Escrita Lição 8, CPAD, Confessando E Abandonando O Pecado, 2Tr24,
Pr Henrique, EBD NA TV
Para ne ajudar PIX 33195781620 (CPF) Luiz Henrique de Almeida Silva
ESBOÇO DA LIÇÃO
I – A CONFISSÃO DE PECADO
1. Definição.
2. A confissão bíblica de pecado.
3. O símbolo da confissão de pecado.
II – O PERIGO DO PECADO NÃO CONFESSADO
1. Os males dos pecados não confessados.
2. As consequências do pecado de Adão e Eva.
III – CONFISSÃO DE PECADO: UM CAMINHO DE CURA E RESTAURAÇÃO
1. Confessando o pecado a DEUS.
2. Alcançando cura e restauração.
TEXTO ÁUREO
“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as
confessa e deixa alcançará misericórdia.” (Pv 28.13)
VERDADE PRÁTICA
Para desfrutar um caminho de restauração e reconciliação com DEUS,
precisamos confessar o pecado e abandoná-lo de uma vez por todas.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Sl 32.5 Confessando as nossas transgressões ao Senhor
Terça - Rm 3.10-12 Reconhecendo a nossa natureza pecaminosa diante
de DEUS
Quarta - Gn 3.8,14-19 O pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva
Quinta - 2 Sm 12.1-4, 7-9 O pecado do rei Davi, o ungido do Senhor
Sexta - Mt 6.12 Em primeiro lugar, nos dirigimos a DEUS para o
perdão dos pecados
Sábado - 2 Co 5.18 DEUS investiu homens para o ministério da
reconciliação
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Salmos 51.1-12; 1 João 1.8-10
Salmos 51
1 - Tem misericórdia de mim, ó DEUS, segundo a tua benignidade;
apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
2 - Lava-me completamente da
minha iniquidade e purifica-me do meu pecado.
3 - Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está
sempre diante de mim.
4 - Contra ti, contra ti
somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal, para que sejas justificado
quando falares e puro quando julgares.
5 - Eis que em iniquidade
fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
6 - Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer
a sabedoria.
7 - Purifica-me com hissopo,
e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.
8 - Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu
quebraste.
9 - Esconde a tua face dos
meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades.
10 - Cria em mim, ó DEUS, um
coração puro e renova em mim um espírito reto.
11 - Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu ESPÍRITO
SANTO.
12 - Torna a dar-me a
alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário
1 João 1
8 - Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e
não há verdade em nós.
9 - Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 - Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua
palavra não está em nós.
Hinos Sugeridos: 192, 277, 491 da Harpa Cristã
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SUBSÍDIOS EXTRAS PARA A LIÇÃO
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PECADO
חטאה chatta’ah ou חטאת chatta’th HEBRAICO
pecado, pecaminoso, condição de pecado, culpa pelo pecado, punição pelo pecado,
oferta pelo pecado, purificação dos pecados de impureza cerimonial
αμαρτια hamartia GREGO
não ter parte em, errar o alvo, estar errado, errar ou desviar-se do caminho de
retidão e honra, fazer ou andar no erro, desviar-se da lei de DEUS, violar a
lei de DEUS, aquilo que é errado, uma ofensa, uma violação da lei divina em pensamento
ou em ação, coletivamente, o conjunto de pecados cometidos seja por uma única
pessoa ou várias.
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Lição 6, A Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS
3º Trimestre de 2017 - Título: A Razão da Nossa Fé: Assim
Cremos, assim Vivemos
Comentarista: Pr. Pres. Esequias Soares, Assembleia de DEUS,
Jundiaí, SP
Complementos, ilustrações e vídeos: Pr. Luiz Henrique de Almeida
Silva - 99-99152-0454
FIGURAS ILUSTRATIVAS USADAS NOS VÍDEOS - https://ebdnatv.blogspot.com.br/2017/07/figuras-da-licao-6-licao-6.html
TEXTO ÁUREO
"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de
DEUS." (Rm 3.23)
VERDADE PRÁTICA
Reconhecemos a pecaminosidade de todos os seres humanos, que os
destituiu da glória de DEUS, e que somente o arrependimento e a fé na obra
expiatória e redentora de JESUS CRISTO podem restaurá-los a DEUS.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Sl 51.5 Todos os humanos são pecadores
EIS QUE EM INIQÜIDADE FUI FORMADO. Davi reconhece que desde a sua
infância possui uma propensão natural para o pecado. Noutras palavras, ele
reconhece que sua própria natureza é pecaminosa. Toda pessoa, desde o
nascimento, tem uma propensão egoísta para satisfazer seus próprios desejos,
fazendo o que lhe apraz, mesmo que isso prejudique e cause sofrimento ao
próximo (ver Rm 5.12).
Tal inclinação só pode ser expurgada da nossa vida através da redenção em
CRISTO e habitação do ESPÍRITO SANTO em nós.
Terça - Ec 7.20 O pecado está presente em todos.
NÃO HÁ HOMEM JUSTO SOBRE A TERRA, QUE FAÇA BEM E NUNCA PEQUE. Este
versículo não contradiz a declaração de DEUS sobre a retidão de Jó (ver Jó 1.8; 2.3); pelo contrário, exprime a
verdade de que "todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS"
(Rm 3.23; cf. 3.10-18).
Quarta - Is 59.2 O pecado nos separa de DEUS.
59.2 INIQÜIDADES FAZEM DIVISÃO ENTRE VÓS E O VOSSO DEUS. O pecado e
a iniquidade na vida do crente levantam um muro entre ele e DEUS. Por causa
dessa barreira, tal crente já não desfruta do favor de DEUS, nem de proteção,
socorro ou livramento. Também, as orações desse crente não serão atendidas (Sl 66.18).
Quinta - Rm 3.10-12 Não há na terra um justo sequer.
NÃO HÁ UM JUSTO. Estes versículos expressam o exato conceito da
natureza humana. Todas as pessoas, no seu estado natural, são pecadoras. A
totalidade do seu ser é afetada negativamente pelo pecado, sendo também
propensas a conformar-se com o mundo, quanto ao diabo (ver Mt 4.10), e quanto à natureza
pecaminosa. Todos são culpados de desviar-se do caminho da piedade para o
caminho do egoísmo.
Sexta - At 3.19 Somente a fé em JESUS e o arrependimento restaura o pecador
TEMPOS DO REFRIGÉRIO. No decurso de toda a presente era, e até à
volta de CRISTO, DEUS enviará tempos do refrigério (i.e., o derramamento do
ESPÍRITO SANTO) a todos aqueles que se arrependerem e se converterem. Embora
tempos perigosos venham perto do fim desta era, acompanhada da apostasia da fé
(2 Tm 3.1; 2 Ts 2.3), DEUS ainda promete
enviar reavivamento e tempos de refrigério aos fiéis. A presença de CRISTO, a
bênção espiritual, milagres e derramamento do ESPÍRITO SANTO virão sobre os
remanescentes que fielmente o buscarem e vencerem o mundo, a carne e o domínio
de Satanás (cf. At 26.18).
Sábado - Rm 6.23 A salvação é um dom de DEUS
No reinado da graça, os homens recebem não o que merecem, a morte,
mas o favor imerecido de DEUS, a vida eterna. A palavra
grega charisma é usada para definir uma dádiva da graça de DEUS. A
vida eterna não é um prêmio que conquistamos; mas uma dádiva divina
inteiramente gratuita e absolutamente imerecida. A vida eterna é gratuita; a
morte é merecida.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Romanos 5.12-21
12 - Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que
todos pecaram.13 - Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não
é imputado não havendo lei. 14 - No entanto, a morte reinou desde Adão até
Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão,
o qual é a figura daquele que havia de vir. 15 - Mas não é assim o dom gratuito
como a ofensa; porque, se, pela ofensa de um, morreram muitos, muito mais a
graça de DEUS e o dom pela graça, que é de um só homem, JESUS CRISTO, abundou
sobre muitos. 16 - E não foi assim o dom como a ofensa, por um só que pecou;
porque o juízo veio de uma só ofensa, na verdade, para condenação, mas o dom gratuito
veio de muitas ofensas para justificação. 17 - Porque, se, pela ofensa de um
só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a abundância da graça e
do dom da justiça reinarão em vida por um só, JESUS CRISTO. 18 - Pois assim
como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação,
assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para
justificação de vida. 19 - Porque, como, pela desobediência de um só homem,
muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, muitos serão
feitos justos. 20 - Veio, porém, a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o
pecado abundou, superabundou a graça; 21 - para que, assim como o pecado reinou
na morte, também a graça reinasse pela justiça para a vida eterna, por JESUS
CRISTO, nosso Senhor.
OBJETIVO GERAL - Compreender a pecaminosidade de todos os seres
humanos, que os destitui da glória de DEUS.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Definir o termo pecado;
Mostrar a origem do pecado;
Compreender a solução para o pecado.
INTERAGINDO COM O PROFESSOR
No livro de Gênesis encontramos um dos relatos mais tristes da história da
humanidade, a Queda. Mas, DEUS não foi pego de surpresa com o pecado de Adão e
Eva, pois as Escrituras Sagradas afirmam que desde a fundação do mundo a morte
redentora de JESUS, pela salvação da humanidade, já havia sido determinada (Ap
13.8). O homem pecou de modo deliberado contra DEUS, mas o Criador não o deixou
entregue a sua própria sorte. O Senhor providenciou a sua redenção.
Vivemos em uma sociedade relativista, onde muitos não acreditam mais que haja
certo e errado. O erro, o pecado, segundo os relativistas, vai depender do
ponto de vista de cada um. Mas, cremos na Verdade absoluta e que a única
solução para o pecado está na fé no sacrifício de JESUS CRISTO.
PONTO CENTRAL - Reconhecemos a pecaminosidade de todos os seres
humanos.
Resumo da Lição 6, A Pecaminosidade Humana e a sua
Restauração a DEUS
I - DEFININDO OS TERMOS
1. Pecado.
2. Os termos hebraicos awon e peshá.
3. O que é pecado?
II - ORIGEM DO PECADO
1. O pecado no céu.
2. O pecado no Éden.
3. A universalidade do pecado.
III - A SOLUÇÃO PARA O PECADO
1. Nem tudo está perdido.
2. A provisão de DEUS.
SÍNTESE DO TÓPICO I - Na Bíblia encontramos vários termos para
definir pecado.
SÍNTESE DO TÓPICO II - O pecado teve sua origem no céu, porém na
terra ele teve início com a desobediência de Adão e Eva.
SÍNTESE DO TÓPICO III - A morte expiatória de JESUS CRISTO foi e é
a solução para o pecado.
PARA REFLETIR - A respeito da pecaminosidade humana e a sua
restauração a DEUS, responda:
Qual o termo genérico para designar o pecado e qual o seu significado? O termo
genérico para designar o pecado com todos os seus detalhes, chattath, e seu
equivalente verbal chattá (pronuncia-se hatá, com "h" aspirado), que
literalmente significa "errar o alvo" (Jz 20.16).
O que é pecado nas palavras de 1 João 3.4? É a transgressão da lei (1 Jo 3.4;
ARA).
Onde se originou o pecado e por quem tudo começou? O pecado se originou no céu
e tudo começou pelo mau uso do livre-arbítrio.
Qual a prova incontestável da universalidade do pecado? A prova incontestável
da universalidade do pecado é a morte (Rm 5.12).
Quem é a provisão de DEUS para o pecador? JESUS CRISTO, "Cordeiro de DEUS,
que tira o pecado do mundo".
CONSULTE - Revista
Ensinador Cristão -
CPAD, nº 71, p39.
Disponibilizamos novamente o cremos para que seja lido nas Escolas
Bíblicas Dominicais.
Cremos (Confissão de Fé)
1. Na inspiração divina verbal e plenária da Bíblia Sagrada,
única regra infalível de fé e prática para a vida e o caráter cristão (2
Tm 3.14-17);
2. Em um só DEUS, eternamente subsistente em três pessoas
distintas que, embora distintas, são iguais em poder, glória e majestade: o
Pai, o Filho e o ESPÍRITO SANTO; Criador do Universo, de todas as coisas que há
nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, e, de maneira especial, os seres
humanos, por um ato sobrenatural e imediato, e não por um processo evolutivo
(Dt 6.4; Mt 28.19; Mc 12.29; Gn 1.1; 2.7; Hb 11.3 e Ap 4.11);
3. No Senhor JESUS CRISTO, o Filho Unigênito de DEUS,
plenamente DEUS, plenamente Homem, na concepção e no seu nascimento virginal,
em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os
mortos e em sua ascensão vitoriosa aos céus como Salvador do mundo (Jo 3.16-18;
Rm 1.3,4; Is 7.14; Mt 1.23; Hb 10.12; Rm 8.34 e At 1.9);
4. No ESPÍRITO SANTO, a terceira pessoa da Santíssima
Trindade, consubstancial com o Pai e o Filho, Senhor e Vivificador; que
convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo; que regenera o pecador; que
falou por meio dos profetas e continua guiando o seu povo (2 Co 13.13; 2 Co
3.6,17; Rm 8.2; Jo 16.11; Tt 3.5; 2 Pe 1.21 e Jo 16.13);
5. Na pecaminosidade do homem, que o destituiu da glória de
DEUS e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de
JESUS CRISTO podem restaurá-lo a DEUS (Rm 3.23; At 3.19);
6. Na necessidade absoluta do novo nascimento pela graça de
DEUS mediante a fé em JESUS CRISTO e pelo poder atuante do ESPÍRITO SANTO e da
Palavra de DEUS para tornar o homem aceito no Reino dos Céus (Jo 3.3-8, Ef
2.8,9);
7. No perdão dos pecados, na salvação plena e na justificação
pela fé no sacrifício efetuado por JESUS CRISTO em nosso favor (At 10.43; Rm
10.13; 3.24-26; Hb 7.25; 5.9);
8. Na Igreja, que é o corpo de CRISTO, coluna e firmeza da
verdade, una, santa e universal assembleia dos fiéis remidos de todas as eras e
todos os lugares, chamados do mundo pelo ESPÍRITO SANTO para seguir a CRISTO e
adorar a DEUS (1 Co 12.27; Jo 4.23; 1 Tm 3.15; Hb 12.23; Ap 22.17);
9. No batismo bíblico efetuado por imersão em águas, uma só
vez, em nome do Pai, e do Filho, e do ESPÍRITO SANTO, conforme determinou o
Senhor JESUS CRISTO (Mt 28.19; Rm 6.1-6; Cl 2.12);
10. Na necessidade e na possibilidade de termos vida santa e
irrepreensível por obra do ESPÍRITO SANTO, que nos capacita a viver como fiéis
testemunhas de JESUS CRISTO (Hb 9.14; 1 Pe 1.15);
11. No batismo no ESPÍRITO SANTO, conforme as Escrituras, que
nos é dado por JESUS CRISTO, demonstrado pela evidência física do falar em
outras línguas, conforme a sua vontade (At 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7);
12. Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo
ESPÍRITO SANTO à Igreja para sua edificação, conforme sua soberana vontade para
o que for útil (1 Co 12.1-12);
13. Na segunda vinda de CRISTO, em duas fases distintas: a
primeira — invisível ao mundo, para arrebatar a sua Igreja antes da Grande
Tribulação; a segunda — visível e corporal, com a sua Igreja glorificada, para
reinar sobre o mundo durante mil anos (1 Ts 4.16, 17; 1 Co 15.51-54; Ap 20.4;
Zc 14.5; Jd 1.14);
14. No comparecimento ante o Tribunal de CRISTO de todos os
cristãos arrebatados, para receberem a recompensa pelos seus feitos em favor da
causa de CRISTO na Terra (2 Co 5.10);
15. No Juízo Final, onde comparecerão todos os ímpios: desde a
Criação até o fim do Milênio; os que morrerem durante o período milenial e os
que, ao final desta época, estiverem vivos. E na eternidade de tristeza e
tormento para os infiéis e vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis de
todos os tempos (Mt 25.46; Is 65.20; Ap 20.11-15; 21.1-4).
16. Cremos, também, que o casamento foi instituído por DEUS e
ratificado por nosso Senhor JESUS CRISTO como união entre um homem e uma
mulher, nascidos macho e fêmea, respectivamente, em conformidade com o definido
pelo sexo de criação geneticamente determinado (Gn 2.18; Jo 2.1,2; Gn 2.24;
1.27).
Comentário Rápido do Pr. Henrique da Lição 6, A
Pecaminosidade Humana e a sua Restauração a DEUS
INTRODUÇÃO
Lembre-se, Hino da harpa não é bíblia. Tem hino absurdo na harpa.
Pergunta para você: Como se chamava a árvore que Adão não podia comer dela?
Quem a criou?
Versículos para você analisar:
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás;
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. Gênesis 2:17
Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu,
o Senhor, faço todas estas coisas. Isaías 45:7
Como haveria livre arbítrio se não tivesse pelo menos duas opções
de escolha? O bem e o mal foram cridos por DEUS para opção anto dos anjos
quanto dos homens. 30% dos anjos escolheram o mal e bem mais do que isso dos
homens escolheram o mal.
Veremos nesta lição a parte da teologia que estuda o pecado - a
Hamartiologia. Destacaremos aqui a entrada do pecado no céu e na Terra.
Definiremos o que o pecado. Apresentaremos as causas da entrada desse pecado no
mundo. Analisaremos o resultado da entrada do pecado no mundo. Focaremos na
universalidade do pecado. Apresentaremos a solução dada por DEUS para o perdão
do pecado e a restauração do ser humano.
Nesta lição não estudaremos o pecado após a conversão, pecados dos
que continuam vivendo em pecado e dos que se acham no direito de pecarem
obtendo perdão. Nem abordaremos detalhadamente o pecdo imperdoável. A lição não
se atém a esses assuntos mas ao pecado de Satanás e à pecaminosidade do ser
humano antes de sua conversão e à soluç~çao apresentada por DEUS. JESUS.
Por Adão o pecado entrou no mundo. Rm 5.12
E tomou o Senhor DEUS o homem, e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o
guardar.
E ordenou o Senhor DEUS ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás
livremente,
Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia
em que dela comeres, certamente morrerás.
E disse o Senhor DEUS: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma
ajudadora idônea para ele.
Gênesis 2:15-18
Eva nem tinha nascido quando DEUS deu a ordem para Adão. Depois Adão contou a
Eva, mas DEUS não deu ordem a Eva para não comer.
Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado
a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos
pecaram. Romanos 5:12
Isaías 53:4,5 - Pecado males
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores
levou sobre si; e nós o reputamos por aflito, ferido de DEUS, e oprimido.
Alguns Resultados do pecado
Iniquidade, toda iniquidade é pecado.
Dores, doenças. Aquilo que causa dor. Dói. Ex. Hérnia de disco, enxaqueca,
câncer, etc..
Enfermidades, causam problemas, mas não dor. Ex. Depressão. Medo, síndrome de
pânico, cegueira, surdez, etc...Solução
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das
nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados.
Tomemos cuidado com o câncer calvinista.
Este trimestre é para acordarmos antes que o ESPÍRITO SANTO se
entristeça de vez e a blasfêmia seja reconhecida em nosso meio. Pode ser a
última chance para muitos. DEUS está fazendo tremendos milagres e ainda tem
gente tentando extinguir o ESPÍRITO SANTO.
Me preocupou um entendimento que vi em alguns estudos. Vi alguns
ensinos dizendo que o homem será condenado por causa do pecado de Adão. Não
creio assim. Ninguém vai para o inferno porque Adão pecou. A semente do pecado
vem de Adão, mas cada um é responsável por dar lugar a esta semente ou não. Não
é por causa de Adão que existe condenação, mas é por causa do pecado individual
de cada um. Cada um é atraído e só sede se quiser- Cada um tem seu
livre-arbítrio Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim
também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá. Ezequiel 18:4
Mas, se avisares ao ímpio, e ele não se converter da sua impiedade e do seu mau
caminho, ele morrerá na sua iniquidade, mas tu livraste a tua alma. Ezequiel
3:19
A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o
pai levará a iniquidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a
impiedade do ímpio cairá sobre ele. Ezequiel 18:20 Mas cada um é tentado,
quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Tiago 1:14
A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniquidade do pai, nem o
pai levará a iniquidade do filho. não podemos jogara culpa de alguém pecar em
cima de Adão. Cada um peca porque quer Pecar.
A semente foi plantada em Adão no Éden. Passou de pai para filho. Mas eu decido
se vou pecar ou não. Não é forçado alguém pecar.
: Todo ser humano só é condenado porque pecou. Se não pecar não pode ser
condenado, Mas existe alguém, assim? Só JESUS conseguiu esta proeza. Por isso
mesmo que uma criancinha é salva se morrer antes de ter consciência do pecado.
Não teve consciência do que é pecado, não escolheu pecar.
Temos que tomar cuidado com o calvinismo. Não podemos jogar a culpa de
nosso pecado em Adão. Cada um, peca porque atende a seus próprios desejos de
pecar. Isso se chama Livre arbítrio. DEUS não iria me condenar ao inferno sendo
que eu não pequei, mas foi Adão que pecou.
Quando Paulo faz uma análise ele vê todos pecando, pois não conseguem viver na
Terra sem pecar. Só JESUS conseguiu isso. Romanos 3.23. Em Rm 5.12 Paulo fala
da semente que está no homem e que lhe dá a escolha entre dar lugar ao pecado
ou não. A semente está lá, vamos jogar água e adubar para dar frutos (pecados)?
Em Rm 6.23 ele fala do salário deste pecado e de sua solução.
Se alguém diz que o pecado de Adão condenou toda raça humana ao inferno, está
dizendo que uma criança recém nascida vai para o inferno se morrer, pois Adão
pecou e esta criança é descendente de Adão.
Jonas teve sua escolha - Foi para Társis - Desobedeceu e
mereceu seu castigo, o juízo. Agora entra o juízo. No juízo DEUS exerce seu
poder e autoridade. Jonas já estava morto no interior daquele peixe
(espiritualmente falando) - o juízo já tinha vindo. Estar dentro do peixe era
como estar dentro da terra, sepultado - JESUS disse isso sobre Jonas figura de
CRISTO sepultado. jonas serve também como figura do crente no batismo nas águas
- como que "ressuscitado", como nós após o batismo de morte, batismo
nas águas, saiu para uma nova vida de obediência - Todos usaram o livre
arbítrio para pecar - Só JESUS que não.
Israel no meio de Canaã. Canaã teve sua escolha. Seguir Israel sabendo que
tinham um DEUS poderoso que fazia milagres (Raabe fez sua escolha certa). Faraó
teve sua escolha. Escolheu não deixar o povo ir. Alguns egípcios fizerem a
escolha certa e foram com os israelitas.
Tudo é questão de escolha e escolha é Livre Arbítrio.
Após pecar o homem condenado a juízo só tem pela frente dois
destinos.
Primeiro: Se permanecer como está, seu destino é o lago de fogo e enxofre.
Segundo, Se arrepender de seu pecado e crer, pela fé, que JESUS morreu em seu
lugar, confessando JESUS como Salvador e Senhor, crendo que Ele ressuscitou,
será salvo. Romanos 10.9
Esta operação de Salvação é feita e conduzida pelo ESPÍRITO SANTO que convence
o homem do pecado, da justiça e do juízo.
E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. João
16:8
A salvação é totalmente dependente de DEUS e só acontece pela graça de DEUS.
Não tem o mérito humano.
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de DEUS.
Efésios 2:8
JESUS fez tudo o que precisava ser feito para nos salvar - só precisamos crer
no que já está feito. O livre arbítrio foi usado para pecar. Todos usaram o
livre arbítrio para pecar - Só JESUS que não.
Livre arbítrio
Eis que hoje eu ponho diante de vós a bênção e a maldição;
Deuteronômio 11:26 Dois caminhos são propostos - isso é livre arbítrio.
Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que
vivas, tu e a tua descendência, Deuteronômio 30:19 Dois caminhos são propostos
- isso é livre arbítrio. DEUS ainda orienta qual o melhor caminho a seguir.
A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor JESUS, e
em teu coração creres que DEUS o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.
Romanos 10:9 - Este "se" é condicional. Grifo nosso.
E digo-vos que todo aquele que me confessar diante dos homens
também o Filho do homem o confessará diante dos anjos de DEUS. Lucas 12:8
Condicional - isto é livre arbítrio - ninguém é obrigado a confessar.
Portanto, qualquer que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante
de meu Pai, que está nos céus. Mateus 10:32 - Condicional - isto é livre arbítrio
- ninguém é obrigado a confessar.
Se dissermos que não temos pecado... Se confessarmos nossos
pecados.. (Pecados depois da salvação)
1.7 ANDARMOS NA LUZ. Isso significa crer na verdade de DEUS, conforme revelada
na sua Palavra e esforçar-se sincera e continuamente por sua graça, para
cumpri-la por palavras e obras. "O sangue de JESUS CRISTO, seu filho, nos
purifica de todo pecado", refere-se à obra contínua da santificação dentro
do crente, e à purificação contínua, pelo sangue de CRISTO, dos nossos pecados
involuntários. É provável que aqui João não esteja pensando nos pecados
deliberados contra DEUS, já que está falando em andar na luz. Essa purificação
contínua propicia a nossa íntima comunhão com DEUS (ver o estudo A
SANTIFICAÇÃO)
1.8 SE DISSERMOS QUE NÃO TEMOS PECADO. João emprega o substantivo
"pecado" em vez da forma verbal "pecamos", para enfatizar o
pecado como um princípio imanente na natureza humana. (1) João está
provavelmente argumentando contra os que afirmam que o pecado não existe como
um princípio ou poder na natureza humana, ou contra os que afirmam que as más
ações que eles cometem não são realmente pecado. Essa heresia continua ainda
hoje entre os que negam a realidade do pecado e que interpretam a iniquidade em
termos de causas deterministas, psicológicas ou sociais (ver Rm 6.1nota;
7.9-11 nota). (2) Os crentes devem conscientizar-se de que a carne, ou a
natureza humana pecaminosa, é uma ameaça constante na sua vida, e que devem
sempre estar mortificando as suas más obras por meio do ESPÍRITO SANTO que
neles habita (Rm 8.13; Gl 5.16-25 (refs2)).
1.9 CONFISSÃO DE PECADO. Devemos reconhecer os nossos pecados e buscar em DEUS
o perdão e a purificação deles. Os dois resultados disso são (1) o perdão
divino e a reconciliação com DEUS, e (2) a purificação (i.e., remoção) da culpa
e a destruição do poder do pecado, a fim de vivermos uma vida de santidade (Sl
32.1-5; Pv 28.13; Jr 31.34; Lc 15.18; Rm
6.2-14 (refs5)).
1.10 NÃO PECAMOS. Quem afirma que não peca, também não precisa da eficácia
salvífica da morte vicária de CRISTO, e está fazendo DEUS de mentiroso
(cf. Rm 3.23).
I - DEFININDO OS TERMOS
1. Pecado.
O termo “hamartiologia” deriva de dois vocábulos da língua grega, a
língua do Novo Testamento: hamartia e logos, os quais significam “estudo acerca
do pecado”. O termo é aplicável ao pecado, seja este considerado um ato, seja
considerado um estado ou uma condição. O sentido do termo é que o pecado é um
desvio do fim (ou propósito) estabelecido por DEUS para determinado fato ou
conduta humana.
A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as
quais indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. No Antigo Testamento
encontramos pelo menos NOVE palavras básicas que conceituam o pecado; no Novo
Testamento, temos, pelo menos, ONZE outras que descrevem as várias formas de
manifestações negativas relacionadas com o termo “pecado”.
As Escrituras ensinam que o pecado é real e pessoal; que se
originou na queda de Satanás, um ser pessoal, maligno e ativo; e que, através
da queda de Adão, propagou-se entre a humanidade, que fora criada boa por um
DEUS totalmente bom.
Há um termo genérico para designar o pecado com todos os seus
detalhes, chattath, e seu equivalente verbal chattá (pronuncia-se hatá, com
"h" aspirado), que literalmente significa "errar o alvo"
(Jz 20.16).
PECAR - dicionário Strong Português - חטא chata’
1) pecar, falhar, perder o rumo, errar, incorrer em culpa, perder o
direito, purificar da impureza
1a) (Qal)
1a1) errar
1a2) pecar, errar o alvo ou o caminho do correto e do dever
1a3) incorrer em culpa, sofrer penalidade pelo pecado, perder o direito
1b) (Piel)
1b1) sofrer a perda
1b2) fazer uma oferta pelo pecado
1b3) purificar do pecado
1b4) purificar da impureza
1c) (Hifil)
1c1) errar a marca
1c2) induzir ao pecado, fazer pecar
1c3) trazer à culpa ou condenação ou punição
1d) (Hitpael)
1d1) errar, perder-se, afastar do caminho
2. Os termos hebraicos awon e peshá. (e outros)
Temos no AT pelo menos 9 nomes dados aos pecados.
1- Hamartia - Hattat *(chattath - Lê-se hatá). Este vocábulo,
que aparece 522 vezes nas páginas veterotestamentárias, e seu termo correlato
no Novo Testamento — sugerem a ideia de “errar o alvo” ou “desviar-se do rumo”,
como o arqueiro antigo que atirava as suas flechas e errava o alvo. Porém, o
termo também sugere alguém que erra o alvo propositadamente; ou seja, que
atinge outro alvo intencionalmente.
Não se trata de uma ideia passiva de erro, mas implica uma ação
proposital. Significa que cada ser humano tem da parte de DEUS um alvo definido
diante de si para alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de
pecar como o ato resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o
pecado; se pecou, foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21; Sm 1.1; 51.4; 103.10; Is 1. 18; Dn 9.16; Os 12.8).
2- Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”,
“rebelar”, "revoltar-se”. Porém, uma variante forte para defini-la implica
o ato de invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi
além dos limites estabelecidos (Gn
31. 36; I Rs 12.19; 2 Rs 3.5; 1 Sm 5.1-12; Is 1.2; Am 4.4).
TRANSGRESSÃO - Strong Português - פשע pesha Ì - Pesha.
1) transgressão, rebelião
1a1) transgressão (contra indivíduos)
1a2) transgressão (nação contra nação)
1a3) transgressão (contra DEUS)
1a3a) em geral
1a3b) reconhecida pelo pecador
1a3c) como DEUS lida com ela
1a3d) como DEUS perdoa
1a4) culpa de transgressão
1a5) castigo por transgressão
1a6) oferta por transgressão
3- Raa. רע ra Ì - 1)
ruim, mau 2) mal, aflição, miséria, ferida, calamidade 3) mal, miséria,
aflição, ferida - Outra palavra hebraica que tem seu equivalente no
grego — como kakos ou poneros — e traz a ideia básica de romper, quebrar;
“aquilo que causa dano, dor ou tristeza”. E um tipo de pecado deliberado,
malicioso, planejado, que provoca e enfurece. Dá a ideia de “ser mau” (Gn 8.21; Ex 33.4; Jr 11.11; Mq 2.1-3). Indica também
algo injurioso e moralmente errado. São os pecados expressos por violência (Gn 3.5; 38.7; Jz 11.27).
O profeta Isaías profetizou que DEUS criou a luz e as trevas, a paz
e o raa Is 4.57. E o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição,
infortúnio. DEUS não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a
responsabilidade pelos pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a
criatura rebelde, transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.
4- Rama quer dizer “enganar”; dá a ideia de prender numa armadilha,
num laço. Implica, portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem
cair. E uma forma de enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13;
55.11; Jó 13.7; Is 53.9).
5- Pata. E um termo que dá a ideia de seduzir. O sentido literal da
palavra é “ser aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter livre curso. No
Èden, Adão e Eva se deixaram seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado
(Satanás), personificado numa serpente (Gn 3.4-7).
6- Shagag. O sentido aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma
ovelha ou um bêbado (Is 28.7).
E um tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável, ante a lei
divina que condena o seu erro — pecado (Lv 4.2; Nm 15.22).
7- Rasha. Esta palavra aparece especialmente nos Salmos, com a ideia
de impiedade ou perversidade. O sentido metafórico é o pecado em oposição à
justiça (Êx 2.13; SI 9; SI
16; Pv 15.9; Ez 18.23).
8- Ta a. Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não
se trata de algo acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o
fruto negativo gerado pelos seus atos pecaminosos (Nm 15.22; Sl 58.3; 119.21; Is 53.6; Ez 44.10,15).
9- Awon ("iniquidade"), proveniente da ideia de ser
“torto” ou "pervertido", refere-se a pecados graves e muitas veres
forma um paralelo com chatta'th (Is 43.24). O verbo 'avar fala
em ir além de uma fronteira e, portanto (metaforicamente), da transgressão (Nm 14.41; Dt 17.2). Resha' pode
referir-se a coisa errada (Pv
11.10) ou à injustiça (Pv
28.3,4).
INIQUIDADE - Strong Português - עון Ìavon ou עוון Ìavown
(2Rs 7.9; Sl 51.5)
1) perversidade, depravação, iniquidade, culpa ou punição por iniquidade
1a) iniquidade
1b) culpa de iniquidade, culpa (como grande), culpa (referindo-se a condição)
1c) consequência ou punição por iniquidade
No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado” também tem vários
sentidos, e alguns são correlatos com os termos hebraicos
1- Hamartia. Já citada em correlação com kattaa (hb.), seu sentido
é “errar o alvo”, “perder o rumo”, “fracassar”. Indica que o primeiro homem, no
princípio, perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não atingir o padrão divino
estabelecido para a sua vida. No Novo Testamento, os escritores usaram o termo
hamartia para designar o pecado. Ainda que o sentido equivalente no Antigo
Testamento seja o de “errar o alvo”, nas páginas neotestamentárias a palavra em
apreço tem uma abrangência bem maior — possui um sentido mais forte que a ideia
de fracasso ou transgressão. Ela tem o sentido de “poder de engano do pecado” (Rm 5.12; Hb 3.13); é mais que um
fracasso. Trata-se de uma condição responsável ou uma característica que
implica culpabilidade.
2- Kakia. No grego, relaciona-se com perversidade ou depravação,
como algo oposto à virtude. E um termo que descreve o caráter e a disposição
interiores, e não apenas os atos exteriores. Dele deriva-se outra palavra,
kakos, cujo sentido transcende a mal-estar físico ou doenças (Mc 1.32; Mt 21.41; 24.48; At 9.13; Rm 12.17;13,3,4,10; 16.19; I Tm 6.10).
3- Adíkía. Denota injustiça, falta de integridade; como alguém que
abandona o caminho original. Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer
conduta errada e significa, ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co 12.13; Hb 8.12; Rm 1.18; 9.14). O texto de Romanos 1.18 descreve a
injustiça como inimizade para com a verdade. Em I João 5.17, o apóstolo João
afirma que toda iniquidade (gr. adikia) é pecado (gr. hamartia).
4- Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais palavras são
traduzidas frequentemente como “iniquidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido
literal de anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de DEUS pratica a iniquidade
(Mt 13.41; 24.12; I Tm 1.9). O Anticristo é
anomos— “o míquo” (2Ts 2.8).
5- Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e significa
“infidelidade”, “falta de fé” ou algum tipo de resistência ou vergonha (Hb 3.12; I Tm I.13). Em I Timóteo 1.13 está
escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na
incredulidade [gr. apistia]”.
6- Asebeia. Usado por Paulo nas epístolas com o sentido de
impiedade (Rm 1.18; 11.26; 2Tm 2.16;Tt 2.12; Jd vv.I5,I8).
Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base da asebeia.
7- Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade ou mesmo
sensualidade. Em Judas v.4 encontramos dois termos que explicam essas palavras:
“... homens ímpios [asebeis] que convertem em dissolução [aselgeian,
‘libertinagem’] a graça de DEUS”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem
restrições à prática do pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito
que domina uma pessoa e a torna impudica de tal modo que perde totalmente o
senso de vergonha e, por isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu
pecado.
O termo em análise significa, por conseguinte, “a pura e autossatisfação
sem o menor pudor”, haja vista o desejo pelos prazeres tornar a sua vítima
despudorada, sem restrições. As chamadas taras sexuais, a embriaguez e outras
manifestações são típicas de aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma das
palavras mais repulsivas do Novo Testamento (Mt 7.22; 2 Co 12.21; G1 5.19; Ef 4.19; I Pe 4.3; Jd v.4; Rm 13.13; 2 Pe 2.2,7,18). A versão ARC traduz o
termo por “libertinagem”, enquanto a ARA prefere “dissolução”.
8- Epitkymía. Significa “desejo”. Porém, é o contexto da
palavra encontrada no Novo Testamento que pode indicar o caráter moral do
desejo, se é bom ou mau. Coisas, como: motivo, intenção, direção e relação,
revelarão o caráter moral de epithymia (Mc 4.19; Lc 22.15; Fp 1.23; I Ts 2.17). De modo geral, o
vocábulo quase sempre se identifica com algo negativo e pecaminoso. Daí o
significado poderá indicar “desejo incontinente”, normalmente traduzido como
“concupiscência”, “paixão impura” (G1 5.24; Cl 3.5; I Ts 4.5;Tg I.I4; 2 Pe 2.10).
9- Parabasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito
vezes. O significado primário do termo é “transgressão”, que dá a ideia de
alguém que não respeita as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se
esse vocábulo com o sentido de “desvio”, “violação” e “transgressão”. No texto
de Romanos 5.14, Paulo
faz uma relação entre hamartia e parabasis, ao afirmar: “No entanto, a morte
reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da
transgressão de Adão”.
O apóstolo Paulo não está dizendo que os que pecaram desde Adão até
Moisés estão livres de culpa, e sim que aquelas gerações, não tendo a lei de
Moisés, seu pecado era tão real quanto ao dos que tinham a lei. Em I Timóteo 2.14 está
escrito que Eva caiu em transgressão (parabasis), ao ser enganada, porque ela
foi rebelde contra a ordem divina. Não se tratava de reduzir a culpa de Eva, e
sim reconhecer que ela podia ter evitado o pecado de desobediência.
10- Paraptoma. Deriva de parapipto e significa “decair ao lado de”,
“perder o caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma
ofensa pela qual a pessoa é responsável”. Vários textos exemplificam o
termo paraptoma (Mt 6.14; Rm 5.15-20; 2 Co 5.19; G1 6.19; Ef 2.I;Tg 5.16).
11- Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado porque se refere
àquele que se desgarra culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a
ovelha que foge do aprisco (I
Pe 2.25); também significa levar, por meio do engano, outras pessoas ao mau
caminho (Mt 24.5,6; I Jo 1.8).
3. O que é pecado?
John Wesley, pai do metodismo, definiu o pecado como uma
transgressão voluntária de uma lei conhecida. Um outro famoso teólogo da época
ressaltou a natureza dupla do pecado ao declarar que “a ideia primária
designada pelo termo pecado nas Escrituras é a falta de conformidade com a lei,
uma transgressão da lei; o fazer algo proibido, o deixar de fazer aquilo que é
requerido”.
Augustus Hopkins Strong, eminente professor de teologia nos Estados
Unidos, escreveu sobre a doutrina do Pecado em sua Teologia Sistemática de
1886, que “pecado é a falta de conformidade com a lei moral de DEUS quer em
ato, disposição ou estado”.
W.T. Conner, em Doctrína Cristiana, ao falar da natureza do pecado
escreveu: “... definimos o pecado como a rebelião contra a vontade de DEUS”; “o
pecado, como algo voluntário, implica conhecimento. Se o homem peca
voluntariamente, então seu pecado é contra a luz”. Paulo esclareceu que
todo ser humano tem um certo grau de conhecimento da lei moral de DEUS e, por
isso, “não há um justo, nenhum sequer” (Rm 3.10).
Charles Hodge escreveu que “o pecado é falta de conformidade com a
lei de DEUS” e “inclui culpa e contaminação; a primeira expressa sua relação
com a justiça; a segunda, sua relação com a santidade de DEUS”.
Outras definições de pecado. E um ato livre e voluntário do ser
humano, tendo em vista que ele é um ser moral e, por isso, capaz de perceber o
certo e o errado. O homem é um agente moral livre para decidir o que fazer da
sua vida, o qual deve seriamente considerar Eclesiastes 11.9.
O pecado é um tipo de mal. Nem todo mal é pecado. Existem males
físicos resultantes da entrada do pecado no mundo. Na esfera física temos um
tipo de mal manifesto nas doenças e enfermidades. Entretanto, na esfera ética,
o mal tem sentido moral. Nesta esfera moral atua o pecado. Os vários termos
hebraicos e gregos das línguas originais da Bíblia, quando falam do pecado
apontam para o sentido ético, porque falam da prática do pecado, ou seja, dos
atos pecaminosos.
O pecado é, de fato, uma ativa oposição a DEUS, uma transgressão
das suas leis, que o homem, por escolha própria (livre), resolveu cometer
conforme relata a Bíblia (Gn 3.1-6; Is 48.8; Rm 1.18-32; I Jo 3.4).
Louis Berkhof ensina que o pecado tem caráter absoluto. Sem
dúvida, seu conceito está correto e é bíblico. Não se faz distinção ou
graduação entre o bem e o mal, porque o caráter é qualitativo. Uma pessoa boa
não se torna má por uma diminuição de sua bondade, mas quando se deixa envolver
com o pecado. È uma questão de qualidade, e não de quantidade.
O pecado não implica um grau menor de bondade, mas algo negativo e
absoluto. Biblicamente, não há neutralidade nem meio termo quanto ao bem ou ao
mal. O que é mal não é mais ou menos mal. Ou se está do lado justo e certo ou
se está do lado injusto e errado (Mt 10.32,33; 12.30; Lc II.23;Tg 2.10).
Não se trata de pecado apenas porque se praticou algum ato
pecaminoso. “O pecado não consiste apenas em atos manifestos”. O pecado
não é somente aquilo que se pratica erradamente, mas é algo entranhado na
natureza pecaminosa adquirida da raça humana. E um estado pecaminoso que
origina hábitos pecaminosos os quais se manifestam na vida cotidiana.
Todas as tendências e propensões pecaminosas típicas da natureza
corrompida de cada um de nós demonstram o estado pecaminoso do ser humano. A
esse estado decaído, a Bíblia denomina “carne”, o qual precisa ser superado
pela nova vida em CRISTO, a vida regenerada pelo ESPÍRITO (2 Co 5.17; Jo 3.5).
O Novo Testamento descreve o pecado como:
(a) Errar o alvo, que expressa a mesma ideia que a
conhecida palavra do Antigo Testamento.
(b) Dívida. (Mat.
6:12.) O homem deve (a palavra "deve" vem de dívida) a DEUS
a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é contração de uma
dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser perdoado, ou
obter remissão da dívida.
(c) Desordem. "O pecado é iniquidade"
(literalmente "desordem", 1 João 3:4). O pecador é um
rebelde e um idólatra porque deliberadamente quebra um mandamento, ao
escolher sua própria vontade em vez de escolher a vontade de DEUS; pior
ainda, está se convertendo em lei para si mesmo e, dessa maneira,
fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no coração
daquele exaltado anjo que disse: "Eu farei", em oposição à
vontade de DEUS. (Isa.
14:13, 14). O
anticristo é proeminentemente "o sem-lei" (tradução literal de
"iníquo"), porque se exalta a si mesmo sobre tudo que é adorado
ou que é chamado DEUS. (2
Tess. 2:4-9.) O pecado é essencialmente obstinação e obstinação
é essencialmente pecado. O pecado destronaria a DEUS; o
pecado assassinaria DEUS. Na Cruz do Filho de DEUS, poderiam ter
sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"
(d) Desobediência, literalmente, "ouvir mal"; ouvir com
falta de atenção. (Heb. 2:2.)
"Vede pois como ouvis" (Luc. 8:18.)
(e) Transgressão, literalmente, "ir além do limite" (Rom. 4:15). Os mandamentos de
DEUS são cercas, por assim dizer, que impedem ao homem entrar em
território perigoso e dessa maneira sofrer prejuízo para sua alma.
(f) Queda, ou falta, ou cair para um lado (Efés. 1:7) no grego, donde
a conhecida expressão, cair no pecado. Pecar é cair de um padrão de
conduta.
(g) Derrota é o significado literal da palavra "queda"
em Rom. 11:12. Ao
rejeitar a CRISTO, a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o propósito
de DEUS.
(h) Impiedade, de uma palavra que significa "sem adoração,
ou reverência". (Rom.
1:18; 2 Tim. 2:16.)
O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a DEUS e às coisas
sagradas. Estas não produzem nele nenhum sentimento de temor e reverência.
Ele está sem DEUS porque não quer saber de DEUS.
(i) O erro (Heb. 9:7)
Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da ignorância, e dessa maneira se
diferenciam daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar da luz
esclarecedora. O homem que desafiadoramente decide fazer o mal, incorre em
maior grau de culpa do que aquele que é apanhado em falta, a que
foi levado por sua debilidade.
II - ORIGEM DO PECADO
1. O pecado no céu.
A ORIGEM DO PECADO NO UNIVERSO
A primeira manifestação foi na esfera angelical. Os teólogos
divergem quanto ao fato de que a primeira manifestação de pecado tenha começado
no céu. Sendo DEUS o Criador de todas as coisas, não podemos atribuir a Ele a
autoria do pecado. Toda a Bíblia rejeita essa ideia quando diz: “Longe de DEUS
a impiedade, e do Todo-poderoso, a perversidade” (Jó 34.10).
Em outra passagem está escrito que não há injustiça nEle (Dt 32.4; SI 92.15). Tiago, no
Novo Testamento, disse que o Senhor não pode ser tentado pelo mal (Tg I.13).
Por isso, é blasfêmia considerar DEUS como autor do pecado. Ora, duas passagens
bíblicas que melhor ilustram a origem do pecado no Céu são metafóricas (Is 14.12-20; Ez 28.12-19); daí a
dificuldade na compreensão desses textos pelos intérpretes. Do ponto de vista
pentecostal esses textos falam do pecado iniciado entre os anjos e pelo
principal deles, Lúcifer.
Leituras que nos dão a ideia de que Lúcifer se revoltou contra DEUS
e se tornou Satanás, o Diabo.
Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste
cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu
subirei ao céu, acima das estrelas de DEUS exaltarei o meu trono, e no monte da
congregação me assentarei, aos lados do norte.
Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. E
contudo levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo. Os que te virem te
contemplarão, considerar-te-ão, e dirão: É este o homem que fazia estremecer a
terra e que fazia tremer os reinos? Que punha o mundo como o deserto, e
assolava as suas cidades? Que não abria a casa de seus cativos? Todos os reis
das nações, todos eles, jazem com honra, cada um na sua morada. Porém tu és
lançado da tua sepultura, como um renovo abominável, como as vestes dos que
foram mortos atravessados à espada, como os que descem ao covil de pedras, como
um cadáver pisado. Com eles não te reunirás na sepultura; porque destruíste a
tua terra e mataste o teu povo; a descendência dos malignos não será jamais
nomeada. Isaías 14:12-20.
Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e
dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria
e perfeito em formosura. Estiveste no Éden, jardim de DEUS; de toda a pedra
preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix,
jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e
os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o
querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de DEUS estavas,
no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o
dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do
teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te
lancei, profanado, do monte de DEUS, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do
meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura,
corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei,
diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniquidades,
pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz
sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra,
aos olhos de todos os que te vêem. Todos os que te conhecem entre os povos
estão espantados de ti; em grande espanto te tornaste, e nunca mais subsistirá.
Ezequiel 28:12-19
Observação do Pr.Henrique:
Satanás também é identificado por JESUS como aquele que entrou na
terra por outra porta que não foi o nascimento físico, através de uma mulher.
1 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela
porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. 10
O ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham
vida, e a tenham com abundância. João 10:1,10.
JESUS fala acerca do Diabo dizendo ser ele homicida desde o
princípio (Jo 8.44).
O apóstolo João diz que o Diabo peca desde o princípio (1 Jo 3.8).
Anjos que se tornaram demônios
As Escrituras parecem indicar que, em algum momento entre Gênesis
1.31 e Gênesis 3.1, houve uma rebelião no mundo angélico, no qual muitos anjos
bons se voltaram contra DEUS e se tornaram maus. O teólogo italiano Tomás de
Aquino (1225-1274) ensinou que uma vez que os anjos não têm natureza carnal
pecaminosa o pecado deles foi espiritual. Eles foram seduzidos pelo diabo, que
os envolveu com o orgulho e a inveja contra DEUS. Os anjos pecaram
voluntariamente (Tomás de Aquino, “Suma Contra os Gentios”, 63:1-9). Alguns
fazem alusão ao texto de Judas 6 para apoiar esse ponto de vista quanto à queda
dos anjos. As táticas de Satanás e dos demônios são a mentira, o engano, o
homicídio e toda sorte de malignidade. Fazem isso para afastar as pessoas de
DEUS e levá-las à destruição (Jo 8.44; Ap 12.9; Sl 106.37). Mas, assim como
Satanás e suas hostes foram expulsos do céu, também seu domínio e ação serão
extirpados totalmente da face da terra (1 Jo 3.8; Lc 9.1, 10.19; At 16.18; Rm
16.20; Ap 20.10). (http://www.cacp.org.br/o-que-levou-a-terca-parte-dos-anjos-seguir-a-lucifer).
E houve batalha no Céu; Miguel e seus anjos batalhavam contra o
dragão, e batalhava o dragão e seus anjos; mas não prevaleceram, nem mais o seu
lugar se achou nos Céus. E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente,
chamada o diabo e Satanás, que engana a todo o mundo; ele foi precipitado na
Terra, e seus anjos foram lançados com ele”. (Apocalipse 12:7 - 9).
E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua
própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo
daquele grande dia; (Judas 1.6).
Porque, se DEUS não perdoou aos anjos que pecaram, mas, havendo-os
lançado no inferno, os entregou às cadeias da escuridão, ficando reservados
para o juízo; (2 Pedro 2:4).
Os textos acima mencionados são tidos como relacionados à queda de
Lúcifer e o começo do pecado no Universo. O primeiro (Isaías) refere-se ao rei
caído da Babilônia, cujo orgulho tornou-o soberbo; por isso, ele não pôde
subsistir, com tirania e orgulho, ante o DEUS Vivo. Diz o texto que esse rei
era elevado e importante, mas por seu orgulho foi cortado como uma árvore.
Segundo, a linguagem metafórica, o texto sugere o relato a história
da queda de Lúcifer, denominado “estrela da manhã”, o qual, por sua rebelião
foi expulso da presença de DEUS. O segundo texto (Ezequiel) apresenta um
lamento sobre o rei de Tiro, mas a linguagem figurada ilustra a queda de
Satanás.
O registro bíblico da origem do pecado prossegue noutras
referências que tratam do assunto. O que fica claro é que o pecado foi
originado por Satanás. Ele pecou antes de Adão e Eva quando se apresentou na
forma de uma serpente para tentar Eva (Gn 3.1-6; 2 Co 11.3). JESUS declarou que
Satanás é homicida “desde o princípio” (Jo 8.44; I Jo 3.8). A expressão “desde o
princípio” não quer dizer que este ser angélico foi sempre mau. Seu primeiro
estado era de santidade. A expressão “desde o princípio” indica no contexto da
história da criação que Ele se fez opositor do DEUS trino desde o início da
criação do mundo.
Entretanto, antes da criação do Universo material, os anjos já
haviam sido criados. Mesmo considerando as nossas dificuldades para entendermos
plenamente a origem do pecado no céu, sabemos que DEUS conhece todas as coisas
e “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1. 11).
O pecado entrou na vida da humanidade através de Adão e Eva (Gn 3.1-19). Como isso
aconteceu? A história bíblica descreve como o pecado tomou-se uma realidade na
vida da humanidade quando uma criatura extraordinária e espiritual se
materializou numa “serpente” (Gn 3.1-7) para enganar as
mais belas criaturas da terra, o homem e a mulher. Essa criatura é denominada
em outras passagens como “a antiga serpente”, o “Diabo” e “Satanás” (Ap 12.9; 20.2). Foi essa criatura que
pecou desde o princípio e se tomou inimiga da criação de DEUS e originou a
catástrofe cósmica.
Pela soberana e sábia vontade de DEUS permitiu-se que no Eden, o
jardim idílico criado por DEUS para que Adão e Eva vivessem felizes, Satanás
penetrasse para tentá-los com astúcia e engano. A história da criação da
criatura humana relata que Adão e Eva foram criados “bons” e colocados no Eden
para desfrutarem de todas as benesses daquele jardim e manter comunhão com seu
Criador (Gn 1.26—2.25).
Por serem criaturas, humanas e finitas, estavam sujeitas a pecar.
DEUS, então, estabeleceu para eles uma regra para não comerem de
uma árvore denominada “árvore do conhecimento do bem e do mal”, mas Eva se
deixou enganar pela insinuação diabólica da serpente e tomou do fruto, comeu e
o deu ao seu marido (Gn 3.6).
Duvidaram da veracidade da palavra de DEUS e acataram as insinuações do
Inimigo. Daí desobediência, egotismo, rebeldia, pecado, queda e suas consequências,
que se transmitiram à toda posteridade de Adão.
O pecado de Adão foi um ato pessoal. Já consideramos o fato de que
o pecado é um estado da vontade e que esse estado egoísta da vontade é
universal. Uma vez que o homem preferiu obedecer ao seu “eu”, pervertendo sua
própria vontade, também, tornou-se responsável pelas consequências de sua
transgressão.
Ele adquiriu uma natureza corrompida e afetou universalmente toda
criatura na terra. Seus atos pecaminosos e suas disposições são frutos de seu
estado corrupto inato. JESUS explicou muito bem esse ponto quando disse: “...
não há árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu
coração tira o mal” (Lc
6.43-45; Mt 12.34).
Tentação e Queda não são coisas míticas ou alegóricas. Tem havido a
tentativa de pseudo-teólogos tornarem o relato escriturístico da tentação e a
Queda como algo alegórico. Não há qualquer linguagem figurada em Gênesis 3 que negue o fato
histórico relatado naquela passagem. No desenrolar da tentação Satanás apelou
aos apetites que poderiam dar a Eva o prazer de fazer sua própria vontade em
desobediência do Criador. Satanás apelou aos sentidos egoísticos de Eva e ela
deu ouvidos ao tentador em vez de rejeitar e expulsar o tentador que visava
levá-la a desobedecer a DEUS (Gn 3.1-3).
Satanás levou o casal a duvidar da veracidade de DEUS insinuando
que o Criador estaria tirando deles o direito de conhecer coisas mais sublimes.
Adão e Eva, então, pecaram e deixaram que seus corações fossem corrompidos e
afetasse seus apetites naturais. Diz o relato bíblico que sua disposição
interior se manifestou em atos. O texto diz, literalmente: “... ela tomou do
seu fruto, e comeu, e deu também ao seu marido, e ele comeu com ela” (Gn 3.6).
