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Lição 4 - A Celebração Primeira Páscoa 2pte
3.
Para nós.
A
Páscoa do Senhor, como assim é chamada, tem um grande significado para
nós. Ela deve nos fazer recordar de JESUS, nosso Cordeiro Pascal. Ele
entregou-se a si mesmo para que eu e você tivéssemos a vida eterna e o
acesso a DEUS. A nossa vida foi preservada porque Ele nos amou até a
morte.
É
evidente que não temos de celebrar a Páscoa com um cordeiro assado, com
pães asmos e ervas amargas. Para nós, cristãos, esses elementos fazem
parte da cultura judaica, e que serviriam por todas as gerações de
israelitas como uma lembrança da libertação do Egito.
Além
disso, a Páscoa foi chamada de “páscoa do Senhor” (Ex 12.11), pois ela
deveria ser comemorada em homenagem ao DEUS de Israel. Não é um momento
que deveria ser lembrado pelos israelitas posteriormente sem que
tivessem em mente que era uma lembrança sobre DEUS e sobre o que Ele
havia feito.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 39-40.
O TEMA
PÁSCOA NO NT E NA IGREJA, A atividade messiânica de JESUS alcança seu
clímax nos eventos de sua Ultima Páscoa. De acordo com João, a
crucificação aconteceu no primeiro dia da “Páscoa” (usado aqui
aparentemente como uma designação da Festa dos Pães Asmos). Os
sinópticos deixam claro que foi no primeiro dia da festa. João que
parece estar interessado especialmente em dados cronológicos registra
duas, ou até mesmo três Páscoas (João 2.13; 6.4; 12.1; cp.
W. F. Howard, The Fourth Gospel, revisado por C. K. Banet [1955], 122).
Contrário a C. H. Dodd (The Interpreter of the Fourth Gospel [1953],
234), há um bom motivo para se acreditar que João dedicou importância
especial ao tema da Páscoa. Seu evangelho, que enfatiza ser o Messias o
verdadeiro pão da vida, se ajusta notavelmente bem ao contexto pascal
(cp. Jo 6.3 lss. cp. V. Ruland, INT [Out., 1964], 451 ss.). A Páscoa é
igualmente importante para os evangelhos sinópticos; tanto que se pode
vislumbrar o evangelho de Marcos como uma Haggadah da Páscoa Cristã
escrita com o propósito de reinterpretar o tema pascal em termos
messiânicos como o Novo Êxodo (cp. John Bowman, The Gospel of Mark [
1965]). Um caso um pouco semelhante é 1 Pedro, que faz tantas alusões à
Páscoa que alguns estudiosos se sentem justificados em considerá-la como
uma liturgia pascal. Sugere-se que 1 Pedro é uma liturgia ligada à
vigília pascal em preparação ao batismo pascal, um costume amplamente
praticado na igreja primitiva (cp.
F. L. Cross, 1 Peter I [1954]; Roger Le Déaut, La Nuit Pascale [1963],
297; A. R. C. Leaney, NTS, X [1964], 238ss.).
Isto
pode provar, de maneira muito restrita, um conceito que tem sido
contradito por alguns (C. F. C. Moule; T. C. G. Thomton), mas não
mostra, todavia, quão profundamente o tema da páscoa está embutido no
NT. Outros livros do NT fazem alusões similares à Páscoa em conexão com
a mensagem cristã. Paulo claramente associa o Messias à Páscoa e compara
a vida cristã com o símbolo do pão asmo que permanece em sinceridade e
verdade (ICo 5.7 s.).
Uma
associação similar entre o Messias e a Páscoa existe no Judaísmo
rabínico. O dia 15 de Nisã é declarado como um tempo de alegria para
todos os israelitas, porque DEUS realizou um milagre (sinal) naquela
noite, mas na era que virá (i.e., no tempo do Messias) ele transformará
a noite em dia (cp. SBKIV, 55). Na Haggadah shelpesah, a expectativa
messiânica está ligada ao seder tanto pela referência direta ao Messias
como pela parte que Elias representa a tradição pascal. O costume de
abrir a porta à meia-noite, na primeira noite da Páscoa, já era
praticada no Templo de Jerusalém (cp. Jos. Ant.. XVIII. ii.2), e tem
implicações messiânicas definidas. Déaut mostrou a íntima associação
entre o ritual pascal e as expectativas messiânicas no Judaísmo rabínico
do séc. le. Isto se aplica até mesmo aos samaritanos que esperavam a
aparição de seu Taheb (Messias) no dia de Páscoa (cp. Déaut, op. cit.
281, 283).
O tema
pascal do NT, e em especial de João (cp.
A. Guilding, The Fourth Gospel and Jewish Worship [1960], 58ss.), foi
assumido pela igreja gentílica.
A
liturgia da vigília pascal e a tradição Quartusdecimus (décimo quarto)
de fazer a Páscoa coincidir com a Páscoa judaica persistiu na igreja por
séculos (cp. B. Lohse, Das Passafest der Quartodecimaner [1953];
Diepassa-Homilie des Bischofs Meliton von Sardes [1958]). A expressão “a
Páscoa da salvação”, entrou no vocabulário da igreja e foi usada
abertamente na liturgia (cp. Déaut, 296; apesar de Lohse ter
contradito). A identificação de CRISTO com a Páscoa cristã foi aceita
como premissa teológica: “a festa da Páscoa do Salvador”.
23.1),
significa tanto a Última Páscoa que JESUS celebrou, como a Páscoa cristã
quando a igreja celebra a ressurreição de CRISTO. Num jogo de palavras,
que somente é possível em grego é interpretado com o significado de
7iáa%co: “E no dia seguinte nosso Salvador sofreu, aquele que era a
Páscoa — sacrificado de modo propício pelos judeus” (Ante-Nicene
Christian Library XXIV, 167). Portanto, a Páscoa judaica e a Páscoa
cristã conservadas juntas de modo que o tema da páscoa do AT perdurasse
embora centrada na ressurreição de JESUS CRISTO.
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol.
4. pag. 786.
PÁSCOA
CRISTÃ (EASTER)
Preservamos entre parênteses a palavra inglesa, a fim de melhor destacar
o fato de que há uma diferença entre a páscoa dos hebreus e a páscoa dos
cristãos. Ver o artigo geral sobre a Páscoa, onde a versão cristã é
incluída em uma seção separada. Easter é uma palavra usada nos idiomas
germânicos para denotar a festividade do equinócio do inverno, e que,
dentro da tradição cristã posterior, passou a ser usada para denotar o
aniversário da ressurreição de CRISTO. Nas línguas latinas, como o
português, a palavra para «páscoa» vem do latim pascha, a qual, por sua
vez, alicerça-se sobre o termo hebraico, pesach , que significa «passar
por cima». O termo grego pascha também é derivado do hebraico, pelo que
é indeclinável.
A
origem da palavra Easter é controvertida. Alguns estudiosos pensam que a
mesma está ligada ao nome da deusa anglo-saxônica que representa a
primavera, Eoestre, Nesse caso, teríamos o comum fenômeno de um nome de
um costume pagão receber um significado cristão. Ou então, essa palavra
poderia estar relacionada às vestes brancas usadas durante a celebração
da festa cristã relativa à semana da páscoa. Nesse último caso, o plural
da palavra que significa «branco» foi confundido com a palavra que
significa «alvorecer», e, subseqüentemente, foi vinculado ao alvorecer
do dia da ressurreição. Seja como for, a celebração da ressurreição
antecede a tudo isso, visto que cada primeiro dia da semana,
originalmente, representava isso; e, pelos fins do século 11 D.C., a,
celebração da ressurreição como uma festa da Igreja cristã, já estava
bem estabelecida. No tocante a detalhes sobre a Páscoa Cristã, ver isso
como um subponto do artigo geral sobre a Páscoa.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 102-103.
II -
OS ELEMENTOS DA PÁSCOA
1. O
pão.
Na
noite em que seria a última dos hebreus no Egito, DEUS os preparou para
uma saída repentina, mas não sem se alimentarem. A ordem divina aos
hebreus não foi apenas para que sacrificassem um cordeiro e colocassem o
sangue dele na entrada da casa, mas também para que se alimentassem de
pão sem fermento, ervas amargas e do próprio cordeiro.
Cada
um deles tinha uma representação para os hebreus, que deveria ser
passada de geração a geração, para que se lembrassem do quanto DEUS
operou grandemente em prol dos filhos de Israel.
De
acordo com a descrição bíblica, o pão deveria ser sem fermento. A massa
não deveria passar pelo processo de fermentação, ou seja, seria levada
ao fogo tão logo estivesse pronta, sem ter de esperar para crescer. A
ideia era mostrar que os israelitas teriam pouco tempo para preparar sua
última refeição como escravos, pois logo sairiam para uma grande
jornada. E evidente que o uso do fermento poderia fazer com que a massa
dobrasse seu tamanho e alimentasse mais pessoas, mas a orientação divina
indicava a pressa com que os judeus iriam comer para saírem logo do
Egito.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 40.
O Pão
e o Vinho na Comunidade Judaica
Nas
terras do antigo Oriente o pão e o vinho, assim como determinados
produtos, eram as formas mais comuns de alimentação. O pão, iehem, que
aparece cerca de duzentas e oitenta vezes no Antigo Testamento, em
termos gerais significa “alimento”, “sustento”, indicando sua presença
indispensável para o sustento do povo hebreu.
O pão
era o principal alimento. A expressão “comer pão”, em hebraico,
significava “fazer uma refeição”.1 Noventa e cinco por cento dos
habitantes do mundo antigo tiveram como base alimentar os derivados do
trigo, além de água e vegetais. Escreve I. D. Lucírio: “natural da
região do mediterrâneo e oriental médio, o trigo começou a ser cultivado
em 8500 a.C. e se tornou uma das principais fontes de alimento do mundo
antigo, que não vivia sem pão”.2 Sara apressou-se em preparar pão para
os viajantes (Gn 18.1-6); os que trabalharam no campo se alimentaram de
pão (Rt 2.14); durante as guerras o pão era usado como alimento básico
para os soldados (1 Sm 16.20); no episódio da multiplicação, pães e
peixes foram usados por JESUS (Mt 14.13-21; Mc 6.30-44).
O pão
devia ser tratado com respeito, sendo proibido jogar fora até as
migalhas. Talvez os judeus utilizassem cães domésticos para esta função
— comer “... das migalhas que caem da mesa dos seus donos” (Mt 15.27).
O pão
mais comum no mundo antigo era feito de cevada, alimento dos pobres, por
ser mais barato. O pão de trigo era um luxo. O grão era moído por
mulheres ou escravos entre duas mós, cuja farinha fina era usada para
cozer bolos e também para fins litúrgicos. Três eram os métodos de
cozimento: 1.0 tannur (forno), tubo cônico onde a massa era cozida sobre
pedras quentes; 2. Bandejas redondas de metal colocadas sobre três
pedras, onde era aceso o fogo; 3. A massa, colocada sobre cinzas
quentes. Os judeus empregavam o pão para fins religiosos, sendo o ato
uma espécie de gratidão pelos cuidados providenciais de DEUS quando
simbolicamente entregavam, nos atos litúrgicos, parte do que foi provido
por Ele.
Além
dos animais usados nos sacrifícios veterotestamentários, os elementos do
pão apareciam em quase todos os atos sacrificiais, na classe de “ofertas
de cheiro suave”, que não tratavam do peca K Siinlii Ceio do, mas
falavam de gratidão, comunhão e consagração. O pão era usado em ofertas
pacíficas (Lv 7.12) e ofertas das primícias (Nm 15.17-20). Naturalmente,
fazia parte das cerimônias da Páscoa, e, posteriormente, na celebração
da Santa Ceia cristã, “E, tomando um pão, tendo dado graças, o
partiu...” (Lc 22.19) O pão não podia ser cortado, mas partido. Esse
gesto era comum entre as famílias judaicas, onde o pai, ao iniciar uma
refeição, tomava um pão e, após dar graças ao Senhor, partia-o em
pedaços e distribuía-os entre os membros de sua família.
2- O
Vinho:
A
origem do vinho é antiga. Sua produção no Oriente Médio data da
pré-história. O texto sagrado indica que Noé o utilizou (Gn 9-20ss).
Havia no mundo antigo diversos tipos de bebidas, entre elas o suco de
romã, de tâmaras, leite e shechar — uma espécie de cerveja feita de
cevada e painço. Entretanto, não se comparavam ao vinho.
O
vinho fabricado na Palestina era geralmente tinto, conforme indica a
expressão “sangue da uva” (Gn 49.11; Dt 32.14).
O
lagar, local onde se fazia o vinho, em geral ficava na própria vinha. As
escavações arqueológicas realizadas na antiga cidade de Gabaon revelam
que o lagar, segundo John McKenzie, era composto de dois tanques,
talhados na pedra a diversos níveis, com um pequeno canal que levava do
nível superior ao inferior.
A
primeira compressão se fazia espremendo a uva com os pés (Ne 13.15); era
um trabalho festivo, acompanhado de gritos (Jr 25.30; 48.33) e de
instrumentos musicais. Em seguida, os cachos eram espremidos por meio de
uma haste com uma pedra pesada, ou por meio de paus que serviam de
alavanca para os pesos. O suco da uva depois era colocado em tinas ou
recipientes de couro para a fermentação.
O
vinho é um dom e uma bênção do próprio DEUS (Dt 7.13; Pv 3.10; Os 2.10),
e evidentemente, à semelhança do pão, fazia parte nas ações litúrgicas
do povo judeu. Em sentido geral, todas as refeições têm para o judeu
sentido sagrado. O alimento e a bebida são dons de DEUS, dádivas que os
judeus não esquecem em sua orações:
Sobre
o pão:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso DEUS, Rei do universo, que da terra
tirais o pão.”
Sobre
o vinho:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso DEUS, Rei do universo, que criastes o
fruto da vinha.”
Sobre
o alimento:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso DEUS, Rei do universo, que criastes
tantas formas de iguarias.”
Sobre
as frutas das árvores: “Bendito sejas, ó eterno, nosso DEUS, Rei do
universo, que criastes os frutos da terra.”
Sobre
os produtos do solo: “Bendito sejas, ó eterno, nosso DEUS, Rei do
universo, que criastes os frutos do solo.”
Depois
das refeições:
“Bendito sejas, ó eterno, nosso DEUS, Rei do universo, que alimentais
todas as criaturas.”
Roberto dos Reis Santos. A Santa Ceia. Editora CPAD. pag. 9-11.
Êx
12.11 Comê-lo-eis à pressa. Essa foi a instrução final. Israel estava
com pressa para deixar para trás a servidão. O cordeiro pascal era
comido estando as pessoas em pé, de sandálias e as vestes cingidas.
Esses eram sinais externos da pressa que eles sentiam, por ordem de
DEUS. Esse foi um dos quatro elementos que não prosseguiram na
observância da páscoa em tempos posteriores. Ver as notas sobre Êxo.
12.6 quanto a isso. O cajado e as sandálias eram objetos que as pessoas
usavam fora da casa. Assim, apesar de estarem ainda dentro de suas
casas, eles estavam preparados para sair delas, prontos para a jornada.
Comiam vesti- dos para viajar. Já tinham estado no Egito por tempo
bastante. Um novo lar e um novo destino esperavam por eles.
As
sandálias usualmente eram tiradas por ocasião das festividades e dias
santos. Ver Gên. 18.4,5; Luc. 7.44; João 13.5. Na páscoa, porém, essa
situação era revertida. O cajado era companhia constante dos viajantes,
seu apoio e ajuda, e, ocasionalmente, sua defesa contra algum animal ou
bandido que porventura ata- cassem. Ver Sal. 23.4.
A
páscoa.
A
palavra hebraica equivalente deriva-se de um termo que significa
“coxear” ou “saltar” (II Sam. 4.4; I Reis 18.21,26). Mas aponta para o
fato que o anjo destruidor passou por cima das casas protegidas pelo
sangue do cordeiro, aplicado às ombreiras e verga da porta (Êxo. 12.23).
Temos
aqui o primeiro uso da palavra páscoa na Bíblia. Alguns pensam que a
palavra é de origem egípcia e significaria então “abrir as asas para
protegei, mas a maioria dos estudiosos prefere o sentido do hebraico.
Ver os vs. 24-27 quanto ao fato de que a páscoa foi fatal para os
egípcios, mas serviu de livramento para o povo de Israel.
