Escrita Lição 12, BETEL, O sofrimento do Servo, sua morte e ressurreição, 1Tr23, Pr Henrique, EBD NA TV

 Lição 12, BETEL, O sofrimento do Servo, sua morte e ressurreição, 1Tr23, Pr Henrique, EBD NA TV

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COMENTÁRIOS BEP – CPAD

Mc 14.9 EVANGELHO. Evangelho (gr. euaggelion) significa "boas novas". São as boas-novas de que DEUS proveu à salvação dos perdidos, e isto através da encarnação, morte e ressurreição de JESUS CRISTO (Jo 3.16; Lc 4.18-21; 7.22). Sempre que as boas-novas são proclamadas no poder do ESPÍRITO (1 Co 2.4; Gl 1.11), elas: (1) têm autoridade de CRISTO (Mt 28.18-20); (2) revelam a justiça de DEUS (Rm 1.16,17); (3) demandam arrependimento (1.15; Mt 3.2; 4.17); (4) convencem do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8; cf. At 24.25); (5) originam fé (Fp 1.27; Rm 10.17); (6) trazem salvação, vida e o dom do ESPÍRITO SANTO (Rm 1.16; 1 Co 15.22; 1 Pe 1.23; At 2.33, 38,39); (7) libertam do domínio do pecado e de Satanás (Mt 12.28; At 26.18; Rm 6); (8) trazem esperança (Cl 1.5,23), paz (Ef 2.17; 6.15) e imortalidade (2 Tm 1.10); (9) advertem sobre o juízo (Rm 2.16); e (10) trazem condenação e morte eterna quando rejeitadas (Jo 3.18).

14.9 PARA SUA MEMÓRIA. Ver Mt 26.13

Mt 26.13 PARA MEMÓRIA SUA. O Senhor ordenou que este ato de Maria (vv. 6-13) fosse sempre mencionado na pregação do evangelho, porque ela constitui o maior exemplo de devoção para os seguidores de CRISTO. Seu ato expressou a sua devoção e seu amor profundo pelo Mestre. A fé cristã consiste primeiramente em servir a CRISTO. Desta passagem aprendemos que o entranhável afeto e amor a JESUS CRISTO é o aspecto mais valioso do nosso relacionamento com Ele (ver Jo 21.15).

Mc 14.14 A PÁSCOA Ver Mt 26.2

Mt 26.2 A PÁSCOA - A Páscoa (gr. pascha) era uma festa sagrada da primavera, que relembrava o fato histórico da saída do povo de Israel do Egito. Ela comemorava a passagem do anjo destruidor pelas casas dos judeus sem lhes causar dano, devido ao sangue do cordeiro aspergido nos portais e no batente superior das portas das casas (ver Êx 12.7; Sl 78.49). A crucificação de CRISTO ocorreu no dia da preparação da Páscoa (Jo 19.14). Ele é a nossa Páscoa... sacrificado por nós (1 Co 5.7)

Mc 14.21 Não HAVER NASCIDO. JESUS sempre julga e avalia a vida de uma perspectiva espiritual e eterna. Ele afirma que seria melhor a pessoa nunca ter nascido do que entrar neste mundo e não aceitar JESUS como seu Senhor e Salvador, e, por conseguinte, padecer eternamente no inferno (ver Jo 6.6).

Mc 14.22 PÃO... MEU CORPO. Ver Lc 22.20; 1 Co 11.24,25,27.

Lc 22.20 O NOVO TESTAMENTO NO MEU SANGUE. Com as palavras: o Novo Testamento no meu sangue, JESUS anuncia o novo concerto ou testamento, firmado mediante a sua morte sacrificial (cf. Mt 26.28; 1 Co 11.25; ver Jr 31.31). A nova aliança tornou-se eficaz somente pela morte de CRISTO (Hb 9.15-18). Os discípulos ingressaram na nova aliança quando foram regenerados pelo ESPÍRITO SANTO, que passou a neles habitar na tarde do dia da ressurreição de JESUS. Depois, foram batizados com o ESPÍRITO SANTO no dia de Pentecoste (ver At 2.4).

1 Co 11.24,25 MEU CORPO... MEU SANGUE. Estas palavras se referem ao corpo de CRISTO, ofertado mediante sua morte, bem como seu sangue derramado como sacrifício na cruz. CRISTO, ao falar do pão, "isto é o meu corpo", quis dizer que o pão representava o seu corpo. O "cálice" representava o seu sangue derramado no Calvário para a ratificação do "Novo Testamento" (v. 25). Comer o pão e beber o cálice significam proclamar e aceitar os benefícios da morte sacrificial de CRISTO (v. 26).

1 Co 11.27 COMER... BEBER... INDIGNAMENTE. Comer indignamente é participar da mesa do Senhor com um espírito indiferente, egocêntrico e irreverente, sem qualquer intenção ou desejo de abandonar os pecados conhecidos e de aceitar o concerto da graça com todas as suas promessas e deveres. Quem participa assim indignamente, peca terrivelmente contra o Senhor. É culpado de crucificar de novo a CRISTO e torna-se imediatamente sujeito a juízo e retribuição específicos (vv. 29-32). Ser "culpado do corpo e do sangue do Senhor" significa ser considerado responsável pela sua morte.

Mc 14.24 SANGUE DO NOVO TESTAMENTO. CRISTO derramou o seu sangue em nosso favor para prover o perdão dos nossos pecados e a salvação. A sua morte na cruz estabeleceu um novo concerto entre DEUS PAI e todos quantos recebem a seu Filho JESUS CRISTO como Senhor e Salvador (ver Jr 31.31-34). Aqueles que se arrependem dos seus pecados e se voltam para DEUS mediante a fé em CRISTO serão perdoados, libertos do poder de Satanás, receberão nova vida espiritual, serão feitos filhos de DEUS, serão batizados no ESPÍRITO SANTO, e terão acesso a DEUS em todos os momentos, para receberem misericórdia, graça, força e ajuda (ver Mt 26.28; ver Hb 4.16; 7.25).

Mt 26.28 REMISSÃO DOS PECADOS. O perdão é uma necessidade porque todos pecaram, destruíram o seu relacionamento com DEUS e estão sob condenação (Rm 1.18-32). O perdão é o meio pelo qual esse relacionamento é restaurado (Ef 1.7; Cl 2.13). (1) As palavras hebraicas e gregas para perdão exprimem o conceito de cobrir, perdoar, anular, despedir. O perdão de DEUS abrange: não levar em conta o pecado cometido (Mc 2.5; Jo 8.11); salvar os pecadores do castigo eterno (Rm 5.9; 1 Ts 1.10); aceitá-los (Lc 15.20ss); libertá-los do domínio do pecado e levá-los para o reino de CRISTO (Cl 1.13); renovar a pessoa na sua totalidade e garantir-lhe a vida eterna (Lc 23.43; Jo 19.14b). (2) Para receber o perdão de DEUS deve haver arrependimento, fé e confissão dos pecados (Lc 17.3,4; At 2.38; 5.31; 20.21; 1 Jo 1.9). Para que DEUS pudesse perdoar o pecado era preciso derramamento de sangue vicário (Hb 9.22). Daí, o nosso perdão depender da morte de JESUS na cruz (v. 28; Jo 1.29; 3.16; Rm 8.32). O perdão divino é uma necessidade permanente para o crente (pois ainda somos pecadores), para que mantenhamos nosso relacionamento salvífico com DEUS (Mt 6.12,14,15; 1 Jo 1.9).

Hb 4.16 CHEGUEMOS POIS COM CONFIANÇA AO TRONO DA GRAÇA. Porque CRISTO se compadece das nossas fraquezas (v. 15), podemos chegar com confiança ao trono celestial, sabendo que nossas orações e petições são bem acolhidas e ouvidas por nosso PAI celestial (cf. 10.19,20). É chamado o "trono da graça", porque dele fluem o amor, o socorro, a misericórdia, o perdão, o poder divino, o batismo com o ESPÍRITO SANTO, os dons espirituais, o fruto do ESPÍRITO SANTO e tudo de que precisamos em todas as circunstâncias. Uma das maiores bênçãos da salvação é que CRISTO, agora, é nosso sumo sacerdote, conduzindo-nos até a sua presença pessoal, de modo que sempre podemos buscar a ajuda de que carecemos.

Hb 7.25 VIVENDO SEMPRE PARA INTERCEDER. CRISTO vive no céu, na presença do PAI (8.1), intercedendo por todos os seus seguidores, individualmente, de acordo com a vontade do PAI (cf. Rm 8.33,34; 1 Tm 2.5; 1 Jo 2.1). (1) Pelo ministério da intercessão de CRISTO, experimentamos o amor e a presença de DEUS e achamos misericórdia e graça para sermos ajudados em qualquer tipo de necessidade (4.16), tentação (Lc 22.32), fraqueza (4.15; 5.2), pecado (1 Jo 1.9; 2.1) e provação (Rm 8.31-39). (2) A oração de CRISTO como sumo sacerdote em favor do seu povo (Jo 17), bem como sua vontade de derramar o ESPÍRITO SANTO sobre todos os crentes (At 2.33), nos ajudam a compreender o alcance do seu ministério de intercessão (ver Jo 17.1). (3) Mediante a intercessão de CRISTO, aquele que se chega a DEUS (i.e., se chega continuamente a DEUS, pois o particípio no grego está no tempo presente e salienta a ação contínua), pode receber graça para ser salvo "perfeitamente". A intercessão de CRISTO, como nosso sumo sacerdote, é essencial para a nossa salvação. Sem ela, e sem sua graça, misericórdia e ajuda que nos são outorgadas através daquela intercessão, nos afastaríamos de DEUS, voltando a ser escravos do pecado e ao domínio de Satanás, e incorrendo em justa condenação. Nossa única esperança é aproximar-nos de DEUS por meio de CRISTO, pela fé (ver 1 Pe 1.5). (4) Note que CRISTO não permanece como advogado e intercessor dos que se recusam a confessar e abandonar o pecado e que se apartam da comunhão com DEUS (cf. 1 Jo 1.5-7,9; 3.10). Sua intercessão para salvar "perfeitamente" é somente para aqueles que "por Ele se chegam a DEUS" (7.25). Não há segurança nem garantia para quem deliberadamente peca e deixa de se chegar a DEUS por Ele (Hb 10.21-31; ver 3.6). (5) Posto que CRISTO é nosso único mediador e intercessor no céu, qualquer tentativa de ter anjos ou santos falecidos como mediadores e de oferecer orações ao PAI através deles, é tanto inútil quanto antibíblico

Mc 14.32 GETSÊMANI... ENQUANTO EU ORO. As medidas aqui tomadas por JESUS nos oferecem um exemplo do que o crente deve fazer em tempos de grande angústia ou pesar. (1) Voltar-se para DEUS em oração (vv. 32,35,36,39). (2) Buscar o apoio dos amigos (vv. 33,34,42). (3) Afirmar de coração que DEUS é o PAI celestial que cuida de nós (v. 36). (4) Confiar em DEUS e entregar-se à sua vontade (v. 36). Ver Mt 26.37ss.

14.35 PASSASSE DELE AQUELA HORA. Ver Mt 26.39.

Mt 26.39 PASSE DE MIM ESTE CÁLICE. O que CRISTO quis dizer com este cálice tem sido objeto de muita discussão. (1) É duvidoso que CRISTO estivesse orando para ser poupado da morte física, pois Ele estava decidido a morrer pelo pecado da raça humana (cf. Mc 10.33,34; Lc 9.51; Jo 12.24,27; Hb 10.5-9). (2) É mais provável que Ele estivesse pedindo a isenção do castigo da separação do PAI, a pena máxima pelo pecado do mundo, que Ele tomaria sobre si. CRISTO pediu que sua morte física fosse aceita como resgate total pelo pecado da humanidade pecadora. Todavia, Ele disse ao PAI: Não seja como eu quero, mas como Tu queres. A seguir, Ele entregou-se para sofrer, tanto a morte física como a separação espiritual de seu PAI celestial, para assim obter a salvação de toda a humanidade (cf. 27.46). Sua oração foi ouvida, pois o PAI o fortaleceu mediante os anjos, para beber o cálice que lhe estava destinado (Lc 22.42; ver Hb 5.7)

14.37 VIGIAR UMA HORA. Pedro e os demais apóstolos negligenciaram a única coisa que poderia livrá-los do fracasso na hora da provação (v. 50): vigilância constante e oração.

Nossa vida cristã fracassará com certeza se não orarmos (ver At 10.9, sobre a importância de orar por uma hora).

14.46 O PRENDERAM. Ver Mt 26.57, para a ordem dos eventos da prisão de CRISTO à sua crucificação.

Mt 26.57 PRENDERAM JESUS. Um estudo dos acontecimentos que vão da prisão de CRISTO à sua crucificação é de grande proveito. A ordem dos eventos é a seguinte: (1) a prisão (Mt 26.47-56, Mc 14.43-52; Lc 22.47-53; Jo 18.2-12); (2) o julgamento religioso perante Anás (Jo 18.12-14, 19-24) e perante Caifás (Mt 26.57,59-68; Mc 14.53, 55-65; Lc 22.54, 63-65; Jo 18.24); (3) a negação de Pedro (26.58, 69-75; Mc 14.54, 67-72; Lc 22.54-62; Jo 18.15-18, 25-27); (4) a condenação pelo sinédrio (27.1; Mc 15.1; Lc 22.66-71); (5) o suicídio de Judas (27.3-10); (6) o julgamento civil perante Pilatos (27.2, 11-14; Mc 15.2-5; Lc 23.1-5; Jo 18.28 38); (7) o julgamento perante Herodes (Lc 23.27-30), que o devolveu a Pilatos (27.11-26; Mc 15.6-15; Lc 23.11-25; Jo 18.28 19.1, 4-16); (8) o escárnio no palácio do governador (27.27-30; Mc 15.16-19; Jo 19.2,3), depois disso Ele foi açoitado e a seguir conduzido para ser crucificado (27.31); (9) a caminhada até o Gólgota (27.32-34; Mc 15.20-23; Lc 23.26-33; (10) a crucificação (27.35).

14.50 DEIXANDO-O, TODOS FUGIRAM. Nunca devemos comparar o fracasso de Pedro e dos outros discípulos quando JESUS foi preso com os fracassos espirituais e morais de pastores ou líderes depois da morte e ressurreição de CRISTO. Isto se baseia nas seguintes razões: (1) Pedro e os discípulos, na ocasião do seu fracasso, ainda não pertenciam ao Novo Concerto, que só entrou em vigor quando CRISTO derramou o seu sangue na cruz (Hb 9.15-20). (2) Pedro e os discípulos ainda não tinham experimentado o novo nascimento, a regeneração no ESPÍRITO SANTO no sentido pleno do NT. O ESPÍRITO SANTO lhes foi concedido com sua presença santificadora habitando neles a partir do dia da ressurreição de CRISTO, quando, então, Ele "assoprou sobre eles e disse-lhes: Recebei o ESPÍRITO SANTO" (Jo 20.22). O fracasso dos discípulos foi mais um ato de fraqueza do que de iniquidade. (3) Quando Pedro e os outros discípulos abandonaram a CRISTO, não tinham a vantagem de quem está consciente do significado moral da morte expiatória de CRISTO na cruz (ver Rm 6), nem tinham o suporte da fé inspirada pela sua ressurreição dentre os mortos. Noutras palavras, esse trecho bíblico não deve ser usado como justificativa para restaurar ao ministério um líder que, por causa dos seus próprios pecados e relaxamento moral, deliberadamente repudiou, na sua vida particular e espiritual, as qualificações necessárias para o ministério pastoral.

14.65 A DAR-LHES PUNHADAS. Ver Mt 26.67. CUSPIRAM-LHE... DAVAM MURROS

14.71 IMPRECAR E A JURAR. Pedro afirmou com juramento aquilo que estava dizendo, e invocou contra si mesmo a maldição divina, caso suas declarações fossem falsas.

 

15.1 O... ENTREGARAM A PILATOS. Ver Mt 27.2.

Mt 27.2 O ENTREGARAM A PILATOS. Os sofrimentos de CRISTO, terceira fase. De manhã, JESUS, açoitado e exausto, é conduzido através de Jerusalém para ser interrogado por Pilatos. Soltam a Barrabás (v. 20). JESUS é novamente açoitado e entregue para ser crucificado (v. 26). (Para a quarta fase dos sofrimentos de CRISTO, ver 27.26).

Mt 27.3 ENTÃO JUDAS... ARREPENDIDO. Judas ficou sabendo que suas ações pecaminosas levariam à morte de JESUS. Da mesma forma, nossas ações inevitavelmente afetam os outros, para o bem ou para o mal. Muitos atos que iniciamos não poderão mais ser sustados e seus resultados nocivos e destrutivos nos afetarão, bem como a outras pessoas. É da máxima importância que evitemos qualquer ação ou plano que possa ter consequências danosas em potencial.

Mt 27.5 RETIROU-SE E FOI-SE ENFORCAR. Mateus declara que Judas foi-se enforcar. At 1.18 registra que ele morreu ao cair. O que Judas provavelmente fez foi lançar-se sobre uma estaca pontiaguda, ou tenha caído sobre uma, após a corda com que estava se enforcando, se arrebentar. Naqueles tempos, o indivíduo morria pendurado, por crucificação ou empalação.

Mt 27.9 O PROFETA JEREMIAS. Nesta citação, Mateus reúne e resume elementos do simbolismo profético, um de Jeremias (Jr 32.6-9) e outro de Zacarias (Zc 11.12,13). A seguir, Mateus menciona o profeta mais antigo e mais destacado como sendo o autor da profecia, costume esse comum na alusão de passagens dos profetas.

Mt 27.24 PILATOS.O maior pecado de Pilatos foi transigir no que ele sabia que era verdadeiro e correto, por causa do seu cargo, nível social e proveito pessoal. Pilatos sabia que CRISTO era inocente; isto ele declarou várias vezes (v. 18; Jo 19.4,6).

 

15.15 AÇOITADO JESUS. Ver Mt 27.26.

Mt 27.26 E TENDO MANDADO AÇOITAR A JESUS. Os sofrimentos de CRISTO, quarta fase. (1) No açoitamento romano, a vítima era despida e presa a uma coluna, ou então ela curvava-se sobre um tronco, com as mãos atadas nele. O instrumento de tortura consistia num curto cabo de madeira no qual estavam presas várias tiras de couro com pequenos pedaços de ferro ou osso, presos nas pontas. Os golpes eram aplicados às costas da vítima por dois algozes, um de cada lado da vítima. Os cortes eram tão profundos que apareciam as veias, as artérias, e, às vezes, até certos órgãos internos. Muitas vezes, a vítima morria durante o açoitamento ou flagelação. (2) A flagelação era uma tortura pavorosa. O fato de JESUS não poder levar a cruz deve ter sido por causa do seu horrível sofrimento, resultante desse castigo (v. 32; Lc 23.26; Is 52.14). Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras fomos sarados (Is 53.5; 1 Pe 2.24). (Para a quinta fase dos sofrimentos de CRISTO, ver v. 28).

 

15.17 COROA DE ESPINHOS. Ver Mt 27.28,29.

Mt 27.28,29 UMA CAPA DE ESCARLATE... UMA COROA DE ESPINHOS. Os sofrimentos de CRISTO, quinta fase. Desamarraram as mãos de JESUS e o puseram em meio à tropa romana (v. 27). Os soldados colocam uma capa sobre Ele, põem um caniço em sua mão e uma coroa de espinhos na sua cabeça (v. 29). Os soldados escarnecem dEle e batem no seu rosto e na cabeça, fazendo penetrar profundamente os espinhos no couro cabeludo (v. 30). (Para a sexta fase dos sofrimentos de CRISTO).

 

15.20 O LEVARAM PARA FORA A FIM DE O CRUCIFICAREM. Ver Mt 27.31.

Mt 27.31 O LEVARAM PARA SER CRUCIFICADO. Os sofrimentos de CRISTO, sexta fase. Levando a pesada cruz no ombro, CRISTO lentamente inicia a caminhada para o Gólgota. O peso da cruz somado ao seu esgotamento físico o faz cair. Esforça-se para levantar-se, porém não consegue. Obrigam a Simão de Cirene a levar a cruz. (Para a sétima fase dos sofrimentos de CRISTO, ver v. 35).

 

15.24 HAVENDO-O CRUCIFICADO. Ver Mt 27.35.

Mt 27.35 HAVENDO-O CRUCIFICADO. Os sofrimentos de CRISTO, sétima fase. No Gólgota, põem a cruz no solo e deitam JESUS sobre ela. Estendem seus braços ao longo dos braços da cruz e pregam um cravo de ferro, quadrado e pesado, que atravessa sua mão, primeiro a mão direita, e, em seguida, a esquerda. Os cravos penetram também na madeira. A seguir, estendem seus pés e os cravam na cruz, com cravos maiores do que os das mãos. (Para a oitava fase dos sofrimentos de CRISTO, ver v. 39).

 

15.29 BLASFEMAVAM DELE. Ver Mt 27.39.

Mt 27.39 BLASFEMAVAM DELE. Os sofrimentos de CRISTO, oitava fase. Agora, JESUS, cheio de ferimentos e coberto de sangue, é um espetáculo patético para o povo que assiste ao ato. As dores são atrozes em todo o seu corpo, ficando naquela posição horrível, por várias horas; os braços estão afadigados; sente grandes cãimbras nos músculos e rasga-se a pele das suas costas. Começa outra agonia uma dor insuportável no peito, causada pela compressão dos fluidos no coração. Sente uma sede abrasadora (Jo 19.28) e está consciente do sofrimento e do escárnio dos que passam junto à cruz (vv. 39-44). (Para a nona fase dos sofrimentos de CRISTO, ver v. 46).

 

15.34 POR QUE ME DESAMPARASTE? Ver Mt 27.46.

Mt 27.46 POR QUE ME DESAMPARASTE? Os sofrimentos de CRISTO, nona fase. Este brado de CRISTO assinala o ponto culminante dos seus sofrimentos pelo mundo perdido. Seu brado em aramaico (DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?) testemunha que Ele experimentou a separação de DEUS PAI, ao tornar-se substituto do pecador. Esta é a pior tristeza, angústia e dor que Ele sente. Está ferido pelas transgressões dos seres humanos (Is 53.5) e se dá em resgate de muitos (20.28; 1 Tm 2.6). Aquele que não conheceu pecado, DEUS o fez pecado pela humanidade inteira (2 Co 5.21). Ele morre abandonado, para que nunca sejamos abandonados (cf. Sl 22). Assim, mediante seus sofrimentos, CRISTO redime a raça humana (1 Pe 1.19). (Para a décima fase dos sofrimentos de CRISTO, ver v. 50).

 

15.36 VINAGRE. Ver Jo 19.29.

Jo 19.29 VINAGRE. O termo grego traduzido por "vinagre" é oxos, que quer dizer vinho azedo. Nossa palavra "vinagre" vem do francês vin (=vinho) e aigre (=azedo), i.e., "vinho azedo". O vinagre vem do álcool pela formação de ácido acético. JESUS ao tomar vinagre, cumpriu a profecia de Sl 69.21: "na minha sede me deram a beber vinagre".

 

15.37 EXPIROU. Ver Mt 27.50.

Mt 27.50 JESUS, CLAMANDO OUTRA VEZ. Os sofrimentos de CRISTO, décima fase. CRISTO profere suas últimas palavras, bradando alto: Está consumado (Jo 19.30). Este brado significa o fim dos seus sofrimentos e a consumação da obra da redenção. Foi paga a dívida do pecado humano, e o plano da salvação cumprido. Feito isto, Ele faz uma oração final: PAI, nas tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 23.46).

Mt 27.51 O VÉU... SE RASGOU. O véu do templo (cf. Êx 26.31-33; 36.35) rasgado mostra que o caminho para a presença de DEUS foi aberto. A cortina que fazia separação entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos vedava o caminho à presença de DEUS. Mediante a morte de CRISTO, a cortina foi removida e aberto ficou o caminho para o Santo dos Santos (i.e., a presença de DEUS), para todos quantos crerem em CRISTO e na sua Palavra salvífica (cf. Hb 9.1-14; 10.19-22).

Mt 27.52 SANTOS... FORAM RESSUSCITADOS. O significado deste evento é o prenúncio profético de que a morte e a ressurreição de CRISTO garantem a nossa ressurreição gloriosa na sua vinda. A ressurreição de CRISTO foi a derrota da morte (ver 1 Co 15.50-58; 1 Ts 4.14).

 

 

 

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MARCOS 14 (Com. Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo) AT e NT)

 

JESUS É Ungido em Betânia. Judas Compromete-se para Trair a CRISTO

Marcos 14. 1-11

Aqui temos exemplos:

I

 Da bondade dos amigos de CRISTO, e das providências tomadas por respeito e honra a Ele. JESUS tinha alguns amigos, até mesmo em Jerusalém e nas proximidades, que o amavam, e nunca pensaram que poderiam fazer o suficiente por Ele. Entre esses amigos – embora Israel não esteja entre eles – o Senhor JESUS é e sempre será glorioso.

1. Havia um amigo que foi tão gentil a ponto de convidar JESUS para jantar com ele; e JESUS foi gentil a ponto de aceitar o convite (v. 3). Embora Ele tivesse a perspectiva da sua morte que se aproximava, ainda assim Ele não se entregou a um afastamento melancólico, evitando qualquer companhia, mas conversava com os seus amigos tão livremente como sempre.

2. Havia uma mulher que foi tão gentil a ponto de ungir a sua cabeça com um unguento muito valioso, quando Ele se sentou para comer. Essa foi uma extraordinária demonstração de respeito, prestada por uma mulher que pensou que nada seria suficientemente bom para oferecer a JESUS CRISTO, e para honrá-lo. Assim se cumpriam as Escrituras: “Enquanto o rei está assentado à sua mesa, dá o meu nardo o seu cheiro” (Ct 1.12). Devemos ungir a JESUS CRISTO como nosso Amado, beijá-lo com um beijo afetuoso; e ungi-lo como nosso Soberano, e beijá-lo com um beijo leal. Ele derramou a sua alma na morte por nós, e vamos julgar que algum vaso de unguento é precioso demais para derramar sobre Ele? Pode-se notar que ela tomou cuidado especial em derramar todo o unguento sobre a cabeça de JESUS; ela quebrou o vaso (é o que está escrito); mas, uma vez que se tratava de um “vaso de alabastro”, que não quebra facilmente, nem era necessário que fosse quebrado para extrair o unguento, alguns interpretam que ela agitou o vaso, ou o jogou no chão, para desprender o seu conteúdo, para que pudesse ser extraído com mais facilidade. Ela também pode ter esfregado e raspado tudo o que estava preso a ele. JESUS deve ser honrado com tudo o que tivermos, e nós não devemos pensar em reter nada. Será que damos a Ele o unguento precioso do nosso melhor afeto? Que Ele tenha tudo; devemos amá-lo “de todo o coração”.