O homem seguiu a indução do seu coração e fez a escolha do seu “eu”
em desacordo com DEUS. Portanto, o pecado surgiu de dentro do homem, do seu
interior, e ele transgrediu a lei do Senhor (Tg I.I5).
2. O pecado no Éden.
O PECADO ORIGINAL E SUA AFETAÇÃO
Distinção entre pecado original e culpa original. Na língua latina
usa-se a expressão peccatum originale, que se traduz literalmente por “pecado
original”. Para entendermos o assunto precisamos fazer distinção entre pecado
original e culpa original.
a- Por pecado original entendemos que se trata do pecado herdado de
nossos primeiros pais, Adão e Eva, o qual passou a toda criatura humana.
b- A culpa não é herdada, e sim imputada a cada criatura. A
expressão “pecado original” não se encontra na Bíblia de forma literal, mas a
sua manifestação está implícita na história da Queda; por isso, o pecado
original está na vida de todo ser humano desde o seu nascimento. Outrossim,
precisamos esclarecer que a expressão “pecado original” nada tem que ver com a
constituição original do homem, haja vista DEUS não o ter criado pecador.
Toda criatura humana é culpada em Adão e consequentemente tem sua
natureza corrompida desde o nascimento (SI 51.5; 58.3).
Pecados veniais e pecados mortais. A igreja romana ensina e faz
distinção entre pecados veniais e mortais. Ao mesmo tempo, ela tem dificuldades
em distinguir esses pecados. Tal distinção não é bíblica, visto que todo pecado
é anomia diante de DEUS — termo grego que significa “falta de retidão”, “falta
de obediência à lei”.
O Antigo Testamento faz distinção entre os pecados cometidos
intencionalmente e os praticados por ignorância. Se cometido intencionalmente
ou por ignorância, o pecado não deixará de ser pecado, porque é um fato e torna
a pessoa culpada diante de DEUS (Gl
6.1; Ef 4.18; I Tm
I.I3; 5.24). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo deixou clara a ideia de que o
grau do pecado é determinado pelo grau de conhecimento (luz) que o pecador
possua (Rm LI8-32).
3. A universalidade do pecado.
Pelágio, teólogo inglês, renegava a ideia do pecado original porque
entendia que os homens que nascem no mundo, desde a Queda, vivem no mesmo
estado em que Adão foi criado e que o pecado deste prejudicou apenas a ele
próprio. Por isso, essa teoria rejeita a ideia da hereditariedade do pecado sobre
toda a raça humana.
Pelágio ensinava que Adão morreu pela constituição de sua natureza,
tivesse ele pecado ou não. Entretanto, o ensino claro da Bíblia a esse respeito
não deixa dúvida de que a culpa original refere-se àquela recebida por Adão e
Eva após terem pecado contra a lei de DEUS.
o viver em pecado consiste então, em viver uma vida centralizada no
“eu” e significa o fazer a própria vontade como a da vida. Neste sentido o
homem merece receber a punição do seu pecado ( Rm 5.12).
A culpa legal O aspecto legal da culpa perante DEUS diz respeito ao
fato de que quando Adão e Eva cometeram o pecado contra a ordem divina,
tornaram-se legalmente culpados e dignos da pena estabelecida por DEUS. O
Criador havia lhes dito que um só ato de desobediência à sua palavra implicaria
na pena de morte (Gn 2.17).
O apóstolo Paulo entendeu essa questão doutrinária e declarou que “o juízo veio
de uma só ofensa, para condenação” (Rm 5.16).
Portanto, por um só ato pecaminoso contra DEUS, Adão tomou-se
incapaz de permanecer na presença santa de DEUS. Essa ofensa de Adão tornou-se
a culpa de toda sua descendência, de toda a raça humana. Perante DEUS,
legalmente, todos são culpados, “porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de DEUS” (Rm 3.23).
Isso significa que em Adão todos participaram da sua transgressão.
A expressão “estão destituídos da glória de DEUS” indica a necessidade de
recuperação do primeiro estado de glória de Adão antes da Queda. Significa a
recuperação daquela realeza moral e espiritual que o homem tinha, isto é, a
imagem e semelhança de DEUS, deformada pelo pecado. Foi o segundo Adão, JESUS
CRISTO, quem veio a este mundo para recuperar a glória perdida do homem (Rm 3.24-26).
A culpa não significa mera propensão ao castigo. Isso significa que
a culpa incorre mediante a transgressão do pecador. Não há na justiça de DEUS o
conceito de culpa construtiva, porque o pecador é culpado por aquilo que tem
praticado. Somos culpados do pecado, tanto em relação a culpa original de
nossos primeiros
pais quanto pelos pecados que cometemos hoje. Devemos entender que
somos culpados pela natureza pecaminosa herdada de Adão e Eva. Esse é o aspecto
coletivo que abrange todos os homens. Porém, cada um de nós é individualmente
responsável pelos seus próprios pecados.
A HEREDITARIEDADE DO PECADO
Como um ato de pecado individual afetou a todos? A Bíblia tem a
resposta cabal desta questão. Paulo, em Romanos disse “que todos pecaram” (Rm 3.23) e dá a ideia de que
todos os seres humanos participaram da transgressão de Adão; e, como
indivíduos, tornaram-se pecadores. Ele explica os efeitos do pecado de Adão:
“Portanto, por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim
também a morte passou a todos os homens” (Rm 5.12).
Paulo não estava falando de pecados factuais, do dia-a-dia, mas da
herança do pecado. A morte, como punição do pecado, tem um caráter universal,
porque “a morte passou a todos os homens”. Por causa do pecado de Adão, todos
os seus descendentes tomaram-se pecadores e culpados. Porém, DEUS providenciou
a nossa expiação — nas palavras de Paulo — outra vez: “Mas CRISTO morreu por
nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm
5.8).
Portanto, o pecado é hereditário. A sua universalidade deve-se à
corrupção da natureza humana. E a Palavra de DEUS afirma que o primeiro homem
violou a vontade expressa de DEUS, e, por consequência, toda a vida humana se
corrompeu. Inevitavelmente, quando o homem se depara com a idade da consciência
moral, está tão identificado com os maus impulsos existentes dentro de si que
precisará esforçar-se para manter o equilíbrio moral e espiritual de sua vida.
Não se trata meramente de um impulso momentâneo da sua vontade, mas
é algo implícito na sua natureza pecaminosa, que é sinistro e obscuro. A
tendência má que se revela numa criança se percebe na semente dessa tendência
má. Nesse sentido, toda criança é pecadora, conquanto não tenha culpa pessoal.
Não podemos cobrar responsabilidade pessoal de uma criança recém-nascida.
A Bíblia e a consciência moral dão testemunho da responsabilidade
que temos de nossa vida, apesar da natureza que temos herdado. Na verdade, a
herança do pecado se constituí numa condição de vida, para a qual precisamos da
graça salvadora de CRISTO para dominá-la. Por isso, mesmo como pecadores
regenerados pelo ESPÍRITO SANTO precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar a
nossa cruz e sermos crucificados com CRISTO (G1 2.20).
Todo ser humano nasce com uma natureza corrompida. Todos os atos
pecaminosos das pessoas são frutos de sua natureza pecaminosa. Ora, o que se
entende por natureza
no contexto desse estudo? Ê aquilo que é inato em cada pessoa, isto
é, nasce com ela. JESUS, disse, certa feita aos seus discípulos que “não há
árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira
o mal” (Lc 6.43-45).
Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido
com uma “natureza corrompida”. E algo que faz parte do seu ser e é subjacente à
sua própria consciência. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante
de DEUS, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a
terra.
O salmista Davi declarou que fora formado em iniquidade e concebido
em pecado (Sm 51.5). Na verdade, com isso, confessou não o pecado de sua mãe, e
sim o seu próprio pecado, e que esse estado — entendeu ele — vinha desde o
momento de sua concepção.
A natureza corrompida e congênita de toda criatura humana. O
apóstolo Paulo usou uma expressão forte em Efésios, a qual merece a nossa
apreciação: “éramos por natureza filhos da ira” (2.3). A expressão “filhos da
ira” denota o estado de condenação por causa da herança do pecado que todos
recebemos de nossos pais (Adão e Eva). Entende-se por “natureza” algo inato e
original distinto daquilo que se adquire posteriormente.15
Sem dúvida, o apóstolo coloca o texto no passado com o verbo
“éramos”, para indicar que, ao sermos regenerados pelo ESPÍRITO SANTO, fomos
agraciados pela graça de DEUS. A criança é despida de consciência moral, mas
congenitamente possui a natureza pecaminosa herdada. Por isso, a morte é a
penalidade global que afeta todas as pessoas e, inevitavelmente, afeta as
crianças, haja vista elas morrerem como todos os demais seres.
As crianças estão colocadas num estado de pecado e, por isso,
necessitam de regeneração e salvação através de JESUS CRISTO. Naturalmente,
elas são objeto de salvação pela graça de CRISTO, que as salva,
independentemente da consciência moral. Contudo, a condição dos adultos é
diferente da das crianças. O adulto precisa de fé pessoal para ser salvo, e a
Bíblia declara que CRISTO morreu por todos (2 Co 5.15).
No Juízo Final, as pessoas serão julgadas mediante o teste da
conduta pessoal, enquanto as crianças, mesmo tendo uma tendência para mal, são
incapazes de transgressão pessoal; por isso, cremos que elas estarão entre os
salvos (Mt 25.45,46).
Adão depois da Queda. Já dissemos anteriormente que Adão e Eva,
quando pecaram, perderam o direito do primeiro estado de santidade em que foram
criados e vieram a ser objeto de várias mudanças negativas transcendentais.
Paulo declarou que por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte” (Rm 5.12).
A pecaminosidade do homem está registrada em toda a extensão das
Escrituras (Gn 6.5; 1 Rs 8.46; Sl 53.3; 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Is 53.6; 64.6; Rm 3.1-12,19,20,23;Gl 3.22; Tg 3; 1 Jo 1.8,10). De fato, a Bíblia mostra
o pecado como uma herança inevitável que o homem tem de administrar desde o seu
nascimento, e que está presente na natureza do homem e com ele continuará até a
morte (Sl 5.5; Jó 14.4; Jo 3.6; Ef 2.3). Escrevendo aos
Efésios, diz o apóstolo Paulo que nós, os crentes, “éramos por natureza filhos
da ira, como também os demais” (Ef
2.3). o pecado, pois, é algo original, do qual todos participam, e que os
fazem culpados diante de DEUS. O pecado e a morte nivelam os homens. A maior
prova em favor da universalidade do pecado é que a própria obra realizada por
CRISTO na cruz, que no seu escopo apresenta-se como uma obra de caráter
universal, e como remédio único para a doença espiritual de toda a humanidade.
III - A SOLUÇÃO PARA O PECADO
1. Nem tudo está perdido.
Veio JESUS CRISTO, da parte de DEUS; se fez carne e habitou entre
nós (Jo 1.14), assumindo a penalidade da lei, causada pela nossa culpa,
tomando-se o nosso substituto vicário, justificando o homem dos seus pecados (Rm 4.24,25; 5.1,8). Adão cometeu o pecado e na
qualidade de chefe federal da raça humana; por ele foi imputada a todos os seus
descendentes a culpa do pecado. A Bíblia enfatiza este ensino quando declara
que a morte é o castigo do pecado, para todos os seus
descendentes (Rm 5.12-19; Ef 2.3; I Co 15.22).
A obra de CRISTO
CRISTO realizou muitas obras, porém a obra suprema que ele consumou
foi a de morrer pelos pecados do mundo. (Mat. 1:21; João 1:29.) Incluídas nessa
obra expiatória figuram a sua morte, ressurreição, e ascensão. Não somente
devia ele morrer por nós, mas também viver por nós. Não somente devia
ressuscitar por nós, mas também ascender para interceder por nós diante de
DEUS. (Rom. 8:34; 4:25; 5:10.)
Sua morte.
(a) Sua importância. O evento mais importante e a doutrina central
do Novo Testamento resumem-se nas seguintes palavras: "CRISTO morreu (o
evento) por nossos pecados (a doutrina)" (1 Cor. 15:3). A morte
expiatória de CRISTO é o fato que caracteriza a religião cristã. Martinho
Lutero declarou que a doutrina cristã se distingue de qualquer outra, e
mui especialmente daquela que apenas parece ser cristã, pelo fato
de ser ela a doutrina da Cruz. Todas as batalhas da Reforma travaram-se em
torno da correta interpretação da Cruz. O ensino dos reformadores era este:
quem compreende perfeitamente a Cruz, compreende a CRISTO e a Bíblia! É
essa característica singular dos Evangelhos que faz do Cristianismo a
única religião; pois o grande problema da humanidade é o problema do
pecado, e a religião que apresenta uma perfeita provisão para o resgate do
poder e da culpa do pecado tem um propósito divino. JESUS é o autor da
"salvação eterna" (Heb.
5:9), isto é, da salvação final. Tudo quanto a salvação
possa significar é assegurado por ele.
(b) Seu significado. Havia certa relação verdadeira entre
o homem e seu Criador. Algo sucedeu que interrompeu essa relação. Não
somente está o homem distanciado de DEUS, tendo seu caráter manchado, mas
existe um obstáculo tão grande no caminho que o homem não pode removê-lo
pelos seus próprios esforços. Esse obstáculo é o pecado, ou melhor, a culpa. O
homem não pode remover esse obstáculo; a libertação terá que vir da parte
de DEUS. Para isso DEUS teria que tomar a iniciativa de salvar o homem. O
testemunho das Escrituras é este: que DEUS assim fez. Ele enviou seu Filho
do céu à terra para remover esse obstáculo e dessa maneira reconciliou os
homens com DEUS. Ao morrer por nossos pecados, JESUS removeu a barreira;
levou o que devíamos ter levado; realizou por nós o que estávamos
impossibilitados de fazer por nós mesmos; isso ele fez porque era
a vontade do Pai. Essa é a essência da expiação de CRISTO.
Condições da salvação.
Que significa a expressão condições da salvação? Significa o que
DEUS exige do homem a quem ele aceita por causa de CRISTO e a quem dispensa as
bênçãos do Evangelho da graça.
As Escrituras apresentam o arrependimento e a fé como condições da
salvação; o batismo nas águas é mencionado como símbolo exterior da fé interior
do convertido. (Mar. 16:16; Atos 22: 16; 16:31; 2:38; 3:19.)
Abandonar o pecado e buscar a DEUS são as condições e os
preparativos para a salvação. Estritamente falando, não há mérito nem no
arrependimento nem na fé; pois tudo quanto é necessário para a salvação já foi
providenciado a favor do penitente. Pelo arrependimento o penitente remove os
obstáculos à recepção do dom; pela fé ele aceita o dom. Mas, embora sejam
obrigatórios o arrependimento e a fé, sendo mandamentos, é implícita a
influência ajudadora do ESPÍRITO SANTO. (Notem a expressão: "Deu DEUS o
arrependimento" Atos
11:18.)
A fonte da justificação: a graça.
Graça significa, primeiramente, favor, ou a disposição bondosa da
parte de DEUS. Alguém a definiu como a "bondade genuína e favor não
recompensados", ou "favor não merecido". Dessa forma a graça
nunca incorre em dívida. O que DEUS concede, concede-o como favor; nunca
podemos recompensá-lo ou pagar-lhe. A salvação é sempre apresentada como dom,
um favor não merecido, impossível de ser recompensado; é um benefício legítimo
de DEUS. (Rom. 6:23) O
serviço cristão portanto, não é pagamento pela graça de DEUS; serviço cristão é
um meio que o crente aproveita para expressar sua devoção e amor a DEUS.
"Nós o amamos porque ele primeiramente nos amou."
A graça é transação de DEUS com o homem, absolutamente independente
da questão de merecer ou não merecer. "Graça não é tratar a pessoa como
merece, nem tratá-la melhor do que merece", escreveu L. S. Chafer. "E
tratá-la graciosamente sem a mínima referência aos seus méritos. Graça é amor
infinito expressando-se em bondade infinita."
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de
vós, é dom de DEUS. Efésios 2:8
2. A provisão de DEUS.
Mas, vindo a plenitude dos tempos, DEUS enviou seu Filho, nascido
de mulher, nascido sob a lei, Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim
de recebermos a adoção de filhos. E, porque sois filhos, DEUS enviou aos vossos
corações o ESPÍRITO de seu Filho, que clama: Aba, Pai. Gálatas 4:4-6
Porque DEUS amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho
unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna. João 3:16
A questão do pecado encontra resposta e solução quando encontramos
na Bíblia a declaração de Paulo de que DEUS propôs JESUS CRISTO como
propiciação pelo seu sangue, para receber toda a carga da ira de DEUS contra o
pecado (Rm 3.25; 2 Co 5.21; Gl 3.13). Significa que a cruz
foi o meio pelo qual DEUS castiga o pecado. O próprio DEUS, perfeito em
justiça, tornou possível a expiação dos pecados por aquele que se fez nosso
justificador perfeito (Rm 3.26).
A redenção.
Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três
revelações de DEUS, que por toda a Bíblia figuram em todas as relações
de DEUS com o homem. O Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o
DEUS do Pacto que entra em relações pessoais com o homem (cap. 2); o
Redentor, que faz provisão para a restauração do homem (cap. 3).
(a) Prometida. (Vide Gên. 3:15.) (1) A serpente
procurou fazer aliança com Eva contra DEUS, mas DEUS por fim a essa
aliança. "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente
(descendentes) e a sua semente." Em outras palavras, haverá uma luta
constante entre o homem e o poder maligno que causou a sua queda. (2) Qual
será o resultado desse conflito? Primeiro, vitória para a humanidade, por meio
do Representante do homem, a Semente da mulher. "Ela (a semente da
mulher) te ferirá a cabeça." CRISTO, a Semente da mulher, veio ao mundo
para esmagar o poder do diabo. (Mat. 1:23, 25; Luc. 1:31-35,76; Isa. 7:14; Gál. 4:4; Rom. 16:20; Col. 2:15; Heb. 2:14,15; 1 João 3:8; 5:5; Apoc. 12:7, 8, 17; 20:1-3, 10.) (3) Porém a vitória não
será sem sofrimento. "E tu (a serpente) lhe ferirás o
calcanhar." No Calvário a Serpente feriu o calcanhar da Semente da
mulher; mas este ferimento trouxe a cura para a humanidade. (Vide Isa. 53:3,4,12; Dan. 9:26; Mat. 4:1-10; Luc. 22:39-14,53; João 12:31-33; 14:30,31; Heb. 2:18; 5:7; Apoc. 2:10.)
(b) Prefigurada. (Verso 21.) DEUS matou um animal, uma criatura
inocente, para poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista
por causa do pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à
morte, a fim de prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
Três aspectos da salvação.
Há três aspectos da salvação, e cada qual se caracteriza por uma
palavra que define ou ilustra cada aspecto:
(a) Justificação é um termo forense que nos faz lembrar
um tribunal. O homem, culpado e condenado, perante DEUS, é absolvido e
declarado justo — isto é, justificado.
(b) Regeneração (a experiência subjetiva) e
Adoção (o privilégio objetivo) sugerem uma cena familiar. A alma, morta em
transgressões e ofensas, precisa duma nova vida, sendo esta concedida por um
ato divino de regeneração. A pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de DEUS
e membro de sua família.
(c) A palavra santificação sugere uma cena do templo,
pois essa palavra relaciona-se com o culto a DEUS. Harmonizadas suas relações
com a lei de DEUS e tendo recebido uma nova vida, a pessoa, dessa hora em
diante, dedica-se ao serviço de DEUS. Comprado por elevado preço, já não é dono
de si; não mais se afasta do templo (figurativamente falando), mas serve a DEUS
de dia e de noite. (Luc. 2:37.)
Tal pessoa é santificada e por sua própria vontade entrega-se a DEUS.
O homem salvo, portanto, é aquele cuja vida foi harmonizada com
DEUS, foi adotado na família divina, e agora dedica-se a servi-lo. Em outras
palavras, sua experiência da salvação, ou seu estado de graça, consiste em
justificação, regeneração (e adoção), e santificação. Sendo justificado, ele
pertence aos justos; sendo regenerado, ele é filho de DEUS; sendo santificado,
ele é "santo" (literalmente uma pessoa santa)
São essas bênçãos simultâneas ou consecutivas? Existe, de fato, uma
ordem lógica: o pecador harmoniza-se, primeiramente, perante a lei de DEUS; sua
vida é desordenada; precisa ser transformada. Ele vivia para o pecado e para o
mundo e, portanto, precisa separar-se para uma nova vida, para servir a DEUS.
Ao mesmo tempo as três experiências são simultâneas no sentido de que, na
prática, não se separam. Nós as separamos para poder estudá-las. As três
constituem a plena salvação. À mudança exterior, ou legal, chamada
justificação, segue-se a mudança subjetiva chamada regeneração, e esta , por
sua vez, é seguida por dedicação ao serviço de DEUS. Não concordamos em que a
pessoa verdadeiramente justificada não seja regenerada; nem admitimos que a
pessoa verdadeiramente regenerada não seja santificada (embora seja possível,
na prática, uma pessoa salva, às vezes, violar a sua consagração). Não pode
haver plena salvação \ sem essas três experiências, como não pode haver um
triângulo sem três lados. Representam elas o tríplice fundamento sobre o qual
se baseia subsequente vida cristã. Começando com esses três princípios,
progride a vida cristã em direção à perfeição.
Essa tríplice distinção regula a linguagem do Novo Testamento em
seus mínimos detalhes. Ilustremos assim:
(a) Em relação à justificação: DEUS é o Juiz, e CRISTO é o
Advogado; o pecado é a transgressão da lei; a expiação é a satisfação dessa
lei; o arrependimento é convicção; aceitação traz perdão ou remissão dos
pecados; o ESPÍRITO testifica do perdão; a vida cristã é obediência e sua
perfeição é o cumprimento da lei da justiça.
(b) A salvação é também uma nova vida em CRISTO. Em relação a essa
nova vida, DEUS é o Pai (Aquele que gera), CRISTO é o Irmão mais velho e a
vida; o pecado é obstinação, é a escolha da nossa própria vontade em lugar da
vontade do Chefe da família; expiação é reconciliação; aceitação é adoção;
renovação de vida é regeneração, é ser nascido de novo; a vida cristã significa
a crucificação e mortificação da velha natureza, a qual se opõe ao aparecimento
da nova natureza, e a perfeição dessa nova vida é o reflexo perfeito da imagem
de CRISTO, o unigênito Filho de DEUS.
(c) A vida cristã é a vida dedicada ao culto e ao serviço de DEUS,
isto é, a vida santificada. Em relação a essa Vida santificada, DEUS é o SANTO;
CRISTO é o sumo sacerdote; o pecado é a impureza; o arrependimento é a
consciência dessa impureza; a expiação é o sacrifício expiatório ou
substitutivo; a vida cristã é a dedicação sobre o altar (Rom. 12:1); e a perfeição
desse aspecto é a inteira separação do pecado; separação para DEUS.
E essas três bênçãos da graça foram providas pela morte expiatória
de CRISTO, e as virtudes dessa morte são concedidas ao homem pelo ESPÍRITO
SANTO. Quanto à satisfação das reivindicações da lei, a expiação proveu o
perdão e a justiça para o homem. Abolindo a barreira existente entre DEUS e o
homem, ela possibilitou a nossa vida regenerada. Como sacrifício pela
purificação do pecado, seus benefícios são santificação e pureza.
Notemos que essas três bênçãos fluem da nossa união com CRISTO. O
crente é um com CRISTO, em virtude de sua morte expiatória e em virtude do seu
ESPÍRITO vivificante. Tornamo-nos justiça de DEUS nele, (2 Cor. 5:21); por ele temos
perdão dos pecados (Efés. 1:7);
nele somos novas criaturas, nascidos de novo, com nova vida (2 Cor. 5:17); nele somos
santificados (1Cor. 1:2), e
ele é feito para nós santificação (1Cor. 1:30). Ele é "autor
da salvação eterna"
A ressurreição de CRISTO é o grande milagre do Cristianismo.
Uma vez que é estabelecida a realidade desse evento, torna-se
desnecessário procurar provar os demais milagres dos Evangelhos. Ademais,
é o milagre com o qual a fé cristã está em pé ou cai, isso em razão de ser
o Cristianismo uma religião histórica que baseia seus ensinos em eventos
definidos que ocorreram na Palestina há mais de mil e novecentos anos.
Esses eventos, são: o nascimento e o ministério de JESUS CRISTO, culminando
na sua morte, sepultamento e ressurreição. Desses, a ressurreição é a
pedra angular, pois se CRISTO não tivesse ressuscitado, então não seria o
que ele próprio afirmou ser; e sua morte não seria expiatória. Se CRISTO
não houvesse ressuscitado, então os cristãos estariam sendo enganados
durante séculos; os pregadores estariam proclamando um erro; e os fiéis
estariam sendo enganados por uma falsa esperança de salvação. Mas, graças
a DEUS, que, em vez de ponto de interrogação, podemos colocar o ponto de
exclamação após ter sido exposta essa doutrina: "Mas agora CRISTO
ressuscitou dos mortos, e foi feito as primícias dos que dormem!"
A ressurreição. Ela significa que JESUS é tudo quanto ele
afirmou ser: Filho de DEUS, Salvador, e Senhor (Rom. 1:4). A resposta do mundo
às reivindicações de JESUS foi a cruz; a resposta de DEUS, entretanto, foi
a ressurreição. A ressurreição significa que a morte expiatória de CRISTO foi
uma divina realidade, e que o homem pode encontrar o perdão dos seus pecados,
e assim ter paz com DEUS (Rom.
4:25). A ressurreição é realmente a consumação da morte expiatória de
CRISTO. Como sabemos pois que não foi uma morte comum — e que realmente
ela tira o pecado? Porque ele ressuscitou! A ressurreição significa que
temos um Sumo Sacerdote no céu, que se compadece de nós, que viveu a nossa
vida e conhece as nossas tristezas e fraquezas; que é poderoso para
dar-nos poder para diariamente vivermos a vida de CRISTO. JESUS que morreu
por nós, agora vive por nós. (Rom. 8:34; Heb. 7:25.) Significa que
podemos saber que há uma vida vindoura. Uma objeção comum a essa verdade é:
"Mas ninguém jamais voltou para falar-nos do outro mundo."
Mas alguém voltou — esse alguém é JESUS CRISTO! "Se um
homem morrer, tornará a viver?" A essa pergunta antiga a
ciência somente pode dizer: "não sei." A filosofia apenas diz:
"Deve haver uma vida futura." Porém, o Cristianismo afirma:
"Porque ele vive, nós também viveremos; porque ele ressuscitou dos
mortos, também todos ressuscitaremos"! A ressurreição de CRISTO não
somente constitui a prova da imortalidade, mas também a certeza da
imortalidade pessoal, (1 Tes.
4:14; 2 Cor. 4:14; João 14:19.) Isto significa
que há certeza de juízo futuro. Como disse o inspirado apóstolo, DEUS
"tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo,
por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos,
ressuscitando-o dos mortos" (Atos 17:31). Tão certo como
JESUS ressuscitou dos mortos para ser o Juiz dos homens, assim
ressuscitarão também da morte os homens para serem julgados por ele.
CONCLUSÃO
Dentre as muitas definições do termo pecado encontramos dois
principais termos hebraicos awon e peshá. O que é pecado? "o pecado é a
transgressão da lei" (1 Jo 3.4; ARA) e "toda iniquidade é
pecado" (1 Jo 5.17). A origem do pecado é vista na Bíblia, primeiro, na
esfera celeste, através de Lúcifer, que se torna Satanás; depois na
esfera terrestre, com Eva sendo enganada e Adão sendo responsabilizado pela
entrada do pecado no mundo e gerando assim, a morte a todos os seres humanos
(Rm 5.12), o que é chamado de universalidade do pecado. Isso se deu no Éden.
DEUS em seu infinito amor e misericórdia traçou um plano de
redenção antes mesmo da fundação do mundo, já que para DEUS não existe passado,
presente e futuro; ELE viu o nascimento do primeiro homem e sua queda e o
resultado de seu pecado na raça humana inteira, assim já criou meio pelo qual a
raça humana pudesse ser salva, perdoada de seus pecados. Enviou ao mundo a
solução para o pecado. Nem tudo estava perdido. DEUS trouxe sua provisão –
JESUS CRISTO. Glória a DEUS. Fomos restaurados a DEUS pelo arrependimento (At
3.19; 2 Co 7.10) e pela fé em JESUS (Rm 5.1). Confessamos a JESUS e cremos em
sua morte e ressurreição e somos salvos. (Rm 10.9). Sem merecimento algum,
somente pelka graça de DEUS (Ef 2.8, 9).
))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Comentários de algumas Bíblias, Dicionários e Livros
Teologia Sistemática Pentecostal - CPAD - Capítulo 6 -
Hamartiologia - A Doutrina do Pecado - Pr. Elienai Cabral
Um dos mais profundos problemas da teologia e da filosofia é a
existência e a ação do mal. Ao longo da História, o mal tem sido motivo de
estudo, pesquisa e discussão, de modo especulativo, mas também de maneira
séria. Haja vista o poder do mal impor-se de modo natural na experiência
humana, a preocupação com a sua origem desafia a inteligência e aguça o
interesse em descobri-lo na sua essência.
Neste campo da realidade universal do mal entra a História da raça
humana através da primeira criatura: o homem. Este, por seu livre-arbítrio, cai
na rede de engano do agente do mal, o Diabo, e pratica o pecado de rebelião
contra o Criador.
O que é pecado? Como se manifesta? Como entrou no mundo? Essas
perguntas têm deixado muitos pensadores perplexos. Neste capítulo, trataremos
da abordagem teológica e também filosófica acerca do pecado e o que
corretamente ensina a Bíblia sobre o assunto.
Introdução à Hamartiologia
A questão do mal é tratada na Bíblia a partir do relato do livro de
Gênesis sobre a Queda do homem. O relato histórico descreve o princípio da
tentação ao homem e seu pecado, trazendo maldição para a sua vida pessoal e a
toda a humanidade. As questões levantadas ao longo da História sobre a Queda
serão aclaradas neste capítulo.
Na teologia cristã, a doutrina do pecado ocupa grande espaço porque
o cristianismo é a religião da redenção da raça humana. De todas as doutrinas
bíblicas, três delas são de vasta amplitude porque tratam de DEUS, do pecado e
da redenção. Existe uma inter-relação entre essas três doutrinas. É impossível
tratar do pecado sem mencionar a redenção do pecador e, naturalmente, a sua
relação com a sua fonte: DEUS.
O termo “hamartiologia” deriva de dois vocábulos da língua grega, a
língua do Novo Testamento: hamartia e logos, os quais significam “estudo acerca
do pecado”. O termo é aplicável ao pecado, seja este considerado um ato, seja
considerado um estado ou uma condição. O sentido do termo é que o pecado é um
desvio do fim (ou propósito) estabelecido por DEUS para determinado fato ou
conduta humana.
O QUE É PECADO
A palavra “pecado” é sinônima de muitas outras usadas na Bíblia, as
quais indicam conceitos bíblicos distintos sobre o pecado. São vários os termos
que amplificam o conceito de pecado nas suas várias manifestações.
No Antigo Testamento. Encontramos no Antigo Testamento pelo menos
oito palavras básicas que conceituam o pecado; no Novo Testamento, temos, pelo
menos, doze outras que descrevem as várias formas de manifestações negativas
relacionadas com o termo “pecado”. No étimo das palavras mencionadas no Antigo
Testamento descobrimos a abrangência do pecado em suas manifestações.
Hattat. Este vocábulo, que aparece 522 vezes nas páginas
veterotestamentárias, e seu termo correlato no Novo Testamento — hamartia —
sugerem a ideia de “errar o alvo” ou “desviar-se do rumo”, como o arqueiro
antigo que atirava as suas flechas e errava o alvo. Porém, o termo também
sugere alguém que erra o alvo propositadamente; ou seja, que atinge outro alvo
intencionalmente.
Não se trata de uma ideia passiva de erro, mas implica uma ação
proposital. Significa que cada ser humano tem da parte de DEUS um alvo definido
diante de si para alcançá-lo. O termo em apreço denota tanto a disposição de
pecar como o ato resultante dela. Em síntese, o homem não foi criado para o
pecado; se pecou, foi por seu livre-arbítrio, sua livre escolha (Lv 16.21; Sm 1.1; 51.4; 103.10; Is 1. 18; Dn 9.16; Os 12.8).
Pesha. O sentido tradicional dessa palavra é “transgredir”,
“rebelar”, "revoltar-se”. Porém, uma variante forte para defini-la implica
o ato de invadir, de ir além, de rebelar-se. O termo aponta para alguém que foi
além dos limites estabelecidos (Gn
31. 36; I Rs 12.19; 2 Rs 3.5; Sm 51.13;
89.32; Is 1.2; Am 4.4).
Raa. Outra palavra hebraica que tem seu equivalente no grego — como
kakos ou poneros — e traz a ideia básica de romper, quebrar; “aquilo que causa
dano, dor ou tristeza”. E um tipo de pecado deliberado, malicioso, planejado,
que provoca e enfurece. Dá a ideia de “ser mau” (Gn 8.21; Ex 33.4; Jr 11.11; Mq 2.1-3). Indica também
algo injurioso e moralmente errado. São os pecados expressos por violência (Gn 3.5; 38.7; Jz 11.27).
O profeta Isaías profetizou que DEUS criou a luz e as trevas, a paz
e o raa Is 4.57. E o mal em forma de calamidade, ruína, miséria, aflição,
infortúnio. DEUS não tem culpa do mal existente, porque, na verdade, a
responsabilidade pelos pecados cometidos recai, à luz da Bíblia, sobre a
criatura rebelde, transgressora e incriminada, e não sobre o Criador.
Rama quer dizer “enganar”; dá a ideia de prender numa armadilha,
num laço. Implica, portanto, um tipo de pecado em forma de cilada para outrem
cair. E uma forma de enganar e agir traiçoeiramente (SI 32.2; 34.13;
55.11; Jó 13.7; Is 53.9).
Pata. E um termo que dá a ideia de seduzir. O sentido literal da
palavra é “ser aberto” ou “abrir espaço” para o pecado ter livre curso. No
Èden, Adão e Eva se deixaram seduzir pelo engano do pecado e pelo pai do pecado
(Satanás), personificado numa serpente (Gn 3.4-7).
Shagag. O sentido aqui é “errar” ou “extraviar-se”, como uma ovelha
ou um bêbado (Is 28.7). E
um tipo de erro pelo qual o transgressor torna-se responsável, ante a lei
divina que condena o seu erro — pecado (Lv 4.2; Nm 15.22).
Rasha. Esta palavra aparece especialmente nos Salmos, com a ideia
de impiedade ou perversidade. O sentido metafórico é o pecado em oposição à
justiça (Êx 2.13; SI 9; SI
16; Pv 15.9; Ez 18.23).
Ta a. Este vocábulo se refere ao ato de extravio deliberado. Não se
trata de algo acidental, e sim algo que uma pessoa comete sem perceber o fruto
negativo gerado pelos seus atos pecaminosos (Nm 15.22; Sl 58.3; 119.21; Is 53.6; Ez 44.10,15).
Existem outras variantes do termo que ensinam sobre o pecado no
Antigo Testamento, mas nos detivemos apenas em oito deles que ilustram a
diversidade e a perversidade do pecado em suas várias manifestações.
No Novo Testamento. No grego, a palavra “pecado” também tem vários
sentidos, e alguns são correlatos com os termos hebraicos. Todos esses
vocábulos do grego bíblico descrevem o pecado em seus vários aspectos.
Apresentaremos uma lista menos extensa, mas igualmente proveitosa para definir
o incisivas das palavras mais incisivas e usadas com mais freqüência no Novo
Testamento acerca do pecado.
Hamartia. Já citada em correlação com kattaa (hb.), seu sentido é
“errar o alvo”, “perder o rumo”, “fracassar”. Indica que o primeiro homem, no
princípio, perdeu o rumo de sua vida e fracassou em não atingir o padrão divino
estabelecido para a sua vida. No Novo Testamento, os escritores usaram o termo
bamartia para designar o pecado.
Ainda que o sentido equivalente no Antigo Testamento seja o de
“errar o alvo”, nas páginas neotestamentárias a palavra em apreço tem uma
abrangência bem maior — possui um sentido mais forte que a ideia de fracasso ou
transgressão. Ela tem o sentido de “poder de engano do pecado” (Rm 5.12; Hb 3.13); é mais que um
fracasso. Trata-se de uma condição responsável ou uma característica que
implica culpabilidade.
Kakia. No grego, relaciona-se com perversidade ou depravação, como
algo oposto à virtude. E um termo que descreve o caráter e a disposição
interiores, e não apenas os atos exteriores. Dele deriva-se outra palavra,
kakos, cujo sentido transcende a mal-estar físico ou doenças (Mc 1.32; Mt 21.41; 24.48; At 9.13; Rm 12.17; 13,3,4,10; 16.19; I Tm 6.10).
Adíkía. Denota injustiça, falta de integridade; como alguém que
abandona o caminho original. Em sentido amplo, esse termo refere-se a qualquer
conduta errada e significa, ainda, “agravo”, “ofensa feita a alguém” (2 Co 12.13; Hb 8.12; Rm 1.18; 9.14). O texto de Romanos 1.18 descreve a
injustiça como inimizade para com a verdade. Em I João 5.17, o apóstolo João
afirma que toda iniquidade (gr. adikia) é pecado (gr. hamartia).
Anomia ou anomos. Denotam ilegalidade; tais palavras são traduzidas
frequentemente como “iniquidade” ou “transgressão”. Porém, o sentido literal de
literal de anomia é “sem lei”. Quem transgride a lei de DEUS pratica a iniquidade
(Mt 13.41; 24.12; I Tm 1.9). O Anticristo é
anomos— “o míquo” (2Ts 2.8).
Apistia. Deriva de pistis — “crer”, “confiar” — e significa
“infidelidade”, “falta de fé” ou algum tipo de resistência ou vergonha (Hb 3.12; I Tm I.13). Em I Timóteo 1.13 está
escrito: “... alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na
incredulidade [gr. apistia]”.
Asebeia. Usado por Paulo nas epístolas com o sentido de impiedade (Rm 1.18; 11.26; 2Tm 2.16;Tt 2.12; Jd vv.I5,I8).
Portanto, a impiedade ou a irreverência são a base da asebeia.
Aselgeia. Denota relaxamento, licenciosidade ou mesmo sensualidade.
Em Judas v.4 encontramos dois termos que explicam essas palavras: “... homens
ímpios [asebeis] que convertem em dissolução [aselgeian, ‘libertinagem’] a
graça de DEUS”. Esse termo descreve, pois, uma entrega sem restrições à prática
do pecado. Os especialistas o descrevem como algo maldito que domina uma pessoa
e a torna impudica de tal modo que perde totalmente o senso de vergonha e, por
isso, faz qualquer coisa degradante sem ocultar seu pecado.
O termo em análise significa, por conseguinte, “a pura e
auto-satisfação sem o menor pudor”, haja vista o desejo pelos prazeres tornar a
sua vítima despudorada, sem restrições. As chamadas taras sexuais, a embriaguez
e outras manifestações são típicas de aselgeia. Sem dúvidas, trata-se de uma
das palavras mais repulsivas do Novo Testamento (Mt 7.22; 2 Co 12.21; G1 5.19; Ef 4.19; I Pe 4.3; Jd v.4; Rm 13.13; 2 Pe 2.2,7,18). A versão ARC traduz o
termo por “libertinagem”, enquanto a ARA prefere “dissolução”.
Epitkymía. Significa “desejo”. Porém, é o contexto da palavra
encontrada no Novo Testamento que pode indicar o caráter moral do desejo, se é
bom ou mau. Coisas, como: motivo, intenção, direção e relação, revelarão o
caráter moral de epithymia (Mc 4.19; Lc 22.15; Fp 1.23; I Ts 2.17). De modo geral, o
vocábulo quase sempre se identifica com algo negativo e pecaminoso. Daí o
significado poderá indicar “desejo incontinente”, normalmente traduzido como
“concupiscência”,
“paixão impura” (G1 5.24; Cl 3.5; I Ts 4.5;Tg I.I4; 2 Pe 2.10).
Parabasis. Aparece nas páginas neotestamentárias umas oito vezes. O
significado primário do termo é “transgressão”, que dá a ideia de alguém que
não respeita as leis, passando dos limites estabelecidos. Emprega-se esse
vocábulo com o sentido de “desvio”, “violação” e “transgressão”. No texto
de Romanos 5.14, Paulo
faz uma relação entre hamartia e parabasis, ao afirmar: “No entanto, a morte
reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da
transgressão de Adão” (grifos do autor).
O apóstolo Paulo não está dizendo que os que pecaram desde Adão até
Moisés estão livres de culpa, e sim que aquelas gerações, não tendo a lei de
Moisés, seu pecado era tão real quanto ao dos que tinham a lei. Em I Timóteo 2.14 está
escrito que Eva caiu em transgressão (parabasis), ao ser enganada, porque ela
foi rebelde contra a ordem divina. Não se tratava de reduzir a culpa de Eva, e
sim reconhecer que ela podia ter evitado o pecado de desobediência.
Paraptoma. Deriva de parapipto e significa “decair ao lado de”,
“perder o caminho”, “fracassar”. De modo geral, significa “lapso moral” ou “uma
ofensa pela qual a pessoa é responsável”.1 Vários textos exemplificam o termo
paraptoma (Mt 6.14; Rm 5.15-20; 2 Co 5.19; G1 6.19; Ef 2.I;Tg 5.16).
Planao. Tem um sentido subjetivo de pecado porque se refere àquele
que se desgarra culposamente. A palavra “desgarrar” relaciona-se com a ovelha
que foge do aprisco (I Pe 2.25);
também significa levar, por meio do engano, outras pessoas ao mau caminho (Mt 24.5,6; I Jo 1.8).
Todas essas palavras, segundo o seu étimo, descrevem o caráter
geral do pecado. Porém, definiremos o pecado, também, em outras perspectivas,
para que entendamos toda a sua abrangência na vida humana.
O HOMEM ANTES DA QUEDA
A Bíblia é a única fonte segura concernente a criação do homem e
seu estado original. De forma simples e objetiva o Gênesis declara que, depois
de tudo feito — especialmente, o homem —, “viu DEUS que era muito bom” (Gn 1.31). Contudo, a Bíblia não
só revela o primeiro estado do homem, como relata a história da perda do seu
primeiro estado de santidade, pela Queda, e também a possibilidade de sua
restauração (Cl 3.10; Ef 4.24).
Criado à imagem e semelhança de DEUS (Gn 1.26,27). Em que consiste esta
imagem de DEUS? Ao longo da História, os teólogos vêm discutindo sobre as
diferenças entre “imagem e semelhança”. Porém, a distinção entre as duas
características quase se confunde com a diferença entre personalidade (ou
pessoalidade) e espiritualidade. No hebraico, as palavras “imagem” fselem) e
“semelhança” (demutj exprimem a ideia de algo similar, mas não idêntico à coisa
que representa ou de que é uma “imagem”.
Há uma distância infinita entre DEUS e a sua criatura-prima — o
homem. Só CRISTO é a imagem expressa da Pessoa de DEUS, como o Filho do Pai,
que possui a mesma natureza daquEle. Na verdade, a imagem divina no homem é
como a sombra no espelho.
Mathew Henry, em seu Comentário Bíblico, escreveu:
... a imagem de DEUS no homem consiste em três coisas. (Vj Em
sua natureza e constituição, não do corpo, pois DEUS não tem corpo, e sim de
características da alma e espírito. (2) Em seu lugar e autoridade, pois quando
disse: “façamos o homem à nossa imagem... e domineo homem recebeu autoridade
sobre as criaturas inferiores (os animais). (3) Em sua pureza e retidão. A
imagem de DEUS no homem é revestida de retidão e santidade (Ef 4.24; Cl 3.10).
O homem, como imagem de DEUS, foi dotado de atributo moral, isto é,
de justiça original. Porém, essa justiça não era imutável; havia a
possibilidade de pecado. Ele foi dotado de livre-arbítrio. O homem foi criado
com uma natureza santa, voltada naturalmente para DEUS e sua vontade. Essa
imagem divina no homem revela a natureza religiosa dele, haja vista ter sido
dotado de “espírito”, para manter comunhão com o seu Criador.
A Queda distorceu e avariou a imagem divina no homem. O destaque
maior no relato da criação está na palavra “imagem”: “E criou DEUS o homem à
sua imagem, à imagem de DEUS o criou” (Gn 1.27). Existem alguns
ensinamentos de que o ser humano na Queda perdeu a imagem de DEUS em si. Essa
teoria é incoerente, pois a imagem e a semelhança, de fato, se referem aos
aspectos moral e espiritual, os quais ainda persistem no ser humano, apesar de
desfigurados e transtornados pela Queda e o pecado subsequente.
Quanto à imagem moral, o homem é constituído de intelecto, vontade
e sentimento; isto é, as faculdades da alma. Quanto à imagem espiritual, ele
possui espírito e alma. Essas imagens não integram a criação animal.
O homem perdeu a santidade original, a pureza de atitudes. Seu
caráter foi afetado; tornou-se o ser humano pecaminoso. Seu intelecto foi
corrompido pela mentira, pela falsidade e pelo engano. Disse o sábio, em
Eclesiastes que DEUS fez o homem reto, mas ele se envolveu em muitas astúcias
(7.29).
A imagem de DEUS no homem está, pois, deturpada. Só é possível a
sua restauração pela obra expiatória de CRISTO. O corpo não é a imagem de DEUS,
porque é formado do pó. Porém, o Senhor soprou nele a nephesh — a vida física
da alma que possui a imagem e semelhança de DEUS (Gn 2.7). Os impulsos físicos,
pois, encontram-se sob o controle do espírito humano, a sua parte superior.
O primeiro homem possuía um corpo e um espírito (e alma)
perfeitamente adequados um ao outro. Não havia conflito entre os impulsos
pessoais e os espirituais. Era um tipo de perfeição física e espiritual, mas
não era uma perfeição absoluta, e sim relativa e provisória (Gn 3.22).
Teorias filosóficas
Ao longo da História, a preocupação com a existência do mal tem
provocado muitas perguntas e respostas. O problema da presença do pecado no
Universo é discutido por filósofos, sociólogos, psicólogos e teólogos.
Especialmente, no campo da filosofia, há muitas teorias que tentam em vão
analisar e definir o que é pecado.
Conceitos antíteístas e anticristãos. Há opiniões extremamente
especulativas e arbitrárias sobre esse assunto. Por isso, ao trazê-las à tona
neste estudo, queremos destacar dois elementos auxiliares para o estudo do
pecado. O primeiro trata da natureza metafísica do pecado, e o segundo, de sua
natureza moral. Surgem, então, as questões: O que é aquilo que denominamos
pecado? Seria uma substância, um princípio ou um ato? Significaria privação,
negação ou defeito? Seria alguma coisa relacionada com sentimento?
Essas perguntas se relacionam com a natureza metafísica do pecado.
Mas, e as questões sobre a natureza moral do pecado? Como o pecado se relaciona
com a lei de DEUS? Que relação tem o pecado com a santidade e com a justiça?
Algumas teorias sobre a natureza do pecado são apresentadas ao longo da
História, no estudo progressivo das doutrinas cristãs. Algumas dessas teorias
são incoerentes com a realidade bíblica do pecado e, por isso, heréticas; mas
outras merecem a nossa apreciação.
A primeira teoria filosófica e antibíblica que mencionaremos é a
que ensina a existência de um eterno princípio do mal. Ela se difundiu e foi
introduzida na igreja nos primeiros séculos da Era Cristã. Para alguns, esse
princípio original do mal se identificava como um ser pessoal. Trata-se do
gnosticismo. Para outros, seguidores do gnosticismo, dos marcionistas e dos
maniqueus, tal princípio era uma substância, uma matéria eterna.
Esses dois princípios não encontram respaldo na Palavra de DEUS e,
por essa razão, são nulos. Tal teoria vê o pecado como um mal físico que
contamina o espírito humano. Por isso, esse mal deve ser vencido por meios
físicos. Trata-se de uma teoria que insinua que o pecado é eterno e
independente do DEUS Eterno. Sugere que DEUS é limitado por um poder coeterno,
que Ele não pode controlar. Ou seja, o mal tem o seu próprio poder, assim como
DEUS possui o seu.
A ideia sugerida por essa teoria, de que o mal é um poder
independente e sem controle, destrói, por assim dizer, a natureza do pecado
como um mal moral, haja vista fazer dele uma substância inseparável da natureza
humana. Dessa forma, não admite que o homem possa se livrar do pecado.
Essa teoria compromete, ainda, a responsabilidade humana, uma vez
que atribui a sua origem a um mal eterno. Claramente, a Bíblia refuta
terminantemente essa teoria, pois o pecado não é eterno; e, quando o homem
pecou, fez isso por escolha intencional e voluntária.
Outra teoria filosófico-antibíblica é a que apresenta o pecado como
um mal necessário. Ela se baseia na lei de que toda a vida implica ação e
reação. Argumenta-se que, no Universo material, prevalece a mesma lei pela qual
os corpos celestes são conservados em suas órbitas pelo equilíbrio de forças
centrífugas e centrípetas. Ensina, ainda, que todas as mudanças químicas são
produzidas por atração e repulsão, e que a mesma lei deve prevalecer no mundo
moral; e que não pode haver bem sem mal.
Essa teoria ensina, portanto, que, em relação ao homem, a sua vida
é equilibrada por forças contrárias e se desenvolve através do antagonismo; ou
seja, por princípios opostos, de modo que um mundo moral sem pecado é
impossível. A essência dessa teoria é a de que o pecado é a condição necessária
para a existência do bem. Defende-se por esse conceito a ideia de que “o pecado
é um resultado necessário, e decorrente, da limitação do ser finito do homem”2,
“um incidente do desenvolvimento imperfeito, fruto da ignorância e falta de
poder; portanto, o pecado não é um mal absoluto, mas relativo”.3
Não obstante, a Palavra de DEUS ensina, refutando essa teoria, que
se o bem não pode existir sem o mal, o mal deixa de ser algo condenável e
repulsivo diante de DEUS, e a criatura humana deixa de ser responsável pelo
pecado entranhado em sua natureza. Entende-se, então, por essa teoria, que a
natureza humana seria um engano, e tudo quanto a Bíblia ensina contra o pecado,
uma utopia.
A terceira teoria falsa ensina que a fonte e a sede do pecado estão
na natureza sensorial do homem. Essa teoria separa e distingue o corpo do
espírito humano. Por ela entende-se que essa distinção especifica o pecado como
algo sensorial. Ensina que, mediante o corpo, o homem está ligado ao mundo
físico ou à natureza externa; e, por meio da alma, ao mundo espiritual e a
DEUS.
Essa teoria declara que o homem é governado universalmente, sempre
em grau pecaminoso, por sua natureza sensorial. Em síntese, o negativo
prevalece sobre o positivo, por isso, o homem é vencido pelo pecado.
Biblicamente, essa teoria é falsa e equivocada, porque o pecado não é
um ato ou estado sensorial no homem. Essa teoria neutraliza a consciência de
pecado e de culpa, porque faz do pecado um mera debilidade.
A doutrina bíblica ensina que a pecaminosidade do homem se
identifica, metaforicamente, como “carne”, que refere-se à sua natureza
corrompida e pecaminosa, adquirida na Queda. A Bíblia desmente a teoria que faz
do corpo ou da natureza sensorial do homem a fonte do pecado. Rejeita a ideia
de que os pecados mais degradantes cometidos pelo homem nada tenham a ver com o
corpo. Pelo contrário, a Bíblia diz que seremos julgados por aquilo que
tivermos feito por meio do corpo, bem ou mal (2 Co 5.10).
Outra teoria filosófica ao tratar do caráter do pecado declara que
a essência do pecado é o egoísmo. A Bíblia declara que o homem foi criado com
perfeição e, portanto, seu ego correspondia ao ideal divino do
“livre-arbítrio”. Ora, pertencente a natureza original do homem, o egoísmo não
pode ser confundido com seu instinto de autopreservação e de buscar as coisas
que lhe dão prazer e satisfação.
Naturalmente, isto não se constitui um estado pecaminoso. Buscar
com retidão a felicidade e o prazer na vida não significa, essencialmente,
angariá-los em detrimento dos demais seres. O que torna essa busca um modo
egoístico negativo de se obter felicidade é a força do pecado entranhada na
natureza pecaminosa embutida no homem (Rm 5.12).
O egoísmo integra o estado decaído do homem. Alguns teólogos
declaram que “o pecado de Adão teve origem no egoísmo, porque ele quis ser
igual a DEUS”.4 Langston entende que o egoísmo é o coração do pecado e é a
origem do pecado. O pecado veio de fora e a Bíblia o declara como transgressão
da lei de DEUS (I Jo 3.4).
Antes da manifestação do pecado na vida do homem havia uma “lei escrita no seu
coração” (Rm 2.15).
Definições conceituais do pecado
Abordamos definições de termos bíblicos relacionados com o pecado
e, também, definições filosóficas. Os estudiosos cristãos do assunto em apreço
tentam definir de várias maneiras, partindo do conceito mais expressivo e
bíblico de que o pecado existe como um ato, bem como um estado ou condição.
Alguns nomes respeitados da história do cristianismo, “Idade Média” em diante,
conceituam teologicamente o pecado de forma bem clara.
John Wesley, pai do metodismo, definiu o pecado como uma
transgressão voluntária de uma lei conhecida. Um outro famoso teólogo da época
ressaltou a natureza dupla do pecado ao declarar que “a ideia primária
designada pelo termo pecado nas Escrituras é a falta de conformidade com a lei,
uma transgressão da lei; o fazer algo proibido, o deixar de fazer aquilo que é
requerido”.
Augustus Hopkins Strong, eminente professor de teologia nos Estados
Unidos, escreveu sobre a doutrina do Pecado em sua Teologia Sistemática de
1886, que “pecado é a falta de conformidade com a lei moral de DEUS quer em
ato, disposição ou estado”.3
W.T. Conner, em Doctrína Cristiana, ao falar da natureza do pecado
escreveu: “... definimos o pecado como a rebelião contra a vontade de DEUS”; “o
pecado, como algo voluntário, implica conhecimento. Se o homem peca
voluntariamente, então seu pecado é contra a luz”.6 Paulo esclareceu que todo
ser humano tem um certo grau de conhecimento da lei moral de DEUS e, por isso,
“não há um justo, nenhum sequer” (Rm 3.10).
Charles Hodge escreveu que “o pecado é falta de conformidade coma
lei de DEUS” e “inclui culpa e contaminação; a primeira expressa sua relação
com a justiça; a segunda, sua relação com a santidade de DEUS”.7
Outras definições de pecado. E um ato livre e voluntário do ser
humano, tendo em vista que ele é um ser moral e, por isso, capaz de perceber o
certo e o errado. O homem é um agente moral livre para decidir o que fazer da
sua vida, o qual deve seriamente considerar Eclesiastes 11.9.
