguém podia negar que Ele viria para reinar com poder. Portanto, cresceu a idéia de que haveria dois Messias - um sofredor; e o outro, um rei triunfante. Nas sinagogas e nos alpendres fechados do Templo, essa diferença era discutida e defendida com grande eloqüência pelos eruditos.
Saulo começou a ver muito claramente que as esperanças da nação dependiam desse Salvador vindouro. Passou então a procurar zelosamente um líder e guerreiro, que reunisse grandes exércitos para lutar contra Roma. Os rabinos contavam muitas histórias sobre o Messias que estava para vir. Algumas delas não passavam de sonhos absurdos e tolos. Outras eram fantásticas e irreais, não se baseando de modo algum nas promessas de DEUS. As últimas eram produto da imaginação de um povo oprimido, que não compreendia os caminhos de DEUS. Alguns dos rabinos odiavam tanto os romanos, que descreviam o Messias fazendo toda sorte de crueldades contra estes, a fim de vingar os judeus.
Os anos gastos por Saulo nos estudos foram cheios de reverência, mas, até certo ponto, também de rotina e monotonia. Não havia incentivo para desenvolver qualquer coisa original; o estudo servia apenas para aumentar a capacidade de sua memória. Com esse treinamento, não é de surpreender que a vida de Saulo se tornasse cada vez mais estreita.
Os fariseus eram a sua única companhia e, pouco a pouco, achou-se ele mergulhado cada vez mais nas regras humanas. Seu gosto pela discussão fez com que se transformasse no centro de muitas disputas. Sempre que surgia a oportunidade de defender os sacerdotes ou rabinos, ou o sistema de adoração do Templo contra os estrangeiros, Saulo entrava na arena com a língua afiada e o espírito em chamas.
A Volta de Saulo a Tarso
Exigia-se que os professores estudassem dez anos para que fossem considerados aptos a lecionar. Depois disso, ainda era necessário muito tempo para se construir boa reputação e falar com autoridade. Antes de chegar aos 25 anos, Saulo voltou para sua casa em Tarso.
Seus dias de estudo e aprendizado jamais terminariam. Como porém estivera bastante tempo com Gamaliel, já possuía um amplo e profundo conhecimento das opiniões dos grandes rabinos. Sentiu então que já podia firmar-se sobre os próprios pés. Aprendera e vira muita coisa. Conhecera pessoas de todo o mundo e tornara-se um excelente aluno de sua história, especialmente em relação ao Império Romano. Chegara a hora de deixar Jerusalém e os grandes rabinos, e retornar a Tarso levando o conhecimento e a experiência que adquirira. Voltaria a fabricar tendas com o pai, na esperança de que sua cultura o tornasse conhecido e procurado como rabino em Tarso.
De uma coisa tinha certeza - a única esperança para sua nação era a vinda do Messias. Entre os judeus piedosos, esse era o tópico principal das conversas. Em cada coração havia um anseio profundo. Alguns até achavam que Ele já tivesse descido à terra, e estivesse apenas aguardando o momento marcado por DEUS para se apresentar à nação. OS INÍCIOS DA IGREJA
Saulo deixou Jerusalém e voltou a Tarso provavelmente em 26 A.D. Não era ainda um rabino, pois não tinha idade suficiente para ocupar tal posição. Mas tomou lugar junto aos homens da sinagoga, sentando-se nas principais cadeiras. Foi reconhecido por todos como um culto e jovem judeu, pois retornava da fonte do conhecimento. À medida que crescesse em idade e experiência, poderia ser aceito como rabino; mas até lá, dedicar-se-ia ao comércio de tecelão, costurando tendas e vendendo-as no mercado.
Saulo morou em Tarso durante nove ou dez anos, aumentando o seu zelo por Israel e ganhando o respeito dos amigos. Todos estavam certos de que ele viria a ser o seu líder um dia. Na sinagoga, seus argumentos já eram ouvidos com maior interesse que os do rabino. Era uma voz nova Que surgia, e seu contato com o grande Gamaliel dera-lhe uma fama que poucos poderiam alcançar. Tudo que precisava agora era da autoridade conferida pela vida adulta; dentro de poucos anos, seria um líder destacado em Tarso.
Alvorada da Era Cristã
Enquanto Saulo aguardava pacientemente em Tarso, um evento da maior importância teve lugar na Palestina. JESUS, da pequena cidade de Nazaré, reunira ao redor de si um grupo de amigos; a maioria, seguidores de João Batista. Este de tal maneira havia pregado que milhares de pessoas o aceitaram como profeta de DEUS, talvez comparável a Isaías ou a Jeremias. Ele tinha muitos discípulos e o seu ministério era conhecido em toda a zona rural. Quando porém apareceu JESUS, João saiu de cena, apontando o Nazareno como o Messias há muito esperado. Durante algum tempo, houve grande entusiasmo, e alguns se perguntavam se JESUS os guiaria na revolta contra Roma. Mas em vez disso, Ele reuniu alguns discípulos e retirou-se para o campo a fim de ensiná-los sobre o reino dos céus.
Três meses mais tarde, JESUS foi ao Templo de Jerusalém e, contemplando-o em toda a sua beleza, ousou contradizer grande parte dos ensinamentos dos rabinos. Falara com tanta segurança que ofendeu os sacerdotes. De fato, deixara-os tão zangados que todas as sinagogas foram instruídas para que não o recebessem em suas reuniões. Os sacerdotes e rabinos tentaram desesperadamente apanhá-lo em alguma contradição com respeito ao sábado a fim de condená- lo à morte.
Ao conhecer os rabinos do SANTO Templo, Saulo passou a nutrir por eles o maior respeito. A interpretação que faziam das Escrituras era para ele algo inquestionável, divino. Isso não aconteceu com JESUS. A cada passo, Ele entrava em conflito com as tradições dos homens e, quando falava, era com a autoridade de DEUS. Os líderes religiosos estavam irados porque JESUS afirmava ser DEUS, e confirmava tal alegação com prodígios, sinais e maravilhas. Alguns diziam que o Nazareno merecia a morte pois, corajosamente, os havia desafiado a destruir o Templo que levara 49 anos para ser construído. Ouviram-no dizer claramente que o reconstruiria em três dias.
Era fácil para alguns ignorá-lo, acreditando-o louco. Mas a questão era que muitos dentre o povo ouviram-no pregar, e agora testemunhavam que Ele alimentara mais de cinco mil pessoas com apenas cinco pães e dois peixinhos. Milhares criam que Ele era o Messias prometido, e dispunham-se a lutar contra Roma, sob a sua liderança. Alguns diziam que JESUS só conseguia atrair a escória - publicanos, pecadores e indivíduos de reputação duvidosa. Mas era sabido que diversas autoridades e rabinos também o haviam procurado em segredo; muitos destes foram transformados e saíram a pregar que JESUS era, de fato, o Messias de Israel.
Os Ensinamentos de JESUS
Chegou então a hora! JESUS fez um grande discurso, proclamando os princípios do seu reino. O sermão era revolucionário; colocava a palavra de JESUS acima da de Moisés. Para o judeu isso era inconcebível e tão pecaminoso quanto uma blasfêmia. Não havia dúvidas: Ele merecia morrer! Infringira o sábado, afirmara perdoar pecados e, diante dos fariseus, admitira ser o Messias, o Filho de DEUS!
JESUS repreendeu repetidamente os fariseus e saduceus, usando uma linguagem contundente e enérgica. Em certa ocasião, chamou-os de "sepulcros caiados" e "raça de víboras" (Mt 23.27,33). Disse-lhes que não eram filhos de DEUS, mas do diabo (Jo 8.44). Não é de surpreender que os rabinos o odiassem tanto; não podiam se sentir confortáveis em sua presença. Quando o viam, desmanchavam-se em ódio por não suportarem a luz de sua sabedoria. Em seus conselhos, eles já o haviam condenado à morte.
Os rabinos diziam que homem algum podia ensinar antes de haver passado muitos anos na escola de Jerusalém. Saulo fora educado desse modo. Mas ali estava o Homem da Galiléia. Ele falava com mais autoridade que todos os rabinos, e era capaz de curar todo tipo de enfermidade. Alguns tinham visto Lázaro depois de ressurreto, e não podiam negar um fato por demais notório e evidente. Mas como JESUS jamais freqüentara tal escola, acusaram-no de estar ensinando sem autorização. Os sacerdotes ordenaram ao povo que não mais desse ouvido aos seus ensinamentos.
Quando, porém, os coxos passavam a andar, e os cegos a enxergar, regra alguma, mesmo as estabelecidas pelo sumo sacerdote, era capaz de manter os necessitados longe de JESUS. Estes chegavam aos milhares, e retornavam para suas casas curados de todas as suas enfermidades, proclamando a todos que haviam encontrado o Messias. E Ele os curara!
Durante três maravilhosos anos, JESUS andou pelos campos, pregando na Judéia, Samaria, Decápolis, Galiléia e Peréia. Sua fama espalhara-se por toda a terra, e os líderes de Israel já não sabiam o que fazer. Chegou então o dia quando Ele entrou em Jerusalém sob a aclamação do povo. Gritavam para quem quisesse ouvir que o seu rei chegara. Essa seria talvez a centelha que levaria o povo a revoltar-se contra Roma.
JESUS, entretanto, foi direto ao Templo, e escandalizou deliberadamente °s sacerdotes. Fazendo um chicote de cordas trançadas, passou a açoitar os vendedores de pombas e ovelhas que se achavam nos pátios do santuário. Com um grito de indignação, derrubou as mesas dos cambistas, fazendo as moedas rolarem pelo pavimento multicolorido. O povo ficou ali parado, com medo, pois ninguém jamais ousara perturbar o SANTO Templo daquela maneira. Os sacerdotes e rabinos encheram-se de horror e indignação. Os adoradores haviam assistido a uma demonstração de autoridade que jamais esqueceriam. Muitos dos israelitas sentiam-se incomodados com os redis de ovelhas e gaiolas de pombas que profanavam a Casa de DEUS. Há muito que os sacerdotes já deveriam ter endireitado as coisas. Mas ninguém tivera coragem.
A raiva dos sacerdotes transbordou. Quiseram pegá-lo, mas temiam a multidão, pois a maioria considerava-o profeta. Em toda a história dos judeus, ninguém jamais pronunciara palavras tão cortantes. JESUS acusou os líderes de colocarem pesados fardos sobre o povo; fardos estes que eles nem ao menos se dignavam a mover com o dedo mínimo. Faziam obras para serem vistos pelos homens; desejavam sempre os primeiros lugares na sinagoga, e gostavam de ser chamados de rabinos.
Com o fogo do céu rebrilhando nos olhos, JESUS pronunciou infortúnios sobre os escribas e fariseus, chamando-os de hipócritas. Eles fechavam o reino dos céus aos homens; não entravam e ainda serviam de obstáculo aos que o desejavam. Chamou-os ainda de guias cegos, pois limpavam o lado de fora do copo enquanto o seu interior continuava sujo; eram tão estreitos de visão, que coavam o mosquito, mas engoliam o camelo.
A Crucificação
Não é de admirar que os sacerdotes e rabinos hajam se reunido no palácio de Caifás, para planejar furtivamente a prisão e morte de JESUS, antes que o povo se amotinasse. Foi nessa ocasião que Judas fez um trato com eles para entregar-lhes o Senhor por trinta moedas de prata.
No Getsêmani, o Messias orava ajoelhado, enquanto os discípulos dormiam. Os inimigos chegaram em meio à oração. Guiados por Judas, entraram no horto com espadas e porretes. O traidor sabia que JESUS ia sempre orar no Getsêmani. A multidão estava decidida a levá-lo à força ao sumo sacerdote.
O Sinédrio foi convocado no palácio do sumo sacerdote. Não queriam deixar a reunião para o dia seguinte, temendo que o povo viesse a sabê-lo e exigisse a soltura de JESUS. Agora que as autoridades tinham-no em seu poder, cuidariam para que nada os detivesse. O tribunal reuniu-se então à noite, e a sentença foi lida: "Morte ao Nazareno!"
Porém, segundo a lei romana, nenhum tribunal judaico tinha competência jurídica para aplicar a pena morte. Por conseguinte, era necessário levar JESUS a Pilatos. No entanto, ao saber que JESUS era galileu, o governador romano, para livrar-se daquela responsabilidade, enviou-o a Herodes, representante de César em toda a Galiléia. O rei Herodes, porém, mandou-o de volta a Pilatos que, procurando agradar os judeus, entregou-lhes o Senhor para que fosse crucificado. A execução se deu num monte chamado Calvário (ou Caveira), não muito longe dos muros da cidade.
Com a morte de JESUS, os sacerdotes e rabinos suspiraram aliviados. O problema estava finalmente resolvido. O povo não mais seria perturbado pelo falso CRISTO. Isso seria o fim do pequeno grupo que o seguia. Por sentirem-se desanimados e derrotados, seus discípulos retornaram à vida antiga mais mistificados que nunca; o coração pesava-lhes de tristeza pela forma como tudo terminara.
A RESSURREIÇÃO E A ASCENSÃO
No primeiro dia da semana, findo o sábado, o pequeno e abatido grupo ganhou vida com o maior milagre já ocorrido: JESUS saíra da sepultura e aparecera aos discípulos! Eles experimentaram então o sabor da vitória. Esta certeza jamais os abandonaria; levaria-os a preferir a morte a negar o que tinham visto com os próprios olhos.
Durante quarenta dias, o Salvador encontrou-se com os discípulos, provando-lhes a realidade de sua ressurreição, e fortalecendo-lhes a fé. Mas veio o dia em que Ele os deixou, pois tinha de retomar o seu lugar na glória do Pai. Diante deles, JESUS subiu aos céus até ser ocultado por uma nuvem.
Antes de deixá-los, porém, prometera-lhes que, em breve, receberiam o dom do ESPÍRITO SANTO que os habilitaria a pregar o Evangelho a partir de Jerusalém até alcançar os confins da terra.
O Pentecostes
O pequeno grupo de crentes reuniu-se em Jerusalém para orar e esperar o dom prometido. Certa manhã, chegada a festa de Pentecostes, reuniram-se eles novamente para orar. De súbito, o poder de DEUS sacudiu o lugar, e o ESPÍRITO SANTO desceu sobre eles. A experiência foi tão tremenda Que os discípulos gritaram de alegria. E era tão forte o poder de DEUS, que eles o louvam em línguas estranhas. Esse milagre era outra evidência de que o Senhor continuava no meio deles, cumprindo sua promessa.
Diante do milagre, uma multidão reuniu-se à volta dos discípulos. Alguns diziam que estes pareciam tão felizes que deviam estar embriagados. A fim de justificar o estranho evento, Pedro pôs-se de pé e começou a pregar para aquela enorme audiência.
Ele explicou-lhes que a vinda do ESPÍRITO SANTO era um cumprimento da profecia. Em seguida, acusou-os de haverem matado o Messias. Contou-lhes também como DEUS ressuscitara a JESUS em cumprimento às palavras de Davi. Pedro terminou o sermão, dizendo que todos os seguidores de JESUS eram testemunhas de sua ressurreição. E, agora, anunciavam o Evangelho com a total aprovação do céu.
Quando Pedro terminou o sermão, muitos dos presentes, profundamente comovidos, perguntaram-lhe o que deveriam fazer.
"Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de JESUS CRISTO" foi a resposta (At 2.38). Eles arrependeram-se, deixando-se convencer pelo ESPÍRITO de DEUS quanto à veracidade das palavras do apóstolo. Aquele foi um grande dia para os seguidores de JESUS. Era o início da Igreja. Em poucas frases, Lucas faz uma bela descrição da alegria e júbilo que tomaram conta dos primeiros cristãos.
Esse não foi o único milagre a fortalecer a fé dos primeiros cristãos. Pedro e os demais discípulos saíram a pregar, e muitos prodígios e sinais eram feitos por seu intermédio em nome de JESUS. Os inimigos empenharam-se ao máximo para anular o testemunho da Igreja. Os sacerdotes e rabinos opunham-se-lhes violentamente. Mas em vão. Pois os adeptos da "nova seita", como eram chamados, inclusive já se reuniam no primeiro dia da semana, e não aos sábados, pois fora num domingo que o Senhor ressuscitara dentre os mortos.
A Vida dos Primeiros Cristãos
A vida dos primeiros cristãos era marcada pela simplicidade e amor. Eles procuravam viver como JESUS vivera. Havia entre si um laço tão forte, unindo-os fraternalmente, que o seu coração transbordava de alegria. Sua vida era uma oração contínua, levando-os testemunhar zelosamente de CRISTO onde quer que fossem.
A Igreja crescia diariamente à medida que o povo ouvia o Evangelho. Os discípulos falavam de CRISTO no Templo e nas casas. No trabalho, continuavam a dar testemunho da graça salvadora. O poder de DEUS acompanhava suas palavras de modo que, em toda parte, homens e mulheres eram atraídos a CRISTO mediante o contato com estes homens simples, mas convictos.
Os discípulos tinham agora uma mensagem para pregar. Mensagem esta que lhes transformara as vidas e dera-lhes não só esperança para esta vida como também a promessa de ressurreição depois da morte.
Onde quer que fossem, saudavam-se com a palavra maranatha: "O Senhor Vem". A vinda do Senhor era a sua única esperança, pois JESUS prometera voltar. E enquando o observavam subir ao céu, foram consolados pelos entes angelicais com estas palavras: "Varões galileus, por que estais olhando para as alturas? Esse JESUS que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir" (At 1.11).
A Igreja vivia cada dia como se o Salvador fosse voltar a qualquer hora, pois a promessa de sua volta causara-lhes profunda impressão, purificando-os e afastando-os deste mundo. A promessa encheu o horizonte de suas vidas, levando-os a se dedicarem a CRISTO.
Mas nem tudo andava bem com os membros da Igreja Primitiva. Eram olhados com desconfiança e ódio pelos fariseus e saduceus e por todos os líderes de Israel. Os inimigos de JESUS continuavam a ser inimigos de sua Igreja, e empenhavam-se em esmagar os que eram do "Caminho".
OS MINISTÉRIOS DE PEDRO E JOÃO
Certo dia, quando Pedro e João subiam ao Templo na hora da oração, um mendigo, coxo de nascença, achava-se sentado à porta do santuário, pedindo esmolas. Era seu costume mendigar todos os dias, e tudo que esperava era uma ajuda para sustentar-se. Mas Pedro, movido pelo poder de DEUS, curou o homem daquela enfermidade.
Imediatamente, formou-se um grande ajuntamento em volta dos discípulos, pois todos estavam cheios de assombro e admiração. Pedro aproveitou-se da oportunidade e, colocando-se num dos pórticos do pátio externo, onde os rabinos geralmente ensinavam, pregou-lhes um sermão. O tema do seu discurso era JESUS, o Messias.
Pedro deixou bem claro ao povo que o poder de curar não era dele, mas do Senhor. E continuou a falar, mostrando-lhes que o DEUS de Abraão, Isaque e Jacó glorificara a seu Filho, JESUS, a quem haviam entregue a Pilatos, e condenado à morte. Contou-lhes como DEUS levantara a JESUS da sepultura e o levara para o céu, onde permaneceria até que as profecias fossem cumpridas. Então, Ele voltará para o seu povo, trazendo juízo sobre todos os seus inimigos. Em seguida, Pedro convidou o povo a arrepender-se e a converter-se, para que os seus pecados fossem apagados. Através desse testemunho, cerca de cinco mil pessoas creram. E, assim, a Igreja crescia com espantosa rapidez.
Os sacerdotes, as autoridades do Templo e os saduceus, que não criam na vida além-túmulo, enfureceram-se com o atrevimento daqueles homens que, embora não fossem rabinos, pregavam a ressurreição de JESUS. Por isso, enviaram os guardas do Templo para suspender a reunião e prender ambos os discípulos.
No dia seguinte, os discípulos foram levados diante do conselho, composto de setenta membros, que lhes perguntou com que autoridade faziam tais coisas. Eles responderam que ensinavam e curavam em nome do Senhor JESUS. Pedro, que jamais perdia uma oportunidade, pregou o Evangelho de CRISTO diante do Sinédrio. Ao ouvir-lhes a declaração, o Conselho percebeu que, embora indoutos, falavam corajosamente. Maravilhados, disseram entre si que tal coragem devia-se ao fato de eles haverem estado com JESUS. A autoridade com que JESUS falava permanecia em sua lembrança. Resolveram, pois, adverti-los a que não mais testemunhassem em nome de JESUS. Em seguida, libertaram-nos. Pois sabiam que o coxo era conhecido, e condenar os que haviam operado tão grande milagre poderia provocar a ira da multidão.
Novos crentes iam sendo acrescentados à Igreja. O poder do ESPÍRITO que operava nos discípulos, juntamente com o exemplo destes, levou grande número de pessoas a converter-se. A sua fé era confirmada por muitos milagres.
Os saduceus fizeram uma segunda tentativa de extinguir a nova fé. Lançaram os apóstolos na prisão. Mas ficaram abalados ao saber que um anjo os libertara, e que já se encontravam na companhia dos outros discípulos.
Crescimento Contínuo da Igreja Perseguida
Quanto mais os líderes judeus tentavam esmagar a Igreja, mais atiçavam-lhe a chama. A ressurreição do Senhor dera ao povo a esperança e a segurança que antes não existiam. Todos os anseios de Israel, profecias, sacrifícios e esperanças foram cumpridos em JESUS. Contudo, a nação perdera a sua maior oportunidade, rejeitando-o. Esse Evangelho, hoje tão evidente para milhões de cristãos, estava apenas brotando no coração dos judeus.
Com a pregação do Evangelho, muitos estavam vendo, pela primeira vez, o cumprimento de suas esperanças. Presos pela terceira vez, os discípulos foram reconduzidos ao Sinédrio, sob a acusação de haverem desobedecido à ordem de não pregar. Pedro colocou-se corajosamente diante do grupo e, em sua defesa, proclamou de novo a ressurreição de CRISTO, responsabilizando os membros do Conselho pela sua morte.
Ofendidos com tais palavras, eles pediram a morte dos discípulos. Finalmente poderiam acabar com aquela seita, silenciando-lhe os principais pregadores e líderes. Com calma e bom senso, Gamaliel, o famoso rabino que instruíra a Saulo de Tarso, advertiu o Conselho. Lembrou- lhe de que outrora DEUS levantara profetas que, embora rejeitados pelo povo, haviam cumprido fielmente a sua missão. Aconselhou-os, pois, a soltarem os discípulos. Se a mensagem que pregavam fosse de DEUS, nem o Sinédrio poderia destruí-la; e se não o fosse, a seita desapareceria como tantas outras no passado. Sua conclusão foi tão amorosa quanto sábia. Após açoitar os discípulos, o Conselho os deixou ir com uma advertência.
A medida que a Igreja crescia e a perseguição aumentava, também elevava-se o número de necessitados. Os apóstolos perceberam então que quase não lhes sobrava tempo para outra coisa senão para socorrer os mais carentes. A fim de terem mais tempo para a pregação e o ensino, indicaram sete diáconos para atender aos pobres. Esse foi o início da organização do ministério eclesiástico. DEUS abençoou a iniciativa dos apóstolos, usando-a para fortalecer o seu povo.
O Ódio do mundo
Como nunca foi popular ser um verdadeiro cristão, os seguidores de JESUS passaram a ser odiados e rejeitados pela sociedade. Eram demitidos de seus empregos e tinham dificuldade em garantir o seu o sustento. Como sempre houvesse necessitados, agrupavam-se para se protegerem e se encorajarem mutuamente. Naqueles primeiros dias, o amor e o desprendimento eram tão reais, que muitos vendiam seus bens e traziam o dinheiro para o fundo comum a fim de socorrer os menos afortunados.
Ondas de ódio e perseguição sucediam-se ameaçando a Igreja. Alguns membros eram tão fracos em suas convicções que, pensando apenas na segurança e conforto pessoais, voltaram para o Judaísmo. A maioria, contudo, permaneceu sólida como as rochas em dias de tempestade.
Cada vez que o braço armado do inimigo se erguia, DEUS suscitava outros heróis para levar adiante a sua obra. Quando Herodes, ao perseguir a Igreja, mandou que se degolasse a Tiago, irmão de João, julgou ter extinto para sempre o trabalho do Senhor. Mas o relato da história, feito por Lucas em Atos, encerra-se com esta afirmação: "Entretanto a palavra do Senhor crescia e se multiplicava" (At 12.24).
Quanto maior a perseguição, maior o crescimento da Igreja. Muitas vezes, os cristãos tiveram de adorar a DEUS em segredo, mas nunca vacilavam. Quando algum pregador era preso, os outros reuniam-se para orar. O Senhor sempre lhes ouvia as orações, abençoava o seu povo, e usava as dificuldades para fortalecer a Igreja.
O Cristianismo contudo não ficou restrito a Jerusalém. Os que ouviram a pregação de Pedro, no Dia de Pentecostes, procediam de todo o Império Romano. E levaram as boas novas do Evangelho aonde quer que fossem. LUTANDO CONTRA DEUS
Quando ainda estava em Tarso, Saulo ouvira várias histórias sobre JESUS. Algumas eram fantasiosas, pois as histórias costumam desvirtuar-se quando transmitidas oralmente. Muitos dos amigos da sinagoga haviam assistido as festas em Jerusalém, e sabiam o que estava acontecendo no Templo. Na sua volta, Saulo e os principais da sinagoga foram informados sobre o impostor de Nazaré, e ficaram enfurecidos com a idéia de que alguém havia tido a coragem de profanar os pátios da Casa de DEUS com um ensino tão blasfemo. Além disso, tal homem não tinha o direito de ensinar, pois não aprendera com os rabinos. Todavia, todos que o ouviam, confirmavam: ninguém jamais dissera palavras de tanta sabedoria - nem mesmo os grandes rabinos.
Ficou evidente para Saulo que JESUS não podia ser o Messias por ter acusado os doutores da Lei, opondo-se às as suas regras. Ouvira dizer também que JESUS ensinava o povo a desobedecer aos rabinos, provocando tamanhos tumulto nas sinagogas que todo o verdadeiro judeu acabou por considerá-lo inimigo de Israel.
Quando chegaram as notícias de que JESUS fora preso, julgado e crucificado, todos agradeceram a DEUS: o blasfemador enfim fora silenciado. Ficava provado, pois, que Ele não passava de mais um falso messias, que tudo fizera para conturbar a religião judaica. Saulo e os demais fariseus aplaudiram a crucificação de JESUS. Não podiam perdoar aquEle que, ousadamente, os havia chamado de víboras e hipócritas.
Saulo não se considerava hipócrita. Seu objetivo era ser um judeu melhor e obedecer a todas as regras dos grandes rabinos. Na sua opinião, essa era a única maneira de se agradar a DEUS. Por isso, quem se opunha à antiga ordem merecia morrer. Foi com um grande alívio que os principais da sinagoga de Tarso ouviram que JESUS fora finalmente tirado do caminho, e os seus ensinamentos interrompidos de vez. Segundo diziam, a justiça divina havia sido feita.
Sua indignação, porém, chegou ao ponto de ebulição ao saberem que os seguidores do Nazareno não haviam sido dispersos, mas reuniam-se em pequenos grupos para adorar a JESUS, declarando ter Ele ressurgido dos mortos. Resolveram então fazer o possível para lutar contra a perigosa seita. Notícias chegadas de Jerusalém davam conta de que alguns fariseus haviam deixado a verdade e se juntado aos nazarenos. Membros da seita podiam ser encontrados também pregando abertamente nos pátios do Templo e nas sinagogas, convencendo a todos de que JESUS era o Messias. E milhares criam neles. Isso tornara-se uma grande ameaça, pois até alguns sacerdotes estavam abandonando a velha ordem para seguir a JESUS. De igual modo, iam os nazarenos pelas ruas da cidade, conversando com o povo em suas casas, persuadindo-os a juntarem-se a si.
Saulo sentia raiva ao pensar neles. Ouvira dizer que alguns de seus líderes haviam sido apanhados e levados diante do Sinédrio por haverem falado abertamente no Templo, e que seu velho mestre, Gamaliel, mostrara-se complacente e até recomendara o relaxamento de sua prisão. Ele sentiu-se irritado com Gamaliel. Como poderiam manter pura a religião de Israel se permitissem que qualquer um alegasse ser o Messias? Não havia dúvidas de que os seguidores de JESUS mereciam a morte. O Conselho deveria ter eliminado para sempre tal ameaça.
A Perseguição dos Nazarenos
Com tais pensamentos em mente, Saulo decidiu deixar Tarso e voltar a Jerusalém. Estava tão insatisfeito, que decidiu lutar pessoalmente contra a seita dos nazarenos. Desligando-se imediatamente de Gamaliel e de sua escola, ofereceu seus préstimos ao sumo sacerdote a fim de eliminar todos os que se opusessem ao Judaísmo. E já perseguia a Igreja com tamanha fúria que seu nome tornou-se o terror de todo e qualquer ajuntamento cristão. Saulo era genioso e cruel. Com a sua eloqüência, atacou os cristãos que oravam e pregavam no Templo. Rápido em suas ações, dispersou a muitas congregações e igreja locais. Lançou homens e mulheres na prisão, condenando-os à morte. Tão cego em sua ira e tão pronto para esmagar os seguidores de JESUS, que se achava disposto a extirpar de dentre o seu povo todos quantos ousassem oferecer fogo estranho ao Senhor. Com essas idéias fervilhando-lhe na mente e com o olhar brilhante de um fanático, decidiu acabar sumariamente com a seita dos nazarenos.
Estêvão Confunde Saulo
Um dos sete escolhidos pela igreja de Jerusalém para encarregar-se dos pobres era Estevão, o mais capaz e ativo dos diáconos. randes sinais e prodígos se relaizavam através de Estêvão. Ele não nascera em Jerusalém e até recebera um nome grego. Debatendo com os rabinos, provou ser melhor que eles. As suas palavras eram irresistíveis e cativantes como as de JESUS. Em suas prédicas, afirmava que a salvação era obtida por meio de JESUS, o Messias, e não pela obediência à Lei de Moisés. Como Jerusalém possuísse várias sinagogas onde os judeus de diferentes nações costumavam reunir-se, Estêvão ia de uma para outra, pregando o Evangelho e discutindo com os líderes.
A sinagoga alexandrina tivera ocasião de ouvi-lo. As congregações de Cirene e da Cilícia conheciam-lhe os argumentos e lutavam ferozmente contra ele, pois Estêvão persuadira alguns dentre os seus membros a crerem em JESUS.
É provável que tenha sido na sinagoga da Cilícia que Saulo tenha encontrado Estêvão pela primeira vez. Ele ouviu-o com amargo desprezo; mesmo assim, pôde sentir quão atraentes e poderosas eram as suas palavras. O cristão achava-se possuído de um zelo tão santo que ele jamais vira em qualquer rabino. Quando Estêvão falou da ressurreição, Saulo teve de admitir para si mesmo que essa esperança era a doutrina central dos fariseus. Notou também que eram os saduceus quem mais se opunham a esta crença.
Saulo desprezava os saduceus, apiedava-se deles. Fora apenas a questão da ressurreição, Saulo sentia que poderia ouvir com agrado a esse homem. Mas ele falava contra o Templo e desejava mudar os velhos costumes estabelecidos pelos rabinos. Era portanto necessário silenciar-lhe a voz.
O jovem fariseu confrontou-o em um debate aberto, e ficou zangado ao descobrir que, apesar de todo o seu conhecimento, não conseguia revidar os argumentos de Estêvão. Seu orgulho sentia-se ferido; sua única defesa agora era um ódio cada vez maior. Achava-se, pois, decidido a se lhe opor com todas as forças. Foi então de sinagoga em sinagoga e descobriu que os seguidores de JESUS encontravam-se em toda parte. Saulo convenceu as pessoas de que os nazarenos deviam ser silenciados mesmo que fosse pela espada. Pois os seus ensinos eram contrários à Lei. E quando diziam que JESUS era o CRISTO, blasfemavam contra DEUS. Mas percebeu que até os analfabetos da seita sabiam citar as Escrituras, e conheciam a história judia tanto quanto ele.
Como Estêvão parecia-lhe o mais poderoso e culto dos nazarenos, decidiu persegui-lo e expulsá-lo de Jerusalém. Quem falasse contra a Lei de Moisés, ou dissesse que o Carpinteiro de Nazaré era o Messias, seria julgado como blasfemo! Onde quer que fosse, Saulo não tinha medo de repetir tal advertência. Estava cansado dos enganadores que desviavam o povo da Lei. E sendo Estêvão um dos piores agitadores, Saulo sentia estar prestando um grande serviço a DEUS livrando-se dele.
Quanto mais pensava nessa seita e nos progressos que ela fazia, tanto mais agitado ficava. Sua raiva transformou-se finalmente em claro preconceito - não podia mais discutir com aquelas pessoas baseado nas Escrituras. Seu único desejo era exterminá-las. Por acaso não foi exatamente isto que DEUS ordenara a Saul? (1 Sm 15).
Estêvão Diante do Sinédrio
Quando chegaram as notícias de que Estêvão fora preso e devia agora comparecer perante o Sinédrio, Saulo sentiu que o líder fora para sempre silenciado, e que seria apenas uma questão de tempo até que todos os cristãos fossem apanhados.
Naquele dia, Saulo compareceu a reunião do Sinédrio. Queria estar lá quando seu oponente chegasse ao tribunal. Ele não era o único; centenas tinham ido assistir ao interrogatório. Os saduceus achavam-se ali sorrindo zombeteiramente. Aquele era o dia tão esperado. Os fariseus também compareceram, juntamente com os sacerdotes, escribas e uma grande multidão que ouvira Estêvão e admirara-se da sua coragem. Saulo tomou seu lugar, e sorriu enquanto esperava.
Aquele era o mesmo Conselho que condenara JESUS. Anás e Caifás, ambos jubilados do sumo sacerdócio, achavam-se presentes. Jônatas, o atual pontífice, era o presidente do Conselho. Também entre eles encontrava-se Gamaliel. o sábio e bondoso fariseu. Todos estavam cansados dessas interferências.
Desde a reunião em que JESUS fora condenado, os membros do Sinédrio haviam tido problemas com Pedro e João. Não bastasse, a cada dia apareciam outros; a nova seita mostrava- se incansável em sua blasfema propagação. Embora houvessem recebido repetidas ordens para que se mantivessem silenciosos em relação a JESUS, sempre desobedeciam. Aliás, os nazarenos haviam se tornado de tal forma atrevidos, que chegaram ao cúmulo de acusar o Conselho de haver matado o Messias.
Agora chegara a vez de Estêvão, o mais ousado de todos.
Quando Estêvão entrou no tribunal, todos os olhares voltaram-se à sua direção. Algumas cabeças curvaram-se de medo, pois o seu rosto era calmo e sereno como a face de um anjo. Chamadas as testemunhas, confirmaram terem-no ouvido falar contra o Templo e os anciãos. Além disso, ensinava a todos que JESUS era o Messias. Quando deram-lhe a oportunidade de responder às acusações, voltou-se à multidão silenciosa, procurando um rosto amigo. Não encontrando ninguém, entregou-se à misericórdia do Senhor. E, mostrando uma radiância celeste em sua fisionomia, pôs-se a falar.
Começando com Abraão, Estêvão referiu-se à história judaica para mostrar que os homens podiam adorar a DEUS em outros lugares além do Templo. Ele traçou os caminhos de DEUS com o seu povo desde Abraão até Moisés, e provou que este profetizara sobre o CRISTO: "O Senhor, vosso DEUS, vos levantará dentre vossos irmãos um profeta como eu"(At 7.37).
Contou como Moisés recebera a planta do Tabernáculo e como Salomão construíra o SANTO Templo. Em seguida, citou o profeta Isaías a fim de provar que o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos humanas: "O céu é o meu trono, e a terra, o estrado dos meus pés. Que casa me edificareis, diz o Senhor, ou qual é o lugar do meu repouso? Porventura, não foi, a minha mão que fez todas estas coisas?" (Is 7.49,50).
Enquanto prosseguia, os ouvintes encaravam-no com ódio sombrio. No final, chegando ao ponto alto de seu discurso, declarou corajosamente ao Sinédrio o que vinha dizendo ao povo em cada sinagoga:
Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvido, vós sempre resistis ao ESPÍRITO SANTO; assim, vós sois como vossos pais. A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo, do qual vós agora fostes traidores e homicidas; vós que recebestes a lei por ordenação dos anjos, e não a guardastes (7.51-53).
Houve um espoucar de vozes no salão, pois as palavras de Estevão queimavam como fogo e cortavam como afiadas lâminas. Acusações insultuosas! Desafiadoras! De repente, ele se cala. No terrível silêncio que se segue, sua fronte ergue-se para o céu e um sorriso emoldura-lhe a face como se houvera tido uma visão do alto. E Estêvão declara: "Eis que vejo os céus abertos e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de DEUS" (7.56).
Não lhe foi permitido dizer mais nada. Alguns fariseus taparam os ouvidos para não ouvir outras blasfêmias. Outros tentaram agarrar o prisioneiro. Estêvão, então, foi rapidamente levado para fora do tribunal antes que a multidão o linchasse. Nunca tinham ouvido palavras tão atrevidas e cortantes!
O Apedrejamento de Estêvão
Depois de o prisioneiro ter sido arrastado para fora, o veredicto foi rapidamente concluído. Na opinião de todos, ele era culpado de morte. A Lei de Moisés deixava isso bem claro: Aquele que blasfemar o nome do Senhor, certamente morrerá; toda a congregação o apedrejará; assim o estrangeiro como o natural, blasfemando o nome do Senhor, será morto (Lv 24.16).
Saulo ficou mui comovido com o julgamento, pois acompanhara cada palavra de Estêvão. Gloriou-se na história de seu povo e impressionou-se pela forma como Estêvão a contara. Jamais conhecera alguém com tamanho conhecimento da Escritura. Pensou ainda nos rabinos e nas suas disputas. Como pareciam mesquinhos! Considerou sua própria opinião sobre o Messias e o que Gamaliel lhe ensinara. Enfim, compreendeu que os fariseus, embora cressem na ressurreição, nunca haviam podido demonstrá-la. Mas ali estava uma demonstração plausível - se ao menos fosse verdade! E como o rosto de Estêvão irradiava êxtase! Era como se estivera vivendo num outro mundo. E as suas palavras finais? E se ele tivesse realmente visto JESUS à mão direita de DEUS?
Não, isso era coisa de fanático. Estevão era um impostor. Aquelas últimas palavras sobre a hipocrisia dos rabinos eram imperdoáveis. O homem era um inimigo da Lei Divina. Morte aos inimigos de DEUS! Que seja apedrejado! Saulo ficou tão convencido de que o julgamento fora justo que estava pronto a ajudar na execução da sentença. As palavras insultuosas de Estêvão ainda soavam-lhe aos ouvidos.
Cercado pelos guardas do Templo, Estêvão foi arrastado pelas ruas da cidade até um lugar perto dos muros. De repente, o grito: "Morte ao blasfemo! Morte ao nazareno!" A Lei de Moisés ordenava que a primeira pedra fosse atirada pelas testemunhas que, despindo-se de seus mantos, empilharam-nos aos pés de Saulo. A incumbência deste era cuidar para que as roupas não fossem roubadas.
Estêvão ajoelhou-se e, ignorando a multidão, orou: "Senhor JESUS, recebe o meu espírito!" (At 7.59). As pedras foram atiradas, fazendo-o sangrar mortalmente. Mas antes que sua alma deixasse a morada terrena, partindo para as mansões celestes, clamou em alta voz: "Senhor, não lhes imputes este pecado" (At 7.60). Estava tudo acabado. Sua alma já se encontrava com JESUS.
A Difusão do Cristianismo
Saulo deixa a cena em silêncio. Testemunhara algo que jamais houvera visto. Não podia negar que ficara grandemente abalado. Ouvira a oração de Estêvão. Quem jamais orara por seus algozes? O ódio de Saulo era amenizado por um estranho sentimento de piedade. Mas isso durou apenas alguns segundos. Ele não permitiria que suas emoções o empolgassem. Estêvão merecia morrer! Sua execução desanimaria outros, e quem sabe, acabasse de vez com a seita dos nazarenos. Todavia, os eventos daquele dia ficariam para sempre em sua memória.
Depois da morte de Estêvão, Saulo passou a comandar a perseguição à Igreja. Ele percebeu que a sua morte não tinha afetado os cristãos. Pelo contrário: tornara-os mais audaciosos e fortes. Depois de consultar o Sinédrio e os principais sacerdotes, concluiu que a melhor maneira de acabar com a ameaça ao Judaísmo seria visitar cada sinagoga, descobrir quem se inclinava a crer em JESUS e levar os infratores a julgamento.
Tendo em vista seus precedentes, Saulo cumpriu zelosamente a nova missão. Em breve, tornou-se conhecido em toda a Judéia como o mais feroz inimigo de CRISTO. Ele caçava os cristãos, atirando-os nas celas e ordenando-lhes a execução. Sua indignação ardia como fogo, e seu grito soava amedrontador: "Repudie a fé em JESUS ou morra!"
A perseguição tornou-se tão severa que os cristãos viram-se forçados a deixar seus domicílios. Os de Jerusalém espalharam-se por toda a Judéia e Samaria. Isso contudo não teve o efeito que Saulo e o Sinédrio desejavam, pois onde quer que os discípulos fossem, contavam a história de CRISTO. Em vez de uma grande Igreja em Jerusalém, muitos pequenos grupos de crentes passaram a reunir-se secretamente nas casas. Os esforços de Saulo só fizeram com que o fogo se espalhasse e se tornasse inextinguível.
Infelizmente, alguns preferiam abandonar a Igreja a enfrentar a perseguição e as privações decorrentes desta. Outros foram compelidos a blasfemar o nome de JESUS.
Muitos seguiram para o norte, em direção a Samaria, onde Paulo não tinha qualquer jurisdição. Entre estes encontrava-se Filipe, um dos sete diáconos da igreja de Jerusalém. Colaborador de Estêvão, teve de fugir para salvar a vida. O povo de Samaria recebeu-o alegremente, pois lembrava-se de JESUS e de seu ministério entre eles.
Samaria ficava ao norte de Jerusalém. Era habitada por um povo mestiço, parte dele oriental e a outra parte de origem hebréia. As dez tribos de Israel habitaram ali, mas os assírios levaram-nas para o cativeiro, deixando apenas um remanescente na terra. Milhares de estrangeiros contraíram casamentos mistos com aqueles judeus, resultando numa raça mestiça. Por isso, todo judeu de sangue puro olhava para os samaritanos com desprezo. Filipe, contudo, pregou a CRISTO livremente em Samaria, e DEUS abençoou o seu testemunho. Muitos foram os que se fizeram seguidores do Senhor, porqiue viam e ouviam os sinais que Filipe fazia.
Quando os apóstolos ouviram falar que uma grande obra estava sendo realizada em Samaria, enviaram para lá Pedro e João para ver se era ou não autêntica. Pois ainda não estavam convencidos de que alguém pudesse ser um verdadeiro cristão sem primeiro ser judeu. Mas foi justamente ali, naquela terra odiada, que os apóstolos descobriram que o ESPÍRITO SANTO também estava sendo derramado sobre os samaritanos, quando lhes impuseram a mãos. Antes de partirem, Pedro e João pregaram nas aldeias. E assim a igreja em Samaria cresceu sem que fosse incomodada pela perseguição.
Início da Convicção de Saulo
Saulo enfrentava uma nova dificuldade. Embora houvesse dispersado os nazarenos de Jerusalém, recebeu diversos relatórios de que estes continuavam espalhando seus ensinamentos. A Igreja, em vez de diminuir, crescia mais e mais. Ele então começou a se perguntar se todo o seu trabalho estava ou não baldado ao fracasso. Será que o seu velho professor Gamaliel tinha razão ao dizer que, se a seita dos nazarenos fosse de DEUS, nem o Sinédrio nem um poderoso exército iria detê-la?
Seria realmente uma obra divina? Estaria Saulo lutando contra DEUS? É certo que fora derrotado na discussão com os nazarenos, pois estes conheciam as Escrituras e fizeram-no calar-se na sinagoga. Estêvão certamente vencera os perseguidores, pois na hora de sua execução, um estranho poder o possuíra, impressionando profundamente a Saulo. E os cristãos que seguiam para a morte com uma expressão de vitória estampada no rosto? Até aquele ponto Gamaliel acertara: A perseguição só ajudara a propagar o novo ensinamento.
As cenas se sucediam na mente de Saulo. Ele pensou em sua educação farisaica e em todas as regras que aprendera. Acreditava que, seguindo-as, receberia a vida eterna. Mas agora tinha de admitir: sua vida era vazia. Quanto aos ensinamentos rabinicos, não seriam suficientes sem a esperança do Messias. Neste ponto, Saulo surpreendeu-se pensando no Messias; desejava que Ele viesse logo.
Tinha certeza de que os nazarenos pregavam um falso messias. Todavia, tinha a sensação de que o grande e misterioso poder que nEle se achava viera sobre homens como Estêvão.
Saulo perguntou a si mesmo porque tais homens, a quem condenara à morte, estavam dispostos a morrer pela nova religião. Ele sempre acreditara que as pessoas defendiam coisas falsas enquanto lucrassem com isso; mas, quando a espada era posta em suas gargantas, desistiam imediatamente. Mas por que os seguidores de JESUS agarravam-se à sua fé como se esta lhes fosse mais preciosa que a própria vida? O PONTO CRÍTICO
Embora estivesse colecionando lembranças amargas, Saulo decidira continuar a luta. Irritado com a propagação da Igreja, prepara uma expedição a Damasco, onde, segundo ouvira falar, vários nazarenos haviam se refugiado por causa da perseguição desencadeada em Jerusalém. Além disso, pregavam ativamente a CRISTO nas várias sinagogas. Saulo achava que poderia abater definitivamente os seguidores de JESUS se os expulsasse dessa fortaleza. Acompanhado por uma tropa de guardas do Templo, saiu de Jerusalém pela Porta de Damasco respirando ameaças e mortes. A distância até Damasco era de aproximadamente 240 quilômetros. Apesar de a estrada ser ladeada por uma das paisagens mais belas do mundo, o propósito de Saulo não era apreciar o cenário; era acabar com a Igreja de CRISTO.
A região achava-se repleta de lembranças históricas. Dois mil anos antes, Elieser, o damasceno, tornara-se servo de Abraão e viajara por aquela mesma estrada. Naamã passara por aquele caminho quando fora ter com Eliseu. Mas Saulo não queria pensar nessas coisas, pois estava dominado pelo ódio. Planejara caçar os cristãos e levá-los acorrentados a Jerusalém para que fossem julgados e condenados pelo Sinédrio. Na túnica, trazia uma carta selada do sumo sacerdote aos rabinos de Damasco, ordenando que se lhe desse toda a assistência, pois era o representante legal das autoridades judaicas.
O sol ardia quando eles chegaram às proximidades da velha cidade. À sua frente, estendia-se um vale bem irrigado e protegido por densas florestas com árvores de todo tipo. Lá estavam a palmeira com suas delicadas folhas e o álamo. Os vinhedos, nas encostas, eram os mais ricos de toda a Síria. Os viajantes geralmente abrigavam-se sob essas árvores quando o sol se encontrava no auge de sua força. Em sua impaciência, porém, Saulo não quis descansar.
Na sinagoga, todos já tinham sido avisados de sua chegada. Quanto aos nazarenos, ainda se lembravam da confusão que ele criara em Jerusalém, por isso tremiam com a idéia de enfrentar novamente a perseguição. Isso significava que famílias seriam separadas e reduzidas à pobreza, ou até mortas. Haviam porém decidido manter-se fiéis a CRISTO não importando as conseqüências.
O meio-dia encontrou Saulo na periferia da cidade, apressando-se em direção a ela. As estradas estavam desertas àquela hora. Até mesmo o gado havia procurado a sombra dos arvoredos e aí se acomodara até que passasse o calor. Apesar de toda aquela calmaria, Saulo não parara a fim de descansar. Os guardas do Templo que o acompanhavam, embora surpresos, não ousavam fazer-lhe qualquer observação.
O pequeno grupo aproximou-se do alto de um monte de onde se podia ver os prédios rebrilhando ao sol. Segundo o poeta, Damasco era "um punhado de pérolas numa taça de esmeralda".
A Aparição de CRISTO
Ao descerem o monte, um raio de luz, mais brilhante que o sol em todo o seu esplendor, veio subitamente sobre o pequeno grupo. Sua radiância era tanta que o sol pareceu enfraquecer. Eles ficaram ofuscados com o brilho e caíram por terra; alguns, de bruços para protegerem-se da luz, e outros com as mãos cobrindo os olhos, temendo aqueles raios.
Admirados, entreolharam-se como que pedindo uma explicação do que houvera. Foi então que viram o seu chefe caído por terra, enquanto o animal, em que montara, mantinha-se perto dele amedrontado. Saulo falava com alguém, mas eles não viam o seu interlocutor. Embora parecesse uma voz, não lhe compreendiam as palavras. Agora os lábios de Saulo se moviam; tinha ele as mãos estendidas à sua frente como se estivesse cego. Saulo tremia da cabeça aos pés.
Deitado no chão, sem nada ver, Saulo ouviu uma voz que lhe falava: "Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões" (At 26.14).
Perturbado com todos os pensamentos que o tinham perseguido desde a morte de Estêvão, temeroso, ousou perguntar: "Quem és tu, Senhor?" (At 26.15).
"Eu sou JESUS, a quem tu persegues" (At 26.15).
Na linguagem do amor, superior a tudo que já conhecera, ele ouve mui claramente: "Eu sou JESUS". Seria este o JESUS que morrera? De repente, brota-lhe na alma a terrível compreensão de que estava errado. De fato, toda a sua vida fora um erro.
O torvelinho que sentira, as perguntas que iam surgindo, a crescente convicção de que estivera lutando contra DEUS - todos esses pensamentos pairavam diante de si com súbita clareza e, de tal forma, que não podia mais suportá-los.
Todo o orgulho de sua origem farisaica, toda a dignidade do cargo e toda a arrogância advinda de sua reputação como o principal perseguidor do Cristianismo desmoronaram enquanto se achava ali, indefeso na estrada. Sua visão física lhe fora tirada para que a sua alma pudesse enxergar. Ele estava pensando nas palavras: "Por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrares contra os aguilhões".
Tais palavras eram próprias da vida campestre. Saulo vira muitas vezes o boi escoiceando o aguilhão, oferecendo inútil resistência. Em vez de obedecer a quem o dirigia e submeter-se a ele, o boi teimava e dava patadas nas varas que o dono usava para estimulá-lo. Era uma descrição mui apropriada da vida de Saulo. Ele estivera fazendo isso há meses, e como lhe fora difícil! Saíra para caçar os seguidores de JESUS; mas, em vez disso, descobriu que estava sendo caçado por JESUS, a quem perseguia.
Essa foi a grande crise da vida de Saulo. Ele encontrou-se face a face com o Messias, e viu-se forçado a reconhecer que estava errado, e os nazarenos, certos: JESUS era o CRISTO.
Naquele momento, toda a sua luta cessou. Uma grande revolução, maior do que qualquer outra que já conhecera, teve lugar em seu íntimo. Estava quebrantado e abatido nas mãos daquEle que julgara ser seu inimigo. A rendição foi completa. Sua alma estava finalmente em paz.
A voz do céu era clara: "Levanta-te e entra na cidade, e lá te será dito o que te convém fazer" (At 9.6).
A Transformação
Tudo acabara em poucos instantes, mas foi a maior experiência de Saulo. Nela, pensaria até o dia da sua morte. Naquele momento, JESUS o dominara, mudando-lhe por completo a vida. Nenhuma dúvida nem interrogação ser-lhe-iam possíveis a partir daquele instante. Pois não tivera uma simples visão de JESUS; fora, de fato, uma aparição do CRISTO, não mais com a glória velada, como nos dias de seu ministério terreno, mas com tamanha plenitude de glória que o homem não podia suportar-lhe o brilho.
Saulo falaria disso mais tarde como a última das aparições de JESUS aos seus seguidores após a ressurreição (1 Co 15.8). Moisés teve a mesma experiência no Monte Sinai, quando a visão da glória do Senhor aparecera-lhe como um fogo devorador. Foi isso que Isaías viu quando o Senhor o chamou para o ministério. Essa foi também a experiência de Pedro, Tiago e João no monte da Transfiguração. Foi o que João viu em Patmos e depois de tê-lo visto, "caí a seus pés como morto" (Ap 1.17). E para o rabino de Tarso, era concedida uma entrevista com o CRISTO ressurreto.
Posteriormente, alguns vieram a duvidar de seu apostolado, alegando que ele jamais vira o Senhor. Mas a todos os seus inimigos, podia responder que recebera a sua comissão diretamente de JESUS que lhe dissera:
Te apareci por isso, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livrando-te deste povo e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos e das trevas os converteres à luz e do poder de Satanás a DEUS, a fim de que recebam a remissão dos pecados e sorte entre os santificados pela fé em mim (At 26.16-18).
Quando seus companheiros, já recuperados dos efeitos da visão, foram ajudá-lo a pôr-se em pé, descobriram que ele estava cego, por isso tiveram de conduzi-lo pela mão à cidade. Que mudança nele se operou! Tinha sido um orgulhoso fariseu, cavalgando com pompa e autoridade, cheio de indignação e soberba. Mas, num momento, foi transformado num servo trêmulo, que tateava, humilde e quebrantado, agarrando-se à mão de um soldado que o guiou ao seu destino. Ao chegar a Damasco, entrou num quarto da casa de Judas, na rua chamada Direita, e pediu que o deixassem a sós. Queria tempo para pensar.
Já afastado do mundo por causa de sua cegueira, podia finalmente ordenar seus pensamentos. Sentou-se no escuro, imaginando como DEUS poderia usar um cego em sua obra.
Saulo não comeu nem bebeu durante três dias. Estava por demais absorvido em seus pensamentos. Todo o passado descortinava-se diante de si. Pensou no zelo do pai ao educá-lo como fariseu. Lembrou-se do rigor da escola em Tarso e de como as palavras dos rabinos haviam lhe marcado a vida. Recordou-se do Templo e de todas as suas belas e agradáveis cenas. Como poderia esquecer-se das multidões dos adoradores entregando os sacrifícios aos sacerdotes.
Agora, porém, nada disso lhe tinha importância. O Messias aparecera e fora crucificado exatamente pelas pessoas a quem viera abençoar. Toda a vida de Saulo parecia estar desmoronando. Podia ver agora que estivera lutando contra DEUS. Cego por seu farisaísmo, ele havia perseguido o Messias. Todavia, ei-lo quebrantado aos pés do Salvador. Toda a sua vida mudara por meio da força dessa colisão com o CRISTO. Estêvão tinha razão: tanto ele (Saulo) como o Sinédrio haviam cometido um gravíssimo erro. Os anos estéreis, porém, terminaram; o futuro devia ser ocupado na proclamação dessas grandes descobertas.
Quando prendia os nazarenos, Saulo o fazia com espírito de vingança e ira. Era o inimigo mortal deles. Mas quando JESUS de Nazaré o prendeu, não havia vingança nem ira. Se em seu poder, DEUS o derrubou por terra, em seu amor o levantou e dele tomou posse. Saulo começa a compreender como Estêvão pôde orar pelos inimigos mesmo quando as pedras o atingiam mortalmente. Em CRISTO, encontrou uma paz até então desconhecida para ele, o implacável fariseu.
Enquanto Saulo, jejuando no escuro, pensava e orava a respeito das estranhas experiências que tivera, tem uma visão em que um discípulo, chamado Ananias, vinha vê-lo a fim de lhe restaurar a visão.
As Visões de Saulo e Ananias
Nessa mesma ocasião, o Senhor preparava Ananias para que visitasse Saulo. Ananias fora, certa vez, destacado, em sua sinagoga, como um homem piedoso e que obedecia à Lei de Moisés com o rigor de um fariseu.
Mas desde que se tornara cristão, os judeus passaram a suspeitar dele. Alguns diziam que Saulo tinha ido a Damasco especialmente para prender Ananias, pois os nazarenos haviam-no reconhecido como seu líder. Mas numa visão, o Senhor ordenou a Ananias: "Levanta-te, e vai à rua chamada Direita, e pergunta em casa de Judas, por um homem de Tarso chamado Saulo; pois eis que ele está orando, e numa visão ele viu que entrava um homem chamado Ananias, e punha sobre ele a mão, para que tornasse a ver" (At 9.11,12).
Ananias imediatamente protestou. Afinal, os nazarenos de Damasco tinham medo de Saulo por causa das notícias que chegavam de Jerusalém. Além disso, haviam sido informados que ele estava na cidade a fim de que, como representante do sumo sacerdote, procedesse a prisão dos discípulos de JESUS e os conduzisse a Jerusalém. Os cristãos não haviam orado para que DEUS os livrasse? Quando chegaram as notícias de que Saulo ficara cego, agradeceram a DEUS. Era a resposta à sua oração.
Mas, agora, ordenava o Senhor: "Vai, porque esse é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios e dos reis, dos filhos de Israel" (At 9.15).
Sem mais duvidar, Ananias dirigiu-se à casa de Judas, e perguntou por Saulo, o rabino de Jerusalém. Levado a um quarto nos fundos, deparou-se com o jovem e terrível fariseu sentado, completamente cego e abalado pelo conflito que se desenrolava em sua alma. Saulo já não sentia qualquer amargura, pois havia atravessado águas profundas naqueles três dias; passara por uma sondagem como nunca pensara ser possível.
Ananias atravessou o quarto, aproximou-se de Saulo e, impondo a mão sobre a sua cabeça, disse-lhe em voz baixa: "Irmão Saulo, o Senhor JESUS que te apareceu no caminho por onde vinhas, me enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do ESPÍRITO SANTO" (9.17).
Um nazareno o chamara de "irmão"! E pensar que ele, Saulo, viera justamente prender um homem como esse que, agora, estendia-lhe a destra da comunhão! Dissipadas as trevas, Saulo vê o homem que o procurara como mensageiro de DEUS.
Ele acabara de receber a confirmação do que tinha ouvido na estrada de Damasco. Como não render-se ao CRISTO? Por um momento, Saulo duvida: como ser perdoado pela perseguição e pelos problemas que criara à Igreja. Mas a voz de Ananias lhe dá plena segurança quanto ao amor e benignidade de DEUS.
Saulo sabia que o batismo era o sinal nazareno do arrependimento. Era uma forma de mostrar publicamente que havia mudado, invocando o nome daquEle a quem antes odiara, porém agora, além deste batismo nas águas, recebe o batismo no ESPÍRITO SANTO, fato totalmente desconhecido para ele (cheio do ESPÍRITO SANTO).
Saulo estava pronto. Encontrava-se nas mãos de DEUS e já não havia dúvida em seu coração. Ajoelhou-se com Ananias, e orou ao Senhor como se fora uma criança, confessando-lhe os pecados, pedindo-lhe que o perdoasse em nome de JESUS e invocando-lhe o nome de seu Filho, fez como o faziam os nazarenos. A seguir, Ananias o batizou, marcando definitivamente a sua entrada na nova vida.
Vivendo para CRISTO
Saulo saíra das trevas para a luz. Morrera para a velha vida, sob a Lei, e fora cheio do ESPÍRITO. Desejava, agora, provar o seu arrependimento através de uma vida de serviço a CRISTO. Essa perspectiva dava-lhe grande alegria. Depois de ter-se alimentado, levantou-se com um zelo tão intenso por CRISTO que excedia de muito sua antiga dedicação ao Judaísmo.
Ananias voltou para anunciar aos cristãos de Damasco que o perigo passara. Saulo não só havia desistido de persegui-los, como também fora batizado, invocando o nome de CRISTO. Era agora um nazareno. Eles receberam-no, pois, com grande alegria; acolheram-no como a um irmão.
Os cristãos de Damasco fortaleciam a Saulo diariamente com a cordialidade de sua comunhão, e doutrinavam-no acerca de JESUS. Ele se mostrava mais que atento. Os irmãos falaram-lhe do Salvador, de sua vida e de sua obra. Ficaram surpresos ao ver o conhecimento que ele tinha das Escrituras e como constatava rapidamente, agora, que todas elas apontavam para JESUS. Sua erudição deixou-os admirados. Ele parecia encontrar argumentos fortes e favoráveis a CRISTO que antes lhe haviam escapado. Seus corações encheram-se de alegria ao compreender que ele também viria a ser um grande mestre das doutrinas enunciadas pelo Senhor JESUS.
Durante o curto período em que permaneceu em Damasco - somente alguns dias - Saulo cresceu espiritualmente e já ansiava por testemunhar da grandiosa experiência que tivera na estrada de Damasco. Junto com Ananias e outros nazarenos, visitou a sinagoga e pregou a CRISTO. Ele era hábil em rebater todos os argumentos dos fariseus. Como tivesse o dom da oratória, causou grande impressão sobre o povo. Embora não pudesse dizer muito a respeito dos ensinamentos de JESUS, sabia apelar para a Lei, os Profetas e os Salmos. Ele sentia-se mui à vontade nesses tópicos.
A primeira vez que Saulo visitou a sinagoga, que se achava repleta, foi um grande dia para os nazarenos. Ali estava um jovem, destemido e forte, que tivera o privilégio de ser educado na escola de Gamaliel. A maioria dos judeus sabia de seu ódio a CRISTO, e alguns que suspeitavam dos nazarenos, achavam que a sua missão em Damasco era necessária.
Inicialmente, Saulo contou-lhes a história de sua ida a Damasco e do incidente na estrada: como encontrara a JESUS de Nazaré e O contemplara com os próprios olhos, aquEle a quem vinha perseguindo, e como, desde então, toda a sua vida se transformara. Ele cria agora que JESUS era o CRISTO. Com sua habilidade de rabino, citou passagem após passagem do Antigo Testamento para provar a messianidade de JESUS. Ao terminar o discurso, confessou publicamente o seu pecado em perseguir os seguidores de JESUS, e descreveu a nova vida que nele havia por meio da habitação interior do ESPÍRITO SANTO.
Ninguém podia acreditar no que estava ouvindo: "Não é este o que em Jerusalém perseguia os que invocavam esse nome, e para isso veio aqui, para os levar presos aos principais sacerdotes?" (At 9.21).
Ao verem-no abjurar as antigas crenças, ficaram indignados. O primeiro discurso de Saulo como nazareno foi respondido pelos rabinos da sinagoga, que o tacharam de falso mestre e traidor da nação. Negaram o uso que o novo discípulo de CRISTO fazia das Escrituras, discutindo acaloradamente com ele sobre o correto significado destas. Mas não puderam refutar-lhe os argumentos, nem a sua experiência na estrada de Damasco. Quando a congregação retirou-se, todos estavam comovidos com o que ouviram. Alguns creram, mas a maioria achava que Saulo merecia ser expulso da sinagoga e açoitado publicamente. O inimigo declarado e preconceituoso de CRISTO mudara rápida e drasticamente, transformando-se num cristão inabalável, com a determinação de entregar sua vida ao serviço do Senhor. Ao cair diante de sua glória, tornara-se de JESUS um servo para todo o sempre. Saulo vira-o ressurreto, e tinha plena certeza disso. E, sobre esta certeza, construiu todas as suas esperanças na eternidade. Foi ainda esta certeza que o levou a pregá-lo com toda a autoridade (1 Co 9.1). O EVANGELHO DE SAULO
Quando alguém se converte a CRISTO de modo tão inesperado e radical quanto Saulo, passa a sentir de imediato um forte desejo de partilhar sua experiência com todos. Diante de um testemunho como o seu não há como disfarçar as emoções. A experiência de um homem que viu a glória divina nos aquece o coração.
Saído de um ambiente tão rígido como o do farisaísmo, o choque que Saulo recebeu foi enorme. Seu modo de pensar modificara-se tão rapidamente, que ele precisava de tempo para descansar e refletir. Queria repensar o passado, observar lógica e tranqüilamente o futuro, e preparar-se para a grande obra a que DEUS o chamara. O Senhor não dissera que ele devia levar o nome de CRISTO diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel?
Saulo era um pensador profundo. Não tomava nenhuma atitude sem antes raciocinar e pesar as conseqüências. Algumas pessoas a tudo analisam; outras, não se preocupam com nada. A mente de Saulo era analítica; teve necessidade de refletir para ajustar-se aos fatos que lhe abalaram a estrutura existencial.
Ao despedir-se dos cristãos de Damasco, isolou-se na Arábia a fim de concentrar-se nesta nova etapa de sua vida.
Na Epístola aos Gálatas, Saulo revela que, depois de sua conversão, não se dirigiu aos apóstolos em Jerusalém, ou para quaisquer outros, a fim de se inteirar do Evangelho que mais tarde pregaria. O Evangelho foi-lhe revelado diretamente por DEUS. Em várias ocasiões, apóstolo o enfatizou: "Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei" (1 Co 11.23).
Na Arábia
No deserto, longe do burburinho da vida urbana, com as rochas e areias ardentes durante o dia, e as estrelas silentes à noite, despojou-se Saulo das amarras de uma vida inteira, libertando-se da Lei e da tradição judaicas. Na quietude da Arábia, andou com DEUS. Aqui, o Senhor revelou a Saulo as grandes verdades que viriam a ser as âncoras de sua pregação. Foi aqui também que reestudou as Escrituras, e meditou sobre as grandes doutrinas que iria em breve ensinar em todas as igrejas. Aprendeu o valor da comunhão com DEUS, tornando-se-lhe sensível à vontade.
Foi no deserto que Moisés veio a encontrar DEUS. Naquele mesmo Monte na Arábia onde Paulo agora estava a ter um encontro pessoal com JESUS (Monte Horebe). E foi num momento de desespero, que Elias procurou a quietude do deserto. No deserto, o maná alimentou o povo de DEUS por quarenta anos. Que lugar seria mais propício para Saulo reencontrar-se com o Senhor? Onde poderia ser alimentado diariamente pelo pão do céu senão aqui?
É impossível saber os detalhes daqueles dias de consagração. Mas de uma coisa não temos dúvida: Saulo deixou o deserto plenamente convicto e preparado para apresentar as razões de sua fé. Ele sabia que, no exato momento em que abrisse os lábios na sinagoga, os fariseus opor-se-lhe-iam amargamente, tachando-o de hipócrita, traidor. Por isso, deveria estar preparado a fim de apresentar tanto a sua defesa quanto a de JESUS com toda a sua força e poder.
Na defesa da fé, seria imprescindível que tivesse idéias muito claras acerca da salvação oferecida por CRISTO. Falar de uma experiência é simples, mas debater com os filósofos e defensores de outras religiões exige um conhecimento bem definido e pontos de vista sólidos. Além de justificar a morte de CRISTO conforme predita nas Escrituras, Saulo teria de explicar porque isso foi necessário e por que DEUS o exigiu.
Ao pensar no propósito da vida e na felicidade de que ora desfrutava, Saulo concluiu: o que aprendera na escola rabínica era de fato uma poderosa verdade. O supremo propósito do ser humano é receber o favor divino. Mas a única maneira de se obter tal favor é submeter-se à justiça de DEUS. Somente Ele pode conceder-nos a paz.
Entendendo o Dom da Justiça de DEUS
A história do homem sempre foi o relato do desvio da justiça divina e do deliberado afastamento de DEUS. Muitos são os que, embora se julguem justos e condenem os outros, jamais sentiram comunhão com DEUS. Outros, como os judeus, dependem de sua obediência à Lei para obter o favor divino. Saulo viveu desse modo até encontrar a JESUS. Mas agora, podia ver quão vazia era a vida dos judeus: por não haverem recebido a JESUS, achavam-se na mesma condição dos gentios.
Os gentios falharam em sua busca pela justiça. Não porque DEUS haja se ocultado deles, pois Ele lhes dera suficiente conhecimento para que viessem a ser conduzidos pela justiça. Eles porém não quiseram seguir a luz; tentaram extingui-la. E já que não alcançaram o favor de DEUS, fizeram-se filhos da ira. Quanto aos judeus, gabavam-se de suas muitas vantagens sobre o resto do mundo. Embora possuíssem a Lei e os Profetas, não tiraram proveito deles.
O que importa diante de DEUS não é saber o que é certo, mas praticar o que é justo. Antes, Saulo acreditava que guardar a Lei era a única maneira de se agradar a DEUS. Isso, porém, jamais lhe havia proporcionado satisfação espiritual. Por outro lado, estava ciente de que, como depositário da Lei de DEUS, tinha mais responsabilidades espirituais do que os gentios. Agora, contudo, já não podia ignorar: tanto os judeus como os gentios, haviam falhado na busca da justiça divina; encontravam-se ambos expostos à ira de DEUS.
Nem os judeus nem os gentios eram bons, por haverem ambos herdado a natureza pecaminosa de Adão. Tal natureza torna a pessoa fraca demais para ser justa. A Lei, por descrever claramente o pecado, teria sido um precioso guia para conduzir-nos à vida santa. Mas como curar uma natureza tão enferma? Aquilo que queremos fazer, não o fazemos; e aquilo que não queremos, isso o fazemos. DEUS outorgou a Lei com o propósito de mostrar-nos qual o padrão de sua justiça.
Todos esses pensamentos formavam-se na mente de Saulo à medida que o Senhor lhe transmitia gradualmente a mensagem que deveria ensinar em todas as igrejas. Seu dia mais ditoso foi aquele em que DEUS ofereceu-lhe um plano de salvação que não dependia de se guardar a Lei. Foi aí que compreendeu que jamais alcançaria a justiça divina por seu próprio esforço.
Com o passar dos dias, Saulo começou a entender mais claramente todo o quadro da salvação oferecida por DEUS. E essa revelação, obtida na Arábia, foi mencionada repetidamente por ele como "o meu evangelho". Saulo não a obteve mediante estudo ou leitura, nem a recebera de homem algum. Foi diretamente e pessoalmente por intermédio de JESUS que chegou ao conhecimento de tais fatos.
O Verdadeiro Significado da igreja
O retrato completo da Igreja apareceu mais vividamente a Saulo, durante sua estada no deserto. Ele foi o primeiro apóstolo a compreender que a Igreja não era uma seita judaica, mas uma irmandade universal que se estendia a todas as raças e nações. Tempos depois, travaria muitas batalhas com os que não estavam dispostos a admitir os gentios na Igreja.
Saulo considerava a Igreja um edifício, cujas pedras todas achavam-se bem ajustadas, tendo a CRISTO como a pedra angular. A seguir, viu-a como um corpo bem coordenado. E os membros todos desse corpo - braços, pernas, pés, dedos, olhos e ouvidos - eram os cristãos em particular que, ligados uns aos outros, constituíam-se num só organismo, tendo a CRISTO por cabeça. A figura ajudou-o a compreender a unidade da Igreja e a sua dependência em relação ao Senhor JESUS. Saulo passou a compreender que cada um de nós somos templo do ESPÍRITO SANTO, morada de DEUS na Terra. Passou a conhecere a pessoa do ESPÍRITO SANTO, fato vedado ao judeu tradicional sem CRISTO.Saulo fora chamado por CRISTO para deixar de lado as regras, tradições e todo o passado do qual tanto se gloriara. Outros já o haviam feito e tiveram de enfrentar oposição. O futuro não lhe seria fácil. Ele pensa em Estêvão e como fora este poderoso no Evangelho. Se Saulo tivesse aberto os olhos antes, quantas centenas de crentes não teriam sido poupadas! Mas ele tomaria o lugar de Estêvão, e quem sabe, faria para CRISTO uma obra ainda maior. Uma vez mais Saulo delibera ser fiel à visão celestial, e passar o resto de sua vida pregando o Evangelho aos judeus e gentios.
O Mundo, um Campo Missionário
Saulo começa a refletir sobre o mundo que o rodeava. Embora só o conhecesse parcialmente, sabia que o Império Romano estendia-se para além dos Portões da Cilícia, em direção ao ocidente. Em suas fronteiras, havia milhões de pessoas.
Que mundo de trevas era aquele!
Os ídolos eram adorados por toda a parte. As cidades encontravam-se repletas de estátuas, altares e templos. Tateando, as pessoas andavam à procura de algo real. Seus corações estavam vazios; seus olhos, voltados para os grandes blocos de granito e mármore. Se os gentios pudessem enxergar o vazio de seus templos! Se soubessem que somente CRISTO podia satisfazê- los!
Saulo compreende que será mais fácil convencer os gentios do que os judeus. Ele alegra-se por ter sido escolhido pelo Senhor para levar o Evangelho da graça salvadora de DEUS aos gentios.
Ao fazer um retrospecto de sua vida, Saulo percebe que deveria estar louco e cego ao imaginar que o seu ódio e crueldade pudessem reconduzir os convertidos ao Judaísmo. Na Arábia, DEUS forçou-o a abandonar os seus métodos e a aprender um pouco do grande ESPÍRITO que estava em Estêvão, quando este orava por seus inimigos.
Não se sabe quanto tempo Paulo permaneceu na Arábia. Sabemos, porém, que passou três anos em Damasco a sua conversão e a sua volta a Jerusalém. Paulo tivera tempo de organizar seus pensamentos, e agora estava pronto a pregar o Evangelho com todas as suas forças, pois sentia- se em débito para com os judeus e gregos.
De qualquer forma, Saulo achava-se melhor preparado para, sinceramente, lutar pela fé. Em cada sinagoga, os fariseus se lhe opunham, zombando de sua mudança de vida e chamando-o de mentiroso. Ele era obrigado a, todo o instante, a defender o Evangelho a que se habituara a chamar de "meu evangelho", não por ser diferente do de Pedro, ou de qualquer outro dos discípulos, mas porque JESUS o entregara diretamente a ele.
Mais tarde, Saulo aprenderia mais de Pedro e dos demais apóstolos o verdadeiro significado das declarações e ensinamentos do Senhor. Mas, por ora, já sabia o suficiente para começar a pregar a JESUS como o CRISTO das Escrituras, por cujo intermédio podia-se alcançar a justiça divina.
Com as palavras do Senhor no coração, avançaria e estabeleceria igrejas em todas as partes. Se em sua ignorância prendera e até matara, agora ofereceria a sua vida por CRISTO. Afinal, JESUS não vencera a morte levantando-se da sepultura? Sua mente já estava apaziguada e cultivada pelos ministérios de DEUS.
O REGRESSO A DAMASCO
Saulo foi cordialmente recebido pelos irmãos de Damasco. Todos ansiavam por sua volta, pois somente ele poderia enfrentar os judeus que se opunham ao Evangelho. Lembravam-se todos de como Saulo silenciara os rabinos antes de partir para a Arábia. Com um poder muito maior, Saulo retoma o trabalho nas sinagogas. A oposição judaica contra si já se havia transformado em ódio. A sua determinação de pregar a JESUS CRISTO, contudo, em nada diminuíra.
Durante o período em que esteve em Damasco com os nazarenos, homens e mulheres aceitavam diariamente a CRISTO ao ouvir-lhe a pregação. O conselho da sinagoga fez o máximo para tapar os ouvidos de seus congregados. Mas como a mensagem de Saulo tivesse como base as próprias Escrituras, ninguém era capaz de resistir-lhe as palavras. Até os rabinos temiam proibir o acesso de alguém com tamanho conhecimento da Torá na sinagoga.
A cada discussão com Saulo os rabinos mais se enfureciam. E já instigavam o conselho da sinagoga contra Saulo, pois mais de uma vez ele os sobrepujara. Em seu ódio, queriam fazer dele um exemplo público. E tanto fizeram, que vieram a conseguir o seu intento. Açoitaram-no diante da porta da sinagoga com 39 chibatadas. Enquanto o chicote rasgava-lhe as costas, Saulo experimentava uma estranha sensação de alegria por ser considerado digno de sofrer pela causa de CRISTO. Não fora exatamente isso o que ele havia feito com os que seguiam a esse mesmo JESUS?
O corpo de Saulo fica marcado para sempre; com orgulho exibiria essas marcas por haverem-no introduzido numa comunhão mais profunda com o CRISTO e com os que foram chamados a sofrer pela fé.
Finalmente, ele foi expulso da sinagoga. Todavia, encontrando-se secretamente com os judeus de Damasco, ganhou a muitos deles para CRISTO. Os rabinos vieram a compreender, então, que ninguém poderia deter a propagação do Cristianismo. O que fazer? Ordenaram-lhe pois que deixasse a cidade, mas Saulo não lhes acatou a ordem. Pelo contrário: agora, pregava a CRISTO com mais vigor e intensidade. O conselho reuniu-se então em segredo, e chegaram a esta conclusão: "Só há um meio de calar a Saulo - tirar-lhe a vida".
Os judeus favoráveis aos nazarenos, alertaram a Saulo sobre a decisão do conselho. Ele pois escondeu-se de modo a que não pudessem encontrá-lo. Cada sinagoga era vigiada, mas o acusado não aparecia. Seus inimigos finalmente descobriram que ele sabia da conspiração. E para que Saulo não fugisse disfarçado de mercador, ou viajante, resolveram ir ao governador e fizeram uma acusação formal contra o desafeto, dizendo que este era um perturbador da ordem pública, pois incitava os judeus a se amotinarem. O governador prontamente enviou as ordens para a prisão de Saulo. Imediatamente, os soldados passaram a vigiar os portões da cidade, observando as caravanas que saíam de Damasco. Como a cidade só possuísse quatro portões, os rabinos julgavam que, em breve, o prenderiam.
Sempre atentos a qualquer movimento, os judeus pretendiam acabar com a seita que os perturbava, livrando-se de seu novo líder. Diante disso, os amigos de Saulo perceberam que só havia um meio de salvar-lhe a vida: tirá-lo da cidade.
Os velhos muros eram tão largos em determinados lugares que casas haviam sido construídas sobre eles. Numa dessas casas, com janelas salientes, morava um nazareno. Quando a noite caiu sobre a cidade, Saulo foi levado a essa casa. Então, amarraram uma corda a um grande cesto que foram baixando pelo muro até que pousasse em segurança. Ato contínuo, o passageiro deixou rapidamente o cesto, embrenhando-se na escuridão.
A viagem de Saulo a Jerusalém
Saulo ganhara a liberdade. Não foi senão depois de muitos dias que as autoridades da sinagoga foram informadas de que ele encontrava-se em Jerusalém, perturbando o povo de lá como o fizera em Damasco. Fazia pouco mais de três anos desde que deixara Jerusalém com uma guarnição e uma ordem de prisão contra os nazarenos. Nessa época, representava o Templo, os sacerdotes e os fariseus em toda a sua oposição a CRISTO. Agora, representava a JESUS, e estava voltando justamente para dar testemunho do Salvador. Saulo encontrara a CRISTO - o Caminho, a Verdade e a Vida - e estava mui feliz.
A permanência de Saulo em Jerusalém foi curta. Depois de duas semanas, o vigor de sua mensagem irritou tanto aos judeus que estes procuraram matá-lo. Quando Saulo retornou à Cidade Santa, esta não o recebeu como antes, com amizade e esplendor. Agora, mostrava-se fria e nada acolhedora. Não teve permissão para visitar a escola de Gamaliel ou o palácio do sumo sacerdote. Era agora conhecido e odiado nas sinagogas, e a única coisa que pode fazer foi procurar os nazarenos. Saulo sabia que numerosos discípulos reuniam-se na casa de Maria, mãe de Marcos, e foi então para lá, esperando ter notícias dos demais cristãos de Jerusalém. Na casa de Maria, Barnabé, Primo de Marcos, imediatamente o reconheceu e acolheu.
Barnabé era um judeu originário da ilha de Chipre. Homem rico, dono de grandes propriedades, fora também um levita do Templo. Em virtude de sua formação, tornou-se um dos líderes da igreja em Jerusalém, um apóstolo (At 14:14).
Ouvindo a história de Saulo, Barnabé comoveu-se. De imediato, ofereceu-lhe a destra, tratando-o de irmão. Mas os outros nazarenos agiram de modo diferente; suspeitavam de alguma traição; não podiam acreditar na conversão de Saulo. E se fosse mentira? Aquele homem perseguira de tal forma a Igreja, que muitos crentes haviam sido expulsos da cidade; famílias haviam sido separadas por sua causa. Embora friamente recepcionado, Saulo aceitou a tudo graciosamente. Pelo menos, tinha a Barnabé por amigo.
O respeitado líder levou-o aos apóstolos que, ao lhe ouvirem a história, creram e receberam-no como um deles. Quando Pedro soube que Saulo havia ido a Jerusalém especialmente para vê-lo, acolheu-o em sua casa. Durante duas semanas, Paulo, que sentara aos pés de Gamaliel, agora achava-se aos pés do pescador que, nesse curto espaço de tempo, lhe ensinaria mais sobre as Palavras da Vida do que todo o tempo em que fora aluno do afamadíssimo rabino.
Cada vez que Pedro falava em JESUS, seus olhos brilhavam. Ele descreveu-lhe o CRISTO sem pecado que pregara como homem algum jamais o fizera. Os detalhes da vida do Salvador eram vivos e recentes para Pedro. Pois fazia agora seis anos que JESUS havia sido crucificado no Calvário.
Pedro discorreu-lhe sobre os grandes milagres e ensinos de JESUS. Discorreu-lhe ainda acerca do Reino de DEUS e como os homens, em toda parte, jamais haviam conseguido opor-se à sabedoria do Rei. Contou-lhe como JESUS fora rejeitado, traído e crucificado, e como o maior de todos os milagres ocorrera três dias após a crucificação - o milagre da ressurreição de CRISTO. Pedro também falou-lhe, em termos exaltados, a respeito das muitas vezes em que o Salvador aparecera aos discípulos, e especialmente da ocasião em que Ele, chamando-o à parte, conversou consigo depois da ressurreição.
"A cada dia, Pedro desenhava-lhe uma figura diferente do CRISTO que, viajando pela Galiléia, ensinava as multidões. Agora, Saulo já se sentia tão seguro do seu conhecimento acerca de JESUS, que tinha a impressão de haver convivido pessoalmente com o Salvador. Ele já tinha, pois, plenas condições de anunciar o Evangelho às mais distantes regiões.
A Perseguição de Saulo em Jerusalém
Embora haja ficado apenas duas semanas em Jerusalém, Saulo, à semelhança de Estevão, foi às sinagogas helenísticas e, ali, declarou corajosamente a todos que era agora um nazareno. Muitos lembravam-se dele como o perseguidor dessa seita. Mas agora estavam surpresos ao ouvi-lo conclamar os judeus ao arrependimento por haverem rejeitado a JESUS.
Entre outras coisas, disse-lhes que a vida eterna não é conquistada obedecendo à Lei, mas confiando no Filho de DEUS que, graciosamente, nos concede o dom da salvação. Homens de grande zelo e habilidade rabínica opunham-se-lhe e o debate ficava a cada dia mais acalorado. Em Jerusalém, os rabinos lançaram-lhe em rosto os argumentos que antes ele usara para combater os nazarenos. O próprio Saulo não dissera que JESUS era um impostor e que havia merecido a morte?
A batalha foi breve. Saulo tinha agora tantos inimigos, que um movimento surgiu para livrar a religião judaica dessa maldição. Por que não fazer com ele o que haviam feito com Estêvão? Ele merecia morrer; era um impostor, um blasfemador e um traidor! Pior ainda, fora treinado como rabino, mas passara a odiar o sistema que o nutrira.
O Chamado para Pregar aos Gentios
Certo dia, Saulo achava-se no Templo para orar, e enquanto suplicava a orientação e a sabedoria do Senhor em relação ao seu futuro e quanto à abertura de uma porta a fim de que pregasse aos judeus ali, no centro de sua adoração, teve ele uma experiência que lhe determinaria o caminho a ser tomado. Numa visão, o Senhor lhe disse: "Dá-te pressa e sai apressadamente de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho acerca de mim" (At 22.18). Saulo respondeu imediatamente:
Senhor, eles bem sabem que eu lançava na prisão e açoitava nas sinagogas os que criam em ti. E quando o sangue de Estêvão, tua testemunha, se derramava, também eu estava presente, e consentia na sua morte, e guardava as vestes dos que o matavam (At 22. 19,20)
Saulo tinha consciência de sua dívida. Por isso, em profunda agonia, confessava repetidamente o seu pecado ao Senhor por haver perseguido a Igreja. Mas JESUS falou-lhe novamente numa visão: "Vai, porque hei de enviarte aos gentios de longe" (At 22.21).
A visão desapareceu com a mesma rapidez com que surgira. Saulo volta a si. Embora sua mente estivesse tomada pelo mistério, de uma coisa tinha certeza: DEUS o guiava e tinha um grande propósito para si - não entre o seu povo, mas em terras distantes. Pensando já nos vastos países que ficavam a oeste dos Portões da Cilícia, resignou-se a deixar Jerusalém.