Agora: (1) Houve aqueles que atribuíram a essa atitude tão bela um significado que não estava à altura do que ela merecia. Eles a classificaram como um “desperdício de unguento” (v. 4). Por não terem podido encontrar, em seus corações, a coragem de ter uma despesa tão elevada para honrar a CRISTO, eles pensaram que aquela que o fez, fosse rica. Observe que “ao louco nunca mais se chamará nobre; e do avarento nunca mais se dirá que é generoso” (Is 32.5); de modo que o nobre e o generoso não sejam chamados de esbanjadores. Eles imaginaram que o unguento poderia ter sido vendido, e dado aos pobres (v. 5). Mas assim como um ato piedoso relacionado ao Corbã não isenta de uma caridade especial a um pai ou mãe pobres (Mc 7.11), também uma caridade comum aos pobres não isenta de um ato especial de piedade ao Senhor JESUS. “Tudo quanto te vier à mão para fazer [que for bom], faze-o conforme as tuas forças”.

(2) O nosso Senhor JESUS atribuiu a esse ato um significado maior do que, pelo que parece, havia sido tencionado por aquela que o praticou. Provavelmente, ela não tinha outra intenção além de mostrar a grande honra que ela lhe dedicava diante de todo o grupo, e de completar a sua recepção. Mas JESUS o transforma em um ato de grande fé, assim como de grande amor (v. 8): Ela “antecipou-se a ungir o meu corpo para a sepultura” como se previsse que a minha ressurreição evitaria que ela fizesse isto depois. Esse rito funerário era um tipo de presságio, ou prelúdio, para a sua morte que se aproximava. Era uma mulher atrás de perdão. Veja como o coração de JESUS estava cheio de pensamentos sobre a sua morte, como tudo tinha uma referência a ela, e com que familiaridade Ele falava dela em todas as ocasiões. É usual que aqueles que estão condenados à morte mandem preparar os seus caixões, e outras providências sejam tomadas para o sepultamento deles, enquanto ainda estão vivos. O Senhor JESUS CRISTO encarou a realidade. A morte e o sepultamento de JESUS foram os patamares mais baixos da sua humilhação; portanto, embora Ele se submetesse de bom ânimo a eles, ainda assim Ele teria algumas marcas de honra para acompanhá-los, que poderiam ajudar a remover “o escândalo da cruz”, e que seriam uma indicação de quão “preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos”. JESUS nunca entrou em Jerusalém com o triunfo de um rei humano (mas sim com o do Messias); Ele foi lá para sofrer; Ele nunca teve a sua cabeça ungida, exceto para o seu sepultamento.

(3) Ele elogiou esse ato de piedade heroica como sendo digno do aplauso da igreja em todos os tempos: “Em todas as partes do mundo onde este evangelho for pregado, também o que ela fez será contado para sua memória” (v. 9). Observe que a honra que acompanha as boas ações, mesmo neste mundo, é suficiente para contrabalançar a reprovação e o desprezo lançados sobre elas. “A memória do justo é abençoada”, e aqueles que “experimentaram escárnios e açoites”, ainda “alcançaram testemunho” (Hb 11.6,39). Assim, essa mulher foi recompensada pelo seu vaso de unguento: Nec oleum perdidit nec operam – Ela não desperdiçou nem o seu azeite, nem o seu trabalho. Ela conseguiu, com esse ato, aquele “bom nome” que é melhor do que o “unguento precioso” (Ec 7.1, versão TB). Aqueles que honram a CRISTO serão honrados por Ele. “Ela ungiu os pés de JESUS e saiu com a cabeça e os cabelos perfumados (Pr. Henrique)”.

II

 Da malícia dos inimigos de JESUS, e dos arranjos que eles fizeram para lhe fazer mal.

1. Os principais dos sacerdotes, inimigos declarados de JESUS, planejavam como o condenariam à morte (vv. 1,2). A Festa da Páscoa estava próxima, e Ele devia ser crucificado nessa festa: (1) Para que a sua morte e os seus sofrimentos fossem mais públicos, e que todo Israel, mesmo os da dispersão, que vinham de todas as partes para a festa, pudessem ser testemunhas da sua morte e das maravilhas que a acompanharam. (2) Para que o antítipo – um modelo de algo futuro – pudesse corresponder àquilo que estava tipificando. JESUS CRISTO, a nossa Páscoa, foi crucificado por nós e nos libertou da escravidão ao mesmo tempo em que o cordeiro pascal era sacrificado, e a saída de Israel do Egito era comemorada.

Veja então: [1] Como eram malévolos os inimigos de JESUS. Eles não julgaram que seria suficiente expulsá-lo, ou aprisioná-lo, pois eles desejavam não apenas silenciá-lo, e interromper o seu progresso para o futuro, mas vingar-se dele por todo o bem que Ele tinha feito. [2] Como eles eram sutis. “Não no dia da Festa”, quando o povo está reunido. Eles não dizem: Para que não sejam perturbados nas suas devoções, e afastados delas; mas: “Para que, porventura, se não faça alvoroço entre o povo” (v. 2); para que o povo não se levante e o liberte, e não se lance sobre aqueles que tentarem algo contra Ele. Aqueles que não desejavam nada além do louvor dos homens temiam, acima de tudo, a ira e o desprazer dos homens.

2. Judas, o inimigo oculto de JESUS, fez um acordo com “os principais dos sacerdotes” para traí-lo (vv. 10,11). Judas é tido como um dos doze que compunham o grupo de apóstolos de JESUS. Era alguém íntimo dele, treinado para o serviço do reino; e ele foi ter com os principais dos sacerdotes para prestar os seus serviços nessa questão.

(1) O que Judas lhes propôs foi que trairia a JESUS, entregando-o a eles, avisando-os onde e quando poderiam encontrá-lo e prendê-lo, sem causar nenhum alvoroço entre a multidão, que era o que eles temiam se o prendessem quando Ele aparecesse em público, em meio aos seus admiradores. Será que Judas sabia, então, que ajuda eles queriam, e em que ponto eles teriam sido impedidos de prosseguir com as suas idéias? É provável que ele não o soubesse, pois os debates eram realizados secretamente. Eles sabiam que ele tinha a intenção de servi-los e que, ao mesmo tempo, queria adular JESUS. Não, eles não podiam imaginar que qualquer daqueles que eram íntimos do Mestre pudesse ser tão vil; mas Satanás, que entrou em Judas, conhecia a oportunidade que eles tinham para ele, e podia dirigi-lo para que ele se tornasse o guia daqueles que estavam tramando para prender JESUS. Note que o espírito que opera em todos os filhos da desobediência sabe como fazer com que eles se ajudem uns aos outros em um projeto iníquo, e como torná-los insensíveis, crendo na fantasia de que a Providência os favorecerá.

(2) O que Judas propôs a si mesmo era conseguir dinheiro em troca de entregar o Senhor. Ele teve o que desejava quando eles prometeram dar-lhe dinheiro. A cobiça era a principal luxúria de Judas, a sua própria iniquidade, e que o levou ao pecado de trair ao seu Mestre. O diabo adequou a tentação a isso, e dessa maneira, o conquistou. Não está escrito: “Eles lhes prometeram uma promoção” (ele não tinha ambição disso), mas “prometeram dar-lhe dinheiro”. Veja a necessidade que nós temos de dobrar a nossa guarda contra o pecado que mais “de perto nos rodeia”. Talvez tenha sido a ambição de Judas que o levou, no início, a seguir a CRISTO, tendo a promessa de que ele seria o tesoureiro, ou contador, do grupo, e ele amava profundamente manusear dinheiro; e agora que tinha a possibilidade de obter dinheiro do outro lado, ele estava tão disposto a trair JESUS quanto tinha estado disposto a segui-lo. Observe que quando o princípio da profissão religiosa dos homens é carnal e mundana, estando a serviço de um interesse secular, o mesmo princípio, quando o vento mudar, será a raiz amarga de uma apostasia vil e escandalosa.

(3) Tendo assegurado o dinheiro, ele se dedicou a cumprir a sua parte no trato. Ele procurou uma maneira de poder traí-lo convenientemente, “buscava como o entregaria em ocasião oportuna”, de modo a satisfazer a intenção daqueles que o tinham contratado. Veja a necessidade que temos de nos precaver para que não nos envolvamos em compromissos pecaminosos. Se, em alguma ocasião, estivermos enredados com as palavras da nossa boca, nós devemos nos preocupar em nos livrar rapidamente (Pv 6.1-5). É uma regra na nossa lei, assim como na nossa religião, que um compromisso de fazer algo mau é nulo e vazio; isto deve levar ao arrependimento, e não à realização de um ato iníquo. Veja como o caminho do pecado é descendente – quando os homens estão nele, parecem estar anestesiados; e os instrumentos iníquos que muitos utilizam para colocar em prática os seus desejos pecaminosos, para planejar convenientemente os seus desígnios, no final se mostrarão comprovadamente enganosos.

 

A Instituição da Ceia do Senhor

Marcos 14. 12-31

Nesses versículos, temos:

I

 A refeição da Páscoa que CRISTO fez com os seus discípulos na noite anterior à sua morte – com as alegrias e os consolos dessa cerimônia Ele se preparou para as suas tristezas vindouras, cuja perspectiva não o indispunha a essa solenidade. Observe que nenhuma apreensão de dificuldade, que já tenha vindo ou que estejam por vir, deve nos impossibilitar de comparecer às cerimônias sagradas, quando tivermos oportunidade de participar delas.

1. JESUS fez a refeição da Páscoa na mesma ocasião em que os outros judeus o faziam, como o Dr. Whitby tinha explicado bem, e não, como o Dr. Hammond interpreta, na noite anterior. Foi no primeiro dia daquela Festa, que (considerando todos os oito dias da festa) era chamada de Festa dos Pães Asmos, “quando sacrificavam a Páscoa” (v. 12).

2. Ele instruiu os seus discípulos sobre como encontrar o lugar onde Ele pretendia comer a Páscoa; e assim deu outra prova do seu infalível conhecimento das coisas distantes e futuras (que para nós às vezes parecem completamente improváveis), como já tinha feito quando lhes deu instruções para encontrar a jumenta na qual Ele entrou triunfante (Mc 11.6): “Ide à cidade (pois a refeição de Páscoa devia ser feita em Jerusalém), e um homem que leva um cântaro de água vos encontrará (um servo enviado para buscar água, para limpar os cômodos da casa do seu amo); segui-o. E, onde quer que entrar, dizei ao senhor da casa”, peçam para falar com “o senhor da casa” (v. 14), e peçam que ele lhes mostre um “aposento”. Sem dúvida, os habitantes de Jerusalém tinham aposentos adequados para alugar nessa ocasião àqueles que vinham de fora para passar a Páscoa, e um deles foi usado por JESUS; não a casa de algum amigo, nem alguma casa que Ele tivesse frequentado anteriormente, pois nesse caso Ele teria dito: “Vão a tal amigo”, ou “Vocês sabem onde nós costumávamos ficar, vão para lá e preparem tudo”. Provavelmente Ele foi aonde não o conheciam, para que pudesse ficar com os seus discípulos sem ser incomodado. Talvez Ele tenha utilizado um sinal, para ocultá-lo de Judas, para que ele não soubesse onde era o lugar, até que ali chegasse; e com tal sinal o Senhor dava a entender que Ele estará no coração puro, isto é, limpo, como água pura. Onde Ele desejar ir, um cântaro de água deverá ir diante dele (veja Is 1.16-18).

3. Ele comeu a refeição da Páscoa em um grande “cenáculo mobiliado”, estromenon – coberto com tapetes (segundo o Dr. Hammond). Deve ter sido uma sala de jantar muito bonita. JESUS estava longe de desejar qualquer coisa que parecesse suntuosa quando fazia as suas refeições normais; ao contrário, Ele escolhia o que era caseiro, e sentava-se sobre a relva. Mas quando Ele devia observar uma Festa sagrada, como uma forma de honrá-la Ele providenciaria o melhor lugar possível. DEUS não olha para a pompa exterior, mas sim para os sinais e para as expressões da reverência interior a uma instituição divina – e isto deve ser temido. Uma atitude como essa faltava àqueles que, para economizar, negavam a si mesmos o decoro e o esforço para fazer o melhor possível na adoração a DEUS.

4. Ele comeu com os doze, que eram a sua família, para ensinar àqueles que têm família, não somente família de filhos, mas família de servos, ou família de alunos, a manterem a religião pura entre si mesmos, e a adorarem a DEUS em conjunto. Se CRISTO veio com os doze, então Judas estava com eles, embora ele estivesse, nessa ocasião, planejando trair o seu Mestre; e isto fica claro pelo que está escrito mais adiante (v. 20), que ele estava ali. Ele não faltou, para que não fosse alvo de suspeitas; se o seu lugar estivesse vazio nessa festa, eles poderiam ter dito, como Saul disse, a respeito de Davi: “Não está limpo; certamente, não está limpo” (1 Sm 20.26). Os hipócritas, embora saibam que estão correndo riscos, ainda assim comparecem às cerimônias especiais, para conservar a sua reputação, e encobrir a sua maldade secreta. JESUS CRISTO não o excluiu da festa, embora conhecesse a sua maldade, pois ela ainda não tinha se tornado pública e escandalosa. Desejando colocar as chaves do Reino dos céus nas mãos dos homens, que podem julgar somente pela aparência externa, CRISTO ordena e ao mesmo tempo incentiva que venham à sua mesa, para que possam apresentar uma profissão de fé justificável, porque eles não conseguirão discernir a “raiz de amargura” até que ela brote.

II

 O sermão de JESUS aos seus discípulos, enquanto comiam a refeição da Páscoa. É provável que eles tivessem falado, de acordo com o costume nessa festa, sobre a libertação de Israel, saindo do Egito, e a preservação dos primogênitos, e possivelmente estava tão agradável como costumava ser quando eles estavam juntos, até que JESUS lhes disse aquilo que faria com que o estremecimento deles estivesse mesclado com uma grande alegria.

1. Eles estavam alegres com a companhia do seu Mestre; mas Ele lhes diz que muito em breve eles o perderiam: “... um de vós... há de trair-me”; e eles sabiam disso, pois Ele sempre lhes dizia aquilo que viria a seguir – se Ele for traído, a próxima notícia que vocês terão dele é que Ele foi crucificado e está morto. DEUS PAI determinou isto para Ele, e Ele concorda com isto: “O Filho do Homem vai, como dele está escrito” (v. 21). Estava escrito nos desígnios de DEUS, e estava escrito nas profecias do Antigo Testamento, e nem um jota ou um til de nenhum deles cairá por terra.

2. Eles estavam satisfeitos com a companhia uns dos outros, mas as palavras de JESUS fizeram com que essa alegria cessasse, ao dizer-lhes: “Um de vós, que comigo come, há de trair-me” (v. 18). É provável que o Senhor JESUS tenha dito isso, de certa maneira, para despertar a consciência de Judas, tentando fazer com que se arrependesse da sua iniquidade, e se afastasse (pois ainda não era tarde demais) da beira do poço. Mas, aparentemente, aquele que era o maior interessado no aviso, era o menos preocupado com ele. Todos os demais foram afetados por esse aviso. (1) “E eles começaram a entristecer-se”. Assim como a recordação dos nossos primeiros pecados, também o medo de fazer as mesmas coisas novamente frequentemente amarga o consolo das nossas festas espirituais, e sufocam a nossa alegria. Aqui estavam as ervas amargas, com as quais eles comeram essa refeição de Páscoa. (2) Eles começaram a suspeitar de si mesmos. Eles diziam, “um após outro: Porventura, sou eu, Senhor? E outro: Porventura, sou eu, Senhor?” Eles devem ser elogiados pela sua caridade, porque estavam suspeitando mais de si mesmos do que uns dos outros. Esta é a lei da caridade: esperar pelo melhor (1 Co 13.5-7). Mas em virtude do conhecimento que temos, podemos, com razão, suspeitar mais do mal do que os nossos irmãos. Eles também devem ser elogiados por acatar o que JESUS disse; eles confiaram mais nas palavras dele do que nos seus próprios corações; e, portanto, não dizem: “Eu tenho certeza de que não sou eu”, mas: “Sou eu, Senhor?”. Senhor, veja se existe tal caminho ímpio em nós, tal raiz de amargura, e revele-a para nós, para que possamos extirpar esta raiz e interromper este procedimento vil.

Então, em resposta à pergunta deles, CRISTO lhes diz: [1] Aquilo que os deixaria tranquilos. Não é você, nem você. “É um dos doze, que mete comigo a mão no prato”; o adversário e inimigo é este iníquo, chamado Judas. [2] Aquilo que, poderíamos pensar, deixaria Judas intranquilo. Se ele prosseguisse na sua empreitada, andaria sobre o fio da espada, pois “Ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído!”; ele está destruído, destruído para sempre; o seu pecado em breve o descobrirá; e seria melhor para ele que nunca tivesse nascido, e não tivesse tido uma existência tão miserável como deve ter tido. É muito provável que Judas se incentivasse com o pensamento de que o seu Mestre sempre dissera que deveria ser traído; e, se isso deveria ser feito, certamente DEUS não acharia nada errado naquele que o fizesse, pois quem resiste à sua vontade? Este é o argumento daquele que faz objeções (Rm 9.19). Mas JESUS lhe diz que isso não será desculpa ou refúgio para ele: “Na verdade o Filho do Homem vai, como dele está escrito”, como um cordeiro ao matadouro; “mas ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído!” A decisão de DEUS de permitir que os homens pequem, e de glorificar a si mesmo através de cada um deles, não exige que eles pequem, nem determina um procedimento específico que eles deverão ter; eles não terão qualquer desculpa para o pecado, nem qualquer alívio para a punição. JESUS foi entregue, na verdade, “pelo determinado conselho e presciência de DEUS”; mas, apesar disso, Ele foi crucificado e morto pelas mãos de injustos (At 2.23).

III

 A instituição da Ceia do Senhor.

1. Ocorreu no final da ceia, quando eles já tinham sido suficientemente alimentados com o cordeiro pascal, para mostrar que na Ceia do Senhor não se tem a intenção de alimentar o corpo; antecedê-la com algo assim é reviver a época de Moisés. Mas trata-se de alimento para a alma somente, e, portanto, é uma pequena parte daquilo que é para o corpo, o suficiente para servir de sinal. Foi no final da ceia de Páscoa que esse rito passou a fazer parte do Evangelho, porém de uma forma que superou a celebração antiga e a colocou de lado. Grande parte da doutrina e do dever da Ceia do Senhor nos são exemplificados pelo cordeiro da Páscoa (Êx 12); pois as instituições do Antigo Testamento, embora não nos obriguem, nos instruem, e nos conduzem ao Evangelho. E o fato de que essas duas cerimônias são ali apresentadas tão próximas, pode ser bom para compará-las, e observar o quanto a Ceia do Senhor é mais curta e simples, em comparação com a Páscoa do Antigo Testamento. O jugo de CRISTO é suave e o seu fardo é leve em comparação com os da lei cerimonial, e as suas ordenanças são mais espirituais.

2. A Ceia do Senhor foi instituída através do exemplo do próprio JESUS; não com a cerimônia e a solenidade de uma lei, como o ritual do batismo, depois da ressurreição de CRISTO (Mt 28.19), e que está em vigor pela autoridade supramencionada, pelo poder que foi dado a CRISTO “no céu e na terra”; mas pelo procedimento do nosso próprio Mestre, porque se destinava àqueles que já eram seus discípulos, e que tinham uma aliança com Ele. Porém é necessário ter bem claro que a Ceia do Senhor é uma obrigação de cada cristão, e deverá continuar em pleno vigor, poder, e virtude até a sua segunda vinda.

3. Ela foi instituída com bênçãos e ações de graças: Os dons da providência considerada “comum” devem ser recebidos com ações de graça (1 Tm 4.4,5), como também os dons da graça especial. O Senhor JESUS abençoou (v. 22), e deu graças (v. 23). Em outras refeições o Senhor estava acostumado a abençoar e dar graças (Mc 6.41; 8.7) de maneira tão notável, que Ele foi reconhecido por isto (Lc 24.30,31). E Ele fez o mesmo nessa refeição.

4. A instituição foi feita em memória da sua morte; e assim Ele partiu o pão para mostrar como agradava ao Senhor feri-lo; e Ele chamou o vinho, que é o sangue da uva, de “sangue do Novo Testamento”. A morte que JESUS CRISTO teve foi uma morte sangrenta, e é feita menção frequente ao sangue, o sangue precioso, como o orgulho da nossa redenção; pois o sangue é a vida, e que fará expiação pela alma (Lc 17.11-14). O derramar do sangue era a indicação mais perceptível do derramamento da sua alma (Is 53.12). O sangue tem voz (Gn 4.10); e, por isso, o sangue é tão frequentemente mencionado, porque ele falava (Hb 12.24). E é chamado de “sangue do Novo Testamento”, pois o concerto da graça tornou-se um Testamento, que entrou em vigor pela morte de JESUS CRISTO, o testador (Hb 9.16). Está escrito que ele é derramado por muitos, para justificar a muitos (Is 53.11), para trazer muitos filhos à glória (Hb 2.10). Foi suficiente para muitos, e tinha um valor infinito; foi útil para muitos – nós lemos sobre uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, na qual todos lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro (Ap 7.9-14); e é uma fonte ainda aberta. Como é consolador para os pobres pecadores arrependidos, que o sangue de CRISTO tenha sido derramado por muitos! E, se é por muitos, por que não por mim? Se é pelos pecadores, os pecadores gentios, os principais pecadores, então por que não por mim?

5. Foi instituída para ser uma ratificação do concerto feito conosco nele, e um símbolo da transmissão desses benefícios a nós, benefícios que foram comprados por nós pela sua morte; e por isso Ele partiu o pão para eles (v. 22), e disse: “Tomai, comei”. Ele lhes deu o cálice, e ordenou que bebessem (v. 23). Apliquem a vós mesmos a doutrina do CRISTO crucificado, e que ela seja alimento e bebida para as vossas almas, e alívio para vós, e sustento e consolo para a vossa vida espiritual.

6. Ela foi instituída visando a felicidade no céu, para ser desfrutada como um adiantamento, um gozo antecipado, das delícias do céu, e, desta forma, para fazer com que as nossas bocas deixem de gostar de todos os prazeres e delícias dos sentidos (v. 25): “Não beberei mais do fruto da vide” – como algo refrescante para o corpo. Já não quero mais isto. Ninguém, tendo provado as delícias espirituais, continua desejando as sensoriais, pois Ele disse, o que é espiritual, é melhor (Lc 5.39); mas todo aquele que provou as delícias espirituais, deseja continuamente as eternas, pois Ele disse: Estas são melhores ainda; e, portanto, que eu não beba mais do fruto da vide; ele está morto e sepultado para aqueles que beberam do rio dos prazeres de DEUS; mas, Senhor, apresse o dia em que o beberei novo, no Reino de DEUS – onde ele será sempre novo e perfeito.

7. Ela se encerrou com um hino (v. 26). Embora CRISTO estivesse no meio dos seus inimigos, ainda assim Ele não omitiu, por temor a eles, este doce dever de cantar salmos. Paulo e Silas cantavam, enquanto os prisioneiros os ouviam. Esse era um cântico evangélico, e os tempos do Evangelho são frequentemente mencionados no Antigo Testamento como tempos de alegria, e o louvor é expresso ao cantar. Esse foi o “canto do cisne” de JESUS, que Ele cantou pouco tempo antes de iniciar a sua agonia; provavelmente se trate do cântico que era normalmente entoado por ocasião da Páscoa (Sl 113–118).

IV

 O sermão de JESUS aos seus discípulos, quando retornavam a Betânia à luz do luar. “Tendo cantado o hino, saíram”. Agora era quase hora de dormir, mas o nosso Senhor JESUS estava tão concentrado no seu sofrimento, que não conseguiria entrar na tenda em que habitava, nem subir ao leito em que dormia; não dar sono aos seus olhos, nem repouso às suas pálpebras, quando essa obra ainda estava por realizar (Sl 132.3,4). Os israelitas eram proibidos de sair das suas casas na noite em que comiam a refeição da Páscoa, por temerem a espada do anjo destruidor (Êx 12.22,23). Mas como CRISTO, o grande Pastor, devia ser ferido, Ele saiu, propositadamente, para expor-se à espada, como um vencedor; eles fugiram do destruidor, mas CRISTO o derrotou, e trouxe a destruição a um fim perpétuo.

1. Aqui JESUS prediz que durante os seus sofrimentos Ele seria abandonado por todos os seus discípulos: “Todos vós esta noite vos escandalizareis em mim” (v. 27). Eu sei disto. E o que Eu lhes digo agora, não é nada além do que as Escrituras já lhes disseram antes: “Ferirei o pastor, e as ovelhas se dispersarão”. CRISTO sabia disso de antemão, e ainda assim os recebeu à sua mesa. Ele vê as falhas e os defeitos dos seus discípulos, e ainda assim não os rejeita. Tampouco devemos nos desestimular de participar da Ceia do Senhor, pelo medo de recair no pecado mais tarde; mas, quanto maior o perigo que corrermos, mais necessidade teremos de nos fortalecer pelo uso consciente e diligente dos rituais sagrados. JESUS lhes diz que eles se escandalizariam nele, começariam a questionar se Ele era ou não o Messias, quando o vissem subjugado pelos seus inimigos. Até então, eles tinham permanecido com Ele nas suas tentações. Embora às vezes o tivessem ofendido, não tinham se escandalizado nele, nem lhe tinham dado as costas; mas agora a tempestade seria tão mais intensa, que todos eles soltariam as suas âncoras, e estariam correndo risco de um naufrágio. Algumas tentações são mais particulares (como Ap 2.10: “O diabo lançará alguns de vós na prisão”); mas outras são mais genéricas, como, por exemplo, uma “hora da tentação que há de vir sobre todo o mundo” (Ap 3.10). O ato de ferir o pastor frequentemente consiste em dispersar as ovelhas. Se os magistrados, os ministros, e os chefes de famílias forem como devem ser, pastores para aqueles que estão sob os seus cuidados, quando algo lhes acontece todo o rebanho sofre, e corre perigo.

Mas CRISTO os incentiva com a promessa de que eles se reencontrarão outra vez, retornarão para o seu dever e também para o seu consolo (v. 28): Depois de ressuscitar, “buscarei as minhas ovelhas; e as farei voltar de todos os lugares por onde andam espalhadas” (Ez 34.12). “Depois que eu houver ressuscitado, irei adiante de vós para a Galileia”. Verei os nossos amigos, e nos alegraremos juntos.

2. Ele prediz que Pedro, em particular, o negaria. Quando eles saíram para ir ao monte das Oliveiras, nós podemos supor que Judas não estava mais com eles (ele teria saído furtivamente), e como consequência os demais discípulos começaram a ter pensamentos elogiosos a respeito de si próprios, pois eles tinham ficado com o seu Mestre, enquanto Judas o tinha abandonado. Mas JESUS lhes diz que, embora eles estivessem protegidos – pela sua graça – da apostasia de Judas, ainda assim não tinham nenhum motivo para se orgulhar da sua fidelidade. Observe que embora DEUS nos impeça de ser tão maus quanto os piores, ainda assim podemos ficar envergonhados ao pensar que não somos tão bons quanto deveríamos ser.