O pecado é um tipo de mal. Nem todo mal é pecado. Existem males
físicos resultantes da entrada do pecado no mundo. Na esfera física temos um
tipo de mal manifesto nas doenças e enfermidades. Entretanto, na esfera ética,
o mal tem sentido moral. Nesta esfera moral atua o pecado. Os vários termos
hebraicos e gregos das línguas originais da Bíblia, quando falam do pecado
apontam para o sentido ético, porque falam da prática do pecado, ou seja, dos
atos pecaminosos.
O pecado é, de fato, uma ativa oposição a DEUS, uma transgressão
das suas leis, que o homem, por escolha própria (livre), resolveu cometer
conforme relata
a Bíblia (Gn
3.1-6; Is 48.8; Rm 1.18-32; I Jo 3.4).
Louis Berkhof ensina que o pecado tem caráter absoluto.8 Sem
dúvida, seu conceito está correto e é bíblico. Não se faz distinção ou
graduação entre o bem e o mal, porque o caráter é qualitativo. Uma pessoa boa
não se torna má por uma diminuição de sua bondade, mas quando se deixa envolver
com o pecado. È uma questão de qualidade, e não de quantidade.
O pecado não implica um grau menor de bondade, mas algo negativo e
absoluto. Bibhcamente, não há neutralidade nem meio termo quanto ao bem ou ao
mal. O que é mal não é mais ou menos mal. Ou se está do lado justo e certo ou
se está do lado injusto e errado (Mt 10.32,33; 12.30; Lc II.23;Tg 2.10).
Não se trata de pecado apenas porque se praticou algum ato
pecaminoso. “O pecado não consiste apenas em atos manifestos”.9 O pecado não é
somente aquilo que se pratica erradamente, mas é algo entranhado na natureza
pecaminosa adquirida da raça humana. E um estado pecaminoso que origina hábitos
pecaminosos os quais se manifestam na vida cotidiana.
Todas as tendências e propensões pecaminosas típicas da natureza
corrompida de cada um de nós demonstram o estado pecaminoso do ser humano. A
esse estado decaído, a Bíblia denomina “carne”, o qual precisa ser superado
pela nova vida em CRISTO, a vida regenerada pelo ESPÍRITO (2 Co 5.17; Jo 3.5).
A ORIGEM DO PECADO NO UNIVERSO
A primeira manifestação foi na esfera angelical. Os teólogos
divergem quanto ao fato de que a primeira manifestação de pecado tenha começado
no céu. Sendo DEUS o Criador de todas as coisas, não podemos atribuir a Ele a
autoria do pecado. Toda a Bíblia rejeita essa ideia quando diz: “Longe de DEUS
a impiedade, e do Todo-poderoso, a perversidade” (Jó 34.10).
Em outra passagem está escrito que não há injustiça nEle (Dt 32.4; SI 92.15). Tiago, no
Novo Testamento, disse que o Senhor não pode ser tentado pelo mal (Tg I.13).
Por isso, é blasfêmia considerar DEUS como autor do pecado. Ora, duas passagens
bíblicas que melhor ilustram a origem do pecado no Céu são metafóricas (Is 14.12-14; Ez 28.12-17); daí a
dificuldade na compreensão desses textos pelos intérpretes. Do ponto de vista
pentecostal esses textos falam do pecado miciado entre os anjos e pelo
principal deles, Lúcifer.
Os dois textos acima mencionados são tidos como relacionados à
queda de Lúcifer e o começo do pecado no Universo. O primeiro (Isaías)
refere-se ao rei caído da Babilônia, cujo orgulho tornou-o soberbo; por isso,
ele não pôde subsistir, com tirania e orgulho, ante o DEUS Vivo. Diz o texto
que esse rei era elevado e importante, mas por seu orgulho foi cortado como uma
árvore.
Segundo, a linguagem metafórica, o texto sugere o relato a história
da queda de Lúcifer, denominado “estrela da manhã”, o qual, por sua rebelião
foi expulso da presença de DEUS. O segundo texto (Ezequiel) apresenta um
lamento sobre o rei de Tiro, mas a linguagem figurada ilustra a queda de
Satanás.
O registro bíblico da origem do pecado prossegue noutras
referências que tratam do assunto. O que fica claro é que o pecado foi
originado por Satanás. Ele pecou antes de Adão e Eva quando se apresentou na
forma de uma serpente para tentar Eva (Gn 3.1-6; 2 Co 11.3). JESUS declarou que
Satanás é homicida “desde o princípio” (Jo 8.44; I Jo 3.8). A expressão “desde o
princípio” não quer dizer que este ser angélico foi sempre mau. Seu primeiro
estado era de santidade. A expressão “desde o princípio” indica no contexto da
história da criação que Ele se fez opositor do DEUS trino desde o início da
criação do mundo.
Entretanto, antes da criação do Universo material, os anjos já
haviam sido criados. Mesmo considerando as nossas dificuldades para entendermos
plenamente a origem do pecado no céu, sabemos que DEUS conhece todas as coisas
e “faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1. 11).
O pecado entrou na vida da humanidade através de Adão e Eva (Gn 3.1-19). Como isso
aconteceu? A história bíblica descreve como o pecado tomou-se uma realidade na
vida da humanidade quando uma criatura extraordinária e espiritual se
materializou numa “serpente” (Gn 3.1-7) para enganar as
mais belas criaturas da terra, o homem e a mulher. Essa criatura é denominada
em outras passagens como “a antiga serpente”, o “Diabo” e “Satanás” (Ap 12.9; 20.2). Foi essa criatura que
pecou desde o princípio e se tomou inimiga da criação de DEUS e originou a
catástrofe cósmica.
Pela soberana e sábia vontade de DEUS permitiu-se que no Eden, o
jardim idílico criado por DEUS para que Adão e Eva vivessem felizes, Satanás
penetrasse para tentá-los com astúcia e engano. A história da criação da
criatura humana relata que Adão e Eva foram criados “bons” e colocados no Eden
para desfrutarem de todas as benesses daquele jardim e manter comunhão com seu
Criador (Gn 1.26—2.25).
Por serem criaturas, humanas e finitas, estavam sujeitas a pecar.
DEUS, então, estabeleceu para eles uma regra para não comerem de
uma árvore denominada “árvore do conhecimento do bem e do mal”, mas Eva se
deixou enganar pela insinuação diabólica da serpente e tomou do fruto, comeu e
o deu ao seu marido (Gn 3.6).
Duvidaram da veracidade da palavra de DEUS e acataram as insinuações do
Inimigo. Daí desobediência, egotismo, rebeldia, pecado, queda e suas consequências,
que se transmitiram à toda posteridade de Adão.
O pecado de Adão foi um ato pessoal. Já consideramos o fato de que
o pecado é um estado da vontade e que esse estado egoísta da vontade é
universal. Uma vez que o homem preferiu obedecer ao seu “eu”, pervertendo sua
própria vontade, também, tornou-se responsável pelas consequências de sua
transgressão.
Ele adquiriu uma natureza corrompida e afetou universalmente toda
criatura na terra. Seus atos pecaminosos e suas disposições são frutos de seu
estado corrupto inato. JESUS explicou muito bem esse ponto quando disse: “...
não há árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu
coração tira o mal” (Lc
6.43-45; Mt 12.34).
Tentação e Queda não são coisas míticas ou alegóricas. Tem havido a
tentativa de pseudo-teólogos tornarem o relato escriturístico da tentação e a
Queda como algo alegórico. Não há qualquer linguagem figurada em Gênesis 3 que negue o fato
histórico relatado naquela passagem. No desenrolar da tentação Satanás apelou
aos apetites que poderiam dar a Eva o prazer de fazer sua própria vontade em
desobediência do Criador. Satanás apelou aos sentidos egoísticos de Eva e ela
deu ouvidos ao tentador em vez de rejeitar e expulsar o tentador que visava
levá-la a desobedecer a DEUS (Gn 3.1-3).
Satanás levou o casal a duvidar da veracidade de DEUS insinuando
que o Criador estaria tirando deles o direito de conhecer coisas mais sublimes.
Adão e Eva, então, pecaram e deixaram que seus corações fossem corrompidos e
afetasse seus apetites naturais. Diz o relato bíblico que sua disposição
interior manifestou-se em atos. O texto diz, literalmente: “... ela tomou do
seu fruto, e comeu, e deu também ao seu marido, e ele comeu com ela” (Gn 3.6).
O homem seguiu a indução do seu coração e fez a escolha do seu “eu”
em desacordo com DEUS. Portanto, o pecado surgiu de dentro do homem, do seu
interior, e ele transgrediu a lei do Senhor (Tg I.I5).
O PECADO ORIGINAL E SUA AFETAÇÃO
Distinção entre pecado original e culpa original. Na língua latina
usa-se a expressão peccatum originale, que se traduz literalmente por “pecado
original”. Para entendermos o assunto precisamos fazer distinção entre pecado
original e culpa original.
Por pecado original entendemos que se trata do pecado herdado de
nossos primeiros pais, Adão e Eva, o qual passou a toda criatura humana.
A culpa não é herdada, e sim imputada a cada criatura. A expressão
“pecado original” não se encontra na Bíblia de forma literal, mas a sua
manifestação está implícita na história da Queda; por isso, o pecado original
está na vida de todo ser humano desde o seu nascimento. Outrossim, precisamos
esclarecer que a expressão “pecado original” nada tem que ver com a
constituição original do homem, haja vista DEUS não o ter criado pecador.
Toda criatura humana é culpada em Adão e consequentemente tem sua
natureza corrompida desde o nascimento (SI 51.5; 58.3).
Pecados veniais e pecados mortais. A igreja romana ensina e faz
distinção entre pecados veniais e mortais. Ao mesmo tempo, ela tem dificuldades
em distinguir esses pecados. Tal distinção não é bíblica, visto que todo pecado
é anomia diante de DEUS — termo grego que significa “falta de retidão”, “falta
de obediência à lei”.
O Antigo Testamento faz distinção entre os pecados cometidos
intencionalmente e os praticados por ignorância. Se cometido intencionalmente
ou por ignorância, o pecado não deixará de ser pecado, porque é um fato e torna
a pessoa culpada diante de DEUS (Gl
6.1; Ef 4.18; I Tm
I.I3; 5.24). No Novo Testamento, o apóstolo Paulo deixou clara a ideia de que o
grau do pecado é determinado pelo grau de conhecimento (luz) que o pecador
possua (Rm LI8-32).
A CULPA DO PECADO
O que e qual é a culpa do pecado? Ora, a culpa é o sentimento
pessoal na consciência, de transgressão de uma lei mediante o ato do pecado.
Inclui a ideia dupla de responsabilidade pelo ato praticado do pecado, assim
como a punição (castigo) pelo pecado. A punição, ou seja, a pena, segue
automaticamente ao pecado.
A culpa é o estado ou a condição delituosa de quem transgrediu a
lei. A culpa toma forma de condenação pela desaprovação de DEUS. Logo após Adão
e Eva terem pecado, seus olhos foram abertos, ou seja, tiveram consciência de
suas culpas: “então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam
nus” (Gn 3.7). A culpa é a
convicção na consciência, pela violação voluntária da lei de DEUS. O
transgressor é conscientizado pela consciência ou pela lei, que o seu ato exige
expiação para que seja perdoado.
Já dissemos anteriormente acerca da distinção entre pecado original
e culpa original. Pelágio, teólogo inglês, renegava a ideia do pecado original
porque entendia que os homens que nascem no mundo, desde a Queda, vivem no
mesmo estado em que Adão foi criado e que o pecado deste prejudicou apenas a
ele próprio. Por isso, essa teoria rejeita a ideia da hereditariedade do pecado
sobre toda a raça humana.
Pelágio ensinava que Adão morreu pela constituição de sua natureza,
tivesse ele pecado ou não. Entretanto, o ensino claro da Bíblia a esse respeito
não deixa dúvida de que a culpa original refere-se àquela recebida por Adão e
Eva após terem pecado contra a lei de DEUS.
o viver em pecado consiste então, em viver uma vida centralizada no
“eu” e significa o fazer a própria vontade como a da vida. Neste sentido o
homem merece receber a punição do seu pecado ( Rm 5.12).
A natureza da culpa. Ainda que haja uma interligação entre os
pontos destacados neste capítulo, ao tratar da natureza da culpa, entendemos
que o mérito da culpa é a punição. Culpa, portanto, significa o merecimento da
punição, por ter o culpado de satisfazer a justiça divina pelo seu pecado
praticado.
O apóstolo Paulo escreveu aos romanos que “do céu se manifesta a
ira de DEUS sobre toda a impiedade e injustiça dos homens” (Rm 1.18). Ora, a ira de DEUS
no contexto dessa passagem significa a reação da santidade de DEUS contra o
pecado; não importando se tenha ocorrido por ato ou estado, o pecado acarreta a
manifestação da justiça de DEUS.
A culpa legal O aspecto legal da culpa perante DEUS diz respeito ao
fato de que quando Adão e Eva cometeram o pecado contra a ordem divina,
tornaram-se legalmente culpados e dignos da pena estabelecida por DEUS. O
Criador havia lhes dito que um só ato de desobediência à sua palavra implicaria
na pena de morte (Gn 2.17).
O apóstolo Paulo entendeu essa questão doutrinária e declarou que “o juízo veio
de uma só ofensa, para condenação” (Rm 5.16).
Portanto, por um só ato pecaminoso contra DEUS, Adão tomou-se
incapaz de permanecer na presença santa de DEUS. Essa ofensa de Adão tornou-se
a culpa de toda sua descendência, de toda a raça humana. Perante DEUS,
legalmente, todos são culpados, “porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de DEUS” (Rm 3.23).
Isso significa que em Adão todos participaram da sua transgressão.
A expressão “estão destituídos da glória de DEUS” indica a necessidade de
recuperação do primeiro estado de glória de Adão antes da Queda. Significa a
recuperação daquela realeza moral e espiritual que o homem tinha, isto é, a
imagem e semelhança de DEUS, deformada pelo pecado. Foi o segundo Adão, JESUS
CRISTO, quem veio a este mundo para recuperar a glória perdida do homem (Rm 3.24-26).
A culpa não significa mera propensão ao castigo. Isso significa que
a culpa incorre mediante a transgressão do pecador. Não há na justiça de DEUS o
conceito de culpa construtiva, porque o pecador é culpado por aquilo que tem
praticado. Somos culpados do pecado, tanto em relação a culpa original de
nossos primeiros
pais quanto pelos pecados que cometemos hoje. Devemos entender que
somos culpados pela natureza pecaminosa herdada de Adão e Eva. Esse é o aspecto
coletivo que abrange todos os homens. Porém, cada um de nós é individualmente
responsável pelos seus próprios pecados.
A manifestação da culpa na consciência humana. A culpa do pecado se
manifesta na consciência, que é o componente racional e moral do espírito
humano, para sinalizar o certo e o errado nas decisões do ser humano (Rm 2.15,16). Pela corrupção moral e
espiritual do homem por causa da Queda, há em todo homem uma disposição geral
para o pecado e para esconder ou negar a responsabilidade pelo pecado cometido,
como fizeram Adão e Eva (Gn
3.8-14).
Entende-se, portanto, que a acusação de sua consciência contribuiu
para assinalar a culpa do pecado. Visto que o pecado é transgressão diante de
um DEUS SANTO, o pecado é merecedor de punição e reprovação divina. A culpa se
manifesta como um resultado objetivo, isto é, ela é produzida mediante o fato
da prática do pecado e não deve ser confundida com o papel da consciência que
expõe a culpa subjetivamente.
Ora, o que é consciência subjetiva da culpa? O que está revelado
em Levítico 5.17 esclarece
bem este ponto, quando diz: “e, se alguma pessoa pecar e fizer contra algum de
todos os mandamentos do Senhor o que não se deve fazer, ainda que o não
soubesse, contudo, será ela culpada e levará a sua iniquidade”.
A expressão “ainda que o não soubesse” indica que a culpa implica
inicialmente uma relação com DEUS e, depois, uma relação com a consciência. O
texto trata da prática do pecado por ignorância, por não se saber que
determinada ação seja pecaminosa. Então a consciência age subjetivamente.
Um determinado teólogo declarou que “o maior dos pecados é não
estar consciente de nada”, isso porque a consciência pode tornar-se
cauterizada, pela multiplicação do pecado, extinguindo no pecador a
sensibilidade moral acerca do que é errado ou certo. Por isso, quando andamos
com DEUS segundo a sua justiça a partir da conversão, somos por Ele
santificados quanto ao pecado, e a nossa santificação subjetiva pelo ESPÍRITO
SANTO desenvolve em nós mais e mais a consciência da realidade do pecado.
A culpa tem relação com a lei moral de DEUS. “A culpa não faz parte
da essência do pecado, mas é, antes, uma relação com a sanção penal da lei”.10
Por isso, a culpa só pode ser removida mediante a satisfação da lei. Visto que
a justiça original no homem tornou-se em “trapos de imundícia” (Is 64.6), a justiça requerida
tem de ser vicária e pessoal. Ela pode ser transferida de uma pessoa para
outra, mas, nenhuma criatura humana teria condições para assumir os pecados das
demais, por sermos todos uma raça de pecadores (Sm 14.1-3; Rm 3.9-12).
Veio JESUS CRISTO, da parte de DEUS; se fez carne e habitou entre
nós (Jo 1.14), assumindo a penalidade da lei, causada pela nossa culpa,
tomando-se o nosso substituto vicário, justificando o homem dos seus pecados (Rm 4.24,25; 5.1,8). Adão cometeu o pecado e na
qualidade de chefe federal da raça humana; por ele foi imputada a todos os seus
descendentes a culpa do pecado. A Bíblia enfatiza este ensino quando declara
que a morte é o castigo do pecado, para todos os seus descendentes (Rm 5.12-19; Ef 2.3; I Co 15.22).
Graus de culpa. Tem havido interpretações equivocadas sobre esse
ponto. Não obstante, é fato bíblico que existem diferentes graus de culpa
atribuídos a certos tipos de pecados. Não encontra aqui respaldo a doutrina
católica romana que distingue pecados veniais e pecados mortais. Com esse
conceito a Igreja Romana entende que pode determinar o grau do pecado de uma
pessoa e aplicar à mesma a penitencia equivalente.
Ora, entendemos que todo pecado é venial, isto é, pode ser
perdoado. A exceção está no “pecado contra o ESPÍRITO SANTO” (Mt I2.3I).Que
tipos de pecados são esses para os quais são atribuídos graus de culpa? Na
realidade, existem pecados perdoáveis e os pecados não perdoáveis, ou seja,
pecados que são para a morte e pecados que não são para a morte.
Em I João 5.16,17 está escrito: Se
alguém vir seu irmão cometer pecado que não é para a morte; orará, e DEUS dará
a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não
digo que ore. Toda iniquidade é pecado,e há pecado que não é para morte.
Percebe-se que há um contraste entre o pecado para a morte e o que
não é para a morte. Há quem diga que o pecado para morte é aquele que, sendo
extremamente grave, conduz inevitavelmente à morte eterna; e que o pecado que
não é para a morte seria o pecado venial; ou seja, o menos grave. São ideias
sem suporte bíblico.
Outros afirmam que esse texto refere-se a “pecados intencionais ou
não”, sendo o último o pecado perdoável, e o primeiro, não (Nm 15.22-30).
Naturalmente, o sentido da palavra “morte” no contexto dessa passagem refere-se
à morte física, e isso se toma claro quando o autor aconselha a orar para que
tenha vida, e diz, literalmente: “orará, e DEUS dará a vida àqueles que não
pecarem para morte”.
Ora, a Bíblia afirma que toda iniquidade é pecado (I Jo 5-17).
Portanto, distinguir e graduar os tipos de pecados é impraticável. E bem
verdade que, em I
Coríntios 11.30, Paulo fala de um tipo de juízo que afeta o crente que peca
até ao ponto de DEUS aplicar-lhe disciplina. Mas a morte física, aqui, não
significa morte eterna ou punição final, e sim morte que não é final.
Nessa esfera, poderíamos apontar os pecados de ignorância e pecados
de conhecimento, como cita Strong:11 pecados da carne (Gl 5.19-21); o pecado
de blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO (Mt 12.31,32).
Strong escreveu:
... o pecado contra o ESPÍRITO SANTO não deve ser considerado
como um simples ato isolado, mas também como o sintoma exterior de um coração
tão radical e irreversível contra DEUS que nenhuma força que DEUS possa
consistentemente usar o poupará.
Tal pecado, portanto, só pode ser o clímax de um longo curso de
endurecimento de si mesmo e depravação de si mesmo.
Em relação ao episódio da blasfêmia dos fariseus contra JESUS
entendemos que o pecado de blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO refere-se, no
ensino do Mestre, à atribuição voluntária e consciente de seus adversários de
que a obra que Ele fazia era demoníaca. Tratava-se de uma rejeição presunçosa
daquela casta religiosa à pessoa de JESUS e a atribuição de ação demoníaca à
obra do ESPÍRITO SANTO.
Realidade da ação do pecado
Consequências do pecado no mundo. Indiscutivelmente, o pecado
trouxe graves consequências ao Universo, especialmente à vida na Terra. A
Bíblia faz várias declarações a respeito da universalidade do pecado. Por
exemplo, temos no Antigo Testamento alguns exemplos, tais como: “não há homem
que não peque” (I Rs 8.46);
“porque à tua vista não há justo nenhum vivente” (Sm 143.2).
Paulo, em Romanos, disse: “Não há um justo, nenhum sequer; não há
quem faça o bem, nenhum sequer” (Rm 3.10-12); “pois
todos pecaram e carecem da gloria de DEUS” (Rm 3.23). O apóstolo João
também disse: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos
enganamos, e a verdade não está em nós” (I Jo 1.8).
A escolha preferencial do “eu” em detrimento de DEUS. O pecado de
Adão e Eva foi uma escolha feita por ambos, uma escolha preferencial do “eu”,
em detrimento de DEUS como objeto do sentimento e fim principal de suas vidas.
Preferiram atender aos ímpetos do seu ego a fazer de DEUS o centro de suas
vidas. Renderam-se incondicionalmente ao seu ego em prejuízo do projeto do
Criador para suas vidas.
O Dr. E.G. Robinson, citado por Berkhof, escreveu que “enquanto o
pecado como estado é dessemelhança em relação a DEUS, como princípio é oposição
a DEUS, e como ato é transgressão à lei de DEUS”. Portanto, entendemos que o
pecado não é, meramente, algo de fora (ou externo), tampouco é o fruto de
coação vinda de fora, mas “é uma depravação dos sentimentos e uma perversão da
vontade, que constitui caráter íntimo do homem”. A realidade do pecado traz as consequências
inevitáveis que são a culpa e o castigo.
A HEREDITARIEDADE DO PECADO
Como um ato de pecado individual afetou a todos? A Bíblia tem a
resposta cabal desta questão. Paulo, em Romanos disse “que todos pecaram” (Rm 3.23) e dá a ideia de que
todos os seres humanos participaram da transgressão de Adão; e, como
indivíduos, tornaram-se pecadores. Ele explica os efeitos do pecado de Adão:
“Portanto, por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim
também a morte passou a todos os homens” (Rm 5.12).
Paulo não estava falando de pecados factuais, do dia-a-dia, mas da
herança do pecado. A morte, como punição do pecado, tem um caráter universal,
porque “a morte passou a todos os homens”. Por causa do pecado de Adão, todos
os seus descendentes tomaram-se pecadores e culpados. Porém, DEUS providenciou
a nossa expiação — nas palavras de Paulo — outra vez: “Mas CRISTO morreu por
nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm
5.8).
Portanto, o pecado é hereditário. A sua universalidade deve-se à
corrupção da natureza humana. E a Palavra de DEUS afirma que o primeiro homem
violou a vontade expressa de DEUS, e, por consequência, toda a vida humana se
corrompeu. Inevitavelmente, quando o homem se depara com a idade da consciência
moral, está tão identificado com os maus impulsos existentes dentro de si que
precisará esforçar-se para manter o equilíbrio moral e espiritual de sua vida.
Não se trata meramente de um impulso momentâneo da sua vontade, mas
é algo implícito na sua natureza pecaminosa, que é sinistro e obscuro. A
tendência má que se revela numa criança se percebe na semente dessa tendência
má. Nesse sentido, toda criança é pecadora, conquanto não tenha culpa pessoal.
Não podemos cobrar responsabilidade pessoal de uma criança recém-nascida.
A Bíblia e a consciência moral dão testemunho da responsabilidade
que temos de nossa vida, apesar da natureza que temos herdado. Na verdade, a
herança do pecado se constituí numa condição de vida, para a qual precisamos da
graça salvadora de CRISTO para dominá-la. Por isso, mesmo como pecadores
regenerados pelo ESPÍRITO SANTO precisamos negar-nos a nós mesmos, tomar a
nossa cruz e sermos crucificados com CRISTO (G1 2.20).
Todo ser humano nasce com uma natureza corrompida. Todos os atos
pecaminosos das pessoas são frutos de sua natureza pecaminosa. Ora, o que se
entende por natureza
no contexto desse estudo? Ê aquilo que é inato em cada pessoa, isto
é, nasce com ela. JESUS, disse, certa feita aos seus discípulos que “não há
árvore boa que dê mau fruto... o homem mau, do mau tesouro do seu coração tira
o mal” (Lc 6.43-45).
Portanto, não há criatura humana neste mundo que não tenha nascido
com uma “natureza corrompida”. E algo que faz parte do seu ser e é subjacente à
sua própria consciência. Por isso, toda criatura constitui-se pecadora diante
de DEUS, visto que o pecado em si é herança comum de todas as criaturas sobre a
terra.
O salmista Davi declarou que fora formado em iniquidade e concebido
em pecado (Sm 51.5). Na verdade, com isso, confessou não o pecado de sua mãe, e
sim o seu próprio pecado, e que esse estado — entendeu ele — vinha desde o
momento de sua concepção.
A natureza corrompida e congênita de toda criatura humana. O
apóstolo Paulo usou uma expressão forte em Efésios, a qual merece a nossa
apreciação: “éramos por natureza filhos da ira” (2.3). A expressão “filhos da
ira” denota o estado de condenação por causa da herança do pecado que todos
recebemos de nossos pais (Adão e Eva). Entende-se por “natureza” algo inato e
original distinto daquilo que se adquire posteriormente.
Sem dúvida, o apóstolo coloca o texto no passado com o verbo
“éramos”, para indicar que, ao sermos regenerados pelo ESPÍRITO SANTO, fomos
agraciados pela graça de DEUS. A criança é despida de consciência moral, mas
congenitamente possui a natureza pecaminosa herdada. Por isso, a morte é a
penalidade global que afeta todas as pessoas e, inevitavelmente, afeta as
crianças, haja vista elas morrerem como todos os demais seres.
As crianças estão colocadas num estado de pecado e, por isso,
necessitam de regeneração e salvação através de JESUS CRISTO. Naturalmente,
elas são objeto de salvação pela graça de CRISTO, que as salva,
independentemente da consciência moral. Contudo, a condição dos adultos é
diferente da das crianças. O adulto precisa de fé pessoal para ser salvo, e a
Bíblia declara que CRISTO morreu por todos (2 Co 5.15).
No Juízo Final, as pessoas serão julgadas mediante o teste da
conduta pessoal, enquanto as crianças, mesmo tendo uma tendência para mal, são
incapazes de transgressão pessoal; por isso, cremos que elas estarão entre os
salvos (Mt 25.45,46).
Adão depois da Queda. Já dissemos anteriormente que Adão e Eva,
quando pecaram, perderam o direito do primeiro estado de santidade em que foram
criados e vieram a ser objeto de várias mudanças negativas transcendentais.
O casal submeteu-se ao domínio da morte espiritual. A penalidade
declarada por DEUS antes da Queda foi: “porque no dia em que dela comeres,
certamente morrerás” (Gn 2.17).
Imediatamente ao ato pessoal do pecado, Adão e Eva tiveram a sentença cumprida.
Não só se tornaram culpados e submissos à pena do pecado com a limitação da
vida física e a morte física posteriormente, mas imediatamente ficaram sob a
égide da morte espiritual, perdendo a comunhão livre que tinham com DEUS,
separando-se da relação com Ele.
O juízo de DEUS veio também sobre Satanás e a serpente usada por
ele (Gn 3.14). O Criador
predisse, então, o futuro conflito entre CRISTO e o Diabo, conforme Gênesis 3.15: “E porei
inimizade entre ti e a mulher e entre a tua semente e a sua semente, esta te
ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”.
A semente da mulher foi JESUS CRISTO, que, sendo o Filho de DEUS,
fez-se homem, para identificar-se com os homens, e foi ferido no Calvário.
JESUS morreu na cruz, mas não foi retido na sepultura e na morte. Pelo
contrário, pelo ESPÍRITO SANTO foi ressuscitado e venceu a morte e o próprio
Diabo. Ele morreu por toda a humanidade; além disso, anulou a sentença da morte
eterna aos que o aceitarem como Salvador e Senhor.
DEUS proferiu um juízo específico sobre a mulher, Eva, a qual
experimentaria a dor ao dar a luz seus filhos e seria submissa ao seu marido
(Gn . Quarto, uma maldição especial caiu sobre o homem, Adão, o qual teria que
lavrar a terra, agora maldita com espinhos e cardos, para obter sua
subsistência (v. 17).
A terra foi amaldiçoada (Gn 3.17.18) e o efeito do
pecado atingiria a vida dos descendentes de Adão. Foi expulso do Jardim de DEUS
e começou a experimentar a dor e a luta para sobreviver. O pior em toda esta
maldição foi Adão experimentar a morte espiritual e, por isso, perder sua comunhão
com o Criador e sofrer a pena da morte física.
Três imputações. Como resultado imediato da Queda, todo o gênero
humano foi atingido. A Bíblia menciona, pelo menos, três imputações decorrentes
do pecado de Adão:
Seu pecado foi imputado à sua posteridade (Rm 5.12-14).
Seu pecado foi imputado a CRISTO (2 Co 5.21).
DEUS imputou sua justiça sobre os que crêem em CRISTO (Gn 3.15; 15.6; Sl 32.2; Rm 3.22; 4.3,8,21-25; 2 Co 5.21). Nesse sentido, a
Bíblia revela que se efetuou uma transferência de caráter judicial do pecado do
homem para JESUS CRISTO, que levou sobre a cruz o pecado da humanidade (Is 53.5; Jo 1.29; I Pe 2.24; 3.18).
Outra verdade, nesse contexto, é o fato de que, de igual modo, DEUS
efetuou a transferência, de caráter judicial, da justiça de DEUS para o crente
em CRISTO (2 Co 5.21),
visto que o único modo de justificação ou aceitação diante de DEUS era este.
Por este ato justificador de CRISTO, o crente passa a fazer parte da vida
organística de CRISTO, isto é, do seu corpo e, por conseguinte, participa de
tudo o que CRISTO é.
Torna-se claro, portanto, que a participação dos homens na Queda
resultante do pecado não se efetua quando cometem seus primeiros pecados,
porque eles nascem sob a égide do pecado, como criaturas caídas, procedentes de
Adão. Os pecadores não se convertem em pecadores por meio da prática de
qualquer pecado individual, mas eles pecam imbuídos pela sua própria natureza
pecaminosa adquirida; por isso, são pecadores.
O significado de estar debaixo do pecado. O texto de Romanos 3.9 diz,
literalmente: “Pois quê? Somos melhores do que eles? De maneira nenhuma, pois
já demonstramos que, tanto judeus como gregos, todos estão debaixo do pecado”.
Quando Paulo escreveu sobre esse assunto, estava enfrentando discussões e
polêmicas entre os cristãos convertidos em Roma, cidade que reunia judeus e
gentios.
Cada qual tentava justificar sua posição diante de DEUS. Paulo,
então, colocou ambos na mesma condição e posição, quando disse: “Todos estão
debaixo do pecado”. Uma vez que pecado é transgressão da lei de DEUS, o próprio
judeu que possuía a lei de DEUS foi o primeiro a pecar contra ela.
O gentio, por outro lado, não tinha a lei de Moisés, mas tinha a
lei da consciência escrita no coração e não podia justificar-se diante de DEUS,
tanto quanto o judeu. Paulo mostrou aos Romanos, em 3.10-12, a universalidade
do pecado; e terminou enunciando o veredicto final de DEUS contra o pecado em
3.19,20. O judeu tendo a lei de Moisés não conseguiu justificar-se do pecado
mediante as obras da lei, e está incluído na universalidade da frase: todos
estão debaixo do pecado”. O remédio para o pecado está, não em algum mérito
pessoal do pecador, mas no mérito da obra expiatória de CRISTO que tira o
pecador do estado de pecado e o coloca “debaixo da graça salvadora de DEUS
através de CRISTO JESUS (Rm 5.1).
Vemos, então, que “o pecador é salvo com base meritória, mas o mérito é daquEle
que foi feito justiça de DEUS para ele”.
O CASTIGO do pecado
Já dissemos que o pecado é tanto um ato como um estado. E um ato
porque o homem mesmo preferiu, de seu livre-arbítrio, desobedecer à lei de
DEUS, rebelando-se contra Ele. Porém, o pecado implica um estado pecaminoso
porque o homem quebrou a comunhão e a relação com o seu Criador, separando-se
dEle. Inevitavelmente, segue-se à prática do pecado o juízo, ou seja, o castigo
positivo (Gn 2.17; Rm 6.23).
O castigo imediato do pecado. Em pontos anteriores já
abordamos sobre o castigo sem aprofundar a sua importância no contexto da
doutrina do pecado. A partir do capítulo
de Gênesis, a Bíblia trata da Queda e dos efeitos imediatos do
pecado na vida do homem. Adão experimentou, de modo imediato, as consequências
do seu pecado após ter desobedecido a DEUS. Fugiu da presença de DEUS no jardim
do Éden (Gn 3.8) levando
consigo o estigma do pecado e tomando-se culpado aos olhos de DEUS.
O pecado desfigurou a imagem divina do homem. Adão não perdeu completamente
a imagem divina porque em parte permaneceram nele os elementos de pessoalidade
dessa imagem, na sua alma e no seu espírito. Porém, esses elementos da imagem
foram desfigurados pelo pecado. Em que consistia a imagem original de DEUS no
homem? O texto de Gn 1.26,27 diz que o homem foi
criado à imagem de DEUS. “Strong define a pessoalidade, como imagem
natural de DEUS e a santidade como imagem moral de DEUS. Em relação à
pessoalidade, o homem foi criado como ser pessoal e isto o distingue dos seres
irracionais”.
Trata-se da capacidade do homem para pensar, conhecer a si mesmo e
relacionar-se com o mundo ao seu redor e determinar o seu “eu” quanto ao certo
e o errado, ao que é justo e o que é injusto (Gn 9.6; I Co 11.7; Tg 3.9). Em relação à imagem
moral, o homem foi dotado de sentimento, inteligência e vontade que o capacita
a ter escrúpulos e autodeterminação quanto à justiça e santidade. Esse sentido
moral da imagem divina no homem revela-se na finalidade da sua criação que é a
retidão. Diz a Bíblia que “DEUS fez o homem reto” (Ec 7.29) e a justiça é
essencial à sua imagem (Ef 4.24; Cl 3.10). Mas ele a distorceu
por seu pecado afetando toda a criação e sua descendência (Rm 5.12).
O pecado deu origem a um estado pecaminoso que afetou toda a raça
humana. Myer Pearlman afirmou: “O efeito da Queda arraigou-se tão
profundamente na natureza humana, que Adão, como pai da raça humana, transmitiu
a seus descendentes a tendência ou inclinação para pecar”. Neste aspecto toda
criatura humana é pecadora porque adquiriu a imagem degenerada e decaída de seu
pai.
Ernesto Naville escreveu: “Não digo que todos sejamos malfeitores
manifestos, mas, sim, afirmo que em cada um dos homens existe o princípio do
egoísmo que é a natureza do pecado”. Fiá uma disposição entranhada no interior
de cada criatura humana para praticar o pecado (Ef 2.2,3), e Paulo ensina e atribui a
universalidade do pecado ao cabeça da raça humana (Rm 5.12).
O apóstolo Paulo tratou profundamente da doutrina do pecado e
ensina que os cristãos autênticos, antes de serem alcançados pela graça de
DEUS, mediante a obra expiatória de CRISTO, viviam em ofensas e pecados,
fazendo a vontade do Diabo, da carne e dos pensamentos, e por isso eram
considerados “filhos da ira divina” (Ef 2.3).
Mais uma vez Myer Pearlman esclarece esse assunto:
Esta condição moral da alma é descrita de muitas maneiras: todos
pecaram (Rm 3.9); todos
estão debaixo da maldição ÍCl
3.1 0); o homem
natural é estranho às coisas de DEUS (l Co 2.14); o coração natural é
enganoso e perverso (Jr 1 7.9); a natureza mental e moral é
corrupta (Gn 6.5,12; 8.21; Rm 1,19-21); a mente
carnal é inimizade contra DEUS (Rm S. 1,8); o pecador é escravo do pecado (Rm 6.11; 1.15); é controlado pelo
príncipe das potestades do ar (Ef
2.2); está morto em ofensas e pecados (Ef 2.1); é filho da ira (Ef 2.3).
O pecado acarretou punições naturais e físicas na vida do homem.
Louis Berkhof diz que são “punições naturais e positivas” em que as leis
naturais da vida são violadas. São punições de ordem física que resultam em
doenças, dores e sofrimentos ao homem. Não se trata de punições imediatas à
qualquer prática de pecado, mas se trata daquelas doenças impregnadas na terra,
no ar e nas águas. Essas punições naturais resultam da “maldição do pecado” no
nosso planeta.
A promessa de cura e redenção da Terra e do homem provém da pessoa
de JESUS, o Filho de DEUS, que se fez carne, habitou entre nós, para expiar a
culpa do pecado dos homens (Gn
3.15; Is 53.4,5; Rm 5.21). Os sofrimentos da
vida tomaram-se realidade na vida cotidiana do homem, como resultado da
penalidade do pecado.
Seu corpo físico tomou-se presa de doenças e fraquezas provocando
mal-estar e desconforto. Sua vida mental e emocional ficou sujeita a angustias,
tristezas, paixões sem domínio e desejos conflitantes. Sua vontade perdeu a
capacidade de escolha, e conforme disse Paulo, toda a criação ficou sujeita à
vaidade e escravidão (Rm 8.20).
De certo modo, nosso sofrimento físico nos dá, pela morte física, a esperança
de obtermos, um dia, corpos transformados e espirituais.
O pecado gerou um contínuo conflito moral e espiritual entre corpo
e alma de cada criatura humana. Tão logo o homem pecou, entranhou-se em seu ser
um conflito entre sua natureza superior, expressa por alma e espírito, e sua
natureza inferior, manifesta através do corpo. O homem se encontrou dividido em
si mesmo, e sua natureza física e inferior, tornou-se frágil e subjugada aos
poderes do pecado (Rm 7.24).
O grande pregador Charles H. Spurgeon falou em uma de suas
pregações que “o mar todo fora do navio não causa dano enquanto a água não
penetra nele e enche- lhe o porão”. Aprendemos com esse ensino de Spurgeon que
o perigo está dentro de nós mesmos. E interno e na linguagem metafórica da
Bíblia esse perigo chama-se coração, que é, de fato, o nosso maior inimigo,
porque nos engana. A síntese dessa ideia é que devemos ter o coração sob
controle para que ele não nos engane.
Nesse fato está a questão da tentação. Ela em si mesma não se
constitui pecado, mas ela pode se tornar em ocasião para o pecado. O Novo
Testamento, especialmente, fala constantemente sobre “carne e espírito” como
opostos um ao outro (Gl 5.13,24; Mt 26-41). Esse conflito
envolve a totalidade da pessoa, porque a “carne” induz a volta ao domínio do
pecado,no caso do cristão. Porém, o cristão fortalece o seu espírito para
vencer a carne e estar submisso ao senhorio de CRISTO JESUS e do ESPÍRITO SANTO
(Gl 5.16; Rm 8.4-14).
O pecado despertou a consciência do homem. Diz o texto
literalmente: “Então, foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam
nus, e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais” (Gn 3.7). Na verdade, quando os
seus olhos foram abertos, os olhos de suas almas, olhos do interior, uma forte
convicção de que haviam desobedecido a DEUS lhes sobreveio. Quando já era
demasiado tarde, compreenderam a loucura de haver comido do fruto proibido por
DEUS.
A lei moral de suas consciências deu o sinal quando descobriram que
estavam nus. Esta consciência de nudez os fez perceber que haviam perdido todas
as honras e encantos da vida no paraíso que DEUS havia feito para eles.
Outrossim, ficaram envergonhados, porque se viram frente ao desprezo e à perda
da comunhão com o Criador. Ficaram totalmente indefesos, porque, a partir da
Queda, estavam sós, sem a presença do Criador.
O pecado trouxe ao homem a punição da morte física. Paulo declarou
que por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte” (Rm 5.12). A palavra “morte”,
thanatos (gr.), significa separação das partes física e espiritual do ser
humano. Indiscutivelmente, a separação de corpo e alma faz parte da penalidade
imediata do pecado. A Bíblia diz que “o salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).
Pelágio e seus discípulos ensinaram que a morte física fazia parte
do primeiro estado do homem antes do pecado e que ele fora criado como um ser
mortal. Naturalmente, esse conceito errôneo foi rejeitado através da história.
A igreja adotou uma posição definida quanto a questão da morte, a saber, que a
morte sempre se constituiu uma penalidade do pecado.
O castigo disciplinador Os teólogos procuram fazer distinção entre
castigo, punição e pena e, sem dúvida, há certa distinção que deve merecer a
nossa apreciação. Entretanto, preferi usar o termo castigo com abrangência ao
modo de tratamento de DEUS quanto aos pecados cotidianos dos cristãos e quanto
aos pecados que implicam o tratamento final de DEUS.
Nesse ponto, especialmente, o castigo disciplinador relaciona-se
com o comportamento do cristão, e objetiva corrigido e repreendê-lo, a fim de
que não se perca. A doutrina no que tange a esse tipo de castigo revela que é
possível até
mesmo morte prematura do cristão como modo de disciplina divina e a
salvação da alma (I
Co 11.30-32). O autor da Carta aos Hebreus faz uma distinção entre filhos e
bastardos (Hb 12.6-8).
Neste texto DEUS se mostra como “Pai amoroso que corrige os filhos”; por isso,
a correção tem sentido disciplmador.
Quando o escritor emprega o termo “bastardo”, faz isso para
distingui-lo do filho verdadeiro de DEUS, aquele que aceita a correção do Pai
(v.8). Chafer escreveu, em sua Teologia Sistemática, que “a disciplina,
numa forma ou outra, é a experiência universal de todos os que são salvos; o
ramo que produz fruto é podado, para que produza mais fruto ainda (Jo 15.12)”.
O castigo (a pena) final do pecado. Se morte física significa
separação de corpo e alma e é parte da pena do pecado, entendemos que, de modo
nenhum, a morte física venha significar a penalidade final. Nas Escrituras a
palavra morte é frequentemente usada com sentido moral e espiritual. Isto
significa que a verdadeira vida da alma e do espírito, é a relação com a
presença de DEUS. Portanto, a pena divina contra o pecado do homem no Èden foi
a separação da comunhão com o Criador.
A morte espiritual tem dois sentidos especiais: um sentido é
negativo e o outro é positivo. Em relação à vida cristã, todo verdadeiro crente
está morto para
o pecado, porque a pena do pecado foi cancelada e ele está livre do
domínio do pecado (Rm 6.14).Trata-se
da separação da vida de pecado depois que se aceita a CRISTO e é expiado por
Ele. Porém, em relação ao futuro, o crente terá a vida eterna, isto é, terá a
redenção plena do corpo do pecado (Ap 21.27; 22.15).
Porém, o sentido negativo de morte espiritual refere-se à
morte no pecado. O crente está morto para o pecado, mas o ímpio está morto
espiritualmente no pecado. Significa que o pecador vive um estado de vida
separado de DEUS e de sua comunhão. Significa estar “debaixo do pecado” e estar
sob o seu domínio (Ef 2.1,5). O efeito desses dois
sentidos é presente e temporal. O pecador sem DEUS, no presente, está numa
condição temporal de excomunhão com DEUS, mas pela graça de DEUS poderá sair
desse estado e morrer para o pecado (Ef 4.18; Gn 2.17).
A punição final do pecado é a morte eterna, ou seja, o juízo final
contra o pecado (Hb 9.27).
A morte eterna é a culminância e complementação da morte espiritual. Diz
respeito à repugnância da santidade divina que requer justiça contra o pecado e
contra o pecador impenitente. Significa a retribuição positiva de um DEUS
pessoal, tanto sobre o corpo como sobre a sua alma e espírito (Mt 10.28; 2Ts 1.9; Hb 10.31; Ap 14.11).
Existem algumas teorias que tentam anular a doutrina bíblica da
morte eterna, como castigo final do pecado. O universalismo ensina que DEUS é
bom demais para excluir alguém da sua presença no Céu, pois JESUS morreu por
todos; por isso, ao final, todos serão salvos. O restauracionismo é outra ideia
equivocada e antibíblica, porque ensina que DEUS vai restaurar todas as coisas
ao final da história da humanidade, quando então todos serão salvos.
A ideia do purgatório, ensinada pela igreja romana, de que o
purgatório é um período probatório pelo qual, entre a morte e a ressurreição,
os pecadores que morreram serão provados e poderão se recuperar e se livrar da
pena final de seus pecados. Por último, a teoria da aniquilação ensina que, ao
final de tudo, no juízo, todos os ímpios serão aniquilados; isto é,
extinguidos, como quem extingue uma folha de papel no fogo que vira cinza.
Interpretam erradamente 2 Tessalonicenses 1.9; substituem a palavra “aniquilar”
por “extinguir”. O sentido bíblico de “aniquilar” é “banir” da presença de
DEUS.
Portanto, morte eterna é a eterna separação (banimento) da presença
de DEUS e a impossibilidade de arrependimento e salvação. Os ímpios são
constituídos por aquelas pessoas que rejeitaram conscientemente a graça de DEUS
e, por isso, depois da morte física, serão ressuscitados e comparecerão diante
do Grande Trono Branco do Juízo de DEUS e receberão a justa retribuição dos
seus pecados com a morte eterna, sendo lançados no Geena, isto é, o “lago de
fogo eterno (Ap 20.14,15; Mt 5.22,29,30; 10.26; 23.14,15,33).
Existe uma distinção entre a primeira e a segunda morte. A primeira
é física; morre-se uma só vez (Hb
9.27); é temporal e para todas as pessoas no mundo: justos e injustos. A
“segunda” morte é espiritual e eterna; a “segunda” tem um sentido moral, porque
todos quantos irão passar por ela saberão e terão “consciência” depois da
primeira morte (At 24.15).
Uma das grandes verdades acerca do castigo do pecado é que a
justiça de DEUS o exige afim que ninguém o acuse de injustiça. Pelo contrário,
Ele é o Senhor que pratica a misericórdia, juízo e justiça na terra (Jr 9.24).
A questão do pecado encontra resposta e solução quando encontramos
na Bíblia a declaração de Paulo de que DEUS propôs JESUS CRISTO como
propiciação pelo seu sangue, para receber toda a carga da ira de DEUS contra o
pecado (Rm 3.25; 2 Co 5.21; Gl 3.13). Significa que a cruz
foi o meio pelo qual DEUS castiga o pecado. O próprio DEUS, perfeito em
justiça, tornou possível a expiação dos pecados por aquele que se fez nosso
justificador perfeito (Rm 3.26).
As Grandes Doutrinas da Bíblia - HAMARTIOLOGIA - Raimundo de
Oliveira - CPAD
ÍNDICE
I. A ORIGEM DO PECADO
1. Conceitos Históricos Sobre a Origem do Pecado
2. O Que a Bíblia Ensina Sobre a Origem do Pecado
3. O Caráter do Primeiro Pecado do Homem
4. A Universalidade do Pecado
II. A NATUREZA ESSENCIAL DO PECADO
1. A Ideia Bíblica do Pecado
2. O Pecado Original
3. O Pecado Atual
4. O Pecado Imperdoável
5. O Pecado e o Crente
HAMARTIOLOGIA
INTRODUÇÃO
As Escrituras destacam dois grandes princípios morais mediadores do
comportamento do homem em relação a DEUS: a santidade e o pecado. Na esfera
moral, a santidade corresponde ao bem, enquanto que o pecado corresponde ao
mal. Todos os mais princípios e qualidades morais podem ser classificados de
maneira a se identificarem com a santidade e o bem, ou com o pecado e o mal.
Por essa razão a doutrina do pecado recebe especial atenção na Bíblia.
I.
A
ORIGEM DO PECADO
Qualquer pessoa que se dá a meditar na doutrina do pecado,
procurando compreendê-la mesmo à luz das Escrituras, inevitavelmente há de se
defrontar com a seguinte indagação: Qual a origem do pecado? Esta indagação
quer a encaremos no contexto da Igreja ou da Teologia, amplia-se numa indagação
sobre a origem do mal em todo o mundo. As perturbações da vida e a consciência
de algo anormal atuando decisivamente no mundo, conduzem o homem pensante a
essa questão; e inúmeras são as respostas formuladas através da história;
respostas nem sempre harmônicas entre si.
1.Conceitos Históricos Sobre a Origem do Pecado
São os mais diversos conceitos que ao longo da historias surgiram
acerca da origem do pecado. Irineu, bispo de Lyon, na Ásia Menor (130-208
d.C.), foi, talvez, o primeiro dos países da Igreja Antiga, a assegurar que o
pecado no mundo se originou na transgressão voluntária do homem no Éden. O
conceito de Irineu logo tomou conta do pensamento e da teologia da Igreja,
especialmente como arma no combate ao gnosticismo, pois este ensinava que o mal
é inerente à matéria.
Do Gnosticismo a Orígenes
O gnosticismo ensinava que o contato da alma humana com a matéria
era que a tornava imediatamente pecadora. Esta teoria naturalmente despojou o
pecado do seu caráter voluntário como é apresentado na Bíblia. Orígenes
(185-254 d.C.) sustentou este mesmo ponto de vista por meio de sua teoria
chamada “preexistencismo”. Segundo ele, as almas dos homens pecaram
voluntariamente em existência prévia, e, portanto, todas entraram no mundo numa
condição pecaminosa.
Este conceito de Orígenes sofreu forte oposição mesmo nos seus
dias.
Os pais da Igreja Grega
Em geral os Pais da Igreja grega dos séculos III e IV se mostraram
inclinados a negar a relação direta entre o pecado de Adão e seus descendentes.
Em contraposição, os Pais da Igreja latina ensinaram com bastante clareza que a
presente condição pecaminosa do homem encontra sua explicação na primeira
transgressão de Adão no Éden.
De Agostinho à Reforma
O ensino da Igreja do Ocidente quanto à origem do pecado teve seu
ponto mais elevado na pessoa de Agostinho. Ele insistiu no ensino de que em
Adão toda a humanidade se acha culpada e maculada. Já os teólogos
semipelagianos, admitiam que a mancha do pecado, e não o pecado mesmo, é que
era causada pelo relacionamento humanidade – Adão. Durante a Idade Média, o que
se cria a respeito de assunto era uma mistura de agostinismo e pelagianismo. Os
Reformadores, particularmente, comungaram do ensino de Agostinho.
Do Racionalismo a Karl Barth
Sob a influência do racionalismo e da teoria evolucionista, a
doutrina da queda do homem e de seus efeitos fatais sobre araçá humana, foi
descartando-se gradualmente. Começou a si difundir a ideia de que, se realmente
houve o que a Bíblia chama “queda” do homem, essa queda foi para o alto. A ideia
do pecado odioso aos olhos santos de DEUS foi substituída pelo mal, e este mal
se aplicou de diferentes maneiras. Por exemplo, Emmanuel Kant o considerou como
parte inseparável do que há de mais profundo no ser humano, e que não se pode
explicar. O evolucionismo chama esse “mal” de oposição das baixas inclinações
ao desenvolvimento gradual da consciência moral. Karl Barth, teólogo suíço
(1886-1968), fala da origem do pecado como um mistério da predestinação. Em
suma: o que muitas correntes da teologia racional erradamente ensinam é que
Adão foi na verdade o primeiro pecador, porém sua obediência não pode ser
considerada como causa do pecado no mundo. O pecado do homem estaria
relacionado de alguma forma com a sua condição de criatura. A história do
paraíso nada mais proporciona ao homem do que a simples informação de que ele
necessariamente não precisa ser pecador.
2. O Que a Bíblia Ensina Sobre a Origem do Pecado
Na Bíblia, o mal moral que assola o mundo, normalmente chamado
pelos homens de fraqueza, equívoco, deslize, queda para o alto, se define
claramente como pecado, fracasso, erro, iniquidade, transgressão, contravenção,
e injustiça. A Bíblia apresenta o homem como transgressor por natureza. Mas,
como adquiriu o homem essa natureza pecaminosa? O que a Bíblia nos diz acerca
disso? Para termos respondidas estas indagações, é interessante e indispensável
considerar o seguinte:
a) DEUS não é o Autor do Pecado
Evidentemente DEUS, na sua onisciência, já vira a entrada do pecado
no mundo, bem antes da criação do homem. Porém, deve-se ter cuidado para que ao
se fazer esta interpretação, não fazer de DEUS a causa ou autor do pecado.
“Longe de DEUS o praticar ele a perversidade, e do Todo-poderoso o cometer
injustiça” (Jó 34.10).
DEUS é santo (Is 6.3). E
não há nele nenhuma injustiça (Dt
32.4; Sl 95.15). “Ninguém ao ser tentado, diga: Sou tentado por DEUS; por
que DEUS não pode ser tentado pelo mal, e ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13). DEUS odeia o pecado
e como prova disto enviou a JESUS CRISTO como provisão salvadora para o homem.
Assim sendo, as Escrituras rechaçam todas aquelas ideias deterministas, segundo
as quais DEUS é autor e responsável pela a entrada do pecado no mundo. Tais ideias
são contrárias às Escrituras, mas também à voz da consciência que dá testemunho
da responsabilidade do homem perante o DEUS cuja santidade foi ultrajada.
b) O Pecado Teve Origem no Mundo Angélico
Se quisermos conhecer a origem do pecado,teremos de ir além da
queda do homem, descrita no capitulo 3 de Gêneses, e pôr a nossa atenção em
algo que aconteceu no mundo dos anjos. DEUS criou os anjos dotados de
perfeição, porém, Lúcifer e legiões deles se rebelaram contra DEUS, pelo que
caíram em terrível condenação. O tempo exato dessa queda não é dado a conhecer
na Bíblia. JESUS fala acerca do Diabo dizendo ser ele homicida desde o
princípio (Jo 8.44). O
apóstolo João diz que o Diabo peca desde o princípio (1 Jo 3.8). Pouco se diz a
respeito do pecado que ocasionou a queda dos anjos; porém, quando Paulo adverte
a Timóteo no sentido de que nenhum neófito seja designado bispo sobre a casa de
DEUS, diz o apóstolo porque: “...para não suceder que se ensoberbeça e caia na
condenação do Diabo” (1 Tm 3.6).