Sabendo dos planos para silenciar a Saulo, seus amigos, disfarçados por causa da segurança, conduziram-no a salvo para fora dos muros da cidade. A Jerusalém dos seus sonhos acabara por ser-lhe uma decepção. Muitos de seus velhos amigos agora o odiavam e teriam-no apedrejado em nome da Lei de Moisés. Até os nazarenos, seus novos amigos, mostravam-se reservados quanto à sua conversão. Barnabé e Pedro, contudo, aceitaram-no abertamente. Eles viam em Saulo de Tarso um defensor da fé, e alguém que nos anos vindouros seria usado por DEUS para defender o Evangelho.
Saulo deixou Jerusalém apenas quinze dias depois de sua chegada. De volta para casa, tomou a estrada costeira em direção a Cesaréia, capital romana da Palestina.
A Volta de Saulo a Tarso
Em Cesaréia, Saulo foi para o porto, e procurou um navio, entre os muitos que ali se achavam ancorados, que o levasse para Tarso.
Como as coisas haviam mudado desde a época em que tinha poder e achava-se armado com a autoridade do sumo sacerdote! Não passava agora de um fugitivo, expulso de cidade em cidade, perseguido e odiado, tendo de disfarçar-se, e quase sem amigos. Mas, no seu coração, havia uma leveza e alegria que não conhecera antes. Era a alegria de CRISTO. A PRIMEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA
Em seu regresso, Saulo foi recebido de braços abertos por alguns. Mas os que sabiam de sua mudança logo sentiram que a sua presença causaria confusão, pois ele, agora, acreditava no impostor JESUS. A confirmação veio de seus próprios lábios. Todos estavam desapontados e enfurecidos. Como um fariseu erudito, cuidadosamente criado e educado por hebreus, e que logo se tornaria rabino, pôde tomar semelhante atitude?
Não se sabe de que forma os pais de Saulo receberam o duro golpe. Como não estivessem preparados, sentiram-se envergonhados por seu filho: justamente ele havia oferecido fogo estranho no altar.
Quando relatou sua experiência em Damasco - seu encontro com o CRISTO ressurreto - houve admiração e desdém. Muitas vozes elevaram-se contra, mas nenhuma pôde calar-lhe os lábios. CRISTO JESUS era tão real para Saulo, que não lhe importava se o mundo fosse contrário à sua mensagem; continuaria a pregá-la fielmente. Em Tarso, Saulo achava-se longe da sombra do Templo e do Sinédrio, e sendo um hábil orador, é provável que multidões se reunissem para ouvir-lhe os sermões. Alguns podem ter-se rejubilado com cada palavra e se tornado abertamente nazarenos.
Os rabinos mais velhos, invejosos de sua capacidade, certamente o advertiram a não falar contra as regras. É possível que em Tarso, diante da porta de sua própria sinagoga, haja sido chicoteado em público, fato que, mais tarde, haveria de mencionar (2 Co 11.24). Mas nisso se gloriou. Por seu intermédio, o Evangelho abriu os olhos aos cegos e levou a esperança a muitos corações. Nada o deteria. Não lhe dissera o Senhor que se tornaria apóstolo para os gentios?
Obscuridade e Fabricação de Tendas
Apesar de sua confiança e do chamado divino, Saulo entra num período de inatividade. Durante sete ou oito anos, pouco se ouve falar dele. Mas aqueles foram anos de espera, disciplina e paciência. Saulo talvez necessitasse desse tempo para fortalecer-se e descobrir o segredo de esperar pacientemente no Senhor. Ele tinha uma missão, mas faltava-lhe a oportunidade.
No plano de DEUS, para quem o tempo não existe, aquele período haveria de amainar o rancor dos rabinos. Talvez Saulo tenha permanecido em Tarso, enfrentando a oposição e sustentando-se na loja de tendas, até que DEUS completasse mais um grande estágio na história da Igreja. Nesse interregno, Pedro e os demais apóstolos foram se conscientizando de que a Igreja não era exclusivamente para os judeus. O Senhor dera a Pedro a visão dos animais puros e impuros, preparando-o para evangelizar Cornélio, o gentio de Cesaréia, que foi admitido na Igreja sem ter de passar pelos rituais judaicos. Esse foi um passo que revolucionou toda a perspectiva do Cristianismo. É possível que nessa ocasião, Saulo haja se irritado e resmungado contra a demora em seu ministério. Mas acabaria por aprender que as delongas de DEUS têm sempre um propósito; nada sai errado em seu cronograma.
Enquanto isso, Saulo vivia na obscuridade. É provável que haja pregado não apenas em Tarso, mas também na zona rural que visitara quando menino para comprar pêlo de cabra. Sempre que viajava pelas estradas e trilhas de camelos, através das florestas e vales, procurava seus conterrâneos. Falava-lhes de JESUS, o Messias, e convidava-os a procurar nEle a justificação pela fé.
Dispersão da Igreja de Jerusalém
A Igreja de Jerusalém teve seus altos e baixos. Quando a perseguição aumentou, os nazarenos viram-se obrigados a esconder-se. Alguns até saíram da Palestina, e procuraram refúgio noutras terras. Grande número dirigiu-se a Damasco. Outros foram até Antioquia, a linda capital romana da Síria, cerca de 480 quilômetros ao norte de Jerusalém. Em Antioquia, muitos judeus estrangeiros haviam se tornado seguidores de JESUS. Eles eram mais liberais, e o medo do sumo sacerdote não os constrangia. Alguns haviam nascido na Grécia, outros na costa africana de Cirene, e outros em Chipre. À medida que o Evangelho lhes era pregado, grande número veio a crer. E o ESPÍRITO de DEUS atuava na pregação levando também muitos gentios de Antioquia a se converterem. E isso muito aborreceu aos cristãos hebreus, pois estavam certos de que JESUS CRISTO pertencia somente a eles, e a única maneira de tornar-se nazareno seria tornar- se, primeiro, um prosélito da sinagoga.
Barnabé em Antioquia
O movimento de Antioquia cresceu tanto que um sinal de alarme foi enviado à igreja-mãe. Em Jerusalém, após as deliberações, Barnabé, com sua mente aberta e esclarecida, foi enviado a fim de investigar a autenticidade das proclamadas conversões dos gentios.
Barnabé ouvira os argumentos dos judeus de mente estreita e também dos judeus oriundos de Chipre. Vira igualmente as multidões de gentios que haviam abandonado seus ídolos, e agora professavam alegremente a CRISTO. Barnabé não podia negar a realidade daquelas conversões. Essas pessoas também haviam sofrido por CRISTO; algumas, apesar de desprezadas por sua própria gente, regozijavam-se por sua salvação.
Barnabé, impressionado com o que via, levantou-se para falar. Não criticou os gentios, nem ordenou que se afastassem da Igreja até serem instruídos no Judaísmo. Pelo contrário: maravilhou-se porque a graça de DEUS estendia-se além das fronteiras de Israel. Ele os exortou a que se agarrassem a JESUS, mesmo em face das perseguições, e jamais desistissem da fé. Suas palavras alegraram os ouvintes; houve perfeita unidade na Igreja. E o Senhor acrescentava diariamente os que iam sendo salvos.
O Chamado para Antioquia
Ao perceber a obra esplêndida que se poderia realizar em Antioquia, Barnabé só pôde pensar num único homem - alguém que encontrara em Jerusalém, que fora criado numa cidade gentia, e que possuía muitas das qualificações exigidas para uma grande liderança. E mais que isso: o Senhor lhe colocara no coração o ministério para os gentios.
A imagem de Saulo de Tarso formou-se na mente de Barnabé. Tempos atrás, vira-o arder com a missão de pregar a CRISTO aos estrangeiros. Se Saulo pudesse ir a Antioquia com seu fervoroso zelo e suas palavras poderosas!
Sem mais delongas, Barnabé percorreu os 25 quilômetros até o porto de Selêucia. Encontrou aí um barco e, após um longo dia no mar, chegou ao rio Cnido, onde as velas foram amadas e os compridos remos o levaram corrente acima, até o porto de Tarso.
Será que encontraria Saulo? Quando Barnabé finalmente o encontrou, ambos se abraçaram. Eles não se viam há oito anos. Barnabé Contou a história, e Saulo prestou atenção a cada palavra. Havia de fato uma grande obra a ser feita em Antioquia, e essa era a porta que DEUS lhe estava abrindo! Saulo assentiu em partir imediatamente.
Saulo em Antioquia
Com meio milhão de habitantes, Antioquia da Síria era a terceira maior metrópole do Império Romano. Os muros da cidade eram tão fortes, que as suas ruínas ainda podem ser visitadas. Eram largos e possuíam muitas torres. O monte Silpio levantava-se no centro da cidade, e achava-se coalhado de barracas, onde aquartelavam-se os soldados romanos que guardavam a região.
Muitos reis haviam despendido grandes somas para tornar Antioquia ainda mais bela. Ali havia jardins, lagos e palácios magníficos. Herodes adornara uma de suas ruas com colunas de mármore, numa extensão de cerca de três quilômetros. Fora da cidade, encontrava-se um grande anfiteatro onde eram realizados jogos e corridas.
O povo de Antioquia adorava as estrelas e vários ídolos, em cuja honra tinham construído majestosos templos. No lado oposto da cidade, o grande escultor Licos modelara uma enorme cabeça adornada com uma coroa. Esculpira-a num grande bloco de pedra que se projetava do solo. A figura tornou-se o símbolo de Antioquia, assim como a Estátua da Liberdade viria a ser o símbolo da América. Até hoje ela pode ser vista em muitas das moedas de Antioquia.
Como em todo o império era intensa a busca pelo prazer e ociosidade. Antioquia não fugia à regra. Da porta de Dafne, uma estrada estendia-se por oito quilômetros, até o bosque de Dafne e o templo de Apolo, pontilhada pelas casas e jardins dos mais abastados. O bosque, um dos lugares mais aprazíveis de toda a região, era palco de orgias tão desenfreadas que até os próprios romanos delas se escandalizavam. Visitantes chegavam a Antioquia, vindos de todas as partes do mundo: africanos, gregos, romanos, persas, egípcios e judeus. As pessoas enchiam as ruas e, num espírito de permanente feriado, consideravam o bosque de Dafne o lugar mais interessante e animado do mundo.
Saulo foi levado à cidade. O Evangelho de JESUS CRISTO penetrara em alguns corações e o poder do ESPÍRITO SANTO operava nos judeus e gentios igualmente. Apesar de toda a sua grandeza, Antioquia continuava faminta e necessitada.
Barnabé levou o amigo a reunião da igreja. Era uma assembléia quase tão forte quanto a de Jerusalém. Saulo conheceu vários líderes da igreja, entre os quais Manaem, um parente de Herodes Antipas. Ele era um homem de alta posição em Antioquia. Havia também Simeão, o Africano, Lúcio de Cirene e tantos estrangeiros de rincões desconhecidos que Saulo foi levado a regozijar-se em seu meio.
Em Jerusalém e em todos os outros lugares, os seguidores de JESUS eram chamados de nazarenos, mas em Antioquia receberam outro nome. O povo chamou-os de "cristãos" para zombar deles. O nome outrora pronunciado em tom de desprezo nos é hoje motivo de orgulho. Como qualquer rabino em Israel, Saulo estabeleceu-se em seu ofício, pois os fabricantes de tendas sempre encontravam trabalho. Dessa forma, ganhava seu sustento, mas a principal razão de sua presença em Antioquia era ajudar a Igreja a fortalecer-se na fé.
Saulo visitava diariamente a sinagoga e os bazares, e muitas vezes ficava à beira da estrada enquanto o povo ia lotando as pistas de corridas. Ele chamava a todos ao arrependimento, exortando-os a se voltarem para DEUS. Dizia-lhes que JESUS de Nazaré - que há dez anos fora crucificado em Jerusalém e ressuscitara ao terceiro dia - era o CRISTO das Escrituras: o Filho de DEUS enviado ao mundo para salvar os homens do pecado.
Saulo chamou-os do vazio da idolatria para a plenitude da vida cristã. Os amantes do prazer, mercadores, turistas, e mulheres da sociedade - ninguém podia ingorar a eloqüência de Barnabé e a grande sabedoria de Saulo. Não Podiam deixar de admirar-lhes a coragem e o zelo, mesmo em face da multidão escarnecedora. Pelo menos não havia sumo sacerdote ali para levantar a mão contra eles. O ministério do Evangelho estava desimpedido e a Igreja crescia rapidamente; cada cristão era uma incansável testemunha de JESUS.
Durante um ano, Saulo trabalhou pelo Evangelho nessa importante cidade. Falava com empenho, e o Senhor tornava produtivos o seu ensino e pregação. Não demorou muito, e Antioquia já era um centro cristão mais forte que Jerusalém, pois a igreja, aqui, não sofria quaisquer distúrbios.
Outras Perseguições aos Cristãos
Quando o imperador Calígula foi assassinado, Herodes Agripa achava-se em Roma. Por ter ajudado o novo imperador, foi ele honrado com o governo das terras de seu avô, Herodes, o Grande. Houve júbilo em Jerusalém quando ele passou a reinar, pois sabia-se ter sido ele fariseu; a rigidez da religião judaica não lhe era estranha.
Seu primeiro ato como rei foi remover Anás, o saduceu, do cargo de sumo sacerdote, e indicar Gamaliel para presidente do Sinédrio. Tudo isso parecia promissor aos fariseus, que se alegraram ao ver surgir um defensor de sua causa. Todavia, quando Agripa desceu ao seu palácio em Cesaréia, tirou o manto farisaico, passando a viver abertamente como um romano irrefletido e profano.
Como Herodes Agripa quisesse cair na graça dos rabinos, pôs-se a perseguir os cristãos. Ordenou que se prendesse e decapitasse a Tiago, irmão de João. Tiago foi o primeiro dos apóstolos a morrer. Vendo que o Sinédrio muito se agradara disso, e estimulado com o crescimento de sua popularidade, Herodes ordenou ainda a detenção de Pedro. Lançou-o na prisão, pretendendo matá-lo depois da Páscoa. No entanto, um anjo de DEUS, abrindo as portas do cárcere, soltou o apóstolo.
Presentes para os Cristãos de Jerusalém
No auge da perseguição, um certo profeta chamado Ágabo, que morava em Jerusalém, visitou Antioquia. Levantando-se na assembléia, deu a entender, pelo ESPÍRITO do Senhor, que DEUS enviaria uma grande fome sobre o império. Isso significava que tempos difíceis abater-se-iam sobre todos. Isso realmente aconteceu no tempo de Cláudio César (At 11:28). Ato contíno, os cristãos de Antioquia levantaram ofertas e as enviaram aos santos da Judéia pelas mãos de Barnabé e Saulo.
Despedindo-se da igreja de Antioquia, partiram ambos para Jerusalém, levando Tito consigo. Nos anos seguintes, viria este a ser um excelente líder, sendo o encarregado de supervisionar as igrejas de Creta.
Quão tocante não deve ter sido quando Barnabé e Saulo depuseram as provisões diante dos irmãos de Jerusalém. Todas aquelas dádivas lhes haviam sido enviadas por homens e mulheres que jamais tinham visto. E muitos deles eram gentios!
A Grande Controvérsia
A questão dos gentios na Igreja era uma das pendências que Saulo pretendia resolver em sua estadia em Jerusalém. Contrariando seus hábitos, não foi pregar nas sinagogas. Em vez disso, reuniu-se com os líderes a fim de fazê-los entender que os gentios tinham o direito de fazer parte da Igreja sem ter de se submeter aos ritos e cerimônias da sinagoga.
Foi aí que Saulo veio a constatar: ainda tinha inimigos entre os próprios cristãos, pois alguns achavam que Tito, por ser grego, não tivera uma real experiência com o Senhor. Na igreja-mãe, havia também alguns fariseus que alegavam ser seguidores de JESUS, mas não passavam de traidores; sua presença na Igreja prejudicava o crescimento do Evangelho. Eram espiões do inimigo, e faziam o máximo para levar os nazarenos de volta ao Judaísmo.
Saulo os enfrentou, provando-lhes que a graça de DEUS se havia estendido também aos gentios. Ele animou-se ao ver que Pedro, João e outros discípulos o aprovavam. Estes concordaram com Saulo e Barnabé para que fossem pregar aos gentios, e os admitissem na Igreja sem sujeitá-los aos ritos judaicos.
Mas a questão ainda não fora resolvida; alguns continuavam a ensinar que a Lei de Moisés era necessária; outros diziam que não. Preocupados, Barnabé e Saulo deixaram a igreja de Jerusalém, e prepararam-se para a longa viagem de volta a Antioquia.
A casa de Maria, parente de Barnabé, era o ponto de encontro dos líderes cristãos. Saulo e Barnabé haviam desfrutado de sua hospitalidade durante a viagem, e sentiram-se especialmente atraídos por seu filho, Marcos. Apesar de ser ainda um rapazinho, Marcos seguia sinceramente a JESUS. Quando criança, conhecera o Senhor e, mediante a pregação de Pedro e João, passara a ser um fiel nazareno. Naturalmente Barnabé via grandes possibilidades no jovem; Saulo também impressionou-se com sua dedicação. Ambos persuadiram-no a acompanhá-los até Antioquia. Aquela seria sua primeira viagem para lugares distantes. O chamado da aventura era forte, e ele Partiu entusiasmado.
O Retorno a Antioquia
A igreja de Antioquia recebeu os seus líderes de braços abertos, alegrando-se com as notícias dos cristãos de Jerusalém. Era bom saber que seus presentes serviram para encorajá-los num período tão difícil.
Antioquia estava tornando-se rapidamente o centro das atividades da Igreja. O braço da perseguição não era tão pesado lá como o era em Jerusalém à sombra do Templo. A igreja cresceu sem o rancor dos sacerdotes e principais da sinagoga, até que outras comunidades cristãs menores começaram a aceitar-lhe a liderança.
Muitos dos cristãos de Antioquia procediam de lares gentios. Eles lembravam-se naturalmente de seus parentes dispersos por todo o império, e achavam que o Evangelho também lhes deveria ser pregado. Uma vez que Saulo fora chamado pelo Senhor para ministrar aos gentios, esses cristãos concluíram que se deveria formar um grupo missionário, e enviá-lo aos países vizinhos.
A Primeira Viagem Missionária
Depois de várias reuniões de jejum e muita oração, os líderes da igreja entenderam que era a vontade de DEUS que enviassem Barnabé e Saulo nessa missão, Isso foi decidido e comunicado a eles pelo ESPÍRITO SANTO. Quem seria melhor qualificado para ela? Eram homens experimentados, e ambos defendiam a idéia de que os gentios deviam ser participantes da promessa juntamente com os judeus. Haviam ambos viajado muito e pareciam ser cidadãos do mundo. Estavam capacitados a representar a CRISTO; para isto haviam sido chamados. Os líderes, levantando-se numa reunião de jejum e oração da igreja, impuseram as mãos sobre Barnabé e Saulo, abençoando-os e encarregando-os solenemente da tarefa missionária.
Com as mochilas cheias de provisões e presentes oferecidos pelos membros da igreja, Barnabé e Saulo partiram numa jornada que os manteria longe de casa por mais de dois anos. Deixaram atrás de si uma igreja que jamais haveria de se esquecer deles em suas orações.
Os missionários levaram consigo o jovem Marcos. Quando a primavera chegou aos montes da Síria, os três partiram; muitos irmãos estavam lá pra se despedirem deles. Os missionários caminharam pela longa estrada pavimentada que os levaria ao porto de Selêucia, onde havia grande atividade. Navios mercantes chegavam e partiam para outros portos em todo o Mediterrâneo. Muitos barcos de pequeno porte, levando frutas de Chipre, distante dali cerca de 113 quilômetros, navegavam regularmente pela estreita faixa de água azulada, num percurso de seis horas, com vento favorável. Como Barnabé era de Chipre, eles certamente seriam bem acolhidos na cidade. Além disso, havia na ilha alguns cristãos que tinham sido expulsos de Jerusalém quando da perseguição geral.
A Ilha de Chipre
O pequeno navio bordejou a ilha, e navegando junto à costa escura e rochosa, chegou à principal cidade, Salamina, na foz do rio. A atividade no porto era enorme. Dois grandes diques de pedra estendiam-se como braços protetores para o belíssimo azul das águas, convidando os navios de todo o globo a ancorarem ali. As ruas da cidade comparavam-se às de Tarso. Em toda parte avistava-se santuários de ídolos e templos erigidos aos deuses gregos. O prédio mais popular da cidade era o templo de Afrodite, a deusa que representava a beleza feminina, e cuja adoração era acompanhada por ritos vergonhosos e pecaminosos.
Os sacerdotes desse templo costumavam contar como, há muito tempo, a bela Afrodite surgira dentre a espuma das ondas e, vendo as areias macias da praia, fizera de Chipre sua residência permanente. Essa, segundo eles, era a razão de as mulheres de Chipre serem tão altas e belas. O aniversário de Afrodite era celebrado com um festival.
A vida na ilha era fácil e despreocupada; o povo tinha como principal objetivo a busca do prazer. Com certeza, Barnabé conhecia muito bem a essa gente. Depois de visitar os amigos e parentes, passou a freqüentar as sinagogas. Enquanto isso, Saulo anunciva o Evangelho, afirmando que CRISTO cumprira as promessas feitas a Israel, e viera para ser o seu Messias.
Como houvesse várias sinagogas em Salamina, Barnabé e Saulo narraram a história de JESUS de modo que todo judeu pudesse ouvi-la. Sem dúvida, Saulo contou que fora educado para ser rabino e fariseu, e que passara anos perseguindo os cristãos antes de encontrar o Senhor ressurreto na estrada de Damasco - o encontro que mudara-lhe a vida. Não se sabe se alguém foi levado a CRISTO em Salamina. Depois de haverem passado algum tempo ali, os três obreiros viajaram a pé de uma ponta à outra da ilha.
Eles pregavam a CRISTO sempre que tinham oportunidade. É possível que o fizessem nas minas de cobre, nas salinas, nos pomares, nas fábricas, ou onde quer que houvesse grupos de pessoas. É certo que visitaram as sinagogas nas aldeias, e finalmente, depois de várias semanas, entraram no vale que descia para o mar ocidental e a cidade de Pafos. Aqui, na praia beijada pelo sol, achava-se o lugar onde, supostamente, Afrodite saíra das ondas. Seu templo, com grandes pilares de mármore, marcava o local onde chegara à praia, e que era considerado sagrado. Pafos era a capital de Chipre.
Como na maioria das cidades, havia ali um bairro judeu. E Saulo e Barnabé, acompanhados por Marcos, conseguiram descobri-lo. De acordo com o seu costume, Saulo pregou CRISTO à sua gente. Alguns creram; outros sentiram-se insultados.
Sérgio Paulo, o governador enviado por Roma à ilha, era um homem culto e que se interessava pela ciência da sua época. Uma ciência, porém, estranhamente misturada à feitiçaria e à astrologia. Sérgio Paulo, embora estivesse acostumado aos deuses e deusas de Roma, continuava procurando algo que lhe satisfizesse a alma.
Quando o governador soube da chegada de Saulo e Barnabé, mandou chamá-los; queria ouvir a nova doutrina. Essa era a grande oportunidade de Saulo, e ele a encarou como se fora uma porta aberta para o Evangelho. Com humildade, mas cheio de entusiasmo, foi encontrar-se com o ilustre romano e sua mulher. Outros religiosos e supersticiosos também se achavam ali, querendo conhecer a nova crença.
Como Saulo também era romano, começou a falar desenvolta e habilmente. Expôs o amor romano à verdade e à justiça, e sua aceitação e tolerância com todas as religiões. A seguir contou, um a um, os grandes fatos do Evangelho - a vinda de JESUS CRISTO, a rejeição de seu próprio povo, sua crucificação e, finalmente, sua ressurreição. Recapitulou sua experiência pessoal como opositor do Cristianismo, e como certo dia o Senhor o cativara e transformara-lhe completamente a vida.
Sérgio Paulo ficou impressionado. As palavras de Saulo agradaram-lhe os ouvidos. Seu coração inclinou-se para DEUS e a luta por sua alma já estava quase ganha. Mas Barjesus, um mágico e feiticeiro da corte, também chamado de Elimas, negava vigorosamente as palavras de Saulo. Barjesus era judeu e estava vivendo em oposição à Lei de Moisés, pois esta condenava a feitiçaria. Todavia, diante da pregação de Saulo, seu judaísmo veio à tona; seus argumentos tornaram-se fortes.
Paulo discutiu com ele, e vendo que se vendera a Satanás e estava agora obstruindo a palavra de DEUS, clamou contra ele:
Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos caminhos do Senhor? Eis aí, pois, agora, contra ti a mão do Senhor, e ficarás cego, sem ver o sol por algum tempo. No mesmo instante a escuridão e as trevas caíram sobre ele, e, andando à roda, buscava a quem o guiasse pela mão (At 13.8-12).
Enquanto Sérgio Paulo observava, os olhos de Elimas embaçaram e a escuridão caiu sobre si. O homem estendeu desesperadamente a mão, tateando para encontrar o caminho, e teve de ser guiado através do aposento.
O governador romano vira a poderosa mão de DEUS sobre uma alma rebelde, e deixou- se convencer. Levantou-se do divã; não pôde mais resistir ao Evangelho. Creu e foi contado entre os cristãos. Esse foi um grande avanço. DEUS honrara o ministério de Saulo, dando-lhe o homem mais importante da ilha.
Paulo, um NOVO Homem
Movimentando-se entre os gentios, Saulo passou a ser chamado de Paulo, pois essa era a forma romana de seu nome. Enquanto estava na sinagoga, e mesmo depois de tornar-se cristão, era conhecido pelos amigos como Saulo. Mas esse nome era israelita, e de certa forma representava tudo o que ele fora como judeu e fariseu. O nome Paulo indicava o novo homem e seu novo trabalho. Enquanto permaneceu entre os gentios das províncias, foi se tornando cada vez mais conhecido como Paulo. Com o correr dos anos, até o fim de sua vida, usou o nome romano para assinar todas as suas cartas.
A Caminho de Perge
Em Chipre, as circunstâncias eram favoráveis a Paulo, Barnabé e Marcos. Sem que o percebessem, transcorreram-se vários meses. Mas eles não haviam planejado passar o inverno lá. O verão já se fora e a colheita terminara, quando os três despediram-se dos amigos, e começaram a viagem de dois dias para a província da Panfília, no continente. Esta ficava somente a 160 quilômetros a oeste da casa de Paulo, em Tarso, sendo porém uma porta de saída para as cidades gentias da Ásia Menor.
O pequeno barco foi navegando pela costa rochosa da Panfília, procurando encontrar a foz do rio Cestro. A 13 quilômetros rio acima, chegaram à cidade de Perge. As velas foram baixadas e os compridos remos levaram o barco finalmente ao molhe. Ali, na encosta do morro, ficavam o anfiteatro, a pista de corridas e o templo de Diana.
As casas eram semelhantes às de Tarso - em estilo grego e de grande beleza. Naquela época do ano, muitos habitantes de Perge iam aos passos, nas montanhas, que levavam à cidade de Antioquia, no interior da Galácia. Marcos, porém, desanimou. As montanhas da Panfília eram perigosas e as passagens infestadas de assaltantes. Plínio fizera um discurso grandioso contra a pirataria em mar aberto, diante do tribunal de Roma, e o resultado foi uma campanha para expulsar dos mares os navios piratas. Os meliantes retiraram-se, então, para as montanhas, tornando-se ladrões de estrada, molestando freqüentemente os viajores. É possível que, pensando nessas coisas e nos animais selvagens à espera nos desfiladeiros, Marcos haja sentido medo. E, pensando nas possíveis conseqüências, decidiu voltar para casa.
Após a partida de Marcos, Paulo e Barnabé continuaram viagem pelas trilhas montanhosas, seguindo o curso do rio. Algumas vezes as rochas eram íngremes e o caminho estreito; outras, viajavam por vastas planícies onde o sol tostava as pastagens. Levaram uma semana para chegar às terras altas e frias, onde era mais saudável viver. Ali, no sopé das Montanhas Sultão, a cidade de Antioquia florescia, com fileiras e fileiras de construções.
O Ministério em Antioquia da Pisídia
Antioquia da Pisídia era a porta de saída para o interior da Ásia Menor. Fora antes uma cidade grega, mas agora havia nela uma fortaleza romana. Os prédios de mármore branco brilhavam ao sol, emprestando-lhe uma beleza singular. Os judeus sempre eram bem acolhidos pelos moradores de Antioquia, e Paulo e Barnabé encontraram um bom local para estabelecer-se. Fabricante de tendas, Paulo gostava de ganhar seu sustento, aonde fosse, a fim de não ser pesado à Igreja. Além disso, seus contatos com mercadores e suas viagens às lojas para vender as mercadorias, davam-lhe muitas oportunidades de falar de JESUS.
Aos sábados, Paulo e Barnabé iam juntos à sinagoga, e eram convidados pelos líderes a tomar parte na adoração e falar aos presente. Havia sempre orações seguidas por leituras da Lei e dos Profetas. A reunião terminava com um discurso ou um debate entre os principais membros da sinagoga sobre alguma passagem das Escrituras. Quando os líderes perceberam que Paulo e Barnabé eram homens cultos, e pareciam ser portadores de uma mensagem, disseram-lhes: "Varões irmãos, se tendes alguma palavra de consolação para o povo, falai" (At 13-15).
Um Importante Sermão de Paulo
Havia um bom número de pessoas presentes, tanto judeus como prosélitos (gentios convertidos ao Judaísmo). Barnabé reconheceu que a experiência de Paulo qualificava-o como mensageiro. Olhou para ele com um sorriso que dizia: "Essa é a sua oportunidade, aproveite-a!"
Paulo estava pronto. Levantando-se, pediu silêncio com um gesto. Como de costume, os judeus estavam sentados no chão, de pernas cruzadas, com os xales de oração sobre os ombros. Os olhares voltaram-se para ele quando começou a falar lentamente:
Varões israelitas, e os que temeis a DEUS, ouvi: O DEUS desse povo de Israel escolheu a nossos pais, e exaltou o povo sendo eles estrangeiros na terra do Egito, e com braço poderoso o tirou dela; e suportou os seus costumes no deserto por espaço de quase quarenta anos; e destruindo a sete nações na terra de Canaã, deu-lhes por sorte a terra deles. E, depois disso, por quase quatrocentos e cinqüenta anos, lhes deu juizes, até o profeta Samuel.
E depois pediram um rei, e DEUS lhes deu, por quarenta anos, a Saul, filho de Quis, varão da tribo de Benjamim.
E, quando esse foi retirado, lhes levantou como rei a Davi, ao qual também deu testemunho e disse: Achei a Davi, filho de Jessé, varão conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade (At 13.16-22).
Esse retrospecto da história era familiar aos judeus, que o acompanharam com grande interesse e aprovação. Mas o objetivo de Paulo ao recapitular tais fatos era apresentar-lhes JESUS. Então prosseguiu:
Da descendência desse, conforme a promessa, levantou DEUS a JESUS para Salvador de Israel; Tendo primeiramente João, antes da vinda dele, pregado a todo o povo de Israel, o batismo do arrependimento. Mas João, quando completava carreira, disse: Quem pensais vós que eu sou? Eu não sou o CRISTO; mas eis que após mim vem aquele a quem não sou digno de desatar as sandálias dos pés.
Varões irmãos, filhos da geração de Abraão e os que dentre vós temem a DEUS, a vós vos é enviada a palavra dessa salvação. Por não terem conhecido a este, os que habitavam em Jerusalém, e os seus príncipes, condenaram-no, cumprindo assim as vozes dos profetas que se lêem todos os sábados. E embora não achassem alguma causa de morte, pediram a Pilatos que ele fosse morto. E havendo eles cumprido todas as coisas que deles estavam escritas, tirando-o do madeiro, puseram-no na sepultura (At 13 23-29).
Paulo preparava-se para a parte principal do sermão. As palavras saíam-lhe mais rápidas. Sua voz elevou-se; ele foi tomado de fervor espiritual ao exclamar triunfante:
Mas DEUS o ressuscitou dos mortos; E ele por muitos dias, foi visto pelos que subiram com ele da Galiléia a Jerusalém, e são suas testemunhas para com o povo. E nós vos anunciamos que a promessa que foi feita aos pais, DEUS a cumpriu a nós, seus filhos, ressuscitando a JESUS, como também está escrito no salmo segundo: Meu filho és tu, hoje eu te gerei.
Seja-vos, pois, notório, varões irmãos, que por este se vos anuncia remissão dos pecados. E de tudo o que, pela lei de Moisés, não pudestes ser justificados, por ele é justificado, todo aquele que crê (At 1330-33,38-39).
O sermão de Paulo terminara. Os ouvintes estavam atônitos. Ele era um pregador corajoso e todos sentiram-se dominados pelo seu zelo e intrepidez.
Alguns dentre os principais da congregação começaram a murmurar, mas grande número de judeus e gentios saíram naquele dia indagando-se: "Será que isso é verdade? Será mesmo verdade?"
Quando Paulo e Barnabé voltaram para casa, pequenos grupos seguiam-nos pela rua estreita pedindo para ouvir mais sobre o novo ensino. Ansiosos, queriam saber tudo a respeito de JESUS. Naquela noite, quando o sol se pôs e as velas foram acesas em Antioquia, muitos judeus e gentios tinham o coração aberto ao Salvador e os olhos voltados ao céu.
No dia seguinte, o discurso de Paulo era o tema das conversas nos lares judeus. Os gentios também souberam do acontecido, e suplicaram-lhe que repetisse o sermão no sábado seguinte.
No dia marcado, pessoas vieram de todas as direções. A sinagoga sombria, com uma única lâmpada acesa, estava repleta como nunca. Muita gente teve de ficar do lado de fora. Mais tarde, escrevendo a respeito, Lucas conta que quase a cidade inteira se reunira para ouvir a Palavra de DEUS. Paulo repetiu o sermão e o povo escutou. Mas quando declarou que JESUS era o CRISTO, vozes elevaram-se contra ele. Alguns judeus, movidos pela inveja, contradisseram-no publicamente. Era costume interromper o orador na sinagoga. Paulo acostumara-se a isso, e não esperava outra coisa.
De repente, os líderes judeus puseram-se a gritar. A violência cresceu. Já agora atacavam selvagemente a Paulo, pontuando suas palavras com maldições e blasfêmias. Os dois discípulos elevaram as vozes acima do tumulto, chamando os ouvintes à razão. Porém os judeus continuaram gritando cada vez mais alto, na tentativa de calar Paulo.
Dirigindo-se aos líderes, o apóstolo declarou: "Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a palavra de DEUS; mas, visto que a rejeitais e vos não julgais indignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios" (At 13.46).
O Ministério de Paulo É Abençoado
A multidão bloqueava a saída e enchia a rua, ansiosa por ouvir falar da vida eterna. Paulo e Barnabé deixaram a sinagoga em meio ao murmúrio e maldições dos judeus, mas na porta foram saudados por um brado de alegria. Os gentios, cansados de sua religião vazia, tinham ouvido falar pela primeira vez de JESUS, da ressurreição e da vida eterna. Aquele foi um dia cheio para os apóstolos. Quando a noite chegou, estavam cansados, mas alegres por tantas almas salvas naquela cidade gentia.
Durante toda a semana, a oficina de tendas e a casa onde estavam foram invadidas por pessoas de todas as classes sociais. Queriam saber mais de CRISTO, que lhes havia preenchido o vazio dos corações e satisfizera-lhes a maior necessidade da vida: a salvação. A casa dos apóstolos passou a sediar uma nova igreja. Quando o inverno chegou, o testemunho da graça salvadora de JESUS era dado diariamente nos bazares. E, indo às cidades do interior a fim de cuidar de seus negócios, os crentes aproveitavam para contar as boas novas de como nossos pecados eram perdoados em CRISTO. Antes de completar um ano, a Palavra de DEUS estava sendo pregada em toda a região, e muitos grupos de cristãos reuniam-se no Dia do Senhor para adorar a DEUS e receber as bênçãos da vida eterna.
Com a chegada da primavera, as estradas nas passagens das montanhas foram abertas e o comércio ganhou vida nova. Os bazares enchiam-se de estrangeiros vindos de lugares distantes. Os pregadores não descansavam em seus esforços por ganhar homens e mulheres para CRISTO. Os judeus continuavam aborrecidos com o sermão de Paulo, e opunham-se vigorosamente à formação de igrejas cristãs em sua cidade. Não conseguiríam descansar enquanto não dessem fim àquele movimento.
A adoração no templo de Baco e nos templos do deus-lua era exclusivamente para satisfazer aos homens. As mulheres sofriam quando seus maridos entregavam-se às orgias e bebedeiras em honra a Baco. A adoração paga, portanto, nunca foi popular entre as mulheres. Em vista disso, muitas delas começaram a freqüentar a sinagoga, tornando-se prosélitas da religião judaica, pois encontravam ali algo infinitamente melhor que tudo quanto haviam conhecido. Os líderes das sinagogas instigaram essas mulheres - principalmente as casadas com cidadãos importantes de Antioquia - a convencer os maridos de que deviam proibir a pregação dos discípulos e expulsá-los da região.
Paulo e Barnabé Forçados a DeIxar Antioquia
Paulo e Barnabé foram intimados a comparecer perante os magistrados, e receberam ordens para deixar a cidade. As autoridades cuidaram para que as ordens fossem obedecidas. Enviaram um guarda para acompanhar os apóstolos até bem longe dos portões de Antioquia, advertindo-os a que saíssem da província e jamais voltassem. Os líderes dos judeus acompanharam os guardas, contentes por se verem livres daqueles mestres cristãos. Seguindo a recomendação do Senhor, os viajantes tiraram os sapatos e sacudiram destes o pó de Antioquia da Pisídia, como sinal de desprezo pela cidade que os expulsara.
Não obstante, antes de partirem, haviam reunido os líderes da nova igreja e insistido a que permanecessem fiéis, mesmo se perseguidos. Quando as torres de Antioquia desapareceram na distância, um sentimento de alegria inundou o coração dos deportados. A viagem para Antioquia da Pisídia não fora em vão. DEUS abençoara sua obra ali, e centenas de crentes estavam testemunhando de CRISTO na cidade, nas aldeias e povoados de toda a região. O ESPÍRITO de DEUS certamente os guiara, pois a semente havia sido plantada.
A estrada para o leste era sinuosa e íngreme, mas bem pavimentada; era a principal rota comercial, ligando a Síria às cidades do mar Egeu.
Dias Produtivos em Icônio
Icônio era a capital da Licaônia e distava de Antioquia mais de 96 quilômetros. Paulo e Barnabé decidiram ir para lá. Era uma velha cidade murada que prosperara com a fertilidade das planícies que a cercavam. A jornada era tensa, pois passava por um território bravio e cheio de bandoleiros.
Os muros de Icônio podiam ser vistos a quilômetros de distância, enquanto a caravana descia as montanhas. A região era rica, e a primavera mostrava-se em toda a sua plenitude nos vinhedos e jardins.
Os principais ídolos de Icônio eram Adônis e Cibele. Adônis era um belo jovem, amado pela mitológica Afrodite, e morto por um javali durante uma caçada. Cibele, filha de Arano, era representada sobre um trono ladeado por enormes leões. Segundo a lenda, ela fizera Adônis voltar à vida.
Planejando passar algum tempo em Icônio, Paulo e Barnabé procuraram um alojamento e voltaram a praticar o seu comércio. Milhares de judeus moravam em Icônio, por isso foi fácil encontrar abrigo na cidade. O propósito deles era fazer o mesmo que haviam feito em Antioquia. Quando chegou o sábado, foram à sinagoga e aguardaram uma oportunidade para falar. O sermão assemelhava-se ao de Antioquia, pois esse era o grande peso do coração de Paulo. Havia algo divinamente sedutor na maneira como falavam, e a sua mensagem era tão atraente que muitos judeus e gregos creram em JESUS.
Início da Igreja em Icônio
A princípio, os líderes da sinagoga não se opuseram a Paulo e a Barnabé. pois interessava-lhes aquele novo ponto de vista. Porém, ao verem quantos da sua congregação creram e quantos gentios estavam aceitando a CRISTO, aborreceram-se com a pregação. Proibiram então os discípulos de freqüentar a sinagoga, mas não puderam impedir que falassem nas ruas. O Senhor abençoou tanto o trabalho em Icônio que grande número de pessoas veio a crer. Estava iniciada ali uma forte igreja.
Quanto maior a oposição, tanto mais ousadamente os discípulos falavam. A opinião do povo dividiu-se: alguns eram a favor do novo ensinamento; outros não queriam saber dele. Os inimigos - judeus e gentios - opuseram-se abertamente, e várias vezes os ameaçaram nas ruas. Mas a jovem igreja firmara-se na fé e Paulo sabia que, quando partissem, os irmãos não voltariam aos ídolos. Adônis perdera. Quem reinava agora nos corações era CRISTO! Ao serem informados por alguns crentes de que os inimigos planejavam apedrejá-los até a morte, os missionários despediram-se dos cristãos e deixaram rapidamente a cidade. Seguiram pela estrada pavimentada até Listra e Derbe, cidades da grande planície, a cerca de 29 quilômetros ao sul.
O Milagre em Listra
Mal haviam chegado a Listra e arranjado acomodações, surgiram oportunidades para pregar em cada esquina. Na praça do mercado e em qualquer lugar onde as pessoas se aglomerassem, Barnabé e Paulo falavam de JESUS, o Filho de DEUS, e da vida cheia do ESPÍRITO. O contraste entre a nova vida e as orgias do templo pagão, a que o povo se acostumara, era de fato notável.
Um grande templo dedicado a Júpiter ocupava o centro de Listra. O poeta Ovídio conta que há muito tempo, Júpiter e Mercúrio desceram à terra disfarçados de viajantes. Procuraram alojamento e alimentação de porta em porta, mas foram repetidamente escorraçados. Chegaram finalmente a uma casa humilde, onde vivia um casal idoso. Filemom e sua mulher, Baucis, acolheram os dois e os alimentaram com seus parcos recursos. Quando a refeição terminou, os estranhos revelaram que eram deuses e concederam ao casal vida longa como guardiães de um templo sagrado.
Os moradores de Listra ouviram atentamente os apóstolos, enquanto estes pregavam a CRISTO, e muitos deixaram a idolatria, tornando-se cristãos.
Numa tarde, quando Paulo discorria sobre o DEUS Único e Verdadeiro, viu entre a multidão um homem paralítico de nascença. Alguma coisa no sermão comoveu o homem, e Paulo sentiu que o ESPÍRITO de DEUS estava agindo poderosamente. De repente, Paulo virou-se para o aleijado e ordenou em alta voz: "Levanta-te direito sobre os teus pés!" (At 14.10).
Todos os olhos fitaram o infeliz. No mesmo instante, este se pôs em pé e começou a andar e a saltar. Ninguém podia acreditar! Seria um sonho?!
Os Apóstolos são Recebidos como Deuses
Uma exclamação de surpresa seguida de um grande grito fez-se ouvir na multidão. O povo presenciara um milagre. Embora fosse o grego a língua oficial, na intimidade do lar, todos falavam o licaônico. Vendo o paralítico andar, maravilharam-se de tal forma que abandonaram por um instante o grego e gritaram no dialeto nativo: "Fizeram-se os deuses semelhantes aos homens, e desceram até nós" (At 14.11).
A notícia espalhou-se. Milhares de pessoas vieram ver os discípulos. A lenda de Júpiter e Mercúrio estava se repetindo diante de seus olhos, confirmando a sua religião. Enquanto os observava, o povo chamou Barnabé de Júpiter, por causa da sua altura e porte atlético. A Paulo chamaram de Mercúrio, por ser o portador da palavra.
Quando os sacerdotes do templo de Júpiter, no bosque junto à cidade, ouviram falar disso, trouxeram touros e grinaldas até o portão da casa onde os discípulos estavam hospedados. Homens e mulheres corriam agitados pelas ruas, contando a todos que os deuses tinham descido até eles. Uma grande multidão, guiada pelos sacerdotes, adentrou os portões para oferecer sacrifícios aos deuses recém-chegados. Os gongos soavam; os tambores batiam. Grinaldas de flores foram colocadas nos chifres dos touros. Aquele era um grande dia para Listra!
Quando ficou evidente a Paulo e Barnabé que o povo queria adorá-los, ambos perturbaram-se imensamente. Só de pensar, sentiam-se repugnados! De acordo com o costume oriental, eles rasgaram as vestes em sinal de grande angústia e correram gritando em meio a multidão.
Os gongos e címbalos silenciaram e a multidão se calou. Os "deuses" estavam falando!
Varões, por que fazeis essas coisas? Nós também somos homens como vós, sujeitos as mesmas paixões, e vos anunciamos que vos convertais dessas vaidades ao DEUS vivo, que fez o céu e a terra, o mar e tudo o quanto há neles; o qual, nos tempos passados, deixou andar todos os povos em seus próprios caminhos; contudo, não se deixou a si mesmo sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dan-do-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria o vosso coração" (At 14.15-17).
Não foi sem razão que chamaram Paulo de Mercúrio - o mensageiro dos deuses. A oratória que o povo ouvia de seus lábios era refinada e bela, muito superior a qualquer outra que já tivessem ouvido.
As multidões debandaram com resmungos duvidosos, e os sacerdotes voltaram com os touros aos estábulos do templo. O entusiasmo diminuíra, mas o povo comentou o episódio durante vários dias. Aos poucos, homens e mulheres foram conhecendo a JESUS CRISTO, e convencendo-se da verdade do Evangelho. A igreja em Listra começava a crescer.
Timóteo e Seu Lar
Um dos novos crentes era o jovem Timóteo. Sua mãe, Lóide, e sua avó, Eunice, viviam em Listra e abriram sua casa aos discípulos. Paulo e Barnabé passaram bastante tempo com a família e, enquanto o jovem Timóteo os ouvia contar repetidamente a história de CRISTO, descobriu que também queria ser pregador do Evangelho. Seu coração foi aquecido pela forma como o ESPÍRITO de DEUS usava os discípulos.
Porém, era inevitável que judeus de Antioquia e Icônio visitassem amigos em Listra, ou fossem ali vender suas mercadorias. A história de Paulo e Barnabé continuava viva em suas mentes; a presença de igrejas cristãs cheias de gentios em suas cidades ainda machucava os rabinos. Estes achavam-se furiosos porque ambos continuavam pregando o que, para eles, era uma religião falsa. Decidiram deliberadamente acabar com aquilo. Não foi difícil instigar os judeus de Listra contra os discípulos. E, com mentiras e informações manipuladas, fizeram brotar tamanho ódio no coração dos conterrâneos que logo decidiram agir por conta própria e matar os discípulos, especialmente o seu porta-voz.
O Apedrejamento de Paulo
Certo dia, estando Paulo falando a seus amigos cristãos, um grupo de judeus de Icônio e Antioquia aproximou-se deles, e opôs-se abertamente às verdades pregadas. Agitavam-se enraivecidos, enquanto Paulo respondia-lhes usando a mesma Escritura. Até que, aos berros, aqueles homens correram em meio aos ouvintes procurando dispersá-los. Punhos ergueram-se acompanhando o grito: "Apedrejem-no! Ele merece morrer. Qualquer homem que pregue contra a Lei de Moisés é um traidor. Apedrejem-no!"
As pedras zumbiam no ar, vindas de todas as direções. Paulo continuou firme onde estava, suplicando-lhes em nome do Senhor JESUS. A essa altura, já se achava ferido e sangrando, mas ainda podia ver a crescente ira do povo. Finalmente, um homem atirou uma pedra mais pesada, atingindo a testa do apóstolo. Sangrando e inconsciente, Paulo caiu. A multidão rodeou-lhe o corpo e pôs-se a chutá-lo. Agarrando-o pelas roupas, arrastaram-no para fora da cidade, e abandonaram-no em uma vala ao lado da estrada. "Esse é o fim de Paulo!", pensaram satisfeitos, e voltaram às suas casas.
O pequeno grupo de amigos ficara indefeso ante a multidão. Acompanharam a turba que arrastava o corpo de Paulo e temeram o pior. A voz de um grande apóstolo fora silenciada. Já tinham visto muita gente morrer assim, mas... quem sabe ainda estivesse vivo!
Fora da cidade, é possível que Barnabé, com seus braços fortes, tenha recolhido e levado o corpo de Paulo à sombra fresca de uma árvore. Alguém deve ter ido buscar água a fim de lavar o sangue e a sujeira. A ansiedade dos amigos foi aliviada quando viram o apóstolo abrir os olhos, recuperando a consciência. Alguém glorificou: "Louvado seja DEUS, que poupou o seu servo, livrando-o dos nossos inimigos".
Os corações dos crentes foram reanimados. Ajudaram Paulo a levantar-se e o levaram até a casa de Timóteo. As fiéis Eunice e Lóide trataram-lhe os ferimentos e ajudaram-no a se recuperar.
Ao amanhecer, antes que os mercadores enchessem as ruas com suas mercadorias e gritos, dois vultos saíram pelo portão sul da cidade. O mais baixo mancava e apoiava-se no braço de seu alto companheiro. Eles seguiram pela estrada pavimentada e depois por um caminho secundário, que passava por uma região montanhosa. Esse era o caminho para as Portas da Cilícia, que Paulo chamava de lar. A cidade aonde estavam indo, porém, era Derbe, distante cerca de quarenta quilômetros ao sul. Era um posto alfandegário, onde Roma recolhia os impostos sobre todas as mercadorias embarcadas.
O Inverno em Derbe
Não havia sinagoga em Derbe, mas ali viviam muitos conterrâneos de Paulo. Como ele falasse com a autoridade de um rabino, os judeus escutavam-no de boa vontade. O inverno chegara e as estradas logo estariam cobertas de neve. Nas montanhas, as passagens ficariam bloqueadas durante meses, e ninguém viajaria até a volta da primavera, quando a neve se derretia.
Paulo e Barnabé permaneceram tranqüilamente em Derbe, durante todo o inverno. Paulo fez e vendeu tendas, enquanto ensinava a nova fé em sua casa ou nos lares que se lhe ofereciam. Embora nada espetacular acontecesse ali, uma forte igreja foi fundada, pois muitos não puderam resistir à lógica do ensino, convertendo-se dos ídolos a CRISTO. Durante os longos meses de inverno, os dois discípulos estiveram completamente ocupados, chamando homens e mulheres a JESUS, e o Senhor concedeu-lhes grande sucesso.
A neve derreteu-se nos vales e a brisa da primavera encheu o ar. A igreja de Derbe já estava forte e capaz de continuar sem a ajuda de Paulo. Fazia mais de dois anos que a igreja da Síria enviara os dois missionários; sementes haviam sido plantadas e cresceriam para a vida eterna. O caminho fora difícil, mas o Senhor estivera com eles e honrara-lhes o trabalho.
A Volta para Casa
A viagem de regresso teria sido fácil, se viessem pelas montanhas e pelas portas da Cilícia até Tarso, passando depois por terreno muito familiar até chegar à Síria. Paulo, porém, tinha bem vivido na mente o furor de Listra, Icônio e Antioquia. Sem dúvida seria mais fácil voltar pelo caminho de Tarso; mas, e as igrejas recém-fundadas? Como estariam suportando o chicote da perseguição? Teriam crescido, ou algum membro enfraquecera, voltando a Adônis? Estava claro que ele deveria visitar todas as igrejas e confirmar os cristãos na fé. Eram seus amigos, e o apóstolo jamais cessara de orar por eles, mencionando-os pelo nome. E se essa visita resultasse realmente em perseguição? O Senhor não os protegera sempre? Paulo e Barnabé resolveram, então, voltar pelo mesmo caminho.
Em Listra, as cenas eram familiares; já sabiam onde encontrar os cristãos. Foram até à casa de Timóteo e ficaram contentes por saber que o povo de DEUS continuava firme, apesar da perseguição. Paulo e Barnabé sentiam-se confiantes; os cristãos de Listra estavam suficientemente fortes para se organizarem. Portanto, em cada igreja, ordenaram presbíteros para supervisionar espiritualmente a família cristã. A seguir, orando por todos, ambos partiram para Icônio.
Depois de alguns meses, a igreja de Icônio fizera um verdadeiro progresso e achava-se também pronta para ser organizada. Os discípulos fizeram isso e continuaram o caminho de volta para casa.
Ao chegarem aos portões de Antioquia, de onde tinham sido expulsos alguns meses antes, lembraram como os gentios daquela cidade haviam acolhido o Evangelho. Foram recebidos com alegria pelos velhos amigos e informados de que os cristãos de Antioquia haviam permanecido firmes durante todos aqueles meses.
Paulo pregou-lhes novamente e, antes de partir com Barnabé, nomearam homens de confiança, provados durante a perseguição, para dirigir a igreja.
A primavera já estava bem avançada, e os discípulos queriam chegar ao porto de Perge antes que aumentasse o calor do verão. Lembravam-se dos dias e noites quentes quando chegaram a Perge, e como fora agradável o frio das montanhas em sua viagem a Antioquia. Na planície que beirava a costa, o verão chegara em toda a sua força. Como na visita anterior haviam passado pouco tempo pregando em Perge, decidiram-se demorar ali e testemunhar de CRISTO. Dia após dia foram usados por DEUS, e fundaram na cidade uma igreja.
Enquanto pregavam, esperavam por um navio que os levasse para casa. Havia barcos de muitos lugares, mas nenhum que fosse para Selêucia. Despediram-se dos crentes e continuaram a viagem pela planície até o mar, e depois ao longo da estrada costeira até Atália, um dos maiores portos marítimos de todo o império. Atália era grande e importante, e, como em qualquer outra cidade dessa região, havia nela muitos judeus. Mas Paulo e Barnabé estavam ansiosos por encontrar um navio que os levasse de volta, e seguiram imediatamente para o porto. Sua busca teve sucesso; havia ali uma porção de barcos grandes e pequenos, oriundos de terras estrangeiras de todas as partes do mundo.
Eles pagaram a passagem e, quando se levantaram os ventos matutinos, as velas foram desfraldadas e o barco partiu, acompanhando a costa rochosa até Selêucia. Durante todo aquele primeiro dia, puderam ver as altas montanhas da Panfília elevarem-se sobre a vasta planície costeira. Haviam passado dois invernos naquelas montanhas. O trabalho fora difícil, mas enquanto os morros desapareciam na distância, os dois homens de DEUS recordavam-se de como o Senhor havia honrado Sua Palavra. Em cada cidade, muitos que, há apenas um ano, viviam nas trevas, estavam agora servindo a DEUS.
Todas as noites, enquanto navegavam e oravam sob as estrelas, Barnabé e Paulo lembravam-se de cada crente fiel, agradecendo ao Senhor e entregando-os ao seu cuidado. Até que a viagem chegou ao fim.
A GRANDE CONTROVÉRSIA
Paulo e Bamabé animaram-se ao avistar Selêucia. Ali estava o porto de Antioquia, protegido pelo quebra-mar. Para os apóstolos era como voltar à casa paterna; estar naquela igreja era o mesmo que estar em família. Era uma igreja forte; maior que a igreja-mãe em Jerusalém. Paulo gostava dos cristãos de Antioquia da Síria, e considerava-os uma igreja modelo. Afinal, haviam aberto o coração aos gentios, recebendo-os juntamente com os descendentes de Abraão no Reino de DEUS.
Os missionários mal tinham posto os pés no portão da cidade, e a notícia de sua chegada já se espalhara. Naquela noite, uma grande multidão reuniu-se à volta deles. Dois anos antes, aqueles crentes haviam acompanhado Paulo e Barnabé até o navio que os levaria em sua primeira viagem missionária. Agora estavam de volta, e todos queriam ouvi-los. Foi uma noite emocionante. Jovens e velhos sentaram-se no chão, de pernas cruzadas, e ouviram-nos discorrer sobre a atuação do poder de DEUS em cada cidade.
É provável que tenham contado toda a história; primeiro Barnabé e depois Paulo. Ninguém se cansou de ouvi-los, e muitos choraram de alegria ao saber dos caminhos de DEUS para os gentios. Os missionários falaram da viagem até Chipre; de Sérgio Paulo em Pafos; do calor de Perge e da deserção de Marcos, que muito os desapontara. Descreveram seu primeiro inverno passado na outra Antioquia, e como muitos ali haviam se tornado cristãos. As fugas para Icônio e Listra, onde Paulo tinha sido apedrejado, foram contadas rapidamente. Por último veio a história do segundo inverno, passado em Derbe.
Em todas as cidades, tiveram de enfrentar a oposição dos judeus nas sinagogas; mas na praça do mercado, os gentios tinham-nos ouvido de boa vontade e, deixando os ídolos, haviam se voltado para DEUS. Centenas tinham aberto o coração para JESUS! Em cada cidade visitada pelos missionários, uma igreja havia sido estabelecida.
Importância da Primeira Viagem Missionária
Enquanto os cristãos de Antioquia ouviam as histórias missionárias, grande alegria inundava-lhes o coração. DEUS estivera trabalhando. O plano de pregar o Evangelho até os confins da terra estava se cumprindo com tremendo sucesso. Em toda parte, apesar da oposição, lâmpadas estavam sendo acesas para brilhar e dissipar as trevas do mundo. A semente fora plantada e regada, não só em Jerusalém e Antioquia, mas também na Ásia Menor e em Chipre. Agora estava crescendo e produzindo frutos. Nada mais restava a fazer a não ser convocar uma reunião de oração e agradecer a DEUS por sua graça. Os cristãos oravam e regozijavam-se por serem embaixadores a serviço de DEUS, arrancando homens e mulheres de suas vidas vazias e trazendo-os para a vida abundante; da morte para a vida eterna.
Paulo ficou vários meses em Antioquia, trabalhando na fabricação e comércio de tendas, enquanto expunha as grandes verdades do Evangelho. Falava especialmente da justiça de DEUS, que não pode ser obtida pela guarda da Lei, mas recebida como um dom da sua maravilhosa graça. Homens e mulheres passaram a ver que todas as suas esperanças e necessidades eram satisfeitas em JESUS CRISTO, o Salvador.
Crescentes Dissensóes na Igreja
Até essa época, a oposição encontrada por Paulo na pregação do Evangelho viera de uma única fonte: o judeu incrédulo que, de tão enfurecido com o ensino cristão, tornara-se cego. O desgosto dos judeus era aumentado pelo fato de Paulo ter sido antes fariseu, rabino, amigo da sinagoga e inimigo dos nazarenos. Todo judeu leal acreditava que Paulo fosse um traidor da Lei de Moisés, e por causa disso, perdera o direito de ser respeitado. Paulo sabia como se sentiam e simpatizava com eles. Não tivera os mesmos sentimentos antes de sua conversão? Ele estava preparado para enfrentar a oposição e considerava um privilégio argumentar com os que negavam sua mensagem.
O problema, porém, surgiu dentro da própria igreja: alguns judeus cristãos, de mente estreita, não haviam aberto o coração aos gentios. Queriam que a Igreja fosse uma seita judaica, do mesmo modo que o farisaísmo o era em Israel. Não concordavam em receber os gentios, a não ser que se submetessem primeiro às cerimônias da sinagoga. Achavam que os crentes gentios deviam tornar-se prosélitos, e manter as leis judaicas referentes aos alimentos, festas, abluções e ofertórios.
Pedro era amigo de Paulo. Desde que o Senhor lhe ensinara que os gentios também faziam parte do seu plano e o guiara até o gentio Cornélio, tornara-se ele favorável ao posicionamento de Paulo. Ao ouvir sobre a sólida congregação de Antioquia, decidiu fazer-lhes uma visita.
A Visita de Pedro
Paulo recebeu Pedro com grande entusiasmo. Repetiu-lhe a história da primeira viagem missionária à Ásia Menor, e contou-lhe como DEUS o abençoara, juntamente com Barnabé, na pregação aos gentios. O coração do velho pescador aqueceu-se com cada palavra. Comoveu-se com a fraternidade que observou em Antioquia. Judeus e gentios reuniam-se ao redor da mesma mesa, compartilhando as refeições como membros de uma única família. Isso seria algo inconcebível em Jerusalém; proibido pela Lei Mosaica. E, infelizmente, os crentes em CRISTO ainda levavam em conta tal proibição.
Encontrar e ouvir Pedro, o velho pescador que conhecera JESUS pessoalmente e que podia descrever as histórias ocorridas em seu ministério terreno, foi uma experiência memorável para os cristãos de Antioquia.
Pedro estava vendo e experimentando uma liberdade em CRISTO que nunca antes conhecera. Em Antioquia, um negro e um branco sentavam-se juntos. Um escravo e seu senhor eram um em CRISTO. Não havia diferença entre judeu e gentio, desde que ambos tivessem sido batizados pelo ESPÍRITO de DEUS na igreja. Estavam unidos por um laço mais forte que qualquer outra coisa neste mundo.
A Propagação da Discórdia
Pedro alegrou-se com tudo o que viu, até o dia em que mensageiros autonomeados chegaram a Jerusalém para espalhar a discórdia. Eles sabiam tudo sobre Barnabé e Paulo, e a história do seu trabalho no Ocidente os desagradara. Resolveram então ir a Antioquia, e interromper quaisquer o era em mais gentios à Igreja. Por serem da igreja de Jerusalém, julgavam-se revestidos de autoridade. Com ousadia, advertiram os gentios de que não seriam cristãos, a não ser que se submetessem primeiro aos mandamentos dados por Moisés aos israelitas.
Pedro ouviu falar deles, e reconheceu tratarem-se dos fariseus que criam em JESUS, mas não conseguiam desistir do Judaísmo. Eles representavam muitos de seus conterrâneos, e o seu zelo em purificar a Igreja de todos os gentios era suficientemente grande para levá-los a fazer uma viagem tão longa. Pedro não concordava, mas temendo que viessem a perturbar seu ministério em Jerusalém, decidiu que enquanto estivessem presentes, se afastaria dos gentios. Isso lhe pareceu necessário porque alguns daqueles homens tinham grande influência na igreja e eram nitidamente sinceros.
Paulo Enfrenta os Perturbadores da Ordem
Nem Pedro nem os visitantes da Judéia tinham qualquer idéia da grande força e convicção de Paulo. Em dias passados, Paulo tinha sido um deles e sabia exatamente quais eram os pensamentos de um fariseu. Portanto, não teve piedade; lutou com todas as forças contra aqueles homens que estavam tentando destruir a liberdade desfrutada pelos cristãos mediante a graça de DEUS. Eles afirmavam não haver salvação sem observância da Lei. Eram um inimigo formidável, pois até Barnabé ficou impressionado e, por um momento, começou a duvidar se agira corretamente ao admitir os gentios (Gl 2.12,13).
Certo dia, numa assembléia da igreja, os visitantes falaram tão convicta-mente, que uma sombra de incerteza pairou sobre a congregação.
Paulo subiu à plataforma. Já vira e ouvira o suficiente! Era hora de colocar aqueles perturbadores no seu devido lugar! Eles haviam confundido muitos dos gentios cristãos com a sua estreiteza de espírito. Ou não compreendiam a graça de DEUS, ou eram inimigos da Igreja, como os lobos que se insinuam para espalhar o rebanho. Disse então a Pedro e aos outros judeus:
Nós somos judeus por natureza e não pecadores dentre os gentios. Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em JESUS CRISTO, temos crido em JESUS CRISTO, para sermos justificados pela fé de CRISTO e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada.
Pois, se nós, que procuramos ser justificados em CRISTO, nós mesmos também somos achados pecadores, é porventura, CRISTO ministro do pecado? De maneira nenhuma. Porque se torno a edificar aquilo que destruí, constituo-me a mim mesmo transgressor. Porque eu, pela lei, estou morto para a lei, para viver para DEUS. Já estou crucificado com CRISTO; e vivo não mais eu, mas CRISTO vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de DEUS, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gl 2.1521).
Enquanto Paulo continuava argumentando, Barnabé compreendeu que errara ao dar ouvidos aos visitantes da Judéia, e pensou na forma como DEUS movera o coração dos gentios em toda a Ásia. Estava convencido de que Paulo tinha razão, e agradeceu ao Senhor pela coragem que o levara a opor-se aos falsos mestres.
A resposta era clara. A igreja tinha de chegar a uma decisão definitiva sobre a questão dos gentios. A controvérsia não poderia ser resolvida em Antioquia, mas apenas em Jerusalém, onde muitos queriam que a Igreja continuasse como mera seita judaica.
O Apelo a Jerusalém
Embora o argumento de Paulo tivesse vencido temporariamente, e todos tivessem ficado felizes na igreja de Antioquia, eles compreendiam que, para o futuro da Igreja, alguma norma definitiva tinha de ser estabelecida. O conselho concordou então que Paulo e Barnabé fossem enviados a Jerusalém, onde deliberariam com os apóstolos e resolveriam essa importante questão.
Era inverno, e os barcos costeiros permaneceriam ancorados até a primavera. Portanto, teriam de viajar cerca de 11.200 quilômetros por terra. Isso significava seis longas semanas, ou mais, e embora a viagem não fosse novidade para Paulo, ele achou mais seguro viajar em caravana.
Providos de alimentos, roupas quentes e dinheiro dado pela igreja, Paulo e Barnabé partiram pela estrada do litoral. O céu estava carregado e cinzento, mas os cristãos de Antioquia acompanharam-nos até certo ponto do caminho. Após a despedida, os crentes voltaram às suas casas a fim de orar pela segurança dos amigos e para que tivessem êxito em sua missão.
Dia após dia, os três cavalgaram pela estrada pavimentada. Os rios tinham se tornado caudalosos com as chuvas, mas havia pontes de pedra para atravessá-los. Ao cair da noite, apressavam-se para chegar a algum vilarejo onde encontrar abrigo. No pátio da estalagem, armavam a tenda e acomodavam-se para passar a noite.
Os apóstolos pararam em muitas aldeias por toda a província da Fenícia, e quando chegaram a Tiro e Sidom, ficaram por alguns dias, encontrando vários grupos de crentes e confirmando-os na fé. Paulo recapitulou, para ouvidos atentos, a história da sua viagem à Panfília, Pisídia e Licaônia. Os cristãos agradeceram a DEUS, e animaram a Paulo com suas orações. Rogaram que o Senhor protegesse o grupo que se dirigia a Jerusalém com o propósito de resolver a questão dos gentios.
Em Samaria havia muitos cristãos e, em cada igreja, os discípulos contaram a história do seu trabalho em Antioquia e na Ásia Menor. Os cristãos de Samaria ficaram contentes com o relato. Eles nunca tinham ficado presos às regras dos rabinos de Jerusalém, e quando Paulo contou sobre os gentios que aceitaram a CRISTO, alegraram-se muito. Fortaleceram os apóstolos em sua jornada, com a esperança de que DEUS honraria o seu testemunho em Jerusalém.
Quando foram avistadas as montanhas da Judéia, os três servos do Senhor estavam realmente completando outra viagem missionária, pois haviam fortalecido e confirmado as igrejas ao longo de todo o trajeto até a Cidade Santa. Fazia seis anos que Paulo visitara Jerusalém, levando as ofertas dos santos de Antioquia. Mas dessa vez, encontrava-se ali para defender a si mesmo e aos cristãos gentios dos ataques dos falsos mestres, que procuravam destruir-lhe a liberdade.
Na casa da mãe de Marcos, encontraram vários líderes da igreja. Esses homens os receberam cordialmente, e ouviram de boa vontade a narrativa de como DEUS operara por meio de Barnabé e Paulo na grande viagem. Paulo ficou sabendo que os falsos mestres, que tanto perturbaram os crentes de Antioquia, não haviam sido enviados oficialmente pela igreja de Jerusalém, nem eram líderes desta.
Diante de uma grande platéia, Barnabé e Paulo discorreram sobre as suas viagens e sobre o poder de DEUS para salvar pessoas que antes adoravam ídolos. Mesmo assim, houve quem se levantasse e declarasse que todos esses estrangeiros não eram cristãos de verdade porque não obedeciam à Lei de Moisés. Estavam até comendo carne que não fora preparada de acordo com a lei! Enquanto esses homens estreitavam as portas do reino, Paulo argumentava que a retidão jamais seria conferida a qualquer homem por obedecer à Lei de Moisés, mas sim pela fé no Senhor JESUS, que tinha os braços abertos a todos.
A Solução da Grande Controvérsia
A solução não foi encontrada de imediato. Após muita disputa e acirradas discussões, os apóstolos e presbíteros convocaram uma reunião para considerarem as várias opiniões e chegarem a uma decisão. Participaram da reunião representantes dos dois partidos. Suas opiniões eram tão inflexíveis que a amargura insinuou-se no debate. Só com grande dificuldade Tiago, o irmão do Senhor, e líder reconhecido da igreja-mãe, conseguiu manter a ordem.
A seguir, Pedro, o discípulo que falara com JESUS exatamente sobre o assunto, e que conhecera a vontade de DEUS através de uma visão repetida três vezes, levantou-se e exigiu atenção de todos:
Varões irmãos, bem sabeis que já há muito DEUS me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do Evangelho e cressem. E DEUS, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o ESPÍRITO SANTO, assim como também a nós. E não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o seu coração pela fé. Agora, pois, por que tentais a DEUS, pondo sobre a cerviz dos discípulos um jugo que nem nossos pais nem nós podemos suportar? Mas cremos que seremos salvos pela graça do Senhor JESUS, como eles também (At 157-11).
Pedro sentou-se e a multidão ficou em silêncio. Todos os olhos voltaram-se a Barnabé e Paulo, esperando que dessem a última palavra. Mas Paulo já dera sua opinião e só lhe restava confirmá-la, descrevendo os sinais e prodígios operados por DEUS quando ele e Barnabé pregaram o Evangelho em terras distantes.
Depois disso, ninguém mais falou. Até os que se opunham ferozmente a Paulo não puderam mais defender sua posição. Alguns ainda não se achavam inteiramente convencidos, mas não puderam argumentar contra o poder de DEUS.
Após alguns minutos de silêncio, Tiago, respeitado por todos como irmão do Senhor, resumiu os pensamentos colhidos na reunião:
"Varões irmãos, ouvi-me", disse ele solenemente e com grande dignidade. Os ouvintes inclinaram-se para ouvir cada sílaba, pois ele era o seu chefe e diria, sem dúvida, palavras de sabedoria.
Varões irmãos, ouvi-me: Simão relatou como, primeiramente DEUS visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome. E com isso concordam as palavras dos profetas, como está escrito: Pelo que julgo que nào se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a DEUS, mas escrever-lhes que se abstenham das contaminações dos ídolos, da prostituição, do que é sufocado e do sangue. Porque Moisés, desde os tempos antigos, tem em cada cidade quem o pregue e, cada sábado, é lido nas sinagogas (At 15.1315,19-21).
A Primeira Carta Circular as Igrejas
Para tornar oficial a decisão, Tiago e os outros discípulos escreveram uma carta para ser lida e explicada na igreja de Antioquia. Judas e Silas foram escolhidos para a levar o documento até lá. Era tão importante a decisão do primeiro concilio, que eles enviaram seus principais membros como portadores das notícias; homens revestidos da maior dignidade aos olhos da igreja.
Essas foram palavras sábias, com as quais todos os apóstolos e presbíteros concordaram. Paulo vencera a grande controvérsia: estrangeiros de todo o mundo, de qualquer procedência, poderiam ser cristãos sem prestar obediência à lei judaica. Resgatada da estreiteza do Judaísmo, a Igreja estender-se-ia ao mundo todo. Os cristãos estavam livres da sinagoga!
Essa foi a primeira das cartas circulares às igrejas. O próprio Paulo, em anos posteriores, usaria esse método de escrever às igrejas, assim como Pedro e João.
Paulo e Barnabé viajaram para casa com o coração leve. Seu entusiasmo não conhecia limites! Agora, podiam fazer um relatório alegre a todas as congregações. A Igreja dera finalmente um grande passo e removera suas cadeias para sempre. Que imensurável satisfação para os crentes gentios!
Retornando a Antioquia, Paulo e Barnabé convocaram os cristãos a fim de comunicar- lhes o resultado da reunião em Jerusalém. O silêncio reinou quando Judas e Silas foram apresentados. Seus nomes eram bastante conhecidos na igreja de Jerusalém, e os crentes de Antioquia tiveram grande satisfação em recebê-los.
Os dois contaram sobre as reuniões em Jerusalém e do debate acalorado com respeito aos gentios. A seguir mostraram a carta assinada por Tiago, onde estava escrito.
Os apóstolos, e os anciãos, e os irmãos, aos irmãos dentre os gentios que estão em Antioquia, Síria e Cilícia, saúde.
Porquanto ouvimos que alguns que saíram dentre nós vos perturbaram com palavras e transtornaram a vossa alma (não lhes tendo nós dado mandamento), pareceu- nos bem, reunidos concordemente, eleger alguns varões e enviá-los com os nossos amados Barnabé e Paulo, homens que expuseram a vida pelo nome do nosso Senhor JESUS CRISTO. Enviamos, portanto, Judas e Silas, os quais de boca vos anunciarão também o mesmo. Na verdade, pareceu bem ao ESPÍRITO SANTO e a nós não vos impor maior encargo, senão essas coisas necessárias: Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos ídolos, e do sangue e da carne sufocada, e da fornicação; dessas coisas fareis bem se vos guardardes. Bem vos vá. (At 15.23-29).
A congregação louvou a DEUS pela notícia e decidiu, mais fervorosamente que nunca, propagara mensagem da salvação por JESUS CRISTO a todo o mundo gentio - até à própria Roma!
Embora para os discípulos a grande disputa houvesse terminado, muitos em Jerusalém não estavam plenamente convencidos. Com o passar dos anos, em diversas igrejas por todo o império, Paulo os encontraria pregando seus padrões farisaicos. Alguns argumentavam que a liberdade da Igreja corria risco e que a obra de CRISTO estava dividida. Mas agora, finalmente, os apóstolos tinham liberdade para pregar aos gentios e recebê-los com todos os direitos na Igreja. A SEGUNDA VIAGEM MISSIONÁRIA
Paulo permaneceu em Antioquia durante todo o inverno. As estradas das montanhas estavam cobertas de neve e os barcos ancorados no cais, onde permaneceriam até que as brisas da primavera enchessem o ar. A oficina onde Paulo fabricava suas tendas era um ponto de comércio e local de encontro para os cristãos, que gostavam de levar os amigos não convertidos para ouvirem-no falar de JESUS. Barnabé era o amigo e companheiro constante de Paulo. Com eles, a igreja tinha uma liderança leal e criara novas forças.
Além de Paulo e Barnabé, outros homens vindos de Jerusalém ocupavam posições de liderança em Antioquia, e pregavam na cidade e aldeias vizinhas. Um deles, chegado recentemente, era Silas. Depois de cumprir sua missão na igreja de Antioquia, Silas decidira deixar sua antiga casa e encontrar trabalho na Síria, onde poderia desfrutar da amizade dos novos irmãos.
A Separação de Paulo e Barnabé
Quando o clima se tornou favorável às viagens, Paulo sentiu que deveria visitar outra vez as igrejas do Ocidente. Eram igrejas novas; precisavam ser orientadas. Paulo carregava no coração um peso constante por esses cristãos novos, e à medida que o plano foi-se-lhe formando na mente, procurou o amigo Barnabé, na esperança de viajarem juntos outra vez.
Tornemos a visitar nossos irmãos por todas as cidades em que já anunciamos a palavra do Senhor, para ver como estáo (At 15-36).
Barnabé concordou, e imediatamente tiveram início os preparativos para a partida. Todavia, Barnabé achou que deveriam levar João Marcos, seu primo, para ajudar no trabalho. Mas Paulo recusou terminantemente. Marcos tivera a sua oportunidade e os abandonara nas montanhas da Panfília, justamente quando mais precisavam dele. Desde que Marcos optara pela segurança da cidade, Paulo não estava disposto a repetir a experiência. Certamente, a mão de DEUS não estivera na primeira associação de Marcos com os dois apóstolos. Por que haveriam de supor que as coisas fossem diferentes agora?
Barnabé, porém, estava decidido a ponto de pôr em risco o sucesso do empreendimento. Sua determinação colidiu com a recusa direta de Paulo e houve discussão entre ambos. Era a primeira vez que isso acontecia. As palavras trocadas foram tão ásperas que os planos para viajarem juntos tiveram de ser cancelados. Um motivo tão insignificante serviu para separar os amigos que juntos haviam enfrentado tantos perigos. Mas cada um julgava estar com a razão, e nenhum quis ceder.
DEUS finalmente transformou o mal em bem: em vez de um, dois grupos foram formados. Barnabé navegou para Chipre, levando consigo seu jovem primo Marcos, enquanto Paulo convidou Silas a acompanhá-lo às igrejas da Ásia Menor.
A briga foi violenta e áspera, mas de pouca duração. Com o passar dos anos, Marcos justificaria plenamente a confiança do primo, e Paulo alegrar-se-ia em recebê-lo e servir-se dele como um honrado ministro. Prevaleceria o amor de DEUS, e o sentimento provocado pela disputa dissipar-se-ia ante a necessidade de espalhar o Evangelho.
A Segunda Viagem Missionária
Barnabé e Marcos embarcaram num navio, enquanto Paulo e Silas foram por terra ao longo da estrada dos mercadores, atravessando as altas serranias de Listra. O zelo demonstrado por Silas em Antioquia impressionara Paulo, e dera-lhe a certeza de que DEUS honraria o seu testemunho onde quer que fosse. Silas, como Paulo, era cidadão romano. Juntos, pensou Paulo, poderiam realizar grandes coisas para DEUS, enquanto visitavam as cidades gentias.
Com as mochilas às costas, e os jumentos carregados de provisões, despediram-se dos irmãos e partiram para o monte Tauro. Por essa estrada, Paulo viajara quando criança para ir a Jerusalém com o pai. Era uma estrada larga, e ele tinha a sensação de conhecer cada palmo dela. Mas, por segurança, foram em grupos, juntando-se aos mercadores e peregrinos.
Provavelmente, Paulo conhecia bem a Síria e a Cilícia. Bem pode ser que tenha pregado em muitas aldeias e cidades dessa região, enquanto aguardava o chamado de DEUS em Tarso. Havia diversas pequenas igrejas em lugarejos perto da estrada, e Paulo pretendia visitá-las, confirmando-as na fé e encorajando-as a manter firme lealdade a CRISTO.
As igrejas precisavam realmente dessa visita. Não tinham o Novo Testamento para orientá-las na vida cristã e, às vezes, as ondas da perseguição eram enormes. Receber a visita do apóstolo Paulo, conhecer Silas que viera da igreja-mãe, e ouvir sobre os cristãos de outras cidades, era sem dúvida de grande ajuda.
Na Cilícia
Paulo e Silas viajaram por estradas acidentadas e trilhas pedregosas. Foram de cidade em cidade, algumas vezes seguindo o curso do rio, outras, subindo as trilhas das montanhas. Mas seguiam conscientes da presença de DEUS e de que seu povo carecia de encorajamento. Onde chegavam, encontravam amigos que lhes ofereciam hospitalidade e convidavam outros crentes para conhecerem os apóstolos. Atravessaram assim a passagem elevada da montanha, que levava à Cilícia. As estradas eram íngremes nos Montes Amanos, e havia poucas cidades na parte ocidental da província. Essa era a terra natal de Paulo, e ele estivera muitas vezes em cada vilarejo, vendendo suas tendas. Mais tarde, pregara o Evangelho nessa região. Agora, portas amigas abriam-se para eles em todos os lugares. Os cristãos reuniam-se com os apóstolos e ouviam Silas ler a carta de Jerusalém. Também compraziam-se com a pregação de Paulo.
No Lar em Tarso
Finalmente, deixaram o desfiladeiro e os rochedos escarpados, descendo à vasta planície no vale do Cnido. Tarso continuava sendo o lar de Paulo, embora seus pais já houvessem falecido. Havia uma igreja em Tarso, e muitos amigos que Paulo conhecera na sinagoga faziam agora parte dela. Eles alegraram-se com a sua volta e o acolheram juntamente com Silas. Era um privilégio conhecer aqueles homens a quem DEUS escolhera para levar o Evangelho ao mundo. A igreja havia prosperado e contava com muitos gentios entre seus membros. Não havia diferenças na comunhão; amavam-se como membros de uma mesma família.
A carta de Tiago foi lida aos cristãos de Tarso. Paulo advertiu-os a que se mantivessem firmes na liberdade cristã, sem se contaminarem com a idolatria.
Na Licaônia
Paulo e Silas pretendiam visitar as igrejas recém-estabelecidas. Portanto, despedindo-se dos cristãos de Tarso, juntaram-se ao fluxo constante de mercadores na importante estrada que seguia para a província da Licaônia, atravessando os Portões da Cilícia, no lado norte do Monte Tauro. Apenas um ano se passara desde que Paulo e Barnabé haviam deixado Derbe. Quando a cidade surgiu à sua frente, animaram-se com a expectativa de uma recepção amigável.
Lembranças dos santos de Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia inundaram a mente de Paulo. Lembrou-se da disposição com que receberam o Evangelho e de seu zelo face à perseguição. O coração do apóstolo aqueceu-se com a idéia de revê-los. Estariam todos lá, ou alguns teriam voltado aos ídolos?
Os dois homens alegraram-se ao ver a fidelidade desses irmãos em CRISTO. Como ficaram felizes por rever Paulo! Mas este não pôde demorar muito em qualquer desses lugares. Sua missão não era fundar igrejas. Isso já fora feito e ele notou que, desde sua primeira visita, a Igreja crescera em cada cidade. Isto foi um grande incentivo a Paulo. Depois de falarem sobre a decisão do concilio de Jerusalém e lerem a carta de Tiago, Paulo e Silas partiram apressados, desejosos de chegar a novos lugares.
Não enfrentaram perseguição nessa viagem, porque não fazia parte de seus planos pregar nas praças do mercado. Isto estava sendo feito por outros, e o Senhor vinha acrescentando diariamente à igreja os que aceitavam a CRISTO.
Em Listra, Paulo visitou a casa de Timóteo, recordando a bondade de Lóide e Eunice, especialmente quando fora apedrejado e jogado quase morto numa vala fora da cidade. O testemunho de Timóteo agradou tanto a Paulo e Silas, que ambos pensaram em convidar o jovem a acompanhá-los na jornada. Ele substituiria João Marcos, que desertara na primeira viagem.
Listra e Timóteo
No ano em que Paulo e Barnabé ali estiveram, Timóteo trabalhara tão fielmente na igreja que os membros mais velhos tinham muitos elogios a fazer-lhe. Timóteo era filho de pai grego e mãe judia. Seu pai, como muitos gregos cultos da época, talvez não tivesse encontrado qualquer satisfação em seus deuses pagãos. Ele aparentemente concordara, de boa vontade, que sua esposa ensinasse ao menino a religião judaica. Timóteo ouvira desde a infância as histórias do Antigo Testamento, e podia descrever os tratos de DEUS com seu povo e sua promessa do Messias. No correr do tempo, a mãe de Timóteo, Eunice, ouvira o Evangelho. Assim como o jovem Timóteo, ela e sua mãe idosa, Lóide, creram em JESUS como o CRISTO e foram recebidas na igreja.
Agora, de boa vontade, Eunice entregava a DEUS o rapazinho, deixando que acompanhasse os missionários numa viagem a terras distantes - talvez ao estrangeiro - levando as Boas Novas. Paulo amava o rapaz, chegando até a chamá-lo de filho. Orgulhosa por um de seus jovens estar sendo convocado por DEUS, a igreja de Listra fez uma reunião especial. Os presbíteros, com Paulo e Silas, impuseram as mãos sobre Timóteo, em oração solene, separando-o para o ministério.
A Mensagem de Icônio
A cidade de Icônio ficava a apenas quarenta quilômetros de distância, e os cristãos de lá souberam da chegada de Paulo. Quando o pequeno grupo de viajantes se aproximou, a notícia correu, e muitos crentes foram cumprimentar Paulo. Eles lembravam-se de sua primeira visita e dos muitos milagres que operara naquela ocasião. Aqueles cristãos amavam o apóstolo Paulo; deviam a salvação ao seu esforço incansável na pregação do Evangelho. Silas leu a carta de Tiago aos cristãos judeus e gentios, que se rejubilaram ao saber que eram um só em CRISTO e membros do mesmo corpo. Não era sempre que podiam ouvir homens como aqueles, por isso ficaram até tarde fazendo perguntas e tirando as dúvidas que tinham em seu primeiro ano de vida como igreja. Paulo teve prazer em ajudá-los e fortalecê-los com palavras de exortação, animando-os a manterem-se firmes na fé em CRISTO JESUS e a pregar acerca dEle, aonde quer que fossem.
Em Antioquia da Pisídia
A mesma advertência foi repetida em Antioquia, e o coração dos cristãos animou-se com a visita e as notícias das outras igrejas. Em toda parte houve júbilo com o conteúdo da carta de Tiago. Era como se um grande fardo tivesse sido removido dos ombros dos cristãos gentios. Antes, sentiam-se infelizes pela incerteza da sua posição. A própria igreja sentia-se inquieta ao pensar que alguns discípulos de Jerusalém não admitiriam gentios em sua comunhão. Mas agora, tudo fora resolvido e a igreja desfrutou de grande paz.