(1) Pedro está confiante de que não procederia tão mal quanto os demais discípulos poderiam proceder (v. 29): “Ainda que todos se escandalizem” – todos aqui presentes – “nunca, porém, eu”. Ele supõe que não apenas é mais forte que os outros, mas que é muito mais forte, a ponto de conseguir receber o choque de uma tentação e resistir a ela, sozinho; resistir, embora não tenha ninguém ao seu lado. Pensar bem a nosso respeito, e confiar nos nossos próprios corações, é algo que faz parte de nosso ser.

(2) CRISTO diz a Pedro que ele fará algo pior que qualquer um dos outros. Todos eles o abandonarão, mas Pedro o negará; não uma, mas três vezes; e dentro de pouco tempo: “Hoje, nesta noite, antes que o galo cante duas vezes, três vezes me negarás”; você negará que me conheceu, ou que se relacionou comigo, como alguém envergonhado e temeroso de reconhecer-me.

(3) Pedro reforça o que disse: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de modo nenhum te negarei”. Ou, em outras palavras, eu ficarei contigo, ainda que isto custe a minha própria vida; e, sem dúvida, ele dizia o que pensava. Judas não disse nada parecido com isso, quando JESUS lhe disse que ele o trairia. Judas pecou intencionalmente, mas Pedro pecou pela surpresa; Judas intentou a iniquidade (Mq 2.1), enquanto Pedro foi surpreendido nessa ofensa (Gl 6.1). Pedro fez mal em contradizer ao seu Mestre. Se ele tivesse dito, com temor e tremor: “Senhor, dê-me a graça para impedir que eu o negue, não me conduza a esta tentação, liberte-me deste mal”, isto poderia ter sido evitado; mas eles estavam todos muito confiantes; aqueles que tinham perguntado: “Sou eu, Senhor?”, agora diziam: Nunca serei eu. Tendo sido absolvidos do seu medo de trair a CRISTO, agora eles estavam seguros. Mas aquele que pensa que está em pé, deve aprender a prestar atenção para não cair; e aquele que se compromete com o Salvador, não se orgulhe como se já tivesse chegado ao céu.

 

 

 

A Agonia no Jardim

Marcos 14. 32-42

Aqui JESUS inicia os seus sofrimentos, começando com aqueles que foram os mais amargos de todos os seus sofrimentos – os que afligiam a sua alma. Nós o vemos aqui em sua agonia. Já vimos essa história melancólica no Evangelho de Mateus; essa agonia na alma eram o absinto e o fel da sua aflição e do seu pranto (Lm 3.19); e parece que a tristeza não lhe era forçada, mas Ele a aceitava espontaneamente.

I

 Ele se afastou para orar. Ele disse aos seus discípulos: “Assentai-vos aqui, enquanto eu oro”. Ele tinha orado com eles havia pouco tempo (Jo 17); e agora Ele lhes diz que fiquem um pouco afastados enquanto Ele se dirige ao seu PAI, para orar sobre a sua tarefa. Observe que as nossas orações com as nossas famílias não são desculpa para que negligenciemos a adoração em particular. Quando Jacó iniciou a sua agonia, primeiramente ele fez passar tudo o que tinha pelo ribeiro, e ficou só, e então “lutou com ele um varão” (Gn 32.23,24), embora ele tivesse orado antes (v. 9), provavelmente com a sua família.

II

 Até mesmo para esse isolamento Ele levou “consigo a Pedro, e a Tiago, e a João” (v. 33), três testemunhas competentes dessa parte da sua humilhação. Os grandes homens não se preocupam por alguns conhecerem alguma coisa sobre as suas agonias; assim, Ele não se envergonhou de que eles o vissem naquela ocasião. Esses três tinham se gloriado da sua capacidade e desejado sofrer com Ele. Pedro, aqui, neste capítulo, e Tiago e João, em Marcos 10.39; e por isso JESUS os leva para que estejam com Ele, e vejam que luta Ele travou com o batismo de sangue e o cálice amargo, para convencê-los de que eles não sabiam o que estavam dizendo. É adequado que aqueles que são mais confiantes sejam, primeiramente, postos à prova, para que possam perceber a sua própria tolice e fraqueza.

III

 Ele passou por uma tremenda agitação ali (v. 33). Ele “começou a ter pavor e a angustiar-se” – ekthambeisthai, uma palavra que não foi usada por Mateus, mas que é muito significativa; ela indica algo como o “grande espanto e grande escuridão” que caíram sobre Abraão (Gn 15.12), ou melhor, alguma coisa muito pior e muito mais assustadora. Os terrores de DEUS se colocaram em fila contra JESUS CRISTO, e Ele se permitiu a intensa contemplação deles. Nunca houve tristeza como a que Ele suportou nessa ocasião; e ninguém teve as experiências que Ele teve com as graças divinas da eternidade, e, portanto, ninguém teve, ou poderia ter, a percepção que Ele tinha das graças divinas. E ainda assim não havia a mínima desordem ou irregularidade nessa comoção do seu estado de espírito; os seus sentimentos surgiam de maneira não tumultuada, mas controlada, e como se fossem chamados, pois Ele não tinha uma natureza corrupta para misturar com esses sentimentos, como é o nosso caso. Se a água tem um sedimento no fundo – embora possa parecer clara quando está parada – quando agitada, ela fica lamacenta; assim também acontece com os nossos sentimentos: somente a água pura em um copo limpo permanece limpa, por mais que seja agitada; e assim era JESUS CRISTO. O Dr. Lightfoot julga muito provável que o diabo tenha aparecido agora ao nosso Salvador de uma forma visível, na sua própria forma e na “cor adequada”, para aterrorizá-lo e amedrontá-lo, e para remover a sua esperança em DEUS PAI (o que ele esperou conseguir quando perseguiu Jó, um precursor de CRISTO, para fazê-lo amaldiçoar a DEUS, e morrer), e para dissuadi-lo de prosseguir com a sua missão. JESUS CRISTO considerava tudo que tentasse afastá-lo da sua missão como tentações vindas de Satanás (Mt 16.23). Está escrito que quando o diabo tentou a JESUS no deserto, ele “ausentou-se dele por algum tempo” (Lc 4.13), com a intenção de travar outra batalha com Ele, e de outra maneira; vendo que não conseguiria, com as suas adulações, atraí-lo para o pecado, ele tentaria, com os seus terrores, assustá-lo, e assim levá-lo ao pecado, anulando o seu desígnio.

IV

 Na sua agitação Ele proferiu uma triste queixa. Ele disse: “A minha alma está profundamente triste”. 1. Ele se fez pecado por nós, e por isto estava tão profundamente triste. O Senhor JESUS conhecia perfeitamente quão malignos eram os pecados pelos quais deveria sofrer; e Ele tinha o maior amor a DEUS, que foi ofendido por eles, e o maior amor pelos homens, que estavam destruídos e em perigo por causa deles. Agora que eles se apresentavam diante dele, não é de admirar que a sua alma estivesse profundamente triste. Ele veio a este mundo para levar sobre si mesmo os nossos pecados, e, portanto, estava enfraquecido pelas nossas iniquidades. 2. Ele se fez maldição por nós; as maldições da lei foram transferidas a Ele, como nosso fiador e representante, não como se estivesse originalmente ligado a nós, mas como alguém que é a própria garantia de uma ação. E quando a sua alma estava assim tão profundamente triste, Ele, de certa maneira, rendeu-se às tristezas, e colocou-se sob a carga, até que, pela sua morte, tivesse satisfeito os requisitos para levar sobre si os nossos pecados. E, dessa maneira, tivesse abolido para sempre a maldição. Ele agora provava a morte (como está escrito que faria, Hb 2.9), uma expressão que não é atenuante, como se Ele apenas a experimentasse, como se apenas sentisse o seu gosto. Não, Ele bebeu até a escória do cálice (Is 51.17,22); a expressão é, na verdade, exacerbada; isso não foi absorvido por atacado, mas Ele provou todo o seu amargor. Esse é aquele temor de que fala o apóstolo (Hb 5.7), um medo natural da dor e da morte, com o qual é natural que a natureza humana se assuste.

A consideração dos sofrimentos de CRISTO na sua alma e a sua tristeza por nós devem nos ser úteis:

(1) Para amargar os nossos pecados. Será que podemos vir a ter um pensamento favorável, ainda que seja ligeiro, sobre o pecado, quando vemos a impressão que o pecado (embora apenas imputado) causou sobre o Senhor JESUS? Pode assentar-se levemente sobre as nossas almas aquilo que veio de uma forma tão pesada sobre a alma dele? JESUS CRISTO passou tal agonia pelos nossos pecados, e será que nós nunca sentiremos uma agonia por causa deles? Como devemos considerar aquele a quem nós oprimimos, a quem perfuramos, e lamentar e amargurar-nos! É conveniente que estejamos profundamente tristes pelo pecado, porque CRISTO assim esteve, e nunca zombou dele. Se JESUS CRISTO sofreu assim pelo pecado, nós devemos nos armar com o mesmo estado de espírito.

(2) Para adoçar as nossas tristezas. Se as nossas almas, em alguma ocasião, estiverem profundamente tristes devido às aflições do nosso tempo presente, devemos nos lembrar de que o nosso Mestre também esteve assim antes de nós, e “não é o discípulo mais do que o mestre”. Por que nós devemos desejar afastar a tristeza, quando CRISTO, por nós, a recebeu, e submeteu-se a ela, e dessa maneira não somente removeu o seu espinho, tornando-a tolerável, mas também a tornou vantajosa (pois “com a tristeza do rosto se faz melhor o coração”), e colocou doçura nela, e tornou-a consoladora. O bendito apóstolo Paulo era um homem triste, mas, apesar disso, estava sempre se regozijando. Se estivermos profundamente tristes, o pior estado a que poderemos chegar será estarmos tristes até à morte; e este será o fim de todas as nossas tristezas, se tivermos a CRISTO; quando os nossos olhos se fecharem, todas as nossas lágrimas serão enxutas.

V

 Ele ordenou aos seus discípulos que ficassem com Ele, não porque precisasse da ajuda deles, mas porque desejava que eles o considerassem e recebessem instruções. Ele lhes disse: “Ficai aqui e vigiai”. Ele não tinha dito nada aos outros discípulos, exceto: “Assentai-vos aqui” (v. 32); mas a esses três Ele pede que fiquem e vigiem, como se esperasse mais deles do que dos outros.

VI

 Ele se dirigiu a DEUS em oração (v. 35): Ele “prostrou-se em terra; e orou”. Foi pouco antes disso que, em oração, Ele levantou os olhos ao céu (Jo 17.1); mas aqui, estando em agonia, Ele “prostrou-se em terra”, adequando-se à sua atual humilhação, e ensinando-os, dessa maneira, a humilhar-nos diante de DEUS. Convém que sejamos humildes quando estivermos na presença do Altíssimo. 1. Como Homem, Ele protestava contra os seus sofrimentos, pedindo que, se fosse possível, passasse dele àquela hora (v. 35). Se possível, que a salvação do homem seja realizada sem essa curta, porém aguda, aflição, que nesta hora vou suportar. Nós temos as suas próprias palavras (v. 36): “Aba, PAI”. A palavra siríaca que CRISTO usou aqui, e que significa PAI, é conservada para indicar a ênfase que o nosso Senhor JESUS, em sua tristeza, coloca sobre ela, e deseja que nós também coloquemos. É com o mesmo objetivo que o apóstolo Paulo conserva a palavra, colocando-a na boca de todos aqueles que possuem o “espírito de adoção”; eles são ensinados a clamar: “Aba, PAI” (Rm 8.15; Gl 4.6). “PAI, todas as coisas te são possíveis”. Observe que devemos crer que DEUS é capaz de fazer até mesmo aquilo que não podemos esperar que seja feito por nós – e quando nos sujeitamos à sua vontade, e recorremos à sua sabedoria e misericórdia, devemos fazê-lo com um reconhecimento e fé no seu poder, entendendo que todas as coisas lhe são possíveis. 2. Como Mediador, Ele concordou com a vontade de DEUS a respeito dos seus sofrimentos: “Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres”. Eu sei que o assunto está definido, e não pode ser alterado; devo sofrer e morrer, dando as boas-vindas ao sofrimento.

VII

 Ele despertou os seus discípulos, que tinham adormecido enquanto Ele estava orando (vv. 37,38). Ele voltou para cuidar deles, uma vez que eles não cuidaram dele; e “achou-os dormindo”, tão pouca era a preocupação deles com as suas tristezas, as suas queixas e orações. Essa despreocupação dos discípulos era um presságio da ofensa posterior com que feririam a JESUS quando o abandonassem; e o fato de Ele ter, tão pouco tempo atrás, elogiado os seus discípulos por permanecerem com Ele nas suas tentações, embora não deixassem de ter falhas, era uma agravante. Estaria Ele tão disposto a obter o máximo deles, e eles estariam tão indiferentes quanto a conseguir agradá-lo? Há pouco tempo, eles tinham prometido não se escandalizarem nele; e se importavam tão pouco com Ele? Ele repreendeu a Pedro em particular, pela sua sonolência: “Simão, dormes?” Kai sy teknon – “E tu, meu filho? Tu, que prometeste tão categoricamente que não me negarias, me desprezas assim? De ti, eu esperava algo melhor. ‘Não podes vigiar uma hora?’” JESUS não tinha pedido que Pedro vigiasse com Ele toda a noite, mas apenas durante uma hora. Agrava a nossa debilidade e inconstância a serviço de CRISTO o fato de Ele não nos sobrecarregar de tarefas, não nos fatigar (Is 43.23). Ele não coloca sobre nós nenhuma outra carga que devamos carregar até que Ele venha (Ap 2.24,25); e eis que Ele vem sem demora (Ap 3.11).

Assim como JESUS CRISTO repreende aqueles a quem ama, quando eles agem mal, também aconselha e consola aqueles que repreende. 1. Foi um conselho muito prudente e leal, este que JESUS deu aos seus discípulos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (v. 38). Já era algo ruim dormir quando JESUS estava passando pela sua agonia, mas agora eles estariam entrando em mais tentações, e se não estivessem alertas, e não estivessem, pela oração, com a graça e a força de DEUS, eles poderiam fazer algo ainda pior; e realmente fizeram, quando todos eles o abandonaram e fugiram. 2. Foi uma desculpa muito gentil e terna a que JESUS deu, por eles: “O espírito, na verdade, está pronto”. Eu sei que está pronto, está disposto. Vocês estariam despertos, de bom grado, mas não conseguem. Isso pode ser interpretado como uma razão para aquela exortação: “Vigiai e orai”; pois, embora o espírito esteja pronto, Eu sei disso (vocês se determinaram, com sinceridade, a nunca se escandalizarem em mim), a carne é fraca, e se vocês não vigiarem e orarem, e não perseverarem, vocês serão oprimidos. A consideração da fraqueza e debilidade da nossa carne deve nos estimular e motivar a vigiarmos e orarmos quando estivermos passando por tentações.

VIII

 JESUS voltou a se dirigir ao seu PAI (v. 39): “E foi outra vez e orou”, dizendo a mesma palavra, ou o mesmo assunto, ou negócio. Ele falou com o mesmo objetivo, e fez isso ainda uma terceira vez. Isto nos ensina que os homens devem orar, e não desfalecer (Lc 18.1). Mesmo que as respostas às nossas orações não venham rapidamente, nós devemos renovar os nossos pedidos, e continuar em oração. Porque a visão é ainda para o tempo determinado, e até ao fim falará, e não mentirá (Hc 2.3). Paulo, quando foi esbofeteado por um mensageiro de Satanás, orou ao Senhor três vezes, assim como CRISTO aqui, antes de obter uma resposta de paz (2 Co 12.7,8). Pouco tempo antes disso, quando JESUS, com a alma perturbada, orou: “PAI, glorifica o teu nome”, recebeu uma resposta imediata, por uma voz do céu: “Já o tenho glorificado e outra vez o glorificarei”; mas agora Ele precisa voltar uma segunda vez, e uma terceira, pois as visitas da graça de DEUS, em resposta à oração, vêm, mais cedo, ou mais tarde, de acordo com a sua vontade, para que possamos continuar confiantes.

IX

 JESUS repetiu as suas visitas aos seus discípulos. Ele deu assim uma amostra do seu cuidado contínuo pela sua igreja, na terra. Mesmo quando ela está meio adormecida, e não inteiramente preocupada consigo mesma, Ele está sempre intercedendo por ela ao seu PAI no céu. Veja como, de modo adequado a um Mediador, Ele vai e volta, entre os dois lados mediados. Ele veio pela segunda vez para junto dos seus discípulos, e “achou-os outra vez dormindo” (v. 40). Veja como as debilidades dos discípulos de CRISTO retornam sobre eles, a despeito das suas determinações, e os dominam, apesar da sua resistência; e veja como os nossos corpos guerreiam contra as nossas almas, o que deveria nos fazer esperar ansiosamente por aquele estado bendito no qual eles não serão mais obstáculos para nós. Nessa segunda vez, Ele falou com eles, como antes, mas eles não souberam o que responder; eles estavam envergonhados da sua sonolência, e não tinham nada para dizer como desculpa. Também é possível que estivessem tão dominados por ela que, estando entre o sono e um estado desperto, não sabiam onde estavam, nem o que diziam. Mas, na terceira vez, eles tiveram a permissão de dormir, se quisessem (v. 41): “Dormi agora e descansai”. Eu não preciso mais que vocês vigiem agora; podem dormir, se quiserem. “Basta”. O Evangelho de Mateus não inclui essas palavras. Vocês tiveram avisos suficientes para vigiar, e não os seguiram; e agora vocês verão que têm poucos motivos para se sentirem seguros. Apekei, eu os libero de qualquer outra ajuda; assim alguns interpretam isto. “É chegada a hora”, em que, Eu sei, todos vocês me abandonarão, e até mesmo fugirão. Assim como o Senhor disse a Judas: “O que fazes, faze-o depressa” (Jo 13.27). “Eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores”, os principais dos sacerdotes e anciãos; estes eram os piores pecadores, porque faziam uma profissão de santidade. “Levantai-vos, vamos”; não fiquem cochilando aí. Vamos encontrar o inimigo, pois “eis que está perto o que me trai”; e Eu não devo pensar em fugir. Quando vemos os problemas que se aproximam, precisamos estar despertos e preparados para enfrentá-los.

 

 

A Traição de Judas

Marcos 14. 43-52

Nesse trecho temos a prisão do nosso Senhor JESUS pelos guardas dos principais dos sacerdotes. Era isso que os seus inimigos desejaram por tanto tempo. Eles sempre quiseram prendê-lo, mas Ele escapava das suas mãos, porque a sua hora não era chegada; nem poderiam tê-lo prendido agora, se Ele não tivesse se entregado livremente. Ele começou a sofrer, primeiro, na sua alma, mas depois, sofreu no seu corpo, para que pudesse compensar o pecado, que começa no coração, mas depois faz dos membros do corpo “instrumentos de iniquidade”.

I

 Aqui está um grupo de rudes canalhas, empregados para tomar o nosso Senhor JESUS e fazer dele um prisioneiro: “Uma grande multidão com espadas e porretes”. Não existe maldade tão grande e prejudicial, nem vilania tão horrível, que não possa ser encontrada entre os filhos dos homens como uma ferramenta adequada a ser utilizada, e os homens não terão escrúpulos em empregá-la; quão miseravelmente depravada e viciada é a humanidade. À frente dessa gentalha está Judas, que era um dos doze, um daqueles que tinha, durante tanto anos, conversado intimamente com o nosso Senhor JESUS, tinha profetizado em seu nome, e em seu nome tinha expulsado demônios; e ainda assim, o traiu. Não é novidade que uma profissão de fé muito bonita e plausível termine em uma apostasia vergonhosa e fatal. “Como caíste do céu… filho da alva!” (Is 14.12). Em outras palavras: Quão baixo você desceu, Lúcifer!

II

 Homens não menos importantes que os principais dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos, que fingiam esperar o Messias e estar preparados para dar-lhe as boas-vindas, enviaram essa multidão, e os puseram a trabalhar. Mas, quando JESUS veio, e deu provas irrefutáveis de que Ele é Aquele que deveria vir, decidiram destruí-lo sem um julgamento justo nem um exame imparcial, por não os ter adulado, nem permitido ou apoiado a sua pompa e grandeza, por não ter aparecido como um príncipe temporal, mas tendo estabelecido um reino espiritual, pregando o arrependimento, a transformação, e uma vida santa, direcionando os pensamentos, os desejos e os objetivos dos homens para um outro mundo.

III

 Judas o traiu com um beijo; abusando da liberdade que JESUS costumava permitir aos seus discípulos, de beijar o seu rosto quando voltassem, depois de terem ficado algum tempo ausentes. Ele o chamou: “Rabi, Rabi. E beijou-o” (v. 45); ele disse: “Rabi, rabi”, como se estivesse sendo mais respeitoso agora a Ele do que nunca. Para remover para sempre a arrogância de alguém, é suficiente chamá-lo de “Rabi, Rabi” (Mt 23.7), uma vez que esta foi a saudação com a qual CRISTO foi traído. Ele ordenou que o prendessem, e o levassem com segurança. Alguns pensam que Judas disse isso com ironia, sabendo que eles não podiam levá-lo com segurança, a menos que Ele assim o desejasse, sabendo que este “Sansão” poderia quebrar as vergas de vimes, como se quebra o fio da estopa ao cheiro do fogo, e escapar. Então Judas teria o dinheiro, e JESUS a honra, e nenhum mal seria feito; e eu pensaria, além disso, que Satanás entrou em Judas, de modo que o objetivo dessa ação foi o pior que se poderia imaginar. Na verdade, ele sempre tinha ouvido o seu Mestre dizer que, sendo traído, deveria ser crucificado, e não tinha razão para pensar de outra maneira.

IV

 Eles o prenderam, e o fizeram seu prisioneiro (v. 46): “E lançaram-lhe as mãos” – rudes e violentas – “e o prenderam”; triunfantes, provavelmente por terem feito o que tinha sido tentado antes, em vão.

V

 Pedro agiu em defesa do seu Mestre, e feriu a um dos agressores, estando, nesse momento, consciente da sua promessa, de arriscar a sua vida pelo seu Mestre. Ele foi um dos que ficaram próximos daqueles que estavam com Ele (é o que a palavra significa), um dos três discípulos que estavam com o Senhor no Jardim; ele puxou a espada e atacou, provavelmente com o objetivo de cortar a cabeça, mas errou o golpe, cortando a orelha de um servo do sumo sacerdote (v. 47). É mais fácil lutar por CRISTO do que morrer por Ele; mas os bons soldados de JESUS CRISTO vencem, não tirando a vida das pessoas, mas oferecendo a sua própria (Ap 12.11).

VI

 JESUS discute com aqueles que vieram para prendê-lo, e lhes mostra como era absurda a conduta que tiveram contra Ele. 1. Vieram contra Ele como contra um salteador, quando Ele era inocente de qualquer crime. Ele ensinava todos os dias no templo, e se Ele tivesse qualquer intenção malévola, em alguma ocasião isto teria sido descoberto; na verdade, esses guardas dos principais dos sacerdotes, sendo protetores do templo, supostamente teriam ouvido os seus sermões ali (“Todos os dias estava convosco ensinando no templo”); e Ele não tinha lhes ensinado uma doutrina excelente, mesmo se tratando dos seus inimigos e juízes? Não eram todas as palavras da sua boca sobre a justiça? Havia alguma coisa tortuosa ou perversa nela? (Pv 8.8). Pelos seus frutos, Ele era sabidamente uma boa árvore; por que, então, eles vinham prendê-lo como a um salteador? 2. Vieram para levá-lo assim, de forma privada, quando Ele não tinha vergonha nem medo de aparecer publicamente no templo. Ele não era nenhum daqueles malfeitores que odeiam a luz, e não vêm para a luz (Jo 3.20). Se os seus mestres tinham algo a dizer-lhe, eles podiam encontrá-lo todos os dias no templo, onde Ele estaria pronto para responder a todos os desafios, a todas as acusações; e ali eles podiam fazer o que desejassem com Ele, pois os sacerdotes tinham a custódia do templo, e o comando dos guardas dali: mas vir buscá-lo assim, à meia-noite, e no lugar onde Ele estava retirado, era vil e covarde. Era agir como o inimigo de Davi, que nos lugares ocultos mata o inocente (Sl 10.8). Mas isso não era tudo. 3. Vieram “com espadas e porretes”, como se Ele estivesse armado contra o governo, e eles devessem ter a posse comitatus para limitá-lo. Não houve necessidade de usar essas armas; mas eles causaram essa comoção: (1) Para proteger-se da ira de alguns; eles vieram armados, porque tinham medo do povo; assim, “se acharam em grande temor, onde temor não havia” (Sl 53.5). (2) Para expô-lo à ira de outros. Vindo “com espadas e porretes” para prendê-lo, eles o apresentavam, para o povo (que se impressionava com isso), como um homem perigoso e turbulento, e assim conseguiam incitá-los contra Ele, e fazê-los clamar: “Crucifica-o, crucifica-o”, não tendo outra maneira de obter o que queriam.

VII

 Ele se resignou de todo esse tratamento injurioso, desonroso, fazendo referência às predições do Antigo Testamento sobre o Messias. Eu não estou acostumado nem o mereço, mas me submeto a isto, “para que as Escrituras se cumpram” (v. 49). 1. Veja aqui a consideração que JESUS tinha pelas Escrituras. Ele suportaria qualquer coisa, para que nem um jota ou til da Palavra de DEUS deixasse de se cumprir; e Ele visava as Escrituras, tanto nos seus sofrimentos, quanto na sua glória; pois o que JESUS CRISTO está fazendo no comando do mundo, a não ser cumprir as Escrituras? 2. Veja o uso que nós devemos fazer do Antigo Testamento: Nós devemos procurar por CRISTO, o verdadeiro tesouro escondido naquele campo – assim como a história do Novo Testamento explica as profecias do Antigo, também as profecias do Antigo Testamento exemplificam a história do Novo.

VIII

 Todos os discípulos de JESUS, nessa ocasião, abandonaram-no (v. 50): “Deixando-o, todos fugiram”. Eles tinham muita confiança de que ficariam com Ele; mas mesmo os homens bons não sabem o que farão, até que sejam postos à prova. Se tinha sido um grande consolo para Ele, como tinha dado a entender recentemente, o fato de que, até então, eles tinham permanecido com Ele nas suas provações menores (Lc 22.28), podemos imaginar que tristeza representou para Ele quando eles o abandonaram agora, na sua pior provação, quando eles poderiam tê-lo ajudado de alguma maneira – quando Ele foi maltratado, protegendo-o, e quando foi acusado, testemunhando a favor dele. Que aqueles que sofrem por CRISTO não estranhem se forem abandonados dessa maneira, e se todos os animais fugirem do cervo ferido; eles não são melhores do que o seu Mestre, nem podem esperar ser tratados de maneira diferente pelos seus inimigos, ou pelos seus amigos. Quando o apóstolo Paulo estava em perigo, ninguém ficou ao seu lado, todos o desampararam (2 Tm 4.16).