Daí se conclui que o pecado do Diabo foi a soberba e o desejo de sobrepujar a
DEUS.
c) A Origem do Pecado na Raça Humana
A origem do pecado na história da raça humana foi a transgressão
voluntária de Adão no Éden. O homem deu ouvidos à insinuação do tentador, de
que, se colocasse em oposição a DEUS, se tornaria igual a Ele. Tomando do fruto
que DEUS proibira, Adão caiu, abrindo a porta de acesso ao pecado no mundo. Ele
não somente pecou, ele também se tornou servo do pecado. Neste sentido escreve
o apóstolo Paulo: “Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que
todos pecaram...Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça
sobre todos os homens para justificação de vida. Porque, como, pela
desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim, pela
obediência de um, muitos serão feitos justos” (Rm 5.12,18,19).
3. O Caráter do Primeiro Pecado do Homem
De acordo com o relato sagrado, primeiro pecado do homem, consistiu
em haver Adão comido da árvore do conhecimento do bem e do mal, em desacato a
ordem de DEUS: “... da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás;
porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.17).
a) Seu Caráter Formal
Ignoramos a razão porque o elemento de prova do homem no Éden é
chamado de “árvore do conhecimento do bem e do mal”. Porém, segundo uma ideia
muito comum, ela se chama assim pelo fato de que o homem, comendo dela,
adquiriria conhecimento prático do bem e do mal. Berkhof é da opinião de que
essa interpretação dificilmente se harmoniza com as Escrituras que afirmam que
o homem, ao comer dela se tornaria igual a DEUS no que diz respeito à aquisição
do conhecimento do bem e do mal e portanto não tem conhecimento prático dele.
Parece muito mais aceitável que essa árvore se chamava assim pelo fato de que
ele estava destinado a revelar: Se o estado futuro do homem seria bom ou mau;
Se o homem permitiria que DEUS determinasse em seu lugar o que lhe era bom ou
mau, ou se o homem determinaria por si mesmo. Qualquer significado que se dê à
árvore do conhecimento do bem e do mal, deve-se ter sempre em mente que a
finalidade da sua designação por DEUS foi de simplesmente de provar o homem
criado à sua imagem e semelhança. Adão teria de demonstrar interesse e se
submeter à sua própria vontade ou à vontade de DEUS, com obediência implícita e
absoluta.
b) Seu Caráter Essencial e
Material
A essência do pecado de Adão consiste em que ele se colocou em
oposição a DEUS, recusando submeter-se à sua vontade e impedindo que DEUS
determinasse o curso da sua vida. Adão tomou as rédeas da sua vida das mãos de
DEUS, determinado o seu futuro por si mesmo. O homem que não tinha nenhum
direito sobre DEUS, separou-se dele como se nada lhe devesse. Com essa ação, o
homem estava como que levantando os punhos em direção a DEUS e lhe dizendo: ”Eu
não preciso mais de ti”. A ideia de que a ordem de DEUS ainda estava na mente
do homem no momento do seu pecado é comprovada na resposta de Eva à pergunta de
Satanás, “nem tocareis nele” (Gn
3.3). Possivelmente, Eva quis enfatizar que o mandamento de DEUS não havia
sido razoável, isto é, era muito mais pesado do que se podia imaginar. Foi
assim que no desejo de ser igual a DEUS, o homem pecou e foi reduzido à
categoria de servo do pecado.
4. A Universalidade do Pecado
Ainda que muitos tenham diferentes opiniões quanto à natureza do
pecado e o modo como ele se originou, bem poucos se inclinam a negar o fato de
que o pecado é um tormento no coração do homem, em todos os quadrantes da
terra. Seja em grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, ou nas mais
esquecidas aldeias no seio da África, o pecado é um flagelo diário.
a) O Testemunho da História
A própria história das religiões pagãs testifica da universalidade
do pecado. A pergunta do patriarca Jó: “Como, pois, seria justo o homem perante
DEUS, e como seria puro aquele que nasce da mulher?” (Jó 25.4). É uma pergunta
feita tanto por aqueles que conhecem a revelação especial DEUS, quanto por
aqueles que a ignoram. Quase todas as religiões dão testemunho de um
conhecimento universal do pecado e da necessidade de reconciliação com o
Supremo. Há um sentimento generalizado de que os deuses estão ofendidos e de
que algo deve ser feito para apaziguá-los. A voz da consciência acusa o homem
diante do seu fracasso em alcançar o ideal da vida perfeita dizendo que ele
está condenado aos alhos de alguém que possui um poder superior. Os altares
banhados de sangue e as freqüentes confissões de agravo, feitas por pessoas que
buscam livrar-se do mal, apontam conjuntamente pêra o conhecimento do pecado e
da gravidade dele. Onde quer que os missionários cristãos se encontrem,
apodera-se deles a certeza de que o pecado é um flagelo universal. Os filósofos
gregos, na sua luta contra o problema do mal, foram levados a admitir a
universalidade do pecado, ainda que incapaz de explicar esse fenômeno.
b) Todos Pecaram
A pecaminosidade do homem está registrada em toda a extensão das
Escrituras (Gn 6.5; 1 Rs 8.46; Sl 53.3; 143.2; Pv 20.9; Ec 7.20; Is 53.6; 64.6; Rm 3.1-12,19,20,23; Gl 3.22; Tg 3; 1 Jo 1.8,10). De fato, a Bíblia mostra
o pecado como uma herança inevitável que o homem tem de administrar desde o seu
nascimento, e que está presente na natureza do homem e com ele continuará até a
morte (Sl 5.5; Jó 14.4; Jo 3.6; Ef 2.3). Escrevendo aos
Efésios, diz o apóstolo Paulo que nós, os crentes, “éramos por natureza filhos
da ira, como também os demais” (Ef
2.3). o pecado, pois, é algo original, do qual todos participam, e que os
fazem culpados diante de DEUS. O pecado e a morte nivelam os homens. A maior
prova em favor da universalidade do pecado é que a própria obra realizada por
CRISTO na cruz, que no seu escopo apresenta-se como uma obra de caráter
universal, e como remédio único para a doença espiritual de toda a humanidade.
II. A NATUREZA ESSENCIAL DO PECADO
O caráter santo de DEUS é a norma única e final mediante a qual
podemos julgar com exatidão os valores morais. Para aqueles que não levam DEUS
em conta, não existem normas morais fora dos costumes sociais e dos ditames
duma consciência pervertida.
1. A Ideia Bíblica do
Pecado
Não podemos assimilar a ideia bíblica do pecado, a menos que
levemos em consideração as seguintes particularidades na conceituação do
pecado.
a) O Pecado é uma Classe Específica de Mal
Comparativamente, o que ouvimos e lemos hoje sobre o mal é muito
mais do que aquilo que ouvimos e lemos a respeito do pecado. Isto se dá,
talvez, devido à opinião comum de que mal e pecado são a mesma coisa. Porém, é
bom lembrar que, apesar de todo o pecado ser um mal, nem tudo que consideramos
mal é pecado. O pecado não deve ser confundido com o mal físico que produz
prejuízos e calamidades. O pecado é a causa do mal, enquanto que o mal é o
efeito do pecado. Os termos bíblicos para designar o pecado são variados. Em
geral é apresentado como “fracasso”, “erro”, “iniquidade”, “transgressão”,
“contravenção”, “falta de lei” e “injustiça”. Porém, a definição de pecado não
pode ser derivada simplesmente dos termos bíblicos para denotá-lo. A
característica principal ele está orientado contra DEUS (Sl 51.4; Rm 8.7).
b) O Pecado Tem um Caráter Absoluto
O contraste entre o bem e o mal é absoluto, e não há neutralidade
alguma entre ambos; tanto que a transição entre um e outro não é de caráter
quantitativo, mas qualitativo. Um ser moral, que não é bom, não se torna mau só
por diminuir a sua bondade, mas por uma mudança radical que o leva a
envolver-se com o pecado. JESUS disse: “Quem não é comigo é contra mim; e quem
comigo não ajunta espalha” (Mt
12.30). o homem tem de estar do lado do bem e da justiça, ou do mal. Em
assuntos espirituais, a Escritura não conhece uma posição de neutralidade.
c) O Pecado é Sempre Dirigido Contra DEUS
É impossível se ter um conceito correto do pecado sem vê-lo em
relação com a pessoa e a vontade de DEUS. É compreendendo assim que o pecado
pode ser interpretado como “falta de conformidade com a lei de DEUS”. Esta é a
definição formal mais correta de pecado. Os seguintes trechos extraídos das
Escrituras abordam o pecado em relação a DEUS e a sua Lei: “os quais,
conhecendo a justiça de DEUS (que são dignos de morte os que tais coisas
praticam), não somente as fazem, mas também aprovam aos que as fazem” (Rm 1.32). “... se fazeis
acepção de pessoas, cometeis pecado e sois redarguidos pela lei como
transgressores” (Tg 2.9).
“Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a
transgressão da lei” (1 Jo 3.4).
d) O Pecado Inclui Tanto a Culpa Como a Corrupção.
A culpa é um estado em que se sente merecer o castigo pela a
violação da lei moral. Ela expressa também a relação que o pecado tem com a
justiça e com o castigo da lei. Porém, por ser uma palavra de significado
duplo, a culpa tanto denota a qualidade própria do pecado, como denota a
culpabilidade que nos faz dignos do juízo e do castigo divino. Dabney fala
deste último aspecto da culpa como “culpa potencial”. A culpa atual pode ser
removida por meio de um substituto, mediante a satisfação das exigências da lei
(Mt 6.12; Rm 3.19; 5.18; Ef 2.3). Corrupção é a
contaminação inerente a cada pecador, e é uma realidade na vida de todo
individuo. Todo aquele que é nascido de Adão tem em si a natureza manchada pelo
pecado (Jó 14.4; Jr 17.9; Mt 7.15-20; Rm 8.5-8; Ef 4.17-19).
e) O Pecado tem Lugar no Coração
O pecado não reside em nenhuma faculdade da alma, mas sim no
coração, o âmago da alma, de onde flui a vida. Ele é o centro das influencias
que põe em operação o intelecto, a vontade e os afetos. Em seu estado
pecaminoso, o coração torna o homem objeto do desagrado de DEUS. Sobre o
coração como continente do pecado, escreveu o profeta Jeremias: “Enganoso é o
coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto, quem o
conhecerá?” (Jr 17.9; Pv 4.23; Mt 15.19,20; Lc 6.45; Hb 3.12).
2. O Pecado Original
A condição pecaminosa em nasce o homem é definida teologicamente
como “pecado original”. Ele é chamado assim: - porque se deriva de Adão, o
tronco original da raça humana; - porque está presente na vida de cada
indivíduo desde o momento do seu nascimento, pelo que não pode ser considerado
como resultado de simples imitação; - porque é a raiz interna de todos os
pecados atuais que maculam a vida do homem. Deve-se, porém, evitar o erro de se
pensar que o termo “pecado original” implica em que este pecado pertence à
constituição original da natureza humana, posto que isto implicaria em que DEUS
criou o homem como pecador.
a) Conceito Histórico
É de opinião geral dos teólogos que os Pais da Igreja primitiva não
se deram ao labor de escrever o suficiente sobre o pecado original. Contudo,
segundo os Pais da Igreja grega, há uma corrupção física na raça humana
proveniente de Adão, porém isto não envolve culpa. A liberdade da vontade em
nada foi afetada pela queda. Respeitáveis teólogos são da opinião de que este
parecer dos Pais gregos, culminou com o surgimento do pelagianismo, movimento
religioso herético fundado por Pelágio, britânico, que viveu entre 360 e 422 da
nossa Era. O pelagianismo negava completamente as doutrinas da graça e do
pecado original. Na igreja latina, porém apareceu uma tendência diferente
através da pessoa de Tertuliano, que segundo alguns teólogos, foi o homem que
depois de Paulo, teve maior senso a respeito do pecado. Tertuliano considerou o
pecado original uma infecção hereditária. Ambrósio, outro famoso Pai da Igreja
latina, foi além de Tertuliano na questão do pecado original e o descreveu como
um estado, e fez uma distinção entre corrupção inata e a resultante culpa do
homem. Porém, foi através do talento e do espírito de estudo de Agostinho que a
doutrina do pecado original alcançou um total desenvolvimento. Segundo ele, a
natureza do pecador, tanto física como moralmente, está de toda corrompida por
causa do pecado de Adão, de tal maneira que o homem não consegue fazer outra
coisa senão pecar. Os reformadores, de modo geral, estiveram de acordo com
Agostinho. Somente Calvino diferia dele, principalmente em dois pontos:
Primeiro, que o pecado original não é algo completamente negativo, uma vez que
esse pecado, segundo ele, dá lugar à eleição de DEUS; Segundo, que esse pecado
está limitado à natureza sensível do homem.
b) Elementos do Pecado Original
São dois os principais aspectos do pecado original: culpa e
corrupção. A palavra culpa, com relação ao pecado original, expressa a relação
que a justiça tem com o pecado, e, como expressavam os teólogos mais antigos, a
relação que o pecado tem com a pena da Lei. É assim que a culpa do pecado de
Adão, como cabeça federal da raça humana, é impossível a todos os seus
descendentes (Rm
5.12-19; Ef 2.3; 1 Co 15.22). A corrupção
original do homem inclui a ausência da justiça original e a presença de um mal
real. É a tendência da natureza caída, herdada de Adão, que condiciona o homem
para pecar. Deve-se, portanto, notar: Primeiro, que essa corrupção não é
meramente uma enfermidade; Segundo, ele não é meramente uma privação.
3. O Pecado Atual
O pecado se originou num ato de livre vontade de Adão como
representante da raça humana; uma transgressão da lei de DEUS e uma corrupção
da natureza humana que deixou o homem exposto ao juízo e castigo de DEUS.
É esta natureza corrompida a fonte donde flui todos os pecados
atuais, diários.
a) Relação Entre Pecado Original e Pecado Atual
“Pecados atuais” são aquelas ações externas que se executam através
do corpo. São também todos aqueles maus pensamentos conscientes. São os pecados
individuais de fato. O pecado original é um só, enquanto o pecado atual
desdobra-se em diferentes classes, tais como: atos ou atitudes. O que o
apóstolo João escreveu no capítulo primeiro em sua primeira epístola universal,
poderá nos ajudar a compreender melhor a diferença entre pecado original e
pecados atuais. “Se dissermos que não temos PECADO, enganamo-nos a nós mesmos,
e não há verdade em nós. Se confessarmos os nossos PECADOS, ele é fiel e justo
para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 8,9).
Atente para os termos PECADO e PECADOS. A palavra PECADO, no singular, citada
no versículo 8, é uma referência precisa e direta ao pecado original, ou seja,
à natureza caída do homem; enquanto que a palavra PECADOS, no plural, citada no
versículo 9, refere-se ao pecado atual, do dia-a-dia.
b) Classificação dos Pecados Atuais
É impossível classificar todos os pecados atuais, pois variam de
classe e de grau e podem diferenciar-se em mais de um ponto. A teologia
católico-romana faz uma bem conhecida distinção entre pecados veniais e pecados
mortais, porém tem dificuldades em apontar quando o pecado é venial ou mortal.
A mais completa lista das diferentes classes de pecados habituais, registrada
na Bíblia, é extraída dos escritos do apóstolo Paulo, mas precisamente da
Epístola aos Gálatas. “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:
prostituição, impureza, lascívia,idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias,
emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,invejas, homicídios, bebedices,
glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já
antes vos disse, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de DEUS”
(Gl 5.19-21). O
Novo Testamento determina a gravidade do pecado de acordo com o grau de
conhecimento que se tenha a respeito dele. Os gentios, que estão no seu pecado,
são culpados aos olhos de DEUS; porém, aqueles que gozam do favor do Evangelho
e têm revelação de DEUS são muito mais culpados quando caem (Mt 10.15; Lc 12.47,48; 23.24; Jo 19.11). o crente, em
particular, é advertido no sentido de evitar o pecado que tão de perto o rodeia
(Hb 12.1). O pecado tanto
pode ser por comissão como por omissão. Isto é: aquele que não faz o bem e
deveria fazer, é tão culpado diante de DEUS quanto aquele que faz o mal que não
deveria fazer.
4. O Pecado Imperdoável
Diferentes passagens das Escrituras falam de um pecado que não pode
ser perdoado, sendo impossível a mudança de coração depois de alguém o haver
cometido, e pelo qual não se deve orar. Sobre ele, disse JESUS: “Portanto, eu
vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia
contra o ESPÍRITO não será perdoada aos homens. E, se qualquer disser alguma
palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar
contra o ESPÍRITO SANTO, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro”
(Mt 12.31,32).
Opinião Sobre Esse Pecado
Durante séculos têm surgido as mais diversas opiniões a respeito da
natureza do pecado para o qual não há perdão. Por exemplo, Jerônimo e
Crisóstomo pensavam que esse foi o pecado cometido unicamente pelos
contemporâneos de JESUS, durante o seu ministério terreno. Agostinho e alguns
teólogos luteranos e escoceses ensinaram que esse pecado consistia da
penitência que persiste até o fim. Anos depois da Reforma, alguns teólogos
luteranos ensinavam que só as pessoas regeneradas estão sujeitas ao pecado de blasfêmia
contra o ESPÍRITO SANTO, pecado para o qual não há perdão.
b) Opinião Correta a Respeito Desse Pecado
O conceito reformado quanto ao pecado imperdoável, é o que melhor
se harmoniza com as Escrituras a respeito do assunto. Esse pecado consiste na
rejeição consciente, maliciosa e voluntária da evidência e convicção do
testemunho do ESPÍRITO SANTO, com respeito à graça de DEUS manifesta em JESUS
CRISTO. Esse pecado não consiste em duvidar da verdade manifesta em e por
CRISTO, nem em simplesmente negá-la, mas sim em contradizê-la. Ao cometer esse
pecado, o homem voluntária, maliciosa e tencionalmente atribui à influência de
satanás aquilo que reconhecidamente é obra de DEUS. Em suma, esse pecado não é
outra coisa senão um deliberado ultraje ao ESPÍRITO SANTO, uma declaração audaz
de que o ESPÍRITO SANTO é um espírito maligno, que a verdade é mentira e que
CRISTO é satanás. Esse pecado é imperdoável não porque sua gravidade supere os
méritos e eficácia da obra de CRISTO levada a afeito na cruz do Calvário, ou
porque ele foge aos limites do poder restaurador do ESPÍRITO SANTO, mas porque
nos domínios do pecado, existem leis e ordenanças estabelecidas e mantidas por
DEUS.
c) O Crente Está Sujeito a Este Pecado
De que o crente pode cometer o pecado de blasfêmia contra o
ESPÍRITO SANTO e cair em declarada apostasia é ensino implícito no seguinte
texto das Escrituras: “é impossível, pois, que aqueles que uma vez iluminados e
provaram o dom celestial e se tornaram participantes do ESPÍRITO SANTO, e
provaram a boa palavra de DEUS e os poderes do mundo vindouro, e caíram, sim, é
impossível outra vez renová-los para o arrependimento, visto que de novo estão
crucificando para si mesmo o filho de DEUS, e expondo-o à ignomínia” (Hb 6.4-6). A respeito
do perigo de se cometer este pecado, escreveu o saudoso pastor e escritor João
de Oliveira: “pecando o homem contra DEUS, veio JESUS para conduzi-lo de volta
a DEUS; havendo pecado contra JESUS, veio o ESPÍRITO SANTO para reconciliá-lo
com JESUS; mas, pecando o homem contra o ESPÍRITO SANTO, quem o há de salvar?”.
Em atenção ao fato de que esse pecado nunca segue o arrependimento, é possível
assegurar que aqueles que julgam tê-lo cometido e se entristecem por isso, e
desejam as orações de outros para perdão, na verdade nunca cometeram. É o
ESPÍRITO SANTO quem conduz o homem ao arrependimento; se alguém tivesse pecado
contra Ele, é obvio que Ele não levaria esse alguém ao arrependimento, se o
perdão completo não fosse atingível.
5. O pecado e o Crente
O significado e a gravidade do pecado são mais bem compreendidos
pelo do que por qualquer outra pessoa. Ao longo de toda a narrativa bíblica, o
crente é advertido contra o “pecado que tão de perto nos rodeia” (Hb 12.1), e a caminhar para o
alvo maior, que é a semelhança da estatura e perfeição de CRISTO. Por isso, ao
ouvido de cada crente, hoje, deve continuar soando a solene advertência de
CRISTO: “... vai e não peques mais” (Jo 8.11).
a) É Possível o Crente Pecar?
Para muitos cristãos, a descoberta de que após aceitar a JESUS
ainda estavam sujeitos ao pecado, foi tão espantoso quanto ao próprio fato de
agora saberem que foram feitos novas criaturas em CRISTO. De que é possível o
crente pecar, é assunto pacífico em toda a Escritura. Só no NT há capítulos
inteiros, como por exemplo, Romanos
7 e 8, que mostram o conflito interior do crente entre a sua natureza
divina que nele habita, mostrando a possibilidade de o crente vir a cometer
pecado. Sobre esse assunto, escreveu o apóstolo João: “Se dissermos que não
temos PECADO, enganamo-nos a nós mesmos, e não há verdade em nós. Se
confessarmos os nossos PECADOS, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.8,9). Já mostramos que a palavra
PECADO, no singular, citada no versículo 8, é uma referência à natureza caída
do homem, de onde provêm os PECADOS, no plural (versículo 9). É evidente que o
cristão possui dupla natureza: a natureza caída, ainda sujeita ao pecado, e a
natureza divina. Esta ultima foi implantada no crente mediante a sua ligação
com JESUS CRISTO, “a videira verdadeira” (Jo 15.1). Enquanto a primeira
natureza estiver subjugada o crente estará sendo levado a viver de vitória em
vitória.
b) Possíveis Causas de Pecados na Vida do Crente
Dentre as muitas causas pelas quais o crente poderá ser levado à pratica
do pecado, destacamos as três principais, dadas a seguir:
- A natureza pecaminosa (Rm 8.21-15).
- O sistema mundial que está sob domínio de satanás (1 Jo 2.15-17).
- Falta de oração e de cuidadoso estudo das Escrituras (Ef 6.10-15).
O crente que relaxa o hábito da oração e da leitura e estudo das
Escrituras, está incorrendo em sérios riscos espirituais, podendo se tornar
presa fácil dos laços do adversário.
c) Consequências do Pecado na Vida do Crente
Dentre as muitas consequências do pecado na vida do crente, vale
destacar:
- A perda da comunhão com DEUS (1 Jo 5.6; Sl 51.11).
- Oportunidade de os inimigos blasfemarem do nome de DEUS (2 Sm 12.14).
- Perda do galardão (1
Co 4.5; 3.13-15).
- Possível morte (Act 5.1-11; 1 Co 11.30).
- Destruição da fé e consequente morte espiritual (Rm 6.16; 1 Jo 5.16,17).
d) Como o Crente Deve tratar Com o Pecado
Quando ao trato que o crente deve dar ao pecado, a Bíblia recomenda
que o crente deve:
- Reconhecê-lo (Sl
51.3)
- Evitá-lo (1 Tm
5.22)
- detestá-lo (Jd v.23)
- Resiste a ele com confiança em DEUS (Tg 4.7,8).
- Confessá-lo (1 Jo
1.9).
- Abandoná-lo (Pv
28.13).
O apóstolo João escreveu dizendo: “Filhinhos meus, estas coisas vos
escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto
ao Pai, JESUS CRISTO, o Justo” (1Jo
2.1).
A Doutrina do Pecado - Severino Pedro - CPAD - O Pecado
Herdado e a Imputação da Culpa
I. O Pecado Herdado
1. O pecado herdado. Com a queda do homem, o pecado assumiu uma
espécie de “veículo transmissor”. Há o pecado “congênito”, inato,
herdado de Adão, nosso pai (a exemplo do veneno da serpente que se generaliza
no corpo através da corrente sanguínea), que só termina seu poder de ação,
quando a pessoa humana se toma uma “nova criatura”, por meio de JESUS CRISTO (2 Co 5.17). É exatamente o que
Paulo declara em Romanos
6.23, “o salário do pecado”. Há o pecado praticado, isto é, a
“transgressão” (1 Jo 1.9). O
primeiro vem no singular, o segundo no plural. No tocante a sua prática, a
primeira é por comissão (a voluntariedade), conforme se depreende de Tiago 1.14,15, quando diz: “Mas cada um é
tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois,
havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo
consumado, gera a morte”; a segunda por omissão (a indisposição). Tiago descreve
também esta segunda parte, em 4.17, quando diz: “Aquele pois que sabe fazer o
bem e não faz, comete pecado”. E Paulo acrescenta: “Pelo que, como por um homem
entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a
todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5.12). Neste versículo e
naqueles que se seguem, o apóstolo mostra-nos que a introdução do pecado no
mundo deu-se por causa da desobediência de Adão. De acordo com os ensinamentos
de Paulo e de outros escritores do Novo Testamento, a ‘culpa original’ passou a
todos os homens. Assim; “todos pecaram”. Quando uma criança pode ser capaz (ou
incapaz) de assumir a culpa do pecar. Pensando na “culpa herdada”, alguns estudiosos
têm perguntado: “Quando uma criança pode se tomar um pecador?”, ou ainda
“quando DEUS passa a imputar o pecado na vida de uma criança?”. Tanto
sociólogos, como psicólogos e teólogos sustentam que há uma espécie de “idade
de responsabilidade” antes da qual as crianças não são consideradas
responsáveis pelo pecado e portanto, não são culpadas perante DEUS — ainda que
sejam advertidas no campo moral comparativo. Do ponto de vista divino de
observação, depreendido do Antigo Testamento, DEUS tomou isento da culpa as
pessoas de “20 anos para baixo” e imputável as de “20 anos para cima”. Assim
Ele falou a Moisés, dizendo: “Neste deserto cairão os vossos cadáveres, como
também todos os que de vós foram contados segundo a vossa conta, ‘de vinte anos
e para cima’, os que dentre vós contra mim murmurastes” (Nm 14.29). Os rabinos (depois
passou para os Pais da Igreja) admitiam uma espécie de “predestinação ampla”
para todas as crianças. “As crianças (diziam eles) não são responsáveis pelo
“pecado hereditário”, pois há não culpa sem a noção do bem e do mal. Somente aos
20 anos (segundo este conceito) começa a plena responsabilidade,
que toma possível o pecado atual”. Este ensinamento foi deduzido de
certas passagens do Antigo Testamento (Êx 30.14; 38.26; Nm 14.29).
2. O pecado herdado no conceito dos Pais da Igreja. Os Pais da
Igreja, entretanto, achavam a faixa de “vinte anos” para concepção do “EU”
bastante longa e passaram a estabelecerem certos números de anos, tais como:
“um ano”, “sete anos”. Um terceiro grupo, opinou para “nove”. Os rabinos
judaicos passaram para suas tradições doze para a sociedade (Êx 2.10; 1 Sm 1.2028; 2.1-11; Lc 2.42; 8.42) e para maioridade
religiosa treze (Gn 17.25).
A Bíblia não nos informa se esta determinação de DEUS fora apenas para aquela
geração ou se ela tomou-se extensiva a todos os jovens israelitas ou não. As
Escrituras silenciam nesta direção, então é melhor não arriscar. Alguns
teólogos e psicólogos vêm esta exigência por parte de DEUS, de modo diferente e
opinam que, a idade para a Imputação da culpa é de 7 anos, outros, defendem
13 anos; isso levando em contas a maioridade judaica. Idade esta, que segundo a
tradição judaica o menino é apresentado a congregação e os rabinos o declaram
como membro da fé em DEUS e participante do Pacto Abraâmico (Gn 17.25).
3. Como o pelagianismo entendia por pecado herdado. A teoria do
pelagianismo é atribuída a Pelágio (350-425), um monge da Bretanha. Pelágio foi
um professor de índole cristã muito popular em Roma por volta de 383-410 d.C.,
e mais tarde na Palestina até 424 d. C. Ele ensinava que DEUS considera o homem
responsável somente por aquelas coisas que o homem é capaz de fazer. Como DEUS
nos adverte a fazer o bem, portanto, devemos ter essa capacidade de praticar o
bem que DEUS ordena. A posição pelagiana rejeita a doutrina do “pecado herdado”
ou do “pecado original” e sustenta que o pecado consiste somente em atos
pecaminosos isolados.
a) O pelagianismo é uma teoria teológica cristã. O pelagianismo é
uma teoria teológica cristã atribuída a Pelágio, conforme já ficou demonstrado
acima. Essa teoria sustenta basicamente que todo homem é totalmente responsável
pela sua própria salvação e portanto, não necessita da graça divina. Segundo os
Pelagianos, todo homem nasce “moralmente neutro”, sendo capaz, por si mesmo,
sem qualquer influência divina, de salvar-se quando assim o desejar. Uma das
grandes disputas durante a Reforma Protestante versou sobre a natureza e a
extensão do pecado original. No início do século V, Pelágio havia debatido
ferozmente com SANTO Agostinho sobre este assunto. Agostinho mantinha que o
pecado original de Adão foi herdado por toda a humanidade e que, mesmo que o
homem caído retenha a habilidade para escolher, ele está escravizado ao pecado
e não pode não pecar. Por outro lado, Pelágio insistia que a queda de Adão
afetara apenas a Adão, e que se DEUS exige das pessoas que vivam vidas
perfeitas, ele também dá a habilidade moral para que elas possam fazê-lo e
embora considerasse Adão como “um mau exemplo” para a sua descendência, suas
ações não teriam consequências para a mesma, sendo o papel de JESUS definido
pelos Pelagianos como “um bom exemplo fixo” para o resto da humanidade
(contrariando assim o mau exemplo de Adão), bem como proporciona uma expiação
pelos seus pecados, tendo a humanidade em suma, total controle pelas suas
ações, posteriormente Pelágio reivindicou que a graça divina era desnecessária
para a salvação, embora facilitasse a obediência.
b) O pensamento pelagiano rejeita o conceito da culpa (pecado)
original.
Pelágio rejeitava o conceito bíblico do ‘pecado herdado’ e do
‘pecado original’. Mas, esta sua concepção de ver o homem como um inocente no
tocante a esse ponto de vista, não encontra apoio nas Escrituras e também não
se coaduna com a tese e argumento principal, do pensamento cristão. Com a queda
do homem, o pecado assumiu uma espécie de “veículo transmissor”. Há o pecado
“congênito”, inato, herdado de Adão, nosso pai (a exemplo do veneno da serpente
que se generaliza no corpo através da corrente sanguínea), que só termina seu
poder de ação, quando o homem se toma uma “nova criatura”. DEUS coloca diante
do homem “a vida e o bem, e a morte e o mal”. Depois no contexto posterior Ele
acrescenta: “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, que te tenho
proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para
que vivas, tu e a tua semente” (Dt
30.15,19).’
c) O pensamento das Escrituras desaprova o pelagianismo sobre o
pecado herdado. Refutando o conceito pelagiano devemos analisar aqui três
pontos de vista, no tocante ao homem: a sua salvação; a culpa herdada e o
pecado como herança hereditária. A ideia cristã desaprova a doutrina pelagiana,
apresentando vários aspectos. O pensamento de perdoar o homem sem que ele tenha
consciência daquilo que DEUS fez e está fazendo na sua vida, não é a vontade
divina. E, este, com efeito, não era o plano de DEUS, pois tal pensamento não
se coaduna com o pensamento geral das Escrituras e nem com a tese e argumento
principal. Outrossim, não é o mundo que irá criar o “caminho da Redenção”. Este
foi criado por DEUS e inaugurado pelo próprio CRISTO por meio de sua morte na
cruz (Hb 10.20). A culpa
praticada (quer dizer: a culpa herdada pela transgressão individual e
voluntária) é apresentada nas Escrituras desde o início até o fim. O profeta
Ezequiel fala disso por expressa ordem de DEUS, quando diz: “A alma que pecar,
essa morrerá; o filho não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade
do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá
sobre ele” (Ez 18.20).
Outras passagens das Escrituras nos informam que DEUS perdoa, mas corrige “a
iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente.
Que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos
até à terceira e quarta geração” (Ex
34.7). Com efeito, porém, mesmo havendo um sentimento de boa vontade no
pensamento pelagiano a este respeito, contudo, a ideia de que somos somente
responsáveis perante DEUS por aquilo que somos capazes de fazer é contrário ao
pensamento geral das Escrituras, visto que por si mesmo, o homem é incapaz de
praticar o bem de natureza espiritual, sem que nele passe a habitar o ESPÍRITO
SANTO de DEUS.
II. A Imputação da Culpa
1. A culpa ocasionada pela ofensa de Adão. A culpa ocasionada
através do pecado de Adão tomou-se uma deformação genética a todos os homens.
DEUS alumia a todo o homem que vem ao mundo (Jo 1.9). Também, segundo um
conceito mais radical, exige também santidade de todo o homem que está no
mundo. Então, nesse caso, esse tipo de culpa imputada não é a culpa praticada,
mas a culpa herdada. É neste sentido que o Salmista declara em seu argumento sobre
o pecado, dizendo: “Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu
minha mãe” (Sl 51.5). E
ainda acrescenta no salmo
58.3, quando diz: “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde
que nasceram”. Também no passado, cidades inteiras foram destruídas por
expressa ordem de DEUS. Em algumas delas, a ordem de destruição era total, como
por exemplo:
a) Na destruição de Jericó. “E, tudo quanto na cidade havia,
destruíram totalmente ao fio da espada, desde o homem até à mulher, desde o
menino até ao velho” (Js 6.21).
b) Na destruição dos amalequitas. “Assim diz o Senhor dos
exércitos: Eu me recordarei do que fez Amaleque a Israel, como se lhe opôs no
caminho, quando subia do Egito. Vai, pois, agora e fere a Amaleque, e destrói
totalmente a tudo o que tiver, e não lhe perdoes; porém matarás desde o homem
até à mulher, desde os meninos até aos de mama” (1 Sm 15.2,3).
c) Na destruição de Jerusalém. “Matai velhos, mancebos, e virgens,
e meninos, e mulheres, até exterminá-los” (Ez 9.6a).
2. A culpa ocasionada pela ofensa de Adão pode ser anulada. O homem
culpado que olha para CRISTO, tem a sua culpa anulada. Este é conceito geral
das Escrituras com respeito ao pecado e a salvação da pessoa humana. Todo o
processo se dá por meio de JESUS CRISTO. Ele é o mediador entre DEUS e o homem.
“Porque há um só DEUS, e um só Mediador entre DEUS e os homens, JESUS CRISTO
homem” (1 Tm 2.5). O homem
não é capaz de salvar a si mesmo, sem que haja por parte de DEUS uma
participação neste processo. Paulo disse: “Porque pela graça sois salvos, por
meio da fé; e isto (enfatiza o apóstolo) não vem de vós; é dom de DEUS” (Ef 2.8).
Um pouco de silêncio sobre a Imputação da culpa. A Bíblia não nos
informa se esta determinação de DEUS fora aplicada (como uma espécie de
dispensação) apenas para aquela geração ou se ela tomou-se extensiva a todos os
jovens israelitas ou não. As Escrituras silenciam nesta direção, então é melhor
não arriscar. Com efeito, porém, mesmo havendo um sentimento de boa vontade no
pensamento pelagiano a este respeito, contudo, a ideia de que somos somente
responsáveis perante DEUS por aquilo que somos capazes de fazer é contrário ao
pensamento geral das Escrituras, visto que por si mesmo, o homem é incapaz de
praticar bem de natureza espiritual, sem que nele passe a habitar o ESPÍRITO
SANTO de DEUS.
3. A culpa hereditária e a culpa praticada. A culpa herdade
tomou-se uma espécie de consequência hereditária. Já a culpa praticada ou
contraída, é factual e pode existir e não existir. Pois nesse caso, ela somente
passa a ser inquirida depois de sua prática. Paulo durante todo o passo do
argumento em foco, usa a expressão “ofensa” como contraposta ao “dom gratuito”
da parte de DEUS e a frase estar presente nos seguintes versículos: 15,16 (3
vezes), 17,18,20. É evidente, portanto, que analisemos dois pontos importantes
nesta argumentação:
a) A culpa herdada no pensamento cristão. A culpa herdada passou a
estar presente a todos os descendentes de Adão. Atuando com maior agressividade
de Adão até Moisés: “sobre aqueles que não pecaram à semelhança de Adão”. A
culpa herdada neste caso tomou-se uma espécie de consequência volubilidade, à
semelhança de uma família em que um dos membros foi envolvido num ato perverso
de grande magnitude. Doravante perante as autoridades e aos olhos da própria
sociedade, aquela família, mesmo não tendo culpa, passa a ser co-participante
indiretamente das consequências e dissabores dos atos e processos até que
aquele (ou aquela) membro da família seja condenado ou absolvido. Sendo que, a
consequência somente é debelada através do processo de absolvição. Fora disso,
a culpa involuntária continua. DEUS podia corrigir o pecado até a 4a geração
daqueles que lhe aborreciam (Ex
34.7). Na culpa herdada, os descendentes de Adão não foram envolvidos nela
voluntariamente; e, sim, na extensão da consequência não expiada. Com a
presença da Lei, o pecado reviveu; isto é, passou a estar presente — mas como
solução imediata, DEUS abriu uma espécie de “caminho da redenção” pelos
sacrifícios estabelecidos pela lei cerimonial. Eles eram sombra do sacrifício
perfeito de CRISTO que através do seu próprio sangue inauguraria um sacrifício
maior e mais perfeito.
1°. O que alguns rabinos pensam sobre a origem e a culpa trazida
pelo pecado. No conceito rabínico, a origem do pecado — especialmente sua
introdução no mundo, encontra-se envolvido tanto na história da Bíblia como na
própria tradição. O rabino Manis Friedman declara que na primeira sexta-feira,
sexto dia da Criação, quando o mundo era inocente e puro, Adão e Eva estavam
vivendo no jardim do Éden, recentemente criados pelas mãos de DEUS. Receberam a
tarefa de cultivar e proteger o Jardim. DEUS lhes ordenou: “Não comam da árvore
do conhecimento, pois no dia em que comerem morrerão”. Tiveram uma opção:
abster-se de comer o fruto da árvore e viver para sempre no Jardim; ou comê-lo
e serem banidos para o mundo da mortalidade. Após três horas de sua criação, comeram
da árvore. DEUS permitiu que Adão e Eva permanecessem enquanto durasse o
Shabat, mas quando este terminou, foram expulsos do Éden para sempre. É uma
história intrigante (continua o rabino), e desperta várias questões. DEUS criou
dois seres humanos perfeitos, sem nenhuma malícia ou “bagagem.” Ele, o
Todo-Poderoso, ordenou-lhes explicitamente para não comer do fruto de uma
determinada árvore. Mesmo assim, estas duas almas inocentes, que jamais haviam
sido expostas a influências corruptoras, desobedeceram-no em poucas horas.
Houve alguma falha em sua criação? Ou, inimaginável, havia algo errado com
DEUS? O diretor de uma escola cujas instruções seguem ignoradas é um líder
ineficiente. Se DEUS falasse a você e dissesse: “Não coma desta árvore,” após
algumas horas, você iria em frente e comería? Era o plano de DEUS que Adão e
Eva vivessem para sempre no Jardim, em um estado divino de pureza, inocência e
imortalidade? Ou, seu plano era criar um mundo no qual existisse o mal e, ou
obedecemos suas leis escrupulosamente e vamos para o céu, ou as desobedecemos e
vamos para o inferno? Nos ensinamentos clássicos, esta pergunta é feita em tons
mais suaves: Por que DEUS desejaria instilar em nós um pedacinho de si mesmo, a
alma Divina, e expô-la a um mundo de feiúra e trevas?
Mais à frente, em uma outra seção de seu argumento, o rabino invoca
para enfatizar seu ponto de vista no tocante ao pecado e a culpa em cada
pessoa, os ensinamentos cabalísticos. Então ele diz: “Como a Cabala explicará,
a descida proporciona uma subida ainda maior. DEUS criou o universo por um
desejo de “uma morada nos mundos inferiores”. Este é o significado mais
profundo de “algo a partir do nada,” como a Torá descreve a criação. “Nada”
significa que nada há sobre um universo físico que justifique sua própria
existência — somente o desejo de DEUS de fazer de nosso mundo um lar, de tomar
este mundo de carne e pedra hospitaleiro a Ele, onde Ele possa ser conhecido e
adorado. Eva entendeu a necessidade de DEUS de que este mundo inferior, um
mundo contaminado pela morte e pelo pecado, fosse elevado e unido a Ele. Ela
entendeu que os seres humanos devem deixar o Éden e descer ao mundo inferior, e
ali criar um lar para DEUS. Ela entendeu que a tarefa de elevar os “seis dias
da semana” culminando no Shabat e os “seis milênios” levando à nossa redenção.
E assim ela comeu da árvore, e convenceu Adão a fazer o mesmo. Quando DEUS
perguntou a Adão: “Tu comeste da árvore?” — não foi uma repreensão ou censura.
Ele estava admirando a sabedoria de Adão em ter tomado a decisão correta. Adão,
em sua inocência, admitiu que fora a sabedoria de Eva, não a sua. “Ela deu-me o
fruto da árvore, e eu comi.” Em resposta, DEUS disse: “Porque o fizeste,
morrerás; comerás o pão pelo suor de teu rosto, e em dor darás à luz.” Este não
foi um castigo pelo pecado, mas sim uma continuação do plano, com o qual Adão e
Eva tinham voluntariamente se comprometido. O mundo agora pode tomar-se
confortável para Ele, quando as coisas que O definem — seus mandamentos — são
praticados. Assim fazendo, preparamos o mundo para nossa suprema redenção”.2
2º. O pensamento cabalístico sobre a culpa herdada é contrário a
Bíblia. Na opinião cabalística conforme acabamos de ver, é admitido que Eva
entendeu que o plano de DEUS era que eles deixassem o Éden e fossem habitar no
“mundo inferior”. Mas este, com efeito, não era o plano de DEUS, pois tal
pensamento não se coaduna com o pensamento geral das Escrituras e nem com a
tese e argumento principal. Outrossim, não é o mundo que irá criar o “caminho
da Redenção”. Este foi criado por DEUS e inaugurado pelo próprio CRISTO por
meio de sua morte na cruz (Hb
10.20).
b) A culpa praticada. (Quer dizer: a culpa herdada pela
transgressão individual e voluntária). O profeta Ezequiel fala disso por
expressa ordem de DEUS, quando diz: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho
não levará a maldade do pai, nem o pai levará a maldade do filho. A justiça do
justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele” (Ez 18.20). Outras passagens
das Escrituras nos informam que DEUS perdoa, mas corrige “a iniquidade, e a
transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente. Que visita a
iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira
e quarta geração” (Ex 34.7).
1º. A culpa imputada pelo pecado de omissão. Muitas vezes pecamos
por fazermos, esta é a transgressão; e em outras oportunidades, pecamos porque
não fazemos, esta é a “omissão”. Frost descreve isso da seguinte maneira: “Aqui
passamos do lado negativo para o lado positivo da vida cristã, ou vice-versa, e
aprendemos que deixar por fazer aquilo que sabemos omitimo-nos, é pecar
conscientemente. Suponhamos que, do presente momento em diante, nunca mais
praticássemos qualquer mal, nem prejudicássemos de nenhuma forma nosso
semelhante, viveríamos sem pecar? Não, pois nosso pecado apareceria no fato de
não fazermos todo o bem que deveríamos fazer”.3
O Senhor JESUS julgará aqueles que cometerem o pecado de omissão.
Então Ele diz: “Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-
vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;
porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de
beber; sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e
enfermo, e na prisão, não me visitastes. Então eles também lhe responderão,
dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu,
ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em
verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o
fizestes a mim. E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida
eterna” (Mt 25.41-46).
De igual modo Tiago fala em seu livro do pecado de omissão quando diz: “Aquele
pois que sabe fazer o bem e o não faz, comete pecado” (Tg 4.17). Por outro lado,
existem também as pessoas que a si mesmas se exercitaram tanto na prática do
pecado, que são por conseguinte, chamados de “os obreiros da iniquidade” (Sl 53.4).
2º. A culpa imputada pelo pecado de comissão. O pecado de
“comissão”, do ponto de vista teológico, significa aquele pecado que é
praticado com satisfação na alma do que tal ato pratica. No pecado de
“omissão”, existe uma omissão por parte do bem, mas não existe uma
voluntariedade para que tal coisa seja assim. No de “comissão”, porém, existe
uma vontade de que tal prática seja realizada para satisfação dos desejos
daquele que tal coisa pratica. O pecado em seu estágio avançado, toma-se
depravação (Ap 22.15). A
depravação é o inverso do pecado de “omissão”. No primeiro, a pessoa se omite;
aqui, porém, a pessoa se deprava; quer dizer, sua mente se toma dissoluta e
libertina como o soltar das águas. Nesse sentido, o pecado procede de algo que
é mais profundo do que a própria volição, o que igualmente sucede à volição
pecaminosa. Um ato pecaminoso é a expressão de um coração depravado (Pv 4.23; 23.7; Mc 7.20-23). O pecado
deve incluir, por conseguinte, a perversidade do coração (quando é voluntário),
e essa consiste e persiste sempre em corações depravados, que quer dizer
“desprovidos da natureza divina”.
(I) A culpa sem controle emocional — mente depravada. Quando a
mente humana fica desprovida do controle divino, ela não somente peca, mas se
exercita na imaginação e criação do erro. Paulo os descreve em Romanos 1.29-31,
dizendo: “Estando cheios [os depravados] de toda a iniquidade, prostituição,
malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano,
malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de DEUS,
injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos
pais e às mães; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural,
irreconciliáveis, sem misericórdia”.
O testemunho das Escrituras Sagradas sobre a universalidade e
totalidade dessa “depravação” é explícita em Gênesis 6.5,8,21: provém de um caso
comprovado.
(1) Há ali a intensidade da depravação: “a maldade do homem se
multiplicava sobre a terra”;
(2) Há ali o seu caráter íntimo: “toda a imaginação dos pensamentos
de seu coração era só má continuamente”. Expressões estas que ultrapassam
qualquer possibilidade de entendimento da pessoa humana. É difícil identificar
que o movimento rudimentar do pensamento era perverso;
(3) Há ali a totalidade de depravação: “Todo designo”, do coração é
só mau continuamente.
(4) Há ali extensão da depravação toda sua consciência: era só má
“continuamente”;
(5) Há seu exclusivismo: “continuamente má”;
(6) Há sua manifestação desde o princípio: “desde a meninice”.
(II) As qualificações pecaminosas são ascendentes. As qualificações
bíblicas posteriores sobre nossa condição pecaminosa seguem a mesma direção.
Por isso, em certo sentido, somos “nascidos em pecados” (Sl 51.5); e, na concepção dos
judeus: “nascido todo em pecado” (Jo 9.34); e, se não
arrepender-se, morrerá no pecado sem misericórdia (Lc 13.5; Jo 8.24).
(1) Em relação aos padrões morais estabelecidos por DEUS. Há ainda
outro ponto peculiar à moralidade das Escrituras, e que é, ao mesmo tempo,
verdadeiro em si mesmo e admirável. Em toda a Bíblia se fala do pecado, como
sendo um mal contra DEUS, e, de outro lado, em parte alguma é exaltado o
instrumento ou agente humano [pelo menos do ponto de vista divino] porque
pecou. Talvez tomássemos como exceções alguns casos registrados na Bíblia, tais
como, a afirmação de Raabe diante de seus patrícios de que os “espias” já
tivessem partido de sua casa — seria então o pecado de mentira (Js 2.4,5), ou no caso de Sansão, que
enquanto escondia seu segredo, conserva consigo o poder de DEUS; quando porém,
falou a verdade, este poder foi retirado de seu coração — porque nesse caso,
segundo a visão da lógica, ele somente conservava este poder enquanto mentia (Jz 16). Contudo, devemos ter em
mente que, em ambos os casos não houve nenhuma transgressão diretamente contra
DEUS; e, sim, atos que foram realizados, ainda que de forma ilícita aos nossos
olhos, em favor do povo de DEUS contra agentes humanos completamente inimigos
de DEUS e do seu povo — ainda que isso não foi legal na concepção do direito
que não está mesclado com a caridade. Nas Escrituras, ao contrário da filosofia
pagã, o pecado é representado como coisa amarga e má, porque é desonroso para
DEUS: Essa ideia aparece distintamente no Antigo Testamento, sendo na verdade
uma das suas mais notadas particularidades. Exemplificando, temos o poder de
DEUS se manifestando de forma versátil e sendo lançado no campo da destruição
física e da repreensão moral, em coisas e em indivíduos, como por exemplo:
(2) A destruição de Sodoma e Gomorra juntamente com as cidades da
campina (Gn 19).
(3) As dez pragas mortíferas que desabaram sobre o Egito, contra
Faraó e contra seus súditos (Ex 7 — 12).
(4) A destruição dos amalequitas (Ex 17).
(5) O juízo severo contra Coré e o seu grupo, que foram tragados
pelo castigo iminente de DEUS (Nm
16).
(6) Os castigos de DEUS, ainda que mesclados com misericórdia
contra Israel — levando-o para o cativeiro em diversas oportunidades (2 Cr 36; Lc 21).
(7) Contra o monarca Senaqueribe e seu exército invasor (2 Cr 32).
(8) Contra o rei Belsazar durante sua orgia na corte babilônica (Dn 6).
(9) O abandono do mundo gentílico à depravação (Rm 1).
Outros castigos foram aplicados por DEUS contra famílias e
indivíduos etc.
Assim sendo, o pecado é reputado como sendo o “grande tirano”,
denunciado pela justiça divina sem lhe oferecer nenhuma trégua em todos os
elementos doutrinários das Escrituras Sagradas.
4. A culpa contraída. Um outro ponto a ser analisado neste
argumento, é o pecado contraído; isto é, em outras palavras: “o pecado do
erro”. Uns erram movidos pelo engano; outros erram porque gostam de errar e que
já nascem alienados como o erro (Sl
58.3). O erro praticado voluntariamente, trás o sentido mais lato e
ordinário da definição do pecado e suas formas de expressão. Exatamente é o
erro, que quer dizer “fraqueza” ou “errar o alvo no sentido religioso”. Na
declaração feita por DEUS em Gênesis
8.21, de que não mais iria amaldiçoar a terra por causa do homem, “porque a
imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice”; significa que o
coração humano é por natureza “inclinado” (pendido) para o mal. Também se fala
o mesmo em relação a Israel. Arão lembrou a Moisés, seu irmão, quando o mesmo
lhe fazia inquirimento no tocante ao pecado do povo, então ele lhe respondeu
dizendo: “Não se acenda a ira do meu Senhor; tu sabes que este povo é inclinado
ao mal” (Êx 32.22b).
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Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - Teologia Sistemática - Myer
Pearman
PECADO
I. O fato do pecado
Não há necessidade de discutir a questão da realidade do pecado; a
história e o próprio conhecimento íntimo do homem oferecem abundante
testemunho do fato. Muitas teorias, porém, apareceram para negar,
desculpar, ou diminuir a natureza do pecado.
1. O ateísmo, ao negar a DEUS, nega também o pecado,
porque, estritamente falando, todo pecado é contra DEUS; e se não há DEUS,
não há pecado. O homem pode ser culpado de pecar em relação a outros; pode
pecar contra si mesmo, porém estas coisas constituem pecado unicamente em
relação a DEUS. Enfim, todo mal praticado é dirigido contra DEUS, porque o
mal é uma violação do direito, e o direito é a lei de DEUS. "Pequei
contra o céu e perante ti", exclamou o pródigo. Portanto, o homem
necessita do perdão baseado em uma provisão divina de expiação.
2. O determinismo é a teoria que afirma ser o livre arbítrio uma
ilusão e não uma realidade. Nós imaginamos que somos livres para fazer
nossa escolha, porém realmente nossas opções são ditadas por impulsos
internos e circunstâncias que escaparam ao nosso domínio. A fumaça que sai
pela chaminé parece estar livre, porém se esvai por leis inexoráveis.
Sendo assim — continua essa teoria, — uma pessoa não pode deixar de atuar
da maneira como o faz, e estritamente falando, não deve ser louvada por
ser boa nem culpada por ser má. O homem é simplesmente um escravo
das circunstâncias. Mas as Escrituras afirmam terminantemente que o homem
é livre para escolher entre o bem e o mal — uma liberdade implícita em
todos os mandamentos e exortações. Longe de ser vítima da fatalidade e
casualidade, declara-se que o homem é o árbitro do seu próprio destino.
Durante uma discussão sobre a questão do livre arbítrio, o Dr. Johnson, notável
autor e erudito inglês, declarou: "Cavalheiro, sabemos que nossa vontade é
livre, e isto é tudo que há no assunto!" Cada grama de bom senso
excede em peso a uma tonelada de filosofia! Uma consequência prática do
determinismo é tratar o pecado como se fosse uma enfermidade por cuja
causa o pecador merece dó ao invés de ser castigado. Porém, a voz da
consciência que diz "eu devo" refuta essa teoria. Recentemente,
um homicida de dezessete anos recusou-se a alegar loucura. Seu crime era
indesculpável, ele declarou, porque sabia que o havia cometido
conscientemente, apesar dos ensinos que recebera dos pais e na Escola
Dominical. Desse modo, insistiu que fosse cumprida a pena capital.
Jovem como era, e diante da morte, recusou enganar-se a si mesmo.
3. O hedonismo (da palavra grega que significa "prazer")
é a teoria que sustenta que o melhor ou o mais proveitoso que existe na
vida é a conquista do prazer e a fuga à dor; de modo que a primeira pergunta
que se faz não é: "Isto e correto?", mas: "Traz prazer?"