Êx
12.34 Provisões Básicas. Os israelitas muniram-se de massa de trigo para
a sua primeira refeição no deserto. E também levaram amassadeiras, ou
seja, bacias de madeira, que podiam ser usadas para o fabrico do pão.
Sua partida súbita não lhes permitiu levarem pão normal, ou seja,
levedado. Mas a cena também fez parte da observação da festa dos pães
asmos (ver sobre isso no Dicionário, e comentários na introdução a Êxo.
12.1). Os israelitas partiram quando ainda estava escuro (Deu. 16.1),
provavelmente pouco antes do alvorecer. Cf. 0 vs. 39.
Êx
12.35 A Espoliação dos Egípcios. Isso havia sido predito bem antes, como
parte necessária do êxodo. Ver Exo. 3.21,22 e 11.2,3, onde aparecem
notas completas sobre a questão, visto que o ponto já tinha sido
mencionado nesses dois trechos, sobretudo no décimo primeiro capítulo do
Êxodo. A curiosa tradução, “pediram em- prestado”, mesmo que seja
possível com base no hebraico, seria um pequeno toque de humor do autor
sacro. Alguns eruditos pensam que houve, realmente, um saque, mas que
Moisés abrandou na narrativa, para que parecesse que os egípcios se
mostraram generosos. Tinham medo de perder a vida, e, naquele momento,
eram vítimas fáceis diante de qualquer tipo de aproveitamento.
Desde
os dias de Abraão, quando foi firmado o Pacto Abraâmico (ver as notas a
respeito em Gên. 15.18), o exílio e a subseqüente libertação tinham sido
preditos. Ver Gên. 15.13,14. Este texto conta como essa servidão chegou
ao fim, e como Israel começou a voltar para a sua Terra Prometida. A
Abraão foi revela- do que seus descendentes sairiam do Egito levando
“grandes riquezas". Isso incluía tanto o que eles haviam acumulado na
terra de Gósen, como o que agora os egípcios lhes tinham doado. Sem
dúvida isso serviu de reparação. Os ex escravos mereciam tudo quanto
tinham adquirido. Ver no Dicionário 0 artigo intitulado Reparação
(Restituição).
Êx
12.36 Generosidade e Saque. A combinação desses dois atos permitiu que
Israel extraísse grandes riquezas dos aterrorizados egípcios. Uma pessoa
fará quase qualquer coisa para salvar a sua vida. Os egípcios
julgaram-se pouco mais do que pessoas mortas (vs. 33), pois Moisés
poderia desfechar uma praga de modo súbito e generalizado. Assim, os
antes escravizados israelitas receberam o seu salário, a paga pelas
muitas décadas de cativeiro e trabalho árduo. “Israel arrancou deles
suas riquezas e bens, suas possessões mais valiosas" (John Gill, in
loc.). Artapano (apud Euseb. Praepar. Evan. 1.9 c. 27, par. 436) falou
sobre as bacias de madeira, sobre ricos tesouros e sobre vestes que os
israelitas receberam da parte dos egípcios, e a esse testemunho,
Ezequiel, autor de tragédias teatrais, adicionou a sua palavra (apud
Euseb., idem, c. 29, par. 443).
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 349; 352-353.
3- As
ervas amargas (Êx 12.8).
As
ervas amargas, conforme se entende, dão a entender que eram uma
representação da amargura com que os israelitas foram tratados no Egito.
Não era o tipo de iguaria que provavelmente trazia alegria em uma mesa,
mas sua utilização naquela refeição mostrava aos israelitas o sofrimento
pelo qual haviam passado, coisa que, se dependesse dos planos de DEUS,
jamais se repetiria.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 40-41.
ERVAS
AMARGAS
No
hebraico, merorim amargores e palavra usada apenas por três vezes no A.
T. (Êxo. 12:8; Núm. 9:11 e Lam. 3:15). O hebraico diz apenas
«amargores», uma palavra tio geral que agora não sabemos quais ervas
poderiam estar em foco. Alguns têm pensado em verduras como a chicória,
a alface, a acelga, a azeda, etc. Alguns pensam no agrião. Nos tempos
modernos, os judeus empregam a escarola e outras verduras, em um total
de cinco espécies, para conseguirem uma salada amargosa. Alguns
intérpretes supõem que, nos livros de Êxodo e Números, as ervas amargas
eram apenas a hortelã.
Uso de
Ervas na Páscoa. Nas Escrituras o amargor» simboliza aflição, miséria e
servidão (Exo. 1:14; Rute 1:20; Pro. 5:4), a iniqüidade (Jer. 4:18) e
também o luto e a tristeza (Amós 8: 10). Em face desses significados
simbólicos, os israelitas receberam ordens para celebrar a páscoa
utilizando-se de ervas amargas para relembrarem a amarga escravidão que
haviam sofrido no Egito (Êxo. 12:8; Núm. 9:11). Os documentos escritos
que chegaram até nós, provenientes do antigo Egito, mostram que eles
usavam várias ervas amargosas em suas saladas, e é bem possível que
Israel tivesse empregado algumas delas na celebração da cerimônia da
páscoa (ver o artigo).
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 2. Editora Hagnos. pag. 431-432.
Êx
12.8 A carne assada no fogo. Alguns têm pensado que o rito, antes de
fazer parte da páscoa, consistia em comer carne crua. Mas essa prática
teria sido descontinuada por Israel. 0 trecho de Deuteronômio 16.7
parece sugerir que carne cozida era uma alternativa para a carne assada.
A proibição ao consumo de sangue não permitia que a carne fosse comida
ema. A Mishna diz que o cordeiro era assado mediante 0 uso de um espeto
de madeira de romãzeira, que atravessava a carcaça. Não eram permitidos
nem metais e nem grelhas. Em suas condições primitivas, no deserto, 0
povo de Israel podia assar o cordeiro com mais facilidade do que usar
qualquer outra forma de cozimento. Posteriormente, porém, os cordeiros
eram cortados em pedaços e cozidos (I Sam. 2.14,15).
“Originalmente, o matzoth, a festa dos pães asmos, era distinto da
páscoa” (J. Coert Rylaarsdam, in loc.). Porém, havia uma festa
preliminar e primitiva dos pães asmos, em conjunção com a páscoa. Todos
esses ritos desenvolveram-se em tempos posteriores, e todos eles, em
alguma forma primitiva, provavelmente antecederam o evento do êxodo e da
páscoa.
Ervas
amargas. Essas ervas simbolizavam os sofrimentos de Israel antes de sua
libertação, e, como tipo, apontavam para os sofrimentos de CRISTO. A
Mishna (Pesahim, 2.6) dá os ingredientes necessários, sobre os quais
comentamos no artigo acima referido.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 349.
Êx
12.8 As ervas amargas (de variedade não especificada e, portanto,
provavelmente apenas uma nomenclatura geral; talvez alface selvagem seja
o que se quis dar a entender) eram provavelmente um tempero primitivo,
embora mais tarde os judeus as considerassem um símbolo do amargor da
escravidão de Israel. O evangelista pode ter visto aqui a chave para a “
mirra” amarga que foi misturada com o vinagre oferecido a CRISTO na cruz
(Mc 15:23), especialmente tendo-se em vista que Ele era considerado a
vítima pascal (1 Co 5:7).
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag.
103.
AS
ERVAS AMARGAS
Vemos
nas "ervas amargosas", que deviam acompanhar os pães asmos, a
significação e mesma utilidade moral. Não podemos desfrutar da
participação dos sofrimentos de CRISTO sem recordarmos o que tornou
necessários esses sofrimentos, e esta recordação deve, necessariamente,
produzir um espírito de mortificação e submissão, ilustrado, de um modo
apropriado, nas ervas amargosas da festa da páscoa. Se o cordeiro assado
representa CRISTO sofrendo a ira de DEUS em Sua Própria Pessoa na cruz,
as ervas amargosas mostram que o crente reconhece a verdade que Ele
sofreu por nós. "O castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas
suas pisaduras fomos sarados" (Is 53:5).
Por
causa da leviandade dos nossos corações é bom compreendermos a profunda
significação das ervas amargosas. Quem poderá ler os Salmos
6,22,38,69,88, e 109, sem compreender, em alguma medida, o significado
dos pães asmos com ervas amargosas1?- Uma vida praticamente santa, unida
a uma profunda submissão de alma, deve ser o fruto da comunhão
verdadeira com os sofrimentos de CRISTO, porque é de todo impossível que
o mal moral e a leviandade de espírito possam subsistir na presença
desses sofrimentos.
Mas,
pode perguntar-se não sente a alma um gozo profundo no conhecimento que
CRISTO levou os nossos pecados, e que esgotou, inteiramente, por nós, o
cálice da ira justa de DEUS? Por certo que é assim. E este o fundamento
inabalável de todo o nosso gozo. Mas, poderemos nós esquecer que foi"
por nossos pecados" que Ele sofreu Poderemos perder de vista a verdade,
poderosa para subjugar a alma, que o bendito Cordeiro de DEUS inclinou a
Sua cabeça sob o peso das nossas transgressões? Certamente que não.
Devemos comer o nosso cordeiro com ervas amargosas; as quais, não se
esqueça, não representam as lágrimas de um sentimentalismo desprezível e
superficial, mas sim as experiências profundas e verdadeiras de uma alma
que compreende com inteligência espiritual o significado e efeito
prático da cruz.
Contemplando a cruz, descobrimos nela aquilo que elimina a nossa culpa e
dá doce paz e gozo. Porém, vemos que ela põe de lado, inteiramente,
também, a natureza humana— representa a crucificação da "carne" e a
morte do "homem velho" (veja-se Romanos, 6:6; Gl. 2- .20; 6:14; Cl.
2:11). Estas verdades, nos seus resultados práticos, implicam muitas
coisas "amargosas" para a nossa natureza: exigem a renúncia própria, a
mortificação dos nossos membros que estão sobre a terra (Cl 3:5), e a
consideração do "homem velho" como morto para o pecado (Rm 6). Todas
estas coisas podem parecer terríveis de encarar; porém, uma vez que se
há entrado na casa cujas portas estão manchadas com o sangue veem-se de
uma maneira muito diferente. As mesmas ervas que, para o gosto de um
egípcio, eram, sem dúvida, tão amargosas, formavam uma parte integral da
festa de redenção de Israel. Aqueles que são remidos pelo sangue do
Cordeiro, e conhecem o gozo da comunhão com Ele, consideram como uma
"festa" tirar o mal e ter a velha natureza no lugar da morte.
C. H.
MACKINTOSH. Estudos Sobre O Livro De Êxodo. Editora Associação Religiosa
Imprensa da Fé.
4- O
cordeiro (Êx 12.3-7).
Deveria ser um animal macho, de um ano, sem manchas no corpo e sem
defeitos físicos. Esses eram requisitos para a celebração da Páscoa, mas
a colocação do sangue nos umbrais da porta é que foi eficaz para que o
anjo da morte não passasse nas casas dos israelitas: “E aquele sangue
vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue,
passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade,
quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12.13).
Observe que obedecer à ordem de DEUS integralmente fez a diferença na
Páscoa. De nada adiantaria separarem o cordeiro perfeito, prepararem-no
como uma refeição que deveria ser comida nos moldes designados e
simplesmente se esquecerem de que o sangue vertido do cordeiro deveria
ser colocado na porta da casa. Essa ordem era de pouca valia? Pense você
mesmo: Se fosse pai ou mãe judeu com vários filhos e, ao se esquecer
desse pequeno detalhe, perdesse seu primeiro filho? Portanto, os
israelitas levaram a sério essa ordem divina.
Aprenda que quando DEUS dá detalhes para que sigamos em uma empreitada,
esses detalhes devem ser seguidos com rigor, sob pena de perdermos algo
muito custoso para nós mesmos. O sangue do cordeiro deveria estar na
porta das casas. Ele impediria a morte no lar da família que temia ao
Senhor.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 41.
PÁSCOA, CRISTO COMO A
"...CRISTO, nosso Cordeiro pascal, foi imolado» (I Cor. 5:7). No seu
contexto, essa declaração tem um sentido moral. Deveríamos
desvencilhar-nos de todos os elementos estranhos à espiritualidade,
visto que CRISTO fez o seu grande e eterno sacrifício, que é o agente de
nossa purificação moral. Cumpre-nos abandonar nossa velha maneira de
viver.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 102.
Êx
12.3 Congregação de Israel. Aos dez deste mês. Dia da instituição e
observância da páscoa. A páscoa era uma observância de cada família, e 0
cordeiro pascal era a figura central. No livro de Deuteronômio o caráter
doméstico é substituído por um feriado religioso nacional. Finalmente,
tornou-se um dos sacrifícios efetuados no templo. Ver Eze. 45.21-25;
Lev. 23.5; Esd. 6.19,20; II Crô. 30; 35.1-19; Jubileus 49.
As
orientações aqui dadas, a escolha do cordeiro no décimo dia do primeiro
mês etc., de acordo com a Mishna (ver a respeito no Dicionário),
aplicavam-se somente ao rito original, o qual sofreu modificações em
tempos posteriores.
Um
cordeiro. No hebraico, seh, filhote da ovelha ou da cabra. Ambos os
filhotes eram usados durante a páscoa, mas acabou prevalecendo, por
costume, o cordeiro, de acordo com uma antiga tradição. Segundo a casa
dos pais. A nação de Israel estava organizada por famílias, clãs, tribos
e príncipes. Essa observância era importante para as famílias, e, então,
para a nação, em todas as suas expressões. Um cordeiro era selecionado
para cada família, a menos que esta fosse muito pequena, quando então
duas famílias podiam reunir-se para celebrar juntas a páscoa. Estavam
envolvidas razões econômicas (ver o vs. 4).
Êx
12.4 Compartilhando a Páscoa. Sacrificar um cordeiro era um evento
econômico avantajado. Uma família ou casa pequena podia compartilhar um
cordeiro com outra família. Josefo diz-nos que dez pessoas era 0 número
mínimo de uma casa (Guerras, vi.9.3). Esse número tornou-se 0 padrão
para a organização de uma congregação ou minis sinagoga judaica. Quando
duas famílias se uniam para celebrar a festa, elas ficavam separadas no
aposento, de costas uma para a outra, e assim era preservada a unidade
doméstica, apesar da cooperação. Um cordeiro pascal precisava ser
consumido inteiro, e uma família dificilmente poderia fazer isso em uma
única refeição. Ver Êxo. 12.10. Nenhuma pessoa podia comer sozinha do
cordeiro pascal. A festa não tinha valor no caso de uma pessoa isolada.
Era uma festa doméstica, uma observância comunal. A espiritualidade
sempre se manifesta melhor em um esforço grupal, o que não isenta o
indivíduo de outras práticas e observâncias solitárias, mas o convida a
participar do espírito de comunidade.
Por aí
calculareis quantos bastem. Em outras palavras, cada cordeiro seria
morto para um certo número de pessoas, as quais, juntas, deveriam
observar a páscoa.
Êx
12.5 O cordeiro será sem defeito. Não poderia haver nenhum tipo de
defeito físico, deformação, enfermidade etc. Como é óbvio, isso fala da
impecabilidade do Cordeiro de DEUS. Ver I Ped. 1.19 e João 1.29.
Macho
de um ano. Ou um animal que já tivesse completado seu primeiro ano de
vida, ou que ainda estivesse dentro de seu primeiro ano de vida, sem ter
ainda atingido essa idade. A Septuaginta fala em um ano completo, o que
tem levado a maioria dos estudiosos a pensar em uma idade exata do
animal a ser sacrificado. Mas há quem suponha que a prática original
fosse abater um cordeiro ainda bem novo, talvez com apenas algumas
semanas de nascido. Uma vida preciosa era sacrificada com esse propósito
religioso. Todas as vidas preciosas pertencem a DEUS Pai; e é Sua
responsabilidade cuidar de todas elas. Oh, Senhor, concede-nos tal
graça!
Um
cordeiro ou um cabrito. Portanto, originalmente, qualquer desses
filhotes podia ser usado, embora depois fosse tradicional servir um
cordeiro. Os Targuns mostram que a preferência era dada ao cordeiro,
embora também se usasse, ocasionalmente, um cabrito.
Êx
12.6 Décimo quarto dia. O animai a ser sacrificado era separado do
rebanho no décimo dia do mês, e, então, guardado para o sacrifício por
quatro dias. Os rabinos alistam quatro coisas supostamente derivadas
dessa exigência, a qual acabou não sendo preservada senão no começo da
história de Israel, a saber:
1. Originalmente, os cordeiros foram
consumidos na terra de Gósen, na residência de cada família israelita.