IX

 O barulho deve ter perturbado a vizinhança, e alguns dos vizinhos devem ter corrido riscos devido ao tumulto (vv. 51,52). Esta passagem da história não é apresentada por nenhum dos outros evangelistas. Aqui há um relato de certo jovem, que, aparentemente, não era discípulo de JESUS, nem, como alguns imaginaram, um servo da casa onde JESUS tinha passado a Páscoa, e o seguia para saber o que iria acontecer com Ele (como os filhos dos profetas, quando perceberam que Elias seria levado ao alto, foram vê-lo à distância – 2 Rs 2.7). Ele deveria ser algum jovem que vivia próximo ao Jardim, talvez na casa à qual pertencia ao Jardim. A respeito desse jovem, observe:

1. Como ele saiu da sua cama para testemunhar os sofrimentos de JESUS CRISTO. Uma multidão como essa, tão armada, e vindo com tanta fúria, na calada da noite, numa aldeia tranquila, não poderia deixar de causar uma grande comoção; esse jovem estava tão assustado que talvez tenha pensado na possibilidade de haver algum tumulto ou revolta na cidade, algum alvoroço entre o povo, e teve a curiosidade de ir e ver o que estava acontecendo, e sentia tanta pressa de informar-se, que não pôde esperar para vestir-se, mas cobriu-se com um lençol, como se desejasse aparecer como um fantasma, em roupas de túmulo, para assustar aqueles que o tinham assustado, e correu entre a multidão, com a seguinte pergunta: O que vai acontecer aqui? Depois que lhe disseram, ele sentiu vontade de ver o acontecimento, tendo, sem dúvida, ouvido falar muito sobre a fama desse JESUS; e, por isso, depois que todos os seus discípulos o tinham abandonado, ele continuou a segui-lo, desejoso de ouvir o que Ele iria dizer, e ver o que Ele iria fazer. Alguns opinam que o fato de ele não vestir nada, além desse lençol sobre o seu corpo nu, sugere que ele era um daqueles judeus que faziam uma grande profissão de piedade perante os outros, e, como símbolo disto, entre outros exemplos de austeridade e mortificação do corpo, não usavam roupas, exceto um lençol, que, embora com o objetivo de ser suficientemente modesto, era fino e frio. Mas eu penso que não era isso o que o jovem vestia regularmente.

2. Veja como ele voltou assustado para a sua cama, quando estava em risco de compartilhar dos sofrimentos de JESUS CRISTO. Os seus próprios discípulos o tinham abandonado; e esse jovem, não tendo conhecimento dele, embora seguramente pudesse ajudá-lo, é visto completamente desarmado, uma vez que não estava sequer vestido. Porém os jovens soldados romanos, que foram chamados para ajudar, lançaram-lhe as mãos, pois estavam dispostos a tudo. Talvez eles agora estivessem irritados, porque terem permitido que os discípulos fugissem, e como eles estavam fora do seu alcance, eles decidiram prender o primeiro em quem pudessem colocar as suas mãos. Embora esse jovem fosse, talvez, pertencente à seita mais rígida da congregação judaica, ainda assim os soldados romanos não tiveram escrúpulos em maltratá-lo nessa ocasião. Encontrando-se em perigo, ele largou o lençol que estava nas mãos dos soldados, e fugiu nu. Essa passagem está registrada para mostrar como esse grupo era bárbaro, pois foi enviado para prender a JESUS CRISTO, e que os discípulos escaparam de cair nas mãos deles por milagre, pois nada poderia ter impedido isto, exceto o cuidado do seu Mestre por eles: “Se… me buscais a mim, deixai ir estes” (Jo 18.8). Isso também dá a entender que não existe posse ou controle sobre aqueles que são movidos apenas pela curiosidade, e não pela fé e pela consciência, que são qualidades comuns daqueles que seguem a CRISTO.

 

 

CRISTO É Levado à Presença do Sumo Sacerdote

Marcos 14. 53-65

Aqui temos a prisão, o julgamento, a acusação e a condenação de CRISTO, no tribunal eclesiástico, diante do grande Sinédrio, do qual o sumo sacerdote era o presidente, ou o juiz do tribunal; o mesmo Caifás que, recentemente, tinha declarado que o Senhor JESUS deveria morrer, fosse culpado ou inocente (Jo 11.50). Portanto, esse homem não poderia presidir o julgamento, por ser parcial.

I

 CRISTO é levado rapidamente à casa do sumo sacerdote, ao “pátio” da sua casa, como é chamado, que era a condição em que ele vivia. E ali, no entanto, na calada da noite, todos “os principais dos sacerdotes, e os anciãos, e os escribas” estavam em segredo, reunidos, prontos para receber a presa; tal era a certeza que tinham disso.

II

 “Pedro o seguiu de longe”; que era o grau de covardia a que a sua recente coragem havia sido reduzida (v. 54). Mas quando ele chegou à casa do sumo sacerdote, furtivamente foi se assentar com os servidores, para que não se suspeitasse que ele pertencia a JESUS. A proximidade do fogo do sumo sacerdote não era um lugar adequado, nem os seus servos eram a companhia adequada para Pedro, mas foi assim que ele entrou em tentação.

III

 Houve grande empenho em procurar, por amor ou por dinheiro, falso testemunho contra CRISTO. Eles o tinham prendido como a um salteador, e agora que Ele estava preso, eles não tinham uma acusação contra Ele, nenhum crime do qual acusá-lo, mas procuravam testemunhos contra Ele. Sondando com perguntas traiçoeiras a alguns, oferecendo subornos a outros, caso o acusassem, e empenhando-se em amedrontar a outros, caso não o fizessem (vv. 55,56). Os principais dos sacerdotes e anciãos eram, segundo a lei, encarregados de acusar e punir as testemunhas falsas (Dt 19.16,17); ainda assim, eram agora os líderes do grupo, e estavam praticando um crime que era, de fato, uma opressão a toda a justiça. E é o momento de gritar: Socorro, Senhor (Sl 12.1, versão RA), quando os médicos de um lugar são os que o perturbam, e quando aqueles que deveriam ser os conservadores da paz e da justiça são os que corrompem a ambas.

IV

 Ele foi demoradamente acusado de coisas ditas alguns anos atrás, que, da maneira como eram apresentadas aqui, pareciam ameaçar o templo, que era para eles como um ídolo (vv. 57,58). “Mas os testemunhos não eram coerentes” (v. 59), pois um jurava que Ele tinha dito: “Eu posso derribar o templo de DEUS e reedificá-lo em três dias” (conforme Mt 26.61). Outro jurava que Ele tinha dito: “Eu derribarei este templo, construído por mãos de homens, e em três dias edificarei outro, não feito por mãos de homens”; esses dois testemunhos diferiam muito entre si; oude ise en he martyria – o seu testemunho não era suficiente, nem equivalente à acusação de um crime digno de morte, segundo o Dr. Hammond. Eles não o acusaram de nada em que pudessem basear uma sentença de morte, nem mesmo aplicando o máximo alcance da lei.

V

 Ele foi convidado a ser o seu próprio acusador (v. 60): “Levantando-se o sumo sacerdote no Sinédrio, perguntou a JESUS, dizendo: Nada respondes?”. Isto ele disse sob a desculpa de um tratamento justo, mas, na verdade, com um desejo de armar-lhe uma cilada, para que pudessem acusá-lo (Lc 11.53,54; 20.20). Nós bem podemos imaginar com que ar de altivez e desprezo esse orgulhoso sumo sacerdote fez tal questionamento ao nosso Senhor JESUS: “Prisioneiro do tribunal, você ouviu o que foi dito e jurado contra você; o que você tem a dizer em sua defesa?” Satisfeito de pensar que parecia ter silenciado aquele que, com tanta frequência, tinha silenciado aqueles que o provocavam. Mas JESUS CRISTO não respondeu nada, para poder nos dar um exemplo: 1. De paciência sob calúnias e falsas acusações: “Quando o injuriavam, não injuriava” (1 Pe 2.23). E: 2. De prudência, quando um homem se torna um criminoso por uma palavra (Is 29.21), e a nossa defesa se torna a nossa acusação. É realmente uma ocasião difícil aquela em que os prudentes mantêm silêncio (para que as coisas não piorem); o melhor que temos a fazer nesses casos é entregar a nossa causa àquele que julga com justiça. Mas:

VI

 Quando lhe perguntaram se Ele era o CRISTO, Ele confessou, e não negou, que era (vv. 61,62). O sumo sacerdote perguntou a JESUS: “És tu o CRISTO, Filho do DEUS Bendito?”, pois, como observa o Dr. Hammond , os judeus, quando citavam a DEUS, em geral acrescentavam a expressão “Bendito eternamente”; e consequentemente, Bendito é o título de DEUS, um título peculiar, e aplicado a CRISTO (Rm 9.5). E para provar que é o Filho de DEUS, JESUS os compromete legalmente à sua segunda vinda: “Vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-poderoso”. A este Filho do Homem que agora parece tão indigno e desprezível, que vocês olham e atormentam (Is 53.2,3), vocês irão olhar e tremer, em breve. Alguém poderia pensar que essas palavras, que o nosso Senhor JESUS parece ter proferido com grandeza e majestade não coerentes com a sua aparência atual (pois através da mais espessa nuvem da sua humilhação alguns raios de glória ainda se arremessavam), teriam estarrecido o tribunal; e, pelo menos na opinião de alguns deles, teria resultado em uma objeção, ou uma suspensão do julgamento, e que eles teriam atrasado o processo até que o tivessem considerado melhor. Quando Paulo, no tribunal, falou sobre o Juízo vindouro, o juiz tremeu e adiou o julgamento (At 24.25). Mas esses principais dos sacerdotes estavam tão desgraçadamente cegos pela maldade e pela ira que, como o cavalo correndo para a batalha, zombaram do medo e não se assustaram, nem creram que esse era o som da buzina (Jó 39.19-22,24. Veja também Jó 15.25,26).

VII

 O sumo sacerdote, a partir da confissão de CRISTO, condenou-o por “blasfêmia” (v. 63): Ele “rasgou as suas vestes” – chitonas autou. Alguns pensam que isso se refere às vestes pontifícias, que, para maior pompa, ele teria vestido, embora fosse noite, para essa ocasião. Assim como anteriormente, na sua inimizade contra JESUS CRISTO, ele tinha se comportado como se não soubesse nada (Jo 11.51,52), também agora ele agia como quem não sabia o que tinha a obrigação de saber. Se o ato de Saul de rasgar a capa de Samuel tinha a finalidade de significar que o reino se rasgava dele (1 Sm 15.27,28), muito mais o ato de Caifás – de rasgar as suas próprias vestes – significou que o sacerdócio se rasgava dele. O véu rasgado, no momento da morte de JESUS CRISTO, significou o fim da antiga dispensação. As vestes de JESUS, mesmo quando Ele foi crucificado, foram conservadas intactas, e não foram rasgadas. O sacerdócio levítico foi rasgado em pedaços e destruído, porém o sacerdócio de CRISTO “permanece eternamente”, ele é um “sacerdócio perpétuo”.

VIII

 Eles concordaram que Ele era culpado de “blasfêmia”, e, como tal, devia ser condenado à morte (v. 64). A questão parecia ser proposta de maneira justa: “Que vos parece?” Mas na realidade era prejulgada, pois o sumo sacerdote tinha dito: “Vós ouvistes a blasfêmia”. O sumo sacerdote judeu expressou o seu julgamento primeiro; porém, como presidente do tribunal, ele deveria ter votado por último. Assim, “todos o consideraram culpado de morte”; os amigos que o Senhor JESUS tinha no grande Sinédrio não estavam presentes; é bem provável que não tivessem sido avisados de que esse julgamento seria realizado, mesmo por que não foi obedecido um protocolo de convocação e horários para a realização desse julgamento.

IX

 Eles começaram a maltratá-lo, e, como os filisteus tinham feito com Sansão, divertiram-se com Ele (v. 65). Aparentemente, alguns dos próprios sacerdotes que o tinham condenado esqueceram-se da dignidade, e das obrigações da sua posição, e a seriedade que lhes convinha ter, e ajudaram os seus servos a ridicularizar um prisioneiro condenado. Eles se divertiram assim, enquanto esperavam pelo amanhecer, para completar as suas vilanias. Da noite das observâncias (como era chamada a noite da Páscoa), eles fizeram uma noite festiva. Se eles não pensavam que o fato de maltratarem a CRISTO  os envilecia, será que poderíamos pensar que aquilo que fazemos para honrá-lo pode nos envilecer?

 

 

A Queda de Pedro

Marcos 14. 66-72

Aqui temos a história da negação de JESUS por Pedro.

1. Ela começou quando Pedro manteve distância do Senhor. Pedro tinha seguido o Senhor de longe (v. 54), e agora estava “embaixo, no átrio” da casa do sumo sacerdote. Há um grupo que está muito próximo de negar a CRISTO: São aqueles que têm vergonha de CRISTO, que têm vergonha de atender às ordenanças sagradas, que se afastam da comunhão com os outros crentes, e que não gostam de se posicionar abertamente a favor da santidade, do temor e da obediência ao Senhor.

2. Ela foi ocasionada pela sua proximidade com os servos do sumo sacerdote, por estar assentado entre eles. Aqueles que pensam que é perigoso estar na companhia dos discípulos de CRISTO, porque podem ser levados a sofrer por Ele, irão achar muito mais perigoso estar na companhia dos seus inimigos, porque podem ser levados a pecar contra Ele.

3. Ele foi posto à prova com a acusação de ser um discípulo de CRISTO: “Tu também estavas com JESUS, o Nazareno” (v. 67). “Este é um dos tais” (v. 69). “Verdadeiramente, tu és um deles, porque és também galileu” (v. 70). Ele não estava, aparentemente, sendo desafiado, ou correndo perigo de ser processado como um criminoso por isso, mas estava apenas sendo provocado, e em risco de ser ridicularizado por isso. Enquanto os principais dos sacerdotes estavam atormentando o Mestre, os servos estavam atormentando os discípulos. Às vezes a causa de CRISTO parece estar situada no lado perdedor, pois todos têm uma pedra para atirar contra ela, e até mesmo os abjetos se congregam contra ela (veja Sl 35.15). Quando Jó estava numa situação deplorável, ele foi ridicularizado por aqueles que eram “filhos de gente sem nome” (Jó 30.8). Considerando tudo, a prova não podia ser chamada de formidável; era apenas uma criada que casualmente olhou para Pedro e, aparentemente, sem nenhum desejo de causar-lhe qualquer problema, disse: “Tu és um deles”; e a isto ele não precisava ter respondido nada, ou poderia ter dito: “e se eu for, eu espero que isto não seja traição”.

4. O pecado foi muito grave. Ele negou a JESUS diante dos homens, em uma ocasião em que ele deveria tê-lo confessado e honrado, e ter comparecido ao tribunal para testemunhar a seu favor. JESUS sempre procurou avisar os seus discípulos sobre os seus próprios sofrimentos; ainda assim, quando esses sofrimentos chegaram, eles foram para Pedro uma surpresa e um terror tão grande como se ele nunca tivesse ouvido falar deles anteriormente. JESUS sempre lhes disse que eles deviam sofrer por Ele, deviam tomar as suas cruzes, e segui-lo; mas Pedro sente um medo tão terrível do sofrimento que, com o primeiro alarme, ele irá mentir e jurar, e fazer qualquer coisa para evitá-lo. Quando JESUS era admirado e as multidões o seguiam, Pedro era capaz de reconhecer o Senhor prontamente; mas agora que JESUS está abandonado, e desprezado, e aparentemente destruído, Pedro se envergonha dele, e não consegue declarar que o conhece e que o ama.

5. O seu arrependimento foi muito rápido. Por três vezes Pedro repetiu a sua negação, e a terceira foi a pior delas, pois foi então que ele imprecou e jurou, para confirmar a sua negação; e esse terceiro golpe, que, poderíamos pensar, deveria tê-lo abalado e derrubado, o atemorizou e estimulou. Foi então que o galo cantou pela segunda vez, fazendo com que Ele se lembrasse das palavras do seu Mestre, do aviso que Ele tinha lhe dado, com referência a essa situação do galo cantar duas vezes. Ao lembrar-se disso, Pedro se deu conta do seu pecado, e das suas complicações. E quando refletiu sobre isso, ele chorou. Alguns dizem que Marcos, que escreveu, como crêem alguns, sob a orientação do apóstolo Pedro, fala tão integralmente sobre o pecado de Pedro como qualquer outro, mas fala menos da sua tristeza. Pois Pedro, com modéstia, não desejaria ver a sua tristeza exaltada, e porque ele pensava que jamais haveria uma tristeza suficientemente grande para compensar um pecado tão terrível. O seu arrependimento é expresso aqui desta maneira: epibalon eklaie, que é quando algo deve ser oferecido. Segundo alguns, ele aumentou o choro, tornando a expressão um hebraísmo; ele chorou, e quanto mais pensava no assunto, mais chorava; ele continuou chorando; ele se retirou dali, e chorou; rompeu em lágrimas; lançou-se ao chão, e chorou; cobriu o seu rosto e chorou, segundo alguns; cobriu a cabeça com as roupas, para que não pudessem vê-lo chorar. Ele olhou para o seu Mestre, que se virou e olhou para ele. Esta é a suposição do Dr. Hammond, e parece uma hipótese provável. Outra possibilidade, de acordo com a maneira como interpretamos essa frase, é a seguinte: lembrando-se das palavras de CRISTO, ele chorou. Não será suficiente um pensamento passageiro daquilo que é humilhante – nós devemos manter este pensamento. Essas palavras também podem significar que Pedro tomou uma carga sobre si mesmo, trazendo sobre si a perplexidade. Ele fez como o publicano que batia no peito, lamentando-se pelo pecado (Lc 18.13), e isto resultou no seu pranto amargurado.

 

 

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MARCOS 15 - Com. Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo) AT e NT

 

JESUS É Trazido à Presença de Pilatos

Marcos 15. 1-14

Nessa passagem, temos: 

I

 Uma reunião realizada pelo grande Sinédrio, para fazer a acusação efetiva do nosso Senhor JESUS. Eles se reuniram logo ao amanhecer para decidir isso, e formaram um grande comitê, para descobrir maneiras de levá-lo à morte; eles não perderam tempo, mas prosseguiram com o seu golpe com grande ansiedade, para que não houvesse um tumulto entre o povo. O empenho incansável das pessoas más em fazer o que é iníquo deve nos envergonhar pela nossa indolência e preguiça em fazer o que é bom. Aqueles que combatem a CRISTO e as nossas almas, se levantam cedo. “Ó preguiçoso, até quando ficarás deitado?”

II

 A entrega de JESUS, como prisioneiro, a Pilatos. Eles o amarraram. Ele deveria ser o grande sacrifício, e os sacrifícios devem ser atados com cordas (Sl 118.27). JESUS estava amarrado para nos acostumar aos grilhões, e para nos capacitar, como Paulo e Silas, a cantar acorrentados. É bom que sempre nos lembremos do Senhor JESUS amarrado, e que nos prendamos àquele que foi preso por nós. Eles o conduziram pelas ruas de Jerusalém, para expor ao desprezo  Aquele que, enquanto ensinava no templo, apenas um ou dois dias antes, era considerado com veneração; e bem podemos imaginar que triste aparência Ele teria, depois de uma noite de maus tratos como tinha tido; esbofeteado, cuspido, esmurrado e açoitado. O fato de o entregarem às autoridades romanas era um presságio da ruína da congregação judaica, que eles mereceram, e atraíram sobre si mesmos; isto queria dizer que a promessa, o concerto e os oráculos de DEUS e da congregação judaica visível, que eram a glória de Israel, e que tinham, durante muito tempo, pertencido a ela, agora seriam entregues aos gentios. Ao entregarem o Rei, eles, na verdade, entregaram o Reino de DEUS, que é, digamos, por seu consentimento, retirado deles e entregue a outra nação. Se eles tivessem entregado a JESUS para satisfazer os desejos dos romanos, ou para satisfazer qualquer inveja deles a respeito dele, o assunto teria sido diferente; mas eles conspiraram voluntariamente contra Aquele que era a coroa de Israel, entregando-o àqueles que eram o jugo de Israel.

III

 O interrogatório de Pilatos (v. 2): “Tu és o Rei dos judeus?” Você realmente pretende ser aquele Messias a quem os judeus esperam como a um príncipe temporal? – Sim, disse JESUS, é como você está dizendo: Eu sou aquele Messias, mas não alguém como eles esperam. O Senhor JESUS é o Rei que governa e protege o seu Israel segundo o espírito (aqueles que são judeus interiormente pela circuncisão do espírito), e o Rei que irá reprimir e punir os judeus carnais que persistem na incredulidade.

IV

 As acusações apresentadas contra o Senhor JESUS, e o seu silêncio diante delas. Os principais dos sacerdotes esqueceram a dignidade da sua posição, quando se converteram em delatores e, pessoalmente, acusaram a JESUS CRISTO de muitas coisas (v. 3) e testemunharam contra Ele (v. 4). Muitos dos profetas do Antigo Testamento acusavam os sacerdotes da sua época de grande iniquidade, com o que profetizaram acertadamente sobre esses sacerdotes (veja Ez 22.26; Os 5.1; 6.9; Mq 3.11; Sf 3.4; Ml 1.6; 2.8). A destruição de Jerusalém pelos caldeus ocorreu devido à iniquidade dos sacerdotes que derramaram o sangue dos justos (Lm 4.13). Observe que os sacerdotes iníquos são, em geral, os piores homens. Quanto melhor alguma coisa é, pior ela fica, depois de corrompida. Os perseguidores leigos sempre foram considerados mais misericordiosos do que os eclesiásticos. Esses sacerdotes eram muito fervorosos e alvoroçados na sua acusação; mas JESUS nada respondia (v. 3). Quando Pilatos insistiu para que o Precioso JESUS mostrasse que era inocente, e desejava que Ele o fizesse (v. 4), ainda assim Ele permaneceu calado (v. 5), nada mais respondeu, algo que Pilatos considerou muito estranho. Ele deu a Pilatos uma resposta direta (v. 2), mas não responderia aos acusadores e às testemunhas, porque as coisas que eles afirmavam eram notoriamente falsas, e Ele sabia que o próprio Pilatos estava convencido de que o eram. Observe que o Senhor JESUS CRISTO despertava admiração tanto quando falava, como também quando mantinha silêncio.

V

 A proposta que Pilatos fez ao povo, de libertar o Senhor JESUS, pois no dia da festa costumava soltar-lhes um preso qualquer que eles pedissem. O povo esperava e exigia que ele fizesse como sempre lhes tinha feito (v. 8). Esse não era um mau costume, e eles queriam que fosse conservado. Pilatos percebeu que os principais dos sacerdotes tinham entregado JESUS por inveja, porque Ele tinha tanta reputação junto ao povo que eclipsava a reputação deles (v. 10). Era fácil perceber, comparando o entusiasmo dos acusadores com a debilidade das provas, que o que os provocava não era que JESUS tivesse alguma culpa, mas a sua bondade. O Senhor JESUS não tinha em si nada prejudicial ou escandaloso, mas somente méritos e glória. Portanto, tendo sabido o quanto a multidão gostava dele, Pilatos pensou que poderia, com segurança, apelar ao povo, que se sentiria orgulhoso de libertá-lo das mãos dos sacerdotes. E assim, Pilatos propôs um meio para que isso fosse feito sem que houvesse o perigo de tumulto: Se eles exigissem que Ele fosse libertado, Pilatos estaria pronto a fazê-lo, e calaria a boca dos sacerdotes com um argumento patente – com o fato de que o povo insistia na sua libertação. Na verdade, havia outro prisioneiro, um homem chamado Barrabás, que era muito querido e que teria alguns votos; mas Pilatos não tinha dúvidas de que JESUS o derrotaria nessa escolha.

VI

 Os clamores unânimes e vergonhosos do povo, para condenar JESUS à morte, e, particularmente, para crucificá-lo. Foi uma grande surpresa para Pilatos, quando percebeu que as pessoas estavam tão influenciadas pelos sacerdotes, a ponto de todas concordarem em pedir que Barrabás fosse libertado (v. 11). Pilatos opôs-se a isto o quanto pôde: Que quereis, pois, que faça daquele a quem chamais Rei dos judeus? Não desejais que eu o liberte também? (v. 12). Não, disseram eles, “crucifica-o”. Os sacerdotes tinham colocado esta palavra na boca do povo, que insistia nisso; quando Pilatos objetou: “Mas que mal fez?” (uma pergunta muito importante em um caso como esse), eles não tiveram nenhuma intenção de responder, mas clamaram ainda mais, como se estivessem cada vez mais instigados e irritados pelos sacerdotes: “Crucifica-o, Crucifica-o”. Os sacerdotes, que estavam muito ocupados misturando-se com a multidão, juntamente com os seus servos, com a finalidade de manter o clamor, entendiam que isso forçaria Pilatos a condená-lo, de duas maneiras: 1. Isso poderia levá-lo a pensar que JESUS era culpado, por haver um clamor tão generalizado contra Ele. “Certamente”, poderia pensar Pilatos, “Ele deve ser um homem mau, de quem todo o mundo está cansado”. Então ele poderia concluir que tinha sido mal-informado, quando tinha ouvido falar do quanto o povo gostava de JESUS, e que na realidade as coisas não eram assim. Mas os sacerdotes tinham corrido tanto com a acusação, que podemos supor que aqueles que eram amigos de JESUS, e que teriam se oposto a esse clamor, estavam do outro lado da cidade, e nada sabiam a respeito disso. Observe que sempre foi um artifício comum de Satanás, o de colocar a CRISTO e à sua religião sob uma má reputação, tentando, desta maneira, destruí-los. Como essa seita – como eles a chamavam – vem a ser combatida em todos os lugares, embora sem razão, então deve-se considerar isso como causa suficiente para condená-la; mas julguemos as pessoas e as coisas pelos seus méritos e pelos padrões da Palavra de DEUS, e não prejulguemos segundo a fama comum e o clamor de uma nação. 2. Isso poderia levá-lo a condenar a JESUS para agradar ao povo, e, na verdade, por temor de desagradar ao povo. Embora Pilatos não fosse tão fraco a ponto de ser controlado pela opinião do povo, a ponto de crer que o Senhor JESUS fosse culpado, ainda assim ele era tão iníquo a ponto de ser manejado pela indignação deles, chegando a condenar alguém que ele mesmo julgava inocente. Pilatos era, portanto, induzido por razões de Estado, e pela sabedoria do mundo. O nosso Senhor JESUS, ao morrer como um sacrifício pelos pecados de muitos, foi vítima da ira de muitos.

 

JESUS É Insultado e Condenado

Marcos 15. 15-21

Vemos aqui que:

I

 Pilatos, para satisfazer a maldade dos judeus, entrega JESUS para ser crucificado (v. 15). Desejando satisfazer a multidão – fazer o suficiente para eles (é esse o significado da palavra) – e deixá-los tranquilos, para que ele pudesse acalmá-los, soltou-lhes Barrabás, que era o escândalo e a praga da nação deles, e entregou JESUS – aquele que era a glória e a benção da nação deles – para que fosse crucificado. Embora Pilatos tivesse mandado açoitá-lo anteriormente, esperando que isto satisfizesse a multidão, que não desejaria crucificá-lo, ainda assim ordenou os açoites novamente; pois não é de admirar que aquele que pôde ser persuadido a castigar alguém que era inocente (Lc 23.16), pudesse, gradativamente, ser persuadido a crucificá-lo.