Nem todos os hedonistas têm uma vida de vícios, mas a tendência geral do
hedonista é desculpar o pecado e disfarçá-lo, qual pílula açucarada, com
designações tais como estas: "é uma fraqueza inofensiva";
"é pequeno desvio"; "é mania do prazer"; "é fogo
da juventude". Eles desculpam o pecado com expressões como estas:
"Errar é humano"; "o que é natural é belo e o que é belo é
direito." é sobre essa teoria que se baseia o ensino moderno de
"auto-expressão". Em linguagem técnica, o homem deve "libertar
suas inibições"; em linguagem simples, "ceder à tentação porque
reprimi-la é prejudicial à saúde". Naturalmente, isso muitas
vezes representa um intento para justificar a imoralidade. Mas esses
mesmos teóricos não concordariam em que a pessoa desse liberdade às suas
inibições de ira, ódio criminoso, inveja, embriaguez ou alguma outra
tendência similar. No fundo dessa teoria está o desejo de diminuir a gravidade
do pecado, e ofuscar a linha divisória entre o bem e o mal, o certo e
o errado. Representa uma variação moderna da mentira antiga: "Certamente
não morrerás." E muitos descendentes de Adão têm engolido a amarga
pílula do pecado, adoçada com a suposta suavizante segurança: "Isto
não te fará dano algum." O bem é simbolizado pela alvura, e o pecado
pela negrura, porém alguns querem misturá-los, dando-lhes uma cor cinzenta
neutra. A admoestação divina àqueles que procuram confundir as
distinções morais, é: "Ai daqueles que chamam o mal bem, e o bem
mal"
4. Ciência Cristã. Esta seita nega a realidade do pecado.
Declara que o pecado não é algo positivo, mas simplesmente a ausência
do bem. Nega que o pecado tenha existência real e afirmam que
é apenas um "erro da mente moral". O homem pensa que o pecado
é real, por conseguinte, seu pensamento necessita de correção.
Mas, depois de examinar o pecado e a ruína que são mais do que
reais no mundo, parece que esse tal "erro da mente mortal" é tão
terrível como aquilo que toda gente conhece por "pecado"! As
Escrituras denunciam o pecado como uma violação positiva da lei de
DEUS, como uma verdadeira ofensa que merece castigo real num
inferno real.
5. A evolução considera o pecado como herança do
animalismo primitivo do homem. Desse modo em lugar de exortar a gente a
deixar o "homem velho", ou o "antigo Adão", os
proponentes dessa teoria deviam admoestá-los a que deixassem o "velho
macaco" ou o "velho tigre"! Como já vimos, a teoria da
evolução é antibíblica. Alem disso, os animais não pecam; eles vivem
segundo sua natureza, e não experimentam nenhum sentido de culpa por seu
comportamento. O Dr. Leander Keyser comenta: "Se a luta egoísta e
sangrenta pela existência no reino animal for o método de progresso que
trouxe o homem à existência, por que deverá ser um mal que o
homem continue nessa rota sangrenta?" É certo que o homem tem
uma natureza física, porém essa parte inferior de seu ser foi
criação de DEUS, e é plano de DEUS que esteja sujeita a uma
inteligência divinamente iluminada.
II. A origem do pecado
O terceiro capítulo de Gênesis oferece os pontos chaves
que caracterizam a história espiritual do homem, as quais são: A tentação,
a culpa, o juízo e a redenção.
1. A tentação: sua possibilidade, origem e sutileza.
(a) A possibilidade da tentação. O segundo capítulo de
Gênesis relata o fato da queda do homem, informando acerca do primeiro
lar do homem, sua inteligência, seu serviço no Jardim no Éden,
as duas árvores, e o primeiro matrimônio. Menciona especialmente
as duas árvores do destino — a árvore da ciência do bem e do mal e a
árvore da vida. Essas duas árvores constituem um sermão em forma de quadro
dizendo constantemente a nossos primeiros pais: "Se seguirdes o bem e
rejeitardes o mal, tereis a vida." E não é esta realmente a essência
do Caminho da Vida encontrada através das Escrituras? (Vide Deut. 30:15.) Notemos a árvore
proibida. Por que foi colocada ali? Para prover um teste pelo qual o homem
pudesse, amorosa e livremente, escolher servir a DEUS e dessa maneira
desenvolver seu caráter. Sem vontade livre o homem teria sido meramente
uma máquina.
(b) A origem da tentação. "Ora, a serpente era mais astuta
que todas as alimárias do campo que o Senhor DEUS tinha feito."
É razoável deduzir que a serpente, que naquele tempo deveria ter sido
uma criatura formosa, foi o agente empregado por Satanás, o qual já tinha
sido lançado fora do céu antes da criação do homem. (Ezeq. 23:13-17; Isa. 14:12-15.) Por
essa razão, Satanás é descrito como "essa antiga serpente, chamada o
diabo" (Apoc. 12:9).
Geralmente Satanás trabalha por meio de agentes. Quando Pedro (embora sem
má intenção) procurou dissuadir seu Mestre da senda do dever, JESUS olhou
além de Pedro, e disse, "Para trás de mim, Satanás" (Mat. 16:22,23). Neste caso Satanás
trabalhou por meio de um dos amigos de JESUS; no Éden empregou a serpente,
uma criatura da qual Eva não desconfiava.
(c) A sutileza da tentação. A sutileza é mencionada
como característica distintiva da serpente. (Vide Mat. 10:16.) Com grande
astúcia ela oferece sugestões, as quais, ao serem abraçadas, abrem caminho a
desejos e atos pecaminosos. Ela começa falando com a mulher, o vaso mais
frágil, que, além dessa circunstância, não tinha ouvido diretamente a proibição
divina. (Gên. 2:16, 17.) E ela espera até que Eva
esteja só. Note-se a astúcia na aproximação. Ela torce as palavras de DEUS
(Vide Gén. 3:1 e 2:16,
17) e então finge surpresa por estarem assim torcidas; dessa maneira ela,
astutamente, semeia dúvida e suspeitas no coração da ingênua mulher, e ao
mesmo tempo insinua que está bem qualificada para ser juiz quanto à
justiça de tal proibição. Por meio da pergunta no versículo 1, lança a tríplice
dúvida acerca de DEUS.
1) Dúvida sobre a bondade de DEUS. Ela diz, com efeito:
"DEUS está retendo alguma bênção de ti."
2) Dúvida sobre a retidão de DEUS. "Certamente não
morrereis." Isto é, "DEUS não pretendia dizer o que disse".
3) Dúvida sobre a santidade de DEUS. No versículo 5 a serpente
diz, com efeito: "DEUS vos proibiu comer da árvore porque tem inveja de
vos. Não quer que chegueis a ser sábios tanto quanto ele, de modo que
vos mantém em ignorância. Não é porque ele se interesse por vós, para
salvar-vos da morte, e sim por interesse dele, para impedir que chegueis a
ser semelhantes a ele."
2. A Culpa.
Notemos as evidências de uma consciência culpada:
1) "Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram
que estavam nus." Expressão usada para indicar esclarecimento milagroso ou
repentino. (Gên. 21:19; 2 Reis. 6:17.) As palavras da
serpente (versículo 5) cumpriram-se; porém, o conhecimento adquirido foi
diferente do que eles esperavam. Em vez de fazê-los semelhantes a
DEUS, experimentaram um miserável sentimento de culpa que os fez
ter medo de DEUS. Notemos que a nudez física é um quadro de
uma consciência nua ou culpada. Os distúrbios emocionais refletem-se muitas
vezes em nossas feições. Alguns comentadores sustentam que antes da queda,
Adão e Eva estavam vestidos com uma auréola ou traje de luz, que era um
sinal da comunhão com DEUS e do domínio do espírito sobre o corpo. Quando
pecaram, essa comunhão foi interrompida; o corpo venceu o espírito, e ali
começou esse conflito entre a carne e o espírito (Rom. 7:14-24), que tem
sido a causa de tanta miséria.
2) "E coseram folhas de figueira, e fizeram para si
aventais." Assim como a nudez física é sinal de uma consciência
culpada, da mesma maneira, o procurar cobrir a nudez é um quadro que
representa o homem a procurar cobrir sua culpa com a indumentária do
esquecimento ou o traje das desculpas. Mas, somente uma veste feita por
DEUS pode cobrir o pecado (Verso 21).
3) "E ouviram a voz do Senhor DEUS, que passeava no
jardim pela viração do dia: e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do
Senhor DEUS entre as árvores do jardim." O instinto do homem culpado
é fugir de DEUS. E assim como Adão e Eva procuraram esconder-se entre as
árvores, da mesma forma as pessoas hoje em dia procuram esconder-se nos
prazeres e em outras atividades.
3. O juízo.
(a) Sobre a serpente. "Porquanto fizeste isto, maldita
serás mais que toda a besta, e mais que todos os animais do campo; sobre
o teu ventre andarás, e o pó comerás todos os dias da tua vida."
Essas palavras implicam que a serpente outrora foi uma criatura formosa
e honrada. Depois, porque veio a ser o instrumento para a queda
do homem, tomou-se maldita e degradada na escala da criação animal. Uma
vez que a serpente foi simplesmente o instrumento de Satanás, por que deve ser
punida? Porque é a vontade de DEUS fazer da maldição da serpente um tipo e
profecia da maldição sobre o diabo e sobre todos os poderes do mal. O
homem deve reconhecer, pelo castigo da serpente, como a maldição de DEUS
ferirá todo pecado e maldade; arrastando-se no pó recordaria ao homem o
dia em que DEUS derribará até ao pó, o poder do diabo. Isso é um estímulo para
o homem: ele, o tentado, está em pé, erguido, enquanto a serpente está sob
a maldição. Pela graça de DEUS o homem pode ferir-lhe a cabeça — pode
vencer o mal. (Vide Luc.
10:18; Rom. 16:20; Apoc. 12:9; 20:1-3, 10.)
(b) Sobre a mulher. "E à mulher disse: Multiplicarei
grandemente a tua dor e a tua concepção; com dor terás filhos; e o
teu desejo será para teu marido, e ele te dominará" (Gên. 3:16). Assim disse certo
escritor: A presença do pecado tem sido a causa de muito sofrimento,
precisamente do modo indicado acima. Não há dúvida que dar à luz filhos
constitui um momento critico e penoso na vida da mulher. O sentimento de
faltas passadas pesa de uma maneira particular sobre ela, e também a
crueldade e loucura do homem contribuíram para fazer o processo mais
doloroso e perigoso para a mulher do que para os animais. O pecado tem
corrompido todas as relações da vida, e mui particularmente a relação
matrimonial. Em muitos países a mulher é praticamente escrava do homem; a
posição e a condição triste de meninas viúvas e meninas mães na Índia têm
sido um fato horrível em cumprimento dessa maldição.
(c) Sobre o homem. (Versos 17-19.) O trabalho para o homem já tinha
sido designado (2:15). O castigo consiste no afã, nas decepções e aflições
que muitas vezes acompanham o trabalho. A agricultura é especificada em
particular, porque sempre tem sido um dos empregos humanos mais
necessários. De alguma maneira misteriosa, a terra e a criação em geral
têm participado da maldição e da queda do seu senhor (o homem) porém estão
destinadas a participar da sua redenção. Este é o pensamento de Rom. 8:19-23. Em Isaias 11:1-9 e
65:17-25, temos exemplos de versículos que predizem a remoção da maldição
da terra durante o Milênio. Além da maldição física que se apossou da
terra, também é certo que o capricho e o pecado humanos têm dificultado de
muitas maneiras o labor e provocado as condições de trabalho mais difíceis
e mais duras para o homem. Notemos a pena de morte. "Porquanto és pó,
e em pó te tornarás." O homem foi criado capaz de não morrer fisicamente;
teria existência física indefinidamente se tivesse preservado sua inocência e
continuasse a comer da árvore da vida. Ainda que volte à comunhão com DEUS
(e dessa maneira vença a morte espiritual) por meio do arrependimento e da
oração, não obstante, deve voltar ao seu Criador através da morte. Visto
que a morte faz parte da pena do pecado, a salvação completa deve incluir
a ressurreição do corpo, (1 Cor. 15:54-57.)
não obstante, certas pessoas, como Enoque, terão o privilégio de escapar
da morte física. (Gên. 5:24; 1 Cor. 15:51.)
4. A redenção.
Os três primeiros capítulos de Gênesis contêm as três revelações de
DEUS, que por toda a Bíblia figuram em todas as relações de DEUS com o
homem. O Criador, que trouxe tudo à existência (cap. 1), o DEUS do Pacto que
entra em relações pessoais com o homem (cap. 2); o Redentor, que faz
provisão para a restauração do homem (cap. 3).
(a) Prometida. (Vide Gên. 3:15.) (1) A serpente
procurou fazer aliança com Eva contra DEUS, mas DEUS por fim a essa
aliança. "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente
(descendentes) e a sua semente." Em outras palavras, haverá uma luta
constante entre o homem e o poder maligno que causou a sua queda. (2) Qual
será o resultado desse conflito? Primeiro, vitória para a humanidade, por meio
do Representante do homem, a Semente da mulher. "Ela (a semente da
mulher) te ferirá a cabeça." CRISTO, a Semente da mulher, veio ao mundo
para esmagar o poder do diabo. (Mat. 1:23, 25; Luc. 1:31-35,76; Isa. 7:14; Gál. 4:4; Rom. 16:20; Col. 2:15; Heb. 2:14,15; 1 João 3:8; 5:5; Apoc. 12:7, 8, 17; 20:1-3, 10.) (3) Porém a vitória não
será sem sofrimento. "E tu (a serpente) lhe ferirás o
calcanhar." No Calvário a Serpente feriu o calcanhar da Semente da
mulher; mas este ferimento trouxe a cura para a humanidade. (Vide Isa. 53:3,4,12; Dan. 9:26; Mat. 4:1-10; Luc. 22:39-14,53; João 12:31-33; 14:30,31; Heb. 2:18; 5:7; Apoc. 2:10.)
(b) Prefigurada. (Verso 21.) DEUS matou um animal, uma criatura
inocente, para poder vestir aqueles que se sentiam nus ante a sua vista por
causa do pecado. Do mesmo modo, o Pai deu seu Filho, o Inocente, à morte,
a fim de prover uma cobertura expiatória para as almas dos homens.
III. A natureza do pecado
Que é pecado? A Bíblia usa uma variedade de termos para expressar
o mal de ordem moral, os quais nos explicam algo de sua natureza.
Um estudo desses termos, nos originais hebraico e
grego, proporcionará a definição bíblica do pecado.
1. O ensino do Antigo Testamento.
O pecado considerado — As diferentes palavras hebraicas descrevem o
pecado operando nas seguintes esferas: (*)
(a) Na esfera moral. As palavras usadas para expressar o
pecado nesta esfera são as seguintes:
1) A palavra mais comumente usada para o pecado significa
"errar o alvo". Reúne as seguintes ideias: (1) Errar o alvo,
como um arqueiro que atira mas erra, do mesmo modo, o pecador erra o
alvo final da vida. (2) Errar o caminho, como um viajante que sai
do caminho certo. (3) Ser achado em falta ao ser pesado na balança
de DEUS. Em Gên. 4:7,
onde a palavra é mencionada pela primeira vez, o pecado é personificado
como uma besta feroz pronta para lançar-se sobre quem lhe der ocasião.
2) Outra palavra significa literalmente "tortuosidade", e
é muitas vezes traduzida por "perversidade". É, pois, o
contrário de retidão, que significa literalmente, o que é reto
ou conforme um ideal reto.
3) Outra expressão comum que se traduz por "mal", exprime
o pensamento de violência ou infração, e descreve o homem
que infringe ou viola a lei de DEUS.
(b) Na esfera da conduta fraternal. A palavra usada
para determinar o pecado nesta esfera, significa violência ou
conduta injuriosa. (Gên.
6:11; Ezeq. 7:23; Prov. 16:29.) Ao excluir
a restrição da lei, o homem maltrata e oprime seus semelhantes.
(c) Na esfera da santidade. As palavras usadas para descrever
o pecado nesta esfera implicam que o ofensor usufruiu da relação com
DEUS. Toda a nação israelita foi constituída em "um reino
de sacerdotes", cada membro considerado como estando em
contato com DEUS e seu santo tabernáculo. Portanto, cada israelita
era santo, isto é, separado para DEUS, e toda a atividade e esfera
de sua vida estavam reguladas pela Lei da Santidade. As coisas
fora dessa lei eram "profanas" (o contrário de santas), e o
que participava delas se tornava "imundo" ou contaminado. (Lev. 11:24, 27, 31, 33, 39.) Se persistisse na
profanação, era considerada uma pessoa irreligiosa ou profana. (Lev. 21:14; Heb. 12:16.) Se acaso se
rebelasse e deliberadamente repudiasse a jurisdição da lei da santidade,
era considerado "transgressor". (Sal. 37:38; 51:13; Isa. 53:12.) Se prosseguia
neste último caminho, era julgado como criminoso, e tais eram os
publicanos, na opinião dos contemporâneos do nosso Senhor JESUS.
(d) Na esfera da verdade. As palavras que descrevem o
pecado nesta esfera dão ênfase ao inútil e fraudulento elemento
do pecado. Os pecadores falam e tratam falsamente (Sal. 58:3; Isa. 28:15), representam
falsamente e dão falso testemunho (Êxo. 20:16; Sal. 119:128; Prov. 19:5, 9). Tal atividade é
"vaidade" (Sal. 12:2; 24:4; 41:6), isto é, vazia e sem
valor. O primeiro pecador foi um mentiroso (João 8:44); o primeiro
pecado começou com uma mentira (Gên. 3:4); e todo pecado contém
o elemento do engano (Heb.
3:13).
(e) Na esfera da sabedoria. Os homens se portam impiamente porque
não pensam ou não querem pensar corretamente; não dirigem suas vidas de
acordo com a vontade de DEUS, seja por descuido ou por deliberada ignorância.
1) Muitas exortações são dirigidas aos "simples" (Prov. 1:4, 22; 8:5). Essa palavra descreve o
homem natural, que não se desenvolveu, quer na direção do bem, quer do
mal; sem princípios fixos, mas com uma inclinação natural para o mal, a
qual pode ser usada a fim de seduzi-lo. Falta-lhe firmeza e fundamento
moral; ele ouve mas esquece; portanto, é facilmente conduzido ao pecado.
(Vide Mat. 7:26.)
2) Muitas vezes lemos acerca desses "faltos de
entendimento" (Prov. 7:7; 9:4), isto é, aqueles que por
falta de entendimento, mais do que por propensão pecaminosa, são vitimas do
pecado. Faltos de sabedoria, são conduzidos a expressar precipitados
juízos acerca da providência divina e das coisas além da sua compreensão.
Desse modo precipitam-se na impiedade. Tanto essa classe, como os
"simples", são indesculpáveis porque as Escrituras apresentam
o Senhor oferecendo gratuitamente — sim, rogando-lhes que aceitem (Prov. 8:1-10) — aquilo
que os fará sábios para a salvação.
3) A palavra frequentemente traduzida "insensato" (Prov. 15:20), descreve uma
pessoa capaz de fazer o bem, contudo está presa às coisas da carne e facilmente
é conduzida ao pecado pelas suas inclinações carnais. Não se disciplina a
si mesma nem guia as suas tendências de acordo com as leis divinas.
4) O "escarnecedor" (Sal. 1:1; Prov. 14:6) é o homem ímpio
que justifica sua impiedade com argumentos racionais contra a existência
ou realidade de DEUS, e contra as coisas espirituais em geral. Assim,
"escarnecedor" é a palavra do Antigo Testamento equivalente à
nossa moderna palavra "infiel", e a expressão "roda dos
escarnecedores" provavelmente se refere à sociedade local dos
infiéis.
2. O ensino do Novo Testamento.
O Novo Testamento descreve o pecado como:
(a) Errar o alvo, que expressa a mesma ideia que a
conhecida palavra do Antigo Testamento.
(b) Dívida. (Mat.
6:12.) O homem deve (a palavra "deve" vem de dívida) a DEUS
a guarda dos seus mandamentos; todo pecado cometido é contração de uma
dívida. Incapaz de pagá-la, a única esperança do homem é ser perdoado, ou
obter remissão da dívida.
(c) Desordem. "O pecado é iniquidade"
(literalmente "desordem", 1 João 3:4). O pecador é um
rebelde e um idólatra porque deliberadamente quebra um mandamento, ao
escolher sua própria vontade em vez de escolher a vontade de DEUS; pior
ainda, está se convertendo em lei para si mesmo e, dessa maneira,
fazendo do eu uma divindade. O pecado começou no coração
daquele exaltado anjo que disse: "Eu farei", em oposição à
vontade de DEUS. (Isa.
14:13, 14). O
anticristo é proeminentemente "o sem-lei" (tradução literal de
"iníquo"), porque se exalta a si mesmo sobre tudo que é adorado
ou que é chamado DEUS. (2
Tess. 2:4-9.) O pecado é essencialmente obstinação e obstinação
é essencialmente pecado. O pecado destronaria a DEUS; o
pecado assassinaria DEUS. Na Cruz do Filho de DEUS, poderiam ter
sido escritas estas palavras: "O pecado fez isto!"
(d) Desobediência, literalmente, "ouvir mal"; ouvir com
falta de atenção. (Heb. 2:2.)
"Vede pois como ouvis" (Luc. 8:18.)
(e) Transgressão, literalmente, "ir além do limite" (Rom. 4:15). Os mandamentos de
DEUS são cercas, por assim dizer, que impedem ao homem entrar em
território perigoso e dessa maneira sofrer prejuízo para sua alma.
(f) Queda, ou falta, ou cair para um lado (Efés. 1:7) no grego, donde
a conhecida expressão, cair no pecado. Pecar é cair de um padrão de
conduta.
(g) Derrota é o significado literal da palavra "queda"
em Rom. 11:12. Ao
rejeitar a CRISTO, a nação judaica sofreu uma derrota e perdeu o propósito
de DEUS.
(h) Impiedade, de uma palavra que significa "sem adoração,
ou reverência". (Rom.
1:18; 2 Tim. 2:16.)
O homem ímpio é o que dá pouca ou nenhuma importância a DEUS e às coisas
sagradas. Estas não produzem nele nenhum sentimento de temor e reverência.
Ele está sem DEUS porque não quer saber de DEUS.
(i) O erro (Heb. 9:7)
Descreve aqueles pecados cometidos como fruto da ignorância, e dessa maneira se
diferenciam daqueles pecados cometidos presunçosamente, apesar da luz
esclarecedora. O homem que desafiadoramente decide fazer o mal, incorre em
maior grau de culpa do que aquele que é apanhado em falta, a que
foi levado por sua debilidade.
IV. Consequências do pecado
O pecado é tanto um ato como um estado. Como rebelião contra a
lei de DEUS, é um ato da vontade do homem; como separação de
DEUS, vem a ser um estado pecaminoso. Segue-se uma dupla consequência: o
pecador traz o mal sobre si mesmo por suas más ações, e incorre em culpa
aos olhos de DEUS. Duas coisas, portanto, devem distinguir-se; as más
consequências que seguem os atos do pecado, e o castigo que virá no juízo.
Isto pode ser ilustrado da seguinte maneira: Um pai proíbe ao filho pequeno o
fumar cigarros, e fá-lo ver uma dupla consequência: primeira, o fumar
fá-lo-á sentir-se doente; segunda, ser castigado pela sua desobediência. O
menino desobedece e fuma pela primeira vez. As náuseas que lhe
sobrevêm representam as más consequências do seu pecado, e o
castigo corporal subsequente representa o castigo positivo pela culpa. Da
mesma maneira as Escrituras descrevem dois efeitos do pecado sobre o culpado:
primeiro, é seguido por consequências desastrosas para sua alma; segundo, trará
da parte de DEUS o positivo decreto de condenação.
1. Fraqueza espiritual.
(a) Desfiguração da imagem divina. O homem não
perdeu completamente a imagem divina, porque ainda em sua posição decaída
é considerado uma criatura à imagem de DEUS (Gên. 9:6; Tia. 3:9) — uma verdade
expressa no provérbio popular: "Há algo de bom no pior dos
homens." Maudesley, o grande psiquiatra inglês, sustenta que a
majestade inerente da mente humana evidencia-se até mesmo na ruína causada pela
loucura. Apesar de não estar inteiramente perdida, a imagem divina no
homem encontra-se muito desfigurada. JESUS CRISTO veio ao mundo tornar
possível ao homem a recuperação completa da semelhança divina por ser recriado
à imagem de DEUS. (Gál. 3:10.)
(b) Pecado inerente, ou "pecado original". O efeito da
queda arraigou-se tão profundamente na natureza humana que Adão, como
pai da raça, transmitiu a seus descendentes a tendência ou inclinação para
pecar. (Sal. 51:5.) Esse
impedimento espiritual e moral, sob o qual os homens nascem, é conhecido
como pecado original. Os atos pecaminosos que se seguem durante a idade de
plena responsabilidade do homem são conhecidos como "pecado atual".
CRISTO, o segundo Adão, veio ao mundo resgatar-nos de todos os efeitos da
queda. (Rom. 5:12-21.)
Esta condição moral da alma é descrita de muitas maneiras: todos pecaram (Rom. 3:9); todos estão debaixo
da maldição (Gál. 3:10); o
homem natural é estranho às coisas de DEUS (1 Cor. 2:14); o coração
natural é enganoso e perverso (Jer.
17:9); a natureza mental e moral é corrupta (Gên. 6:5, 12; 8:21; Rom. 1:19-31); a mente
carnal é inimizade contra DEUS (Rom.
8:7, 8);
o pecador é escravo do pecado (Rom. 6:17; 7:5); é controlado
pelo príncipe das potestades do ar (Efés. 2:2); está morto em
ofensas e pecados (Efés.
2:1); e é filho da ira (Efés.
2:3).
(c) Discórdia interna. No princípio DEUS fez o corpo do homem
do pó, dotando-o, desse modo, de uma natureza física ou inferior; depois
soprou em seu nariz o fôlego da vida, comunicando-lhe assim uma natureza mais
elevada, unindo-o a DEUS. Era o propósito de DEUS a harmonia do ser humano, ter
o corpo subordinado à alma. Mas o pecado interrompeu a relação de tal maneira
que o homem se encontrou dividido em si mesmo; o "eu" oposto ao
"eu" em uma guerra entre a natureza superior e a inferior. Sua
natureza inferior, frágil em si mesma, rebelou-se contra a superior e abriu as
portas de seu ser ao inimigo. Na intensidade do conflito, o homem exclama:
"Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo
desta morte?" (Rom.
7:24.) O "DEUS de paz" (1 Tess. 5:23) subjuga os
elementos beligerantes da natureza do homem e santifica-o no espírito,
alma e corpo. O resultado é a bem-aventurança interna — "justiça, e paz, e
alegria no ESPÍRITO SANTO" (Rom. 14:17).
2. Castigo positivo.
"No dia em que dela comeres certamente morrerás" (Gên. 2:17) "O salário
do pecado é a morte" (Rom.
6:23). O homem foi criado capaz de viver eternamente; isto é, não morreria
se obedecesse à lei de DEUS. Para que pudesse "lançar mão" da
imortalidade e da vida eterna, foi colocado sob um pacto de obras,
figurado pelas duas árvores — a árvore da ciência do bem e do mal e a
árvore da vida. Desse modo, a vida estava condicionada à obediência; enquanto
Adão observasse a lei da vida teria direito à árvore da vida. Mas desobedeceu;
quebrou o pacto de vida, e ficou separado de DEUS, a Fonte da vida. Desde
esse momento, teve a morte o seu inicio e foi consumada na
morte física com a separação da alma e do corpo. Mas notamos que
o castigo incluía mais do que uma morte física; a dissolução física
era uma indicação do desagrado de DEUS, do fato que o homem estava sem
contato com a Fonte da vida. Ainda que Adão se tivesse reconciliado mais
tarde com o seu Criador, a morte física continuaria de acordo com o
decreto divino: "No dia em que dela comeres certamente
morrerás." Somente por um ato de redenção e de recriação o homem teria
outra vez direito à árvore da vida que está no meio do paraíso de DEUS.
Por meio de CRISTO a justiça é restaurada à alma, a qual, na ressurreição,
é reunida a um corpo glorificado.
Vemos, então, que a morte física veio ao mundo como castigo,
e, nas Escrituras, sempre que o homem é ameaçado com a morte
como castigo pelo pecado, significa primeiramente a perda do favor
de DEUS. Assim, o pecador já está "morto em ofensas e pecados" e
no momento da morte física ele entra no mundo invisível na
mesma condição. Então no grande Julgamento o Juiz pronunciará
a sentença da segunda morte, que envolve "indignação e
ira, tribulação e angústia" (Rom. 2:7-12). De
maneira que "a morte", como castigo, não é a extinção da
personalidade, e, sim, o meio de separação de DEUS. Há três fases desta
morte: morte espiritual, enquanto o homem vive (Efés. 2:1; l Tim. 5:6); morte
física (Heb. 9:27); e a
segunda ou morte eterna (Apoc.
21:8; João 5:28, 29; 2 Tess. 1:9; Mat. 25:41).
Por outro lado, quando as Escrituras falam da vida como recompensa pela
justiça, isso significa mais do que existência, pois os ímpios existem no
inferno. Vida significa viver em comunhão com DEUS e no seu favor —
comunhão que a morte não pode interromper ou destruir. (João 11:25, 26.) é uma vida que
proporciona união consciente com DEUS, a Fonte da vida. "E a vida
eterna é esta: que te conheçam a ti só (em experiência e comunhão)
por único DEUS verdadeiro, e a JESUS CRISTO, a quem enviaste" (João 17:3). A vida eterna
é uma existência perfeita; a morte eterna é uma existência má, miserável e
degradada.
Notemos que a palavra "destruição", usada quanto à sorte
dos ímpios (Mat. 7:13; João 17:12; 2 Tess. 2:3), não
significa extinção. De acordo com o grego, perecer ou ser destruído,
não significa extinção e sim ruína. Por exemplo: que os
odres "estragam-se" (Mat. 9:17) significa que já
não servem como odres, e não que tenham deixado de existir. Da mesma
maneira, o pecador que perece, ou que é destruído, não é reduzido ao
nada, mas experimenta a ruína no que concerne a desfrutar comunhão
com DEUS e a vida eterna. O mesmo uso ainda existe hoje;
quando dizemos: "sua vida está arrumada", não queremos dizer que
o homem está morto, e, sim, que perdeu o verdadeiro alvo ou objetivo
da vida.
IV. A obra de CRISTO
CRISTO realizou muitas obras, porém a obra suprema que ele consumou
foi a de morrer pelos pecados do mundo. (Mat. 1:21; João 1:29.) Incluídas nessa
obra expiatória figuram a sua morte, ressurreição, e ascensão. Não somente
devia ele morrer por nós, mas também viver por nós. Não somente devia
ressuscitar por nós, mas também ascender para interceder por nós diante de
DEUS. (Rom. 8:34; 4:25; 5:10.)
1. Sua morte.
(a) Sua importância. O evento mais importante e a doutrina central
do Novo Testamento resumem-se nas seguintes palavras: "CRISTO morreu (o
evento) por nossos pecados (a doutrina)" (1 Cor. 15:3). A morte
expiatória de CRISTO é o fato que caracteriza a religião cristã. Martinho
Lutero declarou que a doutrina cristã distingue-se de qualquer outra, e
mui especialmente daquela que apenas parece ser cristã, pelo fato
de ser ela a doutrina da Cruz. Todas as batalhas da Reforma travaram-se em
torno da correta interpretação da Cruz. O ensino dos reformadores era este:
quem compreende perfeitamente a Cruz, compreende a CRISTO e a Bíblia! É
essa característica singular dos Evangelhos que faz do Cristianismo a
única religião; pois o grande problema da humanidade é o problema do
pecado, e a religião que apresenta uma perfeita provisão para o resgate do
poder e da culpa do pecado tem um propósito divino. JESUS é o autor da
"salvação eterna" (Heb.
5:9), isto é, da salvação final. Tudo quanto a salvação
possa significar é assegurado por ele.
(b) Seu significado. Havia certa relação verdadeira entre
o homem e seu Criador. Algo sucedeu que interrompeu essa relação. Não
somente está o homem distanciado de DEUS, tendo seu caráter manchado, mas
existe um obstáculo tão grande no caminho que o homem não pode removê-lo
pelos seus próprios esforços. Esse obstáculo é o pecado, ou melhor, a culpa. O
homem não pode remover esse obstáculo; a libertação terá que vir da parte
de DEUS. Para isso DEUS teria que tomar a iniciativa de salvar o homem. O
testemunho das Escrituras é este: que DEUS assim fez. Ele enviou seu Filho
do céu à terra para remover esse obstáculo e dessa maneira reconciliou os
homens com DEUS. Ao morrer por nossos pecados, JESUS removeu a barreira;
levou o que devíamos ter levado; realizou por nós o que estávamos
impossibilitados de fazer por nós mesmos; isso ele fez porque era
a vontade do Pai. Essa é a essência da expiação de CRISTO. Considerando a
suprema importância deste assunto será ele abordado mais
pormenorizadamente em um capítulo à parte.
2. Sua ressurreição.
(a) O fato. A ressurreição de CRISTO é o grande milagre
do Cristianismo. Uma vez que é estabelecida a realidade desse
evento, torna-se desnecessário procurar provar os demais milagres
dos Evangelhos. Ademais, é o milagre com o qual a fé cristã está
em pé ou cai, isso em razão de ser o Cristianismo uma
religião histórica que baseia seus ensinos em eventos definidos
que ocorreram na Palestina há mais de mil e novecentos anos.
Esses eventos, são: o nascimento e o ministério de JESUS
CRISTO, culminando na sua morte, sepultamento e ressurreição. Desses,
a ressurreição é a pedra angular, pois se CRISTO não
tivesse ressuscitado, então não seria o que ele próprio afirmou ser; e
sua morte não seria expiatória. Se CRISTO não houvesse ressuscitado, então
os cristãos estariam sendo enganados durante séculos; os pregadores
estariam proclamando um erro; e os fiéis estariam sendo enganados por uma falsa
esperança de salvação. Mas, graças a DEUS, que, em vez de ponto de
interrogação, podemos colocar o ponto de exclamação após ter sido
exposta essa doutrina: "Mas agora CRISTO ressuscitou dos mortos, e
foi feito as primícias dos que dormem!"
(b) A evidência. "Vocês cristãos vivem na fragrância de um
túmulo vazio", disse um cético francês. É um fato que aqueles
que foram a embalsamar o corpo de JESUS, na memorável manhã
da ressurreição, encontraram seu túmulo vazio. Esse fato nunca foi
nem pode ser explicado a não ser pela ressurreição de JESUS!
Quão facilmente os judeus poderiam ter refutado o testemunho
dos primeiros pregadores se tivessem exibido o corpo do nosso Senhor!
Mas não o fizeram — porque não o puderam fazer! Como vamos explicar a própria
existência e origem da igreja cristã, que certamente teria permanecido
sepultada juntamente com seu Senhor — se ele não tivesse ressuscitado? A igreja
viva e radiante do dia de Pentecoste não nasceu de um Dirigente morto! Que
faremos com o testemunho daqueles que viram a JESUS depois de sua ressurreição,
muitos dos quais o apalparam, falaram e comeram com ele, centenas dos quais,
Paulo disse, estavam vivos naqueles dias, muitos dos quais cujo testemunho
inspirado se encontra no Novo Testamento? Como receberemos o testemunho de
homens demasiado honestos e sinceros para pregarem uma mensagem
propositadamente falsa, homens que tudo sacrificaram por essa mensagem?
Como explicaremos a conversão de Saulo de Tarso, o perseguidor do Cristianismo,
em um de seus maiores apóstolos e missionários, a não ser pelo fato de ele
realmente ter visto a JESUS no caminho de Damasco? Há somente uma resposta
satisfatória a essas perguntas: CRISTO ressuscitou! Muitas tentativas já
foram feitas para superar esse fato. Os chefes dos judeus asseveraram que
os discípulos de JESUS haviam roubado o seu corpo. Mas isso não explica
como um pequeno grupo de tímidos e desanimados discípulos pôde reunir
suficiente coragem para arrebatar dos endurecidos soldados romanos o corpo
de seu Mestre, cuja morte lhes significava o fracasso completo das suas
esperanças! Os eruditos modernos também apresentam estas explicações:]
1) "Os discípulos simplesmente experimentaram uma
visão." Então perguntamos: como podiam centenas de pessoas ter a
mesma visão e imaginar, a um só tempo, que realmente viam a CRISTO?
2) "JESUS realmente não morreu; ele simplesmente desmaiou e
ainda estava vivo quando o tiraram da cruz." A isso respondemos: então um
JESUS pálido e exausto, decaído e abatido, podia persuadir os discípulos
cheios de dúvidas, e sobretudo a um Tomé, de que ele era o ressuscitado Senhor
da vida? não é possível! Essas explicações são tão inconsistentes que por si
mesmas se refutam. Novamente afirmamos, CRISTO ressuscitou! DeWette,
teólogo modernista, afirmou que "a ressurreição de JESUS CRISTO é
um fato tão bem comprovado quanto o fato histórico do assassinato
de Júlio César".
(c) O significado. A ressurreição. Ela significa que JESUS
é tudo quanto ele afirmou ser: Filho de DEUS, Salvador, e Senhor (Rom. 1:4). A resposta do mundo
às reivindicações de JESUS foi a cruz; a resposta de DEUS, entretanto, foi
a ressurreição. A ressurreição significa que a morte expiatória de CRISTO foi
uma divina realidade, e que o homem pode encontrar o perdão dos seus pecados,
e assim ter paz com DEUS (Rom.
4:25). A ressurreição é realmente a consumação da morte expiatória de
CRISTO. Como sabemos pois que não foi uma morte comum — e que realmente
ela tira o pecado? Porque ele ressuscitou! A ressurreição significa que
temos um Sumo Sacerdote no céu, que se compadece de nós, que viveu a nossa
vida e conhece as nossas tristezas e fraquezas; que é poderoso para
dar-nos poder para diariamente vivermos a vida de CRISTO. JESUS que morreu
por nós, agora vive por nós. (Rom. 8:34; Heb. 7:25.) Significa que
podemos saber que há uma vida vindoura. Uma objeção comum a essa verdade é:
"Mas ninguém jamais voltou para falar-nos do outro mundo."
Mas alguém voltou — esse alguém é JESUS CRISTO! "Se um
homem morrer, tornará a viver?" A essa pergunta antiga a
ciência somente pode dizer: "não sei." A filosofia apenas diz:
"Deve haver uma vida futura." Porém, o Cristianismo afirma:
"Porque ele vive, nós também viveremos; porque ele ressuscitou dos
mortos, também todos ressuscitaremos"! A ressurreição de CRISTO não
somente constitui a prova da imortalidade, mas também a certeza da
imortalidade pessoal, (1 Tes.
4:14; 2 Cor. 4:14; João 14:19.) Isto significa
que há certeza de juízo futuro. Como disse o inspirado apóstolo, DEUS
"tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo,
por meio do varão que destinou; e disso deu certeza a todos,
ressuscitando-o dos mortos" (Atos 17:31). Tão certo como
JESUS ressuscitou dos mortos para ser o Juiz dos homens, assim
ressuscitarão também da morte os homens para serem julgados por ele.
3. Sua ascensão.
Os evangelhos, o livro dos Atos e as Epístolas dão testemunho
da ascensão. Qual o significado desse fato histórico? Quais
as doutrinas que nele se baseiam? Quais seus valores práticos? A ascensão
ensina que nosso Mestre é:
(a) O CRISTO celestial. JESUS deixou o mundo porque havia chegado o
tempo de regressar ao Pai. Sua partida foi uma "subida", assim
como sua entrada ao mundo havia sido uma "descida". Ele que
desceu agora subiu para onde estava antes. E assim como sua entrada no
mundo foi sobrenatural, assim o foi sua partida. Consideremos a maneira de sua
partida. Suas aparições e desaparições depois da ressurreição foram
instantâneas; a ascensão foi, no entanto, gradual — "vendo-o
eles" (Atos 1:9). Não
foi seguida por novas aparições, nas quais o Senhor surgiu entre eles
em pessoa para comer e beber com eles; as aparições dessa
classe terminaram com a sua ascensão. Sua retirada da vida terrena
que vivem os homens aquém da sepultura foi de uma vez por todas.
Dessa hora em diante os discípulos não deveriam pensar nele
como o "CRISTO segundo a carne", isto é, como vivendo uma
vida terrena, e sim, como o CRISTO glorificado, vivendo uma
vida celestial na presença de DEUS e tendo contato com eles por meio
do ESPÍRITO SANTO. Antes da ascensão, o Mestre aparecia, desaparecia e
reaparecia de tempos em tempos para fazer com que paulatinamente os discípulos
perdessem a necessidade de um contato visual e terreno com ele, e
acostumá-los a uma comunhão espiritual e invisível com ele. Desse modo, a
ascensão vem a ser a linha divisória entre dois períodos da vida de
CRISTO: Do nascimento até à ressurreição, ele é o CRISTO da história
humana, aquele que viveu uma vida humana perfeita sob condições terrenas.
Desde a ascensão, ele é o CRISTO da experiência espiritual, que vive no
céu e tem contato com os homens por meio do ESPÍRITO SANTO.
(b) O CRISTO exaltado. Afirma certa passagem que CRISTO
"subiu", e outra diz que foi "levado acima". A primeira
representa a CRISTO como entrando na presença do Pai por sua própria
vontade e direito; a segunda acentua a ação do Pai pela qual ele
foi exaltado em recompensa por sua obediência até a morte. Sua lenta
ascensão ante os olhares dos discípulos trouxe-lhes a compreensão de que
JESUS estava deixando sua vida terrena, e os fez testemunhas oculares de
sua partida. Mas uma vez fora do alcance de sua vista, a jornada foi
consumada por um ato de vontade. O Dr. Swete assim comenta o fato: Nesse
momento toda a glória de DEUS brilhou em seu derredor, e ele estava no céu. Não
lhe era a cena inteiramente nova; na profundidade do seu conhecimento divino,
o Filho do homem guardava lembranças das glórias que, em sua vida anterior
à encarnação, gozava com o Pai "antes que o mundo existisse" (João 17:5). Porém, a alma
humana de CRISTO até o momento da ascensão, não experimentara a plena
visão de DEUS que transbordou sobre ele ao ser levado acima. Esse foi o
alvo de sua vida humana, o gozo que lhe estava proposto (Heb. 12:2), que foi
alcançado no momento da ascensão. Foi em vista de sua ascensão e exaltação que
CRISTO declarou: é-me dado todo o poder (autoridade) no céu e na terra" (Mat. 28:18; vide Efés. 1:20-23; 1 Ped. 3:22; Fil. 2:9-11; Apoc. 5:12). Citemos outra vez
o Dr. Swete: Nada se faz nesse grandioso mundo desconhecido, que chamamos
o céu, sem sua iniciativa, direção e autoridade determinativa. Processos
incompreensíveis à nossa mente realizam-se no outro lado do véu por meios
divinos igualmente incompreensíveis. Basta que a igreja compreenda que
tudo que se opera ali é feito pela autoridade de seu Senhor.
(c) O CRISTO soberano. CRISTO ascendeu a um lugar de autoridade
sobre todas as criaturas. Ele é a "cabeça de todo o varão" (1Cor. 11:3), a "cabeça de
todo o principado e potestade" (Col. 2:10); todas as
autoridades do mundo invisível, tanto como as do mundo dos homens, estão sob
seu domínio, (1 Ped. 3:22; Rom. 14:9; Fil. 2:10, 11.) Ele possui essa soberania
universal para ser exercida para o bem da igreja, a qual é seu corpo;
DEUS "sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas
o constituiu como cabeça da Igreja." Em um sentido muito especial, portanto,
CRISTO é a Cabeça da igreja. Essa autoridade se manifesta de duas
maneiras:
1) Pela autoridade exercida por ele sobre os membros da igreja.
Paulo usou a relação matrimonial como ilustração da relação entre CRISTO e
a igreja (Efés. 5:22-23).
Como a igreja vive em sujeição a CRISTO, assim as mulheres devem estar
sujeitas a seus maridos; como CRISTO amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela, assim os maridos devem exercer sua autoridade no
espírito de amor e auto sacrifício. A obediência da igreja a CRISTO é
uma submissão voluntária; da mesma maneira a esposa deve
ser obediente, não só por questão de consciência mas por amor
e reverência. Para os cristãos, o estado de matrimonio se tomou um
'"mistério" (isto é, uma verdade com significado espiritual), porque
revela a união espiritual entre CRISTO e sua igreja; "autoridade
da parte de CRISTO, subordinação da parte da igreja, amor de ambos
os lados — o amor retribuindo amor, para ser coroado pela plenitude do
gozo, quando essa união for consumada na vinda do Senhor" (Swete).
Uma característica proeminente da igreja primitiva era a atitude de
amorosa submissão a CRISTO. "JESUS é Senhor" não era somente
a declaração do credo mas também a regra de vida.
2) O CRISTO glorificado não é somente o Poder que dirige e
governa a igreja, mas também a fonte de sua vida e poder. O que a
videira é para a vara, o que a cabeça é para o corpo, assim é o CRISTO
vivo para a sua igreja. Apesar de estar no céu, a Cabeça da
igreja, CRISTO está na mais íntima união com seu corpo na terra, sendo o
ESPÍRITO SANTO o vínculo. (Efés.
4:15, 16; Col. 2:19.)
(d) O CRISTO que prepara o caminho. A separação entre CRISTO
e sua igreja na terra, separação ocasionada pela ascensão, não
é permanente. Ele subiu como um precursor a preparar o caminho
para aqueles que o seguem. Sua promessa foi: "Onde eu estiver,
ali estará também o meu servo" (João 12:26). O termo
"precursor" é primeiramente aplicado a João Batista como aquele
que prepararia o caminho de CRISTO (Luc. 1:76). Como João preparou
o caminho para CRISTO, assim também o CRISTO glorificado prepara o caminho
para a igreja. Esta esperança é comparada a uma "âncora da alma
segura e firme, e que penetra até ao interior do véu; onde JESUS, nosso precursor,
entrou por nós" (Heb. 6:19,20). Ainda que
agitada pelas ondas das provações e das adversidades, a alma do
crente fiel não pode naufragar enquanto sua esperança
estiver firmemente segura nas realidades celestiais. Em
sentido espiritual, a igreja já está seguindo o CRISTO glorificado;
e tem-se "assentado nos lugares celestiais, em CRISTO JESUS" (Efés. 2:6). Por meio do
ESPÍRITO SANTO, os crentes, espiritualmente, no coração, já seguem a seu
Senhor ressuscitado. Entretanto, haverá uma ascensão literal correspondente à
ascensão de CRISTO, (1
Tess. 4:17; l Cor. 15:52.) Essa esperança dos crentes não é uma
ilusão, porque eles já sentem o poder de atração do CRISTO glorificado (1Ped. 1:8). Com essa esperança,
JESUS confortou os seus discípulos antes de sua partida (João 14:1-3).
"Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras" (1 Tess. 4:18).
(e) O CRISTO intercessor. Em virtude de ter assumido a nossa
natureza e ter morrido por nossos pecados, JESUS é o Mediador entre DEUS e os
homens (1 Tim. 2:5). Mas o
Mediador é também um Intercessor, e a intercessão é mais do que mediação. Um
mediador pode ajuntar as duas partes e depois deixá-las a si mesmas para
que resolvam suas dificuldades; porém, um intercessor diz alguma
coisa a favor da pessoa pela qual se interessa. A intercessão é
um ministério importante do CRISTO glorificado (Rom. 8:34). A intercessão
forma o apogeu das suas atividades salvadoras. Ele morreu por nós; ressuscitou
por nós; ascendeu por nós; e intercede por nós (Rom. 8:34). Nossa esperança
não está em um CRISTO morto, mas em um CRISTO que vive; e não somente em
Um que vive, mas em um CRISTO que vive e reina com DEUS. O sacerdócio de
CRISTO é eterno; portanto, sua intercessão é permanente. "Portanto, ele pode
levar a um desfecho feliz ("perfeitamente", Hebreus 7:25) toda a causa
cuja defesa ele pleiteia assegurando assim àqueles que se chegam a DEUS,
por sua mediação, a completa restauração ao favor e à bênção divinos.
Realmente, o propósito de sua vida no céu é precisamente esse; ele vive sempre
com esse intento de interceder diante de DEUS a favor dos seus.
Enquanto DEUS existir, não pode haver interrupção de sua obra
intercessora... porque a intercessão do CRISTO glorificado não é uma oração
apenas, mas uma vida. O Novo Testamento não o apresenta como um suplicante
constantemente presente perante o Pai, de braços estendidos e em forte
pranto e lágrimas, rogando por nossa causa diante de DEUS como se fora um DEUS
relutante, mas o apresenta como um Sacerdote-Rei entronizado, pedindo o que
deseja de um Pai que sempre o ouve e concede Sua petição" (Swete).
Quais as principais petições de CRISTO em seu ministério intercessor? A oração
do capítulo 17 de João sugere a resposta. Semelhante ao oficio de mediador é o
de advogado (no grego, "parácleto"). (1João 2:1.) Advogado ou
parácleto é aquele que é chamado a ajudar uma pessoa angustiada ou
necessitada, para confortá-la ou dar-lhe conselho e proteção. Essa foi a
relação do Senhor para com seus discípulos durante os dias de sua carne.
Mas o CRISTO glorificado também está interessado no problema do pecado.
Como Mediador, ele obtém acesso para nós na presença de DEUS; como
Intercessor, ele leva nossas petições perante DEUS; como Advogado, ele
enfrenta as acusações feitas contra nós pelo "acusador dos
irmãos", na questão do pecado. Para os verdadeiros cristãos uma vida
habitual de pecado não é admissível (1 João 3:6); porém, isolados
atos de pecado podem acontecer aos melhores cristãos, e tais ocasiões requerem
a advocacia de CRISTO. Em l João
2:1, 2 estão
expostas três considerações que dão força a sua advocacia: primeira, ele
está "com o Pai", na presença de DEUS; segunda, ele é "o
Justo", e como tal, pode ser uma expiação por outrem; terceira, ele é
"a propiciação pelos nossos pecados", isto é, um sacrifício que
assegura o favor de DEUS por efetuar expiação pelo pecado.
(f) O CRISTO onipresente. (João 14:12.) Enquanto estava
na terra, CRISTO necessariamente limitava-se a estar em um lugar
de cada vez, e não podia estar em contato com todos os seus discípulos ao
mesmo tempo. Mas ao ascender ao lugar de onde procedera a força motriz do
universo, foi-lhe possível enviar seu poder e sua personalidade divina em
todo tempo, a todo lugar e a todos os seus discípulos. A ascensão ao trono
de DEUS deu-lhe não somente onipotência (Mat. 28:18) mas também
onipresença, cumprindo-se assim a promessa: "Porque onde estiverem
dois ou três reunidos em meu nome, ai estou eu no meio deles" (Mat. 18:20).
(g) Conclusão: Valores da ascensão. Quais os valores
práticos da doutrina da ascensão?
1) O conhecimento interno do CRISTO glorificado, a quem
brevemente esperamos ver, é um incentivo à santidade. (Col. 3:1-4.) O olhar
para cima vencerá a atração das coisas do mundo.
2) O conhecimento da ascensão proporciona um conceito correto
da igreja. A crença em um CRISTO meramente humano levaria o povo a considerar a
igreja como uma sociedade meramente humana, útil, sim, para propósitos
filantrópicos e morais, porém destituída de poder e autoridade
sobrenaturais. Por outro lado, um conhecimento do CRISTO glorificado resultará
no reconhecimento da igreja como um organismo, um organismo sobrenatural,
cuja vida divina emana da Cabeça — CRISTO ressuscitado.
3) O conhecimento interno do CRISTO glorificado produzir uma
atitude correta para com o mundo e as coisas do mundo. "Mas a nossa
cidade (literalmente, "cidadania") está nos céus donde também
esperamos o Salvador, o Senhor JESUS CRISTO" (Fil. 3:20).
4) A fé no CRISTO glorificado inspirará um profundo sentimento
de responsabilidade pessoal. A crença no CRISTO glorificado leva consigo o
conhecimento de que naquele dia teremos que prestar contas a ele mesmo. (Rom. 14:7-9; 2 Cor. 5:9,10.) O sentido de
responsabilidade a um Mestre no céu atua como um freio contra o pecado e
serve de incentivo para a retidão. (Efés. 6:9.)
5) Junto à fé no CRISTO glorificado temos a bendita e alegre
esperança de seu regresso. "E se eu for, e vos preparar lugar, virei
outra vez" (João 14:3).
V. A Expiação no Novo Testamento
1. O fato da expiação.
A expiação que fora preordenada desde a eternidade e
prefigurada tipicamente no ritual do Antigo Testamento cumpriu-se
historicamente, na crucificação de JESUS, quando se consumou o divino
propósito redentivo. "Está consumado!" Os escritores
dos Evangelhos descreveram os sofrimentos e a morte de CRISTO
com profusão de pormenores que não se vêm nas narrativas de
outros eventos das profecias do Antigo Testamento, os quais indicam
a grande importância do evento. Alguns escritores da escola
"liberal" defendem a teoria de que a morte de CRISTO fora acidente e
tragédia.! Ele teria iniciado seu ministério com grande esperança de sucesso,
segundo eles, mas depois viu-se envolvido em certas circunstâncias que
ocasionaram a sua destruição imprevista, à qual não pôde escapar. Mas,
que dizem os Evangelhos a respeito? Segundo o seu testemunho,
JESUS sabia desde o princípio que o sofrimento e a morte faziam parte
do seu destino divinamente ordenado. Em sua declaração, que o Filho do
homem devia sofrer, a palavra "devia" indica a vocação divina e não a
fatalidade imprevista e inevitável. No ato do seu batismo ele ouviu as
palavras: "Este é o meu filho amado, em quem me comprazo" (Mat. 3:17). Essas palavras são
extraídas de duas profecias, a primeira declarando a filiação do Messias e sua
Divindade (Sal. 2:7), e a
segunda descrevendo o ministério do Messias como o Servo do Senhor (Isa. 42:1). O
servo mencionado em Isa.
42:1 é o Servo sofredor de Isa. 53. A conclusão à
qual chegamos é que mesmo na hora do seu batismo, JESUS estava ciente do
fato de que sofrimento e morte faziam parte de sua vocação. A rejeição das
ofertas de Satanás no deserto implicava desfecho trágico de sua obra, pois ele
escolheu o caminho duro da rejeição em vez do fácil e popular. O próprio
fato de o SANTO estar no meio do povo (Luc. 3:21) que se batizava, e
o submeter-se ao mesmo batismo foi um ato de identificação com
a humanidade pecaminosa, a fim de levar os pecados desse mesmo povo. O
Servo do Senhor, segundo Isaias
53, seria "contado com os transgressores" (ver. 12). O batismo de
JESUS pode ser considerado como "o grande ato de amorosa comunhão com
a nossa miséria", pois nessa hora ele identifica-se com os pecadores
e, por conseguinte, em certo sentido sua obra de expiação jà começou.
Muitas vezes durante o curso do seu ministério o Senhor, em linguagem oculta e
figurada, referiu-se à sua morte (Mat.5:10-12; 23:37; Mar. 9:12,13; 3:6,20-30; 2:19), mas em Cesaréia de
Filipo ele claramente disse aos discípulos que devia sofrer e morrer.