2. O cordeiro era separado no décimo dia do primeiro mês.
3. O sangue do
cordeiro abatido era usado para lambuzar ambas as ombreiras e a verga da
porta de entrada de cada casa.
4. O cordeiro era comido às pressas.
Quando
foi descontinuada a exigência acerca do décimo dia, naturalmente também
foi eliminada a exigência referente ao décimo quarto dia. Talvez aquele
período intermediário de quatro dias desse ao povo tempo amplo para que
as pessoas se certificassem de que o animal não tinha defeito. Essa
questão não podia ser tratada de modo superficial. Em tipo, de acordo
com alguns intérpretes, isso mostra CRISTO preservado em Sua infância,
enquanto estava sendo preparado para Sua missão expiatória.
Todo o
ajuntamento da congregação de Israel. No começo, isso indicava que cada
família cumpriria o seu dever religioso. Todas as famílias, em seu
conjunto, formavam a congregação de Israel. Posteriormente, passou a
haver um sacrifício comunal, quando a questão se tornou parte da
adoração no templo. Os chefes de família reuniam-se em um só lugar para
efetuar o sacrifício comunal. Os críticos vêem aqui uma referência a
esse costume posterior, e não à forma primitiva da observância. A Mishna
entende que três grupos de famílias entravam sucessivamente no átrio do
templo, para matar os cordeiros escolhidos. Nesse caso, para preservar a
exigência original de que o sangue fosse aspergido, os chefes de família
formavam uma espécie de brigada com baldes, apanhando 0 sangue dos
animais sacrificados e, então, aplicando-o às ombreiras e às vergas das
portas de cada casa. Ou, então, o sangue era derramado ao pé do altar,
que assim veio a substituir, posteriormente, as portas de entradas das
residências.
No
crepúsculo da tarde. Era o horário do sacrifício. Logo, tratava-se de
uma festa noturna, celebrada durante o tempo da lua cheia (vs. 8; ver
também Isa. 30.29). De acordo com a ortodoxia judaica, o abate do animal
ocorria ao aproximar-se a noite. A Mishna diz-nos que era apropriada
qualquer hora depois do meio-dia para esse abate. Os samaritanos, os
caraítas e os saduceus especificavam o crepúsculo, antes de as trevas
absolutas cobrirem a terra. A prática original por certo era consumir o
cordeiro pascal durante a noite. Josefo explanou que, em seus dias, o
sacrifício tinha lugar entre a nona e a décima primeira horas (entre as
15 horas e as 17 horas, Guerras, 1.6, see. 3). JESUS foi crucificado à
hora nona (Mat. 26.17).
Tomarão do sangue. Ou seja, aquela porção do sacrifício que, de acordo
com a antiga crença, destinava-se ao poder divino. Ver Lev. 1.5.
Originalmente, o sangue foi aplicado às ombreiras e à verga da porta de
cada casa, ou seja, a parte ais santa e dedicada da casa (Lev. 21.6;
Deu. 6.9). No dia da matança dos primogênitos no Egito, isso atuou como
uma medida protetora contra o anjo destruidor, que, vendo o sangue
aplicado, passaria por sobre a casa assim protegida. V« os vss. 22 e 23
deste capítulo, como também Êxo. 4.24, e as notas expositivas 3á
existentes.
No
Dicionário ver os artigos Sangue e Expiação (quanto a este seus pontos
quinto e sexto). Ver também ali os verbetes Expiação e Expiação pelo
Sangue. E na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia ver 0 artigo
Expiação pelo Sangue de CRISTO.
Alguns
estudiosos supõem que o uso do sangue, conforme aparece na primeira
páscoa, realmente antecedeu o evento, como um rito antigo que apelava
aos poderes divinos em busca de proteção contra forças espirituais
malignas, para que fosse preserva a paz na família. A porta, como
entrada que dava acesso à casa, seria o lugar lógico onde era aplicado o
sangue protetor.
Vida
ou Morte. O mesmo anjo destruidor (o Anjo de Yahweh) que matou os
primogênitos do Egito também foi o anjo protetor de Israel. Assim foi e
assim será sempre: escolhemos como o Poder Divino haverá de
relacionar-se conosco. No caso dos israelitas, o cordeiro era morto em
lugar dos filhos primogênitos, o que aponta para o poder vicário do
sacrifício de CRISTO.
Talvez
o sangue também simbolizasse um laço que congregava a família e a
comunidade, tendo-se tornado assim um sinal do pacto que todos eles
compartilhavam com Yahweh.
Expiação. O sangue do cordeiro pascal fazia uma expiação simbólica pelos
membros da família que se protegesse com o sangue aplicado à porta de
sua casa. Isso os protegeu da ira divina que estava à solta naquela
noite.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 348-349.
Êx
12.3. Toda a congregação de Israel. Esta é a primeira ocorrência no
Pentateuco do que viria a ser um termo técnico para descrever Israel em
sentido religioso {‘êdãh ocorre frequentemente com este sentido; em
Deuteronômio e livros mais recentes a forma preferida é qãhãl) e que
subjaz o uso da palavra ekklêsia (igreja) no Novo Testamento. A palavra
“ congregação” não é um termo abstrato: implica no ajuntamento da nação
de Israel, normalmente com propósito religioso.
Aos
dez deste mês. É provável que os israelitas primitivos, tal como os
chineses, dividissem o mês em três partes de dez dias cada, sendo a
primeira destas a “ entrada” e a última a “ partida” . Nosso conceito de
“ crescente” e “ minguante” é semelhante, embora baseado numa divisão do
mês em duas partes. Tal como a Páscoa, o Dia de Expiação caía no décimo
dia de um outro mês (Lv 23:26,27). Esta explicação é preferível à
suposição de que o número dez era tido como sagrado. A noite do décimo
quarto dia (quando o cordeiro devia ser morto, v. 6) seria exatamente a
metade do mês, quando presumivelmente haveria lua cheia.
Um
cordeiro. O termo hebraico, êeh, é neutro e deveria ser traduzido “
cabeça de gado (miúdo)” , aplicável igualmente a ovelhas e cabras de
qualquer idade. Os israelitas, tal como os chineses, pareciam considerar
qualquer distinção entre ovelhas e cabras uma subdivisão sem
importância.
Talvez
por causa disso, “ separar os bodes das ovelhas” veio a ser uma
expressão proverbial para indicar o discernimento divino ao tempo do
Novo Testamento (Mt 25:32). Quem conhece as ovelhas da Ásia, pequenas,
de cor marrom ou preta e com pelo curto e crespo, sabe bem da
dificuldade em distingui-las, exceto pelas caudas. Além disso, o seh
poderia ser de qualquer idade: o versículo 5 diz que deveria ser “ filho
de um ano” , expressão que pode significar “ do primeiro ano” , ou seja,
“ nascido há um ano ou menos” . Era assim, pelo menos, que entendiam os
rabis. As traduções modernas, que contêm a expressão “ macho de um ano”
, estão provavelmente forçando ideias ocidentais de cronologia a um
texto asiático. Em qualquer caso, porém, é apenas esta descrição de sua
idade que nos mostra que o sacrifício deveria ser um “cordeiro” e não
uma “ ovelha” adulta.
Para
cada família. A Páscoa era uma comemoração doméstica e familiar, o que
demonstra sua origem antiga. Aqui não há templo, nem tenda da
congregação, nem altar nem sacerdote: a ideia de representação, porém,
se não mesmo substituição, é claramente sugerida.
Êx
12.4. Por aí calculareis. Em dias mais recentes, o número mínimo de
pessoas que poderia comer um cordeiro era dez adultos; este número,
porém, foi alcançado através de uma exegese artificial. No principio,
parecia ser questão de apetite, ou do tamanho do cordeiro, ao invés de
teologia.
Êx 12.
5. Macho de um ano. O sacrifício deveria ser um macho jovem e sem
defeito algum, presumivelmente representando a perfeição da espécie. Se
já tivesse realmente um ano de idade, já estaria plenamente
desenvolvido.
Êx
12.6. No crepúsculo da tarde. Literalmente, “ entre as duas noites” .
Estudiosos judeus não chegam a um acordo quanto ao significado exato da
frase. A expressão é usada para descrever a hora do sacrifício
vespertino regular (29:39) e a hora em que as lâmpadas da tenda da
congregação eram acesas (30:8). O pietismo ortodoxo do judaísmo
farisaico entendia a frase como uma referência ao período da tarde entre
a hora em que o calor do sol começava a diminuir (digamos 3 ou 4 horas)
e o pôr-do-sol. Outros grupos preferiam o período entre o pôr-do-sol e a
escuridão, ou outras explicações semelhantes.
7.
Tomarão do sangue. Dificilmente se poderia classificar a Páscoa como um
sacrifício, no sentido mais recente da palavra. Não era diretamente
ligada a pecado, embora fosse “ apotropaica” no sentido de evitar o “
golpe” divino, havendo portanto um ritual cruento a ela associado.
O fato
de haver um ritual cruento não é em si mesmo digno de nota: notável
mesmo é o não haver qualquer associação de sacerdotes com um tipo de
rito que mais tarde seria estritamente limitado à sua participação.
É
claro, portanto, que esta cerimônia surgiu antes do estabelecimento do
sacerdócio “ profissional” em Israel. Como presumivelmente acontecia no
período patriarcal, o chefe da família fazia as vezes de sacerdote.
Todavia, a despeito deste resquício de tradição patriarcal, as ombreiras
e vergas sugerem vida sedentária, tal como Israel vivia em Gósen.
Embora, estritamente falando, não haja aqui o conceito de “ expiação” ,
o princípio básico do sacrifício cruento é o mesmo: representa uma vida
que foi sacrificada (Lv 17:11).
R.
Alan Cole, Ph. D. ÊXODO Introdução e Comentário. Editora Vida Nova. pag.
101-103.
A
Instituição da Páscoa. A Festa dos Pães Asmos w. 1-20
Moisés
e Arão aqui recebem do Senhor aquilo que deveriam posteriormente
transmitir ao povo com relação à celebração da páscoa, para a qual é
pré-fixada uma ordem, um novo estilo a ser observado quanto ao seu
calendário (w. 1,2): Este mesmo mês vos será o princípio dos meses. Até
aqui eles haviam começado o seu ano a partir de meados de Setembro, mas
daqui por diante eles deveriam começá-lo a partir de meados de Março, ao
menos em todos os seus cálculos eclesiásticos. Note que é bom começar o
dia, e começar o ano, e especialmente começar a nossa vida, com DEUS.
Este novo cálculo iniciava o ano com a primavera, que renova a face da
terra, e era usada como um símbolo da chegada de CRISTO, Cantares
2.11,12. Nós podemos supor que, enquanto Moisés estava trazendo as dez
pragas sobre os egípcios, ele estava orientando os israelitas a se
prepararem para a sua partida que poderia acontecer a qualquer momento.
É provável que ele tivesse acabado com a dispersão deles reunindo-os
gradualmente, pois aqui são chamados de ‘A congregação de Israel” (v.
3). Além disto, aqui as ordens são enviadas a uma congregação. O espanto
e a pressa deles, é fácil deduzir, eram grandes. Ainda mais agora que
eles devem se dedicar à observância de um rito sagrado, em honra a DEUS.
Note que não devemos nos esquecer da nossa religião, nem mesmo quando
nossas mentes estiverem repletas de preocupações, e nossas mãos
estiverem repletas de trabalho. Também não devemos permitir que haja em
nós qualquer tipo de indisposição para com os atos de devoção.
DEUS
determinou que, na noite em que eles sairiam do A Egito, eles deveriam,
em cada uma de suas famílias, matar um cordeiro, ou que duas ou três
famílias, se fossem pequenas, comessem juntas um cordeiro. O cordeiro
deveria ser preparado quatro dias antes, e, naquela tarde, eles deveriam
matá-lo (v. 6) como um sacrifício. Não de forma estrita, pois este não
era oferecido no altar, mas como uma cerimônia religiosa, reconhecendo a
bondade de DEUS para com eles, não apenas ao protegê-los das pragas
infligidas aos egípcios, mas libertando-os através delas. Veja a origem
da religião em família, E perceba a conveniência da reunião de pequenas
famílias para a adoração religiosa para que esta possa se tornar mais
solene.
no
cordeiro morto desse modo, eles deveriam comer assado (nós podemos
supor, em seus vários alojamentos), com pães asmos e ervas amargosas,
porque deveriam comê-lo apressadamente (v. 11), não deixando nada para o
dia seguinte. Pois eles dependeriam de DEUS para o pão de cada dia, e
não deveriam se inquietar pelo amanhã. Aquele que os conduzia os
alimentaria.
Antes
de comerem a carne do cordeiro, eles deveriam borrifar o sangue sobre as
ombreiras das portas, v 7. Através disso, suas casas seriam distinguidas
das casas dos egípcios, e assim os seus primogênitos estariam protegidos
da espada do anjo destruidor, vv. 12,13. Uma obra terrível seria
realizada nesta noite no Egito. Todos os primogênitos, tanto dos homens
quanto dos animais deveriam ser mortos, e julgamentos seriam executados
contra os deuses do Egito. Moisés não menciona o cumprimento neste
capítulo, mesmo assim ele fala sobre isso em Números 33.4. É muito
provável que os ídolos que os egípcios adoravam tenham sido destruídos,
os de metal derreteram, os de madeira foram consumidos, e os de pedra
foram feitos em pedaços, de onde Jetro deduz (cap. 18.11): O Senhor é
maior que todos os deuses. O mesmo anjo que exterminou os seus
primogênitos aniquilou os seus ídolos, que não eram menos queridos para
eles. Foi-lhes ordenado que aspergissem o sangue do cordeiro sobre as
ombreiras das portas para a proteção de Israel, um gesto que seria
aceito como um exemplo de sua crença nas advertências divinas e de sua
obediência aos preceitos divinos. Note que:
1. Se em tempos de
calamidade geral, DEUS protege o seu próprio povo e coloca um sinal
sobre as pessoas, elas serão escondidas no céu ou debaixo do céu, e
serão protegidas do impacto dos julgamentos ou ao menos de seus
aguilhões.
2. O
sangue da aspersão é a segurança do justo em tempos de calamidade geral;
é isso que os marca para DEUS, tranqüiliza consciências, e lhes dá
ousadia e acesso ao trono da graça. E assim se torna um muro de proteção
em volta deles e uma parede divisória entre eles e os filhos desse
mundo.
Esta
ordenança deveria ser observada anualmente em suas futuras gerações como
uma festa do Senhor, ao qual a festa dos pães asmos foi acrescentada, e
durante a qual, por sete dias, eles deveriam comer apenas pães sem
fermento, como um memorial por estarem inevitavelmente limitados a esse
tipo de pão por muitos dias após a sua saída do Egito, w. 14-20. Esse
compromisso é imposto para sua melhor orientação, e para que eles não
pudessem se enganar com respeito à páscoa. E também para despertar a uma
diligente observância deste ritual aqueles que, no Egito, tinham se
tornado tolos e descuidados nos aspectos da religião. Agora, sem dúvida,
havia muito do Evangelho nessa celebração. Ela é frequentemente
mencionada no Novo Testamento, e através dela nos é pregado o Evangelho.
Esta pregação também se estendia a eles, que não podiam olhar firmemente
para o fim dessas coisas. Hebreus 4.2; 2 Coríntios 3.13.
1. O
cordeiro pascal era uma tipificação do Salvador. CRISTO é a nossa
Páscoa, 1 Coríntios 5.7.
(1) Deveria ser um cordeiro. E CRISTO é o
Cordeiro de DEUS (Jo 1.29), frequentemente chamado no Apocalipse de “O
Cordeiro”, manso e inocente como um cordeiro, calado ante os
tosquiadores, diante dos açougueiros.
(2) Deveria ser um macho de um ano
(v. 5), uma primícias; CRISTO se ofereceu no meio de seus dias, não na
infância com os bebês de Belém. Isso denota a força e a suficiência do
Senhor JESUS, em quem está o nosso auxílio.
(3) Deveria ser um cordeiro
sem mácula (v. 5), simbolizando a pureza do Senhor JESUS, um cordeiro
imaculado, Hebreus 7.26; 1 Pedro 1.19. O juiz que o condenou (como se o
seu julgamento fosse feito apenas como a inspeção que era feita no
tocante aos sacrifícios, para verificar se eram sem mácula ou não) o
declarou inocente.