CRISTO foi crucificado, pois esta morte era: 1. Uma morte sangrenta, e sem derramamento de sangue não há remissão (Hb 9.22). O sangue é a vida (Gn 9.4); é o condutor dos espíritos animais, é o que conecta a alma ao corpo, de modo que o esvaziamento do sangue é o esvaziamento da vida. JESUS CRISTO deveria dar a sua vida por nós, e, portanto, era necessário derramar o seu sangue. É o sangue que fará expiação pela alma (Lv 17.11), e, portanto, em todos os sacrifícios de propiciação, havia os cuidados especiais para o derramamento do sangue, e que este fosse esparzido diante do Senhor. JESUS CRISTO derramou o seu sangue para que pudesse cumprir toda a tipologia que lhe dizia respeito. 2. Uma morte dolorosa; as dores eram intensas e agudas, pois a morte atacava os órgãos vitais a partir das partes externas, que respondem mais rápido aos sentidos. JESUS morreu de uma maneira que Ele pudesse sentir que estava morrendo, porque Ele deveria ser, ao mesmo tempo, o sacerdote e o sacrifício. Ele precisava estar ativo ao morrer; porque Ele deveria fazer, da sua vida, uma oferenda pelo pecado. Tully chama a crucificação de Teterrimum supplicium – A punição mais tremenda: CRISTO encontraria a morte no seu maior grau de terror, e assim a derrotaria. 3. Uma morte vergonhosa, a morte dos escravos e dos piores malfeitores; assim ela era considerada entre os romanos. A cruz e a vergonha são colocadas lado a lado. Como DEUS tinha sido ofendido em sua honra, pelo pecado do homem, é em sua honra que JESUS CRISTO faz a compensação, não somente renunciando às honras devidas à sua natureza divina, e despojando-se delas, mas submetendo-se à maior censura e ignomínia que a natureza humana era capaz de suportar. Mas isso ainda não era o pior. 4. Uma morte amaldiçoada; assim era considerada pela lei judaica (Dt 21.23); o pendurado é maldito de DEUS, está sob uma marca peculiar do desprazer de DEUS. Esse foi o tipo de morte à qual foram condenados os filhos de Saul, quando a culpa pela casa sanguinária do seu pai foi expiada (2 Sm 21.6 – os enforcados e os crucificados eram considerados como “dependurados”). Hamã e seus filhos foram enforcados (Et 7.10; 9.13). Não lemos que nenhum dos profetas do Antigo Testamento tenha sido enforcado; mas agora que JESUS se submeteu a ser pendurado em um madeiro, a censura e a maldição desse tipo de morte estão eliminadas, de modo que não haveria nenhum impedimento ao consolo daqueles que morrem, inocente ou penitentemente, nem haveria nenhuma diminuição; mas, na verdade, um acréscimo à glória daqueles que morrerem como mártires por JESUS CRISTO, se forem, como Ele foi pendurado em um madeiro.

II

 Pilatos, para satisfazer o desejo de zombaria dos soldados romanos, entregou-o a eles, para que o maltratassem, enquanto eram feitos os preparativos para a execução. Eles convocaram toda a coorte – o regimento que estava em serviço – e levaram-no para dentro do palácio, onde insultaram de maneira vil o nosso Senhor JESUS, chamando-o de rei, da mesma maneira como, na casa do sumo sacerdote, os servos tinham zombado dele, chamando-o de profeta e salvador. 1. Os reis vestem túnicas de cor púrpura ou escarlate? Eles o vestiram de púrpura. Este insulto feito a JESUS CRISTO na sua aparência devia ser uma indicação aos cristãos, para que não fizessem das vestes os seus adornos (1 Pe 3.4). Será que uma túnica púrpura ou escarlate – que foi motivo de escárnio e vergonha para JESUS CRISTO – poderia ser motivo de orgulho para um cristão? 2. Os reis usam coroas? Tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça. Uma coroa de palha, ou de junco, já teria sido brincadeira suficiente; mas isto também era dor. Ele usou a coroa de espinhos que nós merecemos, para que pudéssemos usar a coroa de glória que Ele merece. Nós devemos aprender com esses espinhos, como Gideão ensinou os homens de Sucote a odiarem o pecado, a não ficarem à mercê do pecado, nem sujeitos ao pecado. Devemos permanecer apaixonados por JESUS CRISTO, que é aqui um lírio entre espinhos. Se, em alguma ocasião, nós sofrermos com um espinho na carne, que o nosso consolo seja a lembrança de que o nosso Sumo Sacerdote sente as nossas fraquezas, porque conheceu pessoalmente o que significam espinhos na carne. 3. Os reis são saudados por aclamações dos seus súditos, que dizem: “Longa vida ao rei?” Também isto é imitado; eles o saudaram, dizendo: “Salve, Rei dos judeus”; tal príncipe e tal povo eram adequados um ao outro. 4. Os reis têm cetros em suas mãos, símbolos de domínio, assim como a coroa é um símbolo de dignidade; para imitar isto, eles colocaram uma cana na sua mão direita. Aqueles que desprezam a autoridade de JESUS CRISTO, como algo que não deve ser observado e obedecido, que não consideram nem os preceitos da sua Palavra nem as ameaças da sua ira, colocam, realmente, uma cana na sua mão; e, na verdade, como esses soldados que o ferem na cabeça com ela, que é a indignidade que os desobedientes lhe fazem. 5. Os súditos, quando juravam lealdade, tinham o hábito de beijar o seu soberano; e isto eles se ofereceram para fazer, mas, em vez de beijá-lo, cuspiram nele. 6. É costume ficar de joelhos diante do rei; e isto também eles incluíram na zombaria, pois, postos de joelhos, simulavam uma adoração; isto eles fizeram em zombaria, para se divertirem. Pelo pecado nós nos tornamos merecedores da vergonha e do desprezo eternos; e para nos libertar deles, o nosso Senhor JESUS se submeteu a essa vergonha e a esse desprezo, por nós. Assim Ele foi ridicularizado, não nas suas próprias roupas, mas nas de outros, significando que Ele não sofria pelo seu próprio pecado; o crime era nosso, mas a vergonha era dele. Aqueles que fingem se submeter a JESUS CRISTO, mas que, ao mesmo tempo, se entregam ao serviço do mundo e da carne, na realidade, estão fazendo a mesma coisa que esses soldados fizeram, quando se ajoelharam diante do Senhor JESUS em uma vil zombaria, e o insultaram, dizendo: “Salve, Rei dos judeus”, quando na realidade diziam: Não temos rei, senão o César (Jo 19.15). Aqueles que dobram os joelhos diante de JESUS CRISTO, mas não dobram a alma, que se aproximam dele com palavras e o honram com os seus lábios, mas seus corações estão longe dele, fazem-lhe a mesma ofensa que esses soldados lhe fizeram.

III

 Os soldados, à hora indicada, levaram-no do tribunal de Pilatos ao lugar da execução (v. 20), como uma ovelha ao matadouro. Ele foi conduzido pelos obreiros da iniquidade, embora não tivesse pecado. Mas para que a sua morte, sob o peso da cruz que Ele devia carregar, não impedisse as próximas crueldades que eles tinham em mente, constrangeram um certo Simão Cireneu a levar a cruz por Ele. Simão passava por ali, vindo do campo, sem sequer imaginar a situação que logo o envolveria. Observe que não devemos achar estranho se cruzes nos aparecerem de repente, e nos surpreenderem. A cruz era uma carga realmente incômoda e penosa: mas aquele que a carregou alguns minutos teve a honra de ter o seu nome registrado no Evangelho, e, se não fosse isso, seria uma pessoa obscura. Onde quer que o Evangelho for pregado, essa passagem será mencionada como um memorial para Simão Cireneu. Da mesma maneira, embora nenhuma aflição e nenhuma cruz, no presente, tragam alegria, mas tristeza, no futuro a cruz trará uma coroa de glória àqueles que nela forem exercitados.

 

A Crucificação

Marcos 15. 22-32

Aqui temos o relato da crucificação do nosso Senhor JESUS.

I

 O lugar onde Ele foi crucificado. Tinha o nome de Gólgota – o lugar da Caveira: alguns pensam que esse nome se devia às cabeças dos malfeitores que ali eram cortadas. Era o lugar usual de execução, conforme Tyburn, pois o Senhor JESUS foi, em todos os aspectos, incluído entre os transgressores. Eu não sei como admitir isso, mas muitos dos antigos mencionam, como uma tradição corrente, que nesse lugar foi sepultado o nosso primeiro pai, Adão, e eles julgam que é altamente coerente que CRISTO fosse crucificado ali; pois assim como em Adão todos morrem, em CRISTO todos viverão. Tertuliano, Orígenes, Crisóstomo e Epifânio (grandes nomes) observam isso; na verdade, Cipriano acrescenta: Creditur a piis – Muitas pessoas boas crêem que o sangue de CRISTO crucificado gotejou sobre o esqueleto de Adão, que foi enterrado no mesmo lugar. Uma tradição com um pouco mais de credibilidade diz que este monte Calvário era aquele monte na terra de Moriá (e na terra de Moriá certamente era, pois assim era chamada a região ao redor de Jerusalém), na qual Isaque deveria ser apresentado como uma oferta; e foi feita a oferta de um carneiro em seu lugar; e assim Abraão se referia a essa época de CRISTO, quando chamou o lugar de Jeová-jiré – o Senhor proverá, esperando que assim ocorresse no monte do Senhor.

II

 A hora em que Ele foi crucificado: “E era a hora terceira” (v. 25). Ele tinha sido trazido diante de Pilatos aproximadamente à hora sexta (Jo 19.14), de acordo com o sistema romano de horas, que João utiliza, cuja correspondência com o nosso sistema atual indica que eram seis horas da manhã; e então, à hora terceira, segundo o sistema judeu de horas, isto é, aproximadamente às nove horas da manhã, ou pouco tempo depois, eles o crucificaram. Dr. Lightfoot opina que a hora terceira é aqui mencionada para indicar uma agravante à maldade dos sacerdotes: eles estavam aqui, conduzindo JESUS CRISTO à morte, embora já tivesse passado a hora terceira, quando deveriam estar em serviço no templo, fazendo as ofertas pacíficas. Era o primeiro dia da festa dos Pães Asmos, quando deveria haver uma congregação geral. Naquela mesma hora, quando deveriam estar, de acordo com o dever da sua posição, presidindo as devoções públicas, eles estavam aqui expelindo a sua maldade contra o Senhor JESUS; e esses eram os homens que pareciam tão zelosos pelo templo, e condenaram a JESUS por pensarem que falou contra ele. Há muitos que fingem estar do lado da igreja, mas não se preocupam com a frequência com que vão à Casa de DEUS, a igreja.

III

 As indignidades que lhe foram feitas, quando estava pregado na cruz. Como se já não houvesse afrontas suficientes, eles acrescentaram várias outras coisas à sua ignomínia.

1. Como era costumeiro dar vinho às pessoas que eram condenadas à morte, eles o misturaram com mirra, que era amarga e o tornava enjoativo. Ele o provou, mas não o tomou. O Senhor estava disposto a reconhecer que era amarga, mas não queria nenhum benefício daquela bebida.

2. Como as roupas daqueles que eram executados – assim como acontece na nossa época – eram o pagamento dos executores, os soldados lançaram sortes sobre as suas vestes (v. 24), com dados (como os nossos soldados fazem hoje): divertindo-se, dessa maneira, com a sua infelicidade, e jogando enquanto Ele estava suspenso em dor.

3. Eles colocaram uma inscrição acima da sua cabeça, pela qual pretendiam reprová-lo, mas, na verdade, essa lhe dava honra e justiça: “O Rei dos judeus” (v. 26). Ali não era declarado nenhum crime, somente se reconhecia a sua soberania. Talvez Pilatos desejasse provocar a infelicidade de CRISTO como um rei frustrado, ou a dos judeus, que, pela sua impertinência o tinham forçado, contra a sua consciência, a condenar JESUS, como um povo que não merecia ter um rei melhor do que Ele parecia ser. No entanto, DEUS pretendia que ela fosse a proclamação do Rei de Israel, do próprio CRISTO sobre a cruz; porém Pilatos não sabia a profundidade daquilo que tinha escrito, assim como Caifás não sabia o que tinha dito (Jo 11.51). O CRISTO crucificado é o Rei da sua Igreja, o seu Israel espiritual; e mesmo quando Ele estava suspenso na cruz, Ele estava atuando como um Rei, derrotando os seus inimigos, e os do seu povo, e deles triunfou em si mesmo (Cl 2.15). Ele estava escrevendo as suas leis com o seu próprio sangue, e preparando os favores que concederia aos seus súditos. Quando nós olhamos para o CRISTO crucificado, devemos nos lembrar da inscrição que foi colocada acima da sua cabeça: Ele é um Rei, e nós devemos renunciar a nós mesmos para sermos seus súditos, como verdadeiros israelitas.

4. Eles crucificaram dois salteadores com Ele, um à sua direita, outro à sua esquerda, e Ele no centro, como o pior dos três (v. 27); tal era o grau de desonra que eles lhe conferiam dessa maneira. E, sem dúvida, esses também o perturbaram. Alguns que foram aprisionados nos cárceres comuns, por terem testemunhado a respeito de JESUS, reclamaram mais da companhia de prisioneiros que amaldiçoavam e praguejavam, do que de qualquer outro sofrimento que tenham vivido na prisão. Junto a esse tipo de pessoas o nosso Senhor JESUS foi crucificado; enquanto viveu, Ele tinha se relacionado com pecadores, quando houve oportunidade, para fazer-lhes bem; e agora, quando estava morrendo, Ele era, com o mesmo objetivo, reunido a eles, pois Ele veio ao mundo e saiu dele para salvar os pecadores, até mesmo os maiores. Mas Marcos chama a atenção, em particular, para o cumprimento das Escrituras através desse evento (v. 28). Naquela famosa predição dos sofrimentos de CRISTO (Is 53.12), estava predito que Ele seria contado com os malfeitores, porque Ele se fez pecado por nós.

5. Os espectadores, isto é, a maioria deles, em vez de se apiedarem de JESUS em meio a essa desgraça, aumentaram-na, insultando-o. Certamente, nunca houve um exemplo de desumanidade tão bárbara, nem mesmo para o pior dos malfeitores: mas assim o demônio exibia a sua máxima fúria, e assim o Senhor se submetia às maiores desonras que lhe podiam ser feitas.

(1) Até mesmo aqueles que passavam, que não tinham nada a ver com o caso, blasfemavam dele (v. 29). Mesmo que os seus corações estivessem tão insensíveis, a ponto da sua compaixão não ser despertada por tal espetáculo, ainda assim eles deveriam ter se contentado em ter a sua curiosidade satisfeita; mas isto não foi suficiente; como se eles não somente estivessem despidos de toda a humanidade, mas fossem demônios sob a forma humana, eles o ridicularizavam, e se expressavam com grande ódio a Ele, e lhe arremessavam as suas flechas, as palavras mais amargas. Os principais dos sacerdotes, sem dúvida, colocavam esse sarcasmo nas bocas: “Tu que derribas o templo e, em três dias, o edificas! Salva-te a ti mesmo e desce da cruz”. Eles comemoraram como se, agora que Ele estava sobre a cruz, não houvesse o perigo de que Ele destruísse o templo; ao passo que Ele estava destruindo o templo do qual falava, e realmente o edificou em três dias; e o templo do qual eles falavam, Ele realmente destruiu, por meio dos homens, que eram a sua espada e a sua mão, poucos anos depois. O perigo está mais pronto a cercar os pecadores justamente quando se sentem mais seguros e tranquilo, pensando que já não estão mais correndo nenhum risco. O dia do Senhor virá como o ladrão para aqueles que negam a sua vinda, e dizem: Onde está a promessa da sua vinda? E muito mais sobre aqueles que desafiam a sua vinda, dizendo: Apressa-te e conclua a tua obra.

(2) Os principais dos sacerdotes que, tendo sido escolhidos entre os homens, e ordenados para servir aos homens, deveriam ter compaixão até mesmo daqueles que não seguem o caminho correto. Eles deveriam se compadecer ternamente daqueles que estão sofrendo e morrendo (Hb 5.1,2), porém derramavam vinagre, em vez de óleo, nas suas feridas, e conversavam sobre a dor Daquele a quem DEUS feriu (Sl 69.26); zombavam Dele, e diziam: “Salvou os outros” – curou e ajudou os outros, e agora parece que não o fazia pelo seu próprio poder – “e não pode salvar-se a si mesmo”. Eles o desafiavam a descer da cruz, se pudesse (v. 32). Disseram que se vissem apenas isso, acreditariam. Porém não creram quando Ele lhes deu um sinal ainda mais convincente do que esse, quando saiu da sepultura. Esses principais dos sacerdotes podiam agora encontrar outro trabalho: se eles não desejavam cumprir o seu dever no templo, ainda assim poderiam estar trabalhando em algo que não fosse estranho à sua profissão de fé. Embora não oferecessem nenhum conselho ou consolo ao Senhor JESUS, poderiam ter prestado algum auxílio aos ladrões nos seus últimos momentos (os monges e os sacerdotes nos países papistas são muito obsequiosos para com os criminosos mortos na roda, um tipo de morte muito semelhante à morte na cruz); mas eles não acharam que essa fosse uma função deles.

(3) Até mesmo aqueles que estavam crucificados com o Senhor JESUS o ofendiam (v. 32); um deles o fez, mostrando quão miseravelmente endurecido estava o seu coração, até mesmo quando estava nas profundezas da miséria, e às portas da eternidade.

 

A Crucificação

Marcos 15. 33-41

Aqui temos uma narrativa da morte de CRISTO, da maneira como os seus inimigos o maltrataram, e como DEUS o honrou na sua morte.

I

 Houve trevas sobre toda a terra (alguns crêem que houve trevas sobre todo o planeta), durante três horas, desde o meio-dia até as três horas da tarde. Então se cumpriam as Escrituras (Am 8.9): “Farei que o sol se ponha ao meio-dia e a terra se entenebreça em dia de luz”; e Jeremias 15.9: “Pôs-se o seu sol sendo ainda de dia”. Os judeus frequentemente exigiam de JESUS CRISTO um sinal do céu; e agora eles tinham um sinal, mas um sinal que significava o cegar dos seus olhos. Foi um sinal das trevas que sobrevieram sobre a sinagoga e a nação judaicas. Eles estavam fazendo tudo o que podiam para extinguir o Sol da justiça, que agora se punha, e cujo renascer eles nunca reconheceriam; e então, o que poderia ser esperado, entre eles, a não ser algo pior do que a escuridão no Egito? Isto queria lhes dizer que as coisas que pertenciam à sua paz estavam agora ocultas dos seus olhos, e que era chegado o Dia do Senhor, que seria para eles um dia de trevas e tristeza (Jl 2.1,2). Era sob o poder das trevas que eles se encontravam agora, eram as obras das trevas que eles realizavam agora; e assim ocorreria, com razão, a perdição daqueles que preferiam as trevas à luz.

II

 Quase no final dessas trevas, o nosso Senhor JESUS, na agonia da sua alma, exclamou: “DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?” (v. 34). As trevas significavam a nuvem sob a qual a alma humana de CRISTO se encontrava então, quando Ele fazia de si mesmo uma oferta pelo pecado. O Sr. Fox, em sua obra Acts and Monuments (vol. 3, p. 160), fala de um certo Dr. Hunter, um mártir na época da rainha Maria, da Inglaterra, que, amarrado a uma estaca, onde seria queimado vivo, proferiu esta curta oração: “Filho de DEUS, brilhe sobre mim”; e imediatamente o sol no firmamento brilhou através daquela nuvem escura, atingindo o seu rosto tão em cheio, que ele foi forçado a olhar para o outro lado, e isto lhe foi um grande consolo. Mas ao nosso Senhor JESUS, ao contrário, foi negada a luz do sol, quando Ele estava em meio a esses sofrimentos, para representar a retirada da luz do rosto de DEUS. E disso Ele se queixa, mais do que de qualquer outra coisa. Ele não se queixou quando os seus discípulos o abandonaram, mas quando o seu PAI o fez: 1. Porque este abandono feriu o seu espírito; e isto é muito difícil de suportar (Pv 18.14). Foi algo que trouxe as águas à sua alma (Sl 69.1-3). 2. Porque com isso, particularmente, Ele se fez pecado por nós; as nossas iniquidades tinham merecido a indignação e a ira sobre a alma (Rm 2.8), e, portanto, JESUS CRISTO, tendo se tornado um sacrifício, padeceu o quanto foi capaz; e realmente não poderia deixar de suportar o máximo Aquele que tinha estado no seio do PAI desde a eternidade, e que era sempre a sua luz. Esses sintomas da ira divina, à qual CRISTO se submetia nos seus sofrimentos, eram como aquele fogo celestial que tinha sido enviado algumas vezes, em casos extraordinários, para consumir os sacrifícios (como em Lv 9.24; 2 Cr 7.1; 1 Rs 18.38), e que era sempre um sinal da aceitação de DEUS. O fogo que teria caído sobre o pecador, se DEUS não tivesse sido acalmado, caiu sobre o sacrifício, como um sinal de que a sua ira foi realmente aplacada. Por isso agora caía sobre CRISTO, e arrancava dele esse clamor amargo. Quando Paulo ia ser oferecido como sacrifício pelo serviço da fé dos santos, ele pôde alegrar-se e regozijar-se (Fp 2.17); mas é algo diferente ser oferecido como um sacrifício pelos pecados dos pecadores. Então, à hora sexta, e até à nona, o sol se escureceu por um eclipse extraordinário. E se for verdade, como calculam alguns astrônomos, no entardecer desse dia em que CRISTO morreu houve um eclipse da lua, que era natural e esperado, com o qual 7/12 da lua se escureceram. Ele continuou das cinco horas da tarde até às sete. Isto é notável, e ainda mais representativo da escuridão que houve então. O sol se escureceu, e a lua não deu a sua luz.

III

 A oração de JESUS foi ridicularizada por aqueles que estavam ali (vv. 35,36); por Ele ter exclamado: Eli, Eli, ou (conforme o texto de Marcos, de acordo com o dialeto aramaico) “Eloí, Eloí”, eles disseram: “Eis que chama por Elias”, embora soubessem muito bem o que Ele tinha dito, e que queria dizer: “DEUS meu, DEUS meu”. Assim quiseram sugerir que Ele orava aos santos, ou porque Ele tinha abandonado a DEUS, ou porque DEUS o tinha abandonado; e com isso eles o tornariam ainda mais detestado pelo povo. Um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e a levou até Ele, numa cana: Vamos deixar que Ele refresque a boca com isto, que é uma bebida suficientemente boa para Ele (v. 36). A intenção de quem fez isso era causar mais uma afronta a Ele; e quem quer que tentasse deter aquele que fez isso, somente pioraria a ofensa: Deixe-o em paz; Ele chamou Elias; vamos ver se Elias virá tirá-lo daí; e, se isto não acontecer, nós poderemos concluir que ele também o abandonou.

IV

 JESUS CRISTO novamente exclamou, e assim entregou o seu espírito (v. 37). Ele entregava então a sua alma nas mãos do seu PAI; e embora DEUS não se comova com nada físico, esse grande brado representou a grande força e a fervorosa afeição com que Ele o expressou. Tudo isso nos ensina que em tudo o que estivermos relacionados com DEUS, reunamos as nossas forças ao máximo, realizando todas as obrigações da religião, particularmente a renúncia a nós mesmos, com todo o nosso coração e com toda a nossa alma. E então, mesmo que não tenhamos voz para poder exclamar com grande voz, como CRISTO fez, ainda assim que DEUS seja a força do coração, que não falhará. CRISTO real e verdadeiramente morreu, pois Ele entregou o seu espírito; a sua alma humana partiu para o mundo dos espíritos, e deixou o seu corpo como um corpo físico feito da terra, sem vida.

V

 Exatamente nesse instante em que JESUS CRISTO morreu no Calvário, o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo (v. 38). Isto evidenciava muitas coisas: 1. Sobre o terror dos judeus incrédulos; pois esse era um presságio da destruição total da sua sinagoga e nação, que aconteceu pouco tempo depois disso. Foi como uma separação total do cajado e da beleza (pois esse véu era extraordinariamente esplêndido e glorioso, Êx 26.31), e que aconteceu ao mesmo tempo em que mataram Aquele por quem pagaram trinta moedas de prata (Zc 11.10,12), quebrando a aliança que Ele tinha feito com esse povo. Agora era o momento de gritar Icabô – foi-se a glória de Israel. Alguns pensam que a história relatada por Josefo, de que a porta do templo se abriu de per si, com aquelas palavras: Vamos embora daqui, alguns anos antes da destruição de Jerusalém, é a mesma história relatada aqui; mas isto não é provável; no entanto, esta tinha o mesmo significado daquela (Os 5.14): “Eu despedaçarei e ir-me-ei embora”. 2. Isso evidencia uma grande dose de consolo a todos os cristãos fiéis, pois significa a consagração e a abertura, para nós, de um caminho novo e vivo até o Santo dos Santos por meio do sangue de JESUS.

VI

 O centurião que comandava o destacamento encarregado de supervisionar a execução se convenceu, e confessou que esse JESUS era o Filho de DEUS (v. 39). Uma coisa que o surpreendeu foi que Aquele que exclamou e entregou o espírito tenha sido capaz de bradar dessa maneira estando prestes a morrer. Isso foi algo muito surpreendente. Em todos os tristes espetáculos desse tipo, o centurião nunca tinha observado nada semelhante; e o fato de alguém que tinha forças para gritar dessa maneira, imediatamente entregar o espírito, o fez pensar; e ele disse, para a honra de CRISTO, e a vergonha daqueles que o tinham maltratado e assassinado: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de DEUS”. Mas que razão tinha ele para dizer isso? Eu respondo o seguinte: 1. O centurião tinha várias razões para dizer que o Senhor JESUS tinha sofrido injustamente, e que muitas coisas erradas tinham sido feitas contra Ele. Observe que Ele sofreu por dizer que era o Filho de DEUS; e era verdade, Ele realmente o disse. Então, como Ele sofreu injustamente – algo que ficou claro através de todas as circunstâncias do seu sofrimento – logo, o que Ele dizia era verdade, e Ele era de fato o Filho de DEUS. 2. O Senhor JESUS tinha razão de dizer que era o favorito do céu, e alguém com quem o Todo-Poderoso tinha um envolvimento especial, tendo em vista a maneira como o Céu o honrou na sua morte, e desaprovou aqueles que o perseguiram. “Certamente”, pensa o centurião, “esta deve ser alguma pessoa divina, muito amada por DEUS”. Ele expressa isso com palavras que indicam a eternidade do Senhor JESUS CRISTO, como DEUS, e a sua indicação especial para o cargo de Mediador, embora ele não quisesse dizer isto. O nosso Senhor JESUS, até mesmo nas profundezas dos seus sofrimentos e humilhação, era o Filho de DEUS, e assim foi confirmado com poder.