Daquele tempo em diante ele procurou esclarecer-lhes as mentes sobre este
fato, que teria que sofrer, para que, sendo avisados, não naufragassem em sua fé
ante o choque da crucificação. (Mar.
8:31; 9:31; 10:32.) Ele também lhes
explicou o significado de sua morte. não a deveriam considerar como tragédia
imprevista e infeliz à qual teria que se resignar, e, sim, como sendo morte
cujo propósito era fazer expiação. "O Filho do homem veio a dar a sua vida
em resgate de muitos." Na última ceia JESUS deu instruções acerca da
futura comemoração de sua morte, como sendo o supremo ato de seu
ministério. Ele ordenou um rito que comemoraria sua redenção da
humanidade, assim como a Páscoa comemorava a redenção de Israel do Egito.
Seus discípulos, que ainda estavam sob a influência de ideias judaicas
acerca do Messias e do reino, não podiam compreender a necessidade de sua
morte e só com dificuldade podiam aceitar o fato. Mas após a ressurreição e a
ascensão eles o entenderam e sempre depois disso afirmaram que a morte de
CRISTO fora divinamente ordenada como o meio da expiação. "CRISTO
morreu pelos nossos pecados", é seu testemunho de sempre.
2. A necessidade da expiação.
A necessidade da expiação é consequência de dois fatos: a
santidade de DEUS e a pecabilidade do homem. A reação da santidade de
DEUS contra a pecabilidade do homem é conhecida como sua ira, a
qual pode ser evitada mediante a expiação. Portanto, os pontos-chave
do nosso estudo serão os seguintes: Santidade, pecabilidade, ira
e expiação.
(a) A santidade de DEUS. DEUS é santo por natureza, o
que significa que ele é justo em caráter e conduta. Esses atributos
do seu caráter manifestam-se em seus tratos com a sua criação.
"Ele ama a justiça e o juízo" (Sal. 33:5). "Justiça e
juízo são a base do teu trono" (Salm 89:14). DEUS constituiu
o homem e o mundo segundo leis especificas, leis que formam o próprio
fundamento da personalidade humana, escritos no coração e na natureza do homem.
(Rom. 2:14, 15.) Essas leis unem o
homem ao seu Criador pelos laços de relação pessoal e constituem a base da
responsabilidade humana. "Porque nele vivemos, e nos movemos e
existimos" (Atos17:28),
assim foi dito da humanidade em geral. O pecado perturba a relação
expressa nesse verso, e ao fim o pecador impenitente será lançado
eternamente da presença de DEUS. Esta é "a segunda morte". Em muitas
ocasiões essa relação foi reafirmada, ampliada e interpretada sob outro
sistema chamado aliança. Por exemplo, no Sinai DEUS reafirmou as condições
sob as quais ele podia ter comunhão com o homem (a lei moral) e, então
estabeleceu uma série de regulamentos pelos quais Israel poderia observar
essas condições na esfera da vida nacional e religiosa. Guardar a aliança
significa estar em relação com DEUS, ou estar na graça; pois aquele que é
justo pode ter comunhão somente com aqueles que andam na justiça.
"Andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" (Amós 3:3). E estar em comunhão
com DEUS significa vida. Do princípio ao fim, as Escrituras declaram
esta verdade, que a obediência e a vida andam juntas. (Gên. 2:17; Apoc. 22:14.)
(b) A pecabilidade do homem. Essa relação foi perturbada
pelo pecado que é um distúrbio da relação pessoal entre DEUS e
o homem. E desrespeitar a constituição, por assim dizer, ação
que afeta a DEUS e aos homens, tal qual a infidelidade que viola
o pacto matrimonial sob o qual vivem o homem e sua mulher. (Jer. 3:20.) "Vossas iniquidades
fazem divisão entre vós e o vosso DEUS" (Isa. 59:2). A função da
expiação é fazer reparação pela lei violada e reatar a comunhão
interrompida entre DEUS e o homem.
(c) Ira. O pecado é essencialmente um ataque contra a honra e
a santidade de DEUS. É rebelião contra DEUS, pois pelo
pecado deliberado, o homem prefere a sua própria vontade em lugar
da vontade de DEUS, e por algum tempo torna-se "autônomo". Mas
se DEUS permitisse que sua honra fosse atacada então ele deixaria de
ser DEUS. Sua honra pede a destruição daquele que lhe resiste;
sua justiça exige a satisfação da lei violada; e sua santidade
reage contra o pecado sendo essa reação reconhecida como
manifestação da ira. Mas essa reação divina não é automática; nem sempre
ela entra em ação instantaneamente, como acontece com a mão em contato com
o fogo. A ira de DEUS é governada por considerações pessoais; DEUS é
tardio em destruir a obra de suas mãos. Ele insta com o homem; ele espera ser
gracioso. Ele adia o juízo na esperança de que sua bondade conduza o homem
ao arrependimento. (Rom. 2:4; 2 Ped. 3:9.) Mas os homens
interpretam mal as demoras divinas e zombam do dia de juízo. "Visto como
se não executa imediatamente o juízo sobre a má obra, por isso o coração
dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o mal"
(Ecl. 8:11). Mas, embora
demore, a retribuição final virá, pois num mundo governado por leis ter de
haver um ajuste de contas. "não erreis: DEUS não se deixa escarnecer;
porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará" (Gál. 6:7). Essa verdade
foi demonstrada no Calvário, onde DEUS declarou "sua justiça
pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de DEUS"
(Rom. 3:25). Assim alguém
traduz essa passagem: "Isto foi para demonstrar a justiça de DEUS em
vista do fato de que os pecados previamente cometidos durante o tempo da
tolerância de DEUS foram ignorados". Outro assim parafraseia a
passagem: "Ele suspendeu o juízo sobre os pecados daquele período
anterior, o período de sua paciência, tendo em vista a revelação de sua
justiça sob esta dispensação, quando ele, justo Juiz, absolverá o pecador
que afirma sua fé em JESUS." Em séculos passados parece que DEUS
não levou em conta os pecados das nações; os homens continuaram
no pecado, aparentemente sem ceifar as suas consequências. Dai
a pergunta: "Então DEUS não toma conhecimento do pecado?" Mas
a crucificação revelou o caráter horrendo do pecado, e
demonstra vivamente o terrível castigo sobre ele. A cruz de CRISTO
declara que DEUS nunca foi, não é, e nunca poderia ser indiferente
ao pecado dos homens. Assim comenta o assunto um erudito: DEUS
deu provas de sua ira contra o pecado quando ocasionalmente
castigou Israel e as nações gentílicas. Mas ele não infligiu a
plena penalidade, caso contrário a raça humana teria perecido. Em grande
parte ele "passou por alto" os pecados dos homens. Seria injusto
o rei que deixasse de punir um crime ou mesmo que adiasse a punição. E
na opinião de alguns. DEUS perdeu prestígio por causa de sua tolerância, a
qual interpretam como um meio de escapar à punição divina. DEUS destinou
CRISTO para morrer a fim de demonstrar a sua justiça em vista da
tolerância dos pecados passados, tolerância que parecia ofuscar a justiça.
(d) Expiação. O homem tem quebrado as leis de DEUS e violado
os princípios da justiça. O conhecimento desses atos está registrado em
sua memória e a sua consciência o acusa. Que se pode fazer para remediar o
passado e ter segurança no futuro? Existe alguma expiação pela lei violada?
Para essa pergunta existem três respostas:
1) Alguns afirmam que a expiação não é possível e que a vida
é governada por uma lei inexorável, a qual punirá com
precisão matemática todas as violações. O que o homem semear,
fatalmente, isso mesmo ele ceifará. O pecado permanece. Assim o
pecador nunca escapará às culpas do passado. Seu futuro está
hipotecado e não existe redenção para ele. Essa teoria faz do homem um
escravo de suas circunstâncias; nada pode fazer quanto ao seu destino. Se
os proponentes dessa teoria reconhecem a DEUS, para eles DEUS é escravizado às
suas próprias leis, incapaz de prover um meio de escape para os pecadores.
2) No outro extremo há aqueles que ensinam que a expiação
é desnecessária. DEUS é tão bom que não punirá o pecador, e
tão gracioso que não exigirá a satisfação da lei violada.
Por conseguinte, a expiação toma-se desnecessária e é de supor que DEUS
perdoará a todos. Certa vez um médico disse a uma cliente que lhe havia falado
do Evangelho: Eu não preciso de expiação. Quando erro,
peço simplesmente a DEUS que me desculpe, e é quanto basta."
Depois de certo tempo a cliente voltou ao médico e lhe disse: "Doutor,
agora estou bem. Sinto muito haver ficado doente, e prometo-lhe que me
esforçarei para nunca mais adoecer." Ao mesmo tempo ela insinuou que
nenhuma necessidade havia de considerar ou pagar a conta! Cremos que o
médico compreendeu a lição, isto é, que mero arrependimento não salda conta,
nem repara os estragos causados pelo pecado.
3) O Novo Testamento ensina que a expiação é tanto necessária
como também possível; possível porque DEUS é benévolo, bem
como justo; necessária porque DEUS é justo, bem como benévolo. Os dois
erros acima tratados são exageros de duas verdades sobre o caráter de
DEUS. O primeiro exagera a sua justiça, excluindo a sua graça. O segundo
exagera sua graça, excluindo a sua justiça. A expiação faz justiça a ambos
os aspectos de seu caráter, pois na morte de CRISTO, DEUS está agindo de
modo justo como também benévolo. Ao tratar do pecado, ele precisa mostrar sua
graça, pois ele não deseja o morte do pecador; mas, ao perdoar o pecado,
ele precisa revelar a sua justiça, pois a própria estabilidade
do universo depende da soberania de DEUS. Na expiação DEUS faz justiça a
seu caráter como um DEUS benévolo. Sua justiça clamou pelo castigo do pecador,
mas sua graça proveu um plano para o perdão. Ao mesmo tempo ele faz
justiça a seu caráter como um DEUS justo e reto. DEUS não faria justiça a
si mesmo se manifestasse compaixão para com os pecadores de
maneira que fizesse do pecado uma coisa leve e que ignorasse sua
trágica realidade. Poderíamos pensar que DEUS seria então indiferente
ou indulgente quanto ao pecado. O castigo do pecado foi pago no Calvário,
e a lei divina foi honrada; dessa maneira DEUS pôde ser benévolo sem ser
injusto, e justo sem ser inclemente.
3. A natureza da expiação.
A morte de CRISTO é: "CRISTO morreu", expressa o fato
histórico da crucificação; "por nossos pecados", interpreta o
fato. Em que sentido morreu JESUS por nossos pecados? Como é explicado o
fato no Novo Testamento? A resposta encontra-se nas seguintes palavras-chave
aplicadas à morte de CRISTO: Expiação, Propiciação, Substituição, Redenção
e Reconciliação.
(a) Expiação. A palavra expiação no hebraico
significa literalmente 'cobrir', e é traduzida pelas seguintes palavras:
fazer expiação, purificar, quitar, reconciliar, fazer
reconciliação, pacificar, ser misericordioso. A expiação, no original, inclui
a ideia de cobrir, tanto os pecados (Sal. 78:38;79:9; Lev. 5:18) como também o
pecador. (Lev. 4:20.) Expiar
o pecado é ocultar o pecado da vista de DEUS de modo que o pecador
perca seu poder de provocar a ira divina. Citamos aqui o Pr. Alfred Cave:
A ideia expressa pelo original hebraico da palavra traduzida
"expiar", era "cobrir" e "cobertura", não no
sentido de torná-lo invisível a Jeová , mas no sentido de ocupar sua
vista com outra coisa, de neutralizar o pecado, por assim dizer, de
desarmá-lo, de torná-lo inerte para provocar a justa ira de DEUS. Expiar o
pecado... era arrojar, por assim dizer, um véu sobre o pecado tão
provocante, de modo que o véu., e não o pecado, fosse visível; era colocar lado
a lado com o pecado algo tão atraente que cativasse completamente a
atenção. A figura que o Novo Testamento usa ao falar das vestes novas (de
justiça), usa-a o Antigo Testamento ao falar da "expiação".
Quando se fazia expiação sob a lei, era como se o olho divino, que se havia
acendido pela presença do pecado e a impureza, fosse aquietado
pela vestidura posta ao seu derredor; ou, usando uma figura
muito mais moderna, porém igualmente apropriada, era como se o pecador,
exposto a uma descarga elétrica da ira divina, houvesse sido
repentinamente envolto e isolado. A exposição significa cobrir de tal
maneira o pecador, que seu pecado era invisível ou inexistente no sentido
de que já não podia estar entre ele e seu Criador. Quando o sangue era
aplicado ao altar pelo sacerdote, o israelita sentia a segurança de que a
promessa feita a seus antecessores se faria real para ele. "Vendo eu
sangue, passarei por cima de vós" (Êxo. 12:13). Quais eram o
efeitos da expiação ou da cobertura? O pecado era apagado (Jer. 18:23; Isa. 43:25; 44:22); removido (Isa.6:7); coberto (Sal. 32:1); lançado nas
profundidades do mar (Miq. 7:19);
perdoado (Sal. 78:38).
Todos esses termos ensinam que o pecado é coberto de modo que seus efeitos
sejam removidos, afastados da vista, invalidados, desfeitos. Jeová já não
vê nem sofre influência alguma dele. A morte de CRISTO foi uma morte
expiatória, porque seu propósito era apagar o pecado. (Heb. 9:26, 28; 2:17; 10:12-14; 9:14.) Foi uma morte
sacrificial ou uma morte que tinha relação com o pecado. Qual era essa relação?
"Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o
madeiro" (1Ped. 2:24).
"Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele
fôssemos feitos justiça de DEUS" (2 Cor. 5:21) Expiar o pecado
significa levá-lo embora, de modo que ele é afastado do transgressor, o qual é
considerado, então, como justificado de toda a injustiça, purificado de
contaminação e santificado para pertencer ao povo de DEUS. Uma palavra
hebraica usada para descrever a purificação significa, literalmente,
"quitar o pecado". Pela morte expiatória de CRISTO os pecadores são
purificados do pecado e logo feitos participantes da natureza de CRISTO. Eles
morrem para o pecado a fim de viverem para CRISTO.
(b) Propiciação. Crê-se que a palavra propiciação tem
sua origem em uma palavra latina "propõe", que significa
"perto de". Assim se nota que a palavra significa juntar, tornar
favorável. O sacrifício de propiciação traz o homem para perto de DEUS,
reconcilia-o com DEUS fazendo expiação por suas transgressões, ganhando a
graça e favor. (Em sua misericórdia, DEUS aceita o dom propiciatório e restaura
o pecador a seu amor. Esse também é o sentido da palavra grega como é
usada no Novo Testamento. Propiciar é aplacar a ira de um DEUS santo
pela oferenda dum sacrifício expiatório. CRISTO é descrito como sendo
essa propiciação (Rom. 3:25: 1 João 2:4; 4). O pecado mantém o
homem distanciado de DEUS; mas CRISTO tratou de tal maneira o assunto do
pecado, a favor do homem, que o seu poder separador foi anulado. Portanto,
agora o homem pode "chegar-se" a DEUS "em seu nome". O
acesso a DEUS, o mais sublime dos privilégios, foi comprado por grande preço: o
sangue de CRISTO. Assim escreve o Dr. James Denney: E assim como no Antigo
Testamento todo objeto usado na adoração tinha que ser aspergido com
sangue expiatório, assim também todas as partes da adoração cristã; todas as
nossas aproximações a DEUS devem descansar conscientemente sobre a expiação.
Deve-se sentir que é um privilégio de inestimável valor; deve ser permeado com
o sentimento da paixão de CRISTO e com o amor com que ele nos amou
quando sofreu por nossos pecados de uma vez para sempre, o justo
pelos injustos para chegar-nos a DEUS. A palavra "propiciação"
em Romanos 3:25 é
tradução da palavra grega "hilasterion", que se encontra também
em Heb. 9:5 onde
é traduzida como "propiciatório". No hebraico,
"propiciatório" significa literalmente "coberta", e, tanto
no hebraico como no grego, a palavra expressa o pensamento de um
sacrifício (*). Refere-se à arca da aliança (Êxo. 25:10-22) que
estava composta de duas partes: primeira, a arca, representando o trono do
justo governante de Israel, contendo as tábuas da lei como a expressão de
sua justa vontade; segunda, a coberta, ou tampa, conhecida como
"propiciatório", coroada com figuras angélicas chamadas querubins.
Duas lições salientes eram comunicadas por essa mobília: primeira, as
tábuas da lei ensinavam que DEUS era um DEUS justo que não passaria por
alto o pecado e que devia executar seus decretos e castigar os ímpios. Como
podia uma nação pecaminosa viver ante sua face? O propiciatório, que cobria a
lei, era o lugar onde se aspergia o sangue uma vez por ano para fazer
expiação pelos pecados do povo. Era o lugar onde o pecado era coberto, e
ensinava a lição de que DEUS, que é justo, pode perfeitamente perdoar o
pecado por causa dum sacrifício expiatório. Por meio do sangue expiatório,
aquilo que é um trono de juízo se converte em trono de graça. A arca e o
propiciatório ilustram o problema resolvido pela expia ao. O problema e
sua solução são declarados em Rom. 3: 24-26, onde
lemos: "sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela
redenção que há em CRISTO JESUS, ao qual DEUS propôs para propiciação (um
sacrifício expiatório) pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua
justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos (demonstrar que a
aparente demora em executar o juízo não significa que DEUS passou por alto o
pecado) sob a paciência de DEUS; para demonstração da sua justiça, neste
tempo presente (sua maneira de fazer justos os pecadores), para que ele
seja justo (infligir o devido castigo pelo pecado), e justificador
(remover o castigo pelo pecado) daquele que tem fé em JESUS". Como
pode DEUS realmente infligir o castigo do pecado e ao mesmo tempo
cancelar esse castigo? DEUS mesmo tomou o castigo na pessoa de seu
Filho, e desta maneira abriu o caminho para o perdão do culpado.
Sua lei foi honrada e o pecador foi salvo. O pecado foi expiado
e DEUS foi propiciado. Os homens podem entender como DEUS pode
ser justo e castigar, ser misericordioso e perdoar; mas a maneira
como pode DEUS ser justo no ato de justificar ao culpado, é para
eles um enigma. O Calvário resolve o problema. É preciso esclarecer o fato
de que a propiciação foi uma verdadeira transação, porque alguns ensinam
que a expiação foi simplesmente uma demonstração do amor de DEUS e de
CRISTO, com a intenção de comover o pecador ao arrependimento. Esse
certamente é um dos efeitos da expiação (1 João 3:16), mas não
representa o todo da expiação. Por exemplo, poderíamos pular para dentro
dum rio e afogarmo-nos à vista de uma pessoa muito pobre a fim
de convencê-la do nosso amor por ela; mas esse ato não pagaria
o aluguel da casa nem a conta do fornecedor que ele devesse! A obra
expiatória de CRISTO foi uma verdadeira transação que removeu um
verdadeiro obstáculo entre nós e DEUS, e pagou a dívida que não podíamos pagar.
(c) Substituição. Os sacrifícios do Antigo Testamento
eram substitutos por natureza; eram considerados como algo a que
se procedia, no altar, para o israelita, que não podia fazê-lo por si
mesmo. O altar representava o pecador; a vítima era o substituto do
israelita para ser aceita em seu favor. Da mesma forma CRISTO, na cruz, fez por
nós o que não podíamos fazer por nos mesmos, e qualquer que seja a nossa
necessidade, somos aceitos "por sua causa". Se oferecemos a DEUS
nosso arrependimento, gratidão ou consagração, fazemo-lo "em seu
nome", pois ele é o Sacrifício por meio do qual chegamos a DEUS o
Pai. O pensamento de substituição é saliente nos sacrifícios do Antigo
Testamento, onde o sangue da vítima é considerado como uma coberta ou como
fazendo expiação pela alma do ofertante. No capítulo em que os sacrifícios do
Antigo Testamento alcançam seu maior significado (Isa. 53) lemos:
"Verdadeiramente" ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e
as nossas dores levou sobre si... mas ele foi ferido pelas nossas
transgressões, e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz
estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados, (vers. 4, 5).
Todas essas expressões apresentam o Servo de Jeová como levando
o castigo que devia cair sobre outros, a fim de "justificar a muitos";
e "levar as iniquidades deles". CRISTO, sendo o Filho de DEUS, pôde
oferecer um sacrifício de valor eterno e infinito. Havendo assumido a
natureza humana, Pôde identificar-se com o gênero humano e assim sofrer o
castigo que era nosso, a fim de que pudéssemos escapar. Isso explica a
exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?" Ele
que era sem pecado por natureza, que nunca havia cometido um
pecado sequer em sua vida, se fez pecador (ou tomou o lugar do pecador).
Nas palavras de Paulo: "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado
por nós" (2 Cor. 5:21).
Nas palavras de Pedro: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos
pecados sobre o madeiro" (1
Ped. 2:24).
(d) Redenção. A palavra redimir, tanto no Antigo como no
Novo Testamento, significa tornar a comprar por um preço; livrar
da servidão por preço, comprar no mercado e retirar do mercado.
O senhor JESUS é um Redentor e sua obra expiatória é descrita
como uma redenção. (Mat.
20:28; Apoc. 5:9; 14:3, 4; Gál. 3:13; 4:5; Tito 2:14; 1 Ped. 1:18.) A mais
interessante ilustração de redenção se encontra no Antigo Testamento, na
lei sobre a redenção dum parente. (Lev. 25:47-49.)
Segundo essa lei, um homem que houvesse vendido sua propriedade e se
houvesse vendido a si mesmo como escravo, por causa de alguma dívida,
podia recuperar, tanto sua terra como sua liberdade, em qualquer tempo,
sob a condição de que fosse redimido por um homem que possuísse as
seguintes qualidades: Primeira, deveria ser parente do homem; segunda
deveria estar disposto a redimi-lo ou comprá-lo novamente; terceira, deveria
ter com que pagar o preço. O Senhor JESUS CRISTO reuniu em si essas três
qualidades: Fez-se nosso parente, assumindo nossa natureza; estava
disposto a dar tudo para redimir-nos (2 Cor. 8:9); e, sendo divino,
pôde pagar o preço... seu próprio sangue precioso. O fato da redenção
destaca o alto preço da salvação e, por conseguinte, deve ser levado em
grande consideração. Quando certos crentes em Corinto se descuidaram de
sua maneira de viver, Paulo assim os admoestou: "não sabeis... que não
sois de vós mesmos? porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois
a DEUS no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem
a DEUS" (1 Cor. 6:19. 20). Certa vez JESUS disse:
"Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que
daria o homem pelo resgate da sua alma?" (Mar. 8:36, 37). Com essa expressão ele
quis dizer que a alma, a verdadeira vida do homem, podia perder-se
ou arruinar-se; e perdendo-se não podia haver compensação por
ela, porque não havia meios de tornar a comprá-la. Os homens ricos poderão
jactar-se de suas riquezas e nelas confiar, porém o poder delas é
limitado. O Salmista disse: "Nenhum deles de modo algum pode remir a
seu irmão, ou dar a DEUS o resgate dele (pois a redenção da sua alma é
caríssima, e seus recursos se esgotariam antes) por isso tão pouco viver
para sempre ou deixar de ver a corrupção" (Sal 49: 7-9). Mas uma
vez que as almas de multidões já foram "confiscadas", por assim
dizer, por viverem no pecado, e não podem ser redimidas por meios humanos, que
se pode fazer em favor delas? O Filho do homem veio ao mundo "para
dar a sua vida em resgate (ou para redenção) de muitos (Mat. 20:28). O
supremo objetivo de sua vinda ao mundo foi dar sua vida como preço
de resgate para que aqueles, cujas almas foram
"confiscadas", pudessem recuperá-las. As vidas (espirituais) de
muitos, "confiscadas", são libertadas pela rendição da vida por
parte de CRISTO. Pedro disse a seus leitores que eles foram resgatados de
sua vã maneira de viver, que por tradição (pela rotina ou costumes), receberam
dos seus pais (1 Pedro 1:18).
A palavra "vã" significa "vazia", ou aquilo que não
satisfaz. A vida, antes de entrar em contato com a morte de CRISTO, é
inútil e vã é andar às apalpadelas, procurando uma coisa que nunca poderá
ser encontrada. Com todos os esforços não logra descobrir a realidade; não
tem fruto permanente. "Que adianta tudo isso?" exclamam muitas
pessoas. CRISTO nos redimiu dessa servidão. Quando o poder da morte expiatória
de CRISTO tem contato com a vida de alguém, essa vida desfruta de grande
satisfação. não está mais escravizada às tradições de ancestrais ou
limitada à rotina ou aos costumes estabelecidos. Antes, as ações do
cristão surgem duma nova vida que veio a existir pelo poder da morte
de CRISTO. A morte de CRISTO, sendo uma morte pelo pecado, liberta
e "toma a criar" a alma.
(e) Reconciliação. "Tudo isto provém de DEUS, que nos
reconciliou consigo mesmo por JESUS CRISTO, e nos deu o ministério
da reconciliação; isto é, DEUS estava em CRISTO reconciliando consigo o
mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nos a palavra da
reconciliação" (2 Cor. 5:
18, 19.) Quando
éramos inimigos, fomos reconciliados com DEUS pela morte do seu
Filho (Rom. 5:10).
Homens que em outro tempo eram estranhos entre si e inimigos no
entendimento pelas suas obras más, agora no corpo da sua carne, pela
morte, foram reconciliados (Col.
1:21). Muitas vezes a expiação é mal-entendida e, por conseguinte,
mal interpretada. Alguns imaginam que a expiação significa que
DEUS estava irado com o pecador, e que se afastou, mal-humorado,
até que se aplacasse a ira, quando seu Filho se ofereceu a pagar
a pena. Em outras palavras, pensam eles, DEUS teve que
ser reconciliado com o pecador. Essa ideia, entretanto é uma
caricatura da verdadeira doutrina. Através das Escrituras vemos que é
DEUS, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em prover expiação pelo
homem. Foi DEUS quem vestiu nossos primeiros pais; é o Senhor quem ordena os
sacrifícios expiatórios; foi DEUS quem enviou e deu seu Filho em
sacrifício pela humanidade. O próprio DEUS é o Autor da redenção do homem.
Ainda que sua majestade tenha sido ofendida pelo pecado do homem, sua
santidade, naturalmente, deve reagir contra o pecado, contudo, ele não
deseja que o pecador pereça (Ezeq.
33:11), e, sim, que se arrependa e seja salvo. Paulo não disse que DEUS foi
reconciliado com o homem, mas sim que DEUS fez algo a fim de reconciliar
consigo o homem. Esse ato de reconciliação é uma obra consumada; é uma
obra realizada em benefício dos homens, de maneira que, à vista de
DEUS, o mundo inteiro está reconciliado. Resta somente que o
evangelista a proclame e que o indivíduo a receba. A morte de CRISTO
tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com DEUS; cada indivíduo
deve torná-la real. Essa, em essência, é a mensagem do evangelho; a morte de
CRISTO foi uma obra consumada de reconciliação, efetuada independente de
nós, a um custo inestimável, para a qual são chamados os homens mediante
um ministério de reconciliação.
4. A eficácia da expiação.
Que efeito tem para o homem a obra expiatória de CRISTO? Que
produz ela em sua experiência?
(a) Perdão da transgressão. Por meio de sua obra expiatória,
JESUS CRISTO pagou a dívida que nos não podíamos saldar e assegurou a
remissão dos pecados passados. Assim, o passado pecaminoso para o cristão
não é mais aquele peso horrendo que conduzia, pois seus pecados foram
apagados, carregados e cancelados. (João 1:29; Efés. 1:7; Heb. 9:22-28; Apo. 1:5.) Começou a vida de
novo, confiando em que os pecados do passado nunca o encontrarão no juízo. (João 1^:24.)
(b) Livramento do pecado. Por meio da expiação o crente
é liberto, não somente da culpa dos pecados, mas também pode
ser liberto do poder do pecado. O assunto é tratado em Romanos, caps.
6 a 8. Paulo antecipa uma objeção que alguns dos seus oponentes judeus
devem ter suscitado muitas vezes a saber, que se a pessoa fosse salva
meramente por crer em JESUS, essa pessoa teria opinião leviana sobre o pecado,
dizendo: "Se permanecermos no pecado, sua graça abundará" (Rom. 6:1). Paulo repudia tal
pensamento e assinala que aquele que verdadeiramente crê em CRISTO, rompeu
com o pecado. O rompimento tão decisivo que é descrito como
"morte". A viva fé no Salvador crucificado resulta na crucificação da
velha natureza pecaminosa. O homem que crê com todos os poderes de sua
alma (é essa a verdadeira crença) que CRISTO morreu por seus pecados, terá uma
tal convicção sobre a condição terrível do pecado, e o repudiará com todo
o seu ser. A cruz significa a sentença de morte sobre o pecado. Mas
o tentador está ativo e a natureza humana é fraca; por isso
é necessária uma vigilância constante e uma crucificação diária dos
impulsos pecaminosos. (Rom.
6:11.) E a vitória é assegurada "Porque o pecado não terá domínio
sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rom. 6:14.) Isto é, a lei
significa que algo deve ser feito pelo pecador; não podendo pagar a dívida ou
cumprir a exigência da lei, ele permanece cativo pelo pecado. Por outro
lado, graça significa que algo foi feito a favor do pecador... a obra consumada
do Calvário. Conforme o pecador crê no que foi feito a seu favor, assim
ele recebe o que foi feito. Sua fé tem um poderoso aliado na Pessoa do ESPÍRITO
SANTO, que habita nele. O ESPÍRITO SANTO ajuda-o a repudiar as tendências
pecaminosas; ajuda-o na oração e dá-lhe a certeza de sua liberdade e
vitória como um filho de DEUS. (Rom.
8). Na verdade, CRISTO morreu para remover o obstáculo do pecado, para
que o ESPÍRITO de DEUS possa entrar na vida humana (Gál. 3:13, 14). Sendo salvo pela graça de
DEUS, revelada na cruz, o crente recebe uma experiência de purificação e
vivificação espiritual (Tito
3: 5-7). Havendo morrido para a antiga vida de pecado, a pessoa nasce de
novo, para uma nova vida... nasce da água (experimentando a purificação) e
nasce do ESPÍRITO (recebendo a vida divina). (João 3:5.)
(c) Libertação da morte. A morte tem um significado tanto físico
como espiritual. No sentido físico denota a cessação da vida física, consequente
de enfermidade, decadência natural ou de causa violenta. é porém, mais
usada no sentido espiritual, isto é, como o castigo imposto por DEUS sobre
o pecado humano. A palavra expressa a condição espiritual de separação de
DEUS e do desagrado divino por causa do pecado. O impenitente que morrer
fora do favor de DEUS permanecerá eternamente separado dele no outro
mundo, sendo conhecida essa separação como a "segunda morte".
Este aviso: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás",
não se teria cumprido se a morte fosse apenas o ato físico de morrer,
pois Adão e Eva continuaram a viver depois daquele dia. Mas o
decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra
"morte" implicava todas as consequências penais do pecado — separação
de DEUS, iniquidade, inclinação para o mal, debilidade física,
e, finalmente, a morte física e as suas consequências. Quando as
Escrituras dizem que CRISTO morreu por nossos pecados, querem dizer que CRISTO
se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a
pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte
"para que, pela graça de DEUS, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa de sua
natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não podemos
compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto nos
defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que aceitamos
muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais fatos.
Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente
porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu
funcionamento.
Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação
pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expiação à simplicidade
de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e
CRISTO deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao
morrer. Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz
estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e
isso explica a exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me desamparaste?"
Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente
sustentados pelo conhecimento interno da presença de DEUS; são palavras de Um
que efetuou um ato que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando
ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.) Embora seja
verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte física (Rom. 8:10), mesmo assim, para
eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e esta se toma uma porta
para outra vida mais ampla. Neste sentido JESUS afirmou: "Todo aquele
que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).
(d) O dom da vida eterna. CRISTO morreu para que nos não
perecêssemos (a palavra é usada no sentido bíblico de ruína espiritual),
mas "tenhamos a vida eterna" (João 3:14-16.
Vide Rom. 6;23.) A vida
eterna significa mais do que mera existência; significa vida no favor de DEUS e
comunhão com ele. Morto em transgressões e pecados, o homem está fora do favor
de DEUS; pelo sacrifício de CRISTO, o pecado é expiado e ele restaurado
à plena comunhão com DEUS. Estar no favor de DEUS e em comunhão com
ele é ter vida eterna, pois é a vida com ele que é o Eterno. Essa vida é
possuída agora porque os crentes estão em comunhão com DEUS; a vida eterna
é descrita como futura (Tito 1:2; Rom. 6:22), porque a vida
futura trará perfeita comunhão com DEUS. "E verão o seu rosto" (Apo. 22:4).
(e) A vida vitoriosa. A cruz é o dínamo que produz no
coração humano essa resposta que constitui a vida cristã. A
expressão "eu viverei para ele que morreu por mim", diz bem o
dinamismo da cruz. A vida cristã é a reação da alma ante o amor de CRISTO.
A cruz de CRISTO inspira o verdadeiro arrependimento, o qual é arrependimento
para com DEUS. O pecado muitas vezes é seguido de remorso, vergonha e ira; mas
somente quando houver tristeza por ter ofendido a DEUS, há verdadeiro arrependimento.
Esse conhecimento interno não se produz por vontade própria, pois a
própria natureza do pecado tende a obscurecer a mente e a endurecer o
coração. O pecador precisa de um motivo poderoso para arrepender-se —
algo que o faça ver e sentir que seu pecado ofendeu e
injuriou profundamente a DEUS. Mas o decreto é profundamente certo quando
recordamos que a palavra "morte" implicava todas as consequências
penais do pecado — separação de DEUS, iniquidade, inclinação para o mal,
debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas consequências.
Quando as Escrituras dizem que CRISTO morreu por nossos pecados, querem
dizer que CRISTO se submeteu, não somente à morte física mas também à
morte que significa a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no
sofrimento da morte "para que, pela graça de DEUS, provasse a morte
por todos" (Heb. 2:9).
Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse
plano,. não podemos compreender o "como" da questão, porque
evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade,
porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o
"como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os
benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou
porque não compreende as leis do seu funcionamento.
Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação
pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expia ao à
simplicidade de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do
pecado, e CRISTO deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse
ato ao morrer. Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz
estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e
isso explica a exclamação: "DEUS meu, DEUS meu, por que me
desamparaste?" Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são
geralmente sustentados pelo conhecimento interno da presença de DEUS; são
palavras de Um que efetuou um ato que implica separação divina. Esse ato
consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.)
Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que
sofrer a morte física (Rom.
8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte,
e esta se torna uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido JESUS
afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).A cruz de
CRISTO fornece esse motivo, pois ela demonstra a natureza horrenda
do pecado, pelo fato de ter causado a morte do Filho de DEUS.
Ela declara o terrível castigo sobre o pecado; mas revela também
o amor e a graça de DEUS. Está muito certo o que alguém disse: "Todos
os verdadeiros penitentes são filhos da cruz. Seu arrependimento não é
deles mesmos; é a reação para com DEUS produzida em suas almas pela
demonstração do que o pecado é para ele, e o que faz o seu amor para
alcançar e ganhar os pecadores."
Está escrito acerca de certos santos que vieram da grande
tribulação, que "Lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do
Cordeiro" (Apoc. 7:14).
A referência é ao poder santificador da morte de CRISTO. Eles haviam resistido
ao pecado, e agora eram puros. De onde receberam a força para vencer o pecado?
O poder do amor de CRISTO revelado no Calvário os constrangeu. O poder da cruz,
descendo em seus corações, os capacitou para vencerem o pecado. (Vide Gál. 2:20.) "E eles o
venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram
as suas vidas até à morte" (Apoc. 12:11). O amor de DEUS
os constrangeu e ajudou-os a vencer. A pressão sobre eles foi grande, mas, com
o sangue do Cordeiro como o motivo que os impulsionava, eram invencíveis.
"Tendo em vista a cruz sobre a qual JESUS morreu, não puderam "trair
sua causa pela covardia, e não amaram mais as suas vidas do que ele amou a sua.
Eles pertenciam a CRISTO, como ele pertencia a eles".
A vida vitoriosa inclui a vitória sobre Satanás. O Novo Testamento
declara que CRISTO venceu os demônios. (Luc. 10:17-20; João 12:31, 32; 14:30; Col. 2:15; Heb. 2:14, 15; Apoc. 12: 11.) Os crentes têm
a vitória sobre o diabo enquanto tiverem o Vencedor sobre o diabo!
VI. A natureza da salvação
O assunto desta secção será: Que é que constitui a salvação, ou
"estado de graça"?
1. Três aspectos da salvação.
Há três aspectos da salvação, e cada qual se caracteriza por uma
palavra que define ou ilustra cada aspecto:
(a) Justificação é um termo forense que nos faz lembrar um
tribunal. O homem, culpado e condenado, perante DEUS, é absolvido e declarado
justo — isto é, justificado.
(b) Regeneração (a experiência subjetiva) e Adoção (o privilégio
objetivo) sugerem uma cena familiar. A alma, morta em transgressões e ofensas,
precisa duma nova vida, sendo esta concedida por um ato divino de regeneração.
A pessoa, por conseguinte, torna-se herdeira de DEUS e membro de sua família.
(c) A palavra santificação sugere uma cena do templo, pois essa
palavra relaciona-se com o culto a DEUS. Harmonizadas suas relações com a lei
de DEUS e tendo recebido uma nova vida, a pessoa, dessa hora em diante,
dedica-se ao serviço de DEUS. Comprado por elevado preço, já não é dono de si;
não mais se afasta do templo (figurativamente falando), mas serve a DEUS de dia
e de noite. (Luc. 2:37.)
Tal pessoa é santificada e por sua própria vontade entrega-se a DEUS.
O homem salvo, portanto, é aquele cuja vida foi harmonizada com
DEUS, foi adotado na família divina, e agora dedica-se a servi-lo. Em outras
palavras, sua experiência da salvação, ou seu estado de graça, consiste em
justificação, regeneração (e adoção), e santificação. Sendo justificado, ele
pertence aos justos; sendo regenerado, ele é filho de DEUS; sendo santificado,
ele é "santo" (literalmente uma pessoa santa).
São essas bênçãos simultâneas ou consecutivas? Existe, de fato, uma
ordem lógica: o pecador harmoniza-se, primeiramente, perante a lei de DEUS; sua
vida é desordenada; precisa ser transformada. Ele vivia para o pecado e para o
mundo e, portanto, precisa separar-se para uma nova vida, para servir a DEUS.
Ao mesmo tempo as três experiências são simultâneas no sentido de que, na
prática, não se separam. Nós as separamos para poder estudá-las. As três
constituem a plena salvação. À mudança exterior, ou legal, chamada
justificação, segue-se a mudança subjetiva chamada regeneração, e esta , por
sua vez, é seguida por dedicação ao serviço de DEUS. Não concordamos em que a
pessoa verdadeiramente justificada não seja regenerada; nem admitimos que a
pessoa verdadeiramente regenerada não seja santificada (embora seja possível,
na prática, uma pessoa salva, às vezes, violar a sua consagração). Não pode
haver plena salvação \ sem essas três experiências, como não pode haver um
triângulo sem três lados. Representam elas o tríplice fundamento sobre o qual
se baseia subsequente vida cristã. Começando com esses três princípios,
progride a vida cristã em direção à perfeição.
Essa tríplice distinção regula a linguagem do Novo Testamento em
seus mínimos detalhes. Ilustremos assim:
(a) Em relação à justificação: DEUS é o Juiz, e CRISTO é o
Advogado; o pecado é a transgressão da lei; a expiação é a satisfação dessa
lei; o arrependimento é convicção; aceitação traz perdão ou remissão dos
pecados; o ESPÍRITO testifica do perdão; a vida cristã é obediência e sua
perfeição é o cumprimento da lei da justiça.
(b) A salvação é também uma nova vida em CRISTO. Em relação a essa
nova vida, DEUS é o Pai (Aquele que gera), CRISTO é o Irmão mais velho e a
vida; o pecado é obstinação, é a escolha da nossa própria vontade em lugar da
vontade do Chefe da família; expiação é reconciliação; aceitação é adoção;
renovação de vida é regeneração, é ser nascido de novo; a vida cristã significa
a crucificação e mortificação da velha natureza, a qual se opõe ao aparecimento
da nova natureza, e a perfeição dessa nova vida é o reflexo perfeito da imagem
de CRISTO, o unigênito Filho de DEUS.
(c) A vida cristã é a vida dedicada ao culto e ao serviço de DEUS,
isto é, a vida santificada. Em relação a essa Vida santificada, DEUS é o SANTO;
CRISTO é o sumo sacerdote; o pecado é a impureza; o arrependimento é a
consciência dessa impureza; a expiação é o sacrifício expiatório ou
substitutivo; a vida cristã é a dedicação sobre o altar (Rom. 12:1); e a perfeição
desse aspecto é a inteira separação do pecado; separação para DEUS.
E essas três bênçãos da graça foram providas pela morte expiatória
de CRISTO, e as virtudes dessa morte são concedidas ao homem pelo ESPÍRITO
SANTO. Quanto à satisfação das reivindicações da lei, a expiação proveu o
perdão e a justiça para o homem. Abolindo a barreira existente entre DEUS e o
homem, ela possibilitou a nossa vida regenerada. Como sacrifício pela
purificação do pecado, seus benefícios são santificação e pureza.
Notemos que essas três bênçãos fluem da nossa união com CRISTO. O
crente é um com CRISTO, em virtude de sua morte expiatória e em virtude do seu
ESPÍRITO vivificante. Tornamo-nos justiça de DEUS nele, (2 Cor. 5:21); por ele temos
perdão dos pecados (Efés. 1:7);
nele somos novas criaturas, nascidos de novo, com nova vida (2 Cor. 5:17); nele somos
santificados (1Cor. 1:2), e
ele é feito para nós santificação (1Cor. 1:30). Ele é "autor
da salvação eterna".
2. Salvação - externa e interna.
A Salvação é tanto objetiva (externa) como subjetiva (interna).
(a) A justiça, em primeiro lugar, é mudança de posição, mas é
acompanhada por mudança de condições. A justiça tanto é imputada com também conferida.
(b) A adoção refere-se a conferir o privilégio da divina filiação;
a regeneração trata da vida interna que corresponde à nossa chamada e que nos
faz "participantes da natureza divina".
(c) A santificação é tanto externa como interna. De modo externo é
separação do pecado e dedicação a DEUS; de modo interno é purificação do
pecado.
O aspecto externo da graça é provido pela obra expiatória de
CRISTO; o aspecto interno é a operação do ESPÍRITO SANTO.
3. Condições da salvação.
Que significa a expressão condições da salvação? Significa o que
DEUS exige do homem a quem ele aceita por causa de CRISTO e a quem dispensa as
bênçãos do Evangelho da graça.
As Escrituras apresentam o arrependimento e a fé como condições da
salvação; o batismo nas águas é mencionado como símbolo exterior da fé interior
do convertido. (Mar. 16:16; Atos 22: 16; 16:31; 2:38; 3:19.)
Abandonar o pecado e buscar a DEUS são as condições e os
preparativos para a salvação. Estritamente falando, não há mérito nem no
arrependimento nem na fé; pois tudo quanto é necessário para a salvação já foi
providenciado a favor do penitente. Pelo arrependimento o penitente remove os
obstáculos à recepção do dom; pela fé ele aceita o dom. Mas, embora sejam
obrigatórios o arrependimento e a fé, sendo mandamentos, é implícita a
influência ajudadora do ESPÍRITO SANTO. (Notem a expressão: "Deu DEUS o
arrependimento" Atos
11:18.) A blasfêmia contra o ESPÍRITO SANTO afasta o único que pode comover
o coração e levá-lo à contrição. Por conseguinte, para tal pecado não há
perdão.
Qual é a diferença entre o arrependimento e a fé? A fé é o
instrumento pelo qual recebemos a salvação, fato que não se dá com o
arrependimento. O arrependimento ocupa-se com o pecado e o remorso, enquanto a
fé ocupa-se com a misericórdia de DEUS.
Pode haver fé sem arrependimento? Não. Só o penitente sente a
necessidade do Salvador e deseja a salvação de sua alma.
Pode haver arrependimento verdadeiro sem fé? Ninguém poderá
arrepender-se no sentido bíblico sem fé na Palavra de DEUS, sem acreditar em
suas ameaças do juízo e em suas promessas de salvação.
São a fé e o arrependimento apenas medidas preparatórias à
salvação? Ambos acompanham o crente durante sua vida cristã; o arrependimento
torna-se em zelo pela purificação da alma; e a fé opera pelo amor e continua a
receber as coisas de DEUS.
(a) Arrependimento. Alguém definiu o arrependimento das seguintes
maneiras: "A verdadeira tristeza sobre o pecado, incluindo um esforço
sincero para abandoná-lo"; "tristeza piedosa pelo pecado";
"convicção da culpa produzida pelo ESPÍRITO SANTO ao aplicar a lei divina
ao coração"; ou, nas palavras de menino: "Sentir tristeza a ponto de
deixar o pecado."
Ha três elementos que constituem o arrependimento segundo as
Escrituras: intelectual, emocional e prático. Podemos ilustrá-los da seguinte
maneira: (1) O viajante que descobre estar viajando em trem errado. Esse
conhecimento corresponde ao elemento intelectual pelo qual a pessoa compreende,
mediante a pregação da Palavra, que não está em harmonia com DEUS. (2) O
viajante fica perturbado com a descoberta. Talvez alimente certos receios. Isso
ilustra o lado emocional do arrependimento, que é uma autoacusação e tristeza
sincera por ter ofendido a DEUS. (2 Cor. 7:10) (3) Na primeira
oportunidade o viajante deixa esse trem e embarca no trem certo. Isso ilustra o
lado prático do arrependimento, que significa em "meia-volta.. .
volver!" e marchar em direção a DEUS. Há uma palavra grega traduzida
"arrependimento", que significa literalmente "mudar de ideia ou
de propósito". O pecador arrependido se propõe mudar de vida e voltar-se
para DEUS; o resultado prático é que ele produz frutos dignos do
arrependimento. (Mat. 3:8.)
O arrependimento honra a lei como a fé honra o evangelho. Como,
pois, o arrependimento honra a lei? Contristado, o homem lamenta ter-se
afastado do santo mandamento, como também lamenta sua impureza pessoal que, à
luz dessa lei, ele compreende. Confessando — ele admite a justiça da sentença
divina. Na correção de sua vida ele abandona o pecado e faz a reparação
possível e necessária, de acordo com as circunstâncias.
De que maneira o ESPÍRITO SANTO ajuda a pessoa a arrepender-se? Ele
a ajuda aplicando a Palavra de DEUS à consciência, comovendo o coração e
fortalecendo o desejo de abandonar o pecado.
(b) Fé. Fé, no sentido bíblico, significa crer e confiar. É o
assentimento do intelecto com o consentimento da vontade. Quanto ao intelecto,
consiste na crença de certas verdades reveladas concernentes a DEUS e a CRISTO;
quanto à vontade, consiste na aceitação dessas verdades como princípios
diretrizes da vida. A fé intelectual não é o suficiente (Tia. 2:19; Atos 8:13, 21) para adquirir a salvação.
É possível dar seu assentimento intelectual ao Evangelho sem, contudo,
entregar-se a CRISTO. A fé oriunda do coração é o essencial (Rom. 10:9). Fé intelectual
significa reconhecer como verídicos os fatos do evangelho; fé provinda do
coração significa a pronta dedicação da própria vida as obrigações implícitas
nesses fatos. Fé, no sentido de confiança, implica também o elemento emocional.
Por conseguinte, a fé que salva representa um ato da inteira personalidade, que
envolve o intelecto, as emoções e a vontade.
O significado da fé determina-se pela maneira como se emprega a
palavra no original grego. Fé, às vezes, significa não somente crer em um corpo
de doutrinas, mas, sim, crer em tudo quanto é verdade, como, por exemplo nas
seguintes expressões: "Anuncia agora a fé que antes destruía
(Gál. 1:23);
apostatarão alguns da fé" (1
Tim. 4:1); "a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos (Jud. 3). Essa fé é denominada,
às vezes, "fé objetiva" ou externa. O ato de crer nessas verdades é
conhecido como fé subjetiva.
Seguida por certas preposições gregas a palavra "crer"
exprime a ideia de repousar ou apoiar-se sobre um firme fundamento; é o sentido
da palavra crer que se lê no Evangelho de João 3:16. Seguida por outra
preposição, a palavra significa a confiança que faz unir a pessoa ao objeto de
sua fé. Portanto, te e o elo de conexão entre a alma e CRISTO.
A fé é atividade humana ou divina? O fato de que ao homem e
ordenado crer implica capacidade e obrigação de crer. Todos os homens tem a
capacidade de depositar sua confiança em alguém e em alguma coisa. Por exemplo:
um deposita sua fé em riquezas, outro no homem, outro em amigos, etc. Quando a
crença e depositada na palavra de DEUS, e a confiança está em DEUS e em CRISTO,
isso constitui fé que salva. Contudo, reconhecemos a graça do ESPÍRITO SANTO,
que ajuda, em cooperação com a Palavra, na produção dessa fé (Vide João 6:44; Rom. 10:17; Gál. 5:22; Heb. 12:2.)
Que é então, a fé que salva? Eis algumas definições: "Fé em
CRISTO e graça salvadora pela qual o recebemos e nele confiamos inteiramente
para receber a salvação conforme nos é oferecida no evangelho." E o
"ato exclusivamente do penitente, ajudado, de modo especial, pelo
ESPÍRITO, e como descansando em CRISTO." "É ato ou hábito mental da
parte do penitente, pelo qual, sob a influência da graça divina, a pessoa põe
sua confiança em CRISTO como seu único e todo suficiente Salvador."
"É uma firme confiança em que CRISTO morreu pelos meus pecados, que ele me
amou e deu-se a si mesmo por mim." "E crer e confiar nos méritos de
CRISTO, e por cuja cousa DEUS está disposto a mostrar-nos misericórdia."
"É a fuga do pecador penitente para a misericórdia de DEUS em cristo.
4. Conversão.
Conversão, segundo a definição mais simples, é abandonar o pecado e
aproximar-se de DEUS. (Atos
3:19.) O termo é usado para exprimir tanto o período crítico em que o
pecador volta aos caminhos da justiça como também para expressar o
arrependimento de alguma transgressão por parte de quem já se encontra nos
caminhos da justiça. (Mat. 18:3; Luc. 22:32; Tia. 5:20.)
A conversão está muito relacionada com o arrependimento e a te, e,
ocasionalmente, representa tanto um como outro ou ambos, no sentido de englobar
todas as atividades pelas quais o homem abandona o pecado e se aproxima de
DEUS. (Atos 3:19; 11:21; 1 Ped. 2:25.) O Catecismo de
Westminster, em resposta à sua própria pergunta, oferece a seguinte e adequada
definição de conversão:
Que é arrependimento para a vida?
Arrependimento para a vida é graça salvadora, pela qual o pecador,
sentindo verdadeiramente o seu pecado , e lançando mão da misericórdia de DEUS
em CRISTO, e sentindo tristeza por causa do seu pecado e ódio contra ele,
abandona-o e aproxima-se de DEUS, fazendo o firme propósito de, daí em diante,
ser obediente a DEUS.
Note-se que, segundo essa definição, a conversão envolve a
personalidade toda — intelecto, emoções e vontade.
Como se distingue conversão de salvação? A conversão descreve o
lado humano da salvação. Por exemplo: observa-se que um pecador, bêbado
notório, não bebe mais, nem joga, nem frequenta lugares suspeitos; ele odeia as
coisas que antes amava e ama as coisas que outrora odiava. Seus amigos dizem:
"Ele está convertido; mudou de vida." Essas pessoas estão descrevendo
o que aparece, isto é, o lado humano do fato. Mas, do lado divino, diríamos que
DEUS perdoou o pecado do pecador e lhe deu um novo coração.
Mas isso significa que a conversão seja inteiramente uma questão de
esforço humano? Como a fé e o arrependimento estão inclusos na conversão, a
conversão é uma atividade humana; mas ao mesmo tempo é um efeito sobrenatural
sendo ela a reação por parte do homem ante o poder atrativo da graça de DEUS e
da sua Palavra. Portanto, a conversão é o resultado da cooperação das
atividades divinas e humanas. "Assim também operai a vossa salvação com
temor e tremor; porque DEUS é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar
segundo a sua boa vontade" (Fp
2:12,13). As seguintes
passagens referem-se ao lado divino da conversão: Jer. 31:18; Atos 3:26. E estas outras
referem-se ao lado humano: Atos
3:19; 11:18; Ezeq. 33:11.
Qual se opera primeiro, a regeneração ou a conversão? As operações
que envolvem a conversão são profundas e de caráter misterioso; por
conseguinte, não as analisaremos com precisão matemática. O teólogo Dr. Strong
conta o caso de um candidato à ordenação a quem fizeram a pergunta acima. Ele
respondeu: "Regeneração e conversão são como a bala do canhão e o furo do
cano do canhão — ambos atravessam o cano juntos."
VII. A Justificação
1. Natureza da justificação: absolvição divina.
A palavra "justificar" é termo judicial que significa
absolver, declarar justo, ou pronunciar sentença de aceitação. A ilustração
procede das relações legais. O réu está perante DEUS, o justo Juiz; mas, ao
invés de receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição.
O substantivo "justificação" ou "justiça",
significa o estado de aceitação para o qual se entra pela fé. Essa aceitação é
dom gratuito da parte de DEUS, posto à nossa disposição pela fé em CRISTO. (Rom. 1:17; 3:21,22.) É o estado de aceitação
no qual o crente permanece (Rom.
5:2). Apesar de seu passado pecaminoso e de imperfeições no presente, o
crente goza de completa e segura posição para com DEUS. "Justificado"
é o veredito divino e ninguém o poderá contradizer. (Rom. 8:34.) Essa doutrina
assim se define: "Justificação é um ato da livre graça de DEUS pelo qual
ele perdoa todos os nossos pecados e nos aceita como justos aos seus olhos
somente por nos ser imputada a justiça de CRISTO, que se recebe pela fé."
Justificação é primeiramente uma mudança de posição da parte do
pecador, o qual antes era um condenado; agora, porém, goza de absolvição. Antes
estava sob a condenação, mas agora participa da divina aprovação.
Justificação inclui mais do que perdão dos pecados e remoção da
condenação, pois no ato da justificação DEUS coloca o ofensor na posição de
justo. O presidente da República pode perdoar o criminoso, mas não pode
reintegrá-lo na posição daquele que nunca desrespeitou as leis. Mas a DEUS é
possível efetuar ambas as coisas! Ele apaga o passado, os pecados e ofensas, e,
em seguida, trata o ofensor como se nunca tivesse cometido um pecado sequer! O
criminoso perdoado não é considerado ou descrito como bom ou justo; mas DEUS,
ao perdoar o pecador, o declara justificado, isto é, justo aos olhos divinos.