Sensibilidade à Liderança divina
Paulo, Silas e o novo companheiro, Timóteo, gostaram das visitas, mas queriam seguir para um território onde o Evangelho ainda não tivesse penetrado. Sentindo que já haviam ficado o suficiente em Antioquia da Pisídia, despediram-se dos amigos. Juntando-se a um grupo de viajantes, seguiram na direção nordeste, para a província da Galácia. Sua idéia era ir até as colônias judaicas do mar Negro. A estrada era boa, não muito íngreme nem perigosa. Saía dos montes Sultão e estendia-se por planícies cobertas de matas, passando por vales aprazíveis e chegando ao mar distante. Viajar sozinhos, porém, não era recomendável, pois os lobos, leopardos e leões eram comuns no planalto, para além das montanhas. As feras não molestavam os grupos grandes; os que viajavam sozinhos, porém, jamais chegavam ao seu destino.
Depois de percorrerem cerca de 160 quilômetros, chegaram às exuberantes florestas da Bitínia, onde as encostas desciam suavemente até o mar Negro. Estavam aproximando-se do seu objetivo, e a viagem parecia convidativa. Mas, de repente, Paulo compreendeu que DEUS não queria que fossem à Bitínia. Quer tivesse sonhado ou tido uma visão, ficou cada vez mais claro que deveriam voltar. Paulo vivia bem perto do Senhor, e era sensível à sua orientação; jamais começava qualquer viagem sem primeiro colocar seus planos diante de DEUS. De alguma forma, tornou-se evidente que deveria desistir daquela viagem e seguir noutra direção.
Paulo Adoece na Galácia
Consultando-se entre si, decidiram ir para a Ásia, pregando ao longo do caminho. Mas o ESPÍRITO de DEUS falou-lhes claramente que não deveriam se demorar pregando na Ásia. Ficaram perplexos, imaginando aonde DEUS finalmente os levaria. Voltando pela estrada em direção ao ocidente, Paulo adoeceu e o grupo teve de parar em uma das cidades da Galácia. Prosseguir era impossível; Paulo estava fraco e precisava descansar. Os irmãos daquela igreja cuidaram bondosamente dele e fizeram o possível para que se restabelecesse. Trataram-no como a "um anjo de DEUS".
Bem mais tarde, Paulo escrever-lhes-ia, recapitulando toda a história:
E vós sabeis que primeiro vos anunciei o Evangelho estando em fraqueza na carne. E não rejeitastes, nem desprezastes isso que era uma tentação na minha carne; antes, me recebestes como a um anjo de DEUS, como JESUS CRISTO mesmo. Qual é, logo, a vossa bem- aventurança? Porque vos dou testemunho de que, se possível fora, arrancaríeis os olhos, e mos daria (Gl 4.13-15).
Podemos supor que Paulo sempre tenha tido problemas com os olhos, e sua enfermidade talvez tivesse sido uma recidiva que provocou uma inflamação. Considerando isto um obstáculo ao seu ministério, orou ao Senhor, em três ocasiões, rogando que lhe removesse a doença. Embora DEUS ouvisse e atendesse às orações de Paulo, sua resposta foi um não. Em vez de curá-lo, DEUS concedeu-lhe forças para vencer e provar que o sofrimento e a fraqueza podem ser suportados com dignidade.
Em Trôade
Com a ajuda de DEUS, Paulo recuperou-se o suficiente para continuar viagem. Sem saber o que o Senhor lhes reservava, os três viajaram para o Oeste, e atravessaram a província de Mísia, onde não tiveram oportunidade de pregar. Certo dia, encontraram-se no porto de Trôade, à beira das águas azuis do mar Egeu. Trôade era um porto famoso. Era a Tróia* da conhecida poesia de Homero e palco de muitas batalhas. A história do cavalo de Tróia desperta hoje o mesmo interesse que despertava nos dias de Homero.
Paulo, porém, não tinha tempo para pensar no passado; ele refletia sobre o presente e o futuro. Do alto dos montes que circundavam a cidade, podia-se ver as ilhas gregas estendendo- se como degraus para que um gigante atravessasse o mar a seco. Os viajantes sabiam que além delas achava-se o grande continente europeu, que abrangia as extremidades das terras conhecidas, pelo homem. Ali encontrava-se o abismo da ignorância paga, e também o centro da cultura grega; para além, a grande cidade de Roma, a terra dos Césares.
Essa era uma civilização rica em estátuas, templos e palácios senhoriais. O povo adorava nos santuários da lascívia e do prazer, rendendo homenagens a Júpiter, Saturno e Juno, assim como a um exército de deuses menores.
Paulo e Silas permaneceram ali, perguntando-se aonde o Senhor desejaria levá-los. Ansiavam por envolver-se na pregação do Evangelho. Estavam perplexos por DEUS não lhes ter aberto uma porta em quaisquer cidades ou metrópoles do norte da Ásia Menor. Agora encontravam-se em Trôade, uma cidade-fortaleza romana. Seria esse o lugar escolhido por DEUS, ou teriam de continuar viajando?
Enquanto esperavam dia após dia, travaram conhecimento com um pequeno grupo de cristãos. Paulo não lhes ministrou, mas encontrou entre eles aquele que veio a ser seu melhor amigo: Lucas. O médico amado, escritor do Evangelho que lhe leva o nome e do livro de Atos, juntou-se aos três viajantes em Trôade. Ele já era cristão e, apesar de muito respeitado como médico, estava disposto a passar a vida curando almas.
*Há divergências quanto à nomenclatura utilizada. Trôade não deve ser confundida com a Tróia dos relatos de Homero.
O Chamado para a Macedônia
Certa noite, DEUS falou a Paulo num sonho. Paulo podia ver as ilhas da Grécia estendendo-se como uma ponte sobre o mar Egeu, até as ilhas distantes... Um homem da Macedônia, de pé, com os braços estendidos, suplicava-lhe que cruzasse o mar e fosse ajudá-lo e a seus conterrâneos. O chamado há tanto esperado chegara afinal. O suspense terminara. Pela manhã, Paulo contou o sonho a Silas, Timóteo e Lucas, e todos concordaram que o Senhor queria que fossem à Europa. Não havia tempo a perder. Naquela mesma manhã, com suas bagagens às costas, saíram à procura de um navio que fosse para o Ocidente. Quando a fresca da noite desceu sobre a cidade e o vento sul assoprou, o navio desfraldou as velas iniciando a jornada de 160 quilômetros, que levaria os apóstolos até Filipos, na Macedônia.
No dia seguinte, alcançaram a ilha de Samotrácia; à noite, desembarcaram em Neápolis. Após uma noite de descanso, fizeram uma viagem curta, pegando a estrada pavimentada que seguia o rio para o interior, até a cidade de Filipos.
A Obra de Paulo em Filipos
"Passa à Macedônia e ajuda-nos!" tinha sido o grito do macedônio. É claro que a ajuda de que precisavam não se tratava de instrução. Pois eles tinham escolas muito melhores que as da Judéia. Tão pouco necessitavam ajuda para se tornarem fortes ou ricos. Filipos tinha riqueza, e aqueles quatro homens nada poderiam lhes acrescentar. O que nem os romanos nem os gregos possuíam era a felicidade verdadeira. Os prazeres eram abundantes, mas sem CRISTO não havia como serem saciados. Filipos tinha sido capturada anos antes por Roma, e muitos cidadãos romanos vieram morar na cidade. Ela tornara-se parte do grande Império Romano que se estendia por toda a terra, desde a Bretanha até a Palestina. Era agora uma colônia livre de impostos, e tinha entre seus habitantes muitos romanos de alta categoria.
Não havia sinagoga na cidade, porque o número de judeus era pequeno. Os poucos que havia reuniam-se todos os sábados para orar num lugar afastado, fora da cidade, às margens de um rio. O pequeno grupo compunha-se em sua maioria de mulheres. Algumas delas eram prosélitas que, abandonando a idolatria, haviam encontrado na religião de Israel algo infinitamente melhor.
Lídia, a Vendedora de Púrpura
Os quatro homens destacavam-se entre as mulheres. E quando Paulo começou a pregar, o coração de uma determinada gentia comoveu-se grandemente. Tratava-se de Lídia, comerciante de Tiatira, do outro lado do mar. Lídia era uma viúva que se vira forçada a manter o próprio negócio, como vendedora de tecidos feitos de púrpura. Tiatira era conhecida pela sua tinta de púrpura, e Lídia enriquecera vendendo suas mercadorias às mulheres romanas da cidade.
O coração de Lídia sensibilizou-se com o sermão. Ela cria no DEUS dos hebreus e, como eles, esperava o Messias. Paulo pregou. O ESPÍRITO de DEUS abriu o coração dessa mulher especial, e ela recebeu JESUS. As margens do rio, tendo as outras mulheres por espectadoras, Lídia foi batizada. E toda a sua casa seguiu-lhe o exemplo!
Grande hospitaleira, Lídia insistiu que Paulo e seus companheiros ficassem em sua casa. A princípio eles rejeitaram o oferecimento para não constrangê-la. O plano de Paulo fora sempre sustentar-se com a fabricação de tendas, mas Lídia não aceitou qualquer desculpa e obrigou-os a acatar o convite.
No decorrer das semanas, os quatro homens não perderam qualquer oportunidade de dar testemunho de CRISTO. Todos os sábados, reuniam-se no lugar de oração dos judeus, junto ao rio, e falavam aos presentes sobre as riquezas insondáveis do Evangelho. Só algumas mulheres tornaram-se cristãs. Evódia e Síntique creram, juntamente com dois homens - Epafrodito e Clemente - e alguns outros cujos nomes constam do Livro da Vida. Ainda que os resultados fossem pequenos, eram reais. Paulo animou-se a ficar e pregar não só perto do rio, mas também nos bazares e praças.
A ESCRAVA
Tudo parecia ir bem, quando a oposição surgiu de fonte inesperada. Havia uma jovem escrava possuída por um espírito maligno, que fazia adivinhações. As pessoas procuravam-na para conhecer o futuro, e seus donos muito lucravam com o preço das consultas. Ela atraía homens inseguros que não se aventuravam a fazer negócios, ou resolver casos de amor, sem primeiro consultar um médium que afirmasse manter contato com o mundo espiritual.
Da mesma forma que o espírito maligno reconhecera JESUS como o Filho de DEUS, o espírito nessa moça percebeu que os apóstolos eram enviados do Senhor. Seguindo-os diariamente pelas ruas e na praça do mercado, a escrava gritava aos passantes: "Esses homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do DEUS Altíssimo" (At 16.17). Seus donos ficaram aborrecidos, mas ela não se importou porque na verdade os odiava. A mensagem de Paulo cativara-a de tal forma, que ela esperava todos os dias na rua até que os apóstolos aparecessem.
Paulo, no entanto, não se agradou do testemunho dos demônios. Indignado com aquela importunação diária, voltou-se à escrava e ordenou, em nome do Senhor JESUS, que o espírito a deixasse. A moça ficou parada, atônita; estava finalmente livre, senhora de suas faculdades.
A Prisão de Paulo e Silas
Vendo seu meio de vida ser tirado por aqueles judeus, os donos da escrava ficaram furiosos. Enraivecidos, agarraram Paulo e Silas e os arrastaram pelas ruas, gritando aos que passavam. Uma grande multidão os acompanhou, pensando tratar-se de algum ladrão. Paulo e Silas foram levados à praça do mercado, sob a acusação de haverem perturbado a paz. Foi fácil colocar o povo contra eles, uma vez que os judeus eram muito odiados. O imperador Cláudio não mandara banir todos os judeus de Roma?
Numa extremidade da praça, dois magistrados romanos estavam sentados numa plataforma elevada, sob um dossel que os abrigava do sol. A tarefa deles era ouvir e julgar as queixas do povo. Esse foi o primeiro tribunal de justiça. Arrastando os apóstolos pelas vestes e pelos cabelos, os perseguidores levaram-nos aos magistrados.
"Esses homens, sendo judeus, perturbaram a nossa cidade." Acusaram-nos aos berros. "E nos expõem costumes que nos não é lícito receber nem praticar, visto que somos romanos" (At 16.20-21). A multidão gritava: "Fora com eles! Fora com os judeus!"
Os magistrados deixaram-se convencer. Não permitiram aos prisioneiros qualquer julgamento ou defesa. Se soubessem que Paulo era cidadão romano, sem dúvida o tratariam com respeito, mas nada lhe perguntaram. Os juizes deram ordens para que fossem publicamente açoitados. Depois de descobrirem as costas dos presos, os pretores avançaram e levantaram as varas. Enquanto os apóstolos encolhiam-se de dor sob os açoites, a plebe gritava: "Prendam os judeus!"
Machucados e sangrando, Paulo e Silas foram levados à prisão e entregues ao carcereiro, com instruções para guardá-los com toda a segurança. Os dois foram então levados para um cárcere interior, onde ficaram com os pés presos ao tronco. Ao deixá-los naquele lugar úmido e frio, o carcereiro ficou imaginando o porquê daqueles homens que não pareciam marginais serem julgados tão perigosos.
Na casa de Lídia, Timóteo e Lucas passaram uma noite angustiosa, e oraram em companhia da dona da casa e de outros cristãos. Mas não foram os únicos a orar: Paulo e Silas também não conseguiam dormir. Suas costas continuavam doendo por causa dos açoites e o tronco tornava o sono impossível. Entretanto, podiam orar, e foi o que fizeram. A paz caiu sobre eles, e começaram a cantar alguns dos salmos que conheciam desde a infância - salmos de louvor a DEUS. "O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?" (SI 27.1).
A Conversão do Carcereiro
Aqueles sons no meio da noite eram sem dúvida estranhos. Os outros prisioneiros estavam acostumados com gemidos e maldições, mas jamais tinham ouvido algo assim. O que poderia ser? Estavam escutando os cânticos em silêncio quando, de repente, um som baixo e ameaçador fez-se ouvir. Aquilo que a princípio parecia um trovão à distância foi aumentando cada vez mais. O chão começou a tremer. Um terremoto! O chão balançava, subindo e descendo; as portas foram arrancadas dos batentes e as cadeias dos prisioneiros abriram-se, libertando-os.
O carcereiro acordou com o choque. Saltando da cama, seu primeiro pensamento foi para os prisioneiros sob seus cuidados. Teria algum escapado? Em caso afirmativo, como se explicaria com Roma? Ao primeiro olhar, viu que as portas estavam escancaradas. Lá estava a pesada porta de madeira, arrancada dos gonzos. Com uma tocha na mão, apressou-se pelo corredor.
As celas interiores estavam danificadas; suas portas, completamente abertas. O homem puxou rapidamente a espada. Era melhor acabar logo com tudo, escapando ao horror de um julgamento e da execução pública. Paulo viu quando ele pôs a espada na garganta para suicidar- se. Uma voz alta e clara, saída da escuridão, assustou o carcereiro: "Não te faças nenhum mal, que todos aqui estamos" (At 16.28).
Trêmulo, ele pegou a tocha e entrou na cela, onde caiu prostrado aos pés de Paulo e Silas. O homem sentia-se tremendamente perplexo. Não conseguia entender porque não haviam escapado. Paulo explicou-lhe que eram cidadãos romanos e não tinham necessidade de fugir; além disso, eram servos do Senhor DEUS e levavam a mensagem de salvação aos gentios.
Encontrado o caminho que procurara durante toda a vida, o carcereiro exclamou: "Senhores, que é necessário que eu faça para me salvar?" (16.30).
Sem hesitar, Paulo respondeu: "Crê no Senhor JESUS CRISTO e serás salvo, tu e a tua casa" (16.31).
No pátio da prisão, com a poeira do terremoto ainda pesando no ar e o ruído da confusão nas ruas escuras lá fora, Paulo pregou as boas-novas de grande alegria, e explicou o significado de crer. Imediatamente, o brutal carcereiro passou das trevas para a luz.
Solícito, levou os apóstolos para sua casa, onde se achavam sua esposa e filhos. Ali, lavou-lhes as costas doloridas. Depois de limpar o sangue, esfregou ungüento nas feridas abertas pelas varas dos pretores. Naquela noite Paulo contou-lhes tudo sobre JESUS e, antes do dia amanhecer, uma família inteira tornou-se cristã e foi batizada.
Quando raiou o dia, mensageiros dos magistrados bateram à porta da prisão. Traziam uma mensagem amedrontada dos seus senhores: "Soltai aqueles homens" (v. 35).
Na mente dos magistrados estava claro que a catástrofe fora um castigo de DEUS por terem colocado dois de seus servos na prisão. Entretanto, quando o carcereiro levou a Paulo e Silas a notícia da sua liberdade, estes não a receberam de bom grado.
Diga a seus senhores - declarou Paulo - que somos romanos e eles não podem encobrir sua injustiça, livrando-se de nós às ocultas.
Paulo conhecia os direitos da cidadania romana; podia apelar à própria Roma, se quisesse. Sabia que os magistrados estavam agora à sua mercê.
Diga aos seus senhores que venham pessoalmente e nos ponham em liberdade.
Os orgulhosos magistrados, com medo de perderem o cargo, viram que não havia outra opção senão atender ao desejo dos prisioneiros. Sem perda de tempo, apresentaram suas humildes desculpas em pessoa, suplicando aos apóstolos que nada dissessem sobre o erro cometido, e deixassem a cidade o mais rápido possível. Eles levaram Paulo e Silas para a rua e, publicamente, os libertaram.
Os apóstolos não deixaram imediatamente a cidade. Procuraram a paz e tranqüilidade da casa de Lídia, até que suas feridas sarassem e pudessem viajar. Receberam os cuidados de Timóteo e do doutor Lucas, e foram visitados pelos poucos que haviam levado a CRISTO.
A Primeira Igreja na Europa
Durante aqueles dias de restabelecimento, Paulo e Silas tiveram a alegria de acolher na nova igreja de Filipos ao homem que lhes prendera os pés ao tronco, assim como todos os de sua casa. Mediante sofrimento e fidelidade, o pequeno grupo cresceu até tornar-se uma das mais fortes igrejas.
Quando Paulo e Silas sentiram-se suficientemente curados para deixar Filipos, despediram-se dos crentes e partiram para Tessalônica, a capital da Macedônia. Lucas e Timóteo ficaram em Filipos por algum tempo, a fim de fortalecer a igreja.
A estrada que os dois apóstolos escolheram era a melhor da província, pavimentada com blocos de mármore. Depois de cerca de 169 quilômetros, chegaram a Anfípolis, uma cidade maior que Filipos. Ansiosos, não ficaram ali; prosseguiram para o sul e para o oeste, passando por Apolônia e descendo a grande Via Inácia, até a cidade que Alexandre, o Grande, chamara de Tessalônica, em homenagem à sua irmã.
Paulo em Tessalônica
Ao sair da região montanhosa, eles contemplaram as águas azuis do golfo e entraram na cidade passando por um enorme arco de mármore, esculpido com cinco cabeças de touros enfeitadas de guirlandas. Esse monumento era uma lembrança perpétua de que Otávio e Antônio haviam ganho a batalha de Filipos. Tessalônica, por ter apoiado os generais conquistadores, tornara-se uma cidade livre. Isto significava que podia escolher seus próprios magistrados, livrar-se das guarnições romanas, e não sujeitar-se de forma alguma ao governador romano da Macedônia.
Os apóstolos hospedaram-se na casa de Jasom, parente de Paulo, e testemunharam na sinagoga durante três sábados. Paulo começava com as profecias do Antigo Testamento, explicando aos conterrâneos que elas foram cumpridas em JESUS de Nazaré. Alguns murmuraram depois de seus apelos veementes, e os líderes da sinagoga opuseram-se à sua doutrina, proclamando que era falsa. Todavia, outros creram e tornaram-se amigos de Paulo, seguindo-o por toda parte e encorajando-o em sua pregação. A maioria dos convertidos era formada por prosélitos gregos e esposas de oficiais, que haviam abandonado os ritos imorais da adoração aos ídolos. Elas haviam encontrado no Judaísmo uma religião onde a mulher era respeitada.
Paulo e Silas não se limitaram a pregar apenas na sinagoga, mas aproveitavam todas as oportunidades para dar testemunho de JESUS. Em três semanas, conseguiram reunir um número suficiente de cristãos para formar uma igreja. Não perderam tempo. Os cristãos reuniam-se todas as noites com Paulo e Silas, que lhes explicavam as verdades do Evangelho. À medida que outros enxergavam a luz, também eram recebidos na congregação. Estabelecer uma igreja em três semanas era uma tarefa colossal, mas foi o que Paulo e Silas fizeram, não só levando os convertidos a CRISTO como também instruindo-os na fé. Antes dessas breves semanas terminarem, Paulo falou-lhes sobre a volta do Senhor e os sinais dos tempo. Advertiu-os sobre o abandono da fé, que precederia a vinda do anticristo.
Paulo É Obrigado a Deixar Tessalônica
Paulo era um trabalhador incansável, capaz de formar uma comunidade forte de cristãos quase da noite para o dia. Mas, como de costume, os judeus incrédulos levantaram-se contra ele. Instigaram um grande grupo de malfeitores, que rodearam a casa de Jasom atirando pedras no pátio e exigindo que Paulo e Silas lhes fossem entregues. Enfurecidos, derrubaram a porta e procuraram em cada aposento, descobrindo que os dois não se encontravam na casa. Jasom providenciara em tempo a fuga de ambos, mas ele mesmo não escapou. A turba agarrou-o, como também a outros cristãos, e arrastou-os até a praça do mercado, onde as autoridades mantinham seu tribunal:
Esses que têm alvoroçado o mundo chegaram também aqui, os quais Jasom recolheu. Todos esses procedem contra os decretos de César, dizendo que há outro rei, JESUS (At 17.6,7).
A acusação era grave e não podia ser ignorada. Os magistrados tomaram nota e ficaram muito perturbados; o assunto poderia acabar em desastre. Ordenaram que Jasom e seus amigos pagassem fiança e voltassem no dia do julgamento.
Como Jasom era homem de posses, a fiança foi paga e todos tiveram permissão de voltar para casa. Naquela mesma noite, depois de conferenciarem, os irmãos procuraram Paulo e Silas e explicaram como seriam prejudicados se eles ficassem. Então, enquanto a cidade dormia, os dois saíram disfarçados pelos portões, e dirigiram-se ao sul, para a cidade de Beréia.
A Acolhida em beréia
Timóteo juntou-se a Paulo e Silas em Beréia. Ele chegara de Filipos, onde ficara com Lucas para fortalecer a igreja, e encontrou-os na sinagoga. Timóteo sabia que era costume de Paulo procurar a casa de adoração dos judeus, portanto esperou lá por ele. Quando os apóstolos chegaram, ensinaram na sinagoga que JESUS era o CRISTO e provaram isso pelas Escrituras. Paulo ficou surpreso e contente ao ver que os judeus o ouviam sem fazer oposição. De fato, mostraram verdadeiro interesse, devorando cada palavra pregada. A seguir, foram buscar os grandes rolos guardados numa caixa por trás da cortina azul, e examinaram diligentemente as palavras de Isaías, de outros profetas e da Lei de Moisés, traçando a história do Messias até no seu livro de hinos. Não aceitariam a mensagem até provarem pelas Escrituras a sua autenticidade. Ao descobrirem que as citações de Paulo não continham qualquer erro, receberam alegremente a mensagem e creram em JESUS.
Tudo ia bem até que as notícias chegaram a Tessalônica, levadas por algum judeu ingênuo, que não pretendia fazer mal. Uma onda de oposição rebentou quase que imediatamente sobre a igreja recém-formada. Um bando de judeus zelosos precipitou-se de Tessalônica e, com mentiras, incitaram os membros da sinagoga contra Paulo. Principal alvo do ataque maldoso, Paulo achou melhor seguir o conselho dos irmãos e deixou a cidade.
Atenas, uma Cidade Idolatra
Um grupo de cristãos conduziu Paulo ao porto de Dio, onde ele embarcou para Atenas, a maior cidade da Grécia. Seus amigos acompanharam-no até chegar a Atenas, mas deixaram- no ali e regressaram.
Silas e Timóteo ficaram em Beréia para fortalecer os cristãos. Quando terminassem o trabalho, iriam encontrar-se com Paulo em Atenas. Ambos permaneceram com relativa segurança em Beréia, pois os inimigos achavam que, sendo Paulo o chefe, não precisavam preocupar-se com eles.
Depois da retirada dos amigos, Paulo ficou absolutamente só em uma das cidades mais belas do mundo: Atenas - a "Mãe da Grécia". A cidade era dominada pela Acrópole, um monte com a parte superior plana e rochosa, que servia de base a vários templos. Quinhentos anos antes, Atenas estivera no apogeu da sua glória, mas desde que fora saqueada pelos romanos, encontrava-se sob o seu domínio. Paulo estivera em muitas cidades, mas nunca visitara um lugar tão belo e cheio de esculturas de mármore brilhando ao sol. Os edifícios em estilo clássico eram elegantes e graciosos. O povo era culto e orgulhava-se de sua liberdade de pensamento. Arquitetura, pintura, escultura e grandes bibliotecas podiam ser encontradas em toda parte. Ao longo de cada rua, e em cada praça, havia estátuas e altares - santuários construídos para a adoração de muitos deuses. Paulo ficou surpreso ao ler as inscrições. Seu coração acelerou-se ao admirar o esplendor das estátuas, algumas feitas por Fídias, o maior de todos os artífices em mármore. Mas também apiedou-se ao pensar na cegueira do povo ateniense.
Naquelas mesmas ruas e naquela mesma praça ao pé da Acrópole, Sócrates ensinara ao povo; Platão instruíra seus seguidores naquele mesmo lugar; Demóstenes, o grande orador, era uma lembrança do passado. A marca de todos eles fora deixada na cultura daquele povo altivo. Abaixo dos templos da Acrópole, ficava o teatro de Dionísio com seus assentos de mármore estendendo-se sobre o vale. Todas as noites as multidões aglomeravam-se nele para assistir às importantes peças teatrais. Não havia dúvida de que aquele povo era o mais inteligente, refinado e complacente que Paulo já encontrara.
O apóstolo alojou-se perto da sinagoga e decidiu ficar ali até a chegada de Silas e Timóteo. Porém não estava satisfeito. Aqueles ídolos e seus templos não lhe suscitaram admiração, mas preocupação e piedade. Gostaria que todos fossem derrubados e, ao invés da confusão dos deuses, o povo pudesse ver o DEUS vivo e verdadeiro. Todas aquelas estátuas desonravam ao Senhor, e Paulo queria ver em Atenas uma igreja que apagasse cada ídolo do coração de seus habitantes.
No sábado, ele foi pregar o Evangelho aos seus conterrâneos na sinagoga, mas não conseguiu ganhar nenhum deles. Desanimado, saiu de lá e começou a pregar nas ruas e praças. Muita gente dispôs-se a ouvi-lo; havia nas ruas um grande número de pessoas que apreciavam uma discussão. Elas passavam o dia indo de um filósofo a outro, à procura de alguma doutrina nova que pudesse tornar-se moda em Atenas.
Em toda parte havia sinais de idolatria. Queimavam incenso diante de cada imagem. Num altar próximo, Paulo viu mulheres levantando as crianças até o ídolo, num oferecimento. O apóstolo sentiu o coração confranger-se ao ver a cidade completamente entregue à idolatria.
Certo dia, descobriu numa única rua os templos de Atena, Artemis e Afrodite. Ao lado deles havia altares dedicados à Guerra, Fama, Piedade e Modéstia. Em toda a cidade havia três mil estátuas e altares onde os atenienses ofereciam sua adoração vazia. Paulo leu muitas inscrições enquanto caminhava pelas ruas, e ficou imaginando como um povo tão religioso poderia ser tão cego. Sondou as faces das pessoas e percebeu que estavam cansadas dos seus deuses.
Alguns filósofos, estóicos e epicureus, encontraram Paulo numa praça e indagaram: Que quer dizer esse paroleiro?... Parece que é pregador de deuses estranhos... Poderemos nós saber que nova doutrina é essa de que falas? Pois coisas estranhas nos trazes aos ouvidos: queremos pois saber o que vem a ser isso (At 17.18-20).
O Sermão da Colina de Marte (Areópago)
Logo depois do mercado barulhento, na metade do caminho que levava aos templos da Acrópole, ficava um semicírculo rochoso, conhecido como a colina de Marte. Paulo foi conduzido a esse lugar para contar sua história.
Varões atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais náo o conhecendo, é o que eu vos anuncio
(At 17.22,23).
Imediatamente interessada, a platéia inclinou-se à escuta. Com um olhar para o conjunto de templos no topo do monte, e ao próprio Parthenon - edifício mais perfeito do mundo - Paulo continuou:
O DEUS que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tão pouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas. E de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação; para que buscassem ao Senhor, se, porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós. Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos, como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração.
Sendo nós, pois, geração de DEUS, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens" (At 27.24-29).
A audiência agradou-se do discurso e, animada, ficou à espera de mais. Sem dúvida, ali estava alguém de grande cultura. Era judeu, mas conhecia os poetas gregos. E Paulo então continuou:
Mas DEUS, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, em todo o lugar, que se arrependam. Porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-o dos mortos (At 1730-31).
Um cascatear de risos ouviu-se entre o povo, quando ele falou em ressurreição. "Esse homem deve estar louco para pregar tais asneiras!" E não quiseram mais ouvi-lo.
Alguns mais educados sugeriram que o ouviriam noutra ocasião, mas Paulo percebeu tratar-se de uma desculpa amável para se livrarem dele.
O apóstolo já encontrara todas as formas de oposição, mas aquela era a primeira vez que alguém ria de suas palavras. Isso silenciou-o mais que os insultos e pedradas. Com um sentimento de fracasso, deixou a colina de Marte; desceu às praças logo abaixo e perdeu-se na multidão. Enquanto lutava com a crescente sensação de desânimo, ouviu passos às suas costas.Voltando-se, deparou com um pequeno grupo de homens e mulheres que se apressava para alcançá-lo. Seus rostos eram amigáveis; queriam fazer mais perguntas sobre a nova doutrina. Dionísio, um membro do conselho da sinagoga de Atenas, e uma mulher chamada Dâmaris, além de outros atenienses não nomeados, creram em suas palavras e receberam a JESUS CRISTO.
Paulo começou a inquietar-se em Atenas. Pensava nos cristãos de Beréia, onde Silas e Timóteo se encontravam, e imaginava a razão de não ter notícias de lá. Sentiu-se tentado a viajar novamente para o norte e até planejou voltar a Tessalônica, mas as circunstâncias o impediram. Será que o longo silêncio significava oposição? Teriam os judeus de Tessalônica continuado a perseguir Silas e Timóteo? Paulo temia pela igreja de Tessalônica. A perseguição ali fora penosa, e ele ficava a pensar se a fé dos irmãos resistiria à prova. Ele só estivera com aqueles crentes durante três semanas...
Paulo em Corinto
Não mais suportando a longa espera, Paulo enviou um cristão ateniense para indagar sobre o bem-estar dos crentes de Tessalônica, e deixou uma mensagem avisando que ia para Corinto. Se Timóteo e Silas chegassem, deveriam ir à capital, onde ele os esperaria.
Com uma sensação de liberdade, deixou para trás Atenas e seus templos de mármore. A lembrança dos risos no dia em que pregou sobre o CRISTO ressurreto ainda queimava-lhe no peito. Perguntava-se porque o Senhor não lhe dera mais almas naquela cidade.
Com o espírito abatido, Paulo encontrou um navio que ia para Corinto, capital da Acaia. Sabendo que seu dinheiro estava acabando, começou a questionar o significado exato da visão sobre o homem da Macedônia. Até então, só tivera uma série de decepções; fugira de cada cidade a fim de salvar a vida, deixando aos companheiros de viagem a tarefa de estabelecer a nova igreja.
áquila e Priscila
Embora desanimado, Paulo procurou um local onde pudesse usar a arte que aprendera em Tarso. Encontrou uma rua onde os fabricantes de tendas tinham suas lojas, e entrou na oficina de Áquila. O Senhor parecia tê-lo encaminhado justamente àquele lugar, pois Áquila era um refugiado judeu banido de Roma pelo imperador Cláudio. Ele e sua mulher, Priscila, haviam se estabelecido no negócio de tendas em Corinto, poucas semanas antes da chegada de Paulo.
Áquila gostou da ajuda extra, e Priscila, ao saber que Paulo era judeu, acolheu-o de bom grado. Bastaram alguns dias de trabalho para que Áquila apreciasse ainda mais a habilidade de Paulo na fabricação de tendas. Enquanto costurava o couro, Paulo contava as maravilhosas experiências que tivera; como DEUS o protegera das dificuldades e o livrara da prisão. O casal ficou espantado por aquele artesão ter sido um rabino, e haver perseguido ardentemente a seita dos nazarenos. Pouco a pouco, abriram seus corações a CRISTO e foram salvos.
A antiga Corinto, mais velha que Atenas, tivera tantas batalhas travadas em suas ruas que só restaram ruínas. Reconstruída por Júlio César, era agora uma bela cidade e, durante cem anos, ocupara na Grécia uma posição de proeminência. Grande centro comercial, atraiu logo os judeus da região. A adoração à Afrodite, deusa do amor, também centralizava-se ali. Famosa por suas riquezas e inclinação aos prazeres e vida fácil, Corinto tornou-se símbolo do pecado. Marinheiros e mercadores do mundo inteiro levavam a história de Corinto às suas terras, aumentando-lhe a fama de pecado e encanto.
Paulo foi apresentado na sinagoga como um judeu que freqüentara o templo de Jerusalém, e recebeu permissão para falar. Mas discursou com um sentimento de fraqueza. Embora houvesse argumentado, provado e persuadido tanto judeus quanto gregos, teve de lutar contra o crescente desânimo que começara a envolvê-lo.
SILAS, TIMÓTEO E PAULO EM CORINTO
Silas e Timóteo finalmente chegaram. Tinham estado em Atenas e souberam que Paulo havia partido para Corinto. Que alívio vê-los e ouvir as notícias! Agora Paulo sabia que não estavam presos e que tudo ia bem. E as igrejas de Beréia e Tessalônica? Tinham notícias de Lucas em Filipos? Os cristãos estavam firmes?
Sim, as notícias eram boas. As igrejas em toda parte continuavam firmes na fé. E mais: estavam testemunhando em toda a Macedônia e muitos haviam se rendido a CRISTO nas últimas semanas. DEUS estava operando nas igrejas e abençoando o testemunho de seus seguidores. Os irmãos não haviam esquecido Paulo; lembravam-se diariamente dele em suas orações, do mesmo modo que este se lembrava deles. Como demonstração do seu amor, tinham enviado uma oferta em dinheiro para o seu sustento; assim, em vez de trabalhar, Paulo poderia dedicar-se integralmente ao ministério. O coração do apóstolo alegrou-se grandemente ao ouvir essas notícias. Seu desânimo desapareceu como a neblina da manhã ao nascer do sol. O antigo zelo voltou, e com grande vigor, deu início a uma campanha para a conversão dos coríntios.
Quando, porém, os judeus se lhe opuseram, blasfemando contra o Senhor, Paulo os abandonou, advertindo-os de que o sangue deles cairia sobre as suas próprias cabeças.
"Desde agora parto para os gentios" (At 18.6).
E foi o que fez. Como resultado, muitos coríntios creram e foram batizados. Todavia, antes de partir, teve a grande alegria de ganhar Crispo, o principal da sinagoga. Seu coração aqueceu-se ao vê-lo ser batizado com a mulher e os filhos!
Depois da chegada de Timóteo e Silas, a casa de Áquila ficou pequena para abrigar todos eles. Foram então alojar-se ao lado da sinagoga, na casa de um cristão chamado Justo. Paulo, porém, continuou trabalhando sempre que necessário.
Com o passar dos dias, a enorme tarefa de testemunhar àquela cidade sem CRISTO começou a pesar-lhe nos ombros. Enquanto refletia no assunto, um temor sorrateiro foi tomando conta de seu coração. Corinto era, indiscutivelmente, a cidade mais perversa do mundo, e Paulo perguntava a si mesmo se haveria ali qualquer esperança de sucesso.
Certa noite, deitado em seu leito na casa de Justo, Paulo teve uma visão. O Senhor disse-lhe palavras semelhantes às que DEUS dissera a Josué, muitos anos atrás, quando o coração dele se acovardara:
Não temas, mas fala e não te cales. Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nessa cidade (At 18.9,10).
Isso era tudo o que Paulo precisava saber. Lembrou-se então do dia em que estivera face a face com JESUS, na estrada de Damasco, e pôde ouvir novamente as palavras do Senhor repetidas por Ananias:
Esse é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel. E eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome (At
9.15,16).
Paulo passou a pregar com zelo renovado. Os missionários trabalharam durante um ano e meio, procurando converter homens e mulheres, tanto judeus quanto gentios. Empregavam todos os esforços para trazê-los das trevas do pecado para a família de DEUS. Muitos vieram a conhecer a verdade e separaram-se da sua antiga e corrupta religião, ganhando uma nova vida em CRISTO.
A Primeira Epístola Aos Tessalonicenses
Paulo ficou tão comovido com a oferta de Tessalônica e o relatório positivo a respeito daquela igreja, que resolveu escrever-lhes uma carta. Esta pode ter sido a sua primeira carta. Era dirigida a todos os discípulos de Tessalônica, e elogiava-os por sua firmeza na fé, mesmo em face à perseguição. Agradecido pela ajuda, Paulo escreveu-lhes uma carta de conselhos paternais, recordando-lhes os ensinamentos que lhes ministrara, e insistindo para que crescessem na graça e andassem como verdadeiros filhos de DEUS. Deveriam ser cada vez mais profícuos no testemunho e no viver diário, atentos à aproximação da volta do Senhor para buscar os salvos - tanto os mortos como os vivos. Era uma linda carta, expressando o afeto do apóstolo por seus filhos na fé.
Paulo e seus amigos demoraram-se bastante em Corinto, e seu ensino teve maior sucesso ali que em qualquer outro lugar. A igreja aumentava a cada dia, à medida que o povo mais humilde tornava-se cristão. Mas nem tudo foi fácil e bem-sucedido; alguns judeus detestaram a mensagem de Paulo, e ficaram à espera de uma oportunidade para dar vazão ao seu ódio. Certo dia, conforme planejado, eles incitaram um grupo de ociosos a agarrarem o apóstolo enquanto este pregava. Paulo foi levado diante do tribunal de Gálio, o procônsul romano. Gálio era um homem bondoso; recebera o cargo porque o imperador Cláudio conhecia a sua sabedoria e capacidade. Diante de Gálio, os judeus não sabiam como apresentar uma acusação válida contra aquele prisioneiro que não oferecia resistência. A única acusação que podiam formular era fraca aos seus próprios ouvidos. Não podiam culpar o apóstolo de perturbar a paz ou instigar uma revolta, e disseram contrafeitos: "Esse persuade os homens a servir a DEUS contra a lei" (At 18.13).
Enquanto Paulo preparava-se para responder à acusação, Gálio levantou-se e declarou:
Se houvesse, ó judeus, algum agravo ou crime enorme, com razão vos sofreria. Mas, se a questão é de palavras, e de nomes, e da lei que entre vós há, vede-o vós mesmos; porque eu não quero ser juiz dessas coisas (At 18.14,15).
Impaciente e irado, expulsou-os do tribunal. Muitos gregos que haviam testemunhado a cena ressentiram-se contra os judeus. Ofendidos, agarraram Sóstenes, o principal da sinagoga, e espancaram-no diante do tribunal. Gálio ficou sentado calmamente, sem aplaudir nem censurar. Desde que a raiva deles não fosse dirigida a Roma, tudo o mais lhe era indiferente.
Depois de vários meses, o homem que levara a primeira carta de Paulo a Tessalônica voltou e contou como a epístola fora recebida. Ela resolvera algumas das dificuldades dos tessalonicenses, mas aparentemente suscitara outras, especialmente com respeito à volta de CRISTO. Alguns entenderam que o tempo era tão curto, que deveriam parar de trabalhar e viver do que haviam poupado, pois em questão de dias, seriam recebidos nos céus para estar com o Senhor.
A Segunda Epístola aos Tessalonicenses
Paulo discutiu o problema com Silas e Timóteo e decidiu enviar uma segunda carta. Elogiou os tessalonicenses por sua paciência na tribulação e suplicou-lhes que não se deixassem perturbar com palavras de homens ou cartas falsas, que julgavam ser dele. Alguém lhes forjara uma carta em nome de Paulo, afirmando que a volta de CRISTO aconteceria naqueles dias, e que talvez até já houvesse acontecido. Paulo recordou-lhes o grande plano de DEUS; lembrou-os de que nos últimos dias muitos se desviariam do Senhor, e o homem da iniqüidade viria para se opor a tudo o que era de DEUS. Assegurou-lhes ainda de que as perseguições que estavam sofrendo não eram, absolutamente, a Grande Tribulação:
Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer bem. Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por essa carta, notai o tal, e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe (2 Ts 2.15; 3.13-14).
A Volta de Paulo a Antioquia da Síria
Pouco depois desses acontecimentos, Paulo admitiu que a igreja de Corinto já estava suficientemente forte; podia deixá-la e dedicar-se a outro trabalho. De algum modo, sentiu-se impelido a voltar a Antioquia da Síria. Queria igualmente visitar Jerusalém por ocasião da festa. Áquila e Priscila estavam indo para Éfeso, e Paulo decidiu ir com eles. Silas e Timóteo não os acompanharam; permaneceram em Corinto para continuar o trabalho.
A viagem marítima para Cencréia, porto de Corinto, foi agradável e sem incidentes. O navio permaneceu em Éfeso o tempo suficiente para Paulo visitar a sinagoga, onde discutiu com os judeus e mostrou-lhes JESUS, o CRISTO das Escrituras. Os judeus não se opuseram ao apóstolo dos gentios, nem à sua mensagem. Ao contrário, pediram-lhe que ficasse mais tempo. Não sendo possível, Paulo prometeu visitá-los em breve. Deixando Áquila e Priscila testemunhando em Éfeso, voltou ao navio que o levou em segurança para Cesaréia, o porto mais próximo de Jerusalém.
Não se demorou na cidade santa. Sua principal preocupação ali era visitar outra vez a igreja-mãe. A época era de festa e as ruas estavam repletas de peregrinos. Paulo cumprimentou os cristãos e renovou sua amizade com Tiago, Pedro e os demais discípulos que se reuniam na casa de Maria. Depois voltou a Antioquia, a igreja que o enviara em todas as suas viagens.
A TERCEIRA VIAGEM MISSIONÁRIA
Já fazia um ano que Paulo prometera aos judeus de Éfeso voltar e continuar ali o seu ministério. O apóstolo pensava muito neles e em Áquila e Priscila que lá ficaram testemunhando. Durante todo o inverno, e até fins do verão seguinte, ele permaneceu em Antioquia. Sabia que se tivesse de viajar para a Ásia Menor, seria necessário partir antes que as neves do inverno bloqueassem as passagens das montanhas.
A Terceira Viagem Missionária
Quando os cristãos de Antioquia souberam que o apóstolo Paulo estava planejando uma terceira viagem, não ficaram surpresos. Entristeceram-se, porém, ao despedir-se dele mais uma vez. Já haviam compreendido que DEUS preparara Paulo, melhor que qualquer outro, para levar o Evangelho às terras distantes. Numa reunião de despedida, entregaram-no aos cuidados de DEUS; depois de lhe darem dinheiro e provisões para o caminho, levaram-no até os portões da cidade. Ficaram então olhando e acenando em despedida até que desaparecesse numa curva da montanha. Não sabiam eles que esse fora o último adeus. O rosto de Paulo não mais seria visto na amada igreja de Antioquia. Aproximava-se o momento em que o apóstolo dos gentios encerraria suas viagens.
Pela terceira vez, Paulo encaminhou-se aos Portões da Cilícia, que o levariam a Tarso e Derbe, Listra e Icônio. As coisas tinham mudado com o passar do tempo. Em cada cidade havia agora igrejas estabelecidas; milhares haviam sido atraídos a CRISTO.
Foi grande a alegria do apóstolo ao ver o progresso dos cristãos. Ele pensou naqueles primeiros dias, quando não havia uma única voz levantada para o Senhor em todas as cidades. Ao deixar cada lugar, Paulo elevava o coração em fervoroso agradecimento por cada igreja e cada crente.
Visitando Novamente as Primeiras Igrejas
O trabalho não era mais uma questão de plantar a semente, mas de arrancar o mato. Muitas vozes ergueram-se para desviar os cristãos da pureza da fé. Eles foram especialmente perturbados pelos pregadores itinerantes que, com os seus ensinos, tentaram perverter o Evangelho da graça e levar os crentes gentios de volta à lei mosaica. Onde quer que Paulo fosse, tinha de lutar contra essa influência. Em muitos casos, os falsos mestres haviam solapado o seu ministério, lançando dúvidas sobre o seu apostolado e depreciando-lhe a autoridade. Em Derbe, Icônio e em todas as regiões da Galácia, onde estivera com Silas na segunda viagem, Paulo admoestou:
Maravilho-me de que tão depressa passásseis daquele que vos chamou à graça de CRISTO para outro Evangelho, o qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o Evangelho de CRISTO. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro Evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, e agora de novo vo-lo digo, se alguém anunciar outro Evangelho além do que já recebestes, seja anátema (Gl 1.6-9).
Paulo tornou a visitar todas as primeiras igrejas, resolvendo suas dificuldades, respondendo suas perguntas, rebatendo os falsos mestres, advertindo, censurando, encorajando e confirmando. Esse era o ministério de que precisavam para se manterem firmes na fé.
Apolo, um NOVO Missionário
Ao mesmo tempo em que Paulo continuava seu paciente ministério nas cidades do interior, um judeu chamado Apoio chegou a Éfeso. Ele nascera em Alexandria, na embocadura do Nilo, e era culto e eloqüente. Seu conhecimento das Escrituras era comparável ao de Paulo, pois fora cuidadosamente ensinado por seus pais hebreus. Mas agora, com os olhos abertos para JESUS, o Messias, ele empenhava-se em divulgar a Verdade em toda parte.
Apoio nunca vira JESUS, nem falara com qualquer dos discípulos. Mas ouvira falar de João Batista e de como ele anunciara que JESUS era o CRISTO, em cumprimento das profecias. Dominado por esses fatos, partiu com o coração cheio da mensagem, ansioso por anunciá-la aos seus conterrâneos.
Áquila e sua esposa foram ouvi-lo na sinagoga de Éfeso e maravilharam-se com a sua capacidade. Apoio era poderoso nas Escrituras. O casal compreendeu imediatamente que, se aquele jovem com tanto saber viesse a conhecer o Evangelho pleno, como Paulo lhes ensinara, seria um dos maiores homens da igreja. Que instrumento para DEUS!
Amavelmente, convidaram-no a visitá-los, e ele aceitou. Com bondade, e sem ofendê- lo, repassaram alguns tópicos de seu sermão, elogiando-o, mas mostrando-lhe que o ensino de João sobre o arrependimento não era o Evangelho em sua plenitude. Fizeram-no ver também que o batismo de João não era aquele ordenado por CRISTO.
Dia após dia, o brilhante orador sentou-se com o fabricante de tendas e sua mulher e, passo a passo, inteirou-se dos aspectos mais profundos da fé. Com genuína humildade cristã, o grande orador do Egito ouviu as verdades divinas e alegrou-se nelas. A cada dia, sua mensagem na sinagoga foi-se tornando mais forte. Áquila e sua fiel esposa oravam para que o Senhor enchesse aquele vaso com grande poder.
Armado de uma verdade que antes não possuía, Apoio foi a Corinto, aquela importante cidade da Acaia, a fim de pregar com todo o fervor e intrepidez da sua juventude. Assim, enquanto os judeus farisaicos de Jerusalém procuravam por todos os meios combater a Paulo e ao Evangelho, outro judeu estava visitando algumas das igrejas fundadas pelo apóstoloe atraindo homens e mulheres para CRISTO.
Organização da Igreja de Éfeso
Paulo chegou a Éfeso e ouviu falar de Apoio, poucos dias depois desse ter ido para Corinto. A primeira providência de Paulo foi procurar seu velho amigo Aquila, o fabricante de tendas, e inteirar-se de tudo o que acontecera desde que deixara a cidade. Conheceu alguns crentes convertidos pela pregação de Apoio e, ao descobrir que esse os batizara no batismo de João, perguntou a 12 deles:
Vocês receberam o batismo do ESPÍRITO SANTO quando creram? Os 12 cristãos fitaram- no surpresos e responderam:
Nem mesmo ouvimos que existe o ESPÍRITO SANTO.
Havia, evidentemente, muita coisa a ser corrigida, e Paulo ofereceu-se bondosamente para realizar a tarefa.
Depois de tê-los ensinado, batizou-os novamente, tanto homens como mulheres, em nome do Senhor JESUS, e impôs as mãos sobre eles. Uma nova igreja foi fundada naquele dia, composta de cristãos que, como os do Pentecostes, foram batizados no ESPÍRITO SANTO.
Durante três meses, Paulo freqüentou a sinagoga de Éfeso e pregou ousadamente que JESUS era o Filho de DEUS. Mas surgiram disputas tão acirradas quanto à sua mensagem, que o pequeno grupo de cristãos perdeu a esperança de obter quaisquer novos frutos na sinagoga. Semana após semana, os judeus tinham ouvido o Evangelho de CRISTO dos lábios de Áquila e Apoio, e agora de Paulo. Mas não só se recusaram a crer, como também endureceram os corações contra JESUS e depreciaram a Paulo, advertindo o povo de que o Cristianismo era antagônico aos judeus.
Saulo afastou-se triste da sinagoga, para jamais pisar nela. A fim de continuar seus ensinamentos, ele alugou o salão de palestras da escola pertencente a Tirano. Esse homem era professor de retórica e filosofia, e dava aulas todas as manhãs. Paulo reunia seus seguidores à tarde, argumentando com eles diariamente. Não só discutia as reivindicações de JESUS, como também respondia às muitas perguntas relativas ao Cristianismo e à vida paga. Provavelmente tratou de assuntos como casamento, divórcio, escravidão e alimento oferecido aos ídolos - temas que voltaria a abordar mais tarde em suas cartas. No espaço de dois anos, a igreja de Éfeso cresceu e floresceu, e o Evangelho de JESUS CRISTO foi pregado em toda a Ásia romana.
Combatendo a Adoração aos Ídolos
Éfeso era o centro de uma grande província. O templo de Diana, ou Artemis, fora levantado ali havia mil anos. Quando nasceu Alexandre, o Grande, o templo queimara completamente e os asiáticos reuniram ouro e prata para reconstruí-lo. Cada família da província deu a sua contribuição, e o novo templo ficou tão magnífico que veio a ser considerado uma das sete maravilhas do mundo. No dia da sua inauguração, um príncipe persa atirou uma flecha de sua torre mais alta e declarou: "Aquele que ultrapassar essa distância, ao aproximar-se desse edifício, encontrará aqui um santuário e ficará livre da perseguição".
O imenso prédio era de mármore, com fileiras duplas de colunas entalhadas. Em toda a volta havia 14 degraus de mármore, subindo em camadas como as de um bolo de noiva, e na base de cada coluna, profundamente esculpidas na rocha, havia figuras de homens e mulheres em tamanho natural. No centro do grande templo havia uma câmara formada por pilares de jaspe verde. Das paredes pendiam caros presentes, enviados por todas as províncias vizinhas, e perto da entrada, encontrava-se um altar esculpido por Praxíteles. Uma grande cortina púrpura descia do teto e, detrás dela, havia uma estátua de madeira em forma de mulher, escurecida pelo tempo. Era Diana, a deusa dos efésios, que, segundo diziam, caíra do céu. O ídolo era hediondo; mas, oculto pela cortina mística, tornara-se objeto de adoração para milhões de pessoas.
Pequenas cópias da imagem tinham sido feitas de bronze ou prata, e algumas vezes de ouro, mostrando Diana como uma linda mulher, usando na cabeça uma coroa. Em cada casa havia uma dessas estatuetas, pois segundo acreditavam, a deusa era poderosa para afastar o mal.
O templo de Diana tornara-se o centro da vida de Éfeso. Peregrinos do mundo inteiro iam visitá-lo. Mercadores deixavam seu dinheiro com os sacerdotes, acreditando ser o tesouro do templo o lugar mais seguro do mundo. Grande número de artesãos ganhava a vida explorando a superstição do povo e fabricando imagens para serem usadas como talismãs.
O Poder de DEUS
Nessa cidade de mágicos e idolatras, Paulo e seus companheiros anunciaram a CRISTO, levando centenas de pessoas a abandonarem a idolatria. Através do apóstolo, DEUS realizou muitos milagres em Éfeso. Aquele povo, que tanto gostava de prodígios, viu que o poder do Altíssimo era maior que a magia de Diana ou de quaisquer dos seus seguidores. Assim como Moisés superara os mágicos de Faraó no Egito, pelo poder de DEUS, Paulo, o servo do Senhor, recebeu autoridade para curar. Sem necessidade de talismãs, contas, ou pergaminhos contendo fórmulas mágicas, Paulo demonstrou que o imenso poder de DEUS fluía dele para as pessoas. Os milagres não aconteciam só pela sua pregação, mas em alguns casos, por meio de artigos pessoais, como o avental que ele usava na fábrica de tendas, ou o lenço com que enxugava a testa.
Em um lugar assim, existiam sempre impostores que ganhavam a vida com as superstições do povo. Numa família judaica, sete irmãos, filhos do sacerdote Ceva, rebaixaram- se a ponto de ganhar dinheiro, afirmando curar por meio de talismãs e fórmulas mágicas. Certo dia, eles viram Paulo expulsar o espírito maligno de um homem e aprenderam rapidamente as palavras usadas pelo apóstolo. Na primeira oportunidade, tentaram imitá-lo.
"Esconjuro-vos por JESUS, a quem Paulo prega" (At 19.13). Mas o poder de DEUS não estava nas palavras deles e, em vez de ser liberto da possessão demoníaca, o endemoninhado revidou: "Conheço a JESUS e bem sei quem é Paulo, mas vós, quem sois?" (At 19.15). E com força sobrenatural, atirou-se sobre os sete mágicos, rasgando-lhes as roupas, batendo e ferindo- os furiosamente.
As notícias espalharam-se depressa. Muita gente presenciara o incidente e não mais acreditava no poder dos mágicos. Muitos dos que haviam praticado artes mágicas levaram seus livros de magia, amuletos e talismãs, e os queimaram em praça pública. Aquela foi uma tremenda demonstração, pois os objetos queimados valiam uma grande soma.
Agora que se haviam tornado cristãos, DEUS enchera-lhes os corações com um novo poder. E diante do poder divino, os truques de Satanás perderam o valor.
Os Ajudantes de Paulo em Éfeso
A obra do Senhor prosperou, e o testemunho da igreja de Éfeso tornou-se conhecido em toda a Ásia. Timóteo chegou da Europa e juntou-se novamente a Paulo. Erasto, outro crente, seguiu os passos de Timóteo e tornou-se um dos ajudantes de Paulo em Éfeso. De fato, essa igreja veio a ser o centro da divulgação do Evangelho.
Existia uma via direta de comércio entre Éfeso e Corinto, e os mercadores iam e vinham; os crentes em JESUS também faziam freqüentes visitas às outras igrejas. Através de um desses viajantes, ou talvez de Apoio, Paulo recebeu notícias perturbadoras de Corinto. Muitos cristãos tinham voltado ao mundanismo da vida paga, e a impureza penetrara na igreja, sendo aceita passivamente.
A Visita a Corinto
Paulo decidiu visitar pessoalmente os coríntios e corrigir o erro, antes que o nome do Senhor fosse desonrado. Sua visita foi triste e penosa, pois ao chegar, descobriu que as coisas eram ainda piores do que supunha. Sentiu-se humilhado ao ver que tantos dos seus convertidos estavam vivendo em desacordo com a vida cristã.
A permanência de Paulo foi breve, e ele usou cada momento para advertir os crentes de Corinto contra toda forma de impureza. Lembrou-lhes que o propósito do batismo era demonstrar que haviam morrido para o pecado e ressuscitado para uma vida de justiça. Ameaçou-os com a exclusão da Igreja, se não deixassem de profaná-la. Repreendeu-os como um pai; advertiu-os de que, se não melhorassem, retornaria e não os pouparia. Como fizesse tudo com amor, doçura e humildade, logo após sua partida para Éfeso, os coríntios interpretaram sua atitude como fraqueza, achando que Paulo os temia. Continuaram no pecado, desafiando o Senhor e seu apóstolo.
A Primeira Epístola aos Coríntios
Pouco tempo depois, Estéfanas, Fortunato e Acaico, três convertidos de Paulo, chegaram a Éfeso com um relatório completo sobre a igreja de Corinto. As notícias eram péssimas; o mundanismo crescera na igreja.
A seguir, alguns membros da casa de Cloé, uma família cristã importante de Corinto, chegaram a Éfeso com mais informações. Os crentes haviam-se dividido em quatro partidos, conforme a preferência que cada um dava aos pregadores locais. Havia muita contenda entre os grupos; a igreja inteira fervia de inquietação. A imoralidade, tal como nos templos pagãos, era tolerada sem pudor. Era comum os cristãos apresentarem queixas, uns contra os outros, nos tribunais seculares. Até a Ceia do Senhor transformara-se em ocasião para excessos; havia bebedeira e glutonaria.
Paulo escreveu imediatamente uma carta severa aos coríntios, ordenando que se afastassem dos desobedientes e os excluísse da comunhão. Essa carta, ou epístola, é conhecida como Primeira aos Coríntios.
Então Paulo esperou para ver como receberiam sua carta. Queria dar-lhes tempo para que se arrependessem, antes de visitá-los uma terceira vez.
Paulo julgou necessário enviar Timóteo e Erasto para verificar como iam as coisas. Mais tarde, escreveu uma outra carta severa aos coríntios, censurando-lhes o comportamento e corrigindo os males que enfraqueciam o testemunho cristão. Essa carta (que não chegou até nós) foi levada por Tito,
O jovem que anos antes o acompanhara a Jerusalém.
A indignação de Paulo não era apenas pela desordem na igreja de Corinto; ouvira também que muitas igrejas da Galácia estavam esquecendo as verdades simples do Evangelho, e aderindo à idéia de que o caminho da salvação passava pela sinagoga e pela lei de Moisés.
O Novo INIMIGO
Como se já não houvesse problemas suficientes, um novo inimigo surgiu em Éfeso. O Evangelho fora pregado eficazmente em todas as cidades e povoados perto de Éfeso, e houve centenas de convertidos. Resultado: os artesãos que vendiam imagens de prata de Diana começaram a sentir o declínio em seu comércio. Alarmados, fizeram uma reunião. O principal orador, Demétrio, era ourives e comprava suas imagens dos artífices. Em seu discurso, Demétrio explicou aos membros da corporação o motivo do declínio nas vendas e instigou-lhes a ira, sugerindo que o próprio templo corria perigo. Inflamados pelo discurso, os negociantes agarraram a Gaio e a Aristarco, dois fiéis amigos de Paulo, e arrastaram-nos até o teatro ao ar livre, considerado o maior do mundo.
Atraída pela gritaria, uma grande multidão ajuntou-se. Sem nem saber o que estava acontecendo, todos começaram a correr pelas ruas, gritando a plenos pulmões: "Grande é a Diana dos efésios!" (At 19.28).
As ruas encheram-se de gente que se dirigia apressada ao teatro, querendo saber o porquê de tamanha excitação. Paulo escapou da multidão e, quando quis entrar no teatro para juntar-se aos amigos, os discípulos o retiveram. Até alguns líderes políticos da Ásia aconselharam-no a ficar longe dos ourives.
Engrossando a multidão estavam alguns judeus que fariam tudo para silenciar a Paulo, a quem consideravam um inimigo da sinagoga. Aproveitando-se do tumulto no teatro, um deles, Alexandre, levantou a mão para ser ouvido. Sua intenção era pedir a prisão de Paulo, esperando assim dar um golpe na Igreja. Mas quando o povo reconheceu seus traços e vestimentas judias, não quis ouvi-lo. Em vez disso, gritaram mais alto: "Grande é a Diana dos efésios! (At 19.34).
Alexandre deu-se por feliz em ter a vida poupada; sem perda de tempo, misturou-se à multidão.
O tumulto durou cerca de duas horas. O poder de Diana fora posto em dúvida e os seus seguidores estavam enfurecidos. Aquele episódio foi uma demonstração de como os efésios se sentiam em relação à sua deusa e ao seu templo. Quando os gritos e vozes cessaram, o escrivão da cidade apaziguou-lhes a ira e mandou-os de volta para casa.
Varões efésios, qual é o homem que não sabe que a cidade dos efésios é a guardadora do templo da grande deusa Diana e da imagem que desceu de Júpiter? Ora, não podendo isso ser contraditado, convém que vos aplaqueis e nada façais temerariamente. Porque esses homens que aqui trouxestes nem são sacrílegos nem blasfemam da vossa deusa. Mas, se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há audiências e há procônsules; que se acusem uns aos outros. Mas, se alguma outra coisa demandais, averiguar-se-á em legítimo ajuntamento. Na verdade até corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo causa alguma com que possamos justificar esse concurso (At 1935-40).
Paulo Volta à Macedônia
Naquela mesma noite Paulo convocou a igreja e contou que iria à Macedônia. Enquanto a poeira baixava, seria melhor para a igreja de Éfeso que ele não estivesse presente. O apóstolo pregou seu sermão de despedida e, depois de abraçar cada irmão, seguiu para o norte, pela estrada que levava a Trôade.
Paulo esperava encontrar Tito ali, voltando da Grécia, talvez com notícias da igreja de Corinto. Mas em Trôade, ficou desapontado: Tito não chegara. Esperou alguns dias, e embora a população de Trôade lhe mostrasse sincera amizade, ele ansiava por partir. A preocupação com a igreja de Corinto pesava-lhe grandemente, além de que, pretendia visitar todas as igrejas da Macedônia. Com essa meta, embarcou para a Macedônia e chegou a Filipos, onde podia contar com amigos sinceros.
A casa de Lídia recebeu-o cordialmente. Aquele dia foi gasto visitando cristãos que há muito não via, mas que sempre tinham sido lembrados em suas orações. O encontro foi uma alegria a Paulo e a seus filhos na fé. O carcereiro e sua família continuavam firmes em CRISTO. Também encontrou-se novamente com Timóteo e soube do seu sucesso na pregação do Evangelho.
Mas os cristãos coríntios não lhe saíam da mente, e embora apreciasse a estada entre os filipenses, ficou inquieto até que Tito chegou de Corinto trazendo boas notícias. A carta enviada por Paulo, juntamente com o ministério de Tito, haviam transformado a situação. Os coríntios castigaram o pecador que estava vivendo em cabal contradição aos mandamentos do Senhor, e purificaram suas vidas dos pecados específicos que Paulo lhes apontara. Até a divisão da igreja tinha melhorado; em vez de quatro partidos havia agora só dois - os que eram a favor de Paulo e os que eram contra. Os inimigos do apóstolo duvidavam de seu apostolado e até criticavam-lhe as palavras e aparência pessoal. Os amigos, porém, tinham sido despertados e, genuinamente, se arrependido.
A Segunda Epístola aos Coríntios
Incomodado com o relatório trazido por Tito, o apóstolo Paulo escreveu a mais pessoal de todas as suas cartas - a Segunda Epístola aos Coríntios. Nela, demonstrou toda a sua preocupação com aqueles crentes. Para eliminar a dúvida que eles tinham sobre o seu apostolado, repetiu-lhes grande parte de suas experiências, pensamentos, temores e vida particular. Tinha muito a dizer sobre seus sofrimentos e empenho na causa de CRISTO. Contou de suas várias prisões; das cinco ocasiões em que foi publicamente açoitado; e dos três naufrágios que sofrerá, ficando certa vez na água durante 24 horas.
Essa carta é, em certo sentido, uma autobiografia de Paulo e uma firme defesa do seu ministério e convocação superiores. Ele escreveu:
Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um. Três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; Em viagens, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos. Em trabalhos e fadiga, em vigílias muitas vezes, em fome e sede, em jejum, muitas vezes, em frio e nudez (2 Co 11.2427).
Esta Carta aos Coríntios foi uma mescla de louvor e condenação -louvor aos fiéis e condenação aos rebeldes.
Paulo, Missionário em Terras Estrangeiras
Tito ofereceu-se para voltar com a carta. Lucas, o médico amado, acompanhou-o na viagem. Mas Paulo permaneceu em Filipos, fazendo dessa cidade o centro de suas viagens por toda a província. Aonde quer que fosse, exortava os cristãos a uma vida diferente dos moldes do mundo. Viajou pelas montanhas, a oeste de Filipos, pregando o Evangelho em aldeias e cidades onde CRISTO nunca havia sido proclamado. Paulo havia dito que nunca desejara construir sobre os alicerces lançados por outro; portanto, procurou visitar os lugares onde o Evangelho era desconhecido. Ele foi verdadeiramente um missionário em terras estrangeiras; fazia um trabalho pioneiro e, aonde quer que fosse, o Senhor o acompanhava, operando sinais e prodígios, e atraindo a si tanto gregos como judeus.
Indo de cidade em cidade, Paulo percebeu a terrível condição das pessoas afastadas de DEUS. Embora habitassem em lindas cidades, com templos cuja glória maravilhava o mundo, viviam nas trevas. Desde essa época, Paulo já pensava em visitar Roma; planejava pregar o Evangelho no coração do Império Romano e, talvez, prosseguir até a Espanha. Depois de algumas semanas na Macedônia, ele foi para o sul, à Acaia. Queria verificar pessoalmente o estado da igreja de Corinto. Essa igreja precisava novamente dele, e além disso, como Corinto fosse a capital da Acaia, poderia fazer dela a sua base para pregar nas cidades vizinhas. Permaneceu ali três meses trabalhando com Tito, que se apegara aos cristãos coríntios e vinha demonstrando ser um ministro verdadeiramente sábio, capaz de lidar com situações difíceis.
Durante esse período, Paulo encontrou tempo para visitar todos os crentes e conversar pessoalmente com eles, fortalecendo-os na fé e advertindo-os contra os falsos mestres. Assim, passou-se o inverno.
A Epístola aos romanos
Paulo escreveu a carta à igreja de Roma exatamente durante esse inverno. Ele nunca visitara os crentes romanos, mas o desejo de fazê-lo crescia-lhe na alma. Roma era a maior cidade do mundo, e pregar a mensagem da salvação aos seus habitantes seria de fato um privilégio. Ele também já tinha vários amigos ali, pois a essa altura, crentes de todas as cidades que visitara haviam se estabelecido em Roma.
Paulo já era cristão há mais de 24 anos. Durante esse tempo, passara por muitas experiências e grandes decepções. Sua mente, porém, abrira-se para JESUS como uma flor se abre ao sol. Amadurecera na vida cristã, e o Evangelho de CRISTO era-lhe, mais que nunca, uma preciosa realidade.
Em sua carta, Paulo decidiu proclamar o Evangelho em sua plenitude. Suas palavras, ditadas a Tércio, visavam convencer os romanos de que todos, gentios ou judeus, precisavam da salvação provida por DEUS em seu Único Filho. DEUS a oferecia como um dom; bastava ao homem recebê-la de graça. Homem algum pode, por esforço próprio, ser reto e aceitável a DEUS.
"Não há um justo, nem um sequer" (Rm 3.10).
Nem mesmo guardando a Lei o indivíduo pode ser justo. A Lei foi dada para provar que o mundo todo é culpado diante de DEUS. Pelas obras da Lei ninguém pode ser justificado (Rm 3.20). A retidão de DEUS é revelada em JESUS CRISTO, e pela Sua graça todos podem crer. Somos justificados pela fé no que DEUS fez por nós, e não pelas boas obras que possamos fazer (Rm 3.28).
A maior carta de Paulo continuou sendo escrita dia a dia, estabelecendo as verdades fundamentais da fé cristã. Assim, quando os falsos mestres chegassem a Roma - o que sem dúvida aconteceria - os crentes de lá estariam fortalecidos. Paulo preocupava-se com os romanos, embora nunca os tivesse visto pessoalmente.
Dos altos cumes das doutrinas superiores, Paulo desceu às campinas da vida prática e rotineira, e conversou com eles sobre o viver diário, o pagamento de impostos e seu relacionamento com as autoridades. Terminou a carta com saudações pessoais a vários homens e mulheres em Roma, a quem citou pelo nome. Depois de colocado o selo, o rolo foi embrulhado numa proteção de pano e entregue a Febe, uma mulher de Cencréia, porto de Corinto, que viajava a Roma para negócios.
A Decisão de Paulo de Voltar para Casa
Passados três meses, Paulo resolveu embarcar para a Síria. Seus inimigos não ousaram perturbá-lo enquanto se achava em Corinto, mas ao tomarem conhecimento da sua ida a Cencréia, conspiraram para matá-lo. Longe da igreja onde os amigos o defendiam, certamente conseguiriam seu intento. O plano ardiloso, porém, falhou. Um amigo inteirado do segredo avisou imediatamente a Paulo, que mudou o itinerário. Enquanto os inimigos vigiavam a estrada litorânea, ele seguiu por terra para a Macedônia.
Quando Paulo chegou a Filipos, Lucas juntou-se ele. O médico permaneceria na companhia do apóstolo até o dia da sua morte, participando de todas as suas aventuras e registrando cada uma delas no livro de Atos.
Sete homens, escolhidos em diferentes cidades, propuseram-se a acompanhar Paulo na sua viagem de volta a casa. Cada um levava uma oferta especial, que lhes fora confiada pelas diversas igrejas, e destinada aos irmãos carentes de Jerusalém. O próprio Paulo levava a oferta de Corinto. Esses sete homens foram enviados na frente, de navio, para Trôade, enquanto Paulo e Lucas permaneceram em Filipos para a Festa dos Pães Asmos. Essa festa era a mais importante para Paulo e para todo cristão, pois marcava o dia em que o Salvador ressuscitara dentre os mortos.
Cinco dias mais tarde, eles chegaram a Trôade e reuniram-se aos sete homens que os esperavam. Esses irmãos não haviam ficado ociosos. Tinham procurado todos os cristãos da cidade e lhes contado que o grande apóstolo estava vindo visitá-los.
Na chegada de Paulo, os crentes reuniram-se para celebrar a Ceia do Senhor e ouvir a doutrina cristã. O coração de Paulo pulava de alegria quando levantou-se para falar. Veio-lhe à mente a noite em que recebera, naquela cidade, a visão da Macedônia, e como, em sua pressa de partir, ofendera os irmãos; mais recentemente, em sua ânsia e temor pelos coríntios, tornara a partir às pressas, apesar das súplicas da igreja para que ficasse.
O SERMÃO EM TRÔADE
Paulo fez novos planos, devendo viajar no barco que partiria no dia seguinte. Como dizer tudo o que pretendia àquelas pessoas tão queridas, numa só noite? Ele as exortou durante muitas horas, pregando com a alma; respondeu-lhes as perguntas e fortaleceu-as na fé. O ambiente, no terceiro andar, estava superlotado e aquecido pelas muitas lâmpadas acesas. Pretendendo enxergar melhor por cima da multidão, um jovem chamado Êutico subiu numa janela e sentou-se ali. Paulo continuava pregando. De repente, um grito aterrador seguido de um ruído surdo interrompeu abruptamente o sermão. Êutico adormecera e, perdendo o equilíbrio, despencara lá de cima.
A confusão reinou no aposento; ao olharem pela janela, as pessoas viram o corpo sem vida caído na rua. Todos correram para lá. Lucas, o médico, foi sem dúvida o primeiro a chegar. Talvez tenha olhado para a forma imóvel e encolhido os ombros, como se dissesse: "Não adianta, está morto".
Paulo abriu caminho entre o povo. Como o profeta Elias, estendeu seu corpo sobre o do jovem e abraçou-o, orando a DEUS para que tudo acabasse bem. A seguir, levantando-se, disse aos espectadores abalados: "Não vos perturbeis, que a sua alma nele está" (At 20.10).
Enquanto observavam, a cor voltou às faces pálidas de Êutico. Paulo entregou-o aos seus entes queridos, e subiu novamente ao cenáculo, onde os fieis, cheios de gratidão, reuniram- se para ouvir mais.
Quando o alvor da manhã banhou a grande planície a leste de Trôade, Paulo ainda pregava. E os crentes ouviam! Essa era a sua grande oportunidade e eles não perderam uma só palavra. Mas, com a chegada do dia, os homens tinham de voltar ao trabalho; e Lucas e os sete cristãos fiéis precisavam chegar cedo ao navio.
A Viagem a Jerusalém
Paulo, entretanto, planejava seguir a pé para Assôs, distante cerca de 32 quilômetros, e tomar ali o mesmo navio. Ele precisava desse passeio para ficar a sós com os seus pensamentos e tomar algumas decisões. Não se sentia muito feliz com seu retorno a Jerusalém. Seu espírito não se sentia livre a respeito; havia premonições de problemas. Paulo nunca se sentiu bem- vindo em Jerusalém, nem mesmo na igreja cristã. Seu trabalho era definitivamente entre os gentios. Portanto, seu espírito achava-se turbado. Mas não era covarde, e se tivesse de ser preso em Jerusalém, essa não seria a sua primeira prisão. O Senhor não estivera com ele na cadeia? Decidiu então, naquela caminhada solitária, que voltaria sem se importar com o que o aguardasse. Seus amigos nas igrejas que deixara talvez estivessem enganados quando o aconselharam a afastar-se de Jerusalém. Mas o aviso fora tão insistentemente repetido que não podia deixar de preocupar-lo. Ele ficou imaginando se estava, quem sabe, negligenciando a voz do ESPÍRITO de DEUS.
Em Assôs tomou o navio que, depois de carregado, rumou para a ilha de Lesbos, impelido pelo vento norte.
Navegaram todo o dia seguinte entre as ilhas do mar Egeu, passando Dor Quios e, mais tarde, pela grande baía onde fora construída a cidade de Éfeso. O comandante do navio não tinha de aportar em Éfeso, mas o teria feito se Paulo lho pedisse. Este, no entanto, estava ansioso por chegar a Jerusalém a tempo para a Festa de Pentecostes, e insistiu com o comandante que não se detivesse na cidade.
Pregando aos Amados Efésios
Em Mileto, a cerca de quarenta quilômetros ao sul de Éfeso, o navio ficou mais tempo ancorado. Descarregaram ali diversas mercadorias e receberam novas cargas para o restante da viagem. Paulo enviou uma mensagem aos seus amigos de Éfeso, contando que estava em Mileto e queria vê-los. A sensação de que esse seria seu último encontro com eles cresceu-lhe no íntimo. Não tinha sido avisado de que algemas o esperavam em Jerusalém? Pois então era melhor aproveitar cada oportunidade.
Os cristãos foram-lhe imediatamente ao encontro, especialmente os presbíteros da igreja, pois lembravam-se dos três anos que Paulo passara com eles, e amavam-no mais que a todos os outros. O encontro foi alegre, mas tenso; todos sentiam que era uma despedida final. As últimas palavras são sempre cheias de solenidade e importância, e Paulo conversou como alguém que amadurecera na fé. Insistiu para que se mantivessem firmes e se fortalecessem, não importando o que lhes sobreviesse no futuro.
Com grande eloqüência, recapitulou seus três anos com eles, lembrando os dias de sol e de sombras:
E agora, na verdade, sei que todos vós, por quem passei pregando o reino de DEUS, não vereis mais o meu rosto. Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de DEUS. Olhai pois por vós, e por todo o rebanho sobre que o ESPÍRITO SANTO vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de DEUS, que ele resgatou com seu próprio sangue. Porque eu sei isto: que, depois de minha partida, entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não perdoarão o rebanho. E que dentre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas, para atraírem os discípulos após si. Portanto, vigiai, lembrando-vos de que durante três anos, não cessei, noite e dia, de admoestar com lágrimas a cada um de vós. Agora, pois, irmãos, encomendo-vos a DEUS e à palavra da sua graça; a Ele que é poderoso para vos edificar e dar herança entre todos os santificados (At 20.25-32).
Sua voz interrompeu-se e sua cabeça grisalha pendeu. O silêncio era total. Ninguém sentiu vontade de abrir a boca e parecia que a única coisa a fazer era orar. Paulo mencionou cada presbítero pelo nome, pedindo que o Salvador o mantivesse leal, sincero e forte no dia da tentação. Quando se levantaram, todos tinham lágrimas nos olhos. Eles estavam vendo, pela última vez, o grande guerreiro que os guiara bravamente na batalha. Como a mãe-pássaro desfaz o ninho, Paulo estava agora entregando-lhes toda a responsabilidade, deixando-os por conta própria. Com os corações entristecidos, eles o acompanharam até o navio e observaram até que o barco desaparecesse de vista.
A Visita a Tiro
Dois dias mais tarde, depois de costear a ilha de Cós e aportar em Rodes, os nove viajantes foram até Pátara na Lícia. Aquele era o último porto em que o navio ancoraria. Porém tiveram sorte, e logo encontraram outra embarcação de partida para a Síria. Com um vento favorável, encaminharam-se para o alto mar, em direção à grande cidade de Tiro. Essa era uma cidade gentia, e como sempre houvesse um local onde os cristãos se reunissem, Paulo e seus amigos procuraram por ele. Durante sete dias estiveram com os irmãos de Tiro, pregando o reino de DEUS e encorajando-os com as histórias do que DEUS fizera em cidades distantes.
Foi ali que Paulo recebeu um aviso de certos discípulos de que o perigo o aguardava em Jerusalém. Isso confirmou-lhe os sentimentos, mas não lhe abalou o propósito. Muitas eram as razões que o levavam a Jerusalém. Tinha um grande relatório para apresentar aos discípulos sobre a divulgação do Evangelho. Além disso, levava dinheiro para os santos da cidade, o presente da igreja de Corinto, e queria entregá-lo pessoalmente.
Quando a semana passou e o navio já estava prestes a partir, Paulo e seus amigos suspiraram aliviados por terem chegado à última etapa da viagem. Em Ptolemaida, deixaram o navio que prosseguiu em sua rota. Como ainda faltassem quatorze dias para a grande festa em Jerusalém, passaram um dia com os cristãos nesse porto.
A Profecia de ágabo
Depois de saudarem os irmãos, eles seguiram para Cesaréia pela estrada costeira. Paulo visitara freqüentemente o lugar, por isso sentia-se em casa. O evangelista Filipe morava ali, e Paulo estava certo de que seriam bem recebidos.
Durante a sua estada com Filipe, o profeta Ágabo - o mesmo que previra a grande fome nos dias do imperador Cláudio - chegou da Judéia. Ágabo conhecia a família de Filipe. As quatro filhas do evangelista eram conhecidas por terem o dom da profecia, e ele foi procurá-los.
Ao chegar à casa em que Paulo se hospedava, Ágabo reconheceu o apóstolo e, conhecedor do sentimento que havia em Jerusalém contra ele, aconselhou-o a não ir para lá. Como faziam os profetas do Antigo Testamento, Ágabo ilustrou sua advertência: tomando o cinto de Paulo, abaixou-se e amarrou com ele os próprios pés e mãos. Enquanto os presentes o observavam em silêncio, ele profetizou: "Isto diz o Espirito SANTO: Assim ligarão os judeus em Jerusalém, o varão de quem é essa cinta e o entregarão nas mãos dos gentios" (At 21.11).
O grupo inteiro, inclusive Timóteo e Lucas, rogou a Paulo que desistisse dos planos de ir a Jerusalém. Com lágrimas nos olhos, suplicaram; mas suas palavras eram como ondas batendo num penhasco. Paulo estava decidido. As palavras dos amigos o entristeceram; seus protestos eram bem-intencionados e pretendiam poupá-lo de danos físicos, mas não era isso o que ele temia. Já enfrentara tais coisas antes, e o Senhor o livrara. Disse-lhes então: "Que fazeis vós, chorando e magoando-me o coração? Porque estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor JESUS" (21.13).
Em face de tal determinação, eles aquiesceram: "Faça-se a vontade do Senhor!" (21.14).
Embora soubesse dos perigos que o aguardavam, Paulo reuniu seus pertences e seguiu para Jerusalém. Vários cristãos de Cesaréia acompanharam-no; entre eles, Mnasom, um dos primeiros convertidos. Mnasom tinha uma casa em Jerusalém, e Paulo poderia hospedar-se nela, ficando a salvo do perigo.
A ULTIMA VISITA A JERUSALÉM
Jerusalém preparava-se para o Dia de Pentecostes; já estava cheia de judeus provenientes de todo o império. Paulo e seus amigos abrigaram-se na casa de Mnasom. Era uma residência senhorial, rodeada por um muro alto, e os cristãos que gozavam da hospitalidade do seu proprietário tinham todo conforto.
Na casa de Maria, Paulo encontrou alguns dos líderes da igreja. Tiago, o irmão de JESUS, era um deles. Ele havia envelhecido e seu cabelo branco e encaracolado chegava-lhe aos ombros, à moda nazarena. Paulo saudou a igreja, e contou-lhe a história da sua terceira viagem. Ele atravessara os Portões da Cilícia para a Galácia, e depois de visitar todas as igrejas dali, fora para Éfeso, onde permanecera três anos. Viajara depois para a Europa e pregara aos santos de Filipos, testemunhando de CRISTO nas regiões interioranas do Ilírico. Chegara finalmente a Corinto, e iniciara uma campanha que o levou a muitas outras cidades da Grécia. A história de quatro anos de trabalho foi apresentada em rápidas pinceladas.
Os crentes de Jerusalém ficaram também conhecendo a igreja rebelde de Corinto, e como esta se arrependera e afastara-se do mal. A seguir, como se para confirmar suas palavras, Paulo apresentou um saco pesado de dinheiro, dizendo ser uma contribuição dos coríntios à igreja-mãe. Aquela oferta era um socorro aos irmãos reduzidos à pobreza por causa da fé em CRISTO.
Presentes à Igreja-màe
Quando Paulo entregou o presente, seus companheiros de viagem que tinham vindo com o mesmo propósito também entregaram os seus. Lucas, de Filipos; Timóteo, de Listra; Sópatro, de Beréia; Aristarco e Segundo, de Tessalônica; Gaio, de Derbe; Tíquico e Trófimo, de Éfeso - todos eles cristãos de cidades distantes e frutos do ministério de Paulo - trouxeram sacolas pesadas de dinheiro e entregaram-nas aos irmãos, para que socorressem os santos da Judéia.
O relatório de Paulo foi grandioso. Contudo, enquanto dava as informações, pôde sentir a estreiteza mental dos crentes de Jerusalém. É claro que todos louvaram a DEUS pelo maravilhoso crescimento do reino e por todo gentio que se juntara a eles. No entanto, Paulo sentia que nem todos eram como os crentes de Antioquia. Até mesmo a gloriosa história de heroísmo que contara foi recebida com certa desconfiança.
Como líder do grupo, Tiago levantou-se para receber os presentes e agradecer por eles. Tiago sempre fora um tanto formal, e Paulo e seus amigos notaram isso naquele momento. Paulo percebeu também que os presbíteros de Jerusalém haviam discutido sobre ele, e não estavam ainda convencidos de que sua posição fora determinada por DEUS. Histórias sobre a pregação de Paulo haviam chegado a Jerusalém, e os presbíteros estavam contrafeitos com o que ouviram. Quando Paulo falou-lhes do trabalho entre os gentios, dizendo que diante de DEUS não havia diferença, e que o gentio cristão fazia parte da Igreja da mesma forma que o judeu cristão, as suspeitas deles foram confirmadas.
O sentimento do grupo aflorou quando Tiago, o porta-voz, expôs:
Bem vês, irmão, quantos milhares de judeus há que crêem, e todos são zeladores da lei. E já acerca de ti foram informados que ensinas todos os judeus que estão entre os gentios a apartarem-se de Moisés, dizendo que não devem circuncidar os filhos, nem andar segundo o costume da lei. Que faremos pois? em todo o caso é necessário que a multidão se ajunte; porque terão ouvido que já és vindo. Faze pois isto que te dizemos:
Temos quatro varões que fizeram voto. Toma estes contigo, e santifica-te com eles, e faze por eles os gastos para que rapem a cabeça, e todos ficarão sabendo que nada há daquilo de que foram informados acerca de ti, mas que também tu mesmo andas guardando a lei (At 21.20-24).
Paulo ouviu o conselho e o analisou. Como ansiasse por unir os partidos contrários, dispôs-se a ceder nos detalhes de pouca importância. Costumava explicar que estava preparado para ser tudo para com todos os homens, a fim de ganhar alguns. Essa era a sua oportunidade de promover a paz. Se aquilo era importante para o seu testemunho entre os judeus, ele podia atender ao pedido sem qualquer dano pessoal.