VII

 Ali estavam alguns dos seus amigos, especialmente as boas mulheres, que o ajudavam (vv. 40,41). Havia mulheres olhando de longe: os homens não se atreveram a ser vistos, pois a multidão estava excessivamente furiosa. Currenti cede furori – Abrir caminho para a torrente furiosa, pensaram eles, é o melhor conselho agora. As mulheres não ousaram aproximar-se, mas ficaram à distância, dominadas pela dor. Algumas dessas mulheres são mencionadas pelo nome. Maria Madalena era uma delas; ela tinha sido abençoada pelo Senhor JESUS, e devia todo o seu conforto ao seu poder e à sua bondade, pois Ele a libertou da possessão de sete demônios, e, como gratidão por isto, ela achava que nunca poderia fazer nada suficientemente bom por Ele. Maria também estava ali, a mãe de Tiago, o menor, Jacobus parvus, é a palavra; provavelmente ele era assim chamado porque era, como Zaqueu, baixo, tinha pouca altura. Esta Maria era a esposa de Cleopas ou Alfeu, irmã de Maria de Nazaré. Estas mulheres tinham seguido a JESUS desde a Galiléia, embora não fossem obrigadas a comparecer à Festa, como eram os homens; mas é provável que elas tenham vindo, na expectativa de que o seu reino temporal iria se estabelecer dentro de pouco tempo, e com muitas esperanças de promoção para si mesmas e para os seus parentes, através dele. Está claro que esta era a esperança da mãe dos filhos de Zebedeu (Mt 20.21). E agora, ver sobre a cruz aquele que elas pensavam que veriam sobre um trono, não podia deixar de ser um grande desapontamento para elas. Observe que aqueles que seguem a JESUS CRISTO esperando grandes coisas neste mundo, através dele, e da profissão da sua religião, provavelmente viverão para se sentirem desapontados e tristes.

 

O Sepultamento de CRISTO

Marcos 15. 42-47

Chegamos então ao sepultamento de nosso Senhor JESUS CRISTO, um funeral solene e pesaroso. Oh! Possamos nós, pela graça, ser sepultados de maneira semelhante! Observe:

I

 Como se pediu o corpo de JESUS. Ele estava, como os cadáveres dos malfeitores, à disposição do governo. Aqueles que o levaram apressadamente até à cruz, desejavam que Ele tivesse o seu sepulcro juntamente com os iníquos e maus; mas DEUS determinou que Ele o tivesse com os ricos (Is 53.9), e assim foi feito. Aqui, vemos:

1. Quando foi pedido o corpo de JESUS, para o seu sepultamento, e por que houve tanta pressa para o enterro. Era chegada à noite, e “era o Dia da Preparação, isto é, a véspera do Sábado” (v. 42). Os judeus eram mais rígidos na observância do sábado do que de qualquer outra festa; portanto, embora esse dia fosse um dia festivo, ainda assim eles o observavam da maneira mais religiosa, porque era a véspera do sábado. Era naquele dia que eles preparavam as suas casas e mesas para a cerimônia esplêndida e alegre do sábado. Considere que a véspera do sábado deveria ser um dia de preparação para o sábado, não das nossas casas e mesas, mas dos nossos corações, que, tanto quanto possível, deveriam estar livres das preocupações e dos negócios do mundo, e determinados e dispostos para servirmos a DEUS e desfrutarmos a sua preciosa presença. Há tanto trabalho para ser feito, e tantos são os benefícios que são obtidos no sábado, que é necessário que nos preparemos para ele no dia anterior; ou melhor, toda a semana deveria ser dividida entre o aproveitamento do sábado anterior e a preparação para o sábado seguinte.

2. Quem pediu o corpo, e cuidou para que o Senhor tivesse um enterro decente, foi José de Arimatéia, que aqui é chamado de senador honrado (v. 43), uma pessoa de caráter e distinção, que ocupava um cargo público de confiança; alguns acreditam que ele trabalhava no governo, e que era um dos conselheiros particulares de Pilatos. Porém outros entendem que o seu cargo deve ter sido na sinagoga; ele era um dos membros do grande Sinédrio dos judeus, ou um dos membros do conselho do sumo sacerdote. Ele era euschemon bouleutes – um conselheiro que se comportava de uma forma adequada a alguém que tivesse a sua posição. São verdadeiramente honrados aqueles, e somente aqueles, que estando em uma posição de poder e confiança, têm consciência do seu dever, e cujo comportamento está de acordo com a sua posição de destaque. Mas aqui está uma característica mais esplendorosa daquele homem; ele era alguém que também esperava o Reino de DEUS, o reino da graça na terra, e da glória no céu, o reino do Messias. Observe que aqueles que esperam o Reino de DEUS, e esperam participar dos seus privilégios, devem mostrar, pelo seu entusiasmo, que reconhecem a causa de DEUS, mesmo quando ela parece ser esmagada e destruída. Note que até mesmo em meio aos senadores honoráveis havia alguns – ou pelo menos um – que esperavam o Reino de DEUS, e cuja fé condenará a incredulidade de todos os demais. DEUS chamou esse homem para esse serviço necessário, quando nenhum dos discípulos de CRISTO poderia – ou ousaria – realizá-lo, não tendo nem dinheiro, nem interesse, nem coragem para isso. José foi a Pilatos com ousadia; embora ele soubesse o quanto isso iria irritar os principais dos sacerdotes, que o tinham censurado tanto. Eles não suportariam ver alguma honra feita ao Senhor JESUS, mas ainda assim ele se encheu de coragem; talvez, no início, ele estivesse um pouco temeroso, mas ousadamente – enchendo-se de coragem, ele determinou que demonstraria esse respeito pelos restos mortais do Senhor JESUS, assumindo até mesmo o risco de sofrer o pior da parte dos inimigos do Senhor.

3. Que surpresa foi, para Pilatos, descobrir que Ele já estava morto (talvez Pilatos esperasse que Ele tivesse se salvado, e tivesse descido da cruz). Saber, especialmente, que já estava morto Aquele que parecia ter mais do que um vigor normal; que tão cedo tinha se entregado à morte. Todas as circunstâncias da morte de JESUS CRISTO são maravilhosas; pois do princípio ao fim, o seu nome foi chamado Maravilhoso. Pilatos duvidou (assim entendem alguns) de que Ele já estivesse morto, temendo que pudesse ser pressionado, e o corpo fosse descido da cruz ainda com vida, e se recuperasse, quando a sentença era a de ficar suspenso até que o corpo estivesse morto. Por isso, ele chamou o centurião, o seu próprio oficial, e perguntou a ele se já havia muito que tinha morrido (v. 44), se fazia algum tempo desde a última vez que tinham notado algum sinal de vida nele, alguma respiração ou algum movimento, para que pudessem concluir que Ele estava irremediavelmente morto. O centurião pôde assegurar-lhe isso, pois tinha observado, particularmente, como o Senhor JESUS entregou o espírito (v. 39). Havia uma Providência especial nisso, no fato de Pilatos ser tão rigoroso ao certificar-se desse fato, para que não houvesse a desculpa de dizer que Ele tinha sido sepultado vivo, o que removeria a veracidade da sua ressurreição; e a verificação foi tão completa e rigorosa, que nunca houve tal objeção. Assim, a verdade de CRISTO é, algumas vezes, confirmada até mesmo pelos seus inimigos.

II

 Como é que o corpo de JESUS foi sepultado. Pilatos deu a José de Arimatéia permissão para descer o corpo da cruz, e fazer o que quisesse com ele. É de admirar que os principais dos sacerdotes não fossem mais rápidos do que ele, e não pedissem antes dele o corpo a Pilatos, e não o expusessem e arrastassem pelas ruas, mas este resto da sua ira DEUS refreou, e deu esse privilégio inestimável a José, que saberia valorizá-lo; e os corações dos sacerdotes estavam tão influenciados, que não se opuseram a isso. Sit divus, modo non sit vivus – Nós não nos incomodamos que Ele seja adorado, desde que não possa reviver.

1. José comprara um lençol fino para nele envolver o corpo do Senhor, embora em um caso como esse, um lençol velho, que já tivesse sido usado, tivesse sido julgado suficiente. Ao prestarmos os nossos respeitos a CRISTO, convém que sejamos generosos, e que o sirvamos com o melhor que puder ser obtido, não com o que puder ser obtido a bom preço.

2. Ele desceu o corpo, ferido e torturado como estava, e o envolveu no lençol, como um tesouro de grande valor. O nosso Senhor JESUS se dispôs a ser entregue por nós de uma forma sacramental na ordenança da Ceia do Senhor, que nós devemos receber da maneira que melhor expresse o nosso amor por aquele que nos amou e morreu por nós.

3. Ele o depositou em um sepulcro de sua propriedade, em um lugar particular. Às vezes vemos na história dos reis de Judá algo que é como uma mancha na memória dos reis iníquos: o fato de não serem sepultados nos sepulcros dos reis. Embora o único mal que o nosso Senhor JESUS fez foi fazer somente o bem, e a Ele tenha sido dado o trono do seu pai Davi, ainda assim foi sepultado no sepulcro das pessoas comuns, pois não é neste mundo – mas no outro – que o seu descanso seria glorioso. O sepulcro pertencia a José de Arimatéia. Quando Abraão não tinha outra posse na terra de Canaã, tinha ao menos um sepulcro; mas CRISTO não teve sequer isso neste mundo. Esse sepulcro era lavrado numa rocha, pois CRISTO morreu para fazer do túmulo um refúgio e um abrigo aos santos; e sendo lavrado numa rocha, é um refúgio forte. Ó, para que vocês me esconderiam no sepulcro! O próprio CRISTO é um esconderijo para o seu povo, ou seja, Ele é como um abrigo em uma grande rocha.

4. Ele revolveu uma pedra para a porta do sepulcro, pois esta era a maneira de os judeus serem sepultados. Quando Daniel foi lançado na cova dos leões, uma pedra foi posta sobre a boca da cova, para mantê-lo ali. Assim, o mesmo ocorre aqui, no caso da porta do sepulcro de CRISTO; mas nenhuma dessas pedras pôde impedir as visitas dos anjos aos prisioneiros.

5. Algumas das boas mulheres compareceram ao sepultamento, e observaram onde o puseram, para que pudessem vir, depois do sábado, para ungir o corpo, porque não tinham tido tempo de fazê-lo antes. Quando Moisés – o mediador e legislador da nação judaica – foi sepultado, foi tomado um cuidado especial para que nenhum homem soubesse a localização da sua sepultura (Dt 34.6), porque o respeito que o povo tinha por ele os levaria a morrer com ele. Mas quando o nosso grande Mediador e Legislador foi sepultado, o lugar da sua sepultura foi observado de maneira especial, porque Ele deveria ressuscitar; e os cuidados com o seu corpo evidenciam o cuidado que Ele mesmo teria com o seu corpo, a Igreja. Mesmo que ela venha a se parecer – em algumas situações – com um cadáver e um vale cheio de ossos, ela será preservada para uma ressurreição; assim também o serão os corpos dos santos, com cujos restos existe um concerto em vigor, que não será esquecido. As nossas reflexões sobre o sepultamento de CRISTO deveriam nos levar a pensar no nosso próprio sepultamento, ajudando-nos a nos familiarizar com o sepulcro. Isto tornaria confortável essa cama que, dentro de pouco tempo, nós teremos na escuridão da morte. As reflexões freqüentes sobre a morte não somente afastam o terror, mas nos estimulam a nos prepararmos para a sepultura, uma vez que ela está permanentemente preparada para nós (Jó 17.1).

 

 

 

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MARCOS 14

EBD Pecc (Programa de Educação Cristã Continuada) | 4° Trimestre De 2022 | Tema: MARCOS – O Evangelho do Servo JESUS | Escola Bíblica Dominical | Lição 11: MARCOS 14 – Traição e Prisão do Servo

 

 

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Em Marcos 14 há 72 versos. Sugerimos começar a aula lendo, com todos os presentes, Marcos 14.27-52 (5 a 7 min.). A revista funciona como guia de estudo e leitura complementar, mas não substitui a leitura da Bíblia. Querido(a) professor(a), esta lição trata da prisão do nosso Senhor. As autoridades judaicas tramaram contra o próprio Messias alegando zelo religioso. Para conseguir a cumplicidade romana, alegaram que JESUS ameaçava a ordem pública.

Maria o adorou de modo incondicional, mas houve quem o traísse de modo covarde. Entre uma atitude e outra, JESUS institui conosco uma Nova Aliança. Durante a ceia ou enquanto agonizava no Getsêmani, JESUS nos amou; abandonado por todos, continuou nos amando. Vamos falar disso, da radicalidade do amor Cristão, o mesmo que devemos praticar. Devemos amar ao invés de punir ou desprezar; tomar a decisão de amar sob qualquer circunstância, como fez JESUS.

 

OBJETIVOS

• Adorar de forma prática, servindo a JESUS na pessoa do próximo.
• Testemunhar a eficácia da Nova Aliança que nos deu salvação.
• Testemunhar diariamente que somos discípulos de JESUS.

 

PARA COMEÇAR A AULA

Professor(a), começa sua aula reforçando a certeza de que o padrão ético de JESUS não mudou. Se realmente quisermos viver como ele, é preciso fazer de nossas vidas um serviço ativo dedicado aos irmãos. Não somos chamados a julgar quem merece ou não a nossa ajuda, mas a estender a mão; não nos cabe a violência nem a vingança, mas o perdão e a renúncia. Nosso desafio é grande, mas somos guiados pelo ESPÍRITO SANTO, que nos capacita a viver de um modo estranho ao mundo, mas fiel a JESUS.

 

LEITURA ADICIONAL

“Algo aconteceu no Getsêmani – JESUS viu, sentiu, percebeu algo –, e isso abalou o inabalável Filho de DEUS. O que foi isso? Ele estava enfrentando algo que ia além do tormento físico, além da morte física – algo tão pior que essas coisas pareciam picadas de pulga em comparação. Ele estava sufocado pelo simples sopro do que iria enfrentar na cruz.

Ele não sabia que iria morrer? Sim, mas não estamos falando de informação aqui. É claro que ele sabia; ele mesmo havia dito isso aos discípulos por várias vezes. Mas agora ele estava começando a provar o que ele iria experimentar na cruz e isso era algo que ia muito além da tortura e da morte física.

Mas o que era assim tão terrível? Está no próprio cerne da oração que JESUS faz aqui. Ele diz: ‘Afasta de mim este cálice’. Lembre-se que, nas Escrituras Hebraicas, o ‘cálice’ é uma metáfora para a ira de DEUS em razão da maldade humana. (…) Por toda sua vida, por causa da eterna dança de JESUS com o PAI e o ESPÍRITO, sempre que ele voltava para o PAI, o ESPÍRITO o inundava com amor.

O que aconteceu de forma visível e audível no batismo e na transfiguração de JESUS acontecia de forma invisível e inaudível toda vez que JESUS orava. Mas, no jardim do Getsêmani, JESUS se volta para o PAI e tudo o que consegue ver diante de si é a ira, o abismo, a separação do cálice. DEUS é a fonte de todo amor, toda vida, toda luz, toda coerência.

Portanto, ser excluído de DEUS é ser excluído da fonte de todo amor, toda vida, toda luz, toda coerência. Ali JESUS começou a experimentar a desintegração espiritual, cósmica e infinita que aconteceria quando ele se separasse do PAI na cruz. JESUS começou a experimentar uma mera antecipação disso e cambaleou.

(…) Para JESUS, naquele momento ainda seria possível abortar sua missão e deixar que perecêssemos. Mas ele não considera isso como uma opção. Ele suplicou ao PAI que cumprisse a missão de outra forma, mas jamais pediu que desistisse dela por completo.

Por quê? Porque, por mais terrível que fosse o cálice, JESUS sabia que seu desejo imediato (ser poupado) deveria curvar-se diante de seu desejo supremo (nos poupar). (…) JESUS não nega suas emoções e não evita o sofrimento. Ele ama sofrendo. Em meio ao sofrimento, ele obedece, por amor ao PAI – e por amor a nós”.

Livro: A cruz do Rei (KELLER, Timothy. Tradução de Marisa Lopes. São Paulo: Vida Nova, 2012, pp. 205-206 e 210-211).

 

TEXTO ÁUREO

“E dizia: Aba, PAI, tudo te é possível: passa de mim este cálice; contudo, não seja o que eu quero e sim o que tu queres.” Mc 14.36

 

LEITURA BÍBLICA PARA ESTUDO

Marcos 14.27-52

 

VERDADE PRÁTICA

O cristão fiel, diariamente, sacrifica a própria vontade em prol da vontade de DEUS.

 

INTRODUÇÃO
I- ADORAÇÃO Mc 14.1-11
1– Ódio Mc 14.1
2– Amor Mc 14.3
3– Reconhecimento Mc 14.9
II- TRAIÇÃO Mc 14.12-31
1– Traição em meio à comunhão Mc 14.18
2– Comunhão em meio à traição Mc 14.23
3– Abandono em meio à crise Mc 14.27
III- PRISÃO Mc 14.32-72
1– Angústia no Getsêmani Mc 14.34
2– Beijo de Judas e o jovem desnudo Mc 14.45,52
3– A deserção de Pedro Mc 14.71


APLICAÇÃO PESSOAL

DEVOCIONAL DIÁRIO

Segunda – Marcos 14.6
Terça – Marcos 14.7
Quarta – Marcos 14.16
Quinta – Marcos 14.21
Sexta – Marcos 14.22
Sábado – Marcos 14.24


Hinos da Harpa: 296- – 12

 

INTRODUÇÃO

O capítulo 14 é o mais extenso do evangelho de Marcos e continua a revelar o jogo de contrastes típico desse evangelista, instigando o leitor a se posicionar diante de JESUS. Adoração ou traição? Perante CRISTO, não há neutralidade. Temos outra exclusividade do evangelho de Marcos: no alvoroço da fuga, um jovem anônimo deixa sua capa (“lençol”) para trás e corre desnudo (v. 51-52).

 

I- ADORAÇÃO (Mc 14.1-11)

1- Ódio (Mc 14.1) 

E os principais sacerdotes e escribas procuravam como o prenderiam, à traição, e o matariam.

Era véspera da Páscoa (v. 1), quando o povo judaico celebra a libertação do Egito (Dt 26.5-9). A Páscoa dava início à festa dos pães sem fermento, com duração de uma semana (v. 1; Ex 12.15-20). Multidões vinham de todos os lugares até Jerusalém para participar de uma semana de festejo.

Euforia para os judeus, mas grande tensão para os romanos: temendo motins, enviavam tropas especiais a Jerusalém e mesmo o governador vinha de Cesareia para ficar disponível, caso surgissem problemas. Também havia ódio: há muito, autoridades tramavam a prisão e morte de JESUS (Mc 3.6).

A menção de Marcos aos “principais sacerdotes e os escribas” (v. 1), aliada à exposição de Mateus de que “os anciãos do povo” também integravam o complô (26.3), demonstram que, de fato, a resolução de matar JESUS foi uma decisão mais das lideranças judaicas que do povo. Por isso, a opção por articulações secretas não se dava por questão de escrúpulos, mas por temor de “tumulto entre o povo” (v. 2), que tinha grande estima por JESUS (Mc 12.37b).

 

2- Amor (Mc 14.3) 

Veio uma mulher trazendo um vaso de alabastro com preciosíssimo perfume de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou o bálsamo sobre a cabeça de JESUS.

Eis outro exemplo da famosa técnica de “sanduíche”, característica de Marcos: uma linda declaração de amor (v. 3-9) está encravada entre registros de ódio e traição (v. 1-2 e 10-11). Como de costume, a história do meio provê a chave de compreensão do todo: Marcos faz um oportuno contraste entre a traição dos líderes judaicos e de Judas e o gesto de fidelidade de Maria.

Só João relata que se tratava de Maria de Betânia, irmã de Marta e Lázaro (Jo 12.2-3). Seu amor por JESUS é escancarado: em todas as três vezes em que é mencionada nos Evangelhos, Maria está aos pés do Servo (Lc 10.39; Jo 11.32 e 12.3). Desta feita, o fato se dá na casa de Simão, o leproso (v. 3). O que ocorreu foi que Maria, surpreendendo a todos, quebra um vaso com preciosíssimo perfume de nardo puro e o derrama sobre a cabeça (v. 3) e os pés de JESUS (Jo 12.3).

Nardo era um óleo aromático caríssimo, importado da Índia. A quantidade usada foi equivalente a trezentos denários (v. 4): salário de um ano de trabalho. Radical em sua adoração, Maria não usa parte do unguento; prefere quebrar o frasco, dedicando tudo a CRISTO.

 

3- Reconhecimento (Mc 14.9)

Onde for pregado em todo o mundo o evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.

O gesto de Maria gera escândalo e murmuração, sendo tido como desperdício de dinheiro, em especial diante dos pobres (v. 4-5). JESUS, porém, elogia-o (v. 6), revelando que Maria antecipou-se a ungi-lo para a sepultura (v. 8), ou seja, discerniu que o mistério do Evangelho é revelado no sofrimento e morte de JESUS (Is 53.3-7; Mc 8.31 e 10.45).

Maria reconhece o valor incomparável de JESUS, ao contrário do jovem rico (Mc 10.22). Reconhecendo a elogiável percepção espiritual e a incomum intensidade da adoração de Maria, JESUS disse que seu gesto seria lembrado onde fosse pregado o Evangelho (v. 9). Para Judas Iscariotes, porém, JESUS não tinha tanto valor assim (v. 10-11).

 

II- TRAIÇÃO (Mc 14.12-31)

1- Traição em meio à comunhão (Mc 14.18) 

O que come comigo me trairá.

Após o anúncio de que JESUS seria traído por alguém de seu círculo próximo (v. 10), Marcos narra os preparativos para um cenário familiar: a ceia de Páscoa. Novamente (Mc 11.1-6), JESUS comissiona uma dupla de discípulos e demonstra presciência divina: discípulos seguem um homem carregando um cântaro de água (algo incomum para a cultura da época, pois era tarefa típica de mulheres) e obtêm do dono da casa permissão para realizarem a ceia de Páscoa em um “espaçoso cenáculo mobiliado e pronto” (v. 12-16).

A Páscoa deveria ser comida à noite, após o sacrifício do cordeiro, em ambiente de celebração familiar, reunindo uma ou duas famílias para partilharem a refeição (Êx 12.3-4 e 8). No Oriente, repartir o pão com alguém expressava aliança íntima. Portanto, culturalmente, trair pessoa com quem se tenha comido do mesmo prato (v. 17-20) era ato horrendo. No caso, espiritualmente, também era cumprimento profético (Sl 41.9).

 

2- Comunhão em meio à traição (Mc 14.23) 

Tomai, isto é o meu corpo.

Mesmo sabendo que havia um traidor entre os discípulos (v. 18) e que, ao final, todos o abandonariam (v. 50), JESUS prossegue com sua missão de amor (Jo 3.16): institui a Ceia do Senhor, dando novo simbolismo ao pão e ao vinho (v. 22-25; 1Co 11.17-34). Não pretende romper laços; antes, deseja estreitar comunhão com os discípulos. JESUS entrega sua vida não pelos justos, mas pelos doentes e pecadores (Mc 2.17; Rm 5.8).

A palavra grega para “corpo” (v. 22b) não é sarx (“carne”), mas sõma (“corpo” ou “ser”), indicando que JESUS está falando de si mesmo como uma dádiva total e sem reservas (Gl 1.4; Tt 2.14). Já a referência ao “cálice” como “meu sangue” remete à sua própria vida (Lv 17.11), derramada em favor de muitos (v. 23-24). Quanto à afirmada “nova aliança” (v. 24), significa que, através da obra da cruz, JESUS derramaria o seu sangue precioso para remissão dos nossos pecados (Mc 10.45; Ef 1.7), assumindo-se como o verdadeiro Cordeiro Pascal (Jo 1.29; 1Co 5.7; 1Pe 1.19).

Assim, JESUS, imolado de uma vez por todas, substituiria o modelo sacrificial anterior, baseado no derramar reiterado de sangue de animais e cuja eficácia frente ao pecado era apenas provisória e parcial (Lv 1–7; Hb 9.6; 10.18).

 

3- Abandono em meio à crise (Mc 14.27) 

Todos vós vos escandalizareis…

O gesto amoroso de JESUS ganha contorno mais impressionante diante da dolorosa profecia: todos, sem exceção, irão abandoná-lo em meio à crise (v. 27 e 50). Pode haver apenas um traidor direto (Judas Iscariotes), mas, ao amanhecer, a verdade é que todos os discípulos “trairiam” o Servo, seja por cobiça (v 10-11), fraqueza (v. 37-42), medo (v. 50-52) ou covardia (v. 66-72).

Todavia, como pastor preocupado com suas ovelhas, JESUS se apressa em ministrar palavras de esperança: reafirma que ressuscitará dos mortos e, em breve, irá para a Galileia a fim de se reencontrar com eles (v. 28). O Reino de DEUS se estabelecerá pela soberana vontade do Senhor e não com base no acerto ou desacerto do ser humano (Mt 6.10).

 

III- PRISÃO (Mc 14.32-72)

1- Angústia no Getsêmani (Mc 14.34) 

A minha alma está profundamente triste até à morte.

JESUS está no Getsêmani (do hebraico, “prensa de azeite”). Ali, JESUS teve sua alma “prensada”, em uma das cenas mais impactantes da Bíblia: a vivência de um conflito espiritual que, de tão terrivelmente angustiante e traumático, faria o Servo suar profusamente como que gotas de sangue (v. 33-34; Lc 22.44).

Esse episódio só pode ser compreendido à luz daquilo que estava prestes a acontecer na cruz: ele carregaria em seus ombros os pecados de toda a humanidade (Is 53.4-6; 1Pe 2.24), tomaria sobre si a maldição da Lei (Gl 3.13) e, por consequência – e mais apavorante –, experimentaria o tenebroso vazio da total separação de DEUS (Is 59.2; Mc 15.34). Esse era o “cálice” da ira de DEUS que Ele haveria de beber (Jo 18.11).

A dilaceração do corpo no Gólgota foi precedida do esmigalhar da alma no Getsêmani. Sendo também plenamente humano, JESUS busca a companhia de amigos (v. 33) e põe-se a se derramar diante do PAI, em fervorosa e insistente oração (v. 32, 35 e 39), pedindo que, se possível, passasse dele tamanha tragédia, mas reconhecendo, expressamente, sua completa rendição à soberana vontade do PAI (v. 36).

Apesar de seu explícito pedido de ajuda (v. 32), JESUS, por três vezes, encontra Pedro, Tiago e João dormindo (v. 41), certamente antecipando as três negações por vir de Pedro (v. 30). O alerta é claro: obedecer a DEUS demanda luta incessante contra o pecado que tenazmente nos assedia (v. 38; 1Co 9.27; Hb 12.1).

 

2- Beijo de Judas e o jovem desnudo (Mc 14.45,52)

E, logo que chegou, aproximando- -se, disse-lhe: Mestre! E o beijou (Mc 14.45).