Juiz algum poderia justificar o criminoso, isto é, declará-lo homem justo e
bom. Se DEUS estivesse sujeito às mesmas limitações e justificasse somente
gente boa, então não haveria evangelho nenhum a ser anunciado aos pecadores.
Paulo nos assegura que DEUS justifica o ímpio. "O milagre do Evangelho é
que DEUS se aproxima dos ímpios, com uma misericórdia absolutamente justa e os
capacita pela fé, a despeito do que são, a entrarem em nova relação com ele,
relação pela qual é possível que se tomem bons. O segredo do Cristianismo do
Novo Testamento, e de todos os avivamentos e reformas da igreja, é justamente
este maravilhoso paradoxo: "DEUS justifica o ímpio!"
Assim vemos que justificação é primeiramente subtração — o
cancelamento dos pecados; segundo, adição — imputação de justiça.
2. Necessidade da Justificação: a condenação do homem.
"Como se justificará o homem para com DEUS?"
perguntou Jó 9:2.
"Que é necessário que eu faça para me salvar?" interrogou o
carcereiro de Filipos. Ambos expressaram a maior de todas as perguntas: Como
pode o homem acertar sua vida perante DEUS e ter certeza da aprovação divina?
A resposta a essa interrogação encontra-se no Novo Testamento,
especialmente na epístola aos Romanos, na qual se apresenta, em forma
sistemática e detalhada, o plano da salvação. O tema do livro encontra-se no
capítulo 1:16,17, o qual se pode parafrasear da seguinte maneira: O evangelho é
o poder de DEUS para a salvação dos homens, pois o evangelho revela aos homens
como se pode mudar de posição e de condição, de maneira que eles sejam justos
perante DEUS.
Uma das frases proeminentes da mesma epístola é: "A justiça de
DEUS." O inspirado apóstolo descreve a qualidade de justiça que DEUS
aceita, de forma que o homem que a possui tenha aceitação como justo perante
ele. Essa justiça resulta da fé em CRISTO. Paulo demonstra que todos os homens
necessitam dessa justiça de DEUS, porque toda a raça pecou. Os gentios estão
sob condenação. Os passos de sua degradação foram claros: outrora conheceram a
DEUS (1:19,20); falhando em o servirem e adorarem, seu coração insensato se
obscureceu Rm 1:21,22; a cegueira espiritual os
conduziu à idolatria (Rm 1: 23)
e a idolatria os conduziu à corrupção moral (vers. 24-31). São indesculpáveis
porque tinham a revelação de DEUS na natureza, e a consciência que aprova ou
desaprova seus atos. (Rom. 1:19,20; 2:14,15.) O judeu também está sob
condenação. É verdade que ele pertence à nação escolhida, e conhece a lei de
Moisés de há muitos séculos, mas transgrediu essa lei em pensamentos, atos e
palavras (cap. 2). Paulo, assim, estrondosamente, encerra toda a raça humana
sob a condenação: "Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que
estão debaixo da lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo
seja condenável diante de DEUS. Por isso nenhuma carne será justificada diante
dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado" (Rom. 3:19,20).
Qual será essa "justiça" de que tanto necessita o homem?
A própria palavra significa "retidão", ou estado de reto, ou justo. A
palavra às vezes descreve o caráter de DEUS, como sendo isento de toda
imperfeição ou injustiça. Quando aplicada ao homem, significa o estado de
retidão diante de DEUS. Retidão significa "reto", aquilo que se
conforma a um padrão ou norma. Por conseguinte, é o homem que se conforma à lei
divina. Mas que acontecerá se esse homem descobrir que, em vez de ser
"reto", ele é perverso (literalmente "torto") sem poder se
endireitar? É então que ele precisa da justificação — que é obra exclusiva de
DEUS.
Paulo declarou que pelas obras da lei ninguém será justificado.
Essa declaração não é uma crítica contra a lei, a qual é santa e perfeita.
Significa simplesmente que a lei não foi dada com esse propósito de fazer justo
o povo, e, sim, de suprir a necessidade duma norma de justiça. A lei pode ser
comparada a uma fita métrica que pode medir o comprimento do pano, sem,
contudo, aumentar o comprimento. Podemos compará-la à balança que determina o
nosso peso, sem, contudo, aumentar esse peso. "Pela lei vem o conhecimento
do pecado."
"Mas agora se manifestou sem a lei a justiça de DEUS" (Rom. 3:21). Notem a palavra
"agora". Alguém disse que Paulo dividiu todo o tempo em
"agora" e "depois". Em outras palavras, a vinda de CRISTO
operou uma grande mudança nas transações de DEUS com os homens. Introduziu uma
nova dispensação. Durante séculos os homens pecavam e aprendiam a
impossibilidade de aniquilarem ou vencerem seus pecados. Mas agora DEUS, clara
e abertamente, revelou-lhes um novo caminho.
Muitos israelitas julgavam que devia haver um meio de serem
justificados sem ser pela guarda da lei; por duas razões: 1) perceberam um
grande abismo entre as exigências de DEUS para com Israel e seu verdadeiro
estado espiritual. Israel era injusto, e a salvação não podia proceder dos
próprios méritos ou esforços. A salvação teria que proceder de DEUS, por sua
intervenção. 2) Muitos israelitas reconheceram por experiência própria sua
incapacidade para guardar perfeitamente a lei. Chegaram à conclusão de que devia
haver uma justiça alcançável independentemente de suas próprias obras e
esforços. Em outras palavras,-anelavam por redenção e graça. E DEUS lhes
assegurou que tal justiça lhes seria revelada. Paulo (Rom. 3:21) fala da justiça de
DEUS sem a lei, "tendo o testemunho da lei (Gên. 3:15; 12:3; Gál. 3:6-8) e dos
profetas (Jer. 23:6; 31:31-34)".
Essa justiça incluía tanto o perdão dos pecados como a justiça íntima do
coração.
Na verdade, Paulo afirma que a justificação pela fé foi o plano
original de DEUS para a salvação dos homens; a lei foi acrescentada para
disciplinar os israelitas e fazê-los sentir a necessidade de redenção. (Gál. 3:19-26.) Mas a
lei em si não possuía poder para salvar, como o termômetro não tem poder para
baixar a febre que ele registra. Seria o próprio Senhor, o Salvador do seu
povo; e sua graça seria a sua única esperança.
Infelizmente, os judeus exaltaram a lei, imaginando que ela fosse
um agente justificador, e elaboraram um plano de salvação baseado no mérito
pela guarda dos seus preceitos e das tradições que lhes foram acrescentadas.
"Porquanto, não conhecendo a justiça de DEUS, e procurando estabelecer a
sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de DEUS" (Rom. 10:3). Não conheceram o
propósito da lei. Confiaram nela como meio de salvação espiritual, ignorando a
pecabilidade dos seus próprios corações, e imaginavam que seriam salvos pela
guarda da letra da lei. Por essa razão, quando CRISTO veio, oferecendo-lhes a salvação
dos seus pecados, pensavam que não precisavam dum Messias como ele. (vide João 8:32-34.) O
pensamento dos judeus era o de estabelecer rígidos requisitos pelos quais
conseguiriam a vida eterna. "Que faremos para executarmos as obras de
DEUS?" perguntaram. E não se prontificaram a obedecer à indicação de
JESUS: "A obra de DEUS é esta: Que creiais naquele que ele enviou" (João 6:28,29). Tão ocupados estavam em
estabelecer seu próprio sistema de justiça, que perderam, por completo, a
oportunidade de serem participantes da justificação divinamente provida para os
homens pecadores. Na viagem, um trem representa o meio de conseguir um determinado
alvo. Ninguém pensa em fazer do trem sua morada; antes, preocupa-se tão somente
em chegar ao destino. Ao chegar a esse destino, deixa-se o trem. A lei foi dada
a Israel com o propósito de conduzi-lo a um destino, e esse destino é a fé na
graça salvadora de DEUS. Mas, ao aparecer o Redentor, os judeus satisfeitos
consigo mesmos, fizeram o papel do viajante que, chegando ao destino, se recusa
a deixar o trem, embora o condutor lhe diga: "Estamos no fim da
viagem"! Os judeus se recusaram a deixar as poltronas do "trem do
Antigo Pacto", muito embora o Novo Testamento lhes assegurasse: "O
fim da lei é CRISTO", e que se cumpriu o Antigo Testamento. (Rom. 10:4.)
3. A fonte da justificação: a graça.
Graça significa, primeiramente, favor, ou a disposição bondosa da
parte de DEUS. Alguém a definiu como a "bondade genuína e favor não
recompensados", ou "favor não merecido". Dessa forma a graça
nunca incorre em dívida. O que DEUS concede, concede-o como favor; nunca
podemos recompensá-lo ou pagar-lhe. A salvação é sempre apresentada como dom,
um favor não merecido, impossível de ser recompensado; é um benefício legítimo
de DEUS. (Rom. 6:23) O
serviço cristão portanto, não é pagamento pela graça de DEUS; serviço cristão é
um meio que o crente aproveita para expressar sua devoção e amor a DEUS.
"Nós o amamos porque ele primeiramente nos amou."
A graça é transação de DEUS com o homem, absolutamente independente
da questão de merecer ou não merecer. "Graça não é tratar a pessoa como
merece, nem tratá-la melhor do que merece", escreveu L. S. Chafer. "E
tratá-la graciosamente sem a mínima referência aos seus méritos. Graça é amor
infinito expressando-se em bondade infinita."
Devemos evitar certo mal-entendido. Graça não significa que DEUS é
de coração tão magnânimo que abranda a penalidade ou desiste dum justo juízo.
Sendo DEUS o Soberano perfeito do universo, ele não pode tratar
indulgentemente o assunto do pecado pois isso depreciaria sua perfeita
santidade e justiça. A graça de DEUS aos pecadores revela-se no fato de que ele
mesmo pela expiação de CRISTO, pagou toda a pena do pecado. Por conseguinte,
ele pode justamente perdoar o pecado sem levar em conta os merecimentos ou não
merecimentos. Os pecadores são perdoados, não porque DEUS seja benigno para
desculpar os pecados deles, mas porque existe redenção mediante o sangue de
CRISTO. (Rom. 3:24; Efés. 1:6.) Os pregadores
modernistas erram nesse ponto; pensam que DEUS por sua benignidade perdoa os
pecados; entretanto, seu perdão baseia-se na mais rigorosa justiça. Ao perdoar
o pecado, "Ele é fiel e justo" (1 João 1:9). A graça de DEUS
revela-se no fato de haver ele provido uma expiação pela qual pode ser justo e
justificador e, ao mesmo tempo, manter sua santa e imutável lei. A graça
manifesta-se independente das obras ou atividades dos homens. Quando a pessoa
está sob a lei, não pode estar sob a graça; e quando está sob a graça, não pode
estar sob a lei. Está "sob a lei" quando tenta assegurar a sua
salvação ou santificação como recompensa, por fazer boas obras ou observar
certas cerimônias. Essa pessoa está "sob a graça" quando assegura
para si a salvação por confiar na obra que DEUS fez por ela, e não na obra que
ela faz para DEUS. As duas esferas são mutuamente exclusivas. (Gál. 5:4.) A lei diz:
"paga tudo"; mas a graça diz: "Tudo está pago." A lei
representa uma obra a fazer; a graça é uma obra consumada. A lei restringe as
ações; a graça transforma a natureza. A lei condena; a graça justifica. Sob a
lei a pessoa é servo assalariado; sob a graça é filho em gozo de herança
ilimitada.
Enraizada no coração humano está a ideia de que o homem deve algo
para tornar-se merecedor da salvação. Na igreja primitiva certos instrutores
judaico-cristãos insistiam em que os convertidos fossem salvos pela fé e a
observância da Lei de Moisés. Entre os pagãos, e em alguns setores da igreja
cristã, esse erro tem tomado a forma de auto castigo, observância de ritos,
peregrinações, e esmolas. A ideia substancial de todos esses esforços é a
seguinte: DEUS não é bondoso; o homem não é justo; por conseguinte, o homem
precisa fazer-se justo a fim de tornar DEUS benigno. Esse foi o erro de Lutero,
quando, mediante auto mortificações, envidava esforços para efetuar a sua
própria salvação. "Oh quando será que você se tornará piedoso a ponto de
ter um DEUS benigno?" exclamou certa vez, referindo-se a si próprio.
Finalmente Lutero descobriu a grande verdade básica do evangelho: DEUS é
bondoso; portanto deseja fazer justo o homem. A graça do amoroso Pai, revelada
na morte expiatória de CRISTO é um dos elementos que distinguem o Cristianismo
das demais religiões.
Salvação é a justiça de DEUS imputada ao pecador; não é a justiça
imperfeita do homem. Salvação é divina reconciliação; não é regulamento humano.
Salvação é o cancelamento de todos os pecados; não é eliminar alguns pecados.
Salvação é ser libertado da lei e estar morto para a lei; não é ter prazer na
lei ou obedecer á lei. Salvação é regeneração divina; não é reforma humana.
Salvação é ser aceitável a DEUS; não é tornar-se excepcionalmente bom. Salvação
é perfeição em CRISTO; não é competência de caráter. A salvação, sempre e
somente, procede de DEUS; nunca procede do homem. — Lewis Sperry Chofer.
Usa-se, às vezes, a palavra "graça", no sentido íntimo, para indicar
a operação da influência divina (Efés.
4:7) e seus efeitos (Atos
4:33; 11:23; Tia. 4:6; 2 Cor. 12:9). As operações
desse aspecto da graça têm sido classificadas da seguinte maneira: Graça
proveniente (literalmente, "que vem antes") é a influência divina que
precede a conversão da pessoa, influências que produzem o desejo de voltar para
DEUS. É o efeito do favor divino em atrair os homens (João 6:44) e convencer os
desobedientes. (Atos 7:51.)
Essa graça, às vezes, é denominada eficiente, tornando-se eficaz em produzir a
conversão, quando não encontra resistência. (João 5:40; Atos 7:51; 13:46.) A graça efetiva
capacita os homens a viverem justamente, a resistirem à tentação, e a cumprirem
o seu dever. Por isso pedimos graça ao Senhor para cumprir uma determinada
tarefa. A graça habitual é o efeito da morada do ESPÍRITO SANTO que resulta em
uma vida plena do fruto do ESPÍRITO (Gál. 5:22,23).
4. Fundamento da justificação: a justiça de CRISTO.
Como pode DEUS tratar o pecador como pessoa justa? Resposta: DEUS
lhe provê a justiça. Mas será que isso é apenas conceder o título de
"bom" e "justo" a quem não o merece? Resposta: O Senhor
JESUS CRISTO ganhou o título a favor do pecador, o qual é declarado justo
"mediante a redenção que há em CRISTO JESUS". Redenção significa
completa libertação por preço pago.
CRISTO ganhou essa justiça por nós, por sua morte expiatória, como
está escrito: "Ao qual DEUS propôs para propiciação pela fé no seu
sangue." Propiciação é aquilo que assegura o favor de DEUS para com os que
não o merecem. CRISTO morreu por nós para nos salvar da justa ira de DEUS e nos
assegurar o seu favor. A morte e a ressurreição de CRISTO representam a
provisão externa para a salvação do homem, referindo-se o termo justificação à
maneira pela qual os benefícios salvadores da morte de CRISTO são postos à
disposição do pecador. Fé é o meio pelo qual o pecador lança mão desses
benefícios.
Consideremos a necessidade de justiça. Como o corpo necessita de
roupa, assim a alma necessita de caráter. Assim como é necessário apresentar-se
em público decentemente vestido, assim é necessário que o homem se vista da
roupa dum caráter perfeitamente justo para apresentar-se diante de DEUS.
(Vide Apo. 19:8; 3:4; 7:13,14.) As vestes do pecado estão
sujas e rasgadas (Zac.
3:1-4); se o pecador se vestisse de sua própria bondade e seus próprios
méritos, alegando serem boas as suas obras, elas seriam consideradas como
"trapos de imundícia". (Isa. 64:6.) A única esperança
do homem é adquirir a justiça que DEUS aceita — a "justiça de DEUS".
Visto que o homem por natureza está destituído dessa justiça, terá que ser
provida para ele essa justiça; terá que ser uma justiça que lhe seja imputada, não
merecida.
Essa justiça foi comprada pela morte expiatória de CRISTO. (Isa. 53:5,11; 2 Cor. 5:21; Rom. 4:6; 5:18,19.) Sua morte foi um ato perfeito
de justiça, porque satisfez a lei de DEUS. Foi também um ato perfeito de
obediência. Tudo isso foi feito por nós e posto a nosso crédito. "DEUS nos
aceita como justos aos seus olhos somente por nos ter sido imputada a justiça
de CRISTO", afirma determinada declaração doutrinária.
O ato pelo qual DEUS credita essa justiça à nossa conta chama-se
imputação. Imputação é levar à conta de alguém as consequências do ato de
outrem. As consequências do pecado do homem foram levadas à conta de CRISTO, e
as consequências da obediência de CRISTO foram levadas à conta do crente. Ele
vestiu-se das vestes do pecado para que nós pudéssemos nos vestir do seu
"manto de justiça". "CRISTO... para nós foi feito por DEUS...
justiça" (1Cor. 1:30).
Ele torna-se "O Senhor Justiça Nossa" (Jer. 23:6).
CRISTO expiou nossa culpa, satisfez a lei, tanto por obediência
como por sofrimento, e tornou-se nosso substituto, de maneira que, estando
unidos com ele pela fé, sua morte toma-se nossa morte, e sua obediência toma-se
nossa obediência. DEUS então nos aceita, não por qualquer bondade própria que
nós tenhamos, nem pelas coisas imperfeitas que são as nossas "obras"
(Rom. 3:28; Gál. 2:16), nem por nossos
méritos, mas porque nos foi creditada a perfeita e toda-suficiente justiça de
CRISTO. Por causa de CRISTO, DEUS trata o homem culpado, quando este se
arrepende e crê, como se fosse justo. Os méritos de CRISTO são creditados a
ele.
Também surgem as seguintes perguntas na mente da pessoa que
investiga: sim, a justificação que salva é algo externo e concernente à posição
legal do pecador; mas não haverá mudança alguma na condição moral? Afeta a sua
situação, mas não afetará sua conduta? A justiça é imputada somente e não
concedida de modo prático? Na justificação CRISTO somente será por nós, ou
agirá também em nós? Em outras palavras, parece que a imputação da justiça
desonraria a lei se não incluísse a certeza de justiça futura.
A resposta é que a fé que justifica é o ato inicial da vida cristã
e esse ato inicial, quando a fé for viva, é seguido por uma transformação
interna conhecida como regeneração. A fé une o crente com o CRISTO vivo; essa
união com o Autor da vida resulta em transformação do coração. "Se alguém
está em CRISTO, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo" (2 Cor. 5:17).
A justiça é imputada no ato da justificação e é comunicada na regeneração. O
CRISTO que é por nós torna-se o CRISTO em nós.
A fé pela qual a pessoa é realmente justificada, necessariamente
tem que ser uma fé viva. Uma fé viva produzirá uma vida reta; será uma fé que
"opera pelo amor" (Gál.
5:6). Outrossim, vestindo a justiça de CRISTO, o crente é exortado a viver
uma vida em conformidade com o caráter de CRISTO. "Porque o linho fino são
as justiças dos santos" (literalmente os atos de justiça) (Apoc. 19:8). A verdadeira
salvação requer uma vida de santidade prática. Que julgamento faríamos da
pessoa que sempre se vestisse de roupa imaculada mas nunca lavasse o corpo?
Incoerente, diríamos! Mas não menos incoerente é a pessoa que alega estar
vestida da justiça de CRISTO, e, ao mesmo tempo, vive de modo indigno do
evangelho. Aqueles que se vestem da justiça de CRISTO terão cuidado de
purificar-se do mesmo modo como ele é puro. (1 João 3:3.)
5. Os meios da justificação: a fé.
Visto que a lei não pode justificá-lo, a única esperança do homem é
receber "justiça sem lei" (isto, entretanto, não significa injustiça
ilegal, nem tampouco religião que permita o pecado; significa sim, uma mudança
de posição e condição). Essa é a "justiça de DEUS", isto é, a justiça
que DEUS concede, sendo também um dom, pois o homem é incapaz de operar a
justiça. (Efés. 2:8-10.)
Mas um dom tem que ser aceito. Como, então, será aceito o dom da
justiça? Ou, usando a linguagem teológica: qual é o instrumento que se apropria
da justiça de CRISTO? A resposta é: "pela fé em JESUS CRISTO." A fé é
a mão, por assim dizer, que recebe o que DEUS oferece. Que essa fé é a causa
instrumental da justificação prova-se pelas seguintes referências: Rom. 3:22; 4: 11; 9:30; Heb. 11:7; Fil. 3:9.
Os méritos de CRISTO são comunicados e seu interesse salvador é
assegurado por certos meios. Esses meios necessariamente são estabelecidos por
DEUS e somente ele os distribui. Esses meios são a fé — o princípio único que a
graça de DEUS usa para restaurar-nos à sua imagem e ao seu favor. Nascida, como
é, no pecado, herdeira da miséria, a alma carece duma transformação radical,
tanto por dentro como por fora; tanto diante de DEUS como diante de si própria.
A transformação diante de DEUS denomina-se justificação; a transformação
interna espiritual que se segue, chama-se regeneração pelo ESPÍRITO SANTO. Esta
fé é despertada no homem pela influência do ESPÍRITO SANTO, geralmente em
conexão com a Palavra. A fé lança mão da promessa divina e
apropria-se da salvação. Ela conduz a alma ao descanso em CRISTO como Salvador
e Sacrifício pelos pecados; concede paz à consciência e dá esperança
consoladora do céu. Sendo essa fé viva e de natureza espiritual, e cheia de
gratidão para com CRISTO, ela é rica em boas obras de toda espécie.
"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem
de vós; é dom de DEUS. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efés. 2:8,9). O homem nenhuma coisa
possuía com que comprar sua justificação. DEUS não podia condescender em
aceitar o que o homem oferecia; o homem também não tinha capacidade para
cumprir a exigência divina. Então DEUS graciosamente salvou o homem, sem pagar
este coisa alguma —"gratuitamente pela sua graça" (Rom. 3:24). Essa graça
gratuita é recebida pela fé. Não existe mérito nessa fé, como não cabem elogios
ao mendigo que estende a mão para receber uma esmola. Esse método fere a
dignidade do homem, mas perante DEUS, o homem decaído não tem mais dignidade; o
homem não tem possibilidades de acumular bondade suficiente para adquirir a sua
salvação. "Nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da
lei" (Rom. 3:20).
A doutrina da justificação pela graça de DEUS, mediante a fé do
homem, remove dois perigos: primeiro, o orgulho de autojustiça e de
auto-esforço; segundo, o medo de que a pessoa seja fraca demais para conseguir
a salvação.
Se a fé em si não é meritória, representando apenas a mão que se
estende para receber a livre graça de DEUS, que é então que lhe dá poder, e que
garantia oferece ela à pessoa que recebeu esse dom gratuito, de que viverá uma
vida de justiça? Importante e poderosa é a fé porque ela une a alma a CRISTO, e
é justamente nessa união que se descobre o motivo e o poder para a vida de
justiça. "Porque todos quantos fostes batizados em CRISTO já vos
revestistes de CRISTO"(Gál.
3:27). "E os que são de CRISTO crucificaram a carne com as suas
paixões e concupiscências" (Gál.
5:24).
A fé não só recebe passivamente mas também usa de modo ativo aquilo
que DEUS concede. É assunto próprio do coração (Rom. 10:9,10; vide Mat. 15:19; Prov. 4:23), e quem crê com o
coração, crê também com suas emoções, afeições e seus desejos, ao aceitar a
oferta divina da salvação. Pela fé, CRISTO mora no coração (Efés. 3:17). A fé opera pelo
amor (a "obra da fé"... 1Tess. 1:3), isto é, representa
um princípio enérgico, bem como uma atitude receptiva. A fé, por conseguinte, é
poderoso motivo para a obediência e para todas as boas obras. A fé envolve a
vontade e está ligada a todas as boas escolhas e ações, pois "tudo que não
é de fé é pecado" (Rom.
14:23).Ela inclui a escolha e a busca da verdade (2 Tess. 2:12) e implica
sujeição à justiça de DEUS (Rom.
10:3).
O que se segue representa o ensino bíblico concernente à relação
entre fé e obras. A fé se opõe às obras quando por obras entendemos boas obras
que a pessoa faz com o intuito de merecer a salvação. (Gál. 3:11.) Entretanto, uma fé
viva produzirá obras (Tia. 2:26),
tal qual uma árvore viva produzirá frutos. A fé é justificada e aprovada pelas
obras (Tia. 2:18), assim
como o estado de saúde das raízes duma boa árvore é indicado pelos frutos. A fé
se aperfeiçoa pelas obras (Tia.
2:22), assim como a flor se completa ao desabrochar. Em breves palavras, as
obras são o resultado da fé, a prova da fé, e a consumação da fé.
Imagina-se que haja contradição entre os ensinos de Paulo e de
Tiago. O primeiro, aparentemente, teria ensinado que a pessoa é justificada
pela fé, o último que ela é justificada pelas obras. (Vide Rom. 3:20 e Tia. 2:14-16.)
Contudo, uma compreensão do sentido em que eles empregaram os termos,
rapidamente fará desvanecer a suposta dificuldade. Paulo está recomendando uma
fé viva que confia somente no Senhor; Tiago está denunciado uma fé morta e
formal que representa, apenas, um consentimento mental. Paulo está rejeitando
as obras mortas da lei, ou obras sem fé; Tiago está louvando as obras vivas que
demonstram a vitalidade da fé. A justificação mencionada por Paulo refere-se ao
início da vida cristã; Tiago usa a palavra com o significado de vida de
obediência e santidade como evidência exterior da salvação. Paulo está
combatendo o legalismo, ou a confiança nas obras como meio de salvação; Tiago
está combatendo antinomianismo, ou seja, o ensino de que não importa qual seja
a conduta da pessoa, uma vez que creia. Paulo e Tiago não são soldados lutando
entre si; são soldados da mesma linha de combate, cada qual enfrentando
inimigos que os atacam de direções opostas.
VIII. A Regeneração
1. Natureza da regeneração.
A regeneração é o ato divino que concede ao penitente que crê uma
vida nova e mais elevada mediante união pessoal com CRISTO. O Novo Testamento
assim descreve a regeneração:
(a) Nascimento. DEUS o pai é quem "gerou", e o crente é
"nascido" de DEUS (1
João 5:1), "nascido do ESPÍRITO" (João 3:8), "nascido do
alto" (tradução literal de João 3:3,7). Esses termos referem-se ao
ato da graça criadora que faz do crente um filho de DEUS.
(b) Purificação. DEUS nos salvou pela "lavagem"
(literalmente, lavatório ou banho) da regeneração". (Tito 3:5.) A alma foi lavada
completamente das imundícias da vida de outrora, recebendo novidade de vida,
experiência simbolicamente expressa no ato de batismo. (Atos
(c) Vivificação. Somos salvos não somente pela "lavagem da
regeneração", nas também pela "renovação do ESPÍRITO SANTO" (Tito 3:5. Vide também Col. 3:10; Rom. 12:2; Efés. 4:23; Sal. 51:10). A essência da
regeneração é uma nova vida concedida por DEUS Pai, mediante JESUS CRISTO e
pela operação do ESPÍRITO SANTO.
(d) Criação. Aquele que criou o homem no princípio e soprou em suas
narinas o fôlego de vida, o recria pela operação do seu ESPÍRITO SANTO. (2 Cor. 5:17;Efés. 2:10; Gál. 6:15; Efés. 4:24; vide Gên. 2:7.) O resultado prático é
uma transformação radical da pessoa em sua natureza, seu caráter, desejos e
propósitos.
(e) Ressurreição. (Rom.
6:4,5; Col. 2:13; 3:1; Efés. 2:5, 6.) Como DEUS vivificou o barro
inanimado e o fez vivo para com o mundo físico, assim ele vivifica a alma em
seus pecados e a faz viva para as realidades do mundo espiritual. Esse ato de
ressurreição espiritual é simbolizado pelo batismo nas águas. A regeneração é
"a grande mudança que DEUS opera na alma quando a vivifica; quando ele a
levanta da morte do pecado para a vida de justiça" (João Wesley).
Notar-se-á que os termos acima citados são apenas variantes de um
grande pensamento básico da regeneração, isto é, uma divina comunicação duma
nova vida à alma do homem. Três fatos científicos relativos à vida natural
também se aplicam à vida espiritual; isto é, ela surge repentinamente; aparece
misteriosamente, e desenvolve-se gradativamente.
Regeneração é o aspecto singular da religião do Novo Testamento.
Nas religiões pagãs, reconhece-se universalmente a permanência do caráter.
Embora essas religiões recomendem penitências e ritos, pelos quais a pessoa
espera expiar os seus pecados, não há promessa de vida e de graça para
transformar a sua natureza. A religião de JESUS CRISTO é "a única religião
no mundo que declara tomar a natureza decaída do homem e regenerá-la,
colocando-a em contacto com a vida de DEUS". Assim declara fazer, porque o
Fundador do Cristianismo é Pessoa Viva e Divina, que vive para salvar
perfeitamente os que por ele se chegam a DEUS. (Heb. 7:25.) Não existe nenhuma
analogia entre a religião cristã, e, digamos, o Budismo ou a religião
maometana. De maneira nenhuma se pode dizer: "quem tem Buda tem a
vida". (Vide 1João
5:12.) Buda pode ter algo em relação à moralidade. Pode estimular, causar
impressão, ensinar, e guiar, mas nenhum elemento novo foi acrescido às almas
que professam o Budismo. Tais religiões podem ser produtos do homem natural e
moral. Mas o Cristianismo declara-se ser muito mais. Além das coisas de ordem
natural e moral, o homem desfruta algo mais na Pessoa de Alguém mais, JESUS
CRISTO.
2. Necessidade da regeneração.
A entrevista de nosso Senhor com Nicodemos (João 3) proporciona um
excelente fundo histórico para o estudo deste tópico. As primeiras palavras de
Nicodemos revelam uma série de emoções provenientes do seu coração. A
declaração abrupta de JESUS no verso 3, que parece ser uma repentina mudança do
assunto, explica-se pelo fato de JESUS estar respondendo ao coração de
Nicodemos e não às palavras de sua interrogação. As primeiras palavras de
Nicodemos revelam. 1) Fome espiritual. Se esse chefe judaico tivesse expressado
o desejo de sua alma, talvez teria dito: "Estou cansado do ritualismo
morto da sinagoga vou lá mas volto para casa com a mesma fome com que saí.
Infelizmente, a glória divina afastou-se de Israel; não há visão e o povo
perece. Mestre, a minh'alma suspira pela realidade! Pouco conheço de tua
pessoa, mas tuas palavras tocaram-me o coração. Teus milagres convenceram-me de
que és Mestre vindo de DEUS. Gostaria de te acompanhar. 2) Faltou a Nicodemos
profunda convicção. Sentiu a sua necessidade, mas necessidade dum instrutor e
não dum Salvador. Tal qual a mulher samaritana, ele queria a água da vida (João 4:15), mas, como aquela,
Nicodemos teve de compreender que era pecador, que precisava de purificação e
transformação. (João
4:16-18.) 3) Nota-se nas suas palavras um rasto de autocomplacência, coisa
muito natural num homem de sua idade e posição. Ele diria a JESUS: "Creio
que foste enviado a restaurar o reino de Israel, e vim dar-te alguns conselhos
quanto aos planos para conseguir esse objetivo." Provavelmente ele supôs
que sendo israelita e filho de Abraão, essas qualificações seriam suficientes
para o tornarem membro do reino de DEUS.
"JESUS respondeu, e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo
que aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de DEUS."
Parafraseando essa passagem, JESUS diria: "Nicodemos, tu não podes unir-te
à minha companhia como se te unisses a uma organização. O pertencer à minha
companhia não depende da qualidade de tua vida; minha causa não é outra senão
aquela do reino de DEUS, e tu não podes entrar nesse reino sem experimentar uma
transformação espiritual. O reino de DEUS é muito diferente do que estás pensando,
e o modo de estabelecê-lo e de juntar seus súditos é muito diferente do meio de
que estás cogitando."
JESUS apontou a necessidade mais profunda e universal de todos os
homens — uma mudança radical e completa da natureza e caráter do homem em sua
totalidade. Toda a natureza do homem ficou deformada pelo pecado, a herança da
queda; essa deformação moral reflete-se em sua conduta e em todas as suas
relações. Antes que o homem possa ter uma vida que agrade a DEUS, seja no
presente ou na eternidade, sua natureza precisa passar por uma transformação
tão radical, que seja realmente um segundo nascimento. O homem não pode
transformar-se a si mesmo; essa transformação terá que vir de cima.
JESUS não tentou explicar o como do novo nascimento, mas explicou
opor quê do assunto. "O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido
de ESPÍRITO é espírito." Carne e espírito pertencem a reinos diferentes, e
um não pode produzir o outro. A natureza humana pode gerar a natureza humana,
mas somente o ESPÍRITO SANTO pode gerar a natureza espiritual. A natureza
humana somente pode produzir a natureza humana; e nenhuma criatura poderá
elevar-se acima de sua própria natureza. A vida espiritual não passa do pai ao
filho pela geração natural; ela procede de DEUS para o homem por meio da
geração espiritual.
A natureza humana não pode elevar-se acima de si própria. Escreveu
Marcus Dods:
Todas as criaturas possuem certa natureza segundo a sua espécie,
determinada pela sua ascendência. Essa natureza que o animal recebe dos seus
pais determina, desde o princípio, a sua capacidade e a esfera desse animal. A
toupeira não pode subir aos ares como o faz a águia; nem tampouco pode o
filhote da águia cavar um buraco como afaz toupeira. Nenhum treino jamais fará
a tartaruga correr como o antílope, nem fará o antílope tão forte como o
leão... Além de sua natureza, nenhum animal poderá agir.
O mesmo princípio podemos aplicar ao homem. O destino mais elevado
do homem é viver com DEUS para sempre; mas a natureza humana, em seu estado
presente, não possui a capacidade para viver no reino celestial. Portanto, será
necessário que a vida celestial desça de cima para transformar a natureza
humana, preparando-a para ser membro desse reino.
3. Os meios de regeneração.
(a) Agência divina. O ESPÍRITO SANTO é o agente especial na obra de
regeneração. Ele opera a transformação na pessoa. (João 3:6; Tito 3:5.) Contudo, todas as
Pessoas da Trindade operam nessa obra. Realmente as três Pessoas operam em
todas as divinas operações, embora cada Pessoa exerça certos ofícios que lhe
são peculiares. Dessa forma o Pai é preeminentemente o Criador; contudo, tanto
o Filho como o ESPÍRITO SANTO são mencionados como agentes na criação. O Pai
gera (Tia. 1:18) e no
Evangelho de João, o Filho é apresentado como o Doador da vida. (Vide caps. 5 e
6.)
Notem especialmente a relação de CRISTO com a regeneração do homem.
É ele o Doador da vida. De que maneira ele vivifica os homens? Vivifica-os por
morrer por eles, de forma que, ao comerem sua carne e beberem seu sangue (que
significa crer em sua morte expiatória), eles recebem a vida eterna. Qual é o
processo de conceder a vida aos homens? Uma parte da recompensa de CRISTO era a
prerrogativa de conceder o ESPÍRITO SANTO (Vide João 3:3,13; Gál.3:13,14), e ele ascendeu para que
pudesse tomar-se a Fonte da vida e energia espiritual (João 6:62; Atos 2:33). O Pai tem vida em
si (João 5:26); portanto,
ele concede ao Filho ter vida em si; o Pai é a Fonte do ESPÍRITO SANTO, mas ele
concede ao Filho o poder de conceder o ESPÍRITO; desta forma o Filho é um
"ESPÍRITO vivificante" (1 Cor. 15:45), tendo poder,
não somente para ressuscitar os mortos, fisicamente, (João 5:25,26) mas também vivificar as
almas mortas dos homens. (Vide Gên 2:7; João 20:22; 1 Cor. 15:45.)
(b) A preparação humana. Estritamente falando, o homem não pode
cooperar no ato de regeneração, que é um ato soberano de DEUS; mas o homem pode
tomar parte na preparação para o novo nascimento. Qual é essa preparação?
Resposta: Arrependimento e fé.
4. Efeitos da regeneração.
Podemos agrupá-los sob três tópicos: posicionais (adoção);
espirituais (união com DEUS); práticos (a vida de justiça).
(a) Posicionais. Quando a pessoa passa pela transformação
espiritual conhecida como regeneração, torna-se filho de DEUS e beneficiário de
todos os privilégios dessa filiação. Assim escreve o Dr. William Evans:
"Pela adoção, o crente, que já é filho de DEUS, recebe o lugar de filho
adulto; dessa forma o menino torna-se filho, o filho menor torna-se
adulto." (Gál. 4:1-7.)
A palavra "adoção" significa literalmente: "dar a posição de
filhos" e refere-se, no uso comum, ao homem que toma para seu lar crianças
que não são as suas pelo nascimento.
Quanto à doutrina, devemos distinguir entre adoção e regeneração: o
primeiro é um termo legal que indica conceder o privilégio de filiação a um que
não é membro da família; o segundo significa a transformação espiritual que
toma a pessoa filho de DEUS e participante da natureza divina. Contudo, na
própria experiência, é difícil separar os dois, visto que a regeneração e a
adoção representam a dupla experiência da filiação.
No Novo Testamento a filiação comum é, às vezes, definida pelo
termo "filhos" ("uioi"— no grego), termo que originou a
palavra "adoção"; outras vezes é definida pela palavra
"tekna", no grego, também traduzida por "filhos", que
significa literalmente "os gerados", significando a regeneração. As
duas ideias são distintas e ao mesmo tempo combinadas nas seguintes passagens:
"Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder (implicando adoção) de
serem feitos filhos de DEUS... os quais... nasceram... de DEUS" (João 1:12,13). "Vede quão grande
caridade nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados (implicando adoção)
filhos de DEUS (a palavra que significa "gerados" de DEUS)" (1 João 3:1). Em Rom. 8: 15,16 as duas ideias se
entrelaçam: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para outra
vez estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual
clamamos Abba, Pai. O mesmo ESPÍRITO testifica com o nosso espírito que somos
filhos de DEUS."
(b) Espirituais. Devido à sua natureza, a regeneração envolve união
espiritual com DEUS e com CRISTO mediante o ESPÍRITO SANTO; e essa união
espiritual envolve habitação divina (2 Cor. 6:16-18; Gál. 2:20; 4:5,6; 1 João 3:24; 4:13.) Essa união resulta em
um novo tipo de vida e de caráter, descrito de várias maneiras; novidade de
vida (Rom. 6:4); um novo
coração (Ezeq. 36:26); um
novo espírito (Ezeq. 11:19);
um novo homem (Efés. 4:24);
participantes da natureza divina (2
Ped. 1:4). O dever do crente é manter seu contacto com DEUS mediante os
vários meios de graça e dessa forma preservar e nutrir a sua vida espiritual.
(c) Práticos. A pessoa nascida de DEUS demonstrará esse fato pelo
ódio que tem ao pecado (1 João
3:9; 5:18), por
obras de justiça (1 João 2:29),
pelo amor fraternal (1 João 4:7)
e pela vitória que alcança sobre o mundo (1 João 5:4).
Devemos evitar estes dois extremos: primeiro, estabelecer um padrão
tão baixo que a regeneração se torne questão de reforma natural; segundo,
estabelecer um padrão elevado demais que não leve em conta as fraquezas dos
crentes. Crentes novos que estão aprendendo a andar com JESUS estão sujeitos a
tropeçar, como o bebê que aprende a andar. Mesmo os crentes mais velhos podem
ser surpreendidos em alguma falta. João declara que é absolutamente
inconsistente que a pessoa nascida de DEUS, portadora da natureza divina,
continue a viver habitualmente no pecado (1 João 3.9), mas ao mesmo tempo
ele tem cuidado em escrever: "Se alguém pecar, temos um Advogado para com
o Pai, JESUS CRISTO, o justo" (1 João 2:1).
IX. A Santificação
1. Natureza da santificação
Em estudo anterior afirmamos que a chave do significado da doutrina
da expiação, encontrada no Novo Testamento, acha-se no rito sacrificial do
Antigo Testamento. Da mesma forma chegaremos ao sentido da doutrina do Novo
Testamento sobre a santificação, pelo estudo do uso no Antigo Testamento da
palavra "santo".
Primeiramente, observa-se que "santificação",
"santidade", e "consagração" são sinônimos, como o são:
"santificados" e "santos". Santificar é a mesma coisa que
fazer santo ou consagrar. A palavra "santo" tem os seguintes
sentidos:
(a) Separação. "SANTO" é uma palavra descritiva da
natureza divina. Seu significado primordial é "separação "; portanto,
a santidade representa aquilo que está em DEUS que o toma separado de tudo
quanto seja terreno e humano — isto é, sua perfeição moral absoluta e sua
divina majestade.
Quando o SANTO deseja usar uma pessoa ou um objeto para seu
serviço, ele separa essa pessoa ou aquele objeto do seu uso comum, e, em
virtude dessa separação, a pessoa ou o objeto toma-se "santo".
(b) Dedicação. Santificação inclui tanto a separação de, como
dedicação a alguma coisa; essa é "a condição dos crentes ao serem
separados do pecado e do mundo e feitos participantes da natureza divina, e
consagrados à comunhão e ao serviço de DEUS por meio do Mediador".
A palavra "santo" é mais usada em conexão com o culto.
Quando referente aos homens ou objetos, ela expressa o pensamento de que esses
são usados no serviço divino e dedicados a DEUS, no sentido especial de serem
sua propriedade. Israel é uma nação santa, por ser dedicada ao serviço de
Jeová; os levitas são santos por serem especialmente dedicados aos serviços do
tabernáculo; o sábado e os dias de festa são santos porque representam a
dedicação ou consagração do tempo a DEUS.
(c) Purificação. Embora o sentimento primordial de
"santo" seja separação para serviço, inclui também a ideia de
purificação. O caráter de Jeová age sobre tudo que lhe é consagrado. Portanto,
os homens consagrados a ele participam de sua natureza. As coisas que lhe são
dedicadas devem ser limpas. Limpeza é uma condição de santidade, mas não a
própria santidade, que é, primeiramente, separação e dedicação.
Quando Jeová escolhe e separa uma pessoa ou um objeto para o seu
serviço, ele opera ou faz com que aquele objeto ou essa pessoa se torne santo.
Objetos inanimados foram consagrados pela unção do azeite (Êxo. 40:9-11). A nação
israelita foi santificada pelo sangue do sacrifício da aliança. (Êxo. 24:8. Vide Heb. 10:29). Os sacerdotes
foram consagrados pelo representante de Jeová, Moisés, que os lavou com água,
ungiu-os com azeite e aspergiu-os com o sangue de consagração. (Vide Lev., cap.
8.)
Como os sacrifícios do Velho Testamento eram tipos do sacrifício
único de CRISTO, assim as várias abluções e unções do sistema mosaico são tipos
da verdadeira santificação que alcançamos pela obra de CRISTO. Assim como
Israel foi santificado pelo sangue da aliança, assim "também JESUS, para
santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu fora da porta" (Heb. 13:12).
Jeová santificou os filhos de Arão para o sacerdócio pela mediação
de Moisés e o emprego de água, azeite e sangue. DEUS o Pai (1 Tess. 5:23) santifica os
crentes para um sacerdócio espiritual (1 Ped. 2:5) pela mediação do
Filho (I Cor. 1:2,30; Efés 5:26; Heb 2:11), por meio da Palavra
(João 17:17; 15:3), do sangue (Heb. 10:29; 13:12) e do ESPÍRITO (Rom. 15:16; 1 Cor. 6:11; 1 Ped. 1:2).
(d) Consagração, no sentido de viver uma vida santa e justa. Qual a
diferença entre justiça e santidade? A justiça representa a vida regenerada em
conformidade com a lei divina; os filhos de DEUS andam retamente ( 1 João 3:6-10).
Santidade é a vida regenerada em conformidade com a natureza divina e dedicada
ao serviço divino; isto pede a remoção de qualquer impureza que estorve esse
serviço. "Mas como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos
em toda a vossa maneira de viver" (1 Ped. 1:15). Assim a
santificação inclui a remoção de qualquer mancha ou sujeira que seja contrária
à santidade da natureza divina.
Em seguida à consagração de Israel surge, naturalmente, a pergunta:
"Como deve viver um povo santo?" A fim de responder a essa pergunta,
DEUS deu-lhes o código de leis de santidade que se acham no livro de Levítico.
Portanto, em consequência da sua consagração, seguiu-se a obrigação de viver
uma vida santa. O mesmo se dá com o cristão. Aqueles que são declarados santos
(Heb. 10:10) são exortados
a seguir a santidade (Heb.
12:14); aqueles que foram purificados (1 Cor. 6:11) são exortados a
purificar-se a si mesmos (2 Cor.
7:1).
(e) Serviço. A aliança é um estado de relação entre DEUS e os
homens no qual ele é o DEUS deles e eles o seu povo, o que significa um povo
adorador. A palavra "santo" expressa essa relação contratual. Servir
a DEUS, nessa relação, significa ser sacerdote; por conseguinte, Israel é
descrito como nação santa e reino de sacerdotes (Êx 19:6). Qualquer impureza que
venha a desfigurar essa relação precisa ser lavada com água ou com o sangue da
purificação.
Da mesma maneira os crentes do Novo Testamento são
"santos", isto é, um povo santo consagrado. Pelo sangue da aliança
tornaram-se "sacerdócio real, a nação santa... sacerdócio santo, para
oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a DEUS por JESUS CRISTO" (1 Ped. 2:9,5); oferecem o sacrifício de
louvor (Heb. 13:15) e
dedicam-se como sacrifícios vivos sobre o altar de DEUS (Rom. 12:1).
Assim vemos que o serviço é elemento essencial da santificação ou
santidade, pois é esse o único sentido em que os homens podem pertencer a DEUS,
isto é, como seus adoradores que lhe prestam serviço. Paulo expressou
perfeitamente esse aspecto da santidade quando disse acerca de DEUS: "De
quem eu sou, e a quem sirvo" (Atos 27:23). Santificação
envolve ser possuído por DEUS e servir a ele.
2. O tempo da santificação.
A santificação reúne: 1) ideia de posição perante DEUS e
instantaneidade; 2) prática e progressiva.
(a) Posicional e instantânea. A seguinte declaração representa o
ensino dos que aderem à teoria de santificação da "segunda obra
definida", feita por alguém que ensinou essa doutrina durante muitos anos:
Supõe-se que a justificação é obra da graça pela qual os pecadores,
ao se entregarem a CRISTO, são feitos justos e libertados dos hábitos
pecaminosos. Mas no homem meramente justificado permanece um princípio de
corrupção, uma árvore má, "uma raiz de amargura", que continuamente o
provoca a pecar. Se o crente obedece a esse impulso e deliberadamente peca, ele
perde sua justificação; segue-se portanto, a vantagem de ser removido esse
impulso mau, para que diminua a possibilidade de se desviar. A extirpação dessa
raiz pecaminosa é santificação. Portanto, é a purificação da natureza de todo
pecado congênito pelo sangue de CRISTO (aplicado pela fé ao realizar-se a plena
consagração), e o fogo purificador do ESPÍRITO SANTO, o qual queima toda a
escória, quando tudo é depositado sobre o altar do sacrifício. Isso, e somente
isso, é verdadeira santificação — a segunda obra definida da graça, subsequente
à justificação, e sem a qual essa justificação provavelmente se perderá.
A definição supra citada ensina que a pessoa pode ser salva ou
justificada sem ser santificada. Essa teoria, porém, é contrária ao ensino do
Novo Testamento.
O apóstolo Paulo escreve a todos os crentes como a
"santos" (literalmente, "os santificados") e como já
santificados (1 Cor. 1:2; 6:11). Mas essa carta foi
escrita para corrigir esses cristãos por causa de sua carnalidade e pecados
grosseiros. (1 Cor. 3:1; 5:1,2,7,8.) Eram "santos" e
"santificados em CRISTO", mas alguns desses estavam muito longe de
ser exemplos de cristãos na conduta. Foram chamados a ser santos, mas não se
portavam dignos dessa vocação santa.
Segundo o Novo Testamento existe, pois, um sentido em que a
santificação é simultânea com a justificação.
(b) Prática e progressiva. Mas será que essa santificação consiste
somente em ser conferida a posição de santos? Não, essa separação inicial é
apenas o começo duma vida progressiva de santificação. Todos os cristãos são
separados para DEUS em JESUS CRISTO; e dessa separação surge a nossa
responsabilidade de viver para ele. Essa separação deve continuar diariamente:
o crente deve esforçar-se sempre para estar conforme à imagem de CRISTO.
"A santificação é a obra da livre graça de DEUS, pela qual o homem todo é
renovado segundo a imagem de DEUS, capacitando-nos a morrer para o pecado e
viver para a justiça." Isso não quer dizer que vamos progredir até
alcançar a santificação e, sim, que progredimos na santificação da qual já
participamos.
A santificação é posicionai e prática — posicional em que é
primeiramente uma mudança de posição pela qual o imundo pecador se transforma
em santo adorador; prática porque exige uma maneira santa de viver. A
santificação adquirida em virtude de nova posição, indica-se pelo fato de que
todos os coríntios foram chamados "santificados em CRISTO JESUS, chamados
santos" (1 Cor. 1:2). A
santificação progressiva está implícita no fato de alguns serem descritos como
"carnais" (1 Cor. 3:3),
o que significa que sua presente condição não estava à altura de sua posição
concedida por DEUS. Em razão disso, foram exortados a purificar-se e assim
melhorar sua consagração até alcançarem a perfeição. Esses dois aspectos da
santificação estão implícitos no fato de que aqueles que foram tratados como
santificados e santos (1 Ped.
1:2; 2:5), são
exortados a serem santos (1
Ped. 1:15). Aqueles que estavam mortos para o pecado (Col 3:3) são exortados a
mortificar (fazer morto) seus membros pecaminosos (Col 3:5). Aqueles que se
despiram do homem velho (Col.
3:9) são exortados a vestirem-se ou revestirem-se do homem novo. (Efés 4:22; Col. 3:8.)
3. Meios divinos de santificação.
São meios divinamente estabelecidos de santificação: o sangue de
CRISTO, o ESPÍRITO SANTO e a Palavra de DEUS. O primeiro proporciona,
primeiramente', a santificação absoluta, quanto à posição perante DEUS. É uma
obra consumada que concede ao pecador penitente uma posição perfeita em relação
a DEUS. O segundo meio é interno, efetuando a transformação da natureza do
crente. O terceiro meio é externo e prático, e diz respeito ao comportamento do
crente. Dessa forma, DEUS fez provisão tanto para a santificação interna como
externa.
(a) O sangue de CRISTO, (Eterno, absoluto e posicionai.) (Heb. 13:12; 10:10,14; 1João 1:7.) Em que sentido
seria a pessoa santificada pelo sangue de CRISTO? Em resultado da obra
consumada de CRISTO, o pecador penitente é transformado de pecador impuro em
adorador santo. A santificação é o resultado dessa "maravilhosa obra
redentora do Filho de DEUS, ao oferecer-se no Calvário para aniquilar o pecado
pelo seu sacrifício. Em virtude desse sacrifício, o crente é eternamente
separado para DEUS; sua consciência é purificada, e ele próprio é transformado
de pecador impuro, em santo adorador, unido em comunhão com o Senhor JESUS
CRISTO; pois, "assim o que santifica, como os que são santificados, são
todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos" (Heb. 2:11).
Que haja um aspecto contínuo na santificação pelo sangue,
infere-se de 1 João 1:7:
"O sangue de JESUS CRISTO, seu Filho, nos purifica de todo pecado."
Se houver comunhão entre o santo DEUS e o homem, necessariamente terá que haver
uma provisão para remover a barreira de pecado, que impede essa comunhão, uma
vez que os melhores homens ainda assim são imperfeitos. Ao receber Isaías a
visão da santidade de DEUS, ele ficou abatido ao perceber a sua falta de
santidade; e não estava em condições de ouvir a mensagem divina enquanto a
brasa do altar não purificasse seus lábios. A consciência do pecado ofusca a
comunhão com DEUS; confissão e fé no eterno sacrifício de CRISTO removem essa
barreira. (1 João 1:9.)
(b) O ESPÍRITO SANTO. (Santificação Interna.) (1 Cor. 6:11; 2 Tess. 2:12; 1 Ped. 1:1,2; Rom. 15:16.) Nessas passagens
a santificação pelo ESPÍRITO SANTO é apresentada como o início da obra de DEUS
nos corações dos homens, conduzindo-os ao inteiro conhecimento da justificação
pela fé no sangue aspergido de CRISTO. Tal qual o ESPÍRITO pairava por cima do
caos original (Gên. 1:2),
seguindo-se o estabelecimento da ordem pelo Verbo de DEUS, assim o ESPÍRITO
paira sobre a alma humana, fazendo-a abrir-se para receber a luz e a vida de
DEUS. (2 Cor. 4:6.)
O capítulo 10 de Atos proporciona uma ilustração concreta da
santificação pelo ESPÍRITO SANTO. Durante os primeiros anos da igreja, a
evangelização dos gentios retardou-se visto que muitos cristãos-judeus
consideravam os gentios como "imundos", e não-santificados por causa
de sua não conformidade com as leis alimentares e outros regulamentos mosaicos.
Exigia-se uma visão para convencer a Pedro que aquilo que o Senhor purificara
ele não devia tratar de comum ou impuro. Isso importava em dizer que DEUS
fizera provisão para a santificação dos gentios para serem o seu povo. E quando
o ESPÍRITO de DEUS desceu sobre os gentios, reunidos na casa de Cornélio, já
não havia mais dúvida a respeito. Eram santificados pelo ESPÍRITO SANTO, não
importando se obedeciam ou não às ordenanças mosaicas (Rom. 15:16), e Pedro reptou
os judeus que estavam com ele a negarem o símbolo exterior (batismo nas águas)
de sua purificação espiritual. (Atos
10:47; 15:8.)