(4) Deveria ser separado com quatro dias de
antecedência (w. 3,6), indicando a designação do Senhor JESUS para ser o
Salvador, tanto no propósito quanto na promessa. Podemos observar que,
como CRISTO foi crucificado durante a páscoa, Ele entrou solenemente em
Jerusalém com quatro dias de antecedência, no mesmo dia em que o
cordeiro pascal era separado.
(5) O cordeiro deveria ser morto, e assado
no fogo (w. 6-9), o que simbolizava os sofrimentos intensos do Senhor
JESUS, até a morte, e morte de cruz. A ira de DEUS é como fogo, e CRISTO
se fez maldição por nós.
(6) Deveria ser morto por toda a congregação no
entardecer, entre os dois dias, isto é, entre três e seis horas da
tarde. CRISTO sofreu no fim do mundo (Hb 9.26) pela mão dos judeus, uma
multidão deles (Lc 23.18), e pelo bem de todo o seu Israel espiritual.
(7) Nenhum osso do cordeiro deve ser quebrado (v. 46), o que é
expressamente relatado como uma profecia que foi cumprida em CRISTO (Jo
19.33,36), simbolizando a força inquebrantável do Senhor JESUS.
HENRY.
Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a
Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 260-261.
III -
CRISTO, NOSSA PÁSCOA.
1.
JESUS, o Pão da Vida (Jo 6.35,48,51).
Um pão
pode ter mais de um sabor. Pode ter mais de uma forma. Pode ser feito
com diversos ingredientes. Pode ser barato ou caro. Pode ser mais leve
ou mais pesado. Mas sua função mais importante é saciar a fome. É para
isso que eles são feitos. Por que CRISTO é considerado o pão da vida?
Porque
Ele mesmo disse isso: “Eu sou o pão da vida; ("aquele que vem a mim não
terá fome” (Jo 6.35). Ele promete saciar a necessidade humana no que
concerne às questões da vida e à relação com DEUS, ao perdão dos pecados
e à vida eterna. A fome que temos de DEUS é saciada em CRISTO JESUS.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 41-42.
PÃO DA
VIDA, JESUS COMO
«Eu
SOU o pão da "'vida...» (João 6:35).
«Quem
comer a minha carne e beber o meu sangue tem a vida eterna... » (João
6:54).
«...isto é o meu corpo...isto é o meu sangue... » (Mateus 26:26,28).
«..o
que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede...
» (João 6:35).
«Assim
como o Pai, que vive, me enviou, e igualmente eu vivo pelo Pai; também
quem de mim se alimenta, por mim viverá» (João 6:57).
«Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho
ter vida em si mesmo" (João 5:26),
«os
mortos ouvirão a voz do Filho de DEUS; e os que a ouvirem, viverão"
(João 5:25).
Em torno
desses versículos gira o ensino de JESUS como o Pão da Vida. Essa profunda
ideia do cristianismo, que «JESUS, como o Pão da Vida», oferece aos
homens, está contida nas Escrituras de forma dispersa. As alusões a esse
conceito aparecem no evangelho de João; em alguns trechos
das epístolas paulinas, sobretudo no oitavo capitulo da epístola aos
Romanos e no primeiro capítulo da epístola aos Efésios; em 2 Coríntios
3:18 e em 2 Pedro 1:4.
Na
tentativa de descobrir e lançar luz sobre o assunto, examinaremos os
seguintes particulares:
1. A
orientação espiritual de João é mística, e não sacramental.
2. O
modo de expressão de João.
3. As
interpretações centrais do sexto capítulo do evangelho de João: a
interpretação simbólica, a sacramental e a mística.
4. A
Ceia do Senhor, em seu «símbolo» e na «verdade simbolizada».
5.
Indicações existentes no sexto capitulo do evangelho de João sobre a
veracidade da interpretação «mística».
Passemos, pois, à exposição de cada uma dessas particularidades:
A
Orientação Espiritual de João é Mística, e Não Sacramental.
Dentre os
quatro evangelhos, o de João é o mais místico e o menos sacramental.
João
1:29-34 - Encontramos nesse trecho a menção especifica do
batismo do ESPÍRITO SANTO, em que JESUS aparece tanto como o Cordeiro de
DEUS quanto como o Filho de DEUS. Nessa seção do evangelho de João,
pois, o batismo é de natureza mística, e não-sacramental.
Ainda
mais surpreendente que essa instância é a daquela outra passagem onde
poderíamos esperar uma descrição sobre a instituição da Ceia do Senhor
ou eucaristia, a saber, João 13:1-20. Pois, apesar de ser evidente que
essa passagem se refere à páscoa, sendo paralela aos trechos de Mat.
26:7-30; Mar. 14:17-26 e Luc. 22:14-39, contudo, nem ao menos há alusão
à instituição da Ceia do Senhor, ao passo que lemos ali uma longa
descrição da cerimônia do lava pés, que os demais evangelhos nem
mencionam, e que poderíamos julgar comparativamente sem importância, em
relação à Ceia do Senhor. Não obstante, nesse trecho do evangelho de
João, nos é ensinada uma verdade mística, o que também era muito
característico do autor do quarto evangelho; e por causa dessa verdade
mística, essa passagem obviamente se revestia de grande importância para
o seu autor.
O
sexto capitulo do quarto evangelho encerra o registro sobre essa
instituição da Ceia; no entanto, foi escrito não para descrever um
sacramento e, sim, para servir de expressão acerca de uma elevada
doutrina mística.
Devemos observar, por igual modo, que nesse sexto capitulo do evangelho
de João não há qualquer descrição acerca do modus operandi da cerimônia
da Ceia do Senhor, porquanto isso não se revestia de importância, aos
olhos do autor sagrado; pelo contrário, nos é exposto, com abundância de
pormenores, o sentido espiritual retratado por essa cerimônia; e esse
sentido espiritual é uma profunda verdade mística.
O
evangelho de João, portanto, aborda tanto o batismo como a Ceia do
Senhor de maneira mística, e não sacramental.
Modo
de Expressão de João
A fim
de ilustrar a natureza da pessoa de CRISTO, bem como a sua relação para
com o mundo, mais do que os outros evangelistas, o apóstolo João se
utiliza de termos simbólicos. Ê João quem chama o Senhor JESUS de «a
Luz», «a Água», «o Pão», «o Pastor» e «a Porta». O pão (que simboliza o corpo) é
declarado como algo que desceu do céu (ver João 6:32,58), o que mostra
que, antes de tudo, não está em vista alguma alusão ao corpo físico de
JESUS; antes, ele se refere a um tipo celestial de «pão», a um principio
espiritual, a uma comunicação e participação mística na vida divina.
Quando
falamos na «água», devemos ter em mente a
infusão da vida espiritual, recebida mediante a fé, e não algum
elemento
sacramental. Isso fica demonstrado pelo fato de que a grande passagem
joanina sobre a «água da vida» (o quarto capitulo do evangelho de João),
que nos fornece maiores detalhes sobre a significação tencionada
acerca
dessa «água», é registrada em um trecho totalmente separado do
capítulo
que versa sobre o batismo do Senhor JESUS. Ali a «água da vida» figura
como a comunicação do ESPÍRITO SANTO à alma humana (ver João 4:23,24),
em que essa água «mana» como uma fonte eterna, uma ação continua e
toda
possessiva, e não uma ação momentânea, como se verifica no caso de
qualquer rito. Além disso, deve-se notar que no trecho de João 7:39 o
próprio autor sagrado interpreta o símbolo da água, ao dizer:
«...
Isto ele disse com respeito ao ESPÍRITO que haviam de receber os que
nele cressem... »Torna-se evidente, portanto, que vocábulos como «pão»,
«água», «porta», etc., são expressões que indicam elevadíssimas verdades
espirituais, místicas quanto à sua natureza, e não sacramentais. Fica
suposto com razão, neste sexto capitulo do evangelho de João, segundo
acredito, que o «sangue» de CRISTO, que é «...verdadeira bebida...,
(João 6:55), tem um sentido equivalente ao atribuído à «água», nos
capítulos quarto e sétimo do evangelho de João, e que abordamos aqui a
transmissão da vida divina, por intermédio do ESPÍRITO SANTO.
O modo
de expressão do evangelho de João, portanto, é místico, e
não-sacramental.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 43-44.
Este
versículo faz um paralelismo exato com João 4:14.26. O sentido
espiritual completo é finalmente trazido à luz. Temos aqui o primeiro
dos grandes ·Eu sou», proferidos por JESUS, neste quarto evangelho: Eu
sou o pão do céu (ver o vs. 32). O pão de DEUS (ver o vs. 33). O pão da
vida (ver o vs. 35), o pão vivo (ver o vs. 51). Tudo isso deve ser
destacado em seus diversos aspectos, quais sejam:
1. A
mensagem de CRISTO é proveniente do céu e é transmitida por autoridade
celestial, porquanto ele vive em união com o Pai.
2. O
caráter distintivo da pessoa de CRISTO, que é o Filho de DEUS, o único
capaz de dar a vida eterna. Fica subentendido, por extensão, o caráter
distintivo do cristianismo.
3.
Tudo quanto CRISTO é em si mesmo, a sua Filiação especial e suas
qualidades especiais como doador da vida. É CRISTO quem dá e sustenta a
vida eterna, e nenhum desejo insatisfeito pode frustrar permanentemente
ao crente.
4. A
exclusividade de sua doação, porque ele é o Filho do único, sendo o
único que pode fazer tais reivindicações. Por conseguinte, essa vida
reside exclusivamente nele.
5. O Pai tem vida em si mesmo, porquanto não depende
de outrem para a sua existência. Assim sendo, o Pai possui vida
independente. E o mesmo que a vida necessária, por tratar-se da forma da
vida que não pode cessar de existir. Essa forma de vida o Pai deu ao
filho, quando de sua encarnação; e o Filho de DEUS por sua vez, a dá a
todos os homens que dele se aproximam. Aqui, portanto, é declarada a
participação, por meio dos que crêem em CRISTO, na vida eterna, que é
divina, necessária, independente.
O que
vem a mim jamais terá fome...o que crê em mim jamais terá sede...·. Com
essas palavras é frisada a necessidade de fé, conversão e regeneração,
conforme também isso foi vividamente salientado no terceiro, quarto e
quinto capítulos deste evangelho. O pão natural (maná) não satisfazia
necessidade alguma a menos que fosse apropriado, recolhido, triturado,
amassado, preparado em bolos e ingerido. É
mister que o indivíduo seja impelido pela fome para comer, e pela sede,
para beber. Aquele que não sente fome ou sede espiritual, não se
interessa por satisfazer essas condições. Isso, naturalmente, serve de
símbolo da necessidade e dos anelos da alma. E esses anelos são ao mesmo
tempo naturais para a alma - razão pela qual as Escrituras dizem que os
homens crêem em CRISTO, e são inspirados e produzidos por DEUS, na alma,
através da ação do ESPÍRITO SANTO - motivo por que as Escrituras ensinam
que os homens são dados ao Filho, pelo Pai, ou são atraídos ao filho
mediante as operações do Pai, conforme vemos nos vss. 37 e 39 deste
mesmo capítulo.
A fome
e a sede são símbolos aptos para os anseios espirituais, pois essas são
experiências comuns a todos os seres humanos. O homem reconhece,
instintivamente, o que significam essas condições. Os aldeões galileus
estavam bem familiarizados com tais condições e costumavam passar longas
horas de trabalho árduo, a fim de satisfazerem a essas necessidades
básicas. O Senhor JESUS, pois, salientou o fato de que é necessário que
os homens sintam fome e sede dos valores espirituais, e, mais
especialmente ainda, que devem querer diligentemente a vida eterna.
A fé
figura aqui, uma vez mais como o agente da conversão. Pois a conversão
consiste na fé e no arrependimento; e isso é o começo da regeneração,
bem como a fonte originária de tudo que é a vida eterna. Todas essas
questões são abundantemente comentadas neste quarto evangelho e o leitor
deveria examinar as seguintes referências: Sobre a «fé», em João 3:16 e
Heb. 11:1, sobre a «conversão, em João 3:3; sobre o «arrependimento»,
em Mat. 3:2 e 21:29; sobre a «regeneração», em João 3:3; e sobre a
«vida eterna», em João 3:15.
CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Candeias. Vol. 2. pag. 359.
“O
Verdadeiro Pão” (6.35-40). JESUS agora lhes declarou abertamente aquilo
que ficara oculto no sinal e no simbolismo. Se realmente quisessem o pão
que Ele lhes daria, precisariam saber que Ele era aquele pão. Eu sou o
pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome; e quem crê em mim nunca
terá sede (35; cf. 4.14; 6.48,58; 7.37- 38). Até agora, no Evangelho de
João, a expressão "Eu sou" já ocorreu duas vezes em declarações diretas de
JESUS sobre a sua divindade (4.26; 6.20). Aqui começa o uso de metáforas
fortes e expressivas. Elas aparecem dezessete vezes e os exemplos mudam:
por exemplo, Eu sou o pão da vida; “Eu sou a luz do mundo” (8.12); “Eu
sou a porta” (10.9). Westcott escreve: “Os exemplos com que se conecta
[Eu Sou] fornecem um estudo completo da obra do Senhor”.
Os
verbos vem e crê no presente retratam uma ação continuada e persistente,
e são importantes nesta seção. A implicação é que deixar de vir ou de
ter fé também significa a descontinuidade da satisfação da fome e da
sede.
O povo
tinha pedido um sinal (6.30) e agora JESUS lhes diz que eles têm um
sinal — a Encarnação (DEUS mesmo entre eles) — embora não acreditem. Já vos disse que também vós
me vistes e, contudo, não credes (36).
Nos
versículos 37-40, há dois temas principais. Primeiro, a vontade de DEUS
se torna efetiva para o homem por meio do Filho, e tem como resultado a
vida eterna.
O
segundo tema é que a vida eterna, tanto no seu significado presente
quanto no escatológico, está aberta para o homem. Isto não se deve ao
mérito do homem, mas somente à graça de DEUS. Joseph
H. Mayfield. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 7. pag.71-72.
Agora
JESUS faz uma declaração clara e franca. Não lhes dissera que lhes daria
o pão maravilhoso que desceu do céu, mas lhes afirmara que este pão
milagroso que desceu do céu tinha o poder de dar a vida eterna. Ele em
pessoa é esse Pão da vida. Não importa, quem quer que vem a ele, já não
mais sofrerá fome, assim como aquele que bebe da água viva de sua
salvação jamais será incomodado por sede. Vir a JESUS significa crer
nele como o Salvador do mundo. Nele e em sua misericórdia todos os
desejos e anseios da alma encontram sua plena satisfação.
Viram-no em seu ministério de milagres, e ouviram as palavras da vida
que nestas ocasiões provinham de sua boca, mas recusavam-se a crer. O coração e a vontade duma pessoa
vão a CRISTO, são unidas a CRISTO. Ele não tem qualquer desejo pela morte de qualquer
pecador. JESUS veio ao mundo para cumprir este propósito misericordioso
e terno de seu Pai celeste. A vontade do Pai é que JESUS não perca
nenhum daqueles que o Pai lhe deu. Todos são igualmente preciosos aos
seus olhos, tendo sido adquiridos valiosamente demais, para serem
perdidos.
KRETZMANN. Paul E. Comentário Popular da Bíblia Novo Testamento. Editora
Concordia Publishing House.
João
6.35 Isso apenas pode ser verificado quando JESUS agora progride para a
última revelação e confirma, por meio de uma automanifestação direta,
que esse pão maravilhoso não é algo, mas uma pessoa, ele, o próprio
JESUS. Será que os galileus realmente querem ter o pão sobrenatural?
Pois bem, então ouçam: ― JESUS lhes declarou: Eu sou o pão da vida.
Como
em todas as outras vezes, nessa palavra de JESUS a ênfase recai sobre o
poderoso ―Eu. Por essa razão é novamente destacado com ênfase no idioma
grego. Quando pessoas compreendem o que é esse verdadeiro pão e quanta
necessidade elas têm Dele, indagam onde podem encontrá-lo, então
JESUS somente pode responder: ― Esse pão maravilhoso, procurado e
imprescindível – sou Eu. Ele
em pessoa é esse pão. Nenhuma doutrina sobre JESUS, por mais correta que seja, nenhum
sacramento por ele instituído como tal, tampouco a ceia do Senhor, ― é
esse pão. A poderosa afirmação ― Eu sou o pão da vida exclui todo o
resto. Precisamos ter a JESUS pessoalmente se quisermos ter de fato esse
pão da vida.