Por singelas trinta moedas de prata (Mt 26.15), valor equivalente a um escravo (Êx 21.32), Judas aceita trair JESUS e liderar grupo fortemente armado para prendê-lo em secreto, no jardim do Getsêmani (v. 41-43). Como era tarde da noite e alguns não conheciam a JESUS pessoalmente, combinou um sinal que serviria para identificá-lo: um beijo no rosto (v. 44).

Ao encontrar-se com o Servo, Judas não apenas o beija, mas o beija calorosamente, sem reservas. O termo grego para a palavra “beijo” no verso 45 é kataphilein, remetendo a beijos longos e apaixonados. Puro cinismo e zombaria. A rendição não violenta de JESUS prova o exagero das armas usadas para prendê-lo (“espadas e porretes” – v. 43). Ao ser tratado como criminoso (v. 48), mais uma profecia se cumpre (Is 53.12).

Com sua prisão, todos fogem (v. 50). Neste ponto, outra exclusividade do evangelho de Marcos: Um jovem fugiu nu, abandonando sua veste (14.51-52). A fuga desse jovem é motivo de inúmeros comentários, pois não temos como saber se era João Marcos ou um seguidor anônimo. Provavelmente, a resposta mais acertada é que se trata do próprio escritor e que esta é sua maneira de dizer: “Eu, ainda jovem, estive ali”, sem mencionar o seu nome.

O acontecimento retrata o quão vergonhoso foi o fato de os discípulos terem abandonado JESUS. Falamos com frequência do sofrimento físico de JESUS durante Sua paixão, mas costumamos não tratar do sofrimento emocional decorrente da traição por Judas e do abandono por Seus amigos mais chegados, na hora de Sua maior necessidade. Durante todo o tempo em que JESUS sofreu na cruz e permaneceu morto na sepultura, eles haviam se escondido atrás de portas fechadas!

 

3- A deserção de Pedro (Mc 14.71) 

Não conheço esse homem de quem falais!

Pedro fora elogiado por JESUS quando o reconheceu como Filho do DEUS vivo (Mt 16.16-17). Testemunhou inúmeras curas e milagres – inclusive de sua sogra (Mc 1.30- 31) – e experienciou a transfiguração de nosso Senhor (Mc 9.2). Até foi salvo por JESUS de morrer afogado no Mar da Galileia (Mt 14.28- 32), integrando seu seleto grupo de mais próximos (v. 33), afirmando-se inclusive como espécie de líder (Mc 9.5).

Pedro desfrutou de momentos inesquecíveis e privilégios especiais, chegando a jurar fidelidade absoluta a JESUS (v. 29). Porém, naquela mesma noite, Pedro nega a JESUS não uma, mas três vezes (v. 68, 70 e 71). Não apenas nega, mas jura e até pragueja que não conhecia “esse homem” (v. 71) – o mesmo “homem” que estivera, lado a lado, por cerca de três anos (Mc 1.16-18). Confrontado com sua trágica pecaminosidade, Pedro “desatou a chorar” (v. 72).

Marcos encerra o capítulo 14 nos impondo tocante reflexão: pode haver um “Judas” em cada um de nós. Aquele que pensa estar em pé, cuide para que não caia (1Co 10.12). Vigiai e orai (v. 38)!

 

APLICAÇÃO PESSOAL

Em momentos decisivos, o melhor a fazer é prostrar-se aos pés do PAI, em oração, na busca de força e sabedoria. Assim fazendo, nossas ações e reações realizarão mais a vontade de DEUS que a nossa.

 

RESPONDA

1) Em termos de dinheiro, quanto valia o vaso repleto de preciosíssimo perfume importado que Maria de Betânia consagrou a JESUS? R. Cerca de trezentos denários (1 ano de salário).
2) Segundo a lição, que referência do Antigo Testamento contém a profecia de que JESUS seria traído por alguém que lhe era muito próximo? R. Salmos 41.9.
3) Quais discípulos JESUS convidou para estarem com ele no Jardim do Getsêmani? R. Pedro, Tiago e João (Mc 14.33)

 

 

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MARCOS 15

EBD Pecc (Programa de Educação Cristã Continuada) | 4° Trimestre De 2022 | Tema: MARCOS – O Evangelho do Servo JESUS | Escola Bíblica Dominical | Lição 12: MARCOS 15 – Sofrimento e Morte do Servo

 

 

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Em Marcos 15 há 47 versos. Sugerimos começar a aula lendo, com todos os presentes, Marcos 15.22-47 (5 a 7 min.). A revista funciona como guia de estudo e leitura complementar, mas não substitui a leitura da Bíblia. Olá, professor(a)! Trataremos do sacrifício perfeito do Senhor e dos episódios que o antecedem. JESUS silencia diante das acusações porque sabia que precisava destruir a serpente, como prometido (Gn 3.15) e para cumprir a profecia que dizia: Ele foi oprimido, mas não abriu a boca; como um cordeiro, foi levado ao matadouro e, como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Isaías 53:7; Atos 8:32

Para cumprir o que o PAI determinou, ele suportou um açoite brutal, submeteu-se ao escárnio de torturadores e acusadores e à morte mais indigna imposta pelos romanos. Cada detalhe do sacrifício de JESUS deve estar vivo na nossa memória para que saibamos quanto ele é SANTO e quanto somos indignos. Fomos justificados com sangue para que o véu do lugar santo se abrisse e pudéssemos ter acesso a DEUS. O mínimo a fazer é testemunhar a misericórdia e o amor que recebemos para nossa salvação.

 

OBJETIVOS

• Testemunhar que só há salvação para os que creem em JESUS.
• Compreender que o sacrifício de JESUS foi cumprimento profético.
• Testemunhar que estamos sob a Nova Aliança, celebrada através do sacrifício de JESUS.

 

PARA COMEÇAR A AULA

Professor(a), um tema importante a ser discutido nesta lição é a infalibilidade do sacrifício de CRISTO. Nenhum de nós deve cultivar a vaidade de acreditar que há algo a ser feito. Somos discípulos de JESUS e, como tais, precisamos compreender que o nosso Senhor cumpriu, por amor, o que estava determinado em nosso favor. Tudo que precisamos é crer, servir aos irmãos como ele nos serviu e confessá-lo como Salvador. JESUS nos abriu passagem de volta para casa; o guia para o caminho é o Evangelho.

 

LEITURA ADICIONAL

“… vemos JESUS sendo alvo de zombarias, enquanto morria, como se fosse algum impostor, como se não fosse capaz de salvar a si mesmo. Mas por que isso lhe sucedeu? A fim de que nós, em nossos últimos momentos de vida, mediante a fé em CRISTO, tenhamos forte consolação. Todas essas coisas aconteceram a CRISTO a fim de que desfrutássemos uma inabalável segurança, sabendo em quem temos crido e podendo descer ao vale da sombra da morte sem temer mal algum.

Deixemos essa passagem com um profundo senso de dívida que todos os crentes têm para com CRISTO. Tudo que os crentes são, têm e esperam deve-se à vida e à morte do Filho de DEUS. Por meio da condenação dele, os crentes têm absolvição; por meio de seus sofrimentos, eles desfrutam paz; por meio do opróbrio que ele sofreu, eles irão à glória; e, mediante a sua morte, recebemos vida. Os pecados deles foram lançados na conta de CRISTO. A retidão dele lhes foi imputada. (…). Pelas suas feridas fomos sarados (Is 53.5; 1Pe 2.24). Ele levou nossas maldições sobre Ele (Gl 3.13).

Deixemos essa passagem com o mais profundo senso do indizível amor de CRISTO por nossas almas. Lembremos aquilo que éramos: corruptos, vis e miseráveis. Recordemos quem é o Senhor JESUS: o eterno Filho de DEUS, o Criador de todas as coisas. Então, não esqueçamos que foi por nossa causa que JESUS suportou, voluntariamente, a mais dolorosa, horrível e desgraçada morte.

Certamente, quando pensamos nesse amor, isso deveria constranger-nos a viver diariamente não para nós mesmos, mas para CRISTO. Isso deveria tornar-nos dispostos e desejosos de apresentar nossos corpos como um sacrifício vivo àquele que viveu e morreu por nós (2Co 5.14; Rm 12.1).

Que a cruz de CRISTO esteja sempre em nossas mentes! Corretamente compreendido, é possível que nenhum outro assunto, em todo o cristianismo, tenha um efeito tão santificador e consolador para nossas almas”. Livro: Meditações no Evangelho de Marcos (RYLE, John Charles. 2. ed., São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2018, p. 288).

 

TEXTO ÁUREO

“O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de DEUS.” Mc 15.39

 

LEITURA BÍBLICA PARA ESTUDO - Marcos 15.22-47

E levaram-no ao lugar do Gólgota, que se traduz por lugar da Caveira. E deram-lhe a beber vinho com mirra, mas ele não o tomou. E, havendo-o crucificado, repartiram as suas vestes, lançando sobre eles sortes, para saber o que cada um levaria. E era a hora terceira, e o crucificaram. E, por cima dele, estava escrita a sua acusação: O Rei dos Judeus. E crucificaram com ele dois salteadores, um à sua direita, e outro à esquerda. E cumpriu-se a Escritura que diz: E com os malfeitores foi contado. E os que passavam blasfemavam dele, meneando a cabeça e dizendo: Ah! Tu que derribas o templo e, em três dias, o edificas! Salva-te a ti mesmo e desce da cruz. E da mesma maneira também os principais dos sacerdotes, com os escribas, diziam uns para os outros, zombando: Salvou os outros e não pode salvar-se a si mesmo. O CRISTO, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para que o vejamos e acreditemos. Também os que com ele foram crucificados o injuriavam. E, chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona. E, à hora nona, JESUS exclamou com grande voz, dizendo: Eloí, Eloí, lemá sabactâni? Isso, traduzido, é: DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste? E alguns dos que ali estavam, ouvindo isso, diziam: Eis que chama por Elias. E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo- a numa cana, deu-lhe a beber, dizendo: Deixai, vejamos se virá Elias tirá-lo. E JESUS, dando um grande brado, expirou. E o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo. E o centurião que estava defronte dele, vendo que assim clamando expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de DEUS. E ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé, as quais também o seguiam e o serviam, quando estava na Galileia; e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém. E, chegada à tarde, porquanto era o Dia da Preparação, isto é, a véspera do sábado, chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também esperava o Reino de DEUS, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de JESUS. E Pilatos se admirou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião, perguntou-lhe se já havia muito que tinha morrido. E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José,
o qual comprara um lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num sepulcro lavrado numa rocha, e revolveu uma pedra para a porta do sepulcro. E Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o punham. Marcos 15:22-47

 

 

VERDADE PRÁTICA

O propósito divino de salvação se cumpre na morte de JESUS. A fé no Servo Sofredor é garantia de vida eterna.

 

INTRODUÇÃO
I- JULGAMENTO Mc 15.1-20
1– Pilatos enrascado Mc 15.1
2– Barrabás solto Mc 15.15
3– Soldados cruéis Mc 15.19
II- CRUCIFICAÇÃO Mc 15.21-32
1– Rumo ao Gólgota Mc 15.22
2– Sofrimento horripilante Mc 15.24
3– Insultos e escárnios Mc 15.30
III- MORTE Mc 15.33-47
1- Trevas Mc 15.33
2– JESUS expira Mc 15.37
3– Sepultamento Mc 15.46


APLICAÇÃO PESSOAL

DEVOCIONAL DIÁRIO

Segunda – Marcos 15.5
Terça – Marcos 15.14
Quarta – Marcos 15.28
Quinta – Marcos 15.34
Sexta – Marcos 15.38
Sábado – Marcos 15.39


Hinos da Harpa: 291 – 191

 

INTRODUÇÃO

JESUS segue firme em seu propósito de ser “obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.8). Neste capítulo 15, Marcos relata a submissão de JESUS à cruel engrenagem de perseguição romana: da astuta sentença de Pôncio Pilatos, passando pelas mãos de soldados abusivos, até chegar à selvageria da morte por crucificação.

 

I- JULGAMENTO (Mc 15.1-20)

1- Pilatos enrascado (Mc 15.1) 

E amarrando a JESUS, levaram-no e o entregaram a Pilatos.

Cedo da manhã, encerrada a reunião do Sinédrio, os líderes judaicos entregam JESUS a Pôncio Pilatos (v. 1), governador romano da Judeia. O Sinédrio não tinha autoridade para aplicar pena de morte (Jo 18.31). No tribunal judaico, o Servo sofrera acusação religiosa (blasfêmia – Mc 14.64). Agora, sofrerá acusação política: sedição e traição contra o império romano (Lc 23.2).

Pilatos fica maravilhado com o silêncio de JESUS diante de seus acusadores (v. 4-5; Is 53.7) e intui a verdadeira razão do alvoroço – inveja (v. 10) –, declarando sua percepção inicial de inocência de JESUS (Lc 23.14). Todavia, falta-lhe coragem para manter sua decisão. Político sagaz, percebe um potencial de rebelião no conflito (Mt 27.24). Depois de frustrada tentativa de transferir sua responsabilidade para Herodes (Lc 23.6-12), Pilatos se convence de que terá que julgar essa complicadíssima causa.

 

2- Barrabás solto (Mc 15.15) 

Então, Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás; e, após mandar açoitar a JESUS, entregou-o para ser crucificado.

Pilatos vê uma oportunidade de transferir novamente suas responsabilidades, inclusive com ganhos políticos junto à multidão, aplicando o costume da época. Ele propôs ao povo a libertação de um preso: JESUS ou Barrabás, este um assassino e revolucionário (v. 6-7). Pilatos tinha autoridade para perdoar qualquer criminoso. A estratégia não vinga: apesar de sugestionar, insistentemente, o nome de JESUS (v. 9; Lc 23.20), o povo segue a orientação das autoridades religiosas judaicas e escolhe Barrabás (v. 11).

Preocupado com um repentino e intrigante alerta de sua esposa (Mt 27.19), Pilatos continua a insistir na absolvição de JESUS (Lc 23.22), todavia o povo já se agitava, gritando pela crucificação do Servo (v. 13-14). Desejando evitar rebelião, Pilatos lava suas mãos, astutamente, e entrega JESUS à multidão para morte de cruz, com açoitamento prévio (v. 15; Mt 27.24-26).

 

3- Soldados cruéis (Mc 15.19) 

Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele e, pondo-se de joelhos, o adoravam.

Um severo açoitamento costumava preceder a crucificação. O criminoso era despido e amarrado a um poste para ser flagelado com chicotes de couro com pedaços afiados de ferro e ossos costurados em suas tiras. O açoitamento lacerava a pele e arrancava pedaços, abrindo feridas profundas que, não raro, expunham ossos e entranhas. Os golpes eram tão brutais que alguns prisioneiros morriam antes de chegar à cruz.

Mas o açoitamento de JESUS tem acréscimos pavorosos: sua notória fragilidade física, o incomum alvoroço social e os especiais componentes políticos e religiosos do caso instigam a cultura abusiva dos soldados romanos. De fato, ao colocarem-lhe, jocosamente, veste de púrpura e coroa de espinhos (púrpura e coroa são típicos símbolos de realeza), os soldados zombam dele como rei dos judeus (v. 17-18). Ao golpearem sua cabeça com um caniço, cuspirem-no e ajoelharem- -se para “adorá-lo”, escarnecem de JESUS como Filho de DEUS (v. 19).

Esse chocante sofrimento fora predito com detalhes pelo profeta Isaías (50.6 e 53.7) e pelo próprio JESUS (Mc 10.33-34). O propósito do Servo está se cumprindo com perfeição (Mc 10.45).

 

II- CRUCIFICAÇÃO (Mc 15.21-32)

1- Rumo ao Gólgota (Mc 15.22) 

E levaram JESUS para o Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira.

O lugar da crucificação era o Gólgota (“caveira”, em hebraico) (v. 22), fora dos muros da cidade (Lv 24.14; Hb 13.12-13). A crucificação era um aterrorizante espetáculo público: o condenado era obrigado a carregar sua cruz (ou, mais comumente, a barra horizontal) até o local da execução. Não espanta, porém, que tenham faltado forças para JESUS cumprir essa penosa tarefa: havia sido surrado e humilhado, impiedosamente, já por duas vezes (v. 17- 20; Mc 14.65).

Simão, da cidade de Cirene (norte da África), foi obrigado pelos soldados romanos a carregar- -lhe a cruz (v. 21). Oficiais romanos podiam impor a qualquer cidadão que lhes prestasse serviços, o que desagradava aos judeus (Mt 5.41). Os leitores de Marcos provavelmente conheciam os filhos de Simão Cireneu, Alexandre e Rufo (v. 21), pois este último integrava a igreja de Roma (Rm 16.13).

 

2- Sofrimento horripilante (Mc 15.24) 

Então, o crucificaram e repartiram entre si as vestes dele, lançando- -lhes sorte, para ver o que levaria cada um.

A crucificação é uma das formas mais abomináveis de execução já criadas pelo homem. Remonta aos medos e persas, no século 7 a.C., mas essa prática se espalhou pelo leste do Mediterrâneo no século 4 a.C., por meio de Alexandre, o Grande. O império romano a adotou como forma dominante de execução até 337 d.C., quando foi proibida por Constantino. Na crucificação, a morte era lenta, dolorosa e humilhante.

Chegando ao local da execução, o sentenciado era deitado de costas no chão, seus braços eram esticados e depois amarrados ou pregados à barra horizontal. No caso de JESUS, grossos cravos atravessaram-lhe os ossos das mãos ou pulsos (Jo 20.25-27; Cl 2.14). Em seguida, a barra era levantada junto com o crucificado e presa ao poste vertical, já fixado ao solo. Por vezes despido, o condenado permanecia exposto ao público em infindável vergonha e com dores lancinantes, emitindo gemidos tenebrosos.

Enquanto estendia os braços e puxava as pernas para respirar, sofria incontáveis ataques agudos, desmaiando em exaustão. Alguns sobreviviam por dias, sujeitando-se a sol e chuva, calor e frio; não raro, corvos e cães devoravam o corpo antes mesmo do falecimento. Para evitar morte rápida por asfixia, comumente um suporte para os pés ou um assento era colocado no poste vertical. A morte acontecia pela perda expressiva de sangue, asfixia por exaustão, desidratação crônica ou por parada cardíaca – ou uma combinação dessas causas.

 

3- Insultos e escárnios (Mc 15.30) 

Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!

Segundo Marcos, JESUS foi crucificado à hora terceira (v. 25), ou seja, às 9h da manhã. Os judeus calculavam as horas das seis da manhã às seis da tarde. Contrariando as autoridades judaicas, Pilatos colocou na placa de acusação de JESUS: “O Rei dos Judeus” (v. 26) – em hebraico, latim e grego (Jo 19.19-22). Era comum pessoas oferecerem ao condenado substâncias narcóticas que ajudavam a minorar a dor (Pv 31.6). JESUS recusou essa oferta (v. 23).

Desejava manter-se plenamente sóbrio no cumprimento de sua missão de beber o cálice da ira de DEUS (Mc 10.38 e 14.36). Os quatro Evangelhos registram que os soldados romanos dividiram entre si as roupas de JESUS (v. 24; Mt 27.35; Lc 23.34; Jo 19.23- 24), dando cumprimento à profecia (Sl 22.18). A crucificação entre dois criminosos também é cumprimento profético (v. 27-28; Is 53.12), bem como transeuntes meneando a cabeça (v. 29; Lm 2.15). Interessante: em geral, ao retratar o sofrimento de JESUS, Marcos enfatiza mais a ridicularização que seu sofrimento físico.

Aqui, todos escarnecem do Servo: transeuntes (v. 29-30), principais sacerdotes e escribas (v. 31) e mesmo quem com ele fora crucificado (v. 32). Escarnecem também quanto a tudo: como Profeta (v. 29), como Salvador (v. 31) e como Rei (v. 32).

 

III- MORTE (Mc 15.33-47)

1- Trevas (Mc 15.33) 

Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona.

Todos os nossos pecados estavam sobre os ombros de JESUS naquela cruz (1Pe 2.24), gerando forçosa separação com DEUS (Is 59.1), a verdadeira fonte de luz e vida (Sl 36.9). O próprio sol ocultou sua face. Por isso, em pleno meio-dia (“hora sexta”), miraculosa escuridão cobriu a terra, fenômeno que durou três horas (v. 33). Ao fim desse tempo (“hora nona”), JESUS angustiou-se, pois vivenciava o momento mais aflitivo de sua caminhada: o afastamento do PAI (v. 34; Sl 22.1).

As trevas cobriram não apenas a terra, mas também o coração do povo (v. 35-36). Certamente, alguns judeus lembraram da primeira Páscoa: a nona praga do Egito foi uma escuridão total que durou três dias, seguida da última praga: morte dos primogênitos (Êx 10.22; 11.9). A escuridão no Calvário anunciava que o Filho Primogênito de DEUS estava prestes a entregar sua vida pelos pecados do mundo (Mc 1.11; Cl 1.15-18).

 

2- JESUS expira (Mc 15.37) 

Mas JESUS, dando um grande brado, expirou. Marcos trata da morte de JESUS com impressionante simplicidade (v. 37).

A morte do Autor da vida (At 3.15) veio de forma repentina, por volta das três da tarde (“hora nona” – v. 34), ou seja, hora em que a oferta regular do final da tarde era oferecida no Templo. Pilatos admirou-se pela rapidez da morte de JESUS (v. 44) – talvez pela severidade dos açoites que recebeu. A morte do Servo não representou um fim trágico. Pelo contrário, trata-se do retumbar triunfante de uma nova história para a humanidade, já que, com sua morte, o Filho de DEUS abriu um novo e vivo caminho de acesso ao PAI (Hb 10.19-20), pondo fim ao antigo sistema sacrificial (Lv 1–7).

Para demonstrar essa realidade, o próprio DEUS rasga o véu do Templo em duas partes, do céu para a terra (“de alto a baixo” – v. 38). Marcos registra outro exemplo prático desse novo tempo espiritual: um centurião (oficial romano responsável por cem soldados) reconhece, publicamente, que aquele homem morto e desfigurado, pendurado em uma cruz, era o Filho de DEUS (v. 39). Tamanha confissão indica que, por revelação divina, foi-lhe descortinada ao coração a fé salvífica em JESUS (Mt 16.17; Ef 2.8).

Uma fé viva e sincera, a mesma que inspirava corajosas mulheres a continuar seguindo ao Servo (v. 40-41). Judeus e gentios, homens e mulheres, libertos e escravos: todos poderão agora estar reunidos na mesma fé em CRISTO (Gl 3.28).

 

3- Sepultamento (Mc 15.46) 

Este, baixando o corpo da cruz, envolveu-o em um lençol que comprara e o depositou em um túmulo que tinha sido aberto numa rocha; e rolou uma pedra para a entrada do túmulo.

O sábado começaria com o pôr do sol, poucas horas depois da morte de JESUS, quando não se poderia realizar trabalho (Êx 31.15). No caso, esse seria um sábado especial, por causa da Páscoa (Jo 19.31). Era importante, pois, que o local fosse liberado rapidamente. Eram comuns negativas de sepultamento a crucificados. Em regra, seus corpos eram lançados em campos abertos para cães e abutres ou jogados em grandes lixões.

Era preciso muita coragem para pedir ao governador o corpo de um homem executado como inimigo de Roma. Mesmo assim, ousadamente, José de Arimatéia, sujeito rico e influente, membro do Sinédrio e seguidor secreto do Servo, conseguiu audiência com Pilatos fora do horário de expediente e obteve autorização para remover o corpo de JESUS. Com a ajuda de Nicodemos, sepultou-o a tempo e com dignidade (v. 42-46; Mt 27.57- 60; Jo 19.38-42). Mais uma profecia se cumpre (Is 53.9).

 

APLICAÇÃO PESSOAL

JESUS sofreu uma morte dolorosa e humilhante para que pudéssemos ter vida em abundância. Portanto, cumpre-nos viver para CRISTO, que nos amou e a si mesmo se entregou por nós.

 

RESPONDA

1) Segundo a lição, quando submetido a Pôncio Pilatos, de que crimes JESUS foi acusado? R. Sedição e traição contra o Império Romano
2) Qual o nome do homem que foi obrigado pelos soldados romanos a carregar a cruz de JESUS? R. Simão, da cidade de Cirene.
3) A morte de JESUS aconteceu em que horário do dia? R. Por Volta da “hora nona” (três da tarde).

 

 

Lição 13: MARCOS 16: Glória e Triunfo do Servo | 4° Trimestre de 2022 | EBD Revista PECC

 

SUPLEMENTO EXCLUSIVO DO PROFESSOR

Afora o suplemento do professor, todo o conteúdo de cada lição é igual para alunos e mestres, inclusive o número da página.

 

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Em Marcos 16 há 20 versos. Sugerimos começar a aula lendo, com todos os presentes, Marcos 16.1-20 (5 a 7 min.). A revista funciona como guia de estudo e leitura complementar, mas não substitui a leitura da Bíblia. Amado(a) professor(a), o cumprimento de tudo que JESUS profetizou e o testemunho dos apóstolos nos dão a certeza de que Ele está vivo.

Nosso desafio é crer sem ter visto, pois é de a natureza humana crer apenas no que a visão percebe, por isso as imagens – digitais, inclusive – são tão idolatradas hoje quanto na antiga Babilônia. Mas, é pela fé que devemos ver aquele que somente pelo Evangelho está revelado. Também pela fé devemos cumprir a comissão que nos foi ordenada, pois aquele que ordenou em breve cobrará frutos.

Sejamos empenhados e diligentes em testemunhar; ligeiros em ensinar e dinâmicos em anunciar a mensagem que transformou nossas vidas.

 

OBJETIVOS

• Proclamar o Evangelho da salvação até que JESUS nos arrebate.
• Proclamar a certeza de que JESUS, assim como subiu ao céu, em breve voltará.
• Adorar intimamente o Sacerdote Eterno, que está à direita de DEUS.

 

PARA COMEÇAR A AULA

Esta lição deve ser ministrada com desejo apostólico de cumprir o que nos foi comissionado. A fé que nos move é uma dádiva imerecida concedida pelo ESPÍRITO à Igreja, mas os dons não devem ser guardados. Devemos agir na vida dos irmãos que ainda não creem, pois eles estão sob nossa responsabilidade. Se não formos a cada pessoa para pregar o Evangelho, como elas poderão crer? O mover do ESPÍRITO é ativo, como no Pentecostes. Não é pela emoção que se reconhece uma igreja fiel, mas pela evangelização.

 

LEITURA ADICIONAL

“… Tendo assentado JESUS na esfera celestial depois de ressuscitá-lo dos mortos, DEUS também assentou os fiéis nesse lugar de autoridade a fim de demonstrar a realidade da graça divina (Ef 1.20; 2.6-7). (…) O assentar de JESUS denota posição de autoridade sobre outras autoridades; de modo semelhante, nosso assentar sugere que não somos mais obrigados a aceitar a autoridade de outros poderes. Podemos resistir a eles (Ef 6.12).

(…) Assim, a ressurreição de JESUS significa que os fiéis continuam a usufruir de vida física, mas também se relacionam com esse outro reino. Eles também não foram apenas ressuscitados – ou mesmo ressuscitados apenas a uma nova forma de vida terrena –, mas ressuscitados a uma vida celestial. Seu espírito está nos céus, embora seu corpo esteja na terra. Por isso, os discípulos devem buscar as coisas do alto, focar a mente nas coisas de cima (Cl 3.1-2).