(c) A Palavra de DEUS. (Santificação externa e prática.) (João 17:17, Efés 5:26; João 15:3; Sal. 119:9; Tia. 1:23-25.) Os
cristãos são descritos como sendo "gerados pela Palavra de DEUS"(l
Ped. 1:23). A Palavra de DEUS desperta os homens a compreenderem a insensatez e
impiedade de suas vidas. Quando dão importância à Palavra arrependendo-se e
crendo em CRISTO, são purificados pela Palavra que lhes fora falada. Esse é o
início da purificação que deve continuar através da vida do crente. No ato de
sua consagração ao ministério, o sacerdote israelita recebia um banho
sacerdotal completo, banho que nunca se repetia; era uma obra feita uma vez
para sempre. Todos os dias porém, era obrigado a lavar as mãos e os pés. Da
mesma maneira, o regenerado foi lavado (Tito 3:5); mas precisa uma
separação diária das impurezas e imperfeições conforme lhe forem reveladas pela
Palavra de DEUS, que serve como espelho para a alma. (Tia. 1:22-25.) Deve
lavar as mãos, isto é, seus atos devem ser retos; deve lavar os pés, isto é,
"guardar-se da imundície que tão facilmente se apega aos pés do peregrino,
que anda pelas estradas deste mundo".
4. Idéias errôneas sobre a santificação.
Muitos cristãos descobrem o fato de que seu maior impedimento em
chegar à santidade é a "carne", a qual frustra sua marcha para a
perfeição. Como se conseguirá libertação da carne? Três opiniões erradas têm
sido expostas:
(a) "Erradicação" do pecado inato é uma dessas ideias.
Assim escreve Lewis Sperry Chafer: "se a erradicação da natureza
pecaminosa se consumasse, não haveria a morte física, pois esta é o resultado
dessa natureza. (Rom.
5:12-21.) Pais que houvessem experimentado essa "extirpação",
necessariamente gerariam filhos sem a natureza pecaminosa. Mas, mesmo que fosse
realidade essa "extirpação", ainda haveria o conflito com o mundo, a
carne (à parte da natureza pecaminosa) e o diabo; pois a "extirpação"
desses males é obviamente antibíblica e não está incluída na própria teoria.
A erradicação é também contrária à experiência.
(b) Legalismo, ou a observância de regras e regulamentos. Paulo
ensina que a lei não pode santificar (Rom. cap. 6), assim como também não pode
justificar (Rom. 3). Essa
verdade é exposta e desenvolvida na carta aos Gálatas. Paulo não está de
nenhuma maneira depreciando a lei. Ele a está defendendo contra conceitos
errôneos quanto a seu propósito. Se um homem for salvo do pecado, terá que ser
por um poder à parte de si mesmo. Vamos empregar a ilustração dum termômetro. O
tubo e o mercúrio representam o indivíduo. O registro dos graus representará a
lei. Imaginem o termômetro dizendo: "Hoje não estou funcionando
exatamente; devo chegar no máximo a 30 graus." Será que o termômetro
poderia elevar-se à temperatura exigida? Não, deveria depender duma
condição/ora dele mesmo. Da mesma maneira o homem que percebe não estar à
altura do ideal divino não pode elevar-se em um esforço por alcançá-lo. Sobre
ele deve operar uma força à parte dele mesmo; essa força é o poder do ESPÍRITO
SANTO.
(c) Ascetismo. É a tentativa de subjugar a carne e
alcançar a santidade por meio de privações e sofrimentos — o método que seguem
os católicos romanos e os hindus ascéticos.
Esse método parece estar baseado na antiga crença pagã de que toda
matéria, incluindo o corpo, é má. O corpo, por conseguinte, é uma trava ao
espírito, e quanto mais for castigado e subjugado, mais depressa se libertará o
espírito. Isso é contrário às Escrituras, que ensinam que DEUS criou tudo muito
bom. É a alma e não o corpo que peca; portanto, são os impulsos pecaminosos que
devem ser subjugados, e não a carne material. Ascetismo é uma tentativa de
matar o "eu", mas o "eu" não pode vencer o "eu".
Essa é a obra do ESPÍRITO.
5. O verdadeiro método da santificação.
O método bíblico de tratar com a carne, deve basear-se obviamente,
na provisão objetiva para a salvação, o sangue de CRISTO; e na provisão
subjetiva, o ESPÍRITO SANTO. A libertação do poder da carne, portanto, deve vir
por meio da fé na expiação e por entregar-se à ação do ESPÍRITO. O primeiro é
tratado no sexto capítulo de Romanos, e o segundo na primeira parte do capítulo
oitavo.
(a) Fé na expiação. Imaginemos que houvesse judeus presentes (o que
sucedia com freqüência) enquanto Paulo expunha a doutrina da purificação pela
fé. Nós os imaginamos dizendo em protesto: "Isso é uma heresia do tipo
mais perigoso!" Dizer ao povo que precisam crer unicamente em JESUS, e que
nada podem fazer quanto à sua salvação porque ela é pela graça de DEUS, tudo
isso resultará em que descuidarão de sua maneira de viver. Eles julgarão que
pouco importa o que façam, uma vez que creiam. Sua doutrina de fé fomenta o
pecado. Se a justificação é pela graça e nada mais, sem obras, por que então
romper com o pecado? Por que não continuar no pecado para que abunde ainda mais
a graça? Os inimigos de Paulo efetivamente o acusaram de pregar tal doutrina. (Rom. 3:8; 6:1.) Com indignação Paulo
repudiou tal perversão. "De modo nenhum . Nós, que estamos mortos para o
pecado, como viveremos ainda nele?" (Rom. 6:2). A continuação no
pecado é impossível a um homem verdadeiramente justificado, em razão de sua
união com CRISTO na morte e na vida. (Vide Mat. 6:24.) Em virtude de sua
fé em CRISTO, o homem salvo passou por uma experiência que inclui um rompimento
tão completo com o pecado, que se descreve como morte para o pecado, e uma
transformação tão radical que se descreve como ressurreição. Essa experiência é
figurada no batismo nas águas. A imersão do convertido testifica do fato que em
razão de sua união com o CRISTO crucificado ele morreu para o pecado; ser
levantado da água testifica que seu contacto com o CRISTO ressuscitado
significa que "como CRISTO ressuscitou dos mortos, pela glória do Pai,
assim andemos nós também em novidade de vida" (Rom. 6:4). CRISTO morreu pelo
pecado a fim de que nós morrêssemos para o pecado.
"Aquele que está morto está justificado do pecado" (Rom. 6:7). A morte cancela
todas as obrigações e rompe todos os laços. Por meio da união com CRISTO, o
cristão morreu para a vida antiga, e os grilhões do pecado foram quebrados.
Como a morte dava fim à servidão do escravo, assim a morte do crente, que
morreu para o mundo, o libertou da servidão ao pecado. Continuando a
ilustração: A lei nenhuma jurisdição tem sobre um homem morto. Não importa qual
seja o crime que haja cometido, uma vez morto, já está fora do poder da justiça
humana. Da mesma maneira, a lei de Moisés, muitas vezes violada pelo
convertido, não o pode "prender", pois, em virtude de sua experiência
com CRISTO, ele está "morto". (Rom. 7:1-4; 2 Cor. 5:14.)
"Sabendo que, havendo CRISTO ressuscitado dos mortos, já não
morre; a morte não mais terá domínio sobre ele. Pois, quanto a ter morrido, de
uma vez morreu para o pecado, mas, quanto a viver, vive para DEUS. Assim também
vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para DEUS em CRISTO
JESUS nosso Senhor" (Rom.
6:9-11). A morte de CRISTO pôs fim a esse estado terrenal no qual ele teve
contacto como o pecado; sua vida agora é uma constante comunhão com DEUS. Os
cristãos, ainda que estejam no mundo, podem participar de sua experiência,
porque estão unidos a ele. Como podem participar? "Considerai-vos como
mortos para o pecado, nas vivos para DEUS em CRISTO JESUS nosso Senhor."
Que significa isso? DEUS já disse que por meio da nossa fé em CRISTO, estamos
mortos para o pecado e vivos para a justiça. Resta uma coisa a fazer; crer em
DEUS e considerar ou concluir que estamos mortos para o pecado. DEUS declarou
que quando CRISTO morreu, nós morremos para o pecado; quando ele ressuscitou,
nós ressuscitamos para viver uma nova vida. Devemos continuar considerando
esses fatos como absolutamente certos; e, ao considerá-los assim, tornar-se-ão
poderosos em nossa vida, pois, seremos o que reconhecemos que somos. Uma
distinção importante tem sido assinalada, a saber, a distinção entre as
promessas e os fatos da Bíblia. JESUS disse: "Se vós estiverdes em mim, e
as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será
feito" (João 15:7).
Essa é uma promessa, porque está no futuro; é algo para ser feito. Mas quando
Paulo disse que "CRISTO morreu por nossos pecados, segundo as
Escrituras", ele está declarando um fato, algo que foi feito. Vide a
expressão de Pedro: "Pelas suas feridas fostes sarados" (1 Ped. 2:24). E quando Paulo
declara "que o nosso homem velho foi com ele crucificado", ele está
declarando um fato, algo que aconteceu. A questão agora é: estamos dispostos ou
não a crer
no que DEUS declara que são fatos acerca de nós? Porque a fé é a
mão que aceita o que DEUS gratuitamente oferece.
Será que o ato de descobrir a relação com CRISTO não constitui a
experiência que alguns têm descrito como "a segunda obra da graça"?
(b) Cooperação com o ESPÍRITO. Os capítulos 7 e 8 de Romanos
continuam o assunto da santificação; tratam da libertação do crente do poder do
pecado, e do crescimento em santidade. No cap. 6 vimos que a vitória sobre o
poder do pecado foi obtida pela/é. O capítulo 8 apresenta outro aliado na
batalha contra o pecado — o ESPÍRITO SANTO.
Como fundo para o capítulo 8 estuda-se a linha de pensamento no
cap. 7, o qual descreve um homem voltando-se para a lei a fim de alcançar
santificação. Paulo demonstra aqui a impotência da lei para salvar e
santificar, não porque a lei não seja boa, mas por causa da inclinação
pecaminosa da natureza humana, conhecida como a "carne". Ele indica
que a lei revela o fato (v. 7), a ocasião (v.8), o poder (v.9), a falsidade (v.
11), o efeito (vs. 10,11), e a vileza do pecado (vs. 12,13).
Paulo, que parece estar descrevendo sua própria experiência
passada, diz-nos que a própria lei, que ele tão ardentemente desejava observar,
suscitava impulsos pecaminosos dentro dele. O resultado foi "guerra
civil" na sua alma. Ele é impedido de fazer o bem que deseja fazer, e
impelido a fazer o que odeia. "Acho então esta lei em mim; que, quando
quero fazer o bem, o mal está comigo. Porque, segundo o homem interior, tenho
prazer na lei de DEUS; mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a
lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus
membros" (vs. 21-23).
A última parte do capítulo 7, evidentemente, apresenta o quadro do
homem debaixo da lei, que descobriu a perscrutadora espiritualidade da lei, mas
em cada intento de observá-la se vê impedido pelo pecado que habita nele. Por
que descreve Paulo esse conflito? Para demonstrar que a lei é tão impotente
para santificar como o é para justificar.
"Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta
morte?" (v. 24 Vide 6:6). E Paulo, que descrevia a experiência debaixo da
lei, assim testifica alegremente de sua experiência debaixo da graça: "Dou
graças a DEUS (que a vitória vem) por JESUS CRISTO nosso Senhor" (v. 25).
Com essa exclamação de triunfo entramos no maravilhoso capítulo oitavo, que tem
por tema dominante a libertação da natureza pecaminosa pelo poder do ESPÍRITO
SANTO.
Há três mortes das quais o crente deve participar: 1) A morte no
pecado, isto é, nossa condenação. (Efés. 2:1; Col. 2:13.) O pecado havia
conduzido a alma a essa condição, cujo castigo é a morte espiritual ou
separação de DEUS. 2) A morte pelo pecado, isto é, nossa justificação. CRISTO
sofreu sobre a cruz a sentença duma lei infligida, e nós, por conseguinte,
somos considerados como a havendo sofrido nele. O que ele fez por nós é
considerado como se fosse feito por nós mesmos. (2 Cor. 5:14; Gál. 2:20.) Somos considerados
legal ou judicialmente livres da pena duma lei violada, uma vez que pela fé
pessoal consentimos na transação. 3) A morte para o pecado, isto é, nossa
santificação. (Rom. 6:11.)
O que é certo para nós deve ser feito real em nós; o que é judicial deve se
tornar prático; a morte para a pena do pecado deve ser seguida pela morte para
o poder do pecado. E essa é a obra do ESPÍRITO SANTO. (Rom. 8:13.) Assim como a seiva
que ascende na árvore elimina as folhas mortas que ficaram presas aos ramos,
apesar da neve e das tempestades, assim o ESPÍRITO SANTO, que habita em nós,
elimina as imperfeições e os hábitos da vida antiga.
6. Santificação completa.
Muitas vezes esta verdade é discutida sob o tema: "Perfeição
cristã."
(a) Significado de perfeição. Há dois tipos de perfeição: absoluta
e relativa. É absolutamente perfeito aquilo que não pode ser melhorado; isso
pertence unicamente a DEUS. E relativamente perfeito aquilo que cumpre o fim
para o qual foi designado; essa perfeição é possível ao homem.
A palavra "perfeição", no Antigo Testamento, significa
ser "sincero e reto" (Gên
6:9; Jó 1:1). Ao
evitar os pecados das nações circunvizinhas, Israel podia ser uma nação
"perfeita" (Deut.
18:13). No Antigo Testamento a essência da perfeição é o desejo e a
determinação de fazer a vontade de DEUS. Apesar dos pecados que mancharam sua
carreira, Davi pode ser chamado um homem perfeito e "um homem segundo o
coração de DEUS", porque o motivo supremo de sua vida era fazer a vontade
de DEUS.
No Novo Testamento a palavra "perfeito" e seus derivados
têm uma variedade de aplicações, e, portanto, deve ser interpretada segundo o
sentido em que os termos são usados. Várias palavras gregas são usadas para
expressar a ideia de perfeição: 1) Uma dessas palavras significa ser completo
no sentido de ser apto ou capaz para certa tarefa ou fim. (2 Tim. 3:17.) 2) Outra denota
certo fim alcançado por meio do crescimento mental e moral. (Mat. 5:48; 19:21; Col. 1:28; 4:12 ; Heb. 11:40.) 3) A palavra
usada em 2 Cor. 13:9; Efés 4:12; e Heb. 13:21 significa um
equipamento cabal. 4) A palavra usada em 2 Cor. 7:1 significa
terminar, ou trazer a uma terminação. A palavra usada em Apoc. 3:2 significa fazer
repleto, cumprir, encher (como uma rede), nivelar (um buraco).
A palavra "perfeito" descreve os seguintes aspectos da
vida cristã: 1) Perfeição de posição em CRISTO (Heb. 10:14) — o resultado da
obra de CRISTO por nós. 2)
Madureza e entendimento espiritual, em contraste com a infância espiritual. (1 Cor. 2:6; 14:20;2Cor. 13:11; Fil. 3:15;2Tim. 3:17) 3) Perfeição
progressiva. (Gál. 3:3.) 4)
Perfeição em certos particulares: a vontade de DEUS, o amor ao homem, e
serviço. (Col. 4:12; Mat. 5:48; Heb. 13:21.) 5) A perfeição
final do indivíduo no céu. (Col.
1:28,22; Fil. 3:12; 1Ped. 5:10.) 6) A perfeição
final da igreja, ou o corpo de CRISTO, isto é, o conjunto de crentes. (Efés. 4:13; João 17:23.)
(b) Possibilidades de perfeição. O Novo Testamento apresenta dois
aspectos gerais da perfeição: 1) A perfeição como um dom da graça, o qual é a
perfeita posição ou estado concedido ao arrependido em resposta à sua fé em
CRISTO. Ele é considerado perfeito porque tem um Salvador perfeito e uma
justiça perfeita. 2) A perfeição como realmente efetuada no caráter do crente.
É possível acentuar em demasia o primeiro aspecto e descuidar do Cristianismo
prático. Tal aconteceu a certo indivíduo que, depois de ouvir uma palestra
sobre a Vida Vitoriosa, disse ao pregador: "Tudo isso tenho em
CRISTO." "Mas o senhor tem isso consigo, agora, aqui em
Glasgow?" foi a serena interrogação. Por outra parte, acentuando demais o
segundo aspecto, alguns praticamente têm negado qualquer perfeição à parte do
que eles encontram em sua própria experiência.
João Wesley (o fundador do Metodismo) parece haver tomado uma
posição intermediária entre os dois extremos. Ele reconhecia que a pessoa era
santificada na conversão, mas afirmava a necessidade da inteira santificação
como outra obra da graça. O que fazia essa experiência parecer necessária era o
poder do pecado, que era a causa de o cristão ser derrotado. Essa bênção vem a
quem buscar com fidelidade; o amor puro enche o coração e governa toda a obra e
ação, resultando na destruição do poder do pecado.
Essa perfeição no amor não é considerada como perfeição absoluta,
nem tampouco isenta o crente de vigilância e cuidados constantes. Wesley
escreveu: "Creio que a pessoa cheia do amor de DEUS ainda está propensa a
transgressões involuntárias. Tais transgressões vocês poderão chamá-las de
pecados, se quiserem; mais eu não." Quanto ao tempo da inteira
santificação, Wesley escreveu:
"É esta morte para o pecado e renovação no amor, gradual ou
instantânea? Um homem poderá estar à morte por algum tempo; no entanto,
propriamente falando, não morre enquanto não chegar o instante em que a alma se
separa do corpo; e nesse momento ele vive a vida da eternidade. Da mesma
maneira a pessoa poderá estar morrendo para o pecado por algum tempo;
entretanto, não está morto para o pecado enquanto o pecado não for separado de
sua alma; é nesse momento que vive a plena vida de amor. E da mesma maneira que
a mudança sofrida quando o corpo morre é duma qualidade diferente e
infinitamente maior que qualquer outra que tenhamos conhecido antes, tão
diferente que até então era impossível conceber, assim a mudança efetuada
quando a alma morre para o pecado é duma classe diferente e infinitamente maior
que qualquer outra experimentada antes, e que ninguém pode conceber até que a
experimente. No entanto, essa pessoa continuará a crescer na graça, no
conhecimento de CRISTO, no amor e na imagem de DEUS; e assim continuará, não
somente até a morte, mas por toda a eternidade. Como esperaremos essa mudança?
Não em um descuidado indiferentismo, ou indolente inatividade; mas em
obediência vigorosa e universal, no cumprimento fiel dos mandamentos, em
vigilância e trabalho, em negarmo-nos a nós mesmos, tomando diariamente a nossa
cruz; como também em oração fervorosa e jejum, e atendendo bem às ordenanças de
DEUS. E se alguém pensa em obtê-la de alguma outra maneira (e conservá-la
quando a haja obtido, mesmo quando a haja recebido na maior medida) esse alguém
engana sua própria alma."
João Calvino, que acentuara a perfeição do crente pela consumada
obra de CRISTO, e que não era menos zeloso da santidade de que Wesley, dá o
seguinte relato da perfeição cristã:
"Quando DEUS nos reconcilia consigo mesmo, por meio da justiça
de CRISTO, e nos considera como justos por meio da livre remissão de nossos
pecados, ele também habita em nós, pelo seu ESPÍRITO, e santifica-nos pelo seu
poder, mortificando as concupiscências da nossa carne e formando o nosso
coração em obediência à sua Palavra. Desse modo, nosso desejo principal vem a
ser obedecer à sua vontade e promover a sua glória. Porém, ainda depois disso,
permanece em nós bastante imperfeição para repelir o orgulho e constranger-nos
à humildade." ( Ecl.
7:20; 1Reis 8:46.)
Ambas as opiniões, a perfeição como dom em CRISTO e a perfeição
como obra real efetuada em nós, são ensinadas nas Escrituras; o que CRISTO fez
por nós deve ser efetuado em nós. O Novo Testamento sustenta um ideal elevado
de santidade e afirma a possibilidade de libertação do poder do pecado.
Portanto, é dever do cristão esforçar-se para conseguir essa perfeição. (Fil. 3:12; Heb.6:l.)
Em relação a isto devemos reconhecer que o progresso na
santificação muitas vezes implica uma crise na experiência, quase tão definida
como a da conversão. Por um meio ou outro, o crente recebe uma revelação da
santidade de DEUS e da possibilidade de andar mais perto dele, e essa
experiência é seguida por um conhecimento interior de ter ainda alguma
contaminação. (Vide Isa. 6.)
Ele chegou a uma encruzilhada na sua experiência cristã, na qual deverá decidir
se há de retroceder ou seguir avante, com DEUS. Confessando seus fracassos
passados, ele faz uma reconsagração, e, como resultado, recebe um novo aumento
de paz, gozo e vitória, e também o testemunho de que DEUS aceitou sua
consagração. Alguns têm chamado a essa experiência uma segunda obra da graça.
Ainda haverá tentação de fora e de dentro, e daí a necessidade de
vigilância (Gál. 6:1; I Cor. 10:12); a carne é
fraca e o cristão está livre para ceder, pois está em estado de prova (Gál. 5:17; Rom. 7:18, Fil. 3:8); seu conhecimento é
parcial e falho; portanto, pode estar sujeito a pecados de ignorância. Porém
ele pode seguir avante, certo de que pode resistir e vencer toda a tentação que
reconheça (Tia. 4:7; 1 Cor. 10:13; Rom. 6:14; Efés. 6:13,14); pode estar sempre
glorificando a DEUS cheio dos frutos de justiça (1 Cor. 10:31; Col. 1:10); pode possuir a
graça e o poder do ESPÍRITO e andar em plena comunhão com DEUS (Gál. 5:22, 23; Efés. 5:18; Col. 1:10,11; 1 João 1:7); pode ter a
purificação constante do sangue de CRISTO e assim estar sem culpa perante DEUS.
(1 João 1:7; Fil. 2:15; 1Tess. 5:23).
X. A Segurança da Salvação
Temos estudado as preparações para a salvação e considerado a
natureza desta. Nesta seção consideramos: É a Salvação final dos cristãos
incondicional, ou poderá perder-se por causa do pecado?
A experiência prova a possibilidade duma queda temporária da graça,
conhecida por "desviar-se". O termo não se encontra no Novo
Testamento, senão no Antigo Testamento. Uma palavra hebraica significa
"voltar atrás" ou "virar-se"; outra palavra significa
"volver-se" ou ser "rebelde". Israel é comparado a um
bezerro teimoso que volta para trás e se recusa a ser conduzido, e torna-se
insubmisso ao jugo. Israel afastou-se de Jeová e obstinadamente se recusou a
tomar sobre si o jugo de seus mandamentos.
O Novo Testamento nos admoesta contra tal atitude, porém usa outros
termos. O desviado é a pessoa que outrora tinha o zelo de DEUS, mas agora se
tomou fria (Mat. 24:12);
outrora obedecia à Palavra, mas o mundanismo e o pecado impediram seu
crescimento e frutificação (Mat.
13:22); outrora pôs a mão ao arado, mas olhou para trás (Luc. 9:62); como a esposa de
Ló, que havia sido resgatada da cidade da destruição, mas seu coração voltou
para ali (Luc. 17:32);
outrora estava em contacto vital com CRISTO, mas agora está fora de contacto, e
está seco, estéril e inútil espiritualmente (João 15:6); outrora obedecia à
voz da consciência, mas agora jogou para longe de si essa bússola que o guiava,
e, como resultado, sua embarcação de fé destroçou-se nas rochas do pecado e do
mundanismo (1 Tim. 1:19);
outrora alegrava-se em chamar-se cristão, mas agora se envergonha de confessar
a seu Senhor (2 Tim. 1:8 ;2:12); outrora estava liberto
da contaminação do mundo, mas agora voltou como a "porca lavada ao
espoja-douro de lama" (2
Ped. 2:22; vide Luc. 11:21-26).
É possível decair da graça; mas a questão é saber se a pessoa que
era salva e teve esse lapso, pode finalmente perder-se. Aqueles que seguem o
sistema de doutrina calvinista respondem negativamente; aqueles que seguem o
sistema arminiano (chamado assim em razão de Armínio, teólogo holandês, que
trouxe a questão a debate) respondem afirmativamente.
1. Calvinismo.
A doutrina de João Calvino não foi criada por ele; foi ensinada por
santo Agostinho, o grande teólogo do quarto século. Nem tampouco foi criada por
Agostinho, que afirmava estar interpretando a doutrina de Paulo sobre a livre
graça.
A doutrina de Calvino é como segue: A salvação é inteiramente de
DEUS; o homem absolutamente nada tem a ver com sua salvação. Se ele, o homem,
se arrepender, crer e for a CRISTO, é inteiramente por causa do poder atrativo
do ESPÍRITO de DEUS. Isso se deve ao fato de que a vontade do homem se
corrompeu tanto desde a queda, que, sem a ajuda de DEUS, não pode nem se
arrepender, nem crer, nem escolher corretamente. Esse foi o ponto de partida de
Calvino — a completa servidão da vontade do homem ao mal. A salvação, por
conseguinte, não pode ser outra coisa senão a execução dum decreto divino que
fixa sua extensão e suas condições.
Naturalmente surge esta pergunta: Se a salvação é inteiramente obra
de DEUS, e o homem não tem nada a ver com ela, e está desamparado, amenos que o
ESPÍRITO de DEUS opere nele, então, por que DEUS não salva a todos os homens,
posto que todos estão perdidos e desamparados? A resposta de Calvino era: DEUS
predestinou alguns para serem salvos e outros para serem perdidos. "A
predestinação é o eterno decreto de DEUS, pelo qual ele decidiu o que será de
cada um e de todos os indivíduos. Pois nem todos são criados na mesma condição;
mas a vida eterna está preordenada para alguns, e a condenação eterna para
outros." Ao agir dessa maneira DEUS não é injusto, pois ele não é obrigado
a salvar a ninguém; a responsabilidade do homem permanece, pois a queda de Adão
foi sua própria falta, e o homem sempre é responsável por seus pecados.
Posto que DEUS predestinou certos indivíduos para a salvação,
CRISTO morreu unicamente pelos "eleitos"; a expiação fracassaria se
alguns pelos quais CRISTO morreu se perdessem.
Dessa doutrina da predestinação segue-se o ensino de "uma vez
salvo sempre salvo"; porque se DEUS predestinou um homem para a salvação,
e unicamente pode ser salvo e guardado pela graça de DEUS, que é irresistível,
então, nunca pode perder-se.
Os defensores da doutrina da "segurança eterna"
apresentam as seguintes referências para sustentar sua posição: João 10:28,29: Rom. 11:29; Fil. 1:6; 1 Ped. 1:5; Rom. 8:35; João 17:6.
2. Arminianismo.
O ensino arminiano é como segue: A vontade de DEUS é que todos os
homens sejam salvos, porque CRISTO morreu por todos. (1 Tim. 2:4-6; Heb. 2:9; 2 Cor. 5:14; Tito 2:11,12.) Com essa finalidade ele
oferece sua graça a todos. Embora a salvação seja obra de DEUS, absolutamente
livre e independente de nossas boas obras ou méritos, o homem tem certas
condições a cumprir. Ele pode escolher aceitar a graça de DEUS, ou pode resistir-lhe
e rejeitá-la. Seu direito de livre arbítrio sempre permanece.
As Escrituras certamente ensinam uma predestinação, mas não que
DEUS predestina alguns para a vida eterna e outros para o sofrimento eterno.
Ele predestina " a todos os que querem" a serem salvos — e esse plano
é bastante amplo para incluir a todos que realmente desejam ser salvos. Essa
verdade tem sido explicada da seguinte maneira: na parte de fora da porta da
salvação lemos as palavras: "quem quiser pode vir"; quando entramos
por essa porta e somos salvos, lemos as palavras no outro lado da porta:
"eleitos segundo a presciência de DEUS". DEUS, em razão de seu
conhecimento, previu que essas pessoas aceitariam o evangelho e permaneceriam
salvos, e predestinou para essas pessoas uma herança celestial. Ele previu o
destino delas, mas não o fixou.
A doutrina da predestinação é mencionada, não com propósito
especulativo, e, sim, com propósito prático. Quando DEUS chamou Jeremias ao
ministério, ele sabia que o profeta teria uma tarefa muito difícil e poderia
ser tentado a deixá-la. Para encorajá-lo, o Senhor assegurou ao profeta que o
havia conhecido e o havia chamado antes de nascer (Jer. 1:5). Com efeito, o Senhor
disse: "Já sei o que está adiante de ti, mas também sei que posso te dar
graça suficiente para enfrentares todas as provas futuras e conduzir-te à
vitória." Quando o Novo Testamento descreve os cristãos como objetos da presciência
de DEUS, seu propósito é dar-nos certeza do fato de que DEUS previu todas as
dificuldades que surgirão à nossa frente, e que ele pode nos guardar e nos
guardará de cair.
3. Uma comparação.
A salvação é condicional ou incondicional? Uma vez salva, a pessoa
é salva eternamente? A resposta dependerá da maneira em que podemos responder
às seguintes perguntas-chave: De quem depende a salvação? É irresistível a
graça?
1) De quem depende, em última análise, a salvação: de DEUS ou do
homem? Certamente deve depender de DEUS, porque, quem poderia ser salvo se a
salvação dependesse da força da própria pessoa? Podemos estar seguros disto:
DEUS nos conduzirá à vitória, não importa quão débeis ou desatinados sejamos,
uma vez que sinceramente desejamos fazer a sua vontade. Sua graça está sempre
presente para nos admoestar, reprimir, animar e sustentar.
Contudo, não haverá um sentido em que a salvação dependa do homem?
As Escrituras ensinam constantemente que o homem tem o poder de escolher
livremente entre a vida e a morte, e DEUS nunca violará esse poder.
2) Pode-se resistir à graça de DEUS? Um dos princípios fundamentais
do Calvinismo é que a graça de DEUS e irresistível. Quando DEUS decreta a
salvação de uma pessoa, seu ESPÍRITO atrai, e essa atração não pode ser
resistida. Portanto, um verdadeiro filho de DEUS certamente perseverará até ao
fim e será salvo; ainda que caia em pecado, DEUS o castigará e pelejará com
ele. Ilustrando a teoria calvinista diríamos: é como se alguém estivesse a
bordo dum navio, e levasse um tombo; contudo está a bordo ainda; não caiu ao
mar.
Mas o Novo Testamento ensina, sim, que é possível resistir à graça
divina e resistir para a perdição eterna (João 6:40; Heb. 6:46; 10:26-30; 2 Ped. 2:21; Heb. 2:3; 2 Ped. 1:10), e que a
perseverança é condicional dependendo de manter-se em contacto com DEUS.
Note-se especialmente Heb. 6:4-6 e
10:26-29. Essas palavras foram dirigidas a cristãos; as epístolas de Paulo não
foram dirigidas aos não-regenerados. Aqueles aos quais foram dirigidas são
descritos como havendo sido uma vez iluminados, havendo provado o dom
celestial, participantes do ESPÍRITO SANTO, havendo provado a boa Palavra de
DEUS e as virtudes do século futuro. Essas palavras certamente descrevem
pessoas regeneradas.
Aqueles aos quais foram dirigidas essas palavras eram cristãos
hebreus, que, desanimados e perseguidos (10:32-39), estavam tentados a voltar
ao Judaísmo. Antes de serem novamente recebidos na sinagoga, requeria-se deles
que, publicamente, fizessem as seguintes declarações (10:29): que JESUS não era
o Filho de DEUS; que seu sangue havia sido derramado justamente como o dum
malfeitor comum; e que seus milagres foram operados pelo poder do maligno. Tudo
isso está implícito em Heb.
10:29. (Que tal repúdio da fé podia haver sido exigido, é ilustrado pelo
caso dum cristão hebreu na Alemanha, que desejava voltar à sinagoga, mas foi
recusado porque desejava conservar algumas verdades do Novo Testamento.) Antes
de sua conversão havia pertencido à nação que crucificou a CRISTO; voltar à
sinagoga seria de novo crucificar o Filho de DEUS e expô-lo ao vitupério; seria
o terrível pecado da apostasia (Heb.
6:6); seria como o pecado imperdoável para o qual não há remissão, porque a
pessoa que está endurecida a ponto de cometê-lo não pode ser "renovada
para arrependimento"; seria digna dum castigo mais terrível do que a morte
(10:28); e significaria incorrer na vingança do DEUS vivo (10:30, 31).
Não se declara que alguém houvesse ido até esse ponto; de fato , o
autor está persuadido de "coisas melhores" (6:9). Contudo, se o
terrível pecado da apostasia da parte de pessoas salvas não fosse ao menos
remotamente possível, todas essas admoestações careceriam de qualquer
fundamento.
Leia-se 1 Cor. 10:1-12. Os
coríntios se haviam jactado de sua liberdade cristã e da possessão dos dons
espirituais. Entretanto, muitos estavam vivendo num nível muito pobre de
espiritualidade. Evidentemente eles estavam confiando em sua
"posição" e privilégios no Evangelho. Mas Paulo os adverte de que os
privilégios podem perder-se pelo pecado, e cita os exemplos dos israelitas.
Estes foram libertados duma maneira sobrenatural da terra do Egito, por
intermédio de Moisés, e, como resultado, o aceitaram como seu chefe durante a
jornada para a Terra da Promissão. A passagem pelo Mar Vermelho foi um sinal de
sua dedicação à direção de Moisés. Cobrindo-os estava a nuvem, o símbolo
sobrenatural da presença de DEUS que os guiava. Depois de salvá-los do Egito,
DEUS os sustentou, dando-lhes, de maneira sobrenatural, o que comer e beber.
Tudo isso significava que os israelitas estavam em graça, isto é: no favor e na
comunhão com DEUS.
Mas "uma vez em graça sempre em graça" não foi verdade no
caso dos israelitas, pois a rota de sua jornada ficou assinalada com as
sepulturas dos que foram destruídos em consequência de suas murmurações,
rebelião e idolatria. O pecado interrompeu sua comunhão com DEUS, e, como
resultado, caíram da graça. Paulo declara que esses eventos foram registrados
na Bíblia para advertir os cristãos quanto à possibilidade de perder os mais
sublimes privilégios por meio do pecado deliberado.
4. Equilíbrio escriturístico.
As respectivas posições fundamentais, tanto do Calvinismo como do
Arminianismo, são ensinadas nas Escrituras. O Calvinismo exalta a graça de DEUS
como a única fonte de salvação — e assim o faz a Bíblia; o Arminianismo acentua
a livre vontade e responsabilidade do homem — e assim o faz a Bíblia. A solução
prática consiste em evitar os extremos antibíblicos de um e de outro ponto de
vista, e em evitar colocar uma ideia em aberto antagonismo com a outra. Quando
duas doutrinas bíblicas são colocadas em posição antagônica, uma contra a
outra, o resultado é uma reação que conduz ao erro. Por exemplo: a ênfase
demasiada à soberania e à graça de DEUS na salvação pode conduzir a uma vida
descuidada, porque se a pessoa é ensinada a crer que conduta e atitude nada têm
a ver com sua salvação, pode tornar-se negligente. Por outro lado, ênfase
demasiada sobre a livre vontade e responsabilidade do homem, como reação contra
o Calvinismo, pode trazer as pessoas sob o jugo do legalismo e despojá-las de
toda a confiança de sua salvação. Os dois extremos que devem ser evitados são:
a ilegalidade e o legalismo.
Quando Carlos Finney ministrava em uma comunidade onde a graça de
DEUS havia recebido excessiva ênfase, ele acentuava muito a responsabilidade do
homem. Quando dirigia trabalhos em localidades onde a responsabilidade humana e
as obras haviam sido fortemente defendidas, ele acentuava a graça de DEUS.
Quando deixamos os mistérios da predestinação e nos damos à obra prática de
salvar as almas, não temos dificuldades com o assunto. João Wesley era
arminiano e George Whitefield calvinista. Entretanto, ambos conduziram milhares
de almas a CRISTO.
Pregadores piedosos calvinistas, do tipo de Carlos Spurgeon e
Carlos Finney, têm pregado a perseverança dos santos de tal modo a evitar a
negligência. Eles tiveram muito cuidado de ensinar que o verdadeiro filho de
DEUS certamente perseveraria até ao fim, mas acentuaram que se não
perseverassem, poriam em dúvida o fato do seu novo nascimento. Se a pessoa não
procurasse andar na santidade, dizia Calvino, bem faria em duvidar de sua
eleição.
É inevitável defrontarmo-nos com mistérios quando nos propomos
tratar as poderosas verdades da presciência de DEUS e a livre vontade do homem;
mas se guardamos as exortações práticas das Escrituras, e nos dedicamos a
cumprir os deveres específicos que se nos ordenam, não erraremos. "As
coisas encobertas são para o Senhor DEUS, porém as reveladas são para nós"
(Deut. 29:29).
Para concluir, podemos sugerir que não é prudente insistir falando
indevidamente dos perigos da vida cristã. Maior ênfase deve ser dada aos meios
de segurança — o poder de CRISTO como Salvador; a fidelidade do ESPÍRITO SANTO
que habita em nós, a certeza das divinas promessas, e a eficácia infalível da oração.
O Novo Testamento ensina uma verdadeira "segurança eterna",
assegurando-nos que, a despeito da debilidade, das imperfeições, obstáculos ou
dificuldades exteriores, o cristão pode estar seguro e ser vencedor em CRISTO.
Ele pode dizer com o apóstolo Paulo: "Quem nos separará do amor de CRISTO?
A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição ou a fome, ou a nudez, ou o
perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte
todo o dia; fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas
coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou
certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as
potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem
alguma outra criatura nos poderá separar do amor de DEUS, que está em CRISTO
JESUS nosso Senhor" (Rom. 8:35-39).
))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
Lição 8, CPAD, Confessando E Abandonando O Pecado NA ÍNTEGRA
Escrita Lição 8, CPAD, Confessando E Abandonando O Pecado, 2Tr24,
Pr Henrique, EBD NA TV
ESBOÇO DA LIÇÃO
I – A CONFISSÃO DE PECADO
1. Definição.
2. A confissão bíblica de pecado.
3. O símbolo da confissão de pecado.
II – O PERIGO DO PECADO NÃO CONFESSADO
1. Os males dos pecados não confessados.
2. As consequências do pecado de Adão e Eva.
III – CONFISSÃO DE PECADO: UM CAMINHO DE CURA E RESTAURAÇÃO
1. Confessando o pecado a DEUS.
2. Alcançando cura e restauração.
TEXTO ÁUREO
“O que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as
confessa e deixa alcançará misericórdia.” (Pv 28.13)
VERDADE PRÁTICA
Para desfrutar um caminho de restauração e reconciliação com DEUS,
precisamos confessar o pecado e abandoná-lo de uma vez por todas.
LEITURA DIÁRIA
Segunda - Sl 32.5 Confessando as nossas transgressões ao Senhor
Terça - Rm 3.10-12 Reconhecendo a nossa natureza pecaminosa diante
de DEUS
Quarta - Gn 3.8,14-19 O pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva
Quinta - 2 Sm 12.1-4, 7-9 O pecado do rei Davi, o ungido do Senhor
Sexta - Mt 6.12 Em primeiro lugar, nos dirigimos a DEUS para o
perdão dos pecados
Sábado - 2 Co 5.18 DEUS investiu homens para o ministério da
reconciliação
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE - Salmos 51.1-12; 1 João 1.8-10
Salmos 51
1 - Tem misericórdia de mim, ó DEUS, segundo a tua benignidade;
apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias.
2 - Lava-me completamente da
minha iniquidade e purifica-me do meu pecado.
3 - Porque eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está
sempre diante de mim.
4 - Contra ti, contra ti
somente pequei, e fiz o que a teus olhos é mal, para que sejas justificado
quando falares e puro quando julgares.
5 - Eis que em iniquidade
fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe.
6 - Eis que amas a verdade no íntimo, e no oculto me fazes conhecer
a sabedoria.
7 - Purifica-me com hissopo,
e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais alvo do que a neve.
8 - Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que gozem os ossos que tu
quebraste.
9 - Esconde a tua face dos
meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades.
10 - Cria em mim, ó DEUS, um
coração puro e renova em mim um espírito reto.
11 - Não me lances fora da tua presença e não retires de mim o teu
ESPÍRITO SANTO.
12 - Torna a dar-me a
alegria da tua salvação e sustém-me com um espírito voluntário
1 João 1
8 - Se dissermos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e
não há verdade em nós.
9 - Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça.
10 - Se dissermos que não pecamos, fazemo-lo mentiroso, e a sua
palavra não está em nós.
Hinos Sugeridos: 192, 277, 491 da Harpa Cristã
PLANO DE AULA
1. INTRODUÇÃO
Todo cristão em sua jornada vai ter que lidar, em algum momento,
com o pecado. Isso se deve a natureza humana que herdamos de Adão e Eva. No
entanto, não temos mais prazer no pecado, ou seja, não pecamos de modo
deliberado. Errar o alvo, para o cristão, é um triste acidente de percurso.
Quando pecamos, a atitude correta é o arrependimento, a confissão do pecado a DEUS
e o abandono da transgressão. Não podemos também nos esquecer de que o pecado
confessado e abandonado é pecado perdoado por DEUS (1 Jo 1.9). O Inimigo sempre
vai tentar nos acusar dos erros que cometemos, mas precisamos lembrar de que
"o sangue de JESUS CRISTO nos purifica de todo o pecado" (1 Jo
1.7).
2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição: I) Compreender o que significa confissão de
pecado; II) Mostrar o perigo do pecado não confessado; III) Compreender que a
confissão de pecado é um caminho para a cura e a restauração.
B) Motivação: Converse com os alunos explicando que atualmente,
muitos não acreditam em certo ou errado. O pecado passou a ser relativizado e o
que é errado para uma pessoa pode não ser considerado errado para a outra, pois
não acreditam mais em verdades absolutas. Entretanto, para o cristão o pecado
não pode ser relativizado, pois nosso conceito de errar o alvo está firmado nas
Escrituras Sagradas.
C) Sugestão de Método: Sugerimos que você coloque uma cesta (ou uma
caixa de papelão) em um canto da sala. Providencie algumas bolinhas de papel
amassado. Diga aos alunos que a cesta ou caixa será o alvo do dia. Em seguida,
dê uma bolinha de papel a um aluno(a) e peça que, há uma certa distância, tente
acertar o "alvo" (a cesta). Cada aluno(a) terá somente uma tentativa.
Aqueles que errarem, pergunte como eles se sentiram, assim como os que
acertaram. Diga que pecado significa "errar o alvo". Ninguém quer errar
nada. Quando erramos, seja em uma prova ou em qualquer situação, sentimos
vergonha e ficamos constrangidos. O pecado tem como consequência a tristeza, o
constrangimento e a culpa. É o que veremos nesta lição.
3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: A lição de hoje é uma oportunidade ímpar para que os
alunos reflitam a respeito do pecado e da importância da confissão. Mostre que
o pecado tem nome, como por exemplo, mentira, fofoca, inveja etc. Temos que
confessar para DEUS as nossas atitudes, pensamentos e sentimentos, nomeando-os.
Em seguida conclua lendo Provérbios 28.13: "O que encobre as suas
transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa alcançará
misericórdia."
4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que
traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas
Adultos. Na edição 97, p.40, você encontrará um subsídio especial para esta
lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios
que darão suporte na preparação de sua aula: 1) A orientação bíblica,
localizada no primeiro tópico, destaca importantes conceitos a respeito de
confissão de pecados contidos no Salmo 51; 2) O texto ao final do terceiro
tópico, mostra o caminho da cura e da restauração para aqueles que confessam e
abandonam o pecado.
PALAVRA-CHAVE - CONFISSÃO
COMENTÁRIO - INTRODUÇÃO
Atualmente, muitos acreditam que não é preciso confessar o pecado
por denominá-lo mera fraqueza ligada ao ambiente e aos aspectos hereditários.
Nesta lição, veremos que a Bíblia não ensina assim. Em sua epístola, o apóstolo
João escreve que o pecado é real e, por isso, é um perigo para a vida do
crente, pois suas consequências são trágicas. A orientação bíblica é a de que,
caso ocorra um pecado, ele deve ser confessado, abandonado como evidência do
arrependimento para que o crente arrependido possa receber o perdão de DEUS (1 Jo 2.9; cf. Sl 32.5).
I – A CONFISSÃO DE PECADO
1. Definição.
O verbo “confessar”, da palavra hebraica yadah, aparece como
“jogar”, “atirar”, “lançar” (1 Rs 8.33), uma palavra que vem da raiz verbal de
hadah que significa “estender a mão”. Essa palavra está presente 900 vezes no
Antigo Testamento, aparecendo com o sentido de “tomar conhecimento”, “saber”,
“reconhecer”. A palavra aparece no AT no contexto de confissão de pecado (Sl
32.5). No Novo Testamento, o verbo grego para “confessar” é homologéo, que
significa “concordar com”, “consentir”, “conceder”. Essa palavra é composta da
raiz homou, junto de pessoas reunidas; e de lógos, do ato de falar. A palavra
homologéo ocorre 25 vezes no Novo Testamento (Mt 7.23, Rm 10.9,10; Tg 5.16). Há
um verbo grego importante para “confessar”, eksomologéo (Mt 3.6), que significa
“professar”, “reconhecer aberta e alegremente para a honra de alguém”;
“prometer publicamente que fará algo”, “comprometer-se com”. Logo, podemos
dizer que confessar é uma maneira de declarar o que se crê ou sabe.
2. A confissão bíblica de pecado.
O ensino bíblico geral da confissão de pecado traz a ideia de
reconhecê-lo e fazer a sua confissão, pois o perdão depende desse ato (Sl 32.5;
1 Jo 1.9). Essa confissão pode ser no momento da conversão; ou depois dela,
quando pecados cometidos podem ser contra DEUS ou contra um irmão (Mt 5.21,22).
Importante ressaltar, porém, que, segundo o ensino bíblico, era tão somente
depois da confissão de pecados que se poderia viver verdadeiramente uma vida de
oração e comunhão com DEUS (Ne 1.6; Sl 66.18; Lc 18.9-14).
3. O símbolo da confissão de pecado.
No ato da confissão de pecados, a pessoa reconhece de maneira
autônoma os pecados cometidos e que, por isso, se encontra indigna de estar na
presença de DEUS. Ela reconhece a sua natureza pecaminosa diante do Altíssimo
(Rm 3.10-12). Então, em arrependimento sincero e em confissão, busca o que lhe
é garantido por meio da Palavra de DEUS: o perdão. Assim, quem experimenta o
ato sincero e humilde da confissão de pecado alcança a misericórdia de DEUS (Pv
28.13). Então, a alma é consolada e a vida espiritual é restaurada.
SINÓPSE I
O ensino bíblico da confissão de pecado traz a ideia de
reconhecê-lo e fazer a sua confissão.
Assim, quem experimenta o ato sincero e humilde da confissão de
pecado, alcança a misericórdia de DEUS. Então, a alma é consolada, e a vida
espiritual é restaurada.”
Auxílio Bíblico-teológico
Professor(a), leia juntamente com a sua classe o Salmo 51 que se
encontra na seção Leitura Bíblica em Classe. Utilize o texto para mostrar o
conceito de pecado e as suas consequências (perda da salvação, da presença de DEUS,
da vitalidade e da alegria espiritual). Enfatize que a preocupação de Davi não
foi com o fato de perder o trono, mas com a perda da comunhão com DEUS e a
salvação. Explique que, “este salmo de confissão é atribuído a Davi, alusivo ao
momento em que o profeta Natã revelou seus pecados de adultério e de homicídio
(cf. 2 Sm 12.1-3). (1) Note-se que este salmo foi escrito por um crente que
voluntariamente pecou contra DEUS e de modo tão grave foi privado da comunhão e
da presença de DEUS (cf. 11). (2) Provavelmente, Davi escreveu este salmo já
arrependido, após Natã declarar-lhe o perdão divino (2 Sm 12.13). Davi roga
diretamente a plena restauração da sua salvação, a pureza, a presença de DEUS,
a vitalidade espiritual e a alegria (vv. 7-13)” (Bíblia de Estudo Pentecostal
Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.856).
II – O PERIGO DO PECADO NÃO CONFESSADO
1. Os males dos pecados não confessados.
Quando lemos e analisamos Provérbios 28.13, percebemos que a
confissão de pecado não se trata apenas de um ensino judaico, mas também
cristão. A Epístola de João corrobora com a necessidade de se confessar o
pecado, deixá-lo e alcançar o perdão (1 Jo 1.9). Em contrapartida, quem ignora
a confissão de pecado, ocultando-o, vive uma vida de aparência e de morte
espiritual; semelhante ao que os nossos primeiros pais, Adão e Eva, viveram ao
tentar ocultar os seus pecados diante de DEUS (Gn 3.8); bem como o rei Davi, o
homem segundo o coração de DEUS, que procurou ocultar do Senhor seus pecados (2
Sm 11; 12).
2. As consequências do pecado de Adão e Eva.
A realidade bíblica do pecado pode ser vista no primeiro casal,
Adão e Eva, quando pecou e, por isso, recebeu sentenças devidas (Gn 3.14-19).
Além disso, nossos primeiros pais perderam o direito de viver no ambiente mais
perfeito e belo que DEUS criou (Gn 3.24). Por isso na vida de Adão e Eva há
consequências trágicas do pecado, tais como: alteração da condição física de
ambos; a transição da natureza imortal para mortal; diversas tenções no gênero
humano e na natureza. Assim, sabemos que as consequências do pecado de nossos
primeiros pais não se limitaram a eles, mas perpassaram a todo o gênero humano
e natural (Rm 5.12-14).
3. As consequências do pecado de Davi.
O rei Davi pagou um alto preço com o seu pecado. A Bíblia mostra
que, por isso, a espada não sairia da sua casa (2 Sm 12.10-12). Os capítulos 11
e 12 de 2 Samuel revelam o conflito e o senso de culpa que marcavam a vida de
um homem que, por certo tempo, ocultou o seu pecado, trazendo-lhe enfermidades
morais e aflição que o levavam a gemidos. O Salmo 32 mostra que, por se manter
em silêncio, não confessando o seu pecado, Davi enfraqueceu cada vez mais,
perdendo o vigor espiritual (Sl 32.2-4). Já o Salmo 51 mostra a confissão de
pecado do rei, reconhecendo todos os seus erros a fim de que eles fossem
perdoados e o salmista purificado (Sl 51.2-6).
SINÓPSE II
A Palavra de DEUS mostra a necessidade de se confessar o pecado,
deixá-lo e assim alcançar o perdão.
III – CONFISSÃO DE PECADO: UM CAMINHO DE CURA E RESTAURAÇÃO
1. Confessando o pecado a DEUS.
Segundo o ensino bíblico, a confissão de pecados deve primeiramente
ser dirigida a DEUS, por intermédio de seu Filho, pois só Ele pode perdoar os
nossos pecados (Sl 51.3,4; Mt 9.2,6). Ao longo do seu ministério, o Senhor JESUS
disse à mulher pecadora: “Os teus pecados te são perdoados” (Lc 7.48). Na
oração do Pai-Nosso, o Senhor JESUS ensinou: “[Pai] Perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12). Em 1 João 1,
lemos que os nossos pecados devem ser confessados a CRISTO (1 Jo 1.7-9). Dessa
forma, perdoar pecado é uma prerrogativa de DEUS Pai por intermédio do Senhor JESUS,
mediante a sua obra no Calvário.
[...] Ocultar o pecado é decidir por trilhar uma jornada de
sofrimento espiritual e emocional.”
2. Alcançando cura e restauração.
O texto áureo da presente lição nos lembra que ocultar o pecado é
decidir por trilhar uma jornada de sofrimento espiritual e emocional. Mas quem
deixa de lado o orgulho e a soberba para trilhar o caminho humilde da confissão
de pecado vive uma vida mais leve. Não há nada mais restaurador que desfrutar
das misericórdias do Senhor (Pv 28.13). Não há nada mais consolador do que
confessar o pecado e deixá-lo definitivamente, pois assim encontraremos
descanso para a alma. Todo esse processo de confissão e abandono de pecado
revela a eficácia do ministério da reconciliação de DEUS por meio de JESUS CRISTO
(2 Co 5.18). Quem faz assim encontra o caminho de cura e restauração, conforme
lemos nas palavras do salmista: “Enquanto eu me calei, envelheceram os meus
ossos pelo meu bramido em todo o dia. [...] Confessei-te o meu pecado e a minha
maldade não encobri; dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e
tu perdoaste a maldade do meu pecado” (Sl 51.3,5).
SINÓPSE III
A confissão de pecado é o único caminho para a cura e a restauração
do corpo, alma e espírito.
Auxílio Bíblico-teológico
“O Senhor restaurou a Davi a alegria da salvação, mas observa-se o
seguinte respeito de sua vida: (1) As Escrituras ensinam claramente que
ceifaremos aquilo que semearmos; se semearmos no ESPÍRITO do ESPÍRITO
ceifaremos a vida eterna; se semearmos na carne, da carne ceifaremos a
corrupção (Gl 6.7,8). Davi, em virtude do seu pecado, sofreu consequências até
o fim, na própria vida, na sua família e no seu reino (2 Sm 12.1-14). (2) As
terríveis consequências do pecado de Davi, mesmo depois da sua sincera
confissão e arrependimento, devem suscitar em todos os filhos de DEUS um santo
temor de pecar deliberadamente em aberta rebelião contra a redenção provida
para eles em JESUS CRISTO” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro:
CPAD, 2022, 2003, p.856).
CONCLUSÃO
Em nossa caminhada cristã estamos sujeitos ao pecado. Encobri-lo e
viver uma vida espiritual de aparência não é uma opção bíblica para o caminho
da cura e da restauração. Logo, uma jornada de perdão só é possível com a
confissão do pecado praticado e a resolução de abandoná-lo de uma vez por
todas. Quem procede assim desfrutará das infindáveis misericórdias divinas
REVISANDO O CONTEÚDO
1. Qual ideia o ensino geral da Bíblia traz a respeito da confissão
de pecado?
O ensino bíblico geral da confissão de pecado traz a ideia de
reconhecê-lo e fazer a sua confissão, pois o perdão depende desse ato (Sl 32.5;
1 Jo 1.9).
2. O que a pessoa reconhece no ato de confissão de pecado?
No ato da confissão de pecados, a pessoa reconhece de maneira
autônoma os pecados cometidos e que, por isso, se encontra indigna de estar na
presença de DEUS.
3. O que podemos compreender em Provérbios 28.13?
Quando lemos e analisamos Provérbios 28.13, percebemos que a
confissão de pecado não se trata apenas de um ensino judaico, mas também
cristão.
4. Segundo a lição, o que pode acontecer com quem ignora a
recomendação bíblica de confessar o pecado?
Ocultar o pecado é decidir por trilhar uma jornada de sofrimento
espiritual e emocional.
5. Segundo o ensino bíblico, a confissão de pecados deve ser
dirigida primeiramente a quem?
Segundo o ensino bíblico, a confissão de pecados deve primeiramente
ser dirigida a DEUS, por intermédio de seu Filho, pois só Ele pode perdoar os
nossos pecados.