Merece
consideração que as duas automanifestações de JESUS mencionam ―água e
―pão. ―Água e pão são os elementos imprescindíveis para a vida, de que
precisamos para realmente permanecer vivos. JESUS não concede luxo, um
adicional religioso embelezador e aprazível, mas os ―víveres
imprescindíveis.
Simultaneamente podemos ver essa auto-revelação de JESUS no contexto de
toda a mensagem da Bíblia. Após cair no pecado, o ser humano foi cortado
da ―árvore da vida e, conseqüentemente, da vida eterna, ficando refém
da morte (Gn 5.22-24). Agora isso é anulado por DEUS, ao enviar do céu o
pão da vida e oferecê-lo ao ser humano. A plenitude daquilo que segundo
Ap 2.7 e 22.2 estará um dia consumado já foi iniciada com JESUS.
Visto
que o pão da vida consiste de uma pessoa, por enquanto JESUS ainda
evita usar as metáforas correlatas do ―comer. Ele se atém às expressões
simples e, mesmo assim, cabalmente expressivas: ―Vir a ele, ―crer
nele. Quem ―vem a JESUS, solta-se de si mesmo e desvencilha-se de toda
a sua vida anterior. E quem ―crê em JESUS se confia integralmente a
ele. Desse momento em diante sua vida reside tão somente em JESUS. Agora
JESUS promete que o pão, ―que dá vida ao mundo, é verdadeiramente
acolhido e comido dessa maneira e causa seus efeitos. ―Quem vem a mim
com certeza jamais terá fome, e o que crê em mim com certeza jamais terá
sede. Naquele tempo JESUS assegurou isso aos galileus com certeza
absoluta. Mil e novecentos anos de história de sua igreja confirmaram o
quanto isso é verdadeiro. Contudo, somente poderá experimentá-lo aquele
que realmente vem ao próprio JESUS e se entrega a ele.
João
6. 51 Quando a pergunta onde, afinal, esse pão pode ser encontrado, é
suscitada novamente diante da extraordinária importância do mesmo, então
JESUS tão somente pode voltar a assegurar: ―Eu sou o pão vivo que desceu
do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente. ―Eternamente tem o
sentido literal de: ―para dentro do éon. Ele não perecerá no deserto
como os pais, mas chegará a ―Canaã, o novo éon (eternidade) e o novo mundo, porque
já traz dentro de si a vida desse novo mundo pela fé em JESUS.
Com
essas palavras JESUS repetiu o que já havia afirmado. Agora, porém,
acrescenta uma frase que leva seu diálogo com os galileus (e conosco!) a
um progresso significativo, a saber, de forma semelhante ao que
aconteceu também no diálogo com Nicodemos. Do mesmo modo como na
pergunta pelo ―renascimento, a pergunta pelo ―pão da vida não pode ser
respondida sem uma guinada para a cruz. ―E o pão que eu darei é a minha
carne para a vida do mundo. Sem dúvida JESUS é em sua pessoa o pão da
vida, mas apesar disso não pode ser simplesmente recebido da maneira
como agora se encontra perante os galileus, como pão criador da vida.
Antes cumpre-lhe ―dar outra coisa, a única pela qual o ―mundo obtém a
dádiva redentora. ―Para a vida do mundo é preciso pagar um
resgate, ofertar um sacrifício. Porque o mundo é realmente é ―mundo, existência
separada de DEUS, rebelada contra DEUS, presa em pecado, trevas e morte.
Será que o mundo de fato é capaz de encontrar vida divina e chegar ao
novo éon (vida eterena)? É o acontecimento da cruz. O Filho dá a ―sua carne, sua
existência total como ser humano, para sacrifício propiciatório em favor
do ―mundo.
Os
galileus se escandalizavam com a ―carne de JESUS, sua condição humana
real, por meio da qual ele partilhava a existência deles, sendo como um
deles. Como todos nós, eles ansiavam pelo ser ―sobre-humano, por um
salvador divino que deixasse para trás a fraqueza e humildade da ―carne
e brilhasse em ―glória. Rejeitam a JESUS porque ele trazia a carne tão
nitidamente em si. Como ele, que era ―carne, haveria de ser o pão da
vida eterna? Não lhe deram crédito nisso. Vêem em sua mensagem nada mais
que uma palavra presunçosa. JESUS, porém, lhes diz que apenas através
dessa ―sua carne ele é capaz de ser o verdadeiro pão. Somente porque
ele se tornou ―carne, tem condições de andar o caminho sacrificial do
sofrimento e da morte. É óbvio que, se agora já se escandalizam com sua
carne e por isso não conseguem crer nele, como será quando sua carne
estiver dependurada no madeiro maldito, dilacerada, torturada e
desfigurada?
Werner
de Boor. Comentário Esperança Cartas aos Filipenses. Editora Evangélica
Esperança.
2. O
sangue de CRISTO (1 Co 5.7; Rm 5.8,9)
Há uma
semelhança clara, no estudo da Páscoa, entre o cordeiro oferecido no
Egito e o Senhor JESUS CRISTO, nosso Cordeiro Pascal.
Da
mesma forma que o cordeiro pascal foi sacrificado, o Senhor JESUS CRISTO
também o foi. A diferença reside no fato de que o cordeiro de Êxodo não
foi voluntário para verter seu próprio sangue. JESUS CRISTO se ofereceu
para esse sacrifício: Eu sou
o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.
Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai e dou a minha
vida pelas ovelhas. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste
aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e
haverá um rebanho e um Pastor. Por
isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tomar a tomá-la.
Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a
dar e poder para tornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai.
(Jo 10.14-18).
O
sacrifício de CRISTO nos trouxe vida, da mesma forma que o sacrifício do
cordeiro no Egito preservou a existência dos primogênitos israelitas. A
diferença é que o sacrifício de CRISTO oferece vida não apenas aos
filhos mais velhos de cada família, mas a todos que aceitarem pela fé o
sacrifício de CRISTO, se arrependerem de seus pecados e nascerem de
novo.
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 42.
SANGUE
Aquele
fluido viscoso e vermelho, essencial à vida biológica, que flui pelo
organismo inteiro através do sistema circulatório, levando oxigênio e
nutrientes aos tecidos, e, ao mesmo tempo, removendo o dióxido de
carbono e outros materiais decompostos. Nesse sentido literal, o sangue
é freqüentemente mencionado nas Escrituras (ver Gên. 37:31; Exo. 23:18
ss; II Sam. 20:12; I Reis 18:28; Luc. 13:1) onde a alusão é ao sangue
tanto de seres humanos quanto de animais irracionais.
1.
Ideias das Culturas Antigas. Alguns atribuem ao sangue um poder
misterioso, pelo que os guerreiros bebiam o sangue de suas vítimas, a
fim de adquirirem as energias vitais dos inimigos mortos. Os
antigos semitas (ver o artigo), identificavam o sangue com a princípio
ativo da própria vida biológica. O sangue podia
ser visto como perigoso ou benéfico. Por isso mesmo era aspergido sobre
os batentes das portas, para que a casa fosse protegida. Ou então os
idosos tomavam sangue, a fim de recuperar a vitalidade da juventude. E o
sangue também era empregado nas cerimônias de purificação e expiação.
Alguns povos antigos chegavam a usar sangue, ao invés de água, em ritos
batismais. As
pessoas que se consideravam íntimas bebiam um pouco do sangue uma da
outra, como ato de união e dedicação mútua. O ato algumas vezes servia
de selo confirmatório de algum pacto ou acordo, feito entre duas
pessoas, ou mesmo entre duas nações. Os estrangeiros eram admitidos como
cidadãos pela troca mútua de sangue, ou pela ingestão mútua de sangue.
2. O
Sangue Usado como Alimento. Muitas culturas antigas e modernas têm usado
o sangue como alimento. Uma das mais vigorosas tribos africanas, os
zulus, bebem o sangue de seu gado. Dentro da cultura dos hebreus, era estritamente
proibida a prática da ingestão de sangue (Gên. 9:4; Lev. 3:8; 7:26),
especificamente diante do fato de que a vida da carne está no sangue. Portanto, não servia como artigo próprio para a
alimentação.
3. O
Sangue e os Hebreus. No Antigo Testamento, a palavra hebraica dam,
«sangue», aparece por 362 vezes, das quais 203 como descrições de mortes
violentas, e 103 vezes, em alusão a sacrifícios cruentos. O sangue é diretamente vinculado ao
princípio da vida em Gên. 9:4; Deu. 12:23 e Lev. 17:11; surgiu então a ideia da
expiação pelo sangue. Mas, visto que o uso do sangue requer a morte de
alguma vítima, o sangue também era associado à morte, na antiga cultura
dos hebreus. De modo geral, pois, temos nesses sacrifícios alguma vida
oferecida a DEUS, envolvendo o supremo sacrifício da vítima, ou seja, a
sua morte. Em tudo isso fica subentendida a seriedade do pecado,
porquanto o pecado requer um remédio radical. A expiação é obtida
através da morte da vítima, mas igualmente, por sua vida, oferecida no
sangue.
4. O
Sangue no Novo Testamento. o vocábulo grego aima, «sangue», além de
referir-se à morte sacrifical de CRISTO, indica as ideias de reinado
(João 1:13); da natureza humana (Mat. 16:17; I Cor. 15:50); de morte
violenta (vinte e cinco trechos diferentes); e de animais sacrificados
(doze referências, como se vê em Heb. 9:7,12 etc.) onde se enfatiza a
perda da vida das vítimas, um conceito destacado no Antigo Testamento.
Quanto ao sangue de CRISTO e o valor expiatório do mesmo, há referências
como Colossenses 1:20. Os intérpretes têm
debatido se é a morte ou a vida perdida do animal que obtém a expiação.
Penso que se trata de ambas as coisas, pois, afinal de contas, é a vida
de CRISTO que nos salva (Rom. 5:7) dando a entender a sua ressurreição e
ascensão, em virtude do que ele tornou-se o Salvador medianeiro
permanente. O seu
sangue nos justifica, o que nos fez pensar tanto em sua vida como em sua
morte e ressurreição. A vida que JESUS viveu também faz parte de nossa
inquirição espiritual, com vistas a nossa salvação final; porque, quando
procuramos imitar a vida de CRISTO, passamos a compartilhar de sua
natureza metafísica, mediante operações do ESPÍRITO SANTO (II Cor.
3:18). Dentro do
programa da salvação a vida e a morte de JESUS são fatores
inseparáveis, embora em sentidos diferentes.
CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por
versículo. Editora Hagnos. pag. 5239-5240.
1 Cor
5.7 Na igreja não existia um pouco de fermento apenas no maléfico caso
de impureza. Nos capítulos subseqüentes Paulo ainda evidenciará
suficiente “fermento da maldade e da malícia”. Por isso ele convoca
agora para uma purificação abrangente e profunda da igreja: “Varrei
fora
o velho fermento, para que sejais nova massa, de conformidade com os
asmos que sois” [tradução do autor]. Paulo dificilmente pensou que a
igreja
pudesse, num esforço único, acabar para sempre com o “fermento” e, sem
lutar, ser permanentemente uma nova massa. Essa hipótese é contrariada
pela palavra aos gálatas em Gl 5.16s. A carne com sua concupiscência
permanece. O andar no ESPÍRITO constantemente precisa impedir que essa
concupiscência atinja o alvo. O velho fermento aparecerá repetidamente
e precisa ser repetidamente varrido fora. No entanto, Paulo agora não
diz "para que vos torneis nova massa". Isso seria idealismo, que tão
somente redundará em fracasso. Não, ele escreve: “para que sejais nova
massa, de conformidade com os asmos que sois.” Paulo enfatiza o ser. O
ser presenteado é o fundamento do fazer bem-sucedido; mas não torna
obsoleto esse fazer, e sim necessário. De forma palpável verificamos
aqui a natureza da ética cristã, da concretização da vida cristã. O
princípio, a regra fundamental é: Seja o que você é ou torne-se
integralmente o que você é. É óbvio que isso é sumamente ilógico. O
pensamento lógico sempre dirá: se eu sou algo, então não preciso vir a
sê-lo; se devo tornar-me algo, então eu ainda não o sou.
Consequentemente, também a atitude cristã de vida oscila com bastante
freqüência entre atividade sem fé, que tenta conquistar tudo
pessoalmente, e passividade crente, que tem tudo pela fé e por isso
pensa que não precisa mais agir. Paulo, porém, sintetiza os dois
aspectos de forma ilógica e vivamente verdadeira.
No
entanto, como é que os coríntios já possuem o novo ser? Como é que já
são “asmos”, “nova massa”? Não podem sê-lo por si mesmos. Sua realidade
de fato, afinal, é justamente tal que precisam ser exortados com muita
insistência, para varrer fora o velho fermento. Somente o são em
CRISTO, a partir do sacrifício de JESUS. “Pois foi imolado também a
nossa páscoa, CRISTO” [tradução do autor]. Na noite antes da saída dos
filhos de Israel do Egito a ira do santo DEUS percorreu o país com o
juízo e vitimou seus primogênitos. As casas dos israelitas não estavam
automaticamente isentas do juízo. Não há acepção da pessoa diante da
justiça de DEUS. A morte é a punição pelo pecado, também para Israel.
Agora, porém, foi possível entre os israelitas que um cordeiro sangrasse
e morresse vicariamente por eles, e o sangue do cordeiro pascal na porta
cobria a casa e seus habitantes diante do juízo. A igreja de JESUS não
perde para Israel. Não, “foi imolado também a sua páscoa, CRISTO”. Sim,
CRISTO é de fato o verdadeiro Cordeiro de DEUS. Todos os cordeiros
pascais imolados no passado no Egito e até hoje em Israel são apenas uma
sombra, antecipada, do verdadeiro Cordeiro (Hb 10.1; Cl 2.17), são
indício provisório do sacrifício realmente válido, do sangue realmente
purificador, do feito de fato libertador na cruz. Em CRISTO todos os que
nele crêem são asmos, nova massa, pães doces, apesar de todo velho
fermento que ainda esteja apegado a eles.
Werner
de Boor. Comentário Esperança 1 Cartas aos Coríntios. Editora Evangélica
Esperança.
O
Imperativo Espiritual (5.7a)
Por
causa do perigo para a igreja como um todo, Paulo profere uma ordem
sonora: Alimpai-vos, pois, do fermento velho. A referência ao fermento é
extraída de Êxodo 12.18-20 e 13.6-7, onde cada família judaica recebia a
ordem de se livrar de todo fermento usado na preparação para a Páscoa. A
palavra alimpai é forte e significa “limpar totalmente, purificar... até
eliminar”. O fermento velho era o mal espiritual que permitia que a
igreja tolerasse a pessoa incestuosa. Ele é chamado de velho porque era
o resíduo de seu estado pecaminoso anterior, o qual, como o fermento,
ainda estava em operação corrompendo o seu caráter”. Paulo indica que a
relutância dos coríntios em lidar com o pecado evidente em sua igreja se
devia ao fato de todos os coríntios possuírem o fermento velho em si
mesmos - “a velha disposição mundana e carnal que continuava em seus
corações, e que vinha do seu estilo de vida anterior”. A expressão
Alimpai- vos... do fermento velho significava que cada membro deveria
aplicar o processo de purificação a si mesmo, “a fim de não deixar na
igreja nem uma única manifestação do velho homem, da natureza corrupta,
oculta e não corrigida”. Cada cristão é exortado a ser liberto, não só
livrando-se de todo o pecado, mas também vivendo o tipo de vida santa
que é potencialmente seu em CRISTO JESUS.
O
Potencial Espiritual (5.7b)
A
razão para a preocupação de Paulo concernente à purificação do fermento
velho da “corrupção pagã e natural”, era que os coríntios poderiam
perceber seu potencial espiritual em CRISTO: para que sejais uma nova
massa. A remoção deste resíduo de corrupção natural resultaria em um
novo tipo de vida cristã. Nova (neos) significa novo no sentido de que a
coisa ou a condição não existiam antes.
Uma
outra palavra para nova (kainos) significa novo no sentido de diferir do
que é velho. Os coríntios já eram novos no sentido de diferirem do seu
velho modo de vida. Mas agora eles deveriam ser novos em um sentido
diferente - “Sua vida e caráter cristãos devem ser como um começo
inteiramente novo”. Kling escreve sobre a nova massa: “Não há fermento;
portanto, temos como conseqüência uma totalidade moralmente renovada
pela purificação - uma igreja santa e livre do pecado, evidenciando o
seu primeiro amor e zelo”.