(…) Foco celestial não quer dizer que a vida atual e terrena das pessoas não importe. O corpo na terra e o espírito nas regiões celestiais englobam uma única pessoa. O próprio JESUS promete coisas aos discípulos na esfera do material e do exterior, como herança territorial, comida e vestimenta, embora lhes diga para não se preocuparem com isso (Mt 5.5; 6.25-34). Ressaltar o céu revoluciona a vida das pessoas na terra em vez de privá-las de significado.

É à luz do fato de ter ressuscitado com JESUS que os fiéis devem matar (nekroõ) práticas terrenas como imoralidade sexual, ganância (que é idolatria), ira, malícia, engano e instinto de divisão (judeu e gentio, nós e eles, escravo e livre), fazendo distinções cuja importância foi abolida para aqueles que se despiram do velho homem e se revestiram do novo (Cl 3.5-11).

No lugar disso, devem cultivar práticas que refletem realidades celestiais, como compaixão, humildade, gentileza, paciência, perdão e paz – tudo que, como princípio global, expressa cuidado por outras pessoas. Fiéis devem revestir-se de características de sua natureza celestial (Cl 3.12-15)”.

Livro: Teologia Bíblica: o DEUS das Escrituras Cristãs (GOLDINGAY, John. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2020, pp. 386-387).

 

TEXTO ÁUREO

“Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a JESUS, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto.” Mc 16.6

 

LEITURA BÍBLICA PARA ESTUDO

Marcos 16.1-20

 

 

VERDADE PRÁTICA

Ser cristão é seguir as pegadas do CRISTO ressurreto, confiando naquele que tem todo o poder nos céus e na terra.

 

INTRODUÇÃO
I- RESSURREIÇÃO Mc 16.1-8
1- Amor transbordante Mc 16.2
2– CRISTO vive Mc 16.6
3– Primeiras testemunhas Mc 16.7
II- APARIÇÕES Mc 16.9-14
1– Transformação Mc 16.9
2– Incredulidade Mc 16.11
3– Diversas aparições Mc 16.12
III- ASCENSÃO Mc 16.15-20
1- Grande Comissão Mc 16.15
2– À destra de DEUS Mc 16.19
3– Sinais Mc 16.20


APLICAÇÃO PESSOAL

DEVOCIONAL DIÁRIO

Segunda – Marcos 16.3
Terça – Marcos 16.4
Quarta – Marcos 16.5
Quinta – Marcos 16.10
Sexta – Marcos 16.14
Sábado – Marcos 16.17
Hinos da Harpa: 183 – 545

 

INTRODUÇÃO

No último capítulo do Evangelho de Marcos, o Servo Sofredor rompe os grilhões da morte, restaura a comunidade de discípulos e assenta-se, triunfante, à destra do PAI. A narrativa demonstra que JESUS vive e reina para todo o sempre, tendo toda autoridade nos céus e na terra.

 

I- RESSURREIÇÃO (Mc 16.1-8)

1- Amor transbordante (Mc 16.2) 

E, muito cedo, no primeiro dia da semana, ao despontar do sol, foram ao túmulo.

Todos os discípulos abandonaram JESUS (Mc 14.50). Mas existiam mulheres de fidelidade exemplar: serviram-no durante todo o seu dinâmico ministério e também se dispuseram a acompanhar tanto a agonia da cruz quanto o silêncio do sepultamento (Mc 15.40-41 e 47). Como ato de devoção, antes do funeral, os judeus ungiam os corpos com óleo misturado com mirra e aloés. Sabendo que José de Arimatéia e Nicodemos cuidaram às pressas do corpo de JESUS (Jo 19.38-42), Maria Madalena, Salomé e Maria (mãe de Tiago) compraram essências aromáticas (v. 1) e, logo cedo, no domingo, foram ao sepulcro para perfumar o corpo do Senhor (v. 2). Últimas a saírem do Calvário; primeiras a chegarem ao sepulcro. Amor transbordante pelo Servo: na alegria e na tristeza.

 

2- CRISTO vive (Mc 16.6) 

Ele, porém, lhes disse: Não vos atemorizeis; buscais a JESUS, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui; vede o lugar onde o tinham posto.

Para impedir a entrada de ladrões ou animais, os jazigos eram fechados com rochas circulares. Logo, como de costume, seria necessário um grupo de homens fortes para rolar a pedra e abrir o sepulcro. Recorde-se que os discípulos de CRISTO estavam escondidos (Jo 20.19). Por isso, ao longo da caminhada, aquelas piedosas mulheres indagavam-se: “Quem nos removerá a pedra da entrada do túmulo?” (v. 3).

Marcos é o único que registra esse diálogo. Mas, ao chegarem, surpreendem-se: a pedra “já estava removida” (v. 4). Em Marcos, a menção de que a pedra “era muito grande” (v. 4) implica que a rolagem da rocha foi obra divina, percepção confirmada e detalhada por Mateus, inclusive relatando o desmaio dos guardas que vigiavam o sepulcro de JESUS (Mt 28.2-4).

Focando em apenas um dos anjos (Lc 24.4), Marcos anuncia, com extrema simplicidade, o evento chave do cristianismo (1Co 15.14): “ele ressuscitou, não está mais aqui” (v. 6). A morte não tem poder para vencer a vida (Jo 11.25). DEUS o ressuscitou (At 2.24 e 32; 1Co 6.14). JESUS é o Filho de DEUS, Salvador e Senhor (Rm 1.4).

 

3- Primeiras testemunhas (Mc 16.7) 

Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galileia; lá o vereis, como ele vos disse.

Afirmada a ressurreição de CRISTO, o anjo convida as mulheres a ver o sepulcro vazio (v. 6) e, em seguida, proclama palavra cheia de encorajamento: “ide, dizei a seus discípulos e a Pedro que ele vai adiante de vós para a Galileia” (v. 7). O pecado entrou no mundo pela mulher (Gn 3.6); mas, por ela, vieram o Salvador (Gn 3.15; Lc 1.30-31) e a propagação primeira da ressurreição. Estonteante sabedoria divina (Rm 11.33).

No mais, tudo muito familiar: JESUS havia dito que, após a ressurreição, os reencontraria na Galileia (Mc 14.28). Também já havia afirmado que a essência do discipulado consistia em seguir as suas pegadas (Mc 1.20; 8.34; 10.21 e 52). A referência específica a Pedro é de uma riqueza espiritual comovente: mesmo sua chocante deserção (Mc 14.72) não impediu que o primeiro movimento do JESUS ressurreto fosse um explícito e restaurador ato de perdão, colocando em prática seus ensinamentos (Mc 11.25).

Todavia, a missão de testemunhar a ressurreição encontraria sérios obstáculos:

a) psicologicamente, as mulheres ficaram atordoadas com aquela experiência sobrenatural (v. 5);

b) culturalmente, à época, o testemunho de mulheres era menos confiável que o de homens;

c) espiritualmente, ao que parece, mesmo a visitação de anjos no sepulcro vazio falhou em estimular fé. O resultado? Medo, fuga e desobediência (v. 8).

 

II- APARIÇÕES (Mc 16.9-14)

1- Transformação (Mc 16.9) 

Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete demônios.

Depois de algum tempo de reflexão, Maria Madalena é a única que consegue romper esses duros limitadores e correr para contar a Pedro e João o que havia descoberto (Jo 20.2-10), demorando-se um pouco no túmulo depois que eles partem. Nesse instante, o próprio Senhor aparece, propiciando-lhe encontro memorável. Maria Madalena é a primeira a encontrar-se com o JESUS ressurreto (Jo 20.11-18) – sim, justamente ela, de quem o Servo outrora havia expelido sete demônios (v. 9; Lc 8.2).

Eis o milagre da transformação: aquela que um dia aninhou dentro de si diversos seres malignos, agora portará as boas-novas da ressurreição de CRISTO. O Evangelho não é uma ideia nem filosofia, mas o poder de DEUS para a salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). Mais tarde, as demais mulheres também teriam seu próprio encontro pessoal e restaurador com o JESUS ressurreto (Mt 28.9-10).

 

2- Incredulidade (Mc 16.11) 

Estes, ouvindo que ele vivia e que fora visto por ela, não acreditaram…

A postura ousada de Maria Madalena contrasta com a reação insistentemente cética dos discípulos (v. 10; Mc 14.50; Jo 20.19). Desprezaram o testemunho de Maria Madalena (v. 10-11) e das demais mulheres (Lc 24.10-11). Também não creram no testemunho da dupla que encontrou com o Senhor no caminho de Emaús (v. 12-13; Lc 13.34). JESUS, enfim, aparece e censura-lhes a dureza de coração, confirmando os testemunhos anteriores (v. 14) – e, mesmo assim, não sem antes muita resistência em aceitar que verdadeiramente o próprio CRISTO estava entre eles (Lc 24.36-43).

O testemunho da Igreja a respeito da ressurreição de JESUS é o testemunho do próprio Senhor ressurreto (At 9.1-5). Impressiona a indisposição dos discípulos em crer naquilo que tantas testemunhas relatavam com convicção, que as Escrituras sinalizavam com clareza (Sl 16.9- 10; Is 26.19; Os 6.1-2; 1Co 15.3-4) e que o próprio Servo – prévia, expressa e reiteradamente – já havia dito que aconteceria (Mc 8.31; 9.31; 10.33-34).

Não importa quantas experiências espirituais tenhamos vivido. A fraqueza de fé desses privilegiados homens que andaram lado a lado com JESUS constitui um eloquente alerta para permanecermos vigilantes na luta contra a catástrofe de incredulidade (Hb 3.7–4.13; 2Co 13.4-5).

 

3- Diversas aparições (Mc 16.12)

Depois disto, manifestou-se em outra forma a dois deles que estavam de caminho para o campo.

Após ressurreto, aconteceram, registrados na Bíblia, pelo menos, onze eventos de aparição de JESUS antes de sua ascensão. Confira-se: à Maria Madalena (Jo 20.14-18), ao grupo de mulheres (Mt 28.9-10), a Pedro (Lc 24.34; 1Co 15.5), aos dois discípulos no caminho para Emaús (Lc 24.13- 35), aos discípulos em Jerusalém (Lc 24.36-43; Jo 20.19-23), a Tomé e aos outros (Jo 20.24-29), aos sete junto ao lago (Jo 21.1- 23), aos discípulos no monte (Mt 28.16-20), a quinhentos seguidores (1Co 15.6), a Tiago (1Co 15.7) e aos discípulos, quando da ascensão (Lc 24.44-53; At 1.1-12).

As aparições de CRISTO foram centrais para a pregação na Igreja primitiva (At 2.32; 3.15; 10.41; 13.31) e para seu ensino (1Co 15.5-8). JESUS promoveu essas aparições durante um período de quarenta dias (At 1.3).

 

III- ASCENSÃO (Mc 16.15-20)

1- Grande comissão (Mc 16.15) 

E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura.

Uma vez cumprido seu ministério terreno (Mc 1.14-15 e 10.45), não havia mais razões para JESUS permanecer fora de casa (Jo 14.2-3). Antes, porém, o Senhor restaura a comunidade de discípulos, bem como sua chamada missionária (Mc 6.7-13), constituindo-os, enfim, como seus genuínos embaixadores nesta terra (Is 61.1-3; 2Co 5.20; 1Pe 2.9). Com efeito, a palavra deve ser pregada a todas as criaturas e em todo o mundo (v. 15).

Discípulos de todas as nações deverão ser formados e batizados em nome do PAI, do Filho e do ESPÍRITO SANTO (Mt 18.18-19). É certo que a Palavra de DEUS é espada de dois gumes: gera vida, mas também sentencia com a morte (v. 16; Jo 3.18; Hb 4.12). Entretanto, como afirma Dewey Mulholland, para a Igreja, optar pelo silêncio é um perigo maior que a perseguição e a morte: o Evangelho só será boas novas se for compartilhado (Rm 10.14-17).

Logo, não podemos ser tímidos ou negligentes na tarefa de, com amor e sabedoria, pregar o Evangelho a todos, em qualquer lugar e a qualquer tempo (2Tm 4.1-2). Antes, pelo contrário, devemos estar sempre preparados para ser boca de DEUS (2Tm 2.15), com a firme convicção de que JESUS está conosco (Dt 31.6; Mt 28.20) e garantirá a eficácia de Sua Palavra por meio de sinais que acompanharão os que creem (v. 17-18; Is 55.10-11).

 

2- À destra de DEUS (Mc 16.19) 

De fato, o Senhor JESUS, depois de lhes ter falado, foi recebido no céu e assentou-se à destra de DEUS.

As aparições e desaparições de JESUS depois da ressurreição foram instantâneas (Jo 20.19); a ascensão, porém, foi gradual (At 1.6-11). Sua partida da terra deu-se com uma lenta e emocionante subida – assim como sua entrada ao mundo foi uma “descida” (Ef 4.9-10). Igualmente, como sua entrada no mundo foi sobrenatural (Lc 1.35 e 2.13-14), assim também o foi sua partida.

A ascensão de JESUS marcou a conclusão de seu ministério na terra e o começo de seu ministério no céu, agora como Sumo Sacerdote e Advogado de seu povo (Hb 7–10; 1Jo 2.1-3). Importante lembrar que, para os judeus, não haveria novidade em um grande herói ascender visivelmente aos céus, como ocorrera com Elias (2Rs 2.11).

Mas JESUS não só subiu, como também foi recebido nas alturas “e assentou-se à destra de DEUS” (v. 19), ou seja, lugar de suprema honra e autoridade (Sl 110.1; Mc 12.36), tanto no céu quanto na terra (Mt 28.18; 1Pe 3.22). Jamais houve alguém cujo nome fosse digno de tamanha exaltação (Fp 2.9-11; Ap 5.11-14). Todas as coisas do universo estão debaixo dos pés do CRISTO exaltado (Ef 1.20-23).

 

3- Sinais (Mc 16.20) 

E eles, tendo partido, pregaram em toda parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra por meio de sinais, que se seguiam.

Diante de tão imensa glória, poder e autoridade, não nos espanta saber que, com a obediência dos discípulos em pregar o Evangelho por toda a parte, o Senhor tenha cooperado fielmente com eles, confirmado a palavra por meio de sinais (v. 20; Mt 11.5). Até hoje, quando a Igreja proclama a mensagem de DEUS, o próprio DEUS se encarrega de confirmar essa mensagem com a manifestação de seu poder (Jo 14.12; At 1.8-9; 1Co 2.4; 1Ts 1.5).

 

APLICAÇÃO PESSOAL

Temos o mais poderoso Senhor e a mais poderosa mensagem. Portanto, deixando de lado todo medo ou timidez, preguemos com ousadia o Evangelho de CRISTO a tantos quantos estiverem ao nosso alcance.

 

RESPONDA

1) Culturalmente, qual o problema para que mulheres testemunhassem a respeito da ressurreição de JESUS? R. Seu testemunho era considerado menos confiável.
2) Segundo a lição, qual a primeira pessoa que se encontrou com o JESUS ressurreto? R. Maria Madalena (Mc 16.9; Jo 20.11-18).
3) Depois da ressurreição, durante quantos dias JESUS promoveu aparições antes de ser elevado às alturas (At 1.9)? R. Durante quarenta Dias (At 1.3).

 

 

 

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Revista Betel 1tr23 na íntegra

 

Lição 12, BETEL, O sofrimento do Servo, sua morte e ressurreição, 1Tr23, Pr Henrique, EBD NA TV

Para me ajudar – PIX 33195781620 - CPF Luiz Henrique de Almeida Silva

 

 

 

ESBOÇO DA LIÇÃO

1- O sofrimento do Servo

1-1- A unção do Servo Para a sepultura.

1-2- O Servo traído.

1-3- O corpo do Servo está prestes a ser oferecido

2- O Servo está prestes a ser ferido.

2-1- O Servo no Getsêmani.

2-2- O Servo a preso.

2-3- O julgamento a condenação do Servo.

3- A crucificação e ressurreição do Servo.

3-1- A crucificação do Servo.

3-2- O sepultamento do Servo.

3-3- A ressurreição do Servo.

 

 

TEXTO AUREO

“Porém ele disse-lhes: Não vos assusteis; buscais a JESUS, o nazareno, que foi crucificado; já ressuscitou, não está aqui; eis aqui o lugar onde o puseram." Marcos 16.6

 

 

VERDADE APLICADA

Ao ser preso, passar pelo sofrimento, morrer na cruz e ressuscitar ao terceiro dia, o Servo estava cumprindo o glorioso e perfeito plano de DEUS.

 

 

OBJETIVOS DA LIÇÃO

- Mostrar que Judas foi um discípulo desonesto.

- Pontuar as aflições sofridas pelo nosso Senhor.

- Evidenciar a importância da ressurreição de JESUS.

 

 

TEXTOS DE REFERÊNCIA - MARCOS 15.43-47

43. Chegou José de Arimatéia, senador honrado, que também esperava o reino de DEUS, e ousadamente foi a Pilatos, e pediu o corpo de JESUS.

44. E Pilatos se maravilhou de que já estivesse morto. E, chamando o centurião, perguntou-lhe se havia muito que tinha morrido.

45. E, tendo-se certificado pelo centurião, deu o corpo a José,

46. 0 qual comprara um lençol fino, e, tirando-o da cruz, o envolveu nele, e o depositou num sepulcro lavrado numa rocha, e revolveu uma pedra para a porta do sepulcro.

47. E Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o punham.

 

 

LEITURAS COMPLEMENTARES

SEGUNDA Mc 14.56 Testemunharam falsamente acerca do Servo.

TERÇA Mc 14.72 Pedro nega ser amigo do Servo.

QUARTA Mc 15.20 Zombaram do Servo na hora da crucificação.

QUINTA Mc 15.28 O Servo e colocado entre os malfeitores.

SEXTA Mc 16.2 JESUS ressuscitou no primeiro dia da semana.

SÁBADO Mc 16.9 O Servo aparece a Maria Madalena.

 

HINOS SUGERIDOS- 282, 291, 465

 

 

MOTIVO DE ORAÇÃO

Ore para que nunca esqueçamos o propósito

da ressurreição de JESUS.

 

 

 

INTRODUÇÃO

O evangelho de Marcos também registra JESUS passando zombaria, escárnio, açoites, aflição, sendo morto na cruz a ressuscitando ao terceiro dia. Porém, tais situações não foram acidentais ou surpresa, pois o próprio Servo já tinha revelado aos Seus discípulos [Mc 8.31; 10.33-34]. Estava cumprindo o perfeito plano divino.

 

 

1- O sofrimento do Servo

A leitura do evangelho de Marcos 14.1-2 deixa transparecer a trama dos principais dos sacerdotes e os

escribas que buscavam ocasião para ver como o prenderiam com engano e matariam JESUS em segredo.

 

 

1-1- A unção do Servo Para a sepultura.

Marcos nos mostra a devoção de uma mulher de Betânia que estava presente na casa de Simão, o leproso, na mesma oportunidade que o Servo. Esta mulher trazia um vaso de alabastro, com unguento de nardo puro, de muito valor. Sem se importar com preço, esta mulher quebrou o vaso e derramou sobre a cabeça do Filho de DEUS. Contudo, esse gesto irritou os presentes grandemente: "E alguns houve que em si mesmos se indignaram e disseram: Para que se fez este desperdício de unguento?" [Mc 14.4]. Em seu discurso alegavam que o perfume derramado era um desperdício, pois possuía um alto valor e poderia ser vendido para dar aos pobres. Esse pensamento era um equívoco por parte de todos os presentes, pois eles não conseguiam compreender que aquela mulher, consciente ou não, estava ungindo previamente o corpo do Servo para o Seu sepultamento que estava se aproximando [Mc 14.8].

 

 

1-2- O Servo traído.

Judas Iscariotes é o modelo do crente que caminha com

o Servo, mas seu coração está longe dEle. Marcos diz que Judas foi ter com os principais dos sacerdotes para entregar o Mestre, e estes, ouvindo isto, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. Dispostos a ganhar as suas moedas, então Judas buscava como entregar o

Servo em um momento oportuno [Mc 14.10-11]. O evangelista João nos faz saber que Judas tinha uma ocupação muito importante entre os doze discípulos, sendo ele o responsável em gerir as finanças do grupo que andava com JESUS [Jo 12.6]. A preocupação exacerbada de Judas com o perfume gasto por Maria ao ungir JESUS, já demonstrava seu apego pelo dinheiro em demasia [Jo 12.4-5]. Não podemos esquecer que João também diz que ele era ladrão por se apropriar das ofertas [Jo 12.6]. Foi a inclinação ao dinheiro que fez com que Judas entregasse JESUS aos principais dos sacerdotes.

 

 

1-3- O corpo do Servo está prestes a ser oferecido vicariamente em favor dos pecadores.

É oportuno lembrar que a festa da Páscoa era uma das mais importantes para o povo judeu, possuindo um grande valor simbólico entre este povo. Essa festa lembrava a libertação do povo hebreu do cativeiro egípcio. Foi na noite que antecedeu a Sua morte, que JESUS a os Seus discípulos comeram a última Páscoa, quando o Mestre institui a Santa Ceia, pois Ele possuía o entendimento de que o Seu fim estava próximo. O Filho do Homem, que se fez Servo, estaria assim como no Egito, desprendendo o Seu povo não mais de uma escravidão humana, entretanto do cativeiro das astúcias de Satanás.

 

 

2- O Servo está prestes a ser ferido.

JESUS, sabedor que era chegada a Sua hora, preocupou-se em dar as últimas instruções e conselhos

aos Seus discípulos. Marcos registra a advertência que JESUS fez em particular a Pedro, dizendo que antes que o galo cantasse duas vezes ele o negaria três vezes

[Mc 14.27-30]. Palavras estas que não foram muito bem aceitas por Pedro.

 

 

2-1- O Servo no Getsêmani.

Marcos narra que, na noite em que seria preso, JESUS orou três vezes no Jardim do Getsêmani [Mc 14.37, 40-41]. O evangelista relata que, no espaço entre uma oração e outra, o Filho de DEUS achou os Seus discípulos dormindo. O que nos chama atenção é que isso ocorreu enquanto o Servo angustiava-se em oração profunda, rogando ao PAI que se fosse possível passasse dEle este cálice. Foi nesse ambiente que JESUS fez a seguinte explanação: "(...) Basta, é chegada a hora. Eis que o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos pecadores." [Mc 14.41].

 

 

2-2- O Servo a preso.

Marcos pronuncia que, enquanto o Servo ainda falava, veio Judas Iscariotes, que era um dos doze discípulos, ao Getsêmani, acompanhado dos principais sacerdotes, dos escribas e dos anciãos e com eles

vieram uma grande multidão com espadas e varapaus. Judas acertou com a liderança judaica que aquele que ele beijasse esse seria o CRISTO. Ao se aproximar do Servo, disse: Rabi, Rabi e saudou-o com um beijo no rosto, sendo o Mestre preso nesta hora [Mc 14.45-46]. Aquelas pessoas foram prendê-lo como se Ele fosse um delinquente [Mc 14.48]. Entretanto, a verdadeira identidade do Filho de DEUS estava muito próxima de ser conhecida por todos aqueles que o haviam prendido

injustamente.

 

 

2-3- O julgamento a condenação do Servo.

As circunstâncias do julgamento de JESUS mostram o que há de mais perverso no coração do homem. Marcos narra que os principais entre os judeus o levaram casa do sumo sacerdote, buscaram algum testemunho contra Ele, para matá-lo, e não acharam [Mc 14.55]. Estava tudo armado naquele julgamento para que sua condenação acontecesse. Ao ser interrogado pelo sumo sacerdote e revelar a Sua identidade como Filho

de DEUS [Mc 14.62], o sumo sacerdote considera tal declaração do Servo uma blasfêmia e todos concordam que Ele deve morrer [Mc 14.63-65].

 

 

3- A crucificação e ressurreição do Servo.

Quando os principais dos judeus acusaram o Servo de dizer ser o Rei dos judeus, o levaram até Pilatos para

que este o condenasse a morte. Após Pilatos interrogar JESUS E não achar nEle nenhuma culpa e, sendo costume no dia da festa soltar um preso, Pilatos deu a escolher ao povo entre a morte de JESUS e a libertação de Barrabás, preso com outros amotinadores, que tinha num motim cometido uma morte [Mc 15.7]. Que triste ao

ler Marcos narrar que o povo escolheu Barrabás [Mc 15.11]. Pilatos, querendo agradar a multidão, soltou

Barrabás e entregou JESUS para ser crucificado [Mc 15.15].

 

 

3-1- A crucificação do Servo.

Para nos fazer compreender o caminho traçado por JESUS antes da crucificação, Marcos narra que a preparação para o ato foi um momento de aflição e amargura, onde CRISTO teve que enfrentar a chacota e a desonra [Mc 15.17]. Nesta ordem de ideias lemos que após a condenação à morte por Pilatos [Mc 15.15], os soldados romanos usaram de ações impiedosas [Mc 15.19]. Diante de tanta crueldade o Servo ficou muito

combalido, sendo Simão, o cireneu, obrigado a ajudá-lo a carregar a cruz [Mc 15.21]. Ao chegar ao Seu destino e ser exposto no madeiro o Servo dando um grande brado, expirou [Mc 15.37].

 

 

3-2- O sepultamento do Servo.

Marcos narra que um senador honrado por todos, por nome José de Arimatéia, que aguardava o Reino de DEUS, se dirigiu ousadamente a Pilatos e sem hesitar pediu o corpo do Servo [Mc 15.43]. O evangelista João destaca que José de Arimatéia era um "discípulo de JESUS, mas ocultamente, por medo dos judeus" [Jo 19.38]. Diante de tal pedido, a postura adotada por Pilatos segundo Marcos foi de maravilhar-se ao saber que JESUS havia morrido [Mc 15.44]. A aceitação de Pilatos em ceder o corpo do nosso Senhor se deu após perguntar ao centurião e confirmar a informação. Diante da ratificação, Pilatos aceitou dar o corpo a José [Mc 15.45]. No diagnóstico alcançado por Marcos, assistimos que José comprou um lençol de linho, envolveu o corpo de JESUS e depositou num sepulcro lavrado em uma rocha. O que José de Arimatéia não

sabia a que o túmulo novo brevemente já estaria vazio.

 

 

3-3- A ressurreição do Servo.

Pela manhã de domingo, mesmo preocupadas acerca de como removeriam a pedra do sepulcro, as mulheres foram ao túmulo. Marcos descreve que estas mulheres presenciaram um jovem sentado à direita, vestido com uma roupa branca comprida e ficaram espantadas [Mc 16.5]. Nesta hora o anjo do Senhor disse as palavras mais doces e belas para todo cristão: o Servo ressuscitou [Mc 16.6].

 

 

CONCLUSÃO

O nosso Senhor JESUS CRISTO venceu a morte! Ele está vivo! Conforme nos afirma a Sua Palavra, Ele ressuscitou e cumprirá a Sua promessa e voltará para nos buscar.