O apóstolo aceitou a sugestão na esperança de conseguir que houvesse paz entre os dois partidos. Levando os quatro homens ao Templo, anunciou que estavam prestes a começar os sete dias de purificação, e pagou, para cada um, dois carneiros, uma ovelha, um cesto de bolos sem fermento e uma medida de vinho.
Rebelião no Templo
Um grupo de judeus da Ásia Menor reuniu-se no Templo para ouvir um rabino discursando sobre a Lei. De repente, um deles puxou a roupa do amigo, e perguntou: Aquele não é Paulo, o líder cristão? O que faz ele no Templo?
O pequeno grupo virou-se rapidamente para identificar o homem a quem se haviam oposto tão amargamente quando pregara CRISTO na sua sinagoga. Lembravam-se muito bem de que a pregação dele havia perturbado a sinagoga e dividido as famílias judias. Ele falara contra a adoração nacional e os costumes judaicos. Sim, esse era o mesmo homem que haviam expulso da cidade, e aqui estava ele de volta ao Templo.
Alguém lembrou-se de tê-lo visto antes com Trófimo, o efésio, e em breve todos o culpavam de haver profanado o santuário, ao introduzir nele um gentio. Correndo em direção a Paulo, gritaram:
Israelitas, acudi! Esse é o homem que por todas as partes ensina a todos, contra o povo e contra a lei, e contra esse lugar; e demais disto, introduziu também no templo os gregos, e profanou esse santo lugar (At 21.28).
Já agora, havia gente afluindo de todas as direções. A multidão ajuntou-se e os boatos corriam livremente. Fora dos muros do Templo, espalharam-se as notícias de que um traidor de Israel havia sido apanhado e seria morto. As ruas ficaram cheias de pessoas que corriam ao Templo, querendo presenciar os acontecimentos.
No Templo, a plebe amotinada agarrara a Paulo e, batendo nele com varas e socos, arrastara-o para a rua, onde preparava-se para matá-lo.
O socorro, porém, estava próximo. As tropas romanas que vigiavam a cidade durante as festas religiosas logo notaram a comoção diante do Templo. O comandante Lísias não perdeu tempo. Com uma companhia de soldados, apressou-se para o lugar onde o povo espancava a Paulo. Com a chegada dos soldados romanos, a multidão afastou-se.
A Defesa de Paulo
Ao ver que Paulo era o centro de toda a confusão, o comandante romano supôs que fosse um criminoso e ordenou que o acorrentassem. A seguir, perguntou à multidão-. "Quem é esse homem e que mal ele fez?"
Um rugido brotou da garganta de milhares de judeus, e na confusão Lísia nada conseguia entender. Ele detestava aqueles judeus rebeldes e suas escaramuças religiosas. Pareciam ser o único povo conquistado do império que precisava ficar sob constante observação, pois em cada festa religiosa colocavam em risco a paz romana. Agora, em meio à confusão daquela cena, cada um gritava uma coisa.
Não conseguindo entender aqueles gritos selvagens, Lísias fez um gesto impaciente, dando um sinal aos seus homens. Imediatamente eles cercaram a Paulo e recolheram-no à fortaleza. O povo mostrou-se desafiador; os gritos e caçoadas aumentaram. Os amotinados aproximaram-se tanto do prisioneiro que os soldados tiveram de levantá-lo e literalmente carregá-lo. Pelas vozes e atitude do povo, Lísias julgou ter capturado o agitador egípcio que, dias antes, havia reunido uma multidão no Monte das Oliveiras e ameaçado derrubar os muros de Jerusalém.
Ao chegarem aos degraus, tendo deixado a multidão enfurecida lá embaixo, Paulo voltou-se respeitosamente ao seu captor e indagou em grego: "É-me permitido dizer-te alguma coisa?" (At 21.37).
Lísias ficou espantado ao ver o cativo "egípcio" dirigir-se a ele no idioma grego.
Paulo explicou: "Na verdade que sou um homem judeu, cidadão de Tarso, cidade não pouco célebre na Cilícia; rogo-te, porém, que me permitas falar ao povo" (At 21.39).
Lísias ficou impressionado ao ver a calma de Paulo diante do perigo e, com evidente admiração, permitiu que falasse. Enquanto os soldados guardavam os degraus, Paulo levantou a mão à multidão zangada, como sinal de que queria dirigir-lhe a palavra. Sua coragem fez com que se dispusessem a ouvi-lo. Na sua própria língua, Paulo começou o discurso.
Abaixo dele havia um mar de rostos fechados. Aqui, um fariseu com seu manto branco; ali, um rabino em trajes talares; e por toda parte, olhos ardendo de ódio.
Suas palavras foram diferentes das usuais, pois aquela gente não estava disposta a ouvir sermões.
Varões, irmãos e pais, ouvi agora a minha defesa perante vós (At 22.1).
O povo vibrou. Aquela era a sua amada língua hebraica.
Quanto a mim, sou varão judeu, nascido em Tarso da Cilícia, mas criado nesta cidade aos pés de Gamaliel, instruído conforme a verdade da lei de nossos pais, zeloso de DEUS, como todos vós hoje sois (At 22.3).
Paulo aprendera que, como orador, devia prender a atenção da platéia dizendo-lhe as coisas que esta gostava de ouvir.
Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em prisões, tanto homens como mulheres. Como também o sumo sacerdote me é testemunha, e todo o conselho dos anciãos; e, recebendo destes cartas para os irmãos, fui a Damasco, para trazer manietados para Jerusalém aqueles que ali estivessem, a fim de que fossem castigados (At 22.4,5).
A seguir, contou-lhes a respeito da luz que brilhara sobre ele ao entrar na cidade de Damasco, e da voz e aparição do Senhor. Falou igualmente de Ananias, da recuperação da sua vista e da comissão divina para ir e pregar CRISTO ao mundo. Devido à sua súbita transformação de perseguidor em discípulo, os judeus de Jerusalém haviam se recusado a ouvi-lo. Certo dia, enquanto estava no Templo, caíra em transe. Ouvira a voz do Senhor, ordenando que deixasse Jerusalém e fosse pregar aos gentios.
A multidão ouviu em silêncio até esse ponto, mas quando o nome gen-tio - termo tão odiado - foi dito, sentiu-se ferida em seu orgulho religioso. Cheios de raiva, recomeçaram a gritar. O ruído transformou-se subitamente num clamor enfurecido: "Tira da terra um tal homem, porque não convém que viva" (At 22.22).
Despindo-se, lançaram pó ao ar. Era a expressão evidente do seu desagrado, pedindo a morte de Paulo.
Lísias não pôde entender a defesa de Paulo, porque não conhecia o idioma hebraico. Ao ver que o povo redobrava a fúria, mandou que o apóstolo fosse recolhido à segurança da fortaleza. Depois ordenou aos soldados que o açoitassem e obtivessem a verdade mediante tortura. Quando estavam atando Paulo com as correias, este perguntou ao oficial encarregado: "É-vos lícito açoitar um romano, sem ser condenado?" (At 22.25).
Surpreso com a pergunta, o oficial ordenou aos soldados que interrompessem o castigo, e foi procurar Lísias. Repetindo as palavras de Paulo ao comandante, aconselhou-o: "Vê o que vais fazer, porque esse homem é romano" (At 22.26).
Lísias foi com o homem até ó poste, aonde Paulo estava acorrentado e com as costas nuas. "Dize-me, és tu romano?" (At 22.27).
Quando Paulo afirmou que sim, Lísias mandou que o desamarrassem. Ele quase cometera um grande erro.
Voltou-se então a Paulo e disse: "Eu, com grande soma de dinheiro alcancei o direito de cidadão".
Ao que Paulo replicou: "Mas eu sou-o de nascimento" (At 22.28).
Os soldados receberam ordens para devolver as roupas de Paulo e ajudá-lo a vestir-se. O apóstolo foi então levado a uma cela de pedra, da qual esperava ser libertado no dia seguinte. Mas, ele passara pela porta de uma prisão romana, e em certo sentido, jamais seria verdadeiramente livre outra vez.
Paulo Diante do Sinédrio
Em vez de solto, Paulo foi levado por uma tropa de soldados ao grande salão do Templo. Suas correntes haviam sido removidas e ele encontrou-se face a face com o Sinédrio. O grupo imponente fora convocado por Lísias; ele queria ouvir as acusações dos judeus para chegar a uma decisão sobre o prisioneiro. Ao entrar no pátio exterior do Templo, Paulo sentou- se entre os guardas, no mesmo salão onde ele próprio estivera tantas vezes como acusador, opinando contra os discípulos de JESUS.
Examinando os homens do conselho, Paulo sabia que alguns deles haviam estado presentes, um quarto de século antes, num falso julgamento, quando JESUS encontrava-se naquele mesmo lugar.
Da última vez em que Paulo estivera naquele grupo do conselho, seu coração ardia de ódio. Ele costumava assistir a todas as reuniões do Sinédrio e votar contra os cristãos. Mas agora, era diferente. Seu coração estava cheio da paz de DEUS, e seu desejo era falar de um modo que testemunhasse eficazmente de seu Salvador.
Lísias deu-lhe permissão. Com a habilidade de um grande orador, Paulo começou seu discurso.
Varões irmãos, até ao dia de hoje tenho andado diante de DEUS com toda a boa consciência (At 23.1).
Os membros do Sinédrio tinham certeza de que isso era mentira. Consideravam-no um traidor da sua causa e aquela declaração os espantou. Ananias, o sumo sacerdote, exaltou-se: "Guardas, batam-lhe na boca!"
Paulo ficou irado com essa ordem maldosa e, voltando os olhos míopes ao sumo sacerdote, replicou:
"DEUS te ferirá, parede branqueada; tu estás aqui assentado para julgar-me conforme a lei, e contra a lei me mandas ferir?" (At 23.3).
Muitas vozes elevaram-se e alguém gritou: "Injurias o sumo sacerdote de DEUS?" (At 23.4).
Houve, imediatamente, uma acusação formal contra Paulo. Este compreendeu que cometera um erro e desculpou-se na mesma hora: "Não sabia, irmãos, que era o sumo sacerdote; porque está escrito: Não dirás mal do príncipe do teu povo" (At 23.5).
Paulo continuou seu discurso e, sabendo que o conselho era formado por fariseus e saduceus, gritou: "Varões irmãos, eu sou fariseu, filho de fariseu! No tocante à esperança e ressurreição dos mortos sou julgado!" (At 23.6).
Tinha certeza de que essas palavras dividiriam o Sinédrio. Desde que os fariseus criam na ressurreição dos mortos, e os saduceus a negavam, surgiu uma grande controvérsia no conselho. De pé, com o dedo em riste, homens de ambos os partidos trocavam palavras contundentes. Por fim, os fariseus lembraram-se da recomendação de Gamaliel, de que se um espírito ou anjo falara realmente a Paulo, eles não estavam em posição de lutar contra DEUS.
Portanto, esquecendo suas reclamações contra o apóstolo, admitiram: "Nenhum mal achamos nesse homem" (At 23.9).
Os saduceus, porém, não aceitaram essa decisão e o tumulto aumentou. Desgostoso, Lísias observava-os. Que cena típica das contendas religiosas judias! Gritos e maldições eram atirados de um partido contra o outro, enquanto cada um reivindicava o direito de decisão a respeito de Paulo. Alguns tentaram pôr as mãos sobre o apóstolo e arrastá-lo à morte, mas os soldados armados, a uma ordem do comandante, rodearam Paulo e livraram-no de ser feito em pedaços. Lísias ordenou rapidamente que os guardas reconduzissem o apóstolo à fortaleza.
A Visão Noturna de Paulo
Naquela noite, deitado na cama de palha, Paulo tentava dormir, mas estava apreensivo e inquieto. Na sua agonia, viu o Senhor de pé ao seu lado, encorajando-o: "Tem ânimo; porque, como de mim testificaste em Jerusalém, assim importa que testifiques também em Roma" (At 23.11).
O espírito de Paulo reanimou-se; ele sentiu-se confortado. Não sabia como esta promessa se cumpriria, mas bastava que DEUS o soubesse. Paulo ficou feliz. O anseio do seu coração seria respondido. DEUS não terminara ainda seu propósito com ele.
Antes que findasse o dia seguinte, um jovem entrou na fortaleza pedindo para ver o prisioneiro. Afirmou ser um parente, e deixaram-no entrar. Ao vê-lo, Paulo reconheceu o filho de sua irmã. Na juventude de Paulo, em Tarso, sua irmã casara-se com um habitante de Jerusalém e fora viver nessa cidade, criando uma família leal à sinagoga.
O Aviso
- Tio Paulo - segredou o rapaz -, vim avisar o senhor de que há uma conspiração entre os judeus para matá-lo. Mais de quarenta deles fizeram um juramento de que não vão comer nem beber até que o liquidem. Amanhã, os principais sacerdotes vão pedir a Lísias que o leve novamente diante do Sinédrio, alegando que querem lhe fazer certas perguntas. Mas o grupo de quarenta ficará à espreita e, no momento em que os guardas o entregarem às autoridades do Templo, eles o atacarão e o matarão.
Paulo estava acorrentado ao guarda, mas pediu ao centurião que levasse seu sobrinho até Lísias e o avisasse da conspiração. O comandante ouviu cada palavra e fez o jovem prometer que manteria sigilo sobre o assunto.
Lísias compreendeu, porém, que a única maneira de manter a paz era fazendo Paulo sair de Jerusalém. Um plano formava-se em sua mente. Ele enviaria o prisioneiro a Félix, o governador de Cesaréia. Esta cidade era a capital romana da Judéia, e o perigo de rebelião seria menor numa cidade distante, com uma guarnição romana maior. Depois de fazer planos para escapulir com Paulo naquela mesma noite, ele sorriu ao pensar no desgosto dos judeus, quando descobrissem que o preso se fora. Riu também quando lembrou que os quarenta teriam de quebrar a promessa de jejum ou morrer de fome.
Naquela noite, uma escolta de duzentos soldados, sob o comando de dois centuriões, juntamente com setenta cavaleiros e duzentos lanceiros, dirigiu-se para Cesaréia com o prisioneiro. O grupo era grande porque Lísias temia um levante dos judeus. Além disso, a guarnição de Jerusalém fora aumentada durante a Festa do Pentecostes, mas agora que essa terminara e os peregrinos já haviam retomado às suas casas, muitos dos soldados iam ser deslocados aos seus postos anteriores.
Em Antipatris, os soldados de infantaria deixaram Paulo aos cuidados dos cavalarianos, certos de que não havia mais perigo por parte dos judeus.
Lísias enviara uma carta a Félix, descrevendo o caso de Paulo e concluindo: "Nada encontrei contra o prisioneiro que mereça morte ou prisão, mas estou dizendo aos acusadores que façam suas acusações diante do seu tribunal".
A carta dava a impressão de que Lísias salvara a Paulo dos judeus por ser ele romano.
Quando Félix a leu, notou que Paulo era cidadão romano e indagou qual a sua província. Quando soube que era da Cilícia, ordenou que fosse mantido em segurança e que o julgamento ocorresse depois que seus acusadores chegassem a Jerusalém.
Paulo, no entanto, caíra nas mãos de um homem fraco, que tinha por hábito adiar as coisas, e que para proteger sua autoridade, era inescrupuloso e injusto. Nos dois anos seguintes, a vida de Paulo passou-se dentro dos muros da prisão de Cesaréia. A situação era desanimadora; em todo caso, ele tinha a promessa de DEUS de que pregaria o Evangelho em Roma.
Antônio Félix fora nomeado para o governo pelo imperador Cláudio, em 52 A.D. Ele casara-se com uma judia, Drusila, filha de Agripa, depois de fazê-la abandonar o marido. O pecado tornou-o infeliz, apesar da sua elevada posição. Antes, fora escravo; depois de solto, recebeu um alto cargo, para o qual não estava capacitado. Seu governo destacava-se por atos de vingança e crueldade, e pela corrupção evidente, aceitando e pagando subornos. Os súditos o odiavam, e seu único remédio para as desordens na Judéia era a força bruta.
O Julgamento perante Félix
Cinco dias após a chegada de Paulo a Cesaréia, o sumo sacerdote Ananias e os anciãos de Jerusalém compareceram para acusá-lo. Como não conhecessem a lei romana, levaram em sua companhia um advogado astuto de nome Tértulo. Dessa vez, não iriam perder! De pé, diante do tribunal de Félix, o orador começou seu discurso elogiando o governador e criticando o comandante Lísias:
Visto como, por ti, temos tanta paz, e, por tua prudência, se fazem a este povo muitos e louváveis serviços, sempre e em todo lugar, ó potentíssimo Félix, com todo o agradecimento o queremos reconhecer. Mas, para que te não detenha muito, rogo-te que, conforme a tua eqüidade, nos ouças por pouco tempo (At 24.2-4).
A seguir, apontando o dedo comprido ao apóstolo sentado à frente da tribuna, sob a guarda de um soldado, continuou:
Temos achado que esse homem é uma peste e promotor de sedições entre todos os judeus, por todo o mundo, e o principal defensor da seita dos nazarenos. O qual intentou também profanar o templo; e por isso o prendemos...examinando-o, poderás entender tudo o de que o acusamos (At 2.5-8).
Virando-se aos seus empregadores com um voltear eloqüente da mão, Tértulo perguntou-lhes se os fatos não eram exatamente aqueles. Enquanto Félix observava-lhes a fisionomia, todos concordaram com a cabeça.
As acusações eram graves, especialmente a de incitar motins entre os judeus. Se havia algo que os romanos vigiavam, era o traidor que perturbava a paz de Roma. Enquanto ouvia o discurso, Paulo notou os pontos fracos que ele continha e, quando teve permissão para defender- se, rapidamente os apontou.
A Defesa de Paulo
No momento em que Paulo pôs-se de pé diante do tribunal, Félix inclinou-se para escutá-lo atentamente. Ele ouvira falar dos nazarenos e do seu zelo, e desde que sua esposa era judia, tinha algum interesse em saber mais a respeito desse JESUS, que, segundo diziam, levantara-se dentre os mortos.
Tértulo era um bom orador, mas Paulo ouvira os homens de Atenas e DEUS lhe dera um dom de oratória, que superava o de qualquer de seus contemporâneos. Quando chegou a sua vez de falar ao nobre Félix, começou:
Porque sei que já vai para muitos anos que desta nação és juiz, com tanto melhor ânimo respondo por mim (At 24.10).
Iniciando a sua defesa sem mais delongas, negou cada uma das acusações feitas, descrevendo com grande simplicidade os eventos que levaram à sua prisão.
Pois bem podes saber que não há mais de doze dias que subi a Jerusalém a adorar. E não me acharam no templo falando com alguém, nem amotinando o povo nas sinagogas, nem na cidade. Nem tão pouco podem provar as coisas de que agora me acusam. Mas confesso-te que, conforme aquele Caminho que chamam seita, assim sirvo ao DEUS de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na lei e nos profetas. Tendo esperança em DEUS, como estes mesmos também esperam, de que há de haver ressurreição de mortos, tanto dos justos como dos injustos. E, por isso, procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com DEUS como para com os homens.
Ora, muitos anos depois, vim trazer à minha nação esmolas e ofertas. Nisto me acharam já santificado no templo, não em ajuntamentos, nem com alvoroços, uns certos judeus da Ásia, os quais convinha que estivessem presentes perante ti, e me acusassem, se alguma coisa contra mim tivessem. Ou digam estes mesmos, se acharam em mim alguma iniqüidade, quando compareci perante o conselho (At 24.11-20).
Paulo olhou para todos eles e houve silêncio. Félix sentiu no coração que ele era inocente. Aquele não fora o seu primeiro encontro com a inveja e maldade judaicas. Mas, se uma voz lhe dizia para desconsiderar o caso, outra tentava-o a esperar, até descobrir que lado deveria apoiar em vantagem própria.
Paulo Mantido na Prisão
A menção de dinheiro para os irmãos de Jerusalém o fez pensar em uma boa soma que poderia ser-lhe paga pela liberdade do apóstolo. De qualquer modo, valia a pena tentar! Se a igreja quisesse a libertação do seu líder, sem dúvida levantaria fundos para obtê-la. Decidiu adiar sua decisão. Não seria má idéia manter Paulo por perto durante algum tempo; havia muitas coisas sobre os nazarenos que o interessavam e queria ter uma conversa particular com o prisioneiro.
Com um aceno impaciente, Félix encerrou a sessão do tribunal, prometendo ouvi-los de novo quando Lísias chegasse de Jerusalém. Paulo foi mantido em custódia militar, acorrentado a um guarda, mas livre para receber seus amigos e conhecidos. Os meses passaram-se e Lísias nunca chegou. Ananias e os anciãos, decepcionados com a fraqueza do governador, voltaram irados a Jerusalém.
Durante os dias que se seguiram, Paulo teve muitos encontros privados com Félix. Certa ocasião, Félix levou a esposa, Drusila. Ela era uma princesa belíssima e com menos de vinte anos. Félix falara-lhe de Paulo e, sendo judia, quis ver esse conterrâneo que se convertera ao Cristianismo. Drusila compreendeu a diferença entre Paulo e os judeus que o acusavam, e tentou explicá-la ao marido. Seria interessante ver o homem e ouvir-lhe as palavras. Félix deu ordens para que Paulo fosse levado ao palácio.
Cercado por guardas, Paulo entrou no grande salão, onde Félix e sua jovem esposa reclinavam-se em sofás de seda. Ela era bela e ambiciosa, e com um sorriso curioso, voltou a atenção ao conterrâneo envelhecido, de quem tanto ouvira falar. Drusila tinha antecedentes religiosos, mas, uma vez entregue à vida de iniqüidade para conseguir poder e posição, não se preocupava tanto com a entrevista, estando apenas um pouco curiosa.
Félix provavelmente não tinha religião. Como a maioria dos de sua classe, tinha um medo supersticioso do desconhecido e, ao ouvir Paulo, ficou fascinado por sua convicção e autoridade. Temeu que Paulo estivesse certo no que dizia. Era possível que houvesse realmente um DEUS vivo, que guardava o futuro em suas mãos, e talvez esse DEUS castigasse os perversos. Caso fosse verdade, qual seria a sua posição?
O grande apóstolo não poupou palavras. Falou com destemor sobre viver em pureza e retidão e sobre o domínio das paixões.
A vida de Félix tinha sido indisciplinada e absolutamente egoísta. Ele satisfizera todos os seus sentimentos de ódio, vingança e desejo. Mas agora, as palavras de Paulo assustavam-no, e ele tremeu ao pensar no futuro. Drusila arqueou as lindas sobrancelhas e deu um sorriso vago, ao qual Félix não conseguia resistir. Compreendeu também que, se permitisse que suas emoções o dominassem a ponto de ceder à atração de Paulo, teria de desistir dessa mulher bela e pecadora que era a luz de sua vida lasciva.
Uma sensação de medo o tomou, e disfarçando tudo, como se estivesse muito ocupado com questões oficiais, fez sinal com a mão de que a entrevista terminara. "Por agora vai-te, e tendo oportunidade, te chamarei" (At 24.25).
Quando retirava-se do aposento, Paulo ouviu o riso alegre da jovem princesa enquanto ela e o marido ocupavam-se rapidamente de outras coisas.
Félix mandou chamar Paulo repetidas vezes depois disso, pois gostava de conversar com ele sobre a eternidade e, além do mais, ainda entretinha a esperança de que os cristãos lhe oferecessem uma soma de dinheiro pela liberdade do líder. Mas, o dinheiro não chegou. A cada dia Félix rejeitava o Evangelho; a cada dia seu coração endurecia-se mais. Paulo voltou à sua vida na prisão, mantendo conversações diárias com os crentes que o visitavam.
Ávida em Cesaréia continuou rotineira. Paulo passou dois longos anos acorrentado a um guarda romano, com o seu ministério suspenso e seu caso sem solução. Seus inimigos, no entanto, não dormiam, e pediram a Félix que o mantivesse preso. Para fazer um favor aos judeus, o governador deixou que ele permanecesse encarcerado. Quando os amigos de Paulo fizeram petições, ele prometeu apressar as coisas e continuar o julgamento depois da chegada das testemunhas. Tanto os amigos como os inimigos de Paulo suplicaram ao governador que tomasse uma decisão. Mas ele não atendeu; não mandou matá-lo nem libertá-lo.
Félix foi subitamente chamado de volta à Roma. Durante seu termo de serviço, houvera muitos levantes dos zelotes, que ele havia subjugado pela força, mas que em breve voltavam à carga noutra região. Relatórios sobre esses fatos chegaram aos ouvidos de César, que não tolerava a desordem em seu império. Félix foi então removido, e outro governador, Festo, enviado com instruções para manter a paz romana.
Paulo Diante de Festo
Nem bem Festo chegara ao palácio de Herodes e tomara as rédeas da autoridade, os judeus viram outra chance de conseguir a morte de Paulo. Quando Festo fez sua primeira visita oficial a Jerusalém, o sumo sacerdote e alguns dos seus homens esperavam por ele, e suplicaram que Paulo fosse levado a julgamento nessa cidade. O plano deles era assassiná-lo em algum ponto da estrada. Mas, excederam-se em sua ansiedade, e Festo adivinhou que algo se escondia por trás de tanto interesse.
- Não é costume dos romanos - asseverou ele -, castigar alguém antes de uma acareação com os acusadores, e de dar oportunidade ao acusado para defender-se. Ele está sendo mantido em Cesaréia, e quando eu voltar, em breve, que os poderosos entre vocês me acompanhem e acusem o homem, se é que ele cometeu algo errado.
Esse governador não era como Félix. Ele cumpriu sua palavra e, no dia seguinte ao seu retorno a Cesaréia, Paulo foi levado diante da corte para enfrentar os mesmos acusadores que pediram seu sangue nos dias de Félix. Festo não entendia das leis judaicas e surpreendeu-se com o zelo daqueles homens de Jerusalém, que tanto se esforçavam para conseguir uma sentença de morte. Ouviu pacientemente as acusações e argumentos. Parecia ser uma disputa sobre religião, que ele jamais podería resolver.
Estava ansioso para começar bem o seu governo e ganhar o favor de seus governados. Tendo ouvido muitas testemunhas da parte deles, voltou-se a Paulo e perguntou: "Queres tu subir a Jerusalém e ser julgado acerca destas coisas em minha corte?"
O Apelo a César
Paulo lembrou-se do ódio do Sinédrio, e compreendeu que em Jerusalém estaria no meio dos inimigos. Tomou rapidamente uma decisão e apelou:
Estou perante o tribunal de César, onde convém que seja julgado; não fiz agravo algum aos judeus, como tu muito bem sabes. Se fiz algum agravo, ou cometi alguma coisa digna de morte, não recuso morrer; mas, se nada há das coisas de que estes me acusam, ninguém me pode entregar a eles. Apelo para César (At 25 10 11).
Festo ficou atônito. Jamais ouvira um apelo desses antes, mas sabia que, pela lei romana, não podia ser negado, pois Paulo era um cidadão livre, e esse era o seu mais nobre direito como romano. Depois de conversar às pressas com o conselho, levantou-se e fez o seu pronunciamento em tom grave: "Apelaste para César? Para César irás" (At 25.12).
O dado estava lançado. A causa do Cristianismo deveria comparecer diante da mais alta corte do mundo. Festo tinha de preparar um relatório para o imperador, mas teve dificuldade em escrevê-lo. Nada tinha de definido a declarar contra o homem; o relatório, porém, era imprescindível.
Enquanto Festo refletia, recebeu hóspedes das províncias e cidades vizinhas, que foram cumprimentá-lo pelo seu novo cargo e dar-lhe as boas-vindas najudéia. Entre eles encontrava-se o rei Herodes Agripa II, da Galiléia e da região próxima ao Jordão. Ele era irmão da jovem e bela Drusila e tataraneto de Herodes o Grande.
Todos os Herodes gostavam de espetáculos, e Festo fez o máximo para alimentar a vaidade do hóspede e cortejar-lhe o favor. No curso da conversa, ele contou ao rei sobre o seu estranho prisioneiro, pedindo conselho sobre como preparar a carta de apelo ao imperador.
Paulo Diante de Agripa
O rei pediu para ouvir pessoalmente o apóstolo, prometendo que depois de escutá-lo ajudaria Festo a preparar seu relatório para César. O cunhado de Agripa tivera muito contato com Paulo, e essa seria uma boa oportunidade para ouvir o famoso orador, enquanto falava sobre um assunto que perturbava Israel.
O pedido foi aceito. No dia seguinte, Agripa compareceu em real esplendor, acompanhado de Berenice, adornada com todas as suas jóias. Para agradar ao rei, Festo convidara os oficiais do seu regimento e os principais da cidade. Era um falso julgamento, pois nada ia ser resolvido, mas Agripa o solicitara.
Com todo aparato, o grupo entrou no pretório, sentando-se nas cadeiras douradas que Festo mandara colocar para os visitantes. Junto às paredes, os lictores postavam-se atentos, e o prisioneiro foi colocado no centro, com uma corrente prendendo-lhe os pés.
Festo apresentou o caso segundo seus conhecimentos. A seguir, Agripa pediu a Paulo que se defendesse, e recostou-se na cadeira para ouvi-lo. Com um movimento eloqüente da mão, Paulo dominou a cena e começou sua defesa:
Tenho-me por venturoso, ó rei Agripa, de que perante ti me haja, hoje, de defender de todas as coisas de que sou acusado pelos judeus. Mormente sabendo eu que tens conhecimento de todos os costumes e questões que há entre os judeus; pelo que te rogo que me ouças com paciência (At 26.2,3).
Agripa foi devidamente homenageado e sua atitude era amigável. Paulo fizera um bom começo, e continuou. Seu testemunho, encontrado em Atos 26, foi essencialmente o seguinte:
A minha vida, pois, desde a mocidade, qual haja sido, desde o princípio, em Jerusalém, entre os da minha nação, todos os judeus a sabem. Sabendo de mim, desde o princípio (se o quiserem testificar), que, conforme a mais severa seita da nossa religião, vivi fariseu. E agora, pela esperança da promessa que por DEUS foi feita a nossos pais estou aqui e sou julgado. A qual as nossas doze tribos esperam chegar, servindo a DEUS continuamente, noite e dia. Por esta esperança, ó rei Agripa, eu sou acusado pelos judeus. Pois quê? julga-se coisa incrível entre vós que DEUS ressuscite os mortos?
Bem tinha eu imaginado que contra o nome de JESUS, o nazareno, devia eu praticar muitos atos. O que também fiz... E, enfurecido demasiadamente contra eles, até nas cidades estranhas os persegui.
Sobre o que, indo, então a Damasco, com poder e comissão dos principais dos sacerdotes, ao meio-dia, ó rei, vi no caminho uma luz do céu, que excedia o esplendor do sol, cuja claridade me envolveu a mim e aos que iam comigo. E, caindo nós todos por terra, ouvi uma voz que me falava, e em língua hebraica, dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa te é recalcitrar contra os aguilhões.
E disse eu: Quem és, Senhor?
E ele respondeu: Eu sou JESUS, a quem tu persegues. Mas levanta-te e póe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda. Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio. Para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a DEUS; a fim de que recebam a remissão dos pecados, e sorte entre os santificados pela fé em mim.
Pelo que, ó rei Agripa, não fui desobediente à visão celestial. Antes, anunciei primeiramente aos que estão em Damasco e em Jerusalém, e por toda a terra da Judéia, e aos gentios, que se emendassem e se convertessem a DEUS, fazendo obras dignas de arrependimento. Por causa disto os judeus lançaram mão de mim no templo e procuraram matar-me. Mas, alcançando socorro de DEUS, ainda até ao dia de hoje permaneço, dando testemunho tanto a pequenos como a grandes, não dizendo nada mais do que o que os profetas e Moisés disseram que devia acontecer. Isto é, que o CRISTO devia padecer, e, sendo o primeiro da ressurreição dos mortos, devia anunciar a luz a este povo e aos gentios (At 27.4-23).
Festo estivera ouvindo atentamente, com crescente espanto. Ele conhecia JESUS pelos registros romanos. Sabia que Ele fora crucificado sob o governo de Pôncio Pilatos; agora isso era história. Mas, esse prisioneiro falava calmamente da sua ressurreição e de tê-lo visto, e falado com Ele desde esse acontecimento. Que tolice! O homem devia estar louco.
Estás louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar - exclamou Festo.
Paulo respondeu:
Não deliro, ó potentíssimo Festo; antes digo palavras de verdade e de um são juízo. Porque o rei, diante de quem falo com ousadia, sabe estas coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto; porque isto não se fez em qualquer canto. Crês tu nos profetas, ó rei Agripa? (At 26.25-27).
Ele inclinou-se para ouvir a resposta. Agripa hesitou e não disse nada. Ele não apreciara a pergunta, pois qualquer fosse a sua resposta, seria apanhado. Paulo viu sua hesitação e acrescentou rapidamente:
Bem sei que crês.
-O rei ficou comovido, mas também muito embaraçado diante do seu séquito.
Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!
Rápido como um esgrimista que avança para matar, Paulo respondeu prontamente: "Prouvera a DEUS que, ou por pouco ou por muito, não somente tu, mas também todos quantos hoje me estão ouvindo se tornassem tais qual eu sou" e acrescentou então três palavras curtas que revelavam tudo o que o Cristianismo fizera por ele, "exceto estas cadeias" (26.29).
Alguns anos antes, Paulo deleitara-se em prender homens e mulheres e lançá-los na prisão, mas agora não colocaria uma algema em ninguém.
Agripa não quis ouvir mais nada, e levantou-se. Berenice e Festo acompanharam-no para um lado do aposento. Ficaram conversando alguns minutos e concordaram que Paulo nada fizera digno de morte ou prisão. "Bem podia soltar-se este homem, se não houvera apelado para César" (At 26.32).
Festo sentou-se para fazer seu relatório e Paulo foi levado de volta à cela, a fim de esperar o dia da viagem para Roma. A VIAGEM PARA ROMA
O outono estava no fim quando Festo reuniu um grupo de prisioneiros e enviou-os a Roma. Em sua maioria, eram presos políticos que, por terem desafiado alguma lei romana, eram chamados de criminosos. Estavam sendo enviados à corte suprema, e se condenados, teriam de lutar com as feras no Coliseu e morrer diante da multidão insensível, num feriado.
A maior parte dos navios com destino a Roma haviam sido carregados mais cedo e seguido para o mar ocidental. Todo marinheiro sabia que os ventos equinociais tornavam perigosas as longas viagens e, em breve, os barcos seriam forçados a lançar âncora durante o inverno. Festo não conseguiu encontrar um navio para Roma, mas querendo livrar-se dos prisioneiros, colocou-os numa pequena embarcação que fazia viagens comerciais pela costa, do Egito até Adramítio, um porto da Mísia, perto da cidade de Trôade.
Os prisioneiros, a cargo de um centurião de nome Júlio e de uma escolta de soldados, iriam até onde fosse possível com o navio, na expectativa de encontrarem, em algum porto da Ásia, outro barco com destino a Roma. Festo deu instruções completas a Júlio, encarregando-o de guardar os homens como sua própria vida e entregá-los a Roma.
O centurião sabia que Paulo não era perigoso, pois Festo lhe contara que o levavam para Roma a seu próprio pedido. Tratava-se de uma questão religiosa sobre a qual estava sendo julgado. Júlio o tratou com grande respeito e bondade, chegando até a conceder-lhe privilégios em certos portos em que desembarcaram.
Lucas acompanhou Paulo como assistente e companheiro. Aristarco, um crente de Tessalônica, que levara uma oferta à igreja de Jerusalém, estava também entre os passageiros.
Quando o vento forte soprou do Ocidente, as cordas foram retiradas e os longos remos levaram a embarcação para além do quebra-mar, em direção ao mar alto. Os marinheiros desfraldaram a vela branca; o capitão estabeleceu o curso, e navegaram por entre as ondas na direção norte, para o porto de Sidom.
O Porto de Mirra
Em Sidom, o navio recebeu carregamento para as cidades da Ásia, e Paulo teve permissão para descer, porém acorrentado a um guarda. Ele passou o tempo visitando os irmãos e confirmando-os na fé. Era a sua última palavra para eles e quis adverti-los quanto aos perigos que a Igreja enfrentava. Alertou-os quanto aos inimigos de CRISTO, sempre a postos. Depois de carregado o navio, os amigos de Paulo acompanharam-no de volta à nave, acenando enquanto as velas eram desfraldadas e a proa virava para o oeste, em direção à bela ilha de Chipre.
Os ventos frios do inverno já começavam a soprar e o mar mostrava-se agitado. O navio teve de mudar o curso; por segurança, ficou próximo à costa, ao abrigo do continente. Navegando em águas tempestuosas, passaram pela amada Tarso, a oeste da Panfília, avançando quando os ventos eram favoráveis e ancorando quando mostravam-se contrários. Finalmente chegaram ao porto de Mirra, na costa da Lícia.
Júlio ordenou que seus homens deixassem a embarcação, e enquanto esta preparava-se para retornar ao seu porto de origem, ao norte, ele procurou entre os navios ancorados algum que os levasse a Roma. Finalmente, encontrou um que trabalhava para os cerealistas egípcios, carregado de grãos, pronto a partir para a Itália, onde permaneceria durante o inverno.
Já havia muitos passageiros, mas o capitão abriu espaço para o grupo, esperando ser bem pago porque Júlio estava em missão imperial. Ao todo, havia 276 homens a bordo quando o navio se fez ao mar. O peso extra era-lhe favorável e o capitão levou-o para onde havia vento e águas encapelados, esperando dar tempo de chegar ao seu destino.
Era outubro, e o céu tinha a cor de chumbo. Depois de o navio haver deixado Mirra, um vento forte tirou-os da rota. Costearam a ilha de Rodes, e durante muitos dias fizeram pouco progresso, a sotavento das ilhas do Egeu, sendo levados pela correnteza para o norte até Cnido, e para o sul, até Creta. Dentro de um mês, não haveria mais navios no mar; as tempestades de inverno dominariam solitárias. Era prudente apressar-se.
Bons Portos
Com dificuldade e rangendo, o navio abriu caminho contra o vento, aproximando-se do Cabo Salmone e costeando a ilha de Creta. Chegaram a Bons Portos e ancoraram na baía. Bons Portos não passavam de um porto pequeno, inteiramente inadequado para se passar o inverno. Depois de uma mudança do vento, fizeram uma tentativa para chegar a Fênix, a sudoeste da ilha.
Qualquer um que conhecesse o mar teria noção do perigo. Parecia que chegar a Roma estava agora fora de questão. Tudo o que restava era procurar um porto abrigado e passar ali o inverno. O conselho de Paulo foi que permanecessem em Bons Portos. Com sua experiência do mar, onde já naufragara três vezes, aprendera a ser cauteloso. Dirigindo-se ao piloto e ao mestre, aconselhou: "Varões, vejo que a navegação há de ser incômoda e com muito dano, não só para o navio e carga, mas também para a nossa vida" (At 27.10).
O piloto do navio pensava outra coisa; e os homens, desejando invernar numa cidade maior, concordaram em seguir para Fênix, distante cerca de quarenta milhas a oeste. Uma mudança súbita do vento decidiu a questão. A tempestade do Norte abrandou e vieram ventos suaves do Sul, remanescentes de Alexandria e de um clima mais quente. Era tudo que desejavam. Nas águas calmas, os homens levantaram âncora e desfraldaram as velas, pretendendo costear Creta até alcançar Fênix.
A Tempestade
Os planos dos navegantes, porém, foram rapidamente destroçados. Quando ainda se achavam há poucas milhas de Bons Portos, o vento mudou subitamente de direção, do Sul para o Nordeste, e soprou com tamanha violência das montanhas cretenses que transformou-se em tempestade. O mastro rangeu quando o navio inclinou-se ao primeiro ataque da tormenta. Não houve sequer tempo para puxar o batei preso por uma corda na popa. Grandes ondas ergueram- se por trás do barco, como se por um golpe de mágica, e nada restou aos marinheiros senão correr adiante do temporal.
A frente deles estava o continente da África e a Baía de Sirte. Todo marinheiro temia esse lugar, pois não havia ali portos; só praias rasas onde os bancos de areia mudavam conforme os ventos e tornavam-se o túmulo de muitas embarcações. Todavia, a pequena ilha de Cauda achava-se ainda diante deles, que agradecidos, esconderam-se ao abrigo de seus penhascos. Ali ganharam tempo para levantar o batei cheio d'água e preparar o navio para o que talvez ainda tivessem de enfrentar. Grandes cordas foram passadas por sob o barco e bem amarradas para proteger a armação e mantê-la firme, especialmente se acabassem encalhando num banco de areia.
Até o abrigo inadequado de Cauda era-lhes suspeito. Encalhar na areia e ser despedaçados contra a praia era pior que a tempestade em mar aberto. O vento levou-os então para longe da ilha, e tendo feito tudo que podiam para salvar suas vidas, prenderam a grande verga ao convés e navegaram com o mastro nu. Tudo o que lhes restava fazer agora era manter- se em alto mar até que a tempestade passasse.
Trabalharam a noite inteira temendo o pior, mas esperando que o amanhecer trouxesse alguma ajuda. Na manhã seguinte, porém, o temporal não melhorara. E entrara tanta água pelo madeirame do navio, que este afundara ainda mais. O capitão ordenou que toda a bagagem pessoal fosse lançada ao mar, para aliviar a embarcação. A medida que o navio fazia água e afundava cada vez mais nas ondas, a carga teve de ser também lançada ao mar. A seguir, até a mobília, a vela grande e a verga foram atiradas, junto com todos os aprestos que podiam ser dispensados.
Dia e noite, os marinheiros lutaram arduamente contra as ondas. O navio subia e descia como uma rolha; as ondas batendo no convés e a água salgada escorrendo pelos lados. Seguiram-se dias e noites de terror, durante os quais só se via o céu cinzento; não havia sol, nem lua, nem estrelas. Ao redor deles, ondas negras assobiavam. Num momento, as águas eram como uma montanha caindo sobre o navio; no outro, um vale se abria, e eles afundavam.
Marinheiros e passageiros já haviam, há muito, perdido a esperança. Já não lutavam para salvar o navio; apenas agarravam-se às cordas e mastros. Sentiam que cada movimento do convés, afundando entre os vagalhões, seria o último. Ninguém pensava em comer; estavam certos de que a morte se aproximava.
A Visão de Paulo
Paulo confiava na promessa de DEUS: viveria para ver Roma. Durante um dos momentos em que adormeceu, ao deitar-se exausto abaixo do convés, teve uma visão do Senhor. Ao seu lado estava um anjo de DEUS, trazendo-lhe a seguinte mensagem: não só ele seria salvo, como nenhum passageiro a bordo perderia a vida.
Quando o desânimo deles era grande, Paulo os encorajou:
Fora, na verdade, razoável, ó varões, ter-me ouvido a mim e não partir de Creta, e assim, evitariam este incômodo e esta perdição. Mas, agora, vos admoesto a que tenhais bom ânimo, porque não se perderá a vida de nenhum de vós, mas somente o navio. Porque, esta mesma noite, o anjo de DEUS, de quem eu sou e a quem sirvo esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! Importa que sejas apresentado a César, e eis que DEUS te deu todos quantos navegam contigo. Portanto, ó varões, tende bom ânimo! Porque creio em DEUS que há de acontecer assim como a mim me foi dito. E, contudo, necessário irmos dar numa ilha (At 27.21-26).
No final da segunda semana, cerca da meia-noite, pareceu aos marinheiros experimentados que estavam se aproximando da terra. Encontravam-se em algum ponto do Mar Adriático. Um grito do vigia rasgou os ares e alarmou os corações: "Arrebentação! Arrebentação!"
Os marinheiros ouviram e acreditaram escutar o som das ondas nas rochas. O prumo foi baixado e descobriram que a água tinha vinte braças de profundidade. Depois de avançarem um pouco, tornando a lançar o prumo, acharam quinze braças. Isto significava que o mar estava ficando mais raso e havia o risco de rochas ou bancos de areia. Como estivesse escuro como breu, lançaram quatro âncoras para segurá-los e esperaram impacientes pelo nascer do dia.
A Conspiração dos Marinheiros
Na proa do barco, tramava-se uma conspiração. Alguns marinheiros planejavam fugir com o bote salva-vidas içado ao convés. Pretendiam baixar o bote e subir nele, como se quisessem lançar âncoras pela proa. Escapariam para a terra e abandonariam os amigos à fúria do mar. Paulo percebeu-lhes o intento e chamou rapidamente o centurião e seus soldados. "Se estes não ficarem no navio, não podereis salvar-vos" (At 27.31).
Júlio entrou em ação. A uma ordem sua um soldado dirigiu-se à lateral do navio com a espada desembainhada e cortou o cabo do bote. A pequena embarcação desapareceu nas trevas. Foi uma atitude imprudente; sem um bote, estavam ainda mais indefesos. Porém a conspiração terminou, e os marinheiros frustrados reuniram-se em grupos, tremendo sob a chuva gelada, até que o primeiro raio de luz aparecesse no leste. Então viram as rochas baixas e escuras da terra firme.
Ninguém sabia que terra era aquela, mas os 276 que estavam a bordo, subiram ao convés para ter um vislumbre dela. Com a confiança renovada, Paulo insistiu que todos comessem; precisariam de forças se quisessem sobreviver. Eles haviam jejuado durante 14 dias, pois o perigo fora tão grande que ninguém pensara em alimentar-se. Tomando o pão, Paulo inclinou a cabeça e, na presença dos soldados e marinheiros pagãos, deu graças a DEUS e começou a comer. Sua animação foi contagiosa. As esperanças reavivaram-se, e todos se alimentaram. Com as energias renovadas, decidiram lutar por suas vidas.
Já que o navio tinha de perder-se e encalhar na praia, que chegasse o mais próximo possível da terra! Puseram mãos ao trabalho e a embarcação, aliviada da carga, boiou sobre as ondas. Isso os levaria mais perto da praia.
O que lhes dava um raio de esperança era a linha rochosa da costa, quebrada por uma pequena enseada e uma praia arenosa. O capitão julgou poder aproar o navio na direção da embocadura da enseada e encalhá-lo ali. Tiraram as amarras do leme; as cordas das âncoras foram cortadas; uma vela leve foi içada no mastro e o navio cambaleante dirigiu-se à praia. Não foram, porém, muito longe. Desconheciam a costa, e num lugar onde duas correntes se encontravam, o barco encalhou num banco de areia. Com um ruído forte, a proa imobilizou-se.
O NAUFRÁGIO
A água batia fortemente na proa. Não havia jeito de desencalhar a embarcação. As ondas continuavam furiosas e o madeirame já se soltava do barco. Na proa, os soldados romanos, sabendo que perderiam a vida se os prisioneiros fugissem, foram falar com o comandante: "Senhor, não podemos mais responsabilizar-nos pelos prisioneiros. Ninguém pode nadar nessas águas agitadas acorrentado a outro. Não seria melhor matá-los todos?"
Mas Júlio, depois de conhecer melhor a Paulo, passara a gostar dele. Por sua causa, ordenou que tirassem as correntes dos presos, e todos poderiam nadar até a praia. Os que não sabiam nadar pularam ao mar agarrados a tábuas ou pedaços de madeira, deixando que as ondas os levassem à terra firme.
Era um grupo lastimável aquele reunido na praia. Os homens fracos e exaustos ficaram olhando o navio ser despedaçado pela força das ondas gigantescas. Mas estavam todos ali; machucados, abatidos, quase afogados, e tremendo sob a chuva, porém salvos.
A tragédia atraíra os nativos à praia, e muitos correram para ajudar os estranhos, acendendo fogueiras para aquecê-los. Foi então que os náufragos souberam onde estavam. Tinham chegado à ilha de Malta.
Os habitantes de Malta eram de descendência egípcia, e durante muitos séculos foram homens do mar. Com grande simpatia, haviam observado o navio em perigo e os esforços para salvá-lo. Ao ver os homens chegarem à praia, um a um, os nativos de Malta maravilharam-se. Estavam certos de que muitos morreriam no naufrágio.
A Vingança dos Deuses
Na praia, Paulo juntou-se aos outros para apanhar gravetos. Com uma braçada deles, aproximou-se do fogo e colocou-os nas chamas. De repente, uma víbora que estivera escondida na lenha, fugindo do calor, agarrou-se-lhe à mão. Por um segundo, ela permaneceu ali, enquanto um grito de terror elevou-se dos espectadores. Com um movimento rápido, Paulo sacudiu-a, fazendo-a cair no fogo.
O pensamento geral foi: ali estava um prisioneiro que escapara do mar, mas a vingança dos deuses o seguira, e sua hora chegara. Os ilhéus sabiam que a víbora tinha um veneno mortal, de ação rápida. Esperavam ver Paulo adoecer e cair morto em questão de minutos. Com o horror estampado nos semblantes, ficaram a observá-lo. Ele certamente havia cometido algum crime terrível para encontrar a morte assim tão de repente.
Mas, Paulo não tinha tais pensamentos. Não temia, porque confiava em DEUS e acreditava que pregaria o Evangelho em Roma, como lhe fora prometido. Tranqüilamente, o apóstolo atiçou o fogo e aproximou-se dele para secar as roupas e aquecer o corpo. Quanto mais os minutos passavam, mais crescia o espanto dos observadores. Paulo não empalidecera, nem parecia um homem em agonia.
Um a um, os ilhéus supersticiosos menearam as cabeças e concluíram que ele fosse um deus disfarçado. O acontecimento, combinado com o que houve nas semanas seguintes, deu a Paulo a oportunidade de pregar o Evangelho. Pôde falar do DEUS Único e Verdadeiro, que tem poder para livrar seus servos do mal.
A Cura do Pai do Governador
Os ilhéus levaram os náufragos à casa de Públio, o governador romano de Malta, que morava próximo à cena do desastre. Sua residência era grande e seu coração ainda maior. Ele hospedou a todos durante três dias. Públio tinha um pai idoso que morava com ele, e que se achava doente, com febre. Quando Paulo soube, pediu para vê-lo. Recebida a permissão, impôs as mãos sobre o homem e orou. Com os olhos levantados ao céu, clamou fervorosamente por um milagre. A cura daquele homem seria um testemunho do poder de DEUS e da verdade do Evangelho.
O Senhor atendeu-lhe a oração, e o pai do governador ficou bom. Públio ouviu as boas- novas, assim como muitos doentes de Malta. Os enfermos da ilha iam à procura de Paulo, esperando que este também os curasse. Durante os três meses de inverno, enquanto Júlio e seus prisioneiros aguardavam que o mar se tornasse novamente navegável, Paulo e seus amigos, Lucas e Aristarco, pregaram o Evangelho de CRISTO. E DEUS confirmava com milagres as suas palavras. Honras especiais foram concedidas a Paulo e a seus companheiros. Eles haviam conquistado o amor e a confiança dos ilhéus. Ricos e pobres tinham presenciado o grande poder de DEUS, e alguns creram.
RUMO A SIRACUSA
Os três meses passaram-se rapidamente. Com as primeiras brisas mornas da primavera, os comandantes dos navios ancorados no porto começaram a reunir os tripulantes, preparando- se para partir. Júlio estava ansioso para seguir viagem. Fez arranjos com o proprietário de outro navio graneleiro de Alexandria, e os soldados e seus prisioneiros prepararam-se para ir embora. A essa altura, Paulo já tinha muitos amigos e esses entristeceram-se com a despedida. Numa demonstração de amor, levaram presentes e provisões, e reunidos no cais, disseram adeus ao apóstolo. A pesada embarcação foi levada à baía pelos remadores, com as velas içadas. Ventos brandos sopraram. Depois de um dia agradável sob um céu ensolarado, e cercados por águas azuis, chegaram à velha cidade de Siracusa, aninhada num lindo golfo da Sicília.
Durante três dias, Paulo e seus companheiros, escoltados por um guarda romano, visitaram a cidade, cujo povo muito se orgulhava da sua habilidade em corridas de carros. Ali, à sombra do templo branco de Diana, com os sacerdotes pagãos que matavam quatrocentos bois por ano sobre o altar dessa deusa, Paulo provavelmente falou de JESUS. Embora o tempo fosse curto e os ouvintes poucos, a semente de uma igreja fiel pode ter sido plantada.
O navio porém prosseguiu em sua rota. Na proa que cortava as ondas havia figuras dos irmãos gêmeos Castor e Pólux, que na mitologia antiga eram filhos de Zeus. Os marinheiros orgulhavam-se de servir nesse navio, pois esses gêmeos celestiais eram tidos como protetores dos navegantes.
A Cintilante Baía de Nápoles
Na direção oeste, enquanto abriam caminho para o continente, eles podiam ver a montanha de fogo, cinzenta durante o dia e iluminada à noite. O Etna era um marco para todo viajante a caminho de Roma. Nos apertados estreitos de Messina, tocaram o primeiro porto italiano. No bonito porto de Régio, protegido pelos altos montes da Sicília e pelo continente, o vento cessou e o navio permaneceu imóvel um dia inteiro. Mas, pela manhã, o vento sul soprou. Com as velas desfraldadas à brisa, o navio deixou o estreito para trás. Durante todo aquele dia e noite navegaram contra o vento e, na manhã seguinte, chegaram a um dos grandes portos de Roma. Era a cidade de Putéolos, na Baía de Nápoles. Rodeando toda a baía, ficavam os balneários da moda, dos abastados cidadãos romanos. À distância, erguia-se o Monte Vesúvio. Aos seus pés, encontravam-se as prósperas cidades de Pompéia e Herculano.
Por causa de seu magnífico cenário e clima agradável, a Baía de Nápoles era a praia favorita dos nobres de Roma. O imperador tinha a sua vila nessa baía, a mais bela do mundo. Na cidade de Putéolos, os grandes navios descarregavam suas cargas e os passageiros desembarcavam, seguindo a Estrada de Ápio até Roma. Nesse mesmo porto, havia algum tempo, Calígula, enlouquecido pelo poder, gabara-se de que poderia andar de carro até a sua vila por sobre a baía brilhante. Cumprindo suas ordens, barcos foram amarrados uns aos outros e uma estrada de quatro quilômetros construída por cima deles para que pudesse dizer que dominava o mar.
Em Putéolos, os pés de Paulo tocaram o solo italiano pela primeira vez. Júlio permaneceu durante algum tempo nessa cidade e Paulo teve permissão para encontrar-se livremente com os amigos. Agora havia cristãos por toda parte, e quando souberam da presença de Paulo, muitos foram vê-lo e pedir-lhe que ficasse mais tempo entre eles.
Durante a parada de sete dias, os cristãos tiveram oportunidade de enviar a Roma notícias da chegada de Paulo. Os crentes romanos sentiram-se felizes por ver o homem que passara a vida a serviço de CRISTO. Haviam lido e decorado a carta recebida do apóstolo. Reuniam-se todos os domingos para a confraternização cristã, e liam partes dessa carta, alegrando-se na sua salvação. Muitos decidiram ir ao encontro de Paulo na estrada, pelo prazer de acompanhá-lo até Roma. Alguns viajaram 64 quilômetros e o encontraram na praça de Ápio; outros, 48 quilômetros, indo até as Três Tavernas.
Quando Paulo viu os amigos da igreja de Roma, seu coração comoveu-se. Pensou no julgamento que o aguardava e na possível condenação, mas ao sentir o amor e dedicação daqueles amigos a CRISTO, agradeceu a DEUS e recobrou ânimo. Entre os crentes dali estavam seus antigos companheiros, Áquila e Priscila.
Os Portões de Roma
Roma estava logo adiante. Roma, a dona do mundo! A cidade de templos e palácios! O centro da terra! O trono do imperador!
Os portões agora estavam à vista. Júlio reuniu os prisioneiros no centro da escolta de soldados e fez com que marchassem pelas ruas até os alojamentos imperiais, onde foram entregues a Barros, conselheiro-chefe do imperador. Esse velho e honesto soldado, que perdera uma das mãos na batalha, ouviu com interesse e bondade, enquanto Júlio falava-lhe sobre cada homem. E quando mencionou Paulo, obteve um favor especial - um quarto privado onde pudesse morar com o soldado que o guardava, e permissão para ver os amigos sempre que quisesse. PRISIONEIRO EM ROMA
Três dias após a chegada de Paulo a Roma, seu quarto estava cheio de visitas. Ele enviara mensagens às principais autoridades das sinagogas, convidando-as a visitá-lo e ouvir sua história. Ávida do judeu em Roma sempre fora difícil. Durante o governo de Cláudio, todos eles haviam sido expulsos da cidade, mas agora houvera um relaxamento das leis. Tantos judeus tinham voltado a Roma que sete sinagogas foram construídas. Separados dos romanos, eles viviam na margem ocidental do rio Tibre.
Compreendendo o quanto seus conterrâneos haviam sofrido nas mãos do imperador romano, e que a inimizade dos cidadãos podia ser despertada ao menor pretexto, Paulo temia que sua presença em Roma trouxesse mais problemas aos judeus. Seu apelo a César poderia ser interpretado como uma tentativa de promover mais perseguição aos judeus, por chamar a atenção sobre suas disputas religiosas.
Quando os líderes judeus atenderam ao convite de Paulo, este explicou-lhes que havia decidido fazer o apelo a César apenas por não haver outro meio de obter a liberdade. Eles ouviram e não se mostraram hostis.
Varões irmãos, não havendo eu feito nada contra o povo, ou contra os ritos paternos, vim, contudo, preso desde Jerusalém, entregue nas mãos dos romanos. Os quais, havendo-me examinado, queriam soltar-me, por não haver em mim crime algum de morte. Mas, opondo-se os judeus, foi-me forçoso apelar para César, não tendo contudo, de que acusar a minha nação. Por esta causa vos chamei, para vos ver e falar; porque pela esperança de Israel estou com esta cadeia (At 28.17-20).
Eles sabiam que Paulo era seguidor de JESUS, e tinham ouvido de suas visitas a muitas sinagogas no império. Entretanto mostraram-se amáveis, pois compreendiam que qualquer demonstração contrária poderia provocar a inimizade de Roma.
Nós não recebemos acerca de ti qualquer carta da Judéia, nem veio aqui irmão algum, que nos anunciasse ou dissesse de ti algum mal. No entanto bem quiséramos ouvir de ti o que sentes; porque, quanto a esta seita, notório nos é que em toda a parte se fala contra ela (At 28.21,22).
Pregando em Roma
Num determinado dia, abriu-se finalmente a porta para o velho guerreiro pregar sobre seu tema favorito: JESUS CRISTO. De manhã até a noite, Paulo conversou com os judeus que haviam comparecido em grande número para ouvi-lo falar do Messias. A luz do Evangelho brilhava-lhe nos olhos, e sua voz inflamava-se com o fogo santo, enquanto fazia os ouvintes examinarem as suas próprias Escrituras. Tudo o que aprendera na escola de Gamaliel estava sendo útil, e ele citou passagem após passagem dos rolos sagrados. Usou as palavras de Moisés e dos profetas para mostrar que a única esperança de Israel estava no Messias. As Escrituras deles continham tudo isso; se pelo menos cressem!
Quando o dia terminou, havia divisão entre os ouvintes. Alguns creram e foram embora com a esperança no coração e uma nova vida no íntimo; outros mostraram desprezo.
Paulo, porém, continuou enquanto saíam:
Bem falou o ESPÍRITO SANTO a nossos pais pelo profeta Isaías, dizendo: Vai a este povo, e dize: De ouvido, ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e, vendo, vereis, e de maneira nenhuma percebereis...Seja-vos, pois, notório que esta salvação de DEUS é enviada aos gentios, e eles a ouvirão (At 28.25,26,28).
Com estas palavras soando-lhes nos ouvidos, os judeus partiram irados.
A Órbita da Atividade Cristã
Não muito depois disso, a igreja de Filipos, sabendo da prisão de Paulo, reuniu e enviou dinheiro para o sustento do apóstolo em Roma. Foi um presente tão grande e abençoado, que ele pôde, com o consentimento de seus captores e a ajuda de alguns cristãos de Roma, mudar-se para uma casa alugada, onde morou durante dois anos, esperando o dia de seu julgamento pelo tribunal de Nero.
Durante sua prisão Paulo foi tratado com grande benevolência, embora continuasse sempre acorrentado a um guarda. Aonde quer que fosse, o soldado o acompanhava. Depois de dois anos dessa vida, vários guardas já tinham ouvido o Evangelho e alguns deles se converteram. Paulo não era um cristão oculto; através de seus amigos crentes, fez saber a todos que explicaria o Evangelho a quem o procurasse em sua residência. Muitos aceitaram o convite, e sua casa em Roma veio a tornar-se um centro de testemunho cristão.
Crentes de várias cidades iam e vinham, procurando os conselhos de Paulo sobre assuntos da fé cristã e levando suas cartas às igrejas do Leste. Listra e Derbe, Corinto e Éfeso, Colossos e Tessalônica, e até a igreja de Beréia enviaram seus representantes para trabalhar sob a direção de Paulo. Orientados por ele, divulgaram o Evangelho nas cidades onde CRISTO não era conhecido. Alguns deles testemunhavam nas ruas movimentadas de Roma, e ao mesmo tempo ministravam ao apóstolo. Sua casa tornou-se um centro de atividades, de onde os mensageiros da Cruz partiam para todo o império. Depois de cada viagem, como os cometas em sua órbita, voltavam ao ponto de partida.
Paulo passou a amar os soldados que o guardavam. Eram homens corajosos e fiéis, e não demorou muito para que um pequeno grupo de crentes se formasse entre a guarda pretoriana e os homens da casa de César. Ao serem convencidos da Verdade, esses homens levavam a mensagem aos familiares, bem como a todos os militares nos quartéis. Cada vez que o velho apóstolo refletia sobre sua prisão, um sorriso aflorava-lhe aos lábios e ele agradecia a DEUS. Suas cadeias, em vez de prejudicar o Cristianismo, tinham-no ajudado!
Enquanto os amigos iam e vinham, Paulo esperava por notícias do julgamento. Com a morte de Cláudio, Nero subira ao trono. Ele não era filho de Cláudio, mas sua mãe viúva incentivou-o e fez com que fosse coroado imperador aos dezessete anos. Britânico, seu meio- irmão, era o herdeiro legítimo; mas pelas manobras da mãe, Nero foi o escolhido. Antes de completar um ano no poder, ele mandou envenenar Britânico. Com o passar do tempo, veio a odiar a mãe e ordenou que seus amigos a matassem. Eles agarraram-na no meio da noite e tentaram afogá-la; não conseguindo, acabaram por apunhalá-la. Nero casou-se com a gentil Otávia, filha de Cláudio, a quem passou também a odiar. Quando Paulo chegou a Roma, o jovem Nero, então com 24 anos, estava planejando matar Otávia e casar-se com Pompéia.
Inteiramente entregue a uma vida de paixões e perversidade, Nero não tinha a menor intenção de perder tempo com um prisioneiro judeu. Portanto, Paulo ficou esperando sob os cuidados de um guarda, enquanto o imperador prosseguia em sua vida devassa.
A Chegada de Timóteo
Paulo sentiu-se reanimado quando seu jovem e fiel amigo Timóteo chegou a Roma. O rapaz queria estar perto de seu pai espiritual e ser dirigido por ele no trabalho do Senhor. Quatro anos haviam se passado desde que Paulo e Timóteo viajaram juntos para pregar a CRISTO na Europa. Tinham ido a Filipos e plantado o Evangelho na Macedonia, começando numa reunião de oração. Naquele dia, Lídia, a vendedora de púrpura, abrira não somente o coração a CRISTO, como também sua casa aos cultos. Os pensamentos de Paulo voltaram àquele dia. Lembrou-se de como havia sido publicamente açoitado na praça do mercado e finalmente preso. Recordou- se do carcereiro que se tornara cristão com toda a família, e de como a igreja de Filipos cuidara das suas necessidades quando fora a Tessalônica. Duas vezes enviaram-lhe dinheiro. E agora, ouvindo falar de suas cadeias em Roma, mandaram novamente dinheiro por Epafrodito, que ficou para ajudar Paulo e trabalhar para CRISTO sob a orientação do apóstolo.
Sem dúvida, foi Lídia, a rica mercadora, quem instigou a igreja de Filipos a ajudar o homem de DEUS. Como foi animador ouvir dos lábios de Epafrodito que a igreja filipense continuava firme na fé! Que encorajamento para Paulo saber que um de seus membros fora ter com ele para ser seu companheiro no trabalho!
A Epístola aos Filipenses
Epafrodito pregou o reino de DEUS com tanto zelo e fervor, a ponto de não se importar com a própria saúde. Nas ruas estreitas de Roma, ajuntava uma multidão e falava-lhes de JESUS. Depois de alguns meses, uma grave doença interrompeu-lhe o ministério, confinando-o ao leito, onde esteve à beira da morte durante várias semanas. Aos poucos começou a melhorar, mas estava fraco e incapaz de voltar ao trabalho. Paulo percebeu que o amigo tinha saudades de casa, e resolveu mandá-lo de volta a Filipos.
Com a ajuda de Timóteo, Paulo começou a ditar uma carta. Seu pensamento retrocedeu alguns anos e ele lembrou-se vividamente de cada membro da igreja.
Dou graças ao meu DEUS todas as vezes que me lembro de vós.
E quero, irmãos, que saibais que as coisas que me aconteceram contribuíram para maior proveito do evangelho. De maneira que as minhas prisões em CRISTO foram manifestas por toda a guarda pretoriana, e por todos os demais lugares. E muitos dos irmãos no Senhor, tomando ânimo com as minhas prisões, ousam falar a palavra mais confiadamente, sem temor (Fp 1.3,12-14).
Paulo falou do seu julgamento, sem muita certeza quanto ao futuro. Ele não tinha meios de saber o que aconteceria. O jovem imperador dava pouco valor à vida, e Paulo não sabia se seria poupado. De fato, pensara com agrado na possibilidade de morrer, pois isso significaria estar com CRISTO. Todavia, teve alguns vislumbres de esperança de que seria solto. Viver significaria trabalhar mais para JESUS; morrer seria lucro e uma gloriosa entrada no céu. As palavras subiram-lhe do coração:
Porque para mim o viver é CRISTO, e o morrer é ganho. Mas, se o viver na carne me der fruto da minha obra, não sei, então, o que deva escolher. Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com CRISTO, porque isto é ainda muito melhor. Mas julgo mais necessário, por amor de vós, ficar na carne. E, tendo esta confiança, sei que ficarei, e permanecerei com todos vós para proveito vosso e gozo da fé. Para que a vossa glória aumente por mim em CRISTO JESUS, pela minha nova ida a vós.
Somente deveis portar-vos dignamente conforme o evangelho de CRISTO.
E espero no Senhor JESUS que em breve vos mandarei Timóteo, para que também eu esteja de bom ânimo, sabendo dos vossos negócios... Mas confio no Senhor que também eu mesmo, em breve, irei ter convosco (At 1.23-28; 2.19,24).
Ele escreveu sobre Epafrodito, o valoroso cooperador que adoecera e ficara muitas semanas entre a vida e a morte:
Porquanto tinha muitas saudades de vós todos, e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estive-ra doente. E, de fato, esteve doente, e quase à morte, mas DEUS se apiedou dele, e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza. Por isso, vo-lo enviei mais depressa, para que, vendo-o outra vez, vos regozijeis, e eu tenha menos tristeza. Recebei-o, pois, no Senhor, com todo o gozo, e tende-o em honra. Porque, pela obra de CRISTO, chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso da vida, para suprir para comigo a falta do vosso serviço (Fp 2.26-30).
A carta foi escrita e selada. Epafrodito levou-a consigo à cidade natal. Paulo tinha agora um companheiro a menos, mas Timóteo e Lucas permaneceram ao seu lado, mantendo-o em contato com os cristãos de Roma. Marcos, Tíquico, Aristarco, Demas, Trófimo e Tito colocaram-se à disposição de Paulo; passavam os dias indo de uma igreja a outra, levando as mensagens do apóstolo.
A Epístola aos Colossenses
Epafras tinha sido o missionário por meio de quem os colossenses ouviram pela primeira vez o Evangelho e se converteram ao Cristianismo. Ele encontrava-se agora em Roma, trabalhando para o Senhor como um dos colaboradores de Paulo. A igreja de Colossos enviara seu mais importante líder para pregar o Evangelho na maior cidade do mundo.
Sendo um dos companheiros de Paulo, Epafras passou muitas horas com ele. Faziam planos e discutiam a respeito das várias igrejas sobre as quais Paulo mantinha vigilância. Todos os dias oravam juntos por cada igreja, lembrando sua fidelidade e pedindo a DEUS que as fortalecesse. Sempre que orava, os pensamentos de Epafras voltavam à sua amada congregação em Colossos, e ele intercedia por aqueles cristãos; que o Senhor os aperfeiçoasse e os completasse conforme a sua vontade. Paulo nunca vira a igreja de Colossos, mas Epafras referia-se constantemente a ela por lhe ser tão cara ao coração. Falava de cada crente; contou que a congregação se reunia em casa de Filemom, e Arquipo ficara encarregado de prosseguir com a obra.
Ao falar de sua amada igreja, Epafras revelou uma profunda preocupação com um judeu, que de maneira muito sutil, estava desviando o povo para duas formas de erro. A primeira era uma espécie de ascetismo, ensinando que as pessoas tinham de negar a si mesmas para obter a salvação. Enfatizava a observância de certos dias, e sua pregação era cheia de proibições. Segundo seus ensinamentos, somente pela autonegação alguém se tornava digno da vida eterna. O segundo erro era uma filosofia mística que despojava CRISTO da sua posição como Filho de DEUS e Salvador dos homens.
Era o velho erro, que Paulo tantas vezes combatera, surgindo outra vez e prejudicando a mensagem cristã. Quem estava melhor preparado para advertir os colossenses contra tal heresia? Paulo decidiu escrever-lhes uma carta. Com Timóteo ao seu lado, anotando-lhe os pensamentos enquanto os ditava, começou a missiva.
Falou primeiro de seu afeto pelos colossenses e de como tivera notícias deles através de Epafras. Quanto às coisas básicas, só tinha elogios a fazer. Elogiou-lhes a fé em CRISTO, o amor por todos os cristãos, e sua esperança no céu. A seguir, passando à admoestação doutrinária, advertiu-os contra o perigo da falsa filosofia e do ensino judaico que solapava a divindade do Senhor:
Tende cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo CRISTO. Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade.
Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de CRISTO (Cl 2.8,9,16,17).
Paulo não podia terminar a carta sem acrescentar alguns conselhos práticos à vida cristã.
Revesti-vos, pois, como eleitos de DEUS, santos, e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade. Suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos uns aos outros, se algum tiver queixa contra outro: assim como CRISTO vos perdoou, assim fazei vós também.
E a paz de DEUS, para a qual também fostes chamados em um corpo, domine em vossos corações; e sede agradecidos. A palavra de CRISTO habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoes-tando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais; cantando ao Senhor com graça em vosso coração (3.12,13,15,16).
Terminada a carta, Paulo tomou-a das mãos de Timóteo e escreveu, ele mesmo, uma saudação final, assinando-a a fim de que não tivessem dúvidas sobre o remetente. Depois de reler a missiva, para ver se nada esquecera, ordenou a Tíquico que a levasse à igreja de Colossos; ficasse ali algum tempo, e depois voltasse com notícias.
A Conversão de Onésimo
Tíquico foi acompanhado na viagem por um homem chamado Onésimo, que fora escravo na casa de Filemom, em Colossos. Certo dia, rebelando-se contra a escravidão, Onésimo roubara roupas e dinheiro de seu dono, e fugira, imaginando que poderia esconder-se nas ruas movimentadas de Roma e começar uma nova vida. Mas em Roma, sob a influência do apóstolo Paulo, acabou convertido. Quando conheceu JESUS e seu amor, a gratidão e reverência encheram-lhe o coração. Onésimo compreendeu que JESUS morrera para salvá-lo. A ele, um escravo fugitivo e ladrão! Enquanto crescia na graça e no conhecimento de DEUS, entendeu que, aos olhos do Senhor, o escravo e o livre são iguais.
Que diferença entre o tratamento que recebia de Paulo, como crente, e a antiga vida que conhecera em Colossos! Ao confessar seu pecado a DEUS, Onésimo fez uma entrega completa. Tão genuína foi a sua conversão, que estava disposto a contar as Boas Novas a todo mundo. Então Paulo dirigiu-o a ganhar outros para CRISTO. Metade da população de Roma era composta de escravos, e Onésimo poderia alcançar muitos deles que, de outra forma, não ouviriam o Evangelho.
Entretanto, conhecendo a injustiça que Onésimo fizera a Filemom, Paulo o fez compreender que o único curso de ação era voltar e confessar tudo ao antigo dono. Isso significava castigo. Embora Filemom e sua mulher, Afia, fossem bondosos e justos, o supervisor da casa certamente o açoitaria. Ele vira os sofrimentos infligidos a escravos que tinham sido temerários e desleais, e calculou que voltar não seria agradável, especialmente agora que era um homem livre em CRISTO e útil ao grande apóstolo.
Todavia, desde que se tornara cristão, queria endireitar todos os seus erros, tanto aos olhos de DEUS quanto aos dos homens. Esse era o único caminho para a paz e serviço. Decidiu então que, por causa do Senhor, voltaria a ser escravo, corrigindo seu erro.
A Epístola a Filemom
A fim de abrandar a dificuldade da volta, Paulo escreveu uma breve carta pessoal a Filemom. Este senhor fora um dos seus convertidos; entregara-se a CRISTO durante a longa estada de Paulo em Éfeso. Agora, com zelo pelo seu Senhor, Filemom revelava grande hospitalidade à igreja de Colossos. Os membros reuniam-se todas as semanas em sua bela casa, sob o ministério de Arquipo.
Movido por forte sentimento cristão, Paulo escreveu um ousado, porém discreto, apelo ao seu amigo.
Todavia, peço-te, antes, por caridade, sendo eu tal como sou, Paulo, o velho, e também agora prisioneiro de JESUS CRISTO. Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões.
Eu bem o quisera conservar comigo, para que, por ti, me servisse nas prisões do evangelho. Mas nada quis fazer sem o teu parecer, para que o teu benefício não fosse como por força, mas voluntário. Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesses para sempre. Não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor?
Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo. E, se te fez algum dano, ou te deve alguma coisa, põe isso à minha conta...eu o pagarei.
E juntamente prepara-me também pousada, porque espero que pelas vossas orações vos hei de ser concedido (Fm 9,10,13-19,22).
A Epístola aos Efésios
Enquanto Tíquico e Onésimo preparavam-se para a viagem, Paulo dava as últimas pinceladas na carta que vinha escrevendo cuidadosamente havia semanas. Era uma carta geral; não se destinava a corrigir quaisquer erros em particular. Devia ser passada entre as várias igrejas, a fim de fortalecer-lhes a fé, encorajá-las na vida cristã e conscientizá-las de sua posição e privilégios em CRISTO JESUS.
Ele começou com um hino de louvor às três pessoas da Santíssima Trindade - o Pai, o Filho e o ESPÍRITO SANTO. A seguir, com mão de mestre, pintou um quadro da igreja como o templo de DEUS, construído sobre o fundamento de CRISTO. Todas as grandes doutrinas da fé foram mencionadas nessa belíssima carta. A maturidade cristã do apóstolo é evidente em cada linha. Não foram feitas referências pessoais, nem saudações às famílias locais ou colaboradores. Se a carta fosse destinada apenas aos efésios, Paulo teria enviado cumprimentos a muitos, segundo o seu costume, pois trabalhara três anos entre eles - mais tempo que em qualquer outra cidade. Em vez disso, pretendia que ela fosse uma admoestação final a várias igrejas. Ele era agora Paulo, o velho, e seus dias de missivista logo terminariam. O apóstolo ansiava por incluir em uma carta circular a plenitude do Evangelho e o encorajamento que enriqueceria e firmaria cada membro do corpo de CRISTO. Tal carta aplicar-se-ia a todas as igrejas que fundara. Escreveu então:
E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que, noutro tempo, andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que, agora, opera nos filhos da desobediência... Mas DEUS, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com CRISTO (pela graça sois salvos)... Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de DEUS. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.
Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne... que, naquele tempo, estáveis sem CRISTO, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos concertos da promessa, não tendo esperança e sem DEUS no mundo (Ef 2.1,2,4,5,8,9,11,12).
Numa transição rápida e precisa, desceu dos altos picos para os vales profundos da vida comum: "Rogo-vos, pois, eu, o preso do Senhor, que andeis como é digno da vocação com que fostes chamados" (Ef 4.1).
Enquanto ditava o último capítulo de sua obra-prima, Paulo procurava algum exemplo que fixasse para sempre suas palavras à mente dos leitores. À sua frente estava sentado o jovem a quem amava como a um filho. Timóteo, com a pena na mão, ouvia e anotava atentamente cada palavra saída dos lábios de seu mentor. Ao seu lado, encontrava-se o sempre presente guarda romano, magnífico na armadura do império, e orgulhoso por estar entre os escolhidos de Nero. Os olhos de Paulo fitaram o soldado e um sorriso surgiu-lhe nos lábios. Voltando-se a Timóteo, ditou:
No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de DEUS, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de DEUS, para que possais resistir no dia mau, e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingi-dos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça. E calçados os pés na preparação do Evangelho da paz (Ef 6.10-15).
Com mais uma olhadela ao equipamento do guarda, acrescentou:
Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação e a espada do ESPÍRITO, que é a palavra de DEUS. Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no ESPÍRITO e vigiando nisso com toda a perseverança e súplica por todos os santos... Paz seja com os irmãos, e caridade com fé da parte de DEUS Pai e da do Senhor JESUS CRISTO. A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor JESUS CRISTO em sinceridade. Amém (Ef 6.1618,23,24).
O Evangelho Difundido mediante o Cativeiro
As cartas foram enviadas e Paulo voltou à rotina diária de ensinar os que iam à sua casa, fortalecendo-os nas coisas divinas. Durante os anos do seu cativeiro, para surpresa dos amigos e dele mesmo, o Evangelho fora promovido. Foram tempos calmos e úteis aqueles. A indulgência do Império Romano contribuiu para que a prisão forçada não trouxesse tristezas. Sua mente estava livre de cuidados pessoais; em seu coração crescia cada vez mais a esperança de ser libertado após o julgamento. Essas palavras foram escritas da sua casa:
Regozijai-vos, sempre, no Senhor; outra vez digo, regozijai-vos (Fp 4.4). O COMBATE, A CORRIDA E O DEPÓSITO
O tão esperado julgamento aconteceu finalmente no ano 63 D.C., depois de Paulo haver permanecido dois anos em prisão domiciliar.
Tudo que ele esperava e previra aconteceu. A carta favorável de Festo e o relatório de Júlio fizeram a balança pender a seu favor. Após aqueles longos meses, e com os acusadores tão distantes, a oposição judaica diminuíra. Em razão de os judeus serem olhados com suspeita, a corte dispensou rapidamente as acusações contra Paulo, e ele foi posto em liberdade.
Pouco se sabe das atividades do apóstolo depois da sua libertação, mas é fácil imaginar quais foram. Ao voltar para casa e dar-se conta de que, pela primeira vez em quatro anos, estava sem a companhia de um guarda, deve ter, imediatamente, iniciado algum plano. Não ficaria inativo; tiraria o máximo proveito do tempo que lhe restava. Sempre quisera visitar a extremidade ocidental do império. Anos antes, ao escrever à igreja de Roma, falara-lhes de sua intenção de ir à Espanha. Seu pensamento estava sempre com as igrejas, e desejava visitar muitas delas na Ásia e na Grécia. Desde que escrevera a Filemom, e ouvira a história da igreja de Colossos por intermédio de Epafras, alimentava a esperança de visitá-la. Essa era a sua oportunidade. A seguir, escrevera à sua igreja favorita - a de Filipos. A perspectiva de ver os irmãos que cuidaram dele durante a prisão em Roma aqueceu-lhe o coração.
Tudo decidido, não perdeu tempo. Encontrou um navio que ia para a Espanha e navegou para o Ocidente, a fim de conhecer novas pessoas e testemunhar de seu Salvador. Aquela foi no entanto, uma curta visita. Depois de encorajar os poucos cristãos dali e fortalecer- lhes a fé em CRISTO JESUS, Paulo tomou um navio para sua amada terra. Depois de vários dias, chegou finalmente a Éfeso e, acompanhado por Lucas, seu fiel companheiro de prisão, dirigiu- se por terra a Colossos.
Em Colossos
Pela primeira vez Paulo viu a igreja fundada por Epafras, e a quem escrevera uma carta. Foi recebido cordialmente. Os cristãos reverenciaram-no como o grande líder do Cristianismo; Filemom, que o conhecera em Éfeso, acolheu-o em sua vasta mansão, onde reunia-se a igreja de Colossos. Porém não houve acolhida mais cordial e sincera que a do sorridente Onésimo. O escravo fugido tornara-se um dos troféus do ministério de Paulo em Roma.
Paulo não pôde permanecer muito tempo em Colossos, mas a igreja aproveitou cada minuto de sua companhia. Quando chegou o momento da despedida, ele já tinha recapitulado tudo que dissera na carta. Lembrara-os novamente de como DEUS viera à terra na pessoa de seu Único Filho; recordara-lhes que JESUS era verdadeiramente DEUS e que a vida eterna só era obtida através dEle. Também advertira-os contra os falsos mestres que queriam negar a doutrina de CRISTO e sua divindade. Depois de lhes haver enriquecido a fé, Paulo partiu para Éfeso.
Ministrando aos Efésios
Em Éfeso, o apóstolo sentia-se em casa. A igreja havia prosperado e mantinha-se fiel. Os membros tinham-se guardado das doutrinas falsas e zelado pela pureza do seu púlpito. Ninguém era convidado a pregar, a não ser que fosse sólido na fé, reconhecendo a divindade de JESUS CRISTO e o Evangelho da graça redentora.
Os efésios ficaram felizes por ver novamente o seu pastor. Havia algum tempo, os presbíteros de Éfeso tinham chorado ao ver o navio de Paulo afastar-se do cais em Mileto; acharam que nunca mais lhe veriam o rosto. Contudo, depois de tantos meses, ele voltara! O rigor dos anos o envelhecera. Desaparecera-lhe o brilho dos olhos, bem como o andar rápido e decidido. Paulo sofrerá muito desde que pregara em Éfeso sua última mensagem. Os sulcos em seu rosto santo contavam dos fardos que tivera de carregar.
Ele não apenas estivera na prisão, naufragara e fora açoitado, como sentira no espírito a solidão e sofrerá com a dureza de coração das pessoas. Sobre seus velhos ombros pesava o cuidado por todas as igrejas. Sempre que um companheiro enfrentava dificuldades, Paulo sofria com ele. Sempre que alguém era lançado na prisão, seu espírito sentia-se também aprisionado. Paulo identificava-se com os irmãos na fé; era como se um laço familiar os unisse e os tornasse um só.
O tempo, porém, era curto. Ansiando por visitar a Macedônia, Paulo planejou viajar pelo mar Egeu até Filipos e Tessalônica, e para muitas aldeias onde houvera plantado a bandeira da cruz. Mas Éfeso precisava de um líder. A igreja era forte, mas sendo a cidade uma das mais importantes da Ásia Menor, era necessário manter ali um testemunho que contrabalançasse as forças de Diana.
Paulo alegrava-se ao pensar na igreja de Éfeso; os crentes haviam agido bem. Entretanto, ele notava que o mundanismo da cidade grande dificultava, a alguns cristãos, a conservação do primeiro amor. A oposição era grande, e a cidade atraía muitos professores de religião que tentavam destruir a pureza da igreja e confundi-la com teorias e lendas sem fim.
Durante sua permanência em Éfeso, Paulo aproveitou para advertir a igreja quanto a essas coisas, aconselhando os cristãos a serem mais vigilantes. Recomendou-lhes que afastassem da comunhão qualquer um que aparecesse com doutrinas falsas.
Paulo achou que a situação era suficientemente séria para deixar Timóteo em Éfeso, pedindo que supervisionasse essa importante igreja e fizesse dela uma fortaleza para o Evangelho puro. Com o coração apertado, o apóstolo despediu-se de seu querido amigo, orando para que ele fosse um servo fiel e que a sua presença ali enriquecesse a igreja com toda sorte de bênçãos espirituais.
A Epístola a Timóteo
Do outro lado da estreita faixa de mar, no continente Europeu, os pensamentos de Paulo continuavam com Timóteo. Ele ministrou aos santos em várias cidades da Macedônia, encorajando, fortalecendo e advertindo-os, mas não conseguia tirar da mente o jovem em Éfeso e seu trabalho estratégico.