Paulo
lembra aos coríntios o potencial que têm por meio de uma referência ao
ideal cristão: assim como estais sem fermento, isto é, sem o fermento
velho do pecado. O método das Escrituras consiste em fazer referências
aos cristãos em seu ideal, em vez de ao seu estado real. No caso dos
coríntios, a referência de Paulo serve como um lembrete de que eles
deveriam “alcançar o seu verdadeiro ideal”. Este potencial espiritual é
percebido através do poder de CRISTO. O que o cristão precisa fazer é
tornar-se, na verdade, o que ele já é em potencial. “Ele deve se tornar
santo de fato, assim como o é idealmente”.
A base
do potencial espiritual da igreja é encontrada nas palavras: Porque
CRISTO, nossa páscoa, foi sacrificado por nós. O verbo foi sacrificado é
um aoristo, indicando um ato definitivo e completo. Os benefícios do
sacrifício consumado ainda se estendem e se aplicam ao cristão, tanto
nos dias de Paulo como nos dias atuais.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 278-279.
1 Cor
5.7, Dá-se seguimento à metáfora, Paulo os concita a “ purificar o velho
fermento” (o verbo traduzido por “ purgar” , AV, tem definidamente a
ideia de purificar). O ponto que focaliza é que os velhos hábitos não
são apenas maus, são corruptores. Exatamente como o fermento, eles
agirão até permear tudo. A única coisa a fazer é livrar-se deles,
inteiramente. Assim Paulo fala de uma nova massa. A igreja cristã não é
simplesmente a velha sociedade remendada. É radicalmente nova. O mal que
caracteriza os homens do mundo foi retirado, e o apóstolo pode dizer,
sois de fato sem fermento (Weymouth, “livres de corrupção”). Ele não
diz, “Deveis ser sem fermento” , mas afirma um fato. É isso que os
cristãos realmente são. A inferência é que não lhes compete
reintroduzir o velho fermento. “CRISTO, a nossa páscoa, foi
sacrificado” (AV; assim no grego). É isto que faz novas todas as coisas
para os cristãos. Com Sua morte, CRISTO pôs fora de ação o pecado deles.
Fez com que eles ficassem sem fermento. A páscoa era a comemoração anual
da libertação do jugo do Egito no tempo antigo.
Os
israelitas tinham oferecido o seu cordeiro ou cabrito para que o anjo
destruidor passasse sobre eles. Foram libertos, e a ralé escrava emergiu
do Egito como o povo de DEUS. Ao empregar essa figura, Paulo lembra a
seus leitores que a morte de CRISTO os libertou de um perigo mortal, e
os constituiu povo de DEUS. Neste contexto, porém, a coisa importante é
a emersão para uma vida nova. Uma característica da observância normal
da páscoa era a solene busca e destruição de todo o fermento, antes de
iniciar-se a festa (durante sete dias só se podia comer pão sem
fermento). Este expurgo de todo o fermento era feito antes de a pascha,
a vítima pascal (cabrito ou cordeiro), ser oferecida no templo. Mas
Paulo assinala que “CRISTO, a nossa páscoa” , já foi sacrificado. É
tempo, e mais que tempo, de ter sido expurgado todo o fermento.
LEON
MONIS. Comentário Bíblico 1 Coríntios. Editora Vida Nova. pag. 71-72.
Rm
5.8-9. Os três versículos seguintes retornam ao significado objetivo do
amor de DEUS. Eles nos dão a prova mais clara possível de que DEUS ama
os homens, por mais pecadores que eles sejam. “Pois o amor de DEUS por
nós é provado nisto (v. 8), porque CRISTO morreu por nós quando ainda
éramos fracos (v. 6), pecadores (v. 8), ímpios (v. 6), inimigos (v. 10).
Ele não esperou por nós, mas veio para nos encontrar e ir diante de
nós”. Porque CRISTO, estando nós ainda fracos - sem forças para nos
salvarmos - morreu por nós (6). A nossa condição natural é a da
incapacidade moral. Nós não temos força em nós mesmos para sermos
justificados. Mas por meio da Cruz de CRISTO recebemos a capacitação
sobrenatural para sermos convertidos. Porque apenas
alguém morrerá por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém ouse
morrer. Mas DEUS prova (synistesin, “estabelece”, e, conseqüentemente,
“prova”) o seu amor para conosco em que CRISTO morreu por nós (7-8)...
sendo inimigos (10). Se quisermos saber o que é o amor (ágape) de DEUS,
Paulo responde mostrando-nos a morte de CRISTO.
Outra vez, a
linguagem e o pensamento de Paulo são próximos a João: “Conhecemos a
caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós” (1 Jo 3.16). Pela cruz,
temos uma abertura ao coração de DEUS e vemos que se trata de um amor
que se dá e que se sacrifica.
Paulo
contrasta o amor divino com o amor humano. O amor
divino jorra do próprio ser de DEUS, como um poço artesiano. A sua única
explicação é que “DEUS é amor”. É a natureza do amor ágape que se
derrama “sobre maus e bons” (veja Mt 5.43-48). É esta revelação de DEUS
como Ágape que constitui a exclusividade e a singularidade do evangelho
cristão. A
mensagem cristã é que DEUS nos ama, mesmo com as nossas iniqüidades e
hostilidades: Mas DEUS prova o seu amor para conosco em que CRISTO
morreu por nós, sendo nós ainda pecadores (8). A manifestação do amor de
DEUS se dá por meio de um evento histórico - a cruz; a aplicação é feita
pelo ESPÍRITO SANTO (v. 5).
Tendo
estabelecido o fato do amor de DEUS, Paulo retorna ao tema principal do
parágrafo. Como DEUS já fez tanto por nós, temos a expectativa da
salvação final. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu
sangue, seremos por ele salvos da ira (9). Chegamos ao clímax da seção.
Justificados recorda o versículo 1, desfrutando no presente a alegria da
paz com DEUS. Pelo seu sangue deve ser interpretado como “por meio do
seu sangue”. Sobre esse pensamento, veja os comentários sobre 3.25.
Seremos salvos aponta para o futuro. Sobre os ensinos de Paulo sobre a
salvação, veja os comentários sobre 1.16 e 13.11. Esta salvação pertence
essencialmente ao futuro, e o verbo aqui está, como é usual, no futuro.
Salvos da ira se refere à libertação final no juízo final; esta salvação
é garantida pelo fato da justificação ser uma antecipação do veredicto
favorável daquele dia. Sobre o significado de ira, veja os comentários
sobre 1.18 e 2.5.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 81-82.
3. A
Santa Ceia.
Recordemos um pouco sobre a Santa Ceia. Ela é citada em pelo menos dois
textos centrais: no Evangelho de Lucas e na Primeira Carta de Paulo aos
Coríntios.
Lucas
22 mostra JESUS ceando com seus discípulos antes de ser entregue nas
mãos daqueles que o haviam de matar. “Desejei muito comer convosco esta
Páscoa, antes que padeça” (Lc 22.15). Ele sabia que em pouco tempo seria
morto, mas fez questão de ter um momento de comunhão com aqueles que
iriam dar prosseguimento à sua obra na terra. Aquela refeição mostrou o
traidor, mas mostrou também a importância que o Senhor deu em falar que
o Reino de DEUS não terminaria com sua morte. Foi um momento reservado
aos que eram próximos do Senhor.
Se em
Lucas nos é mostrado o momento do Senhor com seus discípulos antes de
sua morte, em Coríntios Paulo descreve sua tristeza para com os crentes
daquela igreja sobre vários aspectos, e a Ceia do Senhor era um desses
motivos. Há indícios de que os crentes que tinham mais posse levaram
evidentemente mais recursos para a ceia, e os mais pobres, menos
recursos. Esses alimentos deveriam ser reunidos para que todos pudessem
ter uma refeição em conjunto, em comunhão, mas esse sentimento era
desconhecido naquela igreja. Os que tinham levado mais comida pegavam
antecipadamente o que tinham levado e o comiam, e o mesmo o faziam os
que tinham levado pouca comida. Eles não sabiam dividir seus recursos
para que todos comessem juntos e na mesma medida. Paulo diz que “assim
um tem fome, e o outro embriaga-se” (1 Co 11.21). O versículo 22 dá a
entender que essa atitude partia dos crentes mais abastados: “Não
tendes, porventura, casas para comer e para beber? Ou desprezais a
igreja de DEUS e envergonhais os que nada têm?” De qualquer forma, foi
necessário que Paulo corrigisse os desvios na Ceia do Senhor, ordenando
que esperassem uns pelos outros.
Os
coríntios deveriam aprender que a Ceia do Senhor é um momento sublime,
em que somos motivados a lembrar da morte do Senhor até o seu retorno.
Não é um momento de manifestação de egoísmo, e ninguém pode participar
dela de forma indevida, sem ter em mente que o sangue de um inocente foi
dado em nosso lugar, para que tivéssemos vida. Mais que isso, é um
momento de anúncio do sacrifício de CRISTO até que Ele retorne.
A Páscoa nos traz diversas lições espirituais, como obediência, sacrifício
e comunhão.
"Que
atitudes dos pais israelitas fez com que seus primogênitos fossem
salvos? A fé no que DEUS disse e a obediência ao que DEUS disse. Fé e
obediência precisam caminhar juntas."
COELHO, Alexandre; DANIEL, Silas. Uma Jornada de Fé. Moisés, o Êxodo e o
Caminho a Terra Prometida. Editora CPAD. pag. 43-44.
A
ÚLTIMA CEIA.
A tradição que Paulo recebeu e registrou pertence ao mais
primitivo registro do que aconteceu na noite em que JESUS foi traído (1
Co 11.23-26). Este registro afirma que foi à noite que houve uma
refeição (Seutvov), que JESUS tomou o pão, o partiu e disse, “Isto é o
meu corpo, que é dado [partido] por vós; fazei isto em memória de mim”.
O mesmo
com o cálice: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue. Fazei
isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.” Não há menção
da Páscoa no registro de Paulo, exceto de uma forma circunstancial: o
partir do pão de forma solene, o beber do vinho no cálice, a
referência
à aliança. O registro sinóptico não se diferencia em essência do
paradosis paulino, exceto por ser apresentado como uma ceia pascal (cp.
Mt 26.17; Mc 14.12; Lc 22.7).
a. A
data da crucificação. Se a referência de João ao sacrifício do cordeiro
pascal, em 18.28, refere-se à verdadeira ceia pascal, então a Ultima
Ceia não poderia ter sido a ceia pascal. Os sinópticos são explícitos ao
declarar que a crucificação aconteceu no primeiro dia da Páscoa (15 de
Nisã).
b. A
ceia memorial. Anamnesis é a ideia fundamental da Páscoa: Israel traz à
memória o que DEUS tem feito pelo seu povo (cp. Hans Kosmala, Nov Test,
IV [1959], 81ss.). No contexto pascal, as palavras da instituição da
Ultima Ceia se encaixam bem ao propósito da festa. Mas está faltando o
convite para “lembrar” nos sinópticos, com exceção da VS mais longa de
Lucas (cp. Lucas 22.17-19mg.).
As
palavras interpretativas que acompanham os atos manuais estão em
conformidade com a obrigação de explicar o significado do “ritual” — (Êx
12.26; Pes 10.4). JESUS seguiu o costume mas reinterpretou a Páscoa sob
o ponto de vista do evento messiânico: o Messias assumiu o papel do
cordeiro pascal. É, portanto, correto dizer que a Ultima Ceia
proporciona à Páscoa um novo conteúdo (cp. J. Steinbeck, Nov Test III
[1959], 73). Daqui em diante o pão e o vinho do seder se tomam os sinais
do sacrifício do Messias na cruz. A ceia pascal se toma uma ceia
messiânica.
c. A
Ultima Ceia e a Páscoa. Na época do Templo, a ceia pascal consistia não
apenas do cordeiro, mas também da festa especial do sacrifício, da qual
todos participavam (cp. 2 Cr 35.13). Comer o sacrifício era uma ocasião
alegre e dava coesão à vida comunitária. Isto deve ser distinguido da
oferta pelo pecado, que era totalmente queimada e nunca consumida. Para
os hebreus, comer o sacrifício nunca significou comer seu DEUS. A
participação no ai do Messias cria um problema se a Ultima Ceia for
concebida puramente em termos sacrificiais. Por esta razão a ênfase na
Última Ceia deve ser colocada tanto sobre a aliança quanto sobre a
oferta pelo pecado, se não mais (cp. Aalen, op. cit. 148s.). O sangue
que selou a aliança não é o sangue derramado sobre o altar, mas o sangue
borrifado sobre as pessoas. Há uma correspondência entre a Última Ceia e
Êxodo 24.11; os anciãos de Israel viram DEUS e comeram e beberam.
A
aliança está no centro do registro da Páscoa. Na noite do Êxodo, DEUS se
revelou como o DEUS dos pais que se lembraram sua aliança (Êx 2.24;
3.15). Na noite da crucificação, esta aliança foi reafirmada pela
voluntariedade do Messias de derramar seu sangue. O cordeiro pascal não
é, portanto, suficiente para explicar o sentido completo da Última Ceia;
a aliança se impõe como o tema que cobre com a arca.
Isto
levanta o problema do significado em que sentido é uma nova aliança?
A Nova Aliança coloca a Velha Aliança à margem de seu
cumprimento escatológico, mas o povo de DEUS é uma continuação de Abel
até os dias de hoje (cp. Melanchthon, On Christian Doctrine [1965],
232). CRISTO como o telos da lei (Rm 10.4) traz uma Nova Época, mas não
muda as promessas de DEUS. A Nova Aliança é chamada “melhor” que a velha
(Hb 8.6) porque DEUS em CRISTO cumpre sua promessa de escrever sua lei
no coração dos que crêem (Hb 8.8ss.). A Última Ceia, portanto, continua
o tema da Páscoa no novo contexto messiânico.
(1) É
uma festa em memória da pessoa e obra do Messias. O anamnesis vai além
dos eventos históricos e se toma uma proclamação e confissão de fé (cp.
1 Co 11.26).
(2) É
uma declaração de fidelidade entre o Mestre e os discípulos, expressando
coesão e uma mútua interdependência da família cristã.
(3)
Reafirma a antiga aliança, selando-a no sangue do Messias.
(4)
Expressa a alegria da salvação e a esperança escatológica do triunfo
definitivo do Messias (cp. J. Steinbeck, op. cit. 71 ss.)
d. O
êxodo cristão. A ideia fundamental da mensagem do NT é o cumprimento
messiânico; JESUS é aquele de quem Moisés e os profetas escreveram (Jo
1.45). O Messias, através de sua vida, obra, morte e ressurreição
realizou uma “salvação eterna” (Hb 5.9). A lei era incapaz de fazer
isto, porque a lei não tomava nada perfeito (7.19); ela somente serviu
como um provisório até CRISTO vir (G1 3.24). A salvação de YHWH, como
demonstrada na história do Êxodo (cp. Êx 14.13), era apenas um prenúncio
do que estava por vir. Todos os atos de DEUS no AT apontam para um
acontecimento futuro. Um dia virá, quando o Senhor se revelará como “um
guerreiro que dá vitória” (Sf 3.17). A diferença entre a redenção do
Egito e a salvação messiânica não está nos períodos em que ocorreram. A
salvação bíblica está sempre arraigada no tempo e na história; esta é
sua característica mais peculiar (cp. Daube, op. cit. 271). A distinção
não se dá também porque uma é física (ou política) e a outra espiritual.
Mas a distinção jaz antes na área da escatologia; a salvação messiânica
é definitiva. Os rabinos consideram a redenção do Egito como um
prenúncio da redenção final (Daube, ibid. 191), o NT a reivindica como
um fato realizado. A Páscoa é o começo da jornada que o Messias completa
ao alcançar sua meta.
“Salvação eterna” significa que não pode haver outra salvação após o
evento messiânico, que é o definitivo. A aliança eterna que DEUS
prometeu aos pais (Jr 32.40; 50.5; cp. Is 55.3; Ez 16.60) foi agora
estabelecida e selada no sangue do Messias (Hb 13.20). Em Hebreus a
dissolução do culto, a mudança do sacerdócio e a remoção da lei são as
conseqüências do evento messiânico. CRISTO se tomou o caminho vivo
(10.20) para o interior do santuário (6.19), o novo Sumo Sacerdote que,
por seu sacrifício, tomou possível ao homem aproximar-se da presença do
próprio DEUS (10.20ss.).