Pensou outra vez nos falsos mestres e como já haviam invadido certas igrejas, especialmente na província da Galácia. Ele estava certo de que Efeso era a chave para toda a Ásia.
Com a pena na mão e o pergaminho à sua frente, Paulo começou a escrever a Timóteo:
Paulo, apóstolo de JESUS CRISTO, segundo o mandado de DEUS, nosso Salvador, e do Senhor JESUS CRISTO, esperança nossa, a Timóteo, meu verdadeiro filho na fé; graça, misericórdia e paz, da parte de DEUS, nosso Pai, e da de CRISTO JESUS, nosso Senhor.
Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficasses em Efeso, para advertires a alguns, que não ensinem outra doutrina, nem se dêem a fábulas ou a genealogias intermináveis, que mais produzem questões do que edificação de DEUS, que consiste na fé (1 Tm 1.1-4).
A carta prosseguiu cheia de instruções. Perguntas sobre a organização e o governo da igreja precisavam ser respondidas, e Paulo achou que seu amigo tiraria grande proveito de tais instruções e encorajamento:
Admoesto-te, pois, antes de tudo, que se façam deprecações, orações, intercessóes, e ações de graças por todos os homens. Pelos reis, e por todos os que estão em eminência, para que tenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade...
Propondo estas coisas aos irmãos, serás bom ministro de JESUS CRISTO, criado com as palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido. Mas rejeita as fábulas profanas e de velhas, e exercita-te a ti mesmo em piedade. Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir.
Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, na caridade, no espírito, na fé, na pureza. Persiste em ler, exortar e ensinar, até que eu vá. Não desprezes o dom que há em ti, o qual tefoi dado por profecia, com a imposição das mãos do presbitério...
Mando-te diante de DEUS, que todas as coisas vivifica, e de CRISTO JESUS, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão, que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à aparição de nosso Senhor JESUS CRISTO (1 Tm 2.1,2.4.6-8,12-14; 6.13,14).
Rumo a Trôade, Efeso e Mileto
Paulo mencionou na carta a esperança de visitar novamente Timóteo o mais breve possível. Esse desejo foi realizado; depois de deixar a Macedônia e visitar Trôade, onde trocou idéias com os líderes da igreja que se reuniam na casa de Carpo, o apóstolo viajou para o sul e depois para Éfeso.
De fato, Paulo estava tão apressado, que chegou a deixar seus preciosos livros e material para escrever, bem como sua capa, pretendendo buscá-los antes do inverno.
Depois de uma visita satisfatória a Timóteo, ele despediu-se com lágrimas nos olhos e tomou a estrada que levava a Mileto, a cerca de 48 quilômetros da costa.
Chegaria o dia em que todas as cidades teriam uma igreja cristã. O quadro passara por grande transformação durante a vida de Paulo. Poucos anos antes, havia somente alguns cristãos, mas o Evangelho fora anunciado tão destemidamente, que agora todos os crentes tinham o seu lugar de culto. E aquele porto marítimo não era exceção.
Paulo e Tito
Durante várias semanas Paulo esteve com os irmãos em Mileto. Depois de consolá-los, estabelecendo-os na fé, embarcou para Creta na companhia de Tito, seu fiel colaborador. A igreja dali era desorganizada. Havia muitos crentes, mas para que seu testemunho fosse efetivo, algumas coisas precisavam ser mudadas. Era necessário que os crentes se unissem sob a direção de anciãos e bispos que zelassem por suas almas.
Tito, um dos convertidos de Paulo, era grego. Ele acompanhara o grande apóstolo a Jerusalém, à conferência relativa à admissão dos gentios na igreja, e Paulo tinha plena confiança nele. Decidiu deixá-lo em Creta, encarregando-o da organização das igrejas em cada cidade da ilha. Era uma tarefa colossal; mas, com a ajuda do Senhor, Tito a cumpriria.
Enquanto Tito adaptava-se à nova responsabilidade, Paulo foi para Corinto e exerceu um breve ministério junto a essa grande igreja. Ele ficou alegre ao constatar que os males de Corinto, sobre os quais escrevera alguns anos antes, haviam sido corrigidos. Seu encontro com os discípulos dali foi cordial e proveitoso. Os cristãos de toda a cidade foram ouvi-lo. Apesar de idoso, o servo do Senhor parecia não se cansar de exaltar a CRISTO e confirmar a fé dos seguidores.
Paulo pensou também em Tito, que estava em Creta, e escreveu-lhe uma carta similar à que enviara a Timóteo, descrevendo as qualificações para os líderes da igreja. Como Éfeso e Creta, Corinto também precisava de um representante digno. O escolhido por Paulo foi seu Erasto, seu fiel colaborador. Deixou-o com a responsabilidade de ajudar os crentes de Corinto e seguiu para Nicópolis, na costa oeste da Grécia.
Prisão de Paulo em Nicópolis
Sentindo que sua vida achava-se perto do fim, Paulo fazia arranjos para deixar obreiros de confiança em pontos estratégicos. O tempo era curto e ele sentia a necessidade de apressar-se de cidade em cidade. Nicópolis era um centro importante para o trabalho missionário e Paulo planejava passar ali o inverno. Aquela cidade nunca fora visitada antes, e a perspectiva de iniciar um novo trabalho em curtíssimo tempo era fascinante. Acompanhado de cinco colaboradores, entrou na cidade e começou a pregar.
As suas esperanças, porém, foram de curta duração. Era o ano 67 D.C., e três anos antes, um grande incêndio queimara a cidade de Roma, desabrigando milhares de pessoas. Ninguém sabia como o fogo começara. Alguns diziam que o próprio Nero incendiara a cidade durante uma bebedeira, esperando na sua loucura que uma Roma nova e melhor se levantasse, como um monumento ao seu reinado.
Mas outro clamor ergueu-se, afirmando que os cristãos haviam incendiado a cidade. O ódio da população subiu mais alto que as chamas, e começaram-se as perseguições mais cruéis que a igreja já enfrentara. Os cristãos eram atirados aos leões no Coliseu, espancados até a morte, mergulhados em piche e incendiados nos jardins de Nero, como tochas para iluminar a noite.
Todos os que tinham condições fugiram de Roma. Áquila e Priscila foram para Éfeso. A igreja teve de esconder-se. Em todo o império, cristãos eram presos e perseguidos sem misericórdia. Histórias terríveis de tortura chegaram aos ouvidos de Paulo e seus cinco assistentes. Eles próprios haviam escapado por pouco em algumas ocasiões, mas agora uma nuvem mais negra parecia pairar sobre eles. Os missionários temiam ser inevitavelmente presos. Nero e seus homens estavam dispostos a acabar com o testemunho cristão.
Em meio à crise, Demas abandonou Paulo, partindo para Tessalônica. Era uma negativa da fé, e o apóstolo ficou profundamente magoado. Demas, entretanto, não foi o único a desertar. Crescente partiu para a Galácia; e até Tito, a quem Paulo confiara tão grande tarefa, pressionado pela perseguição, partiu para as montanhas da Dalmácia.
Só Lucas e Tíquico permaneceram com Paulo, e esse último foi enviado a ficar com Timóteo e ajudá-lo em tudo. Então o golpe abateu-se sobre eles. Um oficial romano, reconhecendo Paulo como líder das forças cristãs, prendeu-o enquanto pregava o Evangelho de CRISTO em praça pública. Julgando que Nero se agradaria de ter nas mãos um líder cristão, enviou-o a Roma.
O Primeiro Julgamento
Desta vez Paulo não foi tratado com respeito e tolerância. Era um prisioneiro famoso, e qualquer um que lhe demonstrasse amizade seria distinguido como um dos acusados de incendiar Roma. Pouca gente visitou o apóstolo, mas Lucas, o médico amado, ia vê-lo todos os dias.
Paulo foi mantido numa cela logo abaixo da rua. Não havia qualquer saída, exceto uma abertura estreita para escoamento da água no pavimento. As paredes eram frias e úmidas, e o frio cortante do inverno já se fazia*sentir. A solidão da cela o deprimia, mas a idéia de ter sido abandonado era ainda mais difícil de suportar.
O efésio Onesíforo foi um dos que tentaram ajudá-lo. Ele mostrou ser muito diferente de tantos amigos da Ásia. Todos haviam esquecido o idoso apóstolo, mas Onesíforo não se envergonhou das cadeias de Paulo. Depois de uma longa busca, descobriu onde o prisioneiro se encontrava e passou a visitá-lo com freqüência, levando-lhe ânimo e objetos de uso pessoal.
Chegou então o dia do julgamento. Segundo o costume romano, todos deviam ter um julgamento justo. Paulo ficou sozinho diante do tribunal. A sala estava cheia, mas em todo aquele mar de rostos não havia um que lhe parecesse amigável. Nenhuma voz se levantou a seu favor. O velho apóstolo começou sua própria defesa com um vigor vindo da certeza de que o Senhor estava ao seu lado. CRISTO era tão real naquele dia como o fora na estrada de Damasco, tantos anos antes.
Seu discurso foi eloqüente. Todo o antigo fogo ainda queimava nele. Toda a lógica e poder do Evangelho estavam-lhe à disposição. Suas sentenças começaram vagarosas, mas à medida que contava a história do Evangelho, ganharam velocidade. Seus olhos brilhavam de convicção. Ele estava pregando para obter um veredicto, e seus argumentos caíam em pesados golpes nos corações dos ouvintes. Esse seria seu último sermão na terra.
Alexandre, o latoeiro, era a principal testemunha contra Paulo. Esse homem levantou-se e identificou-o como líder da igreja cristã e centro de tanta controvérsia. Afirmou que aonde Paulo ia, formava uma comunidade de cristãos fiéis a JESUS de Nazaré, e que a lealdade dessas pessoas ao imperador era questionável. Apesar do testemunho de Alexandre, a corte impressionou-se com as palavras ardentes do grande apóstolo; o caso foi suspenso até um novo interrogatório.
Paulo escapou dos dentes do leão para ser enviado de volta à cela sombria, onde aguardaria o lento girar das rodas da justiça romana. Tratava-se de uma vitória temporária. Ele, porém, já podia visualizar o final à distância, e esperava que o julgamento viesse rapidamente. O apóstolo dos gentios só tinha um último desejo: ver Timóteo antes de morrer.
A Segunda Epístola a Timóteo
Paulo receava os dias de ócio forçado na cela desconfortável. Pensou na capa que deixara em Trôade, com os livros e pergaminhos. Se estivessem agora em suas mãos! Pediu uma pena, tinta e pergaminho, e obteve permissão para escrever ao amado amigo Timóteo, em Éfeso:
Por este motivo, te lembro que despertes o dom de DEUS que existe em ti pela imposição das minhas mãos... Portanto, não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor, nem de mim, que sou prisioneiro seu; antes, participa das aflições do evangelho, segundo o poder de DEUS...
Mas não me envergonho, porque eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele dia...
Tu, pois, meu filho, fortifica-te na graça que há em CRISTO JESUS... Procura apresentar-te a DEUS aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm 1.6,8,12; 2.1,15).
Paulo advertiu o jovem pregador sobre a maldade dos homens e o perigo da falsa doutrina. Encarregou-o solenemente de pregar a Palavra de DEUS e jamais perder o sentimento de urgência:
Porque virá tempo em que não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências. E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas tu sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra dum evangelista, cumpre o teu ministério.
Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.
Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi para Tessalônica; Crescente, para Galada. Tito para Dalmácia. Só Lucas está comigo. Toma Marcos, e traze-o contigo, porque me é muito útil para o ministério. Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos.
Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu muito às nossas palavras.
Ninguém me assistiu na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam. Que isto lhes não seja imputado. Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação, e todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão. E o Senhor me livrará de toda a má obra, e guardar-me-á para o seu reino celestial; a quem seja glória para todo o sempre. Amém... Procura vir antes do inverno (2 Tm 4.3-11,13-18,21).
Essa foi a sua última carta.
O Segundo Julgamento
O segundo julgamento de Paulo seguiu-se logo após o primeiro. Não havia ninguém para defendê-lo ou apoiá-lo. Ele fora acusado de ser o líder dos cristãos, contra quem o ressentimento público era grande. Alexandre, o latoeiro, e os demais acusadores venceram. Sob os olhos desatentos de Nero, foi feita a votação. Era uma sentença de morte. Por ser um cidadão romano, Paulo não seria crucificado, mas decapitado.
Com o rosto pálido, porém de cabeça erguida, o apóstolo foi levado para fora dos muros da cidade. Ali, em meio a uma multidão hostil, ávida pela execução, o velho missionário da cruz levantou os olhos para orar. Muitas e muitas vezes o Senhor o livrara de um momento como aquele. Contudo, muitos outros santos haviam enfrentado a morte, e a graça de DEUS seria suficiente a Paulo também. O Senhor JESUS sofrerá uma morte vergonhosa fora dos muros de Jerusalém; mas pela sua vitória, tornou a morte gloriosa a todo cristão. Enquanto Paulo pensava na ressurreição, um riso de triunfo dançou-lhe nos olhos e brincou-lhe nos cantos da boca. Sua face estava radiante, brilhando com a luz de um outro mundo.
NOS Braços de JESUS
O capitão da guarda ordenou que parassem. O ar frio do inverno esfriara o cepo junto ao qual Paulo ajoelhou-se. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada. A lâmina da espada brilhou ao sol. Paulo fechou os olhos para a multidão ruidosa, e quando abriu-os de novo, estava na presença de JESUS de Nazaré, onde há plenitude de alegria, e em cuja destra há prazeres eternos (SI 16.11).
FIM
Paulo, o maior líder do cristianismo - Editora Hagnos O apóstolo Paulo foi, certamente, o maior evangelista, o maior teólogo, o maior missionário e o maior plantador de igrejas de toda a história do cristianismo. Plantou igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor. Nenhum homem exerceu tanta influência sobre a nossa civilização. Nenhum escritor foi tão conhecido e teve suas obras tão divulgadas e comentadas quanto ele. Embora tenha vivido sob fortes pressões internas e externas, não deixou jamais sua alma ficar amargurada.
Paulo foi o maior bandeirante do cristianismo, seu expoente mais ilustre, seu arauto mais eloquente, seu embaixador mais conspícuo. Pregou com zelo aos gentios e aos judeus, nas escolas, cortes, palácios, sinagogas, praças e prisão. Com a mesma motivação, pregou quando tinha fartura e também quando passava por privações. Ele enriqueceu muitos, sem nada possuir. Embora tenha experimentado fome e frio, suportado cadeias e tribulações, passado os últimos dias numa masmorra e enfrentado o martírio por ordem de um imperador insano, sua vida ainda inspira milhões de pessoas em todo o mundo.
Sua conversão extraordinária foi um divisor de águas não só em sua vida, mas também na história da humanidade. Antes dessa insólita experiência, foi o maior perseguidor do cristianismo; depois dela, tornou-se seu maior arauto. Sua vida foi vivida sempre com grande ardor e paixão. Antes de sua conversão, seu zelo sem entendimento o levou a perseguir implacavelmente os cristãos. Depois de sua conversão, seu zelo pela glória de DEUS o fez gastar-se sem reservas pelos cristãos.
Convido você, leitor, a acompanhar comigo a vida desse gigante de DEUS. Enquanto o veterano apóstolo nos toma pela mão e nos guia pelas veredas de suas variadas experiências, é necessário termos os olhos abertos e o coração disposto para aprender com ele preciosas e ricas lições. Que DEUS nos ajude nessa gloriosa aventura! Hernandes Dias Lopes Capítulo 01 - Um religioso memorável
(Quem era esse homem que provocava verdadeiras revoluções por onde passava? Quais eram suas credenciais? Quem eram seus pais? Onde nasceu? Como foi educado? Que convicções religiosas nortearam-lhe os passos? Convido você a fazermos uma viagem rumo ao passado, entrando pelos corredores do tempo, a fim de descobrirmos essas respostas. Nossa fonte primária é a Sagrada Escritura. Dela, emanam as informações mais importantes sobre a vida, o ministério e a morte desse gigante do cristianismo. É tempo de começarmos essa viagem!
Em primeiro lugar, Paulo era judeu por nascimento. Em sua defesa em Jerusalém, após sua dramática prisão, teve a oportunidade de se dirigir à multidão alvoroçada, dizendo: “Eu sou judeu, nasci em Tarso da Cilícia...” (Atos 22.3). Seus pais eram judeus. O sangue que corria em suas veias era o mesmo que corria nas veias do patriarca Abraão. Ao combater a ideia errada dos falsos mestres judaizantes, que nutriam uma falsa confiança na sua linhagem judaica, Paulo responde: “Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus...” (Fp 3.4,5). Paulo era um judeu puro sangue. Um judeu da gema. Procedia da mais importante tribo israelita, a de Benjamim.
Em segundo lugar, Paulo foi criado dentro da fé judaica. Paulo nasceu em Tarso da Cilícia. Seus pais o educaram na fé judaica, uma vez que foi circuncidado ao oitavo dia (Fp 3.5). Desde sua infância, bebeu o leite da piedade e aprendeu os preceitos da lei de DEUS. Jamais foi um jovem devasso. O zelo sempre ardeu em seu peito. Seu propósito em servir a DEUS foi o vetor que governou sua vida. Dominava com grande desenvoltura o conhecimento da lei e as opiniões mais importantes dos grandes mestres de sua época. Ele se destacava dentro do judaísmo. Chegou mesmo a declarar: “E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1.14).
Em terceiro lugar, Paulo foi educado em Jerusalém aos pés de Gamaliel. Perante grande multidão em Jerusalém, Paulo dá seu testemunho: “... criei-me nesta cidade e aqui fui instruído aos pés de Gamaliel, segundo a exatidão da lei de nossos antepassados, sendo zeloso para com DEUS, assim como todos vós o sois no dia de hoje” (Atos 22.3). Jerusalém era a cidade santa. Lá estavam os escribas e doutores da lei. Lá estavam o templo e os sacrifícios. Lá estavam a lei e as cerimônias. Lá estavam os sacerdotes e os rabinos. Lá estava o sinédrio. Essa cidade transpirava religião. Tudo girava em torno do sagrado. Na cidade de Davi, Paulo foi instruído aos pés de Gamaliel, o maior e o mais ilustre rabino daquela época, homem culto, sábio e piedoso. Ele foi instruído segundo a exatidão da lei dos seus antepassados. Conhecia bem de perto as tradições do seu povo. Sabia de cor as inúmeras regras e preceitos criados pelos anciãos. A tradição oral, fruto da interpretação meticulosa e extravagante dos escribas, era observada cuidadosamente por esse jovem brilhante.
Em quarto lugar, Paulo tinha uma vasta cultura secular. Paulo era um erudito. Seu conhecimento transcendia o campo religioso. Estava familiarizado com o conhecimento mais refinado de sua época. Paulo era um poliglota, ou seja, falava vários idiomas. Trafegava com desenvoltura pelos corredores do passado e citava com precisão os grandes pensadores e filósofos dos tempos antigos. Quando pregou na capital intelectual do mundo, a Atenas de Péricles, Sócrates, Platão e Aristóteles, não hesitou em citar alguns poetas atenienses (Atos 17.28). Quando escreveu a Tito, na ilha de Creta, fez referência a Epimênides, um filósofo cretense, do século 6 o a.C (Tt 1.12). Paulo tinha uma cultura enciclopédica. Festo, mesmo fazendo troça do apóstolo, precisou se curvar à realidade insofismável de que Paulo era um homem de muitas letras (Atos 26.24). O próprio apóstolo Pedro faz referência à sabedoria de Paulo, dizendo que ele escreveu coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis deturpam para sua própria destruição (2Pe 3.15,16).
Em quinto lugar, Paulo era fariseu, membro da seita mais rigorosa dos judeus. Escrevendo aos filipenses, descreveu sua vida pretérita nestes termos: “... quanto à lei, [eu era] fariseu...” (Fp 3.5). Diante do rei Agripa, quando estava sendo acusado, em Cesareia, disse: “... porque vivi fariseu conforme a seita mais severa da nossa religião” (Atos 26.5). Como fariseu, Paulo era zeloso da lei. Como fariseu, era extremamente zeloso das tradições de seus pais (Gl 1.14). Como fariseu, frequentava assiduamente a sinagoga. Como fariseu, dava o dízimo criteriosamente e jejuava regularmente. Ele chega a afirmar que, quanto à justiça que há na lei, era irrepreensível (Fp 3.6). Os fariseus eram os separados. Eles compunham o grupo religioso mais ortodoxo de Israel. Os fariseus estavam do lado oposto dos saduceus, grupo religioso que negava a ressurreição e a existência dos anjos.
Em sexto lugar, Paulo era membro do sinédrio judaico. Paulo era o maior embaixador do sinédrio judaico no sentido de promover a fé de seus pais. Por outro lado, era o braço estendido desse mesmo sinédrio para neutralizar ou desbaratar qualquer nova vertente religiosa que colocasse em risco sua tradição religiosa. O sinédrio era o concílio maior dos judeus, composto de setenta homens maduros, cuja função principal era legislar e julgar a vida religiosa e moral do povo judeu. Governado especialmente pelos sacerdotes, da seita dos saduceus, tinha nos fariseus seus membros mais zelosos da lei (Atos 23.6). Ser membro do sinédrio era ser considerado um dos principais dos judeus (Jo 3.1). Esse posto de honra dava-lhe projeção e grande destaque na sociedade. Era um homem respeitado pelo seu conhecimento, pela sua religiosidade e pelo zelo com que se devotava à causa do seu povo.
Em sétimo lugar, Paulo era um cidadão romano. Paulo, mesmo sendo filho de judeus, era cidadão romano (Atos 22.27), pois nasceu numa província romana, em Tarso da Cilícia. Recebeu o título de cidadão romano não mediante o pagamento de grande soma de dinheiro (Atos 22.28a), mas por direito de nascimento (Atos 22.28b). Um cidadão romano gozava de certos privilégios. Ele não podia ser açoitado (Atos 22.25). Paulo não hesitou em lançar mão desse privilégio sempre que necessário. Pelo menos duas vezes essa credencial de Paulo o livrou das mãos das autoridades. A primeira vez, na cidade de Filipos, colônia romana, onde Paulo foi açoitado e preso ilegalmente. Quando os pretores, as autoridades locais, souberam que Paulo era romano, ficaram cheios de temor e precisaram se desculpar com o apóstolo (Atos 16.35-40). A segunda vez, quando Paulo foi preso em Jerusalém e estava sendo amarrado, para ser interrogado sob açoites, em vista do alvoroço da multidão tresloucada, Paulo pergunta: “... Ser-vos-á, porventura, lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?” (Atos 22.25). Paulo não fazia propaganda de suas prerrogativas, mas jamais deixou de usá-las quando isso se fazia necessário. Humildade não é se esconder. Os humildes não tocam trombeta fazendo alarde de seu conhecimento, poder ou influência. Os humildes não querem ser menos do que são; mas jamais deixam de afirmar o que são, quando isso contribui para a promoção do bem. Capítulo 02 - Um perseguidor implacável
O zelo sem entendimento pode ser uma arma perigosíssima. Muitos crimes hediondos têm sido praticados em nome de DEUS. Com Paulo, não foi diferente. Ele foi um perseguidor implacável (Gl 1.13). Ele usou sua influência e força para esmagar os discípulos de CRISTO. Perseguiu CRISTO (Atos 26.9), a religião de CRISTO (Atos 22.4) e os seguidores de CRISTO (Atos 26.11).
Paulo foi o mais severo perseguidor da igreja em seus albores. Olhando pelo retrovisor, fazendo uma retrospectiva do seu passado, escreveu a Timóteo: “a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente...” (1Tm 1.13). Ele feria os cristãos com a língua e com os punhos. Fazia isso com arrogância e soberba. Usava os instrumentos legais e também a truculência física.
Paulo é visto como perseguidor
Ressaltamos, aqui, alguns pontos importantes: Paulo via a si mesmo como perseguidor. Ao escrever à igreja de Corinto, diz que se considerava o menor dos apóstolos e até não era digno de ser chamado apóstolo, uma vez que havia perseguido a igreja de DEUS (1Co 15.9). Escrevendo aos gálatas, testemunha: “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de DEUS e a devastava” (Gl 1.13). Diante do povo de Jerusalém, confessou: “Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres” (Atos 22.4). Diante do rei Agripa, ele testemunhou: “Na verdade, a mim me parecia que muitas cousas devia eu praticar contra o nome de JESUS, o Nazareno; e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia” (Atos 26.9-11).
CRISTO o viu como perseguidor. Quando Paulo, enfurecidamente, ia para Damasco com o propósito de manietar e trazer amarrados os discípulos de CRISTO para Jerusalém a fim de lançá-los na prisão, CRISTO apareceu-lhe, de maneira gloriosa, na estrada de Damasco, perguntando-lhe: “... Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões” (Atos 26.14). Perseguir a igreja é perseguir CRISTO. Perseguir os membros do Corpo é perseguir a Cabeça do Corpo. Perseguir a noiva é perseguir o Noivo. Paulo não estava apenas se levantando contra homens, mas contra o próprio DEUS. Aqueles que ferem os santos de DEUS tocam na menina dos olhos de DEUS.
O povo de Damasco o viu como perseguidor. O zelo sem entendimento pode levar um homem a fazer loucuras. Paulo atacou furiosamente os cristãos. Ananias, morador de Damasco, disse ao Senhor acerca dele: “... Senhor, de muitos tenho ouvido a respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome” (Atos 9.13,14). O mesmo aconteceu logo que começou a pregar em Damasco. A reação do povo foi imediata: “Ora, todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam: Não é este o que exterminava em Jerusalém os que invocavam o nome de JESUS e para aqui veio precisamente com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes?” (Atos 9.21).
Os discípulos de Jerusalém o viram como perseguidor. Quando Paulo fugiu de Damasco e foi para Jerusalém com a intenção de ser acolhido pelos discípulos, eles não acreditaram nele. Pensaram que se tratava de mais um estratagema para perseguir os cristãos. Lucas relata esse fato assim: “Tendo chegado a Jerusalém, procurou juntar-se com os discípulos; todos, porém, o temiam, não acreditando que ele fosse discípulo” (Atos 9.26).
Paulo é um perseguidor cruel e resistente
Duas descrições metafóricas ilustram a crueldade das perseguições de Paulo aos cristãos.
Primeiro, ele é visto como uma fera selvagem. A igreja em Jerusalém foi duramente perseguida, e muitos cristãos fugiram, pregando o evangelho (Atos 8.1-4). Alguns deles foram para Damasco. E agora, Paulo, ainda respirando ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dispõe-se a ir a Damasco para manietar, prender e arrastar presos para Jerusalém aqueles que professavam o nome de CRISTO (Atos 9.1,2). Ele queria destruir os crentes em Jerusalém, por isso os caçava por toda parte, para trazê-los de volta a Jerusalém e ali os exterminar.
Essa expressão “respirando ameaças e morte” literalmente é a mesma para descrever uma fera selvagem que furiosamente extermina o corpo de uma presa. Na linguagem dos crentes de Damasco, Paulo era um exterminador (Atos 9.21). Paulo era um monstro celerado, um carrasco impiedoso, um perseguidor truculento, um tormento na vida dos cristãos primitivos.
A expressão “respirando ainda ameaças e morte” era também uma alusão ao arfar e ao bufar dos animais selvagens. Paulo parecia mais um animal selvagem do que um homem. Em suas próprias palavras, ele estava “demasiadamente enfurecido” (Atos 26.11). Nada é mais perigoso do que o radicalismo religioso sem entendimento. Muitas “guerras santas” já foram declaradas por causa dessa atitude ensandecida. Milhares de pessoas já morreram em nome de DEUS para sustentar essa causa inglória. Muito sangue já foi derramado para satisfazer os caprichos desses religiosos dominados pelo zelo sem entendimento.
A expressão “respirando ameaças e morte” descreve também uma fera selvagem saltando sobre a presa para devorá-la. Paulo era uma fera selvagem, uma ameaça concreta para todos aqueles que confessavam o nome de JESUS. Não poupava homens nem mulheres. Perseguiu a religião do Caminho até a morte (Atos 22.4). Estava determinado a praticar muitas coisas contra o nome de JESUS, o Nazareno (Atos 26.9). Ele estava determinado a banir da terra o cristianismo. Não podia aceitar que um nazareno, crucificado como um criminoso, pudesse ser o Messias prometido de DEUS. Não podia aceitar que os cristãos anunciassem a ressurreição daquele que havia sido dependurado numa cruz. Não podia crer que uma pessoa pregada na cruz e, consequentemente, considerada pecadora e maldita pudesse ser o Salvador do mundo.
Segundo, ele é visto como um touro bravo. O Senhor JESUS, mesmo sendo perseguido por Paulo, não abriu mão de sua vida. A fúria de Paulo pelo nome de JESUS, o Nazareno, não anulou o propósito eletivo de DEUS, que escolheu Paulo antes mesmo de ele nascer e o separou para o ministério. Paulo mesmo testemunhou esse fato: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim...” (Gl 1.15,16). Um touro bravo é amansado pelo aguilhão. O Senhor começou a ferroar sua consciência, ao mostrar como aqueles discípulos presos, torturados e mortos morriam com serenidade. O algoz estava furioso, mas as vítimas morriam cantando e orando.
Quando Estêvão foi apedrejado em Jerusalém, e se derramava o seu sangue, Paulo consentia em sua morte e guardava as vestes daqueles que o apedrejavam (Atos 22.20). Paulo, porém, recusava-se a ceder mesmo diante desses aguilhões. Como uma fera selvagem, dirigiu-se a Damasco. Respirava ameaças e morte (Atos 9.1). Seu prazer era matar em nome de DEUS aqueles que abraçavam a fé cristã. JESUS então aparece-lhe em refulgente glória no caminho de Damasco, derruba-o ao chão e lhe pergunta: “... Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões” (Atos 26.14). O boi bravo, enfim, estava no chão, subjugado, manso, domado (Atos 9.3-5). Uma força maior do que seu ódio entrou em seu peito. Uma luz maior do que seu zelo o dominou. Aquele a quem ele perseguia com todas as forças da sua alma, agora conquista seu coração. Quebrado e submisso, ele pergunta: “Quem és tu, Senhor?”. E o Senhor responde: “Eu sou JESUS, a quem tu persegues” (Atos 26.15).
Paulo é um perseguidor violento
A Bíblia faz descrições dos variados métodos usados por Paulo para perseguir os discípulos de CRISTO. Vamos analisar esses métodos.
Em primeiro lugar, Paulo perseguia os cristãos usando o recurso da lei. Paulo usava sua influência e seu trânsito no sinédrio para munir-se de cartas de autorização dos principais sacerdotes a fim de encerrar em prisões e matar os cristãos (Atos 26.10). Sua perseguição tinha um ar de legalidade e oficialidade. Ele representava o braço repressor da lei religiosa. Ele lançava mão de artifícios legais para impor aos discípulos de CRISTO as mais duras sanções. É importante ressaltar que nem tudo o que é legal é moral. Nem tudo que é lícito é conveniente. Nem tudo o que a lei permite deve ser feito. Há muitos facínoras que se escondem atrás da lei para matar e oprimir os inocentes. Há muitos espertalhões que, despudoradamente, beneficiam-se das filigranas da lei para se abastecerem e oprimirem o pobre. Há aqueles que fazem as leis, torcem-nas e as manipulam para alcançar seus propósitos escusos e inconfessos.
Em segundo lugar, Paulo perseguia os cristãos em seus redutos religiosos. Paulo perseguia e castigava os cristãos por todas as sinagogas em Jerusalém, bem como por cidades estranhas (Atos 26.11). Sua área de jurisdição transcendia os limites da Palestina. Suas cruzadas furiosas avançavam além dos limites de Israel e chegavam até Damasco, na Síria (Atos 9.1,2). As sinagogas eram os locais principais de reunião, onde os judeus se congregavam para estudar a lei e orar. Ali também os cristãos se reuniam para adorar CRISTO e cultuá-lo. O lugar de comunhão transformou-se num palco de opressão. O abrigo da sinagoga tornou-se um corredor de perseguição. Paulo não respeitava os recintos sagrados. Ele pensava com isso estar prestando um serviço a DEUS.
Em terceiro lugar, Paulo empregava a tortura psicológica. A perseguição impetrada por essa fera selvagem e por esse boi bravo não consistia apenas em sanções legais contra os novos convertidos. Ele os castigava não apenas fisicamente, mas também psicologicamente. Ele mesmo testemunha: “Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar...” (Atos 26.11). Ele era blasfemo (1Tm 1.13) e forçava os neófitos a blasfemarem. Alguns crentes, novos na fé, com medo da morte, recuavam e blasfemavam. Outros, porém, suportavam os açoites, as prisões e a morte, permanecendo fiéis (Atos 26.10). A tortura psicológica é pior do que o castigo físico. Os campos de concentração nazistas usaram esse artifício maldito e levaram muitas pessoas à loucura. Ainda hoje, a tortura é um dos instrumentos mais aviltantes e ignominiosos, usados para arrancar confissões e declarações que incriminam as vítimas ou aqueles que se quer condenar.
Em quarto lugar, Paulo empregava a tortura física. Em sua carta aos Coríntios, Paulo diz que perseguiu a igreja de DEUS (1Co 15.9). Aos crentes da Galácia, seu relato é ainda mais contundente: “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de DEUS e a devastava” (Gl 1.13). Nessa perseguição, usou vários métodos:
Ele caçava os crentes por todas as partes. Paulo era um caçador implacável (Atos 9.2; 22.5; 26.9). Ele não se contentou apenas em perseguir os cristãos em Jerusalém; caçava-os por todas as cidades estranhas. Agora, escoltado por uma soldadesca do sinédrio, marcha para Damasco, capital da Síria, para prender os cristãos e levá-los manietados para Jerusalém (Atos 9.2). Seu propósito em prender os cristãos em Damasco era trazê-los para Jerusalém e puni-los, exatamente no local onde eles afirmavam que JESUS havia ressuscitado (Atos 22.5). Sua intenção não era apenas castigar os cristãos, mas jogar uma pá de cal no cristianismo.
Seu ódio, na verdade, não era propriamente contra os cristãos, mas contra CRISTO. Ele testemunha ao rei Agripa: “Na verdade, a mim me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de JESUS, o Nazareno” (Atos 26.9). Escrevendo a seu filho Timóteo, Paulo testemunha: “a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente...” (1Tm 1.13).
Paulo, ao perseguir a igreja, estava perseguindo o próprio CRISTO. Por isso, quando JESUS aparece-lhe no caminho de Damasco, pergunta: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (Atos 9.4). Ele então indaga: “Quem és tu, Senhor?”. E a resposta foi: “Eu sou JESUS, o Nazareno, a quem tu persegues” (Atos 9.5). Diante do sinédrio, Paulo disse: “Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres” (Atos 22.4). O povo de Damasco, ao ouvir a pregação de Paulo, logo depois da sua conversão, reafirma como Paulo perseguiu de forma implacável os crentes: “... Não é este o que exterminava em Jerusalém os que invocavam o nome de JESUS e para aqui veio precisamente com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes?” (Atos 9.21).
Ele manietava os crentes. Ao entrar nas sinagogas, Paulo não apenas dava ordem de prisão aos crentes, mas os amarrava e os levava assim aos principais sacerdotes (Atos 9.21). Ele corrobora: “... e ia para Damasco, no propósito de trazer manietados para Jerusalém os que também lá estivessem, para serem punidos” (Atos 22.5).
Ele encerrava os crentes em prisões. O propósito de Paulo em ir a Damasco era descobrir lá alguns crentes a fim de levá-los presos para Jerusalém (Atos 9.2). Ele diz ao povo de Jerusalém: “Persegui este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres” (Atos 22.4). Depois de sua conversão, quando DEUS o mandou sair de Jerusalém, Paulo tentou argumentar com DEUS, dizendo: “... Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão [...] os que criam em ti” (Atos 22.19).
Ele açoitava os crentes. Paulo não somente acorrentava e prendia os cristãos, mas também os castigava fisicamente (Atos 22.5). Ele disse: “... Senhor, eles bem sabem que eu [...] açoitava os que criam em ti” (Atos 22.19). Diante de Agripa, Paulo declara: “Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia” (Atos 26.11). Paulo era um carrasco, um homem truculento, selvagem, bárbaro, um monstro celerado em seu zelo ensandecido.
Ele matava os crentes. Paulo não apenas caçava os crentes como uma fera selvagem caça a sua presa, como também os devorava. Ele não apenas os acorrentava, prendia e açoitava, mas também os matava. Ele devastava a igreja. Sempre que o sinédrio deliberava sobre a morte dos crentes encerrados em prisão, Paulo dava seu voto para que fossem mortos. Diz ele: “e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam” (Atos 26.10). Diante da multidão amotinada de Jerusalém, Paulo testemunhou: “Quando se derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam” (Atos 22.20). Capítulo 03 - Um touro indomável
A conversão de Paulo foi a mais importante da história. Talvez nenhum fato seja mais marcante na história da igreja depois do Pentecostes. Nenhum homem exerceu tanta influência no cristianismo. Nenhum homem foi tão notório na história da humanidade. Lucas ficou tão impressionado com a importância da conversão de Paulo que ele a relata três vezes em Atos (Atos 9, 22, 26). Destacamos alguns pontos sobre a conversão de Paulo.
Paulo não se converteu; ele foi convertido
A causa da conversão de Paulo foi a graça soberana de DEUS. Ele não se decidiu por CRISTO; estava perseguindo CRISTO. Na verdade, foi CRISTO quem se decidiu por ele.
Paulo estava caçando os cristãos para prendê-los, e CRISTO estava caçando Paulo para salvá-lo (Atos 9.1-6). Não era Paulo que estava buscando a JESUS; era JESUS quem estava buscando a Paulo. A salvação de Paulo não foi iniciativa dele; foi iniciativa de JESUS. Não foi Paulo quem clamou por JESUS; foi JESUS quem chamou pelo nome de Paulo. A salvação é obra exclusiva de DEUS. Não é o homem que se reconcilia com DEUS; é DEUS quem está em CRISTO reconciliando consigo o mundo (2Co 5.18).
Paulo não é salvo por seus méritos; ele era uma fera selvagem, um perseguidor implacável, um assassino insensível. Seus predicados religiosos, nos quais confiava (circuncidado, fariseu, hebreu de hebreus, da tribo de Benjamim), ele considerou como esterco (Fp 3.8, ARC). A nossa justiça aos olhos de DEUS não passa de trapo de imundícia (Is 64.6).
Paulo era um touro bravo que resistiu aos aguilhões
A conversão de Paulo não foi de maneira nenhuma repentina. De acordo com a própria narrativa de Paulo, JESUS lhe disse: “... Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões” (Atos 26.14). JESUS comparou Paulo a um touro jovem, forte e obstinado, e ele mesmo, a um fazendeiro que usa aguilhões para domá-lo.
DEUS já estava trabalhando na vida de Paulo antes de ele se render no caminho de Damasco. Paulo era como um touro bravo que recalcitrava contra os aguilhões (Atos 26.14). JESUS já estava ferroando sua consciência quando ele viu Estêvão sendo apedrejado e com rosto de anjo pedir ao Senhor para perdoar seus algozes. A oração de Estêvão ainda latejava na alma de Paulo.
JESUS estava ferroando a consciência de Paulo quando ele prendia os cristãos e dava seu voto para matá-los, e eles morriam cantando. Mas, como esse boi selvagem não amansou com as ferroadas, JESUS apareceu a ele, o derrubou ao chão e o subjugou totalmente no caminho de Damasco. Isso nos prova que a eleição de DEUS é incondicional, que a graça de DEUS é irresistível, e que seu chamado é irrecusável. Paulo precisou ser jogado ao chão e ficar cego para se converter. Nabucodonosor precisou ir para o campo comer capim com os animais para se dobrar. Até quando você vai resistir à voz do ESPÍRITO de DEUS?
A conversão de Paulo no caminho de Damasco era o clímax repentino de um longo processo em que o “Caçador dos céus” tinha estado em seu encalço. Curvou-se a dura cerviz autossuficiente. O touro estava domado.
Paulo era um intelectual que resistiu à lógica divina (Atos 9.4-8)
Se a conversão de Paulo não foi repentina, também não foi compulsiva. CRISTO falou com ele em vez de esmagá-lo. CRISTO o jogou ao chão, mas não violentou sua personalidade. Sua conversão não foi um transe hipnótico. JESUS apelou para sua razão e para seu entendimento.
JESUS perguntou: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”. Paulo respondeu: “Quem és tu, Senhor?”. JESUS respondeu: “Eu sou JESUS, a quem tu persegues”. JESUS ordenou: “Mas levanta-te”, e Paulo prontamente obedeceu! A resposta e a obediência de Paulo foram racionais, conscientes e livres.
A soberania de DEUS não anula a responsabilidade humana. JESUS picou a mente e a consciência de Paulo com os seus aguilhões. Então ele se revelou através da luz e da voz, não para esmagá-lo, mas para salvá-lo. A graça de DEUS não aprisiona. É o pecado que prende. A graça liberta!
Paulo foi um homem completamente transformado (Atos 9.3-20)
Destacamos três fatos benditos sobre essa súbita conversão de Paulo:
Em primeiro lugar, uma gloriosa manifestação de JESUS (Atos 9.3-6). Três coisas aconteceram a Paulo:
Paulo viu uma luz (Atos 22.6,11). Subitamente, uma grande luz do céu brilhou ao seu redor. Aquilo não foi uma miragem, um êxtase, uma visão subjetiva. Foi uma grande luz do céu tão forte que lhe abriu os olhos da alma e tirou-lhe a visão física. Ele ficou cego por causa do fulgor daquela luz (Atos 22.11). Não foi apenas uma luz que apareceu a Paulo, mas o próprio JESUS (Atos 9.17). Aquela luz era a glória do próprio Filho de DEUS ressurreto.
Paulo caiu por terra (Atos 22.7). O touro furioso, selvagem e indomável estava subjugado. Aquele que prendia estava preso. Aquele que encerrava em prisão estava dominado. Aquele que se achava detentor de todo o poder para perseguir estava prostrado ao chão, impotente. O Senhor quebrou todas as suas resistências.
Paulo ouviu uma voz (Atos 22.7). O mesmo JESUS que ferroara sua consciência com aguilhões troveja, agora, aos seus ouvidos, desde o céu: “... Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões” (Atos 26.14). A voz do Senhor é poderosa. Ela despede chamas de fogo. Faz tremer o deserto. É irresistível. Paulo então perguntou: “... quem és tu, Senhor? Ao que JESUS respondeu: “... Eu sou JESUS, o Nazareno, a quem tu persegues” (Atos 22.8). O mesmo Paulo que perseguia a JESUS (Atos 26.9) chama, agora, JESUS de Senhor. Ele se curva. Ele se prostra. O boi selvagem foi subjugado! Não há salvação sem que o pecador se renda aos pés do Senhor JESUS.
Em segundo lugar, uma humilde entrega de Paulo (Atos 22.8,10). Três coisas devem ser destacadas:
Paulo reconhece que JESUS é o Senhor (Atos 22.8). Aquele a quem ele resistira e perseguira é de fato o Senhor. Verdadeiramente, ele ressuscitou dentre os mortos. Verdadeiramente, ele é o Messias, o Filho de DEUS. Aquela luz brilhou na sua alma, iluminou seu coração, tirou as escamas dos seus olhos espirituais (2Co 3.16).
Paulo reconhece que épecador (Atos 22.8). Paulo toma conhecimento de que seu zelo religioso não agradava a DEUS. Na verdade, estava perseguindo o próprio Filho de DEUS. Ele reconhece que é o maior de todos os pecadores. Reconhece que está perdido e precisa da salvação.
Paulo reconhece que precisa ser guiado pelo Senhor (Atos 22.10). A autossuficiência de Paulo acaba no caminho de Damasco. Ele agora pergunta: “... que farei, Senhor?...” (Atos 22.10). Agora quer ser guiado! Está pronto a obedecer. Ele que esperava entrar em Damasco na plenitude de seu orgulho e bravura, como um autoconfiante adversário de CRISTO, estava sendo guiado por outros, humilhado e cego, capturado pelo CRISTO a quem se opunha. O Senhor ressurreto aparecera a ele. A luz que viu era a glória de CRISTO, e a voz que ouviu era a voz de CRISTO. CRISTO o capturou antes que ele pudesse capturar qualquer crente em Damasco.
Em terceiro lugar, uma evidência incontestável da conversão de Paulo (Atos 9.10-20). Três verdades nos provam essa tese:
Paulo evidencia sua conversão pela vida de oração (Atos 9.10,11). A prova que DEUS deu a Ananias de que Paulo agora era um irmão, e não um perseguidor, é que ele estava orando. Quem nasce de novo tem prazer de clamar “Aba Pai”. Quem é salvo tem prazer na comunhão com o Pai. Paulo é convertido e logo começa a orar!
Paulo evidencia sua conversão pelo recebimento do ESPÍRITO SANTO (Atos 9.17). Ananias impõe as mãos sobre ele, e ele recebe o ESPÍRITO e fica cheio do ESPÍRITO SANTO. Charles Spurgeon disse que é mais fácil você convencer um leão a ser vegetariano do que uma pessoa ser convertida sem a ação do ESPÍRITO SANTO.
Paulo evidencia sua conversão pelo recebimento do batismo (Atos 9.18). Não é o batismo que salva, mas o salvo deve ser batizado. O batismo é um testemunho da salvação. Uma pessoa que crê precisa ser batizada e integrada na igreja. Ananias chamou Paulo de irmão. Ele entrou para a família de DEUS. Capítulo 04 - Uma pedra bruta lapidada
Depois de convertido, logo Paulo se transforma em pregador do evangelho. Em vez de perseguir os cristãos, promove a fé evangélica. Em vez de tapar a boca dos cristãos, abre a boca para testemunhar do nome de JESUS. Destaco três mudanças radicais que aconteceram na vida de Paulo depois de sua conversão:
Em primeiro lugar, de agente de morte a pregador do evangelho. Paulo tornou-se um embaixador de CRISTO, um pregador do evangelho imediatamente após sua conversão (Atos 9.20). DEUS mesmo o escolheu para levar o evangelho aos gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel (Atos 9.15).
Paulo pregou a tempo e fora de tempo. Em prisão e em liberdade. Com saúde ou doente. Pregou nos lares, nas sinagogas, no templo, nas ruas, nas praças, na praia, no navio, nos salões governamentais, nas escolas. Paulo pregou com senso de urgência, com lágrimas e no poder do ESPÍRITO SANTO.
Aonde ele chegava, os corações eram impactados com o evangelho. Ele pregava não apenas usando palavras de sabedoria, mas com demonstração do ESPÍRITO e de poder (1Co 2.4; lTs 1.5).
Em segundo lugar, de devastador da igreja a plantador de igrejas. DEUS encorajou Ananias a ir ao encontro de Saulo em Damasco, dando-lhe as seguintes palavras: “... Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (Atos 9.15). O Senhor mesmo levantou Paulo como o maior evangelista, o maior missionário, o maior pastor, o maior pregador, o maior teólogo e o maior plantador de igrejas da história do cristianismo. Ele plantou igrejas na região da Galácia, nas províncias da Macedônia, Acaia e Asia Menor. Não apenas plantou igrejas, mas pastoreou-as com intenso zelo, com profundo amor e com grave senso de responsabilidade. Pesava sobre ele a preocupação com todas as igrejas (2Co 11.28).
Em terceiro lugar, de receptor de cartas para prender e matar a escritor de cartas para abençoar e salvar. Como perseguidor e exterminador dos cristãos, Paulo pedia cartas para prender, amarrar e matar os crentes (Atos 9.2,14). Mas, depois de convertido, ele escreve cartas para abençoar. Paulo foi o maior escritor do Novo Testamento. Ele escreveu treze cartas. Suas cartas são mais conhecidas do que qualquer obra jamais escrita na história da humanidade. Suas cartas têm sido alimento diário para milhões de crentes em todos os tempos. Essas cartas são luzeiros que brilham; são pão que alimenta; são água que dessedenta; são verdades inspiradas pelo ESPÍRITO SANTO que ensinam, exortam e levam pessoas a CRISTO todos os dias!
Vejamos, agora, como DEUS trabalhou na vida de Paulo até transformá-lo no apóstolo que foi. Mesmo que sua conversão tenha sido genuína e radical, seu amadurecimento foi progressivo.
Pregando em Damasco
Logo após ser curado da cegueira, ser batizado e ter recebido o ESPÍRITO, Paulo começou a pregar em Damasco, afirmando que JESUS é o Filho de DEUS (Atos 9.20). Sua pregação consistia apenas numa declaração de que aquele a quem ele perseguia era o Filho de DEUS. Essa pregação causou espanto nos damascenos, em virtude de sua reputação de exterminador dos que invocavam o nome de JESUS (Atos 9.21).
Seminário intensivo com JESUS na Arábia
Há um intervalo muito importante na vida de Paulo entre Atos 9.20,21 e Atos 9.22. No começo, Paulo apenas pregava e afirmava que JESUS era o Filho de DEUS (Atos 9.20,21). Mas, depois, Paulo mais e mais se fortalecia e confundia os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que JESUS é o CRISTO (Atos 9.22). Demonstrar é mais do que afirmar. Demonstrar é provar cuidadosa e meticulosamente o que se afirma. Demanda um exame acurado, uma investigação precisa, uma análise profunda.
Onde Paulo esteve e o que aprendeu para passar do primeiro estágio da afirmação para o segundo estágio da demonstração? O livro de Atos não nos responde, mas encontramos a resposta na carta aos Gálatas. Após sua conversão, Paulo não foi para Jerusalém, onde estavam os apóstolos, mas rumou para as regiões da Arábia, onde permaneceu três anos, fazendo um seminário intensivo com o próprio Senhor JESUS. O próprio Paulo registra esse fato, assim: “Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de JESUS CRISTO” (Gl 1.11,12).
Depois de passar três anos examinando cuidadosamente o Antigo Testamento, ele descobriu que JESUS era, de fato, o Messias prometido. Paulo narra como foi que isso aconteceu nesses três anos: “Quando, porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça, aprouve revelar seu Filho em mim, para que eu o pregasse entre os gentios, sem detença, não consultei carne e sangue, nem subi a Jerusalém para os que já eram apóstolos antes de mim, mas parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco” (Gl 1.15-17).
Pregação mais precisa em Damasco
Ao voltar das regiões da Arábia para Damasco é que Paulo, agora, não apenas afirma, mas demonstra que JESUS é o CRISTO, o Messias prometido (Atos 9.22).
Em vez de sua pregação encontrar guarida em Damasco, encontra, pelo contrário, severa
resistência. Paulo precisa fugir de maneira humilhante num cesto muralha abaixo para salvar a vida. Depois de três anos de sua conversão, de Damasco ele vai a Jerusalém (Gl 1.18).
Rejeição e acolhimento em Jerusalém
Ao chegar a Jerusalém, a recepção de Paulo não foi nada calorosa. Os discípulos não acreditavam na sinceridade de sua conversão. Pensavam que ele estava blefando e armando uma cilada para perseguir a igreja. Essa rejeição, possivelmente, foi mais um golpe que Paulo sofreu ainda nos albores da sua caminhada. Estava colhendo os frutos de sua semeadura. Eis o relato de Lucas: “Tendo chegado a Jerusalém, procurou [Paulo] juntar-se com os discípulos; todos, porém, o temiam, não acreditando que ele fosse discípulo” (Atos 9.26).
Barnabé, o filho da consolação, viu Paulo com outros olhos. Acreditou nele e investiu em sua vida. Assim Lucas relata: “Mas Barnabé, tomando-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhes como ele vira o Senhor no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara ousadamente em nome de JESUS” (Atos 9.27). Barnabé foi o instrumento usado por DEUS para introduzir Paulo na comunidade cristã de Jerusalém, cidade onde ele outrora devastara a fé que agora pregava (Gl 1.23).
Uma exagerada confiança em si mesmo
Uma vez acolhido na igreja-mãe, onde outrora perseguira com tanta fúria os cristãos, Paulo tem livre trânsito para sair da cidade e entrar nela, a fim de pregar aos judeus e discutir com os helenistas. Mas toda essa desenvoltura não alcança os resultados que Paulo esperava. Talvez até aqui Paulo ainda estivesse confiando em si mesmo para obter sucesso em seu ministério. Ainda estava vivendo sob a égide da antiga aliança.
Em vez de frutos do seu trabalho, enfrenta mais perseguição. Eis o relato de Lucas: “Estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, pregando ousadamente em nome do Senhor. Falava e discutia com os helenistas; mas eles procuravam tirar-lhe a vida” (Atos 9.28,29).
Ao dar testemunho de sua conversão muitos anos depois, ao ser preso nessa mesma cidade de Jerusalém, Paulo narra uma experiência dramática. Ele não foi apenas rejeitado pelo povo da cidade. Foi dispensado também da obra pelo próprio DEUS. Acompanhemos o relato que o próprio apóstolo faz: “Tendo eu voltado para Jerusalém, enquanto orava no templo, sobreveio-me um êxtase, e vi aquele que falava comigo: Apressa-te e sai logo de Jerusalém, porque não receberão o teu testemunho a meu respeito” (Atos 22.17,18).
Em vez de DEUS mudar os oponentes de Paulo, é Paulo que tem de mudar e sair da cidade. Paulo não quer sair da igreja de Jerusalém. Ele chega a discutir com DEUS. Pensa que DEUS está cometendo um erro estratégico ao tirá-lo desse campo. Ele pensa ser o homem certo para essa empreitada. Mas DEUS não cede; é Paulo que tem de arrumar as malas e ir embora. Vejamos a argumentação de Paulo com DEUS: “Eu disse: Senhor, eles bem sabem que eu encerrava em prisão e, nas sinagogas, açoitava os que criam em ti. Quando se derramava o sangue de Estêvão, tua testemunha, eu também estava presente, consentia nisso e até guardei as vestes dos que o matavam. Mas ele me disse: Vai, porque eu te enviarei para longe, aos gentios” (Atos 22.19-21). Como Paulo reluta em sair, ele é retirado pelos irmãos: “Tendo, porém, isto chegado ao conhecimento dos irmãos, levaram-no até Cesareia e dali o enviaram para Tarso” (Atos 9.30).
O jovem Paulo sofre mais um golpe em seu orgulho. Quando ele arruma as malas e vai embora de Jerusalém, imediatamente os problemas da igreja se resolvem: “A Igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judeia, Galileia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do ESPÍRITO SANTO, crescia em número” (Atos 9.31). Talvez nada fira tanto o orgulho de um pastor do que sair da igreja e ver que após sua saída todos os problemas dela se resolvem. Volte para casa, jovem!
Paulo saiu de Jerusalém e foi para Tarso, sua cidade natal. E ali ficou não pouco tempo no anonimato, num completo ostracismo. Nada sabemos desse longo período de sua vida. Aquele que estava com a mente povoada de muitos sonhos, e nutrindo na alma o ideal de pregar a Palavra em Jerusalém, está, agora, sozinho, esquecido, fora do palco, longe das luzes da ribalta.
É importante perceber que DEUS ainda está tratando com ele. Na verdade, DEUS está mais interessado em quem nós somos do que no que fazemos. Vida com DEUS precede trabalho para DEUS. A nossa maior prioridade não é fazer a obra de DEUS, mas conhecer o DEUS da obra. O DEUS da obra é mais importante do que a obra de DEUS. Paulo precisava aprender que o sucesso na obra não vinha dele mesmo, mas de DEUS. Ele precisava passar da antiga aliança para a nova aliança. Na antiga aliança, tudo depende de nós e nada, de DEUS; na nova aliança, tudo depende de DEUS e nada, de nós. Se quisermos fazer a obra de DEUS fiados em nossas próprias forças, fracassaremos. Se dependermos apenas dos nossos recursos, nos frustraremos. A nossa suficiência vem de DEUS.
Tarso não foi um acidente na vida de Paulo, mas uma escola de treinamento. O deserto é a escola superior do ESPÍRITO SANTO onde DEUS treina seus líderes mais importantes. Tarso foi o deserto de Paulo. O deserto não é um acidente em nossa vida, mas uma agenda de DEUS. É DEUS quem nos leva para o deserto. Não gostamos do deserto. Ele não nos promove. Ele nos tira do palco. Ele apaga as luzes dos holofotes e nos deixa sem qualquer projeção. DEUS nos leva para o deserto não para nos exaltar, mas para nos humilhar. O deserto é o lugar onde DEUS treina seus líderes mais importantes. DEUS não tem pressa quando se trata de preparar os seus líderes. Vivemos numa geração que tem muita pressa. Gostamos de restaurantes fast-food. Mas os líderes não podem amadurecer no carbureto. Eles não podem pular o estágio do deserto. DEUS preparou Moisés quarenta anos para usá-lo durante quarenta anos. DEUS preparou Elias três anos e meio para usá-lo num único dia, no cume do monte Carmelo. O Senhor JESUS só começou seu ministério com 30 anos de idade. Paulo passou quatorze anos em Tarso antes de ser poderosamente usado por DEUS na obra missionária.
Aprenda a ser liderado antes de poder liderar
A evangelização do mundo estava a todo vapor, e isso sem a contribuição de Paulo. Não há pessoas indispensáveis na obra. Somos apenas cooperadores, e não os agentes da obra. O evangelho chegou a Antioquia, a terceira maior cidade do mundo daquela época. A igreja de Jerusalém enviou para lá o mesmo Barnabé que havia acolhido Paulo em Jerusalém. Ao chegar ali, alegrou-se ao ver a obra de DEUS prosperando e lembrou-se de Paulo. Foi atrás dele e o buscou para engrossar fileiras no ministério da evangelização e do ensino naquela cidade metropolitana.
Durante um ano, eles ensinaram a Palavra de DEUS em Antioquia. A igreja era multicultural e multirracial. Fortalecida na Palavra, a igreja orava e jejuava. Foi nesse tempo que o ESPÍRITO SANTO separou Barnabé e Paulo para a grande obra missionária, enviando-os para uma viagem missionária transcultural. É digno de nota, porém, que o ESPÍRITO SANTO separou Barnabé e Paulo, e não Paulo e Barnabé. O líder não era Paulo. Ele precisava aprender a ser liderado antes de poder liderar. Ele precisava estar sob a autoridade de alguém antes de poder exercer autoridade sobre alguém. Ele precisava aprender a ser reserva antes de ocupar o lugar de titular.
Mais uma vez, estamos diante do fato de que DEUS está trabalhando na vida de Paulo, ensinando-o a depender totalmente do Senhor e nada de si mesmo. DEUS estava esvaziando a bola desse homem. Estava lapidando essa pedra, aparando suas arestas e moldando-o como um oleiro faz com o vaso.
Esta, possivelmente, foi a lição mais importante que DEUS ensinou a Paulo em sua trajetória missionária: como viver no poder da nova aliança. O mesmo apóstolo compartilha como isso se deu em sua vida. Escrevendo sua segunda carta aos Coríntios, ele fala das cinco marcas de uma vida vitoriosa: otimismo indestrutível, sucesso constante, impacto inesquecível, integridade irrefutável e realidade inegável (2Co 2.14-17; 3.1-3). Contudo, a grande questão é: “... Quem, porém, é suficiente para estas cousas?” (2Co 2.16). Ele não dá a resposta imediatamente. Só vai fazê-lo no capítulo seguinte, quando escreve: “... a nossa suficiência vem de DEUS” (2Co 3.5). Só depois de aprender esse princípio, Paulo está pronto para ser o grande líder, o grande missionário, o homem poderosamente usado nas mãos de DEUS para levar o evangelho aos mais distantes rincões do mundo. Capítulo 05 - Semeando com lágrimas, colhendo com júbilo
A primeira viagem missionária de Paulo foi marcada por muitos incidentes e acidentes. Ele enfrentou oposição, perseguição e até apedrejamento. A jornada foi tão dura que o jovem João Marcos desistiu da viagem no meio do caminho.
A direção do ESPÍRITO SANTO na obra missionária
A igreja prega e ensina a Palavra (Atos 13.1), mas quem a dirige na obra missionária é o ESPÍRITO SANTO (Atos 13.2). O ESPÍRITO SANTO é livre e soberano na condução dos destinos da igreja. A orientação do ESPÍRITO é segundo a Palavra, e não à parte dela. O ESPÍRITO se manifesta a uma igreja centralizada na Palavra e a uma igreja que ora e jejua (Atos 13.2,3). O ESPÍRITO SANTO não age à parte da igreja, mas em sintonia com ela. É a igreja que jejua e ora. É a igreja que impõe as mãos e despede, mas é o ESPÍRITO quem envia os missionários (Atos 13.3,4).
Não podemos fazer a obra de DEUS sem a direção do ESPÍRITO SANTO. Ele nos foi enviado para estar para sempre conosco. Ele nos guia a toda a verdade. Precisamos do ESPÍRITO SANTO. Dependemos do ESPÍRITO SANTO. A igreja não pode ver sequer uma conversão sem a obra do ESPÍRITO SANTO. Os pregadores não terão virtude e poder para pregar sem a ação do ESPÍRITO SANTO.
Usando pontes de contato
Paulo anunciava a Palavra de DEUS (Atos 13.4,5), mas empregava os melhores métodos e os meios mais adequados de fazê-lo (Atos 13.5). Paulo não ousava mudar a mensagem, mas era sempre audacioso em usar os melhores métodos. Em Salamina, eles anunciam a Palavra de DEUS nas sinagogas judaicas (Atos 13.5). Nesse lugar, judeus e gentios prosélitos se reuniam para estudar a lei. Ali havia pessoas tementes a DEUS e piedosas. Essas pessoas já estavam preparadas para receber a revelação de DEUS por meio do evangelho.
Precisamos de pontes de contato para atingir com eficácia as pessoas. Precisamos ler a Bíblia e ler o povo. Precisamos conhecer o texto e o contexto. Precisamos ler a Escritura e também a cultura. É sábio aproveitar as portas abertas da cultura religiosa para anunciar o evangelho.
Onde alguém se abre para o evangelho, o diabo cria uma resistência
Quando os missionários Barnabé, Paulo e João Marcos chegaram a Pafos, o procônsul Sérgio Paulo, homem inteligente, demonstrou interesse em ouvir a Palavra de DEUS. Mas, imediatamente, certo judeu, mágico, falso profeta, de nome Barjesus, opôs-se a eles. Esse mensageiro do diabo envidou todos os esforços para afastar da fé o procônsul. É nesse momento que Paulo assume o comando da obra missionária e repreende com autoridade esse embaixador do engano com estas palavras: “Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor? Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão” (Atos 13.10,11). O resultado foi que o procônsul, ao ver o ocorrido, creu, maravilhado com a doutrina do Senhor (Atos 13.12).
Desistência no meio do caminho
Ao saírem de Pafos para Perge da Panfília, o jovem João Marcos desiste da viagem missionária e retorna para sua casa em Jerusalém (Atos 13.13). Longe de esse fato trazer aos dois veteranos da caravana, Paulo e Silas, qualquer desestímulo, eles prosseguiram rumo a Antioquia da Pisídia, onde encontraram uma larga porta aberta para o evangelho.
Por que João Marcos desistiu dessa primeira viagem missionária? O texto não nos responde. Porém, temos pelo menos duas sugestões. A primeira delas é que João Marcos era primo de Barnabé, e, quando saíram de Antioquia da Síria, Barnabé era o líder da caravana; porém, a partir de Pafos, Paulo assumiu essa liderança. Possivelmente, isso trouxe constrangimento e até insegurança na vida desse jovem.
A segunda razão é que a viagem missionária tomou um rumo inesperado, ao dirigir-se às regiões continentais em vez de concentrar-se apenas nas cidades costeiras. Isso implicava maiores riscos e mais dificuldades de uma retirada. O jovem João Marcos, possivelmente, julgou um preço muito alto a pagar e, inexplicavelmente, desistiu da viagem e voltou para casa.
Uma porta aberta para o testemunho
Em Antioquia da Pisídia, os missionários foram convidados a dar uma palavra de exortação ao povo reunido na sinagoga (Atos 13.15). Havia fome de DEUS naquela cidade. Paulo e Barnabé aproveitaram essa oportunidade.
O sermão de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia é uma síntese extraordinária da história de Israel (Atos 13.1641). Paulo se dirige aos israelitas e aos prosélitos tementes a DEUS (Atos 13.16), começando sua narrativa com o chamado dos patriarcas, o cativeiro no Egito e a peregrinação de seus descendentes pelo deserto. Nesse tempo, DEUS suportou os maus costumes do povo israelita durante quarenta anos no deserto. De forma miraculosa, DEUS destruiu sete nações poderosas dessa terra e a deu a Israel por herança. Depois de instalá-los nessa terra, deu-lhes juízes para liderá-los, mas o povo, desejando imitar as nações pagãs ao redor, queria um rei. Então lhes foi dado Saul. Por este não ser reto diante de DEUS, o Senhor levantou Davi, homem segundo o coração de DEUS (Atos 13.22). Da descendência de Davi, DEUS trouxe a Israel o Salvador do mundo, que é JESUS.
Paulo dirige-se aos judeus e prosélitos da sinagoga, fazendo uma poderosa aplicação da sua mensagem. Mostra que o povo de Jerusalém e as autoridades judaicas não conheceram JESUS nem entenderam a mensagem dos profetas, que era lida todos os sábados em suas sinagogas, pois condenaram o Messias que lhes fora prometido. Entretanto, ao condenarem JESUS, cumpriram tudo aquilo que acerca dele estava escrito. Então Paulo foca sua mensagem na morte, no sepultamento e na ressurreição de CRISTO, mostrando que esse era o núcleo do evangelho que ele lhes anunciava. Paulo ainda afirma que é por meio de JESUS, e não mediante a lei de Moisés, que eles tinham a remissão de pecados e a justificação. O apóstolo termina sua exposição alertando sobre o perigo de desprezar essa mensagem salvadora.
Um poderoso despertamento e uma cruel perseguição
A mensagem de Paulo na sinagoga de Antioquia da Pisídia foi tão impactante que surtiu de imediato dois resultados. O primeiro deles é que os líderes da sinagoga pediram uma repetição da mesma mensagem para o sábado seguinte (Atos 13.42). O segundo resultado foi que muitos dos judeus e prosélitos piedosos seguiram Paulo e Barnabé, aos quais estes persuadiram a perseverar na graça de DEUS (Atos 13.43).
Durante aquela semana, algo extraordinário aconteceu na cidade. O evangelho produziu um impacto tal nas pessoas que mal elas podiam esperar o sábado seguinte para irem ao encontro dos homens de DEUS na sinagoga. O historiador Lucas relata: “No sábado seguinte, afluiu quase toda a cidade para ouvir a palavra de DEUS” (Atos 13.44). Chamamos isso de um avivamento! Nenhum milagre é relatado na cidade, mas a Palavra de DEUS foi pregada com fidelidade e poder, e uma cidade inteira foi despertada a ouvir a mensagem evangélica.
O despertamento espiritual foi seguido imediatamente de implacável e cruel perseguição. Os judeus, tomados de inveja, com blasfêmia contradiziam o que Paulo falava. Nesse momento, Paulo e Barnabé, com toda a ousadia, ao verem os judeus rejeitarem a vida eterna, voltam-se para os gentios (Atos 13.46,47). Os gentios muito se alegram e glorificam a Palavra do Senhor. E Lucas relata: “... e creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna” (Atos 13.48). Mesmo onde se manifestou rejeição, os eleitos creram e foram salvos.
Os judeus, não dando o braço a torcer, manipularam as mulheres piedosas da alta sociedade e as autoridades locais e, perseguindo Paulo e Barnabé, expulsaram-nos do seu território. Os missionários sacudiram o pó de seus pés e foram adiante rumo a Icônio. Os discípulos de CRISTO, porém, transbordavam de alegria e do ESPÍRITO SANTO (Atos 13.50-52).
Pregando aos ouvidos e aos olhos
Paulo e Barnabé chegam a Icônio e ali demoram muito tempo, mesmo debaixo de tensão e perseguição. Na sinagoga de Icônio, Paulo e Barnabé falam com tal poder que uma grande multidão, composta de judeus e gregos, creu no Senhor (Atos 14.1).
Os missionários não pregaram apenas aos ouvidos, mas também aos olhos. Não apenas falaram, mas também demonstraram. Somos informados de que eles falavam com ousadia no Senhor, o qual confirmava a palavra da sua graça, concedendo que por mãos deles se fizessem sinais e prodígios (Atos 14.3).
Os milagres não são o evangelho, mas abrem portas para o evangelho. Os milagres não são realizados pelos missionários, mas por DEUS, pela intermediação dos missionários. A pregação do evangelho precisa ser em demonstração do ESPÍRITO e de poder. Precisamos pregar não apenas aos ouvidos, mas também aos olhos.
Uma orquestração contra os obreiros de DEUS
Se em Antioquia da Pisídia os judeus lideraram a perseguição contra Paulo (Atos 13.50), em Icônio os judeus incrédulos incitaram o ânimo dos gentios contra Paulo e Barnabé, bem como contra os novos convertidos (Atos 14.2). A sanha dos adversários foi tão virulenta que o povo da cidade se dividiu, uns se posicionando a favor dos judeus, e outros se colocando ao lado dos apóstolos (Atos 14.4). Vendo os adversários que a cidade estava dividida, usaram a arma do tumulto, e assim, judeus e gentios, associando-se com as autoridades, planejaram ultrajar e apedrejar Paulo e Barnabé (Atos 14.5,6).
Confiança em DEUS não dispensa prudência
Ao saber da trama armada contra eles, Paulo e Barnabé fogem para Listra e Derbe, onde anunciam o evangelho (Atos 14.6,7). Eles não ignoraram os perigos. Não desafiaram a fúria e a astúcia dos adversários. Não nutriram uma confiança irresponsável, ignorando os perigos. Não enfrentaram de peito aberto as ameaças. Antes, fugiram para outras cidades. Eles prosseguiram fiéis ao mesmo ideal e labutaram na mesma obra. Continuaram pregando o evangelho, mas mudaram de rota. Isso é prudência!
Confiança em DEUS não dispensa prudência e cuidado. DEUS age por meio do bom senso. O contrário seria tentar DEUS. O Senhor nos deu entendimento e sabedoria para serem usados. Esses recursos são dádivas de DEUS e devem ser usados em favor da obra, e não contra ela. Se Paulo e Silas tivessem teimado em permanecer naquelas plagas, poderiam ter sido silenciados precocemente, e a obra de DEUS teria sofrido severas consequências.
Quando o céu se manifesta, o inferno se enfurece
Quando Paulo e Barnabé chegaram a Listra, um milagre logo aconteceu. Um homem aleijado, paralítico desde o nascimento, que jamais pudera andar, ao ouvir a mensagem de Paulo, tendo fé, foi curado imediatamente. O homem cujos ossos e músculos deviam estar atrofiados começa a saltar e a andar (Atos 14.8-10). A falta de discernimento espiritual dos licaônios os levou a pensar que Paulo e Silas fossem deuses; e, imediatamente, começaram a gritar e sacrificar animais a eles (Atos 14.1113). Os embaixadores de DEUS então rasgaram suas roupas e saltaram no meio da multidão idólatra, fazendo cessar tais sacrifícios. Asseveraram que eram homens semelhantes a eles. Em vez de aceitarem a exaltação pagã, Paulo e Silas aproveitam o ensejo para lhes anunciar o evangelho, exortando-os a abandonar suas crenças vãs e colocarem sua confiança no DEUS criador do céu, da terra e do mar, o DEUS da providência (Atos 14.14-18).
Se o milagre do paralítico foi obra do céu, o alvoroço idólatra foi ação do inferno. Onde DEUS realiza um prodígio, o diabo causa um tumulto. Onde o poder de DEUS se manifesta, a fúria do inferno se faz sentir. Aquela bajulação pagã era uma tentativa de desviar o foco da multidão de Listra, da mensagem do evangelho, para os obreiros do evangelho. Sempre que o vaso chama mais atenção do que o tesouro nele contido, algo está errado. Os obreiros que gostam da bajulação da multidão roubam a glória que pertence somente a DEUS.
Os milagres abrem portas para o evangelho e também atraem perseguição
A cura do paralítico em Listra abriu portas para o testemunho do evangelho naquela cidade pagã, mas também despertou ferrenha oposição dos judeus de Antioquia e Icônio. Eles, não se contentando apenas em expulsar Paulo e Barnabé de suas cidades, perseguiram-nos até Listra. Tomados de inveja e zelo sem entendimento, instigaram a multidão e se arremeteram contra Paulo, para apedrejá-lo. O mesmo milagre que abriu portas ao testemunho do evangelho trouxe ao apóstolo o duro golpe do apedrejamento. Os sofrimentos de ordem emocional agora se transformam em agonias físicas. Talvez, Paulo sentisse no corpo o que infligiu a Estêvão, o protomártir do cristianismo. Talvez começasse a sentir na pele o que DEUS dissera em Damasco havia mais de dez anos: “pois eu lhe mostrarei quanto lhe importa sofrer pelo meu nome” (Atos 9.16). Por providência divina, Paulo se recupera das feridas e, longe de reclamar ou queixar-se de DEUS, partiu com Silas para Derbe, onde anunciou o evangelho e fez muitos discípulos (Atos 14.19-21).
Coragem e zelo pela igreja
Depois que Paulo e Barnabé anunciaram o evangelho em Derbe, tomaram a decisão de voltar para o seu quartelgeneral, em Antioquia da Síria. Nessa volta, não se afastam dos redutos de tensão. Ao contrário, passam pelas mesmas cidades onde foram perseguidos, Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia, e fazem isso por quatro razões:
Em primeiro lugar, para fortalecer a alma dos discípulos (Atos 14.22). Paulo e Barnabé não eram apenas missionários itinerantes, mas também pastores do rebanho. Eles não apenas geravam filhos espirituais, mas também cuidavam desses neófitos. Sabiam que aqueles novos convertidos precisavam de encorajamento para viver a vida cristã numa sociedade pagã e hostil.
Em segundo lugar, exortar os discípulos a permanecerem firmes na fé (Atos 14.22). Se os novos convertidos não forem ensinados e exortados, facilmente podem ser enganados pelos falsos mestres ou desanimarem diante das provações. Paulo tinha plena consciência da imperiosa necessidade do discipulado. Diante das lutas, perseguições e ataques do adversário, precisamos ser exortados a permanecer firmes na fé. Muitos se enfraquecem ao lidar com a fúria do mundo ou com sua sedução.
Em terceiro lugar, mostrar que a vida cristã não é uma colônia de férias (Atos 14.22). A vida cristã não é ausência de luta. Somos salvos não da tribulação, mas na tribulação. Importanos entrar no reino de DEUS por meio de muitas tribulações. Não há amenidades no cristianismo. Ele não é uma redoma de vidro. Estamos expostos à fraqueza da nossa natureza decaída, a este mundo tenebroso e à fúria de Satanás. As tribulações não nos podem destruir nem nos afastar do amor de DEUS. Elas não são castigo de DEUS, mas instrumentos para o nosso aperfeiçoamento.
Em quarto lugar, fazer a eleição de presbíteros nas igrejas (Atos 14.23). Paulo entendia que a igreja é um organismo e também uma organização. Toda comunidade precisa de uma liderança. Essa liderança é coletiva. Paulo promovia a eleição de presbíteros em cada igreja, e não a nomeação de um chefe. Esses presbíteros deveriam pastorear o rebanho de DEUS. Eles eram pastores que deviam ensinar a verdade e proteger o rebanho dos lobos vorazes. Essa eleição não devia ser feita sem oração e jejum. Os líderes da igreja devem ser escolhidos na total dependência de DEUS. É DEUS quem dá pastores à igreja. É o ESPÍRITO quem constitui bispos para apascentar a igreja de DEUS, que ele comprou com o seu próprio sangue.
Conta as muitas bênçãos, dize quantas são1
É hora de voltar para casa. É hora de recarregar as baterias. É hora de testemunhar os grandes feitos de DEUS na obra missionária. Paulo e Barnabé voltam para Antioquia da Síria, a igreja que os comissionara e enviara à obra missionária (Atos 14.24-26). Esses bravos missionários fizeram três coisas importantes ao chegar à igreja:
Em primeiro lugar, eles relataram as intervenções extraordinárias de DEUS em sua vida (Atos 14.27). O testemunho é algo legítimo e necessário para encorajar a igreja. A igreja estava reunida para ouvir as notícias desse primeiro avanço missionário. Paulo e Barnabé relatam cuidadosamente não o que fizeram por DEUS, mas o que DEUS fizera com eles e por eles. Não testemunharam para exaltar a si mesmos. Não testemunharam para se colocar sob os holofotes nem buscaram glórias para eles mesmos. A ênfase deles está nos feitos de DEUS, e não nas suas realizações.
Em segundo lugar, eles relataram como DEUS abriu aos gentios a porta da fé (Atos 14.27). O sucesso da obra missionária não foi devido ao poder inerente dos missionários nem de seus métodos. Foi DEUS quem abriu aos gentios a porta do evangelho. Foi DEUS quem abriu o coração dos pagãos para a verdade. Foi DEUS quem invadiu as trevas do paganismo com a luz da verdade. A obra de DEUS é feita por DEUS, mas mediante instrumentos humanos. É DEUS quem opera nos evangelistas e também naqueles que recebem o evangelho.
Em terceiro lugar, eles permaneceram muito tempo com os discípulos (Atos 14.28). Não há trabalho missionário desconectado da igreja local. Não há ministério itinerante sem a ligação com a igreja. Paulo e Barnabé precisam da igreja, e a igreja precisa dos missionários. Eles se abastecem na comunhão da igreja e também encorajam a igreja a ser ainda mais comprometida com a obra missionária. Capítulo 06 - Uma agenda estabelecida no céu
Depois do concílio de Jerusalém, onde as estacas da liberdade cristã foram fincadas e o jugo do judaísmo foi sacudido, era hora de alçar voos para uma nova jornada missionária. As querelas religiosas levantadas pelos judaizantes, vindos da Judeia, impondo aos gentios a necessidade da circuncisão para a salvação, haviam sido respondidas com firmeza pelos apóstolos e presbíteros. A fé em CRISTO é a única condição para a salvação. A mensagem que devia ser anunciada aos gentios é que a graça de CRISTO é absolutamente suficiente para a salvação.
Lançadas as estacas da verdade, é hora de estender o toldo da obra missionária. A agenda missionária deveria contemplar os confins da terra. Novos horizontes precisavam ser alcançados.
A iniciativa da segunda viagem missionária é de Paulo (Atos 15.36). Seu zelo pastoral o constrange a voltar à mesma região da primeira viagem antes de alargar a tenda para outros rincões (Atos 15.36). A lição fica clara: os neófitos precisam ser confirmados, confortados e acompanhados. Paulo tem o cuidado de evangelizá-los no seu primeiro contato, depois os visita novamente no retorno de sua viagem rumo a Antioquia da Síria e agora, antes de iniciar a segunda viagem missionária, toma a decisão de visitá-los uma terceira vez.
Uma desavença entre os missionários
A obra de DEUS é perfeita; mas os seus obreiros, não. Barnabé quer dar uma segunda chance ao jovem João Marcos, seu primo, que havia abandonado a primeira viagem missionária; e, Paulo, de forma intransigente e radical, não achou justo levá-lo depois de uma experiência fracassada. Barnabé, coerente com seu nome, cujo significado é “filho da consolação” prefere indispor-se com Paulo a desistir de João Marcos. Houve tal desavença entre Paulo e Barnabé que não puderam caminhar juntos na segunda viagem missionária.
A providência de DEUS é maior do que nossos fracassos, e a graça de DEUS, maior que os nossos pecados. Por causa dessa desavença, em vez de uma caravana missionária, temos duas. Os obreiros podem errar, mas os propósitos de DEUS jamais podem ser frustrados. Barnabé e João Marcos avançam na direção de Chipre (Atos 15.39), e Paulo escolhe Silas. Encomendados pelos irmãos da Síria à graça do Senhor, passam pela Síria e Cilícia, confirmando as igrejas.
Mais um missionário se junta à equipe de Paulo
Quando Paulo retornou a Derbe e Listra, Timóteo, filho de pai grego e mãe judia (Atos 16.1), ensinado nas Escrituras desde a infância por sua mãe Eunice e sua avó Loide (2Tm 1.5; 3.14,15), mas convertido a CRISTO pelo ministério de Paulo (1Tm 1.2), agrega-se à caravana missionária. Timóteo vem a se tornar um dos maiores colaboradores de Paulo no ministério. Timóteo recebeu o leite da piedade desde sua infância. Cresceu sob a égide da Palavra de DEUS. Por meio de seu contato com o apóstolo Paulo, em sua primeira viagem missionária, demonstrou um crescimento notável, uma vez que, tendo se convertido, logo demonstrou maturidade espiritual, pois dele davam bom testemunho tanto os irmãos de Listra como os de Icônio (Atos 16.2). Seu caráter provado era uma hipoteca moral de seu trabalho. Quando Paulo escreveu aos filipenses, disse que não tinha ninguém igual a Timóteo para enviar-lhes. Olhando pelas lentes dessa carta paulina, destacaremos alguns atributos desse jovem missionário:
Timóteo, um homem cooperador (Fp 2.19,23). Timóteo era filho na fé do apóstolo Paulo (1Tm 1.2), cooperador de Paulo (Rm 16.21) e mensageiro de Paulo às igrejas (1Ts 3.6; 1Co 4.17; 16.10,11; Fp 2.19). Ele esteve preso com Paulo em Roma (Fp 1.1; Hb 13.23). Cuidava dos interesses de CRISTO (Fp 2.21) e da igreja de CRISTO (Fp 2.20).
Timóteo, um homem singular (Fp 2.20a). Havia muitos cooperadores de Paulo, mas Timóteo ocupava um lugar especial no coração do velho apóstolo. Ele era um homem singular pela sua obediência e submissão a CRISTO e ao apóstolo como um filho a um pai. Ele tinha o mesmo sentimento de Paulo, ou seja, era do mesmo estofo. A palavra grega que Paulo usa para “igual sentimento” só aparece aqui em todo o Novo Testamento. É a palavra grega isopsychos, que significa “da mesma alma”. Esse termo foi usado no Antigo Testamento como “meu igual” e “meu íntimo amigo” (Sl 55.13, LXX).
Timóteo, um homem que cuida dos interesses dos outros (Fp 2.20b). Timóteo aprendeu o princípio ensinado por Paulo de buscar os interesses dos outros (Fp 2.4). Esse mesmo princípio foi exemplificado por CRISTO (Fp 2.5) e pelo próprio apóstolo Paulo (Fp 2.17). Timóteo, de igual modo, vive de forma altruísta, pois o centro da sua atenção não está em si mesmo, mas na igreja de DEUS. Ele não busca riqueza nem promoção pessoal. Não está no ministério em busca de vantagens; ele tem um alvo: cuidar dos interesses da igreja.
Timóteo, um homem que cuida dos interesses de CRISTO (Fp 2.21). Só existem dois estilos de vida: aqueles que vivem para si mesmos (Fp 2.21) e aqueles que vivem para CRISTO (Fp 1.21). Estamos em Filipenses 1.21 ou então estaremos em Filipenses 2.21. Timóteo queria cuidar dos interesses de CRISTO, e não dos seus próprios. Sua vida estava centrada em CRISTO (Fp 2.21) e nos irmãos (Fp 2.20b), e não no seu próprio eu (Fp 2.21).
Timóteo, um homem de caráter provado (Fp 2.22). Timóteo tinha bom testemunho antes de ser missionário (Atos 16.1,2) e, agora, quando Paulo está para lhe passar o bastão, como continuador da sua obra, este dá testemunho de que ele continua tendo um caráter provado (Fp 2.22). É lamentável que muitos líderes religiosos que são grandes em fama e riqueza sejam anões em caráter. Vivemos uma crise de integridade avassaladora no meio evangélico brasileiro. Precisamos urgentemente de homens íntegros, provados, que sejam modelo do rebanho.
Timóteo, um homem disposto a servir (Fp 2.22b). É digno de nota que Timóteo serviu ao evangelho. Ele serviu com Paulo, e não a Paulo. Embora a relação entre Paulo e Timóteo fosse de pai e filho, ambos estavam engajados no mesmo projeto.
A agenda missionária é traçada no céu, e não na terra
A equipe missionária estava planejando avançar em direção à Asia, mas o ESPÍRITO de JESUS não o permitiu (Atos 16.6,7). Durante a noite, Paulo teve uma visão, na qual um varão macedônio lherogava ajuda. Discernindo ser essa a vontade de DEUS, imediatamente Paulo e os demais membros da caravana partiram para aquele destino (Atos 16.8-10). DEUS não apenas chama e envia os missionários, mas norteia-lhes os passos. A agenda da obra missionária deve ser estabelecida no céu, e não na terra. O campo é o mundo, mas as prioridades do campo são estabelecidas por DEUS.