Bowman
detecta um paralelo esboçado em Marcos entre Moisés e JESUS (op. cit.
157). Mas a semelhança não é uma criação artificial. Ao contrário,
deriva do tema pascal; o Êxodo fala de salvação. JESUS completou o que
Moisés começou, mas nunca pôde realizar num sentido definitivo. A
verdadeira libertação é a libertação do pecado. Ninguém que é escravo do
pecado é verdadeiramente livre. Somente aquele a quem o Filho liberta, é
de fato livre (Jo 8.34s.). Paulo chega a uma conclusão parecida: os pais
estavam todos debaixo da nuvem, passaram pelo mar, foram batizados em
Moisés, comeram do manjar espiritual e beberam da fonte espiritual e,
ainda assim pereceram no deserto (I Co 10.1-5). O Êxodo teve um objetivo
limitado, que não foi alcançado até que uma nova geração viesse. Ele é,
portanto, apenas uma parábola da jornada do homem ao seu destino final —
a Terra Prometida. Esta jornada não pode ser feita em sua própria força.
O escravo tem que se tomar liberto do Senhor (I Co 7.22) e a alforria
acontece na cruz de JESUS CRISTO. Em JESUS os homens se tornam filhos de
DEUS (Gl 4.4-6) e gozam da liberdade dos filhos de DEUS (Rm 8.2ss.). O
Êxodo do Egito para a terra de Canaã conduz além da história para a
“Cidade” cujas fundações tem “DEUS como arquiteto e edificador” (Hb
11.10). Enquanto que o Êxodo histórico foi limitado à experiência de um
povo, o Êxodo cristão está aberto às nações do mundo. O destino final do
homem é a Jerusalém celestial, a cidade da liberdade (G1 4.26).
MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol.
4. pag. 787-789.
A
Ultima Ceia: a Páscoa Cristã
Um
acontecimento tão importante como aquele que deu origem à nação de
Israel não poderia ser ignorado pelo Novo Testamento. Isso pode ser
comprovado nos cinco pontos abaixo:
1. A
morte de CRISTO, que ocorreu exatamente no período da páscoa, sempre foi
considerada um evento capital para os primeiros cristãos, e daí por
diante, durante todo o cristianismo. JESUS é chamado de nosso "Cordeiro
pascal- (ver I Cor. 5:7). Isso tem sido associado pelos cristãos à ideia
de expiação e livramento, que nos liberta dos inimigos da alma.
2. A
ordem de não ser partido nenhum osso do cordeiro pascal foi aplicada por
João às circunstâncias da morte de JESUS CRISTO (ver Êxo. 12:46 e João
19:36), pelo que foi estabelecido um vínculo entre os dois eventos,
fazendo o primeiro ser símbolo do segundo. A
ideia de expiação, como é patente, faz parte vital da questão.
3. O
cristão (tal como os antigos israelitas) deve pôr de lado o antigo
fermento do pecado, da corrupção, da malícia e da desobediência,
substituindo-o pelos pães asmos da sinceridade e da verdade. A
santificação (vide) faz parte necessária da experiência cristã.
4. A
última Ceia é exposta nos evangelhos sinópticos como uma refeição
pascal. O evangelho de João (18:28; 19:14) apresenta o fato de que a
refeição foi tomada antes da celebração, e JESUS foi crucificado ainda
naquele mesmo dia (lembrando que, para os judeus, o dia começava às
06:00 horas). Para muitos, isso constitui um dos grandes problemas de
harmonia dos evangelhos. Porém essa pequena deslocação cronológica em nada contribui
para anular a associação da última ceia com a páscoa. Talvez o Senhor
JESUS tenha antecipado a refeição por algumas poucas horas. Nesse caso o
quarto evangelho expõe a correta cronologia quanto à questão. O ensino
paulino sobre a última ceia (1 Cor. 11:23-26) faz com que a mesma seja
um memorial tanto da morte libertadora de CRISTO quanto da expiação.
Ambos os elementos faziam parte da páscoa do Antigo Testamento, segundo
já vimos. Paulo não menciona especificamente a páscoa, daquela seção,
embora ele o faça em I Cor. 5: 7. Eusébio aceitava o conceito da páscoa
cristã no sacrifício de CRISTO (ver Hit. 5,23,1). E essa também era a
ideia tradicional da Igreja antiga. É interessante que a palavra
hebraica par", páscoa, pascha, é tão parecida com a palavra grega para
sofrer, péscbo, que alguns cristãos antigos fizeram a ligação entre
elas, embora não haja qualquer conexão histórica entre esses termos.
CRISTO sofreu e ele é a nossa páscoa, um jogo de palavras empregado por
Eusébio. Para os cristãos, a palavra grega anámne (memorial), é uma
palavra-chave. A ceia do Senhor é um memorial que deve ser mantido vivo,
até que o Senhor retorne. Essa é a ênfase paulina, que não se vê nos
evangelhos sinópticos, embora apareça em Luc. 22.19. Provavelmente,
esse elemento foi uma adição cristã às declarações feitas por JESUS,
embora sugerida pelo que ele havia dito, se é que ele mesmo não ensinou
assim. Por outro lado, é possível que Mateus e Marcos tenham omitido uma
afirmação genuína de JESUS, e que Paulo e Lucas preservaram. O que é
certo é que JESUS reinterpretou a páscoa em consonância com as suas
próprias experiências. A páscoa, pois, foi encarada pela Igreja cristã
como uma daquelas muitas coisas que receberam cumprimento e adquiriram
maior significação na pessoa de CRISTO, retendo o tipo de símbolo e de
lições acima.
A
ideia de pacto também se faz presente. Yahweh firmou um pacto com a
emergente nação de Israel. E JESUS estabelece um pacto com sua emergente
Igreja.
5. O
êxodo cristão. Não nos deveríamos esquecer desse aspecto. A páscoa do
Antigo Testamento marcava o começo de urna saída da escravidão; e, de
fato, era o poder por detrás dessa libertação. Assim também, em CRISTO,
encontramos um êxodo que nos liberta da velha vida com sua escravização
ao pecado. No sentido teológico, algo foi realizado que não poderia ter
sido realizado pela lei. Esse é o tema principal tanto de Paulo (com sua
doutrina da justificação pela fé) quanto do tratado aos Hebreus. O êxodo
judaico libertou um povo inteiro da servidão física. O êxodo cristão
oferece a todos os homens a libertação do pecado, bem como a outorga do
Reino da Luz, onde impera perfeita liberdade.
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.
Vol. 5. Editora Hagnos. pag. 101-102,
I Cor
11. 23-25 “O Senhor JESUS, na noite em que foi entregue” [TEB]. Sempre
temos de nos lembrar que a palavra ―Senhor, desgastada para nós, era um
conceito poderoso e de conteúdo significativo. Está agindo Aquele que
era kyrios, ―Senhor em sentido pleno. Ao mesmo tempo, porém, ele é
mencionado com seu nome pessoal ―JESUS. Por ter-se tornado ser humano
ele tinha condições de entregar corpo e sangue por um mundo perdido. Ele
age ―na noite em que ele foi entregue. kyrios, o ―Filho foi ―entregue pelo
próprio Pai, no presente caso ―entregue ao juízo e por isso também ao
mundo, ao abandono por DEUS.
O
Senhor JESUS “tomou o pão e, depois de oração de graças, ele o partiu e
disse: Isto é meu corpo que é para vós” [tradução do autor]. Também
agora, quando JESUS vê toda a realidade de sua paixão e morte diante de
si no ―partir do pão, ele ―agradece. Não é lamento nem tampouco pesar
pela despedida que preenchem seu coração, e sim a gratidão. Seu corpo
partido, afinal, é “o para vós”, como é dito aqui com a mais lacônica
reserva bíblica. Nesse breve e contido ―para vós concentra-se tudo:
todo o amor que se entrega pelos culpados e perdidos, e todo o imenso
ganho que resulta desse sacrifício, a eterna redenção dos perdidos. É
por isso que JESUS consegue agradecer; e por essa razão sua igreja pode
celebrar esse ―partir do pão, essa lembrança da entrega, paixão e morte
como santa festa de alegria.
Nada é
dito sobre a distribuição do pão, sobre receber e comer. Os
participantes daquela ceia na última noite ficam completamente fora do
foco. Unicamente o próprio Senhor e sua ação e fala preenchem tudo. No
entanto, o pão foi partido, a fim de ser distribuído aos companheiros da
ceia e comido por eles. JESUS não protagonizou uma ação simbólica, a fim
de expor aos discípulos uma verdade de maneira figurada e compreensível,
mas com o pão partido ele lhes deu seu corpo. Não um corpo místico, uma
substância transfigurada e sobrenatural, mas justamente corpo terreno,
partido por eles. Contudo, agora recebem verdadeiramente esse corpo com
todo seu sentido de salvação e o comem, ou seja, acolhem-no para si com
toda sua realidade.
JESUS não
queria celebrar apenas essa uma ceia com seus discípulos e não queria
conceder seu amor apenas a esse pequeno grupo. Ele olhou para a igreja
de todos os tempos e por isso ordenou expressamente: “Fazei isto em
memória de mim.” Desse modo a ceia não se torna mera celebração
memorial. O recordar autêntico traz à presença. A igreja de fato tem
necessidade de que toda a sua perdição e toda a magnitude da ação
redentora de seu Senhor sejam expostas vivamente diante dela. Também o
crente repetidamente começa a esquecer quem ele é e o que o Senhor fez
por ele. Ao receber, tomar e comer no pão o corpo partido de seu Senhor,
a igreja recorda toda a história da salvação de DEUS em CRISTO. Porém
esse recordar não consiste apenas de pensamentos e recordações, mas de
fazer, uma ação, um verdadeiro receber. De qualquer forma, o próprio
Paulo estava convicto da participação real no corpo do Senhor, como já
constatamos em 1Co 10.16.
“Do
mesmo modo também o copo após a refeição” [tradução do autor]. “Do mesmo
modo” como com o pão, JESUS procedeu com o copo. Também o tomou,
proferiu sobre ele a oração de graças, e o ofereceu aos participantes na
mesa, como o pão. Fica explícito o quanto a santa ceia estava inserida
na refeição toda e não representava um ato fechado em si próprio, como
entre nós. A partição e distribuição do pão pelo dono da casa fazia
parte do começo de uma refeição. Ela prosseguia até o final, e somente
agora, após a refeição, bem depois da distribuição do pão, o copo é
abençoado e oferecido.
De
maneira mais clara que no caso do pão JESUS profere aqui todo o
significado de salvação da dádiva: “Esse copo é a nova aliança em meu
sangue.” A declaração torna singularmente perceptível para nós que
apesar de toda a realidade da dádiva de modo algum se trata de quaisquer
substâncias sagradas. De acordo com a própria palavra de JESUS, não está
no copo propriamente o sangue, e sim a nova aliança, que por sua vez
somente se concretiza no sangue de JESUS, por intermédio de seu
sangue. Quem recebe e bebe esse copo não recebe por meio dele uma
matéria celestial, mas participação na nova aliança. DEUS a havia
prometido através do profeta Jeremias (Jr 31.31-34). Agora a institui e
realiza em JESUS. Essa instituição, porém, não é uma coisa simples, não
uma mera declaração de propósitos. O perdão prometido e necessário para
essa nova aliança somente pode tornar-se realidade pelo fato de que toda
a carga de pecados é levada embora por aquele que é o Cordeiro imaculado
e santo de DEUS (Jo 1.29). Em decorrência, a instituição dessa aliança
somente podia acontecer através do sangue e custou o alto preço da morte
maldita do Filho de DEUS.
I Cor
11.27 Foi assim que o próprio Senhor instituiu a ceia. Nem Paulo nem
os
coríntios podem dispor dela. Quando, no entanto, uma igreja a
celebrar,
isso tem de acontecer de modo digno, de conformidade com sua
instituição. Paulo o expressa iniciando a frase seguinte com um
enfático, por isso. “Por isso, quem comer o pão ou beber o cálice do
Senhor de
uma maneira indigna torna-se culpado do corpo e do sangue do Senhor”
[tradução do autor]. Como a formulação é importante! A tradução
conhecida de Lutero: Quem, porém, come e bebe indignamente quase nos
obrigou a entender ― quem come e bebe como um indigno. Quantas pessoas
não se torturaram amargamente com a pergunta se são indignas e se com
sua participação na santa ceia estão pecando contra o corpo e sangue
do
Senhor! Desse modo foi-lhes infundido nos corações o medo da santa
ceia,
de maneira que atenderam ao convite do Senhor JESUS o mais raramente
possível ou nunca. O texto grego diz inequivocamente: aquele que come e
bebe “de uma maneira indigna”. Unicamente assim a frase também se
encaixa no contexto da passagem. Paulo não critica os coríntios por
virem à ceia do Senhor como pessoas indignas, mas por destruí-la
através
de um modo indigno de celebrá-la. Quando diante da mesa do Senhor há
divisões dilacerando a igreja, quando um sofre fome e o outro está
embriagado enquanto a morte inusitada do Kyrios por todos é
proclamada,
então isso constitui uma maneira indigna. Nesse caso, porém, ela não
representa um defeito estético, mas possui um efeito terrível, que os
coríntios precisam ter em mente. Desse modo tornam-se “culpados do
corpo
e sangue do Senhor”. Toda celebração da santa ceia é participação no
corpo e sangue do CRISTO com pleno realismo, independentemente de como
ela é celebrada. Contudo, a questão é se essa participação salva e
agracia ou se ela torna culpado e sentencia. Esse tornar-se culpado em
CRISTO corresponde ao desprezar a igreja de DEUS (v. 22), mas de forma
aprofundada. Quem se comporta na ceia do Senhor da maneira como
diversos
coríntios não apenas despreza a igreja de DEUS, mas ignora e despreza o
próprio Senhor e seu amor sério e sacrifical, tornando-se assim
culpado
de seu corpo e sangue, que justamente haviam sido entregues para sua
salvação. Encontramo-nos muito próximos de Hb 10.28-31.
I Cor
11.28 Diante dessa seriedade cresce a obrigação do exame. Paulo não
elucidou mais detalhadamente sua exortação “Examine-se, pois, o homem a
si mesmo”. Em parte alguma do NT se fala de uma confissão anterior à
santa ceia. Cada um deve “examinar-se a si mesmo”. Uma vez que na
frase seguinte, como no contexto do trecho todo, está em jogo discernir
o corpo, ter a atitude correta perante a ceia do Senhor, bem como
perante a irmandade da igreja, também o auto-exame deverá referir-se
sobretudo a isso. Sem dúvida o reconhecimento do pecado tem importância.
Afinal, a verdadeira dignidade para a mesa do Senhor JESUS reside
unicamente na minha indignidade real e por mim mesmo confirmada. JESUS
realizou a ceia no passado e a realiza ainda hoje unicamente com
pecadores. Somente os perdidos têm necessidade do sacrifício
salvador do corpo e sangue do Senhor. Nesse caso, porém, também estão
cientes de toda a santa magnitude da ceia do Senhor e não a profanam por
meio de uma celebração indigna. Estão plenos do amor do CRISTO e por
isso dispostos para a irmandade. Os abusos que se imiscuíram em Corinto
são inconcebíveis para eles. Paulo aponta para esse alvo corretivo do
exame por meio da palavra grega dokimazein que inclui o resultado
positivo, à semelhança do que acontece também entre nós, quando falamos
de um motorista provado. Por isso Paulo prossegue: “E, assim, coma do
pão e beba do copo”. Agora, sabendo claramente o que busca na ceia do
Senhor, a saber, não seu próprio comer (v. 21), mas verdadeiramente
essa grande dádiva do CRISTO e a irmandade da igreja, “assim” o cristão
pode e deve vir confiante e agradecido à mesa do Senhor.