Devemos seguir a direção de DEUS, e não a nossa. Nossos planos devem estar subalternos aos planos de DEUS. A vontade dele deve prevalecer sobre a nossa. Essa mudança de rumo na obra missionária tem um reflexo profundo na história da humanidade. DEUS deslocou o eixo do cristianismo do Oriente para o Ocidente, da Asia para a Europa. Os resultados dessa guinada na direção missionária são a razão principal de o Ocidente ser o berço evangélico do mundo. Se Paulo tivesse entrado na Ásia, e não na Europa, nessa viagem, possivelmente o Oriente, e não o Ocidente, teria sido o reduto mais evangelizado do mundo. Talvez, hoje, o Ocidente estivesse mergulhado nas densas trevas do paganismo. Devemos tributar a DEUS nossa gratidão por nos enviar o evangelho desde essas priscas eras.
DEUS aponta o rumo, e o homem escolhe os melhores métodos
DEUS apontou o rumo da ação missionária, impedindo Paulo de entrar na Ásia e direcionando seus passos para a Europa. Mas Paulo, ao entrar na Macedônia, escolheu a cidade mais estratégica para pregar o evangelho. Não podemos mudar o evangelho nem engessar os métodos. A mensagem precisa ser fiel, mas também relevante. Paulo era um obreiro estratégico. Ele tinha o cuidado de usar os obreiros, o tempo e os recursos de forma racional. Em virtude da exiguidade do tempo, dava preferência às cidades estratégicas, de onde o evangelho pudesse alcançar com mais rapidez outras regiões. Por essa razão, passou batido em algumas cidades e flxou-se em outras.
Se DEUS nos dá a mensagem e a direção, devemos escolher os melhores métodos e as estratégias mais sábias. Precisamos otimizar tanto os recursos de DEUS como os obreiros de DEUS. Precisamos escolher os melhores métodos para atingirmos os melhores fins.
Filipos, a porta de entrada da Europa
Por que Paulo passou batido por Samotrácia e Neápolis e fixou-se em Filipos? Porque essa era uma colônia romana. Essa cidade ficava no entroncamento entre o Oriente e o Ocidente. Filipos era estratégica tanto histórica como geograficamente. Uma colônia romana era uma espécie de Roma em miniatura. Seus cidadãos viviam sob os auspícios da capital do império. Ali se falava a língua de Roma. Ali se cultivavam os costumes de Roma. Ali imperavam as leis de Roma.
Paulo entendeu que, se o evangelho alcançasse Filipos, dali se espalharia tanto para o Ocidente como para o Oriente. Aquela cidade se tornaria uma ponte para estender para horizontes mais longínquos as boas-novas do evangelho.
O sucesso da evangelização em Filipos não foi sem dor. O evangelho agiu livremente, mas os obreiros foram açoitados e presos. O sucesso da obra passou pelo sofrimento dos obreiros.
A igreja de Filipos tornou-se um exemplo vivo da eficácia e universalidade do evangelho. Três pessoas de diferentes classes sociais são alcançadas pelo evangelho. A primeira delas foi Lídia, uma empresária, vendedora de púrpura, oriunda de Tiatira, cidade da Asia Menor. A segunda pessoa foi uma escrava, uma jovem sem quaisquer direitos sociais. A terceira pessoa foi o carcereiro, um servidor público, da classe média.
Essas três pessoas representavam também diferentes convicções religiosas. Se Lídia era uma mulher temente a DEUS, que frequentava uma reunião de oração, a jovem vivia sob o cativeiro do diabo e de seus senhores, enquanto o carcereiro tinha como deus o próprio imperador romano, a quem servia como guardador de presos.
Essas três pessoas ainda tiveram experiências legítimas, porém muito distintas. Lídia foi convertida num ambiente espiritual, numa reunião de oração, quando ouvia a exposição da Palavra de DEUS. Ali mesmo, DEUS abriu seu coração, e ela creu. A jovem escrava foi liberta num ambiente profundamente carregado, quando estava tomada por espíritos enganadores. O carcereiro, por sua vez, foi salvo nas ruínas de uma prisão abalada por um terremoto e à beira do suicídio.
Quando os homens pensam que estão no controle e se interpõem no caminho de DEUS para impedir sua obra, DEUS reverte as circunstâncias e revela sua soberania. Paulo e Silas foram açoitados e lançados na prisão numa tentativa de silenciá-los e impedir naquela cidade o avanço do evangelho, mas os obreiros não se calaram. O evangelho não ficou amordaçado. O mesmo DEUS que abriu o coração de Lídia, numa reunião de oração, também abriu as portas da cadeia por meio de um terremoto e quebrou todas as resistências do coração do carcereiro.
Lídia foi batizada com toda a sua casa. O carcereiro também foi batizado com toda a sua família. Os obreiros foram embora da cidade, mas no coração daquela colônia romana foi fincada a bandeira tremulante do evangelho. Aquela igreja haveria de se tornar uma das maiores parceiras no ministério de Paulo. Enviaria recursos para o apóstolo em Tessalônica, Corinto e Roma, além de socorrer os pobres da Judeia.
Paulo em Tessalônica, a capital da província da Macedônia
O grande bandeirante do cristianismo saiu de Filipos com vergões no corpo, mas com entusiasmo na alma. Longe de retroceder diante dos perigos, marchou resoluto para alcançar a capital da província da Macedônia. Nesse propósito, passou por Anfípolis e Apolônia e chegou a Tessalônica (Atos 17.1).
Na capital da província, Paulo buscou uma ponte de conexão para a pregação do evangelho. Por isso, durante três sábados seguidos, foi a uma sinagoga de judeus, onde arrazoou com eles sobre as Escrituras. O propósito do apóstolo não era falar sobre prosperidade, curas ou milagres, mas expor e demonstrar a necessidade da morte e ressurreição de CRISTO. Paulo era um pregador cristocêntrico. Ele não era um mestre de banalidades. Sua mensagem tocava o âmago da questão. O CRISTO deveria padecer e depois ressurgir dentre os mortos. Paulo não anunciava um JESUS apenas de milagres, mas o JESUS da cruz e do túmulo vazio.
Essa mensagem trouxe uma verdadeira revolução em Tessalônica (Atos 17.4). Alguns judeus, uma multidão de gregos e diversas senhoras da alta sociedade se uniram a Paulo. A oposição foi imediata. Movidos pela inveja, os líderes judeus reuniram alguns agitadores e alvoroçaram a população contra os missionários. Jasom, hospedeiro de Paulo e Silas, foi preso e levado às autoridades. Somente depois de pagar fiança, conseguiu se livrar de suas mãos. Os judeus invejosos formularam uma acusação contra Paulo e Silas: “... Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (Atos 17.6). Afirmaram ainda que tanto os missionários como o próprio Jasom estavam agindo contra os decretos de César (Atos 17.7). Essa afirmação provocou apreensão na cidade, uma vez que Tessalônica perderia seus privilégios de capital da província caso houvesse ali qualquer insurreição ou oposição ao imperador romano (Atos 17.8). Paulo e Silas não puderam permanecer em Tessalônica, mas a Palavra de DEUS continuou lá operando maravilhas nos tessalonicenses e por meio deles (1Ts 1.5-10). A obra de DEUS é maior do que seus obreiros. Os obreiros podem ser expulsos, mas a Palavra de DEUS não pode ser banida. Os missionários podem ser presos, mas a Palavra não pode ser algemada. Os pregadores podem ser perseguidos, enxotados e mortos, mas a Palavra não pode ser detida.
Paulo em Bereia
Confiança em DEUS e prudência não são coisas antagônicas. Diante do alvoroço em Tessalônica, Paulo e Silas foram retirados da cidade à noite, sem alarde, com absoluta discrição (Atos 17.10). Levados para Bereia, não se intimidaram nem mudaram sua agenda. Procuraram imediatamente uma sinagoga para ensinarem a Palavra de DEUS. Os bereanos demonstraram ser mais nobres que os tessalonicenses, pois não apenas ouviram, mas também evidenciaram um vívido interesse, dedicando-se ao estudo diário das Escrituras e conferindo na Palavra tudo que Paulo dizia (Atos 17.11). O resultado foi extraordinário. Novamente uma multidão creu e engrossou as fileiras da igreja nascente (Atos 17.12).
O sucesso da obra de DEUS incomodou novamente os adversários. Os judeus invejosos, ao saberem dos resultados extraordinários da pregação de Paulo em Bereia, rumaram para lá a fim de causar alvoroço e instigar a população (Atos 17.13). Os irmãos bereanos, sem tardança, tiraram Paulo da cidade e o enviaram ao litoral, enquanto Silas e Timóteo continuaram na cidade consolidando o trabalho (Atos 17.14,15).
Paulo em Atenas
Paulo chega a Atenas, a capital intelectual do mundo, a cidade de Péricles, Sócrates, Platão e Aristóteles. O veterano apóstolo pisa na terra dos grandes corifeus da filosofia, dos homens que encheram bibliotecas com sua erudição.
Atenas era o berço da filosofia e das artes. Ao mesmo tempo, ali ficava o Partenon, templo de muitos deuses. Atenas estava eivada de deuses. Havia mais de 30 mil estátuas dedicadas aos deuses naquela meca da filosofia. Havia uma divindade para cada monumento e pórtico daquela cidade. Era mais fácil encontrar um deus em Atenas do que um homem. Ao chegar à cidade, Paulo ficou revoltado com a idolatria reinante. O mesmo povo bafejado pelo mais refinado conhecimento filosófico estava também entregue à mais tosca idolatria. Cultura não é sinônimo de discernimento espiritual. O povo tinha a luz do conhecimento, mas estava cego espiritualmente. Tinha muitos deuses, mas não conhecia o DEUS verdadeiro.
Paulo percorreu e agitou a cidade. Diagnosticou suas mazelas espirituais. Conversou com o povo na praça e discutiu com os filósofos epicureus e estoicos. Sua presença em Atenas tornou-se notória. O povo não falava de outra coisa senão das últimas novidades que Paulo pregava. Arrastado ao Areópago, para dar explicações de sua pregação, o veterano apóstolo fez um dos mais extraordinários discursos da história, falando para os atenienses acerca do DEUS desconhecido.
Destacamos quatro coisas importantes nessa passagem de Paulo em Atenas:
Em primeiro lugar, o que ele viu em Atenas (Atos 17.16). Paulo não chegou a Atenas como um turista, admirado da beleza de seus monumentos. Ele não ficou entusiasmado com seus templos nem com a multiplicidade de suas imagens. Paulo olhou para toda aquela arte esculpida no mármore ou adornada pelo marfim como uma manifestação de idolatria. Os muitos deuses do panteão ateniense eram uma afronta ao DEUS verdadeiro. A religiosidade dos atenienses bafejados de cultura não passava de tosca ignorância espiritual.
Em segundo lugar, o que ele sentiu em Atenas. Paulo não apenas viu a idolatria, mas também ficou indignado. Seu espírito se revoltou diante da idolatria. A idolatria de Atenas era uma afronta ao DEUS vivo. Era uma violação do segundo mandamento da lei de DEUS. Era uma perversão do verdadeiro culto. A revolta de Paulo estava no fato de ver o nome de DEUS sendo escarnecido no meio de uma religiosidade profusa, mas sem discernimento.
Em terceiro lugar, o que Paulo fez (Atos 17.17). Paulo não apenas viu e se indignou; ele aproveitou seu tempo em Atenas para ensinar, pregar e arrazoar com os atenienses acerca do evangelho. Paulo pregou JESUS e a ressurreição. Paulo foi proativo. Não apenas fez o diagnóstico certo, mas deu o remédio correto. Não apenas constatou o problema, mas também apontou a solução.
Em quarto lugar, o método que Paulo usou. Paulo ficou revoltado com a idolatria da cidade, mas dirigiu-se aos atenienses com cortesia. Disse-lhes que eles eram acentuadamente religiosos. Chegou até mesmo a citar o filósofo Aratos, criando uma ponte cultural para levar-lhes o evangelho. Paulo não ficou preso a questões periféricas; ao contrário, falou aos atenienses acerca da pessoa de DEUS.
Paulo ergue sua voz para falar sobre o DEUS criador do universo na capital intelectual do mundo. O mundo não veio de uma geração espontânea nem de uma explosão cósmica. O mundo não deu a luz a si mesmo. Ele não é produto do acaso nem de uma evolução de milhões e milhões de anos. DEUS criou todas as coisas pela Palavra de seu poder. Paulo também apresenta aos atenienses o DEUS da providência. Nele, nós vivemos, nos movemos e existimos. Ele é quem enche a terra de fartura, alimenta as aves dos céus, veste os lírios do campo e nos dá o pão de cada dia. O DEUS desconhecido dos atenienses é o governador das nações. Ele está assentado num alto e sublime trono. Ele reina. Ele levanta reis e depõe reis. Não há um centímetro desse vasto universo do qual ele não seja Senhor. O DEUS desconhecido dos atenienses é o DEUS salvador, que se fez carne e entrou no mundo para morrer e ressuscitar. Os atenienses não conhecem DEUS como o Senhor absoluto do universo, diante de quem todo joelho deve se dobrar. O DEUS desconhecido dos atenienses exige arrependimento de todos os homens, uma vez que os julgará com justiça.
Ao terminar sua prédica, seu auditório se dividiu em três grupos: uns escarneceram, outros disseram que o ouviriam em outra ocasião e alguns creram. Embora não haja registro de multidões se convertendo como aconteceu em Tessalônica e Bereia, a bandeira do evangelho foi fincada no topo da montanha do mais tosco paganismo.
Paulo em Corinto
De Atenas, Paulo foi para a cidade de Corinto, a capital da província da Acaia. Essa era uma cidade estrategicamente importante, uma vez que em suas cercanias ficava o porto de Cencreia. Corinto era banhada pelo mar Jônico e também pelo mar Egeu. Era uma cidade cosmopolita. Caravanas do mundo inteiro passavam pela cidade. Navios procedentes de diversas partes do mundo ancoravam todos os dias naquela febricitante cidade. Os Jogos Ístmicos de Corinto só perdiam em importância para os Jogos Olímpicos de Atenas. A cidade tinha uma economia forte, uma atividade esportiva invejável e também uma intensa agenda religiosa. Ali ficava o templo de Afrodite, a deusa do amor. Na acrópole da cidade, estava o templo dessa deusa, onde mais de mil prostitutas cultuais exerciam sua atividade religiosa, promovendo a mais aviltante promiscuidade sexual do mundo de então. Essas mesmas prostitutas desciam à noite para o cais, e a cidade se tornava o palco da mais deslavada imoralidade. O homossexualismo era uma prática comum e até incentivada em Corinto.
Paulo chega a essa cidade e ali permanece dezoito meses, ensinando a Palavra e pregando na virtude do ESPÍRITO SANTO (1Co 2.4). Em Corinto, Paulo planta uma igreja vibrante, mas também uma igreja que vai trazer muitas lágrimas ao apóstolo. Nenhuma igreja recebeu mais do apóstolo quanto Corinto, mas também nenhuma o fez sofrer tanto quanto ela.
Em Corinto, Paulo foi perseguido. Foi chamado de impostor. A igreja não pagou seu salário. Ele precisou trabalhar, fazendo tendas, e receber ajuda das igrejas pobres da Macedônia para pastorear essa igreja.
De Corinto, Paulo escreveu as cartas aos Gálatas, aos Tessalonicenses e aos Romanos. Nessa cidade, ele enfrentou as maiores pressões. Muitas pessoas da igreja duvidaram das suas motivações, questionaram seu caráter, atacaram sua honra e macularam seu nome.
A igreja de Corinto, embora fosse um canteiro fértil, onde floresciam todos os dons espirituais, era desprovida de maturidade. A igreja estava dividida em vários grupos e partidos. Havia imoralidade tal dentro da igreja que nem mesmo no mundo se via coisa semelhante. Os crentes, em vez de disciplinarem o faltoso e chorar por causa de sua prática ensandecida, aplaudiam seu pecado. Havia brigas e contendas entre os crentes, e, em vez de esses conflitos serem resolvidos domesticamente, eram levados aos tribunais seculares, produzindo enfraquecimento do testemunho da igreja na sociedade. A igreja de Corinto revelava a fragilidade dos relacionamentos familiares e não sabia administrar com sabedoria a liberdade cristã. A igreja havia feito alguns avanços espirituais, mas ainda estava tímida no progresso da generosidade. Era uma igreja remissa quanto à prática da comunhão interna e do amor externo. Tinha um coração trancado para amar e o bolso fechado para contribuir. Se não bastasse tudo isso, a igreja ainda cometia muitos desvios na sua maneira de cultuar DEUS. Havia deficiências na sua teologia, bem como na sua liturgia.
Os filhos que mais fizeram o apóstolo sofrer foram os mais amados. Paulo muitas vezes regou o solo duro com suas lágrimas. Mas suas lágrimas não foram em vão. Em Corinto, Paulo deixou uma igreja que irradiou sua influência para muitos outros recantos do Império Romano. Como a cidade era um corredor do mundo, dali o evangelho se espalhou por vários rincões tanto da Acaia quanto de horizontes mais distantes.
De Corinto, Paulo passou em Efeso, deixando na capital da Asia Menor, Priscila e Aquila. Dali, foi a Jerusalém, retornou à sua base em Antioquia da Síria e, oportunamente, partiu dessa cidade para a sua terceira viagem missionária, atravessando os territórios da Galácia e da Frígia, confirmando todos os discípulos (Atos 18.18-23).
Paulo em Éfeso
Em sua terceira viagem missionária, Paulo fixou-se em Éfeso, capital da Ásia Menor. Essa era uma das maiores cidades do mundo. Ali ficava o templo de Diana, uma das sete maravilhas do mundo antigo. Era uma cidade idólatra, um centro de magia, um canteiro fértil para a evangelização.
Nessa cidade, Paulo passou três anos, ensinando tanto a judeus como a gregos, pregando tanto acerca do arrependimento como da fé. Paulo tanto evangelizava como ensinava. Ele era um evangelista e um mestre. Em Éfeso, Paulo enfrentou feras, tribulações maiores que suas forças. Em Éfeso, o evangelho desbancou a idolatria. Em Éfeso, vários sinais de um poderoso avivamento podem ser constatados.
Em primeiro lugar, os novos convertidos recebem um derramamento do ESPÍRITO (Atos 19.1-7). Aqueles que haviam recebido apenas o batismo de João, ao ouvirem sobre o ESPÍRITO SANTO, foram batizados em nome de JESUS, receberam o ESPÍRITO SANTO e tanto profetizaram como falaram em línguas. A mesma experiência que já havia acontecido em Jerusalém e Samaria agora acontecia também em Éfeso. Era a dispensação da graça estendendo seus horizontes para um campo totalmente gentílico. Jerusalém era a cidade dos judeus. Samaria era uma cidade mista, em território palestino. Éfeso, por sua vez, era uma cidade cosmopolita, essencialmente gentílica. O evangelho de CRISTO é multirracial, multicultural e internacional.
Em segundo lugar, os que vivem distantes ouvem a Palavra de DEUS (Atos 19.8-10). A partir de Éfeso, o evangelho espalhou-se por toda a Asia Menor. Em face da perseguição, Paulo deixou a sinagoga e foi para uma escola, e, dali, o evangelho penetrou pelos corredores da Asia Menor, a tal ponto que todos os seus habitantes, tanto judeus como gregos, ouviram a Palavra de DEUS. Um avivamento que não transpira para fora dos portões não é genuíno. Quando a igreja é impactada com o poder do ESPÍRITO SANTO, ela sai das quatro paredes e, como fermento, penetra em todos os setores da sociedade.
Em terceiro lugar, os enfermos são curados (Atos 19.11,12). O evangelho em Éfeso chegou não apenas em palavras, mas, sobretudo, em poder. Paulo pregou tanto aos ouvidos quanto aos olhos. Não apenas as pessoas foram perdoadas e salvas, mas também curadas e libertas. É importante ressaltar que a fonte do poder para curar não estava em Paulo. O milagre não era feito pelo poder inerente de Paulo. Não era o apóstolo o agente do poder. O evangelista Lucas diz que DEUS, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam, e os espíritos malignos se retiravam (Atos 19.11,12).
Em quarto lugar, os cativos são libertos (Atos 19.13-17). Paulo era um homem conhecido tanto no céu como no inferno (Atos 19.15). Até os demônios sabiam quem era ele. Os falsos exorcistas, filhos de Ceva, foram expostos à vergonha pública ao tentarem libertar um homem endemoninhado, esconjurando os demônios por JESUS, a quem Paulo pregava. Esses homens foram subjugados pelos demônios, e não lhes restou outra opção senão fugir, nus e feridos. Esse fato produziu grande temor sobre todos os efésios, e o nome de JESUS era mais e mais engrandecido.
Em quinto lugar, os crentes confessavam e denunciavam publicamente suas obras (Atos 19.18). Onde há avivamento, há confissão de pecados. Onde o pecado é encoberto, as chuvas do céu são retidas. Onde o pecado é escondido, o derramamento do ESPÍRITO não é revelado. Aqueles que creem verdadeiramente em CRISTO são os que confessam publicamente suas obras más e as abandonam. Os efésios convertidos a CRISTO não se ocuparam de denunciar os pecados dos outros; eles denunciavam suas próprias obras, e isso de forma pública.
Em sexto lugar, os laços com o ocultismo foram decisivamente rompidos (Atos 19.19). Muitos dos efésios convertidos a CRISTO vieram dos redutos do ocultismo, tão abundantes em Éfeso. Eles não apenas denunciaram suas obras más, mas também queimaram em praça pública seus livros de artes mágicas. Não há compatibilidade entre a fé cristã e o ocultismo. Não há ligação entre CRISTO e os demônios. Não há sintonia entre o santuário de DEUS e os ídolos. Não há comunhão entre a luz e as trevas.
Em sétimo lugar, a Palavra do Senhor crescia e prevalecia poderosamente (Atos 19.20). O crescimento da igreja e o crescimento da Palavra são coisas semelhantes. São termos correspondentes. Quando a Palavra cresce, a igreja cresce. É possível a igreja crescer numericamente sem o crescimento da Palavra. Mas esse não é o crescimento que vem de DEUS. Esse não é o crescimento saudável. Nem todo crescimento da igreja exalta a CRISTO. Nem sempre um grande ajuntamento ou uma grande congregação expressa o verdadeiro crescimento da igreja. Não podemos mudar a mensagem para agradar o gosto e a preferência das pessoas. Não podemos transigir com os absolutos de DEUS para atrair as multidões. Não podemos oferecer ao povo um caldo venenoso para mitigar-lhe a fome. Precisamos dar às multidões trigo verdadeiro, e não palha. Precisamos saciar as pessoas com o Pão vivo que desceu do céu. Estava fechado o ciclo da terceira viagem missionária. Era tempo de o bandeirante do cristianismo retornar novamente à sua base.
Em oitavo lugar, uma perseguição implacável (Atos 19.2140). Sempre que a obra de DEUS avança, o diabo contra-ataca. Na mesma medida em que a igreja crescia em Éfeso e a partir de Éfeso, uma implacável perseguição movida por interesses religiosos e financeiros se instalou na cidade, capitaneada por Demétrio, o ourives fabricante das estatuetas de Diana. A cidade ficou totalmente alvoroçada. Uma grande multidão se ajuntou para gritar o nome da deusa Diana a ponto de a maioria nem saber exatamente o que estava acontecendo na cidade. Não fora a intervenção do escrivão da cidade, aquele tumulto teria se transformado numa perigosa sedição, provocando grandes desastres para os crentes efésios e, quiçá, para o próprio apóstolo Paulo. Capítulo 07 - Uma despedida regada de emoções
Depois de três anos de frutífero ministério em Éfeso, a capital da Asia Menor, onde Paulo enfrentou lutas maiores do que suas forças e teve de travar encardida luta com feras humanas e demoníacas, resolve fazer uma viagem a Jerusalém para levar as ofertas recolhidas entre as igrejas da Macedônia, Acaia e Ásia Menor para os pobres da Judeia. Antes de direcionar seu ministério aos gentios, conforme propósito divino, Paulo assumiu um compromisso com os líderes da igreja de Jerusalém de que não se esqueceria dos pobres (Gl 2.10). Em cumprimento a essa promessa, esse bandeirante da fé ruma para Jerusalém com essas generosas ofertas, mesmo sabendo que à frente encontraria tribulação e cadeias.
Antes de partir para a sua última visita a Jerusalém, onde fora criado aos pés de Gamaliel, chamou os presbíteros de Éfeso para se encontrarem com ele no porto de Mileto. Ali, sob a abóbada celeste, tangidos pela brisa do mar, o veterano apóstolo, num clima regado de profunda emoção, dá suas últimas instruções aos líderes da igreja de Éfeso, a quem ele mesmo havia levado a CRISTO e exortado diariamente com lágrimas. Após essas palavras de despedida, eles se ajoelham na praia e oram com Paulo, abraçando-o e beijando-o afetuosamente.
Nesse exponencial sermão, Paulo fala sobre sete compromissos que assumiu: Vamos, aqui, examiná-los mais detidamente:
Em primeiro lugar, o compromisso de Paulo com DEUS (Atos 20.19). O primeiro compromisso de Paulo não é com a obra de DEUS, mas com o DEUS da obra. Relacionamento com DEUS precede trabalho para DEUS. O primeiro chamado de Paulo é para andar com DEUS e, como resultado dessa caminhada, fazer a obra de DEUS. Ele serve a DEUS ministrando aos homens. Quem serve a DEUS não busca projeção pessoal. Quem serve a DEUS não anda atrás de aplausos e condecorações. Quem serve a DEUS não depende de elogios nem desanima com as críticas. Quem serve a DEUS não teme ameaças nem se intimida diante de perseguições. Quem teme a DEUS não teme os homens, nem o mundo, nem mesmo o diabo. O líder espiritual deve servir a DEUS com senso de profunda humildade. Muitos batem no peito, arrogantemente, dizendo que são servos de DEUS. Outros, besuntados de orgulho, fazem propaganda de seu próprio trabalho. Outros, ainda, servem a DEUS, mas gostam dos holofotes. Há aqueles que fazem do serviço a DEUS um palco onde se apresentam como os atores ilustres sob as luzes da ribalta. Um servo não busca glória para si mesmo. Fazer a obra de DEUS sem humildade é construir um monumento para si mesmo. É levantar outra modalidade da torre de Babel. Mas o líder não deve esperar facilidades pelo fato de estar servindo a
DEUS. Quem serve a DEUS com humildade e integridade desperta animosidade e muita hostilidade no arraial do inimigo. Paulo servia a DEUS com lágrimas. A vida ministerial não lhe foi amena. Em vez de ganhar aplausos do mundo, recebeu ameaças, açoites e prisões. Paulo manteve sua consciência pura diante de DEUS e dos homens, mas os judeus tramaram ciladas contra ele. Viveu num campo minado. Enfrentou inimigos reais, porém, às vezes, ocultos. Nem sempre DEUS nos poupa dos problemas. Às vezes, ele nos treina nos desertos mais tórridos e nos vales mais profundos e escuros.
Em segundo lugar, o compromisso de Paulo com ele mesmo (Atos 20.18,28a). O apóstolo Paulo mostra a necessidade de o líder espiritual ter um sério compromisso consigo mesmo. O líder precisa cuidar de si mesmo antes de cuidar do rebanho de DEUS. A vida do líder é a vida da sua liderança. Há muitos obreiros cansados da obra e na obra porque procuraram cuidar dos outros sem cuidar de si mesmos. Antes de liderar os outros, precisamos liderar a nós mesmos. Antes de exortar os outros, precisamos exortar a nós mesmos. Antes de confrontarmos os pecados dos outros, precisamos confrontar os nossos próprios pecados. O líder não pode ser um homem inconsistente. O líder espiritual também precisa cuidar de si mesmo para não praticar o que condena. A posição de liderança não é uma apólice de seguro contra o fracasso espiritual. O líder espiritual ainda precisa cuidar de si mesmo para não cair em descrédito. A integridade do líder é o fundamento sobre o qual ele constrói seu trabalho. Sem vida íntegra, não existe liderança eficaz.
Em terceiro lugar, o compromisso de Paulo com a Palavra de DEUS (Atos 20.20-27). Paulo anunciou todo o conselho de DEUS (Atos 20.27). O líder espiritual precisa ensinar só a Bíblia e toda a Bíblia. Ele não pode aproximar-se das Escrituras com seletividade. Toda a Escritura é inspirada por DEUS e útil para o ensino e a correção. A única maneira de o líder espiritual cumprir esse desiderato é pregar a Palavra expositivamente. Não pregar suas próprias ideias, mas a Palavra. Não entregar a sua mensagem, mas a de DEUS. A mensagem deve emanar das Escrituras. DEUS não tem nenhum compromisso com a palavra do pregador, mas apenas com a sua Palavra. Paulo pregou para a salvação (Atos 20.21). Ele pregou arrependimento e fé. Ele também ensinou com fidelidade a Palavra (Atos 20.20). Paulo não apenas evangelizava; ele também ensinava. Ele não apenas gerava filhos espirituais, mas também os nutria com o alimento. O líder é um discipulador. Ele deve mentorear seus discípulos. O líder espiritual é um mestre. A ele cabe o privilégio de ensinar as verdades benditas do evangelho ao povo de DEUS. O líder espiritual tem alegria de ensinar tanto as multidões como os pequenos grupos (Atos 20.20). Paulo ensinava de casa em casa e também publicamente. Há líderes que são loucos pelo glamour da multidão, mas não se entusiasmam em falar para pequenos grupos. Há pregadores que só pregam para grandes auditórios. Sentem-se importantes demais para pregar numa pequena congregação ou numa reunião de grupo familiar. Esses indivíduos pensam que são mais importantes do que o apóstolo Paulo. O apóstolo pregava de casa em casa. JESUS pregou seus mais esplêndidos sermões para uma única pessoa. Quem não se dispõe a pregar para um pequeno grupo não está credenciado a pregar para um grande auditório. Nossa motivação não deve estar nas pessoas, mas em DEUS.
Em quarto lugar, o compromisso de Paulo com os valores do ministério (Atos 20.24). O apóstolo sintetiza o seu ministério em três verdades sublimes. Ele diz aos presbíteros de Éfeso: “Porém em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor JESUS para testemunhar o evangelho da graça de DEUS” (Atos 20.24). Paulo fala sobre três verdades: vocação, abnegação e paixão. Paulo diz que recebeu seu ministério do Senhor JESUS. Ele não se lançou no ministério por conta própria. Ele foi chamado, vocacionado e separado para esse trabalho. Paulo não se tornou um pastor porque buscava vantagens pessoais. Não entrou para as lides ministeriais buscando segurança, emprego ou lucro financeiro. Não entrou no ministério com motivações erradas. Paulo não tinha apenas convicção de sua vocação, mas também consciência das implicações desse chamado. Era imperativo exercer uma boa dose de abnegação. Paulo diz que não considerava a vida preciosa para ele mesmo desde que cumprisse o seu ministério. O coração de Paulo não estava nas vantagens auferidas do ministério. Ele não estava no ministério cobiçando prata ou ouro. Não estava numa corrida desenfreada em busca de prestígio ou fama. Seu propósito não era ser aplaudido pelos homens ou ganhar prestígio entre os homens. Na verdade, ele estava pronto a trabalhar com as próprias mãos para ser pastor. Estava pronto a sofrer toda sorte de perseguição e privação para pastorear. Estava disposto a ser preso, a sofrer ataques externos e temores internos para pastorear a igreja de DEUS. Estava pronto a dar a própria vida para cumprir cabalmente seu ministério. Finalmente, Paulo diz que no seu coração ardia uma grande paixão. A grande paixão de Paulo era testemunhar o evangelho da graça de DEUS. A pregação enchia o peito do velho apóstolo de entusiasmo. Ele sabia que o evangelho é o poder de DEUS para salvação de todo que crê. Sabia que a justiça de DEUS se revela no evangelho. Sabia que a mensagem do evangelho de CRISTO é a única porta aberta por DEUS para a salvação do pecador. Paulo se considerava um arauto, um embaixador, um evangelista, um pregador, um ministro da reconciliação. Sua mente estava totalmente voltada para a pregação. Seu tempo era todo dedicado à pregação. Mesmo quando estava preso, entendia que a Palavra não estava algemada.
Em quinto lugar, o compromisso de Paulo com a igreja de DEUS (Atos 20.28-32). Assim como Paulo se gastou no evangelho para cuidar da igreja de DEUS, o líder espiritual deve cuidar de todo o rebanho, e não apenas das ovelhas mais dóceis (Atos 20.28). Há ovelhas dóceis e ovelhas indóceis. Há ovelhas que obedecem ao comando do pastor e ovelhas que se rebelam e fogem de sob o cajado do pastor. Há ovelhas que escoiceiam o pastor e aquelas que são o deleite do pastor. Há um grande perigo de o pastor cuidar apenas das ovelhas amáveis e deixar de lado as outras. A ordem divina é que o pastor deve cuidar de todo o rebanho, e não apenas de parte dele. O líder precisa saber que ele não é o dono do rebanho, mas servo dele (Atos 20.28). A igreja é de DEUS, e não do líder. JESUS é o único dono da igreja. O Senhor nunca nos deu uma procuração para nos apossarmos da sua igreja. Na igreja de DEUS, não existem chefes, caudilhos e donos. Na igreja, todos nós somos nivelados no mesmo patamar, somos servos. Aqueles que se arvoram em donos da igreja e tratam-na como uma empresa particular, buscando abastecer-se das ovelhas em vez de servi-lhes e pastoreálas, estão em aberta oposição ao propósito divino. Todo líder precisa ter também um claro entendimento do valor da igreja aos olhos de DEUS (Atos 20.28). A igreja é a noiva do Cordeiro, a menina dos olhos de DEUS. Ele a comprou com o sangue de JESUS. Tocar na igreja de DEUS é ferir a noiva do Cordeiro.
DEUS tem zelo pelo seu povo. Perseguir a igreja é perseguir o próprio Senhor da igreja. Finalmente, o líder precisa proteger o rebanho de DEUS dos ataques externos e internos (Atos 20.29,30). Paulo diz que existem lobos do lado de fora buscando uma oportunidade para entrar no meio do rebanho e devorar as ovelhas, e lobos travestidos de ovelhas dentro do rebanho buscando uma oportunidade para arrebatar as ovelhas. O pastor deve ser o guardião e o protetor do rebanho. Como Davi, ele precisa declarar guerra aos ursos e leões, protegendo o rebanho de seus dentes assassinos. Há muitos falsos mestres, com suas perniciosas heresias, tentando entrar na igreja. O perigo, porém, não vem apenas de fora, mas também de dentro. Há aqueles que se levantam no meio da igreja declarando coisas perniciosas e arrastando após si as ovelhas. Há falsos mestres enrustidos que buscam uma ocasião para se manifestar e provocar um estrago no arraial de DEUS. O líder espiritual precisa ser zeloso no ensino, não dando guarida nem oportunidade aos oportunistas que se infiltram no meio da igreja para disseminar suas heresias.
Em sexto lugar, o compromisso de Paulo com a honestidade financeira (Atos 20.33-35). Paulo não era amante do dinheiro. O líder espiritual não pode ser possuído pelo dinheiro. O dinheiro não pode ser seu patrão. Aqueles que se curvam diante de Mamom jamais se levantarão de forma íntegra na presença dos homens. Aqueles que amam o lucro jamais servirão ao rebanho, mas se abastecerão dele. O líder espiritual é aquele que trabalha na obra de DEUS não para auferir lucro, mas com abnegação, apesar do sacrifício pessoal. A regra áurea da economia do reino de DEUS é que é mais bem-aventurado dar do que receber. O líder é alguém que faz a obra de DEUS sem ser motivado pelo dinheiro (Atos 20.33). Paulo não foi a Éfeso para cobiçar prata ou ouro das pessoas, mas para levar a elas as riquezas espirituais. O dinheiro jamais foi o vetor do ministério de Paulo. Ele diz que não cobiçou dinheiro nem vestes. Sua alegria no ministério não era receber benefícios da igreja, mas dar sua vida pela igreja. O líder espiritual é alguém que se dedica à obra mesmo quando lhe falta o dinheiro (Atos 20.34). Paulo trabalhou com suas próprias mãos para continuar o ministério. Ele não abandonou o ministério para trabalhar na fabricação de tendas nem jamais se empolgou com a fabricação de tendas a ponto de diminuir seu entusiasmo com o ministério. Quando as igrejas lhe pagavam o que lhe era devido, Paulo concentrava-se integralmente no ministério, mas, se as igrejas sonegavam seu salário, ele continuava exercendo o ministério, ainda que precisasse trabalhar para isso. O líder espiritual é alguém que entende que mais feliz é aquele que dá dinheiro do que quem recebe dinheiro (Atos 20.35). Paulo cita uma expressão de JESUS: “... Mais bem-aventurado é dar que receber”. A visão do líder espiritual não deve ser a de um homem egoísta e avarento. Ele precisa ser um homem de coração generoso, mãos dadivosas e bolso aberto.
Em sétimo lugar, o compromisso de Paulo com a afetividade (Atos 20.36-38). Os presbíteros de Éfeso e Paulo se abraçaram, beijaram-se e choraram num lugar público. Paulo havia passado três anos em Éfeso, e esse tempo foi suficiente para eles formarem fortes elos de amizade. Agora, eles demonstram a intensidade desse afeto nessa despedida. Nós somos seres afetivos (Atos 20.37). O amor precisa ser verbalizado e demonstrado. Nossas emoções precisam refletir nosso amor. Os presbíteros de Éfeso abraçaram e beijaram Paulo numa praia, um lugar público. Eles não negaram, não camuflaram nem esconderam suas emoções. A mídia empapuçada de violência está minando as nossas emoções. Estamos ficando secos como um deserto. Não conseguimos mais chorar nem expressar emoções. Uma senhora da igreja, depois do culto, disse-me entre lágrimas: “Pastor, eu valorizo muito o seu abraço na porta da igreja, porque é o único abraço que eu recebo na semana”. Há momentos em que a maior necessidade de uma pessoa na igreja não é de ouvir o coral, mas de receber um abraço de um irmão. Nós precisamos demonstrar nosso afeto pelas pessoas que amamos (Atos 20.37). Há muitos líderes que não conseguem expressar seus sentimentos nem verbalizar seu amor pelos seus liderados. Precisamos aprender a declarar o nosso amor pelas pessoas. Precisamos aprender a valorizar as pessoas enquanto elas estão conosco. Precisamos demonstrar nosso apreço por elas enquanto elas podem ouvir nossa voz. Nós precisamos entender a força terapêutica da afetividade (Atos 20.36-38). O amor é o elo de perfeição que une as pessoas. O amor é o cinturão que mantém unidas as demais peças da virtude cristã. Uma pessoa não permanece numa igreja onde ela não tem amigos. A comunhão e a evangelização são temas profundamente conectados. Onde há união entre os irmãos, ali DEUS ordena sua bênção e a vida para sempre. Certa feita, uma irmã da igreja me telefonou, informando-me de que estava pretendendo transferir-se para uma igreja mais próxima de sua casa. Eu, carinhosamente, lhe disse: “O problema é que você é tão importante para a nossa igreja que não podemos abrir mão de sua presença”. Essa mulher começou a chorar ao telefone e disse: “Pastor, na verdade eu não queria ir para outra igreja. Era isso que eu precisava ouvir. Muito obrigada” e desligou o telefone. As pessoas são carentes afetivamente, e os pastores precisam compreender que o amor verbalizado e demonstrado tem um grande poder terapêutico. Capítulo 08 - Uma saraivada de problemas
A vida cristã não é um mar de rosas, mas uma tempestade na qual não faltam as nuvens pardacentas e os trovões aterradores. Os covardes e medrosos, que têm medo de decidir, não entrarão no reino de DEUS. A vida cristã não é feita de amenidades, mas tecida por lutas renhidas. Não é uma viagem através de águas calmas, mas uma navegação turbulenta em mares revoltos e encapelados.
Um leitor desatento pensará que o relato de Paulo em 2Coríntios 6.4-10 é uma coletânea de experiências sem nenhuma conexão. Porém, uma observação mais detalhada do texto provará que Paulo fez um cuidadoso e lógico arranjo de 27 categorias, dividido em três grupos de nove cada. Nos versículos 4 e 5, seus pensamentos são sobre suas provações; nos versículos 6 e 7, sobre a divina provisão; e nos versículos 8 a 10, acerca da vitória sobre as circunstâncias adversas.
O apóstolo Paulo começa esse catálogo de provas com uma das virtudes mais robustas da vida cristã, a paciência triunfante (2Co 6.4). A palavra grega usada, hupomone, não pode ser traduzida ao pé da letra. Ela não descreve o tipo de mentalidade que se assenta com as mãos cruzadas e a cabeça baixa até que passe a tormenta de problemas, numa resignação passiva. Descreve, ao contrário, a habilidade de alguém suportar as coisas de uma maneira tão triunfante que as transforma profundamente. Crisóstomo, o maior pregador do Oriente, chama hupomone de a raiz de todo o bem, a mãe da piedade, o fruto que não se seca jamais, a fortaleza que nunca pode ser conquistada, o porto que não conhece tormentas. Para Crisóstomo, hupomone é a rainha das virtudes, fundamento de todas as ações justas, paz no meio da guerra, calma na tempestade, segurança nos tumultos.
Essa paciência não é uma capacidade natural de suportar algumas dificuldades da vida, mas um corajoso triunfo, que recebe todas as pressões da vida e sai delas com um brado de alegria. Não somente essa pessoa não se deixa abater pelas dificuldades, mas mostra-se até grata pela oportunidade de passar por elas, sabendo que isso trará glória a DEUS.
A “paciência” aqui é o cabeçalho geral de nove elementos que Paulo relaciona a fim de recomendar seu ministério. Vamos examinar o texto em apreço sob quatro perspectivas.
Quando a vida parece um mar tempestuoso
Escrevendo sua segunda carta aos Coríntios (2Co 6.3-5), sua epístola mais pessoal, Paulo aborda
três grupos, cada um composto de três situações, em que a paciência é aplicada.
Em primeiro lugar, os conflitos internos da vida cristã (2Co 6.4). O apóstolo Paulo menciona três conflitos internos que a paciência triunfante nos capacita a vencer. Esse primeiro grupo expressa termos genéricos, a que todos os cristãos estão sujeitos.
As aflições. A palavra grega que Paulo usa é thlipsis, que significa pressão física, aflição ou tribulação. Representam aquelas situações que são fardos para o coração humano, aquelas desilusões que podem destroçar a vida.
As privações. A palavra grega anagké significa literalmente as necessidades da vida. Essa palavra é usada no sentido de sofrimento, muito possivelmente torturas. São aqueles fardos inevitáveis da vida que retratam necessidades materiais, emocionais e até físicas.
As angústias. A palavra grega que Paulo utiliza, stenochoria, significa um lugar muito apertado. Essa palavra era usada para descrever a condição de um exército encurralado num desfiladeiro estreito e rochoso sem lugar para escapar.
Em segundo lugar, as tribulações externas da vida cristã (2Co 6.5). Mais uma vez, o apóstolo Paulo menciona três circunstâncias difíceis que ele enfrentou. Esse segundo grupo apresenta exemplos particulares.
Os açoites. O sofrimento de Paulo não era apenas espiritual, mas também físico. Paulo foi açoitado várias vezes, fustigado com varas e até apedrejado. É exatamente por que os cristãos primitivos enfrentaram as fogueiras, as feras e toda sorte de castigos físicos que hoje recebemos o legado do cristianismo. O próprio Paulo dá seu testemunho: “Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado...” (2Co 11.24,25). Esses açoites lhe deixaram cicatrizes, pelo que escreveu: “Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de JESUS” (Gl 6.17).
As prisões. Paulo foi preso várias vezes. O livro de Atos registra sua prisão em Filipos, Jerusalém, Cesareia e Roma. Paulo passou vários anos do seu ministério no cárcere. Ele terminou os seus dias numa masmorra romana, de onde saiu para ser decapitado. Ao longo dos séculos, um séquito de crentes em CRISTO suportou prisões e esteve disposto a abandonar sua liberdade em vez da fé.
Os tumultos. Paulo não enfrentou apenas a severidade da lei judaica e romana por onde passou, mas também a violência da multidão tresloucada. A palavra grega usada por Paulo, akatastasia, significa instabilidade, multidões em rebelião e desordens civis (Atos 13.50; 14.19; 16.19; 19.29). Esses tumultos referem-se àqueles perigos criados pelos homens. Em quase toda cidade por onde passou, Paulo enfrentou multidões enfurecidas, incitadas principalmente pelos judeus. Em Antioquia da Pisídia, os judeus incitaram as mulheres de alta posição e os principais da cidade para expulsarem Paulo de seu território (Atos 13.49-52). Em Icônio, houve um complô para apedrejar Paulo, e ele precisou sair da cidade (Atos 14.5,6). Em Listra, uma ensandecida multidão apedrejou Paulo (Atos 14.19). Em Filipos, uma multidão alvoroçada prendeu Paulo e Silas, açoitando-os e lançando-os na prisão (Atos 16.22,23). Em Tessalônica, uma turba, procurando Paulo, alvoroçou a cidade e arremeteu-se contra Jasom e sua casa (Atos 17.5). Em Éfeso, houve um grande tumulto, e os amigos de viagem de Paulo foram presos (Atos 19.23-40). Mesmo durante o ministério de Paulo em
Corinto, ele também foi preso, e procuraram levá-lo diante do governador (Atos 18.12-17). Simon Kistemaker diz que o pior caso de agitação civil ocorreu em Jerusalém. Ali o povo, amotinado, procurou matar Paulo (Atos 21.30-32). Por todo lugar onde Paulo pregou o evangelho, ele se defrontou com multidões tresloucadas.
Em terceiro lugar, as tribulações naturais da vida cristã (2Co 6.5b). As três provas que Paulo passa a mencionar não vieram de fora nem de dentro, mas foram abraçadas voluntariamente por ele. Trata-se de provações assumidas voluntariamente por ele.
Os trabalhos. A palavra grega kopos, usada por Paulo, é muito sugestiva, pois descreve o trabalho que leva ao esgotamento, o tipo de tarefa que exige todas as forças que o corpo, a mente e o espírito do homem podem dar. O termo kopos implica trabalhar até fatigar-se, o cansaço que segue após o uso das forças ao máximo. Paulo chega a declarar que trabalhou mais do que todos os outros apóstolos (1Co 15.10).
As vigílias. Algumas vezes, Paulo passava noites em oração, e outras vezes não conseguia dormir em virtude dos tumultos e perseguições, quase sem trégua, que vinham a ele de todos os lados. A palavra grega agrupnia, “vigílias”, refere-se àquelas ocasiões em que Paulo voluntariamente ficava sem dormir ou encurtava suas horas de sono a fim de devotar mais tempo ao seu trabalho evangélico, a seu cuidado de todas as igrejas e à oração. Paulo seguiu o exemplo de JESUS (Mc 1.35; Lc 6.12), passando muitas horas da noite e da madrugada em oração.
Os jejuns. Os jejuns referidos por Paulo podem ser tanto os voluntários como os involuntários. A palavra grega nesteía, “jejuns”, refere-se ao jejum voluntário a fim de poder realizar mais trabalhos. Contudo, esses jejuns podem também se referir àqueles momentos em que Paulo passou privações (2Co 11.9) e até fome (2Co 11.27; 1Co 4.11; Fp 4.12).
Quando a vida parece cheia de contradições
Ainda na segunda carta aos coríntios (2Co 6.8-10), o apóstolo Paulo menciona nove paradoxos e antíteses da vida cristã. Trata-se de uma série de contrastes profundos. Aqui está clara a profunda diferença que existe entre a perspectiva de DEUS e a perspectiva dos homens. O crente constitui-se num enigma para os outros, uma perpétua contradição para os que não os compreendem, pois sua vida consiste numa série de paradoxos.
Esses paradoxos falam dos dois lados opostos da vida de um homem de DEUS - o lado secular e o lado espiritual. O lado visto pelo homem, e o lado visto por DEUS. Essa passagem contrasta como DEUS avaliou o ministério de Paulo com a maneira pela qual seus críticos o avaliaram. O verdadeiro discípulo experimenta tanto o topo da montanha como as regiões mais baixas dos vales mais profundos. Ele oscila entre a honra e a desonra, entre a infâmia e a boa fama, entre a vida e a morte. Vamos considerar esses paradoxos.
Honra e desonra. Aos olhos do mundo, Paulo era um homem despojado de toda honra. Era considerado o lixo do mundo e a escória de todos (1Co 4.13), mas aos olhos de DEUS era mui honrado. A palavra grega atimia, usada para desonra, significa a perda dos direitos de cidadão, a privação dos direitos civis. Ainda que Paulo tivesse perdido todos os direitos como cidadão do mundo, tinha recebido a maior de todas as honras. Ele era cidadão do reino de DEUS. Tombou como mártir na terra, decapitado num patíbulo, mas levantou-se como príncipe no céu (2Tm 4.68).
Infâmia e boa fama. Os opositores de Paulo criticavam cada uma de suas ações e palavras, além de odiá-lo com ódio consumado. Além disso, Paulo sofria infâmia de seus próprios filhos na fé. Embora Paulo e seu ministério obtivessem o reconhecimento de muitos crentes coríntios (1Co 16.15-18), outros o desonravam e falavam dele pelas costas (2Co 10.10; 11.7; 1Co 4.10-13,19). Porém, a despeito de ser difamado na terra, recebeu certamente boa fama no céu.
Enganador e sendo verdadeiro. Os críticos de Paulo o consideravam um charlatão ambulante e um impostor. Para eles, Paulo não era um autêntico apóstolo. Contudo, sua vida, sua conduta e seu ministério irrepreensíveis refutaram peremptoriamente as acusações levianas de seus inimigos. Paulo andou com consciência limpa diante de DEUS e dos homens. Ele estava convicto de que sua mensagem era a verdade do próprio DEUS.
Desconhecido, entretanto bem conhecido. Os judeus que o caluniavam diziam que Paulo era um joão-ninguém, a quem faltava autoridade apostólica e a quem podiam denegrir à vontade. Mas, para seus filhos na fé, Paulo era conhecido e amado. O apóstolo Paulo foi, sem sombra de dúvida, o maior apóstolo, o maior teólogo, o maior evangelista, o maior missionário e o maior plantador de igrejas da história. A palavra grega agooumenoi, traduzida por “desconhecidos”, traz a ideia de ser ignorante. Refere-se a “não valer nada”, sem as credenciais adequadas. Paulo não recebeu reconhecimento do mundo de seu tempo porque o mundo, a literatura, a política e a erudição não se preocupavam com ele e não faziam dele fonte de conversas diárias, nem o procuravam como grande orador. Porém, Paulo é hoje mais conhecido do que qualquer imperador romano. Importa mais receber reconhecimento de DEUS do que dos homens. Importa mais ser amado pelos cristãos do que odiado pelo mundo.
Morrendo, contudo vivendo. Paulo viveu sob constante ameaça de morte. Foi apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, enfrentou feras em Éfeso e foi atacado por uma multidão furiosa em Jerusalém. O poder divino que ressuscitou JESUS dos mortos impediu que Paulo sofresse uma morte prematura. Sua vida despertou fúria no inferno e tumulto na terra. Paulo, porém, viveu para completar sua carreira e cumprir cabalmente seu ministério (Atos 20.24; 2Tm 4.6-8). A julgar pelos padrões mundanos, a carreira de Paulo foi miserável. Ele esteve continuamente exposto a perigos de morte, sempre perseguido por multidões enfurecidas e pelas autoridades civis, mas DEUS livrou-o vezes sem conta. Portanto, contra todas as expectativas, enquanto o propósito de DEUS não se concretizou nele, ele escapou da morte sem ser assassinado.
Castigado, porém não morto. Muitas vezes, Paulo enfrentou açoites, cadeias, prisões, tumultos e até apedrejamento. DEUS, porém, o preservou da morte a fim de que ele cumprisse o propósito de levar o evangelho até os confins da terra. Os cristãos não devem entender suas aflições como indicação da reprovação divina, mas, sim, regozijar-se nelas como oportunidades graciosamente oferecidas para glorificarem o nome do Senhor. DEUS não castiga seu povo por quem CRISTO morreu, pois nossa punição pelo pecado foi colocada sobre CRISTO. Seu Filho sofreu em nosso lugar para que pudéssemos ser absolvidos. Portanto, é incorreto dizer que os crentes sofrem a ira de DEUS. O castigo mencionado aqui pelo apóstolo são medidas corretivas de DEUS que têm o objetivo de nos levar para mais perto dele.
Entristecido, mas sempre alegre. As tristezas de Paulo vinham das circunstâncias; sua alegria emanava de sua comunhão com DEUS. Ele se alegrava não nas circunstâncias, mas apesar delas (Atos 16.19-26). Sua alegria não era nem presença de coisas boas nem ausência de coisas ruins. Sua alegria era uma Pessoa. Sua alegria era JESUS. A fonte da sua alegria não estava na terra, mas no céu; não nos homens, mas em DEUS.
Pobre, mas enriquecendo a muitos (2Co 6.10). Paulo não era como os falsos apóstolos que ganhavam dinheiro mercadejando a Palavra. Paulo era pobre. A palavra ptokós, usada por Paulo, significa extremamente pobre, miserável, indigente, destituído. Descreve a pobreza abjeta de quem não tem, literalmente, nada e que está num perigo real e iminente de
morrer de fome. A palavra ptokós significa penúria completa, como aquela de um mendigo. Ele não tinha dinheiro, mas tinha um tesouro mais precioso do que todo o ouro da terra, o bendito evangelho de CRISTO. Ele enriquecia as pessoas não com coisas materiais, mas com bênçãos espirituais.
Nada tendo, mas possuindo tudo. Paulo não possuía riquezas terrenas, mas era herdeiro daquele que é o dono de todas as coisas. O ímpio tem posse provisória, mas o cristão é dono de todas as coisas que pertencem ao Pai. Somos herdeiros de DEUS e coerdeiros com CRISTO. O ímpio pode ter tudo aqui, mas nada levará. Nós, nada tendo aqui, possuímos tudo.
Quando sofremos pela igreja de DEUS
O apóstolo Paulo, em 2Coríntios 11.23-33, destaca seis aspectos do seu sofrimento:
Em primeiro lugar, trabalhos extenuados. "... em trabalhos, muito mais...” (2Co 11.23). Paulo foi imbatível nesse item. Não apenas suplantou em muito os falsos apóstolos nesse particular, mas trabalhou até mesmo mais do que os legítimos apóstolos de CRISTO (1Co 15.10). O ministério de Paulo não teve pausa. Ele trabalhou diuturnamente, sem intermitência, com saúde ou doente; em liberdade ou na prisão; na fartura ou passando necessidades. Jamais deixou de trabalhar pela causa de CRISTO.
Em segundo lugar, castigos físicos extremados. "... muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado...” (2Co 11.23-25). Destacamos aqui os vários castigos sofridos por Paulo.
As prisões. Paulo foi preso várias vezes. O livro de Atos relata sua prisão em Filipos, em Jerusalém, em Cesareia e em Roma. Paulo passou boa parte da sua atividade apostólica preso. Ele podia estar encarcerado, mas a Palavra de DEUS não estava algemada. Era um embaixador em cadeias. Jamais se sentiu prisioneiro de homens, mas sempre prisioneiro de CRISTO.
Os açoites. Não foram poucas as ocasiões em que Paulo foi açoitado. O livro de Atos não é exaustivo nesses relatos. Temos informação de que ele foi açoitado em Filipos, mas, em muitas outras vezes, seu corpo foi surrado a ponto de ele dizer aos gálatas que trazia no corpo as marcas de CRISTO (Gl 6.17). Cinco vezes recebeu dos judeus 39 açoites. Esse castigo era tão severo que muitos não resistiam. Os açoites eram o método judaico, baseado em Deuteronômio 25.25. A pessoa tinha as suas duas mãos presas a um poste, e suas roupas eram removidas, de modo que seu peito ficava descoberto. Com um chicote feito de uma correia de couro de bezerro e duas de couro de jumento, ligadas a um longo cabo, a pessoa recebia um terço das 39 chicotadas no tórax e dois terços nas costas.
Os perigos de morte. O ministério de Paulo foi turbulento. Não teve folga nem descanso. Aonde ele chegava, havia um tumulto para matá-lo. Foi perseguido em Damasco, apedrejado em Listra, açoitado em Filipos, escorraçado de Tessalônica, enxotado de Bereia, levado ao tribunal em Corinto, perturbado em Éfeso, preso em Jerusalém, acusado em Cesareia, picado por uma víbora em Malta e decapitado em Roma.
O flagelo de serfustigado com varas. Se a quarentena de açoites era um castigo judaico (Dt 25.1-3), fustigar com varas era um castigo romano. Paulo sofreu castigo tanto de judeus quanto de gentios. O livro de Atos só relata os açoites que Paulo sofreu em Filipos. Mas aqui ele nos informa que três vezes foi fustigado com varas.
O apedrejamento. Paulo foi apedrejado em Listra e arrastado da cidade como morto. DEUS o levantou milagrosamente para dar prosseguimento a seu trabalho missionário. A vida de Paulo é um milagre; seu sofrimento, um monumento; suas cicatrizes, seu vibrante testemunho.
Em terceiro lugar, viagens perigosas. “... em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos” (2Co 11.25,26). As viagens de Paulo foram aventuras épicas, cercadas sempre de muitos perigos. O livro de Atos só relata o naufrágio que Paulo enfrentou em sua viagem para Roma, e obviamente, quando Paulo escreveu essa carta, ela ainda não havia ocorrido. Portanto, Paulo enfrentou quatro naufrágios. Não sabemos onde nem quando, mas um dia e uma noite ficou à deriva, na voragem do mar. Nas suas andanças, enfrentou perigos nos mares, nos rios, nas cidades e no deserto. Enfrentou perigos entre judeus e gentios. Enfrentou perigos no meio dos pagãos e também entre falsos irmãos.
Em quarto lugar, privações e necessidades dolorosas. “em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez” (2Co 11.27). Paulo trabalhava não só na obra, mas também para seu sustento, e isso com fadiga. Dormia pouco e trabalhava muito. Tinha senso de urgência. Nas suas jornadas a pé ou de navio, passou fome e sede muitas vezes. Não poucas vezes, a situação era tão grave que, mesmo tendo pão, preferia jejuar. Nem sempre tinha roupas suficientes e adequadas para as estações geladas do inverno. Enfrentou frio e também nudez.
Em quinto lugar, preocupação com todas as igrejas. “Além das cousas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas” (2Co 11.28). A atitude de Paulo em relação aos falsos apóstolos era gritantemente diferente. Enquanto eles se abasteciam das igrejas, Paulo se desgastava por amor a elas, e isso diariamente. Enquanto Paulo usava sua autoridade para fortalecer as igrejas, eles usavam as igrejas para fortalecer sua autoridade. Enquanto Paulo trabalhava para servir às igrejas, eles se abasteciam das igrejas. Enquanto eles esbofeteavam os crentes no rosto, Paulo carregava os fardos dos crentes no coração. As outras experiências haviam sido exteriores e ocasionais, mas o peso das igrejas era interior e constante.
Em sexto lugar, fuga ignominiosa. “Em Damasco, o governador preposto do rei Aretas montou guarda na cidade dos damascenos, para me prender; mas, num grande cesto, me desceram por uma janela da muralha abaixo, e assim me livrei das suas mãos” (2Co 11.32,33). No auge da narrativa de seus sofrimentos, Paulo fala da experiência humilhante em Damasco. Paulo descreve de forma vívida a primeira situação de sofrimento após sua conversão. Entrou na cidade de Damasco para prender os crentes, e ele agora é quem estava preso. Os judeus resolveram tirar-lhe a vida e vigiaram os portões da cidade (Atos 9.23,24) para ele não fugir, enquanto o governador gentio também montava guarda na porta para o prender (2Co 11.32). O livramento de Paulo não teve nada de espetacular. Ele escapou de forma humilhante. Para Paulo, essa fuga clandestina de Damasco era o pior dos açoites. O valente Paulo precisa fugir de forma inusitada na calada da noite. Essa fuga ignominiosa de Damasco que Paulo narra contém pouquíssimos elementos de que ele pudesse vangloriar-se. É o primeiro de muitos “perigos de morte” que ele experimentou. Esses primeiros acontecimentos o marcam profundamente. E precisamente essa imagem da recordação revela de forma singular sua “fraqueza”.
Paulo conclui essa listagem de sofrimento, jogando uma pá de cal na presunção de seus oponentes. Enquanto eles se gloriavam em suas virtudes e realizações, Paulo diz: “Se tenho de gloriar-me, gloriar-me-ei no que diz respeito à minha fraqueza” (2Co 11.30). Paulo sabia que sua autoridade não vinha de suas habilidades, mas de seu chamado (Rm 1.1,5); não de sua força, mas de sua fraqueza; não de seus feitos, mas de suas cicatrizes.
Quando nosso sofrimento é bênção, e não castigo
No início de 2Coríntios 12, Paulo descreve seu arrebatamento ao terceiro céu e sua visão gloriosa. Viu coisas que não é lícito ao homem referir. Depois da glória, porém, vem a dor; depois do êxtase, vem o sofrimento. Em 2Coríntios 12.7-10, Paulo faz uma transição das visões celestiais para o espinho na carne. DEUS sabe equilibrar em nossa vida as bênçãos e os fardos, o sofrimento e a glória. Que contraste gritante entre as duas experiências do apóstolo! Passou do paraíso à dor, da glória ao sofrimento. Provou a bênção de DEUS no céu e sentiu os golpes de Satanás na terra. Paulo passou do êxtase do céu à agonia da terra. Vamos examinar alguns pontos importantes.
Em primeiro lugar, o sofrimento é inevitável. Paulo dá seu testemunho: “E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte” (2Co 12.7). Não há vida indolor. É impossível passar pela vida sem sofrer. O sofrimento é inevitável. O sofrimento de Paulo é tanto
físico quanto espiritual. Elencamos aqui dois aspectos do sofrimento do apóstolo.
O espinho na carne. O que seria esse espinho na carne de Paulo? Há muitas ideias e nenhuma resposta conclusiva. Calvino acreditava que o espinho na carne eram as tentações espirituais. Lutero achava que eram as perseguições dos judeus. A palavra grega skolops, “espinho”, só aparece aqui em todo o Novo Testamento. Trata-se de qualquer objeto pontiagudo. Era a palavra usada para estaca, lasca de madeira ou ponta do anzol. O que era esse espinho na carne de Paulo? Muitas respostas têm sido dadas. Vejamos algumas delas:
- Perturbações espirituais. Calvino acreditava que o espinho na carne de Paulo consistia nessas tentações que o afligiam. Trata-se das limitações de uma natureza corrompida pelo pecado, os tormentos da tentação, ou a opressão demoníaca.
- Perseguição e oposição. Lutero pensava que o espinho na carne de Paulo eram as muitas e variadas perseguições sofridas tanto nas mãos dos judeus, como nas mãos dos gentios.
- Enfermidades físicas. A lista abrange desde a epilepsia, gagueira, enxaqueca, ataques de malária até deficiência visual. A maioria dos estudiosos concorda que esse termo skolops deve ser interpretado literalmente, isto é, Paulo suportava dor física. Pessoalmente sou inclinado a pensar que esse espinho na carne era uma deficiência visual de Paulo (Atos 9.9; Gl 4.15; 6.11; Rm 16.22; At 23.5).
A oração não atendida. Assim como JESUS orou três vezes no Getsêmani para DEUS afastar-lhe o cálice e o Pai não o atendeu, mas enviou um anjo para o consolar, Paulo orou também três vezes para DEUS remover o espinho de sua carne, mas a resposta de DEUS não foi a remoção do espinho, mas a força para suportá-lo. DEUS nem sempre nos livra do sofrimento, mas nos dá graça para enfrentá-lo vitoriosamente. Paulo orou na aflição: orou ao Senhor, orou com insistência e especificamente, e mesmo assim DEUS lhe disse não.
Em segundo lugar, o sofrimento é indispensável. Assim como JESUS aprendeu pelas coisas que sofreu, também aprendemos pelo sofrimento. Por que o sofrimento é indispensável?
Para evitar a soberba. O espinho na carne impediu que Paulo inchasse ou explodisse de orgulho diante das gloriosas visões e revelações do Senhor. O sofrimento nos põe em nosso devido lugar. Ele quebra nossa altivez e esvazia toda nossa pretensão de glória pessoal. É o próprio DEUS quem nos matricula na escola do sofrimento. O propósito de DEUS não é nossa destruição, mas nossa qualificação para o desempenho do ministério. O fogo da prova não pode chamuscar sequer um fio de cabelo da nossa cabeça; ele só queima nossas amarras. O fogo das provas nos livra das amarras, e DEUS nos livra do fogo.
O apóstolo Paulo diz que o espinho na carne era um mensageiro de Satanás. Ao mesmo tempo que o mensageiro de Satanás infligia sofrimento ao apóstolo, esbofeteando-lhe com golpes fulminantes, DEUS tratava com seu servo, usando essa estranha providência, para o manter humilde. O campo de atuação de Satanás é delimitado por DEUS. Satanás intenciona esbofetear Paulo; DEUS intenciona aperfeiçoar o apóstolo.
Para gerar dependência constante de DEUS. “Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim” (2Co 12.8). O sofrimento levou Paulo à oração. O sofrimento nos mantém de
joelhos diante de DEUS para nos colocar de pé diante dos homens. Paulo sabe que DEUS está no controle, não Satanás. Se Satanás realizasse seu desejo, ele teria preferido que o apóstolo Paulo fosse orgulhoso em vez de humilde. Os interesses de Satanás seriam muito melhor servidos se Paulo fosse se tornar insuportavelmente arrogante.
Para mostrar a suficiência da graça. “Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de CRISTO” (2Co 12.9). A graça de DEUS é melhor do que a vida. A graça de DEUS é que nos capacita a enfrentar vitoriosamente o sofrimento. A graça de DEUS é o tônico para a alma aflita, o remédio para o corpo frágil, a força que põe de pé o caído. A graça de DEUS é a provisão de DEUS para tudo de que precisamos, quando precisamos. A graça nunca está em falta. Ela está continuamente disponível. Não devemos orar por vida fácil. Devemos orar para sermos homens e mulheres capacitados pela graça. Não devemos orar por tarefas iguais ao nosso poder, mas orar por poder igual às nossas tarefas.
Para trazer fortalecimento de poder. O poder de DEUS se aperfeiçoa na fraqueza. Quando somos fracos, aí é que somos fortes. Esse é o grande paradoxo do cristianismo. A força que sabe que é forte, na verdade é fraqueza, mas a fraqueza que sabe que é fraca, na verdade é força. O poder de DEUS revela-se nos fracos. Paulo pediu para DEUS substituição, mas DEUS lhe deu transformação. DEUS não removeu sua aflição, mas lhe deu capacitação para enfrentá-la vitoriosamente. DEUS não deu explicações a Paulo; fez-lhe promessas: “A minha graça te basta”. Não vivemos de explicações; vivemos de promessas. Nossos sentimentos mudam, mas as promessas de DEUS são sempre as mesmas.
O poder de DEUS é suficiente para o cansaço físico. Paulo suportou toda sorte de privações físicas: fome, sede e nudez. Suportou todo tipo de perseguição: foi açoitado, apedrejado, fustigado com varas e preso. Enfrentou todo tipo de perigos: de rios, de mares, de desertos, no campo, na cidade, entre estrangeiros, entre patrícios e até no meio de falsos irmãos. Enfrentou toda sorte de pressões emocionais: preocupava-se dia e noite com as igrejas. Mas o poder de DEUS o sustentou em todas essas circunstâncias.
Em terceiro lugar, o sofrimento épedagógico. A vida é a professora mais implacável: primeiro, dá a prova e, depois, a lição. C. S. Lewis disse que “DEUS sussurra em nossos prazeres e grita em nossas dores”. A dor sempre tem um propósito, mais que uma causa. DEUS não desperdiça sofrimento na vida de seus filhos. Se DEUS não remove o espinho é porque ele está trabalhando em nós, para depois trabalhar por meio de nós.
Vejamos algumas lições importantes destacadas por Charles Stanley em seu livro Como lidar com o sofrimento1:
Há um propósito divino em cada sofrimento. Há um propósito divino no sofrimento. No começo dessa carta, Paulo diz que o nosso sofrimento e a nossa consolação são instrumentos usados por DEUS para abençoar outras pessoas (2Co 1.3). Na escola da vida, DEUS está nos preparando para sermos consoladores. Quando DEUS não remove “o espinho”, é porque tem uma razão. DEUS sempre tem um propósito no sofrimento. O propósito é de não nos ensoberbecermos.
E possível que DEUS resolva revelar-nos o propósito do nosso sofrimento. No caso de Paulo, DEUS decidiu revelar-lhe a razão de ser do “espinho”: evitar que o apóstolo ficasse orgulhoso. Quando Paulo orou, nem perguntou por que estava sofrendo; apenas pediu a remoção do sofrimento. Não é raro DEUS revelar as razões do sofrimento. Ele revelou a Moisés a razão por que não lhe seria permitido entrar na terra prometida. Disse a Josué por que ele e seu exército haviam sido derrotados em Ai. O nosso sofrimento tem por finalidade nos humilhar, nos aperfeiçoar, nos burilar e nos usar. É possível também que DEUS não nos dê explicações diante do sofrimento. Foi o que aconteceu com o patriarca Jó. Ele perdeu seus bens, seus filhos, sua saúde, o apoio de sua mulher e de seus amigos, e, diante de seus questionamentos, nenhuma explicação lhe foi dada. DEUS restaurou sua sorte, mas não lhe deu a razão de seu sofrimento.
DEUS nunca nos repreende se perguntarmos por que sofremos, ou se pedirmos que ele remova o sofrimento. Não há evidência de que DEUS tenha repreendido Paulo pelo fato de ele ter-lhe pedido que removesse o espinho. DEUS entende nossa fraqueza. Espera que clamemos quando estivermos passando por sofrimento. DEUS nos manda lançar sobre ele toda a nossa ansiedade.
O sofrimento pode ser um dom de DEUS. Temos a tendência de pensar que o sofrimento é algo que DEUS faz contra nós, e não por nós. Jacó disse: “... Tendes-me privado de filhos: José já não existe, Simeão não está aqui, e ides levar a Benjamim! Todas estas cousas me sobrevêm” (Gn 42.36). O espinho de Paulo era uma dádiva, porque, por meio desse incômodo, DEUS protegeu Paulo daquilo que ele mais temia - ser desqualificado espiritualmente (1Co 9.27). Ele sabia que o orgulho destrói. Viu-o como algo que DEUS fez a seu favor, e não contra ele.
Satanás pode ser o agente do sofrimento. Espere um pouco: é Satanás ou DEUS quem está por trás do espinho na carne de Paulo? Como é que um mensageiro de Satanás pode cooperar para o bem de um servo de DEUS? Parece uma contradição total. A inferência é que DEUS, na sua soberania, usa os mensageiros de Satanás na vida dos seus servos. As bofetadas de Satanás não anulam os propósitos de DEUS, mas contribuem para eles. Até mesmo os esquemas satânicos podem ser usados em nosso benefício e no avanço do reino de DEUS. O diabo intentou contra Jó para afastá-lo de DEUS, mas só conseguiu colocá-lo mais perto do Senhor.
DEUS nos conforta em nossas adversidades. A resposta que DEUS deu a Paulo não era a que ele esperava nem a que ele queria, mas era a que ele precisava. DEUS respondeu a Paulo que ele não o havia abandonado. Não sofria sozinho. DEUS estava no controle da sua vida e operava nele com eficácia.
A graça de DEUS é suficiente nas horas de sofrimento. DEUS não deu a Paulo o que ele pediu; deu-lhe algo melhor, melhor que a própria vida, a sua graça. A graça de DEUS é melhor que a vida; pois por ela enfrentamos o sofrimento vitoriosamente. O que é graça? É a provisão de DEUS para cada uma das nossas necessidades. O nosso DEUS é o DEUS de toda a graça (1Pe 5.10).
Pode ser que DEUS decida que é melhor não remover o sofrimento. De todos os princípios, esse é o mais difícil. Quantas vezes já pensamos e falamos: “Senhor por que estou sofrendo? Por que desse jeito? Por que até agora? Por que o Senhor ainda não agiu?”. Joni Eareckson ficou tetraplégica e numa cadeira de rodas dá testemunho de JESUS. Fanny Crosby ficou cega com 42 dias e morreu aos 92 anos sem jamais perder a doçura. Escreveu mais de 4 mil hinos. Dietrich Bonhoeffer foi enforcado no dia 9 de abril de 1945 numa prisão nazista. Se DEUS não remover o sofrimento, ele nos assistirá em nossa fraqueza, nos consolará com sua graça e nos assistirá com seu poder.
Nossa alegria não se baseia na natureza de nossas circunstâncias. O que determina a vida de um indivíduo não é o que lhe acontece, mas como reage ao que lhe acontece. Não é o que as pessoas lhe fazem, mas como responde a essas pessoas. Há pessoas que são infelizes tendo tudo; há outras que são felizes não tendo nada. A felicidade não está fora, mas dentro de nós. Há pessoas que pensam que a felicidade está nas coisas: casa, carro, trabalho, renda. Mas Paulo era feliz mesmo passando por toda sorte de adversidades (2Co 11.24-27). Mesmo passando por todas essas lutas, é capaz de afirmar: “Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de CRISTO. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte” (2Co 12.10). O mesmo Paulo comenta em sua carta aos filipenses: “Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez” (Fp 4.11,12).
A chave para crescermos nos sofrimentos é vê-los em função do amor por CRISTO. Paulo sofria por amor a CRISTO. Sua razão de viver era glorificar CRISTO. O que importava era agradar a CRISTO, servir a CRISTO, tornar CRISTO conhecido. Jim Elliot, o missionário mártir entre os índios aucas, disse: “Não é tolo perder o que não se pode reter, para ganhar o que não se pode perder”. DEUS pode usar até o nosso sofrimento para sua glória. Paulo diz aos filipenses que as coisas que lhe aconteceram contribuíram para o progresso do evangelho (Fp 1.12).
Em quarto lugar, o sofrimento épassageiro. O sofrimento deve ser visto à luz da revelação do céu, do paraíso. O sofrimento do tempo presente não é para se comparar com as glórias por vir a serem reveladas em nós (Rm 8.18). A nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória (2Co 4.14-16). Aqueles que têm a visão do céu são os que triunfam diante do sofrimento. Aqueles que ouvem as palavras inefáveis do paraíso são os que não se intimidam com o rugido do leão.
DEUS mostrou a glória da herança antes do fogo do sofrimento. DEUS abriu as cortinas do céu antes de apontar as areias esbraseantes do deserto. O sofrimento é por breve tempo; o consolo é eterno. A dor vai passar; o céu jamais! A caminhada pode ser difícil. O caminho pode ser estreito. Os inimigos podem ser muitos. O espinho na carne pode doer. Mas a graça de CRISTO nos basta. Só mais um pouco, e nós estaremos para sempre com o Senhor. Então o espinho será tirado, as lágrimas serão enxugadas, e não haverá mais pranto, nem luto, nem dor.
1. STANLEY, Charles. Como lidar com o sofrimento. Belo Horizonte: Betânia, 1995. Capítulo 09 - Um homem sob ataque
O mesmo Paulo que já havia enfrentado prisões e açoites enfrentará agora uma série de solavancos existenciais: prisão, acusação e conspiração. Neste capítulo, vamos examinar a prisão de Paulo em Jerusalém e Cesareia.
Não espere gratidão, mas cadeias e tribulações
Paulo estava indo a Jerusalém para levar as ofertas levantadas entre as igrejas gentílicas para os pobres da Judeia. Seu coração estava cheio de amor, e suas mãos, cheias de dádivas. Sua motivação era a mais pura, e seu propósito, o mais elevado. Porém, os judeus pagaram o bem com o mal. Em vez de alegrarem-se com sua generosidade, conspiraram contra Paulo para matá-lo.
Paulo testemunha aos presbíteros de Éfeso, na cidade de Mileto, que não sabia o que aconteceria em Jerusalém, mas o ESPÍRITO SANTO lhe assegurava que de cidade em cidade cadeias e tribulações o esperavam (Atos 20.22,23). Ao despedir-se dos presbíteros de Éfeso, Paulo tem o pressentimento de que não mais veriam o seu rosto (Atos 20.38). Ao chegar a Cesareia, foi fortemente alertado por um profeta judeu, chamado Agabo, de que seria preso em Jerusalém e entregue nas mãos dos gentios (Atos 21.10,11). Diante dessa profecia, Lucas e os irmãos que estavam em Cesareia tentaram demover Paulo de prosseguir viagem para Jerusalém (Atos 21.12), mas este respondeu: “... Que fazeis chorando e quebrantando-me o coração? Pois estou pronto não só para ser preso, mas até para morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor JESUS” (Atos 21.13). Diante da irredutibilidade de Paulo, os irmãos se conformaram e capitularam ante a vontade de DEUS (Atos 21.14).
Paulo e sua comitiva partiram, pois, de Cesareia para Jerusalém. Ali chegando, foram recebidos com alegria pelos irmãos da igreja (Atos 21.16,17). Depois de dar um minucioso relatório do quanto DEUS fizera por seu intermédio à liderança da igreja, foi alertado de que os judeus de Jerusalém nutriam informações distorcidas do seu trabalho missionário. Um boato circulava entre esses judeus de que Paulo estaria engajado numa missão anti-Moisés, pervertendo a lei e os costumes judaicos (Atos 21.18-26).
Os judeus vindos da Ásia, ao ver Paulo no templo com seus companheiros de viagem, alvoroçaram todo o povo e o agarraram, gritando: “... Israelitas, socorro! Este é o homem que por toda parte ensina todos a serem contra o povo, contra a lei e contra este lugar; ainda mais, introduziu até gregos no templo e profanou este recinto sagrado” (Atos 21.28). Paulo foi arrastado com violência de dentro do templo para fora, as portas foram fechadas, e a cidade de Jerusalém se amotinou. O intento dos judeus era matar o apóstolo. Já o espancavam quando o comandante e seus soldados desfizeram o levante ensandecido. Arrebatado das mãos da multidão sanguissedenta, Paulo foi acorrentado e passou a ficar sob custódia do comandante e sua escolta (Atos 21.29-33).
Diante do vozerio ensurdecedor da multidão amotinada, que gritava infrene: “Mata-o! Mata-o!”, Paulo foi recolhido à fortaleza. Enquanto era carregado para a fortaleza, pediu permissão para falar ao povo. Da escada da fortaleza, dirigiuse à multidão, que silenciosamente o escutou (Atos 21.34-40).
Paulo então dá o seu testemunho, narrando sua trajetória desde o seu nascimento em Tarso da Cilícia. Falou sobre seus estudos aos pés de Gamaliel em Jerusalém e de sua implacável disposição de sufocar e exterminar a religião cristã, ainda no seu nascedouro. Paulo disse à multidão furiosa que um dia também odiou a religião do Caminho com todas as forças da sua alma. Disse que prendeu e lançou em cárceres homens e mulheres. Contou que entrava nas sinagogas para prender e açoitar os que criam em CRISTO. Declarou que esteve por trás do assassinato do primeiro mártir do cristianismo, o diácono Estêvão. Contou, de forma vívida, como saíra de Jerusalém rumo a Damasco para prender e levar manietados os discípulos de CRISTO para Jerusalém. Porém, antes de prender os cristãos, foi capturado por JESUS, ao ver uma luz aurifulgente e ouvir uma voz poderosa. Ali, enquanto seus olhos foram cegados, os olhos da sua alma se abriram, e compreendeu que aquele a quem estava perseguindo era o próprio Senhor, o Filho de DEUS.
Paulo dirige-se à multidão dizendo que, ao estar em Jerusalém, pregando e ensinando, foi dispensado pelo próprio DEUS de seu trabalho. DEUS lhe fechava a porta em Jerusalém, mas abria-lhe uma janela para o mundo. DEUS encerrava seu ministério entre os patrícios, mas o enviava para longe, aos gentios (Atos 22.1-21). Os judeus ouvem o discurso de Paulo até o momento em que ele faz referência aos gentios. Então novamente a multidão se alvoroça, a ponto de gritar e arrojar de si suas capas, atirando poeira para os ares. Por questão de segurança, Paulo foi recolhido à fortaleza. O comandante, perplexo diante da situação, mandou que Paulo fosse açoitado para saber os detalhes de tão inflamada oposição. Nesse momento, o velho apóstolo valeu-se de seu direito de cidadão romano e evitou que sofresse mais uma surra (Atos 22.22-30).
Um cordeiro no meio de lobos
Quando o comandante descobriu que Paulo era cidadão romano, passou a tratá-lo com deferência e convocou os principais sacerdotes e todo o sinédrio a fim de que Paulo pudesse se explicar. Agora, o mesmo apóstolo que já se havia defendido diante da multidão alvoroçada, dirige-se ao sinédrio enraivecido. Bastou que Paulo abrisse a boca para afirmar que estava servindo a DEUS com boa consciência para que levasse uma bofetada no rosto por ordem do sumo sacerdote. Os representantes e fiscais da lei quebravam a lei em nome da lei (Atos 23.1-5).
Com refinada sagacidade, Paulo tirou proveito da divisão interna do sinédrio. Sabendo que esse egrégio concílio era formado de saduceus e fariseus; sabendo que os saduceus eram teólogos progressistas e liberais que não acreditavam na ressurreição nem na existência dos anjos e de espíritos, posicionou-se como fariseu e disse que estava sendo perseguido por causa das crenças defendidas pelos fariseus. Essa atitude atraiu imediata simpatia do grupo dos fariseus, e os dois grupos começaram a se desentender no meio da reunião. A estratégia de Paulo funcionou. O grupo que estava ali para ouvi-lo engalfinhou-se em tal celeuma que o comandante resolveu tirar Paulo do alvoroço e recolhê-lo à fortaleza (Atos 23.6-10).
Uma conspiração ameaçadora
Enquanto quarenta judeus se reuniam para jurar Paulo de morte (Atos 23.12-15), DEUS se revelou a ele a fim de lhe dar forças e descortinar-lhe novos horizontes. Na noite seguinte ao alvoroço do sinédrio, recolhido ainda à fortaleza, o Senhor pôs-se ao lado de Paulo e lhe disse: “... Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (Atos 23.11).
A conspiração dos judeus para matar Paulo foi feita com juramento de que não comeriam nem beberiam e seriam considerados malditos enquanto não assassinassem Paulo. Esse pacto foi selado e comunicado aos principais sacerdotes e anciãos. O comandante deveria trazer Paulo novamente ao sinédrio para uma investigação mais detalhada. Antes de Paulo chegar à reunião, eles o atacariam e o matariam (Atos 23.12-15).
Por providência divina, um sobrinho de Paulo descobriu a trama em tempo oportuno, entrou na fortaleza e avisou a Paulo o que estava acontecendo nos sórdidos bastidores do sinédrio. Paulo enviou seu sobrinho ao comandante, e este foi avisado do plano traiçoeiro. Diante das pressões da massa, da conspiração dos judeus radicais e da parcialidade do sinédrio, o comandante resolveu enviar Paulo ao governador Félix, sob forte proteção, livrando o bandeirante do cristianismo de uma morte prematura (Atos 23.16-25).
A prisão de Paulo em Cesareia
Cláudio Lísias escreve uma carta ao governador Félix e, sob a proteção de uma escolta, envia Paulo a Cesareia, não sem antes dar seu parecer de que Paulo era inocente e não merecia nem mesmo estar preso, quanto mais ser alvo de uma conspiração de morte. Lísias informa a Félix que os judeus estavam determinados a matar Paulo pela engenhosidade da traição por questões puramente religiosas. E, porque esse velho missionário era cidadão romano, não o podia entregar ao alvitre de uma turba tão alvoroçada e sanguinária.
Ao chegar a Cesareia, lida a carta de Cláudio Lísias, Félix ouve Paulo e, sabedor de que ele era da província da Cilícia, recolhe-o à prisão até que seus acusadores apresentem contra ele a peça de acusação.
Cinco dias depois, o sumo sacerdote Ananias, acompanhado de alguns anciãos e aparelhado de um orador profissional chamado Tértulo, viaja para Cesareia e comparece diante do governador para apresentar o libelo acusatório contra Paulo. Tecendo elogios rasgados ao governador, Tértulo tenta ganhá-lo para seu lado. Com retórica rebuscada, esse profissional da oratória, profere acusações pesadas e levianas contra o apóstolo, chamando-o de peste. Conspurca-lhe o caráter, denigre-lhe o nome, lança sobre sua honra os mais aviltantes insultos. Desprovido de conhecimento, na contramão dos fatos, Tértulo falseia a verdade ao dizer que Paulo promovia sedições entre os judeus dispersos por todo o mundo. Maliciosamente, estadeia diante do governador a acusação de que Paulo era o principal agitador da seita dos nazarenos. Ainda acusa Paulo de profanar o templo, razão pela qual os judeus o prenderam para julgá-lo diante do sinédrio. Em seu discurso tendencioso, eivado de mentiras escabrosas, Tértulo ainda alfineta o comandante Cláudio Lísias, dizendo que este havia arrebatado Paulo de suas mãos com grande violência para enviá-lo a Cesareia.
Cessada a verborragia desse paladino da mentira, Paulo tem a oportunidade de fazer sua defesa. Com palavras breves, com refinada retórica, o bandeirante do cristianismo põe por terra o discurso de Tértulo, desmantelando ponto por ponto todas as acusações assacadas contra ele. Paulo ressalta que o propósito de sua visita a Jerusalém não foi profanar o templo, mas trazer generosas ofertas aos pobres da Judeia, levantadas entre as igrejas gentílicas. Também afirmou que estava sendo acusado pelo sinédrio exatamente pelas mesmas convicções que os fariseus, membros do sinédrio, defendiam, qual seja, a doutrina da ressurreição dos mortos.
O governador interessou-se por conhecer um pouco mais o cristianismo, chamado de religião do Caminho. Mantendo Paulo preso e tratando-o com urbanidade, aguardou a chegada do comandante Cláudio Lísias para prosseguir com o julgamento. Nesse ínterim, Félix, acompanhado de sua mulher, uma judia chamada Drusila, resolve ouvir Paulo particularmente acerca da fé em CRISTO JESUS. Sem perder a oportunidade, Paulo disserta para o governador e sua mulher acerca da justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro. Essa mensagem contundente deixa Félix amedrontado. Em vez de curvar-se ao poder do evangelho, Félix dribla sua consciência, tapa os ouvidos à voz de DEUS e busca novas oportunidades para receber alguma propina de Paulo, uma vez que ele havia trazido das províncias da Macedônia e Acaia grandes somas de dinheiro para os pobres da Judeia.
A prisão de Paulo estendeu-se por dois anos em Cesareia, e nenhuma decisão foi tomada a seu respeito. Ao cabo desse tempo, o governador Félix foi substituído por Pórcio Festo. Por interesses pessoais, buscando alcançar o favor dos judeus, Félix manteve Paulo preso nesses dois anos. A justiça negada a Paulo em Jerusalém nas mãos dos judeus também lhe foi negada em Cesareia nas mãos dos romanos. Se Paulo estava sendo alvo de uma conspiração de morte por parte dos judeus por motivos religiosos, ele estava prestes a ser entregue à morte pelos romanos por motivos políticos e financeiros. A justiça estava ausente em ambos os tribunais, judaico e romano.
Ao assumir o governo da província, três dias depois, Festo subiu de Cesareia a Jerusalém, permanecendo lá cerca de oito a dez dias, tempo suficiente para os judeus tentarem aliciar o governador, rogando-lhe que enviasse Paulo a Jerusalém, com a intenção firme de armar ciladas contra ele para matálo. Não cedendo de imediato ao desiderato dos judeus, Festo instruiu aos requerentes da pugna que descessem com ele a Cesareia a fim de apresentarem contra Paulo, no tribunal, suas acusações. Assim foi feito. Os judeus apresentaram contra Paulo muitas e graves acusações, todas, porém, sem a evidência de provas. Paulo se defende dizendo que jamais havia cometido qualquer pecado contra a lei dos judeus, contra o templo ou mesmo contra César.
Os interesses políticos novamente suplantaram a justiça. Festo, buscando ganhar o favor dos judeus, disse a Paulo: “... Queres tu subir a Jerusalém e ser ali julgado por mim a respeito destas cousas?” (Atos 25.9). Os judeus, os governadores romanos (Félix e Festo), bem como Paulo sabiam que a intenção de levá-lo a Jerusalém não era seu julgamento pelo critério da verdade, mas a sua morte promovida por uma cilada judaica. Sem titubear, Paulo responde ao covarde e tendencioso governador romano: “... Estou perante o tribunal de César, onde convém seja eu julgado; nenhum agravo pratiquei contra os judeus, como tu muito bem sabes. Caso, pois, tenha eu praticado algum mal ou crime digno de morte, estou pronto para morrer; se, pelo contrário, não são verdadeiras as cousas de que me acusam, ninguém, para lhes ser agradável, pode entregar-me a eles. Apelo para César” (Atos 25.10,11). A resposta de Paulo é uma reprovação severa à postura frouxa, covarde e tendenciosa do governador e um aguilhão na consciência dos judeus. Paulo estava pronto para morrer, mas não sem antes defender os seus direitos. Estava pronto para morrer, mas não para servir aos interesses escusos de homens que vendiam sua consciência por vantagens imediatas.
Diante da impossibilidade de Festo lograr alguma vantagem ou favor político por parte dos judeus no julgamento de Paulo, o governador atende à solicitação do apóstolo e decide enviá-lo a Roma (Atos 25.12).
Uma vez que a querela dos judeus contra Paulo não alcançara seu propósito, Paulo foi guardado na prisão até ocasião oportuna de enviá-lo a Roma. Nesse ínterim, chegam a Cesareia o rei Agripa e sua mulher Berenice para saudarem o novo governador romano na província de Cesareia. Compartilhando com eles o embate dos judeus contra Paulo e reconhecendo que os judeus não fizeram nenhuma acusação de peso contra o réu, senão aquelas ligadas à sua religião, Agripa demonstrou interesse em ouvir também esse prisioneiro que estava causando tanto reboliço.
Numa audiência onde não faltou pompa e luxo, Paulo é trazido à presença de Agripa. A intenção de Festo era encontrar alguma informação que lhe pudesse servir de base para construir a peça de acusação contra esse judeu de cidadania também romana. Paulo então tem permissão para falar. Com brilhantismo, eloquência e poder, num discurso rebuscado de rara beleza, Paulo abre o coração para narrar o que JESUS havia feito em sua vida.
Paulo relembra sua vida pregressa quando andava na ignorância e nas trevas. Naquele tempo, era um carrasco, um perseguidor implacável, um monstro celerado, pois perseguia com fúria incessante e rigor desmesurado os cristãos. Seu intento era banir da terra a religião do Caminho, a chamada seita dos nazarenos, insurgindo-se contra o nome de CRISTO e seus fiéis seguidores. Para alcançar seu propósito, andou por todas as sinagogas de Israel e nações vizinhas, açoitando os crentes, manietando-os, forçando-os a blasfemar e os levando prisioneiros à cidade de Jerusalém. Foi com esse específico desiderato que, como embaixador do sinédrio judaico, foi a Damasco.
Diante de um auditório atento, Paulo prossegue seu discurso, narrando sua dramática experiência
no caminho de Damasco. Diz ele que estava ainda no caminho, na entrada de Damasco, quando subitamente, uma luz aurifulgente caiu sobre ele, uma voz como de trovão ribombou das alturas e o jogou ao chão, e ele, caído, vencido, domado, ouviu aquela voz fuzilando seu coração: “... Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões” (Atos 26.14). Já transformado e convertido, perguntou: “... Quem és tu, Senhor?...”. E Senhor respondeu: “... Eu sou JESUS, a quem tu persegues” (Atos 26.15).
De forma vívida, Paulo mostrou ao seu seleto auditório como JESUS o havia tirado das trevas para a luz e o havia enviado aos gentios para abrir-lhes os olhos da alma, anunciandolhes a luz de CRISTO. Em seu discurso, Paulo deu testemunho da ressurreição de CRISTO, deixando claro que o mesmo JESUS que havia vencido a morte também transformara sua vida e o comissionara a ser um instrumento para a salvação dos gentios. Nesse momento, o governador Festo o interrompeu em alta voz: “... Estás louco, Paulo! As muitas letras te fazem delirar” (Atos 26.24). Mas Paulo respondeu com firmeza: “... Não estou louco, ó excelentíssimo Festo! Pelo contrário, digo palavras de verdade e bom senso” (Atos 26.25).
Então Paulo volta-se para o rei Agripa, encurrala-o dentro das cercas da sua própria consciência e pergunta-lhe: “Acreditas, ó rei Agripa, nos profetas? Bem sei que acreditas” (Atos 26.27). Agripa, que era testemunha de todas aquelas verdades, tentando escapar, procurando fugir do cerne da questão e livrar-se das mãos do DEUS Todo-Poderoso, tergiversa, atalha, contorna, fica em cima do muro e diz: “... Por pouco me persuades a me fazer cristão” (Atos 26.28).
Agripa sente-se comovido. Na verdade, o testemunho de Paulo era verdadeiro. Agripa está cônscio de que CRISTO é o Salvador do mundo, mas, movido pelo orgulho, não abre seu coração. Com medo de perder seu prestígio político, abafa a voz da consciência, envergonhado de render-se à verdade. Agripa perde a grande oportunidade de sua vida e rejeita o evangelho. Ao recusar-se a crer em JESUS, fechou atrás de si a única porta da salvação e deixou de colocar os pés no único caminho que poderia reconciliá-lo com DEUS. Agripa ficou no quase, e o quase o deixou imerso nas trevas mais espessas.
A audiência chegou ao fim, os convidados se dispersaram, e a opinião de Agripa é a de que Paulo poderia ter sido solto caso não tivesse apelado para César. Ir a Roma não era apenas um desejo de Paulo, mas também um propósito de DEUS. E para lá é que o apóstolo dos gentios deve ir. Capítulo 10 - A viagem de Paulo a Roma
Nós escolhemos o destino da nossa viagem, mas não a maneira de chegarmos lá. Planejamos as coisas, mas não temos o poder de garantir sua execução. Muitas vezes, planejamos uma coisa e acontece outra. Fazemos planos, mas a resposta certa vem do Senhor. O sonho de Paulo era ir a Roma, mas ele chega à cidade de Roma preso, depois de um naufrágio, após perder tudo.
A nossa vida é como uma viagem, às vezes tempestuosa. Muitos escritores têm retratado a vida como uma viagem. Homero, em seu livro Odisseia1, descreve a vida como uma viagem. John Bunyan, em seu livro O peregrino2, descreve a vida do cristão como a caminhada de um homem pelos perigos até chegar ao Paraíso. Na jornada da vida, passamos por caminhos cheios de espinhos, despenhadeiros íngremes, pântanos lodacentos, pinguelas estreitas e desertos causticantes.
Essa viagem de Paulo a Roma não é uma alegoria, mas uma dramática realidade, com muitas lições oportunas.
Mesmo quando estamos fazendo a vontade de DEUS e também a nossa, encontramos tempestades pela frente. O sonho de Paulo era ir a Roma e, dali, à Espanha (Rm 1.14-16 ; 15.28). Quando Paulo foi preso em Jerusalém, DEUS lhe disse que queria que ele desse testemunho também em Roma (Atos 23.11). Portanto, era da expressa vontade de DEUS que Paulo fosse a Roma. Mas, quando ele embarcou para Roma, enfrentou uma terrível tempestade. Nem sempre estaremos na contramão da vontade de DEUS quando enfrentarmos tempestades. Quando estivermos passando por tempestades, DEUS estará nos guiando. Quando nossos olhos estiverem embaçados pelas brumas espessas e pelo nevoeiro denso da tempestade, podemos ter a garantia de que a mão de DEUS ainda estará nos dirigindo. DEUS enxerga no escuro. A tempestade pode arrancar o leme das nossas mãos, e o nosso navio pode estar fora do nosso controle, mas não fora do controle de DEUS. Podemos chegar como náufragos em uma ilha, tendo apenas a vida como despojo, mas DEUS ainda estará nos guiando para realizarmos seus soberanos propósitos (Atos 27.26). Este texto nos apresenta quatro verdades importantes: Em primeiro lugar, nas tempestades da vida precisamos estar atentos às placas de sinalização de DEUS (Atos 27.9-20). A segurança de uma viagem depende da obediência à sinalização no caminho. Desobecer à sinalização é entrar em rota de colisão e enveredar-se por caminhos de morte. Há quatro fatos dignos de nota neste texto:
A advertência (Atos 27.10). Quando Paulo e seus companheiros de viagem embarcaram para Roma, a viagem parecia segura e tranquila. Era um bom barco. Havia um comandante e marinheiros experientes. Os passageiros estavam em segurança. Mas, logo que começaram a viagem, começaram a soprar os ventos contrários (Atos 27.4). Chegou a um ponto que Paulo os admoestava, dizendo: “... vejo que a viagem vai ser trabalhosa, com dano e muito prejuízo, não só da carga e do navio, mas também da nossa vida” (Atos 27.10).
Eles não ouviram o conselho de Paulo, e logo veio um tufão e tirou o navio da mão deles. A maioria dos acidentes é provocado por pessoas que transgridem as leis, não observando as placas e as advertências à beira do caminho. Dessa maneira, elas põem em risco a sua vida e a dos outros. Um carro pode ser uma arma mortal se o seu condutor não atentar para as placas de sinalização.
Em dezembro do ano 2000, fiz uma viagem de carro com a família, de Jackson, Mississippi, à cidade de Boston, Massachusetts. Naquela semana, os noticiários alertavam para o perigo das estradas. Estava chovendo e também nevando. Preocupado com a longa viagem de mais de 2 mil quilômetros, pensei em desistir. Mas, não desejando frustrar o grande amigo pastor Dalzir da Silva, que me havia convidado para pregar em sua igreja, resolvi iniciar a viagem. Saímos bem cedo e, por volta do meio-dia, paramos para almoçar já no Estado de Alabama. Por volta das 13h30, reiniciamos a viagem. A temperatura estava abaixo de zero, e uma chuva fina caía no asfalto. De repente, entrei numa longa ponte e avistei que no final dela havia uma aglomeração de pessoas. Segundos depois, percebi que o carro estava sem controle. Não havia aderência, estávamos em cima de uma fina crosta de gelo. O carro, desgovernado, girava sobre a ponte, fazendo piruetas, enquanto clamávamos, aflitos, pela intervenção de DEUS. Em questão de segundos, atravessamos a ponte, e o carro bateu de lado no para-choque de uma picape, que também havia se desgovernado, e foi parar numa vala, entre as duas pistas. O automóvel arrebentou-se todo, mas, pela providência divina, fomos poupados da morte. Naquele dia, pude compreender que não é seguro viajar sem observar os sinais de perigo.
O descrédito (Atos 27.11). A Bíblia diz: “Mas o centurião dava mais crédito ao piloto e ao mestre do navio do que ao que Paulo dizia”. O centurião deve ter pensado: esse Paulo pode saber alguma coisa de Bíblia, mas não entende nada de mar. Assim, o centurião desprezou a advertência de Paulo e prosseguiu viagem. Não é seguro seguir pelas estradas da vida sem observar os sinais.
A voz da maioria nem sempre é a voz de DEUS (Atos 27.12). A maioria deles era de opinião que partissem e não ouvissem o conselho de Paulo. A maioria nem sempre está com a razão. A maioria nem sempre discerne a vontade de DEUS. Seguir a cabeça da maioria pode nos colocar em grandes encrencas.
Quem não escuta conselho, escuta coitado (Atos 27.13-20). O insensato tapa os ouvidos aos conselhos e colhe os frutos amargos da sua desobediência. Há cinco resultados colhidos dessa indisposição de ouvir a advertência.
Primeiro, a aparente segurança (Atos 27.13). Logo que zarparam de Creta, em desobediência à advertência de Paulo, perceberam que soprava um vento brando, e o mar estava esmaltado por águas tranquilas. Certamente, deve ter havido um buchicho dentro do navio, zombando dos conselhos de Paulo. O vento brando faz muita gente confundir as circunstâncias da vida. Por um momento, parecia que Paulo estava errado e a maioria, certa.
Segundo, o perigo (Atos 27.14). Depois do vento brando, repentinamente a circunstância mudou, e surgiu um tufão. A crise chegou. O mar se revoltou. Sempre que deixamos de observar as placas de DEUS ao longo da estrada da vida, corremos o risco de sérios acidentes. De repente, o tufão chega, a vida se transtorna, e tudo vira de cabeça para baixo. Os acidentes acontecem repentinamente. Eles surgem inesperadamente. Basta seguir no caminho sem observar as placas que mais cedo ou mais tarde o acidente acontecerá.
Terceiro, a impotência (Atos 27.15). A fúria dos ventos era tão rigorosa que eles perderam o controle do navio. O navio já não obedecia mais ao comando. O leme já não estava mais nas mãos daqueles que conduziam o batel. O navio ficou à deriva. As coisas fugiram do controle, e a vida ficou de ponta-cabeça.
Quarto, o prejuízo (Atos 27.18,19). Precisaram aliviar o navio e jogar seus bens fora para salvar a vida. Houve um grande prejuízo e muitas perdas financeiras. O caminho da desobediência é um caminho de muitos desastres, inclusive financeiro. Singrar as águas para a viagem da vida sem atender às advertências de DEUS é candidar-se ao naufrágio.
Quinto, a desesperança (Atos 27.20). Diz o historiador Lucas que “dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento”. O centurião, os marinheiros, a tripulação e os 276 prisioneiros que estavam embarcados naquele navio perderam completamente a esperança de sobrevivência. A morte parecia inevitável. Eles haviam chegado ao fim da linha, ao fundo do poço, ao desespero fatal.
Em segundo lugar, nas tempestades da vida precisamos olhar para DEUS, e não para as circunstâncias (27.21-44). O desânimo é epidêmico; ele é capaz de tirar o oxigênio da esperança de todos em questão de segundos. Apenas dez espias incrédulos levaram toda uma nação ao fracasso no deserto. O relato pessimista de dez homens provocou a morte de mais de 1 milhão de pessoas e transformou o deserto do Sinai no maior cemitério da história. A história de Israel seria muito diferente se apenas os dois espias confiantes em DEUS, Josué e Calebe, tivessem relatado os acontecimentos à nação. Vejamos algumas verdades sublimes:
Na tempestade, precisamos encorajar as pessoas (Atos 27.21,22). Quando toda a esperança se dissipou, Paulo se posicionou como um agente da vida. Ele não ficou dizendo: Eu avisei, benfeito! Agora estamos perdidos. Agora vamos morrer todos. Agora vocês se virem. É fácil pisar em quem já está caído. É fácil esmagar a cana quebrada. É fácil atar mais um fardo de culpa sobre aquele que já está derrotado pelas circunstâncias da vida. Paulo procurou uma alternativa para mudar a crise. Na tempestade, não procure culpados; procure solução. Todo problema traz uma semente de vitória!
Na tempestade, abandone o medo (Atos 27.22). No fragor da tempestade, quando todos estavam desesperados, Paulo disse: “...já agora, vos aconselho bom ânimo”. Paulo não está tomado de medo; ele está tomado de fé. O medo é inimigo da fé. O medo aumenta a sensação de perigo, drena suas forças e embaça os seus olhos.
Na tempestade, abra seus olhos para a intervenção de DEUS (Atos 27.23-26). Lembre-se, quando você estiver na sua noite mais escura, pensando que está sozinho, DEUS está com você. Ele é DEUS Emanuel, que não vai embora na hora da sua crise. Na jornada da fé, tem tempestade, mas também tem DEUS conosco. Tem fornalha ardente, mas tem o quarto Homem. Tem cova de leões, mas tem
o anjo do Senhor fechando a boca dos leões. DEUS não desampara você. Ele está com você. Paulo disse: “Porque, esta mesma noite, um anjo de DEUS, de quem eu sou e a quem sirvo, esteve comigo, dizendo: Paulo, não temas! [...] Portanto, senhores, tende bom ânimo! Pois eu confio em DEUS que sucederá do modo por que me foi dito” (Atos 27.23-25).
Na tempestade, precisamos lançar nossas âncoras (Atos 27.29). Na hora das nossas lutas, precisamos lançar as nossas âncoras. Eles lançaram quatro âncoras. Quais são essas âncoras?
Primeiro, a âncora da fé. Na tempestade, creia que DEUS está no controle. Ele ainda não completou a obra na sua vida. O último capítulo da sua vida ainda não foi escrito. Edméia Williams, uma grande amiga e irmã, pregadora das mais ilustradas, tem um ministério social de grande envergadura no morro Santa Marta, no Rio de Janeiro. Ela construiu um barraco de tábuas nesse morro para cuidar de crianças carentes. Um dia, caiu um grande temporal, e o barraco desabou. Lá estava a imprensa e muita gente questionando por que o único barraco que havia caído era o barraco da Missão Evangélica. Edméia chorou e perguntou: “DEUS, como vai ficar a tua honra?”. DEUS então segredou ao seu coração: “Para construir um edifício de três andares, eu preciso derrubar esse barraco de tábuas”. Edméia construiu um prédio de três andares no lugar em que estavam os escombros daquele barraco de tábuas. Quando as coisas parecem confusas, perdidas e olhamos para a vida e vemos um montão de escombros, DEUS pode levantar desses escombros um projeto maior e mais seguro. Em lugar de um barraco, DEUS pode lhe dar um prédio!
Segundo, a âncora da esperança. Uma coisa é lançar a âncora da esperança quando tudo dá certo; outra coisa é esperar em DEUS quando tudo parece errado. A Bíblia diz que Abraão esperou contra a esperança. Ele empurrou um carrinho de bebê aos 99 anos, mesmo sabendo que sua mulher nogentésima era estéril. Ele creu e esperou em DEUS apesar das circunstâncias, e DEUS o fez pai de grandes multidões. Em vez de lamentar e murmurar, espere em DEUS. Aquiete a sua alma, e saiba que DEUS é poderoso para o guardar da fúria dessa tempestade.
Terceiro, a âncora da oração (Atos 27.29). Quando os recursos da terra acabam, os recursos de DEUS continuam ilimitados. Quando o homem trabalha, o homem trabalha; mas, quando o homem ora, DEUS trabalha. Eles começaram a orar para o dia romper. Ore para o seu dia romper. Ore para que a luz chegue. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã. Quando o dia amanheceu (Atos 27.39), eles chegaram a uma ilha. Eles perderam tudo, mas se agarraram à vida como o maior patrimônio. DEUS nos leva para onde nós nunca esperamos, para a realização de seus planos soberanos.
Quarto, a âncora da certeza (Atos 27.26). Paulo disse aos náufragos: “... é necessário que vamos dar a uma ilha”. Existem coisas que são necessárias. Era necessário dar a uma ilha (Atos 27.26), porque ali DEUS tinha um campo missionário para o apóstolo Paulo. É necessário passar pela tempestade. Esse necessário de DEUS levou Paulo para uma ilha como sobrevivente, como náufrago, sem nada. Às vezes, as pessoas pensam que vamos sair da tempestade ricos e abastados, mas Paulo saiu dessa tempestade só com a vida, e foi a partir daí que DEUS começou um novo projeto em sua história!
Em terceiro lugar, nas tempestades da vida precisamos nos distinguir dos demais (Atos 28.1-6). A tempestade é como uma encruzilhada: uns tomam o caminho certo, outros seguem pelas veredas da morte. A crise sempre revela quem somos: ela aponta os vencedores e denuncia os covardes. É do ventre da crise que surgem os maiores líderes. O texto em apreço ensina-nos quatro preciosas lições.
Aproxime-se da fogueira (Atos 28.1,2). Quando chegaram à ilha de Malta, estava chovendo e fazendo frio (Atos 28.2). Os bárbaros malteses cuidaram daqueles tripulantes e de 276 prisioneiros com singular humanidade, acendendo uma fogueira para eles. Na tempestade, precisamos lutar pela vida. Não adianta ficar revoltado com a crise, perder o ânimo de continuar lutando. Não adianta desesperar-se nem revoltar-se contra DEUS. Há pessoas que, quando começam a ter lutas, procuram se afastar da luz, fecham o coração para DEUS, endurecem a cerviz e se unem com gente ainda mais amargurada. A luta não é um ponto final, mas uma escada para você ir de fé em fé, de força em força e de glória em glória. Na tempestade, volte-se para DEUS. Mantenha seu coração aquecido pela devoção. Não desista de lutar pela vida, glorifique a DEUS. Aproxime-se do calor.
Cate gravetos para alimentar a fogueira (Atos 28.3). O centurião, os marinheiros e os presos estavam todos apenas desfrutando do calor da fogueira. Eles só estavam pensando em resolver o problema imediato e nada fizeram para alimentar aquela fogueira. Paulo, porém, buscou gravetos para jogar na fogueira. Ele disse: eu vou ajudar, vou arranjar mais combustível para esse fogo. Você precisa fazer investimento para o futuro. Você precisa de azeite na sua candeia. Você precisa de combustível para alimentar as chamas que o aquecem.
As víboras estão soltas;cuidado com elas (Atos 28.3). As víboras se manifestarão quando você estiver buscando aquecer sua vida. Quando Paulo estava jogando um feixe de gravetos na fogueira, uma víbora grudou na mão dele. Então os malteses disseram: “... Certamente, este homem é assassino, porque, salvo do mar, a Justiça não o deixa viver” (Atos 28.4). Os malteses, sem saber, estavam desenterrando o passado de Paulo. De fato, ele tinha sido um assassino. Ele foi um cruel perseguidor da igreja. Quando o sinédrio apedrejou o diácono Estêvão, os algozes depositaram suas vestes aos pés de Paulo. Quando, porém, o diabo vier lembrar a você o seu passado, lembre-o do futuro dele. O seu passado já foi resolvido na cruz. Lá seus pecados foram cancelados. Mas o futuro do diabo é o lago de fogo, onde será atormentado eternamente.
Jogue a víbora no fogo (Atos 28.5). Paulo balançou a mão e jogou a víbora no fogo. Ele tirou o veneno da sua vida. Use o escudo da fé e apague esses dardos inflamados do diabo. Não abra brechas em sua vida para essas investidas do inimigo. A especialidade do inimigo é lançar veneno. O diabo é a antiga serpente. Essa serpente é sagaz, sedutora e mortífera. Precisamos lançar a víbora no fogo e sacudir de nós esse veneno!
Em quarto lugar, nas tempestades da vida precisamos ser fortalecidos pelas promessas de DEUS (Atos 28.2-10). O texto em apreço tem quatro promessas preciosas que são tônico para o coração e lenitivo para a alma.
DEUS pode levantar pessoas desconhecidas para ajudar você (Atos 28.2). DEUS levantou os bárbaros para ajudar Paulo e seus companheiros de viagem. DEUS pode levantar os ímpios, seus parentes, gente de longe, para abençoar você, para ajudá-lo em sua crise. DEUS pode fazer coisas inusitadas para socorrê-lo em sua aflição. Quando os seus recursos acabam, os celeiros de DEUS ainda continuam abarrotados. Ponha sua confiança no provedor, mais do que na provisão.
DEUS é poderoso para o proteger de todo o mal (Atos 28.6). “mas eles esperavam que ele viesse a inchar ou a cair morto de repente...”. O poder do livramento de DEUS é maior do que o veneno da víbora. Maior é aquele que está em nós do que aquele que está no mundo. DEUS é o nosso escudo. Ele é o nosso protetor. Estamos escondidos com CRISTO em DEUS. Ele é a nossa cidade-refúgio. Estamos seguros nos braços do Eterno.
Aqueles que rotularam você terão de mudar de parecer a seu respeito (Atos 28.6). As mesmas pessoas que disseram que Paulo era um assassino, que esperavam que ele fosse inchar e cair morto, mudaram de parecer acerca dele. Quando você cuida do seu caráter, DEUS cuida da sua reputação. Quando você anda de forma irrepreensível, os críticos terão de se render à verdade incontroversa de que você é de DEUS e terão de mudar de parecer a seu respeito.
A ilha do seu naufrágio pode ser a terra da sua oportunidade (Atos 28.10). Paulo chegou a Malta como um prisioneiro e um náufrago, depois de perder tudo. Mas ele ora pelo pai de Públio, o homem principal da ilha, e ele é curado (Atos 28.8). À vista disso, os demais enfermos da ilha vieram, e foram curados (Atos 28.9). Então abastecem Paulo de tudo o que ele precisava para sua viagem a Roma. Agora, podemos entender por que Atos 27.26 diz que era necessário a Paulo dar a uma ilha. A ilha de Malta não era um acidente, mas uma agenda. Não foi a tempestade que os levou a Malta, mas a mão providente de DEUS. A ilha de Malta estava nos planos de DEUS. Quando você vir as coisas fugindo de controle e sua vida à deriva, saiba que a mão de DEUS pode estar conduzindo o barco da sua vida para que você cumpra propósitos mais elevados. Quando você olhar para o cenário da vida e só enxergar escuridão e não conseguir mais enxergar a luz do céu nem o brilho das estrelas, saiba que DEUS enxerga no escuro e ele está dirigindo você para o centro da sua soberana vontade. Um milagre de DEUS está a caminho, na sua direção. O que é dificuldade para você é oportunidade para DEUS. Glorifique o Senhor!
1. HOMERO. Odisseia. Rio de Janeiro:Ediouro, 2000.
2. BUNYAN, John. O peregrino. São Paulo: Mundo Cristão, 2000. Capítulo 11 - A primeira prisão em Roma
Paulo desejou ir a Roma várias vezes, mas sempre foi impedido de realizar seu sonho (Rm 1.1-13). Queria chegar à capital do império e visitar os crentes com alegria para recrear-se no meio deles (Rm 15.32). Tinha convicção de que chegaria à igreja de Roma na plenitude da bênção de CRISTO (Rm 15.29). Também desejava fazer da igreja de Roma seu novo quartel general, sua base missionária para chegar à Espanha, última fronteira do império do lado ocidental (Rm 15.24,28).
O tempo de DEUS não é o nosso. Paulo foi impedido de ir a Roma no tempo que queria ir e da forma que desejava. Porque não pôde visitar a igreja de Roma dentro desse tempo planejado por ele, acabou escrevendo à igreja. Se Paulo tivesse visitado a igreja, talvez fôssemos privados desse grande tesouro que é sua carta aos Romanos. Quando nossos caminhos parecem fechados, DEUS está abrindo-nos uma porta maior. Os propósitos de DEUS não podem ser frustrados. Os caminhos de DEUS são mais altos do que os nossos. Os impedimentos de DEUS estavam na agenda de DEUS para um benefício maior, não apenas da igreja de Roma, mas de todos os cristãos, de todos os tempos.
Contudo, a visita de Paulo a Roma não era apenas sonho de Paulo; era também projeto de DEUS. Quando Paulo foi preso em Jerusalém, ao testemunhar ousadamente perante o sinédrio judaico, o próprio DEUS apareceu a ele numa visão e lhe disse: “... Coragem! Pois do modo por que deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (Atos 23.11).
Diante da pusilanimidade do rei Festo, que estava inclinado a ceder à pressão e sedução dos judeus para entregar Paulo nas mãos de seus patrícios, este apelou para ser julgado em Roma (Atos 25.10), no que foi imediatamente atendido (Atos 25.12).
Como vimos no capítulo anterior, sua viagem para Roma foi tumultuada e cheia de percalços. Paulo chegou a Roma como um prisioneiro depois de enfrentar um terrível naufrágio. Durante dois anos, ficou detido numa prisão domiciliar em Roma (Atos 28.30), na companhia de um soldado da guarda pretoriana, que o guardava (Atos 28.16; Fp 1.13). Nessa prisão domiciliar, numa casa alugada por ele mesmo, tinha liberdade para receber as pessoas e instruí-las (Atos 28.23). Nesse tempo, pregou o reino de DEUS com toda a intrepidez, e sem nenhum impedimento ensinava as coisas referentes ao Senhor JESUS CRISTO (Atos 28.31).
Paulo, um escritor prolífico
Paulo foi o maior escritor da nova dispensação. Escreveu treze dos 27 livros do Novo Testamento. De Corinto, escreveu suas duas cartas à igreja de Tessalônica, nas quais fez uma sublime abordagem sobre a escatologia, a doutrina das últimas coisas, e a carta aos gálatas, uma consistente e robusta defesa da fé cristã. De Éfeso, escreveu suas duas cartas a Corinto. A primeira carta para resolver sérios problemas que estavam minando a igreja, como divisões, intrigas, imoralidade, desvios quanto à liberdade cristã, à doutrina da ceia, dos dons e da ressurreição. Na segunda carta, a missiva mais pessoal do apóstolo, ele faz uma defesa contundente do seu apostolado. No fim da terceira viagem missionária, antes de viajar para Jerusalém, possivelmente de Corinto, escreveu sua carta aos romanos, o maior tratado teológico do Novo Testamento.
De sua primeira prisão em Roma, Paulo escreveu quatro cartas: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. A carta aos efésios é o maior tratado eclesiológico do Novo Testamento. A carta aos colossenses foca sua atenção na doutrina de CRISTO, sendo um robusto compêndio de cristologia. A carta a Filemom é uma epístola pessoal do apóstolo, dirigida a um crente de Colossos, cuja igreja se reunia em sua casa. Paulo escreve a Filemom para realçar a necessidade de ele perdoar o seu escravo fugitivo, Onésimo, agora convertido e filho na fé do velho apóstolo. Sua última carta da primeira prisão foi Filipenses. Esta é a missiva da alegria. Nessa carta, Paulo testemunha que as coisas que lhe aconteceram contribuíram para o progresso do evangelho (Fp 1.12). Que coisas aconteceram a Paulo? Ele foi perseguido em Damasco, rejeitado em Jerusalém, esquecido em Tarso, apedrejado em Listra, açoitado e preso em Filipos, escorraçado de Tessalônica, enxotado de Bereia, chamado de tagarela em Atenas e de impostor em Corinto. Enfrentou feras em Éfeso, foi preso em Jerusalém, acusado em Cesareia. Enfrentou um naufrágio na viagem para Roma e foi picado por uma cobra em Malta. Chegou a Roma preso e algemado. Estava, agora, na antesssala do martírio, no corredor da morte, com o pé na sepultura e a cabeça na guilhotina de Roma. Mas olhava para essas circunstâncias pelos óculos da providência divina, dizendo que elas, longe de destruí-lo, contribuíram para o progresso do evangelho.
Paulo, um embaixador em cadeias
Paulo jamais se considerou prisioneiro de César, mas prisioneiro de CRISTO. Jamais murmurou atribuindo a Satanás suas cadeias. Embora Satanás tenha intentado contra ele, nunca Paulo o considerou como o agente de seus sofrimentos. Quem estava no comando de sua agenda não era o inimigo, mas DEUS. Paulo não acreditava em casualidade nem em determinismo. Ele sabia que a mão da Providência o guiava até mesmo na prisão. Ele foi perseguido, odiado, caluniado, açoitado, enclausurado, mas jamais viu os seus adversários como agentes autônomos nessa empreitada. Ele sempre olhou para os acontecimentos na perspectiva da soberania e do propósito de DEUS. Considerava-se embaixador em cadeias. Estava preso, mas a Palavra de DEUS estava livre. Paulo considerava o evangelho mais importante que o evangelista; a obra, mais importante que o obreiro. A divulgação do evangelho é mais importante que o mensageiro. Por isso, na prisão Paulo foca sua atenção na proclamação do evangelho, e não em si mesmo. Não importa se o obreiro vive ou morre, desde que o evangelho seja anunciado (Fp 1.20). Porque ele estava preso, três coisas maravilhosas aconteceram:
Em primeiro lugar, a igreja tornou-se mais ousada para pregar. Eis o testemunho do veterano apóstolo: “e a maioria dos irmãos, estimulados no Senhor por minhas algemas, ousam falar com mais desassombro a palavra de DEUS” (Fp 1.14). A perseguição não pode destruir a obra de DEUS. Pelo contrário, ela a promove. A igreja de DEUS jamais foi destruída por tribulações e cadeias. As cadeias de Paulo foram um tônico para a igreja, combustível para alimentar a evangelização.
Em segundo lugar, toda a guardapretoriana conheceu o evangelho. Paulo faz o seguinte registro: “de maneira que as minhas cadeias, em CRISTO, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais” (Fp 1.13). A guarda pretoriana era corporação de elite do palácio do imperador. Era a guarda de escol do império, a guarda imperial de Roma. Era a tropa de elite instalada no palácio do imperador. Tratava-se de soldados que transitavam no palácio e cuidavam da proteção do próprio imperador. Foi instituída por Augusto e compreendia um corpo de 10 mil soldados escolhidos. Augusto a havia mantido dispersa por toda a Roma e aldeias. Tibério a concentrou em Roma, em um edifício especial com um campo fortificado. Vitélio aumentou o número dessa guarda para 16 mil. Ao final de dezesseis anos de serviço, esses soldados recebiam a cidadania romana. Essa guarda passou a ser quase o corpo de guarda privado do imperador. Nos dois anos em que Paulo ficou preso em Roma, aproveitou o ensejo para evangelizar cada soldado encarregado de sua segurança. O rodízio dessa guarda era um verdadeiro campo missionário para o embaixador em cadeias. Ao cabo de dois anos, toda a guarda pretoriana e todos os demais ouviram as boas-novas do evangelho. Dia e noite, durante dois anos, Paulo era preso a um soldado dessa guarda por uma algema. Visto que cada soldado cumpria um turno de seis horas, a prisão de Paulo abriu caminho para a pregação do evangelho no regimento mais seleto do exército romano, a guarda imperial. Paulo, no mínimo, podia pregar para quatro homens todos os dias. Toda a guarda pretoriana sabia a razão pela qual Paulo estava preso, e muitos desses soldados foram alcançados pelo evangelho. O resultado é que Paulo encontrou um campo aberto para a evangelização dentro do próprio palácio. Quando escreveu sua carta aos filipenses, ao remeter saudações à igreja de Filipos, os crentes de Roma enviam saudações àquela igreja coirmã, e Paulo assim escreve: “Todos os santos vos saúdam, especialmente os da casa de César” (Fp 4.22).
Em terceiro lugar, Paulo escreveu cartas que abençoam o mundo. Porque Paulo estava preso, impedido de visitar as igrejas, escreveu cartas. Porque ele era prisioneiro de CRISTO (Ef 3.1; 4.1) e embaixador em cadeias (Ef 6.20), pastoreou as igrejas a distância por meio de suas missivas. Essas epístolas (Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom) são verdadeiros tesouros que têm edificado a igreja e fortalecido os cristãos ao longo dos séculos. Certamente o que mais contribuiu para o progresso do evangelho foram essas cartas que Paulo escreveu da prisão. Elas são luzeiros a brilhar. Têm sido instrumento para levar milhões de pessoas a CRISTO e edificar o povo de DEUS ao longo dos séculos.
Dessa prisão, Paulo saiu. E, ao sair, visitou as igrejas, deixando Timóteo em Éfeso, Tito em Creta, e percorrendo outras regiões, sempre levando a edificação ao povo de DEUS. Alguns escritores pensam que nesse tempo Paulo também visitou a Espanha.
No espaço entre sua primeira e segunda prisões, Paulo escreveu duas cartas pastorais: a primeira carta a Timóteo e a carta a Tito, nas quais orientou seus cooperadores como proceder na igreja de DEUS.
O velho apóstolo era como uma vela acesa: brilhava com a mesma intensidade até acabar. Paulo era um homem incansável, um espírito irrequieto, um evangelista superlativo, um pregador incomparável. Depois de plantar igrejas nas quatro províncias romanas - Galácia, Macedônia, Acaia e Asia Menor -, deixa também sua marca na igreja de Roma, ainda que recolhido a uma prisão.
Paulo não granjeou riquezas, mas enriqueceu muitos. Paulo não tinha nada, mas possuía tudo. Paulo não teve filhos naturais, mas gerou milhares de filhos espirituais. Paulo não se casou, mas orienta em suas cartas milhões de casais ainda hoje. Suas cartas inspiradas são monumentos da graça. Seu exemplo, um legado para a igreja em todos os tempos. Suas cadeias, fonte de inspiração para todos os cristãos. Sua morte, uma oferta de libação ao Senhor. Capítulo 12 - A segunda prisão em Roma e o martírio
A primeira prisão de Paulo foi por motivação religiosa; a segunda, por motivos políticos. A primeira prisão estava ligada à perseguição judaica; a segunda, vinculada ao decreto do imperador. Da primeira prisão, Paulo saiu para dar continuidade à obra missionária; da segunda prisão, para o martírio.
No ano 49 d.C., o imperador Cláudio expulsou de Roma todos os judeus (Atos 18.2). Muitos deles, a essa altura, já eram cristãos. Mas no ano 64 d.C. houve um terrível incêndio em Roma, e o imperador Nero pôs a culpa dessa tragédia nos judeus e cristãos.
Nero chegou ao poder em outubro do ano 54. Insano, pervertido e mau, era filho de Agripina, mulher promíscua e perversa. Na noite de 18 de julho de 64, um incêndio catastrófico estourou em Roma. O fogo durou seis dias e sete noites. Dez dos quatorze bairros da cidade foram destruídos pelas chamas vorazes.
Segundo alguns historiadores, o incêndio foi provocado pelo próprio Nero, que assistiu a ele do topo da torre de Mecenas, no cume do Paladino, vestido como um ator de teatro, tocando sua lira e cantando versos acerca da destruição de Troia. Pelo fato de dois bairros onde havia grande concentração de judeus e cristãos não terem sido atingidos pelo incêndio, Nero encontrou uma boa razão para culpar os cristãos pela tragédia.
Daí em diante, eclodiu uma sangrenta perseguição contra os cristãos. No governo de Nero, o apóstolo Paulo foi preso e decapitado. Muitas foram as atrocidades e crimes bárbaros que foram perpetrados contra os cristãos nessa época.
Milhares foram amarrados em postes e incendiados vivos, para iluminar as praças e os jardins de Roma à noite. Outros, segundo o historiador Tácito, foram jogados nas arenas, enrolados em peles de animais, para que cães famintos os matassem a dentadas. Outros, ainda, foram lançados no picadeiro para que touros enfurecidos os pisoteassem e esmagassem. A loucura de Nero só não foi mais longe porque em 68 boa parte do império se rebelou contra ele, e o senado romano o depôs. Desesperado, sem ter para onde ir, suicidou-se.
No tempo em que explodiu essa brutal perseguição, Paulo estava fora de Roma, visitando as igrejas. Por ser o líder maior do cristianismo, tornou-se alvo dessa ensandecida cruzada de morte. Possivelmente, quando estava em Trôade, na casa de Carpo, Paulo foi preso pelos agentes de Nero e levado a Roma para ser lançado numa masmorra úmida, fria e insalubre. Dessa prisão, ele escreveu sua última missiva, a segunda carta a Timóteo. Nessa epístola, ele não pede orações para sair da prisão nem tem qualquer expectativa de prosseguir em seu trabalho missionário. O velho
apóstolo está convencido de que a hora de seu martírio havia chegado.
Ele está agora fechando as cortinas da vida, fazendo um balanço da sua jornada. Pelas lentes do antropocentrismo idolátrico, Paulo encerra a carreira numa grande depressão. Ele que se havia entregado de corpo e alma à causa do evangelho, estava agora sozinho numa masmorra romana, sem dinheiro, sem amigos e passando privações.
Destacaremos alguns pontos fundamentais acerca das atitudes desse bandeirante da fé no momento em que ele estava no corredor da morte.
A vida não é simplesmente viver; a morte não é simplesmente morrer
Em 2Timóteo 4.6-8, Paulo faz uma profunda análise do seu ministério e, antes de fechar as cortinas da sua vida, abre-nos uma luminosa clareira com respeito ao seu passado, presente e futuro. Acompanhemos sua análise:
Em primeiro lugar, Paulo olhou para o passado com gratidão (2Tm 4.7). Paulo está passando o bastão a seu filho Timóteo, mas, antes de enfrentar o martírio, relembra-o de como havia sido sua vida: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. A vida para Paulo não foi uma feira de vaidades nem um parque de diversões, mas um combate renhido. O apóstolo pode morrer tranquilo porque havia concluído sua carreira, e isso era tudo o que lhe importava (Atos 20.24). Mas também deixa claro que nessa peleja jamais abandonou a verdade nem negou a fé. Não morre bem quem não vive bem. A vida é mais do que viver, e morrer é mais do que morrer.
Em segundo lugar, Paulo olhou para o presente com serenidade (2Tm 4.6). O veterano apóstolo sabe que vai morrer. Mas não é Roma que vai lhe tirar a vida; é ele quem vai oferecê-la a DEUS. Assim escreve Paulo: “Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado”. Numa linguagem eufêmica, Paulo fala da sua morte como uma partida. A palavra grega analyses, “partida”, era usada em três circunstâncias: Primeira, significa aliviar alguém de uma carga. A morte para Paulo era descansar de suas fadigas (Ap 14.13). Segunda, significa levantar acampamento e deixar a tenda temporária para voltar para casa. A morte para Paulo era mudar de endereço. Era deixar o corpo e habitar com o Senhor (2Co 5.8). Era partir e estar com CRISTO, o que é incomparavelmente melhor (Fp 1.23). Terceira, significa desatar o barco e singrar as águas do rio e atravessar para o outro lado. A morte para Paulo era fazer a última viagem da vida, e esta rumo à Pátria celestial. A morte não intimidava Paulo. Ele chegou a afirmar: “... para mim, o viver é CRISTO, e o morrer é lucro” (Fp 1.21).
Em terceiro lugar, Paulo olhou para o futuro com esperança (2Tm 4.8). A gratidão do dever cumprido, associada à serenidade de saber que estava indo para a presença de JESUS, dava a Paulo uma gostosa expectativa do futuro. Mesmo que Nero o condenasse e o tribunal de Roma o considerasse culpado, o reto e justo Juiz o consideraria inocente e lhe daria a coroa da justiça. Como que num brado de triunfo diante do martírio, Paulo proclama: “Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia...” (2Tm 4.8).
A vitória não é ausência de lutas, mas triunfo apesar delas
O céu não é aqui. Aqui não pisamos tapetes aveludados nem caminhamos em ruas de ouro, mas cruzamos vales de lágrimas. Aqui não recebemos os galardões, mas bebemos o cálice da dor. Paulo certamente foi a maior expressão do cristianismo. Viveu de forma superlativa e maiúscula. Pregador incomum, teólogo incomparável, missionário sem precedentes, evangelista sem igual. Viveu perto do Trono, mas, ao mesmo tempo, foi açoitado, preso, algemado e degolado. Tombou como mártir na terra, mas levantou-se como príncipe no céu. Ele não foi poupado dos problemas, mas triunfou no meio deles. Que tipo de luta Paulo enfrentou na antessala do seu martírio?
Em primeiro lugar, Paulo enfrentou a solidão (2Tm 4.9,11,21). Paulo estava numa cela fria, precisando de um ombro amigo. Sua espiritualidade não anula sua humanidade. Ele roga a Timóteo que venha depressa ao seu encontro. Pede a seu filho na fé para vir antes do inverno e trazer também João Marcos. O gigante do cristianismo está precisando de gente amada ao seu lado, antes de caminhar para o patíbulo. Sua comunhão com DEUS não o tornava um super-homem. Dentro do seu peito, batia um coração sedento por relacionamento.
Em segundo lugar, Paulo enfrentou o abandono (2Tm 4.10). Paulo passou a vida investindo na vida das pessoas, e, na hora que mais precisou de ajuda, foi abandonado e esquecido na prisão. Caminhou sozinho para o Getsêmani do seu martírio, assistido apenas pela graça de DEUS.
Em terceiro lugar, Paulo enfrentou a ingratidão (2Tm 4.16). Paulo se arriscou pelos outros; mas ninguém compareceu em sua primeira defesa para estar do seu lado ou falar em seu favor. Mais perturbador do que o frio gelado que se avizinhava pela chegada do inverno, era a geleira da ingratidão que Paulo tinha de suportar no apagar das luzes de sua jornada na terra.
Em quarto lugar, Paulo enfrentou a perseguição (2Tm 4.14). Alexandre, o latoeiro, causou-lhe muitos males, resistindo a ele e à sua mensagem. Os historiadores dizem que foi esse Alexandre que delatou Paulo, resultando em sua segunda prisão e consequente martírio na cidade de Roma. Alexandre tornou-se inimigo do mensageiro e da mensagem.
Em quinto lugar, Paulo enfrentou as privações (2Tm 4.13). Paulo precisava de amigos para a alma, livros para a mente e a capa para o corpo. Ele tinha necessidades físicas, mentais e emocionais. As prisões romanas eram frias, insalubres e escuras. Os prisioneiros morriam de lepra e outras doenças contagiosas. O inverno se aproximava, e Paulo precisava de uma capa quente para enfrentá-lo. Paulo também precisava de livros e dos pergaminhos. Paulo estava no corredor da morte, mas queria aprender mais. Paulo precisava de amigos, roupa e livros. Precisava de provisão para a alma, a mente e o corpo.
Abandonado pelos homens, mas assistido por DEUS
O apóstolo dos gentios não está encerrando, frustrado, a carreira. Não está com a alma amargurada. As agruras da terra não empalidecem as glórias do céu. A ingratidão dos homens não enfraquece a assistência abundante de DEUS. A graça de DEUS assistiu Paulo na hora da morte.
Quatro verdades devem ser aqui destacadas:
Em primeiro lugar, Paulo foi abandonado pelos homens, mas assistido por DEUS (2Tm 4.17). Paulo foi vítima do abandono dos homens, mas foi acolhido e assistido por DEUS. Assim como JESUS foi assistido pelos anjos no Getsêmani quando seus discípulos dormiram, Paulo também foi assistido por DEUS na hora da sua dor mais profunda. DEUS não nos livra do vale, mas caminha conosco no vale. DEUS não nos livra da fornalha, mas nos livra na fornalha. DEUS não nos livra da cova dos leões, mas nos livra na cova dos leões. Às vezes, DEUS nos livra da morte; outras vezes, DEUS nos livra através da morte. Em toda e qualquer situação, DEUS é o nosso refúgio.
Em segundo lugar, Paulo não foi poupado das provas, mas recebeu poder para suportá-las (2Tm 4.17). DEUS revestiu Paulo de forças para que continuasse pregando até o fim. Paulo foi preso, mas a Palavra estava livre e espalhou-se para todos os gentios. Paulo foi levado ao patíbulo e decapitado, mas sua voz ainda ecoa nos ouvidos da história. Suas cartas são luzeiros no mundo.
Em terceiro lugar, DEUS não livrou Paulo da morte, mas na morte (2Tm 4.18). Paulo não foi poupado da morte, mas libertado através da morte. A morte para ele não foi castigo, perda ou derrota, mas vitória. O aguilhão da morte foi tirado. Morrer é lucro, é precioso, é bem-aventurança, é ir para a Casa do Pai, é entrar no céu e estar com CRISTO.
Em quarto lugar, Paulo não termina a vida com palavras de decepção, mas com um tributo de glória ao Salvador (2Tm 4.18b). Paulo foi perseguido, rejeitado, esquecido, apedrejado, fustigado com varas, preso, abandonado, condenado à morte, degolado, mas, em vez de fechar as cortinas da vida com pessimismo, amargura e ressentimento, termina erguendo ao céu um tributo de louvor ao Senhor.
Posso imaginar a cena... O carrasco recebe um pedaço de couro com o nome de um prisioneiro. Munido de uma tocha de fogo e com um pesado molho de chaves, atravessa longos corredores escuros e gelados. Abre uma pesada porta de ferro e grita com voz cavernosa: “Prisioneiro Paulo! Prisioneiro Paulo! Prisioneiro Paulo!”. Do fundo da cela, o velho apóstolo, que trazia as marcas de CRISTO no corpo e uma paz transcendente na alma, responde com firmeza: “Sou eu, estou aqui!”. Paulo é acorrentado e sai da masmorra, atravessando o corredor da morte. Depois de uma longa caminhada, chegam ao lugar do patíbulo. Antes de colocar a cabeça de Paulo num tosco cepo de madeira para decepá-la com a guilhotina romana, o capataz da morte lhe dá a chance de proferir suas últimas palavras. Esperando que o velho prisioneiro soltasse algum gemido de dor ou algum grito de revolta ou desespero, Paulo, de forma imperturbável, com alegria na alma, ergue ao céu sua última doxologia: “A ele, [o Senhor JESUS CRISTO] glória pelos séculos dos séculos. Amém” (2Tm 4.18b). A guilhotina afiada, impiedosa e implacável faz tombar na terra esse príncipe de DEUS. Sua morte, entretanto, não calou sua voz. Suas cartas ainda falam. Sua voz póstuma é poderosa. Milhões de pessoas são abençoadas ainda hoje pela sua vida e pelo seu legado. Cabe-nos, tão-somente, agora, imitar esse homem como ele imitou CRISTO (1Co 11.1).
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BILBIA DA LIDERANÇA CRSTÃ - ATOS DOS APOSTOLOS
Os seguidores de JESUS se transformam em líderes
Resumo
Atos dos Apóstolos é um livro de ação. Observe bem que ele é chamado de "atos" ou "ações" e não de "reações". Ele relata a iniciativa e a ação do ESPÍRITO SANTO na vida dos discípulos, que até pouco antes eram covardes, inseguros e ignorantes. Esses homens, que, durante três anos, aprenderam a seguir JESUS, agora estavam aprendendo a serem líderes!
Neste livro, que é uma seqüência de seu Evangelho, Lucas relata que aqueles primeiros discípulos mobilizaram a Igreja de maneira tão eficiente a ponto de alcançarem cidades inteiras (At 9.35) e fartaram todas as terras com o evangelho (At 19.10).
A ação descrita neste livro revela como DEUS delegou poder a homens e mulheres que decidiram ser representantes de DEUS pelo poder do ESPÍRITO SANTO. Eles se determinaram a ser pessoas de influência. Apesar de suas carências em atributos humanos, eles começaram a ter influência na sociedade. DEUS concretizou isso por meio de pessoas comuns, com um mínimo de instrução, de vivência política ou prestígio (ICo 1.26).
Pedro, o pescador, tornou-se o Líder da igreja em Jerusalém. Filipe tornou-se o primeiro missionário para grupos transculturais. Estêvão tomou partido contra os falsos líderes religiosos de seus dias e, com isso, tornou-se o primeiro mártir. Barnabé e Paulo ajudaram a primeira comunidade da Antioquia a preparar, enviar e também liderar uma equipe missionária.
Esses líderes realizaram muito, porque eles estavam sendo governados pelas prioridades de DEUS, encarnavam o poder de DEUS, estavam motivados pelos propósitos de DEUS, permaneciam dependentes das provisões de DEUS e preparavam o povo de DEUS. Todos estavam envolvidos nessa tarefa. Líderes equipam seus seguidores e encorajam a Igreja, enquanto ela se adentra nessas culturas. Os milagres se espalhavam. A comunidade tinha todo cuidado com as necessidades que iam aparecendo no meio do povo.
Na medida em que você for lendo o livro, note quantos líderes surgiram do meio da Igreja. Muitos deles não eram apóstolos. Nós deveríamos prestar atenção no povo leigo. Agora, todo mundo parece estar comprometido com a visão de causar um impacto no mundo em favor de CRISTO.
O papel de DEUS em Atos
DEUS encheu essas pessoas comuns com o ESPÍRITO SANTO e ordenou-lhes que influenciassem o mundo todo. Os milagres iam acontecendo, e DEUS ia confirmando sua palavra seguida de sinais (Mc 16.17-18). JESUS apareceu pessoalmente a Paulo de Tarso, a fim de chamá-lo para tornar-se seu apóstolo (At 9.1-9). O ESPÍRITO SANTO fundou a primeira Igreja sustentada na pureza, de maneira que ele pôde capacitá-la sem impedimentos. DEUS confia seu poder aos puros. Observe esta seqüência: primeiro, a pureza: depois, o poder; depois, a proclamação e, finalmente, o poder de influenciar a sociedade.
Líderes em Atos dos Apóstolos
Pedro e os primeiros apóstolos, Gamaliel e o Sinédrio, Estêvão, Filipe, Áqüila e Priscila, Paulo, Barnabé, Festo, Apoio, Silas
Outras pessoas de influência em Atos
O principal grupo de pessoas que estavam no Cenáculo, Lídia, Lucas, Timóteo, os negociantes de Efeso, a família da igreja de Antioquia
Lições de liderança
• O poder do ESPÍRITO SANTO mais a liderança obediente são iguais ao crescimento da igreja.
• DEUS levanta líderes com o intuito de levar todas as pessoas para si.
• Líderes quebram barreiras e unem as coisas familiares e não-familiares.
• Quanto mais líderes a Igreja tiver, mais ela terá seguidores.
• Não há sucesso sem sacrifício.
• A força viva vem como resultado da unidade.
• Líderes passam a prosperar quando não têm de lutar pela sobrevivência.
Destaque de liderança em ATOS
CARISMA: Pedro foi um ímã (2.1-41)
PEDRO: O líder mais hábil no improviso e na capacidade de dar reviravoltas (3.1-26)
GENEROSIDADE: Ananias e Safira apenas fingiram (5.1-11)
PEDRO E A LEI DAS PRIORIDADES: Líderes compreendem que atividade não significa cumprimento (6.1-7)
COMPROMETIMENTO: Estêvão sabia o que tinha valor e o que não tinha (7.2-60) — p. 948 FILIPE: Um homem comum, resultados extraordinários (8.5-8)
BARNABÉ E A LEI DA DELEGAÇÃO DO PODER: Somente líderes seguros delegam poder a outros (9.27)
CARÁTER: Herodes teve falta dele e perdeu tudo (12.1-23)
EDUCABILIDADE: Apoio aprendeu e cresceu (18.24-28)
ÁQÜILA E PRISCILA: Líderes que prepararam mais líderes (18.24-28)
FÉLIX, FESTO E AGRIPA: Líderes que cometeram falhas (23.23—26.32)
PAULO: O líder mais influente da Igreja primitiva (26.1-33)
VISÃO: OS LIDERES COMUNICAM SUA VISÃO PARA DELEGAR PODER E DIRECIONAR
(At 1.4-8)
O Livro de Atos começa com uma explosão. JESUS fala suas últimas palavras para seus discípulos antes de subir aos céus. Embora eles, agora, já fossem líderes, mais do apenas seguidores, eles perguntaram a JESUS quando o seu Reino seriam instaurado (At 1.6). JESUS não lhes respondeu, mas lhes comunicou uma visão de como eles poderiam alcançar o mundo todo (At 1.8). Seus homens queriam ficar na defensiva, JESUS os provocou para que pensassem na ofensiva.
JESUS os instruiu para que ficassem em Jerusalém até que recebessem o poder de que necessitavam. Então, eles deveriam sair, crescendo passo a passo. Eles deveriam começar por Jerusalém, depois ir para o restante da Judéia e até aos confins da terra. Esta não era uma visão revelada por algum ser humano, mas por DEUS. Veja quais são as diferenças:
LÍDERES QUALIFICADOS DEVEM SER SELECIONADOS
(At 1.20-26)
Os apóstolos escolheram Matias para substituir Judas, que traiu JESUS e cometeu suicídio logo em seguida. Preste atenção em duas coisas.
Primeira, eles não fizeram uma eleição. O Presbi-tério da Igreja nunca é determinado por democracia no Novo Testamento. Os líderes eram selecionados e não votados.
Segunda, os apóstolos lançaram sorte várias vezes para descobrir qual era a escolha de DEUS para a posição, um método comum nos tempos bíblicos para receber a orientação do Senhor. Hoje, os cristãos recebem a orientação por meio do Novo Testamento (2Tm 3.16; Tt 1.5-9) e do testemunho do ESPÍRITO SANTO (Rm 8.14-16). Presbíteros sãos líderes escolhidos por DEUS e confirmados pela Igreja.
O Livro de Atos faz dezoito referências a presbíteros, dez diretamente relacionadas ao ministério do Presbi-tério da Igreja. As diversas palavras gregas usadas para descrever a liderança são, freqüentemente, traduzidas por palavras como "presbítero", "bispo" e "diácono". Todas elas dizem respeito à responsabilidade, à supervisão espiritual, à inspeção, ao serviço e ao ministério.
DELEGAÇÃO DE PODER: LÍDERES PRECISAM, ANTES, SER CAPACITADOS PARA, DEPOIS, PODEREM CAPACITAR
(At 2.1-4)
Líderes jamais poderão capacitar qualquer pessoa se, antes, eles não tiverem sido capacitados de modo sobrenatural. A frase "ficaram cheios do ESPÍRITO SANTO" é usada cinco vezes no Novo Testamento (At 2.4; 4.8,31; 9.17; 13.9). Toda vez que alguém fica cheio do ESPÍRITO SANTO, alguma coisa acontece. Líderes capacitados transmitem o poder de DEUS e, então, capacitam a outros.
21 Qualidades Carisma - Pedro foi um ímã
(At 2.1-41)
Atos 2 é um marco do Novo Testamento. Cento e vinte homens e mulheres constituem os membros fundadores da Igreja quando ela nasceu em uma sala do andar superior, em algum lugar de Jerusalém. Ainda ao final desse capítulo, a Igreja tem uma explosão de crescimento e eleva o número seus membros para mais de três mil pessoas.
Depois que o ESPÍRITO SANTO desceu sobre os que criam (At 2.1-4), as pessoas que visitavam Jerusalém ficaram maravilhadas de como aqueles discípulos de JESUS conseguiam falarem tantas línguas (At 2.5-13). Ao passo que alguns achavam que eles estivessem bêbados, muitos outros se sentiam confusos. O caos perecia estar reinando.
Era isso que parecia, até que Pedro resolveu tomar a palavra e falar. Este mesmo Pedro que havia fugido de medo na noite do julgamento de JESUS, agora falava sobre ele abertamente. Em poucos minutos, ele havia conseguido a atenção de todos com suas palavras instigantes. A multidão aceitou suas palavras alegremente. Por quê? Ele tinha carisma. Por meio da combinação da ligação divina e do dom do ESPÍRITO SANTO, esse líder cativou e motivou três mil pessoas a seguirem CRISTO.
Quais são os traços de um líder carismático?
Muitas pessoas pensam que carisma é uma coisa mística, quase indefinível. Eles pensam que o carisma nasce com a pessoa ou ela nunca o terá. Mas isso não é verdade. Carisma é a habilidade de conduzir as pessoas para si mesmo e para sua causa. Algumas pessoas possuem isso com mais naturalidade. Mas, da mesma forma como outros traços de caráter, carisma pode ser aprendido. Veja o que fez de Pedro um carismático (At 2.14-40).
1. Confiança
Pedro demonstrou a postura e otimismo de um animado comunicador.
2. Convicção
Ele sabia para onde estava indo e o que deveria dizer. Ele falou com a força de seu coração.
3. Ligação
Ele não pôs o foco sobre si mesmo, mas sobre os outros. Ele ligou-se como um ímã aos seus ouvintes.
4. Compaixão
Ele mostrou-se cordial e amoroso. Ele deu repostas práticas às necessidades das pessoas.
Quando ele concluiu sua mensagem, todos perguntaram: "Que faremos?" (At 2.37) Eles se sentiram motivados e prontos para agir. DEUS usou o carisma de Pedro com um ímã.
Como nós podemos nos tornar carismáticos?
O que você diz de você mesmo? Você tem carisma? A fim de você se tornar o tipo de pessoa que atrai as outras para si, siga os seguintes passos em sua vida:
1. Ame a vida. Celebre, não se queixe. Aprecie sua jornada.
2. Dê nota dez a todas as pessoas. Espere o melhor das pessoas e trate-as bem.
3. Dê esperança às pessoas. Todos querem ter esperança. Os líderes administram bem isso.
4. Doe-se aos outros. Seja sensível e verdadeiro. Compartilhe seu coração, sabedoria e recursos.
A LEI DO MAGNETISMO: LÍDERES APAIXONADOS SÃO ATRAENTES PARA OS OUTROS
(At 2.7-21)
Quando Pedro se pôs em pé para pregar, sem dúvida, a multidão viu nele os dons do poder e do propósito de DEUS, mas, antes disso, eles viram o dom da paixão que DEUS tinha lhe dado. A paixão fez com que a falta de dons naturais ou a falta de instrução de Pedro pudessem ser superadas. Visto que Pedro se tornou um ímã para, três mil pessoas se juntaram à Igreja naquele dia. Paixão atrai paixão.
DEMONSTRAÇÃO + PROCLAMAÇÃO = CREDIBILIDADE
(At 3.1-26)
Imediatamente após o Pentecostes, o movimento dos cristãos recebeu grande energia. Dois de seus líderes. Pedro e João, encontraram um homem aleijado quando estavam indo para o templo. Quando, em nome de JESUS, curaram aquele homem, eles, imediatamente, ganharam credibilidade para pregar o evangelho. Em outras palavras, uma vez que eles fizeram sua parte, conquistaram um público para que pudessem falar. Veja como Atos 3 descreve esses líderes:
1.EIes fizeram com confiança o que sabiam que deveriam fazer (v. I);
2. Eles pararam o que estavam fazendo e foram sensíveis para resolveram uma necessidade que se lhes apresentou (v. 3);
3. Eles tiveram coragem de encarar os problemas (v. 4);
4. Outros se anteciparam, recebendo soluções dadas por eles (v. 5);
5. Eles, naturalmente, admitiram sua falta de recursos materiais (v. 6);
6. Eles usaram sua autoridade dada por DEUS ser qualquer temor (v. 6);
7. Eles deram, generosamente, de seus recursos espirituais (v. 6);
8. Eles solucionaram problemas práticos (vs. 7-81
9. Eles ganharam credibilidade por meio da demonstração, não apenas pela proclamação (vs. 9-10
10. A demonstração de Pedro deu-lhe uma base ir -ciai e um argumento convincente (vs. 11-26)
Perfil de Liderança
PEDRO
O líder mais hábil no improviso e na capacidade de dar reviravoltas.
(At 3.1-26)
O apóstolo Pedro é, no Novo Testamento, possivelmente, o líder mais capaz de dar reviravoltas.
Pedro, o mesmo homem que havia prometido seguir jesus mesmo que isso significasse morrer, mas que morreu de medo quando uma empregada insignificante o identificou como um dos seguidores de JESUS (Lc 22.56-57), agora gritava o nome de CRISTO a todo pulmão e com autoridade e sem medo das possíveis conseqüências.
Pedro sabia do perigo que corria ao falar sobre JESUS. Ele sabia da hostilidade que ele poderia provocar. Ele sabia que, por estar fazendo a vontade de DEUS e pregando a CRISTO, estava entregando sua vida nas mãos de DEUS. No entanto, ele não tinha escolha. Ele tinha de pregar. Ele tinha de falar o nome de JESUS. E como ele tinha dito às autoridades que não podia fazer nada diferente disso. Depois de todas as coisas que ele tinha visto e ouvido, depois do poderoso toque que ele havia recebido do ESPÍRITO SANTO, se sentiu impelido a pregar o evangelho (At 4.19-20).
Pedro pregou assim ... e o mundo todo ficou de pernas para o ar.
Esse é o tipo de reviravolta que acontece na vida de alguém que é tocado pelo ESPÍRITO SANTO de DEUS. Quando nós temos um encontro genuíno com JESUS, quando ele transforma nosso coração e mente, quando nos capacita e encoraja, nós ficamos sem escolha: nós temos de pregar o evangelho, nós temos de falar a Palavra de DEUS.
CORAGEM: UMA PESSOA COM CORAGEM SE TORNA UMA MAIORIA
(At 4.10-13)
Em Atos 4, nós podemos ver a coragem na tela da vida de Pedro e João. Esses dois líderes foram jogados na prisão por estarem pregando o evangelho e por terem realizado um milagre (vs. 1-4). Quando seus algozes os inquiriram a respeito de seu ministério, Pedro, pessoalmente, afirmou que o nome de JESUS, não seus próprios talentos, havia curado o aleijado (v. 10). Ele também explicou que a salvação vem por meio de nenhum outro nome que não o de JESUS (v. 12). O que lhe assegurava tanta coragem? Não era sua instrução, mas sua experiência com JESUS (v. 13).
Liderança requer coragem. Todos os líderes precisam de coragem para:
1. Buscar a verdade
Você nunca se encontrará, a menos que você encontre a verdade.
2. Mudar
Coragem é o poder para deixar a zona de conforto para trás.
3. Expressar convicções
As convicções nos ajudam a ficar sós. O teste de coragem vem quando você faz parte da minoria.
4. Superar obstáculos
Tudo quanto você fizer, alguém vai pensar que você está errado. Espere por problemas. Projete sua coragem.
5. Aprender e crescer
Você ainda não aprendeu até que você tenha tentado. Corra riscos e faça algo diferente.
6. Tomar a via principal
Depois do segundo quilômetro, não há engarrafamento.
7. Liderar outros
Liderança é a expressão de coragem que impulsiona os outros a fazerem a coisa certa.
21 Qualidades Generosidade - Ananias e Safira apenas fingiram
(At 5.1-11)
Líderes dão de si mesmo liberalmente; pelo menos no Novo Testamento eles fizeram assim.Toda a Igreja desfrutava de unidade e generosidade, e tudo tinha seu início no exemplo que vem de cima. O exemplo dos apóstolos espalhou um espírito de generosidade no meio de toda a Igreja. No entanto, um casal fingido, desafortunadamente, Ananias e Safira, vendeu certa propriedade e deu parte do valor aos apóstolos, dizendo-lhes que eles tinham dado todo o dinheiro da venda para a Igreja. DEUS revelou sua mentira para Pedro, e ele os chamou para conversar. Seu pecado não foi falta de generosidade, mas falta de honestidade. Eles mentiram acerca do que tinham feito. Eles queriam ser tidos por generosos sem terem pagado o preço para tanto. Ele retirou este câncer da igreja de modo cirúrgico, ao tirar dos dois a vida deles. "E sobreveio grande temor a toda a Igreja e a todos quantos ouviam a notícia destes acontecimentos" (At 5.11).
Vamos olhar para esse problema um pouco mais de perto e especificá-lo. Ananias e Safira...
1. Apegaram-se às suas posses;
2. Concordaram em mentir sobre sua oferta;
3. Fingiram ser uma coisa que não eram;
4. Pensaram que poderiam passar apenas pela aparência de generosidade;
5. Estavam mais preocupados com sua imagem do que com seu relacionamento com DEUS.
Muitos líderes lutam com essas mesmas questões. Nós não apenas vivemos em um mundo materialista, como também estamos inseridos neste mundo dominado por interesses econômicos. Nós pensamos que, se nos apegarmos e nos prendermos às nossas posses materiais com nossa inteligência, nós seremos, eventualmente, capazes. A economia de DEUS é radicalmente diferente. Ele é o Senhor extravagante, que dá com muita generosidade a todas as pessoas que têm alguma necessidade. Ele se alegra em satisfazer as necessidades de seus seguidores, direta e indiretamente. Ele não dá apenas de seus recursos; ele dá de si mesmo.
Cultivando a generosidade em sua vida
Nada fala mais aos outros ou lhes é mais útil do que a generosidade do líder. Na verdade, os líderes conseguem recursos alheios e os administram para outros. Considere alguns meios para cultivar a generosidade em sua vida:
1. Seja agradecido por tudo que você tem;
2. Ponha as pessoas em primeiro lugar;
3. Não permita que a ganância o domine;
4. Considere o dinheiro como um recurso;
5. Pratique o hábito de fazer doações e ofertas.
Algumas vezes, nós nos apegamos às nossas posses porque temos medo de passar por dificuldades. A vida parece ser muito dura. Mas, quando nós cremos que dar generosamente é modo de viver, nós iremos produzir mais no futuro. A vida parece ser abundante. Essa é a vida que JESUS tinha em mente para nós (Jo 10.10).
CRESCIMENTO: SETE SINAIS DE LIDERANÇA NA IGREJA PRIMITIVA
(At 5.1-42)
A liderança na Igreja primitiva produziu-lhe um crescimento natural. Os líderes não perseguiam crescimento, mas eram obedientes, comprometidos, com relacionamentos saudáveis e fé. Crescimento é uma conseqüência natural.
Esse é o sinal de uma liderança saudável. Em Atos 5, nós vemos os ingredientes que permitem à Igreja que ela cresça:
1. Pureza (vs. I-II)
Os líderes não tinham nenhuma das coisas, senão sua integridade.
2. Poder (vs. 12-16)
Os líderes procuravam ter um poder sobrenatural, que lhes permitiriam resolver as necessidades humanas.
3. Perseguição (vs. 17-18)
A oposição serviu para fortalecer os líderes e suas convicções.
4. Proclamação (vs. 19-28)
Os líderes proclamaram sua mensagem com avidez.
5. Prioridades (vs. 29-32)
Os líderes, claramente, definiam quais eram suas primeiras prioridades, e isso lhes permitia tomar decisões mais facilmente.
6. Oração (v. 41)
Em meio à adversidade, os líderes mantinham uma atitude de gratidão e louvavam a DEUS por todas as coisas.
7. Perseverança (v. 42)
Os líderes conseguiam influenciar outros porque vivenciavam suas convicções e não seus medos.
LÍDERES DEVEM SER DETERMINADOS E DESENVOLVIDOS
(At 6.3)
A boa liderança responde efetivamente à necessidade de mais líderes e trabalhadores. Na Igreja primitiva, ninguém tinha o voto para determinar qual qualidade que identificaria tais pessoas. Os apóstolos tinham em mente qualificações bem específicas para os líderes que eles queriam junto de si. Eles escolhiam pessoas que:
1. Eram conhecidas dentre seu círculo de influência - "procurem alguém dentre vocês";
2. Pudessem trabalhar em equipe - "sete homens";
3. Tivessem crédito entre as pessoas - "de boa reputação";
4. Fossem capacitadas para a tarefa - "cheios do ESPÍRITO SANTO";
5. Competentes e inteligentes - "cheios de sabedoria";
6. Responsáveis - "a quem podemos confiar essa tarefa".
21 Qualidades Pedro e a Lei Das Prioridades - Líderes compreendem que atividade não significa cumprimento
(At 6.1-7)
Líderes nunca alcançarão o lugar que eles não elegem como prioridade. Os bons líderes elegem prioridades, não importa se estão conduzindo um pequeno grupo, pastoreando uma igreja, empreendendo um pequeno negócio ou mesmo um negócio de bilhões de dólares.
As coisas que trazem as maiores recompensas fazem brilhar o fervor na vida de um líder. Nada traz mais energia a uma pessoa do que a paixão. Tim Redmond admitiu: "Há muitas coisas que podem prender meus olhos, mas muito poucas são capazes de prender meu coração."
Tome algum tempo para repensar as prioridades de sua liderança. Você está se fazendo presente por todos os lugares' Ou você está focado em poucas coisas que podem lhe trazer grandes recompensas? O maior sucesso só virá quando você focar as pessoas no que realmente vale a pena.
Aguçando seu foco para alargar sua visão
Talvez você seja parecido com Pedro: ele começou cheio de paixão, mas com falta de direção. A boa notícia é que você já tem a metade da equação. A má notícia é que, se você não sabe para onde está indo, você pode acabar ficando no meio do caminho ou ainda pior: você pode ficar anos trilhando uma direção equivocada.
Quando você sabe para onde vai, as suas prioridades se tornam claras, e suas ações passam a fazer sentido. A equação vai se parecer com isso:
Uma grande paixão + visão clara = ação focada
Quando os judeus da Grécia foram levar-lhe suas queixas, Pedro reconheceu que ele poderia expandir sua missãc se ele resolvesse o problema deles. Mas ele também reconheceu que havia sido chamado para focar as necessidades mais profundas das pessoas: ouvir a verdade da Palavra de DEUS. Ao invés de tentar fazer isso tudo sozinho, ele delegou a tarefa de solucionar as queixas para sete pessoas competentes para fazê-lo. Como resultado, a Igreja, pode cuidar dos dois problemas.
Ao examinar a situação de Pedro, nós aprendemos bastantes coisas sobre manter-se focado nas prioridades porque não se perdeu de vista o grande quadro da visão. Pedro demonstrou que, quando surge uma necessidade os líderes focados...
1.Avaliam o valor da necessidade.
Líderes fortes, rapidamente, percebem quando o curso de uma ação precisa ser adotado e, prontamente, consideram como deixar o trabalho resolvido. Pedro sabia que a igreja poderia perder a oportunidade se ela não atendesse as necessidades apontadas pelos judeus gregos. Mais do que tentar resolver o problema por si mesmo (como muitos líderes fazem), ele imaginou outro meio de fazê-lo.
Como você reage quando seu povo lhe traz uma necessidade legítima? Você pára de fazer o que você está fazendo e, imediatamente, tenta atender seu pedido? Você movimenta sua cabeça como quem está interessado, depois a põe para o outro lado como quem quer esquecer-se disso? Ou, como Pedro, você pára, olha para sua grande missão e determina-se a agir de acordo com suas prioridades?
2. Procure uma oportunidade de liderança.
Mesmo quando uma necessidade real não se enquadre em suas prioridades, isso pode lhe ser uma grande oportu-nidade para alguém de seu grupo. Pedro, rapidamente, percebeu que ele e os outros discípulos tinham necessidade de continuarem pregando ao invés de ficarem distribuindo alimentos. Mas ele também reconheceu nisso uma oportunidade de desenvolver alguns líderes que estavam surgindo.
As pessoas estão na lista de suas grandes prioridades ? Antes de você colocar algo sob sua responsabilidade, verifique ela se compatibiliza com as responsabilidades de uma ou mais pessoas que estão com você. Os líderes mais eficientes põem seu foco em algumas poucas coisas. Eles acreditam que outras pessoas serão capazes de fazer o restante
3. Delegue a tarefa para pessoas competentes.
Líderes se valem da delegação do poder como uma ferramenta básica. Usando-a de modo certo, ela pode levar sua eficiência a um padrão completamente novo. Pedro e os discípulos escolheram uma equipe de sete pessoas cuidadosamente, a quem eles consideravam ser maduras e capazes de suportar a tarefa.
Será sempre sua a responsabilidade de delegar poder às pessoas certas. Não há nada mais constrangedor do que ter de rever uma tarefa, porque ela foi designada para uma pessoa incompetente. Isso diminui sua eficiência e pode manchar sua credibilidade. Por isso, antes de delegar uma tarefa, esteja certo das qualidades e habilidades das pessoas de sua equipe.
4. Comissione e confirme as pessoas a quem delegou poder publicamente.
Pedro e os discípulos colocaram sua equipe de trabalho para que fossem bem sucedidos. Eles não apenas estavam certos de que seriam capazes de dar conta da tarefa como também os apresentaram aos outros como líderes dignos. Ao o fazerem assim, eles deram a esses sete homens confiança e crédito.
Para você o mais importante é fazer coisas ou fazer coisas corretamente? Muitos líderes apenas delegam certas tarefas para poderem constar em sua lista de projetos feitos que a tarefa foi executada. Eles usam a delegação de tarefas para distraírem a atenção e não para alcançarem eficiência. Contudo, os grandes líderes compreendem que sua. eficiência depende do sucesso de seus delegados. Por isso, faz parte de suas prioridades ajudá-los a vencer.
Tal qual todo líder eficiente, Pedro compreendeu a diferença entre ativismo e realização. Primeiro, ele percebeu uma necessidade por meio da maior de todas as lentes, sua missão. Em seguida, focou a atenção ao que deveria ser feito, tanto por ele mesmo, como por meio de outros. Como resultado, as Escrituras relatam que o número de cristãos crescia sem parar sob sua liderança.
O PRINCIPIO DE PARETO
Vinte por cento de suas prioridades lhe darão oitenta por cento de sua produção
21 Qualidades Comprometimento - Estêvão sabia o que tinha valor e o que não tinha
(At 7.2-60)
Estêvão, primeiro mártir cristão, tinha alcançado bastante influência junto ao povo (At 6.8). Temendo perder sua influência, os líderes religiosos judeus cercaram esse líder e o levaram diante de Concilio.
Em sua defesa, Estêvão revelou ter um inabalável comprometimento com suas convicções. Diante das autoridades que tinham o poder de executá-lo, ele sustentou e expressou aquilo que ele cria ser a verdade, tanto sobre CRISTO quanto sobre a obstinação de coração dos líderes judeus. Isso o levou para o apedrejamento (At 7.58-60). Seu modo franco deixou os líderes religiosos sem argumentos; só lhes restou jogarem pedras nele. Mas nem mesmo isso o abalou. Ele morreu, fitando os olhos nos céus, pedindo que DEUS perdoasse seus assassinos.
De onde vem o comprometimento?
Vamos ver a fonte do comprometimento de Estêvão reparando em suas palavras e sentindo sua atitude:
1. Ele tinha a presença de DEUS em sua vida (At 6.8,15);
2. Ele baseava seu comprometimento em fundamentos bíblicos (At 7.2-38);
3. Ele percebeu o erro do pensamento anterior (At 7.39-41);
4. Ele atingiu o ponto de resistência dos líderes religiosos (At 7.51-53);
5. Ele manteve seus olhos sobre JESUS, a verdade (At 7.55);
6. Ele conservou sua perspectiva (At 7.60).
O comprometimento leva para além das emoções e da razão e vai direto para a vontade. Os antigos chineses diziam que a vontade de um homem é igual a uma carroça puxada por dois cavalos: a emoção e a razão. Você precisa manter os dois cavalos puxando para a mesma direção para conseguir pôr a carroça em movimento. O comprometimento vem quando sua razão e sua emoção o levam para frente, seja qual for o preço.
Os líderes não devem esperar que seus seguidores tenham comprometimento mais profundo do que aquele que eles mesmos demonstram ter. Para desenvolvermos nosso nível de comprometimento, nós precisamos compreender as seguintes verdades:
1. Comprometimento começa no coração.
O comprometimento vem antes da ação. Procure dentro de si: onde está o comprometimento de seu coração
2. Comprometimento é avaliado pela ação.
A única maneira real de medir o nível de comprometimento é a ação. Falar é fácil; fazer tem um alto preço.
3. Comprometimento abre as portas para o cumprimento da missão.
Uma vez que você está comprometido, todas as coisas virão a seu encontro no sentido de favorecê-lo a obter o sucesso.
4. Comprometimento pode ser medido.
Os líderes devem poder avaliar seu calendário e agendas para medirem seu comprometimento.
5. Comprometimento capacita um líder a tomar decisões.
Líderes precisam decidir qual é a coisa mais digna, pela qual se deva morrer; e tomam isso como base para suas decisões.
6. Comprometimento floresce com demonstração pública de sua responsabilidade.
Façam a pessoas verem o quanto você está comprometido, e, assim, você terá incentivo para prosseguir.
Perfil de Liderança - FELIPE - Um homem comum, resultados extraordinários.
(At 8.5-8)
E extraordinário o que pode acontecer para e através de um homem comum quando DEUS põe um pouco de dificuldade e o poder do SANTO ESPÍRITO na mistura.
Os crentes da igreja de Jerusalém começaram a abandonar a cidade em grande número por causa das ondas de perseguição por causa do testemunho que estavam dando a respeito de JESUS CRISTO. Mas aquilo que os inimigos do evangelho pensavam ser mal DEUS usava como sendo bom, tal qual os crentes da Dispersão, que, ao fugirem de Jerusalém, levaram consigo a mensagem da salvação por meio de JESUS CRISTO.
Filipe deixou Jerusalém e foi até Samaria, onde, comprometido com a pregação do evangelho, liderou a salvação de multidões. Quando Filipe realizou milagres, expulsando demônios e curando muitos, o povo passou a ouvir as palavras de Filipe a respeito do Messias, que o capacitou a realizar esses feitos maravilhosos.
Um homem comum, uma pequena perseguição e um toque da parte do ESPÍRITO de DEUS conduziram à conversão de massas na cidade de Samaria. Tal como JESUS havia predito, a mensagem do evangelho fez o seu caminho, começando por Jerusalém e indo até os confins da terra (At 1.8).
Filipe ilustra bem o que um líder, com a capacitação dada pelo ESPÍRITO SANTO e com a autoridade de JESUS CRISTO, pode fazer para mudar o mundo.
DISCERNIMENTO: LÍDERES FAZEM UMA LEITURA DA REALIDADE ANTES DE LIDERAR
(At 8.26-40)
Filipe ilustra a importância de um líder que tem capacidade de se adaptar a uma nova situação para resolver um problema. Flexibilidade é o nome do jogo.
Filipe estava pregando e orando pelos doentes em Samaria. Aconteceu que, em meio a um reavivamento, um anjo lhe disse que fosse ao Sul, para o caminho de Gaza. Filipe teve de manobrar suas velas e rever o curso de sua viagem. Quando estava no caminho de Gaza, ele compreendeu a situação. Um importante oficial do tesouro real da Etiópia havia parado para ler a Escrituras. Filipe percebeu que ele tinha ali uma oportunidade para introduzir aquele homem na fé em CRISTO.
Como os líderes podem ter uma leitura de situações semelhantes? Uma liderança cheia do ESPÍRITO envolve...
1. Compreender suas responsabilidades (v. 25).
Filipe já estava fazendo que ele sabia fazer;
2. Renunciar seus direitos (vs. 26-28).
Filipe não ficou discutindo sobre o caminho que ele havia escolhido, mas foi flexível. Ele deixou para trás um momento de reavivamento e foi para um deserto.