I Cor
11.29 Mais uma vez, porém, Paulo salienta diante de uma igreja
irresponsável toda a seriedade: “Pois quem come e bebe, para si próprio
come e bebe um juízo se não discernir o corpo.” Como em 1 Co 10.16s
temos de considerar que no “corpo” que alguém “não está discernindo”
sempre ressoa também a ideia do corpo de CRISTO, a igreja. Os que em
Corinto se refestelavam tranqüila e opulentamente já não discernem no
pão, dentre todos os demais alimentos, o corpo do CRISTO entregue por
eles. Mas tampouco discernem o corpo de CRISTO, a igreja, de outras
reuniões em que se podia contemplar com indiferença a fome de pessoas e
envergonhar os pobres. Contudo, nem mesmo agora seu comer e beber
permanece ineficaz, apesar de sua indiferença contra o corpo do
Senhor. Comem e bebem agora com a ceia do Senhor o juízo para si
mesmos. Como em todas as situações Paulo leva a sério o corpo e os
processos físicos! O corpo pertence ao Senhor, em nosso corpo
glorificamos a DEUS (1Co 6.13; 6.20). Nosso comer e beber nos leva à
união real com os demônios ou com o corpo e sangue do CRISTO (1Co
10.16,20). Pelo comer e beber honramos a DEUS (1Co 10.31). Pelo comer e
beber nos submetemos pessoalmente ao juízo de DEUS. É isso que os
coríntios, que acreditam, numa falsa intelectualidade e liberdade,
não ter necessidade de se importar com os processos reais e corporais,
precisam reconhecer.
I Cor
11.30 Eles mesmos têm diante dos olhos que o “juízo” que eles comem e
bebem para si não é mera palavra ou até mera ameaça do apóstolo. Não,
esse juízo está sendo executado: “Eis a razão por que há entre vós
muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.” Pelo fato de que na
celebração indigna da ceia se trata de comer e beber, a culpa também tem
um efeito físico, em fraqueza e enfermidade, sim, ela até leva a
falecimentos. Mais uma vez fica claro todo o realismo na compreensão
paulina da santa ceia.
I Cor
11.31 Será que agora os membros da igreja em Corinto estão assustados?
Será que buscam o que poderão fazer? Paulo tem para eles uma resposta
clara: “Se nos julgássemos a nós mesmos (corretamente), não seríamos
julgados.” DEUS age segundo a misericordiosa regra de que ele não
realiza mais o seu julgamento quando uma pessoa sinceramente tenta obter
clareza sobre si mesma e profere a sentença contra si mesma.
I Cor
11.32 Entretanto, há mais a dizer. Novamente constatamos em Paulo (cf.
acima, p. 166s) aquela peculiar guinada para o positivo, oriunda do fato
de estar compenetrado do evangelho. Até mesmo aqueles em quem já se
realizou um juízo, sobretudo aqueles fracos e enfermos, não precisam
desesperar, porém podem ter a certeza: “Julgados, porém, pelo Senhor,
somos disciplinados, para não sermos condenados junto com o mundo”
[tradução do autor]. O sentido da frase não muda substancialmente quando
combinamos as palavras pelo Senhor com julgados ou com somos
disciplinados. O importante é que os juízos sobre o crente visam ser um
auxílio genuíno, a fim de que escape do juízo sobre o mundo. Paulo
sempre considerou esse juízo como terrivelmente sério, cf. Rm 2.5; 5.9;
1Ts 1.10. Nesse juízo sobre o mundo prevalece a ira. Se os juízos
disciplinadores de DEUS preservam o crente de “ser condenado junto com o
mundo”, então ele poderá aceitar com grata submissão esses juízos
disciplinadores.
Werner
de Boor. Comentário Esperança I Cartas aos Coríntios. Editora Evangélica
Esperança.
O
Significado da Ceia do Senhor (11.23-26)
O
entendimento de Paulo a respeito da Ceia do Senhor se originava de uma
revelação direta de DEUS. O apóstolo apresenta a autoridade da sua
narrativa “fundamentada em um alicerce imutável”. Quando Paulo recebeu o
evangelho diretamente de CRISTO (Gl 1.11-12), e não do homem, ele também
recebeu instruções relativas à Ceia do Senhor. Além disso, ele havia
transmitido estas informações à igreja de forma cuidadosa e fiel. Assim,
o apóstolo podia afirmar com segurança e autoridade: Porque eu recebi do
Senhor o que também vos ensinei (23).
A Ceia
representava a inauguração de um novo pacto de graça, e deveria ser
observada como um memorial. Tanto o “corpo partido” quanto o “sangue
derramado” deveriam ser considerados como símbolos e não como
referências literais ao corpo de CRISTO. Quando JESUS disse, isto é o
meu corpo que é partido por vós (24), ele não estava fisicamente sentado
à mesa. Qualquer ideia sobre uma transformação milagrosa, tanto no pão
quanto no vinho, é contrária ao relato bíblico. Finalmente, a Ceia do
Senhor deveria ser celebrada como um memorial ou lembrança, e não como
meio de salvação. As afirmações: Fazei isto em memória de mim e
Anunciais a morte do Senhor, até que venha (26) confirmam a ideia de que
a Ceia é uma lembrança espiritual ou um símbolo da morte de CRISTO.
Celebração da Ceia do Senhor (11.27-34)
A Ceia
do Senhor é uma recordação espiritual do ato de redenção de nosso
Senhor, e um testemunho público da nossa fé em JESUS CRISTO. Portanto,
ela deve ser celebrada como um agradecimento solene.
a)
Participação indigna (11.27).
Paulo
afirma que é possível comer o pão ou beber o cálice do Senhor,
indignamente. O advérbio indignamente se refere à diferença de pesos;
portanto ele significa “pesos diferentes” ou “indevidamente
equilibrados”. A atitude de uma pessoa pode não estar equilibrada com a
importância da ocasião. Se ela participar da Ceia do Senhor de forma
frívola e descuidada, sem respeito ou gratidão, ou mesmo se estiver em
pecado ou manifestando amargura contra outro irmão crente, estará
participando indignamente.
Participar indignamente é ser culpado do corpo e do sangue do Senhor. A
palavra culpado (enochos) significa “ser passível do efeito penal de um
ato; aqui a palavra... [envolve] a culpa pela morte de CRISTO”. Ao invés
de se apresentar à mesa com uma atitude imprópria ou pecadora, o crente
deve comparecer “na fé, e com o devido comportamento em relação a tudo
aquilo que é apropriado a este ritual solene”.
b)
Exame espiritual (11.28).
Antes
de participar desse serviço sagrado, examine-se o homem por meio de uma
análise rigorosa. Essa palavra significa testar; portanto, o crente
deverá examinar seus motivos e seus atos. Certamente ninguém poderá
ganhar, como um pagamento, a graça e o perdão de DEUS. Mas, por outro
lado, um sincero exame irá indicar se a pessoa compareceu à mesa sagrada
levada por motivos sinceros e uma obediência ativa ao Senhor. O ensino
de Paulo é totalmente positivo. Ele não diz que alguém deva fazer um
auto-exame, e deixar a mesa do Senhor em uma situação de desespero. Pelo
contrário, ele aconselha o homem a examinar seu coração e, em seguida,
cheio de uma fé sincera no perdão divino, coma deste pão, e beba deste cálice.
c) Os
perigos da irreverência (11.29-30).
A
versão ARA traduz o versículo 29 da seguinte forma: “Quem come e bebe
sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. A palavra krima, que
a versão ARA traduz como juízo, significa condenação, como na versão
ARC. Paulo não tem a intenção de afirmar que a pessoa que comparece à
mesa sem a qualificação espiritual adequada será eternamente
amaldiçoada. Ele quer dizer que tal ato irá trazer a condenação e a
culpa. Não discernindo o corpo do Senhor significa que o crente não foi
capaz de distinguir entre o memorial sagrado da Ceia de Senhor e outros
tipos de refeição.
O
apóstolo indica que como resultado do abuso da Ceia do Senhor... há
entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem (30). E muito
grave declarar que o abuso da Ceia do Senhor resulta na maldição eterna,
mas Paulo adverte que o castigo de DEUS poderia acontecer, trazendo
enfermidades e até a morte física. A palavra fracos (asthenes) está
relacionado a enfermidades; o termo doentes (arrostos) quer dizer
enfermidade e decadência, enquanto a palavra dormem (koimaomai) é usada
freqüentemente no NT para indicar a “morte daqueles que pertencem a
CRISTO”. Godet diz que Paulo está descrevendo um “julgamento prévio,
especificamente infligido por DEUS, como aquele que Ele envia para
despertar o homem para a salvação”.
d)
Participação reverente (11.31-34)
A
maneira de evitar o castigo de DEUS é nos julgarmos a nós mesmos de modo
voluntário e sincero (31). Mas, quando DEUS envia seu julgamento para o
crente, este é repreendido pelo Senhor (32). Nesses casos, os castigos
de DEUS não são severos, mas símbolos do seu amor. “Eles são enviados
para nos livrar dos caminhos do pecado e para não participarmos da
condenação do mundo”.
A
maneira adequada de observar o sacramento é esperar uns pelos outros
(33). Os membros devem esperar até que todos estejam reunidos e depois,
com afeição fraterna e respeito, conduzir a festa do amor. A
determinação final do versículo 34 é novamente uma advertência para não
considerar a Ceia do Senhor uma refeição comum. Se um homem estiver com
fome, coma em casa. A finalidade da Ceia é lembrar aos crentes a obra
redentora de CRISTO e despertar na igreja um espírito de unidade e amor.
Alguns
outros pontos relativos a este assunto ainda exigem alguma atenção.
Sobre eles Paulo escreve: Quanto às demais coisas, ordena-las-eis quando
for ter convosco (34). Esses problemas estavam afetando seriamente a
vida da igreja e podiam ser adiados para uma outra ocasião. Quais eram
as demais preocupações que Paulo tinha em mente? Talvez ele quisesse
separar completamente a ideia da festa do amor da celebração da Ceia do
Senhor. Sabemos que por volta do ano 150 d.C. o costume de fazer uma
refeição junto com a Ceia do Senhor havia sido abandonado.
Para
os cristãos existe “Força Através das Ordenanças”. 1) Elas foram
instituídas pelo Senhor, 23a; 2) Elas são memoriais do sacrifício de
CRISTO, 236-26; 3) Elas exigem um auto-exame, 27-29; 4) Elas produzem a
preocupação pelos outros, 33-34.
Donald
S. Metz. Comentário Bíblico Beacon. Editora CPAD. Vol. 8. pag. 329-331.
Seqüência da Ceia
Em
primeiro lugar, devemos olhar para trás (vv. 23·26a). O pão repartido
nos lembra o corpo de CRISTO dado por nós; o cálice representa seu
sangue derramado. É impressionante o desejo de JESUS de que seus
seguidores se lembrem de sua morte. A maioria de nós procura esquecer os
detalhes sobre a morte de nossos entes queridos, mas JESUS deseja que
lembremos como ele morreu.
Isso
porque sua morte é o cerne de tudo o que temos como cristãos.
Devemos lembrar o fato de haver morrido, pois sua morte faz parte da
mensagem do evangelho: "CRISTO morreu [...] foi sepultado" (1 Co 15:3,
4). Não é a vida de CRISTO nem seus ensinamentos que salvam os
pecadores, mas sua morte. Portanto, devemos nos lembrar do motivo de ter
morrido: CRISTO morreu por nossos pecados; foi nosso substituto (ls
53:6; 1 Pe 2:24), quitando uma dívida que jamais poderíamos pagar.
Também
devemos lembrar como ele morreu: voluntária e mansamente, demonstrando
seu amor por nós (Rm 5:8). Entregou o corpo nas mãos de homens perversos
e levou sobre si os pecados do mundo. No entanto, essa "memória" não é
apenas uma lembrança dos fatos históricos. Também é uma participação de
realidades espirituais. Quando celebramos a Ceia do Senhor, não
caminhamos ao redor de um monumento e o admiramos a distância. Temos
comunhão com o Salvador vivo, do qual nos aproximamos pela fé.
Em
segundo lugar, devemos olhar para a frente (v. 26b). Observamos a Ceia
do Senhor "até que ele venha". A volta de JESUS CRISTO é a esperança da
Igreja e de cada cristão.
JESUS
CRISTO não apenas morreu por nós, mas também ressuscitou e subiu ao céu
e, um dia, voltará para nos levar para junto dele. Não somos hoje tudo o
que devemos ser; mas quando o vermos, "seremos semelhantes a ele" (1 Io
3:2).
Em
terceiro lugar, devemos olhar para dentro (w. 27, 28, 31, 32). Paulo não
diz que devemos ser dignos de participar da Ceia, mas apenas que devemos
fazê-lo de maneira digna.
A fim
de participar dignamente, é preciso examinar o coração, discernir os
pecados e confessá-los ao Senhor. Tomar a Ceia com pecados não
confessados no coração é se tornar réu do corpo e do sangue de CRISTO,
pois foi o pecado que o pregou à cruz. Se não discernirmos nossas
transgressões, DEUS nos julgará e disciplinará até que confessemos e
deixemos esses pecados.
Os
coríntios não examinavam a si mesmos, mas eram especialistas em examinar
a vida de todo mundo. Quando a igreja se reúne, devemos ter o cuidado de
não nos tornarmos "detetives religiosos" que se dedicam a vigiar os
outros, incapazes de reconhecer os próprios pecados. Se comemos e
bebemos indignamente, comemos e bebemos julgamento (disciplina) para nós
mesmos, algo que não deve ser considerado levianamente.
A
disciplina é a maneira carinhosa de DEUS tratar com seus filhos e filhas
e de encorajá-los a amadurecer (Hb 12:1-11). Não é como a sentença de um
juiz condenando um criminoso, mas como a repreensão de um Pai amoroso,
que castiga os filhos desobedientes (e, possivelmente, obstinados). A
disciplina é uma prova do amor de DEUS por nós e, se cooperarmos, pode
aperfeiçoar a vida de DEUS em nós.
Por
fim, devemos olhar a nosso redor (w. 33, 34). Não se deve fazer isso com
o objetivo de criticar outros cristãos, mas sim de discernir o corpo do
Senhor (1 Co 11 :29). É possível que essa frase tenha um sentido duplo:
devemos reconhecer seu corpo no pão e também na igreja a nosso redor –
pois a igreja é o corpo de CRISTO. "Porque nós, embora muitos, somos
unicamente um pão, um só corpo" (1 Co 10:17). A Ceia deve ser uma
demonstração de união na igreja, mas a igreja de Corinto não era muito
unida. Na verdade, sua celebração da Ceia do Senhor era apenas uma
demonstração de sua desunião.
A Ceia
do Senhor é uma refeição em família, e o Senhor da família deseja que
seus filhos amem uns aos outros e cuidem uns dos outros. É impossível um
cristão verdadeiro aproximar-se do Senhor e, ao mesmo tempo, se manter
separado de seus irmãos e irmãs em CRISTO. De que maneira podemos
lembrar a morte de JESUS CRISTO se não amamos uns aos outros? "Amados,
se DEUS de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros"
(1Jo 4:11 ).
Nenhuma pessoa que não é verdadeiramente convertida deve tomar a Ceia.
Também um cristão não deve tomar a Ceia se seu coração não estiver em
ordem com DEUS e com seus irmãos e irmãs em CRISTO. É por isso que
várias igrejas têm um tempo de preparação espiritual antes de realizar a
Ceia, a fim de que nenhum dos participantes traga disciplina sobre si
mesmo. Lembro-me de um membro de igreja que me procurou e contou de uma
derrota pessoal que não apenas o havia prejudicado espiritualmente, como
também havia sido "divulgada" por outros e estava prestes a envergonhar
a ele e à igreja.
- O
que posso fazer para colocar a situação em ordem? - ele me perguntou,
convencendo-me de que havia, de fato, discernido e confessado seu
pecado. lembrei-o de que, na semana seguinte, realizaríamos a Ceia do
Senhor e sugeri que pedisse a orientação de DEUS. Na noite da Ceia,
comecei a celebração de uma forma como nunca havia feito antes.
- Há
alguém que gostaria de compartilhar alguma coisa com a igreja? -
perguntei.
Meu
amigo arrependido colocou-se em pé e veio à frente, onde parou a meu
lado junto à mesa da Ceia. De maneira tranqüila e concisa, reconheceu
que havia pecado e pediu o perdão da igreja. Sentimos uma onda de amor
vindo do ESPÍRITO tomar conta da congregação, e várias pessoas começaram
a chorar. Naquela celebração da ceia, verdadeiramente discernimos o
corpo de CRISTO.
Apesar
de a confissão ser um elemento importante, a Ceia não deve ser uma
ocasião de "autópsia espiritual" e tristeza. Deve ser um tempo de ação
de graças e expectativa jubilosa de ver o Senhor!
JESUS sabia que, em
breve, passaria por grande sofrimento e morreria, mas ainda assim deu
graças. Façamos o mesmo.
WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. N.T. Vol. I. Editora
Central Gospel. pag. 792-794.
ELABORADO:
Pb Alessandro Silva.