3. Sentir a revelação (vs. 29-30).
Filipe ouviu o ESPÍRITO. DEUS pode falar por meio de pessoas, das Escrituras ou intuição espiritual.
4. Compartilhar seu relacionamento (vs. 31-34).
Filipe aproximou-se de uma situação de necessidade tendo uma perspectiva de relacionamento e não somente uma perspectiva de resultado.
5. Mostrar sua relevância (v. 35).
Filipe começou a interagir onde o eunuco estava e permaneceu interagindo com ele naquele lugar.
6. Assegurar uma resposta (vs. 36-39).
Filipe conduziu o homem até o ponto de uma tomada de decisão e viu resultados.
LIDERANÇA: ESCOLHA DELIBERADA VERSUS ELEIÇÃO DEMOCRÁTICA
(At 9.1-20)
Saulo de Tarso havia iniciado sua viagem para se tornar o Apóstolo Paulo na estrada de Damasco. DEUS sabia que Saulo era perfeitamente apropriado para a tarefa.
Primeiramente, Paulo era hebreu e um fariseu. Ninguém poderia acusá-lo de indiferença ou de insegurança para estabelecer um padrão. Ele havia estudado com Gamaliel, de maneira que nenhum judeu poderia acusá-lo de ignorante das Escrituras. Ele cresceu em Tarso, o que lhe dava a cidadania romana e lhe dava passagem livre pelos caminhos do mundo. Ele tinha muita facilidade de comunicação, o que fazia dele uma pessoa perfeita para escrever perto de dois terços dos escritos do Novo Testamento. Ele buscava a perfeição com ardor, uma paixão que o ajudou a alcançar a Ásia Menor.
DEUS elege líderes específicos para cumprirem uma missão. Ele não o faz por meio do voto popular. Se ele o tivesse feito, nenhum dos cristãos da Antigüidade teria votado nele. No entanto, DEUS viu as qualidades de Saulo e o chamou tanto para seguir CRISTO como para guiar pessoas a ele.
21 LEIS - BARNABÉ E A LEI DA DELEGAÇÃO DO PODER - Somente líderes seguros delegam poder a outros
(At 9.27)
Somente pessoas capacitadas podem alcançar seu potencial. Quando um líder não pode ou não quer capacitar outras pessoas, ele cria barreiras dentro da organização que as pessoas não conseguirem superar. Se as barreiras permanecerem por muito tempo, as pessoas desistem ou mudam para outros lugares onde poderão maximizar seu potencial.
Se você deseja ser um líder de sucesso, você deve se tornar um capacitador. Theodore Roosevelt afirmou que "o melhor executivo é aquele que tem a sensibilidade suficiente para escolher bons homens, para que eles façam coisas que ele deseja que aconteçam e que têm suficiente auto-resignação para guardar-se de não interferirem enquanto eles estão fazendo o que lhes foi solicitado."
A verdade é que o único caminho para que você possa se fazer indispensável é você se fazer dispensável. Em outras palavras, se você tem a capacidade de sempre delegar poder e capacitar outras pessoas e ajudá-las a desenvolverem seu potencial de maneira que se tornem capazes de realizar sua tarefa, você se tornará tão valioso para a organização que você se tornará indispensável.
Será que eu posso pegar uma carona?
Definitivamente, Barnabé foi um líder que sabia como animar as pessoas. Isso é visto quando ele não deixa passar nenhuma oportunidade de acrescentar coisas boas para os outros. E sua grande e simples contribuição no que diz respeito à delegação de poder pode ser vista em sua interação com Paulo.
1. Ele acreditou em Paulo antes de qualquer outra pessoa.
É muito fácil dar uma opinião a favor de um assunto ou pessoa controvertida diante de líderes que dão apoio a essa pessoa. Outra coisa é você levantar-se e falar diante de outros que não o fazem. Mas foi isso o que Barnabé fez. Ele não esperou que os outros apóstolos apoiassem Paulo para poder acreditar nele. Na verdade, ele acreditou em Paulo, enquanto Pedro e os outros tinham medo dele.
Para ser um líder capaz de encorajar outros, você precisa estar disposto a dar oportunidades às pessoas. Você deve ser capaz de perceber o potencial que há nelas e encorajá-las a acreditar em si mesmas. Isso pode ser arriscado porque elas podem não corresponder. Mas, se elas corresponderem, o retorno pode ser imenso. Você pode tor-nar-se o responsável por inspirar um líder a pôr em prática coisas que ele nunca tinha pensado que fosse possível. E os líderes nunca esquecem a primeira pessoa que acredita neles.
2. Ele defendeu a liderança de Paulo diante dos outros.
As Escrituras dizem que Barnabé tomou a Paulo e levou até aos apóstolos. E ele lhes declarou a respeito de como tinha visto o Senhor no caminho e aquilo que ele lhe tinha falado e de como ele tinha pessoalmente pregado a respeito de CRISTO em Damasco (At 9.27). Você pode imaginar como essas coisas teriam acontecido em Jerusalém naqueles dias? Certa vez, quando Paulo chegou à cidade, uma palavra chegou aos apóstolos de que ele estava dizendo que era um pregador de JESUS CRISTO. Eles devem ter pensado de que se tratava de um truque. Tratava-se da mesma pessoa que tinha estado diante de Estêvão, primeiro mártir, e aprovado seu apedrejamento. Barnabé deve ter aparecido com Paulo a uma das reuniões dos apóstolos na cidade. Um silêncio desconfortável sem dúvida, deve ter caído sobre as pessoas que estavam reunidas quando elas souberam da identidade daquele que acompanhava Barnabé. Então, Barnabé passou a contar a história de Paulo. Paulo não precisou dizer uma única palavra. Todos os cristãos conheciam Barnabé. Eles sabiam de sua reputação e integridade. Foi isso que Barnabé fez As Escrituras dizem: "Estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo" (At 9.28). A Igreja tinha aceitado Paulo
3. Ele delegou poder a Paulo para alcançar seu potencial.
A ligação entre Barnabé e Paulo não terminou em Jerusalém. Depois que o endosso de Barnabé possibilito que Paulo se movimentasse livremente em Jerusalém, ensinando as pessoas e debatendo as verdades das Escrituras não demorou muito para que Paulo se tornasse um inimigo dos que não criam no evangelho. Os apóstolos, então sabiamente, enviaram Paulo de volta a Tarso, para sua segurança pessoal.
Mais tarde, no entanto, quando Barnabé foi designado para dar assistência às igrejas da Antioquia, ele encontrou Paulo e o leyou em sua companhia. Essa ação delegou a Paulo o poder de ter seu primeiro serviço como um lider.
Isso também conduziu à parceria de Paulo e Barnabé como missionários, o papel para o qual DEUS estava destinando Paulo.
Para ser um líder capacitado, você precisa mais do que acreditar em líderes que estão surgindo. Você precisa dar passos adiante para ajudá-los a se tornarem líderes de acordo com o potencial que eles têm para desenvolver. Você precisa investir neles se você os quiser tornar capazes para darem o seu melhor. Capacitar pessoas requer um investimento pessoal. Isso requer tempo e energia, mas vale a pena. Se você o fizer bem feito, terá o privilégio de ver alguém subir para o nível mais elevado. E, como um bônus adicional, ao delegar poder e capacitar outros, você estará aumentando o poder de sua organização.
CORNÉLIO: O PARADIGMA DE PEDRO SE EXPANDIU
(At 10.1-35)
Missiologistas o teriam chamado de etnocêntrico. Apesar de que Pedro sabia que JESUS lhe tinha dito para ir ao mundo e pregar o evangelho, ele ainda tinha dificuldade para falar com o centurião romano chamado Cornélio. Por causa disso, DEUS providenciou uma visão nova para ele. O escritor Steve Moore fez anotações a respeito da seqüência da construção da visão que DEUS levou a Pedro:
1. Revelação sobrenatural (vs. 9-16)
DEUS ampliou os horizontes de Pedro e o ajudou a sair da caixa, educação que o conduziu a uma nova convicção.
2. Convite sobrenatural (vs. 17-23)
DEUS enviou pessoas associadas a Cornélio para convidarem Pedro para ingressar em uma nova forma de ministrar aos gentios, exposição que lhe deu uma compaixão nova.
3. Confirmação sobrenatural (vs. 24-35)
DEUS confirmou esta visão ampliada com Cornélio receptivo e com sinais concretos confirmando sua conversão, uma experiência que o levou a um novo comprometimento.
Quando DEUS quer conquistar uma nova obediência de um servo seu, ele quase sempre faz uma nova revelação. Foi exatamente o que aconteceu com Pedro.
EDUCABILIDADE: O NOVO EMPREENDIMENTO DE PEDRO FOI ACEITO PELOS LÍDERES DA IGREJA
(At 11. 1-18)
JESUS devia estar falando sério quando ele disse à Igreja que fossem até os gentios. Pedro relatou a seus pares como DEUS o havia guiado até um público completamente novo. Quando eles ouviram essa história, renderam glórias a DEUS pelo novo ministério. Eles continuavam aprendendo. No momento em que você parar de estudar e aprender, você pára de liderar.
SER PRESTATIVO: NENHUM TRABALHO É SEM IMPORTÂNCIA
(At 11.22-24)
Se um líder da Igreja antiga pode ser chamado de servo, este é Barnabé. Ele tomou a iniciativa e fez tudo quanto achou que pudesse aumentar o ânimo, número de pessoas ou dinheiro. Ele liderou com clareza e exemplo, tornando-se servo. Ele não considerava nenhuma tarefa sem importância. O que permitiu a Barnabé demonstrar um estilo de vida como este? Ele...
1. Não tinha nada a provar.
Ele não estava ali para brincar. Ele nunca procurou notoriedade. Quando ele orientou Paulo, ele alegremente permitiu que esse apóstolo emergente o superasse. Ele não sentia a necessidade de projetar sua própria dignidade ou provar a si mesmo para quem quer que fosse.
2. Não tinha nada a perder.
Barnabé não tinha preocupação de preservar sua reputação ou que o medo pudesse fazer perder sua popularidade. Ele veio para servir e não par ser servido. Isso permitiu pôr seu foco em dar e não em receber. Como servo, ele não tinha direitos a perder.
3. Não tinha nada a esconder.
Barnabé não precisava manter uma fachada ou imagem. Ele permaneceu autêntico, vulnerável e transparente. Ele podia alegrar-se com a vitória dos outros (At 11.23) e nunca se maravilhou com sua própria fama.
Se DEUS chamasse você para ser um novo Barnabé para outro novo Paulo, se você soubesse que esse novo e emergente líder iria rapidamente colocá-lo em sombras, você aceitaria este chamado? Em outras palavras, você é mesmo um servo? Você deve amar mais as pessoas que sua posição.
21 Qualidades Caráter - Herodes teve falta dele e perdeu tudo
(At 12.1-23)
O ego dirigia a vida de Herodes dos dias de Paulo, do mesmo jeito que havia guiado seu pai e seu avô. Todos eles tinham uma irremediável falta de caráter. Herodes era o sobrenome da família de reis que sustentava o poder com a permissão do Império romano. Herodes o Grande, governou nos dias do nascimento de JESUS. Foi ele que mandou matar todos os meninos de até dois anos em Belém. Herodes Antipas foi quem ordenou a decapitação de João Batista. O Herodes de Atos 12 é Herodes Agripa 1, o filho mais velho de Herodes, o Grande. A falta de caráter de Herodes nos dá muitos exemplos a respeito do que não se deve fazer como líder:
1. Ele maltratava seus próprios cidadãos (v. I).
Ele, injustamente ordenou a prisão de cristãos judeus a fim de fustigá-los.
2. Ele executou pessoas inocentes (v. 2).
Ele mandou matar Tiago à espada, embora Tiago não tivesse cometido crime nenhum.
3. Ele tomou decisões, preocupado com sua popularidade (v. 3).
Quando ele percebeu que os judeus ficaram satisfeitos com a morte de Tiago, mandou pôr Pedro na prisão também.
4. Ele agia de modo irracional em tempos de dificuldade (v. 19).
Ele mandou matar todos os 16 guardas que cuidavam da prisão no dia em Pedro fugiu de lá.
5. Ele alimentou ódio por outros (v. 20).
Ele permaneceu irado contra grupos étnicos de fora e procurou meios de subjugá-los.
6. Ele procurou poder para compensar sua insegurança (v. 20).
Ele gostava de controlar os outros e, especialmente, gostava bastante de poder ter pessoas debaixo de sua misericórdia.
7. Ele projetava a imagem de ser infalível (vs. 21-22).
Ele amava vestir sua roupa real e ser reverenciado.
8. Ele se deixava cegar pelo seu ego (v. 23).
Ele vivia em um mundo irreal e não conseguia ver que seu ego estava sabotando sua liderança.
Como você pode evitar as armadilhas de Herodes?
A fim de melhorar seu caráter e construir uma base sólida para a sua liderança, você deve:
1. Procurar suas falhas.
Preste atenção nas principais áreas de sua vida. Identifique quais são os pontos fracos ou em quais delas você costuma tomar atalhos;
2. Procurar parceiros.
Ainda há alguma fraqueza? Parceiros podem ajudá-lo a diagnosticar falhas no caráter.
3. Encarar a realidade.
O reparo das falhas de caráter inicia quando você as encara e quando você defende aquelas em que você a enganou.
4. Permanecer pronto para aprender e rever as coisas.
Uma vez que você enfrenta o passado, crie um plano para fortalecer-se internamente.
A LEI DO CRESCIMENTO EXPLOSIVO: ANTIOQUIA COMISSIONOU LÍDERES
(At 13.1-3)
Pelo meio do Livro de Atos, vemos que três igrejas enviaram líderes missionários: Cirene, Chipre e Jerusalém. Infelizmente, esses esforços parecem ter sido fatos isolados. Em Atos 13, o cuidado de DEUS levou mudanças para a igreja de Antioquia. Por quê? Porque ela continuava comprometida com os efeitos globais do evangelho, ocupada em fazer surgir líderes que viessem a se tornar agentes de mudança para o mundo todo. Jerusalém tinha deixado de ser o centro das atividades de DEUS. Na verdade, ela tornou-se uma igreja com grandes necessidades, necessitando do socorro das igrejas da Ásia e Grécia.
Antioquia floresceu por causa de sua boa visão de enviar líderes pelo mundo. Ela enviava seus líderes como se fossem uma equipe, pessoas com dons que se complementavam e com visão compartilhada. Isso os capacitou a ficarem ligados com as pessoas e a conseguirem bons resultados em quase todos os lugares aos quais iam.
DEUS fez o seu trabalho ao enviar equipe de líderes. JESUS enviou uma equipe de doze (Lc 9.1 -6), e essas parcerias tiveram continuidade em Atos. A maioria dessas equipes de líderes veio da igreja de Antioquia:
1. Pedro e João (At 3);
2. Filipe, Pedro e João (At 8);
3. Pedro e alguns irmãos (At 10);
4. Homens de Chipre e Cirene (At II);
5. Paulo e Barnabé (At 13 e 14);
ó. Judas, Silas e Paulo (At 15);
7. Barnabé e Marcos (At 15);
8. Timóteo, Paulo e Silas (At 16);
9. Paulo, Áqüila e Priscila (At 18);
10. Timóteo e Erasto (At 19).
RESPONSABILIZAÇÃO: A EQUIPE PERMANECEU RESPONDENDO PARA A IGREJA
(Atos 14.26-28)
Embora os líderes não requeiram uma posição formal para fazer a diferença, DEUS, raramente, os chama para agirem sozinhos. DEUS, normalmente, os chama para fazerem parte de uma equipe e os envia por meio de uma organização, como uma igreja local, por exemplo. Alguns líderes enviam, outros vão. Cada um deve dar suporte ao outro.
A LEI DA INTUIÇÃO: PEDRO PROPÔS UMA MUDANÇA MAIOR DAS COISAS ANTIGAS
(At 15.7-11)
Pedro sugeriu mudanças para o modo como a igreja fazia as coisas. Deveria haver um novo paradigma para o pensamento e a fé. Ele persuadiu os líderes a mudarem por meio de uma comunicação convincente das coisas que DEUS estava fazendo. Pedro viu a necessidade de mudanças antes dos demais. Sua percepção, associada a sua credibilidade, fez a Igreja continuar indo para frente.
ALEI DA INFLUENCIA: O CONCÍLIO DA IGREJA LIBERTOU OS GENTIOS
(At 15.22-29)
Por meio de um documento, a igreja de Jerusalém libertou os cristãos de qualquer localidade de terríveis encargos e culpas potenciais que lhes poderiam ser atribuídas pela lei dos judeus. Eles usaram a sua influência e mudaram o curso da história da igreja. Nem sempre o poder é mal. O Concilio da igreja de Jerusalém exerceu uma influência positiva em seu tempo. Nós também podemos.
RECRUTANDO VOLUNTÁRIOS
(At 15.32-35)
Organizações mantidas por meio de voluntários requerem liderança muito maior sobre o grupo. Tais organizações precisam de bons líderes, porque o único incentivo que os voluntários têm vem da visão de sua liderança. Essas organizações não pagam salários, não oferecem benefícios nem ostentação.
Na verdade, apenas uma pequena percentagem dos voluntários realmente trabalha. Em muitas igrejas, cerca de vinte por cento das pessoas fazem oitenta por cento do trabalho. Por que isso ocorre? Por que mais pessoas não se envolvem?
1. Ninguém lhes pediu nada.
Com receio de se intrometerem em território alheio, eles esperam ser convidados para ajudar.
2. Elas têm medo de assumir responsabilidades.
Receosos de que sejam cobrados a se comprometerem além do que desejam ou podem, eles hesitam em fazer alguma coisa.
3. Elas sofrem com experiências passadas.
Tendo passado de "pilares" para "meros ouvintes", elas sentem a necessidade de descansar e de serem alimentados.
4. Eles se sentem intimidadas por obreiros atuais.
"Pilares" que não estão abertos para mudanças acabam por manterem os outros inúteis.
5. Elas desconhecem as diretrizes bíblicas para o ministério.
Muitas igrejas não estabelecem um padrão para o sacerdócio dos crentes ou para a verdade exposta em Ef 4.11-12.
6. Elas estão muito preocupadas com seus próprios compromissos e ocupações.
A maioria das pessoas se esquiva de novas tarefas por causa de compromissos que já assumiram, e as coisas que podem ser feitas depois perdem para as que precisam ser feitas agora.
7. Elas se sentem despreparadas, mal equipadas ou desprovidas de dons.
Muitas pessoas, equivocadamente, pensam que apenas pessoas que têm certos dons e são treinadas podem servir e, visto que não têm estes dons especiais ou não foram treinadas, elas não estão qualificados para servir.
8. Elas não têm consciência das opções de trabalho que lhes estão disponíveis.
A maioria dos líderes, erroneamente, pensa que as pessoas sabem das vastas possibilidades de serviços que estão à sua disposição.
9. Elas não se "apropriaram" da causa.
Muitas pessoas só aceitam participar do ministério se elas puderem ter a visão de todo o quadro da missão. 10. Elas são egoístas, preguiçosas ou indiferentes.
Algumas não vão se envolver, simplesmente porque não se preocupam com nada mais além de si mesmas.
Dessa forma, o que pode ser feito para mobilizar voluntários? Tente o seguinte:
1. Agende entrevistas com novos membros para expor-lhes as oportunidades;
2. Ofereça treinamento para cada cargo ou função; dê modelo de como servir;
3. Associe os dons espirituais com as oportunidades de trabalho;
4. Seguidamente, anuncie as opções de serviço disponíveis;
5. Faça o envolvimento no ministério partir do processo de recepção de membros;
6. Crie vários níveis de responsabilidades para os novos membros, que se sentem apreensivos;
7. Ensine e exponha a visão do sacerdócio universal dos crentes; todos têm um dom com o qual podem participar;
8. Desenvolva séries de compromissos realistas para que as pessoas possam dividir as responsabilidades;
9. Promova o rodízio entre os líderes, tanto quanto possível, para criar espaço para novas pessoas;
10. Seguidamente, elogie servos simples que acabam fazendo diferença.
DISCERNIMENTO: PAULO MUDOU SEUS PLANOS ASSIM QUE TEVE O DISCERNIMENTO DAS NECESSIDADES
(At 16.1-13)
Todos os líderes precisam ter discernimento.Pau-lo o tinha e o usava para escolher novos líderes, para escolher as palavras que iria dizer diante de uma corte e para saber onde deveria ir em seguida em suas viagens missionárias.
Quando a equipe de Paulo viajava através da Ásia, ele deveria ter estado a ouvir o ESPÍRITO SANTO em seus momentos de silêncio. DEUS o proibiu de falar certa vez na Ásia e o compeliu a ir adiante. Em seguida, o ESPÍRITO proibiu Paulo de evangelizar na Ásia e na Bitínia. Em Trôade, ele teve a visão na qual um homem o suplicava para visitar a Macedônia.
Assim era a dinâmica da liderança de DEUS. Líderes com discernimento, usualmente, repartem alguns traços em comum. Esses são:
• bons ouvintes;
• intuitivos e perceptivos;
• bem conectados;
• flexíveis;
• otimistas.
A LEI DA LIGAÇÃO: PAULO FOI MUITO EFICIENTE EM ATENAS
(At 17.22-34)
Pedro, Paulo e Estêvão se valeram da Lei da Ligação em todos os quatro sermões que deles Lucas registra (At 2.14-36; 7.2-53; 13.16-41; 17.22-31). Esse que Paulo pronunciou, registrado em Atos 17, é uma obra-prima. Ele conseguiu estabelecer uma ligação brilhante com o povo de uma cultura diferente, mostrando e compreendendo ambos, a sociedade grega e a necessidade humana. Leia esta mensagem e veja um mestre da comunicação em ação:
1. Ele iniciou com uma afirmação (v. 22);
2. Ele fez uma ponte de seu assunto com o que era familiar aos gregos (v. 23);
3. Ele ampliou a visão que eles tinham de DEUS (vs. 24-25);
4. Ele usou uma linguagem inclusiva (v. 26);
5. Ele lhes deu encorajamento e esperança (v. 27);
6. Ele se identificou com um dos poetas deles (v. 28);
7. Ele lhes ofereceu passos específicos de ação (vs. 29-31).
Líderes efetivos conseguem uma ligação antes que eles esperem. Somente quando Paulo conseguiu levantar pontes de relacionamento com as pessoas que ele conseguiu um claro chamamento ao arrependimento. A ligação precede a decisão. E o que foi que aconteceu? De acordo com o texto, cada um agiu. Uns riram de Paulo, outros lhe disseram que o ouviriam em outra ocasião, e outros o seguiram de imediato (vs. 32-34).
21 Qualidades Educabilidade Apoio aprendeu e cresceu
(At 18.24-28)
O Livro de Atos apresenta Apoio como um excelente professor. DEUS o usou grandemente em várias culturas, ele tornou-se o braço direito do apóstolo.
O que mais impressiona a respeito de Apoio, contudo, é sua educabilidade. Ele nunca pensou que tivesse aprendido tanto, que pudesse improvisar o que fazia. Lucas aponta alguns fatos sobre esse homem:
1. Sua origem é de uma cidade culta (v. 24);
2. Ele era um homem de boa educação (v. 24);
3. Ele conhecia muito bem as Escrituras (v. 24);
4. Ele tinha sido instruído na fé cristã (v. 25);
5. Ele tinha um dom natural (v. 25);
6. Ele ensinava a verdade com denodo (v. 25);
7. Ele ensinava a verdade com paixão (v. 26).
A história da Igreja nos conta que Apoio foi era um professor tão bom, que muitas pessoas queriam ouvir ma s ele do que ao apóstolo Paulo. Isso era mesmo uma pena em seu chapéu! Isso pode nos fazer assumir que ele tinha tido todas as coisas juntas. No entanto, Apoio tinha conhecido "apenas o batismo de João" (At 18.25). Ele sabia o quanto era arrependimento. Ele compreendia o que ele significava para a redenção de DEUS. Mas ele não estava familiarizado com as verdades mais profundas do discipulado ou de uma vida na plenitude do ESPÍRITO. Assim, Áqüila e Priscila se tornaram seus mentores, tomaram tempo para ouvi-lo, avaliá-lo, para relatar-lhe coisas e expor-lhe "o caminho para DEUS" (At 18.26).
Líderes enfrentam o perigo do contentamento por causa de seu 'status quo'. Principalmente, se um líder já possa influência e já alcançou um bom nível de respeito, que razão mais ele tem para querer crescer?
1. Seu crescimento determina quem você é.
2. Quem você é determina a quem você atrai.
3. Quem você atrai determina o sucesso de sua organização.
Líderes devem permanecer prontos para aprender. Observe estas cinco orientações para se cultivar uma atitude de aprendizado:
1. Cure a doença de seu destino.
A falta de capacidade de aprender está enraizada no ativismo. Se você parar de crescer, você pára de liderar
2. Supere seu sucesso.
O sucesso, freqüentemente, impede educabilidade. Não fique olhando para os troféus que já ganhou e, sim para as metas a serem alcançadas.
3. Prometa não mais usar atalhos.
Todas as coisas mensuráveis têm um preço. A maior distância entre dois pontos é um atalho.
4. Desfaça-se do orgulho.
Admita que não sabe todas as coisas, mesmo a respeito daquelas que você sabe alguma coisa.
5. Nunca pague o preço duas vezes pelo mesmo erro.
O crescimento implica em se cometerem erros, mas você precisa aprender com cada um deles.
Perfil de Liderança - ÁQÜILA E PRISCILA - Líderes que prepararam mais líderes.
(At 18.24-28)
Liderança não significa exatamente conseguir outras pessoas para serem seguidores. Liderança também significa equipar e preparar líderes para guiarem o povo de DEUS. A responsabilidade de Áqüila e sua esposa Priscila, do apóstolo Paulo e Apoio ilustram esse princípio.
Áqüila e Priscila, que, como Paulo, eram cristãos judeus e fabricantes de tendas, tinham ido a Corinto de Roma quando o Imperador Cláudio ordenou que todos os judeus abandonassem a cidade. Quando Paulo chegou a Corinto, ele permaneceu com esse casal e, evidentemente, lhes ensinou muito a respeito das coisas de DEUS. Eles levaram esses ensinamentos a sério, pois, quando eles viajaram para Éfeso, eles instruíram um ministro chamado Apoio a respeito do evangelho de JESUS CRISTO.
Apoio tinha ouvido e crido numa parte da mensagem cristã e, com grande eloqüência, estava ensinando vigorosamente o que tinha conhecido. Mas, quando Áqüila e Priscila o ouviram pregar, eles perceberam que ele não tinha recebido toda a mensagem, de maneira que o levaram para um lugar à parte e lhe expuseram de modo mais completo. Depois disso, Apoio pôde pregar com muito mais eficiência.
Quando nós vamos a CRISTO para a salvação, DEUS está nos chamando para "irmos e fazermos discípulos" (Mt 28.19). Do mesmo modo, quando DEUS nos chama para sermos líderes, ele nos orienta a ajudar equipar outros para que possam liderar de modo mais eficiente.
A LEI DO CRESCIMENTO EXPLOSIVO: O SEMINÁRIO DE PAULO ALCANÇOU A ÁSIA
(At 19.8-10)
Paulo deu início a uma miniatura de seminário em Éfeso para ensinar a estudantes os pró e os contra do evangelho. Durante dois anos, ele reuniu jovens e os treinou na Escola de Tirano. Sem dúvida, a educação requer aplicação prática, pondo as mãos na massa, experimentando, pois Lucas diz que todos na Ásia Menor ouviram a pregação do evangelho durante estes dois anos (At 19.10).
Como ele estava orientando estudantes, Paulo permaneceu comprometido com o povo, com o processo e com o propósito.Seu treinamento sempre resultou em atividades de um grande comissionamento. Paulo comprometeu-se pessoalmente em desenvolver líderes. Vamos ver como nós também podemos fazer ao treinarmos líderes:
1. Conheça-se a si mesmo; fique familiarizado com suas fraquezas e fortalezas.
2. Conheça a pessoa que você quer desenvolver.
3. Defina, claramente, os objetivos e as atribuições.
4. Ensine os "porquês" depois das atribuições.
5. Discuta o processo de crescimento deles comparado com o seu.
6. Tome tempo para conviver com eles.
7. Permita-lhes observar você servindo e liderando.
8. Dê-lhes dos recursos de que você mesmo necessita.
9. Encoraje-os a fazerem registros durante o processo.
10. Tenha-os por responsáveis em seu trabalho.
11. Dê-lhes a liberdade de errar.
12. Avalie e confirme-os regularmente.
PAULO: O CORAÇÃO DE UMA LIDERANÇA EFICIENTE
(At 20.18-24)
O que você é advém do que você faz! Liderança é "ser" antes de "fazer".
Enquanto Paulo falou aos efésios, ele descrevia os ingredientes para alguém ser um líder efetivo. Paulo guiava de alma. Ele fez apelos, até chegou a chorar na frente das pessoas. Mas uma coisa é certa: a liderança começa com o coração. Paulo tinha um coração que era...
1. Consistente - ele viveu com serenidade enquanto esteve entre eles (v. 18);
2. Contrito - ele agiu de modo humilde e voluntariamente revelou suas fraquezas (v. 19);
3. Corajoso - ele não se abalava por fazer as coisas de modo correto (v. 20);
4. Convicto - ele falava pessoalmente sobre suas convicções (v. 21);
5. Comprometido - ele deixou Jerusalém, desejoso de morrer por CRISTO (vs. 22-23);
6. Cativo - ele mostrou que uma pessoa que se rende a DEUS não precisa sobreviver (v. 24).
COMUNICAÇÃO: PAULO ADAPTA E COMPARTILHA SUA HISTÓRIA PARA CONVENCER
(At 22.1-21; 26.4-23)
Por três vezes o Livro de Atos conta a história da conversão de Paulo. Por duas vezes ele conta sua história diante de autoridades do governo. Em ambos os casos, ele adapta sua história e enfatiza a parte que vai atender às necessidades de sua platéia.
Líderes efetivos sabem não apenas o que dizer, mas também como dizer, de maneira a tornar sua mensagem com poder de impacto maior diante de seus ouvintes. Quando eles falam, eles levam em conta o impacto que isso vai causar, não a impressão. Eles avaliam a sua platéia e lhe comunicam de modo que se obtenha a melhor ligação com os ouvintes. Em seguida, eles os ajudam a fazer aplicações práticas de sua mensagem.
Tente um pequeno exercício. Leia o testemunho de Paulo em Atos 22 e 26, com a perspectiva de comparar e diferenciar os dois em seus interesses. Que diferenças você notou? Quais são as semelhanças? Por que ele deu uma ênfase tal a uma platéia e outra diferente para a segunda? O que você aprendeu com Paulo a respeito de se dar uma forma especial para cada grupo diferente de ouvintes?
FELIX, FESTO E AGRIPA - Líderes que cometeram falhas
(At 23.23—26.32)
Quando esteve diante de dois homens poderosos, o Governador romano Festo e o Rei Agripa, esse homem apareceu esfarrapado e algemado. Agora, Paulo, que esteve na prisão mais de dois anos e que estava tendo de encarar a possibilidade de sofrer sentença de morte, falou destemidamente sobre a ressurreição de CRISTO.
Festo havia herdado essa questão de seu antecessor, Félix, que aprisionou Paulo sob a acusação de estar incitando tumultos entre judeus e encorajando rebeliões contra Roma. Ambos, Félix e Festo, estavam mais preocupados em agradar os judeus do que em fazer o que é certo. Quando Festo falou ao rei Agripa, que o visitava, a respeito do problema de Paulo, o rei lhe deu a oportunidade de uma audiência. Paulo aproveitou essa oportunidade para apresentar suas experiências com CRISTO, mas, quando Agripa as ouviu, elas pareceram a Festo como algo a respeito do que nunca tinha ouvido nada.
Ambos os governantes tiveram, naquele dia, a oportunidade de se converterem a CRISTO. Mas eles não aceitaram o convite. E por que não? Aparentemente, sua posição de poder e de liderança lhes era mais valiosa do que a condição de sua alma.
Líderes de DEUS sabem que a busca de um profundo conhecimento (ou obediência) de JESUS é mais importante do que qualquer outra coisa, incluindo a obtenção do poder ou a proteção que vem dele. O poder não somente corrompe; ele também dispersa, diferentemente do genuíno caráter que podemos obter através da submissão a CRISTO.
PAULO - O líder mais influente da Igreja primitiva
(At 26.1-23)
Desde o início de tudo, a vida de Paulo em CRISTO influenciou grandemente a todos que estavam à sua volta.
Esse perseguidor da Igreja, agora feito apóstolo, esteve diante de reis, governadores e de todas as estruturas de poder religioso de sua época. Seus inimigos o acusavam, o aprisionaram, maltrataram e o ameaçaram com a morte. Ele viajou milhares de quilômetros e ainda sobreviveu a um naufrágio. Em meio a todas essas coisas, Paulo nunca deixou de defender e pregar com coragem e com vigor o evangelho de JESUS CRISTO.
Paulo não se tornou um líder influente por causa de sua eloqüência ou por possuir algum dom muito especial que os outros não possuíam. Paulo conseguiu influência porque, apesar das circunstâncias, se ele esteve em algemas durante qualquer outro interrogatório, se ele estivesse lançado em alguma prisão fria e úmida ou se ele pudesse andar livremente para fazer seu trabalho, ele estaria comprometido a uma única coisa: pregar o nome de JESUS CRISTO.
Sem questionamento, Paulo tornou-se o mais influente líder da primeira Igreja. Nós continuamos a sentir ainda hoje o poder de sua influência.
Pelos padrões do mundo, então e agora, Paulo deve ter parecido um fanático. Mas tudo o que ele fez foi obedecer ao chamado de DEUS para influenciar o mundo à sua volta. Líderes sábios gostariam muito de poderem seguir o exemplo de Paulo ao, propositadamente, falarem a Palavra de DEUS tanto para o Corpo de CRISTO, como para o mundo descrente.
PERSUASÃO: LÍDERES FALAM PARA TRANSFORMAR E NÃO APENAS INFORMAR
(At 26.1-29)
Em uma de suas falas públicas mais instigantes, Paulo quis atingir o rei Agripa. Quando você estiver lendo este capítulo, tente sentir a estratégia de Paulo. Paulo acreditava que a melhor defesa seria uma boa forma de atacar e rapidamente converter o rei Agripa. Observe como este líder tentou convencer seu ouvinte:
1. Ele apareceu tranqüilo, embora usasse gestos bem animados (v. I);
2. Ele, humildemente, agradeceu ao rei lhe ter concedido a palavra (v. 2);
3. Ele reconheceu o conhecimento e habilidade do rei (v. 3);
4. Ele admitiu que sua vida era um livro aberto (v. 4);
5. Ele lhe recordou que sua vida passada era conhecida deles (v. 5-8);
6. Ele identificou que a oposição que ele enfrentava estava relacionada à nova vida que ele tinha assumido (vs. 9-11);
7. Ele usou uma narrativa para defender a mudança de sua vida (vs. 12-18);
8. Ele descreveu que seus motivos eram puros e edificantes (vs. 18);
9. Ele admitiu que estava obedecendo a uma visão divina (vs. 19-20);
10. Ele expôs que a causa de seu sofrimento era por causa de sua obediência a DEUS (v. 21);
11. Ele mostrou como DEUS lhe foi favorável durante sua vida (v. 22);
12. Ele afirmou que estava pregando as palavras das Escrituras (vs. 22-23);
13. Ele os desafiou com fatos verificáveis e racionais (v. 25);
14. Ele admitiu que o rei conhecia esses fatos (v. 26);
15. Ele confrontou diretamente o rei com uma questão (v. 27);
16. Ele pediu a eles que obedecessem a DEUS (v. 29).
VISÃO: A VISÃO DE PAULO O GUIOU PARA A VITÓRIA
(At 26.12-29)
A visão de Paulo no caminho de Damasco tornou-se a força que o mantinha cativo ao seu sucesso O apóstolo nos ensina sobre o poder de uma visão A visão que DEUS deu a Paulo realizou uma série de coisas:
I . Ela o parou (vs. 12-15).
A visão nos permite que vejamos a nós mesmos Nós vemos coisas não como elas são, mas como nós somos.
2. Ela o enviou (vs. 16-18).
A visão nos permite ver os outros. Ela nos compele a agir.
3. Ela o fortaleceu (vs. 20-23).
A visão nos capacita a prosseguirmos apesar das lutas e de nossa falta de recursos.
4. Ela lhe deu maior alcance (vs. 24-29).
A visão lhe deu poder para ficar em pé, confiaça para falar e compaixão para dividir.
5. Ela o satisfez (v. 19).
A obediência a essa visão motivou Paulo a agir Isso o satisfez.
A LEI DE E. F. HUTTON: UM ACOMPANHANTE ASSUME O COMANDO
(At 27.1-44)
Como era um acompanhante em um navio-prisão virtual, Paulo, de início, não teve influência
(At 27.11). Ao final da viagem, contudo, todos o estavam ouvindo, inclusive o centurião. Veja como foi que esse líder conseguiu ser influente:
1. Ele conquistou a confiança (v. 3).
Júlio havia dado privilégios especiais a Paulo, percebendo sua probidade.
2. Ele tomou a iniciativa (vs. 9-10).
Mesmo sem permissão ou posição, Paulo tomou a dianteira e agiu.
3. Ele possuía boa opinião (v. 10).
A fala de Paulo revelava sabedoria e experiência.
4. Ele falava com autoridade e credibilidade (v. 21).
Sem constrangimento, Paulo falava para a tripulação que ele tinha tido razão antes.
5. Ele era otimista e confiante (vs. 22-24).
Paulo falava cara a cara.
6. Ele deu encorajamento (v. 25).
Paulo deu esperança de sobrevivência e salvação.
7. Ele era honesto (v. 26).
Paulo falou com ternura à tripulação que eles deveriam enfrentar o problema.
8. Ele não se comprometeu em absoluto (vs. 27-32).
Paulo não quis jamais se afastar das instruções de DEUS.
9. Ele não perdeu seu foco (vs. 33-34).
Ele pôs seu foco em seus objetivos e não nos obstáculos.
10 . Ele liderou por meio do exemplo (vs. 35-38).
Paulo liderou ao dar um modelo de atitude correta.
11. Ele, finalmente, obteve sucesso (vs. 39-44).
Paulo, em conseqüência, realizava aquilo que ele se determinava a fazer.
A LEI DA BASE SÓLIDA: PAULO CONQUISTOU O DIREITO DE SER OUVIDO
(At 28.3-6)
Como Paulo permaneceu vivo depois que uma cobra o havia picado, os moradores daquela ilha o proclamaram um deus (At 28.6). A credibilidade vem em uma dessas maneiras: alguém pode lhe emprestar a sua ou você pode conquistá-la da vida que você leva. As pessoas dão credibilidade aos líderes que concluem seu trabalho. ________________________________________ Comentário EsperançaAtos 26:1-7– O DISCURSO DE PAULO PERANTE FESTO E AGRIPA- Atos 26.1-32
1 – A seguir, Agripa, dirigindo-se a Paulo, disse: É permitido que uses da palavra em tua defesa. Então, Paulo, estendendo a mão, passou a defender-se nestes termos:
2 – Tenho-me por feliz, ó rei Agripa, pelo privilégio de, hoje, na tua presença, poder produzir a minha defesa de todas as acusações feitas contra mim pelos judeus;
3 – mormente porque és versado em todos os costumes e questões que há entre os judeus; por isso, eu te peço que me ouças com paciência.
4 – Quanto à minha vida, desde a mocidade, como decorreu desde o princípio entre o meu povo e em Jerusalém, todos os judeus a conhecem;
5 – pois, na verdade, eu era conhecido deles desde o princípio, se assim o quiserem testemunhar, porque vivi fariseu conforme a seita mais severa da nossa religião.
6 – E, agora, estou sendo julgado por causa da esperança da promessa que por DEUS foi feita a nossos pais,
7 – a qual as nossas doze tribos, servindo a DEUS fervorosamente de noite e de dia, almejam alcançar; é no tocante a esta esperança, ó rei, que eu sou acusado pelos judeus.
8 – Por que se julga incrível entre vós que DEUS ressuscite os mortos?
9 – Na verdade, a mim me parecia que muitas coisas devia eu praticar contra o nome de JESUS, o Nazareno;
10 – e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam.
11 – Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os perseguia.
Agripa não responde pessoalmente ao discurso de abertura do governador. Por meio dela considera-se transformado em dirigente da reunião, cortesmente concedendo a palavra a Paulo. Conseqüentemente, ouvimos, pela última vez, o apóstolo num grande discurso. É um discurso de defesa, sendo também expressamente designado como tal por Lucas. No entanto, ele se torna um ataque evangelístico pessoal ao rei, porém igualmente aos ouvintes dessa hora singular.
2/3 Novamente Paulo inicia o discurso com uma captatio benevolentiae, como corresponde à natureza da questão e se esperava claramente na arte retórica. Contudo também nesse ponto sua palavra não é artificial, mas objetivamente acertada. Paulo pode se justificar perante um homem do judaísmo que não está perplexo como Félix ou Festo diante “dos costumes e questões que há entre os judeus”, mas que os conhece, e que apesar disso não está de antemão fechado contra sua palavra através do ódio, como os sumo sacerdotes e anciãos. Paulo sabe apreciar essa feliz conjuntura. Aqui ele pode falar com insistência e, não obstante, contar com ser “ouvido com paciência”.
4/5 Sua justificativa não reside em determinadas opiniões, não em provas fundamentais e correlações lógicas, mas reside única e exclusivamente em sua história.546 Por isso ela é relatada mais uma vez, assim como Israel não se cansava de recordar sua história com DEUS. Grande peso recai sobre seu rigoroso passado judaico. Tarso já nem é mais mencionada. De antemão deve-se evitar qualquer desconfiança de que Paulo seja um “judeu da diáspora”, para quem seria relativamente fácil renegar a fé. Foi isso que ele também enfatizou no retrospecto de Fp 3.5: “hebreu de hebreus”, ou seja, um israelita genuíno e pleno apesar do nascimento em Tarso. Ele poderia trazer muitas testemunhas desse fato. Contudo, esse passado não representa simplesmente um contraste com sua atual condição de cristão.547 O verdadeiro fariseu não apenas olhou para a lei e seu cumprimento rigoroso, mas precisamente desse modo visava o futuro, a vinda do Messias. Nisso Paulo continuou sendo um “fariseu” é nisso que via o ponto em comum.
6/7 Nesse sentido, com máxima seriedade, todo o serviço de Paulo tem como base “a esperança da promessa que por DEUS foi feita a nossos pais, a qual as nossas doze tribos, servindo548 (a DEUS) fervorosamente de noite e de dia, almejam alcançar”. Sem dúvida havia nesse “serviço para DEUS”, que visa aproximar a vinda do Messias, todo o “desconhecimento” da “justiça própria” diante de DEUS. Contudo, apesar de toda a clareza e contundência do julgamento, também em Rm 10.2s Paulo teve de falar com respeito pessoal desse “zelo” por DEUS. Por que não haveria de enfatizar outra vez, naquela hora diante do rei de seu povo, o que o ligava a Israel e ao grupo fariseu em Israel? “Os dons e a vocação de DEUS são irrevogáveis” (Rm 11.29). A incredulidade de Israel não consegue anular a fidelidade de DEUS (Rm 3.3). As promessas emitidas a nossos pais continuam em vigor. Essa sempre foi a convicção de Paulo, que lhe confere agora uma formulação especial pelo fato de que, apesar das dez tribos do reino do Norte, desaparecidas no exílio, continuam sendo “nossas doze tribos”. É capaz de afirmá-lo honestamente, sem qualquer diplomacia inautêntica: “É por causa desta esperança, ó rei, que estou sendo acusado pelos judeus.”
8 No entanto, parece que o rei fez um gesto de desaprovação ou pelo menos de dúvida. “Paulo, não estás querendo afirmar que estás sendo odiado e acusado pelos judeus por ser um fariseu rigoroso e sustentar a esperança messiânica de Israel!” “Não, meu rei”, respondeu Paulo, “mas porque anuncio o verdadeiro cumprimento da esperança de Israel pela ressurreição de JESUS dentre os mortos!549 Para mim ela se transformou, de mero dogma e expectativa incerta, em atualidade viva pelo agir de DEUS. Isso, porém, as pessoas não querem ouvir!” Afinal, por que não? “Por que se julga incrível entre vós que DEUS ressuscite os mortos?”
9 Paulo fala a partir da mesma situação em que também hoje muitos crentes ainda prestam seu testemunho: simplesmente não conseguem conceber porque as pessoas rejeitam a preciosa e libertadora mensagem de JESUS – e no passado elas mesmas fizeram parte dos que a rejeitaram energicamente! É por isso que Paulo está lembrando precisamente agora: “De minha parte, eu tinha na verdade julgado que deveria combater por todos os meios o nome de JESUS, o nazareno” [TEB]. Em parte alguma ele descreve sua atividade de perseguição de forma tão radical e concreta.
10/11 Não fala apenas de aprisionamentos, como em At 8.3 e 9.2, mas também de sentenças de morte, para as quais “dava seu voto” favorável.550 Sim, agora ele revela suas recordações mais graves: “Muitas vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar.” Com que sentimentos ele pode ter suportado pessoalmente os cinco flagelos nas sinagogas (2Co 11.24), lembrando-se das pessoas que amavam a JESUS e que ele tentava forçar pelos açoites a blasfemar contra o precioso nome de JESUS!551 Paulo fornece um dado especial também a respeito da extensão de sua luta contra a igreja de JESUS: “E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estrangeiras os perseguia.” De acordo com a narrativa de At 8 e 9, poderíamos ter a impressão de que Paulo escolheu Damasco como primeira localidade estrangeira após sua atividade em Jerusalém. Na verdade isso seria estranho e inverossímil. Agora somos informados de que Paulo ampliou cada vez mais a área em que exercia a perseguição.
RESUMOS DAS LIÇÕES - CPAD - https://www.cpad.com.br/revista-licoes-biblicas-aluno-4-tri-950004/p O Apóstolo Paulo: Lições da Vida e Ministério do Apóstolo dos Gentios para a Igreja de CRISTO
Subsídios das lições deste trimestre foi escrito por Marcelo Oliveira, chefe do Setor de Educação Cristã; bacharel em Teologia, licenciado em Letras; pós-graduado em Educação, Gestão e Docência.
Lição 1 - O Mundo do Apóstolo Paulo
Neste trimestre, estudaremos a vida e o ministério do apóstolo Paulo. O mundo em que viveu, os processos pelos quais passou, os oponentes contra a sua mensagem que enfrentou, enfim, as diferentes circunstâncias na vida do apóstolo configuram uma série de lições edificantes para a nossa caminhada cristã. Temas como perseguição, conversão, vocação, poder no ESPÍRITO, plantação de igrejas, discipulado, liderança, dentre outros, serão objetos de nosso estudo. Nesse sentido, ao longo deste quarto trimestre, temos a oportunidade de aprender com o apóstolo dos gentios.
O assunto desta primeira lição é sobre o mundo em que o apóstolo viveu. Temos como objetivo geral refletir sobre como o mundo de hoje pode ser uma porta aberta para a pregação do Evangelho. Para atingir esse objetivo, estudaremos o mundo do apóstolo Paulo no Império Romano, na cultura grega e na religião judaica.
Resumo da lição
A respeito do império romano, estudaremos seu desdobramento político e geográfico. Esse desdobramento impactou o ministério do apóstolo. Por meio da “pax romana”, um ambiente de relativa paz no império, de suas malhas viárias e seus meios de transportes, o apóstolo teve uma boa oportunidade para realizar suas diversas viagens missionárias.
A respeito da cultura grega, o grego koinê mostrou-se relevante na difusão dos escritos apostólicos, além de a filosofia grega abrir oportunidades para novos pensamentos e ideias. Esse fenômeno linguístico e cultural trouxe grandes oportunidades para o ministério do apóstolo no mundo gentílico.
A respeito da religião judaica, o apóstolo era perito em seus ensinamentos. A religião judaica também influenciava determinadas áreas do império por meio das sinagogas. A moral judaica como fruto da Lei de Moisés trouxe grande contribuição ao ministério do apóstolo. Esse contexto ajudou na comunicação do Evangelho pelo ministério do apóstolo.
Aplicação
É muito importante que façamos o seguinte exercício reflexivo: a exemplo do apóstolo Paulo, devemos conscientizar-nos do que há no mundo hoje que seja possível ser útil para a propagação do Evangelho. Às vezes a nossa profissão pode abrir a porta do Evangelho. Uma viagem pode abrir a porta do Evangelho. O uso de uma tecnologia ou de uma arte pode abrir a porta do Evangelho.
Lição 2 - Saulo de Tarso, o Perseguidor
Nesta lição, estudaremos sobre as características que constituíam a personalidade persecutória de Saulo. O nosso objetivo geral com este estudo é conscientizar os irmãos de nossas classes acerca do problema da perseguição religiosa que milhares de cristãos espalhados pelo mundo sofrem. A perseguição aos cristãos é um problema neste século e, infelizmente, por causa de pensamento ideológico ou por puro preconceito, é solenemente ignorada pela ONU, pela imprensa internacional e, principalmente, pelas organizações de Direitos Humanos espalhadas pelo globo.
Resumo da lição
Para fazer essa conscientização, estudaremos as características persecutórias de Saulo no primeiro tópico. Ali, há traços na personalidade de Saulo que mostram como ele perseguia os cristãos. Primeiro, blasfemava contra eles, insultando-os como heréticos do judaísmo. Segundo lugar, ele os perseguia nas casas, nas praças, intentando sempre a envergonhá-los. Terceiro, os oprimia com violência, açoites, sem qualquer respeito ao ser humano que professava a fé cristã.
Um segundo objetivo específico é mostrar no segundo tópico a perseguição à igreja de Atos por meio de um caráter mais amplo e sistemático. Ora, a igreja não era perseguida apenas por um indivíduo, mas também por uma religião (o judaísmo), sob o auspício de um império (o romano). Nesse sentido, por trás de Saulo, havia o mecanismo da religião oficial e do poder imperial.
E, finalmente, o último objetivo específico é mostrar como esse sistema religioso e político operava contra a igreja. Havia ali prisões deliberadas e corroboradas pelo império romano. Havia açoites oficiais, confabulações entre a religião oficial com o império romano. Toda a estrutura religiosa e estatal estava a disposição para perseguir a igreja que nascia e crescia em Jerusalém.
Aplicação
Busque informações especializadas acerca da realidade persecutória da igreja contemporânea. O site da Missão Portas Abertas é um dos que tem credibilidade em dados. É uma das maiores instituições de apoio à igreja perseguida no mundo.
Converse com alunos a respeito de milhares de cristãos vivendo a mesma realidade concreta dos crentes em Atos dos Apóstolos. Eles são perseguidos pela religião oficial do país em que estão, bem como pelo poder político.
Lição 3 - A Conversão de Saulo de Tarso
Na lição desta semana, falaremos sobre a maravilhosa graça de DEUS na vida de Saulo, o perseguidor, e, ao mesmo tempo, sua resposta em arrependimento e fé ao Senhor JESUS. O nosso objetivo nesta lição é asseverar que o nosso Senhor nos salva pela graça mediante a fé, mas, ao mesmo tempo, devemos responder a esse chamado com arrependimento e fé. Assim ocorre a verdadeira conversão, o novo nascimento.
Resumo da lição
O primeiro tópico apresenta a conversão de Saulo como um ato da graça de DEUS. Ali, percebemos que a iniciativa de se revelar a Saulo foi do nosso Senhor. Ele se revelou ao futuro apóstolo. Saulo viu o Senhor ressurreto por meio de uma experiência sobrenatural.
O segundo tópico relaciona a conversão de Saulo a doutrina bíblica da conversão, mostrando que a obra de conversão no ser humano começa no arrependimento e perpassa uma vida de transformação. Arrepender-se é a condição básica para a verdadeira conversão.
O terceiro tópico elenca três faculdades interiores do ser humano que são afetadas com a verdadeira conversão: intelecto, emoção e vontade. A verdadeira conversão faz com que o ser humano todo seja regenerado, então, ele pode agora pensar, desejar e fazer o que é do alto.
Aplicação
Este estudo nos mostra que a verdadeira conversão traz uma nova maneira de pensar, sentir e agir. Vivemos num tempo de profunda confusão existencial. Pessoas pensam uma coisa, desejam outra e fazem outra coisa completamente diferente do que pensam e desejam. A conversão bíblica harmoniza coração do crente. Agora é possível pensar nas coisas do céu, desejá-las e executá-las (Fp 4.8; Cl 3.2-5). Assim, somos celestialmente coerentes, pois pensamos, sentimos e agimos segundo o ESPÍRITO SANTO que habita em nós.
Num contexto de confusão espiritual, a presente lição destaca a importância de cada seguidor de JESUS apresentar uma coerência existencial como resultado de uma verdadeira conversão. Isso implica crente que não têm dúvidas a quem pertencem. Essa convicção exige uma atitude destemida de viver o Evangelho de maneira clara, coerente e profunda. Nós pertencemos ao Senhor, não há como voltar ao antigo modo de vida. A única alternativa que a Palavra de DEUS nos dá é avançar, seguir em frente. Jamais retroceder. Portanto, não retroceda. Avance!
Lição 4 - Paulo, a Vocação para Ser Apóstolo
A lição desta semana tem como tema a vocação. Nela, através da vida e do ministério do apóstolo Paulo, perceberemos como DEUS vocaciona pessoas para a sua obra. Por isso, estudaremos sobre o ponto de partida para a vocação de Paulo; a efetivação da vocação do apóstolo Paulo por meio do seu encontro com o CRISTO Ressurreto; e o aprendizado de Paulo no deserto para exercer a sua vocação.
Resumo da lição
O primeiro tópico salienta que a presciência divina e a pessoa do ESPÍRITO SANTO são o ponto de partida para a vocação do apóstolo Paulo. DEUS o chamou para uma grande obra para viver na plenitude do ESPÍRITO. A vocação de Paulo tinha sido gestada em DEUS e confirmada no ESPÍRITO SANTO como agente impulsionador do apóstolo.
O segundo tópico enfatiza a experiência gloriosa do apóstolo com o CRISTO Ressurreto que fundamentou sua vocação apostólica. Paulo viu o esplendor glorioso do CRISTO Ressurreto por meio de uma experiência sobrenatural que mudou completamente sua vida e ministério. Essa experiência gloriosa mudou definitivamente a vida do apóstolo.
O terceiro tópico relaciona a vocação de Paulo com o aprendizado no deserto. Este aperfeiçoou a vocação do apóstolo em que sua vida foi tremendamente trabalhada por DEUS para fazer a obra divina. As lições do deserto confrontaram as convicções de Paulo e o prepararam para a sua mais nova etapa de vida. O apóstolo foi forjado pelo ESPÍRITO SANTO.
Aplicação
A presente lição nos ensina que a vocação de DEUS traz experiências profundas. Muitas vezes o ESPÍRITO SANTO usará circunstâncias em nossas vidas para nos ensinar a respeito de coisas que servirão lá na frente para nos trazer esperança com base na experiência. É preciso aprender com as lições do “deserto” da vida ministerial. Os desafios são muitos. Os obstáculos são grandes. Todavia, o aprendizado é muito maior para nos tornarmos maduros na fé. Por isso devemos aproveitar as lições dos “desertos” que enfrentamos.
É tempo de confiar inteiramente em DEUS e em sua soberania. Quando Ele nos chama, faz com que a nossa vida seja conduzida sempre em direção ao nosso chamado. Muitas vezes não nos damos conta disso. Entretanto, é DEUS trabalhando em nosso favor e nos levando ao centro de sua vontade. Que sejamos sensíveis à voz do ESPÍRITO SANTO. Ouçamos o Senhor!
Lição 5 - “JESUS CRISTO, e Este Crucificado” – A Mensagem do Apóstolo
O objetivo desta lição é ressaltar o centro da mensagem cristã: JESUS, e este crucificado. O apóstolo descobriu essa verdade sobre o CRISTO Ressurreto e, como consequência, fez de sua missão de vida pregar o Evangelho por meio do Crucificado aos gentios. Nesse sentido, o Crucificado é o centro da mensagem apostólica. Logo, a vida e o ministério de Paulo estimulam-nos a ter esse mesmo propósito e firme compromisso com a mensagem da Cruz.
Resumo da lição
Para desenvolver o propósito da lição, o primeiro tópico destaca a centralidade da pregação de Paulo. Em Paulo, a pregação tem íntima relação com o CRISTO Crucificado, por isso ela é considerada loucura da pregação entre judeus e gentios. É uma mensagem humilde que faz com que o ser humano olhe para si mesmo e peça misericórdia a DEUS pelas suas misérias.
O segundo tópico elenca as expressões-chave na pregação de Paulo. Expressões como “Evangelho de CRISTO”, “CRISTO Crucificado” e “CRISTO Ressurreto” são trabalhadas de modo a resumir o conteúdo da mensagem do apóstolo dos gentios. Podemos dizer que o Evangelho de CRISTO pode ser sintetizado no “CRISTO Crucificado” e no “CRISTO Ressurreto”.
O terceiro tópico pontua os efeitos da mensagem do Evangelho. Esses efeitos se revelam no crente por meio de uma vida no poder de DEUS, na humildade e na dependência do ESPÍRITO SANTO. Ora, a mensagem da cruz é uma mensagem de poder. A mensagem da cruz nos constrange a viver de maneira humilde. E, finalmente, a mensagem da cruz nos ensina a depender exclusivamente do ESPÍRITO.
Aplicação
A presente lição nos ensina que não podemos deixar de pregar mensagem da cruz ao pecador. É uma mensagem de poder. Somos instados pelo ESPÍRITO SANTO a proclamá-la com autoridade. Ao mesmo tempo, somos chamados a viver de maneira humilde, pois a mensagem da cruz nos constrange a uma atitude singela e abnegada.
É uma mensagem que nos faz contritos diante de DEUS. E, finalmente, somos estimulados a viver na dependência do ESPÍRITO SANTO de DEUS na obra da proclamação do Evangelho. Sem o ESPÍRITO SANTO não podemos ser bem-sucedidos.
A mensagem da cruz nos faz depender menos de nós mesmos e mais do ESPÍRITO SANTO. Essa mensagem traz a verdadeira sabedoria para a vida. Amemos, portanto, a mensagem da cruz e a proclamemos até a morte!
Lição 6 - Paulo no Poder do ESPÍRITO
O ponto mais importante desta lição é que o aluno, após estudá-la, esteja consciente a respeito da necessidade de viver na plenitude do ESPÍRITO para fazer a obra de DEUS. Nesse sentido, os demais tópicos colaborarão para que o aluno tenha essa consciência. Não podemos deixar de reconhecer que é a dependência do ESPÍRITO SANTO que garante a eficácia da evangelização e o crescimento saudável da Igreja de CRISTO.
Resumo da lição
O primeiro tópico da lição procura expor a verdade de que CRISTO deve ser pregado no poder do ESPÍRITO. No ministério de Paulo, observamos o quanto o apóstolo era movido pelo ESPÍRITO SANTO. Todo o seu caminho percorrido na exposição da Palavra de DEUS tinha o ESPÍRITO SANTO como agente confirmador e sustentador. Pelo ESPÍRITO, Paulo não tinha outra missão, senão, a de pregar CRISTO JESUS no poder do alto.
O segundo tópico tem como objetivo identificar o argumento de Paulo sobre a plenitude do ESPÍRITO. O que o apóstolo quer dizer com essa expressão? Para isso, o texto bíblico (At 18) mostra como Paulo agiu para que Apolo fosse doutrinado acerca do ESPÍRITO SANTO. Apolo era um pregador habilidoso, mas não havia experimentado ainda o poder do ESPÍRITO. Ou seja, além de nascer de novo, o seguidor de JESUS pode e deve ter uma experiência sobrenatural por intermédio do Batismo no ESPÍRITO SANTO com evidência das línguas estranhas.
Terceiro tópico apresenta as fontes de Paulo para a experiência no ESPÍRITO SANTO. Em primeiro lugar, sem dúvida, eram as Escrituras Sagradas. Embora a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade não aparecesse de maneira clara no Antigo Testamento, era possível percebê-la e confirmá-la com a revelação em CRISTO JESUS que o apóstolo acabara de tomar contato. Em segundo, a experiência do Pentecostes foi algo marcante que chegou ao apóstolo, embora este não estivesse participado daquele evento.
Aplicação
Assim, fica claro que o Batismo no ESPÍRITO SANTO é uma capacitação indispensável para a eficiência da obra de DEUS e o melhor exercício de uma vocação. É preciso que os vocacionados se encham do ESPÍRITO SANTO para fazer a obra de DEUS com poder. Um poder que vem do alto, que vem de DEUS. Deixe claro que não é vontade divina viver uma vida espiritual sem experimentar uma dimensão mais profunda do ESPÍRITO SANTO.
Lição 7 - Paulo, o Plantador de Igrejas
A Igreja de CRISTO tem a sua dimensão visível na igreja local. Para se estabelecer uma igreja local é preciso que haja pessoas disponíveis, e que tiveram uma experiência com CRISTO, para plantar igrejas. Nesse sentido, a lição desta semana tem como propósito motivar a igreja local, especificamente pessoas vocacionadas, a plantar novas igrejas. O Movimento Pentecostal cresceu porque houve crentes dispostos que ouviram a voz do ESPÍRITO SANTO para abrir suas casas como um ponto de pregação ou desbravar o interior do Brasil.
Resumo da lição
Para atingir a esse propósito, o tópico primeiro mostra que o apóstolo Paulo foi um desbravador do Evangelho sob uma gloriosa obrigação de pregar o Evangelho de CRISTO. Não há dúvidas de que o apóstolo foi o grande desbravador do Evangelho no mundo gentílico. Ele plantou igrejas em lugares que pessoas nunca haviam tido contato com o nome de JESUS. Essa disposição era vista pelo apóstolo como uma gloriosa obrigação a ser cumprida. E ele a cumpriu com alegria.
O tópico segundo procura sinalizar Antioquia como um lugar estratégico para o crescimento da Igreja Primitiva. Tratava-se de uma igreja missionária. Dela, muitas outras igrejas foram geradas no Reino de DEUS. Isso lembra muito o crescimento das igrejas pentecostais no Brasil. A partir de uma igreja numa determinada localidade, Belém do Pará, milhares de igrejas foram gestadas no país. Uma igreja referência cumpre uma função estratégica para plantar novas igrejas. Ela desempenha esse papel formando, capacitando e enviando novos obreiros.
O terceiro tópico procura pontuar as características de um plantador de igreja. Uma dessas primeiras características está na motivação do plantador. No ministério de Paulo vemos que essa motivação se deu a partir de sua experiência gloriosa com CRISTO. Essa experiência faz com que o plantador de igrejas tenha um senso de urgência no mundo a respeito da evangelização. Além, claro, de esse plantador ser experimentado nos obstáculos da caminhada e perseverar na plantação de igrejas segundo as Escrituras.
Aplicação
Esta lição nos ensina que é preciso ter experiência com CRISTO. Quem tem essa experiência verdadeira tem tudo para buscar a vocação missionária. É preciso também ser compromissado com a Palavra de DEUS, a Bíblia. Ela é o esteio de regra de fé e prática da igreja local.
Lição 8 - Paulo, o Discipulador de Vidas
Pregar e ensinar são uma missão integral da Igreja de CRISTO. É necessário pregar o Evangelho, mas também é preciso formar pessoas segundo o Evangelho de nosso Senhor. Para isso existe o discipulado cristão. O ministério de Paulo nos ensina que, ao plantar igrejas, o apóstolo procurava sempre as confirmar, ou seja, averiguar conforme elas estavam progredindo na fé em CRISTO.
Resumo da lição
O objetivo geral da lição é revelar a missão integral da igreja no discipulado: pregar e ensinar. Para isso, o primeiro tópico relaciona o ministério do apóstolo Paulo com o discipulado cristão. Nele, o discipulado aparece como ordem do Senhor JESUS na Grande Comissão (Mt 28.19,20). Assim, o apóstolo observou essa ordenança com fidelidade à medida que pregava o Evangelho e discipulava os nascidos de novo. Seu método era simples: pregação, plantação de igrejas e formação dos novos crentes.
O segundo tópico salienta a integralidade da missão da Igreja: pregar e ensinar. Em Paulo, vemos que a pregação é o ponto de partida. Já o discipulado é o processo formativo a partir das minúcias do Evangelho. Assim, a Palavra de DEUS deixa claro que a igreja local deve ser um local de pregação com autoridade do Evangelho e, ao mesmo tempo, uma agência que ensina a Bíblia de maneira sistemática e didática a todo crente. Pregar e ensinar: eis a nobre e integral missão da Igreja de CRISTO.
O terceiro tópico pondera a respeito do discipulado com pessoas de culturas diferentes. O ministério de Paulo enfrentou o desafio de ensinar pessoas de diferentes culturas. Por exemplo, a Carta aos Romanos mostra que o público-alvo era constituído de judeus e gentios cristãos. Por isso, no capítulo 14 da carta, o apóstolo trabalha a ideia da tolerância em que esses grupos devem praticar entre eles. O desafio era cuidar da unidade no que era essencial. O processo do discipulado nos traz desafios em que o choque de culturas aparecerá inevitavelmente. Isso aconteceu em Romanos, aos coríntios, aos tessalonicenses. O discipulado cristão traz desafios culturais.
Aplicação
É necessário capacitar pessoas para exercer com zelo e piedade o discipulado cristão. Enfrentemos o desafio de chamar os pecadores e, posteriormente, formá-los segundo o Evangelho que apresentamos. Estejamos prontos para o desafio de comunicar o Evangelho aos outros.
Lição 9 - Paulo e sua Dedicação aos Vocacionados
Além de pregar, plantar igrejas, formar discípulos, o apóstolo dos gentios se dedicava ao máximo aos novos obreiros. É tocante como ele trata obreiros novos, como Timóteo e Tito, em suas cartas pastorais. O ESPÍRITO SANTO inspirou o apóstolo a registrar em cartas tal preocupação para que essa também fosse a preocupação das lideranças contemporâneas. Formar novas lideranças e cuidá-las são responsabilidades das lideranças mais antigas. A vida e o ministério de Paulo nos mostram que esse zelo é um aspecto importante de uma liderança sábia.
Resumo da lição
Neste propósito, o primeiro tópico aponta a cidade de Éfeso como ponto de partida dos vocacionados. A história da Igreja mostra que dali grandes obreiros se desenvolveram na seara do mestre. A despedida carinhosa de Paulo com os anciões de Éfeso mostra o quanto esse cuidado paulino era reconhecido entre os efésios. Não por acaso, a igreja de Éfeso ficou conhecida como a igreja que se destacava no zelo doutrinário. Ou seja, seus obreiros eram muito bem formados.
Com o objetivo de assinalar o legado doutrinário de Paulo para os novos líderes, o segundo tópico destaca advertência de Paulo a respeito dos judaizantes e dos gnósticos em relação à saúde espiritual da igreja. O apóstolo expôs ao longo de seu ministério o quanto era incompatível com a mensagem pura do Evangelho os ensinos dos judaizantes e dos gnósticos. O legado de Paulo nos mostra que salvação é mediante a graça de DEUS (advertência contra os judaizantes), mas que essa graça não pode ser banalizada nem profanada (advertência contra os gnósticos).
O terceiro tópico apela aos líderes a respeito do desprendimento material do obreiro para fazer a obra de DEUS, sobre o cuidado pessoal do obreiro e quanto às ameaças dos “lobos cruéis”. A vida e o ministério do apóstolo dos gentios ensinam esse modo virtuoso de agir na obra de DEUS. É preciso aprender a estar satisfeito com o que DEUS nos dá; precisamos nos apresentar a DEUS aprovados; é nosso dever agir com prudência em relação aos falsos obreiros.
Aplicação
Há muitos entre nós que se sentem vocacionados por DEUS para uma obra. O ministério de Paulo nos ensina que a igreja local, por meio de seus líderes mais maduros, deve cuidar dessas novas vocações com zelo e cuidado. Não se pode deixar essa chama se apagar.
Lição 10 - Paulo e seu Amor pela Igreja
Algo que se destaca com clareza no ministério de Paulo é o seu amor pela Igreja de CRISTO. Podemos dizer que todo o seu ministério foi desenvolvido sob o prisma do amor pela Noiva de CRISTO. Por isso, na lição desta semana, nosso objetivo principal é compreender e estimular os alunos a amar a Igreja de CRISTO. A relevância desta se lição está no contexto atual em que se tornou muito comum, e de maneira mórbida, criticar a igreja. Assim, nosso objetivo é olhar de maneira positiva sobre a importância da igreja local.
Resumo da lição
Para atingir esse objetivo, o primeiro tópico é um estímulo a amar a igreja local. Ele destaca o amor de Paulo pela Igreja. Nesse tópico, o apóstolo compara o seu amor pela Igreja como o de um pai para com o seu filho. Suas admoestações, exortações e conselhos tinham como base fundamental o amor. Um amor motivado pela causa do Evangelho. Um amor que norteava toda a vida do apóstolo. Esse amor era visível na igreja em Tessalônica e, da mesma forma que esse amor era visível na igreja do primeiro século, pode ser visível na igreja contemporânea.
O segundo tópico relaciona o amor com a fé na Igreja. Na igreja em Tessalônica a fé se relacionava com o amor, ou seja, a fé em CRISTO estimulava a vivência no amor. Uma das coisas mais extraordinária na vida cristã é quando o fervor espiritual estimula o amor fraternal, isto é, o desenvolvimento do fruto do ESPÍRITO que só pode ser amadurecido no relacionamento com o próximo. Nesse sentido, em Efésios, o apóstolo Paulo nos diz: “Enchei-vos do ESPÍRITO” (Ef 5.18). Assim, o resultado desse enchimento é visível na dimensão prática do amor na relação do crente com o cônjuge, com os filhos, com o patrão e com os funcionários (Ef 5.22 – 6.9).
O terceiro tópico elenca três virtudes visíveis na igreja em Tessalônica: fé, amor e esperança. A virtude da fé nos fala de nossa devoção ao Senhor, de nossa fé conforme a sã doutrina entregue pelos antigos. A virtude do amor diz respeito ao sentimento muito profundo que se manifesta na prática concreta ao próximo: carinho, atenção, suprir necessidade, cuidado, zelo. E, finalmente, a terceira virtude é a esperança. Esta é uma “irmã gêmea” da fé. Quem espera, persevera e, como consequência, tem esperança.
Aplicação
Nesta lição, somos chamados a amar a Igreja e, ao mesmo tempo, cultivar a fé e a esperança na igreja local.
Lição 11 - O Zelo do Apóstolo Paulo pela Sã Doutrina
O objetivo geral desta semana é asseverar o zelo da Igreja pela Sã Doutrina. Recebemos uma herança doutrinária dos apóstolos. Estes receberam-na do próprio Senhor JESUS. Por isso, o nosso desafio é perseverar nesse santo ensinamento e praticá-lo com todo zelo. Não podemos renunciar ao verdadeiro Evangelho. Num contexto em que há muitas falsificações, urge estar alertas quanto à pureza da preciosa doutrina.
Resumo da lição
Para desenvolver esse assunto, o primeiro tópico conceitua e relaciona os termos Ortodoxia e Heterodoxia. No sentido de mostrar o que queremos dizer com “zelo doutrinário”, é importante conhecer o que é ortodoxo e heterodoxo. Assim, ortodoxo é todo ensinamento que está de acordo com o que JESUS CRISTO ensinou e os apóstolos transmitiram aos novos seguidores de CRISTO. E heterodoxo é todo ensino que escapa a ordem e o contexto do que JESUS e seus apóstolos ensinaram.
O segundo tópico adverte para o perigo da corrupção doutrinária. Ou seja, qualquer ensino que escapa ao que JESUS e os apóstolos ensinaram. Na época apostólica, ensinamentos espúrios ameaçavam as igrejas locais. Filosofias pagãs eram disseminadas com vestimentas de ensinamento cristão. O apóstolo Paulo advertiu sobre isso em suas cartas, mostrando que a igreja local deve ter cautela e prudência, rejeitando sempre qualquer ensinamento que manche a pureza do santo Evangelho.
Finalmente, o terceiro tópico apresenta a Igreja como a guardiã da Sã Doutrina por excelência. Assim, o Senhor levantou ministros, pessoas chamadas para zelar pela Palavra de DEUS, bem como sua inerrância e suficiência, a fim de que o povo de DEUS seja edificado de maneira saudável. Logo, a Igreja de CRISTO deve exercer o seu papel de “coluna e firmeza da verdade”.
Aplicação
A lição nos ensina que há uma doutrina verdadeira, legada pelo Senhor JESUS CRISTO e seus apóstolos. É a nossa herança de fé. É um legado que não podemos abrir mão. É preciso mergulhar nesse legado.
A lição também adverte que há um perigo real de corrupção doutrinária. Muitos, infelizmente, dividiram igrejas por causa de modismos e vãos ensinamentos. É preciso não ignorar o perigo de um falso ensinamento. Finalmente, como Igreja de CRISTO, que é “coluna e firmeza da verdade”, devemos perseverar na Sã Doutrina. Aquela doutrina legada pelo Senhor e seus apóstolos.
Lição 12 - A Coragem do Apóstolo Paulo diante da Morte
Ter coragem diante da morte. A Bíblia também nos ensina a respeito de como o crente deve lidar com a morte. Por isso, a lição desta semana é uma oportunidade de conscientizar a classe sobre ter coragem diante da morte a partir da vida no ESPÍRITO e da esperança cristã. Quando a nossa consciência tem uma imagem vívida da bendita esperança, somos motivados a perseverar diante do sofrimento, conforme as palavras do salmista: “Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam” (Sl 23.4).
Resumo da lição
Para conscientizar a classe acerca desse importante ensinamento, o primeiro tópico mostra a consciência de Paulo quanto a padecer por CRISTO. A narrativa bíblica de Atos 21 apresenta a reação do apóstolo diante de uma profecia que afirmava que ele seria entregue nas mãos dos gentios (At 21.11). A resposta de Paulo revela a sua consciência profunda a respeito da esperança cristã: “[...] Estou pronto não só a ser ligado, mas ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor JESUS” (At 21.13). O ESPÍRITO SANTO enchia o apóstolo da esperança em CRISTO para que ele fizesse o caminho voluntário do martírio.
O tópico segundo aponta essa coragem apostólica para enfrentar as ameaças de morte. Ele revela que o ESPÍRITO SANTO era a fonte de sua coragem para morrer pela causa do Evangelho. Como estudamos em lições anteriores, o ESPÍRITO SANTO impulsionava o ministério apostólico de Paulo. Ele enchia o apóstolo e falava-lhe ao coração para fazer a vontade divina, mesmo que isso significasse correr riscos fatais pela causa do Evangelho.
O terceiro tópico destaca as acusações e prisões de Paulo no Templo. Essas acusações mentirosas implicaram a prisão do apóstolo. Entretanto, mesmo preso, o apóstolo foi muito produtivo na causa do Evangelho. Muitas de suas cartas foram escritas na prisão. O ministério de Paulo mostra-nos uma das verdades mais consoladora e encorajadora da fé cristã: quem vive na liberdade do ESPÍRITO, ainda que esteja fisicamente preso, continua experimentando a verdadeira liberdade em CRISTO.
Aplicação
O ESPÍRITO SANTO por meio da bendita esperança cristã nos encoraja e nos enche de confiança quanto ao padecimento por amor à causa de CRISTO. O ESPÍRITO faz isso por nós e em nós. Vivamos no ESPÍRITO! Tenhamos esperança!
Lição 13 - A Gloriosa Esperança do Apóstolo
Chegamos ao final de mais um trimestre. Esta última lição coroa o estudo sobre a vida e o ministério do apóstolo Paulo. A Palavra de DEUS mostra que o apóstolo cultivava a esperança cristã em sua vida e que ela cumpriu um papel importante diante de circunstâncias das mais difíceis na vida do apóstolo. Nesse sentido, com base na esperança apostólica, esta última lição tem como objetivo enfatizar a gloriosa esperança dos cristãos.
Resumo da lição
O primeiro tópico ressalta a consciência de Paulo diante de morte. Uma das coisas mais importantes na caminhada cristã é estar consciente diante do enfrentamento que se trava. O apóstolo estava preso e estava consciente de que a sua saída da cela era para a morte. Mas o que enchia o apóstolo de esperança era a herança espiritual que lhe esperava. O apóstolo já estava completamente desapegado da Terra, seu alvo era apenas ser participante da glória celestial que breve estaria diante dele.
O segundo tópico apresenta a doutrina bíblica de Paulo sobre a volta do Senhor. O tópico mostra que a volta de CRISTO se dará em duas fases: a primeira, visível somente aos santos do Senhor; a segunda, visível a todos os homens. A primeira fase é o Arrebatamento da Igreja e a segunda é vinda gloriosa e triunfal do Senhor JESUS com sua Noiva.
O terceiro tópico expõe sobre os tempos e estações até a volta do Senhor. Esse tópico ressalta que não cabe a nós adivinhar os tempos e as estações de que todas essas coisas acontecerão. O precisamos cultivar é uma vida no ESPÍRITO, com vigilância, aguardando que o Senhor venha a qualquer momento.
Aplicação
Com Paulo aprendemos que a esperança cristã lida com a morte de uma maneira concreta. A morte existe e não podemos evitá-la. Entretanto, é possível enfrentá-la de maneira gloriosa e sublime, pois a morte não é o fim, mas o início de uma nova etapa da vida cristã. Devemos nos preparar para essa etapa da vida cristã: o Arrebatamento da Igreja. Essa preparação envolve vigilância espiritual, santidade na vida e cultivo da verdadeira esperança. Nossos olhos devem estar voltados para esse grande acontecimento.
O nosso objetivo, portanto, não é adivinhar o dia e a hora da vinda do Senhor, mas viver a vida cristã na dimensão do ESPÍRITO SANTO e na dimensão do porvir. Nosso Senhor breve virá!
SUBSÍDIOS DA LIÇÃO 1 - CPAD OBJETIVO GERAL - Saber como o mundo de hoje é uma porta aberta para o Evangelho.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Apresentar o mundo de Paulo no império romano;
Discorrer sobre o mundo cultural de Paulo;
Descrever o mundo religioso de Paulo.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
Mais um ano está chegando ao fim. Neste último trimestre, estudaremos a vida e o ministério de um grande homem usado por DEUS: o apóstolo Paulo. É uma oportunidade para aprender e colocar em prática princípios eternos que nortearam a vida desse mui digno homem de DEUS.
Nesta primeira lição, você pode propor uma reflexão aos alunos a respeito das circunstâncias que o mundo de hoje nos oferece para pregar o Evangelho. À luz do mundo político, cultural e religioso do apóstolo dos gentios, reflita com os alunos as portas abertas para o Evangelho no mundo atual.
Apresente o comentarista do trimestre, o pastor Elienai Cabral, escritor, conferencista e consultor doutrinário e teológico da CGADB/CPAD.
PONTO CENTRAL - O mundo de hoje é uma porta aberta para o Evangelho SÍNTESE DO TÓPICO I - A “pax romana”, a geografia e os meios de transporte urbanos e do campo do império romano contribuíram para a propagação do Evangelho.
SÍNTESE DO TÓPICO II - O grego koinê era a principal língua do tempo do apóstolo e, como mola propulsora da cultura grega, ela contribuiu para a propagação da mensagem escrita do Evangelho.
SÍNTESE DO TÓPICO III - O apóstolo Paulo se identifica como judeu, pois ele foi criado dentro da fé judaica.
SUBSÍDIO PEDAGÓGICO TOP1
Esta lição nos mostra os três “mundos” do apóstolo Paulo: o romano, o grego e o judeu. O apóstolo teve certa liberdade para peregrinar dentro do império. Ele também se comunicou na língua predominante da época, o grego koiné, bem como fez uso da vasta literatura de seu tempo. Paulo também era judeu. A moral judaica estava presente em algumas partes do império por meio das sinagogas. A soma de tudo isso serviu ao ESPÍRITO SANTO para que a vida do apóstolo fosse usada integralmente para a causa do Evangelho no mundo gentílico.
Por isso, sugerimos que você introduza o assunto desta lição perguntando aos alunos acerca da contribuição cultural, política e religiosa que o mundo atual nos dá para pregar o Evangelho. Quais as necessidades que o mundo de hoje apresenta? Como o Evangelho pode preenchê-las?
SUBSÍDIO PENSAMENTO CRISTÃO TOP2
“À medida que o cristianismo se expandia no mundo romano, a Igreja Primitiva enfrentava muitas questões e desafios novos. Os pais escreveram e ensinaram, individualmente e em reuniões de concílios, no esforço de responder a essas questões. Muitas de suas soluções ainda formam um fundamento essencial para a reflexão teológica, a organização da igreja e a vida cristã.
Entre as contribuições da Igreja Primitiva para a formação de uma cosmovisão cristã, quatro áreas foram particularmente importantes: 1) autodefinição, quer dizer, a compreensão do que significa ser cristão em referência ao judaísmo, 2) a relação do cristianismo com a cultura não-cristã [grega], segundo reflexões feitas pelos apologistas ou defensores da fé, 3) a visão cristã de DEUS e de JESUS CRISTO nos primeiros concílios ecumênicos, e 4) a relação do cristianismo com o governo”(PALMER, Michael D. (Ed). Panorama do Pensamento Cristão. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p.113).
CONHEÇA MAIS TOP2
*O Evangelho no mundo gentílico
“O Evangelho já havia sido pregado em Jerusalém, Judeia e Samaria. Desarraigado pela mão feroz de Saulo, o perseguidor, estabeleceu-se na grande cidade de Antioquia. O propósito do Evangelho era ser transplantado. Antioquia, que veio a ser um centro missionário, foi o ponto de partida para Paulo.” Para ler mais, consulte a obra “Atos: E a Igreja se Fez Missões”, editada pela CPAD, p.145.
SUBSÍDIO PENSAMENTO CRISTÃO TOP3
“Desde o princípio, a Igreja recém-nascida achou-se num mundo multicultural. Seu contexto imediato e seus primeiros membros eram quase exclusivamente judeus. Uma preocupação inicial que a comunidade de crentes enfrentou dizia respeito à sua relação com o judaísmo do século I. O indivíduo tinha de se tornar judeu para ser verdadeiro seguidor de JESUS? A identificação com a comunidade de crentes livrava a pessoa de todas as expectativas tradicionais dos judeus? E as Escrituras dos judeus? Elas foram substituídas em todo ou em parte por JESUS CRISTO?
Estas preocupações estavam em primeiro lugar na mente dos autores neotestamentários, especialmente de Paulo. Como ‘apóstolo aos gentios’, Paulo estava particularmente preocupado que fossem permitidos tanto aos gregos, aos bárbaros (os não-gregos), aos judeus e aos gentios, terem uma posição igual na comunidade de fé (Gálatas 3.28; Colossenses 3.11).” (PALMER, Michael D. (Ed). Panorama do Pensamento Cristão. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p.113).
PARA REFLETIR - A respeito de “O Mundo do Apóstolo Paulo”, responda:
Paulo era natural de qual cidade? Tarso, capital da Cilícia.
O que Atos 9 mostra? Atos 9 mostra que, em sua infinita sabedoria e presciência, DEUS separou Paulo e o chamou a partir de uma experiência espiritual sobrenatural, bem diferente dos demais apóstolos, para levar o nome de JESUS ao mundo gentílico (At 9.15).
Qual era a língua mundial nos dias de Paulo? O grego koiné.
Como Paulo declara a sua defesa em Atos 22.3? Em Atos 22.3, Paulo declara a sua defesa assim: “Eu sou judeu, nascido em Tarso da Cilícia”.
A quem se restringia o mundo missionário dos primeiros apóstolos? O mundo missionário dos apóstolos de JESUS restringia-se, numa visão inicialmente limitada, apenas ao povo judeu (At 11.19).
CONSULTE - Revista Ensinador Cristão - CPAD, nº 87, p. 36. Subsídioshttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao9-ada-1tr11-aconversaodepaulo.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao10-ada-1tr11-oevangelhoentreosgentios.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao11-ada-1tr11-oprimeiroconciliodaigreja.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao12-ada-1tr11-asviagensmissionariasdepaulo.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao13-ada-1tr11-paulotestificadecristoemroma.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao1-2co-adefesadoapostoladodepaulo.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao7-2co-pauloummodelodeliderservidor.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao10-2co-adefesadaautoridadeapostolicadepaulo.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao11-2co-caracteristicasdeumautenticolider.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao12-2co-visoeserevelacoesdosenhor.htmhttp://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao13-2co-solenesadvertenciaspastorais.htmhttp://apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao8-cc-paulo-ummissionariozelosoeautentico.htm